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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA


DEPARTAMENTO DE DEMOGRAFIA E CIÊNCIAS ATUARIAIS

ROANNA FIGUEIREDO MENDONÇA DE LIMA

Operadoras de plano de saúde e os impactos financeiros


em um cenário de pandemia, Brasil, 2020

NATAL / RN
2021
ROANNA FIGUEIREDO MENDONÇA DE LIMA

Operadoras de plano de saúde e os impactos financeiros


em um cenário de pandemia, Brasil, 2020

Monografia de conclusão de curso apresentada


ao Departamento de Demografia e Ciências
Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, como requisito parcial à obtenção de
título de bacharel em Ciências Atuariais.
Orientadora: Profª. Dra. Luciana Lima.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
Prof. Drª Luciana Conceição de Lima
DDCA/UFRN

___________________________________________
Prof. Drª Luisa Pimenta Terra
Unifal/MG
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas – SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Ronaldo Xavier de Arruda - CCET

Lima, Roanna Figueiredo Mendonça de.


Operadoras de plano de saúde e os impactos financeiros em um
cenário de pandemia, Brasil, 2020 / Roanna Figueiredo Mendonça de
Lima. - 2021.
49f.: il.

Monografia (Bacharelado em Ciências Atuariais) - Universidade


Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Exatas e da
Terra, Departamento de Demografia e Ciências Atuariais. Natal,
2021.
Orientadora: Profª Drª Luciana Conceição de Lima.

1. Finanças - Monografia. 2. Operadoras de plano de saúde -


Monografia. 3. Covid-19 - Monografia. 4. Agência Nacional de
Saúde - Monografia. 5. Instituto de Estudos da Saúde Suplementar
- Monografia. I. Lima, Luciana Conceição de. II. Título.

RN/UF/CCET CDU 336

Elaborado por Joseneide Ferreira Dantas - CRB-15/324


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por sempre estar presente em minha vida, por
me abençoar em todos os meus anos de desenvolvimento pessoal e nos meus
estudos. Aos meus queridos professores, pelos ensinamentos durante todo o curso,
e um agradecimento especial a minha orientadora Professora Drª Luciana Conceição
de Lima por me incentivar e acreditar em mim, quando eu estava desmotivada, meus
sinceros agradecimentos. Agradeço também a Professora Drª Luisa terra, pelo aceite
em fazer parte da banca examinadora e pelos comentários que agregaram muito ao
meu trabalho. A minha mãe, que mesmo com toda a dificuldade enfrentada nunca
mediu esforços para me proporcionar um ensino de qualidade durante todo o meu
período escolar, sempre me apoiando ao longo da minha trajetória.
“O insucesso é apenas uma oportunidade para
recomeçar com mais inteligência.”

Henry Ford
RESUMO
A pandemia da Covid-19 se tornou um evento desafiador na história recente da
humanidade por se tratar de uma emergência de saúde pública de importância
internacional. Além de atentar contra a vida ela também produz impactos sobre as
finanças de várias áreas. Com isso, esta monografia possui o objetivo de identificar
se as operadoras de saúde da modalidade medicina de grupo foram impactadas
financeiramente diante das despesas geradas pela pandemia da Covid-19. Este
trabalho se justifica pelo fato de que ainda há poucos estudos sobre os impactos da
pandemia sobre as finanças dos planos de saúde. Sendo assim, os objetivos
específicos englobam a comparação de fluxos de receitas e de despesas de 2020
com os anos de 2015 a 2019, anteriores à pandemia, como também comparar
possíveis diferenças entre receitas e despesas em 2019 e 2020 por meio de um teste
t de diferenças entre médias populacionais.
Foram estabelecidas duas hipóteses: 1) Os gastos das operadoras de saúde na
pandemia da Covid-19 não afetaram o equilíbrio financeiro em 2020 das operadoras
da modalidade medicina de grupo; 2) O índice VCMH foi negativo no ano de 2020, o
que justifica um reajuste negativo para as mensalidades das operadoras de saúde
planos individuais. Com o intuito de observar variação do custo médico hospitalar per
capita das operadoras de planos de saúde entre dois períodos consecutivos de 12
meses, analisou-se a tendência temporal do Índice de Variação do Custo Médico
Hospitalar (VCMH/IESS). A fonte das informações utilizada foi a Agência Nacional da
Saúde Suplementar (ANS) e o Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS). De
um modo geral os resultados apontaram que as receitas observadas em 2020 foram
superiores quando comparadas aos anos de pré-pandemia, e as despesas inferiores
aos últimos 5 anos: em 2020 houve um aumento de mais de 1,4% no quantitativo de
beneficiários tipo de contratação individual na rede privada. Estes resultados
confirmaram a hipótese 1. Com relação às variações do custo médico hospitalar em
2020, ela resultou negativa indicando que a hipótese 2 foi confirmada. Os dados
mostram que mesmo em um cenário de pandemia em que novos procedimentos
precisaram ser adotados pela ANS para o enfrentamento de uma emergência
sanitária, as operadoras de saúde da modalidade medicina de grupo apresentaram
equilíbrio financeiro em 2020, ou seja, as receitas do primeiro ano de pandemia foram
suficientes para cobrir as despesas daquele período. E sobre a variação do VCMH,
nem todas se mantiveram negativas durante a pandemia, o que foi o caso das
internações, o que se justifica pela gravidade da Covid-19, e das terapias, que são
procedimento mais ajustáveis à Telessaúde do que consulta e exames, por exemplo.
Entre as limitações desse estudo, destaca-se o fato de a ANS não dispor dos dados
das contraprestações por grandes regiões, que podem ter apresentado perfis distintos
em relação às receitas e despesas.

Palavras-chaves: Operadoras de plano de saúde; Covid-19; Finanças; Agência


Nacional de Saúde; Instituto de Estudos da Saúde Suplementar.
ABSTRACT
The Covid-19 pandemic has become a challenging event in human recent history to
address a public health emergency of international importance. In addition to attacking
life, it also impacts finances in several areas. Thus, this monograph aims to identify
whether as health care providers in the group medicine modality they were financially
impacted by the expenses generated by the Covid-19 pandemic. This work is justified
by the fact that there are still few studies on the impacts of the pandemic on the
finances of health plans. Therefore, the specific objectives include the comparison of
revenue and expenditure flows in 2020 with the years 2015 to 2019, prior to the
pandemic, as well as comparisons of possible differences between revenue and
expenditure in 2019 and 2020 through a t-test of differences between population
averages. There were two hypotheses: 1) The expenses of healthcare operators in the
Covid-19 pandemic did not affect the financial balance in 2020 of operators in the group
medicine modality; 2) The VCMH index was negative in 2020, which justifies a negative
readjustment for the monthly fees of individual health plan operators. In order to
change the per capita hospital medical cost variation of health plan operators between
two consecutive 12-month periods, the temporal trend of the Hospital Medical Cost
Variation Index (VCMH / IESS) was analyzed. The source of the information used by
the National Agency for Supplementary Health (ANS) and the Institute for
Supplementary Health Studies (IESS). In general, the results indicated that the
revenues observed in 2020 were higher when compared to the pre-pandemic years,
and the expenses prior to the last 5 years: in 2020 there was an increase of more than
3% in the number of beneficiaries in the private network. These results confirmed
hypothesis 1. Regarding the variations in hospital medical costs in 2020, it was
negative that hypothesis 2 was confirmed. The data show that even in a pandemic
scenario in which new procedures had to be adopted by the ANS to face a health
emergency, such as health operators of the group medicine modality financial balance
in 2020, that is, the revenues of the first year of pandemic were sufficient to cover the
expenses of that period. And about the variation in VCMH, not all of them remained
negative during a pandemic, which was the case with hospitalizations, which is justified
by the severity of Covid-19, and therapies, which are procedures more adjustable to
Telehealth than consultation and exams, for example. Among the limitations of this
study, there is the fact that the ANS does not have data on payments by large regions,
which may have presented different profiles in relation to revenues and expenses.
Key-words: Health care companies; Covid-19; Finances; National Health Agency;
Institute of Supplementary Health Studies.
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

ACP – Análise de Componente Principal


ANS – Agência Nacional da Saúde Suplementar
CCET – Centro de Ciências Exatas e da Terra
DBC - Database Container
DDCA – Departamento de Demografia e Ciências Atuariais
IBA – Instituto Brasileiro de Atuária
IESS – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar
OMS – Organização Mundial da Saúde
SARS – Síndrome Respiratória Aguda grave
SUS – Sistema Único de Saúde
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
VCMH – Variação dos Custos Médico-Hospitalares
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipo de contratação operadora de saúde no Brasil, 2020......................26


Quadro 2 – Nome e descrição das variáveis utilizadas, Brasil, 2020........................32
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Taxa de Cobertura das operadoras de saúde por grandes regiões, Brasil
2018 a 2020................................................................................................................22
Gráfico 2 – Média da quantidade de operadoras de saúde por modalidade por grande
região, Brasil 2018 à 2020..........................................................................................23
Gráfico 3 – Distribuição percentual das Operadoras de Saúde por porte nas Grandes
Regiões do Brasil em dezembro de 2020...................................................................24
Gráfico 4 – Beneficiários das modalidades das operadoras de saúde por tipo de
contratação, Brasil, 2021............................................................................................25
Gráfico 5 – Correlação entre os tipos de receitas e despesas, Brasil 2015 a
2020............................................................................................................................34
Gráfico 6 – Componentes principais, Brasil 2015 – 2020............................................35
Gráfico 7 – Mapa fatorial Receitas e Despesas operadoras medicina de grupo, Brasil
2015 – 2020................................................................................................................35
Gráfico 8 – Contribuições das variáveis para a componente principal, Brasil 2015 –
2020............................................................................................................................36
Gráfico 9 – Diferença receita-despesa por ano simples de 2015 a 2020...................40
Gráfico 10 – Beneficiários por contratação individual/familiar modalidade medicina de
grupo Brasil, 2015 a 2020................................................................................. ..........41
Gráfico 11 – Variação percentual beneficiários medicina de grupo Brasil, 2015 a
2020....................................................................................................................................................41
Gráfico 12 – Gráfico T test das despesas de 2019 e 2020..........................................42
Gráfico 13 – Gráfico T test das receitas de 2019 e 2020.............................................43
Gráfico 14 – Variação VCMH/IESS entre janeiro de 2016 a março de 2020...............44
Gráfico 15 – Variação VCMH/IESS mensal entre janeiro de 2016 a dezembro de
2020...................................................................................................................................................44
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fluxograma do caminho para a base de dados de receitas e despesas


ANS........................................................................................................................... 31
Figura 2 – Estrutura Banco de dados, Brasil, 2020....................................................33
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição absoluta das operadoras de saúde por modalidade, Grandes


Regiões, julho-2021....................................................................................................21
Tabela 2 - Análise descritiva banco de dados dos tipos de receitas e despesas das
operadoras de saúde em 2020...................................................................................33
Sumário

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................. 19
2.1 O que é Saúde Suplementar? .................................................................... 19
2.1.2 Saúde Suplementar e as medidas para o enfrentamento da Covid-19
................................................................................................................................ 26
3 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 30
3.1 Dados e metodologia................................................................................. 30
3.1.1 Dados .......................................................................................................... 30
3.1.2 Análise de Componentes Principais....................................................... 33
3.1.3 Test t de diferença entre médias populacionais ................................... 35
3.1.4 Indicador de custo médico hospitalar: o índice VCMH ...................... 37
4 RESULTADOS ................................................................................................. 39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 47
14

1 INTRODUÇÃO

O ano de 2020 foi marcado pela pandemia do novo coronavírus.


Denominada Covid-19, esta doença trouxe diversas implicações, não apenas de
cunho epidemiológico, mas também repercussões e impactos de ordem social,
econômica, política e cultural (CONASS, 2020). Na saúde suplementar, os
atuários necessitam entender o que muda neste cenário, tendo em vista que eles
são os “profissionais preparados para mensurar e administrar os riscos” (IBA
[s.d.]), que as operadoras de saúde podem enfrentar em uma crise sanitária, por
exemplo.
Foi em 1937 que os primeiros casos de coronavírus em humanos foram
isolados, sendo descrito com o referido nome por se assemelhar à imagem de
uma coroa (OMS, 2020). O novo coronavírus foi descoberto em 2019 em Wuhan,
cidade chinesa com 11 milhões de habitantes, por conta de uma série de casos
de pneumonia com origem desconhecida registrados até aquele momento
(OMS, 2020). Depois de algumas pesquisas, foi descoberta a Covid-19 e ela
rapidamente se espalhou por todo o mundo.
No Brasil, o primeiro caso de Covid-19 ocorreu em 25 de fevereiro de 2020
(SILVA, JARDIM, LOTUFO, 2020), e até 21 de agosto de 2021, o país acumulava
mais de 20 milhões de casos e mais de 570 mil mortes, colocando a nação como
o terceiro maior em número de óbitos no mundo (WHO COVID-19, 2021).
Evidências sugerem a eficácia de intervenções físicas sobre a redução de
propagação do vírus como uso de máscaras, luvas, lavar as mãos, aventais e/ou
proteção para os olhos, desinfecção de superfícies, isolamento e outras medidas
de controle da infecção (BUNT, 2020).
Entretanto, apenas as intervenções não farmacológicas não são
totalmente suficientes, tendo em vista, entre outros, que a população não segue
à risca os cuidados preventivos. Acrescidos a essa prevenção, muitos esforços
vêm sendo feitos em vários países (SILVA, JARDIM, SANTOS, 2020).
A corrida mundial para a fabricação de vacinas veio à tona em oito de
dezembro de 2020, quando o Reino Unido começou a vacinar a sua população
cuja vacina foi a BNT162B2, desenvolvida pela parceria entre a farmacêutica
americana Pfizer e a empresa de biotecnologia alemã BioNTech, a primeira
15

aprovada para uso emergencial a base de RNA mensageiro (UNICAMP, 2020).


Sua tecnologia consiste em auxiliar o organismo do individuo a gerar anticorpos
contra a Covid-19 (PFIZER, 2021). Logo após, outros países como Russia,
Suécia, Sérvia e outros mais 52 iniciaram as vacinações de suas populações.
Em em janeiro de 2021 o Brasil recebeu seis milhões de doses da
CoronaVac, fabricada pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa
Sinovac (AGÊNCIA BRASIL, 2021). Até 23 de agosto de 2021 o país atingiu a
marca de 54,5 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o equivalente a cerca
de 25,8% da população brasileira o que é considerado pouco satisfatório, quando
comparado com outros países que já avançam com mais de 60% de suas
populações vacinadas (OUR WORLD IN DATA, 2021).
Junto a isso, os repasses federais têm sido fundamentais à execução dos
serviços de saúde no âmbito do SUS, dada a fragilidade das fontes de recursos
estaduais e municipais (LIMA et al., 2012; SANTOS,2018; LIMA E ANDRADE et
al., 2009 apud FERNANDES, PEREIRA, 2020). Fernandes e Pereira (2020)
concluem que o modelo de financiamento do SUS não foi modificado diante das
necessidades de enfrentamento da Covid-19. É importante destacar isto, pois,
diante do tamanho da crise imposta pela pandemia, não houve mudança
qualitativa no desenho das regras de financiamento do Sistema Único de Saúde,
o que pode ser um uma das causas dos passos lentos na vacinação da
população brasileira.
Enquanto a maior parte da população não se encontra vacinada, a
pandemia continua gerando perdas de vidas e gastos aos serviços de saúde
público e privado. Como exemplo das despesas geradas devido aos casos
graves de Covid-19 estão as Unidades de Terapia Intensiva (UTI), cujos
pacientes demandam cuidados intensivos e monitoramento contínuo durante as
24 horas do dia, além de equipamentos e o uso de ventiladores pulmonares para
o suporte respiratório (SILVA, 2020). Diante do exposto, as operadoras de saúde
precisam lidar com gastos diários que giram em torno de R$ 2.836,00 (SILVA,
2020), sem contar com os gastos pós doença que podem ser sequelas
neurológicas, cardíacas, pulmonares, renais e metabólicas. Ou seja, a síndrome
pós-covid deve se tornar um desafio para todos os sistemas de saúde do mundo
(CNNBRASIL, 2021).
16

Junto ao exposto, identificar o comportamento dos custos no sistema de


saúde suplementar por tipo de procedimento (consultas, exames terapias e
internação, entre outros) é de grande importância na avaliação de possíveis
sinistros em anos posteriores. O indicador mais utilizado pelo mercado da saúde
suplementar é o Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH),
produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Ele capta o
custo médico hospitalar per capita das operadoras de planos de saúde entre dois
períodos consecutivos de 12 meses podendo ser positivo ou negativo, e que
varia de acordo com o perfil de utilização dos beneficiários.
Sendo assim, os problemas ocasionados pela pandemia da Covid-19
precisam ser analisados pela necessidade de desenvolver um sistema de saúde
mais resiliente para o futuro, capaz de proteger a vida humana e preservar o
equilíbrio econômico e financeiro das operadoras de saúde. (VEJA SAÚDE,
2020). O presente estudo se justifica pelas seguintes razões: a pandemia da
Covid-19 é um fenômeno recente, de 2020, e ainda há poucos estudos sobre os
impactos dela nas finanças das operadas de saúde. A pergunta norteadora desta
monografia foi: qual o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as receitas e
despesas das operadoras de planos de saúde da modalidade medicina de grupo
médico hospitalares? No campo organizacional, esta pesquisa tem potencial de
trazer contribuições significativas para o contexto pandêmico em que os gastos
podem ser exponencialmente maiores pela possível acumulação de sinistros em
função da postergação de procedimentos e atendimentos eletivos pelas
operadoras e usuários dos planos.
O objetivo geral desta monografia foi verificar se houve equilíbrio
financeiro nas operadoras de saúde da modalidade medicina de grupo no Brasil
em 2020. Ou seja, verificar se as receitas do primeiro ano de pandemia foram
suficientes para cobrir as despesas daquele período.
Os objetivos específicos foram: comparar as despesas de 2020 das
operadoras de saúde da modalidade medicina de grupo com as despesas de
2015 a 2019, considerando a quantidade de beneficiários em cada ano; Realizar
um teste t de diferenças entre médias populacionais para comparar possíveis
diferenças entre receitas e despesas em 2019 e 2020, afim de verificar se a
pandemia da Covid-19 produziu efeito sobre elas; Comparar as variações do
17

Índice de Variação do Custo Médico Hospitalar (VCMH/IESS) com o intuito de


observar variação do custo médico hospitalar per capita das operadoras de
planos de saúde entre dois períodos consecutivos de 12 meses cada, de 2016 a
2020.
As hipóteses desse trabalho foram:
I) Os gastos das operadoras de saúde na pandemia da Covid-19 não
afetaram o equilíbrio financeiro em 2020 das operadoras da modalidade
medicina de grupo;
II) O índice VCMH foi negativo no ano de 2020, o que justifica um reajuste
negativo para as mensalidades das operadoras de saúde tipo individuais.
Para o alcance dos objetivos propostos realizou-se uma análise descritiva
cujo aspecto central foi comparar fluxos de receitas e de despesas de 2020, ano
de surgimento da pandemia no Brasil, e da média dos últimos cinco anos (2015
a 2019) para estas mesmas informações. Para a escolha das variáveis de
receitas e despesas das operadoras de saúde que permaneceriam no banco de
dados foi realizada análise de componentes principais (ACP), do inglês principal
component analysis. A ACP, segundo Hongyu, Sandanielo, Junior (2016) é uma
técnica estatística de análise multivariada que transforma linearmente um
conjunto original de variáveis, inicialmente correlacionadas entre si, num
conjunto substancialmente menor de variáveis não correlacionadas que contém
a maior parte da informação do conjunto original. E para identificar as possíveis
diferenças entre as receitas e despesas das operadoras de saúde foi utilizado o
test t pareado, que permite comparar as médias das receitas e despesas das
operadoras em 2019 e 2020, ou seja, antes da Covid-19 e durante a Covid-19.
E por último, a comparação dos índices VCMH (Variação do custo médico
hospitalar) históricos do Brasil por tipo de procedimento. As análises foram
realizadas por meio da linguagem de programação R. A fonte das informações
foram a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que representam a
agência reguladora governamental responsável pela criação de normas, controle
e a fiscalização pelo setor de planos de saúde no Brasil (ANS [s.d.]). E o Instituto
de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), este é uma organização sem fins
lucrativos que por meio de estudos conceituais e técnicos servem de
18

embasamento para implementar políticas e melhores práticas na saúde


suplementar (IESS [s.d.]).
Esta monografia se subdivide em 5 capítulos. Além desta introdução, no
Capítulo 2 é apresentado o referencial teórico, no Capítulo 3 os pressupostos
metodológicos, no Capítulo 4 os resultados e no Capítulo 5 as considerações
finais.
19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O que é Saúde Suplementar?

No Brasil, existe a saúde pública e a privada. A saúde pública está


estrututura dentro do sistema único de saúde (SUS) e a saúde privada contempla
os serviços de saúde ofertados de forma direta aos individuos, por meio de
pagamento e a saúde suplementar que compreende as operadoras de saúde.
De acordo com o portal da indústria (2021):
“A saúde suplementar é o ramo da atividade que envolve a operação
de planos e seguros privados de assistência médica à saúde, regulada
e fiscalizada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e é
composta por operadoras, profissionais e beneficiários. Suas ações e
serviços desenvolvidos não têm vínculo com o Sistema Único de
Saúde (SUS)” (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2021).

Os prestadores de assistência podem ser privados, credenciados pelos


planos e seguros de saúde ou pelas cooperativas médicas, serviços próprios dos
planos e seguros de saúde, serviços conveniados ou contratados pelo
subsistema público, que são firmados pelas empresas de planos e seguros de
saúde que fazem parte de sua rede credenciada (BRASIL, 2007). O orgão
regulador vinculado ao Ministério da Saúde a fim de assegurar o interesse
público é a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A regulação pode
ser entendida como um conjunto de medidas e ações do Governo que envolvem
a criação de normas, o controle e a fiscalização de segmentos de mercado
explorados pelas operadoras de saúde (ANS [s.d.]).
De acordo com a Fenasaúde (2021), as operadoras que compõe a
estrutura da saúde suplementar se classificam de acordo com a modalidade de
atuação no mercado: medicinas de grupo; seguradoras especializadas em
saúde, cooperativas médicas; filantropias; autogestões; odontologias de grupo;
cooperativas odontológicas; e, administradoras de benefício. Essa classificação
de acordo com a Grande Região de operação é apresentada na Tabela 1:
20

Tabela 1 – Distribuição absoluta das operadoras de saúde por modalidade, Grandes Regiões,
Julho-2021
Regiao/UF Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Total
Autogestão 5 21 80 25 22 153
Cooperativa Médica 13 28 151 58 26 276
Filantropia 1 0 25 7 0 33
Medicina de Grupo 4 23 188 38 13 266
Seguradora Especializada em Saúde 0 0 8 0 0 8
Cooperativa Odontológica 6 19 56 14 6 101
Odontologia de Grupo 7 39 95 18 9 168
Administradora de Benefícios 2 7 133 11 18 171
Total 38 137 736 171 94 1176

Fonte: ANS Tabnet, 2021.

Observando a Tabela 1, verifica-se que as modalidades Cooperativa


Médica, Medicina de Grupo e Administradora de Benefícios tinham a maior
quantidade de operadoras no Brasil em julho de 2021 (276, 266 e 171
respectivamente). E a Região Sudeste apresentava a maior quantidade em
todas as modalidades das operadoras de saúde (N=736) pode ser pelo fato da
maior concentração populacional, segundo estimativas da população em 2021
divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Região
Sudeste conta com 89.632,912 pessoas o equivalente a cerca de 42% da
população brasileira.
Segundo a ANS, a modalidade Autogestão reúne empresas que operam
planos de assistência à saúde destinados, exclusivamente, a empregados
ativos, aposentados, pensionistas ou ex-empregados, de uma ou mais
empresas. Ou, ainda, a participantes e dependentes de associações de pessoas
físicas ou jurídicas, fundações, sindicatos, entidades de classes profissionais ou
assemelhados e seus dependentes.
A modalidade Medicina de Grupo comercializa planos de saúde para
pessoa física ou pessoa jurídica. O beneficiário faz uso de uma estrutura própria
e/ou contratada pela operadora (médicos, hospitais, laboratórios e clínicas). A
Administradora de Benefícios inclui aquela empresa que apenas administra
planos de assistência à saúde, e que são financiados por outra operadora. Uma
administradora não assume o risco decorrente da operação desses planos e não
possui rede própria, credenciada ou referenciada de serviços médico-
hospitalares ou odontológicos. Por não possuir beneficiário, a operadora
classificada como administradora está dispensada do envio das informações
21

sobre beneficiários (seus dados são classificados como inconsistentes) (ANS,


[s.d.]).
No Gráfico 1 é possível identificar a quantidade de beneficiários por
grande região do Brasil em setembro de 2018, 2019 e 2020. O termo beneficiário
refere-se a vínculos aos planos de saúde, podendo incluir vários vínculos para
um mesmo indivíduo (ANS TABNET, 2021).

Gráfico 1 – Taxa de Cobertura das operadoras de saúde por grandes regiões, Brasil 2018 a
2020

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste


35,1

34,9

34,9
24,7

24,4
25

21,6
21,3

22
12,3

12,2

12,1
10,4

10,4

10,4

DEZ/18 DEZ/19 DEZ/20

Fonte: ANS Tabnet, 2021.

De acordo com o Gráfico 1, é possível observar que nos anos observados


em todas as regiões a taxa de cobertura de operadoras de saúde é praticamente
a mesma. É possível observar também que a Região Sudeste tem a maior
cobertura em todos os anos: 35,1% em dez/18, 34,9% em dez/19 e 34,9% em
dez/20. Mas como é a divisão das modalidades existentes por grandes regiões
no Brasil? O Gráfico 2 apresenta esta distribuição.
22

Gráfico 2 – Média da quantidade de operadoras de saúde por modalidade por grande região,
Brasil 2018 à 2020

14000000
Quantidade de operadoras de saúde

12000000

10000000 Autogestão

8000000 Cooperativa Médica

6000000
Filantropia

4000000
Medicina de Grupo
2000000
Seguradora Especializada em
0 Saúde
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro
Oeste
Regiões do Brasil

Fonte: ANS Tabnet, 2021.


Com o Gráfico 2 é possível observar que o número de beneficiários das
cooperativas médicas é o maior entre todas as modalidades nas Regiões Norte,
Sul e Centro Oeste de 2018 a 2020. Nas Regiões Nordeste e Sudeste a
modalidade com maior quantitativo de beneficiários foi a Medicina de Grupo.
A ANS também classifica as operadoras segundo o porte, ou seja, de
acordo com a quantidade de beneficiários em cada plano. Até 20 mil
beneficiários a operadora é considerada de pequeno porte, entre 20 mil e 100
mil, de médio porte, e de grande porte se ela possui mais de 100 mil
beneficiários. O Gráfico 3 apresenta as operadoras por grandes regiões do Brasil
por seu porte em distribuição percentual em dezembro de 2020.
23

Gráfico 3 – Distribuição percentual das Operadoras de Saúde por porte nas Grandes Regiões
do Brasil em dezembro de 2020

70,00%
Percentual do quantitativo de operadoras de

60,00%

50,00%
saúde por porte

40,00%
Pequeno Porte
30,00% Médio Porte
Grande Porte
20,00%

10,00%

0,00%
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Regiões do Brasil

Fonte: ANS Tabnet, 2021.

De acordo com a Figura 3 pode-se observar que a Região Sudeste tem


cerca de 60% das operadoras de saúde no Brasil de todos os portes, a Região
Norte tem mais operadoras de grande porte, a Região Nordeste tem 15,32%
operadoras de grande porte, a Região Sul contribui com 20,32% de médio porte
e a Região Centro Oeste contribui com 9,09% de operadoras de pequeno porte
em dezembro de 2020. Outra característica das operadoras de planos de saúde
são os tipos de contratação, que podem ser individuais/familiares, Coletivo
empresarial e Coletivo por adesão. O Gráfico 4 mostra os beneficiários das
modalidades das operadoras de saúde por tipo de contratação no Brasil em
2021.
24

Gráfico 4 – Beneficiários das modalidades das operadoras de saúde por tipo de contratação,
Brasil, 2021

Quantidade de beneficiários 14000000

12000000

10000000

8000000

6000000

4000000

2000000

0
Autogestão Cooperativa Filantropia Medicina de Seguradora
Médica Grupo Especializada em
Saúde
Tipo de contratação

Individual ou Familiar Coletivo Empresarial Coletivo por adesão

Fonte: ANS Tabnet, 2021.

De acordo com o Gráfico 4 o tipo de contratação coletivo empresarial é


maior em todas as modalidades, com destaque para a modalidade medicina de
grupo. O tipo individual ou familiar tem maior quantidade de beneficiários nas
modalidades medicina de grupo e Cooperativa médica. As características de
cada tipo de contratação podem ser observadas no Quadro 1:
25

Quadro 1 – Tipo de contratação de operadoras de saúde no Brasil, 2020

Tipo de contratação Características


Qualquer pessoa pode procurar o plano e contratar.
Adesão: Livre
Carência: Sim
Cobertura: Conforme o contrato e o rol de procedimentos
Individual ou familiar
Rescisão: Apenas em caso de fraude ou falta de pagamento
Cobrança: Diretamente ao consumidor pela operadora de planos de
saúde

Associação profissional ou sindicato contrata o plano para o


beneficiário
Adesão: Exige vínculo com associação profissional ou sindicato
Carência: Sim. Salvo para quem ingressa no plano em até 30 dias da
celebração do contrato ou no aniversário do mesmo.
Coletivo por Adesão Cobertura: Conforme o contrato e o rol de procedimentos
Rescisão: Previsão em contrato e somente válida para o contrato
como um todo.
Cobrança: Diretamente ao consumidor pela pessoa jurídica
contratante ou pela administradora do benefício.

Associação profissional ou sindicato contrata o plano para o


beneficiário
Adesão: Exige vínculo com pessoa jurídica por relação empregaticia
ou estatutária
Carência: Sim. Salvo para contratos com 30 ou mais beneficiários e
para quem ingressa no plano em até 30 dias da celebração do
Coletivo por Empresarial
contrato ou da vinculação da empresa
Cobertura: Conforme o contrato e o rol de procedimentos
Rescisão: Previsão em contrato e somente válida para o contrato
como um todo.
Cobrança: Diretamente ao consumidor pela pessoa jurídica
contratante ou pela administradora do benefício.

Fonte: ANS, 2021.


O mercado de saúde suplementar no Brasil de acordo com a Pesquisa
Nacional de Saúde 2019 (pág. 29), contava no referido ano com 59,7 milhões de
usuários com algum tipo de plano de saúde seja médico, de saúde ou
odontológico, ou seja, 28,5% da população daquele ano. A Região Sudeste
apresentava 37,5% do quantitativo de beneficiários, seguido pela Região sul com
32,8%; Centro-oeste 28,9%; Nordeste 16,6% e Norte com 14,7%; portanto, a
região Sudeste em 2020 tinha o maior mercado de operadoras privadas com
cerca de 60% do quantitativo geral de planos de saúde sejam elas pequeno,
médio ou grande porte foi observado também que há mais operadoras Medicina
de Grupo e Cooperativas Médicas em todas as regiões da nação. Com base
26

nisso o foco da pesquisa atual é analisar possíveis impactos financeiros na


modalidade medicina de grupo, contudo, por não dispor de dados financeiros por
região a pesquisa será baseada em todas as regiões do Brasil.
No próximo tópico serão abordadas as medidas para o enfrentamento da
Covid-19 que a ANS precisou incluir e modificar em caráter emergencial frente à
emergência sanitária.

2.1.2 Saúde Suplementar e as medidas para o enfrentamento da Covid-19

Com a pandemia da Covid-19, a ANS precisou tomar uma série de


providências frente à emergência sanitária. Uma delas foi a postergação dos
prazos de atendimentos de consultas, exames, terapias, cirurgias eletivas,
objetivando reduzir a sobrecarga nas unidades de saúde e a exposição de
beneficiários à Covid-19 (ANS, 2020). Bem como a inclusão no rol de
procedimentos de forma extraordinária os exames para detecção do novo
coronavírus (ANS, 2020). O exame incluído foi o “SARS-CoV-2”
(CORONAVÍRUS COVID-19) – pesquisa por RT-PCR, é um exame que atua
detectando o material genético do vírus. A cobertura é obrigatória quando o
paciente se enquadrar na definição de caso suspeito ou provável de doença pela
Covid-19, conforme definido pelo Ministério da Saúde.
Além deste exame, foram incluídos outros seis que auxiliam no
diagnóstico e tratamento do novo coronavírus na lista de coberturas obrigatórias
dos planos de saúde. São eles:
• D-dímero (dosagem);
• Procalcitonina (dosagem);
• Pesquisa rápida para Influenza A e B e PCR em tempo real para os vírus;
• Pesquisa rápida para Vírus Sincicial Respiratório e PCR em tempo real
para Vírus Sincicial Respiratório;
É importante destacar a inclusão desses novos exames pois são novas
despesas que as operadoras de saúde precisaram arcar.
Outra medida adotada foi o uso e a ampliação da Telessaúde. Aprovada
em caráter emergencial pelo Congresso Nacional em quaisquer atividades da
área de saúde até o fim da pandemia (Projeto de Lei nº 696, 2020), ela permite
que as pessoas mantenham seus cuidados períodicos e sejam acompanhadas
27

pelos profissionais de saúde respeitando o distanciamento social. O termo


Telessaúde refere-se a um conceito amplo, englobando diferentes serviços
remotos de assistência, educação, pesquisa em saúde e diagnóstico. De acordo
com o Ministério da Saúde (2020) suas aplicações podem ser por:
• Teleconsultoria: Consulta registrada e realizada entre trabalhadores,
profissionais e gestores da área de saúde, objetivando esclarecer dúvidas
sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relativas ao
processo de trabalho.
• Telediagnóstico: Utilização das TIC em serviços de apoio ao diagnóstico
por meio de distâncias geográficas e/ou temporais, que inclui
telerradiologia, teleECG, teleespirometria, telepatologia etc.
• Telemonitoramento: Monitoramento à distância de parâmetros de saúde
e/ou doença de pacientes, incluindo coleta de dados clínicos,
transmissão, processamento e manejo por profissional de saúde.
• Telerregulação: Ações em sistemas de regulação, avaliação e o
planejamento das ações, fornecendo à gestão uma inteligência
reguladora operacional. Possibilita a redução nas filas de espera no
atendimento especializado.
• Teleeducação: Aulas, cursos ou disponibilização de objetos de
aprendizagem interativos sobre temas relacionados à saúde.
• Teleconsulta: Realização de consulta médica ou de outro profissional de
saúde à distância por meio de TIC, que até a epidemia só era permitida,
no Brasil, pelo Conselho Federal de Medicina em emergências.
Logo, a Telessaúde é considerada um recurso fundamental, dada a sua
capacidade de diminuir a circulação de indivíduos em estabelecimentos de
saúde, reduzir o risco de contaminação de pessoas e a propagação da doença
(CAETANO et al.,2020).
Uma medida de enfrentamento que também poderia ser utilizada para
diagnosticar a Covid-19 era a testagem em massa da população. Segundo
MAGNO et al., (2020) é considerado um desafio pela dificuldade de obtenção de
insumos para maior disponibilização do teste molecular de detecção do RNA
viral, uma vez que este se tornou uma necessidade global e o custo
relativamente caro, custando entre R$ 150,00 a R$ 350,00 por amostra, além de
28

ter outras limitações como: a positividade do teste geralmente ocorre nos


primeiros 4 a 8 dias após o aparecimento dos sintomas e nem sempre as
pessoas realizam os testes dentro desta janela imunológica; trata-se de teste de
alta complexidade técnica, que necessita de uma infraestrutura com um nível de
biossegurança adequado para a sua realização.
No próximo tópico será abordado o perfil do paciente infectado pela Covid-
19 e a demanda de leitos de UTI no Brasil.

2.1.3 Perfil sociodemográfico do paciente infectado pela Covid-19 e demanda de


leitos de UTI.

De acordo com (PORTO et al., 2020) entre 17 de março de 2020 e 26 de


abril de 2020, constatou-se que 72% das mortes por Covid-19 foram de pessoas
com mais de 60 anos, 60% do sexo masculino, e 70% apresentavam pelo menos
uma comorbidade, sendo a cardiopatia a mais comum entre elas. Na primeira
onda, o país vivenciou uma grande pressão por leitos de UTI. De acordo com
Moreira (2020) em seu artigo que engloba em sua metodologia as 450 Regiões
de Saúde do Brasil, a nação contava com:

“29.891 unidades, sendo 14.094 UTI do SUS e 15.797 de UTI privada.


O SUS tinha 40.508 ventiladores mecânicos. Das 450 Regiões de
Saúde,126 não tinham UTI, seja do SUS ou privada, com 44,4% na
Região Nordeste. Outras 145 Regiões de Saúde não contavam com
UTI do SUS, também com predominância na Região Nordeste (45,5%).
Encontrou-se 188 Regiões de Saúde sem UTI privadas, sendo 42% na
Região Nordeste” (MOREIRA, 2020, PÁG. 4).

A chamada segunda onda da pandemia experimentada no primeiro


semestre de 2021 trouxe um perfil diferenciado para os hospitalizados, em
decorrência principalmente pelo fato do processo de vacinação ter se iniciado
pelas pessoas dos grupos etários mais avançados.
Segundo um levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz, nos
primeiros meses de 2021, a média de idade dos pacientes internados diminuiu
progressivamente. Entre janeiro e o início de março, as faixas etárias de 30 a 39
anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos aumentaram seus casos em 565%, 626% e
525% respectivamente. Outra mudança é que com essa redução nas idades, de
acordo com a (FIOCRUZ, 2021) muitos internados não tinham comorbidades por
29

serem mais jovens, porém, o tempo de internação no hospital tornou-se maior


em função da maior sobrevida de pessoas dessas idades, elevando assim as
despesas das operadoras de saúde com as internações nesses leitos.
No próximo tópico serão abordados os dados e a metodologia utilizada
para verificar se houve impacto da pandemia de Covid-19 sobre as receitas e
despesas das operadoras de planos de saúde modalidade medicina de grupo.
30

3 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo está organizado em duas partes. No item 3.1.1,


apresentam-se os dados que foram utilizados. Em seguida, no item 3.1.2,
apresentam-se os métodos utilizados para verificar se houve impacto da
pandemia de Covid-19 sobre as receitas e despesas das operadoras de planos
de saúde modalidade medicina de grupo.

3.1 Dados e metodologia

3.1.1 Dados

A base de dados obtida para o presente estudo foi coletada no site da


Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)1. A ANS promove diversas
ações voltadas à disponibilização de dados setoriais para a sociedade em geral
incluindo consultas sobre beneficiários, operadoras e planos privados de saúde
nos sistemas de informações da ANS, taxa de crescimento, cobertura e a
legislação. Além dos dados foi preciso coletar os arquivos auxiliares de tabulação
e documentação para manipulação e interpretação das informações. O caminho
para a obtenção dos dados se deu pelo seguinte passo a passo ilustrado pela
Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma do caminho para obtenção da base de dados de receitas e despesas no
site da ANS

Dados e Indicadores do Setor

Base de Dados (Operadoras,


Beneficiários e planos de saúde)

Baixar arquivos (Consultas)

Base de dados (Operadoras)

Receitas e despesas (selecionar os


anos de 2015 à 2020).

Fonte:ANS, 2020.

1 https://www.gov.br/ans/pt-br
31

Os arquivos disponibilizados estão em formato DBC (Database


Container), um tipo de banco de dados criado com o Visual FoxPro que é uma
ferramenta comercializada pela Microsoft desde 1995. Para a leitura e
manipulação desse banco de dados na linguagem R foi necessário baixar as
bibliotecas “read.dbc” e “readr”. Para identificar o significado das variáveis do
banco de dados foi utilizado a documentação disponibilizada também na opção
“baixar base de dados em documentação e arquivos auxiliares”. O Quadro 2
apresenta as variáveis e a descrição de cada uma.
Quadro 2 - Nome e descrição das variáveis utilizadas, Brasil, 2020
CMPT Identificação da data, por ano e mês (aaaamm),
de referência do dado.
ANO Ano a que se referem os dados
MÊS Mês a que se referem os dados
MODALIDADE Modalidade da operadora, conforme seu estatuto
jurídico:
21 = Administradora
22 = Cooperativa Médica
23 = Cooperativa Odontológica
24 = Autogestão
25 = Medicina de Grupo
26 = Odontologia de Grupo
27 = Filantropia
28 = Seguradora Especializada em Saúde
29 = Seguradora
55 = Administradora de Benefícios
OPERADORA Código de registro da operadora de Plano de
Saúde na ANS
RECEITA Soma das receitas de contraprestações
informadas pelas operadoras à ANS
OUTRAS_REC Trata-se de outras receitas operacionais
DESP_AST Soma das despesas relacionadas à prestação
direta dos serviços de assistência à saúde
informadas pelas operadoras à ANS
DESPESAS_C Despesas da comercialização
OUTRAS_DES Trata-se de outras despesas operacionais
DATA_CARGA Data em que ocorreu a atualização dos dados
REF Trimestre a que se refere o DIOPS
Fonte: ANS, 2021.

A estrutura do banco de dados final utilizado nesta monografia pode ser


observada na Figura 2. Na linha se encontram as operadoras de plano de saúde
e na coluna suas características.
32

Figura 2 – Estrutura Banco de dados, Brasil, 2020

Fonte:ANS, 2021.
Das variáveis disponibilizadas nos bancos de dados de 2015 a 2020, inicialmente
permaneceram as que seriam importantes para a consecução dos objetivos
propostos:
• MODALIDADE; • DESP_AST;
• OPERADORA; • DESPESAS_C;
• RECEITA; • OUTRAS_DES.
• OUTRAS_REC;
É importante destacar que todos os bancos de dados têm a mesma
referência temporal, ou seja, os dados são acumulados até o início do quarto
trimestre do ano. Após reduzir o banco de dados para as sete variáveis
apresentadas, foi realizada uma análise nos dados das receitas e despesas para
identificar se RECEITA, OUTRAS_REC, DESP_AST, DESPESAS_C e
OUTRAS_DES permaneceriam no banco de dados. Ele contava inicialmente
com 6.796 observações, e após remover as variáveis que não seriam utilizadas
e filtrar apenas as operadoras medicina de grupo, o banco de dados, final contém
1537 casos de operadoras de plano de saúde. A análise descritiva dos dados
referente ao ano de 2020 é exibida na tabela 2.
Tabela 2 – Análise descritiva banco de dados dos tipos de receitas e despesas das operadoras
de saúde em 2020

RECEITA OUTRAS_REC DESP_AST DESP_ADM DESPESAS_C OUTRAS_DES


Mínimo R$ - R$ - -R$ 1.877.000,00 R$ - R$ - -R$ 472.219,00
1º Quartil R$ 6.475.000,00 R$ 212,00 R$ 3.849.000,00 R$ 1.558.000,00 R$ - R$ 112.330,00
Mediana R$ 34.940.000,00 R$ 172.443,00 R$ 25.250.000,00 R$ 4.723.000,00 R$ 267.086,00 R$ 1.151.282,00
Média R$ 279.100.000,00 R$ 6.049.366,00 R$ 205.200.000,00 R$ 30.210.000,00 R$ 10.393.741,00 R$ 10.398.046,00
3º Quartil R$ 118.700.000,00 R$ 1.596.850,00 R$ 82.310.000,00 R$ 15.780.000,00 R$ 2.632.240,00 R$ 5.663.516,00
Máximo R$ 19.280.000.000,00 R$ 370.980.653,00 R$ 15.250.000.000,00 R$ 1.771.000.000,00 R$ 758.819.255,00 R$ 374.501.293,00

Fonte:ANS, 2021.
33

3.1.2 Análise de Componentes Principais

A primeira análise realizada foi a Análise de Componentes Principais ACP


ou PCA (do inglês Principal Components Analysis). Segundo Varella (2008) essa
análise é uma técnica estatística multivariada que transforma um conjunto de
variáveis originais em um outro conjunto de variáveis de mesma dimensão
denominadas de componentes principais. Ou seja, agrupa os indivíduos
segundo a variação de suas características, sendo uma técnica multivariada de
modelagem da estrutura de covariância. Ela foi utilizada a fim de identificar quais
tipos de Receitas e Despesas permaneceriam no banco de dados, conforme
citado no tópico anterior, pois era preciso saber se seria necessário utilizar todas
as variáveis de receitas e despesas existentes na base de dados.
Das diversas maneiras de escolher as componentes principais é
importante que elas mantenham uma certa proporção (80%) da variância
explicada e as componentes estarem acima de algum valor, como por exemplo,
a média do conjunto de dados. O Gráfico 5 mostra a correlação entre as variáveis
das Receitas e Despesas das operadoras de saúde, Brasil 2015 a 2020.

Gráfico 5 – Correlação entre os tipos de receitas e despesas, Brasil 2015 a 2020

Fonte: ANS, 2020.

Observa-se que todas as variáveis têm correlação positiva entre si, sendo que a
variável OUTRAS_REC tem a menor correlação entre todas as variáveis e o par
DESP_AST e RECEITAS tem correlação +1, ou seja, um perfeito positivo e
diretamente correlacionadas. Do ponto de vista prático, essa correlação positiva
34

significa dizer que há um aumento no valor de uma variável quando a outra


aumenta, ou seja, na medida que as receitas aumentam as despesas também
aumentam (DESP_AST e RECEITAS).
A Gráfico 6 mostra que a primeira dimensão explicou quase 100% da
variância das variáveis.
Gráfico 6 – Componentes principais, Brasil 2015 – 2020

Fonte: Ans, 2020.


De acordo com o Gráfico 6 verifica-se que a componente principal é a
primeira dimensão com quase 100% da variabilidade dos dados. Então para
essa pesquisa foram incluídas as variáveis que estão na primeira componente
principal. Para melhor visualizar a relação entre as dimensões e as variáveis
vemos o mapa fatorial na Gráfico 7.
Gráfico 7 – Mapa fatorial das Receitas e Despesas das operadoras de medicina de grupo,
Brasil, 2015 – 2020

Fonte: ANS, 2020.


35

Pode-se notar que a primeira dimensão explicou 82,3% da variabilidade


dos dados, enquanto a segunda 15,6%. Logo, pode-se considerar que o mapa
perceptual bidimensional apresentado está adequado para avaliar as relações
entre as variáveis Receitas e Despesas, uma vez que ele explica grande parte
da variabilidade dos dados (mais que 80%). As variáveis que são
correlacionadas com a dimensão 1 ou seja com a CP1 são as mais importantes
para explicar a variabilidade no conjunto de dados, e as demais podem ser
removidas para simplificar a análise geral. O Gráfico 8 mostra as variáveis
indicadas para a análise das despesas e receitas das operadoras de saúde.

Gráfico 8 – Contribuições das variáveis para a componente principal, Brasil 2015 – 2020

Fonte: ANS, 2020.

As variáveis acima da linha vermelha são as variáveis que mais


contribuem para a PC1, logo a variável OUTRAS_REC foi a única não indicada
a permanecer no banco de dados (GRAF.8).
3.1.3 Test t de diferença entre médias populacionais

O teste t de amostra pareada, às vezes chamado de teste t de amostra


dependente, é um procedimento estatístico utilizado para determinar se a
diferença média entre dois conjuntos de observações é zero. Em um teste t de
amostra pareada, cada sujeito ou entidade é medido duas vezes, resultando em
pares de observações. Aplicações comuns do teste t da amostra pareada
incluem estudos de caso-controle ou desenhos de medidas repetidas (MINITAB,
2019).
36

Para verificar se a pandemia da Covid-19 produziu efeito sobre as


diferenças entre receitas e despesas, o que seria um tipo de caso-controle, foi
realizado um teste t de diferença entre médias populacionais para comparar
essas possíveis diferenças entre 2019 (ano anterior à pandemia) e 2020 (ano da
pandemia). Para cálculo na linguagem R, inicialmente foi preciso instalar os
pacotes das seguintes bibliotecas:
• Tidyverse para manipulação e visualização de dados;
• Ggpubr para criar gráficos;
Em seguida os dados foram salvos em dois vetores numéricos diferentes. Os
parâmetros do teste são:
• t é o valor estatístico do teste t.
• df são os graus de liberdade ou seja esta relacionado ao tamanho da
amostra.
• p-value é o nível de significância do teste t;
• conf.int é o intervalo de confiança da média das diferenças a 95% ;
• sample estimates é a média das diferenças;
• n = População;

• X𝐷 = Média das diferenças pareadas;


• μ0 = média populacional de todas as diferenças pareadas;
• S𝐷 = desvio padrão das diferenças pareadas.

X𝐷 −μ0
𝑡= S𝐷 , df = n-1
√𝑛

Com base no teste e nos objetivos do presente estudo, o teste de hipótese


pode ser formulado como:
H0: a pandemia da Covid-19 não produziu efeito sobre as diferenças entre
receitas em 2019 e receitas em 2020, e entre as despesas em 2019 e despesas
em 2020.
H1: a pandemia da Covid-19 produziu efeito sobre as diferenças entre
receitas em 2019 e receitas em 2020, e entre as despesas em 2019 e despesas
em 2020.
37

O nível de significância utilizado foi de α = 0,95.

3.1.4 Indicador de custo médico hospitalar: o índice VCMH

O Índice de Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH), produzido


pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), é um dos indicadores
utilizado pelo mercado como referência sobre o comportamento dos custos no
sistema de saúde suplementar.
De acordo com o IESS (2021):
“A VCMH é uma média ponderada por padrão de plano (básico,
intermediário, superior e executivo), o que possibilita a mensuração
mais exata da variação do custo médico-hospitalar. O custo médico-
hospitalar resulta do produto da frequência de utilização pelo preço dos
serviços de saúde. Portanto, a variação do custo ou a VCMH, é a soma
das variações dos preços e das frequências de utilização, mais os
efeitos cruzados” (IESS, 2021).

Internacionalmente o termo variação do custo médico hospitalar é pouco


utilizado e, ao invés dele, utiliza-se o termo inflação médica. Embora não seja
calculado como a inflação, ela capta variação de preços de todos os
procedimentos como consultas, exames, terapias, internação e a variação da
frequência de utilização como também a variação de faixa etária, ou seja, o
envelhecimento também ocasiona um aumento no VCMH.
Em vários países, inclusive no Brasil, as despesas de atenção à saúde
aumentam significativamente desde os anos 1980, sendo os principais vetores
a incorporação de novas tecnologias e o envelhecimento populacional (KAISER
FOUNDATION, 2012; CECHIN et al, 2008 apud LARA & LEITE, 2014). Nos
Estados Unidos, estima-se que entre 27% e 48% do crescimento dos gastos com
saúde desde 1960 foi devido às novas tecnologias (SMITH et al., 2009 apud
LARA & LEITE, 2014 apud ). No que se refere ao envelhecimento populacional,
por ser um processo natural do ser humano ele pode vir acompanhado de uma
maior prevalência de doenças e, consequentemente, aumentar a demanda por
serviços especializados em saúde. O impacto desses vetores de custo são
captados pelas variações dos custos médico-hospitalares (TOWERS WATSON,
2012 apud LARA & LEITE, 2014).
A fonte principal para o cálculo da VCMH é o caderno Mapa Assistencial
da Saúde suplementar. Esses dados são disponibilizados pela ANS anualmente,
sendo o caderno referente à 2020 inserido em 16 de agosto de 2021. Este
38

caderno traz uma visão geral da saúde suplementar no Brasil sobre a demanda
por procedimentos com uma abertura dos eventos monitorados pela ANS e dos
custos assistenciais com uma menor abertura, mas suficiente para o cálculo do
índice.
Este índice varia de acordo com os 12 últimos meses, ou seja, se no fim
de deteminado período o índice foi de 10%, significa que em relação ao período
anterior os custos variaram em 10%. Ou seja, as despesas foram maiores em
10%. Em outro ponto de vista, caso termine o período em -1% significa que os
custos foram inferiores ao ano anterior em 1%. Esse índice é importante pois
apresenta a variação dos gastos por procedimento, como internação, terapias,
consultas e exames. Segundo a IESS (2021) é importante destacar que o índice
VCMH/IESS tem no seu cálculo apenas planos individuais (antigos e novos) de
operadoras de abrangência nacional, não refletindo necessariamente a variação
das despesas dos planos coletivos. No próximo capítulo serão apresentados os
resultados obtidos na monografia a fim de se responder à pergunta norteadora:
qual o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as receitas e despesas das
operadoras de planos de saúde da modalidade medicina de grupo médico
hospitalares?
39

4 RESULTADOS

A ANS disponibiliza os dados das receitas e despesas das operadoras de


saúde por ano. As seleções disponíveis podem ser escolhidas por modalidade,
operadora e grupo modalidade. No Gráfico 9 é apresentada a diferença receita-
despesa por ano de 2015 a 2020.

Gráfico 9 – Diferença receita-despesa por ano simples de 2015 a 2020

R$ 65.000.000.000,000

R$ 60.000.000.000,000

R$ 55.000.000.000,000
Receitas e despesas

R$ 50.000.000.000,000

R$ 45.000.000.000,000

R$ 40.000.000.000,000

R$ 35.000.000.000,000

R$ 30.000.000.000,000

R$ 25.000.000.000,000

R$ 20.000.000.000,000
2015 2016 2017 2018 2019 2020

RECEITA DESPESA

Fonte:Tabnet ANS, 2021.

Podemos identificar que os anos de 2015, 2016 e 2017 tiveram suas


despesas maiores que as receitas do período. A partir de 2018 as receitas foram
superiores, especialmente em 2020. Essa maior diferença entre receita e
despesa em 2020 pode ser explicado pelo distanciamento social da população
em que muitos beneficiários tiveram suas cirurgias, consultas e exames adiados
(conforme medidas inseridas pela ANS) ou pelo possível aumento da massa de
beneficiários (GRÁF. 10).
O quantitativo de beneficiários modalidade medicina de grupo de 2015 a
2020 está apresentado no Gráfico 10.
40

Gráfico 10 – Beneficiários por contratação individual/familiar modalidade medicina de grupo


Brasil, 2015 a 2020

4.250.000
Beneficiários por contratação
individual/famiiar

4.200.000

4.150.000

4.100.000

4.050.000
2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: ANS, 2021.

É possível verificar com o Gráfico 10 que a quantidade de beneficiários ao


longo dos anos segue tendência de crescimento a partir do ano de 2018. No
Gráfico 11 é mostrado a variação percentual de beneficiários de cada par
(2015/2016, 2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020).

Gráfico 11 – Variação percentual beneficiários contratação individual/familiar Medicina de


Grupo Brasil, 2015 a 2020

2019/2020

2018/2019

2017/2018

2016/2017

2015/2016

-2,00% -1,50% -1,00% -0,50% 0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00%

Fonte: ANS, 2021.


41

Pode-se identificar que houve um maior crescimento da massa de


beneficiários em 2020 com variação percentual com cerca de 1,40% em relação
a 2019, conforme Gráfico 11.
Segundo Araújo apud Tavares e Ícaro (2021), esse aumento pode te sido
por influência da pandemia da Covid-19 por receio por parte dos beneficiários de
precisarem de uma internação.
Para verificar se a pandemia da Covid-19 produziu efeito sobre as
diferenças entre receitas e despesas, foi empregado um teste t de diferença
entre médias populacionais para comparar essas possíveis diferenças entre
2019 e 2020. A população de operadoras na análise foi de 140 planos de saúde
modalidade medicina de grupo em cada ano.
O teste resultou que tanto as receitas e despesas obteve valor p de 0,1976
e 0,7664 respectivamente, ou seja, aceitando a hipótese nula do teste por serem
maiores que o intervalor de confiança de 0,05. Sendo assim é possível concluir
a partir deste teste que a pandemia não produziu efeitos sobre as diferenças
entre receitas e despesas nos anos 2019 e 2020, ou seja, a pandemia não afetou
o equilíbrio financeiro em 2020 das operadoras medicina de grupo. Nos Gráficos
12 e 13 podemos visualizar os resultados.

Gráfico 12 – Gráfico test t das despesas de 2019 e 2020


42

Gráfico 13 – Gráfico test t das receitas de 2019 e 2020

Nos gráficos 12 e 13 podemos observar a semelhança entre as receitas e


despesas dos anos 2019 e 2020, os pontos destacados no gráfico de forma
paralela aponta a semelhança entre as receitas e despesas. Cada linha
representa uma das 140 operadoras de saúde.
Diante desses resultados, há indícios de que os gastos das operadoras
de saúde na pandemia da Covid-19 não afetaram o equilíbrio financeiro em 2020
das operadoras da modalidade medicina de grupo, confirmando a hipótese 1.
Outra análise realizada foi a obtenção da variação do VCMH/IESS no
tempo, de janeiro de 2016 a dezembro de 2020. O Gráfico 14 apresenta que a
VCMH em 2020, foi negativa com percentual médio de -1,9% o que confirma a
hipótese 2 de que justifica um reajuste negativo para as mensalidades das
operadoras de saúde tipo de contratação individuais.
43

Gráfico 14 – Variação VCMH/IESS mensal entre janeiro de 2016 a dezembro de 2020

25

Série histórica da VCMH/IESS


20

15

10

-5
jul/16

jul/17

jul/18

jul/19

jul/20
out/16

out/17

out/18

out/19

out/20
jan/16

jan/17

jan/18

jan/19

jan/20
abr/16

abr/17

abr/18

abr/19

abr/20
Fonte: IESS, 2021.

Todavia, se considerarmos a tendência do VCMH por tipos de


atendimento, vemos perfis distintos durante o período da pandemia. De acordo
com o Gráfico 15, pode-se observar que a partir de janeiro de 2020 em todos os
tipos de atendimentos as variações decrescem para as categorias “Consultas” e
“Exames”, o que possivelmente ocorreu visando o distanciamento social da
população pelas medidas adotadas pela ANS e pela suspensão de atendimento
de muitas clínicas médicas.

Gráfico 15 – Variação VCMH/IESS mensal por item de despesa entre janeiro de 2016 a
dezembro de 2020.

40
30
Variação VCMH/IESS

20
10
0
-10
-20
-30
-40
jul/16

jul/17

jul/18

jul/19

jul/20
out/16

out/17

out/18
jan/19

out/19

out/20
jan/16

jan/17

jan/18

jan/20
abr/16

abr/17

abr/18

abr/19

abr/20

Consulta Exames Internação Terapia

Fonte: IESS, 2021.


44

Porém, para os grupos “Terapia” e “Internação” houve uma tendência


distinta. No caso em particular do grupo “Terapia”, o fato dele ter apresentado
durante todo o período pandêmico analisado valores positivos, pode ser devido
ao fato de que há maior facilidade de ajuste desse atendimento em telessaúde
como também uma maior demanda pela necessidade da população em
estabelecer uma saúde mental no meio do caos da doença. Além da possível
demanda por atendimentos terapêuticos em função do abalo emocional
provocado pela Covid-19. A variação de internação foi positiva durante boa parte
do período pandêmico, o que se justifica também pela demanda de leitos de
internação provocada pela doença. Tendo sido observada, inclusive, tendência
de crescimento no final do período quando se pronunciava no país a segunda
onda da Covid-19.
45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, a pandemia da Covid-19 não afetou o Setor de Saúde


Suplementar negativamente até 2020, pelo fato de que as receitas do primeiro
ano da emergência sanitária foram além de suficientes para cobrir as despesas
geradas. Ou seja, a hipótese 1 foi confirmada: a pandemia da Covid-19 não
afetou o equilíbrio financeiro em 2020 das operadoras da modalidade medicina
de grupo. Adicionado a isso, chama a atenção o aumento de novos beneficiários
por tipo de contratação individual/familiar na saúde privada com variação de
aumento de mais de 1,40%, mesmo com muitas empresas limitando o
atendimento frente aos decretos de distanciamento social que muitos governos
optaram como forma de intervenção não farmacológicas contra a Covid-19.
O resultado do índice VCMH foi negativo o que confirmou a hipótese 2 do
reajuste negativo para as mensalidades do tipo individual. Porém, observou-se
comportamento distinto entre tipos de atendimento, como as terapias e as
internações que se mostraram procedimentos mais vezes acionados durante a
pandemia.
Entretanto, espera-se que no período de maior controle da pandemia, com
retomada das cirurgias eletivas, consultas, exames, entre outros, que foram
adiados em prol do distanciamento social, essas despesas venham a se tornar
um problema que as operadoras de saúde e atuários precisarão lidar num futuro
próximo.
Este trabalho contou com algumas limitações, como exemplo, não foi
possível analisar por grandes regiões os possíveis impactos, pelo fato de a ANS
disponibilizar os dados das contraprestações apenas por trimestre das
operadoras no Brasil em geral como também a pesquisa foi limitada as
operadoras da modalidade medicina de grupo. Em julho de 2021 quando esta
monografia já estava em construção, a ANS divulgou as tabelas de reajuste e
apontando para essa queda de despesas das operadoras com a pandemia.
Também a recente monografia de Araújo (2020) analisou um estudo de caso da
contabilidade de uma operadora de saúde de pequeno porte localizada na
Região Nordeste, comparando o período anterior e durante a pandemia de
46

Covid-19 na modalidade autogestão. Neste caso, verificou-se que em 2020


houve 2,3 vezes maior no lucro líquido da empresa.
A pandemia da Covid-19 se tornou um evento desafiador na história
recente da humanidade e ela abre demandas para estudos futuros, como a
sídrome pós-covid, o que pode trazer para a saúde suplementar. É preciso
analisar mais afundo se o sistema de saúde atual será capaz de lidar com as
despesas geradas para assim permanecer com equilíbrio as finanças da saúde
suplementar.
47

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