Você está na página 1de 53

INDICE

CAPITULO I..................................................................................................................2
HISTÓRICO DE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E DAS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL................2
1.1 ECA – A CONQUISTA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.....7
1.2 O ATO INFRACIONAL E A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA......................................8
1.3 A NATUREZA DO ATO INFRACIONAL.....................................................................9
1.4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS................................................................................10
1.5 APLICAÇÃO LEGAL DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.................................11
1.6 A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISITIDA............................13
1.7 CARACTERÍSTICAS DO ADOLESCENTE QUE COMETE ATOS INFRACIONAIS
...............................................................................................................................................14
1.8 CARACTERÍSTICAS DA LIBERDADE ASSISTIDA.................................................15
CAPITULO II...............................................................................................................17
CONCEITO DE FAMILIA COMTEMPÔRANEA E O TRABALHO DA ASSISTENTE
SOCIAL COM AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE LIBERDADE ASSISTIDA.17
2.1 DIREITO E POLÍTICA SOCIAL DA FAMÍLIA..........................................................22
2.2 SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE...................................................24
2.3 ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL........................................................................................27
2.4 A FAMÍLIA COMO DEMANDA PARA O SERVIÇO SOCIAL.................................29
2.5 SERVIÇO SOCIAL E O ADOLESCENTE EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA.....33
CAPITULO III..............................................................................................................37
PESQUISA DE CAMPO.............................................................................................37
3.2.1 CAUSAS QUE LEVAM O ADOLESCENTE A COMETER O ATO INFRACIONAL
...........................................................................................................................................42
3.5 PERFIL DOS ADOLESCENTES DO (SMSE/MA) SERVIÇO DE MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO......................................................................51
2

CAPITULO I

HISTÓRICO DE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E DAS MEDIDAS


SOCIOEDUCATIVAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

É necessário fazer uma contextualização histórica e social sobre a evolução


dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, para existir uma reflexão sobre o
tema, procurando identificar a atenção no ato infracional ao longo do tempo. Para
isto faz-se necessário compreender as o lugar e a importância das crianças e
adolescentes na sociedade desde Brasil Colônia e Republica até os dias atuais.

A Igreja, segundo Alberton (2005), durante todo o período colonial e nos


períodos subseqüentes, preocupada com os colonizadores, passaram a ter um
papel importante na defesa das mulheres e crianças. Até inícios do século XX, toda
atenção, amparo, projetos e atividades voltadas à infância foi exercida pela Igreja
Católica através de sua doutrina. Desde a chegada dos colonizadores, até o inicio
do século XX não se registravam no Brasil ações que possam ser caracterizadas
como políticas sociais com exceção da política da educação. Não havendo, portanto,
uma ação de estado para atender as necessidades da população empobrecida, pois
a Igreja se encarregava, dentro de sua doutrina religiosa, de fazer também um papel
social por meio da caridade.

Como Alberton (2005), Simões (2009) ressalta também na sua


contextualização histórica, que no Brasil colonial e imperial, a assistência à criança e
adolescente abandonados era de responsabilidade da igreja, seguindo a exemplo da
Europa, com um trabalho assistencialista. Assim os religiosos passaram a ter um
papel histórico importante na defesa da criança e do adolescente.

Kaminski (2002) aponta que o inicio do Período Imperial Brasileiro surgiu à


necessidade da elaboração de nossa primeira Constituição, foi assim criada e
instalada em 1823 a nossa primeira Assembléia Constituinte. José Bonifacio,
membro da primeira Assembléia Constituinte Brasileira, apresentou o primeiro
Projeto de Lei Brasileiro que apresentava um olhar nacional para a criança, tendo
como objetivo o menor escravo. Esse projeto, entretanto, caracterizava-se mais
como uma forma de manutenção da mão-de-obra escrava infantil do que como um
3

meio para assegurar direitos humanos às crianças submetidas ao trabalho na época


da monarquia brasileira.

Kaminski (2002) afirma que o Código Criminal do Império Brasileiro de 16 de


dezembro de 1830, apresentava a criança e o menor infrator, como todas as
pessoas cuja idade não passava dos 21 anos incompletos. Portanto, se por um lado
a proposta do projeto de José Bonifacio visava o menor escravo, destinando-lhes
outra condição social de liberdade, por outro lado o Código Criminal do Império
classificava a criança ou adolescente que praticava o ato infracional tendo idade
menor do que 21 anos incompletos como criminoso, impondo-lhe uma
responsabilidade criminal pela prática de atos tidos como crimes, desde que
cometidos com consciência dos atos.

Segundo Tejadas:

Em 1922, surgiu o primeiro estabelecimento publico para atenção de


crianças e adolescentes no Rio de Janeiro. Em 1927, foi elaborada a
primeira legislação especifica da área, o Código de Menores, cujo
autor foi o juiz de menores Mello de Mattos. (2007, p. 36).

Segundo Tejadas (2007), neste período começaram a ser criadas regras


especificas para a proteção da criança e adolescentes que necessitavam de alguma
legislação especial para a sua proteção. A Constituição Brasileira do Brasil
República de 1934 foi a primeira a preconizar direitos sociais mais amplos dos
trabalhadores e aos servidores públicos. Não perduraria por muito tempo, pois, em
1937 houve um golpe de Estado e instalou-se o Estado Novo, o qual se estendeu
até 1945, abalando a recente discussão acerca dos direitos, especialmente os civis
e políticos.

Para Rizzini (1995), nas décadas de 1930 e 1940, durante o período do


Estado Novo (1937 a 1945), o Governo de Getulio Vargas instituiu algumas
mudanças no tratamento da menoridade, tendo como plataforma inicial a ampliação
da responsabilidade penal para 18 anos e fixando as bases de organização da
proteção à maternidade, à infância e à adolescência em todo o território nacional.
Aos poucos, o problema da infância abandonada, “delinqüente” e “infratora”, como
eram chamados inclusive na legislação oficial passam a ser encaradas não como
um caso de polícia, mas como uma questão de assistência e proteção à criança e ao
adolescente no âmbito da lei e como forma de prevenir a criminalidade.
4

Carvalho (2004) destaca na área da infância e da juventude, a


obrigatoriedade do ensino básico e a criação do Serviço de Assistência ao Menor
(SAM), em 1942, sendo este um órgão do Ministério da Justiça que funcionava
semelhante ao sistema fechado penitenciário só que para a população menor de 18
anos, cuja lógica do trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e
adolescentes abandonadas ou que teriam cometido um ato infracional.

Nesta época, foram construídos internatos, reformatórios e casas de correção


para os jovens infratores. Este período foi marcado por ação assistencialista,
populista e varias entidades governamentais de atendimento à infância foram
criadas todas vinculadas, à Primeira Dama do País, período este marcado pelo
primeiro “damismo”.

Criou-se também segundo Carvalho (2004) em 1942 a Legião Brasileira de


Assistência (LBA) e a Fundação Darcy Vargas em 1938, esta ultima voltada para a
assistência hospitalar materno-infantil. O período democrático que sucede à ditadura
Varguista não foi fértil quanto à evolução dos direitos sociais, o mesmo se refletindo
na área da infância e da juventude, onde não houve avanços significativos.

De 1964 até o inicio da década de 1980, Tejadas (2007) aponta para a


instauração do regime ditatorial (ditadura militar brasileira) comprometendo o
exercício dos direitos humanos de um modo geral. Trata-se de um período da
história brasileira demarcado pelo rápido crescimento econômico, havendo, em
contrapartida, um aprofundamento das desigualdades sociais. No campo dos
direitos, ao mesmo tempo em que retrocederam os direitos civis e políticos, foram
ampliados os sociais, como forma de conquistar popularidade ao regime militar
imposto.

Segundo Tejadas:

Foram instituídas duas legislações significativas: a Política Nacional


de Bem Estar do Menor (PNBEM), Lei nº. 513, de 1964, e o Código
de Menores, Lei nº 6697, de 1979. Ambas as legislações tinha como
foco uma parcela de crianças e adolescentes, ou seja, os pobres,
considerados em situação irregular. (2007, p. 37).

Ainda segundo o autor acima citado, não havia distinção entre diferentes
questões que afligiam a infância e a juventude de um modo geral. O menor
abandonado, o carente e o infrator, eram todos tratados da mesma maneira, ou seja,
5

recorriam-se à colocação de crianças em internatos, patronatos, instituições de


reclusão localizadas preferencialmente em regiões afastadas dos centros urbanos.
Nessas instituições, pretendia-se reeducar, ressocializar, reformar o sujeito para o
convívio em sociedade. Entendia-se o meio social onde a criança vivia, assim como
sua própria família, como incapazes para a tarefa de socialização. Quanto à
intervenção do Estado na gestão da política de diretrizes para as questões do
menor, ocorria de forma centralizada e verticalizada surgindo do órgão normativo, ou
seja, da fundação nacional do bem estar do menor (FUNABEM) as regras para
atenção à criança e ao adolescente. Este órgão e substituto do Serviço de
Assistência ao Menor (SAM) foi criado por um decreto de lei no primeiro governo
militar. Deste modo um dos seus objetivos era formulação e implantação da Política
Nacional do Bem-Estar do Menor. Sendo esta transição um marco importante entre
a concepção de correção para a assistencialista.

Tejadas (2007) afirma que, a implementação nos estados para as diretrizes


formuladas em nível nacional cabia às Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor
(FEBEM). Recorriam-se de modo geral, à colocação de crianças em internatos,
patronatos, instituições de reclusão localizadas preferencialmente em regiões
afastadas dos centros urbanos, isolando-os do convívio em família e principalmente
afastando-os da sociedade em que se obtiveram as intercorrencias de cunho
disciplinar.

Para Costa (1994):

Na década de 1970 surgiram movimentos, inclusive na própria


FUNABEM, que questionavam os modelos correcional-repressivo e
assistencialista, buscando uma perspectiva educacional para o
atendimento de crianças e adolescentes. A década de 1980,
considerada “perdida” quanto ao crescimento econômico do país, foi
fértil com relação ao desenvolvimento dos direitos civis, políticos e
sociais, os quais refletiam a movimentação social ocorrida nesse
período os movimentos sociais ganharam força, com isso, surgiram
exigindo liberdade democrática e o fim da ditadura militar. Esse
processo favoreceu a produção de avanços significativos na evolução
dos direitos da infância e da juventude.

Como afirma o autor acima citado e Alberton (2005) segue no mesmo


raciocínio, onde no final dos anos 70 e durante a década de 80, viveu-se, no Brasil,
6

um período de abertura política a afirmação dos princípios democráticos e a lutas


em defesa dos direitos humanos tornaram-se muito presente. Porém a análise que
deve ser feita correspondente a área da infância, indica para os velhos modelos
educacionais, onde as práticas correcionais, repressivas ou assistencialistas
passaram a ser questionadas, a partir da analise de normativas internacionais que
sustentavam o princípio da universalidade dos direitos humanos, principalmente em
se tratando de crianças e adolescentes.

Desta forma, partindo das citações acima, observamos que, o fruto da


valorosa mobilização social e popular, para a elaboração de uma constituinte pós
ditadura houve também movimentos voltada para os interesses de todas as crianças
e adolescentes e o caráter de universalização da proteção das Crianças e do
Adolescente não mais restrita. Sua efetivação inspirada na Convenção Internacional
dos Direitos da Criança, assegurou, em seu artigo 227, com absoluta prioridade,
direitos fundamentais à população infanto-juvenil do nosso País, abrindo
possibilidades educacionais, sociais e principalmente a prioridade no convívio em
família, cujos textos apontam sempre para a primeira instância, ou seja, a familiar.

Portanto, nos anos de 1980, houve serie de reivindicações dos movimentos


sociais em favor da defesa dos direitos da criança e adolescente, tendo o apoio dos
sindicatos, movimentos populares e entidades profissionais, que se propuseram
elaborar proposta de políticas para a ruptura como o antigo sistema, que acabou por
se materializar na constituição de 1988.

Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar.
(Constituição Federal, 1988).

Analisando as informações acima, pela primeira vez a criança e o adolescente


passam a ser considerados sujeitos de direito, portanto invertendo toda lógica que
era vigorada no País. Não seria mais a criança e o adolescente que estaria em
situação irregular, mas sim, a Família, a Sociedade e o Estado, se os seus direitos
não fossem assegurados.
7

1.1 ECA – A CONQUISTA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Federal nº 8.069/90 foi


sancionada em 13 de julho de 1990 e passou a vigorar no Brasil a partir de 14 de
outubro, revogando assim o Código de Menores. Esta Lei passou a regulamentar o
Art. 227 da Constituição Federal/88 que atribui à criança e ao adolescente,
prioridade absoluta no atendimento aos seus direitos como cidadãos. Sendo esta
conquista deliberada a partir das idéias e da participação de vários segmentos
sociais envolvidos na luta pelos direitos da criança e do adolescente.

Segundo Simões (2009), o ECA traz um novo entendimento da Criança e do


Adolescente, regulamentando os art. 227 e 228 da Constituição Federal/88, no que
se refere à proteção integral, aos seus direitos como pessoas em desenvolvimento
com absoluta prioridade, sendo assim, a concepção de menor em “situação
irregular” do Código de Menores de 1979, foi revogado pelo ECA, priorizando
proteção integral, a todas as Crianças e Adolescentes do País, independente de sua
classe social. Portanto, doutrina da proteção integral, compreende a criança como
sujeito de direito, reafirma os direitos individuais e coletivos destes como esta
assegurado na Constituição Federal.

Costa (1993) afirma que a promulgação do ECA, foi uma grande conquista da
sociedade brasileira: a produção de um documento de direitos humanos que
contempla o que há de mais avançado na normativa internacional em respeito aos
direitos da população infanto-juvenil. Este novo documento altera significativamente
as possibilidades de uma intervenção arbitrária do Estado na vida de crianças e
jovens. Como exemplo disto pode-se citar a restrição que o ECA impõe à medida de
internação, aplicando-a como último recurso, restritos aos casos de cometimento de
ato infracional, e mediante a possibilidade do convívio com a família, mesmo
estando sob responsabilidade do Estado, as prioridades sempre serão estabelecidas
para a liberdade, mesmo que seja assistida.

Desde a promulgação do ECA, um grande esforço para a sua


implementação vem sido feito nos âmbitos governamental e não–
governamental. A crescente participação do terceiro setor nas
políticas sociais, fato que ocorre com evidência a partir de 1990, é
particularmente forte na área da infância e da juventude. A
8

constituição dos conselhos dos direitos, uma das diretrizes da política


de atendimento apregoada na lei, determina que a formulação de
políticas para a infância e a juventude deve vir de um grupo formado
paritariamente por membros representantes de organizações da
sociedade civil e membros representantes das instituições
governamentais. (COSTA, 1993).

De acordo com Simões (2009), os princípios constitucionais, que compôs o


Estatuto da Criança e do Adolescente foram elaborados conforme as normativas
internacionais, especialmente, entre outras, seguindo os preceitos da ONU.

Segundo afirma Zamora (2005), o estatuto trouxe uma mudança doutrinária,


abandonou o paradigma da “situação irregular” que regiam os antigos códigos de
menores e passou a adotar a doutrina da “proteção integral” expressa da Convenção
das Nações Unidas sobre o direito da criança. A doutrina da proteção integral
compreende a criança como sujeito de direito. Reafirma os direitos individuais e
coletivos assegurados na Constituição Federal. Segundo o estatuto, os direitos são
assegurados para todas as crianças e todos os jovens, inclusive aqueles que
chegam à justiça em razão do ato infracional.

1.2 O ATO INFRACIONAL E A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA

O ato infracional, segundo Serejo (2006), é considerado um delito praticado


em um espaço público ou privado, podendo ser caracterizado através de violência
física, furto, uso de drogas e tráfico, tendo como referência o direito penal quando
cometido por um adolescente até dezoito anos. No Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), quando um adolescente comete um ato infracional, pode
receber uma advertência, e dependendo da gravidade do seu ato, pode ser
conduzido para internação em regime aberto ou fechado, pois o ato infracional
correspondente as medidas socioeducativas diferenciam-se de acordo com o sujeito
da conduta, ou seja, às crianças correspondem as medidas de proteção, enquanto
atos cometidos por adolescentes corresponderão às medidas socioeducativas.

Segundo Serejo:

O crime e a contravenção penal são espécies do gênero infração


penal. Ao crime comina-se sansão mais severa (reclusão, detenção
9

e/ou multa) do que a prevista para a contravenção (prisão simples


e/ou multa). Não há diferença ontológica, ou seja, de essência, entre
o crime e a contravenção, com a renovação dos valores sociais, uma
contravenção pode se tornar um crime. (2006, p. 61).

Partindo das informações acima citadas, para a criança ou adolescente que


comete um crime ou contravenção penal, a isso é considerado “ato infracional”. As
determinações da lei são diferenciadas dos sujeitos maiores de dezoito anos, cujas
infrações cometidas são consideradas crimes ou contravenções penais passíveis de
reclusão. O que diferencia o ato infracional cometido pela criança ou adolescente do
crime ou contravenção penal aplicada aos maiores de dezoito anos são dois
aspectos distintos: o primeiro diz respeito ao sujeito da conduta ilícita, pois o ato
infracional é considerado ato típico praticado por sujeitos menores de dezoito anos
(criança ou adolescente), enquanto o crime ou contravenção penal passível de
detenção dizem respeito à conduta de sujeitos maiores de dezoito anos.

1.3 A NATUREZA DO ATO INFRACIONAL

Para Volpi (1997 p.15), “o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),


através do artigo 103, define de forma taxativa o ato infracional como conduta de
contravenção ou crime previsto em lei. A responsabilidade pela conduta descrita
começa aos 12 anos”.

Confirmando as informações de Serejo (2006), Volpi (1997) também ressalta


o tratamento diferenciado sobre o ato infracional cometido, em se tratando de
criança e adolescente, destacando que a política de atendimento aos direitos da
criança e adolescente, no que tange ao autor de ato infracional, deve acatar os
princípios da Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança (artigo 40); as
Regras Mínimas das Nações Unidas para a administração da Infância e da
Juventude (Regras de Beijing – Regra 7); as Regras Mínimas das Nações Unidas
para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade (Regra 2); a nossa Constituição
Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

601940289.docExistem convenções internacionais formalizadas que


regulamentam as ações das quais os países devem tomar com relação aos atos
10

infracionais das crianças e adolescentes, face às medidas socioeducativas que


podem ser tomadas, todavia um ato infracional efetivado por uma adolescente
também afeta a família, sobretudo os responsáveis diretos pela criança ou
adolescente.

1.4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê no Art. 106 que


“nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.”

As medidas sócioeducativas são as medidas aplicáveis aos adolescentes que


cometem ato infracional. Verificada a prática do ato infracional, a autoridade
competente poderá aplicar ao adolescente as medidas previstas no artigo 112 do
ECA.

O programa de reinserção social do adolescente em conflito com a lei visa


articular e estimular os esforços do sistema sócio-educativo, instituído pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente e propiciar ao adolescente autor de ato infracional o
desenvolvimento da capacidade de convívio social construtivo por meio do exercício
dos seus direitos e deveres de cidadania.

A eficácia das Medidas Sócioeducativas depende da co-


responsabilidade do Estado, da sociedade e da família em garantir
proteção e desenvolvimento integral ao adolescente. Requer uma
política de atendimento como conjunto articulado de ações
governamentais e não governamentais em todos os níveis da
Federação. Exige completo reordenamento institucional do sistema
sócio-educativo, bem como a integração de órgãos do Judiciário,
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência
Social, especialmente no atendimento inicial do adolescente
envolvido com ato infracional. (art. 88 ECA).

Segundo Volpi (1997,43) “as medidas socioeducativas precisam estar


articuladas em rede, neste conjunto de serviços, assegurando assim uma atenção
integral aos direitos e ao mesmo tempo o cumprimento de seu papel especifico.”
11

1.5 APLICAÇÃO LEGAL DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e Adolescente


(ECA) que vão do art. 112 a 130 e dizem respeito as advertência aos adolescestes
que cometem um ato infracional. Essas podem ser dividas segundo sua natureza: a)
Medidas auto-aplicaveis, aquelas que se esgotam, quando do seu cumprimento,
como a Advertência e Obrigação de Reparar o Dano, b) Medidas Aplicáveis em Meio
Aberto, aquelas que não separam o jovem de sua família e de seu meio social,
precisando de programas específicos com profissionais que se responsabilizem pelo
acompanhamento dos adolescentes como, Prestação de Serviços à Comunidade
(PSC) e Liberdade Assistida (LA). c) Medidas privadas da liberdade, executadas em
instituições fechadas que devem possuir uma estrutura adequada para seu
cumprimento, é a Semiliberdade e a Internação. A legislação atribui penas
alternativas a um ato infracional, quando uma criança tem de zero a 12 anos
incompletos ou adolescente de 12 anos completo a 18 anos incompletos. Porém a
medida socioeducativa de “Liberdade Assistida” em meio aberto, só poderá ser
aplicada aos adolescentes que cometem um ato infracional menos grave quando de
natureza leve, ou seja, quando não houve violência física (homicídio, estupro,
latrocínio, etc.).

Como esta previsto no Art. 112, do Estatuto da Criança e Adolescente, depois


de verificado seu ato infracional, o adolescente, recebera algumas das medidas
socioeducativa abaixo, pelo Juiz da Vara da Infância e Adolescência:

II - obrigação de reparar o dano;

III - pressão de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semiliberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

§ 1° - A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua


capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2° - Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a


prestação de trabalho forçado.
12

§ 3° - Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental


receberão tratamento individual e especializado, em local adequado
às suas condições.

O Estatuto da Criança e do Adolescente descreve as competências para as


quais os juizados devem ter como referência para a aplicação das medidas
socioeducativas cabíveis para cada ato infracional, devendo observar sempre que
para aplicação de uma medida socioeducativa existe a obrigatoriedade de
estabelecimento de processo apurativo.

Para Serejo (2006), não existem informações no Estatuto da Criança e do


Adolescente acerca de uma conduta tida como ato infracional, não podendo a
autoridade judiciária levar em consideração qualquer outra forma de conduta
prevista em uma norma penal, pois existe o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Como resultado, reconhecida a prática do ato infracional pelo adolescente, poderá a
autoridade judiciária aplicar uma das medidas previstas no artigo 112 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, de forma considerada isolada ou cumulativamente à
interpretação do ato infracional cometido.

Serejo afirma que:

Reconhecida a prática de ato infracional e aplicada uma medida


socioeducativa, surge ao Estado promover sua execução, não
importando se a medida decorre de um acordo firmado quando da
concessão da remissão ou, por força de sentença, após o devido
processo legal. (2006, p. 85).

Com a nova legislação, somado às normas de aplicação vigentes no Estatuto


da Criança e do Adolescente, as medidas socioeducativas, antes executadas pelo
Estado, como afirma Serejo (2006), agora são executados pelos municípios ou
ONGs com convenio com a prefeitura.

Não podem ocorrer aplicação de medidas socioeducativas de forma isolada


do contexto social, político e econômico em que está envolvido o adolescente, bem
como sua família. Antes da aplicação de qualquer medida socioeducativa é preciso
que o Estado organize políticas públicas para assegurar ao infrator e seu meio de
convívio, com prioridade absoluta, os direitos dos quais preconiza o Estatuto da
Criança e do Adolescente, cujo objetivo principal é promover o bem estar em
primeira instância. Somente com os direitos à convivência, em primeira instância,
13

familiar e comunitária, à saúde, à cultura, esporte e ao lazer, e demais direitos


universalizados, será possível diminuir de forma significativa e também efetiva a
prática de atos infracionais cometidos por adolescentes.

1.6 A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISITIDA

Como aponta analise de Saliba (2006), quanto à estrutura em torno das


medidas socioeducativas, percebemos claramente que o Estatuto da Criança e do
Adolescente tem um princípio norteador que se baseia na ação pedagógica, aliada
sempre à presença da família e da comunidade. As medidas previstas para a
reeducação e a prevenção, pretendem estabelecer um novo padrão de
comportamento e conduta ao infrator, e desta forma promover um desligamento
entre o novo padrão de vida do adolescente e a “antiga” prática de atos infracionais.
Mesmo possuindo um caráter punitivo retirando a liberdade dos adolescentes
infratores, todas as medidas aplicáveis são enfatizadas a execução de caráter
educativo.

A medida de Liberdade Assistida busca evitar o internamento e


deposita na escola, na família e na sociedade a obrigação de
reintegrar socialmente o adolescente infrator. Considera-se a família
um parceiro privilegiado na difusão das normas. O acompanhamento
do infrator e de sua família deve ter uma referencia a verificação do
processo de socialização, da relação com a autoridade e da adesão
com as regras sociais. (Saliba, 2006, p.30).

1.7 CARACTERÍSTICAS DO ADOLESCENTE QUE COMETE ATOS


INFRACIONAIS

O próprio cometimento dos atos infracionais como afirma HUTZ (2002),


restringe, por meio de vários aspectos, a quantidade, a qualidade e o tipo de contato
que o jovem estabelece com o mundo exterior, e consequentemente, as suas
possibilidades de aprendizado nesta fase da vida. Uma vez que o jovem comece a
cometer atos infracionais que são intolerados socialmente, ele tende a se afastar do
seu meio de convívio inicial, e agrega-se a outros jovens que tenham o mesmo tipo
14

de comportamento e que valorizam a prática de delitos. Essa influência do novo


grupo de “influenciadores” na vida do adolescente, além de reforçar o
comportamento infrator, tende a restringir as possibilidades de novas amizades, de
novos contatos interpessoais, e consequentemente, de possibilidades de novas
habilidades sociais que não envolvam a agressão ou violência. A influência do grupo
de iguais permanece quando o jovem ingressa em instituições responsáveis pela
execução das medidas socioeducativas, uma vez que elas tendem a reunir, em
locais fechados e com pouco contato com o mundo exterior, um grande numero de
jovens infratores.

O jovem que comete delitos tende, também, a apresentar dificuldades


na escola, uma vez que suas atividades ilícitas e seu estilo de vida
são incompatíveis com aquilo que a escola espera e cobra dele. Além
disso, educadores nem sempre estão preparados para lidar com essa
problemática, de modo que uma pratica comum de resolver
problemas decorrentes do fato de ter em sala de aula um aluno que
comete delitos tende a ser a exclusão deste. Essa ausência de escola
pode gerar dificuldades para o desenvolvimento pleno das
capacidades cognitivas e causa um empobrecimento das
possibilidades de emprego e de desenvolvimento profissional futuro,
dificultando ainda mais uma tarefa típica da adolescência, que é
elaborar um plano profissional para a vida. (HUTZ, 2002, p.168).

O adolescente que comete um ato infracional possui características que


norteiam suas ações a partir do momento em que começa a cometer atos
infracionais, passando a fazer parte de uma realidade diferente de jovens que
apresentam características de desenvolvimento familiar e comunitário. A propensão
dos jovens que cometem atos infracionais sofrerem discriminação e demais
preconceitos da sociedade pode interferir em seu desenvolvimento, principalmente
em se tratando de trabalho e formação educacional.

1.8 CARACTERÍSTICAS DA LIBERDADE ASSISTIDA

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), segundo Porto dispõe


de um leque de medidas socioeducativas direcionadas aos adolescentes em conflito
com a lei, entre elas a de liberdade assistida (LA). Incluída – junto com a prestação
15

de serviços à comunidade, a reparação do dano e a advertência – no repertório de


medidas a serem cumpridas em meio aberto, a liberdade assistida é vista por
estudiosos como uma proposta que pode colaborar, em muito, para o
desenvolvimento do potencial do assistido.

Liberdade assistida se se constitui numa medida coercitiva quando se


verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do
adolescente (escola, trabalho e família). Sua intervenção educativa
manifesta-se no acompanhamento personalizado, garantindo-se os
aspectos de: proteção, inserção comunitária, cotidiano, manutenção
de vínculos familiares, freqüência a escola, e inserção no mercado de
trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos. (Volpi, 1997
p.24).

A medida socioeducativa, a liberdade assistida, tem como caráter preventivo,


com intuito de educar o adolescente, não privando do convívio familiar, sofrendo
apenas restrição de sua liberdade e seus direito. Esse tempo estimulado para
cumprir a medida socioeducativa não pode ultrapassar seis meses, mas poderá ser
revogado por mais tempo, pelo Juiz da Vara da Infância.

E a liberdade assistida poderá ser desenvolvida por grupos


comunitários com orientadores voluntários, desde que os mesmos
sejam capacitados, supervisionados e integrados à rede de
atendimento ao adolescente. (VOLPI, 1997 p. 25).

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), após a decisão


judicial, caberá ao adolescente ser encaminhado por um Juiz da Vara da Infância,
para um programa Municipal que é executado junto ao Centro de Referencia
Especializado de Assistência Social (CREAS), para um acompanhamento com
profissionais capacitados como Assistentes Sociais, Psicólogos e Pedagogos para
que de fato participe da rotina do adolescente. Estes profissionais têm como
proposta orientar este adolescente, junto sua família, acompanhar sua freqüência
escolar e inserção no mercado de trabalho através de cursos profissionalizantes, a
medida socioeducativa liberdade assistida em meio aberto tem como intuito de
manter o adolescente no convívio no meio familiar.

De acordo com o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente


indica-se, atualmente, que os programas de liberdade assistida
devem ser estruturados nos diferentes municípios, com atendimento a
um número reduzido de adolescentes residentes na comunidade
16

onde se encontra o programa. Para obterem êxito, devem receber


apoio de projetos e instituições locais convidadas a colaborar com
vistas à integração social dos jovens. Agora, a interação com postos
de saúde, regiões administrativas, projetos de lazer, escolas e cursos
profissionalizantes deve ser preocupação dos profissionais que atuam
em programas de liberdade assistida. (Seda, 1998, p. 48)

A Medida Socioeducativa Liberdade Assistida tem como proposta de


funcionar da seguinte forma: quando um adolescente é encaminhado para um
programa de liberdade assistida o mesmo, tem que preencher o PIA (Plano
Individual de Atividade), neste plano é definido metas para serem alcançados no
decorrer da medida. Onde a equipe multidisciplinar verifica a história do adolescente
através do seu perfil, sua família, suas necessidades, para ter uma execução e
cumprimento da medida socieducativa – liberdade assistida, como exemplo: o
adolescente que não freqüenta a escola é encaminhado e providenciado a matricula
e se faz uso de drogas é incluindo em tratamento de dependência química, se
necessário será encaminhado ao CRAS para ser incluído à Bolsa Família.

O compromisso, agora, é com os direitos desses jovens, direito de


não continuar cometendo infrações, direito de ter uma vida digna,
direito de ser incluído nas políticas públicas. Para tanto, temos de
apontar não simplesmente suas patologias, mas as indicações para o
completo desenvolvimento, seguindo-se os parâmetros indicados no
Estatuto, ou seja, o que está sendo oferecido para promover seu
direito à saúde, à educação, à convivência familiar e comunitária
(Brito 2000, p. 124).

As ferramentas utilizadas para o tratamento das medidas socioeducativas a


partir de um ato infracional cometido por um adolescente, requer atenção especial
da família, dos órgãos competentes e de toda sociedade acerca das atitudes a
serem tomadas, tendo em vista que o jovem infrator está em seu desenvolvimento
intelectual. O Estatuto da Criança e do Adolescente em seus diversos capítulos
deixa claro, principalmente sobre as orientações judiciais, as ferramentas de
correção cabíveis a cada caso. As instituições podem executar os procedimentos
não apenas com a intenção de cumpri-las, mas principalmente pensando no
desenvolvimento do adolescente, proporcionando a ruptura com o ato infracional,
através da educação, fundamentada em valores humanos e referenciais éticos.
17

CAPITULO II

CONCEITO DE FAMILIA COMTEMPÔRANEA E O TRABALHO DA ASSISTENTE


SOCIAL COM AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE LIBERDADE ASSISTIDA

A família contemporânea passa a ter uma direção oposta a existiu séculos


anteriores, a partir da evolução industrial ocorre à migração do campo para a cidade
que faz com que membros da família deixem de produzir apenas bens de
subsistência, para saírem em busca de empregos. Com o crescimento progressivo
das populações urbanas, esse processo vem crescendo a cada dia, esta tendência
se tornou mais intensa, tornando-se hoje quase que predominante.

Para Cerveny (2007), mesmo diante das novas, atuais e diversas


configurações familiares, ainda podemos compreender a família como um processo
de passagem entre gerações, materialização diante de costumes que vão se
desenvolvendo ao longo do tempo. Com idéia de transmissão de geração para
geração, a hipótese do declínio do grupo familiar deve ser relativizada, desde que
não se eleja somente o critério biológico, a família continua a existir como um grupo
afetivo, independentemente de sua configuração, seja nos aspectos dos costumes,
crenças ou convívio em sociedade. No processo de transmissão geracional, é
notável a presença e a influencia da história das relações sobre a vida dos sujeitos
dentro dos grupos familiares.

Como afirma Samara (2004), a partir do processo de industrialização, no


século XVII, a família passou por inúmeros processos de transformações. Nesse
período encontrávamos a chamada família nuclear burguesa, composta por pai, mãe
e filhos vivendo numa casa.

Segundo Philippe Áries (1981), até o século XV a família era uma realidade
moral e social, mais do que sentimental. A família quase não existia
sentimentalmente entre os pobres e quando havia riqueza e ambição, o sentimento
se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de
descendências ou linhagem como define o autor.
18

Philippe Áries (1981) esclarece ainda que:

A analise iconográfica leva-nos a concluir que o sentimento da família


era desconhecido da Idade Média e nasceu nos séculos XV-XVI, para
se exprimir com um rigor definitivo no século XVII. (...) A idéia
essencial dos historiadores do direito da sociedade é que os laços de
sangue não constituíam um único grupo, e sim, dois distintos embora
concêntricos: a família ou mesmie, que pode ser comparada à nossa
família conjugal moderna, e a linhagem, que estendia sua
solidariedade a todos os descendentes de um mesmo ancestral
(Áries, 1981, p 276-277).

Conforme Samara (2004), a família brasileira surgiu na metade do século


XIX, nelas os papeis de homem e de mulher e as fronteiras entre publico e privado
são rigidamente definidas, neste sentido, inclusive o amor e sexo são vividos em
instâncias separadas. As atribuições de chefe de família e exclusividade do homem.

A família brasileira seria o resultado da transplantação e adaptação


da família portuguesa no nosso ambiente colonial, tendo gerado um
modelo com características patriarcais e tendências conservadoras
em sua essência. (Samara, 2004, p.8).

Segundo Samara (2004) a família patriarcal é conhecida como sinônimo de


família extensa que agregava ao núcleo central familiar, inserindo outras pessoas de
várias origens, com qualquer laço de parentesco, trabalho ou amizade, que
mantinham diversos tipos de relações com os demais membros da casa, e como
exemplo dessas pessoas, os filhos ilegítimos ou de criação, parentes em qualquer
nível, afilhados, serviçais e empregados em geral, amigos e escravos no meio de
convívio. Esse modelo de estrutura familiar-patriarcal serviu de base para
caracterizar a família brasileira durante muito tempo.

Ainda para Samara (2004) ainda aponta para um aspecto fundamental que a
família desempenhou na sociedade colonial Brasileira, aparecendo também como
solução para os problemas de acomodação sociocultural da população livre e pobre.
Nesse período o papel do chefe de família, que além de exercer a autoridade sobre
a mulher, filhos e demais dependentes, cuidava dos negócios, preservando a honra
e a integridade de todos. O núcleo central era formado pelo chefe de família,
esposa, filhos legítimos e netos por linha materna ou paterna, expondo para a
sociedade e o meio de convívio o melhor modo de se organizar uma família. Esse
19

modelo de estrutura familiar necessariamente enfatizava a autoridade do marido,


atribuindo à esposa um papel mais restrito de menos poder no âmbito da família. As
mulheres depois de casadas passavam a tutela do pai para o marido, cuidando dos
filhos e da casa no desempenho da função doméstica que lhes estava reservada.

Segundo Santos (2007), a família brasileira vem passando por


transformações, ao longo do tempo, e evolui conforme as conjunturas socioculturais.
Podemos afirmar que enquanto fenômeno social, ela não é um agente passivo. Sua
história revela poder de adaptação e uma constante resistência em face das
mudanças de cada período do seu ciclo.

Para Singly (2000), nos séculos XIX e XX era comum falar em crises na
família, contudo, na década de 90, surgiu a concepção da família contemporânea,
que trouxe novos modelos de convivência familiar, apontando para uma nova
configuração de relação entre seus membros. Assim, a tendência atual é trabalhar
as relações de convivência, os sentimentos, as representações sobre casais e filhos
em situação de igualdade, e apesar da resistência do patriarcalismo como um
sistema, pode-se afirmar que as famílias de hoje não possuem mais tanta rigidez
hierárquica, com controle total exercido pelo homem, em detrimento da mulher e dos
filhos, existindo uma variação de acordo com os territórios ou região.

Nas famílias de hoje, a autoridade familiar vem sendo modificada com a


inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberdade da mulher em relacionar se
com diferentes parceiros durante o decorrer da vida, a independência dos filhos, e o
desemprego masculino principalmente nas camadas mais pobres da sociedade.

Santos ressalta que:

Hoje se falam em família extensa, desconstruída, recomposta,


monoparental e homoparental. Esses diversos modelos de família da
contemporaneidade assumem caráter inovador, democrático e
pautam seus relacionamentos no princípio de igualdade,
solidariedade, afetividade e liberdade, incentivando e estimulando os

seus membros a exercer autonomia e independência. (2007 p.19).

Nesse sentindo a família é entendido como um lugar de convívio e de


confronto entre os gêneros e gerações, espaço em que a realidade é complexa e em
constante transformação, fazendo com que os acontecimentos na dinâmica familiar
se desenvolvam de forma que o individuo tenha sua identidade dentro do contexto
20

social e familiar. “Dessa forma, a história de uma família é marcada por momentos
de crescimento, de estagnação, encontro, desencontro e reconciliação”. (Santos
2007, p.20)

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na Síntese


de Indicadores Sociais – Uma Analise das condições de Vida da População
Brasileira (2008), traz que a concepção da família está sendo definida nas pesquisas
deste instituto, como um grupo de pessoas que residem em uma mesma residência,
existindo ou não relação de parentesco entre elas. O IBGE com esse conceito
preocupa-se em aproximá-lo do conceito sociológico, levantando em conta não
somente os números de laços de consangüinidade das pessoas que vivem juntas e
procurando compreender os arranjos de parentesco ou não encontrados.

No entanto a Pesquisa Nacional de Amostra em Domicilio (PNAD) de 2007, a


consangüinidade é o eixo principal das pessoas que vivem juntas, representando
88.6% das pessoas que residem na mesma residência. Portanto para o IBGE, a
definição da família é conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco,
dependência doméstica ou normas de convivências, todos residindo na mesma
casa.

Constatamos assim que a partir da década de XX a família vem mudando sua


concepção mais rapidamente diminuindo no número de membros e, aumentando o
número de famílias sendo chefiada por mulheres, sem cônjuge e com filhos.

Porem Sarti enfatiza:

Falar em família neste começo do século XXI, no Brasil, como alhures,


implica a referencia a mudanças e a padrões difusos de relacionamentos.
Com seus laços esgarçados, torna-se cada vez mais difícil definir os
contornos que a delimitam. Vivemos uma época como nenhuma outra, em
que a mais naturalizada de todas as esferas sociais, a família, alem de
sofrer importantes abalos internos tem sido alvo de marcantes interferências
externas. (2002, p.21).

Nessa contextualização das múltiplas formas de organizações familiar, Sarti


aponta profundas transformações familiares tanto na estrutura quanto nas próprias
relações internas, pois a família vem se transformando na sociedade
21

contemporânea, remanejando assim as relações infra-familiar que também sofrem


com essas modificações, porem, há manifestação na vida dessas famílias.

Embora a família continue sendo objeto de profundas idealizações a


realidade das mudanças em curso abala de tal maneira o modelo idealizado
que se torna difícil sustentar a idéia de um modelo “adequado”. Não se sabe
mais de antemão, o que é adequado ou inadequado relativamente à família.
No que se refere às relações conjugais quem são parceiros? Como se dão
as relações entre irmão, filhos de casamentos, divórcio, recasamento de
casais em situação tão diferenciada? Enfim, a família contemporânea
comporta uma enorme elasticidade. (Sarti, 2002, p.25).

Segundo Sarti (2002), embora a família continuar sendo objeto de estudo de e


idealizações é impossível sustentar o modelo adequado de família, sendo assim, é
necessário pensar nas mudanças, refletido através de um olhar critico capaz de
compreender o resultado das mudanças recentes, tantos nas relações internas da
família e nos padrões do convívio familiar, portanto, na sua composição e
configuração. As mudanças que ocorrem vem afetando a dinâmica familiar,
transformando-a intensamente em todos os seus níveis, conforme sua historia e
pertencimento social.

Portanto Sarti frisa:

Pretendo-se suguerir, assim, uma abordagem de família como algo que se


define por uma historia que se conta aos indivíduos desde que nascem ao
longo do tempo (...) dentro das referencias sociais e culturais de nossa
sociedade, cada família terá uma versão de sua historia, a qual da
significado a experiência vivida. Ou seja, trabalham com famílias requer a
abertura para uma escultura, a fim de localizar os pontos de vulnerabilidade,
mas também os recursos disponíveis. (2002, p.26).

Diante da flexibilidade das fronteiras familiares, cada família tem suas


historias e experiências vivida no tanto âmbito social e cultural, ou seja, conhecer a
família e muito importante, também e indispensável compreender sua inversão
social e o papel que ela esta atualmente destinada, portanto trabalho do
profissional visa à mobilização de recursos da esfera pública, para a
implementação políticas publicas de caráter universalista que lhe assegurem sua
proteção social da família.
22

2.1 DIREITO E POLÍTICA SOCIAL DA FAMÍLIA

As mudanças que ocorreram na família tiveram forte influência histórica do


Estado e da Igreja e dos movimentos social feministas. Essas transformações
ocorridas na vida familiar podem ser acompanhadas e visualizadas nas
transformações das legislações do país, até a atual Constituição Federal.

A Constituição Federal (1988) é a que mais consegue contemplar os arranjos


familiares da contemporaneidade e ainda reconhecer que a família é a base da
sociedade e deve ter especial proteção do Estado.

Segundo KALOUSYIAN:

A família, enquanto forma especifica de agregação, tem uma


dinâmica de vida própria, afetada pelo processo de desenvolvimento
socioeconômico e pelo impacto da ação do Estado através de suas
políticas econômicas e sociais. Por essa razão, ela demanda políticas
e programa próprios, que dêem conta de suas especificidades. (2008,
p 12).

Kalousyia (2008) e Carvalho (1998) também enfatizam que a família tem que
ter uma atenção especial do Estado, através das garantias de oportunidades para
que cumpra suas funções sociais, políticas e econômica, “este reconhecimento,
mais do que reafirmar a importância da família na estrutura e organização da
sociedade, visa impedir que ela seja relegada a um lugar secundário nas políticas
sociais e nos serviços de proteção social” (1998, pg. 17).

Como afirma Silva (2005) a Constituição Federal de 1988 e em alguns textos


anteriores reconhecem a igualdade entre conjugues dando proteção a família e, ao
casamento e também a visão de uma família monoparental, ou seja, uma nova
espécie de entidade familiar, onde homem ou mulher encontra-se sem conjugue,
sem companheiro sendo responsável por uma ou mais criança. Esta liberdade
possibilita o fim de relações mantidas à custa de sacrifícios pessoais.

O artigo 4º do ECA fala sobre os deveres da família:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, á alimentação, á educação, ao
esporte, ao lazer, a profissionalização, á cultura, á dignidade, ao
23

respeito, á liberdade e á convivência familiar e comunitária


(1994,p.41).

Segundo Silva (2005), o direito de família, mais que somente uma definição,
provavelmente, é o que deva acompanhar os fatos e a evolução da sociedade com
mais rapidez e prontidão, considerando que o direito é quem deve servir a
humanidade, não o inverso, tendo em vista que o direito de família tem um papel de
proporções maiores do que simplesmente regular as relações familiares e dar base
ao desenvolvimento humano regulando a política social da família. Mas também
promover o desenvolvimento dos cidadãos, para que socialmente se tornem
pessoas para agregar valores e desenvolvimento ao seu meio de convívio tornando-
o saudável para toda a sociedade.

Considerando-se a proteção integral, termo utilizado pelo Estatuto da Criança


e do adolescente, numa perspectiva ampliada, o direito à convivência social e
comunitária (indicado no ECA) supõe a garantia de condições adequadas de
convívio familiar e a oferta de serviços das políticas sociais, para que as crianças e
os adolescentes possam ser educados, protegidos e tenham seu desenvolvimento
garantido. Muitos estudos mostram os prejuízos da ausência de convívio familiar e
comunitário ao desenvolvimento da criança e do adolescente. Mas esse direito só
pode ser realmente atendido em família e em comunidade acolhedora em relação as
suas demandas, pois o convívio é que faz com que a criança e o adolescente se
desenvolvam em sociedade.

A religião, a cultura, os princípios e as próprias tradições de cada povo


imprimem ao direito de família conceitos e normas próprias, diretamente
relacionadas aos aspectos regionais.

O direito de família, mais que uma definição, provavelmente, é o que deve


acompanhar os fatos e a evolução da sociedade, tem papel de proporções maiores
do que simplesmente regular as relações familiares e dar base ao desenvolvimento
humano regulando a política social da família, mas também promover o
desenvolvimento dos/as cidadãos/ãs, para que socialmente se tornem pessoas
cidadãs e contribui sempre para o desenvolvimento de seu meio de convívio.
24

2.2 SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Para Iamamoto (2003) o Serviço Social contemporâneo apresenta uma


configuração acadêmico-profissional e social renovada em relação aos princípios
sociais brasileiros, voltada à defesa do trabalho e dos trabalhadores, do amplo
acesso a terra para a produção de meios de vida, do compromisso com a afirmação
da democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça social. Nessa direção social e
cultural, a luta pela afirmação dos direitos de cidadania, que reconheça as efetivas
necessidades e interesses dos sujeitos sociais e seus direitos são hoje fundamental
como parte do processo de acumulação de forças inseridas no desenvolvimento
social inclusivo para todos os indivíduos sociais.

Ainda segundo Iamamoto (2003), foi no contexto de elevação dos


movimentos políticos, que a categoria de Assistentes Sociais foi sendo socialmente
questionada pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil, não
ficando apático a esses acontecimentos, impulsionando um processo de ruptura com
o considerado tradicional por parte deste profissional e o seu ideal conservador. Este
processo de mudanças condiciona, fundamentalmente, o horizonte de preocupações
emergentes no âmbito do Serviço Social, exigindo dos profissionais novas respostas
à necessidade da sociedade, o que derivou em significativas alterações no campo
do ensino, da pesquisa, da regulamentação da profissão e da organização ético
político-corporativa dos assistentes sociais.

O Serviço Social se desenvolve junto com as transformações


históricas, econômicas, culturais e sociais, o que lhe atribui à
constante mediação teológica dos valores e das necessidades
constituídas na esfera social da vida cotidiana. Esta realidade,
marcada pelas contradições do modo de produção capitalista,
sustenta interesses e movimentos antagônicos no interior das
relações sociais com a intensificação da riqueza excedente do
trabalho apropriado por uma determinada classe, ocasionando
movimentos divergentes na sociedade (Silva, 2005 p.17).

Ainda de acordo com Santos (2005), o Serviço Social só começa a se


adequar a essa discussão nos anos oitenta, visto que foram reprimidos durante o
processo ditatorial, por terem uma visão distinta aos interesses do Estado, devido
aos seus entendimentos político-ideológicas que se manifestaram ao interesses do
25

capital. No entanto foi no inicio do movimento de Intenção de Ruptura, que a


profissão rompeu se com o conservadorismo, iniciando assim, um movimento
histórico de amadurecimento político, ético e teórico do Serviço Social e que hoje se
consolida no Projeto ético-politico profissional.

Se nos anos 1980 o processo de redemocratização do país e de


constituição legal do Sistema de Seguridade, que dispunha da
ampliação do Estado, determinou a teoria e a prática do Serviço
Social, permitindo estabelecer um compromisso com a classe
trabalhadora, nos anos 1990 o advento da perspectiva neoliberal, o
enfraquecimento da esfera publica a intensificação do processo de
pauperização das camadas e classes trabalhadoras com o
desemprego. (Silva, 2009, p.110).

Segundo Reis (2002), o projeto ético-politico do Serviço Social, vinculam-se


ao interesses universais atuais da sociedade, ou seja, a importância esta dentro de
determinados grupos sociais, como dos assistentes sociais, portanto, este projeto
coletivo se pauta em vários interesses sociais, como Reis enfatiza esta nas
“Questões culturais, políticas e, fundamentalmente, econômica articulam e
constituem os projetos coletivos”. E tendo em vista todos estes aspectos, os projetos
para a sociedade em geral estão presentes na dinâmica de qualquer projeto coletivo,
inclusive neste projeto ético-politico profissional.

Reis ainda afirma que:

Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores


ou conservadores. Entre os transformadores há varias posições que
têm a ver com as formas (as táticas e as estratégias) de
transformação social. Assim, temos um pressuposto fundante do
projeto ético-politico: a sua relação ineliminável com os projetos de
transformação ou de conservação da ordem social. Dessa forma,
nosso projeto filia-se a um ou outro projeto de sociedade não se
confundindo com ele. (2002, p.2).

Para Santos (2005), a base do projeto ético-politico do Serviço Social, baseia-


se também no Código de Ética do Serviço Social (1993) e com a lei de
regulamentação (1993), construído pelos/as profissionais Assistente Sociais com a
intenção e legitimar a fundamentação da atuação profissional, com o compromisso
de erradicar a desigualdade social, em busca da consolidação efetiva dos direitos
humanos, e demais valores éticos e políticos dentro da sociedade. O projeto ético-
26

politico do Serviço Social com seus valores de emacipatórios e seu compromisso


com a autonomia e a justiça social, tem sua base construída numa intervenção que
se coloca a criticar a sociedade capitalista, bem como seus valores.

Segundo Netto:

[...] este projeto ético-politico tem em seu núcleo o reconhecimento da


liberdade com valor central – a liberdade concebida historicamente,
como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um
compromisso com a autonomia, emancipação e a plena expansão
dos indivíduos sociais. (Netto, 1999, p. 105).

Através das informações acima citadas pelos autores, o desenvolvimento do


Serviço Social ocorre pelo posicionamento desta categoria profissional. Está
presente na sociedade brasileira nas ultimas três décadas é uma realidade vivida a
partir das contradições da produção capitalista e intensificação da riqueza excedente
do trabalho apropriado por uma determinada classe, e o direcionamento ético-
político do Serviço Social. Existem as diretrizes norteadoras do projeto profissional
se desdobraram no Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993 e na
lei 8662/93 que regulamenta a profissão, e nas Diretrizes curriculares (ABESSP)
(1996) resultantes de discussão e construção coletiva dos profissionais realizadas
ao longo de três décadas e considerando como os três marcos legais que ocorrem à
constituição deste projeto ético político profissional.

2.3 ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL

Para Cosac (2009), o Serviço Social no seu contexto histórico apoiou-se em


fundamentações teóricas e filosóficas para sua atuação e legitimação enquanto
profissão, hoje inserida e reconhecida na divisão social e técnica do trabalho. Tais
fundamentações influenciaram o trabalho e a formação profissional, na construção
ético-política do Serviço Social, e estão presentes na contemporaneidade.

Ainda segundo Cosac (2009), marcado pela imposição teórica e pelo cariz
acrítico, o Serviço Social traz em seu contexto histórico as injunções determinadas
pelo sistema capitalista; frente às lutas sociais que se apresentavam a profissão e
que se tornaram objeto de ação profissional, os assistentes sociais se reorganizaram
27

politicamente e legitimaram, perante a ética profissional, seu compromisso com a


cidadania e a emancipação política do homem/mulher.

Segundo Barroco (2006), sobre a característica conservadora foi criado o


primeiro Código de Ética, em 1947, elaborado pela Associação Brasileira de
Assistentes Sociais (ABAS). Depois em 1962 foi publicado pela Associação
Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS) um livro intitulado “Código Moral de
Serviço Social”, sendo de origem européia promovido pela União Católica
Internacional de Serviço Social (UCISS), com o objetivo de manter cunho moralista
conservador da profissão, e na mesma década, em 1965 foi publicado o segundo o
Código de Ética. Conveniente ao tradicionalismo da época registra uma pequena
diferença em seu texto sobre a prática profissional, apresentando o pluralismo
profissional e um conceito de democracia. Este período é marcado pela Ditadura
Militar, que provocou muitas transformações sociais. Sendo assim, em 1975
reescreve-se o Código de Ética, retomando o tradicionalismo, caucionado pela
imposição ditatorial, como também tendencial à fenomenologia.

O Serviço Social sempre respondeu as mudanças que ocorriam na


sociedade, ou seja, sempre respondeu a cada momento histórico.
Desta forma, a profissão vivenciava conflitos e embates endógenos
na profissão, sendo esses marcantes no Código de Ética de 1986,
quando este supera os códigos anteriores, refletindo sob a
coletividade, a superação da visão acrítica, apresentando-se na luta
de classes e no compromisso com a classe trabalhadora (BARROCO,
2006, p. 32).

Diante das mudanças significativas no contexto político nacional, como a


promulgação da Constituição Federal de 1988, acontecia no Serviço Social
promulgação da Lei que regulamenta a profissão - Lei nº 8662/1993 - concomitante
a elaboração do quinto Código de Ética (1993), que se apresenta rompendo todos
os vestígios de neutralidade frente ao compromisso ético, político e social da
profissão no enfrentamento da regulação social, do capitalismo explorador e
coercivo e das expressões da questão social; indo ao encontro da classe
trabalhadora e suas manifestações. Diante do avanço do neoliberalismo, Barroco
afirma que “a partir de 1993, o Código de Ética passa a ser uma das referências dos
encaminhamentos práticos e do posicionamento político dos assistentes sociais em
28

face da política neoliberal e de seus desdobramentos para o conjunto dos


trabalhadores”. (2006, p.32).

O texto acima permite o entendimento de que outras questões permeiam o


novo Código, como a liberdade, autonomia, emancipação, o pluralismo (rompendo
com o ecletismo que assombrava a profissão) e o compromisso com a formação
profissional, estando este congruente ao Projeto Ético-Político da profissão, como
também, dando base para a revisão das novas Diretrizes Curriculares e Gerais
(1996) para os cursos de Serviço Social.

Segundo Santos (2005), nos anos noventa, o Serviço Social teve um salto
qualitativo, nesse sentido, após muitos encontros, oficinas e debates as novas
diretrizes curriculares foram aprovadas para o os cursos de Serviço Social, vale
ressaltar este contemplou o Código de Ética Profissional do Assistente Social e a Lei
que Regulamenta a profissão em 1993, marcando a consolidação do compromisso,
o movimento de ruptura da prática do exercício conservador e modernizador foi a
partir da reflexão dos profissionais da Escola de Serviço Social de Belo Horizonte
(MG), na metade da década de 1970, sendo influenciados pelo Movimento critico de
Reconceituação do Serviço Social latino-americano. Essa necessidade não se deu
apenas para atender o mercado de trabalho, mas, para dar resposta profissional à
classe trabalhadora cada vez mais vulnerável.

Segundo Santos (2005), afirma que a reflexão dos valores éticos do


assistente social através da sua pratica profissional, colaboram para (re) construção
da realidade por meio de valores individuais, coletivos e profissionais por meio de
uma postura ética e política.

O Código de Ética de 1993 assegura um projeto societário emancipatório;


uma sociedade que segundo CFESS (1993) “propicie aos trabalhadores um pleno
desenvolvimento para intervenção e a vivencia de novos valores, o que,
evidentemente supõe a erradicação de todos os processos de exploração, opressão
e alienação”. Assim o Serviço Social rompe em sua base com o conservadorismo,
tendo uma visão de homem enquanto ser social que constrói sua historia, tendo a
liberdade como eixo central de orientação deste projeto, entendida não apenas
como valor, mas como capacidade ontológica do ser social (BARROCO, 2006, p.
43).
29

2.4 A FAMÍLIA COMO DEMANDA PARA O SERVIÇO SOCIAL

Conforme afirma Iamamoto (2003), o Serviço Social no Brasil se constituiu


como uma profissão integrada ao setor público por suas características de caráter
assistencial, com a expansão do seu controle junto à sociedade civil na prestação de
serviços sociais. Complementa ainda, que não se pode pensar a inserção da
profissão como reprodução das relações sociais de modo isolado das organizações
e instituições a que se vincula, pois como atividade profissional.

Isso supõe, como diretriz de trabalho, considerar a profissão sob dois


ângulos, não dissociáveis entre si, como duas expressões do mesmo
fenômeno: como realidade vivida e representada na e pela
consciência de seus agentes profissionais expressa pelo discurso
teórico-ideológico sobre o exercício profissional; a ação profissional
como atividade socialmente determinada pelas circunstancias sociais
objetivas que conferem uma direção social a pratica profissional, o
que condiciona ou mesmo ultrapassa a vontade e/ou a consciência de
seus agentes individuais. (Iamamoto, 2003 p.73).

O desenvolvimento do Serviço social ocorre junto às transformações


históricas, econômicas, culturais e sociais está é uma realidade vivida a partir das
contradições da produção capitalista e intensificação da riqueza excedente do
trabalho apropriado por uma determinada classe, ocasionando com isso
divergências na sociedade.

Como já apresentado no bojo deste capitulo, o Serviço Social têm um


compromisso com os valores e princípios éticos definidos pelo seu atual Código de
Ética. Entretanto, o maior desafio é formular propostas que façam frente à questão
social, e que sejam solidárias ao modo de vida daqueles que a vivenciam como
sujeitos que lutam por uma vida digna, pautada nos valores éticos constituídos pela
sociedade, sendo um dos caminhos para atingir tais objetivos, a busca de
conhecimento e informação, pois um profissional alienado, numa sociedade tão
dinâmica e desigual, pode levar a uma prática conservadora, reproduzindo a ordem
dominante.

As expressões da questão social foram sendo construídas e aprovadas pelas


diferentes manifestações e estágio que passou o sistema capitalista, portanto assim,
exigem do assistente social uma releitura critica da realidade, permanentemente
30

buscando dessa forma um alargamento, de alternativas para uma intervenção


profissional. Porém poderemos compreender as manifestações da questão social no
qual apresentam como novas demandas para os serviços antes inexistentes e que
precisam receber respostas eficientes, através das políticas sociais. Deve se assim
segundo Iamamoto o profissional esta:

Afinado com analise dos processos sociais, tantos nas dimensões


macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um
profissional criativo e inventivo, capaz de entender o tempo presente,
os homens presentes. (1999, p.49).

A inserção do profissional na sociedade possibilita o acesso aos programas


sociais e medidas protetivas e preventivas como estratégia de implementação das
políticas sociais. Com essa realidade, é possível durante o atendimento perceber o
modo de ser de cada individuo, e atuar na defesa de seus direitos bem como
compreender seu compromisso com a vida e sua sociedade.

Conforme afirma Iamamoto:

O serviço Social no Brasil se constitui como uma profissão integrada


ao setor público, com a expansão do seu controle junto à sociedade
civil na prestação de serviços sociais. Complementa ainda, que não
se pode pensar a inserção da profissão na (re) produção das relações
sociais de modo isolado (2003, p. 79).

As demandas apresentadas pela família aparecem para o Serviço Social,


quando ocorre algum problema ou conflito na função social, ou seja, quando esta
família não esta dando conta dos cuidados, proteção e educação aos seus filhos.
Porém entendemos que não é a família que criam as demandas, elas se
concretizam por meio das expressões das relações sociais dominantes e se
materializam na singularidade das famílias.

Ressaltamos que o grupo familiar pode ou não mostrar capaz de conseguir a


concretização da sua função social de acordo com as condições de acesso a bens e
serviços e a cidadania. De acordo com o Plano Nacional da Assistência Social
(PNAS 2004, p. 29) “O importante é notar que esta capacidade resulta não de uma
forma ideal e sim de sua relação com a sociedade, sua organização interna, seu
universo de valores, entre outros fatores”. Porem como ressalta Plano Nacional da
Assistência Social não existe uma forma ideal para concretizar as funções, é preciso
31

observar a capacidade com a qual família esta vinculada à sociedade, com ela
mesma e com seus valores.

Conforme Kaloustian enfatiza.

A família é percebida não como o simples somatório de


comportamento, anseios e demandas individuais, mais sim como um
processo interagente da vida e das trajetórias individuais de cada um
dos seus integrantes (...) nas famílias mais pobres estas trajetórias e
movimentos ocorrem, muitas vezes, de forma traumática, ditados
pelas condições econômicas e a luta pela sobrevivência individual e
familiar. (2000, p.13).

Diversos fatores proporcionam atenções e atendimento a essas famílias, que


apresentam varias demandas, dentre elas o não acesso a educação e a saúde, a
formação para o trabalho, historias geracionais de violência que produzem
complexas situações que podem levar ao desemprego, a pobreza, a conflitos e
violência. Portanto as demandas sociais aparecem em várias situações ao
assistente social exigindo a intervenção do profissional.

Conforme Santana, as demandas das famílias podem ser imediatas ou sócio-


históricas, ou seja:

As demandas imediatas são aquelas que necessitam de intervenção


urgente, à necessidade daquele usuário. Ao serem resolvidas sem
um aprofundamento naquele momento, são consideradas
imediatistas, por exemplo: se uma família está em situação de
desemprego e esta, passando fome, a primeira providência a se
tomar é lhe fornecer cesta básica (2010, p.10).

Conforme referimos acima, a família pobre também passa por um processo


de exclusão social e cultural, aumentando assim suas contradições e demandas.
Desta forma a família que deve ser provedora de cuidados e proteção aos seus
filhos, também necessita ser cuidada e protegida. Portanto quando a família tem
dificuldade em cumprir sua função determinada socialmente, bem como a
necessidade de cuidados e atendimento quanto aos seus direitos, entendemos que
a intervenção do profissional do Serviço Social se faz necessária. A atuação do
profissional tem como objetivo favorecer acesso aos direitos, as políticas sociais, as
demandas aos serviços institucionais, articulação de redes de atendimento, a
32

possibilidade e restauração de direitos, à cidadania, a promoção da justiça social,


equidade e respeito e diversidade.

As ações do assistente social devem ser pautadas no ethos emancipátorio de


forma que as famílias se reconstruam como sujeito de suas historias. Para isto,
ressaltamos que o profissional deve ir alem das demandas institucionais, passando
assim as demandas sócio-profissionais, buscando compreender estas na sua
totalidade bem como em suas contradições, a sua relação na sociedade, com as
transformações que a família vem passando, após a segunda metade do século XX.

Conforme aponta Iamamoto (2003), a orientação de trabalhos considerando


os aspectos profissionais que não podem ser tratados entre si como vertentes do
mesmo assunto, sendo realidades vividas e representadas pela consciência de seus
membros no exercício da função expressada pela prática teórica ou ideológica, não
pode ser levada a ação profissional como atividade socialmente determinada pelas
circunstâncias sociais exigidas pela situação do momento, e através da uma direção
social à prática profissional podendo condicionar ou mesmo ultrapassar a vontade
da consciência de seus agentes individuais em detrimento do que está a frente do
profissional.

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa de Crianças e


Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária ressalta que:

A história social das crianças, dos adolescentes e das famílias revela


que estas encontraram e ainda encontram inúmeras dificuldades para
proteger e educar seus filhos. Tais dificuldades foram traduzidas pelo
Estado em um discurso sobre uma pretensa “incapacidade” da família
de orientar os seus filhos. Ao longo de muitas décadas, este foi o
argumento ideológico que possibilitou o Poder Publico o
desenvolvimento de políticas paternalista voltados para o controle e a
contenção social, principalmente para a população mais pobre, com
total descaso pela preservação de seus vínculos familiares. Essa
desqualificação das famílias em situação de pobreza, tratadas como
incapazes, deu sustentação provisória do poder familiar ou da
destituição dos pais e de seus deveres em relação aos filhos. (2008, p
15).

Nesta concepção é que se faz necessário a intervenção do Assistente Social


com um trabalho de fortalecimento e acesso aos direitos das famílias bem como dos
33

seus membros, respeitando suas dificuldades e diversidades. Para desenvolver


capacidades de reconstrução da cidadania e autonomia de cada família dentro do
seu contexto sócio histórico.

Segundo Guimarães e Almeida enfatizam.

[...] o tema família foi pouco focalizado pelo serviço social a partir do
movimento de reconceituação da profissão. No momento histórico
subseqüente, expresso pelo que Jose Paulo Netto (1991) nomeia de
tendência de renovação da profissão- e que se desdobra em três
vertentes de ruptura: modernização reatualização do
conservadorismo e intenção de ruptura [...] cada um dessa tendência
tratara, a seu modo e a seu tempo, de refletir sobre a família e sua
importância para a práxis do serviço social (2005, p.128).

2.5 SERVIÇO SOCIAL E O ADOLESCENTE EM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA

O Serviço Social contribui neste processo da medida socioeducativa-


Liberdade Assistida com sua visão critica e ação interventiva com intuito de orientar,
acompanhar, possibilitando o acesso aos direitos garantidos por lei prevista no
Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).

Conforme Santos:

Baseados no artigo 204 da Constituição, no ECA e na LOAS, diferentes


atores sociais da área da infância e juventude têm lutado pela
municipalização dos atendimentos a adolescentes em medidas
socioeducativas, pois entendemos que a partir de uma ação local com maior
participação da comunidade os serviços possam ser desenvolvidos com
maior eficácia, visando à diminuição do processo burocrático suprindo as
reais necessidades da população. (2005, p. 59).

Ainda para Santos (2005), desde 2002 ocorre à discussão no município de


São Paulo quanto à funcionalização da política de garantia dos adolescentes em
conflito com a lei, juntamente com a Secretária de Assistência Social (SAS) os
adolescentes passam a ser atendidos em medida socioeducativa em meio à
prestação de serviços à comunidade (PSC). Em 2004 são assinados os três
34

primeiros convênios com a FEBEM para a execução do atendimento à medida de


liberdade assistida.

Segundo Freitas (2011), o trabalho profissional do Serviço Social sempre foi


uma das dimensões extremamente discutidas pela profissão, seja em espaços de
formação acadêmica ou em organizações da categoria. Essa discussão está ligada
ao fato de que a profissão historicamente tem sido chamada a intervenção na
realidade, e na atual configuração da sociedade diversos são os setores que se
constituem campo de trabalho para o assistente social. Dentre essa realidade o
trabalho do assistente social com esses adolescentes proporciona um processo de
reflexão e informação, visando mudanças de valores e modo de vida.

Conforme Freitas:

A discussão acerca da problemática do adolescente autor de ato


infracional no Brasil pode ser analisada a partir de diversos aspectos,
e neste artigo optou-se por enfatizar a reflexão sobre a garantia de
direitos. Considerando a legislação brasileira, tem-se um avanço
significativo. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
promulgado em 1990, pode ser considerado o marco da mudança de
perspectiva em relação ao adolescente autor de ato infracional.
(2011, p. 33).

Neste sentido, a partir do ECA a situação do adolescente deixa de ser


irregular com perspectiva de correção passando a direcionar como garantia de
direitos a partir da doutrina de proteção integral, conforme Constituição brasileira de
1988 entendendo a criança e adolescente em desenvolvimento de forma peculiar.

Freitas afirma que:

A partir da comprovação do ato infracional são aplicadas ao


adolescente medidas orientadas pela necessidade de processo
socioeducativo, e não de simples sanção. As medidas
socioeducativas são a forma instituída na legislação brasileira de
responsabilizar o adolescente pelos atos infracionais por ele
praticados, mas concomitantemente, oferecer condições para a
reinserção social. (2011, p. 34).

Dentro desta perspectiva, é possível estabelecer aos adolescentes medidas


socioeducativas que os levam a reparar atos infracionais, através de serviços
comunitários e demais atividades cabíveis ao adolescente. De acordo com o ECA,
35

somente nos casos de ato infracional grave ou o mesmo ato cometido diversas
vezes leva a medida de internação, e conseqüentemente privação de liberdade. A
Assistente Social passa a acompanhar o adolescente durante toda a medida de
internação com atendimento ao adolescente e sua família.

Contudo, o hábito institucional empurra para esse atendimento


individual e, dadas essas condições objetivas, o profissional de
Serviço Social irá buscar construir alternativas que tragam para esses
atendimentos especificidades do trabalho profissional do assistente
social. Além do atendimento individual, o assistente social poderá
desenvolver, com os adolescentes, ações grupais que possibilitem a
reflexão, a tomada de consciência e a socialização. (Freitas 2011,
p.42).

Para Freitas (2011), o panorama de atendimento integral considera a família


como alvo da intervenção, uma vez que são também participantes no processo
socioeducativo. A família, compreendida aqui a partir de todos os arranjos familiares
na contemporaneidade, é fundamental na construção que se faz com o adolescente,
visto que o meio familiar é, em geral, para onde o adolescente volta depois da
internação e, portanto, carece também de intervenção profissional no âmbito social,
cultural e educativo.

Ainda para Freitas (2011) o processo socioeducativo não termina com a saída
do adolescente da unidade, a desinternação. O trabalho do profissional deve ser de
continuidade fora da unidade, oferecendo dentro do trabalho de medida de liberdade
assistida subsídios emancipatórios. O acompanhamento de um adolescente fora da
medida de internação é complexo, porém uma intervenção bem elaborada e com
impactos efetivos poderá garantir que ao sair ele tenha possibilidades de
ressocialização, com perspectivas de estudo e trabalho, podendo e tendo
acessibilidade para desenvolver suas capacidades humanas.

Neste capítulo apontamos para o trabalho do Assistente Social frente à família


contemporânea com os adolescentes em medida socioeducativa de liberdade
assistida. A direção dos trabalhos de demandas de Serviço Social através do Projeto
ético-politico para orientação dos agentes individuais, norteados pelos princípios do
código de ética para o exercício das atividades dentro dos quesitos da lei. Os
métodos pesquisados mostram como o profissional do Serviço Social deve conduzir
a medida socioeducativa de liberdade assistida para adolescentes em ato
36

infracional. Em função dos aspectos teóricos obtidos no primeiro e no segundo


capítulos, abordaremos no terceiro capitulo a pesquisa de campo do trabalho efetivo
do Assistente Social na condução das atividades desenvolvidas junto ás famílias
com adolescentes em medida socioeducativa de liberdade assistida.
37

CAPITULO III

PESQUISA DE CAMPO

Para a elaboração deste estudo e o conhecimento da realidade que permeia a


intervenção do/as Assistentes Sociais que realizam atendimento ás famílias de
adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa- Liberdade Assistida (LA)
foi desenvolvida uma pesquisa teórica e pesquisa de campo.

A pesquisa de campo estará voltada especificamente para uma instituição, no


Centro de Apoio Comunitário, no município de Perus, SMSE-MA (Serviço de
Medidas Socioeducativa - em Meio Aberto) que atende 90 adolescentes, do
município e do bairro Morro Doce, e que possui um profissional do Serviço Social
que acompanha os adolescentes em Liberdade Assistida e suas famílias.

Construiu-se de uma entrevista, como instrumental metodológico que permitiu


refletir como o trabalho da Assistente Social com os adolescentes e suas famílias
em medidas socioeducativas se torna possível,

A escolha desta instituição se deu pela aceitação e a colaboração da


profissional do Serviço Social responsável para realização da pesquisa de campo
que possui o perfil necessário para o objeto em estudo. Foram pesquisadas outras
instituições com programas de assistência a adolescente em liberdade assistida,
mas não foi possível a colaboração de um profissional do Serviço Social devido a
não existência do Assistente Social, mas sim de outros profissionais para a
condução das atividades com os adolescentes em medidas socioeducativas de
Liberdade Assistida (L.A). É necessário esclarecer que contem apenas uma
entrevista devido ter uma Assistente Social na instituição pesquisada.

A entrevista foi transcrita perfazendo13 laudas de impressão, mas, só


utilizamos na análise da pesquisa de campo as partes que interessavam ao objeto
de estudo e também é necessário esclarecer que foi utilizado do gravador para
captar com fidelidade a fala da entrevistada.
38

Ao optar-se pelo instrumental metodológico da entrevista elaborou-se,


juntamente com a orientadora, o roteiro da entrevista semi-estruturadas e semi-
abertas.

Segundo Goldenberg:

Entrevistas e questionários podem ser estruturados de diferentes maneiras


entre elas abertas, que possibilita respostas livres, não limitadas, o
pesquisador fala livremente sobre o tema proposto, porém a analise das
respostas se torna mais difícil. (2007, p. 86).

A intenção principal da pesquisa de campo neste trabalho é saber quais os


desafios que o profissional do Serviço Social enfrenta diante dos problemas gerados
através das atividades ligadas ao exercício da função, bem como compreender
como é o realizado o trabalho com as famílias e os adolescentes que estão
cumprindo medida socioeducativa de liberdade assistida.

“O pesquisador precisa respeitar as limitações do pesquisado quanto ao local


e ao tempo da entrevista. Deve-se ir bem preparado para aproveitar ao máximo a
entrevista ou questionário e registrar adequadamente” (Goldenberg, 2007, p. 90/91).

Com o desenvolvimento da pesquisa teórico-científica e de campo, verificou-


se a necessidade de mudança de foco, dadas as dificuldades encontradas diante
das informações que chegaram até o nosso conhecimento através dos dados
pesquisados que se referem ao trabalho do Assistente Social com os adolescentes e
suas famílias.

Pesquisa é a atividade cientifica pelo qual descobrimos a realidade.


Partimos do pressuposto de que a realidade não se desvenda na superfície.
Não é o que aparenta à primeira vista. Ademais, nossos esquemas
explicativos nunca esgotam a realidade, porque, não é mais exuberante que
aqueles. (Demo, 1983, p.23).

A pesquisa de campo é a fase realizada após o estudo bibliográfico, para que


se tenha um conhecimento pratico-teórico sobre o assunto pesquisado para realizar
pesquisa pratica de campo.

Segundo Gil, a análise dos dados pode apresentar várias formas de


interpretações:
39

(...) Como o estudo de caso vale-se de procedimento de coletas de dados


os mais variados, o processo de análise e interpretações pode,
naturalmente, envolver diferentes modelos de análise. Todavia, é natural
admitir que a análise dos dados seja de natureza predominantemente
qualitativa. (2002, p.141).

Neste sentido considera-se importante um breve histórico da instituição para


que em seguida seja apresentada a síntese da entrevista e sua análise.

3.1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

A Instituição (CACP) Centro de Apoio Comunitário é conveniada pela


administração da prefeitura de Perus, desde 1991, conta com um programa de
cumprimento de medida sócioeducativa, além dos projetos que atendem a crianças
e adolescentes com risco social e pessoal. Dentre os vários projetos que
desenvolvem na comunidade (que apresenta índice de vulnerabilidade social), está
o (SMSE/MA) Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Trata-se de um
convênio com a (SMADS) Secretaria Municipal da Assistência Social, sendo este
serviço supervisionado pelo (CRAS) Centro de Referência da Assistência Social da
região.

Este programa atende adolescente a partir de 12 anos, autores de ato


infracional, com medidas socioeducativa de Liberdade Assistida, de acordo com o
artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O SMSE/ME tem como
objetivo atender estes adolescente/famílias no sentindo de orientar, acompanhar e
encaminhar se necessário a redes sócias assistenciais.

O SMSE/ME atende no momento 91 adolescente/jovens em cumprimento de


medida socieoducativa em meio aberto – LA (Liberdade Assistida) e PSC (Prestação
de Serviço à Comunidade) e seus familiares, Os atendimentos são realizados no
prédio da CACP, localizado na região de Perus.

O SMSE/ME esta ligado diretamente ao (DEIJ) Departamento da Infância e


da Juventude, Conselho Tutelar, Juizado da Vara da Infância e Juventude. Todos
esses órgãos encaminham crianças/adolescentes e famílias para atendimentos.
40

A equipe é composta por uma Assistente Social - gerente do local, cinco


Psicólogas e uma Pedagoga, que assumem a função de técnicos, dois auxiliares
administrativos e um agente operacional.

A família é a referência principal deste processo, de atendimento profissional


sendo convidada a participar ajudando o adolescente neste cumprimento da medida.
Os atendimentos são realizados em grupos e individuais, semanalmente no
SMSE/ME. Os encontros têm como objetivo trabalhar a questão da adolescência,
orientar e verificar a freqüência escolar , assim como, a possibilidade da inserção em
cursos profissionalizantes.

Estes encontros estão em sintonia às determinações estabelecidas pelo


Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), e exigem das autoridades representantes
do município, uma analise técnica da realidade objetiva destes adolescentes.

Os programas desenvolvidos são oficinas de esporte, música, dança grafite,


além de passeios e palestras. Todas estas atividades têm como objetivo a
participação no desenvolvimento de suas capacidades humanas, favorecendo
oportunidades da ressocialização junto à sociedade.

3.2 ENTREVISTA E SUA ANÁLISE

A entrevista foi realizada com a Assistente Social M.L, formada pela


Universidade São Francisco em 2009, que atua no serviço de medida
socioeducativa desde março do mesmo ano, Iniciou este trabalho como orientadora,
e há seis meses atuando como gerente no Centro de Apoio Comunitário Perus, local
em que realiza o atendimento aos adolescentes que cumprem medida
socioeducativa de liberdade assistida, no departamento de Serviço de Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto Como já informado trata-se de um convênio com a
SMADS (Secretaria Municipal da Assistência Social), um dos serviços da CACP
(Centro de Apoio Comunitário de Perus).

A pesquisa teve como foco o trabalho da Assistente Social M.L. tendo em


vista o abordando as seguintes questões:
41

(1) No seu trabalho o que você observa como causas que levam os adolescentes a
cometer um ato infracional.

(2) Como é o trabalho do Assistente Social na medida socioeducativas- Liberdade


Assistida com adolescentes/famílias.

(3) Quais as dificuldades, desafios e avanços no trabalho com adolescentes e com


suas famílias.

(4) Qual a importância do trabalho da Assistente Social junto às


famílias/adolescentes em cumprimentos da medida socioeducativa-LA.

(5) Após o cumprimento da medida existem algum trabalho do Assistente Social de


acompanhamento dos adolescentes e suas famílias.

(6) Quais as expectativas que as famílias possuem do trabalho do Assistente Social


com as medidas socioeducativas.

(7) Quais as limitações que os profissionais enfrentam perante as redes


socioassistencial.

Com base nas questões acima relacionadas serão apresentadas respostas


obtidas do profissional sobre a problemática que gerou as questões norteadoras da
pesquisa, a possibilidade e desafios da atuação da Assistente Social com os
adolescentes em Liberdade Assistida e suas famílias.

3.2.1 CAUSAS QUE LEVAM O ADOLESCENTE A COMETER O ATO


INFRACIONAL
M.L. explica que os motivos que levam o adolescente a cometer o ato
infracional são vários, entendo que ao mesmo tempo em que a sociedade se torna
vítima nas mãos destes adolescentes, estes são destruídos por esta sociedade
indiferente, injusta. Eles vivenciam em seu cotidiano as expressões da questão
social, sendo necessário ser visto como sujeitos de direitos.

São vários os fatores, jamais nos focamos em um fator, ele comete um ato
infracional porque ele roubou para usar droga ou cometeu ato infracional
porque o pai foi embora, tem o fator econômico, fator social, a fase também
42

adolescência dessa confusão de descobrimento, tem o fator do consumismo


às vezes a maior parte e alta vulnerabilidade aqui nessa região. (M.L).

Segundo a Assistente Social M.L o que leva o adolescente a cometer o ato


infracional é a ociosidade, a vulnerabilidade, drogas, os amigos, a ausência do pai
ou mãe, o consumismo que leva o adolescente a desejar o que a mídia oferece, pois
o papel da mesma é propagar tudo o que vendável, até as relações humanas, pois
na sociedade humana se valoriza mais o ter do que o ser. Também importante citar
em seu relato o histórico familiar como referência negativa e a reprodução das
mesmas atitudes.

O fato da vulnerabilidade econômica familiar impede que os adolescentes


tenham acesso a roupas, tênis, bonés e camisetas “de marca” e são diariamente
exposto a mídia dirigida ao publico jovem. Percebido por eles como uma forma de se
sentirem socialmente incluídos, isto pode seduzi-los a tal ponto, que referem-se a
pratica infracional como uma alternativa de fácil acesso para obtenção destes
objetos. “tem que ter o celular do ultimo modelo porque ai ele se sente, melhor, o
tênis tem que ser o ultimo. Até o chinelo hoje em dia tem a marca como o kenner.
Essa marca eles falam que o chinelo é 60,00. Sempre querendo sentir esse poder, o
poder de consumo”.

Porém esses adolescentes, ao enfrentarem a exclusão social não tem


possibilidades de desenvolverem-se em suas capacidades e o papel na sociedade.
Conforme HUTZ (2002) além, dos fatores apontados pela profissional M.L o
fato desse adolescente sofrer discriminação principalmente no trabalho e formação
educacional, causa uma interferência em seu desenvolvimento e ressocialização.
Preconceitos vistos em uma sociedade discriminatória, ele realmente busca um
convívio com pessoas que possuem o mesmo tipo de comportamento e que de certa
forma valorizam suas praticas infracionais, ele se afasta da escola pelas cobranças
que normalmente são feitas por esta entidade e pelo despreparo dos educadores em
lidar com essa problemática que normalmente os afastam do convívio escolar,
empobrecendo ainda mais seu desenvolvimento principalmente no meio profissional.

Podemos compreender de forma bastante clara que estes aspectos levam ao


adolescente a cometer o ato infracional, mas que existem outros fatores devido ao
contexto social aonde ele esta inserido. É importante que esses fatores sejam
43

desvelados por profissionais capacitados a lidar com variadas situações, devendo


proporcionar a esse adolescente acesso que possibilitem sua inserção no mundo.

Vale lembra que essas crianças e adolescentes que cometem um ato


infracional, têm que serem vistos como sujeitos em pleno desenvolvimento e
cidadãos de direitos, pois necessitam de proteção social, assim como entender
sobre os seus deveres. Como define artigo 3º do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA):

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros, meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Conforme assistente social M.L.:

São direitos garantidos na Constituição e no ECA. Uma coisa que


está lá como direito e que não é efetivado são as políticas publicas.
Não são efetivado, o direito a cultura, direito ao esporte, direito ao
lazer.

3.3 A INTERVENÇÃO COM OS ADOLESCENTES E SUAS FAMÍLIAS

Para entendemos como essa demanda chega para o assistente social,


teremos que descrever o que acontece com o adolescente logo após cometer um
ato infracional.

M.L relata quando efetuada a apreensão em flagrante do adolescente, esse


deverá ser imediatamente encaminhado à Delegacia. Em seguida, a autoridade
policial procederá da forma prevista nos artigos 106, 107 e 173 do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Sendo necessário comparecimento de qualquer um dos
pais ou responsável. A autoridade policial deverá liberar o adolescente, assinando o
termo de compromisso e responsabilidade de comparecer ao Ministério Público. A
delegacia remeterá os documentos pertinentes ao Promotor Público.
44

Vale ressaltar que o ato infracional cometido por uma criança, os pais são
responsável, conforme esta previsto no Art. 101do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).

Se for uma pichação que é considerada um caso leve ali mesmo o


delegado pode fazer uma advertência verbal e liberar o menino,
dependendo do ato infracional ele e a família são encaminhados para o
ministério público, onde vai passar por uma audiência na (UAI) Unidade de
Internação Inicial. (M.L)

Após serem levados para Unidade de Internação Inicial (UAI), os


adolescentes passam por uma audiência, com o juiz da Vara da Infância e
Juventude para saber se serão encaminhados à internação na Fundação Casa ou
encaminhados a cumprir a medidas socioeducativa. Portanto se o juiz determina a
medida socioeducativa de liberdade assistida, estes são encaminhados para o
Fórum da Vara da Infância e Juventude mais próximo da sua residência. Deste
modo os adolescentes chegam ao SMSE/ME, para cumprir sua medida, prevista o
Art. 88 do (ECA).

Pelas normas do PNAS (Plano Nacional da Assistência Social) do SUAS


(Sistema Único da Assistência Social) é a territorilização. O serviço é
descentralizado. Antes quando o menino cometia o ato infracional ele ia
para Fundação Casa prestar essa medida de liberdade assistida. Então, se
ele mora em Perus e tem uma Fundação Casa na Vila Maria, uma vez por
semana ele tinha que comparecer para conversar com uma técnica para
atendimento de liberdade assistida. Hoje com a nossa política de
Assistência Social o serviço é descentralizado, esse serviço é oferecido no
próprio território (...). Ele pode chegar só com medida de liberdade assistida
ou uma medida prestação de serviço na comunidade (PSC) ou

concomitante.

Assim, parte da legislação que propõe a implementação do atendimento a


adolescentes, como se refere à municipalização, a descentralização político-
administrativa e a participação da sociedade civil.

Com a nova legislação, somado às normas de aplicação vigentes no Estatuto


da Criança e do Adolescente, as medidas socioeducativas, antes executadas pelo
45

Estado, como afirma Serejo (2006), agora são executados pelos municípios ou
ONGs com convenio com a prefeitura.
Quando o adolescente chega ao local em que há o Serviço de Medida
Socioeducativa o mesmo vem acompanhado dos pais ou responsável para a
elaboração do Plano Individual de Atendimento (PIA) que tem como objetivo
alcançar metas durante o cumprimento da medida

Para M.L. o trabalho com adolescentes em medidas socioeducativa de


liberdade assistida e suas famílias consistem em reuniões de grupos, atendimentos
individuais, assistência a família, encaminhamentos para a área da saúde,
educação, área social, passeios culturais e de lazer, “tentando garantir os direitos e
a proteção integral dessa família e principalmente dessa criança e adolescente”.

Segundo M.L:

É trazer essa família pra junto do menino e pela matricialidade da


família que é o centro da política publica da assistência social, não dá
pra trabalhar esse adolescente essa criança sem a família (...) ela
exige muito do serviço (...) participação dessa família, o foco na
família é o principal para efetivar esse serviço.

Desta forma, a família é a referência principal e também co-autora desse


processo, sendo convidada a participar ajudando e acompanhando o adolescente no
cumprimento da medida.

Freitas (2011) considera também a família como alvo de intervenção, pois são
participantes no processo socioeducativo. Compreende-se ainda que os arranjos da
família contemporânea são importantes de serem reconhecidos no processo de
construção da ressocialização deste o adolescente visto que o meio familiar
geralmente é para onde o adolescente volta depois da internação.

A primeira dificuldade encontrada pela Assistente Social M.L é a aproximação


das famílias para o Serviço sendo um desafio fazer com que eles participem das
reuniões em grupo e dos atendimentos individuais. Com os adolescentes a
dificuldade é despertar o seu interesse para as atividades e oficinas oferecidas pelo
núcleo “eu tenho uma oficina de grafite, de noventa meninos participam dois. Tenho
uma oficina de esporte que começou no mês de março, teve vinte e cinco
46

participantes e no mês de abril não teve nenhum, mais a gente não vai desistir”.
Uma das grandes dificuldades se concentra na área da educação. As escolas
mesmo tendo vagas se negam a aceitar este adolescente colocando diversas
barreiras, e não atendendo um direito garantido pela a Constituição e o ECA.

É um momento que a família esta bem fragilizada, na maioria das vezes são
as mães que chegam aqui com esses adolescentes é um momento muito
difícil, é um momento de confusão. Muitas não entendem o que aconteceu.
Elas se culpam e se justificam dizendo, por que eu o deixei sozinho, sempre
trabalhei (...) os pais se culpam muito.

Percebe-se o quanto é difícil a legitimação do trabalho da profissional diante


da realidade com os adolescentes que estão cumprindo esta medida bem como sua
intervenção profissional para despertar interesse em relação às atividades
oferecidas pela Instituição, direitos conquistados pelo ECA.

Segundo M.L., a expectativa que as famílias trazem para o Centro


Comunitário é de encaminhamento para diferentes áreas: psicológica, habitação e
em especial a área da profissionalização. Porém este é um processo limitado devido
às exigências das Instituições para que os alunos tenham o primeiro grau concluído,
o que impede a inclusão dos adolescentes em medida socioeducativa nos cursos
profissionalizantes, no entanto reafirma “o nosso papel e assistir essa família no que
for preciso.”

Nota-se como é importante para a família a inclusão escolar em cursos


profissionalizantes que possam proporcionar a conquista da autonomia financeira e
de ascensão profissional, visto que o trabalho parece ser uma forma de regeneração
diante da família e da sociedade, “a expectativa é que o adolescente irá trabalhar”.

A gente fala para esse adolescente que ele precisa estudar sim, mais
para o conhecimento dele a gente não ta garantindo que ele vai
estudar e vai ganhar absurdos de dinheiro, porque a gente sabe que
tem muita gente ai fora da rede de trabalho e que não ganha o
suficiente. E outra coisa que a gente tem também é a concorrência,
infelizmente do trafico, porque muitos dos meninos que estão
cumprindo a medida sócioeducativa não têm interesse em trabalho,
não tem interesse em escola porque já estão no meio do trafico. O
47

que eles ganham em um dia eles ganham em um mês trabalhado


(profissional M.L).

Mesmo com a expectativa das famílias em relação ao processo de trabalho


da instituição, conforme relata M.L, percebe-se a dificuldade de esclarecer às
famílias dos adolescentes quanto à importância em seguir o processo de
ressocialização, devido à facilidade encontrada nos atos infracionais, “a família
precisa ser cuidada para poder cuidar, precisa entender as reações quando o
mesmo esta sobre efeito das drogas”.

Observa-se que M.L busca criar vínculos com o adolescente e suas famílias
demonstrando acreditar na sua ressocialização na sociedade, os posicionando
quanto aos seus direitos e deveres, “nossa maior dificuldade é a aproximação dessa
família é um grande desafio”. (M.L).

Neste sentido, entende-se a importância de M.L em estimular a participação


da família, comunidade e sociedade em formular proposta para enfrentamento das
demandas apresentadas pelos os adolescentes que cumprem medidas
socioeducativa, proporcionando uma reflexão em relação aos direitos desses
adolescentes.

Conforme afirma Sarti (2002), conhecer essa família sua historia suas
experiências é fundamental. Também, o papel do profissional na implementação de
recursos na esfera das políticas publicas que assegurem a proteção social da família
é de grande importância.

Segundo Freitas (2011), o processo socioeducativo não termina com a saída


do adolescente da unidade, o profissional precisa dar continuidade fora da medida
de liberdade assistida e subsídios emancipatórios esse acompanhamento fora da
medida é complexo, mas com uma intervenção bem elaborada será possível garantir
melhores condições para ressocialização desse adolescente com inserção nos
estudos e trabalho.

Para M.L não existe um trabalho efetivo com os adolescentes e suas famílias
após o cumprimento da sua medida “a gente deixa em aberto mesmo que terminou
a medida nós oferecemos encaminhamentos ao CRAS (...) se precisar de alguma
ajuda, estamos aqui para orientar, se quiser pode ligar e participar das reuniões.”
48

3.4 REFLEXÕES SOBRE O CÓDIGO DE ÉTICA

A profissional demonstra estar respaldada no Código de Ética com o


compromisso no atendimento dos adolescentes e as demandas apresentadas no
Serviço de Medidas Socioeducativas.

Tal fato vai de encontro ao que esta no Código de Ética do Assistente Social
em seu 10º princípio: “Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à
população e com o aprimoramento intelectual na perspectiva da competência
profissional.”
M.L ressalta que um dos princípios básicos para a intervenção profissional é
um atendimento adequado que objetiva uma conduta ética, “quando a gente fala de
qualidade prestada a esta população tem tudo a ver sim com o nosso compromisso
de trabalho, quando a gente atende essa família e esse adolescente , passamos os
direitos, os deveres e atendemos sem preconceito e julgamento.”
Segundo Barroco:
A ética, como apreensão teórica, diz respeitos aos seus fundamentos
e à busca dos significados histórico dado aos valores: diz respeito às
raízes dos problemas, á busca da essência, ou seja, um modo
peculiar de olhar determinada dimensão da realidade. (2001, p.81)

M.L. aponta que as famílias são discriminadas, existem preconceitos mesmo


dentro das instituições religiosas, “nosso trabalho é totalmente ligado a esta
prestação de serviço qualificada e o aprimoramento intelectual dessa população
sobre os direitos e deveres.”

Para a efetivação do seu trabalho M.L. busca garantir a proteção integral


desse adolescente e suas famílias, no que tange a defesa e interesses dos direitos
humanos, com um trabalho pautado na justiça social e respeito à diversidade no
exercício do Serviço Social sem discriminar.
É de fundamental importância ao profissional do Serviço Social ter clareza
dos seus direitos e deveres parametrados pelo no Código de Ética Profissional. No
como afirma M.l temos que atender com competência profissional e garantir a
proteção integral na área da saúde, da assistência social e educação na busca de
garantir uma pratica diferenciada junto à sociedade.
Um outro elemento que M.L. focou foi em uma questão de gênero que diz a
respeito às meninas que cometem o ato infracional. Os números são menores em
49

relação ao sexo masculino sendo que dos 91 adolescentes atendidos na medida


socioeducativa “somente 10 meninas cometerem um ato infracional, porém, seus
atos são leves sem muita gravidade, como pequenos roubos, brigas na escola, (...)
só uma que ficou internada. Estas meninas também se envolvem por serem
namoradas do chefe da boca, ou pelo poder, pela chance de conseguir as coisas.”

Em uma das visitas ao SMSE-ME encontramos com uma adolescente que


estava com um bebê e perguntamos a M.L. se ela estava cumprindo a medida, M.L.
respondeu que sim e ressaltou que ela estava grávida quando foi internada, e que
segundo informações assumiu o ato criminoso no lugar da mãe, usuária de craque.

As pesquisas demonstram que as meninas submetidas a alguma medida


socioeducativa são uma pequena minoria no universo brasileiro de adolescentes em conflito
com a lei. No ano de 2006, esse número era de pouco mais de 3 mil garotas, num universo
de mais de 40 mil adolescentes, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto Latino-
Americano das Nações Unidas para Prevenção e Tratamento do Delinqüente (Ilanud).
Dados mais recentes dão conta apenas das adolescentes em medidas privativas de
liberdade: em 2008, elas não chegavam a mil cumprindo medida em meio fechado, num
total de mais de 16 mil, segundo relatório da Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República.

Em números, as meninas que cometem atos infracionais em geral incidem em


condenações mais brandas que as dos meninos: mais de 80% delas cumpria, em
2006, medidas de Liberdade Assistida (LA) e/ou Prestação de Serviços à
Comunidade (PSC), e menos de 8% estava em medida de Internação, a mais grave
entre as medidas socioeducativas. Para os meninos, esse índice é o dobro: mais de
16%, na mesma época, cumpriam medida de Internação.

Como os meninos, elas também praticam mais atos contra o patrimônio (46%
delas), como roubo e furto. Para os meninos, a proporção é de 64%. Em segundo
lugar, no entanto, elas se envolvem mais com delitos relacionados à agressão a
pessoa e os costumes (agressão física e crimes relacionados à intimidade). São
24,7% delas, contra 12,6% deles. Proporcionalmente, elas também se envolvem
mais que eles com atos ligados a tráficos de entorpecentes. Mais de 16% do total
das meninas em MSE são sentenciadas por esse tipo de atividade, enquanto entre
50

os meninos a porcentagem está abaixo dos 13%. (http://www.promenino.org.br/


acesso 21/05/2011) Cristina Uchôa e Murillo Magalhães.

Outro elemento importante apontado na entrevista foi a uma rede de


supermercado que oferece oportunidades para estes adolescentes que estão em
cumprimento de medida socioeducativa, para um trabalho efetivo. Tem um projeto
especifico para o adolescente infrator. Porém M.L. relata que foram encaminhados
vários adolescentes para a seleção e apenas um conseguiu sobressair passando
por cinco entrevistas e sendo contrato e logo efetivado. Como ele possuía o
segundo grau completo este foi o seu diferencial.

A inclusão desses adolescentes nestes espaços de profissionalização se dá


por meios de oportunidades no mercado de trabalho inserindo e também no convívio
social, portanto se faz necessário efetividade das políticas públicas.

3.5 PERFIL DOS ADOLESCENTES DO (SMSE/MA) SERVIÇO DE MEDIDAS


SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO
POR IDADE  Qtde %

ATENDIMENTO A ADOLESCENTES EM ABRIL DE 2011


POR IDADE

8% 3% 7% 13anos
16% 14anos
15%
15anos
16anos
17anos

22% 18anos
30%
19anos

13 anos 3 3%
14 anos 6 7%
15 anos 13 15%
16 anos 19 22%
17 anos 26 30%
18 anos 14 16%
19 anos 7 8%
Total 88 100%
51

SEXO  Qtde %

ATENDIMENTO A ADOLESCENTES EM ABRIL DE 2011


POR SEXO

10%

Masculino
Feminino

90%

Masculino 79 90%
Feminino 9 10%
Total 88 100%

ESCOLARIDADE  Qtde %

ATENDIMENTO A ADOLESCENTES EM ABRIL DE 2011


ESCOLARIDADE

31%
Ensino Fundamental
Ensino Médio
50%
Não Estudam
19%

Ensino Fundamental 27 31%


Ensino Médio 17 19%
Não Estudam 44 50%
Total 88 100%
52

EMPREGABILIDADE  Qtde %

ATENDIMENTO A ADOLESCENTES EM ABRIL DE 2011


EMPREGABILIDADE

18% Semvinculo
4% empregatício
Comvinculo
empregatício
Não trabalham
82%

Sem vinculo empregatício 13 18%


Com vinculo empregatício 3 4%
Não trabalham 72 82%
Total 88 100%

COM QUEM RESIDE    

ATENDIMENTO A ADOLESCENTES EM ABRIL DE 2011


COM QUEM RESIDE

Pais Biológicos
Mãe
3% 6% 1% Pai
13% 35%
Tia
Avós
5%
Mãe e Padastro
1% Pai e Madrasta
32%
5% ComConjuge
Sozinho
Pais Biológicos 31 35%
Mãe 28 32%
Pai 4 5%
Tia 1 1%
Avós 4 5%
Mãe e Padrasto 11 13%
Pai e Madrasta Três 3%
Com Cônjugue Cinco 6%
Sozinho Um 1%
Total 88 100%
53

O leitor pode observar diferenças entre as informações fornecidas pela


Assistente Social e os números apresentados nos gráficos, devido aos dados
obtidos em abril de 2011 apontar para 88 atendimentos, enquanto a entrevista foi
realizada em maio de 2011, apontando para 90 atendimentos.

Podemos observar que o perfil do adolescente da instituição pesquisada em


abril de 2011, mostra que a maior concentração de adolescentes que cumprem
liberdade assistida está na faixa etária entre os 16 e 17 anos, representado 52% do
total dos jovens atendidos, sendo 90% destes jovens do sexo masculino.

Por outro lado a educação fica quase de fora dos percentuais devido ao alto
índice de evasão escolar, com 50% dos jovens fora da escola, e apesar da
vulnerabilidade e as fragilidades observadas, o direito assegurado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA prevê que estes adolescentes deveriam estar na
escola.

O mesmo acontece no âmbito profissional, cuja pesquisa aponta para 82%


dos jovens sem trabalho.

A pesquisa aponta também para o fato de que 67% dos adolescentes em


medida socioeducativa de liberdade assistida moram com os pais biológicos ou
somente com a mãe.

Você também pode gostar