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FACULDADE PITÁGORAS

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

BRUNA ELISA ALVARENGA RIBEIRO

EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA

Pouso Alegre

2021
BRUNA RIBEIRO

EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA

Trabalho interdisciplinar com ênfase na relação


da educação com a emancipação humana.

Orientador(a): Janaina dos Santos Correia


Rodrigues

Pouso Alegre
2021
Introdução:

O objetivo das presentes linhas é trazer uma reflexão entre problemas sociais e como a
educação é capaz de mudar esta triste perspectiva, trazendo possibilidades de
emancipação humana, para uma sociedade com cidadãos livres e conscientes, com
maiores possibilidades e horizontes expandidos para superar seus condicionantes,
como o pedagogo Paulo Freire disse. O referencial teórico é baseado nos dizeres do
patrono nacional da educação, sobretudo em seu brilhante livro Pedagogia da
autonomia.

Pode-se ver em um texto discorrido em prosa, dados e pensamentos freirianos e


também buscados em sites universitários e voltados a educadores. Trata-se de fatos
sobre emancipação humano, estudos de ciências humanas realizados durante todo o
semestre, e breves comentários e estatísticas da educação sexual nas escolas de
educação básica.
Ideia fortemente defendida por Paulo Freire ainda em seus livros publicados em vida
(O último sendo lançado em 1996), a educação é um ato político. Principal ferramenta
das classes mais oprimidas, a educação é ambígua, podendo ser a âncora que estagna
o ser humano, ou as asas que o impulsionam para cima, pode ser a liberdade ou a
prisão, sendo utilizada muitas vezes como um instrumento para massas de manobra.
Enquanto os educadores não compreenderem o poder que têm em mãos e sua
capacidade de transformação, a docência ainda será utilizada como forma de conservar
a injustiça e desigualdade da contemporaneidade, o que perpetua o benefício de
oligarquias.

Um dos grandes entraves enfrentados por educadores nos dias de hoje é a falta de
atualização. Sendo assim, enquanto outras áreas da sociedade avançam a passos
largos, professores ainda usam como base para educar os ensinamentos de seus
tempos de educação básica, que por sua vez, também foram replicados da mesma
etapa de quem o educou. Portanto urge sempre um questionamento e uma ruptura com
esse modelo, já que os alunos da atualidade são cada vez mais informatizados,
buscando novas demandas.

Entretanto, mesmo que lentamente, o rompimento com a educação bancária, pautada


na memorização, vem trazendo alguns resultados a novas gerações, que são cada vez
mais ligadas a lutas sociais em defesa das minorias, mais politizados e com menos
tabus, o que vem garantindo a emancipação política e sociocultural de grupos antes
desprezados. Novamente trazendo em pauta o patrono nacional da educação, este
defendia que o professor não pode se omitir à questões que condicionam a vida de seus
alunos, assim disse ele em seu último livro, Pedagogia da autonomia: “Por que não
aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas
pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e
os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à
saúde das gentes.”

Apesar de estas e outras dificuldades serem parte da vivência de muitos, ele defende
que o ser humano tem sempre a capacidade de ir além dos seus condicionantes. É aí
que se vê a importância da atuação cidadã do professor, fazer que um aluno oprimido,
acuado e sofrido não se cale diante da negligência Estatal, mas sim possa falar,
escrever, pintar, cantar e expressar todo essa dor, a ponto de balançar um alicerce, e
mostrar que todos que estão em igual e infeliz condição podem e devem revolucionar.

Ainda falando de revolução, a primeira imagem que costuma vir a cabeça neste âmbito
são as revoluções sangrentas (nem por isso desnecessárias) que a História relata. Mas
isso não quer dizer que toda revolução deve adotar este caráter. Nos dias de hoje elas
vêm em formato de arte, debate, atitudes cotidianas, e o que baseia tudo isso: a
educação. Todos devem ter ciência que este último é resistência ao poder, já que uma
população sem consciência de suas raízes históricas, de erros de seus governantes, e
levada (por que não dizer controlada) por fake news, é facilmente manipulada por
políticos dentre outras pequenas elites ardilosas, que querem explorar as demais
camadas da sociedade, muitas vezes com apoio das próprias, devido à falta de
criticidade e conhecimento das mesmas.

É difícil tratar de emancipação humana no país que mais mata transexuais no mundo,
dados da UFRGS trazem que, em 2020, acontecia um estupro a cada 8 minutos, como
falar de emancipação em um país que exterminou 70% da sua população nativa (dados
do observatório 3 setor) e promove o genocídio negro em periferias? O mais próximo
que todos nesta nação podem chegar perto da emancipação é a consciência e oposição
as barbáries que estão sujeitos dia após dia, e tendo esta, protestar (muito antes de
panelaços ou passeatas) em pequenos atos de gentileza, cidadania e na
responsabilidade social de seus atos ao eleger governantes. Todos esses provêm de
uma educação solidária, empática e humana.

Visto tamanho compromisso que cada licenciado tem em suas mãos ao pisar em uma
sala de aula, é importante que cada um entenda o quanto sua tarefa é mais que uma
mera transmissão de conteúdo, mas sim a formação de um cidadão consciente da sua
força em sociedade. Mais que ensinar a encontrar o x em uma equação ou quando usar
corretamente uma crase, cada educador tem em mãos o futuro de todo um país.

Seria loucura resumir educandos a simples conteúdos, sem os mostrar o gosto pelo
estudo, pela curiosidade, pela criticidade. E isso só pode ser feito na
interdisciplinaridade, trazendo temas transversais da vida cotidiana, desde a creche ao
pós-doutorado. Cabe aí a importância do profissionalismo de saber se unir com
docentes de outros conteúdos quando preciso, e até mesmo de pessoas que estão ao
além dos muros da escola. Por que não trazer um gari para falar das questões da
limpeza de ruas, ou um presidente de ONG para falar de seus animais resgatados?

Como o professor pode ensinar a um discente que ele é um cidadão de direitos e


deveres, se o mestre não compreende este conceito? Daí a importância das ciências
humanas: relembrar todas as lutas pelos direitos de hoje, mostrar exemplos do que fazer
e não fazer, deixar explícito como algumas coisas mudam ou permanecem, explicar os
dias de hoje por meio de um método científico, laico, justo, e não tendencioso. Além de
entender a sociedade em que está inserido o aluno, traz o aprendizado, valorização e
respeito aos conhecimentos e vivências alheias. Estimula o gosto pelo
descontentamento, tira do conformismo, dá o gosto pela rebeldia (não a sem causa), a
vontade de expandir horizontes, tanto físicos quanto mentais. E o mais importante: não
só a compreensão do externo, mostra o caminho para se auto entender, seus
condicionamentos, suas crenças e sua ancestralidade.

As ciências humanas, no processo de emancipação são fundamentais, pois nada é


mais libertador que se soltar das amarras do passado, que influem no presente. Só com
a análise criteriosa do mundo exterior e interior é que isto se possibilita.

O psicanalista Carl Jung tem um dizer que exemplifica muito bem o que tem sido dito
no presente texto, diz ele: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao
tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” A matemática, a física e a
química são extremamente importantes, mas valores como ética, empatia e respeito são
trazidos, mesmo que de forma implícita, pelas ciências sociais. Sem elas, o homem
seria apenas um cérebro sem sentimentos, já que a leveza, a vontade de viver, a beleza
e a poesia, são pontos cardiais da ciência humana, os quais jamais devem ser
negligenciados, pois são o que tornam o homem um ser, de fato, humano.

Sobre exemplos concretos da emancipação humana na educação, a prevenção ao


abuso sexual vem sendo importantíssima, já que dia após dia livra crianças e
adolescentes em idade escolar desse terrível mal da sociedade brasileira que é a
pedofilia. Apesar de muitos serem contra devido à tabus perpetuados, a educação
sexual se faz de uma arma ao sistema machista e misógino no qual o Brasil se vê
imerso.

Quando se fala sobre machismo e misoginia, pensa-se sobretudo sobre o gênero


feminino, mas este pensamento afeta também o gênero masculino, pois tende a tornar
homens tímidos ao denunciar os abusos sofridos, com medo de serem taxados como
homossexuais. Inclusive, a educação sexual faz com que estes preconceitos a
população LGBTQIA+ sejam abolidos.

Não só sobre os preconceitos, a educação sexual trata sobre o cuidado, autoestima,


valorização e consentimento sobre o próprio corpo, além disso é um meio de controle
da natalidade e da prevenção às ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

Deve ser ressaltado que estes ensinamentos são sempre feitos minunciosamente,
respeitando a idade e o perfil da turma, e que não é uma aula adulta sobre como
proceder no momento íntimos de cada um, mas sim trata dos tópicos acima citados.
Diversas vezes, uma aula sobre o tema traz relatos, denúncias e pedidos de socorro
dos alunos, pois veem nestes momentos um local seguro para trazer suas vivências em
pauta, o que em grande parte dos casos, não é visto em sua própria casa.

As estatísticas não contrariam o que foi dito, como é possível enxergar neste gráfico
que está disponibilizado no site da UFRGS:

Enquanto isso, Fabiana Maranhão afirma no site Nova Escola que menos de 20% das
escolas brasileiras têm educação sexual. Não relacionar estes dados seria uma utopia,
não só é necessário falar sobre sexo, mas também do consentimento, das questões de
gênero, do respeito a diversidade sexual, das denúncias, da culpalidade da vítima, entre
outros assuntos relacionados a sexualidade humana.

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Conclusão

Consoante ao que foi dito, deve-se ter ciência de como a educação é a base da
sociedade, portanto é necessário que cada educador estimule em seus discentes a
capacidade de pensar além do que algumas elites os impõem, sendo ousados e até
mesmo rebeldes, questionadores e jamais conformistas. Os saberes de Freire seguem
atuais, e concordando ou não com suas linhas, é importante que todos docentes o leiam,
criando assim argumentações, sejam elas pró ou contra. É imprescindível que
educadores sejam pessoas de argumentação, eternos estudiosos e leitores, não sendo
omissos e indiferentes a dura realidade de seus alunos, mas sim pessoas que, além de
ter opiniões, tragam estes valores aos seus alunos, cumprindo assim o caráter
transformador da educação.

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