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Análise Literária do conto: Um senhor muito velho com

umas asas enormes, de Gabriel García Márquez ( 1968)

Por Carlos Fernandes e Mayara________

A proposta de análise do conto de Gabriel García Márquez: Um senhor muito velho


com umas asas enorme faz conexão com a teoria da literatura fantástica, proposta
pelo crítico literário Tzevetan Todorov, que construiu uma tese no gênero fantástico
que entre tantos elementos, sistematizou o conceito do fantástico, o que serviu de
referência para produção de diversas obras deste gênero literário ao longo da
história. Mesmo tomando de conhecimento que as idéias de Todorov também
sofreram fortes rejeições no mundo literário.
É difícil imaginar se o conto do grande escritor Gabriel García Márquez, que
recebeu ao longo da sua trajetória o maior prêmio da literatura, o Nobel, se inspirou
nos parâmetros estabelecidos por Todorov, para a criação do conto que vamos
analisar. Porém, é possível constatar já de imediato que o conto possui todos
elementos do crítico literário. Poderíamos especular se essas duas grandes
referências, um como crítico literário, no caso de Todorov e outro como um dos
maiores escritores do nosso tempo se eles se conheciam pessoalmente ou não,
mas suas produções circulavam no meio literário e também vale lembrar que essa
duas personalidades viveram praticamente na mesma época.
Se partirmos do pressuposto que o fantástico é a experiência de um
acontecimento aparentemente sobrenatural, segundo Todorov, logo de início é
possível constatar que o conto do colombiano tem característica da literatura
fantástica e do realismo mágico. Para percebemos basta concentrarmos logo no
título do conto. Um senhor muito velho com umas asas enormes. Aí já temos um
aparente acontecimento sobrenatural.
No conto, o personagem Pelayo se depara com um senhor velho com asas.
Diante daquele pesadelo, como o próprio Gabriel García Márquez descreve, Pelayo
vai em busca da esposa Elisenda para mostrar aquela criatura sobrenatural.
Assombrados com aquela coisa estranha, concluíram que se tratava de um
marinheiro, depois de tentar se comunicar com o velho e ignorando as asas
enormes daquele senhor. Chegaram a essa constatação depois de analisar a voz
do senhor que respondeu a tentativa de comunicação com um dialeto totalmente
incompreensível. Porém, não satisfeito procuraram uma vizinha que tinha um
grande conhecimento sobre a vida e a morte. Já num primeiro olhar e sem hesitar, a
vizinha decreta se tratar de um anjo. Percebe-se que diante de um fenômeno
sobrenatural vem uma explicação simples da vizinha do casal. De acordo com
Todorov, no verdadeiro fantástico fica sempre preservada a possibilidade exterior e
formal de uma explicação simples dos fenômenos, mas ao mesmo tempo esta
explicação é completamente privada de probabilidade interna que se pode explicar
de duas maneiras, por meio de causas do tipo natural e sobrenatural. A
possibilidade de se hesitar entre os dois cria-se um efeito fantástico. Portanto, nesta
parte do enredo do conto é possível fazer a conexão com a teoria de Todorov, pois
o casal tem sua explicação natural e a vizinha conclui sobre o ponto de vista
sobrenatural criando assim uma dúvida.
Todorov ressalta ainda que a narrativa fantástica gosta de apresentar o
contexto de um mundo real em que nos encontramos, ou seja, homens sendo
expostos subitamente em presença do inexplicável. A partir dessa explicação não
há dúvidas que o conto de Gabriel García levou em consideração os preceitos de
Todorov, pois o velho com asas é colocado diante de uma situação que não há
explicação.
Mas como o leitor entra no ambiente da literatura fantástica? Na explicação
do crítico literário a hesitação do leitor é uma das primeiras premissas para se
confirmar a condição de fantástico. Entrando no conto fica evidente sob o ponto de
vista do leitor que no decorrer da narrativa, que não é possível se estabelecer uma
certeza do desfecho da história. Nesses aspectos podemos destacar a postura do
padre que confirma a hesitação quando não dá um veredicto em relação àquela
criatura de asas e chega até enviar um pedido de investigação para instância
máxima da igreja católica.
O desfecho da história criada pelo escritor colombiano deixa o leitor sem
saber o que acontece de verdade. O trecho que confirma essa constatação é:
Uma manhã, Elisenda estava cortando fatias de cebola para o almoço,
quando um vento que parecia de alto mar entrou pela cozinha. Foi então à janela e
surpreendeu o anjo nas primeiras tentativas de voo. Eram tão torpes, que abriu com
as unhas um sulco arado nas hortaliças e esteve a ponto de destruir o alpendre com
aquelas asas indignas que escorregaram na luz e não encontravam apoio no mar
mas conseguiu ganhar altura. Elisandra exalou um suspiro de descanso, por ela e
por ele, quando o viu passar por cima das últimas casas, sustentando-se de
qualquer jeito com um precário esvoaçar de abutre senil continuou vendo-o até
acabar de cortar a cebola, e até quando já na era possível que o pudesse ver por
que então não era mais um estorvo em sua vida, mas um ponto imaginário no
horizonte do mar.
Com esse trecho final é possível perceber que o leitor não é capaz de saber
que final, enfim levou aquele senhor velho com asas. Dentro do que Todorov
acrescenta na sua sistematização do conto fantástico na literatura, tem a definição
francesa sobre essa mesma literatura fantástica: “O fantástico explora o espaço
interior e tem uma estreita relação com a imaginação, a angústia de viver e a
esperança de salvação”. Qualquer semelhança com o conto que analisamos não é
mera coincidência.

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