Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Aluna: Natasha Cristina Prioste da Silva

DRE: 119149935

Trabalho Introdução a Sociologia

Rio de Janeiro

2023
O presente trabalho apresenta caráter expositivo, pois expõe características
de determinado fenômeno social no intuito de averiguar questões referentes à forma
como os conceitos apresentados por Marilena chauí e Roque Laraia em suas obras
se relacionam com os temas abordados no filme “O Garoto Selvagem” do diretor
francês François Truffaut.

O filme aborda a história de um menino de onze ou doze anos encontrado no


bosque, onde cresceu sozinho numa mata fechada, completamente afastado da
sociedade, sem nenhum contato com outros seres humanos, durante boa parte de
sua infância, e por isso sendo chamado pelas pessoas de selvagem, visto até
mesmo como um ser inferior. Ele é totalmente indiferente às emoções, não chora,
não consegue falar e se socializar com outras pessoas. Acompanhamos na trama
as tentativas de um médico em tentar ensiná-lo sua cultura e torná-lo “humano”.
Diversos temas são abordados, servindo de base para um estudo aprofundado do
desenvolvimento humano, permitindo a compreensão sobretudo do conceito de
cultura. Nesse sentido, é possível perceber também uma relação muito forte dos
debates levantados pelo filme com o texto “Cultura: Um conceito antropológico” de
Roque de Barros Laraia, que merece ser debatido.

Como seres humanos tendemos a entrar em choque com aquilo que nos é
diferente, chamamos de estranho o comportamento que foge ao que estamos
habituados e muitas vezes deixamos transparecer esses sentimentos por meio de
nossos comportamentos quando nos deparamos com esse outro que nos causa
tanta estranheza. Para o autor do livro, a nossa herança cultural nos afeta ao ponto
de não considerarmos culturalmente aceito o comportamento que foge ao padrão de
nossa própria cultura. Esse fato fica bem explícito no filme quando o garoto é
inserido na sociedade e ensinado a se adequar ao padrão daquela cultura. Um dos
questionamentos que fica diante dessas cenas é: seria o garoto uma pessoa sem
cultura?! A resposta no entanto é um pouco mais complexa do que parece. Para
Marilena Chauí, a cultura é uma criação coletiva, ou seja, ela é criada pelos seres
humanos que vivem em dado ambiente, compartilhando ideias, símbolos e valores
entre si. O menino, não tendo o contato com seus pares, não desenvolveu
comportamentos, pensamentos e crenças básicas presentes em uma cultura. Nesse
sentido, é correto dizer que ele não carrega em si nenhuma noção de cultura ou de
sociedade, o que acarreta em sua dificuldade de integração social entre os outros
seres. A partir dessa reflexão é possível concluir que a cultura vai além do que se
entende no senso comum, uma vez que ela é uma construção social, sendo
possível até mesmo aprendê-la, podemos dizer também que ela não é uma coisa
que apenas um povo possui, pois ela apresenta formas diferentes em cada
sociedade, não podendo pensar uma cultura superior que outra. Esse pensamento
vai na contramão da visão etnocêntrica da qual muitas sociedades limitam sua visão
de mundo. Para esses grupos, a sua cultura está sempre no topo da pirâmide. A
ideia principal é a de que as normas e comportamentos que ditam sua cultura são
superiores às outras diferentes, ocorrendo muitas vezes a negação da existência
dessas culturas. Desse pensamento surgem as desigualdades, ordenadas pela
cultura dominante.

Uma conclusão apresentada em consenso em ambos os textos é a ideia de


que a cultura não é algo fixo, e sim dinâmica e em constante evolução. Uma
reflexão que o filme nos impõe é também nesse sentido, embora as culturas tenham
as suas razões para existir, a nossa atitude perante elas deve ser sempre uma
atitude crítica, questionando sempre suas normas e regras e não tomá-las como
verdades inquestionáveis. Nas partes finais do filme, ocorre uma consciência desse
sentido no médico, ao perceber o menino como diferente, com sua individualidade e
seu modo de aprendizagem ele se dá conta que não pode impor o seu modo de
enxergar a vida de modo abrupto e violento, deve levar em conta a subjetividade do
garoto para que tenha algum avanço nos estudos. A cultura não pode ser uma
amarra que nos priva de nossa individualidade.
Referências Bibliográficas

LARAIA, Roque de Barros, 1932. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de
Janeiro: Jorge "Zahar” Editora, 2001.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo. ática, 2000.

Você também pode gostar