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Álvaro de Campos

Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O
próprio Pessoa considera que Campos se encontra “no extremo oposto, inteiramente oposto,
a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.

Para Campos a sensação é tudo. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que
tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor
procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou
como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.

O seu sensacionismo distingue-se do de Alberto Caeiro, na medida em que este


considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade, mas rejeita o
pensamento. Caeiro na sua simplicidade e serenidade, via tudo nítido e recusava o
pensamento para fundamentar a sua felicidade por estar de acordo com a Natureza.
Campos, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura sentir a violência e
a força de todas as sensações.

A obra de Álvaro de Campos, onde está presente a nostalgia do “céu azul!-o mesmoda
minha infância,//Eterna verdade vazia e perfeita!”, passa por três fases:

A decadentista - que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas


sensações;
A futurista e sensacionista – que se caracteriza pela exaltação da energia, de
“todas as dinâmicas”, da velocidade e da força até situações de paroxismo.
A intimista – que perante a incapacidade das realizações, traz de volta o
abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço/ íssimo, íssimo, /
Cansaço…”.

A obra de Álvaro de campos passa por três fases:


A decadentista - que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas

sensações (“Opiário”, motivado por uma viagem de Campos ao Oriente, foi escrito

para o nº 1 da revista do Orpheu.) O decadentismo surge como uma atitude

estética finissecular que exprime o tédio , o enfado, a náusea, o cansaço, o

abatimento, e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido

para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Com rebuscamento, preciosismo,

símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo.

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A futurista e sensacionista – nesta fase, Álvaro de campos celebra o triunfo da

máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Apresenta a beleza dos

“maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza

tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação

metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o

exemplo desta intensidade e totalização das sensações.

A intimista – que perante a incapacidade das realizações, traz de volta o

abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço/ íssimo, íssimo, / Cansaço…”.

Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre

fechado em si mesmo, angustiado e cansado. “Esta velha angústia”;

“Apontamento”; “Lisbon revisited”, lembra o decadentismo, mas esta decadência

não possui o mesmo sentido literário e histórico post-simbolista, antes traduz a

reflexão intimista e angustiada de quem apenas sente o vazio da caminhada

heróica. Campos atordoado pelo mistério das sensações que busca compreender

procura mergulhar em si mesmo. Por exemplo, em “Apontamento”, Álvaro de

Campos apresenta-se como um vaso vazio que a empregada deixou cair na escada.

A imagem dos cacos mostra-nos a fragmentaridade em que se sente.

O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num


apelo dilacerante entre o amor do mundo e da
humanidade; é uma espécie de frustração total e feita
de incapacidade de unificar em si pensamento e
sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela
como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a
mesma demissão da personalidade íntegra.

Campos busca na linguagem poética, exprimir a


energia ou a força que se manifesta na vida. Daí o
surgimento de versos livres e muito longos, vigorosos,
submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos,
das emoções (através de frases exclamativas, de
apóstrofes, onomatopeias e oximoros).

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