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OBRAS RARAS DO ACERVO HISTÓRICO

ano VI – no 25 – janeiro/fevereiro de 2020

RODRIGUES ALVES
TRAJETÓRIA E DISCURSOS
EDITORIAL COMPROMISSO COM A MEMÓRIA
Nesta edição do plenário, da Assembleia Provincial, síntese repre- Rodrigues Alves
Informativo da Divisão sentativa do pensamento político do deputado.
de Acervo Histórico Na seção Livros do Acervo apresentamos as Em Compromisso com a Memória destaca- Acadêmica. A Guerra do Paraguai era seu tema
destacamos, na seção obras Flauta de Papel (1957, livro que reúne crôni- mos os principais pontos da atuação parlamentar predileto, foi escolhido para saudar, em praça
Compromisso com a cas de Manuel Bandeira; Praelectionum juris civilis: de Rodrigues Alves na Assembleia Legislativa da pública, o grupo de voluntários paulistas, que
Memória, a trajetória polí- Secundum Institutiones et Digesta Justiniani: Accedunt Província de São Paulo, onde, em 1872, iniciou sua retornavam das batalhas.
tica de Francisco de Paula Christiani Thomasii (1749), reedição do Código carreira política. Entrou também para a maçonaria e foi um dos
Rodrigues Alves, ou Conselheiro Rodrigues Alves, Justiniano feita pelo jurista holand&ec irc;s Ul rich Durante cinquenta anos, conselheiro do impé- dirigentes da Burschenschaft, sociedade secreta
como ficou conhecido. Rodrigues Alves foi um dos Huber; Amor de Perdição – Memorias D’uma Família rio e chefe republicano, Rodrigues Alves desen- atuante na Faculdade de Direito. Dela participa-
políticos brasileiros mais relevantes e controversos (1891), de Camilo Castelo Branco e Histoire de la volveu suas atividades políticas como deputado da ram muitos homens que se destacariam na política
do fim do século XIX e início do XX. Ocupou Guerre des Juifs contre les Romains (1670), uma das Província de São Paulo e deputado Geral, presi- imperial e republicana. A loja Fraternidade tinha
cargos importantes tanto na Monarquia quanto na mais famosas fontes históricas das revoltas judai- dente da Província, senador, ministro da Fazenda como bandeira o abolicionismo e transformou-
República. Durante cinquenta anos, desenvolveu cas, de 66 d.C. a 70 d.C, traduzido do grego pelo e presidente da República. -se na associação pública Fraternidade Primeira.
atividades como deputado da Província de São francês Robert Arnauld d’Andilly. A historiografia sobre ele contudo, concen- Rodrigues Alves, Rui Barbosa e o ex-escravo Luís
Paulo, deputado Geral, presidente da Província, E por fim damos publicidade ao convênio tra-se na sua passagem pela presidência da Gama a integraram.
senador, ministro da Fazenda e presidente da celebrado entre a Assembleia Legislativa e República.Dados essenciais sobre sua forma- Em 1870, já diplomado, foi nomeado promo-
República, eleito duas vezes. a Universidade Estadual Paulista “Júlio ção de estadista e sua vida política permanecem tor interino de Guaratinguetá, e, no ano seguinte,
Na seção Na Tribuna destacamos trechos dos de Mesquita Filho” – UNESP, em 06 de ignorados. efetivado no cargo.
discursos de Rodrigues Alves pronunciados, em dezembro de 2019.
REGISTRO PESSOAL O LEGADO POLÍTICO
Expediente Filho de Domingues Rodrigues Alves e Isabel A carreira política de Rodrigues Alves começa
Perpétua de Marins (Nhá Bela), Francisco de Paula em 1872, como deputado provincial, pelo Partido
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo Textos Rodrigues Alves nasceu na fazenda de Pinheiro Conservador, representante do 1o Distrito.
Presidente: Cauê Macris Silmara de Oliveira Lauar, Karin Fernandes de Araujo, Velho, pertencente a seu avô materno, no municí- Durante o mandato integrou a Comissão de
1o Secretário: Enio Tatto Luiz Eduardo Pergoraro Paiva, pio de Guaratinguetá (SP), em 7 de julho de 1848. O Instrução, Educação, Catequese e Civilização
2o Secretário: Milton Leite Filho Márcio F. de Oliveira Vasquez casal Domingos Rodrigues Alves e Isabel Perpétua dos Índios e, posteriormente, a Comissão de
de Marins teve treze filhos. Os três mais velhos, Constituição, Justiça e Força Policial.
Secretário Geral Parlamentar Colaboradores Antônio, Virgílio e Francisco ficaram conhecidos, Após exercer, por um pequeno período, as
Rodrigo Del Nero Françoise Evelyne Aron; Roberta da Silva respectivamente, como o Comendador, o Coronel atribuições de juiz municipal e primeiro substi-
Secretário Geral de Administração e o Conselheiro. tuto do juiz de Direito em sua cidade natal, foi
Joel José Pinto de Oliveira Estagiários Conselheiro Rodrigues Alves, título recebido da reeleito deputado provincial para a 20a Legislatura
Estefany Cardoso de Almeida; Princesa Isabel, não permaneceu muito tempo na (1874/1875) agora pelo 3o Distrito.
Departamento de Documentação e Informação Grazieli B. Bergamini de Melo; pequena cidade. Mudou-se, ainda criança, para o Entre um mandato e outro, casou-se com sua
Daniel Ranieri Costa Luiz Eduardo Pegoraro Paiva; Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Pedro II, prima-irmã Ana Guilhermina de Oliveira Borges,
Divisão de Acervo Histórico Marcos de Souza S. Junior; Thiago Luiz Pupo Queiroz considerado a melhor escola secundária do país. neta do Visconde de Guaratinguetá, Francisco de
Mônica Cristina Araujo Lima Horta Em 1866, ingressou na Faculdade de Direito Assis de Oliveira Borges.
Imagem da capa de São Paulo. À época, os estudantes se dividiam Derrotado nas urnas não se reelegeu para o
Coordenação editorial Rodrigues Alves – Presidente da Província de São Paulo politicamente entre liberais e conservadores. Rui biênio seguinte (1876-1877), retomou a carreira
Mônica Cristina Araujo Lima Horta Barbosa e Afonso Pena representavam a ala libe- de magistrado e associou-se aos seus familiares,
Projeto gráfico Telefones: (11) 3886-6308/6309 ral. Rodrigues Alves colocou-se entre os conserva- nas atividades da cultura cafeeira em expansão
Jair Pires de Borba Junior (Gráfica da Alesp) E-mail: acervo@al.sp.gov.br dores, posição partidária que manteve em toda sua no período.
Diagramação Site: www.al.sp.gov.br/acervo-historico vida política. Voltou à Assembleia Provincial na 22a
Adriana de Jesus Reis (Gráfica da Alesp) Tiragem: 300 exemplares Durante o curso de direito, destacou-se escre- Legislatura, de 1878 e 1879, ao lado dos republica-
vendo para os jornais 16 de Julho e Imprensa nos Prudente de Morais e Martinho Prado.

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Em 1885, pelo voto direto, foi eleito deputado
geral, transferindo-se com a família para o Rio de
Janeiro. Reeleito para o biênio 1887-1888, pelo 3o
Distrito de São Paulo, foi terceiro deputado mais
votado da Província.
Em 8 de novembro de 1887, foi nomeado,
presidente da Província de São Paulo e, no dia 19
tomou posse perante a Câmara Municipal. Deixou
a presidência da província em março de 1888, e
voltou à Câmara dos Deputados, onde se discutia
a emancipação da escravatura. Votou favoravel-
mente à Lei Áurea.

Capa da mensagem enviada ao Congresso Legislativo por


Rodrigues Alves, em 7 de setembro de 1912, agora Presidente eleito
da Província de São Paulo, cargo que ocupou entre 1912 a 1916.

Rodrigues Alves envia discurso como Presidente da


Província de São Paulo à Assembleia Provincial, em 10
de janeiro de 1888, alguns meses antes da abolição da
escravatura, assinada em 13 de maio de 1888. Em seu
discurso de posse esta questão se torna central, como
veremos no texto destacado ao lado

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O CONSERVADOR ADERE À REPÚBLICA Presidente da República, Rodrigues Alves assume o privadas, manifestando seu entusiasmo pelo
Após o 15 de novembro de 1889, os partidos Ministério da Fazenda. Em 1892, quando Floriano progresso paulista. Em 1894, na renovação de um
monárquicos reconheceram o fim do Império e Peixoto recusou o plano proposto pelos banquei- terço do Senado, foi reeleito para um mandato de
proferiram sua submissão à República. O porta- ros ingleses da família Rothschild para recuperar nove anos.
-voz dos conservadores foi Antônio Prado, a estabilidade financeira do país, o ministro pediu Com a posse na presidência da República de
companheiro de Rodrigues Alves e como ele, indi- demissão. Prudente de Morais, primeiro presidente civil
cado pelo Partido Republicano Paulista (PRP), Em 1892 a comissão executiva do PRP foi eleito pelo voto direto, Rodrigues Alves renun-
para concorrer à Constituinte. reconstruída, com Prudente de Morais na presi- ciou ao mandato de senador para voltar a ser
Eleito e empossado em 15 de novembro dência. Rodrigues Alves, ex-monarquista, passou ministro da Fazenda. Permaneceu até 1896, foi
de 1890, Rodrigues Alves foi um dos signa- a integrá-la. Em março de 1893, foi eleito senador substituído pelo também paulista Bernardino de
tários da Constituição de 24 de fevereiro de por São Paulo. Empossado em 11 de maio, passou Campos.
1891. Com a transformação da Constituinte a integrar a Comissão de Finanças, na qualidade de Membro da comissão executiva do PRP,
em Congresso Nacional, composto de Senado presidente. Rodrigues Alves retornou ao senado defendendo
Federal e Câmara dos Deputados, foi eleito Ocupou a tribuna por várias vezes, sempre a política dos governadores, ou política dos esta-
para a Comissão de Finanças desta última casa, abordando matérias financeiras e econômicas, dos, implantada por Campos Sales. Sucedendo
Rodrigues Alves durante inauguraçao da Escola Modelo Tiradentes – RJ
tendo, posteriormente, integrado as Comissões assuntos tributários, discorrendo sobre tarifas a Fernando Prestes, político de Itapetininga,
de Orçamento e de Justiça, consideradas as ferroviárias, combatendo concessões de estrada de Rodrigues Alves foi eleito presidente de São Devido a problemas de saúde, viu-se forçado a
mais importantes. ferro, condenando privilégios fiscais a empresas Paulo em 15 de fevereiro e empossado em 1o licenciar-se do mandato para tratamento, passando
Com a renúncia de Deodoro da Fonseca de maio de 1900. Em seu discurso de posse o governo, em 11 de outubro de 1912, para seu
e a assunção do marechal Floriano Peixoto à Rodrigues Alves e Pereira Passos no Rio de Janeiro, em 1905 prometeu estimular a lavoura, declarando que vice-presidente, Carlos Guimarães. Apenas em
seus problemas não se resumiam à oscilação dos 4 de novembro de 1915 reassumiu o posto. O
preços do mercado internacional, mas estavam mandato de Rodrigues Alves na presidência de
também ligados à produção. Para garantir mão de São Paulo terminou em 1916, e seu substituto foi
obra para a lavoura cafeeira, incentivou a imigra- Altino Arantes.
ção. Grandes esforços foram empreendidos no Em 1917, quando discutiam indicações para a
enfrentamento da questão sanitária, haja vista a presidência da República seu nome foi novamente
epidemia de febre amarela instalada em alguns lembrado e, em 7 de junho, na convenção do PRP
municípios do interior e casos de peste bubô- designado o candidato do partido. Em 1o de março
nica em Santos, porto de entrada dos imigran- de 1918, pela segunda vez, foi eleito presidente da
tes. Como medida complementar para prevenir o República.
saneamento, criou o Instituto Butantã e o serviço Entretanto, desde o final de 1917, a saúde
de higiene pública estadual dirigido pelo sanita- de Rodrigues Alves mostrava-se, a cada dia,
rista Emílio Ribas. mais fragilizada. Em novembro de 1918, uma
Em 1902, com o apoio de Campos Sales, epidemia de gripe espanhola atingiu o Brasil,
venceu pela primeira vez as eleições à presidên- causando um grande número de mortes.
cia da República. Este mandato como presidente O presidente, com a saúde já debilitada, foi
da República chegou ao fim em 1906, seu candi- acometido pela doença e não pode tomar posse
dato Bernardino de Campos, também paulista e em 15 de novembro. Em seu lugar assumiu o vice-
republicano histórico foi derrotado pelo mineiro presidente Delfim Moreira.
Afonso Pena. Segundo o preceito constitucional, novas
Embora ovacionado pela população, Rodrigues eleições foram convocadas para 13 de abril daquele
Alves deixou o governo sem força política, retor- ano, oportunidade em que foi eleito o paraibano
nando para Guaratinguetá. Cinco anos depois, foi Epitácio Pessoa.
eleito presidente do Estado de São Paulo, tomando Rodrigues Alves faleceu no Rio de Janeiro, no
posse em 1o de março de 1912. dia 16 de janeiro de 1919.

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NA TRIBUNA projeto aprovado instituindo o ensino obrigatório um desfalecimento do rigor da teoria, quando
na Província. se sustenta que o princípio é revolucioná-
Rodrigues Alves na tribuna da Assembleia rio, que os socialistas e comunistas procuram
O Sr. RODRIGUES ALVES (PC) – Sr. sempre inseri-lo em seus cartazes, e mais tarde
Provincial de São Paulo Presidente, a ideia do ensino obrigató- levantam-se as mesmas vozes para sustentar
rio tem sido sustentada em quase todas as que essa mesma teoria, que essa mesma ideia
Rodrigues Alves pronuncia seu primeiro essa energia moral, esses aplausos tão lisonjeiros nações do velho mundo, e em muitas nações existe consagrada nas nossas leis civis!
discurso posicionando-se favoravelmente à com que somos recebidos em todo o Império! americanas. (...)
aprovação do projeto de concessão de privilégios e V. Exa. sabe que não correm serenos os horizon- O ilustrado deputado, V. Exa sabe que luta tem-se
garantia de juros sobre o capital para a construção tes da lavoura; de uma crise mais ou menos assus- a quem tenho a honra travado no mundo para se
de uma estrada de ferro de Campinas a Mogi- tadora dizem que somos ameaçados a cada passo. de responder, nos a instrução não é direito mostrar que o Estado não
mirim, com ramal Amparo. Se a lavoura tem de passar por uma transformação
mais ou menos sensível, nós, os representantes da
disse com todas as
frases e entusiasmo: a
privado, não é direito dos deve ter intervenção em
matéria de instrução pública;
“O Sr. RODRIGUES ALVES (PC) – Em que província, não devemos cruzar os braços diante ideia do ensino obri- pais, é um interesse de ordem mas tem triunfado sempre o
pese aos ilustres impugnadores do projeto, eu o desse espetáculo que se nos apresenta; devemos gatório é revolucioná- pública mais reservado, do princípio da intervenção.
encaro como um poderoso elemento de grande antes procurar meios de remediar os males que ria, e eu tenho medo Os escritores que tratam
prosperidade para a província. têm retardado o seu florescimento. Como repre- de uma ideia que anda
qual o Estado deve cuidar, e desta matéria, e que a estu-
Quando alheio ainda às lutas da política, eu já sentantes da província seremos quase criminosos sempre associada aos cujo desenvolvimento tem dam profundamente, assim
olhava com verdadeira simpatia o movimento senão o fizermos. E, sabe V. Exa. quais as causas movimentos comu- necessidade de promover como Cousin, Hippeau,
industrial que se operava na província: cada que têm retardado a prosperidade da lavoura? Eu nistas e socialistas! Guizot, Laveleye e outros,
ideia que se levantava sob a influência da inicia- o direi: falta de braços pelo desaparecimento do (...) todos dizem que a missão
tiva individual, cada concepção que se refletia elemento servil: falta de instituições de crédito Mas, vejam, eu tenho ideia de que esse infeliz do Estado é proteger a pessoa e propriedade do
o espírito de empresa ou de associação, trazia que proporcionem à lavoura capital e prazos monarca Maximiliano inaugurou seu governo cidadão; todos eles exclamam com entusiasmo
a minha alma um certo contentamento e orgu- amplos, com juros moderados: falta, enfim, que no México por uma circular em que reco- que nenhum perigo maior ameaça o direito à
lho; à minha alma que ainda sabe expandir-se temos necessidade de remediar, de um sistema de mendava a seus ministros a instrução pública, propriedade do cidadão, do que a ignorância, mãe
às contemplações de um futuro que lhe parece vias de comunicação. gratuita e obrigatória. Eu me lembro que no de todos os vícios, origem de todos os crimes. E
lisonjeiro. (...) ano passado a Prússia, depois das vitórias afirmam que os progressos da instrução farão os
Hoje, no seio da representação provincial, É mister, senhores, a inauguração de um sistema alcançadas sobre o infeliz império francês, delitos decrescer. Dizem: difundem a instrução e
devendo tomar parte nos debates que se tem completo de viação, que estabeleçamos rápidas mandou estender a lei do ensino obrigató- o crime diminuirá: poupa-se em prisões o que se
aventado, eu hei de sempre concorrer com meu comunicações entre os centros de produção e os rio às províncias conquistadas da Alsácia e despende em escolas!
voto para tudo quanto for a bem do engrandeci- mercados consumidores. Deve ser este o nosso Lorena. Eu me recordo ainda que em França, Se é verdade este princípio, Sr. Presidente, que a
mento da província. mais desvelado empenho. Se isto não fizermos espíritos pacíficos, espíritos que não são revo- intervenção do Estado é necessária em matéria
V. Exa viu o nobre deputado residente em seremos responsáveis por todos os prejuízos lucionários, têm sustentado, com insistência, a de instrução e tem sido reconhecido em todos
Guaratinguetá dizer ontem, no recinto desta que vierem à lavoura. ideia do ensino obrigatório. os países cultos, nós devemos a esta conclu-
assembleia, com linguagem sombria e terrível, Por consequência, em preliminar, eu direi: nós, Se isso é verdade, só porque este princípio são: que a instrução não é direito privado, não
que nós não cogitamos do bem da província, que não podemos chamar de pronto os braços anda um ou outra vez ligado aos movimen- é direito dos pais, é um interesse de ordem
e, mineiros de ruínas, com uma enxada fatal, estrangeiros para cultivarem nossas terras, deve- tos revolucionários, não podemos sustentar a pública mais reservado, do qual o Estado deve
cavamos o abismo em que ela há de precipitar-se. mos aproveitar os braços inertes e vadios que tese que o ensino obrigatório seja uma ideia cuidar, e cujo desenvolvimento tem necessi-
(...) andam pelos nossos centros e cidades.” revolucionária. dade de promover.”
É preciso, sr. Presidente, que sacudamos esses [Anais da Assembleia Legislativa Provincial de Os deputados que sustentam com tanto afã [Anais da Assembleia Legislativa Provincial do
terrores financeiros, porque eles nos podem São Paulo, 25a Sessão Ordinária, em 8 de março o princípio contrário ao ensino obrigatório, Estado de São Paulo – 14a Sessão Ordinária, em
acabrunhar; é preciso que tenhamos fé no de 1872] parecem cair em uma espécie de contradição 28 de fevereiro de 1873]
futuro, que tenhamos coragem, que nossas quando dizem que não o devemos aceitar, e, no
ideias se acalmem, enfim, para que a província Sua atuação de maior abrangência relacio- entanto, afirmam que ele existe consagrado em Ao posicionar-se em relação às loterias mensais,
possa caminhar desassombrada, e não percamos nou-se à educação. Rodrigues Alves apresentou nossas leis! Parece-me, Sr. Presidente, que há discutiu longamente problemas de Direito

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Constitucional, questionando a competência da loterias por espaço de 30 anos: não há privilégio eficaz. Se a lavoura entre nós prospera, como [Anais da Assembleia Legislativa Provincial
Assembleia Provincial para legislar sobre a matéria. mais caracterizado!” geralmente se diz nesta Casa, opinião que não de São Paulo – 31a Sessão Ordinária de
[Anais da Assembleia Legislativa Provincial partilho, e queremos beneficiá-la, reduzamos os 07 de abril 1874]
O Sr. RODRIGUES ALVES (PC) – Sr. presi- de São Paulo – 30a Sessão Ordinária de impostos que sobre ela pesam e as dotemos com
dente, fazendo parte da Comissão de Constituição 30 de março 1874] boas estradas; mas não vamos por amor a ideias Discursou sobre garantias de juros e vanta-
e Justiça, que elaborou este parecer, concluindo populares, e mal ensaiadas conceder-lhes auxí- gens, que estavam sendo concedidas às empresas
pelo projeto que se discute, e tendo-me assinado Rodrigues Alves esclareceu seu posicionamento lios quase insignificantes e que trarão benefícios ferroviárias.
– vencido – corre-me o dever de expor, sintetica- em relação ao problema da mão-de-obra e incen- secundários.
mente, à consideração da Casa os fundamentos em tivo à lavoura. O governo geral protege consideravelmente O Sr. RODRIGUES ALVES (PC) – Sr.
que me embasei para não aceitar o referido projeto. a associação Auxiliadora da Colonização e Presidente, vejo a Casa inclinada a aceitar o
V. Exa. tem visto o meu modo de pensar RODRIGUES ALVES (PC) – A primeira Imigração desta província. Pelo decreto de 13 de projeto tal qual elaborado pelas Comissões de
relativamente à concessões feitas a indiví- vez que se discutiu este projeto, tive ocasião junho de 1873 foram concedidos favores impor- Obras Públicas e Fazenda. Assim, creio que
duos certos e determinados, com caráter de de fazer breves reparos às ideias nele conti- tantíssimos a esta associação. minhas emendas terão a infelicidade de não
privilégio, como mantém-se no art. 1 o deste das, entendendo que estas eram uma repro- (...) serem aceitas pelos nobres deputados.
projeto. dução do que já existe na lei provincial no. 42, Quando mesmo este projeto não fosse uma repro- (...)
Entendo que a assembleia provincial não pode de 1871. dução de ideias já existentes em lei, ainda assim o Os deputados que me precederam na
legalmente conceder privilégios desta ordem a Dizia eu que, por essa lei, estava o governo auxílio seria ineficaz para proteger a lavoura. Tribuna falaram sobre as vantagens teóricas
indivíduos certos e determinados, visto como, autorizado a emitir apólices até a quantia de (...) das estradas de ferro e neste ponto eu os
assim procedendo, exorbita a esfera do poder seiscentos contos para favorecer a coloniza- A segunda parte do projeto encerra matéria acompanho. As estradas são realmente
executivo provincial. ção e aos lavradores pequenos da província, muito importante e que tem levantado certo poderosos elementos de progresso e de
Além disso, sr. Presidente, a utilidade das loterias pois que autorizava o governo a conceder clamor na imprensa da capital: cria o imposto civilização. Mas, o que é certo é que a
sofre sérias contestações; o plano que vigora no passagem gratuita aos colonos menores de 10 de 500$ sobre todo e qualquer escravo que for teoria, em matéria de estradas de ferro,
Império é defeituoso, e V. Exa. não ignora que anos e a dar auxílio aos maiores desta idade averbado na província. tem falhado na Província. Os cálculos não
o ano passado se autorizou o governo federal a até 50 anos. Quando falei sobre o projeto em 1a discussão, têm correspondido às expectativas dos
estabelecer um novo plano que melhor consulte O ilustre autor do projeto que se discute, em achei exagerado esse imposto; hoje começo a particulares, que empenham seus capitais,
os interesses públicos. contestação às proposições por mim emitidas, duvidar de nossa competência para criá-lo. A já a da Assembleia que concede garantia de
O presente projeto inspirou-se no regulamento sustentou que este encerra matéria estranha à Assembleia Provincial não pode tributar obje- juros.
existente, que necessita de modificações, como da lei já citada, e que a dificuldade mais persis- tos sobre os quais já pesam tributos gerais. O (...)
todos sabem. tente da lei de 1871 era justamente a emissão de Sr. Visconde de Uruguai examinado esta maté- A ideia que deve predominar no espírito da
(...) apólices; que estas não encontrarão tomadores ria, e mostrando o grande caos que existe em casa, é de cautela, prudência e calma na apre-
Quero apenas manifestar à Casa as razões pelas na província, porque, havendo imensas empre- nossas leis gerais e provinciais em assunto de ciação dessa matéria. Os pontos apresentados
quais não aceitei o projeto. sas com ações promissoras de grandes lucros, impostos, pergunta se nós, legisladores provin- por mim como emendas não podem emba-
Em primeiro lugar, o plano de loterias é defei- os lavradores e os capitalistas irão preferi-las às ciais, podemos tributar objetos já tributados raçar o levantamento do capital preciso para
tuoso entre nós; há várias leis concedendo apólices. pelo poder geral, e sustenta a tese negativa em conclusão dos ramais da linha Ituana. Se há
loterias para fins diversos, que não têm sido Discordo completamente da opinião do meu absoluto. essa crença certa, infalível, de que os ramais
executadas. ilustre colega. Se aceitarmos a ideia consagrada neste artigo terão rendimento necessário para não só cobri-
Demais, temos a questão de inconstituciona- V. Exa. sabe, sr. Presidente, que, com a abundân- do projeto, teremos criado atribuições para rem as despesas de custeio, como para remu-
lidade, porque entendo que a assembleia não cia de concessões de privilégios por parte desta empregos gerais, porque a averbação de escra- nerar os capitais empregados; se é certo, como
pode conceder privilégios desta ordem a pessoas Assembleia para essas empresas, as ações têm vos é um ato que se regula por lei geral e dizem os nobres deputados, que, o rendimento
certas e determinadas. caído em desprestígio. que é exercido no interior pelos coletores de dos ramais irá fazer com que a garantia da
Não se diga, sr. Presidente, que o projeto não (...) rendas gerais. Ora, como há de a Assembleia Província, quanto à linha principal, diminua,
encerra um privilégio, como tenho ouvido de Entendo, Sr. Presidente, que a ideia principal Provincial criar um imposto que vai estabe- quem são os apreciadores dessa verdade, quem
alguns colegas. O projeto realmente não fala, do projeto é importantíssima – auxílio à colo- lecer obrigações a empregados gerais e, além deve estar de posse dos conhecimentos neces-
não usa da expressão privilégio; mas dá ao nização, e por conseguinte à lavoura: mas creio disso, dificultar a prática de atos regulados por sários para fazer crer que a linha está realmente
concessionário concessão exclusiva para extrair que podemos auxiliar a lavoura de modo mais lei geral?” nessas condições?

10 Acervo Histórico 11
Não são os homens que dão seus capitais, os Elementos desordenados reúnem-se nas pessoas LIVROS DO ACERVO
fazendeiros que residem nessas localidades, dos ministros! Desde os princípios mais acanha-
nesses centros de população e de riqueza? Não dos do liberalismo até as ideias mais adiantadas Flauta de Papel, e outras obras raras do Acervo
têm eles razões mais do que nós de saber que da democracia pura, existem representados nos
podem empenhar seus capitais sem temor? conselhos da coroa! Histórico
[Anais da Assembleia Legislativa Provincial de Que programa existe a realizar, que ideias vão
São Paulo – 11a Sessão Ordinária, em 11 de ser preenchidas por esse governo em satisfação
março de 1875] das necessidades do país!
Há um sobressalto no espírito público, há um
Em 25 de março de 1878, durante a discus- estremecimento na consciência dos homens que
são do projeto de lei orçamentária, Rodrigues fazem parte deste desventurado país! Parece que FLAUTA DE PAPEL
Alves formulou longo, veemente e fundamentado um elemento traiçoeiro se inculca nos conselhos O livro reúne crônicas de Manuel Bandeira
pronunciamento. da coroa! Parece que um elemento contrário às publicadas, em sua maioria, no Jornal do Brasil.
instituições do país insinua-se nas altas regiões Nas palavras do próprio Bandeira, “simples bate
O Sr. RODRIGUES ALVES (PC) – Deve do poder para trabalhar jeitosa, mas traiçoei- papo com amigos”, as crônicas revelam um painel
estar satisfeita, Sr. Presidente, a minoria liberal; ramente contra as mesmas instituições! Com cultural, político e de costumes, especialmente do
deve estar satisfeito o partido liberal da provín- calma, senhores, examinemos os atos que defi- Rio de Janeiro na década de 50. Bandeira, um dos
cia, se a paixão partidária não escurecer a justa nem a atual situação! maiores autores da literatura brasileira, foi profes-
apreciação dos fatos! [Anais da Assembleia Legislativa Provincial de sor, poeta, crítico de arte e historiador literário.
Fiel a sua índole e às suas ideias, fiel às suas São Paulo – 25a Sessão Ordinária, em 15 de Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL)
gloriosas tradições, o partido conservador março de 1878] fez parte da primeira geração modernista no Brasil.
desta Assembleia não nega ao governo da O exemplar contém uma dedicatória do autor para
província as condições necessárias de exis- REFERÊNCIAS: o Embaixador Macedo Soares:
tência – as leis de força pública e orçamento Anais da Assembleia Legislativa Provincial “Ao bom amigo Embaixador J. P. Macedo Soares, com
provincial. de São Paulo: 19a Legislatura – 1872/1873; o melhor de M. B. 1957”
Falo, sr. Presidente, com constrangimento; falo 20a Legislatura – 1874/1875; 22a Legislatura
por um movimento enérgico de patriotismo, – 1878/1879.
por um verdadeiro devotamento, porque o FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Rodrigues
partido conservador não espera do presidente Alves: apogeu e declínio do presidencialismo
da província nem mesmo o cumprimento da / Afonso Arinos de Melo Franco. – Brasília:
lei! Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. 2v.: il.,
Falo, senhores, porque não quer usar mal das retrs. – (Coleção Biblioteca Básica Brasileira) 1.
atribuições que lhe foram conferidas pelo Ato Presidente, Brasil. 2. Política e Governo, Brasil. I.
Adicional! E, partido de ordem, não quer preco- Alves, Rodrigues. II. Título. III. Série.
nizar um sistema que pode ser considerado https://www.al.sp.gov.br/acervo-historico/.
como anárquico. Acesso em 20 de setembro de 2019.
(...) https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/
Eu não sei, sr. Presidente, se mais me admiro ve r b e t e s / p r i m e i r a r e p u b l i c a / A LV E S % 2 0
das afoitezas com que censuram diariamente os FILHO,%20Rodrigues.pdf. Acesso em 24 de
atos da situação decaída, ou se do arrojo com setembro de 2019.
que se quer fazer acreditar ao país que entra- https://acer vo.estadao.com.br/noticias/
mos em um verdadeiro período de regeneração. personalidades,rodrigues-alves,571,0.htm. Acesso
Faz-se o silêncio em torno do governo! Nem em 24 de setembro de 2019.
uma palavra desce das alturas para alentar os https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/
espíritos desanimados. id/1053. Acesso em 25 de setembro de 2019

12 Acervo Histórico 13
PRAELECTIONUM JURIS CIVILIS: SECUNDUM HISTOIRE DE LA GUERRE DES JUIFS CONTRE
INSTITUTIONES ET DIGESTA JUSTINIANI: LES ROMAINS (1670)
ACCEDUNT CHRISTIANI THOMASII (1749) A obra é uma das mais famosas fontes primá-
Publicado no ano de 1749, em Frankfurt rias históricas das revoltas judaicas, de 66 d.C. a
e Leipzig, a obra é uma reedição do Código 70 d.C. Traduzido do grego pelo francês Robert
Justiniano (versão compilada de leis romanas do Arnauld d’Andilly. Poeta, escritor e tradutor foi
séc. VI d.C.) feita pelo jurista holandês Ulrich conselheiro de Estado na época da corte de Maria
Huber, originalmente por volta de 1672. O autor de Médici, rainha consorte da França. A edição foi
foi um grande expoente na área jurídica, influen- impressa na tipografia de Pierre Le Petit, tipógrafo
ciando o direito inglês, tendo como repertório o do Rei Luís XIV, em 1670.
Direito Romano. Esta quarta edição traz a contri-
buição dos juristas alemães Christian Thomasius
e Lüder Mencke. Sua publicação exigiu permissão
do imperador Carlos VII.

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AMOR DE PERDIÇÃO – MEMORIAS
D’UMA FAMÍLIA (1891)
Amor de Perdição publicado pela
primeira vez em 1862 é considerado
o primeiro best-seller português.
Possivelmente impressa em 1891, a
edição do Acervo Histórico contém
estudos especiais e desenhos de página
inteira, de J. J. de Souza Pinto, Caetano
Moreira da Costa Lima e José de
D`Almeida e Silva. Como o drama de
Romeu e Julieta, a obra focaliza dois
apaixonados que têm como obstáculo
para a realização amorosa a rivalidade
entre as famílias. A ação se passa em
Portugal, no século XIX. Camilo
Castelo Branco escreveu a obra em
um período de 15 dias, enquanto
estava preso por adultério. O narra-
dor diz contar fatos ocorridos com
seu tio Simão, mas há quem diga que
a obra foi inspirada em suas próprias
desventuras.

Assembleia Legislativa e UNESP celebram convênio


A Mesa Diretora da Assembleia Legislativa autorizou, em 06 de dezembro de 2019, a celebração
de Convênio entre a ALESP e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
UNESP, sem quaisquer ônus financeiros, com a finalidade de promover a mútua colaboração para
a realização de estudos e pesquisas, consultorias, conferências, publicações, cursos e programas
de capacitação, realização de estágios e quaisquer outras atividades julgadas de interesse das
partes. Tais ações acontecerão via planos de trabalho elaborados em parceria entre o Centro de
Documentação e Memória – CEDEM e a Divisão de Acervo Histórico, responsável pela guarda
e conservação dos documentos permanentes da Assembleia.

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