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“Escritos em Migalhas”
O sexo feminino em busca da
educação formal e de espaços na
literatura no Maranhão oitocentista
EDITORA MULTIFOCO
Rio de Janeiro, 2017
Copyright © Joabe Rocha de Almeida
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores e autores.
1ª Edição
Abril de 2017
ISBN: 978-xx-xxxx-xxx-x
Editora Multifoco
Flaneur Edição, Comunicação, Comércio e Produção Cultural LTDA.
Av. Henrique Valadares, 17b - Centro
20231-030 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 3958-8899
contato@editoramultifoco.com.br
www.editoramultifoco.com.br
Sumário
Agradecimentos.............................................................................................................9
Índice de figuras e quadros.......................................................................................17
Prefácio...............................................................................................................................19
Preâmbulos iniciais deste estudo..........................................................................23
Considerações finais....................................................................................................185
Referências........................................................................................................................189
Fontes Primárias....................................................................................................189
Fontes hemerográficas.....................................................................................191
Fontes Secundárias.............................................................................................194
Fontes da internet...............................................................................................202
Fontes orais..............................................................................................................207
Dedico à minha diva – Marilene Rocha. Existência da
minha vida. Razão de eu ter chegado até aqui.
Quando, inúmeras vezes eu estava com o rosto no tra-
vesseiro, derramando-me em prantos por causa das ca-
jadadas de derrotas sob meus lombos, ela, com seu jeito
de mulher guerreira mostrou-me e ensinou-me que lutar
mais uma vez por nossos ideais nunca é o bastante.
Dedico também as imortais Laura Rosa e Firmina dos
Reis que sem estas jamais existiria este estudo.
Agradecimentos
A parte dos agradecimentos sempre foi uma tarefa terrível
para mim. Ainda mais porque agradecer as pessoas que me ajuda-
ram a publicar este estudo, é ao mesmo tempo agradecer aquelas
que estiveram envolvidos diretamente na construção do meu tra-
balho de graduação. Nesse sentido, farei um resumo das pessoas
já agradecidas no meu trabalho monográfico, complementando,
assim, com novas pessoas envolvidas no projeto deste livro.
Sempre gosto de dizer que Deus é bondoso comigo. Nunca
mereci tal afeto divino, mas, por motivo que não sei explicar, Ele
foi o protagonista da minha vida. Foi meu pulso, meu coração. No
decorrer de meus estudos da graduação, em meio ao desespero, ele
foi meu ópio. Tinha dias em que gritava igual Cristo gritou na cruz:
“Pai, por que me abandonas-te?”. Entretanto, sempre vou lembrar
que muitas vezes ficava angustiado por não achar certos documen-
tos, não conseguia achar em lugar algum e Deus, com seu jeito
suave, colocava pessoas certas, nas horas certas para me ajudar.
Agradeço muito a Editora Multifoco, em especial ao editor
Geferson Santana, ter sido gentil e compreensível durante toda a
elaboração deste trabalho.
À Academia Maranhense de Letras - AML, por escanear a Re-
vista em que se encontra o discurso de posse da Laura Rosa e me
enviar por e-mail.
Meus agradecimentos vai também ao corpo docente da Uni-
versidade Estadual do Maranhão/Centro de Estudos Superiores de
Caxias – CESC/UEMA:
2 Apesar desses impasses da escassez de materiais das escritoras no Maranhão oitocentos, ainda
assim, encontraremos em jornais e livros, muitos deles, pelo desgaste do tempo, estão incompletos,
várias autoras do século XIX. Destaca-se, no Maranhão, além da escritora Laura Rosa e Maria Fir-
mina dos Reis, Mariana Luz (1870-1960), educadora, teatróloga e escritora, sendo uma das figuras
mais expressivas da literatura itapecuruense, publicando o livro Murmúrios, que mais tarde foi
reconhecida pela Academia Maranhense de Letras.
3 As casas de recolhimento também são conhecidas pelos nomes de “recolhimentos” ou “casas das
educandas”. O entendimento sobre o conceito e o que representou os recolhimentos será visto
neste capítulo.
esses jovens burgueses, uma nova significação ao romantismo. “Foram esses jovens intelectuais
que definiram uma literatura nova para o país, um novo plano artístico, uma nova forma de ver
à independência política, cultural e social. É também considerada como marco das ideias desses
jovens, a criação da Revista Niterói, ainda em Paris. Revista em que Magalhães usa o estudo crítico
para estabelecer um ponto de partida para a teoria do nacionalismo literário” (ALMEIDA, 2013,
p. 354 In VAZ e ADLER, 2013). É Crucial destacarmos que foi com Gonçalves Dias, ainda na
primeira geração romancista, que, realmente, consolidou uma literatura genuinamente brasileira,
com poesias indianistas e nacionalistas, “[...] é nessa linha de pensamento que Gonçalves Dias não
deixou se prender pelas regras prescritivas, dando uma improvisação na escrita, reagindo contra os
classicistas e rompendo com a tradição literária [...]” (Ibidem, 2013, p. 355 In VAZ e ADLER, 2013).
5 Para compreender a economia setecentista maranhense é importante um aprofundamento em:
MEIRELES, 2008; COSTA, 2004, pp. 51-80.
6 Veremos, mais adiante, que com a chegada dos primeiros recolhimentos no Maranhão essa edu-
cação limitada, repassada, apenas, dentro do núcleo familiar e voltada, somente, para as aprendi-
zagens domésticas, se estende para essas instituições que passaram a ensinar, além das tarefas de
cuidar do lar, como o ofício de cozer e bordar, aprender de forma básica a ler e escrever.
7 Quando explicamos que os filhos dos donos de terra e dos grandes comerciantes se educavam antes
mesmo de irem aos colégios jesuítas e depois receberiam uma formação superior no estrangeiro,
tal privilégio era, apenas, para o sexo masculino.
9 Segundo a autora Nizza da Silva, todo os recolhimentos pós-expulsão dos jesuítas passaram a ter
um Estatuto. Temos, por exemplo, o Estatuto do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória e os Es-
tatutos do Seminário Episcopal de Nossa Senhora das Graças da cidade de Olinda. Afirma Nizza da
Silva que “as meninas eram, portanto, educadas num ambiente de clausura, de fechamento numa
pequena sociedade de pessoas do seu sexo” (1981, p. 72). Para compreender outros recolhimentos
e seus estatutos é importante ver: SILVA, 1981, pp. 68-81.
13 Estes dois artigos do Regulamento do Asilo de Santa Teresa regula o art. 23 da lei de nº. 367, de
24 de julho de 1854. Tanto o Regulamento como a lei de nº 367 encontra-se no Acervo Digital da
Biblioteca Benedito Leite.
Organisação do trabalho.
Educação da mocidade artífice.
Asylo de Santa Thereza.
[...] inteiramente ao abandano a classe mais fraca, e que
sem recursos e principios solidos de moralidade tende-
ria, necessariamente, a encaminhar-se á prostituição,
creou-se o Azylo de Santa Thereza.
O sexo feminino é o mais fraco, e o que encontra mais
difficilmente os meios de prover a sua subsitência pelo
trabalho honesto; [...].
[...].
Em quanto uma moça não tiver os meios para viver do
seu trabalho exclusivamente, em quanto não tiver a vi-
rilidade precisa para não se desvirtuar, ella não está
educada; está apenas no caso de entrar para uma casa
de educação.
Nessas condições o estabelecimento não presta o serviço
que delle havia a esperar; a demoralização continua, [...]
e o povo illudido [...].
O fim do Azylo não pode ser ensinar a cozer, a fazer flo-
res, doces e, isso é necessário, mas não basta.
As educandas devem-se sujeitar á todo serviço, como
qualquer creada na Europa, devem saber fazer todo o
serviço que toca á uma mulher; mas isso não basta. E’
preciso que tenhão uma moralidade muito firme; é
14 Este Colégio foi criado em 7 de Janeiro de 1865, chamado de Colégio de N. Sra. de Anunciação e
Remédios, sempre funcionou dentro do Recolhimento.
15 Interessante sabermos que o início da formação do ensino superior no Brasil só foi possível, em
1808, com a vinda da família real. E tal conjuntura educacional se deu muito mais por parte da
pressão da elite colonial, cansada de enviar seus filhos para estudarem em Lisboa, do que, propria-
mente, por uma nova visão reformadora que a Coroa passou a ter sobre o Brasil. Pois, Portugal
sabia que uma colônia possuidora de uma educação avançada criaria forças de emancipação.
Mas, por que então o Brasil colonial era tão atrasado em rela-
ção a outras colônias no que se refere a imprensa livre?
Primeiro, tomaremos como ponto de partida a falta de recur-
sos primários que pudessem fabricar livros e jornais impressos,
genuinamente, brasileiros. Esse fator não deixa de está relacionado
ao atraso socioeconômico, pois, mesmo no fim do sistema de co-
lonização de exploração em 1822, a sociedade vivia num marasmo
cultural e intelectual provocados pelos resquícios coloniais. Expli-
ca Caio Prado Jr., ao deixar claro como estava compartimentada
a estrutura social do Brasil Colônia e pós-colonial, coexistindo,
assim, “os três elementos constitutivos da organização agrária do
Brasil: a grande propriedade, a monocultura e o trabalho escravo.
[...]” (1961, p. 117).
Caio Prado Jr. nos induz a crer que esses elementos constitu-
tivos da organização econômica e social que se formou durante a
colônia e prosseguiu no Brasil pós-Colonial, nos revela a riqueza
concentrada na grande propriedade representada pelos donos de
terra e comerciantes, a grande exploração rural, população ainda
composta por um terço de escravos negros até o fim do século XIX.
Farto era a pequena classe dominante ver circulando pelas
ruas negros escravizados, analfabetos e semianalfabetos e toda
uma gente que sobrevivia da pequena produção agrária, em que o
sistema típico de colonização portuguesa, prosseguindo no mesmo
ritmo pós-independência, desprezou fortemente esses indivíduos,
“desprovidos inteiramente de quaisquer bens e vegetando num ní-
vel de vida material ínfimo” (PRADO JR., 1961, p. 118).
Pegando esse gancho, Caio Prado Jr compreende que:
19 É importante lembrar que Firmina dos Reis escreveu o conto em forma de romance chamado
Gupeva, publicado pela primeira vez em 1861, no Jornal Jardim das Maranhenses com o título
Gupeva I - Romance Brasiliense e, somente, em 1862 que termina o conto com o título Gupeva I
e II. Depois republicados em 1863 e 1865 nos jornais Porto Livre e Echo da Juventude, respectiva-
mente. Provavelmente, as republicações tenham acontecido devido a grande aceitação deste conto.
O conto também aparece na livro de Morais Filho de 1975. (Para a compreensão das publicações
ver Quadro I deste estudo). Gupeva é um conto indianista, e não é de surpresa Firmina dos Reis
escrever este tipo de história, pois, como uma mulher audaciosa de sua época, queria trilhar nas
mais variadas formas de enredos. Como já havia escrito sobre negros, escravos, submissão femi-
nina ao masculino, mostrou, através das letras, seu posicionamento sobre as questões de culturas
diferentes, a visão dos europeus sobre a América, as diferenças entre os portugueses e franceses, a
construção da identidade nacional que estava se formando naquele momento. Tudo isto pode ser
percebido em neste conto, onde o enredo acontece na Bahia, assim como foi com o poema épico
de Caramuru: “Era uma bela tarde de agosto; e o sol, que declinava já no occidente, mandava seus
doces, e melancolicos raios as pacíficas águas da Bahia de Todos os Santos [...]” (JARDIM DAS
MARANHENSES, nº 25, 13 de Outubro de 1861, p. 97). Segundo pesquisadores da vida de Fir-
mina dos Reis, contam que o romance foi inspirado nos textos de I- Juca Pirama e Últimos Cantos
de Gonçaves Dias (1851) e do poema de Frei José de Santa Rita Durão Caramuru: poema épico do
descobrimento do Brasil (1781).
Figura III: Busto de bronze de Maria Firmina dos Reis feita pelo escultor Flory Gama no
Museu Históricos e Artístico do Maranhão, São Luís. Fonte: PEREIRA, Renato (2014). In:
https://averequete.blogspot.com.br/2014/12/praca-do-panteon-maranhense.html.
24 Francisco Sotero dos Reis, nascido em 1800, foi um filósofo, professor do Liceu Maranhense, no
qual é considerado o primeiro diretor desde Colégio. Durante sua vida, ingressou na política como
parlamentar e publicou textos e poesias em várias jornais, como Correio dos Anúncios em 1851
(anos depois, em 1862 o nome foi mudado para O Constitucional), O Observador (1847), Publica-
dor Maranhense (1842-1886) e no Investigador Maranhense de 1836 a 1839, onde foi substituída
pela A Revista em 1840. Chegou a fundar os jornais – Argos da Lei em Março de 1825 com a par-
ceria de Raimundo da Rocha Araújo (sua primeira publicação em jornais e criação de um período.
Por conta da insuficiência de leitores, no mesmo ano o Jornal acabou), Constitucional (1831) e
O Maranhense (1825-1831). Participou também do livro Semanário Maranhense. Suas obras pu-
blicadas foram voltadas para a sua área de formação que era Letras: Postilas de Gramática Geral
Aplicada à Língua Portuguesa pela Análise dos Clássicos (1852), Gramática Portuguesa acomodada
aos princípios gerais da palavra, seguidos da imediata aplicação prática (1899), Curso de Literatura
Portuguesa e Brasileira (1868). Foi patrono da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira 17
da Academia Maranhense de Letras. Morreu na madrugada do dia 16 de Janeiro de 1871 devido a
doenças no estômago. (MEIRELES, 1955, p. 71-2). Para uma compreensão completa da biografia
de Sotero dos Reis é crucial ver: LEAL, Tomo I, 1987a, pp. 66-94.
25 Palanquim era um tipo de meio de transporte do século XIX feito por uma cadeira coberta e dois
longos varais ligados a duas mulas, uma à frente e outra atrás ou, às vezes também, por dois negros
que conduzia a pessoa para o lugar que ela desejasse.
27 Cânone vem do grego “Kánon” e em latim escrito “Canon” que significa regra ou vara de medir.
Este termo foi utilizado pela primeira vez pelos cristãos para se referir ao padrão de conduta moral
tido como correto e disciplinado pela Igreja. No século IV d. C. esse termo reaparece com novos
significados, onde cânone passa a ser um conjunto de textos que segundo as pessoas escolhidas por
Deus são verdadeiros e escolhidos pela divindade celestial como foi o caso de Moisés, Josué, Salo-
mão, Daniel, Apostolo Paulo e todos os líderes do antigo e novo testamento. Foi somente a partir
da reunião e escolha desses escritos que formou o cânone bíblico ou textos cânones que é nada
mais do que a Bíblia. Nesse sentido, da mesma forma que foi utilizado o termo para a formação
das escrituras sagradas, como textos religiosos, também foi adotado pela literatura, passando a ser
chamado de cânone literário. (PERRONE-MOISÉS, 1998, p. 61).
Este silenciamento foi tão espesso que não paramos para en-
xergar que Firmina dos Reis, ao abordar os problemas sociais en-
volvendo o negro e o abolicionismo, foi uma pioneira até mesmo
29 A citação foi retirada originalmente do livro, por isso muitas letras não são mais usadas na Língua
portuguesa ou estão em desuso. A palavra ‘nenia’ da citação hoje se escreve ‘nênia’ e significa canto,
já os acentos nos dois ‘a’ estão em desuso. Hoje eles são usados na forma de crase.
30 Depois da 1ª edição pela imprensa Typographia do Progresso, São Luís – MA de 1859, veio outras
edições: 2ª edição de 1975, fac-similar (Gráfica Olímpia – RJ); 3ª edição de 1988 (Editora Presença/
INL-Brasília); 4ª edição de 2004 (Editora Mulheres – SC).
31 Consegui garimpar durante minhas pesquisas trinta textos de gêneros literários publicados em
treze jornais diferentes. Deve-se saber que essa contagem só pertence a este quadro desenvolvido
neste estudo e não significa que todas as poesias, contos, romances ou qualquer outro gênero lite-
rário foram contabilizados. Mas, apenas aqueles que eu consegui achar durante minhas pesquisas.
32 PARNASO MARANHENSE, 1861, pp. 222-25. In: Acervo Digital da Biblioteca Benedito Leite – BPBL.
33 Segundo uma tradição popular, esta canção deriva de uma história em que Gonçalves Dias, via-
jando para São Luís a destino de tratamentos de saúde, colocou seus últimos versos dentro de uma
garrafa quando viu que o navio, Ville Boulogne, na madrugada do dia 3 de Novembro 1864, iria
naufragar devido a uma batida muito forte nos arrecifes do Baixo dos Atins, já se aproximando
na província maranhense, mais propriamente em Guimarães. Segundo esta tradição, conta que
um pecador achou nas praias de Guimarães uma garrafa com os versos intactos dentro dela. Esta
história também é contada no livro biográfico de Morais Filho, 1975.
34 Nascido em São Luís no dia 15 de Julho de 1922, filho de um dos grandes escritores, cronista e
jornalista maranhense do século XIX, José Nascimento Moraes, como foi reconhecido pela litera-
tura brasileira ao escrever o livro Vencidos e Degenerados, em que Morais Filho ao herdar do pai o
talento pelas letras não ficou para trás no reconhecimento social. Estudou no Liceu Maranhense e
em 1976 assumiu a cadeira de 37 na Academia Maranhense de Letras. Foi um grande pesquisador
da história do Maranhão no campo social, cultural e econômico, biógrafo de Firmina dos Reis,
escreveu o livro de poesias sociais O Clamor da Hora Presente de 1955, Esperando a Missa do Galo
de 1973, dentre outros textos de grande valor. Morreu em 2009 aos 87 anos. Segundo o pesquisador
francês de literatura Jean-Yves Mérian, da Universidade de Haute Bretagne, em Rennes, disse que:
“O autor de ‘Vencidos e Degenerados’ encontrou no seu filho um continuador, quando publicou
‘O Clamor da Hora Presente’, em 1955. Este grupo de poemas é um grito de revolta contra a espo-
Illustres do Brazil de D. Ignez Sabino, publicado em 1899 e reeditado em 1996, na página 103,
apenas confirma o erro de descrição a pessoa. Para mais informações sobre as controvérsias de sua
imagem, ver: VAZ, 2014, p. 3.
36 Nascido, final do século XIX, numa pequena cidade chamada de Areia do Estado da Paraíba, em 21
de Outubro de 1896, iniciou seus estudos muito tarde como ele próprio ressalta que “em 1911, aos
quinze anos de idade, menos que analfabeto, larguei a escola. Longe estava de concluir o primário.
Lia mal o terceiro livro de leituras de Felisberto Carvalho e só copiando escrevia, isso mesmo em
letras garranchosas, pois ditado nunca fiz. [...] Apenas em geografia tinha a prosopopeias de dizer
que sabia quantos Estados tinha o Brasil, quais as capitais e outras coisitas mais. Era todo o meu
cabedal de conhecimentos” (ALMEIDA, 1962, p. 78 apud NASCIMENTO, 2010, p. 20). Terminou
seu estudos no Lyceu Paraibano e, em 1930, conclui seu Bacharelado em Direito na Faculdade
de Recife. Como intelectual de sua época, foi Juiz Eleitoral, redator de vários jornais e escreveu
diversas obras, o que deu reconhecimento acadêmico e social, aceitando o convite de participar do
Instituto Histórico da Paraíba – IHGP.
37 Para a autora Luíza Lobo em Crítica sem juízo (1993), este exemplar pode estar com o escritor
maranhense Jomar Moraes. Entretanto, ele nega essa informação.
CRÔNICA SEMANÁRIA
URSULA – Acha-se à venda na Typografia do Progres-
so, este romance original brasileiro, produção da Exma.
Sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública em
Guimarães. Saudamos a nossa comprovinciana pelo
seu ensaio, que revela de sua parte bastante ilustração:
e, com mais vagar emitiremos a nossa opinião desde já
afiançamos não será desfavorável à nossa distinta com-
provinciana. (JORNAL A MODERAÇÃO, 11 de agosto
de 1860 Apud MORAIS FILHO, 1975, s.p.).
A autora de Úrsula
Raro é ver o belo sexo entregar-se a trabalhos do espíri-
to, e deixando os prazeres fáceis do salão propor-se aos
afãs das lides literárias.
[...]
Quando, porém, esse ente, que forma o encanto da nossa
peregrinação na vida, se dedica às contemplações do es-
pírito, surge uma Roland, uma Stael, uma Sand, uma H.
Stowe, que vale cada delas mais do que bons escritores;
porque reúnem à graça do estilo, vivas e animadas ima-
gens, e esse sentimento delicado que só o sexo amável
Mesmo Firmina dos Reis sabendo desse hiato que existe entre
esses dois grupos – os brancos elitistas e os negros – ela escreve
em seu romance um jovem de cor branca e de poder aquisitivo
chamando um negro escravo de amigo. Com certeza, ao mostrar-
se inovadora na sua escrita, ou mais do que isso, mostrar que cada
escritor pode inovar a fala de cada personagem de sua história,
39 Com essa Lei de 1850, a força de produção econômica, realizada através da propriedade do ele-
mento servil dos negros, sofreu enormes alterações e agitações nas províncias do país. Mesmo com
a chegada de poucas embarcações clandestinas vindo do atlântico, alimentando o tráfico, não foi
suficiente para provocar nas “décadas de 50 e 60 do século XIX, o aumento do preço dos escravos e
uma concentração social da propriedade de cativos: os pequenos senhores vendiam para os gran-
des, as cidades para o campo e o Nordeste para o Sudeste” (MATTOS, 2005, p.18).
40 O conto A Escrava foi publicado junto com o romance Úrsula em Florianópolis: Editora Mulheres;
Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.
Figura VI: Laura Rosa com aparência ainda bem jovem. Fonte: Revista da
Academia Maranhense de Letras. São Luís. Nº 80. 20 de Dezembro. 1998, p. 21.
42 O título do capítulo em destaque foi retirado da poesia de Laura Rosa, cujo título do poema é
“Esqueleto da folha”.
Nos momentos finais de Laura Rosa, quase sem poder mais an-
dar da sala para a varanda45, foram os que Laura Rosa aos poucos foi
abrindo o seu passado para a professora Alzira, sobre como tinha
três anos no sequencial da UEMA de Caxias. Faz parte da cadeira 20 do Instituto Histórico e
Geográfico de Caxias - IHGC do patrono Eduardo de Abranches Moura. Fundou a Academia Ser-
taneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão - ASLEAMA em 2011, hoje presidente de honra.
Segundo ele, fez centenas de textos, dentre eles, poesias, contos, crônicas, ensaios. Poucos foram
publicados. Quase todos estão dentro de um baú em sua residência e outros foram queimados pelo
próprio autor, incluindo sua tese do curso de Teologia e Filosofia da UFPE.
45 Com o avançar da idade de Laura Rosa, segundo a professora Alzira, cuidou de todas as necessida-
des de uma pessoa na velhice, na qual dava banho e comida na boca dela.
Figura VIII: Como consta no Jornal Folha de Caxias, cuja data indica ser de
1949, Laura sendo visitada em sua casa, pelo Prefeito de Caxias Marcello
Thadeu Assunção e o jornalista Vitor Gonçalves Neto. Fonte: JORNAL FOLHA
DE CAXIAS. 1949, s.p. In: Caderno de recortes variados da Tia Miroca. Nº
33. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias - IHGC46.
46 Maria das Mercedes ou “Tia Miroca”, como é mais conhecida, nasceu em 1912. Foi uma professora
e religiosa católica que se dedicou, com todo esmero, a educação caxiense e pela guarda da memó-
Esqueleto da folha
Vede, senhor, apodreceu na lama
Eu a vi há muito tempo entre a folhagem
Antes do vento lhe agitar a rama
E do regato, sacudi-la à margem.
De vigente e de vede tinha fama
Da folha mais famosa da ramagem
Desceu nas águas e resta da viagem
O labirinto capilar da tinta.
Ninguém pode fazer igual verdade
Nem filigrama mais perfeito e lindo
Nem presente melhor pode ser dado.
Guardai Senhor, guardai este esqueleto
Todo cuidado! É uma folha ainda
Onde escrevo de leve este soneto.
(ROSA, s.d., apud CARVALHO, 2014). (Grifos do autor).
ria do passado de Caxias através da produção de vários cadernos de recortes de jornais, poesias, e
anotações suas das mais variadas formas. Todos os seus cadernos hoje são guardados no Instituto
Histórico e Geográfico de Caxias - IHGC, possuindo no acervo mais de 100 cadernos dela. Morreu
aos 93 anos em 2005. (SOUSA, 2013).
47 Alguns documentos quando se referem a ela, escrevem na forma de Lucy Coelho de Souza.
49 A denominação surgiu no Jornal Commercio de Caxias, quando o redator declarou que a cida-
de vivia um momento histórico de reflorescimento, “não como outrora, embasada em estruturas
econômicas tradicionais, mas, sim como a Manchester inglesa, nos novos ventos do progresso”
(PESSOA, 2009, p. 48).
50 Foi no ano de 1883, no mês de Agosto, que chega a Caxias a primeira indústria têxtil, recebeu o
nome de Companhia Industrial Caxiense formada por uma sociedade anônima de muitos homens
ricos caxienses. Depois disso, foi criada a segunda indústria têxtil de Caxias chamada de União
Caxiense, foi a maior indústria de toda a província, como afirma o Jornal Commercio de Caxias
“este vasto edifício mede 52 metros de frente, 68 do lado direito e 40 do lado esquerdo, contando
neste recinto espaço folgado para todas as máquinas que devem mover e alimentar 240 teares”.
(JORNAL COMMERCIO DE CAXIAS, 1893, p. 1 apud PESSOA, 2009, p. 52; 56).
LAURA ROSA
O clichê da reputada preceptora não é bem uma home-
nagem aos seus dotes Moraes e intellectuaes, ás apreciá-
veis qualidades do seu coração e do seu espirito.
E’, antes, um singelo testemunho de gratidão e de re-
conhecimento pelo muito que lhe deve a instrução de
51 Este discurso foi retirado originalmente do Jornal, por isso muitas letras, na língua portuguesa,
estão em desuso.
52 No final do século XIX, a participação das mulheres na política recebeu apoio de um dos maiores
escritores brasileiros, Machado de Assis. Em uma de suas crônicas semanais, datada de 1894, bei-
rando o século XX, publicou que: “Elevemos a mulher ao eleitorado; é mais discreta que o homem,
mais zelosa, mais desinteressada. Em vez de a conservarmos nesta injusta minoridade, convidemo
-la a colaborar com o homem na oficina da política. Que perigo pode vir daí? Que as mulheres,
uma vez empossadas das urnas, conquistem as câmaras e elejam-se entre si, com exclusão dos
homens? Melhor. Elas farão leis brandas e amáveis” (ASSIS, 1894 In Obra Completa de Machado
de Assis, 1994, p. 185). Somente em 1934, a mulher passar a ter o direito de votar e ser votada, mas,
esse direito ainda estava preso ao Código Eleitoral Provisório de 1932, onde a obrigatoriedade era
somente ao sexo masculino. Apenas em 1946, a obrigação do voto estendeu-se as mulheres.
55 Antonio Lobo, nascido em São Luís no dia 4 de julho de 1870, começou sua carrereira sendo
professor na capital maranhense ensinando as primeiras letras e professor de inglês no Seminá-
rio Santo Antonio. Passou no concurso para lecionar a cadeira de Lógica no Liceu Maranhense
e depois de várias atuações em diversas cadeiras, chegou ao cargo de diretor. Aprofundou-se em
Literaturas brasileira e portuguesa, bem como a inglesa e francesa. Mais tarde, foi nomeado como
professor da Escola Normal de São Luís para lecionar Literatura. Foi professor de Laura Rosa, esta
deixa sua homenagem a esse professor em vários momentos do seu discurso de posse. Redator em
vários jornais, dentre eles Jornal O Século, Pacotilha, O Federalista, Diário do Maranhão. Foi ainda
2º oficial da Secretaria do Estado do Maranhão. Morreu muito jovem, aos 46 anos, em 24 de junho
de 1916. Ver: REVISTA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS. Nº 80. 1998, p. 16-21.
56 Vale ressaltar que, a primeira mulher a entrar nesta Academia deveria ter sido Maria Luiza Lobo,
porém, a mesma recusou por morar no Rio de Janeiro e não ter como vir participar das atividades
na Academia Maranhense. Maria Luiza Lobo era filha do ilustre Antonio Lobo, este foi um dos
doze fundadores da Academia Maranhense de Letras - AML no dia 10 de agosto de 1908.
Fontes Primárias
A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de
Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. – São Paulo: Socie-
dade Bíblica do Brasil, 2010.
Obra Completa de Machado de Assis. A semana. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, Vol. III, 1994. Disponível em: <http://machado.mec.
gov.br/images/stories/pdf/cronica/macr12.pdf>. Acesso em: 11 jun.
2016.
BECHARA, Evanildo (org.). Dicionário escolar da Academia
Brasileira de Letras: língua portuguesa /. – São Paulo: Companhia
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