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A República Velha
1. Introdução e Contexto Histórico
A REPÚBLICA DA ESPADA
3. O Governo Provisório
O Encilhamento
Rui Barbosa, ministro do presidente Deodoro, criou um plano econômico para estimular o crescimento
da indústria. O plano foi apelidado de Encilhamento. Para começar, o ministro Rui mandou ampliar a
emissão de papel-moeda, ou seja, foram impressas muitas notas de dinheiro. Esse dinheiro seria emprestado
para empresários que quisessem montar fábricas. Percebeu? Um empresário quer abrir uma indústria. Precisa
de financiamento e pede emprestado. O governo autoriza a fabricação de notas novas de dinheiro para
financiar o projeto. Simples, não?
Simples demais. O problema é que, se começa a fabricar muito dinheiro sem que a economia do país
tenha crescido tanto, esse dinheiro vai perdendo o valor. É fácil perceber isso, basta considerar a seguinte
hipótese: imagine que, hoje, o governo dê 100 milhões de reais para cada brasileiro. Os brasileiros te rão
ficado ricos? Claro que não, simplesmente os 100 milhões não valerão nada, porque ninguém irá vender uma
mercadoria por um dinheiro que todo mundo tem no bolso. O resultado é que os preços aumentam
loucamente e, depois de um tempo, os 100 milhões não darão para pagar nem uma balinha...
Inflação é o nome dessa perda de valor do dinheiro. Mas o plano de Rui Barbosa não foi totalmente
ruim. Alguns empresários montaram fábricas com os financiamentos. Os fazendeiros ti veram mais dinheiro
circulando, necessário para investir, pagar salários etc. Mas a inflação, é óbvio, cresceu muito. Pior ainda,
indivíduos desonestos criaram empresas fantasmas (só existiam no pape!) , que foram utilizadas como
pretexto para se conseguir o empréstimo garantido pelo governo. Essas empresas podiam ter suas ações
negociadas na Bolsa de Valores! Ou seja, ganhava-se um bom dinheiro com empresas que não existiam de fato.
O plano de Rui Barbosa foi criticado duramente. Os especuladores ganhando com empresas fantas mas
pareciam apostadores no Jóquei. Encilhamento é o nome que se dá ao último momento das apostas nas
corridas de cavalos, o instante em que os malandros se dão bem, e os otários se dão mal. A economia
brasileira, nessa época, estava parecendo uma bolsa de apostas. Por isso, os inimigos de Rui chamaram o
plano de Encilhamento. Rui Barbosa foi demitido. Os governos que vieram depois trataram de adotar linhas
de austeridade econômica na tentativa de controlar a inflação: diminuíram os gastos do governo (portanto,
menos obras públicas) e aumentaram os impostos.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. 2ª Edição. Editora Nova Geração. São Paulo. 2002. p. 39
3 . S I S T E M A T I Z A Ç Ã O D O T E X T O
O domínio oligárquico nos Estados tinha por base uma extensa rede de relações, cujo ponto de partida estava na
estrutura agrária. O latifúndio monocultor e a dependência entre trabalhadores e senhores de terras deram origem ao
"regime de clientela" e aos "currais eleitorais". No Império e ainda no começo da República, os chefes políticos
regionais recebiam o título de major ou coronel da Guarda Nacional, verdadeiro exército de reserva que era mobilizado
em casos de guerra ou "desordem social". Nessas ocasiões cada setor local da Guarda Nacional devia' obediência ao
coronel de sua região.
O patriarca local, quase sempre um grande fazendeiro, senhor de engenho ou cafeicultor, dirigia a vida econômica e
política do “curral” - que englobava sua família, seus lavradores, seus devedores. outras fazendas dependen tes. as
cidades que viviam do comércio de sua produção agrícola. municípios inteiros, enfim. Todo o "curral" votava no candida-
to do patriarca ou coronel. Sua autoridade não tinha limites. Para ganhar as boas graças do coronel e os votos de seus
dependentes, o partido do Governo fazia vista grossa a seus desmandos. Entre o poder estadual e o patriarca
estabelecia-se um compromisso: este último garantia votos aos políticos da situação. e em troca o Governo lhe
assegurava verbas e concessões. Com essas verbas, o coronel promovia alguns melhoramentos no município -
construção de uma igreja, de uma ou outra estrada. de uma pequena escola - conservando a ascendência política na
região.
(DIVALTE, História.Ed. Ática. São Paulo. 2003, p.299)
O coronelismo tem sido entendido como uma forma específica de poder político brasileiro, que floresceu durante
a Primeira República, e cujas raízes remontam ao Império; já então os municípios eram feudos políticos que se trans -
mitiam por herança - herança não configurada legalmente, mas que existia de maneira informal. Uma das grandes sur-
presas dos republicanos históricos, quase imediatamente após a proclamação da República, foi a persistência desse
sistema, que acreditavam ter anulado com a modificação do processo eleitoral.
A Constituição Brasileira de 1891 outorgou o direito de voto a todo cidadão brasileiro ou naturalizado que fosse
alfabetizado; assim, pareciam extintas as antigas barreiras
econômicas e políticas, e um amplo eleitorado poderia teoricamente exprimir livremente sua escolha. Todavia, verificou-
se desde logo que a extensão do direito de voto a todo cidadão alfabetizado não fez mais do que aumentar o número de
eleitores rurais e citadinos, que continuaram obedecendo aos mandões já existentes.
A base da antiga estrutura eleitoral se alargara, porém os chefes políticos locais e regionais se mantiveram prati-
camente os mesmos, e continuaram elegendo para as Câmaras, para as presidências dos Estados, para o Senado,
seus parentes, seus aliados, seus apaniguados, seus protegidos. De onde a exclamação desiludida de muito
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republicano histórico: "Esta não é a República dos meus sonhos!".
(Maria lsaura P. de Queiroz. O coronelismo numa interpretação sociológica. In: Sérgio B. de Holanda,
Boris Fausto, orgs. História geral da civilização brasileira. 5. ed. São Paulo, Difel, III, vol.1, 1989, p.
155.)
A Monarquia foi derrubada por ser centralizadora, autoritária e excluir grande maioria do povo brasileiro da participação
política (devido ao voto censitário) . A República implantada e, 1889 era, por lei, descentralizadora e liberal, e adotava
o voto universal masculino. Isso garantiria a instalação de um governo plenamente democrático?
O trecho abaixo, extraído do romance de um escritor gaúcho, nos dá algumas pistas.
Rodrigo havia sido indicado pela oposição para fiscal duma das mesas eleitorais. Pôs o revólver na cintura, uma
caixa de balas no bolso e encaminhou-se para seu posto, no nobre salão do Centro Republicano. A chamada dos
eleitores começou às sete da manhã. Plantados junto da porta, os capangas do Trindade ofereciam cédulas com o nome
dos candidatos oficiais a todos os eleitores que entravam. Estes, em sua quase totalidade, toma vam docilmente dos
papeluchos e depositavam-nos na urna, depois de assinar a autêntica. Os que se recusavam a isso tinham os nomes
acintosamente anotados. [...]
Rodrigo estava deprimido. Deve ser o calor- concluiu tirando o casaco e desabotoando o colarinho. Passou o lenço
pelo rosto e pensou em que tinha de passar o dia inteiro ali naquela sala desagradável [...].
O mesário que fazia a chamada gritou:
- Arnesto Tavare Nune .
Apareceu um homenzinho baixo, de ar bisonho. - Protesto, senhor presidente! - bradou Rodrigo.
– Por quê?
- Esse sujeito é um impostor. Ernesto Tavares Nunes já morreu.
O presidente dirigiu-se ao eleitor.
- Como é o seu nome?
O homem olhou primeiro para Rodrigo, hesitante, depois para a cédula que um capanga lhe havia posto nas mãos, e
finalmente balbuciou, visivelmente embaraçado:
- Arnesto Tavare Nune .
Rodrigo pôs-se de pé.
- Apelo para os membros da mesa e para os senhores aqui presentes que sabem tão bem quanto eu que Ernesto
Tavares Nunes está morto e enterrado
Fez-se um silêncio.
- Vamos ao cemitério - convidou Rodrigo - e eu lhes mostrarei o túmulo desse cidadão. O presidente da mesa coçou a
cabeça com a ponta da caneta. - Dr. Rodrigo, nós não temos tempo pra essas coisas, e mesmo a lei não nos autoriza...
- Ora, quem quer falar em lei! Vamos ao registro de óbitos, então.
- O homem vai votar e o senhor depois lavra o seu protesto.
- A velha história! Meu protesto não será levado em conta! É a indecência de sempre!
- Assine o seu nome aqui - disse o presidente ao eleitor.
- Continuem a farsa! - gritou Rodrigo. Sentou-se indigna do, pegou um lápis e começou a escrever numa folha de papel
todos os palavrões que sentia ímpetos de atirar na cara do presidente da mesa e dos fiscais hermistas”.
Érico Veríssimo. o Retrato (1951), v. 11, da trilogia O tempo e o vento. São Paulo: Círculo do
Livro, s.d., p. 259-60.
a) Conforme a leitura do trecho de Érico Veríssimo a implantação da forma de governo republicana garantiu a instalação
de um governo plenamente democrático? Por quê?
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b) Qual mecanismo do coronelismo você consegue identificar no texto?
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Café-com-Leite
Na República Velha, o coronel
é senhor de todo o sertão
manda e desmanda, faz o que quer
tem poder na terra e no céu
1. Faça uma leitura atenta da letra da música Café-com-leite, de Milton Nascimento e Fernando Brant, analisando
e comentando historicamente cada estrofe.
3. Faça um quadro explicativo sobre as principais revoltas ocorridas durante a República Velha: