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AULA 1

POLÍTICAS PÚBLICAS E
REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE
Olá caro(a) cursista,
Nesta aula, você ira conhecer o contexto das
políticas públicas na área da saúde, desde os
debates estimulados pelos movimentos sanitários;
as mudanças significativas na Constituição Federal
de 1988, e a criação do Sistema Único de Saúde –
SUS e os instrumentos operacionais que
regularam o sistema de saúde e configuram o
processo político-administrativo da regionalização
de estados e municípios.
Bom estudo!
CONSTRUÇÃO DO ESTADO
1889 a 1930 - A Proclamação da República, a recente
abolição da escravidão e seu passado colonial,
constituem aspectos importantes na formação do Estado
brasileiro. A saúde era vista e tratada por políticos e
intelectuais da época como ponto crucial do país.
A implementação de políticas de saúde que permitissem
maior participação do Estado junto a sociedade e no
território são consideradas de suma importância, e
favoreceram a construção de uma ideologia
nacionalista.
As políticas de saúde geravam em torno da autoridade do
Estado, do papel do governo federal e da consciência
das elites políticas.
O grande índice de analfabetismo seguido de um elevado
número de doenças infecto-contagiosas disseminado na
população, emergiu em um movimento sanitarista da
época, que buscou o debate político na resolução dos
problemas que se apresentavam.
A atenção as epidemias nas cidades foi combatida através
da criação do Instituto e Fundação Oswaldo Cruz no Rio
de janeiro e Instituto Butantan em São Paulo com a
influência dos médicos sanitaristas Oswaldo Cruz;
Carlos Chagas; Vital Brasil entre outros, que resultou no
movimento sanitarista, que abordou a saúde como
questão social e política.
SEGURIDADE SOCIAL
Em 1923 a Lei Elói Chaves, que cria as Caixas de
Aposentadorias e Pensões – CAPs, resultou no
reconhecimento legal de políticas públicas de proteção social e
de assistência médica. As CAPs se tornaram o embrião do que
hoje chamamos de previdência social. Eram organizadas por
empresas e mantidas e geridas pelos patrões e empregados.
Esse foi um passo importante da responsabilização do Estado
pela regulação de benefícios e serviços, em especial de
assistência médica.
DE 1930 A 1964 - A Organização previdenciária surge através dos
Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs, organizados por
categoria profissional e com uma maior participação do componente
estatal.
São fundados os:
Institutos dos marítimos - IAPM
Comerciários - IAPC
Bancários - IAPB
Industriários – IAPI
O surgimento dos IAPs coincide com uma nova fase da
política brasileira estabelecida com a revolução de 1930.
Com a ascensão de Getúlio Vargas e a queda das
oligarquias do poder, inicia-se uma ampla reforma
administrativa e política culminada com a nova
Constituição de 1934 e a ditadura do Estado Novo em
1937. O Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, foi
criado em 1942 com a responsabilidade de executar
ações sanitárias em regiões afastadas do País e de
interesse estratégico, como por exemplo a Amazônia,
por causa da produção de borracha.
Com a ascensão de Getúlio Vargas e a queda das
oligarquias do poder, inicia-se uma ampla reforma
administrativa e política no país. O governo populista de
Getúlio Vargas, foi marcado por crises que resultaram
em movimentos da classe trabalhadora.
Foi criado, nesta ocasião, o Ministério do Trabalho,
estabelecendo diversas medidas parar a regulação da
atividade sindical, como estratégia de manutenção da
legitimidade.
Em 1953 no segundo governo de Vargas, surge o
Ministério da Saúde, antiga aspiração dos médicos da
saúde pública no período democrático.

A influência americana na área da saúde refletiu-se na


construção de um modelo de atenção semelhante aos
padrões americanos, onde grandes hospitais e
equipamentos concentram o atendimento médico de
toda uma região, colocando em segundo plano a rede
de postos de saúde, consultórios e ambulatórios, cujos
custos são bem menores.
Foi nesse período que surgiu a medicina de grupo, os
chamados convênios.
Alguns IAPs construíram seus próprios hospitais, mas
algumas empresas insatisfeitas com o atendimento médico
ofertado passaram a contratar empresas particulares
prestadoras de serviços médicos aos seus funcionários.
Ao encerrar-se a década de 50 a política de saúde pública
vigente era recolocada em discussão. Questionava-se o
alcance de suas práticas e os limites financeiros do
Estado.
Perante os problemas sanitários, delineia assim, pouco a
pouco, um outro padrão de atendimento à saúde, mais
hospitalar e curativo.
O aumento da complexidade do sistema induziu mudanças
na estrutura, culminando com a criação do Instituto
Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social - INAMPS em 1978.
No início da década de 80, esse sistema começa a mostrar
sinais de esgotamento. Como fator agravante, a
previdência começa a “envelhecer” e a fase de captação
de recursos começa a dar lugar a uma fase de maiores
gastos. Os movimentos em defesa de uma política de
saúde mais abrangente e disponível para todos vão se
reestruturando. a partir de discussões acadêmicas sobre
as políticas de saúde e da organização de trabalhadores
da saúde. Ficou conhecido como Movimento Sanitário e
teve uma atuação marcante no destino do sistema de
saúde brasileiro.
A REFORMA SANITÁRIA

E AS

CONFERÊNCIAS DE SAÚDE
O Movimento pela Reforma Sanitária
O primeiro marco da Reforma Sanitária brasileira foi em
1979, no I Simpósio Nacional de Política de Saúde,
realizado pela comissão de saúde da Câmara dos
Deputados. Na ocasião, o Centro Brasileiro de Estudos
de Saúde - CEBES, legítimo representante do
movimento sanitário, apresentou e discutiu
publicamente, pela primeira vez, uma proposta de
reorganização do sistema de saúde.
Essa proposta já se chamava na época de Sistema Único
de Saúde.
Esta proposta contemplava diversos conceitos oriundos de
experiências exitosas em outros países, como a universalização do
direito à saúde, racionalização e integralidade das ações,
democratização e participação popular, além de experiências de
atenção primária e de extensão de cobertura desenvolvidas no
país, como o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
Saneamento - PIASS, implementado em áreas rurais do Nordeste.
O Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária –
CONASP, incorpora algumas propostas da Reforma Sanitária,
como as Ações Integradas de Saúde – AIS, que foram a base
para a implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde - SUDS, a primeira aproximação estratégica para o SUS.
A VIII Conferência Nacional de Saúde, criou a base para as
propostas de reestruturação do Sistema de Saúde brasileiro,
a serem defendidas na Assembléia Nacional Constituinte que
ocorreu em Brasília, em 1986 com a participação de mais de
quatro mil pessoas, entre profissionais de saúde, usuários,
técnicos, políticos, lideranças populares e sindicais.
O Relatório desta conferência, destaca o conceito ampliado de
saúde como Direito de todos e dever do Estado.
“Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de
condições dignas de vida e de acesso universal e
igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e
recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos
os habitantes do território nacional, levando ao
desenvolvimento pleno do ser humano em sua
individualidade” (8ª CNS, Relatório Final).
A Assembléia Constituinte na elaboração da nova Carta
Magna, incorporou boa parte das propostas da
Conferência, concretizando propostas da Reforma Sanitária
no plano jurídico-institucional.
A Constituição-Cidadã, como ficou conhecida, incluiu no
capítulo da Seguridade Social, a saúde como direito de
todos e dever do Estado, moldando as diretrizes do SUS.
CONFERÊNCIAS DE
SAÚDE
Nacional

Municipal Estadual
HISTÓRICO DAS CONFERÊNCIAS NACIONAIS
DE SAÚDE

Fonte: conass.org.br
CONFERÊNCIA ANO TEMA
1ª CNS 1941 Situação sanitária e assistencial dos estados
2ª CNS 1951 Legislação referente à higiene e à segurança do trabalho.

3ª CNS 1963 Descentralização na área de Saúde


4ª CNS 1967 Recursos humanos para as atividades em saúde
5ª CNS 1975 I. Implementação do Sistema Nacional de Saúde; II. Programa de
Saúde Materno-Infantil; III. Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica; IV. Programa de Controle das Grandes Endemias; e
V. Programa de Extensão das Ações de Saúde às Populações Rurais

6ª CNS 1977 I. Situação atual do controle das grandes endemias; II.


Operacionalização dos novos diplomas legais básicos aprovados
pelo governo federal em matéria de saúde; III. Interiorização dos
serviços de saúde; e IV. Política Nacional de Saúde

7ª CNS 1980 Extensão das ações de saúde por meio dos serviços básicos

Fonte: conass.org.br
DEMOCRACIA E SAÚDE
I. Saúde como
Direito;

II. Reformulação
do Sistema
Nacional de
Saúde;

I. Financiamento
Fonte: conass.org.br Setorial.
CONFERÊNCIA ANO TEMA
9ª CNS 1992 Municipalização é o caminho
10ª CNS 1996 I. - Saúde, cidadania e políticas públicas; II. Gestão e organização
dos serviços de saúde; III. Controle social na saúde; IV.
Financiamento da saúde; V. Recursos humanos para a saúde; e VI.
Atenção integral à saúde

11ª CNS 2000 Efetivando o SUS: acesso, qualidade e humanização na atenção à


saúde com controle social

12ª CNS 2003 Saúde: um direito de todos e um dever do Estado. A saúde que
temos, o SUS que queremos
13ª CNS 2007 Saúde e Qualidade de Vida: Política de Estado e Desenvolvimento

14ª CNS 2011 Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social - Política Pública,
Patrimônio do Povo Brasileiro
15ª CNS 2015 Saúde pública de qualidade para cuidar bem das pessoas:
direito do povo brasileiro
Fonte: conass.org.br
ARCABOUÇO JÚRIDICO

• Constituição Federal/88
• Lei 8.080/90
• Lei 8.142/90
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL - 1988
SEÇÃO II – DA SAÚDE – ART. 196 A 200

Fonte: câmara dos deputados


Art. 196 – “Saúde como direito de todos e dever do
Estado”

Art. 197 - São de relevância pública as ações e serviços


de saúde
Art. 198 - As ações e serviços públicos de saúde
integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
constituem um sistema único, organizado de acordo
com as seguintes diretrizes:

I- descentralização, com direção única em cada esfera de


governo;
II- atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III- participação da comunidade.
Art. 199 – “A assistência à saúde é livre à iniciativa
privada”.
§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma
complementar do sistema único de saúde
Art. 200 - Ao sistema único de saúde compete, além de
outras atribuições, nos termos da lei
II- executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
bem como as de saúde do trabalhador;
IV- participar da formulação da política e da execução das
ações de saneamento básico
Lei Orgânica da Saúde - LOS

Após a definição do Sistema Único de Saúde – SUS na


Constituição Federal de 1988, sua regulamentação se
deu através do conjunto das Leis 8.080 e 8.142 que
definem a lei Orgânica da Saúde - LOS.
O SUS, garantido pela Constituição e regulado pela LOS,
prevê um sistema com princípios doutrinários e
organizativos.
Os princípios doutrinários personificam o conceito
ampliado e de direito à saúde, sendo eles:
Universalidade - Saúde como um direito de cidadania
Equidade - Assegurar a disponibilidade da oferta dos
serviços de saúde, considerando as diferenças entre os
diversos grupos de indivíduos
Integralidade - Considerar a pessoa como um todo,
partindo do principio que as ações de saúde devem
atender a todas as suas necessidades
Os princípios organizativos fundamentam o processo de
gestão. São estes:
Regionalização e a Hierarquização - Princípio da
integralidade da assistência, estruturada em diferentes
níveis de complexidade dos serviços, compondo uma rede
hierarquizada
Controle Social - Monitoramento da execução das ações
em saúde
Descentralização - Redistribuição das responsabilidades
quanto às ações e serviços de saúde entre os níveis de
governo
LEI 8.080 DE 19/07/1990
DISPÕE SOBRE:
• Organização, da direção e da gestão do SUS;
• Competências e atribuições das três esferas de
governo;
• Funcionamento e da participação complementar dos
serviços privados de assistência à saúde;
• Política de recursos humanos;
• Recursos financeiros, da gestão financeira, do
planejamento e do orçamento.
LEI 8.142 DE 28/12/1990
DISPÕE SOBRE:
A participação da comunidade na gestão do SUS através
das seguintes instâncias:
Conferência de Saúde - a cada quatro anos com a
representação dos vários segmentos sociais;
Conselho de Saúde - em caráter permanente e
deliberativo, órgão colegiado composto por
representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, de forma paritária.
Sobre os recursos financeiros:

As transferências intergovernamentais de recursos


financeiros na área da saúde por meio do Fundo
Nacional de Saúde – FNS.
INSTRUMENTOS OPERACIONAIS
• Normas Operacionais Básicas – NOB/SUS:
nº01/1991; nº01/1992; nº01/1993; nº01/1996 - exercício
do poder público municipal; responsabilidade sanitária e
reorganização do modelo assistencial.
• Norma Operacional de Assistência a Saúde -
NOAS/SUS:
nº01/2001; nº01/2002 - alocação de recursos e garantia de
acesso da população a todos os níveis de atenção e
institui o Plano Diretor de Regionalização - PDR
As NOBs e as NOAS ordenaram o processo de
descentralização até 2006, quando então foi editado o
Pacto pela Saúde. Nesses instrumentos normativos
foram definidos, para estados e municípios, modalidades
de gestão. O marco inicial para a construção da via da
regionalização, se deu por meio da NOAS através da
divisão dos territórios:
Atenção Básica - Módulos assistenciais
Atenção mínima em média complexidade - Microrregiões
Atenção de média complexidade - Macrorregiões
Atenção em alta complexidade - Regiões
PACTO PELA SAÚDE
PORTARIA nº 399/FEV/2006

Consolidação do SUS através do:


• I - PACTO PELA VIDA
• II - PACTO EM DEFESA DO SUS
• III - PACTO DE GESTÃO
• IV - IMPLANTAÇÃO E MONITORAMENTO DOS
PACTOS PELA VIDA E DE GESTÃO
• V - DIREÇÃO E ARTICULAÇÃO DO SUS
INSTÂNCIAS DECISÓRIAS DO SUS
COLEGIADO GESTOR COMISSÃO REPRESENTAÇÃO
NACIONAL CONSELHO MINISTÉRIO DA TRIPARTIDE Conselho Nacional de
NACIONAL SAÚDE secretários de Saúde -
Conass
Conselho Nacional de
Secretários Municipais
de Saúde -Conasems

ESTADUAL CONSELHO SECRETARIAS BIPARTIDE Conselho Estadual de


ESTADUAL ESTADUAIS Secretários Municipais
de Saúde - Cosems

MUNICIPAL CONSELHO
MUNICIPAL SECRETARIAS INTERGESTOR Representante dos
MUNICIPAIS REGIONAL municípios
REGIONAL SECRETÁRIO
DE SAÚDE
ESFERAS GESTORAS DO SUS

Âmbito Municipal: SMS, CMS

Âmbito Estadual: SES, CES,CIR,CIB

Âmbito Federal: MS, CNS, CIT


O processo de regionalização e descentralização político-
administrativa brasileiro contou com um arcabouço
jurídico decisório que abrangeu as especificidades do
arranjo federativo e a diretriz de participação social.
A normativa do Pacto Pela Vida, operacionalizou
estratégia importante para fortalecer a conformação e o
planejamento integrado de redes de atenção
regionalizadas ao sistema de saúde.
Nesta aula, você conheceu elementos que contribuíram no
processo de Construção do Estado a partir da Reforma
Sanitária, através dos movimentos organizados, e as
mudanças na Constituição Federal de 1988, que geraram a
criação do Sistema Único de Saúde – SUS. Tudo isto,
permeado pelo Arcabouço Jurídico que fundamentou estas
mudanças.
No próximo encontro, abordaremos o processo de
regionalização e pactuação da assistência à saúde.
Até lá!

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