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Texto de Paim

O Governo Itamar, logo após a realização da IX Conferência Nacional de Saúde em 1992 que denunciou o não
cumprimento da legislação sanitária e defendeu a municipalização da saúde, efetuou esforços pela descentralização
das ações e serviços de saúde, consubstanciados na Norma Operacional Básica 01/93 (Brasil, 1993). NOB 93
estabelece diferentes condições de gestão (incipiente, parcial e semi-plena) para permitir a transição de uma situação
em que os municípios eram tratados como meros prestadores de serviços para uma fase de municipalização plena
prevista pela legislação em vigor.

Em relação ao setor privado, observou-se uma expansão da assistência médica supletiva (AMS), com
diversificação de planos de saúde para os consumidores e diferenciação de modalidades de compra e de pagamento
dos serviços médicos.

A implantação de mais um plano de estabilização econômica em 1994 (Plano Real), envolvendo um conjunto de
políticas de ajuste macroeconômico e um elenco de projetos de Reforma do Estado (Lamounier&Figueiredo, 2002)
resultou, com a expansão do neoliberalismo, em mais desajuste social: desemprego, violência e piora das condições
de vida (Paim, 2002).

Acesso ao sistema de saúde: segmentos da classe média e dos trabalhadores de melhor nível de renda migraram
para os seguros-saúde e outras formas de MAS à proporção que se deterioravam os serviços públicos de saúde e a
mídia desqualificava os esforços de construção do SUS. Já os demais cidadãos brasileiros usuários do SUS eram
repelidos no cotidiano dos serviços de saúde pelas filas, maus-tratos, burocracia, humilhações, greves e baixa
qualidade dos serviços.

A Norma Operacional Básica de Assistência a Saúde (NOB-96), publicada nessa época, previa duas formas para a
habilitação dos municípios junto ao SUS: gestão plena da atenção básica e gestão plena do sistema municipal.

Transformado em um modelo de atenção centrado na qualidade de vida das pessoas e do seu meio ambiente,
bem como na relação da equipe de saúde com a comunidade, especialmente com os seus núcleos sociais primário.

“1997:o ano da saúde no Brasil”- Programa Saúde da Família (PSF) (Radis, 1997) e apresentando a proposta de
ampliação de 847 para 3.500 equipes de saúde da família (ESF). Foi implantado o Piso de Atenção Básica (PAB).

Portaria No. 3.925/GM de 13/11/98 Definiu atenção básica como um conjunto de ações, de caráter individual ou
coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, prevenção
de agravos, tratamento e reabilitação.

Durante a gestão do Ministro José Serra foi estabelecida a meta de implantação de 20.000 equipes de saúde da
família (ESF) até 2002 (Singer, 2002), chegando a alcançar 17.000 equipes e uma cobertura de cerca de 50 milhões de
usuários do SUS. Nesse período foi aprovada a Lei 9.656 de 03 de junho de 1998 que dispõe sobre os planos e seguros
privados de assistência à saúde.

Foi aprovada a Lei 9.961 de 28 de janeiro de 2000 criando a Agência Nacional de Saúde Suplementar(ANS) como
órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização das atividades que garantam a assistência suplementar à
saúde. Tem como missão regular a assistência à saúde dos consumidores privados, a assistência dos associados aos
planos de saúde e, as operadoras e seguros-saúde.

Nessa conjuntura foram ainda produzidos os seguintes fatos político-institucionais:

• criação da agência de vigilância sanitária (ANVISA);

• implantação do SIOPS (Sistema de Informação do Orçamento Público em Saúde);

• adoção do Cartão SUS em alguns municípios;

• implementação do Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde (PITS);

• atualização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME);

• aprovação da Lei dos Medicamentos Genéricos (Lei 9787/99);

• realização da 11ª Conferência Nacional de Saúde em 2000 e da I Conferência Nacional de Vigilância Sanitária
(CNS, 2000; Convisa, 2001)

• estabelecimento da Emenda Constitucional (EC-29). o Brasil passou a ocupar posição de destaque sobretudo
durante a 54ª Assembléia Mundial da Saúde em 2001, situando a política de saúde brasileira à frente das adotadas
pela OMS e servindo de modelo para tomar atitudes mais ousadas.

Nesse particular, destacam-se a defesa do medicamento como direito humano, o controle da AIDS não só através
da prevenção mas com o tratamento das pessoas contaminadas pelo HIV, a proposta de produção de medicamentos
a preços reduzidos para países pobres, a luta contra o tabaco, com a legislação proibindo a propaganda em rádio e TV
(inclusive em eventos esportivos e culturais internacionais), e a política de aleitamento exclusivo nos primeiros 6
meses de vida das crianças (Noronha, 2001).

Perspectivas das políticas de saúde

Desse modo, podem ser resumidas as características das políticas de saúde do Brasil no século passado:

• incorporação lenta e gradual da população brasileira ao sistema de serviços de saúde;

• participação ambivalente do Estado no financiamento, distribuição, prestação e regulação dos serviços de


saúde;

• fragmentação institucional entre a assistência médico-hospitalar, a saúde pública e a saúde ocupacional;

• centralização da gestão;

• restrições à participação do cidadão e das organizações da sociedade civil no controle público do Estado, dos
seus aparelhos e da sua burocracia;

• segmentação do sistema com a conformação contraditória de 2 “sub-sistemas” - o público (SUS) e o privado


(SAMS e outros);
• formas diferenciadas de financiamento e de remuneração dos serviços; universal e “excludente”;
“Hospitalocêntrico” e curativo.

Legalmente, o SUS é o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público (Lei
8080/90 Art. 4o) (Conasems, 1990). Trata-se de uma forma de organizar as ações e os serviços de saúde no Brasil de
acordo com princípios, diretrizes e dispositivos estabelecidos pela Constituição da República e Lei Orgânica da Saúde.

Distintas concepções de SUS: a) o “SUS democrático” desenhado pelo projeto da Reforma Sanitária Brasileira; b)
o “SUS formal”, juridicamente estabelecido pela Constituição Federal, pelas constituições estaduais, leis orgânicas,
decretos, portarias, resoluções, etc; c) o “SUS real”, refém dos desígnios da chamada “área econômica”, do
clientelismo e da inércia burocrática que favorece o mercado para o seguro-saúde; d) o “SUS para pobre” centrado
numa medicina simplificada para gente simples mediante “focalização” (Paim, 2002).

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