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DIREITO
GUANAMBI – BA
2021
THAMIRES VITÓRIA DA SILVA
GUANAMBI – BA
2021
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha vida, e por ter sido o meu sustento todos esses anos de estudo.
A minha mãe e a minha irmã, que foram o meu alicerce, estando ao meu lado em todos os
momentos.
Aos meus familiares, em especial, a Kelly e Marilza, por todo o apoio emocional que me
deram.
Aos meus amigos e amigas que me incentivaram no decorrer dessa jornada, especialmente,
as minhas amigas Kátia e Márcia que foram as maiores incentivadoras do início desse sonho.
Luiz Gama
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................5
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................6
REFERÊNCIAS ................................................................................................23
5
ABSTRACT: Structural racism is a result of society's own social framework, and dates back
to a long history of enslavement, being a crucial factor for the influence of decisions made in
the criminal sphere. The present study aims to analyze the influence of racism in criminal
decisions issued contemporaneously, as well as its persistence today. For the development of
this research, bibliographic and documental material was used, being the same of theoretical
and qualitative nature. Through the analysis, it was possible to observe that because structural
racism is something already inherent in society, this interferes with the persistence of too
much influence of this type of racism in criminal decisions, in addition to the lack of
awareness that racism is not something natural but a pathology that must be treated and
avoided.
Endereço para correspondência: Rua Treze de Maio, nº 242, Bairro: Centro - Guanambi, Bahia. CEP: 46430-
000
Endereço eletrônico: thamiresvitoriaunifg@gmail.com
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1. INTRODUÇÃO
tomada de decisões.
À visto disso, buscou traçar os principais fundamentos constitucionais e
infraconstitucionais que asseguram a defesa do negro dentro da sociedade, bem como sua
importância para que todos os direitos e garantias sejam resguardados perante a prolação das
decisões penais, tendo isso como uma maneira de punir a pessoa racista, e ainda como uma
forma de afastar a associação do estereótipo negro à pessoa que sempre está tendente a ser
considerada criminosa. Por conseguinte, foi feito o estudo do racismo estrutural que teve
como base sólida a época colonial, onde foi intenso o processo de escravização, e de
colocação do negro como pessoa inferior, indigna e insignificante se comparado aos brancos.
Assim foram analisados casos reais, ocorridos nos anos de 2016 e de 2020, onde a decisão
proferida se pautou unicamente na influência do racismo. Por fim, foi dilucidado na presente
pesquisa os meios de combate a esse racismo que tanto se mostra arraigado em nossa
sociedade.
2. MATERIAL E METÓDOS
dos processos judiciais, que serviram de orientação e de alicerce para a pesquisa no tocante a
análise direta dos casos reais.
Primeiramente, foi apresentado o contexto histórico da escravidão desde a época do
colonialismo até os dias atuais, sendo permitido verificar os resquícios de um tempo tracejado
na segregação e discriminação dos negros, que fez com que o racismo se estruturasse na
sociedade contemporânea. Em segundo plano, foram apontados os direitos e garantias
fundamentais previstos tanto na Constituição Federal de 1988, como nas de mais legislações
infraconstitucionais, elencando a importância da garantia dos direitos das pessoas negras, bem
como de assegurar a igualdade a essas pessoas, para que assim, haja a existência de uma
segurança jurídica e social em casos de práticas racistas.
Por conseguinte, a pesquisa apresenta um problema que afeta o judiciário brasileiro há
anos, porém com enfoque em duas decisões proferidas nos anos de 2016 e de 2020. Desse
modo, a pesquisa foi elaborada com base nos casos mais polêmicos, ou seja, em que houve
maiores repercussões nos meios de propagação de notícias no Brasil. Dessa forma, foi
analisado o caso da juíza de direito da 1ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Curitiba (PR), Inês Marchalek Zarpelon, que proferiu uma sentença,
em 19 de junho de 2020, nos autos do processo nº 0017441-07.2018.8.16.0013, na qual
afirmava que o suspeito de cometer determinado delito, praticava-os por ser negro. Há
também o emblemático caso da juíza Lissandra Reis Ceccon, da 5ª Vara Criminal de
Campinas, que proferiu uma decisão, em julho de 2016, no processo nº 0009887-
06.2013.8.26.0114, na qual alegou que o réu suspeito de latrocínio não teria os estereótipos de
um ladrão, já que é branco com cabelo, pele e olhos claros.
Logo, apresenta uma pesquisa explicativa, considerando, principalmente, a
preocupação em analisar e identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a
ocorrência da problemática abordada no trabalho. Segundo o pensamento de Gil, esse tipo de
pesquisa é a que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o
porquê das coisas (GIL 2002).
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os negros se fizeram presente desde o início da formação social do Brasil, tendo papel
fundamental na colonização e povoamento do país, tanto pelos próprios negros como por seus
descendentes, por isso faz-se relevante estudar o contexto histórico da escravidão como forma
de entendimento do enraizamento de um racismo que se moldou desde os séculos passados.
O início da escravidão brasileira decorre de uma longa história que se perpetuou a
partir da saga da escravidão africana. O continente africano se tornou o foco dos europeus,
sendo reduzido a um reservatório de mão de obra, onde os europeus com o objetivo de
escravizar os africanos passaram a trazê-los para o Brasil, nos porões dos seus navios. Os
portugueses, principais povos a querer colonizar o Brasil, formando-o como um país, passou a
utilizar os cativos como base para a realização deste propósito, o tráfico negreiro se tornou
indispensável, funcionando como uma atividade de primeiro plano (ALBUQUERQUE E
FILHO, 2006).
Nessa perspectiva, Selma Ribeiro de Farias, seguindo as orientações de Bento et. al
(2016) e de Schwarcz, & Starling (2015), destaca:
a vertente histórica acerca do negro no Brasil tem seu início com o advento do tráfico
negreiro no período da escravidão, período colonial, em consequência de os
portugueses trazerem os negros para serem escravizados no país, esse período
perdurou por um longo tempo. Schwarcz, & Starling (2015), lembram que a
escravidão no Brasil ocorreu entre os séculos XVI e XIX e se sustentava basicamente
pela exploração da força de trabalho de homens e mulheres negros, que chegavam ao
Brasil, pelo tráfico negreiro via oceano atlântico. (FARIAS, 2019, p. 04)
Nesse sentido, insta firmar ainda, ressalva importante feito pela professora Simone de
Alcantara Savazzoni, no que diz respeito ao preconceito, ao racismo e a discriminação, onde
preceitua que ―preconceito, racismo e discriminação são, portanto, o resultado da intolerância
à diferença existente no outro‖ (SAVAZZONI, 2015, p. 6).
Feito isso, a que se falar na discriminação racial que a população negra vinha
sofrendo. Em 1909, por exemplo, o negro Monteiro Lopes foi eleito ao cargo de deputado
federal, todavia, houve a tentativa de obstar a posse ao cargo, sem que houvesse algum
motivo. Importante falar também, que os negros eram constantemente segregados,
principalmente, em ambientes controlados por brancos racistas. Em consonância a isso, havia
ainda, a proibição de pessoas negras participando de times de futebol, e eram proibidos, além
disso, de ocupar qualquer posição superior aos brancos dentro dos clubes futebolísticos
(ALBUQUERQUE E FILHO, 2006).
Soma-se a essas desigualdades, a dificuldade dos negros em achar emprego, dado que
os comerciantes preferiam contratar outros imigrantes para ocuparem os postos de trabalho.
Nesse sentido, vale salientar que, as elites brasileiras criaram um discurso altamente racista,
que menosprezava o trabalhador nacional para vangloriar o imigrante branco. Urge evidenciar
que a população racista, negava a existência de qualquer racismo, e ainda afirmavam que as
dificuldades de ascensão social sofridas pelas populações negras, não possuíam como causa a
discriminação racial (ALBUQUERQUE E FILHO, 2006).
Diante o exposto, vê-se que as desigualdades, o preconceito e as discriminações raciais
e o racismo estrutural são observados como resquícios dos séculos de escravidão dos negros,
pelos quais o Brasil passou, e que se demonstra forte na sociedade atual.
As discriminações disferidas aos negros, aliado ao preconceito que esta minoria
enfrentava e ainda enfrenta se arquitetaram e se moldaram na sociedade, devido a essas
marcas que a escravidão deixou, perpassando e se estruturando gradualmente até os dias
atuais.
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Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes. (CONSTITUIÇÃO, 1988)
O Estado deve ter como propósito evitar qualquer contrariedade a essas disposições
constitucionais, não deve ir contra a própria ordem jurídica, ao fomentar ou se mostrar inerte
diante da desigualdade racial e do racismo para com os negros (PRUDENTE, 1988).
O sistema constitucional vigente, ainda abarca como dispositivo preventivo de
condutas racistas o inc. XLIII, do art. 5º, CF/88, que alude: a prática do racismo constitui
crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei
(CONSTITUIÇÃO, 1988).
Ainda, é necessário ressaltar que o Estado Democrático de Direito se fundamenta na
dignidade da pessoa humana, conforme o inc. III do art. 1ª, da Constituição. A dignidade da
pessoa humana é notável e poderoso princípio/fundamento prelecionado até mesmo nos
ordenamentos jurídicos internacionais, como exemplo na Convenção Americana de Direitos
Humanos, que ressalta em seu art. 11. Item 1, que toda pessoa tem direito ao respeito de sua
honra e ao reconhecimento de sua dignidade (CONVENÇÃO, 1969).
Quando o negro sofre o racismo torna-se inevitável a violação tanto de sua honra
quanto de sua dignidade humana, uma vez que fica exposto a uma situação humilhante,
vexatória e desumana. A dignidade humana é qualidade inerente a toda pessoa, e é nesse
sentido, que o Estado deve assegurar firmemente o fundamento da dignidade da pessoa
humana, dado que este é um valor supremo que atrai todos os demais direitos fundamentais
(SILVA, 2007).
Ainda no tocante as legislações que buscaram amparar os negros, bem como
criminalizar as condutas racistas, torna-se importante mencionar a Lei nº 7.716/89,
denominada também de Lei Caó, por ter sido proposta pelo ilustre deputado Carlos Alberto
Caó (PDT), esta lei define crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A Lei Caó,
configura-se como marco histórico na legislação brasileira, uma vez que era reivindicação
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antiga das lideranças afro-brasileiras e de toda a sociedade civil, voltada para a proteção dos
direitos humanos (PRUDENTE, 1988).
Após o momento de abolição da escravidão já retratada neste trabalho, ficaram como
resquícios da própria escravidão, a desmoralização dos negros, que eram discriminados,
explorados e ultrajados, e isso veio se intensificando cada vez mais. Sendo assim, após mais
de cem anos da promulgação da Lei Áurea, que libertou os negros da escravidão, havia a
necessidade de repensar o crescimento do racismo e das desigualdades raciais, pois apesar dos
negros não serem mais escravos, eles não possuíam os mesmos direitos e acesso que os
brancos tinham (PRUDENTE, 1988).
A Lei nº 7.716/89 presta papel precioso no combate, não só do racismo, mas a outras
formas de discriminação. Possui o intuito de preservar os fundamentos já expostos na Carta
Magna, como exemplo, os citados anteriormente. Além disso, busca também a proteção e a
promoção do bem de todos, repudiando qualquer forma de discriminação.
Ainda, com o intuito de reparar a injustiça social causada aos negros e de equiparar a
sua condição social e econômica ao dos brancos, houve também a criação de políticas
públicas visando à igualdade racial. Dentre elas, irei destacar nesse trabalho, a política de
cotas raciais, contudo, antes de tratar das políticas públicas, o primeiro passo a superar é o
entendimento acerca de seu conceito, conforme o entendimento de Maria Célia Delduque e
Silva Marques:
A exteriorização da politica está muito distante de um padrão jurídico uniforme e
claramente apreensível pelo sistema jurídico. [...] As políticas públicas são expressas
de diversos modos, sem um padrão jurídico claro e definido. Normalmente, são o
resultado de uma criação legislativa, complementada por meio da edição de atos
administrativos, nas suas mais variadas formas (DELDUQUE; MARQUES, 2009, p.
5).
Nesse caminhar, observa-se que as ações afirmativas têm como fito uma tentativa de
corrigir o estigma de grupos considerados minorias, discriminação em razão da cor da pele,
gênero entre outros. Com isso, depreende-se que as cotas raciais funcionam como uma forma
de reparação por todo dano causado aos negros ao longo dos tempos, bem como a toda
estigmatização feita para com esse grupo. Por meio das cotas há a democratização do acesso
ao ensino superior, significando assim, um grande avanço nos números de matrículas por
parte dos negros, nas universidades.
A lei nº 12.711/2012 é que regulamenta o percentual das vagas reservadas aos negros,
realizando assim a democratização do acesso dos negros ao ensino superior. Vale frisar, que a
lei também regulamenta outros tipos de cotas, como por exemplo, as dos povos indígenas. De
acordo o Ministério da Educação (MEC), 20% das vagas para estudantes das universidades
públicas federais já são ocupadas por pretos, pardos e indígenas (MEC, 2016).
Faz-se imperioso ressaltar ainda, neste tópico, a importância da garantia do devido
processo penal nos casos de racismo nas decisões dos magistrados, uma vez que este deve ser
formado por todos os direitos fundamentais incorporados no ordenamento jurídico brasileiro,
por isso, ao passo que, há a ocorrência de racismo, e que este influencia na decisão do juiz,
verifica-se que não foi assegurado no processo penal, as suas devidas garantias e formalidades
legais. Assim sendo, é perceptível a relevância de se estabelecer um devido processo penal,
pautado na fixação de papéis claros para cada um dos intérpretes do processo penal, limitando
assim, a sua atuação sob pena de deturpar o padrão constitucional de um devido processo
legal (SANTIAGO NETO, José de Assis, 2016). Por conseguinte, reforça-se a obrigação dos
magistrados em sempre seguir as normas legais que preceituam um devido processo penal,
para que assim a decisão não resulte de um indevido processo penal.
Frente às legislações vigentes, abarcadas anteriormente, e que possuem o fito de
amparar e garantir os direitos fundamentais dos negros, tal como diminuir as desigualdades
raciais, o racismo estrutural, os preconceitos e discriminações sofridas pelos negros, faz-se
importante lembrar que estas contribuem fortemente para o alcance destes objetivos, no
entanto, a luta contra o racismo é longínqua e árdua, e devido a isso, tanto o Estado quanto a
sociedade deve-se se atentar para tais legislações, sendo ao mesmo tempo vigilantes delas,
para que assim, seja possível vislumbrar a superação desse abismo racial presente desde
séculos passados.
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À frente das legislações e dos preceitos constitucionais citados no tópico anterior, era
de se esperar daqueles que têm o honroso dever tanto de aplicar as legislações quanto de
salvaguardar os direitos previstos nestas, o máximo de neutralidade, de imparcialidade e
também de justiça. Todavia, diante de alguns casos que serão expostos nesse tópico, não foi
assim que os magistrados/julgadores procederam.
O racismo estrutural presente fortemente na sociedade perfaz diversos âmbitos. No
judiciário brasileiro ele também se evidencia, principalmente, quando da tomada de algumas
decisões. Os juízes deixam se levar no momento da aplicabilidade da sentença ou até mesmo
do julgamento, pelos estereótipos das pessoas, manifestando assim, o seu ideal extremamente
racista.
Nesse sentido, torna-se difícil cogitar a atuação dos magistrados exclusivamente
pautada na legislação, isento de cargas valorativas e ideológicas (CAMPOS, 2009).
Nessa toada, é que se faz importante os ensinamentos de José Afonso da Silva, onde
examina o preceito constitucional da igualdade como direito fundamental sob o prisma da
função jurisdicional:
A igualdade perante o Juiz decorre, pois, da igualdade perante a lei, como garantia
constitucional indissoluvelmente ligada à democracia. O princípio da igualdade
jurisdicional ou perante o juiz apresenta-se, portanto, sob dois prismas: como
interdição ao juiz de fazer distinção entre situações iguais, ao aplicar a lei; como
interdição ao legislador de editar leis que possibilitem tratamento desigual a situações
iguais ou tratamento igual a situações desiguais por parte da Justiça (SILVA, 1999, p.
156).
Para tal a Constituição afirmou que a jurisdição fosse exercida pelos seguintes órgãos
do Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal (STF); Superior Tribunal de Justiça (STJ);
Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; Tribunais e Juízes do Trabalho; Tribunais e
Juízes Eleitorais; Tribunais e Juízes Militares; Tribunais e Juízes dos Estados, Distrito Federal
e dos Territórios e, finalmente, os Juizados Especiais 13 e de Paz (CONSTITUIÇÃO, 1988).
Quem é detentor da função jurisdicional não pode, em hipótese alguma, ser
influenciado por estereótipos, preconceitos, ou qualquer outra forma que se verifique
discriminatória. Deve-se vislumbrar os direitos fundamentais assegurados a todos,
indistintamente, independentemente de raça, cor, sexo, classe social etc.
A partir da criminalização de condutas racistas previstas no art. 5º, inc. XLII da CF/88,
houve o estabelecimento de um sistema antirracista de esfera penal, este por sua vez deu
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A decisão proferida ganhou grande repercussão e revolta por parte daqueles que lutam
e defendem uma sociedade destituída de racismo e discriminação racial. A conduta da juíza
demonstrou fortemente a influência racial, advinda de um racismo estrutural, que fez e ainda
faz total ingerência nas decisões penais tomadas por quem representa o judiciário brasileiro.
A Corregedoria Nacional de Justiça move processo contra a juíza, o processo ainda
tramita no referido órgão no momento da escrita desse trabalho, no segundo semestre do ano
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Essa dessemelhança impõe nas estruturas sociais uma hierarquia, colocando sempre o
negro numa posição inferiorizada em relação aos brancos. Frisa-se ainda que todo o processo
colonial pelo qual o Brasil perpassou moldou essa sociedade estruturalmente racista e
tracejada em fortes desigualdades raciais.
Segundo os pensamentos de Simone Alcantara Savazzoni:
Assim sendo, vê-se o quão importante se faz repensar as marcas racistas que se
estruturam ao decorrer de gerações. Que se fincaram e internalizaram no subconsciente de
cada individuo criando estigmais de segregação de um grupo em detrimento de outro.
É imperioso refletir sobre a naturalização das condutas racistas, não somente dos
magistrados, mas também da coletividade, que por muitas vezes esboçam atitudes racistas e
que nem sequer enxergam tal conduta como sendo racista.
Além disso, é necessário pensar seriamente na importância da formulação de das
políticas públicas para as populações negras, como um fator relevante de atenuação da
influência do racismo uma vez que estas buscam não beneficiar os negros, mas sim equiparar
e amenizar as desigualdades avistadas entre os negros e os brancos. (SANTOS, 2010) A
formulação de políticas de promoção da igualdade racial em todas as esferas de governo
devem ser ampliadas e intensificadas, consolidando-se a temática da desigualdade e à
discriminação racial como objeto legítimo e necessário da intervenção pública.
É necessário urgentemente a conscientização dos brancos, para que possam refletir e
reconhecer que gozam de muitos privilégios se comparados aos negros. Importante também
pensarem em seus comportamentos de superioridade, de segregação para com os negros, bem
como deixarem de achar que a cor da pele os torna melhores ou os colocam numa posição
hierárquica maior (RIBEIRO, 2019).
Além disso, é papel ultra relevante do judiciário brasileiro lutar contra quaisquer
condutas racistas, enfrentando e buscando dirimir o racismo estrutural presente também nas
estruturas jurídicas, dessa maneira, deve asseverar a punição aqueles que praticarem violações
a direitos constitucionais e infraconstitucionais, impondo sempre as sanções nos casos em que
houve a configuração da conduta racista e discriminatória (MACHADO, SANTOS E
FERREIRA, 2015).
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Por fim, devem-se preservar altamente os movimentos sociais que lutam para
assegurar os direitos dos negros, e que também tiverem influente e prestigiosa função na luta
contra a desmoralização do racismo e a implementação de instrumentos legais com o intuito
de depreciar os atos de racismo (MACHADO, SANTOS E FERREIRA, 2015).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegarmos ao final desta análise, nota-se que ela apresenta uma temática relevante
para a sociedade, dado sua importância em demonstrar que as condutas racistas propagadas
não somente pelos integrantes do poder judiciário brasileiro, como também pela coletividade
causam aos negros a forte sensação de inferioridade e de segregação social. Esta pesquisa se
propôs, como objetivo geral, analisar a influência do racismo estrutural nas decisões penais
proferidas contemporaneamente, expondo o seu fundamento baseado em um contexto
histórico do colonialismo brasileiro, e como se dá sua ocorrência e a sua persistência nos dias
atuais, tendo em vista os direitos e garantias fundamentais, previstos tanto na Constituição
Federal de 1988 quanto nas de mais legislações. Para o trabalho não se limitar somente à
questões teóricas, buscou demonstrar, através de casos reais, as decisões baseadas em um
racismo evidente.
A partir da pesquisa feita sob a égide dos casos mais polêmicos, ou seja, em que houve
maiores repercussões nos meios de propagação de notícias no Brasil, foi possível concluir
que: as prolações de decisões de caráter racista estão diretamente relacionadas a todo o
processo colonial pelo qual o Brasil perpassou e fez com que moldasse essa sociedade
estruturalmente racista, que trata sua conduta racista com naturalização, tendo em mente que o
negro é sempre criminoso e inferior ao branco.
Para mais, diante das informações levantadas acerca das causas da persistência do
racismo estrutural nas decisões penais proferidas contemporaneamente, ficou evidente que a
falta de conscientização dos indivíduos preconceituosos, bem como o fato de ser algo
decorrente de vários séculos e que já é inerente as relações sociais, jurídicas e econômicas,
são os fatores principais que influenciam para que essa realidade ainda exista. A ausência do
cumprimento dos direitos e das garantias atribuídas às pessoas negras, atrelada a associação
do negro a um criminoso, tal como a falta de reconhecimento de que o racismo é uma
patologia que deve ser discutida, tratada e evitada, também contribuem para que ainda
ocorram no judiciário do país várias decisões de crivo racista.
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Dessa forma, conclui-se que as circunstâncias que levam o judiciário brasileiro e seus
integrantes a proferiram decisões pautadas no racismo, está intimamente relacionada ao fato
do racismo ter se estruturado ao longo do tempo em nossa sociedade, fazendo com que a ideia
criada na época escravagista, da marginalização e inferioridade do negro, seja persistente
ainda nos dias atuais.
Frente a isso, sugere-se a implementação de políticas públicas para as populações
negras, como um instrumento importante de atenuação da influência do racismo, uma vez que
estas têm como fito não beneficiar os negros, mas sim equiparar e amenizar as desigualdades
presentes entre os negros e os brancos. Somando-se a isso, deve o judiciário aplicar punições
eficazes e rigorosas capazes de impedir que seus integrantes ajam de maneira racista, e ainda
possa haver a reflexão de cada individuo sobre todo o sofrimento passado pelos negros, como
uma forma de esquivar-se de qualquer conduta racista, preconceituosa e discriminatória, são
esses os principais meios para acabar com esse racismo que vem se estruturando no ceio
social.
23
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