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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

INSTITUTO INTEGRADO DE SAÚDE – INISA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

THAMARA ROSA LEONEL DA COSTA

O TRABALHO DO ENFERMEIRO COM ADOLESCENTES NA ESTRATÉGIA


DE SAÚDE DA FAMÍLIA: IDENTIFICANDO PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM
SAÚDE E DIFICULDADES.

CAMPO GRANDE, MS
2017
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THAMARA ROSA LEONEL DA COSTA

O TRABALHO DO ENFERMEIRO COM ADOLESCENTES NA ESTRATÉGIA


DE SAÚDE DA FAMÍLIA: IDENTIFICANDO PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM
SAÚDE E DIFICULDADES.

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II, do curso de
Graduação em Enfermagem do Instituto
Integrado de Saúde da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, como
requisito parcial para obtenção do Título
de Bacharel em Enfermagem.

Orientadora: Prfª. Drª. Maria Angélica


Macheti.

CAMPO GRANDE, MS
2017
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O TRABALHO DO ENFERMEIRO COM ADOLESCENTES NA ESTRATÉGIA


DE SAÚDE DA FAMÍLIA: IDENTIFICANDO PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM
SAÚDE E DIFICULDADES.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de


Curso II, do curso de Graduação em Enfermagem do Instituto Integrado de Saúde da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito parcial para obtenção do
Título de Bacharel em Enfermagem.

Resultado: Aprovada.

Local e data: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 20 de Dezembro de 2017.

PRESIDENTE DA BANCA

_________________________________________
Professora Drª. Maria Angélica Marcheti
(Instituto Integrado de Saúde/UFMS)

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Angélica Marcheti – Orientadora
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ UFMS)

________________________________________________________
Profª. Drª. Fernanda Baptista Marques
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ UFMS)

________________________________________________________
Profª. Drª. Margarete Knoch
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ UFMS)
4

AGRADECIMENTOS

Dedico a minha gratidão, primeiramente a Deus por me conceder esta


oportunidade de conhecer a Enfermagem, de me fortalecer, dar graça para vencer os
obstáculos vivenciados durante os cinco anos de graduação, conceder a sabedoria e o
conhecimento adquirido tanto profissionalmente quanto como pessoa.
Agradeço meus pais Lucimara, Itamar e meu Irmão Juliano, por aceitarem e me
apoiarem em minha futura profissão.
Agradeço em especial meu futuro esposo Levino Carvalho por todo apoio, toda
ajuda durante a pesquisa, toda paciência, por ter acreditado em minha capacidade de
concluir o trabalho e por todas as orações.
Agradeço também aos colegas que se tornaram amigos, Karlla Guerra, Silvana
Alves, Wanessa Bezerra, Raquel Ricci, Fernanda Persi e Fernanda Nazario, que
estiveram ao meu lado e compartilharam todos os momentos vivenciados no curso.
Por fim, não menos importante, agradeço a todas as professoras do Curso de
graduação em Enfermagem da UFMS, principalmente as minhas Orientadoras e banca
examinadora Maria Angélica Marcheti, Iara Cristina Pereira, Margarete Knoch e
Fernanda Baptista Marques, por todo conhecimento compartilhado, por acreditar,
incentivar e me motivar em cada passo do trabalho. A todos meus sinceros
agradecimentos.
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RESUMO

Introdução: A Educação em Saúde é a forma de a população realizar troca de


experiências com o profissional de saúde, com o objetivo de motivar a mudança, tanto
de comportamento, como de atitudes perante as situações de vida, proporcionando
autonomia do sujeito participante, pois capacita o indivíduo para tomada de decisões
sobre questões que lhes dizem respeito. As ações de educação em saúde estão inclusas
nas atividades de todos profissionais de saúde, que prestam assistência integral no
âmbito da Estratégia de Saúde da Família, e o enfermeiro como membro desta equipe de
profissionais tem total autonomia de realiza-la. Devido a todos esses fatores, o
Enfermeiro e sua equipe tornam-se fundamentais na captação e atuação direta junto aos
adolescentes, porém, percebe-se a falta ou o desconhecimento de algumas estratégias
educativas que chame a atenção dessa clientela. Objetivo: Identificar as estratégias
educativas utilizadas pelo Enfermeiro e as dificuldades para a captação/adesão dos
adolescentes na Atenção Básica. Método: Trata-se de um estudo descritivo-
exploratório qualitativo. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista
semiestruturada, no mês de Novembro de 2017, com 15 Enfermeiros que trabalham a
mais de dois anos nas Unidades Básicas de Saúde da Família do Distrito Sul de Campo
Grande- MS, e submetidos à análise temática de Minayo. Resultados e discussão: Os
resultados apontaram para a necessidade de investimentos governamentais,
planejamento organizacional, para a capacitação dos profissionais sobre educação em
saúde e sobre o período da adolescência, implementação de outros programas voltados
para a saúde desse público, criação e implantação de políticas públicas que
compreendam o conceito de adolescência e melhor organização do serviço para prestar
uma assistência com qualidade. Conclusão: Concluiu-se que deve-se investir em
educação permanente, criação e implantação de políticas públicas e programas voltados
para esse público e investimento em recursos humanos e materiais.

Palavras- chaves: Enfermeiro. Adolescente. Atenção Básica.


6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8
2 MÉTODO ........................................................................................................ 11
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 12
3.1 O conceito de Educação em Saúde ............................................................. 13
3.2 A Característica da população adolescente e planejamento das ações
educativas .......................................................................................................... 14
3.3 Estratégias educativas para abordagem dos adolescentes ........................... 17
3.4 Dificuldades e/ou limitações do enfermeiro para trabalhar com
adolescentes ...................................................................................................... 20
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 23
5 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 23
APÊNDICE I ................................................................................................... 27
APÊNDICE II .................................................................................................. 29
ANEXOS .......................................................................................................... 30
7

LISTA DE SIGLAS

ACS Agente Comunitário de Saúde


ESF Estratégia Saúde da Família
IST Infecção Sexualmente Transmissível
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
PNEPS Política Nacional de Educação Popular em Saúde
PSE Programa de Saúde nas Escolas
PSF Programa de Saúde da Família
SPE Saúde e Prevenção nas Escolas
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UBSF Unidade Básica de Saúde da Família
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1. INTRODUÇÃO
A Educação em Saúde é uma estratégia utilizada para promover saúde e prevenir
doenças, por meio da construção compartilhada de conhecimentos científicos e
populares. Também pode ser considerada como uma oportunidade de reflexão e troca de
informações entre as pessoas, propiciando mudanças de comportamento e atitudes
perante as situações de vida e condições de saúde (REIS et al., 2013).

A prática educativa em saúde teve inicio no Brasil no final do século XIX e


início do século XX, sendo compreendida apenas como transmissão de informações em
saúde. Nessa perspectiva, a opção pedagógica utilizada buscava prescrever
determinados comportamentos considerados ideais para a prevenção ou minimização de
agravos à saúde (RODRIGUES; SANTOS, 2010).

A consequência dessa abordagem educativa reside no fato de que as pessoas,


grupos e a população se submetem à recepção passiva, sem crítica dos conteúdos, ideias
e práticas, tornando-se cidadãos que nem sempre conseguem observar, analisar e
questionar a sua própria realidade.

Entretanto, com o surgimento da Estratégia Saúde da Família (ESF) em 1994,


cujo propósito é o trabalho na lógica da Promoção da Saúde, torna-se necessária uma
prática educativa que objetive transformar saberes existentes ao invés de apenas
informar.

A Educação em Saúde, portanto, é uma importante tecnologia a ser utilizada na


ESF, pois todo trabalho é realizado em determinado território e deve ser organizado na
lógica da vigilância e promoção da saúde (ALVES; AERTS, 2011).

Nesse sentido, as práticas educativas devem ser capazes de proporcionar


compreensão da realidade, permitindo construção da consciência sanitária com relação
aos problemas existentes bem como a busca de soluções para os mesmos (FILIZOLA,
2005).

Esse pensamento vem ao encontro de outros autores, que afirmam que a


educação em saúde deve proporcionar autonomia dos sujeitos participantes,
capacitando-os para tomada de decisões sobre questões que lhes dizem respeito. Isso
envolve criticidade e diálogo permanente para que seja desenvolvido o processo de
empoderamento dos indivíduos que compõem o grupo escolhido para participar da ação
(SALCI et al., 2013).
9

Desse modo, o modelo educativo a ser adotado busca compreender o ser humano
dentro do seu contexto social como sujeito (protagonista) de sua própria formação. Esta
ocorre por meio da contínua reflexão de cada um sobre sua realidade.

O principal referencial metodológico com potencial para transformação da


realidade social é a Educação Popular em Saúde. Ela incorpora e reflete o conhecimento
adquirido na prática cotidiana das pessoas, valoriza a experiência vivida dos sujeitos,
referenciando-se no diálogo entre a diversidade de saberes, e garante a legitimidade do
saber popular diante do saber técnico.

A adoção dessa perspectiva pedagógica encontra respaldo no Sistema Único de


Saúde, por ocasião da institucionalização da Política Nacional de Educação Popular em
Saúde (PNEPS), por meio da Portaria nº 2.761 de 19 de novembro de 2013 (BRASIL,
2013).

Essa iniciativa certamente contribuirá para que a promoção da saúde seja uma
realidade no Brasil, pois é capaz de instrumentalizar a população e as equipes de saúde
para lidarem de maneira mais adequada com os determinantes do processo saúde-
doença (RODRIGUES; SANTOS, 2010).

A adolescência é uma fase caracterizada por diversas descobertas, transformação


biológica, mental e social. É de grande importância valorizar essa fase, pois é um
período em que o indivíduo fica vulnerável, exposto a fatores de riscos, assim, deve-se
buscar estratégias, como as práticas de educação em saúde (HENRIQUE; ROCHA;
MADEIRA, 2010).

Entretanto, uma das fragilidades da Atenção Básica, tem sido a falta de uma
assistência que considere as particularidades e especificidades dos adolescentes e
jovens, sendo necessária a organização do processo de trabalho das Equipes de Saúde
para fortalecer a política voltada à saúde dos adolescentes (VIEIRA et al., 2011).

A autora supracitada, em um estudo sobre a percepção dos adolescentes com


relação aos serviços oferecidos na ESF, verificou que os mesmos procuravam as
unidades apenas quando se sentiam doentes e desconheciam que tipo de atividades
poderiam ser realizadas pelos profissionais de saúde para atender suas necessidades.

Tal situação é decorrência da formação deficiente dos profissionais de saúde na


graduação, e posteriormente da falta de educação permanente em serviço.
10

Consequentemente a incapacidade para cativar e construir vínculo comunicativo com a


clientela adolescente ainda é um problema premente (VIEIRA et al., 2011).

A prática de um modelo assistencial de caráter biologicista dentro da ESF,


também foi evidenciada em estudo realizado no município de Fortaleza, Ceará, cujo
objetivo foi identificar os sentidos atribuídos pelos profissionais com relação à
promoção de saúde dos adolescentes. Os autores identificaram, dentre outras coisas,
principalmente a ausência nos serviços de ações de promoção da saúde para
adolescentes (SANTOS et al., 2012).

Corroborando com os autores anteriormente citados, os pesquisadores referem


que existem dificuldades na abordagem aos adolescentes, desconhecimento das políticas
vigentes para assistência integral do adolescente e uma prática assistencial muito
voltada aos riscos e agravos orgânico-biológicos, o que impede intervenções com mais
potencial de efetividade (HENRIQUE; ROCHA; MADEIRA, 2010).

Todavia, o trabalho do enfermeiro deve contemplar as especificidades da


adolescência objetivando a qualidade de vida dos jovens. Esse propósito é facilitado
pela possibilidade de inserção na comunidade e troca de experiências entre os
profissionais de saúde e os adolescentes.

Durante a vivência no campo de prática acadêmica, podemos observar que há


um déficit no trabalho com os adolescentes, o enfermeiro não realiza ações ou não
possui estratégias para captar este público, ou seja, os profissionais da ESF conseguem
trabalhar com a população idosa, gestante, criança, porém o adolescente não está sendo
incluído nas ações das Unidades de Saúde.

Portanto, percebe-se a fragilidade na atenção à saúde oferecida aos adolescentes,


em que há déficit de trabalhos desenvolvidos com esse grupo etário nas unidades
básicas de saúde, falta de estímulo para que haja vínculo e confiança entre profissionais
e esse grupo e capacitação inadequada dos profissionais da ESF, ou seja, profissionais
despreparados e pouco resolutivos para abordar os adolescentes (COSTA; QUEIROZ;
ZEITOUNE, 2012).

Torna-se notório este fato a partir das experiências de vivência no campo de


prática, durante a graduação, em que percebe-se a dificuldade do enfermeiro em lidar
com este público, produzir atividades e consequentemente resultados com os mesmos.
11

Tomando-se como referência o que foi discutido no presente texto, pode-se


afirmar que embora a Educação em Saúde represente uma importante ferramenta para
construção da integralidade da assistência de adolescentes, não tem sido
operacionalizada, e quando realizada, ainda é pautada no modelo tradicional de
imposição de conhecimentos, o que não propicia a autonomia dos sujeitos.

Partindo-se do pressuposto que os enfermeiros são membros importantes da


equipe de saúde, os quais devem estabelecer relações singulares com cada usuário,
pretende-se neste estudo, identificar as estratégias pedagógicas utilizadas pelo
profissional Enfermeiro da Atenção Básica com relação à clientela adolescente como
também as dificuldades encontradas.

2. MÉTODO
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa. Foi
realizada uma entrevista semiestruturada, com Enfermeiros atuantes há mais de dois
anos na ESF, estabelecido por se acreditar necessário o conhecimento da área de
abrangência e um tempo mínimo de experiência na área de Atenção Básica.
Foram selecionadas 13 Unidades Básicas de Saúde, que possuem Estratégia de
Saúde da Família, do Distrito Sul de Campo Grande/MS, no mês de novembro de 2017,
que contém um total de 33 Enfermeiros, sendo que 4 deles estavam de atestado médico/
licença maternidade, 6 apresentavam menos de dois anos na ESF. Foram Entrevistados
20 Enfermeiros, 3 não realizaram a entrevista devido a sobrecarga de trabalho e 2
entrevistas não foram realizadas, pois a UBSF estava em reforma, obrigando as equipes
a se dividirem em outras Unidades. Desse modo, foi analisado o total de 15 entrevistas.
A escolha das unidades foi devido ao fato de que a ESF é considerada o eixo
articulador do sistema de saúde e pressupõe a mudança do modelo assistencial curativo
para o atendimento das necessidades de saúde da população.

O instrumento para entrevista consta duas partes: na primeira, com as variáveis


relacionadas à identificação, formação e experiência profissional dos entrevistados; na
segunda, variáveis relacionadas às ações de educação em saúde, quais profissionais as
realizam, as estratégias pedagógicas utilizadas, as dificuldades e as facilidades para a
realização dos encontros educativos (Apêndice II).
As entrevistas foram previamente agendadas de acordo com a disponibilidade
dos sujeitos da pesquisa, em ambiente que impossibilitava interferências externas, sendo
12

gravadas em áudio de dispositivo móvel para posterior transcrição, após apresentação


do estudo solicitou-se a autorização prévia dos entrevistados, que participaram da
pesquisa após leitura da carta de informação e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice I).

Com relação à análise dos dados, as variáveis referentes ao perfil dos


enfermeiros foram submetidas à análise temática, caracterizando os participantes, e para
a análise do material empírico resultante das questões abertas, foi utilizada a análise
temática, que consiste em (...) descobrir núcleos de sentido que compõem uma
comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto
analítico (MINAYO, 2010, p. 316).
O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com a Resolução
CNS/MS nº 466/12, e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, parecer nº 2355425,
aprovado no mês de outubro de 2017.
Após a entrevista, foi transcrito a fala de todos os profissionais, analisadas as
respostas mais frequentes e categorizadas, para serem subdivididas em eixos temáticos.
Desse modo, para a diferenciação e preservação da identidade dos Enfermeiros
entrevistados, foi utilizada a letra E seguido de um número, conforme a ordem em que
se sucederam as entrevistas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os entrevistados apresentaram uma idade média de 37 anos, sendo que 14


Enfermeiros eram do sexo feminino e 1 do sexo masculino, com tempo de formação de
3 a 38 anos. Com um total de 15 Enfermeiros, atuantes a mais de dois anos na ESF, 9
possuíam pós graduação em: Enfermagem do trabalho, gestão da clínica, saúde da
família, vigilância epidemiológica, Pré- Natal, mestrado e especialização em saúde
pública.
O material empírico, após o processo de análise de conteúdo, de acordo com o
número de questões respondidas, foi organizado em 4 categorias de análise, que são: O
conceito de educação em saúde, a Característica da população adolescente e o
planejamento das ações educativas, estratégias educativas para abordagem dos
adolescentes e Dificuldades e/ou limitações do Enfermeiro para trabalhar com
adolescentes.
13

3.1 O conceito de Educação em Saúde


Os entrevistados definiram baseado em sua vivência profissional, que educação
em saúde é orientações, que o profissional transmite ao usuário.

Eu acho que educação é isso, é você orientar pra pessoa poder


prevenir a doença né?!. (E1)

Visto que o termo orientação signifique direcionar, guiar para algo (FERREIRA,
2004), pode-se concluir que os profissionais apresentam a consciência de que a
educação em saúde é utilizada para a construção de um conhecimento através de um
direcionamento, que ocorre por meio de suas falas durante o seu cotidiano de trabalho,
resultando em promoção da saúde e prevenção de doenças.
Os mesmos também definiram que educação em saúde é um meio de promover a
qualidade de vida/saúde, transmitir, compartilhar e obter conhecimento, para este
público adolescente em sua rotina de trabalho.

Educação em saúde é um meio de promover e melhorar a qualidade da


saúde da população. (E5)
A educação em saúde é uma forma de você tentar transmitir algum
conhecimento pra população ou trocar conhecimento com a
população. (E15)

Educação em saúde [pausa] são atividades que a gente realiza pra


[pausa] orientar, pra educar, pra compartilhar conhecimento com um
grupo de pessoas. (E16)

A partir desses conceitos referidos, pode-se observar que permanece a consciência de


promoção de saúde e compartilhamento de conhecimento científico, porém em nenhuma das
falas os profissionais colocaram o usuário como o autor principal, ou seja, que este método não
é transmitir conhecimento ou apenas troca-lo, mas criar possibilidades para a sua produção
ou a sua construção de conhecimento (FREIRE, 1996). Ou seja, o sujeito não é apenas um
receptor de informações, mas um ser reflexivo, capaz de decidir e construir seu próprio
destino.
14

Denota- se que o profissional não reconhece as dimensões que a educação em saúde


pode causar, tornando com que as ações educativas sejam apenas informativas e não
formativas.
A educação em saúde deve proporcionar autonomia dos sujeitos participantes,
capacitando-os para tomada de decisões sobre questões que lhes dizem respeito (SALCI
et al., 2013). A mesma busca promover a participação dos sujeitos, incentivando a
reflexão, o diálogo e a expressão da afetividade, que irão gerar como produto final a
criatividade e autonomia para o enfrentamento de seus problemas cotidianos. Ou seja,
significa a construção de um senso crítico que colabore para que os sujeitos tenham
capacidade de elaborar propostas, reivindiquem e transformem-se (PULGA, 2014).
Portanto, percebe-se que há a necessidade do Enfermeiro conhecer a definição
de educação em saúde e o efeito que a mesma causa nos usuários, desde a graduação e
através de capacitações enquanto profissional, com a finalidade de captar e formar
adolescentes capazes de mudar sua própria realidade.

3.2 A Característica da população adolescente e planejamento das ações


educativas
Adolescentes com uma estrutura familiar ruim, com uma perspectiva
de futuro bem pequena, bastante problema com álcool e droga,
gravidez na adolescência. (E5)

É uma população bem vulnerável, aqui a gente tem bastante caso de


uso de drogas ilícitas, a nossa população adolescente eles costumam
mais a procurar a Unidade em casos específicos mesmo, de gravidez,
de medo de estar com alguma doença, que a gente oferece testes
rápidos de HIV, sífilis [...]. (E8)

É uma população primeiramente de baixa renda, tem muitos


adolescentes que já estão caminho do uso das drogas, dos
entorpecentes, que o nosso bairro lá é cheio de boca de fumo lá [...].
(E15)

No depoimento os enfermeiros apresentaram as características dos adolescentes


como: Usuário de drogas, adolescentes gravidas, em situação de vulnerabilidade,
15

portador de alguma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), que possui família


desestruturada, de baixa renda e em sua maioria estudante.
Assim, de acordo com os profissionais entrevistados, em sua maioria, relatou
que todas essas características, mencionadas anteriormente, são consideradas no
planejamento das ações educativas, mas realizam devido o Programa de Saúde nas
Escolas (PSE/SPE), temas que a escola escolhe de acordo com o perfil dos adolescentes.

São, são consideradas sim, como eu disse a gente tem mais


acesso a eles pela saúde na escola, então antes é feita uma visita na
escola pra ver quais as necessidades, reuni com a equipe de la, de
educação, pra ver o que eles querem que leve para os adolescentes, dai
uma das coisas até pedidas esse ano foi a parte da violência, essas
coisas assim [...]. (E8)

A adolescência é o período de transição entre a infância e a fase adulta,


caracterizado por transformações anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais, em
que o individuo busca a identidade adulta, afetivamente, reconhecendo a realidade que a
sociedade impõe (BRÊTAS, MUROYA e GOELLNER, 2009).
Desse modo, de acordo com essas mudanças que ocorrem nesta fase da vida
humana, podemos perceber através dos relatos que a formação de identidade, em que os
Determinantes Sociais de Saúde, como: os fatores sociais, econômicos, culturais,
étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais, influenciam a ocorrência de problemas
de saúde e geram fatores de risco para essa população (BUSS e FILHO,2007).
O PSE é uma política intersetorial do Ministério da Saúde e do Ministério da
Educação, instituída em 2007 pelo Decreto Presidencial nº 6.286, com a finalidade de
proporcionar a participação da comunidade escolar em programas e projetos voltados a
saúde e educação, para o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o
desenvolvimento de crianças e adolescentes brasileiros, sendo que o Saúde e Prevenção
nas Escolas (SPE), neste mesmo ano, passa a integrar o PSE, com o objetivo de abordar
assuntos de saúde nas escolas, local onde há uma maior concentração de Jovens
(BRASIL, 2011).
O PSE é um movimento positivo para a abordagem da saúde do adolescente nas
escolas, pois torna o profissional da saúde e da educação autores fundamentais na
realização, faz com que eles tenham um olhar minucioso para características deste
16

público e pensem em ações educativas para trabalhar com os possíveis problemas de


saúde identificados.

Esse ano mesmo tivemos uma proposta de dose temas pra trabalhar
SPE, ai entre esses doze temas a gente tinha que escolher cinco que a
gente achasse que combinasse mais com o perfil, com as necessidades
dos nossos adolescentes, ai a gente escolheu baseado nisso. (E2)

Sim, principalmente porque a gente realiza ela na escola, adolescente


não vem na Unidade, então a gente vai na escola faz um levantamento
com eles de qual assunto que eles querem e também do que a escola já
observou e o que a gente também tem de informação do Agente de
Saúde. (E5)

Porém, ainda há uma necessidade de implementação de outros programas


voltados para a saúde do adolescente e capacitação dos profissionais, ou seja, uma
atenção governamental mais ampla voltada para este público, pois pouco se fala sobre
adolescente e o que se tem sido oferecido é insuficiente para um atendimento de
qualidade nas Unidades de Saúde.
Os Enfermeiros, em sua maioria, também mencionaram que há uma
responsabilidade de planejamento, realização e avaliação das ações educativas com
adolescentes de toda a equipe. Mesmo que o Enfermeiro seja líder da equipe de uma
determinada área do território, outros profissionais também elaboram ações voltadas
para esse público ou apoiam o mesmo nos planejamentos e toda a equipe se
responsabiliza em realizar, cada um em sua área específica de formação.

É por equipe, então, por exemplo, na minha equipe é uma


responsabilidade compartilhada né, eu não coloco toda em mim não, o
Agente comunitário faz a parte dele, o médico a dele, o dentista a dele.
Então se eu vou fazer uma ação eu programo a ação inteira [...]. (E4)

O planejamento ele fica na responsabilidade das equipes, então é


discutido na reunião de equipe qual estratégia vai ser feita, a gente
mesmo realiza e avalia o resultado da ação [...]. (E5)
17

O planejamento e a realização é a equipe como um todo, pega todo


mundo: ACS, Técnico, todo mundo. A avaliação fica mais pro
Enfermeiro. Planejamento e Realização é toda a equipe, toda a
Unidade, não só a equipe mínima de Saúde da Família, porque aqui a
gente tem Assistente social, eles participam bastante também e tem o
NASF também, que a gente tem apoio, eles fazem bastante coisa
também [...]. (E8)

Para o Estratégia de Saúde da Família (ESF), a Educação em Saúde é


responsabilidade de todos os profissionais de saúde da família, os quais são capacitados,
prestar uma assistência integral e contínua às famílias (MARQUES, 2006).
Desse modo, as Diretrizes da Estratégia de Saúde da Família mencionam que as
ações desses profissionais devem ser na perspectiva interdisciplinares, ou seja, os
membros da equipe, médico, enfermeiro, técnicos de enfermagem e agentes
comunitários, devem trabalhar em conjunto, pautados nos princípios do SUS, inclusive
nas ações educativas (ALVES e AERTS, 2011).
Portanto, podemos observar que o enfermeiro reconhece e está incluso na
promoção de ações educativas de forma interdisciplinar e mesmo em alguns casos, que
os enfermeiros se responsabilizam pelo planejamento, realização e avaliação das
atividades, sempre há apoio de outros profissionais, como acadêmicos de enfermagem
ou medicina, o Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF) e até mesmo os
profissionais educadores das escolas.

3.3 Estratégias educativas para abordagem dos adolescentes


As estratégias educativas são métodos utilizados para se alcançar um objetivo,
este por meio de métodos, educação em saúde, em que o produto final é a promoção à
saúde e reconhecimento dos usuários como sujeitos que buscam autonomia
(ALMEIDA, CARVALHO e PINAFO, 2013).
Os entrevistados relataram que as estratégias educativas mais utilizadas para
abordar os temas de saúde com os adolescentes são: rodas de conversas, dinâmicas,
orientações até mesmo durante a consulta de enfermagem, teatro, palestras, recursos
audiovisuais e caixinhas de perguntas, sendo alguns desses métodos na maioria das
vezes do PSE/SPE.
18

Foram feitas rodas de conversa, foram feitas palestras mesmo, mas só


que sempre com a participação deles e atividades. Foi feito um teatro
também, que os ACSs fizeram. (E8)

Normalmente é dinâmicas, dinâmicas eles ficam mais a vontade né?!


A gente não trabalha muito assim [pausa] expositivo, a gente falando e
eles [...] Entendeu? (E10)

O Ministério da Saúde fez um caderno de Saúde do Adolescente e


também do SPE, que é Saúde e Prevenção na Escola, então a gente
segue a metodologia que está lá, ai tem rodas, dinâmica, roda de
conversa, tem uma parte de explanação mesmo sobre os assuntos e
discussão com os adolescentes dos temas abordados (E5)

A adolescência e suas características peculiares como formação de identidade,


mudanças físicas, psicológicas e sociais, encontra-se em um processo de transformação
de ideias, atitudes e personalidade. O ensino com práticas de educação de forma lúdica e
libertadora, possibilitando uma efetividade no processo ensino/aprendizagem em
questões relacionadas à saúde, permitindo a comunicação e expressão, discussão e
reflexão entre os envolvidos (MARIANO et al, 2013).
Os jogos, por exemplo, aparecem como ferramenta em ações educativas no
cuidado e promoção à saúde, pois podem ser considerados um instrumento educacional
capaz de contribuir para o desenvolvimento e construção do conhecimento em saúde,
assim, como diversas outros métodos lúdicos que podem ser utilizados, como: oficinas,
teatros e dinâmica (MARIANO et al, 2013).
Assim, o PSE articulou um apoio, o SPE, que apresenta- se como uma estratégia
de formação continuada, que contribui para a capacitação por meio de aprendizagem
compartilhada entre trabalhadores da educação, da saúde, instituições públicas e de
organizações da sociedade civil, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade de
adolescentes e incorporar a cultura da prevenção à atuação profissional cotidiana. Desse
modo, foi elaborado um material, guia, como ferramenta para capacitar esses
profissionais, que contém uma sequência de oficinas planejadas em torno de uma
situação e temas relacionados à saúde e à prevenção (BRASIL, 2006).
Em virtude do que foi mencionado, as estratégias educativas utilizadas por esses
Enfermeiros contribuem para o ensino/ aprendizado do adolescente e promoção de
19

saúde, por meio de práticas educativas lúdicas, em ambiente adequado, onde há uma
maior concentração deste público, as escolas, tendo em vista que a maioria dos
profissionais abordados participaram ou participam da capacitação oferecida pelo
Ministério da Saúde, o SPE.

É o PSE, Programa de Saúde na Escola, é o que funciona, é o


que o Ministério da Saúde fala que é a nossa forma de atuação,
funciona. Então separa um tempinho da aula dele lá pra fazer isso, isso
tem funcionado há dois anos mais ou menos que a gente esta
trabalhando o PSE e esta dando certo. Fazemos roda, pergunta de
jogos, teatro, teve ações com os pais, não é nada muito especifico e
eles participam bastante geralmente, apesar da conversa, eles
participam bastante. (E4)

Entretanto, o adolescente ainda é objeto das políticas públicas por uma ótica de
riscos e vulnerabilidades, pois o conceito de adolescência para as mesmas não é só
apenas estigma de natureza psicológica ou patológica, mas incorpora o estereótipo que
designa aqueles que ameaçam a sociedade, sendo que a forma como compreendemos
esse sujeito repercute diretamente na estruturação das ações que os envolve (HORTA e
SENA, 2010).
Alguns autores citam que, os programas destinados a essa população apresenta
baixa capacidade de induzir mudanças, pois é necessário ampliar a discussão sobre a
juventude, avançar em dialogo, com a finalidade de compreender os jovens em seus
espaços sociais, como sujeitos e atender suas necessidades, além de um foco de
problema e riscos. Ou seja, as políticas públicas devem considerar o adolescente como
um sujeito social e de direitos, compreender o processo saúde- doença, além de riscos,
não enxerga-lo apenas como ser vulnerável, somente no campo de riscos, mas
compreender o conceito de adolescência, ele quanto sujeito reflexivo, transformador
social de um futuro (HORTA e SENA, 2010).
Porém, para que isso se torne realidade é preciso também à aproximação do
contexto de vida dos mesmos, do cotidiano de suas vidas, fator este que pode ser
alcançado através da ESF, aliado a qualificação dos profissionais de saúde, para que
sejam sensibilizados e despertados para um olhar integral ao adolescente (HORTA e
SENA, 2010).
20

3.4 Dificuldades e/ou limitações do Enfermeiro para trabalhar com


adolescentes
Os Enfermeiros, quando indagados por suas dificuldades e/ou limitações,
mencionaram que os adolescentes não procuram e não vão até a UBSF, que não
conseguem atrair o adolescente para a ESF e que os mesmos apresentam desinteresse
nas ações educativas realizadas.

Adolescente já é um público mais difícil de vocês terem um atrativo


mesmo na Unidade, então eu acho que a dificuldade é essa, eles
acharem que a Unidade oferece algo útil pra eles, eles não querem
saber muito de vir não sabe? Acho que é meio isso. (E8)

Acho que dificuldade é trazer o adolescente pra dentro da Saúde da


Família, porque eles realmente não vêm ta? [...]. (E13)

Outra questão pontuada pelos Enfermeiros foi à ausência de estratégias


educativas para trabalhar com adolescentes.

Eu realmente não sei nem como trabalhar a parte de adolescente como


estratégia educativa, porque eu acho tão difícil você prender o
adolescente numa sala, pra falar sobre qualquer tema [pausa], como
fazer isso é uma coisa que eu nunca parei pra pensar [mostrou-se
reflexivo], porque nunca teve. (E13)

Desse modo, se faz necessário a efetivação, implantação das políticas públicas


existentes, mas para isso o Enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família deve adquirir
conhecimento adequado sobre esse público, assim, o mesmo deve sempre buscar
capacitação para abordar e atuar junto com esses adolescentes, resultando em mudanças
em suas práticas de trabalho e adesão dos mesmos (VIEIRA et al, 2014).
Uma estratégia que pode ser implementada é que o adolescente conheça a
Unidade de Saúde próxima a sua residência ou escola, que ele obtenha informações
sobre os serviços oferecidos, os profissionais que atuam e suas funções e os objetivos
voltados para a promoção de saúde, prevenção de doenças e reabilitação. O
21

reconhecimento da UBSF pode ocorrer através de divulgação e vínculo criado entre a


Unidade e a Escola, no qual em que está concentrado este público.
Outros fatores relevantes, relatados foi o excesso de trabalho na Atenção Básica,
que resulta em pouco tempo para realizar ações educativas com este público, falta de
incentivo e apoio do Governo e espaço físico inapropriado na Unidade de Saúde para
abranger esse público em alguma ação.

Aqui são duas equipes e a outra enfermeira está de atestado, ai além


de ter que fazer tudo o meu trabalho tem que fazer o dela, tem que
ficar fazendo outras coisas pra poder trazer os adolescentes, as vezes a
gente tem muita carga de trabalho, ai a gente não tem tempo pra fazer
essas coisas entendeu? até tem vontade, mas as vezes a gente não
consegue pela falta de tempo, de muita sobrecarga de trabalho
entendeu?[...] (E9)

Falta de apoio do serviço, de condições, excesso de trabalho na nossa


carga horária na nossa rotina [...] no dia a dia também falta o tempo
para que a gente atenda melhor todos os eixos dos ciclos de vida,
preconizados pra atenção básica, precisaria melhorar um pouco
recursos humanos e materiais. (E6)

As dificuldades relatadas pelos profissionais não podem ser empecilhos para o


desenvolvimento de ações junto aos adolescentes, pois representam fatores a serem
identificados, analisados e trabalhados, de modo que sirva como diagnostico para
efetuar mudanças (HIGARASHI et al, 2011). Assim, as ações podem ser realizadas e
elaboradas conforme a organização do serviço, disponibilidade de horário, material e
espaço físico, desde que sejam realizadas.
Esses problemas, também só serão possíveis de resolução, a partir de
reivindicação da classe trabalhadora, perante os recursos materiais, humanos e
financeiros, pois se não há iniciativa da parte dos profissionais em exigir por direitos
para a melhoria do serviço e da população, não há avanço.
Outras dificuldades mencionadas foi o comportamento dos adolescentes,
imaturidade, perante as questões de saúde importantes, quando são abordados.
22

Eles tendem a ser um pouco mais rebeldes ne?! E assim,


adolescente é difícil você trabalhar com eles, porque tudo eles
levam na brincadeira. (E15)

A adolescência por ser uma fase caracterizada por diversas descobertas,


transformação biológica, mental e social (HENRIQUE; ROCHA; MADEIRA, 2010),
uma fase de transição entre o ser criança e o ser adulto. Trata-se de um período que por
um lado não é exigido assumir compromissos da vida adulta e por outro lado não lhe é
permitido “comportar-se” como uma criança, ou seja, na adolescência o sujeito ira
formar uma identidade, permitindo que ele venha exercer determinados papéis na
sociedade (BRASIL, 2008).
Porém, muitas vezes esta fase da vida é incompreendida pelo profissional,
devido ao pouco conhecimento adquirido, sendo essa ausência de conhecimento
geradora de termos como “imaturidade” e “rebeldia”. Esse fator dificulta a captação
deste público, elaboração de políticas públicas e estratégias de educação em saúde para
um trabalho eficaz (HORTA e SENA, 2010).
Por fim, alguns entrevistados não souberam responder esta questão, por não
realizar ações educativas em sua Unidade ou por não gostar de trabalhar com
adolescente, até mesmo se demonstraram nervosos e tímidos, porém, ambos se
demonstraram reflexivos perante a realização de suas práticas de educação em saúde,
durante a realização da entrevista.

Eu tenho dificuldade porque eu não gosto na verdade de educação em


saúde. [...] Eu acho que trabalhar com adolescente é interessante, eu
até gostaria, mas [pausa]. [...] Mas eu acho muito difícil trabalhar com
adolescente [...]. (E13)

Um passo importante é a auto reflexão do trabalho executado no cotidiano, pois


a partir do momento que tomamos consciência de que podemos melhorar realizamos o
primeiro passo para a transformação de uma realidade existente.
23

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo desperta para a reflexão das práticas pedagógicas utilizadas pelo
enfermeiro durante ações educativas e a necessidade de mudanças perante a assistência
prestada ao adolescente na Atenção Básica de Saúde.
Pode-se perceber que os profissionais entendem por educação em saúde não só
como um meio de compartilhar conhecimento, mas transmiti-lo, demonstrando que os
mesmos não reconhecem a definição e finalidade da educação em saúde, atribuindo a
ela apenas a função de informar e não de um sujeito autônomo.
Outro fator observado é que os profissionais só realizam ações educativas,
devido a exigência do PSE e não em decorrência do atendimento da ESF. Também foi
possível observar que há a necessidade de maior compreensão e conhecimento sobre
adolescência por parte dos profissionais e das políticas públicas.
Durante a pesquisa, os enfermeiros também relataram diversas dificuldades no
desenvolvimento de ações junto a esse grupo populacional, porém todas com
possibilidade de ter soluções.
Desse modo, recomenda- se ao enfermeiro o acesso ao conhecimento,
investimentos governamentais para a capacitação dos profissionais sobre educação em
saúde e o período da adolescência, implementação de outros programas voltados para a
saúde do adolescente, por fim a criação e implantação de políticas públicas que
compreendam o conceito de adolescência e melhor organização do serviço para prestar
uma assistência com qualidade.
Ainda existe um caminho a ser trilhado, para que esses fatores sejam
implementados deve-se investir em educação permanente, criação e implantação de
políticas públicas, programas voltados para esse público e investimento em recursos
humanos e materiais, como manuais, documentos que auxiliam no serviço.

5. REFERÊNCIAS

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família. Ciênc. & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 319-325, jan., 2011.
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Política Nacional de Educação Popular em Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde
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27

APÊNDICE I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Prezado(a) Enfermeiro(a),

Eu, aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de


Mato Grosso do Sul, estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada “O trabalho do
enfermeiro com adolescentes na Atenção Básica: identificando dificuldades e práticas
de educação em saúde”.

O estudo tem como objetivo identificar as estratégias pedagógicas utilizadas


pelo profissional enfermeiro nas ações educativas realizadas com a clientela
adolescente. Sua finalidade é contribuir para a reflexão e adoção de práticas educativas
com potencial para estimular os adolescentes a exercerem a autonomia sobre a própria
vida.

Convido você a participar como voluntária (o) desta pesquisa. Sua participação
ocorrerá por meio de uma entrevista em ambiente privativo, em horário e dia
combinado, onde refletiremos sobre o cotidiano do trabalho educativo desenvolvido
com adolescentes. A mesma será gravada, transcrita e depois analisada. As gravações
serão utilizadas exclusivamente para a pesquisa permanecendo com as pesquisadoras
por cinco anos e, após este período, descartadas.

Esta pesquisa não lhe oferece nenhum risco ou prejuízo e o benefício é


fortalecer ações de promoção à saúde do adolescente, ou seja, segundo a resolução
CNS/MS nº 466/12, a pesquisa assegura a confidencialidade e privacidade de suas
informações, a proteção de sua imagem, garantindo a não utilização das
informações que possam causar prejuízo a você e/ou os adolescentes, inclusive em
termo de autoestima, prestigio e/ou de aspectos econômicos- financeiros. Sua
participação pode ser interrompida a qualquer momento, se você desejar. Não serão
divulgados o nome ou qualquer outro dado que identifique os participantes. A pesquisa
não contará com ressarcimento financeiro.

Os resultados do presente estudo serão descritos e analisados em um relatório


formal, que, ao seu término, será apresentado publicamente. Os resultados também
serão divulgados em eventos científicos ou publicações, porém sua identidade não será
revelada e a confidencialidade dos dados será preservada.
28

É importante saber que sua participação nesta pesquisa não traz


complicações legais. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos
Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme Resolução nº 466/12
do Conselho Nacional de Saúde.

Em caso de dúvidas sobre os aspectos éticos do estudo você poderá entrar em


contato com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da UFMS pelo telefone
(67) 3345-7187.

Caso aceite fazer parte deste estudo solicito que assine este documento, em
duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável.

Eu,_________________________________, declaro que li este Termo de


Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e fui devidamente esclarecido(a) sobre as
finalidades, os procedimentos metodológicos e o destino final das informações colhidas.
Desse modo, sou voluntário(a) a participar deste estudo.

Campo Grande/MS, __________de ____________________ de 2017.

Assinatura do(a) participante da pesquisa Assinatura da pesquisadora

________________________________ ___________________________
29

APÊNDICE II - Roteiro de Entrevista com o Enfermeiro da Estratégia Saúde da


Família

Entrevista Nº: ______ Data: _________

Início: _______ Término: ________ Duração: _______

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Idade: _____ Sexo: __________

Tempo de Formação: _______

Pós Graduação:________________

Tempo de atuação como enfermeiro da ESF __________________

PERGUNTAS NORTEADORAS

1. Fale-me o que você entende por educação em saúde:

2. Qual a característica da população adolescente pertencente a esse território da


ESF?

3. Quem é responsável pelo planejamento, realização e avaliação das ações


educativas com adolescentes na sua área de abrangência?

4. As características da população adolescente são consideradas no planejamento


das ações educativas programadas para esse publico alvo?

5. Que estratégias educativas você tem utilizado para abordar adolescentes?

6. Comente sobre as dificuldades e/ou limitações cotidianas que você encontra no


trabalho com adolescentes:

7. Relate uma experiência educativa recente com adolescentes:


30

ANEXOS
31

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