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Driele Cristina de Souza1

TOLENTINO, Luana. Outra educação é possível: feminismo,


antirracismo e inclusão em sala de aula. Belo Horizonte: Mazza
Edições, 2018. 119p.

O livro Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de


aula, é um verdadeiro reflexo da importância de professores qualificados e comprometidos
com a educação; é uma leitura de extrema relevância, e que leva os educadores a reavaliar
seu posicionamento dentro da sala de aula. A autora Luana Tolentino, é professora,
historiadora e ativista que defende uma educação não tradicional, antirracista e respeitosa.
Pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, é mestra em Educação pela UFOP, e
professora de história em escolas periféricas de Belo Horizonte. São essas experiências como
professora que servem de base para a obra supracitada.

A obra apresenta-se quase como um diário pedagógico, e surpreende por sua narrativa
que espelha a realidade de muitas instituições brasileiras. Em um cenário onde a diversidade
e a igualdade têm sido pautas cada vez mais urgentes, essa obra ressalta a necessidade de uma
formação pedagógica que vá além dos aspectos técnicos, capacitando os educadores a
promoverem mudanças significativas na educação.

Tolentino destaca a relevância da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da


História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas, como um marco legal que busca
combater o racismo estrutural presente em nossa sociedade. Porém, a simples inclusão da lei
nos currículos não é suficiente. É primordial que os professores estejam devidamente
preparados para lidar com essas temáticas de maneira sensível e informada, oferecendo aos
estudantes a oportunidade de compreender a contribuição histórica, cultural e social dos
povos afrodescendentes

Nesse sentido, "Outra educação é possível" apresenta-se como um guia essencial,


fornecendo orientações práticas e reflexões aprofundadas para os educadores que desejam

1
Graduanda em Letras - Língua Inglesa na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o e-mail
drieledesouza16@gmail.com.
assumir um papel ativo na promoção da igualdade racial, de gênero e da inclusão em sala de
aula.

Um aspecto notável da obra é a abordagem da autora sobre a representatividade.


Tolentino enfatiza a importância de apresentar aos alunos figuras negras importantes e
inspiradoras, que possam servir de exemplo e de modelo a ser seguido. Ao valorizar e
celebrar a beleza negra, os educadores têm a oportunidade de fortalecer a autoestima e o
senso de identidade dos estudantes, contribuindo para um ambiente mais inclusivo e
empoderado.

Luana descreve o prazer ao propor atividades de pesquisa para seus alunos e as


reações dos discentes às descobertas, como ao fato de Machado de Assis e Maria Carolina de
Jesus serem negros. É inegável que a sociedade brasileira foi fundamentada pela influência
eurocêntrica, que embranqueceu figuras históricas importantes. Desconstruir essas visões
permite ao aluno se ver representado, e conhecer a história como os fatos realmente são.

A autora também destaca a aproximação de diferentes culturas, que desempenham um


papel importante na construção de pontes entre pessoas de diferentes origens e na valorização
da diversidade cultural. Ao incorporar expressões artísticas e culturais das comunidades
afro-brasileiras, os professores podem criar espaços de diálogo e aprendizado que enriquecem
a experiência educacional, proporcionando aos alunos uma visão mais ampla do mundo ao
seu redor.

Ao compartilhar suas ideias e estratégias, a autora nos mostra como é possível


proporcionar aos alunos um ensino que não se limite ao conteúdo programático exigido por
exames e vestibulares, mas que também os capacite, empodere e promova autonomia. Desde
partidas de futebol com estrangeiros até a troca de cartas com crianças de Moçambique,
passando pela prática da meditação e a valorização do funk, Tolentino aborda uma ampla
gama de temas que visam despertar o interesse e a participação ativa dos alunos.

Em seus relatos, a autora faz referências a teóricos renomados como Paulo Freire, bell
hooks, Boaventura Sousa Santos, Kabengele Munanga, Chimamanda Ngozi Adichie e Nilma
Lino Gomes. Ela utiliza as ideias desses autores para embasar suas reflexões e reforçar a
importância de uma educação que respeite a individualidade dos alunos, combata o racismo,
valorize a diversidade e estimule a empatia.
Dificuldades aparecem - algo que é inevitável - especialmente em turmas que não se
comprometem com o que se é proposto, mas a professora insiste na educação e encontra
alternativas plausíveis para cativar turmas.

Tolentino mostra que o objetivo é ir além da mera transmissão de conhecimentos,


buscando uma educação que nutra as almas dos alunos, que os faça sentir-se vistos e
valorizados, independentemente de sua origem étnica, gênero ou classe social. Ela desafia as
estruturas tradicionais e nos convida a repensar o propósito da educação, buscando uma
transformação que beneficie a todos.

A professora-escritora Luana Tolentino não hesita em compartilhar também suas


próprias dificuldades ao longo das crônicas presentes em sua obra. Além das resistências
enfrentadas por seus colegas de profissão, ela relata suas experiências em diferentes turmas,
sempre destacando as questões-problema que surgem. Dessa forma, a autora parte das
necessidades e realidades individuais dos alunos para construir suas atividades pedagógicas.

Como professora de História, Tolentino demonstra que essas questões vão além do
currículo tradicional, ressignificando o significado dos conteúdos. Ela busca tornar o distante
algo presente na realidade dos estudantes. Ao compreender as dificuldades enfrentadas pela
comunidade escolar na periferia de Belo Horizonte e região metropolitana, a autora redefine o
propósito da educação.

A autora deixa uma curta, mas impactante mensagem de esperança no final do livro,
que se apresenta de forma genuína na fala de um aluno, e nas palavras que se sucedem sobre
os desejos da autora para 2018. É notável o impacto que professores que se habilitam a
incluir, ensinar e a aprender tem com os alunos, a escola é um ambiente a qual a vida se
estende, é um espaço que deve abraçar a diversidade e acolher aquela parcela da sociedade
que se manteve invisível aos olhos daqueles que deveriam ser responsáveis por ela.

Tolentino finaliza o livro enfatizando a importância de uma educação viva e


participativa, que permita enxergar o mundo de maneiras diferentes e que atenda às
necessidades e potencialidades dos alunos. "Outra Educação é possível" é uma obra
inspiradora que nos convida a questionar e transformar os modelos educacionais existentes,
buscando construir um ambiente escolar mais inclusivo, diverso e igualitário. A educação
muda histórias.

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