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Curso: Medicina

Disciplina: Pinesf
Profa: Núbia
Acadêmico: Wender

História da Políticas Públicas de Saúde no Brasil

A história das políticas públicas de saúde no Brasil é marcada por profundas transformações,
refletindo as mudanças socioeconômicas e políticas do país. Desde iniciativas isoladas no período colonial
até a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988, a trajetória da saúde pública
brasileira é um reflexo do esforço contínuo para universalizar o acesso à saúde e garantir direitos básicos à
população. Aqui está um resumo dessa evolução:

Período Colonial e Império

Período Colonial: A assistência à saúde era principalmente caritativa, realizada por instituições
religiosas. Não havia políticas públicas de saúde estruturadas.
Século XIX: Com o surto de epidemias (como febre amarela, varíola e peste bubônica), iniciaram-se
as primeiras políticas sanitárias no Brasil Império, focadas no controle de doenças e na criação de
infraestrutura de saneamento básico.

Os boticários

Eles desempenharam um papel fundamental na história da saúde pública, especialmente antes do


desenvolvimento e da consolidação dos sistemas de saúde modernos. Originários de uma época em que a
profissão médica e a farmacêutica não eram claramente diferenciadas, os boticários eram os profissionais
que preparavam, armazenavam e vendiam medicamentos, além de oferecerem conselhos médicos aos
seus clientes. Este papel era especialmente crítico em períodos e locais onde médicos eram escassos ou
inacessíveis para a maioria da população.
Os boticários tinham lojas, conhecidas como boticas, onde produziam e vendiam remédios
preparados a partir de plantas, minerais e, ocasionalmente, de partes de animais.
Contribuições à Saúde Pública
1. Acesso a Medicamentos: Os boticários tornaram os medicamentos mais acessíveis à população,
especialmente em áreas rurais ou remotas.
2. Conhecimento Farmacêutico: Eles possuíam um vasto conhecimento sobre as propriedades das
substâncias usadas nos medicamentos, contribuindo para o desenvolvimento farmacêutico.
3. Conselhos Médicos: Frequentemente, ofereciam conselhos médicos e realizavam pequenos
procedimentos, funcionando como uma linha de frente no atendimento à saúde.
4. Inovação em Medicamentos: Muitos boticários experimentavam com novas fórmulas e técnicas
de preparo de medicamentos, contribuindo para o avanço da farmacologia.
Os boticários, com seu profundo conhecimento de ingredientes naturais e técnicas de preparo,
deixaram um legado duradouro no campo da saúde, contribuindo para o desenvolvimento da farmácia
moderna e, por extensão, para o avanço da medicina como a conhecemos hoje.

Primeira República (1889-1930)

Criação das CAPs (Caixas de Aposentadorias e Pensões): Em 1923, a Lei Eloy Chaves estabeleceu as
bases para o primeiro sistema previdenciário brasileiro, dando início à organização das políticas de saúde
voltadas para trabalhadores urbanos.
As Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) foram os primeiros organismos de previdência social
no Brasil, surgindo no início do século XX, antes da criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões
(IAPs). Instituídas a partir de 1923 com a Lei Eloy Chaves, as CAPs marcaram o início da organização formal
da previdência social brasileira.

CAPs

As CAPs eram vinculadas a empresas ou grupos de empresas de setores específicos, como ferrovias,
portos e indústrias. Cada CAP era responsável por um grupo específico de trabalhadores.
O sistema de financiamento das CAPs era tripartite, envolvendo contribuições dos trabalhadores,
das empresas e do governo. Este modelo de financiamento compartilhado se tornaria uma característica
persistente nos sistemas subsequentes de previdência social no Brasil.
Os benefícios oferecidos pelas CAPs incluíam aposentadorias por idade ou invalidez e pensões por
morte, mas eram limitados aos trabalhadores das empresas ou setores específicos associados a cada caixa.
A cobertura era, portanto, bastante fragmentada e não abrangia a totalidade da força de trabalho.
A gestão das CAPs era realizada por representantes dos empregadores e dos empregados, com
alguma supervisão governamental.
As CAPs representaram um avanço significativo na época, pois introduziram a noção de proteção
social organizada e financiada coletivamente, reconhecendo a responsabilidade do empregador e do
Estado pelo bem-estar dos trabalhadores. No entanto, o modelo apresentava limitações, como a
fragmentação da cobertura e a desigualdade no acesso aos benefícios.
Transição para os IAPs

Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas iniciou um processo de reforma e expansão da


previdência social, que culminaria na criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). Os IAPs
buscavam superar as limitações das CAPs, ampliando a cobertura previdenciária e unificando a gestão dos
benefícios. Cada IAP era responsável por um segmento da população economicamente ativa, não mais
limitado a empresas específicas, mas abrangendo categorias profissionais inteiras.

Era Vargas (1930-1945

Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas iniciou um processo de reforma e expansão da


previdência social, que culminaria na criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). Os IAPs
buscavam superar as limitações das CAPs, ampliando a cobertura previdenciária e unificando a gestão dos
benefícios. Cada IAP era responsável por um segmento da população economicamente ativa, não mais
limitado a empresas específicas, mas abrangendo categorias profissionais inteiras.
Criação do Ministério da Educação e Saúde: Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde,
precursor do atual Ministério da Saúde, centralizando as políticas de saúde.

Período Democrático e Ditadura Militar (1945-1985)

Sistema Nacional de Saúde (SNS): Propostas nos anos 60 para um sistema unificado de saúde não
foram adiante devido ao golpe militar de 1964.
INPS (Instituto Nacional de Previdência Social): Em 1966, durante o regime militar, o INPS foi criado,
consolidando os IAPs em uma única entidade. Apesar de expandir a cobertura previdenciária, o sistema era
criticado por sua ineficiência e corrupção.
Movimento da Reforma Sanitária: Nas décadas de 1970 e 1980, emergiu um movimento social e
político que defendia a saúde como direito universal e a criação de um sistema unificado de saúde.

Oitava Conferência Nacional de Saúde

Realizada em 1986, foi um evento histórico e decisivo para a saúde pública no Brasil. Pela primeira
vez, a conferência foi aberta à participação da sociedade civil, reunindo profissionais de saúde,
representantes do governo, e membros de organizações sociais e movimentos populares. Esse amplo
espectro de participantes refletiu a crescente democratização do país e o fortalecimento do movimento da
reforma sanitária brasileira.
O Brasil estava em um processo de redemocratização após duas décadas de regime militar. Nesse
período, emergiu um forte movimento social que reivindicava a saúde como direito de todos e a
reformulação do sistema de saúde, até então fragmentado e ineficiente, marcado por profundas
desigualdades no acesso aos serviços.
Principais Contribuições e Resultados:

A conferência consolidou o entendimento da saúde como um direito fundamental do ser humano,


indo além da ausência de doenças e englobando o bem-estar físico, mental e social.
Foram estabelecidos como princípios do sistema de saúde, orientando que o acesso aos serviços de
saúde deveria ser garantido a todos, sem qualquer tipo de discriminação, e de forma integral e equitativa.
A conferência recomendou a descentralização da gestão da saúde, com maior participação dos
estados e municípios, buscando aproximar a gestão das necessidades da população local.
Enfatizou-se a importância da participação da comunidade na formulação, gestão e avaliação das
políticas de saúde, reconhecendo o papel central da sociedade civil na vigilância dos direitos à saúde.
Outro ponto crucial discutido foi a necessidade de um financiamento adequado e estável para o
sistema de saúde, que deveria ser responsabilidade do Estado.
As deliberações da Oitava Conferência Nacional de Saúde tiveram um impacto profundo na
formulação da política de saúde no Brasil. Elas serviram como base para a criação do Sistema Único de
Saúde (SUS), instituído pela Constituição Federal de 1988. O SUS incorporou os princípios de
universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação popular, transformando
radicalmente o cenário da saúde pública no Brasil.

A Constituição Federal de 1988

Representa um marco na história das políticas públicas de saúde no Brasil, estabelecendo as bases
para uma profunda reestruturação do sistema de saúde e consolidando a saúde como direito universal.
Após anos de debates intensos, mobilizações sociais e o trabalho incansável de ativistas da reforma
sanitária, a nova Constituição refletiu um consenso emergente sobre a necessidade de garantir a saúde
como um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado.
A Constituição definiu a saúde não apenas como um direito básico de todos os brasileiros, mas
também como um dever do Estado, garantindo assim a universalidade do acesso aos serviços de saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado com o objetivo de unificar o sistema de saúde brasileiro,
tornando-o mais equitativo e acessível. O SUS se baseia em princípios de universalidade, integralidade,
equidade, descentralização e participação popular na gestão.
A Constituição estabeleceu que o financiamento do sistema de saúde deveria ser compartilhado
entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, assegurando recursos adequados para o
funcionamento do SUS.
Introduziu o conceito de controle social na gestão da saúde, com a criação de conselhos de saúde
em todos os níveis (municipal, estadual e federal), compostos por representantes do governo, profissionais
de saúde e usuários dos serviços, fortalecendo a participação da sociedade civil na formulação e na
fiscalização das políticas de saúde.
A promulgação da Constituição de 1988 e a subsequente implementação do SUS transformaram
radicalmente o cenário da saúde pública no Brasil. Antes fragmentado, excludente e centrado nos que
podiam pagar por serviços privados ou eram cobertos por sistemas previdenciários limitados, o sistema de
saúde brasileiro passou a se orientar pelos princípios de universalidade e integralidade.

O Sistema Único de Saúde (SUS)

É o sistema público de saúde do Brasil, criado pela Constituição Federal de 1988, que estabeleceu a
saúde como um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado. Inaugurado oficialmente em 1990, o
SUS é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, oferecendo serviços gratuitos que vão desde
consultas médicas e tratamentos especializados até transplantes e medicamentos.
O SUS é regido por princípios fundamentais que orientam sua organização, funcionamento e
gestão:
 Garante acesso a todos os brasileiros a todos os serviços de saúde, sem qualquer discriminação ou
pré-requisito.
 Oferece atendimento completo, abrangendo desde a prevenção e o tratamento até a reabilitação,
em todos os níveis de complexidade do sistema.
 Assegura que o atendimento seja feito de acordo com as necessidades de saúde de cada indivíduo,
buscando reduzir desigualdades.
 Promove uma gestão compartilhada entre União, estados, Distrito Federal e municípios, com
direção única em cada esfera de governo.
 Estabelece a inclusão da comunidade na formulação de políticas de saúde e no controle das ações e
serviços através dos conselhos de saúde.

O SUS é financiado por recursos provenientes dos três níveis de governo: federal, estadual e
municipal. A gestão dos recursos e dos serviços de saúde é descentralizada, permitindo que as ações e
serviços sejam adaptados às necessidades e especificidades de cada região.
O SUS abrange uma vasta gama de serviços, incluindo:
 Atenção primária à saúde, através das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e do Programa Saúde da
Família (PSF).
 Serviços de urgência e emergência.
 Atendimento especializado, como consultas com especialistas e cirurgias.
 Exames diagnósticos e tratamentos.
 Programas de prevenção e controle de doenças.
 Campanhas de vacinação.
Apesar de seus princípios e conquistas, o SUS enfrenta diversos desafios, como:

 Financiamento insuficiente e mal distribuído.


 Dificuldades de gestão e eficiência.
 Desigualdades regionais no acesso e na qualidade dos serviços.
 Demanda crescente por serviços de saúde devido ao envelhecimento da população e ao aumento
de doenças crônicas.
O SUS é responsável por inúmeras conquistas na saúde pública brasileira, incluindo a erradicação
de doenças como a poliomielite, a expansão significativa do acesso à saúde, a implementação de políticas
de saúde mental e de atenção à saúde indígena, e o desenvolvimento de um extenso programa de
transplantes.

As Leis Orgânicas da Saúde

São normativas fundamentais que regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil,
detalhando os preceitos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. São duas as principais leis que
estruturam o SUS: a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990.

Lei nº 8.080/1990

Esta lei dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Ela estabelece:
O modelo de gestão do SUS, baseado em princípios como descentralização, atendimento integral, e
participação da comunidade.
As competências e atribuições específicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios na prestação de serviços de saúde.
Os critérios para a divisão dos recursos destinados à saúde, buscando garantir um financiamento
adequado e equitativo do sistema.
Diretrizes para a atuação do setor privado na saúde pública, definindo como este deve
complementar o SUS.
A criação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e do Sistema Nacional de Sangue,
Componentes e Derivados, estabelecendo normas para a segurança e o controle sanitário em todo o país.

Lei nº 8.142/1990

A Lei nº 8.142 complementa a Lei nº 8.080 ao estabelecer formas de participação da comunidade


na gestão do SUS e as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Seus
pontos principais incluem:
A criação de conferências de saúde e conselhos de saúde como instâncias colegiadas de
participação social, que devem ser compostas por representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, com atuação em âmbito federal, estadual e municipal.
Estabelece que os recursos do Fundo Nacional de Saúde sejam alocados como despesas de custeio
e investimento na rede de saúde, seguindo diretrizes como a descentralização e os planos de saúde
definidos pelas conferências de saúde.
Determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem investir em saúde
públicas percentuais mínimos de seus orçamentos, garantindo financiamento estável para o SUS.
As Leis Orgânicas da Saúde são cruciais para o funcionamento do SUS, pois elas detalham a
operacionalização dos princípios constitucionais da saúde, orientando a estruturação, o financiamento e a
gestão do sistema de saúde público no Brasil. Elas também reforçam a ideia de que a saúde é um direito de
todos e um dever do Estado, estabelecendo um marco legal para a universalização do acesso à saúde de
qualidade. Além disso, essas leis promovem a democratização da gestão da saúde, através da participação
social, garantindo que a população tenha voz ativa nas políticas de saúde.

Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUDS

É um modelo organizacional que busca combinar a coordenação e padronização em nível nacional


(unificação) com a autonomia e a capacidade de decisão a níveis mais locais (descentralização). Este
modelo tem como objetivo otimizar a prestação de serviços de saúde, garantindo que eles sejam acessíveis,
eficientes e adaptados às necessidades específicas das diferentes comunidades. Aqui estão alguns aspectos
chave desse tipo de sistema:
As diretrizes e políticas de saúde são estabelecidas em nível nacional para garantir uniformidade
nos padrões de qualidade, acessibilidade e equidade no acesso aos serviços de saúde.
O financiamento pode ser coletado e distribuído a partir de um nível central, garantindo que os
recursos sejam alocados de acordo com as necessidades e prioridades nacionais, ao mesmo tempo em que
se busca a equidade na distribuição dos recursos.
Um sistema de informação de saúde unificado permite o compartilhamento de dados e
informações entre diferentes regiões e níveis de atendimento, facilitando o monitoramento, a avaliação e a
tomada de decisões baseadas em evidências.
Descentralização

Os governos locais ou regionais têm autonomia para gerir os recursos, adaptar as políticas
nacionais às necessidades locais e implementar programas específicos que atendam às demandas da
população local.
A descentralização favorece a participação da comunidade no planejamento e na gestão dos
serviços de saúde, permitindo que as decisões reflitam melhor as necessidades e preferências locais.
As unidades de saúde locais podem ter maior flexibilidade na gestão de recursos humanos,
financeiros e materiais, permitindo uma resposta mais rápida e eficaz aos desafios e mudanças no contexto
da saúde local.
Vantagens:

 Maior responsividade às necessidades de saúde locais.


 Aumento da eficiência na alocação de recursos.
 Fortalecimento da governança e da participação comunitária na saúde.
Desafios:

 Risco de desigualdades regionais devido a diferenças na capacidade de gestão e recursos


disponíveis.
 Dificuldades na coordenação e comunicação entre os diferentes níveis de governo.
 Necessidade de sistemas de monitoramento e avaliação robustos para garantir a qualidade e a
efetividade dos serviços em diferentes regiões.
Um exemplo notável de um sistema unificado e descentralizado é o Sistema Único de Saúde (SUS)
no Brasil, que foi projetado para combinar diretrizes nacionais com a gestão e execução descentralizadas
dos serviços de saúde. Este modelo procura equilibrar os benefícios da padronização e coordenação
nacional com a flexibilidade e adequação local, enfrentando, no entanto, os desafios inerentes à
implementação e ao funcionamento efetivo em uma nação diversificada e extensa.

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