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I – A REPÚBLICA VELHA
A República Velha é o período que começou com a Proclamação da República em 1889 e terminou
com a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder. O fim do Império por intermédio do
golpe articulado pelo exército e setores agrários, não significou uma revolução nas estruturas do país.
Uma série de rupturas e permanências poderiam ser assinaladas: o Brasil continuou sendo o país do
latifúndio e do café; a maioria da população ainda vivia no campo; a urbanização e a industrialização
eram insipientes, mas se verificaram a emergência do movimento operário e o crescimento das
camadas médias.
A República Velha é dividida, por sua vez, em Governo Provisório (1889 – 1891); República da
Espada (1891 -1894) e República Oligárquica (1894 – 1930).
O Governo Provisório que se instalou teve a liderança do Mal. Deodoro da Fonseca, o país passou a
se chamar Estados Unidos do Brasil, os governadores eram nomeados e o Congresso Nacional
(deputados e senadores) ficou fechado até a eleição de uma Assembleia Constituinte.
O Encilhamento
Durante o ano de 1890, Rui Barbosa, ministro da fazenda, pôs em prática uma política econômico-
financeira que buscou estimular a industrialização. Para aumentar a quantidade de dinheiro em
circulação e incentivar a criação de novas empresas, os bancos privados emitiam moeda: títulos com
igual valor ao das cédulas do Tesouro. Além disso, criou leis para facilitar o estabelecimento das
sociedades anônimas, criou taxas alfandegárias para proteger a indústria nacional. Porém, a emissão
de grandes somas de dinheiro gerou um violento processo inflacionário, empresas fantasmas foram
criadas para negociar títulos na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Essa especulação desenfreada
em que alguns enriqueceram da noite para o dia, nasceu o nome encilhamento. O termo refere-se aos
cavalos de corrida preparados (encilhados) para as corridas no Jockey Club e está ligado ao clima de
jogatina que se estabeleceu no país.
Depois da euforia, veio uma sequência de falências, quebras e fechamentos de empresas e o país
mergulhou numa crise financeira maior do que a existente no final da monarquia.
(...) Quem não viu aquilo não viu nada. Cascatas de ideias, de invenções, de concessões rolavam todos
os dias, sonoras e vistosas para se fazerem contos de réis, centenas de contos, milhares, milhares de
milhares, milhares de milhares de milhares de contos de réis. Todos os papéis, aliás, ações, saíam frescos
e eternos do prelo. Eram estradas de ferro, bancos, fábricas, minas, estaleiros, navegação, edificação,
exportação (...), tudo o que esses nomes comportam e mais o que esqueceram(...). Pessoas do tempo
querendo exagerar a riqueza, dizem que o dinheiro brotava do chão, mas não é verdade. Quando muito,
caía do céu”. (Machado de Assis. Esaú e Jacó),
A Constituição de 1891
praticamente 95% da população. O voto era, ainda descoberto (em aberto), isto é, não era secreto.
Não havia uma Justiça Eleitoral.
Da Proclamação da República (1889) até 1893, o governo do Estado havia mudado 16 vezes! De um
lado estavam os seguidores do fazendeiro Júlio de Castilhos. Ele era admirador do positivismo,
defendendo um governo autoritário (com poder executivo forte), mas capaz de fazer algumas
reformas sociais. Seus seguidores eram chamados pica-paus ou chimangos. Do outro lado,
fazendeiros e políticos mais tradicionais formavam o Partido Federalista, liderado por Gaspar
Silveira Martins, antigo conselheiro do Império, apelidados de maragatos. Não eram monarquistas,
mas tinham apoio destes. Queriam mais poderes para o legislativo (os deputados estaduais) e, também
impedir que o presidente do Estado (governador) fosse reeleito seguidas vezes, tornando-se um
pequeno ditador regional. A guerra entre maragatos e pica-paus ficou conhecida como Revolução
Federalista e devido a sua brutalidade impressionante, também foi chamada de Revolta da Degola
(a guerra deixou um saldo de 12 mil mortos). Os maragatos após ocuparem praticamente todo o Rio
Grande do Sul avançaram sobre Santa Catarina se juntaram com os revoltosos da Marinha e tomaram
Curitiba/PR. Floriano com a autorização do Congresso enviou tropas para a região e sufocou a
rebelião. Um acordo político encerrou a revolta em 1895 já sob o governo de Prudente de Morais.
Júlio de Castilhos, vitorioso, consolidou um regime autoritário que durou 37 anos. Através de decretos
podia intervir nas eleições municipais, com uma rede de chefes locais mantinha o controle da máquina
política; buscou moralizar a administração pública; priorizou a recuperação de rotas de navegação e
implantou linhas telegráficas para a região colonial. Borges de Medeiros, seu sucessor, conseguiu
manter-se no poder de 1898 a 1928, recorrendo, muitas vezes, à fraude eleitoral.
A base da revolução
Os fatores que conduziram à Revolução Federalista estão na diversificação da estrutura social gaúcha,
que abalou o poder dos grandes estancieiros. Na segunda metade do século XIX desenvolveram-se
no Rio Grande do Sul as camadas médias urbanas, ao mesmo tempo que milhares de imigrantes
europeus criavam suas pequenas propriedades nas regiões serranas e em outras áreas rurais.
Desprezados pelos grandes estancieiros tradicionais, esses novos fazendeiros trataram de aliar-se aos
setores urbanos que haviam aderido à causa republicana: assim, esperavam reforçar sua influência e
conquistar posições no cenário político. Diante da iminente ascensão desses „arrivistas‟, os velhos
estancieiros reuniram-se em torno de Silveira Martins adotando em massa sua proposta de federação
de caráter limitado que, na prática, conservava a influência do mandonismo local nas questões
federais.
Positivismo
Doutrina filosófica e política de Auguste Comte (1798 – 1857), que atribuía à ciência um papel
fundamental para qualquer progresso do conhecimento e da sociedade. Os possuidores dos
conhecimentos científicos constituiriam uma elite, ou um apostolado, com a missão de conduzir a
sociedade pelos caminhos do progresso. No Brasil, as ideais de Comte foram largamente difundidas
por Benjamin Constant e outros oficiais positivistas entre a jovem oficialidade do Exército.
Nas primeiras eleições diretas, em 1894, os cafeicultores puderam mostrar sua força, elegendo o
paulista Prudente de Morais (1894 – 1898).
Da sua posse até 1930, verificou-se o predomínio das oligarquias agrário-estaduais (principalmente
aquelas ligadas ao setor cafeeiro, sobretudo dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, por isso o
nome República Café-com-Leite) na vida política nacional, embora, em alguns momentos, terem
havido rupturas e divergências entre elas. Os partidos políticos eram estaduais e não nacionais, como
o PRP (Partido Republicano Paulista), o PRM (Partido Republicano Mineiro), o PRR (Partido
Republicano Rio-grandenses). Os deputados de cada partido iam para o Rio de Janeiro (capital
federal) defender interesses específicos da oligarquia do seu Estado. Por serem os maiores produtores
de café, além de possuírem, respectivamente, o maior número de eleitores, São Paulo e Minas Gerais
conseguiam eleger o Presidente da República, alternando-se no poder da nação.
A partir do governo Campos Sales (1898 – 1902), outro representante da oligarquia paulista,
oficializou-se o que veio a se denominar Política dos Governadores. Para que as oligarquias dos
outros Estados não ficassem descontentes foi montado um esquema de troca de favores entre o
Presidente e as oligarquias estaduais. O Presidente da República apoiava a oligarquia dominante do
Estado (liberando verbas, por exemplo), em troca desse apoio, cada Estado se comprometia a eleger
Deputados e Senadores que apoiariam o Presidente. Para que a Política dos Governadores funcionasse
plenamente uma Comissão Verificadora composta por membros do Congresso Nacional,
confirmava os deputados eleitos através da aceitação ou não do diploma recebido pelo Congressista.
Os deputados e senadores que não estivessem de acordo com o esquema das oligarquias dominantes,
não recebiam esse diploma, e, portanto, não assumiam o cargo. Sofriam a “degola” segundo a gíria
da época. O Senador gaúcho Pinheiro Machado controlou a Comissão Verificadora do Senado e
também influenciava a Comissão Verificadora da Câmara dos Deputados. Por meio delas, tentava
controlar os votos dos congressistas nordestinos. Chegou a criar em 1910, o Partido Republicano
Conservador reunindo oligarquias de vários Estados, menos a paulista. Para evitar uma possível
candidatura presidencial de Pinheiro Machado, o PRP e o PRM, fizeram o Pacto de Ouro Fino
(1913), no qual se revezariam na Presidência da República, consolidando a Política do Café-com-
Leite.
A base disso tudo era o Coronelismo. O Coronel era o latifundiário que mandava em toda uma região
e existia desde a época das Regências. Durante o período da República Velha estavam em plena
decadência econômica, particularmente nos Estados do Nordeste. A força deles era principalmente
política. Os coronéis mais poderosos eram aqueles que mais eleitores conseguiam controlar. Por meio
do voto a cabresto, o voto forçado já que o voto não era secreto e sim aberto, das fraudes eleitorais
e do clientelismo a barganha entre os candidatos do coronel e os eleitores que recebiam presentes ou
cargos, os coronéis conseguiam manter seu poder local.
Dentro de uma estrutura como essa, na qual havia o predomínio, em especial, das oligarquias do eixo
Minas – São Paulo, qualquer possibilidade de oposição concreta era bastante difícil. No entanto,
houve rupturas entre oligárquicas, entre as quais destacaram-se as seguintes:
- Campanha Civilista (1910) - Hermes da Fonseca era o candidato situacionista, apoiado pela
oligarquia mineira que se articulava em torno do PRM. Contra ele foi lançada a candidatura de Rui
Barbosa, que contou com o apoio do PRP. Essa campanha foi denominada civilista, pois teve um
candidato civil, Rui Barbosa, contra um militar, o Mal. Hermes da Fonseca, que foi eleito
presidente. Uma vez encerrada a eleição, as oligarquias dos dois Estados se articularam e
estabeleceram o Pacto de Ouro Fino, em 1913, por meio do qual, a partir de então, os presidentes
da República seriam invariavelmente mineiros e paulistas.
- Política Salvacionista (1913) implementada pelo Presidente Hermes da Fonseca tinha como
desculpa acabar com a corrupção e „salvar‟ as instituições republicanas, intervindo nos Estados e
destituindo o governador quando necessário. Na realidade tal prática intervencionista tinha por
objetivo diminuir a influência de Pinheiro Machado e do PRC, sobretudo no Nordeste. A Política das
Salvações ocasionou uma revolta no Ceará, em que o Padre Cícero influenciado pelo PRC, incitou
uma revolta de sertanejos contra a intervenção federal, a qual havia afastado a família Acioly do
poder.
- Reação Republicana (1921 – 1922) – Contra Artur Bernardes, candidato apoiado pelas
oligarquias de Minas e São Paulo, contando também com a sustentação das oligarquias de outros
estados, foi lançada a candidatura dissidente de Nilo Peçanha, com apoio de oligarquias de outros
estados – RJ, BA, PE e RS. A campanha presidencial foi particularmente tumultuada em função da
publicação, em jornais do Rio de Janeiro, de cartas atribuídas ao candidato Artur Bernardes e
consideradas altamente ofensiva às Forças Armadas – posteriormente revelou-se que elas eram falsas.
A vitória coube a Artur Bernardes.
Os primeiros anos da república foram marcados pelo aumento da dívida externa, da desvalorização da
moeda e da inflação galopante, sobretudo após a crise do encilhamento.
Em 1898, no Governo Campos Sales, foi firmado o Funding-loan, um empréstimo que fundia por um
período de três anos (1898 – 1901) os juros de todos os empréstimos e obrigações anteriores. Para garantir
esse empréstimo o governo comprometia-se a não emitir papel-moeda para provocar a queda da inflação
e promover redução de gastos públicos, com demissões de funcionários, paralisação de obras públicas e
novos impostos sobre a população. Além disso, deixaria como penhora toda a receita da alfândega do Rio
de Janeiro, da Estrada de Ferro Central e até do serviço de abastecimento de água, caso não pagasse o
empréstimo no tempo estipulado de 11 anos. Como resultado ocorreram falências bancárias, diminuição
do crescimento industrial, arrocho salarial e aumento do desemprego.
Na República Velha, o café continuava sendo o principal produto de exportação do Brasil, porém os
preços internacionais caíam e com eles, os lucros dos fazendeiros (em 1893 o preço da saca de café – 60
kg – era cotado em 4,09 libras; em 1899, 1,48 libras). Justamente quando a oligarquia cafeeira assumiu
plenamente o controle político do país, suas bases econômicas estavam sendo, gradativamente, corroídas.
Para salvaguardar seus lucros, uma série de medidas protecionistas foi levada a cabo:
A industrialização
No século XIX a industrialização no Brasil era incipiente. A partir de 1885 é que começaram a
aparecer fábricas voltadas para um mercado interno. No começo do século XX, algumas indústrias
se instalaram no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, mas as principais estavam em São Paulo e
Rio de Janeiro. Mas o crescimento industrial teve um grande impulso durante a I Guerra Mundial
(1914 – 1918). O Brasil começou a produzir bens antes importados ocasionando o que se
convencionou designar de “industrialização de substituição”.
A questão das fronteiras
Em 1900, o Brasil ainda não havia estabelecido ou legalizado em definitivo suas fronteiras com vários
países vizinhos. Os problemas fronteiriços com a Argentina, relativo às missões, e com a Inglaterra,
relativos à ilha de Trindade, haviam sido resolvidos por arbitramento internacional em 1895 e 1896.
O mesmo ocorreria em 1900 e 1904, com as questões envolvendo as Guianas francesa e inglesa.
O período da República Velha foi marcado por vários conflitos que poderiam ser divididos em rurais
e urbanos. A república não alterou significativamente a vida da maioria da população. No campo, a
relação do latifundiário com o camponês ainda não era do tipo capitalista, ou seja, ainda não havia
salário e carteira assinada. Nas cidades, as populações pobres sofriam com o alto do custo de vida.
Com o crescimento das indústrias, o movimento operário teve grande repercussão organizando-se em
sindicatos e reivindicando melhores condições de trabalho.
MOVIMENTOS RURAIS
Movimento O movimento
designado de perseguido pelo
1890 Lampião/ „Banditismo governo, acabou
Até década Maria Bonita Social‟, no período 1930-
Cangaço Nordeste de 40 Corisco/ revolta 40.
Dadá desorganizada
sem ideologia
Padre Cicero definida.
Movimentos Urbanos
Em fevereiro de 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, com
escritores, artistas plásticos, músicos e arquitetos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Segundo Graça
Aranha, seu organizador, a Semana pretendia oferecer ao público “uma demonstração do que há em
nosso meio de escultura, arquitetura, música e literatura, sob o ponto de vista rigorosamente atual” e
“renovar o estagnado ambiente artístico e cultural de São Paulo e do país e descobrir o Brasil,
repensando-o de modo a desvinculá-lo, esteticamente, das amarras que ainda o prendiam à Europa”.
Nos dias 13, 15 e 17, enquanto ocorriam no palco conferências de Graça Aranha, leituras dos poemas de
Menotti Del Pichia e audições de Heitor Villa Lobos, no saguão eram expostas esculturas de Vitor
Brecheret e quadros de Anita Malfatti e Emiliano Di Cavalcanti.
Houve de tudo, inclusive vaias para os poemas declamados por Mário de Andrade e ovos e tomates
jogados no último dia sobre os artistas. Segundo Di Cavalcanti, “esta semana seria de escândalos
literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana”. Uma rebeldia contra
os padrões artísticos da época.
(Extraído de: Barbeiro, Heródoto. História – de olho no mundo do trabalho)