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Antero que Quental foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da justiça, da
fraternidade e da liberdade. Mas as preocupações nunca o deixaram desde que entrou nos meios
universitários de Coimbra e se tornou líder da Geração de 70 que, em Lisboa, continuou a sua luta.
As dúvidas e a verificação de que o seu apostolado não estava a conseguir os objetivos que
desejava, aliado ao agravamento da sua doença, conduziram Antero de Quental a sentir-se
dececionado, mergulhando num estado de pessimismo. Quem se empenha como ele, de forma
apaixonada, numa campanha para alerta mentalidades e não sente a promoção do espírito da
sociedade moderna, fica frustrado.
Neste poema, os momentos de dúvida e de incerteza, ou melhor, de esperança e de
desesperança, estão bem demarcados.
“O Palácio da Ventura”, título metafórico, é uma súmula do pensamento anteriano que tem
subjacente duas facetas bem demarcadas:
– Uma combativa, de origem intelectual, ou seja, as suas aspirações enquanto pensador;
– Outra negativa, de origem emocional e temperamental.
Na verdade, este poema (assim como toda a sua obra) deixa transparecer uma nítida
dicotomia que consiste na oposição constante entre luz e sombra, sonho e realidade, esperança e
desilusão, reflexo do próprio carácter do poeta e que constitui, per si, o drama do homem e do
pensador.
E o clímax da ação é atingido no momento em que as portas obedecem ao ansioso pedido
do cavaleiro “com fragor”. O ruído que fazem é sugerido pela aliteração do fonema /r/ e denuncia
que poucas vezes se abrem essas portas. E tudo parece indiciar que o cavaleiro alcançará o seu
objetivo, encontrará a Ventura. Mas eis que se depara com uma nova e imensa frustração,
anunciada pela conjunção coordenativa adversativa mas e consumada com o vazio do
palácio: “Mas dentro encontro só, cheio de dor, / Silêncio e escuridão – e nada mais.” Nesta última
estrofe, concretizam-se vários indícios do fracasso dispersos ao longo do poema, nomeadamente
o paralelismo “Mas já” (disjuntivo temporal) e “Mas dentro” (disjuntivo espacial) e
o paralelismo “já desmaio” e “encontro só”. Mas se eram tão abundantes esses sinais, não se
esperava uma tão grande deceção. O cavaleiro entrou no palácio encantado, parecia ter alcançado
o que procurava, mas apenas encontrou “Silêncio e escuridão – e nada mais!” Reparemos como a
tonalidade das palavras se fechou: os sons nasais, palavras de sentido negativo, o pronome
indefinido negativo reforçado pelo advérbio de quantidade, sugerindo claramente a deceção
completa do cavaleiro, que terá de recomeçar tudo de novo. De facto, a gradação dos dois últimos
versos, associada à exclamação final, demonstra a dor intensa do sujeito poético e a angustiada
sensação de derrota.
Podemos ver neste poema a história de tantas tentativas fracassadas, em virtude da distância
que medeia entre o sonho e a realidade.
Por outro lado, também é possível ver neste poema o próprio Antero de Quental, utópico,
revolucionário, cheio de força, erguendo a espada da Liberdade, do Amor e da Justiça, mas
incompreendido, recusado. Ou ainda a alegoria de tantos jovens sonhadores e incompreendidos.
Terá sido então inútil esta procura? Nada é inútil quando os objetivos por que se luta são
autênticos. Nunca se deve desistir. Quem sabe se da próxima vez este cavaleiro não encontrará a
sua Ventura?
Neste poema, o cavaleiro caminha ensombrado pela dor e pela dúvida, nessa existência em
que convergiram um drama pessoal e o drama da própria consciência tumultuária e expectante do
homem do século XIX.
. Estrutura narrativa do poema
3. Tempo: presente.
4. Espaços:
– Físico: “desertos” ® sugere a imensidão do mundo físico;
– Psicológico: “Sonho” ® “O palácio encantado da Ventura!”
Entre os dois espaços existe uma correlação de sentido (imensidade/profundidade) que aponta
para a necessidade de um “grande sonho” para vencer as dificuldades impostas pela imensidão do
espaço físico a percorrer.
. Recursos poético-estilísticos
1. Nível fónico
3. Nível semântico
. A proximidade semântica entre as expressões já desmaio (v. 5) e encontro só (silêncio e
escuridão) (v. 13), sendo que os versos 5 e 6 anunciam desde logo o carácter
decetivo do encontro.
. Alegoria: o sujeito lírico sonha-se alegoricamente um cavaleiro andante – desejo de evasão –,
mediante a figura medieval do defensor dos fracos, que parte na aventura da
procura, inicialmente, entusiasta e, depois, dolorosa do simbólico “palácio
encantado”. O desenlace desta aventura de cavalaria alegórica é o insucesso, a
derrota final.
® concretização sensível de ideias abstratas;
® procura ansiosa da realização de um ideal da felicidade (“Palácio da Ventura”);
significado
® consequências destruidoras, no sujeito, de uma busca infrutífera (“Vagabundo”, “Deserdado”);
® desilusão, sofrimento, pessimismo (“Silêncio e escuridão - nada mais”).
. Gradação.
. Influência de Hartmann:
-» a metafísica pessimista (Schopenhauer);
-» a busca de Deus e de si próprio que leva à dor.