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Saúde Coletiva - Roteiro de estudos 1º Bimestre

Aluna: Anna Bárbara Mocelin


RA: 50260-2021
Professor: Eduardo Chierrito

1. Na dimensão histórica, a construção da saúde coletiva brasileira esteve nas mãos


de movimentos sociais, com a participação de populares, médicos, pesquisadores e outros
agentes. Entende-se que a conquista do Sistema Único de Saúde se dá pela força das frentes
sociais brasileiras por uma saúde enquanto direito. Nesse cenário, considerando os
determinantes históricos, evidencie a transição e as características básicas dos seguintes
períodos:
a) A primeira república;
b) A era Vargas (provisório e redemocratização);
c) A ditadura militar;
d) A democracia e a Constituição de 1988.

Durante sua colonização, a administração portuguesa não se preocupava com o


combate às doenças, não havia relação entre saúde e sociedade. A prática médica
efetivamente adentrou no Brasil no século XIX, com a vinda da Corte Portuguesa.
A partir da primeira República (1889), com a necessidade de modernização do Brasil
e fim da escravatura, passou-se a reconhecer o capital humano como função produtiva
geradora de riqueza. Nesse ponto, a medicina passou a tratar de assuntos sanitários com a
função de higienismo social para evitar doenças transmissíveis que acometiam os
trabalhadores e os impedia de produzir. 
Na industrialização do Brasil começam a surgir novas situações políticas como a cisão
de poderes (alteração da política café com leite para a indústria, com financiamento europeu).
Os imigrantes que vieram ao Brasil para trabalhar em substituição aos escravos eram em
grande maioria anarquistas, ligados ao sindicalismo.
Nesse período houve uma grande demanda da saúde em razão do aumento da
população na área portuária e industrial, mas o Brasil não tinha sistema de esgoto ou medidas
de vigilância sanitária. Assim, o Brasil é atravessado por uma epidemia. A mão de obra passou
a ser escassa porque as pessoas estavam doentes e morrendo.
A participação do Estado se tornou mais ativa, mas ainda vigorava no Brasil o
assistencialismo como modelo de seguridade, com base em ações voluntárias, princípio da
caridade, e com acesso apenas à cidadãos brasileiros. As medidas sanitárias de Oswaldo Cruz e
as vacinas geraram revoltas, que também tinham cunho político. 
Como se vê, a primeira política pública de saúde só veio em razão de pressão
internacional e pressão interna por conta da mão-de-obra. As medidas sanitárias também
tiveram caráter compulsório, já que a polícia passa a compelir as pessoas a saírem de suas
casas (expulsão com queima das casas).
Já no Governo de Vargas, com a ampliação de políticas sociais e foco em direitos
trabalhistas, a seguridade social passou a permitir o acesso a direitos por meio da contribuição
à previdência social, cujo dinheiro também era usado para financiar a industrialização. As
caixas de aposentadorias e pensões passaram a abarcar as classes de operários, por categoria
profissional. 
Entre o Estado Novo e a Ditadura ocorre avanço na saúde pública. Em 1954, já sob a
vigência de nova Constituição, é criado o Ministério da Saúde com foco em prevenção de
doenças. A saúde passa a alcançar o povo do campo e florestas. Alguns movimentos como
Tropicália passam a insistir na criação do senso de brasilidade. O país passa a ter foco no
desenvolvimento nacional, mas ainda com pouca efetivação na política da saúde.
Na ditadura militar, é criado o INAMPS na seguridade social. Na saúde não era
garantido o acesso a toda a população, e as epidemias que voltaram a acontecer não eram
notificadas em razão da censura. A medicina popular era evitada porque podia ser confundida
com aglomerações e oposição ao regime. Apesar disso, a saúde avançou na iniciativa privada. 
Com a CF/88, a saúde se solidificou como direito social e ensejou a criação do
Sistema Único de Saúde, ampliando a cobertura da vacina, erradicando a paralisia infantil e
diminuindo a mortalidade.

2. Ao elucidar sobre o SUS, o autor Paim (2012) estabelece uma série de conexões
sobre as lógicas os tipos de seguridade social. A partir desta síntese, estabeleça um texto que
exemplifique a relação entre os tipos de seguridade e os períodos históricos que marcam a
construção da saúde coletiva brasileira.
Os sistemas de saúde correspondem a 3 espécies: assistência, seguro social e
seguridade social.
Nos países que adotam o sistema baseado na assistência, o atendimento de saúde é
residual, concedido apenas aos que comprovarem condição de pobreza, como proteção social
aos que não podem pagar planos de saúde. Ex. EUA.
Já nos países que adotam o sistema de seguro social, são beneficiários dos serviços
de saúde fornecidos pelo Estado aqueles que contribuem para a previdência social. Ex.
Alemanha, França e Suíça. Este foi o sistema adotado no Brasil em 1920, através de caixas de
aposentadorias e pensões, permanecendo vigente até a CF/88.
Por sua vez, o sistema da seguridade social, a saúde é direito do cidadão e é
financiada de forma solidária por toda a sociedade, com contribuições e impostos. Ex. Canadá,
Inglaterra. A partir da Constituição de 1988, o Brasil passou a adotar o sistema da seguridade
social, compreendendo a universalidade do direito à saúde, fornecida tanto pela iniciativa
privada quanto pelo poder público.

3. Ao apresentar as bases que constituem o SUS, entende-se que seu modelo foi
organizado com base em diversos princípios básicos. Entre eles, destacam-se quatro
norteadores: a universalidade, a equidade, a integralidade e a gratuidade. Escreva uma
breve síntese sobre esses quatro princípios.

O princípio da universalidade diz respeito a obrigatoriedade do SUS de contemplar a


todas as pessoas que se encontrem no território brasileiro, independente da origem, raça ou
classe social. Por sua vez, o princípio da equidade indica que cada sujeito deve ser tratado a
partir de suas necessidades, superando o conceito de igualdade formal, já que os indivíduos
precisam ser tratados de forma desigual, na medida da desigualdade apresentada em cada
circunstância.
Já o princípio da gratuidade aponta que o SUS é sistema de saúde que não exige
contrapartida financeira do usuário, sendo integralmente gratuito. Por fim, a integralidade
reflete o atendimento em diversos níveis de atenção, desde os básicos até os de alta
complexidade (UNACONs e CACONs), com articulação entre eles, mantendo a unidade do
sistema.
4. A partir do texto de Paim (2012), considerou-se a apresentação de conceitos
importantes para compreender o que faz e como se constituí o Sistema Único de Saúde. A
partir dessa temática, explicite os conceitos a seguir:
a) O Sistema;
O Sistema único de saúde compreende o conjunto de agências e agentes, visando
garantir a saúde da população de forma integral, não correspondente apenas à soma do todo.
É composto por diversos estabelecimentos e serviços de organizações públicas ou privadas.
b) As Agências;
As agências correspondem a organizações públicas ou privadas (ex. hospital
particular), governamentais ou não, com ou sem fins lucrativos (ex. filatrópicos) que possuem
os objetivos de promover, proteger e recuperar a saúde dos indivíduos e comunidades.
c) Os Agentes.
São agentes os profissionais e trabalhadores de saúde que realizam ações de cuidado
das pessoas e comunidades, não correspondente apenas aos médicos.

5. A partir das discussões realizadas em sala de aula e das exposições de casos,


comente e caracterize a atenção primária em saúde.

A atenção primária à saúde busca realizar o atendimento em Unidades básicas, em


domicílio, salões comunitários, creches, escolas e outros espaços, com ênfase na lógica do
território. Utiliza-se equipe multidisciplinar, considerando o Sistema Único em
descentralização e capilaridade.
A unidade básica de saúde reflete o nível de atenção primário, que tem como
característica a baixa complexidade, e busca promover, proteger e recuperar a saúde. É
realizado por Agentes comunitários de saúde e nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), bem
como alguns atendimentos ambulatoriais. A UBS é a porta de entrada para atendimento à
saúde e em regra é localizada próximo à residência dos cidadãos. Nesse local, são realizados
procedimentos de baixo custo e que abarcam cerca de 80% dos problemas de saúde da
população.

6. Realiza uma síntese de quais são as atribuições da psicologia na unidade básica


de saúde.

Os profissionais da psicologia atuam na saúde mental localizada no território das


UBSs, promovendo saúde, educação e sensibilização em saúde psíquica, acolhendo com escuta
qualificada. Também são atribuições desses psicólogos realizar a estratificação de risco, atuar
em psicoterapias ou grupos terapêuticos e efetuar o encaminhamento a especialidades.

7. Alguns procedimentos/processos são fundamentais para proporcionar o


atendimento ao usuário. Considerando as linhas de cuidado, explicite os conceitos a seguir:

a) Estratificação de risco
A estratificação de risco refere-se ao acolhimento e escuta do indivíduo que chega à
UBS, a fim de que seja possível compreender o seu nível de sofrimento físico e mental, para
fornecer o atendimento adequado. Observa-se baixo risco quando os sintomas são leves e
moderados, sem contextos agravantes ou atenuantes, de médio risco quando os sintomas são
moderados com agravantes e atenuantes, e de alto risco quando os sintomas são graves e
persistentes com agravantes e atenuantes.
A estratificação de risco deve considerar a idade, o sexo e fatores hereditários, as
redes sociais e comunitárias, as condições de vida como desemprego, ambiente de trabalho,
acesso à rede de água e esgoto, serviços de saúde, habitação, educação, consumo de
alimentos, abarcando as condições socioeconômicas, culturais e ambientais como um todo. 

b) Linhas de cuidado
As linhas de cuidado podem ser de atendimento primário, secundário ou terciário.
Para estratificações de baixo risco são oferecidos cuidados de forma progressiva e
atendimento primário, como grupos terapêuticos de ajuda mútua, academia da saúde,
medicamentos, psicoterapia individual, consultório de rua, núcleo de apoio saúde da família.
Para estratificações de médio e alto risco é possível o atendimento domiciliar com a família,
suporte de pontos de atenção secundário (CAPS e unidades de acolhimento) e terciário
(hospital geral e psiquiátrico), intervenções psicoeducacionais, cuidado a comorbidades
clínicas.

c) Busca ativa
Diz respeito à procura de indivíduos para identificação sintomática de doenças e
agravos de importância local, com interação não só com o sujeito, mas com o seu espaço e
território, conhecendo suas relações, sofrimento psíquico, qualidade de vida, para alcançar sua
reinserção em sociedade.

8. A política nacional de saúde integral da população brasileira é dimensionada


para diferentes marcadores sociais da diferença e a efetivação de um cuidado integral. Desse
modo, considere as duas temáticas contempladas no bimestre, por meio dos casos, e
disserte sobre:

a) Cuidado de Saúde para a Pessoa Idosa (fatores de risco, proteção e contextos);

No caso da pessoa idosa, deve ser considerada uma linha de cuidado intersetorial,
com atendimento por equipe multiprofissional que ofereça atendimento integralizado, tanto
de saúde física quanto mental. Na saúde psíquica, essa parte da população pode necessitar de
atendimento individual psicoterápico, medicamentoso, de orientação, suporte social, visitas
familiares, ações envolvendo a comunidade e inserção social e familiar.
Os fatores de risco a serem observados na estratificação incluem as comorbidades que já
acometem o indivíduo e associação entre elas, idade, se não há rede de proteção como
presença habitual de familiares ou amigos, proximidade com o local de atendimento
(especialmente considerando a perda de mobilidade que usualmente acomete os idosos), a
classe e função social. Poder ser considerados fatores de proteção a proximidade com
familiares, inserção na comunidade, função social ou grau de inserção na sociedade.

b) Cuidado de Saúde para o Homem (fatores de risco, proteção e contextos).


No caso da saúde do homem, é necessário observar a construção da masculinidade
na sociedade e as respectivas consequências na vida do indivíduo, considerando que, em
regra, os homens possuem dificuldade de expressão.
São fatores de risco a idade, comorbidades, existência de amparo familiar, condição
financeira (eventual desemprego) e configuração como arrimo de família. Também é preciso a
análise sobre eventual existência de quadro de ansiedade, muito comum em razão da falta de
expressão masculina, bem como a persistência dos sintomas, considerando que é parte da
população que habitualmente leva muito tempo para procurar atendimento de saúde,
especialmente em se tratando de adoecimento mental. Podem ser fatores de proteção a
proximidade e apoio da família, função social/emprego, estabilidade financeira e inserção na
comunidade.
9. Nossa avaliação acontecerá de acordo com a nossa proposta de disciplina, com
ênfase em dimensões conceituais e práticas, dessa maneira, faça uma nova leitura dos casos
clínicos, considerando fatores de risco e proteção, assim como possíveis sugestões para
intervenção na atenção primária.

Os casos apresentados em aula foram as narrativas de Dona Carmem e de Antônio.


A equipe da UBS soube do caso de Dona Carmem através de uma de suas vizinhas,
que indicou a ausência da senhora nas missas da paróquia. A idosa fazia acompanhamento na
UBS em razão de doenças cardiovasculares e apresentava sintomas ansiosos. Ao se dirigir à
casa de Carmem, a equipe foi bem recebida, mas observou que o bolo servido pela idosa
estava salgado.
Carmem apresentava como fatores de risco a idade avançada (idosa de 82 anos), a
existência de problemas cardiovasculares e possível associação com Alzheimer, esquecimentos
e histórico de ansiedade, bem como a solidão já que vivia sozinha, com filhos que residiam em
outra cidade. Mostraram-se como fatores de proteção a acessibilidade à UBS no mesmo bairro
de sua residência, um bom contato com os vizinhos e inserção na comunidade através da
participação na Igreja.
Diante de todo o contexto, é possível constatar que o esquecimento pode ser
decorrente da idade avançada ou mesmo de Alzheimer, que somado aos problemas
cardiovasculares impõem risco à saúde de Carmem. Considerando que a idosa deixou de
comparecer à UBS, é preciso que a equipe de saúde faça visitas domiciliares regulares,
buscando o apoio dos vizinhos e companheiras de paróquia de Dona Carmem para
acompanhamento do tratamento e cuidado. É possível a realização de contato com os filhos,
informando a situação em que Carmem se encontra, encaminhamento a médicos de
especialidade neurológica para avaliação de possível Alzheimer e, eventualmente, acionar a
assistência social para maior amparo da senhora.
Antônio, por sua vez, procurou o serviço de psicologia da UBS narrando palpitações
no peito, tremores nas mãos e que já havia ido ao médico algumas vezes, tendo sido
informado que se tratava de ansiedade. Possuía dificuldades em se expressar e confessou que
estava com medo porque não conseguia mais sair de casa para trabalhar, buscando esconder
da família o que sentia. Narrou também que o pai morreu jovem.
Antônio apresentava como fatores de risco a própria condição de homem, ante a
construção da masculinidade social, da qual decorre a dificuldade de expressão e busca tardia
por auxílio à saúde mental, e a probabilidade de doença genética, considerando que o pai
faleceu jovem. São fatores de proteção sua família e a proximidade à UBS.
Diante desse cenário, percebe-se que a palpitação de tremores nas mãos é gerada
por um quadro ansioso que já acontece há algum tempo. Esse quadro de alerta contínuo gera
exaustão e medo, representando um transtorno de ansiedade generalizada ou até síndrome
do pânico. Nesse caso, considerando que Antônio já mostrou disponibilidade para tratamento
ao procurar a equipe de psicólogos, é fundamental o controle do sistema simpático, seja por
técnicas de manejo a partir da respiração e presentificação, para ativar o sistema
parassimpático, ou através do encaminhamento para uso de medicação. Posteriormente, após
o controle inicial das crises, é possível incentivar Antônio a expressar seus sentimentos para a
família, e incluí-lo em psicoterapia individual ou em grupo.

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