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INDICE

CAPITULO I................................................................................................2
HISTÓRICO DE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E DAS MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL.............2
1.1 ECA – A CONQUISTA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE..................7
1.2 O ATO INFRACIONAL E A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA...............................................9
1.3 A NATUREZA DO ATO INFRACIONAL.....................................................................10
1.4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS...............................................................................10
1.5 APLICAÇÃO LEGAL DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS............................................11
1.6 A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISITIDA.......................................13
1.7 CARACTERÍSTICAS DO ADOLESCENTE QUE COMETE ATOS INFRACIONAIS...............14
1.8 Características da Liberdade Assistida.............................................................15
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CAPITULO I

HISTÓRICO DE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E DAS MEDIDAS


SOCIOEDUCATIVAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL

É necessário fazer uma contextualização histórica e social sobre a evolução


dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, para existir uma reflexão sobre o
tema, procurando identificar a atenção no ato infracional ao longo do tempo. Para
isto faz-se necessário compreender as o lugar e a importância das crianças e
adolescentes na sociedade desde Brasil Colônia e Republica até os dias atuais.

A Igreja, segundo Alberton (2005), durante todo o período colonial e nos


períodos subseqüentes, preocupada com os colonizadores, passaram a ter um
papel importante na defesa das mulheres e crianças. Até inícios do século XX, toda
atenção, amparo, projetos e atividades voltadas à infância foi exercida pela Igreja
Católica através de sua doutrina. Desde a chegada dos colonizadores, até o inicio
do século XX não se registravam no Brasil ações que possam ser caracterizadas
como políticas sociais com exceção da política da educação. Não havendo, portanto,
uma ação de estado para atender as necessidades da população empobrecida, pois
a Igreja se encarregava, dentro de sua doutrina religiosa, de fazer também um papel
social por meio da caridade.

Como Alberton (2005), Simões (2009) ressalta também na sua


contextualização histórica, que no Brasil colonial e imperial, a assistência à criança e
adolescente abandonados era de responsabilidade da igreja, seguindo a exemplo da
Europa, com um trabalho assistencialista. Assim os religiosos passaram a ter um
papel histórico importante na defesa da criança e do adolescente.

Kaminski (2002) aponta que o inicio do Período Imperial Brasileiro surgiu à


necessidade da elaboração de nossa primeira Constituição, foi assim criada e
instalada em 1823 a nossa primeira Assembléia Constituinte. José Bonifacio,
membro da primeira Assembléia Constituinte Brasileira, apresentou o primeiro
Projeto de Lei Brasileiro que apresentava um olhar nacional para a criança, tendo
como objetivo o menor escravo. Esse projeto, entretanto, caracterizava-se mais
como uma forma de manutenção da mão-de-obra escrava infantil do que como um
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meio para assegurar direitos humanos às crianças submetidas ao trabalho na época


da monarquia brasileira.

Kaminski (2002) afirma que o Código Criminal do Império Brasileiro de 16 de


dezembro de 1830, apresentava a criança e o menor infrator, como todas as
pessoas cuja idade não passava dos 21 anos incompletos. Portanto, se por um lado
a proposta do projeto de José Bonifacio visava o menor escravo, destinando-lhes
outra condição social de liberdade, por outro lado o Código Criminal do Império
classificava a criança ou adolescente que praticava o ato infracional tendo idade
menor do que 21 anos incompletos como criminoso, impondo-lhe uma
responsabilidade criminal pela prática de atos tidos como crimes, desde que
cometidos com consciência dos atos.

Segundo Tejadas:

Em 1922, surgiu o primeiro estabelecimento publico para


atenção de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro. Em
1927, foi elaborada a primeira legislação especifica da área, o
Código de Menores, cujo autor foi o juiz de menores Mello de
Mattos. (2007, p. 36).

Segundo Tejadas (2007), neste período começaram a ser criadas regras


especificas para a proteção da criança e adolescentes que necessitavam de alguma
legislação especial para a sua proteção. A Constituição Brasileira do Brasil
República de 1934 foi a primeira a preconizar direitos sociais mais amplos dos
trabalhadores e aos servidores públicos. Não perduraria por muito tempo, pois, em
1937 houve um golpe de Estado e instalou-se o Estado Novo, o qual se estendeu
até 1945, abalando a recente discussão acerca dos direitos, especialmente os civis
e políticos.

Para Rizzini (1995), nas décadas de 1930 e 1940, durante o período do


Estado Novo (1937 a 1945), o Governo de Getulio Vargas instituiu algumas
mudanças no tratamento da menoridade, tendo como plataforma inicial a ampliação
da responsabilidade penal para 18 anos e fixando as bases de organização da
proteção à maternidade, à infância e à adolescência em todo o território nacional.
Aos poucos, o problema da infância abandonada, “delinqüente” e “infratora”, como
eram chamadas inclusive na legislação oficial passam a ser encaradas não como
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um caso de polícia, mas como uma questão de assistência e proteção à criança e ao


adolescente no âmbito da lei e como forma de prevenir a criminalidade.

Carvalho (2004) destaca na área da infância e da juventude, a


obrigatoriedade do ensino básico e a criação do Serviço de Assistência ao Menor
(SAM), em 1942, sendo este um órgão do Ministério da Justiça que funcionava
semelhante ao sistema fechado penitenciário só que para a população menor de 18
anos, cuja lógica do trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e
adolescentes abandonadas ou que teriam cometido um ato infracional.

Nesta época, foram construídos internatos, reformatórios e casas de correção


para os jovens infratores. Este período foi marcado por ação assistencialista,
populista e varias entidades governamentais de atendimento à infância foram criada
todas vinculada, à Primeira Dama do País, período este marcado pelo primeiro
“damismo”.

Criou-se também segundo Carvalho (2004) em 1942 a Legião Brasileira de


Assistência (LBA) e a Fundação Darcy Vargas em 1938, esta ultima voltada para a
assistência hospitalar materno-infantil. O período democrático que sucede à ditadura
Varguista não foi fértil quanto à evolução dos direitos sociais, o mesmo se refletindo
na área da infância e da juventude, onde não houve avanços significativos.

De 1964 até o inicio da década de 1980, Tejadas (2007) aponta para a


instauração do regime ditatorial (ditadura militar brasileira) comprometendo o
exercício dos direitos humanos de um modo geral. Trata-se de um período da
história brasileira demarcado pelo rápido crescimento econômico, havendo, em
contrapartida, um aprofundamento das desigualdades sociais. No campo dos
direitos, ao mesmo tempo em que retrocederam os direitos civis e políticos, foram
ampliados os sociais, como forma de conquistar popularidade ao regime militar
imposto.

Segundo Tejadas:

foram instituídas duas legislações significativas: a Política


Nacional de Bem Estar do Menor (PNBEM), Lei nº. 513, de
1964, e o Código de Menores, Lei nº 6697, de 1979. Ambas as
legislações tinha como foco uma parcela de crianças e
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adolescentes, ou seja, os pobres, considerados em situação


irregular. (2007, p. 37).

Ainda segundo o autor acima citado, não havia distinção entre diferentes
questões que afligiam a infância e a juventude de um modo geral. O menor
abandonado, o carente e o infrator, eram todos tratados da mesma maneira, ou seja,
recorriam-se à colocação de crianças em internatos, patronatos, instituições de
reclusão localizadas preferencialmente em regiões afastadas dos centros urbanos.
Nessas instituições, pretendia-se reeducar, ressocializar, reformar o sujeito para o
convívio em sociedade. Entendia-se o meio social onde a criança vivia, assim como
sua própria família, como incapazes para a tarefa de socialização. Quanto à
intervenção do Estado na gestão da política de diretrizes para as questões do
menor, ocorria de forma centralizada e verticalizada surgindo do órgão normativo, ou
seja, da fundação nacional do bem estar do menor (FUNABEM) as regras para
atenção à criança e ao adolescente. Este órgão e substituto do Serviço de
Assistência ao Menor (SAM), foi criado por um decreto de lei no primeiro governo
militar. Deste modo um dos seus objetivos era formulação e implantação da Política
Nacional do Bem-Estar do Menor. Sendo esta transição um marco importante entre
a concepção de correção para a assistencialista.

Tejadas (2007) afirma que, a implementação nos estados para as diretrizes


formuladas em nível nacional cabia às Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor
(FEBEMs). Recorriam-se de modo geral, à colocação de crianças em internatos,
patronatos, instituições de reclusão localizadas preferencialmente em regiões
afastadas dos centros urbanos, isolando-os do convívio em família e principalmente
afastando-os da sociedade em que obtiveram-se as intercorrencias de cunho
disciplinar.

Para Costa (1993), na década de 1970 surgiram movimentos, inclusive na


própria FUNABEM, que questionavam os modelos correcional-repressivo e
assistencialista, buscando uma perspectiva educacional para o atendimento de
crianças e adolescentes. A década de 1980, considerada “perdida” quanto ao
crescimento econômico do país, foi fértil com relação ao desenvolvimento dos
direitos civis, políticos e sociais, os quais refletiam a movimentação social ocorrida
nesse período os movimentos sociais ganharam força, com isso, surgiram exigindo
liberdade democrática e o fim da ditadura militar. Esse processo favoreceu a
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produção de avanços significativos na evolução dos direitos da infância e da


juventude.

Como afirma o autor acima citado e Alberton (2005) segue no mesmo


raciocínio, onde no final dos anos 70 e durante a década de 80, viveu-se, no Brasil,
um período de abertura política a afirmação dos princípios democráticos e a lutas
em defesa dos direitos humanos tornaram-se muito presente. Porém a análise que
deve ser feita correspondente a área da infância, indica para os velhos modelos
educacionais, onde as práticas correcionais, repressivas ou assistencialistas
passaram a ser questionadas, à partir da analise de normativas internacionais que
sustentavam o princípio da universalidade dos direitos humanos, principalmente em
se tratando de crianças e adolescentes.

Desta forma, partindo das citações acima, observamos que, o fruto da


valorosa mobilização social e popular, para a elaboração de uma constituinte pós
ditadura houve também movimentos voltada para os interesses de todas as crianças
e adolescentes e o caráter de universalização da proteção das Crianças e do
Adolescente não mais restrita. Sua efetivação inspirada na Convenção Internacional
dos Direitos da Criança, assegurou, em seu artigo 227, com absoluta prioridade,
direitos fundamentais à população infanto-juvenil do nosso País, abrindo
possibilidades educacionais, sociais e principalmente a prioridade no convívio em
família, cujos textos apontam sempre para a primeira instância, ou seja, a familiar.

Portanto, nos anos de 1980, houve serie de reivindicações dos movimentos


sociais em favor da defesa dos direitos da criança e adolescente, tendo o apoio dos
sindicatos, movimentos populares e entidades profissionais, que se propuseram
elaborar proposta de políticas para a ruptura como o antigo sistema, que acabou por
se materializar na constituição de 1988.

Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar. (Constituição Federal, 1988)

Analisando as informações acima, pela primeira vez a criança e o adolescente


passam a ser considerados sujeitos de direito, portanto invertendo toda lógica que
era vigorada no País. Não seria mais a criança e o adolescente que estaria em
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situação irregular, mas sim, a Família, a Sociedade e o Estado, se os seus direitos


não fossem assegurados.

1.1 ECA – A Conquista dos Direitos da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Federal nº 8.069/90 foi


sancionada em 13 de julho de 1990 e passou a vigorar no Brasil a partir de 14 de
outubro, revogando assim o Código de Menores. Esta Lei passou a regulamentar o
Art. 227 da Constituição Federal/88 que atribui à criança e ao adolescente,
prioridade absoluta no atendimento aos seus direitos como cidadãos. Sendo esta
conquista deliberada a partir das idéias e da participação de vários segmentos
sociais envolvidos na luta pelos direitos da criança e do adolescente.

Segundo Simões (2009), o ECA traz um novo entendimento da Criança e do


Adolescente, regulamentando os art. 227 e 228 da Constituição Federal/88, no que
se refere à proteção intregal, aos seus direitos como pessoas em desenvolvimento
com absoluta prioridade, sendo assim, a concepção de menor em “situação
irregular” do Código de Menores de 1979, foi revogado pelo ECA, priorizando
proteção integral, a todas as Crianças e Adolescentes do País, independente de sua
classe social. Portanto, doutrina da proteção integral, compreende a criança como
sujeito de direito, reafirma os direitos individuais e coletivos destes como esta
assegurado na Constituição Federal.

Costa (1993) afirma que a promulgação do ECA, foi uma grande conquista da
sociedade brasileira: a produção de um documento de direitos humanos que
contempla o que há de mais avançado na normativa internacional em respeito aos
direitos da população infanto-juvenil. Este novo documento altera significativamente
as possibilidades de uma intervenção arbitrária do Estado na vida de crianças e
jovens. Como exemplo disto pode-se citar a restrição que o ECA impõe à medida de
internação, aplicando-a como último recurso, restritos aos casos de cometimento de
ato infracional, e mediante a possibilidade do convívio com a família, mesmo
estando sob responsabilidade do Estado, as prioridades sempre serão estabelecidas
para a liberdade, mesmo que seja assistida.
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Desde a promulgação do ECA, um grande esforço para a sua


implementação vem sido feito nos âmbitos governamental e
não–governamental. A crescente participação do terceiro setor
nas políticas sociais, fato que ocorre com evidência a partir de
1990, é particularmente forte na área da infância e da
juventude. A constituição dos conselhos dos direitos, uma das
diretrizes da política de atendimento apregoada na lei,
determina que a formulação de políticas para a infância e a
juventude deve vir de um grupo formado paritariamente por
membros representantes de organizações da sociedade civil e
membros representantes das instituições governamentais.
(COSTA, 1993)

De acordo com Simões (2009), os princípios constitucionais, que compôs o


Estatuto da Criança e do Adolescente foram elaborados conforme as normativas
internacionais, especialmente, entre outras, seguindo os preceitos da ONU.

Segundo afirma Zamora (2005), o estatuto trouxe uma mudança doutrinária,


abandonou o paradigma da “situação irregular” que regiam os antigos códigos de
menores e passou a adotar a doutrina da “proteção integral” expressa da Convenção
das Nações Unidas sobre o direito da criança. A doutrina da proteção integral
compreende a criança como sujeito de direito. Reafirma os direitos individuais e
coletivos assegurados na Constituição Federal. Segundo o estatuto, os direitos são
assegurados para todas as crianças e todos os jovens, inclusive aqueles que
chegam à justiça em razão do ato infracional.
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1.2 O Ato Infracional e a Medida Socioeducativa

O ato infracional, segundo Serejo (2006), é considerado um delito praticado


em um espaço público ou privado, podendo ser caracterizado através de violência
física, furto, uso de drogas e tráfico, tendo como referência o direito penal quando
cometido por um adolescente até dezoito anos. No Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), quando um adolescente comete um ato infracional, pode
receber uma advertência, e dependendo da gravidade do seu ato, pode ser
conduzido para internação em regime aberto ou fechado, pois o ato infracional
correspondente as medidas socioeducativas diferenciam-se de acordo com o sujeito
da conduta, ou seja, às crianças correspondem as medidas de proteção, enquanto
atos cometidos por adolescentes corresponderão as medidas socioeducativas.

Segundo Serejo:

O crime e a contravenção penal são espécies do gênero


infração penal. Ao crime comina-se sansão mais severa
(reclusão, detenção e/ou multa) do que a prevista para a
contravenção (prisão simples e/ou multa). Não há diferença
ontológica, ou seja, de essência, entre o crime e a
contravenção, com a renovação dos valores sociais, uma
contravenção pode se tornar um crime. (2006, p. 61).

Partindo das informações acima citadas, para a criança ou adolescente que


comete um crime ou contravenção penal, a isso é considerado “ato infracional”. As
determinações da lei são diferenciadas dos sujeitos maiores de dezoito anos, cujas
infrações cometidas são consideradas crimes ou contravenções penais passíveis de
reclusão. O que diferencia o ato infracional cometido pela criança ou adolescente do
crime ou contravenção penal aplicada aos maiores de dezoito anos são dois
aspectos distintos: o primeiro diz respeito ao sujeito da conduta ilícita, pois o ato
infracional é considerado ato típico praticado por sujeitos menores de dezoito anos
(criança ou adolescente), enquanto o crime ou contravenção penal passível de
detenção dizem respeito à conduta de sujeitos maiores de dezoito anos.
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1.3 A Natureza do Ato infracional

Para Volpi (1997 p.15), “o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),


através do artigo 103, define de forma taxativa o ato infracional como conduta de
contravenção ou crime previsto em lei. A responsabilidade pela conduta descrita
começa aos 12 anos”.

Confirmando as informações de Serejo (2006), Volpi (1997) também ressalta


o tratamento diferenciado sobre o ato infracional cometido, em se tratando de
criança e adolescente, destacando que a política de atendimento aos direitos da
criança e adolescente, no que tange ao autor de ato infracional, deve acatar os
princípios da Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança (artigo 40); as
Regras Mínimas das Nações Unidas para a administração da Infância e da
Juventude (Regras de Beijing – Regra 7); as Regras Mínimas das Nações Unidas
para a Proteção de Jovens Privados de Liberdade (Regra 2); a nossa Constituição
Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

601940290.docExistem convenções internacionais formalizadas que


regulamentam as ações das quais os países devem tomar com relação aos atos
infracionais das crianças e adolescentes, face às medidas socioeducativas que
podem ser tomadas, todavia um ato infracional efetivado por uma adolescente
também afeta a família, sobretudo os responsáveis diretos pela criança ou
adolescente.

1.4 Medidas Socioeducativas

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê no Art. 106 que


“nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.”

As medidas sócioeducativas são as medidas aplicáveis aos adolescentes que


cometem ato infracional. Verificada a prática do ato infracional, a autoridade
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competente poderá aplicar ao adolescente as medidas previstas no artigo 112 do


ECA.

O programa de reinserção social do adolescente em conflito com a lei visa


articular e estimular os esforços do sistema sócio-educativo, instituído pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente e propiciar ao adolescente autor de ato infracional o
desenvolvimento da capacidade de convívio social construtivo por meio do exercício
dos seus direitos e deveres de cidadania.

A eficácia das Medidas Sócioeducativas depende da co-


responsabilidade do Estado, da sociedade e da família em
garantir proteção e desenvolvimento integral ao adolescente.
Requer uma política de atendimento como conjunto articulado
de ações governamentais e não governamentais em todos os
níveis da Federação. Exige completo reordenamento
institucional do sistema sócio-educativo, bem como a
integração de órgãos do Judiciário, Ministério Público,
Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social,
especialmente no atendimento inicial do adolescente envolvido
com ato infracional. (art. 88 ECA).

Segundo Volpi (1997,43) “as medidas socioeducativas precisam estar


articuladas em rede, neste conjunto de serviços, assegurando assim uma atenção
integral aos direitos e ao mesmo tempo o cumprimento de seu papel especifico.”

1.5 Aplicação legal das medidas socioeducativas

As medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e Adolescente


(ECA) que vão do art. 112 a 130 e dizem respeito as advertência aos adolescestes
que cometem um ato infracional. Essas podem ser dividas segundo sua natureza: a)
Medidas auto-aplicaveis, aquelas que se esgotam, quando do seu cumprimento,
como a Advertência e Obrigação de Reparar o Dano, b) Medidas Aplicáveis em Meio
Aberto, aquelas que não separam o jovem de sua família e de seu meio social,
precisando de programas específicos com profissionais que se responsabilizem pelo
acompanhamento dos adolescentes como, Prestação de Serviços à Comunidade
(PSC) e Liberdade Assistida (LA). c) Medidas privadas da liberdade, executadas em
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instituições fechadas que devem possuir uma estrutura adequada para seu
cumprimento, é a Semiliberdade e a Internação. A legislação atribui penas
alternativas a um ato infracional, quando uma criança tem de zero a 12 anos
incompletos ou adolescente de 12 anos completo a 18 anos incompletos. Porém a
medida socioeducativa de “Liberdade Assistida” em meio aberto, só poderá ser
aplicada aos adolescentes que cometem um ato infracional menos grave quando de
natureza leve, ou seja, quando não houve violência física (homicídio, estupro,
latrocínio, etc.).

Como esta previsto no Art. 112, do Estatuto da Criança e Adolescente, depois


de verificado seu ato infracional, o adolescente, recebera algumas das medidas
socioeducativa abaixo, pelo Juiz da Vara da Infância e Adolescência:

II - obrigação de reparar o dano;

III - pressão de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semiliberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

§ 1° - A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua


capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da
infração.

§ 2° - Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida


a prestação de trabalho forçado.

§ 3° - Os adolescentes portadores de doença ou deficiência


mental receberão tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições.

O Estatuto da Criança e do Adolescente descreve as competências para as


quais os juizados devem ter como referência para a aplicação das medidas
socioeducativas cabíveis para cada ato infracional, devendo observar sempre que
para aplicação de uma medida socioeducativa existe a obrigatoriedade de
estabelecimento de processo apurativo.

Para Serejo (2006), não existem informações no Estatuto da Criança e do


Adolescente acerca de uma uma conduta tida como ato infracional, não podendo a
autoridade judiciária levar em consideração qualquer outra forma de conduta
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prevista em uma norma penal, pois existe o Estatuto da Criança e do Adolescente.


Como resultado, reconhecida a prática do ato infracional pelo adolescente, poderá a
autoridade judiciária aplicar uma das medidas previstas no artigo 112 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, de forma considerada isolada ou cumulativamente à
interpretação do ato infracional cometido.

Serejo afirma que:

Reconhecida a prática de ato infracional e aplicada uma


medida socioeducativa, surge ao Estado promover sua
execução, não importando se a medida decorre de um acordo
firmado quando da concessão da remissão ou, por força de
sentença, após o devido processo legal. (2006, p. 85).

Com a nova legislação, somado às normas de aplicação vigentes no Estatuto


da Criança e do Adolescente, as medidas socioeducativas, antes executadas pelo
Estado, como afirma Serejo (2006), agora são executados pelos municípios ou
ONGs com convenio com a prefeitura.

Não podem ocorrer aplicação de medidas socioeducativas de forma isolada


do contexto social, político e econômico em que está envolvido o adolescente, bem
como sua família. Antes da aplicação de qualquer medida socioeducativa é preciso
que o Estado organize políticas públicas para assegurar ao infrator e seu meio de
convívio, com prioridade absoluta, os direitos dos quais preconiza o Estatuto da
Criança e do Adolescente, cujo objetivo principal é promover o bem estar em
primeira instância. Somente com os direitos à convivência, em primeira instância,
familiar e comunitária, à saúde, à cultura, esporte e ao lazer, e demais direitos
universalizados, será possível diminuir de forma significativa e também efetiva a
prática de atos infracionais cometidos por adolescentes.

1.6 A Medida Socioeducativa de Liberdade Assisitida

Como aponta analise de Sabila (2006), quanto à estrutura em torno das


medidas socioeducativas, percebemos claramente que o Estatuto da Criança e do
Adolescente tem um princípio norteador que se baseia na ação pedagógica, aliada
sempre à presença da família e da comunidade. As medidas previstas para a
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reeducação e a prevenção, pretendem estabelecer um novo padrão de


comportamento e conduta ao infrator, e desta forma promover um desligamento
entre o novo padrão de vida do adolescente e a “antiga” prática de atos infracionais.
Mesmo possuindo um caráter punitivo retirando a liberdade dos adolescentes
infratores, todas as medidas aplicáveis são enfatizadas a execução de caráter
educativo.

A medida de Liberdade Assistida busca evitar o internamento e


deposita na escola, na família e na sociedade a obrigação de
reintegrar socialmente o adolescente infrator. Considera-se a
família um parceiro privilegiado na difusão das normas. O
acompanhamento do infrator e de sua família deve ter uma
referencia a verificação do processo de socialização, da
relação com a autoridade e da adesão com as regras sociais.
(Saliba, 2006, p.30).

1.7 Características do Adolescente que comete atos infracionais

O próprio cometimento dos atos infracionais como afirma HUTZ (2002),


restringe, por meio de vários aspectos, a quantidade, a qualidade e o tipo de contato
que o jovem estabelece com o mundo exterior, e consequentemente, as suas
possibilidades de aprendizado nesta fase da vida. Uma vez que o jovem comece a
cometer atos infracionais que são intolerados socialmente, ele tende a se afastar do
seu meio de convívio inicial, e agrega-se a outros jovens que tenham o mesmo tipo
de comportamento e que valorizam a prática de delitos. Essa influência do novo
grupo de “influenciadores” na vida do adolescente, além de reforçar o
comportamento infrator, tende a restringir as possibilidades de novas amizades, de
novos contatos interpessoais, e consequentemente, de possibilidades de novas
habilidades sociais que não envolvam a agressão ou violência. A influência do grupo
de iguais permanece quando o jovem ingressa em instituições responsáveis pela
execução das medidas socioeducativas, uma vez que elas tendem a reunir, em
locais fechados e com pouco contato com o mundo exterior, um grande numero de
jovens infratores.
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O jovem que comete delitos tende, também, a apresentar


dificuldades na escola, uma vez que suas atividades ilícitas e
seu estilo de vida são incompatíveis com aquilo que a escola
espera e cobra dele. Além disso, educadores nem sempre
estão preparados para lidar com essa problemática, de modo
que uma pratica comum de resolver problemas decorrentes do
fato de ter em sala de aula um aluno que comete delitos tende
a ser a exclusão deste. Essa ausência de escola pode gerar
dificuldades para o desenvolvimento pleno das capacidades
cognitivas e causa um empobrecimento das possibilidades de
emprego e de desenvolvimento profissional futuro, dificultando
ainda mais uma tarefa típica da adolescência, que é elaborar
um plano profissional para a vida. (HUTZ, 2002, P.168)

O adolescente que comete um ato infracional possui características que


norteiam suas ações a partir do momento em que começa a cometer atos
infracionais, passando a fazer parte de uma realidade diferente de jovens que
apresentam características de desenvolvimento familiar e comunitário. A propensão
dos jovens que cometem atos infracionais sofrerem discriminação e demais
preconceitos da sociedade pode interferir em seu desenvolvimento, principalmente
em se tratando de trabalho e formação educacional.

1.8 Características da Liberdade Assistida

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), segundo Porto dispõe


de um leque de medidas socioeducativas direcionadas aos adolescentes em conflito
com a lei, entre elas a de liberdade assistida (LA). Incluída – junto com a prestação
de serviços à comunidade, a reparação do dano e a advertência – no repertório de
medidas a serem cumpridas em meio aberto, a liberdade assistida é vista por
estudiosos como uma proposta que pode colaborar, em muito, para o
desenvolvimento do potencial do assistido.

Liberdade assistida se constitui-se numa medida coercitiva


quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida
social do adolescente (escola, trabalho e família). Sua
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intervenção educativa manifesta-se no acompanhamento


personalizado, garantindo-se os aspectos de: proteção,
inserção comunitária, cotidiano, manutenção de vínculos
familiares, freqüência a escola, e inserção no mercado de
trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos. (Volpi
1997 p.24).

A medida socioeducativa, a liberdade assistida, tem como caráter preventivo,


com intuito de educar o adolescente, não privando do convívio familiar, sofrendo
apenas restrição de sua liberdade e seus direito. Esse tempo estimulado para
cumprir a medida socioeducativa não pode ultrapassar seis meses, mas poderá ser
revogado por mais tempo, pelo Juiz da Vara da Infância.

E a liberdade assistida poderá ser desenvolvida por grupos


comunitários com orientadores voluntários, desde que os
mesmos sejam capacitados, supervisionados e integrados à
rede de atendimento ao adolescente. (VOLPI, 1997 pg. 25).

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), após a decisão


judicial, caberá ao adolescente ser encaminhado por um Juiz da Vara da Infância,
para um programa Municipal que é executado junto ao Centro de Referencia
Especializado de Assistência Social (CREAS), para um acompanhamento com
profissionais capacitados como Assistentes Sociais, Psicólogos e Pedagogos para
que de fato participe da rotina do adolescente. Estes profissionais têm como
proposta orientar este adolescente, junto sua família, acompanhar sua freqüência
escolar e inserção no mercado de trabalho através de cursos profissionalizantes, a
medida socioeducativa liberdade assistida em meio aberto tem como intuito de
manter o adolescente no convívio no meio familiar.

De acordo com o disposto no Estatuto da Criança e do


Adolescente indica-se, atualmente, que os programas de
liberdade assistida devem ser estruturados nos diferentes
municípios, com atendimento a um número reduzido de
adolescentes residentes na comunidade onde se encontra o
programa. Para obterem êxito, devem receber apoio de
projetos e instituições locais convidadas a colaborar com vistas
à integração social dos jovens. Agora, a interação com postos
de saúde, regiões administrativas, projetos de lazer, escolas e
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cursos profissionalizantes deve ser preocupação dos


profissionais que atuam em programas de liberdade assistida.
(Seda, 1998, p. 48)

A Medida Socioeducativa Liberdade Assistida tem como proposta de


funcionar da seguinte forma: quando um adolescente é encaminhado para um
programa de liberdade assistida o mesmo, tem que preencher o PIA (Plano
Individual de Atividade), neste plano é definido metas para serem alcançados no
decorrer da medida. Onde a equipe multidisciplinar verifica a história do adolescente
através do seu perfil, sua família, suas necessidades, para ter uma execução e
cumprimento da medida socieducativa – liberdade assistida, como exemplo:o
adolescente que não freqüenta a escola é encaminhado e providenciado a matricula
e se faz uso de drogas é incluindo em tratamento de dependência química, se
necessário será encaminhado ao CRAS para ser incluído à Bolsa Família.

O compromisso, agora, é com os direitos desses jovens, direito


de não continuar cometendo infrações, direito de ter uma vida
digna, direito de ser incluído nas políticas públicas. Para tanto,
temos de apontar não simplesmente suas patologias mas as
indicações para o completo desenvolvimento, seguindo-se os
parâmetros indicados no Estatuto, ou seja, o que está sendo
oferecido para promover seu direito à saúde, à educação, à
convivência familiar e comunitária (Brito, 2000, p. 124).

As ferramentas utilizadas para o tratamento das medidas socioeducativas a


partir de um ato infracional cometido por um adolescente, requer atenção especial
da família, dos órgãos competentes e de toda sociedade acerca das atitudes a
serem tomadas, tendo em vista que o infrator em questão está em seu
desenvolvimento intelectual. O Estatuto da Criança e do Adolescente em seus
diversos capítulos deixa claro, principalmente sobre as orientações judiciais
descritas, sobre as ferramentas de correção, onde após decisões cabíveis a cada
caso. As instituições podem executar os procedimentos não apenas com a intenção
de cumpri-las, mas principalmente pensando em ações para o desenvolvimento do
adolescente, proporcionando a ruptura com o ato infracional a partir de uma ação
educativa, fundamentada em valores humanos e referenciais éticos.

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