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CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CURSO DE DOUTORADO
Recife
2015
HENRIQUE GUIMARÃES COUTINHO
Recife
2015
HENRIQUE GUIMARÃES COUTINHO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Janete Maria Lins de Azevedo (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Roberto Jamil Cury (Examinador Externo)
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Alfredo Macedo Gomes
(Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana de Fátima Pereira de Sousa Abranches (Examinador
Externo)
Fundação Joaquim Nabuco
___________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Félix dos Santos (Examinador Externo)
Universidade Federal de Pernambuco
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Ana, pelo exemplo de vida e toda dedicação e amor ao longo
de mais 47 anos de convivência. A Silvana, minha esposa, amiga, parceira de todas
as horas, agradeço por toda força, companheirismo, paciência e amor dispensados
durante este processo de doutoramento. Vítor e Clara, meus filhos, que apesar da
pouca idade, tantos exemplos e lições de vida me deram e continuam a me dar a
cada dia.
CF Constituição Federal
EC Emenda Constitucional
The current thesis discussed municipal management, social participation and social
funding in the context of the Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb considering the
Brazilian cooperative federalist regime context. The main research idea consisted in
analyzing to what extend the educational management of the Brazilian Northeastern
municipalities possesses autonomy over the Fundeb resources to meet their own
local demands and what the role of the Counselors as an important part of the set of
spheres responsible for the participation of society in such process. The current work
presents a theoretical discussion that addresses first the relation between State and
Civil Society considering the conceptions of social contract and regulation. Next, a
discussion about the Brazilian cooperative federalism within the decentralization of
educational policies framework is presented. This work also deals with the
educational funding in Brazil since initiatives of the colonial period, through several
Constituencies Federalists until reaching the Fundeb. It concludes the theoretical part
by discussing democratic management, social participation and councils as singular
and contradictory structures, for being part of the management while working as
society supervisory channels. The field research was divided into two steps:
quantitative and qualitative. The first step, by using a representative sample, applied
questionnaires in 382 Northeastern municipalities to education secretaries and
directors of Fundeb. The second step promoted open interviews with the education
secretaries and the representatives counselors of society in two municipalities: a
capital city and a small town in a same Brazilian Northeast State. The results showed
that the local educational management presents partial autonomy in relation to the
application of the Fund's resources on behalf of its financial limitations imposed by
the revenue structure of the Brazilian federation. Regarding social participation, the
data showed that there is the presence of the segments in the activities, but with their
participatory activities limited by several internal and external factors to the council.
The work concludes that the municipalities have autonomy, but compromised by lack
of financial resources to meet their own local needs. There is an over-reliance on
Fundeb resources, which in most municipalities are insufficient to cover educational
expenses. The councils act more as legitimizing institutions of the actions of
municipal administration than as an accompaniment and supervision of the fund's
resources spheres.
1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2. POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: ESTADO E SOCIEDADE ............... 27
2.1 ESTADO E SOCIEDADE: UMA RELAÇÃO COMPLEXA ................................ 27
2.2 ESTADO, REGULAÇÃO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS ............................... 39
3. FEDERALISMO, DESCENTRALIZAÇÃO E REGIME DE COLABORAÇÃO NO
BRASIL CONTEMPORÂNEO .................................................................................. 51
3.1 FEDERALISMO BRASILEIRO: ORIGENS E ORGANIZAÇÃO DO ESTADO. . 53
3.2 FEDERALISMO COOPERATIVO NA EDUCAÇÃO: PRINCÍPIOS E DESAFIOS
............................................................................................................................... 61
3.3 DESCENTRALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: O QUADRO
BRASILEIRO RECENTE ....................................................................................... 73
4. OS CAMINHOS DO FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: UM
RESGATE HISTÓRICO DOS TEMPOS DA COLÔNIA ATÉ OS DIAS ATUAIS. ..... 85
4.1 EDUCAÇÃO E FINANCIAMENTO NO BRASIL COLONIAL ............................ 88
4.2 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO E AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS.89
4.3 FUNDOS PÚBLICOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O FUNDEF E FUNDEB
............................................................................................................................. 102
5. OS CONSELHOS DO FUNDEB E A GESTÃO DEMOCRÁTICA:
PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM XEQUE ................................................................... 111
5.1 CONSELHOS GESTORES NO BRASIL: ORIGENS E PROCESSOS
HISTÓRICOS ....................................................................................................... 120
5.2 CONSELHOS DO FUNDEB: CARACTERÍSTICAS, AVANÇOS E LIMITAÇÕES
............................................................................................................................. 126
6. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS DA PESQUISA ........................................ 137
6.1 O CAMPO ...................................................................................................... 140
6.2 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS ............................................................. 141
6.2.1. ESTRATÉGIAS QUANTITATIVAS ......................................................... 142
6.2.2 ESTRATÉGIAS QUALITATIVAS ............................................................. 145
7. A GESTÃO DO FUNDEB E A PARTICIPAÇÃO EM MUNICÍPIOS
NORDESTINOS ...................................................................................................... 151
7.1 PERFIL DOS ATORES .................................................................................. 151
7.2 AUTONOMIA DA GESTÃO EDUCACIONAL E DOS CONSELHOS DO
FUNDEB .............................................................................................................. 155
7.3 GESTÃO DA EDUCAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CONSELHOS DO FUNDEB 163
8. O FUNDEB NO MOVIMENTO DA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO ..... 173
8.1 AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO CONTEXTO DA GESTÃO DO
FUNDEB .............................................................................................................. 174
8.2 AS CONTRADITÓRIAS RELAÇÕES: O CONSELHO E A SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, O MUNICÍPIO E O GOVERNO FEDERAL. ......... 181
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 193
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 199
APÊNDICE I ......................................................................................................... 211
APÊNDICE II ........................................................................................................ 213
15
1 INTRODUÇÃO
2
Considerando todas as alterações promovidas pelas Emendas Constitucionais N°14/1996; N°
53/2006 e N° 59/2009.
17
para não perderem o acesso aos repasses dos recursos federais. Este quadro
sinaliza para uma relação muito mais caracterizada por processos de submissão do
que propriamente de cooperação entre unidades federativas e União, mostrando o
quanto existe de tensões e disputas neste campo.
A escolha do Fundeb como objeto de estudo se deu porque, além deste
programa ser elaborado na esfera federal para financiar a educação básica nos
estados e municípios da federação em regime de colaboração, também exigiu dos
municípios algumas contrapartidas como, por exemplo, a criação e manutenção dos
Conselhos de Acompanhamento e Controle Social – Cacs para funcionar como
instâncias fiscalizadoras responsáveis pela participação da sociedade no controle da
aplicação dos recursos da educação no nível local, que mostram o caráter de
cooperação entre esferas governamentais deste programa de financiamento da
educação.
O Fundeb veio para substituir o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef, em 2007, com
previsão para durar até 2020. Foi constituído por uma cota única de alguns impostos
estaduais e federais pertencentes às esferas subnacionais. Hoje é composto por
20% das receitas descritas: Fundo de Participação dos Estados – FPE; Fundo de
Participação dos Municípios – FPM; Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços – ICMS; Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às
exportações– IPI-Exp; Desoneração das Exportações (LC nº 87/96); Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doações – ITCMD; Imposto sobre Propriedade de
Veículos Automotores – IPVA e cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural-ITR
devida aos municípios.
É importante ressaltar que, em unidades subnacionais que não atingirem a
arrecadação necessária para garantir o valor mínimo nacional definido para o custo
aluno/ano, haverá aporte de recursos federais, como complementação da União. A
definição dos valores a serem investidos nas esferas federativas é determinada pelo
número de alunos matriculados na educação básica, com base no censo escolar do
ano anterior.
A construção desta tese apresenta três pilares: o primeiro de natureza
pessoal que tem sua origem nas diversas experiências acadêmicas que vivenciei a
partir da entrada no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de
Pernambuco em 1997. Hoje, em minha memória este momento se constituiu como o
18
marco inicial do meu interesse direto e mais organizado pelas relações sociopolíticas
no Brasil recente e posteriormente, pela educação como dimensão social cujas
características podem explicar os limites, avanços e possibilidades para a
construção de uma sociedade mais igualitária e mais justa.
Em 2001, dei continuidade à trajetória acadêmica ingressando no Mestrado
de Ciência Política do PPGCP/ UFPE ao mesmo tempo em que também passei a
atuar como pesquisador do Núcleo de Opinião e Políticas Públicas (NEPPU). Isto
me permitiu participar de diversas pesquisas de avaliação de políticas sociais e,
também, ingressar em cursos de formação como o Programa de Treinamento
Intensivo em Metodologia Quantitativa para Ciências Humanas, oferecido pela
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas
Gerais/UFMG e Fundação Ford em Junho/julho de 2001 e do The Vilmar Faria
Fellowship in Quantitative Analysis & Public Policy na University of Texas at Austin
(USA), em 2002.
Em 2003, voltei para o Brasil e retomo minhas atividades no programa de
Ciência Política/ UFPE e concluo o mestrado com a dissertação que tratou do Papel
das Comissões Municipais de Emprego no Acompanhamento da Aplicação dos
Recursos do Programa de Qualificação Profissional em Pernambuco – PEQ/FAT
aprovada em dezembro deste mesmo ano.
No ano de 2006, prestei concurso para a Fundação Joaquim Nabuco, onde
ingressei em 2007 como pesquisador na Coordenação Geral de Estudos
Educacionais e passei a me dedicar às pesquisas de avaliação de programas
educacionais. Entre as quais destaco: (1) Avaliação dos Conselhos do Fundef na
Região Metropolitana do Recife; (2) Transmissibilidade Intergeracional da Pobreza:
visões e percepções; (3) Avaliação do Programa de Ações Articuladas – PAR em
municípios do Nordeste; (4) Avaliação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) em
Municípios Nordestinos; (5) Avaliação dos Impactos do Programa Bolsa Família no
Nordeste.
Esta trajetória acadêmica aproximou-me naturalmente do campo das
avaliações de políticas educacionais, especialmente sobre financiamento, gestão e
participação social na educação.
O segundo pilar, de caráter mais político, se justifica pela importância da
temática do federalismo brasileiro em relação ao financiamento da educação no
19
3
A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), que integra os sistemas de
informação de teses e dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa brasileiras, e
também estimula o registro e a publicação em meio eletrônico. A BDTD foi desenvolvida no âmbito
do programa da Biblioteca Digital Brasileira, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP).
20
O quadro mostra que 90% das teses sobre financiamento da educação fazem
parte de programas de educação enquanto que os 10% restantes são de programas
de economia. Em relação às dissertações, 64% estão vinculadas a programas de
educação, 14% aos de economia e o restante se distribui entre os de administração,
ciências sociais e direito, com aproximadamente 7% cada um.
Também foram analisados alguns aspectos relacionados às principais
estratégias de pesquisa utilizadas para o levantamento, coleta e análise dos dados
empíricos com o intuito compreendermos melhor a construção recente do campo de
pesquisa do Fundeb enquanto política de financiamento da educação no Brasil.
Neste sentido, a grande maioria dos estudos apresentou estratégias e
procedimentos metodológicos baseados em análises de dados secundários
disponibilizados em meios oficiais (sites, documentos, legislação, relatórios,
estatísticas e dados financeiros) e entrevistas com gestores, diretores, professores,
conselheiros, entre outros. O quadro abaixo mostra este cenário:
21
principais trabalhos desenvolvidos nos últimos cinco anos para construir uma visão
mais ampla sobre o campo de pesquisas sobre financiamento da educação.
Os trabalhos de Martins (2009) e Araújo (2007) discutiram o financiamento da
educação por meio de fundos e estabelecem uma comparação entre o Fundef e o
Fundeb, suas diferenças, similaridades e avanços. Martins (2009) buscou
compreender a questão do financiamento da educação básica a partir dos anos
1990 no chamado Pós-Constituição de 1988. O estudo foi focado no Fundeb em
comparação com o Fundef, para sob esta perspectiva, analisar se este fundo tinha
as condições necessárias para garantir, num contexto de cooperação federativa, o
financiamento da educação básica com justiça e equidade.
Araújo (2007) analisou a política de financiamento da educação do primeiro
governo Lula (2003-2006) comparando com os pressupostos teóricos- conceituais
utilizados durante os governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com o
objetivo de identificar, na criação do Fundeb, as principais rupturas e continuidades
em relação ao Fundef.
Os dois estudos chegam a conclusões parecidas sobre o Fundeb mostrando
que a partir da experiência do Fundef foram registrados diversos avanços relevantes
tanto no campo do regime de colaboração entre os entes federado como em
aspectos mais voltados para a estruturação e funcionamento do fundo como um
todo como a resolução do problema da complementação da união, o combate às
distorções existentes na atuação e funcionamento dos Conselhos de
Acompanhamento e Controle Sociais (Cacs).
Outros trabalhos caminharam na mesma direção, como Borges (2007) e
Amorim (2010) que analisaram comparativamente o Fundef e o Fundeb em relação
aos impactos financeiros e os repasses de recursos entre os entes federados.
Destacaram que, apesar da elevação das transferências de recursos a partir do
Fundeb, não se pode considerar isto como um crescimento suficiente no
investimento para atender às metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação -
PNE.
O trabalho de Carvalho (2012) promoveu uma discussão comparativa sobre a
política de financiamento da educação por meio dos fundos (Fundef e Fundeb) na
perspectiva de compreender os impactos sobre a valorização da carreira docente no
estado do Pará. Já o estudo de Sousa (2009) desenvolve uma comparação entre
Fundef e Fundeb no município de Fortaleza buscando compreender os principais
23
4
Mais detalhes sobre o plano amostral no 6º capítulo da tese.
25
Introdução
5
Discussão baseada nos textos de Ribeiro (2006); Mello (2006); Sadek (2006) e Nascimento (2006)
29
contrato celebrado entre as partes, não obriga os homens a renunciarem aos seus
direitos considerados inalienáveis como: a vida, a liberdade civil e a propriedade.
O contrato em Locke era operado pelo consenso - e não pela submissão - e
fazia com que os homens renunciassem apenas à sua autodefesa e à justiça
individual (aquela realizada com as próprias mãos), garantindo a preservação dos
seus direitos universais e assegurando que, em caso de quebra contratual por parte
do poder estatal (violando ou desvirtuando o que foi celebrado), os indivíduos teriam
o direito de resistir e/ou se rebelar contra esta ação.
Este modelo foi forjado sobre relações compactuadas entre governados e
governantes, onde o poder estatal tinha o dever de garantir a segurança, a justiça, a
propriedade e o bem-estar dos governados em troca da sua liberdade. Estes
indivíduos seriam os únicos que poderiam dizer se o poder concedido estaria sendo
ou não utilizado de forma adequada para salvaguardar seus próprios direitos
inalienáveis; caso contrário, o contrato ficaria passível de ser rompido (MELLO,
2006).
Os escritos de Nicolau Maquiavel definem o Estado como “todos os governos
que tiveram e têm autoridade sobre os homens, e são repúblicas ou principados”.
Este autor dedicou-se substancialmente a discutir a manutenção do poder e as
justificativas para a defesa do Estado absolutista, onde o príncipe era considerado
como o poder supremo, responsável direto pelo sucesso ou fracasso da manutenção
deste regime. Maquiavel descreve as várias formas de governo, mas, foca-se nos
principados onde aborda seus mínimos detalhes para desenvolver seus principais
argumentos para a manutenção do poder.
Importante observar que a grande preocupação dele esteve voltada para um
tratado que estabeleceu estratégias e táticas específicas para a manutenção do
poder do príncipe em Estados absolutistas, mas que influenciou os demais regimes
ou formas de governo. Maquiavel examinou cuidadosamente as diversas questões
relacionadas à conquista, consolidação e manutenção do poder. Discutiu a
legitimação dos governos, o papel da religião, as forças, as instituições e atores
necessários para se garantir a manutenção do governo. E mais: características e
qualidades mais relevantes que um governante deve possuir e que podem levar à
sua rejeição ou louvação.
O Estado sempre deveria agir no sentido de preservar os bens e a honra dos
seus cidadãos/súditos, evitando que os mesmos passem a viver insatisfeitos ou com
31
Essa visão dicotômica é de certa forma, restrita por desconsiderar que o Estado está
inserido no contexto da sociedade como instituição encarregada das normas, regras
e diretrizes que balizam a vida social, além de ser responsável também pela ordem
social e provisão de serviços públicos. (BOBBIO, 1985)
Isto dentro de uma perspectiva de campo de disputa entre diversas forças e
interesses sem perder de vista a idéia de que a existência de um Estado exige a
presença da sociedade e vice-versa. Com isto vamos considerar sociedade civil
como o lugar onde se desenvolvem os diversos conflitos e demandas de natureza
social, econômica, religiosa e ideológica, entre outras, nas quais as instituições
políticas atuam e mediam as disputas das diversas forças sociais. É na sociedade
civil que as demandas sociais são forjadas (inputs) e direcionadas para a sociedade
política (outputs). (COUTINHO, 2011)
O papel do Estado no mundo contemporâneo assume uma posição ainda
mais complexa que traz elementos novos à discussão. Vamos utilizar duas visões
concorrentes de estrutura social que influenciaram significativamente o pensamento
político e social até os dias atuais: o Marxismo e o Funcionalismo. Não temos a
pretensão de aprofundar a discussão a respeito destas vertentes teóricas, mas sim
pontuar ligeiramente alguns pontos e visões que consideramos relevantes para a
discussão das relações entre Estado e Sociedade.
O marxismo trata de duas dimensões que explicam a organização social e
suas relações: a estrutura (base econômica) e a superestrutura (normas jurídicas,
religião, comportamentos e organizações sociais e políticas, bases ética, filosófica e
moral que dão forma ao sistema ideológico).
O Estado se situa nesta última dimensão, visto que a primeira é composta
pela produção, organização econômica e relações de produção (forças produtivas e
agentes econômicos). A dimensão econômica aparece como base determinante da
superestrutura, mas, admitindo a existência de um fluxo de influências nos dois
sentidos entre as duas esferas; em última instância, sempre a estrutura econômica
determinaria as demais dimensões da sociedade num ambiente de tensões, conflitos
e lutas de classe.
Marx se preocupava fundamentalmente, com a mudança na ordem social
capitalista, processo que se desenvolve por meio de conflitos materializados pela
luta de classes geradas a partir das próprias contradições do sistema capitalista.
Essa corrente se mostra importante porque, se por um lado não deu muita ênfase a
36
estudos sobre políticas sociais (temática bastante incomum naquela época), por
outro, se preocupou de forma intensa com a origem das desigualdades, a partir da
dominação das elites econômicas sobre as demais classes sociais, considerando a
educação como um dos principais instrumentos de luta para a libertação das classes
proletárias.
Em outro extremo situa-se a perspectiva funcionalista que explica as relações
sociais através do equilíbrio da sociedade baseado em subsistemas6 que se
comportam de forma interdependente com o objetivo de garantir a conservação da
ordem social. A dimensão cultural age como força determinante das demais esferas
da sociedade porque é nela que se encontram os instrumentos e mecanismos
ideológicos voltados para a adesão aos valores e normas sociais necessárias para
garantir a sustentação da ordem social vigente. Estes valores e normas devem ser
absorvidos pelos indivíduos através dos processos de socialização, sendo a
educação parte fundamental do processo de transmissão e internalização cultural.
A partir destas duas correntes, diversos autores desenvolvem análises do
mundo contemporâneo globalizado buscando compreender as novas relações entre
a estrutura social e o aparelho estatal. Azevedo (1997) através da Teoria dos
Sistemas trata das relações entre Estado e sociedade através da articulação entre
demanda social e resposta estatal (input x output). Para isto, entende que as
instituições políticas atuam no sentido de responder às diversas demandas geradas
pelas necessidades da sociedade. Estas respostas se materializam por meio de
decisões (ou não decisões) que atingem todo o escopo social.
Acredita-se, porém, que novas demandas podem surgir em função da própria
maneira e do tempo que o Estado leva para respondê-las, inclusive considerando a
possibilidade de sobrecarga ou acúmulo de demandas, em função de uma possível
ineficiência ou incapacidade das próprias instituições políticas darem conta das
reivindicações sociais. Enfim, a própria dinâmica das ações estatais podem gerar
novas demandas/reivindicações para o Estado.
Fica claro que as relações entre Estado e sociedade, na contemporaneidade,
adquirem sentido diferente porque esta instituição política passa a ser compreendida
como parte integrante da estrutura social, ao mesmo tempo em que é responsável
pela segurança, manutenção da ordem social e provisão de bens e serviços públicos
6
Ver Bobbio (1985, p. 62) patter-maintenance, goal-attainment, adaption, integration
37
7
Ver: MEDEIROS, Marcelo. A Trajetória do Welfare State no Brasil: Papel Redistributivo das Políticas
Sociais dos Anos 1930 aos Anos 1990. Texto para Discussão n° 852. IPEA, 2001
38
8
O conceito de regulação não deve ser confundido com o de intervenção que se refere a medidas
excepcionais que quebram temporariamente a autonomia de determinado ente federativo, nas
hipóteses previstas na Constituição Federal de 1988 em seu Artigo N° 34. Trata-se de mecanismo
utilizado para assegurar a permanência do pacto federativo, ou seja, para impedir a tentativa de
secessão (princípio da indissociabilidade do pacto federativo). A intervenção é uma exceção, pois
em regra todos os entes federativos são dotados de autonomia como garante o Artigo 18 da CF.
(CURY, 2011)
41
9
Não é intenção do nosso estudo, aprofundar o debate sobre o conjunto destas mudanças, mas é
bom lembrar a importância delas na redefinição de vários papeis e ações, em função do modelo
vigente de regulação e dos projetos de sociedade predominantes.
43
10
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
47
11
O gerencialismo consiste na administração educacional voltada para resultados. Sobre este
assunto ver BRESSER-PEREIRA, L. C. Do Estado patrimonial ao gerencial. In: Pinheiro, Wilheim e
Sachs (Orgs.), Brasil: um século de transformações. São Paulo: Cia. Das Letras, 2001.
48
O governo daquela época elegeu uma única etapa de ensino como prioridade
e buscou dar acesso aos jovens entre 07 e 14 anos, sem, no entanto, procurar
desenvolver estratégias que garantisse a permanência deles na escola, conteúdos
adequados, democratizar a gestão educacional e priorizar a qualidade do ensino;
além de ter deixado de fora uma parcela considerável do universo dos alunos do
ensino público (educação infantil e todo o ensino médio).
O que se viu como resultado foi o aprofundamento das desigualdades, e que
as medidas adotadas nesta época se mostraram insuficientes e incapazes de
combater problemas históricos da educação como a distorção idade/série, a
permanência do aluno no sistema de ensino (gerando evasão), além de não
conseguir melhorar a qualidade da aprendizagem dentro de uma perspectiva
excludente já que o ensino fundamental era contemplado com recursos do fundo de
participação (Fundef). Difícil acreditar que ao deixar de fora os demais níveis e
modalidades, o governo desta época estivesse preocupado em atender os anseios e
demandas da população.
Com o início dos governos de Luiz Inácio “Lula” da Silva (2003/2010) algumas
diretrizes importantes começaram a ser modificadas com o objetivo de corrigir a
priorização excessiva no ensino fundamental adotada na gestão FHC e ampliar o
financiamento da educação por meio de fundos públicos para todas as etapas e
modalidades educacionais. Assim, ganharam destaque na agenda do novo governo:
discussões sobre aumento do financiamento para toda a educação básica e
melhoria das condições de participação da sociedade para proporcionar melhores
condições de se alcançar a democratização das gestões educacionais em esferas
locais.
Essas discussões, antes de qualquer coisa, visavam desenvolver medidas no
sentido de se aperfeiçoar os mecanismos de repasses de recursos, ao mesmo
tempo em que promoveriam melhorias na participação social e, consequentemente,
no controle da sociedade sobre a alocação dos gastos com educação,
principalmente nas esferas locais. O objetivo era garantir mais equilíbrio e equidade
entre as unidades subnacionais visando eminente substituição do Fundef pelo
Fundeb que se consolidou em 2007.
Como a educação está diretamente vinculada ao marco regulatório, e que por
sua vez é articulado diretamente com o projeto de sociedade, podemos inferir que
no Brasil, a regulação está associada fortemente ao modelo de Federalismo e de um
49
Introdução
12
O desenho jurídico da política educacional brasileira está estabelecido na Constituição Federal de
1988 que eleva a educação como direito social e define os responsáveis pela sua garantia (Estado
e família); no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Nº 8.069 de 13 de julho de 1990), na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei de Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996); na
Emenda Constitucional 14/1996, na Emenda Constitucional 53/2006; na Emenda Constitucional
59/2009 que serão tratadas adiante.
52
13
Para Araújo (2013, p. 73) a ideia original vem do federalismo norte-americano que , por sua vez,
deriva diretamente das teorias contratualistas de Hobbes e Locke que surgiram muito mais com o
objetivo de resolver os problemas de dispersão dos estados confederados, do que defender a
ampliação da participação política dos cidadãos.
54
14
O que se encontra em jogo aqui é que num contexto de poderes difusos como cita Cury (2010),
mesmo no caso brasileiro onde a Esfera Federal detém mais poder, estrutura e autonomia ainda se
vê obrigada a negociar politicamente com as esferas subnacionais sobre várias questões e/ou
decisões. Ou seja, não consegue capitalizar totalmente o uso do seu poder e nem governar de
forma impositiva, sem a anuência, apoio ou cooptação dessas unidades subnacionais.
55
15
A educação, neste contexto, se remete à definição desenvolvida por Cury (2010, p.159): “A
educação, dever do Estado, é um direito social da cidadania posto de tal modo que cada indivíduo
59
possa se autogovernar como um ente dotado de liberdade e ser capaz de participar como cidadão
consciente e crítico de uma sociedade de pessoas livres e iguais e ter acesso aos seus bens
sociais.”
60
17
Sobre avaliação do PNE (2001 a 2011) ver Aguiar (2010)
66
Meta 2 - Universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14
(quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam
essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE.
Meta 3 - Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a 17
(dezessete) anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas
no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento)
Meta 4 – Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação
básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino,
com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes,
escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados
Meta 5 - Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino
18
Sobre CNDE ver: http://www.campanhaeducacao.org.br/
19
Sobre a CONAE (2010) ver: documento final disponível em: http://conae.mec.gov.br
68
fundamental.
Meta 6 - Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas
públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos ( as) da
educação básica.
Meta 7 - Atingir as seguintes médias nacionais para o IDEB:
Nível/ano 2015 2017 2019 2021
Fund.(inicial) 5,2 5,5 5,7 6,0
Fund.(final) 4,7 5,0 5,2 5,5
Médio 4,3 4,7 5,0 5,2
Meta 8 - Elevar a escolaridade média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo
a alcançar, no mínimo, 12 (doze) anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as
populações do campo, da região de menor escolaridade no País e dos 25% (vinte e cinco por cento)
mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não-negros declarados à Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
Meta 9 - Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5%
(noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE,
erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo
funcional.
Meta 10 - Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de educação de jovens e
adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional.
Meta 11 - Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a
qualidade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público.
Meta 12 - Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a
taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos,
assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas
matrículas, no segmento público
Meta 13 - Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do
corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75% (setenta e
cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta ecinco por cento) doutores
Meta 14 - Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a
atingir a titulação anual de 60.000 mestres e 25.000 doutores.
Meta 15 - Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no prazo de 1 (um) ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos
profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do Artigo 61 da Lei N° 9.394, de
20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica
possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de
conhecimento em que atuam.
Meta 16 - Formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da
educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as) profissionais
da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades,
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino
Meta 17 - Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de
forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com escolaridade
equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.
Meta 18 - Assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de planos de Carreira para os (as)
profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano
de Carreira dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial
nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do Artigo 206 da Constituição
Federal.
69
Meta 19 - Assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática
da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à
comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo re- cursos e apoio técnico da União
para tanto
Meta 20 - Ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o
patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5° (quinto) ano de vigência
desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.
Fonte: http://fne.mec.gov.br
O segundo PNE foi encarado pelo MEC como uma oportunidade para
impulsionar avanços em relação ao plano anterior e esta expectativa é materializada
20
no documento “O PNE 2011-2020: Metas e Estratégias” que explica
detalhadamente os processos da sua construção afirmando que:
20
Disponível em http://fne.mec.gov.br/images/pdf/notas_tecnicas_pne_2011_2020.pdf
70
21
Sobre eficiência, eficácia e efetividade das políticas sociais ver Gohn, 2007.
77
22
Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada para fiscalizar os gastos das administrações públicas das
três esferas (federal, estadual e municipal), responsabilizando os governantes pelo equilíbrio fiscal
das suas administrações e objetiva, ainda, cumprir o disposto no Artigo 30 da Emenda
Constitucional N° 19, de 4 de junho 1998 através da a Lei Complementar N° 101/2000 onde visa
estabelecer normas de finanças públicas, em todas as esferas de governo, voltadas para a
responsabilidade na gestão fiscal, (como mostra em seu Artigo 1º,seus parágrafos e incisos)
incluindo a dívida Pública externa e interna, a concessão de garantias pelas entidades públicas, a
emissão e o resgate de títulos da dívida pública, bem como os orçamentos, todos previstos no
Capítulo II do Título VI da Constituição Federal.
80
23
Os estados e municípios, para cobrir seus desequilíbrios financeiros, tomavam dinheiro emprestado
aos antigos bancos estaduais tendo o Governo Federal como avalista e assim conseguiam pagar
suas contas e fazer investimentos o que aumentava a dívida pública sem qualquer controle. Com a
adoção da LRF/2000 e a privatização dos bancos estaduais a fonte inesgotável de recursos se
esvaziou. (ARRETCHE, 1999)
81
influencias das elites locais justamente por não possuírem instituições consolidadas
e burocracias suficientemente profissionalizadas, principalmente àqueles com
menos de 50.000 habitantes (89% do total de municípios).
O problema também consiste nas condições em que estes municípios são
administrados. Normalmente caracterizados por gestões precárias, com pouco
profissionalismo, clientelismo, nepotismo, ausência de transparência e baixo controle
sobre os gastos públicos, além de pouca participação da sociedade no
acompanhamento das políticas sociais.
É viável afirmar que no conjunto de explicações sobre implementação da
descentralização no Brasil existiram variáveis políticas representadas pela
necessidade do Governo Federal em repassar a oferta direta de serviços públicos
para estados federativos e municípios, uma vez que ele próprio encontrava
dificuldades para financiar e operacionalizar os programas sociais ao mesmo tempo.
Também existiram variáveis de caráter social com a retomada da
democratização, que recolocou a sociedade civil numa posição de ator importante
no processo decisório, passando a reivindicar mais participação no
acompanhamento e fiscalização de programas sociais. E, por fim, podemos
considerar a existência de variáveis econômicas resultantes da crise do modelo
Estado do Bem Estar Social com a internacionalização da economia.
Devemos considerar outras barreiras que geraram efeitos perversos para a
efetivação da descentralização no Brasil como falta de definição de competências
entre as esferas governamentais, permeabilidade acentuada das burocracias locais
em relação ao poder econômico e político dos vários interesses locais e pouca ou
nenhuma estrutura de accountability24. Nos municípios, as esferas responsáveis pelo
controle e pela publicização dos fatos (poder legislativo, poder judiciário, imprensa,
entre outros) também se mostram mais suscetíveis às pressões locais do que os
seus correlatos nacionais. (MELO, 1996)
A descentralização, no Brasil, também esteve associada ao processo de
redemocratização consolidado ao final dos anos 1980 com a promulgação da CF/88.
O processo de retomada democrática representou um considerável avanço para a
24
Entende-se neste estudo accountability como a obrigação de membros de um órgão administrativo
ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados e a própria
sociedade civil organizada por força de mecanismos legais e legitimados juridicamente. (LUBAMBO
e COELHO,2005)
82
Nacional, sem que os demais entes federados tivessem voz ou participassem das
diretrizes gerais do processo.
A partir da década de 1990 o sistema de ensino público básico passou por
uma série de reestruturações e redefinições. A Esfera Federal, em relação ao ensino
básico, passou a atuar exclusivamente no planejamento, regulação e avaliação dos
programas e políticas, com os demais entes federados ficando incumbidos de ofertar
o ensino (estados da federação com ensino médio e municípios ensino
fundamental).
Em 2003, com a chegada de Luís Inácio “Lula” da Silva à Presidência da
República, houve um resgate de muitas das ideias e premissas do Estado
Providência que geraram mais investimentos em políticas e programas sociais para
combater e diminuir os índices de pobreza. No entanto, vale ressaltar, que os
investimentos em políticas sociais ainda se mostraram insuficientes, além de se
misturarem com os fortes resquícios da lógica neoliberal adotada desde os anos
1990 na gestão pública, onde gastos em políticas sociais eram vistos como entraves
ao desenvolvimento do País e não como investimentos com retornos econômicos e
sociais relevantes. (DRAIBE e RIESCO, 2011)
A prática do Poder Federal - de decidir e agir unilateralmente em relação ao
planejamento, execução e fiscalização dos programas sociais - começa a regredir
uma vez que diversos segmentos organizados da sociedade civil passaram a
participar da definição da agenda social.
A União se aproximou mais das demais unidades subnacionais, sem, no
entanto, abrir mão do protagonismo no planejamento e formulação dos programas
sociais. As municipalidades foram forçadas a se organizar, no sentido de criar
condições necessárias para receber os recursos repassados pela Esfera Federal e
executar as políticas educacionais.
Isto seguiu uma tendência internacional, onde Estados Nacionais se viram
diante de diversas demandas sociais por mais políticas e/ou programas para atenuar
os efeitos da crise do capitalismo em escala global. Crise esta que pôs em xeque os
defensores do modelo neoliberal, que, neste momento, mostrava dificuldades
significativas para atender as crescentes demandas da sociedade. Como não
poderia deixar de ser, esse modelo começa a se exaurir de forma visível,
principalmente com o aumento da crise econômica que abalou fortemente as
84
Introdução
25
Sobre Patrimonialismo ver Sorj (2001).
88
forte teor religioso, por conta da influência da Igreja católica durante o período
monarquista.
Percebe-se que não há referência sobre financiamento da educação nos
demais níveis de ensino ou menção de onde viriam os recursos para as despesas
com o ensino primário, citando apenas que seriam oriundos do tesouro, sem
especificar percentuais ou valores a serem aplicados na educação.
A Constituição de 1891 praticamente ignorou a educação e a relegou a um
plano secundário em relação ao projeto de nação pretendido. Na verdade a
educação aparece na Secção II da Declaração dos Direitos, no Artigo 72 § 6°: Será
leigo o ensino ministrado nos Estabelecimentos Públicos.
E foi tratada como condicionalidade para o cidadão ter o direito a voto,
estabelecendo aí uma contradição já que, por um lado a educação é praticamente
esquecida pela Carta Constitucional, mas por outro é tratada como a principal
condição para o cidadão participar da vida política do País. Apenas em meados
de1924 -com o surgimento do movimento renovador liderado por Anísio Teixeira,
Fernando de Azevedo e Lourenço Filho- é que a discussão sobre o ensino público
adquire maior relevância na sociedade, com a Escola Nova pregando que a nação
como um todo assumisse a reconstrução da sociedade através da escola pública
obrigatória e gratuita. (LEITE, 2000)
A Constituição 1934 finalmente trata da questão do financiamento da
educação, ao buscar reorganizar o regime democrático no País para tentar atingir
condições mais dignas com mais justiça social e bem estar para a população. Com
isto a educação não poderia continuar relegada a planos secundários dentro do
contexto do desenvolvimento da sociedade, período em que a economia inicia um
novo ciclo: o da substituição de Importação que substituiu o ciclo agroexportador
dominante desde a colônia.
O Brasil entra numa nova fase de industrialização com a ascensão de Getúlio
Vargas ao poder, revogando a Constituição de 1891. Esse novo governo buscou
efetivar a industrialização do País; privilegiando as indústrias nacionais, adotando
novas leis voltadas para a regulamentação do mercado de trabalho, estabelecendo
medidas protecionistas, substituição de mão de obra estrangeira por nacional e
investimentos em infraestrutura. Assim, neste período, a indústria nacional cresceu
significativamente, porém ficando restrita às grandes cidades do Sudeste, gerando
quadro de grandes desigualdades regionais.
93
A mão de obra industrial era formada quase toda no eixo Rio/São Paulo.
Algumas condições internas e externas influenciaram este movimento: o grande
êxodo rural devido à crise do café, com aumento da população urbana que foi
constituir um mercado consumidor e mão de obra; a redução das importações e o
aumento das exportações em função da crise a partir da 2ª Guerra Mundial, que
favoreceu o desenvolvimento industrial, livre de concorrência estrangeira.
As reivindicações do Movimento Renovador da Educação foram consideradas
fundamentais para a elaboração da Constituição de 1934. Medidas como a
obrigatoriedade do financiamento da educação por meio da aplicação de recursos
públicos oriundos do tesouro, determinação de percentuais mínimos a serem
aplicados pela União, estados da federação e municípios na educação e a criação
de fundos especiais de educação foram grandes inovações para aquela época.
(FÁVERO, 2005)
Destacamos alguns artigos desta Carta Constitucional como avanços
significativos que tiveram repercussões no campo educacional décadas depois. O
primeiro se trata do Artigo 149 que diz: “a educação é direito de todos e deve ser
ministrada pela família e pelos poderes públicos”. O segundo destaque é o Artigo
150 que determina que as diretrizes da educação nacional fiquem sob a
responsabilidade da União. Em terceiro, tem o Artigo 151 que dizia: respeitando as
diretrizes da União, o Distrito Federal e os estados da Federação teriam
competência para organizar e manter seus próprios sistemas educativos. Em
paralelo foram criados os Conselhos Estaduais de educação em consonância com o
Conselho Nacional de Educação.
Em relação ao financiamento da educação, encontramos a questão da
vinculação orçamentária destinando recursos do tesouro exclusivamente para serem
aplicados em gastos educacionais. O Artigo 156 diz: a União e os Municípios
aplicarão nunca menos que dez por cento, e os Estados nunca menos que vinte por
cento da renda resultante dos impostos na manutenção e no desenvolvimento dos
sistemas educacionais. E, por último, encontramos a criação de fundos específicos
para educação no Artigo 157: A União, os Estados e o Distrito Federal reservarão
parte de seus patrimônios territoriais para a formação dos respectivos fundos de
educação.
Determinava que os recursos viessem das sobras de dotações
orçamentárias, doações e percentagens sobre produto de vendas de terras públicas,
94
Quadro 3.1: Fonte: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, Senado, 1998.
26
Informações sobre a LDB/96 disponíveis em http://www.planalto.gov.br
27
Detalhado na seção seguinte.
28
Detalhado na seção seguinte.
102
29
A natureza estadual do Fundef é por que este fundo foi constituído no âmbito de cada estado; de
natureza contábil por atrelar-se apenas à alocação e redistribuição de recursos.
30
FPE: Fundo de Participação dos Estados, FPM: Fundo de Participação dos Municípios, ICMS:
imposto sobre circulação de mercadorias, IPI-Exp. : imposto sobre produtos industrializados
referentes aos produtos exportados e os recursos a titulo de compensação financeira, pela perda de
receitas decorrentes da desoneração de exportações, de que trata a Lei Complementar de número
87/96, conhecida como Lei Kandir.
103
Davies (2006, p. 757) faz um importante alerta de que a Esfera Federal deixou de
cumprir com grande parte das suas contrapartidas de recursos sob sua
responsabilidade e afirma:
“[...] o Governo Federal, FHC a Lula, não cumpriu o artigo da lei do Fundef
(n.9.424) que estabelece o critério de cálculo do valor mínimo nacional, que
serviria de base para o cálculo da complementação federal. Essa
irregularidade, reconhecida no relatório do GT criado pelo MEC em 2003,
significou que ele deixou de contribuir com mais de R$ 12,7 bilhões de 1998
a 2002. Como essa irregularidade continuou de 2003 a 2006, a dívida do
Governo Federal com o Fundef, tendo em vista a Lei n. 9.424, alcançará o
valor em torno de R$ 30 bilhões até o final de 2006”.
Mesmo considerando que a União não cumpriu com a sua parte, em relação à
suplementação de recursos, o Fundef conseguiu avançar sobre a diminuição das
desigualdades educacionais, notadamente em pequenos municípios do Norte e
Nordeste, em sua maioria pobre e com estruturas educacionais deficientes, ao
minimizar as precárias condições de trabalho e os baixos salários dos professores,
além de proporcionar um pouco mais de equidade na distribuição dos recursos nas
cinco regiões do País. O programa conseguiu cumprir, em parte, seu papel em
relação ao objetivo de combater e diminuir as desigualdades educacionais no Brasil.
Porém, é importante ressaltar que estes avanços se mostraram insuficientes
para se conquistar as melhorias necessárias para o aumento da qualidade da
educação no Brasil. O viés neoliberal, largamente adotado durante os governos FHC
(1995-2002), levou os programas educacionais a priorizarem o acesso ao ensino
fundamental, em detrimento da qualidade e da aprendizagem, assim como, também,
da permanência dos estudantes no sistema educacional.
Era como se a educação, neste período, fosse restrita ao ensino fundamental,
já que educação infantil e o ensino médio foram colocados em segundo plano. E
para melhorar a gestão escolar bastaria apenas introduzir determinados conceitos e
práticas, importados da administração gerencial, que priorizavam objetivamente o
estabelecimento e alcance de resultados mensurados quantitativamente. O governo
queria a escola como uma empresa, avaliando o ensino como um produto passível
de ser medido por testes padronizados que resultavam em indicadores de eficácia e
eficiência.
Os problemas educacionais nesta época foram olhados e atacados de forma
parcial, refletindo diretamente na qualidade da aprendizagem e consequentemente
no desempenho dos estudantes. O Fundef foi insuficiente, como estratégia e
105
Lembrando que este quadro descrito esteve em boa parte dos municípios
brasileiros e por isto muitos segmentos defensores da qualidade na educação
passaram a encampar ainda mais intensamente a inclusão, com transparência nos
106
31
Este pacto de 1994 foi subscrito pelo então ministro da Educação, Murílio Hingel, e pelos
presidentes do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), José Carlos de Almeida;
do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), Marcos José de Castro Guerra; da
União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Maria Helena Guimarães; do
Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (FNCE), Iara Sílvia Wortmann, e da
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE), Horácio Francisco dos Reis Filho.
Fonte: http://portal.mec.gov.br/arquivos/Bk_pde/piso.html
32
Sobre Plano Nacional de Educação - Proposta da Sociedade Brasileira - consultar:
http://www.adusp.org.br/files/PNE/pnebra.pdf
107
defesa da educação brasileira foi em vão por que a Presidência da República vetou
integralmente o PNE da sociedade.
Em meados de 2004, com o início das discussões sobre o Fundeb, a luta em
defesa da inclusão de todos os níveis, etapas e modalidades do ensino básico ao
financiamento da educação, novamente retorna para a agenda governamental
incorporando todos os segmentos da população (pré - escola ao ensino médio) sem
distinção.
Os principais objetivos do novo fundo foram voltados para combater, de forma
mais eficaz, às grandes desigualdades educacionais existentes entre as diversas
regiões do Brasil e promover melhorias nas condições de acesso e permanência os
estudantes nas redes públicas em todas as etapas e modalidades com ensino de
qualidade. (MARTINS, 2011)
O Fundeb trouxe em seu desenho diversas medidas de correção para
suprimir algumas distorções do Fundef para proporcionar mais equidade na
distribuição dos recursos, diminuir desigualdades regionais e melhorar a qualidade
da educação como um todo. Para Davies (2006), o debate sobre a política nacional
de educação tomou um novo rumo já no início do primeiro governo Lula (2003-
2007):
“Houve uma compreensão de que uma política nacional de atenção à
educação básica teria que passar necessariamente por uma atuação mais
incisiva do Poder Central, isto é, da União, com a constituição de um fundo
que viesse a financiar todos os níveis, etapas e modalidade de ensino
anterior ao ensino superior. Essas são as premissas que nortearam a
proposição do Fundeb” Davies (2006, p. 03).
33
Definido para o Período- 2007-2020 – com implantação em 1º de janeiro de 2007. Fonte:
http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb
108
34
Isto será tratado com mais detalhes no próximo capítulo desta tese.
109
níveis não contarão para o cálculo dos recursos que terá direito a receber do fundo
por não estarem sob sua responsabilidade. (BRASIL, 2007)
O Fundeb, apesar de ter avançado bastante, ainda apresenta fragilidades,
algumas herdadas do seu antecessor, visto que foram trazidos poucos recursos
novos para o sistema educacional como um todo.
O fundo redistribui 20% de grande parte dos recursos que já são
constitucionalmente vinculados à educação, entre os governos estaduais e
prefeituras, com base no número de matrículas na educação básica. Isto significa
que alguns governos serão beneficiados, mas outros perderão; sobretudo se não
houver complementação federal porque representa a entrada de dinheiro “novo”
para a educação.
É bom ressaltar que para o município receba essa complementação é preciso
que cumpra as exigências de transparência na gestão dos recursos abrindo suas
contas e comprovando a necessidade da complementação da União. Em síntese; o
governo local precisa cumprir com esta contrapartida para poder obter os recursos
complementares da União. Isto é um mecanismo regulatório que força o governo
local a agir com clareza e responsabilidade sobre os gastos educacionais. Porém
grande parte dos municípios não consegue (ou não quer) cumprir com essa
condicionalidade e por isso fica sem acesso aos recursos referentes à
complementação da União. (CRUZ, 2012)
Vamos discutir, no capítulo seguinte, a questão da relação da gestão
democrática na educação e o papel dos Conselhos de Acompanhamento e Controle
Social (CACS). Consideramos estes espaços como estruturas singulares e, também
contraditórias, porque fazem parte da gestão local ao mesmo tempo em que
funcionam/servem como canais de fiscalização, por meio da participação social, no
sentido de garantir maior controle da sociedade sobre os recursos da educação em
esferas administrativas locais.
111
Introdução
35
A gestão para Cury (2002) do ponto de vista etimológico e semântico se refere a um modo de
administrar determinada realidade e se caracteriza fundamentalmente pela comunicação,
envolvimento coletivo e diálogo, ou seja, é democrática em sua própria essência.
115
36
Empowerment ou empoderamento pode ser compreendido de acordo com Melo (2003) como: “o
processo de fortalecimento dos recursos e das capacidades dos setores pobres e excluídos para
participar ativamente do processo decisório e das implementações de decisões públicas que
afetam suas vidas”.
117
“O poder local foi redefinido como sinônimo de força social organizada como
forma de participação da população, na direção do que tem sido
denominado ‘empowerment’ ou empoderamento da comunidade, isto é, a
capacidade de gerar processos de desenvolvimento auto-sustentável com a
mediação de agentes externos, principalmente de ONGs do Terceiro Setor”.
37
Sobre patrimonialismo ver Sorj (2001)
120
grupos sociais excluídos acerca das políticas e leva suas demandas ao poder
municipal.
A segunda se volta para a construção de mecanismos inclusivos de acesso
às tomadas de decisões para propiciar uma melhora efetiva na capacidade de
acompanhamento e fiscalização da sociedade sobre as diversas ações
governamentais.
E, por fim, a terceira e última busca programar e desenvolver mecanismos
efetivos de ‘accountability’ no sentido de buscar um estágio de amadurecimento
sociopolítico que possa proporcionar a inserção direta dos próprios grupos no
contexto da gestão dos programas e assim promover fiscalização e controle da
sociedade sobre as ações dos governos locais. Por isto se torna importante
compreendermos melhor essas esferas participativas em relação ao contexto da sua
criação e desenvolvimento ao longo da história recente do Brasil. (DAVIES, 2006 e
GUIMARÃES, 2009)
38
O Regime Militar durou 21 anos, iniciado com o Golpe de 31/03/ 1964 e encerrado oficialmente
em 15/01/1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral composto por
deputados e senadores do Congresso Nacional.
121
39
Entendam-se como grupos organizados, voltados e capazes de exercerem pressões sistemáticas
e objetivas sobre as três esferas de governo .(GOHN, 2007).
123
mais ativamente dos processos da vida política e social das suas comunidades e,
por consequência proporcionam um ambiente mais favorável ou confortável para o
exercício efetivo da democracia. (PATEMAN, 1992).
Outro grande obstáculo identificado a ser enfrentado se refere ao custo de
oportunidade dos representantes do conselho para participar das reuniões e
fiscalização. Na verdade existe uma assimetria sobre este custo entre os
representantes do governo, que têm as atividades do conselho inseridas entre suas
obrigações profissionais e dentro da sua carga horária de trabalho, e os demais
representantes dos outros segmentos sociais que lidam com uma realidade bem
diferente, uma vez que precisam encontrar horários e/ou alternativas após seus
expedientes de trabalho para estarem presentes nas reuniões e/ou demais
atividades dos conselhos.
Em muitos casos ainda são obrigados a arcarem com os custos financeiros
de transporte e alimentação. Assim, facilmente se constata que existe uma
desigualdade considerável entre membros do governo e da sociedade para
participar, com estes últimos tendo que arcar um custo de oportunidade bem mais
elevado. (DAVIES, 2006)
Alguns estudos identificaram dificuldades relacionadas com a baixa
qualificação ou formação inadequada dos membros para o desenvolvimento das
atividades e atribuições do conselho e pouca estrutura (pessoal, física e financeira)
mostrando o quanto estas esferas participativas e democráticas funcionam de forma
inadequada, e/ou improvisada, em boa parte de municípios pelo Brasil. Existe
também uma preocupação excessiva sobre aspectos relacionados à organização
burocrática e a rotina administrativa destas esferas em detrimento, até certo descaso
mesmo em relação à importância política desta esfera participativa responsável pela
presença da sociedade nos processos decisórios e de acompanhamento e
fiscalização da aplicação dos recursos do fundo. Estes descasos por boa parte das
gestões municipais brasileiras não combinam com expectativas geradas em torno do
papel dos conselhos e seus efeitos positivos sobre a qualidade dos programas
sociais. (TATAGIBA, 2005; DOMBROWSKI, 2008; LUCHMANN, 2008).
Nosso estudo trata de algumas destas questões e confirma que diversos
problemas, como a questão da qualificação adequada para o desenvolvimento das
atividades, não comparecimento às reuniões e falta de comprometimento dos
conselheiros, são impeditivos para um melhor funcionamento do conselho. Isto
126
OBS 1:Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996 – Dispõe sobre o Fundef. Artigo 4º O acompanhamento e o controle social
sobre a repartição, a transferência e a aplicação dos recursos do Fundo serão exercidos, junto aos respectivos governos, no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por Conselhos a serem instituídos em cada esfera no
prazo de cento e oitenta dias a contar da vigência desta Lei. § 1º Os Conselhos serão constituídos, de acordo com norma de
cada esfera editada para esse fim:
OBS 2:O inciso III refere-se ao Distrito Federal da seguinte forma: no Distrito Federal, por no mínimo cinco membros, sendo as
representações as previstas no inciso II, salvo as indicadas nas alíneas b, e, e g. Ou seja, o conselho no DF será constituído
por no mínimo 4 membros, representando respectivamente: a) o Poder Executivo Estadual; b) o Conselho Estadual de
Educação; c) os pais de alunos e professores das escolas públicas do ensino fundamental; d) a seccional da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
Porém, é preciso ter um pouco de cautela com esse tipo de raciocínio por
conta de diversas dificuldades que mostraram que esta associação não funciona de
forma tão inequívoca assim. Concordamos que os Cacs se constituíram num
importante avanço em direção de gestão democrática na educação, com mais
participação social, mas também sofreram por conta de obstáculos associados a
algumas especificidades bem próprias da realidade brasileira.
A respeito da composição, funcionamento e atuação dos conselhos do
Fundef, destacamos algumas deficiências ou brechas no desenho institucional que
contribuíram para que seus objetivos não fossem concretizados como esperado.
Em primeiro lugar a recomendação de paridade entre representantes do
poder público e sociedade civil, como fator de equilíbrio de forças, foi
desconsiderada em grande parte dos conselhos, até por que a lei fala em número
mínimo de participantes, sem, no entanto, determinar o número máximo e a
distribuição, por segmentos, dos membros.
Com esta brecha muitos governantes locais viram a oportunidade para
“inchar” o conselho com membros do executivo, provocando um desequilíbrio de
forças entre os segmentos e obtendo mais facilidade para controlar suas ações. A
ausência de paridade nas representações, com predominância dos representantes
do governo em relação aos demais segmentos, gerou um desequilíbrio de forças e
uma consequente hegemonia da representação do governo.
O resultado foi uma espécie de “tutela” do governo local, ainda mais reforçada
pelo fato de que, em muitos casos, a presidência dos conselhos era exercida
diretamente pelo próprio secretário de educação ou por um representante seu
vinculado ao executivo municipal. Isso causou uma situação indesejável porque a
principal atribuição do conselho é a fiscalização e acompanhamento dos gastos da
própria secretaria municipal de educação. (GUIMARÃES e COUTINHO, 2007)
Em segundo lugar a precariedade das condições estruturais dos conselhos
como também a (falta de) qualificação e formação adequada dos seus membros
para o exercício efetivo de suas atribuições.
Vários estudos mostraram que em geral faltava aos conselheiros,
especialmente àqueles que representavam a sociedade civil, formação específica
para lidar com as especificidades orçamentárias, planilhas financeiras e as muitas
legislações que envolvem a fiscalização e transferências de recursos, além de
acompanhar as ações do executivo frente ao uso dos recursos do fundo. E ao
129
mesmo tempo não contar com o apoio destes mesmos governos municipais para
melhorar ou modificar essa situação. (MENDONÇA, 2001; DAVIES, 2006;
GUIMARAES, 2009).
Cabe, neste contexto, refletirmos também sobre o uso indiscriminado do
termo Sociedade Civil no campo educacional, especialmente a respeito de
participação social em conselhos da educação, visto que, na maioria das vezes,
esse segmento é tratado de forma uniforme e/ou homogênea, como se fosse uma
categoria única, desconsiderando toda a diversidade de atores, agentes e interesses
que a integram, além das consideráveis desigualdades entre as regiões e municípios
da Federação que fragmentam ainda mais as dimensões da sociedade no Brasil.
As interrogações aqui são: será que representantes da sociedade civil teriam
condições suficientes para representar toda essa diversidade contida no segmento
“sociedade”? Será que, na verdade, iriam se dedicar a representar seus próprios
interesses, ao invés de se aterem às demandas de toda a sociedade? O que se
questiona aqui é: há possibilidade de alguém dar conta de toda essa gama de
contradições, diversidades e desigualdades existentes no âmbito da sociedade?
É no mínimo complexo se exigir uma série de conhecimentos e experiências
que dificilmente encontramos numa só pessoa. Nesta lógica de raciocínio a
participação ficaria bastante comprometida em função de que a defesa dos
interesses de alguns segmentos sociais se sobressairia em relação aos interesses
de tantos outros mais vulneráveis socialmente. (LUCHMANN, 2008)
No caso da educação a questão da participação apresenta um desafio ainda
mais complexo em relação à representação de pais de alunos (que na prática
representa a sociedade civil) por se constituir numa categoria bastante heterogênea
e difusa, que abriga vários segmentos sociais ao mesmo tempo. Outro problema é
que, em sua grande maioria, não possuem organização associativa, porque esses
setores não se comportam como categorias organizadas socialmente, o que traz
grandes dificuldades em se estabelecer estratégias democráticas para a escolha das
suas representações. (DAVIES, 2006; GUIMARÂES, 2009).
O Fundeb apresentou mudanças expressivas quando comparando com seu
antecessor, ao ampliar o espaço reservado aos segmentos da sociedade civil
incluindo representantes dos alunos do ensino básico.
O desenho do fundo também se preocupou em inserir membros do conselho
municipal de educação e do conselho tutelar (se existirem no município) por se
130
constituírem como instituições que precisam estar articuladas com a educação local
e consequentemente podem contribuir para a fiscalização e controle da sociedade
sobre o destino dos seus recursos em seu município.
Outra medida importante foi vetar a possibilidade do poder governamental
local inserir representações de outros segmentos ou aumentar, quantitativamente, a
representação do executivo no conselho.
A nova lei estabelece criteriosamente quem deve participar do conselho e o
número de representantes de cada segmento, obedecendo a critérios de paridade
para os membros do conselho.
Essas medidas visaram o fortalecimento da atuação desses conselhos, mas
não quer dizer que as interferências foram eliminadas totalmente. O quadro abaixo
nos mostra a composição dos Conselhos de Acompanhamento e Controle Social do
Fundeb em cada esfera federativa.
Não delimita composição máxima dos Não delimita composição máxima dos conselhos.
conselhos e também não determina a Mas no Artigo 2º inciso IV determina que no âmbito
observância da paridade na distribuição municipal deverão ser 9 (nove) membros titulares,
das representações sendo: a) 2 (dois) representantes do Poder
Executivo Municipal, dos quais pelo menos 1 (um)
da Secretaria Municipal de Educação ou órgão
educacional equivalente; b) 1 (um) representante
dos professores da educação básica pública; c) 1
(um) representante dos diretores das escolas
básicas públicas; d) 1 (um) representante dos
servidores técnico-administrativos das escolas
básicas públicas; e) 2 (dois) representantes dos
pais de alunos da educação básica pública; f) 2
(dois) representantes dos estudantes da educação
básica pública, sendo 1 (um) indicado pela entidade
de estudantes secundaristas.
o
as instituições a que se refere o Artigo 8 desta Lei;
d) outros documentos necessários ao
desempenho de suas funções;
IV - realizar visitas e inspetorias in loco para
verificar:
a) o desenvolvimento regular de obras e
serviços efetuados nas instituições escolares com
recursos do Fundo;
b) a adequação do serviço de transporte
escolar;
c) a utilização em benefício do sistema de
ensino de bens adquiridos com recursos do Fundo.
Introdução
A pesquisa social é vista como algo desafiador para o pesquisador por conta
da sua inserção dentro do próprio objeto de estudo, ou seja, ele faz parte do
conjunto de fenômenos sociais que se articulam e atuam sobre a realidade
estudada.
É preciso se ter em mente durante o processo de pesquisa todos os cuidados
e recomendações necessários para que se possa alcançar uma aproximação, com a
imparcialidade possível, do sujeito-pesquisador em relação ao seu objeto.
Como a realidade se apresenta de forma bastante complexa e heterogênea, a
cobertura adequada dos diversos fenômenos sociais exige a adoção de vários
métodos, técnicas e da coleta de diversos tipos de dados, ou seja, o investigador
deve lançar mão de um pluralismo metodológico como condição fundamental para a
compreensão e interpretação da complexidade da realidade. (BAUER e GASKELL,
2002)
Desta forma, pensamos que o antagonismo tradicional entre correntes
qualitativas e quantitativas se mostra como algo a ser superado em busca das
condições adequadas para a produção do conhecimento nas ciências sociais, em
especial na área da educação. Isto porque em pesquisas de avaliação de políticas
educacionais, por exemplo, fica muito arriscado limitar a pesquisa a apenas uma
corrente metodológica (que nos dois casos apresenta vantagens e limitações) por
conta do risco de não se alcançar a compreensão adequada da complexidade dos
fenômenos existentes dentro e fora do âmbito da esfera educacional.
Assim, para uma melhor compreensão do objeto pesquisado, é interessante
considerar a combinação de técnicas qualitativas e quantitativas no desenho do
processo de pesquisa.
Acreditamos que esta combinação entre qualitativo e quantitativo se constitui
como uma opção viável e capaz de contribuir com o processo de pesquisa. Neste
sentido optamos pelo multi-métodos com foco por admitir a utilização articulada de
técnicas, instrumentos de coleta e escopo analítico das correntes qualitativas e
quantitativa.
138
40
Sobre essa concepção ver Guba (1994)
41
Ver Bauer e Gaskell (2002, p.19 tabela 1.1)
139
42
Porém é importante ressalvar que o estudo realizado pela Fundaj, com previsão para se encerrar
no final de 2015, se trata de uma avaliação do Fundeb que aborda os efeitos e impactos deste
programa sobre na educação nos municípios do Nordeste. Isto foi posto para destacar que esta
avaliação se difere dos objetivos da nossa tese tanto em relação às discussões teóricas como na
abordagem dos dados. Utilizamos os dados produzidos pela pesquisa da Fundaj (dados
secundários) com um recorte sobre autonomia e participação social inserindo questões em acordo
estabelecido com a coordenação da pesquisa da Fundaj.
140
6.1 O CAMPO
43
O campo desta pesquisa foi realizado pela Fundação Joaquim Nabuco para a Pesquisa de
Avaliação do Fundeb em Municípios do Nordeste. Os dados desta tese foram extraídos deste
estudo (dados secundários) mediante acordo com a Coordenação Geral de Estudos Educacionais
que autorizou a inserção das questões específicas da tese nos instrumentos de coleta de dados.
Como membro da pesquisa e integrante da equipe responsável pelas estratégias de elaboração dos
instrumentos e da coleta de dados, foi possível inserir as questões específicas da tese nos
questionários e entrevistas para utilizar parte dos dados produzidos pela pesquisa da Fundaj como
fontes secundárias.
143
44
Ver Apêndice II
45
Do ponto de vista metodológico as variáveis qualitativas podem ser nominais ou se apresentarem
em escalas ordinais e podem ser mensuradas, tratadas e analisadas estatisticamente.
46
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é uma medida composta de indicadores
de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de
0 a 1. O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global - longevidade, educação
e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de
indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores levados em conta no
IDHM são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Mais sobre
IDHM ver: http://www.pnud.org.br/IDH/IDHM.
144
47 * **
Caso o município apresentasse CME e/ou Conselho Tutelar .
145
articulação com a participação da sociedade. Esta lógica foi adotada por que os
valores destes recursos estão diretamente atrelados ao número de matrículas nas
redes municipais, que é diretamente correlacionado com o tamanho da população.
Neste caso, optamos em não utilizar a classificação clássica do IBGE que traz
a seguinte escala: municípios de pequeno porte até 10.000 habitantes; médio porte
até 20.000 habitantes e os de grande porte com mais de 50.000, justamente por que
a consideramos defasada e incompatível com a atual realidade sociopolítica do
Nordeste.
Pensando em capacidade institucional e na gestão escolar utilizamos critérios
que consideraram o IDEB e o IDHM-ED dos municípios para definir o sues portes. A
título de comparação é importante ressaltar que os municípios de grande porte no
Brasil representam 5% do total de localidades e detém 55% da população do país.
Já os municípios de pequeno porte representam 89% do total e detém quase 34%
da população.
A tabela abaixo traz as caracterizações dos municípios selecionados para o
estudo de campo. Os nomes dos municípios não serão revelados para manter a
garantia de anonimato dada aos entrevistados.
Fontes: IBGE/INEP/PNUD
Introdução
Os conselheiros com nível superior chegaram a 27% dos casos e os que com
especialização representaram 34,5% do total.
A soma destes percentuais chegou a mais de 61% de membros do conselho
com nível superior e/ou especialização confirmando Tatagiba (2005, p.209) que
afirma: “os conselheiros, no que se refere à renda, escolaridade e engajamento
político-partidário estão bem acima da média nacional”.
A grande maioria dos conselheiros do Fundeb em municípios nordestinos,
assim como os secretários de educação, possui vínculo empregatício com o serviço
público municipal. Os executivos municipais empregam 92,7% dos representantes
dos professores, 96% dos diretores de escola, 95% dos representantes do governo;
97% dos servidores de escola pública.
Estes percentuais eram esperados pela própria natureza da composição do
conselho, mas o que nos chamou mais atenção foi os percentuais dos segmentos
ligados à sociedade civil já que 63% dos representantes de pais de alunos, 92% dos
representantes do CME, 75% dos representantes do conselho tutelar e de forma até
surpreendente 29% dos representantes dos alunos pertecem aos quadros das
prefeituras municipais. Ou seja, existe uma inegável relação entre ser membro do
conselho do Fundeb e servidor municipal no Nordeste. Porém, é preciso levar em
consideração que em municípios pequenos as prefeituras são os maiores
empregadores, sobretudo na educação, com implicações que podem gerar
adversidades em relação à efetividade do controle social da política em análise e
também de outras. O fato é que nos deparamos diante de uma verdadeira ocupação
do espaço dos conselhos por funcionários públicos municipais.
154
não permitem tal afirmação, apenas levantamos a hipótese para lembrar que não é
incomum elites políticas locais se utilizarem de estratégias pouco republicanas para
controlar espaços participativos.
Secretários Conselheiros
Respostas % Respostas %
Sim 67,3 Sim 63,5
Não 6,6 Não 11,5
Em parte 25,0 Em parte 21,0
NS/NR 1,0 NS/NR 4,0
Total 100,0 Total 100,0
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco/MEC – 2014.
Não podemos tomar esses dados, advindos diretamente das respostas, como
a efetiva produção do conhecimento da realidade em estudo. Quando cotejamos os
dados acima com os contidos na tabela 9 incongruências aparecem. Isto, na medida
em que os secretários não afirmaram com tanta veemência o grau de autonomia que
seus municípios dispõem em relação à gestão das diretrizes e da aplicação dos
recursos do Fundeb.
Grau de autonomia
%
Alto 42,9
Médio 46,3
Baixo 5,5
Inexistente 0,5
NS/NR 4,7
Total 100,0
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco/MEC – 2014
Neste sentido, a maior parte informou que o grau de autonomia era médio
(46,3%). É possível que se trate da insuficiência dos recursos para atender ás
demandas educacionais locais. Entretanto, um percentual significativo (42,9%)
159
considerou que o município possui alto grau de autonomia sobre a gestão do fundo.
É possível que estejamos diante da expressão das distintas realidades que
configuram os municípios nordestinos em relação ao Fundeb
Outro dado importante diz respeito ao pagamento dos docentes. Neste
sentido, 61% dos secretários e 52% dos conselheiros disseram que em seus
municípios são utilizados mais de 60% dos recursos do Fundeb para pagar os
profissionais da educação (tabela 10).
Essa informação pode ser encarada como um indicador de autonomia sobre a
aplicação dos recursos, uma vez que a gestão municipal redireciona os percentuais
de acordo com suas demandas como resultado das suas próprias configurações e
especificidades locais. Todavia, pode também indicar insuficiência de recursos para
que as municipalidades cumpram seus deveres para com a educação, conforme as
deliberações constitucionais, o que coloca o tipo de autonomia experienciada em
xeque. Neste sentido, ressaltamos que 15% dos secretários e 26% dos conselheiros
afirmaram que o município gasta 100% dos recursos do fundo para pagar seus
profissionais da educação reforçando que os repasses atuais não são suficientes
para dar conta das demandas educacionais locais.
Lembramos que no Artigo 22 da Lei N° 11.494/07 (Lei do Fundeb) é
determinado que pelo menos 60% dos recursos do Fundo sejam para esse fim e os
demais 40% para a manutenção e desenvolvimento do ensino.
Por outra parte, mais de a metade dos pesquisados (55% dos secretários e
51% dos conselheiros) consideraram existir articulação entre o Conselho e a
Secretaria Municipal de Educação - SME no sentido de participação no
acompanhamento da aplicação dos recursos do Fundo (Tabela 12).
Tabela 12 - Frequência com que ocorre a articulação entre o conselho e a SME
segundo os sujeitos pesquisados
Secretários Conselheiros
Respostas % Respostas %
Sempre 55,5 Sempre 51,1
Algumas vezes 32,2 Algumas vezes 26,1
Nunca 10,2 Nunca 15,9
NS/NR 1,0 NS/NR 7,0
Total 100,0 Total 100,0
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco/MEC – 2014.
Todavia, não ficou evidente de que natureza é a articulação que grande parte
dos pesquisados afirmou existir entre o Conselho e o SME. Ao procurarmos
161
Isto revela que existem discordâncias e contradições entre estes dois grupos
de entrevistados que pode indicar dificuldades em relação á compreensão sobre o
que é efetivamente gestão articulada com a participação do conselho nos processos
decisórios da educação municipal.
Porém quando questionados sobre a autonomia do conselho frente à gestão
de educação local, 92% dos secretários de educação afirmaram que os Cacs
atuavam com toda a autonomia necessária para o desempenho das suas atribuições
e 74% dos conselheiros afirmaram que não havia interferências do executivo
municipal em suas atividades. Uma diferença razoável entre os representantes do
governo municipal e os conselheiros. Ressaltando que 20% dos conselheiros
afirmaram que havia interferências e 7% não souberam responder.
Isto nos remete à discussão sobre dois tipos de autonomia educacional em
nível global: a decretada e a construída. A primeira conceituação se refere a uma
prática associada às diversas mudanças no papel do Estado especificamente no que
se diz respeito às transferências de funções educacionais da Esfera Federal para as
unidades subnacionais reconhecendo a sociedade local como parceira de uma
gestão da educação com autonomia. Porém ressalva que uma das principais
características deste tipo de gestão se baseia na possibilidade da gestão
educacional decidir sobre a aplicação dos recursos, mas orientada por parâmetros
definidos centralmente e cuja execução é controlada por um sistema de prestação
de contas à Esfera Federal, ou seja, se trata de autonomia parcial.
A autonomia construída vai além do conjunto de leis, normas e regras que
caracterizam a decretada já que leva em consideração o conjunto de dependências
e interdependências que os atores e instituições da comunidade escolar
desenvolvem entre si e com o meio sociopolítico. Assim a autonomia da gestão vem
de uma confluência de vários interesses (políticos, administrativos, profissionais e
pedagógicos) que necessitam de articulação para equilibrar as forças entre os
representantes dos diversos segmentos envolvidos (governo, profissionais da
educação, pais, alunos e sociedade civil). Para esta corrente não existe autonomia
decretada, mas sim um conjunto de normas e regras formais que regulam a
distribuição de poder, atribuições e competências entre as esferas governamentais.
(BARROSO, 1996)
Nossos dados revelaram uma realidade contraditória e ambígua na maior
parte dos municípios nordestinos uma vez que foi possível identificar características
163
Como já foi dito antes a gestão da educação para ser democrática deve
apresentar como fundamentos principais: participação social, transparência e
descentralização administrativa. O objetivo central deste modelo consiste em
incorporar a sociedade civil aos processos decisórios com autonomia expressada
através de uma postura de independência em relação ao poder executivo municipal
e sem desconsiderar que este segmento também pode atuar cooperativamente
como parceiro do poder público.
Definir participação é uma tarefa complexa por que se trata de um conceito
polissêmico e bastante amplo, mas, de forma sintética podemos classificá-la como a
ação de indivíduos e/ou grupos com o objetivo de influenciar e defender seus
interesses em processos políticos no âmbito do Estado. Também de forma resumida
podemos apontar três vias de participação: (1) eleitoral que corresponde aos
164
48
Atualmente se aceita uma quarta categorização que se refere aos meios digitais que permeiam e
se articulam com os outros três canais participativos. Possui uma grande importância pelo seu
alcance, poder de informação e persuasão. (AVELAR, 2007)
165
De todas 54,0
Da maioria 30,6
De algumas 12,4
NS/NR 2,0
Total 100,0
Todavia, é preciso qualificar este tipo de participação, pois nem sempre estar
presente significa ser capaz de influir nas decisões e consequentemente participar
de forma efetiva. Para sustentar esta afirmação relembramos a tipologia clássica de
participação social: a presencial que é tida como a forma mais passiva, menos
intensa e marginal; a ativação onde indivíduos exercem diversas atividades
delegadas e por fim a participação (propriamente dita) ou decisão onde o indivíduo
atua e contribui direta ou indiretamente para uma decisão política. (GOHN, 2007).
O Brasil vivenciou nos últimos 20 anos uma proliferação de novos espaços
participativos como o orçamento participativo e os conselhos gestores em geral. Isto
é considerado como um fenômeno fundamental para a consolidação democrática
brasileira porque ajuda a diminuir às desigualdades como também a combater
práticas patrimonialistas que favorecem a corrupção nos executivos municipais. Isto
pode ser encarado como um processo de “democratização da democracia” por meio
da inserção da sociedade civil nestes espaços institucionais participativos. Não é por
acaso que diversos governos locais buscam cooptar os conselhos na tentativa de
controlá-los e/ou dificultar suas atividades. (AVELAR, 2007)
Consideramos que os conselhos gestores representam um importante avanço
democrático, mesmo considerando os obstáculos que ainda hoje precisam ser
superados para a consolidação desta prática de gestão de políticas educacionais.
Por mais que os caminhos trilhados tenham apresentado interferências por parte de
diversos interesses pouco-republicanos e dificuldades impostas pelas próprias
configurações da sociedade brasileira, o fato é que incontestavelmente, eles fazem
parte do ambiente da administração pública brasileira de forma sólida e talvez
167
precisa ter para o exercício pleno das suas atividades, ainda mais diante da
realidade de ausência de recursos próprios que impedem o investimento em
contratação de profissionais especializados para ajudar a suprir essas deficiências.
O conselho enquanto esfera participativa e de controle social deixa muito a desejar
em relação aos órgãos fiscalizadores oficiais (Tribunais de Contas, Ministério
Público, etc..) que contam em seus quadros com profissionais especializados para
auxiliar os trabalhos de fiscalização.
Elaboramos um “cruzamento” das variáveis ‘grau de dificuldade para
compreender as diversas documentações exigidas para as atividades dos
conselhos’ e ‘nível de escolaridade dos conselheiros’ e observamos que mesmo
entre os mais escolarizados os percentuais de dificuldades para compreender
documentos, legislação e planilhas é consideravelmente alto.
sociedade civil a serviço dos seus próprios interesses, fazendo com que ao invés de
controlar estas esferas passem a ser controladas. (BRAVO e CORREIA, 2012)
Assim dentro desta perspectiva, a prática de ouvir seus segmentos antes das
reuniões para ter conhecimento das demandas e reivindicações da comunidade,
como sinal de independência e democratização da representação nesta esfera
participativa ainda se mostrou aquém do desejado. As respostas mostraram que
25% deles se reúnem sempre, 37% algumas vezes e 38% nunca se reúnem com a
sociedade civil. Isto mostrou que ouvir à população para conhecer seus problemas e
levar suas demandas ao conselho com mais propriedade ainda é feito de forma
tímida e não se constitui como prática cotidiana no exercício da representação pela
maior parte dos conselheiros.
Em relação aos gestores, os dados revelaram que na hora de tomar decisões,
a articulação entre gestão e conselho não se faz tão presente assim na maior parte
dos municípios. Dentre os secretários 17,7% confirmaram que o conselho era
consultado e entre os conselheiros 19,7% fez o mesmo. O diálogo com o conselho
na hora de decidir sobre a aplicação dos recursos do fundo não se mostrou como
uma prática recorrente por parte do executivo municipal.
Quando perguntados sobre a participação direta da sociedade civil apareceu
grande uma discrepância nas respostas dos dois grupos de entrevistados. Enquanto
48% dos secretários afirmaram dialogar com este segmento para ajudar a decidir
sobre aplicação de recursos, apenas 23,8% dos conselheiros disseram ter
conhecimento destas iniciativas. E, diga-se de passagem, que reconhecemos que a
pesquisa não capturou como era feito esse diálogo (reuniões, plenárias, seminários,
etc.)
Estas diferenças também apareceram de forma significativa nas respostas em
relação ao executivo municipal decidir sozinho sobre o destino da aplicação dos
recursos do Fundeb. Para 11,5% esta era a prática adotada pela sua gestão
percentual bem abaixo dos 40,5% de conselheiros que afirmaram não existir
qualquer tipo de diálogo do executivo municipal com o conselho ou com a sociedade
civil.
Mesmo assim não podemos desconsiderar que parte significativa dos
respondentes confirmou que existe diálogo entre a SME com os conselhos e/ou
sociedade civil. Se pegarmos os somatórios das duas primeiras categorias da tabela
171
49
Município A - Grande (mais de 500.000 habitantes) Município B - Pequeno (menos de 50.000
habitantes)
50
Códigos dos atores entrevistados: Município A: Secretário de Educação - SEA, Conselheiro
Representante dos Pais de Alunos 1 - CRP1A e Conselheiro Representante dos Pais de Alunos 2 -
CRP2A. Município B: Secretário de Educação - SEB, CRP1B e CRP2B.
51
Em relação à gestão educacional a Constituição Federal de 1988 garante autonomia aos entes
federados em seu Artigo 8º: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em
174
52
Ver depoimento da SEB na página 199.
178
Mas, por outro lado, pudemos presenciar na cidade alguns problemas nas
estruturas físicas em duas das quatro escolas, além de dificuldades relacionadas ao
transporte escolar dos alunos da zona rural. Vimos também que duas escolas
diferentes funcionam no mesmo prédio, ou seja, a relação entre município e
recursos do Fundeb não se mostra tão harmoniosa assim quando observamos com
mais cuidado algumas nuances da realidade educacional local.
Segundo a administração municipal estes problemas seriam resolvidos com a
chegada de novos recursos federais oriundos do Plano de Ações Articuladas- PAR,
ou seja, a gestão não queria colocar dinheiro do Fundeb para sanar estes problemas
por que estavam chegando outros recursos. Partindo da premissa que isto é
verdadeiro estamos diante de um exemplo de cooperação articulada entre entes
federativos no sentido de utilizar recursos federais de forma mais racional como
mostra o depoimento:
[...] Então eu não posso reclamar que está faltando
dinheiro, não está. Está certo? O município está
repassando 25% que dá uma boa... e a gente tem o
recurso do Fundeb que hoje, agora o que eu lhe digo,
as escolas, a gente encontra as escolas totalmente
detonadas e eu estou me segurando por quê? Pelo PAR
nós fizemos alguns projetos, algumas ações de reforma,
de construção, então não adianta eu investir dinheiro,
hoje, do Fundeb em reformar se vai chegar. (SEB)
Notamos que nos Cacs existe uma preocupação preponderante, tanto dos
conselheiros como da própria gestão municipal, em dominar as rotinas técnico-
burocráticas. Percebemos uma tendência de não se considerar a dimensão política
desta atividade. O que queremos dizer é que, ao participar dos conselhos e de suas
diversas atividades, os conselheiros poderiam, no sentido pedagógico, mesmo,
aprender a participar participando da vida política e social da comunidade. Neste
sentido, concordamos com Gohn (2007, p.19) que associa participação com
compartilhamento de responsabilidades com a comunidade, esta, atuando, na
condição de parceira, mas se responsabilizando também pelas demais dimensões
deste processo.
Uma questão importante está relacionada ao custo de oportunidade dos
representantes da sociedade para participarem das atividades do conselho, tal como
surgiu nos depoimentos do município “A”. Os segmentos do governo, como já
citamos, têm mais facilidade em participar porque a atividade faz parte das suas
atribuições profissionais, além do que, na maioria das vezes, as reuniões ocorrem
em seu próprio local de trabalho, no caso, a prefeitura.
Já para os representantes da sociedade, o esforço é bem mais elevado
porque as reuniões são após o horário das suas atividades profissionais e eles ainda
precisam se deslocar para o local das reuniões (em muitos casos arcando com
gastos de passagem e alimentação). Isto envolve custos financeiros e pessoais bem
mais elevados que os dos representantes do governo, gerando uma assimetria em
relação ao esforço para estar presente nas atividades e reuniões, ou seja, no
mínimo é necessário que o executivo lance mão da utilização de verbas
ressarcitórias para minimizar as dificuldades dos representantes da sociedade civil,
isto por que a situação atual pode comprometer o interesse destes representantes
se fazerem presentes nas reuniões e demais atividades do conselho.
É provável que isto, muitas vezes, possa servir como empecilho e motivo de
resistência para membros da comunidade participar de conselhos. Não foi à toa que
isto apareceu nos depoimentos como uma das principais dificuldades enfrentadas
por eles para exercerem adequadamente suas funções, fenômeno observado em
outras pesquisas (DAVIES, 2006 e GOHN, 2007), o que denota muito pouca
evolução da sociedade civil no compartilhamento das ações do governo.
No capítulo anterior mostramos que o não comparecimento e a falta de
compromisso por parte dos membros do conselho foram apontados como os
192
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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APÊNDICE I
Entrevistas Qualitativas (Secretários Municipais; Representante dos Pais de Alunos )
Bloco I - Perfil
Bloco II
01-Como funciona o conselho do Fundeb no município (apoio da SME, frequência e
temas das reuniões, segmentos representados); O conselho tem sede
própria?Recursos próprios?
02- O que você compreende por participação?
04-Na sua visão, quais os principais desafios da participação em relação aos
conselheiros do Fundeb? (representantes dos pais, dos alunos e do governo)
05- Em sua opinião, o conselho atua com autonomia? Explique
06- Em sua opinião, a participação de pais e alunos favorece/fortalece a educação?
Bloco I - Perfil
Bloco II
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APÊNDICE II
Questionários aplicados a Secretários Municipais de Educação e Conselheiros do
Fundeb.
Município Estado
1.Sexo [ ]masculino [ ]feminino
2.Idade:___________
[1] Sempre [2] Algumas vezes [3] Nunca [97] NS [98] NR [99]NA
14 Na sua opinião o Conselho faz o acompanhamento dos gastos da Secretaria
Municipal de Educação?
[1] Sim [2] Não [97] NS [98] NR [99]NA
15. Em sua opinião, o nível de controle que o conselho exerce sobre os recursos do
Fundeb é:
[1] Nenhum [2] Baixo [3] Médio [4] Alto [97] NS [98] NR [99]NA
[1] Alta [2] Média [3] BaixA [4] Não tem importância [97] NS [98] NR [99]NA
18. O Sr poderia informar qual o percentual dos recursos do Fundeb que é gasto
com o pagamento dos profissionais da educação?_____________
19. O Sr considera que o valor recebido de recursos do Fundeb é suficiente para
cobrir às necessidades da educação no seu município?
[1] Sim [2] não [3] em parte [97] NS [98] NR [99]NA
20. Em sua opinião existe articulação entre a secretaria municipal de educação e o
conselho do Fundeb no que se diz respeito à forma como os recursos são
distribuídos?
[1] Sempre [2] Algumas vezes [3] Nunca [97] NS [98] NR [99]NA
21. O conselho do Fundeb é chamado/convocado pela secretaria de educação para
discutir as políticas municipais?
[1] Sempre [2] Algumas vezes [3] Nunca [97] NS [98] NR [99]NA
22. Em sua opinião o Conselho funciona de maneira democrática
[1] Sim [2] Não [97] NS [98] NR [99]NA
23. Na sua opinião o Conselho do Fundeb exerce suas atribuições adequadamente?
[1] Sim [2] não [3] em parte (4) N/S
24. Em sua opinião o Conselho do Fundeb atua com a autonomia necessária para o
cumprimento das suas atribuições?
[1] Sim [2] não [3] em parte [97] NS [98] NR [99]NA
25.Em sua opinião o município tem autonomia para decidir onde, quanto e como vai
aplicar os recurso do Fundeb em função das suas demandas específicas?
[1] Sim [2] não [3] em parte [97] NS [98] NR [99]NA
26. Qual o nível de autonomia da gestão educacional do município em relação às
diretrizes do Fundeb e do Governo Federal:
[1] Alto [2] Médio [3] Baixo [4] inexistente [97] NS [98] NR [99]NA
27. A gestão municipal costuma ouvir a sociedade sobre suas ações, metas e
políticas educacionais?
[1] Sim [2] não (4) N/S [97] NS [98] NR [99]NA
28. Que estratégias esta gestão municipal utiliza para decidir como e onde alocar os
recursos do Fundeb? (múltiplas respostas)
[1] Chamando os principais segmentos sociais para dialogar
216
Município Estado
Nome do Entrevistado:
2.Idade
Posição no conselho:
10. Já fez parte ou faz de outro tipo de instância participativa como sindicatos,
associações (bairro ou moradores), clubes (sociais ou desportivos), partidos políticos
entre outras?
[1] Sempre [2] Algumas vezes [3] Nunca [97] NS [98] NR [99]NA
19. Qual é a periodicidade das reuniões do Conselho do Fundeb?
[1] Semanal [3] Mensal [5] Trimestral [7] Sem frequência regular
[2] Quinzenal [4] Bimensal [6] Semestral [97] NS [98] NR [99]NA
20. Quando tem reunião do Conselho do Fundeb, o (a) Sr(a). Participa:
[1] Fácil [2] Difícil [3] Muito difícil [4] Incompreensível [97] NS [98] NR
[99]NA
24. Em sua opinião, o nível de controle que o conselho exerce sobre os recursos do
Fundeb é:
[1] Alto [2] Médio [3] Baixo [4] inexistente [97] NS [98] NR [99]NA
25. Em sua opinião qual a importância do conselho do Fundeb para a gestão da
educação municipal:
[1] muito importante [2] importante [3] pouco importante [4] sem importância
[97] NS [98] NR [99]NA
26. Você poderia informar que percentual dos recursos do Fundeb é gasto com o
pagamento dos profissionais da educação?____________________
[97] NS [98] NR [99]NA
219
27. Você considera que o valor recebido de recursos do Fundeb é suficiente para
cobrir às necessidades da educação no seu município [1] Sim [2] não [3] em parte
[97] NS [98] NR [99]NA
28. Em sua opinião existe articulação entre a secretaria municipal de educação e o
conselho do Fundeb no que se diz respeito à forma como os recursos do Fundeb
são distribuídos?
[1] Sempre [2] algumas vezes [3] Nunca [97] NS [98] NR [99]NA
30. Qual é o principal problema que o Conselho enfrenta para ter um melhor
funcionamento?
[1] Alto [2] Médio [3] Baixo [4] inexistente [97] NS [98] NR [99]NA
36. Qual o grau de importância que você atribui ao Fundeb para a gestão da
educação municipal:
[1] Alto [2] Médio [3] Baixo [4] inexistente [97] NS [98] NR [99]NA
37. A gestão municipal costuma ouvir a sociedade sobre suas ações, metas e
políticas educacionais?
[1] Sim [2] não [97] NS [98] NR [99]NA
38. Que estratégias esta gestão municipal utiliza para decidir como e onde alocar os
recursos do Fundeb? (múltiplas respostas)
[1] Chamando os principais segmentos sociais para dialogar
[2] ouvindo as demandas do Conselho do Fundeb
[3] Indo nas Comunidades para conversar com a população diretamente
[5] decide em reuniões com os secretários da pasta
[6] o prefeito decide sozinho
[7] o secretário de educação indica onde devem ser alocados os recursos
[8] outros: especifique