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A MEDICINA LEGAL: EVOLU«/O E SUA IMPORT¬NCIA PARA

OS OPERADORES DO DIREITO

Irene Batista Muakad1

RESUMO

N„o h· a menor possibilidade de se compreender a import‚ncia da Medicina Legal sem


uma an·lise, ainda que r·pida, de sua histÛria. O trajeto, desta CiÍncia Auxiliar do Di-
reito, d· para ser acompanhado, desde a antiguidade, j· no texto legal mais antigo, se-
gundo alguns, escrito em lÌngua ac·dia, as leis de Eshnunna, rei de Dadusha (REI-
CHER, 2010, p.79) ou pelo cÛdigo penal de Hamurabi, considerado por outros a pri-
meira lei penal. ResquÌcios foram reconhecidos, quando os sacerdotes legislavam, sendo
ao mesmo tempo juÌzes e mÈdicos. No Egito, onde tivemos os maiores tanatÛlogos do
mundo, a atuaÁ„o com caracterÌsticas mÈdico-legais foi marcante. A histerectomia data
da era romana, e no perÌodo canÙnico, em 1521, ocorreu o primeiro exame cadavÈrico
interno, com certa publicidade, o de Papa Le„o X, com suspeita de envenenamento.
Somente no perÌodo moderno, apÛs 1800, È que a cadeira de Medicina Legal se firmou
nas Faculdades de Medicina e de Direito, e, depois disso, n„o pudemos mais desconhe-
cer e ignorar a sua import‚ncia, bem como a sua influÍncia na ·rea jurÌdica. Nunca mais
passou despercebida!

ABSTRACT

There's no possibility of understanding the importance of Forensic Medicine without an


analysis, albeit quick, its history. The path, this Auxiliary Science of Law, gives to be
followed, since antiquity, since the earliest legal text, according to some, written in Ak-
kadian language, laws Eshnunna king of Dadusha (REICHER, 2010, p.79), or the crim-
inal Code of Hammurabi, the first considered by other criminal law. Remains were rec-
ognized when the priests legislated, while being judges and doctors. In Egypt, where we
had the greatest thanatologists in the world, with the performance characteristics medi-
colegal was remarkable. Hysterectomy date from the Roman era, and the canonical pe-
riod in 1521, was the first internal examination cadaverous, with some publicity, to
Pope Leo X, with suspected poisoning. Only in the modern period, after 1800, is the
chair of Legal Medicine was established in the Faculties of Medicine and Law, and after
that, we could not longer ignore and ignore its importance and its influence in the legal
field. Never go unnoticed!

1
Professora Titular de Medicina Forense da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Macken-
zie, Professora Doutora de Medicina Forense do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense, Cri-
minologia da Faculdade de Direito da Universidade de S„o Paulo e Membro da Sociedade Brasileira de
Medicina Legal.

1
EVOLU«/O HIST”RICA

Tanto o Direito quanto a Medicina se preocupam com a harmonia que deve exis-
tir com o ser humano. Os dois tÍm um ponto em comum. O Direito se ocupa do ser in-
tegrado na sociedade, onde h· leis, regras e ordenamentos que lhes ditam obrigaÁıes e
lhes conferem direitos para que exista uma convivÍncia serena e pacÌfica. A medicina
cuida do homem dotado de inteligÍncia, de Ûrg„os e aparelhos, que devem funcionar a
contento. Quando o equilÌbrio org‚nico È quebrado surgem as doenÁas. Entre os direitos
protegidos temos a sa˙de, a integridade fÌsica e a vida, mas esses direitos podem ser
violados, num grupo social, È aÌ que essas ciÍncias se tocam. E o elo de uni„o entre elas
È a Medicina Legal, que age como uma ponte unindo ambas.
Bem afirma Gerardo Vasconcelos (1976, p. 02),

o papel exercido pelo Estado na organizaÁ„o da sociedade È primordi-


al e relevante, pois a liberdade individual È inoperante para assegurar a
cada um, o que lhe È devido nos conflitos atuais dos sistemas polÌticos
e econÙmicos.

A escalada da violÍncia, e dos conflitos em geral, na atualidade, torna cada vez


mais difÌcil a manutenÁ„o da ordem social, pois os direitos aumentam e os deveres se
atenuam. A Medicina Legal sendo um ramo extenso e complexo dos conhecimentos
cientÌficos que une a medicina ao direito, na aplicaÁ„o e elaboraÁ„o das leis que regulam
os atos humanos, È de extraordin·ria import‚ncia para a soluÁ„o de fatos de interesse
jurÌdico. N„o se atem apenas ao estudo de cad·veres, mas se estende a outras ·reas, en-
volvendo o ser humano ainda vivo. Percebe-se que, para melhor formar a sua convicÁ„o,
fica muito difÌcil ao magistrado abrir m„o das informaÁıes dadas por especialistas da
· rea pericial. N„o È uma especialidade mÈdica, È ciÍncia e arte existindo em raz„o das
necessidades de ordem p˙blica e social. Quando adentramos numa sala de aula, quer de
direito quer de medicina, e declinamos os estudos de Medicina Legal, os acadÍmicos
logo percebem o alcance desta ciÍncia que atravessou os tempos, n„o possuindo a proje-
Á„o de hoje, mas sempre dando a sua contribuiÁ„o para a soluÁ„o de casos concretos
(ALMEIDA JUNIOR, 1991. p. 13).
Segundo Hygino Hercules (2005, p. 05) as relaÁıes entre a medicina e o direito
desde a antiguidade existiam porque as regras do bem viver dependiam dos conheci-
mentos a respeito da influÍncia da fisiologia e patologia humanas no comportamento. A
reprovaÁ„o de cunho moral constrange, contudo, n„o afeta os indivÌduos transgressores,
n„o sendo o bastante para manter a harmonia da sociedade. Isso explica existir desde os
primÛrdios normas severas com restriÁ„o da liberdade, perda de patrimÙnio e atÈ da
vida.
A Medicina Legal surgiu para colaborar na soluÁ„o das questıes existentes entre
os membros da sociedade, tornando, desta forma, a vida em grupo vi·vel e menos con-
turbada.
A evoluÁ„o histÛrica da Medicina Legal divide-se em cinco perÌodos:
PerÌodo Antigo - N„o havia um car·ter cientÌfico nas legislaÁıes antigas. Eram
nuvens esparsas e referÍncias isoladas. A lei era a prÛpria religi„o, um simulacro de

2
medicina judici·ria. Tudo decorria do poder dos sacerdotes, tidos como representantes
divinos, que determinavam normas para serem obedecidas de forma que os bons espÌri-
tos acompanhassem o grupo. Quando o castigo dos deuses atingia um membro, sob a
forma de doenÁa, eles eram chamados para afastar espÌritos e curar os doentes. Esses
sacerdotes eram ao mesmo tempo legislador, juiz e mÈdico e como os corpos eram sa-
grados, o exame cadavÈrico interno era proibido. Nesse perÌodo, portanto, a Medicina
Legal tinha apenas o propÛsito de tratar doentes.
O CÛdigo Penal de Hamurabi, da BabilÙnia, do sÈculo XVIII a.C. contÈm sen-
tenÁas ditadas pelo rei Hamurabi, demonstrando relaÁıes jurÌdicas entre mÈdico e paci-
ente. A boa remuneraÁ„o seria dada como uma retribuiÁ„o ao ato mÈdico bem sucedido,
no entanto, a puniÁ„o era aplicada em casos contr·rios. Se um mÈdico, ao tratar o feri-
mento do escravo ou do animal de um homem pobre, os levasse ‡ morte ou produzisse
sequelas, deveria pagar escravo por escravo, animal por animal.
Esse mesmo cÛdigo fazia referÍncia ‡ anulaÁ„o de contratos de compra e venda
de escravos, quando estes estivessem doentes. No sÈculo V a.C. as leis de Manu proibi-
am que idosos, deficientes mentais e loucos, crianÁas e embriagados fossem ouvidos
como testemunhas, impedimentos que surgiram mais tarde no mundo ocidental com a
Lei das XII T·buas em 449 a.C. No Egito, antes do embalsamamento era obrigatÛrio
exames para a elucidaÁ„o da causa da morte; pelas tÈcnicas usadas para embalsamar, os
egÌpcios foram considerados os maiores tanatÛlogos de todos os tempos e os mÈdicos,
de ent„o, distinguiram pela primeira vez as diversas formas de fraturas. Nos casos de
violÍncia sexual, o suspeito era atado ao catre, em uma sala do templo, observando as
hierÛdulas, nuas, danÁando, ao seu redor e, seria imediatamente condenado caso o Ûrg„o
o traÌsse. Pelas leis de MenÈs as mulheres gr·vidas somente seriam punidas apÛs o par-
to.Em 1240 a.C, na China, as legislaÁıes vigentes instruÌam sobre o exame ìpost-
mortemî, indicavam antÌdotos para venenos e j· orientavam sobre respiraÁ„o artificial.
Na GrÈcia, antes da perÌcia, o mÈdico prestava juramento junto ao altar de Eu-
menes e, data dessa Època, os fundamentos da medicina do trabalho, em especial Plat„o
(427 a 347 a.C.) que descrevia as deformaÁıes nos artes„os em decorrÍncia de seus ofÌ-
cios. TambÈm vemos pr·ticas incipientes quando HipÛcrates opinava sobre os nasci-
mentos precoces e tardios. AristÛteles fixava em quarenta dias a Època de animaÁ„o do
feto, que foi acompanhada pelos magistrados do AreÛpago no julgamento dos crimes de
aborto (HERCULES, 2005, p.5-7 apud DEL-CAMPO, 2009, p. 03).
Periodo Romano - Em Roma, a primeira determinaÁ„o relativa ‡ perÌcia mÈdi-
co legal consta como sendo de Numa, inspirado pela ninfa EgÈria, e exgindo a pr·tica
da histerectomia2 nas gestantes mortas. Em todos os casos de morte violenta, o cad·ver
deveria ficar exposto ao p˙blico para que qualquer pessoa pudesse opinar sobre o fato
ocorrido. Na Lei das XII T·buas, j· citada, determinava-se que a duraÁ„o m·xima da
gravidez seria de dez meses, o que coincide com o nosso prazo de viuvez como causa
suspensiva de matrimÙnio. A primeira vÌtima de homicÌdio a passar por exame mÈdico,
foi J˙lio CÈsar em 44 a.C. O examinador foi Antistius, um mÈdico amigo, que consta-
tou 23 golpes, dos quais apenas um foi mortal.
No CÛdigo Justiniano encontra-se artigos referentes ao casamento, a impotÍncia,
ao aborto, ‡ interdiÁ„o ‡s doenÁas simuladas, ao parto. Depreende-se dessa lei (483 a
565 a.C.) que a Medicina Legal est· implÌcita, reconhecendo-se os mÈdicos como tes-

2
Denominada hoje cesariana, nome proveniente de ìcoedoî, cortar. In: PEIXOTO, Afr‚nio.
Medicina Legal. 8. ed. 2.vol. Sine local: Livraria Francisco Alves, 1938.

3
temunhas especiais em juÌzo. Registra ainda o Digesto, que a intervenÁ„o das parteiras
era exigida para o exame da prenhez, suposta e duvidosa.
Nessa Època cuidava-se, ainda, das disposiÁıes relacionadas ao casamento, sepa-
raÁ„o de corpos, impotÍncia e ‡ viabilidade fetal.
Segundo Tito LÌvio, o cad·ver de TarquÌnio, assassinado, foi examinado exter-
namente, por um mÈdico, em praÁa p˙blica.
Idade MÈdia ñ A ·rea pericial, nesse perÌodo demonstrou algum progresso. O
mÈdico iria contribuir mais diretamente para o direito, uma vez que Carlos Magno (742
a 814) determinava que os pareceres mÈdicos deviam orientar os juÌzes em casos de
les„o corporal, infanticÌdio, suicÌdio, estupro, impotÍncia e outras eventualidades.
Um perÌodo muito negro para o direito penal, e, para o que se denominaria mais
tarde Medicina Legal, com a fragmentaÁ„o do impÈrio de Carlos Magno, pois instalou-
se o regime feudal, e voltaram os costumes e usos locais, prevalecendo a pr·tica cruel
da mÌstica germ‚nica das provas inquisitoriais (ord·lios- JuÌzo de Deus). Prova da ·gua
e Ûleo ferventes, do fogo, da cruentaÁ„o e tantas outras.
No entanto na FranÁa, no sÈculo XIII, o Livro da Lei Comum de S„o Luis, de-
terminou a substituiÁ„o dos duelos judiciais e alguns ord·lios pela palavra dos mÈdicos.
Juntas mÈdicas constituÌdas por um mÈdico, um cirurgi„o e um botic·rio foram realiza-
das em casos de molÈstias alegadas, por determinaÁ„o do Edito de Godofredo de Bu-
lhıes.
PerÌodo CanÙnico - Nesse perÌodo tornaram-se habituais os Exames Periciais,
por forÁa do prestÌgio do Papa InocÍncio III em 1219. Essa Època foi influenciada bene-
ficamente pelo Cristianismo. Em 1234 substituiu-se o juramento da acusada pelo exame
mÈdico de virgindade, nos casos de anulaÁ„o de casamento.
A import‚ncia de mÈdicos nos tribunais foi ganhando maior destaque e, na Fran-
Áa, Felipe ìO Audazî emite as ìCartas Patentesî em 1278, fazendo referÍncia a cirurgi-
ıes juramentados junto ao rei, e, a nomeaÁ„o de mÈdicos, cirurgiıes, parteiras e barbei-
ros para funcionarem, como peritos, em casos de les„o corporal, morte violenta e aten-
tado ao pudor acabam se tornando frequentes em Paris.
As autÛpsias continuavam a ser realizadas clandestinamente pelos anatomistas,
mas em 1374 o Papa GregÛrio XI concedeu ‡ Faculdade de Medicina de Montpellier a
primeira autorizaÁ„o para exames internos para estudos anatÙmicos e clÌnicos. Ainda
estava longe a necrÛpsia MÈdico Legal. Em 1521, quando o Papa Le„o X veio a Ûbito
com suspeita de envenenamento, seu corpo foi necropsiado (FRAN«A, 2004, p. 04).
Em 1532 a promulgaÁ„o da ìConstitutio Criminalis Carolinaî, do imperador
alem„o Carlos V, marcou de maneira indelÈvel a histÛria da Medicina Legal. A Consti-
tuiÁ„o do ImpÈrio Germ‚nico abrigava o embri„o da mesma como disciplina distinta e
individualizada. Abordava v·rios temas mÈdico-legais. Tornava obrigatÛria a perÌcia
mÈdica, antes da decis„o dos juÌzes nos casos de ferimentos, assassinatos e tantos ou-
tros. … o primeiro documento bem organizado de Medicina Judici·ria. Como esses rela-
tÛrios eram avaliados pelas faculdades de medicina, acabou ocorrendo maior divulgaÁ„o
dos problemas mÈdico-legais e despertando muito interesse dos estudiosos. As compila-
Áıes desses relatÛrios foram, a bem da verdade, o germe das primeiras obras de valor no
mundo ocidental. Isto posto, È un‚nime e muito justo o pensamento de que a Alemanha
È o berÁo da Medicina Legal.
Em 1575, na FranÁa, Ambroise ParÈ, escreve o primeiro livro da matÈria, sendo
denominado por Lacassagne, pai da Medicina Forense e da Medicina Cir˙rgica, escre-
vendo v·rias obras sobre cirurgia e anatomia sem nunca ter estudado numa Faculdade
de Medicina. Para ele a Medicina Legal È a arte de fazer relatÛrios mÈdicos na justiÁa
4
(PEREIRA, 1982, p. 13;16-17). Em 1597, na It·lia, o mÈdico Baptista Codronchius,
publica uma obra onde estuda problemas mÈdico-legais de traumatologia, sexologia e
toxicologia. Em 1598 Fortunato Fidelis escreve um grande tratado em quatro livros,
defendendo a idÈia de que, sem o exame cadavÈrico completo a informaÁ„o pericial ao
direito nunca seria perfeita. Ainda nesse mesmo ano, SÈverin Pineau afirma em sua obra
que o hÌmen pode permanecer intacto, mesmo apÛs a conjunÁ„o carnal, sendo essa a
primeira citaÁ„o em literatura mÈdica ao hÌmen complacente.
PerÌodo Moderno - O verdadeiro fundador e maior autor de Medicina Legal,
reconhecido pela unanimidade dos autores, realmente foi Paulo Zacchia, que, de 1621 a
1635 para uns, 1621 a 1658 para outros, e ainda com muitas outras datas desencontra-
das, escreve ìTodas as Questıes de Medicina Legalî em sete volumes ou dez como
afirmam [...].3
Sob a influÍncia das obras escritas, an·lises em anatomia, e exames cadavÈricos,
percebeu-se a import‚ncia dessa disciplina, bem como a necessidade de dar-se uma
formaÁ„o especÌfica nessa ·rea, que tanto se relacionava com o direito. Surge assim,
o primeiro curso especializado em Medicina Legal, em Faculdade de Medicina, em
1650, na Alemanha. Em 1682 È realizada a prova hidrost·tica de Galeno em caso de
infanticÌ- dio, substituindo-se a confiss„o da m„e por prova pericial. Em 1689 publica-
se a princi- pal obra alem„, atÈ ent„o, onde as lesıes corporais s„o classificadas em
mortais por si e as que s„o letais quando agravadas por outros meios; as caracterÌsticas
diferenciadoras entre as lesıes ìintra vitamî e ìpost mortemî s„o mostradas; a
necessidade da autÛpsia completa È provada e, informava que deveria haver um maior
controle mÈdico dos ve- nenos, agente lesivo muito utilizado para a pr·tica de
homicÌdios.
Na FranÁa apÛs Ambroise ParÈ, quase nada de import‚ncia se produziu. Os peri-
tos, na sua maioria, eram venais, incompetentes e sem experiÍncia; eram muitas as ju-
risdiÁıes, para a obtenÁ„o da confiss„o, torturavam-se os rÈus, ‡s vezes com a ausÍncia
de defensor durante todo andamento da causa. Os mÈdicos, funcion·rios do Estado,
exerciam ao mesmo tempo a atividade pericial e a medicina preventiva. O ˙nico a ter
algum destaque ent„o foi o professor de Medicina Legal e Sa˙de P˙blica Antoine Louis,
que dentre os trabalhos escritos discorreu, em 1772, sobre as lesıes por contragolpe nos
traumatismos cranianos. Todavia, o cÛdigo promulgado por Napole„o em 1808, colocou
ponto final em todos os abusos, pr·ticas secretas e inquisitoriais. O trabalho dos juÌzes
e o parecer dos mÈdicos tornaram-se p˙blicos. O interesse pelo social fez com que a
medicina preventiva se desenvolvesse mais, pois a plebe e a burguesia, menos favoreci-
das que a nobreza, eram as mais sofridas e atingidas por epidemias, surge assim a Medi-
cina P˙blica. A fÌsica, quÌmica e biologia foram incorporadas ‡ Medicina Legal, em
raz„o das grandes informaÁıes que prestavam. Orfila, pai da toxicologia moderna, in-
troduziu ricos informes na ·rea pericial, tendo em vista serem muito comuns os casos de
envenenamentos, por suicÌdio, acidente e homicÌdio4.
A partir de 1821 ocorre um progresso na ·rea da Medicina Legal surgindo no-
mes importantes como Philippe Pinel na Psiquiatria Forense, Auguste Tardieu e Paul
Camille Brouardell que organizaram uma disciplina mais pr·tica e objetiva sem perder
seu car·ter cientÌfico. Lutaram incansavelmente pela evoluÁ„o dessa ciÍncia auxiliar do
Direito Lacassagne, FoderÈ, Thoinot, Balthazard, Edmond Locard e modernamente Si-
3
ALMEIDA JR, 1991. p. 13-15; CARVALHO, 1987. p.1-3 ; et al., F¡VERO, 1962. p. 16-17.; FRAN-
«A, 2004. p. 4-5.; HERCULES, 2005. p.7.; SIMONIN, 1962. p.1-2..
4
HERCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal: Texto e Atlas, S„o Paulo: Atheneu, 2005. p.07.

5
monin. Em 1834 Devergie instalou o primeiro Curso Pr·tico de Medicina Legal, que
comeÁou realmente a dar certo a partir de 1878, quando foi reaberto por Brouardell, que
era assistente de Tardieu, catedr·tico de Medicina Legal em Paris. Em Viena, em 1818
tivemos o primeiro Instituto MÈdico Legal graÁas a aÁ„o de Von Hoffmann. Na It·lia a
fase ·urea foi representada por Cesare Lombroso, Mario Carrara e Enrique Ferri. 5De-
pois de 1800, o ensino da Medicina Legal n„o ficou mais despercebido nem deixado de
lado, e as decisıes judici·rias passaram a ter e contam atÈ hoje com uma grande aliada
na demonstraÁ„o da verdade dos fatos.
ApÛs meados do sÈculo XIX, as ciÍncias biolÛgicas, fazendo uso de mÈtodo ci-
entÌfico, acarretaram um grande progresso e modificaÁ„o nos diagnÛsticos mÈdicos de
doenÁas. Surgiram aos poucos, as especialidades clÌnicas e cir˙rgicas, tudo na esteira
dos estudos dos pesquisadores da ·rea pericial, e, sendo assim, a Medicina Legal passou
a ser considerada ciÍncia, uma forma de medicina aplicada.6

MEDICINA LEGAL NO BRASIL

A Medicina Legal no Brasil sofreu forte influÍncia dos franceses depois italianos
e alem„es. Segundo Hil·rio Veiga de Carvalho, a primeira publicaÁ„o da ·rea, registra-
da por FlamÌnio F·vero e Oscar Freire data de 1814. A evoluÁ„o do estudo, ensino e
pesquisa desta ciÍncia auxiliar do direito partiu da Bahia e do Rio de Janeiro, onde em
1832 foram fundadas as primeiras escolas de medicina do Brasil.
A opini„o dos autores, acompanhando Oscar Freire divide a evoluÁ„o da Medi-
cina Legal em trÍs fases: a estrangeira, a de transiÁ„o e a de nacionalizaÁ„o.
Fase Estrangeira ñ Compreende o fim do perÌodo colonial atÈ quando Souza
Lima assume a c·tedra de Medicina Legal da Faculdade de Medicina que hoje pertence
‡ Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1877.
Naquela Època os juÌzes n„o eram obrigados a ouvir peritos, a imposiÁ„o decor-
reu apenas com o advento do primeiro CÛdigo Penal Brasileiro em 1830.
Em 1832 sendo regulamentado o processo penal, regras foram estabelecidas para os
exames de corpo de delito, criando-se a perÌcia profissional. Ainda nesse mesmo ano as
escolas mÈdico-cir˙rgicas criadas por D. Jo„o VI em 1808, na Bahia e Rio de Janeiro
foram transformadas em Faculdades de Medicina Oficiais, sendo instalada em ambas a
cadeira de Medicina Legal. Como os alunos, para obter o grau de doutor, necessitavam
defender uma tese, a maioria escolhia a ·rea de Medicina Legal e embora, esses traba-
lhos se tratassem de cÛpias de obras europÈias, serviram para abrir caminho e ampliar as

5
FRAN«A, Genival Veloso de. Fundamentos de Medicina Legal.7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Ko-
ogan S.A, 2004. p. 4-5.
6
ALMEIDA JR, 1991. p. 13-15; CARVALHO, 1987. p.1-3 ; et al., F¡VERO, 1962. p. 16-17.; FRAN-
«A, 2004. p. 4-5.; HERCULES, 2005. p.7.; SIMONIN, 1962. p.1-2.

6
pesquisas. Em 1835 tivemos a primeira publicaÁ„o sobre tanatologia (autÛpsia mÈdico-
legal) no Brasil.
Fase de TransiÁ„o ñ ComeÁou em 1877 com a entrada de Souza Lima para a
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, desenvolvendo o ensino pr·tico em laboratÛ-
rio, e levando progresso ao campo da toxicologia. Inaugurou o primeiro curso de tanato-
logia forense, ministrado no necrotÈrio da polÌcia. Publicou in˙meras obras na ·rea da
Medicina Legal relacionando-a ao Direito, ‡ JurisprudÍncia, ‡ Toxicologia ClÌnica e
QuÌmica Legal, elaborou um Tratado de Medicina Legal e tantas outras. Foi, segundo
FlamÌnio F·vero, (1962, p.20) o maior incentivador e batalhador pela nacionalizaÁ„o da
Medicina Legal. Um exemplo aos mÈdicos e aos juristas; eram magistrais as interpreta-
Áıes que fazia dos textos legais.
Fase de NacionalizaÁ„o - Esse perÌodo teve inicio na Bahia com Nina Rodri-
gues. Percebendo, desde logo, que as condiÁıes do meio fÌsico, psicolÛgico e social n„o
eram iguais as encontradas na Europa, esse ilustre professor compreendeu que havia
necessidade de colher, em nosso prÛprio paÌs, os elementos de laboratÛrio e de clÌnica,
para a soluÁ„o de problemas mÈdico-legais e de criminologia. Desta forma, apÛs estudos
acerca da origem Ètnica das nossas populaÁıes, executou ìAs raÁas humanas e a respon-
sabilidade penal no Brasilî (Idem. p.21).
Com ele tem inicio a era das pesquisas originais. Preocupava-se em n„o permitir
que os julgamentos fossem alicerÁados em doutrinas europÈias. O juÌzo deveria sempre
estar embasado em ensinamentos do nosso prÛprio meio.
Outro seguidor da escola baiana foi Oscar Freire, que jamais se deixou levar pe-
lo meio estrangeiro, dando na sua formaÁ„o tÈcnico-cientÌfica, preferÍncia a uma menta-
lidade nacional.
Na Bahia ensinou Medicina Legal na perÌcia, como Nina Rodrigues sempre de-
sejou, e graÁas a ele houve um grande desenvolvimento nessa ·rea, sendo regulamenta-
do, inclusive em 1916 o funcionamento do ServiÁo MÈdico Legal, onde hoje È o Institu-
to Nina Rodrigues, no qual se concentra o exercÌcio e a docÍncia da especialidade.
Em 1918 Oscar Freire veio para S„o Paulo a convite de Arnaldo Vieira de Car-
valho, organizador da Faculdade Paulista de Medicina. ComeÁou aÌ a sua luta, para o
inÌcio do ensino cientÌfico da Medicina Legal, lanÁando bases para a formaÁ„o de um
grande centro de pesquisas. Depois de ·rdua luta, conseguiu construir a sede da cadeira
na Faculdade de Medicina, e em 1922 instalou-se o Instituto Oscar Freire, onde atÈ hoje
s„o ministradas as aulas de Medicina Legal.
ìO ensino de Medicina Legal nos Cursos de Direito foi proposto por Rui Barbo-
sa, que conseguiu aprovar na C‚mara dos Deputados um Decreto criando a C·tedra de
Medicina Legal nas Faculdades de Direito de todo paÌs, a partir de 1891î. (FRAN«A,
2004, p. 03).
Mesmo que no seu conceito e concepÁ„o pr·tica a Medicina Legal seja uma sÛ,
as metodologias de ensino devem ser diferentes conforme estejamos num curso de me-
dicina ou de direito.
No curso mÈdico, o ensino deve ressaltar o lado pericial, considerando a forma-
Á„o de um profissional capaz de atender ‡ JustiÁa como perito oficial ou nomeado, ensi-
nando a fazer. DaÌ a denominaÁ„o Medicina Legal. Por outro lado deve, tambÈm, quan-
to a Deontologia MÈdica, parte constante da Medicina Legal, cuidar da discuss„o e an·-
lise de temas que interessem na formaÁ„o Ètica de cada mÈdico.
No curso jurÌdico, a Medicina Legal deve ser mais doutrin·ria, como forma de
ensinar a interpretaÁ„o dos Documentos MÈdico Forenses, os laudos, pareceres e atesta-

7
dos, sem deixar de ensinar a import‚ncia pericial, uma vez que ela È necess·ria no dia a
dia dos operadores do direito. DaÌ a denominaÁ„o Medicina Forense.
DefiniÁ„o: A Medicina Legal constitui-se na soma de todas as especialidades
mÈdicas acrescentadas de conhecimento de outras tantas complementares, destacando-
se entre elas a ciÍncia do direito, n„o sendo assim especialidade, mas uma disciplina.
Seu campo de aÁ„o sendo vasto e extenso torna difÌcil uma definiÁ„o precisa, sendo
assim, cada autor acaba propondo uma definiÁ„o de acordo com o seu prÛprio ponto de
vista. Mas se quisÈssemos defini-la dirÌamos simplesmente Medicina Legal È a medici-
na a serviÁo das ciÍncias JurÌdicas e Sociais. Sob o ponto de vista contempor‚neo ela È
uma matÈria interdisciplinar, que auxilia na formaÁ„o de especialistas para dar atendi-
mento aos interesses comuns da medicina e do direito, ou ainda:

Medicina Legal compreende o estudo e a aplicaÁ„o dos conhecimen-


tos mÈdicos e afins que devem ser utilizados para o esclarecimento
dos fatos e negÛcios jurÌdicos, bem como para a elaboraÁ„o das nor-
mas jurÌdicas que regulam a vida socialî.(ALMEIDA JUNIOR, 1991,
p. 13-15).

RelaÁıes: Serve mais a ·rea JurÌdica, do que ‡ prÛpria medicina uma vez que foi
criada em prol das necessidades do Direito. Desta maneira, com as CiÍncias JurÌdicas e
Sociais relaciona-se, completando-se ambas sem nenhum embate.
Colabora com o Direito Penal, quando s„o realizados exames periciais avaliando
lesıes corporais; analisando a realidade ou n„o da ocorrÍncia do infanticÌdio; exami-
nando o cad·ver interna e externamente em casos de homicÌdio; avaliando indÌcios e
vestÌgios em casos de estupro; apresenta interesse na constataÁ„o da periculosidade do
sentenciado e da imputabilidade plena, parcial ou nula do indiciado etc. Com o Direito
Civil no que tange a problemas de paternidade, comoriÍncia, impedimentos matrimoni-
ais, gravidez, impotÍncia ìlato sensuî, concepÁ„o de defeito fÌsico irremedi·vel etc.
Com o Direito do Trabalho quando cuida das doenÁas profissionais, acidentes do traba-
lho, insalubridade e higiene. Quando trata de questıes sobre a dissolubilidade do ma-
trimÙnio, a proteÁ„o da inf‚ncia e ‡ maternidade se presta ao Direito Constitucional.
Com o Direito Processual Civil quando trata a concepÁ„o da interdiÁ„o e da avaliaÁ„o
da capacidade civil e, Penal quando cuida da insanidade mental se estuda a psicologia
da testemunha, da confiss„o e da acareaÁ„o do acusado e da vÌtima.
O Direito Penitenci·rio tambÈm n„o permanece fora do campo de aÁ„o da Medi-
cina Legal na medida em que trata da psicologia do detento, concess„o de livramento
condicional bem como da psicossexualidade nos presÌdios. … uma ciÍncia social vez que
trata ainda dos diagnÛsticos e tratamentos de embriaguez, toxicofilias. Relaciona-se
ainda com o Direito dos Desportos, Internacional P˙blico, Internacional Privado, Direi-
to CanÙnico e Direito Comercial.
N„o raro uma perÌcia mÈdico-legal, para a elucidaÁ„o dos fatos ocorridos, neces-
sita ainda dos prÈstimos da QuÌmica, FÌsica, Biologia,Toxicologia, BalÌstica, Dactilos-
copia, Economia, Sociologia, Entomologia e Antropologia (FRAN«A, 2004, p. 02).
Divis„o Did·tica: A Medicina Legal possui uma parte geral, onde se estuda a
JurisprudÍncia MÈdica, ou a Deontologia MÈdica que ensina aos profissionais da ·rea
mÈdica seus direitos e deveres. Tem tambÈm uma parte especial dividida nos seguintes
capÌtulos:

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Antropologia Forense ou MÈdico-legal: … o estudo da identidade e identifica-
Á„o mÈdico-legal e judici·ria.
Traumatologia Forense ou MÈdico-legal: CapÌtulo extenso e denso que estuda
as lesıes corporais e os agentes lesivos.
Tanatologia Forense ou MÈdico-legal: Estuda a morte e o morto. Conceito,
momento, realidade e causa da morte. Tipos de morte. Sinais de morte. Destino legal do
cad·ver, direito sobre o cad·ver etc.
Asfixiologia Forense ou MÈdico-legal: Trata das asfixias de origem violenta.
As asfixias mec‚nicas como enforcamento, estrangulamento, esganadura, afogamento,
soterramento, sufocaÁ„o direta e indireta e as asfixias por gases irrespir·veis.
Toxicologia Forense ou MÈdico-legal: Analisa os c·usticos e os venenos.
Sexologia Forense ou MÈdico-legal: … um capÌtulo social e cultural.… informa-
tivo e analisa a sexualidade sob o ponto de vista normal, patolÛgico e criminoso.
Psicologia Forense ou MÈdico-legal: Estuda as causas que podem deformar um
psiquismo normal, bem como, a capacidade de entendimento da testemunha, da confis-
s„o, do delinq¸ente e da vÌtima.
Psiquiatria Forense ou MÈdico-legal: Neste capÌtulo a an·lise È mais profunda,
pois trata dos transtornos mentais e da conduta, da capacidade civil e da responsabilida-
de penal.
CriminalÌstica: Estuda a din‚mica do crime, analisando seus indÌcios e vestÌgios
materiais.
Criminologia: Preocupa-se com o criminoso, com a vÌtima e com o ambiente.
Estuda a criminogÍnese.
InfortunÌstica: Estuda os acidentes e doenÁas do trabalho, doenÁas profissio-
nais, higiene e insalubridade laborativas. Devendo sempre lembrar-se da necessidade do
exame pericial do local do trabalho para que se estabeleÁa um nexo de causalidade entre
acidente ou doenÁa e o trabalho.
GenÈtica Forense ou MÈdico-legal: Especifica as questıes ligadas ‡ heranÁa e
ao vÌnculo genÈtico da paternidade e maternidade.
Vitimologia: Analisa a vÌtima como elemento participativo na ocorrÍncia do de-
lito.
Policiologia CientÌfica: Considera os mÈtodos cientÌficos-mÈdico-legais usados
pela polÌcia na investigaÁ„o e elucidaÁ„o dos crimes.
Import‚ncia da Medicina Legal: O Direito È uma ciÍncia humana, desta forma
mister se faz que os profissionais da ·rea tenham um bom conhecimento do que È o ser
humano em sua totalidade. Para tanto n„o È preciso possuir conhecimentos como um
profissional de biomÈdica, no entanto, o mÌnimo para essa compreens„o È necess·rio,
sendo a Medicina Legal um suporte para essa finalidade. A evoluÁ„o tecnolÛgica e das
· reas do conhecimento humano, fizeram com que o exercÌcio do direito moderno
de- penda cada vez mais da contribuiÁ„o desta ciÍncia e, os operadores da ·rea jurÌdica
n„o tÍm como desprezar os conhecimentos tÈcnicos de peritos preparados para dar o
respal- do cientÌfico aos trabalhos forenses, pois somente assim È vi·vel chegar-se o
mais prÛ- ximo possÌvel da verdade dos fatos. No entanto, ela n„o vem recebendo a
merecida atenÁ„o por parte dos profissionais do campo para o qual È destinada.
Muitas vezes È preciso distinguir o certo do que est· duvidoso, explicar de maneira
clara todos os indÌ- cios relacionados ao ocorrido, n„o sendo omitidas
particularidades, para que haja uma conclus„o correta. Nem sempre tem valor para a
medicina convencional algo, que para a Medicina Legal apresenta extraordin·ria
import‚ncia.
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O juiz, n„o pode prescindir desta ciÍncia auxiliar do direito, para ter condiÁıes
de avaliar e sopesar a verdade, analisando os documentos resultantes das perÌcias, ad-
quirindo uma consciÍncia tÈcnica dos fatos que envolvem o problema jurÌdico. Para a
maioria dos autores, a mais importante miss„o do exame pericial È orientar e iluminar a
consciÍncia do magistrado. Erros periciais podem ocorrer, mas conhecendo a Medicina
Legal o aplicador da lei ter· novos elementos de convicÁ„o ao apreciar a prova, poden-
do analisar melhor as informaÁıes tÈcnicas, prolatando sentenÁas, livres de relatÛrios
viciados. Para FranÁa (2004, p.04-05), a necessidade de dar cumprimento ‡s exigÍncias
penais, corroboram com a necessidade de conhecimento da Medicina Legal,

o juiz n„o deve apenas examinar o criminoso. Deve tambÈm verificar


as condiÁıes que o motivaram e os mecanismos da execuÁ„o. Assim,
deve ser analisada a gravidade do crime, os motivos, circunst‚ncias e
a intensidade do dolo ou culpa. A qualidade e quantidade do dano.
Deve ele ter um conhecimento humanÌstico e jurÌdico, uma sensibili-
dade na apreciaÁ„o quantitativa e qualitativa da prova (Idem, ibidem.).

O advogado, no exercÌcio da profiss„o, tambÈm precisa, e muito, destes conhe-


cimentos mÈdico-legais, sendo um crÌtico da prova, n„o aceitando como absolutos cer-
tos resultados, somente pelo simples fato de constituÌrem avanÁos recentes da ciÍncia ou
da tecnologia. Deve saber pedir aos peritos e por outro lado precisa saber interpretar, e
requisitar, em relaÁ„o aos casos em estudo. O pedido formulado deve estar dentro das
possibilidades da ciÍncia e tÈcnica mÈdico-legal.
O promotor de justiÁa tendo o Ùnus da prova, justificando-a e explicando-a, ne-
cessita mais do que ninguÈm dos conhecimentos mÈdico-legais, para uma correta inter-
pretaÁ„o de todos os laudos envolvidos nos casos a serem julgados.
Trata-se de uma contribuiÁ„o de alta valia e È a soma de todas as especialidades
mÈdicas, cada uma colaborando ‡ sua maneira para que a ordem seja restaurada. Por
tudo o que vimos a Medicina Legal em seu estudo e aplicaÁ„o, coopera na execuÁ„o de
leis j· existentes, interpretando os textos legais com significado mÈdico, bem como aju-
da elaborar novas normas relacionadas com a medicina. … uma ciÍncia Ìmpar em seus
aspectos usuais, pois une o conhecimento biolÛgico, cuidadoso e artesanal a tÈcnicas
laboratoriais avanÁadas, com a finalidade de dar ‡ JustiÁa elementos de convicÁ„o, para
a soluÁ„o das variadas questıes dos ramos do conhecimento humano. A perÌcia hoje n„o
È igual ‡ de ontem, nem ser· igual ‡ de amanh„. O papel de ·rbitro e perito, levando ‡
decisıes e sanando as d˙vidas na sociedade e na justiÁa È que d„o ‡ Medicina Legal
extens„o e dela se espera pronunciamentos claros, comprovados e ineg·veis.
Qualquer um que opere na ·rea do direito, precisa reunir condiÁıes para ler, in-
terpretar e saber rejeitar um documento falho, incompleto ou que n„o traduza, com cla-
reza e confianÁa a realidade do espet·culo. Tudo tem que estar fiel. Num ˙nico proces-
so, n„o raro, h· mais de um laudo, em mais de uma ·rea e todas as dificuldades
periciais surgem no dia-a-dia, caso a caso exigindo do advogado das partes, promotor
p˙blico, delegado de polÌcia e da justiÁa atenÁ„o para que n„o fiquem perguntas sem
respostas. Considerando seu extenso campo de aÁ„o, È claro que seria pretens„o
tentar esgotar o estudo acerca dessa matÈria apaixonante que nos assusta inicialmente,
mas que depois nos abre uma longa cortina do tempo, demonstrando que est·
inexoravelmente ligada com a prÛpria histÛria da humanidade.

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