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Ao não dar conta das crescentes contradições que se apresentam nas escolas como a não
aprendizagem, a indisciplina, a violência, o uso de drogas ilícitas e a falta de mo vação para os
estudos, se coloca como necessário ao psicólogo educacional superar o fe chismo e
compreender a essência do fenômeno. Tendo em vista essas contradições, é esperado do
profissional que chame a família para cooperar com a educação, já que ela não estaria
cumprindo com o seu papel. A autora entende que o psicólogo educacional pode contribuir de
outras formas se conseguir sair do reino das aparências.
As prá cas escolares mostram certa incapacidade na realização dessas funções, porque não
conseguem mudar somente pelas ações toda as determinações circunscritas nos indivíduos. O
aumento dos problemas, como aqueles já citados, não pode ter sua causa explicada nas
relações interpessoais, é necessário, pois, recorrer a história para as compreender.
Michel de Montaigne escrevia no século XVI, inicio do capitalismo, que os moldes modernos
para a sociedade seria educar as crianças, par ndo de pais que amem seus filhos e orientados
para uma nova vida, com base em conhecimentos reais e disciplina menos rigorosa. Ele
entendia, num contexto de decadência da grande família feudal, a necessidade histórica de
uma família pautada prioritariamente na afeição e não pelo sangue. Atualmente cresce as
denúncias da perda de afeição nas relações familiares, e que no caso da escola, justamente por
ficar no reino das aparências, é tomada como algo par cular e que resulta na não educação.
A prá ca escolar alienada diz respeito a formação fragmentada dos profissionais que
trabalham na educação, já que disciplinas que permi riam dar base para uma análise mais
profunda da sociedade e do homem são re radas ou tem sua carga horaria diminuída. Mesmo
quando ainda estão presentes no currículo, tais disciplinas aparecem com teorias que
dicotomizam o homem e a sociedade, desenvolvimento humano e condições materiais de
existência, explicando a realidade social pelo mundo das ideias e a entendendo a par r de
ações individuais. A reflexão passa a ser da distante da prá ca e dispensável, e quando se
aceita fica no campo empírico, negando as metanarra vas. Essa formação desemboca em
diagnós cos equivocados.
Isso pode ser explicado pelo o que Lukács chamou de irracionalismo, que se caracteriza como
um fenômeno internacional do capitalismo, cons tuindo se como traço fundamental presente
no psiquismo do homem contemporâneo. O irracionalismo é uma das tendencias da filosofia
burguesa reacionária. As caracterís cas do irracionalismo são a depreciação do entendimento
e da razão, a glorificação clara da intuição, a teoria aristocrá ca do conhecimento e a repulsa
do progresso social. Por isso, a psicologia educacional deve não somente se ater as ações
individuais isoladas como objeto de inves gação e de intervenção, mas entender como os
homens se apresentam e se conformam nas e pelas relações sociais, a par r da compreensão
de como e por que determinadas formas de existência humana surgem e se mantem em dado
período histórico.
A atuação dos estagiários da disciplina de psicologia escolar é orientada para lidar com os
sujeitos apenas dando um enfoque na realidade empírica imediata, tendo dificuldades em
entender que a a vidade do ensino deva impulsionar uma abordagem não co diana dos
eventos ou fatos, que a a vidade de transmi r perpasse por todo o dia a dia na escola. A
organização da a vidade educa va e os seus obje vos estão apoiados no saber sistema zado
comtemplado na ciência, na filosofia e na arte. Por isso que os estagiários necessitam de um
método de análise que lhe permita estabelecer relações, abstrações e generalizações,
apreendendo a totalidade que movimenta a cons tuição do psiquismo humano, que se revela
par cular nos diferentes períodos históricos. As abordagens psicológicas e sociológicas
burguesas reacionárias não concebem o processo histórico da evolução do indivíduo, o
surgimento de tarefas históricas de classes determinadas e a evolução dos indivíduos nessas
tarefas historicamente estabelecidas.
O psicólogo só consegue ter uma ação educacional quando explicita aos sujeitos como eles se
cons tuem e como perpetuam uma dada forma de existência. A autora também entende que
os produtores manifestam-se por meio das suas produções, que lhes retornam provocando
transformações; a formação do indivíduo se dá em um duplo processo de relacionamento com
o gênero humano, de um lado pela apropriação de caracterís cas humanas obje vadas ao
longo da história social e por outro lado a apropriação também é a forma pelo qual se reproduz
alienação decorrente das relações sociais de dominação; o movimento histórico é educa vo já
que dada uma certa direção histórica, leva os indivíduos a abandonar formas habituais de
comportamento e assumir novas. Por isso é necessária uma metodologia que não leva
somente a descrição dos comportamentos individuais. Isso se torna mais di cil no momento
histórico em que vivemos já que os an gos parâmetros para os homens se pensarem vão
perdendo a sua eficácia e ficando cada vez fe chizados, os protagonistas históricos desse
momento de transformações profundas temam a pensarem na possibilidade de viverem
diferentes do que são.
Retratando a família
Haim Grunspun tentou oferecer aos pais um manual acerca da educação de filhos nos moldes
da década de 1980. Ele trabalha com aspectos de autoridade, educação e liberdade. A
educação dos filhos nha como obje vo o alcance de boa saúde sica, desenvolvimento
intelectual, uma infância feliz para a ngir uma maturidade normal e preparo para serem
adultos produ vos. A autora faz uma relação entre essas finalidades e aquelas que eram
necessárias durante o processo de transição da sociedade feudal para a sociedade capitalista.
Nathan W. Ackerman dizia que as relações familiares podem ser tão conflituosas que produzem
doentes mentais, apontando que indivíduos perturbados são oriundos de familias perturbadas.
Ele coloca a culpa pela quebra de padrões entre indivíduos, família e sociedade, já que os
humanos e as suas relações foram lançados em um estado de turbulência e a máquina cresce
muito à frente da sabedoria do homem sobre si próprio. Ele percebe a crise e entende que a
ins tuição família deve ser assegurada, apesar de entender que a organização da família não é
está ca e que os vínculos familiares são compostos por fatores biológicos, psicológicos, sociais
e econômicos. Ele escreveu que cada homem tem diversas familias: da infância, do casamento,
da paternidade e a família poente - família com os netos. As familias paralelas colocaria em
xeque até mesmo a monogamia. Cada período da família o indivíduo vai ter papeis adequados.
A família nuclear burguesa bem estruturada existe apenas naquilo que há de mais alienante,
no modelo universal a ser buscado. Ela é uma construção ideológica da burguesia da sua época
reacionária. Com a industrialização no século XIX os laços familiares estavam amarrados pela
necessidade da sobrevivência sica e biológica.
Com os escritos de Engels a autora aponta que Ackerman e outros teóricos tratam sobre a
família fe chizada. Engels entendia que a cons tuição da família se dá a par r das próprias
condições de organização para a sobrevivência. Ele mostra que a organização da família
durante as gens era muito diferentes, mas congruentes com as condições que precisavam
enfrentar. Com as transformações no modo de produção, mudou-se também as relações que
os indivíduos estabeleciam entre si. Com o início da produção de excedente e as trocas,
ocorreu uma revolução na família, onde agora o homem era o possuidor dos meios de
produção e a mulher deixava de par cipar da propriedade. As relações dentro da família
con nuavam a mesma, mas agora de cabeça para baixo, já que o papel do homem dentro de
casa nha sido privilegiado, porque a divisão do trabalho fora da família nha se tornado outra.
Com a abordagem de Engels ela tenta constar a transitoriedade da família na nossa sociedade
e as suas transformações. Com o aumento da produ vidade e as transformações que ocorrem
nela, a família individual passa a ser a unidade econômica da sociedade.
Adam Smith pensa de forma não naturalizada as ins tuições, ao colocar que a organização
social se faz de forma histórica, mostrando os processos de destruição do feudalismo com o
senhor feudal causando seu próprio empobrecimento que possibilitaram o surgimento do
capitalismo e que no processo de destruição da propriedade feudal, foi dissolvida também a
grande família. Nele também é possível iden ficar que as ins tuições sociais se fazem, que as
relações interpessoais são relações sociais e possuem caráter histórico.
Os pressupostos apresentados pela autora são que: as contradições se cons tuem em parte do
movimento da história; há períodos em que elas se acirram e provocam o esgotamento de uma
forma de vida ao mesmo tempo em que outra vai sendo gestada; as relações sociais não se dão
de forma descolada de como a sociedade garante sua sobrevivência; e pôr fim a importância
da história para compreender a formação da família e a sua cristalização no modelo de família
nuclear burguesa.
A escola, apesar de estar inserida numa sociedade capitalista, deve garan r a função de
ensinar e a psicologia educacional deve explicitar aos indivíduos os caminhos percorridos para
se humanizarem. É necessário, segundo a autora, historicizar e desnaturalizar a família, para
permi r-lhes compreender por que são e o que são.