Filho de Francisco Ferreira de Castilhos e Carolina Prates, Júlio Prates de
Castilhos nasceu em 29 de junho de 1860 em São Martinho, distrito de Cruz Alta – RS. Advindo de família abastada, dispôs de grande incentivo familiar aos estudos, o que era incomum para a época. Terminou a educação básica nos arredores da cidade natal e, com 15 anos de idade (1875), partiu para Porto Alegre para frequentar um curso preparatório para ingressar na Faculdade de São Paulo, sendo que na época, só existiam 2 faculdades de direito no país, a Faculdade de Direito de São Paulo e a de Recife. Cabe destacar que as duas faculdades existentes no país foram criadas não só para formar Magistrados e Advogados, mas principalmente para suprir a carência de pessoal habilitado para assumir posições da estrutura estatal em formação. Antes da fundação das referidas faculdades, os brasileiros tinham que busca fora do país a formação em cursos superiores, que normalmente era realizada em Coimbra – Portugal. Em 1877, Júlio então ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo e lá iniciou seus estudos jurídico, onde começou a receber a influência do movimento republicano em efervescência no país. Já na faculdade, ajudou a escrever dois jornais acadêmicos, “A Evolução” e “A República”. O primeiro, em conjunto com mais dois estudantes de direito, Assis Brasil e Pereira da Costa. Em 1881, Júlio de Castilho, já formado, retornou para a capital da província gaúcha e, ao invés de afiliar-se em um dos dois partidos existentes, Liberal e Conservador, se esforçou para a criação de outro partido, o PRR – Partido Republicano Rio Grandense. Em 1883 foi eleito membro executivo do partido e membro da comissão de imprensa. Mesmo ano em que casou-se com Honorina Martins da Costa, sua amada esposa com quem teve 5 filhos. Ao assumir o importante cargo membro da comissão de imprensa do PRR, Júlio passou a concentrar seus esforços para angariar recursos para o lançamento do jornal do partido, que, em 1º de janeiro de 1884 teve sua primeira edição. O jornal “A Federação”, não detinha grande saúde financeira. Muito pelo contrário, muitas vezes Júlio e outros representantes do partido tiveram que aportar recursos próprios para manter o jornal ativo. Júlio permaneceu a frente da redação do jornal por vários anos, o que lhe proporcionou grande visibilidade política, pois escrevia fortes críticas ao regime monárquico, promovendo assim a alteração da forma de governo. O jornal chegou a ser distribuído em 37 municípios do Rio Grande do Sul, como também em municípios de outros estados. Detinha grande público e levava os ideais republicanos cada vez mais longe. Juntamente com a crítica à monarquia, Júlio em seus textos também levava os ideais abolicionistas. Em 1884, 4 anos antes da assinatura da Lei Aurea, a família Castilhos, que utilizava a mão de obra escrava em sua fazenda, libertou 19 escravos, o que foi notícia na primeira página do jornal e promoveu ainda mais a carreira política de Júlio e o fim da escravatura. Sua esposa também teve papel de destaque na luta contra a escravidão. Em Porto Alegre, Honorina realizava diversos eventos para promover os nomes dos fazendeiros que também concederam a liberdade aos seus escravos, no Rio Grande do Sul, a fim de que o movimento abolicionista ganhasse força. Em 15 de novembro 1889, proclamada a república pelo Marechal Deodoro da Fonseca e instalado o governo provisório, no mesmo dia foi enviado um telégrafo ao jornal A Federação, que imediatamente divulgou a nota: Hoje fizemos distribuir o seguinte boletim: A “Federação” acaba de receber este telegrama, que lhe foi transmitida com o caráter de serviço nacional: Governo Provisório 15 de novembro O povo, o exército e a armada vão instalar o Governo Provisório, que consultará a Nação sobre a convocação da Constituinte. Erguem-se aclamações gerais à República. Quintino Bocaiuva Viva a liberdade! Viva a República! Viva a Pátria Brasileira! Na província do Rio Grande do Sul, a notícia foi recebida com grande insegurança, pois uma troca de regime causava muita inquietação da população. Desta forma, foi nomeado um prestigiado militar para assumir a presidência do estado, Marechal José Antônio Corrêa da Câmara, vulgo Visconde de Pelotas, a fim de evitar conflitos e assegurar a consolidação dos republicanos no poder. Em 1890, Júlio foi eleito Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul, participando da bancada gaúcha na Assembleia Constituinte. Em julho de 1891 foi promulgada a primeira Constituição do Rio Grande do Sul, escrita por Júlio de Castilhos, que no dia seguinte assumiu a presidência do estado. Com o fechamento do Congresso Nacional em novembro de 1891, por Deodoro da Fonseca, Júlio renunciou o mandado em apoio ao então presidente, sendo reeleito nas eleições de 1892, reassumindo o governo do estado em 1893. Durante seu governo, enfrentou uma das maiores guerras do nosso país, a Revolução Federalista, que se iniciou em 1893, liderada por Gaspar Silveira Martins, onde opositores da república recém instalada, aliados aos antigos monarcas, descontentes com a derrubada da monarquia, buscavam destronar Júlio. Mas os federalistas perderam a guerra que durou até 1895, a qual ficou conhecida como “a revolução da degola”, por conta da forte violência empregada nas batalhas. Os anos que se seguiram foram de grande instabilidade, por conta da grande incerteza da população quanto a república. O papel de Júlio de Castilhos foi essencial para a consolidação do regime republicano. Ele passou a ser um grande articulador da república no estado, levou aos municípios os ideais republicanos. Passou a manter estrito contato com um grande número de liderança, a fim de garantir que o regime republicano pudesse prosperar. Júlio permaneceu na presidência do estado por oito sete anos, até 1898, sucedido então por Antônio Augusto Borges de Medeiros. Mas permaneceu na liderança do Partido Republicano Rio Grandense, exercendo ainda grande influência política nas articulações do governo. Seu nome foi cotado para a candidatura à presidência do país nas eleições de 1898, mas ele não se candidatou. Porém, demonstrou que seu reconhecimento político transcendia a esfera estadual, alcançando grande força a nível nacional. Alguns anos depois, vítima de um câncer de laringe, Júlio de Castilhos faleceu aos 43 anos de idade, em sua residência, em Porto Alegre, durante uma cirurgia para tentativa de retirada do tumor. Honorina, não suportou o luto e suicidou-se dois anos depois da morte de Júlio, em 1905. O palacete onde residia a família Castilhos em Porto Alegre – localizado na rua Duque de Caxias e construído em 1887 – foi comprado pelo governo do Rio Grande do Sul e tornou-se a sede do Museu do Estado, o qual, a partir de 1907, passou a se chamar Museu Júlio de Castilhos. Em 1905, sua cidade natal passou também a se chamar Júlio de Castilhos, em homenagem ao seu filho mais ilustre. Já em 25 de janeiro de 1913, durante o governo de Carlos Barbosa Gonçalves, foi inaugurado o monumento central da Praça da Matriz em Porto Alegre, também em homenagem a Júlio de Castilhos. O monumento, desenvolvido pelo pintor e escultor Décio Vilares, é composto, além da estátua de Júlio de Castilhos, em bronze, por um conjunto de estátuas carregadas de simbolismo, que representam a Constância, a Prudência, o Civismo, a Coragem, a Propaganda Republicana e, destacando-se no topo do obelisco central, a República. Júlio de Castilhos foi um grande político gaúcho que através de sua vasta escrita jornalística, ajudou a promover a instalação do regime republicano no Brasil.