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Fernando Pessoa: ortónimo, heterónimo e Mensagem

A poesia do ortónimo centra-se no fingimento artístico, a dor de pensar, a dicotomia


sonho/realidade e a nostalgia da infância. O fingimento artístico é abordado em poemas como
“Autopsicografia” e “Isto”. O poeta assume-se como um fingidor, isto é, como alguém que recria
os sentimentos por meio da imaginação, do intelecto. Esta atitude de intelectualização dos
sentimentos provoca no sujeito poético um extremo sofrimento, a dor de pensar, e desejos de
conseguir uma “inconsciência consciente” e de conseguir formas de evasão. Daí a valorização do
sonho, como fuga possível à realidade, e da infância, época recordada com saudade e nostalgia
e associada à felicidade e unidade do “eu”.

Alberto Caeiro é o poeta da natureza e o pastor do seu rebanho de sensações. Defende o


primado das sensações (a sinestesia é muito frequente nos seus poemas), particularmente as
visuais, e recusa o pensar (“Pensar incomoda como andar à chuva” / “Pensar é estar doente dos
olhos”). A sua poesia transmite uma aparente naturalidade e simplicidade.

Na sua poesia, Ricardo Reis reconhece a efemeridade da vida e da morte inevitável, revela a
consciência da mortalidade. Deixa conselhos que espelham uma adesão ao epicurismo (procura
felicidade relativa, busca do estado de ataraxia – tranquilidade sem perturbações, fuga às
emoções extremas e indiferença à morte) e ao estoicismo clássicos. Assume que o melhor é nada
desejar, recusa os prazeres e procura o repouso ou simplesmente aproveitar a vida sem grandes
paixões e picos de felicidade, satisfazendo-lhe aproveitar o dia e os prazeres do momento
presente – carpe diem.

Álvaro de Campos evidencia uma clara consciência das relações entre o sujeito e o tempo. Na
sua fase futurista e sensacionista louva a sociedade moderna, a industrialização e o progresso.
A “Ode Triunfal” é marcada pela exaltação do moderno, uma apologia da força e do excesso.
Mas essa fase sucede uma outra, de pendor abúlico e intimista traduzida na angústia existencial,
no tédio e na nostalgia da infância. O poeta vê recorda a sua infância como símbolo de pureza,
da inconsciência e da felicidade, consciente de que é um tempo irrecuperável.

Mensagem é uma obra marcada pelo imaginário épico, assente, desde logo, na exaltação
patriótica. Inspira-se no glorioso passado nacional e nos heróis de outros tempos (reis, príncipes,
navegadores), para num presente marcado pela crise, pela frustração e pela descrença, refletir
sobre o país e propor um novo futuro e um novo destino para Portugal. Basta, para tal, Deus
querer e o homem sonhar (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”). Nesse sentido, o texto
possui claramente uma inspiração messiânica, sugerindo que os heróis o são por eleição divina.
Por outro lado, esses mesmos heróis adquirem uma dimensão simbólica ultrapassando a mera
individualidade e atuando num plano mítico.

O Sebastianismo ultrapassa a mera crença no regresso de um salvador que resgatará a pátria da


miséria. Associa o Encoberto à instauração de uma nova época de ouro da nação portuguesa,
uma era gloriosa já não assente no domínio material, perdido, mas na supremacia espiritual
concretizada no Quinto Império.

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