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Efeitos da crise de 1929 no Brasil

Nas primeiras décadas do século XX, a produção de café era a principal atividade econômica do Brasil e recebia
apoio e incentivos financeiros do governo. Com a crise econômica iniciada em 1929, porém, a demanda internacional
pelo café diminuiu e os estoques brasileiros se acumularam. O baixo preço pago pela saca de café não compensava os
altos custos de produção.
Diante disso, cafeicultores faliram, e o governo queimou parte de seus estoques para reduzir a oferta e, assim,
conter a queda do preço do produto. Não demorou para a política nacional, pautada na defesa da cafeicultura e no poder
dos grandes cafeicultores, sentir os efeitos da Grande Depressão.
A crise da República Oligárquica
Com a crise no setor cafeeiro, a política dos governadores começou a dar sinais de esgotamento. Quando um novo
processo eleitoral se iniciou, em 1929, o então presidente da república, Washington Luís, representante do Partido
Republicano Paulista (PRP), em vez de indicar um político mineiro, indicou o paulista Júlio Prestes como seu sucessor.
Essa atitude causou muito descontentamento entre os representantes de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. As
oligarquias desses estados lançaram, então, como candidato ao cargo Getúlio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul
e ex-ministro da fazenda de Washington Luís. Como vice, foi escolhido o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa.
A chapa formada pela oposição foi denominada Aliança Liberal. Seu programa defendia a diversificação da produção
nacional, a reforma política, a adoção do voto secreto e a aplicação de medidas de proteção aos trabalhadores. A chapa
recebeu o apoio do Partido Democrático de São Paulo (PD), de tenentes, da classe média urbana e dos setores
oligárquicos insatisfeitos.
As eleições de 1930
As eleições presidenciais ocorreram no dia 1º de março de 1930. Apesar da grande campanha
realizada pela Aliança Liberal, Vargas obteve aproximadamente 700 mil votos, enquanto Júlio Prestes recebeu pouco
mais de 1 milhão de votos. Os opositores do governo protestaram, alegando que o processo eleitoral havia sido fraudado.
Em maio, o Congresso Nacional reconheceu o resultado das eleições e declarou Júlio Prestes presidente eleito.
Inconformados com a decisão, os opositores do governo começaram a preparar
uma insurreição armada para derrubá-lo, impedindo a posse de Prestes.
A Revolução de 1930
Apesar de ter sido cometido por motivos pessoais, o assassinato de João Pessoa gerou, em diversos pontos do país, uma
série de manifestações de repúdio que se transformaram em mobilizações a favor da Aliança Liberal.
Aproveitando o clima de comoção gerado no país, membros da Aliança Liberal iniciaram um levante para derrubar o
governo. Em 3 de outubro de 1930, movimentos simultâneos aconteceram em vários estados, como Rio Grande do Sul,
Minas Gerais e Paraíba.
Em menos de um mês, as forças rebeldes haviam sido vitoriosas em quase todo o Brasil, com exceção apenas de São
Paulo, Rio de Janeiro, Pará e Bahia. Temendo uma guerra civil, os altos escalões militares depuseram o presidente
Washington Luís, substituindo-o por uma junta militar. No dia 3 de novembro, a junta transferiu a Getúlio Vargas o
governo do país.
O governo provisório de Vargas
Ao assumir a chefia do governo provisório, Vargas dissolveu o Congresso Nacional e as assembleias legislativas
estaduais e municipais, substituindo os presidentes de estado por interventores, a maior parte deles tenentes.
Ainda em 1930, o governo provisório decretou a criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, que
subordinava os sistemas de educação dos estados ao Distrito Federal. Todos os assuntos relativos à saúde pública do
país também ficaram sob a atribuição desse ministério.
No mesmo ano, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, encarregado dos assuntos relativos ao mundo
do trabalho. Em 1931 foi estabelecida a Lei de Sindicalização, que atrelava os sindicatos ao Estado.
A lei admitia somente um sindicato por categoria profissional e determinava que apenas os trabalhadores filiados ao
sindicato oficial desfrutariam dos benefícios da legislação trabalhista. Foram concedidos benefícios como a fixação da
jornada de trabalho em oito horas diárias, a instituição da Carteira de Trabalho e Previdência Social, as férias
remuneradas e o direito à aposentadoria.
O Código Eleitoral de 1932
O primeiro ponto de divergência entre os grupos que apoiaram a Aliança Liberal foi a duração do governo provisório.
Para alguns, o retorno à democracia deveria ser imediato; para outros, antes da normalização institucional, era necessário
realizar importantes reformas sociais e políticas no país, como mudanças na legislação eleitoral.
Em fevereiro de 1932 foi instituído o primeiro Código Eleitoral Brasileiro, que criava a Justiça Eleitoral. A partir
daquele momento, a fiscalização das eleições e o reconhecimento dos candidatos eleitos não seriam mais
responsabilidades do Poder Legislativo, mas de um órgão vinculado ao Poder Judiciário. O Código Eleitoral também
instituiu o voto secreto, defendido pelos insurgentes de 1930 como medida fundamental para moralizar a vida política
do país, e estendeu o direito de voto às mulheres.
O voto feminino
Atualmente, muitas mulheres brasileiras são vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e governadoras. Em 2011, pela
primeira vez na história do país, a Presidência da República foi ocupada por uma mulher, Dilma Rousseff, eleita no ano
anterior.
No entanto, nem sempre as mulheres puderam votar ou exercer cargos públicos no Brasil. Apesar de as constituições de
1824 e 1891 não proibirem expressamente o voto feminino, as mulheres acabavam, pelo costume, impedidas de votar.
O primeiro estado a permitir o voto feminino foi o
Rio Grande do Norte, em 1927. Também nesse estado, em 1928, foi eleita a primeira mulher a ocupar um cargo
executivo no Brasil, a potiguar Alzira Soriano, que tomou posse na prefeitura de Lajes em 1929.
O Código Eleitoral de 1932 regulamentou o voto feminino, mas com restrições. Apenas as mulheres casadas, com
autorização do marido, podiam votar, assim como viúvas e solteiras que comprovassem renda própria. O voto feminino
também não era obrigatório. Foi somente na Constituição de 1934 que as restrições aos direitos políticos das mulheres
foram revogadas. A obrigatoriedade do voto feminino, porém, só foi estabelecida em 1946.
A Revolução Constitucionalista de 1932
Insatisfeitos com as medidas centralizadoras do governo provisório de Vargas, os paulistas exigiam a elaboração
imediata de uma nova Constituição e reivindicavam a substituição do interventor João Alberto Barros, militar
pernambucano nomeado por Vargas, por um civil nascido em São Paulo. No início de 1932 ocorreu uma forte
mobilização no estado, que uniu diferentes setores da sociedade.
O Partido Democrático, que havia apoiado Vargas nas eleições de 1930, rompeu com o governo e aliou-se ao seu antigo
adversário, o Partido Republicano Paulista, formando a Frente Única Paulista (FUP). Em 9 de julho, uma revolta
armada começou em São Paulo. Tropas rebeldes do exército paulista ocuparam os quartéis e tomaram o controle do
estado. Os integrantes do movimento esperavam receber o apoio de mineiros e gaúchos para atacar a capital federal,
mas eles mantiveram-se fiéis ao governo provisório.
Isolados, os paulistas assinaram a rendição após três meses de luta. Apesar da derrota militar, o levante obteve resultados
políticos positivos: o compromisso, por parte do governo federal, de promover a rápida reconstitucionalização do país
e a nomeação de um interventor civil paulista, Armando de Salles Oliveira, para o governo de São Paulo.
A Constituição de 1934
Em maio de 1933 ocorreram as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, encarregada de elaborar uma nova
Constituição para o país. A nova Carta, promulgada em 16 de julho de 1934, estabeleceu, entre outros pontos:
• a manutenção do federalismo como sistema de governo do país;
• o voto feminino para as mulheres que exercessem função pública remunerada
e a obrigatoriedade do voto masculino para maiores de 18 anos;
• o estabelecimento do ensino primário gratuito e de frequência obrigatória
extensivo aos adultos;
• a nacionalização progressiva dos recursos minerais e hídricos do Brasil.
A Constituição de 1934 também estabeleceu princípios básicos da legislação trabalhista e definiu pontos importantes
referentes à economia do Brasil. Segundo a nova lei, a liberdade econômica deveria ser garantida, desde que fossem
respeitados o princípio da justiça e as necessidades do país. Ao final dos trabalhos, a Assembleia Constituinte, por voto
indireto, elegeu Getúlio Vargas para a Presidência da República. O mandato seria de quatro anos e não haveria reeleição.
Em 1938, seriam realizadas eleições por meio do voto direto.
A radicalização política no Brasil
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, foram instalados regimes totalitários e ditatoriais e organizados partidos
comunistas em diferentes países. No Brasil, essa divisão política e ideológica evidenciou-se na formação de dois grupos
antagônicos: a Ação Integralista Brasileira (AIB), de tendência fascista, e a Aliança Nacional Libertadora (ANL),
frente antifascista que reunia comunistas, socialistas e antigos tenentes insatisfeitos com o governo.
A AIB, fundada em 1932 por Plínio Salgado, foi o primeiro partido político de massa organizado nacionalmente no
Brasil. Seu lema, “Deus, Pátria e Família”, expressava o ideário político inspirado no fascismo italiano. Os integralistas,
como seus membros eram conhecidos, tinham o apoio dos setores mais conservadores da sociedade brasileira: parte da
alta hierarquia militar, das oligarquias tradicionais e do alto clero católico. A AIB defendia o fortalecimento e a
militarização do Estado para impor ordem e disciplina à vida nacional.
No lado oposto, a ANL, criada em março de 1935, recrutou a maior parte de seus adeptos na classe média urbana, sendo
formada principalmente por intelectuais, profissionais liberais, estudantes e militares de baixa patente. Com apenas
quatro meses de funcionamento, a ANL já tinha 80 mil filiados. Inspirada no modelo das frentes populares europeias
reunidas para combater o avanço do nazifascismo, a ANL defendia uma política anti-imperialista, a nacionalização de
empresas estrangeiras, a reforma agrária, a suspensão do pagamento da dívida externa e a implantação de um governo
popular. Quatro meses depois de fundada, a ANL foi declarada ilegal pelo governo Vargas.
A Intentona Comunista
Com a ANL na ilegalidade, a perspectiva de tomar o poder por meio das armas ganhou força no movimento comunista.
Com o apoio do Partido Comunista do Brasil (PCB) e sob a orientação da Internacional Comunista, Luís Carlos Prestes
deu início aos preparativos para uma revolta armada com o objetivo principal de derrubar o governo Vargas. Ex-líder
tenentista, Prestes aderiu ao marxismo após comandar a Coluna Prestes.
Em novembro de 1935, seguindo instruções dos líderes da Internacional Comunista, Prestes organizou levantes que
ocorreram simultaneamente em três bases militares: Natal, Recife e Rio de Janeiro. A Intentona Comunista, nome pelo
qual o movimento ficou conhecido, foi um fracasso. Em Natal, os insurretos instauraram um governo revolucionário
que durou apenas quatro dias. No Rio de Janeiro e em Recife, a rebelião foi rapidamente controlada.
Com o desmantelamento da rebelião, o governo iniciou uma violenta perseguição a seus opositores. Centenas de civis
e militares, vinculados ou não ao levante, foram detidos pela polícia política de Vargas. Prestes e sua esposa, a comunista
judia alemã Olga Benário, foram presos. Apesar de estar grávida, Olga foi deportada para a Alemanha nazista, entregue
à Gestapo e levada para um campo de concentração. Após uma campanha internacional empreendida pela mãe de
Prestes, a filha do casal, Anita Leocádia, foi entregue à avó. Prestes permaneceu preso durante nove anos, sendo libertado
em 1945. Olga Benário foi executada no campo de extermínio de Bernburg, na Alemanha, em 1942.
O Estado Novo (1937-1945)
O levante comunista de 1935 tornou-se uma das justificativas para o aumento da repressão política no país. Com a crise
política criada pela tentativa de golpe, Vargas decretou estado de sítio, e muitos opositores do governo foram
perseguidos e presos.
Ao mesmo tempo, as discussões a respeito da sucessão presidencial tomavam conta da cena política. A Constituição
promulgada em 1934 determinava que a próxima eleição para a Presidência da República seria realizada em 3 de janeiro
de 1938. Segundo as regras eleitorais daquele período, não era permitida a reeleição.
Enquanto Vargas tentava convencer o Congresso a prorrogar seu mandato, foram lançadas três candidaturas para a
sucessão presidencial: a do governador do estado de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, a do ex-interventor federal
na Paraíba, José Américo de Almeida, e a do integralista Plínio Salgado. Em setembro de 1937, em plena campanha
eleitoral, a imprensa divulgou a existência de uma conspiração comunista para tomar o poder, que recebeu o nome de
Plano Cohen. No entanto, há indícios de que o plano conspiratório teria sido forjado pelo integralista e membro do
Estado-Maior do exército Olímpio Mourão Filho.
A comoção gerada pela notícia do Plano Cohen e o consequente medo do “perigo vermelho” serviram de pretexto para
Vargas decretar a dissolução do Congresso Nacional, em 10 de novembro de 1937. Iniciou-se, então, uma ditadura, que
recebeu o nome de Estado Novo. O presidente anunciou uma nova Constituição, extinguiu os partidos políticos,
suspendeu as liberdades individuais dos cidadãos brasileiros e instaurou uma rigorosa censura aos meios de
comunicação.
O Estado Novo caracterizou-se pela grande centralização política e econômica pelo governo federal. Com a nomeação
de interventores, aliados ao regime, a autonomia dos estados e municípios ficou ainda mais restrita.
O corpo burocrático formado para assessorar o governo era constituído principalmente de militares, que se tornaram
interventores, ministros, secretários de segurança e chefes de polícia.
Desenvolvimento econômico
Na economia, o Estado brasileiro assumiu o papel de principal investidor na industrialização, além de estabelecer ações
para garantir a exploração das riquezas minerais do solo brasileiro.
Em 1938, por meio de um decreto, o governo criou o Conselho Nacional do Petróleo, estatizando as estruturas de
exploração e refino de petróleo que já existiam no país, além de assumir o controle sobre a distribuição do produto. Em
1941, com ajuda estadunidense, Vargas fundou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com o objetivo de tornar o
país autossuficiente na produção de aço.
No ano seguinte, foi criada a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), responsável por explorar as riquezas minerais do
território brasileiro, principalmente o minério de ferro. A mineradora passou a ser a principal fornecedora de matérias-
primas para a CSN.
Outra medida determinada pelo governo Vargas no período foi o controle estatal sobre a produção e o comércio de
gêneros agrícolas, principalmente o café, que ainda era um importante produto da balança comercial brasileira. A
finalidade era evitar a superprodução e, com isso, a queda do preço do produto no mercado internacional.
Para regulamentar e controlar a produção e a comercialização de gêneros agrícolas e extrativos, o governo criou vários
órgãos governamentais, como o Instituto Nacional do Mate (1938), o Instituto Nacional do Sal (1940) e o Instituto
Nacional do Pinho (1941).
As leis trabalhistas
Em 1943, foi decretada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que unificou a legislação trabalhista existente
até então. A CLT estabeleceu, entre outros direitos, as férias remuneradas, a fixação de um salário-mínimo nacional, a
jornada de trabalho de oito horas diárias, a licença-maternidade seis semanas antes e seis semanas depois do parto e a
proibição do trabalho para menores de 14 anos.
Com a CLT, Vargas ganhou muita popularidade entre os trabalhadores. Nos discursos do presidente, a classe
trabalhadora era frequentemente citada como exemplo de dignidade e esperança para o país. O presidente, entretanto,
anulou pouco a pouco os canais tradicionais de expressão, organização e mobilização dos trabalhadores.
Os sindicatos, que conseguiram manter relativa independência até 1935, foram submetidos ao Estado. Delegados
indicados pelo Ministério do Trabalho interferiam diretamente na elaboração dos estatutos e na organização dos
sindicatos.
As greves, de acordo com a Constituição de 1937, foram consideradas incompatíveis com os interesses da produção
nacional. Assim, os trabalhadores que paralisassem suas atividades seriam punidos de acordo com as medidas previstas
na lei.
A criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP)
A tarefa de fazer a propaganda oficial do Estado Novo, promovendo a figura de Getúlio Vargas e legitimando o regime,
era de responsabilidade do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Criado em 1939, o DIP veiculava
propagandas sobre a necessidade de recuperar a ordem interna e a imagem de uma nação unida e forte, que caminhava
rapidamente para um futuro de prosperidade e paz. Nesse sentido, o órgão também elaborou uma série de materiais,
como panfletos, cartazes, cartilhas educativas e filmes, que exaltavam o nacionalismo e a ideologia do trabalhismo.
O DIP também era responsável pela censura aos meios de comunicação, pela direção dos programas de radiodifusão do
governo e pela promoção de manifestações cívicas que ajudavam a divulgar a ideologia do Estado Novo, como os
eventos de comemoração ao Dia do Trabalho e à independência do Brasil. Bandeiras e faixas exaltando Vargas e seu
governo eram comuns nessas comemorações, que concentravam grande número de pessoas. Forjava-se, assim, uma
imagem de parceria e cumplicidade entre o Estado e as camadas populares.
A “Marcha para o Oeste” e a questão indígena
Vargas pretendeu criar um sentimento de nacionalidade por meio da ocupação e do desenvolvimento econômico das
regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Em 1940, ele lançou o projeto “Marcha para o Oeste” com esse objetivo. Nessas
áreas, foram criadas colônias agrícolas e abriram-se novas estradas.
As regiões atingidas pelo projeto eram habitadas por diferentes grupos indígenas. Assim, Vargas aproveitou a
oportunidade para incorporar esses povos a seu discurso nacionalista, afirmando que eles eram heróis e símbolos da
brasilidade. O governo passou a divulgar a importância dos indígenas para a história do Brasil e do papel do Estado para
integrá-los à nação.
Dessa forma, resgatou a imagem romantizada do indígena como o selvagem nobre, guerreiro, formador da nacionalidade
brasileira. Nas políticas promovidas por Vargas, entretanto, os indígenas eram considerados incapazes e, portanto, seres
que deviam ser tutelados pelo Estado. O governo investiu no Serviço de Proteção ao Índio (SPI) para “pacificar” os
indígenas, criar reservas para esses povos e integrá-los por meio de atividades educativas e profissionais, e fundou, em
1939, o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (CNPI), responsável pela formulação das políticas indigenistas. Essas
medidas, porém, foram criadas sem consultar a população indígena nem considerar sua enorme diversidade e suas reais
necessidades.
Dessa maneira, muitos grupos indígenas não aceitaram as políticas governamentais. Os Xavante, que viviam no norte
do Mato Grosso, por exemplo, impediram o avanço da “Marcha para o Oeste”, entrando em conflito com qualquer
pessoa ou instituição que tentasse ameaçar suas terras e suas tradições.
A terra era o meio de sobrevivência dos Xavante. Dela, eles retiravam alimentos por meio da caça e da coleta. Para
defendê-la, eles resistiram por décadas. Em contrapartida, povos como os Xerente e os Karajá aceitaram as políticas
indigenistas. Esses dois grupos sofriam com a exploração dos fazendeiros, a pobreza e os ataques de indígenas inimigos,
como os Xavante. Diante desse cenário, as políticas do governo representaram uma esperança de melhora de vida para
eles. Portanto, os indígenas nem sempre foram apenas cooptados, mas também agiram conforme seus interesses.
O fim do Estado Novo
A decisão do governo Vargas de apoiar os Aliados para combater o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial tornou
insustentável a manutenção do Estado Novo. Isso porque era contraditório defender a democracia em uma guerra
internacional e manter no país uma ditadura. Além disso, a insatisfação com o governo começou a crescer, pois a entrada
no conflito trouxe uma série de dificuldades para a população, como o aumento dos preços e problemas de
abastecimento.
O crescente descontentamento favoreceu a organização dos setores de oposição ao governo. Manifestações contra o
Eixo transformaram-se em atos contra o Estado Novo. Pressionado pelas campanhas por democracia e pela legalização
dos partidos políticos, Vargas anunciou, em abril de 1945, a anistia aos presos políticos, entre eles Luís Carlos Prestes.
No mês seguinte, foi decretado o Código Eleitoral, que marcou a data para a realização das próximas eleições: 2 de
dezembro. Em seguida, Vargas extinguiu o DIP. Com a legalização dos partidos, entraram na corrida presidencial a
União Democrática Nacional (UDN), partido oposicionista que lançou como candidato o brigadeiro Eduardo Gomes, o
Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – ambos ligados a Vargas –, que compunham
a chapa do general Eurico Gaspar Dutra, e o Partido Comunista do Brasil (PCB), que lançou o candidato Iedo Fiúza.
Antes da eleição, porém, ocorreu um movimento apoiado por populares, conhecido como queremismo, cujos
participantes reivindicavam a permanência de Vargas no poder até a convocação de uma Constituinte que permitisse a
ele disputar as eleições. O movimento queremista, no entanto, acabou fortalecendo a oposição udenista, que tinha
relações mais estreitas com os militares. Em outubro, Vargas foi forçado pelos militares a renunciar, e o poder foi
assumido provisoriamente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, até as eleições. O general Dutra
venceu as eleições presidenciais, e Vargas foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul, na legenda do PSD.

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