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CONQUISTA DO DIREITO A SAÚDE

PELO BRASILEIRO: HISTÓRICO


 
Prof. Me Elenildo Aquino
• A Luta pelo Direito à Saúde no Brasil

 O direito à saúde foi reconhecido


internacionalmente em 1948, quando da
aprovação da Declaração Universal dos
Direitos Humanos pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
• A ONU e a saúde

 As Nações Unidas, desde sua criação, têm


participado ativamente na promoção e proteção de
bons níveis de saúde em nível mundial.
 Liderando este esforço está a Organização Mundial
da Saúde (OMS), cuja Constituição entrou em vigor a
7 de abril de 1948. No início, foi decidido que as
prioridades da OMS seriam a malária, a saúde de
mulheres e crianças, a tuberculose, doenças
venéreas, a nutrição e o saneamento ambiental.
Muitos destes assuntos permanecem ainda na
agenda da OMS até hoje, além de novas doenças,
como o HIV/AIDS.
“Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de
assegurar a saúde e o bem-estar próprios e de sua família,
incluindo alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e serviços sociais indispensáveis, e direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez,
velhice ou outros meios de subsistência em circunstâncias
fora de seu controle”.

Declaração Universal dos Direitos Humanos - Artigo 25, parágrafo 1

http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao_universal_dos_direitos_do_homem.pdf
“ A saúde - estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou
enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a
consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais
importante meta social mundial, cuja realização requer a ação
de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor
da saúde”.

Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários


Alma-Ata, URSS, 12 de setembro de 1978

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_alma_ata.pdf
 No Brasil, ele foi incorporado como o “direito” à
assistência em saúde dos trabalhadores com vínculo
formal no mercado de trabalho, o que contemplava
somente a parcela da população que contribuía para
a previdência social e privava a maioria da população
ao acesso às ações de saúde, restando a elas a
assistência prestada por entidades filantrópicas.
 Nesse contexto, a saúde não era considerada um
direito, mas tão-somente um benefício da
previdência social, como a aposentadoria, o auxílio-
doença, a licença maternidade e outros.
 Coerentes com essa visão, durante décadas, as
políticas públicas de saúde tiveram como objetivo
propiciar a manutenção e recuperação da força de
trabalho necessárias à reprodução social do capital.
Ao mesmo tempo, o setor Saúde era marcado por
forte cunho assistencialista e curativo, de caráter
crescentemente privatista, com pouca prioridade
para as políticas de promoção da saúde.
 O movimento pela Reforma Sanitária surgiu da
indignação de setores da sociedade sobre o
dramático quadro do setor Saúde. Por isso, desde o
início, pautou sua ação pelo questionamento desse
quadro de iniqüidades. Suas primeiras articulações
datam do início da década de 1960, quando foi
abortado pelo golpe militar de 1964.
 O movimento atingiu sua maturidade a partir do fim
da década de 1970 e princípio dos anos 1980 e
mantém-se mobilizado até o presente. Ele é formado
por técnicos e intelectuais, partidos políticos,
diferentes correntes e tendências e movimentos
sociais diversos.
 A luta pela Reforma Sanitária teve como um de seus
pontos altos a realização, em 1986, da 8.ª
Conferência Nacional de Saúde, evento que, pela
primeira vez na história do país, permitiu a
participação da sociedade civil organizada no
processo de construção de um novo ideário para a
saúde.
 A conferência foi norteada pelo princípio da “saúde
como direito de todos e dever do Estado”. Suas
principais resoluções foram confirmadas pela
Constituição Federal, promulgada em 1988. Essa
vitória foi fruto de intensa mobilização popular, que
resultou na Emenda Popular da Saúde, subscrita por
mais de 500 mil cidadãos brasileiros.
 No texto constitucional, a saúde passou a integrar o
Sistema da Seguridade Social, juntamente com a
previdência e a assistência social. Instituiu-se o SUS,
como um sistema de atenção e cuidados, com base
no direito universal à saúde e na integralidade das
ações, abrangendo a vigilância e promoção da
saúde, e recuperação de agravos.
 Os princípios do SUS, definidos na Constituição
Federal, são detalhados nas leis n.º 8.080, de 19 de
setembro de 1990, e n.º 8.142, de 28 de dezembro
de 1990, mais conhecidas como Leis Orgânicas da
Saúde. Para melhor compreensão, esses princípios
podem ser divididos em ético-políticos e
organizativos.
• O Sistema Único de Saúde (SUS) é a denominação
do sistema público de saúde brasileiro, considerado
um dos maiores sistemas públicos de saúde do
mundo, segundo informações do Conselho Nacional
de Saúde.
• Foi instituído pela Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 196, como forma de efetivar o
mandamento constitucional do direito à saúde como
um “direito de todos” e “dever do Estado” e está
regulado pela Lei nº. 8.080/1990, a qual
operacionaliza o atendimento público da saúde.
• Com o advento do SUS, toda a população brasileira
passou a ter direito à saúde universal e gratuita, que
deve ser fornecida pelos três entes federativos -
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
• Fazem parte do Sistema Único de Saúde, os centros e
postos de saúde, os hospitais públicos, incluindo os
universitários, os laboratórios e hemocentros, os
serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância
Epidemiológica, Vigilância Ambiental, além de
fundações e institutos de pesquisa acadêmica e
científica, como a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
e o Instituto Vital Brazil.
• O Sistema Único de Saúde (SUS) é resultado de um
longo processo de construção política e institucional,
iniciado com a Reforma Sanitária, no intuito de
transformar as condições de vida e de atenção à
saúde da população brasileira.
• A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em
1986, com a participação de cerca de 4.000
delegados eleitos em Conferências Municipais e
Estaduais em todo o Brasil, estabeleceu os marcos
políticos e conceituais para a transformação do
sistema de saúde no Brasil.
• A saúde passou a ser reconhecida como um direito
fundamental, sendo que o Estado deveria garantir o
acesso aos serviços e a promoção à saúde para a
população.
• A Constituição de 1988, incorporou essas propostas,
assegurando à saúde como direito de todos e dever
do Estado, criando-se o Sistema Único de Saúde -
SUS, se caracterizando como a maior política de
inclusão social do Brasil.
• Este Sistema é regido pelos princípios do acesso
universal, da integralidade das ações, da equidade e
da participação da comunidade.
• O SUS nos seus 33 anos de existência, obteve muitas
conquistas. Trata-se de um plano de saúde que
atende a qualquer cidadão, garantindo transplantes
de órgãos, medicamentos, internações; sendo
referência internacional em alguns programas, como
Programa Nacional de Imunizações-PNI e Programa
de Combate a AIDS. Trata-se, portanto, de uns dos
mais importantes projetos sociais lançados no
mundo.
• Dentre os avanços, destacam-se: queda expressiva
da mortalidade infantil, erradicação da poliomielite e
controle do sarampo*, do tétano e da difteria, entre
outras doenças, além da morbimortalidade entre os
doentes infectados pelo HIV.
• O aumento da expectativa de vida e envelhecimento
da população, descoberta de novos fármacos,
terapias e diagnósticos, fazem com que a demanda
do sistema único seja crescente, o que requer um
aumento nos gastos.
• Faz-se necessário então a necessidade de
aperfeiçoamento do seu sistema de gestão e de
ações eficazes para ampliar o financiamento e
melhorar o acesso aos serviços de saúde.
• O Sistema Único de Saúde (SUS) é referência para o
mundo em saúde pública e universal. Fruto de um
longo processo de lutas e conquistas da sociedade
civil organizada, o Sistema nasceu junto com o
processo de redemocratização do Brasil e hoje, aos
31 anos (regulado pela Lei nº. 8.080/1990), tem
muitos desafios a serem superados.
• Atendendo à população de um país continental, os
números do SUS são do tamanho de sua ousadia e
mostram que, apesar das dificuldades e limitações, o
Sistema caminha para fazer jus ao seu princípio
basilar: garantir assistência universal e integral à
saúde dos brasileiros, com qualidade e em tempo
adequado.
• Em termos de leito hospitalar, por exemplo, o SUS
oferece hoje mais de 350 mil dos 503 mil leitos
disponíveis no país. Leitos de UTI são mais de 17 mil,
representando 49% do total existente.
• Todos os brasileiros são usuários do SUS, que não é
apenas atendimento médico. O SUS é um sistema de
Vigilância em Saúde, Ambiental e Epidemiológica,
com ações de Promoção da Saúde que acontecem
24 horas por dia, 365 dias por ano. Da água que
bebemos ao tratamento mais complexo, aí está o
SUS.
• No quesito assistência hospitalar e ambulatorial,
dependem exclusivamente do SUS 145 milhões de
pessoas. Têm atuação permanente no Sistema 2
milhões de profissionais, que atuam em 64 mil
estabelecimentos de saúde, 30,3 mil Equipes de
Saúde da Família (ESFs).
• Por ano, são realizados cerca de 3,4 bilhões de
procedimentos ambulatoriais e quase 480 milhões
de consultas médicas.
• É para o SUS que a maioria dos brasileiros recorre
quando precisa de atendimento de alta
complexidade.
• Em 2011, foram realizados 10,5 milhões de
procedimentos para câncer (quimioterapia e
radioterapia), 282 mil cirurgias cardíacas, 98 mil
cirurgias oncológicas e 21 mil transplantes. O
Sistema movimenta 90% do mercado de vacinas e
70% do de equipamentos hospitalares.
• A gestão interfederativa e participativa do SUS é
outra grande conquista, que faz do Sistema uma
referência mundial em administração pública.
• Na Constituição Federal e na Lei 8.080/90, a Saúde é
definida como direito do povo e dever do Estado. Na
Lei 8.142/90, as conferências, realizadas a cada
quatro anos, e os conselhos de saúde, ganharam
status de instâncias colegiadas do poder
deliberativo.
• No Decreto 7.508/11, foi conferida maior
legitimidade às Comissões Intergestores Bipartite*,
Tripartite** e Regional, compostas por
representações das esferas estadual, municipal e
federal.
• O Decreto trouxe também o Contrato Organizativo
de Ação Pública (COAP), que organiza atribuições
dos gestores, garantindo que as Regiões de Saúde
ofertem atendimento de baixa, média e alta
complexidade, reduzindo o trânsito de pacientes.
Pelo COAP, o cidadão também poderá acompanhar
os compromissos assumidos e sua execução.
• Este é o SUS que amadurece com a democracia e é
uma de suas representações mais concretas.
Enfrenta crises, limitações, mas segue forte rumo a
metas sempre ousadas. O foco é sempre o mesmo, a
saúde do povo brasileiro.
• Avaliar as conquistas, à luz dos desafios, são atitudes
necessárias para o aprimoramento do nosso sistema
de saúde.
• Tornar o SUS cada vez mais operacionalizável e
acessível é o desafio que devemos assumir.
• Para os direitos existirem deve haver a sua
realização e suas mediações, e com o direito a saúde
não é diferente.
• Os princípios do SUS não podem permanecer presos
na letra irrealizada da lei ou apenas no niilismo de
valores.
• Cada vez mais devemos lutar para a instituição de
mecanismos claros para a progressiva efetividade do
SUS.
• Só assim promoveremos a saúde como direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (art. 196,
Constituição Federal).
• Conclusão:
 Para garantir saúde pública de qualidade a toda população, o
Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho. Mas, se de
um lado tem desafios como a carência de médicos em muitas
regiões, a distribuição irregular dos profissionais em seu
território e a falta ou inadequação da estrutura de
atendimento em diversas unidades, do outro tem o mérito de
ser o único país com mais de 100 milhões de habitantes que
assumiu o compromisso de contar com um sistema universal,
integral, igualitário e gratuito de saúde.

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