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FACULDADE DE ENFERMAGEM
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
Juiz de Fora
2020
PÂMELLA MUNIZ DOS REIS ROCHA
Juiz de Fora
2020
Ficha catalográfica elaborada através do programa de geração
automática da Biblioteca Universitária da UFJF,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Profª. Drª. Maria Cristina Pinto de Jesus
Universidade Federal de Juiz de Fora
Orientador(a)
_______________________________________________
Profª. Drª. Herica Silva Dutra
Universidade Federal de Juiz de Fora
_______________________________________________
Enfermeira Mestre Vanessa Augusta Souza Braga
Universidade Federal de Juiz de Fora
Dedico este trabalho à toda faculdade de
Enfermagem da Universidade Federal de Juiz
de Fora, a todo corpo docente e discente, no
qual tenho orgulho por ter feito parte.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me colocou neste curso tão amado e me
permitiu chegar até o fim, me dando forças para não desanimar durante toda jornada acadêmica.
A minha orientadora Profa. Dra. Maria Cristina Pinto de Jesus, que com toda paciência,
dedicação, carinho e incentivo, me orientou neste trabalho. Meu muito obrigada.
Ao meu esposo Luiz, que sempre esteve do meu lado, presenciando meus momentos
bons e ruins durantes todos esses anos na faculdade, me ouvindo, incentivando e dando todo
apoio fundamental para minha chegada até aqui.
Por fim, agradeço a todos meus familiares e amigos que, de forma direta ou indireta,
participaram dessa jornada comigo e fazem parte dessa conquista.
RESUMO
Objetivo: identificar e analisar as publicações sobre a formação do enfermeiro no Brasil Comentado [V2]: Penso que a revisão oportuniza
primeiramente a identificação das publicações para sua
após as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Método: trata-se de um estudo posterior análise.
bibliográfico, descritivo, tipo revisão integrativa de literatura, de estudos publicados entre 2002
e 2019, a partir da questão norteadora: qual o conhecimento publicado sobre a formação do
enfermeiro no Brasil após as Diretrizes Curriculares Nacionais? Resultados: Encontraram-se
17 artigos, publicados entre os anos de 2005 e 2018. A análise das publicações fez emergir duas
categorias: As Diretrizes Curriculares Nacionais norteando a formação profissional em
Enfermagem e Perspectiva de docentes e estudantes sobre a formação profissional a partir das
Diretrizes Curriculares Nacionais. Considerações Finais: a análise das publicações mostrou
que maior parte das instituições de ensino superior de enfermagem utiliza as Diretrizes
Curriculares Nacionais como base para formulação, desenvolvimento e avaliação de seus
Projeto Político Pedagógico. No entanto, percebem-se muitas divergências sobre o que é
preconizado nas diretrizes com o que realmente acontece na prática. O currículo integrado se
vê cada vez mais frequente nos cursos, porém, é possível identificar dificuldades dos docentes
em trabalhar com disciplinas fora de sua especialidade. Em relação à formação do enfermeiro
para o Sistema Único de Saúde, evidenciou-se a presença de muitos desafios na implementação
de todos os princípios e diretrizes do referido sistema no processo de formação, destacando
divergências entre o desejável e o real. Espera-se que os achados dessa revisão subsidiem
reflexões de enfermeiros, docentes e estudantes de graduação em Enfermagem quanto à
relevância da integração entre instituição de formação e de saúde, para melhor qualificação
profissional, assim como a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais no processo
de aprendizagem.
Palavras-chave: Educação Superior. Currículo. Enfermagem. Revisão. Comentado [V3]: Sugiro a inclusão deste descritor.
ABSTRACT
Objective: to identify and analyze publications on the education of nurses in Brazil after
the National Curriculum Guidelines (DCNs). Method: this is a bibliographic, descriptive study,
type of integrative literature review, of studies published between 2002 and 2019, based on the
guiding question: what is the knowledge published about the training of nurses in Brazil after
the National Curriculum Guidelines? Results: There were 17 articles published between 2005
and 2018. The analysis of the publications revealed two categories: The National Curriculum
Guidelines guiding professional training in Nursing and Perspective of teachers and students
on professional training based on the Guidelines National Curriculum. Final Considerations:
the analysis of the publications showed that most institutions of higher education in nursing use
the National Curriculum Guidelines as a basis for formulating, developing and evaluating their
Pedagogical Political Project. However, there are many divergences about what is
recommended in the guidelines with what actually happens in practice. The integrated
curriculum is seen more and more frequently in the courses, however, it is possible to identify
teachers' difficulties in working with disciplines outside their specialty. Regarding the training
of nurses for the Unified Health System, there were many challenges in the implementation of
all the principles and guidelines of that system in the training process, highlighting divergences
between the desirable and the real. The findings of this review are expected to support
reflections by nurses, professors and undergraduate nursing students regarding the relevance of
integration between training and health institutions, for better professional qualification, as well
as the implementation of the National Curricular Guidelines in the learning process .
Key-words: Education, higher. Curriculum. Nursing. Review.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos pesquisados. Juiz de Fora (MG),
Brasil, 2020. ............................................................................................................................. 15
Quadro 1: Distribuição dos artigos incluídos na amostra segundo a autoria, ano de publicação,
periódico e tipo de estudo. Juiz de Fora (MG), Brasil, 2020. .................................................. 16
Quadro 2: Síntese dos artigos incluídos na revisão. Juiz de Fora (MG), Brasil, 2020............. 12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 MÉTODO ............................................................................................................................. 13
3 RESULTADOS .................................................................................................................... 15
4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 18
4.1: As Diretrizes Curriculares Nacionais norteando a formação profissional em Enfermagem
.................................................................................................................................................. 18
4.2:Perspectiva de docentes e estudantes sobre a formação profissional a partir das Diretrizes
Curriculares Nacionais ............................................................................................................. 27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 36
6 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 37
11
1 INTRODUÇÃO
A formação em Enfermagem, assim como ocorreu em outras profissões da área de
saúde, a partir dos anos 2000, passou a ter como eixo orientador as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs). A publicação das DCNs para os cursos da área da saúde (Medicina e
Enfermagem) em 2001, representava uma tentativa de corrigir as defasagens decorrentes das
rápidas transformações ocorridas em decorrência aos movimentos por mudanças na educação Comentado [V4]: A palavra mudanças estava aparecendo
duas vezes na mesma frase.
e da necessidade do compromisso com princípios da Reforma Sanitária Brasileira e do Sistema
Único de Saúde (SUS) (COURA, SILVA, SENA, 2017).
Comemorando 30 anos de existência, o SUS representa avanços e conquistas na saúde
da população brasileira. Estudo realizado à época de comemoração de 20 anos do SUS apontou
desafios a serem enfrentados como a qualificação da gestão e do controle social, o
fortalecimento e a qualificação da Atenção Básica como estratégia organizadora das redes de
cuidado em saúde, as dificuldades no acesso às ações e serviços de saúde, a fragmentação das
políticas e programas de saúde, a organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de
ações e serviços de saúde, entre outros que precisam ser enfrentados para a consolidação do
sistema (SOUZA, COSTA, 2010).
Investigação qualitativa que utilizou um grupo focal com professores e um grupo focal
com estudantes, totalizando 36 grupos, com a participação de 109 professores e 149 estudantes
de escolas de Enfermagem públicas e privadas de Minas Gerais mostrou que há um
descompasso entre o desejável (ensinado) e o real (vivenciado) ao abordar a rede de serviços,
pois não são encontradas na prática as inovações propostas pelas políticas de saúde. Constatou-
se como discurso compartilhado por professores e estudantes, que as dificuldades de ensinar o
ideal não coincide com a realidade vivida no cotidiano dos serviços prevalecendo a
compreensão de que as alterações nos processos formativos ainda não foram capazes de
influenciar mudanças no serviço, ocasionando desmotivação(COURA, SILVA, SENA, 2017).
Por sua vez, em relação à formação constata-se na literatura uma distância entre os
princípios propostos nas DCNs dos cursos de graduação em saúde e enfermagem e as mudanças
curriculares ocorridas a partir da publicação dessas diretrizes.
Em relação às estratégias educacionais, por exemplo, a publicação das DCNs de
Enfermagem ressalta no Art. 14, item V, a implementação de metodologia no processo ensinar-
aprender que estimule o estudante a refletir sobre a realidade social e aprenda a aprender
(BRASIL, 2001). Isso pode ser alcançado por meio das estratégias pedagógicas ativas. Contudo
12
estudo de revisão integrativa mostrou que ainda há docentes que têm dificuldades de utilizar
estratégias pedagógicas centradas em metodologias ativas ou que dependam de tecnologias
informatizadas (FARIAS et al., 2018).
Ressalta-se que as DCNs desencadearam um processo de implantação de novos
currículos nos cursos de graduação na área da saúde, reforçando a necessidade da articulação
entre a educação superior e os serviços de saúde, objetivando a formação geral e específica dos
egressos, no âmbito da promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde (BARBOSA,
VIANA, 2008).
Diante do exposto, esta revisão tem como questão norteadora: qual o conhecimento
publicado sobre a formação do enfermeiro no Brasil após as Diretrizes Curriculares Nacionais?
E, como objetivo identificar e analisar as publicações sobre a formação do enfermeiro no Brasil
após as Diretrizes Curriculares Nacionais.
13
2 MÉTODO
Trata-se de um estudo bibliográfico, descritivo, tipo revisão integrativa da literatura, que
permite captação, apreciação crítica e síntese do conhecimento sobre o objeto investigado,
possibilitando a apreensão de temáticas ou problemas relevantes para o conhecimento
(SOARES et al., 2014).
Seguiram-se as seguintes etapas para sistematização da presente revisão: formulação da
questão norteadora; definição dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos; estabelecimento
das informações a serem retiradas das publicações escolhidas; avaliação dos artigos incluídos
na pesquisa; interpretação dos resultados e síntese do conhecimento evidenciado nas
publicações (SOARES et al., 2014).
Elaborou-se a seguinte questão de pesquisa que norteou a busca nas bases de dados
científicos em saúde: qual o conhecimento publicado sobre a formação do enfermeiro no Brasil
após as Diretrizes Curriculares Nacionais?
Realizou-se a coleta de dados no mês de fevereiro de 2019, por meio de busca eletrônica
de artigos científicos nas seguintes bases de dados científicos: Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), diretório de revistas Scientific Eletronic Library
Online (SciELO) e Cumulative Index to Nursing e Allied Health Literature (CINAHL).
Articularam-se para a busca os seguintes descritores obtidos na consulta aos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) e palavras-chave no idioma inglês: “education,
higher”AND“currículum”AND“nursing”.
Utilizaram-se os seguintes critérios de inclusão para composição da amostra: artigos
resultantes de pesquisas e revisões integrativas e sistemáticas da literatura que destacaram a
formação do enfermeiro no Brasil após as Diretrizes Curriculares Nacionais, nos idiomas
inglês, espanhol e português, publicados entre 2002 e 2019, contendo os termos levantados no
título, nos descritores ou no corpo dos resumos, disponíveis em sua versão integral e gratuita
on-line. Delimitou-se como recorte temporal o período de 2002 a 2019, tendo sido o marco Comentado [V5]: Acredito que a explicação do recorte
temporal fica melhor aqui, onde são apresentados os critérios
inicial estabelecido a partir da publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Enfermagem de inclusão.
Resolveram-se as discordâncias entre os revisores por consenso entre a dupla ou por consulta a
um terceiro revisor.
Identificaram-se inicialmente 569 artigos nas bases de dados e um total de 538 foi
excluído por não atender aos critérios de inclusão e/ou não responder à questão norteadora da
pesquisa, o que foi identificado através da leitura dos títulos e resumos das publicações. Dos 31
estudos selecionados, seis eram duplicatas e 25 foram submetidos à leitura completa. Excluiu-
se oito artigos completos por não atenderem ao objetivo da investigação, elegendo-se 17 artigos Comentado [V6]: Estava: seis artigos
Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos pesquisados. Juiz de Fora (MG),
Brasil, 2020.
16
3 RESULTADOS
Entre os artigos analisados destacam-se as revisões da literatura e estudos de abordagem
exploratório documental, que contribuíram para a discussão acerca da importância de nortear a
formação do enfermeiro segundo as DCNs. Os demais estudos, predominantemente descritivos,
com abordagem qualitativa, trouxeram as fortalezas e fragilidades das mudanças curriculares,
na percepção de docentes e discentes. A publicação dos estudos ocorreu entre os anos 2005 e
2018, com maior número na Revista Brasileira de Enfermagem e Acta Paulista de Enfermagem
(Quadro 1).
Quadro 1: Distribuição dos artigos incluídos na amostra segundo a autoria, ano de publicação,
periódico e tipo de estudo. Juiz de Fora (MG), Brasil, 2020.
N° Autoria Ano Periódico Tipo de Estudo
1 FERNANDES et al. 2005 Rev. Esc. Enferm. USP. Estudo teórico
2 BAGNATO, RODRIGUES 2007 Rev. Bras. Enferm. Pesquisa histórica
3 BACKES, SILVA, 2007 Ciênc. Cuid. Saúde. Revisão integrativa
RODRIGUES
4 SILVA, RODRIGUES 2008 Rev. Bras. Enferm. Descritivo
5 ERDMANN et al. 2009 Acta Paul. Enferm. Pesquisa-ação
6 MORETTI-PIRES, 2009 Acta Paul. Enferm. Descritivo, qualitativo
BUENO
7 COSTA, MIRANDA 2010 Esc. Anna Nery Rev. Exploratório-
descritivo, qualitativo
8 MORAES, LOPES 2010 Trab. Educ. Saúde. Descritivo, qualitativo
9 SILVA, RODRIGUES 2010 Rev. Bras. Enferm. Exploratório
documental
10 CHAVES 2014 Interface (Botucatu). Ensaio teórico
11 IDE et al. 2014 Acta Paul. Enferm. Estudo transversal
12 COURA, SILVA, SENA 2015 Rev. Enferm. UFPE on- Descritivo, qualitativo
line
13 MOREIRA, DIAS 2015 ABCS Health Sci. Revisão
14 BETHONY et al. 2016 REME Rev. Min. Descritivo
Enferm.
15 REIBNITZ et al. 2016 Rev. Gaúch. Enferm. Descritivo, qualitativo
16 FREIRE FILHO et al. 2017 J Interprof. care. Exploratório
documental
17 FARIAS et al. 2018 Rev. Enferm UFPE on- Revisão Integrativa
line
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)
17
O Quadro 2 mostra um quadro sinóptico construído a partir dos artigos que atenderam
aos critérios de inclusão estabelecidos, contemplando o título e os resultados encontrados.
Quadro 2: Síntese dos artigos incluídos na revisão. Juiz de Fora (MG), Brasil, 2020
4 DISCUSSÃO
A análise das publicações sobre a formação do enfermeiro no Brasil após a implantação
das Diretrizes Curriculares Nacionais fez emergir dois temas: “As Diretrizes Curriculares
Nacionais norteando a formação profissional em Enfermagem” e “Perspectiva de docentes e
estudantes sobre a formação profissional a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais”.
ser exigidas na formação de recursos humanos dos enfermeiros, pois esta é constituída como
um dos grandes desafios na educação em Enfermagem, tanto para os órgãos de formação,
quanto para a produção do saber (FARIAS et al., 2018).
A despeito de as DCNs em vários momentos reforçarem a importância de se formar um
profissional com competências e habilidades para o trabalho em equipe multiprofissional, com
vistas a garantir a integralidade e a resolutividade do cuidado em saúde, constata-se que seus
eixos fundamentais ainda não foram incorporados ao ensino e a prática profissional como
deveria (BACKES et al., 2014).
A maioria dos estudos analisados aponta a organização curricular baseada em
disciplinas, definidas por áreas de conhecimento. Percebeu-se que em alguns currículos são
enfatizados conteúdos temáticos que não apresentam articulação entre si (COSTA et al., 2018).
Isso contraria o art. 14, item II das diretrizes que destaca a importância de assegurar as
atividades teóricas e práticas desde o início do curso, de forma integrada e interdisciplinar
(BRASIL, 2001).
A busca pela superação de um currículo fragmentado em disciplinas para o currículo
integrado é um dos desafios da graduação em Enfermagem. Um estudo de revisão integrativa,
26
Não somente o Curso de Medicina, mas todos os cursos da área da saúde foram
beneficiados com o Pró-Saúde (BRASIL, 2007). Também foram beneficiados pelo Programa
de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) (BRASIL, 2008). Esses programas
apresentavam ações complementares às DCNs, visando formar estudantes e/ou profissionais de
saúde dentro da parceria e da integração entre ensino-serviço-comunidade, associando-os às
pesquisas voltadas às necessidades da atenção básica (BRASIL, 2007; BRASIL, 2008).
A ideia de programas como o Pró-Saúde nasceu de experiências anteriores da integração
ensino-serviço e da avaliação da aderência dos cursos de graduação em saúde às Diretrizes
Curriculares Nacionais, em que foi constatada que a implementação das diretrizes, na prática,
ainda estava aquém do desejado (BREHMER, RAMOS, 2017).
A flexibilidade dada às instituições de ensino, após a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), de 1996 (BRASIL, 1996), impõe a necessidade de desenvolver a
criatividade e a proatividade nos processos de aprendizagem. Ao considerar-se que a construção
do conhecimento deve pautar-se na realidade social em que estão inseridos docentes e discentes,
entra em pauta a necessidade de reconhecer o perfil de saúde da localidade e da articulação
ensino e serviço. Para avançar nesta perspectiva, são necessários os diferenciados espaços de
conversa, trocas, construção e desconstrução de valores e saberes arraigados entre os envolvidos
na formação profissional (SORIANO et al., 2015).
Desse modo, a abordagem de programas e projetos como o Pró-Saúde e PET-Saúde
durante o processo de formação do enfermeiro e de outros profissionais da saúde constituiu
uma tentativa do Ministério da Saúde e Ministério da Educação de direcionar o processo de
construção do conhecimento às novas demandas da população, além de contribuir para
consolidar as políticas de saúde do SUS, ratificando os serviços de saúde como local de
aprendizagem.
aproxima-se do que é proposto no PPP, embora isso não aconteça plenamente, havendo lacunas
em relação a formação crítica e reflexiva. Evidenciou-se que, para a maioria dos discentes, a
prática da interdisciplinaridade não se mostra eficaz, uma vez que não há articulação entre as
disciplinas e organização curricular. Tal fato também foi declarado pelos docentes, que
denunciaram a presença de fragmentação dos campos de conhecimento e distanciamento entre
as áreas. Percebe-se que a interdisciplinaridade não está estruturada no curso, havendo
divergências entre a teoria e a prática (SILVA, RODRIGUES, 2008).
Salienta-se que a vivência de um trabalho interdisciplinar no curso de graduação permite
que o docente tenha a possibilidade de evidenciar o processo de aprendizagem dos seus
discentes, pois este se torna visível quando o estudante está em outros cenários, com outros
saberes. O impacto da interdisciplinaridade no processo de formação para a prática de
enfermagem se amplia para além da busca de respostas para os problemas vivenciados pelas
pessoas e instituições, estendendo-se a consolidação da integralidade do cuidado nas ações de
saúde (REIBNITZ et al., 2016).
O estudo de Silva, Rodrigues (2008) mostrou que o desenvolvimento dos PPPs
estudados se deu em um processo de construção e avaliação limitado e destaca a pouca adesão
dos docentes, falta de prática do que ficou acordado no coletivo, a ideia de um PPP como
conteúdo teórico, sendo que especialidades e dicotomia teoria-prática ainda se fazem presentes.
Destacou também que a maior parte dos estudantes preferiu não responder por não ter
conhecimento sobre o processo. Esses dados revelam que a construção coletiva ainda não
atingiu o objetivo de inserir todos os discentes e docentes nesse processo. Evidenciou-se que
todos dispõem o conhecimento de que o PPP norteia e qualifica a formação do enfermeiro,
porém demonstram passividade e desinteresse em participar de sua construção e avaliação. Isso
mostra a necessidade de um maior envolvimento dos docentes e discentes para que o PPP seja
construído e avaliado de forma qualificada e efetiva.
Em relação ao envolvimento dos docentes, o estudo de Ide et al. (2014) mostrou que os
professores relataram uma postura engajada e cautelosa frente a metas que ainda não foram
atingidas na implantação do currículo integrado do curso de graduação. Entende-se que esse
envolvimento favorece a superação de resistências às mudanças e possibilita uma programação
conjunta de ações a serem desenvolvidas (FERNANDES et al., 2005).
Em estudo que enfatizou a construção coletiva da proposta curricular por meio de
oficinas com docentes e discentes, com vistas à elaboração de eixos estruturantes em seu PPP,
seleção de conteúdos e competências para a estruturação do currículo, evidenciou-se que a
34
maioria dos docentes referiu contemplar com maior facilidade os conceitos transversais do
curso, estabelecendo conceitos e competências em sintonia com o objetivo geral da disciplina
e ênfase na integralidade (BETHONY et al., 2016).
A integralidade é baseada em uma postura fundamentada na visão integral, subjetiva e
singular do viver humano, que busca o afastamento da hegemonia dos saberes profissionais e a
superação de conhecimentos cristalizados, permitindo práticas interdisciplinares de cuidar e de
ensinar. Entende-se que um PPP estruturado a partir dessa razão e contextualização na relação
docente-discente pode favorecer a formação de enfermeiros generalistas, com capacidade
crítica e reflexiva, como preconizada nas DCNs (BETHONY et al., 2016).
A integração entre disciplinas, conteúdos e entre profissionais da educação e da saúde é
um dos princípios ressaltados nos PPPs dos cursos da área de saúde. Um dos estudos incluídos
na revisão traz o ponto de vista de professores e estudantes sobre a implantação do currículo
integrado em uma escola de enfermagem. De 89 participantes, 61% referiram a implantação do
currículo integrado como muito adequado. Salienta-se que o currículo integrado deve enfatizar
a experiência do eu com o outro, a criação de vínculos entre os indivíduos na instituição e nos
cenários dos serviços de saúde, desenvolver a consciência crítica, relacionar as informações
trazidas e assimiladas durante o curso e o conhecimento reconstruído, aplicado e registrado.
Destaca-se que as atividades comunicativas foram identificadas como efetivas, facilitando a
construção do conhecimento, a aprendizagem significativa dos conteúdos e a autonomia
ajustada aos diferentes níveis de desenvolvimento do discente (IDE et al., 2014).
Salienta-se que estudantes de graduação vivenciam um ensino com disciplinas e
conteúdos separados, resultando na fragmentação de seu aprendizado. É possível identificar
que mesmo com a orientação das DCNs de um ensino baseado na integração de conteúdo,
alguns cursos possuem dificuldades em operacionalizar essa integração em seus currículos.
Esse modelo de formação necessita de práticas pedagógicas que estimulem o discente a atuar
como protagonista, lhe oferecendo a capacidade de aprender a aprender, a fim de garantir a
integralidade na assistência de forma qualificada e favorecendo sua formação (MATTIA,
KLEBA, PRADO, 2018).
A formação baseada por um currículo integrado está cada vez mais frequente entre os
cursos da saúde, pois se mostra favorável às perspectivas profissionais e sociais na atualidade,
apontando destaques para a superação da dicotomia entre teoria e prática, valorizando o ensino
centrado na problematização e a diversificação dos cenários de ensino. Porém, percebe-se ainda
certa dificuldade de docentes em trabalhar sem disciplinas especificas de sua área, que mesmo
35
compromete o desenvolvimento do estudante no que diz respeito aos valores orientados para
cidadania e solidariedade.
Pesquisa sobre mudanças na formação de profissionais de Enfermagem e Nutrição
mostrou que a maioria dos docentes não dispõe de conhecimentos bem definidos em relação à
interdisciplinaridade, princípios do SUS, às diretrizes curriculares e às possibilidades abertas
pelos programas governamentais para a área de saúde coletiva. Ressalta-se que sem esses
conhecimentos, se torna difícil a comunicação e o diálogo que permite a integração mútua entre
as disciplinas e entre os cursos e o SUS (MORAES, LOPES, 2010). Para que o profissional seja
capaz de atuar nos diversos cenários do sistema público de saúde, a instituições de ensino têm
o desafio de implementar novas propostas e métodos de ensino que possam despertar o interesse
do estudante para desenvolver as habilidades e competências preconizadas nas DCNs
(SANTOS et al., 2017).
O SUS foi criado para que fosse reduzida a desigualdade e favorecida a aproximação da
realidade de saúde da formação acadêmica, além de, por meio de políticas públicas, possibilitar
respostas relevantes a respeito das necessidades da população. Segundo o estudo de Coura,
Silva, Sena (2015), a partir do SUS e das políticas de saúde e educação, houve um incremento
nas transformações da formação profissional. De acordo com docentes e discentes, é unanime
o reconhecimento da necessidade de uma formação voltada às demandas do SUS, com foco na
saúde coletiva e Estratégia Saúde da Família. Destacou-se a inserção precoce dos estudantes na
prática, a aposta na articulação entre teoria e prática e a incorporação de temáticas sobre
promoção da saúde e prevenção de agravos logo no início do curso.
Constatou-se certa divergência entre o desejável e o real quando se ensina sobre os
serviços e políticas de saúde. Há a afirmação de que os docentes ensinam o SUS ideal e os
estudantes, ao chegarem à prática, se deparam com o SUS real, que não funciona. O SUS real,
então, se torna um espaço de confronto entre teoria e prática, que deve ser trabalhada na
formação dos egressos para que incentive o seu papel transformador como sujeitos de mudança.
Além disso, ainda se mostra permanente o desafio de implementação de novas tecnologias para
o trabalho em saúde na reorientação da formação do enfermeiro (COURA, SILVA, SENA,
2015).
Para estimular a formação em saúde voltada para a atuação no SUS, os Ministérios da
Saúde e da Educação, em parceria, criaram políticas interministeriais como o Programa
Nacional de Formação Profissional em Saúde, denominado de Pró-Saúde. O estudo de Reibnitz
et al. (2016) incluído na revisão, trouxe a perspectiva de egressos de cursos de enfermagem da
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região sul do Brasil, a fim de analisar as mudanças que ocorreram na formação do enfermeiro
a partir da implantação do Pró-Saúde. Em algumas escolas, o Pró-Saúde foi mencionado como
o programa que gerou marcos importantes no processo de formação e foi identificado como
uma estratégia que possibilitou a efetivação do trabalho interdisciplinar e aproximação do
ensino com o serviço de saúde.
A integração ensino-serviço é compreendida como um processo fundamental na
instituição, porém, se vê o desafio de planejar e supervisionar as ações juntamente com o
serviço, estender na instituição a compreensão do que se deseja com o programa. Salientou-se
o reconhecimento dos egressos de que o processo de formação baseado nos eixos do Pró-Saúde
e na estrutura curricular do curso foram métodos facilitadores para o processo ensino-
aprendizagem, refletindo positivamente em sua prática profissional (REIBNITZ et al., 2016).
Os PET Saúde e Pró-Saúde são considerados relevantes para a utilização da
interdisciplinaridade, fortalecendo a atuação profissional de egressos. Ao vivenciar a realidade
e o trabalho interdisciplinar quando se está inserido nos serviços de saúde, têm-se grandes
oportunidades de conhecer e reconhecer o funcionamento do SUS. Essa aproximação com a
realidade dos serviços permite identificar o fortalecimento na integração entre teoria e prática
assistencial, que permite a percepção do conhecimento teórico adquirido pelo estudante que
posteriormente, o utiliza em sua prática (REIBNITZ et al., 2016).
Evidencia-se que esses programas desempenham papel importante na consolidação das
DCNs de todos os cursos da área da saúde, além de potencializar todos os esforços das
instituições para se efetivar mudanças na estrutura curricular dos cursos e auxiliar na
transformação da formação de recursos humanos para a área da saúde. Destaca-se que os cursos
que desenvolveram seus currículos integrando esses programas, contribuíram para abordagem
de políticas de saúde, colocando os serviços de saúde como importante local de ensino-
aprendizagem, mostrando a dependência que há entre a assistência, gestão e formação em saúde
e proporcionando novos modelos de educação compatíveis com o SUS (BREHMER, SOUZA,
2017; COURA, SILVA, SENA, 2015).
Experiências de instituições que implantaram o Pró-Saúde e o PET-Saúde nos cursos de
graduação referiram seu grande impacto como política capaz de inserir e fortalecer as
discussões sobre a importância da Educação Interprofissional. Evidencia-se que a interação dos
discentes possibilitada por esses programas permite uma visão ampla do contexto em que é
inserido o estudante e assegura que tanto os profissionais quanto estudantes reconheçam formas
diferentes de agir sobre o mundo e suas necessidades. Além disso, argumenta-se que essas
39
iniciativas contribuem para uma formação apta ao trabalho colaborativo com as equipes de
saúde (COSTA et al., 2015).
A integração ensino-serviço mostra-se como uma estratégia que possibilita
transformações das práticas pedagógicas em saúde, dando destaque à formação dos estudantes
como sujeitos de sua própria formação, alteração de sua prática profissional e da organização
do trabalho. Essa integração é considera como uma política de educação permanente em saúde
e garante a permanência das ações de formação em saúde nos serviços. Os diversos cenários do
SUS são considerados espaços capazes de integrar o ensino-serviço e a comunidade,
favorecendo a formação de recursos humanos, a educação e o desenvolvimento de pesquisas
(REBNITZ et al., 2016; BRESSOLIN et al., 2019).
Entende-se que essa articulação é de caráter importante para a formação em saúde, pois
proporciona diferentes trocas de experiências e aprendizagem bilateral. A efetivação da
educação permanente em saúde depende dessas trocas de experiências entre todos os envolvidos
no processo de formação em enfermagem. A educação permanente é considerada como um dos
eixos estruturantes dos projetos do Pró-Saúde, mostrando ser um potencial transformador nas
práticas de ensino, de atenção à saúde com a melhoria na assistência aos usuários e na relação
entre esses âmbitos (MATTIA, KLEBA, PRADO, 2018; BREHMER, SOUZA, 2017).
O SUS preconiza uma postura diferenciada por parte dos gestores, profissionais da
saúde e usuários, onde deve haver trocas efetivas de saberes e práticas, onde o diálogo e os
diferentes conhecimentos são valorizados. O trabalho multiprofissional, com enfoque
interdisciplinar presume essas trocas significativas, tanto de conceitos, teorias e métodos,
quanto de suas práticas, de forma que os profissionais, em seus diferentes conhecimentos
trabalhem de forma integrada e articulada entre si. Essa proposta de trabalho tem sido utilizada
como estratégia de enfrentar o processo de especialização disciplinar, que têm como
consequência a dissociação e fragmentação do trabalho e que ainda é visto em muitas práticas
profissionais (BACKES et al., 2014).
O trabalho em equipe multiprofissional proporciona discussões de casos,
desenvolvimento de noções interdisciplinares, contribuição de diversas profissões e suas
especialidades, buscando uma reflexão mais sistematizada em relação ao cuidado que é
prestado. Evidencia-se que se os profissionais da saúde forem capazes de identificar, em
conjunto, os pontos fortes de cada membro da equipe e utilizá-los para lidar com os problemas
mais complexos dos pacientes, podem desenvolver um papel fundamental e necessário para o
cuidado integral. Portanto, a formação para o trabalho em equipe multiprofissional reforça a
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das publicações identificadas sobre a formação do enfermeiro no Brasil após
as Diretrizes Curriculares Nacionais mostrou que a maioria das instituições de ensino superior
de enfermagem as utiliza como base para formulação, desenvolvimento e avaliação de seus
PPPs. Porém, existem muitas divergências sobre o que é preconizado nas diretrizes com o que
realmente acontece na prática nos cursos de graduação em enfermagem. Destacam-se algumas
dessas divergências, como: a falta de articulação entre teoria e prática, o currículo fragmentado
em disciplinas, a ausência de autonomia dos discentes, falta de trabalho em equipe
multiprofissional, pouco envolvimento de docentes e estudantes na construção coletiva do PPP
do curso, entre outros aspectos. A formação baseada por um currículo integrado se vê cada vez
mais frequente nos cursos de graduação em enfermagem, porém, é possível identificar
dificuldades dos docentes em trabalhar sem disciplinas de sua especialidade, o que os faz optar
pela condução de suas aulas de forma separada.
Percebe-se que a falta de articulação ensino-serviço nos cursos permite o distanciamento
entre a teoria e prática durante a graduação, interferindo na possibilidade de o estudante de
problematizar a realidade vivenciada nos serviços de saúde. Em relação à formação do
enfermeiro para o SUS, evidenciou-se a presença de muitos desafios para implementação de
todos os princípios e diretrizes deste sistema de saúde no processo de formação, destacando
divergências entre o que é desejável e o real quando se ensina sobre os serviços e políticas de
saúde. Com isso, percebe-se que, apesar dos avanços após a instituição das diretrizes, os cursos
de enfermagem ainda enfrentam dificuldades no que se refere à efetivação de todos os requisitos
regidos nas DCNs. Para que isso ocorra, as instituições e todos os envolvidos nas mudanças
curriculares devem se basear nas diretrizes, revisando os avanços e buscando enfrentar os
desafios ainda presentes na formação do enfermeiro.
Espera-se que os achados desta revisão possam subsidiar a reflexão de enfermeiros dos
serviços do SUS, docentes e estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem quanto à
relevância da integração entre instituição de formação e de saúde para qualificar o profissional
de enfermagem, assim como incorporar os princípios das DCNs no processo de aprendizagem.
Este estudo limita-se a formação do enfermeiro no Brasil com foco nas DCNs, portanto
sugere-se ampliar a visão da formação para outros aspectos em futuras pesquisas com vistas a
incrementar a produção de conhecimentos na área.
42
REFERÊNCIAS
BACKES, D. S.; CARPES, A. D.; PIOVESAN, C.; HAEFFNER, L. S. B.; BUSCHER, A.;
LOMBA, L. Trabalho em equipe multiprofissional na saúde: da concepção ao desafio do
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