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º ano)

Questão de aula – Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (11.º ano)

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Lê, atentamente, o texto. Se necessário, consulta as notas.

O coração de Teresa estava mentindo. Vão lá pedir sinceridade ao coração!


Para finos entendedores, o diálogo do anterior capítulo definiu a filha de Tadeu de Albuquerque. É mulher
varonil1, tem força de carácter, orgulho fortalecido pelo amor, despego das vulgares apreensões, se são
apreensões a renúncia que uma filha faz do seu alvedrio2 às imprevidentes3 e caprichosas vontades de seu
5 pai. Diz boa gente que não, e eu abundo sempre no voto da gente boa. Não será aleive 4 atribuir-lhe uma
pouca de astúcia, ou hipocrisia, se quiserem; perspicácia seria mais correto dizer. Teresa adivinha que a
lealdade tropeça a cada passo na estrada real da vida, e que os melhores fins se atingem por atalhos onde
não cabem a franqueza e a sinceridade. Estes ardis5 são raros na idade inexperta6 de Teresa; mas a mulher
do romance quase nunca é trivial, e esta, de que rezam os meus apontamentos, era distintíssima. A mim me
10 basta, para crer em sua distinção, a celebridade que ela veio a ganhar à conta da desgraça.
Da carta que ela escreveu a Simão Botelho, contando as cenas descritas, a crítica deduz que a menina de
Viseu contemporizava7 com o pai, pondo a mira no futuro, sem passar pelo dissabor do convento, nem romper
com o velho em manifesta desobediência. Na narrativa que fez ao académico omitiu ela as ameaças do primo
Baltasar, cláusula que, a ser transmitida, arrebataria8 de Coimbra o moço, em quem sobejavam9 brios e
15 bravura para mantê-los.
Mas não é esta ainda a carta que surpreendeu Simão Botelho.
Parecia bonançoso o céu de Teresa. Seu pai não falava em claustro nem em casamento. Baltasar
Coutinho voltara ao seu solar de Castro Daire. A tranquila menina dava semanalmente estas boas-novas a
Simão, que, aliando às venturas do coração as riquezas do espírito, estudava incessantemente, e desvelava 10
20 as noites arquitetando o seu edifício de futura glória.
Ao romper da alva dum domingo de junho de 1803, foi Teresa chamada para ir com seu pai à primeira
missa da igreja paroquial. Vestiu-se a menina, assustada, e encontrou o velho na antecâmara a recebê-la
com muito agrado, perguntando-lhe se ela se erguia de bons humores para dar ao autor de seus dias um
resto de velhice feliz. O silêncio de Teresa era interrogador.
25 – Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente
levar pela mão de teu pai. Logo que deres este passo difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que MPAG

precisam ser impostas pela violência. Mas repara, minha querida filha, que a violência de um pai é sempre
amor. Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo. Outro teria subjugado a tua
desobediência com maus-tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande
património. Eu, não.
Luís Amaro de Oliveira, Amor de Perdição (memórias de uma família),
de Camilo Castelo Branco (Edição didática), Porto, Porto Editora, 2017, pp. 47-48

Notas
1
varonil – varão, viril.
2
alvedrio – liberdade de escolha.
3
imprevidentes – negligentes.
4
aleive – traição.
5
ardis – manha, astúcia.
6
inexperta – inexperiente.
7
contemporizava – condescendia.
8
arrebataria – arrancaria.
9
sobejavam – excediam.
10
desvelava – passava as noites sem dormir.
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1. Com base nas linhas 1 a 15, explica duas das características que configuram Teresa como uma heroína
romântica.

2. Interpreta o sentido da afirmação “desvelava as noites arquitetando o seu edifício de futura glória” (linhas 19 e 20),
relacionando-o com a carta que Teresa enviou a Simão.

3. Refere os argumentos usados por Tadeu de Albuquerque para convencer a sua filha a casar-se com
Baltasar Coutinho.

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4. Seleciona a opção de resposta adequada para completares a afirmação abaixo corretamente.

Neste excerto, o narrador assume, frequentemente, uma posição , evidente, por exemplo,
nos dois primeiros parágrafos, em que as características e o comportamento da personagem
feminina.

(A) subjetiva … comenta

(B) objetiva … critica

(C) subjetiva … critica

(D) objetiva … comenta


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Soluções

11.º ano

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco


1. Teresa de Albuquerque é uma heroína romântica por se destacar, na opinião do narrador, pela sua determinação, na medida
em que se manteve fiel ao amor por Simão, não procurando valorizar as consequências desta sua “rebeldia” ao poder paternal.
Esta personagem feminina também se destaca pela sua ponderação, pela sua “astúcia” (l. 6), porque, conhecendo a “estrada real
da vida” (l. 7), por mais que queira lutar contra ela, procura contorná-la, não revelando todos os pormenores a Simão.

2. O comportamento de Simão, como “desvelar” e “arquitetar” o seu futuro, é a consequência – positiva – da carta que recebeu de
Teresa. De facto, Teresa teve o cuidado de saber apresentar “as novas” a Simão, para não o preocupar. Por isso, a personagem
masculina, descansada, passava as suas noites a pensar e a projetar um futuro promissor com a sua amada.

3. Para convencer a sua filha a casar-se com Baltasar Coutinho, Tadeu de Albuquerque convoca a sua autoridade paternal (“É
preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai”, ll. 25-26), para que ela, sem questionar, lhe obedeça, bem como a
sua benevolência, o seu amor, porque, se fosse outro, tê-la-ia castigado, “com maus-tratos, com os rigores do convento, e talvez
com o desfalque do [s]eu grande património” (ll. 28-29).

4. (A)

MPAG

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