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Número 1 - julho de 2020

COVID-19
Direitos Humanos
& Políticas de Saúde

Boletim de Direito Sanitário:


caminhos para a efetivação do direito humano à saúde

Nº 1 - Jan/Mar de 2020
EDITORES

SUPERVISÃO
Fernando Aith
Professor Titular do Departamento de Política, Gestão e Saúde da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - FSP/USP.
Diretor Geral do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da
USP. Professor Visitante da Université Paris Descartes - Paris 5.

COORDENAÇÃO E ARTE
Julino Soares
Pós-Doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisador
do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito Sanitário - CEPEDISA.
Pesquisador Doutor Colaborador pelo Programa de Políticas Públicas
da UFABC.

REVISÃO
Débora Martins
Jornalista especializada em comunicação científica. Editora executiva
da Revista de Direito Sanitário.

REVISÃO
Marina Borba
Pós-doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da USP. Pesquisadora
do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (CEPEDISA).

Créditos

Aith, F.M.A.; Soares, J.A.R.; Martins, D. (Org.). Boletim de


Direito Sanitário: caminhos para a efetivação do direito
humano à saúde. São Paulo, CEPEDISA, NAP-DISA/USP. 2020.

Contato: http://cepedisa.org.br
Tel.: (11) 3061-7774 / E-mail: julino@usp.br
EDITORIAL
BOLETIM DE DIREITO SANITÁRIO:
CAMINHOS PARA A EFETIVAÇÃO DO
DIREITO HUMANO À SAÚDE

Os boletins que abordam temas da saúde são


amplamente utilizados para a difusão de
informações, por serem acessíveis e objetivos.
Pelo seu alcance, a edição deste tipo de veículo
de comunicação exige um grande esforço na
curadoria das informações. Os editores
trabalham com foco na seleção e na
sumarização de textos que apresentem boas
evidências científicas.

Com a emergência de saúde pública provocada


pela pandemia da Covid-19, sentimos a
necessidade de criar o Boletim de Direito
Sanitário do CEPEDISA e do NAP-DISA/USP, com
o objetivo de sumarizar informações relevantes
e apresentar diferentes perspectivas sobre o
Direito Sanitário no Brasil e no mundo. Além dos
pesquisadores e operadores do direito, temos
interesse em dialogar com os trabalhadores do
Sistema Único de Saúde (SUS), com os
movimentos da sociedade civil organizada,
dentre outros.
Fernando Aith Aproveitamos para expressar nossos mais
sinceros agradecimentos a todas as autoras e
autores que participaram desta primeira edição
Prof. Titular do
Departamento de do Boletim, pois é claro que, sem a colaboração
Política, Gestão e de autoras e autores, não seria possível levar a
Saúde da Faculdade
de Saúde Pública da cabo nenhuma publicação.
Universidade de São
Paulo e Diretor
Geral do Centro de O boletim terá publicações periódicas e será um
Estudos e Pesquisas espaço aberto para troca de ideias e busca de
em Direito Sanitário
soluções criativas para que o Brasil possa
- CEPEDISA
caminhar rumo à plena efetivação do direito à
saúde. Esperamos que este seja um espaço de
Julino Soares diálogo e de prazer pelo conhecimento
científico no campo do Direito Sanitário. Seja
Pesquisador Doutor bem-vinda, seja bem-vindo para colaborar,
Colaborador pelo criticar e enviar sugestões. A universidade
Programa de
Políticas Públicas pública brasileira mantém o seu compromisso
da UFABC. Pós- social e intelectual com os direitos humanos e a
doutorando na
justiça social.
FSP/USP e
pesquisador do
Centro de Estudos e
Pesquisas em Fernando Aith & Julino Soares
Direito Sanitário -
CEPEDISA
Sumário

A ANS e as informações sobre demandas relacionadas à COVID-19 .. 2

A inefetividade das medidas da ANS para o combate à COVID-19 ..... 6

A COVID-19 e a saúde suplementar ............................................ 10

Como a COVID-19 pode contribuir para o avanço da saúde digital no


Brasil ...................................................................................... 14

Saúde e solidariedade na 73ª Assembleia Mundial da Saúde: pré-


requisitos para o desenvolvimento .............................................. 19

A ausência das políticas públicas de cuidado em saúde mental no Brasil


no período da pandemia COVID-19 ............................................. 23

Violência obstétrica em tempos de pandemia: a inviolabilidade do


direito ao acompanhante ........................................................... 29

A importância do parâmetro científico na tomada de decisões no


contexto da COVID-19 .............................................................. 33

O direito à saúde e o acesso a leitos em tempos de COVID-19 ....... 36

ACONTECE............................................................................... 40

Liberação da cloroquina .......................................................... 40


Combate à pandemia deve respeitar os direitos humanos ........... 40
Ciência Contaminada .............................................................. 40
Recorde de normas jurídicas não garante direitos na pandemia ... 41
INSTITUCIONAL ....................................................................... 43

Os textos são de autoria e responsabilidade exclusiva de seus autores. Para a


sua reutilização, solicite a autorização diretamente para o respectivo autor.
A ANS e as informações sobre demandas
relacionadas à COVID-19
Lidiane Mazzoni

"Análise do banco de dados desenvolvido pela ANS sobre as


demandas relativas à coronavírus"

A Agência Nacional de Saúde da população no país. Segundo, pelos


Suplementar (ANS) regula o mercado aspectos econômicos, pois a maioria
de planos privados de assistência à dos contratos firmados estão
saúde. Pelas suas características vinculados a empregos formais e um
intrínsecas, esse mercado é atingido cenário de crise de empregos impacta
duplamente pela pandemia do diretamente o número de
coronavírus. Primeiro, no aspecto beneficiários de planos privados de
assistencial, já que organiza os assistência à saúde1.
cuidados de saúde para cerca de 25%

SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS.


1
Dados disponibilizados referente ao ano de
Saúde suplementar fecha 2019
2019, informando o número total de
com 47 milhões de beneficiários
beneficiários e o tipo de contrato ao qual
de planos de saúde. Disponível
estão vinculados. AGÊNCIA NACIONAL DE

2
Após a decretação da situação de
emergência em saúde, a ANS
apresentou um conjunto de medidas
para preservar o mercado de saúde
suplementar. As medidas
demonstraram a preocupação com a
preservação dos leitos hospitalares
para os casos urgentes e relacionados
à COVID-19, postergando prazos de
procedimentos cobertos não
urgentes.
Uma das medidas foi a inclusão dos
exames para detecção da COVID-19
Lidiane Mazzoni
com regras para solicitação, as
chamadas diretrizes de utilização Mestranda em Saúde Coletiva
(DUT), a partir de 13/03/2020, por pela Faculdade de Medicina da
meio da Resolução Normativa (RN) n. Universidade de São Paulo.
4532. Junto a tal medida, foi definida Advogada com atuação no
a criação de marcadores específicos mercado de saúde suplementar.
para as demandas de usuários no Membro da Associação
período da pandemia, buscando Internacional de Direito do
monitorar os principais dados3. Seguro e da Comissão de Direito
Médico e de Saúde da
A metodologia aplicada está
Organização dos Advogados do
detalhada no site da ANS4.
Brasil, Seção São Paulo.
Interessante verificar que, por utilizar
Contato:
o Power BI, as informações são
lidianemazzoni@gmail.com

em: http://www.ans.gov.br/aans/noticias- https://www.ans.gov.br/images/stories/noti


ans/numeros-do-setor/5348-saude- cias/pdf/covid_19/nota-tecnica-10-dirad-
suplementar-fecha-2019-com-47-milhoes- difis.pdf. Acesso em: 14 maio 2020.
de-beneficiarios-de-planos-de-saude. Acesso
4.AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
em: 14 maio 2020.
SUPLEMENTAR – ANS. ANS disponibiliza
2 Disponível em: informações sobre demandas de
http://www.ans.gov.br/component/legislaca beneficiários relacionadas à Covid-19.
o/?view=legislacao&task=TextoLei&format= Disponível em
raw&id=Mzg2MQ==. Acesso em: 14 maio http://www.ans.gov.br/aans/noticias-
2020. ans/coronavirus-covid-19/coronavirus-
todas-as-noticias/5503-ans-disponibiliza-
3. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
informacoes-sobre-demandas-de-
SUPLEMENTAR – ANS. Nota Técnica n.
beneficiarios-relacionadas-a-covid-19.
10/2020/DIRAD-DIFIS/DIFIS. Disponível
Acesso em: 14 maio 2020.
em:

3
obtidas em tempo real para aqueles número de demandas sobre temas
que acessam as plataformas. não relacionados ao coronavírus é
significativamente maior (842), bem
Os resultados iniciais foram
como destacam-se as demandas não
apresentados em 30/04/2020. A
assistenciais (495). A negativa para
análise dos dados em 14/05/2020
cobertura do exame de detecção
demonstra que as maiores demandas
(397) aparece apenas em terceiro
dos beneficiários não envolvem
lugar, seguida pela ausência de rede
cobertura, mas sim questões não
para realização do exame (116).
assistenciais (como cancelamento e
Pode-se então identificar que, mesmo
reajuste), e que o maior número de
na pandemia, os beneficiários
reclamações sobre cobertura de
continuam enfrentando as
procedimentos relacionados à
dificuldades corriqueiras junto às
infecção por COVID-19 têm origem
operadoras.
no Estado do Rio de Janeiro, que não
é o estado com maior número de Na análise por estado, para as
casos de infecção5 ou com o maior reclamações envolvendo coronavírus
número de beneficiários de planos no mesmo período (01/04 a 13/05 de
privados de assistência à saúde6. 2020), o Rio de Janeiro fica em
primeiro lugar (244), seguido por São
As demandas sobre COVID-19
Paulo, com uma diferença
totalizavam 2.803, sendo que 29%
considerável (125). Em terceiro
tratavam de exames e tratamentos
lugar, aparece o Ceará, com 48
para a doença; 47% tratavam de
demandas registradas. Fica claro que
outros temas assistenciais; e 21%, de
as demandas relacionadas ao
temas não assistenciais.
coronavírus para usuários de planos
Em um comparativo entre as de saúde seguem a tendência de
reclamações sobre coronavírus e as estados com maiores dificuldades no
demais demandas, em todas as enfrentamento da pandemia. Quando
localidades onde há casos de analisa-se as demandas não
coronavírus as denominadas “demais relacionadas ao coronavírus, o Estado
demandas” apresentam-se em de São Paulo aparece em primeiro
número significativamente superior. lugar, com 364 demandas, seguido
Das 2.133 reclamações, no período pelo Rio de Janeiro (143) e
de 01/04/2020 a 13/05/2020, o Pernambuco (74). O Ceará aparece

em http://www.ans.gov.br/perfil-do-
5.Disponível em https://covid.saude.gov.br/
setor/dados-e-indicadores-do-setor/sala-de-
, conforme gráfico sobre “Casos Acumulados
situacao. Acesso em 20.06.2020.
de COVID-19 por data de notificação”.
6.De acordo com os dados disponibilizados
pela ANS na “Sala de Situação”, disponível

4
somente em sexto lugar, com 31 _______________________
demandas. Nesse cenário, pode-se Referências
perceber que as demandas
continuaram a seguir a tendência de AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS. ANS
maior concentração de beneficiários.
disponibiliza informações sobre
Por tipo de demanda, a ANS aponta demandas de beneficiários
que foram 3.101 solicitações de relacionadas à Covid-19.
informação e 2.133 reclamações. Disponível em
http://www.ans.gov.br/aans/n
Analisando as demandas por dia do oticias-ans/coronavirus-covid-
registro e considerando que a RN n. 19/coronavirus-todas-as-
453 entrou em vigor em 12/03/2020, noticias/5503-ans-
no exato dia seguinte à vigência, disponibiliza-informacoes-
sobre-demandas-de-
foram registradas 29 demandas
beneficiarios-relacionadas-a-
relacionadas ao exame ou a covid-19. Acesso em: 14 maio
tratamento de coronavírus, média 2020.
que se manteve naquela semana,
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
caindo consideravelmente até SUPLEMENTAR – ANS. Nota
meados de abril, quando voltou a Técnica n. 10/2020/DIRAD-
crescer, permanecendo nesse mesmo DIFIS/DIFIS. Disponível em:
patamar até a data da extração dos https://www.ans.gov.br/image
dados. As demandas não s/stories/noticias/pdf/covid_19
/nota-tecnica-10-dirad-
relacionadas ao coronavírus
difis.pdf. Acesso em: 14 maio
mantiveram a mesma média em todo 2020.
o período.
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
Vale lembrar que os dados referem- SUPLEMENTAR – ANS. Saúde
se ao setor de saúde suplementar; suplementar fecha 2019 com
porém, mesmo assim, tratam-se de 47 milhões de beneficiários de
importante referencial para entender planos de saúde. Disponível
em:
as necessidades dos consumidores de
http://www.ans.gov.br/aans/n
planos de saúde, e muitas pesquisas oticias-ans/numeros-do-
poderão ser desenvolvidas setor/5348-saude-
comparando os dados fornecidos pela suplementar-fecha-2019-com-
ANS com eventual levantamento 47-milhoes-de-beneficiarios-
realizado pelo Sistema Único de de-planos-de-saude. Acesso
Saúde. em: 14 maio 2020.

Esse período de pandemia será fruto


de muitos estudos no futuro e a ANS
acertou em preocupar-se com a
formação de um banco de dados para
pesquisa.
5
A inefetividade das medidas da ANS para o
combate à COVID-19
Marcos Paulo Falcone Patullo

"as medidas solipsistas da ANS, sem a utilização de


instrumentos que permitissem a participação (contribuição!)
da sociedade no processo de tomada de decisão, geraram um
total descompasso entre a regulação da ANS e as reais
necessidade do setor para o combate à pandemia"

O impacto da pandemia nos sistema respeito às medidas que afetam a


de saúde de todos os países afetados saúde suplementar, que atualmente
pelo coronavírus tem sido muito atende cerca de 47 milhões de
discutido pelos profissionais da beneficiários1. Além da flexibilização
saúde. Uma das principais frentes de dos prazos de atendimento da
enfrentamento desse problema diz Resolução Normativa (RN) n.

1AGÊNCIA http://www.ans.gov.br/perfil-
NACIONAL DE SAÚDE
do-setor/dados-e-indicadores-
SUPLEMENTAR – ANS. Dados e indicadores
do-setor. Acesso em: 16 abr.
do setor. Disponível em:
2020.

6
259/2011 e da suspensão dos prazos
para atendimentos e regime de
hospital-dia e para internação eletiva,
a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) propôs ao
mercado a flexibilização das regras
para a utilização de ativos
garantidores – recursos (bens
móveis, imóveis, ações ou títulos
mobiliários) de titularidade das
operadoras, que ficam sob custódia
da ANS, com o objetivo de conferir
lastro (garantia) ao risco da atividade
Marcos Paulo Falcone Patullo
de operação de planos de saúde, para
que não haja desassistência nos Doutorando na Faculdade de
períodos de descapitalização –, Medicina da Universidade de São
mediante a exigências de Paulo - Departamento de
contrapartidas por parte das Medicina Preventiva (Saúde
operadoras de planos de saúde. Coletiva). Bacharel e Mestre em
Direito pela Faculdade de Direito
O acesso aos referidos ativos seria
da Universidade Presbiteriana
proporcionado mediante a assinatura
Mackenzie. Professor do Curso
de um termo de compromisso, o qual
de Direito do Centro
exigiria, dentre outras coisas, que as
Universitário das Faculdades
operadoras: (i) ofereçam
Metropolitanas Unidas (FMU).
renegociação de contratos aos
Pesquisador do Núcleo de
beneficiários de planos individuais e
Pesquisa em Direito Sanitário da
familiares, coletivos por adesão e
Universidade de São Paulo
coletivos com menos de 30 vidas,
(NAPDISA-USP). Advogado
bem como garantam o atendimento a
especializado em Direito à
todos esses beneficiários até o dia
Saúde, sócio do escritório
30/06/2020; e (ii) garantam o
Vilhena Silva Sociedade de
pagamento regular aos prestadores
Advogados.
relativos aos atendimentos prestados
aos consumidores neste período. Contato: marcos.patullo@usp.br

7
Ambas as medidas (flexibilização de Por outro lado, o termo de
prazos de atendimento e o termo de compromisso para acesso aos ativos
compromisso para acesso aos ativos garantidores foi firmado por apenas
garantidores) foram alvo de críticas. nove operadoras, cujos beneficiários
Por um lado, a suspensão dos prazos representam cerca de 1% do total de
das cirurgias eletivas foi vista como beneficiários3 do setor. A baixíssima
medida prematura e que gerou adesão ao termo do compromisso
ociosidade dos leitos privados. Com escancarou uma realidade: as
efeito, muitos beneficiários pararam medidas solipsistas da ANS, sem a
de procurar atendimento e, como utilização de instrumentos que
consequência, houve o cancelamento permitissem a participação
de cirurgias e queda no faturamento (contribuição!) da sociedade no
dos hospitais privados, cujas processo de tomada de decisão,
entidades representativas alertam geraram um total descompasso entre
para o risco de demissões2. a regulação da ANS e as reais
necessidade do setor para o combate
à pandemia.

2
A jornalista Cláudia Colucci alertou para o 3
De acordo com os números divulgados no
cancelamento de cerca de 90% das cirurgias site da própria ANS, as nove operadoras
eletivas e a previsão de demissão nos juntas somam 319.928 beneficiários, o que
hospitais privados. COLUCCI, Cláudia. representa menos de 1% do total de 47
Pandemia reduz até 90% das cirurgias milhões de beneficiários do setor. AGÊNCIA
eletivas, e hospitais preveem demissões. NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS.
Folha de S. Paulo, 27 abril 2020. Disponível Disponível em:
em: http://www.ans.gov.br/anstabnet/cgi-
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesa bin/dh?dados/tabnet_cc.def. Acesso em: 18
ude/2020/04/pandemia-reduz-ate-90-das- jun. 2020.
cirurgias-eletivas-e-hospitais-preveem-
demissoes.shtml. Acesso em: 18 jun. 2020.

8
O Brasil ainda está diante de um _______________________
cenário imprevisível quanto ao fim da Referências
pandemia e é certo que os efeitos da
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
crise sanitária não afetaram de forma
SUPLEMENTAR – ANS. ANS
significativa as operadoras de planos monitora impactos da Covid-19
de saúde, seja com relação aos no setor de planos de saúde.
índices de sinistralidade, seja no que Disponível em:
tange aos dados relativos à http://www.ans.gov.br/aans/notic
ias-ans/coronavirus-covid-
inadimplência dos beneficiários,
19/coronavirus-todas-as-
conforme boletim divulgado pela noticias/5535-ans-monitora-
ANS4. Há, portanto, tempo para que impactos-da-covid-19-no-setor-
a agência, de forma democrática e de-planos-de-saude. Acesso em:
participativa, atue para cumprir a sua 18 jun. 2020
finalidade institucional, que é a AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
defesa do interesse público na SUPLEMENTAR – ANS. Dados e
assistência suplementar, a qual, indicadores do setor. Disponível
em:
neste momento de crise, exige
http://www.ans.gov.br/perfil-do-
medidas efetivas para a defesa dos setor/dados-e-indicadores-do-
consumidores, principalmente os setor. Acesso em: 16 abr. 2020.
integrantes do grupo de risco. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS.
Disponível em:
http://www.ans.gov.br/anstabnet
/cgi-bin/dh?dados/tabnet_cc.def.
Acesso em: 18 jun. 2020.
COLUCCI, Cláudia. Pandemia reduz
até 90% das cirurgias eletivas,
e hospitais preveem demissões.
Folha de S. Paulo, 27 abril
2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/eq
uilibrioesaude/2020/04/pandemia
-reduz-ate-90-das-cirurgias-
eletivas-e-hospitais-preveem-
demissoes.shtml. Acesso em: 18
jun. 2020.

4AGÊNCIA http://www.ans.gov.br/aans/noticias-
NACIONAL DE SAÚDE
ans/coronavirus-covid-19/coronavirus-
SUPLEMENTAR – ANS. ANS monitora
todas-as-noticias/5535-ans-monitora-
impactos da Covid-19 no setor de planos de
impactos-da-covid-19-no-setor-de-planos-
saúde. Disponível em:
de-saude. Acesso em: 18 jun. 2020.

9
A COVID-19 e a saúde suplementar
Maria Eugênia Bodra

"é inegável que uma atuação coordenada entre a saúde


suplementar e o SUS mostra-se fundamental para o
enfrentamento dessa pandemia que tem, como pressuposto, a
proteção de todos, detentores ou não de planos de saúde"

Em razão da emergência de saúde pela instituição de fila única de leitos


pública internacional, diversos públicos e privados, coordenada pelo
projetos de lei foram apresentados ao Sistema Único de Saúde (SUS), pela
Congresso Nacional visando a liberação das operadoras de planos
proteger os direitos dos beneficiários de saúde para constituir certas
de planos de saúde. As soluções provisões financeiras, pela proibição
propostas pelos legisladores – como das operadoras em rescindir
os projetos de lei 2480/2020; contratos, em reconhecer carências e
1978/2020; e 1907/2020 – passam em aplicar reajustes de prêmios. No

10
âmbito da Agência Nacional de Saúde regulando as operadoras setoriais,
Suplementar (ANS), medidas foram inclusive quanto às suas relações com
tomadas no sentido de incluir o prestadores e consumidores,
exame de detecção da COVID-19 na
cobertura obrigatória, foram
prorrogados prazos máximos de
atendimento com a finalidade de
priorizar os casos de COVID-19,
flexibilizadas normas prudenciais1 e
concedidos incentivos regulatórios2
mediante contrapartidas.
De outro lado, é inegável que uma
atuação coordenada entre a saúde
suplementar e o SUS mostra-se
fundamental para o enfrentamento
dessa pandemia que tem, como
pressuposto, a proteção de todos,
detentores ou não de planos de Maria Eugênia Bodra
saúde. Cabe lembrar que, em
Advogada. LLM Saúde Global e
situações como a da atual pandemia,
Instituições Internacionais
os gestores locais do SUS possuem a
(Georgetown/Graduate
prerrogativa de requisitar bens e
Institute). Doutora em Direito
serviços de pessoas naturais e
pela Universidade de São Paulo.
jurídicas, mediante indenização justa
Pesquisadora do Centro Estudos
posterior (conforme art. 3º, VII, da
e Pesquisas de Direito Sanitário
Lei n. 13.979/2020 e art. 15, XIII, da
(Cepedisa). Contato:
Lei n. 8.080/1990). E à ANS,
conforme art. 3º da Lei n. mebodra@alumni.usp.br
9.961/2000, cabe “promover a
defesa do interesse público na
assistência suplementar à saúde,

1AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE 2


AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS. Combate ao SUPLEMENTAR – ANS. ANS flexibiliza uso de
coronavírus: ANS define novas medidas para mais de R$ 15 bilhões em garantias
o setor de planos de saúde. Disponível em: financeiras e ativos garantidores. Disponível
http://www.ans.gov.br/aans/noticias- em: http://www.ans.gov.br/aans/noticias-
ans/coronavirus-covid-19/coronavirus- ans/coronavirus-covid-19/coronavirus-
todas-as-noticias/5459-combate-ao- todas-as-noticias/5475-ans-flexibiliza-uso-
coronavirus-ans-define-novas-medidas- de-mais-de-r-15-bilhoes-em-garantias-
para-o-setor-de-planos-de-saude. Acesso financeiras-e-ativos-garantidores. Acesso
em: 20 maio 2020. em: 20 maio 2020.

11
contribuindo para o desenvolvimento regulação eficaz tanto no âmbito da
das ações de saúde no País”. ANS como no âmbito do Poder
Legislativo, no tocante à cada região
Portanto, cabe à ANS e ao SUS
e aos mercados de planos por ela
encontrar objetivos e propostas de
abrangidos, no sentido de facilitar e
construção comum. Dados
ampliar a oferta de leitos, de
relacionados à gestão das 436 regiões
profissionais de saúde, de
de saúde que hoje abrangem os
respiradores etc. Em momentos como
5.565 municípios do país3,
o atual, fica ainda mais evidente que
considerando, especialmente as
a proteção dos direitos dos
peculiaridades de cada um dos 96
beneficiários de planos de saúde não
mercados4 de planos de saúde
escapa da proteção dos direitos dos
existentes e as condições econômico-
usuários do SUS e vice-versa.
financeiras das cerca de 700
operadoras, poderiam subsidiar uma

https://doi.org/10.1590/1413-
3
VIANA, Ana Luiza D’Avila; BOUSQUAT,
81232018236.06022018.
Aylene; PEREIRA, Ana Paula Chancharulo de
M.; UCHIMURA, Liza Yurie Teruya; 4
ANDRADE, Mônica Viegas; MAIA, Ana
ALBUQUERQUE, Mariana Vercesi de; MOTA, Carolina; RIBEIRO, Mirian Martins; LIMA,
Paulo Henrique dos Santos; DEMARZO, Helena Wajnman; CARVALHO, Lucas
Marcelo Marcos Piva; FERREIRA, Maria Paula. Resende de. Estrutura de concorrência no
Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 24, n. 2, setor de operadoras de planos de saúde no
p. 413-422, 2015. DOI: Brasil. Rio de Janeiro: ANS,
CEDEPLAR/UFMG, OMS, OPAS, 2015.

12
_______________________ Henrique dos Santos;
DEMARZO, Marcelo Marcos
Referências
Piva; FERREIRA, Maria Paula.
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE Saúde e Sociedade, São Paulo,
SUPLEMENTAR – ANS. ANS v. 24, n. 2, p. 413-422, 2015.
flexibiliza uso de mais de R$ 15 DOI:
bilhões em garantias https://doi.org/10.1590/1413-
financeiras e ativos 81232018236.06022018.
garantidores. Disponível em:
http://www.ans.gov.br/aans/notic
ias-ans/coronavirus-covid-
19/coronavirus-todas-as-
noticias/5475-ans-flexibiliza-uso-
de-mais-de-r-15-bilhoes-em-
garantias-financeiras-e-ativos-
garantidores. Acesso em: 20
maio 2020.
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS. Combate
ao coronavírus: ANS define
novas medidas para o setor de
planos de saúde. Disponível
em:
http://www.ans.gov.br/aans/notic
ias-ans/coronavirus-covid-
19/coronavirus-todas-as-
noticias/5459-combate-ao-
coronavirus-ans-define-novas-
medidas-para-o-setor-de-planos-
de-saude. Acesso em: 20 maio
2020.
ANDRADE, Mônica Viegas; MAIA, Ana
Carolina; RIBEIRO, Mirian
Martins; LIMA, Helena
Wajnman; CARVALHO, Lucas
Resende de. Estrutura de
concorrência no setor de
operadoras de planos de saúde
no Brasil. Rio de Janeiro: ANS,
CEDEPLAR/UFMG, OMS, OPAS,
2015.
VIANA, Ana Luiza D’Avila;
BOUSQUAT, Aylene; PEREIRA,
Ana Paula Chancharulo de M.;
UCHIMURA, Liza Yurie Teruya;
ALBUQUERQUE, Mariana
Vercesi de; MOTA, Paulo

13
Como a COVID-19 pode contribuir para o
avanço da saúde digital no Brasil
Renata Rothbarth

"Se algo positivo pode ser extraído da situação atual,


certamente é o avanço exponencial com que ferramentas
tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas,
big data e blockchain estão sendo integradas à ações
epidemiológicas, de vigilância e assistência à saúde"

O final da década de 2020 certamente Emergências de Saúde Pública de


entrará para a história como sendo o Importância Nacional1(ESPIN) e
período em que vivemos uma das Internacional, ocasionadas pela
maiores crises sanitárias dos últimos COVID-19, decorre, não
séculos. A gravidade das propriamente da letalidade do vírus

1A Ministério da Saúde. Disponível em:


declaração de Emergência de Saúde Pública de
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-
importância Nacional foi incorporada ao
/portaria-n-188-de-3-de-fevereiro-de-
ordenamento jurídico brasileiro por meio da
2020-241408388. Acesso em: 18 jun.
Portaria n. 188, de 3 de fevereiro de 2020 do
2020.

14
em si, mas de duas outras capacidade de monitoramento,
características. Primeiro, a forma antecipação e preparação para
como a doença se manifesta em seres cenários epidemiológicos complexos;
humanos, podendo variar desde um (iii) precariedade de comunicação e
quadro clínico assintomático até coordenação de medidas de saúde
casos de síndrome respiratória grave. entre níveis federal e local; (iv)
Ou seja, em uma considerável desinformação e falta de
porcentagem dos casos, uma pessoa engajamento dos cidadãos com sua
pode aparentar estar saudável ou própria saúde (individual e coletiva);
com sintomas de indisposição tão (v) regulação excessivamente
insignificantes que não a impedem de
continuar suas atividades ordinárias,
sem nem desconfiar que está
infectada e, potencialmente,
contaminando outros indivíduos. O
segundo ponto diz respeito à
velocidade exponencial com que se
propaga, especialmente quando
associada ao trânsito internacional
contínuo de cargas e pessoas
verificado atualmente.
Para além dos efeitos econômicos que
uma pandemia pode gerar – algo em
torno de 3 trilhões de dólares de
acordo com o Banco Mundial2 – a Renata Rothbarth
combinação dos fatores mencionados Mestre em Saúde Pública.
colocou à prova muitos sistemas de Especialista em direito médico e
saúde mundo afora, inclusive o hospitalar. Advogada. Alumni
brasileiro. Também evidenciou a member do Yale Interdisciplinary
ausência de resolutividade sobre Center for Bioethics.
questões já conhecidas de debates Pesquisadora do Núcleo de
setoriais e acadêmicos, para citar Pesquisas em Direito Sanitário
algumas: (i) incentivos equivocados da Universidade de São Paulo
para tratar a doença e não (NAP-DISA/USP). Contato:
necessariamente preveni-la, renata.rothbarth@mattosfilho.com.
resultando na fragmentação da br
jornada do paciente; (ii) baixa

2JONAS, https://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank
Olga B. Pandemic risk. World Bank,
/document/HDN/Health/WDR14_bp_Pandemic_Ri
Washington DC. Disponível em:
sk_Jonas.pdf Acessado em: 25 maio 2020.

15
onerosa dos bens e serviços que telemedicina no Sistema Único de
integram esse ecossistema, que não Saúde (SUS)5; (ii) a criação de um
necessariamente é baseada em banco consolidado de imagens para
análises de impacto regulatório, auxiliar profissionais de saúde no
tampouco resguarda os interesses do diagnóstico da COVID-19, por meio
seu destinatário final, o paciente; e de uma triagem de exames de
(vi) pertinência de modelos de imagens de Raio-X e tomografia
cobertura universal de saúde. computadorizada de tórax para casos
suspeitos de coronavírus; e (iii) o
Por outro lado, se algo positivo pode
desenvolvimento do aplicativo
ser extraído da situação atual,
Coronavírus – SUS, pelo Ministério da
certamente é o avanço exponencial
Saúde, que permite o envio de
com que ferramentas tecnológicas
mensagens e alertas epidemiológicos
estão sendo integradas à ações
para usuários em geral ou segmentos
epidemiológicas, de vigilância e
específicos, bem como a avaliação
assistência à saúde3. Essa
remota de sintomas para o efetivo
transformação é uma tendência já
direcionamento do paciente a
conhecida, tendo representado um
respeito do melhor local e/ou formato
investimento equivalente a 33 bilhões
de assistência6.
de dólares nos últimos 10 anos
apenas nos Estados Unidos4, contudo, Outra ação em andamento, a
no Brasil, acontecia de forma tímida, informatização de 16 mil postos de
a passos lentos. saúde que ainda não possuem acesso
regular à internet, também pode
Em termos práticos, três iniciativas
contribuir para o avanço da saúde
recentes refletem o avanço da
digital no Brasil de forma equânime e
digitalização da saúde no Brasil
democrática7.
durante o período de pandemia: (i) a
ampliação do programa de Em termos regulatórios, a alteração
Telessaúde, do Ministério da Saúde, mais significativa até o momento é,
para desenvolvimento de ações de sem dúvida, a liberação da
teleorientação, teletriagem e telemedicina durante o período de

3HEALTH,
pessoas-ja-utilizaram-os-servicos-do-telesus. Acesso
The Lancet Digital. Pandemic versus em: 25 maio 2020.
pandemonium: fighting on two fronts. The Lancet.
Digital Health, v. 2, n. 6, p. e268, 2020. 6BRASIL. Coronavírus – SUS. Disponível em:
4COHEN, https://www.gov.br/pt-br/apps/coronavirus-sus.
A. B.; DORSEY, E. R.; MATHEWS, S.
Acesso em: 25 maio 2020.
C. et al. A digital health industry cohort across the 7MINISTÉRIO DA SAÚDE. Postos de saúde de todo o
health continuum. NPJ Digit. Med., v. 3, n. 68, 2020.
país terão acesso à internet. Disponível em:
DOI: https://doi.org/10.1038/s41746-020-0276-9.
5MINISTÉRIO DA SAÚDE. Mais de 2 milhões de pessoas https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-
já utilizaram os serviços do TeleSUS. Disponível em: saude/46671-postos-de-saude-de-todo-o-pais-terao-
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia- acesso-a-internet. Acesso em: 25 maio 2020.
saude/46734-teleatendimento-mais-de-2-milhoes-de-

16
ESPIN, inclusive entre médicos e artificial, internet das coisas, big data
pacientes, permitindo interações e blockchain, – começa, aos poucos,
remotas para atendimento pré- a apresentar evidências científicas
clínico, suporte assistencial, sobre a qualidade, segurança e
consultas, monitoramento e eficácia dessas ferramentas10. Se
diagnóstico nos sistemas público e utilizadas de forma responsável e
privado. ética11, certamente poderão
contribuir para a melhoria da
A repercussão também chegou ao
qualidade e universalização do acesso
Poder Legislativo, que em 28 dias
à saúde, impactando não apenas
aprovou uma lei a respeito do tema8,
ações de assistência como também
permitindo a prática enquanto durar
de pesquisa & desenvolvimento. A
a crise causada pelo coronavírus,
história nos mostra que pandemias e
porém, não vinculando seu término
epidemias repetem-se.
(ao menos formalmente) à
Provavelmente a da COVID-19 não
declaração de ESPIN, feita pelo
será a última. Resta saber se
Ministério da Saúde. Parece um
utilizaremos os aprendizados e
contrassenso pensar que o real
inovações tecnológicas desta para
potencial da telemedicina esbarrava
estarmos melhor preparados para as
até então em questões regulatórias,
próximas.
criadas pelo próprio Conselho Federal
de Medicina, que ainda restringe a
interação remota entre médicos e
pacientes a casos de urgência ou
emergência (art. 37, Resolução n.
2.217/2018)9. Do ponto de vista de
hierarquia normativa, a atual Lei n.
13.989/2020 se sobrepõe a esta
limitação.
Fato é que a aplicação dessa e de
outras ferramentas tecnológicas no
campo da saúde – como a inteligência

8BRASIL. Lei n. 13.989, de 15 de abril de 2020. 289/do1-2018-11-01-resolucao-n-2-217-de-27-de-


Dispõe sobre o uso da telemedicina durante a crise setembro-de-2018-48226042 . Acesso em: 18 jun.
causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2). 2020.
Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/- 10 MATHEWS, Simon C. et al. Digital health: a path
/lei-n-13.989-de-15-de-abril-de-2020-252726328.
to validation. NPJ digital medicine, v. 2, n. 1, p. 1-
Acesso em: 18 jun. 2020.
9, 2019.
9CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA – CFM. 11MCCRADDEN, Melissa D. et al. Ethical limitations
Resolução n. 2.217, de 27 de setembro de 2018 .
of algorithmic fairness solutions in health care
Disponível em: http://www.in.gov.br/materia/-
machine learning. The Lancet Digital Health, v. 2,
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/48226
n. 5, p. e221-e223, 2020.

17
_______________________ MINISTÉRIO DA SAÚDE. Postos de
saúde de todo o país terão
Referências
acesso à internet. Disponível
BRASIL. Coronavírus – SUS. em:
Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/a
https://www.gov.br/pt- gencia-saude/46671-postos-de-
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COHEN, A. B.; DORSEY, E. R.;
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.pdf Acessado em: 25 maio
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Mais de 2
milhões de pessoas já
utilizaram os serviços do
TeleSUS. Disponível em:
https://www.saude.gov.br/noti
cias/agencia-saude/46734-
teleatendimento-mais-de-2-
milhoes-de-pessoas-ja-
utilizaram-os-servicos-do-
telesus. Acesso em: 25 maio
2020.

18
Saúde e solidariedade na 73ª Assembleia
Mundial da Saúde: pré-requisitos para o
desenvolvimento
Roberta de Freitas & Tiago Tasca

"Um dos pontos principais da Resolução é o reconhecimento


do acesso à vacinação extensiva contra a COVID-19 como um
bem público global"

A pandemia do novo coronavírus maio 20201. Em seu discurso de


(COVID-19) ditou os contornos da abertura, o Diretor-Geral da
73ª Assembleia Mundial da Saúde Organização Mundial da Saúde (OMS)
(AMS), realizada de maneira virtual e assinalou que os sistemas de saúde
com pauta reduzida entre 18 e 19 de devem estar no centro de qualquer

1A 73ª AMS será retomada, em uma segunda


etapa, ainda nesse ano.

19
abordagem para o desenvolvimento, àqueles atuantes na linha de frente
não sendo a saúde uma recompensa da pandemia, mas reconhecendo, em
para o desenvolvimento, mas um âmbito internacional, os desafios
pré-requisito. multifacetados de outras doenças e
Os discursos das delegações
perpassaram temas de liderança
política, necessidade de evitar
notícias falsas e desinformação sobre
a pandemia a partir de atividades
cibernéticas danosas, além de
reflexões sobre um novo modus
operandi da comunidade
internacional pós-pandemia, sem
esquivar-se de decisões geopolíticas
como o debate sobre a inclusão de
Taiwan na OMS. Roberta de Freitas
Como resultante, adotou-se a Doutora em Saúde Global e
Resolução WHA73.1 “Resposta à Sustentabilidade pela
COVID-19”2, endossada por 130 dos Universidade de São Paulo e
194 membros da OMS. Université de Nantes. Mestre em
Num período de intranquilidade os Direito Internacional Público e
países reafirmaram a importância da Privado e Relações
solidariedade para combater a Internacionais pela Universidad
COVID-193 e a necessidade de de Sevilla. Professora Titular da
cooperação internacional e Escola Fiocruz de Governo.
colaboração em todos os níveis a fim Coordenadora de ensino e
de conter e controlar a pandemia e pesquisa do Núcleo de Estudos
mitigar seu impacto. sobre Bioética e Diplomacia em
Saúde da Fundação Oswaldo
Esse documento cristaliza a
Cruz (Nethis/Fiocruz).
necessidade de se fortalecer os
Advogada. Contato:
sistemas nacionais de saúde, não só
roberta.freitas@fiocruz.br
com fornecimento de equipamentos
de proteção individual em atenção

2
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. 3
UNITED NATIONS – UN. Resolution adopted
WHA73.1 COVID-19 Response, 19 may 2020. by the General Assembly on 2 April 2020 –
Disponível em: A/RES/74/270. Disponível em:
https://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/W https://undocs.org/en/A/RES/74/270 .
HA73/A73_R1-en.pdf. Acesso em: 19 jun. Acesso em: 19 jun. 2020.
2020.

20
da promoção da saúde, como as não partir dessa abordagem, devem ser
transmissíveis, negligenciadas, saúde removidos quaisquer obstáculos à
mental, nutrição. Nessa seara, é efetivação do acesso a esses bens,
reforçado o papel central do como barreiras do Acordo da
intercâmbio de informações sobre Organização Mundial do Comércio
melhores práticas, dados, materiais sobre Propriedade Intelectual
na resposta à COVID-19, tanto no (TRIPS).
seio dos Regulamentos Sanitários
Internacionais (2005) quanto nas
estratégias da OMS de saúde digital e
difusão de conhecimento “sem deixar
ninguém para trás”, como preconiza
a Agenda 2030.
A Resolução WHA73.1 também
evidencia o papel da cooperação
multissetorial, em especial com a
abordagem OneHealth (Saúde Única)
e sua íntima interface com a
Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), na
Tiago Tasca
pesquisa da origem zoonótica da
COVID-19. Mestre em Política Internacional
e Comparada pela Universidade
Um dos pontos principais da
de Brasília. Bacharel em
Resolução é o reconhecimento do
Relações Internacionais pela
acesso à vacinação extensiva contra
Universidade Federal de Santa
a COVID-19 como um bem público
Catarina. Editor assistente da
global. A resolução solicita aos
Revista Brasileira de Política
Estados que garantam o acesso
Internacional (RBPI).
universal a tecnologias e produtos
Pesquisador do Núcleo de
essenciais de saúde para responder à
Estudos sobre Bioética e
pandemia, como uma prioridade
Diplomacia em Saúde
global.
(NETHIS/Fiocruz). Pesquisador
Nesse sentido, a vacinação deveria, do Centro de Estudos sobre as
por princípio, estar disponível em Relações Internacionais do Brasil
escala mundial e de forma não Contemporâneo (IREL/UnB).
exclusiva ou discriminatória, ou seja, Contato: tiago.tasca@fiocruz.br
seus benefícios devem se estender a
todos os países, ainda que tenham
contribuído nada ou muito pouco para
o seu desenvolvimento inicial. A

21
Atualmente estão em andamento 10 As experiências no passado de
pesquisas de vacina em estágio 1 ou grandes crises mundiais levaram os
2 de ensaio clínico4, em países a trabalhar juntos,
desenvolvimento por instituições estabelecendo novas regras, em um
públicas, empresas privadas, além de momento cosmopolita. A pandemia
mais de mil estudos clínicos sobre a de COVID-19 pode ser uma janela de
eficácia de medicamentos para o oportunidade, muito curta, para se
tratamento da doença em todo o avançar na solidariedade mundial.
mundo5. _______________________
Não obstante o reconhecimento da Referências
vacina para a COVID-19 como bem
U. S. NATIONAL LIBRARY OF
público global, o multilateralismo
MEDICINE. Disponível em:
onusiano, que envolve a OMS, https://clinicaltrials.gov/ct2/re
apresenta desafios especialmente no sults?cond=COVID-19. Acesso
cenário de respostas nacionalistas em em: 23 maio 2020.
detrimento da concertação WORLD HEALTH ORGANIZATION –
responsiva global via instituições WHO. Draft landscape of
multilaterais. COVID-19 candidate vacines.
Disponível em:
No contexto em que a consecução do
https://www.who.int/who-
acesso global à potencial vacina para documents-detail/draft-
a COVID-19 depende de uma landscape-of-covid-19-
sobreposição em múltiplos níveis, o candidate-vaccines. Acesso em
papel da OMS é imprescindível na 23 maio 2020.
coordenação política e científica dos
esforços desse complexo mosaico de
atores públicos e privados e deve ser
sobreposto, na governança global da
saúde global, congregando-o com a
capacidade financeira, de capital-
tecnológico e operacional de
instituições privadas, filantrópicas e
outras agências da ONU.

candidate-vaccines. Acesso em 23 maio


4
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO.
2020.
Draft landscape of COVID-19 candidate
vacines. Disponível em: 5
U. S. NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE.
https://www.who.int/who-documents- Disponível em:
detail/draft-landscape-of-covid-19- https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=C
OVID-19. Acesso em: 23 maio 2020.

22
A ausência das políticas públicas de cuidado
em saúde mental no Brasil no período da
pandemia COVID-19
Marcelo Dayrell Vivas

"para além de enfrentar a pandemia e o alto índice de


contaminação e de mortes, o Brasil terá que enfrentar o
crescimento de demandas em saúde mental, cujos efeitos
podem se estender por extenso período"

Os conceitos jurídicos de saúde e de inalcançável: o estado de completo


direito à saúde são objetos de robusta bem-estar físico, mental e social. Já o
produção acadêmica e direito à saúde compreende
jurisprudencial. Ao assumir a saúde construção paulatina, visando à
para além da ausência de doenças, a garantia de acesso universal e
Organização Mundial da Saúde (OMS) igualitário às ações e serviços de
ampliou o conceito para um fim promoção, proteção e recuperação de

23
saúde, em todos os níveis1. Ambos os Com a pandemia do novo coronavírus,
conceitos devem ser significados em reconhecida pela OMS e pelo Brasil, o
cada sociedade, em determinado cuidado em saúde mental aparece
momento histórico de como tema de atenção em diferentes
desenvolvimento, por meio de pesquisas5, sem que isso reflita,
mecanismos democráticos contudo, a devida atenção por parte
participativos .
2
do Estado brasileiro6. Estudos
apontam para possíveis
O campo do bem-estar mental,
consequências na saúde mental em
porém, carece de maior
decorrência do isolamento social,
aprofundamento jurídico, no âmbito
indicando estratégias de intervenção
doutrinário e jurisprudencial. Muito
para as políticas públicas7. A
embora a Reforma Psiquiátrica tenha
introduzido importantes estratégicas
de cuidado em liberdade para pessoas
com transtornos mentais, o arcabouço
normativo construído não foi
completamente assimilado pela
sociedade, nem pelos operadores do
direito3. As políticas públicas de
atenção à saúde mental construídas
nas duas últimas décadas continuam
em disputa, e fortes interesses
políticos e econômicos se imiscuem no
desenho e na priorização de recursos
nos últimos anos4. A Rede de Atenção Marcelo Dayrell Vivas
Psicossocial (RAPS) é composta por
diferentes estratégias e pontos de Mestre em Direitos Humanos.
atenção, já regulamentados – quando Defensor Público do Estado de
suficientemente implantados e São Paulo. Pesquisador do
financiados, podem garantir a Centro de Estudos e Pesquisas
efetivação de um direito à saúde de Direito Sanitário (Cepedisa).
mental. Contato:
marcelodayrell@gmail.com

1 BRASIL, 1986. 6 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020a; SÃO PAULO,


2020.
2 AITH, 2017.
7 WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020; INTER-
3 VIVAS, 2020.
AGENCY STANDING COMMITTEE, 2020;
4 DELGADO, 2019. FIOCRUZ BRASÍLIA, 2020.
5 PEREIRA et al., 2020; MEDEIROS et al., 2020.

24
Comissão Interamericana de Direitos pessoas com deficiência, mulheres
Humanos (CIDH), em resolução vítimas de violência doméstica,
específica sobre a perspectiva de idosos, dentre outros, que podem ter
direitos humanos no enfrentamento à sua vulnerabilidade agravada em
pandemia, também salientou o decorrência do isolamento social, da
suporte em saúde mental como ausência de serviços sócio-
integrante da garantia do direito à assistenciais, sanitários e
saúde, recomendando que os Estados educacionais ou pela maior
melhorem a disponibilidade, a permanência em suas casas; (iv)
acessibilidade e a qualidade dos familiares e amigos das pessoas
serviços de saúde mental8. internadas em estado grave ou
falecidas em decorrência de infecção
por COVID-19; e (v) todas as pessoas
em isolamento social (ou não), que
podem necessitar de apoio para lidar
com situações que a pandemia evoca,
como o risco de desemprego9.
Porém, a orientação técnica ofertada
pelo Ministério da Saúde não visou à
ampliação do cuidado na RAPS, mas
tão somente o atendimento de casos
Diferentes demandas em saúde
urgentes10. O incentivo financeiro
mental surgem no contexto da
estabelecido para a atenção básica
pandemia: (i) pessoas já atendidas
teve como objetivo a ampliação de
pelos serviços de saúde mental, que
consultas médicas e de
podem desenvolver algum
enfermagem , sem qualquer menção
11

agravamento de seu quadro por conta


ao cuidado em saúde mental. No
do isolamento social ou da falta de
âmbito das comunidades
atendimento adequado; (ii)
terapêuticas, foi publicada normativa
profissionais de saúde e de outros
autorizando o recebimento de novos
serviços essenciais, que podem
acolhidos12, o que pode colocar as
demandar cuidado para o sofrimento
pessoas já acolhidas em risco13. Da
decorrente do trabalho e do risco à
mesma forma, as orientações gerais
sua saúde; (iii) grupos vulneráveis em
visando à promoção da saúde física e
geral, como crianças, adolescentes,

8 COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS 11 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020b.


HUMANOS, 2020 12 MINISTÉRIO DA CIDADANIA, 2020.
9 MAIA et al., 2020; MEDINA et al., 2020; VIEIRA et 13 SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO
al., 2020.
SOCIAL, 2020.
10 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020a.

25
mental da população brasileira não _______________________
traz qualquer referência ao cuidado Referências
em saúde mental, mas apenas utiliza-
a como argumento para defender a AITH, Fernando. Direito à saúde e
democracia sanitária. São
retomada das atividades14.
Paulo: Quartier Latin, 2017.
Assim, para além de enfrentar a BRASIL. Ministério da Saúde.
pandemia e o alto índice de Ministério da Previdência e
contaminação e de mortes, o Brasil Assistência Social. Relatório
terá que enfrentar o crescimento de Final da 8ª Conferência Nacional
demandas em saúde mental, cujos da Saúde. Brasília: Ministério da
efeitos podem se estender por Saúde, 1986.
extenso período, exatamente pela COMISSÃO INTERAMERICANA DE
omissão dos gestores em atender DIREITOS HUMANOS.
Resolucion 01/2020. 2020.
recomendações de organismos
Disponível:
internacionais e de pesquisadores
<http://oas.org/es/cidh/decisio
(omissão já verificada em outras nes/pdf/Resolucion-1-20-
searas sanitárias). Neste caso, es.pdf>. Acesso em: 05 jun.
bastaria reorganizar o funcionamento 2020.
dos serviços públicos já existentes15, CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.
divulgando-os para a população e Recomendação nº 04, de 18 de
tornando-os acessíveis e sustentáveis maio de 2020. 2020.
no contexto da pandemia, por meio de Disponível:
diferentes tecnologias de <https://conselho.saude.gov.b
r/recomendacoes-cns/1181-
comunicação, efetivando a política
recomendacao-n-040-de-18-
pública e garantindo o bem-estar de-maio-de-2020>. Acesso em:
mental (e o direito à saúde mental) 05 jun. 2020.
como integrante indissociável da
DELGADO, P. G. Reforma psiquiátrica:
saúde (e do direito à saúde) da estratégia para resistir ao
população. desmonte. Trabalho, Educação
e Saúde, Rio de Janeiro, v. 17,
n. 2, 2019.
FIOCRUZ BRASÍLIA. 2020. Saúde
Mental em tempos de
Coronavírus. Disponível em:
<https://www.fiocruzbrasilia.fi
ocruz.br/coronavirus/saude-
mental-em-tempos-de-
coronavirus/>. Acesso em: 05
jun. 2020.

14 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020c. 15 CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2020.

26
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COMMITTEE. Como Lidar com nº 340/2020. 2020. Disponível
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05 jun. 2020. e estratégias de enfrentamento:
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27
Disponível em: <https://apps.who.int/iris/han
<https://doi.org/10.1590/SciEL dle/10665/331490>. Acesso
OPreprints.493>. Acesso em: em: 05 jun. 2020.
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Direitos Humanos, Universidade
de São Paulo, São Paulo.
WORLD HEALTH ORGANIZATION.
Mental Health and Psychosocial
Considerations during COVID-
19 Outbreak. 2020. Disponível
em:

28
Violência obstétrica em tempos de pandemia:
a inviolabilidade do direito ao acompanhante
Thamires Pandolfi Cappello

“a presença do acompanhante é um direito fundamental


essencial para assegurar o apoio necessário e também a
manutenção das vontades da parturiente”

Em tempos de pandemia da COVID- É evidente que as instituições de


19 e com o estabelecimento da saúde do país estão reunindo esforços
situação de calamidade pública para combater a pandemia pelo
reconhecida no Brasil em 20 de março coronavírus, porém, gestações e
de 2020, por meio do Decreto nascimentos continuam a ocorrer.
Legislativo n. 6/2020, vale tecer Os cuidados do pré-natal, por
alguns comentários sobre o direito da exemplo, devem ser mantidos,
parturiente à presença do
acompanhante no momento do parto.

29
segundo recomendação do Ministério
da Saúde1.
Com o avanço da pandemia,
começaram ocorrer, em algumas
instituições hospitalares,
determinações internas, para proibir
a presença do acompanhante da
parturiente, visando a “cumprir as
recomendações de isolamento e
redução de aglomeramentos
considerando a pandemia”, mesmo
sendo medida contrária ao
estabelecido pela Lei n. 11.108/2005,
em seu artigo 19- J, que prevê que:
“Os serviços de saúde do Sistema Thamires Pandolfi Cappello
Único de Saúde - SUS, da rede
Doutoranda em Saúde Pública
própria ou conveniada, ficam
pela Universidade de São Paulo
obrigados a permitir a presença,
(USP). Mestre em Direito
junto à parturiente, de 1 (um)
Constitucional pela Pontifícia
acompanhante durante todo o
Universidade Católica de São
período de trabalho de parto, parto e
Paulo. Professora e
pós-parto imediato.”2
Coordenadora da pós-graduação
As proibições feitas pelas instituições de Direito Médico da Faculdade
hospitalares ensejaram demandas de Ciências da Saúde IGESP
judiciais ajuizadas pelas gestantes, a (FASIG). Pesquisadora no Centro
exemplo das recentes ações de Estudos e Pesquisas de
0014883-67.2020.8.16.0021 Direito Sanitário (Cepedisa).
(05/2020) e 0011367- Contato: thamirespc@gmail.com
06.2020.8.16.0129 (TJ/PR). Em
ambos os casos o direito da
parturiente ao acompanhante foi
reconhecido em decisão liminar.

1AGÊNCIA _Nota_Tecnica__3__COSMU.pdf. Acesso em: 19


NACIONAL DE SAÚDE
jun. 2020.
SUPLEMENTAR – ANS. Nota Técnica n. 7/2020-
COSMU/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. Ministério da 2BRASIL. Lei n. 11.108, de 07 de abril de 2020.
Saúde. Disponível em: Disponível em:
http://www.ans.gov.br/images/stories/gestao_em_ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
saude/parto_adequado/SEI_MS_-_0014259571_- 2006/2005/Lei/L11108.htm. Acesso em: 19 jun.
2020.

30
As decisões fundamentam-se na Lei síndrome gripal ou infecção
n. 11.108/2005 e, também, nas respiratória comprovada por SARS-
orientações da Organização Mundial CoV-2”4.
da Saúde (OMS) e do Ministério da A figura do acompanhante é
Saúde. fundamental à parturiente, seja na
esfera emocional, física e assistencial
por configurar apoio e suporte
contínuos.
Todos os acompanhantes devem
cumprir fielmente as regras de
proteção estabelecidas pela equipe
médica e deve-se dar preferência a
acompanhantes que não sejam do
grupo de risco e que não apresentem
sintomas.
No momento do parto, a parturiente
passa por uma alta descarga
Em artigo intitulado “Q&A COVID-19,
hormonal, além de dores,
pregnancy, childbirth and
desconfortos e fortes emoções que
breastfeeding”3, a OMS recomendou
geram um ambiente de insegurança,
que, mesmo durante a pandemia, o
podendo, inclusive, viciar seu
direito ao acompanhante seja
entendimento e tomada de decisões.
mantido à parturiente. Essa
Com isso, a presença do
recomendação foi ratificada pelo
acompanhante é um direito
Ministério da Saúde em Nota Técnica
fundamental essencial para assegurar
n. 6/2020-
o apoio necessário e também a
COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS
manutenção das vontades da
que estabeleceu que: “1.1.5.
parturiente, inibindo qualquer ato de
Acompanhantes: garantido pela Lei
violência obstétrica, não podendo ser
Federal n. 11.108/2005, sugere-se a
suspenso pelas instituições
presença do acompanhante no caso
hospitalares.
de pessoa assintomática e não
contato domiciliar com pessoas com

3 4MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção


WORLD HEALTH ORGANIZATION – OMS. Q&A:
Pregnancy, childbirth and COVID-19. Disponível Primária à Saúde. Nota Técnica n. 6/2020-
em: COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. Disponível
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel- em:
coronavirus-2019/question-and-answers-hub/q-a- http://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/04/1087595/
detail/q-a-on-covid-19-pregnancy-and-childbirth . notatecnicaneonatal30mar2020covid-19.pdf.
Acesso em: 23 maio 2020. Acesso em: 19 jun. 2020.

31
_______________________
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS. Nota
Técnica n. 7/2020-
COSMU/CGCIVI/DAPES/SAPS/
MS. Ministério da Saúde.
Disponível em:
http://www.ans.gov.br/images
/stories/gestao_em_saude/par
to_adequado/SEI_MS_-
_0014259571_-
_Nota_Tecnica__3__COSMU.p
df. Acesso em: 19 jun. 2020.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria
de Atenção Primária à Saúde.
Nota Técnica n. 6/2020-
COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/
MS. Disponível em:
http://docs.bvsalud.org/biblior
ef/2020/04/1087595/notatecni
caneonatal30mar2020covid-
19.pdf. Acesso em: 19 jun.
2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION –
OMS. Q&A: Pregnancy,
childbirth and COVID-19.
Disponível em:
https://www.who.int/emergenc
ies/diseases/novel-
coronavirus-2019/question-
and-answers-hub/q-a-detail/q-
a-on-covid-19-pregnancy-and-
childbirth . Acesso em: 23 maio
2020.

32
A importância do parâmetro científico na
tomada de decisões no contexto da COVID-19
Marcelo Paulo Maggio & Suéllyn Mattos de Aragão

"É por meio de evidências científicas e com base em análises


de informações estratégicas em saúde que as autoridades
sanitárias devem determinar as medidas de enfrentamento"

A saúde é direito fundamental, executadas de forma progressiva e


viabilizador de proteção da vida e da sem retrocessos por meio de
dignidade da pessoa humana, além contínuos e eficientes atos de gestão,
de valor preponderante em prestação e regulação.
sociedade. Estes aspectos compelem A partir inclusive do contexto
o Estado (gênero) à obrigatoriedade normativo em vigor, essas premissas
de atuar diligentemente, a fim de que valem/deveriam valer para as
suas ações e serviços sejam, em generalidades dos casos. Todavia,
quantidade e qualidade, devidos a ganham nítido realce no atual Estado
todos. De igual modo, impõem que de Emergência em Saúde Pública de
políticas públicas de saúde sejam Importância Internacional decorrente
organizadas, planejadas e da pandemia da COVID-19, diante da

33
acentuada velocidade de propagação enfrentamento ao novo coronavírus
da doença, com capacidade de gerar (art. 3º, §1º, da Lei n. 13.979/2020).
expressivo número de infectados e de Também por intermédio da ciência
óbitos, afora a sobrecarga da rede de que se chegará à tão aguardada
saúde (pública e privada). descoberta vacinal, ao eficaz
tratamento farmacológico e à precisa
Por isso, a indispensável proatividade
definição quanto ao momento em que
na tomada de decisões na atual
as medidas de restrição, como
realidade imposta pelo coronavírus
distanciamento e isolamento social,
essencialmente perpassa pela
poderão ser flexibilizadas.
constante preocupação de conhecer,
respeitar e observar os parâmetros De igual modo, o parâmetro científico
definidos pela ciência, pois, capazes tem aptidão para melhor orientar a
de proporcionar resultados eficazes, resolução dos reflexos da COVID-19
sistêmicos, convergentes,
contextualizados e integradores,
frutos de metodologia que envolve a
coleta de dados, a pesquisa, o estudo,
a experimentação, o questionamento
e a verificação, assim contribuindo
para a certeza e segurança de seus
dados.
A ampliação do conhecimento
produzido pela ciência, de modo
racional e técnico, reúne condições de
enriquecer, justificar e, em especial,
legitimar o norte a ser seguido para
Marcelo Paulo Maggio
precaver a transmissão do vírus e
tratar as situações diagnosticadas a Doutor pela Faculdade de Saúde
partir de eficientes decisões sobre Pública da Universidade de São
equipamentos (respiradores, Paulo. Mestre em Direito pela
equipamentos de proteção individual, Universidade Estadual de
medicamentos e testes laboratoriais), Londrina. Professor da Fundação
recursos humanos (profissionais Escola do Ministério Público do
aptos a atuarem no enfrentamento da Estado do Paraná-FEMPAR.
COVID-19) e leitos (UTI e Promotor de Justiça no Ministério
enfermaria). É por meio de evidências Público do Estado do Paraná.
científicas e com base em análises de Contato:
informações estratégicas em saúde marcelopmaggio@gmail.com
que as autoridades sanitárias devem
determinar as medidas de

34
produzidos nos campos jurídico,
econômico, político e social,
intensificando a sintonia entre essas
dimensões e a adoção de respostas
potencialmente bem sucedidas.
Especificamente, permite que as
regras e princípios do Direito
Sanitário sejam aplicados por meio de
hermenêutica fiel à aproximação da
verdade, otimizadora da produção de
valor e significado à tutela da saúde.
Ao assim proceder, o sistema jurídico
sanitário permanece cientificamente Suéllyn Mattos de Aragão
autônomo, mas cognitivamente
Mestre em Saúde Coletiva pela
aberto e contemporâneo, capaz de
Universidade Federal do Paraná
viabilizar eficaz solução jurídica às
(UFPR). Especialista em Medicina
questões sanitárias.
do Trabalho pela UFPR.
Pesquisadora associada da
Clínica de Direitos Humanos –
Biotecjus (UFPR) e do Grupo de
Política, Avaliação e Gestão em
Saúde da UFPR. Médica do
Ministério Público Estadual do
Paraná e da UFPR. Contato:
smdaragao@mppr.mp.br

Portanto, e nos limites reservados a


estes comentários, as balizas
científicas permitem que as decisões
jurídico-sanitárias superem os pontos
já descobertos e avancem de forma
segura e prudente, abrindo
constantes perspectivas para o
alcance e execução de posições
racionais, mais aprimoradas e justas
em prol do direito à saúde.

35
O direito à saúde e o acesso a leitos em
tempos de COVID-19
André Bastos

"Tal como o poder público, operadoras de planos privados de saúde têm


o dever, de natureza contratual, de assegurar atendimento aos seus
beneficiários"

Atualmente tramitam, entre outras, equipamentos aos pacientes


duas demandas relacionadas à infectados.
pandemia do COVID-19 perante o Segundo o Partido Socialismo e
Supremo Tribunal Federal: a ADPF Liberdade, autor da ADPF 671, o atual
671 e a ADI 6362, ambas buscando cenário “impõe urgente atuação dos
tutela jurisdicional para fazer Poderes Públicos, a demandar a
prevalecer concepções divergentes adoção de providências sistêmicas”, e
do sistema de saúde brasileiro. As até então as ações do Estado seriam
referidas ações abordam o tema do insuficientes para amenizar os efeitos
direito à saúde, e medidas para do vírus, caracterizando “violação
garantir o acesso a leitos de UTI e maciça e persistente” aos seguintes

36
preceitos fundamentais: (i) o direito à
saúde; (ii) o direito à vida; (iii) o
direito à igualdade;
(iv) o fundamento da República de
dignidade da pessoa humana; e o
objetivo fundamental da República de
construir uma sociedade justa e
solidária.1
Requereu-se, por conseguinte, que a
corte sanasse as inconformidades
apontadas, determinando a “atuação
concertada dos Poderes Públicos”
para “tornar o acesso à rede
hospitalar mais equânime no País”,
com ênfase na ruptura da divisão André Bastos
entre os sistemas público e privado, André Bastos – Doutorando em
para que o SUS passe a controlar a Direito pela Universidade de São
totalidade dos leitos de UTI Paulo (USP). Especialista em
disponíveis no Brasil, em fila única. Direito Societário pela Escola de
Na ADI 6362, por sua vez, insurge-se Direito de São Paulo da
contra a alegada Fundação Getúlio Vargas (FGV
inconstitucionalidade de dispositivos Direito SP). Graduado em Direito
da Lei 13.979/20, que admite, em pela Universidade de São Paulo
seu artigo 3º, VII, a “requisição de (USP). Pesquisador do Núcleo de
bens e serviços de pessoas naturais e Pesquisas em Direito Sanitário
jurídicas”, mediante pagamento da Universidade de São Paulo
posterior de “indenização justa”, para (NAP-DISA/USP). Currículo
o atendimento de vítimas da Lattes:
pandemia. Naturalmente, nesse rol http://lattes.cnpq.br/3342400589595
estão incluídos os leitos pretendidos 722.
na ADPF 671, evidenciando os Contato:
contrastes entre essas reivindicações
andre.bastos.ferreira@usp.br
por controle de constitucionalidade.

art. 196; art. 197; art. 198; art. 199; art. 200; art. 227
1CF, art. 1º, inciso III; art. 3º, inciso I; art. 5º, caput;
e art. 230.
art. 6º; art. 23, inciso II; art. 24, inciso XII; art. 194;

37
Para a Confederação Nacional de consumar graves distorções às
Saúde, autora da ADI, a usurpação de normas constitucionais vigentes.
bens e serviços privados, sem Conforme previsto na Constituição
requisitos mínimos, como o Federal, a implementação de direitos
esgotamento anterior das sociais, como a saúde, é dever
alternativas menos gravosas, fundamental do Estado – e que por
representaria ofensa ao princípio da ele, com seus próprios meios, deve
proporcionalidade, distorção e ser cumprido. Tal como o poder
limitação ao direito de propriedade e público, operadoras de planos
desrespeito ao valor da livre privados de saúde têm o dever, de
iniciativa. Além disso, implicaria natureza contratual, de assegurar
prejuízos aos direitos de outros atendimento aos seus beneficiários –
cidadãos, atentando contra o sendo que estas, ao contrário do
pressuposto constitucional de que a Estado, dispõem de estrutura
saúde é “dever do estado, garantido suficiente para adimplir suas
mediante políticas sociais e obrigações, graças a anos de
econômicas”.2 investimento próprio e dos
As petições iniciais, patrocinadas por prestadores que compõem suas redes
bancas de notório mérito acadêmico assistenciais.
e profissional, apresentam Caso surpreendidas por requisições
argumentos sólidos para os seus desordenadas, as operadoras
pleitos, de distinta relevância social e acabariam descumprindo, perante
política. Isso dito, passa-se a um usuários que financiam o seu robusto
breve comentário da contenda, complexo médico-hospitalar,
evitando-se a reprodução dos garantias de atendimento
fundamentos já expostos nas ações.
estabelecidas pela própria Agência
Inicialmente, é incontroverso que a Nacional de Saúde Suplementar.
requisição de leitos hospitalares é um Disso lhes sucederiam, em situações
remédio adequado e proporcional de normalidade, severas
para situações de calamidade. A contingências jurídicas cíveis, e até
propósito, condutas análogas foram infrações administrativas passíveis de
praticadas em nações com culturas sanção. Não se sabe, outrossim,
jurídicas semelhantes à brasileira, “quando” e “quanto” seria percebido
como a Itália e a Espanha. a título de “indenização justa”, em
Entretanto, autorizar essa contrapartida por seus bens e
apropriação imoderadamente, sem serviços – o que é preocupante, para
critérios bem definidos, pode se dizer o mínimo, em um momento

2CF, art. 5º, XXV; art. 170, caput; art. 196 e art.
199.

38
de nefasta crise econômica, que da sociedade, em caráter permanente
permanecerá mesmo após o fim da – o que reduziria drasticamente sua
emergência sanitária. dependência do setor suplementar.
Nessa perspectiva, não é razoável ou A Organização Mundial da Saúde
proporcional que o Estado descumpra reconhece, há tempos, que o
rotineiramente suas obrigações, e, fortalecimento da saúde como direito
em meio à crise, repasse o ônus de fundamental, em caráter universal,
sua inércia àqueles que suprem, com integral e igualitário, aumenta a
recursos próprios, as deficiências do eficiência do sistema, resultando em
sistema. Seria mais coerente, melhores cuidados à população em
portanto, primeiro esgotar os leitos geral.3 Este objetivo deve ser sempre
do SUS e seus conveniados reforçado como política pública
(complementares), para, na nacional de saúde, conforme
sequência, requisitar leitos estipulado na Constituição. A partir
filantrópicos (prioritários), e, então, inclusive do contexto normativo em
acionar a rede privada comum vigor, essas premissas
(suplementar), desde que não se valem/deveriam valer para as
inviabilize o cumprimento dos generalidades dos casos. Todavia,
deveres das operadoras. Sempre que ganham nítido realce no atual Estado
necessário, é evidente que se pode e de Emergência em Saúde Pública de
deve recorrer a qualquer estrutura Importância Internacional decorrente
disponível para salvar vidas, seja da pandemia da COVID-19, diante da
para o atendimento a pacientes acentuada velocidade de propagação
infectados por COVID-19, ou da doença, com capacidade de gerar
quaisquer outras doenças, mediante expressivo número de infectados e de
compensação efetivamente justa e óbitos, afora a sobrecarga da rede de
tempestiva àqueles que guarnecem o saúde (pública e privada).
sistema. Artigo originalmente publicado no
A pertinência de se discutir as falhas Jota. 04/05/2020. Disponível em:
estruturais do SUS, que não dispõe https://www.jota.info/opiniao-e-
de parque condizente com o seu analise/artigos/o-direito-a-saude-e-
papel de principal instituição- o-acesso-a-leitos-em-tempos-de-
organismo da saúde brasileira, covid-19-04052020
acentua-se nos momentos de crise. A
solução ideal para o problema, por
certo, seria o investimento público
suficiente para suprir as necessidades

towards UHC. Health Financing Policy Brief, WHO


3 MATHAUER, Inke; KUTZIN, Joseph. Voluntary
– World Health Organization, n. 5, 2018.
health insurance: potentials and limits in moving

39
ACONTECE
ACONTECE

Liberação da cloroquina
O Professor Titular da Faculdade de Saúde Pública e
Diretor Geral do Cepedisa, Fernando Aith, e o
Pesquisador do Cepedisa Daniel Dourado publicaram no
dia 24 de abril de 2020 artigo no jornal Folha de São
Paulo em que discutem a proposta de liberalização do
uso do medicamento Cloroquina para tratamento da
COVID-19, em deliberação no Ministério da Saúde,
considerando-a arriscada e ilegal. link do texto.

Combate à pandemia deve respeitar os


direitos humanos
Artigo dos professores titulares da USP, Deisy
Ventura e Fernando Aith, que colaboraram para a
elaboração da resolução n. 01/2020 “Pandemia y
derechos humanos en las Américas”, da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. Clique aqui
para acessar o conteúdo na íntegra.

Ciência Contaminada
Está disponível o primeiro estudo da série "Ciência
contaminada", que analisa o uso do YouTube para
a disseminação de desinformação na internet,
fruto da cooperação entre pesquisadores Centro
de Análise da Liberdade e do Autoritarismo
(LAUT), o Instituto Nacional de Ciência e
Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e o
Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário
(Cepedisa). Clique aqui para acessar o conteúdo
na íntegra.
40
Recorde de normas jurídicas não garante direitos na pandemia
Levantamento identifica contradição e excessos normativos que dificultam a
comunicação com a população sobre as ações da pandemia; veto a lei das
máscaras é citado como exemplo.

A pandemia da covid-19 foi a principal justificativa da União para a edição de um


número recorde de normas jurídicas. A quantidade porém, ao contrário de
propiciar mais proteção, tem dificultado o entendimento da população quanto ao
comportamento a ser adotado durante a pandemia. É o que aponta levantamento
do Centro de Pesquisa e Estudos sobre Direito Sanitário (Cepedisa), da Faculdade
de Saúde Pública (FSP) da USP, em parceria com a ONG Conectas Direitos
Humanos, a partir de informações compiladas do Diário Oficial da União e de
outras publicações oficiais.
De janeiro a maio de 2020, o governo do presidente Jair Bolsonaro e outros
órgãos federais editaram pelo menos 1236 normas jurídicas relacionadas à covid-
19, entre elas 705 portarias, 65 resoluções, 32 medidas provisórias e 14 decretos
presidenciais. Entre os objetivos do projeto Mapeamento e análise das normas
jurídicas de resposta à Covid-19 no Brasil estão criar um banco de dados de
normas editadas durante o período, saber como as autoridades governamentais
responderam normativamente a esse momento emergencial e analisar o impacto
da nova legislação sobre os direitos humanos (redução dos direitos trabalhistas,
liberdade de ir e vir, acesso a informações sobre a pandemia, a serviços de saúde,
produtos e serviços essenciais, dentre outros).

41
Para Fernando Aith, um dos idealizadores do projeto e professor do Departamento
de Políticas e Gestão de Saúde, da FSP, a intensa atividade do Poder Executivo é
algo antidemocrático e que “revela a falta de diretrizes e de norteamento de ações
para responder aos desafios impostos pela pandemia”. Segundo o pesquisador,
“o excesso de leis dificulta o exercício da cidadania porque as pessoas comuns
não conseguem acompanhar todos os atos normativos”.
Aith lembra ainda que boa parte das 1196 normas infralegais (isto é, as de
hierarquia inferior a das leis) que não passam pelo Poder Legislativo permitem
que o Poder Executivo imponha novas obrigações para o cidadão sem que estas
estejam previstas em nenhuma outra lei, e são muitas vezes contrarias à própria
lei ou à Constituição. Em outras palavras, as normas infralegais – portarias,
resoluções, regulamentos e dispositivos secundários – deveriam apenas
complementar ou explicar as leis.

Extraído de: Jornal da USP - Ivanir Ferreira. Recorde de normas jurídicas não
garante direitos na pandemia, criticam pesquisadores. Jornal da USP,
10/07/2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/recorde-de-normas-
juridicas-nao-garante-direitos-na-pandemia-criticam-pesquisadores/

42
Institucional
INSTITUCIONAL

CEPEDISA
Associação sem fins lucrativos, criada em 1988 por um grupo de professores,
pesquisadores e profissionais das áreas da saúde e do direito, o Centro de Estudos
e Pesquisas de Direito Sanitário (CEPEDISA) tem como objetivo desenvolver e
divulgar um novo campo do conhecimento científico: o Direito Sanitário.
Referência no Brasil em assuntos relacionados à efetivação do direito à saúde no
país, ao longo de seus mais de 20 anos de vida, o CEPEDISA vem desenvolvendo
uma série de atividades e projetos de ensino, pesquisa, divulgação científica e de
prestação de serviços para a sociedade e para os corpos docente e discente das
Faculdades de Saúde Pública e de Direito da Universidade de São Paulo. Site do
CEPEDISA: cepedisa.org.br

NAP-DISA/USP
Desde 1990, o Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São
Paulo (NAP-DISA/USP) promove estudos e pesquisas sobre o direito à saúde
no Brasil e no mundo, abrangendo diferentes temas e questões do campo do
Direito Sanitário, a partir de uma abordagem transdisciplinar. A produção
científica do NAP-DISA/USP é veiculada para a sociedade principalmente por meio
da realização de seminários ‒ nacionais e internacionais ‒ e de publicações
especializadas. O Núcleo também atua na formação de recursos humanos
qualificados junto aos pesquisadores dos campos do direito e da saúde pública,
aos operadores do direito e aos gestores públicos da área da saúde. Com seu
trabalho, o NAP-DISA/USP busca contribuir cientificamente para que o direito
humano fundamental à saúde seja efetivado no Brasil e no mundo. Atualmente,
o Núcleo integra a Rede em Defesa da Saúde (REDS), a Rede Ibero-Americana
de Direito Sanitário e a Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde. Site
do NAP-DISA: http://napdisa.prp.usp.br/pt/home-3/

Fonte das imagens utilizadas neste boletim: Pixabay, Freepik e Unsplash

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