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Lygia Fagundes Telles

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Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Lygia Fagundes Telles

Lygia durante reunião no Ministério da Cultura em


2011.
Nome Lygia Fagundes da Silva Telles
completo

Nascimento 19 de abril de 1918


São Paulo, SP

Morte 3 de abril de 2022 (103 anos)


São Paulo, SP

Nacionalidad brasileira
e

Cônjuge Gofredo Teles Júnior (1947-1960)


Paulo Emílio Salles Gomes (1963-
1977)

Ocupação escritora, advogada

 Prêmio
Prêmios
Jabuti (1966, 1974, 1996 e 20
01)
 Prêmio da Associação
Paulista dos Críticos de
Arte (1973, 1980, 2000
e 2007)
 Prêmio Camões (2005)
 Prêmio Juca Pato (2008)
Magnum  Ciranda de Pedra (1955)
opus  Antes do Baile Verde (1970)
 As Meninas (1973)
Assinatura

Lygia Fagundes da Silva Telles ORB • OAL • OMDCGM • HC • OI (São Paulo, 19 de


abril de 1918[nota 1] – São Paulo, 3 de abril de 2022), também conhecida como "a dama
da literatura brasileira" e "a maior escritora brasileira" enquanto viva,[3][4][5] foi
uma escritora brasileira, considerada por acadêmicos, críticos e leitores uma das mais
importantes e notáveis escritoras brasileiras do século XX e da história da literatura
brasileira. Além de advogada, romancista e contista, Lygia teve grande representação
no pós-modernismo, e suas obras retratavam temas clássicos e universais como a morte,
o amor, o medo e a loucura, além da fantasia.[6]
Nasceu na cidade de São Paulo, mas cresceu em Sertãozinho e noutros pequenos
municípios do interior paulista, e desde pequena demostrou interesse pelas letras. Aos
oitos anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, permanecendo lá por cinco anos. De volta a
São Paulo, matriculou-se no Instituto de Educação Caetano de Campos e passou a
interessar-se por literatura. Sua estreia literária foi com o livro de contos Porão e
Sobrado (1938), o qual foi bem recebido pela crítica; o sucesso se repetiu com Praia
Viva (1944). Após ter concluído o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de
São Francisco, em 1946, onde conhecera Mário de Andrade e Oswald de
Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, integrou a academia de letras da
faculdade e colaborou com os jornais Arcádia e A Balança. No ano seguinte, ela casou-
se com Gofredo Teles Júnior, com quem teve Goffredo da Silva Telles Neto, casando-se
novamente em 1962 com Paulo Emílio Salles Gomes. O terceiro livro de contos dela, O
Cacto Vermelho, lançado em 1949, recebeu o Prêmio Afonso Arinos, da Academia
Brasileira de Letras. Seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, publicado em 1954, foi
bem recebido pela crítica e público, tornando-a nacionalmente conhecida. Em paralelo à
carreira literária, ela trabalhou como Procuradora do Instituto de Previdência do Estado
de São Paulo, cargo que exerceu até a aposentadoria, e foi presidente da Cinemateca
Brasileira, fundada pelo marido Paulo Emílio.
A década de 1970 foi de suma importância para Lygia e marcou seu êxito literário e
consagração internacional, dado que foi naquele período em que ela publicou algumas
de suas obras mais aclamadas e prestigiadas: Antes do Baile Verde (1970), cujo conto
que dá título ao livro venceu o Grande Prêmio no Concurso Internacional de Escritoras,
na França; As Meninas (1973), que ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro, o Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e "Ficção"
da Associação Paulista de Críticos de Arte; e Seminário dos Ratos (1977), pelo qual
ganhou o Pen Club do Brasil. Ela ingressou na Academia Paulista de Letras em 1982, e,
em 1985, ocupou a cadeira de número dezesseis da Academia Brasileira de Letras,
tomando posse em 12 de maio de 1987. Naquele mesmo ano, tornou-se membro
da Academia das Ciências de Lisboa. Dentre seus outros sucessos estão: Verão no
Aquário (1964), Mistérios (1981), As Horas Nuas (1989) e Invenção e Memória (2000).
A escritora teve seus livros traduzidos para
o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco, além de inúmeras
edições em Portugal. Encontra-se colaboração da sua autoria na revista luso-
brasileira Atlântico.[7]
Na 17.ª edição do Prêmio Camões, maior láurea concedida a escritores de países com
o português como a língua oficial, ocorrida em 2005, Lygia foi anunciada a vencedora.
Ganhadora de todos os prêmios literários importantes do Brasil, homenageada nacional
e internacionalmente, tornou-se, em 2016, aos 92 anos, a primeira mulher brasileira a ter
sido indicada ao prêmio Nobel de Literatura.
Vida
Primeiros anos
Lygia de Azevedo Fagundes nasceu no dia 19 de abril de 1918 na rua Barão de Tatuí,
do bairro de Santa Cecília, na cidade de São Paulo.[8] Quarta filha de Maria do Rosário
Silva Jardim de Moura, conhecida como Zazita, uma pianista, e Durval de Azevedo
Fagundes, procurador e promotor público, que também trabalhou como advogado
distrital, comissário de polícia e juiz. Em função do trabalho do pai, a família mudou-se
muitas vezes para várias cidades do estado, vivendo
em Apiaí, Assis, Itatinga e Sertãozinho.[9] Nesses municípios, recebia o cuidado de babás
dotadas de um farto repertório de lendas. Foram aquelas mulheres que deram à menina
um sem-fim de histórias povoadas por mulas-sem-cabeça e lobisomens, o que a
influenciou a criar seus próprios contos nas últimas páginas de seus cadernos escolares,
os quais contava nas rodas de conversa.[8]
Por causa da mentalidade preconceituosa da década de 1920, em que as mulheres não
tinham condições de ousar determinadas profissões, sua mãe, uma excelente pianista,
não prosseguiu na carreira que começou na adolescência, fazendo apenas os deveres
domésticos considerados femininos. "Eu me lembro, era menina quando ia com a cesta
para colher goiabas no quintal da nossa casa lá em Sertãozinho, onde meu pai era
promotor. Minha mãe seria mais feliz se fosse pianista? E se ela continuasse estudando
e compondo naquele antigo piano preto com os quatro castiçais, hein? Mas esta seria
uma extravagância, uma ousadia e em vez de abrir o álbum de Chopin ela abria o
caderno de receitas".[10] Seu pai era um jogador contumaz e sempre a levava consigo a
um cassino em Santos "para dar sorte", mas ele sempre perdia as apostas.[6][8]
Depois de aprender a ler em casa, matriculou-se no Grupo Escolar do Arouche (atual
Escola Estadual Artur Guimarães), onde ficou quatro anos. Era uma criança atrasada -
não tinha base - e sofria porque não conseguia acompanhar a turma.[11] Aos treze anos,
em 1931, ela mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro, onde permaneceram por cinco
anos. Em 1936, seus pais se separaram, mas não se desquitaram, e isso fez com que
Lygia e a mãe retornassem a São Paulo para uma vida de "classe média empobrecida",
enquanto o pai continuava com suas andanças pelo interior paulista, e a garota se
matriculasse na Escola Caetano de Campos, na qual passou a interessar-se por literatura,
incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos Drummond de
Andrade, Edgard Cavalheiro e Érico Veríssimo, formando-se em 1937.[12][13][14]
Início da carreira literária, casamentos e reconhecimento

Lygia em 1945
Aos 20 anos, financiada pelo pai, Lygia publicou seu primeiro livro, Porão e
Sobrado (1938), o qual foi bem recebido pela crítica.[12] Cursou, em 1939, o pré-jurídico
e a Escola Superior de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP). Começou
a participar ativamente de debates literários, nos quais conheceu Mário de
Andrade e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Salles Gomes, entre outros nomes da cena
literária brasileira. Além disso, fez parte da Academia de Letras da Faculdade e
escreveu para os jornais Arcádia e A Balança.
Em 1941, matriculou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sendo uma
das seis mulheres em uma classe com mais de cem homens; lá, conheceu a poeta Hilda
Hilst, que veio a ser a sua melhor amiga.[9][15] A escritora afirmou, em entrevista, que
sofreu deboche por ser mulher e por estar na faculdade e querer seguir a profissão de
escritora, considerada masculina, dizendo que os rapazes perguntavam para ela e suas
outras colegas de classe com irônico espanto o que elas foram fazer lá, "casar?" Para
ela, esse começo foi difícil era um desafio, pois estavam na moda as poetisas, mas
escrever um livro com a liberdade de abordar todos os temas, era outra coisa. "Sim, foi
um duro desafio porque o preconceito era antigo e profundo. Enfim, eu sabia que na
opinião de Trotsky os que vão logo na primeira fila são os que levam no peito as
primeiras rajadas. A solução era assumir a luta, sair da condição de mulher-goiabada,
[que é] a mulher caseira, antiga 'rainha do lar' que sabe fazer a melhor goiabada no
tacho de cobre".[10] Ela decidiu que seria advogada por causa do pai, que também se
formou na São Francisco. Para custear os estudos, começou a trabalhar na Secretaria de
Agricultura. Seu segundo livro, Praia Viva, saiu em 1944, um ano antes de
seu bacharelado.[9][12] Em 1949, três anos depois do término do curso de Direito, a
escritora publicou, pela editora Mérito, seu terceiro livro de contos, O Cacto Vermelho,
o qual recebeu o Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras.[16][17]
Em 1947, casou-se com Gofredo Teles Júnior (filho de Gofredo da Silva Telles), seu
professor de direito internacional privado, de quem adquiriu o sobrenome. Na ocasião,
Gofredo era deputado federal, e em virtude desse fato, o casal mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal. Lygia exerceu a profissão na Secretaria de
Agricultura durante algum tempo, mas a abandonou pelas letras, tornando-se
colaboradora do jornal carioca A Manhã, para o qual escreveu uma coluna de crônicas
semanal.[17] Em 1954, nasceu o único filho do casal, Goffredo da Silva Telles Neto.[9]
"Fico aflita só de pensar nas novas gerações lendo esses meus livros (os dois primeiros)
que não têm importância. Eu não quero que os jovens percam tempo com eles. Quero
que conheçam o melhor de mim mesma, o melhor que eu pude fazer, dentro das minhas
possibilidades".
Lygia Fagundes Telles sobre Ciranda de Pedra.[15]

Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começou a escrever seu primeiro
romance, Ciranda de Pedra (1954), que a tornou conhecida nacionalmente.[17] Na
fazenda Santo Antônio, em Araras - São Paulo, de propriedade da avó de seu marido,
para onde viajava constantemente, escreveu várias partes desse romance. Essa fazenda
ficou famosa na década de 20, pois lá reuniam-se os escritores e artistas que
participaram do movimento modernista, tais como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila
do Amaral, Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos. O crítico Antonio Cândido o considera
o romance como o marco de sua maioridade como escritora, e ela própria, crítica severa
de seus primeiros escritos, gosta de assinalar a publicação desse romance como sua
estreia como escritora,[15] afirmando, sobre aqueles, que "a pouca idade não justifica o
nascimento de textos prematuros, que deveriam continuar no limbo", completando: "o
que ficou pra trás são juvenilidades".[14] Os críticos Paulo Rónai, Otto Maria Carpeaux e
Carlos Drummond de Andrade também aclamaram-no.[18] O livro foi adaptado com
sucesso pela Rede Globo para a televisão em duas ocasiões: a primeira em 1981 e
a segunda em 2008.[12][19] Em 1958, a escritora publicou Histórias do Desencontro, o qual
ganhou o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do Livro.[20]
Em 1960, Lygia se separou, mas não se divorciou, de Goffredo; no ano seguinte,
começou a trabalhar como advogada no Instituto de Previdência do Estado de São
Paulo. Ela trabalhou nesse escritório e continuou suas publicações simultaneamente até
1991.[9] Seu segundo romance foi Verão no Aquário, lançado em 1963, que novamente
foi bem recebido pela crítica e ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Naquele mesmo ano, casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, a
quem descreveu como "um homem encantador, inteligente, vibrante, irônico". Foi um
escândalo: embora oficialmente continuasse casada (a lei brasileira não admitia
o divórcio) com Goffredo, ela juntou-se com Paulo Emílio, enfrentando a maledicência
da sociedade da época. Viveram juntos até a morte do escritor, em 1977.[15] Com ele,
escreveu o roteiro para cinema Capitu (1968), inspirado no romance Dom Casmurro,
de Machado de Assis. Esse roteiro, que fora encomenda de Paulo César Saraceni,
recebeu o Prêmio Candango, concedido ao Melhor Roteiro Cinematográfico.[9] Ainda em
1963, Lygia começou a escrever o romance As Meninas, inspirado no momento político
em que passava o país. Em 1964 e 1965 foram publicados seus livros de
contos Histórias Escolhidas e O Jardim Selvagem, respectivamente.[17]
Consagração internacional
Embora tivesse estreado na década de 1940, foi apenas da década de 1970 que Lygia
alcançou a plena maturidade de seus meios de expressão e marca o início da sua
consagração na carreira, tornando-se um nome fundamental na ficção brasileira
contemporânea.[21] Publicou, então, alguns de seus livros mais importantes, os quais
foram um êxito no exterior e traduzidos para várias línguas.[10] Antes do Baile
Verde (1970), cujo conto que dá título ao livro, foi um sucesso internacional,
conquistando, em Cannes, o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros,
em língua francesa, pelo qual concorreram 360 manuscritos de 21 países.[22] O
escritor Caio Fernando Abreu avaliou que Lygia "[é] basicamente uma contadora de
histórias, no melhor e mais vasto significado da expressão".[23] Antonio Candido,
professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, ressaltou que a escritora "sempre teve o alto mérito de obter, no romance e no
conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer
truque ou traço carregado, na linguagem ou na caracterização".[10] O professor e
ensaísta Silviano Santiago afirmou que "uma definição curta e sucinta dos contos de
Lygia dirá que a característica mais saliente deles é a dificuldade que têm os seres
humanos de estabelecer laços".[24] O revisor e crítico Paulo Rónai também opinou
favoravelmente sobre os dezoito contos de Antes do Baile Verde: "essas obras-primas,
de tão fremente inquietação íntima e que exalam um desespero tão profundo, ganham a
clássica serenidade das formas de arte definitivas".[25] Na versão original, é apresentada
uma carta escrita por Carlos Drummond de Andrade, em 1966, à Lygia em relação a
obra:[26]
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 1966.
Lygia querida:
[...] O livro está perfeito como unidade na variedade, a mão é segura e sabe sugerir a
história profunda sob a história aparente. Até mesmo um conto passado na China você
consegue fazer funcionar, sem se perder no exotismo ou no jornalístico. Sua grande
força me parece estar no psicologismo oculto sob a massa de elementos realistas,
assimiláveis por qualquer um. Quem quer a verdade subterrânea das criaturas, que o
comportamento social disfarça, encontra-a maravilhosamente captada por trás da
estória. Unir as duas faces, superpostas, é arte da melhor. Você consegue isso. Tão
diferente da patacoada desses contistas que se celebram a si mesmo nos jornais e
revistas e a gente lê e esquece o que eles escreveram! Conto de você fica ressoando na
memória, imperativo.
Tchau, amiga querida. Desejo para você umas férias tranquilas, bem virgilianas.
Carta de Carlos Drummond de Andrade.
Em 1973, Lygia ganhou vários e importantes prêmios brasileiros com o romance As
Meninas, publicado em Nova Iorque, em 1982, com o título de The girl in the
photograph.[27] O romance recebeu o Prêmio Jabuti; o Prêmio Coelho Neto, da Academia
Brasileira de Letras e o prêmio de Ficção da Associação Paulista de Críticos de Arte.[13]
[17]
Ele conta a história de três jovens no início da década de 1970, um momento difícil
na história política do Brasil devido à repressão da ditadura militar. Sobre a obra, Otto
Maria Carpeaux afirmou: "Lygia tem realmente algo da delicadeza atmosférica de
uma Katherine Mansfield. A diferença é apenas a seguinte: ela também sabe escrever
romance e As Meninas é mesmo um romance de alta categoria".[28] A escritora estava
entre os intelectuais que foram para Brasília em 1977, para entregar o "Manifesto dos
Intelectuais". O protesto foi a maior manifestação de intelectuais, desde 1968, contra o
regime militar e censura da imprensa.
A censura vinha exorbitando em relação ao teatro, ao cinema, às artes plásticas, livros e jornais. Nós
fomos nos sentindo frágeis. É bonito isso, o sentimento do homem fragilizado politicamente, a sua
vontade de se reunir, de formar seus círculos. Em 1976, jovens escritores em Belo Horizonte, em
mesas de bar, já estavam se levantando, tentando também armar não se sabe bem o quê, não se sabe
se um manifesto ou um memorial. As ações estavam coincidindo, embora não houvesse ainda entre
nós contato mais profundo. O movimento de Belo Horizonte acabou liderando grupos esparsos de
São Paulo e do Rio, que tinha à frente Rubem Fonseca e José Louzeiro. Eu me sentia dentro de uma
nova inconfidência, de origem mineira e âmbito nacional.[13]
— Lygia falando sobre o motivo do manifesto

Lygia Fagundes Telles, sem data. Arquivo Nacional


Em 1975, iniciou o projeto de construção do Museu de Literatura Brasileira, iniciativa
semelhante à de Plínio Doyle quando em 1972 fundou a instituição Arquivo-Museu de
Literatura Brasileira. Segundo ela, seria um “centro de estudos e pesquisas grande o
bastante para ser realmente representativo da nossa literatura” para os estudos literários.
Mesmo com apoio do Conselho Federal de Cultura, o Museu da Literatura Brasileira
não aconteceu. Com a morte de Paulo Emílio Sales Gomes, em 1977, Lygia assume a
direção da Cinemateca Brasileira e doa a documentação recolhida, entre fotografias e
manuscritos de pouca ou nenhuma divulgação, ao Instituto de Estudos
Brasileiros (IEB).[29][30]
Em 1977, foi galardoada pelo Pen Club do Brasil, pela sua coletânea Seminário dos
Ratos,[31] que fora elogiada por Hélio Pólvora, o qual ressaltou que a escritora começa a
projetar dimensões supra-reais, considerando a obra uma reunião de contos "fantásticos
ou quase".[16] Naquele ano participou da coletânea Missa do Galo: variações sobre o
mesmo tema, livro organizado por Osman Lins a partir do conto clássico de Machado de
Assis. Ela integrou o corpo de jurados do Concurso Unibanco de Literatura, ao lado dos
escritores e críticos literários Otto Lara Resende, Ignácio de Loyola Brandão, João
Antônio Ferreira Filho, Antônio Houaiss e Geraldo Galvão Ferraz.[17] Em setembro do
mesmo ano, faleceu Paulo Emílio Salles Gomes. A escritora assumiu, face ao ocorrido,
a presidência da Cinemateca Brasileira, que Paulo ajudara a fundar.[9]
No ano de 1978, a editora Cultura lançou Filhos Pródigos. Essa coletânea de contos foi
republicada com o título de um de seus contos A Estrutura da Bolha de Sabão (1991). A
Rede Globo levou ao ar um Caso Especial baseado no conto "O jardim selvagem".
[13]
Sua próxima publicação, A Disciplina do Amor (1980), foi bem recebida pela crítica e
ganhou o Prêmio Jabuti e o Troféu APCA da Associação Paulista de Críticos de Arte.
[32]
O jornalista e autor Wladir Dupont escreveu que A Disciplina do Amor trata-se de
"um conjunto de contos de estranho e belo mosaico, de fragmentos aparentemente
desconexos".[16] Ele considerou que a escritora atravessa muito bem a fronteira entre o
sonho e a realidade, sendo a condição humana o tema que privilegia no livro. Fábio
Lucas ressaltou que afloram mais contundentemente neste livro as
reivindicações feministas que apareciam brandas nas [publicações da escritora]
anteriores.[16] Dupont ainda faz um paralelo de Lygia com Hilda Hilst, Adélia Prado,
Rachel Jardim, Nélida Piñon e Lya Luft: "vigorosas em estilos heterogêneos",
chamando a atenção para essas literaturas femininas e singulares. Ele sublinha que, já
nos primeiros passos de sua carreira e na análise do contexto intelectual em que Lygia
se situava, percebia o embrião da grande escritora que ela seria.[16] Em uma entrevista,
Lygia afirmou que "A Disciplina do Amor é meu melhor livro".[33][34] Em 1981, a escritora
lançou Mistérios, uma coletânea de dezenove contos fantásticos antigos e atuais,
originada de uma edição na Alemanha, publicada sob o título Contos Fantásticos.
Academia Brasileira de Letras
Em 1982, foi eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32
votos a 7, foi eleita, em 24 de outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira
de Letras, na vaga deixada por Pedro Calmon, tomando posse em 12 de maio de 1987.[17]
"Às vezes, a esperança. O homem vai sobreviver, e essa certeza me vem quando vejo o mar, um mar
que talhou com tanta poluição, embora! mas resistindo. Contemplo as montanhas e fico maravilhada
porque elas ainda estão vivas. Sei que é preciso apostar e de aposta em aposta cheguei a esta Casa
para a harmoniosa convivência com aqueles que apostam na palavra."

— Trecho do "Discurso de Posse", 1987.[35]


Em 26 de novembro de 1987, foi feita Comendadora da Ordem do Infante D.
Henrique de Portugal.[36] Questões relacionadas ao envelhecimento e à solidão estão
presentes em seu trabalho seguinte, o romance As Horas Nuas (1989), no qual o leitor
segue o desnudamento da personagem Rosa Ambrósio, com suas frustrações expostas
nas memórias que ela dita num gravador.[27] Ainda em 1989, a escritora recebeu a
Comenda Portuguesa Dom Infante Santo.[17] Em 1990, seu filho, Goffredo Neto, realizou
o documentário Narrarte, sobre a vida e a obra da mãe. Em 1991, aposenta-se como
funcionária pública.[17] A Rede Globo de Televisão apresentou, em 1993, dentro da
série Retrato de Mulher, a adaptação da própria escritora do seu conto "O moço do
saxofone", que faz parte do livro Antes do baile verde, num episódio denominado "Era
uma vez Valdete". Lygia participou da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em
1994, e lançou, no ano seguinte, um novo livro de contos, A Noite Escura e Mais Eu, o
qual ganhou os prêmios de Melhor Livro de Contos, concedido pela Biblioteca
Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Prêmio APLUB de Literatura.
[17]

Em 1996, estreou o filme As Meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado no romance


homônimo da escritora. Em maio de 1997, Lygia participou da série O escritor por ele
mesmo, projeto do Instituto Moreira Salles (IMS) que compreendia um depoimento ao
vivo, nas sedes do IMS, e a leitura de textos do autor, feita por ele próprio, gravados em
CD anteriormente e distribuídos ao público no dia do depoimento. Para esse projeto,
Lygia gravou a leitura de dois contos: "A estrutura da bolha de sabão" e "As formigas".
Em março do ano seguinte, o IMS a homenageou com a edição do volume nº 5 dos
Cadernos de Literatura Brasileira. A edição contou com a reprodução do primoroso
conto "Que se chama solidão", que, ao lado de outros também inéditos, seriam incluídos
posteriormente em Invenções e memória.[27] A editora Rocco adquiriu os direitos de
publicação de toda a obra passada e futura da escritora. No ano seguinte, a convite do
governo francês, a brasileira participou do Salão do Livro da França.[11]

Lygia na inauguração da Fachada do Edifício


da Academia Paulista de Letras ocorrida no dia 19 de outubro de 2017
Em 2000, publicou o livro Invenção e Memória, o qual foi agraciado com o Prêmio
Jabuti na categoria Ficção, o "Golfinho de Ouro" e o Grande Prêmio da Associação
Paulista dos Críticos de Arte,[35] e é considerado pela escritora também como seu melhor
livro. "Sou como as mães em relação a seus filhos: o caçula é sempre o que recebe mais
atenção." Segundo a autora, a recepção de Invenção e Memória foi uma surpresa. Na
sua opinião, A Noite Escura e Mais Eu (1995), também de contos, tinha mais
preocupações estéticas. Segundo ela, Invenção e Memória foi um livro que pegou as
pessoas e também as novas gerações, "por uma questão de amor mesmo. [...] Se os
jovens me aceitam, eu não vou me perder; quer dizer, eu posso me perder na morte, mas
a palavra escrita fica."[37] Em março do mesmo ano, ela recebeu o título de Doutora
Honoris Causa pela Universidade de Brasília.[38]
Em maio de 2005, Lygia recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em
língua portuguesa, pelo conjunto de suas obras,[9][39] distinguida pelo júri composto por
Antônio Carlos Sussekind (Brasil), Ivan Junqueira (Brasil), Agustina Bessa-
Luís (Portugal), Vasco Graça Moura (Portugal), Germano de Almeida (Cabo Verde)
e José Eduardo Agualusa (Angola).[40] Sobre a premiação, Urbano Tavares
Rodrigues declarou: "Lygia [...] teve finalmente o Prêmio Camões, que há muito
merecia, pela infinita riqueza da sua obra literária, tão brasileira e universal, tão subtil e
mágica, tão realista na análise social e na indagação do mais fundo e contraditório dos
seres humanos…quero agora enviar-lhe, com este artigo, um abraço grande,
impregnado de toda a minha admiração pela escritora multiforme, hiper consciente na
sua reinvenção irónica e comovida do mundo, solidária na sua escrita".[41] Seu trabalho
mais recente foi Um Coração Ardente, publicado em 2012.[42] Em fevereiro de 2016, foi
indicada ao Prêmio Nobel de Literatura pela União Brasileira de Escritores.[43]
Obra
Estilo de escrita e influências
Os contos fantásticos de Lygia refletem o estilo do escritor
estadunidense Edgar Allan Poe.
Com sua amiga Clarice Lispector, a obra de Lygia estabeleceu um interessante diálogo,
pois ambas exploraram, de maneira inédita até então, o universo feminino sob uma
perspectiva moderna, rompendo com o moralismo social que deixava a mulher sempre à
margem da figura masculina. Traçou o de suas personagens através das técnicas do
fluxo de consciência e do monólogo interior, alçando-as ao posto de protagonista de
suas histórias.[44] Além de abordar intensamente a temática feminina, Lygia abriu espaço
em sua obra para temas como a vida nas grandes cidades, assim como os problemas
sociais e outros temas polêmicos, como drogas, adultério e o amor.[45] Em geral, suas
personagens são seres inquietos e vulneráveis, instrumentos de reflexão psicológica, que
se movimentam em aparente espontaneidade, como representação irônica da sociedade.
[46]
Lygia fez a fusão do fantástico à realidade do espaço urbano, incorporando em seus
contos muitos elementos modernos, como os contos A caçada, Venha ver o pôr do
sol e As formigas.[44][47][48]
As obras lygiana angariou influência de importantes nomes da literatura.
Cronologicamente, a escritora se posiciona na geração modernista de 1945, ao lado
de Guimarães Rosa, Lispector, Rubem Braga e Dalton Trevisan; portanto, observa-se
influência do fluxo de consciência e da epifania, recursos utilizados por esses escritores.
Enquanto seus romances ganharam ares de literatura realista, os contos da autora
refletem o estilo de Edgar Allan Poe, escritor estadunidense de tendência romântica
e fantástica. Em algumas de suas histórias fundiu a realidade do espaço urbano ao
fantástico, ultrapassando a fronteira do real ao assumir uma tendência
notadamente surrealista.
"(...)Quero te dizer que nós as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função
das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que
talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade,
meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões.(...)"

— As Meninas.[49]
Dentre os autores brasileiros, a escritora se diz influenciada por Machado de
Assis especialmente por sua "ambiguidade, o texto enxuto, a análise social e a ironia
fina".[50] Em 1967, ela realizou a adaptação cinematográfica do romance Dom
Casmurro com Paulo Emílio Sales Gomes, intitulado Capitu, com direção de Paulo
Cesar Saraceni.[9]
Linguagem
A sinestesia é uma das principais figuras de linguagem utilizadas nos contos de Lygia: a
cor verde é constantemente citada como referência à passagem da vida à morte; às
vezes, alude à esperança, à inveja e ao dinheiro.[51] As variações linguísticas são também
usufruídas como representação das personagens retratadas de acordo com seu nível
social e com a situação da comunicação. Outros dois traços marcantes na literatura de
Lygia são a ambiguidade e a ironia, presentes em Ciranda de Pedra (1954), Antes do
Baile Verde (1970) e As Meninas (1973), nas quais a escritora estabelece conflitos
internos do homem vivendo em sociedade.[52]
Antes do Baile Verde
Ver artigo principal: Antes do Baile Verde
A linguagem de Antes do Baile Verde modifica conforme a temática de cada conto. Em
geral, há um tom engajado como denúncia velada à desigualdade social e uma oposição
ao regime militar no Brasil;[53] há presença ampla do discurso indireto livre para enfatizar
a análise psicológica feita das personagens e o uso de inúmeras figuras de linguagem,
como metáfora, personificação e sarcasmo.[54] A autora utiliza linguagem clara, concisa,
descartando tudo o que poderia ser considerado desnecessário para a ficção. O emprego
dos diálogos, por meio dos quais autor e narrador constroem as personagens,
desenvolvem o enredo, transmitem as informações ao leitor, é feito de maneira
primorosa e também contribui para a rapidez narrativa de Lygia.[55]
Sempre que possível, mostra os fatos ao invés de contá-los para o leitor, tirando
proveito das características determinantes do modo showing de narrar, a imitação
verdadeira, a mimese, as falas diretas, o modo dramático, como que propiciando que a
história se conte por si mesma. Assim, em grande parte dos contos, o leitor tem a
sensação que o narrador se esconde e que ele, leitor, é também personagem e observa os
fatos acontecerem diante dos próprios olhos. Existem momentos de ousadia e coragem,
principalmente com relação à seleção de temas, mas, na maioria das vezes, a escritora
pode ser classificada como prudente no ato de escrever, não explorando todos os
artifícios narrativos que os recursos retóricos da linguagem disponibilizam. Lygia, de
certo modo, limita o uso de recursos praticados na "modernidade", ou seja, aqueles que
buscam uma ruptura radical com os moldes tradicionais.[55]
As meninas
Ver artigo principal: As Meninas (livro)
Em As Meninas, a escritora não cai na futilidade, não se banaliza, e a linguagem
é coloquial e expressiva e os diálogos abandonam os padrões formais. A narração em
primeira pessoa é manipulada de forma primorosamente cambiante: ela se desloca
constantemente para o fluxo de consciência das três amigas, que se entrevistam, que se
apresentam umas às outras e ao leitor, que refletem continuamente sobre si mesmas e
umas sobre as outras, arrastando-os nessas frequentes invasões à privacidade de Ana
Clara, Lorena e Lia, que vão se revelando gradativamente diante do leitor. Cada
personagem tem um estilo peculiar de expressar-se, pois cada uma delas se exprime
dentro de seu "dialeto" coloquial - o discurso mais elaborado e culto de Lorena,
o regionalismo politicamente engajado de Lia e o pensamento confuso e truncado de
Ana "Turva".[56]
Outro ponto na forma de expressão das três moças é que elas falam em primeira pessoa;
Lorena, Lia e Aninha usam o pronome Eu. Cada moça é sempre um Eu observador, que
mostra sua própria posição, quando fala das outras. O narrador da obra nada fala de si,
só fala das três, logo, é um narrador onisciente (que tudo sabe) e de terceira pessoa,
como costumam ser os oniscientes, e deixa que as elas falem por si mesmas, dando a
impressão de um teatro com alguns diálogos e muitos monólogos. O narrador, no
entanto, é desconhecido, e nem pode se dizer que seja Lygia, pois ela é a autora, a
pessoa física e real que escreveu o romance, e nele concebeu um narrador sobre o qual
se sabe muito pouco ou nada. A seguir uma das passagens do romance em que esse
narrador se mostra um pouco:
Inclinou-se [Lorena] para os lados, numa profunda reverência, os braços em
arco para trás, as mãos se tocando como pontas de asas entreabertas.
Agradeceu recuando um pouco, o sorriso modesto posto no chão. Mas
empolgou-se ao colher uma flor no ar, beijou-a, atirou-a triunfante para as
galerias e voltou rodopiando à janela. Acenou para a jovem que esperava de
braços cruzados no meio da alameda. Levou as mãos ao lado esquerdo do peito
e suspirou com ênfase.
— As Meninas, páginas 11-12.[57]
Aqui, por exemplo, o narrador se revela, porque ele está em sua função de falar
sobre a personagem. Mas, nesses raros momentos em que se mostra, tal narrador
revela a manipulação das técnicas "românticas" de apresentação das meninas-
moças. "Isso acaba se harmonizando bem com o realismo dos monólogos, onde as
confissões tendem a ser mais brutais e mais modernas".[56]
Temática
Para escrever, você precisa se dedicar de corpo e alma a seu personagem, a seu
enredo e à sua ideia. É preciso que seja um ato de amor, uma doação absoluta, e
é impossível sair do transe enquanto não dá a história por acabada, enquanto não
decifra o humano. O detalhe é que o ser humano é indefinível. Por mais que
tente, você não consegue defini-lo totalmente. O ser humano é inalcançável,
inacessível e incontrolável, ele está sujeito a esses três 'Is'.
Lygia a falar sobre escrita.[6]
Vivendo a realidade de uma escritora do terceiro mundo, Lygia considera sua obra
de natureza engajada, comprometida com a difícil condição do ser humano em um
país de tão frágil educação e saúde, e procura apresentar em seus textos a realidade
envolta na sedução do imaginário e da fantasia.[13][58] Especialmente em seus
romances, as personagens principais tendem a ser mulheres, dotadas de um
psicologismo intenso e de comportamentos muito marcantes, como Virgínia,
de Ciranda de Pedra, Raíza, de Verão no Aquário e Lorena, Lia e Ana Clara, de As
Meninas. Essa recorrência poderia ser interpretada como um evidente
engajamento feminista.[59][60] O choque do desconhecido no cotidiano aparece em
vários textos da escritora, o qual provoca um sentimento de dúvida, medo e
ambiguidade. Entre os contos que lidam com o sobrenatural estão As
Formigas, Natal na Barca, e Noturno Amarelo.[59]
Crítica literária
A obra lygiana já foi elogiada por renomados escritores da literatura nacional e
internacional, os quais se renderam à sua elegante escrita. Clarice Lispector, Carlos
Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu, José J. Veiga, José Saramago, entre
outros, já expuseram opiniões importantes e fizeram parte do público de
admiradores da obra da escritora. Segundo o crítico José Castello, ela "é uma
escritora que se dedica aos temas universais: a loucura, o amor, a paixão, o medo, a
morte".[6]
"Lygia é a maior escritora brasileira viva e a qualidade de sua produção é inquestionável."
Durval de Noronha Goyos[61]

Para João Ubaldo Ribeiro, "é a grande dama da literatura brasileira". Milton
Hatoum destaca a magnitude e a perenidade dos contos de Antes do Baile
Verde e Seminário dos Ratos, livros publicados nos anos 1970. Já Ignácio de Loyola
Brandão garante não "existir, na literatura brasileira, uma pessoa mais adorável".
Muitos livros se tornaram clássicos, como o romance As Meninas (1973), "livro até
hoje muito lido nas escolas, pois reflete o impasse de jovens que viveram numa
época obscura", observa Hatoum. "O destino das personagens é, de algum modo, o
destino de uma geração movida por sonhos de liberdade sexual e política, ou por um
desejo de ascensão social. É um romance que opera com o equilíbrio entre o
psicológico, o social e o político. Sem dúvida, um dos melhores livros da autora."[6]
Lispector afirmou que Lygia é uma das maiores escritoras de contos do país;
"inclusive entre os homens". J. Veiga foi outro nome a escrever sobre o domínio da
sua técnica narrativa: "De que tratam os contos de Lygia Fagundes Telles? Ora, do
que acontece ao redor dela e ao redor de nós e também do nosso interior, claro. Em
suma, tratam dos ‘naturais tormentos dos quais a condição humana é herdeira’,
como já descobrira ou suspeitara o príncipe da Dinamarca. E o que foi que viu ao
seu redor, ou ao redor de sua mente ou dentro dela e que disparou o mecanismo
lygiano da criação? Obviamente o que a sua inteligência e a sua sensibilidade
focalizaram em dado momento — instantes, lampejos, sementes, pensamentos,
lembranças". O português José Saramago foi outro reconhecido autor que admirava
sua obra: "Recentemente estava eu a folhear alguns livros de Lygia Fagundes Telles
que desde há muito me acompanham na vida, a afagar com os olhos páginas tantas
vezes soberbas. Releio-os uma vez mais, palavra a palavra, sílaba a sílaba,
saboreando ao de leve a pungente amargura daquele mel".[62] Wilson Martins, crítico
literário brasileiro, observou que a escritora ultrapassou o "círculo de giz
autobiográfico" no qual giram desesperadamente tantos contistas modernos, uma
vez que "ela possui, pois, a primeira qualidade do ficcionista, a de saber colocar-se
na pele dos outros. Essa é mais uma ambiguidade do conto, que ela assume com a
mesma autoridade de Machado de Assis ou de Joaquim Paço D'Arcos".[25] Tal-
qualmente, Caio Fernando Abreu escreveu: O texto de Lygia prima pela unidade,
pela densidade, pela extraordinária dignidade que confere à língua portuguesa,
mesmo quando trata de temas ou situações sórdidas, perversas, violentas. Ler Lygia
Fagundes Telles, para quem é dado a esses requintes, traz o prazer da descoberta da
beleza, da sonoridade e da expressividade".[25]
Perspectivas
Política Faço política ao
Lygia era conhecida por ser adepta da liberdade ampla poder político. [...]
Denuncio de forma
e irrestrita. Em uma entrevista, confessou sua
romanceada
decepção com a fórmula usada pelos profissionais as torturas, os vícios,
da política brasileira, e contou também que conseguia as feridas, os mandos
fazer política sem participar do poder público, estando e desmandos de
sua mensagem política por inteiro em sua obra nossa sociedade.
literária, na qual denuncia de forma embelezada
vários problemas da sociedade, os quais podem ser — Lygia Fagundes, [63]

observados se seus textos "forem lidos com cuidado".


A denúncia, para ela, deve ser feita de forma indireta; assim, atinge a consciência de
maneira reflexiva.[63]
Era socialista na juventude, e voltou a ser novamente na terceira idade, afirmando crer
que o socialismo era a única saída. Durante a eleição presidencial no Brasil em 1994,
votou em Fernando Henrique Cardoso, o que fê-la arrepender-se posteriormente,
completando: "[...] depois suspendi o juízo. Foi uma grande decepção para mim o
governo dele. É um homem tão inteligente, tão culto, contudo não fez pelo Brasil aquilo
que eu esperava. Sou uma jogadora, como meu pai, mas minhas apostas agora são
outras em relação ao Brasil". Na eleição municipal de São Paulo em 2000, ela
apoiou Marta Suplicy.[64]
Lygia não apoiava nenhum partido político, declarando que sua posição partidária
estava, por inteiro, nos seus livros As Meninas, As Horas Nuas, Ciranda de
Pedra e Seminário dos Ratos, e que os partidos são muito "mandões" e ela não
aceitava imposições sem questionamento, pois tinha suas éticas e códigos, apesar de
dizer que não possuía críticas aos afiliados. Também criticou a profissão de político
no Brasil, afirmando que é um horror aonde chegou o profissionalismo político no
país e que a política deixou de ser coisa séria, transformando-se em um mecanismo
de ganho, de mando e desmando, de conquista, e que a fórmula usada por políticos
brasileiros é lamentável.[63]
Em seus 25 livros publicados, Lygia mostrou um pouco de seu mundo coordenado,
contemplativo e de sua segura maneira de pensar. Citou o livro As Meninas como
exemplo de seu trabalho em que faz uma denúncia de forma indireta, dizendo que
poucos críticos perceberam suas contestações políticas e que deve ter sido esse livro
o único que teve a audácia de apresentar um panfleto que descrevia a tortura. Ela
denunciou aquela prática da ditadura que sufocava o país, e afirmou que cabe ao
leitor ficar atento à maneira com que cada escritor tenta passar sua mensagem, e que
a denúncia deve ser feita de maneira ambígua, porém reta no objetivo. No entanto,
foi no romance As Horas Nuas em que a escritora escreveu com a maior liberdade
sobre o assunto, no qual esforçou-se até conseguir que suas personagens se
entregassem, se colocassem numa posição de doação absoluta. "Era a busca da
liberdade que desejava delas, e ao mesmo tempo a liberdade que exigia de mim. É o
livro mais livre e louco que já escrevi".[63]
Sobre intelectuais de relevantes posicionamentos críticos, que sem participar de
poder político deram sua mensagem política, Lygia apontou como exemplos Carlos
Drummond de Andrade, a quem se referiu que em seus poemas deu o recado: "Tu
não me enganas, mundo; eu não te engano a ti", e Cecília Meirelles, que fez sua
revelação de contestação política em Romanceiro da Inconfidência.[63]

Presépio (1750), por Francesco Londonio. O nascimento


de Jesus é metaforizado no conto Natal na Barca, da obra de contos Antes do Baile
Verde. [65]

Religião
Apesar de ter algumas imagens de santos guardadas no apartamento, Lygia não se
considerava religiosa, mas acreditava na reza e tinha paixão por alguns deles,
como santa Teresinha, a quem descreveu como não sendo "essa água-com-açúcar
que dizem", mas que era forte, densa, quase tão densa quanto a própria Teresa
de Ávila, que foi uma santa filósofa e intelectual. Quando mais nova, sua mãe lhe
colocava nas festas como anjo de procissão. Apesar de ter parado de ir à igreja, por
vezes, na Semana Santa, Lygia gostava de ir ver a imagem de Jesus morto e achava
a Páscoa a festa mais linda que existe, pois isso a anima e fortalece, tornando sua a
vida "suportável".[64]
Em uma entrevista, declarou não ser tão ligada a Deus, e disse que a natureza
humana é misturada demais, e que alguns, como Agostinho de Hipona, conseguiram
que aquele lado, a banda podre, desaparecesse, sendo esse o triunfo do
próprio cristianismo: "Jesus Cristo também conseguiu". Citou o romance O
Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, como dos quais mais gosta em
se tratando de religião, afirmando que gosta dos agnósticos, pois, em suas palavras,
eles são apaixonados por Deus. "É uma negação da paixão. Negam e se dedicam a
isso, se entregam. É a forma de paixão mais revolucionária que existe. Judas tinha
paixão por Cristo. Roía as unhas, arrancava as orelhas, entregou Cristo e se matou.
Só a morte, só a desaparição, poderia acabar com aquela fonte de sofrimento dele,
aquela fonte de amor e de ódio". Também afirmou que às vezes acredita
em reencarnação, às vezes, em transmigração das almas.[64]
Vida pessoal
Em 1947, aos 24 anos, Lygia casou-se com o jurista Gofredo Teles Júnior, seu
professor de direito internacional privado, de quem adquiriu o sobrenome; no
entanto, o casal separou-se poucos anos depois. Ela teve seu segundo casamento em
1962 com o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, seu ex-colega
da Universidade de São Paulo (USP).[48] Sobre Carlos Drummond de Andrade, ela
revelou que teve apoio dele no começo de sua carreira. "Ele percebeu que eu era
uma jovem sozinha, sem dinheiro, com ambições, escrevendo, e ele então foi
afetuoso, foi ouvinte. Ele fez a terapia que eu jamais teria dinheiro para pagar. Ele
me aceitou, me estendeu a mão".[66]
Morte
Lygia morreu em 3 de abril de 2022, aos 103 anos, de causas naturais.[67] O velório
foi aberto ao público, na Academia Paulista de Letras, no Largo do Arouche, e
decorreu das 18h às 20h30. Na manhã do dia seguinte, seu corpo
foi cremado no Cemitério da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo, tendo a
cerimônia sido restrita aos familiares.[68] Sua morte teve grande repercussão na
mídia, e diversas personalidade e figuras políticas prestaram suas homenagens nas
redes sociais e/ou em aparições públicas, como Cícero Sandroni, Daniel
Munduruku, Valter Hugo Mãe, Luiz Schwarcz, Raimundo Carrero, João
Doria, Luiza Erundina e Jandira Feghali.[69][70] Em entrevista, Merval Pereira,
presidente da Academia Brasileira de Letras, descreveu-a como uma "figura
exponencial" e declarou que a escritora "foi fundamental não só para a literatura, ela
foi uma grande líder feminista, ela relatava a sua vida moderna, e fazia isso
colocando as mulheres em uma posição de destaque. Então, além de grande
escritora, ela era uma grande figura humana. [...] A literatura brasileira perde uma
grande mulher",[69][71] enquanto José Renato Nalini, em nome da Academia Paulista
de Letras, escreveu:
"A mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era
lenda em vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho
nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros
semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada,
enquanto houver leitor no mundo".[70]
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, decretou luto oficial no estado por três
dias pela morte da escritora.[72]
Prêmios
Ao longo de sua carreira, Lygia recebeu importantes prêmios literários nacionais e
internacionais, como o Prêmio Camões; o Prêmio Jabuti na categoria de Contos e
Crônicas em 1966,[73] 1996[74] e 2001[75] e na categoria Romance em 1974;[76] o Prêmio
Coelho Neto;[17] o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros na
França, em 1971;[22] e o Troféu APCA em 1973,[13] 1980,[32] 2000[77][78] e 2007.[79][80] No
dia 13 de outubro de 2005, escritora recebeu o Prêmio Camões, o mais importante
da literatura em português, na cidade do Porto, no norte de Portugal, país que disse
amar profundamente e onde afirma possuir antigas raízes familiares. O ato
solene contou com a presença dos então presidentes do Brasil e Portugal, Luiz
Inácio Lula da Silva e Jorge Sampaio, respectivamente, onde Lula agradeceu a
contribuição da escritora à cultura brasileira e à língua portuguesa através de uma
linguagem que definiu como "iluminada".[81] Ela recebeu cem mil euros da
premiação.[82] Em 2015, venceu o Prêmio Cultura da Fundação Conrado Wessel e
ganhou trezentos mil reais.[83]
Em 2016, mais de 30 anos depois da última indicação brasileira, a escritora tornou-
se a primeira mulher brasileira a ser indicada ao prêmio Nobel de Literatura. Logo
após a publicação dos nomeados, o crítico Marcelo Gouveia, do Jornal Opção,
notou que, apesar do talento de Lygia, seria pouco provável ela ganhar porque, além
do eurocentrismo, a lista de premiados também é marcada pela supremacia da
presença masculina. A escritora também demonstrou consciência total desta
realidade: "Como eu digo no texto sobre o meu processo criativo, sou uma escritora
do Terceiro Mundo, uma escritora engajada nos horrores das diferenças sociais,
uma escritora num país de miseráveis e analfabetos. [...] Aqui, os que sabem ler, não
leem. Os que compram livros também não leem. [...] Fala-se muito em prêmios.
Ora, os prêmios... Escrevemos numa língua desconhecida. Desprestigiada. Não
somos lidos nem na América Latina, quem nos conhece na Venezuela? No Chile?
Na Colômbia? [...] Participei em Cáli de um encontro da nova narrativa sul-
americana, fui para falar do meu trabalho. E acabei informando ao público de
escritores sul-americanos que a nossa língua era o português. Português?
Sim, português com estilo brasileiro".[62]
Outros prêmios incluem:

 Prêmio Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras (1949);


 Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958);
 Prêmio Boa Leitura (1964);
 Prêmio do I Concurso Nacional de Contos do Governo do Paraná
(1968);
 Prêmio Guimarães Rosa da Fundepar (1972);
 Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras (1973);
 Prêmio Ficção, da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1974 e
1980);
 Prêmio do Pen Clube do Brasil (1977);
 Prêmio II Bienal Nestlé de Literatura Brasileira Contos (1984);
 Prêmio Pedro Nava, o Melhor Livro do Ano (1989);
 Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional;
 Prêmio APLUB de Literatura;
 Prêmio Bunge (2005).
Reconhecimento e honras

Lygia durante uma homenagem na quinta edição da


Balada Literária realizada na Livraria da Vila em 18 de novembro de 2010. [84][85]

Lygia já foi honrada em diversas ocasiões. Recebeu a Medalha Mário de Andrade,


do Governo do Estado de São Paulo; Medalha Mérito Cívico e Cultural, da
Sociedade Brasileira de Heráldica de São Paulo; Medalha do Grande Prêmio
Literário de Cannes, na categoria Contos (1969); Medalha do Prêmio Imperatriz
Leopoldina, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1969); Ordem do Rio
Branco, Comendador (1985); título Personalidade Literária do Ano de 1987,
conferido pela Câmara Brasileira do Livro; medalha Ordre des Arts et des Lettres,
do Ministério da Cultura da França (1998) e Ordem al Mérito Docente y Cultural
Gabriela Mistral, do governo do Chile. Foi agraciada, em março de 2001, com o
título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB).[13] Em 2009, o
então governador José Serra homenageou-a, além de outros artistas, com o
título Cavaleiro da Ordem do Ipiranga. Durante a homenagem, afirmou: "São
pessoas que deram uma contribuição muito significativa para a vida brasileira, para
o lazer, para o desenvolvimento intelectual e também pela sua simplicidade e seu
compromisso com as raízes de nosso país”.[86] Em novembro de 2015, ela foi
homenageada durante o Encontro Mundial de Invenção Literária, em sessão
da Academia Paulista de Letras, onde ela é imortal, e causou comoção ao dizer que
sua luta foi "heroica e desesperada".[83]
A primeira edição da Ilustrada, que circulou no dia 10 de dezembro de 1958, no
jornal Folha da Manhã, trazia uma entrevista com a escritora. O caderno, na época,
havia sido concebido pelo então dono do jornal, José Nabantino Ramos, como um
suplemento feminino.[87]
Legado

Lygia (à direita) ao lado da ex-Ministra da


Cultura Ana de Hollanda na cerimônia de reabertura da Biblioteca Municipal de São
Paulo ocorrida em 26 de janeiro de 2011.
Lygia tornou-se uma referência e um dos maiores nomes da literatura brasileira,[16][88]
[89][90]
e seus escritos são um patrimônio da cultura e da língua Portuguesa.[62][91] Mesmo
com obras publicadas no século passado e com mais de 80 anos de atividade
literária, ela é considerada uma escritora contemporânea, pois seu trabalho tem
influenciado feministas, especialistas em literatura e ativistas dos direitos LGBT no
Brasil.[91]
No dia 2 de setembro de 2016, a Editora da Universidade Federal de
Alagoas (Edufal) lançou, durante a 24.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo,
um livro intitulado "A construção de Lygia Fagundes Telles - Edição Crítica de
Antes do baile verde", escrito pelo professor, ator e escritor alagoano Nilton
Resende.[92][93] Em 2017, o Secretário da Educação de São Paulo, José Renato Nalini,
instituiu o concurso "Especial – Lygia Fagundes Telles – 2017".[94]
Em novembro do mesmo ano, Lygia foi retratada no filme Lygia, uma Escritora
Brasileira, realizado pela equipe da TV Cultura, dirigido por Helio Goldsztejn com
roteiro de Eneas Carlos Pereira.[95] Calcado em depoimentos, alguns deles entrevistas
da própria Lygia para a TV, o filme desenha uma mulher forte, que superou a morte
do único filho investindo na escrita e conquistando a admiração de seus colegas.[91]
O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles.[96]
Lista de obras
A obra lygiana constitui-se de quatro romances, 20 livros de contos, algumas
crônicas, participações em antologias e coletâneas.[90] Com publicações de sucesso
no exterior, teve seus livros lançados em diversos países: Portugal, França, Estados
Unidos, Alemanha, Itália, Holanda, Suécia, Espanha e República Checa, entre
outros, com obras adaptadas para a televisão, teatro e cinema.[13] Em uma publicação,
o Huffpost Brasil listou os livros As Meninas, Ciranda de Pedra, Verão no
Aquário, Antes do Baile Verde e A Disciplina do Amor como as obras que mostram
que Lygia é um ícone literário.[34]
Romances
 Ciranda de Pedra, 1954
 Verão no Aquário, 1964
 As Meninas, 1973
 As Horas Nuas, 1989
Livros de contos
 Porão e Sobrado, 1938
 Praia Viva, 1944
 O Cacto Vermelho, 1949
 Histórias do Desencontro, 1958
 Histórias Escolhidas, 1961
 O Jardim Selvagem, 1965
 Antes do Baile Verde, 1970
 Seminário dos Ratos, 1977
 Filhos Pródigos, 1978 (reeditado como A Estrutura da Bolha de Sabão,
1991)
 A Disciplina do Amor, 1980
 Mistérios, 1981
 Venha Ver o Pôr do Sol e Outros Contos, 1987
 A Noite Escura e Mais Eu, 1995
 Oito Contos de Amor, 1996
 Invenção e Memória, 2000
 Durante Aquele Estranho Chá: Perdidos e Achados, 2002
 Conspiração de Nuvens, 2007[97]
 Passaporte para a China: Crônicas de Viagem, 2011
 O Segredo e Outras Histórias de Descoberta, 2012
 Um Coração Ardente, 2012
Antologias
 Seleta, 1971 (organização, estudos e notas de Nelly Novaes Coelho)
 Lygia Fagundes Telles, 1980 (organização de Leonardo Monteiro)
 Os melhores contos de Lygia F. Telles, 1984 (seleção de Eduardo
Portella)
 Venha ver o pôr-do-sol, 1988 (seleção dos editores - Ática)
 A confissão de Leontina e fragmentos, 1996 (seleção de Maura
Sardinha)
 Oito contos de amor, 1997 (seleção de Pedro Paulo de Sena Madureira)
 Pomba enamorada, 1999 (seleção de Léa Masima).
 Meus Contos Preferidos, 2004 (Rocco)
Participações em coletâneas
 Gaby, 1964 (novela - in Os sete pecados capitais - Civilização
Brasileira)
 Trilogia da confissão, 1968 (Verde lagarto amarelo, Apenas um
saxofone e Helga - in Os 18 melhores contos do Brasil - Bloch Editores)
 Missa do galo, 1977 (in Missa do galo: variações sobre o mesmo tema -
Summus)
 O muro, 1978 (in Lições de casa - exercícios de imaginação - Cultura)
 As formigas, 1978 (in O conto da mulher brasileira - Vertente)
 Pomba enamorada, 1979 (in O papel do amor - Cultura)
 Negra jogada amarela, 1979 (conto infanto-juvenil - in Criança brinca,
não brinca? - Cultura)
 As cerejas, 1993 (in As cerejas - Atual)
 A caçada, 1994 (in Contos brasileiros contemporâneos - Moderna)
 A estrutura da bolha de sabão e As cerejas, s.d. (in O conto brasileiro
contemporâneo - Cultrix)
Crônicas publicadas na imprensa
 Não vou ceder. Até quando?. "O Estado de S. Paulo" - 6 de janeiro de
1992
 Pindura com um anjo. "Jornal da Tarde" - 11 de agosto de 1996
Traduções
Para o alemão Para o espanhol

 Filhos Pródigos, 1983  As Meninas, 1973


 As Horas Nuas, 1994  As Horas Nuas, 1991
 Missa do Galo, 1994

Para o inglês Para o italiano


As Meninas, 1982  As Pérolas, 1961

Ciranda de Pedra, 1986  As Horas Nuas, 1993

Seminário dos Ratos, 1986
Edições em Portugal Para o sueco

 Antes do Baile Verde, 1971  As Horas


 A Disciplina do Amor, 1980
 A Noite Escura e Mais Eu, 1996
 As Meninas, s.d.
"Estilo literário de Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles faz parte da terceira geração modernista (ou pós-modernismo). Desse
modo, suas obras apresentam as seguintes características:

Prosa intimista.

Conflito existencial.

Fluxo de consciência ou monólogo interior.

Personagens imersos em dúvidas e incertezas.

Fragmentação da narrativa.

Dimensão psicológica dos personagens.


Foco nas relações humanas.

Contextualização sociopolítica.

Realismo mágico ou fantástico."

Veja mais sobre "Lygia Fagundes Telles" em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/lygia-


fagundes-telles.htm
Conceição Evaristo
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Femininos

Última Atualização: 06 Fevereiro 2024

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DADOS BIOGRÁFICO

Maria da
Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946. De origem humilde,
migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970. Graduada em Letras pela UFRJ,
trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense. É Mestre
em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, com a dissertação Literatura
Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade (1996), e Doutora em Literatura
Comparada na Universidade Federal Fluminense, com a tese Poemas malungos,
cânticos irmãos (2011), na qual estuda as obras poéticas dos afro-brasileiros Nei Lopes
e Edimilson de Almeida Pereira em confronto com a do angolano Agostinho Neto.
Participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra em nosso país,
estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na
série Cadernos Negros. Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio. Desde
então, seus textos vêm angariando cada vez mais leitores. A escritora participa de
publicações na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Seus contos vêm sendo
estudados em universidades brasileiras e do exterior, tendo, inclusive, sido objeto da
tese de doutorado de Maria Aparecida Andrade Salgueiro, publicada em livro em 2004,
que faz um estudo comparativo da autora com a americana Alice Walker. Em 2003,
publicou o romance Ponciá Vicêncio, pela Editora Mazza, de Belo Horizonte.
Com uma narrativa não-linear marcada por seguidos cortes temporais, em que passado e
presente se imbricam, Ponciá Vicêncio teve boa acolhida de crítica e de público. O livro
foi incluído nas listas de diversos vestibulares de universidades brasileiras e vem sendo
objeto de artigos e dissertações acadêmicas. Em 2006, Conceição Evaristo traz à luz seu
segundo romance, Becos da memória, em que trata, com o mesmo realismo poético
presente no livro anterior, do drama de uma comunidade favelada em processo de
remoção. E, mais uma vez, o protagonismo da ação cabe à figura feminina símbolo de
resistência à pobreza e à discriminação. Em 2007, sai nos Estados Unidos a tradução
de Ponciá Vicêncio para o inglês, pela Host Publications. Vários lançamentos são
realizados, seguidos de palestras da escritora em diversas universidades norte-
americanas. Já sua poesia, até então restrita a antologias e à série Cadernos Negros,
ganha maior visibilidade a partir da publicação, em 2008, do volume Poemas de
recordação e outros movimentos, em que mantém sua linha de denúncia da condição
social dos afrodescendentes, porém inscrita num tom de sensibilidade e ternura próprios
de seu lirismo, que revela um minucioso trabalho com a linguagem poética.
Em 2011, Conceição Evaristo lançou o volume de contos Insubmissas lágrimas de
mulheres, em que, mais uma vez, trabalha o universo das relações de gênero num
contexto social marcado pelo racismo e pelo sexismo. Em 2013, a obra antes
citada Becos da memória ganha nova edição, pela Editora Mulheres, de Florianópolis, e
volta a ser inserida nos catálogos editoriais literários. No ano seguinte, a escritora
publica Olhos D’água, livro finalista do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e
Crônicas”. Já em 2016, lança mais um volume de ficção, Histórias de leves enganos e
parecenças.
Nos últimos anos, três de seus livros, que continuam recebendo novas edições no Brasil,
foram traduzidos para o Francês e publicados em Paris pela editora Anacaona. Em
2017, o Itaú Cultural de São Paulo realizou a Ocupação Conceição Evaristo
contemplando aspectos da vida e da literatura da escritora. No contexto da exposição,
foram produzidas as Cartas Negras, retomando um projeto de troca de
correspondências entre escritoras negras iniciado nos anos noventa. Em 2018, a
escritora recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de
sua obra.

Conceição Evaristo por Conceição


Evaristo
Sou mineira, filha dessa cidade, meu registro informa que nasci no dia 29 de novembro
de 1946. Essa informação deve ter sido dada por minha mãe, Joana Josefina Evaristo, na
hora de me registrar, por isso acredito ser verdadeira. Mãe, hoje com os seus 85 anos,
nunca foi mulher de mentir. Deduzo ainda que ela tenha ido sozinha fazer o meu
registro, portando algum documento da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.
Uma espécie de notificação indicando o nascimento de um bebê do sexo feminino e de
cor parda, filho da senhora tal, que seria ela. Tive esse registro de nascimento comigo
durante muito tempo. Impressionava-me desde pequena essa cor parda. Como seria essa
tonalidade que me pertencia? Eu não atinava qual seria. Sabia sim, sempre soube que
sou negra.
Quanto a ela ir sozinha, ou melhor, solitária para o cartório me registrar é uma dedução
minha tirada de alguns fatos relativos à vida de meu pai. Aliás, de meu pai conheço
pouco, pouquíssimo.
Em compensação, sei um pouco mais, daquele que considero como sendo meu pai. Dele
sei o nome todo. Aníbal Vitorino e a profissão, pedreiro. Meu padrasto Aníbal, quando
chegou a nossa casa, minha mãe cuidava de suas quatro filhas sozinha. Maria Inês
Evaristo, Maria Angélica Evaristo, Maria da Conceição Evaristo e Maria de Lourdes
Evaristo. Bons tempos, o de nós meninas. Minha mãe se constituiu, para mim, como
algo mais doce de minha infância. O que mais me importava era a sua felicidade. Um
misto de desespero, culpa e impotência me assaltava quando eu percebia os sofrimentos
dela. Minha mãe chorava muito, hoje não. Tem uma velhice mais tranqüila. Meu
padrasto completou 86 anos e vive ao lado dela.
Depois das quatro meninas, minha mãe teve mais cinco meninos, meus irmãos, filhos de
meu padrasto.
A ausência de um pai foi dirimida um pouco pela presença de meu padrasto, mas, sem
dúvida alguma, o fato de eu ter tido duas mães suavizou muito o vazio paterno que me
rondava. Aos sete anos, fui morar com a irmã mais velha de minha mãe, minha tia
Maria Filomena da Silva. Ela era casada com Antonio João da Silva, o Tio Totó, viúvo
de outros dois casamentos. Não tiveram filhos. Fui morar com eles, para que a minha
mãe tivesse uma boca a menos para alimentar. Os dois passavam por menos
necessidades, meu Tio Totó era pedreiro e minha Tia Lia, lavadeira como minha mãe. A
oportunidade que eu tive para estudar surgiu muito da condição de vida, um pouco
melhor, que eu desfrutava em casa dessa tia. As minhas irmãs enfrentavam dificuldades
maiores.
Mãe lavadeira, tia lavadeira e ainda eficientes em todos os ramos dos serviços
domésticos. Cozinhar, arrumar, passar, cuidar de crianças. Também eu, desde menina,
aprendi a arte de cuidar do corpo do outro. Aos oito anos surgiu meu primeiro emprego
doméstico e ao longo do tempo, outros foram acontecendo. Minha passagem pelas casas
das patroas foi alternada por outras atividades, como levar crianças vizinhas para escola,
já que eu levava os meus irmãos. O mesmo acontecia com os deveres de casa. Ao
assistir os meninos de minha casa, eu estendia essa assistência às crianças da favela, o
que me rendia também uns trocadinhos. Além disso, participava com minha mãe e tia,
da lavagem, do apanhar e do entregar trouxas de roupas nas casas das patroas. Troquei
também horas de tarefas domésticas nas casas de professores, por aulas particulares, por
maior atenção na escola e principalmente pela possibilidade de ganhar livros, sempre
didáticos, para mim, para minhas irmãs e irmãos.
Conseguir algum dinheiro com os restos dos ricos, lixos depositados nos latões sobre os
muros ou nas calçadas, foi um modo de sobrevivência também experimentado por nós.
E no final da década de 60, quando o diário de Maria Carolina de Jesus, lançado em 58,
rapidamente ressurgiu, causando comoção aos leitores das classes abastadas brasileiras,
nós nos sentíamos como personagens dos relatos da autora. Como Carolina Maria de
Jesus, nas ruas da cidade de São Paulo, nós conhecíamos nas de Belo Horizonte, não só
o cheiro e o sabor do lixo, mas ainda, o prazer do rendimento que as sobras dos ricos
podiam nos ofertar. Carentes de coisas básicas para o dia a dia, os excedentes de uns,
quase sempre construídos sobre a miséria de outros, voltavam humilhantemente para as
nossas mãos. Restos.
Minha mãe leu e se identificou tanto com o Quarto de Despejo, de Carolina, que
igualmente escreveu um diário, anos mais tarde. Guardo comigo esses escritos e tenho
como provar em alguma pesquisa futura que a favelada do Canindé criou uma tradição
literária. Outra favelada de Belo Horizonte seguiu o caminho de uma escrita inaugurada
por Carolina e escreveu também sob a forma de diário, a miséria do cotidiano
enfrentada por ela.
Em minha casa, todos nós estudamos em escolas públicas. Minha mãe sempre
cuidadosa e desejosa que aprendêssemos a ler, nos matriculou no Jardim de Infância
Bueno Brandão e no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, duas escolas públicas que
atendiam a uma clientela basicamente da classe alta belorizontina. Ela optou por nos
colocar nessas escolas, distantes de nossa moradia, embora houvesse outras mais perto,
porque já naquela época, as escolas situadas nas zonas vizinhas às comunidades pobres
ofereciam um ensino diferenciado para pior.
Foi em uma ambiência escolar marcada por práticas pedagógicas excelentes para uns, e
nefastas para outros, que descobri com mais intensidade a nossa condição de negros e
pobres. Geograficamente, no Curso Primário experimentei um “apartaid” escolar. O
prédio era uma construção de dois andares. No andar superior, ficavam as classes dos
mais adiantados, dos que recebiam medalhas, dos que não repetiam a série, dos que
cantavam e dançavam nas festas e das meninas que coroavam Nossa Senhora. O ensino
religioso era obrigatório e ali como na igreja os anjos eram loiros, sempre. Passei o
Curso Primário, quase todo, desejando ser aluna de umas das salas do andar superior.
Minhas irmãs, irmãos, todos os alunos pobres e eu sempre ficávamos alocados nas
classes do porão do prédio. Porões da escola, porões dos navios. Entretanto, ao ser
muito bem aprovada da terceira para a quarta série, para minha alegria fui colocada em
uma sala do andar superior. Situação que desgostou alguns professores. Eu, menina
questionadora, teimosa em me apresentar nos eventos escolares, nos concursos de
leitura e redação, nos coros infantis, tudo sem ser convidada, incomodava vários
professores, mas também conquistava a simpatia de muitos outros. Além de minhas
inquietações, de meus questionamentos e brigas com colegas, havia a constante
vigilância e cobrança de minha mãe à escola. Ela ia às reuniões, mesmo odiando o
silêncio que era imposto às mães pobres e quando tinha oportunidade de falar soltava o
verbo.
Ao terminar o primário, em 1958, ganhei o meu primeiro prêmio de literatura, vencendo
um concurso de redação que tinha o seguinte título: “Por que me orgulho de ser
brasileira”. Quanto à beleza da redação, reinou o consenso dos professores, quanto ao
prêmio, houve discordâncias. Minha passagem pela escola não tinha sido de uma aluna
bem-comportada. Esperavam certa passividade de uma menina negra e pobre, assim
como da sua família. E não éramos. Tínhamos uma consciência, mesmo que difusa, de
nossa condição de pessoas negras, pobres e faveladas.
Durante toda a primeira infância, até ali por volta dos 10 ou 11 anos, morou conosco,
em um quartinho à parte, um tio materno, Osvaldo Catarino Evaristo. Esse meu tio
havia servido à pátria, lutado na Itália, na Segunda Guerra Mundial. Ao retornar ao
Brasil, lhe foi oferecido um cargo de servente na Secretaria de Educação. Ao longo dos
anos ele estudou, desenvolvendo seus dons de poeta, desenhista e artista plástico. E,
mais do que isto, foi sempre um consciente questionador da situação do negro
brasileiro. Repito sempre que a ele devo as minhas primeiras lições de negritude.
Ao terminar o Primário, fiz um Curso Ginasial cheio de interrupções e, a partir dos
meus 17 anos, vivi intensamente discussões relativas à realidade social brasileira. Foi
quando me inseri no movimento da JOC, (Juventude Operária Católica) que, como
outros grupos católicos, promovia reflexões que visavam comprometer a Igreja com
realidade brasileira. Entretanto, as questões étnicas só entrariam objetivamente em
minhas discussões na década de 70, quando parti para o Rio de Janeiro.
Em 73, com ajuda de amigos, imigrei para o Rio de Janeiro, antigo Estado da
Guanabara, depois de ter feito concurso naquele mesmo ano, para professora primária.
Eu havia terminado o Curso Normal no Instituto de Educação de Minas Gerais, em 71.
Tinha sido um período particularmente difícil para minha família e outras que estavam
sofrendo com um plano de desfavelamento, que nos enviava para a periferia da cidade.
Ao distanciarmos do centro de Belo Horizonte, não tínhamos nada, a não ser uma
pobreza maior. Então, com um diploma de professora nas mãos e sem qualquer
possibilidade de dar aulas em Belo Horizonte, parti de “mala e cuia” para o Rio de
Janeiro. Entrar para a carreira de magistério, naquela época, dependia de ser indicado
por alguém e as nossas relações com as famílias importantes de Belo Horizonte estavam
marcadas pela nossa condição de subalternidade. Aliás, nesse sentido, gosto de dizer
que a minha relação com a literatura começa nos fundos das cozinhas alheias. Minha
mãe, tias e primas trabalharam em casas de grandes escritores mineiros ou nas casas de
seus familiares. Digo mesmo que o destino da literatura me persegue...
Gosto, entretanto, de enfatizar, não nasci rodeada de livros, do tempo/espaço aprendi
desde criança a colher palavras. A nossa casa vazia de bens materiais era habitada por
palavras. Mamãe contava, minha tia contava, meu tio velhinho contava, os vizinhos e
amigos contavam. Tudo era narrado, tudo era motivo de prosa-poesia, afirmo sempre.
Entretanto, ainda asseguro que o mundo da leitura, o da palavra escrita, também me foi
apresentado no interior de minha família que, embora constituída por pessoas em sua
maioria apenas semi-alfabetizadas, todas eram seduzidas pela leitura e pela escrita.
Tínhamos sempre em casa livros velhos, revistas, jornais. Lembro-me de nossos serões
de leitura. Minha mãe ou minha tia a folhear conosco o material impresso e a traduzir as
mensagens. E eu, na medida em que crescia e ganhava a competência da leitura, invertia
os papeis, passei a ler para todos. Ali pelos meus onze anos, ganhei uma biblioteca
inteira, a pública, quando uma das minhas tias se tornou servente daquela casa-tesouro,
na Praça da Liberdade. Fiz dali a minha morada, o lugar onde eu buscava respostas para
tudo. Escrevíamos também, bilhetes, anotações familiares, orações...
Na escola eu adorava redações do tipo: ”Onde passei as minhas férias”, ou ainda, “Um
passeio à fazenda do meu tio”, como também, “A festa de meu aniversário”. A
limitação do espaço físico e a pobreza econômica em que vivíamos eram resolvidas por
meio de uma ficção inocente, único meio possível que me era apresentado para viver os
meus sonhos. Se naquela época eu não tinha nenhuma possibilidade concreta de romper
com o círculo de imposições que a vida nos oferecia, nada, porém freava os meus
desejos. Eu menina, dona de uma tenaz esperança e de uma sabedoria precoce,
reconhecia que a vida não poderia ser somente aquele pouco que nos era oferecido. Se
muito de minha infância pobre, muito pobre, me doía, havia felicidades também
incontáveis. As margaridas, as dálias e outras flores de nosso pequeno jardim. As frutas
nos pés a matar a nossa fome. Os bolinhos de comida que mãe amassava com as mãos e
enfiava em nossas bocas. As bonecas de capim ou bruxas de panos que nasciam com
nome e história de suas mãos. O céu, as nuvens, as estrelas, sinais do infinito que minha
e mãe e tia nos ensinaram a olhar e a sentir. E desse assuntar a vida, que foi ensinado
por elas, ficou essa minha mania de buscar a alma, o íntimo das coisas. De recolher os
restos, os pedaços, os vestígios, pois creio que a escrita, pelo menos para mim, é o
pretensioso desejo de recuperar o vivido. A escrita pode eternizar o efêmero...
Nesse sentido, o que a minha memória escreveu em mim e sobre mim, mesmo que toda
a paisagem externa tenha sofrido uma profunda transformação, as lembranças, mesmo
que esfiapadas, sobrevivem. E na tentativa de recompor esse tecido esgarçado ao longo
do tempo, escrevo. Escrevo sabendo que estou perseguindo uma sombra, um vestígio
talvez. E como a memória é também vítima do esquecimento, invento, invento.
Inventei, confundi Ponciá Vicêncio nos becos de minha memória. E dos becos de minha
memória imaginei, criei. Aproveitei a imagem de uma velha Rita que eu havia
conhecido um dia. E ainda desses mesmos becos, posso ter tirado de lá Ana e Davenga.
Quem sabe Davenga não era primo de Negro Alírio? E por falar em becos da memória,
voltei hoje de manhã à Rua Albita. Outra. Dali só reconheci a terra. Sim a terra, o pó, o
barranco sobre o qual está edificado o “Mercado Cruzeiro”, no final da rua. Observei
que a edificação do prédio conservou na base, parte do barranco sem cimentá-lo. Pude
contemplar o solo, base da base da construção. Em um ponto qualquer daquele espaço,
literalmente está enterrado o meu umbigo. Sem que ninguém percebesse alisei o chão e
catei alguns fragmentos. Tive um desejo louco de tocar as minhas mãos com a boca. Era
ali que a minha mãe desenhava o sol para chamá-lo à terra, quando tempo estava
encharcado de chuva e as nossas latas vazias de alimento. Mas abaixo está a escultura
de dois homens. Eles estão com os braços abertos, meio suspensos, com os gestos
largos, insinuando que estão a caminhar em frente. Pensei: se eles derem uns poucos
passos chegarão à torneira pública, em que apanhávamos água e as lavadeiras, como
minha mãe e tia, desenvolviam seus trabalhos.
O pequeno monumento que foi erguido, não em memória aos antigos e primeiros da
área, se chama “Otimismo”. Não sei por que pensei em nossos mortos, em todas as
pessoas que viveram ali. E agradeci à vida o momento que estou vivendo agora.
Impliquei com nome dado à escultura e fiquei curiosa. Qual seria o motivo daquela
estátua? E porque o nome “Otimismo”? Outros nomes e sentidos me vieram à mente.
Um deles insiste: resistência, resistência, resistência...
Escrevo. Deponho. Um depoimento em que as imagens se confundem, um eu-agora a
puxar um eu-menina pelas ruas de Belo Horizonte. E como a escrita e o viver se
con(fundem), sigo eu nessa escrevivência a lembrar de algo que escrevi recentemente:
“O olho do sol batia sobre as roupas estendidas no varal e mamãe sorria feliz. Gotículas
de água aspergindo a minha vida-menina balançavam ao vento. Pequenas lágrimas dos
lençóis. Pedrinhas azuis, pedaços de anil, fiapos de nuvens solitárias caídas do céu eram
encontradas ao redor das bacias e tinas das lavagens de roupa. Tudo me causava uma
comoção maior. A poesia me visitava e eu nem sabia...”
Conceição Evaristo
Depoimento no I Colóquio de Escritoras Mineiras
Belo Horizonte, Maio de 2009
PUBLICAÇÕES
Obra individual
Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza, 2003; 2. ed., 2006. 3. ed. Rio de Janeiro:
Pallas, 2017 (romance).
Becos da Memória. Belo Horizonte: Mazza, 2006. 2. ed. Florianópolis: Editora
Mulheres, 2013. 3. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2017 (romance).
Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008. 2. ed.
2010. 3. ed. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
Insubmissas lágrimas de mulheres. Belo Horizonte: Nandyala, 2011. 2. ed. Rio de
Janeiro: Malê, 2016 (contos).
Olhos d'água. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2014 (contos).
Histórias de leves enganos e parecenças. Rio de Janeiro: Malê, 2016. 2.ed. Rio de
Janeiro: Malê, 2017 (contos e novela).
Canção para ninar menino grande. São Paulo: Ed. Unipalmares, 2018. 2. ed. Rio de
Janeiro: Pallas Editora, 2022 (novela).
Azizi, o menino viajante. São Paulo: Kidsbook Itaú, 2017. Disponível
em: www.euleioparaumacriança.com.br/ Acesso em: 29 de jun. 2020 (conto).
Não me deixe dormir o profundo sono. Revista Piauí, 167, ano 14, ago. 2020 (conto).
"Fio de prumo". Um piano Yá Dulcina. 1º Disponível em: https:
//medium.com/@folhetimsescpompeia/fio-de-pruma. Acesso em: 17 set. 2020 (conto).
Macabea, flor de mulungu. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2023 (conto).

Traduções
Ponciá Vicêncio. Trad. Paloma Martinez Cruz. Austin-TX: Host Publications, 2007.
L'histoire de Poncia. Trad. Patrick Louis. Paris: Anacaona, 2015.
Banzo, mémoires de la favela. Trad. Paula Anacaona. Paris: Anacaona, 2016.
Insoumises. Trad. Paula Anacaona. Paris: Anacaona, 2017.
Poèmes de la mémoire et autres mouvements. Édition bilingue. Trad. Rose Mary Osorio
er Pierre Grouix. Paris: des femmes-Antoinette Fouque, 2019.

Ses yeux d'eau. Trad. Izabella Borges. Paris: Des Femmes-Antoinette Fouque, 2020.
Ponciá Vicêncio. Trad. para o italiano por Dalva Aguiar Nascimento. Inédito.

Antologias
Cadernos Negros 13. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores,1990.
Cadernos Negros 14. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores,1991.
Vozes mulheres – mural de poesias. Niterói/RJ: Edição coletiva, 1991.
Cadernos Negros 15. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores,1992.
Cadernos Negros 16. Org. Quilombhoje. São Paulo: Ed. dos Autores,1993.
Gergenwart. Org. de Moema Parente Augel. Berlin: São Paulo: Edition Diá, 1993.
Cadernos Negros 18. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Ed. Anita, 1995.
Moving beyond boundaries. International Dimension of Black Women’s Writing. Edited
by Carole Boyce Davies and Molara Ogundipe-Leslie. London: Pluto-Press, 1995.
Finally US. Contemporary Black Brazilian Women Writers. Edited by Miriam Alves
and Carolyn R. Durham. Edição biblingue português/inglês. Colorado: Three Continent
Press, 1995.
Callaloo, vol. 18, number 4. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1995.
Cadernos Negros 19. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Ed. Anita, 1996.
Cadernos Negros 21. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa e Sônia Fátima da
Conceição. São Paulo: Quilombhoje: Editora Anita, 1998.
Cadernos Negros: os melhores contos. São Paulo: Quilombhoje, 1998.
Cadernos Negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998.
Cadernos Negros 22. Org. Quilombhoje. São Paulo: Quilombhoje: Editora Okan, 1999.
Cadernos Negros 25. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2002.
Fourteen Female Voices from Brazil. Austin-Texas: Host Publications, Inc., 2002.
Cadernos Negros 26. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2003.
Abdias Nascimento, 90 anos de memória viva. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, ed.
bilingue, 2004.
Women righting: afro-brazilian Women’s short fiction. Edited by Miriam Alves and
Maria Helena Lima. London: 2005.
Cadernos Negros 28. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2005.
Brasil e África - como se o mar fosse mentira. Org. de Rita Chaves, Carmen Secco e
Tânia Macedo. São Paulo-Luanda: UNESP/CAXINDE, 2006.
A Section from Ponciá Vicêncio. In: The Dirty Goat, Austin, Texas, Host Publications,
2006.
Cadernos Negros 30. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2007.
Revista Callaloo Colorado, USA: Three Continetal Press, 2007.
Textos poéticos Africanos de Língua Portuguesa e Afro-Brasileiros. Org. Elisalva
Madruga Dantas et alli. João Pessoa: Idéia, 2007.
Cadernos Negros: Três Décadas. São Paulo: Quilombhoje: Secretaria Especial de
Promoções da Igualdade Racial, 2008.
Cadernos Negros/ Black Notebooks – Contemporary Afro-Brazilian Literary
Movement. Edited by Niyi Afolabi, Márcio Barbosa & Esmeralda Ribeiro, Asmara,
Eriteia, Africa Word Press, 2008.
Questão de pele. Org. Luiz Ruffato. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.
Contos do mar sem fim: Angola, Brasil, Guiné-Bissau. Org. Eduardo de Assis Duarte
(Brasil). Rio de Janeiro: Pallas; Guiné-Bissau: Ku Si Mon; Angola: Chá de Caxinde,
2010.
Cadernos Negros 34. Org. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2011.
Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Org. Eduardo de Assis
Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Vol. 2, Consolidação.
Je suis Rio. Paris: Anacaona, 2017.
Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos. Organização de Vagner
Amaro e Dany Wambire. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
Amor e outras revoluções, Grupo Negrícia: antologia poética. Organização de Éle
Semog. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
Clarice Lispector, personagens reescritos. (Conto: "Macabéa, flor de Mulungu"). Org.
Mayara Guimarães e Luis Maffei. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2012.
Cartas Negras - Ocupação Conceição Evaristo. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.
Livre. (Conto: "Do lado do corpo, um coração caído"). Org. Beatriz Leal Craveiro. Belo
Horizonte: Moinhos, 2018.
Olhos de azeviche. (Contos: "Di Lixão" e "Amores de Kimbá"). Org. Vagner Amaro.
Rio de Janeiro: Malê, 2018.
Do Índico e do Atlântico: contos brasileiros e moçambicanos. (Conto: "Os pés do
dançarino"). Org. Vagner Amaro. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
Escritoras de Cadernos Negros: contos e poemas afro-brasileiros. (Poema: "Eu-
mulher"; Conto: "De Mãe"). Org. Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. São Paulo:
Quilombhoje, 2019.
Vozes insurgentes de mulheres negras. (Poema: "Vozes-mulheres"). Org. Bianca
Santana. Belo Horizonte: Mazza, 2019.
Cartas para Conceição. Org. Camila Baccine Sara Maria Fontes. São Paulo: UNESP;
Fortaleza: Assembleia do Estado do Ceará, 2020.
Círculo de Leitura no Ensino Médio: vivências e recepções com o texto literário. Org.
Elza Sueli Lima da Silva. Lançamento FLIFS Virtual 2020, em 24/09/2020.
Não Ficção
Samba-favela. In: O Diário. Belo Horizonte, 18/101974. Seção: Documentação
Católica.
Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. Dissertação (mestrado) –
PUC-RJ, Rio de Janeiro, 1996.
Poemas malungos – cânticos irmãos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2011.
A literatura negra. Rio de Janeiro: CEAP, 2007.
Da afasia ao discurso insano em Nós matamos o cão-tinhoso. In: SALGADO, Maria
Teresa; SEPÚLVEDA, Maria do Carmo (Org.). África & Brasil: letras em laços. Rio de
Janeiro: Atlântica, Yendis, 2000.
Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: MOREIRA, Nadilza M. de
Barros; SCHNEIDER, Liane (Org.). Mulheres no mundo: etnia, marginalidade,
diáspora. João Pessoa: Idéia/Editora Universitária – UFPB, 2005.
Da representação à auto apresentação da Mulher Negra na Literatura Brasileira.
In: Revista Palmares – Cultura Afro-brasileira. Brasília: Fundação Palmares/Minc, Ano
1, nº. 1, Agosto, 2005.
Dos risos, dos silêncios e das falas. In: SCHNEIDER, Liane; MACHADO, Charliton
(Org.). Mulheres no Brasil: resistências, lutas e conquistas. João Pessoa: Editora
Universitária – UFPB, 2006.
Vozes Quilombolas: Literatura Afro-brasileira. In: GARCIA, Januário (Org.). 25 anos
do Movimento Negro. Brasília, Fundação Palmares, 2006.
Da grafia-desenho de Minha Mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita. In:
ALEXANDRE, Marcos Antonio (Org). Representações performáticas brasileiras:
teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.
Escrevivências da Afro-brasilidade: História e Memória. In: Releitura, Belo Horizonte,
Fundação Municipal de Cultura, nº 23, novembro 2008.
Questão de pele para além da pele. In: RUFFATO, Luiz. (Org.). Questão de pele. Rio
de Janeiro: Língua Geral, 2009.
Literatura Negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. In: Scripta, Belo Horizonte,
Editora PUC Minas, v. 13, n. 25, 2º semestre 2009.
Literatura negra: uma voz quilombola na literatura brasileira. In: PEREIRA, Edimilson
de Almeida (Org.). Um tigre na floresta de signos. Belo Horizonte: Mazza Edições,
2010.
Mãe Beata de Yemonjá. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e
afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, vol. 2,
Consolidação.
Nei Lopes. In: DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no
Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, vol. 2, Consolidação.
Poemas malungos: cânticos irmãos. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) -
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011.
Lembranças de águas primordiais. (Prefácio). In: NATÁLIA, Lívia. Correntezas e
outros estudos marinhos. Salvador: Ogum's Toques Negros, 2015. p. 13-17.
Prefácio. In: MARCELINA, Elaine. Mulheres incríveis. 3. ed. Belo Horizonte:
Nandyala, 2016.
Em legítima defesa. (Prefácio). In: CARNEIRO, Sueli. Escritos de uma vida. Belo
Horizonte: Letramento, 2018.
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"Terra à vista": descobrimento ou apagamento do outro? In: Jeni papos: diálogos sobre
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Nunes e Maurício Negro. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2022.

TEXTOS

 Conceição Evaristo - Textos Selecionados


 Conceição Evaristo - Vozes-Mulheres
 Conceição Evaristo - Meu Rosário
 Conceição Evaristo - Maria
 Conceição Evaristo - Ana Davenga
 Conceição Evaristo - Quantos filhos Natalina teve?
 Conceição Evaristo - Maria do Rosário Imaculada dos Santos
 Conceição Evaristo - Olhos d’água
 Conceição Evaristo - Ponciá Vicêncio
 Conceição Evaristo - Becos da memória

CRÍTICA

 A errância diaspórica como paródia da procura em Ponciá Vicêncio - Aline


Alves Arruda
 A memória em Poemas da recordação e outros movimentos - Amanda Crispim
Ferreira
 Ponciá Vicêncio, memórias do eu rasurado - Assunção de Maria Sousa e Silva
 Rubem Fonseca e Conceição Evaristo: olhares distintos sobre a violência
- Eduardo de Assis Duarte
 Circuitos transnacionais, entrelaçamentos diaspóricos - Stelamaris Coser
 Escritora negra comprometida etnograficamente - Omar da Silva Lima
 Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo: Um Bildungsroman Feminino e Negro
- Aline Alves Arruda
 Alteridade e subalternidade em Clarice Lispector e Conceição Evaristo
- Cristiane Felipe Ribeiro de Araujo Côrtes
 Chica que manda ou a Mulher que inventou o mar? - Conceição Evaristo
 Algumas considerações sobre tradução e negritude em Ponciá Vicêncio e A
Raisin in the Sun - Marcela Iochem Valente
 Violence and Resistance: motherhood in Conceição Evaristo’s Insubmissas
lágrimas de mulheres - Natália Fontes de Oliveira
 Literatura e identidade - Eduardo de Assis Duarte e Elisângela Lopes Fialho
 Revelações de Olhos d’água - Adélcio de Sousa Cruz
 Ancestralidade Bantu na Literatura Afro-brasileira - Margarete Aparecida de
Oliveira
 Olhos d’água, de Conceição Evaristo - Marisa Lajolo
 Entre becos e memórias, Conceição Evaristo e o poder da ficção - Margarete
Aparecida Oliveira
 Eco e Memória: Vozes-Mulheres - Ana Claudia Duarte Mendes
 De "homem perigoso" a "príncipe negro": um breve paralelo entre ficções dos
séculos XIX e XXI - Ariele Soares dos Santos
 Maria: reflexões sobre gênero, raça e classe no conto de Conceição
Evaristo - Túlio Romualdo Magalhães
 “Escrevivências”: rastros biográficos em Becos da memória, de Conceição
Evaristo - Luiz Henrique Silva de Oliveira
 A herança afro-brasileira em suas vozes: dos longes da senzala à fala e ato de
agora – Heloisa Toller Gomes
 Constância Lima Duarte - Novas Voz(es) da escrevivência

FONTES DE CONSULTA

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LINKS

 literafro entrevista - Conceição Evaristo


 DOSSIÊ: As Escrevivências de Conceição Evaristo: as mulheres negras no
centro das narrativas
 Depoimento da escritora, FALE-UFMG, Abril de 2011
 Blog da autora
 Sobre a autora
 Palestra de Conceição Evaristo e Eduardo de Assis Duarte na Brown University
 Memória, história e literatura na obra da escritora Conceição Evaristo, por
Bárbara Araújo Machado
 A questão da memória identitária afro-brasileira na poesia de Ana Cruz e
Conceição Evaristo - Emilene Corrêa Souza
 Artigo "O Bildungsroman afro-brasileiro de Conceição Evaristo", por Eduardo
de Assis Duarte, Revista Estudos Feministas
 Artigo "Escre(vivência): a trajetória de Conceição Evaristo, por Bárbara Araújo
Machado, Revista História Oral
 Vídeo da escritora na 1° Conferência de Escritoras Brasileiras em Nova York
 "Conceição Evaristo - Insubmissas lágrimas de mulheres", resenha de Adélcio
de Souza Cruz
 "Recontando histórias em Insubmissas lágrimas de mulheres, de Conceição
Evaristo" - Maria Carolina de Godoy
 Allan da Rosa apresenta a escritora Conceição Evaristo. No programa
"Entrelinhas", da TV Cultura
 A infância afro-brasileira nos romances de Conceição Evaristo - Maria
Aparecida Cruz de Oliveira
 O grito do silêncio: uma leitura do conto Shirley Paixão. In: Verbo de Minas:
letras. Juiz de Fora, v. 12, n. 20, ago/dez, 2011
 XI Semana da Letras UFMG: "De ‘homem perigoso’ a ‘príncipe negro’:
um breve paralelo entre ficções"

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