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Saúde no Brasil

1964-1988

A saúde publica parecia mergulhada em um silêncio profundo, ao passo que a


previdência social elaborava campanhas e mais campanhas no intuito de atrair
os benefícios e mascarar o processo rígido e desagregante do sistema
previdenciário. .

As principais medidas sociais praticadas foram o Fundo de Garantia por Tempo


de Serviço (FGTS), o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), criados para aumentar
a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas e no crescimento da
economia com a reformulação do sistema previdenciário a partir de 1970.

Unificaram-se os IAP’s no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS),


centralizando a administração e os recursos com a uniformização dos serviços
para todos os segurados com carteira assinada.

A universalização da cobertura ocorreu aos poucos, com a inclusão dos


acidentes de trabalho, a criação do Programa de Assistência ao Trabalhador
Rural (PRORURAL), incorporação das empregadas domésticas e dos
trabalhadores autônomos.

As principais características do sistema previdenciário nesse período eram:

– extensão da cobertura previdenciária a todos os trabalhadores formais


urbanos;

– altas taxas de acúmulo de capital pelas empresas produtoras e equipamentos


e medicamentos com organização médica voltada à lucratividade;

– atendimento médico diferenciado por clientela, nos moldes capitalistas.

Com a criação do INPS, o Estado alegou incapacidade de fornecer assistência


a todos os segurados, o que possibilitou a contratação de serviços
terceirizados,

Com esse modelo o Ministério da Saúde, relegado a segundo plano, propôs um


plano privatizante do sistema, chamado de Plano Nacional de Saúde (PNS) em
1968, que venderia todos os hospitais federais para a iniciativa privada, ficando
o Estado apenas com o financiamento dos serviços privados, em parte
custeados pelos pacientes.

ORIGEM DO MOVIMENTO SANITÁRIO


Foi somente a partir de 1970 que os problemas de saúde se constituíram
teórica e ideologicamente em pensamento social, com a criação dos
Departamentos de Medicina Preventiva (DMP) nas faculdades de medicina em
1968, iniciando as bases de um movimento social para transformação do
sistema de saúde vigente.

ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO SANITÁRIO


Com o passar dos anos, o regime foi ficando cada vez mais fechado, passou a
censurar a liberdade de imprensa, cassação de direitos políticos, prisões
arbitrárias de líderes e opositores ao regime.

A criação de um segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (PND II)


reconheceu que a política social tem objetivos próprios e o desenvolvimento
social ocorreria paralelamente e de acordo com o progresso econômico,
priorizando a pós-graduação na área de educação e a assistência médica da
previdência social na área da saúde.

Esse plano determinava dois campos: o Ministério da Saúde com medidas


voltadas para o coletivo e o Ministério da Previdência e Assistência Social
voltado para o atendimento assistencialista individualizado aos trabalhadores
formais.

A previdência social sofreu com a expansão da cobertura e da compra dos


serviços do setor privado, o que aumentava o orçamento e caracterizava a
aliança de interesses privados e estatais com a consequente privatização dos
serviços prestados, porém politicamente, agregou representantes de diversos
segmentos sociais.

Continuando a política de privatização, criou-se o Plano de Pronta Ação (PPA)


no INPS, com o intuito de universalizar o atendimento médico especialmente
de emergência, em que a previdência pagava pelo atendimento tanto à rede
pública quanto à rede privada, independente do vínculo do paciente. A
assistência era desenvolvida por três universos remunerativos: os serviços
próprios ambulatoriais e hospitalares, os serviços contratados e os serviços
conveniados.

A aprovação da lei 6.229 em 1975, criou o Sistema Nacional de Saúde (SNS),


numa tentativa de conciliar os diferentes interesses, deixou com o Ministério da
Saúde a saúde coletiva e com o Ministério da Previdência a saúde individual. A
partir daí, o Ministério da Saúde aumentou a cobertura das ações,
principalmente nas áreas rurais, e a difusão dos programas tradicionais com
imunização, vigilância epidemiológica e assistência materno-infantil. Isso,
contudo, não mudou o modelo de atenção à saúde, mas interferiu na mudança
da arena política da saúde.

O movimento sanitário foi um movimento de profissionais da saúde e pessoas


vinculadas ao setor, que compartilhavam a abordagem médico-social da saúde
e que através de práticas políticas, ideológicas e teóricas, buscava transformar
a saúde no Brasil, para melhoria das condições de atenção e saúde da
população, estabelecendo o direito de cidadania.

Foram três as vertentes desse movimento que se distinguem por:


1 – Movimento Estudantil e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES):
Difundiam a teoria da medicina social, debatendo os determinantes sociais,
econômicos e políticos da estrutura da saúde e as práticas de saúde
comunitária que se desenvolviam, reunindo estudantes, professores e
profissionais. O CEBES apresentou uma proposta que depois foi aprovada
como princípio na Constituição de 1988 que dizia que a “saúde é direito de
todos e dever do Estado”.

2 – Movimentos de Médicos Residentes e de Renovação Médica:


Estes movimentos trouxeram a atuação trabalhista, questionando as regras de
controle das relações de trabalho existentes e renovando o conceito de
sindicato para os profissionais médicos, fazendo com que houvessem greves
como forma de reivindicação dos direitos trabalhistas e remunerativos.

3 – Docência e Pesquisa (Academia):


Nessa vertente construiu-se o marco teórico do movimento, com a formação de
agentes multiplicadores e formadores desse marco, foi a base de consolidação
do movimento, oferecendo suporte teórico às propostas transformadoras.

O FIM DO REGIME E A CRISE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL


A partir de 1978, com o governo do General Figueiredo, a crise econômica que
assolava o mundo chegou ao nosso país, fazendo com que crescesse nossa
dívida externa e a instabilidade social. A Crise instalada tinha como
características o arrocho salarial, desemprego e as profundas desigualdades
sociais recorrentes do modelo econômico.

Com o ideário de “Saúde para todos em 2000”, divulgado pela Organização


Mundial de Saúde (OMS), na Conferência de Alma Ata em 1978, criou-se o
Prevsaúde, uma proposta racionalizadora, favorecendo o setor público,
democrática em sua essência, mas com resistências dos setores privatizantes
e conservadores do setor.

Em 1982 foi criado o Programa de Ações Intergradas de Saúde (PAIS),


universalizando a assistência médica e hierarquizando o controle às prefeituras
que recebiam pelos serviços prestados por produção atendendo toda à
população independente de vínculo previdenciário, enquanto que a previdência
social prestava atendimento apenas aos segurados formais. Em 1984, foi
transformado em AIS, modificando a estratégia de atenção, o que privilegiava o
setor público, numa tentativa de democratização e descentralização dos
serviços. Tinha por base a responsabilização do setor publico com a definição
de propostas partindo do perfil epidemiológico, a regionalização e
hierarquização de todos os serviços públicos e privados.

As IAS privilegiaram a atenção à saúde em nível municipal e estadual,


passando os postos de saúde a oferecer assistência médica além dos demais
programas de saúde, legitimando a participação de entidades da sociedade
civil na formulação de políticas públicas de saúde. A partir daí, a centralização
e a implementação de propostas de articulação interinstitucional e de
estratégias de unificação do sistema de saúde passaram a ser o foco, contudo
as disputas entre ministérios continuaram, agora mais fortes e por mais
recursos.

Toda essa movimentação na saúde galgou desenvolvimento no último


semestre do sistema de governo militar autoritário, com a participação do
movimento da Reforma Sanitária e demais setores da sociedade brasileira na
campanha pelas “Diretas Já!”, trabalhando um novo projeto de saúde baseado
em um regime democrático e justo.

A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE


A 8ª Conferência Nacional de Saúde, reuniu profissionais, prestadores de
serviços da saúde do setor e usuários do sistema de saúde, o que pela
primeira vez foi extraordinário. A partir dessa conferência a organização,
deliberação e representação das conferências passando a ser modelo para as
demais, perdurando até hoje. Essa conferência não se restringiu ao momento
de sua realização, mas iniciou com pré-conferências estaduais, passando pela
conferência em si e se desdobrou até 1987, com a discussão de temas em
particular com saúde da mulher e do trabalhador.

Em 1987 foram criados através de decreto os Sistemas Unificados e


Descentralizados de Saúde (SUDS), para diminuir os gastos previdenciários
estaduais, transferir recursos de saúde para estados e municípios,
gerenciamento único em cada esfera de governo e transferir para os níveis
descentralizados o controle do setor privado. Mas os políticos locais e o setor
privado travaram resistência ao sistema imposto já que ameaçava os
interesses individuais.

A Constituição de 1988, promulgada pelo então presidente José Sarney,


considerava a saúde um direito de todos e dever do Estado em seu artigo 196,
criando o SUS, universalizando a atenção à saúde através dos princípios da
descentralização, integralidade e participação popular. Em 1989, uma lei
complementar deveria regular o SUS e esta foi promulgada em 1990 sob o
nome de Lei Orgânica da Saúde (leis 8.080 e 8.142 de 1990), servindo de base
legal para a organização do novo sistema de saúde nacional e universal: o
SUS.

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