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Vamos iniciar essa unidade com um Vídeo: "Para início de conversa".
Unidade 3 Início
Olá! Espero que tenha gostado do vídeo “Para início de conversa”. Ele foi preparado para você!
Historiar o processo de elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual inclui, de
maneira indispensável, a inserção dos Arts. 227 e 228 na Constituição Federal de 1988. Mas, para chegar a este
momento, dedicaremos um pouco à transição realizada no modo de conceber a criança e as ações ao seu favor
gestadas: (i) pelo movimento das alternativas comunitárias de atendimento a meninos e meninas de rua e a (ii)
organização de atores coletivos de âmbito nacional, como o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, cuja
aliança coletiva resultou nos fóruns permanentes em defesa dos direitos da criança e do adolescente, atores coletivos
importantes nas campanhas constitucionais e na elaboração do ECA. Por fim, conheceremos, em maiores detalhes, as
campanhas constitucionais e o processo de elaboração e aprovação do ECA.
Todos esses sistemas, políticas educacionais e os cuidados parentais passaram, a partir de 1970, a uma crítica-em-
ato: o desafio da presença de um grande contingente de crianças e de adolescentes em situação de rua. Entre os
anos de 1950 e 1980, o processo de ‘modernização e industrialização’, regido por um modelo desenvolvimentista,
gerou um crescimento acelerado das cidades, acentuando os níveis de desigualdades e pobreza visíveis pelos bolsões
de pobreza e áreas de altas concentrações de renda. A presença de crianças e adolescentes trabalhando ou
perambulando pelas ruas chamou a atenção da sociedade em geral. Como grupos indistintos, partes de um mesmo
fenômeno, eles eram vistos de longe pela opinião pública como “pivetes”, “trombadinhas”; no meio jurídico, de
maneira ambígua, eram vistos como vítimas destinatárias das medidas de proteção reguladora para ‘menores em
situação irregular’.
As buscas por explicações e soluções para a chamada ‘problemática do menor’ geraram as Comissões Parlamentares
de Inquérito (CPIs), os primeiros estudos socio-antropológicos das crianças e adolescentes em situação de rua, os
efeitos da política de institucionalização dos menores carentes e infratores e os novos atores sociais que passaram a
atuar no desenvolvimento de novas metodologias, novas pedagogias de trabalho. Para estes novos atores, essas
crianças e adolescentes eram a ponta de um iceberg que dava visibilidade aos milhões de crianças e adolescentes em
situação de pobreza confinadas nas periferias das grandes cidades. Estes novos atores transformaram as crianças e
adolescentes de um “problema social” para “parte da solução do problema”, como figuras com potencial transformador
(rebeldes) ou mesmo messiânico (jovens profetas).
Esses novos atores sociais são articulados por meio do Projeto Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e
Meninas de Rua, desenvolvido pelo UNICEF, Secretaria de Assistência Social (SAS) e a Fundação Nacional de Bem-
Estar do Menor (FUNABEM), entre os anos 1980 e 1985, gerando um verdadeiro movimento social denominado
Movimento das Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e Meninas de Rua, o qual foi fundamental para a
constituição de um amplo movimento dos direitos da criança na segunda metade da década de 1980. Este
embrionário MDCA (Movimento pelos Direitos da Criança e do Adolescente) foi vital para as conquistas constitucionais
e do ECA, como veremos a seguir.
Nos anos 1970, temáticas da infância empobrecida são abordadas nas artes, na literatura e no cinema, ganhando a
agenda nas ciências humanas, sociais e na investigação legislativa.
No campo das artes, a produção mais icônica foi o filme Pixote – a lei do mais forte, de Hector Babenco, produzido no
final da década de 1970, com base no livro Infância dos Mortos – Pixote, de José Louzeiro (1977) e lançado em 1980.
O filme é um retrato crítico do que se tornou o Sistema de Bem-Estar do Menor.
Na agenda das ciências humanas e sociais, entraram os estudos e as pesquisas dentre as quais destacaram-se “A
criança, o adolescente e a cidade”. Pesquisa desenvolvida pelo Centro Brasileiro de Análises e Planejamento (Cebrap),
em 1971, com o objetivo de conhecer a situação social do ‘menor marginalizado’, em São Paulo e os Meninos de Rua
Valores e Expectativas (1979), realizado pelo Centro de Estudos Contemporâneos (Cendec), encomendado pela
Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo (SANTOS, 2004).
A realização da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI do Menor, pela
Câmara dos Deputados em 1975, instaurada com o objetivo de dimensionar
melhor o fenômeno, cujos resultados foram publicados em documento
intitulado “A Realidade do Menor”, foi de fundamental importância para
chamar a atenção da sociedade brasileira para a gravidade e complexidade da
situação de crianças e adolescentes vivendo na pobreza extrema.
Também o campo do atendimento alternativo para a saúde mental dos chamados delinquentes juvenis e do trabalho
alternativo em meio aberto com adolescentes em conflito foram comtemplados com a Comunidade Terapêutica
Enfance (Associação Pró-Reintegração Social da Criança), primeira comunidade terapêutica em São Paulo, criada em
1968, e o Projeto Aldeia Juvenil da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), mais tarde denominado
Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil, criado em 1981, com o propósito de ser um centro de
convivência e comunidade terapêutica para adolescentes infratores internos no Centro de Orientação e Observação
Juvenil.
Em 1982, houve a implantação do Projeto Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e Meninas de Rua,
pelo UNICEF, Secretaria de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social e da Fundação Nacional
de Bem-Estar do Menor (Funabem), com o objetivo de fomentar o desenvolvimento desses modelos alternativos, por
meio da capacitação, das ações e intercâmbios e trouxe, como resultados, a
estruturação de uma concepção de atendimento capaz de colocar-se como
alternativo ao modelo de institucionalização de crianças pobres e vulneráveis,
centro das políticas oficiais e processo mais sistemático de articulação e
intercâmbio metodológico que estabeleceu um processo organizativo de
criação dos chamados Grupos Locais.
Esta fase alternativista foi importante para fazer uma transição nas
concepções de infância e adolescência como objetos de caridade e filantropia,
cujo bem-estar interessava na medida em que tivesse o potencial de trazer
melhores resultados econômicos ou economia de gastos públicos para a criança na condição de sujeito da história e
do processo pedagógico. Apoiadas na educação popular de inspiração Freiriana, as ações em seu favor deveriam ser
geradoras de uma consciência da condição de oprimidos e realizadas no contexto em que viviam, em oposição às
políticas centradas na institucionalização e de caráter correcional-repressivo (SANTOS, 2004).
A explicação para o chamado problema social desloca-se da natureza individual das crianças e de suas famílias e do
ambiente em que elas viviam para um problema da estrutura social, na qual o estado não só falha na proteção como
torna-se o próprio agente violador. Por essa razão, o foco deste incipiente movimento social foi disseminar, multiplicar
as formas alternativas de atender as crianças e adolescentes menorizadas em situação de vulnerabilidade.
A frase é verdadeira.
A frase é falsa.
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Muito bem, agora que você sinalizou suas hipóteses, vamos ao resumo das críticas que foram realizadas:
a) Os programas alternativos não se constituíram uma solução efetiva e duradora para os problemas de
sobrevivência de crianças e adolescentes pobres. Embora tivessem auxiliado a sobrevivência mais imediata e
prevenido algumas de irem para as ruas ou entrar para as atividades da chamada criminalidade organizada, não foi
eficaz tanto pela escala quanto pelo tipo de atividade para servir como mecanismo de prevenção da atração dos
grupos que capturam as crianças e adolescentes para suas atividades. Ao final dos anos 1980, mesmo com a sua
multiplicação, esses programas não logravam oferecer proteção às milhares de crianças e adolescentes trabalhadores
em situação de risco pessoal e social. Enfim, concluiu-se pela pouca efetividade dos programas alternativos para
impactar as dimensões estruturais do fenômeno chamado ‘meninos de rua’ ou do trabalho infantil no Brasil.
b) As estratégias de geração de renda utilizadas nos programas alternativos evidenciaram: (b.1) um descompasso
entre as demandas do mercado consumidor e os tipos de produtos e serviços utilizados; (b.2) as escolhas de
atividades informais manuais que não requeriam ensino metódico para constituir-se em aprendizagem profissional de
uma carreira; (b.3) o recebimento de pagamentos simbólicos não suficientes para a sobrevivência ou aquisição de
uma noção do valor econômico do trabalho; (b.4) as atividades formativas, mesmo não intencionalmente, promoviam
a subalternidade e não o engajamento dos jovens nos movimentos de trabalhadores-cidadãos.
c) Construir, e mesmo multiplicar, programas alternativos comunitários não contribuiu para inverter a perversa
lógica da desigualdade: ao invés de ajudar as famílias a criarem os seus filhos, a lógica subverteu-se para ajudar as
crianças e adolescentes a ajudarem suas famílias. Explícita ou implícita, intencionalmente ou não, esses programas
concebiam o trabalho como uma forma de “controle social”, transmitindo pouco ou quase nenhum aprendizado de
participação nos processos decisórios e pouco observando as regras, as normas legais para a entrada das crianças e
adolescentes no mundo do trabalho ou mesmo transmitindo informações assistemáticas sobre os direitos trabalhistas
e de cidadania. Para os críticos deste modelo, esses arranjos serviam como “amortecedores de pressão” para a
melhoria das políticas, desobrigando o Estado do papel que lhe cabia.
Na consciência deste novo movimento, a consignia não era mais ‘alternar’, mas sim ‘alterar’ as velhas políticas para
que fossem verdadeiramente inclusivas e respeitadoras dos direitos de crianças e adolescentes.
Em junho de 1985, realizou-se, em Brasília, o Encontro Nacional do Movimento de Meninos e Meninas de Rua
(MNMMR) dos Grupos Locais, o qual tornou-se uma verdadeira assembleia de constituição do Movimento Nacional de
Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e Meninas. Neste encontro, foi criada a Comissão Nacional
Provisória encarregada de elaborar o projeto de estatuto, o documento de princípios e planejar e coordenar a
assembleia de constituição deste Movimento.
Em maio de 1986, antes mesmo de constituir-se como organização, o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua promove o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua em Brasília, no Parque Rogério Pithon Faria, onde
funcionava a Escola Parque da Cidade Promoção Educativa do Menor (PROEM). Mais de 500 crianças e adolescentes
de todo o país coletivizaram suas vozes contra a violência a que vinham sendo submetidos.
No mês de agosto deste mesmo ano, durante a II Assembleia Nacional, foi oficialmente constituído o agora designado
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), organização popular não-governamental, autônoma, de
defesa dos direitos humanos e de cidadania de meninos e meninas de rua. A sua estrutura organizacional era
composta por um Conselho Nacional, do qual emanava uma Coordenação Nacional, as Comissões Estaduais, as
Comissões Locais e os Núcleos de Base. O Conselho Nacional e as comissões estaduais eram espaços de articulação
compostos por ativistas adultos, e os núcleos de base, instâncias orgânicas de participação das próprias crianças e
adolescentes. As assembleias eram instâncias de participação conjunta de crianças e adolescentes, embora em
modalidades distintas (o encontro das crianças/adolescentes era permeado por atividades lúdicas).
Diferentemente da articulação anterior, o MNMMR não se institui como uma organização de prestação de serviços ou
de articulação das experiências alternativas, mas sim como espaço de participação, organização e mobilização de
ativistas adultos e de meninos e meninas de rua para a conquista de seus direitos. Direitos humanos e de cidadania
entraram para o vocabulário cotidiano e se tornaram uma ferramenta das ações de proteção e defesa das crianças e
dos adolescentes.
Na medida em que o MNMMR se tornou independente da Igreja e do Estado, o perfil dos adultos participantes migrou
de representantes das ONGs, educadores sociais, técnicos do Estado, pessoas de origem filantropista identificadas
com o atendimento alternativo para ativistas dos direitos humanos e de cidadania de crianças e adolescentes.
Os Núcleos de Base, que em 1995 somavam mais 100 em todo o país, compostos por meninos e meninas, embora no
interior do MNMMR se fizesse a distinção entre os “meninos de rua mesmo” e os “pequenos trabalhadores”, vão
gradativamente se tornando espaços autogeridos pelas próprias crianças e adolescentes.
A articulação do Fórum Nacional Permanente das Organizações Não-Governamentais de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente e as ações de inclusão dos Arts. 227 e 228 na Constituição Federal
Um dos fatos históricos mais importantes da vida política brasileira na década de 1980 foi, sem dúvida nenhuma, o
processo Constituinte. Em 1986, ocorreram as eleições para a escolha dos parlamentares que integrariam a
Assembleia Constituinte e, em fevereiro de 1987, o Congresso brasileiro iniciou o trabalho de elaboração da nova
Constituinte.
Ainda em 1986, uma Comissão Interministerial, liderada por profissionais do Ministério da Educação, iniciou a
campanha “Criança e Constituinte”, a qual ganhou adesão da sociedade civil e se estruturou em nível nacional,
estadual e mesmo municipal. A finalidade era elaborar uma proposta do Poder Executivo relacionada, particularmente
a criança de 0 a 6 anos de idade.
As comissões do MNMMR se engajaram nas atividades da Campanha Criança e Constituinte e, com base nas
recomendações do I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua e em
discussões internas, o Movimento elaborou propostas à Constituinte que foram
entregues em 1987 ao Congresso Nacional em uma Audiência Pública da
Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso, presidida pelo Deputado Nelson
Aguiar do PMDB do Espírito Santo. Várias outras organizações vinculadas à
chamada causa do menor apresentaram propostas à Subcomissão ou foram
ouvidas nos dois meses de trabalho da comissão (abril e maio de 1987).
A incidência organizada da sociedade civil, de profissionais e técnicos articulados nas comissões Crianças e
Constituintes, promotores públicos de São Paulo, Paraná, funcionários e ex-funcionários da FUNABEM, membros de
sociedades e movimentos de direitos humanos e do Plenário Pró-participação Popular na Constituinte, trabalharam
juntos para que a Assembleia Constituinte incorporasse, pela primeira vez na história do nosso país, direitos para
crianças e adolescentes expressamente circunscritos nos Arts. 227 e 228 da nova Constituição Federal sancionada em
1988.
Essa experiência acumulada no processo constituinte federal serviu de subsídio paras as intervenções nas
Constituintes Estaduais e Leis Orgânicas Municipais. Também a estratégia de criação de fóruns se disseminou por
vários estados e municípios. Em balanço realizado em 1995, o MNMMR informou haver participado da elaboração de
18 Constituições Estaduais (MNMMR, 1995).
Ainda com os processos constituintes ocorrendo em âmbitos estaduais e municipais, surgiram as iniciativas para
regulamentação dos Arts. 227 e 228 da Constituição Federal de 1998. O Fórum DCA teve o papel catalisador de reunir
três iniciativas no que ficou conhecido como Grupo de Redação do ECA:
• Fórum Nacional DCA, cuja proposta para regulamentar a nova Constituição partia da estrutura dos Arts. 227 e 228.
Um primeiro esboço do trabalho a ser desenvolvido foi apresentado pela Pastoral do Menor de São Paulo.
• Coordenação das Curadorias do Menor do Estado de São Paulo que apresentava uma proposta de revisão do Código
de Menores.
• Assessoria jurídica da FUNABEM que havia dado passos preliminares para a elaboração de um anteprojeto de
normas gerais.
De outubro de 1988 a fevereiro de 1989, este grupo de redação elaborou, de forma acelerada, o Projeto de Lei
Normas gerais de proteção à infância e à juventude, com o intuito de ganhar a precedência no processo
regulamentário. O anteprojeto foi apresentado à Câmara dos Deputados, em 16/02 e recebeu o nº PL 1.506/89,
negociado com os deputados Nelson Aguiar e Benedita da Silva e apresentado como de autoria do Dep. Nelson Aguiar.
Uma versão mais elaborada, agora já denominada Estatuto da Criança e do Adolescente, foi apresentada
simultaneamente ao Senado pelo PLS 193/89 de autoria do senador Ronan Tito (30 junho 1989) e à Câmara como
substitutivo do deputado Nelson Aguiar (03 julho 1989).
O Projeto tramitou mais rapidamente no Senado, onde foi aprovado em 25 de maio de 1990, com menos de um ano
de tramitação, e enviado, em 30 de maio, para revisão da Câmara sob o nº PL 5.172/1990. Neste mesmo período, foi
apresentada ao Congresso Nacional, para ratificação, a Convenção sobre os Direitos da Criança, das Nações Unidas.
A redação final do ECA foi aprovada pela Câmara dos Deputados no dia 28 de
junho de 1990 e foi sancionado no dia 13 de julho de 1990.
Para haver este resultado positivo, é importante ressaltar um pouco sobre a
mobilização social realizada em torno das cerca de seis versões do ECA,
sempre aperfeiçoadas pelo debate nacional. Foram realizadas inúmeras ações
dentre:
d) Sensibilização e adesão de órgãos do Poder Executivo, como a adesão de segmentos da Funabem, do Fórum
Nacional dos Dirigentes de Órgãos de Políticas Públicas para a Infância e Adolescência (Fonacriad) e de instituições
similares dos governos de vários estados e de centenas de prefeituras;
e) Trabalho junto às crianças, com a produção de material didático-pedagógico, passeatas e mobilizações;
f) Trabalho no Congresso Nacional: lobby cotidiano no Congresso, ações do tipo “corpo-a-corpo”, e envio de
cartas, telegramas e dossiês para os deputados;
g) Campanhas na mídia, com apoio do UNICEF e do Conselho Nacional de Propaganda (CNP).
Um dos movimentos mais significativos de mobilização de crianças e adolescentes durante a fase constituinte foi a
“Ciranda da constituinte”, quando milhares de criança abraçaram o Congresso Nacional e dançaram uma ciranda. Um
dos momentos mais expressivos desta mobilização pela aprovação do ECA foi a votação simbólica realizada pelas
próprias crianças e adolescentes durante o II Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, realizado em Brasília
em 1989, quando cerca de 750 crianças em situação de rua de todo o país e de dez países latino-americanos
ocuparam o Plenário do Congresso Nacional e aprovaram o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Vamos testar seus conhecimentos?
Esse processo de incorporar os menores em uma categoria de crianças e adolescentes mais ampla e, ainda mai
concebê-las todas como sujeitos de direitos, foi um longo processo devido a divisão da infância. De categoria jur
termo ‘menor de idade’ se transformou em uma categoria sociológica de apartação e estigmatização de crianças
adolescentes empobrecidos. Uma das máximas pode ser lida na manchete de jornal: “menor mata criança”, publ
um jornal carioca dos anos 1980.
A afirmação é verdadeira.
A afirmação é falsa.
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A mudança de paradigma e o início de um novo modo de governar baseado nos direitos e na ação
emancipatória cidadã
Com a construção deste movimento pró-direitos da criança, a inserção do paradigma dos direitos na Constituição
brasileira, a aprovação do ECA, a ratificação, em 1990, da Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente
de 1989 e a implantação das novas institucionalidades do sistema de garantia de direitos inicia-se um novo modo de
governar para crianças e adolescentes, inicialmente denominada corrente da cidadania e mais tarde cunhada como
um novo modo de governar baseado nos direitos e nas ações de emancipação de crianças e adolescentes.
Os outrora expostos, desvalidos, menores carentes, abandonados e delinquentes são todos considerados crianças e
adolescentes. De objetos de caridade, filantropia e políticas de bem-estar social, que já haviam sido elevados à
categoria de sujeitos da história e do processo pedagógico, agora são os mais novos sujeitos de direitos. As crianças e
adolescentes adquiriram o direito de ter direitos.
A garantia de direitos agora viria não mais por meio das ações alternativas. A tarefa primordial não era mais
multiplicar os programas alternativos para o atendimento das necessidades básicas de crianças e adolescentes e de
suas famílias, mas sim de ‘alterar’ as velhas políticas e construir uma política de garantia de direitos que elevasse as
crianças e adolescentes para o patamar de cidadãos de primeira categoria.
Com a implantação do ECA, na década de 1990, ademais dos trabalhos de constituição das novas institucionalidades,
do processo de elaboração de políticas mais amplas para infância e juventude e/ou mesmo implementação de
programas públicos para meninos de rua, outros temas ganharam espaço na agenda dos movimentos vinculados à
infância, das organizações internacionais e mesmo das instituições públicas, gerando formas de
mobilizações/organizações específicas, particularmente trabalho infantil e violência sexual (abuso e exploração
sexual). Já nas primeiras décadas dos anos 2000, assumiram prioridades no âmbito dos MDCA os temas vinculados à
primeira infância e, também, no âmbito sobretudo das instituições públicas, a implantação do Sistema Nacional
Socioeducativo.
Confira a animação para rever o histórico que vimos até aqui.
200 anos Unid 3 – Modo de governar
No início dos anos 1980, as experiências alternativas de trabalho ‘com’ meninos e meninas de rua se multiplicaram
pelo país, no contraponto do filantropismo, e para além das Entidades Sociais Privadas (ESPs), as quais, mais tarde,
viriam a ser denominadas ONGs, geraram uma esfera de ‘sociedade civil’ especializada na defesa do menor e dos
meninos de rua, a qual se organizou em âmbito nacional a partir de suas bases comunitárias.
A constituição de um movimento social – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) – contribuiu
para romper com a perspectiva caritativa e a filantrópica e para construir uma entidade de defesa de direitos
humanos que atuasse na perspectiva de organização das próprias crianças e adolescentes. A partir de 1985, quando o
MNMMR organizou o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, em Brasília, a organização realizou mais
quatro outros encontros nacionais, tendo o segundo deles ocorrido em 1989 e que ficou nacional e internacionalmente
conhecido por realizar uma das principais ações de advocacia pela aprovação do ECA: as crianças e adolescentes
entraram no Congresso Nacional, ocuparam as cadeiras dos parlamentares e realizaram uma votação simbólica do
ECA (SANTOS, 2004).
A partir de 1985, surgiu um novo conjunto de atores sociais como centros de estudos e pesquisa, centros de defesa
jurídico-social, os quais se organizaram no Fórum DCA Nacional. Esta articulação foi essencial para o processo de
elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, como veremos, na próxima unidade, será importante na
sua implementação.
Esse novo ator social pós-Constituinte e as novas garantias legais deram origem a um novo modo de governar
baseado nos direitos da criança e do adolescente.
A conquista do ECA gerou várias transformações na forma de conceber as crianças e os adolescentes, na doutrina
jurídica e no modo de elaborar as políticas para crianças e adolescentes. Vejamos.
Base doutrinária e status de cidadania das crianças: em lugar da doutrina da situação irregular foi instituída a
doutrina de proteção integral. Houve a constitucionalização dos direitos da criança e do adolescente.
Modo de elaborar políticas: descentralizado na estrutura do poder executivo nacional as políticas passaram a ser
municipalizadas e elaboradas por conselhos de direitos da criança e do adolescente.
A exigibilidade dos direitos da criança ganhou novos órgãos: os Conselhos Tutelares e as ações especializadas em
infância e juventude das defensorias públicas, das promotorias públicas e do Poder Judiciário por meio das Varas da
Infância e Juventude. E, dentre os novos mecanismos jurídicos para a defesa dos direitos da criança e do
adolescente, o ECA incluiu as ações civis públicas de proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos.
Unidade 3 Fim
Avaliação: Fixação do conteúdo - Unidade 3
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