Maria Helena Souza Patto nasceu em 17 de junho de 1942, em
Taubaté, cidade situada no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Segunda entre quatro filhos, Maria Helena vem de uma família de classe média. Seu pai foi proprietário de uma pequena fazenda em Taubaté. Sua mãe, depois de casada, assumiu integralmente os cuidados da família e dos filhos.
Parte de sua infância foi vivida na fazenda, de forma simples e
confortável. Ali, aprendeu a ler, antes de entrar na escola, pois acompanhava atenta a mãe ensinando o irmão mais velho, logo tornando-se sua aluna.
Também foi nessa época que seu olhar encontrou a desigualdade
social pela primeira vez. Seu relato registra-se como retrato tocante para ela: crianças muito pobres, em frente a casebres paupérrimos, e mais adiante os pais trabalhando nas plantações de arroz. O nome do quadro embebido de mal-estar foi dado pela avó materna, uma mulher baiana de esquerda que aguçou seu olhar crítico, apontando que aquela cena retratava a exploração.
Atualmente, Maria Helena Souza Patto é psicóloga e foi
professora e pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP, aposentando-se em 2011. Considerada divisora de águas no campo da Psicologia em interface com a educação no Brasil, destaca-se, em sua produção intelectual, a consagrada pesquisa A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia.
Identificação do tema:
A Produção do Fracasso Escolar: histórias de submissão e
rebeldia, foi lançado em 1990, aborda as causas e as consequências das desigualdades educacionais na sociedade brasileira, analisando as concepções históricas e psicossociais sobre o fracasso escolar. A autora apresenta uma pesquisa de campo realizada em uma escola pública, mostrando as histórias de vida dos alunos, professores e gestores, e como eles se relacionam com o processo de ensino-aprendizagem. O livro também discute o papel do erro e da resiliência no contexto educacional, e propõe uma reflexão crítica sobre as possibilidades de transformação da realidade escolar.
3-Resumo:
Publicado pela primeira vez há mais de duas décadas, A Produção do
Fracasso Escolar, de Maria Helena Souza Patto, segue sendo uma obra de referência para pesquisadores em educação, gestores de sistemas e professores, busca contribuir para a compreensão do fracasso escolar enquanto processo psicossocial complexo.
Em sua análise da vida escolar, a autora alcança, de forma original, um
olhar não apenas para os movimentos de submissão, mas também de rebeldia ao que está posto.
Ao realizar uma pesquisa sobre as origens históricas do fracasso
escolar, Patto indica como as explicações para o fracasso escolar estavam diretamente ligadas ao modo capitalista de compreender a realidade, e como esse discurso preservava a situação de dominação sofrida pelas famílias mais pobres. Esclarece sobre as questões políticas que envolvem a abordagem dos problemas escolares, onde fica evidente o interesse e a manipulação das classes dominantes. A relação existente entre os altos índices de reprovação e abandono escolar nos primeiros anos de escolarização da escola pública levaram Patto a realizar um balanço da produção especializada desde o início do século XVIII até a publicação de seu livro. Esse resgate tem como objetivo elaborar um quadro de referências (histórico e social) que possibilite uma reflexão sobre a natureza das concepções 15 dominantes naquela época a respeito do fracasso escolar em uma sociedade de classes.
A relação existente entre os altos índices de reprovação e abandono
escolar nos primeiros anos de escolarização da escola pública levaram Patto a realizar um balanço da produção especializada desde o início do século XVIII até a publicação de seu livro.
Esse percurso possibilita a compreensão do advento das sociedades
industriais capitalistas, dos sistemas nacionais de ensino e das Ciências Humanas, destacando-se aqui a Psicologia. Essa trajetória permite desvendar a hegemonia do pensamento liberal e de ascensão da burguesia, uma vez que se fazia presente o discurso da crença na possibilidade de uma sociedade igualitária e democrática. A escola é considerada um instrumento de ascensão e prestígio social. Nesse contexto, explicar as desigualdades de uma sociedade com modo de produção capitalista tornou-se o foco de ciências como a Sociologia e a Psicologia Nesse período a Pedagogia e a Psicologia nascem impregnadas do espírito liberal e se dispuseram a identificar e promover os indivíduos considerados mais capazes, independente de sua classe social ou etnias.
A Psicologia, ao investigar as dificuldades de aprendizagem escolar, é
fortemente influenciada pela concepção organicista das aptidões humanas (impregnada de pressupostos elitistas e racistas) e por uma concepção que considera as influências ambientais. Dessa forma, apresenta uma explicação sobre as causas do fracasso escolar recheada de ambigüidades, e esse discurso fundamenta a Teoria da Carência Cultural e o insucesso escolar nos países capitalistas ao longo do século XX. Ao analisar ideologicamente essa teoria, a autora enumera três causas para as dificuldades de aprendizagem das crianças das classes populares, sendo elas: as condições de vida da criança, a falta de adequação da escola pública para trabalhar com esses alunos e ainda, em relação à figura do professor, destaca a ausência de sensibilidade e de conhecimentos da realidade vivida pelos alunos devido à distância cultural existente entre eles. Infelizmente a escola vai se apropriando dessas teorias, pregando um discurso de uma educação igualitária. No entanto, a responsabilidade do fracasso escolar ora é depositada no aluno ou na sua própria inadequação ao sistema ou a fatores externos.
4- Reconhecimento e identificação da tese do autor
Deste modo, tendo em vista as questões históricas e sociais que
permearam as produções teóricas acerca deste tema. As explicações para o fracasso escolar estão ligadas ao modo capitalista de compreender a realidade, preservando a situação de dominação sofrida pelas famílias mais pobres. Deve-se superar as concepções que culpabilizam os alunos pelo seu fracasso sem considerar o contexto social, político e econômico e, por meio da promoção da resiliência na escola, é possível fazê-lo.
Escolas cheias, cadeias vazias, torna-se um “bordão” que resume o fato
que, uma educação de qualidade, sem dúvidas, afasta e inibe o envolvimento de crianças e adolescentes com o mundo do crime e os aproxima de uma vida de oportunidades, mais próspera e feliz.
5. Reconhecimento e levantamento dos argumentos que sustentam
a(s) tese(s):
O clássico escrito pela doutora, . trata-se de uma pesquisa de campo
feita com alguns colegas na intenção de “causar impacto na comunidade científica” Maria Helena buscou no íntimo dos moradores do bairro Jardim Felicidade e também no relato do corpo docente da única escola pública local como justificativas das evasões e reprovações existentes. Abordando o conceito histórico e entrevistando todas as partes desse todo, Maria inovou o olhar para com os alunos, expondo a realidade escolar dos alunos e professores em seus fatores tanto internos quanto externos. O método utilizado pelo autor foi a entrevista e a observação, além de apoiar-se nas denúncias já existentes para o descaso da sala de aula por parte de seus profissionais educacionais e até mesmo, historicamente, médicos e psicólogos.
O rótulo e o diagnóstico construíram seu legado dentro da
escolarização, anos depois, os responsáveis educacionais se encontraram nesse cenário de preconceito, muitas vezes inconsciente, e os alunos ficaram à mercê do favoritismo e do descaso. Acostumados a serem tratados como deficientes, muitos pais mostram também adesão dessa crença, divulgando o pensamento de hereditariedade classicista e deficiência cognitiva biológica por parte dos favelados. Em uma obra regada de exposição de estereótipos e preconceitos, Maria aborda também a segregação dentro das próprias favelas, o conceito de desfavelamento e até mesmo a repulsa de uns mais bem colocados no mercado de trabalho sobre os moradores de puxadinhos e barracos, mostrando que até mesmo o pobre tem vergonha de ser pobre.