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Mas esse critério era também por ele aplicado na formação dos jovens cônjuges que
buscavam a constituição de uma nova família.
Era sua convicção que um namoro sério não poderia ser curto como o Carnaval, mas
também não poderia eternizar-se por falta de coragem em assumir compromissos e
responsabilidades mútuas. Não se entrega um coração em vão! Um verdadeiro amor tão
delicado merece ser amado.
Pobres dos corações que só enxergam fantasias, sonhos, beijos, prazeres, felicidade…
onde a razão é só boa-fé: - Meu coração perde perdão por só estares a semeando ventos
e na linguagem do poeta, irá colher tempestades…
Sinceramente, ainda hoje eu acredito, que havia uma outra razão, para além da formação
dos noivos na preparação para o Sacramento do Matrimónio. Vou confidenciá-la: era
conhecer e apoiar as novas famílias saídas destas sagradas uniões. Sentindo estas almas
ardentemente apaixonadas na crença do verdadeiro amor, eram perfeitos alvos de
renovação da grande família paroquial.
Era ao Padre Correia da Cunha que cabia a árdua tarefa de dar à Comunidade Paroquial
de São Vicente de Fora uma permanente feição de renovação e ele possuía a firme
convicção que nestes cursos de preparação para o matrimónio, seriam os locais certos e
decisivos para incorporar jovens famílias nos vários serviços pastorais da paróquia, que
estavam a envelhecer.
Irei ilustrar estes longos textos com centenas de fotos de casamentos abençoados pelo
Padre Correia da Cunha.
TEXTO DO PADRE CORREIA DA CUNHA
Também este terá de enfrentar as ondas e os ventos, que, nem sempre são de feição.
É preciso, pois conhecer a arte de bem navegar para que o vosso barquito possa
chegar ao porto da salvação.
É preciso uma cuidada preparação para que a viagem a fazer não seja um fracasso,
mas um triunfo.
Por isso mesmo vamos iniciar este curso elementar de navegação ou seja o curso de
preparação para o casamento.
Queira Deus que estas folhas sirvam para que no vosso barquito, no vosso lar esteja
implantado o mastro grande da Cruz, de onde partiram ligadas pelas amarras do
verdadeiro amor, as velas enfumadas pelo sopro do Espírito Divino…
É que só assim toda a tripulação – comandante, imediato e todos (Pai, Mãe e filhos….)
poderão navegar em paz e alcançar o desejado porto.
INTRODUÇÃO
Estais realmente decididos a conhecer o melhor que vos for possível o estado que ides
abraçar e que é em grande parte para vós um ponto de interrogação com o seu quê de
misterioso.
Tendes camadas de razão de facto, neste campo, mais do que em qualquer outro, nada
se pode deixar à improvisação, ao seja o que for, ao deixa andar.
Com estes objectivos iremos ver juntos quais são as ideias actuais sobre o casamento.
Examiná-las-emos depois com todo o cuidado à luz dos princípios cristãos para
sabermos se as devemos aceitar ou rejeitar.
Como é que por aí se fala, hoje em dia, a respeito do casamento, quer em família quer
nos locais de trabalho, de divertimento ou de simples passatempo?
O que a maior parte das vezes se faz é analisar um ou outro caso particular e daí tirar
logo conclusões generalizadas quase sempre erradas.
I – Casamentos felizes ou infelizes
Apesar disso, não se pode negar que existe um grande número de lares infelizes, e que,
até entre os que julgamos felizes, o são apenas nas aparências.
Porque será então que o casamento, querido por Deus para fazer a felicidade terrestre
e eterna do homem, o conduz tantas vezes à desgraça e à condenação? Não será
porque aqueles que são chamados a constituir famílias se não preparam
suficientemente, porque não conhecem as suas obrigações e porque até nem querem
assumir as suas responsabilidades? Não será por terem aceitado certas ideias
correntes, rotundamente falsas, a respeito do casamento, tomando-as até como normas
orientadoras da sua vida conjugal?
Não será ainda porque não souberam dominar as suas paixões antes do casamento, e
por consequência, não puderam dar ao seu cônjuge senão um corpo gasto, uma alma
egoísta, e, aos filhos tristíssimos exemplos?
FALSOS PRECONCEITOS
Olhemos em volta e observemos a atitude daqueles que nos cercam. Pequeno nos
preconceitos mais correntes para vermos até onde pode chegar a sua nefasta
influência.
Com esta mentalidade, logo a partir dos 15 anos se vêem garotos e garotas a
namoriscar, a tentar as mais perigosas experiencias a expor-se ao perigo de perderem
irremediavelmente a felicidade de um verdadeiro amor e até a felicidade eterna.
Quem é que lhes disse que o amor é qualquer coisa de belo, de grande, de nobre?
Como é que eles podem ter a certeza de que o casamento não é um jogo, uma espécie
de rifa, mas sim um compromisso de toda a vida e uma preparação de eternidade?
Que exemplos lhes foram dados? Pais, parentes e amigos, mais velhos, que foram o que
fizeram?
Que admira, pois, se eles deviam fazer como toda a gente… à sua volta?! É de resto o
que eles dizem: Fazemos o que toda a gente faz!
Quando se escolhe, qual é o critério mais geral? Escolhe-se alguém que pareça bem,
que se vista bem, que tenha maiores vantagens exteriores e materiais. Senão, oiçamos o
que se diz a propósito das qualidades dos namorados ou namoradas: «Eu gostava de
ter um rapaz mais alto do que eu, espadaúdo, loiro ou moreno, com lindos olhos azuis e
belos dentes... Eu gostava de ter uma rapariga de linha escultural, belos cabelos, bem
trajante e arranjada…
É claro que se não pode nem deve condenar este desejo de que é belo. Pelo contrário:
Trata-se de um sentimento natural, de um meio de entusiasmar ao respeito pelo corpo
de cada um e de desenvolver o bom gosto.
Mas em quantos casos este desejo de agradar não degenera em coqueteria culpável, em
vaidade pecaminosa, e esta procura exclusiva de beleza não tem, por seu turno, levado
a abusos condenáveis e a despesas exageradas e loucas?
Para quem só conta o que é exterior, é claro que não interessam as qualidades morais
e aptidões práticas: que uma rapariga saiba coser ou tratar da lida de casa, isso é
assunto que não merece atenção…
E quando se repara nestas falhas está-se pronto a desculpar dizendo que depois de
casada tem tempo de se ocupar dessas ninharias…
Resultado?
O FLIRT (O namorico Passa-Tempo)
Como não se namora a sério, para quê o esforço de se conhecerem mutuamente?
Aquilo não é para casar…não é mais que um simples passatempo.
E então, toca de ir para o cinema, para a boite, para os bailaricos, para as passeatas.
Dão-se e recebem-se presentes, às vezes dispendiosos. O dinheiro não serve senão para
nos dar prazer… E é tão agradável dizer às amigas:
«o meu Quiqui é um amor, não sabe o que há-de fazer, só para me agradar!...»
E assim o amor vai sendo avaliado pelo preço dos presentes ou do dinheiro gasto com
a amiga!»
Estes diversos estados de alma são filhos de uma falsa educação. A ideia do casamento
traz consigo inevitavelmente a dos filhos que, uma maior parte dos casos, se apresenta
como um dever de que se desejaria estar isento.
O MEDO DOS FILHOS
Junto da mulher que está para ser mãe, fala-se do fantasma da maternidade dolorosa e,
às vezes mortal. (É pena que este temor não seja para as raparigas o principio da
sabedoria: decerto teriam mais cuidado com a sua saúde e evitariam todos os
excessos).
Também a vaidade atira para a frente com o respeito humano. A gravidez é ridícula.
Não há por aí casais que diante dos seus amigos se sentem envergonhados por
cumprirem o seu dever? Para muitos não é estar à la page evitarem os filhos? Sentem
eles escrúpulos ou remorsos do que fazem?
Por sua vez, os homens são enganados pelo egoísmo: - Há sempre pretextos para
impedir o crescimento da família: - os filhos são um grande incómodo; a educação é
caríssima; é impossível proporcionar-lhes a educação conveniente…
E assim, se não se chega ao ponto de evitar todos os filhos, servem-se destes ditos
comuns para lhes limitar o número. Não se chega até a dizer que as famílias numerosas
são uma causa de degenerescência física e mental?
A INFIDELIDADE
A este respeito há por aí as mais erradas opiniões. Chega-se a supor que a fidelidade
conjugal é impossível.
Em certos meios nega-se redondamente a possibilidade de um casal se amar
verdadeiramente e exclusivamente durante toda a vida.
Tal princípio, uma vez admitido, abre as portas a todas as liberdades. Marido e
mulher, considerando-se independentes, procuram continuar a sua vida de solteiros: A
mulher, para não ficar a dever nada ao marido continua a trabalhar. Arranjam até
grupos de amigos diferentes com quem frequentam clubes e círculos. O lar é
abandonado com os pretextos mais fúteis, e nem marido nem mulher tem o direito de se
lastimar do caso. Assim, se abre, pouco a pouco, uma brecha que, gradualmente, vai
aumentando, e por onde se escoam o amor e a virtude.
E coisa triste, muito triste, é o facto de haver muita rapariga a pensar que, se vier a
casar com um tipo já batido e vivido, fica livre do mal acima apontado.
Chegam a dizer que tais rapazes hão-de ser, depois de casados, maridos exemplares,
castos, fieis, que sabem fazer feliz a sua esposa!
Mas como e onde é que eles se habilitam a cultivar tais virtudes? As virtudes não caiem
do céu aos trambolhões!
Mas será necessário que o médico tenha todas as doenças para poder trata-las? Ou
que um advogado seja um criminoso para compreender e defender um réu?
Evidentemente que cada qual procura com estes e raciocínios convencer-se que, no
matrimónio, tudo é permitido e que nada se deve opor à força dos instintos.
Com tais princípios, com tal moral e com tais costumes, será de estranhar que o
matrimónio não seja encarado com optimismo e que dê, muitas vezes, como resultado a
infelicidade e o desgosto?
O IDEAL CRISTÃO DO MATRIMÓNIO
JULGAR
O espectáculo que nos oferece muitos matrimónios à nossa volta, nem sempre é
edificante. E a razão é simples: - afastamento das leis cristãs.
Quis-se viver à rédea solta, cada qual segundo as suas inclinações, conforme o seu
egoísmo; não se quis aceitar a lei do Evangelho e da Igreja. Preferiam-se as ideias
modernas do mundo. Resultado: É se profundamente infeliz neste mundo e caminha-se
para se continuar infeliz por toda a eternidade.
Por outro lado, vejamos à nossa volta os lares constituídos com séria preparação e
onde se vive a doutrina cristã. Ainda são numerosos, embora tendam a diminuir sob a
influência das ideias pagãs e materialistas do mundo moderno.
O espectáculo desses lares é dos mais interessantes. É certo que têm dificuldades
(quem as não tem?), mas respira-se neles uma atmosfera de felicidade, da felicidade
que não se pode encontrar senão no dever cumprido generosamente. É esse quadro o
que queremos esboçar diante de vós, empregando as cores verdadeiras dos
ensinamentos de Cristo e da Igreja as únicas que dão as tonalidades autênticas da
felicidade conjugal e familiar.
O AMOR
A atracção, sentida por dois seres de sexo diferente, que os une intimamente um ao
outro e os leva a darem-se um ao outro inteiramente e para sempre no casamento, é um
dom do Céu.
É Deus que é amor quem cria esse amor conjugal, segundo o modelo do seu amor, para
através dos tempos transmitir a vida natural. Uma vez que somos, simultaneamente
corpo e alma, e, além disso, elevados pela graça santificante a uma vida superior, que
é a participação na vida do mesmo Deus, o amor conjugal deverá também ser
constituído por esses três elementos: o amor físico, a amizade e amor sobrenatural. O
elemento físico é necessário ao amor conjugal e permite as relações sexuais fonte da
vida natural. A amizade une os caracteres e funde, numa só, duas almas: é o garante
da solidez da união conjugal. A caridade ou o amor sobrenatural, unindo duas almas
que vivem em graça, não só torna sobrenatural a nobreza do amor humano e tudo
quanto ele tem de sensível (o amor físico) e de espiritual (na amizade), dando-lhe um
valor meritório e santificante, mas também estabelece a união dos esposos em bases
mais inquebrantáveis. Neste mundo, a união conjugal é coisas única que não se pode
comparar a qualquer outra união natural.
Quem é que não vê a beleza, a grandeza a nobreza de um tal amor? Funde duas almas
e dois corpos num só. Não é um amor egoísta em que cada qual pensa primeiro em si e
só depois no outro e ainda desde que isso lhe não traga incómodos ou sacrifícios. Só
um amor pronto a dar-se inteiramente e que não vive só para si, está apto a fazer todos
os sacrifícios pela pessoa amada. Este amor irradia alegria e felicidade. E
multiplicador de vida, enquanto o amor egoísta mata. O amor verdadeiro é feito de
respeito e admiração, e eleva dois seres para bem alto, para uma vida plena, radiosa.
O NAMORO
O NOIVADO
Tal como o namoro é feito para se conhecerem, o noivado deve realizar uma maior
união das almas que será rectificada para sempre pelo casamento. Devem então os
noivos esforçar-se por alimentar o mesmo ideal cristão do casamento, por conjugar as
suas ideias por tais, e sentimentos, a sua vida se de toda, de sorte que o casamento
mais seja mais do que a consagração por um juramento solene dessa fusão d’almas.
O CASAMENTO
No dia do casamento, o próprio Deus virá sancionar essa união pelo Sacramento do
Matrimónio, que é o sacramento que santifica a aliança legítima do homem cristão com
a mulher cristã, dando-lhes a graça de viverem cristãmente a sua vida de família.
«Serão dois numa só carne» diz a leitura. Assim se constitui uma nova família diante de
Deus. E assim como Cristo está unido à sua Igreja, assim o marido fica unido à sua
esposa.
Ambos terão de ser reciprocamente fiéis e de mãos dadas, irão encetar, com a graça de
Deus, e cheios de confiança, os caminhos da vida. Se Deus lhes der a graça de terem
filhos, a vossa casa povoar-se-á de crianças que, sob a orientação dos pais, se hão-de
tornar-se cidadãos e cristãos exemplares.
A GRAÇA SACRAMENTAL
Casamento bem preparado é casa muito feliz. Se sobrevêm dificuldades, tem a graça
sacramental para ajudar a resolvê-los. O casamento não é apenas um sacramento de
efeitos passageiros, é um estado de vida estabelecido por um sacramento cujos efeitos
duram enquanto durar o casamento:-o chamado vínculo matrimonial. Por isso, num lar
cristão deve apelar-se frequentemente para a chamada graças sacramental cuja fonte
brotou no dia do casamento.
Esta graça sacramental é uma espécie de apólice de seguro sobrenatural que contém
as cláusulas necessárias para fazer face às dificuldades da vida conjugal. É uma
espécie de seguro contra doenças, contra a ilusão, contra a aventura…Felizes os que
souberem tirar dela todo o proveito possível…
A FIDELIDADE
Aos pés do altar, juram os esposos fidelidade reciproca. Uma vez que se baseia em
Deus, este juramento é inviolável e sagrado. A religião vivida pelos esposos dá-lhes
uma segurança, para que, tanto quanto permita a fraqueza humana, esse juramento
seja respeitado a vida inteira.
Que profunda e verdadeira felicidade nos traz aos esposos esta confiança inviolável
que tem um no outro: - Não duvidar nunca do cônjuge! Aí está nessa confiança a
recompensa de um casamento preparado e vivido segundo os princípios cristãos.
COLABORADORES DE DEUS
Confiança mútua, para com Deus. Os esposos abraçaram o casamento com a virtude
sincera de obedecer às leis do Senhor, garantia de verdadeira felicidade.
Essas leis, conhecem-nas eles bastante bem, até porque as estudaram e meditaram
antes de se comprometerem na sua nova vocação. Estão resolvidos apesar de todas as
tentações, a observá-las em todos os seus pormenores, pois nelas veem o caminho da
felicidade: - Dever relativamente fácil com a graça de Deus.
Que consolação e que paz não sentem os que vivem assim na graça de Deus com uma
consciência pura e generosa!
Não basta confiar num coração (?) como refere a canção «Amar pelos dois» interpretada
pelo Salvador Sobral com música de sua irmã Luísa Sobral. Canção que enche de
orgulho os corações dos portugueses e que obteve uma excelente vitória no Festival da
Canção da Eurovisão de 2017: «Eu sei que não se pode amar sozinho» e tão pouco «o
meu coração pode amar pelos dois».
Quero também aqui deixar sublinhadas as palavras simples e acessíveis a todos, que nos
transmitiu o Papa Francisco, na sua mensagem de esperança e amor na recente
peregrinação que efectuou ao Santuário de Fátima: «A vida só pode sobreviver graças à
generosidade de outra vida…Pois Ele criou-nos com uma esperança para os outros,
uma esperança realizável segundo o estado de vida de cada um».
Se nos mantivermos agarrados à âncora que recebemos através do sacramento do
matrimónio, conseguiremos ultrapassar todas as contrariedades e sofrimentos que
possamos vir a enfrentar durante essa nova caminhada a três.
Como diz o Papa Francisco: Temos a convicção que Deus caminha connosco, caminha
ao nosso lado e segura a nossa mão.
Continuação
Os sacramentos são sinais eficazes da graça, isto é, mostram e dão de um modo visível
a graça de Deus aos homens que os recebem.
Exemplo: o Baptismo, lavando simbolicamente a cabeça, mostra que é lavada a alma e
dá, na verdade, a graça de uma limpeza espiritual, de modo que o neófito fica, de facto,
livre da mancha do pecado original e de qualquer outro pecado se o tiver.
Como vemos só por esta simples amostra, o casamento cristão faz passar uma
instituição meramente natural para um plano sobrenatural e divino. Pelo sacramento
do matrimónio, a simples união de um homem e de uma mulher passa a ser união de
um homem e de uma mulher, sim, mas feita pelo próprio Deus.
Esta intervenção divina coloca logo o casamento num plano não humano mas divino. O
homem e a mulher ligados pelo sacramento formam um santuário onde Deus do Amor;
não são só duas pessoas que se abraçam hoje e que, amanhã podem deixar de se
abraçar. São duas pessoas que Deus une, liga e funde: - união que faz dos dois um;
liga que os funde um no outro; fusão que os fecunda sobrenaturalmente.
PE. CORREIA DA CUNHA – PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO - III
«OS SERES HUMANOS PRECISAM,
Quero hoje recordar as centenas de jovens noivos que participaram e assistiram a este
grandioso projecto da Paróquia de São Vicente de Fora, liderado pelo Padre Correia da
Cunha, que visava transmitir aspectos práticos da nova vida que queriam abraçar.
O Padre Correia da Cunha não debitava só ideias, conhecia bem estes aspectos
conjugais e terminava sempre com um questionário escrito que ajudava muito os noivos
na descoberta dos caminhos e dos sólidos princípios cristãos. Era importante que
tomassem consciência que somos tão especiais aos olhos de Deus. Pelos testemunhos
ouvidos por muitos dos participantes nestas sessões, trago à memória o referirem que
eram momentos de muita alegria e paixão.
O casamento não é a grade de uma prisão mas uma vida de verdadeira liberdade: somos
interdependentes – o homem precisa da mulher e a mulher precisa do homem para se
complementarem e enriquecerem livremente em união.
Deus criou-nos como homens e mulheres, diferentes e complementares, para não nos
esquecermos de que somos seres criados, dependentes dele e dos outros.
O CASAMENTO
É sobre o casamento que assenta toda a vida familiar e social. Quase todos os homens
procuram, por uma tendência natural, constituir família.
É um espírito também. E assim corpo e espírito, todo inteiro são atraídos pelo sexo
diferente porque também espiritualmente há uma espécie de diversidade sexual. A
mulher nos seus sentimentos, na sua maneira de ser, no seu feitio etc… é muito
diferente do homem. Tudo isto ligado ao prazer que há, mesmo fisicamente, nesta união
provoca o amor. Desta união amorosa por uma determinação superior do supremo
legislador da natureza e criador de tudo, nascem os filhos, continuadores da
humanidade sobre a Terra. No entanto, ao contrário do que acontece com todos os
animais, a cria do casal humano, isto é, o filho, não nasce feito. Tem de fazer-se,
formando-se pela educação que compete aos pais.
De onde se conclui que o casamento não pode ser um acto sexual, simples, transitório,
pois o filho leva anos a formar e precisa tanto do pai como da mãe para que a sua
formação seja completa e perfeita, na medida do possível.
Quanto ao auxílio mútuo, pode dizer-se o mesmo. O homem precisa da mulher e esta
precisa do homem.
Um tem habilidade para umas coisas o outro tem habilidade para outras.
Precisamente por tudo isto é que a Natureza os fez diferentes. Auxiliam-se portanto.
Este auxilio também não pode, ser total nem generoso se a união não for permanente, é
claro!
Questionário:
Poe os olhos em Deus e estuda e responde a estas perguntas com toda a sinceridade.
Isto interessa-te!!!
EM CRISTO.”
Continuamos a transcrever o Curso de Preparação para o Matrimónio da autoria do
Padre Correia da Cunha. Creio que o escreveu com o máximo gosto e o mais vivo
interesse. Confesso que pela leitura destas amarelecidos folhas os casamentos canónicos
naquela época eram casamentos idealizados, de perfeição e de uma relação maravilhosa.
No casamento católico exige-se que os noivos prometam ‘’receber com alegria os filhos
que Deus lhes enviar educando-os no Amor a Deus’’.
A união conjugal de um cristão com uma cristã tem o valor de uma comunhão robusta
em que não só dois corpos se unem, mas duas almas se fundem numa só alma e num só
coração, e Deus, que é uno – UM SÓ -, liga-os no seu eterno e infinito amor. Na
verdade, o amor humano, a simpatia mútua, baseada em motivos naturais, como a
beleza, a juventude e frescura e outras qualidades mesmo de ordem moral, esse amor
humano, natural, base do casamento passa a ser, em virtude do Sacramento do
Matrimónio, um amor sobrenatural, divino. Os esposos cristãos, que sabem o que é o
casamento, amam-se não por motivos humanos, mas por razões divinas; amam-se em
Deus e amam Deus em cada um deles. Por isso mesmo, São Paulo chama ao
matrimónio o grande Sacramento, e diz que o marido se deve entregar ao amor da sua
esposa como Cristo se entregou pela Cristandade a ponto de se deixar sacrificar na
Cruz; e que a esposa deve amar o marido como a Igreja ama a Cristo. E continuando
na explicação destas ideias, o grande apóstolo, ensina que o marido e a mulher formam
um só corpo cuja cabeça é o marido, devendo a mulher, portanto, obedecer-lhe e servi-
lo, e devendo o marido guiá-la, encaminha-la e viver para ela, a mulher. Pois assim
como a Igreja e Cristo formam um só Corpo Místico, assim também os esposos formam
um só corpo em Cristo.
Para os cristãos, o casamento não é, por mais que assim pareça, uma simples obra do
acaso ou resultado de interesses humanos. O casamento para nós é o encontro e uma
união de dois seres, filhos de Deus e esse encontro foi preparado e querido por Deus
desde toda a eternidade. Deus não muda; para Deus não há tempo com ontem e
amanhã: O que Deus é hoje, o que Deus sabe e quer e vê hoje, via, queria e sabia
ontem; verá, quererá e saberá amanhã. Para Deus tudo é presente.
E Deus soube e sabe desde sempre que determinado filho seu (que só dali a milhões de
anos havia de nascer) encontrará determinada rapariga também filha de Deus.
E o amor que entre os dois surgirá é como semente por Deus lançada aqueles
corações, que de resto, já fizera um para o outro. É bem verdadeiro o ditado popular
que diz: «Casamento e mortalha no céu se talha».
O amor para os cristãos é, pois, qualquer coisa de infinitamente maior que a mera
simpatia fundada, em motivos terrenos e transitórios…É qualquer coisa de eterno,
infinito, e portanto permanente, que não pode estar sujeito a caprichos irreflectidos. É
que esta qualidade divina do amor cristão é colocada, por assim dizer, nas mãos livres
dos seus filhos que não são autómatos inconscientes, mas homens livres. É como
perfume precioso e delicadíssimo lançado em frascos muito frágeis.
E nada do que é divino se desenvolve no homem sem sacrifício. A semente divina do
amor exige sacrifício. Exige que os homens se entreguem ao seu cultivo com toda a
alma e também com a graça do céu, é claro, porque sozinho nada os homens poderão
fazer.
Precisamente porque é divino, o amor cristão, exige que os esposos o tratem
divinamente, isto é, o tratem não com intenções ou interesses humanos mas com
cuidados cristãos. E para isso têm os esposos de se envolverem em sacrifício.
E no final de contas são de actos de amor consumados que se gera o mais sagrado do
matrimónio: os filhos. Naquele instante de sobriedade prometemos proteger, cuidar… e
só de pronunciarmos os seus nomes somos invadidos de uma esplendorosa felicidade!
O nascimento de um filho é uma experiência rara e única que faz brotar do fundo da
alma aquele grito bravo de exaltação: O amor tem o poder mágico de fazer coisas
maravilhosas.
O que Deus uniu não se pode separar e a solene promessa dos deveres assumidos só
pode ser de pessoas adultas e esclarecidas, declaradas na presença de dignos
representantes das comunidades em que nos integramos.
Não são necessários altares ou lugares de culto luxuriante, pois a maior das testemunhas
é Deus, ali presente, e Deus é a fonte de todo o Amor.
É a entrega plena de corpos e almas num sonho de amor e num orgasmo de alegria e
felicidade que todos os deuses aprovam com um radioso sorriso.
CAPITULO V
O casamento, mesmo sob o ponto de vista natural, é uma instituição religiosa. Quer
dizer isto, que para o homem e para a mulher que se unem para constituir família
sempre essa união tem de ter um carácter religioso, mesmo que não sejam católicos. E
porquê?
- Porque o ser humano é por sua natureza religioso. A consciência da imortalidade é
própria do homem. É esta consciência que o faz lutar contra a morte e acreditar numa
outra vida. Todo o homem tem dentro de si uma voz que lhe diz: Tu não vives só para
ficares reduzido ao nada. O que são os monumentos, como as pirâmides e todos os
outros, senão uma afirmação desta crença?
O casamento, instituição em que o homem se completa, e realiza a sua maior obra que
é a formação do filho, é dos actos mais importantes da vida humana. Por isso o homem
lhe reconheceu sempre o caracter religioso.
2º - A história ensina que em todos os povos, por mais baixo que fosse o seu grau de
civilização, a instituição da família, pelo casamento, assentava nas bênçãos divinas
sem as quais os homens não podiam agradar à Divindade nem assumir os pesados
encargos de colaboradores na obra da Criação dando ao mundo e a Deus novos
homens.
Na China, os noivos iam, por caminhos diferentes, a monte sagrado onde, na presença
de um Bonzo (espécie de sacerdote), dentro de um templo adornado de archotes, se
faziam preces e sacrifícios ao deus Hiimeneu cuja estátua tinha a cabeça de um cão,
para significar a fidelidade conjugal.
Mas para quê trazer mais exemplos. Basta abrir um compêndio de história, e ver-se-á
que sempre e em toda a parte o casamento teve carácter religioso.
3º - E ainda hoje, mesmo para aqueles que se dizem ateus, o casamento é no fundo um
acto religioso. Senão digam o que significa aquela festa que costumam fazer; aqueles
trajes de cerimónia e vestidos de noiva, aquela forma de se apresentarem perante o
oficial do registo civil como se fosse um sacerdote e sobretudo aquelas alianças que
trazem nos dedos anelares?
É que todos estes usos e costumes mas principalmente as alianças são de origem
religiosa.
4º Mas as principais razões por que o casamento é de caracter religioso são estas:
- A obra da Criação em que os esposos tomam parte é tão grandiosa e ultrapassa tanto
as forças humanas que só com o auxílio da Divindade pode ser realizada.
Mesmo para os materialistas e ateus é sempre um mistério a geração do homem. Um
filho que há-de vir é sempre uma interrogação. Primeiro o respeito da vida e da morte:
nascerá vivo? Terá saúde?
E ainda: Os pais darão o seu concurso físico e amoroso para a formação de um corpo
humano segundo as leis naturais, estabelecidas por quem? – Por um Deus é claro!
- E podem os pais criar uma alma? Uma alma imortal e espiritual pode ser formada
pelos esposos? Não depende, em última análise da vontade criadora de Deus?
Nós católicos temos uma doutrina que não vem de legisladores humanos, mas de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
PE. CORREIA DA CUNHA – PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO - VI
O CASAMENTO É NATURALMENTE UM
ACTO SAGRADO.
Uma vez mais, o Padre Correia da Cunha nos chama a atenção, neste Curso de
Preparação para o Matrimónio, para a grande diferença que existe entre os homens e os
animais. Somos criaturas de Deus, fomos criados por Ele (criados à sua semelhança).
Quando um homem e uma mulher se apaixonam, um novo mundo, se abre diante deles,
um mundo que ambos desejam compartilhar. Se essa paixão se vier a transformar num
verdadeiro amor, abrir-se-á uma vida nova que o sacramento do matrimónio abençoará.
Esta força de atracção entre pessoas é inata como é o impulso sexual do ser humano. É a
essência do Amor. Precisa de espaço para se ampliar e se projectar pelos sentimentos,
pelos valores e pela graça de Deus.
1º - O homem não é um simples animal e portanto não pode proceder como se o fosse,
especialmente na união de onde resulta a continuidade da espécie humana e a vida de
alguém que é o prolongamento da própria vida dos pais.
2º - O filho tem de ser formado, pois não pode por si só vencer as dificuldades da vida,
especialmente durante a meninice, e precisa do apoio tanto do pai como da mãe.
Isto é assim, insiste-se, mesmo no plano natural. Como, porém, o homem é um ser
religioso e a família por ele constituída tem uma finalidade religiosa, pois o homem
tem orientar toda a sua vida para além do tempo e dos interesses materiais
(precisamente porque é também uma alma imortal), por estas razões sempre e em todas
as civilizações o casamento foi e é um acto religioso.
O casamento foi e é um acto sagrado que não pode realizar-se sem a intervenção de
Ser Divino que preside aos destinos dos homens e das sociedades.
PE. CORREIA DA CUNHA - PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO VII
«… A VIDA MATRIMONIAL É UM
AUTENTICO SACRIFÍCIO.»
Terminadas as comemorações do centenário do nascimento do Padre Correia da Cunha,
que decorreram, com a maior elevação e dignidade, no passado dia 24 de Setembro,
retomamos a transcrição do Curso de Preparação para o Matrimónio da sua autoria.
A lei natural enuncia os deveres conjugais mais relevantes, assim como vincula
reciprocamente os cônjuges a novos comportamentos assumidos com plena
responsabilidade da vida familiar que livremente desejam fundar.
Texto Padre Correia da Cunha
Nunca será demais insistir numa verdade que, apesar de ser evidente como a luz do sol,
é muito esquecida e até ignorada da maior parte dos noivos e dos cônjuges: - é que a
vida matrimonial é um autêntico sacrifício, dando-se a esta palavra sacrifício toda a
sua amplitude.
Regra geral, os namorados e os noivos só pensam nas alegrias que o casamento lhes
pode trazer e nem sequer lhes passam pela cabeça as responsabilidades e encargos,
numa palavra a Cruz que o casamento lhes põe aos ombros.
Muitos consideram o casamento como uma solução legal do problema sexual; outros,
como um meio de fugirem ao ambiente da família em que foram criados; outros, mais
sentimentais, consideram-no como exigência que todo o coração tem de encontrar uma
amizade e apoio moral.
Em qualquer dos casos não vêem o aspecto sacrificial que lhe é próprio.
Passada a lua-de-mel, e, às vezes até, mesmo durante ela, a Cruz aparece com toda a
sua grandeza e peso…
Para o homem: a responsabilidade de trabalhar mais para mais ganhar, pois tem de
prover as necessidades de um lar com tudo o que o constitui: mulher, filhos e casa; a
prisão a que se vê sujeito, não podendo entregar-se a prazeres e devaneios (ainda que
lícitos) em virtude das responsabilidades conjugais e familiares, etc.
- e as ralações, os trabalhos, que a vida oferece até sob o ponto de vista económico…
É tudo sacrifício. E se não há uma grandeza de alma, bem formada e apoiada na Graça
de Deus… como é fácil a tentação de alijar a carga ao mar!...
E o problema dos filhos? Ficou propositadamente para ser tratado à parte. É que todos
os outros problemas da vida conjugal se resolvem com estes remédios: 1º Graça de
Deus procurada e merecida; 2º boa vontade, pronta a todos os sacrifícios; 3º amor
fundado em Deus e alimentado por uma grande amizade que une a ambos numa
profunda comunhão de ideias, de sentimentos e de interesses espirituais, morais e
económicos.
Mas vamos à primeira parte deste problema tão sério, isto é, procuremos conhecer os
aspectos morais e fisiológicos do nascimento dos filhos.
II– A primeira verdade, a mais importante, a procriação: gerar novos seres. Já está
dito e redito, é escusado insistir neste ponto, basta só lembrá-lo.
Embora a vida conjugal traga aos cônjuges prazeres especiais, estes só são estímulos e
uma compensação para as responsabilidades da paternidade. Não é lícito, portanto, só
procurar o prazer pelo prazer, sem querer aceitar as suas honrosas consequências
naturais, Quem só quer prazer e nada mais, terá o castigo certo do seu pecado.
Quem assim procede transforma o lar numa casa de prostituição privada, despreza a
honra de ser pai ou mãe, afronta o instinto de paternidade, especialmente da mulher,
mas também do homem, acarreta graves perturbações quer sob o ponto de vista moral
quer sob o aspecto fisiológico, e finalmente arrisca a felicidade do lar.
Não há ninguém, desde o sacerdote ao médico, que não esteja de acordo com o que fica
exposto. Todos, crentes e ateus, que estudam estes problemas são unânimes em dizer
que o crime de não querer ter filhos é vingado pela natureza.
E a Igreja considera nulo, inválido, todo o casamento que seja realizado com essa
maldita condição.
II - Segunda verdade (esta especialmente para os cristãos) embora o seja também para
todo homem que acredita num Deus que tudo governa e dirige): - Há uma Providência
Divina que veste os lírios do campo e sustenta as aves do céu.
Por outras palavras, Deus não dorme, e, desde que as pessoas humanas por Ele
criadas cumpram os seus deveres guiando-se pelas leis que Ele estabeleceu e pela luz
de uma recta e bem formada razão, esse Deus obrigatoriamente cuida e trata
amorosamente de todos os que aparecem neste vale de lágrimas. O que é preciso,
repito, é cumprir as suas leis e guiar-se pela razão bem formada e recta.
Creio que as condições que dão direito à protecção da Divina Providência estão bem
clara, mas não será demais explica-las um pouco em assunto tão importante.
A) – Cumprir as leis Divinas, isto obriga os cônjuges a praticarem na sua vida toda e
especialmente nas suas relações sexuais as leis da natureza criadas por Deus e os
preceitos Divinos da Religião. Querer ter direitos aos favores de Deus sem cumprir os
deveres poe Ele impostos é absurdo e estupidez.
B) Guiar-se pela razão bem formada e recta, quer dizer que o homem não é como um
bicho qualquer. Não pode obedecer cegamente aos instintos do animal. Neste ponto é
impossível ao homem fazer o que faz o animal, pois embora o animal embora o animal
sinta a a força dos instintos tem também o instinto bastante para saber limitar-se
segundo a conveniência da sua espécie e da sua vida. Os homens, pelo contrario,
sentem os instintos mas não têm o instinto de os limitar, tem uma faculdade mais nobre
e importante que se chama razão. Esta, porém, tem de formar-se pela educação e pela
instrução. Ninguém nasce ensinado. Todo o animal nasce já o que há-de ser; só o
homem tem de fazer-se para chegar a ser o que deve! Isto exige de cada um de nós um
trabalho constante de educação e de instrução; temos de desenvolver em nós
qualidades morais e cívicas, e temos de adquirir os conhecimentos necessários para
bem vivermos (em todos os sentidos) e para nos multiplicarmos segundo a espécie.
III – Postas estas duas grandes verdades, vem agora terceira que se formula
negativamente:
Nunca é permitido aos cônjuges fazerem seja o que for contra as leis Sagradas da
natureza, leis essas que Deus estabeleceu sabiamente!
- Crimes de onanismo
- Crimes de aborto
Onanismo é todo o acto sexual que não se realiza segundo as leis naturais para
impedir a concepção. Quer seja por meios de processos artificiais, como preservativos,
por exemplo, quer não (derramando fora o sémen etc), o onanismo é sempre um crime
porque contraria a finalidade de um acto, desrespeita a lei Divina e natural, profana as
relações sexuais e prostitui a mulher e até o homem.
HOMEM!»
O Sacramento do Matrimónio assumido em plena liberdade implica a missão de se
construir uma vida a dois, repleta de alegrias e tristezas até à morte. Não se pode
resumir apenas aos desejos e vontades de cada um.
O Padre Correia da Cunha fazia questão de referir que o casamento não era «pêra doce»,
todos os casais se encontrariam e debateriam com muitos sérios problemas…
Era claro, em afirmar que na vida conjugal não era só receber, mas sobretudo doar o
amor ao outro. Para ele essa era a verdadeira vocação do casamento, que tão bem
expressava nestas imagens: ‘’ Podemos ter as flores mais belas do mundo, mas se não
as cuidarmos e regarmos convenientemente, essas flores acabarão por morrer. Assim é
com o casamento, deverá ser irrigado permanentemente num partilhado diálogo ao
longo de toda a vida. O diálogo é a água que todo o casamento necessita para se
desenvolver na plenitude da felicidade.’’
Ao fazer-se padre, o jovem Correia da Cunha possuía a profunda consciência que iria
assumir para toda a sua vida, a entrega sem reservas, para ir ao encontro da felicidade
dos seus irmãos em Cristo.
A vocação matrimonial ou sacerdotal é para toda a vida. Não se pode desistir a meio do
caminho, é preciso chegar ao fim. Muitas vezes a solução não passa pela separação mas
pela superação.
A comunhão conjugal caracteriza-se não só pela unidade mas sobretudo pela
indissolubilidade.
Vamos hoje estudar um outro aspecto fundamental, exigido como condição essencial
pela doutrina católica, e posto de parte por certa legislação moderna: - a
indissolubilidade.
Por favor, procurem ler com atenção o que aqui vai em letra de forma!
A Igreja Católica admite a separação de pessoas e bens entre casados, mas não
permite que eles possam contrair novo casamento. Quer dizer, a Igreja condena
absolutamente o divórcio. E porquê?
Além disso, os pais representam aos olhos dos filhos a unidade e a continuidade da
Família. Por consequência devem viver sempre unidos.
Acresce ainda que a união entre os esposos tem ainda como finalidade o auxílio mútuo,
tal como ficou dito nas primeiras páginas deste curso que trataram este assunto.
Para que esse auxílio mútuo seja estável e eficaz é necessário não admitir o divórcio.
Em conclusão: - A Instituição – Família, exige para se poder manter que coisa alguma
deste mundo, nem interesse algum seja capaz de a destruir, e o divórcio é um atentado
contra uma Família constituída.
Não há duas pessoas iguais. A razão que este hoje invoca, pode ser invocada por
aquele amanhã; e aquilo que para a peixeira pode não ser grave é-o para a duquesa.
Por exemplo: um palavrão ou uma bofetada do marido.
- De resto, onde haveria garantia da formação dos homens de amanhã?
E qual o casal que quer dar filhos à Pátria se eles são um empecilho para amanhã os
pais possam desligar-se e fazer outra experiencia?
É claro, com o divórcio vamos cair no amor livre e na prostituição geral!
A Igreja não admitindo o divórcio salva a honra daqueles que prometeram diante de
Deus e da Sociedade fidelidade até à morte. Mais ainda, obriga os esposos a serem
honrados, guardando, apesar de tudo, a fidelidade jurada. É que o juramento, a
promessa é para o homem honrado e civilizado um direito sagrado cujo cumprimento
só o honra.
Se um marinheiro quebra o juramento de fidelidade à sua pátria é um traidor; se um
comerciante que falta à sua palavra é um pulha, os esposos que se divorciam o que
são?
- Não são pessoas de bem, não são honrados, nem sérios. Por isso a Igreja condenando
o divórcio salva a honra dos homens, embora muitos deles se esqueçam dos seus
deveres honrosos e até queiram fugir cobardemente do seu cumprimento.
- Salva especialmente a mulher que, por via de regra, é a principal vítima do divórcio.
Salva a formação dos filhos. Salva o bom nome, a reputação do marido e de todos.
O ensino da Igreja tem sido fiel a esta doutrina e a tal ponto, que prefere perder um
grande povo, como a Inglaterra, a transigir neste ponto. Lembremos Henrique VIII!
PE. CORREIA DA CUNHA - PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO IX
«…UMA SÓ ÁRVORE EM QUE DOIS RAMOS FORAM ENXERTADOS POR
DEUS.»
Continuamos a dar seguimento ao Curso de preparação para o sacramento do
Matrimónio, que o Padre Correia da Cunha escreveu com a maior alegria e felicidade,
visando ajudar os noivos a encontrar realmente com Cristo ressuscitado, através do
sacramento do matrimónio, sinal tão belo dos tesouros da Igreja, a tranquilidade e
serenidade na vida matrimonial.
Essa caminhada tornar-se-á mais fácil se houver a força que vêm da fé cristã e só assim
o amor jurado perante o altar, não poderá nunca ser destruído.
O sacerdote unido a toda a comunidade cristã invoca a Deus para que o Espírito Santo
conceda aos que se unem neste sacramento, a sua força e protecção para esta nova etapa
das suas vidas.
Era sempre aludido pelo Padre Correia da Cunha que haveria sempre situações difíceis
na vida conjugal, mas o sacramento do matrimónio teria de ser sinal de fidelidade ao
amor de Deus que os unia até ao dia em que só a morte os poderia separar.
O amor de Deus que uniu os esposos como era lembrado pelo Padre Correia da Cunha: -
“Deixam de ser dois corações que se amam, para passarem a ser um só coração!”
Texto de Padre Correia da Cunha
Com efeito, no casamento não há somente um sinal da graça da união entre o marido e
mulher a ponto de serem dois num só; nem simplesmente graças espirituais de
compreensão e auxílio mútuos para uma vida em comum e para a criação e educação
dos filhos; há mais:
- Há uma doação ou oferta feita pelos próprios nubentes de um ao outro e dos dois a
Deus; há o que se chama um sacrifício.
Na verdade, a noiva dá ao noivo a sua alma e o seu corpo; dá-se. E nesta oferta dá
tudo o que tem de feminino. Complementar do homem.
O homem, por sua vez, dá também à noiva não só seu corpo e a sua alma, mas ainda
tudo o que tem. Dá a sua liberdade, a virilidade fecundante, o seu poder de trabalho, a
força do seu braço, as qualidades da sua inteligência e do seu coração.
Na construção do lar, enquanto os dois são os alicerces que se dão e sacrificam para a
felicidade dos filhos que, por venturam venham a ter e para a sua própria felicidade.
Tem-se dito e repetido vezes sem conto que o homem só se realiza, só se torna
verdadeiramente homem quando se dá a qualquer ideal superior. Pois no casamento,
segundo a doutrina católica, o homem e a mulher unidos pela graça sacramental dão-
se um ao outro sob a bênção de Deus, e oferecem-se no altar do Senhor para, nas suas
mãos divinas, desempenharem uma missão verdadeiramente superior.
Missão de colaboradores de Deus na obra mais bela e maior que é dado realizar ao
homem: - a criação de outros seres humanos e a sua formação cristã, de sorte que eles
não só sejam bons cidadãos deste mundo, mas grandes santos no céu. E além desta
missão tão bela, os noivos, ligados pela graça sacramental e abençoados com os dons
divinos, realizam ainda a missão de se santificarem mutuamente, aperfeiçoando-se na
vida espiritual. Quando os noivos têm a noção das exigências do seu casamento
cristão, hão-de procurar ser o que Deus deles quer: - Um só corpo e uma só alma. Não
pode um ficar indiferente ao destino eterno do outro, os dois têm de se salvar com os
filhos, porque todos são uma só família, ou uma só árvore em que dois ramos foram
enxertados por Deus e, por Deus, deram frutos que são os filhos.
Mas esta mística exige ainda que ambos, marido e mulher, saibam realizar dia a dia o
sacrifício do seu casamento, oferecendo a Deus as penas, cuidados, preocupações e
sofrimentos de uma vida em conjunto. É que eles têm de colaborar com a graça de
Deus, por esta graça não força a pobre liberdade humana a fazer aquilo que deve.
Cada qual tem de se esforçar por que o dom de Deus encontre terreno bom nos seus
corações. Quer dizer cada qual deve trabalhar por aceitar, compreender e sofrer os
defeitos, o feitio, a maneira de ser do outro, fazendo nesses pequenos sacrifício o
grande sacrifício da sua vida.
TOTAL!
O Padre Correia da Cunha possuía uma grande experiência com jovens e procurava
mostra-lhes os bons princípios morais para um namoro e noivado que contribuíssem
para a Glória de Deus e para a formação de um lar cristão solido e alegre. É no namoro
que se começa a escrever uma história de amor que ambos querem edificar ao longo da
vida e que crescerá naturalmente através do amor e das alianças que jurarão ante Deus a
Comunidade Cristã.
O relacionamento no namoro deve exaltar uma caminhada que deve ser vivida, num
compromisso sério pleno de responsabilidade. Lembrava o Padre Correia da Cunha que
uma vida não pode ser vivida de improvisos. Antes pelo contrário deve ser planeada e
só assim haverá um noivado suficientemente maduro e verdadeiro. Com a ajuda de
ambas as famílias dos noivos, estes devem ser capazes de aprender um com o outro no
respeito pela dignidade de cada um. Noivado é tempo de preparação e amadurecimento.
Deve servir para se examinarem mutuamente de forma a enfrentar e ultrapassar os
obstáculos e as dificuldades da vida conjugal; para depois não haver surpresas ou ser
tarde de mais…
Na foto seguinte uma dedicatória da autoria do Padre Correia da Cunha. É um texto bem
elaborado com letra bem legível, datada de 22 de Abril do ano de 1961 para um casal
amigo que nesse dia contraíram o Sacramento do Matrimónio. Que desfrutem da
felicidade tão sonhada recebida na bênção daquele dia.
Texto do Padre Correia da Cunha
Dizem muito (e alguns até cristãos, mas mal formados) que pode acontecer o caso de
os esposos algum tempo após o casamento verificarem a incompatibilidade da vida em
comum. Isto é; pode dar-se o caso de um desentendimento grave, provocado pela
oposição de feitios e até por falta grave quer da mulher quer do marido.
Se houver esta preocupação, é claro que depois o casamento não será uma caixinha de
surpresas mais ou menos agradáveis… Antes que cases, olha o que fazes, diz a
sabedoria do povo.
b) Quando, porém, essa incompatibilidade surgisse, ou algum acto criminoso a
provocasse, nem mesmo assim o divórcio seria admissível não só pelo que ficou dito em
anteriores capítulos, mas também porque nunca se pode garantir que a segunda ou
terceira experiência fosse mais feliz do que a primeira. Pois, na verdade, quando se
casou, o Senhor Fulano não esperava senão felicidade e alegria. Apareceu-lhe a Cruz.
Isto será motivo para experimentar outra? E quem garante que a segunda não é pior
que a primeira?
Se não fosse massada grande para nós, seria interessante analisarmos estatísticas. Mas
fiquemos por aqui, que já chega. As verdades devem ser aceites pela inteligência; os
números só servem para confirmar o que aquela já aprovou.
De toda esta breve exposição sobre o casamento, à luz de uma sã filosofia natural e da
doutrina católica, devemos tirar algumas consequências sérias e profundas.
Sem se saber bem porquê, certo dia nasce no coração de dois jovens, rapaz e rapariga,
um sentimento indefinível de simpatia mútua. Procuram eles vir à fala, primeiro a
pretexto das coisas mais indiferentes, depois tratando assuntos íntimos. É o namoro.
Procuremos que desde logo a coisa seja a sério. Que os pais da rapariga, bem como os
do rapaz , tenham conhecimento do que se passa. Averiguemos da posição social, da
situação económica dum e d’outro. Esclareçam-se intenções.
Estudem-se todos os aspectos da questão. E faça-se tudo isto com delicadeza, amizade,
fraqueza e com o conhecimento de quem os possa aconselhar, como sejam, os pais, os
amigos íntimos e, em especial, o sacerdote confessor com quem se abre a alma.
Não é vida em comum só quando se unem corpos numa cama ou à mesa, e todas as
preocupações espirituais, morais e até materiais se guardam egoisticamente. A vida em
comum é uma entrega total!
Para isso, só uma vida de oração e sacrifício pode dar forças bastantes.
Mas esta liberdade absoluta em que se baseia o contracto de casamento tem de ser
entendida em termos talentosos – o casamento é um contracto inteiramente livre quanto
à sua celebração, mas não devemos esquecer que o sacramento do matrimónio origina
uma instituição, que se rege pelas leis naturais que o homem não pode modificar.
Dizia o Padre Correia da Cunha que era da maior importância os nubentes conhecerem e
aprofundarem a doutrina da Igreja acerca do matrimónio como fonte de graça. O
sacramento é perene cujos efeitos se prolongam por toda a vida dos cônjuges.
Importa que todos os cristãos que se unirem pelo sacramento do matrimónio saibam
aproveitar deste inapreciável tesouro, fazendo da sua vida marital a sua via de
santificação. Só assim chegarão a viver, em toda a sua beleza e dignidade, o sublime
ideal do grande sacramento que é o matrimónio cristão.
Não é de estranhar, porém, que em antigas civilizações e, ainda hoje, em povos não
cristianizados, se dispense facilmente o consentimento livre da mulher e o casamento se
trate entre famílias como se fosse um negócio qualquer. Isto só tem explicação no triste
facto de se esquecerem os direitos humanos onde não se aceita a lei de Cristo. É certo
que só a pouco e pouco a Igreja Católica conseguiu implantar esta doutrina.
Mas é bom não esquecer que, se ambos são livres, nem por isso devem por de parte os
conselhos e avisos de pessoas mais experimentadas e amigas, como os pais e os
párocos respectivos. É que há muitas coisas a considerar no casamento: - em primeiro
lugar o amor, a simpatia mútua, a decisão de abraçarem uma vida em comum com
todos os sacrifícios que essa vida exige, sendo um do outro, sem do os dois dos filhos e
sendo todos de Deus.
É claro que tal lar não pode ser feliz. Por isso mesmo antes que cases olha o que fazes!
Escuta ta os conselhos e avisos dos teus melhores amigos e não te deixes guiar só pela
voz dos teus sentimentos amorosos que, às vezes, são traiçoeiros como Judas. Às vezes
são paixões e não amor… ela é bonita, jeitosa… e não há outra razão. Pergunta
também : Ela é bem formada religiosa e moralmente? Ela tem qualidades de
trabalho? Não basta que ela diga que por tio é capaz de tudo. Ela sabe lavar a roupa,
esfregar a casa etc…
Nesse caso, se amanhã as necessidades da vida a obrigarem a isso, ela será capaz de o
fazer.
De modo que devemos assentar nisto:
Pode pôr-se a questão de um nubente que, coagido, aceita o casamento com a pessoa
que não ama.
Como resolver-se o caso? E se depois de algum tempo começa a gostar dessa pessoa?
FILHOS.»
Nestes cursos de preparação para o matrimónio da autoria do Padre Correia da Cunha, o
casamento canónico é tratado como um «pacto de amor», sendo o amor dos cônjuges o
ponto crucial da teologia matrimonial.
Era sua preocupação apresentar valores que contribuíssem para a sustentabilidade dessa
livre união, ou seja o amor como princípio de força e comunhão conjugal assente na
fidelidade. A poliandria e a poligamia não só ferem a dignidade humana como excluem
a formação de um lar fecundo e feliz.
Só um amor monogâmico pode valorizar a igualdade dos cônjuges e fazer com que um
casamento seja uma verdadeira história de amor.
Estas palestras do Padre Correia da Cunha, de preparação pré nupciais visavam mostrar
que o casamento é um processo de amadurecimento afectivo que conduz à procriação.
Para o Padre Correia da Cunha os filhos para serem bem formados, precisavam não só
do amor dos pais, mas do amor entre os pais. Neste contexto o amor não só ocupa um
lugar central no casamento religioso como se constitui no seu fundamento.
texto de Padre Correia da Cunha
Falemos agora de uma terceira condição, a saber, a Unidade. Unidade quer dizer
monogamia, isto é casamento de um só homem com uma só mulher.
Opõem-se à monogamia, ou seja, à unidade matrimonial, a poliandria – estado em que
uma mulher tem vários homens – e a poligamia – estado em que um homem tem várias
mulheres.
Com efeito, a poliandria, situação em que vários homens têm relações com uma
mulher, trás consigo:
a) infecundidade pois normalmente o abuso das relações sexuais torna estéril a
mulher. É João de Deus, o grande poeta lírico do século XIX, quem diz que «Deus à
prostituta não dá honra da maternidade».
d) A ruína moral e física dos filhos que por ventura nasçam. Realmente sem se
saber qual é o pai, como é que algum dos homens pode tornar o seu corpo a formação
da criança?
E dado o abuso das relações sexuais a criança normalmente nascerá com taras e
deficiências físicas.
e) Além disto tudo, há a própria desgraça física e moral da mãe, como é fácil
concluir.
A poligamia, em que um homem tem várias mulheres, embora não tenha tão graves e
funestas consequências, tem, no entanto, tremendos horrores a castiga-la.
1º. A destruição da família. Um homem que vive com várias mulheres é um homem sem
lar. Não quer dizer que não possa ter filhos de todas; mas onde é que está o ambiente
de família, o sentido das responsabilidades paternais, o amor dos filhos para com o pai
e até entre si mesmos? São todos filhos do mesmo pai, talvez, mas não se sentem
irmãos!
2º. O homem macho. Numa situação destas o homem sente-se unicamente o macho que
fecunda, e que normalmente se esgota até sob o ponto de vista físico.
3º. A mulher fêmea. Unicamente fêmea visto que não partilha dos carinhos e amizade
conjugais, mas só a que serve de prazeres meramente animalescos. E se alguma é a
favorita, logo as outras, que dão ao homem o seu sexo como a própria favorita, sentem
a inveja e o ciúme por não terem filhos, com que direito é que os da favorita são filhos
queridos e os outros não?
Por tudo isto, o casamento tem de ser monogâmico, isto é, de um só com uma só. União
total para toda a vida é a única que estabelece uma solidariedade, uma comunhão
perfeita entre ambos e cria as condições de fidelidade fundamental entre o homem e a
mulher, criaturas humanas, criadas por Deus com iguais direitos e deveres.
- União de duas vidas e de duas almas, para além da satisfação das paixões carnais.
Unidade familiar: só a monogamia permite a educação séria dos filhos pelo pai e pela
mãe, unidos para essa grande obra da formação de homens.