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Para além do parentesco: discussões metodológicas para o estudo da trajetória

social de um grupo familiar (São Francisco de Paula de Pelotas, 1780-1830)

Rachel dos Santos Marques

Esta comunicação é fruto de uma pesquisa de mestrado, ainda em andamento,


que tem como objetivo investigar a trajetória social de um determinado grupo familiar
que viveu e atuou em São Francisco de Paula/Pelotas no início do século XIX. Busca-se
perceber as estratégias estabelecidas e as alianças formadas pelos integrantes desse
grupo com a perspectiva de adquirir, manter e ampliar prestígio, privilégios e recursos.

Por grupo familiar entende-se não somente uma família nuclear, mas o conjunto
de parentes não co-residentes que formam uma parentela. Trata-se dos descendentes das
filhas e genros do casal Antônio Furtado de Mendonça e Isabel da Silveira, que, em
meados do século XVIII e início do século XIX, eram proeminente política, econômica
e socialmente.

Entretanto, a designação “grupo familiar” traz algumas implicações. A


existência de uma família pressupõem uma série de relações – entre marido e mulher,
pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, sogros e genros/noras etc.). O mesmo se dá
com o parentesco espiritual (pais e filhos, batizando e padrinho, compadres). Porém, a
identificação desses laços indica apenas isso: a existência de uma família, consangüínea
e/ou espiritual. Para que uma família possa ser entendida enquanto grupo se faz
necessária a identificação de outros tipos de relação, que aproximem seus membros
entre si e contribuam para que os mesmos adquiram ou mantenham recursos sociais, ou
que, no mínimo, cumpram seu papel na busca da diminuição das incertezas com relação
aos dias que virão. Também é preciso identificar estratégias1 utilizadas pelo grupo para
uma manutenção da posição social. Caso contrário far-se-ia apenas um inventário de
relações, sem que as mesmas significassem mais do que sua própria existência.


Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, Bolsista
pelo Programa REUNI.
1
Toma-se aqui a definição de estratégia segundo Bourdieu: estratégia “é o produto do senso prático como
sentido do jogo, de um jogo social e particular, historicamente definido, que se adquire desde a infância,
participando das atividades sociais. [...] O bom jogador, que é de algum modo o jogo feito homem, faz a
todo instante o que deve ser feito, o que o jogo demanda e exige. Isso supõe uma invenção permanente,
indispensável para se adaptar às situações indefinidamente variadas, nunca perfeitamente idênticas. O que
não garante a obediência mecânica à regra explicita codificada (quando ela existe)”. BOURDIEU, Pierre.
Da regra às estratégias. In: Coisa Ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
Não se pretende sugerir, no entanto, que o que está sendo chamado aqui de
grupo familiar configure um todo homogêneo e livre de conflitos. Divergências e
conflitos internos não só existem como devem ser levados em conta, sob pena de uma
análise distorcida da realidade social. Tampouco sugere-se que as estratégias utilizadas
sejam totalmente conscientes, necessariamente bem sucedidas ou existindo de modo
isolado do restante da sociedade. Pensa-se tais estratégias como existindo no contexto
de um racionalidade limitada de seus agentes. Segundo Giovanni Levi

Uma racionalidade seletiva e limitada explica os comportamentos individuais


como fruto do compromisso entre um comportamento subjetivamente
desejado e aquele socialmente exigido, entre liberdade e constrição.2

Essas discussões sobre funcionamento de grupo estão sendo feitas tendo em


vista os descendentes do casal Antônio Furtado de Mendonça e Isabel da Silveira,
oriundo da ilha do Faial, freguesia de São Salvador da Vila da Horta. As cinco filhas do
casal vieram com seus pais para o Rio Grande de São Pedro ainda solteiras, e nesta
localidade casaram-se em meados do século XVIII. Todas elas mantiveram ao longo da
vida o uso do sobrenome “Silveira”, recebido por linhagem materna, o qual foi em
muitos casos utilizado por suas filhas e netas e, em menor número, por seus filhos e
netos.3 Além disso, as cinco irmãs já eram, desde sua chegada ao continente, referidas
enquanto “Dona”.

Dona Maria Antônia da Silveira, a mais velha das cinco irmãs, casou-se com
Mateus Inácio da Silveira, que provavelmente era parente de sua mãe. Mateus Inácio,
natural da Ilha do Faial, Freguesia de São Salvador, obteve a patente de capitão de Mar-
e-guerra ad honorem por ter debelado uma rebelião de índios a bordo de uma sumaca 4.
Foi duas vezes eleito para o cargo de juiz ordinário na câmara de Viamão. Dona Maria
Antônia e Mateus Inácio tiveram pelo menos cinco filhos.5

Dona Izabel Francisca da Silveira casou-se com Manuel Bento da Rocha,


natural da Freguesia de São João Batista do Arcebispado de Braga. De lá, Bento da

2
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 2000
3
Foi através da repetição desse sobrenome em registros de óbitos de escravos que acabei percebendo a
atuação dessa família em São Francisco de Paula no período e que, portanto, a escolhi como objeto de
pesquisa. Agradeço ao Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães a pergunta que me permitiu esclarecer este
ponto durante o debate.
4
Pequena embarcação de origem holandesa que servia à navegação interna.
5
HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar Calor à Nova Povoação: estratégias sociais e familares na
formação da Vila do Rio Grande através dos Registros Batismais (c.1738-c.1763), 2006, Tese.
Rocha veio para o Rio de Janeiro, e depois para o Rio Grande de São Pedro no final da
década de 1740. Foi Capitão Mor da Vila do Rio Grande, Capitão das Ordenanças e
ganhou preferência para a nomeação de Capitão da Nobreza dos Auxiliares de Viamão.
Foi vereador em Viamão, contratador dos Açougues e recebeu sesmarias. Possuía terras
em sociedade com Francisco Pires Casado, seu cunhado, na freguesia do Triunfo, com
cerca de 8.000 animais vacuns e 700 cavalares. Consta que possuía ainda dois rincões,
onde teria 12.000 vacuns, 4.600 cavalos e éguas e 1160 burros e burras, porém tais
informações não estão confirmadas.6 Em 1799 comprou da viúva do Tenente Coronel
Tomás Luis Osório, Francisca Joaquina de Almeida Castelo Branco, a chamada
Sesmaria de Pelotas.7 O casal não teve filhos.

Dona Ana Inácia da Silveira era casada com Manuel Fernandes Vieira. Natural
da Freguesia de Fonte da Arcada, Arcebispado de Braga, Fernandes Vieira deve ter
chegado no continente de São Pedro por volta de 1751. Foi Sargento-Supra e Capitão da
Ordenança, Camarista na Vila do Rio Grande e três vezes vereador e Viamão. Era
arrematador de contratos régios, seguidamente em sociedade com seus cunhados. 8 O
casal teve provavelmente sete filhos.

Dona Mariana Eufrásia da Silveira casou-se com Francisco Pires Casado,


natural Santa Luzia, Ilha do Pico. Pires Casado foi Capitão de Ordenanças e três vezes
vereador em Viamão. Possuía terras e animais em sociedade com Manuel Bento da
Rocha, supracitado. Tiveram nove filhos.

Dona Joana Margarida da Silveira casou-se pela primeira vez com Antônio
Moreira da Cruz. Não se sabe ao certo sua procedência, mas Moreira da Cruz parece ser
natural da mesma localidade e ter feito o mesmo caminho de Manuel Bento da Rocha,
alguns anos antes deste.9 Era Sargento de Dragões, mas foi exonerado do posto por dar
azo à fuga de um prisioneiro e de índios recolhidos à fortaleza da recém-criada Vila de
Rio Grande de São Pedro. Antônio Moreira da Cruz faleceu em 1776. Viúva, dona
Joana Margarida casou-se com o também viúvo Domingos Gomes Ribeiro (filho).
Natural do Rio Grande, Gomes Ribeiro foi Sargento-mor de Ordenanças e Camarário

6
HAMEISTER, Op. Cit.
7
GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas e Olarias. Um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas:
Editora Universitária/UFPel; Livraria Mundial,1993.
8
COMISSOLI, A. Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808), 2006, Dissertação.
9
Comissoli, Op. Cit.
em Viamão por cinco vezes. Possuía uma fortuna considerável em terras e animais.
Dona Joana Margarida não teve filhos com nenhum de seus maridos.

Essa extensa família estabeleceu-se e/ou atuava na Vila de Rio Grande até a
ocupação espanhola da Vila em 1763, quando parte de seus moradores deslocou-se para
Viamão. Percebe-se a presença das irmãs Silveira e de seus maridos em Viamão, e,
posteriormente, em Porto Alegre, nos registros de batismos das referidas localidades,
onde aparecem algumas vezes como pais ou avós de batizandos, e seguidamente como
padrinhos. Com a retomada da Vila de Rio Grande em 1776, muitos membros dessa
extensa família retornam à localidade, retomando a posse de terras de que eram
proprietários.10

Como se pode perceber, os maridos das irmãs Silveira eram figuras


proeminentes na sociedade sulina da segunda metade do século XVIII. Eram
comerciantes, detentores sesmarias de grandes proporções, de grandes rebanhos de
gado, de cargos de governança da república, de patentes militares, de contratos. E,
principalmente, possuíam negócios e terras em sociedade, alternavam-se em cargos da
Câmara de Viamão/Porto Alegre, possuíam patentes nas mesmas companhias. Esse
homens, juntamente com outros atores do mesmo contexto, formaram o que Adriano
Comissoli e Fábio Kühn chamaram de bando dos cunhados. Por bando ou parcialidade,
entende-se o grupo formado por pessoas que estabeleciam relações políticas,
econômicas e sociais (sejam elas familiares, de compadrio ou outras), que tinham
interesses em comum, e que também usavam a esfera política para a concretização
desses interesses.

Para além das relações de cunho político e econômico, os laços entre os


membros do bando eram seguidamente reiterados e sacralizados através do compadrio.
Hameister analisa os compadrios estabelecidos através dos batismos dos filhos dos
casais Manuel Fernandes Vieira e Dona Ana Inácia da Silveira; Mateus Inácio da
Silveira e Dona Maria Antônia Silveira; Francisco Pires Casado e Dona Mariana
Eufrásia. Os padrinhos eram cunhados dos pais das crianças, ou gente de estatuto social
10
Percebe-se a presença desses casais e seus descendentes em São Francisco de Paula através de registros
de batismo, casamento, óbito e óbito de escravos (nos quais aparecem seguidamente como proprietários).
Encontrou-se, mais especificamente, referências aos casais Mariana Eufrásia da Silveira e Francisco Pires
Casado, Maria Antônia da Silveira e Mateus Inácio da Silveira e Izabel Francisca da Silveira Manuel
Bento da Rocha. Os descendentes de Ana Inácia da Silveira e Manuel Fernandes Vieira, ao que tudo
indica, permaneceram em Porto Alegre. Izabel Francisca da Silveira e Manuel Bento da Rocha não
tiveram filhos, assim como Joana Margarida da Silveira com seus maridos.
semelhante. As madrinhas, quando havia, eram sempre cunhadas dos pais. Assim, a
autora considera

todas as famílias derivadas de Antônio Furtado de Mendonça como sendo


uma única e extensa família, haja vista as reiteradas ocasiões em que
demonstravam suas afinidades e alianças, fossem elas nos negócios, nos
matrimônios, nos compadrios ou mesmo em eventos sociais e religiosos.11

Os trabalhos referidos fornecem elementos para que se possa entender essa


“primeira geração” (filhas e genros do casal Antônio Furtado de Mendonça e Isabel da
Silveira) enquanto um grupo familiar.

Entretanto, considerando os aspectos a) de as relações entre os atores não serem


constantes ao longo do tempo e, b) do objeto de estudo da pesquisa em andamento ser
os descendentes dessa primeira geração – mais especificamente os descendentes que,
entre o final do século XVIII e o início do XIX, envolveram-se com a produção do
charque na freguesia de São Francisco de Paula, atual Pelotas-RS – é preciso avaliar se
existe, nesse novo momento, um funcionamento de grupo.

Para investigar se as novas gerações dessa família podem seguir sendo tratadas
enquanto grupo está sendo feito um levantamento das relações estabelecidas entre eles,
e de estratégias sociais utilizadas por seus membros. Existem já alguns elementos,
alcançados através da análise de testamentos e inventários de alguns membros da
família, que permitem elaborar algumas hipóteses.

Dona Izabel Francisca da Silveira faleceu em 1822. Não tendo filhos, pôde
dispor de seus bens12, entre eles a sesmaria de Pelotas, que foi comprada por seu
falecido marido em 1799 e onde “Dona Isabel de Pelotas” vivera seus último anos.
Essas terras foram deixadas em testamento a duas sobrinha-netas e afilhadas suas, a
saber, Dona Dorotheia Izabel da Silveira e Dona Maria Regina da Fontoura13.

11
HAMEISTER, Op. Cit.
12
Ainda que Izabel Francisca tivesse filhos, a legislação portuguesa permitia que ela legasse livremente a
terça parte de seus bens. No entanto foram privilegiados nessa análise os testamentos de mulheres sem
herdeiros obrigatórios, já que a inexistência dos mesmos coloca em evidência as escolhas feitas por essas
mulheres ao legarem seus bens. Agradeço à Prof.ª Dr.ª Teresa Novaes Marques pelo questionamento
nesse sentido.
13
GUTIERRES, Op. Cit. O referido testamento, embora tenha sido citado por Gutierrez e por outros
autores, em nenhum dos casos foi referenciado, e até o momento não foi possível encontrá-lo. Entretanto,
a doação referida é comentada no testamento de João Duarte Machado, testamenteiro de Izabel Francisca
da Silveira. Arquivo Público do Rio Grande do Sul (APRGS), INVENTÁRIO de João Duarte Machado,
1828, Pelotas, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, E 40, M10, N123
Dona Izabel Francisca compareceu à pia Batismal como madrinha pelo menos
mais 37 vezes. Desses, seis eram batismos de seus sobrinhos ou sobrinhos-netos:
Manuel, Maurício, Ana, Inácio, Inácio e Francisco.14 No entanto, parecem ter sido
privilegiadas aquelas duas afilhadas, embora isso não possa ser afirmado com certeza
devido à impossibilidade de acesso ao testamento.

As duas irmãs, afilhadas de Izabel Francisca, eram casadas respectivamente com


João Simões Lopes e João Duarte Machado. Nas terras herdadas esses dois casais e/ou
seus descendentes formaram charqueadas15, e portanto participaram da produção e
comercialização de um dos produtos mais importantes na economia do Rio Grande de
São Pedro no século XIX.

Da parcela que cabia à Dona Maria Regina da Fontoura e João Duarte Machado,
uma parte, já com as benfeitorias que configuravam uma charqueada, foi dada em dote à
Maria Augusta da Fontoura, em seu casamento com Joaquim José Assumpção. Além
disso, João Duarte Machado, ao falecer, deixou em testamento, da terça que lhe cabia
designar, oitocentos mil réis a uma de suas netas, também chamada Maria Augusta da
Fontoura.

Existiu nessa família pelo menos mais uma Izabel Francisca da Silveira. Filha de
Dona Mariana Eufrásia da Silveira e Francisco Pires Casado, e portanto sobrinha de sua
parente homônima, Isabel Francisca faleceu solteira e sem filhos, e pôde, como sua tia,
dispor livremente de todos os seus bens.

[...] Declaro que tendo sempre vivido no estado de solteira, não tendo
herdeiros ascendentes ou descendentes disponho dos bens que possuo nesta
cidade constando elles de terrenos medidos e demarcados judicialmente e
humma morada de cazas pela maneira seguinte. Declaro deixar a cada huma
de minha sobrinhas, Anna e Gertrudes, filhas de meu Irmão Ignacio Antonio
Pires dez braças de terreno de frente com vinte de fundos na quadra que
possuo entre as ruas de Fabianno Pinto e Rolim. Declaro deixar as
remanescentes da mesma quadra ao referido meu Irmão Ignacio Antonio
Pires. Declaro deixar á meu sobrinho e afilhado Alixandre Ignacio Pires, a
quadra de terrenos que possuo entre as ruas das Flores, e Augusta, bem como
a propriedade de cazas que possuo nesta cidade. [...] Declaro que de todo o

14
ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE. Livros 1o, 2o, 3o e 4o de Batismos da
Vila do Rio Grande 1738-1763; ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE:
Conta-se com a transcrição resumida dos três primeiros livros de batismo, efetuada pela equipe
coordenada pelo prof. dr. Fábio Kühn; ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS: Primeiro
Livro de Batismos de São Francisco de Paula, 1812-1825.
15
Chaqueadas eram estabelecimentos de produção de charque: constituindo-se de carne desidratada
através da salga e exposição ao sol, o charque era elemento base na alimentação de escravos e era
exportado principalmente para o Rio de Janeiro, a Bahia e Pernambuco.
mais terreno que possuo e me possão pertencer constituo por herdeira delle a
á minha sobrinha Maria [Felicissima] de Carvalho, pelo bem que lhe quero, e
agazalho que me tem dado por muitos annos. [...]

Parece, então, haver nessa família um certo privilegiamento das mulheres no


repasse de bens. É preciso, entretanto, avançar na investigação para que essa hipótese,
elaborada a partir desses dados, possa ser testada.

Outro fator que chama a atenção é o caso dos homônimos femininos. Foi
possível identificar, até agora, duas Izabel Francisca da Silveira (tia e sobrinha), duas
Maria Augusta da Fontoura (mãe e filha ou tia e sobrinha, não foi possível determinar),
duas Joana Margarida (tia e sobrinha), além das variações Francisca Joaquina e
Joaquina Francisca (irmãs), Dorothéia Izabel e Izabel Dorothéia (mãe e Filha).

A existência de homônimos dentro de uma mesma família é entendida por


Hameister como uma estratégia. A autora acredita que exista, nesses casos, a intenção
de que as pessoas homônimas (no caso, pai e filho), fossem associadas uma à outra, ou
melhor, que suas imagens se fundissem. Assim, a autora observou

a necessidade de entender também o ato de nomeação dos indivíduos como


uma prática social, passível de estabelecer e de romper padrões, sujeito às
normas sociais vigentes à época e aplicado às crianças ou jovens e adultos em
seu batismo também com algumas intenções. 16

Pode-se entender, então, a presença desses vários homônimos como uma


estratégia social dessa família. Cabe ressaltar a peculiaridade do repasse de nomes por
linhagem feminina. Esse fator pode vir a reforçar a hipótese de um certo
privilegiamento das mulheres, não só no repasse dos bens materiais, mas também do
estatuto social da família.

16
HAMEISTER, Op. Cit.
Fontes Primárias Manuscritas:

ARQUIVO DA DIOCESE PASTORAL DO RIO GRANDE. Livros 1o, 2o, 3o e 4o de


Batismos da Vila do Rio Grande 1738-1763.

ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS: Primeiro Livro de Batismos de


São Francisco de Paula, 1812-1825.

ARQUIVO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL: INVENTÁRIO de João Duarte


Machado, 1828, Pelotas, 1º Cartório de Órfãos e Provedoria, E 40, M10, N123

Fontes Primária Publicadas ou Trancritas:

ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE: transcrição


resumida dos três primeiros livros de batismo, efetuada pela equipe coordenada pelo
prof. dr. Fábio Kühn.

Referêcias:

BOURDIEU, Pierre. Da regra às estratégias. In: Coisa Ditas. São Paulo: Brasiliense,
1990.

COMISSOLI, A. Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808), 2006,


Dissertação.

GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas e Olarias. Um estudo sobre o espaço


pelotense. Pelotas: Editora Universitária/UFPel; Livraria Mundial,1993.

HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar Calor à Nova Povoação: estratégias sociais e
familares na formação da Vila do Rio Grande através dos Registros Batismais (c.1738-
c.1763), 2006, Tese.

LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século


XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000

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