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COMUNICAÇÃO E

EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
Educação em saúde:
uma aproximação
da comunidade
Beatriz Paulo Biedrzycki

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever o papel do educador em saúde e a sua relação com a comunidade.


>> Identificar as linguagens e seu papel como ferramenta de aproximação.
>> Apontar maneiras de comunicar e educar em saúde na comunidade.

Introdução
As ações educativas em saúde buscam criar situações que impactem positivamente
na saúde de toda a comunidade. Essa característica pode ser observada de maneira
ainda mais evidenciada nas ações da atenção primária, dada a proximidade do
educador em saúde com a comunidade. No entanto, é importante estar atento a
alguns aspectos relativos à comunicação e à utilização de diferentes linguagens,
que podem subir muros ou construir pontes com a comunidade, sendo um ponto
importante quando pensamos no vínculo terapêutico.
Neste capítulo, você vai observar o papel que o educador social exerce na
comunidade, reconhecendo aspectos importantes da comunicação e das lingua-
gens, compreendendo como elas podem ser uma ferramenta de aproximação
do profissional da saúde com a comunidade e verificando maneiras práticas de
comunicar-se com maestria, a fim de aumentar o vínculo terapêutico.
2 Educação em saúde: uma aproximação da comunidade

O papel do educador em saúde na


comunidade
O sistema de saúde possui algumas funções principais, como a de prestar
serviços básicos de saúde, buscando a promoção, a proteção e a recuperação
da saúde. Nesse sentido, as ações de educação em saúde têm sua atuação
prática voltada para o sujeito, ampliando as possibilidades de oferecer uma
atenção de qualidade, relevante, equitativa e sustentável, atendendo às ne-
cessidades do sujeito, uma vez que tanto a saúde como a doença acontecem
não apenas em pessoas e órgãos, mas nas relações sociais, nos contextos
culturais e históricos, sendo ambas cheias de complexidades e singularidades
(KIDD, 2016).
Pensando assim, assumimos uma prática sistêmica, que atua sobre os
fatores individuais, coletivos, intrínsecos e extrínsecos do sujeito. Todos esses
fatores fazem parte da construção psicológica, biológica e social do sujeito,
que, por sua vez, possui medos, anseios e necessidades individualizadas.
Nesse sentido, é necessário compreender que todo sentimento que um sujeito
sente e demonstra está relacionado, de alguma forma, com o outro. Nesse
cenário, os profissionais que contemplam as equipes de saúde e o usuário
fazem parte de um todo, sendo parceiros na construção dessa perspectiva
de atendimento (KIDD, 2016).
Nessa concepção ampliada de saúde, a compreensão da necessidade
de ações educativas em saúde soa ainda mais forte, tornando-se uma das
principais ferramentas para alcançar a integralidade no atendimento à saúde.
Machado et al. (2007, documento on-line) afirmam que "[...] o atendimento
integral extrapola a estrutura organizacional hierarquizada e regionalizada
da assistência de saúde, se prolonga pela qualidade real da atenção indi-
vidual e coletiva assegurada aos usuários do sistema de saúde, requisita o
compromisso com o contínuo aprendizado e com a prática multiprofissional",
pilares importantes da educação em saúde.

As ações educativas em saúde fazem parte de um campo de conhe-


cimento e de prática na área da saúde que busca promover saúde
e prevenir as doenças nos diferentes níveis de complexidade do processo de
saúde-doença, a partir de processos pedagógicos, como criação de grupos,
intervenções diretas com o usuário, elaboração de materiais informativos,
entre outros.
Educação em saúde: uma aproximação da comunidade 3

As ações educativas atuam como uma ferramenta essencial para "[...] in-
centivar a autoestima e o autocuidado dos membros das famílias, promovendo
reflexões que conduzam a modificações nas atitudes e comportamentos" a
partir de ações éticas, escuta, acolhimento e diálogo (MACHADO et al., 2007,
documento on-line). Sendo assim, segundo Machado et al. (2007), os profis-
sionais de saúde passam a ser agentes de mudança no contexto em que o
sujeito está envolvido, facilitadores e mediadores do processo de educação
em saúde. As ações de educação em saúde fazem parte da construção da
cidadania e da democracia, bem como do processo de transformação social
do indivíduo e da sua comunidade.
Nesse cenário, o educador em saúde é apontado como um dos elementos
que permitem a tomada de consciência das responsabilidades individuais e
coletivas, dos direitos à saúde, à reflexão crítica da realidade e dos fatores
determinantes do "ser saudável". Ele é um mediador que permite o desen-
volvimento de um pensar crítico e reflexivo, propondo ações transforma-
doras que levem o indivíduo à sua autonomia e emancipação "[...] enquanto
sujeito histórico e social capaz de propor e opinar nas decisões de saúde
para o cuidar de si, de sua família e da coletividade" (MACHADO et al., 2007,
documento on-line).
Em seus estudos com adolescentes, Farre et al. (2018) notaram que nos
momentos em que acontecem as ações educativas existe uma forte articu-
lação entre o ambiente social e o familiar, reconhecendo os pontos onde,
nesses espaços, temos aspectos protetores ou não da saúde. Além disso,
o profissional que fazia a dinâmica com o grupo também apresentava di-
ferentes possibilidades de expressão das angústias, estimulando o grupo
a compreender as razões e as possíveis soluções para problemas por eles
elencados, sendo uma ferramenta do processo de tomada de consciência
do espaço em que o sujeito está inserido, traçando estratégias de empode-
ramento. Além disso, ao permitir que o sujeito, junto com seus pares, fale
de suas angústias e necessidades e das características da sua comunidade,
é dada a chance para que ele consiga estender seu olhar para as possibilidades
de mudanças, percebendo e propondo ações coletivas, entendendo-se como
parte da comunidade.
Quando pensamos em ações educativas que possuem uma proximidade
com a comunidade, lembramos da Unidade Básica de Saúde (UBS), uma vez
que o espaço físico que ela ocupa é dentro da comunidade, fazendo parte
desse território, com uma prática profissional voltada para a família. Essas
duas características fazem esse serviço da atenção primária ter um caráter
mais próximo da comunidade, pois os profissionais da saúde conhecem a
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todos da família e têm espaço e abertura para discutir ações de saúde mais
abertamente, uma vez que compreendem a realidade do sujeito e sua traje-
tória (BARROS, 2014).

A atenção primária é a principal porta de entrada e o centro arti-


culador do acesso dos usuários ao Sistema Único de Saúde (SUS) e
às diferentes redes de atenção à saúde, sendo entendida como o atendimento
inicial. Ela tem como característica a proximidade geográfica da comunidade e
um atendimento mais próximo com o usuário.

Barros (2014) afirma, ainda, que o enfoque da saúde da família é funda-


mental para os serviços de saúde baseados na atenção primária, pois a família
passa a representar um fator significativo no planejamento e desenvolvimento
das intervenções terapêuticas, preventivas e educativas. Isso acontece porque
é na família — e na comunidade — que os comportamentos relacionados à
saúde são firmados e reproduzidos e disseminam-se a cultura, os valores e
as normas sociais básicas.
Esse entendimento permite ao profissional da saúde construir um vínculo
com a comunidade, facilitando o entendimento da realidade de cada sujeito
e estabelecendo-se uma relação de confiança mútua. Dessa forma, as ações
educativas podem ser mais eficazes, atuando em pontos sensíveis da comu-
nidade, como a continuidade do tratamento, a prevenção de doenças e ações
de promoção à saúde (BARROS, 2014).
Um dos maiores desafios da equipe de atenção à saúde é articular uma
sinergia entre a equipe de saúde e a necessidade da comunidade. Crevelim
e Peduzzim (2005, documento on-line) apontam que uma estratégia para que
isso ocorra é permitir que a comunidade interaja com a equipe de saúde,
"[...] sobretudo por reconhecer-se, ela própria, como comunidade, usuário,
cidadão, na busca de condições de vida e de convivência melhores, mais
saudáveis e mais integradas"; realizando planejamentos de ações de maneira
conjuntas. Qualquer ação ou estratégia só faz sentido com a utilização de
uma linguagem apropriada e acessível para toda a população, sendo este um
dos elementos a serem observados nos momentos de formação educativa.
A seguir, você vai ver como a comunicação interfere na educação em
saúde, percebendo como realizá-la de maneira a torná-la uma ferramenta
de acolhimento e aproximação com a comunidade.
Educação em saúde: uma aproximação da comunidade 5

As linguagens e seu papel como ferramenta


de comunicação
As linguagens se apresentam como a maneira de expressarmos ideias para
realizar a comunicação. Ao pesquisar sobre o significado da palavra “lin-
guagem” no Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa on-line (LINGUAGEM,
c2021a), encontramos o significado de "Conjunto de sinais falados, escritos
ou gesticulados de que se serve o homem para exprimir esses pensamentos
e sentimentos". Dessa forma, a linguagem carrega consigo expressões amplas
que envolvem fala, gestos e expressões faciais para transmitir uma mensagem.
O termo comunicar tem sua origem no latim communicare, que significa
“tornar comum; compartilhar" (RAMOS; BORTAGARAI, 2012; CAMPOS; LEÃO;
DOHMS, 2021). Ao pesquisar o significado da palavra “comunicar”, no Dicio-
nário Michaelis da Língua Portuguesa online (COMUNICAR, c2021b), encontra-
mos o significado de "espalhar ou propagar algo; transmitir; ligar; unir", ou
seja, comunicar é uma forma de ligação entre pessoas como um intercâmbio
compreensivo de significação, podendo ser utilizadas diferentes formas de
linguagens (RAMOS; BORTAGARAI, 2012).

O termo "linguagem" e o termo "comunicação" são usados muitas


vezes como sinônimos; neste capítulo também, mesmo entendendo
que a linguagem se relaciona mais com a ferramenta de comunicar-se.

Então, comunicação é um fenômeno interativo, inter-relacional, que não


acontece de maneira individual, mas sim dentro da coletividade. Ela pode
acontecer sem que uma única palavra seja proferida, ou ainda não acontecer
mesmo após um longo discurso. Para haver comunicação, é necessário que
ambas as partes (quem comunica e quem recebe) estejam disponíveis para
realizar trocas; isso porque "aprendemos algo quando o percebemos, o ela-
boramos e o expressamos. Estimular a percepção sobre a realidade, elaborar
conceitos afins e expressar as próprias opiniões são as únicas tarefas reais
de toda ação educadora" (FERREYRA, 2007, p. 26).
A forma como comunicamos uma informação às vezes pode ser mais
importante do que o próprio conteúdo, pois comunicar uma ideia e ela não
fazer sentido para o ouvinte acaba sendo frustrante tanto para quem fala
(o expressor) como para quem escuta (o perceptor), visto que o primeiro não
consegue passar a informação e o segundo não consegue compreendê-la,
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percebendo-se insuficiente para processar tal informação. Dessa forma,


Campos, Leão e Dohms (2021) afirmam que o comunicar-se busca estabelecer
relações entre as pessoas, extrapolando a ideia de mera troca de dados, pois
permite a criação de vínculos.
Sabendo disso, é importante que sejamos capazes de perceber as técnicas
mais adequadas para comunicar a todos. A comunicação acontece por meio
das linguagens, que são muitas. Dentre elas, podemos apresentar a comu-
nicação verbal (as palavras que são ditas) e a não verbal (como nosso corpo,
gestos, olhares e expressões faciais acontecem enquanto falamos). Ambas
estão presentes na cena terapêutica, "[...] veiculando conteúdos conscientes
e inconscientes, cuja significação está vinculada ao contexto em que ocorre"
(RAMOS; BORTAGARAI, 2012, documento on-line).
Em espaços de educação em saúde, todos, em algum momento, assumem
as duas posições de expressor e perceptor, de se expressar e perceber como
o outro está se expressando, construindo trocas e diálogo (FERREYRA, 2007).
Para que o diálogo e a troca aconteçam, é necessário que o perceptor
sinta o que ele percebeu (comunicação verbal e não verbal), reflita sobre o
sentido denotativo das palavras utilizadas, processe possíveis sinais e sen-
tidos conotativos das palavras, reflita sobre todas as informações recebidas,
analise o contexto e a partir disso crie suas próprias impressões e concepções,
tornando-se um expressor, assumindo dois papéis distintos e complementares
(FERREYRA, 2007). Você pode visualizar melhor esse processo na Figura 1.

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Figura 1. Atores e processos da comunicação: a construção do diálogo. Aqui vemos como o


preceptor torna-se um expressor.
Fonte: Ferreyra (2007, p. 36).
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Sabendo como o processo da comunicação acontece nos diferentes agen-


tes, para se criar uma aliança terapêutica positiva é fundamental lembrar que,
no contexto de atenção à saúde, o usuário que está sendo atendido pode
apresentar muitas emoções complexas e diferentes, as quais oscilam conforme
a situação de saúde, social e emocional em que ele se encontra (CAMPOS;
LEÃO; DOHMS, 2021). Portanto, mostrar-se frio ou distante não auxilia na
criação de vínculos, muito pelo contrário, somente aumenta o sentimento do
paciente de estranhamento e distanciamento do serviço de saúde. Quando o
profissional de saúde identifica as emoções, acolhe e compreende o paciente
de maneira empática, facilita a formação de vínculos de cuidado e confiança,
permitindo que o ciclo do diálogo aconteça.
Essa é uma habilidade que pode ser melhorada e desenvolvida ao longo do
tempo, visando a um melhor atendimento dos objetivos das ações educativas
em saúde. Além disso, em muitas situações, não é necessário expressar em
falas, de maneira explícita ou ainda solucionar o problema que está sendo
trazido pelo sujeito naquele momento, mas deixar clara a intenção de ajudá-
-lo de alguma maneira. A escuta e a linguagem não verbal fazem com que
isso aconteça de uma maneira implícita, criando uma conexão verdadeira e
singular, auxiliando na construção do vínculo terapêutico (CAMPOS; LEÃO;
DOHMS, 2021).
Os autores acreditam que a identificação dos sentimentos do paciente
por parte do profissional da saúde é um dos principais pontos de uma escuta
qualificada. Normalmente, essas informações são passadas a partir da comuni-
cação não verbal e, por isso, o profissional deve estar atento a todas as ações
do paciente, desde o momento em que ele chega no espaço de saúde até a
sua despedida. Isso não significa dizer que, às vezes, os aspectos emocionais
não sejam expressos em palavras e que não se deva conversar sobre isso,
nomeando os sentimentos e legitimando-os; dando a devida importância a
cada um deles, apoiando-o na situação que ele está passando. Além disso,
é necessário que o profissional de saúde ofereça escuta qualificada, sem
emitir juízo de valor (dizer se está certo ou errado) para que o paciente não
se retraia e se sinta constrangido, encerrando o vínculo. Cabe ressaltar que,
em alguns momentos, o profissional de saúde pode acabar por entender
alguma dilação de uma maneira equivocada, portanto, saber quando pedir
desculpas também é fundamental, pois sinaliza o respeito e a igualdade que
existe na relação (CAMPOS; LEÃO; DOHMS, 2021).
Campos, Leão e Dohms (2021) trazem uma terceira forma de linguagem que
é extremamente utilizada na sociedade: a escrita. Ela também deve se adequar
às necessidades da linguagem verbal, como clareza de ideias e vocabulário.
8 Educação em saúde: uma aproximação da comunidade

Além disso, o bom uso da norma culta deve ser utilizado no momento de criar
um material escrito. Dentro desses materiais, a escrita pode ser organizada
de diferentes formas, como cartazes, cartilhas, textos. Não é porque um
material (cartilha, cartaz) possui uma linguagem escrita que ele precisa ser
impessoal. Ele deve se comunicar com o público-alvo, de maneira assertiva.
Sendo assim, percebemos que utilizar todas as linguagens de maneira ade-
quada é extremamente importante para a construção de vínculos, permitindo
a eficácia das ações educativas em saúde, criando vínculos e aproximando a
comunidade do serviço de saúde. Agora que você compreende como o processo
da comunicação acontece, entendendo que existem muitas possibilidades de
linguagens, as quais serão decisivas para a construção de um vínculo com o
paciente, você deve estar se perguntando: como realizar uma comunicação
assertiva nas ações educativas em saúde? Isso você vai acompanhar a seguir.

Qual linguagem melhor se relaciona com


as ações educativas?
Sabendo da importância das diferentes formas de linguagem para um resul-
tado satisfatório de educação em saúde, é essencial que sejamos capazes
de perceber as técnicas mais adequadas para atingir a todos. Dessa forma,
como já vimos, a comunicação verbal e a não verbal estão presentes na cena
terapêutica, "[...] veiculando conteúdos conscientes e inconscientes, cuja
significação está vinculada ao contexto em que ocorre" (RAMOS; BORTAGARAI,
2012, documento on-line).
Ramos e Bortagarai (2012) apontam que a linguagem não verbal é expressa
em toda a forma de comunicação que não utiliza da pronúncia de sons ver-
bais e tem como característica qualificar a interação humana, imprimindo
sentimentos, emoções e significados a mensagem que desejamos comunicar
sem necessariamente dizer alguma palavra. Ela ainda pode funcionar como
aliada às palavras, agregando ainda mais sentido e significado para o que
é dito. Nesse sentido, até o silêncio passa uma mensagem. Dessa forma,
as expressões faciais, os gestos, ruídos vocálicos, pronúncia, suspiros, ritmo
respiratório, postura, tosse, posicionamentos corporais, olhar e entonação
de voz são fatores importantes na hora de comunicar, abrangendo 93% das
possibilidades de expressão, ainda que muitos os considerem secundários.
Sua importância se dá de maneira significativa nos mais diferentes meios,
sejam eles formais ou informais, melhorando a qualidade da informação que
se é passada. Por vezes, o que a linguagem verbal transmite não corresponde
Educação em saúde: uma aproximação da comunidade 9

com a linguagem não verbal. Nesses casos, a mensagem que é entendida


por quem está recebendo a informação são as expressões da linguagem não
verbal (CAMPOS; LEÃO; DOHMS, 2021; RAMOS; BORTAGARAI, 2012).
Dentro do fenômeno da comunicação não verbal, encontramos o uso do
espaço (proxêmica), o movimento no espaço (cinésica) e a utilização do toque
(taxêmica) (RAMOS; BORTAGARAI, 2012).

„„ Proxêmica: se relaciona com o significado social do espaço e sua es-


trutura inconsciente. Ele fala como as pessoas estão dispostas no
momento da comunicação: os olhos estão na mesma linha? Há uma
mesa separando os sujeitos que irão se comunicar? A distância entre
os sujeitos é adequada? Há contato visual? O tom de voz é claro?
„„ Cinésica: fala unicamente sobre a postura do corpo e como ele se
locomove pelo espaço. A pessoa que está falando está olhando todo o
tempo para o relógio? Ela está com os braços cruzados? Ela fica em pé
enquanto todos os outros estão sentados? A pessoa tem movimento
rápidos e repetitivos, demonstrando impaciência? O profissional de
saúde sorriu quando se apresentou e recebeu o paciente?
„„ Taxêmica: fala sobre o toque. Muitos procedimentos exigem que se
toque no paciente para fazer um curativo, realizar uma manobra ou
algum diagnóstico, mas aqui não é desse toque que estamos falando.
Estamos nos referindo ao toque respeitoso, mas que ao mesmo tempo
mostra carinho, empatia e segurança. Ele pode ser um aperto de mão
no momento da recepção, ou um toque no ombro simbolizando apoio
no momento em que o paciente conta alguma situação que para ele
é difícil.

Esses pequenos gestos fazem a diferença em aproximar o usuário do serviço


de saúde ou afastá-lo. Em diversas situações, aquilo que não é dito afeta emo-
cionalmente o sujeito que recebe muito mais do que as palavras propriamente
ditas. Não é raro ouvirmos que um paciente tem preferência por determinado
profissional porque ele "fala sorrindo" ou " é muito atencioso". Isso mostra a
importância de estar atento aos sinais não verbais da comunicação.
Situações a extremas como a pandemia de Covid-19 impossibilitam o
toque, por conta do respeito às medidas sanitárias, ou ainda a visualização
completa do rosto, em razão do uso da máscara (que tapa o nariz e a boca).
Mas isso não significa que a linguagem não verbal deva ser colocada de lado;
uma atitude receptiva a nível cinésico e proxêmico segue sendo observada e
até mesmo ampliada, sendo ainda mais importante nesse contexto.
10 Educação em saúde: uma aproximação da comunidade

Imagine que você está acessando pela primeira vez o serviço de


saúde e, no momento da triagem, o profissional que lhe atendeu
está com uma expressão sisuda, não realizou nenhum contato visual, falou
baixo, em um ritmo pausado durante todo o atendimento. Além disso, ele olhava
demasiadamente para o relógio, e mexia no computador enquanto você fazia
o seu relato. Esse cenário com certeza não é acolhedor e fará você se retrair e
não compartilhar mais fatos que poderiam ser importantes no seu atendimento.
Além disso, a chance de você voltar para o serviço de saúde diminui, pois não
aconteceu nenhuma ligação entre o profissional de saúde e o usuário.

Isso não significa que a linguagem verbal não seja importante, uma vez
que ela se refere à troca de informações que possuem a base na fala e no
diálogo. Como essa é uma característica comum a quase todas as pessoas,
imagina-se se que não existam maneiras de treiná-la e torná-la adequada
para o contexto da educação em saúde (CAMPOS; LEÃO; DOHMS, 2021).
Lucas (2014) aponta quatro habilidades importantes para uma boa comu-
nicação, descritas a seguir.

„„ Organizar as ideias de maneira lógica: saber organizar as ideias de


maneira clara, lógica e objetiva é uma das habilidades necessárias
para que aconteça uma boa comunicação. Isso porque a informação
que está sendo passada necessita ser clara, não deixando dúvidas
interpretativas. Além disso, ter determinado com clareza os pontos
que é necessário comunicar e qual o objetivo da fala é extremamente
importante.
„„ Adaptar a mensagem ao público: antes de tudo, é necessário saber
para quem você está falando. São adultos? Crianças? Adolescentes?
Qual o grau de instrução das pessoas com quem irá falar? Muitas vezes,
essa habilidade é crucial para a realização correta de um tratamento
ou para compreensão da comorbidade que o sujeito possui. Eu não
posso falar para uma pessoa que não tem formação na área da saúde,
idosa e analfabeta, sobre sua situação de saúde com termos clínicos
e técnicos que ela não compreende e esperar que ela assimile toda a
informação que foi apresentada a ela. Adequar o linguajar e o modo de
falar conforme a população que está sendo atendida é extremamente
importante, não apenas para o entendimento daquele que escuta, mas
também para manter o vínculo (porque a pessoa consegue compreender
e é compreendida pelo profissional de saúde).
Educação em saúde: uma aproximação da comunidade 11

„„ Utilizar de histórias e exemplos práticos: construir uma narrativa in-


teressante, que chame a atenção do ouvinte é uma boa estratégia
para abordar um assunto. Você pode, por exemplo, explicar o que é
a osteoporose de uma maneira técnica e conceitual, ou contar uma
história na qual existe um sujeito que não é fisicamente ativo, consome
pouco cálcio e está envelhecendo, mostrando o que vai acontecendo
com o seu tecido ósseo e como é possível melhorar o quadro. Essa
estratégia costuma prender a atenção das pessoas para quem você
fala, pois as permite visualizar o que você está falando. Além disso, usar
exemplos adequados para a população com quem você se comunica
também é importante. Se você está falando com adolescentes, utilizar
exemplos que envolvam discos de vinil e selos de cartas não irá fazer
sentido, pois não é do dia a dia dessa população.
„„ Ouvir o feedback: aqui falamos o ouvir o que as demais pessoas es-
tão falando. Se falaram que não compreenderam, se no momento da
conversa elas trazem alguma situação que pode ser utilizada como
um exemplo ou ponto de partida para uma discussão. Estar atento ao
que todos estão falando é fundamental para que uma comunicação
de qualidade aconteça.

Você está fazendo uma ação educativa em saúde em uma Estra-


tégia da Saúde da Família (ESF) em uma comunidade periférica,
falando com adultos que possuem lesão por esforço repetitivo (LER). Repare
na fala: "Boa tarde, não bom dia (risos). Então... estamos aqui hoje para falar
sobre LER... vocês sabem que muitas pessoas têm LER né? Nossa, de tanto ficar
digitando prontuário no computador meu ombro estourou, e não tem jeito de
melhorar, ai já viu né?. Tá, vocês sabem que dá pra evitar isso aí, né? É só não
ficar fazendo muito tempo a mesma coisa, fazer uns alongamentos e exercícios...
vamos fazer agora?... ah, não, tem que fazer, vamos lá...". Podemos dizer que essa
intervenção, ainda que adequada ao nível de entendimento da população, traz
exemplos cotidianos, mas não é clara e não atinge o objetivo que é informar
sobre a doença. Não explicou sobre o assunto (apenas falou a sigla), não teve
organização dos pensamentos. Além disso, não permitiu a troca, nem ouviu o
feedback dos participantes.

O educador em saúde representa um papel importante na comunidade,


principalmente quando observamos o cenário da atenção primária, no qual
os vínculos são mais fortes, visto a proximidade do serviço de saúde da
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comunidade. no entanto, não podemos esperar que apenas a proximidade


física e a facilidade de acesso à UBS formem tais relações.
Sendo assim, reconhecer as diferentes linguagens, colocando-se em um
lugar de escuta, empatia e respeito com o usuário do serviço de saúde é
extremamente importante, criando uma comunicação eficiente, pautada no
diálogo, por meio da qual se tem abertura tanto para falar como para ouvir as
informações acerca da saúde. atua como um ponto central para o sucesso das
ações educativas em saúde e de toda a prática terapêutica realizada dentro
da rede de atenção à saúde.

Referências
BARROS, I. C. A importância da estratégia da saúde da família: contexto histórico. 2014.
Monografia (Especialização em Atenção Básica) — Curso de Especialização em Atenção
Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais, Teófilo Otoni, 2014.
Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/4357.pdf.
Acesso em: 24 maio 2021.
CAMPOS, C. F. C.; LEÃO, J.; DOHMS, M. Comunicação clínica efetiva. In: DOHMS, M.;
GUSSO, G. (org.). Comunicação clínica: aperfeiçoando os encontros em saúde. Porto
Alegre: Artmed, 2021. (E-pub).
COMUNICAR. In: DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA MICHAELIS, c2021b.
Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=comunicar.
Acesso em: 24 maio 2021.
CREVELIM, M. A.; PEDUZZI, M. Participação da comunidade na equipe de saúde da
família: é possível estabelecer um projeto comum entre trabalhadores e usuários?
Ciência Saúde Coletiva, v. 10, nº 2, p. 323-331, 2005.
FARRE, A. G. M. da C. et al. Promoção da saúde do adolescente baseada na arte/edu-
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Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reben/v71n1/pt_0034-7167-reben-71-01-0026.
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FERREYRA, E. N. A linguagem oral na educação de adultos. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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KIDD, M. A contribuição da medicina de família e comunidade para os sistemas de
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LINGUAGEM. In: DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA MICHAELIS, c2021a.
Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
-brasileiro/linguagem/. Acesso em: 24 maio 2021.
LUCAS, S. E. A arte de falar em público. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. (E-book).
MACHADO, M. de F. A. S. et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde
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p. 335-342, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v12n2/a09v12n2.pdf.
Acesso em: 24 maio 2021.
Educação em saúde: uma aproximação da comunidade 13

RAMOS, A. P.; BORTAGARAI, F. M. A comunicação não-verbal na área da saúde. Revista


CEFAC, v. 14, nº 1, p. 164-170, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rcefac/
v14n1/186_10.pdf. Acesso em: 24 maio 2021.

Leitura recomendada
ASEN, E. et al. 10 Minutos para a família: intervenções sistêmicas em atenção primária
à saúde. Porto Alegre: Artmed, 2012. (E-book).

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res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
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