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Situação problema 3: “A jornada”

Objetivo 1: Compreender a evolução histórica da saúde pública no Brasil (séc. XX).


No início do século XX, diversas classes trabalhadoras, como ferroviários, bancários e
marítimos começaram a organizar-se e pressionavam por direitos e proteção social. Porém,
como o governo não proporcionava essa proteção requerida pelos trabalhadores, eles
criaram as CAPs ( Casas de Aposentadorias e Pensões) para assegurar aposentadoria aos
trabalhadores e pensões para as viúvas e dependentes. Essas CAPs eram criadas pelos
próprios trabalhadores por meio de entidades sindicais. Não demorou muito para que o
Governo se interessasse por essas organizações, que passaram a ter fundos financeiros
volumosos controlados pelos trabalhadores. Um projeto de lei, à época denominado decreto
legislativo, é o marco regulador do sistema de caixas previdenciárias que a partir de 1923
deixaram de ser organizadas e mantidas pelos próprios trabalhadores e passaram a contar
com as contribuições do empregador. Com as CAP organizadas por empresas, vieram as
pressões por assistência médica e à maternidade e infância, o que daria origem à
denominada medicina previdenciária, restrita aos trabalhadores com emprego formal e
seus dependentes. Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, as caixas foram sendo
transformadas em Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP), agora organizados por
categorias profissionais e não mais por empresa. Os IAP mantiveram a medicina
previdenciária, mas as características e condições da assistência que prestavam variavam
bastante entre os IAP, com alguns limitando a 30 dias o período de internação (marítimos),
e outros cobrando contribuição suplementar para essa finalidade (industriários e transportes
de cargas). O IAP dos marítimos fixou um limite orçamentário para a assistência médica,
que não poderia exceder 8% da receita do ano anterior daquele IAP. Já no período da
ditadura civil-militar instaurada em 1964, os IAP deram origem ao INPS, o Instituto Nacional
de Previdência Social, que, pondo fim à organização previdenciária por categoria
profissional, unificou o sistema e, também, a medicina previdenciária. No âmbito do INPS,
foi criado, em 1974, um órgão específico para a saúde: o Instituto de Assistência Médica
da Previdência Social (INAMPS), que seria incorporado ao Ministério da Saúde em 1990.
Nas primeiras décadas do século XX, as pressões por assistência médica e à maternidade
e infância dariam origem também, fora da medicina previdenciária, aos programas de
saúde materno-infantil dirigidos à população não assegurada pela nascente Previdência
Social. Esses programas se articulariam aos demais “programas de saúde pública” que se
ocupavam das chamadas “doenças pestilenciais”, persistentes na população brasileira,
como cólera, peste bubônica, febre amarela, varíola e as chamadas “doenças de massa”,
ou seja, as doenças infecciosas e parasitárias, como a tuberculose, a hanseníase e a febre
tifoide, entre outras. Até meados do século XX, a população rural concentrou a maior parte
da população brasileira. Apesar disso, era escasso o acesso a cuidados de saúde. Na maior
parte do território brasileiro, o cenário era de total abandono institucional. Esse contingente
da população lidava com suas necessidades de saúde conseguindo acesso esporádico a
hospitais de caridade ou, principalmente, lançando mão de práticas da chamada
“medicina tradicional”. O modo de organizar os “programas de saúde pública” motivou, nos
anos de 1920 e 1930, as ações de Geraldo Horácio de Paula Souza, que desenvolveu sua
formação nos Estados Unidos. Paula Souza divergia do modo predominante de organizar
as ações de saúde pública baseadas em estruturas que se reproduziam na administração
pública com base em tipos de doenças e programas verticais correspondentes comandados
pelo governo federal em todo o País. Paula Souza propunha que, ao contrário, as ações de
saúde pública deveriam estar unificadas em unidades básicas de saúde, às quais
denominou “centros de saúde”, que deveriam planejar, organizar e executar todas as ações
requeridas em um determinado território para o enfrentamento desses problemas. Essa
concepção seria adotada, a partir dos anos 1940, pelo Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP). O SESP foi criado no contexto da Segunda Guerra Mundial porque o Brasil foi
pressionado pelos Estados Unidos para retomar a produção de borracha no interior da
Amazônia. Mas “Amazônia” significava enfrentar a malária, a febre amarela e outros riscos
sanitários que precisariam ser combatidos. Daí o acordo, celebrado em 1942, entre os
governos aliados para criar o SESP. Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde.Em 1960, a
lei 3.750 tornou o SESP uma fundação estatal (FSESP), vinculada ao Ministério da Saúde,
mas com autonomia financeira e de gestão e, portanto, como órgão federal permanente
sem qualquer vinculação internacional. A FSESP desenvolveu à época, embora marcada
por uma forte centralização e uma grande influência da administração militar, uma rica
experiência de planejamento e administração de ações de saúde pública. Buscou-se
articular o “campanhismo” da saúde pública tradicional com o liberalismo privatista
predominante, resultando em um modelo de saúde que se caracterizou pela utilização
privada de recursos públicos para consolidar um setor de prestação de serviços de
saúde sem controle público e fundado na propriedade privada das organizações com
atuação no setor. Contrapondo-se à reforma de base na saúde proposta pela 3ª CNS, a
ditadura civil-militar anunciou, em 1968, o seu plano de reforma nesse setor: o “Plano
Leonel Miranda”, como ficou conhecido o Plano Nacional de Saúde (PNS).O “Plano Leonel
Miranda”, liderado por Leonel Tavares Miranda de Albuquerque, propunha a universalização
do acesso aos cuidados de saúde e a integração da medicina previdenciária ao Ministério
da Saúde com a privatização da rede pública e a livre escolha dos médicos, cujas consultas
seriam pagas com recursos públicos. As pessoas escolheriam livremente o profissional
ou o hospital de sua preferência e o Ministério da Saúde pagaria diretamente aos
prestadores pelos serviços produzidos, com os valores variando de acordo com a
complexidade dos procedimentos. O PNS teve a oposição aberta de alguns governos
estaduais, como os de São Paulo e Rio Grande do Sul, e velada de dirigentes da medicina
previdenciária. Não tendo sido bem articulado politicamente no interior do governo federal, o
PNS não foi implantado. No começo dos anos 1970, as restrições à oferta de serviços da
medicina previdenciária aos segurados e dependentes, o foco do Ministério da Saúde em
educação sanitária e controle de endemias e epidemias, e as indefinições quanto ao papel
dos municípios nas ações de saúde deixavam um vazio institucional nos atendimentos de
urgência e emergência. A imprensa denunciava, com grande frequência, casos de omissão
de socorro que, em alguns casos, tinham desfechos graves, o que contribuía para a
disseminação de uma imagem ruim do governo, que estaria sendo insensível às mortes por
falta de assistência médica pública. Em 1975, foi aprovada a lei 6.229, criando o Sistema
Nacional de Saúde (SNS) e fixando uma base legal para o desenvolvimento de ações
conjuntas entre os ministérios da Saúde e da Previdência Social. Foi nesse contexto de
criação do SNS que o governo instituiu o Plano de Pronta Ação (PPA), segundo o qual se
buscava universalizar o atendimento médico, principalmente os de emergência, financiando-
se a produção dos serviços com recursos da previdência, independentemente da condição
de segurado ou dependente do paciente. De qualquer modo, o PPA criou um marco na
assistência médica pública no Brasil ao assegurar a todos os cidadãos atendimento médico
de emergência. É exagerada e, a rigor, incorreta, portanto, a afirmação muito difundida e
popularizada de que “antes do SUS não havia acesso aos serviços públicos”. Havia
acesso. Mas ele era, efetivamente, restrito às localidades – que eram poucas e, em geral,
nas capitais e grandes cidades – que contavam com serviços conveniados. E não havia,
isto também é correto, o reconhecimento formal de que a saúde é um direito. Um ano
após a criação do SNS, o governo federal anunciou, em 1976, a criação do PIASS, o
Programa de Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento, com o objetivo de dotar
as comunidades do interior nordestino com população de até 20 mil habitantes de uma
“estrutura básica e permanente de saúde pública”. O Centro Brasileiro de Estudos de
Saúde (CEBES) foi criado em julho de 1976 durante a 28ª Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência. Em outubro de 1979, realiza-se na Câmara dos
Deputados, organizado por sua Comissão de Saúde, o I Simpósio sobre Política Nacional
de Saúde. O CEBES apresenta nesse evento o documento “A questão democrática na área
da saúde”, que, por suas características de aliar denúncia e proposição, converteu-se numa
referência para a evolução das lutas por um sistema universal de saúde, vinculando esse
projeto político-institucional à democratização do país. O documento do CEBES propôs,
de modo original, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), assinalando a
necessidade de participação social no controle da saúde pública e reafirmando o direito à
saúde como um direito de todos. Embora no ano seguinte, em 1980, tenha se realizado a 7ª
Conferência Nacional de Saúde (7ª CNS), foi apenas na 8ª CNS, realizada em 1986, que o
direito universal à saúde e a criação do SUS atingiram um alto grau de consenso social, o
que levou a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) a aprovar essas demandas da
sociedade em 1988. Mas o SUS derivou, politicamente, da campanha das Diretas Já! para
a presidência da República, cujo impulso renovador, democrático, popular produziu efeitos
importantíssimos sobre a ANC. Apenas essa força, que veio da organização popular e dos
atos públicos que levaram milhões de brasileiros às ruas e praças do país, explica que
tenha sido possível que um punhado de deputados e senadores (em torno de cem) tenha
conseguido obter votos majoritariamente favoráveis ao SUS num congresso constituinte de
559 membros. A esmagadora maioria desses constituintes não queria o SUS, pois não
queriam nem ouvir falar de um Estado de Bem-Estar Social no Brasil. Esta é a principal
contradição do período de nascimento do SUS. Os que o propuseram entendiam-no como
parte desse Estado de Bem-Estar Social que almejavam construir no Brasil. Conseguiram
aprová-lo e inscrevê-lo no texto constitucional. O principal líder da proposta de criar um
sistema universal de saúde, Sérgio Arouca, afirmava com todas as letras: “O SUS é um
projeto civilizatório”.
REFERÊNCIA:
NARVAI, Paulo C. SUS: uma reforma revolucionária. Para defender a vida. (Coleção
ensaios).Grupo Autêntica, 2022. 9786559281442. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559281442/. Acesso em: 10 ago.
2022.

Objetivo 2: Descrever os principais movimentos sociais para a implantação e


modificações da saúde pública no Brasil.
CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE (CEBES): essa entidade foi uma entre
os muitos movimentos sociais que começaram a se organizar em todo o Brasil tendo como
referência as lutas pelo direito à saúde, entendido como algo que deveria ir além da mera
assistência médica e incluir o acesso a direitos sociais como habitação, alimentação,
trabalho, terra para plantar, água tratada, cuidados com o lixo e o ambiente em sentido
amplo. O CEBES se organizou a partir da consigna “Saúde e Democracia” e, em novembro
de 1976, lançou a revista Saúde em Debate para propagar essa consigna e publicar
estudos e pesquisas desenvolvidos nessa perspectiva. O CEBES representou a
possibilidade de uma estrutura institucional para o triedro que caracterizou o movimento da
reforma sanitária brasileira: a construção de um novo saber que evidenciasse as relações
entre saúde e estrutura social; a ampliação da consciência sanitária onde a Revista Saúde
em Debate foi, e continua sendo, seu veículo privilegiado; a organização do movimento
social, definindo espaços e estratégias de ação política. O CEBES, por meio da reforma
sanitária buscava uma “totalidade de mudanças”, ou seja, um processo de transformação
da situação sanitária com quatro dimensões: específica, institucional, ideológica e das
relações: 1a.) A dimensão específica: como o campo da dinâmica do fenômeno
saúde/doença nas populações, que se expressa pelos indicadores disponíveis, como o
coeficiente da mortalidade infantil, expectativa de vida, etc., pela experiência acumulada,
pela comparação com o nível de saúde já alcançado por outras populações, etc. 2a.) A
dimensão institucional: como o campo das instituições que atuam no setor (públicas,
privadas, beneficentes), da produção de mercadorias, de equipamentos, a formação de
recursos humanos. Este campo é mais tradicionalmente definido como o Sistema ou o Setor
Saúde. 3a.) A dimensão ideológica: em que há valores, juízos, concepções, preconceitos
que representam a expressão simbólica e histórica de uma dada situação sanitária. 4a.) A
dimensão das relações: num dado momento histórico, a organização social e produtiva de
uma sociedade leva a que a produção, distribuição e apropriação das riquezas de forma a
determinar situações de risco e de possibilidades ao fenômeno saúde/doença. Tudo isso foi
um espelho para a formulação de um conceito para o SUS.
DIRETAS JÁ!: em um cartaz na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio Municipal do
Pacaembu, está escrito, com letras vermelhas: “Arroz, feijão, saúde e educação. Diretas
na eleição”. O dia é 27 de novembro de 1983 e há um aglomerado de gente que reúne
perto de 15 mil pessoas. No palanque, discursam lideranças políticas, ali reunidas por mais
de 70 entidades civis. Ainda não era, logo se percebe, o vigoroso movimento que entraria
para a história brasileira como a campanha das Diretas Já!, o processo político que
culminaria com a instituição de um Estado Democrático de Direito pela Constituição de
1988. O sentimento de frustração da praça Charles Miller foi dando lugar a um otimismo que
aumentou ainda mais quando o comício de Curitiba reuniu mais de 50 mil pessoas em 12
de janeiro de 1984 e uma multidão de mais de 300 mil pessoas lotou a Praça da Sé, no
centro de São Paulo, em 25 de janeiro daquele ano. Nesse cenário, a reivindicação por
“Diretas na eleição” presidencial era percebida como a possibilidade de, ao votar, promover
mudanças que melhorassem a qualidade de vida. Não haveria Assembleia Nacional
Constituinte, nem a Constituição de 1988, tal como ela se efetivou historicamente, sem a
campanha das Diretas Já!. E não haveria, portanto, o SUS sem a campanha das Diretas
Já!, pois se é correto afirmar que o SUS foi concebido pelo movimento da Reforma Sanitária
nos anos 1970 é igualmente correto reconhecer que sua gestação se deu entre a 8ª
Conferência Nacional de Saúde (8ª CNS), em março de 1986, e a 267ª Sessão da
Assembleia, vindo à luz em 17 de maio de 1988. Mas a 8ª CNS não teria sido o que foi se
antes, em 1983 e 1984, o chão do país não tivesse sido sacudido pelas manifestações de
milhões de brasileiras e brasileiros que pediam para eleger diretamente o presidente da
República. As Diretas Já! foram o pai da Constituinte e a mãe do SUS. Pois entre as
reivindicações da população não poderia faltar saúde de qualidade, um dos pilares para a
qualidade de vida.

REFERÊNCIAS:
NARVAI, Paulo C. SUS: uma reforma revolucionária para defender a vida. (Coleção
ensaios). Grupo Autêntica, 2022. E-book Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559281442/. Acesso em: 10 ago.
2022.
PAIM, Jairnilson Silva. A reforma sanitária brasileira e o CEBES. 2012.

Objetivo 3: Caracterizar os princípios e as diretrizes que norteiam o SUS.


PRINCÍPIOS DO SUS:
● Doutrinários: são o núcleo comum de valores e concepções que servem de base
para o SUS. Eles são uma escolha e um resultado da luta da sociedade brasileira
para legitimar e garantir esses valores.
➔ Universalidade: o artigo 196 da Constituição Federal afirma que “a saúde é
direito de todos e dever do Estado”. Portanto, isso significa que a saúde é um
direito e não um serviço pelo qual precisa se pagar e todos os cidadãos,
independentemente de suas condições, têm esse direito. Assim, também é
um serviço gratuito, sem pagamento direto por parte da população. A
universalidade não se apresenta somente como o direito à saúde mediante
políticas públicas, mas também aponta para a questão do direito à vida e à
igualdade de acesso sem distinção de raça, sexo, religião ou qualquer outra
forma de discriminação.
➔ Equidade: a equidade consiste em tratar “desigualmente o desigual”, atentar
para as necessidades coletivas e individuais. Esse princípio busca enxergar
o campo da diferença e não da igualdade, onde é preciso reconhecer a
pluralidade e a diversidade da condição humana. Ela justifica a prioridade na
oferta de ações e serviços para aqueles que mais precisam, levando em
conta as vulnerabilidades com relação à saúde.
➔ Integralidade: esse princípio deve priorizar as ações preventivas, mas sem
prejuízo das ações de assistência. Isso significa que o usuário do SUS têm o
direito a serviços que atendam suas necessidades, da vacina ao transplante,
com a prioridade para o desenvolvimento de ações preventivas. Por isso,
sistema único de saúde, pois não há dois sistemas, o SUS é responsável por
cada etapa da saúde de uma pessoa. Em cada esfera do governo, o SUS
deve visar à integralidade.
DIRETRIZES DO SUS:
➔ Descentralização e comando único: distribuição do poder político, de
responsabilidades e de recursos da esfera federal para a estatal e a municipal. Em
cada esfera do governo, há um órgão de direção de saúde: federal - Ministério da
Saúde; estadual - secretarias estaduais de saúde; municipal - secretarias municipais
de saúde. Estabelecem-se instâncias de representação, monitoramento e pactuação
política e administrativa entre as esferas governamentais.
➔ Regionalização e hierarquização: organização do sistema que deve focar a noção de
território, onde se determinam perfis populacionais, indicadores epidemiológicos,
condições de vida e suporte social, que devem nortear as ações e serviços de saúde
de uma região. A hierarquização diz respeito aos níveis de complexidade requerida
pelas necessidades das pessoas. A organização deve ocorrer desde as ações de
promoção e prevenção da saúde até as ações de alta complexidade, com recursos
diagnósticos, internações e cirurgias.
➔ Participação popular: aparece como uma das diretrizes que deve gerir o novo
sistema de saúde, ou seja, formaliza e institucionaliza a participação da população
como um dispositivo de formulação e acompanhamento das políticas públicas dentro
do sistema. Essa possibilidade de participação é um poderoso instrumento da
sociedade, formalmente reconhecido e instituído no interior do SUS. As pessoas
podem discutir sobre questões de saúde que consideram necessárias para a
melhoria de sua qualidade de vida.
As bases legais que onde estão expressos os elementos básicos que estruturam e
organizam o SUS, são:
1. Constituição Federal de 1988: na qual a saúde é um dos setores que estruturam a
seguridade social .
2. Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, conhecida como a lei orgânica da saúde,
dispõe principalmente sobre a organização e a regulação dos serviços de saúde em
todo o território nacional.
3. Lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990, estabelece o formato da participação popular
no SUS e as transferências governamentais de recursos financeiros na área da
saúde.
REFERÊNCIA:
MATTA, Gustavo Côrrea et al. Princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Objetivo 4: Conceituar os níveis de atenção à saúde.


NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE: essa organização pretende organizar os serviços
oferecidos pelo SUS de acordo com os níveis de complexidade. Os principais componentes
das redes integradas e regionalizadas de atenção à saúde são: (1) os espaços territoriais e
suas respectivas populações com necessidades e demandas por ações e serviços de
saúde; (2) os serviços de saúde “ ou pontos da rede “ devidamente caracterizados quanto a
suas funções e objetivos; (3) a logística que orienta e controla o acesso e o fluxo dos
usuários; e (4) o sistema de governança. Essas condições favorecem uma definição mais
clara das responsabilidades que cabem a cada serviço situado no território e também
melhor articulação intersetorial para intervenção em determinantes de saúde através de
integração com outras políticas públicas. Tem sido uma condição considerada
imprescindível quando se pretendem cooperação e solidariedade entre os atores e
organizações de saúde da região para o atendimento das demandas e necessidades em
saúde de uma dada população. Além disso, oferece melhores condições para construção
de vínculos e corresponsabilização entre profissionais e usuários para melhoria das
condições de saúde.
ATENÇÃO PRIMÁRIA: é o primeiro nível e se caracteriza pelo conjunto de ações individuais
e coletivas, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos,
diagnósticos, tratamentos, redução de danos e a manutenção da saúde. É a porta de
entrada do SUS e a da rede de comunicação com os demais níveis de atenção do sistema.
A atenção primária é o filtro que organiza o fluxo dos serviços das redes de saúde, dos mais
simples aos mais complexos. A atenção primária é desenvolvida no mais alto grau de
descentralização do país, pois é o serviço mais próximo da população em geral.
ATENÇÃO SECUNDÁRIA: os tipos de atendimentos realizados na atenção secundária
compreendem consultas ambulatoriais de especialidades médicas e odontológicas,
atendimentos de urgência e emergência, atendimentos em saúde mental, certos tipos de
exames laboratoriais e de imagem e cirurgias. A realização dessas práticas é viabilizada
pelo uso de prontuário eletrônico, agenda informatizada e transporte de pessoas em
situação de risco.
ATENÇÃO TERCIÁRIA: prioriza-se a reabilitação, a recuperação e/ou a manutenção da
estabilidade funcional de pessoas adoecidas que requerem um monitoramento contínuo,
seja por meio de cirurgias, tratamentos especializados, como quimioterapia por exemplo,
fisioterapia, saúde psicológica, entre outras modalidades de cuidado.

REFERÊNCIA:

Portal da Secretaria de Atenção Primária a Saúde. Disponível em:


<https://aps.saude.gov.br/smp/smpoquee>. Acesso em: 11 ago. 2022.

SILVA, Silvio Fernandes da. Organização de redes regionalizadas e integradas de atenção à saúde:
desafios do Sistema Único de Saúde (Brasil). Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, p. 2753-2762, 2011.

Objetivo 5: Compreender a organização do sistema de referência e contrarreferência.


A partir da estruturação desse sistema, o fluxo de encaminhamento de usuários aos
diversos níveis de atenção é facilitado. Para isso, é necessário a integração dos serviços e
estabelecimento de fluxos formais de encaminhamento da clientela.
Referência representa o maior grau de complexidade, para onde o usuário é encaminhado
para um atendimento com níveis de complexidade mais elevados, como hospitais e clínicas
especializadas. Já a contra referência diz respeito ao menor grau de complexidade, quando
a necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, ou seja, o
cidadão pode ser contra-referenciado, isto é, conduzido para um atendimento em nível mais
primário, como a unidade de saúde mais próxima do seu domicílio. A inexistência da
contrarreferência implica descontinuidade do cuidado, e consequentemente, baixa
resolubilidade dos casos. A referência no serviço de saúde é realizada da seguinte forma:
os pacientes que necessitam de atendimento especializado a nível ambulatorial, são
encaminhados pelo médico responsável para o serviço requisitado, seja em um hospital ou
em outra instituição.
A não estruturação desse sistema impossibilita a continuidade da atenção à saúde, pois não
há articulação entre os diferentes níveis de densidade tecnológica para a solução dos
problemas dos usuários. A estruturação do sistema de referência e contrarreferência não
está consolidada na realidade investigativa, pois há demora no processo de referência e a
contrarreferência não é executada. O sistema de referência e contrarreferência, quando tem
um bom nível de efetividade, atende aos propósitos do princípio da integralidade da atenção
e reforça a resolubilidade, pois proporciona ao paciente um tratamento contínuo, até a
resolução do problema, independentemente de sua complexidade. Uma vez atendido na
UBS de sua referência, quando referenciado para outro nível de complexidade o usuário
deverá ser contra-referenciado para a UBS de origem, por meio de encaminhamento com
as informações necessárias para a continuidade do cuidado. Os encaminhamentos só
devem acontecer se estiverem fora da possibilidade técnica e de recursos humanos de
serem tratados na Unidade. Para possibilitar o fluxo entre os níveis de atenção que
compõem o sistema de referência e contrarreferência, é necessário que o mesmo seja
efetivo. O sistema de referência e contrarreferência opera como uma ferramenta para o
funcionamento do SUS. Contudo, sem uma rede de serviços de saúde bem elaborada e
com uma boa comunicação o funcionamento da mesma torna- se ineficiente.
REFERÊNCIAS:
FRATINI, J. R. G.; SAUPE, R.; MASSAROLI, A. Referência e contra referência: contribuição para a
integralidade em saúde. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 7, n. 1, p. 065-072, 8 set. 2008.

RIGATTO WITT, R. Sistema de referência e contra-referência num serviço de saúde comunitária. Revista Gaúcha
de Enfermagem, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 19, 2008.
MACHADO, L. M.; COLOMÉ, J. S.; BECK, C. L. C. Estratégia de Saúde da Família e o sistema de referência e de contra-
referência: um desafio a ser enfrentado. Revista de Enfermagem da UFSM, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 31–40, 2011.

RAMOS, Paula Lacerda Caixeta. Referência e contra-referência no SUS: revisão integrativa da literatura. 2018.

Objetivo 6: Entender a importância e a organização da equipe multiprofissional no


atendimento ao paciente.
O trabalho da equipe multiprofissional é uma modalidade de trabalho coletivo que é
construído por meio da relação recíproca, de dupla mão, entre as múltiplas intervenções
técnicas e a interação dos profissionais de diferentes áreas, configurando, através da
comunicação, a articulação das ações e a cooperação. Nessa proposta, cada serviço (rede
básica, serviços especializados, hospitais, outros) seria organizado por meio da composição
de equipes de referência segundo três critérios: o objetivo da unidade, as características do
local/território e os recursos disponíveis. Sua importância está no fato de que ações de
saúde realizadas em equipe promovem a formação de redes de relações e rompem visões
individualistas, além de permitirem o estabelecimento do respeito, vínculo entre
profissionais e uma abordagem resolutiva. É possível formar uma rede de relações entre as
pessoas, o que rompe a visão dominante e individualista das especialidades, permitindo
manter uma troca de saberes, afetos e vontades, que irá resultar em uma união de
diferentes ideias e trabalhos voltados à promoção da saúde. Essa união propicia uma
melhor organização do serviço de saúde e permite que ocorra o estabelecimento do
respeito, autonomia e vínculo entre os profissionais e os pacientes, visando a uma
abordagem mais integral e resolutiva, e também permite que os profissionais das diversas
áreas possam criar intervenções diferenciadas, além de investirem em desenvolvimento de
ações preventivas junto a cada comunidade nas áreas da saúde.
A equipe de atenção básica à saúde é composta por no mínimo um médico generalista ou
especialista em Medicina da Família, um enfermeiro generalista, um técnico de enfermagem
e pelas ACSs. Mas também pode-se ter a presença de uma profissional dentista, de um
nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico, psicólogo, educador físico, entre outros, para
atender a todas as necessidades da população, desde o primeiro contato até sua completa
recuperação e manutenção de sua saúde. A presença de uma equipe multidisciplinar está
mais presente na atenção primária, porém, um cuidado integralizado entre diversos
profissionais é importante em todos os âmbitos de atuação. A multiprofissionalidade oferece
potencial transformador quanto à ressignificação das práticas dos profissionais de saúde, o
que é evidenciado pelo êxito em várias experiências que têm conseguido ampliar a
percepção desses profissionais sobre as carências encontradas. A multiprofissionalidade
corresponde a uma postura profissional e não a uma técnica de prática em saúde. A
demanda da realidade apresentada depende de um conhecimento não fragmentado, mas
que seja produzido através da interlocução entre os profissionais em serviço.
REFERÊNCIAS:
PEDUZZI, Marina; CIAMPONE, Maria Helena Trench. Trabalho em equipe. Dicionário de educação
profissional em saúde, v. 2, p. 419-26, 2009.

MARQUESA, Juliana Bittencourt. Contribuições da equipe multiprofissional de saúde no Programa


Saúde da Família (PSF): uma atualização da literatura. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 31, n.
2, p. 246-246, 2007.

FREITAS, Marcos Souza; DE SOUSA SANTOS, Boaventura. MULTIPROFISSIONALIDADE: os


desafios da sua prática. Saúde Multiprofissional, p. 107, 2021.
Objetivo 7: Analisar a importância dos indicadores epidemiológicos para a criação de
políticas públicas de saúde.
A epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos relacionados
à saúde (como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de saúde) não se
distribuem ao acaso entre as pessoas. Os indicadores são os índices críticos capazes de
orientar a tomada de decisão em prol das evidências ou providências.
Indicadores epidemiológicos são importantes para representar os efeitos das ações de
saneamento - ou da sua insuficiência - na saúde humana e constituem, portanto,
ferramentas fundamentais para a vigilância ambiental em saúde e para orientar programas
e planos de alocação de recursos em saneamento ambiental no país. Esses indicadores,
quando bem administrados, são ferramentas fundamentais para a gestão de programas e
serviços bem como para a avaliação do sistema de saúde. Quem melhor define os
indicadores são os profissionais da saúde, a população e os gestores diretamente
envolvidos no processo de trabalho. Os principais indicadores são: mortalidade e sobrevida;
morbidade; nutrição, crescimento e desenvolvimento; aspectos demográficos; condições
socioeconômicas, saúde ambiental; serviços de saúde. Ao medir o estado de saúde das
populações, realiza-se o diagnóstico, que permite pensar as intervenções a serem
realizadas e avaliar o seu impacto. Os trabalhadores de saúde devem estudar as mudanças
sociais, econômicas e políticas ocorridas e os respectivos impactos sobre a saúde da
população. Quantificar os eventos ocorridos em saúde é de grande importância, pois
permite conhecer as principais doenças e agravos à saúde que atingem uma determinada
comunidade, os grupos mais vulne- ráveis, a faixa etária mais acometida, os riscos mais
relevantes e, inclusive, as ações para controlar as doenças e os agravos de forma mais
efetiva. Esse contexto induz à conjunção de ação estratégica e à ação comunicativa, que
levam em consideração as concepções e as práticas dos diversos sujeitos sociais, na busca
do consenso em torno de projetos coletivos, visando maior bem-estar para as populações.
O desenvolvimento de estudos e pesquisas que contribuem para a análise da situação de
saúde da população toma como objeto as tendências demográficas e epidemiológicas da
população, a partir das quais se problematizam as características da transição
epidemiológica, a problemática das desigualdades em saúde e as limitações das políticas
de saúde vigentes. A gestão do SUS incorpora a perspectiva epidemiológica como parte do
processo de tomada de decisões para a formulação de políticas, programas e projetos que
enfatizem as ações de promoção da saúde e prevenção de riscos e agravos. Novas
perspectivas são abertas para a adoção de mudanças do modelo de atenção à saúde,
tendo em vista a busca de integralidade do cuidado, o que implica a valorização das ações
de vigilância da saúde. A utilização de indicadores epidemiológicos permite a avaliação de
questões como:
● Análise da situação de saúde: consiste na identificação, descrição e análise dos
problemas de saúde de uma determinada população, por meio da utilização de
informações demográficas, epidemiológicas e sociais capazes de caracterizar os
determinantes, os riscos e os danos à saúde de diferentes grupos segundo suas
condições e estilos de vida.
● Definição de prioridades: a seleção de prioridades passa pelo interesse do
planejamento, com ênfase nos critérios políticos, financeiros e administrativos.
● Construção de cenários: a informação epidemiológica pode compor um conjunto de
informações capazes de realizar previsões, constituindo cenários epidemiológicos,
favoráveis ou desfavoráveis, a partir dos quais se elaboram as políticas e estratégias
de ação.
● Formulação de políticas: a formulação de políticas de saúde é o eixo central da
prática de planificação. É o momento de definir objetivos a serem alcançados a
curto, médio e longo prazos em relação aos problemas identificados e às prioridades
selecionadas, levando em consideração as aspirações e os valores prevalentes na
sociedade.
● Programação das operações e seleção de tecnologias de intervenção: a definição
dos objetivos, das metas, das atividades e dos recursos por área de ação inclui a
abordagem epidemiológica, que permite reorganizar o processo de trabalho em
saúde e redefinir os conteúdos das ações, em perspectivas mais amplas, como a
promoção da saúde.
● Avaliação da efetividade de serviços, programas e sistemas de saúde: a busca por
maior racionalidade e efetividade das ações coloca em prática a implantação de
processos de reforma de sistemas de saúde, que institucionalizam práticas de
controle e avaliação dos sistemas, e programas e serviços de saúde.

REFERÊNCIAS:

Disponível em:
<https://ares.unasus.gov.br/acervo/bitstream/ARES/3355/1/3con_ferra_epidemio_2016-
2.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2022.

GALLEGUILLOS, Tatiana Gabriela B. Epidemiologia - Indicadores de Saúde e Análise de


Dados. [Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2014. 9788536520889. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536520889/.
Acesso em: 11 ago. 2022.

Objetivo 8: Reconhecer a relação da rede pública/privada com o SUS.


Embora a Carta Magna inaugure um SUS no qual se prevê que as ações e os serviços
públicos de saúde sejam organizados de forma integrada, regionalizada e hierarquizada,
também considera que a assistência à saúde seja livre à iniciativa privada. Além disso,
definiu-se que quando as disponibilidades de recursos próprios não fossem suficientes para
garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o SUS poderia
recorrer, por contratos e convênios, aos serviços prestados pela iniciativa privada. Como
nosso sistema de saúde é único, o setor privado deve submeter-se a certas regras e às
fiscalizações realizadas pelo SUS.
A regulação do Ministério da Saúde sobre o setor privado se dá em torno dos três setores:
● fornecimento (Anvisa): indústria farmacêutica e indústria de equipamentos médicos e
insumos.
● prestação de serviços (Anvisa): hospitais, clínicas, ambulatórios e laboratórios e
farmácias.
● prestação de serviço suplementar ( Agência Nacional de Saúde Suplementar– ANS):
administradoras de planos privados e operadoras de planos privados.
As agências reguladoras da saúde foram criadas para que o Estado moderno pudesse
regular o setor privado de uma forma mais organizada, trazendo homogeneidade,
estabilidade e competitividade para esses setores. Os setores de fornecimento e de
prestação de serviços conseguiram se organizar e dependem, de certa forma, do SUS.
Essa regulação dos serviços privados de saúde não se deu no sentido de definir a inserção
de mecanismos de mercado na estrutura da assistência de responsabilidade estatal e de
caráter universal, mas de consolidar o funcionamento do sistema privado de forma
independente do sistema público. Uma vez que a regulação do setor privado não ocorreu no
sentido de definir sua articulação com o setor público ou de determinar espaços e regras de
atuação, os resultados da política de saúde evidenciam a existência de duas formas
radicalmente distintas, não apenas de acesso, financiamento e produção das ações e
serviços de saúde, mas também de atuação governamental. Por um lado, a atuação estatal
se dá no sentido de garantir o acesso universal às ações e serviços de saúde enquanto
elemento que integra a noção de direito à saúde, vinculando-se, assim, à ideia de
cidadania. Por outro lado, a política de saúde incorpora a assistência privada ao escopo da
intervenção governamental sob a forma de regulação do mercado privado de assistência,
com vistas a desenvolver esse mercado e garantir os direitos do consumidor. A regulação
estatal da assistência à saúde privada convive com a responsabilidade estatal pela
assistência, embora para clientelas diferentes. O Ministério da Saúde, de forma direta ou
indireta por intermédio da ANS, passa a ser a instância reguladora de dois sistemas de
assistência à saúde díspares do ponto de vista conceitual e jurídico e com coberturas,
clientelas e possibilidades de acesso bastante diferenciadas. Em síntese, a natureza dual —
público e privado— do sistema de saúde brasileiro gera e reproduz grandes desigualdades
no acesso a serviços de saúde que expressam e também reproduzem grandes
desigualdades no financiamento dos dois subsistemas em favor do segmento privado. Esse,
embora cubra apenas cerca de 25% da população, tem mais recursos, favorecendo o
acesso dessa parte da população que se beneficia ainda da dupla cobertura, na medida em
que o caráter universal do SUS não coloca barreiras à utilização de determinados serviços
disponíveis prioritariamente na rede pública. Conforme apontou Santos, estudos evidenciam
que a convivência de cobertura para seguro privado com um sistema público, chamada
cobertura duplicada, gera alguns efeitos, tais como: (i) o sistema público fica com maiores e
mais complexas filas de espera; (ii) o arranjo público-privado contribui para a iniquidade na
oferta, no acesso e no uso dos serviços; (iii) incentiva o desenvolvimento do setor privado
nos serviços em que a população tem dificuldade de acesso no sistema público, geralmente
consultas a especialistas, cirurgias eletivas, SADT e medicamentos; (iv) não diminui a
pressão da demanda por serviços do sistema público e, tampouco, pelo financiamento
desse sistema; (v) não contribui para a preservação dos objetivos gerais do sistema de
saúde – de universalidade, integralidade e equidade; de colaboração positiva para os
resultados de saúde, o desenvolvimento do próprio sistema de saúde e objetivos sociais,
como a melhoria das condições de vida da população. Ao contrário, corrói esses objetivos
do sistema. Portanto, não há evidência de que o seguro privado alivie os sistemas públicos
universais.
REFERÊNCIAS:
REIS, Ademar Arthur Chioro dos et al. Tudo a temer: financiamento, relação público e privado e o
futuro do SUS. Saúde em Debate, v. 40, p. 122-135, 2016.

VIACAVA, Francisco et al. SUS: oferta, acesso e utilização de serviços de saúde nos últimos 30
anos. Ciência & saúde coletiva, v. 23, p. 1751-1762, 2018.

MENICUCCI, Telma Maria Gonçalves. A relação entre o público e o privado e o contexto federativo
do SUS: uma análise institucional. 2014.
SANTOS, I. S. A solução para o SUS não é um Brazilcare. Revista electronica de comunicacao,
informacao & inovacao em saude: RECIIS, v. 10, n. 3, 2016.

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