A UM POETA Este soneto, o termo "Poeta" poderá remeter para a figura de um idealista, possivelmente em consonância com o espírito da época.
A referência ao espírito do mundo romântico, lúgubre e sombrio, percebe-
se quando, personificando o sol, usa a metáfora em "Afugentou as larvas tumulares" (v. 6) e "Um mundo novo espera só um aceno" (v. 8).
Mas o que interessa, sobretudo, é perceber que o sujeito lírico faz um
apelo a todo aquele que é capaz de sonhar, mas vive alheado e num estado de inércia quando é necessária a luta revolucionária ao lado de um povo que sofre e que busca a liberdade.
Na primeira quadra (que constitui uma tese argumentativa) encontramos a
estagnação, a passividade e o alheamento do poeta em relação à realidade social e política do mundo, "Longe da luta e do fragor terreno" (v. 4); na segunda quadra e no primeiro terceto (antítese, com a explanação e confirmação da tese), surge o apelo à consciencialização do poeta para a necessidade de mudar de atitude pois está em causa um povo que precisa da solidariedade, "Escuta! é a grande voz das multidões! I São teus irmãos" vv. 9, 10); no último terceto (síntese conclusiva), irrompe o apelo para a ação - "Ergue-te" (v. 12) - destacando a importância da poesia como arma de combate, como voz da revolução, apelidando o Poeta de "soldado do Futuro" (v. 12) e "Sonhador" (v. 14).
Em todo o soneto se encontra um apelo para a necessidade de agir e que
está bem expressa na gradação verbal: "Tu, que dormes", "Acorda!", “Escuta!”, "Ergue-te", "Faze". Este poema mostra bem a sua aposta na poesia como "voz da revolução".
TORMENTO DO IDEAL
O soneto “Tormento Ideal” exemplifica o caráter de tensão ideal/real
(forma material) em Antero. O poeta frustra-se por não conseguir uma síntese entre o conhecimento subjetivo (ideia) e o objetivo (formas reais). Uma “ideia pura” pediria uma forma plena, totalizadora, para assim chegar-se a uma síntese de absolutos. O poema bem feito (forma) seria a manifestação concreta do absoluto. No primeiro quarteto diz que apesar de ter alcançado a beleza ideal (ele remarca os conceitos transcendentais e filosóficos com maiúscula: Beleza), que é imperecedoira, ficou triste. Como demonstra no segundo quarteto, esse ideal de beleza não tem correspondências no mundo real onde adoece de imperfeições (“perder a cor”) e, por mais que procura a “ideia pura” (primeiro terceto) de forma caprichosa (como indica Oliveira Martins no Prefácio) nos elementos da realidade, descobre que o material apenas lhe oferece “sombras” e “a imperfeição de quanto existe”. Conclui sentenciando que, como chegou a ser poeta, pode possuir intelectualmente os ideais da perfeição, mas ficou para sempre triste e saudoso por não ser capaz de atopar essa verdade no mundo real e sensorial do resto dos humanos.
O Palácio da Ventura
“O Palácio da Ventura”, título metafórico, é uma súmula do pensamento
anteriano que tem subjacente duas facetas bem demarcadas: – uma combativa, de origem intelectual, ou seja, as suas aspirações enquanto pensador; – outra negativa, de origem emocional e temperamental. Na verdade, este poema (assim como toda a sua obra) deixa transparecer uma nítida dicotomia que consiste na oposição constante entre luz e sombra, sonho e realidade, esperança e desilusão, reflexo do próprio carácter do poeta e que constitui, per si, o drama do homem e do pensador. . Assunto: a busca da felicidade (palácio encantado”) e o encontro da desilusão . Tema: a oposição sonho / realidade ® desilusão ® pessimismo. . Estrutura interna – tragédia em 4 atos 1.º momento (1.ª quadra) ® O entusiasmo do primeiro arranco, em busca da felicidade (o palácio encantado da Ventura). 2.º momento (vv. 5-6) ® O desalento, o cansaço e a desilusão provocados pelo insucesso da procura. A conjunção coordenativa adversativa “mas” cria a oposição entre os dois momentos. 3.º momento (vv. 7-12) ® O renascimento da esperança: a ilusão momentânea, a nova esperança e o grito de ansiedade. A expressão “E eis”, com valor adversativo, permite o retomar da ilusão e da busca iniciais. 4.º momento (vv. 13-14) ® A dor e a decepção finais (de certa forma já antecipadas no 2.º momento): “Mas dentro encontro só, cheio de dor Silêncio e escuridão - e nada mais!” abismo entre a realidade e a idealidade ® pessimismo (estado de espírito do sujeito) A adversativa “mas” confirma o segundo momento, ou seja, o da desilusão. 1.ª parte (vv. 1-6) – O sujeito poético busca a felicidade (o palácio encantado), mas é tomado pelo cansaço e pela desilusão (vv. 5-6). 2.ª parte (vv. 7-12) – A ilusão momentânea do sujeito poético, que o leva ao grito de ansiedade: “Abri-vos, portas d’ouro, ante meus ais!” (v. 12). 3.ª parte (vv. 13-14) – A desilusão final, mais forte e dorida.