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MULHER E O CÁRCERE: UMA HISTÓRIA DE VIOLÊNCIA, INVISIBILIDADE E

DESIGUALDADE SOCIAL

Jessica Santiago Cury1


Mariana Lima Menegaz2

Resumo: O presente artigo aborda a questão evolvendo as mulheres e o cárcere no Brasil, analisando os aspectos
históricos do sistema prisional feminino. Ademais, analisa a violação dos direitos humanos das mulheres encarceradas
vítimas de torturas, desigualdades e violências, elucidando o caos vivenciado nas penitenciárias femininas e a distância
entre a teoria vista no ordenamento jurídico e a realidade. Quando remetemos a palavra prisão, nos deparamos com uma
história de violência e exclusão. No tocante ao cárcere feminino, a realidade é ainda mais obscura, além das violações
de direitos, as mulheres enfrentam invisibilidade frente às politicas públicas, bem como por parte dos estudos da área
acadêmica, mesmo as pesquisas realizadas pelo DEPEN demonstrarem um aumento de 567,4%, nos anos de 2000 a
2014, da população carcerária feminina. A invisibilidade da mulher como sujeito de estudo cientifico se dá pelo fato
que os autores que se dedicam sobre a temática da criminalidade não diferenciam a criminalidade feminina da
masculina. Diante desse cenário, o presente estudo objetiva dar visibilidade para o encarceramento feminino, analisando
a criminalidade da mulher sob a ótica da criminologia crítica, bem como compreender como a prisão violenta e
promove a desigualdade de gênero. Além disso, estudará a instituição prisão enquanto sua universalidade,
compreendendo sua formação e questionando sua legitimidade como mecanismo punitivo estatal compatível com um
Estado Democrático de Direito.

Palavras-chave: Cárcere, Direitos humanos, Gênero,Criminologia,Violência.

Introdução

Quando nos remetemos a palavra prisão, deparados com um espaço no qual as violações de
direitos são costumaz e inquestionáveis. Os cárceres brasileiros são marcados pela superlotação,
precárias infraestruturas e difícil acesso a saúde e educação. No que concerne às prisões femininas a
realidade é ainda pior.
Ao adentrar no sistema prisional, a mulher é deixada em total descaso e abandono, tanto por
parte da família, como pelo Estado, que ao instituir um cárcere não pensou em suas
particularidades, bem como promove poucas políticas públicas de ressocialização e assistência à
egressa. Com isso, gera maior vulnerabilidade de reincidência, e, consequentemente um total
fracasso da pretendida reinserção social.
Diante dessa realidade, somada ao aumento sistemático do encarceramento feminino, que,
conforme dos dados coletados pela DEPEN, houve o incremento de 567,4%, nos anos de 2000 a

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Mestranda em Direito pela Universidade Estadual de São Paulo – UNESP/FCHS; Franca/SP – Brasil. Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito pela Faculdade de Direito de Franca – FDF/Franca-SP. E-
mail:jessiscury2310@gmail.com.
2
Mestranda em Direito, FCHS/UNESP; Franca/SP – Brasil;bolsista da Capes; especialização em andamento na área de
Direito Processual Civil e Argumentação Jurídica, PUC-Minas;Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito pela
Faculdade de Direito de Franca – FDF/Franca-SP; mediadora e conciliadora judicial e extrajudicial em formação pelo
CEBRAMAR/DF. E-mail: mariana_menegaz@hotmail.com.

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2014, o presente trabalho objetivou analisar o aprisionamento das mulheres brasileiras e como este
fenômeno invisibiliza e violenta a mulher (BRASILa, 2014).
Primeiramente, foi realizado um breve estudo do sujeito para darmos visibilidade e forma à
mulher presa. Posteriormente, foi feito um estudo histórico da prisão, em particular dos cárceres
femininos, dando enfoque às primeiras experiências destes no Brasil. E, por fim, tentou-se
compreender como a instituição prisão é um local por excelência de violações de direitos de
promoções de violência e desigualdade social.
O trabalho foi realizado por meio de um recorte bibliográfico acerca do tema e dos conceitos
que constituem o objeto estudado (mulheres e prisões) com o propósito de reunir ainda mais
conhecimento para fundamentar a pesquisa, além de uma análise de dados quantitativos e de fontes
oficiais acerca da criminalidade feminina e seu encarceramento.

Mulher e o Crime

Desde a consolidação da instituição prisão como forma de punição das condutas


criminalizadas, as penas imputadas aos homens e as mulheres sempre foram distintas. A pena
imposta aos homens tinha a função de despertar a necessidade de trabalho, torna-lo funcional aos
meios de produção, e, no que concerne as mulheres, seu papel era para reenquadra-la socialmente
aos paradigmas exigidos na sociedade.
Nesse sentido afirma Espinoza (2004, p.17) “nos homens os valores a serem despertados
com a pena era de legalidade e necessidade do trabalho, já as mulheres desviadas precisavam
recuperar o seu pudor com a pena imputada”. Assim, as primeiras prisões femininas localizaram em
conventos e recebiam orientação religiosa das freiras.
Com isso, percebe-se como o direito penal criminalizava as condutas das mulheres para
aquelas que não exerciam o papel definido socialmente, como por exemplo, o adultério,
prostituição, e assim, a punição servia como forma de normalização dos corpos femininos para que
se enquadrasse novamente nos ditames da ordem patriarcal de gênero. Nesse ínterim, afirma
Sposato (2011, p. 89): “[...] no que se refere às mulheres e à sua criminalização, percebemos que o
direito penal não só ajuda a solucionar certas questões como origina novas discriminações e reforça
velhas”.
Então inicialmente, pode-se afirmar que a criminalização da mulher foi construída sobre as
bases do exercício do poder político e econômico de Estado e um Direito fundado em bases

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patriarcais, na qual a unidade dialética consenso-coerção é mais intensamente aplicada quanto
maior a vulnerabilidade do grupo de risco. E, ao analisar a realidade vivida pelas mulheres no
decorrer de toda a história percebe-se, sem dúvidas, que elas estão em posição de vulnerabilidade.
Diante disso, questiona-se: quem são as mulheres brasileiras encarceradas? Qual a sua
origem, sua cor, classe social, sua escolaridade? Quais foram os crimes mais cometidos e qual a
razão disto?Enfim, de que mulheres se refere a pesquisa?
Analisando os dados coletados pelo DEPEN em julho de 2014, consegue-se formar um perfil
preliminar das mulheres presas no Brasil.A presente pesquisa informa que 50% das mulheres presas
possuem de 18 a 29 anos, 68% são negras, 57% são solteiras, 50% possuem ensino fundamental
incompleto (BRASILa, 2014).Diante dessa realidade enfrentada pelos cárceres, pode-se concluir
segundo Espinoza (2004, p. 126):

Os dados descritos reforçam a certeza de que a mulher reclusa integra as estatísticas da


marginalidade e exclusão: a maioria é não branca, tem filhos, apresenta escolaridade
incipiente e conduta delitiva, que se caracteriza pela menor gravidade, vinculação com o
patrimônio e reduzida participação na distribuição de poder, salvo contadas exceções. Esse
quadro sustenta a associação da prisão à desigualdade social, à discriminação e à
seletividade do sistema de justiça penal, que acaba punindo os mais vulneráveis, sob
categorias de raça, renda e gênero.

No tocante aos delitos cometidos, o que está no topo constituindo 68% é o crime de tráfico de
drogas, depois vem os crimes patrimoniais, sendo 8% furto e 9% roubo.
Assim, percebe-se como a guerra às drogas afeta sistematicamente o encarceramento
feminino, constituindo o crime de maior incidência e vários são os fatores que levam as mulheres ao
cometimento a este delito. Dentre eles, o envolvimento do seu parceiro a rede de tráfico, ou até
mesmo de seu filho. Além disso, muitas mulheres cometem tal crime por tentarem entrar nas
penitenciárias portando drogas e, também veem no comercio de ilícitos uma forma de sustentar sua
família, pois estão crescentes as células familiares chefiadas por elas.
Em segundo lugar, encontram-se os crimes patrimoniais, roubo e furto, demostrando que
tanto no crime de tráfico como nos nesses crimes permeia o fator socioeconômico, assim, percebe-
se como o processo de criminalização encontra-se atrelado a questão da desigualdade social
enfrentado pelas mulheres de classe subalterna, comprovando como o sistema penal atua de forma
seletiva e discriminatória.

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As primeiras experiências dos cárceres femininos

Para a melhor analise acerca do cárcere feminino e suas primeiras experiências, faz-se
necessário um breve estudo histórico acerca da sanção penal denominada pena e dos primeiros
projetos de cárcere femininos.
Primeiramente, destaca-se que na antiguidade a prisão não era a pena predominante. O
encarceramento era apenas uma medida assecuratória, mas não possuía a natureza de pena. Segundo
Bittencourt:

A prisão servia somente com a finalidade de custódia, ou seja, contenção do acusado até a
sentença e execução da pena, nessa época não existia uma verdadeira execução da pena,
pois as sanções se esgotavam com a morte e as penas corporais e infamantes.
(BITTENCOURT, 2011, p.13)

No período feudal (século V a XV), a punição era predominantemente aplicada ao corpo do


indivíduo, sendo que as penas normalmente consistiam em morte, confissão pública, banimento,
açoite (FOUCAULT, 1998, p.30). Ademais, a estrutura dos locais onde eram cumpridas as penas
era precária, como em ruínas e torres (BITTENCOURT, 2011, p. 26).
A partir do Iluminismo (século XV) há mudança quanto à execução da pena dos indivíduos,
passando a ser baseada em parâmetros racionais e maior respeito à condição humana. Com a
ascensão do capitalismo, no século XVII, juntamente com a revolução industrial, a burguesia
entendeu que a pena privativa de liberdade seria uma maneira de controle social das massas e, desse
modo, o estabelecimento carcerário, conforme vigente atualmente, é constituído (MELOSSI,
PAVARINI, 2006, p. 20).
Analisando o território brasileiro, as primeiras prisões femininas foram criadas em meados
da década de 1940. Destaca-se que em 1937 foi criado o primeiro estabelecimento prisional para
mulheres, chamado de Reformatório de Mulheres Criminosas e depois,intitulado de Instituto
Feminino de Readaptação Social, na cidade de Porto Alegre- RS.
Ainda no início da década de 1940, outras penitenciárias femininas foram sendo criadas por
todo o Brasil, como em São Paulo, no ano de 1941, denominada de Presídio de Mulheres de São
Paulo (Decreto n. 12.116/41) (BRASILb, 1941). No ano de 1942, foi inaugurada no Rio de Janeiro,
mais uma penitenciária feminina (Decreto 3.971, de 24 de dezembro de 1941) (BRASILc, 1941).
Os trabalhos dentro dos cárceres nessa época também se assemelhavam, os principais eram
afazeres manuais, como a costura, bordado e o artesanato, mas eram vistos como trabalhos de lazer.

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As outras tarefas desenvolvidas pelas presas seriam para que elas exercessem na vida livre que
teriam, esses eram os trabalhos domésticos, como lavar, passar, cozinhar, trabalhos vistos como
tarefas femininas por excelência.
Com o decorrer dos anos, novas prisões destinadas exclusivamente às mulheres foram
criadas por todo o Brasil. Faz-se necessário apenas evidenciar que, atualmente, segundo o
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), apenas 7%, entre todos os presídios no território
brasileiro, que são destinados apenas à detenção de mulheres (BRASILa, 2014, p. 33). Segundo tal
pesquisa, a maioria dos estabelecimentos penais femininos é mista, sendo que neles são adaptados
alas e celas para mulheres, entretanto, não há qualquer tipo de tratamento voltado para a
ressocialização das presas, como creches ou berçários para seus filhos, evidenciando assim, mais
uma maneira de degradação da mulher.

O cárcere como local por excelência de violação de direito e promoção da desigualdade de


gênero

No âmbito do sistema prisional, a condição observada por aqueles que ali estão é de
completa exclusão social e consequente marginalização do indivíduo. O Estado se dispõe, ao menos
em tese, a assegurar respeito e igualdade para todos, reconhecendo e garantindo os direitos
fundamentais em todas as esferas da sociedade. Porém, os fatos apontam diferentes conclusões.
Há vários fatores para a não observância das garantias propostas pelo Estado, entre eles a
seletividade do sistema penal, que produzem a chamada “coisificação” do ser humano, que pode ser
definida na negação do indivíduo e na sua transformação em um objeto completamente descartável
pelo sistema.
Corroborando com este argumento, Zaffaroni afirma que:

A prisão ou jaula é uma instituição que se comporta como uma verdadeira máquina
deteriorante: gera uma patologia cuja característica mais evidente é a regressão, o que não é
difícil de explicar. O preso é levado a condições de vida que nada tem que ver com as de
um adulto, se priva de tudo o que usualmente faz um adulto ou faz com limitações que o
adulto conhece (fumar, beber, ver televisão, comunicar-se por telefone, receber ou enviar
correspondências, manter relações sexuais, vestir-se etc.) (ZAFFARONI, 2009, p. 139).

A realidade vivenciada no cárcere é bastante diferente daquela disposta nos ordenamentos


jurídicos. Não apenas os vínculos sociais são rompidos, ao adentrarem o espaço físico da
penitenciária, mas também seus direitos e garantias são violados bruscamente. Além da liberdade, o

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preso perde sua autodeterminação. Seu vestuário torna-se padronizado com os demais, seus cabelos
cortados, sua identidade é parcialmente perdida.
Nota-se que as políticas públicas concernentes ao cárcere adotam um modelo unicamente
masculino para a elaboração de suas diretrizes, o que evidencia a grande consequência desse
sistema, que é a violência sofrida pelas mulheres, tanto no âmbito físico, quando no psíquico e
emocional. Desse modo, o bem mais precioso de cada indivíduo é afetado, que é a sua dignidade
humana (RAMPIN, 2011, p. 31).
Não é novidade que os presídios brasileiros encontram-se em situação completa de caos e de
negação de valores humanos básicos. Celas apertadas e com número superior de pessoas para além
do limite permitido em seu interior, higiene precária, prédios envelhecidos e sem conservação, além
de outros fatores que afetam diretamente a saúde e as condições de vida de cada indivíduo habitante
daquele local, são realidades observadas nos presídios atuais.
Os estabelecimentos destinados à execução da pena deveriam ser instrumento para
ressocialização do infrator, devendo, portanto, proporcionar condições mínimas de saúde e
segurança, promovendo situações destinadas ao reingresso do indivíduo na sociedade, porém, a
realidade é bem distante do que a teoria indica. Ademais, todos esses fatores são agravados quando
se verifica a situação vivenciada no cárcere feminino, conforme afirma Borges:

O tratamento para mulheres presas é pior que o dispensado ao homem, que também sobre
com as precárias condições na prisão, mas a desigualdade de tratamento é decorrente de
questões culturais e com direitos ao tratamento condizente com as suas particularidades e
necessidades. Em nossa Constituição Federal possui um principio na qual regula tais
necessidades, é o principio da individualização da penal, conforme o artigo 5º, inciso
XLVIII, segundo o qual “...a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (BORGES, 2005, p. 87).

Além das condições insalubres observadas dentro das celas dos presídios, com animais por
toda parte, como ratos e baratas, responsáveis por proliferarem doenças para as presas, as condições
de assistência médica e psicológica são mínimas, principalmente para as mulheres que, mesmo
grávidas, permanecem em situações absurdas de evidente descaso.
Ademais, no tocante às visitas íntimas, além de ter sua liberdade reprimida, possui seu
instinto sexual também contido, sendo reflexo de uma sociedade machista e patriarcal. A mulher
possui amplos direitos sobre seu corpo e sua sexualidade, o que não é verificado ao analisar a
burocracia e a desigualdade de tratamento em comparação às com as visitas íntimas masculinas.

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No sistema carcerário, a relação de dominação existente entre o homem sobre a mulher é
evidenciada e maximizada. O sistema econômico vigente aprofunda as desigualdades sociais e,
desse modo, tanto na aplicação, como na formação do ordenamento jurídico penal, as realidades das
normas é serem completamente seletivas, quando do momento da sua imposição sobre os
indivíduos da sociedade.
Além do estereótipo evidenciado antes do cárcere, percebe-se que há permanência de toda
exclusão e desigualdade também dentro das prisões. E, é ainda mais provado que toda dominação
existente entre os homens e mulheres na sociedade brasileira atual, e as desigualdades em razão do
gênero, são mantidas em relação à mulher encarcerada (MIYAMOTO, KROHLING, ANO, p. 16).
Portanto, é notório que o sistema penal brasileiro contribui para a constante violação dos
direitos humanos, em desacordo com a função estipulada, em tese, desses estabelecimentos,
principalmente da mulher encarcerada, que se encontra em ampla situação de abandono, descaso e
vulnerabilidade.

Conclusão

Percebe-se, então, que o fenômeno do encarceramento feminino está crescente no Brasil, e


os cárceres não se encontram preparados para esta situação, pois submetem as mulheres em locais
com péssimas infraestruturas e em condições indignas de viverem.
Inicialmente questiona-se se o nosso sistema prisional não se encontra falido pela forma em
que aprisiona e violenta os presos contribuindo pela perpetração da violação dos direitos humanos e
não cumprindo suas finalidades e propalados escopos: redução da delinquência e violência na
sociedade.
Porém, quando analisamos com maior atenção a realidade, constata-se que o sistema
prisional não está falido, mas sim cumpre os seus reais objetivos institucionais, como a confinação
(sequestro de grupos sociais vulneráveis) e conformação dos sujeitos (“adestramento e controle dos
corpos dóceis”).
Quando referimos à mulher encarcerada, o sistema penal e prisional, totalmente fundado em
bases patriarcais e antropocêntrico, atua de forma violenta, estigmatizadora e seletiva. O Estado
opera como agente criminoso e criminalizante, pois ao estruturem prisões inadequadas para abrigar
a população feminina, não pensando em suas particularidades e as submetendo a tratamentos que
não consideram suas necessidades, promove sua invisibilidade e acentua a desigualdade de gênero.

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Além disso, a mulher ao ser encarcerada sofre uma sobrecarga de punição, além das sanções acima
elencadas, sendo duplamente estigmatizadas pelo fato de se tornarem criminosas e por ter ferido a
ordem moral vigente sobre o seu papel na sociedade.
Sendo assim, uma das formas de amenizar as atrocidades vivenciadas cotidianamente pelas
ingressas no sistema prisional seria o Estado, fomentador de políticas públicas, criar tais
prerrogativas voltadas para o universo feminino para que assim, algumas de suas especificidades
sejam respeitadas e concretizadas. Deve-se pensar em políticas públicas voltadas para a realidade
prisional das mulheres.
Além disso, faz-se necessário pensar em novos caminhos contrários ao aprisionamento,
baseados em um suporte social, como uma forma de frear o aumento do encarceramento sofrido no
Brasil e as várias formas de violências sofridas pelos presos, pois, conforme visto, o cárcere não
atua para a diminuição da delinquência e violência, mas sim como propagador de violações de
direitos.

Referências bibliográficas

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ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro:
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WOMAN AND THE PRISION: A HISTORY OF VIOLENCE, INVISIBILITY AND


SOCIAL ONEQUALITY

Astract:This article addresses the issue of women and prison in Brazil, analyzing the historical
aspects of the female prison system. In addition, analyzes the violation of the human rights of
imprisoned women victims of torture, inequalities and violence, elucidating the chaos experienced
in female penitentiaries and the distance between the theory seen in the legal system and the reality.
When we refer to the word prison, we are faced with a history of violence and exclusion. Regarding
the female prison, the reality is even more obscure, in addition to violations of rights, women face
invisibility in public policy, as well as academic studies, even the research carried out by DEPEN
shows an increase of 567, 4%, from 2010 to 2014, of the female prison population.
The invisibility of women as subjects of scientific study is due to the fact that the authors who are
dedicated on the subject of crime do not differentiate between female and male criminality. In this
scenario, the present study aims to give visibility to female imprisonment, analyzing women's
criminality from the perspective of critical criminology, as well as understanding how
imprisonment can violate and promote gender inequality.In addition, it will study the prison
institution while its universality, understanding its formation and questioning its legitimacy as a
state punitive mechanism compatible with a Democratic State of Right.
Keywords: Prision,Human rights, Gender,Criminology,Violence.

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