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Carta Aberta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS)

A concretização do SUS pela Constituição Federal de 1988, e a sua regulamentação pelas


leis orgânicas 8.080/90 e 8.142/90 foi resultado de uma grande mobilização da sociedade,
através de movimentos do campo e da cidade, associações de bairros, pesquisadores,
sindicatos e instituições. A luta da população por melhores condições de vida e saúde
alimentou e originou o SUS. A Reforma Sanitária, como ficou conhecido esse movimento a
partir de 1970, defendia um sistema democrático, descentralizado e universal, visando a
redução da desigualdade. Foi um movimento cultural que mudou a percepção sobre saúde,
onde o modelo biomédico seria substituído por novas práticas e olhares, com noções de
determinantes sociais da saúde, transversalidade e intersetorialidade. Um modelo de difícil
implementação, porém potente para atuar nas desigualdades em saúde. A 8ª Conferência
Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi um dos momentos mais importantes na definição
do Sistema Único de Saúde, onde os temas debatidos serviram de base para a formulação
do texto da Carta Magna, que estabelece em seu artigo 196 que a saúde é um direito de
todos e um dever do Estado.
O SUS é responsável pela atenção, cuidado e vigilância à saúde, em todas as suas
dimensões e níveis, do individual ao coletivo, da atenção primária à especializada. Hoje é
reconhecido internacionalmente pelo êxito em diversos programas, como tratamento de
HIV/AIDS, transplantes, vacinação e combate ao câncer. Apesar de tantos avanços, muitos
obstáculos precisam ser vencidos, como o interesse daqueles que apostam na
mercantilização da saúde. É preciso retomar o debate, posicionando a saúde como
estratégia para a democracia, mobilizar a participação popular pelo direito à saúde e em
defesa do SUS. Melhorar a rede de atenção e de cuidado, garantindo a universalidade, a
integralidade e a equidade, com qualidade e humanização. Sobretudo, garantir o
financiamento permanente do sistema, por meio de fontes estáveis e que os governos
vejam a saúde pública como um investimento e não como gasto. É preciso o protagonismo
de novas vozes.
Durante o período de pandemia, o quadro epidemiológico do Brasil se agravava na
velocidade que a COVID-19 avançava e atingia as diversas classes sociais do país com
sua alta letalidade, esse cenário exigiu do SUS ações específicas e voltadas para uma
resposta assistencialista à população, porém sem deixar de lado seus princípios, práticas e
protocolos já consolidados.
Foi diante desse cenário que muitos brasileiros tiveram conhecimento e puderam perceber
a real importância do nosso Sistema Único de Saúde, muito se falou das suas vantagens e
também das suas limitações, mas principalmente sobre o quanto esse sistema é essencial
para o nosso país, pois sem ele os impactos seriam ainda piores. O princípio da
universalidade do SUS ficou muito evidenciado na pandemia, dando acesso igualitário e
integral nos tratamentos, afinal todos nós somos usuários, seja de maneira direta ou
indireta, utilizamos os serviços desde a promoção e prevenção da saúde como o cuidado e
tratamento de doenças, aqui englobam- se as vacinas, as pesquisas e testes relacionados
ao COVID -19, ou seja, temos um dos maiores e mais completo sistema de saúde pública
do mundo que atua baseado no acesso integral, universal e gratuito aos usuários.
Ainda há muito o que melhorar, a luta é constante para se ter um fortalecimento do sistema,
isso demanda mais investimentos na área da saúde, a caminhada em direção a um
sistema universal de saúde mais efetivo é longa, porém imediata, o SUS agora é mais
necessário do que nunca. O acesso à saúde é um direito previsto na Constituição, é uma
questão de cidadania, de respeito.
Rio de Janeiro, 07 de dezembro de 2021.

Sonia Secchis - Nutrição - UFRJ

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