Você está na página 1de 16

O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS: o assistente social e o desafio profissional.

8. Eixo: Impasses e Desafios das Políticas de Seguridade Social

Gessyca Cristina Lima Santos Araujo1

RESUMO
O presente artigo tem por objetivo elencar sobre a Política Nacional
de Saúde no campo de intervenção do Assistente Social,
relacionando assim suas competências, atribuições profissionais,
bem como os desafios da profissão. No cenário atual, se faz
necessário que o profissional tenha a capacidade de trabalhar em
grupo, baseado na interdependência dos profissionais envolvidos,
somando todos os esforços possíveis para a realização de tais
serviços. Cabe, portanto, ao assistente social construir um espaço
para a compreensão de seu trabalho interdisciplinar. Analisaremos o
Sistema Único de Saúde e a Política de Humanização deste sistema,
bem como espaço do Assistente Social na área da saúde, suas
maestrias e sua responsabilidade nos quatro principais eixos da
saúde no que tange aos usuários que buscam pelo serviço do
Sistema Único de Saúde – SUS.
Palavras-chave: Serviço Social. Saúde. Atribuições.

ABSTRACT
This article aims to list the National Health Policy in the field of
intervention of the Social Worker, thus relating their skills,
professional attributions, as well as the challenges of the
profession. In the current scenario, it is necessary that the
professional has the ability to work in a group, based on the
interdependence of the professionals involved, adding all
possible efforts to carry out such services. Therefore, it is up to
the social worker to build a space for understanding his
interdisciplinary work. We will analyze the Unified Health
System and the Humanization Policy of this system, as well as
the space of the Social Worker in the health area, their mastery
and their responsibility in the four main health axes with regard
to users who seek the Unified Health System service. – SUS.

Keywords: Social Service. Health. Assignments.

1
Estudante do 4º período do Curso de Serviço Social do Centro Universitário de Santa Catarina – Polo Anil EAD.
Discente do Curso de Serviço Social
Email: gessycalimaadv@gmail.com.
1 INTRODUÇÃO
A mediação do assistente social na saúde tem representatividade histórica
para a categoria, pois está aliada ao movimento de Reforma Sanitária sendo assim
possível a inserção das políticas sociais, sendo possibilitada uma aproximação com
a defesa de uma concepção de saúde como produto social e se tornou uma
necessidade de trabalho profundo juntamente aos usuários e suas demandas
sociais.
O Serviço Social volta sua atenção para o enfrentamento da questão social.
O/a assistente social atua na perspectiva da garantia de direitos e da viabilização
dos mesmos, de condições que fomentem a promoção da saúde e o acesso aos
serviços de saúde, fortalecendo desta forma, a saúde pública universal. Ao se
inserir no meio profissional, o assistente social faz a mediação no processo de
elucidação das questões que dizem respeito na relação saúde/doença.
O Código de Ética Profissional, tem como principal objetivo enfrentar as
expressões da questão social, com o intuito de promover a emancipação dos
sujeitos e a viabilização dos direitos da população de modo que este se reconheça
como sujeito de sua própria história.
Ao abordar sobre a atuação do assistente social na saúde pública, se faz
necessário elencar de forma singular como o profissional lida com as multiplas
determinações no contexto aos usuarios do Sistema Único de Saúde – SUS e suas
principais atribuições profissionais, bem como as ações a serem desenvolvidas pelo
mesmo no seu âmbito laboral.

2 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE

2.1 O Sistema Único de Saúde - SUS

Saúde é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “como um


estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a
ausência de doença ou enfermidade”. É um direito social que independe à condição
de cidadania, assegurado sem distinção de raça, de religião, ideologia política ou
condição socioeconômica, é um direito de todos e dever do Estado assegurar assim
os mesmos, conforme a Constituição Federal de 1988:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

Em 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília,


houve o debate de temas inovadores, principalmente sobre a instituição de um
sistema único de saúde, o qual seria inspirado no modelo inglês e a relação entre a
saúde pública e a sociedade. O sistema único, seria desvinculado da previdência
social, centralizando assim, as políticas governamentais para o setor, ao tempo que
regionalizava o gerenciamento da prestação de serviços, tendo prioridade do setor
público e a universalização do atendimento. (Simões, 2014, p. 127).
A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, assegura que o SUS é
constituído pelo conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. Iniciou-se assim, um
processo de desmonte das políticas públicas de saúde e de minimização do Estado,
transferindo as responsabilidades para a então sociedade civil, composta por
organizações sociais e entidades filantrópicas.
Os princípios assegurados pelo SUS na LOS, estão pautados na
universalidade, preservação da autonomia, igualdade, integralidade e resolutividade,
os quais devem ter sintonia com os princípios de territorialização, intersetoridade,

descentralização, hierarquização, dentre outros. A LOS é categórica quando


demonstra no seu art. 2º, o dever do Estado de prover condições indispensáveis a
seu pleno exercício, por meio de políticas públicas (Bravo, 2000).
Para Matos:
“Cabe ao Serviço Social – numa ação necessariamente articulada com
outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de
Saúde (SUS) – formular estratégias que busquem reforçar ou criar
experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde,
atentando que o trabalho do assistente social que queira ter como norte o
projeto ético-político tem que, necessariamente, estar articulado ao projeto
da reforma sanitária”. (Matos, 2003; Bravo & Matos, 2004).

Ao analisarmos o artigo 200 da Constituição Federal, juntamente com o artigo


6º da LOS, vemos que o SUS é nada mais nada menos, que um conjunto de ações
e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições publicas federais, estaduais
e municipais, da administração publica direta e indireta e das fundações mantidas
pelo Poder Público. O SUS é um sistema universal, onde toda a população seja rica
ou pobre, é usuária. Até mesmo quem não utiliza se beneficia através de
campanhas de vacinação, ações preventivas e de vigilância sanitária.
O Sistema Único de Saúde, foi criado, portanto, de acordo com as diretrizes
de descentralização, atendimento integral e participação popular. Através da criação
do SUS, também se ampliou espaços para a atuação do assistente social, uma vez
que o profissional é tido para atuar com as políticas publicas intervindo e orientando
os usuários sobre direitos sociais.

2.1.1 Política de Humanização no Sistema Único de Saúde - SUS

A Política Nacional de Humanização (PNH) existe desde 2003 com o intuito


de efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão,
qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre
gestores, trabalhadores e usuários.
Valorizar os sujeitos é oportunizar uma maior autonomia, a ampliação da sua
capacidade de transformar a realidade em que vivem, através da responsabilidade
compartilhada, da criação de vínculos solidários, da participação coletiva nos
processos de gestão e de produção de saúde.
Kunkel (apud MENDES SOBRINHO; LIMA, [2007 ou 2008], p. 4) questiona:
“Como se pode falar de humanização se a pessoa é dividida em inúmeras
partes, se ela é toda fragmentada em órgãos e sistemas? Como se pode
falar de humanização se, para tratar de um problema de saúde, a pessoa é
encaminhada de um especialista para outro, sem soluções adequadas e,
muitas vezes, sem sequer ser ouvida? Se cada profissional olha para um
pedaço do seu corpo como se pedaços isolados tivessem vida autônoma? “

Podemos ver que através da política de humanização surge a busca pelo


redimensionamento da atenção em direção às balizes que engendraram o atual
modelo de assistência pública à saúde.
Segundo Casati (2205):
“Os assistentes sociais têm sido chamados para viabilizar junto com outros
trabalhadores esta política. Uma das questões fundamentais é ter clareza
das diversas concepções de humanização, pois a mesma envolve aspectos
amplos que vão desde a operacionalização de um processo político de
saúde calcado em valores como a garantia dos direitos sociais, o
compromisso social e a saúde, passando pela revisão das práticas de
assistência e gestão”

Desta forma, a Política Nacional de Saúde, foi criada como uma forma de
implantar um modelo de atenção aos usuários, reduzir filas e tempo, com ampliação
do acesso, uma garantia aos direitos dos usuários, assegurar que estes direitos
sejam cumpridos em todas as fases do cuidado, desde a recepção até a alta.
A Política de Humanização não pode estar dissociada dos fundamentos
centrais da política de saúde e a garantia dos princípios do SUS, e deve ter como
referencial o Projeto de Reforma Sanitária (CFESS, 2009, p.27).

3 O PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL

3.1 O Serviço Social com profissão

A profissão é regulamentada pela Lei nº. 8.662/93, e o seu exercício


profissional é regido pelo Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais,
conforme resolução do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, o Serviço
Social tem como campo de atuação as políticas sociais, tendo como incumbência a
defender e a garantir os direitos sociais de forma que fortaleça a democracia e
busque a emancipação social.
Santos & Biasoli (2009 p.41) explanam que o profissional do Serviço Social
tem formação ampla, generalista e acadêmica com base teórica, técnica, prática e
política que possibilita elaborar, planejar e executar ações apoiando diversos
seguimentos sociais; é profissão da área da assistência social inserida e articulada
com outras políticas públicas, em especial na dimensão das políticas de saúde,
educação, trabalho, previdência social e cultura, trabalhando com a população nas
suas diferentes formas de nucleação e segmentos de forma sistêmica.
Especialmente com famílias, crianças, adolescentes e a terceira idade,
contextualizados nas diferentes políticas de atendimento (habitação, saúde,
educação e cultura), visando à assistência social, à promoção humana do cidadão
em seu meio social.
A profissão de assistente social exige deveres, mas também assegura
direitos e competências privativas referentes ao exercício profissional. A portaria n.
35, de 19/04/1949 do Ministério do Trabalho declara ser a profissão de natureza
liberal, sendo regulamentada pelo Decreto n. 994, de 15/05/1962 (conhecido como
dia do Assistente Social), classifica como de natureza técnico-científica, cujo
exercício determina a aplicação de processos específicos de serviço social (Simões,
2014).
No Brasil, a profissão teve surgimento a partir de ações sociais de
inspiração católica, tendo crescimento com a intervenção privada, a partir dos anos
1940. Em 1965, o serviço social passou pelo movimento conhecido como
Reconceituação, o qual desdobrou várias tendências, entre as tais a da
modernização e das correntes marxista e socialista.
Os assistentes sociais, de acordo com o parecer sindical, formam uma
categoria de profissionais liberais, tendo sua organização formuladas pelo critério de
identidade profissional, nos moldes do art. 511 da CLT. Atualmente, infere-se ao
assistente social não só as ações assistenciais definidas pela Constituição, como
também diversas políticas sociais na esfera estatal, mas sobretudo na municipal e
no setor privado. É desenvolvido atividades na intervenção diretamente com a
população, atuação em pesquisa, planejamento, consultoria e gestão de políticas,
projetos e serviços de benefícios sociais, dentre outros.
No âmbito municipal, tem atuação nos Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS e CREAS), sendo inseridos nas equipes de proteção social básica e
especial, da respectiva secretaria, fazendo a prevenção de situações de
vulnerabilidade, risco social ou vivencia de fragilidades em famílias; implementando
serviços, programas e projetos; fazendo monitoria e avaliação de serviços,
benefícios de ações preventivas da política pública; núcleos de convivência de
idosos, centros de atenção às famílias e outros. Ao analisar todo o aparato sobre as
situações de vulnerabilidade e risco social, possibilita a organização de serviços
socioassistenciais, potencializando assim, a rede de proteção social básica.
Tendo-se um projeto ético-político, teremos uma profissão bem exercida,
fundada em um ideal capaz de superar a concepção meramente técnica, de modo
que se capacite a formulação de respostas profissionais qualificadas, tecnicamente
adequadas, frente às expressões geradas pelos conflitos sociais, uma profissão que
tenha comprometimento com uma conduta irrepreensível, pautada em valores,
tendo por norte a autonomia e a emancipação da cidadania da classe excluída da
sociedade.
O CFESS, faz a seguinte definição da profissão:
O/a assistente social ou trabalhador/a social atua no âmbito das relações
sociais, junto a indivíduos, grupos, famílias, comunidade e movimentos
sociais, desenvol - vendo ações que fortaleçam sua autonomia,
participação e exercício de cidadania, com vistas à mudança nas suas
condições de vida. Os princípios de defesa dos direitos humanos e justiça
social são elementos fundamentais para o trabalho social, com vistas à
superação da desigualdade social e de situações de violência, opressão,
pobreza, fome e desemprego.

3.2 A atuação do Serviço Social na política de saúde

No final da década de 60, os assistentes sociais foram inseridos na área da


saúde, período este, em que ocorreu a unificação dos Institutos de Previdência
Social – IAPS e a criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, com
posterior surgimento do Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência
Social – INAMPS, tendo desta forma sua consolidação na área da saúde. Por meio
da busca de construção do exercício profissional a partir do modelo médico clínico,
que de fato a profissão foi inserida na saúde, desta forma, o assistente social foi
identificado, em conjunto com outros profissionais, como aquele que podia contribuir
para o aperfeiçoamento do trabalho do médico.
A assistência social neste período não era destinada a todos. Os usuários
eram chamados de “beneficiários” e buscavam atendimento médico nas Santas
Casas de Misericórdia. Na década de 1990, foi que se teve referência de que a
saúde é uma política de direitos com caráter universal e de responsabilidade do
Estado. Esta política de direito de todos e dever do Estado, é implementada por
meio do Sistema Único de Saúde – SUS (CFESS, 2009 p.20).
A questão social é a base da fundamentação do Serviço Social enquanto
especialização do trabalho. A atuação profissional deve estar pautada em uma
proposta que vise o enfrentamento das expressões da questão social que refletem
nos diversos níveis de serviços que se organizam a partir de ações de média e alta
densidade tecnológica (CFESS, 2009 p. 20).
Na saúde, a atuação se dá em quatro eixos: atendimento direto aos
usuários; mobilização, participação e controle social; investigação, planejamento e
gestão; assessoria, qualificação e formação profissional (CFESS, 2009, p.41). Neste
âmbito, as ações desenvolvidas são: informação e debate sobre rotinas e
funcionamento das unidades, objetivando a democratização da mesma e as
necessárias modificações; análise dos determinantes sociais na situação
apresentada pelos usuários; democratização dos estudos realizados pela equipe;
análise da política de saúde e dos mecanismos de participação popular (CFESS,
2009 p. 28). Portanto, os assistentes sociais direcionam as ações à mobilização e a
participação dos usuários, na garantia de seus direitos à saúde.
O assistente social deve ter uma perspectiva crítica, reflexiva, com aspecto
de intencionalidade, participação, permitindo a compreensão da realidade social.

4 AS DEMANDAS DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE

4.1. Principais atribuições do profissional de serviço social na saúde

O profissional de Serviço Social possui várias funções, descritas pelo


Ministério da Saúde com atuação dentro e fora dos hospitais. O papel do assistente
social na saúde, torna-se determinante para melhorar os serviços das políticas
públicas. É preciso ter um olhar sensível e treinado das situações de
vulnerabilidade.
Os assistentes sociais na saúde atuam em quatro grandes eixos:
atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social;
investigação, planejamento e gestão; assessoria, qualificação e formação
profissional. Estes eixos não devem ser compreendidos de forma segmentada, mas
articulados dentro de uma concepção de totalidade.

4.1.1 Atendimento direto aos usuários

Este atendimento direto aos usuários se dá nos diversos espaços de


atuação profissional na saúde, desde a atenção básica até os serviços que se
organizam a partir de ações de média e alta complexidade, e ganham materialidade
na estrutura da rede de serviços brasileira a partir das unidades da Estratégia de
Saúde da Família, dos postos e centros de saúde, policlínicas, institutos,
maternidades, Centros de Apoio Psicossocial (CAPs), hospitais gerais, de
emergência e especializados, incluindo os universitários, independente da instância
a qual é vinculada seja federal, estadual ou municipal.
As ações predominantes neste eixo, são ações socioassistenciais, ações de
articulação interdisciplinar e ações socioeducativas. Essas ações não ocorrem de
forma isolada, mas integram o processo coletivo do trabalho em saúde, sendo
complementares e indissociáveis. Para realização de tais ações, é de fundamental
importância a investigação atrelada ao trabalho profissional; o planejamento; a
mobilização e a participação social dos usuários para a garantia do direito à saúde,
bem como a assessoria para a qualificação dos serviços prestados e a formação
profissional.

4.1.1.1 Ações socioassistenciais


Estas ações são as principais demandas aos profissionais de Serviço
Social. Segundo Costa (2000), ao serem inseridos nos serviços de saúde, os
assistentes sociais são mediados pelo reconhecimento facial da profissão e por um
extenso conjunto de necessidades que são definidas e também redefinidas,
mediante condições históricas desenvolvidas no Brasil, no que tange a saúde
pública.
Ao ser implementado a partir dos anos 90, o SUS, exigiu formas de
organização do trabalho em saúde, a partir de reclamações históricas do movimento
sanitário. Contudo, polarizações formam realizadas com a contrarreforma na saúde,
que buscam não viabilizar o SUS constitucional, acarretando, no cotidiano dos
serviços, diferentes questões operativas tais como morosidade no atendimento,
precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa,
problemas com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos
usuários.
Portanto, as ações desenvolvidas pelos assistentes sociais devem ir além
do caráter emergencial e burocrático, como também possuir um direcionamento
socioeducativo por meio da reflexão com relação às condições sócio-históricas em
que são submetidos os usuários e mobilizar-se de forma participativa nas lutas em
defesa da garantia do direito à saúde.

4.1.1.2 Ações de articulação com a equipe de saúde


Iamamoto (2002, p. 41) afirma que “é necessário desmistificar a ideia de
que a equipe, ao desenvolver ações coordenadas, cria uma identidade entre seus
participantes que leva à diluição de suas particularidades profissionais”. A autora
considera que “são as diferenças de especializações que permitem atribuir unidade
à equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando aquelas diferenças”
(IAMAMOTO, 2002, p.41).
Ao participar do trabalho em equipe na área da saúde, o assistente social
possui tipos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do
usuário, bem como é competente para os encaminhamentos das ações,
diferenciando assim dos demais profissionais de saúde, como médicos,
enfermeiros, nutricionistas e outros profissionais na área da saúde. A atuação em
equipe, requer do assistente social a observância dos seus princípios ético-políticos,
explicitados nos diversos documentos legais (Código de Ética Profissional e Lei de
Regulamentação da Profissão, ambos datados de 1993, e Diretrizes Curriculares da
ABEPSS, datada de 1996).

4.1.1.3 Ações socioeducativas

Nestas ações, se faz necessário orientações reflexivas e socialização de


informações realizadas por meio de abordagens individuais, grupais ou coletivas ao
usuário, família e população de determinada área programática.
Enfatiza aspectos de informação e debate sobre rotinas e funcionamento
das unidades objetivando a democratização e modificações que se fazem
necessárias; analisar determinantes sociais das situações elencadas pelos usuários;
democratizar os estudos realizados pela equipe; analisar a política de saúde e os
mecanismos de participação popular. O enfoque será a liberdade na construção de
uma nova cultura, fazer com que os usuários participem analisando de forma crítica
a sua realidade potencializando os sujeitos na construção de estratégias coletivas.
Assim, objetiva-se a consciência sanitária definida por Berlinguer (1978, p. 5),
consciência sanitária é concebida como a tomada de consciência de que a saúde é
um direito da pessoa e um direito da comunidade. Como tal direito é sufocado e
esse interesse descuidado, consciência sanitária é a ação individual e coletiva para
alcançar esse objetivo.

4.2.2 Mobilização, participação e controle social

Neste eixo encontram-se ações direcionadas para a mobilização e


participação social dos usuários, familiares, trabalhadores de saúde e movimentos
sociais em espaços democráticos de controle social (conselhos, conferências,
fóruns de saúde e de outras políticas públicas) e nas lutas em defesa da garantia do
direito à saúde. Tais atividades objetivam aos usuários contribuição na organização
da população e dos próprios usuários enquanto sujeitos políticos, que possam
inscrever suas reivindicações na agenda pública da saúde. Desta forma, as ações
de mobilização em defesa da saúde nas áreas em que a instituição se insere e a
articulação com os movimentos sociais. Uma forma de estabelecer a comunicação
entre usuários e a instituição, foi a criação da “ouvidoria”. No SUS, a ouvidoria é um
canal de articulação entre o cidadão e a gestão pública de saúde, cujo objetivo é
melhorar a qualidade dos serviços prestados. Entre suas atribuições estão: receber
as solicitações, reclamações, denúncias, elogios e sugestões encaminhadas pelos
cidadãos e levá-las ao conhecimento dos órgãos competentes.

4. 2. 3 Investigação, Planejamento e Gestão

Constituído por um conjunto de ações que tem como concepção fortalecer a


gestão e participativa capaz de produzir, em equipe e intersetorialmente, propostas
que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos usuários e trabalhadores de
saúde, garantindo-lhes os direitos sociais. Este processo de descentralização das
políticas sociais requer aos profissionais de Serviço Social atuação nos níveis de
planejamento, gestão e coordenação de equipes, programas e projetos. Esta
atuação é embasada na realização de estudos e pesquisas que revelem reais
condições de vida e demandas da classe trabalhadora, como também estudos
sobre o perfil e situação de saúde dos usuários e/ou coletividade. Essas
investigações objetivam alimentar o processo de formulação, implementação e
monitoramento do planejamento do Serviço Social, da política institucional, assim
como da política de saúde local, regional, estadual e nacional. O assistente social
busca, portanto, conceber a saúde no âmbito da Seguridade Social.

4. 2. 4 Assessoria, Qualificação e Formação Profissional

A qualificação e formação profissional visa o aprimoramento da profissão,


tendo como finalidade a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos usuários.
Neste eixo é envolvido a educação permanente dos trabalhadores de saúde, da
gestão, dos conselheiros de saúde e representantes comunitários, além da
formação de estudantes da área da saúde e residentes, como também a assessoria.
Englobam ações especificamente com a equipe de Serviço Social, além dos demais
profissionais de saúde.
As atividades de formação profissional abrangem criação de campo de
estágio, supervisão de estagiários, além de criação e/ou participação nos programas
de residência multiprofissional e/ou uniprofissional e a preceptoria de residentes. A
parceria com as unidades de formação acadêmica, torna-se fundamental para o
desenvolvimento de tais atividades.
A assessoria segundo Matos, 2006:
Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é
desenvolvida por um profissional com conhecimentos na área, que toma a
realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da
realidade. O assessor não é aquele que intervém, deve, sim, propor
caminhos e estratégias ao profissional ou à equipe que assessora e estes
têm autonomia em acatar ou não as suas proposições. Portanto, o assessor
deve ser alguém estudioso, permanentemente atualizado e com
capacidade de apresentar claramente as suas proposições. (MATOS, 2006,
p.).
A assessoria pode ser prestada ao profissional, à gestão para formulação
de políticas sociais e movimentos sociais. Ao ser considerada uma atribuição
privativa do assistente social, deve ser prestada por um profissional graduado na
área.

5 CONCLUSÃO
O assistente social tem por compromisso introduzir a ética a cada uma de
suas ações profissionais, a fim de que seja mais humano, reconhecer os usuários
como sujeitos de direitos que são, possuindo um contexto de cidadania e de
democracia e assumindo o compromisso que só pode ser alcançado por meio de
práticas interdisciplinares, traçado em uma perspectiva ética de humanização e
qualidade de vida.
Ao assegurarmos aos usuários uma prática humanizada, estamos
encarando um desafio para toda a equipe de saúde. Ter uma fundamentação
teórica e prática, deve ser a base do assistente social para superar os obstáculos
que aparecem na atualidade. O assistente social deve buscar os melhores métodos
e meios para garantir direitos e melhores condições de vida aos usuários. As
demandas encaradas no âmbito profissional, também acaba sendo algo desafiador
ao profissional, que deve articular junto aos demais profissionais da saúde,
movimentos sociais e outras políticas sociais.
É importante que o Assistente Social incentive a participação dos usuários
nono que tange ás políticas sociais, haja vista que a materialização do controle
social é fundamental para a construção de uma nova ordem societária, mais justa e
mais igualitária. As ações e intervenções devem ser pautadas na ética e no
compromisso com o usuário, tendo por objetivo a qualidade dos serviços prestados
à população.
Diante do que foi apresentado, se faz notório que a problemática da saúde
pública é histórica. O trabalho profissional no contexto da saúde pública, nos moldes
de uma ação profissional se faz de suma importância para viabilizar estratégias que
objetivem a garantia de direitos e o estabelecimento da mediação entre os serviços
prestados e as demandas apresentadas pelos usuários. Cabendo assim, ao
assistente social, transformar essa complexa estrutura em um atendimento real,
permeado por informações e/ou encaminhamentos, de uma forma humanizada e
compreensível às particularidades de cada usuário a ser atendido de forma crítica e
realizando um movimento de conexão entre teoria e prática.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código de Ética do assistente social. Lei 8662/93 de


regulamentação da profissão. Brasília: CFESS, 2012. Acesso em 24/04/2023.
Disponível em < http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>

BRAVO, M. I.; MATOS, M. C. Reforma sanitária e projeto ético-político do serviço


social: elementos para o debate. In: Saúde e Serviço Social. BRAVO, M. I et al.
(Orgs). 5ª ed. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2012.

BRAVO, M. I. S. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, A. E. et al. (Org) Serviço


Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional. São Paulo: Cortez, 2009.
BRAVO, M. I. S. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas
profissionais. São Paulo: Cortez, 2011.

COSTA, M. D. H. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos(as)


assistentes sociais. In: MOTA, A. E. et al. (Org) Serviço Social e Saúde:
Formação e Trabalho Profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

VASCONCELLOS, A.M. et al. Serviço social e práticas democráticas na saúde.


In: MOTA, A. E. et al. (Org) Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho
Profissional.4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

Rede Humana SUS. Acesso em 01/05/2023. Disponível em <


https://redehumanizasus.net/politica-nacional-de-humanizacao/>

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética do Assistente


Social. Brasília: CFESS, 1993.

Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde. Brasília: CFESS,


2009.

As Dimensões Ético–Políticas e teórico-Metodológicas no Serviço Social


Contemporâneo. In: Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional.
São Paulo: Cortez, 2009.

Você também pode gostar