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OS IMPACTOS DA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NAS RELAÇÕES AMOROSAS

DE MULHERES APENADAS
THE IMPACTS OF PRIVACY OF FREEDOM ON THE LOVE OF RELATED
WOMEN
Tauane Leal1
Fabíola Langaro2

Resumo: As relações amorosas compõem um aspecto importante na vida dos


sujeitos estejam eles livres, ou não. O presente artigo teve como objetivo
compreender os impactos da privação de liberdade nas relações amorosas de
mulheres apenadas. A pesquisa caracteriza-se como uma revisão narrativa, tendo
sido realizada análise da literatura publicada em livros, artigos de revista
impressas e/ou eletrônicas com a finalidade de responder ao objetivo do estudo.
Os resultados apontam que a privação de liberdade interfere de forma significativa
nas relações amorosas das mulheres apenadas, visto que há um estigma social
relacionado à mulher presa que age diferente do que é esperado socialmente
dela. Em uma cultura patriarcal, as mulheres presas são taxadas de
irresponsáveis e inconsequentes, pois ao praticarem os delitos ou crimes, não
teriam pensado nos filhos e na família. Assim, as mulheres recebem menos visitas
e em geral são abandonadas pelo companheiro e muitas vezes também pela
família se relacionando amorosamente na maioria das vezes, com colegas de cela
ou pessoas que conheceram no cárcere. Diante deste cenário muitas pesquisas
ainda podem ser realizadas, ampliando os conhecimentos sobre o tema e as
possibilidades de atuação dos psicólogos com a população carcerária.

Palavras-chave: Prisão; Presídio Feminino; Relações amorosas; Psicologia.

Abstract
Love relationships make up an important aspect in the lives of individuals subject
to freedom, not ones. This article aims to understand the effects of deprivation of
liberty on the love relationships of imprisoned women. One research described it
as a narrative review, after an analysis of literature published in books, journal
articles, and / or electronic journals using responses to the study objective. The
results indicate that a deprivation of liberty significantly interferes with women's
love relationships, as there is a social stigma related to a woman who is a different
age from what is socially expected of her. In a patriarchal culture, as women are
called irresponsible and inconsequential, because they commit crimes or crimes,
they are not considered thought for children and family. Thus, as women receive
fewer visits and are usually abandoned by their partner and often also by their
family, they most often relate lovingly with family members or people they do not
know. Given this scenario, many researches can still be carried out, expanding the
1
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail:
tauaneleal.sc@gmail.com.
2
Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Titular na Universidade do
Sul de Santa Catarina – UNISUL e orientadora da pesquisa.
knowledge on the subject and the possibilities of action of psychologists with prison
population.

Keywords: Prison; Female Prison; Love relationships; Psychology.

1 INTRODUÇÃO

A organização dos presídios e celas por gênero nem sempre fez parte
do sistema prisional no Brasil. No período colonial as mulheres eram encarceradas
junto com homens e raramente havia espaços destinados especificamente a elas.
Era frequente a divisão de celas entre homens e mulheres que, em sua maioria,
eram escravas ou prostitutas. Esse sistema facilitava diversos tipos de violências,
sendo comuns os abusos sexuais e doenças (ANDRADE, 2011).
De acordo com Freitas (2012), o baixo índice de criminalidade feminino
contribuiu para que o Estado pouco se preocupasse com a situação das mulheres
infratoras. Somente após 1920, com o aumento no número de mulheres
envolvidas com violação à lei é que o Estado passa, aos poucos, a se voltar para
a questão das mulheres encarceradas.
Entre os anos de 1923 e 1924, o penitenciarista José Gabriel de Lemos
Britto percorreu o Brasil analisando os presídios e a situação dos encarcerados
nos principais estados brasileiros. O relatório produzido por ele gerou o livro que
se intitula ”Os Systemas Penitenciários do Brasil”, publicado em 1924, que traz
dados sobre legislação e encarceramento no período. Porém, as mulheres
aparecem pouco em seus relatos, visto que a maioria dos encarcerados eram
homens. Nos anos de 1926 e 1927 novos estudos foram realizados sobre o tema,
porém não houve grandes modificações no que se conhecia a respeito do
encarceramento feminino. As mulheres permaneceram como minorias no sistema
prisional, que continuava precário e precisando de maior atenção do Estado. Em
1934, nas capitais dos estados brasileiros, havia 46 mulheres presas para 4.633
homens sentenciados, ou seja, apenas 1% da população carcerária das capitais
era composto por mulheres (ANDRADE, 2011).
Mesmo discutindo-se sobre os presídios femininos e o encarceramento
de mulheres desde o final do século XIX, somente a partir da década de 1940 é
que os presídios femininos foram criados em alguns dos estados brasileiros,
apesar das tentativas anteriores de criação destes espaços. Dentre elas, destaca-
se a criação do “patronato das presas” em 1921. Inspirado em outros países
latino-americanos que já tinham presídios femininos estruturados nesta época,
como a Argentina e o Uruguai, o patronato era “composto por senhoras da
sociedade carioca e Irmãs da Congregação de Nossa Senhora do Bom Pastor
d´Angers, presididas pela Condessa de Cândido Mendes, esposa do (...)
presidente do Conselho Penitenciário do Distrito Federal” (ANDRADE, 2011, p 19).
O patronato visava conseguir uma solução para o problema das mulheres que
cometeram crimes ou infrações, de preferência com a criação de um
estabelecimento especializado em mulheres e tinha como lema “amparar,
regenerando” (ANDRADE, 2011).
Entre as décadas de 1940 e 1950, o patronato esteve à frente das
principais penitenciárias femininas e cabia às freiras cuidar da moral e bons
costumes das presas. Estas eram ensinadas a realizar trabalhos domésticos e
eram constantemente vigiadas pelas freiras, que tinham por objetivo transformar
as mulheres apenadas em “mulheres discretas, honestas, recatadas e piedosas,
aptas para retornar à convivência social. Trabalho, disciplina, amor à família,
saberes domésticos, arrumação na medida certa, discrição e caridade” eram
alguns dos ideais almejados pelas organizadoras destas instituições, marcadas
por um viés moral, assistencialista e religioso. (FRANCO, 2015, p 14).
Com o apoio do Conselho Penitenciário do Distrito Federal, o Patronato
das Presas trouxe a ideia de implementar uma penitenciária agrícola para as
mulheres, onde elas mesmas produziriam roupas, alimentos e outros itens
necessários para sua subsistência. Como a população carcerária feminina era
pequena, estimava-se que o governo teria poucos gastos para a manutenção do
local. Além disso, a pequena quantidade de pessoas facilitava o trabalho das
encarregadas pelo estabelecimento. Porém o presídio idealizado pelo Patronato
das Presas demorou a ser implementado, saindo do papel somente no final da
década de 1930 e com diversas alterações (ANDRADE, 2011).
Em relação aos países europeus, o Brasil estava bastante atrasado,
visto que o primeiro presídio feminino que se tem notícia no mundo data de 1645.
Localizado em Amsterdã, na Holanda, abrigava não somente mulheres que
cometiam crimes, mas também mulheres pobres, bêbadas, prostitutas,
“desrespeitosas” e “meninas malcomportadas” que desobedeciam aos pais e
maridos. O local, que era considerado instituição modelo, era pautado no trabalho
como forma de correção, onde as mulheres realizavam trabalhos na indústria têxtil
e outros serviços como limpeza e organização do próprio local (ANDRADE, 2011).
A partir do final do final do século XX, o Estado brasileiro começa a
preocupar-se com a situação das presas, que a essa altura já haviam aumentado
consideravelmente em número. Em 1984 foi aprovada a Lei nº 7.210/84 que
segurava às mulheres os mesmos direitos que aos demais presos, como celas
individuais e salubres (BRASIL, 1984). A partir de 2009, foram inseridas duas
modificações na Lei de Execução Penal, através das Leis nº11.942/09 e
nº12.121/09 que garantem os direitos das mulheres gestantes e lactantes, como
seção para gestantes e parturientes e inserção de berçários, onde as mulheres
poderão cuidar e amamentar seus filhos de até seis meses de idade. Além disso,
a Lei determina que nos estabelecimentos penais destinados a mulheres, as
agentes penitenciárias sejam exclusivamente do sexo feminino (BRASIL, 2009a)
(BRASIL, 2009b). Recentemente, no ano de 2018, novas alterações foram
acrescentadas através da Lei nº 13.769, como o direito à prisão domiciliar a
mulheres gestantes ou que foram mães ou responsáveis por crianças ou pessoas
com deficiência, salvo nos casos de crimes graves ou contra os próprios
dependentes (BRASIL, 2018).
Em nossa sociedade contemporânea, a população carcerária feminina
tem crescido de forma alarmante. De acordo com o Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (INFOPEN), em um relatório emitido em 2017, até
junho de 2016 havia 726.712 pessoas presas no Brasil. Destas, a população
prisional feminina era de 42.355 mulheres, sendo que 41.087 estavam no sistema
penitenciário e 1.268 nas secretarias de segurança, carceragens e delegacias.
Para cada 100 mil mulheres no Brasil, 40 estavam presas. Ainda de acordo com o
INFOPEN, no ano de 2016 havia no sistema prisional 27.029 vagas disponíveis
para as mulheres, totalizando um déficit de 15.326 vagas (BRASIL, 2017). O Brasil
é o país com a quarta maior população carcerária feminina do mundo, ficando
atrás dos Estados Unidos, China e Rússia que ocupam o primeiro, segundo e
terceiro lugar, respectivamente (BRASIL, 2018b)
Apesar dos avanços nas leis que têm por objetivo proteger as mulheres
encarceradas, a realidade dos presídios femininos no Brasil é dura e desumana.
De acordo com Queiroz (2015), o sistema carcerário feminino trata as mulheres da
mesma forma que trata os homens, desconsiderando que, por serem mulheres,
precisam de exames para prevenção de doenças específicas como câncer de
cólon de útero, de exames pré-natais e de absorventes, o que leva muitas presas
a improvisam absorventes internos com miolos de pão. Ainda de acordo com
Queiroz (2015), que entrevistou diversas mulheres para compor o livro “Presos
que Menstruam”, diversos direitos humanos são violados neste ambiente, onde
não é incomum que as presas encontrem cabelos e fezes de ratos na comida,
durmam no chão com seus bebês ou sejam agredidas psicológica e fisicamente,
muitas vezes pelos próprios agentes penitenciários.
De acordo com Borges e Colombaroli (2011), o tratamento dispensado
às mulheres presas é ainda pior que o tratamento que é dado aos homens na
mesma situação. Essa desigualdade decorre das questões culturais e de gênero e
da maneira como a mulher é vista socialmente, como um ser submisso e com
menos tendência à prática de violência. Assim, as mulheres em cárcere carregam
diversos estigmas como o da própria condição feminina e, por serem, em sua
maioria, negras, de baixas renda e escolaridade, carregam ainda o estigma da
delinquência, que se mantém mesmo após a liberdade. Por estarem em um
sistema feito pelos homens e para os homens, as mulheres presas vivem na
invisibilidade, na maioria das vezes não têm suas necessidades básicas atendidas
e têm sua dignidade constantemente violada.
Nesse sentido, uma das questões marcantes de desigualdade entre
homens e mulheres em cárcere é a visita íntima, aspecto importante para a
manutenção dos relacionamentos amorosos e do elo familiar das presas.
Conforme Borges e Colombaroli (2011), as visitas íntimas para os homens foram
consentidas no Brasil pela primeira vez em 1924, enquanto as mulheres só
adquiriram esse direito em 1999. Mesmo com o Direito Constitucional de
igualdade entre homens e mulheres, em muitos presídios brasileiros, as mulheres,
diferente dos homens, são autorizadas a receber somente visitas de cônjuges
legalmente comprovados, o que dificulta a manutenção do vínculo afetivo com
parceiros. Com a burocratização do processo de acesso aos presídios, as
mulheres que tem parceiros comprovados, recebem cerca de duas visitas por
mês, enquanto os homens recebem cerca de oito. Visitas de parceiras do mesmo
sexo não são permitidas em muito presídios. Além disso, as mulheres são vistas
como tendo poucas necessidades sexuais e, ao mesmo tempo, tendo “risco” de
engravidar, discurso que é utilizado para justificar a desigualdade no tratamento
de homens e mulheres encarcerados (BORGES; COLOMBAROLI, 2011).
Reconhecer que mulheres têm necessidades sexuais e direito sobre o
próprio corpo é romper com o estereótipo patriarcal e sexista que insiste em tentar
manter a mulher submissa e sem direitos sobre si mesma. Apesar da negativa do
Estado em reconhecer as necessidades sexuais e afetivas das mulheres, as
reclusas não deixam de se preocupar com as relações amorosas, seja dentro ou
fora da prisão. Nos relatos colhidos por Queiroz (2015), as presas descrevem que
se relacionam com homens que conhecem por meio de mensagens de celular,
apesar de os aparelhos serem proibidos dentro do presídio, por meio de fotos ou
por indicação de amigas. A grande maioria se relaciona com outras presas,
mesmo as que se consideram heterossexuais, ou com pessoas que conhecem
após a reclusão, visto que a grande maioria é abandonada pelo parceiro após o
encarceramento.
Para Ricotta (2002, p. 27), o amor romântico compõe um importante
aspecto na vida dos sujeitos, para ela
[...] amar e ser amado é uma das prioridades da nossa escala de
necessidades que precisamos suprir para sentirmos realizados e
satisfeitos depois da sobrevivência, das necessidades básicas [...]. [...]
toda a nossa vida é constantemente permeada por vínculos e relações, e
estas podem ser amorosas, familiares [...].

A autora também cita que os vínculos compõem a estrutura psíquica de


uma pessoa, sendo os primeiros vínculos significativos serão estabelecidos na
família e relação conjugal, que pode ser hétero ou homoafetiva.
A manutenção de relacionamentos conjugais e amorosos auxilia as
presas a se inserirem novamente no meio social, visto que a maioria por
abandono da família e cônjuge, encontra dificuldades em recomeçar a vida
sozinha após o período de cárcere e acaba voltando para o presídio (QUEIROZ,
2015). Conforme Borges e Colombaroli (2011, p 72), “a imposição da abstinência
sexual contraria a finalidade da pena privativa de liberdade, já que é impossível
pretender a readaptação social da pessoa e, ao mesmo tempo, reprimir uma de
suas expressões mais valiosas”. Além de cruel, a privação de relações sexuais é
uma punição excessiva e sem justificativa legal, perpassa pela dificuldade de
reconhecer o direito da mulher sobre seu próprio corpo, sobre sua sexualidade e
reprodução. Além disso, as mulheres tendem a ser mais submissas às normas
das prisões, tendo receio de lutar pelo direito à visita íntima, temendo serem
consideradas promíscuas (BORGES; COLOMBAROLI, 2011).
Porém, cabe ao Estado o reconhecimento quanto aos direitos à vida
amorosa e sexual das apenadas, como os de qualquer outra pessoa que não está
em cárcere, enxergar a humanidade, reconhecer que existe subjetividade naquele
sujeito padronizado pelo sistema, que perde sua individualidade quando passa a
ser um número, uma matrícula. Considerando o aumento crescente da população
carcerária feminina e o aparente descaso do Estado com a situação das presas, e
considerando também que os relacionamentos amorosos são elos facilitadores da
ressocialização, buscou-se com essa pesquisa, investigar e compreender os
impactos da privação de liberdade nas relações amorosas de mulheres apenadas.
O interesse da pesquisadora em estudar e se aprofundar no tema deu-
se, devido ao incômodo gerado em saber que existem mulheres em situações tão
desumanas e degradantes. Apesar de reconhecer que muitas cometeram graves
crimes, a pesquisadora acredita que os presídios são espaços para
ressocialização e não para tortura e que o acesso ao direito de se relacionar
contribui para a ressocialização, para reinserção social e como estratégia de
enfrentamento para o sofrimento de estar privada de liberdade.
Considerando as questões abordadas anteriormente, tem-se como
objetivo neste artigo compreender os impactos da privação de liberdade nas
relações amorosas de mulheres apenadas. E como objetivos específicos, busca-
se conhecer as principais características das experiências de privação de
liberdade de mulheres apenadas; conhecer as possibilidades de manutenção e
construção de relações amorosas de mulheres privadas de liberdade e verificar as
condições institucionais para manutenção e construção de relações amorosas de
mulheres privadas de liberdade.

2 MÉTODO

A seguir, estão descritas a caracterização da pesquisa, a fonte de dados e


o método utilizado nas análises.
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Quanto à natureza da pesquisa, a mesma busca compreender


conceitos subjetivos, sendo assim de abordagem qualitativa. A abordagem
qualitativa tem como objetivo analisar e mensurar dados subjetivos, que não
podem ser mensurados numericamente. Conforme Gil (2007, p 31), “pesquisa
qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.”.
Quanto aos objetivos, o estudo pode ser caracterizado como tendo
cunho exploratório. De acordo com Gil (1994, p.44) a pesquisa exploratória “(...)
tem como principal objetivo a finalidade de desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e ideias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Neste sentido, é de caráter
exploratório também por possibilitar alteração de ideias viabilizando a produção de
novos conhecimentos científicos, visto que não se encontrou informações acerca
de relacionamentos amorosos dentro de presídios femininos.
Quanto aos procedimentos adotados, a pesquisa se caracteriza como uma
revisão bibliográfica. Este método de pesquisa busca recolher informações por
meio de referências teóricas publicadas. De acordo com Fonseca (2002, p. 32),
“pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já
analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites”.
Optou-se por utilizar a revisão narrativa, que é um dos tipos de revisão de
literatura, pela possibilidade de acesso à experiência de autores que já
pesquisaram sobre o assunto. Segundo Rother (2007), os artigos de revisão
narrativa são publicações amplas, apropriadas para descrever e discutir o
desenvolvimento de determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou
contextual. Constituem, basicamente, de análise produzida pelo pesquisador
acerca da literatura publicada em livros, artigos de revista impressas e/ou
eletrônicas.

2.2 FONTE DE DADOS


Para a coleta de dados foram utilizados artigos localizados no Google
Scholar, considerando-se apenas os artigos publicados em revistas científicas.
Foram utilizadas também as bases de dados SCIELO (Scientific Eletronic Library
Online), PEPSIC (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e livros publicados a partir
dos seguintes descritores: Relações amorosas; presídios femininos; relações
amorosas presídios.
Os artigos foram selecionados a partir da relevância para o tema da
pesquisa, totalizando 29 artigos. A seleção foi realizada a partir da leitura criteriosa
dos artigos, teses, dissertações e livros. Foram incluídas publicações, publicadas
entre 1987 e 2019, em português. Todos os tipos de delineamento metodológico
foram aceitos.

2.3 ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta de dados, foi feita a leitura de todo o material e as


informações principais foram compiladas. Posteriormente, foi realizada uma
análise descritiva das mesmas buscando estabelecer uma compreensão e ampliar
o conhecimento sobre o tema pesquisado.
Para exposição e análise do conteúdo a seguir, foram criadas três
categorias: O Sistema Prisional Brasileiro que faz uma breve discussão sobre a
história das prisões no Brasil. Mulheres Encarceradas, que discute a situação
atual das mulheres em cárcere no Brasil e Relações Amorosas no Contexto
Prisional, que aborda a forma que as mulheres em cárcere encontram para se
relacionar amorosamente com outras pessoas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir os resultados e discussões, onde se discutiu as raízes dos


presídios brasileiros e sua história até o momento presente, as dificuldades
estruturais dos presídios e celas e a dificuldade encontrada pelas mulheres, que
além dos problemas vivenciados pelos presos de um modo geral, ainda enfrentam
as questões de gênero. Também são discutidas as formas de relacionan-se das
mulheres em cárcere e como essas relações contribuem para o enfrentamento de
uma experiência complexa e dolorosa, a prisão.
3.1 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

Nem sempre as punições no Brasil estiveram ligadas à perda de


liberdade. Por volta dos anos 1830, as punições eram físicas, violentas e em geral
feitas publicamente. Não era incomum chicotadas, queimaduras, mutilações e a
pena de morte. De acordo com Mameluque (2006, p. 625), nesse período, havia
“onze classes de penas: morte, galés, prisão com trabalho, prisão simples,
banimento, degredo, desterro, multa, suspensão do emprego, perda do emprego e
açoites (...)”. O intuito não era privar o sujeito de liberdade ou obrigá-lo a cumprir
pena, e sim aplicar-lhe um suplício; não havia a intenção de ressocializar o sujeito,
mas de puni-lo pelos seus erros (ALTOMAR; SANCHES, 2018.)
No ano de 1850 surge o primeiro sistema prisional brasileiro, conhecido
como Casa de Correição, que tinha como finalidade mudar o cumprimento da
pena, privando os sujeitos de liberdade. Nesses espaços eram agrupadas
pessoas que cometeram qualquer tipo de crime, independente do sexo, assim
como deficientes físicos, mentais e crianças, possibilitando diversas violências e
violações (ALTOMAR; SANCHES, 2018). Foucault (1987), explica que o processo
punitivo, até então associado ao castigo, transforma-se com a evolução do
sistema carcerário em técnica penitenciária, passando a utilizar-se do
adestramento de pessoas. As Casas de Correição vinculavam a punição à
educação, obrigando os internos a cumprirem trabalhos forçados e lhes dando
instruções primárias e religiosas. Todavia, apesar da mudança na forma de
punição, ainda mantinham-se as características cruéis e desumanas no
tratamento dos apenados.
Em 1889 com a Proclamação da República e a elaboração de um novo
Código Penal, o Sistema Penal sofre transformações significativas e os castigos
físicos são abolidos, permanecendo como punição a privação de liberdade.
Conforme Mameluque (2006, p. 625), “o Código de 1890 previa as seguintes
modalidades: prisão celular, reclusão em fortalezas, prisão com trabalho
obrigatório e prisão disciplinar para menores”. Em 1940, o Código Penal é
reformulado e a pena de reclusão passa a ser aplicada por, no máximo, trinta anos
enquanto a detenção pode ser aplicada por, no máximo, três anos.
No ano de 1924 com a nova Constituição, os presos passam a ser
divididos nas celas pelos crimes cometidos. Nessa mesma época, começa-se a
pensar no trabalho como forma de reabilitação. Porém, o conceito de dignidade
ainda não estava incorporado na sociedade e a forma degradante com que os
presos eram tratados, além do espaço físico inadequado, permaneciam presentes.
Apesar de alguns grupos se preocuparem com o bem-estar dos presos, a maioria
das pessoas não via esse como um problema a ser debatido (ALTOMAR;
SANCHES, 2018).
Cabe destacar que não houve planejamento prévio para a construção
dos presídios, que foram surgindo como uma forma imediata de resolver o
problema da criminalidade. Além disso, já se tinha uma ideia de que essa não era
a solução mais adequada para tratar as questões de justiça no país. De acordo
com Foucault (1987, p. 2240), “[...] conhecem-se todos os inconvenientes da
prisão, entretanto não ‘vemos’ o que pôr em seu lugar. Ela é a detestável solução
de que não se pode abrir mão”.
Atualmente, o Brasil é o quarto país com a maior população carcerária
do mundo. Com cerca de 726.712 pessoas presas e contando com 368.049 vagas
nos presídios, o sistema prisional opera com praticamente o dobro de sua
capacidade (BRASIL, 2018b). Outro fator importante a se destacar, é que de
acordo com Borges (2018), a população carcerária não é multicultural. 64% da
população carcerária é negra, sendo que os negros compõem 53% da população
brasileira, ou seja, a cada três presos no Brasil, dois são negros. Além disso, 55%
dos presos são jovens, enquanto somente 21,5% da população brasileira
compõem essa categoria. Dentre as mulheres 67% são negras e 50% tem idade
entre 18 e 29 anos. Para Borges (2018, p 16) “o sistema de justiça criminal tem
profunda conexão com o racismo, sendo o funcionamento de suas engrenagens
mais do que perpassados por essa estrutura de opressão, mas o aparato
reordenado para garantir a manutenção do racismo e, portanto, das desigualdades
baseadas na hierarquização racial. ”
Apesar de o estatuto executivo-penal brasileiro ser considerado um dos
mais avançados e democráticos que existe, na prática, ocorrem constantes
violações de direitos e violação das garantias legais previstas na execução das
penas. De acordo com Assis (2007, p. 75),

A partir do momento em que o preso passa à tutela do Estado, ele não


perde apenas o seu direito de liberdade, mas também todos os outros
direitos fundamentais que não foram atingidos pela sentença, passando a
ter um tratamento execrável e a sofrer os mais variados tipos de castigos,
que acarretam a degradação de sua personalidade e a perda de sua
dignidade, num processo que não oferece quaisquer condições de
preparar o seu retorno útil à sociedade.

Ainda de acordo com Assis (2007), não é incomum que nas prisões,
além de outras garantias desrespeitadas, os presos sofram com torturas e
agressões físicas, tanto por parte de outros presos, como por parte dos próprios
agentes penitenciários.
A morosidade na concessão de benefícios como progressão de regime,
aos que fazem jus, ou em soltar presos que já cumpriram sua pena, é outro
exemplo de violação, infelizmente comum, nos presídios brasileiros. Essa situação
é decorrente da ineficiência e negligência dos órgãos responsáveis pela execução
penal. Além disso, ainda há os presos que estão cumprindo pena nos distritos
policiais, devido à falta de vagas nas penitenciárias, o que lhes causa a perda de
diversos direitos, como o de trabalhar, a fim de ter renda e remissão de pena
(ASSIS, 2007). Essas violações, contribuem para que haja rebeliões e fugas,
além de não garantir que o propósito das casas de detenção seja atingido, ou
seja, que os presos tenham a possibilidade de ressocialização.
Segundo Dotti (1998, p. 104 apud Mameluque, 2006), nos últimos
séculos a prisão tem sido a esperança para o combate da criminalidade, porém, o
inaceitável nível de degradação do Sistema Penitenciário comprova que no Brasil
os presídios são depósitos de pessoas. Além do excesso de população, a violação
da intimidade dos presos e os danos físicos e morais cometidos contra os mesmos
demonstram que a situação atual não destoa muito do passado.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário,
publicada em 2009 com a finalidade de investigar a realidade do Sistema
Carcerário e buscar soluções dentro da Lei de Execução Penal, constatou que a
maioria dos presídios não cumpre as condições mínimas para que os presos
vivam de forma adequada. “A CPI constatou, no ambiente carcerário, uma
realidade cruel, desumana, animalesca, ilegal, em que presos são tratados como
lixo humano” (BRASIL, 2009c). Nesses ambientes é comum a tensão, o medo, a
repressão, violência e tortura, que atingem não somente os presos, mas também
as suas famílias quando visitam as unidades.
As condições de vida nos presídios, com instalações de qualidade,
estruturas adequadas, higiene, alimentação, lazer, trabalho e estudo são
determinantes na constituição da subjetividade e dignidade dos presos. A situação
constatada nos presídios brasileiros vai de encontro com a Lei de Execução
Penal, que determina, no Art. 10, que “a assistência ao preso e ao internado é
dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência
em sociedade”. E prevê no Art. 11, que a assistência será material, jurídica,
educacional, social, religiosa e à saúde (BRASIL, 2009b).
Muitos presos que estão nas penitenciárias cometeram graves crimes,
lesaram pessoas de diversas maneiras e enlutaram famílias, mas muitos
cometeram pequenos delitos e têm a possibilidade de serem reinseridos
socialmente. De qualquer maneira, a tortura e a forma degradante com que são
tratados não contribui de nenhuma forma para que essa ressocialização, prevista
na Lei, aconteça na prática. “Independentemente dos delitos que cometeram, os
presos perderam apenas a liberdade e não a alma, a dignidade e a vida” (BRASIL,
2009c). As condições dos presídios, de um modo geral, violam diversos direitos
humanos, mas quando se trata da população carcerária feminina, há ainda outros
direitos violados, e, portanto, questões específicas a serem discutidas.

3.2 MULHERES ENCARCERADAS

Os presídios femininos, assim como os masculinos, enfrentam


problemas com superlotação, falta de higiene, estrutura precária e condições de
vida degradantes. Porém, para as mulheres a situação do cárcere é ainda pior,
pois além da violência comum a todos os presos, enfrentam dificuldades
relacionadas às questões de gênero, desconsideradas em um espaço que não foi
pensado para atender suas especificidades. Conforme Lemgruber (1999, p 83
apud GUIMARÃES, 2015, p. 12) “ser mulher presa implica uma série de
dificuldades adicionais nem sempre detectadas em prisões masculinas com a
mesma intensidade”. Maria Aparecida, citada no livro Presos que Menstruam de
Nana Queiroz (2015), relata que o kit para higiene fornecido ao presídio é
insuficiente. Segundo ela, em alguns dias precisa recolher jornais velhos do chão
para conseguir realizar sua higiene íntima. Outra presa entrevistada por Queiroz
(2015, p. 102), relata: “todo mês eles dão um kit. No Butantã, dão dois papel
higiênico, um sabonete, uma pasta de dente da pior qualidade e um (pacote de)
absorvente. Falta, né? E ninguém dá nada de graça pra ninguém”.
Na falta de produtos de necessidade básica, as mulheres que não
recebem visitas precisam comprar os produtos de outras presas. Segundo Queiroz
(2015 p 104), “algumas (presas) fazem faxina, lavam roupa ou oferecem serviços
de manicure para barganhar xampu, absorvente, sabão e peças de roupa. No
regime semiaberto, só recebem o kit aquelas que não têm visita”. Os produtos que
as presas podem trazer das “saidinhas” do regime semiaberto são limitados, para
evitar que a venda crie uma espécie de elite na cadeia.
O cigarro é a moeda de troca nos presídios, já que é proibido que as
presas circulem com dinheiro sob pena de apreensão e agravo da sentença. São
utilizados como meio de troca para obter os itens que o Estado não fornece ou
fornece em quantidade insuficiente. “Com o valor de um maço podem ser
comprados: quatro rolos de papel higiênico ou um pacote de biscoito mais um
pacote de salgadinho ou dois sabonetes ou um frasco de xampu ou de
condicionador” (VARELA, 2017, p. 59).
Em Prisioneiras, terceiro livro da trilogia do Dr. Dráuzio Varela sobre
sua experiência voluntária como médico em presídios, o autor relata que a vida
nos presídios não sai de graça. “Às que não conseguem emprego nas firmas nem
nos setores, resta ganhar a vida por conta própria. Sem carteira assinada, como
elas dizem. A livre-iniciativa é respeitada em todas as atividades, desde o tráfico
das drogas que burlam a vigilância à prestação de serviços domésticos” (VARELA,
2017, p. 59). Nair, ex-usuária de crack que ficou em situação de rua aos dez anos
de idade, após fugir de casa para escapar das surras do pai violento, relata que se
mantém no presídio através da faxina que realiza nas celas de outras presas:
“arrumo as camas, limpo o banheiro, tiro pó, bato os tapetes, lavo a louça. Às
sextas-feiras arrasto os móveis e esfrego tudo com água e sabão, para receber as
visitas no domingo” (VARELA, 2017, p. 59). Pelos serviços, recebe trinta maços de
cigarro da marca Derby, que atualmente, custa em média sete reais cada.
Outra mulher de nome Vera, presa por diversos assaltos, encontrou no
crochê uma forma de se manter no presídio. Faz jogos de cela, que são peças
feitas à mão para embelezar o ambiente e torná-lo mais agradável.
O jogo de cela é um conjunto de nove peças tecidas com barbante. São
três tapetes brancos entremeados com fios coloridos para serem
colocados na porta de entrada, junto ao banheiro e no meio da cela; duas
colchinhas protetoras, estendidas sobre as duas camas para que possam
sentar-se sem sujar os lençóis; três peças para o banheiro, uma das
quais para cobrir a tampa do vaso sanitário, outra para rodear o pé do
vaso e a terceira sobre o piso, para não pisar no chão frio na saída do
banho; além da “boqueta de guichê”, a toalha de crochê com dois bolsos
que pende na porta das celas para que as boieiras deixem os pães do
café da manhã (VARELA, 2017 p 61).

Pela confecção do jogo de cela, cobra 280 reais ou quarenta maços de


cigarro Derby. As colchas de cama são mais caras, custam 450 reais ou setenta
maços de cigarro Derby.
Joniza, presa por esfaquear a ex-mulher do namorado, que de acordo
com ela, “não dava sossego”, se tornou manicure no presídio. Para fazer as unhas
da mão cobra 28 reais ou dois maços de cigarro. Segundo ela, “no fim de semana,
as companheiras que vão receber visita íntima ficam loucas atrás de mim”. Nos
dias de movimento contrata uma ajudante, que recebe um maço de cigarro a cada
quatro recebido por Joniza. Além de atender as outras presas, atende também as
funcionárias do presídio. Porém, até construir sua fama de boa manicure passou
algumas dificuldades. Relata: “quando vim para cá, cheguei a vender meu cabelo,
a última coisa que uma mulher vende”. Vender os cabelos é uma alternativa para
as mais necessitadas. Os cabelos são utilizados para fazer apliques e custam
entre duzentos e quinhentos reais, dependendo do tamanho e quantidade
(QUEIROZ, 2017, p. 62).
Apesar dos avanços e conquistas em direção à igualdade de gênero, as
mulheres ainda são vistas como naturalmente dóceis, movidas pela emoção,
passivas e cuidadoras o que aumenta ainda mais o estigma da mulher presa. As
representações sociais de masculino e feminino, do que é ser homem e do que é
ser mulher, quais seus papéis e espaços na sociedade não são dados
naturalmente, mas sim construções históricas e culturais. As instituições sociais,
como a família, a igreja e até mesmo o Direito, ajudaram a construir e a reproduzir
estereótipos das mulheres como seres domésticos, destinadas ao espaço privado
(GUIMARÃES, 2015).
Assim como as identidades de gênero e os papéis sociais, a
necessidade de controle sobre os corpos de homens e mulheres são construídas
socialmente. É no âmbito cultural que são formados os padrões de normalidade e
desvio, assim como o controle institucional. Paralela à história do direito de punir,
construiu-se uma história de punir mulheres, punição essa, diferente da masculina
em alguns aspectos (GUIMARÃES, 2015). As mulheres em situação de cárcere
são duplamente punidas: são privadas de liberdade, assim como os outros
encarcerados, e são submetidas a níveis de controle e observação muito mais
rígidos, com intuito de estimular nessas mulheres a passividade, docilidade,
subordinação e dependência. Isso faz com que a direção dos presídios femininos,
muitas vezes, sinta-se investida de uma missão moral de enquadrar as mulheres
no que se espera delas socialmente (GUIMARÃES, 2015).
As mulheres que cometem crimes são vistas, para além da
transgressão da lei, também como transgressoras da ordem social e familiar, já
que abandonaram o papel de mãe, esposa e cuidadora que lhes é supostamente
destinado. Tornam-se estigmatizadas pela inadequação ao comportamento social
que é esperado de uma mulher (GUIMARÃES, 2015). De acordo com Minzon,
Danner e Barreto (2010), as características de gênero atribuídas ao feminino
geram um estranhamento social quando a mulher relaciona-se ao crime. Assim, a
mulher é com frequência associada como cúmplice de um homem, geralmente o
parceiro, crimes de maus tratos contra criança ou crimes passionais.
Além disso, em uma cultura patriarcal, as mulheres são taxadas de
irresponsáveis e inconsequentes, pois ao praticarem os delitos ou crimes, não
teriam pensado nos filhos e na família. Segundo Guimarães (2015), não é
incomum as mulheres presas se sentirem inadequadas por não estarem
cumprindo o papel social que é atribuído às mulheres e até mesmo merecedoras
do abandono familiar, pois sentem-se destruidoras do próprio lar. Muitas sofrem
com a ausência dos filhos e da família, mas preferem que eles não sejam
submetidos a um ambiente tão hostil como o presídio.
Sobre as visitas às presas, a Lei de Execução Penal prevê, no Art. 41,
que os presos, independente do gênero, possuem o direito de receber visitas do
cônjuge, companheira, de parentes e amigos em dias determinados pela
autoridade responsável (BRASIL, 2009b). Para isso, é necessário que as unidades
prisionais contem com ambiente destinado a realização de visitas e outras
atividades sociais, não limitando-se somente ao pátio de sol e as celas.
Entretanto, boa parte dos presídios femininos brasileiros não conta com essa
estrutura, o que compromete o vínculo social das apenadas (BRASIL, 2017). De
acordo com o INFOPEN em 2016, nas unidades femininas que abrigam as
mulheres, 1 em cada 2 unidades não contam com espaços adequados e nas
penitenciárias mistas, que abrigam homens e mulheres, a cada 10, somente 3
estabelecimentos contam com infraestrutura adequada para o exercício do direito
a visita social. Já nos presídios masculinos, a média nacional é de que 34% dos
estabelecimentos conte com esses espaços (BRASIL, 2017).
A Lei de Execução Penal prevê também o direito à visitação íntima para
presos de ambos os sexos, garantindo a privacidade e inviolabilidade, pelo
parceiro ou cônjuge, independente da orientação sexual, contemplando também a
população carcerária LGBT (BRASIL, 2009b). Porém, apesar de ser um direito
garantido, a visita íntima feminina encontra limitações determinadas pela
infraestrutura dos estabelecimentos penais. Em 2016, constatou-se que somente
41% dos presídios femininos contam com espaços adequados, enquanto nos
presídios mistos, esse número cai para 34% (BRASIL, 2017).
Além das dificuldades estruturais das penitenciárias, as mulheres ainda
se deparam com outro problema: o abandono. Boa parte das mulheres que se
encontram em situação de cárcere não recebe hoje nenhum tipo de visita, nem da
família e nem do parceiro (BECKER, 2016). Conforme Queiroz (2015, p. 46),
(...) quando um homem é preso, comumente sua família continua em
casa, aguardando seu regresso. Quando uma mulher é presa, a história
corriqueira é: ela perde o marido e a casa, os filhos são distribuídos entre
familiares e abrigos. Enquanto o homem volta para um mundo que já o
espera, ela sai e tem que reconstruir seu mundo.

De acordo com Queiroz (2015, p 135), ao visitar a Penitenciária Madre


Pelletier, em Porto Alegre, uma carcereira conduziu o “tour” pelas dependências
do presídio até chegar ao quarto da visita íntima. Ao abrir a porta uma surpresa: o
“ninho de amor”, virou ninho de gatos. A carcereira constrangida explica “quase
ninguém usa isso aqui, os homens não vêm visitar”
O relato de Varela (2017) vai ao encontro do que diz Queiroz (2015).
Conforme Varela, as filas para as visitas nos presídios masculinos são longas e
cheias de mulheres e crianças com sacolas abarrotadas de alimentos. Algumas
mulheres chegam até mesmo a passar a noite, que antecede a visita, em barracas
em frente ao presídio para garantir a prioridade no atendimento e na revista, tendo
mais tempo para desfrutar com o ente querido que está apenado. Já nos presídios
femininos a realidade é outra:
Em onze anos de trabalho voluntário na Penitenciária Feminina, nunca vi
nem soube de alguém que tivesse passado uma noite em vigília, à
espera do horário de visita. As filas são pequenas, com o mesmo
predomínio de mulheres e crianças; a minoria masculina é constituída por
homens mais velhos, geralmente pais ou avôs. A minguada ala mais
jovem se restringe a maridos e namorados registrados no Programa de
Visitas Íntimas (...) (VARELA, 2017 p 27).

Ainda de acordo com o autor, o número não aumenta muito nem


mesmo nas épocas sazonais como Natal, Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Pais.
No presídio masculino Carandiru, em épocas festivas, chegavam a entrar entre 10
e 15 mil pessoas para visitas. Nos presídios femininos o número é muito menor.
Na penitenciária do Estado de São Paulo, nessa mesma época do ano o número
de visitantes não passa de 800 pessoas. Considerando que muitas presas
recebem mais de uma visita, muitas passam as datas comemorativas sem receber
visita alguma (VARELA, 2017).
Para Becker (2016), esse fenômeno ocorre por dois motivos. O primeiro
relaciona-se com a quantidade relativamente baixa de mulheres presas, em
comparação com os homens, o que resulta em uma quantidade menor de
presídios femininos e, muitas vezes, obriga as mulheres a ficarem distantes de
suas cidades de origem. Consequentemente, as famílias precisam se deslocar por
grandes distâncias e muitas não têm condições financeiras para tal. Além do mais,
algumas unidades impõem obstáculos para as visitas, limitando, por exemplo, o
número de crianças por visita, o que para Queiroz (2016, p 103), “ (...) além de
impedir que os filhos encontrem a mãe todos juntos, em algumas situações a visita
nem sequer acontece porque o responsável pelas crianças não tem com quem
deixar os filhos que não entrarão”.
O segundo motivo está relacionado às questões de gênero. Conforme
já mencionado anteriormente, a mulher transgressora é vista como merecedora de
dupla punição, “(...) o delito em si e o crime de não cumprir seu papel social”
(BECKER, 2016, p 149). Assim, a mulher presa continua estigmatizada,
socialmente e até mesmo pela família (BECKER, 2016). Varela (2017, p 28) relata:
“Vi casos de irmãos detidos por tráfico, em que a mãe viajava horas para visitar o
filho preso no interior do estado, mas não se dava ao trabalho de pegar o metrô
para ir ver a filha na Penitenciária da Capital”. O autor relata, que o caso mais
marcante foi de um rapaz, usuário e traficante de drogas que escondeu um malote
de cocaína atrás do guarda-roupas da irmã, que segundo a família, tinha “conduta
exemplar”, trabalhava em uma confecção no Brás, na cidade de São Paulo e
nunca se envolveu com o tráfico. Mesmo o irmão assumindo a culpa sozinho e a
mãe reafirmando a inocência da filha, a moça foi presa.

Numa das raras visitas que recebeu, a filha perguntou por que razão a
mãe visitava todos os fins de semana, em Iaras, a 280 quilômetros de
São Paulo, o filho causador de tantos desgostos, enquanto ela cumpria,
solitária, uma pena injusta. — Você tem juízo; ele precisa mais de mim —
foi a resposta (VARELA, 2017, p 29).

O abandono também acontece por parte dos parceiros, que muitas


vezes não se dispõem a passar pelas revistas íntimas vexatórias, obrigatórias
para entrada nos presídios. Nos primeiros dias de visita, logo após a prisão da
parceira, é comum grandes filas de homens aguardando para entrar, porém
conforme vão passando as semanas as filas diminuem, os homens simplesmente
param de vir. Não hesitam em abandonar nem mesmo as mulheres presas por
causa deles, levando drogas nas visitas por exemplo. Dona Encarnação de
sessenta anos que começou a ser presa aos dezenove, segundo ela por motivos
econômicos relata: “Mulher tem menos dinheiro do que o homem; na cadeia,
então, fica mais pobre ainda. A família se desinteressa. Aqui ela engorda e se
cuida mal, perde o encanto. O homem arranja outra numa boa” (VARELLA, 2017 p
183). Já o contrário raramente acontece, até mesmo porque as mulheres são
ameaçadas de morte caso abandonem o parceiro preso ou arrumem um outro
parceiro (VARELA, 2017).
Quando se coloca a questão de gênero em pauta, não se pode deixar
de destacar a situação das mulheres transexuais nos presídios brasileiros. É
evidente a invisibilidade das mulheres no presídio, de um modo geral, porém é
importante destacar que algumas são ainda mais invisíveis que outras. É difícil até
mesmo contabilizar a população transexual em situação de cárcere, visto que os
registros são feitos de acordo com os registros civis dos presos (BECKER, 2016).
A avaliação de para onde será enviado cada preso é feita com base na genitália,
apesar da medicina e até mesmo o Estado já terem reconhecido que os fatores
que determinam a sexualidade humana vão além do órgão sexual (QUEIROZ,
2016). Para Queiroz (2016, p. 141) “o sistema carcerário brasileiro comete graves
erros ao colocar homens trans em presídios femininos e mulheres trans em
presídios masculinos, desrespeitando seus direitos à identidade sexual e
sujeitando-os a situações de assédio, prostituição e até estupro. ”
Apesar dos esforços da militância LGBT em propor medidas que
reflitam as questões de gênero e sexualidade de maneira mais profunda, a
invisibilidade trans ainda está longe de uma melhor compreensão. O binarismo
homem/mulher dificulta o modo como se compreendem a transexualidade,
acabando por negligenciar o impacto desses problemas para a recuperação
desses grupos dentro do sistema prisional brasileiro (BECKER, 2016). As
questões de gênero, também refletem na forma como os relacionamentos
amorosos são vivenciados, pelas mulheres, no contexto prisional.

3.3 AS RELAÇÕES AMOROSAS NO CONTEXTO PRISIONAL

Ao longo da história da humanidade, existiram diversas maneiras de se


compreender e experienciar o amor e a sexualidade. Na Idade Média os cristãos
separaram o amor do sexo, sendo o amor atribuído a Deus e o sexo ao Diabo. As
pessoas deveriam amar exclusivamente a Deus. O que chamamos atualmente de
amor, foi ignorado e visto como paixão irracional e destrutiva. Nessa época
histórica, o amor romântico não se aplicava ao casamento, onde o que existia era
uma mistura de ternura e amizade. “O sentimento amoroso, a relação entre dois
indivíduos da qual fazia parte a atração sexual e a igualdade entre os parceiros
estava totalmente ausente na concepção cristã de amor conjugal”. O casamento
era visto como a administração de um negócio. A união conjugal consistia
basicamente em reunião de terras, produção de herdeiros e alianças de lealdade
(LINS, 2012, p 144).
Ainda nesse período, de grande repressão sexual, se acreditava que as
doenças como lepra, peste negra e peste bubônica, grandes problemas sanitários
da época, eram castigos divinos atribuídos a pessoas que praticavam sexo ou
deixavam-se dominar pelos prazeres e desejos da carne. O cristianismo, reforça a
associação do sexo ao pecado quando vincula o pecado original de Adão e Eva
ao ato sexual e não mais a tentação de igualar-se a Deus, como citado na Bíblia,
no velho testamento. “(...) Foi também a sexualização do pecado original que
estimulou a imagem diabolizada da mulher, em oposição à imagem do ‘homem
espiritual’, mais infenso ao pecado, embora responsável por ele sempre que
agisse como Adão” (LINS, 2012, p 149).
De acordo com Pretto, Maheirie e Toneli (2009, p 396) o amor como
algo sagrado, extramundano e inato ganha força com o cristianismo. “Submetido a
preceitos de fé, o amor cristão transcende a vida pela filiação divina comum,
ligado a Deus e negado aos homens, e busca assegurar a salvação e o paraíso
aos sujeitos. ” Desse modo, o amor se configura como incondicional, relacionado a
sacrifício, abdicação e dedicação. O casamento caracteriza-se como o espaço
ideal para se realizar esse modo de amor, onde o principal objetivo é cumprir o
mandamento bíblico de constituir família e multiplicar-se e não de realização
pessoal.
Assim como as práticas sexuais entre homens e mulheres, a
homossexualidade, que até então fora valorizada por algumas culturas, passa a
ser condenada pelo cristianismo. No século VI se acreditava que a
homossexualidade, assim como a blasfêmia e a heresia, eram as responsáveis
pelo surgimento da fome, terremotos e pestilências. “O homossexual foi
transformado em um perigo para a Igreja, um vivo repúdio à moralidade cristã” e a
homossexualidade passa a ser severamente punida com castração seguida pela
exposição pública do agressor e muitas vezes a morte (LINS, 2012, p 152).
Umas das grandes mudanças da Idade Média, foi a passagem do amor
unilateral, aquele que deveria ser dirigido somente a Deus, para o amor recíproco.
Essa passagem começa a dar ao amor um outro sentido. O que ficou conhecido
como amor cortês, exigia do homem sacrifício e servidão em prol do amor da
mulher que jamais seria sua esposa. A “dama”, que só aceitaria o amor do
cavalheiro que a merecesse, sujeitava-o a grandes provas de amor, que incluíam
grandes viagens, longas cavalgadas e até mesmo lutas.
Acreditava-se que
(...) a verdadeira felicidade e a verdadeira honra só poderiam ser
conseguidas por intermédio do serviço em prol de uma mulher nobre e
digna de ser amada. (...) era claro que tal serviço, pedra fundamental do
amor cortês, só poderia ser por uma mulher com a qual nunca pudesse
se casar. O amor verdadeiro tinha de ser clandestino, agridoce,
perturbado por dificuldades sem fim e também por infinitas frustrações.
Por conta disso, o amor verdadeiro consistia em elevação espiritual,
transformando o cavaleiro num homem melhor e num guerreiro maior
(LINS, 2012, p 152).
Embora o amor não fosse preceito para o casamento, um homem que
não fosse casado não tinha nenhum valor. Assim, era comum que homens
casados proclamassem sem nenhum constrangimento o seu amor cortês por outra
mulher (LINS, 2012).
O amor cortês chega contrariando o cenário cristão, onde o amor
deveria ser dirigido somente a Deus. Essa nova concepção de amor, surge como
uma recusa em seguir as normas e padrões ditados pela Igreja e sociedade. Ao
mesmo tempo que enfatiza o amor como sofrimento e desejo insatisfeito, estando
seu prazer na renúncia carnal, laiciza o objeto do amor que passa a ser a mulher,
objeto do amor inalcançável (PRETTO, MAHEIRIE E TONELI, 2009).
A partir disso, o amor entre homens e mulheres, que até então era
considerado vulgar e pecador, passa a ser retratado como um “sentimento
majestoso, um ideal a ser buscado”. Começa-se a aceitar que o “desejo sexual
podia ser parte natural do amor, mas que o sentimento total era mais espiritual,
uma unidade intensa (...)” (LINS, 2012, p 158). É importante destacar, que esse
amor inicialmente atingia apenas uma pequena camada da população feminina,
ou seja a nobreza. A posição sublime da pessoa amada não refletia a vida das
esposas de verdade. O amor e submissão de jovens cavaleiros proporcionavam
as mulheres nobres, geralmente casadas com homens mais velhos por motivos
sociais e econômicos, uma saída para a imaginação erótica. Após um tempo, essa
visão fantasiosa migra da nobreza para a população geral e se mantém até os
dias de hoje (LINS, 2012)
No final do século XVIII e início do século XIX, surge o amor romântico
ou amor paixão, reunindo vários elementos do amor cristão unilateral e do amor
cortês. Desta forma, o amor ganha a centralidade na vida dos sujeitos, deixa de
ser uma possibilidade e passa a ser um dever, o que justifica a sua existência.
(...)”A função desse amor é libertar o sujeito da moral e das convenções sociais,
uma vez que salienta a cisão entre o indivíduo e a cultura quando pretende a
absorção de um parceiro no outro, exigindo exclusividade e, com isso, priorizando
a esfera do casal” (PRETTO, MAHEIRIE E TONELI, 2009, p 396).
O amor romântico idealista e fortemente marcado por características
ocidentais, tem como preceitos básicos:
(...) o amor como universal e natural, pré-requisito de auto-realização
pessoal; o amor como um sentimento que vem a nós e não de nós; o fato
de que sem amor não existe felicidade, sendo que os sujeitos são
estritamente responsáveis pelo seu desempenho e felicidade amorosa
independentemente da conjectura social, política e econômica imposta
(negação da contingência); amor como uma experiência marcada pela
forte tensão entre o dever e o amor, amor e razão, amor e destino, amor
e liberdade; o amor que subtende a não diferenciação entre amor, paixão
e atração (PRETTO, MAHEIRIE E TONELI, 2009 p 396)

Para Costa (1999, p 147, apud PRETTO, MAHEIRIE E TONELI, 2009, p


396), “o amor romântico só frutificou onde a cultura burguesa impôs as regras da
satisfação emocional individualista” e estabeleceu uma vivência contraditória para
esta concepção de amor, visto que a vivência real é divergente da proposta
amorosa, que se tornou fundamental para os amantes, aumentando suas
exigências e frustações com relação ao outro.
Assim fica claro que o amor romântico e a forma de vivenciar o amor e
os relacionamento amorosos, como vivenciado hoje, não é algo dado
naturalmente, mas sim uma construção social, que foi se modificando ao longo
dos séculos e continua em constante transformação. Nem sempre o amor paixão
romântico foi contemplado como algo que vem de “‘dentro de nós’ ou que é
‘intrínseco’ à vida mental de todo sujeito. O amor é uma emoção, ou melhor, um
complexo emocional feito de crenças, julgamentos, sensações e sentimentos “
(COSTA, 1998, p 04). Além disso, não existe uma única forma possível de
experienciar o amor, o modo de amar do romantismo amoroso é só um modo
entre outros possíveis
Apesar de não estar intrinsicamente enraizado na estrutura do nosso
psiquismo e nem ser uma necessidade natural, o amor romântico é um complexo
emocional arraigado em nossa cultura (COSTA, 1998) e, portanto, viver histórias
de amor romântico, faz parte do imaginário e do desejo de boa parte dos sujeitos.
Para Oliveira (2007), a busca pelo amor não se restringe a uma época ou século,
em nosso cotidiano atual o amor romântico ainda é procurado pelas pessoas.
Além disso, para o autor, o amor é capaz de aproximar as pessoas e propiciar o
desenvolvimento de relações sociais.
Apesar de existirem diversos motivadores para a busca por um
relacionamento amoroso, como sexo, estabilidade financeira ou status social, em
geral, as pessoas buscam o amor como alicerce para um relacionamento. Logo, o
amor e os relacionamentos amorosos são áreas importantes na vida das pessoas.
Quando esse aspecto da vida é negligenciado ou não anda bem, outras
dimensões da vida podem ser afetadas, como o humor, capacidade de
concentração, energia, trabalho e até mesmo saúde (OLIVEIRA, 2007).
Se para as pessoas em liberdade o amor é um aspecto importante da
vida, para as pessoas privadas de liberdade não é diferente, afinal, o cárcere não
é capaz de suprimir as necessidades humanas de amor e afetividade. De acordo
com Minzon, Danner e Barreto (2010) as mulheres, ao serem inseridas no cárcere,
precisam criar estratégias de enfrentamento, a fim de suportar o encarceramento.
Uma das estratégias, dentre várias, é o relacionamento amoroso. Minzon, Danner
e Barreto (2010) destacam que a visita masculina de cônjuges ou parceiros é
escassa, além de só ser permitida quando o parceiro é fixo e legalmente
comprovado. Queiroz (2015) também cita que há poucos homens interessados em
manter o relacionamento com suas parceiras presas. Quando o relacionamento é
homoafetivo, além das questões burocráticas, as presas precisam enfrentar
também o preconceito por parte da instituição.
Diante destas dificuldades em se relacionar com pessoas que estão
fora do cárcere e da possibilidade de expressar sua sexualidade de modo mais
livre, muitas mulheres se envolvem em relacionamentos homoafetivos com outras
detentas. Conforme relato de Queiroz (2015, p. 143) a homossexualidade nos
presídios femininos é consideravelmente maior que nos presídios masculinos. Isso
não significa que as mulheres homossexuais cometem mais crimes, mas sim que
o período em cárcere impacta na maneira como as mulheres passam a viver sua
sexualidade. A maioria das mulheres entrevistadas por Queiroz, que estava em
um relacionamento dentro do presídio com outras presas se considerava
heterossexual antes da detenção e afirmou ter se envolvido com outras mulheres
em busca de proteção e cuidado e pelo “companheirismo, o apoio na depressão e
medo” (QUEIROZ, 2015, p 143) e nessa parceria descobriu novos desejos e até
mesmo o amor. Indo ao encontro de Queiroz (2015), Varela (2017) também cita
que os relacionamentos homossexuais são muito frequentes nos presídios
femininos, sendo evitados em geral somente pelas senhoras idosas e pelas
presas que fazem parte do Primeiro Comando da Capital (PCC)3.

3
O Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa bastante conhecida e presente na maior parte
dos presídios brasileiros, proíbe o relacionamento homossexual entre os seus membros, que são chamados de
irmãos e irmãs. O não cumprimento da norma, de só se envolver em relações amorosas heterossexuais, pode
acarretar na morte do membro (VARELA, 2015).
Marcela, condenada há nove anos de prisão por participar de um
homicídio, encontrou no relacionamento com Iara o companheirismo e segurança
que precisava. Quando foi presa, o amparo que recebeu da família por meio de
Sedex com produtos de necessidade básica e visitas todos os domingos, gerou
inveja em outras presas, que começaram a ameaça-la. Quando conheceu Iara,
teve uma forte identificação, que virou amizade, que virou afeto, que virou paixão.
“As noites vazias foram preenchidas por confidências, risinhos abafados entre
cobertas. Iara a libertou de sua prisão interna e Marcela, que havia por toda sua
vida se relacionado com homens, se apaixonou por ela” (QUEIROZ, 2015 p 143).
Algumas detentas afirmam que “não são, mas estão lésbicas”
(QUEIROZ, 2015, p 143) e que após o período de cárcere voltariam a se
relacionar heterossexualmente. Apesar da possível transitoriedade desses laços
para algumas presas, muitas mulheres que se envolvem dentro dos presídios
costumam construir relações sólidas e laços emocionais intensos. Muitas até
mesmo pedem transferência para a mesma cela e passam a dividir tudo o que
possuem.
Para Varela (2017, p 184)
O casamento homossexual torna mais suportável o cumprimento da pena
não só por causa dos laços afetivos, dos carinhos, das massagens nas
costas e dos prazeres sexuais, mas pela parceria: repartem os
mantimentos que chegam no jumbo, as comidas que a família traz, os
produtos de beleza, emprestam roupas uma à outra, cuidam da que está
doente, dividem as tarefas domésticas e os momentos de tristeza. A cela
com duas mulheres casadas uma com a outra é a unidade funcional dos
presídios femininos a partir da qual as relações comunitárias se
consolidam. Sem levar em consideração esse fenômeno, impossível
fazer ideia do que se passa na cadeia.

Julinha, condenada há 4 anos por tráfico de drogas, atividade que só


exerceu para que os filhos pequenos não passassem fome após a prisão do
marido, foi presa na mesma cela que Pati. Assim como Julinha, Pati era ré
primaria, tinha filhos e estava presa por conta de um antigo namorado. Ambas
tinham uma excelente convivência “Eram generosas na divisão das tarefas na cela
e dos alimentos que as famílias traziam, respeitosas com o espaço individual e o
descanso da outra, e não usavam cocaína, a qualidade de convivência valiosa. ”
Andavam tanto juntas pelos corredores do presídio que foram apelidadas de
“Cosma e Damiã”. Aos poucos foram tornando-se cada vez mais íntimas e da
amizade iniciou-se uma relação amorosa (VARELA, 2017 p 111).
Segundo Julinha, aconteceu pela primeira vez na noite de um sábado em
que desabava um temporal no telhado da penitenciária.
— Comecei a pensar se as crianças estariam bem, e tive uma crise de
choro. A Pati sentou na minha cama, pegou minha mão, enxugou minhas
lágrimas e acariciou meu rosto. Cheguei para o lado e ela deitou. Quando
dei por mim estávamos abraçadas (VARELA, 2017 p 111).

De acordo com Varela (2017), ambas diziam nunca mais querer


relacionar-se com homens e quando questionadas sobre o futuro, visto que
estavam próximas de ganhar o benefício do regime semiaberto, disseram que
tinham planos de morar juntas e criar os filhos todos juntos.
Outra presa de nome Dannyella tem uma história semelhante, mas com
outro desfecho. Dannyella procurou o médico voluntário do presídio febril e
bastante debilitada, com fortes sintomas de tuberculose, sintomas esses que
haviam voltado após um ano de tratamento incompleto. O médico a encaminha
para internação no Centro de Observação Criminológica, unidade hospitalar que
faz parte do complexo do Presídio Estadual de São Paulo, a fim de garantir que o
tratamento não seja interrompido e que a doença não cause sua morte. A paciente
concorda, porém, antes de sair, se diz muito preocupada com a colega de cela,
que apresenta os mesmos sintomas. A colega, de nome Vanusa, que entrou com
as mesmas queixas da companheira, não apresentava nenhum sintoma da
doença e a internação foi barrada pelo médico, que observou que o real motivo de
querer internação era se manterem juntas. Dannyella se explica: (...) “O problema,
doutor, é que não sabemos viver uma sem a outra” (VARELLA, 2017 p 109).
Alguns meses depois Dannyella estava desolada. A companheira
Vanusa, tinha recebido o benefício do semiaberto de onde evadiu, voltando a se
prostituir até ser presa novamente em um assalto junto ao namorado. Para Varela
(2017, p 110), essa não é uma exceção “maior parte das relações termina quando
uma das companheiras é libertada e retoma a vida heterossexual. Para ela, a
homossexualidade não passou de uma fase transitória, restrita ao ambiente
prisional, segredo que jamais chegará aos ouvidos dos homens com quem vier a
se relacionar”.
Porém, apesar de ser frequente, nem sempre os relacionamentos
acabam com o fim do cárcere. Vera, presa por participar em um sequestro,
conheceu Stéfani em cárcere, onde dividiram a cela por dois anos. Quando Stéfani
saiu em liberdade, prometeu conseguir um trabalho legal e ajudar Vera, até que
ela também deixasse o presídio e as duas pudessem viver juntas. Já havia três
anos que Stéfani havia saído do presídio e a promessa ainda estava sendo
cumprida. O maior problema enfrentado pelas duas é a impossibilidade da visita. A
instituição alega que pelos seus antecedentes criminais, Stéfani não pode entrar
no presídio, porém Vera suspeita que o preconceito seja o único motivo. Como as
duas não podem comprovar legalmente a união, o sistema não é obrigado a
permitir as visitas. Para matar a saudade, as duas se comunicam por cartas e
telefone quase que diariamente e aguardam as “saidinhas” que acontecem cinco
vezes ao ano, quando algumas presas, inclusive Vera, têm o direito de ir para
casa (QUEIROZ, 2015).
Marcela passa por um problema bem semelhante ao de Vera.
Conheceu sua namorada dentro do presídio, na fila do telefone. Um mês depois
ela foi solta e Marcela permaneceu presa. A namorada foi proibida de retornar ao
presídio para visitas e as duas se encontram no intervalo do almoço de Vera, que
tem o benefício do regime semiaberto e pode trabalhar durante em uma empresa
durante o dia. As duas se encontram uma vez por semana (QUEIROZ, 2015).
O relacionamento entre as presas não acontece se não houver
consentimento. De acordo com Sueli, condenada há mais de trinta anos de prisão
por diversos crimes diferentes, é preciso “química” para que os relacionamentos
aconteçam. A mesma, relata que certa vez golpeou com um estilete uma colega
de cela que tentava forçar uma novata a lhe fazer sexo oral: “se homem que
estupra deve morrer, mulher estupradora também merece”, diz Sueli. Quando a
“química” acontece, as parceiras solicitam mudança de cela para que possam ficar
juntas, o que nem sempre é fácil, visto que depende da boa vontade das outras
colegas que dividem a cela. Para a administração, do presídio Estadual de São
Paulo, onde se deu a pesquisa, não há problema na troca desde que as todas as
envolvidas estejam de acordo (VARELA, 2017 p 108).
A Penitenciaria Madre Pelletier, em Porto Alegre, não só permitiu a
divisão das celas pelas presas, como também sediou a primeira união civil entre
duas mulheres presas no Brasil. A união aconteceu entre Fabrícia e Fabiana. Ao
ver Fabiana pela primeira vez, Fabrícia conta que tremeu e sentiu o coração
acelerar. Tentou chamar a atenção de Fabiana, mas sem sucesso. Precisou de
um tempo e muitas conversas para se aproximar, mas a aproximação aconteceu
de fato quando apresentou seu bebê de poucos meses de vida a Fabiana que
ficou encantada com o pequeno. Após isso, Fabiana começou a ajudar Fabrícia
com o bebê, com a proximidade aconteceu o primeiro beijo. O amor das presas
que estavam instaladas em pavilhões diferentes, e sempre sofriam com a
separação no fim do dia, comoveu as demais detentas que fizeram um abaixo-
assinado pedindo a administração do presídio para que deixassem as duas
morarem na mesma cela. Fabrícia, percebeu que era momento de iniciar uma
família com a Fabiana e a pediu em casamento. A cerimonia ocorreu dentro do
presídio, e foi organizada – com direito a decoração e “lembrancinhas” – por duas
funcionárias com o apoio da direção do presídio. A cerimônia que foi presidida por
um mestre umbandista, contou com a presença da família e de outras detentas. A
relação servia de apoio mútuo para o enfrentamento de uma penitenciária com a
estrutura longe do ideal e cheia de ratos. Além disso, Fabrícia estava quase
perdendo a guarda do filho mais velho e sua mãe estava muito doente (QUEIROZ,
2015).
Conforme Santana (2017), em contrapartida, muitas mulheres mesmo
não tendo parceiros do sexo oposto, não desejam se envolver sexualmente e
afetivamente com outras mulheres, demonstrando até mesmo falta de interesse
em se relacionar amorosamente e em manter relações sexuais. Varela (2017, p
109) relata que durante as consultas médicas, algumas presas falam com
desprezo das que namoram outras mulheres, porém o fazem em voz baixa, visto
que posturas moralistas não são bem-vindas em um ambiente onde
homossexualidade é praticada livremente e aceita com naturalidade. Apesar da
liberdade para viver os romances homoafetivos, beijos na boca e carícias sensuais
são proibidos nas galerias e o cuidado redobrado nos dias de visita “não pode
nem pegar na mão”.
Para Varela (2017, p 114)
É pouco provável que a restrição do espaço físico, o confinamento com
pessoas do mesmo sexo, a falta de carinho e da presença masculina e o
abandono afetivo imponham de forma autocrática a homossexualidade
no repertório sexual das mulheres presas.
É mais razoável pensar que esse conjunto de fatores apenas cria as
condições socioambientais para que a mulher ouse realizar suas
fantasias e desejos mais íntimos, reprimidos na vida em sociedade.
No universo prisional, (...) (as mulheres) podem viver sua sexualidade da
forma que lhes aprouver, sem enfrentar repressão social.
Paradoxalmente, talvez a cadeia seja o único ambiente em que a mulher
conta com essa liberdade.

Apesar de mais difícil, as relações com pessoas que estão fora do


cárcere, não são impossíveis. Elaine, presa por tráfico de drogas, teve sua foto
exposta no jornal. Foto essa que atraiu a atenção de Israel, que disse: “Que
mulher adorável, bela, forte! Tinha uns olhos de não-mexe-comigo, uma postura
de quem sabe o que quer. Era alma pedindo reza! Conhecê-la não era uma
vontade, mas uma necessidade” Israel buscou o nome da família e entrou em
contato, conquistou a confiança do pai da moça e logo entrou para o rol de visitas
(QUEIROZ, 2015 p 136). Outra mulher presa de nome Safira, quando questionada
sobre como era ficar tanto tempo sem ter relações sexuais responde: “Não podia
namorar, mas nós dava um jeitinho (...) No feminino, aqui em São Paulo, só tem
visita íntima é na Penitenciária da Capital e Tremembé. O restante não tem. Aí a
gente tem que improvisar. Tem que fugir pra um cantinho, porque se as guarda
pegar, você vai de castigo”. Sobre os relacionamentos com pessoas em liberdade
ela afirma: “Eu era cocotinha, fia, mandava foto! Sempre! Eu namorei nesse
período todo o tempo. Arrumava um namorado, não deu certo, arrumava outro.
Arrumava eles por telefone” (QUEIROZ, 2015 p 131).
Além das relações amorosas, as relações de amizade também
contribuem para o enfrentamento do cárcere. Camila, presa acusada de ter
participação no assassinato do ex-marido, relata sobre seu forte vínculo de
amizade com Esmeralda:
A Esmeralda era meu anjo. Tinha sido presa muitas vezes, dizia que
roubava pra usar droga. Droga injetável. Fazia vinte anos que tava indo e
voltando. Ela era vacinada. Quando eu cheguei, ela não gostava de mim.
Ela era cega de um olho, só tinha um dente na boca. A imagem dela
assustava. Mesmo assim, ela foi a melhor pessoa de lá para mim.
Depois, ela caiu doente e eu cuidei dela. Ela tinha HIV. Aí veio diabetes e
foi arruinando seu corpo mais ainda. Eu acabava limpando ela no
banheiro e essas coisas e, quando ela voltava, falava assim pra mim:
“Camila, eu vou te falar, eu tenho vinte anos de cárcere e eu nunca
encontrei uma pessoa assim que nem você — e olha que eu já conheci
muita gente. Você não tem nojo de mim? ” E eu dizia: “Não, Esmeralda. E
o eu fizer por você, vão fazer pela minha mãe.” (QUEIROZ, 2015, p 92)

Diante do exposto, considera-se que estar em um relacionamento


amoroso, apesar das dificuldades encontradas nos presídios brasileiros, pode
trazer benefícios emocionais para as apenadas e auxiliam a suportar o período em
cárcere, além de contribuir para a ressocialização e os vínculos com o mundo
externo, ajudando essas mulheres a se reinserirem na sociedade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo compreender como o cárcere


impacta na maneira que as mulheres presas vivenciam o amor e as relações
amorosas. Buscou-se também, conhecer as possibilidades de manutenção e
construção de relações amorosas de mulheres privadas de liberdade e verificar as
condições institucionais para manutenção ou construção dessas relações.
Incialmente, o objetivo da pesquisadora era entrevistar mulheres que
estão em cárcere no presídio de Florianópolis com o intuito de ouvir pessoalmente
suas vivências, porém, apesar de muita insistência por parte da pesquisadora, não
foi possível acessar o presídio. Sendo assim, optou-se por pesquisa bibliográfica
com análise narrativa onde a pesquisadora procurou, dentro das possibilidades,
encontrar o maior número possível de relatos de mulheres que estão ou estiveram
presas e desejaram em algum momento compartilhar suas histórias. Essa
possibilidade aplacou, em parte, o desejo da pesquisadora de ouvir histórias reais.
Os presídios no Brasil têm um longo histórico de crueldade no trato com
os infratores, de pouca ou nenhuma condição de reinserção social e do desejo de
vingança e punição. Apesar dos avanços na luta pelos direitos humanos, não é
incomum que presos e presas vivam em situações desumanas, cruéis, muito
longe do ideal, considerando que o objetivo é reinserir o sujeito novamente no
meio social e não vingar-se dele. Estar encarcerado é uma experiência complexa
e em geral dolorosa, tanto para homens como para mulheres. Porém, nos
presídios femininos se encontram algumas particularidades que não existem no
masculino.
As mulheres enfrentam além do cárcere, a questão de gênero, visto que
ainda são vistas como criaturas dóceis e frágeis, feitas para cuidar que não
combinam com mundo do crime. Além do julgamento pelo crime que cometeram,
enfrentam o julgamento social por terem “abandonado” os filhos e a família ao
“escolherem” infringir a lei, o que em geral não se cobra dos homens. A maioria é
abandonada pela família e pelo parceiro, perde o contato com os filhos e encontra
barreiras muito maiores que os homens para se reinserir socialmente. Além disso,
a estrutura física precária, obrigando mães a dormirem no chão com seus bebês e
a falta de itens básicos de higiene indispensáveis as mulheres, como os
absorventes, por exemplo, demonstram que estes espaços não foram pensados
para as mulheres e que suas especificidades são desconsideradas.
Dentro deste contexto, as relações amorosas surgem como uma
maneira não só de suprir as necessidades sexuais e emocionais, mas também
como uma forma de enfrentamento ao cárcere. Na ausência de contatos externos
e na possibilidade de expressar livremente sua sexualidade, sem julgamentos, a
maioria das mulheres se envolve em relações amorosas com colegas de cela.
Nesses relacionamento s costumam encontrar companheirismo, cumplicidade e
segurança, importantes para conseguir suportar o encarceramento. Os
relacionamentos amorosos também acontecem com quem está fora do cárcere,
apesar de menos frequente. Porém, a falta de estrutura física de muitos presídios
para receber visitas intimas e até mesmo a visita das famílias, somada às revistas
vexatórias e ao preconceito por parte das intuições, se torna um empecilho na
manutenção destes vínculos.
Nas publicações analisadas para a construção deste artigo, encontrou-
se poucas informações sobre a atuação dos psicólogos nos presídios. Diante do
exposto, considera-se que há muitas possibilidades de pesquisa ainda no contexto
prisional, o que poderia auxiliar na expansão do trabalho da psicologia junto a
essa população. Temas como reinserção social, projetos de ser, gênero e
sexualidade, violência, dinâmica familiar, poderiam ser abordados por profissionais
psicólogos auxiliando não somente na reinserção dos sujeitos a sociedade, mas
também no enfrentamento ao período de cárcere das mulheres.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-


Ministro da Educação Fernando Haddad que com o objetivo de expandir a
educação superior no Brasil criaram o Prouni, programa que me possibilitou iniciar
a graduação em Psicologia e ser a primeira entre 16 netos a ingressar no Ensino
Superior. Sonho que parecia muito distante da minha realidade.
Agradeço também a minha família que dentro de suas possibilidades
sempre me ajudaram seja com recursos financeiros, seja com apoio emocional.
Aos amigos e colegas pela paciência e compreensão nos momentos que o fardo
ficou pesado e precisei de um ombro para chorar. Ao Fabiano que apoiou minhas
escolhas, torceu pelo meu sucesso e contribuiu para que fosse possível trilhar
esse caminho.
Aos professores, que contribuíram para uma formação baseada na ética e
no respeito a profissão e as pessoas. E aos que de forma especial contribuíram
para meu processo de desconstrução de muitos preconceitos e paradigmas que
construí ao longo do meu trajeto de vida: Marcele Emerin, Rogério Machado Rosa,
Gisely Botega, Daniel Kerry, Zuleica Pretto. Vocês me ajudaram a ser alguém
melhor para o mundo!
Para finalizar, agradeço imensamente a minha orientadora Fabíola Langaro,
que com carinho, paciência e dedicação me orientou na construção deste artigo.

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