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CURSO DE DIREITO - UNICHRISTUS

DIREITO DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO


PROFA. CARLA MARQUES DIÓGENES

ROTEIRO AULA1

HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO SOBRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL

Por que precisamos percorrer essa trajetória?

o Mudança de paradigmas recente e peculiaridades do contexto brasileiro: passado


colonial, experiência escravista encerrada há pouco mais de um século, pouca tradição
democrática.

“[...] em 515 anos de existência, contabilizam-se apenas 44 anos – não consecutivos – de


experiência democrática.” (ZAPATER, p. 33)

o “Leis não se criam no vácuo [...]” (ZAPATER, p. 33) Importância de se compreender os


processos sociais que envolvem a produção legislativa.

CF/88 e ECA trazem um grande avanço.

Isso significa que os direitos fundamentais foram ou estão sendo satisfatoriamente


regulamentados?

“Isso se explica, em alguma medida, pela permanência de mentalidades ainda forjadas sob
legislações produzidas em outros contextos sociais e culturais.” (ZAPATER, p. 34)

Crianças e Adolescentes na Constituição de 1824

Contexto histórico: Período imperial no qual significativa parcela da população brasileira não
era considerada como pessoa (ex: escravos, mulheres e crianças).

Não há na Constituição qualquer referência a crianças e adolescentes.

o Crianças vistas como adultos em miniatura.

o Roda dos expostos como modalidade de institucionalização para crianças abandonas.

o 1831. O Código Criminal do Império trazia a licitude dos castigos físicos aplicados aos
filhos, assim como a escravos e a alunos.

Em 1871. Uma das primeiras normas a juridicizar relações entre adultos e crianças foi a Lei do
Ventre Livre.

É uma norma que reconhece o direito à liberdade das crianças cujas mãe fossem mulheres
escravas?

A finalidade é dar um destino às crianças sem onerar o senhor. Ver artigo 1º da Lei.

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Este material é apenas um roteiro!!! O estudo deve ser feito por meio da leitura dos textos e das obras
indicadas em sala!!!
Crianças e adolescentes na Constituição de 1891

Contexto histórico: Em 1889 um golpe militar encerra o período imperial brasileiro, instaurando
a primeira república. Na constituição houve avanços importantes em relação aos direitos civis
(ex: igualdade formal e estado laico), mas é incipiente em relação aos direitos políticos.

Não há na Constituição qualquer referência a crianças e adolescentes.

o Consequências sociais da extinção legal da escravidão, processo de urbanização e


aumento da desigualdade social e dos índices de pobreza.

o Cenário que gera uma demanda pela criação de normas de contenção das populações
economicamente vulneráveis, políticas higienistas.

CÓDIGO MELLO MATOS DE 1927 (DECRETO N. 17.943-A)

o Cria a categoria “menor”:

“Art. 1º O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18


annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistencia e
protecção contidas neste Codigo.”

o Instaura a chamada doutrina da situação irregular.

“[...] se de um lado a legislação abre a possiblidade de arbitrariedades para crianças e


adolescentes vulneráveis, de outro mantém as demais pessoas com menos de dezoito anos
em categoria cuja cidadania não se reconhece.” (ZAPATER, p. 40)

Crianças e adolescentes na Constituição de 1934

Contexto histórico: Constituição aprovada na vigência do primeiro golpe promovido por Getúlio
Vargas. Inspirada na constituição social-democrata alemã de Weimar. Incorpora pela primeira
vez direitos sociais ao texto constitucional.

Surgem pela primeira vez no texto constitucional dispositivos com referências à infância e à
juventude.

Previsões pela chave do reconhecimento como sujeitos de direitos?

o Manifesta ideais de eugenia.

Crianças e adolescentes na Constituição de 1937

Contexto histórico: Constituição outorgada na ditadura de características fascistas do Estado


Novo.

Continha em seu texto previsões referentes à infância e à juventude.

Previsões pela chave do reconhecimento como sujeitos de direitos?

o Proteção à infância com um significado claro de tutela moral.

o Permanece vigente o Código Mello Mattos de 1927.


Crianças e adolescentes na Constituição de 1946

Contexto histórico: Redemocratização após a ditadura do Estado Novo. Nova Constituição


promulgada, mantendo os direitos sociais previstos desde 1934 e reincorporando os direitos
civis e políticos suprimidos pela Constituição de 1937.

Continha em seu texto previsões referentes à infância e à juventude.

Previsões pela chave do reconhecimento como sujeitos de direitos?

o As previsões acerca da infância perpetuam a vertente assistencialista.

o Permanece vigente o Código Mello Mattos de 1927.

1943. Foi formada uma Comissão Revisora do Código Mello Mattos, mas o golpe militar em
1964 levou à dissolução dessa comissão.

Crianças e adolescentes na Constituição de 1967

Contexto histórico: Constituição que foi produzida e vigorou durante a ditadura militar.

Suas previsões relativas às crianças e aos adolescentes foram tímidas, incorporadas nas
disposições relativas à família.

Previsões pela chave do reconhecimento como sujeitos de direitos?

o Ainda sob a chave do assistencialismo.

o O regime militar trata a “questão dos menores” como problema de “segurança


nacional”.

CÓDIGO DE MENORES DE 1979 (LEI Nº 6.697)

o Entrou em vigor nos últimos anos da ditadura militar, perpetuando ainda a adoção da
doutrina da situação irregular.

o Sob a mesma categoria jurídica de situação irregular estão duas situações distintas, a
situação de risco e a prática de ato infracional, não designa medidas jurídicas
especializadas para cada uma.

o Tinha formulações vagas e carregadas de conotação moral, como “perigo moral” e


“desvio de conduta” que seriam definidas pelo critério moral do julgador.

“O Código de Menores de 1979 perpetuou a divisão jurídica das crianças e adolescentes


brasileiros em duas infâncias distintas por um critério que se materializava nas diferenças
econômicas e sociais: uma “regular” e outra “irregular”. A “regular” prescinde de definição legal
e corresponde às crianças que não passam por qualquer “privação de condições essenciais à
sua subsistência, saúde e instrução obrigatória” e são, portanto, consideradas a salvo do
“perigo moral” e cuja conduta não é desviante. Destas o Estado não se ocupa, pois somente as
crianças em situação irregular serão legalmente definidas e estarão sob vigilância do Estado”
(ZAPATER, p. 53)
Crianças e adolescentes na Constituição de 1988

Contexto histórico: Transição para a democracia após mais de duas décadas de ditadura
militar. Participação de movimentos sociais na Assembleia Nacional Constituinte, realizada
entre 1987 e 1988, como o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.

o O artigo 227 estabeleceu uma verdadeira declaração de direitos, inaugurando a


adoção da doutrina da proteção integral.

O que podemos perceber a leitura do artigo 227?

Algumas das mudanças advindas de forma expressa com a mudança de paradigma:

o Parâmetros orçamentários para que o Estado cumpra suas obrigações no que diz
respeito aos direitos sociais de crianças e adolescentes.

o Proibição do trabalho infantil e fornecimento de balizas para a proteção especial do


trabalho do adolescente a partir dos 14 anos.

o As situações de vulnerabilidade passam a ter tratamento jurídico distinto das situações


de prática de ato infracional.

o O procedimento para apuração de ato infracional e a imposição de medidas


socioeducativas de privação de liberdade ganham garantias de observância do devido
processo legal e da ampla defesa.

LEI 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

o Reitera a adoção da doutrina da proteção integral. Ver artigo 1º.

“Trata-se de um verdadeiro microssistema que cuida de todo o arcabouço necessário para


efetivar o ditame constitucional de ampla tutela do público infantojuvenil.” (AMIN, p. 41)

Para reflexão final da aula:

“Em resumo, no campo formal, a doutrina da proteção integral está perfeitamente delineada. O
desafio é torna-la real, efetiva, palpável. A tarefa não é simples. Exige conhecimento
aprofundado da nova ordem, sem esquecermos as lições e experiências do passado. Além
disso, e principalmente, exige um comprometimento de todos os agentes – Judiciário,
Ministério Público, Executivo, técnicos, sociedade civil, família – em querer mudar e adequar o
cotidiano infantojuvenil a um sistema garantista.” (AMIN, p. 48)

BIBLIOGRAFIA
ZAPATER, Maíra. Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Org.). Curso de direito da criança e do
adolescente: aspectos teóricos e práticos. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

Bons estudos!!!
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