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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC

CURSO SUPERIOR DE PSICOLOGIA

GABRIELA PELICER BIFFI

A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: IMPORTÂNCIA E


DESAFIOS

BENTO GONÇALVES,
2024
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1. INTRODUÇÃO

Sendo importante considerar a Psicologia como profissão multissetorial e,


além disso, a Psicologia Social como prática indispensável no contexto atual, faz-se
necessário falar sobre esses profissionais, a inserção dos mesmos na política da
assistência SUAS/CRAS e a atuação nos setores e órgãos públicos brasileiros. O
profissional de psicologia fortalece o compromisso social da área, impulsiona
constantemente a busca da autonomia, independência e transformação da realidade
dos indivíduos nas mais diversas situações de risco e vulnerabilidade social, por
isso, identificar possíveis desafios e impasses auxilia no melhor desempenho do
trabalho deste para a sociedade.
A Assistência Social é a política pública que garante a proteção social dos
cidadãos e o apoio a indivíduos, famílias e à comunidade no enfrentamento de suas
dificuldades, por meio de serviços, benefícios, programas e projetos. Tendo em vista
a complexidade da área, faz-se imperiosa a observação e debate no que tange a
relevância do Psicólogo no campo citado. Para isso, a pesquisa que deu suporte e
estrutura para este projeto é a bibliográfica, em que se utilizou de materiais escritos
por outros autores, confiáveis e estudiosos da área, e estes estão disponíveis para o
público em geral.

2. PROBLEMATIZAÇÃO

Em 1988, a Constituição Federal foi o marco inicial das discussões sobre


questões sociais no Brasil, incluindo a assistência social no âmbito da seguridade
social. Em 1993, a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) foi publicada, dando
início à gestão pública e participativa da área e o SUAS (Sistema Único de
Assistência 2 Social) organiza-a de forma descentralizada e participativa, com a
Proteção Social Básica para prevenção de riscos e a Proteção Social Especial para
casos de violação de direitos. Ainda, a assistência social está repleta de outros
serviços e programas para auxiliar a população em geral, englobando diferentes
idades e realidades. O acesso da população ao SUAS é mediado pelo trabalho dos
diferentes profissionais que ali podem atuar, são eles: assistentes sociais,
psicólogos, advogados, pedagogos, economistas, entre outros.

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Os psicólogos conseguem desempenhar grandes contribuições nessa área,
seguindo o princípio da assistência que é garantir a proteção aos cidadãos,
oferecendo apoio a indivíduos, famílias e à comunidade. Também, é existente a
ambição de desenvolver a potencialidade dos indivíduos e fortalecer os seus
vínculos. Os profissionais consideram e atuam sobre a dimensão subjetiva, para
tornar-se possível o desenvolvimento da autonomia e da cidadania destes. Eles
também devem garantir os direitos sociais dos usuários, utilizando como base
norteadora os princípios da impessoalidade, universalidade, economia e
racionalidade, e sempre buscando um diálogo. Foi com a Norma Operacional Básica
de Recursos Humanos – NOB-RH (2005) que se formalizou a atuação do
profissional da psicologia na Assistência Social e a partir da criação do SUAS ele é
inserido na política pública e passa a integrar os CRAS, CREAS, além de unidades
de alta complexidade, como os centros socioeducativos e serviços de acolhimento
institucional.
A atuação do psicólogo no SUAS se destaca por dar suporte, podendo
acolher famílias, participar de visitas domiciliares, estimular a escuta e a
comunicação entre a equipe, desenvolver projetos, realizar atendimentos individuais,
entre outras funções. Em um país marcado por desigualdades sociais, lutar por uma
população vulnerável, almejando alcançar uma perspectiva emancipatória e
construir uma rede de proteção social torna-se um enorme desafio. Para que tudo
isso ocorra, é importante que os profissionais consigam compreender as demandas
que irão receber, percebendo as condições históricas, culturais, sociais e políticas
da sociedade, a partir da busca de conhecimento através das comunidades, do
território (inserção comunitária) e de como todo o meio impacta a vida dos sujeitos.
Nesse sentido, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas
(CREPOP), criado pelo Conselho Federal de Psicologia, visa sistematizar práticas
relevantes em políticas públicas. No entanto, apesar dessa política delinear o perfil
desejado, no cotidiano, o profissional enfrenta novidades e numerosos desafios.
Mesmo com a Psicologia Social e Comunitária sendo utilizada como base teórica
para as atividades, os psicólogos se deparam com incertezas, sem ter diretrizes
claras ou consenso ético-político. Reside, portanto, a importância de avançar na
qualificação dessas práticas e verificar: como é possível aperfeiçoar o trabalho dos

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psicólogos na assistência social e fornecer subsídios e referenciais, tanto práticos
quanto teóricos?

3. OBJETIVO GERAL

Compreender a atuação do psicólogo na assistência social, analisando a


importância e os desafios enfrentados pelo profissional nesse contexto, visando
contribuir com concepções mais amplas e aprofundadas dessa área.

4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Analisar o papel do psicólogo dentro do contexto da assistência social e


investigar de que forma o seu trabalho contribui para a promoção da inclusão
social e para o enfrentamento das desigualdades.
 Identificar e analisar os principais desafios enfrentados pelo psicólogo na
assistência social.

5. JUSTIFICATIVA

A inserção do psicólogo nas políticas públicas esteve crescendo nos últimos


dez anos, e percebe-se como ela é necessária para o processo de humanização, já
que representa um campo de atuação de extrema relevância no contexto
contemporâneo, diante das crescentes demandas sociais e das profundas
desigualdades que marcam a realidade brasileira.
A justificativa para este estudo reside na necessidade de compreensão e
investigação da importância do psicólogo, bem como os desafios enfrentados nesse
contexto social. Ademais, é fundamental aprofundar o conhecimento sobre a
atuação na assistência social, a fim de promover uma reflexão crítica e embasada
sobre as práticas profissionais nesse campo. O entendimento sobre suas funções
específicas e suas possíveis contribuições para a promoção do bem-estar e da
justiça social é essencial para o desenvolvimento de intervenções mais eficazes.
Além disso, os desafios enfrentados pelo psicólogo na assistência social, tais
como a escassez de recursos, a burocracia institucional e as demandas
socioemocionais complexas dos usuários, também justificam a realização deste

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estudo. Compreender esses obstáculos é crucial para propor soluções e estratégias
de enfrentamento que possam melhorar as condições de trabalho dos profissionais e
a qualidade dos serviços prestados à população.
Por fim, a proposição de estratégias e recomendações para superar os
desafios identificados e aprimorar a atuação do psicólogo na assistência social é
essencial para traduzir os resultados deste trabalho em ações concretas que
contribuam para o fortalecimento do campo da assistência social e para o bem-estar
da população atendida por esses serviços.

6. REFERENCIAL TEÓRICO

A incorporação da Assistência Social como política social é considerada


recente para a história brasileira, em que foi inserida como política pública somente
na década de 80, com a promulgação da nova Carta Constitucional em 1988.
(Morais, 2017; Fonseca, 2017, Gonçalves, 2017). Destaca-se a importância da área
ao compreender que sua finalidade é atender a população em vulnerabilidade social,
com vínculos fragilizados e/ou rompidos. Então, para uma política pública tão
relevante é necessário pensar sobre o motivo de ser tão recente a sua inserção na
política brasileira e a falta de conteúdo, de capacitações e de recursos para
profissionais que ali atuam.
A Assistência Social direciona sua atenção para famílias e grupos sociais
onde as vulnerabilidades e riscos sociais se manifestam, influenciados por
fenômenos complexos e multifacetados que afetam as sociedades e os estilos de
vida contemporâneos. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) emerge como
um espaço significativo para a luta e a ampliação da inclusão dos indivíduos,
contrapondo-se à ideologia neoliberal. Ele oferece aos profissionais da Psicologia
uma oportunidade para intervenções qualificadas na esfera da sociedade civil.
(Morais, 2017; Fonseca, 2017, Gonçalves, 2017).
O compromisso social da Psicologia foi moldado pela colaboração de
profissionais em todo o país, essa vertente valoriza a prática comprometida com a
transformação, buscando uma ética voltada para a emancipação humana. A atuação
do profissional na Assistência Social tem como finalidade básica o fortalecimento
dos usuários como sujeitos de direitos. (CREPOP, 2008). O psicólogo é
indispensável nos mais variados meios de atuação, sua visão subjetiva sobre o
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indivíduo colabora para que se possa realizar uma escuta ativa, visando a promoção
de bem-estar.

O indivíduo, em interação constante com seu contexto social (familiar,


comunitário), é o eixo da produção e utilização do conhecimento psicológico
numa prática comprometida com o desenvolvimento, a justiça e a eqüidade
social (MARTINEZ, 2003).

Ao utilizar-se da frase de (MARTINEZ, 2003), compreende-se que os


psicólogos trabalham com todo o meio que envolve o sujeito para ser possível
alcançar o real objetivo: potencializar a capacidade de transformação de cada
indivíduo, com a construção de novos significados. Todo esse desenvolvimento visa
romper com os processos de exclusão (são eles: a discriminação, a violência, o
abuso, a falta de acessibilidade, entre outros) que estão extremamente presentes no
cotidiano da população em situação de vulnerabilidade social. Para que esse
rompimento ocorra é importante que o sujeito comece a ver-se como ocupante de
um lugar de poder, como construtor de sua história e indivíduo que possui direitos e
necessidades.
Entende-se que o papel do profissional de psicologia é de suma importância,
mas mesmo assim há adversidades que este passa para estar inserido nesta política
pública tão necessária. É possível falar sobre a falta de recursos financeiros e
estruturais nos setores, que acabam por limitar as intervenções e serviços,
dificultando o acesso da população a atendimentos psicossociais de qualidade.
Existe também, mesmo nos dias atuais, muito estigma em relação à saúde mental, o
que pode dificultar a aceitação dos serviços pela comunidade, tornando o trabalho
ainda mais desafiador.
As demandas enfrentadas pelos usuários da assistência social muitas vezes
são complexas e multifacetadas, e exigem do psicólogo habilidades de escuta,
acolhimento e intervenção adequadas a cada situação. Muito fala-se da falta de
capacitações e normas claras para esses profissionais, porém, contrapondo com
esta constatação o estudo de Ximenes, Paula e Barros (2009) e Silva e Corgozinho
(2011) destaca que os aspectos teórico-práticos da Psicologia comunitária
apresentam-se como construtos importantes para as ações do profissional na área,
sobretudo no que tange a efetivação de trabalhos coletivos no território das famílias
e seus processos cotidianos para ampliação e fortalecimentos de vínculos e
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processos de colaboração. Evidentemente as ações deste profissional devem estar
pautadas em metodologias participativas. Yamamoto e Oliveira (2010), Fontenele
(2008), destacam que não há modelos de trabalho predefinidos que norteiem a
execução de ações, nem um consenso sobre os princípios ético e políticos para a
atuação do psicólogo nesta área.
As mais variadas situações podem aparecer nos casos relatados
nos serviços, como por exemplo, violência, abuso, negligência e outras situações de
risco, o que pode gerar sobrecarga emocional e estresse ocupacional. Ademais, a
falta de reconhecimento da importância do trabalho do psicólogo na assistência
social por parte da sociedade e das políticas públicas pode comprometer a
valorização e a sustentabilidade desses serviços.
A inserção do psicólogo nas políticas públicas esteve crescendo nos últimos
dez anos, e percebe-se como ela é necessária para o processo de humanização. Foi
com essa nova perspectiva de atuação que a construção de práticas tendo como
objetivo a transformação social, e utilizando-se de uma ética voltada para a
emancipação humana, teve grande enfoque.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho, examinou-se a importância do psicólogo dentro do


contexto da assistência social. Uma das principais conclusões que emergem é a
importância crítica dessa profissão na promoção da inclusão social e no
enfrentamento das desigualdades. A psicologia pode ser incorporada às políticas
públicas para melhorar o atendimento e acolhimento da comunidade por meio da
compreensão de elementos subjetivos, bem como referenciais teóricos e
metodológicos que ajudam a organizar e implementar os programas do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS).
Os psicólogos atuam como facilitadores do processo de autonomia dos
usuários, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Ao estudar de que forma o trabalho deste profissional impacta o cenário brasileiro,
foi possível identificar práticas e intervenções que evidenciam o potencial
transformador dessa atuação. Desde o acolhimento e escuta ativa até o
desenvolvimento de estratégias de intervenção comunitária, os psicólogos
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desempenham um papel crucial, evidenciando a relevância de tais conhecimentos
científicos para esse contexto, o qual ampara indivíduos, ameniza formas de
exclusão e atenua os quadros de vulnerabilidade e fragilização de vínculos afetivos
e sociais.
Ao mesmo tempo em que o trabalho do psicólogo é importante e benéfico na
assistência social, também é necessário discutir os problemas que esses
profissionais enfrentam na vida cotidiana. Destacam-se a escassez de recursos, a
sobrecarga de demandas e a falta de capacitação específica, que acabam por
comprometer a eficácia e a qualidade dos serviços prestados. Diante disso, é
fundamental que sejam implementadas políticas e fornecidos subsídios e práticas
que valorizem e apoiem o trabalho dos psicólogos na assistência social. Isso inclui
investir em formação profissional, melhorar as condições de trabalho, aumentar as
redes de apoio e promover uma abordagem integrada e interdisciplinar.
Em suma, este estudo reafirmou o quanto o papel do psicólogo é
indubitavelmente significativo para o fortalecimento das políticas públicas e
enriquecimento do trabalho no SUAS, através da promoção, proteção e defesa de
direitos. Ademais, destacou-se a necessidade premente de enfrentar os desafios
existentes para garantir que esses profissionais possam continuar contribuindo de
maneira significativa para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e
solidária.

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8. REFERÊNCIAS

Ações e Programas: SUAS. Gov.br, 2023. Disponível em:


https://www.gov.br/mds/pt-br/acoes-e-programas/suas. Acesso em: 20 de Abril de
2024.

BIASUS, F., FRANCESCHI, M. O psicólogo no CRAS: características e desafios


da atuação profissional. Revista de Psicologia da IMED. Erechim, 2015. Disponível
em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5155060.pdf. Acesso em: 20 de Abril
de 2024.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado 1988.

DE MORAIS, J. B. T. DA FONSECA, H. R. R. GONÇALVES, N. P. C. Atuação do


Psicólogo no Sistema Único da Assistência Social. Maranhão, 2017. Disponível
em:
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo14/atuacaodopsicologonosist
emaunicodaassistenciasocial.pdf. Acesso em 20 de Abril de 2024.

REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA ATUAÇÃO DO(A) PSICÓLOGO(A) NO


CRAS/SUAS. CREPOP, 2008. Disponível em:
http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/artes-graficas/arquivos/2008-crepop-
cras-suas.pdf. Acesso em: 21 de Abril de 2024.

SANTIAGO, M. G. O. Cartilha Online: Psicologia e Políticas Públicas - CRP-03 /


CREPOP. 2015. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/24977/1/CARTILHA_ONLINE_Psicologia%20e
%20Pol%C3%ADticas%20P%C3%BAblicas_CREPOP_2015.pdf. Acesso em: 22 de
Abril de 2024.

Yamamoto, O.H., Oliveira, I.F.de. (2010). Política Social e Psicologia: uma


trajetória de 25 anos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 (no especial), p. 9-24,
9
2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/vBxzfyFsdLYrqSJFXNw8j9b/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 de Abril de 2024.

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