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Meu nome é Mayara Amaral dos Santos e venho por meio desta
manifestar o meu interesse na vaga de pesquisadora no Projeto “Novas Formações
de Vida Coletiva nas Periferias de São Paulo: Mães Solo, Pais Ausentes, Violência
e Circulação de Moradias”.
3 Dos 657,8 mil presos em que há a informação da cor/raça disponível, 438,7 mil são negros (ou
66,7%). Os dados são referentes a 2019. Disponivel em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/10/19/em-15-anos-proporcao-de-negros-nas-prisoes-
aumenta-14percent-ja-a-de-brancos-diminui-19percent-mostra-anuario-de-seguranca-publica.ghtml.
Acesso em: 09/05/2023
A partir do conceito de escrevivência de Conceição Evaristo (2020),
acredito se fazer capaz para o sujeito analisado descrever as camadas de violência
a qual foi submetido, e também capacitá-lo para produzir análises mais empáticas
destes contextos.
Estudo a periferia e as nossas vidas para compreender quem sou
(KILOMBA, 2008), minha escrita é para cura. Cura minha e dos meus. Do lugar de
onde venho muitas pessoas não são amadas, desde sua infância, repetindo o
trauma colonial posto para nosso povo. E reproduzem o desamor por meio de seu
sofrimento cotidiano. O sofrimento não é inerente ao ser, o vazio do neurótico pode
ser preenchido por muitas coisas, uma delas é o direito à vida, o direito a comer,
manter o corpo vivo, e de ter sua subjetividade respeitada e garantida, sua
existência preservada em corpo, mas também em alma e espírito. Por isso, em
minhas pesquisas destaco a importância da produção artística e intelectual dos
sujeitos e sujeitas periféricos e periféricas. Para não sermos reduzidos a uma massa
que reproduz e produz fazendo a roda do capitalismo girar todos os dias. Sistema
que produz o epstemicídio de nosso povo preto e periférico (CARNEIRO, 2005).
O corpo da periférica antropóloga (NASCIMENTO, 2019) também se
faz necessário ser imbricado na pesquisa, pois a mesma serve como lente, como
dicionário que traduz as emoções e reelabora as memórias vivenciadas em seu
contexto de subalternidade. Uma estrutura arquitetada na qual a mulher está
submetida ao sistema, seja pela religião, pela sexualidade, pela família, ou pela
pobreza e falta de acesso ao trabalho digno.
Muitos podem ser os ângulos de análise desta pesquisa. Acredito que
os dados quantitativos deem conta de esclarecer e confirmar as hipóteses geradas
pelas entrevistas qualitativas. Mesmo tendo o olhar de uma pesquisadora negra e
periférica, que por vezes irá iluminar o olhar sobre detalhes das camadas de
subjetividade dos nossos interlocutores, no caso interlocutoras. Proporcionando a
esta pesquisa uma observação profunda das camadas subjetivas do contexto
analisado.
Meu objetivo com esta proposta não é dar direcionamento a esta
pesquisa, mas realizar uma construção conjunta a professora Teresa Caldeira sobre
a forma de narrar nossa história, bem como já foi experenciado na Pesquisa
Trânsitos Educacionais na Brasilândia, na qual a mesma proporcionou ao grupo um
lugar de protagonista de nossa história. Neste momento mais experiente e com uma
maior dimensão do objeto estudado, espero poder contribuir com o projeto de forma
que o conhecimento construído em parceria da Professora Teresa Caldeira, e junto
ao NEV e ao projeto PODHE, sirvam como base para que eu possa conseguir
continuar desenvolvendo esta análise sobre a vida cotidiana na periferia e as
relações de raça, gênero e desigualdades podem ser abordadas pela produção
sociológica contemporânea.
Atenciosamente,
Mayara Amaral dos Santos