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INTRODUÇÃO
A história das conquistas, dos avanços, das dificuldades e dos desafios em relação
à promoção da saúde no Brasil, vem sendo construída ao longo de décadas e perpassa
por conceitos relacionados aos programas, ações, projetos, agentes comunitários de
saúde, dentre outros, os quais formam uma imensa rede interligada e ao mesmo tempo,
descentralizada.
Caso o interesse deste trabalho fosse somente analisar a trajetória da saúde no
Brasil, o correto seria remontar a 1500, quando os primeiros portugueses aportaram em
terras tupiniquins trazendo as novidades do velho continente, o que daria sem dúvida, um
belo trabalho de história da saúde, falaremos brevemente sobre os tempos da colônia
fazendo um recorte no tempo e assim remontar-se-á somente uns 50 anos atrás quando os
indicadores de saúde começaram a registrar progressos e mesmo quando iniciou-se o
processo de implementação da nova saúde pública. Ao longo desse meio século, dentre
outros elementos, encontram-se que a esperança de vida média do brasileiro aumentou
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sociedade. A atuação do Estado e dos médicos tem como objetivo evitar a morte
(MACHADO, 1978).
O século XIX assinala para o Brasil o início de um processo de transformação
política e econômica que atinge igualmente o âmbito da medicina, inaugurando duas de
suas características, que têm vigorado até o presente: a penetração da medicina na
sociedade, que incorpora o meio urbano como alvo da reflexão e da prática médica, e
a situação da medicina como apoio científico indispensável ao exercício de poder
do Estado. Nasce um tipo específico de medicina que pode ser chamada de medicina
social (MACHADO, 1978).
Efetivamente, somente no século XX, iniciam-se políticas de saúde para enfrentar
o quadro sanitário existente no País.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808 determinou mudanças na
administração pública colonial, até mesmo na área da saúde. Como sede provisória do
Império português e principal porto do País, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se centro
das ações sanitárias. Era necessário, então, criar rapidamente centros de formação de
médicos, que até então eram quase inexistentes em razão, em parte, da proibição de ensino
superior nas colônias. Assim, por ordem real, foram fundadas as Academias médico-
cirúrgicas, no Rio de Janeiro e na Bahia, na primeira década do século XIX, logo
transformadas nas duas primeiras escolas de medicina do País.
Por volta de 1829, foi criada a Junta de Higiene Pública, que se mostrou pouco
eficaz e, apesar de várias reformulações, não alcançou o objetivo de cuidar da saúde da
população. No entanto, é o momento em que instâncias médicas assumem o controle
das medidas de higiene pública. Seu regulamento é editado em 20 de setembro de 1851
e a transforma em Junta Central de Higiene Pública. Tem como objetivo a inspeção da
vacinação, o controle do exercício da Medicina e a polícia sanitária da terra, que engloba
a inspeção de alimentos, farmácias, armazéns de mantimentos, restaurantes, açougues,
hospitais, colégios, cadeias, aquedutos, cemitérios, oficinas, laboratórios, fabricas e, em
geral, todos os lugares de onde possa provir danos à saúde pública (MACHADO, 1978).
Até 1850, as atividades de saúde pública estavam limitadas a: i) delegação das
atribuições sanitárias às juntas municipais; e ii) controle de navios e saúde dos portos.
Verifica-se que o interesse primordial estava limitado ao estabelecimento de um
controle sanitário mínimo da capital do Império, tendência que se alongou por quase um
século.
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A Junta não resolveu os problemas de saúde pública. Mas, embora não tenha
destruído as epidemias, ela marca uma nova etapa na organização da higiene pública no
Brasil. Essa forma é que será mantida durante o século XIX.
A fase Imperial da história brasileira encerrou-se sem que o Estado
solucionasse os graves problemas de saúde da coletividade. Tentativas foram feitas, mas
sem os efeitos desejados.
Com a proclamação da República em 1889, foi embalada a ideia de modernizar o
Brasil. A necessidade urgente de atualizar a economia e a sociedade, escravistas até pouco
antes, com o mundo capitalista mais avançado favoreceu a redefinição dos trabalhadores
brasileiros como capital humano. Essa ideia tinha por base o reconhecimento de que as
funções produtivas são as fontes geradoras da riqueza das nações. Assim, a capacitação
física e intelectual dos operários e dos camponeses seria o caminho indicado para alterar
a história do País, considerado no exterior como “região bárbara”. Nesse contexto, a
medicina assumiu o papel de guia do Estado para assuntos sanitários, comprometendo-se
a garantir a melhoria da saúde individual e coletiva e, por extensão, a defesa do projeto
de modernização do País (BERTOLLI FILHO, 2004).
País predominantemente rural, com um contingente de analfabetos estimado em
70% no censo de 1920 – analfabetos e doentes, como apregoou os que se engajaram no
movimento sanitarista da época –, este era o Brasil das três primeiras décadas do século
XX. Naquele contexto, emergia a questão social associada às primeiras manifestações
operárias urbanas, com intensos conflitos entre capital e trabalho acompanhados de
violenta repressão e ausência de canais legais de articulação de interesses.
No âmbito das políticas sociais, pela Constituição de 1891, cabia aos estados a
responsabilidade pelas ações de saúde, de saneamento e de educação.
As políticas de saúde, cujo início efetivo pode ser indicado em fins da década de
1910, encontravam-se associadas aos problemas da integração nacional e à consciência
da interdependência gerada pelas doenças transmissíveis. Foi o resultado do encontro de
um movimento sanitarista, organizado em torno da proposta de políticas de saúde e
saneamento, com a crescente consciência por parte das elites políticas sobre os efeitos
negativos do quadro sanitário existente no País (LIMA, 2005).
A falta de um modelo sanitário para o País deixava as cidades brasileiras à mercê
das epidemias. No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro
sanitário caótico caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam
à população, como a varíola, a malária, a febre amarela e, posteriormente, a peste. Este
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quadro acabou gerando sérias consequências, tanto para a saúde coletiva quanto para
outros setores como o do comércio exterior, visto que os navios estrangeiros não mais
queriam atracar no porto do Rio de Janeiro em razão da situação sanitária existente na
cidade.
A incorporação dos novos conhecimentos clínicos e epidemiológicos às práticas
de proteção da saúde coletiva levaram o governo republicanos, pela primeira vez na
história do País, a elaborar minuciosos pianos de combate às enfermidades que reduziam
a vida produtiva, ou útil, da população. Diferentemente dos períodos anteriores, a
participação do estado na área da saúde tornou-se global: não se limitava às épocas de
surto epidêmico, mas estendia-se por todo o tempo e a todos os setores da sociedade.
A contínua intervenção estatal nas questões relativas à saúde individual e coletiva
revela a criação de uma “política de saúde”.
A atenção para as epidemias nas cidades, como a de peste bubônica em 1899, no
porto de Santos, esteve na origem da criação, em 1900, das duas principais instituições
de pesquisa biomédica e saúde pública do País: o Instituto Soroterápico Federal –
transformado posteriormente em Instituto Oswaldo Cruz (1908) e Fundação Oswaldo
Cruz (1970), no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantã, em São Paulo. Nessas instituições,
uma nova geração de médicos, formados segundo o paradigma da bacteriologia e
influenciados pela pesquisa científica praticada na França e na Alemanha, começaria a
exercer forte influência nas concepções sobre as doenças transmissíveis e nas propostas
de ações em saúde pública (LIMA, 2005).
Além de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva e Vital
Brasil, entre outros, destacaram-se na definição de rumos para a saúde pública e na
criação de instituições.
Um ativo movimento de Reforma Sanitária emergiu no Brasil durante a Primeira
República, sob a liderança da nova geração de médicos higienistas, que alcançou
importantes resultados. Entre as conquistas, destaca-se a criação do Departamento
Nacional de Saúde Pública (DNSP), em 1920. Durante a Primeira República, foram
estabelecidas as bases para a criação de um Sistema Nacional de Saúde, caracterizado
pela concentração e pela verticalização das ações no governo central (CONASS, 2007).
As medidas de proteção social e, em particular, a assistência médica só viriam a
ter um reconhecimento legal como política pública com a aprovação da Lei Elói Chaves,
de 1923, resultado do crescente impacto do que passou a ser definido como a questão
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Previdência e Assistência Social), o que fazia com que não se estabelecesse um comando
único em cada esfera de governo.
os quais estava Sérgio Arouca, foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”
(FIOCRUZ, 2009).
Apesar disso, o grupo não se constituía como partido, sua mobilização era mais
ampla, sendo considerada uma ação social. Em uma dissertação de mestrado orientada
por Arouca em 1986, “Reviravolta na saúde: origem e articulação do movimento
sanitário”, a atuação desse grupo foi chamada pela primeira vez de movimento sanitário.
Surgiram, também, outras denominações, como “movimento pela reforma sanitária” e
“movimento da reforma sanitária”.
Considerado “o eterno guru da Reforma Sanitária”, Sérgio Arouca costumava
dizer que o movimento da reforma sanitária nasceu dentro da perspectiva da luta contra a
ditadura. Existia uma ideia clara na área da saúde de que era preciso integrar as duas
dimensões: ser médico e lutar contra a ditadura. Os departamentos de Medicina
Preventiva da Universidade de São Paulo e da Universidade de Campinas e o Instituto de
Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro eram os espaços adequados
para isso.
Esses locais abriram brechas para a entrada do novo pensamento sobre a saúde,
lançado pelo movimento da reforma sanitária. Essa mudança começou no final dos anos
60 e início dos 70 – o período mais repressivo do autoritarismo no Brasil – quando
se constituiu a base teórica e ideológica do pensamento médico- social, também
chamado de abordagem marxista da saúde e teoria social da medicina (FIOCRUZ,
2009).
A forma de olhar, pensar e refletir o setor saúde nessa época era muito concentrada
nas ciências biológicas e na maneira como as doenças eram transmitidas. Há uma primeira
mudança quando as teorias das ciências sociais começam a ser incorporadas. Essas
primeiras teorias, no entanto, estavam muito ligadas às correntes funcionalistas, que
olhavam para a sociedade como um lugar que tendia a viver harmonicamente e
precisava apenas aparar arestas entre diferentes interesses. A grande virada da
abordagem da saúde foi a entrada da teoria marxista, o materialismo dialético e o
materialismo histórico, que mostra que a doença está socialmente determinada.
No Brasil, duas teses são consideradas um marco divisor de águas que dá início à
teoria social da medicina: O dilema preventivista, de Sérgio Arouca, e Medicina e
sociedade, de Cecília Donnangelo, ambas de 1975. A partir daí, pode-se dizer que foi
fundada uma teoria médico-social para análise de como as coisas se processam no campo
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A ideia era fazer isso pelas conferências de saúde (que na época eram
espaços burocráticos) convidando a sociedade para discutir e participar. A VIII
Conferência Nacional de Saúde reuniu, pela primeira vez, mais de quatro mil pessoas, das
quais 50% eram usuários da saúde. A partir da conferência, saiu o movimento pela
emenda popular, a primeira emenda constitucional que nasceu do movimento social.
Esse é considerado o maior sucesso da reforma sanitária.
Entre os resultados do movimento pela reforma sanitária, tem-se a conquista da
universalização na saúde (o principio constitucional que estabelece que todo brasileiro
tenhamos direito à saúde), definindo com clareza o dever do Estado e a função
complementar da saúde privada; a ideia de que a saúde deve ser planejada com base nas
conferências; a formalização dos Conselhos de Saúde como parte do SUS, tendo 50% de
usuários; e a formação da Comissão Nacional da Reforma Sanitária, que transformou o
texto da constituinte na Lei Orgânica 8080 (FIOCRUZ, 2009).
Vinte anos depois de iniciado o movimento da reforma sanitária, vários autores,
entre eles Cohn (2009) coloca em debate a necessidade de uma reforma da reforma
sanitária ou contrarreforma por inúmeros motivos, dentre eles o fato de que embora seja
propagado em discurso o desenvolvimento com dimensão social, há enorme dificuldade
de se reconhecer investimentos na área social como geradores de dinâmicas econômicas
virtuosas, quer do ponto de vista de geração de empregos, quer do ponto de vista de
geração de novos circuitos econômicos que não aqueles circunscritos ao grande capital,
em particular ao capital financeiro.
Outro ponto que merece debate são os novos conceitos que surgem naturalmente
no decorrer dos anos como, por exemplo, o conceito de SUS dependente que remete à
exclusão social, uma vez que se refere àqueles sujeitos sociais que não têm acesso à
atenção à saúde que não seja por meio dos serviços públicos de saúde, quando o SUS se
propõe a ser universal e equânime (COHN, 2009).
Para Fleury (2009) as opções pelo fortalecimento das políticas públicas e
construção das bases de um Estado do Bem-estar Social foram vistas como prioritárias,
unificando as demandas dos setores mais progressistas, assim, a construção de um projeto
de reforma sanitária foi parte das lutas de resistência à ditadura e ao seu modelo de
privatização dos serviços de saúde da Previdência Social e pela construção de um Estado
democrático social.
Embora necessite de reflexões e debates no contexto da atualidade, não há dúvidas
dos benefícios e conquistas da reforma sanitária para a população de maneira geral.
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as impressões, sentidos e significados que vão sendo dados ao mundo, de uma maneira
mais geral, e às condições materiais que se dispõe, de uma forma mais específica.
• Cura e cuidado: o cuidado implica na compreensão do ser humano nos seus
direitos, na sua especificidade, na sua integralidade. Orientar-se pelo cuidado é romper
com a lógica de formação excessivamente baseada na hegemonia biomédica, no
autoritarismo das relações, no poder construído a partir de um saber que silencia outros e
coisifica os sujeitos.
Mobilização da comunidade: uma estratégia de promoção da saúde que vise a
mobilização e o incremento da ação comunitária precisa considerar este imaginário e
trabalhar as representações sociais sobre saúde e doença da população de forma a
minimizar a distância entre os saberes populares e os científicos, entre as concepções
leiga e técnica sobre saúde. Ela precisa partir da construção de um projeto que se volta
para a melhoria das condições materiais de vida e de saúde das comunidades, que se
implementará cotidianamente, concretamente, na organização e no fortalecimento
dos setores populares, governamentais e da sociedade civil e no fortalecimento da relação
participativa da comunidade com o serviço de saúde A promoção da saúde visa trabalhar
através de ações comunitárias concretas e efetivas no desenvolvimento de prioridades, na
tomada de decisão, na definição de estratégias e na sua implementação, visando a
melhoria das condições de saúde.
Segundo Brasil (2007) um dos fatos da promoção da saúde está relacionado a
sustentabilidade das cidades, o maior desafio de saúde ambiental que os países das
Américas terão que enfrentar no próximo século, o que faz com que a saúde da população
e a qualidade ambiental do planeta, sejam vistos e abordados de maneira indissociável.
A estratégia é a de valorizar os esforços de cidadania e orientar o desenvolvimento
de uma nova cultura que reconheça os direitos ambientais e da saúde como reivindicações
sociais e necessárias para melhorar o bem estar da população. Cidades e comunidades
saudáveis permitem fortalecer a execução das atividades de promoção da saúde como a
mais alta prioridade dentro de uma agenda política local. Uma cidade saudável, na
definição da OMS, “... é aquela que coloca em prática de modo contínuo a melhoria de
seu meio ambiente físico e social utilizando todos os recursos de sua comunidade”.
Portanto, considera-se uma cidade ou município saudável aquele em que os seus
dirigentes municipais enfatizam a saúde de seus cidadãos dento de uma ótica ampliada
de qualidade de vida. Os principais pilares de uma iniciativa de municípios/ cidades
saudáveis são a ação intersetorial e a participação social.
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REFERÊNCIAS
http://www.ineves.com.br