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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas


25 a 26 de setembro de 2019

I SUSTENTARE PUC-CAMPINAS

Coordenação Geral
Prof. Dr. Samuel Carvalho De Benedicto Comissão Científica
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. André Pires
(PPGS/PUC-Campinas)
Coordenação Científica Prof. Dr. Antônio Carlos Demanboro
Prof. Dr. Marcos Ricardo Rosa Georges (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Profa. Dra. Bruna Ângela Branchi
(PPGS/PUC-Campinas)
Comissão Organizadora Prof. Dr. Cândido Ferreira da Silva Filho
Profa. Dra. Cibele Roberta Sugahara (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Profa. Dra. Celeste Aída Sirotheau Corrêa
Profa. Dra. Denise Helena Lombardo Ferreira Jannuzzi (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dra. Cibele Roberta Sugahara
Prof. Dr. Izaias de Carvalho Borges (PPGS/PUC-Campinas)
(CEA/ PUC-Campinas) Profa. Dra. Cristiane Feltre
Prof. Dr. Marcos Ricardo Rosa Georges (Pesq./PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Profa. Dra. Denise Helena Lombardo
Prof. Dr. Orandi Mina Falsarella Ferreira (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. Eduard Prancic
Prof. Dr. Samuel Carvalho De Benedicto (CEA/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. José Antônio Carnevalli
Adriana Cristina Bernardes (Pesq./PUC-Campinas)
(SAAD/CEA/PUC-Campinas) Prof. Dr. José Eduardo Rodrigues de
Grazielle Camargo Sousa (Pesq./PUC-Campinas)
(NUPEX/CEA/PUC-Campinas) Prof. Dr. José Roberto Merlin
Mestrando Filipe Augusto Pak Lucon (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. Josué Mastrodi Neto
Mestrando Guilherme Henrique Pereira da Silva (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. Juan Arturo Castañeda Ayarza
Mestranda Lívia Fereira Neves (Pesq./PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. Marcos Ricardo Rosa Georges
Mestrando Luiz Henrique Vieira da Silva (PPGS/PUC-Campinas)
(PPGS/PUC-Campinas) Prof. Dr. Orandi Mina Falsarella
Acadêmico Rodrigo Ceregatti Franco (PPGS/PUC-Campinas)
(CCHSA/PUC-Campinas) Profa. Dra. Regina Márcia Longo
(PPGS/PUC-Campinas)
Conselho Consultivo Prof. Dr. Rodrigo Hipólito Roza
Prof. Dr. Alexandre de Oliveira e Aguiar (CEA/PUC-Campinas)
Prof. Dr. André Luiz Zambalde (PPGA/UFLA) Profa. Dra. Rosane Maria Soligo de Mello
Profa. Dra. Cláudia Terezinha Kniess Ayres (Pesq./PUC-Campinas)
Prof. Dr. Diego de Melo Conti Prof. Dr. Samuel Carvalho De Benedicto
(PPG-CIS/UNINOVE) (PPGS/PUC-Campinas)
Prof. Dr. Gideon Carvalho de Benedicto Prof. Dra. Sueli do Carmo Bettine
(PPGA/UFLA) (PPGS/PUC-Campinas)
Prof. Dr. Isak Kruglianskas (FEA/USP) Prof. Dr. Vinícius Eduardo Ferrari
Prof. Dr. Fábio Ricardo Marín (ESALQ/USP) (PPGS/PUC-Campinas)
Prof. Dr. João Frederico Costa de Azevedo
Meyer (IMECC/UNICAMP) Webmaster
Acadêmico Rodrigo Ceregatti Franco
Edição dos anais (CCHSA/PUC-Campinas)
Prof. Dr. Marcos Ricardo Rosa Georges
(PPGS/PUC-Campinas)
Mestrando Luiz Henrique Vieira da Silva
(PPGS/PUC-Campinas)

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25 a 26 de setembro de 2019

FICHA CATALOGRÁFICA

Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Rizziolli Pires CRB 8/6920


Sistema de Bibliotecas e Informação - SBI - PUC-Campinas

574.5 Sustentare (1.: 2019 : Campinas, SP)


S471a
Anais do I Sustentare: seminários de sustentabilidade / editores:
Marcos Ricardo Rosa Georges, Samuel Carvalho De Benedicto. -
PUC- Campinas, 2019.
399 p., il.

ISBN: 978-65-86687-00-2 

Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas, promovido


pelo Programa Pós-Graduação em Sustentabilidade, realizado de 25 a
26 de setembro de 2019.
Inclui bibliografia.
1. Meio ambiente. 2. Sustentabilidade. 3. Inovações tecnológicas.
I. Georges, Marcos Ricardo Rosa. II. De Benedicto, Samuel Carvalho.
III. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Centro de
Economia e Administração. Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade. IV. Título.
CDD – 22. ed. 574.5

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

PREFÁCIO
O I Sustentare – Seminários de Sustentabilidade é um evento promovido pelo
Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade (PPGS) do Centro de
Economia e Administração da PUC-Campinas. Seu objetivo é promover o encontro de
pesquisadores, docentes e alunos de pós-graduação e graduação, além de profissionais e
demais interessados em discutir a sustentabilidade nas dimensões econômica, ambiental,
social, cultural, territorial (espacial), tecnológica e política, dentre outras. A
sustentabilidade se apresenta como um dos principais desafios para a humanidade,
exigindo de toda a sociedade a busca por soluções que promovam um desenvolvimento
integral. Nesta perspectiva, o I Sustentare apresenta à comunidade acadêmica e
profissional a oportunidade de dialogar sobre a sustentabilidade numa perspectiva
interdisciplinar em busca de soluções criativas para os desafios que se colocam para a
sociedade. Por tal razão, o evento adotou como tema geral: Sustentabilidade: uma
visão interdisciplinar.
Partindo da premissa de que a PUC-Campinas pode contribuir com pesquisas e o
aprofundamento do debate sobre esta importante temática que afeta toda a sociedade, o
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade organizou o I Sustentare
em setembro de 2019. O Programa entende que o contexto atual exige das universidades
a contribuição para a discussão da sustentabilidade, principalmente por se tratar de um
ambiente educativo e não simplesmente produtivo, como as indústrias e outros setores.
Por meio delas, espera-se impulsionar novas posturas coletivas que dependem da
mudança de consciência, de novos conhecimentos, e de equilíbrio e diálogo com a
sociedade. É função da universidade preparar cidadãos críticos, reflexivos, éticos e
capacitados para atuar em uma sociedade cada vez mais exigente e sustentável.
O I Sustentare foi estruturado para atender as seguintes Áreas Temáticas:
- Sustentabilidade nas organizações.
- Sustentabilidade e sociedade.
- Sustentabilidade e meio ambiente.
- Sustentabilidade, tecnologias e inovação.
- Sustentabilidade e educação.
- Sustentabilidade e políticas públicas.

O I Sustentare partiu da compreensão de que a sociedade atual caracteriza-se


pelo processo de produção e de consumo em massa e pela busca de um pleno domínio
sobre a natureza. Com as sucessivas crises pelas quais tem passado a humanidade,
grande parte decorrentes da escala de utilização dos recursos disponíveis, tanto naturais
como humanos, surge uma notória preocupação com as questões que envolvem a
sustentabilidade considerando o uso destes recursos no tempo. Os problemas são
oriundos das contradições da expansão do sistema econômico se caracteriza pelo
acelerado processo de crescimento da produção, exaustão do uso de recursos naturais,
grande movimentação de insumos e produtos e na crescente ocupação e incorporação de
novas áreas ao processo produtivo.
Diversos fatores estão envolvidos neste processo, tais como: industrialização
acelerada, concentração espacial, expansão e modernização agrícola, expressivo
crescimento populacional, crescente urbanização, alterações climáticas, esgotamento de
recursos produtivos, escassez de água, poluição do solo, água e ar, dentre outros; os

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quais compuseram os principais pontos de pressão e de conscientização humana sobre a


problemática socioeconômica e ambiental global.
Merece atenção os desequilíbrios ambientais gerados pelo processo produtivo,
como por exemplo, o aumento da produção de resíduos urbanos e industriais, acesso à
mobilidade, alto índice de violência e geração de desigualdades sociais emergentes.
Neste contexto, a sociedade busca enfrentar aspectos da organização social, produtiva e
política a partir de uma abordagem sistêmica e interdisciplinar e sustentável.
Todos esses fatores têm levado a discussão teórica sobre o uso dos recursos, para
se reverter os processos de acumulações socioeconômicas e de degradação ambiental,
em busca da criação de um ambiente sustentável, ou seja, a denominada
“sustentabilidade”.
A problemática da sustentabilidade assume, neste início de século, um papel
central na reflexão em torno da crítica ao modo de vida contemporâneo, que se difundiu
a partir da Conferência de Estocolmo em 1972, quando a questão ganha visibilidade
pública. O quadro social, político, econômico e ambiental que caracteriza as sociedades
contemporâneas revela que os impactos antrópicos estão se tornando cada vez mais
complexos tanto quantitativa quanto qualitativamente. Isto demanda nova formulação
teórica, novos estudos e a elaboração de propostas alternativas de superação das
contradições do atual cenário mundial, desde que sejam aplicáveis ao contexto nacional.
O estudo denominado Millennium Ecosystem Assessment (Avaliação
Ecossistêmica do Milênio) realizado nos anos 2001 a 2005 é ilustrativo neste sentido. O
estudo avaliou as consequências das mudanças nos ecossistemas sobre o bem‐estar
humano e buscou estabelecer uma base científica que fundamentasse as ações
necessárias para assegurar a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas, bem
como suas contribuições para o bem‐estar humano. Formado por centenas de cientistas
do mundo inteiro, inclusive brasileiros, trouxe à tona a crítica situação ambiental
mundial, mostrando que aproximadamente 60% dos ecossistemas do planeta estão
degradados ou sendo utilizados de maneira insustentável pelas pessoas e organizações.
Com base nesse panorama, a UNESCO criou a década da educação para o
desenvolvimento sustentável (2005-2014), propondo que as universidades sejam
modelos multiplicadores das iniciativas de sustentabilidade em escala local. A partir
deste estudo, o conceito de sustentabilidade tomou uma nova dimensão e importância.
Nos anos mais recentes, a literatura científica internacional aborda o tema da
sustentabilidade com foco em diversos aspectos, tais como: impacto ambiental;
desenvolvimento sustentável; consumo sustentável; economia verde; química verde;
ecologia industrial; ecodesign; ecoconcepção; ecoeficiência; educação ambiental;
responsabilidade socioambiental; interdependência de produtos e serviços, etc. Estes e
outros conceitos e princípios continuam a surgir diante da complexidade do tema e dos
desafios socioeconômicos e ambientais impostos.
Desse modo, na literatura internacional, a sustentabilidade é vista como uma
ação estratégica para a preservação do ambiente, da cultura e da dignidade social das
gerações. A despeito de se reconhecer avanços na pesquisa em nível internacional,
diversos autores reconhecem que este é um campo de estudos ainda em construção,
devendo avançar muito mais nas próximas décadas.
Assim como ocorre no âmbito internacional, os estudos da sustentabilidade no
Brasil também são recentes. Desse modo, diversos estudos revelam que no país é
necessário avançar nas pesquisas em diversos temas envolvendo a sustentabilidade.
Portanto, a questão que se coloca para a sociedade como um todo, e as
universidades em particular, trata de como analisar e propor formas de superar as
contradições do modelo atual, através da proposição de novas formulações teóricas, da

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realização de diagnósticos e análises interdisciplinares e da apresentação de propostas


alternativas que sejam efetivas ao cenário local, regional e nacional.
Na perspectiva em que foi organizado o I Sustentare, a sustentabilidade se
estrutura como uma forma de superar as dimensões disciplinares, que historicamente
tem sido antagônicas, como por exemplo: (1) reconhecer que o termo possui uma
grande variabilidade de concepções e usos muitas vezes contraditórios entre si; (2)
aceitar que existe uma indissociabilidade entre os aspectos ecológicos, econômicos e
socioculturais presentes nos problemas da atualidade; (3) desenvolver uma
predisposição para a interdisciplinaridade, que lidaria com diferentes formas de
“saberes”, científicos e não científicos, bem como entre distintas disciplinas científicas,
a partir da constatação de que a referida complexidade não pode ser apreendida de
forma unilateral; (4) romper com a preponderância das ciências “naturais” em relação às
ciências “sociais” no processo de construção de uma agenda política para a resolução
dos dilemas contemporâneos.
Portanto, a sustentabilidade possui um sentido amplo e complexo, não se
referindo especificamente a um problema limitado de adequações ecológicas, mas a
uma estratégia ou modelo com múltiplas facetas para a sociedade, que deve levar em
conta tanto uma viabilidade econômica quanto o impacto social e ambiental nele
embutido. Num sentido ainda mais abrangente, a sustentabilidade remete à necessária
redefinição das relações em sociedade. Portanto, envolve uma mudança substancial do
próprio processo civilizatório e produtivo.
Apesar dos esforços observados para a institucionalização de uma “Ciência da
Sustentabilidade”, que seja interdisciplinar e integradora de aspectos “naturais” e
“sociais”, muito da produção científica sobre a sustentabilidade tem como ponto de
partida iniciativas disciplinares.
Se as perspectivas estritamente disciplinares continuam tendo relevância na
produção científica, mas se apresentam reconhecidamente limitadas para o tratamento
adequado de sua complexidade, as iniciativas interdisciplinares se configuram como
elementos centrais para o desenvolvimento dos processos de reconhecimento e
enfrentamento das questões que envolvem a sustentabilidade.
Foi pensando de forma holística e interdisciplinar que Ignacy Sachs defende que
somente pode haver sustentabilidade quando houver um equilíbrio entre as dimensões
econômica, ambiental, social, cultural, territorial (espacial), tecnológica e política,
dentre outras. Para tanto, é necessário que a sustentabilidade seja tratada numa
abordagem interdisciplinar. O conceito de sustentabilidade, portanto, está relacionado
com uma mentalidade, atitude ou estratégia voltada para solução dos problemas que
assolam a sociedade em todas as dimensões mencionadas.
Assim, para que o desenvolvimento de uma comunidade, empresa ou nação seja
considerado sustentável, deve-se considerar ao menos sete dimensões, quais sejam:
ambiental, espacial, cultural, tecnológica, política, social e econômica.
A dimensão ambiental ou capital natural envolve a preservação dos recursos
naturais e a ampliação da capacidade do planeta, mantendo sua deterioração em um
nível mínimo. Essa diemsão envolve três subdimensões: (i) ecologia, diversidade do
habitat e florestas; (ii) qualidade do ar e da água (poluição), proteção da saúde humana
por meio da redução de contaminação química e da poluição, e; (iii) conservação e
administração de recursos renováveis e não renováveis.
A dimensão espacial ou territorial está relacionada à distribuição das atividades
humanas para melhor preservação da diversidade biológica. Busca o equilíbrio entre a
distribuição das populações rural e urbana no território e a redução da concentração
excessiva nas áreas metropolitanas. Preocupa-se em preservar ecossistemas frágeis e

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promover a agricultura e a exploração das florestas por meio de técnicas modernas,


regenerativas, por pequenos agricultores; explorar o potencial da industrialização
descentralizada, acoplada à nova geração de tecnologias limpas.
A dimensão cultural relaciona-se com a necessidade de aceitação da
modernização sem a perda da identidade cultural dentro de cada contexto. Leva em
consideração os valores culturais específicos de cada sociedade, promovendo processos
que busquem mudanças dentro da continuidade cultural e que traduzam o conceito
normativo de ecodesenvolvimento em um conjunto de soluções específicas para o
ecossistema.
A dimensão tecnológica busca empregar técnicas modernas que contribuam para
que os processos produtivos, industriais ou agrícolas, sejam menos impactantes ao meio
ambiente e à sociedade; disponibilidade de tecnologias apropriadas que permitam um
padrão de crescimento poupando capital e recursos.
A dimensão política parte do pressuposto de que o espaço é social; a participação
da sociedade é fundamental para as tomadas de decisões sobre o que é comum a todos;
defende uma sociedade partícipe e democrática.
A dimensão social busca o desenvolvimento econômico aliado a uma melhoria
significativa na qualidade de vida da população mundial, ou seja, maior equidade na
distribuição de renda, melhorias na saúde, na educação, na oportunidade de emprego, de
modo a reduzir a discrepância na concentração de bens e riquezas.
A dimensão econômica inclui não só a economia formal, como também as
atividades informais que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam,
assim, a renda monetária e o padrão de vida dos indivíduos. Envolve a alocação e
gerenciamento eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos
e privados. A eficiência econômica deve ser avaliada em termos macrossociais, e não
apenas pelo critério da rentabilidade empresarial de caráter microeconômico.
Na confluência das dimensões mencionadas espera-se uma conduta ética e
transparente dos indivíduos, das empresas e da sociedade como um todo para que a
sustentabilidade seja promovida, garantindo a existência das futuras gerações no planeta
Terra.
Numa perspectiva de crescimento, pretende-se dar continuidade ao evento
Sustentare nos anos seguintes, inclusive estabelecendo parcerias com outras
instituições, para que os seus resultados sejam maximizados.

Editores
Marcos Ricardo Rosa Georges
Samuel Carvalho De Benedicto

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SUMÁRIO

Área temática: Sustentabilidade nas organizações

CAPÍTULO 1....................................................................................................................... 012


GESTÃO ESTRATÉGICA EMPRESARIAL: UMA PROPOSTA DE USO DE INDICADORES
DE PERFORMANCE DE SUSTENTABILIDADE
José Ademir de Souza, Orandi Mina Falsarella, Celeste Aída Sirotheau Corrêa Jannuzzi, Samuel
Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 2....................................................................................................................... 026


GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: ESTUDO DE CASO SOBRE A
FABRICAÇÃO DE EMBALAGENS PLÁSTICAS SUSTENTÁVEIS
Urbano José dos Santos, Rosane Maria Soligo de Mello Ayres

CAPÍTULO 3....................................................................................................................... 032


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS PARA AVALIAÇÃO DE
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE EM INDÚSTRIAS DE PAPEL E CELULOSE
DO BRASIL
Mirella De Paola Padovani, Denise Helena Lombardo Ferreira

CAPÍTULO 4....................................................................................................................... 040


ESTUDO DAS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE EM GRANDES EMPRESAS
QUÍMICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
Daniella Ribeiro Pacobello, Samuel Carvalho De Benedicto, Luiz Henrique Vieira da Silva

CAPÍTULO 5....................................................................................................................... 054


INDÚSTRIA 4.0 E O USO DE TECNOLOGIAS: ESTUDO SOBRE O IMPACTO GERADO
NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Marileide Barbosa, José Ademir de Souza, Eduardo Leoni Machado, Orandi Mina Falsarella,
Samuel Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 6....................................................................................................................... 066


APLICAÇÃO DA ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS EM PORTOS BRASILEIROS:
AVALIANDO A MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS
Gabriel Luciano Borges de Carvalho, Denise Helena Lombardo Ferreira, Letícia Caroline Soares
da Silva

CAPÍTULO 7....................................................................................................................... 073


MANUFATURA SUSTENTÁVEL: APLICAÇÃO EM UMA EMPRESA DO SETOR
GRÁFICO
Othon Fabrício Martins da Silva, Cibele Roberta Sugahara, Samuel Carvalho De Benedicto,
Vagner Cavenaghi

CAPÍTULO 8....................................................................................................................... 088


SUSTENTABIIDADE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: ANÁLISE DAS PRÁTICAS
SUSTENTÁVEIS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS NO SETOR DE COSMÉTICOS E
HIGIENE NO BRASIL
Gabriela de Castro Teixeira, Marcos Ricardo Rosa Georges

CAPÍTULO 9....................................................................................................................... 098


ARQUITETURA HOSPITALAR FEITA PARA CURAR: A FUNÇÃO DO AMBIENTE NO
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE PACIENTES INTERNADOS
Joyce Marcello Corrêa, José Roberto Merlin

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CAPÍTULO 10..................................................................................................................... 103


PRINCIPAIS MOTIVADORES E BARREIRAS QUE IMPULSIONAM AS CADEIAS DE
SUPRIMENTOS EM DIREÇÃO À SUSTENTABILIDADE
Bárbara Modesto da Silva, Denise Helena Lombardo Ferreira, Marcos Ricardo Rosa Georges

CAPÍTULO 11..................................................................................................................... 116


ESTRATÉGIAS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS EM UMA
DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS NO INTERIOR DE SÃO PAULO
Henrique Utumi, Samuel Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 12..................................................................................................................... 1330


AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL
Patrícia Peres Rodrigues, Cibele Roberta Sugahara, Bruna Ângela Branchi

CAPÍTULO 13..................................................................................................................... 140


A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM EMPRESA MULTINACIONAL DO
SEGMENTO DE EMBALAGEM
Sophia Souza De Nuccio, Samuel Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 14..................................................................................................................... 158


SUSTENTABILIDADE, ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES:
UMA REFLEXÃO TEÓRICA
Lívia Ferreira Neves, Samuel Carvalho De Benedicto

Área temática: Sustentabilidade e sociedade

CAPÍTULO 15..................................................................................................................... 170


O DESEMPREGO NO BRASIL: UMA REFLEXÃO NO DISCURSO DA
SUSTENTABILIDADE
Ted Dal Coleto, Celeste Aída Sirotheau Corrêa Jannuzzi, Denise Helena Lombardo Ferreira

CAPÍTULO 16..................................................................................................................... 176


A SOCIEDADE CIVIL COMO PROPULSORA DOS OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) NO ÂMBITO MUNICIPAL
Luiz Henrique Vieira da Silva, Samuel Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 17..................................................................................................................... 186


NEGÓCIOS SOCIAIS E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Giovanni Moreira Rocha Campos, Cibele Roberta Sugahara

CAPÍTULO 18..................................................................................................................... 189


RECUPERAÇÃO E AVALIAÇÃO CRÍTICA DO HISTÓRICO RECENTE DAS PARCERIAS
REALIZADAS PELA REDE RECICLAMP
Pedro de Miranda Costa, Natália Barbosa da Silva

CAPÍTULO 19..................................................................................................................... 200


ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (IDE): CÁLCULO PARA MUNICÍPIOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS/SP
Celso Fabrício Correia de Souza, Josué Mastrodi Neto, Celso Correia de Souza, Daniel Massen
Frainer

CAPÍTULO 20..................................................................................................................... 213


A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE
TRABALHO, POR MEIO DE COTAS: TRABALHO DECENTE FACE A AGENDA 2030
Patrick Verfe Schneider, Cibele Roberta Sugahara

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CAPÍTULO 21..................................................................................................................... 218


INSTRUMENTOS PARA AVALIAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO
BRASIL
Ana Luiza Ferreira, Bruna Angela Branchi

CAPÍTULO 22..................................................................................................................... 227


A EXPERIÊNCIA HABITACINAL DE CAJUEIRO SECO SOB A ÓTICA DA
SUSTENTABILIDADE
Mayara Christy Tavares de Lima, Samuel Carvalho De Benedicto, André Pires, José Roberto
Merlin

CAPÍTULO 23..................................................................................................................... 239


UM ESTUDO SOBRE O ÍNDICE DE DESEMPENHO AMBIENTAL DE PORTOS
BRASILEIROS
Letícia Caroline Soares da Silva, Denise Helena Lombardo Ferreira, Gabriel Luciano Borges de
Carvalho

CAPÍTULO 24..................................................................................................................... 246


CIDADE PARTIDA: UM OBSTÁCULO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Mayara Christy Tavares de Lima, José Roberto Merlin, Renata Raissa Gurian Lenço, Sueli do
Carmo Bettine

Área temática: Sustentabilidade e meio ambiente

CAPÍTULO 25..................................................................................................................... 254


PUBLICAÇÕES SOBRE O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – ISO 14001
Nelson Aparecido Alves, Rodrigo Hipólito Roza

CAPÍTULO 26..................................................................................................................... 259


ESTADO DO USO ATUAL DO SOLO NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO
RIBEIRÃO DAS PEDRAS EM CAMPINAS-SP
Elaine Cristina de Souza Ferreira Fulfule, Regina Márcia Longo

CAPÍTULO 27..................................................................................................................... 263


ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS AO USO INTENSIVO DE AGROTÓXICOS NA
AGRICULTURA BRASILEIRA
Jefferson Pereira da Silva Castro, Samuel Carvalho De Benedicto, Cibele Roberta Sugahara,
Cândido Ferreira Silva Filho

CAPÍTULO 28..................................................................................................................... 278


ANÁLISE DE IMPACTOS DAS DIFERENTES FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO NO MICROCLIMA DO RIBEIRÃO DAS PEDRAS EM CAMPINAS-SP
Filipe Augusto Pak Lucon, Sofia Negri Braz, Regina Márcia Longo

CAPÍTULO 29..................................................................................................................... 286


A CERTIFICAÇÃO ISO14001 NO MUNDO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR
DA BASE DE DADOS ISO SURVEY
Marcos Eduardo Vieira Paganelli, Marcos Ricardo Rosa Georges

Área temática: Sustentabilidade, tecnologias e inovação

CAPÍTULO 30..................................................................................................................... 290


INOVAÇÃO SOCIAL E EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Fábio Luiz Papaiz Gonçalves, Cibele Roberta Sugahara, Denise Helena Lombardo

CAPÍTULO 31..................................................................................................................... 295

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25 a 26 de setembro de 2019

A SUSTENTABILIDADE DO BIOCOMBUSTÍVEL ETANOL HIDRATADO APLICADO A


FROTA NACIONAL DE VEÍCULOS “FLEX”
Alexandre Olmos, Marcos Ricardo Rosa Georges

CAPÍTULO 32..................................................................................................................... 313


A CONTRIBUIÇÃO DE PARQUES TECNOLÓGICOS EVIDENCIADOS EM TRABALHOS
ACADÊMICOS: O CASO DO TECNOPUC
Eduardo Luiz Rodrigues, Alexandre Olmos, Samuel Carvalho De Benedicto, Cibele Roberta
Sugahara

CAPÍTULO 33..................................................................................................................... 322


ESTUDOS COMPARATIVOS EM ARGAMASSAS COM ADICÕES DE RESÍDUOS
SÓLIDOS DA SIDERURGIA (ESCÓRIA DE PANELA /METACAULIM)
Marcos Antônio Rosa Junior, Jose Roberto Merlin

CAPÍTULO 34..................................................................................................................... 326


DISCUSSÕES SOBRE O PAPEL DA INDÚSTRIA DE SEMENTES PARA O
DESENVOLVIMENTO SUTENTÁVEL E PARA SEGURANÇA ALIMENTAR
Vinícius Eduardo Ferrari

Área temática: sustentabilidade e educação

CAPÍTULO 35..................................................................................................................... 334


SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO FORMATIVO DOS CURSOS DE
ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
Renata de Macedo, Juan Arturo Castañeda-Ayarza

CAPÍTULO 36..................................................................................................................... 337


SUSTENTABILIDADE URBANA E CIDADES EDUCADORAS
Raquel Steluti Alfonsetti, José Roberto Merlin

CAPÍTULO 37..................................................................................................................... 345


MÉTODO PBL NO PROCESSO FORMATIVO DA PÓS-GRADUAÇÃO NA PERCEPÇÃO
DOS PRÓPRIOS ALUNOS
Juan Arturo Castañeda-Ayarza, Samuel Carvalho De Benedicto, Denise Helena Lombardo
Ferreira, Marileide Barbosa

CAPÍTULO 38..................................................................................................................... 357


APLICAÇÃO DO PBL NO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL LOCAL
E REGIONAL NA RIDE-CORRUÍRA
Arthur Colombo Bergamaschi, Eline Any De Benedicto, Rafael Silva de Oliveira, Samuel
Carvalho De Benedicto

CAPÍTULO 39..................................................................................................................... 366


ESTRATÉGIAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E
METROPOLITANO: UMA DISCUSSÃO FAZENDO USO DO MÉTODO PBL
Ana Luíza Ferreira, Fábio Luiz Papaiz Gonçalves, Geraldo Estevo Pinto,
Lívia Ferreira Neves, Samuel Carvalho De Benedicto

Área temática: Sustentabilidade e políticas publicas

CAPÍTULO 40..................................................................................................................... 376


POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCORPORAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NO
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: O PLANO ABC
Samanta Bellão Peixotto, Samuel Carvalho De Benedicto, Luiz Henrique Vieira da Silva

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CAPÍTULO 1
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

GESTÃO ESTRATÉGICA EMPRESARIAL: UMA PROPOSTA DE USO DE


INDICADORES DE PERFORMANCE DE SUSTENTABILIDADE

José Ademir de Souza¹, Orandi Mina Falsarella², Celeste Aída Sirotheau Corrêa
Jannuzzi³, Samuel Carvalho De Benedicto4

1. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-


mail: joseademirsouza@uol.com.br
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
orandi@puc-campinas.edu.br
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
celeste.jannuzzi@puc-campinas.edu.br
4. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O tema sustentabilidade é uma das prioridades das grandes empresas, uma vez que práticas sustentáveis
alinhadas com valores socioambientais contribui para melhorar a imagem empresarial e traz vantagem
competitiva. Através dos elementos do Planejamento Estratégico Empresarial, devidamente integrados
com as perspectivas da ferramenta de gestão Balanced Scorecard, torna-se possível uma gestão eficaz do
ambiente produtivo com a implementação de objetivos e metas estratégicos, no entanto essa integração
não demonstra por meio dos indicadores de performance os impactos ou os benefícios gerados ao meio
ambiente e à sociedade no contexto da sustentabilidade. Assim, o objetivo deste trabalho é propor uma
estratégia de gestão empresarial apoiada no Balanced Scorecard que contenha também indicadores de
performance de sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental para permitir aos gestores
elaborar e acompanhar o Planejamento Estratégico Empresarial, de modo que possa ser avaliado se uma
instituição está atingindo níveis de sustentabilidade adequados. Como metodologia, o estudo utilizou-se
de uma pesquisa exploratória prescritiva de caráter quali-quantitativo, Como contribuição,
é apresentada uma proposta onde as organizações poderão avaliar de forma qualitativa e quantitativa se
seus objetivos e estratégias estão conduzindo as operações empresariais para uma condição satisfatória de
sustentabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Planejamento Estratégico Empresarial, Balanced Scorecard,


Indicadores de Performance de Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
O tema sustentabilidade ganhou o topo das prioridades das grandes empresas, com a ampliação
do debate sobre o aquecimento global. Práticas empresariais alinhadas com valores socioambientais mais
justos têm sido buscadas com o objetivo de se implementar uma gestão responsável fundamentada nos
princípios de governança corporativa (ARRUDA; QUELHAS, 2010). Os mesmos autores ratificam que
grandes empresas de diversos segmentos, divulgam periodicamente relatórios e políticas de
sustentabilidade onde já se pode evidenciar a incorporação de processos de inovação tecnológica
fundamentada no papel exercido pela liderança com foco no mapeamento e gerenciamento de riscos
ambientais, no relacionamento com os clientes, fornecedores, comunidade e formadores de opinião.
Entretanto, essa preocupação com o meio ambiente necessita ser sistematicamente ampliada
dentro de toda a cadeia produtiva, gerando uma conscientização das organizações sobre o potencial de
degradação do meio ambiente gerado pelas suas atividades produtivas. É necessário um senso de urgência
na busca de práticas sustentáveis.

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25 a 26 de setembro de 2019

O conceito sustentabilidade começou a ganhar relevância durante os últimos 25 anos, em


decorrência de grandes catástrofes e acidentes ambientais, quando surgiu a consciência de que tais
eventos representavam verdadeiro desafio à sobrevivência da humanidade. Atualmente existem várias
interpretações sobre o conceito sustentabilidade, elaborados de acordo com a área e objetivos do estudo
desenvolvido pelos diversos setores.
Conforme Boff (2012), a definição clássica e a mais difundida é a da Comissão Brundtland,
(WCED,1987) quando afirma que “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das
gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades e
aspirações”.
Neste estudo o conceito de desenvolvimento sustentável está sendo tratado como sinônimo de
sustentabilidade. Em linhas gerais podemos dizer que a sustentabilidade visa estabelecer um equilíbrio
entre o que a natureza pode nos oferecer, qual o limite para o consumo dos recursos naturais e a melhora
na nossa qualidade de vida. Já o desenvolvimento sustentável tem como objetivo preservar o ecossistema,
mas também atender às necessidades socioeconômicas das comunidades e manter o desenvolvimento
econômico.
Entretanto, dentro do contexto empresarial, uma abordagem interessante é a que diz que a
sustentabilidade deve ser composta de três dimensões: a econômica, a social e a ambiental, também
conhecidas como Triple Bottom Line (TBL), conceito surgido do estudo realizado por Elkington (1994),
conhecido também por 3P, em inglês, People, Planet e Profit, significando Pessoas, Planeta e Lucro
(PPL).
O conceito TBL tornou-se mais difundido com a publicação do livro “Cannibals with forks: the
triple bottom line of 21st century business” no ano de 1997, representando uma expansão do modelo
tradicional de negócios das empresas, fundamentado fortemente na dimensão econômica, para um novo
modelo, que passa a considerar também as performances ambiental e social da organização, além da
financeira (ELKINGTON, 2012).
Segundo Almeida (2002), a dimensão econômica inclui não só a economia formal, mas também
as atividades informais que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam, assim, a renda
monetária e o padrão de vida dos indivíduos. A dimensão ambiental estimula empresas a considerarem o
impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, na forma de utilização dos recursos naturais, e
contribui para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho. A dimensão social consiste
no aspecto social relacionado à qualidade de vida dos seres humanos, como suas habilidades, dedicação e
experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa quanto o externo.
Conforme afirmam Friedman (1970) e Jensen (2001), a visão tradicional do negócio é promover
a maximização do valor para os acionistas. Entretanto, a preocupação com a sustentabilidade torna a
gestão mais complexa, particularmente quando necessita criar valor para todas as partes interessadas e
conciliar objetivos que incluam decisões financeiras e não-financeiras, impactos no ambiente e na
sociedade. Na visão dos stakeholders os objetivos sociais e ambientais também devem ser incorporados
no processo de tomada de decisão, bem como medido e monitorado continuamente.
Diante da complexidade das organizações de comunicarem seus desempenhos econômico, social
e ambiental e suas inter-relações, cabe um estudo investigativo para entender como as empresas têm
incorporado essa cultura dentro da organização e quais estratégias de gestão têm utilizado na busca de um
desenvolvimento sustentável em sua plenitude. Assim, dentro desse contexto, um questionamento que
pode ser feito é como demostrar de que modo são operacionalizadas as ações de gestão, no que tange ao
estabelecimento de metas e objetivos, que permitam atender de forma abrangente todas as dimensões da
sustentabilidade.
Percebe-se que dentro das organizações cada uma das dimensões (econômica, social e
ambiental), gera diferentes opiniões e enfoques sobre o modo de lidar com os desafios da atualidade,
refletindo, com isso, no grau de importância que se atribui a cada uma delas nos diferentes níveis
hierárquicos da companhia (ARRUDA; QUELHAS, 2010).
Conforme Chamusca et al. (2008), não basta, no entanto, que ocorra apenas essa disseminação
dos valores do desenvolvimento sustentável e ações para garantir os resultados dessa estratégia. Strobel et
al. (2004), enfatizam que as organizações devem se preocupar em criar mecanismos adequados para
mensurá-las, focando os pilares econômico, social e ambiental.
Diante disso, Elkington (1999) e Schaltegger et al. (2002), afirmam que a disciplina
relativamente nova de gestão de sustentabilidade, focada na mensuração e quantificação de efeitos e
impactos, precisa ser integrada nos processos cotidianos de tomada de decisões e de responsabilização,
incluindo relatórios de sustentabilidade.
Conforme Veiga (2010), a busca por um índice sintético de desenvolvimento sustentável, que
deve ser composto de várias dimensões, pode ser contraproducente ou até enganosa, devido a diversidade
de variáveis. Consequentemente, desenvolver um sistema de gerenciamento de múltiplas dimensões de

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performance é um desafio significativo, principalmente se a ele for agregado possibilidades de medir não
só a dimensão econômica, mas também a ambiental e social.
No entanto, para implementar objetivos que contemplam as dimensões e as estratégias de
sustentabilidade, os gestores precisam entender melhor as implicações de suas decisões e as ações que
podem tomar para produzir melhor desempenho e os impactos gerados por essas atividades, uma vez que
nem sempre as estratégias de sustentabilidade são abordadas no contexto do Planejamento Estratégico
Empresarial (PEE).
Epstein e Roy (2001), corroboram com essa afirmação quando dizem que o sucesso de uma
estratégia corporativa bem-sucedida para a responsabilidade social por exemplo, deve ser vista em um
horizonte de longo prazo para que tanto os principais indicadores, quanto os atrasos de desempenho
possam ser examinados.
Mikhailova (2004) afirma que a gestão da sustentabilidade empresarial é muito mais do que
fazer o bem pela sustentabilidade, pois requer visão e estratégia, princípios, política e procedimentos, um
programa com metas tangíveis e mensuração do progresso e desempenho.
Oliveira et al. (2012) complementam que a dinâmica do ambiente empresarial, sempre em
constante mudança, torna-se fundamental que as metas e objetivos estabelecidos no PEE sejam
devidamente medidos e acompanhados através de indicadores de performance que traduzirão sua
efetividade ao longo do tempo.
Dentro desse contexto, a criação do Balanced Scorecard (BSC), desenvolvido por Robert Kaplan
e David Norton, vem se tornando uma metodologia bastante utilizada nas empresas e é uma ferramenta
eficaz para gestão e planejamento (PRIETO et al., 2006). Conforme Kaplan e Norton (2000), o BSC
proporciona aos gestores uma visão abrangente que traduz claramente os objetivos estratégicos da
empresa em um quadro coerente da medição de performance da operação. Trata-se de indicadores de
performance interligados logicamente dentro de quatro perspectivas, ou seja, a financeira, a de cliente, a
de processos internos e a de aprendizado e crescimento, que permitem uma avaliação de desempenho da
operação, traduzindo a missão e a estratégias em objetivos e medidas organizadas.
Para os autores:
Os objetivos das quatro perspectivas são conectados um com os outros por relações de causa e
efeito. A partir do topo, parte-se da hipótese de que os resultados financeiros só serão alcançados se
os clientes-alvo estiverem satisfeitos. A proposição de valor para os clientes descreve como gerar
vendas e aumentar a fidelidade dos clientes-alvo. Os processos internos criam e cumprem a
proposição de valor para os clientes. Os ativos intangíveis que respaldam os processos internos
sustentam os pilares da estratégia. O alinhamento dos objetivos nessas quatro perspectivas é a chave
para a criação de valor e, portanto, para uma estratégia focada e dotada de consistência interna
(KAPLAN; NORTON 2004, p. 34).

Desta forma, ao se pensar no PEE e no BSC, com suas quatro perspectivas, entende-se que
existem ferramentas disponíveis e efetivas de gestão que permitem a elaboração e acompanhamento do
PEE de uma organização. No entanto, não fica claro como as dimensões econômica, social e ambiental da
sustentabilidade podem ser contempladas nesse contexto. Fica também difícil saber qual a importância
que uma organização empresarial está dando para as questões relacionadas a sustentabilidade.
Assim, o objetivo deste trabalho é propor, para a estratégia de gestão empresarial, uma
ferramenta apoiada no BSC que contenha indicadores de performance de sustentabilidade nas dimensões
econômica, social e ambiental, para permitir aos gestores elaborar e acompanhar o PEE, de modo que
possa ser avaliado se uma instituição está atingindo níveis de sustentabilidade adequados.
Pela proposição de um novo olhar sobre a avaliação da performance da sustentabilidade em uma
organização, o presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, que é indicada para definir
pesquisas cujo “[...] tema escolhido é pouco explorado [...]” (GIL, 2008, p. 43). Os dados do estudo, de
caráter quali-quantitativo, são obtidos por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre os temas
Planejamento Estratégico Empresarial (PEE), Balanced Scorecard (BSC) e sustentabilidade. A seleção
dos textos foi orientada pela identificação de publicações relacionadas com a utilização do PEE e do BSC
pelas organizações e pela relevância da utilização de indicadores de performance relacionados com a
sustentabilidade. A partir de estudos já desenvolvidos, buscou-se identificar nas publicações, a existência
de práticas relacionadas à avaliação da performance da organização quanto ao seu nível de
sustentabilidade, dentro das dimensões, econômica, social e ambiental.
A análise dos dados para a construção da proposta adota uma abordagem prescritiva, uma vez
que busca observar maneiras diferentes de avaliar a performance de sustentabilidade da organização
(RUBENSTEIN-MONTANO et al., 2001). Assim, considerando a complexidade de avaliar
simultaneamente a eficiência econômica, social e ambiental dentro dos objetivos estratégicos de uma
organização, é proposto uma avaliação das ações do PEE, dentro das perspectivas do BSC e os impactos e

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contribuições que essas ações podem promover dentro das dimensões do TBL. Através dessa análise é
calculado um indicador de sustentabilidade para cada ação do PEE, o que permitirá uma avaliação do
nível de sustentabilidade que essa ação está proporcionando dentro da organização. Além disso também é
proposto a criação de um indicador geral da sustentabilidade dentro de cada perspectiva do BSC e de cada
uma das dimensões da sustentabilidade.
Através dos indicadores de sustentabilidade por ação do PEE e do indicador de impacto geral de
sustentabilidade, são simulados alguns exemplos de análise que ilustram qual nível de sustentabilidade
uma determinada organização está atingindo perante as ações do PEE pré-estabelecidas e seus impactos
gerados em cada uma das dimensões do TBL.

2. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E BALANCED SCORECARD


O Planejamento Estratégico Empresarial (PEE) possui uma diversidade de conceitos. Segundo
Kotler (1992), o PEE é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser seguida pela
organização, visando maior grau de interação com o ambiente, considerando as questões
macroeconômicas, macro políticas, macro estratégias e objetivos da organização.
Para Drucker (1977), o PEE é um processo contínuo, integrado, sistemático, organizado e capaz
de prever o futuro, permitindo a organização tomar as melhores decisões em termos de negócios e
produtos, minimizando os riscos.
Segundo Falsarella e Jannuzzi (2017), o PEE está relacionado diretamente à gestão estratégica.
Ele é concebido a partir de uma análise do ambiente interno e externo, por meio da construção de uma
matriz que apresenta ameaças e oportunidades e forças e fraquezas, com o propósito de contribuir para
definir os componentes essenciais para o desdobramento da estratégia. Ao final da elaboração do PEE são
definidos os seguintes componentes. São eles:
Visão - expressa a auto-imagem da organização, a maneira pela qual ela deseja ser reconhecida
no futuro. Deve ser definida e elaborada de maneira clara e compreensível para que seja útil e funcional
para todos os envolvidos, unificando as expectativas, facilitando a comunicação e dando um sentido de
direção para as atividades e balizamento das estratégias;
Missão - deve indicar a identidade, a área de atuação e o público alvo da organização. Deve
expressar numa linguagem de fácil compreensão, porém contendo as referências principais que nortearão
as definições estratégicas da organização;
Valores - são intrínsecos a cada tipo de organização. Representam aspectos referentes a ética e
transparência, diz respeito a diversidade, trabalho em equipe, cidadania, preocupação com a
sustentabilidade, entre outros;
Objetivos – determinam o que a organização almeja alcançar em um determinado período de
tempo. Eles podem ser corporativos ou departamentais;
Metas – são frações do objetivo. Cada meta quantifica e estipula em quanto tempo cada fração
do objetivo será alcançada;
Estratégias – são planos de ações ou caminhos mais adequados a serem executados para alcançar
um objetivo ou meta. Envolvem os planos de ação que se converterão em projetos;
Indicadores – são medidas que indicam uma tendência do que está acontecendo. São atributos
que podem ser quantificáveis em um determinado momento. Servem para avaliar se uma determinada
meta ou objetivo está sendo ou não alcançado.

Uma das ferramentas gerenciais utilizadas para medir a eficiência e eficácia das estratégias e
verificar se os objetivos e metas estão sendo alcançados é o BSC. De acordo com Kaplan e Norton
(1997), trata-se de uma ferramenta visual dinâmica que se traduz em um sistema de mensuração e
avaliação de desempenho que permite a quantificação de ativos intangíveis críticos de uma organização,
como pessoas, informação e cultura organizacional, como apresentado na Figura 1. Nessa Figura, pode-se
verificar a dinâmica entre as perspectivas, demonstrando o alinhamento dos ativos intangíveis, com a
estratégia e criação de valor de longo prazo para os acionistas, ou seja, a partir da dimensão aprendizado e
crescimento, cria-se um alinhamento e preparação do capital humano para a perspectiva dos processos
internos, os quais serão desenvolvidos com foco na criação de valor para o cliente e consequentemente
para os acionistas na perspectiva financeira.

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Figura 1 – Alinhamento de ativos intangíveis na criação de valor.

Fonte: Adaptado de Kaplan e Norton (2004, p. 54).

Considerando o PEE no contexto tradicional de negócios, pode-se afirmar que ele já é uma
prática bastante disseminada, bem como pode-se identificar os seus componentes muitas vezes
devidamente integrados dentro das perspectivas do BSC, proporcionando assim uma gestão eficaz dos
objetivos estratégicos da organização. A Figura 2 ilustra um exemplo dessa integração descrevendo os
objetivos estratégicos, planos de ação ou estratégias, indicadores e metas devidamente integrados com as
perspectivas do BSC.
Nesse exemplo, a partir de uma análise do ambiente interno e externo e por meio da construção
de uma matriz que apresenta ameaças e oportunidades e forças e fraquezas, os gestores responsáveis pela
elaboração do PEE, podem definir os seguintes objetivos estratégicos:
A. Desenvolvimento do Mercado;
B. Melhoria de Processo;
C. Desenvolvimento de Pessoal;
D. Desenvolvimento de Produto.

A partir dos objetivos estratégicos estabelecidos, pode-se determinar um conjunto de ações


pertinentes. Por exemplo, o objetivo Desenvolvimento de Mercado poderia tem como ações:
A1- Aumentar o faturamento anual;
A2- Aumentar o número de visitas efetuadas pelos engenheiros de produto aos clientes;
A3- Lançar o produto no mercado de reposição;
A4- Efetuar ofertas para exportação através dos clientes atuais.

A próxima etapa seria classificar cada ação dentro das perspectivas do BSC. No exemplo da
Figura 2, as ações A1 e A3 estariam classificadas dentro da perspectiva financeira e as ações A2 e A4
junto à perspectiva de cliente. Da mesma forma as demais ações seriam classificadas de acordo com sua
pertinência.

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Figura 2 – Planejamento Estratégico Integrado ao BSC.

Fonte: Elaborado pelos Autores.

A partir desta etapa inicia-se a determinação dos indicadores que deverão servir de orientação
para medição e controle do progresso das ações na direção dos objetivos estratégicos. Assim, a condução
do desenvolvimento do PEE pode ser acompanhada dentro do contexto das quatro perspectivas do BSC.
No entanto, análises referentes às dimensões da sustentabilidade (econômica, social e ambiental), não são
contempladas na integração desses dois conceitos.

3. SUSTENTABILIDADE
Desde os primórdios da Revolução Industrial, o uso dos recursos da natureza já se intensificava
ao redor de grandes povoados, por exemplo o corte de florestas para extração de madeira para
combustível dos fornos. Já nessa época nascia a consciência de que a velocidade de consumo das florestas
tomava um ritmo bem maior que sua capacidade de recuperação.
Hans Carl von Carlowitz, um especialista florestal e inspetor de minas na região de Freiberg da
grande Saxonia registrou em sua obra, Sylvicultura Oekonomica em 1713, o que pode ser considerado
como a primeira definição do conceito de sustentabilidade, quando defendeu a ideia que “sustentabilidade
literalmente significa continuidade, permanência, restauração, consistência num efeito ininterrupto”.
Nessa época foi cunhado pelo autor a regra que: o consumo de árvores deverá ser na mesma razão em que
as florestas possam ser recuperadas através de replante ou crescimento natural (SCHULZE;
SCHRETZMANN, 2006).
A humanidade continuou evoluindo engajada num modelo de consumismo imediatista,
pressionado pelo modelo de crescimento contínuo das indústrias que passaram a intensificar a exploração
e transformação dos recursos do planeta.
Na década de 1970, intensificaram-se as publicações científicas a respeito dos desequilíbrios
causados no planeta em decorrência do avanço da industrialização (FROELICH, 2014). Nesse momento,
a publicação da obra Os Limites do Crescimento (MEADOWS et al., 1972), a pedido do Clube de Roma
(uma associação informal de empresários, estadistas e cientistas), já demonstrava a preocupação de um
possível colapso econômico social no século 21.

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A necessidade latente de se continuar o debate sobre os recursos do planeta levou as


Organizações das Nações Unidas (ONU) criar em 1983 a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (WCED, sigla em inglês para World Comission on Environment and Development),
presidida pela ex-primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. A comissão tinha como objetivo
propor novas normas de cooperação internacional que pudessem orientar políticas e ações globais para
promover as mudanças do modelo de controle e conservação dos recursos naturais.
A comissão gerou em 1987 o relatório denominado “Relatório Brundtland”, também conhecido
como “Nosso Futuro Comum”, onde o termo desenvolvimento sustentável foi apresentado oficialmente
na WCED, obtendo-se pela primeira vez o consenso sobre a versão mais amplamente aceita da definição
de desenvolvimento sustentável: [...] “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades” (CMMAD, 1988, p.46).
Através de um gerenciamento de impactos ao meio ambiente, as organizações começam a
identificar a complexidade do conceito de desenvolvimento sustentável, onde a partir da constatação de
que qualquer atividade produtiva gerará externalidades positivas e negativas, induz a um novo modelo de
gestão fundamentado em tomadas de decisão não somente na dimensão econômico, mas também leva em
conta as dimensões social e ambiental (ZYLBERSZTAJN, 2010).
Inspirado no conteúdo do relatório Brundtland (WCED, 1987) que enfatizava a necessidade da
inclusão das dimensões econômica, social e ambiental nos modelos de negócio, como condição sine qua
non de uma estratégia planetária comum para a gestão do meio ambiente e dos recursos, capaz de deter,
ou pelo menos reduzir e adiar, os efeitos prejudiciais da mudança (SACHS, 1993), o autor Elkington
(1994) cunhou o termo Triple Bottom Line (TBL) termo em inglês, conhecido por 3P, ou seja, People,
Planet e Profit, significando em português, Pessoas, Planeta e Lucro (PPL).
Na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de
Janeiro em 2012, denominada como Rio +20, buscou-se aumentar a coerência na atuação das instituições
internacionais relacionadas aos pilares social, ambiental e econômico e foi proposto à comunidade
internacional o desafio de pensar um novo modelo de desenvolvimento baseado no tripé da
sustentabilidade (TBL) que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável
(GIOVANNONNI; FABIETTI, 2014).
Trata-se de um novo paradigma para as organizações que procuram se adequar a um modelo de
desenvolvimento sustentável, promovendo relações harmônicas entre as dimensões econômica, social e
ambiental, de longo prazo, capazes de proporcionar crescimento e desenvolvimento da comunidade
humana, com equidade, garantindo, ao mesmo tempo, a sustentação física e biológica dos sistemas
ecológicos (ELKINGTON, 1999).
A Figura 3 ilustra os pilares do desenvolvimento sustentável onde as três dimensões se
relacionam de tal forma que a cada interação entre duas dimensões resulta em uma atividade viável, justa
e vivível, e das três, resultaria no alcance da sustentabilidade (OLIVEIRA et al., 2012).

Figura 3 – Dimensões da Sustentabilidade e Indicadores.

Fonte: Adaptado de Caetano et al. (2012 p. 29).

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A introdução do conceito de desenvolvimento sustentável nas organizações utilizando as três


dimensões da sustentabilidade ainda é um grande desafio, pois ainda prevalece o conceito da relação
homem-natureza como sinônimo de sustentabilidade, levando a uma priorização para as dimensões
econômico-ambiental (DREXHAGE; MURPHY, 2010).
O princípio para a introdução do conceito TBL na rotina dos negócios requer uma disciplina da
gestão para estabelecer suas metas e objetivos conforme cada uma das dimensões da sustentabilidade.
Entretanto também pode-se reconhecer que a única forma para se garantir uma gestão eficaz desses
impactos é através da medição dos mesmos com indicadores adequados que possam ser inseridos dentro
do PEE das organizações.
O indicador de performance em si, também chamado de KPI, sigla do inglês, Key Performance
Indicator, é definido como um valor quantitativo medido ao longo do tempo e que permite adquirir
informações sobre atributos e resultados de um processo específico tendo como principal objetivo mostrar
claramente para os gestores e funcionários o que se espera deles na realização das funções dentro da
organização (FRANCISCHINI; FRANCISCHINI, 2017).
Segundo Batista e Silva (2006) o estabelecimento de um sistema de indicadores, é um meio
eficaz de prover os gestores com informações adequadas para demonstrar seu desempenho ao longo do
tempo e para permitir a elaboração de previsões, monitoramento de variáveis espaciais e temporais e
fundamentais para o processo de tomada de decisão.
Assim, os indicadores, da mesma forma que são utilizados para medir se os objetivos e metas do
PEE, integrados às perspectivas do BSC, estão sendo alcançados, poderiam ser utilizados para avaliar a
performance da gestão estratégica de uma organização no contexto das dimensões da sustentabilidade.

4. PROPOSTA DE USO DE INDICADORES DE PERFORMANCE DE SUSTENTABILIDADE


Um bom local para a visualizar como a sustentabilidade está sendo tratada em todas as suas
dimensões é através do PEE e suas ferramentas de gestão, como por exemplo o Balanced Scorecard
(BSC). No entanto, como pode ser percebido no exemplo da Figura 2, as perspectivas do BSC não
traduzem o contexto das três dimensões da sustentabilidade.
Nesse sentido, a proposta deste trabalho considera a possibilidade de utilizar a integração do
conceito TBL, dentro das perspectivas do BSC sem acarretar uma maior complexidade na
operacionalização dos objetivos e metas do PEE já estabelecidos.
Como primeira etapa para esse processo de integração, a proposta é correlacionar os impactos
que cada ação estratégica pode representar em cada uma das dimensões da sustentabilidade (econômica,
social e ambiental) de forma quantitativa, estabelecendo uma pontuação para esses impactos, conforme
descrição a seguir:
Alto impacto = 300 (a ação estratégica possui uma alta contribuição para determinada dimensão
da sustentabilidade);
Médio impacto = 200 (a ação estratégica possui uma contribuição mediana para determinada dimensão da
sustentabilidade);
Baixo impacto = 100 (a ação estratégica possui baixa contribuição para determinada dimensão da
sustentabilidade).

Considerando-se a dificuldade de quantificar esses impactos, pois pode haver uma certa
subjetividade na classificação dos mesmos para cada ação, a tarefa de classificação entre alto, médio ou
baixo impacto poderá ser atribuído a um comitê de gestores, obtendo-se assim uma avaliação média e
mais abrangente, de acordo com as opiniões.
Assim para cada uma das ações estratégicas faz-se a correlação simultânea para cada uma das
três dimensões. Por exemplo, resgatando a Figura 2, a ação “aumentar o faturamento” pode possuir um
alto impacto na dimensão econômica (300), baixo impacto dimensão social (100) e médio impacto na
ambiental (200). Em um outro exemplo, a ação ” desenvolver novo material para redução de peso do
produto A” pode trazer alto impacto na dimensão econômica (300), bem como para a dimensão ambiental
(300), supostamente por se tratar de material alternativo e de maior potencial de reciclagem, e baixo
impacto para a dimensão social (100).
Desse modo, pode-se construir, conforme a Figura 4, uma correlação entre as ações estratégicas
e os impactos esperados em cada uma das dimensões do TBL, obtendo-se uma primeira avaliação das
ações estratégicas definidas no PEE e integradas no BSC, quanto aos seus impactos na direção da
sustentabilidade.

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Essa avaliação preliminar permite que o gestor, após a classificação do nível de impacto nas
dimensões da sustentabilidade, possa rever suas ações estratégicas e ajustá-las de forma que possam trazer
melhor impacto nas dimensões do TBL, sem prejuízo para a estratégia geral da organização.
Objetivando melhorar a avaliação que se aplica no exemplo da Figura 4, propõe-se
adicionalmente classificar cada uma das ações segundo sua abrangência dentre as dimensões da
sustentabilidade, ou seja, avaliar como cada uma das ações agem simultaneamente nas três dimensões.

Figura 4 – Correlação dos impactos das ações no TBL.


IMPACTO NAS DIMENSÕES DA
SUSTENTABILIDADE

PERSPECTIVAS AÇÕES A-Econômica B-Social C-Ambiental

Ação A1 300 300 200

Financeira Ação A3 300 200 200

Ação D1 300 200 100

Ação A2 200 200 100

Clientes Ação A4 300 200 200

Ação D3 300 200 100

200 200 300


Açaõ B1
Processos
Ação B2 300 100 200
Internos
Ação B3 300 200 300

Ação C1 200 300 100


Aprendizado e
Ação C2 100 300 100
Crescimento
Ação C3 100 300 100

Fonte: Elaborado pelos autores.

Objetivando melhorar a avaliação que se aplica no exemplo da Figura 4, propõe-se


adicionalmente classificar cada uma das ações segundo sua abrangência dentre as dimensões da
sustentabilidade, ou seja, avaliar como cada uma das ações agem simultaneamente nas três dimensões.
Considerando os fundamentos do TBL e sua representação gráfica tradicional apresentada na
Figura 3, as dimensões possuem uma interação dinâmica entre si e assim uma determinada ação pode
estar contribuindo simultaneamente para uma única dimensão, para duas ou até para as três dimensões,
conforme ilustrado na Figura 5.
A partir dessa representação gráfica do TBL percebe-se que as ações poderão gerar as seguintes
contribuições:
Contribuição Única em cada uma das dimensões, onde pode-se convencionar como sendo grau 1
de contribuição;
Contribuição dupla, podendo-se convencionar como sendo grau 2 de contribuição. As ações
poderão ser medidas com indicadores socioeconômicos, denominados como “justos”; indicadores
socioambientais, denominados como “vivíveis” ou ainda com indicadores de ecoeficiência, denominados
“viáveis”.
Contribuição tripla, podendo-se convencionar como sendo grau 3 de contribuição que representa
um indicador de efetiva sustentabilidade, devido seu impacto contribuir simultaneamente para cada
dimensão do TBL. O ideal seria desenvolver o máximo de ações que tragam essa contribuição múltipla.

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Figura 5 – Contribuição das ações para as dimensões da sustentabilidade.

.
Fonte: Adaptada de Caetano et al (2012, p. 29) e acrescida pelos autores.

Uma proposta para se considerar simultaneamente tanto os efeitos dos impactos das ações
estratégicas do PEE em cada uma das dimensões do TBL, como o grau de contribuição dessas ações
simultaneamente pode ser representada pela Figura 6.
Através da correlação dos impactos das ações nas dimensões da sustentabilidade e do grau de
contribuição, pode-se calcular uma pontuação, a qual poderá ser considerada como um indicador de
sustentabilidade por ação do PEE. A fórmula para a pontuação final de cada ação estratégica poderá
ser calculada através de uma multiplicação dos efeitos nas colunas A = Econômica, B = Social, C =
Ambiental e D = Grau de contribuição e desta forma obter-se um indicador de sustentabilidade por ação
do PEE.
Assim, para a ação A1, Aumentar faturamento anual, por exemplo, teremos [A x B x C] x [D] /
10⁷ = [300 x 300x 200] x [2] / 10⁷ = 3,6 (indicador de sustentabilidade da ação A1).
O fator 10⁷ é apenas adotado para efeito de arredondamento de valores menores que uma dezena
e para permitir uma fácil interpretação.

Figura 6 – Indicador de sustentabilidade por ação do PEE.


Indicador de
IMPACTO NAS DIMENSÕES DA TRIPLE
SUSTENTABILIDADE BOTTOM LINE
Sustentabilidade
por Ação do PEE
D-Grau de
PERSPECTIVAS AÇÕES A-Econômica B-Social C-Ambiental AxBxCxD/ 10⁷
Contribuição

Ação A1 300 300 200 2 3,6

Financeira Ação A3 300 200 200 2 2,4

Ação D1 300 200 100 1 0,6

Ação A2 200 200 100 0,4


1

Clientes Ação A4 300 200 200 2 2,4

Ação D3 300 200 100 1 0,6

200 200 300 3 3,6


Açaõ B1
Processos
Ação B2 300 100 200 1 0,6
Internos
Ação B3 300 200 300 2 3,6

Ação C1 200 300 100 2 1,2


Aprendizado e
Ação C2 100 300 100 1 0,3
Crescimento
Ação C3 100 300 100 1 0,3

Fonte: Elaborada pelos autores.

Neste exemplo, o grau de contribuição 2, da ação A1, pode ser atribuído levando em
consideração que a ação estratégica proporcionará um efeito simultâneo nas dimensões econômica e
social, uma vez que com o aumento de faturamento haverá também uma ampliação do quadro de

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colaboradores diretos para a fabricação do produto. Já quanto à contribuição ambiental, esta ação
estratégica não possui uma abrangência que preveja redução dos impactos ao meio ambiente, como
consumo de recursos como água, combustíveis e energia.
Desta forma, a pontuação alcançada para a ação A1, poderá ser interpretada como um indicador
de sustentabilidade para a ação estratégica de aumentar o faturamento.
Aplicando-se esse mesmo procedimento para a ação D3, desenvolver novo material para redução
de peso do produto A, por exemplo, temos uma classificação de grau 1 de contribuição. Pode-se atribuir
essa classificação levando em consideração que a ação estratégica proporcionará um efeito específico
somente na dimensão econômica, decorrente da otimização de peso do produto, o que poderá torná-lo
mais competitivo e proporcionará maior participação no mercado. Não está previsto através dessa ação
um efeito de contribuição nas dimensões social e ambiental, onde é esperado por exemplo apenas a
manutenção do número de colaboradores, utilizando-se dos recursos de engenharia já disponíveis para o
desenvolvimento do novo material, bem como a estrutura organizacional produtiva existente. Da mesma
forma serão mantidos os requisitos para controle de impacto ao meio ambiente, para aplicação do novo
material.
Assim, para a ação D3 teremos [A x B x C] x [D] / 10⁷ = [300 x 200x 100] x [1] / 10⁷ = 0,6
(indicador de sustentabilidade da ação D3).
Analisando os indicadores de sustentabilidade de cada ação do PEE, pode-se observar que
quanto maior o valor nominal do mesmo, mais adequados serão os níveis de sustentabilidade que a
organização está atingindo, por ação.
Numa condição de máxima contribuição de uma ação do PEE, onde seus impactos nas
dimensões da sustentabilidade e no grau de contribuição sejam máximos, teríamos então [A x B x C] x
[D] / 10⁷ = [300 x 300x 300] x [3] / 10⁷ = 8,1 (indicador máximo de sustentabilidade de uma ação do
PEE).
Essa ação poderia por exemplo estar focada numa condição em que a organização venha a
adquirir novos contratos de negócios e para tal desenvolva uma linha de produção de manufatura dentro
de um conceito “lean manufacturing” onde teríamos uma maximização da eficiência de produção, menor
índice de refugo e com investimentos no tratamento de resíduos e redução do consumo de matéria prima.
Desta forma, a dimensão econômica estaria privilegiada com o aumento de faturamento e resultados
financeiros, a dimensão social estaria contemplada com a contratação de mão-de-obra especializada e
devidamente treinada num novo conceito de manufatura e ainda a dimensão ambiental estaria sendo
devidamente considerada através das atividades de tratamento dos resíduos e impactos ambientais, pela
redução do consumo de materiais. Quanto ao grau de contribuição dessa ação dentro do TBL como um
todo, percebe-se que a mesma possui abrangência nas três dimensões simultaneamente.
Através da análise individual de cada ação do PEE quanto aos seus impactos em cada uma das
dimensões, bem como quanto ao seu grau de contribuição dentro do TBL, proporciona aos gestores um
entendimento de como as ações podem contribuir para a sustentabilidade da organização como um todo,
permitindo ainda uma reformulação das mesmas no sentido de se obter um melhor indicador de
sustentabilidade, durante a própria elaboração do PEE.
Em complemento a essa análise, é possível ainda promover uma avaliação quali-quantitativa
geral de todas as ações dentro de cada uma das dimensões da sustentabilidade, propondo a criação de um
Indicador de impacto geral por perspectiva do BSC e por dimensão da sustentabilidade.
O objetivo é verificar quais são os impactos que estão sendo gerados dentro de cada uma das
dimensões do TBL e das perspectivas do BSC. Trata-se, portanto, de uma análise vertical dos impactos
em cada uma das dimensões, abrangendo todas as perspectivas simultaneamente, conforme ilustrado na
figura 7.
Para calcular o indicador é realizada a média aritmética simples dos valores atribuídos para os
impactos das ações dentro de cada uma das dimensões e perspectivas criando o indicador de impacto
geral por perspectiva do BSC e por dimensão da sustentabilidade.
No exemplo da figura 7, para a dimensão ambiental tem-se dentro da perspectiva financeira =∑
(200+200+100)/3=167, ou seja, em comparação com as outras dimensões, as ações do PEE na
perspectiva financeira promovem um BAIXO impacto na dimensão ambiental, contribuindo pouco para o
meio ambiente; dentro da perspectiva de clientes =∑ (100+200+100)/3=133, ou seja as ações do PEE na
perspectiva clientes promovem também um BAIXO impacto na dimensão ambiental; dentro da
perspectiva de processos internos =∑ (300+200+300)/3=267, ou seja as ações do PEE na perspectiva
processos internos promovem um MÉDIO impacto na dimensão ambiental; dentro da perspectiva
aprendizado e crescimento =∑ (100+100+100)/3=100, as ações do PEE promovem também um BAIXO
impacto na dimensão ambiente.

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Figura 7 – Indicador de impacto geral por perspectiva do BSC e por dimensão da sustentabilidade.
Indicador de
IMPACTO NAS DIMENSÕES DA TRIPLE
SUSTENTABILIDADE BOTTOM LINE Sustentabilidade
por Ação do PEE
D-Grau de
PERSPECTIVAS AÇÕES A-Econômica B-Social C-Ambiental AxBxCxD/ 10⁷
Contribuição

Ação A1 300 300 200 2 3,6

Financeira Ação A3 300 200 200 2 2,4

Ação D1 300 200 100 1 0,6


300 233 167
Ação A2 200 200 100 0,4
1

Clientes Ação A4 300 200 200 2 2,4

Ação D3 300 200 100 1 0,6

267 200 133


200 200 300 3 3,6
Açaõ B1
Processos
Ação B2 300 100 200 1 0,6
Internos
Ação B3 300 200 300 2 3,6
267 167 267

Ação C1 200 300 100 2 1,2

Aprendizado e 100 300 100 1 0,3


Ação C2
Crescimento
100 300 100 1 0,3
Ação C3
133 300 100

INDICADOR DE IMPACTO GERAL 242 225 167


ECONÔMICA SOCIAL AMBIENTAL

Fonte: Elaborada pelos autores.

A partir dessas análises por cada uma das perspectivas, pode-se determinar um indicador de
impacto geral que é calculado pela média aritmética dos impactos simultâneos dentro de cada dimensão e
entre todas as perspectivas. Por exemplo para a dimensão ambiental =∑ (167+133+267+100) /4=167,
conforme ilustrado também na figura 7.
A partir de uma análise geral, pode-se afirmar nesse exemplo que a dimensão ambiental é a
menos favorecida em comparação com as demais dimensões. Além disso também pode-se afirmar que a
dimensão econômica, na avaliação geral, está sendo a mais favorecida. A partir dessa análise, as ações do
PEE poderiam ser reavaliadas, buscando-se obter um equilíbrio nas três dimensões da sustentabilidade e
perspectivas do BSC.
A análise dos indicadores propostos, Indicador de sustentabilidade por ação do PEE e
Indicador de impacto geral por perspectiva do BSC e por dimensão da sustentabilidade, a eventual
correção de ações e as comparações entre diversos períodos de elaboração do PEE podem proporcionar
uma avaliação de performance da sustentabilidade da organização.
Essa proposta permite portanto, que uma organização efetue uma avaliação prévia de dos
indicadores de sustentabilidade durante a elaboração do PEE e de suas revisões, bem como permite ainda
a utilização desses resultados como indicadores de performance de sustentabilidade ao final de cada
período, demonstrando para os stakeholders o engajamento ou não da empresa no compromisso com as
práticas sustentáveis.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo desenvolveu uma proposta de estratégia de gestão empresarial, apoiada no BSC
apresentando indicadores de performance de sustentabilidade nas dimensões econômica, social e
ambiental, que permite os gestores elaborarem o PEE e avaliarem se a organização está atingindo níveis
de sustentabilidade adequados.
Percebe-se que através da proposta apresentada, toda e qualquer organização que estiver disposta
a estruturar seu PEE, poderá obter uma medição que orienta, de forma quali-quatitativa o quanto a
empresa está operando de forma sustentável. Desta forma, os gestores poderão avaliar os impactos e as
contribuições das ações dentro de cada uma das perspectivas do BSC, promovendo assim um

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direcionamento dos esforços na busca de objetivos e metas, no momento que está sendo elaborado o PEE,
fazendo modificações, visando não privilegiar uma determinada dimensão da sustentabilidade.
A prática contínua de análise dos indicadores de sustentabilidade por ação do PEE e de impacto
geral promoverá um histórico da evolução desses indicadores, e poderão medir a performance da
sustentabilidade da organização no exercício de suas atividades.
Diante da necessidade de criação de práticas sustentáveis dentro do meio empresarial, a adoção
de indicadores de sustentabilidade, permitirá uma gestão mais assertiva acerca das mudanças do
comportamento organizacional no consumo dos recursos naturais, na geração de impactos ao meio
ambiente, na preocupação com as questões sociais, em detrimento das questões econômicas, bem como
poderá ainda servir como elemento para criação do relatório anual de sustentabilidade empresarial na três
dimensões da sustentabilidade.
A proposta apresentada permite ainda que a organização crie um diferencial competitivo perante
o segmento em que atua, publicando seus indicadores de performance de sustentabilidade para os clientes,
stakeholders e comunidade em geral.

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CAPÍTULO 2
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas Organizações

GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: ESTUDO DE CASO


SOBRE A FABRICAÇÃO DE EMBALAGENS PLÁSTICAS SUSTENTÁVEIS

Urbano José dos Santos1, Rosane Maria Soligo de Mello Ayres2

1. Graduando do curso de Administração da PUC-Campinas. Aluno bolsista de Iniciação


Científica. E-mail: urbanopucc@gmail.com
2. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-
mail: rosane.ayres@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Não é sem razão ou justificativa procedentes que a vigilância crescente da sociedade sobre as ações de
sustentabilidade ambiental e de responsabilidade social reivindicadas às organizações está cada vez mais
na ordem do dia. As empresas não podem mais negligenciar o acirramento das exigências por posturas e
atitudes mais responsáveis e éticas na realização de suas atividades de negócio, que ao contrário devem
empreender e mostrar esforços sistemáticos e contínuos para equilibrar o atendimento de seus interesses
econômicos às demandas sociais e ambientais dos ecossistemas. Em função da necessidade de
compreender e alinhar tais ações e esforços às suas estratégias organizacionais, as empresas não podem
prescindir de informações e avaliações, por meio de mecanismos de monitoramento e mensuração. É
nesse contexto que surgem os indicadores socioambientais como ferramenta de apoio à gestão da
sustentabilidade empresarial. O objetivo do presente trabalho é descrever como uma empresa fabricante
de embalagens plásticas promove a gestão da sustentabilidade empresarial em seu negócio, tomando
como referência para a análise das práticas socioambientais os Indicadores Ethos de Negócios
Sustentáveis e Responsáveis. Os resultados mostram que a empresa de embalagens plásticas (EEP)
estudada apresenta estágios de maturidade em indicadores das quatro dimensões de sustentabilidade e
responsabilidade: visão e estratégia; governança e gestão; social e ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade empresarial; indicadores de sustentabilidade; indicadores Ethos;


gestão da sustentabilidade.
1. INTRODUÇÃO
A abrangência da temática de sustentabilidade em seus múltiplos conceitos e abordagens passou
a mobilizar a atuação de vários segmentos da sociedade: Estado; sociedade civil; organizações e cidadãos
em torno da discussão, operacionalização e aplicação do desenvolvimento sustentável. Destarte, a
Organização das Nações Unidas- ONU lança em 2015 os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável-
ODS, uma nova agenda em substituição aos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio- ODM.
À medida que o crescimento populacional avança, em especial nos países em desenvolvimento e
emergentes, surgem muitos riscos e desafios para governos e empresas quanto à demanda de consumo,
que deve considerar questões como: recursos naturais, alimento, saneamento, moradia, educação e saúde
(PINSKY; DIAS; KRUGLIANSKAS, 2013).
Na multiplicidade de conceitos e definições do que seja o desenvolvimento sustentável e a
sustentabilidade organizacional ou empresarial, há um senso comum entre autores de que deva ser gerado
com benefícios, simultaneamente, econômicos, sociais e ambientais (CLARO; CLARO, 2014;
GOUVINHAS, 2013; NIDUMOLU; PRAHALAD; RANGASWAMI, 2009; PORTER; KRAMER,
2011).
As organizações envolvidas ativamente no debate sobre a sustentabilidade buscam
constantemente identificar maneiras pelas quais possam desenvolver novas formas de produção e de
gestão de recursos que confluam para o aprimoramento de práticas relacionadas com cada um dos pilares
que a fundamentam (crescimento econômico, preservação ambiental e desenvolvimento social)
(KUZMA; DOLIVEIRA; SILVA, 2017). Sendo que, várias organizações industriais têm investido em
programas ambientais voltados à comunidade empresarial, à melhoria de processos que envolvem
recursos naturais e à conscientização comunidade em que está inserida. Em específico, na indústria de
transformados plásticos a aplicação contínua de estratégia ambiental preventiva integrada a processos

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produtivos que aumentem a eficiência e reduzem os riscos para os seres humanos e o meio ambiente tem
sido uma forma de proporcionar ganhos de longo prazo para as empresas (COMUNELLO; TRINDADE;
DEIMILING, 2017).
Ao analisar, à luz dos indicadores Ethos de Negócio Sustentáveis e Responsáveis (ETHOS,
2016), como e quais são as práticas socioambientais mantidas na fabricação de embalagens plásticas
sustentáveis, este trabalho tem por objetivo geral descrever como a empresa fabricante de embalagens
plásticas EEP promove a gestão da sustentabilidade empresarial em seu negócio.
A empresa objeto do estudo de caso é de grande porte e atua na indústria de transformados
plásticos, operando em atividade de modificação de resina termoplástica granulada ou até mesmo em
flake (resultante do processo de reciclagem de embalagens PET), por meio do processo de extrusão,
injeção, sopro, etc., em produtos de embalagens para alimentos, cosméticos, medicamentos, entre outros.
Consumidas em produtos fabricados pelas mais variadas atividades econômicas, as embalagens plásticas
estão presentes no nosso dia a dia.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As empresas enfrentam cada vez mais o desafio de tornar-se competitivas e atuantes no mundo
dos negócios e ao mesmo tempo atender aos pressupostos da sustentabilidade. Precisam produzir com
qualidade e ao mesmo tempo diminuir a utilização dos recursos naturais, reciclar, não poluir, cuidar dos
resíduos, promover ações em relação aos recursos humanos e à sociedade (COMUNELLO; TRINDADE;
DEIMILING, 2017). Segundo Porter e Kramer (2011) o propósito das corporações não é somente o lucro
por si, mas a criação de valor compartilhado-CVC (não só para os donos e acionistas) com uma ampla
gama de stakeholders (colaboradores, fornecedores, comunidade do entorno, sociedade como um todo).
CVC significa a empresa investir em políticas e práticas operacionais que aprimoram sua competitividade
(PORTER; KRAMER, 2011), induzida a um novo modelo de gestão de negócios que leva em conta, no
processo de tomada de decisão, além do pilar econômico (operar com lucro, mas com ações que dizem
respeito a como as pessoas e as empresas satisfazem suas necessidades), os pilares ambiental (capacidade
de uma organização para fazer negócios de uma forma que minimize a poluição e que se reflete na gestão
prudente dos recursos naturais) e social (condições de trabalho, a diversidade, a remuneração da força de
trabalho, treinamento etc,) (FROEHLICH; BITENCOURT, 2016).
Uma vez que incorporadas as práticas e políticas de sustentabilidade ao modelo de negócio, é
preciso que a empresa disponha de parâmetros para monitorá-las e divulga-las de forma clara aos
interessados, isto é, por meio de indicadores de sustentabilidade, que são ferramentas utilizadas para
auxiliar no monitoramento da operacionalização do desenvolvimento sustentável, sendo a sua principal
função fornecer informações sobre o estado das diversas dimensões (ambientais, econômicas, sociais,
culturais, institucionais, etc.) que compõem o desenvolvimento sustentável do sistema na sociedade
(KEMERICH; RITTER; BORBA, 2014).
Ressalva-se que um dos fatores mais importantes a determinar a significância ou não de um
indicador é a sua legitimidade perante o público usuário, que o reconhece na medida em que o
instrumento mostre ser claro, preciso e fácil de entender. No intuito de oferecer às empresas uma
ferramenta que auxilie no processo de aprofundamento de seu comprometimento com a responsabilidade
social corporativa (RSC) e o desenvolvimento sustentável o Instituto Ethos desenvolveu os indicadores
Ethos, que é o modelo mais popular e mais utilizado no país (SILVA; FREIRE; SILVA, 2014). O modelo
de Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis – ciclo 2015/2016 é organizado em
quatro dimensões (visão e estratégia, governança e gestão; social e ambiental) que se desdobram em
temas, subtemas e um conjunto de 47 indicadores (ETHOS, 2016), e será a matriz para a condução da
análise dos resultados.

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
O presente estudo de natureza exploratória, adotou o estudo de caso como estratégia de pesquisa
(YIN, 2015), e teve como unidades de análise as práticas socioambientais e de responsabilidade social
adotadas por uma empresa de grande porte que desenvolve, manufatura e comercializa embalagens
plásticas sustentáveis, aqui será denominada de EEP (Empresa de Embalagens Plásticas) para os aqui
denominados cliente(s) sustentável(eis), que são compradores que exigem a fabricação de embalagens
com resinas transformadas de resíduos e materiais reciclados. Os dados para fins de exame do fenômeno
da sustentabilidade nas rotinas da empresa foram coletados de três fontes distintas e complementares: a)
entrevistas semiestruturadas com gestores de três departamentos: (EQ-Engenharia e Qualidade,
responsável pela realização das auditorias internas e externas (stakeholders) e do acompanhamento e
avaliação dos indicadores internos de sustentabilidade; EDP-Engenharia e Desenvolvimento de Produtos,
responsável pelo desenvolvimento de novos produtos e adequação dos projetos a estratégia sustentável

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dos clientes; e o CNP-Comercial e Novos Projetos, que acompanha diretamente as solicitações dos
clientes e propõe estratégias para desenvolvimento de produtos sustentáveis, utilizando especialmente
resinas recicladas; b) documentos internos (código de conduta, manual de responsabilidade social,
relatórios de auditoria e de sustentabilidade, site da empresa e vídeo institucional e observação direta); e
c) observação direta de atividades da empresa. As entrevistas foram gravadas e se orientaram por um
roteiro previamente enviado aos entrevistados. Os dados foram tabulados em arquivos textos específicos
e, posteriormente, categorizados, descritos e interpretados, tomando-se por base dimensões ou variáveis
de sustentabilidade e responsabilidade social obtidas previamente da literatura. Os resultados obtidos com
a triangulação de dados das três diferentes fontes são discutidos a seguir.
4. RESULTADOS OBTIDOS
Os resultados obtidos por meio da triangulação de dados coletados de entrevistas, documentos
internos e observação são discutidos a seguir, destacando-os com base nos (número) indicadores
identificados nas quatro dimensões (visão e estratégia; governança e gestão; social e ambiental) do
modelo Ethos de sustentabilidade (ETHOS, 2016).

• Visão e Estratégia
Destacam-se, respectivamente, dois indicadores: (01) estratégia para a sustentabilidade e (02) proposta de
valor. No indicador (01) estratégia para a sustentabilidade, nota-se que a EEP incorpora a
sustentabilidade em suas diretrizes organizacionais, tais como: declaração da visão - “...as embalagens
devem contribuir para a diminuição dos impactos ambientais” e nos seus princípios constam
compromissos específicos com o “meio ambiente (uso dos recursos naturais, sua preservação... e políticas
de destinação correta de rejeitos e descartes nos processos de produção)” e uma gama de stakeholders –
acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores, concorrentes, comunidade. O Manual de
Responsabilidade Social da EEP declara que o “Programa de Sustentabilidade representa uma estratégia,
um processo que integra e passa por todas atividades... e assume compromisso com seus clientes na
gestão ambiental.” A evidência desse compromisso foi ilustrada pelo gerente do EDP ao relatar que “os
projetos destes visam a redução na quantidade de plásticos e a diminuição da utilização de matérias de
origem não renovável. Exemplo disso são as linhas de embalagens que utilizam 100% material reciclado
em sua composição, de resina transformada de garrafas PET retiradas do lixo; Frascos também obtidos de
materiais oriundos de descarte produzidos com resina obtida da cana-de-açúcar, material de fonte
renovável. A EEP tem investido em projetos de engenharia para atender as necessidades dos clientes e
lançar inovações com vinculo sustentável. As ações de sustentabilidade estão diretamente ligadas à
estratégia de crescimento e competitividade da EEP, visto que os grandes clientes sustentáveis têm metas
para reutilização de resíduos em seus produtos, sendo que a cadeia de reciclagem de plásticos está ainda
em desenvolvimento e com baixa capacidade. Com essas oportunidades, a EEP tem investido recursos no
aumento da capacidade produtiva de resinas recicladas no processo de expansão de seus negócios.” No
indicador (02) proposta de valor dessa mesma dimensão, a sustentabilidade se destaca nos processos de
desenvolvimento de produto e marketing, uma vez que todos os lançamentos de novos produtos estão
diretamente ligados à redução no uso do polietileno na composição das embalagens fabricadas pela EEP,
sendo gradativamente substituídos por resinas recicladas. Segundo o gestor do C&NP um diferencial
competitivo é que a EEP é a única corporação com quatro unidades de negócio (economia de escala) apta
a fornecer embalagens 100% de matéria prima reciclada. Tanto é que nas decisões de lançamento de
novos projetos o fator sustentabilidade tem maior importância sobre o quesito custos.

• Governança e Gestão
Destacam-se, respectivamente, quatro indicadores nessa dimensão: (04) código de conduta; (17) sistema
de gestão de fornecedores; (18) mapeamento dos impactos da operação e gestão de riscos e (19) Gestão
da Responsabilidade Social Empresarial-RSE e a Sustentabilidade. Sobre o (04) Código de Conduta é
documento que formaliza a “política integrada dos sistemas de qualidade, meio ambiente e
responsabilidade social”, que é fundamentada nos requisitos da Norma SA 8000. Nele a EEP reafirma seu
compromisso ético com a sustentabilidade e reitera a política de responsabilidade social detalhada no
Manual de Responsabilidade Social. No indicador (17) Sistema de gestão de fornecedores a gestora do
departamento de EQ, responsável pelas auditorias internas e externas, destaca que o processo de auditoria
da EEP classifica o desempenho do parceiro quanto aos requisitos: a) avaliação do sistema de garantia da
qualidade; b) boas práticas de fabricação; e c) sistema de gestão ambiental, neste exigindo que a empresa
esteja amparada nos aspectos legais, além de identificar quais são os aspectos ambientais e os potenciais
impactos ao meio ambiente, considerando a gestão das águas, gestão dos resíduos produzidos e
resultantes das atividades desenvolvidas pelo fornecedor, gestão da emissão de gases atmosféricos desde
a produção até a gestão de operações e transportes, e indicadores de desempenho ambiental; e a

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responsabilidade social corporativa onde geramos uma carta onde os fornecedores se comprometem a
cumprirem todos os requisitos e tópicos da norma SA800, garantindo que eles não adotem práticas
condizentes com o Trabalho Infantil, trabalho análogo a escravo. Quanto ao indicador (18) Mapeamento
e gestão dos impactos de suas operações e gestão de riscos, anualmente a empresa faz a aplicação da
ferramenta do Programa Brasileiro GHG Protocol vinculado FGV- GVCes. Neste programa é feito um
inventário de emissão de gases do efeito estufa. Tendo como algumas áreas de abrangência a análise da
emissão de gases do setor de transportes, gasolina. A empresa faz um levantamento, onde ela identifica os
aspectos e faz uma avaliação dos impactos ambientais, e dentro das atividades é abordada a manufatura,
remoção de resíduos, transportes de matérias primas, recarga de extintores, limpeza de fossas sépticas,
varrição fabril, manutenção civil e predial, assim como: análise de água para consumo humano, venda de
cartuchos de impressoras, manutenção de luminárias, então a empresa cuida desses cenários.
No indicador (19) Gestão da Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade tem-se dois
programas: PET, onde os colaboradores são estimulados a trazer garrafas pets, que são compradas pela
empresa, que premia os três funcionários com maior volume de material de reciclagem; e o de
Capacitação de Cooperados, em que nas cooperativas homologadas pelos clientes sustentáveis o catadores
são treinados, na seleção e higienização de materiais e no uso adequado de EPIs (equipamentos de
proteção individual), e certificados trimestralmente pela EEP.
• Social
Considera-se, respectivamente, três indicadores sociais: (27) Compromisso com o Desenvolvimento
Profissional; (35) Compromisso com o Desenvolvimento da Comunidade e Gestão das ações sociais; e
(36) Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores. No (27) Compromisso com o Desenvolvimento
Profissional a EEP mantém o Programa Escola Empresa com ações de garantia de acesso e permanência
ao ensino superior e ensino técnico para seus colaboradores. Quanto ao (35) Compromisso com o
Desenvolvimento da Comunidade e Gestão das ações sociais a comunidade externa é contemplada pelo
programa de alfabetização e Educação de Jovens e Adultos; mantendo também em funcionamento um
Instituto de orientação e formação profissional para jovens, bem como preparação para a inserção deles
no mercado de trabalho. Já nas ações de (36) Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores, a EEP
também mantém uma grande parceria com cooperativas de reciclagens de materiais acompanhando-as
desde o processo de homologação pelos clientes sustentáveis, compra de materiais e EPIs (equipamentos
de proteção individual), treinamentos e formação para os cooperados como iniciativa em parceria com um
grande cliente sustentável que exige a aquisição de materiais pet destas cooperativas homologadas para a
transformação da resina no processo produtivo.
• Ambiental,
Nessa quarta dimensão do modelo Ethos são três indicadores, respectivamente, identificados: (39)
Sistema de Gestão Ambiental; (42) Uso Sustentável de Recursos: água; e o (43) Uso Sustentável de
Recursos: energia. No indicador (39) sistema de gestão ambiental. a empresa dispõem de instrumentos de
controle sobre a geração de: a) sacos plásticos no processo produtivo e em outras atividades; b) sucata de
papel e papelão em todas as áreas da empresa, sendo o consumo mensal de 21.388 kg; c) geração de lixo
orgânico, que avalia o descarte de material orgânico decorrente do desperdício da cozinha e refeitório; d)
controle do material reciclado pet, do programa interno de compra de material dos trabalhadores, hoje a
média é de 89 kg que os funcionários trazem e vendem para a empresa; e) reciclagem dos resíduos de
produção. Quanto ao (42) Uso Sustentável de Recursos: água na coleta de água é considerado todo
consumo das áreas industrial, administrativa e cozinha. A EEP dispõe de poço artesiano e nele é avaliado
o nível de consumo interno e externo de água e também de sistema de reaproveitamento e recuperação de
água, com fins de tratamento de efluentes, redução de consumo e conscientização dos colaboradores. No
(43) Uso Sustentável de Recursos: energia coleta-se informações do consumo mensal da área industrial,
bem como do administrativo com vistas a programas de racionalização do consumo.
O Quadro 1 sintetiza, de acordo com indicadores ETHOS, os estágios de maturidade em que se
encontram as práticas de sustentabilidade e RSE da EEP. Sendo os estágios 1 o mais básico e o 5 mais
evoluído representam o estado evolutivo da empresa, sendo que no estágio: 1 trata o tema de forma
incipiente; 2 desenvolve iniciativas e implementa práticas correntes; 3 adota políticas formalizadas e
implementa processos para promover valores; estágio 4 mensura benefícios e os considera nas tomadas de
decisão e gestão de riscos (incluindo a cadeia de valor); e estágio 5 passou por transformações e
inovações para a geração de valores e atualização de suas práticas. Para determinação do estágio de
maturidade em que se classificam os 12 indicadores identificados, adotou-se como critério o maior
número de respostas “sim” que a EEP confirma para os conjuntos de práticas discriminadas ao longo dos
cinco estágios que integram o modelo de diagnóstico (ETHOS, 2016). O resumo do Quadro 1 apresenta
como o Instituto ETHOS, com seus indicadores, responde a cada uma das quatro dimensões. Em todas as
quatro dimensões a EEP tem, pelo menos, um indicador na maturidade 3 e/ou 4, o que denota que

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estratégias e ações de sustentabilidade constam das rotinas organizacionais, e não estão apenas no campo
da retórica (SILVA; FREIRE; SILVA, 2014). Na dimensão Governança e Gestão indicadores mostram
que as estratégias de sustentabilidade estão focadas em ações voltadas aos fornecedores e ao público
interno. Enquanto é nas dimensões Social e Ambiental que há mais indicadores em estágios mais altos de
maturidade. Por outro lado, a dimensão dos indicadores com menor participação dos seus indicadores
específicos são Governança e Gestão, Social e Ambiental. Na Social e Ambiental, possivelmente, porque
o estudo coletou poucos dados relativos à gestão de pessoas e às operações industriais ou também um
sinal de práticas pouco evidentes no sistema organizacional, de modo que possam ser facilmente
reconhecidas pela maioria dos colaboradores.
Quadro 1. Estágios de maturidade das práticas de sustentabilidade e RSE da EEP

Estágio de
Dimensão Indicador Descrição
maturidade

(01) Adota políticas,


Visão e
estraté
gia

3 procedimentos e sistema
(02) de gestão
(04) Políticas, procedimentos
Governança

3
e Gestão

(17) e sistema de gestão


(18) Dispõe de inciativas e
2
(19) práticas
(27) Dispõe de inciativas e
Social

2
(35) práticas
(36) 4 Eficiência
Políticas, procedimentos
(39) 3
Ambiental

e sistema de gestão
(42) 4 Eficiência
Dispõe de inciativas e
(43) 2
práticas
Fonte: elaborado pelos autores
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados da presente pesquisa, três considerações merecem ser destacadas,
quanto: as estratégias e ações de sustentabilidade; os indicadores de sustentabilidade; e a necessidade de
alinhamento na gestão da sustentabilidade. A primeira é que a atuação da empresa objeto do estudo
direciona suas ações e estratégias de sustentabilidade social e ambiental de forma integrada com a
estratégia de crescimento do negócio, pois é exatamente em escopos geográficos (por exemplo, região
nordeste) onde as temáticas da sustentabilidade e da responsabilidade social empresariais na cadeia do
plástico ainda não tiveram alcance é que a empresa estudada está buscando expandir suas unidades de
negócio. A segunda é que sobre os estágios de maturidade dos indicadores identificados paira a
necessidade uma avaliação mais qualitativa quanto ao atendimento simultâneo de interesses e
necessidades de múltiplos stakeholders, o que representa uma pressão grande sobre eles enquanto fontes
reais de informação e orientação para as decisões estratégicas de sustentabilidade. No que diz respeito aos
indicadores Ethos, embora possa se tratar de ferramenta que auxilia na orientação geral sobre o estágio de
sustentabilidade e RSE da empresa, são insuficientes para uma aplicação mais prática. Por fim, é que
quando se trata de gestão da sustentabilidade parece necessário que se faça o alinhamento entre as
diretrizes estratégicas (princípios, compromissos, visão, políticas e condutas), as práticas socioambientais
adotadas e os mecanismos de acompanhamento (indicadores e relatórios de sustentabilidade),
antecipadamente ao mapeamento dos impactos e da avaliação de indicadores, do contrário é difícil
afirmar e reconhecer a sustentabilidade empresarial na perspectiva integrada da triple bottom line.

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6. REFERÊNCIAS
CLARO, P. B. D. O.; CLARO, D. P. (2014). Sustentabilidade estratégica: existe retorno no longo prazo?
Revista de Administração, São Paulo, v. 49, n. 2, p. 291-306.
ETHOS - Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2016) Indicadores Ethos para Negócios
Sustentáveis e Responsáveis – Ciclo 2015/2016.
FROEHLICH, C.; BITENCOURT, C.C. (2016). Sustentabilidade empresarial: um estudo de caso na
empresa Artecola, Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade-GeAs, v. 5., n. 3, p.55-71.
GOUVINHAS, R.P. (2013). Estratégias da organização para o desenvolvimento sustentável- motivadores
mercadológicos para o desempenho ambiental. In: Gestão ambiental de unidades produtivas. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2013. p. 55-87.
KEMERICH, P.D.C.; Luciana Gregory RITTER, L.G.; BORBA, W.F. (2014). Indicadores de
sustentabilidade ambiental: métodos e aplicações. Revista Monografias Ambientais – REMOA, v. 13, n. 5,
p. 3723-3736.
KUZMA, E.L.; DIAS, S.L.; SILVA, A.Q. (2017). Competências para a sustentabilidade organizacional:
uma revisão sistemática. Cadernos EBAPE.BR, v. 15, p. 428-444.
NIDUMOLU, R.; PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. (2009). Why Sustainability is Now the
Key Driver of Innovation. Harvard Business Review, v. 87, n. 9, p. 56-64.
PINSKY, V.C.; DIAS, J.L.; KRUGLIASKAS, I. (2013). Gestão estratégica da sustentabilidade e
inovação. Revista de Administração da UFSM , v. 6, n. 3, p. 465-480.
PORTER, Michael. E.; KRAMER, Mark. R. The big idea: Creating shared value. Harvard Business
Review, 89(1), 2-17, 2011.
SILVA, E.A.; FREIRE, O.B. de L.; SILVA, F.Q.P. de O. (2014). Indicadores de sustentabilidade como
instrumento de gestão: uma análise da GRI, ETHOS e ISE. Revista de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade-GeAs, v. 3., n. 1, p. 130-148.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos: planejamento e métodos. 5ª. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2015.

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CAPÍTULO 3
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

APLICAÇÃO DA ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS PARA AVALIAÇÃO


DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE EM INDÚSTRIAS DE
PAPEL E CELULOSE DO BRASIL

Mirella De Paola Padovani 1, Denise Helena Lombardo Ferreira2

1. Graduanda em Engenharia Química da PUC-Campinas. E-mail: mirelladpp@gmail.com


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: lombardo@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Frente à temática do Desenvolvimento Sustentável e a importância de avaliar a eficiência de empresas no
que diz respeito à produtividade e à geração de resíduos, essa pesquisa teve por objetivo avaliar os
indicadores para analisar a sustentabilidade de empresas de papel e celulose atuantes no Brasil, visto a
importância desse setor para a economia do país. A seleção das empresas foi feita a partir dos Indicadores
de Sustentabilidade sugeridos pela Global Reporting Initiative e dos dados divulgados pelas empresas em
seus Relatórios de Sustentabilidade para o ano de 2016. Para a realização dessa análise utilizou-se da
ferramenta Análise Envoltória de Dados (DEA) e do Método I-O Stepwise exaustivo completo para
avalizar os melhores indicadores para a análise da sustentabilidade das empresas selecionadas. Os
resultados obtidos mostraram coerência entre os indicadores mais adequados para a avaliação da
sustentabilidade e para a aplicação do modelo.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Indicadores de Sustentabilidade, Papel e Celulose

1. INTRODUÇÃO
Com a Revolução Industrial um grande avanço no desenvolvimento de técnicas acelerou os
processos produtivos como um todo. Contudo, na busca por matérias-primas, muitos biomas foram
significativamente afetados e animais foram extintos, e essa devastação ambiental continua sendo uma
grande preocupação até hoje.
Além disso, com a falta de conhecimento sobre as consequências ocasionadas por essas
mudanças nos processos produtivos, as indústrias alteraram o equilíbrio natural do planeta, na medida em
que se tornaram altamente poluidoras e geradoras de resíduos. A partir dessa degradação ambiental e do
aumento da poluição houve uma queda na qualidade de vida das pessoas (BOFF, 2012).
Nesse sentido, representantes de todo o mundo, pesquisadores e as Nações Unidas, se reuniram a
fim de encontrar uma solução para esse problema, culminando no conceito do Desenvolvimento
Sustentável. A proposta desse novo conceito é melhorar a eficiência dos processos produtivos a partir da
redução do uso de matérias-primas e da geração de resíduos sem interferir na quantidade ou na qualidade
dos bens produzidos (MACIEL, 2017).
Para atingir esse objetivo, diversos países ao redor do mundo passaram a desenvolver leis que
obrigam as empresas a reduzirem suas emissões de carbono, a presarem pelo meio ambiente, além de
iniciarem políticas de educação ambiental com incentivo à reciclagem, por exemplo. As empresas por sua
vez, perceberam que uma melhoria na eficiência de seus processos produtivos resultaria em um aumento
dos ganhos a longo prazo, a reciclagem de seus materiais significaria uma diminuição nos gastos com
insumos. Além disso, o desenvolvimento de novos métodos de produção que utilizassem recursos
naturais reduziria a possibilidade de levar a empresa à falência, em caso de esgotamento dos recursos não
renováveis (JAPPUR et al., 2008).
Na busca pelo Desenvolvimento Sustentável, as corporações cada vez mais superam seus
recordes de produção sem aumentar, na mesma proporção, os níveis de insumos necessários. Uma das
alternativas que viabiliza essa melhoria no desempenho é o reaproveitamento dos resíduos industriais.

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Isso, somado a outros Indicadores de Sustentabilidade, pode possibilitar a criação de um modelo para
medir os níveis de sustentabilidade na esfera empresarial.
No Brasil, o setor de papel e celulose é um grande poluidor e gerador de resíduos, mas com uma
importância significativa para o crescimento e desenvolvimento do país como um todo. O setor de plantio
de árvores contribuiu em 2016 em 6,2% no Produto Interno Bruto Industrial, no qual o segmento de
produção de papel e celulose é o maior entre todos (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES, 2017).
Por isso, faz-se necessário o estudo da eficiência produtiva nos conceitos do Desenvolvimento
Sustentável dessas indústrias para que elas tenham o mínimo impacto possível sobre o meio ambiente,
sem que deixem de contribuir para o crescimento do país.
Esse trabalho vai de encontro a esses conceitos, objetivando a aplicação de um modelo
matemático para avaliação dos Indicadores de Sustentabilidade utilizados na avaliação do setor papeleiro,
a fim de possibilitar uma comparação entre as organizações, além da proposição de novos indicadores
para enriquecer futuras análises.

2. METODOLOGIA
Para a execução dessa tarefa, uma estruturação de conhecimentos básicos sobre o assunto foi
realizada. Referente ao conhecimento da temática do Desenvolvimento Sustentável e da importância do
setor de papel e celulose no Brasil foi pesquisado o processo de fabricação desses bens para selecionar os
indicadores mais adequados para uma análise inicial como também para ao final da pesquisa ser capaz de
propor outros Indicadores. Em seguida, estudou-se sobre o modelo matemático a ser utilizado na análise
das eficiências das indústrias.

2.1. Processo produtivo da Celulose e do Papel


O processo produtivo mais empregado na fabricação de celulose e papel é o Kraft, que consiste
em sete etapas principais, sendo elas: preparação da madeira, cozimento, lavagem, deslignificação,
branqueamento e secagem.
Na preparação da madeira, ela é picada e peneirada e segue para um tanque de cozimento no qual
a partir da adição do licor branco são separadas a celulose, as hemiceluloses e a lignina. Após o término
dessa etapa, a mistura é lavada diversas vezes para que a celulose seja isolada dos demais produtos do
cozimento. Por fim, essa celulose é branqueada – no caso de papéis do tipo imprimir e escrever – para que
possa ser prensada, cortada e distribuída na forma de papel (PIOTTO, 2003).

2.2. Modelo Análise Envoltória de Dados


A ferramenta Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis – DEA) é muito
utilizado para medir a eficiência de unidades de tomada de decisão (DMU’s), pois é um método não
paramétrico que se baseia em técnicas de Programação Linear.
Além das eficiências, o modelo também é capaz de fornecer metas e benchmarkings para que as
DMU’S ineficientes possam atingir a fronteira de eficiência (SUGUIY, 2017).
A aplicação do DEA normalmente é feita a partir de dois modelos tradicionais. O primeiro
trabalha com retornos constantes de escala (CRS), enquanto o segundo trabalha com retornos variáveis
(VRS). No primeiro, há uma menor quantidade de DMU’S eficientes, enquanto que no segundo essa
proporção tende a ser maior. Tendo em vista que nesta pesquisa foram analisadas poucas empresas,
apenas o modelo CRS foi utilizado.
Neste modelo, o conceito de eficiência consiste em comparar as unidades produtivas a partir do
montante por elas gerado e de uma quantidade limitada de recursos. Os recursos são denominados de
variáveis de entrada (inputs), enquanto que aos produtos denomina-se variáveis de saída (outputs).
Portanto, para que se possa atingir a eficiência, as DMU’s podem: reduzir os recursos utilizados
mantendo constante a produção ou o inverso. Ao primeiro caso, denomina-se orientação input – utilizada
nesta pesquisa – enquanto para o inverso, orientação output (ÂNGULO-MEZA et al., 2005). As equações
que descrevem esses modelos, respectivamente, encontram-se formalizadas a partir das equações (1) à (4)
e (5) à (8).

= (1)

Sujeito a

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=1 (2)

− ≤ 0, ∀ (3)

, ≥ 0, ∀ , (4)

ℎ = (5)

Sujeito a

=1 (6)

− ≤ 0, ∀ (7)

, ≥ 0, ∀ , (8)

Nas representações acima, a eficiência é dada por e ℎ "1# $, nas quais para DMU o
em análise são atribuídos os pesos aos inputs , tal que i=1,....,r; e os pesos aos outputs , tal que
são numerados de j=1,....,s. Também são atribuídos os pesos e aos inputs i e outputs j das demais
DMU’s k, tal que k=1,....,n.
Para esta pesquisa foi utilizado o programa SIAD (Sistema Integrado de Apoio à Decisão) (ÂNGULO-
MEZA et al., 2005).

2.3. Seleção das Variáveis e DMU’s


Para a aplicação do modelo DEA, define-se que as empresas analisadas representam as DMU’s e
os Indicadores de Sustentabilidade são as variáveis, as quais podem variar entre inputs e outputs.
O critério de seleção das empresas analisadas foi considerar empresas integradas de papel ou
empresas produtoras de celulose que comumente divulgam Relatórios de Sustentabilidade. Os dados
coletados são referentes às operações do ano de 2016. Já os indicadores selecionados basearam-se na
disponibilidade dos dados adquiridos, pois algumas empresas apesar de divulgarem seus relatórios
seguindo um formato padronizado sugerido pela Global Reporting Iniciative (GRI), não disponibilizam
todas as informações em seus relatórios.
Por esse motivo, nem todas as empresas que divulgaram seus Relatórios de Sustentabilidade
foram selecionadas para análise.
A partir da definição do critério de seleção das empresas, concluiu-se que para a utilização dos
Indicadores de Sustentabilidade mais presentes nos Relatórios, foi possível a utilização dos dados de sete
principais empresas do setor.
Os Indicadores selecionados buscaram relacionar as dimensões econômica e ambiental da
Sustentabilidade, sendo eles:
1) Resíduos (ton): Soma do peso dos resíduos perigosos e não perigosos gerados;
2) Água (m3): Total de água retirada;
3) Escopo 1 (ton de CO2): Total de emissões diretas de Gases do Efeito Estufa;
4) Energia (GJ): Total de energia elétrica requerida na produção;
5) Plantio (ha): Área total destinada ao plantio de árvores;
6) Produção (ton): Toneladas de papel e/ou celulose produzidos;
7) Reciclagem (ton): Peso total de resíduos reciclados;
8) Preservação (ha): Área total destinada à preservação de biomas naturais: Área de preservação (Área
de Preservação Permanente e Reserva Legal) e Reserva Particular do Patrimônio Natural.
9) Receita (R$): vendas líquidas ou receita líquidas.

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2.4. Aplicação do Modelo Análise Envoltória de Dados


Para a seleção dos Indicadores de Sustentabilidade mais adequados para a comparação dos níveis
de sustentabilidade entre as empresas utilizou-se o Método I-O Stepwise exaustivo completo, cujo
algoritmo se baseia nas seguintes etapas (SENRA et al., 2007):
1) Calcular a eficiência média de cada par input-output possível. Para cada resultado calcula-se a
eficiência média de todas as DMU’s;
2) Escolher o par input-output inicial que gerou a maior eficiência média;
3) De posse do par inicial, rodar o modelo com mais uma variável, um para cada variável que ainda
não foi incluída no modelo;
4) Calcular a eficiência média para cada variável acrescentada.
5) Escolher para entrar no modelo a variável que gerou a maior eficiência média seguinte;
6) Verificar se o aumento da eficiência foi significativo. Em caso afirmativo, repetir o terceiro passo.
Caso contrário, retirar a última variável incluída e finalizar o processo.

O Método I-O Stepwise exaustivo completo leva em conta a identificação dos indicadores que
mais contribuem para o aumento da eficiência das DMU’s analisadas, de modo que se localizem o mais
próximo possível da fronteira. Dessa forma, ao serem adicionadas variáveis, aquelas que pouco
contribuírem para a eficiência média do modelo podem ser eliminadas da análise.
Este modelo não exige conhecimento para intervenção de um agente de decisão e torna-se
interessante para estabelecer relações causais entre as variáveis. Porém, por permitir que poucas DMU’s
se mantenham na fronteira de eficiência pode não haver discriminação.
A única intervenção no modelo é a decisão do avaliador em interromper a análise, isto é, quando
a inserção de uma nova variável não apresentou o aumento significativo da eficiência média (SENRA et
al., 2007).
Dentre os Indicadores de Sustentabilidade selecionados aqueles que devem ser minimizados,
portanto os inputs, são: Resíduos, Água, Escopo 1, Energia e Plantio. Já os que devem ser maximizados,
isto é, os outputs, são: Produção, Reciclagem; Preservação e Receita.
Conforme gerido pelo modelo, realizou-se inicialmente a análise para cada input-output possível,
classificou-se as eficiências médias em ordem crescente e a adição de variáveis foi realizada de duas
maneiras:
• Para cada input adicionou-se os outputs iniciando pelos que apresentaram maior eficiência média
para os com menores;
• Para cada output adicionou-se os inputs da mesma forma que a anterior.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme descrito na seção 2.4, a primeira etapa do Método I-O Stepwise exaustivo completo é
a realização de rodadas para cada par input-output possível. Esses resultados encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1. Eficiências médias para cada par input-output possível


Produção Receita Reciclagem Preservação
Resíduos 0,4917267 0,1434004 0,4897694 0,3094071
Água 0,1566479 0,1573794 0,1482124 0,1566483
Escopo 1 0,4703967 0,1431766 0,3092061 0,5104996
Energia 0,1725039 0,1637837 0,2867070 0,1623554
Plantio 0,5205480 0,1431846 0,3451537 0,5606319
Fonte: Elaborada pelos autores.

A etapa seguinte foi a adição das variáveis ao par input-output com maior eficiência média, a
qual foi realizada de duas maneiras, pela adição apenas de inputs e a seguinte pela adição apenas de
output, como descrito. Para tanto, a partir do output com seu par de maior eficiência, foram sendo
adicionados inputs em ordem crescente de eficiência média até um máximo de três inputs por rodada. Da

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mesma forma a partir do input com seu par de maior eficiência média, foram adicionados outputs em
ordem crescente de eficiência média até um máximo de três outputs por rodada.
Esse critério de seleção foi adotado, pois, para evitar baixa discriminação dos resultados, deve
ser obedecida a relação: o dobro da multiplicação entre o número de inputs e outputs não deve ser
superior ao número de DMU’s avaliadas (SOUZA et al., 2017).
Os resultados obtidos com as rodadas realizadas estão representados nas Tabela 2 e Tabela 3,
com a adição de inputs, ou outputs, respectivamente.

Tabela 2. Adição de inputs a cada um dos outputs avaliados


Outputs Produção
Input Plantio + Resíduos + Escopo 1
Eficiências
0,520548 0,73926157 0,86641286
Médias
Outputs Receita
Input Energia + Água + Resíduos
Eficiências
0,16378371 0,17704886 0,17704914
Médias
Outputs Reciclagem
Input Resíduos + Plantio + Escopo 1
Eficiências
0,48976943 0,50017429 0,50017429
Médias
Outputs Preservação
Input Plantio + Escopo 1 + Resíduos
Eficiências
0,56063186 0,75601586 0,91138957
Médias
Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 3. Adição de outputs a cada um dos inputs avaliados


Input Resíduos
Outputs Produção + Reciclagem + Preservação
Eficiências
0,491726714 0,681536429 0,741267714
Médias
Input Água
Outputs Produção + Receita + Preservação
Eficiências
0,156647857 0,318755143 0,479257857
Médias
Input Escopo 1
Outputs Preservação + Produção + Reciclagem
Eficiências
0,510499571 0,795028857 0,841467714
Médias
Input Energia
Outputs Reciclagem + Produção + Receita
Eficiências
0,286707 0,402777571 0,551152429
Médias
Input Plantio
Outputs Preservação + Produção + Reciclagem
Eficiências
0,560631857 0,716949286 0,880544286
Médias
Fonte: Elaborada pelos autores.

Foi adotada a seguinte convenção, o sinal positivo (+) refere-se, na Tabela 2, ao acréscimo de
mais um input na rodada partindo do par input-output com maior eficiência média e encerrando com os
três inputs representados; e na Tabela 3, ao acréscimo de mais um output na rodada partindo do par input-
output com maior eficiência média e encerrando com os três outputs representados.
A observação e análise dos resultados obtidos, possibilitou chegar a algumas conclusões.
Primeiramente, pode-se notar que para algumas rodadas não é preciso a adição de uma terceira variável,
pois o aumento não é significativo, o que de acordo com o modelo significa que esta terceira variável

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pode ser desconsiderada na análise. Esta ocorrência pode ser claramente observada na Tabela 2, nos
Indicadores: Receita e Reciclagem. Uma análise criteriosa individual possibilitaria a exclusão de outras
variáveis, caso o avaliador conclua que não houve crescimento significativo nos valores de eficiência.
Em seguida, observa-se que não necessariamente um par input-output apresenta maior eficiência
média exclusivamente um com o outro. Isto é, o parâmetro Resíduos apresenta maiores valores de
eficiência média com o parâmetro Produção, porém esta apresenta maior valor de eficiência média com
parâmetro Plantio. Essas relações de maiores eficiências médias em ordem de prioridade (1, 2 ou ≤3) de
acordo com cada par input-output possível estão ilustradas a partir da Tabela 4.

Tabela 4 – Conclusões com base nas eficiências médias mais altas


Outputs

Preservação
Reciclagem
Produção

Receita

Match
Input
Inputs

Resíduos 1 ≤3 1 ≤3 2
Água 1 2 ≤3 ≤3 1
Escopo 1 2 ≤3 ≤3 1 1
Energia 2 1 1 ≤3 2
Plantio 1 ≤3 ≤3 1 2
Match
3 1 2 2
Output
Fonte: Elaborada pelos autores.

Em que Match Output é a soma do número de inputs que apresentaram maior eficiência média
com o output definido, por exemplo, Produção apresenta maior eficiência média com o input Resíduos,
Água e Plantio. Enquanto que Match Input é a soma do número de outputs que apresentaram maior
eficiência média com o input definido, por exemplo, Resíduos apresenta maiores valores de eficiência
média com Produção e Reciclagem.
A seguir são esclarecidas as análises individuais de cada variável selecionada para aplicação do
modelo a partir da observação da Tabela 4.

4.1. Produção
Observa-se que o output Produção apresentou maiores valores de eficiência média para os inputs
Resíduos, Água e Plantio. Esse resultado pode ser interpretado como uma relação causal entre a entrada e
saída de materiais no processo de produção do papel. Dessa forma, os inputs Água e Escopo 1
representariam relações causais, porém indiretas.
Neste caso, seria válido a análise da variação nos valores de eficiência com a introdução dos
demais indicadores referentes à produção, como por exemplo, saída de efluentes e entrada de outras
matérias-primas, como o licor branco responsável pela separação da celulose dos demais componentes da
madeira.

4.2. Receita
A variável Receita apresentou Match Output apenas com Energia. Dessa forma, pode-se
interpretar que o consumo energético de uma organização tem influência direta no faturamento da
organização, da mesma forma que a Água, porém em menor proporção. Portanto, reduzir os gastos com
energia seria a melhor alternativa para aumentar a eficiência produtiva da empresa e, como consequência
aumentaria a sua Receita. Para complementação desta relação pode ser estudada as influências sobre o
uso de fontes de energia renováveis e não renováveis na receita das empresas.

4.3. Reciclagem
Reciclagem apresentou maiores valores de eficiência com Resíduos e Energia. Este resultado
pode ser interpretado de forma que a reciclagem é diretamente proporcional à geração de resíduos e ao
gasto energético da planta, isto é, grande parte da Energia é gasto para tratamento dos resíduos gerados
pela indústria.

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4.4. Preservação
Preservação apresentou Match Output com Escopo 1 e Plantio. A única relação que poderia ser
estabelecida é o fato dessas áreas de cultivo serem as principais responsáveis pela captura dos Gases de
Efeito Estufa (GEE) lançados diretamente na atmosfera. O modelo pode também ter identificado
proporções entre as áreas destinadas ao plantio e a preservação, aumentando a eficiência média de cada
empresa.

4.5. Resíduos
A partir da observação da Tabela 4 e das análises descritas em cada uma das subseções
anteriores, pode-se evidenciar que Indicador Resíduo é adequado na análise da eficiência das empresas de
papel e celulose quando analisado juntamente com os Indicadores Produção e Reciclagem, os quais
podem estar relacionados com o balanço material da produção e à reciclagem dos rejeitos gerados.

4.6. Água
O input Água apresentou maior eficiência média apenas com o output Produção e em segundo
plano com a Receita. Considerando a crescente preocupação com os recursos hídricos é válida a busca por
outros Indicadores que possam demonstrar relação mais direta entre um par input-output do que as
observadas neste estudo.

4.7. Escopo 1
Da mesma forma que a Água, o input Escopo 1 apresentou maios eficiência média apenas com o
output Preservação, talvez pelo fato desses Indicadores se balancearem, uma vez que essas áreas
capturam as emissões de GEE lançados na atmosfera. Dependendo do objetivo da análise, este indicador
poderia ser desconsiderado, não apresentando relação causal entre um e outro. Para estudos futuros,
poderiam ser analisados outros Indicadores para avaliação da eficiência das empresas no que diz respeito
a este input.

4.8. Energia
Este Indicador apresentou Match Input com Receita e Reciclagem, e em segundo plano com a
Produção. Portanto, mostra-se como um importante fator para análise da eficiência de empresas de papel
e celulose. Dessa forma é válida a ampliação do estudo para identificação de outras relações que variável
Energia possa ter com outros Indicadores para avaliação da sustentabilidade do setor papeleiro.

4.9. Plantio
O input Plantio apresentou eficiência máxima com Produção e Preservação. Esse resultado pode
evidenciar uma relação causal com Produção pelo fato de expressar a matéria-prima principal do processo
de extração da celulose e também ter apresentado grande eficiência com Preservação por serem
semelhantes entre si.

5. CONCLUSÃO
O Método I-O Stepwise exaustivo completo tem sido pouco empregado nas aplicações com a
Análise Envoltória de Dados, sendo sugerido apenas para análises mais complexas para seleção de
variáveis a serem utilizadas na ferramenta DEA. Contudo, este estudo demonstrou que método I-O
Stepwise é de fácil aplicação e apresenta resultados coerentes e com relações causais evidentes. Vale
destacar a necessidade de um número elevado de rodadas a serem realizadas a fim de possibilitar
conclusões adequadas.
Além disso, há poucos estudos sobre o setor papeleiro no Brasil, o qual apresenta grande
relevância econômica no país e é considerado altamente poluidor por utilizar e gerar produtos químicos
prejudiciais ao meio ambiente. Por esse motivo é extremamente importante avaliar a eficiência das
empresas de papel e celulose, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade.
Dessa forma essa pesquisa cumpriu seu objetivo, na medida em que a partir do Método I-O
Stepwise exaustivo completo foi capaz de avaliar quais Indicadores são mais adequados na análise da
eficiência das empresas, no que se refere às variáveis que podem ou devem ser consideradas, uma vez que

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o método foi capaz de estabelecer relações causais entre os Indicadores testados. Porém, vale ressaltar que
a ausência de uma fundamentação teórica sobre o tema inviabiliza o estabelecimento dessas relações, bem
como impossibilita obter as conclusões apresentadas nesta pesquisa.
Além disso, a aplicação do método apresentou flexibilidade na utilização, uma vez que um
mesmo Indicador, seja ele input ou output, em geral obteve boa relação com mais de um de seus opostos.
Como já exemplificado anteriormente, o input Resíduos demonstrou dentre os outputs, maior eficiência
média com a Produção, porém, não necessariamente este mesmo output apresenta maior valor de
eficiência média dentre todos os inputs. Da mesma forma, o output Reciclagem apresenta maior eficiência
média com o input Resíduos, o qual apresenta maior eficiência média com o output Produção.
Portanto, a partir destes resultados podem ser realizadas novas análises mesclando inputs e
outputs, utilizando mais de um deles para um maior número de empresas avaliadas, complementando este
estudo sobre a aplicação de Indicadores de Sustentabilidade no Modelo DEA, a fim de avaliar a eficiência
dessas empresas e sua preocupação ambiental e econômica alinhado ao Desenvolvimento Sustentável.

6. REFERÊNCIAS

ÂNGULO-MEZA, L. et al. ISYDS-Integrated System for Decision Support (SIAD-Sistema Integrado de


Apoio à Decisão): a software package for data envelopment analysis model. Pesquisa Operacional, v.
25, n. 3, p. 493-503, 2005.
BOFF, L. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petropólis, RJ: Vozes, 2012.
INDÚSTRIA BRASILIERA DE ÁRVORES. Relatório Anual, 2017. Disponível em:
<http://iba.org/pt/biblioteca-iba/publicacoes>. Acesso em: 05 ago. 2018.
JAPPUR, R. F. et al. A visão de especialistas sobre a sustentabilidade corporativa frente às diversas
formações de cadeias produtivas. Revista Produção Online, v. 8, n. 3, 2008.
MACIEL, H. M.; KHAN, A. S. O Índice de Ecoeficiência em âmbito internacional: uma análise
comparativa do desempenho de 51 países entre os anos de 1991 e 2012. Sustentabilidade em Debate, v.
8, n. 1, p. 125-140, 2017.
PIOTTO, Z. C. Eco-eficiência na Indústria de Celulose e Papel-Estudo de Caso. Tese (Doutorado).
Faculdade de Engenharia Hidráulica e Sanitária. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2003.
SENRA, L. F. A. de C. et al. Estudo sobre métodos de seleção de variáveis em DEA. Pesquisa
Operacional. Rio de Janeiro, v. 27, n. 2, p. 191-207, 2007.
SOUZA, P. C. et al. Seleção de variáveis inputs e outputs na análise envoltória de dados aplicada a
hospitais. Revista de Administração em Saúde, v. 17, n. 69, 2017.
SUGUIY, T. Eficiência versus satisfação no transporte público: um estudo das práticas nas cidades
brasileiras. Tese (Doutorado), Universidade Estadual de Campinas, 2017.

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CAPÍTULO 4
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

ESTUDO DAS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE EM GRANDES


EMPRESAS QUÍMICAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS

Daniella Ribeiro Pacobello1, Samuel Carvalho De Benedicto2, Luiz Henrique Vieira da


Silva3

1. Aluna de Iniciação Científica da PUC-Campinas. Bolsista PIBIC/CNPq. E-mail:


danix_pacobello@hotmail.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
3. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:
luiz.hvs@puccampinas.edu.br

RESUMO
Em anos recentes, a sociedade tem se conscientizado e se preocupado, progressivamente, com a
degradação do meio ambiente. Nesse contexto, as organizações são pressionadas por legislações
ambientais cada vez mais rigorosas. Com a finalidade de estarem bem posicionadas no mercado,
apresentarem um diferencial competitivo e gerarem lucratividade, as organizações vêm tratando cada vez
mais sobre a questão da sustentabilidade e inserindo tal conceito em suas atividades. Assim, relacionar
empresa e sustentabilidade é algo primordial e que valoriza a imagem organizacional. Para que uma
organização seja considerada sustentável é necessário que haja uma interação entre as dimensões
econômica, ambiental e social, algo conhecido como o Tripé da Sustentabilidade. Este artigo teve como
objetivo diagnosticar o grau de envolvimento das empresas químicas da Região Metropolitana de
Campinas com a questão da sustentabilidade. A pesquisa é de natureza qualitativa, descritiva e
exploratória. Foram pesquisadas cinco grandes empresas e os dados foram coletados e seus respectivos
Relatórios de Sustentabilidade. Os resultados da pesquisa apontam que as empresas colocam em prática o
“Tripé da Sustentabilidade”. Contatou-se que suas preocupações extrapolam a dimensão econômica, pois
as práticas encontradas nos relatórios provam que há uma compreensão avançada também acerca de
questões de natureza social e ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Desenvolvimento sustentável, Indústria química, Região


Metropolitana de Campinas.

1. INTRODUÇÃO
A degradação excessiva do meio ambiente e a depleção exagerada de recursos naturais tem
gerado uma grande preocupação nos ambientalistas e autoridades. Essa preocupação chegou até o
ambiente organizacional, levando os tomadores de decisão e estrategistas organizacionais a uma mudança
de postura com relação ao meio ambiente (DE BENEDICTO et al., 2015).
Conforme os anos passam, a preocupação da sociedade com o meio ambiente e causas que
impactem cada vez menos a mesma, vem aumentando gradativamente (SENADO, 2012). Assim, as
empresas, buscando a lucratividade, competitividade e visando ter um diferencial dentro do mercado, ante
os seus consumidores, vem tomando medidas conscientes e sustentáveis para atender às expectativas dos
mesmos, colaborando assim para uma sociedade e um mundo melhor (DIEKMANN; HENZEL, 2010).
Não é de agora que a degradação do meio ambiente é um dos assuntos mais relevantes e
polêmicos mundialmente. As organizações, diante disto, têm aplicado e tratado progressivamente o termo
sustentabilidade ou, desenvolvimento sustentável, em seu local de trabalho (BARBIERI, 2013).
Segundo Araújo et al. (2012, p. 28-56), “tem-se que a tendência atual é que a partir da
implementação do desenvolvimento sustentável por meio do exercício da função social da empresa, estas

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instituições (as empresas) se envolvam mais em questões sociais e ambientais, sem, contudo se afastarem
da função principal de obtenção de lucros e geração de riquezas. Pois se assim não fizerem correm o risco
de serem penalizadas pela sociedade e pelo mercado, que cada vez mais tem marginalizado e
desprestigiado empresas funcionalmente insustentáveis. Além de correr o risco de serem penalizadas pelo
Judiciário e pelo Estado”.
Desse modo, a questão da sustentabilidade nas empresas é de suma importância, uma vez que a
não atuação desta pode fazer com que a empresa seja difamada e vista com maus olhos pela sociedade
(BORGES; TACHIBANA, 2005).
Logo, o presente estudo trata sobre a questão da sustentabilidade nas empresas químicas, as
quais apresentam um ramo diversificado e é considerado também como um dos setores que trazem uma
preocupação ambiental maior, devido a diversos fatores. Desde os recursos que são utilizados, o que
ocorre no interior da organização, até o que é liberado por ela (BORELLI, 2017).
A indústria química tem um papel fundamental na história da industrialização brasileira, e
especificamente na industrialização paulista. Muitas regiões e municípios apresentaram crescimento
econômico devido à presença desse ramo industrial. Porém, a literatura relata um elevado número de
acidentes químicos, revelando o lado perverso dessa industrialização, com a geração de impactos
ambientais (SOUZA; CARVALHO, 2014).
Segundo Veyret (2013), a indústria química representa uma atividade perigosa ao meio ambiente
em todos os seus processos: a produção, o transporte de materiais perigosos e o armazenamento de
produtos tóxicos. Seus riscos podem atingir pessoas, solo, flora, fauna e edificações. Tais riscos podem
ocorrer por vazamento, explosões, incêndios, queimaduras, intoxicações e diversas formas de poluição.
Diante do contexto exposto, surge a pergunta: qual o grau de envolvimento da indústria química
da Região Metropolitana de Campinas nas questões relativas à sustentabilidade? Por isso, tem como
objetivo diagnosticar o grau de envolvimento das empresas químicas da Região Metropolitana de
Campinas com a questão da sustentabilidade.
A pesquisa é considerada qualitativa, uma vez que não se utiliza de técnicas estatísticas para
obter resposta à questão levantada anteriormente. É classificada como exploratória e descritiva, pois tem a
ideia de buscar informações e ampliar o debate sobre um fenômeno ainda pouco estudado, bem como
explicitar a questão que está sendo tratada.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste tópico será apresentado um rápido resgate histórico da indústria química no estado de São
Paulo e na Região Metropolitana de Campinas. Na sequência, será abordado o denominado Tripé da
Sustentabilidade.

2.1 A indústria química paulista e da Região Metropolitana de Campinas


A indústria química brasileira observou seu desenvolvimento no início do Século XX, atrelada
aos investimentos estrangeiros, com capitais advindos principalmente da Alemanha e dos Estados Unidos.
Na década de 1940, ocorreram grandes investimentos nos setores químicos e petroquímicos no Brasil,
mas foi na década de 1950 que a indústria química nacional apresentou elevado crescimento devido à
criação da Petrobras, em 1953 (SOUZA; CARVALHO, 2014).
No final da década de 1950, durante o Governo de Juscelino Kubitschek (1957- 1960), foi
implantado o Plano de Metas, cujos incentivos foram direcionados principalmente para os ramos
“químicos” e “automobilísticos”. Esses dois gêneros industriais foram impulsionados concomitantemente,
pela indústria petroquímica no Brasil (SOUZA; CARVALHO, 2014).
A instalação dos Polos Petroquímicos no Brasil foi um marco para a indústria química nacional.
Na década de 1970 já haviam sido implantados 13 Polos Petroquímicos, sendo 4 no estado do Rio Grande
do Sul; 3 no estado de São Paulo, 2 no estado do Rio de Janeiro; 1 no estado de Bahia, 1 no Amazonas, 1
no Ceará e 1 em Minas Gerais (SOUZA; CARVALHO, 2014).
A partir da década de 1970, observa-se um aumento na participação da indústria química
paulista, com destaque para o interior do estado. A indústria química paulista, desde o início do século
XX, concentrou-se na Região Metropolitana de São Paulo, sendo o município de São Paulo o maior
representante da indústria química estadual (SOUZA; CARVALHO, 2014).

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Nas décadas seguintes, a indústria química paulista manteve-se em destaque, sendo, em 1985,
responsável por um terço da produção química nacional, e no final da década de 1990, era considerada
como o principal gênero na produção industrial do estado (SOUZA; CARVALHO, 2014; SELINGARDI-
SAMPAIO, 2009).
A indústria química inclui empresas de diversos ramos como, por exemplo, o ramo farmacêutico,
de cosméticos, petroquímico, produtos de limpeza, entre vários outros. De acordo com Antunes (2013,
p.1491):
A indústria química é meio para as diferentes atividades da economia, suporta a agroindústria
por meio dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas. Na atividade extrativa se faz presente nos minerais,
petróleo e na própria siderurgia. Na indústria de transformação a química é a essência da petroquímica, da
farmacêutica, dos cosméticos e produtos de limpeza além de contribuir nos materiais da construção civil e
ser a grande fornecedora do setor têxtil.
A indústria química tem um papel fundamental na história da industrialização brasileira, e
especificamente na industrialização paulista, muitas regiões e municípios apresentaram crescimento
econômico devido à presença desse ramo industrial (SOUZA; CARVALHO, 2014).
Sobre a indústria química, a mesma está presente nos vetores social, ambiental e econômico. A
base do vetor industrial é o conhecimento, uma vez que, em termos de indicadores de desenvolvimento
sustentável, é medida da capacitação, da ciência & tecnologia, da informação e da cooperação presente
em tal país (ANTUNES, 2013).
Entretanto, a despeito das contribuições da indústria química para o desenvolvimento social e
econômico do estado de São Paulo, segundo Souza (2013), no período de 1980 a 2009, o SIEQ registrou
8.006 acidentes químicos no estado de São Paulo.
Na Figura 1, observa-se que a ocorrência dos acidentes químicos acompanhou a distribuição
geográfica da indústria química no estado de São Paulo (SOUZA, 2013). O estado de São Paulo, no
período de 1980 a 2009, apresentou maior concentração industrial química na Região Metropolitana de
São Paulo e nas Regiões Administrativas de Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba,
verificando-se uma relação entre a concentração de produção industrial química e de ocorrência de
acidentes químicos (SOUZA, 2013).

Figura 1 – Acidentes Químicos no Estado de São Paulo, no período de 1980 a 2009

Fonte: Souza (2013).

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A industrialização química, na Região Metropolitana de São Paulo e nas Regiões


Administrativas de Campinas, São José dos Campos, Santos e Sorocaba, além de colaborar com o
desenvolvimento territorial dessas regiões, também acarretou aos municípios localizados nessas regiões,
uma série de acidentes químicos, como efeitos perversos dessa industrialização (SOUZA; CARVALHO,
2014).
A Região Metropolitana de Campinas (RMC ), criada pela Lei Complementar Estadual nº 870,
de 19 de junho de 2000, é uma das regiões metropolitanas mais dinâmicas no cenário econômico
brasileiro. Seu Produto Interno Bruto (PIB), em valores correntes, foi de R$ 142,3 bilhões em 2013,
representando cerca de 8,3% do PIB paulista e 2,7% do PIB nacional (OM, 2018).
A RMC apresenta a mais expressiva concentração industrial do interior de São Paulo,
caracterizando-se por abrigar setores modernos e plantas industriais articuladas em grandes e complexas
cadeias produtivas. Do total do PIB da RMC, 57,06% vem da indústria, com destaque para o Polo
Petroquímico de Paulínia e outras grandes empresas do setor com plantas em várias cidades da RMC.
Como região industrializada, com uma pujança econômica peculiar e que apresenta, ainda, uma tendência
de expansão populacional, as questões ambientais certamente irão tornar-se importantes nos próximos
tempos na RMC (EMPLASA, 2018).
Na Região Metropolitana de São Paulo ocorreram 50% dos acidentes químicos registrados pelo
SIEQ no período de 1980 a 2009, sendo a 1ª região paulista em número de acidentes químicos. Cabe
ressaltar que essa região possui a maior produção química estadual. O município de São Paulo apresentou
2.593 registros de acidentes químicos, correspondendo a 32% de todos os acidentes mencionados no
período (SOUZA, 2013).
A Região Administrativa de Campinas classificou-se como a 2ª região em número de acidentes
químicos estaduais, com 12% do total de registros durante o período de 1980 a 2009. O município de
Campinas responsabilizou-se por 154 acidentes químicos nesse período (SOUZA, 2013).
Um acidente químico pode contaminar as águas (rios, lagoas, lençol freático) e solos, devido a
vazamento de substâncias químicas, acarretando danos irreparáveis ao meio ambiente; além de ocasionar,
por conseguinte, graves prejuízos aos seres humanos, inclusive com óbitos (quando ocorrem incêndios,
explosões e exposição a produtos químicos, por exemplo) (SOUZA; CARVALHO, 2014).
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB atua em situações de emergências
ocasionadas por acidentes químicos no estado de São Paulo. Por meio do Sistema de Informações Sobre
Emergências Químicas – SIEQ, iniciado em 1978, a CETESB disponibiliza informações sobre os
atendimentos realizados desde aquele ano até os dias atuais. As informações dos acidentes químicos
fornecidas pelo SIEQ são referentes às causas (queda de embalagens, tombamento, incêndio, entre
outras); as atividades (transporte, indústria, armazenamento, entre outras); ao produto; a quantidade
vazada; aos meios atingidos; e ao número de vítimas (SOUZA, 2013).
A indústria do setor químico compromete-se a criar padrões de conduta elevados e proporcionar
a sustentabilidade, propulsar o crescimento econômico brasileiro, criar novas tecnologias, gerar soluções
avançadas, engrandecer os padrões de gestão, de responsabilidade fiscal e de produtividade, além de
promover incessantemente a qualificação dos funcionários da indústria química (PINTO et al., 2012).

2.2 O Tripé da Sustentabilidade (Triple Bottom Line)


O conceito de sustentabilidade possui origens na ecologia que está associada à capacidade de
reposição e regeneração de ecossistemas, porém não pode se limitar apenas às condições ambientais.
Deve ser considerada a sustentabilidade em três dimensões: social, ambiental e econômica. A expressão
também é conhecida por “3Ps” – People, Planet and Profit – em referência aos resultados de uma
empresa medidos em termos sociais, ambientais e econômicos (SOUZA et al., 2018).
Nesta mesma ideia, segundo Silva, Santinelli e Silva (2014, p. 797):
Uma atuação mais sustentável no setor empresarial é apresentada e discutida em torno
de três pilares fundamentais: social, ambiental e econômico. Esses pilares são
conhecidos como as três dimensões ou Triple Bottom Line da sustentabilidade, as quais
refletem a necessidade das empresas em ponderarem suas decisões estratégicas quanto à
sustentabilidade econômica, ao gerenciar empresas lucrativas e geradoras de valor; à
sustentabilidade social, ao estimular a educação, cultura, lazer e justiça social à
comunidade; e à sustentabilidade ecológica, ao manter ecossistemas vivos, com
diversidade e vida.

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A escassez de diversos elementos naturais e os excessos causados pelas grandes e médias


empresas fizeram com que a visão de sustentabilidade fosse redesenhada gerando o Triple Bottom Line
que exigiu mais responsabilidade de todos e ações sustentáveis urgentes. Essa alteração obrigou as
empresas se tornassem mais flexíveis e se adaptassem às mudanças de mercado (SANTOS; BAPTISTA,
2016).
Diante desse cenário, o conceito de sustentabilidade vem sendo amplamente discutido nos
últimos anos, estando cada vez mais presente nos discursos empresariais (SILVA; SANTINELLI;
SILVA, 2014). Ainda segundo Souza et al. (2018), o discurso de sustentabilidade tem sido empregado
constantemente pelas organizações, governos e organizações não governamentais em todo mundo com
intuito de apresentar uma saída para as crises na sociedade moderna.
Entretanto, é importante ressaltar que o termo sustentabilidade vem sendo empregado nas
empresas cada vez mais, não devido apenas à conscientização da sociedade ou destaque no mercado
competitivo, mas também por conta das exigências legais que estão tomando grande dimensão (DE
BENEDICTO et al., 2015).
Para que uma empresa seja considerada sustentável, é necessário que haja um planejamento para
redução de insumos e não somente preocupações e ações com a fauna e a flora, as quais são denominadas
como ação social e não custo ecológico (SANTOS; BAPTISTA, 2016). Para uma organização estar
plenamente conectada e alinhada com seus clientes é necessário que suas estratégias contemplem os
ambientes econômicos, sociais e ambientais conforme descreve a Figura 2 (PAZ; KIPPER, 2016).

Figura 2 – A sustentabilidade em suas dimensões ambientais, sociais e econômico-financeiras.

Fonte: Paz e Kipper (2016).

De acordo com Jacobi (2007, p. 180), “A noção de sustentabilidade implica uma necessária
inter-relação entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de
desenvolvimento com capacidade de suporte”.
De acordo com Gonçalves-Dias et al.(2007) a noção de sustentabilidade é derivada do conceito
de desenvolvimento sustentável, fruto de reflexões e intensos debates ocorridos desde a década de 1960.
Nessa época já se manifestava uma polarização muito forte entre os diferentes segmentos sociais
interessados no meio ambiente, que perdura nos dias atuais. De um lado, os chamados preservacionistas
ou conservacionistas almejavam que a natureza permanecesse intocada e de outro os desenvolvimentistas
enxergavam o progresso econômico como a prioridade no caminho em direção ao desenvolvimento.
A sustentabilidade pode ser definida como a manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de
recursos ambientais, utilizando recursos sem danificar suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento
futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser igualmente satisfeitas
(AFONSO, 2006).
Sendo assim, o termo sustentabilidade está inteiramente relacionado à preocupação de atender as
necessidades presentes sem prejudicar as gerações futuras.

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Nesta mesma linha de pensamento, Araújo et al. (2012) afirmam que foi a partir das
preocupações com o bem-estar da sociedade, sobretudo nas questões relacionadas ao meio ambiente e a
diminuição das desigualdades sociais e regionais, bem como da preocupação constante da empresa
cumprir com sua função social, que foi delineado pela primeira vez na Conferência das Nações Unidas
sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, o conceito de desenvolvimento sustentável.
Porém, foi somente em 1987, a partir da Comissão Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento, que o conceito de desenvolvimento sustentável ganhou contornos mais delineados. A
Comissão elaborou um relatório, apelidado “Relatório Brundtland”, que definiu o desenvolvimento
sustentável como aquele que “satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”.
Ainda de acordo com Keinert (2007) reconhecendo que embora a dimensão social tenha entrado
em cena em 1987 com o Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), ela não conquistou imediatamente
os cérebros empresariais, e foi só a partir da concepção do termo “Triple Bottom Line” que essa
linguagem foi incorporada ao mundo dos negócios tratando da sua prestação de contas (“accountability”)
em termos financeiros, ambientais e sociais.
A contínua degradação do meio ambiente despertou o interesse e a conscientização da sociedade
sobre a relevância de se proteger o meio ambiente, fazendo com que a população exigisse cada vez mais
das indústrias, atitudes proativas em benefício de tal causa.
Nesse sentido, Gonçalves-Dias et al. (2007, p. 2) afirmam que “como resultado do movimento
em torno do desenvolvimento sustentável, as empresas, pelo menos as com maior potencial de
degradação ambiental, passaram a se declarar mais preocupadas” passando a sensibilizar algumas das
partes interessadas (stakeholders). Diante desse cenário, “a legislação ambiental cresceu em quantidade,
severidade e complexidade”. Ao mesmo tempo “surgiram grupos de consumidores mais dispostos a
considerar características ambientais de produtos e serviços em suas escolhas”. Também muitos
“investidores começaram a se preocupar com os passivos ambientais, dentre várias outros fenômenos
socioculturais ligados à problemática ambiental”.
Além de ser usada de forma estratégica demonstrando competência operacional, essa ferramenta
estimula a criação de ideias sustentáveis, melhorias em suas operações e o crescimento do negócio
gerando vantagem competitiva e conscientização da sociedade que resulta em padrões elevados
(SANTOS; BAPTISTA, 2016).
O que começou como uma obrigação para frear os danos causados ao meio ambiente tornou-se
um modo de crescimento empresarial, pessoal e ambiental mesmo que ainda haja muitos obstáculos a
serem ultrapassados (SANTOS; BAPTISTA, 2016).
Logo, para que uma empresa seja considerada sustentável, é fundamental que os três pilares
mencionados citados anteriormente estejam em equilíbrio e não apenas um ou outro. No contexto atual
não se pode mais conceber e aceitar a ideia de que uma organização apresente apenas resultados
financeiros. Espera-se que as mesmas apresentem também atitudes que relacionem a questão social e a
proteção ao meio ambiente.

3. METODOLOGIA
A metodologia do plano de trabalho apresentado para a realização da pesquisa foi do tipo
qualitativa, descritiva e exploratória, conforme delineado por Collis e Hussey (2005). Para Barr (2004) o
método qualitativo é apropriado quando os que o aplicam lidam com questões que requerem um
entendimento profundo dos processos, envolvem fenômenos pouco entendidos, ou buscam entender
variáveis não especificadas, relações mal estruturadas, ou variáveis que não podem ou não devem ser
estudadas via experimentação.
Perovano (2014) afirma que o processo descritivo visa à identificação, registro e análise das
características, fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo estudado, permitindo
estabelecer relações entre as variáveis, para uma posterior determinação dos efeitos resultantes em uma
empresa, sistema de produção ou produto.
Já a pesquisa exploratória permite ao pesquisador aumentar a experiência em torno de
determinado problema ainda pouco estudado ou conhecido (TRIVIÑOS, 2010).

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Gil (2019) salienta que as pesquisas qualitativas, descritivas e exploratórias são as mais
utilizadas no campo das pesquisas sociais que possuem relações com a prática, o que condiz com os
objetivos desta pesquisa.
Foi realizado um estudo exploratório em grandes empresas que atuam no setor químico na
Região Metropolitana de Campinas. Foram pesquisadas cinco empresas de grande porte. A amostra foi
selecionada de forma não probabilística ou por conveniência (OLIVEIRA, 2001) levando em conta a
acessibilidade do pesquisador aos dados.
Quanto aos procedimentos, a pesquisa é do tipo documental. Na concepção de Gil (2019) a
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. Segundo Richardson (2017) a pesquisa
documentária considera como material de estudo qualquer forma de comunicação, usualmente
documentos escritos, relatórios diversos, livros, periódicos, jornais, documentos internos de uma
organização.
Neste estudo os dados foram coletados nos relatórios de sustentabilidade das empresas 3M,
Ambev, Basf, Bayer e Braskem. Também foram analisados dados já publicados em artigos científicos,
dissertações e teses sobre o tema. Portanto, a investigação não envolveu pesquisa com seres humanos.

4. RESULTADOS
Através dos dados levantados das cinco empresas escolhidas (3M, AMBEV, BASF, BAYER e
BRASKEM), foi possível enxergar mais especificamente como cada uma delas coloca em prática a
sustentabilidade dentro de seu ambiente de trabalho. Os dados foram encontrados nos mais recentes
Relatórios de Sustentabilidade disponíveis em seus respectivos sites. A seguir são apresentados os
destaques nas três dimensões dispostas no Triple Bottom Line.

4.1 Empresa 3M - Relatórios de Sustentabilidade 2017 e 2018


Dimensão Ambiental: A preservação do meio ambiente faz parte dos valores da 3M e está presente em
todas as suas ações, com o objetivo de conscientizar colaboradores, parceiros, clientes e a sociedade. A
3M faz parte de uma série de programas/projetos como, por exemplo:

3M Óleo Reverso & Você: Com início em 2015, a iniciativa reverte o óleo de cozinha utilizado na
residência dos colaboradores, que seria descartado. Após a coleta, é vendido para um fornecedor
homologado, que reutiliza o material na fabricação de massa de vidro. Toda a verba adquirida se destina à
aquisição de produtos de limpeza e higiene, como galões de detergente, amaciante, álcool e sabão, que
são doados a entidades parceiras do Instituto 3M. Em 2016, foram 10 mil quilos de óleo coletados (um
litro de óleo é o equivalente a, aproximadamente, 900 gramas) e seis instituições beneficiadas, escolhidas
mediante uma votação entre os próprios funcionários da organização.

Programa Nacional de Reciclagem de Esponjas: O Brasil é o primeiro e único país no mundo a reciclar
esponjas domésticas, uma atitude que é fruto do Programa Nacional de Reciclagem de Esponjas da marca
Scotch-Brite, criado em 2014, numa parceria da 3M com a TerraCycle. Em dois anos, já foram recolhidas
mais de 500 mil esponjas (o equivalente a 4,3 toneladas), mobilizando 350 mil pessoas e 2.800 pontos de
coleta em todo o país. Ao oferecer uma solução ambientalmente correta a esponjas usadas, de qualquer
marca, transforma o resíduo em matéria-prima, utilizada para fabricar novos produtos, como baldes,
vasos, lixeiras e pás de lixo, entre outros.

Projeto de Eficiência Energética: A 3M tem como objetivo melhorar sua eficiência energética em 3%
ao ano, o que totalizará, até 2025, uma redução de 15% no consumo. Ao longo dos últimos três anos está
em operação o Projeto de Eficiência Energética voltado ao balanceamento de estufas, sob a coordenação
do Comitê de Eficiência Energética e pelo Energy Champion. O gerenciamento constante permite mapear
o uso da energia e possíveis melhorias.

Ecoteca: O projeto Ecoteca, parceria do Instituto 3M e da Rede Educare, vem construindo bibliotecas
ecológicas dentro de escolas municipais em Manaus e em São Paulo. Os espaços móveis são construídos
em aço galvanizado e material reciclado e abrigam um acervo de 500 livros de literatura internacional e
nacional. Além de estimular o gosto pela leitura, a iniciativa, que tem o apoio da Lei de Incentivo
Rouanet, tem um importante papel na educação de centenas de cidadãos, sensibilizando crianças e

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adolescentes sobre a sustentabilidade. Isso acontece de forma divertida e lúdica como, por exemplo, com
auxílio de uma bicicleta que, ao ser pedalada, gera energia para iluminação interna. Placas de energia
solar para a área externa e revestimento interno feito com caixinhas cartonadas de alimentos e bebidas e
integram os espaços.
Além dos programas/projetos citados acima, que a 3M participa, há outros, como: “Dê a mão para o
futuro”, “Aterro Zero” e o “Programa 3P”.

Dimensão Social: Para estruturar as ações e iniciativas sociais e o voluntariado da 3M, nasceu, em 2006,
o Instituto 3M de Inovação Social. O Instituto 3M atua com base em quatro pilares: Educação, Ciência e
Tecnologia, Tecnologia Social e Desenvolvimento Social. O Instituto possui 465 voluntários cadastrados;
10 projetos em andamento; 8 mil beneficiados nos últimos três anos; 1.210 sacolas de Natal para 17
instituições; 300 experimentos inscritos na IV Mostra de Ciências e Tecnologia; 120 participantes no Dia
Mundial do Voluntariado 3M; 50 voluntários e 400 crianças atendidas no Mão na Massa; 77 formandos
pela Escola Formare; 104 estudantes orientados pelo Sou Protagonista.

Dimensão Econômica: Em 2016 a Manufatura & Supply apresentou os seguintes dados: 36 projetos de
tecnologia disruptiva; 1,4% de redução do custo de má qualidade; 4,76% menos energia por unidade
produtiva; US$30 milhões investidos na segunda fase da expansão em Manaus (AM); US$1,2 milhão a
menos de perdas de material; 3,2% menos de emissão de composto orgânicos voláteis.

4.2 Empresa AMBEV – Relatórios de Sustentabilidade 2017 e 2018


Dimensão Ambiental: Nos últimos 16 anos, a Companhia reduziu em 46% o índice médio de volume
necessário de água para a produção das bebidas. A Coalizão Cidades pela Água é uma iniciativa de ação
coletiva liderada pela The Nature Conservancy (TNC), em parceria com a Cervejaria Ambev, outros
atores dos setores público e privado e a sociedade civil. Seu foco é ampliar a segurança hídrica com
soluções baseadas na natureza, como a conservação ou a restauração florestal, que provocam impacto
positivo na qualidade e na quantidade de água. Em 2018, a Coalizão desenvolveu outros importantes
trabalhos de captação de recursos, capacitação de produtores rurais para preservação de áreas ambientais
e estudos para implantação de novas iniciativas em Belo Horizonte, Curitiba e Espírito Santo. Ao final do
ano, haviam sido conservados e restaurados 33 mil hectares de seis regiões metropolitanas do Brasil, o
que corresponde a mais de 100 municípios. Mais de 2.600 famílias foram beneficiadas. O Projeto Bacias
foi criado em 2010, no Gama (DF), em parceria com a organização não governamental WWF.
Posteriormente, foi expandido para outros municípios com o apoio da TNC e tem como objetivo a
recuperação do solo e da mata ciliar em Áreas de Proteção Permanente (APPs) às margens de rios e
outros corpos d’água. Entre as iniciativas desse projeto estão as parcerias com agricultores que moram no
entorno de fontes ou nascentes importantes. Foi o que aconteceu, em 2018, no trabalho realizado no Rio
Jaguari, em Jaguariúna (SP), que estabeleceu o marco de 1.600 hectares beneficiados com práticas de
conservação de água em atuação conjunta com a Agência das Bacias PCJ, a Embrapa, a ANA (Agência
Nacional de Águas) e a Prefeitura Municipal de Jaguariúna (SP). Em 2018, ampliaram-se os
investimentos em projetos amparados pela água mineral AMA, o primeiro negócio social de uma grande
empresa no Brasil, lançada em 2017 com o objetivo de impactar de maneira positiva e duradoura na vida
das pessoas que vivem a dura realidade da escassez de água. Por meio da Plataforma Saveh (Sistema de
Autoavaliação de Eficiência Hídrica), compartilham sua expertise em redução do consumo de água com
outras empresas que usam o recurso em seu processo produtivo. Em 2018, consumiram cerca de 7,84
bilhões de megajoules (MJ) de energia de origem não renovável. Isso significa que foi reduzido em mais
de 300 milhões de MJ o consumo em comparação com 2017. Foram reduzidas em 13,65% as emissões
diretas e indiretas de CO2. Também em 2018, foi possível reduzir a média de resíduos gerados por
hectolitro (hl) produzido. Em 2017, tiveram um índice de geração de resíduos de 15,13 kg/hl; já em 2018,
esse índice foi de 14,70 kg/hl. Alcançaram 33% de sua produção de PET feita a partir de material
reciclado (esse número cresceu 725% nos últimos 6 anos). A plataforma Reciclar pelo Brasil é fruto de
uma parceria entre a Cervejaria e a Coca-Cola do Brasil. Criada em 2017, tem como objetivo investir no
desenvolvimento de cooperativas de catadores no Brasil. No ano de 2018, a renda média dos catadores
cresceu 25% em 11 meses.

Dimensão Social: Lançada em 2017, a água AMA reverte 100% do lucro obtido com a sua venda para
projetos que levam água potável para regiões carentes. Todo o processo é verificado pela auditoria
KPMG. A arrecadação chegou a R$ 2,9 milhões e mais de 26 mil pessoas foram beneficiadas em 2018.

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Dimensão Econômica: O ano de 2018 fechou com um crescimento de 9,4% no EBITDA – Earnings
Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e
amortização), totalizando R$ 21,099 bilhões, e de 6,9% na receita líquida, somando R$ 50,23 bilhões.

4.3 Empresa BASF - Relatórios de Sustentabilidade 2017 e 2018


Dimensão Ambiental: A BASF, em 2017, recebeu 25 reconhecimentos em toda a América do Sul por
sua atuação em inovação e sustentabilidade, concedidos por clientes, imprensa e diferentes instituições.
Entre eles estão o Guia Exame de Sustentabilidade, Época – Empresa Verde e Valor Inovação (Relatório
Anual BASF, 2018, p.46). Cerca de 60% de seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento são
destinados ao desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e aperfeiçoamento de seus processos de
produção. Mesmo com o aumento do volume de produção, houve aumento da eficiência energética em
2,6%, se comparado a 2016, resultado suportado por iniciativas do Triple E (Excelência em Eficiência
Energética), que tem como objetivo aumentar a competitividade da organização por meio da maior
eficiência energética, promover a melhoria sustentável dos custos de energia e a redução de impactos
ambientais.

Dimensão Social: Os projetos sociais da BASF têm como foco: educação científica e ambiental,
empregabilidade e proteção dos recursos naturais e biodiversidade. Possuem atuação nas comunidades
onde estamos inseridos. Em 2017 a BASF selecionou 12 projetos foram realizados na Argentina, Brasil e
Chile. Em 2018 foram 11 projetos. Ainda em 2017, a BASF reestruturou a forma de trabalhar a
diversidade e inclusão, propondo ações e mudanças na forma de recrutar e preparar a companhia para
criar um ambiente mais inclusivo. Uma das iniciativas adotadas consiste em grupos de afinidades de
colaboradores, que trabalham a inclusão em todos os níveis da organização.

Dimensão Econômica: No ano de 2017, as vendas do Grupo BASF foram de 64,475 milhões de euros.
No mesmo ano o valor das ações da BASF subiu 3,9%, sendo negociadas a 91,74 euros ao final do ano
(Relatório Anual BASF, 2018, p.18).

4.4 Empresa Bayer – Relatórios de Sustentabilidade 2017 e 2018


Dimensão Ambiental: A Bayer conta com mais de 60 iniciativas no Brasil que integram o Programa de
Food Chain e Sustentabilidade da divisão Crop Science. São projetos em prol da agricultura sustentável
atrelados a culturas estratégicas como soja, milho, café, frutas e vegetais e cana-de-açúcar. A Bayer
mantém uma série de parcerias com integrantes da cadeia de valor, reunindo produtores, comerciantes,
processadores e varejistas, estimulando vínculos mais fortes e promovendo a agricultura sustentável em
mais de 30 países. Com isso, a companhia tem ajudado a melhorar a qualidade da colheita e o aumento da
produtividade, beneficiando os parceiros e o meio ambiente. Em 2017, a Bayer lançou mais uma
iniciativa inovadora, o Made in Farm, uma plataforma digital que conecta o cafeicultor e o comprador,
gerando novas oportunidades de negócios e viabilizando a comercialização direta entre ambos por meio
de um ambiente seguro e transparente. A Bayer promove ações internas de educação ambiental para
sensibilizar os colaboradores sobre sua responsabilidade no uso consciente dos recursos naturais. Como
por exemplo: Semana do meio ambiente, Bayer Reuse, Facilitadores Ambientais e Green Office Program.
Sobre a questão da gestão de recursos naturais, um conjunto de medidas assegura o correto tratamento dos
resíduos gerados na Bayer. Os cuidados englobam desde a geração, coleta, transporte, tratamento até a
destinação ou disposição final dos resíduos e rejeitos, garantindo o descarte correto sob a premissa do
desenvolvimento sustentável e responsável. Além de tudo que já foi descrito, a Bayer também mantém
programas de mobilidade urbana que, entre outros benefícios, contribuem para diminuir a emissão de
gases de efeito estufa, como a carona amiga e as reuniões eletrônicas.

Dimensão Social: A Bayer tem se empenhado em melhorar as condições sociais em todos os países nos
quais está presente. Assim, a empresa contribui para uma sociedade mais consciente sobre os cuidados
com a saúde. Entre as diversas questões relacionadas à saúde, que a Bayer acredita, segue e apoia, estão,
por exemplo, a implantação da Semana Bayer do Homem e a Semana Bayer da Mulher. Para reforçar essa
missão, a empresa promove programas e mantém parcerias de apoio aos pacientes, como por exemplo:
Apoio à Associação de Pacientes “Retina Brasil”, Projeto Screening, Programa de Pacientes “Tempo de
Viver”, entre outros. Alinhado com a filosofia da Bayer em fomentar e incentivar a ciência, a inovação e a
educação, a Bayer Brasil é patrocinadora do Museu Catavento Cultural e Educacional desde 2013. Para
celebrar o Dia Mundial da Alimentação, a Bayer levou uma minifazenda de laranjas para dentro da cidade

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de São Paulo. O Grupo de Voluntariado da Bayer, criado em 2013, promove uma série de ações com
instituições parceiras, arrecadando doações, prestando assistência, amparo e diversão a crianças e idosos
de São Paulo. O projeto “Mais Fortes Que a Zika” trata-se de uma parceria do Fundo PositHIVo com a
Bayer, que dissemina conhecimento sobre a importância do uso de métodos contraceptivos no combate à
infecção pelo Zika vírus.

Dimensão Econômica: No ano fiscal de 2014, a Bayer registrou vendas de 42,2 bilhões de euros. As
despesas de capital totalizaram 2,5 bilhões de euros, e os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento
somaram 3,6 bilhões de euros.

4.5 Empresa Braskem – Relatórios de Sustentabilidade 2017 e 2018


Dimensão Ambiental: A Braskem faz parte do “A List” do CDP WATER, que reconhece as melhores
empresas de capital aberto no mundo em relação ao gerenciamento do uso do recurso natural água, sendo
a única empresa brasileira e da América Latina a obter a nota máxima nesse ranking. A empresa participa
na 13ª carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, que reconhece as empresas de
capital aberto do Brasil em gestão do desenvolvimento sustentável e reúne aquelas com os melhores
índices de eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. A Braskem
possui diversos projetos e metas vinculadas à redução do consumo de água e realiza constantemente
avaliações para evitar qualquer impacto de uma possível escassez. Dentre as principais iniciativas estão os
processos de melhorias para o reuso de água das unidades produtivas, uma porcentagem que vem
crescendo nos últimos três anos. No ano de 2017, 25,8% do total de água consumida nas operações
vieram de processos de reuso, sendo 15,4% resultados da melhoria de processos (esforço) e 10,4%
inerentes ao funcionamento original da planta (nasceram com o projeto da planta). A ecoeficiência na
geração de efluentes líquidos (1,06 m³/t) melhorou em 4,2% em relação a 2016 e ficou 7,9% melhor do
que a meta de 2017 em prol da melhoria da eficiência hídrica da Empresa. O consumo de energia (10,56
GJ/t) da Braskem, em 2017, sofreu um aumento de 3,0% em relação a 2016, mas ainda 2,4% melhor do
que a meta de 2017. Este aumento do indicador é devido à entrada da Braskem Idesa (México) na
contabilização dos ecoindicadores, sendo que a nova planta possui uma intensidade de consumo
energético superior à média da Braskem. No ano de 2017, a geração de resíduos sólidos, líquidos e
pastosos (2,13 kg/t) teve uma redução de 1,4% em relação a 2016, ficando 4,5% melhor do que a meta de
2017, graças a iniciativas das plantas na descoberta de novas formas de reaproveitamento de resíduos e
mudanças no tratamento, além de melhorias em processos de limpeza e manutenção.

Dimensão Social: A Braskem, em 2017, seguiu evoluindo com as práticas de Diversidade com a
formação de três grupos de trabalho focados em cada uma das frentes em que atuam: Gênero, LGBTQIA
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo e Assexuais), Raça e Etnia. Também, foi
definida a primeira matriz de riscos de violação aos direitos humanos, facilitando, assim, a inclusão
imediata do tema na matriz de riscos corporativos acompanhada pelos executivos e pelo Conselho de
Administração. Dentre os temas trabalhados neste ano, destaca-se sua atuação junto às cadeias de
logística, de etanol e de reciclagem em prol da proteção e promoção dos direitos humanos, além da
conformidade e ética empresarial em seus relacionamentos.

Dimensão Econômica: A BRASKEM encerrou 2017 com um EBITDA (“Earnings Before Interest,
Taxes, Depreciation and Amortization”, traduzindo, "Lucros antes de juros, impostos, depreciação e
amortização") recorde tanto em reais como em dólares: 12,334 bilhões de reais e 3,872 milhões de
dólares, representando, respectivamente, alta de 7% e 17% em relação ao ano anterior. A receita líquida
consolidada foi de 49,3 bilhões de reais, alta de 3% em relação a 2016. Deste total, as operações geradas
pelas unidades internacionais e as exportações do Brasil corresponderam a 47% da receita.

O Quadro 1 relaciona cada uma das empresas e as dimensões da sustentabilidade, destacando as


ações encontradas em cada companhia.

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Quadro 1 – Atuação das cinco empresas pesquisas nas dimensões do “Tripé da Sustentabilidade”
Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.
Ambiental Social Econômica

No ano 2016, a Manufatura &


Instituto 3M está sustentado por
Sua Política Corporativa de Meio Supply: 30 milhões de dólares
quatro pilares: Educação, Ciência e
Ambiente foi emitida em 1975, quando investidos na segunda fase da
Tecnologia, Tecnologia Social e
passou a ser praticada em todas as expansão em Manaus e 1,2
3 fábricas da companhia no mundo. Desenvolvimento Social.
milhão de dólares a menos de
M Projetos e programas atualmente: “3M Atua em projetos sociais e
perdas de material.
educativos, impactando crianças
Óleo Reverso & Você”, “Programa Sobre os detalhes do Centro de
em idade escolas nas comunidades
Nacional de Reciclagem de Esponjas” e Treinamento para Trabalho em
do entorno das unidades da
“Projeto de Eficiência Energética”. Altura: 200 mil dólares de
empresa no Brasil.
investimento total.

Melhoramento nas questões de emissão


Em 2018, a receita líquida
de gases, uso de água, consumo de
A 26 mil pessoas beneficiadas com cresceu 6,9% no ano, somando 50
energia e resíduos gerados.
M projetos viabilizados pela água bilhões de reais.
Projetos e parcerias com instituições
B mineral AMA. A arrecadação EBITDA (Lucros antes de juros,
como WWF, TNC e órgãos públicos
E chegou a R$ 2,9 milhões e mais de impostos, depreciação e
como Agência das Bacias PCJ, a
V 26 mil pessoas foram beneficiadas amortização) teve crescimento de
Embrapa, a ANA (Agência Nacional de
em 2018. 9,4%, totalizando 21 bilhões de
Águas) e a Prefeitura Municipal de
reais.
Jaguariúna (SP).
Reconhecimento em Inovação e Em 2017, 12 projetos realizados na
sustentabilidade pelo Guia Exame de Argentina, Brasil e Chile nas áreas:
Sustentabilidade, Época – Empresa Educação científica e ambiental, 2017: Vendas resultaram em
B Verde e Valor Inovação. empregabilidade e proteção dos
A 64,475 milhões de euros.
Investimentos em pesquisa e recursos naturais e biodiversidade; Valor das ações foi para 91,74
S desenvolvimento de produtos Em 2018, o edital recebeu a euros, um aumento de 3,9%.
F sustentáveis. inscrição de 116 projetos.
Otimização de processos de produção. Foco na diversidade (diferentes
Aumento da eficiência energética gêneros, orientação sexual, grupos
comparada a 2016. étnicos e idades).
Em 2014, as vendas resultaram
B Apoio à agricultura sustentável. Apoia e faz partes de diversos em 42,2 bilhões de euros;
A Em 2017: Lançou o “Made in Farm” projetos em prol da sociedade. Despesas de capital somaram 2,5
Y Ações internas de educação ambiental. Patrocinadora do Museu Catavento bilhões de euros.
E Medidas asseguram o correto Cultural e Educacional. Investimentos em Pesquisa &
R tratamento dos resíduos gerados.
Desenvolvimento em torno de 3,6
Programas de mobilidade urbana.
bilhões de euros.
Participação: “A List”-CDP Water;
13ª carteira do ISE - B3;
B Projetos e metas vinculadas à redução EBITDA (Lucros antes de juros,
R Práticas de diversidade, (voltadas
do consumo de água. impostos, depreciação e
A para questões de gênero,
Ecoeficiência na geração de efluentes amortização) recorde em relação
orientação sexual e grupos
S líquidos. ao ano de 2016.
étnicos).
K Aumento de 3,0% do consumo de Receita líquida de 49,3 bilhões de
Primeira matriz de riscos de
E energia em 2017, em relação ao ano reais, caracterizando uma alta de
violação aos direitos humanos.
M anterior. 3% em relação ao ano anterior.
Redução na geração de resíduos sólidos,
líquidos e pastosos, em 2017.

Observando de maneira holística, todas as empresas pesquisadas contribuem com a questão da


sustentabilidade em suas três dimensões: ambiental, social e econômica. Isso evidencia que não há uma
preconização da atuação dessas empresas apenas pelo pilar ambiental, visto que, comumente, a
sustentabilidade seja reduzida erroneamente apenas a essa área de atuação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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O presente trabalho procurou evidenciar como algumas empresas do setor químico da Região
Metropolitana de Campinas exercem a sustentabilidade. Através dos Relatórios de Sustentabilidade de
cada uma das organizações pesquisadas, foi possível compreender como as mesmas trabalham esta
questão à luz das três dimensões que compõem o “Tripé da Sustentabilidade”: ambiental, social e
econômica.
Verificou-se que as empresas analisadas estão compromissadas com robustos padrões de
sustentabilidade, pois apoiam e promovem projetos em prol do meio ambiente e da sociedade, além de
preocuparem-se com temas como a ecoeficiência e a gestão de resíduos, por exemplo.
Sendo assim, o presente estudo demonstra que, atualmente, muitas organizações colocam em
prática o “Tripé da Sustentabilidade”. A partir do exposto, é notório que as suas preocupações extrapolam
a dimensão econômica, pois as práticas encontradas nos relatórios provam que há uma compreensão
avançada acerca de questões de natureza social e ambiental.
Além disso, vale ressaltar que as ações amparadas nessas dimensões da sustentabilidade
interferem diretamente na valorização – ou desvalorização – de suas imagens perante o mercado e seus
consumidores, que estão cada vez mais exigentes com relação à responsabilidade socioambiental das
corporações. Isso pode se tornar um estímulo para que as empresas progressivamente adotem ações nesse
sentido, garantindo a saúde de seus negócios ao mesmo tempo em que geram um impacto positivo para o
planeta e para as pessoas.

6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

7. REFERÊNCIAS

3M. Relatório Anual de Sustentabilidade 2017 – Exercício 2016. 2019. Disponível em:
<https://www.3m.com.br/3M/pt_BR/sustentabilidade/>. Acesso em: 21 abr. 2019.
AFONSO, C. M. Sustentabilidade: caminho ou utopia? São Paulo: Annablume, 2006.
AMBEV. Relatório de Sustentabilidade 2018. 2019. Disponível em: <https://www.ambev.com.br/
sustentabilidade/>. Acesso em: 24 abr. 2019.
ANTUNES, A. M. S. Inovação & propriedade industrial & indústria química. Química Nova, São
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CAPÍTULO 5
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

INDÚSTRIA 4.0 E O USO DE TECNOLOGIAS: ESTUDO SOBRE O IMPACTO


GERADO NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Marileide Barbosa1, José Ademir de Souza2, Eduardo Leoni Machado3,


Orandi Mina Falsarella4, Samuel Carvalho De Benedicto5

1. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).


Bosista CAPES. E-mail: barbosa.marileide@gmail.com
2. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-
mail: joseademirsouza@uol.com.br
3. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-
mail: eduardo.leoni@hotmail.com
4. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail: orandi@puc-
campinas.edu.br
5. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Esse trabalho discorre sobre a quarta revolução industrial, baseada na inclusão de novas tecnologias como
os Sistemas Ciber-Físicos e a Internet das Coisas nos processos produtivos e como interagem perante a
sustentabilidade do planeta, utilizando a maior autonomia na tomada de decisão, maior transparência nas
relações entre humanos e máquinas e geração de vantagem competitiva no ambiente de produção. Trata-
se de um estudo fundamentado por revisão de literatura, com o objetivo de analisar as tecnologias que
estão sendo utilizadas na indústria 4.0 e verificar o impacto que elas podem trazer para as três dimensões
da sustentabilidade, a econômica, a social e a ambiental. Como resultado foi identificado que o modelo
combina integração tecnológica e fusão entre os mundos físico e virtual, englobando tecnologias como
internet das coisas, robótica, impressão 3D, manufatura híbrida, big data, computação em nuvem,
inteligência artificial e sistemas de simulação virtual. Já é bastante difundido e comprovado os ganhos em
produtividade, qualidade e competitividade que essa transformação tecnológica vem proporcionando às
indústrias que já integram essas novas tecnologias em seus sistemas de manufatura. Porém ainda é pouco
conhecido e explorado os impactos efetivos dessa transformação tecnológica sobre cada uma das
dimensões da sustentabilidade. A partir desse trabalho verificou-se a existência de estudos que alertam
para os impactos gerados, bem como estudos de caso e modelos empíricos que poderão contribuir para o
ajuste dos modelos de gestão da manufatura para que venham a considerar os impactos da
sustentabilidade no médio e longo prazo.

PALAVRAS-CHAVE: Indústria 4.0, Internet of Things, Vantagem competitiva Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
A quarta revolução industrial, conhecida como A Indústria 4.0, é um conceito recente de
processo de manufatura que engloba inovações tecnológicas nos campos de automação, controle e
tecnologia da informação, A partir de Sistemas Cyber-Físicos, Internet das Coisas e Internet dos Serviços,
os processos de produção tendem a se tornar cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis.
Trata-se de uma nova era no contexto das grandes revoluções industriais, onde ocorrerão grandes
mudanças na forma como os produtos serão manufaturados. Entre diversas mudanças, uma intensificação
da substituição dos trabalhos manuais e repetitivos por mão de obra automatizada, por outro lado, novos
desenvolvimentos e pesquisa para uma grande variedade de tecnologias oferecerão novas oportunidades
para profissionais tecnicamente capacitados. Esse novo panorama industrial, dará espaço a dilemas que
vão desde educação e desemprego à questão da sustentabilidade.

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De acordo com a verificação de Palma et al. (2017), segundo exposto por Dombrowski e Wagner
(2014), entende-se que o termo “revolução industrial” corresponde à alteração de sistemas tecnológicos,
econômicos e sociais na indústria, bem como às circunstâncias de trabalho, às mudanças das condições de
vida da sociedade e na forma de distribuição da riqueza econômica.
Em complemento, observado por Oliveira e Simões (2017), os autores Dombrowski e Wagner
(2014) também afirmaram que o avanço das inovações tecnológicas, acompanham as mudanças radicais
ao longo das décadas, ocorrendo desdobramentos nos âmbitos sociais, políticos e econômicos, desta
forma tratando também que este conjunto de inovações e evoluções é denominado “revolução industrial”.
Para Cavalcanti e Nogueira (2017) a Quarta Revolução Industrial caracteriza-se pela utilização
de máquinas controladas por inteligência para fabricação de produtos, assim como a elaboração de
artefatos que fomentam a produção inteligente, que, diante das observações de Aires, Moreira e Freire
(2017a) ao exposto por Deloitte (2014), McKinsey (2016) e Schwab (2016), possibilitaram mudanças
profundas na forma de produção e consumo, desencadeando o desenvolvimento de novos modelos de
negócios.
No contexto apontado anteriormente, Santos et al. (2018) afirmam que, nas últimas décadas, o
desenvolvimento das tecnologias de informação e a integração nos processos de produção trouxeram
benefícios ao nível de toda cadeia de valor, e, observando o descrito por Cheng et al. (2015), entendem e
complementam que a evolução das tecnologias também alavancaram a produtividade industrial, por
conseguinte, reduzindo os custos de produção e fornecendo soluções eficazes para atender com qualidade,
velocidade e melhor custo-benefício. Neste mesmo sentido, de acordo com Urbikain et al. (2017), Santos
et al. (2018) também defendem que a introdução de novos conceitos permite melhorar a comunicação
entre fabricantes, clientes e fornecedores, bem como cria novas maneiras de atender através de novos
modelos de negócios.
A partir dos princípios que moldaram a Quarta Revolução Industrial, Amorim (2017) alude sobre
alguns impactos socioeconômicos que esta poderá impingir em escala global: (a) o surgimento de novos
modelos de negócios; (b) o incremento da pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação
(objetivando o aumento da segurança e confiabilidade dos sistemas); e (c) as alterações no mercado de
trabalho (com a criação de novas demandas especializadas e extinção de postos de trabalhos e/ou
profissões). Tal “revolução”, de acordo com Amorim (2017), está baseada em processos industriais
descentralizados, controlados autonomamente, sendo que esta, na concepção de CNI (2016), e tratado por
Aires, Moreira e Freire (2017a), se caracteriza pela integração e controle da produção a partir de sensores
e equipamentos conectados em rede e da fusão do mundo real com o virtual, criando os sistemas ciber
físicos e viabilizando o emprego da “inteligência artificial”.
Hermann et al. (2016), de acordo com o observado e reproduzido por Santos et al. (2018), tendo
como base os desenvolvimentos tecnológicos recentes atrelados a um cenário com demanda cada vez
maior por produtos personalizados, com maior complexidade, com maior qualidade e com custos
reduzidos, consideram a ascensão de um novo modelo de indústria (transformação do panorama
industrial), o qual está sendo discutido mundialmente sob o termo “Indústria 4.0” (ou identificada como
Quarta Revolução Industrial).
Enfim, na interpretação de Santos et al. (2018), a “Indústria 4.0” representa uma evolução
natural dos sistemas industriais anteriores. Conceito (ou contexto) que tem outras abordagens conceituais
apresentadas a seguir.
Conforme defende o autor, deverá ocorrer menos desperdício de material na indústria, portanto,
menos resíduos sólidos. Por outro lado, as tecnologias da Indústria 4.0 serão muito mais abundantes e
necessitarão de mais recursos naturais para serem produzidas. O uso dos recursos terá que ser muito mais
sustentável se a indústria quiser compensar.
Com início na virada do século XX, a Quarta Revolução Industrial, tratada por Cavalcanti e
Nogueira (2017) como uma “revolução” sem precedentes, apresenta a convergência e infusão entre as
esferas físicas, digitais e biológicas, bem como diferenciada das demais “revoluções” pelas características
de velocidade, amplitude e profundidade, além de ser sistemática e exponencial, com resultados
significativos em curto espaço de tempo.
A expressão (Quarta Revolução Industrial), também como contexto, se originou através de um
projeto de empresas, universidades e do governo alemão, tendo sido citado pela primeira vez durante a
Feira de Hannover (Hannover Fair), em 2011, com o intuito de modernizar as indústrias locais
(OLIVEIRA e SIMÕES, 2017), inclusive referenciar a ruptura sem precedentes e irreversível que a
humanidade e a economia tem sido introduzida, bem como utilizado para destrinchar a evolução nos
conceitos fabris que cooperam no alcance de objetivos de desempenho e de melhoria contínua de
processos (CAVALCANTI; NOGUEIRA, 2017).

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Conforme Bonilla et al. (2018), o princípio norteador da Indústria 4.0 inicialmente não foi
focado em fornecer soluções para os problemas ecológicos enfrentados pela produção, mas em aumentar
a produtividade, o crescimento da receita e a competitividade; inerentes aos requisitos essenciais como
padronização de sistemas, plataformas e protocolos, mudanças na organização do trabalho, Porém com o
complexo cenário para os desafios ambientais, a Indústria 4.0 emerge da sinergia da disponibilidade de
tecnologia digital inovadora e a demanda dos consumidores por produtos de alta qualidade e
personalizadas.
Em relação à sustentabilidade ambiental, conforme Smit et al. (2016), os impactos de longo
prazo da indústria 4.0 no desenvolvimento sustentável ainda não são claros, apesar de múltiplas
abordagens na literatura, buscando identificar e medir suas intensidades.
Buscando melhor identificar esses impactos na sustentabilidade, Beier et al. (2017)
desenvolveram estudo de caso em diversas empresas alemãs e chinesas, onde foram estudados os aspectos
relevantes que poderiam afetar positivamente ou negativamente cada uma das dimensões econômica,
social e ambiental.
Os mesmos autores confirmaram que a extensa digitalização fornecida pela indústria 4.0, pode
facilitar a contabilidade ambiental com alta qualidade e em tempo real, o que contribui para a gestão
ambiental.
Diante desse novo cenário é preciso que haja uma gestão estratégica eficaz do uso das
tecnologias e recursos naturais, promovendo, por exemplo, uma expansão do modelo tradicional de
negócios das empresas (fundamentados fortemente na dimensão econômica) para um novo modelo, que
passe a considerar também as dimensões ambiental e social além da financeira.
Conforme ratificado por Kiel et al. (2017), os impactos positivos ou negativos dentro do “Triple
Bottom Line” (TBL), gerados pelas novas tecnologias como a internet das coisas ainda são pouco
conhecidos ou explorados.
Mueller et al. (2018) propõem um modelo de pesquisa fundamentado no TBL, como
impulsionadores da implementação da Indústria 4.0 no contexto da sustentabilidade, analisando as
relações positiva e altamente significativa entre benefícios ambientais.
Também no contexto da produção sustentável, os autores Jabbour et al. (2018), propõem um
roteiro para aprimorar a aplicação dos princípios da economia circular nas organizações dentro a
abordagem Indústria 4.0, visando o uso sustentável dos recursos naturais.
Para Bonilla et al. (2018), apesar da existência de literatura abordando as oportunidades, desafios
e barreiras da indústria 4.0 em relação à sustentabilidade ambiental, permanece incerto até que ponto,
com que atraso, e em que estágio a implantação da digitalização da produção industrial promoverá ou
dificultará transformações que afetarão a sustentabilidade.
Assim, entende-se que a tecnologia ainda não foi suficientemente explorada do ponto de vista da
sustentabilidade, devido à sua novidade e aos diferentes graus de implementação mundial, embora pareça
promissor, seus impactos a longo prazo são incertos.
Portanto, esse trabalho tem como objetivo analisar as tecnologias que estão sendo utilizadas para
o que está se chamando de indústria 4.0 e verificar o impacto que elas podem trazer para as três
dimensões da sustentabilidade, a econômica, a social e a ambiental.

2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para o desenvolvimento desta pesquisa, de natureza teórica, foi utilizada a pesquisa bibliográfica.
A metodologia empregada para instruir o desenvolvimento e conduzir a elaboração deste trabalho tem
caráter exploratório, descritivo e qualitativo, tendo como base referencial teórico a produção científica
qualificada (teses, dissertações, e-books, artigos e outras publicações científicas da área).
Para Lakatos e Marconi (2007), a pesquisa bibliográfica permite aprofundar o conhecimento
sobre novos fatos.
Considerando a sustentabilidade um estado ideal, buscou-se na literatura análises empíricas de
autores que abordam os efeitos e consequências da introdução da quarta revolução industrial na
sustentabilidade do planeta, bem como estudos de caso que permitiram avaliar possíveis cenários que
prevejam como as novas tecnologias poderão gerar um aumento ou diminuição do estado sustentável.
A abordagem baseada em cenários tem sido usada em questões ambientais, análise de impacto,
futuro da energia sustentável e outros estudos prospectivos (MOSNIER et al., 2017).

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Buscou-se também na literatura a existência de estudos de caso que discutam sobre o impacto da
quarta revolução industrial nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a perspectiva da
Organização das Nações Unidas e que permitam elaborar uma correlação entre as características e
tecnologias inerentes da indústria 4.0 com os impactos gerados na sustentabilidade, conforme Figura 1.

Figura1 – Impacto dos elementos da operação da indústria 4.0 no TBL


OPERAÇÃO IMPACTOS

"smart production" ; "real-time


data" ; padronização;
"block-chain & smart contracts"
ECONÔMICO
SOCIAL

Conceitos
ENTRADAS SAÍDAS
Indústria 4.0
Matérias-primas Produtos
Big Data

Energia Resíduos
3D Print

Cloud
Cyber PS

IoT

Informação Ciclo Vida AMBIENTAL

Fonte: Adaptado de Bonilla et al. (2018, p.12).

3. TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA INDÚSTRIA 4.0


Cavalcanti e Nogueira (2017) demonstraram que, de acordo com Schuh et al. (2015), existem
quatro facilitadores da “Indústria 4.0” que são determinantes pela condição verificada neste novo cenário:
(1) tecnologia de informação globalizada, possibilitada pelo aumento progressivo da velocidade dos
computadores e da capacidade de processamento incorporada pelo acesso de dados massivos, de qualquer
geolocalização para simulações mais eficientes e de processamentos de dados maciços das organizações;
(2) existência de uma fonte unificada de dados consistentes, armazenadas no ciclo do produto; (3)
automatização, aliada às tecnologias facilitadoras; e (4) colaboração, abrangida por organizações a
sociedade, a qual se estabelece no cultivo da rede de contatos que estimulam as trocas de conhecimentos
entre os colaboradores e setores da indústria, seja na adoção de aparelhos inteligentes, seja na
descentralização das responsabilidades dos tomadores de decisão do sistema.
Diante do exposto, Cavalcanti e Nogueira (2017) compreendem e afirmam que produtos
inteligentes, novas tecnologias de produção e produção customizada em massa, são algumas das
iminências presentes na “Indústria 4.0”. Neste sentido, Mendes, Siemon e Campos (2017) descrevem que
empresas pioneiras alcançam desempenho estratégico quando entendidas as necessidades dos clientes
consumidores e utilizadas as tecnologias digitais para criar e fornecer valor em soluções inovadoras e
integradas, desenvolvendo produtos e serviços completos, denotando a importância de ter uma cultura de
transformação, de ser altamente colaborativa para ultrapassar os limites da empresa, inclusive envolvendo
seus parceiros.
Cabe considerar que as empresas necessitam trabalhar para superar os desafios iniciais dos seus
projetos, nos quais, segundo Mendes, Siemon e Campos (2017), devem ser desenvolvidas competências e
integração de processos automatizados com a área de tecnologia da informação, afirmando também que,
aquelas que estiverem confinadas (ou se impondo restrições) não conseguirão cultivar e transformar um
ambiente digital para obter e ter liderança.
O ambiente de “Big Data”, tratado na sequência, preliminarmente, é definido e considerado por
Furlan e Laurindo (2017) como sendo aquele que a “Internet das Coisas” quer alcançar, pois através
deste, no mundo virtual, se almeja gerar o máximo possível de dados do mundo físico.
Cabral e Said (2014), preliminarmente, definem “Big Data” como sendo um conjunto de dados
(dataset) cujo tamanho está além da habilidade de ferramentas típicas de banco de dados em capturar,
gerenciar e analisar. A definição é intencionalmente subjetiva e incorpora uma definição que se move de
como um grande conjunto de dados necessita ser para ser considerado um “big data”.

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Então, observa-se que, segundo o proposto e referenciado pelos autores, não há uma definição
precisa para “Big Data”. Entretanto, Cabral e Said (2014) e Oliveira e Simões (2017) fazem referência a
Zikopoulos et al. (2012), defendendo que o termo se caracteriza pela presença de quatro aspectos:
(1) Volume – a quantidade de dados disponíveis na internet com crescimento exponencial nos últimos
anos, ou seja, refere-se à quantidade de dados e informações que a indústria recebe ao longo de um
determinado tempo;
(2) Velocidade – rapidez que os dados podem ser capturados e processados, ou seja, descreve a rapidez
que as informações são criadas e dispostas na internet;
(3) Variedade – diversificadas fontes de dados em que podem ser encontrados, ou seja, refere-se à
variabilidade de formatos em que são coletados;
(4) Veracidade – os dados não apresentam uma verdade absoluta, na incerteza que possam gerar
informações úteis e oportunas, ou seja, condiz ao quão confiável e verdadeiro são os dados e as
informações.
Em complemento ao exposto acima, Oliveira e Simões (2017) discorrem que o termo se refere à
grande quantidade de dados armazenados pela empresa, que produzem em tempo real e utilizam no
gerenciamento de informações, nas pesquisas, coletas e nos cruzamentos de dados, bem como nas
análises para tomadas de decisões. Neste mesmo sentido os mesmos autores sinalizam que o “Big Data”
tem como propósito, na “Indústria 4.0”, colecionar todos os dados considerados relevantes e processá-los
com o objetivo essencial de transformá-los em conhecimentos, com intuito e finalidade de utiliza todas as
informações para tomar decisões inteligentes, consequentemente, sendo eficientes e eficazes para agregar
na indústria do futuro. Alinhado ao contexto, Lima Junior (2011) exposto por Cabral e Said (2014),
destacavam sobre a capacidade e facilidade em reunir e armazenar informações em banco de dados, bem
como sua utilização crescente na mesma proporção que novas tecnologias são desenvolvidas e
propagadas para facilitar o trabalho.
A “Internet das Coisas”, ou “Internet of Things” (IoT), ou “Web das Coisas”, ou então “Web of
Things” (WoT), conforme tratam Sun et al. (2014) e observam Furlan e Laurindo (2017), almeja
alavancar o cotidiano das pessoas por meio da geração de conhecimento de eventos que estão para
acontecer, servindo como interface entre o mundo físico (no qual se enquadram objetos materiais e
pessoas) e o virtual, situação que, de acordo com Zambarda (2014) no entendimento e exposição de Silva
et al. (2015), se refere a uma revolução tecnológica que conectará à internet outros dispositivos,
equipamentos, aparelhos, meios de transporte, entre outros bens e objetos. Neste sentido, para diversos
autores, conforme apregoam Pignanelli e Laurindo (2017), esse conceito, e as funcionalidades que seus
componentes proporcionam, podem e já estão mudando a forma como se interage com o ambiente de
trabalho, de lazer e/ou de necessidades básicas, inclusive captando e possibilitando o compartilhamento
de dados, proporcionando impactos sociais e econômicos na sociedade moderna.
Vasseur e Dunkels (2010) afirmam e Silva et al. (2015) referenciam e validam que, para a
“Internet das Coisas” existir se faz necessário a utilização dos objetos inteligentes, sendo que, para
Oliveira e Simões (2017), é uma proposta de desenvolvimento da internet na qual os objetos cotidianos
têm conectividade com a rede, através da qual é possível receber e enviar dados de forma independente e
inteligente, resultando na otimização de recursos.
No contexto da “Indústria 4.0”, somados à inteligência artificial e robótica com automação, de
acordo com Amorim (2017), complementam o tripé e se tornam o motor (ou motivador) para avanço da
Quarta Revolução Industrial, que, na visão de Oliveira e Simões (2017), devido a possibilidade de
conexão entre máquinas por meio de sensores e dispositivos eletrônicos, permitem e facilitam a
centralização e controle de produção, principalmente contribuindo para tornar a indústria inteligente.
Então, mesmo que o avanço tecnológico seja tratado como uma constante no campo industrial, apoiado
em disposições do relatório “The Future of Jobs”, Amorim (2017) trata e afirma que o surgimento da
“Internet das Coisas” é o grande divisor e fomentador da nova revolução industrial, uma vez que promove
diálogo entre sistemas e equipamentos de forma autônoma, possibilitando a tomada de decisões sem
interferência humana, apenas seguindo leitura dos dados, dos sistemas e dos módulos de produção.
Dispõem Porter e Heppelmann (2014), bem como observam e descrevem Pignanelli e Laurindo
(2017), que diversos tipos de produtos, em diferentes aplicabilidades e funcionalidades, possuem
componentes que permitem estabelecer conexões, denominados “produtos inteligentes” estão presentes
em todos os setores, os quais proporcionam mudanças na forma como os usuários se relacionam com o
mundo ao seu redor e como as empresas devem desenvolver suas estratégias para gerar vantagem
competitiva de produção. Nota-se que, segundo definições de Gerpott e May (2017) também tratadas por
Pignanelli e Laurindo (2017), a novidade em relação aos componentes que permitem a utilização na
“Internet das Coisas” (ou IoT) está na ligação (ou conexão) entre objetos físicos para os quais são

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atribuídos representações digitais, que permitem a interação com outros sistemas digitais, físicos ou
humanos, adicionando benefícios para diferentes usuários por meio de novas funcionalidades. Os citados
autores indicam que tais funções classificam-se em três tipos: (a) como facilitador de um serviço
essencial; (b) como adaptador de um serviço essencial (expandindo a funcionalidade de um serviço
essencial); ou (c) como inovador (criando valor somente pelo uso, suprindo uma necessidade antes não
atendida).
Então, nas abordagens de CNI (2016) e Schwab (2017), com referências de Aires, Moreira e
Freire (2017a), a interligação de diversos dispositivos deverá avançar para diversas áreas, permitindo que
dados sejam coletados em fontes distintas que, associadas a tecnologias de “Big Data”, computação em
nuvem e novas tecnologias de tratamento de dados, façam emergir novos modelos de negócios alterando
a forma como as empresas se relacionam com seus clientes e/ou fornecedores.

4. INDÚSTRIA 4.0 E SEU IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Na acepção de Schaltegger et al. (2003), considerado por Benites e Polo (2013), verifica-se que
surge o conceito de empresa orientada para práticas de sustentabilidade, com a principal característica
voltada ao esforço para reduzir os impactos sociais e ambientais, seja através da adaptação de seus
produtos, seja por meio da adequação dos seus processos e estruturas organizacionais, inclusive levando
em conta as atitudes dos diferentes atores para realizar quaisquer negócios com atividades que respeitem
amplamente o meio ambiente.
Descrevem Benites e Polo (2013) observando que, segundo Elkington (1999), o momento atual
de revolução cultural exige que as empresas estejam preparadas para se dirigirem ao desenvolvimento
sustentável, e, complementam ainda que, de acordo com as afirmações de Manzini e Vezzoli (2002), a
humanidade passa por um período de descontinuidade sistêmica, caracterizada pela tensão instalada entre
a globalização econômica, cultural e a emergência dos limites ambientais, as quais exigem a transição
para uma sociedade sustentável. Diante deste contexto, a sustentabilidade tem emergido como modelo de
interpretação pelas empresas, em suas três dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica,
ambiental e social (BENITES; POLO, 2013).
Neste contexto, compreende-se que, de acordo com as proposições de BM&F Bovespa (2010),
aludido por Benites e Polo (2013), o termo para descrever o papel das empresas com o desenvolvimento
sustentável é “sustentabilidade empresarial”. Na mesma linha, Benites e Polo (2013) consideram a
abordagem de Porter e Kramer (2006) sobre o princípio da sustentabilidade nas empresas, os quais
invocam o “Triple Bottom Line”, que consiste na busca da continuidade no mercado e no crescimento da
organização a partir de sua viabilidade econômica, além da coexistência harmônica com o meio ambiente
e sociedade. Enfim, observando também as interpretações de Savitz e Weber (2006), os mesmos autores
defendem que a sustentabilidade se converte em um princípio fundamental da gestão inteligente, a qual
dificilmente será ignorada.
A partir disso, segundo o que foi concebido por BM&F Bovespa (2010), também considerado
por Benites e Polo (2013), a sustentabilidade corporativa cada vez mais configura o “status” de vantagem
competitiva, sendo que, atualmente, nos negócios o termo é visto e tratado como uma estratégia
empresarial que gera valor a partir da busca de melhores resultados sociais e ambientais. Para os citados
autores, as empresas procuram inserir o tripé da sustentabilidade na estratégia e gestão de seus negócios,
onde surgem modelos que visam ao equilíbrio entre o capital natural e o humano como desenvolvimento
inclusivo com tecnologias limpas.
Segundo o estudo de CNI (2011), observado por Benites e Polo (2013), pode-se entender que
elementos de sucesso (como diferencial de preço, qualidade e fidelidade à marca) podem ser impactados
pelo não engajamento ao tema de sustentabilidade corporativa, e, portanto, consequentemente, afirma-se
que o bom desempenho da empresa não se associa à sua capacidade produtiva, de inovação e de
participação no mercado. Nota-se também que a sustentabilidade se apresenta como uma orientação para
fazer negócios num mundo interdependente, indicando novas maneiras de proteger a empresa contra
riscos ambientais, financeiros e sociais, bem como meios de dirigir com maior eficiência e produtividade,
além de promover seu crescimento por meio do desenvolvimento de novos produtos e serviços, incluindo
a abertura de novos mercados (BENITES; POLO, 2013).
Certamente o mundo não para, sendo que diariamente surge uma nova tecnologia, novas
invenções e outras profissões aparecem, e, portanto, consequentemente, apresentam-se também a quebra
de padrões ineficazes, a valorização da qualidade de vida e a evolução. Então, obviamente, nada pode ser
tratado como estático, uma vez que tudo (ou quase tudo) é prático e aplicável. E, segundo Bueno et al.
(2017), diante dessas mudanças constantes ou sistemáticas, as pessoas querem e procuram soluções para
seus problemas reais, objetivando otimizar sua condição de vida. Neste sentido, novos modelos de

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empresas e organizações também surgem, inclusive com proposta de gerarem valor umas às outras, com
investimentos baixos e estruturas adaptadas, em espaços colaborativos e economia criativa.
Aires, Moreira e Freire (2017a) seguem basicamente a mesma abordagem quando tratam que a
Quarta Revolução Industrial (ou “Indústria 4.0”) está alterando a forma dos trabalhos e relacionamentos
com o meio em que se vive. Denotam que a era da digitalização desafia a experimentar coisas que não
haviam sido experimentadas, inclusive os impactos que dependerão de fatores que não foram mensurados.
Comentam os autores que no campo organizacional ocorrem e são vivenciadas profundas mudanças em
escala, alcance e complexidade do processo produtivo, com base nas tecnologias cada vez mais
incorporadas ao trabalho. Estes autores também abordam que, de acordo com as exposições de Schwab
(2017), observa-se que os desafios desta nova fase industrial fomentará o desenvolvimento de soluções
que envolvam diversos “stakeholders”( conceito surgido recentemente, que traduzido para o português
significa “partes interessadas ou intervenientes), incluindo: a política global, os setores públicos e
privados, a academia e a sociedade de forma geral.
Assim, Aires, Moreira e Freire (2017a) considerando contextualizações de alguns autores,
destacam que a valorização da aprendizagem contínua precisa estar contida na cultura organizacional
(SENGE, 1994), principalmente se for considerado que a vantagem competitiva está na capacidade e
velocidade de aprendizagem das pessoas (DAVENPORT; PRUSAK, 1998), inclusive pelo fato de que na
sociedade da informação sobrevivem organizações que conseguem melhor gerir seus conhecimentos
(TEIXEIRA FILHO, 2000).
Em complemento, referenciando sobre as disposições de Senge (2012), Aires, Moreira e Freire
(2017a) descrevem que, para garantir o desejado sucesso organizacional, as empresas precisam
continuamente desenvolver competências individuais e institucionais, os quais se configuram em
investimento que gera uma força de trabalho capaz de aprender e aplicar seus conhecimentos, gerando
contínuas melhorias e inovações e, consequentemente, vantagem competitiva sustentável.
Saltiel et al. (2017) afirma que, desde o século XX, o crescimento e desenvolvimento social da
humanidade ocorrem de forma exponencial, o qual se dá em função do avanço tecnológico. Em conjunto
aos avanços, para Brynjolfsson e Mcafee (2014), também defendido por Saltiel et al. (2017),
compreende-se que a criação de sistemas de produção resulta em desenvolvimentos econômicos
sustentáveis para sociedade. Enfim, pretendendo atender tais demandas, principalmente as empresas de
manufatura, perceberam a necessidade de efetuar rápidos e eficientes ajustes em seus processos
produtivos (SALTIEL et al., 2017).
Consideram Palma et al. (2017) que desde a Primeira Revolução Industrial, a produção tem sido
uma das principais atividades econômicas da sociedade moderna, porém, tem carregado grande impacto
ao meio ambiente em termos globais. Apesar disso, Palma et al. (2017) afirmam que o interesse pela
sustentabilidade cresce ao longo do tempo, e, neste cenário as empresas ajustam suas estratégias para
incluir iniciativas que permitam a operacionalização de ações voltadas à sustentabilidade empresarial em
seu aspecto ambiental, econômico e social, não apenas para o ganho de produtividade.
As iniciativas por vezes restringem-se a ações internas nas empresas, e, a partir disso, fazem com
que os resultados não englobem toda a cadeia de valor na qual a empresa está inserida, conforme
descrevem Palma et al. (2017). Neste prisma, os autores afirmam que diversas restrições continuam a ser
impostas para que a sustentabilidade avance em todos os níveis, uma vez que as soluções necessitam de
esforços de integração, significativas modificações nos produtos, alterações em processos e no
comportamento das pessoas que operam em redes de alta complexidade.
Tratam Palma et al. (2017) que, com o avanço das tecnologias, especialmente as provenientes da
“Indústria 4.0”, um alto nível de conectividade entre os processos favorece a ampliação de produtos
customizados, bem como outros elementos que sugerem profundas alterações nos ambientes
organizacionais e na sociedade, os quais podem contribuir com o panorama e impactar direta e
positivamente nos três pilares da sustentabilidade (econômico, ambiental e social), conhecidos e tratados
como “Triple Bottom Line”, os quais, entre outros valores centrais das empresas que promovem a prática
sustentável, também foram abordados por outros diversos autores (NOBRE FILHO et al., 2006;
MAHLER, 2007; SEURING, 2008).
A “Indústria 4.0” tem o objetivo de lidar com necessidades personalizadas e desafios globais
para ganhar força competitiva, que, segundo Abreu (2018), consideram a crescente globalização dos
mercados. Para o mesmo autor as tecnologias de informação emergentes devem ser aplicadas aos aspectos
da indústria para promover as formas de integração desejadas. Neste ponto, de acordo com o
entendimento de Lee et al. (2014), os produtos personalizados e de alta qualidade podem estar disponíveis
no mercado através da utilização mais eficiente dos recursos com custo reduzido (ABREU, 2018).

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Com observações às interpretações de Lee et al. (2014), conforme descreve Abreu (2018), torna-
se possível acreditar que a “Indústria 4.0” engloba um efeito profundo que não se limita à própria
indústria e ao mercado, mas influencia também o estilo de vida e os meios e modos de trabalho. Então,
conclui-se que os novos sistemas de fabricação devem ser projetados para atender às necessidades
humanas, e, tendo como base Roblek et al. (2016), enfim sugere-se que os sistemas sejam uma
combinação de ferramentas do tipo robótico, principalmente exercendo o papel de agentes inteligentes
pessoais (ABREU, 2018).
Kiel et al. (2017) desenvolveu um estudo exploratório da literatura existente que trata dos
aspectos dos impactos da IoT sobre a sustentabilidade, ilustrado na Tabela 1.

Tabela1 – Aspectos relevantes dos impactos no TBL e literaturas específicas


Dimensão
Aspectos Relevantes Literatura
do TBL
Aumento da transparência dos custos Amshoff et al. (2015);
Melhoria na eficiência, flexibilidade, Arnold et al. (2016);
ECONÔMICA

padronização e qualidade Hofmann and Rüsch (2017);


Menores tempos de ciclo Kagermann et al. (2013);
Novos modelos de negócio Oesterreich and Teuteberg (2016);
Maiores investimentos requeridos Peukert et al. (2015);
Incerteza da rentabilidade Schuhmacher and Hummel (2016);
Stock and Seliger (2016);
Demanda do cliente incerta
Zhou et al. (2017)
Transparência na emissão de
Gabriel and Pessel (2016);
gases de efeito estufa
AMBIENTAL

Aumento de eficiência energética Herrmann et al. (2014);


Redução de desperdícios Müller et al. (2017);
Redução dos custos logísticos Qiu et al. (2015);
Sarkis and Zhu (2017); Stock and
Redução das falhas de entrega e
Seliger (2016)
produtos danificados

Melhoria na moivação do colaborador -


Gabriel and Pessel (2016);
remneração justa e auto-desenvolvimento
SOCIAL

Incerteza do efeito de criação de empregos Herrmann et al. (2014);


Redução do número de tarefas simples Stock and Seliger (2016);
Necessidade de transformação OrganizacionalTesch et al. (2017)
Melhoria no Networking, política e influência
na adoção da IoT
Fonte: Adaptado de Kiel et al. (2018, p.7).

A Tabela 1 fornece uma primeira orientação sobre os estudos já publicados sobre cada um dos
impactos relevantes e que poderão contribuir para o aprofundamento do aprendizado das organizações e
seus gestores.
Avaliando o universo de variáveis que atuam ao mesmo tempo sobre cada um dos impactos
relevantes das novas tecnologias, podemos considerar o processo de impacto da indústria 4.0 como
“estocástico” em relação às dimensões do TBL; ou seja, o processo como um todo é uma família
de variáveis aleatórias representando a evolução de um sistema de valores com o tempo. Ao invés de um
processo que possui um único modo de evoluir, pois há uma indeterminação: mesmo que se conheça a
condição inicial, existem várias, por vezes infinitas, direções nas quais o processo pode evoluir (KAC e
LOGAN, 1976).
Desta forma será preciso que as organizações aprendam com a evolução dos impactos, medindo,
controlando e aplicando correções de melhoria para que se busque um comportamento mais previsível
(aprendizado contínuo) ao longo do tempo e reduzindo o impacto negativo final sobre a sustentabilidade.
Ainda, conforme ilustrado na Tabela 2, as necessidades e oportunidades decorrentes da
integração das tecnologias da indústria 4.0, podem gerar efeitos positivos ou negativos sobre a
sustentabilidade, na medida que os processos são intensificados (BONILLA et al., 2018).

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Tabela 2 – Possíveis impactos gerados sobre a sustentabilidade a partir da necessidade ou oportunidades da


integração dos elementos da indústria 4.0
Elementos da Necessidades/ Impacto na
Efeito no Fluxo de Manufatura
Industria 4.0 Oportunidades Sustentabilidade

Aumento na demanda Aumento demanda matéria-prima Negativo


de equipamentos
Automação Aumento consumo energia Negativo
Aumento obsolescência Aumento na necessidade de
Negativo
equipamentos reciclagem
Aumento demanda matéria-prima (
Digitalização Aumento demanda de dispositivos Negativo
ex. Litio e Terras raras)

Produção Inteligente Aumento quantidade data-centers Aumento demanda energia Negativo


- IoT
- Integração de Integração e Verticalização Maior confiabilidade de dados Positivo
Criptografia Física
Maior controle consumo energia Positivo
Controle em Tempo Real Maior controle consumo conforme
Integração Horizontal Positivo
ciclo de vida do processo ou produto
Ecoeficiência (consumo material) Reduçãoconsumo material Positivo
Análise de Big Data
Otimização consumo energia Redução consumo energia Positivo
Fonte: Adaptado de Bonilla et al. (2018, p.12).

Percebe-se a partir da Tabela 2, que uma avalição dos possíveis impactos são ainda puramente
qualitativos e melhoria dessa avaliação somente será possível através de um aprofundamento das
organizações em seus processos produtivos, aplicando indicadores, medindo e analisando continuamente
os efeitos, os quais poderão refletir externalidades positivas ou negativas, conforme a dinâmica dos
efeitos conjuntos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de “Indústria 4.0” é contemporâneo e é considerado a nova fronteira da produção
industrial. O modelo combina integração tecnológica e fusão entre os mundos físico e virtual, englobando
tecnologias como internet das coisas, robótica, impressão 3D, manufatura híbrida, big data, computação
em nuvem, inteligência artificial e sistemas de simulação virtual. O conceito engloba a mixagem das
principais inovações tecnológicas atinentes à automação e surge com força em relação aos sistemas
produtivos atuais, principalmente pelo fato que estes não dispõem de ferramentas que possibilitem análise
rápida de informações para tomada de decisões, inclusive com relação à melhoria de produtividade das
organizações, sendo que torna-se um fator de competitividade em função da conectividade nos processos
que afetam e impactam a percepção de clientes e consumidores. A mixagem de tecnologias abre um leque
de possibilidades, novos negócios e solução de antigos problemas, como acesso remoto à saúde, cidades
inteligentes e melhorias da qualidade da mobilidade humana.
Cabe, entretanto às organizações avaliarem cuidadosamente que tipos de impactos dentro das
dimensões econômica, social e ambiental (“triple bottom line”) poderá ser gerado, uma vez que, havendo
a melhoria crescente na eficiência industrial, reduzindo falhas durante os processos e gerando menos
resíduos sólidos industriais, haverá por outro lado uma demanda crescente de matérias-primas e novas
tecnologias; ou seja, maior demanda de recursos naturais.
Desta forma, torna-se necessário aprimorar seus níveis de entendimento e discussão sobre os
impactos da indústria 4.0 para, assim, poder acompanhar este novo sistema de produção, reduzindo
externalidades e impactos negativos, assim como atingir o potencial e os benefícios de longo prazo que a
tecnologia tem a oferecer.

6. AGRADECIMENTOS

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O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de


Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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CAPÍTULO 6
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

APLICAÇÃO DA ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS EM PORTOS


BRASILEIROS: AVALIANDO A MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

Gabriel Luciano Borges de Carvalho1, Denise Helena Lombardo Ferreira2,


Letícia Caroline Soares da Silva3

1. Graduando em Engenharia Civil pela PUC-Campinas. E-mail: gabriel.lbc@puccampinas.edu.br


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: lombardo@puc-campinas.edu.com
3. Graduanda em Engenharia Química pela PUC-Campinas. E-mail:
leticia.sscaroline@outlook.com

RESUMO
A eficiência dos portos está diretamente relacionada com a sua competitividade frente aos demais, tanto
no âmbito nacional quanto no internacional. O Brasil apresenta um histórico de investimentos atrasados
em suas infraestruturas impedindo-o de acompanhar o desenvolvimento do país devido ao aumento das
demandas de importação e exportação de produtos e cargas. O setor portuário traz benefícios que se
estendem além do volume movimentado, também contribui para a economia na medida em que gera mais
empregos, cria valor agregado e estimula o crescimento urbano na região no qual está incorporado. Por
outro lado, pode acarretar sérios problemas ambientais. Neste cenário, esta pesquisa fundamentada na
compreensão da estrutura e dinâmica desse setor busca estudar a eficiência dos portos brasileiros no que
diz respeito à movimentação, importação e exportação de cargas. Para isso, utiliza-se a ferramenta
Análise Envoltória de Dados (DEA – Data Envelopment Analysis). Inicialmente realizou-se uma revisão
bibliográfica sobre a história do surgimento do setor portuário brasileiro, bem como procurou-se entender
a classificação, organização, administração desse setor. A partir do levantamento desses dados aplicou-se
a ferramenta DEA. É possível notar o destaque do porto de Santos (SP) quando comparado aos demais
portos analisados, considerado eficiente em todos os aspectos selecionados pelos autores.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentação de Carga, DEA, Eficiência.

1. INTRODUÇÃO
O setor portuário é responsável pela movimentação das riquezas de um país. Conforme Collyer
(2008), o porto representa uma fronteira nacional aberta, entreposto dinâmico de mercadorias, em que se
realizam atividades aduaneiras, alfandegárias, comerciais, sanitárias, tributárias, imigratórias, entre
outras. O Brasil possui uma costa navegável de 8,5 mil quilômetros contribuindo positivamente para
atuação do setor portuário, o qual movimenta cerca de 700 milhões de diversas mercadorias por ano e
encarrega-se de 97% das exportações e 86% das importações de mercadorias (UNDERMAN et al. 2012).
Contudo, o crescimento da atividade portuária no Brasil ao longo dos anos tem implicado no
desenvolvimento do setor. O incremento das instalações portuárias em consequência da dinamização da
movimentação de cargas, principalmente em ambientes costeiros, intensifica as pressões negativas sobre
o meio ambiente (SILVA, 2014). Assim, os principais impactos causados pelas atividades portuárias
segundo levantamento da Antaq (2018), referem-se às alterações do padrão hidrológico e da dinâmica
sedimentar; destruição e/ou alteração de áreas naturais costeiras como habitats ou ecossistemas; supressão
de vegetação; modificação no regime e alteração no fundo dos corpos d’água; poluição da água, do solo,
do subsolo e do ar; alteração da paisagem; geração de ruídos em ambientes urbanos; distúrbios na fauna e
na flora; atração de vetores de doenças, entre outros.
Para que os tomadores de decisão continuem a apoiar as operações portuárias, Pprism (2010)
ressalta a importância da implantação de uma efetiva gestão ambiental. Os indicadores de desempenho
ambiental constituem importantes instrumentos da gestão ambiental, já que funcionam como uma espécie

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de alarme para determinada situação ou condição que está sob análise, podendo ser utilizados para
mostrar claramente como determinada organização se comporta em termos de eficiência ambiental. Como
consequência, os indicadores promovem uma base sólida para futuras metas e desenvolvimento
(HAMMOND et al., 1995).
Contudo, para que todas essas vantagens surtam efeito, as atividades portuárias devem superar
uma série de desafios, como controlar o fluxo e o trânsito das cargas, reduzir os atrasos no processo de
carga e descarga dos navios, aumentar a capacidade de armazenamento e melhorar a conexão com o
transporte terrestre. Uma das formas de melhorar a gestão portuária é através do uso de indicadores.
Diversos autores reforçam a importância da sua definição e utilização para avaliar a eficiência dos portos
em sua situação atual como também a médio e longo prazo, estimulando a atração de cargas para os
terminais. Além disso, a falta dessas informações dificulta o planejamento das atividades do setor,
impactando toda a cadeia produtiva (GOBBI, 2015).
Neste sentido, o objetivo desta pesquisa consiste em conhecer e estudar os principais portos
brasileiros, selecionar as suas características relevantes e utilizar a ferramenta Análise Envoltória de
Dados a fim de verificar a eficiência do setor portuário brasileiro.

2. O SETOR PORTUÁRIO NO BRASIL


A história do sistema portuário brasileiro iniciou-se em 1808 com a abertura dos portos às nações
amigas ainda no período do império brasileiro. Isso ocorreu devido à necessidade da exportação de
madeira, ouro e outras riquezas exploradas no Brasil, além da importação dos produtos manufaturados,
especiarias e escravos africanos para a nobreza (GOBBI, 2015).
Decorridos os anos, na Proclamação da República, os portos foram privatizados, sendo o
primeiro deles, o Porto de Santos.
A partir de 1934, no Estado Novo, a administração retorna às mãos do poder público, porém,
com a instalação do regime militar o foco se voltou à segurança nacional, e o transporte em mercadorias e
atualização do setor portuário reduziu (CARMO, 2015). Contudo, foram criadas estatais com o intuito de
administrar os portos e instituídas as Companhias das Docas, o Ministério dos Transportes e a Empresa de
Portos do Brasil S/A (PORTOBRAS) (CARMO, 2015). Até que em 1993 foi instituída a Lei 8.630/1993
(BRASIL, 1993), conhecida como a Lei de Modernização dos Portos permitindo a administração dos
portos pelo setor privado. Isso demandou competitividade entre os portos instalados no Brasil na medida
em que se aumentaram os investimentos nas instalações com o foco em atrair mais clientes e, ao mesmo
tempo, reduzir os preços dos serviços (CARMO, 2015).
Anos depois, em 2007, foi criada a Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/PR)
com o objetivo de reorganizar o setor portuário a partir da identificação das dificuldades enfrentadas e das
necessidades de investimentos, garantindo sua eficiência e mantendo-o competitivo. Até que em 2013
publicou-se a Lei 12.815/2013 a qual demonstrou a importância dos investimentos no setor frisando a
necessidade de investimentos pela iniciativa privada, para melhorar a gestão e a eficiência das instalações
(GOBBI, 2015).

2.1 Estrutura dos Portos


Os portos em geral, podem ser classificados de acordo com sua localização geográfica, função
desempenhada e seu regime de exploração. Quanto à sua localização geográfica, um porto pode ser
classificado como marítimo (quando localizado em baias, estuários ou no litoral), fluvial (quando estiver
à margem de rios) ou lacruste (quando em lagoas ou à margem de rios sem acesso a outras bacias)
(BURATTO, 2013). E por fim, quanto ao seu regime de exploração, pode ser público ou privado, sendo
classificado como Portos Organizados e Instalações Portuárias Públicas de Pequeno Porte, para portos
públicos; e Terminais de uso privado (TUP) e Estações de Transbordo de Cargas (ETC), para portos
privados, de acordo com a Lei 8.630/1993 (BRASIL, 1993).
O Porto Organizado pode ser definido, resumidamente, como bem público construído para
atender às demandas de movimentação de carga, passageiros, necessidade de navegação, sob gestão de
autoridades portuárias (BRASIL, 2015). Já os Terminais de Uso Privativo (TUP) estão sob jurisdição de
pessoas jurídicas fora da área do porto organizado. Por fim, as Estações de Transbordo de Carga (ETC)
são instalações portuárias fora de domínios do porto organizado, cuja instalação portuária é explorada
pela autorização, operada exclusivamente para operação de transbordo de mercadorias em embarcações
(BRASIL, 2015). Atualmente, o Brasil conta com 37 Portos Públicos Organizados espalhados entre os
estados do país. Dentre eles, 18 são portos públicos delegados e 19 são administrados pelas Companhias

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dos Docas de cada estado (BRASIL, 2015). As autoridades responsáveis pela regulamentação da
atividade portuária são três principais: SEP/PR, Ministério do Transporte e ANTAQ - Agência Nacional
de Transportes Aquaviários. Contudo, diversas outras entidades da esfera federal normatizam e fiscalizam
o setor portuário (Figura 1).

Figura 1 – Órgãos federais com participação na normatização do setor portuário.

Fonte: Antaq (2013).

2.2 Uso de Indicadores no Setor Portuário


Outra problemática observada no setor portuário é a gestão ambiental no que diz respeito à
geração e disposição de resíduos. Por lidar com o transporte de produtos intercontinentais, os riscos de
contaminação dos ecossistemas típicos do Brasil devido ao descarte inadequado dos resíduos são muito
elevados (SILVA, 2014). Por isso, a ANTAQ exige a realização de um Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos, o qual obriga os portos a descreverem como é realizado o manejo dos resíduos desde
sua geração até seu descarte final (BURATTO, 2013).
Portanto, a definição dos aspectos mais importantes para melhorar a eficiência de um porto
permite o acompanhamento de seu desenvolvimento facilitando a tomada de decisão. Rumo a essa
tendência, a ANTAQ instituiu por meio da Resolução nº 2.650/2012, o IDA - Índice de Desempenho
Ambiental (ANTAQ, 2018). Dentre as características do indicador IDA para instalações portuárias, pode-
se dizer que é um número que mede o grau de atendimento às conformidades ambientais e é um fator que
permite compreensão da dinâmica gestão ambiental portuária.
A repercussão do índice IDA é progressiva, visto que há aderência pela sua utilização por órgãos
públicos como a SEP/DOCAS, projetos de expansão para Terminais de Uso Privativo, prêmios atribuídos
(Prêmio IDA) e publicidade crescente dos resultados publicados em veículos de comunicação da
ANTAQ, site das Docas e imprensa em geral. O índice baseado em modelo científico é considerado o
mais apto a interpretar as condições ambientais portuárias, dividido em quatro categorias: Econômico-
social, Sociológico-cultural, Físico-Químico e Biológico-ecológico.

2.3 Classificação e tipos de Resíduos Gerados pelos Portos


Inúmeros são os tipos de resíduos gerados e movimentados nas instalações portuárias. As
principais atividades poluidoras são: carga e descarga, armazenamento de produtos e cargas, resíduos das
atividades administrativas, acúmulo de rejeitos devido à má limpeza e acondicionamento, manuseio da
carga líquida a granel e geral e resíduos da embarcação – restos de alimentos, resíduos da tripulação e
óleos de ocasional manutenção (GOBBI, 2015). Dentre as regulamentações existentes, três são as mais

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utilizadas para enquadrar os tipos de resíduos encontrados nos portos, a Lei nº 12.305/2010, também
conhecida como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); a NBR 10.004/2004 da ABNT e a
Resolução CONAMA 005/1993 (FREITAS, 2015).
A PNRS classifica os resíduos de acordo com a sua origem, podendo ser, portanto, de origem:
doméstica, de limpeza urbana, de sólidos urbanos, de estabelecimentos comerciais e prestadores de
serviços, dos serviços públicos de saneamento básico, industriais, serviços de saúde, construção civil,
agrossilvopastoris, de serviços de transporte e/ou mineração (FREITAS, 2015).
Já a ABNT classifica os resíduos de acordo com sua natureza, podendo ser perigosos (Classe I);
não inertes (Classe II A) ou inertes (Classe II B) (FREITAS, 2015). Os resíduos Classe I são
caracterizados por possuírem características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade e/ou
patogenicidade. Já os resíduos Classe II (também chamados de não perigosos) são divididos entre os
subgrupos A e B. Os não inertes, não se enquadram na classificação pertinente aos resíduos perigosos,
porém possuem propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Enquanto que os inertes são todos os demais resíduos.
Por fim, mais específico e destinado ao setor portuário, tem-se a Resolução do CONAMA que
dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e
rodoviários (FREITAS, 2015). Os resíduos gerados nos portos podem ser classificados em quatro grupos
(Quadro 1).

Quadro 1 – Classificação dos resíduos gerados pelo setor portuário segundo a Resolução CONAMA 005/1993.
Grupo Classificação
Resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido à
A presença de agentes biológicos (em geral podem representar resíduos gerados a bordo das
embarcações e em ambulatórios).
Resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido às suas
características químicas (representados por resíduos gerados em áreas de operação de carga e
B
descarga ou em áreas administrativas como, por exemplo, lâmpadas com vapor de mercúrio,
pilhas e baterias).
Materiais radioativos ou contaminados com radionuclídeos (provenientes de laboratórios de
C
análises clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia).
Resíduos comuns (todos os demais resíduos não descritos anteriormente e que não apresentem
D risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser
equiparados aos resíduos domiciliares).
Fonte: Freitas (2015).
Dentre os tipos de resíduos mais gerados em um porto, Freitas (2015) destaca os seguintes:
restos de carga; embalagens (pallets, lâminas de plástico, cartões); resíduos domésticos dos setores sociais
(cantinas, oficinas, lavanderias, sanitários); lubrificantes e hidrocarbonetos usados, filtros, vernizes,
pinturas solventes e baterias de manutenção de máquinas e infraestrutura; restos de mercadorias estivadas;
ferragens; óleos; resíduos orgânicos; resíduos químicos; material de escritório; resíduos infectantes;
cargas em perdimento; sucatas.

3. METODOLOGIA
3.1. Ferramenta DEA – Data Envelopment Analysis
Desde a década de 30, estudos foram sendo realizados e desenvolvidos com o intuito de ser
criado um modelo matemático capaz de medir a eficiência de diferentes unidades de tomada de decisão.
Contudo, somente em 1978 foi divulgado o modelo da Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment
Analysis – DEA) pelos pesquisadores Charnes, Cooper e Rhodes (SUGUIY, 2017). No DEA, o conceito
de eficiência consiste em comparar as unidades produtivas a partir do montante por elas gerado e de uma
quantidade limitada de recursos. Aquelas classificadas como ineficientes podem atingir a fronteira de
eficiência a partir da alteração dos pesos atribuídos às variáveis de entrada e saída e da comparação do
montante máximo produzido pelas DMU’s mais produtivas (ÂNGULO MEZA et al., 2005).
Contudo, atualmente, os dois mais comuns e mais utilizados são aqueles com múltiplos recursos
e múltiplos produtos denominados Constant Return to Scale (CRS – Retorno Constante de Escala) ou
CCR – desenvolvido pelos pesquisadores Charnes, Cooper e Rhodes – e Variable Returns to Scale (VRS
– Retorno Variável de Escala) ou BCC – desenvolvido por Banker, Charnes e Cooper (ÂNGULO MEZA
et al., 2005). O modelo CCR como o próprio nome indica trabalha com retornos constantes de escala.
Com isso, qualquer variação, seja nas variáveis de entrada (também denominadas de inputs) ou nas de

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saída (denominadas outputs) produz uma variação proporcional em sua oposta (ÂNGULO MEZA et al.,
2005). Além disso, o modelo também pode trabalhar com duas orientações: input ou output.
O modelo BCC, por trabalhar com retornos variáveis de escala, deixa de considerar a
proporcionalidade entre as entradas e saídas, como ocorre no modelo CCR, pelo axioma da convexidade.
Com isso, as DMU’s que operam com baixos valores de input têm retornos crescentes de escala enquanto
que as com valores maiores têm retornos decrescentes (MELLO et al., 2008). Por outro lado, o modelo
BCC não adota esta proporcionalidade, possibilitando que as DMU’s consumam quantidades
significativas de recursos e tenham retornos decrescentes de escala e vice-versa (GOMES GARCIA et al.,
2017). Quando comparados os modelos apresentados, observa-se que na técnica CRS são encontrados
valores mais baixos de eficiência e, consequentemente, um número menor de DMU’s na fronteira
(SUGUIY, 2017).

3.2 Coleta de dados


Os portos analisados são: Porto de Santos (SP), Aratu-Candeias (BA), Salvador (BA), Ilhéus
(BA), Fortaleza (CE), Vitória (ES), São Sebastião (SP) - partes Sul e Norte avaliadas separadamente –
Natal (RN), e Maceió (RN). As variáveis que compõem este estudo dividem-se entre inputs e outputs;
após revisão da literatura selecionou-se três variáveis para atuar como inputs, dentre elas Extensão de
Cais, Profundidade do Canal e Capacidade de Armazenamento, para o output foi selecionado uma única
variável, neste caso Movimentação de Cargas (Tabela 1).

Tabela 1 – Dados obtidos para o ano de 2015


DMU Extensão de Capacidade Armazena- Profundidade Movimentação de
Cais (Km) mento (m²) de Canal (m) Cargas (Ton)
Santos 16 54221 15 119932
(SP)
Aratu-Candeias (BA) 0,895 31305 18 7083
Salvador (BA) 2,092 20084 15 4501955
Ilhéus (BA) 0,432 18050 16 255188
Fotaleza (BA) 1,116 30000 13 7011350
Vitória (BA) 0,766 40000 8,5 6820000
S.Sebastião NORTE 22,8 66000 14 49394
(SP)
S.Sebastião SUL (SP) 22,8 66000 23 49394
Natal (RN) 0,540 4400 10 502133
Maceió (AL) 1,487 63000 10,5 1765433
Fonte: Elaborada pelos autores.

A Tabela 2 destaca as médias das notas atribuídas pelo Índice de Desenvolvimento Ambiental –
IDA para o período de 2012 a 2015 para alguns portos brasileiros.

Tabela 2 – Notas atribuídas pelo IDA (média)


AVALIAÇÃO DO IDA - Anos de 2012, 2013, 2014 e 2015
2012 2013 2014 2015
Santos (SP) 67,54 62,42 62,00 64,49
Aratu-Candeias (BA) 42,26 38,44 42,46 44,83
Salvador (BA) 53,68 37,13 42,95 45,32
Ilhéus (BA) 35,15 35,60 45,41 46,60
Fonte: Elaborada pelos autores.

4. RESULTADOS
A seguir são apresentados os resultados obtidos com a ferramenta DEA a partir dos dados
coletados, variando entradas/inputs e saídas/outputs, com orientação dos modelos a output e input, e por
fim também considerando os modelos Constant Return to Scale e Variable Return to Scale. É possível
observar neste estudo a relevância do porto de Santos, visto que foi apontado em todas as análises como
eficiente para os aspectos avaliados.
É necessário ressaltar que o Porto de São Sebastião foi analisado diferentemente dos anteriores
devido a diferença de profundidade de canal da parte Norte (14m) da parte Sul (23m) do porto, e portanto,

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serão entendidas duas análises de eficiência ainda que se refira ao mesmo porto, justificada pela diferença
de profundidade de canal. Devido às dificuldades de encontrar dados em anuários estatísticos e em Planos
de Desenvolvimento e Zoneamento da maioria dos portos, o estudo limitou-se ao período de 2012 a 2018.
O Porto de Santos, Salvador, Aratu-Candeias, mostram-se muito mais dispostos a divulgar dados
estatísticos que os restantes.
A Tabela 3 destaca as eficiências obtidas com o modelo CRS, com orientação a output e com
orientação a input.

Tabela 3 – Resultados (considerando parte norte e sul do Porto de São Sebastião) – Modelo CRS
DMU PADRÃO (CRS orientado a output) PADRÃO (CRS orientado a input)
S.Sebastião S.Sebastião SUL S.Sebastião S.Sebastião SUL
NORTE NORTE
Santos (SP) 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
Aratu-Candeias (BA) 0,9415 0,9415 0,9415 0,9415
Salvador (BA) 0,2804 0,2804 0,2804 0,2804
Ilhéus (BA) 0,0687 0,0687 0,0687 0,0687
Fotaleza (BA) 0,7687 0,7687 0,7687 0,7687
Vitória (BA) 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
S.Sebastião 0,0004 0,0003 0,0004 0,0003
Natal (RN) 0,1218 0,1218 0,1218 0,1218
Maceió (AL) 0,1423 0,1423 0,1423 0,1423
Fonte: Elaborada pelos autores.

4. CONCLUSÃO
Devido às dificuldades de levantar dados em anuários estatísticos e em Planos de
Desenvolvimento e Zoneamento da maioria dos portos, o estudo limitou-se ao período de 2012 a 2018,
com destaque para o ano de 2015, tendo em vista que todos os portos brasileiros analisados
disponibilizaram dados este ano específico.
A partir dos estudos realizados pode-se concluir a plena eficiência dos portos de Santos (SP) e
Vitória (ES) no modelo CRS, com orientação a input e orientação a output. O porto de Aratu-Candeias
(BA) mostrou ser o segundo mais eficiente, com o valor de aproximadamente 94% de eficiência, e em
terceiro lugar o porto de Fortaleza (CE) com aproximadamente 77%, os demais portos apresentaram baixa
eficiência.
Os resultados obtidos mostram ser apenas o princípio de um estudo que deve ser aprofundado,
permitindo contribuir para melhor tomada de decisão de órgãos competentes que detém o direito de
gerenciar um setor de tamanha importância para a economia brasileira como é o setor portuário, de
desempenho decisivo para entendimento de dados de importação, exportação, movimentação de cargas,
dentre outros.

5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

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CAPÍTULO 7
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

MANUFATURA SUSTENTÁVEL: APLICAÇÃO EM UMA EMPRESA


DO SETOR GRÁFICO

Othon Fabrício Martins da Silva1, Cibele Roberta Sugahara2, Samuel Carvalho De Benedicto3,
Vagner Cavenaghi4

1. Professor no Instituto de Ensino Superior de Indaiatuba (Unimax). E-mail:


othon.silva@gmail.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia
e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
cibelesu@puc-campinas.edu.br
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia
e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
Samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
4. Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Estadual Paulista –
UNESP, Campus Bauru. E-mail: vagnerc@feb.unesp.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estudar como os conceitos da Manufatura Sustentável podem ser
aplicados em uma empresa gráfica brasileira, destacando as boas práticas e principais dificuldades de sua
aplicação e recomendações para outras empresas deste ramo. A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação
com uma abordagem qualitativa e descritiva. Os dados foram coletados por meio de questionário,
pesquisa documental, entrevistas individuais e coletivas e observação participante. A pesquisa mostra que
a empresa assimilou rapidamente os conceitos da Manufatura Sustentável, alinhando-as à prática
empresarial, integrando as ações estratégicas, gerenciais e operacionais ao âmbito social, ambiental e
econômico. Os indicadores de sustentabilidade propostos pela Global Reporting Initiative (GRI) foram
adotados. Como resultado de um trabalho coletivo realizado em três unidades operacionais da empresa,
resultados expressivos foram conquistados em seu desempenho de médio prazo. As dificuldades para a
implementação dos conceitos de Manufatura Sustentável foram muito inferiores aos benefícios obtidos,
para os acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores e a sociedade. Desta forma, o estudo conclui que
a aplicação dos conceitos de Manufatura Sustentável é viável e recomendável para empresas do segmento
estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Manufatura Sustentável, Global Reporting Initiative. Empresas


gráficas.

1. INTRODUÇÃO
A preservação e a conservação das condições ambientais do planeta tornaram-se uma
preocupação dos Estados e de toda a sociedade influenciando a maneira como as organizações são
geridas. Como as organizações geram impactos ambientais e sociais para a sociedade, percebe-se a
necessidade de uma abordagem de gestão ambientalmente pró-ativa (BOIRAL, 2006).
Nesse contexto, as empresas vêm desenvolvendo maior consciência em relação aos efeitos
produzidos pelas suas operações na sociedade. Isso pode ser atribuído, à necessidade das empresas de
buscarem, dentro da dinâmica atual de negócios, a revisão de seus modelos de gestão e a inclusão em suas
agendas de questões como: ética nos negócios, investimentos na comunidade de seu entorno, meio
ambiente e preservação, governança corporativa, direitos humanos, mercados e competição, o ambiente
de trabalho, corrupção e responsabilidade pelo ciclo de vida do produto e sustentabilidade (MICHELSEN
et al., 2006; ZUIDWIJK; KRIKKE, 2008).
Com a crescente discussão acerca da sustentabilidade nas organizações, John Elkington,
cofundador da organização não governamental internacional Sustainability, cunhou o denominado “Tripé

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da Sustentabilidade”(Triple Bottom Line - People, Planet, Profit). Esse conceito adota dimensões que
contemplam valores e resultados de uma organização medida a partir dos aspectos sociais, ambientais e
econômicos. Nessa perspectiva, as empresas com fins lucrativos devem fornecer para a comunidade e
para os seus clientes evidências de ações e resultados que favoreçam a sociedade e a preservação do meio
ambiente (ELKINGTON, 2011).
A partir do Tripé da Sustentabilidade que incorpora os componentes social, ambiente e
econômico nota-se um salto da sustentabilidade teórica para a prática, representando a incorporação dos
valores sociais e ambientais às medidas econômicas tradicionais de uma corporação tornando-as
mensuráveis (DE BENEDICTO et al., 2015).Para a sustentabilidade dos negócios, o desenvolvimento
sustentável foi inserido na agenda das empresas visando à adoção de estratégias e ações que atendem as
necessidades das corporações e das suas partes interessadas, enquanto protegem, mantém e melhoram os
recursos humanos e naturais que podem ser necessários no futuro (LABUSCHAGNE et al., 2005).
Em meio ao debate da sustentabilidade como um recurso de criação de valor e visando o
desenvolvimento sustentável da produção industrial, as organizações recorrem ao conceito da Manufatura
Sustentável como uma forma de conceber produtos que possam ser reciclados, remanufaturados ou
reusados, empregando processos ambientalmente corretos e que utilizem os recursos naturais e a energia
de forma racional, mantendo o negócio em níveis competitivos com solidez econômica (SILVA et al.,
2016).
Veleva et al. (2001) definem a Manufatura Sustentável como sendo a criação de mercadorias e
serviços usando processos e sistemas que respeitam uma série de princípios, como favorecimento das
comunidades próximas ou ainda o treinamento de funcionários visando à sua maior satisfação e
capacitação para o trabalho. Os principais princípios são: processos, produtos, trabalhadores,
comunidades e stakeholders.
O modelo de Manufatura Sustentável representa um novo paradigma que busca trazer dimensões
adicionais à geração de valor econômico, contemplando prevenção de perdas e mitigação dos impactos
ambientais. É nesse contexto, que a Manufatura Sustentável pode ser um instrumento para contribuir
significativamente para a obtenção de benefícios econômicos, a melhoria da competitividade e a imagem
empresarial.
A difusão e a aplicação do conceito de Manufatura Sustentável representam a adoção de um
novo paradigma, que exige a análise das dimensões econômicas, sociais e ambientais para verificação de
sua efetividade, ou seja, ampliar o entendimento de que diminuir a insustentabilidade não é o mesmo que
criar sustentabilidade (EHRENFELD, 2005).
Diante do exposto, pergunta-se: os conceitos da Manufatura Sustentável podem ser aplicados em
empresas do segmento gráfico? Quais os benefícios podem ser auferidos desse processo? Quais as
principais dificuldades encontradas na execução do processo?
Este trabalho tem como objetivo estudar como os conceitos da Manufatura Sustentável podem
ser aplicados em uma empresa gráfica brasileira, destacando as boas práticas e principais dificuldades de
sua aplicação e recomendações para outras empresas deste ramo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
Com o intuito de contemplar a proposta do estudo, nesta seção serão destacadas as bases
conceituais que referenciam diferentes abordagens sobre a sustentabilidade e manufatura sustentável. Em
seguida, serão apresentadas as bases teóricas sobre o conceito de Relatório de Sustentabilidade.

2.1 Sustentabilidade e manufatura sustentável


O desenvolvimento sustentável tem sido tratado na literatura como um conceito em evolução que
engloba um balanço entre desenvolvimento econômico, gestão ambiental e igualdade social. Esse
conceito compreende um processo para o alcance do desenvolvimento humano de forma inclusiva,
interligada, igualitária, prudente e segura (OLIVEIRA et al., 2012).A importância do desenvolvimento
sustentável despertou o interesse da sociedade em desenvolver alternativas para a sua aplicação no meio
industrial e acadêmico (GANDHI et al., 2006).
A partir dessa perspectiva, a sustentabilidade pode ser entendida como um conjunto de valores e
critérios, englobando entre os quais a sustentabilidade social, cultural, ecológica, ambiental, territorial,
econômica e política (SACHS, 2008). Segundo Sikdar (2003) a sustentabilidade depende de condições
econômicas e sociais que sejam melhoradas ao longo do tempo sem exceder a capacidade ambiental.

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No ambiente das empresas, a sustentabilidade depende da adoção de estratégias e ações de


inovação contínua (produtos e processos) que atendam às necessidades das empresas e dos diferentes
stakeholders, enquanto protegem, mantém e melhoram os recursos humanos e naturais que podem ser
necessários no futuro (LABUSCHAGNE et al., 2005).As dimensões da sustentabilidade e suas
interações com foco em uma atividade economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente
justa são apresentadas na Figura 1.

Figura 1 – Dimensões da sustentabilidade

Fonte: UNEP (2007).

A introdução de modelos sustentáveis nas organizações e, em especial, nos sistemas de produção


aconteceu a partir de abordagens gradativas e complementares. Inicialmente, a abordagem era voltada
para o design de novos sistemas de produção que incorpora práticas para o tratamento de perdas e
resíduos – também chamado de abordagem end-of-pipe – e, mais recentemente, o esforço se concentrou
em prevenir tais perdas e resíduos através do design de processos mais limpos e eficientes, ou cleaner
production (FRONDEL et al., 2007).
Dentro desse contexto, as empresas devem realizar o aprimoramento tecnológico dos seus
produtos e processos como meio de prevenir a poluição e também melhorar a produtividade de seus
recursos. A poluição pode ser considerada como uma forma de desperdício econômico. Quando sucata,
substâncias tóxicas ou fontes de energia são descartadas no meio ambiente como poluição, isso é um sinal
de que os recursos não foram usados de maneira completa e eficientemente.Uma forma de regular e
certificar as “operações sustentáveis” das organizações é por meio da adoção de normas e padrões de
referência como: Accountability – AA 1000; Social Accountability – SA 8000; Global Reporting
Initiative – GRI; Environmental Management Standards – ISO 14000; International Guidelines for Social
Responsibility – RS ISO 26000 (CASTKAA; BALZAROVAB, 2008).
A discussão sobre a sustentabilidade e a manufatura sustentável nas organizações relacionam-se,
uma vez que a manufatura sustentável retrata como a transformação de produtos sem emissão de gases do
efeito estufa, sem utilização de recursos não renováveis, sem utilização de produtos tóxicos e sem a
geração de resíduos (PLATTS 2007).
Um dos principais desafios da Manufatura Sustentável é demonstrar que investimentos,
inovações, melhorias e práticas sustentáveis podem trazer ganhos reais e vantagem competitiva para as
empresas. Nesse sentido, Porter e Kramer (2006) destacam os benefícios a serem desfrutados pela
empresa com a melhoria da sustentabilidade de seus processos, tais como: economia de materiais pelo
melhor processamento, com substituição, reuso e reciclagem de inputs de produção; aumento na
capacidade de processo; menor tempo de parada devido ao monitoramento e manutenção mais cuidadosa;
melhor utilização de subprodutos; conversão de resíduos em formas mais valiosas; menor consumo de
energia durante o processo de produção; menores custos de manipulação e estocagem; ganhos em razão

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do ambiente de trabalho mais seguro; eliminação ou diminuição dos custos das atividades envolvidas no
descarte ou manipulação de materiais e transporte.
Para que a implantação da manufatura sustentável seja efetiva Platts (2007) destaca que são
necessárias cinco estratégias: (i) redução dos recursos materiais e energia; (ii) substituição de recursos
materiais nocivos e de fontes de energia não renováveis; (iii)melhoria da proporção dos produtos
desejados em relação às saídas não desejadas;(iv) reutilização dos elementos de saída, e; (v) redefinição
da proposta do negócio.
Essas questões compreendem pensar que a manufatura deve ser incorporada nas estratégias da
empresa. Para Neely et al. (2005), a estratégia da manufatura não deve ser definida apenas por técnicos e
engenheiros, mas em conjunto com outros especialistas e a alta administração, os quais devem estar
inseridos no processo de decisão, buscando integrar a manufatura com o planejamento estratégico
empresarial. A empresa deve definir os objetivos e contar com um sistema de medição de desempenho
que possibilite que cada participante do negócio contribua para o alcance dos objetivos e o atendimento
da estratégia. A medição de desempenho é o processo de quantificar a eficiência e eficácia de uma ação.
Atualmente, o instrumento mais utilizado pelas empresas para medir o seu desempenho é o
relatório de sustentabilidade, que será discutido a seguir.

2.2 Relatório de sustentabilidade


Elaborar relatórios de sustentabilidade que tratam de mensurar e divulgar os impactos
socioambientais causados pelas atividades cotidianas das organizações vem sendo uma prática
incorporada por empresas localizadas em diversos países. Fato bastante comum na Europa, na América
do Norte e no Japão e que se torna cada vez mais relevante nos mercados emergentes. Um número
crescente de empresas tem percebido os benefícios da adesão a este tipo de relatório, que aufere maior
transparência e integridade sobre o desempenho de sustentabilidade das organizações, tornando-o, desta
forma, uma importante força motriz para o desenvolvimento de uma relação melhor entre sociedade e
meio ambiente (CAMPOS et al., 2013).
Hart e Milstein (2004) destacam que a criação das métricas e dos indicadores de sustentabilidade
devem ser instrumentos de criação de valor, principalmente para os acionistas. A menos que a empresa
consiga operar eficientemente e reduzir seus riscos proporcionalmente a seus retornos, o valor do
acionista será destruído.
A estrutura conceitual da medição de desempenho em sustentabilidade consiste em coletar dados
mensuráveis e rastreáveis das organizações, que reflitam os principais aspectos de impacto ou pontos de
pressão. A partir de tais informações, os aspectos de impacto são transformados em relatórios que contém
os impactos em sustentabilidade agrupados em categorias e ponderados de acordo com os fatores de
importância. O grande desafio é gerar e disseminar informações para a tomada de decisão sobre
sustentabilidade que sejam robustos, relevantes, acurados e viáveis em custo para os usuários (PEREIRA
et al., 2015).
Os indicadores de manufatura sustentável são similares aos indicadores de sustentabilidade, visto
que eles consideram todas as três dimensões de desenvolvimento sustentável – meio ambiente, aspectos
sociais e economia. A diferença, no entanto, é que os indicadores de manufatura são desenvolvidos
basicamente para instalações produtivas, e eles objetivam direcionar todos os aspectos-chave de produção
– energia e uso de material (recursos), meio ambiente, desenvolvimento da comunidade e justiça social,
desempenho econômico, trabalhadores e produtos (VELEVA et al., 2001).
A crescente criação de normas de adesão voluntária e relatórios públicos têm destacado o
interesse das empresas e da sociedade acerca do caráter ético e social fazendo com que os relatórios de
sustentabilidade baseados principalmente nas diretrizes do GRI, Instituto Ethos e o Balanço Social fossem
amplamente utilizados como instrumentos de gestão e publicação dos indicadores de sustentabilidade e
seus resultados.
Elaborar o relatório de sustentabilidade é a prática de medir, divulgar e prestar contas aos
stakeholders tanto internos como externos do desempenho organizacional visando ao desenvolvimento
sustentável, pois suas diretrizes consistem de princípios para a definição do relatório e a qualidade das
informações relatadas pela empresa, onde também se devem informar temas técnicos e relativos à
elaboração do relatório.
Em sua versão “G3.1”, lançada em 2011, as diretrizes para relatório da sustentabilidade do GRI
mantiveram os indicadores alocados em categorias, alguns com natureza quantitativa e outros qualitativa,
além de serem categorizados como essenciais (55 indicadores) e complementares (29 indicadores). A

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escolha dos indicadores está relacionada com o perfil e o foco de cada empresa e de seus stakeholders
(GRI, 2011). Os níveis de avaliação do GRI são apresentados na Figura 2.

Figura 2 – Seis níveis de avaliação da GRI

Fonte: Adaptado de GRI (2011).

A Global Reporting Initiative (2011) recomenda que os relatores devam declarar o nível em que
se aplicam a estrutura de relatórios, baseada em sua própria avaliação, por meio de sistema de níveis de
aplicação intitulados C, B ou A, que indicam a evolução da aplicação ou cobertura dos indicadores. Uma
organização poderá se auto declarar um ponto a mais (+) em cada nível, (por exemplo, C+, B+, A+), se
optar pela realização de uma auditoria de verificação. Serão reconhecidos somente os relatórios que
apresentarem uma grade do Nível da Aplicação, mas que não substitui e nem equivale a uma verificação
externa (GRI, 2011).
A implementação, o monitoramento e a divulgação dos indicadores podem ser realizados de
forma progressiva. Declarar o nível de aplicação é uma comunicação clara e transparente sobre quais
elementos da Estrutura de Relatórios da GRI foram aplicados na elaboração do relatório (GRI, 2011).
Influenciado por alterações no campo de relatórios, tais como a introdução de conceitos,
tendências e demandas de novos entrantes, o GRI publicou uma nova diretriz denominada “G4” e foi
projetado para ser universalmente aplicável a todas as organizações de todos os tipos e setores, grandes e
pequenos, em todo o mundo (GRI, 2017).
Este trabalho analisa a aplicação da manufatura sustentável numa empresa do setor gráfico
brasileiro que tem importante representatividade no desenvolvimento econômico do país. A questão
ambiental nesse setor, segundo o CETESB (2012), é ainda mais valorizada pelo fato de haver expressivo
desperdício de matérias-primas e insumos que variam entre 5% a 36% do volume produzido. O setor
gráfico vem sofrendo gradativamente com pressões de clientes, órgãos ambientais e de novas legislações,
o que faz com que esse setor necessite de uma postura madura para estabelecer novas formas de gestão
visando assegurar sustentabilidade em seus padrões de produção.

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Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Gráfica – ABIGRAF, existem no Brasil


aproximadamente 20 mil empresas gráficas, empregando 199 mil pessoas. Em 2015, essas empresas
geraram R$ 45 bilhões para a economia nacional em vendas, e investiram, ainda, US$ 697 milhões
somente em máquinas e equipamentos. Dentro do setor gráfico destaca-se o segmento de embalagens que
representou mais de 42% dos negócios gerados em 2015 (ABIGRAF, 2017).
De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens ABRE (2017), o valor bruto da produção
física de embalagens atingiu o montante de R$ 64,3 bilhões em 2016, um aumento de aproximadamente
6,6% em relação ao ano de 2015.
Na sessão seguinte, apresenta-se a metodologia da pesquisa visando verificar a aplicabilidade do
tema em uma empresa gráfica e alinhar os conceitos de desenvolvimento sustentável ao atendimento da
crescente demanda das partes interessadas por desempenho ambiental e social alinhados ao desempenho
econômico.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa dedicou-se à aplicação de conceitos da manufatura sustentável visando ao
aperfeiçoamento do sistema de produção com vistas à maximização da utilização dos recursos e à
minimização dos impactos da operação, respeitando os valores e as expectativas da empresa, e atendendo
às demandas crescentes dos clientes e demais partes interessadas acerca do desempenho ambiental e
social, além do desempenho de mercado.
O referencial teórico buscou levantar as principais dimensões sobre a manufatura sustentável e
os relatórios de sustentabilidade, enfatizando a aplicação dos conceitos de manufatura sustentável, com o
intuito de verificar a aplicabilidade do tema em uma empresa gráfica frente a pontos considerados na
literatura.
Neste estudo foi empregada a pesquisa-ação com uma abordagem qualitativa e descritiva. A
pesquisa-ação é a produção de conhecimento que guia a prática, com modificação de uma realidade
ocorrendo como parte do processo de pesquisa. Nesse método de pesquisa, o conhecimento é produzido e
a realidade é modificada simultaneamente, cada um ocorrendo devido ao outro (COUGHLAN, 2002).
O protocolo de coleta de dados foi composto por um roteiro elaborado a partir do referencial
teórico da pesquisa (YIN, 2015). A coleta de dados utilizou como fontes de evidências as seguintes:
questionário, pesquisa documental (relatórios de desempenho, consumo de recursos e documentos
empresariais), entrevistas individuais e coletivas e a observação participante (THIOLLENT, 2015).
Também foram utilizados instrumentos de intervenção como gráficos de priorização, brainstorming
(levantamento de ideias), gráfico de pareto, diagrama de causa e ata de reunião. O uso de tais fontes
corrobora para o entendimento de maiores detalhes das características e componentes do problema
(LAVILLE; DIONNE, 2007), assim como justifica a escolha pela condução de uma pesquisa de caráter
qualitativo, pois a pura coleta de dados quantitativos não explica os fatores que se deseja analisar.
A coleta de dados ocorreu ao longo dos anos de 2008 a 2014, computando os dados de 2008 a
2013 fornecidos pela empresa.
A análise qualitativa dos dados seguiu os pressupostos de (THIOLLENT, 2015) que desenvolveu
uma análise qualitativa de conteúdo adequada ao tratamento dedados obtidos em pesquisa-ação. Neste
caso foram utilizadas categorias de análise de modelos teóricos já existentes para as interpretações.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta seção é composta pelas seguintes etapas: caracterização da empresa estudada; planejamento
para implantação da manufatura sustentável; diagnóstico; análise de dados; implementação das ações, e;
avaliação dos resultados.

4.1 Caracterização da empresa estudada


A empresa escolhida para este estudo é de natureza familiar, de capital fechado, e iniciou suas
atividades em 1985. Tornou-se uma importante competidora no setor, atendendo todos os estados
brasileiros e, atualmente, compõe um Grupo empresarial contando com quatro fábricas que operam no
interior do Estado de São Paulo.Os negócios principais são formulários em geral, rótulos e etiquetas
adesivas, bobinas para automação comercial, embalagens flexíveis e impressão digital para a
personalização de produtos.

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O Grupo possui um Sistema de Gestão da Qualidade baseado no padrão normativo ISO 9001,
certificado desde o mês de agosto de 2008, que busca a padronização, organização e, consequentemente,
melhoria contínua dos processos de decisão, produtivos e administrativos, tudo com a finalidade de
melhorar a satisfação dos clientes.
Atualmente, possui milhares de clientes de diversos setores, segmentos, portes variados,
industriais, varejistas, entidades privadas e públicas. A alta direção do Grupo é quem lidera a definição
dos objetivos estratégicos, dos valores organizacionais e é responsável pela avaliação do desempenho dos
negócios.
Nos últimos anos, a empresa tem presenciado significativas perdas de recursos, principalmente
matéria-prima e insumos. Por essa razão, a empresa tem recebido pressões de seus clientes para
iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável.
A aplicação na empresa dos conceitos de sustentabilidade e da manufatura sustentável
possibilitou antecipar as tendências do mercado e transacionar as práticas gerenciais isoladas e
estabelecidas até o momento para um modelo com foco no desenvolvimento sustentável, visando a
integrar as ações no âmbito social, ambiental e econômico. No entendimento dos diretores, para ser
sustentável, a empresa deveria ter exemplares práticas gerenciais e operacionais, objetivos e metas claros
e bem definidos, e atuar de forma competitiva, considerando três importantes dimensões de atuação:
Social: respeitando, apoiando e patrocinando a comunidade; visando ao bem-estar e à motivação dos
colaboradores e de todos que se relacionam com a empresa, entendendo que o sucesso dos mesmos
representa o sucesso da empresa. Nesse contexto, responsabilidade social significa mudança de atitude,
numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para
todos: funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, governo, concorrentes, e comunidade.
Ambiental: a empresa se relaciona de alguma forma com o meio ambiente, portanto tem a
responsabilidade de zelar por ele. Dessa forma, ela deve atuar sempre de maneira ecologicamente correta,
visando minimizar os impactos ambientais negativos por ela causados.
Econômico: o balanço financeiro deve ser positivo para demonstrar sua sustentabilidade e viabilidade
econômica. Num âmbito geral, a sustentabilidade econômica visa tanto ao presente quanto ao futuro e,
nesse ponto, interliga-se a medidas de outras abrangências como, por exemplo, a sustentabilidade
ambiental e social.
Internamente, a empresa nomeou um gestor que outrora era responsável pela Gestão da Qualidade e
Produtividade para atuar como coordenador do projeto de manufatura sustentável.

4.2 Planejamento para implantação da manufatura sustentável


Em 2008, iniciou-se a atividade de planejamento do projeto de manufatura sustentável. Dentre as
ações propostas no planejamento foi priorizada a elaboração da visão da empresa sobre a
Sustentabilidade, a partir da união do conceito de sustentabilidade.
Inicialmente, o planejamento do projeto visou identificar os recursos necessários para a
implantação do mesmo, considerando as fases do processo e a eficácia dos possíveis resultados. Na
primeira reunião de trabalho foi realizada uma apresentação conceitual sobre manufatura sustentável para
os líderes dos processos da organização. Nessa oportunidade, foi definida a estrutura de pessoas que
formaria o Comitê da Sustentabilidade e suas funções, para que se motivassem e atuassem como
facilitadores do projeto, colaborando para a disseminação dos conceitos, ações e acompanhamento dos
resultados.
A expectativa da empresa era de que os facilitadores agiriam como multiplicadores do
conhecimento acerca do assunto para a equipe em que eles estivessem inseridos. Dessa forma, nomeou-se
um representante de cada um dos setores da empresa, de forma que todos os funcionários se vissem
inseridos e participantes da nova postura que a empresa assumiria adiante.Visando a ampliar a penetração
das ações para implementação da manufatura sustentável, principalmente no nível operacional foram
envolvidos os integrantes da CIPA –Comissão Interna de Prevenção de Acidentes -, na disseminação
dos conceitos da manufatura sustentável. Foram realizadas reuniões periódicas de trabalho, cujos
resultados foram registrados em Atas para acompanhamento das ações, definição de responsáveis e prazo
para execução das mesmas.
Sabendo-se que o tema Sustentabilidade, embora sobremaneira difundido em meio à sociedade,
apresenta-se deveras complexo quando trabalhado num grupo heterogêneo e multidisciplinar, tal
atividade apresentou-se como um verdadeiro desafio do ponto de vista da sua aplicação. Sendo assim, a
situação dada pediu uma abordagem ao mesmo tempo lógica e produtiva na dosagem certa. Para tal, a

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ideia inicial foi a de desenvolver o projeto em quatro fases a princípio distintas, porém uma dependente
da outra.
A primeira delas seria nomeada como “Diagnóstico”, na qual seriam analisadas e comparadas as
atividades das unidades fabris do Grupo com o intuito de identificar a realidade atual e possibilidades de
melhoria no âmbito de sustentabilidade em relação a outras empresas do segmento gráfico. Nesse
momento foi realizado um benchmarking de como que as empresas do mesmo segmento estavam se
portando diante dos novos paradigmas da Sustentabilidade.
Feita essa análise de similares, prosseguiu-se para a segunda fase que consistiu em “Análise de
dados”. Nessa fase os dados foram compilados e pontuados os objetivos primordiais e secundários do
projeto. A terceira fase, denominada da “Implementação das ações”, foi marcada pela execução das
tarefas definidas nos objetivos da fase anterior; e finalmente a quarta fase, nomeada “Avaliação de
resultados”, que focou na avaliação e compilação de todos os resultados e na diagramação, editoração,
impressão e publicação de um Relatório de Sustentabilidade.
Uma vez que o trabalho foi aprovado e apoiado pela Diretoria da empresa, um novo desafio foi o
de estruturar etapas de trabalho dentro de cada fase a fim de assegurar que o desenvolvimento do projeto
ocorresse de forma eficaz.

4.2.1 Primeira fase: diagnóstico


Nesta primeira fase do projeto, o foco primordial foi capacitar a equipe coordenadora acerca da
temática da Sustentabilidade, a fim de aprofundar os conhecimentos dessa no que tange às atividades do
Grupo. Portanto as seguintes atividades foram realizadas:
• Aprofundamento e compreensão dos conceitos de sustentabilidade, através de pesquisas, estudos,
palestras e discussões em grupo;
• Identificação, entendimento e escolha de instrumentos e práticas que pudessem facilitar a
implantação da Manufatura Sustentável, como a integração com o Sistema de Gestão da Qualidade
já implantado na empresa. Para melhor formação dos funcionários envolvidos no diagnóstico sobre
os conceitos da Manufatura Sustentável, foram desenvolvidos treinamentos sobre os conceitos de
sustentabilidade e as estratégias para a implantação da manufatura sustentável fundamentadas no
modelo proposto por Platts (2007).
• Percorrer e analisar as atividades das três plantas do Grupo existentes em 2009 (atualmente existem
quatro unidades fabris) com o intuito de mapear e coletar dados identificando aspectos positivos,
possibilidades de melhorias e desenvolvimento de ações sustentáveis. Nesse momento, foi adotado
um modelo de análise baseado nas “entradas” e “saídas” das atividades administrativas e produtivas.
Para tanto, foi destacado o consumo de insumos, matérias-primas, energia e água, assim como foram
mensurados os índices de desempenho de cada atividade e as saídas resultantes da produção em
produtos desejáveis e as saídas não desejáveis que também são, usualmente, chamadas de resíduos.
• A partir da análise e coleta de dados, foi possível realizar reuniões com pessoas-chave para definir
novos objetivos, alinhando-os com a nova meta: o desenvolvimento sustentável;
• Identificar indicadores e referências de desempenho operacional, como tempos de processo, perdas,
geração de resíduos em instituições de classe para aperfeiçoamento dos indicadores e metas da
empresa. No momento em que foram buscadas estas referências, surgiram dificuldades para
obtenção dos dados de referências de desempenho operacional junto às instituições de classe, por
isso a coordenação do projeto recorreu a uma empresa de consultoria do segmento gráfico, que
estava prestando serviços na empresa, que forneceu informações de mercado sobre tempos de
processo e geração de resíduos, na ocasião considerada como melhores práticas do mercado gráfico;
• Definir estratégias e elaborar planos de ações e prioridades. Portanto, observar os elementos do
processo, sob a ótica da manufatura sustentável, fez com que a empresa buscasse conhecer mais a
fundo todas as etapas do processo produtivo – entrada, transformação e saída –, e para apoiar a
elaboração do diagnóstico foram consultados os dados históricos contidos no Sistema Informatizado
de Gestão da Empresa e utilizadas planilhas eletrônicas que possibilitaram a visualização do uso de
todos os recursos da empresa e das suas atividades conforme ilustrado na Figura 3.

Na Figura 3 são apresentados os elementos que envolvem a manufatura da empresa. Eles


compreendem os elementos de entrada onde, na área administrativa, têm-se entradas como as
informações, materiais para escritório, sistemas e equipamentos informatizados e pessoas; nas atividades
produtivas as entradas são os recursos energéticos, como energia elétrica e gás GLP e a água; a matéria-
prima que, no caso da empresa estudada, é o papel e filmes plásticos; os insumos são as tintas, adesivos,

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ferramentas de corte e perfuração; nas atividades de apoio, formadas por atividades como a
manutenção e o almoxarifado; as entradas são as informações, materiais de escritório, peças para
reposição, sistemas e equipamentos.
Centralizadas na Figura 3 estão representadas as áreas de transformação, onde a eficácia e a
eficiência dos processos são determinantes para o atendimento dos objetivos da empresa e que resultam
em produtos e serviços que estão identificados como saídas. Inerentes ao processo de obtenção dos
produtos e serviços estão as saídas não desejadas, formadas por resíduos, rejeitos e sucatas resultantes da
ineficiência dos processos de projeto e produção, influenciadas pela disponibilidade ou não de matéria-
prima e insumos customizados que podem resultar em retalhos ou refiles ao atender as especificações dos
produtos sob medida dos clientes.

Figura 3 – Elementos do processo de manufatura da empresa.

Fonte: Empresa pesquisada (2009).

Tendo como ferramentas planilhas eletrônicas, levantamentos foram realizados no diagnóstico.


Tais planilhas possibilitavam acesso ao histórico de consumo dos recursos ao longo do ano de 2008,
período definido como histórico para os estudos de aperfeiçoamento dos processos e atividades
empresariais.
A elaboração do diagnóstico dos elementos do processo demandou três meses de trabalhos em
etapas, quais sejam: observação do processo, verificação do desempenho, identificação do consumo de
energia e água, identificação das matérias-primas e insumos, e identificação de perdas e oportunidades. A
partir do diagnóstico e das oportunidades identificadas, foram realizadas análises, estabelecidos objetivos,
ações e inserção de indicadores de sustentabilidade aos indicadores de desempenho existentes,
abrangendo as dimensões: Ambiental, Social e Econômica, visando à medição da eficiência e da eficácia
da manufatura sustentável e do esforço empresarial.
Em 2009 foi iniciada a etapa de análise de dados provenientes do diagnóstico realizado.

4.2.2 Segunda fase: análises de dados


Concluído o diagnóstico, toda a análise e coleta de dados foram transmitidas à Diretoria a fim de
relatar a realidade da companhia e de definir novas diretrizes para a segunda fase do projeto, que contou
com as seguintes atividades:

a) Alinhar o foco com os funcionários:


Para que uma implantação de novos projetos ou mentalidades seja efetuada com sucesso, são
necessários pelo menos dois fatores: a aceitação pela alta administração e o alinhamento com as pessoas
que trabalham no dia a dia da empresa em suas atividades. Como o projeto estava sendo apoiado pela
Diretoria, restava então alinhar o novo foco da empresa com os funcionários. Para tanto, foram

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desenvolvidos treinamentos sobre os conceitos de manufatura sustentável e outras práticas de gestão


ambiental. Além disso, divulgações internas através de jornal da empresa, banners, cartazes, informativos
foram espalhados a fim de realmente divulgar a implantação do projeto para que todos ficassem cientes e
multiplicassem esforços para esse bem comum.

b) Analisar as informações obtidas no diagnóstico e definir prioridades:


Por meio de reuniões e ferramentas para análise como brainstorming (levantamento de ideias),
gráfico de pareto e diagrama de causa e efeito, foram realizadas inúmeras análises sobre as informações
coletadas no diagnóstico. Como ilustração do passo-a-passo dessas análises, a seguir será apresentada a
análise referente à busca de redução do uso da água para a obtenção do produto.
Na unidade fabricante de formulários, impressos promocionais e impressos personalizados com
impressão digital (considerada a unidade Matriz das empresas do Grupo), foi realizada a análise do
histórico de consumo de água: uma medição detalhada utilizando instrumentos de medição (hidrômetro)
dos pontos de consumo de água da fábrica e identificado o ponto que demandava a maior quantidade,
conforme ilustrado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Identificação dos pontos de consumo de água em 2009

Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Entre os pontos de uso de água da fábrica, foi verificado que o maior consumo estava na etapa de
revelação das chapas, ou seja, na revelação das matrizes de impressão necessárias para transferência das
imagens e informações para o papel. O consumo de água neste ponto representava 69% do consumo total
de água da fábrica. E esta análise possibilitou a priorização das ações e a otimização dos investimentos
para buscar a redução do consumo deste recurso.
Na Figura 4 estão representadas as operações do processo produtivo da fábrica, sendo destacada
a operação onde ocorre a gravação das matrizes de impressão (chapas).

Figura 4 – Operações da fábrica em 2009

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Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Para a obtenção da matriz de impressão – a chapa – deve-se primeiramente juntá-la ao fotolito


(filme fotográfico) para que, ao expô-los à luz, grave-se a imagem contida no fotolito. A imagem gravada
ficará à mostra após a chapa ser revelada. A reveladora de chapas usada em 2008 utilizava uma grande
quantidade de água que não era aproveitada. Após as análises, o equipamento sofreu uma modificação, e
nele foi instalado um dispositivo de reaproveitamento da água do próprio processo, reciclando a água que
agora tem seu fluxo num circuito fechado fazendo com que o consumo seja significativamente reduzido.
Após a implantação desta melhoria, que demandou dois meses para aquisição do reciclador, instalação e
treinamento do operador, foi realizada uma nova medição dos pontos de uso de água nas operações e foi
verificada uma considerável redução do consumo de água na gravação das matrizes, proporcionando uma
redução de 18% no consumo de água em toda a fábrica.
No Gráfico 2 estão representados os pontos de consumo de água da empresa após a implantação
da melhoria na gravação de chapas.

Gráfico 2 – Identificação dos pontos de consumo de água após a melhoria em 2009.

Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

A partir do Gráfico 2, verifica-se que a reveladora de chapas que antes era responsável por 69%
do consumo de água da fábrica, após a melhoria, passou a representar 32% do consumo de água,
proporcionando um ganho significativo principalmente para a dimensão ambiental e econômica da
empresa.

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O processo de análise e implementação desta melhoria foi concluído um ano depois, quando a
empresa, repensando a proposta do negócio, adquiriu uma gravadora de chapas conhecida como CTP
(Computer to Plate), que faz a gravação do arquivo do computador diretamente para a matriz de
impressão (chapa) e o CTP adquirido tem mais um diferencial: dispensa o uso da água para a revelação da
chapa. Trata-se de uma tecnologia denominada processless, trazida da Bélgica, o que praticamente
reduziu a zero o consumo de água nesta operação da empresa.

4.2.3 Terceira fase: implementação das ações


Divididos por unidades fabris e setores da empresa, planos de ações relacionados ao consumo de
energia, água, insumos e análise de destinação de resíduos foram trabalhados internamente focando a
redução de “entradas” no sistema; a melhoria da eficiência e da eficácia da atividade de transformação,
diminuindo as “saídas não desejáveis” e a preocupação com a geração de rejeitos e destinação correta dos
mesmos.
Essa etapa foi caracterizada por intensa discussão sobre a viabilidade econômica e técnica para a
elaboração dos planos de ação, realizada pela atividade de Gestão da Qualidade, além dos integrantes do
Comitê da Sustentabilidade, com todos os funcionários envolvidos nas ações.Foram formalizadas e
realizadas 74 melhorias na operação, relacionadas ao Projeto Manufatura Sustentável. Alguns dos planos
de ações que merecem destaque estão relacionados a seguir:
• Sistema de ar comprimido: substituição dos antigos compressores pistão por compressores parafuso
com maior eficiência energética;
• Iluminação da Produção: substituição de lâmpadas fluorescentes HO por lâmpadas fluorescentes
mais eficientes, modelo T05;
• Substituição de aparelhos de Ar Condicionado por Climatizadores em alguns setores;
• Substituição da tinta offset à base de petróleo, por tinta offset que utiliza matéria- prima renovável (à
base de soja);
• Aproveitamento da sobra de tinta para preparação de tinta na cor preta;
• Certificação FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal) selo verde que
garante que todo o papel utilizado é proveniente de florestas corretamente manejadas e de outras
fontes controladas;
• Participação no projeto social “Empresa que Educa”, que colabora com a formação de jovens
carentes para conquistar o primeiro emprego.

4.3 Discussão dos resultados


Para avaliação dos resultados do modelo proposto para a implantação da Manufatura Sustentável
foram utilizados cinco anos completos, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, período em que as atividades da
Manufatura Sustentável estavam praticamente sistematizadas e aperfeiçoadas. Este período foi comparado
com o ano de 2008, quando a empresa ainda não operava sobre a influência efetiva de um modelo com
foco no desenvolvimento sustentável, visando a integrar as ações no âmbito social, ambiental e
econômico.
Como proposto desde o início do trabalho, a elaboração de um relatório de Sustentabilidade do
Grupo já era prevista, faltava apenas a decisão final de qual modelo seguir. Alguns modelos de relatórios
de sustentabilidade foram analisados e a empresa optou pelo modelo GRI (Global Reporting Initiative),
por ter alcance internacional, focando na criação de valor para os grupos de interesse (stakeholders).
As diretrizes do GRI, geração número 3 “G3”, na época era a versão mais atual, e em 2009 as
iniciativas, ações e os resultados possibilitaram a auto declaração e a publicação de 20 indicadores em
Relatório de Sustentabilidade referentes ao desempenho do ano de 2008, classificado no nível B, de
acordo com os critérios do GRI. As informações para a composição do relatório foram coletadas de
agosto a novembro de 2009. Foram ouvidos: acionistas, colaboradores, clientes, entidades de classe,
instituições de ensino, representantes da comunidade e instituições governamentais.
Ao final do ano de 2009, após um ano do início da implantação do projeto Manufatura
Sustentável e com o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade publicado, o Grupo decidiu realizar um
aperfeiçoamento dos indicadores de desempenho, pois de acordo com a percepção da empresa, os
conceitos de manufatura sustentável haviam colaborado para a ampliação dos indicadores econômicos e,
principalmente, dos indicadores ambientais. Entretanto os indicadores sociais foram aperfeiçoados a partir
do momento em que foram adotadas as diretrizes do GRI para publicação de indicadores de
sustentabilidade.

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Preocupados em monitorar e melhorar continuamente os resultados dos indicadores que outrora


haviam sido publicadas no relatório anual, a diretoria, juntamente com a coordenação do projeto,
identificou os indicadores mais alinhados aos objetivos organizacionais, de forma a serem agrupados pelo
critério das dimensões do triple bottom line em um painel de monitoramento – chamado de cockpit ou
ainda painel de indicadores em que são apontados: o resultado mensal do ano anterior, a meta do ano, o
resultado mensal e o resultado acumulado no ano corrente.
As informações e os gráficos que compõem o painel de indicadores das fábricas são gerados a
partir de um software elaborado pela empresa.
O painel de indicadores da dimensão ambiental é formado pelos seguintes indicadores de
desempenho, que foram incrementados após a implantação da manufatura sustentável: Despesa com água;
Despesa com energia elétrica; Gastos com destinação de resíduos; Percentual de refugo gerado no
processo produtivo.
Além dos indicadores da dimensão ambiental, o painel de monitoramento contempla indicadores
da dimensão social que a empresa implantou em função da norma ISO 9001, como: Horas de treinamento
por colaborador; Eficácia dos treinamentos; Acidentes.
Finalmente foram contemplados indicadores da dimensão econômica, de acordo com a relação
de indicadores de desempenho a seguir, implantados em função da norma ISO 9001 e incorporados na
manufatura sustentável: Custo da matéria-prima e insumos; Perdas com devoluções; Perdas com
retrabalho; Percentual do resultado operacional.
Os acompanhamentos sistemáticos dos indicadores de desempenho associado ao
aperfeiçoamento contínuo da aplicação dos conceitos de manufatura sustentável promoveram o aumento
do número de indicadores da empresa. Em 2009 foram publicados 20 indicadores – ano de exercício
2008; Em 2010 foram publicados 32 indicadores – ano de exercício 2009; Em 2011 – ano de exercício
2010 e nos anos seguintes foram publicados 57 indicadores em cada Relatório Anual de Sustentabilidade.
No período de 2008 a 2013, foram conquistados resultados como:
1. Redução de 19% no índice de rotatividade dos funcionários;
2. Implantação de 74 melhorias na operação relacionadas à Manufatura Sustentável;
3. Redução de 14% no consumo de energia elétrica;
4. Redução de 20% no consumo de água;
5. Redução de 49% no consumo de produtos químicos no processo operacional;
6. Aumento de 28% no consumo de papel proveniente de reciclagem;
7. Economia anual de R$ 151.688,00 com as melhorias geradas;
8. Manutenção da rentabilidade da empresa diante do cenário turbulento que o setor gráfico vem
enfrentando. A margem EBTIDA média no período foi de 6,4%;
9. Investimento de R$ 6.500.000,00 em novos negócios;
10. Publicações sucessivas de Relatório de Sustentabilidade, promovendo um processo de comunicação
transparente perante as partes interessadas.

Os resultados refletem as principais ações da empresa na área de sustentabilidade, abrangendo


informações sociais, ambientais e econômicas desenvolvidas, incluindo o desempenho de operações de
três fábricas do Grupo Empresarial. A quarta unidade fabril foi inaugurada em 2011 incorporando as
práticas de sustentabilidade desenvolvidas pela empresa.
Em 2010, o Grupo se preocupou em inserir na pesquisa de satisfação de clientes questões sobre a
Sustentabilidade para verificar se este item era percebido como uma prática que trouxesse valor para o
relacionamento entre as empresas. 78% dos clientes afirmaram que têm preferência por realizar negócios
com empresas que praticam a sustentabilidade, e 17% afirmaram conhecer as práticas sustentáveis
desenvolvidas pelo Grupo.
Após essa pesquisa, o Grupo pôde confirmar que a implantação da Manufatura Sustentável, e
suas ações sustentáveis possibilitaram ganhos também no que tange à imagem e credibilidade da empresa
no mercado, uma vez que foram notórias aos clientes as práticas de sustentabilidade. Dessa forma,
estima-se considerável aumento dessa percepção com a divulgação dos Relatórios Anuais de
Sustentabilidade, que são de suma importância para difundir as práticas e o compromisso com os seus
stakeholders.
Na empresa houve mudanças e aprendizagem, organizadas em fases interativas de ação e
reflexão, formando ciclos de aprendizagem. Estes ciclos permaneceram até que os objetivos da pesquisa

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fossem atingidos, revisados ou abandonados. Os resultados apresentados foram conquistados,


principalmente, após a aplicação das cinco estratégias propostas por Platts (2007) para a implantação da
Manufatura Sustentável.
As dificuldades identificadas dizem respeito a não consideração de pontos de análise mais
complexos pela teoria, o que se justifica pela natureza humana e a força política de cada organização.
Outra dificuldade apresentada foi o insucesso na tentativa de realizar o levantamento de emissões de
gases de efeito estufa (GEE), entretanto, as barreiras que surgiram não impediram o alcance do objetivo
da pesquisa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa qualitativa baseada no método de pesquisa-ação mostrou-se apropriada para este
trabalho ao possibilitar a análise dos efeitos dos conceitos de manufatura sustentável aplicados à prática
empresarial, favorecendo assim o alcance do objetivo proposto. Apesar do método de pesquisa aplicado
neste estudo não contribuir para a obtenção de enunciados científicos generalizados, a sua riqueza
observacional e o rigor dos procedimentos metodológicos permitem a confirmação do objetivo da
pesquisa e o enriquecimento do arcabouço dos conceitos e implementações existentes sobre o tema.
Verificou-se, na aplicação, que a empresa assimilou rapidamente os conceitos da Manufatura
Sustentável, alinhando-as à prática empresarial, integrando as ações estratégicas, gerenciais e
operacionais ao âmbito social, ambiental e econômico, obtendo resultados expressivos em seu
desempenho de longo prazo, ou seja, nos anos de 2009 a 2013 comparando-se com o ano de 2008.
O presente trabalho identificou que, dentre as diretrizes existentes para a publicação de Relatório
de Sustentabilidade, a do GRI, foi escolhida pela empresa por ter alcance internacional, por enfocar a
criação de valor para os grupos de interesse e por ser utilizada como modelo para sistemas de indicadores
de sustentabilidade. Verificou-se que essas diretrizes foram plenamente aderentes à proposta dos
conceitos de Manufatura Sustentável, demonstrando compatibilidade entre as diretrizes do GRI e os
conceitos de Manufatura Sustentável, e principalmente com o sistema de medição de empresa, pois
possibilitou a ampliação dos indicadores de desempenho existentes na organização e a integração das
ações nos âmbitos social, ambiental e econômico.
Os participantes da pesquisa observaram que as diretrizes do GRI minimizaram o viés na
dimensão ambiental presente nas cinco estratégias propostas por Platts (2007), colaborando para que a
organização visualizasse os reflexos destas estratégias nos indicadores sociais e econômicos, além dos
ambientais. Mesmo assim a coordenação e a direção da empresa optaram por direcionar as práticas
empresariais no âmbito social para a área de Gestão de Pessoas, contando com o apoio e o
acompanhamento da Coordenação do Projeto Manufatura Sustentável.
A estruturação e publicação dos Relatórios de Sustentabilidade promoveram um processo de
comunicação transparente e idôneo entre a empresa e seus grupos de interesse, pois anualmente os
relatórios foram agregando mais indicadores de sustentabilidade. Na edição de 2010, o Relatório de
Sustentabilidade da empresa continha 57 indicadores de desempenho distribuídos entre as dimensões
social, ambiental e econômica, gerando assim uma sustentação ao pensamento da Manufatura Sustentável
na empresa.
Os indicadores de sustentabilidade propostos pelo GRI foram aderentes à proposta dos conceitos
de Manufatura Sustentável, sendo que a empresa agregou novos indicadores e resultados positivos ao seu
sistema de medição de desempenho. Percebeu-se que as dificuldades para a implementação dos conceitos
de Manufatura Sustentável foram muito inferiores aos benefícios obtidos, para os acionistas,
colaboradores, clientes, fornecedores e a sociedade. Desta forma, o estudo conclui que a aplicação dos
conceitos de Manufatura Sustentável é viável e recomendável para empresas do segmento estudado.

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CAPÍTULO 8
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

SUSTENTABIIDADE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: ANÁLISE DAS


PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS NO SETOR
DE COSMÉTICOS E HIGIENE NO BRASIL

Gabriela de Castro Teixeira1, Marcos Ricardo Rosa Georges2

1. Aluna da PUC-Campinas. E-mail: gabrielateixeira1140@gmail.com


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: marcos.georges@puc-campinas.edu.br

RESUMO
As empresas vêm cada vez mais sendo cobrados para implantar as práticas sustentáveis em seus
processos, produtos e serviços e por mais que existam diversos empecilhos para que isso aconteça e venha
a ser mais comum no mundo empresarial. Hoje podemos ver casos de sucesso que mostram os benefícios
adquiridos através da sustentabilidade. O objetivo geral deste trabalho é analisar as práticas sustentáveis
na cadeia de suprimentos no setor de cosméticos e higiene. Ao longo dessa pesquisa, serão apresentadas
as definições necessárias para um melhor entendimento de como podemos atingir o foco de aperfeiçoar o
obter melhores resultados através de práticas sustentáveis. Foram pesquisados conceitos como cadeia de
suprimentos e cadeia de suprimentos sustentável que abordam questões de como é o processo industrial e
comercial para gerar os produtos e como isso agrega valor ao consumidor final. Será tratado também
sobre os conceitos de logística reversa que abordam questões importantes de como podemos reduzir, gerir
e dispor de desperdícios perigosos e não perigosos através das atividades logísticas e sustentabilidade que
se refere a existência de condições ecológicas necessárias para dar suporte à vida humana. Os tópicos
finais apresentados de forma conceitual neste trabalho são os tipos de gestão ambiental que é um gancho
do tópico da sustentabilidade onde informa que existem três tipos de gestão sustentável, a ambiental,
econômica e a social. O tópico sobre a indústria de cosméticos e higiene, a utilização do relatório GRI,
assim como o estudo das três maiores empresas deste segmento. Os métodos utilizados neste trabalho
foram de natureza diagnóstica, com a abordagem do problema de pesquisa qualitativa, descritiva e do
visando o lado dos procedimentos técnicos, será uma pesquisa bibliográfica e documental. Por fim, o
trabalho busca apresentar as vantagens de uma cadeia de suprimentos sustentável e como isso pode
contribuir trazendo redução de custos e aumentos de lucros.

PALAVRAS-CHAVE: Cadeia de suprimentos, sustentabilidade, logística, prática sócio ambiental.

1. INTRODUÇÃO
Foi publicado no site Cosmetic Innovation uma notícia da Fashion Network (2017) que o
mercado europeu de cosméticos e higiene pessoal registrou 77,6 bilhões de euros, um ligeiro progresso
diante dos 77 bilhões de euros registrados um ano antes, indica a federação europeia de indústrias
cosméticas Cosmetics Europe. A Europa continua a ser o maior mercado mundial de cosméticos, se
somarmos todos os seus países, à frente dos Estados Unidos e os seus 67,2 bilhões de euros e da China e
os seus 43,4 mil bilhões de euros. A Alemanha, a França e o Reino Unido são os países líderes do
continente, com um volume no mercado estimado em 13,6, 11,3 e 11,1 bilhões de euros.
Com um valor de 20,07 bilhões de euros, o cuidado pessoal está na primeira posição do mercado
europeu de cosméticos, seguido de perto pelos produtos de higiene, que totalizam 19,64 bilhões de euros.
Seguem-se os produtos capilares, que em 2017 pesaram 14,84 bilhões, e os perfumes, que alcançaram os
11,93 bilhões de euros. Por fim, a maquiagem fecha a lista, com 11,17 bilhões de euros. De acordo com a
Cosmetics Europe, que recentemente reelegeu Loïc Armand, vice-presidente da L’Oréal está encarregado
dos assuntos externos, como presidente da organização, o valor das exportações europeias alcançou os

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20,2 bilhões de euros em 2017. Juntas, França e Alemanha são responsáveis pela metade destas
exportações.
No ano de 2018 foi anunciado na revista que o Veja que o Brasil perdeu sua posição no ranking
de países mais consumidores de produtos de cosméticos e higiene após a crise econômica no país. O
Brasil se posicionou em terceiro lugar, perdendo para os Estados Unidos e Japão. Por outro lado, a China
está em quarto lugar, mas pretende retornar sua posição.
Mesmo com sua queda por conta da crise no país, a indústria de higiene e beleza brasileira
cresceu mais que a economia nos últimos anos. Em 2017, o setor registrou um faturamento de 102
milhões de reais, uma alta de 3,2% em relação a 2016, que foi de 99 milhões de reais. Para 2018, a
expectativa é de um aumento de 3,8% atingindo uma receita 106 milhões de reais. No ano passado, o PIB
brasileiro cresceu apenas 1% (Veja, Economia, 2018).
No site da Sebrae foi anunciado que graças ao público masculino, que têm modificado seus
hábitos e investido um pouco mais em produtos de beleza, o Brasil ocupa 2º lugar neste nicho específico.
Linhas de cremes e loções, itens de cuidados pré e pós-barba, perfumes e desodorantes estão fazendo
sucesso entre os homens. Mesmo com esse crescimento, ainda se fala que o mercado da beleza masculina
ainda é pouco explorada.
A valorização da boa aparência em toda a sociedade brasileira e o aumento da expectativa de
vida inspiram maiores cuidados e investimentos para manutenção da jovialidade. O crescimento da
demanda por cosméticos e produtos de higiene pessoal estimulou várias empresas a realizar pesquisas de
tendências, ampliar seus portfólios, desenvolver campanhas promocionais para atender às novas
necessidades do mercado.
Nesse setor que tem uma abrangente participação no mundo em venda de produtos, o desafio era
o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis, o Jornal Estadão informou em Janeiro de 2018 que
compostos químicos altamente poluentes ou com micro plástico, excesso de embalagens, matéria-prima
extraída de maneira irresponsável ou através de trabalho escravo era e em alguns casos ainda são o lado
“feio” da indústria cosmético, contraditório ao seu propósito de oferecer beleza e bem-estar aos
consumidores.
A boa notícia é que o crescimento de marcas verdes nesse segmento mostra a tendência forte de
mudança. Além do menor impacto ambiental, consumidores buscam produtos mais saudáveis para a pele
e cabelos. A preferência por ingredientes naturais, vegetais e embalagens de refil são algumas
oportunidades na indústria, segundo Keyvan Macedo, gerente de Sustentabilidade da Natura.
As empresas que pensam na sua estrutura interna e externa sempre estão se desenvolvendo e
pensando em um consumo seguro, onde conseguem chamar mais atenção de seus consumidores
positivamente e elevar seu nível de desenvolvimento e estratégias. A sustentabilidade deve ser parte
integral das estratégias corporativas das empresas, é importante incluir sustentabilidade no nível superior
do desenvolvimento estratégico, para que seja difundida em toda a corporação e, preferencialmente, ao
longo da cadeia de fornecimento.
Cadeia de fornecimento sustentável significa que há várias empresas trabalhando juntas, de
maneira orquestrada, para oferecer valor para o consumidor final em termos de produtos e serviços,
sempre de forma favorável, tanto para as empresas envolvidas quanto para os consumidores. A
sustentabilidade deve ser parte integral das estratégias corporativas das empresas, é importante incluir
sustentabilidade no nível superior do desenvolvimento estratégico, para que seja difundida em toda a
corporação e, preferencialmente, ao longo da cadeia de fornecimento.
Para entender os impactos das práticas sustentáveis nas empresas, em 2011 foi criado no Brasil o
Projeto de Lei do Senado Federal 05/2011, que obrigará as empresas participantes de licitações a
comprovarem a sustentabilidade do seu projeto e/ou de sua empresa através do Relatório Anual de
Sustentabilidade ou através da ISO 14.001.
O Relatório de Sustentabilidade é a prática de medir e divulgar através de um relatório, os
impactos socioambientais causados pelas atividades cotidianas de uma organização (uma empresa, uma
ONG ou uma instituição governamental). O processo de relato é voluntário, e as organizações podem
elaborar o seu próprio modelo de relatório de sustentabilidade ou optar por algum já conhecido e
utilizado. Existem vários modelos disponíveis, mas atualmente, o modelo de relatório com maior
credibilidade no cenário internacional é o da GRI

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Cadeia de Suprimentos
De acordo com Bertaglia, Supply Chain significa: A cadeia de abastecimento corresponde ao
conjunto de processos requeridos para obter materiais, agregar-lhes valor de acordo com a concepção dos
clientes e consumidores e disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os
clientes e consumidores os desejarem (BERTAGLIA, 2009).
Dessa forma, a gestão da cadeia de suprimentos é um processo estratégico. Lida com a previsão
da demanda, seleção dos fornecedores, fluxo de materiais, contratos, estuda informações e
movimentações financeiras, cria novas instalações como fábricas, armazéns, centros de distribuição; se
relaciona com clientes, e trata também de questões mais amplas como a economia, a sociedade, o meio
ambiente.
Complementando, (NOVAES, 2007) aponta que o Supply Chain Management “é a integração
dos processos industriais e comerciais, partindo do consumidor final e indo até os fornecedores iniciais,
gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor para o cliente”. Todo este processo de
controle feito pela cadeia de abastecimento tem como facilitador, a tecnologia da informação (TI).
A TI é para os executivos de logística uma ferramenta de melhoria da produtividade e da
competitividade, pois historicamente a comunicação era a parte falha dessa área empresarial
(BOWERSOX, 2010). Ainda segundo o autor (2010), a logística integrada e o Supply Chain se
beneficiam de cinco tecnologias específicas, a saber: o intercâmbio eletrônico de dados (EDI),
computadores pessoais, inteligência artificial e sistemas especialistas, comunicações e código de barras e
leitura óptica.
Com o entendimento da necessidade de atender questões que englobasse inteiramente os
preceitos do Triple Bottom Line é que surge o conceito da Sustainable Supply Chain Management
(SSCM) ou Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável (GCSS). Tal conceito visa discutir a gestão
eficiente de processos ao longo das cadeias, considerando tantos aspectos econômicos e de competição,
quanto às questões socioambientais envolvidas neste contexto. Assim, as cadeias de suprimentos
sustentáveis devem ser analisadas não somente pelo seu desempenho econômico, mas também por seu
desempenho socioambiental (BESKE, 2012).
A evolução do conceito, que aproxima a visão tradicional da cadeia de suprimentos com a
sustentabilidade (KLEINDORFER; SINGHAL; VAN WASSENHOVE, 2005), têm demonstrado maior
esclarecimento e preocupação com o contexto macro de mudança, uma vez que sua definição foi se
tornando mais complexa no sentido de melhor adequar às mudanças no mercado. Este conceito recebeu
maior ênfase com o trabalho de Seuring e Müller (2008), a partir do resultado de uma extensa revisão de
literatura, na qual os autores identificaram a necessidade de tratar a integração das três dimensões do TBL
de forma estratégica e alinhada ao âmbito das cadeias.
Desse modo, entende-se Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável como “a gestão de fluxos
de capital, materiais e informações, bem como, a cooperação entre as empresas ao longo da cadeia de
suprimentos, visando metas para as três dimensões: econômica, ambiental e social, que são requisitos dos
clientes e stakeholders” (SEURING; MÜLLER, 2008).
Em um mesmo sentido, Pagell e Wu (2009) apresentaram suas contribuições relacionadas ao
tema, afirmando que a “cadeia de suprimentos sustentável deveria considerar um bom desempenho tanto
nas medidas tradicionais de ganhos e perdas, bem como, sobre a conceituação ampliada de desempenho
com a inclusão das dimensões sociais e ambientais” (PAGELL; WU, 2009).
Desta forma, se uma cadeia sustentável é aquela que possui um bom desempenho em todos os
elementos do Triple Bottom Line, então, a gestão dessa cadeia se refere a ações específicas (decisões
gerenciais e/ou comportamentos) tomadas para tornar a cadeia de suprimentos mais sustentável. Os
aspectos sociais e ambientais devem estar interligados à tomada de decisão acerca das estratégias da
cadeia (PAGELL; WU, 2009).
Com essa compreensão, são cada vez mais necessárias novas pesquisas sobre a temática. A
questão inicial de decisão empresarial na busca da sustentabilidade em seus domínios internos, e também
nas cadeias de suprimentos, provém de pressões externas e incentivos de stakeholders (clientes e
governos) (SEURING; MÜLLER, 2008).

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Seguindo a lógica de que os produtos e serviços resultantes das cadeias somente são justificados
se forem aceitos por seus consumidores, a satisfação desse consumidor é essencial na tomada de decisão.
Por outro lado, todos os modos de controle governamental (municipal, regional, nacional ou mesmo
internacional) impactam também na busca de uma gestão da cadeia mais sustentável.
Conforme Seuring e Müller (2008), ao serem pressionadas, as empresas focais comumente
repassam aos seus fornecedores tais pressões. Assim, os autores propõem duas dimensões de estratégias
que podem ser utilizadas para inserir os princípios de sustentabilidade nas cadeias: a “gestão de
fornecedores para riscos e desempenho” e a “gestão da cadeia de suprimentos para produtos
sustentáveis”.
Na lógica da estratégia da gestão de fornecedores para riscos e desempenho, Seuring e Müller
(2008) destacam as preocupações com processos eficientes e a preservação da imagem das organizações.
Para isso, seria necessário gerenciar os riscos econômicos e de disrupção de processos operacionais nas
relações com os fornecedores, bem como trabalhar com o desenvolvimento do fornecedor quando
necessário (BESKE, 2012). Além disso, situações de ganha-ganha e um desempenho positivo nas
dimensões do TBL poderiam ser adquiridos.
Os autores enfatizam que, ainda que muitas vezes o foco esteja sobre a relação entre o
desempenho ambiental e econômico, a dimensão social deve ser considerada, requerendo das
organizações um novo e amplo debate acerca das possibilidades de trade-off das três dimensões
(SEURING; MÜLLER, 2008; CARTER; ROGERS, 2008).
A segunda dimensão de estratégias contidas na Gestão de Cadeias de Suprimentos Sustentável,
por sua vez, refere-se à gestão de produtos sustentáveis, abrangendo todos os tipos de produtos que têm
ou buscam melhorar a qualidade dos padrões ambientais e sociais em seu processo de fabricação
(SEURING; MÜLLER, 2008). Neste caso, os requisitos de sustentabilidade se dão através da avaliação
do ciclo de vida dos produtos (ACV) e aos processos de comunicação e integração e cooperação dos
fornecedores, de todos os níveis existentes na cadeia.
A integração e o fluxo de informações na cadeia poderiam garantir que melhorias necessárias
fossem aplicadas em cada etapa de produção, abrangendo todos os elos da cadeia de suprimentos.
Tratando da introdução de práticas de sustentabilidade em cadeias de suprimentos, Pagell e Wu (2009)
propõem um modelo de gestão baseado na integração de novos valores e capacidades e no
desenvolvimento de novos comportamentos ao longo das cadeias de suprimentos.
Dessa maneira, a capacidade organizacional para inovar e a orientação gerencial para a
sustentabilidade refletem os novos valores, os quais deveriam ser incorporados à gestão. Diante dessas
considerações, dentre outros destaques, percebe-se que as empresas só serão consideradas pró-ativas e
comprometidas se o modelo de negócios e os elementos ambientais e sociais de sustentabilidade
estiverem alinhados (PAGELL; WU, 2009).
De acordo com o modelo de Pagell e Wu (2009), a partir de uma nova orientação do modelo de
negócios das organizações, novos comportamentos deveriam emergir em relação à estrutura da cadeia,
sendo eles: a reconceitualização da cadeia e a continuidade com os fornecedores. Na fase da
reconceitualização, os autores destacam a integração de agentes socioambientais tais como Organizações
Não Governamentais (ONGs), líderes comunitários e órgãos públicos e, até mesmo, concorrentes na
avaliação de oportunidades e mudanças necessárias ao longo da cadeia.
Em relação à continuidade das relações com os fornecedores, Pagell e Wu (2009) destacam que
relacionamentos prolongados facilitam a transparência, a rastreabilidade, a certificação e o processo de
descomoditização entre os fornecedores. Verifica-se, portanto, que esses autores trazem elementos para
provar que, ao alinhar os objetivos do negócio e práticas de sustentabilidade, haveria a possibilidade de
sobressair os resultados de desempenho positivo não somente econômicos, mas também socioambiental
para as empresas focais e demais integrantes da cadeia.
A efetiva aplicação dos objetivos de sustentabilidade nas cadeias de suprimentos perpassa as
decisões gerenciais da empresa focal, responsável pela definição dos planos de ação em diferentes setores
e processos. Neste aspecto, os gestores possuem uma posição particularmente vantajosa para impactar –
positiva ou negativamente – no desempenho ambiental e social destas cadeias, visto que estão à frente das
escolhas de agentes-chave como, por exemplo, quais fornecedores ou prestadores de transporte e modais
irão contratar, ou ainda como a empresa irá proceder em relação ao roteamento de veículos, a localização
de seus produtos, equipamentos e veículos ou ainda, que tipo de embalagens serão utilizadas (CARTER;
EASTON, 2011).

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Beske (2012), por sua vez, elucidou quatro principais categorias que seriam essenciais para
trabalhar o conceito de gestão da cadeia de suprimentos sustentável, sendo: orientação, continuidade na
cadeia de suprimentos, gestão de riscos e pró-atividade. Assim, a orientação das organizações é dividida
em três questões: a orientação para sustentabilidade, a orientação relacionada à gestão principal das
organizações através do comprometimento em desenvolver estratégias de sustentabilidade para a cadeia
de suprimentos e a orientação em relação à disposição para o aprendizado de novos conhecimentos.
A segunda categoria se refere à continuidade da cadeia de suprimentos, em relação às práticas de
cooperação e integração, a partir do estabelecimento de relacionamentos de longo-prazo com
fornecedores e clientes.
A terceira categoria diz respeito à gestão de riscos, onde as organizações devem identificar,
reduzir e eliminar os riscos através de práticas contínuas, baseadas no comprometimento de
relacionamentos duradouros, desenvolvimento de parceiros e atividades de monitoramento.
Ao desenvolver estas relações, pode-se proporcionar à cadeia uma condição de pró-atividade em
relação a inovações necessárias, contemplando, desta forma, a quarta categoria de análise em cadeias de
suprimentos sustentáveis (BESKE, 2012). Dentre os resultados da integração de práticas socioambientais
nas organizações, está a conquista da vantagem competitiva, debatida por muitos autores da área. Alguns
exemplos de diferenciação das empresas podem ocorrer com o desenvolvimento de “melhores práticas”
de negócios (SHRIVASTAVA, 1995a; GIORDANO, 2003), ou novos modelos de negócios (EPSTEIN;
ROY, 2001), redução de custos (SRIVASTAVA; 1995a; BANSAL, 2005), legitimação social
(SRIVASTAVA, 1995b; RUSSO; FOUTS, 1997), entre outros.

2.1.2. Logística reversa


Uma das primeiras conceituações da logística reversa foi dada por KROON e VRIJENS, 1995
definindo a como “a operação que faz referência aos talentos da gestão da logística e as atividades
requeridas para reduzir, gerir e dispor os desperdícios perigosos e não perigosos que provêm do material
de embalagem e os produtos”. Quanto a eles, FLEISCHMANN (1997) mencionam que a logística reversa
“contém as atividades logísticas, até o ponto de consumo, para os produtos usados que não deixam de ser
necessários pelos usuários, até aos produtos que podem ser reutilizados no mercado”. A sua definição
considera os aspectos do planejamento da distribuição, a gestão dos estoques e a planificação da
produção.
Para CÁRTER e ELLRAM (1998), a logística reversa é a distribuição reversa acompanhada de
uma redução dos recursos, considerem a redução dos recursos como “a minimização dos desperdícios que
resultam num processo de distribuição ascendente e oposto. ” Outra definição que vai no mesmo sentido é
dada por STOCK (1998) como “o papel da logística no retorno de produtos, a redução na fonte, a
reciclagem, a substituição de materiais, a disposição dos resíduos, a reforma, a reparação e
remanufatura...”.
Uma das definições mais encontrada e comentada na literatura foi dada por ROGERS e
TIBBEN-LEMBKE (1999), baseada na definição da logística feita pelo Council of Logistics Management
(CLM), onde definem a logística reversa como “o processo de planejamento, implementação, e controle
da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques de processo, os produtos acabados, e
as respectivas informações do ponto de consumo até ao ponto de origem com o objetivo de recapturar
valor ou adequar o seu destino”.
BRITO e DEKKER (2002) definem a logística reversa da seguinte maneira: é preocupada pelas
atividades associadas à movimentação e a gestão de equipamentos, de produtos, de componentes, de
materiais ou mesmo um sistema técnico inteiro a ser retomada.

2.2. Sustentabilidade
A origem etimológica da sustentabilidade encontra-se em uma forma derivada do verbo
sustentar, que seria similar a manter (REDCLIFT, 1994). Entre cientistas de língua hispânica, costuma-se
discutir a tradução correta do termo em duas frentes: a primeira, acredita que sustentabilidade deriva de
sostenibilidad, de sostener, que significa ser mantido; a segunda, defende que sua origem é
sustentabilidad, de sustentar, que indica manter (BECKER, 1997). No meio científico, o termo
sustentabilidade surgiu nas áreas de Biologia e Ecologia, representando a capacidade que um ecossistema
possui de manter um equilíbrio dinâmico que permita a subsistência da maior biodiversidade possível,
incluindo todas as espécies. (BOFF, 2010).

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A amplitude com que o conceito é utilizado faz com que praticamente todas as correntes de
pensamento concordem com a ideia de que a sustentabilidade deve orientar as decisões envolvendo o
ambiente e ser um preceito básico para nortear as ações dos indivíduos e organizações. Dessa forma, esse
termo passou a ser utilizado, muitas vezes, como um simples atributo retórico ou um recurso linguístico
para dissimular a defesa de interesses particulares, que não guardam relação com a noção de
sustentabilidade proposta na Biologia e dificultam discussões que atribuam a esse conceito significados
mais profundos.
Esse problema ocorre devido à prática, comum na teoria organizacional, de incorporar teorias,
modelos e conceitos oriundos de outras disciplinas e áreas. Esse deslocamento, embora possa constituir
um meio importante e legítimo de formulação teórica, pode resultar em colocações inapropriadas,
descaracterizando ou mutilando o que era originalmente proposto. (GUERREIRO RAMOS, 1981).
Nas organizações, o termo sustentabilidade tem estado presente em diversos discursos que
buscam justificar os impactos das diferentes atividades produtivas sobre o ambiente e legitimar sua
atuação frente à sociedade.

2.2.1. Tipos de gestão sustentável


A sustentabilidade ambiental é definida como a desmaterialização da atividade econômica, pois
uma diminuição do processamento de material pode reduzir a pressão sobre os sistemas naturais e ampliar
a prestação de serviços ambientais para a economia. A sustentabilidade econômica é a manutenção de
capital natural, que é uma condição necessária para não haver decrescimento econômico (BARTELMUS,
2003). E, a abordagem da sustentabilidade social se refere à homogeneidade social, rendimentos justos e
acesso a bens, serviços e emprego (LEHTONEN, 2004).
A sustentabilidade é discutida como um estado em que três tipos de interesses (ou conflitos)
sejam cumpridos (ou resolvidos), simultaneamente: (i) o interesse da geração atual em melhorar a suas
reais condições de vida (sustentabilidade econômica), (ii) a busca de uma equalização das condições de
vida entre ricos e pobres (sustentabilidade social), e (iii) os interesses das gerações futuras que não estão
comprometidas pela satisfação das necessidades da geração atual (sustentabilidade ambiental)
(HORBACH, 2005).

2.3. Relatório GRI


Empresas de grande porte tem disponibilizado em seus padrões relatórios de sustentabilidade
onde identifica-se melhorias, inovações, contribuições que gerarão resultados na empresa através da
iniciativa sustentável. A maior parte do modelo de relatório utilizado é o GRI (Global Reporting
Initiative), 2010), que é considerada como um dos mais consistentes esforços para consolidar as diversas
iniciativas existentes para se chegar a um consenso sobre a avaliação de sustentabilidade empresarial
(ALMEIDA, 2002; OLIVEIRA et al., 2009; BASSETTO, 2010). Seus esforços de atuação são apontados
como uma possível razão do crescimento da quantidade de relatórios de sustentabilidade empresariais
publicados no país (SUSTAINABILITY...;FUNDAÇÃO...; PROGRAMA...,2008).
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 1997 por
meio de uma ação conjunta da Coalizition for Environmentally Responsible (CERES) e do PNUMA, com
o objetivo de contribuir para a melhoria dos relatórios de sustentabilidade emitidos pelas organizações e
estimular a adoção voluntária de indicadores com maior qualidade, rigor e aplicação global, para tornar
tal prática mais harmonizada internacionalmente.
Esses relatórios requerem a elaboração com base nos princípios da transparência, abrangência,
relevância, verificabilidade, neutralidade, exatidão, objetividade, facilidade de compreensão, dentre
outros (GLOBAL..., 2006). Em 1999, houve o lançamento da primeira versão das diretrizes para
relatórios de sustentabilidade (G1) da GRI, um guia de apresentação dos principais indicadores de
desempenho de uma organização nas esferas econômica, social e ambiental.

2.3.1 Setor de cosméticos no Brasil


Segundo o Conselho Regional de Química – IV Região, a história dos produtos de limpeza no
Brasil começa em 1801, quando D. João VI autorizou o funcionamento de fábricas de sabão no país, em
meio a um quadro caótico de sujeira e lixo que dominava as cidades e vilas. Os sabões, importados,
custavam muito caro. As fábricas de velas e sabões começaram a ser implantadas no país, sendo a
primeira de Guilherme Müller, instalada em 1821. O Rio de Janeiro concentrava a grande maioria das

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fábricas das cerca de 30 produtoras de sabões do país, mas também foram instaladas manufaturas em Rio
Grande, no Rio Grande do Sul, em Salvador, no Pará, em São Paulo e em São Luís do Maranhão.
Com a transferência da família real para o Brasil, a elegância, as modas e os costumes franceses
passaram a ser copiados, inclusive o uso de perfumes para disfarçar os maus odores. Durante o reinado de
D. Pedro II foi instalada no centro do Rio de Janeiro, a famosa perfumaria Desmarais, que vendia
essências, sabonetes, escovas, esponjas, adornos de toucador, vidrinhos de cheiro, espelhos, perucas,
tinturas e cosméticos, como pó de arroz. Outras perfumarias iriam se estabelecer ali nas imediações da
Rua do Ouvidor, conta o cronista da época, Joaquim Manuel de Macedo.
Em 1884 a fábrica de água de colônia de João Baptista Nervi que funcionou até 1882, fazia
sucesso a Casa de Banhos Pharoux, também no centro da capital. Ela funcionava dentro do Hotel
Pharoux, e era aberta ao público. Numa época em que as casas não tinham banheiro, o estabelecimento
oferecia banhos com água retirada do chafariz do Largo do Paço, hoje Praça XV.
Depois da segunda guerra mundial uma nova noção de asseio e limpeza corporal alavanca a
produção e o consumo de um número sempre crescente de cosméticos e produtos de higiene. Com a
difusão do rádio e, a partir dos anos 50, da televisão, as empresas passam a investir em publicidade, e as
vendas de xampus, cremes, sabonetes, pastas de dentes, loções, sabões, desodorantes e perfumes
explodem, enquanto as casas brasileiras passam a contar com água encanada e banheiros.
O desenvolvimento de perfumes inspirados em fragrâncias famosas e adaptados às características
climáticas do Brasil foi a combinação perfeita para que a empresa encontrasse aceitação de seus produtos
no mercado. Esse é um mercado crescente que tem se favorecido da cultura da beleza, do envelhecimento
da população e do aumento do poder de compra da classe C em nosso país. Segundo a Pesquisa Mensal
de Comércio, realizada pelo IBGE, as atividades de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de
perfumaria, obtiveram a sexta maior participação na taxa global do varejo. Apresentaram crescimento de
11,6% nos últimos 12 meses.
Podemos dizer que hoje em dia o setor de beleza está entre os dez principais segmentos do
varejo, e isso não é apenas mérito das mulheres. Graças ao público masculino, que tem modificado seus
hábitos e investido um pouco mais em produtos de beleza, o Brasil ocupa o 2º lugar neste nicho
específico. Linhas de cremes e loções, itens de cuidados pré e pós-barba, perfumes e desodorantes estão
fazendo sucesso entre os homens.
Novos nichos de mercado foram nascendo e com isso grandes empresas nascem e popularizam
em massa os produtos de higiene pessoal e também para animais de todos os portes. Em 2010 a Abihpec
(Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) anunciou que a
indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos teve um crescimento médio, já
descontando a inflação, de 10,5% entre 1996 e 2009; o faturamento saltou de R$ 4,9 bilhões em 1996
para R$ 24,9 bilhões em 2009.
Atualmente o Brasil fica atrás apenas dos E.U.A em consumo de cosméticos e assumiu
recentemente o posto de maior mercado consumidor de perfumes do mundo. Ainda segundo o conselho
nacional de química existem no Brasil mais de 2.000 empresas atuando no mercado de produtos de
higiene pessoal, essências, perfumes e cosméticos, sendo 14 empresas de grande porte.

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
Do ponto de vista de sua natureza, esta pesquisa busca analisar documentos disponibilizados
pelas empresas que serão citadas futuramente, se classificando como uma pesquisa aplicada, pois tem
como objetivo gerar o conhecimento da forma em que as empresas do setor de cosméticos e higiene no
Brasil contribuem para promoção da sustentabilidade em sua cadeia. Segundo Silva e Menezes (2005),
uma pesquisa de natureza aplicada tem como objetivo principal gerar conhecimentos para aplicação
prática e dirigidos à solução de problemas específicos.
Considerando a forma de abordagem do problema, esta pesquisa se caracteriza como qualitativa,
pois o uso do material coletado e disponibilizado pelas empresas em suas plataformas online não requer o
uso de métodos e técnicas estáticas. Será uma pesquisa exploratória, onde a intenção é analisar os dados e
forma indutiva. De acordo com Silva e Menezes (2005), a pesquisa qualitativa considera que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, que é um vínculo entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.
De acordo com a observação do autor Gil (1991), a pesquisa se apresenta de forma exploratória e
assume as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso, além de aprofundar o conhecimento da
realidade explicando o “porquê” das coisas.

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E por fim, tratando dos procedimentos técnicos que serão realizados no desenvolvimento do
trabalho, as pesquisas serão realizadas de forma bibliográfica, documental e estudo de caso, de forma
parcial.
Segundo Gil (1991), a pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material publicado,
constituído principalmente de livros, artigos e atualmente materiais disponibilizados na Internet. A
documental é elaborada de materiais que não receberam tratamento analítico e o estudo de caso envolve o
estudo de muitos ou poucos objetos de maneira que se permita o amplo e detalhado conhecimento. Os
procedimentos técnicos serão apresentados neste trabalho de forma sutil, por conta da variedade de
informações que serão apresentadas.

3.2. Descrição do Objeto de Estudo


Relatando o caso da implantação da sustentabilidade na cadeia de suprimentos nas empresas que
consideravelmente pode contribuir estrategicamente com as empresas, identificamos que as empresas
lidam com empecilhos que impossibilitam de implantar essa prática, motivos governamentais, quebra de
contrato com parceiros ou inicialmente um alto custo, podem ser variáveis localizadas para efetivação
desse processo. A análise e identificação de resultados finais das práticas socioambientais podem ser
superiores dos pontos que impedem as empresas de começar com essa nova era, podendo trazer uma
identificação maior da empresa, lucro, agilidade nos processos e etc.

4. RESULTADOS ESPERADOS
Como resultado, espera-se conhecer quais práticas sustentáveis tem sido mais empregada pelo
setor, bem como identificar os principais indicadores de desempenho utilizados por este segmento
econômico.
Espera-se que este trabalho, quando concluído, permita formular estratégias de gestão para
empresas que atuam neste segmento a partir do benchmarking com as principais empresas deste setor, que
são os objetos de pesquisa desta pesquisa.

5. REFERÊNCIAS

ABRANTES, NATASHA, GANDOLPHO, ANDRÉ ALVES . cadeias de suprimentos sustentáveis:


como o conceito de sustentabilidade aplicado nos diversos níveis da cadeia pode gerar valor para as
empresas. / Natasha Abrantes, André Alves Gandolpho – Disponível em: <
http://www.inovarse.org/sites/default/files/T_15_052M.pdf > Acesso em: 25 nov 2018.

AHSSEN – Sarah Ahssen – A Europa continua sendo o produtor de cosméticos mais importante do
mundo, Brasil ocupa a quarta posição – 2017 – Disponível em <https://br.fashionnetwork.com/news/A-
Europa-continua-sendo-o-produtor-de-cosmeticos-mais-importante-do-mundo-Brasil-ocupa-a-quarta
posicao,853498.html#.XOci2IhKjIU> – Acesso em: 23 mai 2019.

BANSAL, P. Evolving sustainably: a longitudinal study of corporate sustainable development. Strategic


Management Journal, v. 26, n. 3, p. 197-218, 2005.

BARBIERI, C. Indústria suspende compras de áreas de desmatamento. Folha de São Paulo. São Paulo,
sábado, 13 jun. 2009a. Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. Disponível em . em: 15 Ago. 2009.

BARTELMUS, P. Dematerialization and capital maintenance: two sides of the sustainability coin.
Ecological Economics, v.46, n.1, p.61-81, 2003.

BESKE, P. Dynamic capabilities and sustainable supply chain management. International Journal of
Physical Distribution & Logistics Management, v.42, n.4, p.372-387, 2012.

CARTER, C. R. et ELLRAM, L. M. (1998). Reverse Logistics: A review of the literature and framework
for future investigation. Journal of Business Logistics - Council of Logistics Management 198(1), 85-102

CARTER, C. R; EASTON, P. L. Sustainable supply chain management: evolution and future directions.
International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v. 41, n. 1, p. 46-62, 2011.

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CARVALHO, ANDRÉ PEREIRA DE. Gestão sustentável de cadeias de suprimento: análise da indução e
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Pereira de Carvalho. - 2011. 202 f. Disponível em: <
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CAPÍTULO 9
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

ARQUITETURA HOSPITALAR FEITA PARA CURAR: A


FUNÇÃO DO AMBIENTE NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO
DE PACIENTES INTERNADOS

Joyce Marcello Corrêa1, José Roberto Merlin2

1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas. E-


mail: joyce.mc3@puccampinas.edu.br
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia
e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
jrmerlin@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Esta pesquisa de mestrado, ainda em estágio inicial, aborda o estudo da ambiência hospitalar e a
importância da humanização deste ambiente, destacando a influência de elementos arquitetônicos que
contribuem na recuperação do paciente, auxiliando seu processo de cura. Através dos estudos das
referências bibliográficas, será traçada uma evolução tipológica da arquitetura hospitalar se aproximando
dos dias atuais, delimitando qualidades de um espaço arquitetônico humanizado tido como terapêutico.
Para tanto, serão realizadas incursões teóricas para melhor compreensão do conceito de humanização
enfatizando a abordagem arquitetônica que poderá contribuir para melhorar os espaços nos serviços de
saúde. Em seguida, procurar-se-á estabelecer parâmetros que possibilitem elencar os requisitos básicos
para se desenvolver uma arquitetura eficiente quanto à humanização desses ambientes. A partir dos
referenciais teóricos e da psicologia ambiental em suas relações com a arquitetura hospitalar, serão
realizadas análises de campo que permitam verificar empiricamente, se os efeitos espaciais dos requisitos
arquitetônicos apontados teoricamente, dão conta e são suficientes para se pensar em uma arquitetura
sustentável ao paciente. Por fim será produzido um programa de necessidades que seja universal e que
possa contribuir para a formatação de espaços com tipologias mais entrosadas com a ambiência
hospitalar, mais confortáveis e mais integradas à natureza.

PALAVRAS-CHAVE: Ambiência hospitalar, arquitetura hospitalar, humanização, saúde e


sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
Por meio de levantamentos, estudos bibliográficos e pesquisas de campo, busca-se fazer uma
revisão bibliográfica, propondo um programa de necessidades que articule a formatação de tipologias
arquitetônicas sustentáveis, mais entrosadas com a ambiência e mostrar quais seus benefícios no processo
de cura e bem-estar de pacientes que frequentam o ambiente hospitalar. Busca-se identificar as tipologias
e os benefícios, correlacionando-os de forma clara, colaborando e evidenciando a importância no
processo de recuperação dos pacientes.
Conforme afirma Mezzomo (2002, p. 14-15)
Humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos
na intervenção em saúde. Humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários
consideram o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais que compõem o atendimento à
saúde. Humanizar refere-se, à possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de
acolhimento e de reconhecimento dos limites. Humanizar é fortalecer este comportamento ético
de articular o cuidado técnico-científico, com o inconsolável, o diferente e singular. Humanizar é
repensar as práticas das instituições de saúde, buscando opções de diferentes formas de
atendimento e de trabalho, que preservem este posicionamento ético no contato pessoal.

A absorção de tecnologias, a superespecialização da medicina e a herança mal interpretada da

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escola funcionalista arquitetônica privilegiaram a vida útil e o bom funcionamento de sistemas e


aparelhos, em detrimento do bem-estar dos usuários. Hoje é certo que a saúde e os hospitais passam no
mundo inteiro por uma revisão: como fazer melhor e atingir mais pessoas com menores custos.
(MIQUELIN, 1997).
Pesquisas desenvolvidas pelo sistema LEED World Green Building Council comprovam que a
qualidade do ambiente hospitalar pode acelerar o processo de cura, em torno de 8,5% dos casos,
reduzindo o tempo de internação e, consequentemente diminuindo os custos com manutenção de
pacientes hospitalizados.
No mesmo estudo apontam a melhoria da função mental e de memorização, com um
desenvolvimento mais rápido em atividades administrativas, tornando seus trabalhadores mais
produtivos. A produtividade aumenta com uma melhor iluminação, ventilação e controle de temperatura
do ambiente. Portanto, por este viés da sustentabilidade em criar ambientes de qualidade em
estabelecimentos de saúde, além de gerar benefício aos pacientes, é resposta à competitividade de
mercado enfrentada pelas instituições.
Para VASCONCELOS (2004), um ambiente de qualidade é um ambiente que atende as
necessidades de seus usuários garantindo-lhes segurança, conforto físico e psicológico na realização de
suas atividades.
Essa qualidade é aderida ao ambiente através do processo de humanização, que se preocupa com
o bem-estar psicológico dos seus usuários garantindo um maior conforto ambiental, satisfazendo suas
necessidades físicas e psíquicas.
Ainda em constante mudanças e transformações a arquitetura hospitalar busca melhorar as
condições nas instalações de saúde, voltando sua preocupação com o paciente, oferecendo opções muitas
vezes simples, para amenizar o sofrimento dos pacientes, e também afastar o aspecto hostil e frio que
sempre predominou neste tipo de edificação.
A ética desta pesquisa é ressaltar a importância dessa preocupação que o projeto de ambientes
hospitalares deve ter com o paciente. Esta nova visão abrange o conceito de Humanização dos Ambientes
Hospitalares, considerada fundamental para o bem-estar físico e psicológico. O trabalho está abordando a
maneira como o espaço arquitetônico hospitalar proporciona esta nova visão, considerada fundamental
para o bem-estar físico e psicológico do paciente. A psicologia ambiental e a humanização aproximam o
ambiente físico dos valores humanos, tratando o homem como foco principal do projeto. Para isso define
as características arquitetônicas, constituídas pelos ambientes e elementos construtivos responsáveis por
essa integração, e as analisa a partir de aspectos ambientais, sensoriais e comportamentais.
A meta principal é contribuir para que ambientes hospitalares sejam projetados tendo em vista o
conforto e a qualidade, através da proposta de diretrizes a serem consideradas por arquitetos na
elaboração desses projetos. Diretrizes que levam em consideração aspectos ambientais, de conforto e
qualidade, além dos aspectos funcionais, construtivos e estéticos.

Figura 1 – Átrio Principal- Baptist Memorial Hospital, Collierville, Tennessee, EUA

Fonte: www.baptistonline.org

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Isso se dará por meio do estudo da Psiconeuroimunologia (PNI), que é o estudo das interações
entre comportamento e os sistemas nervoso, endócrino e imunológico do corpo humano.
Segundo Gappell, a (PNI) é a arte e a ciência de criar ambientes que previnem doenças,
aceleram a cura e promovem o bem-estar.
A Psiconeuroimunologia se preocupa com a correlação entre estresse e saúde e estuda os
estímulos sensoriais, os elementos do ambiente que os causam, e as relações entre estresse e saúde. Seus
estudos demonstram que a variação na quantidade de estímulos sensoriais é necessária, pois a condição
de monotonia permanente induz a distúrbios patológicos (GAPPELL, 1991).
O bem-estar físico e emocional do homem é influenciado por seis fatores: luz, cor, som, aroma,
textura e forma. Estes elementos do ambiente têm impacto tão grande no psicológico e no físico dos
indivíduos que uma instalação médica bem projetada, aplicando adequadamente estes fatores, pode ser
considerada parte importante do tratamento (GAPPELL, 1991).

Figura 2 – Rainbow Babies and Children's Hospital Cleveland, Ohio, EUA

Fonte: health.usnews.com

Este trabalho está procurando explorar as questões acima, utilizando-se de teorias pertinentes ao
tema e do conhecimento da realidade através do estudo de casos, de forma a contribuir com futuras
pesquisas relacionadas ao assunto e com projetos arquitetônicos de ambientes hospitalares.

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Busca-se explorar as questões acima, utilizando teorias pertinentes ao tema e do conhecimento
da realidade através de pesquisa bibliográficas somadas às informações observadas empiricamente
vinculadas à vida pessoal dos autores, de relatos apresentados pela imprensa escrita, falada e televisiva,
de observações constatadas em visitas a espaços vinculados ao tratamento da saúde.

3. METODOLOGIA
Este trabalho procura explorar as questões acima, utilizando-se de teorias pertinentes ao tema e
do conhecimento da realidade através de pesquisa bibliográficas somadas às informações do Estudo de
Casos, sendo realizada em três fases:
Revisão da Literatura - para conhecimento do estado atual da temática, o que está permitindo o
estabelecimento de um modelo conceitual de referência, através de um plano geral de pesquisa e
determinando as técnicas de coleta de dados mais adequadas. Fontes como livros, publicações periódicas,
páginas de web sites, e relatórios de simpósios/seminários têm sido consultados para a abordagem mais
complexa sobre o tema em questão.
Estudos de Caso está em andamento a coleta de dados de forma a obter informações suficientes
a respeito das características arquitetônicas que promovem a humanização para apoiar as descobertas e
conclusões, de acordo com os objetivos pré-estabelecidos e com as técnicas determinadas.

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Tratamento e cruzamento dos dados com base no referencial teórico extraído da bibliografia
consultada sobre o tema e nos dados coletados nos estudos de caso, para tentar chegar a conclusões e
resultados que poderão gerar recomendações para futuras pesquisas e projetos arquitetônicos.

4. RESULTADOS ESPERADOS
Em contato com espaços com características arquitetônicas e/ou elementos construtivos – que
promovem relações mais saudáveis entre o paciente internado nas anatomias hospitalares atuais e quais
os benefícios proporcionados por esta relação, buscando:
Identificar com base na literatura, quais são os elementos do ambiente externo que provocam
estímulos nos sistemas sensoriais do corpo humano e como esses estímulos são percebidos pelos
pacientes;
Avaliar qual o desempenho das características arquitetônicas nas anatomias hospitalares mais
utilizadas atualmente, levando em conta as mudanças espaciais;
Verificar quais são as soluções arquitetônicas utilizadas para promover a humanização nos
hospitais;
Descobrir, a partir da opinião dos funcionários dos hospitais visitados, como a relação do
ambiente hospitalar influencia os pacientes internados

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as etapas descritas acima estão começadas, mas ainda inacabadas pois a pesquisa se
encontra em andamento. Entretanto se pode desenhar, mesmo que precariamente, que haverá como
resultado um vasto e denso cabedal de dados e informações sobre o objeto de pesquisa- o hospital- que
serão devidamente sistematizadas e com base nos objetivos apresentados, subsidiará três eixos analíticos:
a arquitetura hospitalar; a humanização e a sustentabilidade social, que deverá ser devidamente
sistematizado com base nos objetivos apresentados no decorrer desse projeto.
Esses eixos de análise deverão impulsionar o processo de reflexão e permitir que alcancemos
respostas às nossas inquietações. Destaque-se algumas questões como: qual o percentual de melhora nos
pacientes quando expostos a ambientes humanizados? O que esses ambientes podem agregar para a
melhoria da qualidade de vida? Quais os benefícios da sustentabilidade social em ambientes hospitalares?
Qual a melhoria do estado psicológico em pacientes que dispõe de contato com o exterior? Quanto tempo
os pacientes que não possuem esse contato com o exterior ou até mesmo com processos simples de
humanização demoram mais para obter uma melhoria em seu quadro de saúde? Existem opções de
ambientes humanizados para pacientes em UTI (unidades de terapia intensiva)? A unidade de terapia
intensiva pode ser algo modificado pelo arquiteto hospitalar?
Pelo andamento da pesquisa segue a suposição de que as respostas a essas questões e às demais
que fatalmente surgirão no desenvolver da investigação, virá do cotejamento e confronto dos dados
obtidos nas pesquisas bibliográficas, documentais e de campo, possibilitando compreender essa
conjuntura e verificar até que ponto e de que forma fatores internos e externos afetaram a concepção
arquitetônica dos ambientes hospitalares.
Da mesma forma, o confronto das análises de informações obtidas na revisão bibliográfica e nas
fontes primárias, em contribuído para melhor apreensão das características peculiares e únicas desse
processo de entendimento, pois, ainda que existam informações que são relacionadas ao mesmo assunto,
não há um estudo mais aprofundado sobre o tema. O que existe, portanto, é uma reprodução das mesmas
informações sem que haja uma análise mais profunda sobre do tema e sua relação com o ambiente e a
sociedade.
Dessa forma, como um desdobramento do trabalho de pesquisa, almejamos que essa dissertação
venha a proporcionar um material de grande valia para futuros trabalhos a respeito do assunto.

6. REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 10
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

PRINCIPAIS MOTIVADORES E BARREIRAS QUE IMPULSIONAM AS


CADEIAS DE SUPRIMENTOS EM DIREÇÃO À SUSTENTABILIDADE

Bárbara Modesto da Silva1, Denise Helena Lombardo Ferreira2, Marcos Ricardo Rosa
Georges3

1. Aluna da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
lombardo@puc-campinas.edu.br
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
marcos.georges@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O setor empresarial passou a adotar práticas sustentáveis em suas operações com o intuito de conciliar os
padrões produtivos vigentes e a capacidade de suporte do planeta.Tal fato ocorre em um contexto em que
as organizações não operam mais de forma independente e sim em cadeias. As cadeias de suprimentos
podem ser consideradas uma das formas de gerar repercussão positiva em todo o mundo, tendo em vista
que aproximadamente 80% do comércio global perpassam por cadeias de suprimentos.De modo a
contextualizar o cenário estudado, inicialmente foi apresentada uma abordagem acerca do conceito de
Gestão de Cadeia de Suprimentos e como se deu sua evolução ao longo dos anos. Adicionalmente, a
Sustentabilidade na Gestão de Cadeia de Suprimentos foi analisada com a finalidade de compreender seus
conceitos fundamentais. O propósito principal desta pesquisa é investigar quais os principais fatores
externos que impulsionam as cadeias de suprimentos em direção à sustentabilidade e quais barreiras as
organizações encontram para expandir as práticas sustentáveis em sua cadeia de suprimentos. Ao longo
da pesquisa, foi observado que o fator econômico é determinante para integração de práticas sustentáveis
pelas cadeias de suprimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão da Cadeia de Suprimentos, Gestão da Cadeia de Suprimentos Verde,


Sustentabilidade, Pacto Global.

1. INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais atingiram escala global. Os impactos industriais ao meio ambiente
tornaram-se alarmantes e, consequentemente, questões como aquecimento global, problemas decorrentes
da poluição e degradação ambiental passaram a ser discutidos internacionalmente. A compreensão de que
os recursos naturais são finitos e de que a capacidade ambiental chegou ao seu limite estão levando as
organizações a procurarem um crescimento equilibrado que não sacrifique o meio ambiente (ALKHIDIR;
ZAILANI, 2009).
Dentro deste contexto, tem início uma transformação de escala na percepção dos problemas
ambientais que passaram a ser considerados alarmantes no mundo todo. As empresas começaram a ser
pressionadas constantemente pelos órgãos reguladores, comunidades, ONGs e pelos seus próprios
funcionários, demandando ações eficientes a respeito dos impactos ambientais de suas ações (PAULRAJ
et al., 2017).
Tal movimento ocorre em um cenário em que as empresas não operam mais de forma individual
e independente, e sim, em cadeias (CHRISTOPHER, 2007). As cadeias de suprimentos podem ser
consideradas uma das formas de gerar repercussão positiva em todo o mundo, já que aproximadamente
80% do comércio global perpassam por cadeias de suprimentos. Elas são percebidas como a força motriz
da economia, provendo produtos e serviços no mundo todo, interligando organizações e pessoas que

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operam além das fronteiras geográficas e culturais (UN GLOBAL COMPACT SUPPLY CHAIN
SUSTAINIBILITY, 2015).
O foco atual das organizações não está exclusivamente em operar da maneira mais eficiente
possível. A busca pela maximização de lucros e aumento do market share não estão mais totalmente
relacionados aos preços ou a qualquer outro elemento financeiro. Um novo paradigma de mesma
importância emerge em função de pressões externas sobre a origem do produto e o modo como ele foi
manufaturado. Indagações sobre os impactos ambientais, sociais e éticos estão recebendo atenção pelas
empresas. Sustentabilidade não é mais uma questão restrita aos ambientalistas. É um modelo que está
relacionado com parâmetros inovadores e respaldado pela percepção de que a cadeia de suprimentos
sustentável pode atuar de forma estratégica na procura pela sustentabilidade (BETIOL et al., 2012).
Assim, esta pesquisa parte do questionamento a seguir: quais os principais fatores externos que
impulsionam as cadeias de suprimentos em direção à sustentabilidade e quais barreiras as organizações
encontram para expandir as práticas sustentáveis em sua cadeia de suprimentos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gestão da Cadeia de Suprimentos
Nos últimos anos, houve uma expressiva transformação no segmento organizacional
contemporâneo, uma vez que as empresas individuais deixaram de competir de modo autônomo e
passaram a concorrer em cadeias (LAMBERT; COOPER, 2000). Devido à complexidade acerca desta
temática, é fundamental compreender os principais aspectos a respeito deste assunto.
Existem divergências dentro do meio acadêmico de quando o termo Gestão da Cadeia de
Suprimentos passou a ser inserido na literatura e no mundo empresarial. Lambert e Cooper (2000)
reconhecem que o termo Gestão da Cadeia de Suprimentos surgiu na década de 80. Já Mentzer et al.
(2001) afirmam que, a partir da década de 90, especificamente em 1995, na Conferência do Concil of
Logistics Management, o termo recebeu um destaque significativo pelas corporações. A partir de então, o
conceito foi globalmente difundido e passou a fazer parte do meio empresarial.
Mentzer et al. (2001) reconhecem que vários motivos contribuíram para a circulação do termo
Gestão da Cadeia de Suprimentos. Dentre eles, a globalização que proporcionou às corporações a
possibilidade de procurar fornecedores em qualquer parte do mundo e, consequentemente, expandir a
competitividade. Esse aumento da competitividade pressionou as empresas a encontrarem meios mais
eficientes de conduzir todos os produtos pelos elos da cadeia, implicando em uma aproximação entre
produtores, distribuidores, varejistas e consumidor final.
Existem vários conceitos sobre Gestão da Cadeia de Suprimentos. Uma das definições mais
conhecidas é a de Ballou (2006). De acordo com o autor, a Gestão da Cadeia de Suprimentos compreende
desde o processo de emissão de um pedido de compras até a entrega desse pedido ao usuário final. Ballou
(2006) afirma que a Gestão da Cadeia de Suprimentos engloba tudo aquilo que está relacionado às
operações relativas ao transporte e fabricação de produtos, desde o momento da obtenção de insumos até
o consumidor final.
De acordo com Levi e Kaminsky (2003), Gestão da Cadeia de Suprimentos pode ser definida
como uma integração eficiente entre fornecedores, produtores e armazéns. Ainda de acordo com os
autores, essa eficiência tem sempre como objetivo a diminuição dos custos, contudo sem impactar o nível
de serviço estipulado.
Lambert e Cooper (2000) explicam que a Gestão da Cadeia de Suprimentos não diz respeito a
uma rede de atividades comerciais de empresa para empresa, e sim a uma malha de negócios complexos
que pode proporcionar maior sinergia dentro, fora e entre as companhias. Essa forma de conduzir o
negócio assegura uma maior excelência no gerenciamento das transações organizacionais e configura
uma nova forma de coordenar os negócios e, principalmente, em uma nova maneira de interagir com os
demais integrantes da cadeia.
O Council of Supply Chain Management Professionals (2017) reconhece a Gestão da Cadeia de
Suprimentos como a gestão da oferta e demanda dentro e entre as organizações. Dessa forma, é essencial
planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas na aquisição, produção, fornecimento e
transporte. Também é importante a coordenação e colaboração entre fornecedores, prestadores de
serviços e clientes, formando uma conexão entre todos os integrantes da cadeia.
Na Gestão da Cadeia de Suprimentos, todos os participantes estão diretamente interligados e são
peças-chave para o sucesso do negócio. Um alto nível de performance exige que todas as operações ao
longo da cadeia operem de forma equilibrada e transparente (OLIVEIRA et al., 2016)..

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2.2 Sustentabilidade em Gestão da Cadeia de Suprimentos


Nos últimos dois séculos, a rápida expansão industrial trouxe uma prosperidade nunca vista
antes. Entretanto, todo esse desenvolvimento produtivo mostrou sinais de ser insustentável, uma vez que
acarretou em negativos impactos ambientais, como os acidentes industriais que surpreenderam o mundo:
um dos maiores derramamentos de óleo em 1978 (França); maior acidente com planta química conhecido
como a tragédia de Bhopal em 1984 (Índia); desastre nuclear de Chernobyl em 1986 (Ucrânia) dentre
outros (RAJEEV et al.,2017; PAULRAJ et al., 2017).
Somado a esses fatores, vários pesquisadores reconhecem que a destruição do ozônio e
aquecimento global foram diretamente afetados ao longo dos anos em decorrência, principalmente, das
atividades industriais (RAJEEV et al., 2017; PAULRAJ et al., 2017). No que diz respeito ao aquecimento
global, a Economist Intelligence Unit assegura que, ainda que haja apenas dois graus Celsius de aumento
na temperatura média do planeta até 2100, investidores privados poderão ter um prejuízo de 4,2 trilhões
de dólares (RAJEEV et al., 2017).
Outro aspecto central que vem sendo discutido internacionalmente é o limite dos recursos
naturais do planeta. Alguns pesquisadores asseveram que a capacidade ambiental, incluindo minérios,
combustíveis fósseis, produtividade agrícola e possibilidade de regeneração do ambiente natural está
sendo excedida. Isso se deve ao fato do consumo irracional, juntamente com a poluição ambiental
irresponsável decorrente do ciclo de vida do produto que vai desde a extração de insumos, produção e
eliminação de resíduos industriais (AL KHIDIR; ZAILANI, 2009).
Todos esses fatores contribuíram para a necessidade de um crescimento sustentável, já que uma
economia mais “verde” seria capaz de proporcionar prosperidade respaldada em uma utilização dos
recursos naturais de modo consciente. Assim as cadeias de suprimentos passaram a reavaliar suas ações,
já que suas atividades estão totalmente integradas e representam uma parte significativa nos impactos
ambientais das empresas. (PAULRAJ et al., 2017).
É a partir de uma gestão de cadeia de suprimentos sustentável que as empresas procuram
aperfeiçoar seus aspectos ambientais, sociais e econômicos em suas cadeias de suprimentos com o
objetivo de responder à pressão dos participantes da cadeia. Algumas estratégias proativas de uma gestão
da cadeia de suprimentos sustentável reconhecem que a sustentabilidade deve ser o propósito fundamental
para a empresa. Isso porque as organizações precisam garantir que suas ofertas de recursos naturais não
serão extintas a longo prazo (WOLF, 2014).
Atualmente, é percebido que as empresas possuem a obrigação de devolver algo à sociedade.
Mitigar seus impactos negativos ao meio ambiente e assumir a responsabilidade pelo comportamento de
seus fornecedores em questões como o trabalho infantil, saúde, segurança e poluição (WALKER; JONES,
2012).
Geng et al. (2017) destacam que a cadeia de suprimentos passou a incluir aspectos ambientais
não apenas dentro e fora da empresa, mas como também entre os elos da cadeia. Emmet e Sood (2010)
reconhecem que a cadeia de suprimentos verde apareceu como uma maneira para as empresas realizarem
seus negócios de modo ambientalmente sustentável. Para tanto, o critério do meio ambiente precisa estar
diretamente interligado com o processo de tomada de decisão empresarial.
Segundo Srivastava (2007), a gestão da cadeia de suprimentos verde vem recebendo uma grande
atenção não apenas dos profissionais da área de gestão de cadeia de suprimentos, como também de
pesquisadores em todo o mundo. Esse interesse em gestão de cadeia de suprimentos sustentável ocorre
em função da deterioração ao meio ambiente e, consequentemente, redução de insumos.
Já Dias, Labegalini e Csillag (2012) argumentam que algumas cadeias de suprimentos passaram
a adotar práticas sustentáveis em resposta às pressões externas, enquanto outras empresas enxergam que a
sustentabilidade pode proporcionar valor agregado não apenas ao seu produto, mas como também ao seu
negócio como um todo. Ainda de acordo com os autores, a interpretação para implementação de condutas
sustentáveis altera assim que as organizações constatam que a sustentabilidade pode trazer retorno
financeiro e ser utilizada como uma vantagem competitiva.
Um dos importantes fatores em estudar a cadeia de suprimentos sustentável ocorre em função da
relação e influência entre os elos da cadeia. A partir do momento que uma empresa focal específica
decide incluir parâmetros sustentáveis, essa organização passa a influenciar as demais organizações tanto
a jusante quanto a montante. Algumas vezes, as organizações integrantes da cadeia de suprimentos
passam a exigir e/ou sugerir que seus fornecedores, distribuidores e clientes introduzam práticas
sustentáveis no negócio.

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25 a 26 de setembro de 2019

3. METODOLOGIA
A revisão sistemática da literatura é uma ferramenta utilizada para obter as melhores evidências
e verificar quais são as políticas e práticas mais utilizadas em uma determinada área (TRANFIELD;
DENYER; SMART, 2003). A revisão sistemática é uma metodologia específica que não apenas identifica
os estudos existentes como também analisa e sintetiza os dados obtidos, permitindo assim o levantamento
de evidências de um objeto de estudo específico (DENYER; TRANFIELD, 2009).
A metodologia aplicada para essa pesquisa foi uma revisão sistemática da literatura com o
objetivo de identificar quais os principais fatores externos que impulsionam as cadeias de suprimentos em
direção à sustentabilidade e quais barreiras as organizações encontram para expandir as práticas
sustentáveis em sua cadeia de suprimentos. Para tanto, seguiu o passo a passo proposto por Denyer e
Tranfield (2009).
Denyer e Tranfield (2009) sugerem que as evidências devem ser encontradas através da
definição da base e de palavras-chave. A base de dados definida foi a plataforma CAPES (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e as palavras-chave utilizadas foram: main barriers
sustainable supply chain, main motivators sustainable supply chain, principais barreiras na cadeia de
suprimentos sustentável e principais motivadores na cadeia de suprimentos sustentável.
Artigos nacionais e internacionais foram considerados para esse estudo dentro de período de
2004 a 2017. A busca trouxe 128 artigos, dos quais 22 evidenciaram de forma clara e objetiva as práticas
sustentáveis adotadas pelas empresas dentro da cadeia de suprimentos
Denyer e Tranfield (2009) recomendam que a análise deve ser realizada de forma criteriosa
sempre levando em consideração o foco da pesquisa. Assim, todos os artigos foram catalogados por ano e
autores. Os principais impulsionadores externos e as principais barreiras foram evidenciados e, em
seguida, analisados.

4. RESULTADOS ENCONTRADOS
4.1 Principais impulsionadores externos para a adoção de práticas sustentáveis na cadeia de
suprimentos
Conforme mencionado na Fundamentação Teórica, a cadeia de suprimentos desempenha um
papel essencial na adoção de práticas sustentáveis pelas empresas. Vanpoucke et al. (2016) afirmam que
toda organização responde de uma maneira diferente às questões ambientais e se beneficia de forma
distinta dentro da cadeia de suprimentos verde. Compreender quais os principais incentivos direcionam as
empresas para uma cadeia de suprimentos verde é essencial para que se consiga antecipar a conduta
ambiental das corporações. Vários impulsionadores externos para a adoção de práticas verdes dentro da
cadeia de suprimentos foram encontrados na literatura. As informações encontradas foram sintetizadas no
Quadro 1 e, em seguida, analisadas.

Quadro 1 – Principais Impulsionadores para adoção de práticas sustentáveis pela cadeia de


suprimentos
Vantagem
Regulamentaçõ Consumidore Comunidade
Autores Ano Fonte País Competitiv
es s s e ONGs
a
Journal of China e
ZHU, Q.;
2004 Operations Estados X X X
SARKIS, J.
Management Unidos
International
SRIVASTAVA, Journal of
2007 Índia X X X
S.K. Management
Reviews
Journal of
SEURING, S.; Alemanh
2008 Cleaner X X X X
MÜLLER, M a
Production
Global
ALKHIDIR, T.; Journal of
2009 Malásia
ZAILANI, S. Environment
al Research
Livro Green
EMMETT, S; Reino
2010 Supply X X X X
SOOD, V. Unido
Chains
PEREGRINO 2010 Revista de Brasil X X

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DE BRITO, R.; Administraçã


CALICCHIO B o de
Empresas
Journal of
Alemanh
WOLF, J. 2011 Business X X X
a
Ethics
DIAS, S.L.F.G;
LABEGALINI,
2011 Produção Brasil X X X X
L.; CSILLAG,
J.M.
Journal of
LUTHRA, S.;
Industrial
KUMAR, V.;
2011 Engineering Índia X
KUMAR, S.;
and
HALEEM, A.
Management
TSENG, M.L.; Journal of
Taiwan e
TAN, K.; CHIU, 2013 Cleaner X X
Filipinas
A.SF. Production
Supply Chain
WALKER, H.; Management:
2013 X X X
JONES, N An International
Journal
Journal of
ZHU, Q.; GENG,
2013 cleaner X X
Y.
production
Journal of
LUTHRA, S.;
Advances in
GARG, D.; 2014 X X
Management
HALEEM, A.
Research
Journal of
WOLF, J. 2014 X X
Business Ethics
International
MIRHEDAYATIA
Journal of
N, S.S.; AZADI, 2014 X X
Production
M.; SAEN, R. F.
Economics
SAJJAD, A.; Business
EWEJE, G.; 2015 Strategy and the X X X X
TAPPIN, D. Environment
Journal of
ZHU, Q.; FENG,
2016 Cleaner X
Y.; CHOI, S.B.
Production
LAARI, S.; TÖYLI, Journal of
J.; SOLAKIVI, T.; 2016 Cleaner X X X
OJALA, L. Production
VANPOUCKE, E.; Supply Chain
QUINTENS, L.; Management:
2016 X X X X
ENGELSHOVEN, An International
M.V. Journal
Journal of
SCUR, G.;
2017 Cleaner X X X X
BARBOSA, M.E.
Production
PAULRAJ, A.;
Journal of
CHEN, I. J.; 2017 X X X X
Business Ethics
BLOME, Co
15 11 14 17
Fonte: Elaborado pelos autores.

4.2 Regulamentações
De acordo com Dias (2009), cresce em todo o mundo a responsabilidade do Estado no que diz
respeito ao monitoramento de recursos naturais. Diversos países têm promulgado legislações ambientais
como uma tentativa de tornar as empresas mais responsáveis pelos danos causados ao meio ambiente. As
organizações precisam respeitar as normas ambientais de suas instalações de seu país de origem e a
regulamentação ambiental dos países para onde exportam. A legislação ambiental exerce uma pressão
normativa às organizações acerca do manejo dos recursos naturais. Apesar dos esforços do governo, a

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decisão da empresa em seguir as normas ambientais está diretamente relacionada ao valor das multas que
poderão receber e ao custo de implementação das práticas sustentáveis estabelecidas pelo Estado.
Kleindorfer et al. (2005) estão em consonância com essa ideia ao afirmarem que a maioria dos
peritos em políticas públicas e regulamentações ambientais sempre debatem acerca dos custos e possíveis
vantagens que as organizações podem obter ao implementar alguma tecnologia sustentável. Os debates
são sempre acerca dos trade-offs entre adoção de práticas sustentáveis e possibilidade de um retorno
econômico ou não à organização.
Adicionalmente, os autores afirmam que é mais fácil as empresas adotarem práticas sustentáveis
se houver uma regulamentação mais severa capaz de punir as empresas de modo eficaz. Nesse contexto,
as normas regulatórias podem ser consideradas como uma fonte de fomento à inovação sustentável.
Entretanto, em algumas situações, as próprias empresas exercem pressão sobre o governo solicitando
normas ambientais específicas relacionadas a alguma tecnologia ambientalmente amigável que já foi
desenvolvida pela própria companhia. Dessa maneira, essas organizações já teriam vantagem competitiva
em relação aos concorrentes.
Se, em algumas ocasiões, as normas regulatórias ambientais representam uma possibilidade de
vantagem competitiva também podem impactar toda a cadeia de suprimentos. Por exemplo, algumas
empresas multinacionais instaladas na China precisaram adquirir insumos de outros países em função dos
produtos chineses não obedecerem às normas ambientais dessas multinacionais. Neste caso, o governo
chinês mudou sua estratégia de gestão ambiental, desenvolveu uma legislação ambiental mais rígida,
estimulou a produção mais limpa e a adoção da certificação ISO 14001 (ZHU; SARKIS, 2004).
Seuring e Muller (2008) admitem que as normas regulatórias no âmbito local, nacional e
transnacional desempenham um papel essencial para a adoção de práticas sustentáveis pelas cadeias de
suprimentos. Seguindo essa mesma linha, Wolf (2011) reitera que as empresas precisam atender aos
requisitos governamentais e de organizações não-governamentais. É importante reforçar que uma das
principais finalidades para a adoção de práticas sustentáveis é obter vantagem competitiva em todos os
níveis da cadeia de suprimentos.
Notavelmente as cadeias de suprimentos que adotam uma gestão ambiental apenas por uma
questão normativa, o fazem apenas para dar continuidade às suas operações a longo prazo, uma vez que
podem precisar de autorização para exercer suas atividades e pretendem preservar-se de multas para
diminuir os riscos financeiros. São organizações que não reagem de forma proativa e estão meramente
focadas em se antever às sanções e penalidades. O propósito é obedecer às especificações de modo
passivo, reproduzindo as mesmas práticas de seus concorrentes (VANPOUCKE et al., 2016).
Em contrapartida, a OECD aponta várias falhas na regulação pública, especialmente no nível
transnacional, uma vez que existem vários problemas para alguns países atenderem às legislações
ambientais. Nessa linha, Bartley (2007) assegura que a globalização das cadeias de suprimentos e a
ausência de um órgão regulador eficiente estão proporcionado uma nova maneira de governança global.
Alguns padrões regulatórios globais privados estão se tornando cada vez mais comuns e já são
encontrados na literatura como Regulamento Privado Transnacional.

4.3 Consumidores
Seuring e Muller (2008) reconhecem que o gatilho inicial para implementação de práticas
sustentáveis são pressões oriundas do lado de fora da cadeia a partir de dois grupos. O primeiro grupo são
os clientes, uma vez que a inclusão de práticas sustentáveis dentro da cadeia de suprimentos só será
fundamentada se os produtos forem bem recebidos pelos consumidores finais. O outro grupo são as
regulamentações conforme visto acima.
Wolf (2011) também concorda com essa ideia ao afirmar que existem indícios de que cada vez
mais os consumidores têm interesse em conhecer as circunstâncias em que os produtos foram
manufaturados, além de optarem por adquirir produtos que eles acreditam terem sido fabricados de forma
ambientalmente amigável. Srivastava (2007) coloca que as pressões dos consumidores possuem um peso
significativo para que as cadeias de suprimentos adotem práticas sustentáveis.
Vanpoucke et al. (2016) vão além e asseguram que os consumidores possuem o poder de
direcionar a economia mundial, uma vez que o que eles decidem comprar ou não impactam toda a cadeia
de suprimentos. Assim, ao demandarem por produtos ambientalmente amigáveis, esse fato acarretará em
uma repercussão à montante na cadeia de suprimentos. Tal fato ocorre porque os clientes podem boicotar
a compra de marcas consideradas hostis ao meio ambiente, direcionando assim para o “esverdeamento”
das cadeias de suprimentos.

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4.4 Comunidades e ONGs


Seuring e Muller (2008) também apontam o papel das ONGs como um dos direcionadores para
uma cadeia de suprimento sustentável, já que essas organizações não governamentais atribuem às
empresas focais todas as complicações de cunho ambiental e social que possam surgir ao longo da cadeia.
Essa associação às empresas focais pode propiciar uma imagem negativa perante a sociedade e,
consequentemente, ocasionar a perda de market share pelas organizações.
Wolf (2014) exemplifica o poder das forças das ONGs em relação à extração do óleo de palma.
Esse insumo é utilizado em vários produtos desde chocolate até produtos de limpeza. Dessa maneira, a
procura mundial por esse óleo específico impactou em um excessivo desmatamento da floresta tropical.
Em resposta a essa situação, as organizações não-governamentais, em especial o Greenpeace,
pressionaram as empresas a extraírem o óleo de palma de modo mais sustentável.
O Greenpeace divulgou através das mídias sociais informações que vinculavam a Nestlé ao
desmatamento da floresta tropical e convidou todos a boicotar os produtos fabricados pela Nestlé. Este é
um dos vários exemplos de como as comunidades e ONGs possuem poder não apenas nas empresas, mas
como também em toda sua cadeia de suprimentos (WOLF, 2014).

4.5 Vantagem Competitiva


O desempenho econômico é usualmente o fator mais importante para as cadeias de suprimento
adotarem práticas verdes. Evidências apontam que as abordagens proativas em relação à cadeia de
suprimento sustentável podem proporcionar às organizações uma melhor performance de longo prazo
através de um gerenciamento eficaz dos riscos ambientais e avaliação dos recursos sob a perspectiva de
melhoria contínua (ZHU; SARKS, 2004).
Alguns pesquisadores alegam que a inclusão de práticas verdes dentro da cadeia de suprimentos
pode acarretar em desperdício financeiro e de energia, uma vez que nem sempre existe um retorno
positivo na adoção de programas ambientalmente amigáveis. No entanto, inúmeras pesquisas indicam
exatamente o contrário, uma vez que a implementação de uma conduta verde contribui diretamente para
motivação dos funcionários, percepção positiva pelo consumidor final e, principalmente, para uma maior
atenção dos investidores. Essas práticas podem ser vistas como uma estratégia de diferenciação da cadeia
de suprimentos, elevando seu valor de mercado (PAULRAJ et al., 2017).
Dentro desse contexto, Vanpoucke et al. (2016) afirmam que o debate acerca da associação entre
performance ecológica e financeira é antiga. Existem analistas que afirmam ser possível ter um bom
desempenho econômico e ser ambientalmente amigável. Outros questionam se a adoção de práticas
sustentáveis está realmente em linha com o objetivo das organizações que possuem o propósito de
maximizar o lucro dos investidores.
Já Srivastava (2007) afirma que a adoção de práticas sustentáveis pelas cadeias de suprimentos
ocorre em função da possibilidade de uma maior rentabilidade pelas organizações. O autor ratifica que
essas práticas podem ser consideradas geradoras de valor ao negócio e não apenas como um centro de
custos.
Seguindo essa mesma linha, Zhu e Sarks (2004) colocam que a cadeia de suprimentos verde
apareceu como um modelo substancialmente relevante para as organizações maximizarem seu lucro e
eficiência ao mesmo tempo que minimiza os riscos e degradação ambiental. Dentro desse contexto,
Seuring e Muller (2008) reconhecem que a busca para atingir uma boa performance econômica precisa
abranger os aspectos ambientais e sociais, levando as discussões sobre esse trade-off para um outro
patamar bem mais complexo.

4.5.1 Principais Barreiras encontradas para a adoção de práticas sustentáveis na cadeia de


suprimentos
A adoção de práticas sustentáveis pela cadeia de suprimentos é uma atividade bastante
desafiadora (AL ZAABI et al., 2013). Mangla et al. (2016) afirmam que é relevante compreender os
desafios e as problemáticas relacionadas que existem a partir do momento em que uma empresa busca
implementar políticas sustentáveis na cadeia de suprimentos.
Assim, com o objetivo de entender as principais dificuldades encontradas pelas organizações
para implementação de práticas sustentáveis na cadeia de suprimentos, foi realizado um estudo na

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literatura. As informações referentes às barreiras encontradas para incorporação de sustentabilidade na


cadeia de suprimentos encontram-se sintetizadas no Quadro 2 e, em seguida, foram analisadas.

Quadro 2 – Principais Barreiras para integração de práticas sustentáveis na Cadeia de Suprimentos


(Cont.)
Falta
de Falta de
Autores Ano Fonte Custo Regulamentações compromisso compromisso
Alta stakeholders
Gerência
Journal of
SEURING, S.; MÜLLER,
2008 Cleaner X
M
Production
Journal of
LUTHRA, S.; KUMAR,
Industrial
V.; KUMAR, S.; 2011 X X X X
Engineering and
HALEEM, A.
Management
Journal of cleaner
ZHU, Q.; GENG, Y. 2013 X X
production
Supply Chain
WALKER, H.; JONES, Management: An
2013 X X X X
N. International
Journal
The International
AL ZAABI, S.; AL Journal of
DHAHERI, N.; DIABAT, 2013 Advanced X X X
Ali Manufacturing
Technology
Journal of
LUTHRA, S.; GARG, D.; Advances in
2014 X X X X
HALEEM, A. Management
Research
Business
SAJJAD, A.; EWEJE, Strategy and
2015 X X X
G.; TAPPIN, D. the
Environment
MOKTADIR, M. A.,
Journal of cleaner
ALI, S. M., RAJESH, R., 2018 X X X
production
PAUL, S. K
Research Journal
PANIGRAHI, S. S.;
2018 of Textile and X
RAO, N. S.
Apparel
8 7 6 4
Fonte: Os autores

4.6 Custo
Tradicionalmente, o custo é utilizado como um dos principais indicadores de performance
organizacional e o desempenho financeiro é uma grande fonte de pressão à cadeia de suprimento
sustentável. Isso ocorre porque a adoção de práticas sustentáveis acarreta na adoção de uma tecnologia
mais avançada, motivação e capacitação dos colaboradores que irão demandar um alto investimento
inicial (ZUTHRA et al., 2011). Como algumas empresas não possuem indicadores de performance
ambiental, investir em uma gestão de cadeia de suprimentos sustentável torna-se inviável financeiramente
(WALKER, JONES, 2012).
Percebe-se que as barreiras financeiras são uma das primeiras dificuldades encontradas pelas
organizações. Mesmo com pressões externas, algumas empresas acreditam que não existe um retorno
significativo para um investimento tão alto (ZHU; GENG, 2013). Al Zaabi et al. (2013) corroboram com
essa prerrogativa ao afirmarem que um dos principais obstáculos para adoção de práticas sustentáveis na
cadeia de suprimentos é o alto custo não apenas para eliminação de resíduos como também para
embalagens ambientalmente amigáveis.
Além disso, Sajjad et al. (2015) asseveram que os custos advindos de práticas de sustentabilidade
podem prejudicar os esforços das organizações no que diz respeito à implementação dessas práticas.

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Seguindo essa mesma linha, Panigrahi et al. (2018) identificaram que existe uma percepção de alto
investimento e pouco retorno relacionado ao capital empregado.

4.7 Falta de Comprometimento da gerência


De acordo com Mangla et al. (2017), para o sucesso de adoção de práticas sustentáveis pelas
organizações, é necessário que haja uma mudança comportamental. No entanto, essa mudança
comportamental só é possível a partir do comprometimento e apoio da alta gerência. Capacitação,
treinamento e educação são condições fundamentais para se conseguir uma implementação eficaz da
cadeia de suprimentos sustentável em qualquer organização. A gerência é capaz de motivar os
colaboradores a compreender informações relacionadas à sustentabilidade (LUTHRA et al., 2011).
O apoio da alta gerência é capaz de contribuir para melhoria contínua de práticas sustentáveis
nas organizações (MOKADIR et al., 2018) e deve oferecer suporte não apenas para os planos estratégicos
como também para os planos de ação para implementá-los de forma bem-sucedida. Percebe-se, portanto,
que a inexistência do comprometimento da alta gerência é uma das barreiras para a integração de práticas
sustentáveis na cadeia de suprimentos (LUTHRA et al., 2011; WALKER, JONES, 2012; ZHU, GENG,
2013).
Nessa mesma perspectiva, Al Zaabi et al. (2013) reiteram que a ausência de um engajamento
robusto de gestão implica diretamente em um obstáculo para adoção de práticas sustentáveis na cadeia de
suprimentos. Os autores afirmam ainda que muitos pesquisadores apontaram a inexistência de
compromisso da alta gerência como uma dificuldade comum em todos os tipos de indústrias.

4.8 Ausência de Regulamentações


Mangla et al. (2017) afirmam que apesar de haver algumas iniciativas relacionadas à
conservação ambiental e à preservação de recursos energéticos e a despeito dessas questões estarem
presentes na agenda da política internacional, o tema sustentabilidade ainda não é considerado crítico para
alguns governos, em especial para aqueles países considerados em desenvolvimento. Ainda de acordo
com os autores, não existe um entendimento estabelecido e definido acerca da temática sustentabilidade.
Para tanto, seria necessária uma abordagem holística por parte dos governantes e a criação de um
sistema integrado e coeso capaz de implementar a sustentabilidade em políticas de desenvolvimento com
programas sustentáveis e, principalmente, uma forte política de prevenção. As autoridades
governamentais precisariam elaborar normas regulatórias que possibilitassem a adoção de práticas
sustentáveis em nível estratégico. Apenas assim, a partir de um substancial apoio dos governantes, é que
seria possível a promoção de uma cadeia de suprimentos sustentável (MANGLA et al., 2017).
AL Zaabi et al. (2013) reiteram que a inexistência de uma regulamentação apropriada pode ser
considerada como um obstáculo para a implementação de práticas sustentáveis pelas organizações em
toda sua cadeia. Sob essa mesma perspectiva, a ausência de uma autoridade reguladora consegue
influenciar negativamente em relação à adoção de políticas sustentáveis pelas organizações (MOKTADIR
et al., 2018; PANIGRAHI et al., 2018).
A regulamentação governamental é capaz de incentivar ou desencorajar a adoção de inovações
sustentáveis, uma vez que o governo estabelece as normas regulatórias ambientais. Imposições
regulatórias demoradas, taxas, impostos, estruturas tributárias pesadas e a falta de incentivo são
responsáveis por desencorajar algumas empresas a incorporarem a sustentabilidade por toda a cadeia de
suprimentos (ZUTRHA et al. 2011).

4.9 Falta de comprometimento Stakeholders


A falta de compromisso dos fornecedores pode ser considerada como um obstáculo para o
sucesso da adoção de práticas sustentáveis por toda a cadeia de suprimentos (WALKER; JONES, 2012).
Um relacionamento informal e uma comunicação eficiente entre todos os parceiros da cadeia de
suprimentos é essencial para as organizações implementarem práticas sustentáveis na sua cadeia de
suprimentos. No entanto, atualmente existe uma hesitação por parte dos fornecedores para mudar da
cadeia de suprimentos tradicional para a cadeia de suprimentos sustentável (LUTHRA et al., 2011).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como propósito principal investigar e analisar quais os principais
impulsionadores externos e quais barreiras se mostraram significativas para a integração de práticas
sustentáveis pelas cadeias de suprimentos. Para tanto, em função da complexidade do assunto, foram
apresentados os conceitos, evolução e principais aspectos acerca da Gestão da Cadeia de Suprimentos.
Como resultados da pesquisa, foi possível identificar que, dentre os fatores determinantes para a
integração de práticas sustentáveis na cadeia de suprimentos, a Vantagem Competitiva assumiu um
destaque expressivo. Tal fato mostra que o desempenho econômico continua sendo um fator
preponderante para o segmento empresarial. As práticas sustentáveis precisam ser percebidas como uma
possibilidade de agregar valor ao negócio, caso contrário não haverá interesse em implementá-las.
No que diz respeito às principais barreiras, observou-se uma associação à integração de
sustentabilidade pelas cadeias de suprimentos com a necessidade de um aporte financeiro significativo,
fazendo com que o Custo tenha sido a barreira mais identificada e mais citada nos artigos. Pode-se
relacionar este fato ao tradeoff enfrentado pelas organizações em que é necessário encontrar um equilíbrio
entre os objetivos ambientais/sociais, atividades industriais e retorno financeiro aos acionistas.
Ambos os resultados, provenientes destas questões acerca dos reais motivadores e dificuldades
reconhecidas pelas organizações para a implementação de práticas sustentáveis pelas cadeias de
suprimentos, estão em consonância com o presente paradigma da competitividade internacional. A saída
dos Estados Unidos, maior potência econômica do planeta, do acordo de Paris é um exemplo claro de que
os interesses econômicos se sobrepõem aos problemas ambientais e sociais.
O acordo de Paris, também conhecido como COP 21 (Conferência das Partes), foi realizado em
2015 com o objetivo de alcançar um consenso entre os Estados Partes para manter o aquecimento global
abaixo de 1,5º Celsius. Esta convenção reconhece o aquecimento global como uma consequência
antropogênica e foi assinada por 175 países, ela possui força de lei internacional e institui normas
obrigatórias às nações signatárias (NAÇÕES UNIDAS, COP 21, 2018).
No entanto, argumentando defender os interesses econômicos norte-americanos, o atual
presidente dos Estados Unidos comunicou a retirada dos Estados Unidos do acordo, alegando que este
consistiria em modificações no progresso produtivo do país. Apesar disto, pesquisadores acreditam que
esse cenário não será suficiente para inibir os esforços ambientais e sociais de diferentes Estados Partes
(Revista Galileu, 2017).
Países como França e China estão assumindo os papéis de protagonistas geopolíticos. Este
panorama de transição pode ser claramente percebido na medida em que Emmanuel Macron, atual
presidente francês, propôs que os pesquisadores ambientalistas americanos realizassem suas pesquisas na
própria França. Ao passo que a China, além de estar se tornando um dos maiores produtores mundiais de
energia eólica e solar, afirmou que o desenvolvimento de carros movidos a energia limpa é uma das
principais metas de seu país (Revista Galileu, 2017).
Estes são indícios de que, se os padrões ambientais forem propriamente projetados, eles são
capazes de fomentar inovações suficientemente eficientes que possibilitem encontrar o equilíbrio
necessário. A partir da compensação de inovação, existe uma perspectiva de redução dos custos com
práticas sustentáveis e oportunidades das organizações conseguirem obter uma vantagem absoluta em
relação às demais empresas (PORTER; LINDE, 1995).

6. REFERÊNCIAS

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the implementation of sustainable supply chain management. The International Journal of
Advanced Manufacturing Technology, v. 68, n. 1-4, p. 895-905, 2013.

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BARBOSA-PÓVOA, A. P.; DA SILVA, C.; CARVALHO, A. Opportunities and challenges in


sustainable supply chain: An operations research perspective. European Journal of Operational
Research, 2017.

BARTLEY, T. Institutional emergence in an era of globalization: The rise of transnational private


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CAPÍTULO 11
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

ESTRATÉGIAS DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS


EM UMA DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS NO INTERIOR DE SÃO PAULO

Henrique Utumi1, Samuel Carvalho De Benedicto2

1. Graduado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).


E-mail: rick.utumi@hotmail.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O treinamento é a razões de sucesso de empresas multinacionais e grandes franquias. Isso se deve ao
grande comprometimento dos gestores em criar estratégias e transmiti-las em todos os níveis de operação.
Este trabalho teve como objetivo analisar qual tem sido a importância dada ao treinamento nas empresas.
Utilizando uma abordagem metodológica de natureza quantitativa e qualitativa foi realizada uma pesquisa
de campo exploratória em uma distribuidora de bebidas. Os estudos demonstram que os gestores precisam
de ter uma visão do treinamento como uma ferramenta de comunicação com as pessoas, de transmitir as
estratégias construídas aos operadores da organização. A pesquisa apresentou que a gerencia tem ênfase
em treinar a equipe para realização de tarefas do dia a dia, porém no quesito desenvolvimento de pessoas
observou-se como não necessidade por parte da gerencia. A ausência de ferramentas que construam uma
estratégia também se notou ausente através da pesquisa e formulação da base estratégica (visão, missão e
valores) não é totalmente compreendido, portanto não seguido pelos integrantes da organização. A
pesquisa demonstra evidentemente a necessidade de reformulação das estratégias de treinamento da
distribuidora.

PALAVRAS-CHAVE: Treinamento, Desenvolvimento de Pessoas, Gestão de Recursos Humanos.

1. INTRODUÇÃO
A atividade de treinamento teve sua origem no início do processo de industrialização, no final do
século XIX, período em que houve a transição do trabalho artesanal para o de produção em massa. Nas
antigas oficinas de produção, fabricava-se em quantidades menores e de acordo com as encomendas dos
clientes. O treinamento era dado por meio da relação entre o mestre do ofício com seus aprendizes, que
procuravam repetir o trabalho de alguém mais experiente (GODOY et al., 2008).
Consequentemente com a divulgação dos estudos de Taylor, no início do século XX, com
conceitos sobre racionalização do trabalho, a padronização de tarefas, a redução de tempo e de
movimentação, a necessidade de treinamento cresceu, com o objetivo de “ajustar” as pessoas as
necessidades dos processos produtivos (GODOY et al., 2008).
Após a segunda guerra mundial, houve grandes mudanças no mundo dos negócios. Reconheceu-
se um mundo operando em interdependência em ambiente de incerteza, passando a exigir colaboradores
com mais autonomia, liderança, criatividade e iniciativa (TANURE et al., 2010).
O treinamento passou a ser indispensável com o objetivo de obter um desempenho superior para
enfrentar a competição, que se tornou bem mais acirrada. Surgindo assim departamentos de treinamento e
desenvolvimento nas organizações (GODOY et al., 2008).
Segundo a nova filosofia de administrar pessoas, o treinamento e o desenvolvimento estão
presentes nesse novo tempo de competição diária pelo melhor posicionamento possível no mercado. Há
uma necessidade de mudar a mentalidade dos gestores, dando uma nova e dramática dimensão do T&D
(OLADAPO, 2014).

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25 a 26 de setembro de 2019

Esta mudança é um grande obstáculo, pois a execução do treinamento e desenvolvimento


depende de pessoas, ou seja, o fator humano é fundamental para praticamente qualquer atividade da
empresa. Portanto as empresas buscam pessoas ousadas, ágeis, empreendedoras e dispostas a assumir
riscos (ARAUJO; GARCIA, 2009).
As atividades de Treinamento e Desenvolvimento nas organizações têm sido utilizadas com o
objetivo do aumento da profissionalização dos funcionários/ colaboradores, aumento do seu desempenho
e garantia de competitividade no mercado (SILVEIRA, 2014).
Oportunidade de uma propor estratégia de treinamento e desenvolvimento dos integrantes da
distribuidora de bebidas. Proporcionado aos colaboradores aprendizagem e conhecimento que contribuirá
um desenvolvimento pessoal e para a organização aumento da qualidade e competitividade e
consequentemente aumento nos lucros.
Com isso, busca-se refletir: Qual a importância das estratégias de treinamento e desenvolvimento
de pessoas nas empresas de pequeno porte do ramo de bebidas?.
A pesquisa tem como objetivo geral, Este trabalho teve como objetivo analisar qual tem sido a
importância dada ao treinamento nas empresas. Os objetivos específicos do estudo são: (1) discutir os
conceitos das estratégias de treinamento; (ii) analisar os métodos e meios de aplicação do treinamento;
(iii) analisar as estratégias do treinamento.
O treinamento de pessoal é essencial no processo de otimização dos funcionários à empresa e
seus processos. Contar somente com experiência prévia pode se mostrar arriscado, tendo em vista que o
indivíduo pode estar acostumado a um ritmo diferente de andamento das tarefas (SEBRAE, 2018).
O capital humano é o principal diferencial competitivo das organizações bem-sucedidas. Estas
organizações investem boa parte de seus recursos em treinamento, pois para elas não é uma simples
despesa, mas um precioso investimento, que beneficia a organização, as pessoas que nela trabalham e o
clientes (WOOD JR. et al., 2011).
Ainda segundo Chiavenato (2009), o treinamento tem tudo a ver com o conhecimento, e nesta
era da informação, o conhecimento passa a ser o recurso mais importante.
O principal motivo que leva as empresas a treinarem e de poder proporcionar ao colaborador
novas habilidades ou melhorar as que ele possui. Proporcionando retorno de investimento, produzindo
mais e melhor (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
A cada novo empregado é necessário aprender atividades específicas do cargo que irá ocupar,
portanto o treinamento é indispensável para qualquer empresa, além disso outras ocasiões de treinamento
estarão sempre surgindo, como uma promoção ou mudança de cargo, com mudança em novas habilidades
e conhecimento do cargo, ou avanços no conhecimento humano e na tecnologia (LACOMBE;
HEILBORN, 2008).
A existência de pessoas de bom nível, bem selecionadas, treinadas e integradas, trabalhando
como equipe tem um valor inestimável, quando a empresa é vendida, influencia o valor atribuído ao
fundo de comercio da empresa (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
A área de recursos humanos evoluiu muito, passando a fazer parte das atividades do cotidiano
desta área, elaboração de políticas alinhadas ao negócio, preocupação com o retorno para os acionistas,
relacionamento com stakeholders, criação de estratégias para atração e retenção de talentos (TREVISAN
et al., 2014). Elaboração de planos de benefícios que atendam às necessidades dos colaboradores que
gerem comprometimento com a empresa, criação de relacionamento sustentável, foco em resultados e
valorização plena das pessoas (BOOG; BOOG, 2006).

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Capacitação
A capacitação é originada a partir de recursos tangíveis e intangíveis. Capacitação é utilizada
para completar as tarefas da organização, visando ofertar bens e serviços que a organização fornece para
os clientes, criando valor para eles (BRADÃO; GUIMARÃES, 2001).
Capacidades são definidas como ativos tangíveis e intangíveis que permite a organização
aproveitar por completo outros recursos que controla (BARNEY; HESTERLY, 2007). A capacitação em
T&D pode ser uma fonte de criação de competências essenciais, sendo capaz de identificar as
necessidades e criar valor único ao cliente (MUNK et al., 2011; SANTANA, 2008).
A gestão do conhecimento pretende ir além de simples gerenciamento da informação, ou do
conhecimento é de aumentar a capacidade empresarial de criar conhecimento novo, e compartilhar com

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os integrantes da organização e agregar esse conhecimento em valor nos produtos, serviços e processos
(IRELAND et al., 2012).
2.2 Tipo de Treinamento
Segundo Robbins (2005), existem quatro tipos de treinamento, quais sejam:
Habilidade de linguagem: é o aperfeiçoamento das matérias básicas, como português, matemática.
Pesquisam indicam que trabalhadores não tem qualificação para atuar no mercado, por falta desta
habilidade.
Segundo o autor, a National Institude Learning estima que empresas perdem bilhões de dólares por perda
de produtividade. O treinamento na habilidade de linguagem melhora a capacidade de comunicação e um
significativo aumento na autoconfiança.
Habilidades Técnicas: O trabalho se adapta em função das novas tecnologias e melhoria de métodos. A
mudança de estruturas organizacionais, o principal motivo de adotar esta técnica, tem como objetivo
quebrar barreiras e departamentos, onde trabalhador aprende uma ampla variedade de tarefas e tem
melhor compreensão de como a organização opera.
Habilidades Interpessoais: Em uma organização quase todos precisam ter esta habilidade, pois inclui
aprender e ouvir, comunicar as ideias de maneira clara e ser um membro eficaz na empresa.
Habilidade para solução de problemas: Atividades para desenvolver lógica, o raciocínio e a habilidade
de definição de problemas, de identificar causas, desenvolver e selecionar alternativas e escolher uma
solução.
Treinamento Ético: Há muitas controversas sobre este treinamento. Ética consiste em valores. Críticos
argumentam que esses valores são passados na infância e não há como a organização ensinar e treinar as
pessoas. Os defensores do treinamento ético argumentam que esses valores podem ser mudados na fase
adulta na organização. Segundo Lacombe e Heilborn (2008), o tipo de treinamento é feito pela forma de
execução e pelo público alvo. Treinamento no trabalho ou on-the-job é o que ocorre no dia-a-dia na
empresa, a orientação do trabalho pode ser feita pela chefia, através de estabelecimento de metas e
avaliações, rotação de funções ou incumbências especiais (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
Treinamento por execução: Orientação da chefia: O chefe fica responsável por orientar o colaborador.
Administração por metas: O chefe realiza reuniões apresentando metas e demonstrando melhores
formas para atingir para atingir os objetivos, e o impacto caso não consiga. Realiza feedbacks que são
essenciais para aprendizagem (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
Rotação de Funções: O colaborador tem a oportunidade de novos aprendizados, o treinamento ocorre
através da troca de departamento, cargo ou função permitindo aprendizagem e uma perspectiva mais
ampla e global da organização (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
Incumbências especiais: Treinamento em atividades fora da rotina de trabalho, contribuindo para o
aprendizado e maior aproximação com as estratégias da organização (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
Segundo Lacombe e Heilborne (2008), o treinamento com base no público alvo envolve:
Formação de Treinees: Destina-se geralmente a pessoas jovens, com nível superior e com pouco tempo
na empresa com o objetivo de integrar aos aspectos de maior interesse da organização para a assumir
posição de responsabilidade.
Capacitação técnico-profissional: Destina-se a melhorar o desempenho profissional nas funções que os
colaboradores já exercem, aperfeiçoando esses profissionais em assuntos técnicos.
Desenvolvimento de Executivos: Destina-se a executivos de alto potencial que irão assumir cargos de
alta reponsabilidade.

2.3 Aprendizagem no treinamento


Segundo Araújo e Garcia, (2009) a aprendizagem significa uma mudança no comportamento das
pessoas por meio da incorporação de novas atitudes, novos hábitos, conhecimentos e destreza. Através do
treinamento a pessoa pode assimilar informações, aprender habilidades, desenvolver atitudes e
comportamentos diferentes.
Boa parte dos programas de treinamento visam mudar as atitudes reativas e conservadoras das
pessoas para proativas e inovadoras, de modo a melhorar seu espírito de equipe e sua criatividade
(CHIAVENATO, 2009).

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O T&D foca no tema de aprendizagem dos colaborados da organização, sendo um atributo


fundamental para empreendimentos inovadores e sustentáveis em um cenário de constante mutação
(BOOG; BOOG, 2006).
Ainda segundo Boog e Boog (2006), o sentido da aprendizagem é definido pelas necessidades e
pelos objetivos do indivíduo ou grupo e é ineficiente quando os objetivos não são claros.
2.4 Investimentos em Treinamento
Segundo Lacombe e Heilborn (2008), um dos motivos que levam as empresas a investirem
menos em treinamento é o receio em perder o investimento, pois o colaborador pode deixar a qualquer
momento a organização causando prejuízos e investimento em vão.
O princípio é que o treinamento não deve estar concentrado em poucas pessoas e sim em todos
da organização ou o maior número possível, pois com conhecimento compartilhado entre as pessoas, caso
algum colaborador se desligue haverá outra pessoa que terá o conhecimento adquirido no treinamento,
diluindo o prejuízo em investimentos em treinamento (LACOMBE; HEIBORN, 2008).
No caso de ser inevitável o treinamento destinado a poucas ou uma pessoa, o colaborador deve
ser cuidadosamente selecionado, para evitar desperdício do investimento.
As empresas investem tempo, dinheiro e cérebro em estratégias para atração e a retenção de
talentos, e futuramente no desenvolvimento destas pessoas, que cientes do valor que possuem, não abrem
mão de seu emprego e nem de ampliar seus conhecimentos (BOOG; BOOG, 2006).
Ainda Segundo Boog e Boog, (2006) há um distanciamento do que é ensinado na sala de aula e
da prática do cotidiano da organização, sendo questionado a validade deste investimento.

2.5 Processo de Treinamento


Segundo Chiavenato (2009) treinamento é um processo cíclico e contínuo composto por quatro
etapas conforme demonstrado no Quadro 1:

Quadro 1 – Processo de T&D


1) Diagnóstico Levantamento das necessidades de
treinamento
2) Desenho Elaboração do programa de
treinamento
3) Implementação Aplicação e condução do programa de
treinamento
4) Avaliação É a verificação dos resultados do
treinamento
Fonte: Chiavenato (2009).

Araújo e Garcia apresentam diversas etapas envolvidas no processo de T&D (Quadro 2).

Quadro 2 – Etapas de um processo de T&D

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Fonte: Araújo e Garcia (2009, p.119).

2.6 Necessidades de Treinamento


Necessidades de treinamento são as carências de preparo profissional das pessoas, ou seja, a
diferença entre o que uma pessoa deveria saber fazer e o que ele realmente sabe e faz.
É uma área de informação ou de habilidades que o grupo ou indivíduo precisa desenvolver para
aumentar a eficiência e a eficácia na produtividade (CHIAVENATO, 2009).
Para o levantamento das necessidades é necessário conhecer as estratégias da empresa, as metas
e a área onde se encontram as pessoas que precisam ser treinadas, habilidades que requerem ser
desenvolvidas e o perfil dos treinandos (HANASHIRO et al., 2008).
A etapa de diagnose consiste em estabelecimento de processos e instrumentos capazes de corrigir
e prevenir falhas ou melhorar o desempenho (ARAUJO; GARCIA, 2009).
É importante que a atualização das necessidades de treinamentos, e com propósitos bem claros,
elaborado sempre pensando na organização, seja por maior competitividade no mercado ou melhores
resultados financeiros (ARAUJO; GARCIA, 2009).
Existem indicadores que apontam a necessidade de treinamento, os quais podem ser (a priori)
futuras e (a posteriori) passadas.
A priori: são eventos que se acontecerem, provocarão futuras necessidades de treinamento, que são
previstas:

Quadro 3 – Indicadores de necessidade de treinamento a priori


Expansão da empresa e admissão de novos empregados.
Redução do número de empregados
Mudança de métodos e processos de trabalho
Substituições ou movimentação de pessoal
Faltas, licenças e férias de pessoal
Mudanças nos programas de trabalho ou de produção
Modernização dos equipamentos e novas tecnologias
Produção e comercialização de novos produtos ou serviços
Fonte: Chiavenato (2009).

A posteriori: são problemas provocados por necessidades de treinamento não atendidas: Causam
problemas na produção.

Quadro 4 – Indicadores de necessidade de treinamento posteriori


Baixa qualidade de produção
Baixa produtividade

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Avarias frequentes em equipamentos e instalações


Comunicações deficientes
Elevado número de acidentes no trabalho
Excesso de erros e desperdícios
Pouca versatilidade dos funcionários
Mau aproveitamento do espaço disponível
Fonte: Chiavenato (2009).

Segundo Chiavenato (2009), outro fator que se encontra ligado às necessidades de treinamento são
(Quadro 5):

Quadro 5 – Problemas com pessoal


Relações deficientes entre pessoal
Número excessivo de queixas
Mau atendimento ao cliente
Comunicação deficientes
Pouco interesse pelo trabalho
Falta de cooperação
Erros na execução de ordens
Fonte: Chiavenato (2009).

Segundo Chiavenato (2002), os principais meios utilizados para levantamento de necessidades de


treinamento são (Quadro 6):

Quadro 6 – Meio utilizados para levantamento de necessidades de treinamento


Avaliação de Desempenho Verificar se os empregados executam suas tarefas abaixo do nível
satisfatório
Observação Verificar onde há evidencias de trabalho ineficiente.
Questionários Pesquisas através de questionários que coloquem em evidencia a
necessidade de treinamento.
Solicitação de Supervisores e Gerentes Quando a necessidade de treinamento atinge um nível mais alto, onde
gerentes e supervisores requerem treinamento.
Entrevista com supervisores e gerentes Sugere entrevista com responsáveis pelos setores
Reuniões interdepartamentais Objetivos organizacionais, problemas operacionais, planos de objetivos.
Exame de empregados Resultado de exames aplicados que executam determinadas funções.
Modificação do trabalho Necessário o treinamento prévio dos funcionários nos novos métodos e
processos de trabalho.
Entrevista de Saída Conhecer a opinião sincera das razoes que motivaram sua saída.
Análise de Cargo Quadro de tarefas e habilidades que o ocupante deverá ter.
Relatórios Periódicos Mostrando possíveis deficiências de treinamento.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2002).

2.7 Desenho do Programa de Treinamento


O desenho do programa de treinamento, refere-se ao planejamento das ações de treinamento.
É preciso avaliar as necessidades da organização e das pessoas e estabelecer critérios para estabelecer o
nível de desempenho almejado.
O programa de treinamento deve estar associado às necessidades estratégicas da organização,
conforme exposto no Quadro 7.

Quadro 7 – Critérios que guia o planejamento do treinamento


Qual a melhor forma de treinar e desenvolver?
Que comportamentos devem ser modificados?
O que deve ser ensinado?
Como deve ser ensinado?
Quanto deve ser ensinado? Amplitude do programa
Quando deve ser ensinado? Período, horários.
Onde deve ser ministrado? Espaço onde ocorrerá o treinamento
Quem deve treinar e desenvolver?
O que deve ser avaliado? Resultado do programa, correspondeu
as expectativas

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Fonte: Araújo e Garcia (2009).

2.8 Condução do Programa de Treinamento


Segundo Chiavenato (2009), existem várias técnicas para transmitir informações necessárias e
desenvolver habilidades requeridas no programa.
Leituras: o instrutor apresenta verbalmente informação aos ouvintes. A vantagem é que se expõe o
máximo de informação em determinado tempo. Como é feita de forma passiva, quase não há interação
dos treinados, passando a ter pouco valor para promover mudanças de atitudes ou comportamentos.
Instrução Programada: É uma técnica computadorizada e os treinados aprendem em suas próprias
casas, e sabem imediatamente se estão certos ou errados. Desvantagem é que não apresenta repostas aos
treinados.
Segundo Chiavenato (2002), a execução bem-sucedida depende de alguns fatores:
Adequar o programa de treinamento as necessidades da organização: o programa de treinamento
deve ser a solução dos problemas, que visa elevar o nível de desempenho do empregado, contribuindo
com os objetivos da organização.
A qualidade do material de treinamento apresentado. O material de ensino deve ser projetado
para facilitar compreensão do conteúdo, para a execução do treinamento. Recursos audiovisuais podem
melhorar essa compreensão do treinado.
A cooperação dos chefes e dirigentes da empresa: o treinamento deve alcançar todos os níveis e
funções da empresa. A manutenção do treinamento demanda uma considerável quantidade de entusiasmo
e esforço por parte dos envolvidos. É fundamental contar com espírito de cooperação do pessoal com o
apoio dos dirigentes, para manter um alto nível do treinamento.
A Qualidade e preparo de instrutores: é importante selecionar um instrutor com competências
como: facilidade no relacionamento humano, motivação, raciocínio, didática, exposição fácil e com
conhecimento da especialidade. E repassar a responsabilidade da função a esse instrutor.
A qualidade dos aprendizes: para fluir o treinamento também demanda selecionar os treinandos,
em função da forma e conteúdo do programa, para que se tenha um grupo homogêneo de pessoas.
A terceira etapa de implementação consiste em garantir que os procedimentos não se desviem
dos objetivos planejados nas etapas anteriores (ARAÚJO; GARCIA, 2009).
Segundo Araújo e Garcia (2009) os programas de treinamento podem ser prejudicados por
detalhes quanto a arrumação do local, material de instrução, conforto, organização de horário.
Uma boa diagnose e um bom planejamento é essencial para que tenha sucesso na etapa de
implementação (ARAUJO; GARCIA, 2009). O Quadro 8 apresenta alguns fatores que afetam a
implementação de programas de treinamento.

Quadro 8 – Fatores que afetam a implementação de programas de treinamento


Quantidade de Participantes Bons resultados dependem dos participantes (treinados e treinandos)
Quantidade de Recursos Recursos humanos ou financeiros, devem ser bem planejados para obter sucesso
na implantação
Facilidades de Comunicação Informações precisa sobre o programa de treinamento
Envolvimento da Adm. Superior Incentivo da administração superior, envolvimento de todos da organização
Flexibilidade do Programa Atualizações dos programas devem ser feitas constantemente, requerendo
flexibilidade do programa
Fonte: Araújo e Garcia (2009).

Nesta etapa o treinamento exige a presença física do instrutor/professor, que representa um


elemento crucial para o sucesso ou fracasso do trabalho planejado. Espera-se que esse profissional
conduza o treinamento proporcionando um ambiente motivador ao aprendizado (HANASHIRO et al.,
2008).

2.9 Resultados do Treinamento


Nesta etapa há um confronto entre os resultados esperados do treinamento e o aproveitamento
dos participantes (HANASHIRO et al., 2008). Os elementos que apontam para os resultados estão
expostos abaixo.
A Percepção: questionários apropriados para avaliar o conteúdo do treinamento.

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O aprendizado: avaliar a aquisição dos novos conhecimentos, aprimoramentos de habilidades e atitude.


Demonstra a partir de comportamento e fala dos treinados.
O comportamento: transferência do aprendizado para situações do trabalho.
A mudança: Impacto da mudança na organização e relação custo X benefício (HANASHIRO et al.,
2008).
O cumprimento desta etapa não garante o sucesso pleno do programa de treinamento. Porém, a
compreensão desses fatores permite que possíveis desvios possam ser contornados, através de feedbacks
que facilitam a avaliação do programa (ARAUJO; GARCIA, 2008).
Para que o resultado do programa seja positivo é necessário definir metas e mensurar até que ponto os
resultados foram alcançados e se estão de acordo com os objetivos estratégicos organizacionais
(ARAUJO; GARCIA, 2008).
Segundo Chiavenato (2009), esta etapa final representa verificar a eficácia do programa de
treinamento, se realmente atendeu as necessidades da organização.
Ainda segundo Chiavenato (2009), alguns elementos podem servir como avaliação dos
resultados do treinamento:
Dados concretos: Economia de custo; Melhoria de qualidade; Satisfação dos funcionários.
Medidas de resultados: Clientes atendidos; Tarefas completadas; Produtividade; Processos completados;
Dinheiro aplicado.
Exemplos de economias de custos: Custos variáveis; Custos fixos; Projetos de redução de custos; Custos
operacionais; Custos administrativos.
Exemplos de dados sobre melhoria da qualidade: Índices de erros e de refugos; Volume de trabalho;
Porcentagem de tarefas bem-sucedidas; Variância ao redor de padrões organizacionais pré-estabelecidos.
Possibilidades de economia de tempo: Tempo para completar o projeto; Tempo de processamento;
Tempo de supervisão; Tempo de equilíbrio para novos funcionários; Tempo de treinamento; Eficiência;
Dias de tempo perdido (CHIAVENATO, 2009, p. 307).

2.10 Diferenças e similaridades entre Treinamento e Desenvolvimento


A diferença entre o treinamento e desenvolvimento está na perspectiva do tempo, onde
treinamento é voltado para o presente e curto prazo, buscando melhorar habilidades e capacidades
relacionados com o desempenho imediato do cargo.
O desenvolvimento tem foco no longo prazo, ou futuros cargos que a pessoa ocupará,
focalizando as novas habilidades e capacidades que serão requeridas (CHIAVENATO, 2009). As
principais diferenças e similaridades entre treinamento e desenvolvimento se encontram no Quadro 9.

Quadro 9 – Similaridade e distinção entre treinamento e desenvolvimento.


Treinamento Desenvolvimento
Processo de Aprendizagem Processo de Aprendizagem
Voltado para o condicionamento da pessoa para a Voltado ao crescimento da pessoa em nível de
execução de tarefas. conhecimento, habilidades e atitude.
Fonte: Araújo e Garcia (2009).

Desenvolver pessoas é a formação básica para que elas aprendam novas atitudes, soluções,
ideias, e conceitos que modifiquem seus hábitos e comportamentos, para se tornarem mais eficazes no
que fazem.
O desenvolvimento está mais focado no crescimento pessoal do empregado e visa carreira futura
e não apenas no cargo atual. Entretanto, todos os funcionários devem se desenvolver. Nos dias atuais as
organizações estão exigindo novas habilidades, conhecimentos e capacidade das pessoas
(CHIAVENATO, 2009).
Segundo Chiavenato (2009), existem métodos que desenvolvem as pessoas. Os principais se
encontram exposto no Quadro 10.

Quadro 10 – Método de Desenvolvimento de Pessoas


O funcionário passa mudança da posição do cargo, com o objetivo de expandir
suas habilidades, conhecimentos e capacidade. Podem ser horizontal ou seja de
Rotação de Cargos mesmo nível ou vertical que seria uma promoção temporária.

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Posição de Assessoria O funcionário com elevado potencial, trabalha como Staff, sob supervisão para
desempenhar diferentes tarefas
Aprendizagem Prática O funcionário dedica tempo integral para analisar e resolver problemas em
outros departamentos.
O funcionário atua numa força tarefa para resolver ou propor alternativas de um
problema especifico. Atribuições temporárias são desafiadoras, interagem com
Atribuição de Comissões outros membros da organização. Proporcionando oportunidades de crescimento.
Participação em Cursos ou O funcionário tem oportunidade de adquirir novos conhecimentos e desenvolver
Seminários Externos habilidades conceituais e analíticas.
Exercício de Simulação O funcionário adquire conhecimentos em um ambiente similar as situações
reais. Estudos de caso de outras empresas, jogos de empresas e etc
Treinamento (Outdoor) O funcionário busca novos conhecimentos, atitudes e comportamentos que não
existem dentro da organização e precisam obter fora dela.
Centros de Desenvolvimento Visa expor gerentes e as pessoas a exercícios realísticos para desenvolver
internos ou In-House habilidades pessoa. E o caso de Universidade Corporativas.
development centers
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2009).

O T&D tem como objetivo desenvolver as pessoas de forma a eliminar ruídos e falhas. Araújo e
Garcia (2009) listam outros motivos da importância do T&D.
Adequar a pessoa a cultura da empresa: com o objetivo de que a pessoa conhece melhor os hábitos e
costumes da organização.
Mudar atitudes: visa alterar as atitudes antiquadas das pessoas para torna-las inovadoras e modernas.
Desenvolver pessoas: é fundamental que a empresa usufrua das vantagens, assim como a pessoa.
Adaptação das pessoas para lidar com a modernização da empresa: é a adequação à modernização,
ou seja, a implementação de novas tecnologias modernizadoras.
Desfrutar da competência humana: Desfrutar da capacidade que o ser humano tem de aprender, ou seja
“adquirir novas habilidades e novos conhecimentos modificando comportamentos e atitudes.
Preparar pessoas para serem remanejadas: visa ao desenvolvimento de habilidades das pessoas para
prepará-las e capacitá-las para ocupação de posições na organização que servem.
Passar informação adiante: a ideia que treinador e treinando aprendam através da disseminação do
conhecimento.
Reduzir custos na busca por objetivos empresariais: a organização passa a ter pessoas preparadas para
a nova realidade, racionalizando suas despesas de investimento, já que T&D é um investimento.

9. METODOLOGIA
Quanto à sua natureza, a pesquisa se caracteriza como aplicada. Pois objetiva gerar
conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e
interesses locais (SILVA; MENEZES, 2001).
A abordagem do problema é quantitativa e qualitativa.
Quanto as aspectos quantitativos, Silva e Menezes (2001) afirmam que tudo pode ser
quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-
los. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio
padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc).
Já em relação a abordagem qualitativa, Silva e Menezes (2001) a entende como uma relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.
Do ponto de vista dos objetivos a pesquisa caracteriza-se como exploratória, ou seja, visa
proporcionar maior familiaridade com o problema com vista de torna-lo explícito ou a construir hipóteses
(TRIVINOS, 2010).
Quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa envolve um estudo de caso. Segundo Yin (2015)
este envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira quase permita o seu
amplo e detalhado conhecimento.
A análise e proposta de treinamento foi feita em uma distribuidora de bebidas de pequeno porte
situada no interior de São Paulo. Atuante no mercado desde 2009 o principal foco do negócio é o delivery
de barris de chopp para consumidores finais em eventos como casamentos, aniversários, churrascos. É
uma empresa que se encontra em expansão com objetivo de inauguração em cidades vizinhas.

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O questionário aplicado aos colaboradores seguiu as orientações de Richardson (2017) e buscou


identificar se os métodos e meios de aplicação do treinamento estão sendo eficientes.

10. RESULTADOS
Para dar resposta à questão de pesquisa e ao objetivo proposto, foram aplicadas 10 perguntas. Os
resultados das mesmas se encontram expostos nos gráficos a seguir. A primeira pergunta tratou do grau
de clareza que os colaboradores tem sobre as informações do treinamento, cujas respostas se encontram
expressas no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Clareza das informações do treinamento apresentadas aos colaboradores.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

44,40% dos entrevistados, afirmam ter clareza no treinamento, mas algumas dificuldades com
relação a termos técnicos, que é necessário buscar em outras fontes. 33,30% dos entrevistados afirmam
ter total clareza em relação a transmissão de informações do treinamento atual. 22,20% dos entrevistados
afirmam que o treinamento relativamente não é claro, com grande dificuldade de entendimento, causado
pela falta de uma orientação mais detalhada e exemplificada dos conceitos apresentados.
Observa-se que a maior parte dos entrevistados tem clareza na transmissão de informações do
treinamento e uma pequena parte necessita de reciclagem quanto aos conceitos do treinamento.
A segunda pergunta buscou identificar as causas pelas quais os colaboradores não conseguem executar as
tarefas solicitadas (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Causa pela qual o colaborador não consegue executar as tarefas do dia a dia.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

56,60 % dos entrevistados afirmam que a razão por não conseguir realizar as tarefas do dia a dia
é devido à falta de treinamento. Por haver atualizações e mudanças na forma de realizar as tarefas, não
sendo transmitido essas mudanças no treinamento. 22,20 % dos entrevistados afirmam que a razão por
não conseguir realizar as tarefas do dia a dia é devido à falta de cooperação da equipe. As tarefas que
dependem de outros colaboradores que não executam determinadas tarefas ou realizam de forma incorreta
são as causas. 11,10 % dos entrevistados afirmam que a razão por não conseguir realizar as tarefas do dia
a dia é devido ao acumulo de funções do cargo. Colaborador tem acumulo de funções que muitas vezes
não fazem parte de seu cargo. 11,10 % dos entrevistados afirmam que a razão por não conseguir realizar
as tarefas do dia a dia é devido à falta de comunicação.
Isso significa que, a maioria dos entrevistados reconhece a importância do treinamento para
desenvolver suas atividades diárias, identificando uma necessidade de recall do treinamento. Analisando
o segundo maior grupo de resposta, observa-se que os colaboradores não conseguem trabalhar em equipe,

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precisando assim de ênfase na sinergia do grupo. Já o terceiro e o quarto são unanimes nas respostas, que
relatam o acumulo de funções e falta de comunicação entre departamentos, determinar funções e a
importância da comunicação no treinamento é fundamental para corrigir estes erros.
A terceira pergunta buscou identificar se as funções do colaborador são demonstradas no
treinamento atual, e se são transmitidos com clareza (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Funções do colaborador são demonstradas no treinamento atual, e são transmitidos com clareza.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

55,60 % dos entrevistados afirmam que o treinamento demonstra todas as funções do cargo, e
que não possui nenhuma dúvida dificuldade em seu entendimento. 44,40 % dos entrevistados afirma que
nem todas as funções que exerce no cargo atual estão presentes no treinamento, que exerce funções que
não fazem parte de seu cargo. Muitas vezes sendo necessário buscar em outras fontes o conhecimento
necessário para executar determinadas tarefas.
Observa-se que a maior parte dos entrevistados, entende que as funções do cargo que exercem
são transmitidas de forma clara no treinamento, analisando detalhadamente esse grupo de entrevistados é
possível identificar que todos ocupam o cargo de recepcionista. Já o segundo grupo, que ocupam o cargo
de entregador, entende que nem todas as funções que exercem no cargo são transmitidas no treinamento,
sendo necessário mapear as funções do entregador e transmitir essas funções de forma clara e especifica.
A quarta pergunta buscou identificar se o código interno, de conduta e/ou código de ética da
empresa está presente no treinamento e se é clara sua transmissão (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Código de conduta da empresa está presente no treinamento e se sua transmissão é clara.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

66,70 % dos entrevistados afirmam que o código de conduta da empresa estão presentes no
treinamento e tem total entendimento no treinamento. 33,30 % dos entrevistados afirmam identificar o
código de conduta no treinamento, mas dificuldade de seu entendimento, por não explicação de forma
detalhada e simplificada seu objetivo e finalidade.
Isso significa que a maior parte dos entrevistados identifica com clareza na forma como é
transmitido o código de conduta da empresa. O segundo grupo de entrevistados identificou o código de
conduta no treinamento, mas não compreende com clareza sua transmissão, havendo uma necessidade de
simplificação da linguagem do código de conduta.
A quinta pergunta buscou identificar se o treinamento apresenta métodos de atendimento ao
cliente (Gráfico 5).

Gráfico 5 – Apresentação de métodos de atendimento ao cliente no treinamento.

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Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

56,60 % dos entrevistados afirmam estar presente métodos de atendimento ao cliente, e sua
transmissão são totalmente entendidas. 44,40 % dos entrevistados afirmam estar presente métodos de
atendimento ao cliente, mas não são transmitidos com clareza, devido ser totalmente computadorizada e
não conseguir sanar dúvidas decorrentes, também devido ao treinamento ter muita teoria e pouca visão na
aplicação pratica.
Observa-se que a maior parte dos entrevistados entendem com clareza métodos de atendimento
ao cliente, analisando detalhadamente é possível identificar que todos entrevistados deste grupo ocupam o
cargo de recepcionista. O segundo grupo identifica o atendimento ao cliente, mas não são claros, ocupam
o cargo de entregador. O treinamento de atendimento ao cliente deve também ser direcionado aos
motoristas, que também interagem com o cliente, sendo necessário treinar o atendimento ao cliente em
um cenário diferente do aplicado a recepção, uma vez que existem diferenças em suas abordagens.
A sexta pergunta buscou identificar se objetivos estratégicos da empresa (Missão, visão e
valores) estão presentes e se são transmitidos com clareza no treinamento atual (Gráfico 6).

Gráfico 6 - Objetivos estratégicos da empresa estão presentes e são transmitidos com clareza no treinamento.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

55,60 % dos entrevistados afirmam que os objetivos estratégicos da empresa são transmitidos no
treinamento e são apresentadas de forma clara. 44,40 % dos entrevistados afirma que os objetivos estão
presentes, mas não são transmitidos com clareza. Pois não possui um instrutor que explique de forma
pratica a aplicação dos conceitos e também por não entendimento de termos técnicos relacionado ao
conteúdo.
Observa-se a mesma proporção, opiniões exatamente divididas, e analisando detalhadamente o
cargo que o entrevistado ocupa é fator determinante, sendo assim identifica-se a dificuldade de
entendimento das estratégias por parte dos entregadores, focando em reciclagem dos conceitos referente
aos objetivos estratégicos para ocupantes do cargo de entregador.
A sétima pergunta buscou identificar se a empresa precisa, na visão dos entrevistados, buscar
conhecimento de fora da organização para obter maior eficiência produtiva (Gráfico 7).

Gráfico 7 – Buscar conhecimento de fora da organização para obter maior eficiência produtiva.

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Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

55,60 % dos entrevistados afirmam que sim, a empresa deve buscar conhecimento de fora da
organização para melhorar a eficiência produtiva.44,40 % dos entrevistados afirmam que não, a empresa
não precisa buscar conhecimento de fora da organização, pois já possui todo conhecimento no
treinamento que precisa para ter eficiência produtiva.
Isso significa que a maior parte dos entrevistados acredita que a organização precisa buscar
conhecimento externo, pois agrega maior capacitação e conhecimento para obter maior eficiência do
treinamento em seu departamento. Analisando detalhadamente é identificado que todos que afirmam que
a empresa não precisa buscar conhecimento de fora da organização ocupa o cargo de entregador, o
treinamento está completo na visão de todas as pessoas deste departamento, sendo necessário focar buscar
conhecimento de fora da organização, nas áreas destinadas a recepção.
Mais uma vez identifica-se a divisão por questão do cargo. Significa que o treinamento da
recepção tem necessidade de buscar conhecimento de fora da empresa para agregar maior valor ao
treinamento. Para as funções do entregador os conhecimentos são suficientes, não sendo necessário
buscá-los lá fora.
A oitava pergunta buscou identificar quais setores a empresa deve buscar caso seja necessário
obter conhecimento de fora da organização (Gráfico 8).

Gráfico 8 - Setores que a empresa deve buscar para obter conhecimento de fora da organização.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

42,90 % dos entrevistados afirmam que a empresa deve investir no treinamento do trabalho em
equipe. A cooperação entre pessoas é essencial para realizar as tarefas do dia a dia, como também para se
alcançar os objetivos da empresa. 28,60 % dos entrevistados afirmam que a empresa deve investir no
treinamento com o fornecedor, conhecendo melhor as especificações e características dos produtos que
ela vende. Visão de qualidade enxergada pelo colaborado pelo domínio e conhecimento dos produtos,
ganhando mais credibilidade por parte dos clientes. 28,60 % dos entrevistados afirmam que a empresa
deve investir no treinamento relacionados a vendas. (Estudo do comportamento do consumidor e técnicas
de vendas), por conseguir aumentar o ticket médio de venda, consequentemente aumentando o
faturamento da empresa.
Observa-se que a maioria dos entrevistados afirmam necessidade de ênfase no trabalho em
equipe, apresentando evidências de que o treinamento interno não oferece um treinamento
conscientizando e demonstrando a importância do trabalho em equipe.

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No segundo e terceiro grupo são equivalentes, afirmando que a empresa deve buscar
conhecimento na área de vendas, identifica-se que esse grupo de pessoas tem o conhecimento de que a
vendas é importante e entender técnicas de vendas e o consumidor são essenciais, e que esta área é
ausente no treinamento interno, sendo necessário buscar esse conhecimento de fora da organização e
quanto a visita ao fabricante, esse grupo de pessoas entendem a importância de conhecer os processos de
fabricação, manual de uso e segurança dos produtos que a empresa trabalha, sendo necessário buscar nos
fornecedores esse conhecimento.
A nona pergunta buscou identificar qual o melhor método para transmissão do treinamento,
visando maior absorção de informações por parte dos treinandos (Gráfico 9).

Gráfico 9 - Melhor método para transmissão do treinamento.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

55,60 % dos entrevistados afirmam que o melhor método de transmissão de informações do


treinamento seria com a presença de um instrutor para sanar dúvidas decorrentes no treinamento,
proporcionar mais detalhes aos conceitos e a forma de aplicá-los na prática. E computadorizada para
maior fixação dos conceitos, através de conteúdos aplicados de forma audiovisual e com interação do
treinando por questões de múltipla escolha e minijogos.
33,30 % dos entrevistados afirmam que o melhor método de transmissão do treinamento seria
somente com a explicação do instrutor, proporcionando uma aula mais dinâmica e mais explicativa. 11,10
% dos entrevistados afirmam que o melhor método de transmissão do treinamento seria totalmente
computadorizado, de forma autoexplicativa e fácil entendimento sem a necessidade da presença de um
instrutor, com o avanço da tecnologia explorar um ambiente de treinamento totalmente virtual.
Observa-se que a maior parte dos entrevistados preferem um treinamento com a comunicação do
instrutor e que também seja computadorizada, é identificado que para esse grupo de entrevistados uma
aprendizagem completa do treinamento é formada pela união da humanização e da tecnologia. O segundo
maior grupo de entrevistados prefere um treinamento totalmente humanizado, analisa-se que praticamente
a totalidade dos entrevistados tem a visão de que a presença de um instrutor no treinamento é fundamental
para entendimento na transmissão do treinamento.
A décima pergunta buscou identificar quem os colaboradores procuram no caso de dúvidas ou
necessidade de orientação (Gráfico 10).

Gráfico 10 - Quem os colaboradores procuram no caso de dúvidas ou necessidade de orientação.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

66,70% dos entrevistados afirmam procurar o gerente para esclarecimentos de dúvidas, pelo
maior conhecimento devido sua posição na empresa. 33,30 % dos entrevistados afirmam procurar o

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colaborador mais experiente para esclarecimento de dúvidas, pela maior compreensão por pertencer ao
mesmo nível hierárquico da empresa.
Isso significa que a maior parte dos entrevistados também procuram os gerentes para sanar
dúvidas do treinamento, esse grupo tem a visão de que pela posição hierárquica tem maior conhecimento
na empresa. E o segundo maior grupo de entrevistados procuram o colaborador mais experiente, por
questão também de nível hierárquico, mas o oposto, por pertencer ao mesmo nível. Fica evidente a
necessidade de direcionar apenas a uma pessoa para ser referência em sanar dúvidas decorrentes, já que
cada colaborador busca em fontes diferentes as repostas, podendo haver divergência nas informações
transmitidas.
Referente aos métodos e recursos ideias para a aplicação do treinamento, a necessidade de
padronização do treinamento e capacitação de instrutores apresentando de forma prática e também verbal
com a participação dos treinandos para tirar dúvidas e ter maior interação, em um ambiente com
instalações e equipamentos apropriados.
Entrevista aplicada ao gerente visou analisar se as estratégias de treinamento são vistas como
diferencial competitivo em relação aos concorrentes, e se é dada a devida importância ao treinamento
para conseguir alcançar os objetivos estratégicos da empresa.
Observa-se que a média de investimento em treinamento é o suficiente para um treinamento
adequado aos colaboradores, sem investimentos extras na capacitação, apenas o suficiente para executar
tarefas da empresa. O treinamento deve ser focado também em desenvolver as pessoas, proporcionando
crescimento profissional pela aprendizagem contribuindo para o desenvolvimento da organização.
Em relação aos recursos utilizados no treinamento o gerente considera um investimento, pois um
bom treinamento permite diminuir erros e executar as tarefas de forma padrão. Referente ao
desenvolvimento de pessoas nenhuma utilização de recursos é feita, mas o gerente tem conhecimento de
que também é considerado um investimento feito pela empresa.
É realizado um período de experiência onde o colaborador é analisado, os que apresentarem
comportamento mais proativo, pois o treinamento está em constante mudança e a proatividade e o
interesse em aprender essas novas mudanças são essenciais para se tornarem efetivos na empresa.
Motivação pela qualificação do colaborador, que enriquece Verifica-se que essa percepção é
apenas do gerente e não do colaborador, que enxerga como mais trabalhado a ser realizado. Assim,
posicionar esta visão de enriquecimento pessoal é essencial para obter êxito na motivação pelo
conhecimento que o treinamento proporcionará ao colaborador.
O treinamento é avaliado no dia a dia na execução das tarefas designadas ao cargo, se estão
sendo realizadas conforme a orientação do treinamento. O método de avaliação é empírico e sem critérios
em sua análise. Estabelecer critérios na avaliação do treinamento proporciona parâmetros tanto para o
gerente como para o colaborador, além de criar uma sinergia entre eles. Determinação de pontuações ou
metas criaria dados mais concretos.
O treinamento tem um diferencial competitivo ao treinar uma equipe especialista de plantão, que
estão de prontidão 24 horas por dia para dar suporte e atender eventuais dúvidas e problemas com
equipamentos nos eventos dos clientes. São ensinadas técnicas de atendimento, já que os clientes que
ligam para o telefone do suporte geralmente estão com problemas no equipamento e estão muito
insatisfeitos. O colaborador é treinado a manter a calma e sanar o problema o mais rápido possível, para
isso há um treinamento para problemas que ocorrem com os equipamentos e as possíveis causas do
problema, sendo possível ser eficiente na solução.
Para estratégias de treinamento é analisado o ambiente interno e externo da empresa, pontos
fortes e pontos fracos, bem como as oportunidades e ameaças do ambiente externo através da análise
SWOT, possibilitando identificar necessidades de melhorias nos processos internos da empresa e maior
competitividade, explorando oportunidades do ambiente externo. O conceito de analise SWOT deve ser
compreendido pelo gerente e o mesmo deve expor no treinamento. Porém na prática isso é pouco
realizado. Deve-se explorar essa ferramenta para direcionar o treinamento, possibilitando explorar os
pontos fortes e oportunidades da organização, aprimorar os pontos francos e defender de ameaças,
proporcionando direcionamento a estratégia da empresa.
A gerência não tem conhecimento da importância do desenvolvimento de pessoas como
estratégia competitiva, direcionando o treinamento apenas para a execução de tarefas essenciais do dia a
dia, sem dar ênfase no desenvolvimento de pessoas na organização. Desenvolver os colaboradores é
essencial para alcançar os objetivos estratégicos da empresa. Sem o desenvolvimento facilmente os
objetivos estratégicos podem sofrer desvios e o colaborador perder a motivação.

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11. CONCLUSÃO
Investir no treinamento para capacitação dos colaboradores está sendo cada vez mais exigido das
empresas para mercado competitivo. A gerencia deve buscar investir mais recursos no treinamento
visando não apenas a execução de tarefas do dia a dia, mas também de desenvolver os colaboradores pela
compreensão da essência da estratégia, desde sua base como missão, visão e valores da empresa.
Identificou-se pelo levantamento de dados a necessidade de investimentos também em
infraestrutura do treinamento e instalações mais apropriadas, e analisou-se também a carência de um
instrutor, sendo necessário posicionar um orientador que possa transmitir o treinamento e as estratégias da
empresa, engajando os colaboradores aos objetivos estratégicos.
Verificou-se a partir da entrevista a necessidade de maior compreensão e aplicação dos conceitos
da análise SWOT por parte da gerencia, para implementar uma estratégia mais concreta e com maiores
chances de sucesso.
Verificou-se a necessidade de revisar a forma de avaliar o treinamento dos colaboradores,
estipulando dados quantitativos na análise, permitindo uma mensuração do progresso tanto para o gerente
como para o colaborador, como a utilização da matriz de competências, que consiste em uma ferramenta
que leva em conta o conhecimento, as habilidades e as atitudes necessárias, eliminado assim o atual
método empírico de avaliação. Analisou-se a não clareza das habilidades necessárias para realizar as
tarefas do dia a dia aos ocupantes do cargo de recepcionista, mapear as funções e incorporar ao
treinamento de forma clara é primordial.
Observou-se a partir dos dados coletados que os colaboradores têm o conhecimento da
importância do treinamento na organização, as estratégias apresentadas no treinamento não são
compreendidas por parte da equipe, exigindo maior atenção do gerente quanto aos conceitos transmitidos
aos colaboradores, em especial aos ocupantes do cargo de motorista. Analisou-se a falta de treinamento
de atendimento ao cliente ao cargo de motorista, sendo necessário adaptar um novo cenário onde o
trabalhador atende o cliente em sua residência, pois esses profissionais também terão um relacionamento
com o cliente.
A gerencia deve formalizar o processo de recrutamento e seleção, definindo melhor as
competências exigidas no cargo que pretende preencher, para assim alocar o trabalhador correto para
ocupar o cargo correto.
Com relação aos objetivos estratégicos da empresa, analisou-se que os ocupantes do cargo de motorista
tiveram dificuldades de entendimento, sendo necessário investimento no treinamento de habilidades
interpessoais a esse grupo, que consiste em aprender, ouvir e se comunicar de forma clara. Trabalhar
essas habilidades para compreensão dos objetivos permite além de esclarecimentos ampliação de
informação, permitindo enxergar que nas simples tarefas se trabalha para alcançar, como um todo, algo
maior.
Analisou-se que os ocupantes do cargo de recepcionista, a necessidade de buscar conhecimento
de fora da organização, especificamente no trabalho em equipe, observa-se que a falta de sinergia dos
recursos humanos pode definitivamente afetar a empresa de alcançar as metas de visão (onde a empresa
almeja estar no futuro) e pode até prejudicar a missão (existência) da empresa, caindo qualidade e
eficiência produtiva. Reformular o treinamento demonstrando a importância do trabalho em equipe, pode
ser feito de forma externa, com a participação de profissionais experientes da área através de palestras ou
reuniões.
Verificou-se que o treinamento deve enfatizar o trabalho do espirito em equipe, visto que é um
conceito carente no treinamento da empresa.
Reestruturar o treinamento através do conceito de etapas do processo de T&D, realizando um
diagnóstico pelo levantamento das necessidades de treinamento, realizar o planejamento respondendo as
questões (O que treinar e desenvolver? Em que treinar e desenvolver? Quanto treinar e desenvolver?
Quem treinar e desenvolver?), Implementação do treinamento e a execução do que foi planejado e
Avaliação, se o treinamento foi conforme a expectativa.
O treinamento deve ser administração por metas, pois assim é possível que o treinando esteja
engajado a alcançar um objetivo, não se tornando a aprendizagem maçante, mas também fica com
reponsabilidade do gerente ou instrutor, proporcionar um treinamento dinâmico e que não fique obsoleto
conforme o tempo.
Conclui-se que não existe receita para uma estratégia de treinamento e desenvolvimento de
pessoas de sucesso, mas a definição concreta de uma estratégia e o alinhamento entre os níveis da
organização: estratégico, tático e operacional deve ser alcançado, visto que esse desvio pode ocorrer em
não concretização dos objetivos estratégicos.

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É primordial sempre avaliar os recursos humanos. O treinamento é uma ferramenta de


comunicação entre estratégia da empresa e as pessoas, o que esperar do trabalho, do comportamento
delas. Destacar a importância do treinamento reflete aos clientes a característica da empresa, pois a
empresa e formada por pessoas.

12. REFERÊNCIAS

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de Janeiro: Elservier, 2010.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 12
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

Patrícia Peres Rodrigues1, Cibele Roberta Sugahara2, Bruna Ângela Branchi3

1. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: ptcperes@hotmail.com


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: cibelesu@puc-campinas.edu.br
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Gr aduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: bruna.brachi@puc-campinas.edu.br

RESUMO
A sociedade sustentável requer que os cidadãos tenham garantidos os meios para uma vida decente.
Porém, as crises pelas quais passam as sociedades fazem com que milhões de pessoas se encontrem na
marginalidade e na exclusão. Neste contexto, hoje se observa que um número significativo de pessoas
começa a mobilizar sua energia a fim de solucionar problemas no ambiente em que vivem. Na medida em
que a sociedade civil abriu um espaço de participação nas causas coletivas, as Organizações da Sociedade
Civil (OSCs) surgiram com o objetivo de desenvolver ações que impactam no bem-estar social. Porém,
existe uma lacuna nos estudos que analisam os impactos das iniciativas das organizações da sociedade
civil. O objetivo desta pesquisa é demonstrar como as diversas metodologias de avaliação de impactos
apontadas pela literatura podem auxiliar aos gestores das OSCs e os investidores nas tomadas de decisões,
já que os processos de avaliação de impacto oferecem informações necessárias para aprimorar o
planejamento e a gestão dos seus programas.

PALAVRAS-CHAVE: Organizações da Sociedade Civil, Avaliação de Impacto, Desenvolvimento


Sustentável.

1. INTRODUÇÃO
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável, elaborada pela Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas, é a de um desenvolvimento capaz
de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das
futuras gerações.
Este conceito, segundo Sachs (2008), obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as
gerações presentes e futuras e exige a explicitação de critérios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econômica.
Embora cumpra ao Estado prover e implantar o desenvolvimento sustentável, nem sempre isso
ocorre. A lentidão e a pouca eficácia dos serviços oferecidos à população pelo poder público, a torna
descrente, desanimada e acomodada. Mas, para outros, os mesmos problemas, ao invés de causarem
desânimo, impelem ao desafio.
Neste contexto, a sociedade tem se mobilizado na busca de alternativas que solucionem ou, ao
menos, minimizem essas questões, cobrando ações do Poder Público ou desenvolvendo e implementando
suas próprias alternativas. A partir da década de 1980, as Organizações Não-Governamentais (ONG),
ganharam importância, assumindo um papel de destaque na sociedade e tornando-se protagonistas na
busca de uma melhor condição social.
De acordo com Soares (2016), o termo ONG começou a figurar em documentos da ONU a partir
da segunda metade da década de 1940, fazendo referência às organizações internacionais que se
sobressaíram a ponto de possuírem direito a uma presença formal na ONU, sem representar governos
(como a Cruz Vermelha, por exemplo). Em seguida, seu sentido foi expandido, abordando novas formas
de auto-organização da sociedade para influenciar no espaço público.

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No Brasil, a partir de 2014, com a instituição do Marco Regulatório do Terceiro Setor, as ONG
passaram a ser chamadas de Organizações da Sociedade Civil (OSC). Soares (2016) esclarece que tem
sido empregado o termo OSC com o objetivo de desvincular as instituições da ação do Estado. Dessa
forma, as entidades se identificam como um resultado da organização autônoma da sociedade.
As OSCs lidam com vários temas e interesses, tendo diversas formas de atuação, financiamento
e mobilização, retratando um setor amplo e com grande importância econômica no mercado de trabalho,
além da reconhecida relevância em ações de interesse público. Segundo Soares (2016, p.4), as OSCs “são
atores sociais e políticos cada vez mais presentes, que de várias formas trazem à vida as premissas da
democracia participativa e do controle social presentes na Constituição de 1988”.
Na visão de Roche (2018) as OSCs estão sendo pressionadas para demonstrar o impacto e
resultado do seu trabalho, em especial por parte de seus financiadores. Neste sentido, pode-se dizer que a
avaliação de impacto pode ser uma forma de ampliar os esforços para angariar recursos e demonstrar aos
investidores o potencial da organização.
Segundo um estudo produzido pelo Instituto Fonte e IBOPE Inteligência (2013) sobre a
avaliação de programas e projetos sociais no Brasil, a percepção dessas organizações sobre as motivações
para avaliar o impacto socioambiental está voltada para sua aplicação como ferramenta de gestão e
avaliação de performance.
Assunção e Campos (2011) afirmam que a avaliação de projetos sociais é muito discutida, mas
pouco colocada em prática. Quando aplicada, restringe-se ao controle dos investimentos financeiros ou
serve apenas como relatório de atividades desenvolvidas, não conferindo valor ou mérito à iniciativa.
É neste contexto que se apresenta o seguinte problema de pesquisa: qual a importância das
metodologias de avaliação aplicadas às Organizações da Sociedade Civil?
A presente pesquisa trabalha esse tema, que é visto tanto como uma oportunidade como um
desafio. É uma oportunidade pois alia a demonstração do cumprimento da finalidade dos programas e
intervenções realizadas com a contribuição de determinadas iniciativas para a resolução de problemas
sociais complexos que fazem parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU). É um desafio,
já que, na visão de Assunção e Campos (2011), constata-se a ausência de material didático que auxiliem
os atores a aplicar a avaliação de impacto em projetos sociais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Organizações da Sociedade Civil
As OSCs são organizações criadas por duas ou mais pessoas que, por vontade própria, se
associam buscando um objetivo e interesse social comum, geralmente tentando preencher lacunas do
Governo com relação à assistência e resolução dos problemas sociais, ambientais e econômicos, podendo
também auxiliá-lo na resolução desses problemas. As OSCs contribuem para a manutenção da
democracia, uma vez que possibilitam a manifestação dos interesses das minorias.
Ao longo das últimas décadas, diversas leis e normas infralegais surgiram para regularizar as
relações de parceria entre o Estado e as organizações da sociedade civil (Quadro1).
Porém, a principal legislação que define as OSCs no Brasil é relativamente recente. Segundo o
IPEA, em 2014, foi aprovada uma nova lei nacional, também conhecida como Novo Marco Regulatório
das Organizações da Sociedade Civil (Lei no 13.019/2014), que definiu regras mais claras para nortear as
relações de parceria entre OSCs e poder público e também firmou normas de transparência e acesso à
informação.
Objetivando definir quais empresas são consideras OSCs e buscando construir estatísticas
comparáveis internacionalmente, Lopez (2018) cita critérios de identificação e classificação de OSCs,
orientados por estudos nacionais (especialmente das Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos no Brasil – Fasfil) e internacionais (em particular, a Classification on the Purpose of Non-
Profit Institutions Serving Households – Copni, da Organização das Nações Unidas – ONU).

Quadro 1 – Legislação brasileira aplicada à parceria entre o Estado e as organizações da sociedade civil
Ano Legislação Aspectos gerais

1967 Decreto nº 200/67 Dispõe sobre a organização da Administração Federal e estabelece


diretrizes para a Reforma Administrativa.

1986 Decreto nº 93.872/86 Revogado pelo Decreto nº 6.170/2007 - Dispõe sobre as normas relativas

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de


repasse.

1993 Lei nº8. 666/93 Instituiu normas para licitações e contratos da Administração Pública.
(Artigo 116 – Aplicação da Lei aos Convênios)

1997 Instrução Normativa Estabelece regras gerais para operacionalização dos convênios entre
STN nº 01/97 parceiros públicos e privados.

1998 Lei nº 9.637/98 Organizações Sociais – OS

1999 Lei nº 9.790/99 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OCIPS

2003 Instrução Normativa Disciplina a celebração de convênios de natureza financeira


STN nº 03/2003

2007 Decreto nº 6.170/2007 Dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União
mediante convênios e contratos de repasse. Institui o SICONV

2008 Portaria Ministerial nº Estabelece normas para execução do disposto no Decreto no 6.170, de 25
127/2008 de julho de 2007 e dispõe sobre as normas relativas às transferências de
recursos da União mediante convênios e contratos de repasse.

2014 Lei nº 13.019/2014 Reconhece as organizações da sociedade civil como sujeitos coletivos
fundamentais para a democracia e cidadania, com regras próprias de acesso
a recursos públicos.
Fonte: ESESP (2016).

Então, as OSCs são somente as entidades que se enquadram simultaneamente em cinco critérios:
1) Ser uma entidade privadas, fora do aparelho do Estado;
2) Não ter fins lucrativos, ou seja, não distribuir eventuais excedentes entre proprietários ou diretores,
aplicando-os na própria atividade;
3) Estar legalmente constituída, possuindo personalidade jurídica e inscrição no CNPJ;
4) Ser capaz de gerenciar suas próprias atividades;
5) Ter participação voluntária, ou seja, ser constituídas livremente por qualquer grupo de pessoa, e a
atividades que desempenham são de livre escolha por seus responsáveis.

Segundo o IDIS - Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social (2015), a destinação de


recursos de pessoas físicas a organizações da sociedade civil totalizou R$ 13,7 bilhões em 2015. Já no que
se refere ao financiamento público, Lopez (2018) revela que os repasses para OSCs no orçamento geral
da União passaram de R$ 12,1 bilhões para R$ 2,3 bilhões entre 2014 e 2016, uma queda de mais de
80%.
Diante do atual cenário de redução do repasse dos recursos às OSCs, combinado com o aumento
anual da quantidade de OSCs em operação no Brasil, torna-se evidente a necessidade de avaliar o impacto
destas organizações. A avaliação de impacto pode dar respostas aos financiadores e, portanto, colaborar
com a busca de financiamento e garantir a sustentabilidade financeira das OSCs.

2.2 Avaliação de impacto


Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre um objeto, situação ou processo baseando-se em
determinados critérios. A avaliação de impacto é tratada por Fabiani et al. (2018) como uma avaliação
que fornece informações sobre os impactos gerados ou que se espera gerar, para comprovação de que os
impactos foram realmente gerados pelo projeto, programa, política ou negócio.
Stern et al. (2012) afirmam que a definição de impacto mais amplamente compartilhada é a do
Glossário da OCDE-DAC (2002, p. 5). Nele o impacto abrange "efeitos positivos e negativos, primários
e secundários a longo prazo produzidos por uma intervenção, direta ou indiretamente, intencional ou não
intencional". Assim, o objetivo principal da avaliação de impacto é determinar se um programa realmente
causa impacto e, se positivo, quantificar o tamanho desse impacto.

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A literatura aponta que a avaliação de impacto pode ser considerada um meio de potencializar
mudanças de longo prazo, duradouras, significativas e que resultem em transformação social (ROCHE,
2000; BRANDÃO et al. 2014; GERTLER et al., 2015; LIMEIRA, 2018; CRUZ FILHO, 2018).
Neste contexto, é essencial tratar a avaliação de impacto a partir da identificação da “relação
causal entre o projeto, programa ou política e os resultados de interesse” (GERTLER et al., 2015, p. 22).
Na visão de Fabiani et al. (2018) a avaliação de impacto é diferente de outras formas de
avaliação de projetos, já que ela busca elementos que tornem possível o estabelecimento de uma relação
de causa e efeito entre a intervenção e seus impactos.

2.3 Avaliação de impacto de projetos sociais


Ao longo das últimas décadas, as organizações da sociedade civil ganharam espaço e relevância
na busca pelo desenvolvimento sustentável e, embora ainda preservem seus valores, existe crescente
pressão para que exerçam suas atividades de forma mais profissional e com foco em resultados. Cruz
Filho (2018) destaca que essa contribuição pode ser denominada como “impacto”.
Brandão et al. (2014, p. 7) destacam que, com a avaliação de impacto, é possível verificar
também se o empreendimento “será capaz de sustentar-se como iniciativa comprovadamente capaz de
gerar resultados sociais”.
Após evidenciada a finalidade das avaliações e esclarecidas as suposições sobre a mudança,
define-se então as áreas ou tipos de impacto a serem avaliados. “A escolha dos indicadores é
freqüentemente vista como uma das medidas mais sérias no processo de avaliação de impacto” Roche
(2000, p. 62). A seleção dos indicadores deve levar em conta as características dos projetos
empreendidos, porém há certas categorias ou dimensões básicas de mudança em comum.
O Quadro 2 elenca as principais áreas de mudança dentro das quais indicadores mais específicos
foram escolhidos em estudos de caso realizados nas ONGs: BRAC e Proshika (Bangladesh) e Wajir
(Quênia), de acordo com Roche (2000).
A partir das áreas de mudanças citadas no Quadro 2, Roche (2000) afirma que as análises de
impactos dos estudos de caso descritos nos projetos implantados, apesar de exigirem tempo e esforço das
agências envolvidas, permitiram uma maior participação dos beneficiários e melhoraram a percepção
deles sobre das agências mediadoras, elevando a responsabilidade institucional.
Quanto à tendência da maioria dos projetos de beneficiar os “menos pobres” e excluir os mais
pobres, Roche (2000) considera que a avaliação de impacto trouxe informações críticas sobre políticas
neste sentido.

Quadro 2: Importantes áreas de mudança dentro das quais os indicadores específicos são selecionados.
BRAC - a maior organização Proshika - uma das maiores Wajir - Wajir Pastoral
multidimensional de ONGs em Bangladesh, que Development Project — WPDP),
desenvolvimento rural em promove o empoderamento tem o objetivo de reduzir a
Bangladesh econômico e social das pessoas pobreza e a vulnerabilidade tanto
que vivem na pobreza das comunidades de criadores de
gado como dos assentados

Bem-estar econômico Empoderamento econômico Mudança no bem-estar/sustento


• posse da terra • dividas • mortalidade animal
• ocupação • bens • ocorrência de destituição
• bens • renda periurbana
•qualidade da moradia • poupança • necessidade de ajuda alimentar
• gasto e consumo com o • investimento • qualidade da alimentação
domicilio • mobilidade e poder do mercado • taxa do retorno para
•segurança alimentar investimento fornecido por meio
• crédito e poupança de crédito
• habilidade para enfrentar a crise • lei e ordem

Aspectos sociais do bem-estar Empoderamento social Empoderamento social


• alfabetização e nóvel • Alfabetização • níveis de freqüência escolar
educacional • saúde, educação e • satisfação paterna com a
• saúde, saneamento e conscientização qualidade da educação
planejamento familiar • planejamento familiar • segurança do fornecimento de

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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• características demográficas e • conscientização ambiental e água


outras do domicílio prática • mortalidade juvenil
• mortalidade infantil

Empoderamento da mulher Empoderamento da mulher Empoderamento da mulher


• Envolvimento nas atividades • acesso a recursos públicos • percepções das mudanças na
geradoras de renda • participação em instituições qualidade de vida
• propriedade e controle sobra os locais
bens, entre outros.
Fonte: Roche (2000).

2.4. Metodologias de avaliação de impacto de projetos sociais


Cruz Filho (2018) afirma que o processo de avaliação e mensuração de impacto deve se
diferenciar de acordo com as circunstâncias em que cada iniciativa será analisada. Para Fabiani et al.
(2018) deve-se avaliar cada caso separadamente e metodologias distintas podem ser utilizadas para
diferentes propósitos em uma organização ou projeto.
De acordo com Stern et al. (2012) a combinação de métodos é uma estratégia útil para ajudar a
compensar as deficiências de métodos específicos. Os métodos mistos são agora comuns. No passado,
utilizavam-se métodos qualitativos ou quantitativos, mas hoje em dia também pode incluir combinações
dentro de categorias quantitativas e qualitativas.
Para Fabiani et al. (2018) é importante considerar que vários métodos de avaliação de impacto
utilizam o chamado “grupo de controle”, que consiste em um conjunto de pessoas não participantes do
projeto, e o “grupo de tratamento”, que engloba os participantes do programa. Fabiani et al. (2018 p.9)
afirma que
O grupo de controle é considerado um elemento chave para gerar argumentos em favor da relação de causa
e efeito entre o projeto (ou negócio) e as mudanças na realidade de seus beneficiários, ou usuários,
provocadas por causas diversas.

Fabiani et al. (2018) menciona que, na maior parte dos casos, os métodos de avaliação de
impacto são classificados pela forma como se criam os grupos de controle, existindo três classes de
métodos: métodos experimentais; métodos quase-experimentais e métodos não experimentais.
Segundo Fabiani et al. (2018) a escolha da metodologia de avaliação deve considerar vários
fatores: recursos disponíveis, restrições, dados existentes, regras da organização que realiza o projeto,
natureza e características do projeto, maturidade do projeto, natureza e finalidade da avaliação, questões
de avaliação, escolha do público que com quem se irá dialogar e o público para qual se destina a
avaliação.

3. METODOLOGIA
A pesquisa sobre metodologia e ferramentas de avaliação das OSCs será de tipo qualitativo,
exploratória e bibliográfica.
Segundo Gil (2008), a caracterização do estudo como pesquisa bibliográfica exploratória se dá quando há
pouco conhecimento sobre o tema a ser abordado. De acordo com Gil (2008), o objetivo de uma pesquisa
exploratória é familiarizar-se com um tema ainda pouco conhecido ou explorado.

4. RESULTADOS ESPERADOS
As diversas metodologias de avaliação de impactos, apontadas pela literatura neste estudo
exploratório, parecem ser necessárias no sentido de auxiliar aos gestores das OSCs e os investidores nas
tomadas de decisões, já que oferecem informações necessárias para aprimorar o processo de planejamento
e de gestão dos seus programas.
Na visão de Lopez (2018), as OSCs necessitam de conhecimento e informações sistemáticas para
elaborar ações e para dar suporte a gestores públicos, para que definam de que definam políticas que as
beneficiem e para incentivar novas pesquisas sobre o tema dessas organizações.
Neste contexto, o estudo sobre as metodologias e ferramentas de avaliação de impacto pode
contribuir para que investidores tenham clareza sobre os riscos e as oportunidades em investir em
empreendimentos desta natureza.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos que denotem como as avaliações e mensuração de impacto social se estabelecem no
contexto das Organizações da Sociedade Civil parecem ser necessários como forma de alavancar as
iniciativas orientadas para solução de problemas sociais.
A avaliação insuficiente dos resultados fragiliza a credibilidade de muitas OSCs que, apesar de
fazerem um bom trabalho, têm dificuldade em relatar seus avanços.
A literatura aponta que as metodologias e ferramentas de avaliação de impacto de projetos
sociais oferecem às OSCs uma forma de demonstrar seu impacto completo, reforçar sua legitimidade na
sociedade e aumentar sua atratividade perante investidores sociais.

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141
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25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 13
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EM EMPRESA


MULTINACIONAL DO SEGMENTO DE EMBALAGEM

Sophia Souza De Nuccio1, Samuel Carvalho De Benedicto2

1. Graduanda em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-


Campinas). E-mail: sophia_dn@hotmail.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Nos últimos anos vem crescendo a conscientização e a preocupação com o meio ambiente e a degradação
do mesmo. Nesse contexto, as organizações são pressionadas pelas legislações ambientais cada vez mais
rigorosas. Com a finalidade de estar bem posicionadas no mercado, apresentar um diferencial competitivo
e gerar lucratividade, as organizações vêm tratando cada vez mais sobre a questão da sustentabilidade e
inserido tal conceito em suas atividades. Assim, atualmente, relacionar empresa e sustentabilidade é algo
primordial e que valoriza a imagem organizacional. Para que uma organização seja considerada
sustentável é necessário que haja uma interação entre a questão econômica, ambiental e social, conhecido
como o Tripé da Sustentabilidade. Este estudo tem como objetivo diagnosticar a evolução e o grau de
envolvimento das empresas de embalagem da Região Metropolitana de Campinas com a questão da
sustentabilidade. A pesquisa é de natureza qualitativa, exploratória e descritiva. Os dados foram coletados
nos Relatórios de Sustentabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade; Desenvolvimento sustentável; Indústria de Embalagem.

1. INTRODUÇÃO
O mundo vem passando, nos últimos anos, por profundas transformações de ordem econômica,
qualidade comunitária e entre outras características, tem-se sugestionado de modo direto e indiretamente
o papel das companhias, bem como no relacionamento destas com a sociedade. Faz-se preciso a oscilação
paradigmática e um parecer crítico por parte do conjunto social. Dessa forma, os serviços de hoje
evidenciam uma economia cada vez mais globalizada, com a sedição tecnológica, uma epidemia de fontes
de informações, um amplo desenvolvimento no peso e no desígnio dos serviços internacionais e vestígios
de crescentes danos ecológicos e desigualdades sociais.
A sustentabilidade é um tema muito amplo, portanto pode ser encontrado diversas definições
para esse termo, mas comumente discutida em torno das questões sociais, ambientais e econômicas. A
partir desta ideia, foi desenvolvida por John Elkington a teoria Tripple Bottom Line, na qual a questão
ambiental trata da “desmaterialização da atividade econômica, pois uma diminuição do processamento de
material pode reduzir a pressão sobre os sistemas naturais e ampliar a prestação de serviços ambientais
para a economia” (BARTELMUS, 2002, p. 12). Já a questão social refere-se à igualdade social,
rendimentos justos e acesso a bens, serviços e emprego. Quando se fala da questão econômica, trata-se da
manutenção do capital natural, ou seja garantir o crescimento econômico contínuo após levar em
consideração o consumo de ativos produzidos e naturais (BARTELMUS, 2002).
Visando garantir saúde nas questões ambientais, sociais e econômicas foram desenvolvidos pela
ONU os 8 ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio), objetivos internacionais para erradicar a
pobreza, garantir a sustentabilidade entre outras questões. Após obter resultados consideráveis, foram
desenvolvidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda mundial formada com
ações mundiais nas áreas de erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação,
igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de
produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos
e dos ecossistemas terrestres, crescimento econômico, infraestrutura, industrialização, entre outros (ONU,
2019).

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Com base no exposto, o trabalho parte do seguinte problema de pesquisa: como tem sido a
evolução e desempenho das empresas nos últimos anos na área socioambiental?
Este estudo tem como objetivo discutir sobre a evolução e desempenho das empresas nos últimos
anos na área socioambiental. A pesquisa tem como objetivos específicos, os seguintes: (i) Apresentar os
conceitos de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade; (2) Discutir sobre o envolvimento das
empresas na questão socioambiental nos últimos anos; (3) Realizar um estudo de caso numa empresa a
fim de verificar a evolução e o envolvimento da mesma na questão socioambiental.
A responsabilidade socioambiental é um tema atual que discute a sobrevivência de empresas
futuras e já existentes, a sociedade e até o nosso planeta. Esse estudo se justifica por aprofundar
conhecimentos relacionados à sustentabilidade, reciclagem e a responsabilidade de preservação. O
principal objetivo de uma organização é maximizar lucro e minimizar custos, porém no momento em que
vivemos essa questão vai além, gerar lucro e gerar valor aos stakeholders de forma sustentável do ponto
de vista econômico, social e na preservação dos recursos naturais.
Ao adquirir práticas sustentáveis, uma postura respeitosa em relação ao meio ambiente e no
negócio, são reduzidos os insumos e, consequentemente, os custos. Além disso, um processo
ambientalmente mais responsável gera receitas adicionais a partir de produtos melhores, permitindo criar
novos negócios. De acordo com Quadros e Tavares (2014, p. 46) diversos estudos apontam a
sustentabilidade como peça fundamental da inovação. Reduzir a quantidade de matérias primas usadas na
produção ou repensar processos para eliminar o impacto ambiental de certas substâncias traduzindo-se,
cada vez mais, em melhoria nos indicadores financeiros da empresa. Em um futuro próximo, as empresas
que não adotarem práticas sustentáveis não conseguirão mais competir no mercado.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
A palavra Sustentabilidade é de origem latina, vem de Sustentare, que significa sustentar,
conservar, proteger e manter em equilíbrio. Ao tratar deste tema, Kato (2007) afirma que existe um
consenso entre os pesquisadores com relação ao conceito, e que o mesmo dever ser tratado de forma
abrangente, visto que é um tema muito complexo e com diversas abordagens.
O termo sustentabilidade tem diferentes definições feitas por diversos autores. Neste trabalho serão
apresentadas algumas destas definições. Para Bellen (2005, p. 23) o conceito de desenvolvimento
sustentável provém de um relativamente longo processo histórico de reavaliação crítica da relação
existente entre sociedade civil e seu meio natural. Por se tratar de um processo contínuo e complexo,
observa-se hoje que existe uma variedade de abordagens que procura explicar o conceito de
sustentabilidade. Ela pode ser mostrada pelo enorme número de definições desse conceito.
Já para Maximiano (2008, p. 435), a sustentabilidade é um processo participativo que cria e
almeja uma visão de comunidade que respeita e usa com prudência todos os recursos- naturais, humanos,
feitos pelas pessoas, sociais, culturais, científicos e assim por diante. A sustentabilidade procura garantir,
o máximo possível que as gerações atuais tenham um elevado grau de segurança econômica e possam ter
democracia e participação popular no controle das comunidades. Paralelamente, as gerações atuais devem
manter a integridade dos sistemas ecológicos dos quais dependem toda a vida e a produção. Devem
também assumir responsabilidades em relação às gerações futuras, para deixar-lhes a mesma visão
(MAXIMIANO 2008, p.435).
Meadows e Randers (1992) definem a sustentabilidade como uma técnica de desenvolvimento
que resulta na melhoria da qualidade de vida e simultaneamente na minimização dos impactos ambientais
negativos. Diante disso, uma gestão integrada com aspectos do desenvolvimento social, crescimento
econômico e proteção ambiental. Dentro desse contexto, sustentabilidade torna-se uma discussão quase
que rotineira no meio empresarial, nas agências e departamentos governamentais, nas organizações não
governamentais, assim como no meio acadêmico e mídia. As empresas têm demonstrado cada vez mais
interesse por essa questão, pois ela pode estar ligada a intervenção do governo sobre as repercussões
ambientais e sociais das empresas e, ainda ao comércio global que tem elevado os níveis dos critérios de
preservação. De acordo com Eweje (2011), ao considerar a importância das organizações na esfera
mundial, aliada com as pressões sofridas pelas partes interessadas, os stakeholders, em especial nos países
desenvolvidos, que estão promovendo iniciativas e práticas de sustentabilidade nas suas empresas,
perceberam a importância desse critério para a sobrevivência da empresa frente à concorrência mundial.
Segundo Arruda e Quelhas (2010), o tema da sustentabilidade tem invadido as organizações e
levado ao crescimento do uso de indicadores de desempenho socioambiental como ferramentas de gestão.
É possível notar que nos dias de hoje a relação entre o homem e a natureza está cada vez mais predatória.

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E diante disso, não se deve considerar o desenvolvimento sustentável como um assunto para o futuro,
para as proximas gerações, mas sim uma missão para agora.
De acordo com Barbieri et al. (2010), considera-se uma organização sustentável aquela que,
simultaneamente procura ser eficiente em termos econômicos, respeitar a capacidade de suporte do meio
ambiente e ser instrumento de justiça social, promovendo a inclusão social, a proteção às minorias e
grupos vulneráveis, o equilíbrio entre os gêneros, entre outros.
Os autores acrescentam que, “uma organização inovadora sustentável não é a que introduz
novidades de qualquer tipo, mas novidades que atendam as múltiplas dimensões da sustentabilidade em
bases sistemáticas e colham resultados positivos para ela, para a sociedade e o meio ambiente”
(BARBIERI et al., 2010, p. 150). E atestam ainda que, não basta que as empresas apenas pensem em
inovações constantes, mas precisam inovar considerando as três dimensões da sustentabilidade.
Cada uma dessas dimensões vai gerar diferentes opiniões sobre como lidar com os desafios do
momento, o que irá refletir na importância atribuída a cada uma delas no contexto hierárquico da
empresa. Diante desses fundamentos, associados ao paradigma sustentável esperado pelas organizações,
que antes visavam apenas o lucro, originou-se o modelo de gestão denominado Triple Bottom Line (TBL)
que, no mundo dos negócios, considera que a sustentabilidade é compreendida por três pilares, o lucro, o
planeta e as pessoas, na qual o lucro corresponde à dimensão econômica, o planeta ao ambiente e as
pessoas ao social. O TBL foi desenvolvido por John Elkington em 1995, e desde então, esse conceito vem
se popularizando e sendo utilizado por empresas e outras organizações, na qual a avaliação dos resultados
pode ser medida por meio dos três pilares da sustentabilidade.
A Dimensão Social consiste na relação da empresa com o as comunidades em seu entorno,
incluindo reconhecer o impacto que as atividades da organização tem sobre a sociedade e mensurar os
impactos sociais de suas inovações na comunidade tanto interna quanto externa, ou seja, preocupar-se
com desemprego, pobreza, diversidade na companhia. Também entra nessa dimenção a questão de
proporcionar boas condições de trabalho, o desenvolvimento de projetos visando inclusão social para
combater a desigualdade social. (BARBIERI et al., 2010)
Segundo Bellen (2005) a dimensão ambiental está relacionada ao impacto das atividades
humanas no meio ambiente, ou tudo que envolve ou cerca os seres vivos. Os problemas ambientais, para
o autor, são originados pelo uso do Meio Ambiente para ter os recursos necessários para a produção de
bens e serviços. Elkington (2011) defende que para a empresa analisar se é ambientalmente sustentável é
preciso conhecer o conceito de capital natural, que pode ser visto da seguinte forma: (i) Capital natural
crítico: manutenção da vida e dos ecossistema, fundamental para a perpetuidade do ecossistema; (ii)
Capital natural renovável ou substituível: pode ser renovado, recuperado ou substituído.
Posteriormente é necessário avaliar de que maneira as operações da empresa afeta o capital
natural, se esses impactos são sustentáveis, se o o nível de estresse causado é sustentável e se o equilíbrio
da natureza está sendo afetado de forma significativa.
Seguindo a ideia de Elkington (2011), a Dimensão Econômica pode ser compreendidacomo o
lucro da empresa, ou seja, é calculada com base em dados numéricos. As organizacoes têm que ser
economicamente viáveis, face ao seu papel na sociedade e que deve ser cumprido levando em
consideração o aspecto da rentabilidade, dando retorno ao investimento realizado pelo capital privado.
Para Jara (2008), nesta dimensão o desenvolvimento é sustentável quando a quando a qualidade
de vida for um item de maior preocupação do que a quantidade de produção. Enquanto Bellen (2005)
discute que a crise surge quando a economia cresce de maneira a ultrapassar os limites do meio ambiente,
ou seja, a sustentabilidade econômica inclui o capital natural, a distribuição e destinação dos recursos
naturais.
A idéia de Elkington (2011) é demonstrar que as organizações devem buscar novos caminhos
para crescer de forma sustentável, e que o modelo proposto se torna essencial, pois o bom desempenho
nos três pilares agrega valor à companhia, melhora sua imagem no mercado e ainda se apresenta como
uma estratégia competitiva. Além do lucro que é o objetivo central de qualquer empresa, torna-se
necessário avaliar também os impactos sobre a economia com uma perspectiva mais ampla, incluindo a
sociedade e o meio ambiente em que a companhia atua. A representação do modelo pode ser encontrada
na Figura 1. A sustentabilidade é a intersecção das três dimensões citadas anteriormente.

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Figura 1 – Representação do Modelo Triple Bottom Line

Fonte: Logística Reversa (2015).

Do ponto de vista de Sachs (1993), as dimensões da sustentabilidade são: sustentabilidade social;


sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica; sustentabilidade espacial e a sustentabilidade
cultural. Posteriormente outras dimensões foram incluídas.
Segundo Bellen (2005), um grande marco para a história do pensamento sustentável aconteceu
em 1980, onde pela primeira vez foram usados os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.
O termo foi utilizado em um relatório da International Union for the Conservation of Nature and Natural
Resources (IUCN), World Conservation Strategy, no qual o conceito foi entendido como a união entre a
estratégia de integração e conservação do meio ambiente e do desenvolvimento econômico coerente.
Ainda seguindo o pensamento do autor, o termo desenvolvimento sustentável, foi conceituado durante a
Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada pela ONU em 1987. O relatório
gerado nesta reunião, chamado de Nosso Futuro Comum, ou também conhecido como Relatório
Brundtland, rendeu uma das primeiras avaliações abrangentes dos problemas sociais, ambientais e
econômicos que o mundo estava a conhecer. O grande objetivo global levantado é o de equidade entre
gerações presentes e futuras, assim garantindo que ambas poderão viver e depender dos mesmos recursos
terrestres. De acordo com o Relatório Brundtland “desenvolvimento sustentável é um processo de
transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforça o potencial presente e
futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações futuras [...] é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades” (WCED, 1987, p. 46).
Uma abordagem interessante sobre o desenvolvimento sustentável foi feita por Jara (1998, p.
35), como o conceito de desenvolvimento sustentável tem dimensões ambientais, econômicas, sociais,
políticas e culturais, o que necessariamente traduz várias preocupações: com o presente e o futuro das
pessoas; com a produção e o consumo de bens e serviços; com as necessidades básicas de subsistência;
com os recursos naturais e o equilíbrio ecossistêmico; com as práticas decisórias e a distribuição de poder
e com os valores pessoais e a cultura.
Para ser alcançado o desenvolvimento sustentável depende do planejamento e do
reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representa uma nova forma de
desenvolvimento econômico que leva em conta o meio ambiente, sugerindo ainda que a qualidade deva
ser priorizada em relação à quantidade, com a redução do uso de matérias primas e o aumento da
reutilização e da reciclagem. Torna-se visivel portanto, importância do conhecimento em relação aos
fatores relacionados ao meio ambiente para ter consciência dos limites dos recursos naturais para poder
preservá-los de forma eficaz. Descobrindo formas de minimizar o impacto ambiental e promover um
desenvolvimento mais condizente com aquilo que se necessita para sobrevivência das futuras gerações
(WWF-BRASIL, 2010).
Os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável possuem muitas similaridades, porém
Araújo et al. (2006), entendem que desenvolvimento sustentável tornou-se comum à referência do
conceito em políticas públicas e sustentabilidade as demais ações.

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Quando se menciona desenvolvimento sustentável, uma vez que muitos utilizam o termo para
designar a expectativa de que o país entre numa fase de crescimento que se mantenha ao longo do tempo,
faz com que tal forma de desenvolvimento pressuponha a expansão econômica permanente, gerando
melhoria nos indicadores sociais, além da preservação ambiental. Sustentabilidade é a capacidade de se
auto sustentar, de se auto manter. Uma atividade sustentável qualquer é aquela que pode ser mantida por
um longo período indeterminado de tempo, ou seja, para sempre, de forma a não se esgotar nunca, apesar
dos imprevistos que podem vir a ocorrer durante este período. Pode-se ampliar o conceito de
sustentabilidade, em se tratando de uma sociedade sustentável, que não coloca em risco os recursos
naturais como o ar, a água, o solo e a vida vegetal e animal dos quais a vida (da sociedade) depende
(ARAÚJO et al., 2006. p.8.).

2.2. Responsabilidade Socioambiental


É impossível negar que tanto a responsabilidade social quanto à responsabilidade ambiental está
cada vez mais presente nos assuntos atuais, passando a ser um ponto positivo para melhorar a imagem de
uma instituição, relacionamento com clientes e colaboradores. Ela pode ser utilizada como uma
ferramenta muito importante de marketing, tanto em relação ao comportamento do consumidor como alvo
bem como para institucionalização da imagem institucional e/ou da marca.
Segundo Kotler e Armstrong (1998), a responsabilidade social pode ser entendida como uma
escolha conscientemente tomada pelo empresário, de avançar estrategicamente no campo comunitário.
Ele se difere de ajuda, uma vez que esta representa um tipo de investimento por parte dos empresários
associados à solidariedade, ao paternalismo ou ao íntegro assistencialismo. Visando ocultar a falta de
responsabilidade, uma organização pode fazer uso do marketing, porém esse ato pode colocar a relação
com o consumidor em risco, visto que os consumidores estão cada vez mais atentos às questões sociais.
Para Ashley (2002, p. 6), a responsabilidade social pode ser entendida como o compromisso que
uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem
positivamente de modo amplo e a alguma comunidade de modo específico, atingindo proativamente e
coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas com ela.
Segundo o Inmetro (2018) a responsabilidade social pode ser definida como o modo de pensar e
agir eticamente na relação de uma pessoa com a outra. No meio corporativo, a responsabilidade social
pode ser traduzida como um princípio ético, aplicado à realidade através de uma gestão que leva em
consideração as necessidades e opiniões dos diferentes stakeholders, isto é, dos públicos envolvidos ou
impactados pelo negócio das empresas: clientes, funcionários, acionistas, comunidades, meio ambiente,
fornecedores, governo e outros.
Todo empresário interessado em garantir a rentabilidade e a viabilidade em longo prazo de sua
organização, precisa refletir sobre uma gestão orientada para o ambiente interno e externo de sua
empresa. De acordo com o Instituto Ethos, uma gestão socialmente responsável se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO, 2012, p. 1).
Seguindo essa perspectiva, Sá et al. (2013) define que a empresa socialmente responsável é
aquela que pratica uma gestão pautada na relação ética com seus funcionários, distribuidores,
fornecedores, consumidores. O dialogo com as partes interessadas viabiliza a correta atuação e mudança
nas políticas e decisões empresariais.
Ainda segundo os autores, a responsabilidade socioambiental refere-se ao posicionamento
adotado pela organização diante do ambiente em que está inserida. Com essas mudanças as empresas
ganham confiança e reputação, aspectos de grande importância para diferenciação num mercado cada vez
mais competitivo. Adotar uma perspectiva ambiental implica numa visão e abordagem integrada entre
negócios, ambiente, natureza e sociedade. Integrada com outras estratégias de gestão. A implementação
de um sistema de gestão ambiental contribui para identificar as oportunidades de melhorias, que reduzam
os impactos de suas atividades sobre o meio ambiente.
Segundo Sá et al. (2013) uma empresa socialmente responsável em relacao a preservação
ambiental destaca-se pela sua excelência em política e gestão ambiental, pela sua atuação como agente de
fomento do desenvolvimento sustentável local e regional, e de preservação da saúde, da segurança e da
qualidade de vida de seus empregados e da comunidade situada ao redor, e pela inserção da questão
ambiental como valor de sua gestão e como compromisso, sob a forma de missão e visão do seu
desempenho empresarial.

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O dever socioambiental engloba os deveres da empresa de serem produtivas e rentáveis; o dever


legal corresponde às esperanças do conjunto social de que as instituições façam suas obrigações de acordo
com o arcabouço atual. O dever socioambiental ético refere-se às instituições que, dentro do enredo em
que se adquirem, tenham um comportamento mútuo de acordo com as esperanças existentes entre os
agentes e a sociedade. O dever socioeconômico discricionário (filantrópica) abrange a vontade comum de
que as instituições estejam ativamente envolvidas na beneficiação do local (MACHADO, 2006).
Estigara (2009, p.14) afirma que existe uma diversidade de vantagens possibilitadas por uma
atuação empresarial alinhada à responsabilidade socioambiental no âmbito de atuação das empresas, tais
como redução da carga tributária; forma alternativa de recolhimento de alguns tributos; criação de uma
política permanente para a empresa; Incremento do marketing social; redução de custos operacionais e
melhoria dos indicadores de produtividade e qualidade; lealdade dos clientes; melhoria da imagem da
empresa; divulgação do balanço social e dos Indicadores de responsabilidade social; obtenção de
certificados e selos e preferência nas licitações e contratações com o poder público.

2.3. Economia Circular


Economia circular é um modelo de produção e consumo que é fundamentalmente diferente do
modelo de economia linear que domina a sociedade. A economia linear baseia-se em um processo
simples e linear: extrair - produzir - consumir - lixo. Esse modelo dá pouca ou nenhuma atenção à
poluição gerada em cada uma de suas etapas. O modelo de economia linear tem como premissa alcançar
os objetivos econômicos, deixando questões ecológicas e sociais em segundo plano, além da pequena
confiança em intervenções de políticas públicas relacionadas. Entretanto, o planeta tem fronteiras
limitadas e, mesmo no modelo econômico de produção e consumo, os resíduos gerados pela extração e
produção dos bens e os produtos pós-consumo chegam para nos assombrar como poluição, ou em um
aterro ou estão dispersos de maneiras que contaminam nosso meio ambiente (SAUVÉ et al., 2016). A
Figura 2 ilustra os diferenciais entre a economia linear e a economia circular.
Ao tratar do assunto, Sauvé, Bernard e Sloan (2016, p. 53) afirmam que a economia circular visa
dissociar a prosperidade do consumo de recursos, ou seja, como podemos consumir bens e serviços e,
ainda assim, não depender da extração de recursos virgens e, assim, garantir ciclos fechados que
impedirão o eventual descarte de bens consumidos em aterros sanitários. Produção e consumo também
têm associadas “transferências de contaminação” ao meio ambiente em cada etapa. Nesse sentido, a
economia circular é um movimento em direção à fraca sustentabilidade descrita anteriormente. Propõe
um sistema em que reutilização e reciclagem fornecem substitutos para o uso de materiais virgens crus.
Ao reduzir nossa dependência de tais recursos, isso melhora nossa capacidade e a capacidade das
gerações futuras de atender às suas necessidades. A economia circular torna a sustentabilidade mais
provável.

Figura 2 – Comparativo entre os modelos linear e circular

Fonte: Sauvé, Bernard e Sloan (2016).

De acordo com Araújo e Queiroz (2017, p. 5), a economia circular é definida da seguinte
maneira: a economia circular consiste em um ciclo de desenvolvimento contínuo que preserva e aprimora
o capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos sistêmicos administrando estoques
finitos e fluxos renováveis, oferecendo diversos mecanismos de criação de valor dissociados do consumo
de recursos finitos. O consumo só ocorre em ciclos biológicos efetivos. Afora isso, o uso substitui o

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consumo. Os recursos se regeneram no ciclo biológico ou são recuperados e restaurados no ciclo técnico.
No ciclo biológico, os processos naturais da vida regeneram materiais, através da intervenção humana ou
sem ela. No ciclo técnico, desde que haja energia suficiente, a intervenção humana recupera materiais e
recria a ordem em um tempo determinado.
O modelo da economia circular promove a elasticidade dos recursos. Este modelo visa substituir
o modelo linear tradicional de produção rápida e barata, além da eliminação barata de bens duráveis que
poderiam ser reformados e utilizados novamente ou desmontados e facilmente reciclados. Um modelo de
produção seguindo a economia circular busca aumentar a vita útil de um produto, além de investir na
reforma e reuso de tal produto (SAUVÉ; BERNARD; SLOAN, 2016).

2.4. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)


Após o final da Guerra Fria a ONU passou a debater sobre metas de desenvolvimento social,
sustentabilidade e bem-estar econômico. A partir daí foram publicados diversos documentos que dariam
origem a importantes questões como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno
Bruto (PIB) que hoje são referências mundiais. No ano 2000 foi firmado um pacto entre 189 países
visando erradicar a pobreza extrema, educação básica e outros dilemas sociais, apoiado nessas questões
foram elaborados os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os ODM previam um grupo de
oito macro-objetivos os quais deveriam ser alcançados até o ano de 2015 para combater a pobreza (ONU,
2019).
A partir dos resultados positivos provenientes dos ODM a ONU definiu os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável,
conhecida como Agenda 2030. A ONU (2019) defende que “esta Agenda é um plano de ação para as
pessoas, para o planeta e para a prosperidade”, buscando fortalecer a paz universal e erradicar a pobreza,
sendo fatores críticos para o desenvolvimento sustentável. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
atuam nas áreas:
• Pessoas: acabar com a fome e a pobreza e garantir que as pessoas possam alcançar seu potencial com
dignidade e igualdade em um ambiente saudável;
• Planeta: proteger o planeta da degradação através da produção e consumo sustentáveis, gestão
sustentável dos recursos e ações em relação a mudança climática;
• Prosperidade: garantir que as pessoas possam ter uma vida próspera e assegurar que o progresso
econômico, social e tecnológico ocorra em harmonia;
• Paz: promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas e livres do medo e violência;
• Parceria: implementar a Agenda 2030 através de uma parceria global focada nas necessidades dos
mais vulneráveis.

No total foram definidos dezessete objetivos que buscam assegurar os direitos humanos de todos
ao redor do globo, alcançar a igualdade de gênero e empoderar as mulheres e meninas. Para cada objetivo
foi atribuído um ícone, como é possível ver na Figura 3. Os objetivos citados são “integrados e
indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a
ambiental” (ONU, 2019).

Figura 3 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: ONU (2019).

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Os objetivos definidos são os seguintes:


1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;
2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura
sustentável;
3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;
4 – Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos;
5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;
6 – Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos;
7 – Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e
trabalho decente para todos;
9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a
inovação;
10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles;
11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
12 – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;
13 – Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;
14 – Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o
desenvolvimento sustentável;
15 – Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade;
16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o
acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
17 – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento
sustentável.

2.5. Global Reporting Initiative (GRI)


A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização não-governamental (ONG) internacional
fundada em 1997 em Boston. O objetivo era criar um mecanismo de responsabilização para garantir que
as empresas seguissem os Princípios CERES (Coligação para Economias Ambientalmente Responsáveis)
de conduta ambiental responsável.
Em 2001 foi lançada a primeira versãos das Diretrizes, representando a primeira estrutura global
para relatórios abrangentes de sustentabilidade. Já a segunda geração das Diretrizes, G2, foi apresentada
em 2002 durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo. Neste mesmo
ano a GRI foi formalmente inaugurada como uma organização colaboradora do PNUMA, e mudando sua
sede para Amsterdã.
A demanda pelas diretrizes de relatórios de sustentabilidade da GRI aumentou constantemente, e
isso foi ainda mais impulsionado pelo lançamento da terceira geração de Diretrizes, G3. Mais de três mil
especialistas de empresas, sociedade civil e movimento trabalhista participaram do desenvolvimento da
G3, destacando a verdadeira abordagem de múltiplas partes interessadas no centro das atividades da GRI.
Após o lançamento do G3 na Conferência Global, a GRI começou a expandir sua estratégia e Estrutura de
Relatórios, construindo alianças poderosas. Parcerias formais foram firmadas com o Pacto Global das
Nações Unidas, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e outras. Posteriormente
a GRI começou a estabelecer escritórios regionais em territórios importantes, conhecido como Pontos
Focais.
No ano de 2013 a GRI lançou a quarta geração de suas Diretrizes, G4, oferecendo Princípios de
Relato, Divulgações Padrão e um Manual de Implementação para a preparação de relatórios de
sustentabilidade por organizações de qualquer tamanho ou setor. Essa nova versão busca atender questões
mapeadas pelos usuários e pela própria GRI com qualidade técnica e relevância.

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Em outubro de 2016, a GRI lançou os primeiros padrões globais para relatórios de


sustentabilidade. Desenvolvido pelo Conselho Global de Padrões de Sustentabilidade (GSSB), os Padrões
da GRI permitem que todas as organizações relatem publicamente seus impactos econômicos, ambientais
e sociais - e mostrem como elas contribuem para o desenvolvimento sustentável. As normas da GRI
também são uma referência confiável para formuladores de políticas e reguladores e possuem uma
estrutura modular para que possam ser mantidas atualizadas e relevantes. Além disso, as normas da GRI
incluem todos os principais conceitos e divulgações das Diretrizes da GRI G4, aprimorados com uma
estrutura mais flexível, requisitos mais claros e linguagem mais simples.
Um relatório de sustentabilidade, baseado nas diretrizes estabelecidas pela GRI, pode permitir a
divulgação dos resultados obtidos dentro de um determinado período de tempo, avaliando o contexto dos
compromissos, da estratégia e da forma de gestão da organização. També pode ser utilizado também para
avaliação do desempenho de sustentabilidade com respeito a leis, normas, códigos, padrões de
desempenho e iniciativas voluntárias; demonstração de como a organização influencia e é influenciada
por expectativas de desenvolvimento sustentável; comparação de desempenho dentro da organização e
entre diferentes organizações ao longo do tempo.
Visando desenvolver um relatório possível de ser aplicado em empresa de portes e segmentos
diferentes mas que tambem possibilite uma discussão sobre sustentabilidade entre essas organizações, o
relatório é baseado em princípios essenciais que visam o equilíbrio entre os itens econômicos, sociais e
ambientais, além de proporcionar a comparabilidade temporal, garantir credibilidade e permear o
colóquio entre as partes interessadas. O relatório de sustentabilidade nos moldes da GRI é dividido em
duas etapas. A primeira reúne os princípios da definição e orientações (escopo, qualidade e limite do
relatório). Enquanto na segunda etapa são apresentados os elementos estruturantes do relatório: o
conteúdo propriamente dito (como a apresentação do perfil da empresa), forma de gestão e os
indicadores.
Na versão G4, os indicadores de desempenho são separados entre as três dimensões: Econômica,
Ambientais e Social. O quadro 1 ilustra como estão dividos os indicadores.

Quadro 1 – Dimensões, subdivisões e indicadores da GRI

Fonte: Elaborado pelos autores com base em GRI (2016).

3. METODOLOGIA
A seguir serão apresentados os principais elementos utilizados para o desenvolvimento deste
trabalho, dentre eles o tipo de pesquisa, a forma que serão coletados os dados, a maneira com que os
dados serão analisados e as etapas da pesquisa.

3.1. Características da Pesquisa


Para que os objetivos deste trabalho pudessem ser cumpridos, foi utilizada a metodologia de
pesquisa aplicada, visto que a mesma é “... uma pesquisa voltada à aquisição de conhecimentos com
vistas à aplicação numa situação específica.” (GIL, 2010, p. 27).
A abordagem metodolóliga utilizada é a qualitativa, “utilizada quando se busca percepções e
entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para interpretação” (DANTAS,
2006, p. 24).
No quesito de interpretação, pode ser classificada como descritiva. Segundo Gil (2010),
pesquisas descritivas têm como seu principal objetivo à descrição das características de determinado
acontecimento ou o estabelecimento de relações entre variáveis.
O instrumento de observação adotado foi composto por uma pesquisa bibliográfica e pesquisa
documental. De acordo com Oliveira (2007), a pesquisa bibliográfica a pesquisa bibliográfica estuda e
analisa documentos de domínio científico, como livros, e artigos científicos, tem como finalidade
proporcionar ao pesquisador o contato com obras e documentos sobre o que está sendo estudado: “o mais

150
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

importante para quem faz opção pela pesquisa bibliográfica é ter a certeza de que as fontes a serem
pesquisadas já são reconhecidamente do domínio científico” (OLIVEIRA, 2007, p. 69). Sobre a pesquisa
documental, a autora se posiciona da seguinte maneira: “a documental caracteriza-se pela busca de
informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios,
reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de
divulgação” (OLIVEIRA, 2007, p. 69). Os dados foram coletados de fontes como artigos, documentos,
periódicos específicos, teses e dissertações e informações de sites na internet, disponíveis em domínio
público.
Neste estudo, a análise de conteúdo foi escolhida como técnica de análise dos dados coletados.
De acordo com Bardin (2009) a análise de conteúdo e um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens. O objetivo da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relacionados às condições
de produção, inferência esta que recorre a indicadores, podendo ser quantitativos ou não. A análise das
informações é utilizada para garantir respostas sobre o material analisado, tabelando e classificando as
informações específicas.
O estudo seguiu as fases da análise de conteúdo, conforme recomendado por Bardin (2009): (i)
Pré-análise; (ii) Exploração do material; (iii) Tratamento dos resultados, que envolve a inferência, a
interpretação; (iv) e a descrição dos achados relevantes da pesquisa.

3.2. Descrição do Objeto de Estudo


A Tetra Pak é a maior empresa de soluções de processamento e envase de alimentos.
Trabalhando em estreita parceria com clientes e fornecedores, fornecem produtos seguros, inovadores e
ecologicamente corretos que atendem às necessidades de milhões de pessoas ao redor do globo. A
empresa acredita em uma liderança responsável do setor e em uma abordagem sustentável para os
negócios em todo o mundo. O lema, “PROTEGE O QUE É BOM™," reflete a visão da organização de
tornar os alimentos seguros e disponíveis em qualquer lugar.
A empresa foi fundada na Suécia no século XX, desenvolvendo nova embalagem cartonada para
alimentos. Ela atua em três segmentos sendo eles processamento de alimentos e bebidas, embalagens
cartonadas e a área de serviços. Atualmente a Tetra Pak está presente em mais de cento e sessenta países,
empregando cerca de vinte e quatro mil pessoas em todo o mundo. O maior foco da organização é
desenvolver embalagens e soluções de processamento para o setor de laticínios e sucos, porém hoje está
expandido para novos mercados. A empresa está no mercado brasileiro a mais de sessenta anos. Visando
manter a qualidade nos produtos consumidos através da tecnologia, estão conduzindo, constantemente,
projetos inovadores para garantir a melhor opção para os seus clientes em termos de qualidade, custos e
sustentabilidade.

4. RESULTADOS
4.1. Apresentação dos Dados da Pesquisa
Foram usados como base os Relatórios de Sustentabilidade da Tetra Pak tanto o resultado do
Brasil quanto o resultado global da companhia. Ambos os relatórios são referentes ao ano 2018. Os dados
foram divididos em três esferas, como sugeriu Elkington (2011): dimensão econômica, social e ambiental.
As categorias a serem discutidas são compostas por:
• Elementos extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade, praticados pela Tetra Pak – Trata-se dos
indicadores de sustentabilidade apresentados na cartilha GRI que são utilizados pela empresa para
apresentar seus resultados.
• Elementos adotados pela Tetra Pak que não constam na cartilha GRI – Aborda indicadores
desenvolvidos pela própria Tetra Pak para monitorar aspectos específicos que não constam na
cartilha GRI.
• Elementos da cartilha GRI, não praticados pela Tetra Pak – Expõe indicadores apresentados na
cartilha GRI que não são utilizados pela Tetra Pak, sendo portanto uma sugestão de melhoria para a
empresa.

4.1.1 Dimensão Social


Conforme apresentado no referencial teórico, a Dimensão Social tem como objetivo garantir a
igualdade social e o acesso a bens e serviço de qualidade, boas condições de trabalho, diversidade e

151
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

diversos outros fatores (BARBIERI et al., 2010). A seguir serão discutidos elementos da cartilha GRI que
ajudam a garantir que essas questões sejam atendidas:
Elementos extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade, praticados pela Tetra Pak:
• 403-2 Identificação de perigos, avaliação de riscos e investigação de incidentes: processos usados
para identificar perigos e avaliar riscos de maneira rotineira e não rotineira, implementação de
políticas e processos que proteja os funcionários contra intimidações, ameaças ou atos que possam ter
um impacto negativo no emprego ou no trabalho e o direito dos trabalhadores de recusar ou
interromper o trabalho inseguro ou insalubre. (Global)
• 408-1 Operações e fornecedores com risco significativo de ocorrência de trabalho infantil: evidencias
sobre as operações e fornecedores considerados com risco significativo de ocorrência de trabalho
infantil ou jovens trabalhadores expostos a trabalhos perigosos. (Brasil)
• 409-1 Operações e fornecedores com risco significativo de ocorrência de trabalho forçado ou análogo
ao escravo: evidencias sobre as operações e fornecedores considerados com risco significativo de
ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo. (Brasil)
• 413-1 Operações com engajamento da comunidade local, avaliação de impacto e desenvolvimento de
programas: um elemento-chave no gerenciamento de impactos nas pessoas nas comunidades locais é
a avaliação e o planejamento, a fim de entender os impactos reais e potenciais, e o forte
envolvimento das comunidades locais para entender suas expectativas e necessidades. (Brasil)
• 414-1 Novos fornecedores selecionados com base em critérios sociais: percentual de fornecedores
selecionados ou contratados sujeitos a processos de due diligence para impactos sociais. (Brasil)
• 416-2 Avaliação dos impactos dos produtos e serviços na saúde e segurança: identifica a existência e
a gama de esforços sistemáticos para abordar a saúde e a segurança ao longo do ciclo de vida de um
produto ou serviço. (Global)
• 417- Requisitos e informações sobre rotulagem de produtos e serviços: clientes e usuários finais
precisam de informações acessíveis e adequadas sobre os impactos ambientais e sociais positivos e
negativos de produtos e serviços. (Brasil)

Elementos adotados pela Tetra Pak que não constam na cartilha GRI:
• TetraPak-1 Percentual de embalagens com selo FSC: fonte de informação aos consumidores e uma
forma de conscientização sobre importância de fazer escolhas baseadas no impacto ambiental e uma
referência de materiais provenientes de fontes renováveis. (Brasil)
• TetraPak-2 Quantidade de projetos beneficiados pela Lei Rouanet e o valor investido: iniciativas
incluem demonstrações do processo de reciclagem em supermercados, shoppings e outros locais
públicos e projetos de educação ambiental incentivados pela Lei Rouanet. (Brasil)
• TetraPak-3 Quantidade de ações de demonstração de reciclagem: quantidade de ações promovidas
para incentivar a reciclagem. (Brasil)
• TetraPak-4 Quantidade de pessoas atingidas nas ações de reciclagem: quantidade de pessoas
impactadas pelas ações de reciclagem. (Brasil)
• TetraPak-5 Quantidade de escolas envolvidas na implementação de coleta seletiva: quantidade de
escolas envolvidas e comprometidas a implementar a coleta seletiva. (Brasil)
• TetraPak-6 Número de cooperativas apoiadas: quantidade de cooperativas apoiadas. (Brasil)
• TetraPak-7 Número de cooperados ou cooperativas participantes dos 38 programas de capacitação:
quantidade de pessoas impactadas pelos programas. (Brasil)
• TetraPak-8 Número de equipamentos cedidos para cooperativas e por comodato: quantidade de
equipamentos cedidas para cooperativas e quantidade de equipamentos cedidos por comodato para
indústrias de reciclagem. (Brasil)
• TetraPak-1 Ttrabalhos em toda a cadeia de valor para garantir que os alimentos estejam disponíveis,
acessíveis e acessíveis, pelos consumidores em todos os lugares: desenvolvimento da cadeia de valor
de laticínios e alimentos através de cooperação com clientes, governos, agências de cooperação para
o desenvolvimento, organizações de financiamento e ONGs, todos pelo mundo. (Global)

Elementos da cartilha GRI, não praticados pela Tetra Pak:


• 403-10 Problemas de saúde relacionados ao trabalho: abrange todos os casos de problemas de saúde
relacionados ao trabalho notificados à organização relatora ou identificados pela organização por
meio de vigilância médica.

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25 a 26 de setembro de 2019

• 404-1 Média de horas de treinamento por ano por funcionário: informações sobre a escala do
investimento de uma organização em treinamento e o grau em que o investimento é feito em toda a
base de funcionários.
• 405- 1 Diversidade de órgãos e funcionários da governança: medida quantitativa da diversidade
dentro de uma organização e pode ser usada em conjunto com referências setoriais ou regionais. As
comparações entre a ampla diversidade de funcionários e a diversidade da equipe de gerenciamento
oferecem informações sobre oportunidades iguais.
• 414-2 Impactos sociais negativos na cadeia de suprimentos e ações tomadas: informa as partes
interessadas sobre a conscientização de uma organização sobre impactos sociais negativos
significativos reais e potenciais na cadeia de suprimentos. Impactos negativos incluem aqueles que
são causados ou contribuídos por uma organização ou que estão diretamente vinculados a suas
atividades, produtos ou serviços por seu relacionamento com um fornecedor.

4.1.2 Dimensão Ambiental


Conforme discutido anteriormente, a dimensão ambiental da sustentabilidade está associada ao
impacto das atividades humanas no meio ambiente. Grande parte dos problemas ambientais são causados
pelo mal uso do meio ambiente, com o intuito de obter recursos para a produção de bens e serviços.
Elementos extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade, praticados pela Tetra Pak:
• 301-1 Materiais usados por peso e volume: peso ou volume total de materiais usados para produzir e
embalar os principais produtos e serviços da organização durante o período do relatório, mediante: (i)
Materiais não renováveis utilizados; (ii) Materiais renováveis utilizados. (Brasil / Global).
• 301-2 - Materiais usados que são reciclados: porcentagem de materiais de entrada reciclados usados
para fabricar os principais produtos e serviços da organização. (Global)
• 301-3 Produtos vendidos recuperados e suas embalagens: porcentagem de produtos recuperados e
seus materiais de embalagem para cada categoria de produto. (Brasil / Global)
• 302-1 Consumo de energia dentro da organização: toda a energia consumida desde eletricidade até
fontes de energia como vapor ou água, fornecidas por uma estação de aquecimento urbano ou estação
de água gelada também podem ser importantes. Também estão inclusos as fontes renováveis e não
renováveis de combustível. (Brasil / Global)
• 302-3 Intensidade energética: As proporções de intensidade de energia definem o consumo de
energia no contexto de uma métrica específica da organização. Essas proporções expressam a energia
necessária por unidade de atividade, produção ou qualquer outra métrica específica da organização.
(Brasil / Global)
• 302-4 Redução do consumo de energia: divulgação de iniciativas de redução que foram
implementadas no período coberto pelo relatório e que têm o potencial de contribuir
significativamente para reduções. (Brasil / Global)
• 303-1 Retirada de água por fonte: se a organização relatora identificou impactos significativos
relacionados à água na cadeia de valor, que inclui entidades com as quais a organização possui um
relacionamento comercial direto ou indireto e que: (a) fornecem produtos ou serviços que contribuem
para os próprios produtos ou serviços da organização ou (b) receber produtos ou serviços da
organização, é necessário relatar informações sobre esses impactos. (Brasil)
• 303-3 Água reciclada e reutilizada: O volume de retirada de água de áreas com estresse hídrico pode
indicar os impactos de uma organização em locais sensíveis. A água de superfície inclui água da
chuva coletada ou colhida. A água de terceiros inclui a água fornecida pelas redes municipais de água
ou por outras organizações. (Brasil)
• 305-1 Emissões diretas de GEE (escopo 1): podem vir das seguintes fontes pertencentes ou
controladas por uma organização:
Geração de eletricidade, aquecimento, refrigeração e vapor: essas emissões resultam da
combustão de combustíveis em fontes estacionárias, como caldeiras, fornos e turbinas - e de
outros processos de combustão, como queima;
Processamento físico ou químico: a maioria dessas emissões resulta da fabricação ou
processamento de produtos químicos e materiais, como cimento, aço, alumínio, amônia e
processamento de resíduos;

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Transporte de materiais, produtos, resíduos, trabalhadores e passageiros: essas emissões resultam


da combustão de combustíveis em fontes de combustão móveis pertencentes ou controladas pela
organização, como caminhões, trens, navios, aviões, ônibus e carros;
Emissões fugitivas: são emissões que não são controladas fisicamente, mas resultam de
liberações intencionais ou não intencionais de GEE. Isso pode incluir vazamentos de
equipamentos de juntas, vedações, gaxetas e juntas; emissões de metano (por exemplo, de minas
de carvão) e ventilação; Emissões de HFC de equipamentos de refrigeração e ar condicionado; e
vazamentos de metano (por exemplo, do transporte de gás). (Brasil / Global).
• 305-2 Emissões indiretas de GEE (escopo 2): apresenta os seguintes valores:
• Valor baseado no local: reflete a intensidade média das emissões de GEE das redes nas quais o
consumo de energia ocorre, usando principalmente o fator de emissão médio da rede dados;
• Valor baseado em mercado: reflete as emissões de eletricidade que uma organização escolheu
propositalmente (ou sua falta de escolha). Deriva fatores de emissão de instrumentos contratuais, que
incluem qualquer tipo de contrato entre duas partes para a venda e compra de energia agrupada com
atributos sobre a geração de energia ou para reivindicações de atributos desagregados. (Brasil /
Global)
• 305-3 Outras emissões indiretas de GEE (escopo 3): uma consequência das atividades de uma
organização, mas ocorrem a partir de fontes não pertencentes ou controladas pela organização.
(Brasil / Global)
• 305-4 Intensidade de emissões de GEE: quantidade de emissões de GEE por unidade de atividade,
produção ou qualquer outra métrica específica da organização. (Brasil / Global)
• 305-5 Redução de emissões de GEE: divulgação de iniciativas de redução que foram implementadas
no período coberto pelo relatório e que têm o potencial de contribuir significativamente para
reduções. (Global)
• 305-6 Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio (SDO): medir a produção,
importação e exportação de SDO ajuda a indicar como uma organização está em conformidade com a
legislação. (Global)
• 305-7 Óxidos de nitrogênio (NOX), óxidos de enxofre (SOX) e outras emissões atmosféricas
significativas: relatar as emissões atmosféricas para cada um dos seguintes: (i) NOX; (ii) SOX; (iii)
Poluentes orgânicos persistentes (POP); (iv) Compostos orgânicos voláteis (COV); (v) Poluentes
perigosos do ar (HAP); (vi) Material particulado (MP); (vii) Outras categorias-padrão de emissões
atmosféricas identificadas nos regulamentos relevantes. (Global)
• 306-1 Descarte de água por qualidade e destinação: inclui efluentes que podem ser descarregados em
águas subterrâneas, superficiais, esgotos que levam a rios, oceanos, lagos, zonas úmidas, instalações
de tratamento e águas subterrâneas, seja: (i) Através de um ponto de descarga definido (descarga da
fonte pontual); (ii) Sobre a terra de maneira dispersa ou indefinida (descarga não pontual da fonte);
(iii) Como águas residuais removidas da organização por caminhão. (Brasil)
• 306-2 Resíduos por tipo e método de disposição: informações sobre os métodos de descarte de
resíduos revelam até que ponto uma organização conseguiu o equilíbrio entre opções de descarte e
impactos ambientais desiguais. (Brasil)
• 308-1 Novos fornecedores selecionados com base em critérios ambientais: porcentagem de
fornecedores selecionados ou contratados, sujeitos a processos de due diligence por impactos
ambientais. (Brasil / Global)
• 308-2 Impactos ambientais negativos na cadeia de suprimentos e ações tomadas: incluem impactos
causados ou contribuídos por uma organização ou que estão diretamente vinculados a suas
atividades, produtos ou serviços por seu relacionamento com um fornecedor. (Global)

Elementos adotados pela Tetra Pak que não constam na cartilha GRI:
• TetraPak-9 Eficiência climática (kg CO2e/MSP): indicador composto pelas emissões provenientes
das perdas de matéria-prima no processo, consumo de energia elétrica e de gás natural, sendo
contabilizado em kg de CO2e por milhão de embalagens produzidas. (Brasil)
• TetraPak-2 Como as soluções Tetra Pak e programas de processamento e embalagem de alimentos
ajudam a diminuir a perda e o desperdício de alimentos em toda a cadeia de valor: a tecnologia
asséptica oferece várias vantagens, incluindo variedade de formas de embalagem, economia de
energia e materiais de embalagem e maior conveniência do consumidor. (Global)

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• TetraPak-3 Condução do processo de due diligence e trabalho com fornecedores para garantir que os
impactos negativos associados ao uso da água sejam evitados e mitigados em toda a nossa cadeia de
suprimentos: uso da ferramenta global de mapeamento de risco hídrico do WRI para mapear e avaliar
o risco hídrico nas instalações dos fornecedores. (Global)
• TetraPak-4 Pegada de CO2 dos produtos de embalagem: soma de todos os gases de efeito estufa
emitidos durante o ciclo de vida de uma caixa cartonada. Isso inclui todas as matérias-primas
utilizadas, a produção, a distribuição, consumo e tratamento no final da vida útil do produto. (Global)

Elementos da cartilha GRI, não praticados pela Tetra Pak:


• 302-2 Consumo de energia fora da organização: atividades de upstream e downstream da
organização associadas às suas operações. Isso pode incluir o uso dos produtos que a organização
vende pelos consumidores e o tratamento em fim de vida dos produtos.
• 303-2 Gestão de impactos relacionados à descarga de água: uma descrição de quaisquer padrões
mínimos estabelecidos para a qualidade da descarga de efluentes. A qualidade da água refere-se às
características físicas, químicas, biológicas e relacionadas ao sabor da água.
• 303-4 Descarga de água: a relação entre descarga de água e impactos negativos não é linear. Um
aumento no volume total de descarga de água não corresponde necessariamente a maiores impactos
negativos, uma vez que esses impactos dependem da qualidade da descarga de água e da
sensibilidade do corpo de água receptor.
• 303-5 Consumo de água: o consumo de água mede a água usada por uma organização para que não
esteja mais disponível para uso pelo ecossistema ou comunidade local no período coberto pelo
relatório.
• 304-2 Impactos significativos das atividades, produtos e serviços na biodiversidade: fornece os
antecedentes para a compreensão (e desenvolvimento) da estratégia de uma organização para mitigar
impactos significativos diretos e indiretos na biodiversidade. As áreas de impacto não se limitam às
áreas formalmente protegidas e incluem a consideração dos impactos nas zonas-tampão, bem como
as áreas formalmente designadas, de importância ou sensibilidade especial.

4.1.3 Dimensão Econômica


Conforme já discutido no referencial teórico, a dimensão econômica da sustentabilidade etá
relacionada a avaliação e direcionamento dos recursos naturais durante a produção de bens e serviços.
Logo, a crise surge a economia cresce a ponto de maneira a ultrapassar os limites do meio ambiente
(BELLEN, 2005)
Elementos da cartilha GRI, não praticados pela Tetra Pak:
• 203-1 Investimentos em infraestrutura e serviços suportados: impacto que os investimentos e serviços
de infraestrutura de uma organização suportados têm sobre seus stakeholders e a economia. Os
impactos do investimento em infraestrutura podem se estender além do escopo das operações da
própria organização e por um período de tempo mais longo. Esses investimentos podem incluir
ligações de transporte, serviços públicos, instalações sociais comunitárias, centros de saúde e bem-
estar e centros esportivos.
• 203-2 Impactos econômicos indiretos significativos: espectro de impactos econômicos indiretos que
uma organização pode ter sobre seus stakeholders e a economia. Exemplos de impactos econômicos
indiretos significativos, positivos e negativos, podem incluir: mudanças na produtividade de
organizações, setores ou toda a economia; desenvolvimento econômico em áreas de alta pobreza,
impactos econômicos da melhoria ou deterioração das condições sociais ou ambientais, etc.
• 205-1 Operações avaliadas quanto a riscos relacionados à corrupção: mede a extensão da
implementação da avaliação de riscos em uma organização. As avaliações de risco podem ajudar a
avaliar o potencial de incidentes de corrupção dentro e relacionados à organização e ajudar a
organização a elaborar políticas e procedimentos para combater a corrupção.

A seguir é apresentado um resumo geral dos (i) Elementos extraídos dos Relatórios de
Sustentabilidade, praticados pela Tetra Pak; (ii) Elementos adotados pela Tetra Pak que não constam na
cartilha GRI e (iii) Elementos da cartilha GRI, não praticados pela Tetra Pak. Cada elemente está
associado a uma dimensão (econômica, social, ambiental), de acordo com a sua prática ou ausência na
empresa (Quadros 2; 3 e 4).

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Quadro 2 – Elementos Extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade Praticados pela Tetra Pak e as Dimensões da
Sustentabilidade
Elementos extraídos dos Relatórios de Econôm
Relatório Social Ambiental
Sustentabilidade, praticados pela Tetra Pak ico
1 Materiais usados por peso e volume Brasil / Global x
2 Materiais usados que sao reciclados Global x
3 Produtos vendidos recuperados e suas embalagens Brasil / Global x
4 Consumo de energia dentro da organização Brasil / Global x
5 Intensidade energética Brasil / Global x
6 Redução do consumo de energia Brasil / Global x
7 Emissões diretas de GEE (escopo 1) Brasil / Global x
8 Emissões indiretas de GEE (escopo 2) Brasil / Global x
9 Outras emissões indiretas de GEE (escopo 3) Brasil / Global x
10 Intensidade de emissões de GEE Brasil / Global x
11 Reducao de emissoes de GEE Global x
12 Retirada de água por fonte Brasil x
13 Água reciclada e reutilizada Brasil x
14 Descarte de água por qualidade e destinação Brasil x
Emissões de substâncias destruidoras da camada de
15 Global x
ozônio
Óxidos de nitrogênio (NOX), óxidos de enxofre
16 Global x
(SOX) e outras emissões atmosféricas significativas
Extensão da mitigação de impactos ambientais de
17 Global x
produtos e serviços
18 Resíduos por tipo e método de disposição Brasil x
Novos fornecedores selecionados com base em
19 Brasil / Global x
critérios ambientais
Impactos ambientais negativos na cadeia de
20 Global x
suprimentos e ações tomadas
Operações e fornecedores com risco significativo de
21 Brasil x
ocorrência de trabalho infantil
Operações e fornecedores com risco significativo de
22 Brasil x
ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo
Novos fornecedores selecionados com base em
23 Brasil x
critérios sociais
Operações com engajamento da comunidade local,
24 avaliação de impacto e desenvolvimento de Brasil x
programas.
Requisitos e informações sobre rotulagem de
25 Brasil x
produtos e serviços
Tipos de lesões e taxas de lesões, doenças
26 ocupacionais, dias perdidos e absenteísmo e número Global x
de mortes relacionadas ao trabalho
Avaliação dos impactos dos produtos e servicos na
27 Global x
saúde e segurança
Fonte: Dados da Pesquisa.

Quadro 3 – Elementos Extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade que não constam no GRI e as Dimensões da
Sustentabilidade
Fatores extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade que não
Relatório Econômico Social Ambiental
constam no GRI
1 Percentual de embalagens com selo FSC Brasil x
Quantidade de projetos beneficiados pela
2 Brasil x
e o valor investido
3 Quantidade de ações de demonstração de reciclagem Brasil x
4 Quantidade de pessoas atingidas nas ações de reciclagem Brasil x
Quantidade de escolas envolvidas na implementação de
5 Brasil x
coleta seletiva
6 Número de cooperativas apoiadas Brasil x
Número de cooperados ou cooperativas participantes dos 38
7 Brasil x
programas de capacitação
Número de equipamentos cedidos para cooperativas e por
8 Brasil x
comodato
9 Eficiência climática (kg CO2e/MSP) Brasil x
10 Como trabalhamos em toda a cadeia de valor para garantir Global x

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que os alimentos estejam disponíveis, acessíveis e


acessíveis, pelos consumidores em todos os lugares
Como nossas soluções e programas de processamento e
11 embalagem de alimentos ajudam a diminuir a perda e o Global x
desperdício de alimentos em toda a cadeia de valor
Como conduzimos nosso processo de due diligence e
trabalhamos com nossos fornecedores para garantir que os
12 Global x
impactos negativos associados ao uso da água sejam
evitados e mitigados em toda a nossa cadeia de suprimentos
Como medimos e gerenciamos a pegada de CO2 de nossos
13 Global x
produtos de embalagem
Fonte: Dados da Pesquisa

Quadro 4 – Elementos Extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade que não constam no GRI e as Dimensões da
Sustentabilidade
Fatores do GRI que não constam nos Relatórios de
Relatório Econômico Social Ambiental
Sustentabilidade
1 Problemas de saúde relacionados ao trabalho x
Média de horas de treinamento por ano por
2 x
funcionário
3 Diversidade de órgãos e funcionários da governança x
Impactos sociais negativos na cadeia de suprimentos
4 x
e ações tomadas
5 Consumo de energia fora da organização x
6 Gestão de impactos relacionados à descarga de água x
7 Descarga de água x
8 Consumo de água x
Impactos significativos das atividades, produtos e
9 x
serviços na biodiversidade
Investimentos em infraestrutura e serviços
10 x
suportados
11 Impactos econômicos indiretos significativos x
Operações avaliadas quanto a riscos relacionados à
12 x
corrupção
Fonte: Dados da Pesquisa

4.2 Análise dos dados da pesquisa


Neste tópico será realizada uma análise tendo como foco a importância do relatório de
sustentabilidade que norteiam as dimensões econômica, social e ambiental, com base nos dados
previamente apresentados.
Em relação ao relatório de sustentabilidade foram encontrados diversos fatores envolvendo as
dimensões da sustentabilidade que já são adotados pela Tetra Pak e alguns que poderiam ser incluídos nos
relatórios futuros para serem ainda mais completos e precisos. No total foram encontrados trinta e sete
fatores extraídos do relatório da companhia entre as dimensões social e ambiental, sendo vinte e sete
fatores extraídos da cartilha GRI e dez indicadores internos da empresa. Também foram encontrados doze
fatores constantes da cartilha GRI que não são mensurados pela Tetra Pak, podendo ser uma sugestão de
melhoria para a Tetra Pak. Isso demonstra que a organização está preocupada em mapear e diminuir os
impactos causados por ela e o compromisso em melhorar a qualidade de vida das comunidades ao seu
redor.
Apesar de existirem três dimensões a serem analisadas, a Tetra Pak não apresenta os índices da
dimensão econômica, sugeridos pela cartilha GRI. Sendo assim, foi apresentado três recomendações de
fatores relacionados a investimentos da empresa em infraestrutura e serviços, a mensuração dos impactos
econômicos e análise de riscos relacionados a corrupção.
Em seu relatório de sustentabilidade a Tetra Pak apresenta o seu compromisso com os ODS da
ONU que acreditam poder ter um maior impacto. Eles são utilizados como uma diretriz na definição de
prioridades das iniciativas de sustentabilidade. Por meio do trabalho no âmbito do pilar de alimentos, a
Tetra Pak contribui com os seguintes ODS: 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável; 12 – Consumo e
Produção Responsáveis e 17 – Parcerias e Meios de Implementação.
Quando se fala do pilar de Pessoas, a Tetra Pak contribui com os ODS 8 – Trabalho Decente e
Crescimento Econômico e 17- Parcerias e Meios de Implementação. Por meio de trabalhos no âmbito do

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pilar de futuros, a empresa contribui com os ODS a seguir: 6 – Água Potável e Saneamento; 7 – Energia
Limpa e Acessível; 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura; 12 – Consumo e Produção Responsáveis; 13
– Ação Contra a Mudança Global do Clima; 15 – Vida Terrestre e 17 – Parcerias e Meios de
Implementação novamente. Isso demonstra que existe um compromisso e um engajamento na promoção
da sustentabilidade.
Portanto, este estudo demonstra o quão importante é o relatório de sustentabilidade. Como
apresentado na revisão bibliográfica, a dimensão social é de extrema importância pois ela consiste na
relação entre a empresa e as comunidades em seu entorno, assumindo a responsabilidade de seus
impactos na sociedade (BARBIERI et al., 2010).
A dimensão ambiental também tem possui grande importância visto que ela leva a organização
compreender e diminuir os impactos de suas atividades no meio ambiente, considerando que os
problemas ambientais são originados devido ao uso do meio ambiente para obtenção de recursos
necessários para produção de bens ou serviços (ELKINGTON, 2011).
Por fim, de acordo com Jara (2008), na dimensão econômica o desenvolvimento é sustentável
quando a quando a qualidade de vida for um item de maior preocupação do que a quantidade de
produção. Por outro lado, Bellen (2005) afirma que a crise surge quando a economia cresce de maneira a
ultrapassar os limites do meio ambiente, ou seja, a sustentabilidade econômica inclui o capital natural, a
distribuição e destinação dos recursos naturais.

5. CONCLUSÕES
Este estudo teve como objetivo discutir sobre a evolução e desempenho das empresas nos
últimos anos na área socioambiental.
O estudo discutiu teoricamente diversos aspectos relacionado a sustentabilidade e sua
importância para as organizações e para a sociedade. Ele evidencia a necessidade de pensar diferente,
olhando com “olhos sustentáveis” as ações tomadas pela organização e mensurando o seu impacto no
meio ambiente e nas comunidades.
Em relação às metodologias de mensuração da sustentabilidade, é possível dizer que a maior
parte das ferramentas é baseada nas diretrizes do GRI. Sendo este uma guia do desempenho da empresa
em relação ao triple bottom line. Portanto, cria-se uma oportunidade para organizações e grupos de
discussão ampliarem o olhar sobre o tema e, consequentemente, aperfeiçoarem o conhecimento e a coleta
de dados.
Com base nos relatórios de sustentabilidade publicados pela Tetra Pak, foi comparado o relatório
no âmbito global com o relatório no contexto local, considerando apenas os resultados do Brasil. No total
foi identificados quarenta elementos presentes nos relatórios, sendo vinte e sete extraídos da cartilha GRI
e treze elaborados pela própria empresa. Além disso, foi apontado doze fatores apresentados pela cartilha
GRI porém não constam no relatório elaborado pela organização.
Com relação a dimensão social, são averiguados os impactos da organização na sociedade e suas
ações para minimizar questões como a desigualdade social, diversidade e segurança. Nesta dimensão a
Tetra Pak Global e a Tetra Pak Brasil exploram fatores diferentes, o Brasil se destaca por ser o
responsável de dez dos treze elementos levantados. É notado a iniciativa brasileira em relação às
reciclagem, considerando tanto a parte educativa quanto o suporte às cooperativas de reciclagem. Em
contrapartida, a Tetra Pak Global demonstra uma preocupação com a proteção e bem-estar de seus
funcionários e os impactos de seus produtos na saúde e segurança ao redor do globo.
É possível notar um grande esforço na dimensão ambiental, onde são apurados elementos
relacionados ao impacto que a atividade empresarial gera em recursos como a água, geração de resíduos,
energia e emissão de carbono. No total foram encontrados vinte e cinco fatores ambientais, sendo nove
compartilhados tanto pela Tetra Pak Global quanto pela Tetra Pak Brasil. Ao tratar apenas localmente, 6
elementos foram identificados, destacando a iniciativa de analisar os impactos em relação a proveniência,
descarte e reciclagem da água utilizada. Por outro lado, a Tetra Pak Global apresenta nove fatores
ambientais, demonstrando uma grande preocupação com os gases de efeito estufa, o impacto da cadeia de
valor em garantir que os alimentos estejam disponíveis em todos os lugares e a pegada CO2 nas
embalagens da empresa.
Fica como sugestão a inclusão de elementos da cartilha GRI que monitoram a utilização da água,
como a mensuração do consumo e descarga de água durante todo o processo produtivo. Além disso, é
importante analisar os impactos das atividades, produtos e serviços prestado pela Tetra Pak na
biodiversidade para então mitigar qualquer agressão direta e indiretamente que esteja ocorrendo.

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Por fim, a Tetra Pak não apresenta qualquer fator relacionado à dimensão econômica, nem
globalmente como localmente. Portanto fica como recomendação a inclusão de elementos que
possibilitem a análise dessa dimensão como apresentar os investimentos em infraestrutura e serviços
prestados, os impactos econômicos da companhia na sociedade e um índice que indica os riscos
relacionados a corrupção.
Sendo assim, pode-se dizer que, considerando as três dimensões econômicas, a Tetra Pak é uma
empresa engajada nas questões de sustentabilidade. Tanto no Brasil quanto globalmente a organização,
proativamente, aposta em ações de grande impacto no meio ambiente e nas comunidades locais.

6. REFERÊNCIAS

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Disponível em: <http://www.convibra.com.br/2006/artigos/ 61_pdf.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2018.

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da relação existente entre a sociedade e o meio ambiente. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v.
36, n. 3, Set./Dez. 2010.

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Disponivel em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/53418641.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2019.

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SAUVÉ, S. Et al. Environmental sciences, sustainable development and circular economy.


Environmental Development. v. 17, p. 48-56, 2016.

TENÓRIO, F. Responsabilidade Social Corporativa Empresarial: Teoria e Prática. Rio de Janeiro:


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TETRA PAK. Sustainability Report 2018. 2018. Disponível em <https://assets.tetrapak.com/static/


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Future. 1987. Disponível em: <http://www.4shared.com/office/ Nw4krSu_/Nosso_futuro_comum.html>.
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<https://www.wwf.org.br/ natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/>.
Acesso em: 10 mar. 2019.

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CAPÍTULO 14
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade nas organizações

SUSTENTABILIDADE, ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS


ORGANIZAÇÕES: UMA REFLEXÃO TEÓRICA

Lívia Ferreira Neves1, Samuel Carvalho De Benedicto2

1. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: liviafneves@hotmail.com.br


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Este ensaio teórico trata da relação entre sustentabilidade, ética e responsabilidade social no contexto
empresarial. A sustentabilidade se tornou presente na história humana desde o momento em que houve a
consciência de que os recursos naturais são finitos e que a exploração do homem era tão intensa que não
respeitava a sua regeneração, resultando nos primeiros estudos sobre manejo florestal. Destas primeiras
reflexões, o conceito teve evoluções e hoje é apresentado através da palavra sustentabilidade, sendo a sua
importância ressaltada em eventos internacionais, que aproximaram dados científicos sobre crises
ambientais com a comunidade em todas as suas esferas. Já as empresas são elementos fundamentais da
comunidade, provedoras de empregos, impostos e impactos sociais e ambientais. Pela importância
econômica que possuem, maior até que de alguns países, têm sido cobradas pelos diferentes stakeholders
quanto ao seu comprometimento com a sustentabilidade, o que engloba também ações relacionadas ao
comprometimento social, tendo a ética como princípio. Esta cobrança demanda que as empresas se
posicionem e alinhem seu propósito econômico com o engajamento social. Caso contrário, correm sérios
riscos de não se manterem ativas no mercado. Esta relação exige atenção para que não haja inversão de
valores quanto a real obrigatoriedade de garantir o bem-comum.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Ética Corporativa, Responsabilidade Social Corporativa.

1. INTRODUÇÃO
O conceito de sustentabilidade acompanha a humanidade por séculos (BOFF, 2016; VEIGA,
2015), mas apenas a partir de reuniões mundiais entre especialistas e a divulgação de indicadores
alarmantes, a sociedade começou a ter mais atenção as consequências de suas ações e a repensar suas
atividades. Para todos os eventos internacionais realizados, o saldo positivo foi o crescimento da
consciência na sociedade e nas lideranças sobre a questão ambiental (BOFF, 2016).
As discussões científicas que surgiram pela definição da sustentabilidade, abriram oportunidades
para uma reflexão entre gerações, onde há a iniciativa da geração atual pensar nas consequências que suas
ações estão causando para as gerações futuras. Segundo Veiga (2015, p. 40) a “sustentabilidade é o único
valor a dar atenção às futuras gerações. Isto é, a evocar a responsabilidade contemporânea pelas
oportunidades, leque de escolhas, e direitos, que nossos trinetos e seus descendentes terão alguma chance
de usufruir”.
O mundo corporativo está incluído neste contexto e começou a ser cobrado pela sociedade, tendo
assim que repensar seu modo de produzir, considerando seus impactos ambientais, sociais e econômicos
(GONÇALVES-DIAS et al., 2007). Ainda mais pelo poder econômico que algumas empresas detêm,
possuindo uma receita e valor na Bolsa de Valores maior que o PIB de muitos países (GALINDO, 2017).
É neste momento que surge a responsabilidade social nas empresas, assim como a ética empresarial.
Voltada para qualquer tipo de empresa, a Responsabilidade Social Corporativa é responsável por
aproximar as empresas com o público com o qual se relaciona (AZIM, 2016).
Porém, Schroeder e Schroeder (2004) defendem a necessidade de delimitar as ações de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Não há dúvidas quanto a importância da RSC para a
sociedade, mas há o receio, pelos os autores, da sociedade legitimar as empresas como ordenadoras e

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provedoras principais do bem-comum, podendo haver a inversão do desenvolvimento social de


responsabilidade do Estado, substituindo-o pelos objetivos empresariais.

2. SUSTENTABILIDADE E AS EMPRESAS
Ao analisar o desenvolvimento da humanidade, é possível afirmar que a sustentabilidade a
acompanha por décadas. Até a década de 1970, o conceito que de fato existia era o de “Máximo
Rendimento Sustentável”, por conta da intensa exploração das florestas. A escassez de madeira no século
XVII, criou sérias dificuldades para as nações europeias que mais se desenvolviam, e fez brotar o
princípio do manejo florestal, onde a reprodução das árvores deveria ser igualado ao consumo (VEIGA,
2015).
Esse manejo florestal teve início em 1560 na Província da Saxônia, Alemanha, quando há o
registro das primeiras preocupações pelo uso racional das florestas, considerando o tempo necessário para
se regenerarem e se mantivessem permanentes. Segundo Boff (2016), assim surgiu o manejo florestal,
feito há mais de 400 anos, e que deu origem a palavra Nachhaltigkeit, que em alemão significa
“sustentabilidade”.
Segundo Veiga (2015), em 1713, na Saxônia Alemã, a publicação do manual Sylvicultura
Oeconomica ou Silvicultura Econômica, pelo Capitão Hans Carl Von Carlowitz, propõe diretamente o
uso sustentável da madeira, já que naquela época as florestas estavam sendo removidas intensamente para
produção do carvão vegetal. Boff (2016, p. 33) afirma ainda que o discurso ecológico do Capitão é tão
claro que é basicamente o mesmo apresentado nos dias de hoje: “corte somente aquele tanto de lenha que
a floresta pode suportar e que permite a continuidade de seu crescimento”.
Segundo Veiga (2015), aos poucos a ideia de uso razoável ou responsável foi evoluindo para a
de “rendimento sustentável”, expandindo para outras áreas, principalmente para as de exploração de
recursos renováveis, como a engenharia de pesca. Com este histórico, este autor não se surpreende que
nos anos 1970 o adjetivo “sustentável” tenha sido selecionado para qualificar o que poderia ser o objetivo
para as sociedades humanas, e que nos anos 1980 a mesma escolha tenha ocorrido para qualificar seu
ideal de desenvolvimento.
Este histórico evidencia a preocupação ambiental atrelada ao uso dos recursos naturais pelo
homem e as tentativas de atuar diretamente sobre problemas ambientais. Em escala internacional, as
ações datam apenas do final do século XX, sendo a Conferência de Estocolmo a mais importante
(GONÇALVES-DIAS et al., 2007). Esta Conferência, também conhecida como a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, ocorreu em 1972, teve como foco os problemas de poluição e
chuva ácida do norte da Europa e tornou a questão ambiental uma preocupação verdadeiramente global.
Com a participação de cerca de 113 países e 250 Organizações Não Governamentais, é reconhecida como
um marco nas tentativas de melhorar as relações do homem com o meio ambiente e por ter inaugurado a
busca no equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental (MMA, 2019).
Neste mesmo ano, Boff (2016) destaca a divulgação do primeiro relatório que menciona “os
limites do crescimento” no Clube de Roma. Este relatório gerou discussões em diferentes elementos da
sociedade, como meios científicos, empresas e comunidade, e previa consequências terríveis caso o
crescimento não fosse retardado. Os países do Norte criticaram o relatório por não incluir soluções
tecnológicas e os países do sul ficaram enfurecidos pela defesa do abandono do desenvolvimento
econômico.
Outro relatório com grandes repercussões foi publicado em 1987, pela Primeira-ministra
norueguesa Gro Harlem Brundland, ao título “Nosso Futuro Comum”, ou Relatório de Brundland. Nele é
apresentado pela primeira vez a expressão “desenvolvimento sustentável”, definido como “aquele que
atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
atenderem as suas aspirações” (BOFF, 2016, p. 34). Esta definição clássica é a que se impôs em quase
toda literatura sobre o tema, a responsável por popularizar o termo “desenvolvimento sustentável” e
disseminar a preocupação ambiental nas mais diferentes esferas da sociedade. Após a divulgação desse
relatório, a ONU1 convocou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD), que foi realizada no Rio de Janeiro em 1992, mais conhecida como Rio 92 (GONÇALVES-
DIAS et al., 2007).
A Rio 92, ou Cúpula da Terra, se destaca pela criação da Carta da Terra, da Agenda 21, de 03
convenções (sobre a proteção da biodiversidade, redução da desertificação e mudanças climáticas) e de 02

1 Organização das Nações Unidas (ONU) é uma organização internacional formada por países que se reuniram
voluntariamente para trabalhar pela paz e desenvolvimento mundiais (ONU, 2019a).

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declarações (de princípios sobre florestas e do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Todos os
eventos descritos nortearam vários outros que são de extrema importância. A Carta da Terra, Agenda 21 e
o Acordo de Paris são exemplos dessa relevância (IISD, 2012; UNCC, 2019; MMA 2019). Também são
considerados relevantes o Pacto Global da ONU e Agenda 2030 (ONU, 2019a; PACTO GLOBAL,
2019a).
Para todos os eventos internacionais realizados, o saldo positivo foi o crescimento da consciência
na sociedade e nas lideranças sobre a questão ambiental (BOFF, 2016). A expressão “desenvolvimento
sustentável” se tornou conhecida, não restringindo-se apenas ao meio científico ou as lideranças
mundiais, mas para a sociedade engajada como um todo, e começou a ser citada em todos os documentos
oficiais dos governos, nos projetos de empresas, no discurso ambientalista convencional e nos meios de
comunicação. O desenvolvimento sustentável passa a ser proposto como um ideal a ser atingido ou uma
qualificação de processo de produção ou produto (BOFF, 2016).
Diante deste cenário, houve uma grande evolução e aumento na pressão por novas práticas de
disponibilização de bens e serviços, contemplando menos impactos ambientais e sociais e, de uma
maneira geral, as empresas passaram a se declarar mais preocupadas com as vontades e aspirações de seus
públicos. Neste mesmo momento, crescem também as legislações ambientais e o número de
consumidores mais atentos as características socioambientais de produtos e serviços que consomem
(GONÇALVES-DIAS et al., 2007).
Por mais que todo esse cenário tenha sido de engajamento e ação por diferentes partes da
sociedade, alguns autores consideram a definição padrão de sustentabilidade muito imprecisa, permitindo
a interpretação de diferentes grupos da sociedade conforme seus interesses, mesmo que o senso comum
possa ser a proteção dos ecossistemas (aos quais os seres humanos são dependentes). (GONÇALVES-
DIAS et al., 2007).
Um ponto de grande discussão entre os cientistas, ressaltado por diversos autores, é quanto ao
uso das palavras “desenvolvimento” e “sustentável” juntas. Segundo Sachs (1993), quando se considera o
“ideal de sustentabilidade”, o “desenvolvimento” não deve ser confundido com “crescimento
econômico”. Este pode ser constituído apenas uma condição necessária, porém não suficiente. Já
Abramovay (2012) reforça que, enquanto o senso comum considerar que as empresas se legitimam por
seus lucros, os governos pelas taxas de expansão do PIB e os indivíduos por um poder de compra sempre
maior, o objetivo central da vida econômica só pode ser mesmo o crescimento.
Inspirado por Amartya Sen, Veiga (2015) segue uma linha diferente de Abramovay (2012) e
considera que o desenvolvimento consiste na eliminação de tudo que limita as escolhas e as
oportunidades das pessoas, mas que, obviamente, o crescimento econômico pode ser muito importante
como um meio de expandir as liberdades desfrutadas pelos membros de uma sociedade. Ressalta ainda
que as liberdades também dependem de muitos outros recursos, como os serviços de educação e saúde, e,
sobretudo, dos direitos civis. Para este autor nunca será demais repetir: “desenvolvimento tem a ver,
primeiro e acima de tudo, com a possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolherem, e
com a provisão dos instrumentos e das oportunidades para fazerem suas escolhas” (p. 82). Veiga (2015)
considera esta definição como a mais política das questões socioeconômicas, por abranger desde a
proteção dos direitos humanos ao aprofundamento da democracia, passando pelo acesso à educação de
qualidade e toda a inovação necessária para serem realidade.
No ambiente corporativo, o Triple Bottom Line é utilizado com frequência tendo o objetivo de
tratar o desenvolvimento sustentável de forma prática. Em 1994, John Elkington procurou salientar a
necessidade de uma gestão voltada para os três vetores que em inglês começam pela letra “P”: pessoas,
planeta e lucro (“profit”). O clássico da pedagogia empresarial intitulado “Canibais com garfo e faca”,
define que “para ser sustentável o desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e
ambientalmente correto” e este tem sido o modelo padrão de desenvolvimento sustentável pensado e
buscado pelas empresas, aparecendo em discursos importantes. Para Veiga (2015), essa foi uma ótima
tirada para as atividades empresariais, pois ajudou bastante quem há muito estava querendo emplacar a
ideia de que o chamado “meio ambiente” pesa no máximo um terço na balança do desenvolvimento
sustentável.
Veiga (2015) ainda considera que o problema da definição citada é grave, pois o
desenvolvimento não é um fenômeno sequer parecido com a gestão das empresas. Por si só, ele já tem
várias outras dimensões além da econômica e da social, como a justiça e a paz, que pertencem a outras
duas dimensões: a política e a da segurança. Boff (2016) também não considera a definição de forma
positiva, entendendo que na verdade é uma armadilha, pois assume os termos da ecologia
(sustentabilidade) e o esvazia quando assume o ideal de economia (crescimentos/ desenvolvimento).

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Por mais ressalvas que existam, este é o modelo básico e ativo nas empresas. Para Gonçalves-
Dias et al., (2007) cada dimensão deveria possuir igualdade de importância neste tripé da
sustentabilidade, podendo ter a figura de um triângulo isósceles ou de um hexágono regular como ideal.
Porém, como as empresas tradicionais e o modelo atual de economia visam primeiro o lucro, a dimensão
econômica sempre tem peso maior, ou seja, quando o econômico está bem, a empresa tem “liberdade”
para operar as outras duas dimensões. Se o econômico vai mal, tudo é abandonado para dar foco a este
pilar. Em concordância, Auden Schendler, executivo ambientalista, citado no Livro “Muito Além da
Economia Verde”, de Ricardo Abramovay (2012), alerta: “A ideia de que posturas ecológicas são
divertidas, fáceis e baratas é perigosa. Ser verde implica trabalho duro. A coisa toda é complexa. Nem
sempre lucrativa. E as companhias precisam inaugurar o placar e passar efetivamente a fazer algo” (p.
132). É extremamente importante que esse paradigma sobre a sustentabilidade seja quebrado e que
montar estratégias para estas áreas não esteja mais em segundo plano.
Independente do modelo e modo de operar escolhido, como resultado do movimento em torno do
desenvolvimento sustentável, as empresas, pelo menos as com maior potencial de degradação ambiental
(GONÇALVES-DIAS et al., 2007), passaram a se declarar mais preocupadas com suas responsabilidade
e impactos para os seus investidores. Seguindo este movimento, ao longo dos anos, a legislação ambiental
cresceu em quantidade, severidade e complexidade, ao mesmo tempo em que surgiram grupos de
consumidores cada vez mais dispostos a considerar características ambientais de produtos e serviços em
suas escolhas e investidores começaram a se preocupar com os passivos ambientais. Gonçalves-Dias et al.
(2007) afirmam que, segundo Barbieri (2004), a rapidez com que muitas empresas criaram departamentos
e diretorias para lidar com questões ambientais foram, principalmente, para responder às demandas dessas
partes interessadas.
Diante deste novo cenário, empresários de todo o mundo passaram a se organizar em associações
e fóruns, com o objetivo de se alinhar, aprofundar e disseminar a busca de soluções para os problemas
ambientais (GONÇALVES-DIAS et al., 2007). No Brasil esses autores destacam o Instituto ETHOS e o
CEBDS. O Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998, é uma organização
cuja missão é “mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente
responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável” (ETHOS, 2019).
O Instituto registra , de forma voluntária, mais de mil empresas como associadas e, longe de ser um
mecanismo de defesa dos interesses imediatos de seus associados, o ETHOS se destaca pelo esforço de
coordenar diferentes segmentos da sociedade civil com o setor privado na busca de formas de atuação
empresarial capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável (ABRAMOVAY, 2012).
O CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), fundado em
1997, se define como “uma associação civil sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento
sustentável por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil, além de divulgar os conceitos
e práticas mais atuais do tema” (CEBDS, 2019). Registra a reunião de cerca de 60 dos maiores grupos
empresariais do país, com faturamento por volta de 40% do PIB brasileiro e é representante no Brasil da
rede do World Business Concil for Sustainable Developement (WBCSD) (CEBDS, 2019).
Mesmo com este cenário de comprometimento e alinhamento quanto ao desenvolvimento
sustentável, muitas empresas (ainda) começam a trabalhar o assunto sustentabilidade por motivos não
muito claros e acabam se perdendo e atingindo variadas e complexas magnitudes, ficando muitas vezes
distantes do real propósito em questão (GONÇALVES-DIAS et al., 2007). Para Gonçalves-Dias et al.
(2007) isso ocorre pelo fato de que o adjetivo “sustentável”, na interpretação de uma empresa, apresenta
muitos desafios conceituais e operacionais. Pode-se atribuir ao verbo “sustentar” apenas o significado de
manter a sua capacidade de sobrevivência, continuar atuando no seu ramo de negócio, ou conseguir
continuamente os recursos necessários para permanecer existindo. É preciso definir qual objeto deve ser
sustentável, para completar o sentido da expressão empresa sustentável, e considerar a afirmação de Boff
(2016), onde nenhuma empresa (ou pessoa) deve se iludir ao ponto de acreditar em um impacto ambiental
zero.
Outro ponto de destaque, apresentado por Porter e Kramer (2011) é a criação de valor pelas
empresas, de forma consistente, sem questionarem se os impactos do uso de seu serviço ou produto (por
mais que utilizem métodos melhores que de outros tempos) provoca resultados de caráter social
negativos. Como já mencionado, tanto as legislações quanto as pressões sociais começaram a ter destaque
com a realização de eventos ambientais internacionais, principalmente os “eventos críticos”, com
divulgações relativamente impactantes para todas as sociedades (ABRAMOVAY, 2012). Uma mudança
recente que tem levado as empresas a repensarem suas estratégias, são ações de destaque realizadas por
entidades públicas ou privadas para valorizar as empresas que possuem compromissos com a
sustentabilidade. Exemplo de destaque brasileiro é o Guia EXAME de Sustentabilidade, o maior

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levantamento de práticas de responsabilidade corporativa do Brasil que analisa as três dimensões da


sustentabilidade — social, ambiental e econômica, e está em sua 18ª edição em 2017 (EXAME, 2017).
Outra forma de incentivo de aplicação em sustentabilidade nas empresas no Brasil é pelo ISE -
Índice de Sustentabilidade Empresarial, uma iniciativa pioneira na América Latina, que desde 2005 busca
criar um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável e
estimular a responsabilidade ética das corporações (BM&FBOVESPA, 2018). Ainda pode-se destacar o
Pacto Global da ONU, lançado em 2000. O Pacto Global é “uma chamada para as empresas alinharem
suas estratégias e operações a 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio
Ambiente e Anticorrupção e desenvolverem ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da
sociedade” (PACTO GLOBAL, 2019a). Esta iniciativa foi proposta em 1999, pelo Secretário Geral da
ONU na época, Kofi Annan, em seu discurso na terceira visita ao Fórum Econômico Mundial, realizado
em Davos, Suíça. A frase dita por ele se tornou mundialmente conhecida e até hoje é referência para o
Pacto Global, sendo esta: “Eu proponho que vocês, os líderes empresariais reunidos em Davos, e nós, as
Nações Unidas, iniciem um pacto global de valores e princípios, que dará uma face humana ao mercado
global”2 (ONU, 1999).
Aderir ao Pacto é uma iniciativa voluntária com esforço principal para envolver empresas, mas
associações e federações, entidades da sociedade civil e governos, como cidades, estados, secretarias,
ministérios, entre outros também são aceitos. Em 2018, este Pacto é considerado a maior iniciativa de
sustentabilidade corporativa do mundo, possuindo mais de 13 mil membros em 160 países (PACTO
GLOBAL, 2019a). Quem integra o Pacto Global também assume a responsabilidade de contribuir para o
alcance da Agenda Global de Sustentabilidade, intitulada “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável”. Aprovada em 2015 pelos 193 países-membros das Nações Unidas,
esta Agenda é um plano de ação de 2015 a 2030 com 17 objetivos específicos e 169 metas associadas,
que se baseiam nos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os objetivos e metas visam
acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar para todos, proteger o meio ambiente e
enfrentar as mudanças climáticas (ONU, 2019b).
No Brasil, a Rede do Pacto Global tem conquistado cada vez mais espaço e relevância dentro do
setor empresarial brasileiro, assim como dentro da própria estrutura do Pacto Global. Em 2018, o Brasil é
a terceira maior rede do mundo, com quase 800 membros, sendo que em 2015, este número era 70%
menor (PACTO GLOBAL, 2019b).
Essas e outras iniciativas de incentivo à sustentabilidade levaram muitas empresas, ou conjuntos
delas (institutos, conselhos, fóruns), a comprometerem-se com a responsabilidade social, onde a produção
não deve apenas beneficiar os acionistas, mas toda a sociedade, especialmente aqueles socialmente mais
penalizados. E não só a sociedade, mas também os ecossistemas, surgindo então a responsabilidade
socioambiental, com programas e políticas que têm como objetivo diminuir a pressão que as atividades
produtiva e industrial fazem sobre o meio ambiente e as sociedades. Todos esses componentes têm
contribuído para a mudança, ao longo dos anos, nas estratégias das empresas quanto à postura em
sustentabilidade, para melhor (GONÇALVES-DIAS et al., 2007).
Outro ponto de destaque considerado por Gonçalves-Dias et al. (2007) é a busca das empresas
pela melhoria de sua reputação e a redução de riscos, principalmente de imagem. A diferenciação de
produtos, melhoria na eficiência produtiva (ecoeficiência) e a busca de segmentos de mercados
específicos, abertos como resultado de maiores preocupações ambientais dos consumidores, são
importantes para alguns setores. Sobre a reputação corporativa, Abramovay (2012) afirma ser constituída
por relações sociais duráveis, dotadas de conteúdo informativo, concepções, ideias e valores sobre o que
significa fazer negócio e quais os métodos corretos para se alcançar o sucesso. Ou seja, é constituída por
um conjunto de significados partilhados com base nos quais os atores se identificam como pertencentes a
certo campo social.
Para Gonçalves-Dias et al. (2007), na contramão desse grupo, há o aumento na parte estratégica
interna das empresas sobre as questões socioambientais. Com a crescente cobrança externa por iniciativas
em diversos meios que uma empresa se relaciona (fornecedores, investidores, clientes, mercados –
internos e externos e concorrências), houve a necessidades das empresas se estruturarem internamente
para evoluir no tema e continuarem atraentes e vivas no mercado (ou seriam engolidas pela concorrência).
Mesmo que ainda feito para se manter o objetivo principal da empresa, o lucro, não pode ser negado que
muitas áreas, como marketing, finanças, aquisição de recursos, eficiência operacional e desenvolvimento
de produtos, tiveram que se desenvolver em novas áreas para poder estar à altura das novas cobranças
quanto ao desenvolvimento sustentável. O objetivo é ganhar legitimidade e credibilidade naquilo que

2
Tradução livre. Versão original disponível em: https://www.un.org/press/en/1999/ 19990201.sgsm6881.html

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fazem, sendo bem mais do que apenas uma estratégia de marketing. Trata-se de localizar e medir como a
empresa e seu setor econômico usa recursos privados para submetê-los a avaliações socioambientais cada
vez mais exigentes, como por exemplo estar nas listas nacionais e internacionais das empresas mais
sustentáveis.
Sendo assim, as empresas estão se profissionalizando cada dia mais para lidar com as pressões
sociais que decorrem daquilo que fazem e dos mercados que fazem parte. O que também é fundamental,
para Abramovay (2012), é que as organizações da sociedade civil ampliem sua participação nesse campo,
para que essa interação tenha papel decisivo na emergência de uma nova economia. Para este mesmo
autor, a maior dificuldade na transição do crescimento como eixo central da economia para o objetivo de
ampliação da liberdade das pessoas e respeito aos limites dos ecossistemas, consiste em ter como essência
uma economia descentralizada, onde os atores principais (empresas e consumidores), possuem imenso
poder de decisão, e o conceito de responsabilidade social, tal como elaborado pelas empresas até aqui, é
insuficiente para enfrentar o tema. A criação de valor para a empresa deve visar, direta e imediatamente, a
criação de valor para a sociedade. Não é algo que ocorre à margem dos negócios, mas está em seu cerne.
O autor reforça que as empresas precisam entender que criar valor não é apenas ter lucro. A humanidade
não terá tempo, nem mesmo ecossistemas, para o perfil clássico de empresas (GONÇALVES-DIAS et al.,
2007).

3. RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)3:


Voltada para qualquer tipo de empresa, a Responsabilidade Social Corporativa é responsável por
aproximar as empresas com o público com o qual se relaciona, chamado de stakeholders4. Já na década de
1960, a teoria dos stakeholders, de Robert Freeman, afirmava que a existência e sucesso, assim como
funcionamento e sobrevivência das organizações, depende diretamente da sua habilidade de integrar as
expectativas dos stakeholders à sua estratégia de negócio (AZIM, 2016).
A ideia de responsabilidade social nasceu no final do século XIX e início do século XX, mas
popularizou-se a partir dos anos 1970 na Europa, particularmente na França, Alemanha e Inglaterra,
sendo os Estados Unidos o primogênito entre os países do continente americano. No Brasil, as primeiras
manifestações nesta temática aconteceram ainda no final da década de 1970 e início de 1980 (VIEIRA,
2007). Especialmente durante o século XX, sob a economia clássica divulgada por Milton Friedman,
aceitava-se que a única responsabilidade social da empresa era gerar lucros e riquezas para seus
acionistas, tendo como responsabilidade social o desempenho econômico. Ou seja, uma empresa que não
apresentasse lucro era socialmente irresponsável (FORMENTINI, 2011).
Guiadas por este conceito e por interesse próprio, as empresas de sucesso nos séculos XIX e XX
nasceram sob o paradigma do mercado, se firmando como o meio mais eficiente e eficaz para obtenção de
uma sociedade estável – “gero lucro, portanto, cumpro meu papel social”. Porém, com o foco apenas no
lucro, a real condição social fica em segundo plano, o que desconstrói a relação entre mercado, empresa e
melhoria das condições humanas (SCHROEDER; SCHROEDER, 2004).
Neste contexto, o Estado passa a atuar como grande fonte provedora do bem estar social, porém,
sendo de baixa qualidade por falta de recursos financeiros, não atendendo completamente as demandas da
sociedade. Este cenário gerou uma crise de confiança na capacidade do Estado, o que exigiu a busca de
novas alternativas (SCHROEDER; SCHROEDER, 2004). Esta mudança no papel do Estado chega no
Brasil a partir da década de 1990, com a substituição da lógica universalista e de garantia de direitos
(inscrita na carta constitucional nacional de 1988) por uma lógica de mercado pautada principalmente no
marketing empresarial e na flexibilidade dos processos de trabalho (MATHIS; MATHIS, 2012). Mathis e
Mathis (2012) ressaltam que esta mudança na responsabilidade do Estado, pelo bem estar de todos, estava
presente na proposta de reforma do Estado, na década de 1990, já que esta transfere a responsabilidade da
prestação de serviços sociais para os “setores públicos não estatais” – o terceiro setor.
Neste período, são estimuladas as parcerias entre o Estado, as organizações sociais e as
empresas, que reforçam a questão da ética em suas políticas internas, tendo como contrapartida, pela
realização de projetos de RSC, a isenção de encargos fiscais. Assim, o empresariado brasileiro muda sua
visão e a forma de atuação social, surge a RSC no Brasil e as empresas passam a ser grandes agentes de
mudança social, sendo responsáveis por suprir o Estado em sua incapacidade de atender com qualidade
algumas demandas da sociedade (MATHIS; MATHIS, 2012). Desde então, a Responsabilidade Social

3 Para este trabalho, Responsabilidade Empresarial Corporativa e Empresarial tem a mesma conotação.
4
De uma maneira simples, os stakeholders podem ser definidos como qualquer indivíduo, grupo ou
entidade que possa afetar ou ser afetado pela atividade de uma organização (AZIM, 2016).

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Empresarial tem sido a proposta para resolução de alguns problemas sociais (VASCONCELOS; FILHO,
2008).
As empresas aproveitam este novo contexto e questionam seu próprio posicionamento e sua
relevância social, o que abriu espaço e a necessidade para o fenômeno da Responsabilidade Social
Empresarial (BERTONCELLO; JÚNIOR, 2007). Assim, a RSC passa a ganhar destaque e a ser
amplamente debatida e propagada nas empresas, sendo encarada como uma estratégia de competitividade
(FORMENTINI, 2011). No Brasil, segundo Rico (2004), as ações de RSC eram heterogêneas, pontuais,
dependentes e tuteladas pelo Estado. As ações eram apenas prestação de um auxílio material ou
financeiro, destinado a atender uma problemática imediata, como a alimentação, saúde, habitação, dentre
outras. Esta prática, no fim, não promove o bem estar social, e sim cria uma relação de dominação e
dependência estabelecida entre quem detém o poder de realizar a ação dos serviços sociais e os usuários
(RICO, 2004). Segundo Araujo e Russo (2008), somente a partir deste século é que as grandes empresas
começaram a praticar a responsabilidade social de uma forma mais abrangente no Brasil, mas Rico (2004)
afirma que as ações sociais empresariais, com a expectativa de participação no desenvolvimento social do
país, já ocorriam na década de 1980.
De acordo com Mathis e Mathis (2012), para a Comunidade Europeia, a RSC assume pelo
menos três perspectivas: 1) perspectivas da responsabilidade social dos negócios; 2) perspectivas da
sociedade e do estado; e 3) perspectivas dos stakeholders. Já os impactos dos efeitos da RSC expressam-
se nas seguintes áreas: gestão de negócios, códigos de conduta, sistema de gestão, engajamento dos
stakeholders nas atividades realizadas pela empresa, ações de cidadania, estímulo à formação de
voluntariado dentro e fora das empresas e programas e projetos sociais, como também, responsabilidade
com investimentos e responsabilidade com consumo. As ações são focadas, predominantemente, na
dimensão social e ambiental e abordam os aspectos de igualdade de gênero e combate ao suborno por
parte da empresa. A incorporação das práticas da RSC nas empresas europeias, podem ser realizadas de
forma voluntária, em troca de isenção fiscal e outras contrapartidas oferecidas pelo estado, de forma
impositiva, orientadas por leis, documentos, requerimentos e recomendações internacionais, e por ambas
as formas.
Por mais que o assunto seja estudado por décadas, nesse começo do século XXI ainda não há um
consenso quanto a definição de responsabilidade social, principalmente por não haver padrões precisos
que determinem quando uma empresa está agindo de forma socialmente responsável. Sem essa definição,
uma ação mínima pode ser considerada um sucesso quanto a sua responsabilidade social
(VASCONCELOS; FILHO, 2008; JESUS et al., 2017). Há boas intenções no conceito de empresa
socialmente responsável, mas alguns líderes empresariais acabam abusando do conceito para produzir
benefícios por interesses próprios (MUHAMMAD YUNUS, 2008).
Sobre esta relação social, Rico (2004) ressalta que, atualmente, as organizações empresariais
tendem a investir, preferencialmente, em atividades sociais relacionadas com os bens e serviços que
produzem ou comercializam. Já Laruccia e Cataldo (2006) destacam que na verdade existem temáticas
sociais excluídas pela RSC, uma vez que no Brasil, a maioria das empresas evita projetos sociais
polêmicos, como o tema da prostituição infantil ou outros que não complementem a marca da empresa
(LARUCCIA; CATALDO, 2006). Ou seja, para esses autores, as empresas tendem a investir na parte
social, mas dentro da sua zona de conforto.
Porém, de uma maneira geral, Mathis e Mathis (2012) afirmam que no plano internacional,
quanto aos direitos humanos, as empresas devem ter um papel pró-ativo na sua implementação e
cumprimento, sem ser atribuída a mesma responsabilidade legal dos Estados, pois estes sim tem a
obrigação de garanti-los, uma vez que os direitos humanos devem ser tratados como direitos universais
(MATHIS; MATHIS, 2012).
Jesus et al. (2017) afirmam ainda que a empresa, atualmente, é considerada um centro de
responsabilidade social, seja para seu público interno ou externo, já que possui como entidade, a moral, e
age de acordo com os interesses de seus stakeholders, trazendo a ética como uma dimensão cada vez mais
importante. Vasconcelos e Filho (2008) afirmam que além de cumprir suas responsabilidades econômicas
e legais, as empresas precisam ter responsabilidades éticas e sociais, uma vez que os stakeholders estão
de olho na ética da empresa.

4. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES


As empresas estão estabelecidas como entidades necessárias para o desenvolvimento da
comunidade. Sua atuação objetiva o lucro aos acionistas, geração de emprego e renda, assim como
impostos, mas também atuar com responsabilidade perante a comunidade onde está estabelecida.
Algumas empresas possuem poder econômico indiscutivelmente expressivo, pois “sua receita e seu valor

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na Bolsa superam o PIB de dezenas de países”. Com esta importância econômica, pensar que o setor
privado não possui influência nas decisões políticas, na elaboração de leis e no dia a dia dos cidadãos
seria meramente um ato de ingenuidade (GALINDO, 2017).
A Responsabilidade Social Empresarial (RSC), segundo Rico (2004), está associada a dois
fatores, que caminham lado a lado, e definem a essência da sua prática: a ética e a transparência na gestão
de negócio. Este autor relata que “o ser ético nos negócios”, supõe que as decisões de interesse de
determinada empresa respeitem os direitos, os valores e os interesses de todos os indivíduos que, de
alguma forma, são por ela afetados (RICO, 2004). Já “o ser transparente”, é atender às expectativas
sociais, mantendo a coerência entre o discurso e a prática e não sonegar informações importantes sobre
seus produtos e serviços.
Ainda sobre a ética, Jesus et al. (2017, p.7) a define como “um exercício de liberdade impossível
de ser imposto e que, na empresa, corresponde ao somatório da ética de todos os colaboradores”. Ometto
et al. (2015) ressalta que a ética é um valor humano e, tanto as empresas quanto os stakeholders, são
compostos por indivíduos, ou seja, as empresas e os públicos com os quais se relacionam são compostos
por pessoas, e, se a ética for praticada por seus contratados (funcionários/colaboradores), suas atitudes
podem corrigir decisões e condutas inadequadas da empresa. Fica assim evidente que, para esses autores,
se a empresa não corresponder as necessidades e expectativas de suas partes interessadas, dependendo do
perfil da sociedade em que esta empresa está inserida, ela pode ser questionada e contrariada (JESUS et
al., 2017), correndo o risco de fracassar (VIEIRA, 2007) e até mesmo de ter que encerrar suas operações
(VASCONCELOS; FILHO, 2008). Sendo assim, as ações individuais importam, pois uma empresa é
liderada e composta por pessoas.
Porém, segundo Galbraith (2004), existem várias fraudes inocentes quanto as empresas, suas
lideranças e a ética. Para este autor, uma das fraudes inocentes considera a ética das empresas e a relação
com seus consumidores, uma vez que a afirmação “quem faz o mercado é o consumidor” é uma fraude.
Para este autor, uma das formas de fraudes mais difundidas é acreditar em uma economia de mercado
onde o consumidor é soberano, além da ilusão de realizar uma venda sem administrar e controlar o
consumidor. O autor afirma que não há uma empresa que lance um produto ou serviço novo no mercado
sem antes ter estimulado a necessidade de consumo. A exceção seria para os casos de influência e
manutenção da demanda por um produto já existente. Nesta ótica, a soberania do consumidor e do
mercado são descartadas, sendo manipuladas pelo universo da publicidade e meios de comunicação, cada
vez mais variados e eficientes da sociedade da informação. Assim, considerar que o poder máximo, na
economia de mercado, ainda está nas mãos de quem compra ou decide não comprar algo, que o
consumidor ainda detém o poder mais alto, é uma dose significativa de fraude, sendo que a escolha do
consumidor traça apenas a curva da demanda (GALBRAITH, 2004).
A ilusão da administração empresarial, ainda segundo Galbraith (2004), é a mais sofisticada e
mais evidente forma de fraude. Por mais que haja a impressão de autoridade aos donos das empresas, ela
não existe de fato – uma fraude, dita pelo autor, como aceita. O poder, na grande empresa moderna, na
realidade está nas mãos dos executivos. Para Galbraith (2004), o conselho de administração das empresas
não passa de uma entidade adorável, que se reúne com indulgência e respeito fraternal, mas que é
inteiramente subordinada ao poder real dos administradores. Ou seja, todas as decisões já estão
arquitetadas pelos reais donos do negócio e as reuniões de tomadas de decisão são mera formalidade,
assim como a falsa opção de escolha do consumidor. Neste cenário, as pessoas que realmente detém o
poder e sabem as decisões que serão tomadas (principalmente no contexto americano) são os
administradores (GALBRAITH, 2004).
Em meio a estes questionamentos e apontamento de falsa moral (fraude) de algumas empresas,
fica claro a importância da RSC, assim como do senso ético e crítico dos stakeholders e a necessidade da
transparência das empresas nas suas atuações em relação a RSC. O comportamento ético e a
responsabilidade social das organizações estão entre as tendências mais importantes que influenciam as
ações da administração no início do terceiro milênio. Por mais que o debate sobre a ética e a
responsabilidade social seja antigo, este tem se acentuado por problemas como corrupção, proteção dos
consumidores, desemprego, poluição, entre muitos outros que envolvem as organizações públicas ou
privadas e comportamentos sociais das lideranças empresariais (LARUCCIA; CATALDO, 2006).
Assim, pela importância do tema na sociedade e a necessidade das empresas se posicionarem,
segundo Baraibar-Diez e Sororrío (2018), as empresas têm aumentado significativamente os gastos com
questões sociais e com o compartilhamento dessas informações. Esta prática (de investir e comunicar)
traz confiança ao público com quem as empresas interagem, mostra a importância destas ações e da
comunicação, mas aponta também a necessidade de maiores estudos (BARAIBAR-DIEZ; SOTORRÍO,
2018).

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5. RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES


A empresa socialmente responsável, segundo Ricco (2004), conseguiu uma grande vantagem
competitiva em relação às demais, uma vez que se propõem a assimilar a corresponsabilidade no
enfrentamento da desigualdade e da exclusão social. Atualmente o investimento social privado se faz
necessário devido aos inúmeros e variados problemas que as sociedades enfrentam. Rico (2004) ressalta
que este investimento é fruto, também, da relação ética da empresa com seus stakeholders e com o meio
ambiente, todos esses impactados direta ou indiretamente pela ineficiência do Estado (RICO, 2004). A
grande tendência é que as empresas contribuam com as políticas públicas, mas não para sufocá-las ou
substituí-las, mas para desenvolvê-las (GVCES, 2018).
Os projetos de RSC têm se tornado cada vez mais variados e complexos, promovendo até mesmo
uma transformação no modo das empresas conduzirem seus negócios, pela variedade de problemas
estruturais no Brasil, como: fome, violência, doenças, carência de educação formal, entre outros.
Programas de assistência médica, educação e transporte para os funcionários, serviço ao público e à
comunidade, proteção ambiental, defesa do consumidor, desenvolvimento e renovação urbana, cultura,
arte e recreação, podem ser citados como exemplos de ações que as empresas absorvem, mas que
deveriam ser garantidos pelo Estado (SCHROEDER; SCHROEDER, 2004).
Segundo Schroeder e Schroeder (2004), como as empresas são grandes centros de poder
econômico e político, e interferem diretamente na dinâmica social, ao assumir causas sociais as empresas
estariam devolvendo à sociedade parte dos recursos humanos, naturais, financeiros que consomem para
desenvolver suas atividades. Os autores afirmam que, para muitos atores sociais, esta situação legitima a
responsabilidade social corporativa. Já para outros, o avanço do poder das empresas na sociedade vai
muito além de suas responsabilidades tradicionais, de fornecedora de bens e serviços para a
responsabilidade do bem-estar social, afirmando-se como propagadora e garantidora do bem-comum.
Assim, a RSC já é uma estratégia importante para as empresas que buscam um retorno
institucional a partir das suas práticas sociais. Ela envolve a preocupação da empresa com toda a
sociedade e não somente com o consumidor – foco do marketing. Segundo Berkowitz et al. (2003), a
responsabilidade social liga-se à ideia de que as organizações fazem parte de uma sociedade maior e que,
portanto, devem prestar contas de seus atos. Como respaldo para as empresas comprometidas com suas
ações sociais, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, foi criado na década de 1990
com a missão de mobilizar, sensibilizar e auxiliar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente
responsável (MATHIS; MATHIS, 2012). Rico (2004) destaca, também, a importância do Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas – GIFE, por ser a primeira associação de empresários fundada no
Brasil, sendo igualmente a primeira da América do Sul, fundada em 1995, que reúne organizações de
origem privada que financiam ou executam projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público
(GIFE, 2019). Outro elemento importante é o CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável. Fundado em 1997, é “uma associação civil sem fins lucrativos que
promove o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto aos governos e a sociedade civil,
além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais do tema” (CEBDS, 2019). Reúne cerca de 60 dos
maiores grupos empresariais do país, com faturamento por volta de 40% do PIB brasileiro, e é
representante no Brasil da rede do World Business Concil for Sustainable Developement (WBCSD)
(CEBDS, 2019).
Berkowitz et al. (2003), percebe que as organizações vêm tentando incorporar a responsabilidade
social em suas atividades de marketing, tendo em vista, principalmente, o impacto positivo que as ações
sociais têm sobre os negócios empresariais. Sen e Kliksberg (2007) reforçam esta afirmação por
considerarem que a RSC será a nova forma de fazer negócio. Os autores destacam que a sociedade civil
tem cobrado essa evolução por estar mais organizada, mais informada e participativa. Ou seja, cidadãos
ativos, mais acionistas engajados e consumidores responsáveis geram o aumento na mudança de
paradigma sobre a RSC (SEN; KLIKSBERG, 2007). Nesta nova abordagem, a área de marketing também
precisa voltar-se para a ética e a responsabilidade social, no sentido de promover uma mudança de
comportamento (BERKOWITZ et al., 2003). Vasconcelos e Filho (2008), reforçam que autores
contemporâneos já orientam os profissionais da área de marketing para aceitarem a obrigação de dar a
mesma importância dos lucros à satisfação do consumidor e ao bem-estar social na hora de avaliar o
desempenho de uma empresa.
Segundo Sen e Kliksberg (2007), apenas 4% dos empresários ainda afirmam que a RSC é perda
de tempo e dinheiro. Afirmam que, quanto maior a responsabilidade social de uma empresa, mais
competitiva ela se torna, com maior lealdade de seus consumidores, assim como atração de melhores
funcionários, maior produtividade e confiança. (SEN; KLIKSBERG, 2007). Portanto, o investimento na

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área social é uma questão estratégica, pois as empresas ao serem reconhecidas como socialmente
responsáveis tendem a conseguir diferenciais de competitividade e, uma vez tendo a imagem valorizada,
podem aumentar a motivação dos funcionários no trabalho e atrair um número maior de parceiros
dispostos a colaborar com a causa social (RICO, 2004). Ainda, com a governança bem construída, a
empresa possui sua imagem fortalecida, ficando sujeita a poucos riscos, e pode canalizar a busca pela
competitividade em outros fatores, como preço, qualidade, marca, serviços e tecnologia
(BERTONCELLO; JÚNIOR, 2007).
Além do cliente, outro stakeholder bem engajado na questão social é o funcionário das empresas.
Segundo Azim (2016), a RSC é um motivador emergente e cada vez mais importante no engajamento do
funcionário (AZIM, 2016). Em seu trabalho, o autor destaca que, atualmente, ser responsável pelas
necessidades da sociedade e realizar práticas comerciais éticas são expectativas padrões dos funcionários
perante as empresas. Afirma que os funcionários não estão apenas preocupados com seu pagamento, já
que também buscam um significado maior no trabalho que executam e, o envolvimento em atividades de
RSC pela empresa, acaba por oferecer tal vínculo para os funcionários (AZIM, 2016). Ou seja, quando os
funcionários observam que a empresa em que trabalham tem uma preocupação quanto ao bem-estar da
sociedade, na forma de RSC, que por fim se desenvolve em uma imagem positiva na sociedade, eles têm
um senso de satisfação e gostam de se identificar com a empresa, já que ela melhora a sua autoestima e
promove o sentimento de orgulho. E ainda, é provável que o relacionamento funcionário-empresa seja
mais forte se os funcionários descobrirem que a empresa em que trabalham está envolvida em atividades
de RSC com maior seriedade do que seus concorrentes (AZIM, 2016).
No entanto, existe uma falta de coerência entre o discurso (saber ético) e a prática (fazer ético)
nas empresas, já que nem sempre é possível alinhar as ideias às exigências dos negócios. Esse
descompasso, segundo Laruccia e Cataldo (2006), existe porque as empresas ainda estão com seus focos
apenas nos lucros. Os valores éticos podem ser até colocados em prática, desde que tragam retorno
financeiro, sendo os objetivos mais valorizados pelas organizações que buscam o fortalecimento dos
negócios, por meio da RSC, focados na área de recursos humanos. Valorizam, também, melhoria na
imagem, aumento da satisfação do cliente e vantagens competitivas (LARUCCIA; CATALDO, 2006).
Além deste descompasso, Rico (2004) cita outra preocupação quanto a RSC: como avaliar até que ponto
as práticas de responsabilidade social de uma empresa são percebidas pelo consumidor e reforçam a sua
marca, e como desenvolver um planejamento integrado no qual as ações sociais sejam incorporadas à
valorização da marca da empresa (RICO, 2004). Já para Bertoncello e Júnior (2007), as grandes dúvidas
são quanto a distinção das efetivas responsabilidades das empresas com a sociedade e qual o limite da
ação empresarial sobre estas.
Além dos desvios apresentados acima, os investimentos realizados em RSC atingem parcelas
estratégicas da população, selecionadas mediante critérios estabelecidos pelas próprias fundações,
institutos empresariais e organizações parceiras. Esses critérios para o ingresso em seus projetos não
privilegiam, necessariamente, a população que mais demande aquele serviço de saúde, de moradia ou
mesmo de alimentação, que a RSC oferece. Segundo Rico (2004), esta é uma questão contraditória, pois o
empresariado possui seus próprios interesses, como vantagem competitiva, visibilidade e divulgação de
imagem, o que coloca em cheque a filosofia e os princípios da responsabilidade social corporativa. Os
serviços sociais não deveriam, mas acabam sendo direcionados para uma parte da sociedade definida com
base em critérios diferentes daqueles da universalidade de direitos. A contradição acontece por haver uma
seleção prévia do público a ser atendido, mas os investimentos sociais revelam um compromisso público
do empresariado no enfrentamento das desigualdades, buscando colaborar com o desenvolvimento social
(RICO, 2004).
Diante desta realidade, Schroeder e Schroeder (2004) defendem a ideia de delimitar as ações de
responsabilidade social corporativa, de reavaliar a influência e as ações das empresas na sociedade. Não
há questionamento quanto a importância da RSC para a sociedade e nada tem a ver com os benefícios já
gerados, mas com o seu avanço. Ao deixar as empresas atuarem desta forma (em meio a descompassos e
contradições), pode haver a inversão do desenvolvimento pleno das potencialidades humanas,
substituindo-o pelos objetivos empresariais (SCHROEDER; SCHROEDER, 2004). As ações de RSC,
sem controle, também podem se tornar uma forma da empresa justificar determinadas situações ou
imposições, tanto aos seus funcionários, como à sociedade em geral. Além disso, a comunidade também
pode tornar-se bastante tolerante aos abusos cometidos por uma empresa que financia ações sociais e/ou
ambientais em sua região, como hospitais, eventos culturais, ecológicos e sociais de modo. Atitudes
empresariais antes ditas como inaceitáveis pela sociedade, podem começar a ser aceitas pelos benefícios
trazidos a ela. A grande preocupação é de que a empresa utilize as ações sociais para ampliar seu poder,
tanto interna quanto externamente, e a empresa tornar-se definitivamente o principal ator social
(SCHROEDER; SCHROEDER, 2004).

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Como sugestão sobre seus limites, Sen e Kliksberg (2007) destacam que a RSC deve evoluir
com apoio das políticas públicas, sempre objetivando o bem coletivo e que as empresas narcisistas ou
filantrópicas incorporem de vez a responsabilidade social ao seu negócio (SEN; KLIKSBERG, 2007). Em
acordo com esta proposição, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas tem
orientado as empresas a atuarem junto aos órgãos públicos de suas localidades, apresentando programas
de co-construção (empresa, setor público e sociedade) e que sempre exista uma estratégia de saída para os
projetos, para que os projetos não sejam ilimitados, sem uma cronologia definida, ou que não
desenvolvam realmente aquela comunidade e o setor público (GVCES, 2018). Pode-se afirmar ainda, que
as parcerias são hoje compreendidas como fundamentais no enfrentamento da exclusão social, na medida
em que possam agregar experiências inovadoras que servem de referência para a elaboração das políticas
sociais, mas que não seja esquecido que elaboração e implantação das políticas sociais são
responsabilidades do Estado (RICO, 2004).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relação empresa e sociedade é um leque cheio de oportunidade e desafios. A Responsabilidade
Social Corporativa atua sobre as duas e ajuda a estabelecer propósitos, direcionamentos e redução de
desigualdades. A RSC é estratégica, mas precisa de atenção, para que a ética e transparência não sejam
desconsideradas para privilegiar possíveis benefícios próprios para as empresas. A sociedade também tem
um papel importante, podendo atuar para que as fraudes inocentes não sejam ignoradas e para que não
haja a inversão de valores quanto o verdadeiro responsável por promover o bem-comum para a sociedade.
As parecerias entre setor público-privado se mostram cada vez mais necessárias e importantes, mas sua
essência não deve ser desviada ou ignorada para que as ações aconteçam com foco nos objetivos
empresarias. Esta relação pode ser cada vez mais positiva se ambos souberem dialogar para que as ações
sociais aconteçam com o público que realmente demanda aquele benefício. O público alvo, assim como
suas carências, deve estar acima de qualquer estratégia corporativas e todos os stakeholder devem possuir
oportunidades para direcionar as empresas nas tomadas de decisão, prezando sempre pelo
desenvolvimento e redução do assistencialismo.

7. REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, R. Muito Além da Economia Verde. São Paulo: Abril, 2012.
AZIM, M. T. Responsabilidade social corporativa e comportamento do funcionário: Papel mediador do
compromisso organizacional. Revista Brasileira de Gestao de Negocios, v. 18, n. 60, p. 207–225, 2016.

BARAIBAR-DIEZ, E.; LUNA SOTORRÍO, L. O efeito mediador da transparência na relação entre


responsabilidade social corporativa e reputação corporativa. Revista Brasileira de Gestão de Negócios,
v. 20, n. 1, p. 5–21, 2018.

BERKOWITZ, E. N. et al. Marketing. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 15
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

O DESEMPREGO NO BRASIL: UMA REFLEXÃO


NO DISCURSO DA SUSTENTABILIDADE

Ted Dal Coleto1, Celeste Aída Sirotheau Corrêa Jannuzzi2, Denise Helena Lombardo
Ferreira3

1
Mestrando em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: tedcoleto@hotmail.com
2
Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
celeste.jannuzzi@puc-campinas.edu.br
3
Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
lombardo@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O trabalho tem por objetivo caracterizar os principais fatores que afetam o campo de trabalho no Brasil,
no intuito de fomentar a reflexão do tema sob a égide da sustentabilidade. Em seu desenvolvimento,
procura-se apresentar dados sobre o desemprego no Brasil e situações que contribuem para este contexto.
Trata-se de uma pesquisa documental e bibliográfica sobre o tema em questão. Como considerações
finais, faz-se uma reflexão sobre as responsabilidades e possíveis medidas que poderiam corroborar para a
sustentabilidade social e econômica no país.

PALAVRAS-CHAVE: Desemprego, Desemprego no Brasil, Sustentabilidade, Emprego e


sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
As inovações tecnológicas e avanços que vêm sendo vivenciadas pela sociedade atual tem
contribuído significativamente para o aumento do desemprego nos diferentes setores da economia, já que
muitos empregados estão sendo substituídos por robôs e o processo produtivo vem mudando
gradativamente (SCHUMPETER, 1984, P.114). É possível validar essa afirmação ao se observar algumas
das grandes empresas americanas, que, hoje, apesar de contar com poucos funcionários, conseguem
apresentar uma alta produtividade e lucros bastante altos, como, por exemplo, a Amazon, Google e
Apple.
O emprego é o motor de qualquer economia, pois a renda gerada através do salário é capaz de
gerar um efeito multiplicador na economia (KEYNES 1996). Em um ciclo contínuo, a circulação da renda
e o efeito multiplicador fazem com que as economias cresçam, gerando, assim, cada vez mais emprego e
renda. No entanto, o grande problema é quando esse fluxo é interrompido, tal como está acontecendo no
Brasil desde 2015, quando a taxa de desemprego era de 8,5% (IBGE) e hoje, 2019, apresenta-se em
12,37%.
A situação brasileira atual é preocupante com a crescente taxa de desemprego aliada a falta de
crescimento econômico e com expectativas da economia brasileira entrar em recessão técnica com as
previsões baixas de crescimento do PIB. Esse cenário torna fundamental a atuação do governo na reversa
dessa situação para se obter a sustentabilidade do emprego em baixas taxas de desemprego e espiral
crescente na economia, como observado anos atrás.
Os jovens são os que mais estão sofrendo com o desemprego atual no Brasil, a sua inexperiência
e menor qualificação pioram a sua situação no mercado de trabalho (CACCIAMALI; TATEI, 2017). Esta
situação faz com que os jovens demorem mais tempo para conseguir emprego e qualificar-se, chegando à
taxa de desemprego três vezes maior que os adultos.

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Para completar esse quadro preocupante do emprego, o aumento da tecnologia e modernização


em inovações produtivas também vêm contribuindo para a redução do número de postos de trabalhos e,
consequentemente, de empregados contribuindo para a desigualdade econômica e social, aumento da
concentração de renda e precarização do trabalho (ROQUE 2018) – elementos que não favorecem um
desenvolvimento sustentável em sua dimensão social. Entretanto, apesar dessa afirmação, é sabido,
também, que as tecnologias e inovações trazem novas perspectivas e benefícios à sociedade. Observa-se,
então, ser essa uma situação contraditória.
Diferentes razões têm sido apontadas para justificar o quadro atual no Brasil. Da mesma forma,
diferentes caminhos têm sido propostos para atender as necessidades eminentes nas dimensões social e
econômica da sustentabilidade, como, por exemplo, a renda mínima no país. No entanto, torna-se
relevante refletir diante da seguinte questão: Quais fatores favorecem a vulnerabilidade do emprego no
Brasil?

1.1 Objetivo
O presente trabalho tem por objetivo caracterizar os principais fatores que afetam o campo de
trabalho no Brasil, no intuito de fomentar a reflexão do tema sob a égide da sustentabilidade.

2. EMPREGO E SUSTENTABILIDADE
O desenvolvimento econômico aliado à preservação do meio ambiente é tema recorrente em
discussões e por conta disso tornou- se objeto de estudo e análise na tentativa de conseguir unir essas duas
faces:- economia e meio ambiente. Alguns teóricos defendem a diminuição no ritmo econômico para que
haja recursos no longo prazo para todos, enquanto outros falam que novas tecnologias vão ser capazes de
superar o problema da escassez, portanto o modelo atual ainda continua sendo de “desenvolvimento” com
baixa preservação e alta degradação (ROMEIRO, 2012). Porém, movimentos já estão consolidados em
várias partes do mundo com função econômica positiva e de preservação, mostrando que é possível se
obter as duas coisas ao mesmo tempo.
Para que se alcance um desenvolvimento sustentável torna-se relevante contemplar a
sustentabilidade em diferentes dimensões. Segundo Sachs (1993), existem cinco dimensões para o
ecodesenvolvimento, a social onde o desenvolvimento precisa trazer junto consigo a distribuição justa de
renda e com equidade para que todos possam ter padrões de vida próximos e não com diferenças absurdas
como no caso do Brasil, a ecológica com base na intensificação do uso potencial dos recursos dos mais
variados ecossistemas como, por exemplo, a limitação de uso de combustíveis fósseis trocando por
produtos renováveis, a pesquisa para obter novas tecnologias com isso aumentar a eficiência no uso de
recursos para o desenvolvimento rural, urbano e industrial, a terceira dimensão a econômica com
gerenciamento e alocação mais eficientes dos recursos e investimentos públicos e privados com objetivo
de se obter resultados não somente econômicos e sim atrelando a parte social também.
A quarta dimensão que Sachs (1993) menciona é a espacial, cujo objetivo se dá pelo melhor
aproveitamento urbano junto com o rural, uma distribuição adequada das moradias permitindo melhor
aproveitamento dos espaços e sem causar danos ao meio ambiente, aproveitando do melhor manejo de
florestas, adequação aos pequenos produtores e proteção da biodiversidade e por fim a cultural com
amparo nos processos endógenos de modernização e sistemas integrados dentro de um local, ecossistemas
ou cultura local.
No que tange às dimensões da sustentabilidade, observa-se que o crescimento econômico
desigual traz como consequências problemas sociais, econômicos, ambientas gerando desigualdade de
renda, fome, degradação perversa do meio ambiente entre outros problemas.
No Brasil, o desenvolvimento sustentável sob a dimensão econômico, tem sido prejudicado pelo
desemprego que está atingindo o país de forma consistente e prejudicando a economia. Algumas políticas
estão sendo implementadas, como no caso da reforma trabalhista em vigor no Brasil, porém ainda não
está surtindo efeitos positivos na geração de emprego. Atrelando a baixa geração de emprego a uma
diminuição na renda média dos trabalhadores, o salário mínimo não vem sofrendo aumentos, o que ajuda
na diminuição da desigualdade social e ajuda na redistribuição de renda (ROQUE 2018).
Na parte social, o governo tem como atribuições um estado social que consiste na saúde,
educação, assistência social e previdência e são financiados com as tributações do estado. Neste modelo
as pessoas que não estão no sistema de proteção social - no caso os informais, microempresários e
autônomos - acabam prejudicados e não ajudam na contribuição para o financiamento deste modelo.
Neste contexto, a política de renda mínima surge como uma solução até que as pessoas se realoquem no
mercado de trabalho e tenham condições dignas de vida.

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Quando se tem a adoção de políticas públicas sociais desse tipo, que custeiam custos sociais,
acaba-se gerando discussões entre o lado que apoia e o outro que é contra. O lado contrário se fundamenta
principalmente em onde sairá o dinheiro para financiar a renda mínima. Quem é a favor reforça a idéia da
necessidade de uma reforma tributária como um todo, concentrando a tributação na riqueza e não no
consumo como é hoje, com a possibilidade de taxação de heranças. Outros discutem até a taxação dos
robôs para financiar este modelo social brasileiro.
Nessa linha de pensamento, é possível observar exemplos de casos concretos em diversas partes
do mundo que já utilizam a renda mínima como política pública. Um dos maiores exemplos é o estado
americano do Alaska. Como o Alaska é um estado praticamente com neve em todo seu território e uma
grande jazida de petróleo, os EUA utilizam o fundo de royalties do petróleo para financiar a renda
mínima que no ano de 2016 foi de US$ 1.022,00, segundo a BBC. Essa renda mínima não seria para
desmotivar o emprego, mas sim para garantir realmente o mínimo para o sustento.
Na Europa fala-se de uma taxação sobre as transações monetárias, ganhos financeiros e
dividendos. Também há uma discussão sobre a tributação de robôs, onde empresas de alto grau de
automação pagariam uma taxa a ser revertida em renda para aqueles indivíduos que ficarem
desempregados (ROQUE 2018).
Com isso, a renda básica universal acaba sendo o contra ponto ao modelo atual de estado social,
ela contrasta com um modelo em que as pessoas possam fazer o que gostam e não precisam se sujeitar a
trabalhos, degradantes, mal remunerados e que não trazem prazer, na tentativa de resolver o problema
estrutural de desigualdade social e do desemprego altíssimo no Brasil.

3. METODOLOGIA
A discussão aqui apresentada fundamenta-se em uma pesquisa documental - ao usar dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e em uma pesquisa bibliográfica – artigos
nacionais publicados sobre o tema. Os dados quantitativos são extraídos da base PNAD continua, os
dados são levantados todos os meses e divulgados no site do IBGE entre os anos de 2012 até 2019 e
tabulados, criando um gráfico para a melhor demonstração dos resultados obtidos.

4. DISCUSSÃO SOBRE OS RESULTADOS


As taxas de desocupação no Brasil têm apresentado resultados alarmantes, conforme pode ser
observado através de série histórica com os dados retirados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) realizada todo mês no Brasil, onde foi gerado a média por ano, começando em 2012 até
junho de 2019.

Gráfico 1 – Taxa de desocupação no Brasil (%)


14,00%
12,74%
12,23% 12,37%
11,55%
12,00%

10,00%
8,55%

8,00% 7,31% 7,15% 6,83%

6,00%

4,00%

2,00%

0,00%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: IBGE (2019).

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O Gráfico.1 demonstra que em 2012 a taxa média de desocupação no Brasil era de 7,31%, em
2014 houve o menor valor observado para a série, com taxa de 6,83%. Em 2016, a taxa extrapolou a casa
dos dois dígitos, chegando a 11,55%. Em 2017, observa-se o maior valor médio registrado com 12,74% e,
no ano vigente de 2019, a taxa chega a 12,37% até o presente momento.
A média do desemprego dos trabalhadores chega 14,07 meses, segundo SPC, CNDL (2018), as
pessoas de baixa renda estão sendo obrigadas a trabalhar cada vez mais cedo (CACCIAMALI, TATEI,
2017) e com isso estão perdendo a oportunidade de estudar e se capacitar, deteriorando ainda mais o
cenário para a empregabilidade.
A análise das taxas confirmam a pressão da desocupação sobre a falta de aumento dos empregos
no Brasil. Entretanto, observa-se que paralelo a isso, tem-se a chegada da tecnologia gerando novos
empregos, como no caso de alguns aplicativos que estão empregando de forma informal muitas pessoas
como no caso do Uber, iFood e outros aplicativos similares. O grande problema que ocorre, na maioria
das vezes, é que essas oportunidades de trabalho, por serem considerados empregos informais, não são
registrados na base de dados do IBGE e com isso dificulta análise de dados e, também, a arrecadação
pública relativa aos encargos trabalhistas, prejudicando investimentos em seguridade social.
Outro aspecto importante, que também deve ser considerado nesse contexto, é a escolaridade das
pessoas em idade ativa. Segundo SPC, CNDL (2018) 94,7% dos desempregados são das classes C, D e E,
e 53,8% possuem escolaridade até o ensino médio. Vale ressaltar que uma maioria dos desempregados
encontra-se no setor de serviços, onde a tecnologia causa maior impacto, exemplo no telemarketing onde
substitui funcionários por computadores. Outra situação a ser observada é o desemprego advindo do
aumento da mecanização no campo, onde muitos perderam seus empregos e estão em situação de risco.
As inovações tecnológicas têm evidenciado a necessidade de capacitação para as novas funções
que surgem no campo de trabalho, incluindo algumas que nem existiam anteriormente. Isso tem se
refletido nas lacunas em vagas de emprego que não estão sendo preenchidas. A falta de capacitação é o
principal motivo para ocorrência dessa lacuna, pois, segundo Reis e Camargo (2007), os trabalhadores
mais qualificados que possuem mais de 10 anos de estudos apresentam as menores taxas de desemprego.
No Brasil algumas políticas tentaram minimizar os efeitos perversos do desemprego e falta de
renda das pessoas. No ano de 2004, o senador Eduardo Suplicy (PT) conseguiu que seu projeto sobre a
renda mínima fosse aprovado no congresso e sancionada pelo, então, presidente Luis Inácio Lula da
Silva. A lei 10.835 prevê que todos os brasileiros e estrangeiros com mais de 5 (cinco) anos no Brasil,
possuem o direito de receber uma renda capaz de satisfazer suas necessidades com alimentação, educação
e saúde (SENADO, 2004). A lei 10.835, de 2004, infelizmente, ficou somente no papel, pois até hoje
nunca foi adotada no Brasil.
Um estudo do FMI em 2015 simulou a renda mínima universal no Brasil e estimou que a
pobreza pudesse sair de 19% da população para 7,4%, um movimento em que nem o Bolsa Família -
política pública de distribuição de renda mais concentrada em famílias pobres e com requisitos de entrada
- conseguiu fazer (ROQUE 2018).
Observa-se que essa preocupação com o desemprego e falta de renda não é um problema
exclusivo do Brasil, mas, sim, acontece no mundo todo. Na Europa tem-se alguns casos de adoção da
política de renda mínima. Em Luxemburgo, por exemplo, o ano de início foi em 1985 e a política prevê a
garantia de um padrão de vida decente e em que o cidadão que recebe o benefício pode encontrar meios
de se inserir no mercado de trabalho e social, onde a idade mínima é 25 anos. Na Lituânia, por sua vez, a
política consiste basicamente em prestar assistências financeiras para aqueles que não possuem recursos
para sobreviver (GUILHERME e REIS 2016).
A Grécia ainda está em caráter experimental e focalizado em grupos específicos, com o objetivo
de enfrentar a pobreza com o benefício e inserção ao mercado de trabalho. A França tem seu programa
voltado para garantir o mínimo de rendimento para as pessoas sem recursos e, também, a inserção social
ao mercado de trabalho, com idade mínima de 25 anos para quem não possuem dependentes
(GUILHERME e REIS 2016). No caso da República de Malta, a renda mínima é para pessoas que estão
em situação de desemprego ou possuem alguma doença e tem idade entre 25 anos a 60 anos.
No momento atual, a discussão sobre renda mínima no Brasil deveria vir à tona, com o aumento
do desemprego, queda na renda das famílias, inflação e falta de governabilidade, pois muitas famílias
estão sendo prejudicadas com a atual situação econômica do país.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sustentabilidade do emprego no Brasil é um desafio a ser enfrentado por todos e,
principalmente, pelo governo e políticos que legislam no país. As políticas tributária, social e econômica

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25 a 26 de setembro de 2019

precisam andar juntas para que se alcance resultados positivos, principalmente porque atinge os mais
jovens.
Algumas soluções precisam ser tomadas, como a formalização de alguns empregos que hoje se
encontram na informalidade. É o caso, por exemplo, dos novos aplicativos tecnológicos, que precisam ter
uma legislação específica para um melhor acompanhamento dos empregos gerados e, também, dos
encargos que podem ser gerados pra ajudar na receita do governo. Outra situação a ser observada é o
desemprego advindo do aumento da mecanização no campo, onde muitos perderam seus empregos e
estão em situação de risco.
Na parte social, a política de renda mínima poderia ser inserida em situações em que pessoas
estão em maior estado de fragilidade e necessitam urgentemente de auxílio monetário, para não se
submeter à sub-empregos e entrar para a marginalidade para tentarem sobreviver. O governo poderia
garantir uma renda mínima a esses trabalhadores até que eles consigam se reintegrar ao mercado de
trabalho e possuírem uma condição digna de vida.
A maioria dos desempregados são jovens de baixa renda, sem capacitação profissional. A
importância de uma política educacional e de capacitação para esses jovens fará com que muitos entrem
no mercado de trabalho em funções novas, nas quais são necessários entendimento e conhecimento para
realizá-las, como no caso dos tratores cada vez mais automatizados em plantações. A aquisição de
conhecimento permite à população acender no mercado de trabalho, diminuindo, assim, o desemprego e a
desigualdade social.
A falta de investimentos públicos e privados na área da economia está sendo um grande
problema na geração de empregos e retomada do crescimento do PIB brasileiro.
Um novo modelo de financiamento para essa política poderia ser por meio da tributação de
lucros e dividendos pagos pelas empresas aos acionistas/empresários, consistindo assim na parte
tributária. O Brasil e a Estônia são os únicos países no mundo que não pagam esse tipo de imposto,
portanto, ele serviria como base para uma renda mínima e capacitação de jovens para o mercado de
trabalho até que a pessoa consiga um emprego e volte a ter uma vida digna. É necessário medidas
conjuntas para que se possa avançar nesse assunto.

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CAPÍTULO 16
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

A SOCIEDADE CIVIL COMO PROPULSORA DOS OBJETIVOS DE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) NO ÂMBITO MUNICIPAL

Luiz Henrique Vieira da Silva1, Samuel Carvalho De Benedicto2

1. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:


luiz.hvs@puccampinas.edu.br
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
A Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) constituem uma complexa
pauta global, calcada nas dimensões ambiental, econômica e social da sustentabilidade. Para colocá-los
em prática, as redes envolvendo Poder Público, empresas e organizações da sociedade civil mostram-se
um instrumento de grande valor e capacidade de regionalização. Através de uma pesquisa qualitativa,
apoiada em um estudo de caso, o presente trabalho evidenciou a trajetória de três organizações do terceiro
setor que atuam na popularização e implementação dos ODS em escala local, à luz da literatura que trata
da participação social e do terceiro setor como pilares da democracia. Observou-se, a partir dos resultados
e do leque de possibilidades de atuação dessas organizações, que iniciativas desse tipo têm papel
fundamental na ambiciosa empreitada de regionalizar e atingir todos os objetivos desta agenda até o ano
de 2030.

PALAVRAS-CHAVE: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade, Organizações não


governamentais, Participação social.

1. INTRODUÇÃO
Embora a sustentabilidade seja um tema de longa data, visto que comunidades europeias do
Século XVII instruíam seus madeireiros a administrar as florestas de modo que a reprodução das árvores
sempre igualasse o consumo praticado pelos humanos, estratégia escolhida para enfrentar a séria escassez
de madeira (BOFF, 2012), a abordagem científica da sustentabilidade passou a ser debatida apenas
quatrocentos anos depois.
Na década de 1970, surgiu o termo “ecodesenvolvimento” (ROMEIRO, 2012, p. 70), ainda sob o
impacto provocado pelo relatório do think tank Clube de Roma, “Limits to Growth”, e da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo no ano de 1972. De acordo
com um dos principais difusores desta corrente, Ignacy Sachs, o ecodesenvolvimento constituiu um
conjunto de valores com a função de “gerir a natureza de forma a assegurar aos homens de nossa geração
e a todas as gerações futuras a possibilidade de se desenvolver” (SACHS, 1981, p. 14).
Ainda mais recente é a expressão “desenvolvimento sustentável”, que se tornou mundialmente
reconhecida no Relatório “Nosso Futuro Comum” (VEIGA; ZATZ, 2008), redigido em 1987. O
documento, apelidado de “Relatório Brundtland” em homenagem à sua idealizadora, a ex-ministra
norueguesa do Meio Ambiente e presidenta da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (WCED, em inglês), Gro Harlem Brundtland, conceituou o desenvolvimento
sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 43).
Esse relatório serviu, então, como ponto de partida para uma mudança na maneira como a
espécie humana passou a enxergar seu relacionamento entre seus próprios pares, com os demais seres
vivos e com o planeta.
Dessa forma, em pouco tempo o PIB deixou de ser o principal indicador de desenvolvimento,
rompendo com a lógica vigente desde a Revolução Industrial. Com isso, outras dimensões foram

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introduzidas a fim de avaliar se um país poderia, ou não, ser considerado desenvolvido. Como resultado,
destaca-se a criação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), gerado a partir da média aritmética de
três indicadores sintéticos considerados indispensáveis para que haja desenvolvimento: a renda por
habitante, a saúde e a educação (VEIGA; ZATZ, 2008).
Esse indicador popularizou-se mundialmente devido à sua simplicidade e, especialmente, porque
rankings foram criados utilizando o IDH como parâmetro, o que fomentou o interesse dos “Relatórios de
Desenvolvimento Humanos” por parte de pesquisadores e técnicos (MACHADO; PAMPLONA, 2008).
Além disso, a partir das medições, políticas públicas puderam ser orientadas para melhor atender
populações em situações socioeconômicas críticas, por exemplo.
A partir de então, a preocupação por temas que extrapolam os limites dos antigos sistemas
econômicos, que resumiam a atividade econômica apenas às trocas entre as famílias e as firmas,
desconsiderando fatores humanos, ambientais e sociais (CAVALCANTI, 2010) foi crucial para
sedimentar a sustentabilidade à égide do desenvolvimento.
Neste momento, cabe uma conceituação sobre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável,
de maneira a aprofundar o que foi tratado até aqui.
De acordo com Dovers e Handmer (1992), sustentabilidade é a capacidade de um sistema
humano, natural ou misto resistir ou se adaptar à mudança endógena ou exógena por tempo
indeterminado. Por outro lado, o desenvolvimento sustentável é uma via de mudança intencional e
melhoria que mantém ou aumenta esse atributo do sistema, ao responder às necessidades da população
presente. Os autores, então, defendem que o desenvolvimento sustentável é o caminho para se alcançar a
sustentabilidade, tendo-a, dessa forma, como o objetivo final.
Em contrapartida, Elkington (2012) defende a ideia de que a sustentabilidade consiste no
equilíbrio entre os três pilares do Tripé da Sustentabilidade, ou Triple Bottom Line: ambiental, econômico
e social, cunhado nos anos 1990. Para este autor, a ideia é oposta ao que propuseram Dovers e Handmer
(1992): o desenvolvimento sustentável é, portanto, objetivo a ser alcançado e a sustentabilidade é o
processo para atingi-lo.
Admitindo-se que quaisquer autores estejam corretos, é possível relacionar as práticas
sustentáveis e o desenvolvimento sustentável à inferência humana no planeta, que dispõe de recursos
limitados, ainda que sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não sejam sinônimos.
Por conseguinte, uma série de desdobramentos envolvendo essa temática – como a publicação de
artigos científicos, novos relatórios, cartas e a realização de inúmeras conferências regionais e mundiais –
movimentou o cenário mundial, trazendo à tona temas como o aquecimento global, causado pela ação
antrópica, o superconsumo próprio de regiões e países financeiramente abastados, as desigualdades de
renda e acesso à Educação e a aparelhos públicos de Saúde, o desmatamento de florestas nativas e a
poluição dos oceanos.
Uma dessas reuniões envolveu 191 países e resultou em um documento denominado Declaração
do Milênio, elaborado no ano 2000. Nele, foram definidos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM) e estabeleceu-se o prazo de que seriam atingidos até 2015. São eles:
1. Erradicar a pobreza extrema e a fome;
2. Alcançar o ensino primário universal;
3. Promover a igualdade de gênero e empoderar as mulheres;
4. Reduzir a mortalidade infantil;
5. Melhorar a saúde materna;
6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;
7. Garantir a sustentabilidade ambiental;
8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.

Percebe-se que, além da temática ambiental, foram inseridos assuntos de natureza social e
econômica, à luz do Triple Bottom Line.
Os ODM foram fundamentais para popularizar ainda mais a sustentabilidade, convidando todos
os entes da sociedade a trabalharem pelo desenvolvimento sustentável, lançando olhar especial às
dificuldades que as populações de todo o mundo enfrentavam e, também, almejando que, em um futuro
próximo, a Humanidade pudesse apresentar resultados satisfatórios na construção de estruturas políticas e
sociais capazes de gerar oportunidades e garantir as liberdades substantivas (SEN, 2010), rumo a uma
nova economia, em que o meio ambiente assumisse papel central, como alicerce da vida no planeta

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(CAVALCANTI, 2010) e soluções inovadoras na indústria e nos governos fossem capazes de reduzir a
geração de resíduos, diminuir a necessidade de consumo e garantir a justiça social (ABRAMOVAY,
2012).
Tratando-se da aplicação dos ODM na gestão pública a nível municipal, houve uma importante
relação entre as metas e políticas, programas e ações urbanas.
Dessa forma, as cidades assumiram protagonismo na implementação de iniciativas,
especialmente porque tinham autonomia operacional e possibilidade de estabelecer acordos com
organizações e com a iniciativa privada. Mais do que isso, a aproximação com o cidadão deu mais força
para a atuação dos municípios (ESTRATÉGIAS ODS, 2019, s.p.).
Então, a legitimidade que as Organizações da Sociedade Civil (OCSs) conquistaram com o
passar dos anos permitiu que as agendas internacionais pudessem ser transformadas em políticas públicas,
sem perder o caráter democrático e sem excluir a participação popular, algo que potencializa a
organização da sociedade em torno de temas relevantes.
Ainda assim, a partir das rápidas transformações pelas quais a sociedade passou no início do
Século XXI, seguindo mandato emanado da Conferência Rio+20 em 2012, iniciou-se, em 2013, uma série
de negociações para debater uma nova forma de promover o desenvolvimento sustentável, envolvendo
governos, empresas e a sociedade civil.
Diante desse cenário, foram concluídas, em agosto de 2015, as negociações que culminaram na
adoção, em setembro, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também conhecidos como
Objetivos Globais, por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que
reuniu todos os países membros da ONU em sua sede, em Nova Iorque. Os ODS deverão orientar as
políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos seguintes quinze anos (2015 a 2030,
portanto, configurando a chamada Agenda 2030), sucedendo e atualizando os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, que compunham a Agenda 21.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são:
1. Erradicação da Pobreza;
2. Fome zero e agricultura sustentável;
3. Saúde e bem-estar;
4. Educação de qualidade;
5. Igualdade de gênero;
6. Água potável e saneamento;
7. Energia acessível e limpa;
8. Trabalho decente e crescimento econômico;
9. Indústria, inovação e infraestrutura;
10. Redução das desigualdades;
11. Cidades e comunidades sustentáveis;
12. Consumo e produção sustentáveis;
13. Ação contra a mudança global do clima;
14. Vida na água;
15. Vida terrestre;
16. Paz, justiça e instituições eficazes;
17. Parcerias e meios de implementação.

Para cada um dos 17 ODS, há uma série de metas que estabelecem medidas a serem tomadas por
governos, setor privado e sociedade civil, totalizando 169 metas. Por meio dessas orientações, é possível
pautar políticas que trabalham, de forma conjunta, as três dimensões do desenvolvimento sustentável,
referenciadas anteriormente.
Ressalta-se que, ao invés de se concentrar apenas na pobreza e privação de liberdades e
oportunidades em países menos desenvolvidos, como fizeram os ODM, o escopo dos ODS é universal e
apresenta dimensões ambientais, econômicas, sociais, políticas e institucionais aplicáveis tanto a países
desenvolvidos quanto àqueles menos desenvolvidos (FUKUDA-PARR, 2016), consistindo, assim, em um
conjunto de ações transformadoras de longo alcance.

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Entretanto, uma pesquisa, realizada em 2017 pela Rede Conhecimento Social em conjunto com o
IBOPE Inteligência e a Conhecimento Social — Estratégia e Gestão, revelou que 49% dos brasileiros não
conhecem os ODS. O estudo mostra, também, que 38% das pessoas já ouviram falar nos ODS, mas não
têm conhecimento sobre o assunto, 10% declararam ter algum conhecimento sobre o tema e apenas 1%
disse saber bastante sobre o assunto (CEBDS, 2019).
Esse preocupante cenário, aliado à supracitada negação de pautas ligadas aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável por parte dos representantes eleitos a nível nacional, evidencia que a
responsabilidade pela difusão da Agenda 2030 recai, cada vez mais, aos entes locais – e, não
necessariamente, governamentais.
Isto é corroborado pelo fato de que, do ponto de vista da administração pública a nível federal, o
cenário que se apresentou a partir das Eleições de 2018 gerou incertezas quanto à aceitação dos valores
representados por entidades internacionais como a ONU e, consequentemente, à efetiva implementação
dos ODS. O êxito de parlamentares, membros do Executivo e influenciadores das políticas públicas e da
reorganização do Estado brasileiro no pleito popular – evidenciando os desejos de parcela considerável
dos eleitores – sinalizou um distanciamento de pautas como a ambiental, a da equidade de gênero, a das
ações afirmativas e a da redistribuição de renda, por exemplo.
Destaca-se, então, que dado o afastamento entre a estrutura estatal nacional e os ODS, outros
atores começaram a assumir a função de preencher o vácuo existente, promovendo a disseminação e a
práticas dos Objetivos.
Organizações da Sociedade Civil e iniciativas provenientes do terceiro setor recebem os
holofotes na promoção dos objetivos e metas previstos nesta agenda global, a fim de que difundam boas
práticas e interajam na criação de soluções sustentáveis inovadoras, permitindo que um maior número de
pessoas reconheça a importância dos ODS e, partindo disso, passe a pressionar o poder público para que
considere a inclusão dessa pauta na disputada agenda governamental, algo que pode incrementar políticas
públicas como a Educação, a Saúde, o saneamento básico e a mobilidade urbana.
A partir da análise do cenário exposto, compreende-se que os entes subnacionais destinaram
atenção especial à aplicação dos objetivos e metas previstos na Agenda 2030. A Confederação Nacional
dos Municípios (CNM), por exemplo, publicou um Guia com o propósito de auxiliar os gestores
municipais a integrar os ODS aos Planos Municipais Brasileiros no período que compreende 2018 e 2021
(CNM, 2017).
No documento, a participação social recebe atenção especial, bem como a ativa atuação da
Academia e, também, do setor privado, para que a formulação de políticas públicas baseadas nos ODS
possa vir a se transformar em ações executadas em escala municipal, promovendo a localização da
Agenda 2030 e, com isso, o impacto direto nas pessoas, resultando em um aumento na eficiência e na
eficácia da mesma.
Além disso, o Guia também fomenta o estabelecimento de parcerias com entidades da sociedade
civil, iniciativa privada e institutos de ensino e de pesquisa, para que cada um, em sua área e em seus
respectivos espaços de atuação, apoie o município no cumprimento e viabilização dos meios para atingir
as metas, tendo como orientador do processo o poder público municipal (CNM, 2017). Este pressuposto
está em plena consonância com o ODS 17, que apresenta o escopo de fortalecer os mecanismos de
implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, Barbi (2014) lança luz à importância dos municípios na pauta do
desenvolvimento sustentável ao revelar que as cidades, por serem o centro das atividades humanas que
mais favorecem o agravamento das mudanças climáticas, acabam sendo parte do problema; ao mesmo
tempo, são vistas como uma parte da solução: os municípios foram as primeiras instâncias
governamentais a responderem ao desafio das mudanças climáticas, como na elaboração de leis com
metas para redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa, ou no Pacto Global de Prefeitos
pelo Clima e Energia, que reúne mais de 70 cidades brasileiras e inúmeras outras mundo afora com o
objetivo de capacitar ações locais pelo clima e pela energia renovável.
Salienta-se, ainda, que desde a aprovação da Agenda 2030, órgãos governamentais brasileiros
começaram a avançar na identificação de indicadores nacionais para o acompanhamento das metas
globais dos ODS, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE), que realizam, respectivamente, o assessoramento técnico de políticas
públicas em relação aos ODS e o acompanhamento de indicadores alinhados às metas dos ODS
(ONUBR, 2019), aumentando a aplicabilidade local dessa agenda.
Depreende-se, então, que nenhum ente é capaz de agir sozinho para colocar em prática uma
pauta tão complexa quanto a Agenda 2030. No campo das políticas públicas, há um consenso de que não

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somente os governos agem como policy makers, ou seja, implementadores de políticas públicas: há uma
relação entre as instituições e os diversos atores envolvidos na solução de determinados problemas, sejam
individuais ou coletivos, como o Estado, movimentos sociais, ONGs, empresas, instituições religiosas,
associações, população e afins (SOUZA, 2006; RODRIGUES, 2010), que podem incidir na mobilização
das pessoas em organizações sociais ou na forma de grupos de pressão.
São necessárias, portanto, articulações locais para o fortalecimento dessas redes e para a
apresentação de resultados à sociedade. Alcançar os ODS requer a parceria de governos, setor privado,
sociedade civil e cidadãos comuns para garantirmos que deixaremos um planeta mais sustentável para as
futuras gerações.
Diante do contexto exposto, o presente estudo se propõe a responder a questão: como a
sociedade civil pode agir como propulsora da aplicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
em escala municipal?
O objetivo, portanto, é destacar como as iniciativas da sociedade civil podem contribuir para o
atingimento dos objetivos e metas da Agenda 2030, agindo localmente para uma transformação global, a
fim de lançar luz sobre os atores do terceiro setor que advogam pela causa do desenvolvimento
sustentável e contribuir para o encorajamento de outras iniciativas que coloquem em prática os ODS em
escala municipal.

2. METODOLOGIA CIENTÍFICA
Para abordar o problema e atingir o objetivo, fez-se uso de uma pesquisa exploratória e de
caráter qualitativo. Segundo Gil (2008) esta busca a explicação sistemática de fatos que ocorrem no
contexto social.
Quanto à tipificação da pesquisa, a mesma se enquadra como bibliográfica, que, de acordo com
Gil (2008), é desenvolvida a partir de material já elaborado. O presente estudo foi constituído
principalmente de artigos científicos e conteúdo disponível em meio digital, uma vez que foi utilizado o
estudo de caso como técnica de pesquisa, investigando três iniciativas que servem de modelo para abordar
o tema proposto: Estratégia ODS; Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT
Agenda 2030); e Movimento Nacional ODS.

3. RESULTADOS OBTIDOS
O primeiro ponto da discussão proposta recai sobre a dificuldade existente em transformar uma
agenda universal em práticas locais.
Sabe-se que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável surgiram para atualizar os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio, em um contexto de rápida transformação econômica, social e política de
muitos países do mundo. Entretanto, em 15 anos, muitas pautas continuaram urgentes, como o combate à
fome, à pobreza e à miséria, a necessidade de universalizar a educação, as disparidades de gênero, as
questões ambientais e a necessidade de parcerias para que os objetivos sejam atingidos com sucesso.
A Figura 1 utiliza os ícones dos ODM e dos ODS, a fim de evidenciar graficamente a
permanência de algumas pautas na agenda da ONU para o desenvolvimento sustentável, demonstrando a
dificuldade no cumprimento das metas.

Figura 1 – Dos Objetivos do Milênio (ODM) aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Fonte: Elaborado pelos autores, com base em Nações Unidas no Brasil (2015).

Entende-se, a partir disso, que colocar os “quadradinhos coloridos” em prática não constitui
tarefa trivial, ainda que seja completamente possível – e necessário.
Com isso, presume-se que, apesar do protagonismo governamental, empresas e organizações do
terceiro setor também devam entrar em cena para garantir que as ações formuladas obtenham êxito, bem
como para incrementar o impacto positivo das mesmas nas pessoas e no ambiente.

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Jacobi (2003) destaca que as organizações não governamentais e movimentos sociais têm, como
pontos fortes, credibilidade, capital ético e eficiência quanto à intervenção na microrealidade social.
Dessa forma, o desafio político para a sustentabilidade está vinculado ao processo de fortalecimento da
democracia e da construção da cidadania e, por isso, é inconcebível subtrair, dos ODS, a participação da
sociedade civil em suas mais variadas expressões.
Além disso, o conceito de hélice tríplice pauta a inovação e, consequentemente, o
desenvolvimento sustentável, através do eixo universidade-indústria-governo, que, em seu processo de
interação, cria novas instituições secundárias conforme a demanda (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF,
2000) (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Estas, chamadas de organizações híbridas, assumem importante
papel.
A fim de ilustrar a participação de organizações da sociedade civil na difusão da Agenda 2030,
apresentaremos três proeminentes exemplos: Estratégia ODS; GT Agenda 2030; e Movimento Nacional
ODS.

3.1 Estratégia ODS


A Estratégia ODS é formada por uma coalizão que reúne organizações representativas da
sociedade civil, do setor privado, de governos locais e da Academia. De acordo com a própria
organização, que atua desde a luta pela concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, seu
propósito é ampliar e qualificar o debate a respeito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no
Brasil e mobilizar, discutir e propor meios de implementação efetivos para essa agenda (ESTRATÉGIA
ODS, 200?).
A organização, que conta com diversas parcerias, apresenta três frentes de atuação:
Comunicação & Formação; Advocacy; e Projetos Estratégicos. Cada uma conta com iniciativas variadas,
tendo como alicerce o desenvolvimento sustentável e a articulação em nível local.
Evidencia-se, a partir da primeira frente de atuação, que a educação para a sustentabilidade
constitui fator determinante para a efusão e consolidação dos conhecimentos, das práticas e
consequentemente, do êxito das ações da organização.
Dias (1991) e Lima (2005) recordam que a Educação Ambiental (EA) surgiu, no Brasil, em um
contexto autoritário, o que impeliu aos órgãos governamentais a responsabilidade pela conscientização da
população, enquanto o sistema educacional não assimilava estas novas ideias. Com isso, a partir de uma
perspectiva estritamente natural e técnica, que não colocava em questão a ordem estabelecida, o
conservacionismo tornou-se a expressão da EA durante o regime ditatorial civil e militar.
Esta característica, de fato, “não foi ruim, pois, do contrário, ainda estaríamos na estaca zero”
(DIAS, 1991, p. 6). No entanto, o caráter puramente técnico atribuído à pauta ambiental impediu
reflexões que questionassem as anomalias sociais e econômicas que, unidas às ambientais, configuram
importantes conflitos. Tratando-se dos ODS, a abordagem da EA por parte de organizações não
governamentais se torna fundamental para evitar que interesses políticos impeçam a propagação de
indagações pertinentes que subvertam paradigmas estabelecidos, especialmente em cenários de governos
que sejam hostis às demandas do meio ambiente e aos inerentes problemas socioambientais.
Sobre a segunda frente de atuação, Advocacy, ressalta-se que esta é uma prática importante, que
surge com o intuito de indicar para o poder público um determinado problema enfrentado pela
comunidade, além de evidenciar por que é importante que ele se torne uma prioridade a partir de dados e
fatos concretos. Soma-se a isso, a participação e influência nas decisões de orçamento para que o governo
consiga alocar mais dinheiro para uma solução, e até mesmo pesquisando e conversando com
especialistas para mostrar como o problema pode ser solucionado (CLP, 2019).
Com isso, a Estratégia ODS fomenta um instrumento essencial para a consolidação da
democracia, da participação política e do controle social, permitindo que a sociedade interaja diretamente
com os governos, a fim de alavancar pautas relacionadas aos ODS.
Além disso, é imprescindível ressaltar que a política pública pode ser considerada tanto a ação,
quanto a inação, do Estado (SOUZA, 2006; RODRIGUES, 2010). Dessa forma, ainda que governantes
reconheçam como legítimas as causas apresentadas, interesses alheios aos da população podem impedir
que o governo atue para resolver determinado problema. Assim, movimentos oriundos da sociedade civil,
através de iniciativas de advocacy, constituem um importante grupo de pressão, especialmente na
disseminação de uma pauta global como a Agenda 2030.
Finalmente, a terceira frente, Projetos Estratégicos, destina-se à aplicação concreta ou à criação
de ferramentas que permitam a implementação de ações ligadas aos ODS.

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Em seu sítio eletrônico, destaca-se que é possível que outras instituições realizem um pedido de
adesão, a fim de que se comprometam com os compromissos estabelecidos pela Estratégia ODS. Dessa
forma, a iniciativa já criou parcerias com organizações como o Instituto Ethos, a ABONG, a Frente
Nacional de Prefeitos e a Fundação Getulio Vargas.

3.2 Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030)
Com o lema “Não deixe ninguém para trás”, em alusão à fala do então o secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, emitida após o consenso alcançado pelos Estados-membros sobre o documento final
da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, o Grupo de Trabalho da Sociedade
Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030) direciona suas atividades para colocar em prática o que foi
acordado pelo Brasil na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Nova
Iorque.
De acordo com o site da instituição, o grupo foi formado a partir do entendimento de que a
definição e implementação dos ODS devem levar em conta o acúmulo das Organizações da Sociedade
Civil, como organizações não governamentais, movimentos sociais, fóruns e fundações, que vêm
trabalhando diretamente na defesa de direitos, no combate à desigualdade e no respeito aos limites do
planeta.
Composto por mais de 40 entidades de todas as regiões do Brasil (que se dividem entre grupo
facilitador e organizações associadas), o GT atua na difusão, promoção e monitoramento da Agenda 2030
e busca divulgar os ODS, mobilizar a sociedade civil e incidir politicamente junto ao governo brasileiro e
das Nações Unidas para a sua implementação, cobrindo todas as áreas dos 17 ODS da Agenda 2030.
Com isso, o grupo incide sobre o Estado brasileiro e as organizações multilaterais,
principalmente a ONU, promovendo o desenvolvimento sustentável, o combate às desigualdades e às
injustiças e o fortalecimento de direitos universais e indivisíveis, com base no pleno envolvimento da
sociedade civil em todos os espaços de tomada de decisão.
Além disso, o grupo comunica e visibiliza a importância dos ODS e o potencial impacto da sua
implementação sobre as pessoas e os territórios, além de reunir, analisar e produzir conteúdos que
informam sua incidência e ações de controle social, o que inclui a produção, a cada ano, do Relatório Luz,
atuando, também, na agenda de financiamento para o desenvolvimento, estabelecida no Consenso de
Addis Ababa.

3.3 Movimento Nacional ODS


Por sua vez, o Movimento Nacional ODS (à época, chamado Movimento Nacional pela
Cidadania e Solidariedade), criado em 2004 durante a 1ª Semana Nacional pela Cidadania e
Solidariedade, por iniciativa do Instituto Ethos, visa mobilizar a sociedade brasileira para o
desenvolvimento sustentável pleno por meio da adoção da Agenda 2030. Este é um Movimento
voluntário de caráter apartidário, ecumênico e plural.
Apesar de o voluntariado ter chegado ao Brasil por meio das missões cristãs, ligadas à Igreja
Católica, voltadas à caridade e ao atendimento de pessoas necessitadas (LANDIM, 1993) e para o
desenvolvimento da cidadania, em áreas como a educação, a cultura e o lazer (BARELI; LIMA, 2010). A
partir da década de 1980, sobremaneira, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, as
organizações não governamentais assumiram esta demanda de maneira institucionalizada e organizada,
incrementando o voluntariado.
Além disso, a promoção dos Objetivos por voluntários que se sintam engajados pela causa do
desenvolvimento sustentável ruma neste sentido, pois esta agenda internacional gira em torno de causas
humanitárias que consolidam o Estado Democrático de Direito (BARELI; LIMA 2010).
Contando com um expressivo número de mais de 500 signatários, dispostos em 42 cidades
brasileiras, o Movimento Nacional ODS aborda, à luz da Agenda 2030, os chamados 5 Ps da
Sustentabilidade, que adicionam duas dimensões àquelas propostas por Elkington (2012), conforme
indicado na Figura 2.
Diferentemente da Estratégia ODS, o Movimento Nacional ODS compõe-se de um Colegiado
Nacional que, por sua vez, é formado por Coordenações Nacionais e por Representantes Estaduais. Sendo
assim, a organização descentraliza suas operações e está presente em 10 estados: Amazonas, Espírito
Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e
Tocantins.

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A partir disso, muitas ações são encabeçadas pelas representações locais do movimento,
permitindo que a Agenda 2030 receba um tratamento regionalizado, aumentando as chances de êxito das
ações propostas.

Figura 2 – Os 5 Ps da Sustentabilidade

Fonte: Movimento Nacional ODS (2019).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável recebem uma vastidão de significados e
aplicações. Ainda assim, é possível relacionar ambos os termos à compreensão dos limites do planeta, à
necessidade de ações que minimizem as desigualdades sociais e discrepâncias de acesso às oportunidades
e à criação de mecanismos inovadores que permitam a prosperidade dos povos, sem impactos ambientais,
ou, em última instância, com mitigação destes impactos.
Diante disso, a Organização das Nações Unidas e mais de 190 países assinaram a Agenda 2030 e
seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assumindo um ambicioso desafio que tem como
prazo o ano de 2030, em áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta. Para que isso
se concretize seguindo o cronograma estipulado, complexas redes devem atuar conjuntamente. Sendo
assim, além dos governos e das empresas, a sociedade civil assume função de destaque no processo de
implementação, avaliação e, sobretudo, regionalização desta agenda global.
A partir da exposição do cenário brasileiro e do estudo de três casos de destaque, evidenciou-se
que organizações não governamentais e indivíduos mobilizados pela causa do desenvolvimento
sustentável são peças fundamentais para a promoção dos ODS e para atuarem como grupos de pressão, a
fim de que políticas públicas sejam desenhadas levando em consideração aspectos intrínsecos a estas
pautas mundiais.
Quando o assunto é colocar em prática a Agenda 2030, ainda que os governos e as empresas, por
deterem poder político e capital, respectivamente, devam arcar com maiores responsabilidades,
verificamos que a mobilização, a educação e a organização dos cidadãos passam, necessariamente, por
organizações da sociedade civil. Isso é ainda mais evidente quando os entes mais fortes descartam os
ODS de seus planos de ação, a fim de atender interesses alheios às demandas estipuladas, que não têm
caráter de legislação, relegando à população mobilizada o dever de seguir em frente com a pauta da
sustentabilidade.
Futuramente, estudos que relacionem as práticas democráticas, como a atuação dos movimentos
sociais e o controle social exercido pela população, com o êxito de ações sustentáveis que visem o
desenvolvimento sustentável, podem acrescentar noções valiosas que agreguem conhecimento, exemplos
e novas maneiras de implementar a Agenda 2030 no âmbito local ou regional.

5. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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6. REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da Economia Verde. Abril: São Paulo, 2012.

BARBI, Fabiana. Governando as mudanças climáticas no nível local: riscos e respostas políticas. Tese
de Doutorado apresentada ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de
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CAPÍTULO 17
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

NEGÓCIOS SOCIAIS E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Giovanni Moreira Rocha Campos1, Cibele Roberta Sugahara2

1. Graduando em Administração com linha de formação em Comércio Exterior. Aluno bolsista de


Iniciação Científica. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-mail:
giovannimrc@outlook.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia e
Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail: cibelesu@puc-
campinas.edu.br

RESUMO
Neste trabalho a temática inovação social é discutida sobre o olhar das Organizações da Sociedade Civil
(OSC), Aceleradoras de Negócios de Impacto; Fundações Empresariais, Organizações não
Governamentais (ONG), entre outros. O objetivo deste estudo é apresentar os principais aspectos que
envolvem a inovação social e indicar como a inovação social se expressa em Negócios Sociais. Adota a
metodologia da pesquisa bibliográfica. Os resultados revelam que a inovação social se materializa a
partir de ideias que atendem a necessidades sociais com soluções a paritr do uso de plataformas digitais,
websites, smartphone, entre outras tecnologias.

PALAVRAS-CHAVE: Inovação Social, Negócios Sociais, Problemas Sociais.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a temática inovação social é discutida principalmente por Organizações da Sociedade
Civil (OSC), Aceleradoras de Negócios de Impacto; Fundações Empresariais, Organizações não
Governamentais (ONG), entre outros.
Para Dawson e Daniel (2010), a inovação social possui o objetivo de promover o bem-estar
social e contribuir para a geração de capital social. Dessa forma, a inovação social pode ser desenvolvida
a partir de tecnologias e conhecimentos já existentes para alcançar novas formas de atingir os objetivos
sociais, assim como a utilização destes conhecimentos e novas tecnologias para melhorar as condições
sociais, como infraestrutura e questões ambientais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Dawson e Daniel (2010) ressaltaram que a inovação social tem seu objetivo centrado na própria
meta moldada dentro da coletividade e dos processos de políticas sociais. Além disso, destacam quatro
elementos fundamentais para compreender a inovação social, sendo eles: pessoas; os desafios (pode ser
um problema ou uma oportunidade); o processo (processo pelo qual o desafio é negociado e entendido); e
o objetivo (resolução do desafio, em busca do bem-estar social).
Para Lettice e Parekh (2010), a inovação social pode ser associada ao caráter cultural, e que
possam atender às necessidades humanas não atendidas. No entanto, quanto aos negócios sociais,
observou-se que eles são impulsionados pelo mercado e pelo consumidor.
No estudo de Westley e Antadze (2010), a importância da inovação para a promoção mudanças
institucionais no ambiente em que se encontram. Neste sentido, entede-se que a partir do momento em
que uma mudança social é institucionalizada, ela se torna um compromisso
do Estado e dos cidadãos. Considerando que a institucionalização de uma inovação social almeja
melhorar as condições de acesso a serviços e produtos e, dessa forma, colaborar para a busca de soluções
aos problemas sociais, é relevante entender como isso ocorre em organizações denominadas Negócios
Sociais.

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Kirwan et al. (2013), relatam que a inovação social objetiva empoderar camadas da sociedade que são
desfavorecidas. Esse caráter de atender a uma demanda social e promover impacto socio-ambiental é
característicos dos negócios sociais ou negócios de impacto.

3.METODOLOGIA
A metodologia do trabalho caracteriza-se como pesquisa bibliográfica. A primeira fase consistiu
em realizar uma pesquisa no Google Acadêmico de trabalhos publicados em periódicos que adotaram a
abordagem da pesquisa bibliométrica para estudar a temática de inovação social. O trabalho de Mukendi
et al. (2017), intitulado “Inovação social nas ciências sociais: uma análise bibliométrica de 2007 a 2017”,
atende a esse critério.
O trabalho de Mukendi et al. (2017) baseou-se na escolha das bases de dados Scopus e Web of
Science para o estudo bibliométrico. A partir do artigo de Mukendi et al. (2017) foi realizada a leitura dos
11 artigos mais citados nas Bases de Dados Scopus e Web of Science para verificar como a inovação
social é abordada conceitualmente. Em seguida foi identificado, a partir dos artigos, as principais
características da inovação social.
A fim de complementar a pesquisa sobre os conceitos sobre inovação social, identificou-se, a
partir do Google Acadêmico, qual o artigo sobre inovação social é representativo no Brasil em relação ao
número de citações.
Na sequência, a fim de ilustrar o tipo de inovação social em Negócios Sociais, foram
selecionadas, a partir do site da Artemísia, os Negócios Sociais que atuaram na área da empregabilidade
em 2018.
A partir disso, foi elaborado um quadro síntese com informações sobre os autores com trabalhos sobre
inovação social mais citados nas bases de dados Web of Science e Scopus.

4. RESULTADOS
Neste estudo os Negócios Sociais estudados são os acelerados pela ONG Artemísia, do ano de
2018 que atuam na área da empregabilidade. Sendo os seguintes: BLU 365, Canal Bloom, COLAB,
NINDOO, PARAFUZO, VITTUDE e CLOUDIA.
O Negócio Social BLU 365 tem o objetivo de ajudar brasileiros com dificuldades financeiras, os
auxiliando por meio de serviços de negociação de dívidas, renda extra, orientação financeira, entre outros.
A organização Canal Bloom objetiva, por meio de seu site e aplicativo, e com público alvo
focado em pais, mães e cuidadores, fornecer informações científicas, acolhedoras e ferramentas que
auxiliem seus clientes a fortalecer o afeto e o vínculo com a criança.
O Negócio Social Colab tem por objetivo usar um aplicativo e um site que promovem a
interação entre o cidadão e o poder público para dar, ao usuário, a oportunidades de relatar problemas
encontrados em sua cidade (pode ser realizado com fotos e indicando o endereço), além de poder indicar
meios para a melhoria da cidade, avaliar e analisar os serviços prestados pelo poder público.
O Negócio Social Nindoo tem faz uso de uma plataforma virtual para promover a a interação
com o usuário. Tem por objetivo acelerar o processo de diagnóstico e tratamento de doenças raras,
descoberta de novos tratamentos e drogas mais eficazes, e, ao mesmo tempo, viabilizando uma educação
mais personalizada e focada nas necessidades do indivíduo.
A organização Nindoo atua na área da saúde e procura reduzir a dificuldade e ineficiência no
diagnóstico de síndromes raras, ao permitir realizar um mapeamento da evolução de doenças para a
descoberta de tratamentos e drogas mais eficazes.
O Negócio Social Parafuzo tem por objetivo conectar os usuários que procuram contratar
serviços de limpeza doméstica e corporativa com profissionais autônomos de grandes regiões urbanas.
A organização Parafuzo procura criar acesso para a busca de um emprego de qualidade, gerar
renda e otimizar a agenda. A empresa envia ofertas de trabalho padronizadas, com valores justos e
garantia de recebimento, permitindo maior autonomia do profissional.
A organização Vittude é um marketplace com o objetivo de conectar psicólogos e pacientes. Do
lado dos profissionais, a plataforma oferece um sistema de gestão financeira, agenda virtual e prontuário
eletrônico; melhora a presença online dos psicólogos e fornece serviços que aumentem a produtividade e
gestão da clínica. Do lado dos pacientes, a plataforma fornece uma forma simples e fácil de começar o
tratamento com a comodidade de conversar com o psicólogo na própria casa, pelo do smartphone.

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O Negócio Social Cloudia objetiva fornecer um chatbot que facilite os processos de


comunicação entre pacientes e estabelecimentos de saúde via aplicativos de chat e website. Do lado das
instituições de saúde, é oferecido um callcenter automatizado com ilimitadas posições de atendimento 24
horas por dia a sete dias por semana e que enviam lembretes aos pacientes. Para o usuário, a empresa
oferece a comodidade de poder se comunicar instantaneamente com instituições de saúde, em qualquer
momento e sem a necessidade de baixar aplicativos extras.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado permite observar que a inovação social ainda não encontra-se disseminada em
modelos de negócios tradicionais, ou seja, que visam principalmente a resolução de questões econômicas,
que operam com a lógica de mercado orientada para o lucro. No entanto, considerando o seu caráter
social percebe-se que os Negócios Sociais estudados enfatizam a criação de valor para as pessoas, ao
permitir, por exemplo, acesso à serviços com redução de custos.
Neste sentido, parece que a inovação social aplicada aos Negócios Sociais tem como foco a
inserção social das pessoas e a geração de acesso a produtos e serviços para pessoas que se encontram em
situação social menos desfavorecida.

6. REFERÊNCIAS

DAWSON, Patrick; DANIEL, Lisa. Understanding social innovation: a provisional framework.


International Journal of Technology Management, [s.l.], v. 51, n. 1, p.9-21, 2010. Inderscience
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MUKENDI, Joel Tshibamba et al. Inovação Social nas Ciências Sociais: Uma Análise Bibliométrica de
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WESTLEY, Frances; ANTADZE, Nino. Making a Difference: Strategies for Scaling Social Innovation
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nov. 2018.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 18
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

RECUPERAÇÃO E AVALIAÇÃO CRÍTICA DO HISTÓRICO RECENTE


DAS PARCERIAS REALIZADAS PELA REDE RECICLAMP

Pedro de Miranda Costa1, Natália Barbosa da Silva2

1. Docente da Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas. E-mail: pedromcosta@puc-


campinas.edu.br
2. Graduanda da Faculdade de Administração com Linha de Formação em Comércio Exterior da
PUC-Campinas. E-mail: natalia.silva404@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho é resultado de projeto de Extensão que visa, por meio da análise de parcerias
pregressas e demandas atuais, formar um conjunto de projetos que possam ser apresentados a possíveis
parceiros da rede de cooperativa de reciclagem de materiais. O estudo das parcerias anteriores apresenta-
se como uma ferramenta relevante para a construção de novas parcerias, mas medida em que mapeia tanto
as boas práticas como aquelas que trouxeram resultados negativos. Por meio de oficinas, contando com os
cooperados, foram recuperadas as parcerias pregressas. Essas foram categorizadas e analisadas. Os
resultados apresentados, entregues de volta às cooperativas, apresenta-se como elemento coadjuvante na
mudança de postura das cooperativas em relação a novas parcerias. Apresenta-se também como ponto de
partida para a estruturação de demandas visando a obtenção de recursos para execução de projetos.

PALAVRAS-CHAVE: Economia Solidária, Cooperativismo, Reciclagem.

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho resulta de relato de experiência vivenciada durante execução de projeto de
extensão junto a cooperativas populares de Reciclagem de Materiais de Campinas. Essas cooperativas, em
número de 4 (nomeadas em seções posteriores) estão aglutinadas em uma rede denominada Reciclamp.
Dada a natureza da atividade de extensão e dos objetivos da etapa do projeto que resultou nesse trabalho,
seu conteúdo é fortemente baseado nos nas fontes primárias dos relatos dos cooperados, razão pela qual
não são apresentadas referências bibliográficas.
O trabalho teve como objetos de estudo as cooperativas de material reciclável que compõem a
Reciclamp na cidade de Campinas, sendo elas Reciclar, São Bernardo, Antônio da Costa Santos e Unidos
na Vitória. O projeto deste ano voltou-se para a recuperação de parcerias, no intuito de desenvolver um
portfólio para melhor conhecimento e visibilidade da trajetória da rede, tanto para os colaboradores
quanto para futuros parceiros.
Para resgatar em detalhes as empresas e entidades com as quais a Reciclamp e/ou as cooperativas
já trabalharam, foram realizadas múltiplas oficinas com a diretoria. Estes encontros consistiram em
reuniões com gestores e coordenadores de cada cooperativa e da própria rede, de forma a obter o máximo
de informações possível. Foram necessários encontros com diferentes representantes, visto que não há
registro de todas as parcerias já feitas pelas cooperativas e, ao decorrer das discussões, se tornou ainda
mais visível a necessidade de agrupamento e disponibilização destes dados, principalmente no âmbito
interno à Rede.
O presente trabalho foi dividido nas seções: identificação e categorização das parcerias, seguido
da descrição destas; relato do aprendizado obtido com as parcerias segundo o presidente atual da Rede
Reciclamp e; considerações finais.

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2. CATEGORIZAÇÃO DAS PARCERIAS


Após identificadas as diversas parcerias, para facilitar a análise, procurou-se organizá-las em
categorias, de acordo com a natureza deste relacionamento. Assim, foram formuladas três categorias
principais que possibilitaram o agrupamento destes acordos, sendo estas: comercial, institucional e
programas de logística reversa.
Na categoria comercial há duas subdivisões, a comercial “pura”, as quais destinam os materiais
como iniciativa própria, visando somente a parceria através da prestação de serviços pela cooperativa e/ou
pela rede e; comercial-legal, referente às empresas que destinam materiais à triagem para atender às
exigências legais.
A categoria de parcerias institucionais também foi subdividida em responsabilidade social, a qual
se refere àqueles que fornecem auxílio à prestação de serviço e aos componentes da Reciclamp, tanto
empresas e demais entidades como a própria comunidade na qual a cooperativa está localizada e;
institucional governamental, que compreende as parcerias formadas e regidas a partir de editais e outros
programas governamentais ou diretamente pelo poder público.
As parcerias formadas pelo compromisso com a logística reversa referem-se à destinação de
material para a indústria por parte das cooperativas, ou seja, após a triagem dos materiais, estes são
vendidos para a reutilização dos mesmos por outras empresas. Nas Tabelas 1 e 2 abaixo estão
relacionadas e categorizadas as parcerias.
Tabela 1 – Categorização das parcerias - Parcerias Encerradas
Class Cooperativa Período Parceiro Objetivos
COM Antônio da Costa Santos 2004 a 2005 Belgo-Mineira Destinação de materiais.
COM Reciclar 2000 a 2018 ABL Coleta não remunerada.
COM Reciclar 2003 a 2018 Merck Destinação de materiais.
COM Reciclar 2005 a 2014 Sanasa Destinação de materiais.
COM São Bernardo 2013 a 2017 Croda Destinação de materiais.
Condomínio
COM Unidos 2013 Destinação de materiais.
Villaggio Shangrilá
IN-GOV Reciclar 2007 BNDES Doação de ativos imobilizados e EPIs.
IN-GOV Rede 2004 a 2005 DLU Obtenção de transporte.
Doação de equipamento para triagem e
IN-RSOC Antônio da Costa Santos 2015 ARCOR
materiais para reformas.
Comunidade (Carlos
IN-RSOC Reciclar 1999 Lourenço, São Judas Obtenção de material.
e Vila Brandina)
Obtenção de transporte para realização
IN-RSOC Reciclar 2001 Transportadoras
das coletas.
Doação de materiais para reforma do
IN-RSOC Reciclar Antes de 2002 Replan
prédio após incêndio.
IN-RSOC São Bernardo 2016 Cáritas Brasil Doação em forma de capital de giro.
LEG-LOG Rede 2016 a 2018 Prolata Venda de material à indústria.
Fonte: Elaboração própria através de dados coletados nas oficinas.

Tabela 2 – Categorização das parcerias - Parcerias Atuais


Class Cooperativa Período Parceiro Objetivos
COM Antônio da Costa Santos 2014 Departamento de Limpeza Coleta de material.
Urbana
COM Antônio da Costa Santos 2016 Sanphar Doação de material.
COM Antônio da Costa Santos 2008 Pirelli Destinação de material.
COM Reciclar - Aparistas Venda de material à indústria.
COM Rede 2015 Unimed Coleta remunerada.
COM Rede 2015 Clube de Campo Valinhos Destinação de material.
COM- Rede 2008 Correios Coleta não remunerada.
LEG
COM- Rede 2016 Banco do Brasil Coleta não remunerada.
LEG
COM- São Bernardo Antes de 2013 Receita Federal Destinação de materiais.

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LEG
IN-GOV Rede 2019 Edital para coleta Contrato de destinação de
materiais.
IN-RSOC Reciclar 1999 Paróquia N. Sra. Aparecida Geração de empregos e renda à
comunidade.
IN-RSOC Rede 2015 Unimed Iniciativas de responsabilidade
sociais.
IN-RSOC Rede 2016 Banco do Brasil Doação de veículo e serviços de
transporte.
IN-RSOC Rede 2018 ARCOR Triagem e material dentro da
planta da empresa
IN-RSOC Rede Momentos TetraPak Ministração de cursos e doação
pontuais de equipamentos.
LEG-LOG Rede 2016 ABIHPEC Doação de equipamentos para
logística reversa.
LEG-LOG Rede 2016 Glass is Good Intermediação e venda de
material à indústria.
LEG-LOG Rede Desde 2017 Natura Inserção na cadeia de
suprimentos (logística reversa).
Fonte: Elaboração própria através de dados coletados nas oficinas.
Legendas
COM Apenas comercial
COM-LEG Comercial Legal
IN-GOV Institucional Governamental
IN-RSOC Responsabilidade Social
LEG-LOG Programas de Logística Reversa

2.1 PARCERIAS COMERCIAIS


Belgo-Mineira (Cooperativa Antônio da Costa Santos - 2004 a 2005): Não havia comercialização, a
empresa destinava o material limpo para a cooperativa, ou seja, totalmente reciclável e sem impurezas.
Assim, tratando-se de um material de alto valor, visto que não seria necessário despender recursos para a
separação do mesmo, o recebimento deste sem custo representava algo além de uma relação comercial. A
empresa ainda, promovia eventos de integração entre seus colaboradores e os cooperados.A cooperativa
era responsável pela retirada do material, contudo, esta dependia da prefeitura para utilizar o caminhão do
Departamento de Limpeza Urbana (DLU). A prefeitura permitia que um caminhão ficasse à disposição de
cooperativas por dois dias na semana, sendo estes previamente estipulado. Mas quando o veículo era
afastado para manutenção, não havia compensação do dia, assim a cooperativa poderia utilizar o mesmo
somente na semana seguinte, no seu dia, fazendo com que a empresa tivesse de segurar este material por
mais tempo ou destinar à outra cooperativa, situação que não agradava a mesma. Além disso, a postura
dos cooperados na retirada do material também afetou a parceria, já que estes não se portavam de forma
profissional nas dependências da empresa.A parceria foi terminada, principalmente, devido à dependência
do veículo para a coleta que, até então não era posse da Rede. Este fator, em conjunto com a oportunidade
de gerar receitas, fez com que a empresa passasse a direcionar os materiais a empresas e cooperativas que
estivessem dispostas a comprá-los. Recentemente houve tentativa de contato por parte da cooperativa,
com objetivo de obter uma nova parceria, porém não obtiveram resposta.
ABL (Cooperativa Reciclar - 2000 a 2018): De início, a coleta não remunerada resultava em
grandes volumes de material, o que compensava o serviço. No decorrer do tempo, a quantidade de
material diminuiu, além de o custo do transporte ter aumentado devido à instituição do pedágio dentro da
rota. Assim, a cooperativa propôs que o serviço de coleta fosse remunerado, mas houve acordo com a
empresa e a parceria acabou.

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Merk (Cooperativa Reciclar - 2003 a 2018): Assim como ABL, destinava material que podia
ser vendido sem necessidade de triagem, o que gerava boa receita para a cooperativa. Foi encerrada em
2018, pois parceiro passou a vender o material para um terceiro.
Sanasa (Cooperativa Reciclar - 2005 a 2014): A empresa não tinha uma política específica e
definida para a coleta, a destinação de materiais à cooperativa Reciclar dependia da diretoria atual. Assim,
quando houve alterações na direção da empresa, a mesma acreditou que a parceria gerava mais vantagens
à cooperativa do que para ela mesma, então cessou a parceria.
Croda (Cooperativa São Bernardo - 2013 a 2017): A empresa destinava materiais de boa
qualidade para a cooperativa, porém, devido a irregularidades sanitárias com as remessas resultado de má
gestão pela própria empresa, houve a intervenção do Departamento de Limpeza Urbana que não permitiu
a continuidade da parceria.
Condomínio Villaggio Shangrilá (Cooperativa Unidos na Vitória - 2013): Ainda que a
iniciativa de destinar os materiais à cooperativa tenha sido do condomínio, quando este recebeu uma
proposta mais atrativa, a parceria terminou. A cooperativa não tinha custo algum já que o condomínio
realizava a coleta interna e entregava o material na porta da cooperativa. Contudo, visto que a parceria
não era formalizada, quando o condomínio recebeu a oferta de uma empresa que se dispôs a fazer a coleta
interna, os materiais deixaram de ser encaminhados à cooperativa.
Departamento de Limpeza Urbana (Cooperativa Antônio da Costa Santos - desde 2014):
Havia receios sobre a parceria inicialmente, por parte da diretoria do DLU, mas a cooperativa conquistou
a confiança da mesma e o departamento dá suporte à rede como um todo. O departamento fechou um
acordo com o condomínio San Conrado e deu a ordem de serviço para que o material fosse destinado à
cooperativa Antônio da Costa Santos.
Sanphar (Cooperativa Antônio da Costa Santos - desde 2016): No começo da parceria, a
empresa levava o material à cooperativa, mas posteriormente, a empresa deixou de possuir o veículo de
transporte e assim foi requerido que a cooperativa realizasse a retirada do material, o que não limitou a
parceria, visto que o material é de alto valor e compensa o serviço de coleta.
Atualmente, a Rede aluga duas caçambas que são mantidas na planta da empresa, o único desafio é
cumprir com o aluguel de duas caçambas, já que a cooperativa se propôs a alugar inicialmente uma
apenas, mas a empresa pediu que fossem colocadas duas.
Pirelli (Cooperativa Antônio da Costa Santos - desde 2008): No início da parceria, o material
destinado à cooperativa era de alto valor agregado, já que este era separado na própria empresa e em seu
restaurante. Contudo, ao longo do tempo, o material passou a ser "sujo", ou seja, com uma porcentagem
grande de materiais não recicláveis, ou até orgânicos. Suspeita-se que o motivo para tal mudança tenha
sido a troca de gestão por parte da empresa. Este material contém muito “rejeito”, termo usado para
descrever as sobras nas mesas de separação após a retirada dos principais materiais recicláveis.
Após comunicação com a empresa por parte da Rede, as condições do material melhoraram, mas
ainda não ao nível de limpeza em que eram recebidos no início da parceria. Novamente, após um período,
a qualidade do material diminui, desta vez devido à oportunidade encontrada pela empresa de vender o
carregamento de maior valor agregado à outra organização.
Aparistas (Fernandes, Suleste) (Cooperativa Reciclar):
São parceiros meramente comerciais e intermediários. Na origem da formação da RECICLAMP, a ideia
seria justamente de prescindir dos aparistas. Porém, mesmo hoje, e para alguns materiais as cooperativas
precisam dos aparistas para comercialização.
Unimed (Rede - desde 2015): Coleta remunerada em escritórios e hospitais designados pela
Unimed.
Clube de Campo Valinhos (Rede - desde 2015): A parceria é com a Rede Reciclamp, a coleta
é feita pela mesma e, por conveniência logística, a triagem dos materiais é feita pela Reciclar.

Destaques/Aprendizados

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Um grande obstáculo da Rede é o fato de estar sujeita à vontade dos clientes atuais e não
contestar o preço estabelecido por eles, devido ao medo de perder este cliente. Para que esta tivesse
melhor apoio de negociação de preços e condições de parceria, seria necessário se armar de novos
clientes, para diminuir a dependência que tem das empresas com que trabalha atualmente.
Outro desafio enfrentado é a comodidade da Rede, como visto acima, muitas parcerias foram
perdidas por não estarem formalmente reguladas, ou seja, sem contrato. Isso dá liberdade para que o
cliente rompa a parceria no momento em que recebe ou identifica um cenário mais oportuno e vantajoso.
Ligada às duas situações, está a necessidade de as cooperativas se estruturarem para competir
pelas parcerias. Obviamente, possuir parceiros que destinam o material sem custo de coleta é o desejável,
porém, é preciso que a Rede tenha capacidade de oferecer acordos financeiramente atrativos aos clientes,
tanto para manter os atuais, quanto para conquistar futuros.

2.2 PARCERIAS COMERCIAIS-LEGAIS


Correios (Rede - desde 2008): A destinação de materiais foi motivada pelo decreto nº 5940/06.
Os materiais são separados na empresa, de forma a exigir o mínimo de mão de obra por parte das
cooperativas, visto que a coleta não é remunerada.
Receita Federal (Cooperativa São Bernardo - desde antes de 2013): A Receita procurou a
cooperativa, devido ao compromisso com o decreto nº 5940/06. O órgão ainda destina materiais à
cooperativa, contudo não se trata de um volume significativo.
Banco do Brasil (Rede - 2016): As cooperativas realizam a coleta de material em todas os
prédios da empresa em Campinas, o serviço de coleta não é pago, porém parte do material deve ser
separado na fonte, ou seja, o material, papel branco em sua maioria, já deve ser coletado pelas
cooperativas já segregado, para que seja colocado o mínimo de mão de obra possível por parte destas.
Isso é necessário para que a cooperativa faça a coleta sem receitas diretas do banco, bem como sem
prejuízos.

Destaques/Aprendizados
As parcerias com os Correios e com o Banco do Brasil começaram para o cumprimento de uma
norma, contudo é interessante ver as entidades se esforçaram para que a coleta aconteça. No caso do
Banco do Brasil, a Rede enfrentou dificuldades no início da parceria por questões de custo-benefício,
assim as agências formularam estratégias para viabilizar o serviço para as cooperativas. A parceria com
os Correios tem sido ainda mais significativa, devido o aprendizado que esta tem proporcionado à
Reciclamp como um todo. Ambos os casos serão detalhados à frente, na seção de conversa com o Sr.
Valdecir, presidente da Rede.

2.3 PARCERIAS INSTITUCIONAIS-GOVERNAMENTAIS


Departamento de Limpeza Urbana (Rede - 2004 a 2005): A prefeitura permitiu que o
departamento emprestasse um veículo duas vezes por semana para auxiliar a Reciclamp na coleta de
material. Após a cooperativa adquirir um veículo próprio, a parceria terminou. Contudo, o término não
representou perda para nenhuma das partes, visto que alguns acontecimentos, na verdade, estreitavam o
relacionamento das organizações. O exemplo dado foi a paralisação do veículo por motivos de
manutenção, quando isto ocorria nos dias em que o caminhão devia ser emprestado à cooperativa, não
havia nenhum plano de contingência, o que impedia a coleta de material nas empresas com as quais a
cooperativa já havia se comprometido, fazendo com que a relação desta com seus clientes também fosse
prejudicada.
BNDES (Cooperativa Reciclar - 2007): Doações à cooperativa de um barracão, veículos,
prensa e EPIs, estimadas em R$ 800.000,00.

Destaques/Aprendizados

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

O fator mais importante proporcionado pelo apoio do governo e entidades governamentais é a


legitimação das atividades de prestação de serviço das cooperativas.

2.4 PARCERIAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL


Comunidade (Cooperativa Reciclar - 1999): Refere-se à comunidade dos bairros Carlos
Lourenço, São Judas e Vila Brandina, esta se organizou para destinar os materiais à cooperativa Reciclar,
através da coleta na vizinhança e entrega com recursos próprios, além de divulgar os serviços da
cooperativa.
Transportadoras (Cooperativa Reciclar - 2001): A empresa emprestava o caminhão, já
abastecido e com motorista, para que a cooperativa realizasse a coleta, sem custo. A parceria acabou
quando a cooperativa comprou um veículo próprio.
Replan (Cooperativa Reciclar - antes de 2002): Quando houve um incêndio no barracão que
até então era utilizado pela cooperativa, a empresa doou materiais para auxiliar na sua reconstrução.
Arcor (Cooperativa Antônio da Costa Santos - 2015): Esta foi uma parceria institucional
muito significativa para a cooperativa Antônio da Costa Santos. A empresa ajudou na estrutura da
cooperativa como um todo, corrigir e evitar inundações, manutenção de pisos, telhas e encanamentos que
não comportavam as chuvas. Além de ministrar palestras educacionais e dinâmicas de integração.
Contudo, os cooperados não compreendiam a importância destas reuniões e treinamentos, não conseguem
enxergar a necessidade e as vantagens dos mesmos, acreditam ser "tempo perdido", visto que nas horas
em que são ministradas estas atividades, não há remuneração. A empresa também realizou a doação de
uma esteira industrial à cooperativa, com o objetivo de otimizar o processo de triagem. Entretanto, após a
implementação da empresa no processo, a produtividade diminuiu e insistiu em fazê-lo, até que a mesma
tivesse de ser desligada. Ainda hoje, a administração da cooperativa não vê como a cooperativa poderia
produzir mais com a instalação da esteira. Talvez por falta de orientação, já que segundo a coordenadora,
não receberam treinamento ou instruções, o que também ocasionou a falta de confiança no potencial do
equipamento e dos próprios cooperados. Especula-se também que a atividade da esteira ou o equipamento
em si não foram os desafios, mas sim as atividades de apoio que eram necessárias para o funcionamento
da máquina, como alimentação da esteira, captação do rejeito e posicionamento dos bags para triagem e
separação. A má gestão destas atividades, novamente por falta de instruções, causou a inutilização da
esteira na cooperativa. Não se soube posicionar os cooperados para que todos tivessem bom desempenho,
visto que foram designadas duas pessoas para cada uma destas atividades, contudo, estas atividades não
eram constantes, o que fazia com que estas pessoas tivessem um período de "não produção". Ademais,
não havia cooperação entre as pessoas designadas à separação, o que gerava conflitos no trabalho e estes
impactavam diretamente no rendimento das operações.
Cáritas Brasil (Cooperativa São Bernardo - 2016): Através de um edital, a entidade doou
recursos para capital de giro, constituindo estes o primeiro carregamento da cooperativa São Bernardo.
Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Cooperativa Reciclar - desde 1999): A parceria está na
origem da formação da cooperativa Reciclar/Nossa Senhora Aparecida. Dentro da proposta de gerar
emprego e renda, a paróquia incentivou a formação de um grupo que viria a constituir a cooperativa.
Inicialmente, se teve como objetivo a obtenção de um local para a atuação da cooperativa que, até então,
não possuía um local estabelecido, apenas uma sala de reunião. A atividade de triagem dos materiais era
realizada em uma praça e a comunidade participava, o que deu suporte à cooperativa em momentos
críticos.
Este apoio gerou um vínculo com a comunidade, além de a cooperativa utilizar o terreno da
paróquia, esta se tornou um ecoponto, para onde a vizinhança ainda destina os materiais recicláveis que
seguem à cooperativa.
Unimed (Rede - desde 2015): A parceria institucional com a Unimed não está registrada em
contrato, todavia, a empresa realiza doações direcionadas de EPI's e uniformes, direcionada porque a
empresa consulta a gestão para saber qual das cooperativas tem maior necessidade de equipamento,
contudo, todas recebem em algum momento, além do serviço de dedetização quinzenal das cooperativas e

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ministração de palestras. Como parte do programa de Responsabilidade Social da Unimed, a empresa


ainda subsidia exames admissionais e demissionais para as cooperativas.
Banco do Brasil (Rede - desde 2016): Houve um projeto, por parte da cooperativa Antônio da
Costa Santos, referente a um edital interno com o objetivo de adquirir um caminhão específico para
atender à coleta dos bancos e prédios públicos no centro da cidade. A partir deste projeto, foi doado à
cooperativa um veículo juntamente com os serviços de um motorista e seguro por dez meses, a fundo
perdido pela Fundação do Banco do Brasil, total da doação estimado em R$ 150.000,00. Em troca a
cooperativa deveria entregar relatórios mensais das atividades de coleta.
Criou-se uma parceria institucional com o Banco do Brasil com vigência de dois anos e meio, ao
final dos quais deve ser publicado um novo edital. Os bancos, assim como outros serviços públicos como
Replan e Correios devem, por lei, doar o material reciclável às cooperativas.
TetraPak (Rede - Ocasional): Parceria institucional não formalizada, a empresa já ministrou
cursos de liderança na cooperativa, além de doar materiais para manutenção da infraestrutura em geral.
Houve uma ocasião em que a empresa executou um projeto de "embelezamento" das cooperativas.
Arcor (Rede - desde 2018): A empresa destina todo o material gerado dentro da planta, em
troca, a cooperativa deve fazer a triagem do material orgânico que é considerado como impróprio para
consumo humano, como alimentos vencidos, contaminados ou cargas de caminhões tombados. Há uma
unidade de triagem dentro da planta da empresa, onde os cooperados são designados a trabalhar de acordo
com a demanda, com exceção do prensista, o qual é considerado um cargo fixo, mas passa por um
turnover a cada três meses. Após a triagem, as embalagens ficam para a cooperativa, estes materiais são
prensados e saem da Arcor prontos para a indústria, enquanto os resíduos orgânicos são destinados à
produção de ração animal, para o caso de alimentos de caminhões tombados e que ainda estejam dentro
do prazo de validade, caso estejam vencidos, estes resíduos são destinados à compostagem.

Destaques/Aprendizados
É importante destacar o vínculo que é criado com a comunidade ao redor e as vantagens deste
vínculo. Talvez hoje a cooperativa Reciclar nem mesmo existisse sem o apoio para a criação, coleta e
divulgação da cooperativa por parte da vizinhança. Além disso, tão importante quanto o vínculo com a
comunidade vizinha é o relacionamento próximo com as entidades parceiras, ou seja, uma real parceria
que vai além do quesito comercial. Um bom exemplo para as cooperativas é a empresa Arcor que, sempre
demonstrou interesse e disposição para alimentar um relacionamento mais do que comercial.
Alguns dos esforços da empresa para tanto, foram a ministração de palestras, dinâmicas e até
treinamentos, porém como informado acima, muitos dos funcionários não apreciavam este tipo de
atividade. Não foi ensinado a eles a capacidade de estudar o cenário no longo prazo, eles não conseguem
enxergar o impacto desse aprendizado no futuro da cooperativa, apenas no curto prazo e por isso têm
essas ministrações como perda de tempo.

2.5 PARCERIAS DE COMPROMISSO COM A LOGÍSTICA REVERSA


Prolata (Rede - 2016 a 2018): A parceria foi rompida em 2018, após dois anos, já que esta
estava prejudicando a receita da Rede, pois a empresa não cumpria com o contrato e, não estava disposta
a pagar o valor de mercado dos materiais.
ABIHPEC (Rede - desde 2016): A parceria foi criada dentro dos Acordos Setoriais, a empresa
investiu R$ 504.000,00 em equipamentos para a Rede e para as cooperativas. Em troca, a cooperativa tem
de emitir notas fiscais de vendas em geral, com exceção do vidro, até que estas atinjam o volume de 4.894
toneladas. Não há prazo final, contudo, somente após atingir esta meta, a cooperativa poderá renovar o
contrato ou desenvolver outro projeto, para receber novos investimentos da empresa. A emissão de notas
é pedida para que haja comprovação da destinação dos produtos pelas cooperativas e, para que a própria
Associação tenha como comprovar a idoneidade do investimento. Foi planejado pela cooperativa um

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aumento progressivo do desempenho, a partir de 120 toneladas por mês, visto que se espera um
rendimento maior a partir da chegada dos novos equipamentos.
Glass is Good (Rede - desde 2016): A parceria com a Glass is Good consiste em três pilares:
coleta remunerada em bares nos bairros Cambuí e Taquaral, coleta remunerada em eventos específicos e
entrega do vidro à indústria. As coletas são remuneradas pela ONG 341 Caminho Suave. Iniciou-se um
projeto para a instalação de um triturador dentro da cooperativa Antônio da Costa Santos, com o objetivo
de agregar valor ao material e reduzir seu volume. Entretanto, a instalação de um equipamento complexo
e significativamente perigoso dentro da cooperativa não era relevante para a mesma. A justificativa dada
foi que, além do equipamento requerer um serviço especializado de manutenção, a instalação do
triturador demandaria um forte treinamento e equipamentos de segurança para os cooperados. Assim,
como o principal objetivo era diminuir o volume de material e, o veículo utilizado para transporte pela
cooperativa comporta grandes quantidades, o projeto não seguiu em frente.Já que a cooperativa não
necessitava de tal equipamento, foi negociado para que o dinheiro que seria usado para a aquisição do
triturador fosse revertido para a compra de containers, também para a cooperativa. O financiamento
destes containers foi realizado, a comodato, pela ONG 341 Caminho Suave, no valor de R$ 150.000,00.
A ONG trabalha na intermediação da venda, entre a cooperativa e a indústria. Ao contrário da parceria
com a ABIHPEC, a emissão de notas fiscais referentes à venda de vidro não é necessária, já que a ONG
recebe as informações sobre as vendas direto da indústria. Assim como não há volume mínimo ou
máximo de vendas.
Natura (Rede - desde 2017): A empresa tem projeto chamado Elos, com o principal objetivo de
proporcionar um rastreamento de todo o processo produtivo, para isso é preciso incluir a cooperativa na
própria cadeia de suprimentos.

3. APRENDIZADO PROPORCIONADO PELAS PARCERIAS


Após a etapa organização e categorização das parcerias, foi realizada uma conversa com o Sr.
Valdecir, atual presidente da Reciclamp e pessoa presente nas cooperativas desde sua organização inicial,
com o objetivo de compreender os aprendizados que estes relacionamentos proporcionaram à Rede.
Foram elaboradas questões para nortear esta conversa, nesta seção são apresentados os resultados.
QUESTÃO: Quais foram as parcerias mais significativas? Em termos positivos (as que mais
agregaram à rede ou às cooperativas)?
Em termos institucionais, a parceria mais positiva foi a Cáritas Brasil em conjunto com a Puc-
Campinas. Os alunos da universidade, voluntariamente, deram apoio técnico às cooperativas, através do
projeto da entidade. Posteriormente, com a criação do Centro de Referência em Cooperativismo e
Associativismo (CRCA), os alunos passaram a receber bolsas de estágio, o que estimulou a participação
dos mesmos. Este suporte foi essencial para que a Rede Reciclamp se sustentasse e seguisse com as
atividades.
A segunda parceria mencionada como mais significativa, foi a Petrobras, a qual foi conquistada a
partir de editais do CRCA, que resultaram em recursos de investimento para a formação da Rede.
Em termos de parceria no serviço de coleta, não necessariamente simples comercial, a parceria
destacada foi com os Correios, a qual foi motivada pelo decreto nº 5940/06. A parceria foi muito
importante tanto pelo volume de material inicialmente coletado, quanto pelo aprendizado logístico. Foi a
partir desta parceria que a Rede identificou os aspectos que fazem parte do dia a dia de transações com
grandes empresas, como a infraestrutura necessária (containers específicos para transporte) e os
procedimentos de formalização e liberação nestas organizações (apresentação de documentos de
identificação e realização de cadastros).
Além disso, a Rede sentiu a forte integração interna da empresa, como todos os colaboradores
são conscientes do papel que desempenham e, o entendimento sobre o todo ser maior que a soma das
partes. Ao ver como a empresa se organiza para desenvolver estratégias de melhoria, ou até em situações
de crise, a confiança foi sendo conquistada e a parceria fortalecida. Assim, esta parceria forneceu
orientação para viabilizar e permear os contratos atuais e a preparar as cooperativas para futuros acordos,
e ainda, acrescentou para a formação de valores da Rede, para que esta compreendesse os fundamentos de
uma parceria e o valor desta.
Observação: Ainda que haja outros meios e outros lugares para os quais os materiais recicláveis
possam ser destinados, é intrigante observar que uma parceria, de certo modo, forçada, tenha propiciado

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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tantos ganhos, por vezes até inimagináveis, à Rede como um todo. O decreto obriga entidades públicas a
destinarem materiais recicláveis gerados às cooperativas, contudo, a relação entre ambas as partes poderia
ser simples e puramente comercial. Descobrir que há um comprometimento colaborativo por parte das
empresas, assim como há possibilidade de as cooperativas aprenderem e, acima de tudo, estarem abertas a
este novo aprendizado, é certamente curioso.
QUESTÃO: Em termos negativos (as que geraram experiências frustrantes)?
Não seria tanto em termos negativos, mas de desafio o que acabou fazendo com que algo
negativo se tornasse positivo. O maior desafio era o custo-benefício da coleta nas unidades do Banco do
Brasil, visto que a mesma não é remunerada e, devido a imperatividade da lei, todas as unidades deveriam
ser atendidas. Ainda que o material seja de boa qualidade, a cooperativa tinha de arcar com custos de
frete, o próprio veículo e pessoal, o que impactou significativamente na lucratividade.
Como as agências não tinham condições de remunerar o serviço de coleta, as soluções
encontradas por eles, para viabilizar este serviço e manter a parceria, foram a segregação do material nas
próprias agências e a concentração destes em alguns prédios da empresa. Ou seja, utilizando uma rota já
ativa para transporte de documentos e demais obrigações, os materiais passaram a ser enviados para
outras agências, diminuindo o percurso e as paradas na coleta de material pela cooperativa.
Através disso, ainda que a parceria não seja a mais lucrativa, a cooperativa consegue conciliar os
custos logísticos com as receitas de venda destes materiais, sem que seja preciso terminar a parceria, além
de manter o emprego de motoristas e ajudantes.
QUESTÃO: Poderia ser destacada a parceria com o DLU/Prefeitura para realização da coleta
seletiva de forma remunerada no bairro San Conrado?
Observação: Em 2014, ocorreu um fato importante que foi a contratação, pela prefeitura, da
Rede Reciclamp (por meio da cooperativa Antônio Costa Santos) para a realização da coleta remunerada
no loteamento residencial San Conrado, em Sousas. A rede já havia tido uma experiência de coleta no
loteamento, porém sem remuneração - somente tendo como contrapartida o material - mas a mesma fora
interrompida, justamente pelo fato de os custos relacionados ao transporte tornarem a coleta inviável
comercialmente.
A contratação da Antônio da Costa Santos torna-se relevante por se tratar de um contrato sem
assistencialismo, em consequência, a cooperativa é forçada a buscar eficiência em suas atividades,
adquirindo aprendizado e, logicamente, novas receitas. Além do mais, a viabilização do serviço de coleta
por parte do poder público, legitima ainda mais a atuação das cooperativas. A partir disso é possível
enxergar, ao longo do tempo, a diferença entre uma empresa ser responsável somente pela coleta e a
própria cooperativa coletar os materiais e, em seguida, transformá-los em receitas para a organização e
em salários para os cooperados.
QUESTÃO: Das parcerias atuais, haveria alguma que poderia ser apontada como modelo
(parceiro “ótimo”)?
A parceria com os Correios. Devido ao grande aprendizado que esta parceria agregou à
cooperativa e, também pelo relacionamento entre as partes. Ajustes sempre são necessários para a
adaptação às diferentes expectativas que cada parte tem para a parceria, contudo, o mais importante é
transcender as barreiras da rígida e estrita relação institucional para a relação humana entre os envolvidos.
QUESTÃO: Como a Rede poderia se preparar melhor para as futuras parcerias?
A Reciclamp está trabalhando para efetivar um Plano de Prestação de Serviço, no caso da parceria com o
Condomínio San Conrado, foi identificado a influência direta da coleta do lixo orgânico na geração
(volume coletado) de materiais recicláveis. Com isso a Reciclamp identificou a oportunidade para
oferecer seus serviços e se responsabilizar pela coleta do resíduo orgânico, juntamente com a coleta dos
recicláveis. Durante o desenvolvimento deste plano foram identificadas carências logísticas na estrutura e
nos processos atuais da Rede, mais especificamente na equipe de coleta.
Para que seja possível avançar, para novas oportunidades de negócio, é preciso ampliar as
condições de prestação de serviço da Rede como um todo. A Rede viveu um crescimento rápido e
descontrolado, principalmente, em termos de demanda, a infraestrutura de suporte não conseguiu
acompanhar. Para isso deve-se, primeiramente, consolidar o que já existe e é praticado pelas cooperativas
dentro da Rede. É necessário que estas entendam a importância do planejamento e seu impacto
positivamente significativo sobre a confiança com a qual se implementa um plano de ação, diminuindo
não apenas as hesitações, como os riscos de gestão do negócio.
É comum que contratempos dificultem o andamento de demais processos envolvendo o dia a dia
da Rede, principalmente, devido à sobrecarga de responsabilidade que atualmente está sobre a presidência

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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da Rede. Foi relatado que reuniões e negociações já foram interrompidas por problemas com caminhões
ou carregamentos. Isto evidencia a necessidade de formação e delegação de tarefas nas cooperativas. Há
uma dificuldade notável dentro das cooperativas de permitir que outros colaboradores tomem a frente ou
mesmo participem da formulação de estratégias, talvez por medo ou até orgulho da coordenação vigente,
medo ao pensar que este possa ser substituível ou ultrapassado e, orgulho por acreditar que nenhum outro
tem a capacidade de fazer o que deve ser feito.
Para que a Rede consiga evoluir em termos de capacitação de pessoal, é preciso que as
cooperativas desenvolvam um planejamento anual considerando um plano de formação para os
cooperados e, acima de tudo, assuma o compromisso de cumprir com este plano. Neste cenário, a gestão
da Rede entraria com um papel de controle e avaliação de resultados, determinando prazos e tendo
autoridade para aplicar ações punitivas às partes que não cumprirem com as normas internas. Segundo a
presidência da Rede, o fator obrigatoriedade seria o principal condutor do desenvolvimento profissional
dos cooperados e seus líderes.
A formação de pessoal faz parte da estratégia de consolidação da estrutura da Rede, assim como
preservação do patrimônio, gestão de pessoas e de relacionamentos internos, visto que o último já se
manifestou como limitação de desempenho de ao menos uma das quatro cooperativas sob a gestão da
Rede Reciclamp.
Outra carência apontada foi a falta de um especialista logístico, para coordenar as diversas
operações que constituem a atuação em rede das cooperativas, atualmente, esta responsabilidade está
sobre a presidência da Reciclamp. Assim, a consolidação da estrutura atual da Rede seria possível a partir
de aspectos principais como profissionalização de pessoal e comprometimento das partes.
Faz-se necessário também, a implementação de novas ferramentas que facilitem a praticabilidade
destes princípios. Sistemas informacionais reduzem o tempo gasto em cada processo, devido à maior
visibilidade do todo e organização de informações pertinentes para as atividades diárias da organização. A
adoção destes já está sendo discutida pela direção da Reciclamp.
Por fim, para aumentar a capacidade de prestação de serviço em rede, a presidência destacou a
necessidade de atrair novas cooperativas, mas reconheceu ser uma estratégia de alta complexidade. Fez-se
a comparação de uma nova associada com uma criança, a cooperativa recém-chegada demandaria uma
atenção especial, principalmente para que compreenda o que significa deixar de realizar operações
individuais e passar a ser integrante de uma rede. Todavia, a Reciclamp precisa ter algo a oferecer de
forma a recrutar uma outra participante, por isso, o fortalecimento da atuação em rede entre as
cooperativas já afiliadas se é imprescindível.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao aprofundar-se nas descrições das parcerias, principalmente as que já se encerraram, é
possível identificar carências no modo como as cooperativas se portavam frente aos parceiros.
É possível verificar o amadurecimento das cooperativas e da forma como estas lidam com os
parceiros a partir das parcerias recentes. Com o detalhamento destas fornecido pelos coordenadores,
pode-se notar a evolução dos termos de acordo que, proporcionam vantagens a ambas as partes e, o forte
vínculo criado com algumas destas parcerias, de forma que o relacionamento supera as limitações
comerciais e gera aprendizados mútuos.
A consciência sobre a evolução das parcerias existe entre as lideranças mais antigas, mas é
importante que seja divulgado entre outras lideranças e, entre os demais membros das cooperativas, por
isso, a confecção de um portfólio se faz necessária.
Muitas parcerias foram terminadas devido a não obrigatoriedade de contrato, ou seja, a parceria
era informal e, as responsabilidades e o comprometimento com a outra parte eram superficiais, de forma
que o elo mais fraco, no caso a cooperativa que dependia dos frutos da parceria, era desvalorizada.
Outro motivo comum para o rompimento das parcerias foi a oportunidade percebida pela
empresa de gerar receitas com os materiais que, até então, eram doados à cooperativa. Por vezes, a
cooperativa sequer fora consultada sobre a possibilidade de evoluir a parceria para uma relação de compra
e venda, ou, quando eventualmente questionada, a cooperativa se encontrava sem condições financeiras
para aceitar o acordo.
A atuação em rede pelas cooperativas pode, e deve, dar maior respaldo à estas diante do
mercado. Para isso, a consolidação da infraestrutura atual das cooperativas, que foi fortemente frisada
pela própria presidência da Rede, é a estratégia mais importante e que, deve ser adotada de imediato. Ao

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motivar o crescimento das cooperativas individuais, a evolução da própria rede se desenrola de forma a
fortalecer a sua atuação em como um todo, para que possa alcançar suas metas e objetivos.
Ainda, intensificação da atuação em rede depende de ela mesma deixar de se ver como
vulnerável e unicamente dependente das empresas com as quais trabalha. É preciso enxergar uma
dependência mútua no relacionamento, de forma a buscar acordos atrativos para todas as partes
envolvidas. Com isso, a cooperativa se sentiria confiante para não aceitar condições consideradas
desvantajosas para ela, como preços abaixo do mercado ou parcerias sem contrato formal, apenas para
não perder o parceiro.
Quando o acordo é discutido considerando os interesses das partes, ele se torna vantajoso para
todos os envolvidos, de forma que estes se esforcem para alcançar um objetivo comum. Visto que se a
relação é atrativa para os dois, o cliente irá se esforçar para desenvolver condições atrativas para a
cooperativa também.
Tendo isso em mente, é preciso atentar-se aos diferentes tipos de parcerias e, entender que cada
uma delas tem interesses e objetivos diferentes. Assim, é preciso conhecer os princípios de cada acordo e
saber exatamente o que cada parceiro pode e tem a oferecer.
De qualquer forma, as cooperativas precisam se preparar, em termos de infraestrutura e recursos
financeiros, para o novo tipo de relacionamento que as empresas procuram. Muitas empresas buscam
cooperativas para as quais possam vender os materiais, em vez de ter de doá-los. Assim como é
necessário mudar a imagem de organização fragilizada, a qual é geralmente percebida entre as empresas.

6. REFERÊNCIAS
CEA - Centro de Economia e Administração. Programa de Extensão Universitária. Campinas: PUC-
Campinas, 2019.
GEORGES, M. R. R.. CARACTERIZAÇÃO DA RECICLAMP COMO UMA CADEIA DE
SUPRIMENTOS REVERSA E SOLIDÁRIA. In: SINGEP - Simpósio Internacional de Gestão de
Projetos, 2013, São Paulo. anais do Singep, 2013.
GEORGES, M. R. R.. CADEIAS DE SUPRIMENTOS SOLIDÁRIAS: UM ESTUDO
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GEORGES, M. R. R.. ROTAS SOLIDÁRIAS: UM ESTUDO DAS ROTAS DE COLETA DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS NUMA COOPERATIVA POPULAR DE COLETA E SELEÇÃO DE
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GEORGES, M. R. R.. Caracterização do Produto Logístico na Cadeia de Suprimentos das Cooperativas
Populares de Coleta e Seleção de Recicláveis. Revista Ingepro : Inovação, Gestão e Produção, v. 3, p. 1-
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GEORGES, M. R. R.. SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE PARA UMA REDE SOLIDÁRIA
DE COOPERATIVAS POPULARES DE COLETA E SELEÇÃO DE RECICLÁVEIS. In: SIMPOI -
Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais, 2013, São Paulo. Anais
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GEORGES, M. R. R.. O LIXO COMO PRODUTO LOGÍSTICO DE CADEIA DE SUPRIMENTOS
REVERSA E SOLIDÁRIA. In: Convibra - Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 2013. anais
do Convibra, 2013.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 19
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (IDE): CÁLCULO PARA


MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS/SP

Celso Fabrício Correia de Souza¹; Josué Mastrodi Neto²; Celso Correia de Souza³;
Daniel Massen Frainer4

1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da PUC Campinas. Bolsista


CAPES. E-mail: celsofabricio@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: mastrodi@puc-campinas.edu.br
3. Professor doutor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional, UNIDERP-Anhanguera. E-mail: csouza939@gmail.com
4. Professor doutor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional, UNIDERP-Anhanguera. E-mail: danielfrainer@gmail.com

RESUMO
A construção de índices em unidades subnacionais é de extrema importância para fornecer informações
pormenorizadas para avaliação da situação e acompanhamento de políticas públicas considerando
aspectos de sustentabilidade econômica. Os índices e indicadores são cruciais porquanto servem como
guia para tomadas de decisão em vários níveis, permitindo mensurar o progresso e o atingimento dos
objetivos do desenvolvimento econômico estabelecidos em ações governamentais. Esta pesquisa visa
encontrar evidências sobre a sustentabilidade econômica dos municípios da Região Metropolitana de
Campinas/SP (RMC) mediante a construção e avaliação do Índice de Desenvolvimento Econômico
(IDE). Esse índice servirá de subsídio, em futura pesquisa, para construção do Índice de Desenvolvimento
Sustentável (IDS) para a RMC. No resultado, detectou-se a fragilidade econômica na Região
Metropolitana de Campinas, em que somente dois municípios atingem um patamar aceitável de
sustentabilidade econômica para um conjunto de 35 indicadores. Espera-se que o presente estudo sirva de
referência para formulação e aplicação de políticas públicas de desenvolvimento metropolitano mais
eficazes, além de possibilitar a criação de um banco de informações (painel de índices e indicadores) para
monitoramento e avaliação a partir de um Observatório ou de uma Sala de Situação Gerencial.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade Econômica, Indicador, Índice de Desenvolvimento Econômico,


Agenda 21, Políticas públicas.

1. INTRODUÇÃO
A partir de 1992, com a realização da ECO-92, o termo Desenvolvimento Sustentável se
fortaleceu e se disseminou, principalmente por meio do documento denominado Agenda 21. Os efeitos
deste relatório foram muito positivos e se caracterizou como um instrumento de planejamento
participativo para o desenvolvimento sustentável, ao passo que um dos principais avanços foi a
sistematização de construção e monitoramento de um conjunto de índices e indicadores que podem ajudar
países e suas unidade subnacionais (estados e municípios) com informações sobre os resultados das
decisões tomadas de produção e consumo que impactam sobre o meio ambiente (ONU, 2001).
Com compromisso de acompanhar a evolução de índices e indicadores no Brasil, o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tornou-se a referência na sua elaboração, seguindo as
orientações da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Organização das Nações Unidas
(ONU), contribuindo no conjunto de esforços internacionais para concretização de ideias e princípios
sobre o meio ambiente (IBGE, 2017).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Os índices e indicadores de sustentabilidade são cruciais porquanto servem como guias para
tomadas de decisão em vários níveis. Eles podem identificar informações sobre a situação social,
econômica, ambiental e institucional de uma região comparativamente a regiões de padrões mais
elevados, permitindo mensurar o progresso e o atingimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável
estabelecidos em ações governamentais.
Em uma análise superficial, índice e indicador possuem o mesmo significado. A diferença está
em que um índice é o valor agregado final de todo um procedimento de cálculo no qual se utilizam,
inclusive, indicadores como variáveis que o compõem (KHANNA, 2000).
Hardi e Barg (1997) mostram que os indicadores medem a realidade; não podem ser
considerados a própria realidade, mas são legítimos em sua construção metodológica coerente de
mensuração. Indicadores servem para monitorar complexos sistemas que a sociedade considera
importantes e tem necessidade de monitorar (MEADOWS, 1998).
Para Bellen (2006), os índices de sustentabilidade são indicadores que condensam informações
obtidas pela agregação de valores. Como índices mais conhecidos, tem-se o Produto Interno Bruto (PIB),
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre outros.
A Região Metropolitana de Campinas (RMC), também conhecida como Grande Campinas, foi
criada pela Lei Complementar Estadual n. 870, de 19 de junho de 2000, integrada por 20 municípios:
Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia,
Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara
d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.

Figura 1 – Região Metropolitana de Campinas

Fonte: Wikipedia, Emplasa.

A RMC ocupa uma área de 3.791 km², o que corresponde a 0,04% da superfície brasileira e a
1,47% do território paulista. É a segunda maior região metropolitana do Estado de São Paulo em
população, com mais de 3,2 milhões de habitantes, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) para 2018, e gerou 8,75% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual em
2016.
Partindo do princípio de que os municípios da RMC possuem satisfatório grau de
desenvolvimento econômico em razão do dinamismo local e regional. Contudo, não se observa qualquer
tipo de medição sistematizada, não existindo, políticas para construção de índices, seja no âmbito público
ou no privado. A partir dessas considerações surge o seguinte questionamento: com base na dimensão
econômica, qual seria o nível de sustentabilidade econômica dos municípios da RMC?
Desse modo, este estudo teve como objetivo realizar uma análise dos níveis de desenvolvimentos
econômicos dos municípios da RMC, através do cálculo do Índice de Desenvolvimento Econômico
(IDE), no sentido de se estabelecer comparações entre esses municípios.
A relevância deste estudo consiste na abordagem do crescimento e desenvolvimento econômico
regional, bem como, no aperfeiçoamento da formulação de políticas públicas voltadas para a região

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Desenvolvimento Sustentável x Sustentabilidade

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A Agenda 21 foi idealizada para transformar o desenvolvimento sustentável em uma meta global
aceitável. Uma importante contribuição foi a criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável
(CDS), cujo propósito seria o de monitoramento do progresso mundial na questão da sustentabilidade.
Uma das necessidades expressas na Agenda 21 está no desenvolvimento de indicadores de
desenvolvimento sustentável e, desta forma, criar instrumentos apropriados para tomada de decisão.
É necessário possuir uma unidade para medir o grau de progresso da sociedade. Deve englobar
uma gama de fatores relacionados à sustentabilidade: ecológicos, econômicos, sociais, culturais e
institucionais, entre outros (MOLDAN E BILHARZ, 1997).
A CDS aponta para criar uma base comum para avaliar o grau de sustentabilidade e que a
maioria dos indicadores não são adequados para alcançar o objetivo. Um grande desafio da CDS é iniciar
um projeto de indicadores de nível nacional, para tanto deve-se promover comparabilidade, acessibilidade
e qualidade dos indicadores.
Em sua avaliação, Boff (2016) aponta para uma perspectiva que enfatiza os níveis local,
regional, nacional e global. Ainda comenta que:
Sustentabilidade é um modo de ser e de viver que exige alinhar às práticas humanas às
potencialidades limitadas de cada bioma e às necessidades das presentes e das futuras
gerações.
Em 1995, em Ghent, na Bélgica, foi idealizado um workshop denominado “Indicadores para o
Desenvolvimento Sustentável para Tomada de Decisão”, para difundir e possibilitar maior aceitação por
parte da comunidade científica e de políticos sobre a utilização de indicadores de desenvolvimento
sustentável. Os resultados foram positivos e acentuaram a necessidade de desenvolver indicadores de
sustentabilidade.
Para Dahl (1997), a utilização de indicadores constitui um grande desafio em razão da
complexidade e das dimensões do desenvolvimento sustentável. O desafio está em retratar a real situação
da sustentabilidade, de forma simples e clara, e que sejam efetivos no subsídio e melhoria do processo
decisório. Além disso, com a incorporação da variável ambiental, a avaliação da sustentabilidade passa a
ter um maior nível de legitimidade.
O conceito de desenvolvimento sustentável numa proporção mais operacional deve ser
transformado pelos indicadores de sustentabilidade. É necessário a identificação de elementos principais e
a seleção de indicadores que forneçam informações essenciais e confiáveis sobre a viabilidade de cada um
dos componentes (BOSSEL, 1999).
Hardi e Barg (1997) afirmam que as medições são indispensáveis para que o conceito de
desenvolvimento sustentável se torne operacional. É fornecida, desta forma, uma base empírica e
quantitativa de avaliação de desempenho e que permite comparações no tempo e no espaço, e são úteis
para permitir importantes correlações.
A avaliação de desempenho dos indicadores permite bases para planejamento de futuras ações.
Os indicadores são elementos essenciais para conectar passado e presente com apontamento de metas
futuras.
O desenvolvimento sustentável, na concepção de Luxen e Bryld (1997), é estabelecido com
desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, com mais equidade social e aumento da
sustentabilidade ambiental.
Para Bellen (2006), o conceito de desenvolvimento sustentável especifica uma nova forma de a
sociedade se relacionar com seu ambiente a fim de garantir sua própria continuidade e a de seu meio
externo.
Um denominador comum dos praticantes da economia ecológica reside na defesa do
desenvolvimento (ecologicamente, mas também social e economicamente) sustentável. O que, no fundo,
implica qualificar algo que dispensa adjetivos. Na verdade, se o desenvolvimento não for sustentável – o
que significa que seja insustentável –, não será desenvolvimento (CAVALCANTI, 2010).
A grande questão é determinar qual a escala da economia compatível com sua base ecológica, a
denominada “escala ótima”. A capacidade de carga assume um papel-chave na macroeconomia do
ambiente, é ela que vai delimitar o âmbito do desenvolvimento sustentável. Há um enfrentamento
constante entre natureza e sociedade, meio ambiente e economia (CAVALCANTI, 2010).
O crescimento econômico não se caracteriza um fim em si mesmo, deve estar relacionado com a
melhoria de vida das pessoas e com o fortalecimento das liberdades. Serviços de educação e saúde e
direitos civis são bons exemplos de fatores ou agentes promoventes de liberdades. Justamente esta
expansão das liberdades é considerada como o principal meio para o desenvolvimento (SEN, 2010).

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A ideia de desenvolvimento compreende uma complexificação, representada pela adição de


sucessivos adjetivos - econômico, social, político, cultural, sustentável - e, o que é mais importante, pelas
novas problemáticas (SACHS, 2008).
Importante considerar que o tema da sustentabilidade confronta-se com diretamente com o
paradigma da “sociedade de risco”. Neste caso, há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais
motivada e mobilizada para assumir um papel mais propositivo a partir de práticas comunitárias baseadas
na participação e no envolvimento dos cidadãos, assumindo, portanto, uma maior consciência ambiental
(JACOBI, 2003).
É no reconhecimento dos limites dos ecossistemas que se encontram as maiores possibilidades
para o processo de desenvolvimento. A segunda, não menos importante, é a inovação. É nesse sentido que
se fala hoje da necessidade de sistemas de inovação orientados para a sustentabilidade (ABRAMOVAY,
2012).
Temos que compreender a natureza do desenvolvimento, para tanto se faz necessário entender a
relação entre recursos e realizações, entre bens e potencialidades, entre a nossa riqueza econômica e a
capacidade para vivermos como gostaríamos (SEN, 2010).

2.1.1. Sustentabilidade econômica


A sustentabilidade econômica pode ser entendida como gerir de forma eficiente os recursos e do
fluxo constante de investimentos públicos e privados. (SACHS, 1993). Segundo o mesmo autor, toda
eficiência econômica deveria ser avaliada em termo macrossociais e não por meio de critérios de
rentabilidade empresarial de caráter microeconômico.
Podemos afirmar que a sustentabilidade econômica visa o desenvolvimento econômico de um
país ou empresa através de práticas econômicas, financeiras e administrativas, preservando o meio
ambiente e garantindo a manutenção dos recursos naturais para as futuras gerações.
Anand e Sem (2000) defendem que a sustentabilidade econômica seja um processo de relação
entre distribuição, desenvolvimento sustentável, crescimento ótimo e taxa de juros. As gerações futuras
devem receber o mesmo tipo de atenção que os da geração atual, evitar abusos e término dos estoques de
recursos que usufruímos hoje, nem haver contaminação no ambiente o que viola os direitos e interesses
das futuras gerações.
Observamos que a grande preocupação é com a maximização geral da riqueza, independente de
distribuição, o que resulta num grave desrespeito às dificuldades individuais, motivo principal das
privações mais extremas. As políticas governamentais, como os impostos, os subsídios e a
regulamentação, podem consolidar uma estrutura de incentivos de forma a proteger o meio ambiente e a
base de recursos globais para as pessoas que ainda estão por nascer.
O crescimento não é que orienta a economia, e sim por resultados reais de bem-estar social e de
capacidade de regeneração dos ecossistemas. A sustentabilidade econômica reconhece limites à
exploração dos ecossistemas por parte da sociedade (ABRAMOVAY, 2012). O pensamento econômico
do século XX era de que a inteligência humana e novas tecnologias seriam capazes de reparar os danos
ambientais, contudo essa dinâmica se mostrou errônea. O que se deve existir são inovações e
reconhecimento de limites aos ecossistemas como descreve Abramovay (2012).
O desenvolvimento de um metabolismo social capaz de regenerar os constantes serviços
ecossistêmicos e obter suprimentos suficientes para cobrir necessidades humanas essenciais a vida, é o
que se pode chamar de “Nova Economia”. Uma vez que a sustentabilidade econômica deve estar ligada
diretamente a ética, esta por sua vez, deve ocupar um espaço central nas decisões econômicas (VEIGA,
2012).
Veiga (2012) observa que a imposição de limites à exploração dos ecossistemas choca-se
diretamente a ideia de expansão produtiva. Além disso, a capacidade real da economia em contribuir de
forma positiva com a erradicação da pobreza e criar uma coesão social tem sido muito limitada.
Algumas vantagens da sustentabilidade econômica que podemos considerar são: i) economia
financeira a médio e longo prazo; (ii) melhoria da imagem de governos e empresas diante cidadãos e
consumidores; (iii) meio ambiente preservado, maior desenvolvimento econômico e a garantia de uma
vida melhor para as futuras gerações.
Seja no campo empresarial ou governamental, o grande desafio da sustentabilidade econômica é
gerar crescimento econômico, lucro, renda e criar empregos sem ocasionar danos ao meio ambiente.

2.2. Indicadores x Índices

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O termo indicador se origina do latim indicare, descobrir, apontar, anunciar, estimar...os


indicadores comunicam ou informam sobre o atingimento e/ou direcionamento a uma determinada meta,
ou seja, seu progresso em direção ao “alvo”. Possui também entendimento como recurso que deixa mais
perceptível uma tendência ou fenômeno que não seja imediatamente detectável (HAMMOND et al.,
1995).
Em outras palavras, indicador é uma medida do comportamento do sistema em termos de
atributos expressivos e perceptíveis (HOLLING, 1978).
Num nível mais concreto, indicadores devem ser entendidos como variáveis segundo Gallopin
(1996). Uma variável se mostra como algo representativo operacional de um atributo – qualidade,
característica, propriedade – de um sistema.
Qualquer indicador possui uma significância própria. Uma importante e talvez principal
característica é a que permite comparação com outras variáveis ou formas de informação, ao passo que
resulta numa alto grau de relevância para a política e para o processo de tomada de decisão (GALLOPIN,
1996).
Indicadores expressam um compromisso e reforçam a compreensão entre as relações do homem
com o meio ambiente dentro do campo do desenvolvimento (JESINGHAUS, 1999).
Um outro ponto que requer mais atenção está na questão de saber se um indicador é classificado
como quantitativo ou qualitativo para que permita importantes comparações estratégicas, em outras
palavras, a comparabilidade de dados.
Os indicadores devem simplificar informações relevantes, e que certos fenômenos que ocorrem
na realidade se tornem evidentes principalmente no aspecto da gestão ambiental (GALLOPIN, 1996).
No caso do desenvolvimento sustentável, autores defendem a utilização de indicadores
qualitativos em razão de limitações que existem em relação aos numéricos.
Gallopin (1996) comenta que os indicadores qualitativos são preferíveis em pelo menos três
casos: a) quando não forem disponibilizadas informações quantitativas; b) quando o atributo de interesse
não é quantificável (dado subjetivo); c) quando houver determinações de custo para sua elaboração.
Indicadores não são dados primários. Os dados são medidas, valores da variável, quando estes
forem quantitativos (GALLOTI, 1996). Indicador mede a variação da variável em relação a uma base
específica, ou seja, já possui um certo nível de agregação. Em outras palavras variável que é função de
outras variáveis.
Em alguns momentos, indicadores são relacionados a diferentes significados, os principais são -
normas, padrões, metas e objetivos - contudo divergem do conceito que norteia um indicador. Padrão e
normas se referem a um valor técnico de referência estabelecidos dentro de um consenso social. Metas
representam valores a serem alcançados, intenções, sempre mensuráveis, estabelecidos dentro de um
processo decisório e que sejam alcançáveis. Já os objetivos são meramente qualitativos, que indicam uma
direção, o fim a ser alcançado, sem indicar uma forma ou estado específico.
Indicadores servem para monitorar complexos sistemas em que a sociedade considera
importantes e tem necessidade em monitorar (MEADOWS, 1998). Segundo a autora, é importante a
analogia do termômetro, pois é capaz de transmitir uma informação. Os sinais, sintomas, diagnósticos,
dados e medidas são formas para denominar indicadores.
Hardi e Barg (1997) mostram que os indicadores medem a realidade, mas não podem ser
considerados a própria realidade, mas são legítimos em sua construção metodológica coerente de
mensuração. Os indicadores simplificam fenômenos complexos para tornar um modelo de comunicação
compreensível e quantificável.
A sociedade mede o que ela valoriza e aprende a valorizar o que ela mede, os indicadores afetam
o comportamento do cidadão, se caracterizam por serem ferramentas de mudança e aprendizado
(MEADOWS, 1998).
Muitos sistemas de indicadores foram desenvolvidos por razões específicas, são ambientais ou
econômicos ou sociais, mas não podem ser considerados de sustentabilidade em si. Para se chegar em
dados sobre a realidade do desenvolvimento sustentável, os indicadores devem ser interligados ou
agregados. Os indicadores de sustentabilidade se caracterizam por serem os componentes da avaliação do
progresso em relação ao desenvolvimento sustentável (GALLOPIN, 1996).
Os indicadores podem ser classificados como escalares ou vetoriais (DAHL, 1997). Um conjunto
de indicadores simultâneos, mas não agregados, para retratar um condição ambiental pode ser chamado
de vetor, que é a generalização de uma variável. Já um índice escalar é um número gerado da agregação
de duas ou mais variáveis (DAHL, 1997).

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Figura 2 – Pirâmide de informação

Fonte: Adaptado de Gouzee et al. (1995).

Defensores apoiam que as medidas vetoriais demonstram melhor a realidade do sistema, no


entanto, para os estudiosos, os índices apresentam vantagens pela forma simplificada a partir da utilização
de medidas escalares.
Quanto maior o nível de agregação do indicador, mais distante dos problemas e maior
dificuldade em articular estratégias de ação referentes a problemas específicos. Os problemas conceituais
podem aparecer com maior frequência em indicadores altamente agregados.
O aperfeiçoamento disso vem com os índices agregados. Contudo, alguns problemas são
detectados nestas condição, quando a agregação leva a índices que condensam esferas de avaliação
distintas (BOSSEL, 1999).
Alguns pesquisadores preferem utilizar uma lista de indicadores que se relacionam a problemas
específicos. Todavia, para fins de monitoramento da sustentabilidade é imprescindível a necessidade de
indicadores com certo grau de agregação, que consiga capturar problemas de modo claro e conciso
(BELLEN, 2006).
Os indicadores podem ser divididos em dois grupos: sistêmicos e de performance. O sistêmico
ou descritivo traça medições individuais para diferentes questões; o de performance é uma importante
ferramenta de comparação que incorpora o indicador descritivo. Estes fornecem informações relevantes
aos tomadores de decisão quanto ao atingimento de metas locais, regionais, nacionais ou internacionais
(BELLEN, 2006).
Bellen (2006) relata que os índices de sustentabilidade são indicadores que condensam
informações obtidas pela agregação de valores. Como índices mais conhecidos temos o Produto Interno
Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Bossel (1999) argumenta que um simples indicador não é capaz de mostrar a realidade de uma
situação. A autora exemplifica a situação do PIB, o quanto esse indicador é limitado e que não traduz toda
realidade.
No processo de construção do índice, os indicadores que nele participam devem ser ponderados
conforme sua relevância. Quando se trata de indicadores ambientais e sociais, a utilização de pesos ou
ponderações passa a ser mais complexa na compilação e na análise de dados.
Índices agregados contribuem para avaliação do progresso em direção ao desenvolvimento
sustentável, mas ainda pouco eficazes para entender, prevenir e antecipar ações (GALLOPIN, 1996).
Indicadores podem ser utilizados em vários momentos como parte do processo de elaboração de
políticas e programas públicos. O ciclo começa com a identificação do problema, que é o ponto de partida
para se conceber, elaborar, implementar e avaliar uma política pública e termina com a avaliação dos
resultados considerando as demandas da sociedade (BRASIL, 2018).

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Um importante instrumento de planejamento regional de médio prazo é o Plano Plurianual-PPA.


Os programas temáticos e seus produtos são mensurados por indicadores e integram também as leis
orçamentárias anuais. De modo geral, para os programas são definidos indicadores: a) de resultados – que
medem o alcance dos objetivos dos programas; b) de produtos – que mensuram e qualificam a entrega de
bens e/ou serviços públicos (ESTADO DE SÃO PAULO, 2019).
O planejamento, na opinião de Sachs (2008), representa um processo interativo que inclui
processos de baixo para cima e de cima para baixo dentro do marco de um projeto nacional de longo
prazo (SACHS, 2008).
Indicadores em escala nacional possuem grande heterogeneidade em razão das especificidades
de cada país. Diante disso, o desenvolvimento de indicadores se dá principalmente em níveis
subnacionais, regionais e locais (GALLOPIN, 1996).
Gallopin (1996) comenta que, para maior aceitação e utilização, os indicadores devam ser meios
de comunicação, compreensíveis, transparentes e de fácil entendimento. Segundo o autor, a utilização nas
políticas públicas e na sociedade civil reforça a legitimidade de um sistema de indicadores.
Jesinghaus (1999) mostra que seleção de indicadores de sustentabilidade devem ocorrer em três
estágios: 1) plano do projeto; 2) objetivos e cronogramas; 3) institucionalização e legitimação. O autor
salienta ainda que, no estágio preparatório, a seleção de indicadores deve ser realizada por especialistas.
Duas abordagens dominantes na seleção de indicadores: a top-down e a bottom-up. No método
top-down, a vantagem é a aproximação científica mais homogênea, contudo não tem poder de definir nem
modificar os indicadores, além do que não tem contato direto com os desejos da comunidade e não
considera as limitações de recursos naturais. Na abordagem bottom-up existe um processo participativo
em que a maioria das iniciativas regionais adotam esta forma. Nela se estabelecem as prioridades e a
escassez do sistema envolvido, a principal limitação se refere ao fato de omissão de aspectos
fundamentais à sustentabilidade (JESINGHAUS, 1999).
Para Jesinghaus (1999), determina-se como situação ótima o sistema desenvolvido por
especialistas em um processo participativo com variados atores, dentro do qual a comunidade seleciona
questões prioritárias.
Moldan e Bilharz (1997) apresentam a importância dos indicadores a partir do ciclo de tomada
de decisão que é constituído em cinco etapas: identificação de problemas; reconhecimento de problemas,
aumento da consciência pública; formulação de políticas; implementação de políticas; avaliação de
políticas.
As denominadas ferramentas de avaliação são úteis para os tomadores de decisão e se
caracterizam, na função de planejamento, úteis para o desenvolvimento de políticas públicas. Ficam
claras a importância e a necessidade da utilização de indicadores para a formulação de políticas globais e
acordos internacionais.
Para avaliar a sustentabilidade, deve-se atentar aos melhores métodos, caso tenham um alto
índice de agregação ou uma gama de variáveis, a quantidade de indicadores utilizados deve ser pequeno,
podendo variar com o tempo conforme problemas e questões (RUTHERFORD, 1997).
Para uma avaliação da sustentabilidade, é necessário que os indicadores sejam holísticos, de
modo a se considerar a presença e a importância de todos os elementos do sistema.
As dimensões devem ser compatíveis com a realidade para uma profunda avaliação da
sustentabilidade. Salienta-se que os pesquisadores devem ficar atentos aos limites de recursos humanos,
financeiros e de tempo para a construção dos indicadores e índices de forma geral.
Indicadores globais de desenvolvimento sustentável estão propostos na Agenda 2030. São 231
indicadores construídos para acompanhar e medir o progresso na implementação dos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), expressos em 169 metas, que representam o eixo central da Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2016, e que
aglutina 193 países membros das Nações Unidas. A nova política global tem por objetivo principal elevar
o desenvolvimento do mundo e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas (ONU, 2015).

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
3.1. Sujeito/Universo da Pesquisa:
A metodologia proposta nesta pesquisa considera os municípios da Região Metropolitana de
Campinas/SP, como objeto de estudo, com enfoque na pesquisa de dados secundários, que serão
coletados com a finalidade de construção do IDE.

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3.2. Variáveis:
A publicação “Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2017” do IBGE é um guia
para a elaboração do conjunto de variáveis que permite uma avaliação mais completa da sustentabilidade,
considerando as peculiaridades e características da RMC.
Martins e Cândido (2008) apontam a necessidade de mensurar e avaliar a situação em que se
encontra um município em relação à sustentabilidade.
Nesta pesquisa, utilizou-se última base dados disponível de cada variável, coletadas na forma de
dados para tratamento estatístico e posterior cálculo do IDE que estão contidas na dimensão econômica,
conforme tabela 1.

Tabela 1 – Variáveis econômicas selecionadas.

Fonte: Adaptado de Bellen (2006) e Martins e Cândido (2008).

3.3. Tipo de pesquisa


Pesquisa aplicada com abordagem quantitativa pelo tipo de dado a ser coletado e por utilizar
procedimentos estatísticos. A pesquisa aplicada visa adquirir conhecimentos com o propósito de resolver
problemas identificados (Gil, 2010).
Marconi e Lakatos (2015) caracterizam a pesquisa aplicada por seu interesse prático de forma
que os resultados sejam aplicados de forma imediata na solução de problemas que ocorrem na realidade.
Quanto aos objetivos, a pesquisa se caracteriza como exploratória por tornar o problema mais
explícito em razão de considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado. A
modalidade mais comum de documentos são os escritos em papel, contudo torna-se mais frequente a
disponibilidade de documentos eletrônicos em diversos formatos (GIL, 2010).
Na pesquisa exploratória empregam-se procedimentos para desenvolvimento de hipóteses, eleva
a familiaridade do pesquisador com um fato ou fenômeno em busca de uma pesquisa mais precisa
(MARCONI E LAKATOS, 2015).

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3.4. Instrumento de Coleta de Dados


Quanto aos instrumentos de coleta de dados, é classificada como pesquisa documental, em razão
do levantamento de materiais que não receberam um tratamento analítico ou que poderiam ser
reelaborados de acordo com os objetivos da projeto (GIL, 2002).
Há pesquisas documentais que se valem principalmente de dados quantitativos sob forma de
registros, tabelas, gráficos ou em banco de dados, ao passo que, nesses casos o processo analítico envolve
procedimentos estatísticos. (GIL, 2010).
Na pesquisa documental são utilizadas três variáveis – fontes escritas ou não; fontes primárias ou
secundárias; contemporâneas ou retrospectivas (MARCONI E LAKATOS, 2015).
O levantamento se deu por meio de pesquisa junto à prefeituras, ao IBGE, à Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados (SEADE), à Agência Região Metropolitana de Campinas (AGEMCAMP),
entre outros institutos de pesquisa, ONG’s etc.
De acordo Roldan e Valdés (2002), a metodologia proposta para a seleção do conjunto de
indicadores locais para comparar e gerar um ranking dos municípios de uma região, utiliza como critério
para a seleção os seguintes requisitos:
• A disponibilidade e confiabilidade das fontes de dados;
• A estatística de dados mais atualizada possível;
• A representação na análise de três sistemas: natural, social e econômico, com sua importância
regional;
• Uma aproximação holística que inclua termos quantitativos e qualitativos.

3.5 Método de Análise de Dados


No procedimento da análise de dados se enquadra como estatística descritiva para sumarizar e
representar por medidas simples um conjunto de dados. Tem por finalidade apresentar formas para um
levantamento de dados, destacar técnicas de apresentação dos dados por meio de tabelas e gráficos e
oferecer as medidas estatísticas próprias para análise numérica. A necessidade de dados em base nacional
foi intimamente entrelaçada com o desenvolvimento da estatística descritiva, métodos centrados na
coleta, apresentação e caracterização de um conjunto de dados, de modo a descrever apropriadamente as
várias características daquele conjunto (LEVINE et. al., 2005).
Para o tratamento de dados, fez-se uso de planilhas eletrônicas para a formatação de informações
no processo de elaboração do IDE. Propõe-se a realização de uma análise pela dimensão e pelo nível
geral de sustentabilidade econômica.
A metodologia proposta para elaboração do IDE avalia os níveis de sustentabilidade econômica,
considerando os critérios mundialmente utilizados para a escolha dos indicadores e as especificidades de
enfoque no desenvolvimento local. Para Martins e Cândido (2008), ao considerar cada um dos
indicadores selecionados, deve-se atentar às seguintes características dele: a) ser significativo para a
realidade investigada e para o enfoque do estudo; b) ser relevante para as decisões que orientam as
políticas públicas; c) refletir as mudanças temporais; d) permitir um enfoque integrado e sistêmico; e)
utilizar variáveis mensuráveis; f) ser de fácil interpretação e comunicação e; g) ter uma metodologia bem
definida, transparente e objetiva aos propósitos da investigação.
O método proposto para determinação e avaliação do IDE foi realizado em etapas: (i) construção
de um banco de dados (sistema de indicadores) para questões do desenvolvimento sustentável,
selecionando temas dentro da dimensão econômica; (ii) padronização das variáveis para torná-las
comparáveis e passíveis de agregação; (iii) cálculo da média aritmética para determinação do índice de
desenvolvimento econômico; (iv) resultados obtidos por município, e classificados para criar um ranking
do IDE para avaliação e análise do nível de sustentabilidade econômica.
A primeira etapa de seleção dos temas para gerar um banco de dados metropolitano obedece às
metodologias nacionais, considerando as variáveis relevantes, dentro de cada dimensão, que possui
informações municipais. Além disso, adota-se o critério de representatividade aliada à disponibilidade de
informações no nível municipal. Para isso, são adotados como referência indicadores e índices
internacionais da ONU, combinado com a seleção realizada pelo IBGE para o Índice de Desenvolvimento
Sustentável nacional.

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25 a 26 de setembro de 2019

Uma vez realizada a primeira etapa de seleção de indicadores, passa-se à padronização das
variáveis selecionadas pelo método sugerido por Waquil et.al. (2010), transformando os indicadores em
índices permitindo a comparabilidade de variáveis de unidades distintas além de padronizar os dados em
um número que varia de 0 a 1, de modo que, quanto mais próximo de 1, melhor se apresenta o município
em relação a sustentabilidade econômica.
Nessa perspectiva, deve-se ainda levar em consideração que existem indicadores que são
positivamente correlacionados economicamente, e outros, negativamente. Para realizar uma agregação,
todos os índices devem apontar para uma relação econômica positiva para poderem ser agregados
gerando um indicador sintético. Sendo assim, a relação (positiva ou negativa) que essas variáveis
apresentam economicamente é identificada pela seguinte relação: positivas (quanto maior, melhor, e
quanto menor, pior) e negativas (quanto menor, melhor, e quanto maior, pior), conforme o contexto de
suas relações.
O procedimento para padronização prevê que, se o indicador tem influência positiva ou negativa
sobre a economia deverá ser analisado separadamente conforme as equações (1) e (2), respectivamente.
Teoricamente, para um indicador positivo, em (1), o valor observado máximo terá valor 1 como score,
isto é, quanto maior o indicador, melhor será índice, e quanto menor o indicador, pior será o índice. Já
para o indicador negativo, quanto maior o indicador, pior será o índice, e quanto menor o indicador,
melhor será o índice. Utilizando a equação (2), o seu comportamento será como aquele do indicador
positivo, isto é, quanto maior, melhor (valor máximo 1), e quanto menor, pior (valor mínimo zero),
vejamos:
obs− mín
x( + ) = (1)
máx− mín

x ( −) =
máx− obs
(2) Onde:
máx− mín

x (. )
= indicador padronizado, calculado para cada município; obs = valor do indicador em cada município; mín =
valor mínimo do indicador de todos os municípios; máx = valor máximo do indicador de todos os municípios.

O valor mínimo e o valor máximo de cada indicador em estudo são atribuídos conforme cada
variável selecionada, não importando a sua unidade de medida. Desse modo, foi possível padronizar os
dados para uma base comparável.
O índice gerado podem ser classificado quanto ao nível de sustentabilidade econômica. Na tabela
2, estão explicitados os intervalos para análise da dimensão econômica, utilizando a classificação
adaptada de Martins e Cândido (2008).

Tabela 2 – Classificação do nível de sustentabilidade econômica.


Índice (0 – 1) Nível
0,0000 – 0,2500 Crítico
0,2501 – 0,5000 Alerta
0,5001 – 0,7500 Aceitável
0,7501 – 1,0000 Ideal
Fonte: Adaptado de Martins e Cândido (2008).

4. RESULTADOS OBTIDOS
Para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) utilizou-se um sistema de 35
variáveis do tema em questão, com alto grau de relevância, para cada cidade integrante da Região
Metropolitana de Campinas (RMC), totalizando, desta forma, 700 indicadores municipalizados.
Inicialmente, houve a padronização dos indicadores levando em consideração a sua polaridade
(maior melhor ou menor melhor). De posse dos valores padronizados, determinou-se o IDE pela média
aritmética, cujos resultados estão na Tabela 3, os quais foram classificados para criar um ranking para
avaliação e análise.
Observe que a média da dimensão econômica atingiu o índice de 0,3807, o que determina um
sinal de alerta a RMC. O valor do IDE máximo e mínimo obteve um intervalo considerável em cerca de
121%, o que demonstra uma vasta amplitude de realidades econômicas. Os municípios mais bem
avaliados e com níveis “aceitáveis” de sustentabilidade econômica, conforme Tabela 2, foram: Paulínia
(0,6203) e Campinas (0,5623). No entanto, os demais municípios da RMC se situaram no intervalo de

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“alerta”, ao passo que algumas economias beiram uma situação “crítica”, como no caso de Monte Mor
(0,2807), Cosmópolis (0,2821), Engenheiro Coelho (0,2913) e Pedreira (0,2918).
Vale salientar que os dois municípios de maior IDE também estão relacionados entre os de
maiores PIB do país: Campinas ocupa a 11º posição e Paulínia em 21º lugar no ranking brasileiro. Se
levarmos em consideração o PIB per capita, observa-se que Paulínia detém a liderança nacional, o
município possui relevância nacional na indústria de refino de petróleo. Esse valor é mais de dez vezes
maior que o PIB per capita geral para o brasileiro, que ficou em R$ 30.407, segundo dados do IBGE para
o ano de 2016 (última publicação). Por outro lado, neste mesmo quesito, a colocação de Campinas oscila
para baixo, se posicionando em 292º lugar. Já Monte Mor, que ocupa a última colocação no IDE da
RMC, se posiciona em 378º lugar no ranking do PIB nacional; no per capita se coloca em 543º.

Tabela 3 – Ranking do índice de desenvolvimento econômico-IDE

Fonte: elaborado pelo autor.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em análise pontual do IDE, percebe-se a fragilidade econômica na Região Metropolitana de
Campinas. Apenas dois municípios, Paulínia e Campinas, atingem um patamar “aceitável” de
sustentabilidade econômica para um conjunto de 35 indicadores selecionados.
Conclui-se então, do ponto de vista econômico, que 90% dos municípios da RMC estão em
situação de “alerta”, por sua vez, em uma situação longínqua do nível ideal de sustentabilidade
econômica.
A RMC detinha 8,75% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual em 2016 e comporta um parque
industrial moderno, diversificado, com uma estrutura agrícola e agroindustrial bastante significativa e
expressiva especialização, sendo considerada um grande centro consumidor e universitário, contudo com
peculiaridades e realidades distintas que determinam uma alta disparidade econômica entre os municípios
pesquisados.
Enfim, a proposta de um índice de desenvolvimento econômico (IDE) visa a permitir condições
adicionais para que gestores públicos proponham e promovam ações preventivas e corretivas, de curto,
médio e longo prazos, para alavancar o desempenho municipal (e metropolitano) visando a atingir níveis
ideais de sustentabilidade econômica.

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6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

7. REFERÊNCIAS

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 20
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

A INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE


TRABALHO, POR MEIO DE COTAS: TRABALHO DECENTE FACE A
AGENDA 2030

Patrick Verfe Schneider1, Cibele Roberta Sugahara2

1. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: patrick.verfe@gmail.com


2. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
cibelesu@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O presente estudo tem como foco o tema inclusão da pessoa com deficiência na sociedade por meio do
mercado de trabalho e a adesão aos movimentos feitos até hoje através das ações afirmativas, frente ao
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável - ODS 08 da agenda 2030 das Nações Unidas (ONU)
denominado “Trabalho Decente e crescimento econômico”. Busca-se como objetivo estudar como a
pessoa com deficiência se insere no ambiente de trabalho e como os mecanismos atuais de geração de
cotas contribuem neste processo frente ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável – Trabalho Decente
e Crescimento Econômico. Embora tem-se garantido o acesso ao trabalho, parece que a legislação vigente
ainda se encontra muito distante de seu objetivo principal: promover a inclusão social da pessoa com
deficiência. Assim, busca-se apontar iniciativas para que o Estado e a sociedade possam encontrar o
caminho para a promoção de oportunidades. O estudo, que se encontra em andamento, almeja trazer
como resultados alternativas para a promoção da inclusão, face as mudanças ocorridas em nossa
sociedade desde a promulgação da chamada “lei de cotas” no ano de 1999.

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho Decente, Inclusão Social, Pessoa com Deficiência, Mercado de


Trabalho, Lei de Cotas.

1. INTRODUÇÃO
A temática geração de trabalho produtivo de qualidade para pessoas com deficiência ainda é
tratada como um desafio, face ao que se reconhece como trabalho decente. Neste contexto, percebe-se o
terreno fértil para a pesquisa acadêmica e a utilização desta enquanto instrumento de reflexão sobre o
tema e sua viabilidade de concretização em ritmo cada vez mais acelerado. O fomentar reflexivo gerado a
partir desta análise sobre a situação da pessoa com deficiência dentro na sociedade e o seu modo de
relacionar-se com o mundo do trabalho, dentro de nosso país, é o foco principal do presente estudo em
andamento.
O tema inclusão social a partir de ações afirmativas que possam alavancar políticas de cotas
profissionais, refletindo sobre qual é o melhor modelo a ser adotado para que o acesso ao trabalho seja
garantido à pessoa com deficiência, perpassando por uma análise da legislação vigente e o ODS 08
preconizado na agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, com a pesquisa sobre a inclusão social da pessoa com deficiência, bem como sua
delimitação visando conectar ao ODS 08, pretende-se verificar se houve evolução no Brasil, desde a
promulgação da Lei 3.298/99 que instituiu a obrigatoriedade de contratação de pessoas com deficiência,
por todas as empresas com um quadro de lotação superior a 100 empregados.
Diante deste cenário, é que apresenta-se a seguinte questão: a lei de cotas é suficiente para
garantir os preceitos presentes no ODS 08 da ONU, e promover a inclusão social e o trabalho decente a
esta relevante camada da sociedade? O objetivo principal deste estudo é estudar como a pessoa com
deficiência se insere no ambiente de trabalho e como os mecanismos atuais de geração de cotas
contribuem neste processo frente ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável – Trabalho Decente e
Crescimento Econômico (ODS 8).

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A pessoa com deficiência
A primeira ideia de pessoa com deficiência advém no presente trabalho a partir da Convenção da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) n. 159, de 1983, que no dia 28 de agosto de 1989 foi
ratificada no Brasil através do decreto Legislativo n.51, conceituando no art. 11, pessoa portadora de
deficiência, como sendo “(...) todo o indivíduo cujas possibilidades de obter e conservar um emprego
adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiência de
caráter físico ou mental devidamente reconhecida (clinicamente) (...)”. (grifo nosso)
O texto acima faz alusão ao estado ou condição limitante do indivíduo que lhe traga em si um
fator clínico que o incapacite para o exercício pleno das funções ou tarefas habituais do ambiente laboral,
algo que neste contexto pode-se entender de onde está arraigado a certeza no inconsciente social, sobre a
capacidade da pessoa com deficiência para a prática laboral (Fonseca, 2006). O que a convenção da OIT
apresentava era de que obter um emprego, e mais, mantê-lo, era uma atividade dificultosa para todos
aqueles indivíduos que possuíssem uma deficiência.
Este entendimento foi construído ao longo do desenvolvimento da civilização, partindo do
entendimento mais primitivo, as concepções que as concepções da atualidade, construindo um arquétipo
limitante para o indivíduo que possui uma limitação aparente, seja esta qual for.
A busca pela perfeição guardada no “seio” do narcisismo humano renega todo o diferente,
muitas vezes por mera incompreensão, ignorância ou desconhecimento, contudo, tais exclusões,
imprimem na sociedade marcas difíceis de serem apagadas (RIBAS, 2018), “cicatrizes” permanentemente
abertas, que alavancam o ímpeto de Organizações Não Governamentais (ONGs), governos, nações,
legisladores e grupos ligados a sociedade civil organizada, a praticarem atos que visem retirar da
clandestinidade estes indivíduos.
Um estado de marginalização da pessoa com deficiência, nos acompanha desde os tempos mais
remotos de nossa espécie. Na era primitiva, a ausência de uma capacidade, seja ela motora, intelectual,
visual ou auditiva, prejudicava a exploração do ambiente natural ao qual estava inserido o alimento,
levando o homem assim, a sucumbir diante da natureza (BIANCHETI; FREIRE, 2018).
Na era antiga, as pessoas com deficiência eram simplesmente mortos por sua aparência (ROSS,
2016), quando os gregos se dedicavam predominantemente à guerra, valorizando a ginástica, a dança, a
estética e a perfeição do corpo, a beleza e a força, isso acabou se transformando em um grande objetivo,
sendo que, caso ao nascer, a criança aparentasse alguma característica contrária ao ideal prevalecente era
simplesmente, eliminada (BIANCHETI; FREIRE, 2018).
Chegando à idade média, a religião em muito contribuiu para a marginalização ou até a morte da
pessoa deficiente, sendo considerada, tal condição como um castigo de Deus (ROSS, 2016). Marcos
Mazzota (2016) refere que a religião, com toda a força cultural ao colocar o homem como a “imagem e
semelhança de Deus”, ser perfeito, incalculava a ideia da condição humana, incluindo imperfeição física e
mental e que por pessoas que possuíssem quaisquer limitações, distanciavam-se desta semelhança com o
divino, e por isso eram postos à margem da condição humana (MAZZOTA, 2016).
Já na transição entre da Idade Média para a modernidade, diante de uma história marcada por
privações e preconceitos diversos, via-se que algumas famílias procuravam esconder os filhos deficientes
diante da sociedade (RIBAS,2018).
Oliveira (1999) acredita que as fases de exclusão continuam presentes, exceto a fase da exclusão
explícita que, raras as vezes, existe oculta. Ross (2016) afirma que os sujeitos dotados de uma condição
biológico-física e sensorial distinta estiveram nos períodos históricos marginalizados do mundo produtivo
por diferente valoração que foram construindo sobre o trabalho.
Até os anos de 1940, a deficiência era reportada fortemente por más formações congênitas,
doenças de natureza hereditárias ou ainda por moléstias contraídas em procedimentos médicos e pelo
avanço da idade. No entanto, foi a partir do final da década de 1940 para o avanço da década seguinte que
dois fenômenos mundiais potencializaram o contrair de deficiências no mundo: a segunda guerra mundial
e o avanço da industrialização dos anos de 1950 (RIBAS, 2018).
Pastore (2017, p.70) refere que a sociedade avança em tantos aspectos, mas muito pouco na
superação de preconceitos, que vão apenas variando na sua manifestação. Justamente, por conta do
preconceito, mutilados oriundos destes eventos mencionados, um econômico e outro de intolerância entre
nações, possuíam muita resistência de reinserção no universo laboral.

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Esta distinção como pode-se perceber não é recente, porém em poucos momentos foi percebido
tamanho esforço para a promoção da pessoa com deficiência, de modo a garantir a plenitude de sua
porção social sendo preservada.
Conforme a melhor doutrina são apresentados novos conceitos do que é ser cidadão, conforme
ensina o professor José Luiz Quadros Magalhães (2018, p.88) o cidadão não é mais o que vota, mas sim,
“o que vota, se informa, se educa, que come, que mora, veste, que trabalha e que tem assim dignidade.”
Neste diapasão, para Ricardo Tadeu Marques da Fonseca (2006, p.244), o conceito fortalece ainda mais a
pessoa na sociedade a qual está inserida considerando o cidadão como sendo o “vetor para o qual devem
convergir todos os esforços da sociedade e do Estado brasileiro”, esforços que merecem especial atenção
aqueles indivíduos que não estão conseguindo penetrar no universo da educação, do lazer, do trabalho,
etc. justamente a situação de boa parte das pessoas com deficiência.
No Brasil, esta inserção na sociedade vem evoluindo ao longo dos anos onde se procurou
suavizar a distância entre a necessidade de se produzir oportunidades a esta camada populacional da
sociedade e a efetiva socialização deste grupo de pessoas, razão pela qual a iniciativa privada, via ONGs,
associações e empresas privadas, formam alianças com o Estado na intenção de acelerar este processo de
inclusão.

2.2 Ações afirmativas e o acesso ao trabalho da pessoa com deficiência no Brasil


A partir do ano de 1988, com o advento da constituição cidadã, percebe-se um novo tratamento
da pessoa com deficiência pelo ordenamento jurídico brasileiro. Foi a partir deste importante instrumento
constitucional, que se iniciou no Brasil um avançado processo legislativo que visava acolher dentro da
sociedade a pessoa com deficiência garantindo igualdade de tratamento e oportunidades de inclusão no
universo do trabalho. Muito deste processo se deu a partir da adoção de ações afirmativas, amparadas
pelo Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, buscou o legislador suavizar a distância entre a situação
real da pessoa com deficiência e onde se gostaria chegar.
Pode-se dizer que o início deste processo se deu em 1989 quando foi criada a Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), através da Lei 7.853 de 24 de
outubro de 1989, onde é assegurado à pessoa com deficiência o pleno exercício dos direitos individuais e
sociais, vedando manifestações preconceituosas de qualquer natureza, delimitando a atuação do
Ministério Público. Ainda a mencionada Lei, determina que o governo assegure apoio a formação e
orientação profissional e estabelece a utilização de legislação específica que discipline a reserva de
mercado da administração pública e do setor privado a pessoa com deficiência (BAHIA, 2016).
Em 24 de julho de 1991 é sancionada e entra em vigor a Lei 8.213 que dispõe sobre os planos de
benefícios da Previdência Social. Esta lei ficou conhecida no Brasil, como a “lei de cotas” em função do
disposto em seu art. 93, em que fica estabelecida a obrigatoriedade de preenchimento de postos de
trabalho em sistema de cotas por pessoas portadoras de deficiência nas empresas com quadros superiores
a 100 empregados. Embora tenha sido chamado a atenção para as cotas, o tem foi introduzido através de
uma legislação previdenciária, o que não despertou o devido zelo pela comunidade empresarial de modo
geral.
Foi somente a partir do decreto 3.298 do ano de 1999, que reprisava as disposições do artigo 93
da Lei 8.213/91 e conceituou o que deveria ser considerado pessoa com deficiência habilitada e
apresentou qual seria a competência do Ministério do Trabalho e Emprego quanto à sistêmica
fiscalização, avaliação e controle das empresas, visando gerar estatísticas sobre o número de empregados
portadores de deficiência (GOLDFARB, 2017), que despertou movimento quanto a inclusão de pessoas
com deficiência por meio do universo laboral. Os grandes autores que trabalham o tema são unânimes em
apontar como fato gerador de mudança da conduta empresarial, a transferência de responsabilidade de
fiscalização vinda do Ministério Público para o agente estatal ligado ao Ministério do Trabalho e
Emprego.
No Brasil por força destas legislações infraconstitucionais, a intenção de inserção da pessoa com
deficiência no mundo do trabalho, por parte do legislador através de ações afirmativas, fica evidente.
Fonseca (2006, p.129) define que as ações afirmativas importam em uma postura “(...) pro-ativa
do Estado, manifestada pela lei e pelo judiciário, no sentido de compensar o déficit histórico (...)” que em
muito “(...) gerou a exclusão evidente de um grupo específico de cidadãos”, que ao contrário do que pode
parecer, não desencadeou uma ruptura com o princípio da igualdade de todos perante a lei, pelo contrário,
defende igualdade de oportunidades e acesso, ventilando e propiciando condições materiais para que
todos sintam-se iguais no mesmo ambiente de convivência social.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Conforme afirma Gomes (2017, p.40), ações afirmativas são: um conjunto de políticas públicas e
privadas em caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate a
discriminação racial, de gênero, e de ordem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da
discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de
acesso a bens fundamentais como a educação e ao emprego.
O sistema de reserva leal de vagas ou cotas, garantidas para a pessoa com deficiência é um
sistema voltado para a inserção e participação da vida, possuindo como um fomentador para isso o mundo
do trabalho (GOLDFARB, 2014).
Neste sentido, entendeu-se que a partir da adoção de ações afirmativas, com a promulgação de
reserva de posições profissionais em empresas, a caminhada rumo a equiparação de oportunidades estava
iniciada.

3. MÉTODO
A metodologia da pesquisa caracteriza-se como qualitativa e exploratória. Para Gil (1991) a
pesquisa exploratória possibilita explicitar o problema a partir do uso de entrevistas com pessoas que
possuem experiências práticas sobre a problemática do estudo. Para tanto, será utilizado o procedimento
técnico do levantamento a partir da entrevista como instrumento de coleta de dados.

4. RESULTADOS ESPERADOS
A presente pesquisa tem como resultados esperados apontar as práticas de inclusão social da
pessoa com deficiência no mercado de trabalho no Brasil. Dessa forma, acredita-se que os resultados
permitirão indicar como as empresas privadas têm trabalhado o tema inclusão social. O alinhamento das
práticas com as ações conectadas ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS 8) Trabalho
Decente e Crescimento Econômico no mercado de trabalho pode contribuir para fomentar discussões e
propor ações que levem em conta o preconizado sobre este assunto na Agenda 2030.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre a forma como as empresas atendem a lei de cotas quanto a sua suficiência para
realizar a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho tem sua importância considerando
que, ainda hoje, vinte anos após a promulgação do referido diploma legislativo, não há outra forma do
agente que possui algum tipo de limitação aparente inserir-se no mercado de trabalho. O que denota um
distanciamento desta prática com o preconizado no Objetivo do Desenvolvimento Sustentável – Trabalho
Decente e Crescimento Econômico (ODS 8).
Preliminarmente, acredita-se que solitária a lei de cotas, carece de paralelo para que o seu
objetivo principal seja cumprido.
A lei de cotas enquanto instrumento para a diminuição de disparidades existentes, deve lançar
um olhar diferenciado sobre a hipossuficiência da PCD, sendo enxergado como um mecanismo de
concretização da igualdade material sobre a igualdade formal aplicada a estas relações.
O Estado busca uma entrada no mundo do trabalho através de uma ação afirmativa para a PCD,
mas deve ter presente de que nada adianta delegar ao corpo empresarial brasileiro, a atividade de
promoção da inclusão social, que é um papel definido na ODS 08 como sendo seu.
Espera-se que com a presente pesquisa seja possível identificar práticas claras de manutenção
dos princípios do trabalho digno, pleiteados através dos ODS 08 como sendo algo natural e partilhado
pelo empresariado brasileiro. Neste diapasão, espera-se que desde a publicação em diário oficial da Lei n.
3298/99, vinte anos atrás, a sociedade tenha compreendido que o papel da pessoa com deficiência, está
para o mundo do trabalho, como o mundo do trabalho está para qualquer profissional, um meio de
satisfazer anseios pessoais e de sua família de modo digno, abrangente e que permita a realização da
plenitude da vida em sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAHIA, Melissa Santos. Responsabilidade Social e Diversidade nas Organizações: contratando


pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2016.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

BRASIL. Decreto 3.298 de 20 de Dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de


1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as
normas de proteção, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm. Acesso em: 01 de set. 2019

BRASIL. Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de
deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas,
disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm. Acesso
em: 30 de ago. 2019

BRASIL. Lei 8.213 de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social
e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 01 de set. 2019

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010

GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: o direito
como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA. São Paulo: Renovar, 2017

BIANCHETTI L., LUCÍDIO, M. e Freire I.M. Um olhar sobre a diferença: Interação, trabalho e
cidadania. Campinas: Papirus, 2018.

FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O trabalho da pessoa com deficiência e a lapidação dos
direitos humanos: o direito do trabalho, uma ação afirmativa. São Paulo: LTr, 2006.

GOLDFARB, Cibelle Linero. Pessoas portadoras de deficiência e a relação de emprego: o sistema de


cotas no Brasil. Curitiba: Juruá, 2017.

MAZZOTA, Marcos José da Silveira. Educação especial no Brasil história e políticas públicas. São
Paulo: Cortez, 2015.

OLIVEIRA, C.C. O trabalhador portador de deficiência física e sua inclusão no mercado de


trabalho. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1999.

PASTORE, José. Oportunidades de trabalho para portadores de deficiência. São Paulo: LTr, 2017.

QUADROS, José Luiz. Direito do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2018.

RIBAS, João Baptista Cintra. O que são deficientes. São Paulo: Brasiliense, 2018.

ROSS, Paulo Ricardo. Educação e trabalho: a conquista da diversidade ante as políticas neoliberais.
Campinas: Papirus, 2016.

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25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 21
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

INSTRUMENTOS PARA AVALIAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


NO BRASIL

Ana Luiza Ferreira1, Bruna Angela Branchi2

1. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: ana.lf6@puccampinas.edu.br


2. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: bruna.branchi@puc-campinas.edu.br

RESUMO
A utilização de indicadores para avaliar um fenômeno específico é cada vez mais utilizado em diversas
áreas do conhecimento. Ao abordarmos sustentabilidade é possível identificar cada vez mais o uso dos
indicadores com a finalidade de monitorar os níveis de sustentabilidade locais e, também, de atribuir
metas de desenvolvimento sustentável. O objetivo do trabalho é elaborar um índice de desenvolvimento
sustentável e aplica-lo para todos os estados do Brasil. Os resultados são apresentados através de um
painel de bordo (dashboard) que permite visualizar os resultados por Unidade da Federação, facilitando,
não somente o cálculo do índica final, como também a identificação de possíveis deficiências de
determinados indicadores ou mesmo de determinada dimensão da sustentabilidade específica. Como
resultado final foi possível identificar que o Brasil possui um desempenho mediano quando se trata de
desenvolvimento sustentável e que, nenhum dos seus estados apresentou níveis considerados bons ou
excelentes. Através do dashboard resulta mais fácil identificar quais estados, ou regiões, apresentam
deficiências maiores em dimensões diferentes. Por fim, foi possível mapear de forma generalizada, pontos
a serem desenvolvidos em cada estado ou grande região estudados.

PALAVRAS-CHAVE: Indicadores; Desenvolvimento Sustentável; Dashboard; Objetivos de


Desenvolvimento.

1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento sustentável é, atualmente, um objetivo considerado mundial, dado que
acordos para a diminuição de emissões de poluentes, metas e objetivos para modificar comportamentos
nocivos às sociedades e ao meio ambiente tem sido cada vez mais comuns. Contudo, para que seja
possível estabelecer metas e, principalmente, monitorá-las é necessário que existam ferramentas que
possibilitem esse processo.
Os indicadores de desenvolvimento sustentável têm se mostrados a melhor ferramenta de apoio
para esse processo, contudo existe uma grande discussão de qual a melhor maneira de utilize-los,
organizá-los e, também, interpretá-los. Diversos estudos têm abordado os indicadores de sustentabilidade,
e a partir de estudos anteriores, foi possível identificar a possibilidade de dividir a sustentabilidade em
diferentes dimensões: econômica, social, ambiental, cultural, institucional etc, e, a partir disso, poder de
forma mais clara identificar as deficiências que cada espaço geográfico estudado apresenta.
O presente trabalho tem como objetivo calcular Índices de Desenvolvimento Sustentável (IDS)
para todos os Estados Brasileiros, para que assim, seja possível construir um ranking e identificar as
posições relativas dos estados e das grandes regiões numa avaliação global de desenvolvimento, qual é o
desenvolvimento sustentável.
Para isso, foi utilizado o método do dashboard, isto é, foi feito um quadro com cada uma das
dimensões do desenvolvimento sustentável, e os IDS de cada estado calculado a partir do tratamento dos
dados. O dashboard representa uma técnica de comunicação dos indicadores através de cores que irá
classificar cada um deles de péssimo a excelente.

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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Buscar o desenvolvimento sustentável requer um monitoramento extremamente sistemático não
somente do comportamento social, para que seja possível amenizar e corrigir falhas relacionadas a busca
do progresso, crescimento econômico, eficiência econômica e produtiva, etc. Para que esse
monitoramento seja melhor executado é aconselhável que se divida o desenvolvimento sustentável em
diferentes dimensões, para que seja possível identificar como cada uma delas influencia nesse conceito
(CASTELÃO et al, 2017). Existem diferentes propostas mas a mais comum reflete a proposta endossada
pelas Nações Unidas como consta na Declaração de Joanesburgo em 2002:
5. Por conseguinte, assumimos a responsabilidade coletiva de fazer avançar e fortalecer os
pilares interdependentes e que se sustentam mutuamente do desenvolvimento sustentável -
desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental - nos âmbitos local,
nacional, regional e global.

Meadows (1998) afirma que todo ser humano, mesmo se forma intuitiva e até mesmo
inconsciente, utiliza indicadores para monitorar determinados processos. Segundo a autora mensurar torna
possível a criação de metas e compromissos sociais para que seja possível atingir determinado objetivo
para qualquer que seja o indicador utilizado. Malheiros et al. (2012) afirmam que, apesar do uso de
indicadores como ferramenta de apoio ser algo a muito tempo utilizado, principalmente para tomadas de
decisões, a utilização dessa ferramenta de apoio para construir e aplicar indicadores de sustentabilidade é
algo recente.
Estudar e buscar o desenvolvimento sustentável faz com que surjam novos conceitos e estudos,
um deles, o chamado ecodesenvolvimento, se caracteriza pela concepção do desenvolvimento endógeno,
isto é, o desenvolvimento que se baseia em instituições e dinâmicas locais, que vai valorizar a autonomia
local e vai priorizar o desenvolvimento das comunidades locais. (RÉUS, ANDION,2018).
Veiga (2012) diz que o debate científico sobre indicadores de sustentabilidade existe há, pelo
menos, 40 anos. O Brasil, segundo o IBGE (2002) iniciou a construção de indicadores de sustentabilidade
somente nos anos 2000, após as práticas estipuladas pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento em 1992.
O processo descrito por Meadows (1998) ressalta ainda que utilizar indicadores é fundamental
para que haja um fluxo de informações das quais seja possível a retirada de informações claras e de fácil
compreensão para que seja acessível a todo mundo.
A possibilidade de criação de metas e acordos sociais para o desenvolvimento sustentável
possibilitou uma série de acordos e planos de desenvolvimento ao longo dos anos. Na elaboração desta
pesquisa foi usada como referência a Agenda 2030, desenvolvida pela Organização das Nações Unidas
(2015) que propõe 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis a serem alcançados no ano de 2030.
De forma resumida os 17 objetivos de desenvolvimento compreendem em:
(i) Erradicar a Pobreza;
(ii) Fome Zero e Agricultura Sustentável;
(iii) Saúde e Bem Estar;
(iv) Igualdade de Gênero;
(v) Água Potável e Saneamento;
(vi) Energia Limpa e Acessível;
(vii) Trabalho Decente e Crescimento Econômico;
(viii) Indústria Inovação e Infraestrutura;
(ix) Redução das Desigualdades;
(x) Cidades Comunidades Sustentáveis;
(xi) Consumo e Produção Responsáveis;
(xii) Ação Contra a Mudança Global do Clima;
(xiii) Vida na Água;
(xiv) Vida Terrestre;
(xv) Paz, Justiça e Instituições Eficazes;
(xvi) Parcerias e Meios de Implementação.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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Essas mais recentes decisões irão determinar o curso global de ação para que seja possível acabar
com a pobreza, prosperar e promover o bem-estar para toda população ao mesmo tempo em que se
protege o meio ambiente e se combatem as mudanças climáticas.
A Agenda 2030 apresentada em 2015 representa um acordo global de combate as mudanças
climáticas e, atualmente, representa o maior e mais recente acordo de mudanças comportamentais dos
países.
A ONU (2015) justifica a determinação de seus objetivos de desenvolvimento devido ao fato de
estarmos enfrentando um momento de imensos desafios ao desenvolvimento sustentável: bilhões de
nossos cidadãos continuam vivendo na pobreza e sem uma vida digna, existem desigualdades crescentes
dentro e entre países, existem enormes disparidades de oportunidades, riqueza e poder, a desigualdade de
gênero continua sendo um desafio fundamental, o desemprego, particularmente o desemprego juvenil, é
uma grande preocupação.
Além disso, vivemos um cenário de ameaças à saúde global, desastres naturais mais frequentes e
intensos, conflitos em espiral, extremismo violento, terrorismo e crises humanitárias relacionadas e
deslocamento forçado de pessoas ameaçam reverter grande parte do progresso do desenvolvimento feito
nas últimas décadas. Depleção de recursos naturais e impactos adversos da degradação ambiental,
incluindo desertificação, seca, degradação do solo, escassez de água doce e perda de
biodiversidade, adicionam e exacerbam a lista de desafios que a humanidade enfrenta (ONU, 2015).
Além disso, o órgão definiu a mudança climática como um dos maiores desafios do nosso tempo,
cujos impactos adversos prejudicam a capacidade de todos os países para alcançar o desenvolvimento
sustentável. Aumentos na temperatura global, elevação do nível do mar, acidificação dos oceanos e outros
impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente as áreas costeiras e os países costeiros
baixos, incluindo muitos países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em
desenvolvimento. A sobrevivência de muitas sociedades e dos sistemas de suporte biológico do planeta
está em risco.
Por fim, afirma também que a sobrevivência de muitas sociedades e dos sistemas de suporte
biológico do planeta está em risco, todos os impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente
as áreas costeiras e os países costeiros mais baixos, incluindo muitos países menos desenvolvidos e
pequenos Estados insulares em desenvolvimento (ONU, 2015).
Por fim, como maior justificativa da importância da definição de objetivos de desenvolvimento
sustentável, a ONU (2015) afirma que todas as características descritas anteriormente, estão colocando
em risco todos os seres vivos presentes no planeta.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente artigo é o resultado de uma pesquisa quantitativa exploratória que usa como base de
dados para coleta de indicadores a pesquisa realizada pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) denominada Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) de 2017, o Censo Agropecuário
de 2017 e a PNAD (2004). Segundo o IBGE (2017) os indicadores disponibilizados têm como objetivo
acompanhar a sustentabilidade padrão do desenvolvimento do Brasil e seguem o marco ordenador
proposto pela ONU.
A dimensão ambiental trata de fatores relacionados a pressão e impacto, isto é, se relacionam
com preservação e conservação do meio ambiente. Nessa dimensão encontram-se indicadores
relacionados a água potável, solo, terra, atmosfera, mares e oceanos, etc. A dimensão social corresponde
aos objetivos ligados à satisfação das necessidades humanas, ou seja, melhoria na qualidade de vida e
justiça social. Nessa dimensão são encontrados indicadores referentes a segurança, distribuição de renda,
saúde, educação, habitação e etc. A dimensão econômica trata, nessa pesquisa, do esgotamento de
recursos naturais, produção e gerenciamento de resíduos e do desempenho macroeconômico do país,
contendo indicadores como balança comercial, índice de Gini da renda, etc. (IBGE, 2017b).
A coleta dos dados deu-se a nível estadual para compor, não somente índices de
desenvolvimento por estado, mas também para avaliar o nível de desenvolvimento sustentável do Brasil.
Já a seleção das variáveis se deu através da relação dos indicadores com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentáveis propostos pela Agenda 2030. Cada indicador foi relacionado com um dos
dezessete objetivos propostos pela ONU de acordo com suas características como pode ser observado no
quadro 1.

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Quadro 1 – Indicadores selecionados


INDICADOR ODS FONTE ANO
Util ização de
Objetivo 2: Acabar com a fome, alcançar a segurança Índice de
ferti lizantes por
al imentar e mel horia da nutrição e promover a agricul tura Des envolvimento 2017
uni dade de área
s ustentável Sus tentável (IBGE)
(kg/ha)
Comerci alização de
agrotóxicos e afins Objetivo 2: Acabar com a fome, alcançar a segurança Índice de
por área pl antada al imentar e mel horia da nutrição e promover a agricul tura Des envolvimento 2017
(Quil ogramas por s ustentável Sus tentável (IBGE)
Hectare)
Proporção de
Índice de
municípios com Objetivo 11. Tornar as cidades e os ass entamentos
Des envolvimento 2017
consel ho de mei o humanos inclus ivos , s eguros, res ili entes e s ustentáveis
Sus tentável (IBGE)
ambi ente (%)
Proporção da área
das unidades de Objetivo 16. Promover s ociedades pacíficas e incl usi va s
Índice de
cons ervação em para o desenvolvimento s ustentável, proporcionar o
Des envolvimento 2017
rel ação à á rea da aces so à justi ça pa ra todos e cons trui r ins tituições
Sus tentável (IBGE)
Unida de da eficazes, res ponsá veis e incl usivas em todos os níveis
Federação (%)
Percentual de
Estabeleci mentos Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança
Cens o
Agropecuário que al imentar e mel horia da nutrição e promover a agricul tura 2017
Agropecuári o
Prati cam Agricul tura s ustentável
Orgâ nica
Doenças Caus adas
Índice de
Por Falta de Objeti vo 6. As segurar a di sponi bil idade e ges tão
Des envolvimento 2017
Saneamento (por sustentável da água e s aneamento para todos
Sus tentável (IBGE)
100 mil habitantes )
Coeficie nte de Objeti vo 16. Promove r s ocieda des pa cífi ca s e incl us iva s
Índice de
Morta l ida de Por pa ra o des envolvimento s us te ntá ve l, proporci ona r o
Dese nvol vimento 2017
Homicídio (Por 100 a ce ss o à jus ti ça pa ra todos e construi r instituiçõe s
Sustentá vel (IBGE)
mi l ha bita nte s) efica zes, re spons á vei s e inclus iva s em todos os níve is
Dis tri bui çã o
Índice de
Percentua l de Objeti vo 6. As s egura r a dis ponibi lida de e ges tã o
Dese nvol vimento 2017
Mora dores Com Li xo s us te ntá ve l da á gua e s a ne a mento pa ra todos
Sustentá vel (IBGE)
Cole ta do
Número de
Índice de
Esta bel eci mentos Objetivo 11. Torna r a s cida des e os a s s enta mentos
Dese nvol vimento 2017
Sa úde (Por 1 mi l huma nos incl us ivos , se guros , res ili entes e s us te ntá ve is
Sustentá vel (IBGE)
ha bita ntes )
Ta xa de
Obje ti vo 4. As se gura r a e duca çã o incl us iva e equita ti va e Índice de
Alfa betiza çã o
de qua li da de, e promover oportuni da des de Dese nvol vimento 2017
(Pe ss oa s com ma i s
a pre ndi za ge m a o longo da vida pa ra todos Sustentá vel (IBGE)
de 15 a nos

Proporçã o de Índice de
Objeti vo 5. Al ca nça r a igua l da de de gênero e e mpode ra r
Mul here s em Dese nvol vimento 2017
toda s a s mulhe res e meni na s
Tra ba lhos Forma i s Sustentá vel (IBGE)

PNAD -
Percentua l da Obje tivo 2. Aca ba r com a fome, a lca nça r a s egura nça
Supl emento
Popula çã o com a l imenta r e melhori a da nutri çã o e promover a a gricultura 2004
Segura nça
Se gura nça Ali menta r s ustentá vel
Ali menta r
Objetivo 8. Promover o cres cimento econômi co Índice de
PIB Perca pi ta s us te nta do, i ncl usi vo e s ustentá vel , emprego pl eno e Dese nvol vimento 2017
produtivo e tra ba lho decente pa ra todos Sustentá vel (IBGE)

Índice de
Rendi mento Médi o Objetivo 12. As s egura r pa drões de produçã o e de cons umo
Dese nvol vimento 2017
Fa mi li a r s us tentá vei s
Sustentá vel (IBGE)

Índi ce de Gini da Índice de


Objetivo 10. Reduzir a des igua l da de dentro dos pa ís es e
Di stribuiçã o de Dese nvol vimento 2017
e ntre eles
Renda Sustentá vel (IBGE)

Legenda:
IDS: Indicadores de desenvolvimento sustentável (IBGE, 2017b).
CA: Censo Agropecuário (IBGE, 2017a).
PNAD: Suplemento de segurança alimentar da PNAD (IBGE, 2004).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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Fonte: Elaborada pelos autores.

As variáveis selecionadas foram usadas para elaborar um Índice de Desenvolvimento


Sustentável (IDS) e um Painel de Sustentabilidade (Dashboard of Sustainability), seguindo as etapas
propostas por Sachs et al. (2018): (i) censurar valores extremos da distribuição de cada indicador; (ii)
redimensionar os dados para garantir a compatibilidade entre os indicadores; (iii) agregar os indicadores
de acordo com as dimensões do desenvolvimento sustentáveis.
Todas variáveis sofreram o processo de normalização, isto é, foram dimensionadas entre 0 e 1,
sendo 0 indicando o pior desempenho e 1 o melhor. Os limites máximos e mínimos foram definidos, para
cada indicador, de acordo com o valor máximo e mínimo alcançados no conjunto dos estados brasileiros.
Duas fórmulas foram utilizadas para normalização dos dados. A primeira quando os indicadores
obedecem a regra do “quanto maior melhor”, por exemplo: taxa de alfabetização, quanto maior a taxa
melhor é a situação do local estudado.

%&'()(%)
x’ = (1)
',-(%)&'()(%)

A segunda é a transformação usada quando o maior valor do indicador assinala a pior


contribuição para o desenvolvimento sustentável.

',-(%)&%
x’ = (2)
',-(%)&'()(%)

Onde:
x’= valor normalizado
x= valor do indicador;
min(x) = menos valor apresentado pelo indicador;
max(x) = maior valor apresentado pelo indicador;

Diversos trabalhos se utilizaram dessa metodologia para avaliar desenvolvimento sustentável


(SACHS, et al., 2018). Por exemplo, Bellen (2002) estudou diferentes formas de mensuração do grau de
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade locais e, em 2006, afirmou que o dashboard é um dos
métodos mais promissores, dado que ele permite englobar diferentes dimensões da sustentabilidade.
O dashboard também foi utilizado por Krama (2008) para mensurar o IDS nacional. Turra e
Lima (2018) calcularam a partir dessa técnica, índices de desenvolvimento sustentável para as
microrregiões do estado do Paraná.
Essa técnica, segundo Turra e Lima (2018), facilita a comunicação da avaliação das dimensões
propostas pelo estudo: social, ambiental e econômica e, por conta disso, é eficaz quando aplicado a um
tema que engloba diferentes áreas de estudo.
A escala de cores adotadas para representação do desempenho de cada indicador para cada
estado Brasileiro foi baseada na escala de cores descrita no quadro 2.

Quadro 2 – Escada de cores e valores da qualidade medida


PÉSSIMO RUIM REGULAR Ótimo
IDS < 0,25 0,25<IDS<0,50 0,50<IDS<O,75 O,75<IDS<1

0 1
Fonte: Elaborada pelos autores.

Após o processo de normalização dos dados é necessário agregar os resultados para poder
calcular os índices parciais (por dimensão) e o índice global. A escolha de adotar um peso igual para cada
indicador e para cada índice parcial reflete a visão de considerar todas as dimensões do desenvolvimento
sustentável como um conjunto integrado e indivisível de objetivos (SACHS et al., 2018, p. 42).

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Então a partir de uma média simples dos quinze indicadores, foram calculados os índices de
desenvolvimento sustentável para cada uma das dimensões estudadas, para cada um dos estados
brasileiros.
Os índices parciais: Índice de Desenvolvimento Sustentável Ambiental (IDSAmb), Índice de
Desenvolvimento Sustentável Social (IDSSoc) e Índice de Desenvolvimento Sustentável Econômico
(IDSEco), em seguida são usados para determinar o Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) do
Brasil, a partir da fórmula (3).
1234'561233786123987
./0 = (3)
:
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Quadro 3 – IDS estaduais, por dimensão estudada


UF IDSAmb IDSSoc IDSEco
Rondônia 0,161 0,643 0,310
Acre 0,507 0,348 0,170
Amazonas 0,611 0,526 0,226
Roraima 0,189 0,696 0,163
Pará 0,548 0,262 0,190
Amapá 0,592 0,549 0,386
Tocantins 0,256 0,394 0,429
Maranhão 0,223 0,006 0,032
Piauí 0,059 0,106 0,069
Ceará 0,798 0,275 0,048
Rio Grande do Norte 0,322 0,499 0,102
Paraíba 0,173 0,270 0,089
Pernambuco 0,663 0,321 0,166
Alagoas 0,311 0,422 0,027
Sergipe 0,181 0,445 0,116
Bahia 0,419 0,382 0,158
Minas Gerais 0,387 0,690 0,401
Espírito Santo 0,140 0,710 0,387
Rio de Janeiro 0,591 0,795 0,538
São Paulo 0,372 0,946 0,549
Paraná 0,465 0,824 0,439
Santa Catarina 0,331 0,971 0,447
Rio Grande do Sul 0,355 0,822 0,464
Mato Grosso do Sul 0,355 0,721 0,398
Mato Grosso 0,323 0,664 0,341
Goiás 0,265 0,650 0,316
Fonte: Elaborado pelos autores.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Quadro 4 – IDS Estadual

RANKING IDS
Distrito Federal 0,804
Rio de Janeiro 0,641
São Paulo 0,622
Santa Catarina 0,583
Paraná 0,576
Rio Grande do Sul 0,547
Amapá 0,509
Minas Gerais 0,493
Mato Grosso do Sul 0,492
Amazonas 0,454
Mato Grosso 0,442
Espírito Santo 0,412
Goiás 0,410
Pernambuco 0,384
Ceará 0,374
Rondônia 0,371
Tocantins 0,360
Roraima 0,349
Acre 0,342
Pará 0,333
Bahia 0,320
Rio Grande do Norte 0,307
Alagoas 0,253
Sergipe 0,247
Paraíba 0,177
Maranhão 0,087
Piauí 0,078
Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 5- IDS das Grandes Regiões

RANKING IDS
Sul 0,569
Sudeste 0,542
Centro-Oeste 0,537
Norte 0,388
Nordeste 0,216
Fonte: Elaborado pelos autores.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Com a aplicação do método proposto é possível determinar um ranking de estados com base no
IDS (Quadro 4).Ao se analisar o ranking estadual brasileiro é possível identificar como maior índice de
desenvolvimento sustentável o atribuído ao Distrito Federal (DF), contudo, tendo o DF apenas um
município, e, portando, possuindo uma área e população menores, as variáveis apresentaram o maior
valor para a grande maioria dos indicadores utilizados. Sendo assim analisar o DF através do método
utilizado acaba por comprometer o resultado final dos índices de desenvolvimento sustentáveis do DF em
comparação aos índices do restante dos estados.
Ao calcular um média dos índices estaduais por Grandes Regiões (Norte, Sul, Sudeste e Centro-
Oeste) é possível identificar que os maiores valores foram registrados nas regiões Sul e Sudeste. A região
Centro-Oeste ocupa uma posição mediana, mesmo com índice individual do DF sendo o mais alto de
todos os estados.
As regiões Norte e Nordeste apresentam baixos níveis de desenvolvimento sustentável como um
todo. Com exceção do Amapá e Amazonas que se encontram em níveis regulares no ranking estadual, 7º
e 9º lugares respectivamente, os outros estados dessas regiões ocupam as colocações finais no ranking.
O Quadro 3 permite concluir que o Brasil, no geral, não possui um alto nível de desenvolvimento
sustentável. Contudo, podemos observar alguns detalhes importantes. O Ceará, mesmo fazendo parte da
região com menor índice de desenvolvimento e possuindo um IDS de 0,374 foi o único estado brasileiro
que apresentou um IDSAmb satisfatório.
Já a dimensão social apresenta resultados satisfatórios apenas para as regiões sul e sudeste,
estando o restante do Brasil com resultados de regular a ruim. A dimensão econômica apresenta um
resultado bastante negativo, tendo somente São Paulo e Rio de Janeiro alcançado níveis regulares de
desenvolvimento sustentável, o restante apresenta resultados péssimos e ruins o que podemos considerar
um alerta para os estados com relação sua dimensão econômica da sustentabilidade.
Mesmo com resultados mais abrangentes obtidos a partir do cálculo dos índices de
desenvolvimento sustentável e montagem do ranking estadual, é possível, através do dashboard
identificar alguns aspectos específico de cada estado brasileiro. Por exemplo, apesar do Nordeste
apresentar uma média final baixa nos IDS, os estados dessa região apresentaram ótimos índices nos
indicadores relacionados a comercialização de fertilizantes e agrotóxicos.
O dashboard permite analisar pontos específicos de deficiência em determinados estados ou
mesmo em todo país, como é o caso do indicador referente as áreas de conservação existentes nos
estados, todos os estados brasileiros apresentaram resultados classificados como ruim ou péssimo.
Com exceção dos DF, o maior IDS alcançado pelos estados brasileiros foi de 0.64, isto é, o país
apresenta um cenário regular de desenvolvimento sustentável. Mesmo quando analisados os IDS por
grandes regiões, o presente estudo apresenta o desempenho brasileiro como médio a ruim.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação do desenvolvimento sustentável é algo bastante complexo, o uso de indicadores
sintéticos facilita o monitoramento de sua evolução. A qualidade de uma avaliação depende,
principalmente, da escolha das variáveis. Cada estudo se permite um leque de variáveis a ser utilizada e a
escolha tem que ser cuidadosamente feita a partir dos objetivos finais da pesquisa.
A técnica do dashboard facilita a comunicação e divulgação dos resultados, a partir da
formatação de cores, em uma escala já comumente usada, é fácil associar as cores a qualidade dos níveis
obtidos. O dashboard permite também identificar os detalhes de cada um dos espaços geográficos
utilizados na pesquisa e, mesmo com o cálculo e o ranking de um IDS final, podemos identificar durante
todo processo de construção do dashboard informações relevantes que, somente através de um índice
final, não seriam possíveis de ser identificadas.
Ao fim da análise dos resultados foi possível concluir que a metodologia escolhida não foi
adequada para verificação dos IDS do Distrito Federal, por se tratar de um único município os indicadores
coletados aplicados ao método possibilitou um melhor desempenho ao DF dado que ele estava sendo
comparado a estados com grande número de municípios.
Para estudos futuros é necessário que se escolha um método apropriado que permita a
comparação do DF com outros estados ou a modificação do recorte geográfico para municipal, para que
os índices finais representem um resultado melhor adequado.
Apesar do método apresentar um resultado mais abrangente , a partir dele, identificar as
deficiências iniciais, sejam elas aplicadas a municípios, estados ou grandes regiões, para que seja possível
um direcionamento de medidas de incentivo ao desenvolvimento sustentável, para que cada espaço

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

geográfico utilizado possa ter sua individualidade preservada e suas deficiências devidamente
identificadas.
Por fim, a partir desse estudo é possível concluir que o Brasil apresenta-se, de certa forma,
distante dos objetivos de desenvolvimento propostos pela agenda 2030. Apenas a 11 anos do prazo
estipulado pelo documento, ainda não conseguimos encontrar uma dimensão do desenvolvimento
sustentável onde é possível verificar IDS em sua maioria bons, praticamente todos resultados ainda
continuam a apresentar incides de regular a péssimo.
Com isso, a partir do presente estudo não é possível especificar um possível direcionamento de
políticas de desenvolvimento sustentável, dada a abrangência dos dados utilizados, porém é possível
identificar a necessidade de se buscar formas de desenvolvimento sustentáveis para todas dimensões que
ele abrange, para que, futuramente, seja possível identificar melhores IDS para o Brasil.

6. REFERÊNCIAS
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(Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis - SC,
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Fundação Getúlio Vargas, 2006.
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Mato Grosso do Sul (Analysis of Municipal Sustainability Level in Mato Grosso do Sul: A Study
Supported by data envelopment analysis (DEA)). Revista Brasileira de Geografia Física, [S.l.], v. 10, n.
6, p. 1948-1958, ago. 2017.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Segurança Alimentar. Rio de Janeiro: IBGE,
2004. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 03 set. 2019.
IBGE. Censo Agropecuário. 2017a. Disponível em: < https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-
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IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: IBGE, 2017b.
KRAMA, M. R. Análise dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, usando a
ferramenta do painel de sustentabilidade. 185f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção e
Sistema) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba - PR, 2008.
MEADOWS, D. Indicators and information System for Sustainable Development. A Report to the
Balaton Group. Canada: International Institute for Sustainable Development, 1998.
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https://www.mma.gov.br/estruturas/ai/_arquivos/decpol.doc> . Acesso 08 set. 2019.
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sustentável: dos ODM aos ODS. Brasília, DF, 2015.
RÉUS, I; ANDION, C. Gestão Municipal e Desenvolvimento Sustentável: panorama dos indicadores de
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SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. In: STROH, P. Y. (Org.). Rio de Janeiro:
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SACHS, J., SCHMIDT-TRAUB, G., KROLL, C., LAFORTUNE, G., FULLER, G. SDG Index and
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TURRA, S.; LIMA, A.C.C. Desenvolvimento Sustentável das Microrregiões do Paraná: uma análise
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Taubaté, v. 14, n. 5, p.101-115, 24 abr. 2018.VEIGA, J. E. Meio ambiente e desenvolvimento, 4 ed.
Editora Senac, São Paulo, 2012.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 22
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

A EXPERIÊNCIA HABITACINAL DE CAJUEIRO SECO


SOB A ÓTICA DA SUSTENTABILIDADE

Mayara Christy Tavares de Lima1, Samuel Carvalho De Benedicto2,


André Pires3, José Roberto Merlin4

3. Mestre em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:


arqdobrasil@gmail.com
4. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
5. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação. E-mail:
anpires@puc-campinas.edu.br
6. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. E-
mail: jrmerlin@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O projeto e a construção do conjunto habitacional do Cajueiro Seco, realizado em Recife, durante dos
anos de 1963 e 1964, alcançou grande repercussão devido a sua proposta inovadora que incluía reforma
urbana, práticas participativas, progresso tecnológico e valorização das características regionais. Apesar
de interrompido pelo golpe militar em 1964, ainda é visto como uma experiência incomparável do ponto
de vista arquitetônico, em especial da arquitetura moderna brasileira. Embora este projeto tenha ocorrido
em um período no qual ainda não se utilizava o termo Desenvolvimento Sustentável, se analisados seus
aspectos sob a ótica da sustentabilidade, poderemos encontrar inúmeras analogias. Por essa razão, o
presente artigo tem como objetivo compreender acerca dessas relações, a partir da teoria das dimensões
da sustentabilidade desenvolvida pelo economista polonês Ignacy Sachs. De abordagem qualitativa, e de
natureza bibliográfica, exploratória e descritiva, o presente artigo tem como propósito final apontar as
contribuições desta experiência para a sustentabilidade. Os resultados apontam que diversos aspectos do
projeto, se analisados sob a ótica da sustentabilidade, podem trazer grandes contribuições para o conceito
de Desenvolvimento Sustentável, e servir de referência para projetos urbanísticos e arquitetônicos mais
sustentáveis. O estudo finaliza com a percepção de que um projeto dessa natureza poderá gerar há muitos
ganhos: a população envolvida nas moradias, a comunidade no entorno do projeto, a economia local, o
meio ambiente no entorno, a cultura local e a política.

PALAVRAS-CHAVE: Habitação, Cajueiro Seco, Desenvolvimento sustentável, Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
A experiência habitacional de Cajueiro Seco, ocorrida entre anos de 1963 e 1964, no Recife, teve
grande repercussão no cenário nacional e internacional devido a sua proposta inovadora – reforma urbana,
práticas participativas, progresso tecnológico e valorização das características regionais – que, inserida no
panorama político e social da época, representou um projeto piloto ímpar, que marcou a arquitetura
moderna brasileira, em especial o campo da habitação social (BIS, 2010; INGLEZ DE SOUZA, 2009;
SOUZA, 2010).
Entre os anos de 1960 e 1970, o discurso da autoajuda e da participação do usuário na resolução
de problemas habitacionais passou a ser incentivado por arquitetos do Brasil, da América Latina e da
Europa. Durante este período, os discursos giravam em torno do diálogo entre profissionais e a
comunidade, e a proposta de Cajueiro Seco serviu de modelo teste para esta nova prática, visto que teve

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

como uma de suas premissas a participação do povo (SOUZA, 2010; BIS, 2010, INGLEZ DE SOUZA,
2009).
Outros temas frequentemente discutidos e relacionados com os inúmeros problemas urbanos que
surgiam a cada dia, eram: o direito à habitação, a reforma urbana, o avanço da construção em termos de
racionalização e a responsabilidade do Estado frente a essas questões. Nesse sentido, o projeto Cajueiro
Seco tornou-se novamente um exemplo, pois abarcou esses aspectos através da reforma urbana e da pré-
fabricação na resolução do déficit habitacional (BIS, 2010, INGLEZ DE SOUZA, 2009; SOUZA, 2010).
O projeto de Cajueiro Seco foi interrompido pelo governo militar em 1964. Nesta época, ainda
não se falava em Desenvolvimento Sustentável. Contudo, se analisarmos com cautela os aspectos de seu
projeto, podemos encontrar inúmeras características concernentes a sustentabilidade.
Diante do exposto, este artigo tem por objetivo geral analisar o projeto de Cajueiro Seco sob a
ótica da sustentabilidade, a partir da teoria das dimensões da sustentabilidade proposta pelo economista
polonês Ignacy Sachs. De abordagem qualitativa, e de natureza bibliográfica, exploratória e descritiva,
almeja-se como propósito final apontar as contribuições desta experiência para a sustentabilidade.
Para alcançar ao objetivo proposto, a pesquisa foi dividida em cinco partes: A política
habitacional brasileira pré-ditadura; A experiência habitacional de Cajueiro Seco; Dimensões da
sustentabilidade de Ignacy Sachs; Cajueiro Seco e a sustentabilidade; e Considerações finais.

2. A POLÍTICA HABITACIONAL BRASILEIRA PRÉ-DITADURA


Os anos que correspondem ao início da Era Vargas5, em 1930, até o Golpe de Estado, ocorrido
em 1964, foram marcados pelo começo da intervenção do Governo no processo de produção habitacional.
Com o fim do liberalismo político6 e início da centralização do poder, o Governo passou a intervir no
mercado de locação, através do congelamento dos aluguéis, e no processo de produção da moradia,
através da construção e do estímulo à difusão da casa própria (BONDUKI, 2014; RUBIN; BOLFE,
2014).
No decorrer deste período, a população urbana brasileira elevou-se de, aproximadamente, 8
milhões de habitantes para 32 milhões, conforme dados do IBGE (1960). Em decorrência deste
crescimento populacional, criou-se a noção de que a busca por soluções para a crise habitacional deveria
ser uma responsabilidade do governo e tratava-se, portanto, de uma questão de política pública e não mais
de iniciativa privada (BONDUKI, 2014).
Com a justificativa de “garantir melhores condições de habitação e de vida urbana aos
trabalhadores” (BONDUKI, 2014, p. 41), foram criados, no decorrer destes anos, importantes marcos
institucionais, tais como: o Decreto - Lei do Inquilinato, em 1942; o Decreto - Lei n. 58/1938; a criação
das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs, a partir do ano de 1937; e a
criação da Fundação Casa Popular, em 1946 (BONDUKI, 2014; RUBIN; BOLFE, 2014).
Instituída em 1942, a Lei do Inquilinato regulamentou as relações entre os proprietários e os
inquilinos através do congelamento dos valores locativos e da proibição dos despejos (BRASIL, 1942).
Por sua vez, seus principais objetivos foram: aumentar o apoio popular ao governo de Getúlio Vargas;
reduzir os custos de reprodução da força de trabalho; e desestimular o investimento em casas alugadas de
modo a concentrar a aplicação de capitais nos setores considerados mais estratégicos para o projeto de
desenvolvimento nacional como, por exemplo, na indústria (BONDUKI, 2014; KINGSTON, 1960).
Regulamentado em 1938, o Decreto-Lei nº 58/1938 dispunha sobre a venda de terrenos para
pagamento em prestações (BRASIL, 1937), e seu principal objetivo consistia em “amparar o comprador
de lotes nas transações de compra e venda, uma vez que o art. 1.088 do Código Civil vigente permitia o
arrependimento do negócio antes da assinatura da escritura” (LEONELLI, 2010, p.81).
Criados na década de 1930, os Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs - foram um
instrumento de estatização da previdência social no Brasil. Tinham por objetivos garantir aposentadorias
e pensões à previdência social, realizar atendimento à saúde e produzir e financiar moradias para os

5 A Era Vargas foi o período no qual Getúlio Vargas governou o Brasil – 1930 a 1945. Dividida em três momentos -
Governo Provisório (1930–1934), Governo Constitucional (1934-1937) e Estado Novo (1937 a 1945), os principais
aspectos deste período são: fim do liberalismo; início da centralização do poder; criação de novos ministérios,
dentre eles o Ministério do Trabalho; criação da Justiça do Trabalho; elaboração de uma política nacionalista;
incentivo ao desenvolvimento industrial; censura aos meios de comunicação e autoritarismo (BUENO, 2010).
6 Para Adam Smith, filósofo, economista e o mais importante teórico do liberalismo econômico, o Estado deveria
intervir o mínimo possível na economia e na vida pessoal, deixando o mercado atuar a partir de suas próprias regras
(SMITH, 1996).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

associados dos institutos através das inversões imobiliárias. O primeiro IAP, IAPM - Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, surgiu em 1933 e, ao longo da década, foram criados outros
institutos: IAPC - Comerciários (1934), IAPB - Bancários (1935), IAPI - Industriários (1938), IPASE -
Servidores Públicos (1938) e o IAPETC - Transportes e Cargas (1938) (BATICH, 2004; BONDUKI,
2014).
Criada em 1946, a Fundação Casa Popular foi o primeiro órgão federal voltado, exclusivamente,
para o desenvolvimento de políticas habitacionais no país (VILLAÇA, 1986; RUBIN; BOLFE, 2014). A
proposta inicial da Fundação consistia em centralizar todas as carteiras prediais e os fundos dos IAPs
destinados à habitação e atuar no tema de maneira abrangente, incluindo desenvolvimento urbano, social
e econômico. Além da construção de casas populares, previa-se financiar obras de infraestrutura urbana;
atuar no serviço social; abrir linhas de financiamento para as indústrias de material de construção; e
apoiar pesquisas de processos construtivos e estudos sobre as tendências regionais de moradias, incluindo
arquitetura, hábitos, clima, materiais e mão de obra. (BONDUKI, 2014, p. 48)
Apesar de representar uma proposta ambiciosa, a FCP fracassou, primeiramente, devido à
desorganização e desinteresse dos grupos mais beneficiados e, em segundo lugar, devido à oposição de
vários setores da sociedade, dentre eles, a indústria da construção civil, os sindicatos, as entidades
profissionais e os IAPs que, ameaçados de perderem seus privilégios, não mediram esforços para
desmantelar o projeto (AZEVEDO; ANDRADE, 2011; BONDUKI, 2014).
Depois do fracasso da FCP, foi criada, no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, a
Comissão do Bem-Estar Social, composta por diversas subcomissões, sendo uma voltada,
exclusivamente, à habitação e favelas (MINISTÉRIO DO TRABALHO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO,
1952). Como resultado de inúmeros debates promovidos por esta subcomissão, especificamente, foi
elaborado um extenso relatório que propunha medidas como: a criação de programa de colonização e
ocupação do interior para conter o êxodo rural; o estabelecimento de um teto para os financiamentos; o
fornecimento de crédito de baixo valor para aquisição de material, associado à orientação técnica; a
criação de órgãos locais capazes de organizar o esforço próprio, difundindo métodos de construção,
fornecendo materiais baratos e viabilizando a aquisição de terrenos; centralizar os recursos na FCP para
ampliar a ação federal (BONDUKI, 2014, p. 56).
Entretanto, a apatia do Governo impediu que estas medidas fossem instauradas e que houvesse
qualquer alteração na estrutura institucional. Paralelo a isso, a partir do ano de 1956, a política de
desenvolvimento nacional, reforçada pelo Plano de Metas7, estimulou a industrialização e a migração
campo-cidade. Tudo isso somado a uma crescente inflação8, gerou uma crise urbana e habitacional ainda
maior, tornando urgente o desenvolvimento de estratégias para lidar com a questão. Surgem, assim,
estudos e propostas elaborados por duas correntes distintas: a conservadora e a progressista. Temendo
perder seus privilégios, a corrente conservadora apoiava projetos habitacionais de grande dimensão
quantitativa e baixa qualidade de projeto. Já os progressistas almejavam mudanças mais profundas
(BONDUKI, 2014, SOUZA, 2010).
Dos discursos de cunho progressista, o mais relevante ocorreu no âmbito do Seminário de
Habitação e Reforma Urbana – SHRu. Realizado em julho de 1963 no Hotel Quitandinha, em Petrópolis,
RJ, e na sede do IAB de São Paulo, o Seminário teve por principais objetivos discutir acerca da habitação
popular no Brasil e do aproveitamento territorial. Até o presente momento, os problemas enfrentados
pelas principais cidades brasileiras eram vistos como o resultado de uma “estrutura agrária arcaica” e do
“inchaço das cidades” (p. 28). Contudo, os debates ocorridos no Seminário tornaram a discussão mais
complexa, na medida em que se referiram à indústria da construção como parte do problema, pois visava,
tão somente, o lucro imobiliário (SOUZA, 2009).
Como resultado das discussões, foi elaborado um documento denominado “Resoluções”.
Estruturadas em três etapas – 1. constatações e considerações iniciais; 2. afirmações de direitos,
responsabilidades, possibilidades e dificuldades a enfrentar; e 3. propostas (SOUZA, 2009), as
Resoluções defendiam os seguintes aspectos: a habitação é um direito do cidadão e uma responsabilidade
do Estado; a reforma urbana, ou seja, os limites ao direito de propriedade e ao uso do solo, e o avanço
construtivo, através da racionalização de métodos de produção, são elementos primordiais para enfrentar

7 O Plano de Metas, criado pelo então presidente Juscelino Kubitschek, foi um programa do governo que tinha por
objetivo promover 50 anos de progresso em 5 anos de realizações por meio da industrialização e da modernização
(SILVA, 2017).
8 O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado por uma economia que crescia à média de 8,2% ao ano, mas que
passara a conviver com taxas de inflação anuais da ordem de 23% e com um progressivo descontrole das contas
externas (SARMENTO, 2017).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

o problema; a participação do povo em programas de desenvolvimento de comunidades e da iniciativa


privada na oferta de habitação de interesse social é necessária; o plano nacional de ordenamento territorial
e de habitação, contemplando as demandas presentes e futuras, deve orientar a política habitacional; o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve instituir um sistema de levantamento de
estatísticas contínuas sobre a habitação, levando em conta a qualificação socioeconômica da população
atendida (BONDUKI, 2014, p. 59).
Também, foi elaborado um anteprojeto de lei de reforma urbana que propunha a criação de um
Banco Nacional de Habitação, de um Plano Nacional de Habitação, de um Plano Emergencial para as
habitações “subnormais”. Esse anteprojeto de Lei foi transformado no Projeto de Lei n. 87/63,
apresentado pelo deputado Floriceno Paixão ao Congresso Nacional, que propunha ainda a formulação do
PNH, a criação do Conselho Nacional de Habitação (CNH) e a instituição do Fundo Nacional de
Habitação (FNH), reformulando a legislação relativa à Fundação Casa Popular e centralizando os
recursos disponíveis para o setor (BONDUKI, 2014, p. 60).
Paralelo ao Seminário, estava sendo realizada no Grande Recife a experiência habitacional de
Cajueiro Seco que, devido a sua proposta inovadora, acabou tornando-se um “modelo de teste para a
política nacional que estava sendo formulada” (p. 32). Seguindo as “bases progressistas” (p.32), a projeto
incluía a reforma urbana, as práticas participativas, o progresso tecnológico e a valorização de
características regionais através da utilização de sistemas construtivos tradicionais (INGLEZ DE SOUZA,
2009).
A experiência de Cajueiro Seco foi apresentada no SHRu e debatida com muito interesse, na
medida que representava já uma aplicação de parte das práticas que já estavam sendo debatidas, num
momento no qual Pernambuco tinha um papel de destaque no panorama de atuações governamentais para
a área e Recife representava a terceira maior cidade do Brasil, na qual a crosta de mocambos
materializava o inchaço descrito pelo documento (INGLEZ DE SOUZA, 2009, p. 33).
Apesar de interrompido pela ditadura militar em 1964, Cajueiro Seco representou um projeto
incomparável que incluiu “arquitetura, pedagogia, política social e cultura popular”, e, a despeito dos
acontecimentos históricos subsequentes, ainda é visto como um “episódio ímpar na arquitetura moderna
brasileira” (INGLEZ DE SOUZA, 2009, p. 05, 06).

3. A EXPERIÊNCIA HABITACIONAL DE CAJUEIRO SECO


Cajueiro Seco é, atualmente, um bairro popular que fica localizado no município de Jaboatão dos
Guararapes, em Recife. Com características bastante similares às periferias e subúrbios brasileiros, apenas
o “alinhamento e a regularidade de suas ruas e quadras” descortinam uma origem bastante distinta
daquela que se observa (BIS, 2010).
Até o século XVII, Recife detinha o monopólio da circulação da produção de açúcar em seus
portos. Após perder esse status, passou a crescer lentamente. A partir do século XIX, devido ao
crescimento da produção de algodão no país, recuperou a sua posição, tornando-se o maior responsável
por abastecer o mercado interno. No século XX, Recife almejava ser o principal centro regional e, para
isso, entendia como necessária, a implantação de um projeto de modernização que, dentre outros
aspectos, incluía reformas urbanas (OLIVEIRA, 2008).
A despeito de seus esforços, a desarticulação entre a economia de subsistência e a nova forma de
economia, baseada na industrialização, trouxe para o meio urbano um grande número de miseráveis9. Por
sua vez, por ser a cidade de Recife recortada por rios e alagados, grande parte dessas pessoas foram
deslocadas para suas margens e mangues, formando os chamados mocambos – daí o título de
“Mucambópolis” (OLIVEIRA, 2008). Segundo Silva e Nunes (2017), os mocambos eram uma
“verdadeira senzala remanescente, que revelava a produção e a reprodução das desigualdades sociais,
para além da poesia das manifestações socioculturais realizadas pelos negros e mestiços, seus principais
habitantes”.
Em um contexto de grandes desigualdades, tal qual foi brevemente delineado, a experiência de
projeto e construção de Cajueiro Seco foi desenvolvida. Criado com uma alternativa para resolver o
problema dos mocambos, Cajueiro seco tornou-se um projeto piloto para a nova política habitacional, e
foi apresentado em importantes seminários e congressos, nacionais e internacionais, tais como o SRHu, já
mencionado no capítulo anterior, e o Congresso da União Internacional dos Arquitetos - UIA - realizado
em Havana, no ano de 1963.

9
Entre as décadas de 1940 e 1950, o crescimento populacional de Recife foi de 50%, e entre 1950 e 1960, de 170%.

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25 a 26 de setembro de 2019

Além de considerar a participação da população no processo, a experiência de Cajueiro Seco foi


inovadora em outros três aspectos: o primeiro refere-se a reforma urbana; o segundo trata-se do progresso
tecnológico e o terceiro diz respeito a valorização das características regionais.

3.1 Cajueiro Seco e a reforma urbana


Desenvolvido pelos arquitetos pernambucanos Acácio Gil Borsoi e Gildo Guerra, o projeto de
Cajueiro Seco foi iniciado pelo planejamento urbano. Pensada para ser uma cidade satélite, a comunidade
de Cajueiro Seco foi inserida “entre a Zona Sul do Recife e Jaboatão, entre o eixo rodoferroviário e a
praia” (SOUZA, 2010, p. 261).
Antes de ser elaborado o sistema construtivo das casas, foi previsto um plano urbanístico que
compreendia a ordenação dos lotes e a provisão de serviços e infraestrutura (SOUZA, 2010, p. 256).

Figura 1 – Revisão Projeto Urbano

Fonte: Inglez de Souza (2009).

A proposta do Cajueiro Seco baseou-se na ordenação de lotes unifamiliares de tamanho regular


para as famílias, que dividiriam os equipamentos públicos e coletivos indutores de um desenvolvimento
possivelmente unifamiliar ou individual. Divididos por um córrego, que concentrava em suas margens
quase todos os equipamentos públicos, propunham se dois grupos de “superquadras”, ambas compostas
de quadros retangulares com 10 lotes unifamiliares de 8 x 16 metros por dois lotes de largura, evitando
miolos de quadra miolos e aumentando os espaçamentos entre as construções pela quantidade e largura
das ruas. (SOUZA, 2010, p. 266)
Com um programa de necessidades amplo e diversificado, o projeto urbano incluía: ambulatório
médico, centro de produção de sapateiros, lavanderia, posto de revenda, banheiros, sanitários públicos,
escola, centro comunitário, cooperativa com todos os materiais de construção a preço de custo, mercado,
dentre outros (SOUZA, 2010, p. 256).
Ao invés da solução demagógica de urbanizar aqueles núcleos miseráveis que nasceram
desordenadamente, o próprio governo forneceria o chão para um homem construir a sua casa, através de
sistema popularizado como "mutirão". As áreas urbanas desocupadas, uma vez desapropriadas, seriam
tecnicamente preparadas, antes de serem entregues às famílias, mediante financiamento a longo prazo e

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ao alcance de todos. Ali, no pedaço de terra que ele coubesse devidamente situado no traçado planejado,
um homem construiria o seu mocambo ou barraco, tendo ao seu alcance condições essenciais tais como
saneamento, transporte, abastecimento, escolarização, artesanato e demais serviços urbanos. Sendo
proprietário da terra e estimulando por esses benefícios todos aos poucos iriam melhorando a sua
habitação de palha até transformar numa casa de alvenaria e telhas. (SOUZA, 2010, p. 270-271)
Vale ressaltar que, naquele tempo, a região na qual se localiza Cajueiro Seco já estava sendo
ocupada, só que de modo desordenado. Por isso, antes de tudo, o projeto priorizou a implantação, a
infraestrutura e os serviços, representando um esforço contra o desenvolvimento de bairros insalubres e
sem nenhuma qualidade de vida. Seu principal objetivo consistia em proporcionar uma melhoria na
situação de vida da população dando-lhes as condições essenciais para o seu desenvolvimento.

3.2 Cajueiro seco e a pré-fabricação


Um aspecto de grande relevância no projeto de Cajueiro Seco trata-se da racionalização de uma
técnica construtiva vernacular e amplamente utilizada pelos moradores do local, a taipa. Por meio da pré-
fabricação, foi possível o barateamento do sistema, além de uma maior facilidade na construção.

Figura 2 – Detalhamento do Sistema de Pré-fabricação

Fonte: Inglez de Souza (2009).

Sobre o processo construtivo, Souza (2010, p. 307-308) descreve: “Com uma serra circular, um
tanque pra imunizar, gabaritos e um grampeador. Cortava-se a madeira, tirava-se a casca e com as peças
faziam a armação, faziam o painelzinho modulado com a casa, o terreno e a rua, tudo em escala e essa
modulação permitia fornecer um tipo de porta e um tipo de janela. Com mais seis peças você dava a
dimensão. E outra coisa que eles ensinavam é que todos eles faziam o desenho da casa. Fiz um papel
modulado com as peças. Tudo encaixava, você dava a dimensão e os preços de cada peça. Então a
sequência foi essa pra que eles pudessem desenvolver as casas mais econômicas e mais racionais.
Estávamos fornecendo a eles um dimensionamento econômico. Vou gastar tanto pra fazer um quarto”.
A pré-fabricação proposta pelos arquitetos tinha por principal finalidade possibilitar que o
próprio morador fizesse a sua casa, contribuindo para a sua autonomia. Faça você mesmo! Esse era o
lema.

3.3 Cajueiro Seco e a taipa


A taipa é uma das técnicas de construção mais antigas. No contexto brasileiro, foi amplamente
utilizada na construção de igrejas e na arquitetura de Ouro Preto. O seu desuso se deu, principalmente,
devido a industrialização e a imposição da nova cultura construtiva vinculada à urbanização acelerada.
Por se tratar de uma técnica relativamente fácil e barata, passou a ser vista com preconceito e tornou-se
preterida pela maioria da população (WEIMER, 2005). Com isso, sua utilização entrou em
decadência, permanecendo apenas em contextos mais humildes, como é o caso dos bairros periféricos que
se formavam na cidade de Recife na década de 1960.

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Figura 3 – Pré-fabricação em taipa

Fonte: Inglez de Souza (2009).

A casa de taipa era bastante comum naquele contexto – os mocambos existentes naquela região
eram feitos essencialmente de taipa. As famílias construíam suas moradias utilizando essa técnica e, por
isso, detinham o domínio das habilidades necessárias. Tirando partido disso, Borsoi propôs a sua
utilização, só que de maneira inovadora, a partir da pré-fabricação, conforme descrita no item anterior.
A despeito do preconceito existente, alguns defensores diziam ser essa técnica “econômica e
ecologicamente adaptada” (BIS, 2010).
A taipa nunca deixou de ser usada, é mais fácil ter o barro do que tijolo. Existe o preconceito. A
primeira coisa que o pobre coitado que mora na casa de taipa faz quando tem dinheiro é a fachada de
alvenaria de tijolo. O mocambo é uma coisa ruim? Aloizio Bezerra Coutinho, antes de Gilberto Freyre,
em 30, fez um trabalho mostrando a excelência do mocambo na tese dele sobre “Arquitetura nos países
quentes”, até mesmo do mocambo de palha, que do ponto de vista ecológico, lhe parecia mais adequado
do que o mocambo de alvenaria. O mocambo não é subhabitação. É usar o que se tem, como o Iglu, que é
feito de gelo. O cara que mora na praia faz casa de palha de coqueiro (SOUZA, 2010, p. 305)

3.4 Cajueiro seco e a participação popular

Figura 4 – Participação dos moradores

Fonte: Inglez de Souza (2009).

De acordo com o arquiteto Gil Borsoi, o objetivo principal do projeto consistia em promover o
desenvolvimento do cidadão através do seu envolvimento no processo. Para ele, “Cajueiro Seco surgiu
por uma razão muito simples: a euforia da liberdade” (SOUZA, 2010, p. 264).
No Cajueiro Seco, a pré-fabricação não era importante. Todo mundo acha que era importante. Eu
sempre achei secundário. O importante era proporcionar um agenciamento populacional capaz de

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modificar um processo. (…) O assistencialismo sempre imperou em todas as épocas, uma das grandes
soluções para o miserável, e cômoda que a burguesia usa é dar uma esmola. (…) Isso não funciona, isso
gera párias, malandros. Porque se o cara vai receber uma subsistência, alguém tá tendo que trabalhar pra
ele ficar desse jeito e você destrói na pessoa um valor muito importante: a aspiração, o desejo (…) Você
não se constrói, isso foi a minha maior preocupação quando eu fui ser diretor do Mocambo (SOUZA,
2010, p. 309).
O desejo era de que as pessoas conseguissem, por si só, superar as dificuldades. Por isso, o grupo
era orientado para que pudesse autogerir todas as atividades necessárias para a transformação da realidade
– “o grande valor seria a elevação do grau de consciência do sujeito” e a sua valorização (SOUZA, 2010,
p. 309). Nesse sentido, a racionalização da construção facilitou o processo, visto que tornou a construção
bem mais fácil, rápida e barata.

4. DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE DE IGNACY SACHS


O termo Desenvolvimento Sustentável surgiu em meados da década de 1980 e popularizou-se
em 1987, através do Relatório Brundtland. Elaborado por meio da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, o Relatório definiu o Desenvolvimento Sustentável como “[...] aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 19). Para esse fim, o britânico John
Elkington, fundador da ONG SustainAbility, criou em 1994 o conceito Triple Botton Line, que
corresponde a três dimensões necessárias a todo desenvolvimento sustentável: desenvolvimento
economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto (BOFF, 2013). Embora tal
conceituação tenha encontrado aceitação geral pela maioria das pessoas, diversos autores a analisam
criticamente, considerando a relevância de outras dimensões, como é o caso do economista polonês
Ignacy Sachs10 (SACHS, 2008; SACHS, 2009).
Referenciado como o principal economista mundial do ecodesenvolvimento, Ignacy Sachs
ajudou a redigir a declaração final da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, em 1972 e,
atualmente, dá assessorias ao governo brasileiro e às Nações Unidas acerca do desenvolvimento
includente e autossustentável, e sobre a produção de energia autorrenovável a partir do aproveitamento da
biomassa (BRESSER-PEREIRA, 2013).
No que concerne às dimensões da sustentabilidade, de acordo com o economista, as metas
sociais, ambientais e econômicas são de extrema importância, porém, para além delas, devem ser
consideradas as dimensões cultural, ecológica, territorial e política (Quadro 1). Na sua visão, os
problemas da sociedade devem ser analisados de maneira holística, e não apenas a partir do ponto de vista
ambiental. Trata-se, portanto, da necessidade de harmonização dessas dimensões que, por fim, culminará
em um “desenvolvimento includente, sustentável e sustentado” (SACHS, 2008, 2009).

Quadro 1 – Dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs.


Dimensões Descrição

Argumenta ser fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa
Social da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares
problemáticos do nosso planeta.

Aponta para a necessidade de respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos


Ambiental
ecossistemas naturais.

Econômica Entende ser a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam.

• Defende o equilíbrio entre respeito à tradição e inovação;


Cultural • Ressalta a relevância da autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado e
endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas);

10
Ignacy Sachs nasceu em 1927, na Polônia. Entretanto, possui três nacionalidades: além de polonês, é naturalizado brasileiro e
francês. É graduado em economia pela Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro, e doutor pela School of
Economics de Delhi, na Índia. Docente na École des Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS, instituição francesa de Ensino
Superior em Ciências Sociais, fundador e diretor do Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo nesta mesma instituição, e
ligado a PUC-SP, através da Cátedra Ignacy Sachs, na qual é responsável por desenvolver pesquisas nas áreas da economia e do
Desenvolvimento Sustentável. BRESSER-PEREIRA (2013).

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• Enfatiza a necessidade de autoconfiança combinada com abertura para o mundo.

Expõe a urgência da preservação do potencial do capital natureza na sua produção de


Ecológica recursos renováveis;
Aponta para os limites do uso dos recursos não-renováveis.

Territorial Relaciona-se à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades.

Considera que a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário


Política (nacional e
para fazer as coisas acontecerem;
internacional)
Pressupõe que a liberdade faz toda diferença.
Fonte: Sachs (2008, 2009).

5. CAJUEIRO SECO E A SUSTENTABILIDADE


A seguir serão apresentados alguns aspectos que ligam o projeto Cajueiro Seco às dimensões da
sustentabilidade delineadas por Ignacy Sachs (Quadro 2).

Quadro 2 – Interface entre as dimensões da susustentabilidade de Ignacy sachs com o projeto Cajueiro Seco.

Dimensões Descrição

O projeto contribui para a redução da pobreza e superação das desigualdades sociais das
comunidades beneficiárias.
O projeto contribui para a melhoria na qualidade de vida das pessoas beneficiadas pelo
projeto.
Contribui para promoção da dignidade humana pela inclusão social.
Permite o acesso a uma infraestrutura que oferece condição mínima de sobrevivência:
Social
educação, saúde, tecnologia, segurança, bens de consumo, etc.
O projeto contribui para promover a liberdade de pessoas pertencentes às classes sociais
empobrecidas.
O projeto possibilita que sejam estabelecidas relações sociais em eventos típicos das
comunidades (políticos, esportivos e religiosos).
O projeto promove o desenvolvimento includente e auto sustentável.

Possibilita a utilização de matéria prima renovável (Taipa).


Permite o aproveitamento da biomassa e a reutilização de materiais.
Exige a realização de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) nas áreas de construção.
Ambiental Permite o manejo adequado das áreas protegidas.
As construções são realizadas a partir de projetos urbanísticos ambientalmente adaptados.
O projeto representa um esforço contra o desenvolvimento de bairros insalubres e sem
nenhuma qualidade de vida.

Por se tratar de uma técnica relativamente fácil e barata contribui para a redução dos custos de
construção.
Contribui para que muitas famílias superem a condição de pessoas desabitadas.
Sendo uma técnica relativamente fácil e barata, permite que pessoas com baixa qualidade
profissional possam participar da construção das habitações.
Econômica
Permite a inclusão de indivíduos beneficiários do projeto na economia local, melhorando as
condições de trabalho, renda e emprego.
Permite a organização dos moradores para implementar sistemas de produção alternativos
(economia solidária: associativismo, cooperativismo, etc.) em busca da melhoria da renda
familiar.

Contribui para se contrapor à industrialização e a imposição da nova cultura construtiva


vinculada à urbanização acelerada.
Cultural
Promove a valorização da cultura local devido a utilização de uma técnica vernacular, a taipa.
Ajuda na preservação da poesia e das manifestações socioculturais cultivadas pelos negros e

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mestiços, os principais habitantes do mocambo.


Ajuda na preservação da herança familiar e a diversidade cultural pela inserção do indivíduo
em sua comunidade original.
Promove a preservação dos valores, costumes e saberes locais.
O projeto contribui para a formação da cultura do voluntariado e solidariedade.
Promove uma antiga tecnologia, eficiente e barata, fazendo-a chegar à geração atual.

A utilização da terra como matéria prima nas construções contribui para preservar o meio
ambiente.
Permite preservar a diversidade do habitat.
Contribui para preservar as florestas promovida pelo não desmatamento para construir.
Ecológica
Contribui para preservar as espécies faunísticas promovida pelo não desmatamento para
construir.
As características originais do mangue são preservadas e, ao mesmo tempo, esse estuário
biológico é utilizado como fonte de subsistência das famílias.

O projeto se constitui numa cidade satélite com autonomia, infraestrutura e recursos.


As construções oriundas do projeto fazem parte de um planejamento territorial.
As construções ocorrem levando em conta a melhoria das condições sanitárias (Rede de água e
Territorial esgoto, destino de resíduos etc.).
A habitabilidade leva em consideração conforto (acústico, lumínico, ventilação).
O projeto leva em conta a concentração demográfica adequada, ou seja, a distribuição espacial
adequada das residências.

O projeto expõe as falhas das políticas habitacionais do país e o tradicional descaso dos
governantes diante da miséria humana.
O projeto permite mostrar às autoridades públicas de que existem alternativas baratas e viáveis
que podem ser implementadas com sucesso, bastando que existam políticas públicas
Política (nacional adequadas.
e internacional)
O projeto permite que pessoas sem acesso ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH) tenham
uma alternativa para obter a sua própria habitação.
O projeto contribui para a diminuição do deficit habitacional do país.
O projeto contribui para a melhoria do IDH local e mesmo nacional.

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo de diversas décadas, tanto no Brasil quanto nos demais países da América Latina e,
também, na Europa, tornou-se recorrente o discurso da ajuda mútua e do diálogo envolvendo arquitetos,
intelectuais e o povo, na busca de soluções para o problema habitacional. Este estudo mostra que o
projeto Cajueiro Seco representa uma contribuição quando se fala em combater o déficit habitacional em
aliança com a promoção do desenvolvimento sustentável.
O projeto e a construção do conjunto habitacional do Cajueiro Seco, realizado em Recife,
durante dos anos de 1963 e 1964, alcançou grande repercussão devido a sua proposta inovadora que
incluía reforma urbana, práticas participativas, progresso tecnológico e valorização das características
regionais. Apesar de interrompido pelo golpe militar em 1964, ainda é visto como uma experiência
incomparável que incluiu arquitetura, pedagogia, política social, cultura popular e sustentabilidade.
Embora este projeto tenha ocorrido em um período no qual ainda não se utilizava o termo
Desenvolvimento Sustentável, se analisados seus aspectos sob a ótica da sustentabilidade, pode-se
encontrar inúmeras analogias.
O estudo mostra que ao tomar como base as dimensões da sustentabilidade (social, ambiental,
econômica, ecológica, cultural, territorial e política) propostas pelo economista polonês Ignacy Sachs, foi
possível estabelecer laços de afinidade com o projeto que deu origem ao conjunto habitacional do
Cajueiro Seco. Diversos aspectos do projeto, se analisados sob a ótica da sustentabilidade, podem trazer
grandes contribuições para o conceito de Desenvolvimento Sustentável, e servir de referência para
projetos urbanísticos e arquitetônicos mais sustentáveis.

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O estudo finaliza com a percepção de que o objetivo proposto tenha sido alcançado e que o
mesmo tenha contribuído para demonstrar o potencial que os projetos dessa natureza possuem quando são
consideradas as dimensões da sustentabilidade propostas por Ignacy Sachs. Dessa forma, há muitos
ganhos: a população envolvida nas moradias, a comunidade no entorno do projeto, a economia local, o
meio ambiente no entorno, a cultura local e a política.
Novos estudos se fazem necessários para aprofundar o tema e explorar outras vertentes que não
foram contempladas nesse trabalho.

7. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

8. REFERÊNCIAS

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243
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 23
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

UM ESTUDO SOBRE O ÍNDICE DE DESEMPENHO AMBIENTAL DE


PORTOS BRASILEIROS

Letícia Caroline Soares da Silva1, Denise Helena Lombardo Ferreira2,


Gabriel Luciano Borges de Carvalho3

1. Graduanda em Engenharia Química da PUC-Campinas. E-mail: leticia.sscaroline@outlook.com


2. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: lombardo@puc-campinas.edu.com
3. Graduando em Engenharia Civil da PUC-Campinas. E-mail: gabriel.lbc@live.com

RESUMO
O porto é um importante elo da cadeia logística mundial e tem importante papel no rompimento de
barreiras, provocadas pelo isolamento geográfico. O crescimento da atividade portuária no Brasil
preconiza o desenvolvimento no setor, tendo em vista que esse crescimento pode implicar em impactos
ambientais sobre o ar, a água e o solo, em ambientes marinhos e terrestres. Como resposta às
preocupações de ordem ambiental, em contexto nacional, através da Resolução n° 2650 da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), de 26 de setembro de 2012, o Brasil deu um importante
avanço na direção do monitoramento e controle ambiental dos portos, a qual instituiu o Índice de
Desempenho Ambiental (IDA) como ferramenta para medir o grau de atendimento às conformidades
ambientais por portos públicos e privados. Neste sentido, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a
evolução do desempenho ambiental dos portos brasileiros e investigar as diferenças significativas entre as
médias do Índice de Desempenho Ambiental (IDA) desses portos entre o segundo semestre de 2012 até o
primeiro semestre de 2016. Para tanto, realizou-se quatro rodadas de avaliações das médias obtidas do
IDA utilizando-se o programa Sisvar® para testes de Tukey para comparação de médias. Como resultados
obtidos pode-se afirmar uma tendência de crescimento do IDA médio entre os portos e, quando se
compara as regiões Sul e Sudeste com a Norte e a Nordeste, observa-se que as regiões Sul e Sudeste
apresentam IDA médio significativamente superiores.

PALAVRAS-CHAVE: Índice de Desempenho Ambiental, Sisvar®, Teste de Tukey.

1. INTRODUÇÃO
Os meios de transportes, seja o modo rodoviário, aquaviário, ferroviário, dutoviário ou
aeroviário, têm importante papel no rompimento de barreiras, provocadas pelo isolamento geográfico,
permitindo o escoamento da produção e a comercialização de produtos (SOUSA JÚNIOR et al., 2013).
Conforme Collyer (2008), o porto é um importante elo da cadeia logística na esfera mundial,
sendo responsável pela movimentação das riquezas de um país e abrigo de embarcações. Com a função de
deslocar pessoas ou cargas, o porto representa uma fronteira nacional aberta, entreposto dinâmico de
mercadorias, em que se realizam atividades aduaneiras, alfandegárias, comerciais, sanitárias, tributárias,
imigratórias, entre outras.
O Brasil possui uma costa navegável de 8,5 mil quilômetros contribuindo positivamente para
atuação do setor portuário, o qual movimenta cerca de 700 milhões de diversas mercadorias por ano e
encarrega-se de 97% das exportações e 86% das importações de mercadorias (ANTAQ, 2017;
UNDERMAN et al., 2012).
Contudo, o crescimento da atividade portuária no Brasil ao longo dos anos implica no
desenvolvimento do setor. O incremento das instalações portuárias em consequência da dinamização da
movimentação de cargas, principalmente em ambientes costeiros, intensifica as pressões negativas sobre
o meio ambiente (SILVA, 2014).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Em todo o mundo, ambientalistas e comunidades residentes no entorno dos portos têm


pressionado as autoridades portuárias no que diz respeito às tratativas para reduzir os impactos ambientais
das atividades desenvolvidas nos portos, as quais poluem a água, o ar e o solo, em ambientes marinhos e
terrestres (ROCHA et al., 2017).
O Brasil, por meio da ANTAQ deu um importante avanço na direção do monitoramento e
controle ambiental dos portos com a Resolução n° 2650 da ANTAQ, de 26 de setembro de 2012. Esta
Resolução foi instituída com o intuito de medir o estágio de gestão ambiental em instalações portuárias,
bem como o seu avanço por meio do Índice de Desempenho Ambiental (IDA) (ANTAQ, 2019;
RODRIGUES, 2014).
O IDA contempla de forma sinérgica o tripé do desenvolvimento sustentável: aspectos
econômicos, sociais e ambientais. Além disso, é computado para trinta portos brasileiros localizados no
Norte, Nordeste, Sul e Sudeste do país, administrados por órgãos municipais, estaduais ou federais
(ROCHA et al., 2017).
Com base no exposto acima, o presente trabalho tem por finalidade avaliar a evolução do
desempenho ambiental dos trinta portos brasileiros e investigar diferenças significativas entre as médias
do IDA dos portos nacionais entre o segundo semestre de 2012 até o primeiro semestre de 2016. Para
tanto, foram realizadas quatro rodadas de avaliações utilizando o software Sisvar®: desempenho
ambiental dos portos por unidade da federação (UF), região, macrorregião e, ano (2012-2016). Para efeito
de comparação das médias entre os tratamentos, os dados foram analisados no programa Sisvar®, os quais
foram inicialmente submetidos à análise de variância (ANOVA), seguido do teste de Tukey ao nível de
5% de significância.

2. ÍNDICE DE DESEMPENHO AMBIENTAL (IDA)


O IDA dos portos brasileiros foi instituído por meio da Resolução n° 2650 da ANTAQ, em
setembro de 2012, para atender as novas tendências técnicas e gerenciais para controle da gestão
ambiental em instalações portuárias (ROCHA et al., 2017). A Resolução aprova os instrumentos de
acompanhamento e controle de gestão ambiental em instalações portuárias, para avaliar por meio de
indicadores, a eficiência e a qualidade da gestão ambiental (BRASIL, 2012).
O IDA mede o grau de atendimento às conformidades ambientais por parte dos portos públicos e
privados do Brasil e, ainda tem por objetivo: funcionar como um elemento de comparação entre processos
de gestão em instalações portuárias; permitir comparações entre estágios de licenciamento de instalações
portuárias; e, ser uma ferramenta de regulação e fiscalização da ANTAQ (ANTAQ, 2019a;
RODRIGUES, 2014).
A metodologia de cálculo do desempenho ambiental das instalações portuárias foi desenvolvida
após o acordo de cooperação entre a ANTAQ e o Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da
Universidade de Brasília (CEFTRU/UnB), firmado em 2011. O IDA, desenvolvido como resultado dessa
cooperação, foi construído utilizando metodologia de análise multicritério denominada Processo de
Análise Hierárquica (AHP – Analytic Hierarchy Process), sendo considerada como a mais adequada para
tratar problemas envolvendo a avaliação de desempenho ambiental (ROCHA et al., 2017; ANTAQ,
2019a).
O IDA é composto por 38 indicadores, os quais foram classificados e ponderados entre si
conforme o grau de importância de cada um, contemplando quatro categorias de qualidade ambiental:
econômico-operacional, sociocultural, físico-químico e, biológico-ecológico; sendo cada categoria
decomposta em subcategorias e, finalmente, em alternativas (ANTAQ, 2019a; RODRIGUES, 2014).
O IDA assume valores entre 0 e 1, inclusive os extremos, sendo que a plenitude do desempenho
ambiental é alcançada quando o índice assume valor igual a 1. Como mencionado anteriormente, o índice
é computado para trinta portos brasileiros, sendo localizados nas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste
(ROCHA et al., 2017). Na Tabela 1 estão apresentados os valores do IDA obtidos na página da ANTAQ
para trinta portos brasileiros, entre o 2° semestre de 2012 (2012.2) e 1° semestre de 2016 (2016.1).

3. METODOLOGIA
Para efeito da avaliação da evolução do IDA nos trinta portos brasileiros apresentados na Tabela
1, utilizou-se o software Sisvar®, um dos programas brasileiros mais utilizados para fins acadêmicos e
científicos, que pode ser baixado gratuitamente pelo endereço eletrônico http://www.dex.ufla.br/danielff/.
Inspirado no trabalho de (ROCHA et al., 2017), os dados do IDA foram analisados em quatro rodadas,

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

sendo: desempenho ambiental dos portos por (a) unidade da federação (UF), (b) região, (c) macrorregião
e, (d) ano (2012-2016).
A entrada de dados no Sisvar® foi efetuada manualmente, via teclado, escolhendo o menu de
arquivos, seguido da opção “manipular”. Após a criação do arquivo, foi informado ao programa
informações do diretório, nome do arquivo e a quantidade de colunas utilizadas.
Para cada campo utilizado, inseriu-se o nome da variável bem como determinou-se o seu tipo,
clicando em (YES) no caso do campo ser do tipo numérico ou em (NO) no caso de ser alfanumérico.
Feito isso, o programa abriu o arquivo para inserção dos dados, os quais podem ser manipulados através
de setas para cima (↑) ou para baixo (↓) (FERREIRA, 2008). Após a criação do arquivo efetuou-se a
análise dos dados escolhendo-se a opção ANAVA, a qual efetua análises de variância (ANOVA) dos
arquivos de dados, seguido de testes de comparações múltiplas entre as médias. Dentre as opções de
testes de comparação de médias disponíveis, optou-se pelo Teste de Tukey (FERREIRA, 2008).

3.1. ANOVA e Teste de Tukey


A ANOVA é uma metodologia empregada para comparar médias aritméticas entre grupos
(LEVINE et al., 2000). Assim, testar se há diferenças entre as médias dos tratamentos, é o equivalente a
testar hipóteses, conforme Equações 1 e 2 (ANJOS, 2019).
H< ∶ μ = μ? = ⋯ = μ1 (1)
H ∶ μ( ≠ μ(B (2)
Assim, nota-se que se a hipótese nula for verdadeira, todos os tratamentos terão uma média em
comum μ (ANJOS, 2019).
Quando a ANOVA é aplicada para o estudo de apenas uma variável independente, deve-se
trabalhar com a ANOVA de fator único, como é o caso deste trabalho, que considera como variável a
média do IDA dos portos brasileiros (LEVINE et al., 2000).
Para tirar conclusões acerca de possíveis diferenças nas médias aritméticas dos grupos, a
ANOVA compara a variabilidade entre as médias amostrais dos grupos e a variação dentro dos mesmos
(MONTGOMERY, 1991).

Tabela 1 – Índice de Desempenho Ambiental (IDA) dos portos brasileiros (2012.2 – 2016.1)
Portos Estados 2012.2 2013.1 2013.2 2014.1 2014.2 2015.1 2015.2 2016.1
Angra dos Reis RJ 62,06 70,47 69,23 64,02 64,02 72,43 70,78 70,90
Aratu BA 37,98 39,85 41,90 42,52 45,70 48,08 43,98 41,43
Belém PA 72,60 74,44 65,71 65,08 66,46 68,36 54,04 58,51
Cabedelo PB 51,27 51,27 51,27 51,27 61,21 51,89 51,58 60,87
Forno RJ 34,21 62,12 63,61 66,79 67,91 57,98 65,17 58,17
Fortaleza CE 77,14 74,07 76,21 75,66 76,68 82,20 80,54 82,00
Ilhéus BA 34,87 33,01 39,38 44,71 44,71 47,08 41,33 32,01
Imbituba SC 72,13 49,92 59,41 57,59 57,91 56,37 62,76 65,77
Itaguaí RJ 62,21 62,21 63,44 61,69 61,69 62,30 60,74 61,20
Itajaí SC 97,04 93,33 93,42 90,82 89,14 96,07 93,74 98,35
Itaqui MA 71,98 72,80 73,14 73,07 82,94 85,27 89,32 83,82
Santana AP 46,86 30,74 29,50 37,81 37,81 40,79 37,06 28,03
Maceió AL 59,85 64,65 52,05 44,00 42,56 46,75 37,27 36,80
Natal RN 61,64 61,64 64,63 63,52 68,39 75,20 61,03 61,06
Niterói RJ 69,54 69,54 68,93 68,01 67,38 67,38 64,42 68,03
Paranaguá PR 34,89 60,32 62,76 61,70 81,07 81,93 83,11 94,97
Porto Alegre RS 15,13 13,20 19,45 21,41 20,75 17,81 13,27 28,30
Porto Velho RO 26,23 32,96 31,54 31,70 28,25 28,47 22,22 32,98
Recife PE 58,20 61,18 45,94 57,40 56,85 60,61 60,73 58,83

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Rio de Janeiro RJ 49,26 56,37 58,33 52,02 52,50 52,50 50,48 50,92
Rio Grande RS 73,12 73,12 73,12 73,00 72,11 72,11 77,49 70,46
Salvador BA 36,69 35,94 38,77 42,95 42,95 45,51 45,94 44,73
Santarém PA 67,31 72,69 74,49 66,88 65,57 65,91 52,20 53,56
Santos SP 62,66 62,66 59,93 59,61 63,77 64,21 65,85 68,74
São Francisco do Sul SC 77,33 76,58 78,15 77,44 62,52 73,65 73,65 75,38
São Sebastião SP 75,29 89,70 88,31 91,39 96,42 97,92 99,37 99,37
Suape PE 73,02 73,02 73,02 72,95 74,53 80,05 83,66 88,17
Terminal Pecém CE 71,33 73,79 73,79 69,55 69,24 69,24 57,85 67,22
Vila do Conde PA 65,95 69,72 63,41 63,46 61,24 67,87 50,55 49,25
Vitória BA 34,16 41,77 43,41 44,50 44,68 46,57 55,72 62,08

Fonte: Página da ANTAQ na Internet (Botão: Meio Ambiente/IDA/Resultados do IDA) (ANTAQ, 2019b).

Conforme Levine et al. (2000), os resultados de uma análise de variância são dispostos em uma
tabela denominada de tabela resumida ANOVA (Figura 1).

Figura 1 – Tabela Resumo da ANOVA de fator único.

Fonte: Levine et al. (2000).


Com base nos resultados da Figura 1, se Fcalculado > Ftabelado, rejeita-se a hipótese de nulidade H0, o
que significa que há evidências de diferenças significativas entre pelo menos um par de médias de
tratamentos, ao nível de significância de 5%. Caso contrário, a hipótese nula não pode ser rejeitada, ou
seja, ao nível de significância escolhido não existem diferenças significativas entre os tratamentos
(ANJOS, 2019).
Quando os resultados da ANOVA apresentam diferenças significativas, é necessário utilizar um
teste complementar para identificar onde se encontra a diferença (ANJOS, 2019). Neste sentido, foi
aplicado o Teste de Tukey para comparações múltiplas entre pares de médias, diferentemente do trabalho
de Rocha et al. (2017) que utilizou o Teste de Duncan.
Estes testes possuem fundamentos semelhantes. Contudo, o teste de Duncan é menos
conservador, isto é, fornece diferenças significativas com mais facilidade. Já o teste de Tukey é mais
exigente, apresenta uma probabilidade de 95% de não apontar como significativa uma diferença
realmente nula entre todas as médias de tratamentos comparadas (GOMES, 2000).
Assim, para proceder com o teste de Tukey, primeiramente, as médias do IDA foram ordenadas
de maneira decrescente. Posteriormente, foram calculadas as diferenças entre todos os pares de médias
CD − CD B (onde ≠ E ). Visto que este trabalho compara amostras com tamanhos diferentes, foi necessário
calcular a diferença mínima significativa (dms) para cada comparação entre pares das médias. A IJK
para este procedimento pode ser obtida através da Equação 3 (LEVINE et al., 2000):
NOPQQR
IJK = L M S + W (3)
? TU TUB

Onde L é o valor tabelado por Tukey em função do número de tratamentos e dos graus de
liberdade do erro, X Y é a média dos quadrados dentro dos grupos e, e B , correspondem
respectivamente, ao tamanho da amostra para o grupo e E .

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25 a 26 de setembro de 2019

Feito isso, o Sisvar® compara cada um dos pares de médias em relação aos seus correspondentes
intervalos críticos (IJK), declarando o par de média como significativamente diferente quando ZCD − CD B Z
excede o intervalo crítico (LEVINE et al., 2000).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta seção apresenta os resultados obtidos para as comparações de médias do IDA, ao nível de
5% de significância, segundo: UF, região, macrorregião e ano.
4.1. Unidade da Federação (UF)
Após a realização do teste de Tukey para grupos com tamanhos diferentes, obteve-se os
resultados apresentados na Tabela 2, possibilitando a verificação das diferenças entre o IDA dos portos
conforme a UF. Para interpretação dos resultados, as médias seguidas por letras iguais não diferem
significativamente entre si.
Para o período avaliado (2012.2 – 2016.1), os resultados da Tabela 2 revelaram que:
• O índice de desempenho ambiental do porto de Porto Velho (RO) foi o menor dentre todos, enquanto
o porto de Itaqui (MA) apresentou o maior IDA da rodada;
• O IDA médio dos portos dos estados do Maranhão, São Paulo, Santa Catarina e Ceará não diferiram
significativamente entre si. No entanto, apresentaram Índice de Desempenho Ambiental médio
significativamente superior aos demais estados com IDA inferior ao porto de Paranaguá (PR).
• O IDA médio dos portos do Paraná e Pernambuco, assim como os portos do Rio Grande do Norte e
Pará, não diferiram significativamente entre si. Contudo, foram superiores aos apresentados pelos
portos dos estados com índice de desempenho ambiental médio inferiores ao dos portos localizados
no Rio de Janeiro.
• Os portos dos estados da Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Sul e Bahia, não apresentaram IDA médio
significativamente diferentes, porém apresentaram resultados superiores ao porto de Santana (AP) e
Porto Velho (RO).

Tabela 2 – Teste de Tukey para médias do IDA por UF (2012.2 – 2016.1).


UF N Médias Resultados do teste
MA 8 79,0425 A
SP 16 77,8250 A B
SC 24 76,1863 A B
CE 16 73,6569 A B
PR 8 70,0938 A B C
PE 16 67,3850 A B C
RN 8 64,6388 A B C D
PA 24 63,9692 A B C D
RJ 40 62,0240 B C D E
PB 8 53,8288 C D E F
AL 8 47,9913 D E F H
RS 16 45,8656 E F H I
BA 32 42,6534 F H I
AP 8 36,0750 H I
RO 8 29,2938 I
Fonte: Elaborada pelos autores.

4.2. Região e Macrorregião


Os resultados para as rodadas de comparação do IDA médio por região e macrorregião estão
apresentados nas Tabelas 3 e 4.

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25 a 26 de setembro de 2019

Tabela 3 – Teste de Tukey para médias do IDA por região (2012.2 – 2016.1).
Região N Médias Resultados do teste
SE 56 66,5386 A
SU 48 65,0640 A
NE 96 58,1728 A B
NO 40 51,4553 B
Fonte: Elaborada pelos autores.

Conforme Tabela 3, os portos da região Sudeste (SE) apresentaram o maior IDA médio dentre
todas as regiões. Além disso, o IDA médio dos portos das regiões Sudeste e Sul (SU) não diferiram
significativamente entre si, assim como os resultados apresentados para a região Nordeste (NE) e Norte
(NO).

Tabela 4 – Teste de Tukey para médias do IDA por macrorregião (2012.2 – 2016.1).
Macrorregião n Médias Resultados do teste
SU/SE 104 65,8580 A
NO/NE 136 56,1897 B
Fonte: Elaborada pelos autores.

Com base na Tabela 4, constata-se que os IDA médios dos portos da região Sul e Sudeste são
significativamente superiores às médias registradas para os portos da macrorregião Norte/Nordeste.

4.3. Ano
A Tabela 5 apresenta os resultados para a última rodada de comparação de médias – entre o IDA
médio dos anos de 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016.

Tabela 5 – Teste de Tukey para médias do IDA por ano (2012.2 – 2016.1).
Ano N Médias Resultados do teste
2016 30 61,7303 A
2015 60 61,4727 A
2014 60 60,3247 A
2013 60 59,9888 A
2012 30 57,7317 A
Fonte: Elaborada pelos autores.

Como se pode verificar, embora o IDA médio dos portos quando observados no período de 2012
a 2016 apresentem uma tendência de crescimento, eles não diferiram significativamente entre si.

6. CONCLUSÃO
O crescimento da atividade portuária no Brasil ao longo dos anos preconiza o desenvolvimento
do setor. A expansão das instalações portuárias como fruto da dinamização da movimentação de cargas,
principalmente em ambientes costeiros, culmina na poluição da água, ar e solo, seja em ambientes
marinhos ou terrestres.
No mundo todo, ambientalistas e comunidades residentes em regiões próximas de instalações
portuárias, têm pressionado as autoridades competentes com objetivo de reduzir os impactos ambientais
das atividades nelas desenvolvidas.
Nesse sentido, a criação do Índice de Desempenho Ambiental (IDA) pela Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (ANTAQ) em conjunto com o Centro Interdisciplinar de Estudos em
Transportes da Universidade de Brasília (CEFTRU/UnB), representou um importante avanço na direção
do monitoramento e controle ambiental dos trintas portos para os quais o índice é computado.

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Sendo assim, o presente trabalho buscou analisar os resultados do IDA médio dos portos
brasileiros, no período de 2012 até 2016, através do teste de Tukey para comparação de médias.
Os resultados sugerem que, estatisticamente, o desempenho ambiental dos portos melhorou no
período avaliado, sendo que em 2012 o IDA médio dos portos era de 57,73, já em 2016 passou para
61,71. No entanto, quando avaliados pelo teste de Tukey, os resultados não diferem significativamente
entre si. Além disso, os portos da região Sul e Sudeste apresentaram IDA médio superiores às regiões
Norte e Nordeste, o que sugere que, a região Sul e Sudeste possuem desempenho ambiental
significativamente maior, no que diz respeito aos itens contemplados para a composição do índice.
Outros pontos importantes a serem destacados são os resultados do IDA médio de 93,99 e 92,22
para os portos de Itajaí e São Sebastião que, apresentaram desempenho ambiental superior aos demais
portos quando avaliados individualmente. Por outro lado, os resultados do IDA médio para os portos de
Porto Velho (RO) e Porto Alegre (RS), respectivamente, 29,29 e 18,67, são os menores dentre todos os
portos, os quais servem como quadro indicativo para os gestores destas instalações de necessidades de
adequações e ações efetivas para equalizar o atendimento dos aspectos econômicos, sociais e ambientais
contemplados no IDA.

7. REFERÊNCIAS
ANJOS, A. dos. Capítulo 7: Análise de Variância, capturado on-line em 25/07/2019 de
<http://www.est.ufpr.br/ce003/material/cap7.pdf>. 2019.

ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Anuário 2017, capturado on-line em


02/07/2019 de <http://portal.antaq.gov.br>. 2017.

ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários. O Índice de Desempenho Ambiental – IDA,


capturado on-line em 29 /06/2019 de <http://web.antaq.gov.br/Portal/MeioAmbiente_IDA.asp>. 2019a.

ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Ranking IDA, capturado on-line em


29/06/2019 de <http://web.antaq.gov.br/ResultadosIda/>. 2019b.

BRASIL. Resolução ANTAQ n° 2650, de 26 de setembro de 2012. Aprova os instrumentos de


acompanhamento e controle de gestão ambiental em instalações portuárias. Diário Oficial da União,
Brasília, DF. Seção 1, p. 98, 2012.

COLLYER, W. O. Lei dos portos: o conselho de autoridade portuária e a busca da eficiência. São
Paulo: Lex Editora, 2008.

FERREIRA. D. F. SISVAR: um programa para análises e ensino de estatística. Revista Científica


Symposium, Lavras, vol. 6, n. 2, p. 36-41, 2008.

GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. 14ª ed., Editora da Universidade de São Paulo,
Piracicaba, SP, 2000.

LEVINE, D. M. et al. Estatística: Teoria e Aplicações. Tradução de Teresa Cristina Padilha de Souza.
Rio de Janeiro: LTC, 2000.

MONTGOMERY, D. Design and Analysis of Experiments. New York: John Wiley and Sons, 1991.

ROCHA, C. H. et al. Análise da evolução do desempenho ambiental nos portos brasileiros. In:
CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM TRANSPORTE ANPET, 31, Recife, 2017.

RODRIGUES, J. C. O Índice de Desempenho Ambiental dos portos brasileiros: panorama e análise


crítica. Terceiro Incluído, vol. 4, n. 1, p. 64-65, 2014.

SILVA, V. G. Sustentabilidade em portos marítimos organizados no Brasil: discussão para implantação


de um sistema de indicadores de desempenho ambiental, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, RJ, 2014.

250
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

SOUSA JÚNIOR, J. N. C. de et al. Avaliação da eficiência dos portos utilizando análise envoltória de
dados: um estudo de caso dos portos da região nordeste. Journal of Transport Literature, vol. 7, n. 4, p.
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UNDERMAN, S. et al. Modernização do sistema portuário no Brasil: uma proposta metodológica.


Journal of Transport Literature, vol. 6, n. 1, p. 221-240, 2012.

251
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 24
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e sociedade

CIDADE PARTIDA: UM OBSTÁCULO PARA O DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Mayara Christy Tavares de Lima1, José Roberto Merlin2, Renata Raissa Gurian Lenço3,
Sueli do Carmo Bettine4

1. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:


arqdobrasil@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: jrmerlin10@gmail.com
3. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:
renata_lenco@yahoo.com.br
4. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: subettine@hotmail.com

RESUMO
O processo de urbanização brasileiro tem como marca a segregação socioespacial. Seja ela consequência
da expulsão da população mais carente dos centros urbanos ou do desejo de autosegregação das classes
mais favorecidas, tal segregação representa um enorme obstáculo ao desenvolvimento sustentável. Nesse
sentido, este artigo estudou os loteamentos e condomínios fechados analisando suas consequências para o
desenvolvimento sustentável por meio de uma pesquisa bibliográfica, de caráter exploratório e abordagem
qualitativa.

PALAVRAS-CHAVE: cidade partida, loteamento fechado, planejamento urbano, desenvolvimento


sustentável.

1. INTRODUÇÃO
O conceito de “Cidade Partida” se fez conhecido no início do século XX por meio das crônicas
que apresentavam a favela como uma cidade à parte. Utilizado para “expressar supostas diferenças
espaciais, sociais e econômicas na cidade do Rio de Janeiro” (ALMEIDA; NAJAR, 2015, p.122). O
termo começou a ser disseminado, a partir da década de 90, por meio de inúmeros trabalhos de
sociologia, antropologia, urbanismo, dentre outros. Lançado em 1994, o livro-reportagem intitulado
Cidade Partida, do jornalista Zuenir Ventura, foi um desses trabalhos. Neste livro, Ventura (1997) relata
sua estadia, durante 10 meses, na comunidade de Vigário Geral, cenário de uma chacina histórica, na qual
21 pessoas foram mortas um ano antes. A experiência relatada fala da existência de duas cidades em uma
e descreve as ações de dois grupos que tentaram a aproximação social entre elas:
Nessa terra em que as fronteiras são sempre tênues, imperceptíveis para quem vê com
os olhos de “cá”, os contrários convivem: a alegria e o pranto, a miséria e o prazer, a
violência e a solidariedade, a fé e o crime, o tráfico e a vida honesta, a glória efêmera
e a resistência muda, o medo, a crueldade e o terror – um cotidiano feito de
sofrimento, mas também de uma esperança que às vezes parece inútil. (VENTURA,
1997, p.12)

Apesar deste conceito estar relacionado diretamente a um contexto específico da cidade do Rio
de Janeiro, sua significação diz respeito a uma segregação que faz parte do processo de urbanização
brasileira, desde o final do século XIX. De acordo com Maricato (2000, p.22), “as reformas urbanas,
realizadas em diversas cidades brasileiras” durante esse período, “lançaram as bases de um urbanismo

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moderno ‘à moda’ da periferia”, pois a população de baixa renda era excluída dos processos de melhorias
urbanas e expulsa para as regiões mais distantes da cidade.
Segundo Sposito (1988, p.74), o poder público é o responsável direto pela escolha dos locais em
que serão feitas novas obras, instalados equipamentos público urbanos, bem como onde serão prestados
os serviços coletivos, coincidindo exatamente com os lugares da cidade onde está condensada a
população de maior poder aquisitivo; ou que poderão ser vendidos e ocupados por estes segmentos,
porque é uma forma de valorizar as áreas. Os lugares da pobreza, os mais afastados, os mais densamente
ocupados vão ficando sem infraestrutura e abandonados.
Atualmente, a segregação acontece de diferentes formas. Se por um lado, a alta nos preços da
habitação expulsa a população de baixa renda para locais mais afastados, por outro, o incentivo ao uso do
automóvel, impulsiona a valorização de regiões mais distantes, destinadas aos grupos de maior renda.
(LIMA et al., 2017).
Observa-se, assim, que a questão econômica está intimamente ligada ao urbanismo, posto que
aqueles que detém maior poder econômico desejam a segregação, o afastamento daqueles de baixa renda,
seja geograficamente ou através de muros com câmaras e sistemas de segurança.
Para as pessoas mais estáveis financeiramente, viver em uma cidade partida, não faz tanta
diferença. Elas podem viver longe do seu trabalho, não ter espaços públicos de convivência próximos,
pois têm meios de locomoção e dinheiro para outras experiências de socialização.
Entretanto, para as pessoas mais pobres, que foram relegadas a lugares distantes, que abarcam
desde vilas operárias, passando por cortiços, loteamentos irregulares, favelas, dentre outras formas de
ocupação do espaço urbano, a ideia de segregação urbana fica reforçada (RUBIN; BOLFE, 2014). Essas
pessoas sofrem com a segregação, pois são afastadas dos centros urbanos, sendo enviadas para locais
quase sempre desprovidos do mínimo necessário para uma qualidade de vida decente, como a existência
de escolas e postos de saúde, e mesmo transporte público. Na maioria das vezes, elas não gostariam de
sair dos centros urbanos, mas não tem outra opção de moradia.
O acesso a uma moradia decente não depende de se dar tempo para a construção de
mais casas, mas de se poder pagar por elas. Alguns podem fazê-lo; para a maioria isto
se apresenta como um problema. A possibilidade de acesso à moradia, por exemplo,
está subordinada ao nível salarial. Ao discutirmos o desenvolvimento do capitalismo
monopolista, vimos como a troca desigual apóia-se no fato de que os trabalhadores de
todo o mundo capitalista recebem salários diferentes para produzir riquezas de mesmo
valor. De fato, nós sabemos que o trabalhador que recebe o piso salarial nacional, não
consegue sequer alimentar devidamente sua família, o que dizer de ter acesso a uma
moradia, pela compra ou aluguel do imóvel. (SPOSITO,1988, p.73)

Sendo assim, do mesmo modo que as cidades foram inicialmente segregadas porque uma parcela
pequena da população, visando interesses próprios, desejava afastar a população menos favorecida dos
centros urbanos, apresenta-se o fenômeno dos loteamentos fechados, ou condomínios de lotes, que é
desejado por quem nele habita. Essas pessoas desejam a segregação, a dispersão urbana, ou seja, que a
cidade seja partida.
Esta dispersão urbana acontece, como ressaltam Monte-Mór (2006), Seto et al. (2011)
e Sperandelli et al. (2013), devido aos altos preços da habitação em zonas centrais, ao
uso do automóvel como principal meio de transporte e à busca de espaços mais
tranquilos e seguros. Como explica Ojima (2008), tem-se a expansão dos espaços
urbanizados pela expulsão da população de baixa renda para locais mais afastados dos
centros consolidados e, mais recentemente, observa-se a valorização de regiões
distantes, para os grupos de maior renda, os chamados condomínios fechados. (LIMA
ET AL., 2017, p.33)

Diante desses fatos, o objetivo principal desta pesquisa foi identificar de que maneira estes
loteamentos ou condomínios fechados, que desintegram o espaço urbano se tornaram em um impasse ao
desenvolvimento sustentável por impedir ou dificultar a dinâmica das cidades por estarem em constante
interação.
Para tanto, o texto foi construído, principalmente a partir do diálogo entre as ideias das autoras
Maria Encarnação Sposito e Ermínia Maricato.
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de caráter exploratório e abordagem qualitativa, que tem
por objeto o estudo dos condomínios fechados ou de lotes que segregam o espaço urbanos, com o intuito
de analisar a partição das cidades sob o viés do desenvolvimento sustentável. Para tanto, o artigo foi
dividido em duas partes: cidade partida e loteamentos fechados e o desenvolvimento sustentável.

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2. CIDADE PARTIDA
De acordo com Santos (2009, p.19), o período da colonização no Brasil foi marcado por uma
ocupação dispersa na qual “a ‘cidade’ era bem mais uma emanação do poder longínquo, uma vontade de
marcar presença num país distante”. Cabe destacar que “se não fosse a necessidade de ampliação dos
espaços sob o domínio do capital comercial, provavelmente a urbanização não teria se estendido àquela
época, à América por exemplo” (SPOSITO, 1988, p. 41). Ou seja, desde a colonização a urbanização já
está relacionada a questões econômicas.
Assim, levou certo tempo para que as atuais características de urbanização começassem a
aparecer, mais especificamente a partir do final do século XIX e início do século XX (MARICATO,
2003; RUBIN; BOLFE, 2014).
Devido ao processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho livre e ao aumento da
industrialização, as cidades começaram a ser transformadas e os espaços urbanos passaram a ter mais
relevância do que o campo (RUBIN; BOLFE, 2014). Como resposta à evolução desta complexidade,
surgiu o urbanismo que, de acordo com Leal e Hennig (1995, apud DI SARNO, 2004, p.05), tinha a
“finalidade básica de tornar as cidades mais belas e harmoniosas”.
Para tanto, “realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao
mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico”. (MARICATO, 2000, p. 22). No
entanto, todo esse processo não visava a um bem estar coletivo ou melhora nas condições de vida das
pessoas como um todo, mas já demonstrava uma forma segregacionista de partir a cidade, em razão de
critérios socioeconômicos.
Então, na medida em que grande parte da população foi excluída desse suposto processo de
embelezamento das cidades e foram deixadas à mercê da sua própria sorte, começavam a ser implantadas
as bases legais para um mercado imobiliário segregacionista que expulsava a população menos favorecida
para os “morros e franjas da cidade”. (MARICATO, 2000, p. 22)
Um exemplo paradigmático deste fato encontra-se na implantação do Plano Agache, no ano de
1930, na cidade do Rio de Janeiro. (DI SARNO, 2005, p. 06). Com a justificativa de ordenar o espaço de
maneira mais harmoniosa, o Plano, escrito somente na língua francesa, demonstrava a falta de interesse
em atender as necessidades econômicas e sociais da sociedade carente.
(...) àquela época havia uma vontade de copiar o modelo europeu de cidade moderna. Porém, por
ser uma sociedade bastante desigual, econômica e socialmente, a elite quis uma urbanização que
a afastasse do convívio com os desfavorecidos, econômica e socialmente. (DI SARNO, 2004, p.
06)

Note que a elite já naquela época não queria o convívio entre pessoas de classes sociais diversas.
Após este Plano, outros planos foram implementados, incluindo inclusive aqueles voltados
exclusivamente para a habitação, afastando a população do convívio proporcionado pelos centros
urbanos. Cabe destacar que, segundo Sposito (1988, p.56) “o crescimento das cidades tornou centro a área
antes compreendida por todo o núcleo urbano, formando-se ao seu redor uma faixa nova, considerada a
periferia.”.
Nesta seara, segundo Villaça (2001, p. 226), um dos aspectos mais marcantes do processo de
urbanização brasileiro foi o “crescimento das camadas populares urbanas” que, somado a “intenções
segregacionistas” (VILLAÇA, 1986, p. 17), estabeleceram cidades partidas espacial, social e
economicamente. Ainda, de acordo com Maricato (1997), ao longo de todos esses anos, a segregação
urbana foi fortalecida e respaldada pela própria legislação:
De um lado estão os Planos Diretores, cuja eficácia se restringe às áreas do mercado
imobiliário privado. Alguns urbanistas já admitem que a detalhada legislação de
zoneamento contribua decisivamente para a carência habitacional e para a segregação
urbana, na medida em que alimentou a relação de monopólio do capital imobiliário
sobre localizações valorizadas. A convivência da regularização detalhista com vastas
regiões ocupadas ilegalmente por favelas, loteamentos irregulares e cortiços, numa
mesma cidade, como acontece em todas as capitais brasileiras, não é fruto do acaso.
Por outro lado, os investimentos públicos obedecem à lógica secular dos interesses
privados. Foi assim com o Banco Nacional da Habitação, entre 1964 e 1986. É assim
com a grande maioria dos orçamentos municipais que priorizam, há décadas, o
sistema viário destinado à circulação do automóvel. (MARICATO, 1997, p. 39).

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Portanto, a utilização dos instrumentos legais como forma de consolidação da segregação


urbana, por meio, principalmente, da diferenciação econômica, vem contra o objetivo principal do
urbanismo, que consiste em organizar os “espaços habitáveis visando à realização da qualidade de vida
humana” (SILVA, 2010, p. 21). Isso pode ser justificado pelo fato de que o interesse nunca foi o de
integrar nem, tampouco, de incluir, muito pelo contrário: o interesse foi em afastar os pobres, em partir a
cidade, de acordo com os interesses da classe mais rica e do próprio Estado.
Nos últimos anos, especialmente entre 2009 e 2015, uma nova forma de ocupação territorial
segregacionista tomou conta das cidades no Brasil - os loteamentos fechados ou condomínio de lotes.
Impulsionados pela especulação imobiliária, os condomínios horizontais e os conjuntos habitacionais
populares do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) “funcionaram como vetores de dispersão e
fragmentação urbanas” (MARICATO, AKAISHI, 2018). Ou seja, atualmente, o fechamento entre muros
dos condomínios não acontece somente com as classes mais favorecidas. Os mais pobres também têm
sido colocados nesta posição de segregadores do espaço urbanos, ainda que inconscientemente, sem
perceber que são os que mais sofrem pela distância e falta de interação com tudo o que um centro urbano
pode propiciar.
De um lado, mantém-se a tendência à implantação de loteamentos privados populares ocupados,
sobretudo, pela autoconstrução, e de conjuntos habitacionais e áreas de assentamento urbano, resultantes
de investimentos de recursos públicos voltados ao atendimento de demanda habitacional dos mais pobres,
demanda essa sempre crescente num país, como o Brasil, em que não houve efetivo crescimento do PIB
per capita nos últimos 20 anos.
De outro lado, verifica-se o aumento dos interesses fundiários e imobiliários, promovendo a
aceleração da expansão territorial urbana, por meio do lançamento de loteamentos voltados aos segmentos
de alto e médio poder aquisitivo, muitos deles fechados e com serviços privados de segurança.
Essa sobreposição de lógicas de produção do espaço urbano, que expressam tempos e estratégias
diferentes, torna a estruturação das cidades muito mais complexa (SPOSITO, 2003).
Sendo assim, nunca houve e não há interesse em união e integração. Esse afastamento, essa
segregação entre pobre e ricos, já indica o modo como as cidades deveriam ser constituídas sob a ótica
das pessoas detentoras do poder: afastar os menos favorecidos do centro das cidades. Esse espraiamento,
essa separação física entre as pessoas, pode ser entendida dentro do conceito de cidade partida. Portanto,
Para a classe dominante, evidentemente, era mais fácil conviver com as vilas
operárias do que com os cortiços. A única restrição feita pela legislação era que as
vilas não fossem construídas em locais nobres ou potencialmente nobres. As intenções
segregacionistas que visavam mantê-las afastadas dos locais de interesse da burguesia
ficam claras, por exemplo, no Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894.
Apesar das vilas serem consideradas, na época modelos de “habitação higiênica”, esse
Código determinava que elas “...seriam estabelecidas fora da aglomeração urbana”. A
Lei Municipal nº 413 de 1901 isentava de impostos as vilas operárias construídas
“...fora do perímetro central” (VILLAÇA, 1986, p. 17)

Portanto, uma característica fundamental do processo de urbanização foi a assimetria entre a


localização e as condições sociais, fazendo das cidades um espaço privilegiado de expressão das
desigualdades sociais, com a permanente pressão para que os mais pobres fossem direcionados às piores
localizações. (HUGHES, 2004).
No entanto, atualmente as periferias não têm sido espaços destinados apenas aos mais pobres.
Tem havido um movimento no sentido de morar em lugares mais afastados, murados e cercados de
segurança, deixando o centro urbano apenas para relações de trabalho, apropriando-se do conceito das
edge cities, que seriam um fenômeno diferenciador da periferização de empregos e famílias, tratando de
cidades próximas a grandes centros, de uso misto, que contemplam todas as funções de uma cidade. São
criadas por grandes incorporadores da iniciativa privada. Em São Paulo, o condomínio residencial e
empresarial de Alphaville é um exemplo. (NADALIN; IGLIORI, 2015)
A edge city contém assim, a paradoxal qualidade de estar fora e dentro da cidade,
estar separada e ser parte dela ao mesmo tempo, já que as duas qualidades são
vendidas simultaneamente: diferenciação social e integração espacial. Essa aparente
contradição também pode ser observada em texto contido no material de propaganda
do loteamento: “South Valley dá seqüência aos conceitos urbanísticos inovadores que
trouxeram para Rio Preto uma tendência mundial consagrada: as edge cities, ou
cidades de contorno, que integram bairros residenciais, áreas de lazer, centros
comerciais e de serviços”. (SPOSITO, 2003, [s.p])

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Nesse contexto, o acesso aos equipamentos públicos urbanos são essenciais para a uma boa
qualidade de vida e para a interação entre os integrantes daquele espaço urbano, estejam as pessoas
vivendo nos centros urbanos ou afastadas deles.
Sendo assim, tratando especificamente em relação à caracterização das cidades,
independentemente dessas questões sociais envolvidas, apenas do ponto de vista urbanístico, o que a
qualifica é essencialmente a existência de dois elementos:
(a) as unidades edilícias – ou seja, o conjunto de edificações em que os membros da
coletividade moram ou desenvolvem suas atividades produtivas, comerciais,
industriais ou intelectuais; (b) os equipamentos públicos – ou seja, os bens públicos e
sociais criados para servir às unidades edilícias e destinados à satisfação das
necessidades de que os habitantes não podem prover-se diretamente e por sua própria
conta (estradas, ruas, praças, parques, jardins, canalização subterrânea, escolas,
igrejas, hospitais, mercados, praças de esporte etc.). (TESTA, 1974, p. 6, apud
SILVA, 2010, p. 26).

Já para o arquiteto e urbanista Kevin Lynch, a cidade pode ser lida e traduzida por meio dos
seguintes elementos: as vias, os limites, os bairros, os pontos nodais e os marcos. Por sua vez, os
elementos listados precisam se sobrepor e não entrar em choque e destruir-se. (LYNCH, 1980).
Portanto, a falta ou dificuldade de acesso a esses serviços pode ocasionar diversas lutas entre os
grupos, sendo que essas lutas reforçam o sentimento de pertencimento. (LEFEBVRE, 2011, P. 13).
Assim, a cidade partida, ou o fracionamento da cidade é relevante quando dificulta a circulação
das pessoas deixando-as longe, dificultando o acesso aos equipamentos públicos e a interação e
convivência entre elas.

3. LOTEAMENTOS FECHADOS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


A urbanização brasileira é recente, pois ocorreu, especialmente, a partir da segunda metade do
século XX. Entretanto, seu desenvolvimento se deu de forma acelerada: em 1940, apenas 26,3% da
população brasileira vivia nas cidades. Trinta anos depois, em 1970, a população urbana superou a rural e,
em 2010, o número de brasileiros que optaram por morar nas cidades já representava 84,4% da população
total do país. (LIMA et. al, 2017).
De acordo com Lima et al. (2017), este crescimento pode ser justificado devido às
transformações ocorridas na economia e na sociedade. Para Rego et al. (2013, p. 545 e 546), tal
crescimento deve-se ao fato de as cidades oferecem “infraestruturas adequadas e ambientes favoráveis ao
desenvolvimento comercial”, contribuindo para uma “melhor qualidade de vida e para a atração do capital
humano”.
Contudo, para Sachs (2008), o modo como as cidades crescem e se organizam espacialmente é
contrário ao desenvolvimento sustentável, pois desconsidera os limites do meio ambiente. De acordo com
Lima et al. (2017),
O processo de urbanização acelerado favoreceu ao adensamento de espaços já
urbanizados (verticalização) e a expansão para as periferias, com construções para
grupos de baixa renda (conjuntos habitacionais, autoconstrução, loteamentos
irregulares, favelas) e, também, com empreendimentos para grupos de média e alta
renda (condomínios fechados). Este processo de crescimento espraiado tem como
impactos socioambientais, a ampliação das jornadas entre centro (trabalho/consumo) e
periferia (casa), o aumento de congestionamentos e da poluição do ar, falta e/ou
dificuldade de se assegurar infraestrutura (água, saneamento), o que,
consequentemente, leva à poluição de rios, além da impermeabilização de grandes
áreas, com redução da drenagem e aumento de inundações. (LIMA ET AL., 2017, p.
33)

Até o ano de 2017, o loteamento fechado, também conhecido por condomínio sem edificação,
não era figura regulamentada pelo ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a Lei n° 13.465/2018
incluiu o artigo 1.358-A do Código Civil que dispõe que: “pode haver, em terrenos, partes designadas de
lotes que são propriedade exclusiva e partes que são propriedade comum dos condôminos”.
Cabe destacar que os loteamentos e os condomínios fechados tratam de empreendimentos
distintos. O loteamento, forma de parcelamento do solo urbano, é regido pela Lei Federal nº 6.766/79 e
consiste na “subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de
circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes",

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conforme §1º do artigo 2° da citada lei. Neste espaço o morador é responsável, via de regra, apenas pelo
pagamento do IPTU do seu imóvel e as áreas comuns são obrigatoriamente de uso público.
No entanto, é importante salientar que a Lei nº 6766/79 cuida, apenas, do loteamento em fase de
implantação. Ou seja, após sua instalação, ele fica fazendo parte do bairro no qual está inserido, servindo
como importante instrumento de integração urbana.
O loteamento, após ser implantado, passa a integrar o sistema viário preexistente e,
singelamente, confunde-se com o resto da cidade. Ninguém, em sã consciência, pode
sustentar que um plano de loteamento permanecerá indefinidamente, sujeito apenas às
regras da Lei nº 6.766, de 1979. (LOBO JUNIOR, 2001, p. 65).

Já nos condomínios de lotes ou de apartamentos, ditos fechados, regidos pelo Código Civil e
pela Lei 4.591/64, toda a área é privativa, o que aparta este espaço da cidade e retira dela um local
potencial de convivência urbana.
Fato é que, as pessoas encontram diversos argumentos para justificar esse comportamento
desejado de se auto-afastar de uma convivência social, como por exemplo a violência urbana ou o
aumento da criminalidade, se tratando, portanto, de uma nova realidade social. A grande preocupação, no
entanto, é de que
existiriam, do ponto de vista sociológico, consequências danosas geradas por esses
empreendimentos, na medida em que empobreceriam as relações humanas, criando-se
verdadeiros guetos, além de interferirem no sistema viário das cidades, dificultando a
locomoção e a integração entre ruas e bairros (SARMENTO FILHO, 2009, p. 27).

Ou seja, além de atrapalhar a interação social, fortalecendo a segregação já existente, trata-se de


um percalço ao desenvolvimento sustentável, que compreende os aspectos social, ambiental e econômico.
O desenvolvimento sustentável surgiu como uma resposta aos diversos problemas oriundos do
modo de vida contemporâneo. Apesar de as cidades oferecerem uma série de benefícios à sociedade, o
meio urbano também trouxe “diversas e graves questões ambientais”, tais como: o aquecimento global, o
esgotamento dos recursos naturais, a desigualdade social, dentre outros. (REGO ET AL., 2013, p. 546).
Elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1987, o
Desenvolvimento Sustentável pode ser definido como “[...] aquele que atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessida-des”.
(WCED, 1987, p.19). Por sua vez, tal definição deu origem ao Tripé da Sustentabilidade que considera
três dimensões fundamentais ao Desenvolvimento Sustentável: ambiental, econômica e social. (FEIL;
SCHREIBER, 2017).
Além das questões sociais relacionadas à segregação, a urbanização tem resultado em mudanças
irreversíveis no meio ambiente na medida em que, alteram a cobertura dos solos, os sistemas
hidrológicos, biogeoquímicos, o clima e a biodiversidade. (LIMA ET AL., 2017, p.32). Em se tratando
dos loteamentos fechados, de acordo com Braga (2001, p.95), “a implantação de loteamentos irregulares e
a instalação de usos e índices de ocupação incompatíveis com a capacidade de suporte do meio” tem
“causado a degradação progressiva de áreas de mananciais”. Ainda
Os impactos ambientais da expansão urbana incluem a perda de vegetação dentro e
nos arredores das cidades, o desaparecimento de importantes habitats, queda da
qualidade da água e aumento da demanda por água, maior frequência de inundação,
devido à impermeabilização do solo e redução da drenagem, aumento dos custos de
manutenção para a administração municipal, e perda de terras agrícolas. (LIMA ET
AL., 2017, p.33)

Ou seja, o desenvolvimento sustentável está intimamente ligado ao modo de ocupação das


cidades.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ante o exposto, importante observar que o modo de ocupação das cidades é determinante para as
relações sociais, seja como causa, seja como efeito. Isso porque, há nessas relações um ciclo, em que o
grupo mais rico, em conjunto com Estado que acaba não levando em conta a supremacia do interesse
público, promovem a segregação para as periferias dos grupos mais pobres.
No entanto, uma questão complexa é que as periferias têm se tornado um espaço disputado em
que os pobres são enviados para viver devido a alta valorização dos imóveis do centro das cidades, os
afastando dos serviços e funcionalidades das regiões centrais, e os ricos, que podem pagar por tudo que

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necessitam e dispõem de meios próprios de locomoção, desejam se enclausurar, longe da violência e


poluição, conquistando qualidade de vida.
Percebe-se então, que a segregação urbana, o partimento da cidade, tem dois vieses: um desejado
por uma parcela da população, e o outra imposto a determinado grupo social, devido à sua classe social.
Essa parcela menos abastada da sociedade, tem sido colocada literalmente às margens da
sociedade, e o fechamento dos espaços urbanos contribuem para que essas pessoas sejam ainda mais
excluídas dos equipamentos públicos urbanos e da convivência entre as diversas classes sociais.
A cidade partida, portanto, é uma realidade obstrutiva ao desenvolvimento sustentável. Pode se
perceber que o fechamento de espaços urbanos por condomínio não somente interfere nas questões
ambientais. Esses fechamentos são economicamente muito lucrativos para os loteadores e incorporadores,
muitas vezes queridos pelo Estado, que se isentam de responsabilidades de zelo e cuidado, mas não
trazem grandes benefícios às pessoas que não fazem parte dessa realidade.
Em síntese, a cidade partida em termos sociais pode ser causadora de um grande caos, segregando as
pessoas, aumentando ainda mais a pobreza e a miséria, distanciando as pessoas e a integração entre os
diversos grupos sociais.

7. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

8. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. G.; NAJAR, A. L. Cidade Maravilhosa e Cidade Partida: notas sobre a manipulação de
uma cidade deteriorada. Rua, [s.l.], v. 18, n. 1, p.119-133, jun. 2012. Disponível em:
<https://www.labeurb.unicamp.br/rua/anteriores/pages/pdf/18-1/8-18-1.pdf>. Acesso em: 13 nov 2018.

BRAGA, R. Política urbana e gestão ambiental: considerações sobre plano diretor e o zoneamento
urbano. In: Carvalho PF, Braga R. (Org.) Perspectivas de Gestão Ambiental em Cidades Médias. Rio
Claro: LPMUNESP, 2001, p. 95-109.

DI SARNO, D. C. L. Elementos de Direito Urbanístico. Barueri: Manole, 2004.

FEIL, A. A.; SCHREIBER, D. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as


sobreposições e alcances de seus significados. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p.667-
681, set. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cebape/v15n3/1679-3951-cebape-15-03-
00667.pdf>. Acesso em: 31 out. 2018.

HUGHES, P. J. A. Segregação socioespacial e violência na cidade de São Paulo: referências para a


formulação de políticas públicas. São Paulo Perspec., São Paulo , v. 18, n. 4, p. 93-102, Dec. 2004 .
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392004000400011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 03 dez. 2018

LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro Editora, 2011.

LIMA, F. M. A. Algumas condições de possibilidade de efetividade da participação na revisão do Plano


Diretor paulistano (2013-2014). 2016. 104 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós Graduação em
Mudança Social e Participação Política, Escola de Artes Ciências e Humanidades, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2016. Cap. 2. Disponível em:
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CAPÍTULO 25
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

PUBLICAÇÕES SOBRE O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – ISO 14001

Nelson Aparecido Alves1, Rodrigo Hipólito Roza2

1. Docente da Faculdade de Administração da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-


Campinas). E-mail: nelson.alves@puc-campinas.edu.br
2. Docente da Faculdade de Administração da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: rodrigo.roza@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O presente estudo tem o propósito de analisar a produção científica recente sobre a norma ISO 14001,
bem como a emissão de certificados que se baseiam nesta norma no Brasil. Trata-se de um estudo
bibliométrico que se encontra em andamento. A coleta de dados sobre publicações foram feitas a partir da
plataforma de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
enquanto que os dados sobre certificações foram obtidos através do site do INMETRO. Por se tratar de
um estudo em andamento, os resultados apresentados são preliminares.

PALAVRAS-CHAVE: ISO 14001, meio ambiente, impactos ambientais.

1. INTRODUÇÃO
Com a publicação da família ISO 14000 a partir de 1996, pela International Organization for
Standardization (ISO), as organizações tiveram acesso a um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) para
implementar os requisitos ligados ao meio ambiente e posteriormente obter uma certificação de um
organismo externo. A família ISO 14000 é composta por diversas normas relacionadas às questões
ambientais e este trabalho dá ênfase à ISO 14001, que descreve os requisitos de gestão ambiental e
permite submeter o SGA a uma certificação externa realizada por um organismo de certificação de
terceira parte (independente).
Desta forma, a organização industrial ou de serviço demonstra seu compromisso com as boas
práticas de gestão ambiental e o atendimento à legislação ambiental aplicável à sua realidade, pois para a
certificação é necessário o cumprimento da legislação nas esferas federal, estadual e municipal. Segundo
o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO (2019) há 932 certificados
dentro do sistema brasileiro de avaliação da conformidade. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) conta o apoio do Comitê Brasileiro (CB) 38 para as discussões sobre a família ISO
14000. O objetivo deste estudo é analisar a produção científica recente sobre a ISO 1400, bem como a
emissão de certificados com base nesta norma no Brasil.

2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Conceitos iniciais
O meio ambiente tem sido muito discutido pela sociedade mundial, principalmente a partir da
Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano realizada na cidade de Estocolmo,
Suécia, em 1972. Outra reunião importante foi a Rio-92, também promovida pela Organização das
Nações Unidas (ONU), que aconteceu 20 anos após a de Estocolmo e começou a destacar o
desenvolvimento sustentável do planeta. Desde 1974, dia 5 de junho é comemorado como o Dia Mundial
do Meio Ambiente. A Lei 9605, de 1998 sobre crimes ambientais, foi mais um avanço para a
conscientização da sociedade brasileira. Um desafio constante é conseguir o equilíbrio entre o
desenvolvimento econômico e os aspectos social e do meio ambiente. A própria sociedade tem exigido
uma atitude de maior responsabilidade de todos os envolvidos sobre o desenvolvimento sustentável.
Hammes (2012) destaca que a formação de uma sociedade sustentável é a principal missão da educação
ambiental, utilizando técnicas que estimulem a construção do conhecimento coletivo em ambientes
diversos.

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O conceito de meio ambiente, segundo a ABNT (2015) e ABNT (2012), significa a


“circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna,
seres humanos e suas interrelações”. O Ministério do Meio Ambiente (2019) amplia a reflexão e destaca
que a educação ambiental se constrõe por meio dos indivíduos e a coletividade, promovendo valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Kohn
(2015) afirma que o ambiente é qualquer porção da biosfera que resulta de relações físicas, químicas,
biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores
ambientais que a constituem. Adissi (2013) prioriza o uso da palavra ambiente em vez de meio ambiente,
englobando tanto os aspectos de natureza ecológica como os da sociedade humana.

2.2 ISO 14001


O SGA faz parte da administração de uma empresa e tem a intenção de implementar a política
ambiental, identificar seus aspectos/impactos ambientais e atender os requisitos legais pertinentes. A
norma ISO 14001 foi atualizada em 2015, juntamente com a norma ISO 9001 e está estruturada no ciclo
PDCA (Plan – Do – Check – Act), conforme a Figura 1. As entradas para o SGA são as questões internas
e externas, assim como as necessidades e expectativas dos stakeholders. A Liderança permeia todo o
processo e o ponto de partida é o planejamento com a definição do escopo do SGA, a definição da
política ambiental, a identificação dos aspectos e impactos ambientais e o conhecimento da legislação
ambiental aplicável ao contexto da organização.

Figura 1 – ISO 14001 no ciclo PDCA

Fonte: Adaptado da ABNT (2015).

O exercício de abandono (evacuação) de área faz parte da operação do sistema de gestão e deve
ocorrer regularmente (uma ou duas vezes por ano, por exemplo). Uma das etapas importantes do ciclo
PDCA é a auditoria do SGA, pois é uma oportunidade de verificar o nível de implementação dos
requisitos e, caso necessário, realizar as ações corretivas ou preventivas nas não-conformidades reais ou
potenciais encontradas. A norma ISO 14001 tem uma postura proativa e não define especificações de
emissões, poluição, resíduos e outros impactos ambientais, cabendo à legislação pertinente a elaboração
destes parâmetros. A norma colabora para a proteção do meio ambiente, seja pela prevenção ou mitigação
dos impactos ambientais adversos (ABNT, 2015).

2.3 Aspectos e impactos ambientais


O aspecto ambiental se refere à causa, isto é, são os elementos das atividades da empresa que
podem interagir com o meio ambiente. Já o impacto é o efeito, ou seja, qualquer modificação no meio
ambiente, adversa ou benéfica, a partir dos aspectos ambientes da organização. O Quadro 1 exemplifica
estes dois conceitos:

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Quadro 1 – Aspectos e Impactos ambientais


Atividade Aspectos Impactos Riscos
Armazenamento do Lançamento de óleo para a Poluição do solo, do lençol Custos de limpeza, multas
combustível da caldeira terra freático
Fonte: Adaptado da ABNT (2018).

O conceito de riscos também está associado aos impactos, pois o efeito pode ser positivo
(benéfico) ou negativo (adverso). Os riscos do Quadro 1, por exemplo, poderiam ter risco positivo com a
substituição da fonte de aquecimento (combustível armazenado na caldeira) por energia solar.

3. METODOLOGIA
Esta pesquisa é quantitativa quanto à forma de abordagem do problema. Trata-se de um estudo
bibliométrico, em andamento, que busca quantificar a produção científica sobre a ISO 14001 e a emissão
de certificados baseados nesta norma no Brasil, para posteriormente, analisar seu conteúdo.
Para coleta de dados sobre as publicações, foi utilizada a plataforma de periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A busca foi realizada a partir dos descritores
“iso14001” e “environmental management”, considerando os últimos 10 anos, conforme detalhado na
seção de resultados. Já os dados sobre os certificados emitidos no Brasil, foram obtidos a partir do site o
INMETRO, considerando o período dos últimos cinco anos.

4. RESULTADOS ESPERADOS
Com este estudo, espera-se caracterizar a evolução da quantidade de publicações sobre a norma
ISO 14001 ao longo dos últimos 10 anos, bem como os métodos adotados e os enfoques dessas
publicações. Espera-se caracterizar também a evolução da emissão de certificados no Brasil com base na
ISO 14001 nos últimos cinco anos. Neste caso, utilizou-se um período menor de tempo em função da
disponibilidade de dados na fonte utilizada.
De modo preliminar, a primeira etapa da pesquisa na plataforma de periódicos da CAPES,
digitando a palavra-chave “iso14001” na busca por assunto, encontrou 1.401 publicações. A segunda
etapa com a busca avançada, filtrando por “environmental management”, identificou 177 ocorrências. O
Gráfico 1 mostra o número de publicações estratificado nos últimos 10 anos (de 2009 a 2018) com a
utilização destes filtros: “iso14001” e “environmental management”. O número de publicações é
relativamente pequeno (Média = 17,7; Desvio padrão = 3,3) pela importância do assunto na sociedade
mundial atual.

Gráfico 1 – Publicações sobre a ISO 14001


25 22
20 21
20 17 18 19 19
16
14
15
11
10

0
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Fonte: CAPES (2019).

Segundo dados do INMETRO (2019), o número de certificados da ISO 14001 no Brasil,


apresentado no Gráfico 2 tem oscilado nestes últimos cinco anos, não permitindo a constatação de uma
tendência. O gráfico também apresenta dados parciais da quantidade de certificações emitidos no
primeiro semestre de 2019, aproximadamente, o que reforça a ausência de uma tendência clara no número
de certificados emitidos por ano.

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Gráfico 2 – Certificados emitidos ISO 14001 no Brasil


800

700 665 672

600 523
500 428
400 350

300

200 157

100

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: INMETRO (2019).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde a Conferência da ONU sobre meio ambiente realizada em Estocolmo na década de 70,
passando pela reunião Rio-92, que destacou a importância do desenvolvimento sustentável do planeta, e a
criação de leis e normas específicas, as discussões sobre meio ambiente tem ganhado destaque na
comunidade internacional.
O número de artigos publicados sobre a norma ISO 14001, embora relativamente baixo, vem ao
encontro do que aponta Brandalise et al. (2017). Os autores reforçam que a conscientização ambiental é
entendida como a mudança de comportamento, tanto de atividades em aspectos da vida dos indivíduos e
da sociedade como em relação ao meio ambiente, sendo essencialmente uma questão de educação. A
quantidade de certificações baseadas na norma ISO 14001, apesar de oscilarem ao longo dos anos, sem
uma tendência clara, corrobora a importância do assunto na realidade das organizações brasileiras.
Conforme destacado anteriormente, este estudo encontra-se em andamento e os resultados apresentados
são preliminares. Sua continuidade buscará caracterizar as publicações sobre ISO 14001, incluindo a
identificação dos enfoques de tais publicações e dos métodos adotados, assim como sua relação com as
certificações emitidas ao longo dos anos com base nesta norma.

6. REFERÊNCIAS

ABNT-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14001 – Sistemas


de Gestão Ambiental – Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

ABNT-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14004 – Sistemas


de Gestão Ambiental – Diretrizes gerais para a implementação. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

ABNT-ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14050 – Gestão


Ambiental - Vocabulário. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.

ADISSI, Paulo José. Gestão Ambiental. 1.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

BRANDALISE, Loreni Teresinha et al. Educação e gestão ambiental: sustentabilidade em ambientes


competitivos. 2.ed. Cascavel, Paraná: Osni Hoss Ed., 2017.

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES).


Disponível em: www.periodicos.capes.gov.br. Acesso em: 27 ago. 2019.

HAMMES, Valéria Sucena. Ver: percepção do diagnóstico ambiental. 3.ed. Brasília, DF: Embrapa, 2012.

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INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA (INMETRO).


Disponível em: https://certifiq.inmetro.gov.br/Grafico/CertificadosValidosBrasil. Acesso em: 26 ago.
2019.

KOHN, Ricardo. Ambiente e sustentabilidade: metodologias para gestão. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2015.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: https://www.mma.gov.br/educacao-


ambiental/politica-de-educacao-ambiental/conceito.html. Acesso em: 26 ago. 2019.

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CAPÍTULO 26
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

ESTADO DO USO ATUAL DO SOLO NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO


PERMANENTE DO RIBEIRÃO DAS PEDRAS EM CAMPINAS-SP

Elaine Cristina de Souza Ferreira Fulfule¹, Regina Márcia Longo²

1. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).


E-mail: elainefulfule@gmail.com
2. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: regina.longo@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Trata este texto de discorrer a respeito do estado atual do uso e ocupação do solo na área de preservação
permanente durante o trajeto de cerca de 9 km que se dá entre a nascente e a desembocadura do Ribeirão
das Pedras, afluente do Córrego Anhumas, em Campinas- SP. Foram avaliados 5 pontos específicos por
meio de observações em campo, sendo destacados os seguintes aspectos: impermeabilização, erosão,
estado da cobertura vegetal, presença de espécies exóticas, deposição de resíduos, cheiro e odor do corpo
d´ agua. De modo geral, pode-se observar que que a ocupação do solo na região percorrido encontra-se
impermeabilizado em sua quase totalidade, e que na margem do Ribeirão propriamente dito o solo
encontra-se degradado, com vários pontos de erosão laminar e exposição, quando não é ocupado por flora
exótica e invasiva. A área do entrono do Ribeirão não recebe cuidados do poder público desde a nascente,
e a área do encontro do Ribeirão com outros afluentes do Córrego Anhumas, em Barão Geraldo, é ponto
de alagamentos. A avaliação desta microbacia demonstra a carência de políticas públicas em Campinas
para a preservação ambiental em áreas de APP urbanas, posto que privilegia a construção civil e a
impermeabilização do solo no entorno, que tem nítida influência do mercado imobiliário.

PALAVRAS-CHAVE: Ribeirão das Pedras. Sustentabilidade. Meio Ambiente.

1. INTRODUÇÃO
O uso do solo em áreas de Preservação Permanente (APP) é matéria definida em lei específica
(Código Florestal), que estabelece a preservação da área para fins de manutenção dos recursos hídricos,
paisagem, estabilidade geológica e biodiversidade Porém em Campinas, a APP do Ribeirão das Pedras
encontra-se em situação não conforme a legislação, posto que apresenta marcada degradação ambiental,.
Para embasar a discussão a respeito da questão do uso do solo em Campinas, foi realizada uma
análise do trajeto do Ribeirão das Pedras, desde sua nascente no Parque Taquaral, até sua desembocadura
em Barão Geraldo, num trajeto de aproximadamente 9 km de extensão. O Ribeirão das Pedras é afluente
da margem esquerda do ribeirão das Anhumas, o qual é afluente do rio Atibaia, que por sua vez vai se
constituir num dos formadores do rio Piracicaba, na bacia dos rios Tietê / Paraná (Prefeitura Municipal de
Campinas, 2017). Nesta região, a Prefeitura implantou o projeto do Parque Linear do Ribeirão das Pedras,
que abrange a microbacia drenada por este ribeirão, e se localiza na região Norte de Campinas e tem área
total de 29,75km². Trata-se de uma região densamente povoada, que abrange o Alto Taquaral, Santa
Genebra, o Distrito de Barão Geraldo, e universidades como a UNICAMP e a PUCCAMP, com
população superior a 60.000 habitantes (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2017).
A partir de sua nascente, fez-se uma caminhada acompanhando seu curso, a fim de observar
como se estabelece o ecossistema citado, e particularmente, como se dá o uso do solo em seu trajeto.

2. METODOLOGIA
Para este trabalho, fez-se uma visita ao trajeto do Ribeirão das Pedras, em um único dia,
seguindo continuamente pelos pontos previamente planejados, a saber: nascente, lagoa de contenção ao
lado do shopping Dom Pedro, parque linear em Barão Geraldo, encontro com Ribeirão Anhumas e Rio

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Atibaia na divisa com Paulínia. Foram avaliados 5 pontos específicos por meio de observações em
campo, sendo destacados os seguintes aspectos: impermeabilização, erosão, estado da cobertura vegetal,
presença de espécies exóticas, deposição de resíduos, cheiro e odor do corpo d’água. O trajeto, altamente
urbanizado, foi feito com automóveis, por ter que cruzar a Rodovia Dom Pedro, bem como avenidas de
alto fluxo, o que inviabiliza o trajeto a pé. Também não foi possível alcançar a desembocadura
propriamente dita, porque a mesma se encontra dentro de propriedades particulares que não permitem a
entrada.
Realizada esta primeira etapa, foi analisada a situação do solo ponto a ponto, bem como a
situação de seu entorno, a fim de verificar o impacto da urbanização sobre o ecossistema do Ribeirão, e
assinalados os impactos percebidos em uma matriz. Após esta etapa, foi realizada breve revisão
bibliográfica. A matriz usada para coleta de dados é a que segue.

Figura 1 – Matriz de coleta de dados


Nome
Coordenada:
Componentes Ambientais
OBS

risco de acidente
calha do corrego
inundação

ocupação
paisagem
fauna

ruido
agua

flora
solo

app
Alteração topografica
Risco de movimento de massa
erosão laminar
fisico

erosao sulcos e ravinas


erosão por solapamento basal
assorcamento
impermeabilização do solo
exposição do solo
contaminação por substancias quimicas
contaminação por materia organica
contaminação por residuos solidos
poluição sonora
poluição visual

app
basico

eutrofização
cobertura vegetal
fragmentação da cobertura vegetal
regeneração natural

infra estrutura basica


uso do solo
antropico

deslocamento de pessoas e atividades


presentça do mercado imobiliario
trafego de veiculos
empregos
recursos tributários.
Fauna Exotica

Fonte: Elaborado pelas autoras.

3. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar como se dá a inserção do Ribeirão das Pedras no
ecossistema urbanizado de Campinas, analisando alterações que possam provocar desequilíbrio ambiental
na área de preservações permanente. O objetivo específico foi analisar como se encontra o solo e sua
ocupação durante o trajeto do referido Ribeirão, a fim de detectar alterações, possivelmente antrópicas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo do trajeto, desde a nascente na região do Parque Taquaral, próximo à caixa d’água,
coordenadas 22°51'45.84"S e 47° 3'24.64"O, entre a Rua Manoel Pereira Barbosa e a Avenida Milton

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Christine, no bairro Parque Alto Taquaral (GOMES, 2017), até o final de seu trajeto, na divisa de
Campinas com Paulínia (Estrada da Rhodia em Barão Geraldo, coordenadas aproximadas 22°44'58 S e
47°06'01 O), quando desemboca no Rio Atibaia, percebe-se as áreas de degradação ambiental tanto do
curso do Ribeirão em si quanto de seu entorno, com marcado comprometimento de mata ciliar.
Percebe-se o Ribeirão com muita quantidade de resíduos químicos (espuma), que exalavam mau
odor, e particularmente na desembocadura, recebe esgoto.

Figura 2 – Entorno da nascente do Ribeirão das Pedras, mostrando solo degradado, invasão de espécies
exóticas (a) e erosão laminar (b) invadido por espécies exóticas de flora

(a) (b)

Figura 3 – Nascente do Ribeirão das Pedras (a) ao desembocar no Ribeirão Anhumas com espuma decorrente
de resíduos (b).

(a) (b)
Na avaliação de todo o trajeto, percebe-se que o poder público praticamente abandona o cuidado
com a manutenção da higidez ambiental no percurso do Ribeirão, que passa por áreas relevantes do
município, sendo que inclusive é recebido em seu trajeto pela lagoa de contenção de um shopping center.
As diretrizes de uso e ocupação do solo devem fazer parte do Plano Diretor, e estar em
conformidade com o que determina o Código Florestal, além de e envolver o debate com a sociedade, na
maior amplitude de interesses possível (SANTOS, 2014), a fim de minimizar os conflitos, com
instrumentalização dos stakeholders em processos de construção de informações e decisões.
Estas áreas são indispensáveis à subsistência do ser humano, e o convívio entre as atividades de
preservação ambiental e construção civil deve ser equacionado, principalmente em um espaço físico
disputado como o do Estado de São Paulo.
Discutindo o conflito gerado pela destinação do solo sob o aspecto da sustentabilidade e da ética,
Florit (2016) afirma que as questões de territorialidade têm a si agregadas uma dimensão valorativa
inerente ao termo sustentabilidade, como por exemplo, o antropocentrismo que comumente se associa à

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questão da sustentabilidade. Este autor defende que o ecossistema não pode ser visto apenas do ponto de
vista antropocêntrico, mas sim com uma visão holística da realidade.
Além disso, existem as objeções ao antropocentrismo que cerca este tipo de discurso, pois
entende que, do ponto de vista ético, não se pode desprezar a importância dos demais componentes do
ecossistema, num olhar holístico sobre esta realidade.

5. CONCLUSÃO
Frente ao exposto, percebe-se que a áreas de preservação ambiental apontadas neste estudo
encontram-se desassistidas pelo poder público municipal, que não desenvolve políticas públicas
suficientemente eficazes para garantir a preservação ambiental e o adequado fluxo da cadeia hidrológica
verificada.
Isso é bastante negativo, haja vista que o Atibaia, rio onde deságua o Ribeirão das Pedras é o
principal ponto de captação de água do município de Campinas.
Além disso, a invasão de flora exótica e a extinção da mata ciliar compromete todo o equilíbrio
do ecossistema, que se insere em um outro ecossistema urbano, com intensa poluição, erosão e
impermeabilização do solo, comprometendo a evapotranspiração e a infiltração de águas pluviais para o
lençol freático, o que propicia inundações.

6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 12651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as
Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro
de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida
Provisória nº 2.166-67, de 24 de aghttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12651.www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12651. htmosto de
2001; e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12651.htm. Acesso em 02/09/2019.

CAMPINAS (MUNICÍPIO) Parque linear Ribeirão das Pedras. Disponível em


http://www.campinas.sp.gov.br/governo/meio-ambiente/estudos-projetos.php Acesso em 13/09/2017.

FLORIT, L.F. Conflitos ambientais, desenvolvimento no território e conflitos de valoração: considerações


para uma ética ambiental com equidade social. Desenvolv. Meio Ambiente v. 36, p. 255-271, abr. 2016.
Disponível em http://www.revistas.ufpr.br/made/article/view/41624. Acesso em 29/05/2017.

GOMES, R.C. interferências do uso e ocupação do solo na qualidade das águas do Ribeirão das Pedras,
Campinas-SP. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura
Urbana da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Orientadora Prof. Dra. Regina Márcia Longo.
Campinas, 2017, 125p. Disponível em http://tede.bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/920. Acesso em 01/10/2017.

SANTOS, R.F. Planejamento ambiental, teoria e prática. São Paulo, Oficina dos textos, 2004, 4ª revisão,
184p.

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CAPÍTULO 27
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

ALTERNATIVAS SUSTENTÁVEIS AO USO INTENSIVO DE


AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA

Jefferson Pereira da Silva Castro1, Samuel Carvalho De Benedicto2,


Cibele Roberta Sugahara3, Cândido Ferreira Silva Filho4

1. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-


Campinas). E-mail: castro.jep@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
3. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: cibelesu@puc-campinas.edu.br
4. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: candidofilho@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Estudos mostram que o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, com 7,3 litros por ano para cada
habitante do país. Somente no primeiro semestre do ano 2019, foram liberados 290 produtos, sendo, 41%
deles de extrema ou alta toxicidade e 32% banidos na União Europeia, totalizando 2.353 produtos licenciados
no país. O ritmo de registros é o maior na última década. Este trabalho objetiva discutir sobre o uso
permissivo de agrotóxicos no Brasil, apontar consequências geradas para os ecossistemas e indicar
alternativas que sejam menos nocivas ao meio ambiente e à saúde. A partir de pesquisa bibliográfica, busca-
se indicar alternativas que podem subsidiar condições mais sustentáveis para a agricultura brasileira. A
tecnologia de precisão e a agroecologia aplicadas à produção agrícola minimizam os impactos negativos ao
meio ambiente e à sociedade. Os resultados sugerem que a efetividade de discussões políticas sobre os
níveis de componentes agrotóxicos usados na agricultura brasileira é essencial para a proposição de
regulamentação e práticas que resultem em um agroecossistema produtivo e ecologicamente responsável.
No entanto, a permissividade do Estado brasileiro quanto ao uso de substâncias agroquímicas parece gerar
problemas imensuráveis para a flora e fauna. No Brasil, a concessão de isenções fiscais e tributárias para a
comercialização de alguns agrotóxicos que são banidos na União Europeia denota a pouca importância dada
às implicações para a saúde humana e para o bioma brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Estado brasileiro, Agricultura, Uso de agrotóxicos, Alternativas sustentáveis.


Agroecologia.

1. INTRODUÇÃO
O uso intensivo de agrotóxicos para o controle de doenças das lavouras e pragas tem demandado a
atenção de instituições de pesquisa e organismos da sociedade civil que se debruçam em busca de uma
alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável para essa atividade. Boff (2012) destaca
que a agricultura moderna se originou como atividade no pós-guerra, no momento em que a indústria
química produtora de agrotóxicos, os quais eram utilizados como armas, voltou-se para a agricultura com o
objetivo de angariar este novo mercado para os seus produtos.
Durante os primeiros anos do século 21, as monoculturas aumentaram significativamente em todo
o mundo. Dos 1,5 bilhão de hectares de terras agrícolas do mundo, 91% são dedicados às monoculturas
extensivas de milho, soja, arroz, trigo e outros. Com a expansão da agricultura industrial, a diversidade de
culturas por unidade de terra cultivável diminuiu e o uso de terras agrícolas se intensificou com uma
tendência à concentração nas mãos de alguns produtores e, em particular, de grandes empresas (ALTIERI,
2009).

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As tecnologias que tradicionalmente favoreceram a transição para a monocultura são: a


mecanização, o melhoramento genético de variedades modernas e o desenvolvimento de fertilizantes e
agrotóxicos para controle de pragas e ervas daninhas. Além disso, as políticas comerciais governamentais
das últimas décadas promoveram a aceitação e o uso dessas tecnologias. Assim, hoje, a biotecnologia
transformou-se no motor da intensificação da agricultura industrial (ALTIERI, 2009).
Cada vez mais fica evidenciado que não há viabilidade na produção de grandes áreas de
monoculturas sem o uso intensivo de insumos químicos, sobretudo, de agrotóxicos (MARIYONO et al.,
2018). Porém, o agronegócio tem sido cada vez mais beneficiado pela leniência e omissão do Estado, por
meio de benefícios auferidos com a justificativa de que o bem do agronegócio é de interesse nacional e, por
conta disso, os grandes produtores rurais são privilegiados por medidas que, frequentemente, dão margem
para desmatar florestas, contaminar solo, água, prejudicar a saúde dos trabalhadores do campo, entre outras
(LEAHY; SCHIPANI, 2018).
Toda estrutura demandada para manter esse modelo de produção tem submetido o campo à visão
mercadológica e tratado a agricultura familiar como não competitiva, atrasada e empírica. O resultado desse
modelo é a redução de tudo o que está envolvido em capital e mercadoria, inclusive a natureza, tratada
como capital natural, serviços ambientais, bionegócios etc. Desse modo, grande parte da produção das
grandes propriedades está voltada para commodities, como milho, soja e cana-de-açúcar; produtos usados
para alimentação animal, combustível ou exportação. Assim, não se enfatiza a produção de alimentos que
atendam aos hábitos alimentares da população, os quais, na maioria das vezes, são supridos por produtores
familiares (WARMLING; MORETTI-PIRES, 2017).
Sendo o Estado um conjunto de estruturas institucionais que asseguram a ordem e o controle de
uma nação, tem como missão garantir a ordem da oferta de alimentos e, de certa forma, da economia, já que
a agropecuária tem sido importante na balança comercial como grande exportadora de commodities,
beneficiando o agronegócio, este que, grosso modo, representa toda a cadeia envolvida com a agropecuária
(MENDONÇA, 2015).
É possível constatar que diversas políticas são instituídas com a finalidade de alavancar o
agronegócio, que pode ser definido, na acepção brasileira, como a associação do grande capital
agroindustrial em conjunto com a grande propriedade fundiária. Tal associação cumpre uma estratégia
econômica de capital financeiro, perseguindo o lucro e a renda da terra, sob patrocínio de políticas de
Estado (DELGADO, 2013). No Brasil, a maior expressão desse movimento se dá na bancada ruralista. E,
nas últimas legislaturas, houve uma significativa elevação da quantidade de membros da bancada ruralista
no Congresso Nacional. Na legislatura 2011-2014, eram 167 parlamentares (deputados e senadores). A
bancada ruralista na legislatura 2015-2018 conta com 228 parlamentares, representando 44% da câmara dos
deputados e 25% do senado (LEAHY; SCHIPANI, 2018).
Essa concentração confere grande poder de barganha aos defensores do agronegócio. Esse poder
costuma ser usado com medidas que prejudicam o meio ambiente, comunidades indígenas, quilombolas e os
pequenos agricultores rurais. Tal poder pode ser visto na influência que esses governantes possuem sobre os
atos do presidente da república, já que, em 2017, foram aprovadas 16 das 17 propostas elaboradas pela
bancada. Além disso, a fiscalização que visa a mitigar o desmatamento tem se reduzido nos últimos anos,
visto que entre 2010 e 2016 o número de agentes de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) foi reduzido em 26% (LEAHY; SCHIPANI, 2018).
A crítica ao agronegócio ocorre, sobretudo, em razão do modelo de negócio, que busca o constante
aumento da produção, o que é normal em um sistema capitalista, mas os meios utilizados para tanto são
controversos, pois ocorrem, com frequência, através do desmatamento de áreas verdes, da contaminação do
solo e da água, e da exploração do trabalhador rural. Isso torna esse modelo de negócio insustentável
ambientalmente e socialmente (OLIVEIRA et al., 2016).
Cada vez mais as grandes corporações globais – que comercializam commodities alimentícias,
agrotóxicos e outros insumos e equipamentos para o agronegócio –, além das bolsas de mercadorias e
futuros, aumentam seu poder econômico e sua influência. É preocupante como isso se reflete no mercado de
alimentos, na relação com os pequenos agricultores e até mesmo na influência que exercem sobre as
políticas públicas, através do lobby (CASTRO, 2018).
Este trabalho objetiva discutir sobre o uso permissivo de agrotóxicos no Brasil, apontar
consequências geradas para os ecossistemas e indicar alternativas que sejam menos nocivas ao meio
ambiente e à saúde.
O estudo contempla uma reflexão teórica sobre a regulação e o uso de agrotóxicos em
monoculturas e aos efeitos danosos que o uso indiscriminado gera ao meio ambiente. Tomando como base
os princípios teóricos da agroecologia que comportam os sistemas orgânicos de produção (ASSIS;
ROMEIRO, 2002). Apresenta alternativas de prática agrícola com o uso de tecnologia de precisão, sementes

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revestidas com micróbio, fungos nas raízes das plantas como meios para o equilíbrio ecológico de lavouras
agrícolas. Nesse sentido, aponta a agroecologia como uma alternativa sustentável para a promoção da saúde
e uso racional de recursos naturais.
Segundo Vilaça (2010), em termos gerais, são consideradas pesquisas teóricas aquelas que têm por
finalidade: conhecer, aprofundar, discutir e criticar um assunto considerado importante e controverso. Para
Tachizawa e Mendes (2008), uma pesquisa teórico-crítica, em geral, busca compreender ou proporcionar
um espaço para discussão de um tema ou uma questão intrigante da realidade, sem requerer coleta de dados
e pesquisa de campo.
O texto está estruturado em quatro partes além desta introdução. A segunda parte apresenta as
políticas regulatórias para o uso de agrotóxicos na agricultura. Na terceira parte, é realizada uma discussão
sobre a Revolução Verde e o agronegócio. Na quarta, são apontadas algumas tecnologias sustentáveis
aplicadas à agricultura. Na quinta são apresentadas vertentes sustentáveis para a agricultura. E, na última
parte, são feitas as considerações finais.

2. POLÍTICAS REGULATÓRIAS E O USO DE AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA


BRASILEIRA
A humanidade está se conscientizando do fato de que o atual modelo de produção agrícola não é
suficiente para fornecer os alimentos necessários e, ao mesmo tempo, preservar a natureza. A expansão das
terras agrícolas para biocombustíveis ou transgênicos cobrem mais de 120 milhões de hectares e exacerba
os impactos ecológicos de monoculturas que ameaçam a biodiversidade e degradam a natureza (ALTIERI,
2009).
O agronegócio pode ser compreendido como um modelo de produção agrícola hegemônico,
voltado para a monocultura, o predomínio da utilização de insumos químicos, o latifúndio, os equipamentos
tecnológicos, as sementes e mudas geneticamente modificadas, a descaracterização da biodiversidade local
e plantações uniformes (OLIVEIRA; PAULA, 2016).
No agronegócio, o uso indiscriminado de agrotóxicos é uma questão latente. Este uso é danoso ao
meio ambiente, por gerar contaminação da água, do solo e do ar, da eliminação das abelhas e outros
polinizadores, e problemas de saúde aos trabalhadores do campo e consumidores que ingerem alimentos
cultivados com substâncias impróprias (BARRETO et al., 2012).
A decisão em relação à escolha, quantidade e qualidade de agrotóxicos nem sempre é tomada
considerando os danos de seus componentes químicos para a saúde, a sociedade e os ecossistemas, mas sim
a partir de uma visão limitada de retorno de curto prazo (PORTO; MILANEZ, 2009).
É importante destacar que o aumento da quantidade usada é um “ciclo vicioso”. De acordo com os
dados do Departamento de Meio Ambiente do governo dos EUA, é constante a prática de aumentar a
aplicação de substâncias químicas nas lavouras (VAZ, 2006). Vaz (2006) ressalta que, na década de 1970,
os agricultores norte-americanos usavam 25 mil toneladas de agrotóxicos e perdiam 7% da lavoura antes da
colheita. No final da década de 1990, usavam 12 vezes mais agrotóxicos e perdiam o dobro. Isso ocorreu em
decorrência das pragas agrícolas possuírem a capacidade de desenvolver resistência aos agrotóxicos
aplicados; afinal, com o tempo, os agrotóxicos perdem a eficácia e, por consequência, os agricultores
aumentam as doses aplicadas ou recorrem a novos produtos.
Entretanto, foi comprovado a partir de pesquisas que é tecnologicamente viável reduzir o uso de
agrotóxicos na agricultura. Na Europa, como no caso da Dinamarca, em 1985, foi desenvolvido um plano
de ação que visava a reduzir o uso de agrotóxicos em 50% antes de 1997. Na Suécia, em 1988, foi aprovado
um programa para reduzir o uso em 50% em até cinco anos. Estudos e práticas como estas, mostram que se
o uso de agrotóxicos fosse reduzido pela metade, não causaria qualquer declínio no rendimento da safra e o
aumento total de preço na compra de alimentos seria em torno de 0,6%, em decorrência do aumento dos
custos de controles alternativos (PIMENTEL et al., 2001).
No início da década de 1990, o uso de agrotóxicos era financeiramente rentável, por auferir entre
US$ 3 e US$ 5, para cada US$ 1 investido no uso dessas substâncias. Todavia, esses valores não
evidenciam os custos das externalidades negativas provocados pelo uso, como: intoxicações em humanos,
redução da população de peixes e animais selvagens, destruição de culturas e vegetação, perdas de gado,
destruição de inimigos naturais, aumento da mortalidade de abelhas, e, ainda, podem levar à resistência e à
criação de problemas secundários de pragas. Portanto, os benefícios e custos diretos e indiretos do uso de
agrotóxicos na agricultura são altamente complexos (PIMENTEL et al., 2001).
Estudos que discutem os efeitos de alimentos orgânicos na saúde da população são escassos. Um
estudo recente sobre o tema, publicado em 2016, pelo Parlamento Europeu, apresenta os benefícios dos
alimentos cultivados sem agrotóxicos em comparação aos que são cultivados com o uso de agrotóxicos. O

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objetivo é fornecer informações sobre como a agricultura biológica e os alimentos podem contribuir na
melhoria da saúde humana além de despertar a atenção para ações políticas, conforme European
Parliamentary Research service (EPRS, 2016).
A pesquisa do EPRS é importante como base para as negociações de um novo regulamento em
discussão na União Europeia (UE), sobre a rotulagem dos produtos biológicos. Nesse sentido, está em
discussão uma política mais rigorosa em relação aos resíduos de agrotóxicos em produtos orgânicos (EPRS,
2016).
É relevante destacar que desde 2011 está em vigor na União Europeia um marco regulatório mais
restritivo para os agrotóxicos, banindo uma série de ingredientes ativos na região. As medidas trazem
implicações para as indústrias de agrotóxicos instaladas no Brasil, ao passo que as empresas multinacionais
tendem a direcionar parte da sua produção aos mercados menos restritivos (PELAEZ et al., 2015, p. 156).
Essa realidade denota uma contradição de que uma parte desses agrotóxicos retorna aos países-
sedes das indústrias que os fabricam, por meio de alimentos que importam do Brasil (BOMBARDI, 2017).
Pesquisas indicam que o contato com os agroquímicos – inclusive os de menor nível de toxicidade
– pode causar desde intoxicação aguda, com fraqueza, vômitos, tontura e convulsões, até intoxicação
crônica: alterações cromossomiais, alergias, doença de Parkinson, má formação fetal e câncer, tudo em
curto, médio ou longo prazo (CAETANO, 2019).
Entre os resultados da pesquisa do EPRS, destaca-se a indicação de que os alimentos orgânicos
reduzem o risco de alergia em crianças e diminuem a incidência de obesidade entre os adultos. Além disso,
constatou-se que o uso prolongado de fertilizantes minerais à base de fósforo contribui para o aumento das
concentrações de cádmio em solos agrícolas. Este fato é altamente relevante para a saúde humana,
considerando que a alimentação é a via dominante da exposição humana ao cádmio em não fumantes. A
exposição atual da população a esse componente químico está próxima, e em alguns casos acima, dos
limites toleráveis (EPRS, 2016).
Outro importante estudo, realizado por Brantsaeter et al. (2015), analisa a relação existente entre a
incidência de alergias e os alimentos cultivados com agrotóxicos, tendo como amostra um grupo com mais
de 28.000 mulheres grávidas com filhos nascidos entre 2002 e 2008. O trabalho buscou identificar a
frequência do consumo de alimentos orgânicos das mulheres participantes. Entre as que relataram consumo
frequente de vegetais orgânicos (mas não outros grupos de alimentos), houve uma redução de 21% no risco
de pré-eclâmpsia, que é uma desordem que ocorre durante o terceiro trimestre da gravidez, caracterizada por
pressão arterial elevada e uma grande quantidade de proteína na urina. Alguns casos podem ser graves,
ameaçando tanto a mãe quanto o feto e levando ao nascimento prematuro. Conquanto, em um pequeno
número de casos, este estudo também revelou evidências da ligação entre o consumo de alimentos
orgânicos com o risco menor de hipospadias, mas não criptorquidismo (ambos defeitos congênitos em
genitais masculinos).
A pesquisa do EPRS também apresenta relevância ao retratar a relação entre o consumo de
alimentos orgânicos e o risco de câncer. O estudo foi realizado com um grupo de pessoas composto por
623.080 mulheres de meia-idade do Reino Unido, durante um período de acompanhamento de 9,3 anos. A
partir de um questionário (com três opções de resposta – nunca, às vezes ou geralmente e/ou sempre) os
participantes relataram a frequência do consumo de alimentos orgânicos. O risco geral de câncer não foi
associado ao consumo de alimentos orgânicos, mas observou-se uma redução significativa (-21%) no risco
de linfoma não Hodgkin (EPRS, 2016).
Os resultados da pesquisa revelaram também que existe uma ligação potencial entre as preferências
por alimentos orgânicos e o linfoma não Hodgkin, o que poderia ser interpretado à luz dos resultados de
uma meta-análise recente baseada em 44 estudos originais, e estes relatavam a exposição ocupacional a
agrotóxicos, incluindo fenoxi herbicidas e inseticidas (carbamato, organofosforados e lindano) estava
positivamente associada ao risco de linfoma não Hodgkin. O linfoma de células B também foi
positivamente associado com a exposição ao herbicida glifosato e fenoxi (EPRS, 2016).
Em todo o mundo um dos agrotóxicos mais utilizados é o herbicida Roudup (à base de Glifosato)
da Monsanto, unidade da Bayer. A empresa enfrenta minhares de processos em vários países acusando o
produto de ser causador de câncer. Somente nos Estados Unidos são cerca de 11.200 processos, sendo 760
casos na corte federal de São Francisco. Um homem da Califórnia ganhou o direito de receber 289 milhões
de dólares em agosto de 2018, após um júri estadual considerar que o Roundup causou câncer. Mais tarde, o
valor foi reduzido para 78 milhões de dólares, e o caso está sob apelação. Em março de 2019 um júri
também da Califórnia considerou que o herbicida à base de glifosato da Bayer causou linfoma não-Hodgkin
em um homem (Hardeman). Tal julgamento certamente ajudará a determinar o curso de centenas de casos
similares. Após cinco dias de deliberações sobre evidências científicas apresentadas durante o julgamento, o

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júri considerou o Roundup como um “fator substancial” para causar o câncer em Hardeman (CHRISTIE;
BELLON, 2019).
Apesar da escassez de estudos que investigam os potenciais efeitos benéficos do consumo de
alimentos orgânicos comparados aos convencionais na saúde, por meio de uma estimativa direta de
consumo, pode-se constatar que as poucas pesquisas, como as citadas nesta seção, têm demostrado que
alimentos cultivados com substâncias agrotóxicas são maléficos à saúde humana.
Atualmente, 389 substâncias são autorizadas como pesticidas na UE. Destas, 35 também são
aprovadas para uso na agricultura orgânica. Porém, grande parte das substâncias usadas para controle de
pragas aprovada para a agricultura orgânica tem preocupação toxicológica comparativamente baixa para os
consumidores, porque elas não estão associadas a qualquer toxicidade identificada (por exemplo: óleo de
hortelã, areia de quartzo e alguns micro-organismos), visto que fazem parte de uma dieta normal ou são
nutrientes humanos, tais como: ferro, bicarbonato de potássio e óleo de colza. Em outros casos, os
pesticidas são aprovados para uso em armadilhas para insetos e, portanto, não são aplicados no solo ou nas
plantas (EPRS, 2016).
Estudos mostram que o Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos (INPE, 2016), com 7,3
litros por ano para cada habitante do país (CAETANO, 2019). No Brasil, em 2018, estavam registrados
1.945 agrotóxicos para comercialização, sendo 504 ingredientes ativos. Dentre os componentes agrotóxicos
citados no relatório, ressalta-se que todos são classificados como danosos à saúde humana, com exceção
apenas do lindano. Portanto, todos os outros – por exemplo, fenoxi herbicidas, inseticidas carbamato e
organofosforados – estão liberados para uso. O inseticida organofosforado é o segundo agrotóxico químico
mais consumido no Brasil. Apenas em 2013, o consumo foi de 79.293 toneladas deste produto. Já o
inseticida carbamato está na sexta colocação da lista dos mais consumidos no ano de 2013, com o consumo
de 41.421 toneladas (BRASIL, 2016; BRASIL, 2018).
No Brasil, o número de agrotóxicos têm aumentado consideravelmente nos últimos três anos.
Enquanto em 2015 foram aprovados 139 agrotóxicos no país, em 2018, esse número mais que triplicou,
saltando para 450 (CAETANO, 2019). Somente no primeiro semestre do ano 2019, o governo brasileiro
liberou 290 produtos, sendo, 41% deles de extrema ou alta toxicidade e 32% banidos na União Europeia,
totalizando 2.353 produtos licenciados no país (DAMASIO, 2019). Desse total, 715 são classificados como
extremamente tóxicos e 309 como altamente tóxicos. São esses os produtos que mais podem causar
consequências graves à saúde de trabalhadores rurais e também adoecer a população consumidora de
alimentos contaminados (CAETANO, 2019).
Entretanto, ressalta-se que, dos ingredientes ativos liberados para uso no Brasil, 149 estão
proibidos na União Europeia. Isto é, 30% de todos os ingredientes ativos liberados para uso no Brasil não
podem ser usados em países da União Europeia (BOMBARDI, 2017).
Em 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) divulgou um relatório elaborado
pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), com pesquisa realizada no
período de 2013 a 2015, na qual foram monitorados níveis de componentes agrotóxicos em 25 alimentos,
abrangendo as seguintes categorias: cereais/leguminosas, frutas, hortaliças folhosas, hortaliças não folhosas
e tubérculos/raízes/bulbos. Foram analisadas 12.051 amostras, e em 58% delas foram detectados resíduos,
considerando os agrotóxicos pesquisados (BRASIL, 2016).
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, que abriga o mais importante laboratório federal de análises
de substâncias químicas presentes nos alimentos, em algumas amostras é possível encontrar até 15
princípios ativos de diferentes agrotóxicos, o que indica uma brutal desinformação do agricultor que está
usando “bala de canhão para matar uma mosca” (TRIGUEIRO, 2019, p. 1).
Os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos reforçam o alto
nível de agrotóxicos consumido no Brasil. Chama a atenção a diferença significativa entre o uso de
agrotóxicos no Brasil e na União Europeia. Na União Europeia, o uso varia entre 0 e 2 kg de agrotóxicos
por hectare. No Brasil, apenas para o uso de glifosato, agrotóxico mais consumido no País, tem-se, por
exemplo, para os estados de Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul uma média entre 5 a 9
kg por hectare. Nos estados do Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso o uso é de 9 a 19 kg por hectare
(BOMBARDI, 2017).
O avanço do uso de agrotóxicos no Brasil segue um movimento contrário ao do mundo, que vem
reavaliando e proibindo muitas substâncias. O Limite Máximo de Resíduos (LMR) de agrotóxicos
permitido no Brasil, costuma ser bastante superior ao que é permitido na União Europeia. Um exemplo
disso é a substância paraquete, oitavo agrotóxico mais vendido no Brasil e proibido no território europeu
desde 2007. De acordo com o Centro de Controle de Intoxicações em Marselha, na França, o químico está
associado à envenenamentos graves e fatais. Segundo estudo do instituto francês, o produto contribui para

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aumentar os riscos de suicídios, já que a exposição à ele causa depressão no sistema nervoso central
(CAETANO, 2019).
Atendo-se apenas ao LMR do glifosato, constata-se que o nível de permissividade para o uso desta
substância no Brasil é assustador. Exemplo disso é o LMR aceitável na água “potável” brasileira, que é
5.000 (cinco mil) vezes superior ao LMR permitido na União Europeia (BOMBARDI, 2017). Como é
possível ver no Quadro 1, o LMR permitido na produção de algumas culturas também é bastante diferente,
sendo o Brasil mais permissivo.

Quadro 1 – Comparação entre o Limite Máximo de Resíduos (LMR) permitido no Brasil e na União Europeia
LMR glifosato Brasil União Europeia

Produção de café 1 mg/kg 0,1 mg/kg

Produção de cana-de-açucar 1 mg/kg 0,05 mg/kg

Produção de soja 10 mg/kg 0,05 mg/kg


Fonte: Adaptado de Bombardi (2017).

O uso intensivo de agrotóxicos causa em todo o mundo, anualmente, em torno de sete milhões de
intoxicações, sendo os países de baixa e média renda responsáveis por, pelo menos, metade delas e por 75%
das mortes por agrotóxicos. No Brasil, entre 2007 e 2014, foram confirmadas mais de 34 mil intoxicações
causadas por agrotóxicos. Esses dados mensuráveis são apenas uma parte do problema, uma vez que as
doenças crônicas associadas aos agrotóxicos são difíceis de estimar (LONDRES, 2011; ABRASCO, 2016).
Estudo realizado por Abreu e Herling (2016) demonstra que, quando se trata de contaminação por
agrotóxicos, os agricultores familiares brasileiros, por suas características culturais e socioeconômicas,
estão entre os grupos de maior risco de contaminação.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram registrados 4 mil casos de intoxicação
por agrotóxicos no país em 2017, quase o dobro dos registros relativos à uma década atrás. Em 2018, 154
pessoas morreram em função do contato com os agrotóxicos. Importante destacar que os casos de
intoxicação registrados correspondem a uma parcela pequena do número real, já que muitos não são levados
ao sistema de saúde e muitas vezes são desenvolvidas doenças crônicas que raramente são associadas ao
agrotóxico pelo intoxicado (CAETANO, 2019).

3. A REVOLUÇÃO VERDE E O AGRONEGÓCIO


Ao se caracterizar como hegemônico, o agronegócio submete a agricultura à visão mercadológica,
sob as “leis do mercado”, tornando-a refém das empresas globais. A agricultura, ao ser tratada apenas como
um negócio, tem sua sustentabilidade baseada na competitividade e no domínio da natureza. Nesse cenário,
os agricultores familiares são considerados como não competitivos; são vistos como praticantes de uma
agricultura atrasada e empírica. Para o agronegócio, a sustentabilidade parece ser uma inconveniência, um
entrave às suas exigências; pois consideram que se deve buscar o progresso da ciência e o desenvolvimento
das sociedades, atendendo, exclusivamente, à vontade e aos interesses do mercado. O resultado desse
modelo é a redução de tudo o que está envolvido em capital e mercadoria, inclusive a natureza, tratada
como “capital natural”, commodities, serviços ambientais, bionegócios etc.
A segunda revolução agrícola, também conhecida como Revolução Verde, iniciou na década de
1950, nos Estados Unidos da América, e têm sido responsável pela promoção dos sistemas produtivos que
se caracterizam por tecnologias mutuamente dependentes, formadas por variedades geneticamente
melhoradas com o objetivo de suportar altas doses de fertilizantes solúveis de síntese química industrial,
cultivadas em monoculturas mecanizadas de larga escala e protegidas por agrotóxicos. Nos sistemas de
criação animal, sua expressão se dá pela seleção genética visando a auferir melhores índices de conversão
alimentar, elevação da escala produtiva por meio de confinamento e aplicação de produtos químicos
(sobretudo antibióticos). Em todos os países nos quais foi adotada a modernização técnica produtivista,
atuaram como catalisadores significativos aportes de recursos públicos (CAPELLESSO et al., 2016).
A defesa da Revolução Verde possibilitou um aumento da produção de alimentos, e um custo
socioambiental muito elevado. Esse aumento foi justificado porque abria caminhos para a superação da
fome. Porém, a Revolução Verde destruiu o modelo tradicional de agricultura que alimentava milhões de
pessoas no campo e tem provocado fome nas regiões rurais, porque desestruturou costumes e práticas
seculares, eliminando a autonomia dos pequenos agricultores no manejo das sementes (CARSON, 1969). A
Revolução Verde também causou uma imensa concentração de terras, sementes e outros elementos

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utilizados na agricultura nas mãos de algumas grandes empresas de biotecnologia e de agronegócio a


serviço da exportação de commodities agrícolas (JUNGES, 2016).
No Brasil, a Revolução Verde iniciou em 1960 e foi impulsionada em meados da década de 1970, a
partir da criação do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA). O PNDA, dentre outras metas,
buscava incitar a fabricação e o consumo de agrotóxicos no mercado interno, ação que condicionava a
concessão do crédito rural ao uso obrigatório de uma parcela deste recurso na aquisição de agrotóxicos
(LIMA; AZEVEDO, 2013). Isso contribuiu para a popularização dessas substâncias químicas, que passaram
a ser utilizadas não apenas por grandes produtores, mas também pelos produtores familiares (PORTO;
SOARES, 2012).
Ao longo do tempo, a agricultura sofreu complexas transformações que envolveram a produção de
alimentos, paisagem, geração de emprego e renda, particularidades sociais nas mais variadas realidades
agrárias existentes. Tais transformações foram influenciadas por questões políticas, culturais e
socioeconômicas, passando de um modelo primitivo de agricultura para um tecnológico, com o uso abusivo
de insumos e aplicação intensiva de tecnologias (THOMAS et al., 2017).
Como resultado dessas mudanças, ao menos 22% da flora existente no planeta encontrava-se em
risco proeminente de extinção no ano de 2011, em decorrência do desaparecimento de seus habitats
naturais, por conta do desmatamento para produção de alimentos (PNUMA, 2011). Tais espécies possuem
funções importantes para o ecossistema. Como destaca Francisco (2015, p. 26): não basta pensar nas
diferentes espécies apenas como eventuais “recursos” exploráveis, esquecendo que possuem um valor em si
mesmas. Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que já não poderemos
conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se
por razões que têm a ver com alguma atividade humana.
No Brasil, grande parte do desmatamento nas últimas décadas ocorreu com o aval e até com o
incentivo estatal. Desde a década de 1940 o Estado tem tentado inserir as regiões Centro-Oeste e Norte do
Brasil no mercado externo e, isso, comumente, tem se dado por meio de programas públicos. Maior parte
desse incentivo ocorreu através da implantação de grandes projetos extrativistas minerais e vegetais e na
produção agropecuária por intermédio de latifúndios (BAMPI et al., 2017).
Nesse contexto, a década de 1960 foi de grande relevância, já que nesse período o governo
brasileiro decidiu integrar a Amazônia à economia brasileira. Para tanto, construiu cerca de 60.000 km de
estradas e liberou concessão de crédito e terras e isenção de impostos aos empresários dispostos a
investirem em atividades agrícolas na região. Nesse período também foram oferecidos, por fundos
internacionais, recursos para investimentos em hidroelétricas, portos e ferrovias, o que resultou no
crescimento expressivo da economia, da população e, também, do desmatamento. Por isso, de 1960 a 1980,
a Amazônia industrializou-se e apresentou os índices mais elevados de crescimento urbano do país, sem,
contudo, elevar a renda da população local (CARVALHO; DOMINGUES, 2016).
Alguns dos efeitos dessas políticas podem ser constatados a partir dos dados disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2013). Tais dados informam que a área total desmatada na
Amazônia Legal foi de aproximadamente 755 mil km², o que representa ao redor de 15% de sua área
geográfica. A maior parte do desmatamento, por volta de 570 mil km², ocorreu no período entre 1977 e
2004. Já a taxa anual de desmatamento dos últimos dois anos tem estado próxima de sete mil km². Em 2016,
foi de 7.893 km², 29% acima do que ocorreu em 2015, já em 2017, 6.624 km² (INPE, 2017).
O desafio da crise ambiental é encontrar caminhos para a sustentabilidade socioambiental. O que
significa definir soluções que respeitem tanto os ritmos ecológicos da natureza quanto sejam socialmente
adequadas na busca de uma justiça ambiental. Deve-se ter como axioma que a justiça não será alcançada
sacrificando a natureza. Por isso, torna-se necessário adotar princípios indispensáveis para o funcionamento
da natureza: ecocentrismo, entropia, trofobiose/homeostase e a construção de uma sustentabilidade
socioambiental (JUNGES, 2016).
Para tanto, acredita-se que a prática agrícola pode ser orientada a partir do uso de tecnologia de
precisão, sementes revestidas com micróbio, fungos nas raízes das plantas como meios para o equilíbrio
ecológico de lavouras agrícolas. Nesse sentido, aponta a agroecologia como uma alternativa sustentável
para a promoção da saúde e uso racional de recursos naturais.

4. TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS APLICADAS À AGRICULTURA


A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que atualmente possui 46 unidades de
pesquisa distribuídas em todo o Brasil, quatro Laboratórios Virtuais no Exterior (Labex), localizados nos
Estados Unidos, na Europa, China e Coreia do Sul e três Escritórios Internacionais na América Latina e
África, tem se preocupado com a inovação no campo. Por isso, busca inovar nas áreas de Pesquisa &

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Desenvolvimento. O resultado dessas pesquisas é disponibilizado aos agricultores brasileiros. Uma das
Unidades de Pesquisa é a Embrapa Informática Agropecuária que está voltada ao desenvolvimento e à
inovação em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) para agricultura. Esta unidade pauta-se pela
visão estratégica nas áreas de agroinformática e bioinformática (MASSRUHÁ; LEITE, 2016).
Em 2011, a Embrapa criou o Laboratório Multiusuário de Bioinformática (LMB), cujo objetivo é
incorporar e tornar disponíveis novas tecnologias para armazenamento, processamento e análise de grande
volume de dados. O laboratório também fornece ferramentas especializadas e computação de alto
desempenho, para procedimentos computacionais usados na montagem de genomas, análise de
metagenomas e de transcriptomas, além de análise de dados de marcadores moleculares e de expressão
gênica, desenvolvimento e implantação de recursos computacionais para a criação e administração de
bancos e base de dados (MASSRUHÁ; LEITE, 2016).
Também por iniciativa da Embrapa, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), foi criada a Unidade Mista de Pesquisa em Genômica Aplicada a Mudanças Climáticas
(UMIP GenClima). O projeto visa a descobrir e validar genes por meio de transgenia, para a produção de
variedades mais adaptadas às condições ambientais exacerbadas por mudanças climáticas (MASSRUHÁ;
LEITE, 2016).
Uma tecnologia promissora para gestão do uso de agrotóxicos na agricultura é a chamada
tecnologia de precisão. Essa tecnologia proporciona o aperfeiçoamento de processos e a redução de custos
que ajudam a lavoura a ser produtiva, evitando desperdícios desnecessários. A tecnologia de precisão é
bastante variada, como o uso de sensores de solo, o sensoriamento remoto – que permite, com precisão,
informar a localização por meio de fotos de satélites de áreas amplas e dos drones ou veículo aéreo não
tripulado (VANT), que ajudam no processo de gestão de lavouras, entre outros (ARTIOLI; BELONI, 2016).
Na agricultura de precisão, os drones podem detectar e monitorar grandes áreas quase que em
tempo real. Nas imagens geradas, consegue-se identificar onde combater as pragas ou receber reforços de
adubação no solo de forma mais específica, o que evita desperdícios e, consequentemente, propicia o
aumento da produtividade e a preservação do meio ambiente (ARTIOLI; BELONI, 2016).
A tecnologia possibilitou georreferenciar (gerar informações geográficas) todas as atividades
dentro das áreas de produção. A agricultura de precisão pode ser usada no mapeamento dos nutrientes do
solo e de pragas, para identificar falhas nas plantações e nas áreas que têm falta ou excesso de água, para
padronizar o espaçamento, localizar a presença de ervas daninhas, entre outros detalhes. A partir de uma
análise criteriosa das propriedades físicas e químicas do solo é possível mapear as áreas de baixa e alta
produtividade, contribuindo com informações para a realocação dos insumos e o controle no uso de
agrotóxicos nas áreas demarcadas, evitando os desequilíbrios ambientais (ARTIOLI; BELONI, 2016).
O monitoramento do clima também é fundamental para as atividades agrícolas, devido à grande
dependência existente nas condições climáticas. O clima pode influenciar o crescimento, o desenvolvimento
e a produtividade das culturas, além de afetar a relação das plantas com insetos e micro-organismos,
condicionando isso à ocorrência de pragas e doenças (MASSRUHÁ; LEITE, 2016).
O monitoramento agrometeorológico se efetiva por meio da coleta sistemática e contínua de dados
meteorológicos para a elaboração de informações de interesse agrícola. Sistemas que integram as funções de
coleta, transmissão e processamento de dados, têm condições de fornecer informações agrometeorológicas
atualizadas em tempo quase real. Estão entre as práticas agrícolas que podem se beneficiar com essas
informações: o preparo do solo, a semeadura, a adubação, a irrigação, o controle agrotóxico e a colheita.
Estimativas de produtividade, de qualidade da produção e da possibilidade de ocorrência de doenças
também necessitam de dados meteorológicos (MASSRUHÁ; LEITE, 2016).
O sistema de informações agrometeorológicas denominado Agritempo criado pela Embrapa
disponibiliza informações importantes para o zoneamento agrícola de risco climático que é um instrumento
de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O sistema ajuda na minimização dos riscos
relacionados às perdas agrícolas decorrentes de eventos climáticos, identificar a melhor época de plantio das
culturas nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares, para cada região e, ainda, auxiliar minimizando o
volume aplicado de agrotóxicos. Com base nas informações do aplicativo, tem-se maior ciência da
necessidade ideal dessas substâncias em cada área da lavoura (MASSRUHÁ; LEITE, 2016).
Além dos mecanismos já citados, existem outros aplicativos desenvolvidos, especificamente para o
uso no campo, que abrangem os tamanhos de propriedade e variedades de cultivo. Aplicativos para gestão
de processos, gestão de produtos e serviços, gestão de informação, administração financeira e contábil, por
exemplo, foram desenvolvidos pela Embrapa Informática Agropecuária (FERRAZ; PINTO, 2017).
O sistema industrial de produção de alimentos também tem se utilizado de Big Datas associados a
satélites para monitorar o campo e identificar o histórico de pestes, doenças e do rendimento das colheitas.

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Com base nesses dados, definem as variedades de plantas, agrotóxicos e fertilizantes que devem ser usados
nas plantações. Neste modelo agroindustrial, não existe uma indústria de sementes separada das indústrias
de agrotóxicos, fertilizantes ou de máquinas agrícolas (MOONEY, 2018).
Nesse contexto, é comum as empresas do agronegócio alegarem que a transformação tecnológica,
como as sementes híbridas nos anos 1960 e 1970, os primeiros organismos geneticamente modificados
(OGM) e as novas questões a respeito da agricultura de clima inteligente e da agricultura de precisão
resolverão todos os problemas alimentares do mundo. Porém, 70% da população mundial continua sendo
alimentada pelos camponeses e isso não tem mudado ao longo das últimas décadas. Além disso, o sistema
de produção camponês costuma ser mais inovador, pois quase metade das pesquisas conduzidas pelo
agronegócio se concentra apenas na cultura do milho. No geral, as pesquisas são realizadas em cerca de uma
dúzia de grandes culturas em todo o mundo, enquanto que os camponeses trabalham com sete mil espécies
diferentes de culturas (MOONEY, 2018).
Alguns fatores se tornam grandes empecilhos ao desenvolvimento e para a aplicação de tecnologias
na agricultura familiar, como por exemplo, o baixo nível de escolaridade e a falta de conhecimentos mais
avançados sobre tecnologias e inovações sustentáveis. Afinal, os pequenos produtores costumam ter pouca
escolaridade e não estão habituados a utilizar ferramentas de alta tecnologia (FERRAZ; PINTO, 2017). O
outro fator que impede o avanço tecnológico em pequenas propriedades é o alto custo das tecnologias, que
exige investimentos que não costumam ser viáveis aos produtores (ARTIOLI; BELONI, 2016).
A tecnologia ainda possui barreiras que impedem sua popularização entre os pequenos agricultores.
Apenas a tecnologia não é capaz de resolver, sozinha, os problemas que afligem os mesmos. No entanto,
para um sistema de produção menos dependente de insumos químicos a tecnologia aliada a outras técnicas
como a aplicação de fungos e bactérias para equilibrar o bioma, é uma alternativa viável. Em 1888, o
microbiologista holandês Martinus Beijerinck descobriu que as raízes das plantas leguminosas eram
habitadas por uma bactéria chamada rhizobium, que podia tirar nitrogênio do ar e convertê-lo em uma forma
que as plantas pudessem consumir. Desde então, muitos agricultores têm polvilhado rizóbios em pó (i.e.
bactérias do solo que possuem habilidade para induzir a formação de nódulos nas raízes e, em alguns casos
no caule, de plantas leguminosas, no qual convertem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pela
planta hospedeira) em plantações de ervilhas, sojas, feijões e outras plantas leguminosas (BROADFOOT,
2016).
Outros micróbios também passaram a ser usados nas lavouras, como biofungicidas e biopesticidas.
Mas foi apenas recentemente que novas ferramentas de sequenciamento de DNA permitiram encontrar o
vasto e complexo microbioma, conhecido como rizosfera, vivendo dentro e ao redor das raízes das plantas.
Em 2012, a Academia Americana de Microbiologia, divulgou o relatório “Como os micróbios podem ajudar
a alimentar o mundo”. Esta obra demonstra que a exploração desse recurso poderia gerar substâncias que
aumentariam a produtividade de qualquer cultura, em qualquer ambiente, de maneira economicamente
viável e ecologicamente responsável (BROADFOOT, 2016).
Pesquisadores têm observado como podem beneficiar o fitobioma, ou seja, todos os componentes
que envolvem a plantação – plantas, solo, micro-organismos, insetos e clima –, transformando-o em um
ambiente menos suscetível às pragas. Essa ideia parte de pesquisas feitas por Karl Ludwig von Bertalanffy,
criador da Teoria Geral dos Sistemas, que apresenta a natureza como vasta, interconectada e
interdependente (BROADFOOT, 2017).
Os micro-organismos incluem uma grande diversidade de micróbios (vírus, bactérias, fungos,
oomicetos e algas), animais (artrópodes, vermes, nematoides e roedores) e outras plantas. O ambiente
consiste no meio em que estão inseridos e seus organismos associados, que são: o solo, o ar, a água e o
clima. Interações dentro de fitobiossomos são dinâmicos e têm efeito profundo no solo, nas plantas e na
saúde do agroecossistema (PHYTOPATHOLOGICAL SOCIETY, 2016).
Muitas plantas apresentam associações interdependentes com diversos macro e micro-organismos.
Essas associações, que ajudam a impulsionar a restauração e a manutenção de solos saudáveis, foram muitas
vezes ignoradas; porém, com o avanço tecnológico, algumas ferramentas científicas foram criadas para
sondar, de modo detalhado, as redes de fitobioma e gerar conhecimento que pode ser explorado para
aperfeiçoar a saúde e a produtividade das plantas (PHYTOPATHOLOGICAL SOCIETY, 2016).
Nos últimos tempos, pesquisadores de empresas agrícolas têm vasculhado o subsolo em busca de
micróbios específicos, que podem contribuir com a melhoria das plantações. Grandes empresas de
agronegócios, como Novozymes e Monsanto, também buscam o pioneirismo de tecnologias nesse
segmento. Exemplo disso é a criação de sementes revestidas com micróbios. Essas duas empresas
concluíram, em 2016, o maior programa mundial de teste de sementes com micróbios promissores, o qual
resultou em uma safra bastante variada de culturas, todas plantadas com sementes que possuíam
revestimentos microbianos diferentes (BROADFOOT, 2016).

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Em outros casos, há ainda o uso de fungos micorrízicos arbusculares. Quando são associados às
raízes das plantas, eles tendem a contribuir com sua nutrição, resultando em menor consumo de fertilizantes
minerais e, assim, levam à maximização do equilíbrio ecológico de lavouras agrícolas em uma perspectiva
de preservação ambiental e aumento da produção (DURAZZINI et al. 2016).
Esses fungos destacam-se por formar associações simbiotróficas mutualísticas e se nutrem de
substâncias oriundas das raízes das plantas e esse processo beneficia tanto os fungos quanto as plantas. O
processo de penetração do fungo nas células das raízes é determinante na ciclagem de nutrientes e em sua
absorção pelas plantas, principalmente de substâncias como fósforo, zinco e cobre para a maioria das
plantas e de nitrogênio para as leguminosas (DURAZZINI et al., 2016).
Com o sequenciamento genético, é possível acompanhar a vida de micro-organismos que vivem no
solo. Ele possibilita monitorar como os micróbios mudam no espaço e tempo, como se comportam quando
há elevação do uso de fertilizantes ou ocorre uma queda na temperatura. O sequenciamento genético
permite registrar as conversações que micro-organismos, plantas e outros organismos travam entre si e
decifrar como as comunicações químicas conduzem a produtividade e a saúde dos cultivos (BROADFOOT,
2017).
O conhecimento relacionado ao assunto é bastante amplo e diverso e engloba uma grande
quantidade de pesquisadores pertencentes a várias áreas de estudo, como: fisiologistas de plantas,
patologistas de plantas e entomologistas, que estudam interações patógenas de pragas, incluindo as vias
pelas quais os patógenos e as pragas manipulam as defesas das plantas. Microbiologistas têm detalhado os
benefícios das interações que aumentam drasticamente o acesso das plantas à agua e, também, avançam
rapidamente na compreensão do microbioma vegetal. Da mesma forma, os cientistas do solo definiram os
processos ecossistêmicos críticos para a formação do solo, fertilidade, ciclagem de nutrientes; enquanto
criadores de plantas, agrônomos e produtores estabelecem os sistemas de produção que ampliam a produção
agrícola. Porém, ainda há muitos desafios, como detalhar o funcionamento da dinâmica das plantas e seus
habitats (PHYTOPATHOLOGICAL SOCIETY, 2016).
Possivelmente, no futuro, sejam fabricadas máquinas que permitirão aos agricultores identificarem
os micro-organismos presentes no ambiente, além de outras funções relacionadas à agricultura de precisão,
como os níveis de umidade e teor de nutrientes no solo. Tais fatores combinados com dados de safras
anteriores, potenciais pragas e previsões climáticas poderão auxiliar no processo de escolha das melhores
sementes, nutrientes e micro-organismos para a melhor colheita (BROADFOOT, 2017).
Em relação à plantação utilizando sementes revestidas com micróbios, das empresas Novozymes e
Monsanto, os pesquisadores colheram, em 2016, e analisaram os resultados com o objetivo de determinar
quais micróbios faziam a diferença. Vários deles se mostraram ineficazes. Mas alguns micróbios
aumentaram a produção de milho e soja de modo significativo. Esses primeiros resultados são bastante
otimistas; entretanto, os testes de campo devem durar ao redor de sete anos, antes que os resultados sejam
tratados como confiáveis. Assim, é necessário aguardar alguns anos e diversos testes antes que se possa
considerá-los como alternativa efetiva para combater pragas e aumentar a produtividade agrícola
(BROADFOOT, 2016).
Uma das principais vantagens que poderia ser auferida com os produtos agrícolas microbianos
seria reduzir, significativamente, o uso de fertilizantes e pesticidas, o que aliviaria os danos que a
agricultura causa ao meio ambiente, e com potencial de reduzir os custos e aumentar o rendimento das
culturas. A pesquisa pode ser um começo de um movimento ambicioso para substituir a química na
agricultura pela microbiologia (BROADFOOT, 2016).
As tecnologias sustentáveis apresentadas anteriormente atendem aos princípios da agroecologia ao
preconizar a questão do desenvolvimento sustentável, promoção da saúde, segurança alimentar e nutricional
entre outros fatores, como será apresentado a seguir.

5. VERTENTES SUSTENTÁVEIS PARA A AGRICULTURA


No início do século XX, Albert Howard estabeleceu a base teórica da agricultura orgânica,
mostrando a importância da conservação e da fertilidade do solo para o desenvolvimento de plantas sadias e
para a formação de um sistema agrícola permanente. Para produzir de modo sustentável seria essencial
compreender os princípios básicos sobre a preservação da natureza e o uso do solo de forma adequada para
manter a sua fertilidade. A partir dos ensinamentos de Howard, percebe-se que é preciso aprender com a
própria natureza a melhor forma de tratá-la (SANTOS et al., 2012).
A agroecologia surge como uma das vertentes da sustentabilidade e tem como diretrizes:
desenvolvimento sustentável, promoção da saúde, segurança alimentar e nutricional, além da autonomia do
agricultor (SILVA, 2017). É um modelo de produção agrícola, que respeita os impactos negativos que pode

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causar ao meio ambiente e à sociedade. O sistema de produção agroecológico também prioriza a justiça
social, o fortalecimento da identidade do agricultor familiar, resgatando suas raízes culturais e autonomia
(WARMLING; MORETTI-PIRES, 2017).
A ligação entre sustentabilidade e agroecologia revela a necessidade de reformas estruturais e
socioeconômicas, com o intuito de se obter sistemas agrícolas sustentáveis (AZEVEDO, 2017). A relação
entre políticas públicas e agroecologia é essencial para garantir programas que viabilizem o
desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis. A produção agrícola deixou de ser uma questão técnica
e passou a ser vista como um processo condicionado por dimensões sociais, culturais, políticas e
econômicas. É importante toda a dinâmica que envolve a produção agrícola, em cada região, visto que,
dessa forma, pode-se ter uma ideia plausível acerca do assunto para cada local (BESSA et al., 2016).
O sistema orgânico não permite o uso de adubos sintéticos, tampouco de agrotóxicos,
caracterizando-se pelo comprometimento dos agentes envolvidos na preservação da natureza, priorizando a
utilização de formas sustentáveis e racionais dos recursos naturais. E, nessa utilização racional de
exploração da terra, são empregados métodos tradicionais com tecnologias ecológicas (SANTOS et al.,
2012).
O sistema orgânico reproduz e aperfeiçoa os processos naturais por meio da utilização efetiva dos
recursos locais e da reciclagem de nutrientes e de energia. As ações agroecológicas tornam os agricultores
menos dependentes das grandes empresas agrícolas. Os fertilizantes industriais podem ser substituídos por
restos de plantas, estrume e árvores, que proporcionam ao solo os nutrientes essenciais. Em vez de
agrotóxicos, os cultivos diversificados mantêm as pragas sob controle. As plantações ocorrem em meio das
plantas que repelem os insetos indesejados ou que atraem aqueles que são benéficos para o sistema
(SANTOS; GLASS, 2018).
Devido à importância da agricultura orgânica, o governo brasileiro instituiu a Lei nº 10.831, de 23
de dezembro de 2003, que define os parâmetros legais para o sistema orgânico de produção. Com base
nessa lei, é possível afirmar que um sistema de produção orgânico possui as seguintes finalidades: I) ofertar
produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II) preservar a diversidade biológica dos
ecossistemas naturais e recompor ou incrementar a diversidade biológica dos ecossistemas modificados em
que se insere o sistema de produção; III) incrementar a atividade biológica do solo; IV) promover um uso
saudável do solo, da água e do ar e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos,
que possam resultar das práticas agrícolas; V) manter ou incrementar a fertilidade do solo em longo prazo;
VI) reciclar resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não renováveis; VII)
basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente; VIII) incentivar a
integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a
regionalizar a produção e comércio desses produtos; IX) manipular os produtos agrícolas com base no uso
de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades
vitais do produto em todas as etapas (SANTOS et al., 2012).
A agricultura orgânica busca produzir alimentos em áreas em que a produção e o solo não sofreram
quaisquer ações de fertilizantes ou agrotóxicos, ou que foram devidamente tratadas, caso tenham recebido
essas substâncias no passado, de modo que não contaminem a produção orgânica. Este tipo de agricultura
pode proporcionar diversas vantagens ao meio ambiente, como: interação animal-vegetal, manutenção e
preservação de nascentes e mananciais hídricos, proteção ambiental, respeito à biodiversidade. Ademais,
suas atividades não contaminam a natureza com o uso indiscriminado de agrotóxicos (SANTOS et al.,
2012).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A efetividade de discussões políticas sobre os níveis de componentes agrotóxicos utilizados na
agricultura brasileira é essencial para a proposição de regulamentação e práticas que resultem em um
agroecossistema produtivo e ecologicamente responsável.
O uso em grande escala de agrotóxicos com o desenvolvimento genético trouxe melhorias para a
capacidade dos cultivos e incremento na oferta de alimentos. Porém, a permissividade do uso de substâncias
químicas parece gerar problemas imensuráveis para a flora e fauna.
Como evidenciado neste trabalho, no Brasil, é premente pensar em ações orientadas para a redução
do uso de fertilizantes e pesticidas de natureza química e, ao mesmo tempo, promover o uso, por exemplo,
de produtos agrícolas microbianos. O investimento em microbiologia para a agricultura com sementes
revestidas de micróbios é promissor considerando que, em algumas culturas, têm-se o aumento da produção,
segurança alimentar e mitigação dos efeitos causados ao meio ambiente.

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Os programas governamentais voltados para a sustentabilidade no campo com base na


agroecologia parecem ser uma alternativa possível quando aliados a intenções políticas, econômicas e
sociais que viabilizem o desenvolvimento de práticas agrícolas sustentáveis. Nesse sentido, acredita-se que
olhar para as mudanças necessárias no campo, de modo particular para a agroecologia de forma perene,
como apontou Bessa et al. (2016), e não como ação isolada e descoordenada, pode levar à efetividade de
uma produção agrícola sustentável.
É relevante refletir sobre os impactos que o registro e a comercialização de substâncias ativas
banidas em outros países, como os da União Europeia, proporcionam às indústrias de agrotóxicos
brasileiras. No Brasil, o ecossistema tem sido alterado por práticas inadequadas do uso do solo,
contaminação de nascentes, mananciais hídricos e lençóis freáticos, bem como por riscos à saúde humana
gerados por consumo de alimentos saturados de componentes agrotóxicos.
Como apontado neste estudo, atributos e ações sustentáveis para a produção agrícola na União
Europeia indicam que o caminho para um sistema de produção agrícola sustentável está condicionado, por
exemplo, às práticas de produção menos degradantes, como o estabelecimento de Programas
governamentais expressivos para a preservação ambiental e de incentivo à agricultura diversificada.
No Brasil, a concessão de isenções fiscais e tributárias para a comercialização de alguns
agrotóxicos que são banidos na União Europeia denota a pouca importância dada às implicações para a
saúde humana e para o bioma brasileiro. O modelo praticado na União Europeia pode ser o ponto de
partida, mas é necessário ir além, de modo que o uso de insumos químicos, sobretudo, agrotóxicos, seja
abolido ou uma opção apenas em casos extremos.
É de interesse repensar singularidades de um modelo agrícola sustentável pautado nos princípios da
agroecologia e aliados à tecnologia de precisão para o equilíbrio do ecossistema e da saúde humana. Torna-
se urgente pensar em um sistema que una interesses de produtores agrícolas, grandes empresas e governo
em uma tentativa de mitigar impactos gerados pela exploração de recursos naturais para a garantia do bem-
estar social das gerações futuras.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 28
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

ANÁLISE DE IMPACTOS DAS DIFERENTES FORMAS DE USO E


OCUPAÇÃO DO SOLO NO MICROCLIMA DO RIBEIRÃO DAS PEDRAS EM
CAMPINAS-SP

Filipe Augusto Pak Lucon1, Sofia Negri Braz2, Regina Márcia Longo3
1. Mestre em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-
mail: filipe.lucon@hotmail.com
2. Mestranda em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
E-mail: soh_braz@hotmail.com
3. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
rmlongo@uol.com.br

RESUMO
Com a expansão acelerada de centros urbanos e a preservação dos recursos naturais associadas aos
ecossistemas urbanos vem cada vez mais sendo ameaçada. Dentro do contexto urbano, as áreas de
preservação permanente (APPs) desempenham um papel de suma importância na melhoria de aspectos
climáticos prestando desta forma importantes serviços ecossistêmicos de regulação ambiental. Neste
sentido o presente trabalho teve por objetivo fazer uma avaliação do microclima nas APPs localizadas ao
curso principal de um ribeirão localizado prioritariamente em áreas urbanas do município de Campinas-
SP. Esse trabalho visou também contribuir para a discussão da importância de uma gestão urbana
prioritária em área de preservação permanente de modo a ampliar a infraestrutura verde desses ambientes.
O trabalho foi realizado por meio de um estudo de campo onde coletou dados climáticos como
temperatura do ar, temperatura da superfície do solo e umidade relativa do ar ao longo do curso principal
do Ribeirão das Pedras e, desta forma, foi verificado que os benefícios da presença de áreas naturais
preservadas em centros urbanos dentro dos aspectos ambientais e sociais é significativo e merece
destaque para o planejamento e gestão das áreas.

PALAVRAS-CHAVE: Urbanização; Serviços Ecossistêmicos; Clima; Ribeirão das Pedras.

1. INTRODUÇÃO
Historicamente, o processo acelerado de urbanização vivenciado no Brasil a partir da década de
70, ocasionou em impactos causados por uma forma de crescimento sem preocupação com os fatores
ambientais, trazendo diversos estudos a respeito do meio urbano no Brasil e, consequentemente, para os
estudos de cunho climático (OLIVEIRA, FERREIRA, 2017). Segundo Ribeiro (1995, p.75) “ qualquer
estudo regional tem de começar pela análise dos elementos naturais” e para estudos climáticos, entende-se
que deve ser realizado desta mesma forma. O tempo e o clima fazem parte de um sistema, ou espaço, e
quando interagem entre si, sofre influência deste meio onde se situa e a ele condicionam. Uma revolução
paradigmática sobre os fenômenos climáticos que começa com uma preocupação maior com as
interconexões e interdependências dos mais diversos fenômenos e, com isso, passa a vigorar a concepção
de um ambiente integrado (OLIVEIRA, FERREIRA, 2017).
Analises climáticas se faz principalmente em escala regional e, entende-se a partir disso, a bacia
hidrográfica como escala mais apropriada para esses estudos. Em escalas menores, como é o caso deste
artigo, os estudos do microclima podem ser realizados em microbacias ou sub-bacias. Além disso, as
áreas urbanizadas são estruturadas dentro destas bacias e, por este motivo, o fator poluição do ar está
presente e ligado à fatores atmosféricos (BELIZÁRIO, 2014).
Dentro das bacias hidrográficas estão inseridas diversas variáveis, pois são estruturadas com uma
organização sócio espacial e produtiva, principalmente com uso e aproveitamento dos recursos hídricos
para desenvolvimento social. Assim sendo, esta torna-se um ecossistema hidrologicamente integrado com
componentes e subsistemas interativos (BELIZÁRIO, 2014). Para estudos nas bacias hidrográficas “faz-

285
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

se necessário entende-la como um sistema não isolado” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 106). Estas bacias
são formadas por diversos fatores, entre eles as águas e o clima com fenômenos climáticos, que estão
constantemente relacionados entre si (BELIZÁRIO, 2014).
Para tanto, o presente artigo estabeleceu pontos de monitoramento para dados climáticos, onde
foi analisado a temperatura do ar (ºC), a temperatura da superfície do solo (ºC) e a umidade relativa (%) a
fim de determinar os pontos mais críticos da bacia.
Assim, o artigo objetiva fazer uma análise do microclima em diferentes áreas e avaliar qual
destas fornecem serviços ambientais reguladores de forma mais efetivas.
O artigo constitui-se de 5 seções, iniciando-se com a primeira seção introdutória, seguido pelo
referencial teórico, que abordará os aspectos dos serviços climáticos voltados à regulação climática como
aporte teórico. Seguido pela metodologia adotada para posterior apresentação e análise dos resultados
obtidos pelas medições diretas em campo, encerrando com as considerações finais na qual consta as
contribuições do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
No contexto urbano as bacias hidrográficas se mostram como unidade adequada de planejamento
para uso e exploração de recursos naturais, pois possui limites imutáveis no espectro do planejamento
urbano, o que facilita a identificação e o acompanhamento das alterações naturais das modificações
naturais ou introduzidas pelo homem, sendo assim, a estruturação de formas mais adequadas de uso e
ocupação do solo dentro da bacia hidrográfica é o método mais eficiente para controlar os recursos
hídricos que fazem parte deste sistema (GARCIA, et al; 2018). Estas ainda englobam diversos fenômenos,
espaciais, temporais, sociais, naturais, territoriais e econômicos (BELIZÁRIO, 2014). Segundo a Lei das
Águas nº 9.433/97, a bacia hidrográfica foi instituída como unidade físico-territorial de planejamento e
gestão ambiental. O planejamento ambiental, segundo Rodriguez et al. (2007, p.57), é “um elemento tanto
básico como complementar para elaboração dos programas de desenvolvimento econômico e social, e
para otimização do plano de uso, manejo e gestão de qualquer unidade territorial”. Portanto, está
diretamente relacionado com o desenvolvimento sustentável, que segundo Rebouças (1997, p.127) é “um
processo que se deve compatibilizar, no espaço e no tempo, o crescimento econômico, com a conservação
ambiental, a qualidade de vida e a equidade social”.
Além de serem unidades de substancial importância para o planejamento ambiental, estas são
extremante importantes na prestação de serviços ambientais para os ambientes urbanos. “Serviços
ambientais” é o termo utilizado para as intervenções humanas que favorecem as condições e processos em
que os ecossistemas mantêm suas funções e sustentam a vida. O PSA (Pagamento por Serviços
Ambientais) foi inicialmente apresentado como uma ferramenta para financiamento da conservação
ambiental, entretanto, por se mostrar instrumento contratual e versátil, passou a ser considerado a
possibilidade de ser incorporado em diferentes concepções de formatação de política pública. De modo
geral, o PSA passa a ser definido como forma de transferência de recurso entre atores sociais,
objetivando buscar formas de incentivo para alinhar decisões individuais e/ou coletivas de uso da terra
como um interesse comum para gestão de recursos naturais (CHIODI, MARQUES; 2018).
No contexto de áreas urbanizadas, os “serviços ambientais” perde força pela demanda de novos
espaços construídos para moradia, atividades econômicas, sociais e culturais. Assim, essas novas
demandas, quando promovem alteração das condições ambientais, danificando a qualidade do uso deste
espaço, necessitam de ações para identificar e agir no sentido de recuperá-las através da recuperação dos
processos naturais essenciais a este ambiente (GARCIA, et al; 2018).
Segundo estudo realizado por Aversa (2011), o clima é parte integrante dos geossistemas com
maior poder de ação sobre a sociedade. E, portanto, para Belizário (2014), o clima é um fator significativo
para o planejamento e gestão de bacias hidrográficas, entendendo-as como unidades geossistemicas. Ou
seja, o clima, como uma das dimensões do ambiente urbano, contribui fortemente para o equacionamento
da questão ambiental nas cidades. As peculiaridades climáticas nestes locais, ou clima urbano, são
aspectos derivados da alteração da paisagem natural destas áreas que foram substituídas por um ambiente
construído, com formas intensas de atividades humanas.
Segundo Monteiro (1976, 2003), o estudo do clima em um determinado local junto da
urbanização observada, propôs o Sistema Clima Urbano – S. C. U., que compõe três sistemas: a
termodinâmica, físico- químico e hidrometeórico, que são diretamente relacionados com certos canais de
percepção do ser humano: conforto térmico, qualidade do ar e impacto meteórico. Cada um destes
subsistemas possui diferentes objetos de estudo: as ilhas de calor, ventilação, conforto térmico, qualidade

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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do ar e impactos meteóricos, que inclui fatores como inundação e alagamentos urbanos, que são objetos
do sistema hidrometeórico. Ainda seguindo estudos de Monteiro (2003), o clima urbano é um sistema que
abrange o clima local e a cidade, sem a preocupação de se estabelecer em que grau de urbanização e sob
quais condições geoecológicas o termo poderia ser utilizado.
A falta do planejamento em centros urbanos, ocasionou na redução excessiva de áreas verdes nas
cidades, com um foco maior nas áreas mais densamente construídas e nos assentamentos informais. Hoje,
no século XXI, após passar a pior década de supressão vegetal, pode ser analisado e discutido os
problemas deste crescimento não planejado. Alterações no microclima, elevação da temperatura,
alteração no regime de chuvas, alagamentos causados pela falta de infiltração em áreas urbanizadas, entre
outros problemas que comprometem a qualidade de vida e à saúde pública (COPQUE, et al.; 2011).
Com a degradação dos ecossistemas ambientais naturais, é estabelecido um limite em que o
ambiente poderá se desenvolver futuramente (MEA, 2005). Tanto árvores como florestas, estão
constantemente em transformação, algumas, ligadas a fatores naturais e outras mais atreladas a
antropização (FREIRE, 2014).
O referencial de Serviços Ambientais (SA) tem sua construção ligada a partir de uma visão que
conecta as relações entre sociedade e ecossistemas. A sociedade depende dos ecossistemas, ou dos
serviços ambientais providos por eles aos seres humanos. Sob esta mesma referência, a MEA (The
Millennium Ecosystem Assessment – MEA, 2005) definiu quatro tipos de serviços ecossistêmicos que,
entre estes, envolvem fatores econômicos, sociais, ambientais e culturais, a saber: provisão (Ex.:
Combustível, alimentos...), suporte (Ex.: Ciclagem de nutrientes, formação do solo...), regulação (Ex.:
Regulação do clima, purificação da água...) e culturais (Ex.: Espiritual, educacional...).

3. METODOLOGIA
Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados para coleta de dados, segundo os conceitos
de Gil (2007), esta pesquisa é classificada como experimental, que consiste na determinação de objeto de
estudo, nas variáveis capazes de influenciar neste objeto e por fim, a determinação das formas de controle
e de observação dos efeitos que a variável causa no objeto, caracterizando-se como estudo de campo.
Este trabalho trata dos aspectos microclimáticos na Bacia Hidrográfica do Ribeirão das Pedras,
sub-bacia que constitui o Ribeirão Anhumas dentro da cidade de Campinas/SP. Este, recebe água do
distrito de barão Geraldo e de bairros como Santa Genebra, Jardim Costa e Silva, Alto Taquaral, Jardim
Primavera e outros, além disso, faz parte de um ambiente onde encontra-se campi universitários como a
Universidade Estadual de Campinas e a PUC – Campinas, indústrias e comércios de grande porte
(DAGNINO, 2007).
Por meio de análises realizadas diretamente na área de estudo, foram levantados dados de
temperatura do ar (ºC), temperatura da superfície do solo (ºC) e umidade relativa do ar (%) em 8 pontos
pré-estabelecidos de forma estratégica ao longo do curso principal do Ribeirão das Pedras com auxílio de
instrumento de medição direta, o INFRARED Thermometer – GS320 e o Anemometer GM816. As
coordenadas de localização foram tomadas com auxílio de um GPS. As medições/tomada de dados foram
realizadas no período matutino, entre 8 e 9 horas. Estes 8 pontos são caracterizados na Tabela 1 com suas
respectivas coordenadas. A Figura 1 é composta pelo mapa geral de identificação dos pontos de
amostragem e ocurso do Ribeirão das Pedras do município de Campinas- SP, a seta vermelha representa o
ponto em comum entre os dois mapas utilizados para formar esta figura.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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Figura 1. Mapa de localização dos pontos de amostragem. Adaptado de GOMES, 2017.

Tabela 1. Tabela de localização dos pontos de amostragem.


Coordenadas Geográficas
Identificação do Ponto (UTM)

Ponto 1: Área próxima a nascente principal do Ribeirão das


Pedras. Este ponto está situado no bairro Parque Alto Taquaral em
Campinas- SP. A nascente encontra-se canalizada e possui Zona 23K – Long. 288984.00 m E;
impactos diretos Lat. 7470212.26
da urbanização. Não existe área de isolamento para proteção. mS

Ponto 2: Situa-se nas proximidades de uma bacia de contenção de Zona 23K – Long. 288550.00 m E;
água pluvial. Este ambiente possui parte Lat. 7471183.00
arborizada e outra pavimentada. mS

Ponto 3: Possui seu entorno arborizado, entretanto, a área


apresenta acúmulo resíduos sólidos próximo ao curso do rio. Este
ponto fica próximo ao ponto 2, porém, os ambientes se distinguem
Zona 23K – Long. 288530.00 m E;
pela ocupação nas proximidades da lagoa
Lat. 7471182.00
a jusante (Ponto 3) e da lagoa a montante (ponto 2).
mS

Ponto 4: Caracterizado pela presença de hortas apenas em um lado da Zona 23K – Long 288463.71 m E;
margem do rio, estendendo- Lat. 7471158.16
se por dois quarteirões. mS
Ponto 5: Área completamente urbanizada com pontos onde existe
cobertura vegetal e algumas árvores na calçada. Este ponto está
Zona 23K – Long. 288348.22 m E;
inserido dentro de um campus universitário,
Lat. 7473645.85
possuindo tráfego intenso de pessoas e veículos.
mS

Ponto 6: Área caracterizada proximidade de uma via de acesso,


estando esse ponto inserido dentro de um parque linear e próximo a Zona 23K – Long. 287149.86 m E;
uma escola, parcialmente construída na área de APP do ribeirão. Lat. 7474230.24
mS

Ponto 7: Área semelhante ao ponto


6. A amostragem foi realizada ao final do parque linear do Ribeirão
Zona 23K – Long. 286961.23 m E;
das Pedras. Neste ponto, as casas que ficam no entorno do trecho,
Lat. 7474338.64
apresentam registros visuais de
mS
alagamentos anteriores.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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Ponto 8: Ponto final de coleta de dados, onde o Ribeirão das Pedras


desagua no Ribeirão Anhumas.
Acima do rio existe uma ponte para passagem de veículos, o que Zona 23K – Long. 284872.32 m E;
facilita a observação da área. Ponto caracterizado pela presença de Lat. 7480426.51
vegetação exótica em sua margem. mS

Fonte: Elaborado pelos autores com base nas fontes citadas.

4. RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE


Na Figura 2 pode-se observar a distribuição de diferentes tipos de cobertura vegetal existente ao
longo faz áreas de preservação permanente (APP) distribuídas ao longo do curso principal do Ribeirão
das Pedras. De maneira geral, pode ser observar que as áreas de APP analisadas se encontram bastante
rbanizadas. Gomes et al (2016) discutiram os impactos da urbanização no índice de qualidade de água em
diferentes pontos de amostragem na bacia do Ribeirão das Pedras, sendo este o principal fator de
degradação antrópica na bacia em relação a qualidade de água, sendo o mesmo observado por Damane et
al (2015) para indicadores de qualidade do solo.
Seguindo a análise dos dados de temperatura do ar, nos primeiros pontos (1, 2 e 3) nota-se o
predomínio das temperaturas mais amenas. Estes pontos são caracterizados por estarem em contato maior
com a vegetação e corpo hídrico, o que representa maior efetividade do produto dos serviços
ecossistêmicos de regulação da temperatura.
Nas Figuras 2, 3 e 4 foram copilados os dados obtidos de temperatura do ar (ºC), temperatura da
superfície do solo (ºC) e umidade relativa (%). Em cada gráfico apresentado nas figuras, as variáveis são
representadas para os dois dias de análise em cada ponto de amostragem, ambos medidos no mês de
outubro de 2018 no município de Campinas-SP.

ponto ponto
1 2

ponto ponto
3 4

ponto ponto
5 6

ponto ponto
7 8

Figura 2. Visão geral dos tipos de cobertura vegetal existentes ao longo da área de preservação
(APP) permanente do Ribeirão das Pedras.
Fonte: Elaborado pelos autores

Análise de Temperatura do ar
40
Temperatura do Ar (ºC)

20
0
1 2 3 4 5 6 7 8
Pontos de Amostragem

Dia1 Dia 2 Média

289
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Figura 3. Gráfico comparativo das situações de Temperatura do Ar (ºC).


Fonte: Elaborado pelos autores

Na Figura 2, destaca-se os pontos 5 e 8 onde são apresentadas as temperaturas do ar mais


elevadas nos dois dias de amostragem. Estes pontos são caracterizados por serem mais urbanizados em
relação aos outros, sendo que o ponto 5 é a área que se mostra completamente urbanizada e o ponto 8
situa-se em cima de uma ponte que atravessa o corpo hídrico. Estes pontos também apresentam as
maiores médias entre os dois dias de coletas.
Na Figura 3, onde é apresentada a situação da temperatura da superfície do solo, os mesmos
pontos que apresentaram a temperatura do ar mais amena, apresentam este parâmetro mais regulado
devido a presença de cobertura vegetal. Já os pontos 5 e 8, pontos mais próximos do ambiente urbanizado,
apresentaram médias de temperatura mais elevadas em relação aos demais, principalmente pelo solo estar
diretamente exposto, no caso do ponto 8, e pelo ponto 5 estar em área intensamente urbanizada, sendo o
ponto de coleta uma calçada próxima a área de deslocamento de veículos.

Análise da Temperatura da
da

superfície do solo
Superfície do Solo (ºC)

50
Temperatura

0
1 2 3 4 5 6 7 8
Pontos de Amostragem

Dia 1 Dia 2 Média

Figura 4. Gráfico comparativo das situações de Temperatura da Superfície do Solo (ºC).


Fonte: Elaborado pelos autores

. Análise da Umidade Relativa


70

60
Umidade Relativa (%)

50
1 2 3 4 5 6 7 8
Pontos de Amostragem

Dia 1 Dia 2 Média

Figura 5. Gráfico comparativo das situações da Umidade Relativa (%).


Fonte: Elaborado pelos autores

Para análise da umidade relativa do ar, foi necessário realizar uma análise pela média dos
resultados obtidos devido a diferença encontrada nos dois dias de coleta. Entretanto, nota-se que nos
primeiros pontos (1,2 e 3), que estão em contato mais direto com o corpo hídrico, foram registrados os
valores mais significativos em relação aos outros pontos.
Segundo os dados levantados por Martini e Biondi (2015), os valores levantados para
caracterizar o microclima de ambientes com coberturas diferentes são impactantes tanto para temperatura
quanto para umidade relativa. Além de seus dados, sua pesquisa utiliza contribuições relevantes quanto a

290
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

estes aspectos, determinando a importância da manutenção de áreas verdes que possam contribuir no
conforto térmico e na amenização dos impactos no microclima urbano.
Desta forma, a presença das áreas de preservação permanente que circundam rios urbanos
contribuiria tanto para manutenção do bem-estar do corpo hídrico como para os habitantes que fazem
parte deste geosistema (bacia hidrográfica).
Como afirmado por (DENARDI; SULZBACH, 2002, p.3), o produto das formas de atuação de
um ecossistema “ desperta interesse econômico, social e ambiental, uma vez que disponibiliza bens e
serviços ecossistêmicos indispensáveis para a sobrevivência das espécies humana e não-humanas”.
Afirmação que condiz com os resultados deste estudo, ampliando ainda mais seu espectro de atuação, uma
vez que afeta diversos sistemas e subsistemas.
Segundo Daily (1997, p.253 apud AVALIAÇÃO ECOSSISTEMICA DO MILENIO, 2005,
p.104) “os serviços dos ecossistemas são as condições e processos por meio dos quais os ecossistemas
naturais e as espécies que os compõem sustentam e completam a vida humana”. Tornando pesquisas que
se enquadram no mesmo contexto deste trabalho ainda mais relevantes no que se tem na busca por um
bem-estar mais estruturado.
Conforme já fundamentado anteriormente, os resultados apresentam valores que destacam como
é importante a presença de recursos naturais mesmo em ambientes urbanizados. Contribuindo para
ambiente saudável e que possa proporcionar um conforto efetivo a aqueles que o circundam.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos dados obtidos tem-se que, os locais de coleta mais próximos de áreas com
predominância de cobertura vegetal ou com presença de árvores são os pontos com clima mais ameno, o
que levaria a uma situação mais confortável aos indivíduos que usufruem destes locais, seja como
moradia ou para alguma forma de uso recreativo. A análise dos dados torna claro a importância da
conservação dos recursos naturais, uma vez que o aumento da temperatura e a redução da umidade
relativa impacta de forma negativa a população das cidades, sendo de grande importância sua
preservação, manutenção e redução da sua supressão.
A falta de dispositivos e ferramentas que poderiam facilitar o trabalho de campo foi uma das
dificuldades encontradas para elaboração de um trabalho mais eficiente. Por isso, nota-se a necessidade
de um levantamento mais robusto dos dados levantados. Tornando-os capaz de formalizar tomadas de
decisões mais precisas quanto ao desenvolvimento urbano na região.
O estudo destes aspectos por urbanistas e engenheiros é de expressiva relevância para
incorporação de práticas com princípios de um planejamento urbano ecológico e, para isso, faz-se
necessário o conhecimento quanto aos aspectos culturais, sociais e paisagísticos para elaboração de
estratégias eficazes a fim de amenizar os problemas enfrentados em centros urbanos, como o aquecimento
destes ambiente se a preservação/manutenção dos recursos hídricos.

6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVALIAÇÃO ECOSSITÊMICA DO MILÊNIO. Ecossistemas e bem-estar humano: estrutura para uma
avaliação. São Paulo:Editora Senac São Paulo, 2005.
AVERSA, M. C. Circulação Atmosférica e Precipitação Pluviométrica na Bacia do Itajaí-SC: um estudo
climatológico aplicado. 104 p. (Monografia de Graduação em Geografia), Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, São Paulo, UEP/IGCE,
2011.
Biancolino, C. A., Kniess, C. T., Maccari, E. A., & Rabechini Jr., R. (2012). Protocolo para Elaboração
de Relatos de Produção Técnica. Revista Gestão e Projetos, 3(2), 294-307. Disponívelem:
http://www.revistagep.org/ojs/index.php/gep/article/view/ 121/297.
BELIZÁRIO, W. S. (2014). GEOSSISTEMAS E CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA: ESTUDOS
INTEGRADOS DO CLIMA EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS. Revista Sapiência: sociedade, saberes e práticas educacionais – UEG/Câmpus de
Iporá, v.3, n. 2, p. 02-21 – jul/dez 2014 – ISSN 2238-3565.

291
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

BRASIL, Lei nº 9.433/97, Política Nacional dos Recursos Hídricos. 1997.


CHIODI, Rafael Eduardo; MARQUES, Paulo Eduardo Moruzzi. Políticas públicas de pagamento por
serviços ambientais para a conservação dos recursos hídricos: origens, atores, interesses e resultados da
ação institucional. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 45, p.81-104, mar. 2018. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/made/article/view/48757/35269>.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo, Edgard Blucher, 1980.
DAGNINO, Ricardo de Sampaio. Riscos ambientais na bacia hidrografica do Ribeirão das Pedras,
Campinas/São Paulo. 2007. 137 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Geografia, Instituto
de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
DAMAME, D. B.; LONGO, R. M.;RIBEIRO, A. Í rio;
FENGLER, F. H. . Variation of the anthropic vulnerabil- ity in Ribeirão das Pedras watershed in
Campinas/SP - Brazil.. Geophysical Research Abstracts, v. 17, p. 577, 2015.
DENARDIN, V.; SULZBACH, M. Capital natural na perspectiva da economia. 2002.
Disponível em: http://www.unisc.br/universidade/estrutura.../nucleos/.../c
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ecossistêmicas e perda de serviços ecossistêmicos no baixo São Francisco..Revista EletrôNica De
GestãO E Tecnologias Ambientais, 2 (1). doi:
http://dx.doi.org/10.17565/gesta.v2i1.11981
GARCIA, J., MANTOVANI, P., GOMES, R., LONGO, R., DEMAMBORO, A., & do CARMO
BETTINE, S. (2018). DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DA ÁGUA EM NASCENTES DE
RIOS URBANOS.
Revista Sociedade & Natureza, 30(1), 228-254. doi: http://dx.doi.org/10.14393/SN-v30n1-2018-10
GOMES, R. C. Influência do uso e ocupação do solo na qualidade da água do Ribeirão das Pedras –
Campinas/SP. 2017. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura
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GOMES, RAISSA C.; LONGO, R. M.; RIBEIRO, FERNANDO H.S.; BETTINE, SUELI DO C.;
DEMANBORO, ANTONIO C.; RIBEIRO, ADMILSON
I. Water quality index in an Urban Watershed. Interna- tional Journal of Sustainable Development and
Planning: encouraging the unified approach to achieve sustainabil- ity, v. 11, p. 1037-1043, 2016.
MARTINI, A.; BIONDI, D. Microclima e Conforto Térmico de um Fragmento de Floresta Urbana em
Curitiba, PR. Floresta e Ambiente, Curitiba; 22(2): 182- 193, 2015.
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MONTEIRO, C.A.F; MENDONÇA, F. Clima urbano.
São Paulo: Contexto, 2003, p.93-120.
MONTEIRO, C.A.F Teoria e Clima Urbano. Série Teses e Monografias nº25. São Paulo: Instituto de
Geografia/USP, 1976.
MONTEIRO, C.A.F. Teoria e Clima Urbano - Um projeto e seus caminhos. In: MONTEIRO, C.A.F;
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OLIVEIRA, DAIANE, & FERREIRA, CÁSSIA. (2017).
Aspectos climáticos da bacia hidrográfica do rio Preto - MG/RJ, Brasil, influência dos fatores
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(11), 283-307.
RIBEIRO, O.; Introdução ao Estudo da Geografia Regional. Lisboa: João Sá da Costa, 1995. ISBN:
9729230099.

292
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 29
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

A CERTIFICAÇÃO ISO14001 NO MUNDO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A


PARTIR DA BASE DE DADOS ISO SURVEY

Marcos Eduardo Vieira Paganelli1, Marcos Ricardo Rosa Georges2

1. Aluno de Iniciação Científica da PUC-Campinas. Bolsista PIBIC/CNPq. Graduando em


Engenharia de Produção. Aluno bolsista de Iniciação Científica. Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-mail: marcos.paganelli@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: marcos.georges@puc-campinas.edu.br

RESUMO
As organizações vêm cada vez mais sofrendo pressão para demonstrar um gerenciamento adequado em
sua estrutura ambiental, visto que os danos causados ao meio ambiente e a saúde preocupam
crescentemente a população, fazendo com que as empresas, indústrias e instituições sejam mais
prestativas com esta causa. A norma NBR ISO14001 contribui para melhorar competitivamente o
desempenho das empresas, através da utilização eficiente de recursos e diminuição na quantidade de
resíduos. A base de dados ISO Survey revela anualmente o número de certificações obtidas nos países
aliados em seu sistema e pode trazer informações relevantes que podem ser comparadas e estudadas. O
objetivo do presente trabalho é conhecer a base de dados e analisar declínios e crescimentos na emissão
dos certificados, reconhecendo características em comum entre os países que possuem comportamentos
semelhantes e explorar a emissão dos certificados por segmento econômico. Espera-se encontrar
informações que possam ser comparadas entre os países, bem como questões socioeconômicas, e traçar
uma tendência entre eles através de uma análise de dados.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão Ambiental, ISO14001, ISO Survey, certificados

1. INTRODUÇÃO
A gestão ambiental vem crescendo cada vez mais nas últimas décadas, principalmente devido à
pressão que as organizações vêm sofrendo para demonstrar um gerenciamento adequado em sua estrutura
ambiental. A consciência popular crescente sobre os danos causados ao meio ambiente e à saúde faz com
que seja cada vez mais importante a preocupação das empresas, instituições e indústrias com essa causa.
Dessa forma, o desenvolvimento da gestão ambiental é feito nas organizações através de
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) em conformidade com os requisitos da norma ISO14000. Esses
sistemas têm se mostrado muito recompensadores para as organizações, visto que o número de
certificados aumenta significativamente, em geral, em diversos países.

1.1. A NBR ISO14001


A norma ABNT NBR ISO14001 é aceita internacionalmente e define os requisitos para que um
sistema de gestão ambiental entre em vigor. Através da utilização eficiente dos recursos e diminuição da
quantidade de resíduos, a norma contribui para melhorar o desempenho das empresas, garantindo
vantagem competitiva e confiança das partes interessadas.
A norma NBR ISO14001 se encontra contida na ISO14000, que também contempla diversas
outras normas complementares, bem como a ISO14004 que oferece orientações para a melhoria
do sistema de gestão ambiental e a ISO14064-1 que estabelece os requisitos e princípios para
quantificação das emissões de gases do efeito estufa.
A última pesquisa ISO survey (ISO, 2017) aponta que são mais de 350 mil empresas ao redor do
mundo que já utilizam a ISO14001. O Brasil é o segundo com maior número de certificados emitidos na
América, atrás somente dos Estados Unidos, o que mostra a relevância da norma nacionalmente.

293
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

Através da norma, a empresa que possui seu certificado acaba obtendo muitas vantagens, como o
incentivo à melhoria do desempenho ambiental, maior vantagem competitiva e financeira reduzindo
custos, melhor reputação e confiança das partes interessadas etc.

1.2. A Base de Dados ISO Survey


A ISO realiza todos os anos um levantamento de certificações obtidas em todos os países filiados
ao seu sistema. O levantamento recebeu de ISO Survey e, desde 1999 até 2017 existem dados sobre o
número de certificados emitidos por país, por ano e por setor da economia.
A pesquisa tem revelado um aumento no número de certificados emitidos ano após ano,
conforme a figura 1 a seguir:

Figura 1 – Crescimento no número de certificados emitidos no mundo

Fonte: Elaborado pelos autores.

O Brasil tem seguido parcialmente esta tendência mundial e apresenta crescimento significativo
no número de certificados emitidos no ano de 2010, conforme revela a figura 2 a seguir:

Figura 2 – Crescimento no número de certificados emitidos no Brasil

Fonte: Elaborado pelos autores

294
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

No entanto, é possível observar que em alguns países o número de certificados emitidos atingiu
um valor máximo em determinado período e depois apresentou-se decrescente, como é o caso do Japão,
que se aproximou de quase 40.000 certificados em 2009 e em 2017 possuía menos de 25.000 certificados,
como ilustra a figura 3:

Figura 3 – Certificados ISO14001 emitidos no Japão

Fonte: Elaborado pelos autores.

Uma situação semelhante pode ser observada na França, outro país de expressão no mundo
industrializado, conforme explicita a figura 4:

Figura 4 – Certificados ISO14001 emitidos na França

Fonte: Elaborado pelos autores.

Logo, surge a questão de pesquisa: quais os países que têm apresentado declínio na emissão de
certificados ISO14001? Seria possível encontrar características comuns aos países que apresentam este
comportamento decrescente na emissão dos certificados ISO14001? Será que estes países também
mostram declínio na emissão de outros certificados?

1.3. A Definição do Problema


O problema de interesse deste plano de trabalho de iniciação científica é explorar a base de
dados da ISO Survey para levantar todos os países que apresentam declínios na emissão de certificados
ISO14001 e investigar se é possível reconhecer alguma característica comum a estes países, bem como

295
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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investigar se este comportamento também é observado em outras certificações que a pesquisa ISO Survey
também fornece.

1.4. Contribuição com Plano de Pesquisa do Orientador


Explorar a evolução mundial na emissão de certificados ISO14001 e outras certificações de
gestão contribuirá para ampliar o entendimento e compreensão acerca da adoção voluntária destas
certificações, aumentando o conhecimento sobre este assunto que é tema central do projeto de pesquisa
do orientador para o biênio 2019-2020.

2. OBJETIVOS
Os objetivos deste plano trabalho estão divididos em objetivo geral e objetivos específicos, são
eles:

2.1. Objetivo Geral


Explorar a base de ISO Survey e traçar um panorama da evolução da emissão dos certificados
ISO14001 nos países filiados a ISO.

2.2. Objetivos Específicos


São objetivos específicos deste plano de trabalho de iniciação científica:
• Conhecer a pesquisa ISO Survey e todas as informações contidas nesta base de dados;
• Levantar todos os países onde há crescimento e declínio na emissão de certificados ISO14001;
• Reconhecer alguma característica comum a todos os países onde há declínio na emissão dos certificados
ISO14001;
• Explorar a evolução de outras certificações nestes países, bem como explorar a emissão dos certificados
ISO14001 por segmento da economia.

3. PROCEDIMENTOS E RESULTADOS ESPERADOS


Detalhadamente, o plano de iniciação científica fará uso do seguinte procedimento:
1. Estudo da bibliografia pertinente e da norma ISO14001.
2. Será feito o estudo da Base de Dados ISO Survey a fim de reconhecer todas as dimensões desta
pesquisa e fatores de estratificação;
3. Levantamento dos países que apresentam declínio na emissão de certificados ISO14001.
4. Agrupamento dos países levantados no item anterior a fim de reconhecer alguma característica comum
a estes países;
5. Verificar se nestes países também há declínio na emissão de outros certificados.
6. Explorar se também decréscimo na emissão de certificados ISO14001 por setor da economia.

4. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

5. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Introdução à ABNT NBR 14001:2015. Rio


de Janeiro, 2015.

GEORGES, M.R.R. – BPQUALITY – Arquitetura para modelagem de Processos de Negócio para


sistemas de Gestão da Qualidade. In anais 7 CONTECSI – Congresso Internacional de Gestão de
Tecnologia e Sistemas de informação, São Paulo, 2010.

INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION – ISO Survey. Disponível em


<http://www.iso.org/iso/home/standards/certification/iso-survey.htm> acessado em 12/03/2019.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 30
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade, tecnologias e inovação

INOVAÇÃO SOCIAL E EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Fábio Luiz Papaiz Gonçalves1, Cibele Roberta Sugahara2,


Denise Helena Lombardo3

1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade da PUC-


Campinas. Bolsista CAPES. E-mail: fabiopapaiz@gmail.com
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: cibelesu@puc-campinas.edu.br
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: lombardo@puc-campinas.edu.com

RESUMO
Os temas da atualidade inovação social e empreendedorismo social ocorrem tendo em vista que a
globalização traz riqueza para alguns países e pobreza para outros, portanto, procuram soluções para os
problemas das pessoas. Os países necessitam executar determinadas ações para diminuir as desigualdades
sociais. A inovação social é um tipo de inovação criada para trazer benefícios e uma vida melhor para a
sociedade. Os principais objetivos da inovação social consistem em trazer soluções para a população,
acesso à moradia, a bens, ao trabalho, inserção em cadeias de valor, acesso à educação, melhores
condiççoes de saúde, acesso à informação, criação de redes de relacionamento, reconhecimento de
direitos e consciência ambiental. O empreendedorismo social é uma forma de inovação social e possui
empresas que trabalham com a dimensão social, buscando trazer soluções para a população. O
empreendedorismo social combina missão social com inovação, cria valor social, mudanças sociais, serve
as necessidades do mercado e busca valor social.

PALAVRAS-CHAVE: Inovação Social, Empreendedorismo Social, Inovação Tecnológica, Problemas


Sociais.

1. INTRODUÇÃO
A inovação social e o empreendedorismo social são conceitos importantes, pois buscam
solucionar sérios problemas enfrentados pela população de diversos países. Grande parte da população
mundial vive sem recursos, com dificuldades e sem condições mínimas de sobrevivência, portanto, algo
precisa ser feito para que as pessoas possam ter condições básicas de vida.
Este trabalho tem o objetivo de mostrar alguns conceitos e características da inovação social e do
empreendedorismo social, que se mostram auxiliar na solução dos graves problemas, muitas vezes não
resolvidos por instituições públicas e privadas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Inovação Social
Existem dois tipos de inovação nos países: as inovações tecnológicas (tradicionais) e as
inovações sociais. As inovações tecnológicas envolvem a criação de um bem ou novos métodos de
produção. Possuem etapas sequenciais, ferramentas de gestão e mecanismos de proteção intelectual para
que uma ideia não seja copiada por outras empresas. Já as inovações sociais favorecem a expansão de
seus resultados para outras comunidades e, mesmo diferentes, a inovação tecnológica e a inovação social
não são excludentes, pois existem inovações tecnológicas com características sociais e inovações sociais
que utilizam tecnologias (BIGNETTI, 2011).

297
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

A inovação tecnológica tem o objetivo de maximizar os lucros, aumentar a produtividade das


empresas e reduzir custos. Por sua vez, a inovação social busca o bem-estar das pessoas, inclusão e
solidariedade (JOAO; GALINA, 2013). A inovação social desenvolve-se por meio de em-preendedores
sociais, governos, empresas e organizações não governamentais e os objetivos são voltados para a
resolução de problemas sociais (BIGNETTI, 2011). As inovações sociais são mais resilientes e flexíveis
se com-paradas com as privadas, embora tenham um crescimen-to mais lento (MULGAN, 2006).
A inovação social surgiu na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos e em outros países
(COMINI; BAR-KI; AGUIAR, 2012). A inovação tecnológica é baseada num processo de aprendizado,
possui sistemas comple-xos, incluem empresas privadas e outras organizações e são criadas pela
tecnologia (MANUAL DE OSLO, 2018). As inovações sociais são voltadas para questões sociais, a partir
da cooperação entre os atores envolvidos com o intuito de gerar transformações sociais e impactos positi-
vos para a sociedade (BIGNETTI, 2011).
Para Cloutier (2003), a inovação social provoca mudan-ças nos indivíduos para que possam
desenvolver suas vidas, é um processo de aprendizagem, conhecimento e uma resposta nova a uma
situação social ruim da popu-lação. Para Mulgan (2006), a inovação social possui atividades inovadoras
para satisfazer necessidades soci-ais. É uma solução para um problema social mais eficien-te do que as
soluções anteriores, atende uma demanda que não está sendo atendida e tem intenção social (PHILLS;
DEIGLMEIER; MILLER, 2008). Para Eche-verria (2008), a inovação social refere-se a valores soci-ais,
como bem-estar, qualidade de vida e eficiência dos serviços públicos. Ela se orienta a valores sociais e
melho-ram a riqueza social das pessoas.
A inovação social é uma solução nova para um problema social, cria valor social, desenvolve a
sociedade, responde a necessidades e problemas da população, cria colaborações entre pessoas, aumenta o
bem-estar, implementa compromissos sociais, possui aprendizado coletivo, transforma comunidades e a
sociedade em termos sociais.
As inovações sociais envolvem diferentes instituições para servir a sociedade, como negócios
sociais e empre-sas com ou sem fins lucrativos. As inovações sociais representam uma solução criativa
para uma necessidade não satisfeita da população (GUPTA; DEY; SINGH, 2017). As inovações sociais
dedicam-se ao social e aos processos de inovação, buscam o desenvolvimento da sociedade e criam novas
ideias para problemas reconhe-cidos das pessoas de um país (HOWALDT; SCHWARZ, 2010).
A sociedade cria iniciativas para tentar resolver proble-mas sociais e algumas empresas auxiliam
financeiramen-te grupos que atuam nessa área. A partir disso, a inova-ção social tem recebido o interesse
de pesquisadores e empresários (MASSAD; FOSSARI; LAPOLLI, 2017). As inovações sociais trazem
contribuições para problemas sociais em relação à justiça, preservação ambiental, me-lhorias na saúde e
educação. Adicionalmente, podem gerar mais empregos, produtividade, valor social e impac-to
econômico (PHILLS; DEIGLMEIER; MILLER, 2008).
Alguns exemplos de inovações sociais estão em negócios de autoajuda mútua, microcrédito e
cooperativas. É provável que a inovação social seja acelerada, pois ONGs, a sociedade civil e os serviços
estão dominando os negócios. Nas próximas décadas, as inovações mais im-portantes seguirão os padrões
da inovação social, como sistemas de saúde holísticos, desenvolvimento de casas com zero carbono e
fazendas de energia eólica (MUL-GAN, 2006).
A inovação social tem a missão de solucionar um pro-blema social, gerar valor, compartilhar
resultados com toda a sociedade, tentar reduzir a pobreza (JOAO; GA-LINA, 2013). Os efeitos da
inovação social não são ime-diatos, somente ao longo prazo ela é capaz de melhorar a vida de uma
sociedade. A inovação social atua nas áreas da educação, saneamento e moradia (GOLDENBERG et al.,
2009). Os impactos de uma inovação social podem atingir todas as pessoas (VILLE; POL, 2008).
A inovação social atua em diferentes áreas de forma a oferecer melhores condições de vida para
a sociedade e estrutura a mudança social (KLEIN, 2012). É importante que a criação de soluções para
problemas sociais envolva os setores público, privado e sem fins lucrativos. As em-presas privadas têm
criado valor social por meio da res-ponsabilidade social. Um exemplo de inovação social são as
microfinanças (empréstimos, poupança, seguros), que dão acesso ao capital para pessoas de classes baixas
(PHILLS; DEIGLMEIER; MILLER, 2008).
A inovação social utiliza colaboração e liderança com-partilhada de forma coletiva. A inovação
social cria habi-lidades coletivas, colaboração e uma forma de liderança que é compartilhada entre os
membros de uma organiza-ção ou comunidade. A colaboração e a liderança com-partilhada necessitam de
regulação para processos intera-tivos (ESTENSORO, 2015).

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2.2 Empreendedorismo Social


A sustentabilidade visa a qualidade de vida das pessoas, a conservação dos recursos naturais e
uma melhor distribuição de renda. As ONGs, associações e organizações de ajuda estão tendo mais
importância nas instituições brasileiras. Empresários e profissionais também podem ser mais ativos e
estimularem a responsabilidade social em termos corporativos e pessoais (COMINI; FISCHER, 2012).
O mercado procura pessoas com perfil empreendedor para aumentar seus lucros, porém, a
sociedade precisa de profissionais que se dediquem a ações sociais e otimizem a mudança social. O
empreendedorismo social utiliza recursos financeiros para alcançar a missão social, sem ter o lucro como
objetivo principal. O empreendedorismo social busca a missão social sem se direcionar para um indivíduo
exclusivo, pois busca ajudar o maior número de pessoas possível (BAGGENSTOSS; DONADONE,
2013).
O empreendedorismo social preocupa-se com o coletivo, não com o individual. Os
empreendedores sociais têm a oportunidade de desenvolver ideias com inovação e soluções
(BAGGENSTOSS; DONADONE, 2013). O empreendedorismo social lida com desigualdades sociais e
econômicas. Muitas organizações vendem bens e serviços e causam impacto social. A busca pelo lucro
não é o objetivo principal, mas é necessária. O empreendedorismo social possui organizações que buscam
o lucro e produzem impactos sociais e ambientais (IIZUKA; VARELA; LARROUDE, 2015).
Para Dees (2001), o empreendedorismo social possui uma missão social, disciplina e inovação.
Segundo Phills; Deiglmeier; Miller (2008), o empreendedorismo social cria valor social e procura obter
lucro para que possa atingir missões sociais. É importante perceber que a inovação e o empreendedorismo
social desejam primeiramente criar valor social, mas resultados econômicos podem ser parte dessa missão
(MASSAD; FOSSARI; LAPOLLI, 2017).
A missão principal do empreendedorismo social é criar valor social e resolver problemas da
população. O empreendimento social ocorre onde há problemas socioeconômicos e ambientais. Os
empreendedores sociais conseguem usar competências para trazer recursos externos e desenvolver
mecanismos criativos para vencer barreiras. Os empreendedores utilizam recursos de maneira cooperativa
e os dividem com outras organizações. (DACIN; DACIN; MATEAR, 2011).
O empreendedorismo social ajuda indivíduos a criarem atividades com missão social,
envolvimento pessoal e inovação. Com isso, criam novas maneiras de se lidar com problemas sociais
(DEFOURNY; NYSSENS, 2008). O foco é a interação entre governos e a sociedade civil para melhorar
as condições sociais e econômicas da população de baixa renda. A criação de valor social pode ser obtida
por organizações públicas, privadas e da sociedade civil (IIZUKA; VARELA; LARROUDE, 2015).
É importante afirmar que esses empreendimentos podem seguir uma lógica de mercado. É
importante definir mecanismos para alcançar a sustentabilidade financeira. Para assegurar sua
sustentabilidade financeira, geram receita a partir da comercialização de bens e serviços. O
empreendedorismo social pode abranger diversas áreas como, por exemplo, a saúde e a educação.
Algumas dessas organizações trabalham focam na geração de renda e emprego para a população.
(COMINI, 2016).
O empreendedorismo social visa resultados sociais e ambientais, sem priorizar o lucro. As
inovações são criadas a partir de novos modelos organizacionais que buscam resolver problemas sociais.
A difusão dos modelos de inovação social é feita pelo mercado, criando parcerias e buscando o
desenvolvimento sustentável (HUYBRECHTS; NICHOLLS, 2012).
O empreendedorismo social atua em algumas áreas, como: bem-estar e saúde, educação,
desenvolvimento econômico, ajuda internacional e planejamento ambiental (HUYBRECHTS;
NICHOLLS, 2012). As empresas com ou sem fins lucrativos buscam o empreendedorismo social para a
criação de valor social e geração de inovações (PHILLS; DEIGLMEIER; MILLER, 2008).

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
Este trabalho adota a metodologia da pesquisa bibliográfica. Para tanto, foram selecionados
artigos científicos sobre inovação social e empreendedorismo social nacionais e internacionais que
discutem conceitualmente os termos inovação social e empreendedorismo social. De acordo com Gil
(2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos.

4. RESULTADOS OBTIDOS

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A partir das pesquisas sobre a inovação social e o empreendedorismo social, pode-se perceber
que ambos procuram solucionar problemas sociais. Os estudos teóricos mostram que a inovação social
surgiu na Europa e depois nos Estados Unidos e, posteriormente em outros países.
A inovação social utiliza atividades inovadoras para trazer soluções para a população,
principalmente com problemas sociais. A inovação social possibilita mudanças na sociedade. É uma
forma de solucionar um problema social mais eficiente, orientada para atender demandas não
contempladas de forma suficiente pelo governo e empresas privadas. A inovação social busca contribuir
com a geração de serviços e produtos que atendem a necessidades sociais em relação a qualidade de vida
e acesso a serviços e produtos, almejando o bem-estar social. Os efeitos da inovação social, são de longo
prazo e podem atingir todas as pessoas.
O empreendedorismo social tem a oportunidade de desenvolver ideias com inovação e soluções
para a população. O empreendedorismo social pode criar valor social, além de obter lucro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inovação social e o empreendedorismo social possuem objetivos complementares. O
empreendedorismo social envolve a inovação social.
A principal função da inovação social e do empreendedorismo social é descobrir soluções para
problemas sociais da população. Ambos buscam solucionar problemas sociais e proporcionar melhores
condições de vida à população ao possibilitar acesso a serviços e produtos em áres como saúde,
alimentação, educação, emprego, entre outros.

6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

7. REFERÊNCIAS

BAGGENSTOSS, S.; DONADONE, J.C. Empreendedorismo Social: reflexões acerca do papel das
organizações e do Estado. Belo Horizonte: Gestão de Sociedade – UFMG, 2013.

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COMINI, G. M. Negócios sociais e inovação social: um retrato de experiências brasileiras. 2016. Tese
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São Paulo, 2016. 166p.

COMINI, G.; BARKI, E.; AGUIAR, L.T. A three-pronged approach to social business: a Brazilian
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of Management Perspect, v. 24, n. 3, p. 37-57, 2010.

DEES, J.G. The meaning of “Social Entrepreneurship” USA: Stanford’s Graduate School of Business,
2001.

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ECHEVERRÍA, J. El Manual de Oslo e la Innovación Social. ARBOR Ciência, Pensamiento e


Cultura. CLXXXIV 732, p. 609-619, 2008.

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Process in a Local Network. Springer Science Business Media, New York, v. 28, p. 527-545, 2015.

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GUPTA, A.; DEY, A.; SINGH, G. Connecting Corporations and Communities: Towards a theory of
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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 31
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e meio ambiente

A SUSTENTABILIDADE DO BIOCOMBUSTÍVEL ETANOL HIDRATADO


APLICADO A FROTA NACIONAL DE VEÍCULOS “FLEX”

Alexandre Olmos1, Marcos Ricardo Rosa Georges2

1. Mestre em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: olmos.alexandre@gmail.com


2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: marcos.georges@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O programa ROTA 2030 incentivará os fabricantes a melhorarem a eficiência energética do etanol
hidratado nos motores “Flex” dos veículos. O programa oferecerá reduções de IPI a partir da relação de
autonomia entre etanol hidratado e gasolina igual ou superior a 0,693, sem prejudicar a eficiência
energética da gasolina. Esta pesquisa objetiva explorar as diferenças entre os combustíveis etanol
hidratado e gasolina relacionadas a emissões de exaustão, autonomia, consumo energético, e eficiência do
veículo, nos ciclos de condução vigentes na regulamentação brasileira, em comparação com a norte-
americana e europeia, em um veículo “Flex” normal de produção. Como método, o veículo foi ensaiado
em dinamômetro de chassi seguindo ciclo de condução e amostragem de poluentes para medição de
emissão de escapamento e economia de combustível, conforme as normas brasileiras, norte americanas e
europeias. Foi também ensaiado em rotas externas usando “Portable Emissions Measurement System”
(PEMS), conforme a norma europeia, EURO 6D, “Real Drive Emissions” (RDE), para medição da
emissão de escapamento e economia de combustível. O consumo energético dos combustíveis foi
calculado pelo Método do Combustível Consumido e Método Integral de Energia do Motor. A eficiência
do veículo foi calculada nos ensaios RDE utilizando a energia total produzida pelo motor, e a energia
total produzida pela queima dos combustíveis. Os ensaios RDE expuseram o motor a regiões de trabalho
mais abrangentes do que todos os demais. As emissões de poluentes variam ciclo a ciclo entre os
combustíveis, com exceção do CO2 que é menor com etanol hidratado. A autonomia de combustível em
km/l é melhor com gasolina, porém o consumo energético em MJ/km do etanol hidratado é
predominantemente menor que o da gasolina principalmente nos testes RDE. O veículo é mais eficiente
quando utiliza etanol hidratado. Na análise da etapa Tanque às Rodas, “Tank to Wheel” (TTW),
principalmente nas condições de uso real em rotas externas proporcionadas pelos ensaios RDE, ficou
evidenciado os benefícios do uso do etanol hidratado em relação a gasolina. A sustentabilidade do etanol
hidratado depende de ampla e detalhada análise da Fonte às Rodas, “Well to Wheel” (WTW). Existe
controvérsia nos resultados dos estudos sobre as vantagens e desvantagens do biocombustível etanol
hidratado na análise da etapa Fonte ao Tanque, “Well to Tank” (WTT).

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustíveis; Eficiência energética; Emissões de poluentes; Etanol


hidratado; Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo convida o leitor a expandir seu conhecimento sobre automóveis e combustíveis.
Apesar de muito colaborarem para a mobilidade das pessoas, a utilização crescente dos veículos
automotores traz consequências negativas à sustentabilidade social e ambiental. Para movimentar os
veículos, os motores de combustão interna emitem poluentes, consomem energia e combustível,
parâmetros estes que são controlados e divulgados pelos programas governamentais. Os poluentes
hidrocarboneto não-metano (NMHC), metano (CH4), monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio
(NOx), dentre outros produzidos pelos veículos, afetam a qualidade de vida da sociedade, principalmente
quando os mesmos circulam nos grandes centros urbanos congestionados. De modo mais abrangente, a
circulação dos veículos em todas as regiões do planeta gera as emissões de dióxido de carbono (CO2), um
dos gases de efeito estufa (GEE) responsável pelo aquecimento global, principal causa das mudanças
climáticas, as quais por sua vez comprometem a biosfera, os ecossistemas e todas as espécies vivas da
Terra (IPCC,2014).

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Estudos conduzidos pela ABDI (2012) apontaram que, em 2015, as emissões de CO2
provenientes dos escapamentos da frota de automóveis de passeio em circulação pelas rodovias e ruas do
Brasil ficariam próximas das 86 Mt e, em 2020, o total pode superar as 112 Mt. Os mesmos estudos
também mostram que o crescimento das emissões de CO2 está diretamente correlacionado com o aumento
da frota de veículos, que atingiu 22 milhões de unidades em 2011, e, de acordo com as previsões, deverá
atingir 44 milhões de veículos em 2020. Consequentemente, este acréscimo de 30% nas emissões de CO2
em apenas 5 anos, trará impactos negativos à saúde e qualidade de vida da população, além de contribuir
para as mudanças climáticas. No âmbito da abrangência energética do parque nacional brasileiro, o
Ministério de Minas e Energia (MME) através do Balanço Energético Nacional - BEN (2018), mostra que
o setor dos transportes rodoviário foi responsável por 30,6% da energia total consumida em 2017.
Também mostra que no mesmo ano, 39,6% da energia total consumida no país era advinda do petróleo e
seus derivados.
Particularmente, o Brasil dispõe do biocombustível etanol hidratado advindo da cana-de-açúcar,
que por ser renovável e não ser fóssil, tem o CO2 gerado reabsorvido pela natureza, além de emitir níveis
reduzidos de CO2 em relação à gasolina. Considerando que a frota nacional de veículos automotores leves
é predominantemente composta de veículos “Flex”, o uso do etanol hidratado torna-se um diferencial
estratégico ambiental e energético do Brasil.
O recém aprovado programa ROTA 2030, incentivará as empresas fabricantes a melhorarem a
eficiência energética do etanol hidratado nos motores “Flex” dos veículos. As regras do programa
apontam que serão oferecidas reduções de alíquotas de IPI a partir da relação de autonomia entre etanol
hidratado e gasolina igual ou superior a 0,693, sem prejudicar a eficiência energética da gasolina. Os
benefícios serão maiores quanto maior for o resultado desta relação.
Em adição, Borsari e Assunção (2010) elucidam a necessidade de analisar todo o ciclo de vida
dos combustíveis para se obter uma estimativa completa da emissão de GEE advinda dos veículos e para
auxiliar na elaboração de políticas públicas que considerem o balanceamento global dos esforços de
redução dos GEE de modo amplamente eficiente. Demonstram que análise do ciclo de vida (ACV) dos
combustíveis, conhecida como Fonte às Rodas, “Well to Wheel” (WTW), contempla duas fases distintas:
a primeira, referente à produção do combustível, denominada Fonte ao Tanque, “Well to Tank” (WTT),
considera a emissão nas atividades de produção, processamento, estocagem, transporte e distribuição dos
combustíveis. A segunda, relativa ao uso do combustível pelo veículo, intitulada de Tanque às Rodas,
“Tank to Wheel” (TTW), inclui as emissões advindas da queima do combustível pelo motor. Uma vez
que o papel energético e o papel das emissões de GEE dos combustíveis fósseis tem sido amplamente
estudados, e considerando a iminente necessidade de utilização de combustíveis renováveis devido ao
pioneirismo do Brasil no domínio da tecnologia do etanol hidratado, este estudo procurou abordar a
sustentabilidade do etanol hidratado, apontando algumas vantagens e desvantagens da sua utilização, e
explorar as diferenças entre os combustíveis etanol hidratado e gasolina pela análise Tanque às Rodas,
“Tank to Wheel” (TTW). Resumidamente, esta pesquisa procurou contribuir ao debate sobre a
sustentabilidade do biocombustível etanol hidratado aplicado a frota nacional de veículos automotores
leves “Flex”, pela mensuração das emissões de poluentes, autonomia e consumo energético dos
combustíveis, e eficiência de um veículo normal de produção equipado com motor “Flex”, conforme as
principais normas e procedimentos dos programas governamentais nacionais e internacionais e por
métodos específicos desenvolvidos para complementação analítica.

1.1 Problema da Pesquisa


De acordo com Dallmann e Façanha (2017), ao compararem a atuação do Programa de Controle
de Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) em relação aos programas dos Estados
Unidos e da União Europeia, afirmam que o programa brasileiro trabalhou pela aplicação rígida de fases
sucessivas que amplamente aumentaram a adoção de limites de emissão mais severos, enquanto os
programas estrangeiros atuaram com superioridade adotando não apenas limites mais rigorosos, como
também implementaram procedimentos e especificações de testes de certificação avançados. Destacam-se
entre eles os ciclos de condução que cobrem as condições de operações mais abrangentes, requisitos de
ensaio cuja condução ocorra em rodovias externas com características diferenciadas do ambiente limitado
e condicionado pelos laboratórios. Estas melhorias proporcionam maior representatividade ao processo de
certificação e trazem um controle mais efetivo das emissões e consumo de combustível do mundo real
pelos veículos.
Deste problema desdobram-se algumas questões que incentivaram este trabalho: Os resultados
de emissões, autonomia e consumo energético são os mesmos nos diferentes ciclos de condução? O
desempenho dos combustíveis etanol hidratado e gasolina é o mesmo nestes ciclos? Qual regulamentação

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e qual ciclo é mais expressivo em relação ao uso real dos veículos? Os testes de laboratório são
representativos? Os ciclos são capazes de explorar todo o potencial dos motores e dos combustíveis? Com
qual combustível o veículo é mais eficiente? Qual combustível é melhor? Qual combustível é mais
sustentável?
Nesta perspectiva, o desenvolvimento desse trabalho contribui para o debate sobre o uso do
etanol hidratado, para assim ajudar a elucidar essas questões.

1.2 Objetivo
1.2.1 Geral
Comparar as diferenças entre os combustíveis etanol hidratado (E100) e gasolina (E22)
relacionadas a emissões de exaustão, autonomia e consumo energético de combustível e eficiência, em
um veículo “Flex” normal de produção.

1.2.2 Específicos
Explorar as diferenças citadas no objetivo geral nas seguintes condições:
• Em laboratório, seguindo o ciclo de condução e amostragem de poluentes conforme a norma brasileira
ABNT NBR 6601 e NBR 7024, Europeia EURO 6 e norte-americana EPA 75 e SC 03, para medição da
emissão de escapamento e consumo de combustível;
• Em diversas rodovias externas, seguindo as exigências de condução e amostragem de poluentes
conforme Norma Europeia EURO 6D, teste tipo 1a, “Real Driving Emissions” (RDE), para medição da
emissão de escapamento e consumo de combustível;
• Calcular o consumo energético dos combustíveis pelo método de consumo de combustível (MCC) para
os ensaios em laboratório e rotas externas; e pelo método integral de energia do motor (MIEM) para os
ensaios em rotas externas;
• Comparar os resultados de emissões de exaustão, consumo de combustível e consumo energético dos
combustíveis obtidos nos ensaios em laboratório, com os dos ensaios em rotas externas;
• Calcular a eficiência do veículo com os dois combustíveis e compará-las;
• Comparar as diferenças entre os ciclos de condução utilizados, em laboratório e em rotas externas;
• Registrar e comparar as regiões de trabalho do motor obtidas em cada ciclo de condução.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Mom (2014) a história do automóvel teve início a aproximadamente 125 anos
atrás, e que desde então a marca de 2 de bilhões de unidades seria logo atingida pelo mercado. Dada a
relevância do automóvel, os seguintes tópicos teóricos foram abordados nesta pesquisa:

2.1 Combustíveis
De modo mais resumido, Lodi (2016) classifica o combustível como toda matéria em qualquer
estado físico sólido, líquido ou gasoso apta de reação com o oxigênio presente no ar, em condições
apropriadas para gerar calor. Aponta também que os combustíveis são formados por carbono e
hidrogênio. Em essência, de acordo com Lodi, o combustível é uma substância que fornece energia
térmica na sua queima, também denominada pelo autor como combustão, uma reação química. Bizzo
(2003) enfatiza que os combustíveis podem ser classificados quanto a procedência: fósseis (não
renováveis) e vegetais (renováveis). Ainda relembra que as importantes características de disponibilidade,
poder energético e custo, dentre outras, devem ser consideradas na utilização dos combustíveis para a
geração de energia. Segundo Bizzo (2003), os combustíveis fósseis (não renováveis), atenderam por
muitos anos estes atributos, porém nas últimas décadas devido a demanda por menor impacto ambiental,
outros tipos de combustíveis alternativos estão sendo usados e desenvolvidos. Dentre eles podemos
considerar o combustível vegetal (renovável) etanol hidratado, amplamente utilizado pela frota de
veículos nacional. Os detalhes fornecidos por Bizzo (2003) das relações dos combustíveis considerando a
origem, formação do combustível básico e derivados são os seguintes: Fósseis (não renováveis). Tem
como base o petróleo, gerando gasolina, óleo diesel, óleo combustível, óleos residuais, o gás natural, e o
Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Vegetais (renováveis). Os que tem como base a cana-de-açúcar
produzem o bagaço de cana e o álcool etílico, enquanto da base da lenha derivam o carvão vegetal, gases
manufaturados e metanol. Por fim, dos resíduos vegetais são gerados o biogás. Os combustíveis

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mencionados por Bizzo (2003) como vegetais (renováveis) também são denominados como
Biocombustíveis. Complementam Palacio et al. (2012, p.5), que “os biocombustíveis são renováveis, uma
vez que são produzidos a partir de produtos agrícolas, tais como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas,
biomassa florestal e outras fontes de matéria orgânica”. Citam como exemplos o biodiesel, o etanol, o
metanol, o metano e o carvão vegetal. Adicionalmente relembram que os biocombustíveis além de serem
utilizados isoladamente, podem ser utilizados como mistura em outros combustíveis. No Brasil o etanol
hidratado é utilizado isoladamente, ou seja 100% de etanol como combustível, recebendo a denominação
técnica de E100, e também é usado como mistura de 22% de etanol anidro para compor a gasolina
padrão, denominada de E22. Esse teor de 22% é o definido como referência para os ensaios oficiais de
emissões e consumo de combustível submetidos pelos fabricantes de automóveis e inspecionados pelos
órgãos governamentais. De acordo com a CETESB (2017), a legislação brasileira permite a
comercialização da gasolina com variação no teor de etanol anidro entre 18% e 27%. Explica ainda que
“essa variação se dá principalmente em função da disponibilidade de etanol anidro no mercado,
dependente principalmente da safra agrícola da cana-de-açúcar”. No tocante aos volumes comercializados
de gasolina e etanol hidratado, os dados da ANP (2017) permitiram a comparação direta da evolução das
vendas nacionais pelas distribuidoras de combustíveis automotivos, no período de 2007 a 2016, e
demonstram repetitiva predominância da gasolina em relação ao etanol hidratado.

2.2 Vantagens e Desvantagens do Etanol Hidratado


2.2.1 Vantagens
De acordo com Jank e Nappo (2009) o etanol produzido no Brasil retrata “a melhor opção para produção
sustentável de biocombustíveis em larga escala”. Para os autores o etanol de cana-de-açúcar representa
uma referência de como as demandas ambientais, sociais e econômicas podem ser inseridas na conjuntura
do desenvolvimento sustentável. Destacam que o etanol brasileiro “gera 9,3 unidades de energia
renovável para cada unidade de energia fóssil utilizada em sua produção, 4,5 vezes melhor que o etanol
de beterraba ou trigo cultivado na Europa” e “quase 7 vezes melhor que o etanol de milho norte-
americano”.
Este diferencial é explicado pela enorme capacidade da cana-de-açúcar em converter energia
solar em energia química no processo de fotossíntese, aprimorado por melhorias genéticas desenvolvidas
por mais de 30 anos no Brasil e pela utilização da biomassa na geração da própria energia elétrica das
usinas brasileiras. O excedente gerado é vendido no mercado. Exemplificam que as usinas modernas
brasileiras utilizam caldeiras mais eficientes, além de adicionarem a palha de cana formada por pontas e
folhas dos talos à biomassa do bagaço. Estimativas de 2015 apontavam que todas as usinas nacionais
poderiam gerar 11.500 MW, que corresponde a 15% da demanda elétrica nacional, além de ser superior à
geração da energia elétrica provida pela usinahidroelétrica de Itaipu, e equivaler ao consumo anual de
energia da Holanda. Relatam ainda que existem mais de cem países que são produtores de cana-de-
açúcar, com potencial de reeditar a boa experiência brasileira na “produção de etanol e bioeletricidade”,
representando oportunidades para os países em desenvolvimento e independência energética sobre as
importações de petróleo, gerando empregos e renda. Para eles, a união destes cem potencias produtores
revolucionaria o fornecimento global de combustíveis em contraposição aos atuais “vinte países
produtores de petróleo”. Os autores destacam o Brasil como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar.
Dados recentes da Conab (2018) apontam que em 2017 a produção nacional atingiu 633 milhões de
toneladas processadas por cerca de 411 refinarias de açúcar e etanol, sendo que mais de um terço de todas
elas encontram-se no estado de São Paulo. O desmembramento deste montante em 2017 foi a produção de
38 milhões de toneladas de açúcar, 28 bilhões de litros de etanol e 1,4 bilhões de litros de cachaça. Estes
dados, além de confirmarem o Brasil como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, colocam nossa
produção e exportação de açúcar também no primeiro posto. Quanto à ocupação das terras férteis, Jank e
Nappo (2009) mencionam que a cultura da cana-de-açúcar ocupa 7,8 milhões de hectares (2,3% do total
disponível do Brasil), sendo 60% deste total no estado de São Paulo. Descrevem os autores que o
faturamento anual dos setores de etanol e açúcar é aproximadamente US$ 20 bilhões, sendo em
2007/2008 composto pelas vendas de 54% de etanol (85% no mercado interno e 15% externo), 44% de
açúcar e 2% da bioeletricidade. Em relação a utilização em veículos automotores, além da vasta
aplicabilidade na crescente frota de veículos “Flex”, a tecnologia atingiu as motocicletas e existem
projetos de utilização de etanol na frota de ônibus da cidade de São Paulo, potencializando grandes
benefícios ambientais. Exemplificam que a troca de mil ônibus movidos a diesel por modelos a etanol
poderia reduzir as emissões de CO2 em aproximadamente 96 mil toneladas/ano, equivalente “à emissão
de 18 mil automóveis movidos a gasolina”. Ao tratarem da mitigação das mudanças climáticas, Jank e
Nappo (2009) tratam o desempenho do etanol produzido pela cana-de-açúcar como impressionante, pois

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embasados em relatos sobre uma análise do ciclo de vida (ACV) completo descrevem a possibilidade de o
etanol evitar até 90% das emissões de GEE equivalentes em CO2 quando substitui a gasolina. Mostram
que em 2007 a produção e utilização do etanol nacional diminuíram as emissões de GEE em 25,8 milhões
de toneladas de CO2 eq. Os mesmos autores ainda expõem que o etanol brasileiro é destaque mundial,
caracterizado por ter baixo custo de produção e elevado nível de produtividade. Comparam que a
produção de etanol brasileira atinge 7.000 litros por hectare enquanto o etanol europeu alcança 5.500
litros por hectares e o norte-americano, 3.800 litros por hectare. Adicionalmente afirmam que a futura
introdução da hidrolise celulósica potencialmente pode levar a produtividade para até 13.000 litros por
hectare, evitando a necessidade de expandir as áreas cultivadas.
Sobre a avaliação da sustentabilidade ambiental dos biocombustíveis, no que tange às práticas
agrícolas usadas para produzir suas matérias primas, relacionadas a utilização de agroquímicos, utilização
de água no cultivo e nos processos industriais, e perdas no solo, os autores mostram que a cana é uma das
culturas que trazem menor impacto ambiental. O uso de pesticida nos canaviais brasileiros é baixo, e
praticamente não são utilizados fungicidas, pois parte significativa das pragas é combatida pelo manejo
integrado de controle biológico. Os níveis de perdas do solo são relativamente baixos, devido ao caráter
semi-perene da cana-de-açúcar, que é replantada apenas uma vez a cada seis anos. Devido a abundância
de chuva nas regiões de plantio, concentradas na região centro-sul do Brasil, que representam 85% da
produção nacional, há pouca necessidade de irrigação. O volume de água utilizado no processo industrial
vem diminuindo ao longo dos anos, de 5 mil m3 por tonelada de cana-de-açúcar processada para 1.5 mil
m3 por tonelada. Um outro importante ponto destacado pelos autores é sobre a área cultivada com cana-
de-açúcar designada à produção de etanol (3,4 milhões de hectares), que corresponde somente a 7% da
atual área utilizada no cultivo de grãos. Quando considerada toda a área de terras agricultáveis (354
milhões de hectares, que incluem pastagens e áreas aptas para a produção agrícola), o percentual
designado à produção de etanol cai para 1%. Complementam os autores que segundo a “Food and
Agriculture Organization of the United States” (FAO) apenas 1% da área cultivável com alimentos do
mundo é utilizada para a produção de etanol (15 milhões dos 1.4 bilhões de hectares disponíveis). Ainda
mencionam que a FAO relata a existência potencial de 4 bilhões de hectares de terras aráveis no mundo,
dando espaço para a produção de alimentos além de biocombustível. Em relação às emissões de GEE,
Goldemberg (2010) declara que aproximadamente “15% das emissões de carbono de origem fóssil no
país foram poupadas com o etanol renovável: cada mil litros de etanol de cana reduzem a emissão de 2,82
toneladas de CO2 em comparação com a gasolina”. Para o autor esse é um motivo relevante para que essa
alternativa do etanol seja difundida pelos países que produzem ou podem produzir cana-de-açúcar.

2.2.2 Desvantagens
Lutzenberger (2012) considera o álcool combustível “um engodo”, embora reconheça a
necessidade de aproveitar a biomassa como fonte de energia. Explica que a biomassa “é a energia solar
quimicamente armazenada pelos vegetais pelo processo de fotossíntese”, portanto renovável, o que não
significa ilimitada em volume. O autor elucida a necessidade de se aprender a utilizar a energia da
biomassa de modo eficiente e sustentável, e posiciona o álcool como “a maneira mais ineficiente de
aproveitar biomassa”.
De modo bastante enfático demonstra que além da baixa produtividade de 30
toneladas/hectare/ano, no caso da cana-de-açúcar em lavouras bem cuidadas e adubadas no estado do Rio
Grande do Sul, após as etapas de prensagem, fermentação e destilação do caldo, restam 2.400 litros de
álcool que representam somente 8% do peso da cana entregue à usina. Declara que estes 2.400 litros de
álcool correspondem a 1.500 litros de gasolina, cujo o equivalente energético é de aproximadamente 9
tambores de petróleo. Destes dados, complementa que um hectare de cana-de-açúcar quase não atenderia
a um veículo de pequeno porte que transitasse 1.500 km/ano. Considerando o total útil de biomassa de
cana-de-açúcar em um hectare, o autor apresenta que em termos energéticos, corresponde
aproximadamente a quarenta tambores de petróleo, e declara que “a produção de álcool de cana para fins
energéticos é algo assim como produzir água pela destilação de uísque”.
Em continuidade as demonstrações sobre as desvantagens do álcool, Lutzenberger (2012) relata
que as destilarias poluem o corpo de água das proximidades com 16 litros de vinhoto a cada litro de
álcool produzido, como ocorrido no rio Piracicaba no estado de São Paulo. Ainda no tocante as questões
energéticas, informa que a produção de álcool demanda energia não somente nas usinas, mas também na
lavoura e nas demais atividades de infraestrutura técnica. Aponta que os tratores e maquinarias consomem
combustível. A produção de todos os equipamentos, das usinas, as infraestruturas de transporte e
distribuição, as olarias, as siderurgias, etc. também são consumidores de energia e combustível. Aponta
ainda que também estão englobados nesta análise da cadeia energética, os adubos químicos e fertilizantes

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utilizados na lavoura da cana-de-açúcar como grandes consumidores de energia. Neste quesito aponta o
autor que os 500 kg de adubo químico sintético aplicado por hectare de cana-de-açúcar, consomem em
sua fabricação mais do que seu próprio peso em petróleo ou carvão. Deste fato expõe que isto significa o
gasto “de um terço da energia do álcool produzido”. Para Lutzenberger (2012) a tradução das contas
significa que não sobra energia na produção do álcool, ou seja, “os insumos consomem mais energia que
a energia colocada no tanque do carro”. Outra importante menção do autor é relativa a meta pretendida do
PROÁLCOOL em substituir 20% do petróleo, que implicaria plantações de 10 milhões de hectares de
cana-de-açúcar. Sobre a substituição total do petróleo, o autor aponta que exigiria a plantação de pelo
menos 40 milhões de hectares, ou seja, 400 mil km2 (área maior que os 250 mil km2 do estado do Rio
Grande do Sul). Sobre este aspecto, Lutzenberger complementa afirmando que “em um mundo já
faminto, dedicar tais extensões de terra a produção de álcool é crime. As terras férteis – e a cana só
produz satisfatoriamente em terra fértil – são indispensáveis a produção de alimentos”.
De acordo com Von der Weid (2009) existem duas questões fundamentais que não podem faltar
na discussão sobre os agrocombustíveis. “Como superar a dependência do petróleo? Os
Agrocombustíveis são uma boa opção? ”. Segundo o autor os agrocombustíveis são apresentados pelos
seus apoiadores como remédio para solucionar ou amenizar a crise energética e econômica influenciada
pelo enorme aumento dos preços do petróleo, e como solução para reduzir a emissão de GEE,
colaborando no enfrentamento do problema do aquecimento global.
Em relação ao primeiro problema Von der Weid (2009), explica que estas pretensões estão
embasadas no fato assustador de que chegou ao fim a era do petróleo barato, pois a demanda mundial
estimada para 2030, de 40 bilhões de barris, dificilmente será atendida pela previsão de produção entre
14,6 e 20 bilhões de barris. Ainda sobre a disponibilidade do petróleo, discorre que existem menos
descobertas de novos campos, e que os custos elevados e as dificuldades de exploração do pré-sal
brasileiro podem torná-lo inviável considerando os custos energéticos da sua exploração, sem considerar
que as reservas do mesmo não alteram significativamente o quadro crítico mundial. Considerando que a
civilização é basicamente dependente do uso de energia fóssil barata para as atividades essenciais de
transporte, produção de energia elétrica, aquecimento e agricultura, o autor comenta que o fim da energia
fóssil barata trará serias consequências econômicas para a humanidade.
Os dados recentes do IEA (2018) confirmam essa dependência, mostram que em 2016 o
petróleo, carvão e gás natural, responderam por 32%, 27% e 22%, respectivamente do total da energia
consumida no mundo. Essa contribuição dos combustíveis fósseis corresponde a 81% do consumo
mundial de energia. Perante estas tenebrosas estimativas Von der Weid (2009) comenta que é normal que
a procura por alternativas energéticas renováveis “tenha se tornado uma obsessão mundial”. Sobre o
segundo fator das preocupações mundiais, o aquecimento global, Von der Weid (2009) relembra que o
uso dos combustíveis fósseis e a consequente emissão de GEE, em particular CO2, são apontados como
responsáveis pelo mesmo. Mostra pelos dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas,
“Intergovernmental Panel on Climate Change” (IPCC) que a temperatura média da Terra aumentou 0,6°C
no século XX, aproximando-se cada vez mais ao limite de 2°C estabelecido para o planeta suportar sem o
desencadeamento de catástrofes naturais e humanas.
Neste caso, expõe que caso sejam mantidos os níveis atuais de emissões de CO2 a elevação da
temperatura atingirá 2,7°C em apenas 40 anos. Considera, apesar dos custos crescentes e das implicações
já expostas, que existe combustível fóssil para ser utilizado nas próximas décadas. Face a este cenário,
bem relembra que o principal impacto do aquecimento global na vida da Terra será “a perturbação na
produção agrícola mundial”. Portanto, afirma que expor os agrocombustíveis como recurso para esse
problema é um modo de reagir as ameaças as quais a ecologia está submetida.
Após comentar os argumentos principais que motivam os defensores dos agrocombustíveis, Von
der Weid (2009) apresenta uma avaliação relativa aos programas de etanol do Brasil, Estados Unidos e
Europa.
Quanto ao balanço energético Von der Weid (2009) afirma que é importante medir a relação da
energia usada na produção com a energia contida nos agrocombustíveis, e que caso os mesmos
“consumirem mais energia fóssil em sua produção do que aquela contida nos combustíveis fósseis que
vão substituir não valera a pena utilizá-los”. Descreve que sobre este assunto existe um antigo duelo sobre
como estes cálculos energéticos devem ser feitos. Além de mostrar resultados obtidos por métodos
rigorosos utilizados por cientistas dos Estados Unidos que incluem todos os custos energéticos diretos dos
quais consideram combustíveis, mão-de-obra, insumos, máquinas e construções, o autor apresenta que
são encontradas discrepâncias entre os dados dos recentes estudos dos cientistas norte-americanos com
dados apresentados pelo governo brasileiro e pelos representantes do agronegócio do etanol no Brasil.

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Enquanto estes últimos apresentam que a relação entre a energia contida no etanol e a energia
fóssil usada na sua produção é igual a 8/1, os resultados advindos dos cientistas, mesmo considerando que
o bagaço da cana e o restolho (folhas) tenha sido considerado na energia de produção do etanol, o balanço
energético é “apenas levemente positivo”. Quando desconsiderado o bagaço e o restolho, e incluído o
gasto energético do tratamento de efluentes das destilarias, o balanço energético “fica negativo”. Outros
estudos locais também apresentados pelo autor mostram que os resultados do balanço energético não
confirmam os 8/1 proferidos pelo governo e pela indústria do etanol. Os resultados locais foram os
seguintes: 3,24/1 pela EMBRAPA do Paraná e 5,8/1 pela EMBRAPA Agrobiologia, considerando o
bagaço e eliminando os adubos nitrogenados. Em relação ao balanço energético das emissões de gases de
efeito estufa, Von der Weid (2009) apresenta dados interessantes e pouco conhecidos. Expõe que os
agrocombustíveis foram eleitos para substituírem os combustíveis líquidos fósseis, portanto ligados ao
setor de transportes. Ao analisar a matriz global de GEE, mostra que o setor de transportes contribui com
14% do total das emissões, que a agricultura com mais 14% e que as atividades de mudanças no uso da
terra que consideram desmatamentos e substituições da cobertura vegetal natural com mais 18%.
No entanto elucida que “somando o impacto direto das atividades agrossilvopastoris ao impacto
indireto da substituição da cobertura vegetal natural devido a expansão das mesmas, chega-se a cerca de
30% de emissões de GEE relacionadas com a agricultura”. Em outras palavras, quis dizer que o esforço
para reduzir as emissões de GEE do setor dos transportes aumenta no setor da agricultura, fazendo com
que o mesmo emita mais GEE do que o próprio setor de transportes.
Ainda sobre o balanço energético de GEE, Von der Weid (2009) também expõe na mesma obra
o interessante trabalho do Prêmio Nobel Paul Crutzen relacionada ao óxido nitroso (N20), cuja potência
de impacto no aquecimento global é quase 300 vezes maior que a do CO2. Relata que segundo o autor a
produção de etanol de milho pode colaborar para o aquecimento global, pois a maior emissão de óxido
nitroso (N2O) contrabalanceia os benefícios da redução de CO2. Por esse estudo, o efeito do N2O no
etanol de milho “causa entre 10% menos e 50% mais impacto do que as emissões de queima da gasolina”.
Adicionalmente, Von der Weid menciona pelo artigo da revista Science “Land Clearing and the Biofuel
Carbon Debt” de Fargione et al. (2008), que “os agrocombustíveis causam mais emissões de GEE que os
combustíveis convencionais, se a totalidade das emissões for computada, desde o desmatamento até o
consumo”. E ainda complementa por outro artigo também da revista Science “Carbon Mitigation by
Biofuels or by Saving and Restoring Forests? “ de autoria de Righelato e Spracklen (2007), que
apresentam outro contraponto aos agrocombustíveis, sugerindo que a proteção de florestas e savanas não
cultivadas pelo prazo de pelo menos 30 anos “evitaria entre duas a nove vezes mais emissões de GEE do
que o uso de agrocombustíveis produzidos nas mesmas áreas durante o mesmo período”.
Neste tocante do local onde os agrocombustíveis serão cultivados, Van der Weid (2009), usando
o exemplo do etanol da cana-de-açúcar, sugere que não sobram questionamentos de que seus eventuais
benefícios nas mudanças climáticas não são tão grandes como divulgados, e pode ainda não existir caso
sua produção promova desflorestamento ou destruição de pastagens nativas. Por isso o autor defende que
é preciso analisar as possibilidades de harmonizar “a conservação das florestas, pradarias, turfa, etc. com
a enorme expansão de área cultivada necessária para a expansão explosiva da demanda de
agrocombustíveis”. Justifica sua posição através do artigo da New Scientist “How Much Land is
Available to Grow Biofuels” de Sten Nilsson (2006), que demonstra que existem apenas entre 250 a 300
milhões de hectares de terras disponíveis no mundo que podem ser designadas para a produção de
agrocombustíveis. Relata que neste mesmo estudo, Nilson apresenta que seriam necessários outros 290
milhões de hectares para atender somente 10% da demanda mundial de energia prevista para 2030, e que
também seria preciso outros 200 milhões de hectares para responder a demanda complementar de
alimentos devido ao crescimento populacional previsto de 2 a 3 bilhões de habitantes.
Por estes dados, a soma destas demandas seria de 490 milhões de hectares em contraposição aos
300 milhões disponíveis para o melhor dos casos. Devido a essa desproporção, o autor relata que um
pequeno esforço de substituição de energia fóssil, causaria “destruição inevitável de áreas florestadas com
fortes emissões de GEE, além de outros impactos ambientais decorrentes”. Segundo os relatos de Von der
Weid (2009) o governo brasileiro afirma que o Brasil dispõe de muitas terras ainda não cultivadas e que
há amplo espaço para combinar sem desmatamentos a expansão conjunta dos agrocombustíveis com a
produção de alimentos, ao contrário da Europa e Estados Unidos.
Descreve ainda que as previsões de expansão do governo brasileiro e da indústria local do etanol
são gigantescas, podendo chegar a 100 milhões de hectares. Face ao exposto, ao final do seu trabalho Von
der Weid (2009) declara que é possível afirmar, com bases nos dados, “que os defensores do
agrocombustíveis deveriam abandonar a argumentação relativa aos benefícios de seu emprego no lugar
dos combustíveis fósseis com o objetivo de reduzir as emissões de GEE”. A controvérsia sobre a energia

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dos biocombustíveis fica ainda mais evidente quando o autor expõe que “está mais do que claro que os
agrocombustíveis terão papel importante no aumento, e não na diminuição dessas emissões”.

2.3 Veículos “Flex”


A comunidade automotiva identifica como veículos “Flex”, uma derivação da nomenclatura
internacional “Flexible-Fuel Vehicle” (FFV), como aquele com capacidade de ser abastecido, no mesmo
tanque, e operado com dois combustíveis diferentes, ou com qualquer proporção da mistura destes dois
combustíveis, geralmente gasolina e etanol. A expressiva presença dos veículos “Flex” no Brasil pode ser
observada pela surpreendente evolução da produção e consequente desdobramento junto a frota
circulante.
Em relação a produção, os primeiros veículos “Flex” começaram a ser fabricados no Brasil em
2003 e compreendem as categorias de Automóveis e Comerciais Leves. Segundo a ANFAVEA (2018) a
produção cresceu de 49 mil para aproximadamente 3 milhões de unidades no período de 2003 a 2013. Em
relação a frota circulante nacional, o relatório do SINDIPEÇAS (2018) ilustra claramente o gigantesco
crescimento da frota de veículos “Flex”, no período de 2007 a 2017. Dentro destes 10 anos, a participação
dos veículos movidos a gasolina encolheu de 64% para 26,5%, enquanto a dos veículos “Flex”, cresceu
de 15% para 62,7%.

2.4 Industria Automobilística


De acordo com a Organização Internacional de Fabricantes de Veículos Automotores (OICA), a
indústria automobilística é essencial para o funcionamento da economia global. A OICA (2018), revela
que a produção mundial de veículos, de 66 milhões de unidades em 2005, representou um volume de
negócios global na ordem de 1,9 trilhões de Euros, exigiu mais de 8 milhões de empregos diretos
(representando mais de 5% do total de empregos industriais do mundo) e 50 milhões de empregos
indiretos e relacionados à prestação de serviços. Elucida ainda que este desempenho econômico foi
equivalente a sexta maior economia do mundo (considerando a economia da indústria automobilística
global como sendo um país na ocasião).
A produção global de veículos aumenta ano a ano, e entre 2007 e 2017 a produção global de
Automóveis e Comerciais Leves cresceu 37%. Quanto ao Brasil, a ANFAVEA (2018) resume que a
indústria automobilística nacional é formada por 26 empresas fabricantes, 582 fábricas e escritórios de
autopeças e 5.535 concessionárias; e que a produção acumulada de autoveículos (1957 a 2017), chegou a
78,5 milhões de unidades.

2.5 Sustentabilidade
Mikhailova (2004) menciona que a maioria dos estudiosos, ao tratarem do conceito da
sustentabilidade, acreditam que a abordagem interdisciplinar é possível e obrigatória, uma vez que as
ciências disciplinares apresentam dificuldades de se adequarem aos numerosos conceitos ambientais que
incluem a sustentabilidade, o mais relevante deles.
Veiga (2013) descreve a sustentabilidade como um valor que provoca mudanças de atitude no
comportamento das pessoas, na esfera educacional e empresarial. É um valor que para existir exige
mudança na relação entre a sociedade e natureza e também demanda uma ampla gama de ações globais.
Veiga (2015) menciona uma importante definição de sustentabilidade contida no importante Relatório da
Comissão sobre as Medidas de Desempenho Econômico e Progresso Social escrito pelos renomados
especialistas Joseph-Paul Fitoussi, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi, e divulgado em 2009, a pedido do
governo francês: “[...] a questão é sobre o que nós deixamos para as futuras gerações e se lhes deixamos
suficientes recursos de todos os tipos para que possam desfrutar de oportunidades ao menos equivalentes
as que tivemos”.
O autor expõe ainda que na década de 1970 o atributo “sustentável” foi escolhido para
caracterizar as possibilidades pretendidas para o futuro das sociedades humanas, enquanto que na década
de 1980 a escolha deste atributo serviu para classificar o anseio de desenvolvimento destas sociedades.
Relembra que a partir deste ponto brotaram as incertezas sobre a relação da humanidade com os
ecossistemas da Terra. Sen (2010), ao estabelecer o conceito de desenvolvimento, acaba expandindo o
conceito de sustentabilidade para além do ambiental. Seu pensamento atrela ao desenvolvimento humano
a eliminação das principais fontes de contenção de liberdades: pobreza, violência, interferência de
governos opressores, intolerância, displicência dos serviços públicos, privação social e ausência de
oportunidades. Sen relata que o desenvolvimento está diretamente relacionado com a possibilidade de as

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pessoas terem opções de escolhas determinantes do rumo de suas vidas e se beneficiarem dos seus
esforços, e ao acesso à educação adequada. Para o autor, a sustentabilidade de nossa vida social e
econômica, depende da superação destes fatores e das “ameaças cada vez mais graves ao nosso meio
ambiente”. Da junção das exposições Sen (2010) e Veiga (2013) pode-se assumir que o conceito de
sustentabilidade engloba dois sistemas: Um ecológico que envolve a manutenção dos ecossistemas, e
outro econômico que abrange o desenvolvimento das sociedades.
A agregação destes objetivos, manutenção dos ecossistemas com desenvolvimento social,
caracterizam o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Em complemento, Sachs (2009) afirma que “o
desenvolvimento sustentável é, evidentemente, incompatível com o jogo sem restrições das forças do
mercado. “O termo “desenvolvimento” de acordo com Daly (2007) tem sido erroneamente identificado
como crescimento econômico. O autor elucida que o crescimento contínuo da economia em suas
dimensões físicas é limitado, pois considera a economia um subsistema do ecossistema, que é finito e
materialmente fechado. Explica que as transformações dos recursos do ecossistema pelo subsistema
econômico focado no crescimento quantitativo da produção de bens de consumo, resultam na devolução
de matéria-energia na forma de resíduos, alguns lentamente reabsorvidos pela natureza, enquanto outros
se acumulam permanentemente.
O pensamento de Daly (2007) deixa claro que existem consequências e limites físicos para o
crescimento do subsistema econômico. Por outro lado, demonstra ainda que o desenvolvimento pode ser
considerado como bem-estar e felicidade, que são experiências e não produtos, e que talvez possam
sempre aumentar, pois são baseados em melhorias qualitativas. Neste sentido, as ideias de Daly (2007) e
Sen (2010) são equivalentes e complementares. De volta a sustentabilidade, Daly (2007) atenta que é a
economia que está sendo sustentada pela biosfera para transformar matéria e energia servindo aos
propósitos humanos, mas que na realidade o oposto deveria estar acontecendo.
A biosfera é o sistema natural total dos ciclos biogeoquímicos alimentados pelo sol. Para ele o
problema ocorre por que a escala e a qualidade dessas transformações interferem significativamente na
biosfera, reduzindo sua capacidade de sustentar a própria economia. Explica que no desenvolvimento
sustentável, o que é suposto de ser sustentado é a taxa de transferência dos recursos naturais, de modo
controlado e monitorado, permitindo a autorregeneração dos ecossistemas. Uma vez esclarecidas as
diferenças podemos interpretar pelo pensamento de Daly (2007) que o problema é o crescimento, não o
desenvolvimento.
É importante destacar neste momento que podemos interpretar pelos pensamentos de Daly
(2007), Sen (2010) e Veiga (2013) que o entendimento e resolução dos problemas enfrentados pela
humanidade, advém da combinação dos conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade –
desenvolvimento sustentável. Relembram os autores que a economia tradicional praticamente se
apropriava do termo sustentabilidade para empregá-lo a sustentação do crescimento econômico. Neste
sentido, Daly (1996) elucida que Nicholas Georgescu-Roegen foi um grande contribuidor na
demonstração da incompatibilidade entre os termos desenvolvimento e crescimento econômico.
Daly (1996) ainda propõe uma economia numa “condição estável ou estacionária”, onde a
extração de recursos da natureza seria em quantidade limitada para apenas para manter fixo o capital e a
população. Os recursos primários seriam designados somente à melhoria qualitativa dos bens de capital.
Estes fundamentos, de acordo com Veiga (2013), constituem os fundamentos da Economia Ecológica.
Daly (1996) também procura explicar que a economia convencional não reconhece os fluxos de matéria e
energia que entram e saem dos processos extrativos e produtivos, e também não reconhece a diferença
qualitativa entre o que entra e o que sai.

2.6 Indicadores de Sustentabilidade


Para Fiksel, Eason e Frederickson (2013) os indicadores são fundamentais para monitorar
mudanças nas características relevantes das dimensões social, ambiental e econômica da sustentabilidade.
Enfatizam que a continuação do bem-estar humano e ambiental depende do controle dos indicadores.
Complementam Singh et al. (2012) que os indicadores e suas métricas correspondentes são essenciais
para enfrentar os desafios que circundam todas as dimensões do desenvolvimento sustentável. Uma vez
escolhidos e implementados com cuidado, afirmam os autores que os mesmos podem auxiliar na:
antecipação e avaliação das condições ou tendências históricas; prover informações de alerta; servir de
base de referência e comparação; amparar a tomada de decisões, criação de estratégias e metas de
melhoria; e mensurar o progresso.
Do mesmo modo, como utilizado por diferentes organizações no mundo, a Agência de Proteção
Ambiental dos EUA (EPA) propõe uma estrutura para indicação da sustentabilidade que segue o modelo
básico das três dimensões: social, ambiental e econômica. Entretanto, adotou a complementação proposta

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por Beach (2010) que mostra alguns indicadores presentes em cada uma das três dimensões, assim como
alguns indicadores que podem ser utilizados pelo desdobramento da interação entre as dimensões (Social-
Ambiental, Ambiental-Econômica e Social-Econômica). Destacam-se a presença de dois importantes
indicadores de sustentabilidade que serão abordados na presente pesquisa: Prevenção da Poluição
(dimensão Ambiental) e Eficiência Energética (dimensão Ambiental-Econômica).
O relatório sobre o meio ambiente de 2008 da EPA é organizado de acordo com uma série de
tópicos que fornecem uma classificação relevante para responsabilidades estatutárias tradicionais da
agência. São elas: Ar; Condição Ecológica; Exposição Humana e Saúde; Terra e Água. Condição social
(por exemplo, nível de escolaridade) e condição econômica (por exemplo, renda familiar) são tópicos
adicionais de sustentabilidade que podem complementar o relatório. De acordo com Fiksel, Eason e
Frederickson (2013), o Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento, “Office of Research and
Development” (ORD), da EPA, organiza os indicadores de sustentabilidade do seguinte modo: Ar, Clima
e Energia; Segurança Química para a Sustentabilidade; Pesquisa de Segurança Interna; Avaliação de
Risco à Saúde Humana; Comunidades sustentáveis e saudáveis; Recursos Hídricos Seguros e
Sustentáveis; Avaliação de riscos à saúde humana.

2.7 Automóvel e Sustentabilidade


Para Olson (2005), não há ilusão que o transporte proporcionado pelo automóvel seja sustentável
sob o prisma dos conceitos e definições até aqui expostas. Sob o olhar do sistema social da
sustentabilidade, elucida que em 2005 a previsões de mortes por acidentes de trânsito eram de mais de um
milhão de pessoas no mundo. Neste sentido, WHO (2015) relata dois dados alarmantes: os acidentes de
trânsito rodoviários representaram em 2012 a principal causa mundial de morte das pessoas entre 15 e 29
anos de idade (aproximadamente 325 mil mortes); o número de mortes mundial em acidentes de trânsito
por 100 mil habitantes evoluiu de 18,8 para 22,1, entre 2003 e 2012.
Quanto ao meio ambiente, Olson (2005) destaca que segundo a EPA o setor de transportes é o
que mais cresce anualmente em termos de emissões de GEE, deixando claro que os modos atuais de
transporte precisam ser modificados devido aos resultados insustentáveis. Em relação a porção
econômica, ele também elucida que existem muitas perdas monetárias na produção do automóvel, embora
descreva que o automóvel e seus produtos correlatos representam a maior indústria dos Estados Unidos
gerando empregos e riqueza para a sociedade.
Complementa ainda que o sucesso econômico das empresas e nações depende dos transportes,
embora este relacionamento especial entre o transporte e a sustentabilidade seja pouco conhecido. Pontos
interessantes colocados por Abramovay (2012) complementam o pensamento de Olson (2005) em relação
ao automóvel. Segundo Abramovay (2012), o Rocky Mountain Institute, por intermédio de Amory
Lovins, considera que o automóvel individual apresenta custos que podem ser notados sem dificuldade.
Explica que o automóvel demandou nos Estados Unidos a pavimentação de uma área cultivável
proporcional aos estados de Ohio, Indiana e Pensilvânia, sob um custo de manutenção diário de US$ 200
milhões. O autor demonstra ainda que segundo a OMS, “morrem nas estradas, todos os anos, 1,2 milhão
de pessoas e 50 milhões são feridas em acidentes” (se mantido este cenário, a previsão para 2030 aponta
para 2,4 milhões de mortes por ano no trânsito) e que os custos anuais destes acidentes de trânsito são
aproximadamente entre US$ 65 bilhões e 100 bilhões.
Para Abramovay (2012), os elevados níveis de congestionamento de veículos que
frequentemente ocorrem em todos os grandes centros urbanos do mundo elevam ainda mais a ineficiência
energética do automóvel. Por fim, do trabalho do autor captura-se que o setor de transporte é um dos
quais se verifica o maior aumento das emissões de CO2, colaborando na ampliação total dos GEE em
130% entre 1970 e 2006. Sobre as implicações da poluição atmosférica na saúde humana, relembra que
os dados são ameaçadores. De modo alinhado com Abramovay (2012), Bassam et al. (2011) reportam a
tendência de aumento do peso médio dos veículos ao longo dos últimos anos, o que não contribui para a
sustentabilidade ambiental, tão pouco ao consumo de combustível.

2.8 Poluição do Ar, Poluentes e Saúde Pública


Definem Kampa e Castanas (2008), que “um poluente atmosférico é qualquer substância que
possa prejudicar seres humanos, animais, vegetação ou material”. Quanto às consequências aos seres
humanos, elucidam que os mesmos podem influenciar no aumento de doenças graves e da mortalidade,
representando riscos à saúde humana. Para os autores a combustão de combustíveis fósseis utilizados para
a geração de energia e transporte é o principal indutor de mudanças na composição atmosférica.

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Adicionalmente, a CETESB (2018) elucida que a medição da quantidade de substâncias


poluentes presentes no ar determina o nível de poluição atmosférica. Complementa ainda sobre a adoção
do seguinte grupo universal de poluentes utilizados como indicadores de qualidade do ar:
•Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
São emitidos pelos veículos, indústrias e processos de estocagem e deslocamento de
combustíveis na forma de gases e vapores decorrentes “da queima incompleta e evaporação de
combustíveis e de outros processos orgânicos”. De acordo com Degobert (1995) a toxicidade em se inalar
gases provenientes de motores é principalmente por causa do HC. A Horiba (2014) expressa que o HC
nas emissões dos motores consiste de vários componentes de hidrocarbonos, como CH4 e NMHC.
Também expõe que devido ao fato do CH4 estar presente naturalmente na atmosfera e pouco afetar
diretamente a saúde humana, o mesmo é excluído das medições de emissões, fazendo com que o HC seja
reportado como NMHC. A concentração de NMHC é obtida pela subtração da concentração medida de
CH4 da concentração do HC total.

•Monóxido de carbono (CO)


É um gás emitido principalmente da queima incompleta de combustíveis de origem orgânica
(combustíveis fósseis, biomassa, etc.) por veículos automotores. De modo geral as maiores concentrações
deste gás inodoro e incolor estão presentes nos grandes centros urbanos que consolidam “áreas de intensa
circulação” veicular. Degobert (1995) expõe que o CO é mortal acima da concentração de 1.000 ppm e
pode ainda ser danoso em concentrações muito menores, por causar bloqueio na hemoglobina do sangue,
reduzindo o fornecimento de oxigênio aos tecidos do corpo
•Óxidos de Nitrogênio (NOx)
São gerados pela combustão. Nos grandes centros urbanos são gerados como resultantes da combustão
dos motores dos veículos. O óxido nítrico (NO) é transformado em dióxido de nitrogênio (NO2) pela ação
da luz solar, elevadas concentrações de NO2 são prejudicais a saúde. Neste sentido, complementa
Degobert (1995) que por ser insolúvel, o NO2 pode penetrar no sistema pulmonar e prejudicar as
estruturas dos alvéolos, inclusive causando enfisema pulmonar e inibir as defesas pulmonares.

•Material Particulado (MP)


É a denominação de um conjunto de poluentes formados por poeira, fumaças e materiais sólidos e
líquidos que ficam em suspensão na atmosfera devido a seu tamanho reduzido. O conjunto de MP é
formado pelas Partículas Inaláveis MP10, de diâmetro menor ou igual a 10 µm, Partículas Inaláveis Finas
MP2,5, de diâmetro menor ou igual a 2,5 µm. Ainda em relação ao tamanho das partículas a EPA
menciona as partículas MP0,1, com diâmetro igual ou menor que 0,1 µm. Por fim a Fumaça (FMC) que
representa o teor de fuligem na atmosfera e Partículas Totais em Suspensão (PTS) de diâmetro igual ou
menor a 50 µm completam o conjunto de poluentes que formam o MP. As principais fontes emissoras de
MP são os veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa, suspensão de poeira do solo,
dentre outros. Segundo a CETESB (2018) e a EPA, o tamanho das partículas está diretamente ligado ao
potencial para causar problemas de saúde. A inalação das pequenas partículas microscópicas solidas ou
liquidas menores que 10 µm de diâmetro, representam o maior perigo, pois podem ser conduzidas ao
fluxo sanguíneo através dos pulmões. De acordo com o pensamento de Faiz, Weaver e Walsh (1996) a
maior fonte de poluição atmosférica urbana no mundo em desenvolvimento pode ser representada pelo
constante crescimento do número de veículos ao longo dos anos. Afirmam que “a poluição do ar é um
importante problema de saúde na maioria das cidades” deste mundo ainda em desenvolvimento. Neste
sentido, por todos os conceitos expostos até este momento no presente trabalho, podemos considerar que
em outras palavras estes autores adicionam mais um fator que colabora para a insustentabilidade social
dos veículos – a poluição do ar. Demonstram Faiz, Weaver e Walsh (1996) que estudos epidemiológicos
realizados em países em desenvolvimento responsabilizam a poluição do ar pela morte de dezenas de
milhares de pessoas e custos médicos de bilhões de dólares além da perda de produtividade a cada ano.
Associam que esta degradação na qualidade de vida, sobrecarrega as pessoas de todos os setores da
sociedade, principalmente as mais pobres. Para WHO o principal problema de saúde ambiental que afeta
a todos é a poluição do ar. Destaca ainda a estimativa mundial de 2 milhões de mortes causadas pela
poluição do ar todos os anos, e atribui a poluição do ar nos grandes centros urbanos aos gases do
escapamento dos veículos e a fumaça de fábricas.

2.9 Dióxido de Carbono (CO2) e Aquecimento Global

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O dióxido de carbono (CO2) é um componente natural da atmosfera. É um gás incolor e inodoro,


exalado pela respiração de seres humanos e animais, e absorvido no processo de crescimento das plantas
denominado de fotossíntese, portanto não é considerado um poluente no sentido de ser diretamente
prejudicial aos seres vivos. O CO2 como uma parte importante do ciclo de carbono da Terra, é
denominado como gás de efeito estufa (GEE), pois retém a energia dos raios solares e mantém a
temperatura da Terra habitável. O CO2 também pode ser produzido pela queima de combustíveis fósseis
constituídos de elevado teor de carbono, derivados basicamente do petróleo, carvão e gás. O aumento da
produção do CO2, e de outros GEE na atmosfera, é associado as atividades humanas que demandam o uso
crescente da energia proveniente da queima de combustíveis fósseis, que aliadas ao desmatamento de
florestas, faz com que excessiva quantidade de energia térmica (calor) seja retida na atmosfera.
Instabilidade climática e mudanças no padrão climático são consequências do desdobramento deste
excesso de energia retida na atmosfera. Neste sentido, Borsari e de Assunção (2010) reforçam que a
composição da atmosfera está sendo alterada pelas atividades humanas através da emissão de GEE,
especialmente “dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) ”, e que a combustão
direta e manuseio dos combustíveis utilizados pelos veículos automotores representam uma significativa
fonte de emissão destes gases. No caso particular dos veículos automotores, que são equipados de sistema
de pós-tratamento dos gases de escapamento, como conversores catalíticos, é importante destacar que
estes componentes, não são capazes de filtrar o CO2, apesar de filtrarem os demais poluentes descritos na
seção anterior. As únicas maneiras de reduzir o CO2 são: diminuir o consumo de combustível através de
melhorias de eficiência energética dos motores e dos veículos; usar combustíveis alternativos que
contenham pouco ou nenhum teor de carbono, ou que sejam renováveis.
Quase a totalidade do CO2 gerado pela queima dos combustíveis renováveis é reabsorvido no
ambiente, pelas próprias plantas utilizadas para produzi-los, ou seja, é totalmente reciclável e se auto
renova. Esta é uma das principais características do combustível vegetal renovável etanol hidratado,
amplamente disponível no Brasil. No entanto, Palacio et al. (2012) relembram que caso a utilização dos
recursos envolvidos na cadeia produtiva do etanol não seja eficiente, esta vantagem ambiental deixa de
existir. Demonstram que é necessário analisar todos os “impactos negativos que os programas extensivos
de produção” do etanol “podem provocar no suprimento de alimentos e no meio ambiente”, pois o cultivo
da cana-de açúcar, assim como o de outras culturas, requerem enormes extensões de terra para a produção
de biocombustíveis. De modo similar Borsari e de Assunção (2010) declaram que é preciso analisar todo
o ciclo de vida dos combustíveis para se obter uma estimativa completa da emissão de GEE advinda dos
veículos e para auxiliar na elaboração de políticas públicas que considerem o balanceamento global dos
esforços de redução dos GEE de modo amplamente eficiente. Demonstram que a análise completa do
ciclo de vida dos combustíveis, Fonte às Rodas, “Well to Wheel” (WTW), considera duas etapas: A
primeira, referente a produção do combustível, denominada Fonte ao Tanque, “Well to Tank” (WTT),
considera a emissão nas atividades de produção, processamento, estocagem, transporte e distribuição dos
combustíveis. A segunda, relativa ao uso do combustível pelo veículo, intitulada de Tanque às Rodas,
“Tank to Wheel” (TTW), inclui as emissões advindas da queima do combustível pelo motor.
Para Nobre (2008), o aquecimento global é efeito do acúmulo de GEE causados pelas atividades
humanas. Segundo o autor, é evidente o desequilíbrio entre as emissões de carbono provocadas pelo
homem e a capacidade da natureza em absorvê-las. Demonstra que são queimadas 6,4 GtC/ano de
combustíveis fósseis, e que os desflorestamentos tropicais fazem com que outras 1,6 GtC/ano sejam
produzidas. Quanto a capacidade de remoção do CO2 atmosférico, mostra que a plantas contribuem com
3,0 GtC/ano, enquanto os oceanos colaboram com 1,8 GtC/ano. A medida deste desequilíbrio (6,4 + 1,6 -
3,0 - 1,8) é o acúmulo de aproximadamente 3,2 GtC/ano na atmosfera.

2.10 Normas e Regulamentações


As principais normas e procedimentos de testes de emissões e consumo de combustível veicular
foram desenvolvidos pelos Estados Unidos e Europa. O Brasil adotou os principais padrões e
procedimentos dos Estados Unidos, assim como o fizeram vários outros países. Elucidam Faiz, Weaver e
Walsh (1996) que o primeiro esforço de controlar a poluição dos veículos automotores nos Estados
Unidos surgiu em 1970, exigindo significantes reduções dos poluentes HC, CO e NOx. Posteriormente,
várias fases foram sendo estabelecidas com limites cada vez mais baixos. Segundo os autores, as normas
presentes nas regulamentações de emissões norte-americanas também abordaram outros importantes itens
relacionados a emissão de poluentes: controle das emissões evaporativas; emissões de vapor de
combustível de reabastecimento de veículos; requisitos de durabilidade das emissões; garantia de
emissões; vigilância do desempenho das emissões e retrabalho dos veículos em não conformidade das
emissões e estabelecimento do sistema de autodiagnóstico para detectar e identificar falhas nos sistemas
de controle de emissões dos veículos.

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As normas estabelecidas na Europa são similares as dos Estados Unidos, porém o procedimento
de ensaio é diferente em relação aos ciclos de condução. Basicamente, todos os procedimentos de ensaio
em laboratório veicular medem por amostragem as emissões de exaustão produzidas e o consumo de
combustível enquanto o veículo é conduzido através de um ciclo de operação em um dinamômetro de
chassi que simula o peso e a resistência ao rolamento do veículo. Complementam Barlow et al. (2009)
que a amostragem das emissões dos gases de escapamento é realizada à medida que o veículo avança
através de um ciclo de condução pré-definido, concebido para simular uma condição de operação.

2.11 Ciclos de Condução


Os ciclos de condução são determinados pelo perfil de velocidade em função do tempo, no qual
o veículo deve ser conduzido nos ensaios de emissões de exaustão e consumo de combustível realizados
em laboratório veicular no dinamômetro de chassi. Neste sentido Barlow et al. (2009) de finem um ciclo
de condução como um mapa fixo de operação do veículo que permite que os ensaios sejam conduzidos
sempre nas mesmas condições. Para isso elucidam que um motorista treinado conduz o veículo instalado
no dinamômetro de chassi seguindo, por um monitor o mapa de velocidade predefinido.
De acordo com Olmos et al. (2018), diferentes ciclos de condução estão presentes nos
procedimentos e regulamentações de emissões e consumo de vários países do mundo. Estes ciclos de
condução tentam reproduzir em laboratório veicular as diferentes condições de condução normalmente
encontradas no dia-a-dia dos veículos. São consideradas partida e dirigibilidade, a frio e a quente, lidando
com o tráfego urbano e rodoviário, e vários níveis de velocidade, acelerações e desacelerações do veículo.
A regulamentação de emissões dos EUA se utiliza dos seguintes ciclos: tráfego urbano (EPA 75), tráfego
rodoviário (HWY), e três testes suplementares, um de alta velocidade e em condução agressiva (US 06),
outro de uso de ar condicionado (SC 03) e por fim o de partida a frio e dirigibilidade em temperatura
ambiente de -7°C (COLD CO).
Desde o início, as normas brasileiras adotaram apenas os ciclos de condução EPA 75 e HWY.
Com base na regulamentação norte-americana, o ciclo de condução EPA 75 e HWY foram incorporados
na ABNT NBR 6601e NBR 7024 para os ensaios de emissões de exaustão e consumo de combustível.
Complementam ainda os autores que a regulamentação europeia se utilizava do ciclo “New European
Driving Cycle” (NEDC), combinando tráfego urbano e rodoviário. Hoje substituído pelo “World
harmonized Light Test Cycle” (WLTC), que atinge regiões de velocidade baixa, média, alta e muito alta;
combinado com o “Real Driving Emissions” (RDE), que é um teste realizado em rotas externas,
totalmente fora do ambiente de laboratório, sob condições reais, que inclui situações variadas de tráfego
(nenhum, baixo, médio, pesado e em vácuo); condições ambientais em uma ampla faixa de temperatura e
umidade, vento e pressão atmosférica; curvas, inclinações e altitude.
Além disso, inclui estilos de condução suave, normal e agressivo, e considera a operação normal
do sistema de ar condicionado do veículo, bem como sua carga útil (em até 90% da capacidade máxima
de carga). Olmos et al. (2018) ainda destacam que cada ciclo de condução possui características
específicas quanto à distância percorrida, duração e perfil de velocidade. Resumidamente, os ciclos de
condução de laboratório pesquisados apresentam curta duração no tempo, variando entre 10 a 41 minutos
aproximadamente, e na distância percorrida, entre 6 a 23 km. As velocidades médias nestes ciclos variam
de 32 a 92 km/h, como apresentado na Tabela 1. Em contrapartida, Olmos et al. (2018) também
demonstram que os ensaios RDE, realizados em rotas externas, devem ser executados entre 90 a 120
minutos, resultando em distâncias de deslocamento maiores. De acordo com a regulamentação europeia,
os ensaios RDE devem atingir uma distância mínima de 48 km, Tabela 1. A faixa de velocidade de
operação dos ensaios RDE é mais completa e mais ampla em relação aos demais ciclos.

Tabela 1 – Parâmetros de distância percorrida, duração e velocidade média dos ciclos de condução.

Fonte: Barlow et al. (2009). Adaptado pelo autor.

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3. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
Esta pesquisa, se caracteriza como uma pesquisa aplicada e exploratória que utiliza a abordagem
quantitativa. Também utiliza de uma análise qualitativa no que diz respeito a questões mais amplas. A
fase teórica foi embasada em um trabalho de revisão da literatura especializada, em especial livros,
artigos científicos nacionais e internacionais utilizando as bases de dados de periódicos impressos e
eletrônicos. Com relação aos procedimentos, se caracteriza como uma experimentação, utilizando ensaios
pelos métodos das normas brasileiras e internacionais descritas na seção 1.2, utilizando um mesmo
veículo em diferentes ciclos de condução, que mediram emissões de exaustão, autonomia e consumo
energético dos combustíveis, em laboratório veicular e em rotas e vias externas, onde foram coleta dos os
dados. Estas normas estabelecem os ciclos de condução correspondentes, os materiais e as características
padronizadas dos equipamentos.
Para os cálculos do consumo energético dos combustíveis em MJ/km foram utilizados dois
métodos: Método do Combustível Consumido (MCC) para todos os ensaios e o Método Integral de
Energia do Motor (MIEM), aplicado somente nos ensaios RDE. O consumo energético pelo MCC em
MJ/km é baseado na energia total produzida pela queima dos combustíveis em MJ, dividida pela distância
percorrida pelo veículo em km nos ensaios. A energia total produzida pela queima dos combustíveis é
obtida pela multiplicação do consumo absoluto do combustível em litros pela densidade energética do
combustível (LHV) em MJ/L. O consumo energético pelo MIEM é baseado no trabalho produzido pelo
motor, dividido pela distância percorrida pelo veículo em km. O trabalho produzido pelo motor em MJ é
calculado pela integral do torque do motor em N.m multiplicado pela rotação do motor em RPM. Os
sinais de torque e a rotação do motor foram obtidos do módulo eletrônico de controle do motor e
processados em software Matlab. A eficiência do veículo nos ensaios RDE foi calculada com cada um
dos combustíveis, utilizando a média da energia total produzida pelo motor em MJ, calculada pelo
MIEM, dividida pela média da energia total produzida pela queima dos combustíveis, em MJ. Os ensaios
foram realizados com os combustíveis Etanol Hidratado de Referência – EHR (E100) e Gasolina Padrão
Emissões – GPE (E22) com 22% de álcool anidro. Para as análises do consumo energético dos
combustíveis foram assumidas as densidades energéticas representadas pela média das amostras
recentemente medidas no laboratório, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Propriedades dos combustíveis considerada nesta pesquisa.

Fonte: Olmos et al. (2018). Adaptado pelo autor.

O conjunto de ensaios incluiu as condições de teste Frio e Quente nos ciclos de condução do
laboratório para EPA 75, HWY, NEDC, SC 03, WLTC e nos ciclos de condução RDE em rotas externas,
totalizando 42 ensaios, 21 com cada combustível. Os dados do ciclos EPA75 e HWY vieram da
publicação oficial do veículo de produção normal, objeto deste estudo. Todos os outros ensaios foram
realizados em um veículo equivalente da mesma marca e modelo. A temperatura do líquido de
arrefecimento do motor no momento de iniciar os testes determina as condições de Frio ou Quente. Cada
teste foi realizado de acordo com os regulamentos e procedimentos correspondentes. Os ensaios a frio são
prescritos pelas normas para iniciarem em uma faixa de temperatura entre 20 e 30°C (EPA 75, NEDC e
WLTC), os ensaios a quente são prescritos pelas normas para iniciarem após a execução de pré-
condicionamento (HWY e SC 03). Um conjunto adicional de ensaios a quente no ciclo WLTC foi
realizado para melhor entender os resultados das emissões de escapamento, considerando que este não faz
parte da regulamentação brasileira. Estes ensaios adicionais a quente iniciaram com a temperatura do
líquido de arrefecimento do motor em 80°C. Os testes RDE foram executados em condições a Frio, 25°C
e a Quente, 80°C. Para a contagem da quantidade de partículas MP2,5 seis ensaios exclusivos, três com
cada combustível, no ciclo de condução EPA 75, foram executados. Foi utilizado contador de partículas,
“Particle Number Counter” (PNC), modelo AVL 489 que conta partículas de diâmetro entre 23 nm até
2.5 µm, de acordo com a regulamentação europeia
UNECE 83 para veículos leves. O veículo pertence a classe de inércia, “Test Weight Class”
(TWC) de 1.191 kg, definido pelas normas para os ensaios de laboratório. Para os ensaios RDE em rotas
externas o peso médio do veículo foi aumentado para 1.374 kg, significando um aumento da carga útil do

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veículo de 183 kg. Foram utilizados lastro de sacos com areia, além do próprio equipamento do Sistema
de Medição de Emissões Portátil, “Portable Emissions Measurement System” (PEMS). De modo a
reduzir as variações entre os resultados, foram utilizados em todos os ensaios o mesmo veículo e o
mesmo laboratório. Também foram considerados valores médios dos resultados em cada condição de
ensaio em laboratório, e em cada condição de ensaio em rodovias externas. No total, 156 testes foram
realizados ao longo de 9 meses e meio, percorrendo 5.510 km. Destes, 42 foram considerados para a
pesquisa, conforme mencionado anteriormente. O restante incluiu testes preliminares de verificação da
repetibilidade dos resultados nas novas condições, ciclos e equipamentos, além da adaptação e
treinamento do motorista.

4. RESULTADOS
As emissões de exaustão de HC e NMHC-ETOH com E100 foram maiores que E22 em todos os
ciclos de condução testados. A fase fria é crítica para as emissões de exaustão com E100, principalmente
para os motores de baixa cilindrada que são forçados a operar em cargas altas durante o aquecimento.
Este modo de operação a frio produz elevados níveis de combustível parcialmente queimado e não
queimado;
De modo geral as emissões de exaustão variam ciclo a ciclo com os combustíveis E100 e E22.
Este fato enfatiza a importância de haver diferentes limites de emissões para cada ciclo de condução, bem
como projetos correspondentes de pós tratamento e desenvolvimento das calibrações dos motores. Perfis
diferenciados de velocidade afetam o aquecimento do motor e as curvas de temperatura dos gases de
exaustão, mudando a quantidade de injeção de combustível requerida e a eficiência do conversor
catalítico;
As emissões de CO2 advindas do E100, além de serem parcialmente reabsorvidas pela natureza,
são menores que as do E22. As emissões de MP2,5 por E100 são significativamente menores que por
E22.
Como de conhecimento geral, a autonomia do E22 é melhor que a do E100, fato confirmado pela
pesquisa. Porém esta também revelou resultados pouco conhecidos sobre a relação de autonomia
E100/E22. Em cinco das oito condições avaliadas, a relação de autonomia foi maior que a relação teórica
da densidade energética dos combustíveis, de 0,6810. Nestas condições o motor do veículo avaliado
apresenta melhor eficiência com E100 do que com E22.
O consumo energético do E100 pelo método do combustível consumido é expressivamente
menor, portanto melhor que o E22. Vale destacar que das oito condições avaliadas o E100 foi melhor em
cinco delas, e dentre as três restantes o E22 foi pouco melhor em duas e houve empate na última.
O método integral de energia do motor foi apropriado para complementar o cálculo do consumo
energético dos combustíveis nos ensaios RDE, e permitiu a o cálculo da eficiência do veículo nos ensaios
RDE. Adicionalmente permitiu conhecer as grandes diferenças de demanda de energia impostas por todos
os ciclos de condução nas diferentes condições entre o laboratório veicular e as rotas externas.
O consumo energético do E100 pelo método integral de energia do motor nos ensaios RDE é
(assim como pelo método do combustível consumido) expressivamente menor, portanto melhor que o
E22. O veículo foi mais eficiente pela utilização do E100. •Ficou claro que nas condições de uso real
proporcionadas pelos ensaios RDE os benefícios do uso do E100 são maiores.
A Tabela 2 apresenta o resumo dos resultados de emissões de exaustão, autonomia, relação de
autonomia, consumo energético e eficiência do veículo, com os combustíveis E100 e E22 em todos os
ensaios e condições. As células na cor verde mostram vantagem para o E100, as células na cor laranja
mostram vantagem para o E22 e na cor azul significam similaridade entre os combustíveis. As condições
não avaliadas são indicadas pelas células na cor cinza.

Tabela 2 - Resumo dos resultados de emissões de exaustão, autonomia, relação de autonomia, consumo
energético e eficiência do veículo, com os combustíveis E100 e E22 em todos os ensaios e condições.

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Fonte: Olmos et al. (2018). Adaptado pelo autor.

5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Informações importantes foram obtidas para contribuir no debate sobre o uso do biocombustível
etanol hidratado na frota nacional de veículos automotores leves “Flex”. Os resultados reforçam a
necessidade de se ter no Brasil procedimento de ensaio com um ciclo de condução mais representativo,
similar ao RDE na Europa. Este procedimento demonstraria o desempenho real do combustível etanol
hidratado. Isso é especialmente importante para o Brasil por ser o único país do mundo que usa esse
combustível. As atualizações previstas nas regulamentações brasileira, para 2022 (L7) e 2027 (L8), darão
maior representatividade às condições de ensaios em relação a utilização real dos veículos e permitirão
que os potencias benefícios do biocombustível etanol hidratado, em relação à gasolina, sejam melhor
computados pelos programas e consequentemente nortear a sociedade em suas escolhas de compra de
veículos e de uso de combustíveis, contribuindo de maneira significativa com a sustentabilidade do
planeta. É importante registrar que a gasolina comercial brasileira pode conter até 27% de álcool anidro,
que caso tivesse sido utilizada nesta pesquisa, certamente contribuiria para a ampliação das diferenças
entre os combustíveis ora explorados. Apesar do resultado da análise TTW ter demonstrado que o etanol
hidratado se sobressai à gasolina no veículo avaliado, a abordagem teórica sobre as vantagens e
desvantagens do etanol hidratado foi importantíssima para elucidar que existem controvérsias no tocante a
análise WTT. Foi apresentado que não existe consenso em relação aos principais tópicos debatidos,
balanço energético na produção, capacidade de mitigar as mudanças climáticas, geração de vinhoto,
ocupação e disponibilidade de terra, concorrência com a produção de alimentos custo de produção,
produtividade, utilização de água, agroquímicos e pesticidas. Os contrapontos identificados são saudáveis
para a expansão do conhecimento sobre este tema e importantes fomentadores de novas pesquisas. O
Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, e o nosso etanol de cana é de melhor qualidade
que o de beterraba e de milho produzidos na Europa e nos Estados Unidos respectivamente. Temos uma
área de proporções continentais para cultivo, clima extremamente favorável, pioneirismo mundial da
tecnologia de veículos “Flex” e ampla frota disponível. Estas condições favoráveis são motivadoras para
o incentivo do uso do etanol. De qualquer maneira, baseado nos conceitos de desenvolvimento
sustentável estudados, é prudente afirmar que a sustentabilidade do etanol hidratado depende de ampla e
detalhada análise WTW. Além dos aspectos ambientais e econômicos, os aspectos sociais devem ser
considerados. Pode-se estabelecer com o aprendizado obtido por esta pesquisa que o etanol hidratado tem
potencial de representar uma alternativa energética integrada as práticas de desenvolvimento sustentável,
desde de que seja utilizada em quantidade controlada, proporcionando mais qualidade ambiental e
inclusão social, desvinculada do crescimento econômico.

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319
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 32
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade, tecnologias e inovação

A CONTRIBUIÇÃO DE PARQUES TECNOLÓGICOS EVIDENCIADOS EM


TRABALHOS ACADÊMICOS: O CASO DO TECNOPUC

Eduardo Luiz Rodrigues1, Alexandre Olmos2, Samuel Carvalho De Benedicto3,


Cibele Roberta Sugahara4

1. Mestre em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:


eduardo.lr07@gmail.com
2. Mestre em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: olmos.alexandre@gmail.com
3. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
4. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: cibelesu@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O TECNOPUC é o Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUCRS). Assim, de acordo com o modelo da hélice-tríplice, deve funcionar em sinergia com a
universidade gerando uma relação de ganha-ganha. O objetivo deste estudo foi explorar se a relação entre
o TECNOPUC e a PUCRS vem trazendo ganhos para ambas as partes e quais seriam estes possíveis
ganhos. Trata-se de uma pesquisa documental exploratória e descritiva. O estudo buscou analisar as
produções de teses e dissertações da PUCRS e avaliar se estas contribuem para a relação entre a
universidade e o parque tecnológico, ou se apenas estariam utilizando do parque enquanto laboratório
para seus estudos, sem gerar uma relação de ganha-ganha. Os autores acreditam ter respondido à pergunta
inicial da pesquisa, sobre a relação entre a PUCRS e o TECNOPUC, uma vez que os trabalhos
encontrados priorizam em sua maioria a dimensão administrativa do parque, e não a tecnológica ou
inovativa. Desta forma, as teses e dissertações levantadas apresentam a característica de dar suporte às
atividades do parque, e não na geração direta de novas tecnologias, como era esperado.

PALAVRAS-CHAVE: TECNOPUC, Parque Tecnológico, Inovação.

1. INTRODUÇÃO
Os Parques Tecnológicos configuram, junto com as Universidades, como ambientes típicos de
pesquisa e inovação. Ambos são peças importantes na construção de um contexto tecnológico e
econômico pujante. Como peças importantes de um relógio, não é correto especular sobre qual o mais
importante, mas na verdade, ponderar sobre a dependência que tem entre si.
Outra forma de se compreender a importância da relação entre Parques Tecnológicos e
Universidades é por meio do modelo da Hélice Tríplice. Trata-se de um modelo de fomento à inovação
em que o governo, a indústria e a universidade interagem, em busca do desenvolvimento socioeconômico,
de maneira empreendedora (ETZKOWITZ et al., 2017).
É notório que a universidade tem um papel protagonista na sociedade do conhecimento/pós-
moderna, passando a dividir o espaço antes ocupado apenas pelo estado e pela indústria na criação de
novas indústrias e empresas cujos objetivos são a solução de problemas sociais (ETZKOWITZ et al.,
2017).
Neste sentido, considerando a importância dos Parques Tecnológicos para a qualificação e
estreitamente entre a sociedade no que tange à produção científica é que se apresenta o seguinte problema
de pesquisa: como as pesquisadas oriundas de dissertações e teses explicitam as contribuições de Parques
Tecnológicos, como o TECNOPUC, para a sociedade?
A metodologia do estudo caracteriza-se como descritiva e documental. Para tanto, foram
utilizados teses e dissertações da Base de Dados de Teses e Dissertações (BDTD). O recorte temporal

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abrange pesquisas publicadas nessa base no período de 2006 até 2016. Para a busca dos trabalhos
utilizou-se como critério para a pesquisa a seguinte palavra-chave: TECNOPUC, que deveria constar no
título, palavras-chave ou resumo do trabalho. Ademais, foram considerados apenas trabalhos publicados
por programas de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A pesquisa busca descrever as contribuições do Parque Tecnológico da PUCRS no processo de
desenvolvimento tecno-econômico-social.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Breve histórico e contextualização dos parques tecnológicos
Os Parques Tecnológicos representam grande importância, não apenas para as empresas que
neles estão inseridas, mas para toda sociedade. As inovações desenvolvidas dentro dos Parques
possibilitam às empresas mais competitividade no mercado e, consequentemente, maior possibilidade de
geração de empregos e renda.
Os Parques Tecnológicos, também conhecidos como Parques Científicos (Science Parks) são
definidos como sendo:
[...] um complexo produtivo industrial e de serviços de base científico-tecnológica,
planejado, de caráter formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja
produção se baseia em pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D
vinculados ao parque. Trata-se de um empreendimento promotor da cultura da
inovação, da competitividade, do aumento da capacitação empresarial, fundamentado
na transferência de ddconhecimento e tecnologia, com o objetivo de incrementar a
produção de riqueza de uma região (AUDY; PIQUÉ, 2016, p. 11).

Ademais, os autores também apontam características fundamentais dos Parques Tecnológicos,


como: (i) presença de empresas inovadoras de diversos portes; (ii) gestão da propriedade intelectual; (iii)
acesso a redes internacionais; (iv) contato com investidores e acesso a capital de risco; (v) uso
compartilhado de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento; (vi) relação com Universidades e Centros
de Pesquisa; (vii) tecnologias limpas; e (viii) espaços de convivência e descompressão (AUDY; PIQUÉ,
2016).

2.2 A relação entre parques tecnológicos e o modelo hélice tríplice


Outra forma de se compreender a importância dos Parques Tecnológicos é por meio do modelo
da Hélice Tríplice. Trata-se de um modelo de fomento à inovação em que o governo, a indústria e a
universidade interagem, em busca do desenvolvimento socioeconômico, de maneira empreendedora
(ETZKOWITZ et al., 2017). A figura 1 ilustra esta relação.

Figura 1 – O modelo Hélice Tríplice

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Etzkowitz et al. (2017).

Neste sentido, o Modelo da Hélice Tríplice funciona também como uma metodologia de
avaliação das relações entre os referidos atores, auxiliando tomadores de decisão ligados às três esferas
(ETZKOWITZ et al., 2017). Enquanto as relações bilaterais estão sujeitas a conflitos de interesses,
embates e contendas constantes, um modelo com três hélices tende à inovação. Conquanto o conflito

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divida duas partes, uma terceira pode tirar proveito da situação, desequilibrando o embate e servindo
como motor, impelindo as três sempre para um novo status quo temporário (ETZKOWITZ et al., 2017).
Desta forma, cada uma das hélices, ou atores, possui um papel chave na construção de um
ambiente inovador. À Universidade cabe o papel central em uma economia baseada no conhecimento.
Sua atuação está intrinsicamente relacionada com seu devir, isto é, a apropriação e promoção do
conhecimento. O papel da Indústria, por sua vez, é o de utilizar do conhecimento gerado para atender
demandas da sociedade por meio dos mercados. Assim, o conhecimento passa de uma invenção, novidade
sem utilidade ou mercado, para uma inovação, novidade com mercado e que atende às necessidades das
pessoas (TIDD; BESSANT, 2015). O Governo tem, dentre outras funções, a de subsidiar financeiramente
projetos que venham a atender demandas sociais, mas que não possuem autonomia para se concretizarem.
Logo, o governo busca trazer consenso às atividades e projetos realizados, ajudando em sua legitimação.
É notório que a universidade tem um papel protagonista na sociedade do conhecimento/pós-
moderna, passando a dividir o espaço antes ocupado apenas pelo estado e pela indústria na criação de
novas indústrias e empresas cujos objetivos são a solução de problemas sociais (ETZKOWITZ et al.,
2017).
A origem dos Parques Tecnológicos remete à Universidade de Stanford. Fundada no final do
século XIX. Trata-se de uma instituição privada e localiza-se na Califórnia, Estados Unidos da América
(SPOLIDORO; AUDY, 2008).
Devido à natureza agrária da economia local da época, a Universidade, que focava nas
engenharias, via seus alunos obrigados a buscar emprego em outras localidades. Assim, na década de
1930, o Professor Frederick Terman iniciou um processo de favorecimento dos alunos que gostariam de
empreender. A Universidade passou então a ceder seus laboratórios e bolsas de estudo à esses alunos.
Com o surgimento e crescimento das empresas dos alunos, novas instalações tornaram-se necessárias,
como o espaço para instalação de empreendimentos inicialmente conhecido como Stanford Industrial
Park. Surgia assim os conceitos de incubação e de Parque Tecnológico (SPOLIDORO; AUDY, 2008).
No Brasil, foi no início da década de 1980 que ocorreram os primeiros incentivos para fomentar
os ‘habitats de inovação’, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) (PLONSKI, 2010).
Após um início aquém do realizado em outros países, o Brasil foi estruturando seus Parques
Tecnológicos. Neste sentido, a década de 2000 foi muito importante, apresentando um salto na quantidade
de Parques instalados de 10 em 2000 para 74 em 2008. Já, em 2013 um estudo da ANPROTEC apontou
para a existência de 94 Parques Tecnológicos no Brasil, sendo 28 destes já em operação (CDT/UNB,
2014). Cerca de 41,5% dos Parques Tecnológicos (em projeto, implantação ou funcionamento)
funcionavam em 2013 na região Sudeste, 37,2% na região Sul e o restante nas demais regiões.
Contudo, a região Sul é a que apresentava a maior concentração de empresas, totalizando 373 em
seus Parques Tecnológicos, seguida pela região Nordeste com 303 empresas e Sudeste com 230
empresas. Juntas, as regiões Centro-Oeste e Norte abrigam 33 empresas (CDT/UNB, 2014).

2.3 Breve histórico da PUCRS e do TECNOPUC


O TECNOPUC é o Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS). A PUCRS foi fundada em 1930, pelos irmãos Maristas, ainda como Faculdade
de Administração e Economia. Em 1948, ela e diversas outras faculdades, também fundadas pelos irmãos,
foram unificadas, passando a constituir a Universidade Católica do Rio Grande do Sul, elevada em 1951
ao título de Pontifícia pelo Papa Pio XII.
Em 1994 surge, por meio da consciência das lideranças locais, a possibilidade de tornar a Região
Metropolitana de Porto Alegre em uma Tecnópole, isto é, uma região onde os processos de inovação e
tecnologia são articulados em torno da educação e da ciência, através de parcerias entre os setores público
e privado com o objetivo de trazer maior desenvolvimento socioeconômico (TECNOPUC, [s.d.]).
Em 2003, o parque foi fundado com este objetivo em mente e, atualmente, abriga mais de 130
organizações e soma mais de 6,5 mil postos de trabalho. Seu principal objetivo é inserir a PUCRS
diretamente no processo de desenvolvimento tecno-econômico-social da região e do País além de:
• Atrair empresas de pesquisa e desenvolvimento (P,D&I) para trabalhar em parceria com a
Universidade;
• Promover a criação e o desenvolvimento de novas empresas de base tecnológica;
• Atrair projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em geral;

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• Estimular a inovação e a interação empresas-Universidade;


• Gerar uma sinergia positiva entre o meio acadêmico e o empresarial;
• Atuar de forma coordenada com as esferas governamentais, particularmente no âmbito do Projeto
Porto Alegre Tecnópole (TECNOPUC, 2018).

O TECNOPUC tem como missão: criar uma comunidade de pesquisa e inovação transdisciplinar
por meio da colaboração entre academia, empresas e governo visando aumentar a competitividade dos
seus atores e melhorar a qualidade de vida de suas comunidades (TECNOPUC, 2018). E como visão
“O TECNOPUC será referência nacional e internacional pela relevância das pesquisas com a marca da
inovação, promovendo o desenvolvimento técnico, econômico e social da região.” (TECNOPUC, 2018).
Assim, fica clara a consonância de suas ideias com o modelo da Hélice Tríplice.

2.4 Relacionamento entre a PUCRS e o TECNOPUC


Entendendo o TECNOPUC como uma resposta a uma demanda crescente do setor empresarial
da Região Metropolitana de Porto Alegre e da vontade da Universidade em se tornar uma Universidade
Empreendedora, Santana e Hansen (2016) levantaram, por meio de um estudo exploratório e qualitativo,
especificamente por meio de um modelo de entrevistas semiestruturadas, as características de cada um
dos principais atores do TECNOPUC, isto é: Universidade, Governo e Empresas. Os resultados estão
expostos no Quadro 1.
No estudo dos autores foram realizadas 13 entrevistas ao todo, sendo 5 empresas instaladas no
Parque, 4 representantes da universidade que possuem cargos na Instituição e no ambiente do Parque e, 4
representantes do governo que possuem cargos e atribuições de impacto direto no ambiente dos parques
tecnológicos do Rio Grande do Sul.
O trabalho de Santana e Hansen (2016) foi de extrema importância para este estudo, pois permite
acessar as informações e características do próprio objeto de estudo que é o TECNOPUC, não sendo
necessárias deduções partindo de outras realidades e contextos.

Quadro 1 – Características dos principais stakeholders do TECNOPUC


Stakeholder Características

Universidade O stakeholder Universidade tem um papel estratégico e totalmente vinculado à visão do Parque
Tecnológico da PUCRS (TECNOPUC). Os entrevistados serão identificados conforme o papel que
desempenham e as atividades que desenvolvem na Universidade ou no TECNOPUC, sendo então
chamados de: (i) stakeholder universidade 1; (ii) stakeholderTECNOPUC 1, 2 e 3.

Governo O Governo tem a percepção de que para que ocorra desenvolvimento em nível regional e até mesmo
em nível nacional, é necessário subsidiar setores estratégicos, em ambientes focados em inovação,
tais como o TECNOPUC. Ao investir em parques, o governo articula-se com as Universidades e
setores produtivos alocados no Estado, fomentando o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia. Os
entrevistados serão identificados conforme o setor governamental em que atuam, sendo: (i) governo
municipal 1; (ii) governo estadual 1, 2 e 3.

Empresas Cobalto – empresa de pequeno porte, atuante somente no mercado nacional. Seu segmento é voltado,
preponderantemente, ao desenvolvimento de softwares. A empresa possui um produto único, sendo
todos os serviços oferecidos complementares ao seu produto principal.

Lítio – empresa que atua no mercado em nível nacional e internacional, sendo conhecida em nível
global. É vista como uma empresa inovadora que está em constante transformação. Oferta produtos
e serviços de TI com elevada aplicação de tecnologias de ponta e necessita constantemente atualizar
o seu Centro de P&D.

Níquel – empresa que atua em nível global, tendo operações em cerca de 170 países no mundo.
Caracteriza-se como de grande porte e suas atividades estão relacionadas diretamente com a
inovação em tecnologia. Explora constantemente como a tecnologia e serviços que oferecem podem
ajudar às empresas a conhecerem seus problemas e desafios

Silício – empresa que tem atuação global em 30 países, tendo cerca de 17.000 colaboradores. Mas
sua fundação ocorreu em território nacional, em São Paulo. Atua com médios e grandes clientes,
prestando serviços de TI e provendo soluções na área de informática, sendo especializada em
tecnologia.

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Titânio – empresa que está no mercado há 16 anos, sem fins lucrativos. É focada há 14 anos em um
serviço único, sendo este a pesquisa e o desenvolvimento de serviços de TI e softwares.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Santana e Hansen (2016, p. 78).

Ademais, segundo os autores ainda é possível aferir da pesquisa quais os objetivos estratégicos
de cada Stakeholder. Os objetivos estratégicos levantados por Santana e Hansen (2016) constam no
Quadro 2. Novamente, o ganho para este estudo está em poder entender a importância dada para a
pesquisa acadêmica pela PUCRS em seu relacionamento com o TECNOPUC. Isto expressa-se
principalmente com o objetivo estratégico 3 “aumentar a relevância das pesquisas acadêmicas para as
empresas e a sociedade”. Os autores ressaltam que o número de pesquisas, teses e dissertações publicadas
pela PUCRS e que tem como objeto de estudo empresas instaladas no TECNOPUC, ou mesmo o próprio
parque, é de grande relevância e pode ser utilizado como um indicador de desempenho da relação entre o
TECNOPUC e a PUCRS (SANTANA; HANSEN, 2016).

Quadro 2 – Objetivos dos Stakeholders ao vincular-se ao parque tecnológico


Stakeholder Objetivos Estratégicos

Universidade 1- Encorajar o surgimento de empresas spin-off iniciadas por acadêmicos, prestando serviços para
a Universidade e outras empresas localizadas no Parque Tecnológico.

2- Facilitar a transferência de tecnologia entre instituições acadêmicas e empresas localizadas no


parque tecnológico.

3- Aumentar a relevância das pesquisas acadêmicas para as empresas e a sociedade

Governo 4- Beneficiar-se de alianças estratégicas em nível regional, nacional e internacional, estimulando a


formação de novas empresas de base tecnológica.

5- Atrair e destinar investimentos para atividades de P&D, promovendo equilíbrio regional em


capacidade, inovação e investimento.

6- Gerar novos postos de trabalho na região, melhorando a performance da economia local.

Empresas 7- Gerar oportunidades de consultoria e aprendizagem, recrutando pesquisadores e estudantes


acadêmicos.

8- Estabelecer contratos de P&D com os Centros de Pesquisa disponibilizados no Parque


Tecnológico, desenvolvendo e explorando capacidades científicas.

9- Por meio dos recursos disponibilizados no Parque Tecnológico, desenvolver e aperfeiçoar novos
produtos e serviços inovadores.

10- Estabelecer sinergia e cooperação entre as empresas do parque tecnológico, resultando em


benefícios mútuos.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Santana e Hansen (2016, p. 80).

Neste sentido, Noveli e Segatto (2012, p. 89) reforçam esta conclusão ao defenderem um modelo
taxonômico das relações entre empresas residentes em Parques Tecnológicos e pesquisadores da
Universidade.
Segundo Noveli e Segatto (2012), as relações possíveis entre os entes supracitados podem ser:
informais, de recursos humanos e formais. Dentre as relações formais possíveis, destacam-se aquelas
relacionadas à pesquisa conjunta, por meio de contratos e consultoria. Ademais, as relações de recursos
humanos entre as duas entidades podem favorecer o acesso mais fácil por parte de estudantes e
acadêmicos que realizam jornada dupla, estudando e pesquisando, mas também trabalhando em alguma
empresa instalada no Parque (NOVELI; SEGATTO, 2012).
Noveli e Segatto (2012) identificaram, a partir da literatura, fatores que motivam a Universidade
a estreitar o relacionamento com empresas residentes nos Parques Tecnológicos. Dentre eles destacam-se:
a) Recursos financeiros adicionais;
b) Realização da função social da universidade no desenvolvimento econômico regional;

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c) Aumento do conhecimento dos problemas existentes;


d) Incorporação de novas informações nos processos de ensino e pesquisa;
e) Divulgação da imagem da universidade;
f) Acesso a equipamentos mais modernos.

Desta forma, os itens a, c, e d estão alinhados com a importância de publicações acadêmicas


relacionadas aos Parques Tecnológicos. Já o “aumento do conhecimento dos problemas existentes”
representa uma oportunidade de estudo empírico para os acadêmicos. A “incorporação de novas
informações nos processos de ensino e pesquisa” atua de maneira análoga à Tríplice Hélice, trazendo
novas informações aos processos da Universidade e catalisando mudanças e inovações. Em relação aos
“recursos financeiros adicionais” estes estão relacionados com o acesso dos pesquisados com verbas
governamentais de fomento à pesquisa restritas à pesquisa aplicada e a organizações empreendedoras
(NOVELI; SEGATTO, 2012).
O estudo apontou elementos facilitadores e dificultadores nas relações entre a Universidade e as
empresas. Os principais facilitadores foram a proximidade geográfica entre os entes estudados. Já as
principais barreiras são a propriedade de patentes, os objetivos diferentes e a duração dos projetos em que
havia a parceria estudada (NOVELI; SEGATTO, 2012).
Cabe salientar que os resultados apresentados pelos autores são bastante pertinentes à esta
pesquisa, uma vez que o estudo fora realizado na PUCRS e no TECNOPUC, contribuindo, mais uma vez,
para que os resultados aqui apresentados sejam os mais próximos da realidade.
Com relação ao principal facilitador levantado, é correto dizer que este resultado encontra
consenso com o trabalho de Kronbauer (2015). Ademais, no trabalho da autora, que também estuda os
principais facilitadores e empecilhos na relação entre empresa instalada e universidade no TECNOPUC, a
principal barreira levantada foi a burocracia. Contudo, também é possível identificar tensões presentes na
relação devido aos objetivos divergentes (busca por resultados nas empresas e busca de pesquisa na
Universidade).
A autora também explicita que, com relação ao fluxo de conhecimento, na maioria dos projetos
realizados entre as empresas residentes no TECNOPUC e a PUCRS, a demanda parte da empresa para a
universidade. Contudo, a autora aponta que este fato pode ocorrer devido à legislação interna da
instituição, que impele as empresas a investirem em projetos de pesquisa com a universidade, mas não o
oposto. O conteúdo deste fluxo é constituído em sua maioria por pesquisa básica.

3. METODOLOGIA
O objetivo deste estudo foi analisar a relação existente entre o TECNOPUC e a PUCRS a fim de
identificar como a relação se estabelece a partir das demandas da sociedade.
Para a elaboração deste artigo fez-se uso de uma metodologia descritiva, bibliográfica e
documental.
Para isso, o estudo buscou analisar as produções de teses e dissertações da PUCRS e avaliar se
estas contribuem para a relação entre a universidade e o parque tecnológico, ou se apenas estariam
utilizando do parque enquanto laboratório para seus estudos, sem gerar uma relação de ganha-ganha.
Outra possibilidade seria a inexistência de trabalhos deste tipo, caracterizando uma articulação baixa ou
nula entre PUCRS e o TECNOPUC.
Nesta investigação foi utilizada a análise documental como fonte de dados. A análise documental
é condizente com a pesquisa qualitativa, incluindo os estudos de caso (LAVILLE; DIONE, 2007).
Segundo Richardson (2017) a pesquisa documentária considera como material de estudo
qualquer forma de comunicação, usualmente documentos escritos, como cartas, memorandos, registros
diversos, livros, periódicos, jornais, mas também pode recorrer a outras formas de comunicação.
Os dados foram buscados na Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), base de
dados que integra e dissemina teses e dissertações defendidas em instituições de ensino brasileiras.
O termo procurado foi “TECNOPUC” e, devido a particularidade do nome, foram encontrados
apenas resultados relevantes. A busca inicial encontrou 20 trabalhos, sendo 9 deles duplicações que foram
eliminadas no tratamento dos dados.

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4. RESULTADOS
Dos 11 trabalhos levantados por este estudo, nove tratam-se de dissertações de metrado,
defendidas exclusivamente no Programa de Pós-Graduação em Administração e Negócios da PUC-RS e 2
teses de doutorado, defendidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma instituição.
A metodologia de estudo de caso, único ou múltiplo, é predominante, bem como os estudos que
focam na relação entre os atores presentes no TECNOPUC (TECNOPUC, PUC-RS e Empresas).
Com relação aos professores orientadores, dos 11 trabalhos, 4 foram orientados pelo Professor
Dr. Peter Bent Hansen, demonstrando bastante proximidade do pesquisador em questão com o
TECNOPUC.
A partir dos trabalhos referenciados no Quadro 3, percebe-se que há predominância de trabalhos
realizados com cunho acadêmico que enfatizam os impactos econômicos da parceria entre PUCRS e
TECNOPUC.

Quadro 3 – Teses e Dissertações encontradas na Base Nacional de Teses e Dissertações (BDTD) sobre o
TECNOPUC
Objeto de
Código Metodologia Autor Orientação Programa Tipo Ano
Estudo

Estudo de Dombrowski, Oliveira, Administração


A TECNOPUC Mestrado 2006
caso único Cristiane Alves Mírian e Negócios

Estudo de Rodrigues,
Empresas Administração
B caso Beber, Juliana Costa Alziro César Mestrado 2008
instaladas e Negócios
múltiplo de Morais

Estudo de
Empresas Dorneles, Daniela Hansen, Peter Administração
C caso Mestrado 2011
instaladas Vianna Raffo Bent e Negócios
múltiplo

Relação
Estudo de TECNOPUC Telechea, Pâmela de Becker, Grace Administração
D Mestrado 2011
caso único - Siqueira Vieira e Negócios
EMPRESAS

Estudo de
Empresas Barradas, Marcelo de Hansen, Peter Administração
E caso Mestrado 2011
instaladas Souza Bent e Negócios
múltiplo

Pesquisa de Relação
campo - TECNOPUC Neff, Henrique Hansen, Peter Administração
F Mestrado 2012
entrevistas e - Bagattini Bent e Negócios
questionários EMPRESAS

Relação
Estudo de TECNOPUC Pardo, Wladimir Becker, Grace Administração
G Mestrado 2012
caso único - Ribeiro Vieira e Negócios
EMPRESAS

Estudo de Relação
Kronbauer, Evelyn Dalmarco, Administração
H caso TECNOPUC Mestrado 2015
Righes Gustavo e Negócios
múltiplo -PUCRS

Relação
entre
Estudo de Giraffa, Lucia
PUCRS - Cardoso, Aline de
I caso Maria Educação Doutorado 2016
TECNOPUC Oliveira da Conceição
etnográfico Martins
-
EMPRESAS

Estudo de Nascimento, André Hansen, Peter Administração


J TECNOPUC Mestrado 2016
caso Luís Sena Bent e Negócios

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múltiplo

Método Nascimento, Marilene Morosini,


K ALUNOS Educação Doutorado 2016
dialético Batista da Cruz Marília Costa
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados encontrados pela pesquisa bibliométrica permitiram identificar a existência de
pesquisas realizadas pelos alunos de Pós-Graduação Strictu-Sensu da PUCRS.
Um fato curioso, neste sentido, foi a preponderância de pesquisas do campo da Administração e,
em menor número, da Educação. Era esperado pelos pesquisadores que fossem encontradas pesquisas em
sua maioria da área de tecnologia e inovação, dado o teor do parque e os objetivos almejados por ambas
as instituições.
Os autores acreditam ter respondido a pergunta inicial da pesquisa, sobre a relação entre a
PUCRS e o TECNOPUC, uma vez que os trabalhos encontrados priorizam em sua maioria a relação
existente entre os atores presentes no parque tecnológico. Desta forma, as teses e dissertações levantadas
apresentam a característica de dar suporte às atividades do parque, e não na geração direta de novas
tecnologias, como era esperado.
Esta conclusão se explicitou ainda mais quando os trabalhos foram analisados em maior
proximidade. Foi identificado que, além do foco na relação entre os atores presentes no parque, estes
tinham por objetivo levantar fatores determinantes para o sucesso de parques tecnológicos, direta ou
indiretamente, como o caso dos trabalhos A, D, H e J.
Assim, a ideia inicial de que a parceria entre a Universidade e o Parque Tecnológico renderia
inovações dos mais diversos aspectos tanto para as empresas quanto para as universidades não foi
evidenciada. Ao contrário, ao menos para os alunos e alunas de pós-graduação da universidade, o Parque
Tecnológico é visto apenas em sua dimensão administrativa, e não também tecnológica, em seus mais
diversos aspectos.
Logo, dado que grande parte das pesquisas tem como foco a relação entre Universidade e Parque
Tecnológico, fica a questão se esta relação está sendo de ganha-ganha realmente.
Entretanto, novas dúvidas surgiram ao final deste estudo: O foco dos trabalhos na relação do
TECNOPUC e a PUCRS seria uma consequência de uma baixa abertura das empresas para com os
pesquisadores? Seria a falta de pesquisas com foco em tecnologia consequência de uma proteção da
informação por parte das empresas?
De toda forma, a contribuição desta pesquisa esteve em demonstrar a relação das Pesquisas feitas
pelos alunos de Pós-Graduação Strictu Sensu da Universidade e o Parque Tecnológico. Os resultados
contradisseram a primeira visão, de que esta parceria seria nas mais diversas áreas e que geraria inovações
por meio dos trabalhos, uma vez que grande parte dos mesmos é apenas da área de administração e tem
como foco a relação do Parque com a Universidade. Logo, questiona-se aqui se a relação entre as duas
organizações seja de ganha-ganha, ou ao menos que tem grande potencial de ser melhorada no aspecto de
produção cientifica.
Este estudo se limitou a estudar a relação entre as publicações de teses e dissertações pela
PUCRS sobre o TECNOPUC por meio de uma pesquisa bibliométrica. Assim, novos estudos mostram-se
necessários com o objetivo de dar insumos para os gestores de parques tecnológicos tomar decisões
acertadas que contribuam para o sucesso de universidades, parques tecnológicos e empresas residentes.

6. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

7. REFERÊNCIAS

AUDY, J.; PIQUÉ, J. Dos parques científicos e tecnológicos aos ecossistemas de inovação:
Desenvolvimento social e econôminco na sociedade do conhecimento. Brasília:ANPROTEC, 2016.

CASTRO, C.M. A Prática da Pesquisa. 2º ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

327
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

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Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI, 2014.

ETZKOWITZ, H. et al. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-indústria-governo.


Estudos Avançados, v. 31, n. 90, p. 23–48, 2017.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.

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empresas instaladas no TECNOPUC. 95 f. 2015. Dissertação (Mestrado em Administração e Negócios)
– Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências


humanas. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

NOVELI, M.; SEGATTO, A. P. Processo de cooperação universidade empresa para a inovação


tecnológica em um parque tecnológico: evidências empíricas e proposição de um modelo conceitual.
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PLONSKI, G. A. Empreendedorismo Inovador Sustentável. Participação Estratégica, v. 15, n. 31, p.


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SANTANA, N. L.; HANSEN, P. B. Performance Evaluation of Technology Parks: Proposal Based on a


Study at
TECNOPUC. Navus-Revista de Gestao e Tecnologia, v. 6, n. 4, p. 72-87, 2016.

SPOLIDORO, R.; AUDY, J. Parque Científico e Tecnológicos da PUCRS. Porto Alegre: Edipucrs.
2008

TECNOPUC. Institucional - TECNOPUC. Disponível em:


<http://www.PUCRS.br/TECNOPUC/institucional/>. Acesso em: 12 abr. 2018.

TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da Inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.

VOSS, C. et al. Case research in operation management. International Journal of Operations &
Production Management, v.22, n. 2, p. 195-219, 2002.

YIN, R. K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2015.

328
I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 33
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade, tecnologias e inovação

ESTUDOS COMPARATIVOS EM ARGAMASSAS COM ADICÕES DE


RESÍDUOS SÓLIDOS DA SIDERURGIA (ESCÓRIA DE PANELA
/METACAULIM)

Marcos Antônio Rosa Junior1, Jose Roberto Merlin2

1. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: marcos.arj@puc-campinas.edu.br


2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: jrmerlin@puc-campinas.edu.br

RESUMO
A construção civil sustentável busca além de baixo consumo de energia e insumos técnicas de
reaproveitamento de resíduos impactantes ao meio ambiente, nesse estudo foram usados resíduos da
cadeia produtiva do segmento da siderurgia. O presente estudo apresenta uma experiência do uso escória
de ferro de panela (E.F.P) para a produção de argamassas. Para tanto, utilizou-se cimento CP-E II 32,
CPV alta resistência inicial (ARI) areia natural, escória de ferro de panela, Metacaulim Pozolânico,
superplastificante de atuação e água. Foram produzidos dois tipos de argamassas, sendo duas series (CP
II-E 32, CPV) a serem adensada com o auxílio de vibração, com a incorporação de E.F.P no teor de 30 %
e Metacaulim a 10% com relação ao valor da massa do cimento. Os valores da relação água/cimento
adotados foram 1, 3 e 0,60 para os casos de argamassas. Para os casos de argamassas vibradas foram
realizados no estado fresco os ensaios de consistência com auxílio da mesa de golpes, ensaios de
abatimento; e para as argamassas auto adensáveis foram realizados no estado fresco os ensaios de
espalhamento “slump-flow”. No estado endurecido foram realizados os ensaios de resistência à
compressão simples e diametral, e de absorção d’água aos 28 dias de cura. Observou-se que as
argamassas com a adição de E.F.P e Metacaulin apresentaram valores de resistência mecânica
ligeiramente menores aos apresentados pelas argamassas referencias, assim como apresentaram valores
de absorção água, não obstante os valores mais elevados para a relação “água/cimento” em comparação
aos casos das argamassas com adição dos compósitos.

PALAVRAS-CHAVE: Argamassa, Escória de Ferro de panela, propriedades mecânicas.

1. INTRODUÇÃO
A questão da correta destinação de resíduos tóxicos atualmente é alvo de diversos estudos que
buscam resolver este grande passivo na sustentabilidade. Quando se consegue substituir uma matéria
prima essencial e não renovável por um resíduo essa solução torna-se ideal e com dupla vantagem
ecológica. Dois dos setores menos sustentáveis no Brasil são a construção civil e a siderurgia, devido à
alta demanda e conservadorismo tecnológico que bloqueia avanços eficientes nas produções. E esse é o
objetivo deste artigo, estudar a possibilidade de substituição de cimento Portland por escória de forno
panela.
Na lei nº 12305/2010 [1] chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio
Ambiente constam, no capítulo III, as seguintes prioridades quanto aos resíduos: “...não geração, redução,
reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos.”. Ainda nesta lei, no capítulo II, sobre princípios e objetivos vemos capacitação técnica
continuada na área de resíduos sólidos, adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas
como forma de minimizar impactos ambientais e redução do volume e da periculosidade dos resíduos
sólidos. Essa lei é o reflexo da preocupação brasileira com o meio ambiente em relação aos resíduos
(lixo) produzido nacionalmente principalmente nos processos de produção em larga escala que se tornam
um passivo (problema) a ser resolvido.
A indústria da construção civil brasileira está muito longe de ser considerada sustentável. Por ser
um setor bastante conservador quanto à introdução de novas técnicas e materiais preserva-se ainda um

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modo de operação pouco eficiente, mão-de-obra não qualificada gerando grande desperdício e entulho e
alto consumo de matéria-prima não renovável e de produção bastante poluente. O cimento Portland, por
exemplo, é um dos materiais mais produzidos no mundo [2] e gera uma tonelada de CO₂ para cada
tonelada de cimento, aumentando significativamente a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera a
cada dia, além de ser um produto indispensável e não renovável, ainda é altamente contagioso para o
meio ambiente, não podendo entrar em contato com águas superficiais ou subterrâneas (infiltração).
Segundo dados da WorldSteel Association [3] em 2015 o Brasil foi classificado como o 8º maior
produtor de aço bruto mundial, em 2016 a produção nacional foi de 37,5 milhões de toneladas, em 2017 a
produção mundial chegou a 1,62 bilhão de toneladas, onde 68,6% foi concentrada na Ásia, 50,9% só na
China. Dentre os vários resíduos que a indústria siderúrgica brasileira gera, somente de escória de forno
panela aciaria elétrica são 6 milhões de toneladas/ano [4], essa enorme quantidade está cada dia mais
difícil de ser descartada de forma segura ambientalmente. A escória de panela é o composto da fração
leve o qual se separa do aço líquido pela diferença de peso específico e sua geração no processo de
fabricação do aço é intrínseca à cadeia produtiva, para cada tonelada de aço produzido gera-se,
aproximadamente, 100 a 150kg desse resíduo [5]. Os resíduos da siderurgia atualmente são considerados
como coprodutos e comercializados em larga escala, especialmente em substituição de matérias primas na
construção civil.
A escória de forno panela é gerada no refino secundário do aço líquido no processo de produção
de peças longas como vergalhões utilizados pela indústria da construção civil após passarem pelos fornos
elétricos a arco. No processo de resfriamento ao ar a escória é vertida no pátio solidificando-se
naturalmente em cristais que são moídos posteriormente [6]. A escória de panela é constituída
basicamente de C₂S e por ser um material extremamente fino favorece o desenvolvimento de
propriedades cimentícias e hidráulicas, sendo, portanto, uma ótima alternativa de substituição do cimento
Portland, que é um material tóxico e não renovável.

Caracteristica Norma Informações adicionais Unidade CP V ARI


Massa específica ABNT NBR 16605:2017 - g/cm³ 3,12
Massa unitária ABNT NBR 45:2006 - kg/m³ NO
Tempo de pega ABNT NBR 16607:2017 Inicio min 238
Fim 343
Resistencia a compressão ABNT NBR 7215:1996 7 dias MPa NO
28 dias NO
Caracteristica Norma Informações adicionais Unidade CP V ARI
Teor de umidade natural ABNT NBR NM 24:2003 Amostra 1 % 1
Amostra 2 0
Amostra 3 2
Massa específica ABNT NBR 16605:2017 Amostra 1 g/cm³ 2,76
Amostra 2 3,07
Amostra 3 2,98
Massa unitária ABNT NBR 45:2006 Amostra 1 kg/m³ NO
Amostra 2 NO
Amostra 3 NO
Dimensão máxima caracteristica ABNT NBR 248:2003 Amostra 1 mm 9,5
Amostra 2 4,8
Amostra 3 NO
Modulo de finura Amostra 1 - 1,44
Amostra 2 3,10
Amostra 3 NO

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2. RESULTADOS ESPERADOS
A resistência à compressão foi observada aos 28 dias. Os resultados estão apresentados na
Tabela Y. e foi realizado de acordo com a NBR 13279:05.

Tabela Y: Resistência à Compressão (MPa)

Traço CP II CPV

Ref 24,21 37,24

A130 17,40 23,99

A130S 17,62 23,25

Observou-se que com a substituição da quantidade de cimento por 10% de metacaulim e 30% de
escória de panela, houve uma redução na resistência à compressão de aproximadamente 28% para as
argamassas com o cimento CPII e de aproximadamente 37% para as argamassas com o cimento CPV. O
uso do aditivo superplastificante, não influenciou significante nos valores de resistência à compressão e
conforme o esperado as argamassas com o cimento CPV apresentaram maior resistência à compressão.
CITAÇÃO de algum autor( os experimentos realizados com proporcionalidade EFP ( 30%) + Metacaulim
(10%) baseados em literatura em menor valor de substituição 10% ( HERRERO et al.,2016) e o maior
valor 45% ( ALMEIDA, 2017)

Ensaio de resistência à tração na flexão, ruptura do corpo de prova em duas partes e ensaio de
resistência à compressão simples, respectivamente. A prensa utilizada para os ensaios de resistência à
compressão simples é da marca Contenco-Pavitest, modelo C3025A, eletro-hidráulica, com capacidade
de 1200 kN (120.000 kgf).

3. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11582: Cimento Portland -


Determinação da expansibilidade Le Chatelier. Rio de Janeiro, p.4. 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12653: Agregados - Materiais


pozolânicos — Requisitos. Rio de Janeiro, p.6. 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: Argamassa para assentamento e


revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão.
Rio de Janeiro, p.5. 2005.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16605: Cimento Portland e outros


materiais em pó — Determinação da massa específica. Rio de Janeiro, p.4. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16606: Cimento Portland —


Determinação da pasta de consistência normal. Rio de Janeiro, p.8. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 24: Materiais pozolânicos -


Determinação do teor de umidade. Rio de Janeiro, p. 2. 2002.

BARBOSA, M. R. “Caracterização geoambiental das ecórias de aciaria de cinco estados brasileiros” –


UFOP – Ouro Preto, 2013.

HERRERO, T. et al. Effect of high-alumina ladle furnace slag as cement substitution in masonry
mortars. Construction and Building Materials, v.123, p. 404–413, 2016.

LACERDA, C.; CUNHA, J. C. S.; JUNIOR, H. G. D.; PAKMEIRA, A. A.; XAVIER, C. R.; CASTRO,
J. A. “Estudo de traços de argamassa, utilizando escória de aciaria elétrica para produção de
argamassa” – Cadernos UniFoa, Volta Redonda, n. 31, p. 13-21, ago. 2016.

MARINHO, A. L. B. “Aglomerante ecológico para argamassa – reciclagem da escória de forno


panela” – UFOP – Ouro Preto, 2015.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - Lei nº 12305/2010 – “Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.” – Data de
legislação: 02/08/2010 – Publicação DOU, de 03/08/2010

NETO, A. A. M., “Estudo da retração em argamassa com cimento de escória ativada”. USP, São Paulo,
2002.

PEREIRA, V. F. R. “Utilização de escória de forno panela da indústria siderúrgica em matrizes


cimentícias” - Ft – UNICAMP, Limeira, 2018.

QIANG, W. et al. Influence of steel slag on mechanical properties and durability of concrete.
Construction and Building Materials, v. 47, p. 1414–1420, 2013.

ROSLAN, N. H. et al. Performance of steel slag and steel sludge in concrete. Construction and
Building Materials, v. 104, p. 16–24, 2016.

SILVA, D. L. DA et al. Considerações sobre a formação de etringita tardia (DEF). Revista


Construindo, v. 9, n. 2, p. 36–46, 2018.

VIANA, F. L. E., “Indústria Siderúrgica” – Caderno Setorial Etene – Banco do Nordeste, ano 2 nº 13,
agosto, 2017.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 34
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade, tecnologias e inovação

DISCUSSÕES SOBRE O PAPEL DA INDÚSTRIA DE SEMENTES PARA O


DESENVOLVIMENTO SUTENTÁVEL E PARA SEGURANÇA ALIMENTAR

Vinícius Eduardo Ferrari1

1. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de


Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-
mail: vinicius.ferrari@puc-campinas.edu.br

RESUMO
O conceito de desenvolvimento agrícola sustentável remete à busca de soluções tecnológicas para tornar
as práticas rurais mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, sem abrir mão, da ampliação da produção
de alimentos. A compatibilização desses desafios exige o desenvolvimento de novos cultivares: i) com
ciclo produtivo mais curto, o que possibilita a rotação de culturas diferentes em um mesmo ano-safra e
em uma mesma área; ii) menos dependentes frente à utilização de recursos hídricos; iii) resilientes em
relação ao aquecimento global. Sob este contexto, o presente estudo discutiu o empenho das empresas
agroquímicas que atualmente dominam a indústria de sementes no desenvolvimento de tais inovações
agrícolas. Trata-se, portanto, de uma pesquisa descritiva de natureza bibliográfica que explorou,
sobretudo, o debate sobre o impacto dos organismos geneticamente modificados (OGMs) sobre as
práticas agrícolas sustentáveis. Em suma, o foco das empresas agroquímicas na comercialização de
OGMs resistentes contra a aplicação de herbicidas contrasta com a sua forte resistência frente o
desenvolvimento dos cultivares de maior impacto ambiental. O trabalho concluí que a retomada dos
investimentos públicos na agricultura representa uma condição crucial para o desenvolvimento das
tecnologias sustentáveis órfãs deixadas de lado pelo setor privado.

PALAVRAS-CHAVE: organismos geneticamente modificados, tecnologias agrícolas sustentáveis,


empresas agroquímicas.

1. INTRODUÇÃO
A agenda da sustentabilidade ambiental é indissociável da agenda do desenvolvimento agrícola,
em virtude do papel crucial da agricultura para promover o crescimento econômico, superar a pobreza,
ampliar a segurança alimentar e assegurar a conservação dos recursos naturais (WORLD BANK, 2008).
Neste sentido, o segundo objetivo da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Sustentável é "acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a
agricultura sustentável" (ONUBR, 2015).
Todos estes desafios deverão ser enfrentados sob um contexto de forte crescimento populacional
e de baixa expansão das áreas agriculturáveis mundiais. Diante dessas pressões demográficas, a inovação
tecnológica representa um ingrediente crucial para tornar as práticas agrícolas mais sustentáveis do ponto
de vista ambiental, sem abrir mão, da ampliação da produção de alimentos (WORLD BANK, 2008; FAO,
2009).
A indústria de sementes representa o principal vetor indutor das mudanças tecnológicas na
agricultura (POSSAS, SALLES-FILHO e SILVEIRA, 1996). A obtenção de soluções sustentáveis para
ampliação da produção de alimentos exigirá desse setor o desenvolvimento de novos cultivares: i) com
ciclo produtivo mais curto; ii) que exibem menor dependência frente a utilização de recursos hídricos, iii)
resilientes em relação ao aquecimento global e/ou outras formas de estresse ambiental (CRESTENA e
MORI, 2015).
Espera-se também, que os avanços tecnológicos possibilitem a obtenção de alimentos mais
saudáveis, de novos insumos de origem agrícola para a produção de fármacos, de novas fontes de
biomassa para a geração de energia (FERRARI, 2005).

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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No período atual, as corporações agroquímicas conhecidas como big three companies –


Bayer/Monsanto, Dupont-Dow e Syngenta – têm o domínio aproximadamente 50% do mercado mundial
de sementes (RAGONNAUD, 2013). Por sua vez, os organismos geneticamente modificados (OGMs)
correspondem a mais de 90% das variedades agronômicas comercializadas pelas três empresas11. Tais
fatos estilizados deram origem ao problema de pesquisa abordado neste trabalho: as corporações
agroquímicas que atualmente dominam os mercados agrícolas estão dispostas a desenvolver soluções
sustentáveis, que permitam conciliar a ampliação da produção de alimentos com a conservação dos
recursos naturais?
Em face desta questão-problema, o artigo pretende descrever os esforços de inovação e as
práticas comerciais das big three companies. Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória e descritiva
de natureza bibliográfica que tem por objetivo explorar o debate sobre o impacto dos OGMs sobre as
práticas agrícolas sustentáveis.
Para tanto, este artigo foi estruturado da seguinte forma: na Seção 2, discute-se as mudanças
estruturais vivenciadas pela indústria de sementes após o início do cultivo dos OGMs; a Seção 3 aborda a
íntima relação existente entre o conceito de desenvolvimento agrícola sustentável e a segurança alimentar
mundial. Na sequência, a Seção 4 discute o alinhamento da indústria de sementes frente a esses dois
objetivos de desenvolvimento sustentável. Finalmente, a Seção 5 conclui o artigo.

2. AS MUDANÇAS NA INDÚSTRIA DE SEMENTES POR INOVAÇÕES AGRÍCOLAS


De acordo Kalaitzandonakes e Bjornson (1997), o desenvolvimento de biotecnologias vegetais
teve início na primeira metade dos anos 80, portanto muito antes da primeira semente geneticamente
modificada chegar ao mercado em 1996. Datam do início dos anos 80, diversas técnicas de transgenia,
derivadas diretamente da tecnologia do DNA recombinante, que criaram as condições para a obtenção de
novos cultivares mediante a manipulação do código genético das plantas.
O interesse das universidades norte-americanas pelas pesquisas de tecnologias aplicáveis à
agricultura teve início nesse período. Os primeiros esforços de pesquisa buscaram conciliar os protocolos
associados a manipulação do DNA com novos conceitos e práticas científicas em genômica, proteômica,
metabolômica, biologia molecular e bioquímica (SILVEIRA e BORGES, 2004). Esses avanços
científicos estimularam a criação de diversas empresas de base biotecnológica (EBB) durante o período
1985-1995, as quais se especializaram, sobretudo, no desenvolvimento das técnicas de engenharia
genética necessárias para a criação dos OGMs (GRAFF et al., 2003).
Por outro lado, as grandes corporações atuantes no setor agroquímico demonstraram certo
desinteresse pela indústria de sementes durante as décadas que antecederam os anos 90. Duas razões
parecem justificar esta postura. A ampliação da escala industrial das atividades agrícolas durante as
décadas de 60 e 80 intensificou a demanda por fertilizantes e defensivos químicos, o que contribuiu
fortemente para expandir os lucros do setor agroquímico neste período (FERRARI, 2015).
Ademais, e este é o ponto que mais nos interessa, existia a percepção que as condições de
apropriabilidade vigentes na indústria de sementes eram frágeis. Nesta visão, os mecanismos de proteção
se mostravam incapazes de coibir a imitação e propiciar a captura dos benefícios econômicos
provenientes das atividades inventivas. Este ceticismo tendia a afugentar os investimentos privados na
agricultura (POSSAS, SALLES-FILHO e SILVEIRA, 1996).
Por essas razões, conforme atesta Tabela 1, a primeira metade da década de 90 caracteriza-se
pela existência de uma clara separação entre o setor agroquímico e a indústria de sementes. O mercado
mundial de sementes era ocupado, sobretudo, por empresas especializadas na produção de cultivares
agrícolas. Ademais, a concentração do setor era relativamente pequena.

Tabela 1 – Participação das maiores empresas no mercado mundial total de sementes


1996 2012
Companhia MK* Companhia MK*
PIONEER 5,0% MONSANTO 21,8%
NOVARTIS 3,0% DUPONT 15,6%
LIMAGRAIN 2,2% SYNGENTA 7,1%

11 Os organismos geneticamente modificados (OGMs) são plantas que possuem em seu genótipo um ou mais genes
oriundos de outra ou da mesma espécie, desde que tenham sido manipulados em laboratório e inseridos nas células
hospedeiras através da adoção de técnicas de engenharia genética. Por sua vez, estes genes são capazes de codificar
novas funcionalidades úteis para a realização das atividades agrícolas (QAIM, 2009; VIEIRA e BUAINAIN, 2004).

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ADVANTA 1,5% LIMAGRAIN 3,8%


SEMINIS 1,3% L&L WINFIELD 2,9%
TAKII 1,1% KWS 2,9%
SAKATA 1,0% DOW 2,2%
KWS 0,9% BAYER 0,9%
DEKALB 0,8% SAKATA 0,9%
Participação das 9 maiores 16,70% Participação das 9 maiores 58,1%
empresas empresas
*Market Share
Fonte: European Parliament; Directorate-general for internal policies (2013).

O segundo quinquênio dos anos 90 reverteu as tendências apontadas no parágrafo anterior. As


big six companies intensificaram os seus esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D) intramuros
voltados para a agricultura. Estas corporações também adotaram uma política agressiva de fusões e
aquisições (F&A) com EBB. Por consequência, as grandes multinacionais oriundas do setor agroquímico
já detinham em 1999 o controle da maioria das biotecnologias vegetais desenvolvidas nas décadas
anteriores (RAUSSER, 1999).
Em suma, as operações de F&A ocorridas durante os anos 90 “acoplaram a indústria de sementes
aos líderes mundiais do setor agroquímico” (FONSECA, DAL POZ e SILVEIRA, 2004, p.167). em 2012,
Monsanto, Dupont e Syngenta já detinham aproximadamente 50% do Market-Share global (Tabela 1)
Estes acontecimentos foram motivados por duas causas primordiais. Em primeiro lugar, as novas
oportunidades de comercialização de soluções integradas de combate a pragas baseadas na combinação de
defensivos químicos com OGMs resistentes contra herbicidas representaram um forte incentivo para o
ingresso das big three companies na indústria de sementes (RAUSSER, 1999).
Em complemento a exploração desses pacotes tecnológicos, o fortalecimento do sistema de
proteção à propriedade intelectual na agricultura também contribuiu para diminuir as incertezas a respeito
da captura dos benefícios econômicos provenientes dos programas de melhoramento genético de plantas.
(FONSECA, DAL POZ e SILVEIRA, 2004).

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Desenvolvimento agrícola sustentável e segurança alimentar
Nas três primeiras décadas que sucederam a Segunda Guerra Mundial, consolidou-se na
comunidade internacional a visão de que as atividades agrícolas são cruciais para promover o crescimento
econômico, a superação da pobreza e a ampliação da segurança alimentar (WORLD BANK, 1982).
Essas concepções inspiraram nas décadas de 50, 60 a Revolução Verde, nos países de clima
temperado, e a Revolução Tropical, ocorrida nas nações de clima tropical. Os países em desenvolvimento
beneficiados por essas revoluções tecnológicas vivenciaram uma profunda ampliação da escala industrial
das atividades agrícolas em face da introdução de variedades híbridas de alta produtividade, da
intensificação do uso de fertilizantes e defensivos químicos, da adoção de técnicas mais eficientes de
irrigação, da substituição da tração animal por máquinas agrícolas (BORLAUG, 2000). Em virtude da
ampliação da oferta de alimentos e da elevação da renda no meio rural, estimativas apontam que as
revoluções agrícolas do Século XX salvaram 1 bilhão de pobres da fome (JAMES, 2014, p.1).
A despeito dessas constatações, o otimismo frente à Revolução Verde se arrefeceu nos anos 70,
conforme os impactos ambientais negativos das novas técnicas agrícolas se tornaram mais evidentes. Em
muitos países, o aumento da produção de alimentos se deu às custas da degradação do meio ambiente. Os
excessos cometidos na Revolução Verde ocasionaram erosão do solo, perda de biodiversidade,
desperdício de água, poluição química e milhares de mortes por envenenamento decorrente do uso de
pesticidas (CARSON, 2002; SALE e FONER, 1993).
Em 1982, o Relatório Anual do Banco Mundial reconheceu que os desafios a serem enfrentados
pela agricultura eram muito mais complexos do que se pensava na época da Revolução Verde. Diante
desse diagnóstico, o relatório propôs um novo conceito de desenvolvimento agrícola sustentável, que
remete à busca de soluções no âmbito da agricultura capazes de conciliar a ampliação da segurança
alimentar com a conservação dos recursos naturais (WORLD BANK, 1982).
Após esse relatório, nas duas últimas décadas do século XX, a oferta de comida cresceu muito
mais rápido do que a demanda em face dos ganhos de produtividade agrícola. Esse cenário de superoferta
consolidou na comunidade internacional a percepção de que a insegurança alimentar não decorria da falta
de produção de alimentos, mas sim, dos problemas relacionados ao seu acesso; em especial, no caso dos

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consumidores extremamente pobres, da insuficiência da renda para a aquisição do volume de comida


compatível com as necessidades nutricionais diárias (HLPE, 2016).
Em 2008, o Banco Mundial dedicou novamente o seu relatório anual ao estudo das atividades
agrícolas. O relatório tece duras críticas à visão de que o problema da disponibilidade de comida foi
vencido pela humanidade e ao diagnóstico que o combate à extrema pobreza representa uma condição
suficiente para a eliminação da insegurança alimentar. De acordo com World Bank (2008), esses
argumentos ignoram diversas ameaças ambientais que podem desencadear novas crises alimentares: i) a
escassez de terra, água e energia; ii) os desastres ambientais associados ao aquecimento global; iii) a
degradação ocasionada pela poluição crescente dos ecossistemas.
Ademais, os choques de preços dos alimentos relatados por World Bank (2008) abalaram
profundamente a crença na existência de um excedente agrícola duradouro. De acordo com essa visão, o
crescimento da população e da renda na Ásia, particularmente na China, representa a principal causa por
trás do intenso crescimento da demanda mundial por alimentos nos anos 2000. Em face dessa ampliação
da procura por comida, diversos produtos agrícolas registraram forte elevações de preços (HPLE,2011).
Em suma, os preços dos cereais, laticínios e dos óleos vegetais dobraram no biênio 2005-2007.
Um dado ainda mais impressionante consiste no fato que a Crise Mundial iniciada em 2008 se mostrou
incapaz de reverter essa tendência de alta. Quando a recuperação econômica teve início em 2010, os
preços dos alimentos subiram novamente, atingindo um novo pico no biênio 2011-2012, que dessa vez
também contemplou as carnes e demais proteínas de origem animal (HPLE,2016).
A comunidade internacional passou então a temer que os preços elevados dos alimentos - que
perduraram por vários anos - representam o sinal de uma mudança radical: a transição de uma era da
superprodução para uma longa e duradoura era da escassez, na qual os recursos existentes parecem não
ser suficientes para suprir o crescimento da demanda mundial por alimentos. Nessa visão, as elevações
recentes dos preços internacionais refletem, justamente, o crescimento mais rápido da demanda por
comida em relação à oferta agrícola (WORLD BANK, 2008).
A existência de uma era da escassez agrícola é uma ideia polêmica, que foi rechaçada inclusive
pelo ex-presidente da FAO (GRAZIANO DA SILVA, 2017). No entanto, existe um consenso muito mais
forte em torno da visão de que diversos fatores econômicos e ambientais têm prejudicado o crescimento
da oferta de alimentos. De acordo com essa visão, o período de superprodução agrícola baseado na
exploração extensiva de recursos naturais abundantes e baratos - água, terra, biodiversidade, energia -
chegou ao final (HPLE, 2011).
Diante do crescente temor por novas crises alimentares, o conceito de desenvolvimento agrícola
sustentável apresentado originalmente em World Bank (1982) foi ampliado de modo a salientar o papel
crucial da agricultura para a resolução dos novos desafios da humanidade em lidar com: a tripla escassez
de alimentos, água e energia; o aquecimento global e outras formas de estresse ambiental; o combate à
pobreza e à insegurança alimentar; e a melhoria das condições de saúde mundial (WORLD BANK,
2008).
As advertências do Banco Mundial ecoaram na ONU. A Agenda 2030 atribui um papel central
para a agricultura no combate à insegurança alimentar. O segundo Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) é "acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar [...] e promover a agricultura
sustentável". Por fim, tanto o Banco Mundial quanto a ONU consideram como imperiosa o
desenvolvimento, a difusão e a adoção de novas tecnologias agrícolas sustentáveis para produzir mais
alimentos sem degradação, tornando a agricultura mais verde e sustentável (WORLD BANK, 2008,
UNITED NATIONS, 2016).

4. RESULTADOS OBTIDOS
Possas, Salles-Filho e Silveira (1996) e Crestana e Mori (2015) elegeram a indústria de sementes
como o principal vetor indutor das mudanças tecnológicas na agricultura. Para Horlings e Marsden
(2011), o melhoramento genético das variedades agronômicas representa um requisito central para
obtenção de soluções sustentáveis para ampliação da produção de alimentos. Seguindo essa mesma linha
de raciocínio, Crestana e Mori (2015) consideram o desenvolvimento de novos cultivares tolerantes a
secas uma condição crucial para a ampliação da segurança hídrica e alimentar mundial.
Atualmente 768 milhões de pessoas dependem de fontes inseguras de água potável enquanto
outros 2,5 bilhões de indivíduos não possuem acesso a instalações sólidas de saneamento. Essa
"insegurança hídrica" representa um entrave para nutrição e para desenvolvimento social. Ao mesmo
tempo, a água é um insumo crucial para a produção de alimentos, a qual consome atualmente 70% dos
recursos hídricos mundiais Diante dessas pressões sobre o acesso à água, o desenvolvimento de

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cultivares que exibem menor dependência frente à utilização de recursos hídricos representa um
ingrediente crucial para tornar mais igualitária a distribuição da água entre o mundo rural e o mundo
urbano, sem abrir mão da ampliação da produção de alimentos (HLPE, 2015).
Ademais, como discutido na seção anterior, os fenômenos meteorológicos extremos, tais como o
crescimento das secas e das inundações ameaçam gerar graves crises alimentares. Essas pressões
ambientais tornam imperiosa a adaptação dos cultivares agrícolas frente às ameaças ocasionadas pelo
aquecimento global (WORLD BANK, 2008).
Esses fatos estilizados evidenciam a importância crucial da indústria de sementes para o
desenvolvimento agrícola sustentável e para o combate à fome e à insegurança hídrica.
Ferrari (2015) analisou a expansão da indústria de sementes vis-à-vis o crescimento do cultivo
dos OGMs. Em apenas 20 anos, a área agrícola mundial dedicada às sementes transgênicas saltou de 1,7
milhões de hectares em 1996 para 185,1 milhões de hectares em 2016, com fortes avanços a cada ano. Em
2016, aproximadamente 30% das áreas agriculturáveis mundiais foram cultivadas com OGMs (JAMES,
2016).
Um total de 27 países (8 países desenvolvidos e 19 países emergentes) plantaram algum tipo de
variedade transgênica em 2013. Os EUA despontam como o maior produtor mundial de OGMs. Em 2013,
as sementes geneticamente modificadas foram plantadas em 70,1 milhões de hectares, o que equivale a
42% das áreas agriculturáveis norte-americanas. Este montante corresponde a 40% da plantação global. O
Brasil ocupa a segunda posição dentre os maiores produtores mundiais de OGMs seguido pela Argentina.
Para efeito de comparação, a produção brasileira ocupou 40,3 milhões de hectares em 2013 - 23% da
plantação global – enquanto a Argentina destinou 24,4 milhões de hectares ao cultivo de sementes
transgênicas (JAMES, 2014).
Ainda segundo James (2014), a soja representa o cultivar transgênico mais difundido em todo o
mundo. Dos 107 milhões de hectares destinados ao plantio da soja em 2013, 84,5 milhões de hectares
foram cultivados com variedades transgênicas, o que corresponde a uma taxa de adoção de 79% . As
variedades de milho geneticamente modificadas ocuparam 57,3 milhões de hectares (taxa de adoção de
32%). Em terceiro lugar encontra-se o algodão (23,9 milhões de hectares, taxa de adoção de 70%)
seguido pela canola (8,2 milhões de hectares, taxa de adoção de 24%). As demais variedades transgênicas
ocuparam apenas 1,3 milhões de hectares.
O ritmo intenso de difusão dos OGMs tem motivado debates acalorados sobre os impactos
socioambientais dessa inovação tecnológica. Os defensores dos OGMs apontam os ganhos de
produtividade agrícola, a redução de pesticidas e a melhoria das condições de vida dos agricultores como
os principais benefícios associados à adoção de sementes geneticamente modificadas (KLUMPER e
QAIM, 2014).
O estudo conduzido por James (2014) estimou que as sementes transgênicas movimentaram
globalmente 117,9 bilhões de dólares no período 1996-2013. Somente em 2013, este valor atingiu 15,6
bilhões de dólares, o que corresponde a 35% do mercado mundial de sementes (estimado em 45 bilhões
de dólares para o mesmo período). Essas estimativas somente levaram em consideração o preço de venda
das sementes e as receitas provenientes da comercialização de licenças tecnológicas. Outros estudos
procuraram mensurar o valor de mercado dos produtos agrícolas finais obtidos a partir do cultivo de
sementes transgênicas.
As plantas geneticamente modificadas registram maior valor agregado em relação às sementes
que lhe deram origem. Brookes e Barfoot (2014) estimaram que no período 1996-2012, os OGMs
propiciaram para os agricultores de todo o mundo ganhos econômicos equivalentes a 116,9 bilhões de
dólares. Os autores estimam que 58% desses ganhos decorreram da redução dos custos agrícolas (menor
aração, reduções de pesticidas e de trabalho) e 42% refletiram o acréscimo da produção correspondente a
377 milhões de toneladas, sendo123 milhões de toneladas de soja, 230,5 toneladas de milho, 17,7 milhões
de toneladas de algodão e 6,5 milhões de toneladas de canola.
Outros autores têm demonstrado uma postura mais cética em relação aos impactos
socioambientais positivos derivados da expansão dos OGMs. Buainain, Bonacelli e Mendes (2015)
ressaltam que os cultivares resistentes ao uso do herbicida glifosato ocupam mais de 70% da área
cultivada com sementes geneticamente modificadas. Conforme ressalta Rausser (1999), o glifosato
tornou-se o herbicida mais vendido do mundo, em parte devido ao crescimento das áreas cultivadas com
os OGMs.
A ampliação da adoção do glifosato nas plantações tende a elevar o risco de contaminação
química dos mananciais e do solo (RELYEA, 2005). Ademais, em 2015, o Estado da Califórnia/ EUA

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incluiu o produto Roundup™, cujo ingrediente é o glifosato, na lista dos produtos potencialmente
cancerígenos.
Outros estudos destacam que as estratégias comerciais adotadas pelas corporações agroquímicas
(Bayer/Monsanto, Dunpont-Dow e Syngenta) têm priorizado o desenvolvimento das culturas agrícolas de
maior apelo comercial. Em 2016, dos 185,1 milhões de hectares semeados com OGM, 178,2 milhões de
hectares foram dedicados ao cultivo da soja, do milho, do algodão e da canola (JAMES, 2016). Dessa
maneira, a imensa maioria das culturas agrícolas – o trigo, a cana, o centeio, o sorgo etc. – parece ter
ficado órfã dos ganhos de produtividade derivados da manipulação do código genético vegetal (GRAFF;
HOCHMAN; ZILBERMAN, 2009).
Nesta visão, a concentração dos investimentos em P&D em apenas 4 tipos de plantas, e a
consequente expansão do cultivo mundial das sementes geneticamente modificadas de soja, milho,
algodão e canola em detrimento das demais culturas agrícolas pode representar uma ameaça à
biodiversidade do planeta (HENLE et al., 2008).
Graff Hochman e Zilberman (2009) levantam uma terceira questão ainda mais preocupante. As
big three companies têm demonstrado forte resistência frente à comercialização das sementes
geneticamente modificadas de maior impacto ambiental. Os autores demonstraram clara surpresa e
preocupação diante deste fato:
[...] as ferramentas biotecnológicas de inserção de novos atributos agronômicos nos
bancos de germoplasma existentes, constituem, de fato, um conjunto de tecnologias
habilitadoras que, ao menos na teoria, podem ser utilizadas (para viabilizar o
desenvolvimento) de uma ampla gama de atributos agronômicos que geram
implicações econômicas distintas. Entretanto, a evolução da biotecnologia agrícola
resultou na produção comercial de um conjunto de atributos muito mais limitado do
que qualquer especialista imaginaria 15 anos atrás (GRAFF; HOCHMAN;
ZILBERMAN, 2009, p. 43).
[...] Os atributos agronômicos órfãos incluem aqueles que são obviamente mais
importantes como a resistência à seca, [...] as tecnologias capazes de aprimorar a
qualidade dos produtos, incluindo o melhoramento dos níveis de proteínas, de
gordura, de vitaminas e sais minerais, [... os atributos capazes de] ampliar a validade
das frutas frescas e vegetais [...]. Esses atributos seriam capazes de reduzir o
desperdício e ampliar a oferta de comida disponível para os consumidores dos países
em desenvolvimento (GRAFF; HOCHMAN; ZILBERMAN, 2009, p. 34).

Os autores supracitados também responsabilizam as Organizações Não Governamentais (ONGs)


contrárias aos OGMs pela lentidão do surgimento/adoção de novas tecnologias agrícolas. De acordo com
essa visão, ao insuflar a rejeição dos consumidores contra os OGMs, muitas ONGs contribuem para
edificar barreiras comerciais ao surgimento de novas empresas que poderiam estar dispostas a explorar as
tecnologias sustentáveis deixadas de lado pelas big three companies. Em última instância, essas barreiras
ajudam a perpetuar o domínio das empresas agroquímicas sobre a indústria sementes, contribuindo,
assim, para a especialização do setor.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ampliação da segurança alimentar têm sido um objetivo prioritário perseguido pela
Organização das Nações Unidas (ONU) desde a sua criação em 1945. Esse objetivo também inspirou a
Revolução Verde, a qual atraiu tanto investimentos públicos quanto doações de fundações privadas com o
objetivo de desenvolver novas sementes híbridas de alta produtividade.
O otimismo frente às revoluções agrícolas do século XX se enfraqueceu na década 70, conforme
os excessos e os efeitos colaterais negativos da Revolução Verde se tornaram mais nítidos. Diante destas
constatações, os investimentos públicos e as doações privadas direcionadas a pesquisa de novos cultivares
minguaram. Concomitantemente, o risco elevado e as frágeis condições de apropriabilidade típicas das
atividades agrícolas afugentaram os investimentos privados na indústria de sementes.
Esse cenário de baixos incentivos mudou nos anos 90. As oportunidades tecnológicas
propiciadas pelo surgimento do paradigma da biologia molecular atraíram as empresas agroquímicas para
a indústria de sementes. Desde então, os esforços de pesquisa passaram a focalizar o desenvolvimento de
OGMs tolerantes à herbicidas e a priorizar algumas poucas culturas agrícolas. Como resultado, o
consumo do herbicida glifosato aumentou mais de 15 vezes desde o início do cultivo dos OGMs em 1996,
gerando diversos efeitos ambientais adversos. Ademais, a concentração dos investimentos de P&D em
apenas 4 plantas - soja, milho, algodão e canola – também têm causado preocupações a respeito da
redução da biodiversidade do planeta.

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O enfoque específico das pesquisas agrícolas conduzidas por grandes corporações agroquímicas
também enseja uma forte resistência frente ao desenvolvimento dos cultivares de maior impacto
ambiental (por exemplo, as plantas que exibem menor dependência frente a utilização de recursos
hídricos), ou, até mesmo, à extensão das tecnologias já existentes para as culturas agrícolas de menor
apelo comercial. Sob esse contexto de especialização crescente da P&D, a retomada dos investimentos
públicos na agricultura representa uma condição crucial para o desenvolvimento das tecnologias
sustentáveis órfãs deixadas de lado pelo setor privado.

6. REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 35
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e Educação

SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO FORMATIVO DOS CURSOS


DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Renata de Macedo1, Juan Arturo Castañeda-Ayarza2


1. Aluna bolsista de Iniciação Científica. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: renata.d.macedo@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração. E-mail: juan.arturo@puc-campinas.edu.br

RESUMO
A crescente importância do desenvolvimento sustentável está pautando as atividades antrópicas em todas
as áreas, como no setor da educação. Atualmente a lei brasileira exige que os cursos de graduação
considerem no processo da formação dos seus alunos as questões sobre a Sustentabilidade. Por isso,
identifica-se a oportunidade de pesquisar como os cursos de graduação em Administração de Empresas
abordam a sustentabilidade nos seus conteúdos curriculares. Para isso, serão analisados o posicionamento
estratégico das instituições educativas, suas grades curriculares e ementas. Como resultado, espera-se
identificar as características e os padrões da abordagem da sustentabilidade no processo formativo dos
administradores no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade, educação ambiental, práticas educativas, ensino superior

1. INTRODUÇÃO
O atual currículo nos cursos de Administração de Empresas, por lei, exige a inclusão de temas
relacionados com a sustentabilidade, educação ambiental tanto pela visão ecológica como também pelo
âmbito da ética que envolve o aspecto social. No Brasil, a educação e as práticas educativas precisam
assumir sua responsabilidade socioambiental e contribuir com a formação de profissionais conscientes do
potencial impacto das suas atividades.
O objetivo principal deste trabalho é pesquisar como os cursos de graduação em Administração
de Empresas abordam a sustentabilidade nos seus conteúdos curriculares.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
Para Joslin (2017), a educação ambiental nas sociedades sustentáveis é um dever, tendo como
suporte a base do pensamento com conteúdo crítico e inovador sobre o assunto, causando assim
transformações na construção da sociedade como um todo
Sachs (2002), afirma que a sustentabilidade é a interação entre a relação socioeconômica e
ambiental, que apresentam diversas perspectivas como, por exemplo, a sustentabilidade social, econômica
e ecológica. O conjunto dessas dimensões forma o eco desenvolvimento.
Jacobi (2003) contextualiza que a sustentabilidade se confronta com o modelo de sociedade de
risco, isto acarreta na necessidade de práticas baseadas no fortalecimento de acesso a informação e a
educação ambiental sob a visão integradora. Surge conjuntamente a percepção de um maior acesso a
informação, para que os meios de informação e o acesso a eles promovam crescimento e desenvolvimento
educacional. Este meio serve como caminho para a inversão da degradação socioambiental.
Nos tempos de hoje, ainda segundo Jacobi (2003), afirma-se que o avanço do sentimento com
valores éticos dentro das comunidades a fim de tornarem-se uma sociedade sustentável é rodeado de
implicações ligadas às instituições sociais, sistemas de informações e comunicação e por fim aos valores
adotados pela sociedade com um todo. A solução a ser tomada para melhoria desta temática está
centralizada na melhora dos sistemas de informação e das instituições sociais como atores no processo de

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comunicação, pois eles serão responsáveis pelo reforço dos argumentos e do processo de conscientização
sobre a necessidade do desenvolvimento sustentável.
Uma das mais importantes ações das instituições de ensino na inserção da sustentabilidade nos
cursos de Administração será a estruturação curricular coerente. É de fundamental importância a
discussão do assunto nas estruturas curriculares dos cursos universitários, com aplicação de disciplinas,
com ementas e planos de ensino onde contenham aspectos socioambientais com qualidade (FARIAS,
2008).
Leff (2002) ratifica que um dos elementos mais importantes para a conscientização da Educação
Ambiental é a escola, fundamentando a relevância da questão ambiental e o olhar em conjunto nos
diversos aspectos, como tempo e espaço. A escola deverá apresentar maneiras úteis para o entendimento
dos fenômenos naturais, as ações humanas e suas consequências para a sua própria espécie, para outros
seres vivos e para o meio ambiente. É de grande magnitude que as pessoas através de desenvolvimento de
conhecimento sustentável na escola, adotem posturas comportamentais que contribuam para um ambiente
salutar e acima de tudo sustentável.
Para isto Freire (1996), menciona que para um adequado crescimento social de um indivíduo é
vital o envolvimento de sujeitos (educador e educando), objetos de conhecimento (conteúdos), e objetivos
mediatos e imediatos a que se refere a prática educativa. Métodos, processos e técnicas e materiais
didáticos necessitam de conformidade com os objetivos. Portanto educação social está relacionada a
transformações com processos alinhados e não é adaptável com improvisos.
Ainda segundo o MEC a prática da educação ambiental possui inúmeros marcos legais como a
Constituição Federal de 1988, a Lei nº 9.7595/99, onde estabelece os compromissos internacionalmente
assumidos. O Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA, criado em 2004, foi criado para
consulta pública para estratégias de planejamento incremental e articulado. No Brasil existem inúmeros
documentos firmados com o intuito de promover estratégias para a sustentabilidade no âmbito
educacional.
Apesar disso, Siqueira (2005) afirma que as universidades nos dias atuais são capazes de
desenvolver alunos com conhecimentos e habilidades necessárias para atender a demanda do mercado,
mas que dentro destes conhecimentos, os valores éticos aparecem como habilidades passivas. Por outro
lado, o mesmo autor também afirma que o novo olhar, sob a visão capitalista, também incentiva a
formação de profissionais que não tenham unicamente a visão empresarial, mas também a visão sobre a
sustentabilidade, a cultura e a sociedade.
De acordo com Tauchen e Brandli (2006), as faculdades e universidades devem ter uma estrutura
para gestão onde os processos envolvam todas as partes, ou seja, todos os stakeholders direta ou
indiretamente, pois ao elaborar um planejamento global cria-se não só a identidade ambiental da
instituição, mas também da comunidade que rodeia a instituição.

3. MÉTODO
A pesquisa se caracteriza com exploratória e aplicada, com uma abordagem quantitativa e
qualitativa. Buscar-se-á mapear as instituições de ensino superior no curso de Administração de
Empresas. Na sequência, pretende-se evidenciar a sustentabilidade na postura estratégica dos cursos,
através da análise da missão e as expectativas sobre o perfil do egresso. Depois, pretende-se avaliar a
grade curricular e as ementas do curso, buscando-se identificar as disciplinas e seus respectivos conteúdos
relacionados com as questões sócias e ambientais.

4. RESULTADOS ESPERADOS
Como resultados, espera-se identificar a forma como os cursos de Administração do país estão
atendendo às exigências legais que buscam que os profissionais se formem tanto com conhecimentos
específicos relacionados às próprias práticas profissionais, quanto consciência sobre a realidade social e
ambiental do país.
Assim, espera-se encontrar e discutir características e padrões sobre abordagem da
sustentabilidade no processo formativo dos administradores no Brasil.

5. REFERÊNCIAS

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FARIAS, C. R. O. A produção da política curricular nacional para a educação superior diante do


acontecimento ambiental: problematizações e desafios. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos,
2008.

FREIRE, P. Educação e mudança. 20ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

JACOBI, P. R. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. n.118, p. 189-205, março/2003.

JOSLIN, M.F. A. A política de inclusão em questão: uma análise em escolas da Rede Municipal de
Ensino de Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2017.

LEFF,E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2002.

REIS, L. B. Energia, recursos naturais e a prática do desenvolvimento sustentável. 2º Ed. São Paulo:
Manole, 2012.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 2ºed. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

SIQUEIRA, M. M. O ensino superior e a universidade. Revista RAE-eletrônica, v. 4, n. 1, Art. 15,


janeiro/julho, 2005.

TAUCHEN, J.; BRANDLI, L. L. A Gestão ambiental em instituições de ensino superior: modelo


para implantação em campus universitário. Revista Gestão e Produção, vol. 13, n. 3, p. 503-515,
setembro/dezembro, 2006.

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CAPÍTULO 36
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e educação

SUSTENTABILIDADE URBANA E CIDADES EDUCADORAS12

Raquel Steluti Alfonsetti1, José Roberto Merlin2


1. Graduanda em Arquitetura e Urbanismo. Aluna bolsista de Iniciação Científica. Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). E-mail: raquel.sa@puccampinas.edu.br
2. Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de Economia
e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
jrmerlin@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar e entender como os espaços públicos podem ser elementos
estruturadores de um rico potencial pedagógico urbano, atuando na vida dos cidadãos, a partir dos
conceitos de sustentabilidade e patrimônio. A pesquisa busca ir além dos conceitos oriundos da
Associação Internacional das Cidades Educadoras – AICE, que apregoa que a educação deve ultrapassar
os limites da escola e alcançar todo o território circundante, desenvolvendo locais fora da escola para o
aprendizado. Sustentabilidade e Educação estão umbilicalmente conectados e pode-se dizer que não
existe uma Cidade Educadora sem ser sustentável, e os espaços públicos, por sua vez, se tornam agentes
formadores e informadores dos cidadãos, facilitando as relações inter-humanas e com o ambiente. Já o
patrimônio construído, oferece elementos educadores revelados através da forma e da simbologia,
evidenciando características materiais e imateriais, rememorando, coletiva ou individualmente, eventos
pregressos. Sob tais aspectos, após inúmeras pesquisas bibliográficas, iconográficas e documentais acerca
dos conceitos interconectados – Sustentabilidade, Patrimônio Arquitetônico e Educação – foi possível
analisar espaços públicos de Campinas/SP que se apresentem com tais características espaciais, revelando
potencialidades educadoras e garantindo a Sustentabilidade Urbana, Social, Ambiental, Cultural e
Histórica, enfatizando a função social da cidade e promovendo a cidadania.

PALAVRAS-CHAVE: Espaços públicos, Sustentabilidade, Educação, Patrimônio.

1. INTRODUÇÃO
Os espaços públicos da cidade são os principais cenários que permitem encontros, relações
interpessoais e troca de conhecimentos e informações entre os cidadãos e destes com a própria natureza
em que estão inseridos, sendo necessário que estes espaços retratem e acolha os indivíduos que deles
usufruirão. Cada cidadão está intrinsecamente relacionado com o ambiente em que está inserido e
apresenta uma diferente percepção ambiental, ligada diretamente aos sentidos, e obtém assim, sua própria
cognição acerca do espaço, sendo reflexo de seus valores, cultura, experiências e vivências,
individualidade esta que faz parte da diversidade social e cultural existente no meio urbano. Assim, a
arquitetura, por si só, pode influenciar e instigar emoções, além da sua função básica e social.
Estes parâmetros se encaixam no conceito de Psicologia Ambiental, que representa diretamente
essa relação pessoa-ambiente, visto que o ser humano transforma o espaço e este também o transforma,
através de estímulos às suas percepções e cognições. Além disso, os parâmetros supracitados também se
relacionam com os conceitos de sustentabilidade social e urbana, que visam a qualidade de vida dos
cidadãos em espaços públicos significativos, que ofereçam as características necessárias ao bem estar no
meio urbano e coletivo.

12 Este resumo expandido faz parte da pesquisa de Iniciação Científica concluída em Agosto de 2019 e tem como
Projeto de Pesquisa: Cidade- morfologia, sustentabilidade, qualidade espacial e pedagogia da rua. Pertence ao
Grupo de Pesquisa: Requalificação Urbana. Com as Linhas de Pesquisa: Projeto, Inovação e Gestão em Arquitetura
e Urbanismo; Teoria, História e Crítica em Arquitetura e Urbanismo; Ciência, Sociedade, Políticas Públicas e
Sustentabilidade. Tem como orientador o Prof. Dr. José Roberto Merlin, da Instituição PUC-Campinas. A Bolsa
destinada a esta pesquisa é proveniente de PIBIC/CNPq.

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Entretanto, simultaneamente à existência dos inúmeros aspectos históricos, culturais e sociais


que formam as diversidades presentes na cidade, constata-se que, contraditoriamente, são nos espaços
públicos que se enxerga com mais nitidez as diferentes formas de desigualdade, discriminação e
preconceitos.
Dessa forma, os espaços introjectam no meio urbano potencialidades inerentes ao espaço,
podendo agir de maneira deseducadora ou educadora, incitando e fortalecendo a construção do próprio
exercício da cidadania. O patrimônio existente na cidade tem o potencial de possibilitar diálogos entre as
comunidades detentoras ou não de referências culturais, encorajando o sentimento de identidade e
pertencimento a um grupo, sendo um aspecto inteiramente educador, com a capacidade de fazer com que
os próprios cidadãos, coletivamente, reconheçam, valorizem e preservem o patrimônio e possam, com as
trocas de saberes, ir contra os preconceitos culturais e históricos existentes.
Estas relações biunívocas que extrapolam a materialidade do espaço, tornando indissociável as
relações entre o sistema de objetos e o sistema de ações, passam a caracterizar uma nova categoria,
conceituada como instância social, tornando os lugares urbanos objetos informativos e formativos do
cidadão, seguindo, por sua vez, além dos limites das instituições educacionais, fazendo dos diferentes
espaços públicos uma grande escola aberta.
Assim, os espaços públicos sustentáveis são, por definição, educadores, agindo de maneira
pedagógica no espaço e no desenvolvimento dos indivíduos. Isto pactua diretamente com os conceitos da
Associação Internacional das Cidades Educadoras, que foca no papel do território na educação, buscando
interações e relações harmônicas entre os cidadãos e destes com a cidade, mas reflete também conceitos
oriundos do programa de Educação Patrimonial abordados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional) – responsável pela política de patrimônio cultural em nível nacional,
visando a construção coletiva do conhecimento.
A partir da análise desses conceitos inter-relacionados, nota-se o quão fundamental é o papel do
arquiteto e urbanista na transformação e qualificação dos espaços públicos arquitetônicos e de valores
históricos da cidade, buscando potencializá-los como educadores, sustentáveis e promotores da cidadania,
igualdade, justiça e conhecimento.

2. METODOLOGIA
A partir de pesquisas bibliográficas, iconográficas e documentais acerca dos conceitos de
“Cidades Educadoras”, “Patrimônio” e “Sustentabilidade” e tendo como base a Carta Internacional das
Cidades Educadoras e outros autores, foi possível a construção de um embasamento teórico que
possibilitou a identificação e qualificação dos elementos espaciais e sociais que caracterizassem os
espaços públicos como potencialmente educadores. Dentre eles, vale ressaltar as formulações de José
Roberto Merlin e Eugênio Queiroga (2011) no texto Sobre espaços públicos potencialmente educadores,
que caracteriza espaço potencialmente educador quando: possui relações adequadas com o entorno,
reflete a história do lugar, propicia encontros e relações humanas, suscita diferentes sensações,
percepções e cognições e apresenta boas qualidades arquitetônicas e de design.
Posteriormente, foram selecionados espaços públicos de Campinas/SP que se apresentam com as
características elencadas na pesquisa teórica, mostrando-se potencialmente educadores e promotores da
cidadania, evidenciando a função social da cidade, da arquitetura e do urbanismo.

3. ESPAÇOS ANALISADOS COMO POTENCIALMENTE EDUCADORES


3.1. Parque Portugal
É um extenso parque localizado no bairro Taquaral de Campinas/SP. Foi inaugurado em 5 de
novembro de 1972, recebendo o nome de Parque Portugal em homenagem à comunidade lusitana de
Campinas.
Com área de 165.830 metros quadrados, se tornou uma das principais áreas de lazer, passeio e
esportes para a população campineira e para os turistas, possuído inúmeras atividades e atrações como:
Pistas de ciclovia, caminhada, aeromodelismo e patinação; quadras esportivas; aparelhos de ginástica
acessíveis; pedalinhos; playgrounds; o Auditório Beethoven (Concha Acústica) com capacidade para
2.000 pessoas, inaugurado em 1976 como uma réplica da concha do Parque Lincoln em Nova York; o
Planetário de Campinas; a Biblioteca Guy- Christian Collet, maior centro de estudos da América Latina
sobre cavernas; o Museu dos Esportes inaugurado em 2016, dedicado ao esporte de Campinas, com peças
do acervo da Secretaria de Esportes e Lazer e também dos diversos clubes da cidade; o Bonde elétrico,

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que permite reviver a época em que este era um dos principais meios de transporte utilizados; e a
Caravela Anunciação, réplica daquela usada por Pedro Álvares Cabral quando descobriu o Brasil.
Figura 1 – Lagoa do Taquaral

Fonte: Trip Advisor (2016).

Apresenta-se como um espaço público potencialmente educador e qualifica a cidade de


Campinas, dispondo de valores culturais e históricos locais e nacionais, como o Bonde Elétrico, o Museu
dos Esportes, a Biblioteca Guy-Christian Collet, a Caravela Anunciação e seu próprio nome, “Parque
Portugal”, que homenageia os portugueses com inserção histórica em Campinas.
Concomitantemente, o parque revela diferentes possibilidades de encontros, convívios e trocas
de vivências entre os frequentadores, seja nas quadras de esportes, nos aparelhos de ginástica, no
auditório, bonde elétrico, caravela ou simplesmente nas áreas livres. Sendo assim, os exercícios da
cidadania e do reconhecimento dos valores históricos e culturais podem ser potencialmente praticados, no
âmbito coletivo.
Quanto à sustentabilidade, o Parque é um espaço completamente voltado à preservação e
conservação da Lagoa e toda área ao seu redor, podendo assemelhar-se, mesmo que em menor escala, ao
Central Park em Nova York, pois ambos se caracterizam pela extensa área verde que contrasta com a
cidade construída. Além disso, a qualidade de vida, proporcionada com o incentivo da prática de esportes,
lazer, sensações humanas e vivenciais culturais, e a qualidade dos espaços lá existentes, promovendo
transformações mútuas qualificadas entre pessoa-ambiente, são aspectos que refletem a sustentabilidade
social, ambiental e urbana. Em 2016, Parque foi cenário do concurso para a Casa da Sustentabilidade,
desenvolvido pela Secretaria do Verde, Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, junto com o
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e a Prefeitura Municipal de Campinas que tinha como diretriz
“incentivar o desenvolvimento e construção no Brasil de uma arquitetura alinhada as questões ambientais,
de necessidade do estabelecimento de um paradigma transformado de como estabelecer uma convivência
viável e durável no planeta", ou seja, aspectos intrínsecos aos conceitos abordados nesta pesquisa, acerca
da sustentabilidade e relações humanas que qualificam e transformam o espaço.

3.2. Praça Carlos Gomes


Localizada no Centro de Campinas, SP e próxima da Prefeitura Municipal, é umas das praças
mais belas e populares da cidade, desde seu surgimento. Inaugurada em 1870 com o nome de Praça Sete
de Setembro, foi em 1880 que recebeu o atual nome de Praça Carlos Gomes, homenageando o cantor e
compositor campineiro Antônio Carlos Gomes.
Apresenta em sua composição inúmeras palmeiras imperiais, um lago ao centro, um coreto
originalmente para apresentações musicais, e também, um terminal de transporte coletivo, o primeiro a
suportar ônibus biarticulados, possibilitando sua integração mais efetiva com o restante da cidade.
Atualmente a Praça ainda recebe atrações ocasionalmente, como eventos gastronômicos e shows,
momentos que possibilitam encontros e convívio no ambiente público.

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Figura 2 – Evento gastronômico

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).

Todos esses elementos que a compõem possibilitam a socialização, interação com a natureza e
diferentes sensações – musicalidade, gastronomia, paisagem –, enfatizando seu potencial educador,
incitando percepções individuais, que refletem as vivências de cada um, compondo a história coletiva.
Além disso ela se mostra inteiramente cultural e patrimonial, contendo diversos aspectos de grande valor
histórico tanto para a sociedade quanto para a cidade, preservando elementos que ainda fazem parte de
sua popularidade desde seu surgimento, como o coreto, o nome como homenagem ao músico e mais
importante cidadão campineiro Carlos Gomes, o chafariz e as palmeiras imperiais que, por sua vez,
rememoram a história num âmbito nacional.
Elementos que interligam-se com a sustentabilidade social, urbana e ambiental, contando com a
presença de muita vegetação, água e tranquilidade bem no centro de Campinas, refletindo um imenso
contraste com seu entorno, rodeada por prédios e grandes avenidas, além do seu terminal de transporte
coletivo, que permite que a população se desloque pela cidade e, consequentemente, passe pela Praça,
interligando-a indiretamente a outros pontos.

3.3. Praça Bento Quirino


Pertence ao Largo do Carmo, marco zero da cidade, dividido ao meio pela rua Benjamin
Constant e dando origem à duas praças, Antônio Pompeu (contém o Jockey Club Campineiro e
monumento em homenagem à Bento Quirino) e Bento Quirino (contém a Igreja Nossa Senhora do Carmo
e o Monumento-Túmulo que faz homenagem ao cantor e compositor campineiro Carlos Gomes).
Bento Quirino dos Santos foi um importante comerciante de Campinas na Rua Sacramento e
prestou inúmeros serviços à cidade durante a epidemia de febre amarela que assolou a região em 1889.
Além disso, fundou a Santa Casa de Misericórdia de Campinas, o Colégio Culto à Ciência e a companhia
Campineira de Água, se tornando também presidente da Companhia Mogiana. E, graças a esses feitos, a
Praça foi nomeada em sua homenagem, como também foi instalado um monumento em comemoração ao
centenário de seu nascimento.
O edifício construído para ser a sede do Jockey Club Campineiro, foi inaugurado na Praça Bento
Quirino em 1925 e foi intensamente frequentado pela alta sociedade, sendo palco de inúmeras festas,
recitais clássicos, declamações, carnavais e ponto de encontro das famílias tradicionais. É também o
edifício onde o primeiro elevador de Campinas foi instalado. Mesmo com o fim das corridas de cavalo
que ocorriam no Hipódromo do Bonfim, o edifício ainda permaneceu com suas características principais,
sendo tombado pelo CONDEPACC em 1994, sendo palco de inúmeros eventos até hoje.

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Figura 3 – Monumento a Bento Quirino

Fonte: Pró memória de Campinas (2010).

Tais elementos enfatizam todo o caráter patrimonial e histórico da Praça, marco zero da cidade,
primeira capela construída, sede do Jockey Club e os monumentos que homenageiam grandes nomes da
cidade. Isto a torna potencialmente educadora, visto que a própria história descrita através da arquitetura
tem sua função pedagógica.
Os arredores da praça são compostos por restaurantes e bares, incluindo a fachada do Jockey,
além disso, em determinados dias da semana, o Largo como um todo recebe comerciantes que realizam
feiras ao ar livre, ocupando suas regiões centrais, possibilitando as relações interpessoais e as trocas de
saberes, potencializando assim, o exercício da cidadania, vinculada aos aspecto da sustentabilidade
histórica, cultural, social e urbana.

3.4. Centro de Convivência Cultural


Localizado no bairro Cambuí – caracterizado na época pelos casarões residenciais das famílias
abastadas –, foi projetado pelo arquiteto Fábio Penteado e inaugurado em 9 de setembro de 1976,
compondo a atual Praça Imprensa Fluminense. Anteriormente, o local compreendia duas quadras, sendo
que uma constituía o Passeio Público de Campinas com inspiração no Passeio público do Rio de Janeiro e
a outra, situava a Escola Municipal Cesário Mota. O projeto foi feito para suprir a demolição do Teatro
Municipal Carlos Gomes em 1965, como parte das reformas do “Plano de Melhoramentos Urbanos” de
Prestes Maia e, contou com a junção de tais quadras em apenas uma, circular.
O Centro nasceu da necessidade de um espaço de encontro e contato com os elementos da
cultura e do teatro. É composto por quatro edifícios em cruz, em que as partes superiores formam
arquibancadas para o Teatro de Arena, projetado para ser utilizado pela população em todas as horas do
dia, não somente em momentos de espetáculo, tendo a capacidade para aproximadamente cinco mil
pessoas. Como apoio luminotécnico para o teatro, foi instalada uma torre em concreto aparente marcante
na paisagem urbana. Há também, um teatro interno para 500 pessoas, um espaço para exposições de arte e
um espaço para restaurante ou bar. Esses quatro blocos de edificações seriam interligados por um galeria
semienterrada com o intuito de ser uma calçada coberta, para que as pessoas pudessem atravessar e,
concomitantemente, estar em contato com os elementos culturais do Centro, sendo assim, um espaço
multifuncional.

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Figura 4 – Teatro de Arena

Fonte: Flickr (2015).

Em 2008 foi tombado pelo CONDEPACC, levando em conta sua configuração inovadora e o
princípio de democratização do espaço urbano, além da expansão da função “teatro” à uma praça aberta,
expandindo os espetáculos a um público mais amplo e promovendo a fluidez do espaço.
Atualmente, o Centro de Convivência Cultural está fechado devido a inúmeros problemas
técnicos e má conservação do espaço. Entretanto, a Praça Imprensa Fluminense, é cenário de feiras de
artesanatos e gastronomia que ocorrem aos finais de semana, promovendo intensa circulação populacional
no local.
Apesar da não utilização das construções, o usufruto da praça pela população é motivado por
inúmeras possibilidades de encontros e convívios, como o projeto inicial previa, sendo espaço da vida
cotidiana buscando integrar a praça com a cultura, através do livre acesso. Dessa forma, perdura o
exercício da cidadania, promovendo relações com a sustentabilidade social e urbana, engendrando boa
qualidade de espaço devido as apropriações pelos cidadãos.

3.5. Unicamp
A universidade, por si só, é o puro espaço da construção coletiva do conhecimento, saberes e
vivências, e, seus espaços de caráter público, implicam na não restrição do acesso, estudo e pesquisa.
Desse modo, a universidade pública se torna um espaço coletivo e público que também propicia
encontros e trocas, assim como nos demais espaços da cidade, se tornando o palco de manifestações
políticas de extrema importância para a sociedade e para os estudantes envolvidos.
A Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP foi inaugurada em 5 de outubro de 1966,
instalada na borda da malha urbana de Campinas, a 12 Km do centro. Possibilitou o desenvolvimento de
uma nova centralidade para a cidade, intensificada com a chegada dos estudantes e demais cidadãos que
passariam a usufruir desse novo espaço, graças a universidade.
A elaboração do seu desenho urbano é comparada com o “Plano de Melhoramentos Urbanos” de
Prestes Maia desenvolvido para a cidade de Campinas no período de 1934 a 1962, com o objetivo de
alargar as vias da cidade e criar anéis viários circundando o centro, além de outros pequenos anéis para
coordenar regiões de menor escala, com destaque para o anel viário da Torre do Castelo, gerando
diferentes centralidades. Assim, nota-se a semelhança entre estes anéis viários da cidade e os anéis que
guiam a Unicamp e circundam o chamado Ciclo Básico, composto por edifícios que circundam uma
grande praça aberta ao centro. É uma das principais áreas da universidade, visto que é o local do
aprendizado básico, independente do curso, o que possibilita o encontro, o convívio e a sociabilização
entre os estudantes de diferentes áreas.
Concomitantemente, é nessa mesma praça central do Ciclo Básico que ocorrem, frequentemente,
feiras populares gastronômicas e de artesanatos, evidenciando assim, o contato entre escola e cidade,
promovendo o encontro de diferentes pessoas, alunos ou não, intensificando as trocas de experiências e
vivências entre os indivíduos frequentadores.

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Figura 5 – Feira no Ciclo Básico

Fonte: Foursquare, Rafael P. (2012).

Além deste elemento, a Universidade também possui o Museu Exploratório de Ciências, que
atrai inúmeras pessoas, principalmente, pela vista que sua localização possibilita, a Casa do Lago, que
busca o incentivo e desenvolvimento de produções artísticas e culturais e o Parque Ecológico Prof.
Hermógenes de Freitas Leitão, conhecido como Lagoa da Unicamp, um local para relaxamento, prática de
exercícios e convivência.
Desse modo, é nítida a presença de espaços para uso público que se configuram como
educadores, possibilitando encontros, relações interpessoais e com o ambiente, diferentes sensações,
percepções e cognições únicas e inter-relações com cultura e arte, permitindo, consequentemente,
qualidade de vida aos frequentadores e transformações qualificadas na dualidade pessoa-ambiente.

5. RESULTADOS OBTIDOS
Através das análises e estudos acerca dos espaços selecionados e embasados nos conceitos
supracitados – Sustentabilidade, Patrimônio e Educação –, concluiu-se que cada espaço possui sua
particularidade, proporcionando sensações e percepções próprias, refletindo individualmente relações
inter-humanas e com o ambiente, no qual ocorrem transformações mútuas na dualidade pessoa-ambiente
compondo todo o coletivo. Notou-se também que os espaços estudados apresentam semelhanças entre si
quanto à memória histórica, relações humanas e com o ambiente e os vínculos com a sustentabilidade,
mostrando-se como espaços com grandes potenciais educadores que qualificam a cidade e a vida de seus
cidadãos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos estudos teóricos e sua aplicação empírica constatou-se que os espaços públicos
potencialmente educadores se destacam no meio urbano por potencializarem os exercícios da cidadania e
enfatizarem o papel civilizatório e social da cidade, através da arquitetura e do urbanismo, e, através deste
trabalho, foi possível investigar quais parâmetros os tornavam ou não potencialmente educadores. Assim,
podem servir como referências para concepções mais eficazes de novos espaços públicos com potenciais
pedagógicos, propugnando pelo aumento da qualidade de vida urbana.

7. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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8. REFERÊNCIAS

AICE- Carta das Cidades Educadoras. Declaração de Barcelona (1990), revisões Bologna (1994) e
Genova (2004). Acessado em 10/04/2019 de <http://www.edcities.org/wp-
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ARNALDO, T. R.; MELO, A. C.; ANDRADE, A. V. A. A influência do ambiente no usuário: aplicação


para um centro de tratamento de transtornos do humor. XIV Fórum Ambiental, Alta Paulista. 2018.

BESETI, M. L. T. Ambiência: espaço físico e comportamento. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. Rio de
Janeiro. 2014.

DEMANTOVA, G.; RUTKKOWSKI, E. W. A sustentabilidade urbana: Simbiose necessária entre a


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Vitruvius, set. 2007. Acessado em 17/04/2019 de
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.088/210>.

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MERLIN, J. R.; QUEIROGA, E. F. Sobre espaços públicos potencialmente educadores. Quapa-Sel.


2011. Acessado em 18/04/2019 de <https://silviomacedo.files.wordpress.com/2011/11/artigo-21.pdf>

NOGUEIRA, P. R. Educação Patrimonial é aprender com o mundo e a cultura que construímos.


Acessado em 12/05/2019 de <https://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/07/07/educacao-patrimonial-e-
aprender-com-o-mundo-e-a-cultura-que-construimos/>

RESULTADO DO CONCURSO NACIONAL PARA A CASA DA SUSTENTABILIDADE (2016).


Acessado em 08/04/2019 de https://www.archdaily.com.br/br/783503/resultado-do-concurso-nacional-
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SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond. 2002.

SILY, P. R. M.; PÉREZ, C. L. V.; OLIVEIRA, I. B.; DEZEMONE, M.; RAMOS, C. A cidade como
espaço educativo. Ano XVIII boletim 03 - Abril de 2008, Rio de Janeiro.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 37
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e educação

MÉTODO PBL NO PROCESSO FORMATIVO DA PÓS-GRADUAÇÃO NA


PERCEPÇÃO DOS PRÓPRIOS ALUNOS

Juan Arturo Castañeda-Ayarza1, Samuel Carvalho De Benedicto2,


Denise Helena Lombardo Ferreira3, Marileide Barbosa4

1. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),


Centro de Economia e Administração. E-mail: juan.arturo@puc-campinas.edu.br
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
3. Docente e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: lombardo@puc-campinas.edu.br
4. Mestre em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:
barbosa.marileide@gmail.com

RESUMO
Diversos métodos de ensino-aprendizagem, alternativos ao método tradicional de transmissão e recepção
de conteúdos, estão sendo propostos e discutidos por pesquisadores, visando melhorar a formação dos
profissionais. Um dos métodos que está sendo aplicado em diversas áreas educativas e em diversos níveis
de formação é a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL). No entanto, ainda não há muitas
evidências sobre as vantagens e desvantagens da aplicação desse método em cursos de pós-graduação.
Consequentemente, o objetivo do trabalho é ampliar a discussão sobre o uso do PBL como método de
ensino nos cursos de pós-graduação Stricto Sensu. Para isso, buscou-se identificar a percepção dos alunos
do curso de Mestrado Interdisciplinar em Sustentabilidade, de uma universidade privada do interior do
estado de São Paulo – Brasil. Os resultados mostram a aceitação e fácil adaptação dos alunos ao método
PBL, ressaltando-se principalmente que esse método possibilita desenvolver competências necessárias
para melhorar o desempenho dos alunos em atividades inerentes a um curso de pós-graduação e à
pesquisa científica.

PALAVRAS-CHAVE: PBL. Método de ensino e aprendizagem. Desenvolvimento de competências.


Pós-graduação.

1. INTRODUÇÃO
O cenário clássico de sala de aula vem sendo contestado internacionalmente, seja pela sua baixa
eficiência no processo de construção de conhecimento, ou também pela impossibilidade de construir
competências que permitam melhorar o trabalho em equipe, a análise crítica, o exercício de pesquisa
bibliográfica e documental, entre outras (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004).
São diversos os esforços que ocorrem visando inovar os processos de ensino e aprendizagem,
que se contraponham aos modelos didáticos de ensino apoiados em perspectivas ditas tradicionais, em
que o professor é o centro do processo de transmissão de saberes para alunos que apenas recebem e
memorizam o conhecimento transmitido (SOUZA; DOURADO, 2015).
Os métodos ativos - Aula Invertida, Problematização, Portfólio, Peer instruction, Método do
Caso (Teaching Case), Aprendizado baseado em equipe (Team-based Learning - TBL), Aprendizagem
baseada em projetos (Project-Based Learning) e Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem Based
Learning - PBL) – são exemplos desses esforços (DIESEL et al., 2017). Diferentemente do método
tradicional, os métodos ativos propõem que o processo esteja centrado no estudante, estimulando-o a
buscar, entender e utilizar informações de forma autônoma e reflexiva, auxiliando na discussão e na
proposta de soluções junto a seus pares (KWAN, 2000).
O PBL surge como uma dessas estratégias de método inovador em que os estudantes trabalham
com o objetivo de solucionar um problema real ou simulado a partir de um contexto. Trata-se, portanto,

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de um método que o estudante deixa o papel de receptor passivo do conhecimento e assume o lugar de
protagonista de seu próprio aprendizado por meio da pesquisa (SOUZA; DOURADO, 2015).
De acordo com Borochovicius e Tortella (2014), para que a aprendizagem ocorra, ela precisa ser
necessariamente transformacional, exigindo do professor uma compreensão de novos significados,
relacionando-os às experiências prévias e às vivências dos alunos, permitindo a formulação de problemas
que estimulem, desafiem e incentivem novas aprendizagens. Nesse contexto, surge a possibilidade da
aplicação do PBL, com o propósito de incentivar o aprendizado dinâmico do conteúdo teórico, fortalecer
a sua capacidade de resolver problemas e envolvê-lo no aprendizado.
Na literatura científica nacional e internacional existem relatos indicando experiências bem
sucedidas na utilização do método PBL na educação básica (CARVALHO, 2013; DOURADO; SOUZA,
2015), na graduação (ESCRIVÃO FILHO et al., 2010; O DOHERTY et al., 2018; PARK et al., 2007;
ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2008; ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2009; SPRONKEN-SMITH;
HARLAND, 2009) e na pós-graduação Lato Sensu (ARAÚJO et al., 2010; ERAPURO-PIILA et al.,
2014; RIBEIRO; MIZIKAMI, 2005). Entretanto, existem poucos relatos de experiências da aplicação do
método PBL na pós-graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado) (MARTINS, et al., 2015). É neste
sentido que este estudo pretende apresentar a sua contribuição, com o seguinte objetivo: ampliar a
discussão sobre o uso do PBL como método de ensino nos cursos de pós-graduação Stricto Sensu.

2. ORIGEM E CONCEITUAÇÃO DO PBL


O PBL foi desenvolvido na área de educação médica no Canadá, Holanda e Estados Unidos no
começo da década de 1970 e tem sido adotado e adaptado por outras áreas acadêmicas, como
administração, arquitetura, direito, engenharia, trabalho social e educação (CHRISTOPOULOS;
STEINBECK, 2016; CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004).
Há várias conceituações para o PBL. Para Delisle (2000, p. 5), o PBL é “uma técnica de ensino
que educa apresentando aos alunos uma situação que leva a um problema que tem de ser resolvido”. O
PBL ainda pode ser conceituado como uma curiosidade que leva à ação de fazer perguntas diante das
dúvidas e incertezas sobre os fenômenos complexos do mundo e da vida cotidiana. Nesse processo, os
alunos são desafiados a comprometer-se na busca pelo conhecimento, por meio de questionamentos e
investigação, para dar respostas aos problemas identificados (BARELL, 2007; SAVERY, 2006).
Dourado e Souza (2015, p. 184 e 185) apresentam o PBL como
uma estratégia de método para aprendizagem centrada no aluno, que precisa de
investigação, individual e grupal, que utiliza técnicas de análise crítica, para a
compreensão e resolução de problemas de forma significativa e em interação contínua
com o professor tutor.

O desafio do PBL é transformar o estudante em um ser independente e autônomo no processo de


aprendizagem (FREZATTI et al., 2018). Comparativamente ao método tradicional, o PBL oferece
diversas vantagens, como o desenvolvimento da autonomia, a interdisciplinaridade, a indissociabilidade
entre teoria e prática, o desenvolvimento do raciocínio crítico e de habilidades de comunicação e a
educação permanente (BORGES et al., 2014).
Para Ribeiro e Mizukami (2005), o PBL é considerado um método inovador na medida em que
consegue incorporar e integrar conceitos de várias teorias educacionais e operacionalizá-los na forma de
um conjunto consistente de atividades. Por exemplo, algumas atividades envolvidas no PBL, tais como a
identificação, a investigação e a solução de problemas, o trabalho em equipe etc., são indicados pela
teoria da psicologia cognitiva como formas de aprimoramento dos processos de ensino e aprendizagem.
Segundo Ribeiro e Mizukami (2005), o método PBL traz mudanças para o papel dos professores
e estudantes. Cria-se um grupo tutorial, composto de um tutor (professor) e de cinco a oito estudantes, dos
quais um será o líder e o outro, o secretário. Os professores passam a ser tutores com a função de orientar,
facilitar, explicar conceitos, ajudar os alunos a delinear questões, sanar dúvidas com relação aos requisitos
do projeto e às tarefas a serem cumpridas. Um bom tutor, segundo Araújo et al. (2010), deve ter as
seguintes características: conhecimento, atributos pessoais (aceitação e responsabilidades) e habilidades
relacionais.
Araújo et al. (2010) afirmam que a mudança dos papéis de professores e estudantes, geralmente,
apresenta algumas vantagens e desvantagens para o ensino e aprendizagem. As principais vantagens são:
i) PBL centrado no estudante: nutre a aprendizagem ativa, melhora compreensão, a retenção e
desenvolvimento da habilidade de aprendizado por toda vida; ii) competências genéricas: permite aos
estudantes desenvolver atitudes e habilidades genéricas desejáveis a sua prática futura; iii) integração:

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facilita um núcleo de um currículo integrado; iv) motivação: é divertido para os estudantes e tutores, e o
processo requer que todos os estudantes estejam envolvidos no processo de aprendizagem; v)
aprendizagem profunda: nutre a aprendizagem profunda (estudantes interagem com os materiais de
aprendizado, relaciona conceitos para atividades cotidianas, e melhora a compreensão deles) e, vi)
abordagem construtivista: estudantes ativam o conhecimento prévio e constroem as estruturas do
conhecimento conceitual existente.
Segundo os autores, as principais desvantagens são: i) tutores que não podem ensinar: tutores
gostam de transmitir seu próprio conhecimento e compreensão de forma a entender que a facilitação do
PBL é difícil e frustrante; ii) recursos humanos: maior corpo docente para alcançar parte no processo
tutorial; iii) outros recursos: grandes números de estudantes necessitam acesso a mesma biblioteca e
recursos computacionais simultaneamente; iv) sobrecarga de informações: estudantes podem estar
inseguros quanto ao auto estudo dirigido a fazer e qual informação é relevante e útil.
No método PBL, o problema, baseado em situações significativas e contextualizadas no mundo
real, é o ponto de partida para o processo de aprendizagem (MASETTO, 2004). Ylitalo et al. (2012)
ressaltam a importância de utilizar casos reais para o processo de aprendizagem no método PBL, pois
dessa forma facilita-se e melhora-se a eficiência das atividades laboratoriais e de pesquisa bibliográfica e
documental, as quais serão fundamentais para a construção dos novos conhecimentos e da proposta de
solução do problema proposto.
O problema precede à teoria, atuando como o foco da aprendizagem, promovendo a integração
dos conceitos e habilidades necessários para sua solução. Na sequência, disponibilizam-se ao estudante
recursos e orientações à medida que se desenvolve a solução do problema proposto e a evolução dos
conteúdos da disciplina (BARROWS; TAMBLYN, 1980; MAYO et al., 1993). A Figura 1 apresenta uma
sequência circular e dinâmica das atividades envolvidas no método PBL.

Professor apresenta uma


situação-problema

No final do processo, o
professor “especialista”
apresenta um referencial Equipe problematiza,
teórico e discute soluções define o problema central

Equipe soluciona o Equipe constrói


problema, de acordo com fundamentação
o referencial que conceitual para sua
construiu proposta prática

Figura 1 – Sequência das atividades envolvidas no método PBL


Fonte: Carvalho (2018).

3. PBL APLICADO EM DIVERSAS ÁREAS


Álvarez García et al. (2011) publicaram um estudo de caso do uso adaptado do PBL, na
disciplina Programação de Web, no curso de ciências da computação na Universidade de Oviedo, na
Espanha. A busca por novos métodos de aprendizagem foi influenciada pela identificação da falta de
motivação dos alunos diante do método tradicional utilizado e, também, pela oportunidade de desenvolver
novas competências, como a autoaprendizagem e o trabalho em equipe. A escolha do PBL foi baseada em
pesquisas que mostravam evidências científicas de resultados obtidos com o método PBL em várias
universidades e em revisões bibliográficas que discutiam a eficiência do método (ALBANESE;
MITCHELL, 1993; BRIDGES; HALLINGER, 1997). Os resultados do estudo de caso mostraram melhor
desempenho dos alunos e menor absenteísmo nas aulas.
Gibbings e Morgan (2005) apresentam a experiência da Universidade de Southern Queensland,
na Austrália, que implementaram o método PBL em todos seus cursos de engenharia, através de um
manual elaborado por eles mesmos. A busca por novos métodos, especificamente pelo PBL, baseou-se no
entendimento de que o profissional da engenharia precisa de competências que lhe permitam resolver os
variados e constantes problemas na prática da profissão, de forma criativa, apoiando-se nas novas
tecnologias e trabalhando em equipe (incluindo equipes multidisciplinares). O manual elaborado buscou
facilitar a aplicação do PBL em novas turmas e na integração de novos professores (para assumirem o

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papel de facilitadores). Os resultados da pesquisa apontam os ganhos no processo formativo dos alunos
por meio do PBL e o manual de aplicação do método permitiu superar dificuldades como a falta de
experiência dos professores e as dificuldades de adaptação dos alunos ao novo método.
Haigh (2010) publicou uma pesquisa realizada no curso de gestão ambiental, na Universidade de
Oxford Brookes, no Reino Unido, que utiliza o PBL como método nas aulas práticas, após a etapa
expositiva. O uso do PBL foi motivado pela possiblidade de fornecer aos alunos a oportunidade de
desenvolver competências para resolver problemas reais, próprios nos trabalhos de campo. No artigo,
relata-se o uso de um problema relacionado com as técnicas de controle de erosão e a validade das
alternativas de solução. Ainda, o problema trabalhado por meio do PBL, encorajou os alunos a considerar
o uso da terra como questão importante na gestão sustentável da terra. Os resultados da pesquisa
apontaram que a maioria dos alunos ficou motivada para realizar mais exercícios em campo e
reconheceram a importância do método no processo de formação profissional. Também ressaltaram a
possibilidade de desenvolver habilidades para entender problemas do exercício da profissão e a análise e
aplicação das respectivas alternativas de solução.
Podges e Kommers (2016), através de um estudo experimental conseguiram mostrar o PBL
como método complementar de ensino e aprendizagem. Na universidade de Walter Sisulu em África do
Sul, os autores avaliaram o desempenho de alunos de graduação do curso de engenharia elétrica, por meio
do PBL como único método de ensino e combinado com o método tradicional de aulas expositivas,
primeiro em uma situação onde o PBL foi aplicado antes das aulas expositivas e, em um segundo
momento, após as aulas expositivas. O resultado do trabalho indica que o PBL, quando método
coadjuvante e aplicado após as aulas expositivas, apresenta os melhores resultados em relação ao
desempenho dos alunos.
Entretanto, Godinho et al. (2017), em um estudo realizado no segundo semestre de 2015 com 56
alunos, sem experiência prévia em PBL, na disciplina de Embriologia do curso de Biomedicina da
Universidade Positivo, em Curitiba, Brasil, ao aplicar o questionário para 29 alunos selecionados
aleatoriamente para responder sobre as aulas expositivas tradicionais e os outros 27 para responder o
questionário tendo como foco o PBL, identificaram que para os alunos o PBL se mostrou desfavorável em
relação às aulas expositivas.
Finalmente, Celinsek e Markic (2008) publicaram o estudo de caso do uso do PBL no ensino de
línguas estrangeiras, em um curso de idiomas de uma instituição educativa em Eslovênia, visando avaliar
o processo de aprendizado organizacional da instituição em relação ao uso do método PBL. A motivação
para o uso do PBL surgiu da possibilidade de aproveitar o aprendizado colaborativo e o trabalho em
equipe. Os resultados mostram, pelo lado da instituição, a necessidade de planejar todo o processo de
ensino para tornar o PBL mais efetivo, assim como a de treinar os professores através de facilitadores
com experiência no uso do PBL. Pelo lado dos alunos, o ambiente colaborativo e o trabalho em equipe
contribuíram no desempenho e na comunicação entre os alunos e com os professores.

4. PBL NA PÓS-GRADUAÇÃO
O PBL promove uma aprendizagem autônoma e eficaz que ocorre em um ambiente de apoio e
colaboração, onde o docente atua como um facilitador e orientador, transferindo muitas responsabilidades
aos estudantes. Deverá desencorajar a resposta correta única e auxiliar os estudantes a esboçarem
questões, identificarem outros problemas e buscarem alternativas. Dessa forma, desenvolvem
competências que vão além das diretamente relacionadas com o assunto da disciplina (SOUZA;
DOURADO, 2015). Como destaca Berbel (2011), o PBL desperta a curiosidade dos estudantes quando
são inseridos na teoria que contempla elementos novos, que ainda não foram vistos nas aulas regulares.
Ribeiro e Mizukami (2005) ao implementarem o PBL em uma disciplina de pós-graduação em
engenharia em uma universidade pública de São Carlos, Estado de São Paulo, Brasil, concluíram que
apesar de aumentar o tempo de estudo e carga de trabalho dos estudantes, a maioria dos alunos avaliou de
forma positiva o uso do método PBL.
Araújo et al. (2010) avaliaram a aplicação do PBL em um curso de pós-graduação em
Controladoria e Finanças em uma instituição de ensino do Estado de São Paulo, Brasil. A pesquisa
apresentou os seguintes resultados: i) a maioria dos estudantes aderiram ao método como sendo melhor,
se comparado com o tradicional de ensino com aulas expositivas; ii) os alunos manifestaram satisfação
em relação ao conhecimento adquirido através do PBL; iii) os estudantes avaliaram os conhecimentos
adquiridos, com relação aos casos aplicados, como “muitíssimo” importantes no processo do
aprendizado; iv) com relação às habilidades desenvolvidas na resolução de problemas, houve um alto
nível de aceitação e aprovação; v) com relação ao desenvolvimento de habilidades em aprender a
trabalhar em equipe a mesma satisfação se manteve.

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Ainda segundo Araújo et al. (2010), o PBL, como método de ensino no curso de pós-graduação
em Controladoria e Finanças, atende à necessidade tanto de professores como de estudantes, em relação
ao processo do ensino e aprendizagem. Do professor, porque estará adquirindo conhecimento relativo ao
método de ensino e participando das discussões junto aos alunos. Do estudante, pois o método pode
possibilitar, por meio da resolução de problemas reais, a curiosidade, a busca, a pesquisa, tornando-o
capaz de aprender a aprender, a ser crítico e levar tais conhecimentos para situações fora da academia.
Erapuro-Piila et al. (2014) desenvolveram uma pesquisa buscando avaliar a questão psicológica
em relação à preferência por um método de aprendizagem, no caso o método PBL. A pesquisa foi
aplicada em alunos que faziam parte de cursos de pós-graduação de gestão de projetos na Dinamarca,
entre os anos de 2009 e 2011. Os resultados mostram uma ligeira diferença de desempenho no
aprendizado a favor dos alunos com características mais introvertidas. Também, as mulheres tiveram
melhor desempenho que os homens. No entanto, como estatisticamente os resultados não mostraram
diferenças significativas no nível psicológico, a principal conclusão do trabalho foi que o PBL é um
método apropriado para todos os estilos individuais de estudo e personalidade dos estudantes.
Silva et al. (2017) realizou um estudo baseado em aprendizagem PBL com sete alunos
matriculados no segundo semestre de 2015 na disciplina de Tecnologia e Sociedade de um programa de
pós-graduação em Educação Matemática de uma universidade pública do Recife, Pernambuco, Brasil.
Como resultados, os autores, afirmam que houve trabalho colaborativo, motivação, participação e
engajamento dos estudantes.
Heaviside, Manley e Hudson (2018) conduziram uma pesquisa com alunos de pós-graduação
em Psicologia do Esporte e do Exercício em universidades do Reino Unido. O objetivo do estudo de caso
foi explorar as experiências dos alunos com o PBL e seu papel no desenvolvimento de suas habilidades de
empregabilidade. Revelou-se que o PBL foi fundamental para o desenvolvimento de habilidades-chave de
empregabilidade: trabalho em equipe, comunicação e sensibilidade interpessoal; pensar criticamente, de
forma criativa e flexível; para ajudar os alunos a traduzir o conhecimento acadêmico para aplicação em
futuros contextos de emprego e para aumentar a conscientização de que o aprendizado é um processo de
desenvolvimento vitalício.
O potencial de aplicação do método PBL na pós-graduação também pode ser identificado através
dos seus próprios objetivos, como destacado por Wilkerson e Gijselaers (1996) e Ribeiro e Mizukami
(2005): a) adquirir uma base de conhecimento integrada; b) adquirir uma base de conhecimento
estruturada ao redor de problemas reais encontrados no campo de atuação do profissional em questão; c)
adquirir uma base de conhecimento vinculada a processos de solução destes problemas; d) desenvolver
habilidades de aprendizagem autônoma e de trabalho em grupo.
Enquanto que, desde o ponto de vista legal, o PBL concorreria para o cumprimento de duas
metas dos cursos de pós-graduação presentes na Lei 5.540: a formação de pesquisadores e docentes para o
ensino superior.
Assim, entende-se que a vinculação do método PBL com cursos de pós-graduação é facilitada
pela semelhança com o método científico. Já que, ambos passam pelas fases de definição e análise do
problema, levantamento de hipóteses, busca e uso de fundamentação teórica na elaboração da solução,
troca de informações, apresentação de resultados, e síntese dos conhecimentos adquiridos. Essas fases
podem contribuir tanto para o domínio dos conceitos da área do pesquisador, quanto para o
aprimoramento de habilidades necessárias à sua atuação (SCHWARTZ et al., 2001; GOMES et al., 2009).

5. MÉTODO E PROCEDIMENTOS
O estudo é de natureza qualitativa, exploratória e descritiva. A abordagem qualitativa busca
“entender a lógica de processos e estruturas sociais, a partir de análises em profundidade de um ou poucos
casos particulares” (ABDAL et al., 2016, p. 8). Esta abordagem é apropriada quando se busca estudar a
subjetividade, as crenças, as atitudes, as relações e práticas sociais, os modelos de gestão e as mudanças
ocorridas nos contextos organizacionais (GIL, 2008).
A pesquisa exploratória, segundo Gil (2008, p. 27) “é realizada quando o tema escolhido é pouco
explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”. Trivinos (2010)
argumenta que a pesquisa exploratória possibilita aumentar a experiência em torno de determinado
problema.
A característica descritiva está direcionada às percepções dos alunos do curso de mestrado
interdisciplinar em Sustentabilidade, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Brasil. Segundo
Gil (2008), as pesquisas descritivas juntamente com as exploratórias, são as mais adequadas quando os

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pesquisadores estão preocupados com a atuação prática. São também aplicadas aos estudos que
envolvem, por exemplo, os problemas educacionais.
A escolha da amostragem é de natureza não probabilística, levando em consideração a facilidade
de acesso dos pesquisadores, conforme instruído por Oliveira (2001). O estudo envolveu oito alunos que
cursaram a disciplina Estratégias Públicas e Privadas de Desenvolvimento Local e Metropolitano, no
primeiro semestre de 2018 utilizando o método PBL. O estudo permitiu aos alunos estabelecer uma
comparação entre o método PBL e o tradicional, uma vez que o mesmo docente ofertou aos mesmos
alunos outra disciplina no segundo semestre de 2017 utilizando o método tradicional.
Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado, contendo questões
alternativas e dissertativas, que visavam extrair a percepção e sentimento dos alunos em relação ao PBL.
Após o encerramento das atividades da disciplina, o docente conversou com os alunos sobre os objetivos
da pesquisa e a possibilidade da participação dos mesmos. A fim de evitar algum viés causado pela
comparação extemporânea entre o método tradicional e o PBL, os alunos somente foram informados
sobre a pesquisa após concluir as duas disciplinas. O questionário foi aplicado de forma virtual.
Após a coleta dos dados, aplicou-se a análise de conteúdo. Nos últimos anos, a análise de
conteúdo vem tendo destaque entre os métodos qualitativos e ganhando legitimidade. A importância da
análise de conteúdo para os estudos educacionais, sociais e organizacionais é cada vez maior e tem
evoluído em virtude da preocupação com o rigor científico e a profundidade das pesquisas (MOZZATO;
GRZYBOVSKI, 2011).
O percurso de análise deste trabalho toma como referência a obra de Laurence Bardin, literatura
de referência atualmente em análise de conteúdo (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011). O estudo seguiu
as fases da análise de conteúdo, conforme preconizado por Bardin (2009): (i) pré- análise; (ii) exploração
do material, e; (iii) tratamento dos resultados, que envolve a inferência, a interpretação e a descrição dos
achados relevantes da pesquisa.

5.1 Atividades envolvidas no método tradicional


A disciplina “Ética, Educação e Gestão da Sustentabilidade”, ofertada no segundo semestre de
2017, foi desenvolvida nos padrões do método de ensino tradicional e serviu de comparação para os oito
alunos matriculados avaliarem o método PBL na seguinte disciplina. A carga horária semanal da
disciplina foi de 3h/a, com 50 minutos de duração cada aula. No total, foram 21 dias letivos.
Esta disciplina envolveu as seguintes atividades: (i) aulas expositivas de fundamentação teórica;
(ii) apresentação de seminários e debates sobre os temas tratados nos seminários, e; (iii) elaboração de
artigo científico.
A distribuição de atividades e os pesos das mesmas foram os seguintes:
a) As apresentações de seminários e debates ocorreram ao longo do semestre, sob a supervisão do docente
(25% do total da nota).
b) Elaboração e entrega de uma resenha crítica individual sobre cada tema do seminário. Nas datas em
que o aluno devia apresentar o seminário e conduzir o debate, o mesmo não precisava elaborar e entregar
a resenha (25% do total da nota).
c) Elaboração de um artigo científico em duplas, relacionado com os conteúdos da disciplina e visando
sua futura publicação (50% do total da nota).

As atividades da disciplina tiveram a seguinte sequência: O docente conduziu as atividades


durante cinco dias letivos ao longo do semestre. Os demais dias foram conduzidos pelos alunos. No
primeiro dia de aula, o programa da disciplina, o método a ser utilizado e os critérios de avaliação foram
apresentados. Também, distribuíram-se as atividades que seriam realizadas individualmente e em duplas.
No segundo dia de aula, apresentaram-se aspectos gerais dos conteúdos da disciplina. No meio do
semestre letivo, o docente apresentou um seminário temático e conduziu o respectivo debate. No
penúltimo e último dia de aula, o docente expôs as considerações finais da disciplina, a partir dos
conteúdos desenvolvidos ao longo do semestre letivo. As atividades de orientação sobre a elaboração do
artigo científico foram realizadas no final das aulas e fora do horário das aulas.
Ao longo do semestre, cada aluno apresentou dois seminários e coordenou dois debates. Cada
aluno apresentou 14 resenhas críticas sobre os temas abordados nos seminários.

5.2 Atividades envolvidas no método PBL

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A disciplina “Estratégias Públicas e Privadas de Desenvolvimento Local e Metropolitano”,


ofertada no primeiro semestre de 2018, foi desenvolvida nos padrões do método PBL, conforme instruído
por Ribeiro (2010). A carga horária semanal da disciplina foi de 3h/a, com 50 minutos de duração cada
aula. No total, foram 20 dias letivos. Os alunos matriculados nessa disciplina foram os mesmos da
disciplina anterior. Foram formados três grupos de trabalho, sendo dois grupos com três alunos cada e um
grupo com dois alunos.
Esta disciplina envolveu as seguintes atividades: (i) análise de problemas; (ii) pesquisa sobre a
temática do problema; (iii) elaboração de relatórios, e; (iv) elaboração de artigo científico.
O ciclo trabalhado no método PBL foi o seguinte: (i) apresentação do problema; (ii) elaboração
do relatório parcial; (iii) pesquisa; (iv) elaboração de relatório final; (v) apresentação e debate; (v) aula de
fundamentação teórica.
A aprendizagem do conteúdo programático foi avaliada mediante atividades coletivas realizadas
em sala de aula, juntamente com a elaboração de um artigo científico. O docente formulou e apresentou
aos alunos cinco problemas durante o semestre letivo.
No primeiro dia de aula os alunos começaram com o ciclo PBL: o docente apresentava o
problema; cada grupo lia e posteriormente discutia o problema; por fim os alunos preenchiam o relatório
parcial apontando o problema central, as causas do problema e o que deveria ser pesquisado para elaborar
e fundamentar uma solução.
No segundo dia de aula, os grupos realizavam atividades de pesquisa bibliográfica e documental
na biblioteca. Posteriormente, começavam com a elaboração do relatório final (seria finalizado em horário
extraclasse), que apresentaria o quadro teórico estudado e as propostas de soluções de curto, médio e
longo prazos para o problema proposto.
No terceiro dia de aula, cada grupo realizava a apresentação da síntese do relatório final. Na
sequência, coordenava-se um debate entre os grupos. No quarto dia de aula, o docente realizava uma
exposição sobre a teoria envolvida no problema proposto, dando maior ênfase aos assuntos não, ou
menos, abordados e discutidos pelos alunos. Cada exposição teórica durava 1,5 h/a e permitia fechar o
ciclo do PBL. No restante do tempo (1,5 h/a) se fazia a abertura do próximo problema. Também, ao final
de cada ciclo PBL o líder de cada grupo preenchia um relatório sobre a participação e envolvimento dos
colegas nas atividades.
Os pesos das atividades coletivas foram os seguintes: atividades do PBL = 50% (sendo 5
relatórios parciais = 10% cada; 5 relatórios finais = 10% cada; 5 apresentações = 10% cada; 5 debates =
10% cada); elaboração de artigo científico = 50%.

6. RESULTADOS
Neste tópico serão apresentados os principais resultados extraídos do questionário a partir das
respostas dadas pelos alunos.
Alguns alunos já tinham ouvido falar do método PBL, mas somente dois tinham conhecimento
real e aprofundado, pelo fato de terem aplicado o método em disciplinas no nível de graduação na
condição de professor. Contudo, para todos os entrevistados era a primeira experiência como alunos
utilizando o método PBL.
Os alunos que pela primeira vez tinham contato com um método ativo de aprendizagem
manifestaram que no início do processo se sentiram motivados pela expectativa da novidade apresentada,
mas também confusos e com medo em relação ao processo e à possibilidade de não adquirir o
conhecimento esperado.
Quanto à adaptação, quatro dos oito alunos manifestaram dificuldade no início do processo. A
principal razão manifestada foi a falta de informações gerais sobre o PBL e suas características/etapas ao
longo do processo.
Os alunos enxergam como vantagens do PBL em relação aos métodos tradicionais de ensino: a
possibilidade de fazer pesquisa na prática e coletar informações diversas que, depois, contribuem com o
melhor entendimento e análise dos problemas, além de enriquecer as propostas e o debate sobre as
possíveis soluções. Outra vantagem percebida pelos alunos foi a possibilidade de ter maior integração e
interação com o professor e entre os alunos. Também, a possibilidade de maior envolvimento e
responsabilidade do aluno em relação ao processo de construção de conhecimento. Em um curso
interdisciplinar, como o avaliado nesta pesquisa, o PBL permitiu abordar o problema desde diversas
perspectivas influenciadas pela pluralidade de conhecimentos prévios teóricos e práticos dos alunos.

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Em relação às desvantagens, os alunos manifestaram o risco de ter menos tempo para a


exposição do conteúdo teórico “oficial” proposto para a disciplina estudada, o qual é apresentado pelo
professor no final do processo. Outra desvantagem está relacionada com o número de problemas
propostos na disciplina, pois quanto maior o número de casos, reduz-se o tempo para o aprofundamento
da pesquisa, análise do problema e desenvolvimento da proposta de solução. Neste caso, em vez de cinco
problemas, os alunos apontam que quatro seria um número ideal a ser trabalhado.
Na opinião da maioria dos alunos, o PBL permite o melhor aprendizado quando comparado ao
método tradicional. Já que, exige-se o comprometimento do aluno, pois ele será o responsável pelo
conhecimento adquirido; e possibilita-se maior retenção dos conteúdos estudados. Três alunos
manifestaram que as aulas expositivas e o PBL são métodos efetivos, mas que poderiam se tornar ainda
mais eficientes se pudessem ser combinados.
Os alunos também foram questionados sobre atividades que fazem parte do curso de mestrado e
que foram impactados pelo PBL: i) como a carga de leitura no mestrado é grande, o PBL ofereceu maior
tempo de leitura do que o oferecido pelo método tradicional; ii) o seminário e o debate das soluções
propostas para o problema, permitiu aos alunos organizar, integrar e expor a proposta de solução e o seu
respectivo processo de construção, além de contrastar e debater suas ideias com outros alunos; iii) a fase
de pesquisa, parte fundamental no método PBL e inerente ao processo de formação de um mestre, oferece
ao aluno a possibilidade de planejar, coletar, filtrar e organizar bibliografias e documentos; iv) em relação
ao trabalho em conjunto, apesar da turma ser reduzida e trabalhar o PBL em pequenos grupos, os alunos
perceberam que o trabalho em equipe permite ampliar a coleta de informações e dar robustez à proposta
de solução a ser desenvolvida. No entanto, cabe ressaltar que houve somente um aluno que avaliou o
trabalho em grupo e o seminário, como as atividades que menos favorecem na formação do mestre.
Na última parte, os alunos foram questionados sobre o potencial do PBL como método de ensino
em cursos de nível de mestrado. Todos os alunos coincidiram na opinião de que o PBL é um método que
se adequa perfeitamente às necessidades formativas de um aluno de mestrado, principalmente pelas
atividades constantes de pesquisa, assim como pela oportunidade de integrar conhecimentos entre alunos
e professores. Segundo os alunos, o PBL permite aos mestrandos desenvolver habilidades diversas que
incluem a capacidade de resolver problemas reais, semelhante aos vivenciados no ambiente de trabalho;
capacidade de trabalhar em equipe; saber ouvir, discordar do outro e defender pontos de vista; capacidade
de atuar sob pressão; desenvolvimento da liderança; desenvolvimento da criatividade, dentre outras.
Também, solicitou-se aos alunos que avaliassem, em uma escala de 0 a 10, a adequação do
método PBL à disciplina cursada, Estratégias Públicas e Privadas de Desenvolvimento Local e
Metropolitano. A média da avaliação foi oito e as justificativas apontam, por um lado, as mesmas
vantagens descritas nos parágrafos anteriores, mas, por outro lado, algumas críticas foram levantadas,
como: A limitação de tempo em relação à necessidade de aprofundar os conteúdos teóricos específicos da
disciplina; a limitação de tempo em relação à quantidade de problemas propostos e as atividades inerentes
ao método PBL.
Ao final do questionário foram solicitadas sugestões para melhorar o uso do PBL. Os alunos
sugeriram a possibilidade de aplicar um modelo híbrido (PBL e outros métodos de ensino) visando
superar as limitações apontadas na pesquisa; outra sugestão é que o professor poderia dar uma aula
introdutória apresentando o método PBL antes da sua aplicação na disciplina; sugeriu-se também o uso de
poucos problemas, pois assim poderia haver maior tempo para aprofundar o estudo do conteúdo teórico
de cada tema proposto.

7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


A percepção dos alunos de mestrado que participaram da pesquisa, principalmente aqueles que
pela primeira vez tiveram contato com o método PBL, reforça as afirmações de Gomes et al. (2009),
Schwartz et al. (2001) e de Souza e Dourado (2015) em relação às vantagens que o método PBL pode
oferecer no processo formativo de um aluno de pós-graduação. Vantagens que vão além dos assuntos
específicos de uma disciplina e atingem as atividades do aluno como pesquisador e comunicador.
A característica interdisciplinar do curso de mestrado em Sustentabilidade permitiu entender que
o PBL é um método que contribui com a exposição, interação e integração da pluralidade de
conhecimentos teóricos e práticos presentes em uma sala de aula. Favorecendo a qualidade do processo
de elaboração de soluções dos problemas analisados e, também, à construção de novos conhecimentos.
O tipo de disciplina, o tempo disponível e a densidade de conteúdo teórico/temático necessário
de ser estudado, exigirá um planejamento cuidadoso para a aplicação do método PBL, incluindo, ainda, a
avaliação da possibilidade de combinar o PBL com outros métodos, mesmo sendo o método tradicional,

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

como também sugerido por Podges e Kommers (2016) e Godinho et al. (2017). Ou ainda, a possibilidade
de combinar o PBL com ferramentas que permitam melhorar a sua eficiência ao longo do processo. Por
exemplo, Luanrattana et al. (2010) avaliaram a possibilidade de utilizar tecnologia móbil individual nas
diversas etapas do PBL em um curso de medicina na Universidade de Wollongon, na Austrália. Em outro
exemplo, Paliktzoglou e Suhonen (2014) avaliaram o potencial das redes sociais como ferramenta
coadjuvante no processo de PBL para uma disciplina de graduação de E-Marketing no Instituto
Politécnico de Bahrain, em Barém.
Ribeiro e Mizukami (2005) ressaltam a importância do uso do PBL em programas de pós-
graduação, tendo em vista que o PBL contempla mecanismos de auto-avaliação e do processo
educacional, possibilitando tornar os futuros docentes reflexivos sobre a arte de aprender e ensinar.
O estudo reafirma, no nível de Mestrado, o efeito positivo do PBL demonstrado em outros níveis
de ensino, conforme Azer (2009) e Ribeiro (2010): i) o PBL facilita a aprendizagem em profundidade em
vez da memorização do material; ii) os alunos refletem sobre o que aprenderam e como esse
conhecimento pode ser aplicado a novas situações; iii) o aluno fica mais propenso a reter e a lembrar o
que aprendeu; iv) são desenvolvidas competências sobre a resolução de problemas; v) aumento do
pensamento crítico do aluno; vi) os alunos são mais intrinsecamente motivados para alcançar o seu
objetivo; vii) os alunos dão mais valor a tarefas nas quais podem ver os seus benefícios; o aluno assume o
controle da sua própria aprendizagem (autorregulação); o PBL incentiva os alunos a refletir sobre quais as
estratégias a aplicar para resolver um problema (meta cognição).
Nesta pesquisa, como também manifestado por Silva (2017) et al. a aplicação do método PBL
proporcionou aos alunos um processo de construção do conhecimento ativo, investigativo, cooperativo e
reflexivo. A busca de soluções para os problemas ocorreu com engajamento, motivação e participação
dos alunos e do professor.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo teve como propósito ampliar a discussão sobre o uso do PBL como método de ensino
nos cursos de pós-graduação Stricto Sensu a partir da percepção dos alunos do curso de Mestrado
Interdisciplinar em Sustentabilidade. Os resultados obtidos comprovam que, no ambiente educativo
testado, o método aplicado proporcionou resultados positivos concernentes ao desenvolvimento de
aprendizagens significativas para a futura atividade profissional, assim como no elevado grau de
satisfação dos alunos com as atividades realizadas.
O estudo aponta o potencial do PBL como método de ensino em cursos de nível de mestrado.
Assim como apontado por outros estudos em diferentes níveis educacionais, este estudo sugere que o
PBL é um método que se adequa perfeitamente às necessidades formativas de um aluno de mestrado,
principalmente pelas atividades constantes de pesquisa que o método exige, assim como pela
oportunidade de integrar conhecimentos entre alunos e professores. O estudo revela ainda que o PBL
permite ao aluno desenvolver habilidades diversas, tais como: resolução de problemas, trabalho em
equipe, saber ouvir, discordar do outro e defender pontos de vista, atuar sob pressão, liderança,
criatividade, dentre outras. Todas estas características e habilidades são pertinentes aos profissionais que
atuam em nível de mestrado.
Entende-se que a aplicação do PBL nas salas de aula da pós-graduação pode suprir necessidades
que vão além de um processo de ensino e aprendizagem eficiente. Neste caso, o PBL pode contribuir,
desde o primeiro dia de aula, com o desenvolvimento de capacidades e competências relacionadas com a
pesquisa científica, assim como com o reforço do perfil crítico e propositor do profissional em contextos
diversos.
Apesar das limitações deste trabalho, quanto ao tamanho da população alvo da pesquisa e,
consequentemente, ao suporte estatístico dos resultados, os mesmos contribuem com a discussão do
potencial que o PBL tem como método principal de ensino em cursos no nível de pós-graduação.
Finalmente, sinaliza-se a necessidade de novas pesquisas que mostrem as vantagens e
desvantagens do PBL como método de ensino em todos os níveis formativos, principalmente no nível de
pós-graduação. Ainda, será importante discutir a possibilidade de melhorar a eficiência da aplicação do
PBL, através do seu uso combinado com outros métodos de ensino.

9. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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25 a 26 de setembro de 2019

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
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CAPÍTULO 38
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e educação

APLICAÇÃO DO PBL NO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL LOCAL E REGIONAL NA RIDE-CORRUÍRA

Arthur Colombo Bergamaschi1, Eline Any De Benedicto2,


Rafael Silva de Oliveira3, Samuel Carvalho De Benedicto4

1. Mestrando em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-


Campinas). E-mail: arthurbergamaschi@hotmail.com
2. Mestranda em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: elineany@gmail.com
3. Mestrando em Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas). E-mail: rafaoliveira@hotmail.com
4. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Os métodos de aprendizagem vêm evoluindo constantemente independente do campo ou nível de ensino.
Dentre esses, um que se destaca e é considerado inovador é o método de ensino denominado PBL
(Problem-Based Learning), conhecido também como método de aprendizagem baseado na solução de
problemas e que se demonstra como relevante alternativa para o modelo de ensino tradicional. Diante
deste contexto, o presente artigo tem por objetivo apresentar um estudo sobre a busca do desenvolvimento
sustentável local e regional da RIDE-Corruíra, uma situação hipotética e factível, cingido em quatro
problemas baseado na utilização do método PBL. O trabalho permeia-se na definição sucinta deste
método e dos elementos principais que envolveram a sua aplicabilidade diante de uma prática de estudo
realizado em uma disciplina do curso de pós-graduação stricto sensu em sustentabilidade de uma
universidade da região sudeste do país. Em relação à metodologia, a coleta de dados foi bibliográfica e
documental, com pesquisa exploratória e finalidade aplicada. Como resultado, o estudo aponta para a
necessidade de estabelecer a formação de consórcios municipais para o devido desenvolvimento
sustentável regional e local em pequenas cidades de áreas pouco desenvolvidas no Brasil. Conclui-se que
o pacto social e político, participação da população e projetos a longo são fundamentais para alcançar o
imprescindível desenvolvimento sustentável regional e local.

PALAVRAS-CHAVE: Método de Ensino, Problem-Based Learning, Aprendizagem Baseada em


Problemas, Desenvolvimento Sustentável Local e Regional.

1. INTRODUÇÃO
A educação vem enfrentando grandes desafios, não apenas pelo déficit de qualidade, no que se
refere ao Brasil, mas também em todo o mundo pelo crescente volume de informações e conhecimentos
que os alunos, de modo de geral, são expostos durante sua formação e que, de alguma forma, precisam
absorver para garantir um bom nível de educação, e principalmente, se destacar no mercado de trabalho
(DIESEL et al., 2017). Por outro lado, os educadores carregam a obrigação de sintetizar este vasto
volume, especialmente nessa era digital e tecnológica, para garantir que seus alunos, de fato, consigam
compreender e colocar em prática tudo aquilo que foi aprendido.
Diante disso, em alguns casos, os métodos tradicionais já não são mais totalmente suficientes,
por isso, no universo de ensino é necessário buscar novas alternativas, muito mais criativas ou
consideradas inovadoras, para que seja possível fornecer aos alunos um aprendizado de qualidade, e
principalmente, promover sua autonomia para que possam buscar e criar novos conhecimentos durante
toda sua vida ((SOUZA; DOURADO, 2015). Para Escrivão Filho e Ribeiro (2008), dentro das
universidades esses desafios tornam-se ainda maiores, pois normalmente é um ambiente onde predomina
a prática de métodos tradicionais, e traz a ideia de que o professor é uma figura superior e os alunos

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corpos vazios aguardando receber um conhecimento fixo e acabado, autoritário e sem possibilidades de
discussão.
À adoção e abordagem de métodos alternativos se justificam não por desqualificar os métodos
tradicionais, mas, sobretudo, por ser uma das formas de se ampliar os métodos de ensino. Nesse sentido,
apresenta-se o método de ensino denominado PBL (Problem-Based Learning), conhecido também como
método de aprendizagem baseado na solução de problemas, que se demonstra ser bastante relevante frente
aos métodos de ensino tradicionais.
Portanto, o presente artigo objetiva estudar a busca do desenvolvimento sustentável local e
regional da RIDE-Corruíra, em dada situação hipotética e factível, cingido em quatro problemas baseado
na utilização do método PBL. O trabalho permeia-se na definição sucinta deste método e dos elementos
principais que envolveram a sua aplicabilidade diante de uma prática de estudo realizado em uma
disciplina do curso de pós-graduação stricto sensu em sustentabilidade de uma universidade da região
sudeste do país.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Desenvolvimento sustentável
Na década de 1960 o planeta já enfrentava grandes problemas ambientais e a comunidade
internacional, nessa época, começou a perceber que esses problemas estavam diretamente ligados ao
modo de vida e as atividades humanas, estes regidos por um sistema econômico que prioriza a máxima da
produção e consumo, como seguem até hoje.
No relatório do Clube de Roma, de 1968, chamado de “Os Limites do Crescimento”, alertava
todos sobre as conseqüências negativas que o modelo de vida humano causava a natureza.
Impactados por este relatório e outros acontecimentos relevantes da época, que também
envolviam eventos ambientais, em 1972 as Organizações das Nações Unidas (ONU) realiza a
Conferência de Estocolmo, sendo esta primeira conferência voltada para a temática do meio ambiente
global, lançando as bases centrais para o combate internacional da degradação ambiental.
Dando continuidade no objetivo de promover uma preservação ambiental por meio de um
desenvolvimento econômico e social igualmente responsável, em 1983, a ONU cria também a Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) que dirigida pela ex-primeira-ministra
norueguesa Gro Harlem Brundtland publica, em 1987, o famoso Relatório Brundtland intitulado Nosso
Futuro Comum (Our Common Future), que trouxe o conceito de Desenvolvimento Sustentabilidade (DS)
mais aceito e difundido atualmente.
Conforme o Relatório Brundtland o DS significa “um desenvolvimento que atenda às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas
próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 46).
Este tema, desenvolvimento sustentável, foi abordado no programa de mestrado em
sustentabilidade, de uma universidade da região sudeste do país, especificamente para estudar o DS local
e regional de uma região fictícia, porém hipotética e factível, chamada RIDE-Corruirá, onde se utilizou o
método de ensino denominado PBL (Problem-Based Learning).

2.2 Desenvolvimento sustentável local


A busca pelo DS deve ocorrer em todos os níveis e esferas da sociedade, seja do geral para o
local, e vice-versa. No presente caso, trata-se de Desenvolvimento Sustentável Regional e Local
(especificamente, consórcios intermunicipais e municipais).
Posto isso, o desenvolvimento sustentável local é aquele desenvolvimento que não prioriza
somente os aspectos do crescimento econômico local, mas que também se preocupa com questões
ambientais e sociais. Albarello (2006) escreve que é a condição de aplicar, de maneira eficaz, a riqueza
gerada pela localidade, em virtude do seu crescimento econômico, visando um equilíbrio social e
ambiental.
Portanto, desenvolvimento sustentável local é um desenvolvimento que atende as necessidades
econômicas locais, porém busca, ao mesmo tempo, diminuir a desigualdade social, consequentemente
melhorar a qualidade de vida para as pessoas, bem como, o aumento gradativo do acesso de todos a uma
cidade mais digna e justa de se viver, mantendo, do mesmo modo, a preocupação com o meio ambiente e
a garantia de sua regeneração natural.

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Assim sendo, o DS não se confunde com Desenvolvimento Urbano (DU), que é um projeto
físico para a cidade, além de políticas de controle do uso do solo e que resulta na ordenação do território e
de equipamentos coletivos.
Por outro lado, de acordo com Marques (2014), para que haja esse desenvolvimento sustentável
local, é necessária a valorização das potencialidades locais existentes, de modo que isso eleve as
oportunidades sociais, viabilizando e contribuindo para o desenvolvimento da economia local.
Já Buarque (2006) enfatiza que se deve manter também a preocupação com os recursos naturais
locais, que são bases dessas potencialidades locais e a permanência da qualidade de vida da população, o
que significa um processo endógeno de mudança.
Com efeito, o desenvolvimento sustentável local é um desenvolvimento que está diretamente
ligado e relacionado com o equilíbrio econômico, social e ambiental local.

3. MÉTODO DE ENSINO PBL


O ser humano ao longo da vida passa por um processo de aprendizagem intelectual que lhe
auxilia, principalmente, na sua realização pessoal, inclusão social e empregabilidade, por isso, é tão
importante uma formação completa de aprendizagem e com qualidade.
As aquisições dessas competências de conhecimento geralmente estão ligadas a alguma forma
didática de ensino, mas também pelo processo de colaboração e relacionamento com outros seres
humanos, principalmente aqueles do convívio familiar.
Por isso, Ruthes e Cunha (2008), afirmam que o processo de aprendizagem é sempre ativo e
colaborativo, ou seja, envolve não apenas a ação do indivíduo, mas também seu envolvimento e trabalho
conjunto ou em equipe.
Neste sentindo, Goodson (2001) preconiza que dentro das instituições de ensino, os alunos, na
medida do possível, devem assumir também a responsabilidade de sua própria aprendizagem, procurando
ativamente a aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de suas competências.
Isso evita que se tornem apenas passivos ou desinteressados, mas possibilita seu envolvimento,
não apenas na elaboração daquilo que está sendo ensinado, mas também na sua implementação prática e
avaliação.
Um método de ensino que vai neste encontro é aquele baseado em problemas ou simplesmente
chamado de PBL (problem-based learning), que é uma metodologia de ensino que foi surgida na escola
de medicina da Universidade McMaster, no Canadá, em meados dos anos 1960.
É um método que se baseia na perspectiva de otimização da aprendizagem com o envolvimento
maior do aluno e desenvolvimento de suas habilidades de trabalho em grupo, o qual, necessariamente,
inicia-se com a apresentação de um problema envolvendo conceitos não trabalhados anteriormente e os
alunos em grupos, por sua vez, tentam definir e solucionar valendo-se do conhecimento de que dispõem e
recorrendo-se a literatura, ocorrendo neste processo, por parte dos alunos, o levantamento de hipóteses e
defendendo-as, baseando-se nos dados apresentados no problema (ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2008).

4. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA


No presente trabalho a coleta de dados se deu na forma documental e bibliográfica, sendo a
análise dos resultados pela pesquisa exploratória, cuja finalidade foi aplicada no sentido de que o artigo
envolve a utilização de metodologia ativa de ensino, denominada PBL, com relatório parcial, pesquisa,
relatório final, apresentação, debate e fundamentação teórica.
Severino (2007, p. 122) explica e diferencia a pesquisa bibliográfica e documental: “A pesquisa
bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em
documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já
trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a
serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos
constantes do textos. No caso da pesquisa documental, tem-se como fonte documentos no sentido amplo
(...) Nestes casos, os conteúdos dos textos ainda não tiveram nenhum tratamento analítico, são ainda
matérias-primas, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação e análise.”
Explicado a pesquisa bibliográfica e documental, o presente artigo fundamenta-se em artigos
científicos, teses, congressos, etc., bem como documentos in natura global, nacional, legislação, etc.
Gil (2008, p. 27) preconiza o que seja pesquisa exploratória: “As pesquisas exploratórias têm
como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a

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formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os
tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem
levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos
de amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas
pesquisas.
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo
aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema
escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.
Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais
ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico, torna-se necessários seu esclarecimento e
delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O
produto final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante
procedimentos mais sistematizados.”
O artigo aborda justamente a pesquisa exploratória no sentido de elucidar exegese holística sobre
os percalços da implantação e operacionalização do método PBL no estudo do desenvolvimento
sustentável local e regional na RIDE-Corruíra, esta sendo, por sua vez, uma região fictícia.

5. APRESENTAÇÃO DOS PBLs


Neste artigo o método PBL foi aplicado em uma disciplina do programa de mestrado em
sustentabilidade de uma universidade da região sudeste do país, onde foram abordados quatro problemas,
de modo geral, em uma região fictícia denominada RIDE-Corruíra.
Embora cada problema tenha sua especificidade, houve nítida relação cronológica e causal do
primeiro ao quarto, porém, não necessariamente, fosse preciso seguir exatamente a ordem dos
acontecimentos para se almejar o desenvolvimento sustentável local dessa localidade estudada.
No entanto, antes da introdução do primeiro problema, o educador apresentou aos alunos a
região fictícia chamada de RIDE-Corruíra, com aspectos hipotéticos e factíveis, sendo o município de
Corruíra cidade pólo, com cerca de 600 mil habitantes, e outras 14 cidades de menor porte, estando
localizadas em uma região geográfica, também fictícia, porém com pouco desenvolvimento
socioeconomicamente.
A ideia principalmente era de que existia um movimento integrado entre os prefeitos dessa RIDE
de evoluir para a formação de uma Região Metropolitana de Corruíra (RMC), mas havia também muitos
desafios a serem superados, por isso, os prefeitos das 15 cidades da RIDE-Corruíra encomendaram um
estudo, a esses alunos, para levantar esses principais problemas e propor soluções factíveis.
Havia já a certeza de diversos problemas e desafios em comum, desde a necessidade de
melhorias na segurança pública; mobilidade urbana; jogo de empurra entre os municípios quanto ao
atendimento à população em locais limítrofes; déficit no abastecimento de água; falta de saneamento em
bairros periféricos; falta de projetos ambientais; necessidade de atração de empresas para a geração de
novos empregos; entre outros.
Diante disso tudo se levantou as seguintes questões preliminares: Quais estratégias
administrativas são fundamentais para a solução de grandes problemas enfrentados nas Regiões
Integradas de Desenvolvimento (RIDEs) e Regiões Metropolitanas (RMs), cujos resultados não fiquem
restritos a um município isoladamente? Quais opções têm para promover o desenvolvimento das cidades
que compõem a RIDE-Corruíra?
Assim, envolvo dessas questões, se decorreram os quatros problemas do PBL e que são aqui
apresentados.

5.1 Relatório final PBL 1


No primeiro PBL, denominado PBL 1, analisando a situação hipotética e factível da RIDE-
Corruíra, percebeu-se que a descentralização dos municípios brasileiros proposto pela Constituição da
República Federativa do Brasil de 1.988, ainda que tinha por objetivo dar maior autonomia a esses
municípios, trouxe também diversas dificuldades aos mesmos, principalmente pela ausência de técnicas
em gerenciar, organizar e distribuir os recursos que arrecadam, especialmente em localidades periféricas e
de baixa renda no país.
Assim, ao mesmo tempo em que a reforma constitucional propiciou ganhos fiscais aos
municípios, tais recursos também foram igualmente absorvidos pelas novas responsabilidades, como o
fornecimento de serviços na área de educação, saúde, habitação, saneamento e segurança pública.

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Para custear essas obrigações os municípios detêm basicamente dois canais de arrecadação, as
receitas próprias munícipes, onde de acordo a Confederação Nacional de Municípios (CNM, 2012), são
aquelas que o município arrecada diretamente através dos seus impostos, taxas, contribuições de
melhoria, além de outras fontes, mas que conforme Santos e Santos (2014) são muitas vezes insuficientes
para manter uma estrutura de gestão e fornecimento de infraestrutura pública adequada à população, e a
segunda fonte que é a transferências de recursos realizadas por outros entes do poder público.
O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é uma das ferramentas usadas nessa segunda
fonte de arrecadação dos municípios, porém ocorre de forma diferenciada, dependendo de critérios, entre
estados federados e os municípios, como uma forma de partilhar dos recursos da União para promover o
desenvolvimento econômico homogêneo entre as cidades do país, porém, de acordo com Arretche (2004),
acaba sendo uma distribuição “extremamente desigual no plano horizontal, isto é, entre os governos
subnacionais” (ARRETCH, 2004, p. 2).
Diante dessas evidencias e informações, os alunos produziram um relatório apresentando
importantes aspectos de “Governança metropolitana sustentável”, “Estratégias sustentáveis de construção
social da cidade” e principalmente a cooperação sustentável intermunicipal por meio de “Consórcios
sustentáveis intermunicipais”.
Em suma, o relatório apontou, como importante alternativa para enfrentar os problemas comuns
dos 15 municípios da RIDE-Corruíra, a formação de um Consórcio Intermunicipal Sustentável.
Os Consórcios Intermunicipais, de modo geral, são relevantes tanto no atendimento à população,
por meio da viabilidade da prestação de serviços públicos, como para a própria gestão pública, que
isoladamente não conseguiria atingir seus objetivos, assim sendo, os Consórcios Intermunicipais é, em
outras palavras, uma parceria entre as várias prefeituras, aumentando suas capacidades de solucionar
problemas comuns, porém sem lhes retirar a autonomia.
Guimarães (2010) explica que de acordo com a Lei n. 11.107/05 (Lei Federal dos Consórcios
Públicos) o consórcio público é um acordo celebrado entre entes federativos, podendo representar a
própria União, os Estados, o Distrito Federal e/ou os Municípios, que a partir da sua celebração surge-se
uma nova pessoa jurídica, dotada de personalidade, assim como, sujeita de direitos e obrigações, cuja
finalidade é executar a gestão associada de serviços públicos, e onde no todo ou em parte, esses entes
federativos, poderão destinar pessoal e bens essenciais à execução dos serviços transferidos.
Se se adotasse o consórcio intermunicipal no caso em concreto, os interesses comuns seriam,
pelos menos em tese, distribuídos de forma inteligente e eficazmente mais barata pela compra licitatória
em grande número, valendo-se da organicidade dos municípios, em consórcio, para execução proveitosa
dos serviços públicos, antes em desarmonia e perdulária.
Assim, de fato a RIDE-Corruíra possuía: (i) reveses econômico e técnico, advindos da má
distribuição dos recursos amealhados pela União e insuficiente recursos municipais, (ii) problemas de
serviços públicos comuns de áreas limítrofes; (iii) incapacidade administrativa inteligente e eficaz; (iv)
indiferença da União e Estado para a promoção do desenvolvimento sustentável regional e local.
Por fim, como sugestão, para enfrentar os gargalos apresentados, sem esgotar o tema, foi
apresentada pelos alunos, como proposta aos prefeitos da RIDE-Corruíra, um: (i) pacto social e político
para a formação de Região Metropolitana e consórcio público entre União, Estados e RIDE-Corruíra,
ensejando maior vantagem licitatória e pragmatismo administrativo dos recursos pertinentes, (ii)
participação da sociedade na construção do desenvolvimento sustentável regional e local, inclusive
fiscalizatório; (iii) estruturar um plano regional de desenvolvimento sustentável regional e local a longo
prazo.

5.2 Relatório final PBL 02


Quais conhecimentos específicos seriam necessários para desenvolver este novo projeto
(Consórcios Intermunicipais)? Há políticas e linhas de crédito subsidiados para implementar um projeto
como este? Teriam pessoas preparadas para lidar com este novo desafio? Há experiências similares no
Brasil ou no exterior que possam servir como benchmarking?
Ao serem novamente consultados, pelo novo problema, o PBL 2, os alunos do mestrado em
sustentabilidade perceberam que além dos problemas já mencionados, enfrentados pela RIDE-Corruíra,
existia ainda, por parte dos prefeitos, a “ausência de conhecimento específico para formação desse
Consórcio Intermunicipal Sustentável”, assim, os alunos propuseram desenvolver, aos gestores
municipais, mini cursos em três etapas, a fim de atender aos questionamentos acima levantados.

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No primeiro mini curso iriam tratariam sobre políticas públicas voltadas para o desenvolvimento
local sob uma perspectiva sustentável. No segundo, iriam abranger o preparo adequado das pessoas do
funcionalismo público local a buscar recursos junto ao estado e União e administrar corretamente os
mesmos. No terceiro e último, iriam apresentar diversos cases relativos ao desenvolvimento territorial
local no Brasil e em outros países.
Ante o dito, o objetivo primordial do segundo relatório foi indicar o caminho para o
estabelecimento de um Consórcio Intermunicipal Sustentável por meio do fornecimento de
conhecimentos específicos e necessários para este fim, orientações a respeito de políticas e linhas de
crédito subsidiados, além da apresentar experiências similares no Brasil ou no exterior.
Assim, o segundo relatório permeou em importantes aspectos relativos às “políticas
institucionais para o fomento ao desenvolvimento sustentável local”. Destacaram a necessidade da criação
de “estratégias para mobilização dos recursos humanos para o desenvolvimento sustentável local”. Foram
apresentadas também diversas “Experiências Governamentais de Desenvolvimento Sustentável
Territorial”, tanto no Brasil, quanto em outros países.
Por fim, os mini cursos, que tinham como objetivo fornecer aos prefeitos uma ampla visão sobre
os temas tratados, os conhecimentos adquiridos pelos prefeitos iriam contribuir decisivamente para que as
quinze cidades da RIDE-Corruíra conseguissem o tão sonhado salto qualitativo e quantitativo nos
aspectos econômicos, social, ambiental, tecnológico, espacial, educacional, cultural e político-
administrativo.
Os prefeitos se comprometeram, então: (i) a evoluir quanto à adoção de novas políticas públicas
de desenvolvimento local; (ii) a qualificar os recursos humanos para buscar recursos junto ao Estado e
União; (iii) administrar corretamente os recursos conseguidos junto ao Estado e a União.

5.3 Relatório final PBL 03


Neste terceiro relatório, os prefeitos levantaram alguns questionamentos que pouco havia sido
tratado até então: É possível um salto qualitativo e quantitativo e evoluir para a formação de uma RM,
tornando-se mais autônomos, administrativamente, sem o envolvimento dos empresários? Qual seria a
participação dos empresários que atuam na indústria, comércio, e serviços nas cidades que compõem a
RIDE-Corruíra em todo esse processo? Como a RIDE-Corruíra, como instituição, poderia contribuir para
que as empresas sejam parte ativa deste processo?
A discussão em torno deste assunto acalorada durando várias horas. Alguns prefeitos destacaram
que as cidades que compõem a RIDE-Corruíra possuem certas vocações econômicas, as quais precisam
ser valorizadas, aproveitadas e desenvolvidas. Outros disseram que a própria RIDE-Corruíra deve criar
mecanismos para melhor organizar os empresários. Uma proposta que tomou força foi a necessidade de
criar uma estrutura para abrigar as empresas nascentes com todo o suporte necessário “espaço físico,
tecnologias, apoio administrativo, formação de novos empreendedores, etc.”. Ficou evidente que, mesmo
as empresas já existentes em diversas cidades da RIDE-Corruíra, mas que atuam em áreas afins, devem se
organizar e atuar em parcerias para alcançar alguns objetivos que não alcançariam isoladamente.
No final das discussões, o presidente da RIDE-Corruíra tomou a palavra e disse: “caros prefeitos:
por várias horas debatemos aqui sobre assuntos que julgamos ser importantes para o desenvolvimento
local e regional. Entretanto, não temos a certeza de que as novas propostas apresentadas são caminho
certo que nos ajudará para alcançar os nossos objetivos. Creio ser prudente continuar buscando o apoio
dos alunos do mestrado em sustentabilidade da PUC-Campinas nesta nova empreitada. Minha proposta é
que os alunos indiquem se essas questões que aqui discutimos são viáveis. Sendo viáveis, que nos
detalhem como devemos agir. Há um apoio para esta proposta? Muito obrigado pelo apoio. Em breve
teremos uma nova reunião para tratar do relatório dos alunos. Esta reunião se encerra neste momento”.
Assim, na terceira etapa do trabalho de consultoria, os alunos do mestrado de sustentabilidade da
PUC-Campinas produziram mais novo relatório para a RIDE-Corruíra. No relatório demonstraram:
• Como envolver os empresários que atuam na indústria, comércio e serviços na RIDE-Corruíra;
• Como valorizar e aproveitar as vocações existentes nas cidades que compõe a RIDE-Corruíra;
• As possibilidades existentes para organizar os empresários em torno dos Arranjos Produtos Locais
(APL’s);
• Ideias para fomentar alianças estratégicas e cooperação entre empresas da região objetivando a
formação de redes e condomínios empresariais sustentáveis. Isso permitiria alcançar alguns objetivos
que não seriam alcançados isoladamente;
• A necessidade de criar uma estrutura para abrigar as empresas nascentes com todo o suporte
necessário (espaço físico, tecnologias, apoio administrativo, novos empreendedores, etc.);

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

• As possibilidades de criação de uma incubadora de empresas e um parque tecnológico.

O intuito era fornecer aos prefeitos condições para que pudessem: (i) avançar na criação de
APL’s; (ii) trabalhar pela formação de redes e condomínios empresariais; (iii) criar uma incubadora de
empresas com toda a infraestrutura necessária; e (iv) criar um parque tecnológico.
Concluiu-se que o papel do empresariado para o desenvolvimento local e regional da RIDE-
Corruíra dar-se-á por e como efeito cascata de:
• Cooperação e a confiança nos APLs e Clusters, pois, de fato, contribuem para a inovação,
crescimento econômico, melhora da qualidade de vida e regozija o poder fiscalizatória, na medida
que enseja união de empresas, compras de insumos em grande quantidade, benefícios
governamentais, contratação de profissionais especializados por número maior de empresas, etc.;
• A criação e manutenção de Parques Tecnológicos como requisito material para o crescimento,
fortalecimento e cooperação entre as empresas, se tornando logisticamente favorável, potencializando
a inovação no Brasil, e permitindo a concorrência com outras áreas do Estado ou mesmo,
mundialmente;
• Tal política pública empresarial deve oferecer incentivos que favoreçam a formação desses
aglomerados empresariais, sem desconsiderar, ao mesmo tempo, o desenvolvimento sustentável da
população local e regional.

Portanto, a governança local é o epicentro para fomentar a união de agentes econômicos, na


medida em que cria incentivos financeiros, parques tecnológicos, estruturas físicas, simultaneamente, ao
desenvolvimento local e regional sustentável.

5.4 Relatório final PBL 04


Entretanto, a discussão não parou por aí. Alguns prefeitos relataram que nas conversas diárias
com a população receberam solicitações de representantes de associações de bairros e lideranças
comunitárias sobre a necessidade de criação de novos empreendimentos sociais que permitam envolver as
comunidades mais carentes. Afinal, boa parte da população não teria oportunidade de emprego nas
empresas tradicionais e, ao mesmo tempo, não teria chances de montar empresa familiar. Os prefeitos
defensores destas ideais ressaltaram que os empreendimentos de natureza social trariam novas
oportunidades de emprego, ao mesmo tempo que dariam dignidade as famílias carentes.
O presidente da RIDE-Corruíra e fez as seguintes considerações: “A criação de várias
modalidades de empreendimentos socais envolve a criação de laços de união entre as pessoas
participantes envolve compromisso social, espírito fraterno, relações de confiança, espírito de
solidariedade, espírito de equipe, sobretudo, envolve luta pela igualdade de condições de trabalho
equânime de resultados. Temos possibilidades de alcançar estes patamares?”.
Diante da afirmativa dos prefeitos, o presidente da RIDE-Corruíra disse: “Não temos a plena
certeza de que as novas propostas apresentadas são caminho certo que nos ajudará a alcançar os nossos
objetivos. Creio ser prudente continuar buscando o apoio dos alunos do Mestrado de Sustentabilidade
nesta nova empreitada. Minha proposta é que os alunos indiquem se essas questões são viáveis. Em sendo
viáveis, que nos detalhem como devemos agir. Há um apoio para esta proposta? Muito obrigado pelo
apoio. Em breve teremos uma nova reunião para tratar do novo relatório dos alunos. Esta reunião se
encerra neste momento”.
Os problemas relacionados ao problema apresentado são: (i) Carência de empreendimentos
sociais que realizem a participação da comunidade mais vulnerável da localidade; (ii) Carência de
empregos e oportunidades para pessoas em vulnerabilidade social; (iii) Exclusão social das famílias mais
carentes da RIDE-Corruira.
As proposições para a resolução do problema em questão se encontram elencadas nas ações de
curto, médio e longo prazo abaixo.

Ação de curto prazo:


Objetivo: Capital social e desenvolvimento sustentável regional.
Implantação: A realização de um estudo para medir o capital social na RIDE-Corruíra. O objetivo é
identificar aspectos culturais (crenças e valores) da sociedade, lideranças locais, associações e
instituições, entre outros, a fim de traçar um mapa para o desenvolvimento de políticas públicas que

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contribuam neste sentido (o aumento do capital social na região, e consequentemente, o empoderamento


da sua comunidade).

Ações de médio e longo prazo:


Objetivo 1: Empreendimentos sustentáveis de economia solidária
Implantação: É fruto da própria comunidade. Todavia, dada a precariedade socioeconômica patente da
RIDE-Corruíra, mister o (re)estabelecimento da sociedade civil pela Administração Local, ensejando
capacidade para criação da economia solidária.
Objetivo 2: Cooperativas populares sustentável.
Implantação: A criação da Cooperativa Sustentável será de grande ajuda para a criação de empregos,
crescimento social e econômico para as famílias mais vulneráveis.

A implementação será com a ajuda da comunidade, que fará parte dos associados e funcionários
da cooperativa.
A Economia Solidária é de grande importância para o desenvolvimento local, pois traz à
comunidade a capacidade do desenvolvimento sustentável no tripé econômico, social e ambiental,
auxiliando, principalmente, a autonomia e dignidade das pessoas de baixa renda.
A implantação da economia solidária é exteriorizada nas cooperativas, associações e
empreendimentos sociais, que ensejam espeques socioeconômicos aos trabalhadores e pequenos
empresários e, por consequência, incutindo a solidariedade, reciprocidade e igualdade no seio social,
tendente a minimizar as desigualdades existentes.
Por fim, o Capital Social enfeixa a criação e solidez dos grupos, associações, etc., que
desenvolvam atividades de interesse social, fomentando a erradicação da desigualdade das pessoas em
escopo da igualdade plena, participação e empoderamento da comunidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro PBL incutiu o desafio do federalismo no Brasil, destacando a vetusta concentração de
renda com o Governo Central (União). Ensinou que existe no Brasil a Região Metropolitana e Região
Integrada de Desenvolvimento (RIDE). Trazendo à baila o caso hipotético, ensejou o cenário da RIDE-
Corruíra em região pouco desenvolvida no Brasil, pretendente a transformar-se em Região Metropolitana.
Para tanto, seria mister o desenvolvimento consorciado munícipe conjunto para superar os gargalos dos
serviços públicos mínimos, v.g., educação, saúde, transporte, iluminação, defesa civil, etc.
Então, no relatório final, escrutinou a descentralização administrativa no país, os recursos
insuficientes para a concretização dos serviços públicos se houver compartimento dos municípios. Diante
desse interesse convergente das cidades, a alternativa viável seria a implantação do consórcio público
intermunicipal, a fim de garantir estratégia, planejamento e execução cooperada dos serviços públicos.
Tal consórcio seria mediado pelos Prefeitos, além de reforçados pelo desenvolvimento social de baixo
para cima da população, e na colação de resultados concretos de médio e longo prazo dos projetos. Por
fim, se almejado os fins do consórcio, estar-se-ia caminhando para que a RIDE-Corruíra fosse Região
Metropolitana.
Por sua vez, o segundo PBL funda-se na ideia do modo operandi para se estabelecer, de fato, um
consórcio intermunicipal. Em outras palavras, quais os meios indispensáveis para que a RIDE-Corruíra
criasse um consórcio, e se haveria êxito em tal.
No relatório final analisou a ausência de conhecimento técnico específico, pela má gestão e parca
receita municipal, bem como encravou que a saída mais vantajosa seria fazer criar o consórcio para
delimitar, ratificar e retificar os equívocos nos serviços públicos, sobretudo, nos limítrofes citadinos.
Formulou-se, pois, quais seriam as regras legais para a consubstanciação do consórcio, tais como ingresso
livre, interesse público, vinculação ao convencionado, alvitrando a necessidade da escolha da natureza
jurídica, eixos estruturantes, planejamento orçamentário, revisão periódica das políticas públicas,
conhecimentos específicos adequados para o sucesso da RIDE-Corruíra como consorciada.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

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Processo de Promoção do Desenvolvimento Sustentável na Esfera Local e Regional. Revista de
Administração, v. 5, n. 8, p. 39-63, 2006.

ARRETCHE, M. Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia. São


Paulo em perspectiva, v. 18, n. 2, p. 17-26, 2004.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. 3. ed. Rio de Janeiro: Garamond,


2006.

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Editora, 2001.

GUIMARÃES, T. C. O consórcio público como instrumento de fortalecimento do federalismo


brasileiro: vantagens e condições de formação. 2010. 114 f. Dissertação (Mestrado em Administração
Pública) - Programa de Pós-Graduação em Administração Pública, Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2010.

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Investigação no Município de São Gabriel - RS. Revista Estudo & Debate, v. 21, n. 1, p. 200-216, 2014.

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Participação dos Municípios: uma análise para os municípios do Sul da Bahia entre 2008 e 2012. In:
SEMANA DO ECONOMISTA, 4., Ilhéus/BA. Anais..., Ilhéus/BA: UESC, 2014.

SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23º edição, São Paulo: Cortez, 2007.

SOUZA, S. C.; DOURADO, L. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método de


aprendizagem inovador para o ensino educativo. Holos, Natal, v. 31, v. 5, p. 182-200, 2015.

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

CAPÍTULO 39
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e educação

ESTRATÉGIAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL


E METROPOLITANO: UMA DISCUSSÃO FAZENDO USO DO MÉTODO PBL

Ana Luíza Ferreira1, Fábio Luiz Papaiz Gonçalves2, Geraldo Estevo Pinto3,
Lívia Ferreira Neves4, Samuel Carvalho De Benedicto5
1. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: analuiza.ferreira89@gmail.com
2. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:
fabiopapaiz@gmail.com
3. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: estevoxyz@gmail.com
4. Mestranda em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. E-mail: liviafneves@hotmail.com.br
5. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Centro de Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Sustentabilidade. E-mail: samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br

RESUMO
As Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDE) brasileiras compartilham um mesmo desafio: buscar
através das ações econômicas o desenvolvimento sustentável em seu território. No entanto, o
desenvolvimento deixou de ser uma simples meta econômica e tem incorporado as dimensões sociais e
ambientais. Neste sentido, o objetivo do trabalho, através da Aprendizagem Baseada em Problemas
(PBL), é o aprofundamento sobre as estratégias públicas e privadas que podem ser aplicadas nos
territórios, visando o desenvolvimento sustentável, com apresentação de propostas e soluções para a
construção de um projeto comum de desenvolvimento estratégico da RIDE hipotética. Os resultados
apontaram, além da indispensável integração do conjunto da sociedade, para a necessidade de ações de
pesquisa, de formação e capacitação tecnopolítica dos atores sociais e públicos para fundamentar a
implementação das ações e obras voltadas ao desenvolvimento sustentável do território. Os planos são
pensados a curto, a médio e a longo prazo. A integração dos objetivos comuns proporcionará a longo
prazo a constituição de uma região metropolitana almejada pelos agentes políticos.

PALAVRAS-CHAVE: Problem Based Learning, Regiões Integradas de Desenvolvimento,


Desenvolvimento local sustentável, Políticas Públicas, Arranjos Produtivos Locais.

1. INTRODUÇÃO
O PBL (Problem Based Learning) é uma metodologia ativa que se torna importante por propor o
processo de aprendizado centrado no aluno. No PBL, o objetivo do aluno é solucionar um problema, seja
real ou simulado a partir de um contexto, sendo o protagonista de seu próprio aprendizado através da
pesquisa, orientada pelo professor (SOUZA; DOURADO, 2015). Assim, o aluno é desafiado a buscar
conhecimento, entender e utilizar informações de forma autônoma e reflexiva, para dar respostas aos
problemas identificados (KWAN, 2000). Já existem estudos que evidenciam a importância desta
metodologia em cursos de pós-graduação (RIBEIRO; MIZUKAMI, 2005; ARAÚJO et al., 2010; SILVA
et al., 2017), atendendo à necessidade dos professores e dos estudantes, quanto ao processo de ensino e
aprendizagem.
Tendo como pergunta principal: “a metodologia PBL pode ser utilizada para discutir e
compreender as estratégias públicas e privadas aplicadas nos territórios, visando o desenvolvimento
sustentável?”, o objetivo geral do trabalho, é o aprofundamento sobre as estratégias públicas e privadas
que podem ser aplicadas nos territórios, visando o desenvolvimento sustentável, tendo como base um
problema hipotético. Apresentar propostas e soluções para a construção de um projeto comum de
desenvolvimento estratégico da RIDE apresentada no PBL, a partir da sua realidade social, econômica e
ambiental, envolvendo o conjunto da sociedade, também são objetivos deste trabalho.
Quanto aos objetivos específicos, são: analisar aspectos relativos ao desenvolvimento sustentável
local e novos arranjos socioinstitucionais; estudar sobre a governança metropolitana e estratégias
sustentáveis de construção social da cidade; estudar sobre a cooperação sustentável

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intermunicipal/consórcios sustentáveis intermunicipais, economia solidária, cooperativas populares


sustentáveis, capital social em conexão com o desenvolvimento sustentável regional; estudar sobre
Arranjos Produtivos Locais (APLs) sustentáveis/clusters sustentáveis e formação de redes de
empresas/condomínios sustentáveis.
Este estudo foi desenvolvido na disciplina de Estratégias Públicas e Privadas de
Desenvolvimento Local e Metropolitano pelo Programa de Mestrado em Sustentabilidade da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas – SP. Pela metodologia utilizada, este estudo possui natureza
aplicada, abordagem qualitativa e objetivo exploratório. Os dados da pesquisa foram analisados por meio
da técnica denominada análise descritiva.
O estudo partir do seguinte problema hipotético: Com o fortalecimento dos municípios
brasileiros como entes federativos, pela Constituição de 1988, estes passaram a ser responsáveis por
várias atividades do governo. Essa descentralização política acabou transferindo diversos serviços
públicos diretamente aos municípios, o que acabou agravando as desigualdades regionais e a baixa
capacidade técnica das gestões municipais (CARVALHO, 2007). Este estudo se torna importante pelas
Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDE) brasileiras compartilharem um mesmo desafio: a busca
pelo desenvolvimento sustentável em seus territórios, através das ações econômicas (MATUS, 2000).
Com este cenário base, foi criado o PBL, onde Corruíra é caracterizada como uma cidade polo, com 600
mil habitantes, cercada por outras 14 cidades de menor porte, que estão localizadas em uma região pouco
desenvolvida, denominada Região Integrada de Desenvolvimento Corruíra (RIDE).
Os15 prefeitos das cidades que compõem a RIDE-Corruíra entendem que a região possui
problemas em comum, com impactos ambientais, sociais e econômicos negativos, não se limitando ao
território de um município isoladamente. Assim, os prefeitos têm a iniciativa de procurar estratégias
administrativas para a solução dos grandes problemas enfrentados na RIDE e opções para promover o
desenvolvimento das cidades. Os prefeitos da RIDE-Corruíra querem, ainda, evoluir para a formação de
uma Região Metropolitana, para serem mais autônomos administrativamente.
Para este comprometimento ser completo, há a necessidade de um salto qualitativo e quantitativo
quanto aos aspectos econômico, social, ambiental. Os responsáveis pela mudança devem pesquisar sobre
políticas e linhas de crédito para implementar o projeto e pessoas preparadas para lidar com este novo
desafio. Estudar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local sob uma perspectiva sustentável
é muito importante para a região. A RIDE deve ainda analisar as vocações econômicas que precisam ser
valorizadas e aproveitadas e o envolvimento dos empresários da região. Deve também considerar a
criação de mecanismos para melhor organizar os empresários e criar uma estrutura para abrigar as novas
empresas. Considerar os empreendimentos sociais, que envolvam as comunidades carentes, e os
empreendimentos de natureza social também devem ser considerados.
Uma vez que este cenário de cidades com desafios comuns, em áreas menos favorecidas
economicamente e de interesse do Estado são realidade do país, e em grande número, este estudo por ser
o norteador (a referência básica) para interessados em evoluir como RIDE ou Consórcios Intermunicipais,
por apresentar um estudo através do PBL, onde os resultados são apresentados em cenários de curto,
médio e longo prazo.

2. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA


Este estudo envolve a aplicação de uma metodologia ativa de ensino denominada PBL (Problem
Based Learning). O PBL possui as seguintes fases:
Relatório Parcial – nessa fase, os alunos elaboram um relatório parcial sobre o tema que estão
estudando. Este relatório é básico, pois é o início das atividades que os alunos desenvolverão para que
possam solucionar o problema que foi apresentado.
Pesquisa – na pesquisa, os alunos dividem os tópicos a serem pesquisados entre si e cada um é
responsável por um ou mais tópicos. Nesse momento, cada aluno pesquisa seu tópico, redige um texto
sobre ele e se reúne com o grupo para a elaboração do Relatório Final.
Relatório Final – este relatório é a união de tudo o que foi pesquisado pelos alunos. Deve ser
entregue ao professor da disciplina para que seja avaliado e é composto por uma introdução, com
informações básicas sobre o problema; conceitos relevantes, onde toda a pesquisa que foi realizada pelo
grupo é colocada, com os conceitos e a teoria utilizada; e as soluções, que é a parte na qual os alunos
sugerem soluções para os problemas e situações que estão estudando.
Apresentação – nessa etapa, os alunos apresentam o trabalho e as soluções que encontraram
para o problema.

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Debate – após a apresentação, ocorre o debate entre os grupos da sala, no qual os grupos fazem
perguntas uns para os outros para verificarem o que entenderam das apresentações dos outros grupos e
sobre a matéria que está sendo ensinada.
Fundamentação Teórica – essa é a fase final de um PBL, no qual o professor faz um
fechamento do problema que está sendo estudado. Nesse período, o professor explica os tópicos
estudados pelos alunos e também explora algum tópico que deveria ter sido estudado, mas que, algumas
vezes, não é estudado pelos alunos. Na Fundamentação Teórica, os alunos tiram suas dúvidas e têm uma
aula convencional sobre a matéria.
Este estudo foi desenvolvido na disciplina de Estratégias Públicas e Privadas de
Desenvolvimento Local e Metropolitano pelo programa de Mestrado em Sustentabilidade da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas - SP.
Este estudo possui natureza aplicada, abordagem qualitativa e objetivo exploratório. De acordo
com Gil (2019), uma pesquisa aplicada depende de descobertas e desenvolvimento. Sua característica
fundamental é a utilização prática dos conhecimentos, esta é menos voltada para teorias e procura a
aplicação imediata na realidade.
Conforme Gerhardt e Silveira (2009), a abordagem qualitativa tem como objetivo aumentar a
compreensão de um grupo de pessoas, de uma organização e de outras entidades. A pesquisa qualitativa
busca o porquê das coisas e não quantifica valores; objetiva o fenômeno, observa diferenças entre o social
e o natural e respeita a interação entre os objetos. Para Gil (2019), pesquisas como estudos de campo,
estudos de caso e pesquisas participantes são qualitativas, pois não possuem fórmulas ou receitas que
orientem os pesquisadores, a análise de dados depende da capacidade do pesquisador.
Marconi e Lakatos (2003) afirmam ainda que a abordagem qualitativa pode conter atitudes e
opiniões.
Já sobre o estudo exploratório, Marconi e Lakatos (2003) o consideram como uma investigação
que formula questões ou um problema, desenvolve hipóteses, faz com que um pesquisador conheça um
fato ou fenômeno e clarifique conceitos. O estudo exploratório é realizado com documentos e contatos
diretos. Conforme Gerhardt e Silveira (2009), um trabalho exploratório possui leitura e coleta de
informações com entrevistas e observações, sendo assim relativamente estruturado.
Os dados da pesquisa foram analisados por meio da técnica denominada análise descritiva. De
acordo com Gil (2019), a análise descritiva tem o objetivo de descrever características de um fenômeno e
estabelecer relações entre diferentes variáveis. A análise descritiva desse estudo foi feita com o grupo
pesquisando os assuntos necessários para resolver os problemas fornecidos pelo professor e sugerindo
soluções para eles.

3. APRESENTAÇÃO DOS PBLs


A Constituição Federal de 1988 fortaleceu os municípios no Brasil que passaram a ser entes
federativos responsáveis por muitas atividades de governo. A descentralização política transferiu diversos
serviços públicos aos municípios, agravando as desigualdades regionais e a baixa capacidade técnica das
gestões municipais. Com este cenário base, para este PBL, foi criado um caso hipotético, onde Corruíra é
caracterizada como uma cidade polo, com 600 mil habitantes, cercada por outras 14 cidades de menor
porte, que estão localizadas em uma região pouco desenvolvida, denominada Região Integrada de
Desenvolvimento Corruíra (RIDE).
Os prefeitos das 15 cidades que compõem a RIDE-Corruíra verificaram que a região possui
muitos problemas em comum, como: falta de vagas em abrigos para crianças e adolescentes; necessidade
de ampliar a rede escolar; poucas opções de cursos profissionalizantes; baixa informatização das escolas
públicas; defesa civil despreparada para atender as necessidades da população; falta de qualificação de
muitos servidores; necessidade de melhoria na segurança pública; mobilidade urbana comprometida;
máquinas e equipamentos sucateados; falta de recursos financeiros; estradas que interligam os municípios
em condições precárias; déficit no abastecimento de água; falta de saneamento em bairros periféricos;
falta de projetos ambientais e uma série de outros problemas.
Boa parte dos problemas e desafios encontrados possuem impactos ambientais, sociais e
econômicos e não se limitam ao território de um município isoladamente. Então, os prefeitos dessas
cidades procuram estratégias administrativas para a solução dos grandes problemas enfrentados na RIDE,
opções para promover o desenvolvimento das cidades e estratégias com o objetivo de se tornarem uma
Região Metropolitana.
Ainda há um movimento integrado entre os prefeitos da RIDE-Corruíra, que necessitam integrar
o sistema de transporte público, proteger as bacias hidrográficas, ter um melhor aproveitamento das

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opções turísticas das cidades, criar um aterro sanitário, construir postos de saúde e pequenos hospitais e
fazer a aquisição de medicamentos, merenda escolar e insumos juntamente com outros municípios para
que o preço desses produtos seja menor para todos.
Os prefeitos das cidades da RIDE-Corruíra querem evoluir para a formação de uma Região
Metropolitana para que se tornem mais autônomos administrativamente. Porém, necessitam dar um salto
qualitativo e quantitativo nos aspectos econômico, social, ambiental. As cidades precisam estabelecer um
Consórcio Intermunicipal Sustentável e buscar conhecimentos específicos para desenvolver esse projeto.
Elas devem pesquisar sobre políticas e linhas de crédito para implementar o projeto e pessoas preparadas
para lidar com este novo desafio. Estudar políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local sob
uma perspectiva sustentável é muito importante para a região.
Após essa etapa, a RIDE necessita envolver os empresários da região, que trabalham na
indústria, comércio e serviço. As cidades que compõem a RIDE-Corruíra possuem certas vocações
econômicas que precisam ser valorizadas e aproveitadas. A região deve ainda, criar mecanismos para
melhor organizar os empresários e criar uma estrutura para abrigar as novas empresas, com espaço físico,
tecnologias e apoio administrativo. Os prefeitos avançaram na criação de Arranjos Produtivos Locais
(APL’s), na formação de redes e condomínios empresariais, incubadoras de empresas e um parque
tecnológico.
Por fim, as cidades necessitam de empreendimentos sociais que envolvam as comunidades
carentes, pois boa parte da população da RIDE não teria oportunidade de emprego nas empresas
tradicionais. Os empreendimentos de natureza social trariam novas oportunidades de emprego e de
dignidade às famílias. A criação de empreendimentos sociais envolve laços de união entre as pessoas
participantes, compromisso social, relações de confiança, solidariedade e espírito de equipe.

4. RELATÓRIO FINAL DO PBL


4.1 Governança Metropolitana Sustentável dos problemas e desafios comuns
O federalismo caracteriza-se pela associação das esferas de governo para melhorar a ação
descentralizadora, procurando ao mesmo tempo a unificação de objetivos e integração administrativa
(CARVALHO, 2007). Nos âmbitos dos objetivos federativos torna-se importante o papel da governança,
ou seja, a capacidade de gestão, de técnica, de habilidades, de métodos e de recursos de administração
(MATUS, C. 2000). Carlos Matus, pensador das políticas de governo na América Latina, destaca a
importância da “tecnopolítica” (2.000, p. 111) como instrumento capaz de sanar a baixa capacidade de
governo, agindo diretamente sob os atores que atuam na direção política de governo.
O fortalecimento do papel dos municípios tem um impacto político que se confronta com
problemas de governança a nível local: a capacidade de governança e particularmente, a capacidade
técnica e institucional dos municípios. Em outro plano, questiona a autonomia financeira e a dificuldade
de equilíbrio fiscal (BALDISSERA, 2015) dos entes locais. No Brasil o aspecto histórico da centralização
do governo e seu caráter autoritário (BALDISSERA, 2015) constitui um fator relevante na ação de
governança e governabilidade.
De acordo com Maltus (1989, 2000) a nova realidade latino-americana, caracterizada pela baixa
capacidade de governar, demanda uma mudança no processo de governança:
• Envolvimento e participação da comunidade local;
• Capacitação política e técnica dos gestores e técnicos;
• Profissionalização do servidor público;
• Busca de cooperação a nível regional e global;
• Fortalecimento do controle público sobre o poder privado;
• Planos estratégicos regionais ou metropolitanos.

Os planos a partir de uma visão estratégica de médio e longo prazo, sistematizam e aprimoram novas
formas de governança em consonância com os desafios regionais e metropolitano.

4.2 Integração Social, Econômica e Ambiental entre Municípios para o Desenvolvimento


Sustentável
Sobre a capacidade de se desenvolver considerando a sustentabilidade, Nascimento e Denardin
(2015) afirmam que a transformação da terra, do trabalho e da organização produtiva em mercadorias
implica em mudanças sociais e ambientais desastrosas pelo fato do homem, natureza e organização
produtiva serem elementos que compõem um território, portanto, são inseparáveis e não são
originalmente produtos.

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O sistema de mercado criado e estabelecido na sociedade contemporânea, em todos os seus


aspectos, têm como objetivo a mercantilização do território, desconsiderando seus aspectos ambientais,
econômicos e sociais (NASCIMENTO; DENARDIN, 2015). Para considerar a dinâmica territorial, nos
modelos de desenvolvimento sustentável, é preciso reconhecer que cada comunidade, a partir de suas
instituições específicas, constrói singularmente suas interações sociais, ambientais e econômicas e
consequentemente seus modelos de desenvolvimento. Infelizmente, este modelo não se aplica na maioria
das cidades e todo o ambiente e cultura das comunidades é ignorado para que seja seguido o padrão de
desenvolvimento econômico.
Sobre a governança adaptativa para o Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), segundo
Inácio et al. (2013), esta objetiva a possibilidade de ligar indivíduos, organizações, agências e instituições
em diversos níveis organizacionais. Os impactos ambientais, sociais e econômicos entre as cidades devem
ser mapeados para que o DRS ocorra, já que pessoas, recursos ambientais e riquezas interagem de forma a
não respeitar as fronteiras delimitadas geograficamente, sendo extremamente importantes e estratégicos
para o desenvolvimento local.
É válido lembrar que o DRS está inserido dentro de uma sociedade capitalista, onde o lucro é o
grande objetivo. Sendo assim, é preciso conciliar os três pilares básicos do desenvolvimento sustentável
de uma forma diferenciada. Um exemplo citado por Nascimento e Denardin (2015), é a dimensão social
para o DRS, que considera a cultura como elemento fundamental no processo de desenvolvimento, uma
vez que o desenvolvimento que se pretende sustentável, deve ter como prioridade aquilo que há de mais
humano no trabalho, ou seja, o próprio homem e sua interação com o meio.

4.3 Cooperativismo Sustentável Intermunicipais e Consórcios


O desenvolvimento sustentável, em resumo, pressupõe o desenvolvimento capaz de suprir as
necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações
futuras. É possível mapear formas diferentes de se desenvolver sustentavelmente, mas para isso é
necessário que haja planejamento, principalmente no uso dos recursos naturais finitos. Uma das
alternativas para que esse planejamento seja efetivo é o cooperativismo (POCHMANN, 2012).
O cooperativismo se apresenta como uma estrutura onde não há a posição de proprietário, mas
sim de associados, isto é, um modelo que permite uma inclusão econômica, dado que não há uma
hierarquia entre os participantes. Esse sistema se utiliza dos princípios de igualdade e democracia
participativa, sendo também um modelo de inclusão social, que enriquece a discussão referente ao
conceito de propriedade (LOPES et al. 2015).
Outro ponto do cooperativismo que pode contribuir para o desenvolvimento sustentável entre
cidades é que o poder de decisão não está vinculado a posse. Ou seja, não importa o capital, em uma
cooperativa todos os votos dos associados têm igual peso, mesmo dentro do contexto do cooperativismo
entre cidades. O mesmo dentro de uma Região Metropolitana, onde não importa qual cidade é maior, ou
possui maior geração de riqueza, todas as cidades envolvidas têm o mesmo poder de decisão (LOPES et
al. 2015).
Cooperativismo significa resolver problemas sociais por meio de comunidades de cooperação. O
cooperativismo surgiu como uma alternativa entre o capitalismo e o socialismo, mas sua origem ocorreu
pelos estudos e prática dos socialistas utópicos. Este ideal tem seu berço na Inglaterra no século XIX
(CAVALLARO; FURLANETI; KRAJAUER, 2016).
Para Sandroni (2005, p. 190), cooperativa é “uma empresa formada e dirigida por uma
associação de usuários, que se reúnem em igualdade de direitos com objetivo de desenvolver uma
atividade econômica ou prestar serviços comuns, eliminando os intermediários”.
As cooperativas podem assumir diferentes modalidades: de produção, de consumo, de crédito, de
troca e comercialização, de venda por atacado ou de assistência médica. Existem cooperativas mistas que
assumem diferentes atividades econômicas. As mais comuns, são cooperativas de produção, de crédito e
de consumo (SANDRONI, 2005).

4.4 Políticas Públicas para o desenvolvimento local e Consórcio Intermunicipal Sustentável


O planejamento é um esforço para otimizar as relações entre meios e fins, com a racionalização
das ações na realidade regional ou urbana para melhor aplicar os recursos disponíveis e obter resultados
com mais eficiência. A gestão é o processo no qual a sociedade e os agentes sociais são consultadas
ativamente na orientação do seu destino e do seu ambiente natural. A gestão está ligada à participação da
população nas escolhas sociais (FERNANDEZ, 2014).

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Os novos princípios de planejamento e gestão afirmam que agentes sociais devem ser
consultados em análises e debates e definir prioridades e execução das propostas. A gestão social articula
agentes sociais e instituições para conciliar interesses e obter acordos para o planejamento do
desenvolvimento das cidades. Existem diversos mecanismos para garantir a participação dos cidadãos no
Poder Público, como a iniciativa popular, o plebiscito, consultas e conselhos. O planejamento necessita
ser participativo e democrático e ter o debate de todos os agentes sociais, ou seja, a opinião das
comunidades é fundamental. É importante destacar que a sustentabilidade busca o manejo correto dos
recursos naturais, o desenvolvimento socialmente justo e economicamente viável (FERNANDEZ, 2014).

4.5 Aglomerações Produtivas, Clusters, APLs e Polos Industriais


As empresas são agentes que otimizam os lucros e possuem decisões racionais para satisfazer
suas necessidades. A cooperação entre empresas é analisada com racionalidade econômica, uma forma
encontrada por um ator para minimizar custos de transações que vêm quando ele atua isoladamente e sem
cooperação, num ambiente dinâmico e imprevisível. As empresas buscam minimizar os custos de
transação e estabelecem uma fronteira ótima entre as atividades que controlam e aquelas que são feitas
por transações no mercado. As estruturas das empresas vão desde mais formais (contratos de
fornecimento e franchising) até mais informais (compartilhamento de informações, trabalho conjunto e
redes empresariais) (VALE; CASTRO, 2010).
A localização espacial da produção das empresas atraiu, desde cedo, a atenção dos economistas.
As teorias sobre especialização e comércio internacional explicam a concentração geográfica de algumas
atividades (VALE; CASTRO, 2010). A aglomeração produtiva competitiva é um espaço territorial onde
atores buscam interação e cooperação, visando reduzir custos de transação e gerar uma dinâmica
territorial própria. Surgem os conceitos de sistemas produtivos e inovativos locais (SPIL) e de arranjos
produtivos locais (APL). Os SPIL são agentes econômicos, políticos e sociais que estão no mesmo
território e desenvolvem atividades econômicas parecidas e vínculos expressivos de produção,
cooperação e aprendizado (VALE; CASTRO, 2010). Em outra perspectiva, de acordo com Cunha (2008),
há necessidade de delimitar esses conceitos. Observa o pesquisador que no Brasil as APL são
apresentadas como possuidoras de maiores valores de capital social e perspectiva de desenvolvimento
local. E reforça, de modo “exacerbado”. Os Clusters, por sua vez, acentuam a visão de concentração na
obtenção de maiores ganhos econômicos. Estas formas organizacionais, no entanto, podem coexistir
(CUNHA, 2008) e por isto é importante precisarem melhor os conceitos.
O APL e Clusters podem ser classificados também como aglomerados produtivos capazes de
promover a competitividade e o desenvolvimento de um território. Sua configuração produtiva-territorial
estão caracterizadas (FUINI, 2007): a) por uma “cadeia produtiva” de fluxos de bens, serviços e
informações, priorizando um produto ou um ramo de produção; b) por um “sistema produtivo” que
envolve unidades de produção, serviços e fornecedores, complementados por outros agentes, lideranças
locais e instituições públicas e privadas.
Outro meio de se estimular o desenvolvimento local é através das incubadoras de empresas que
são locais onde nascem, crescem e desenvolvem-se pequenos negócios, na maioria dos casos de âmbito
tecnológico. Nesse local os negócios são amparados por uma infraestrutura comum e, por vezes, com a
presença de uma Universidade, de forma a transformar e incentivar a criação ideias em produtos, serviços
e processos (WOLFFENBÜTTEL, 2001). São também formas de unir tecnologia, capital e know how
para alavancar o talento empreendedor e acelerar o desenvolvimento de novas empresas
(GRIMALDI; GRANDI, 2003).
Segundo Udell (1990) as incubadoras possuem quatro tipos diferentes possíveis:
• Incubadoras sem fins lucrativos: são criadas por câmaras de comércio ou associações (industriais ou
comunitárias). Seu objetivo principal é proporcionar desenvolvimento econômico para uma pequena
região ou setor industrial específico;
• Incubadora de Universidades: transformam, incentivam, financiam conhecimentos desenvolvidos
dentro das Universidades. Seja através da disseminação de novas teorias ou criação de novos
produtos e tecnologias;
• Incubadoras Privadas: tem como objetivo o lucro. Nesse contexto as incubadoras privadas também
buscam a criação de um ambiente empreendedor que priorize o desenvolvimento de uma região ou
comunidade;
• Incubadora Pública: sua função é a geração de empregos, desenvolvimento de novos negócios e
produtos que gerem uma diversificação econômica e estimule o empreendedorismo.

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As incubadoras, segundo Ferreira (2003), possuem uma importância no desenvolvimento local


muito significativa. O autor afirma que quando uma incubadora se propõe a realizar um desenvolvimento
local é essencial que se enfatize alguns elementos, como:
• Aumentar a autonomia local e instituir novos mecanismos para tomada de decisão;
• Aumentar a capacidade local de geração de renda e excedentes. É importante realocar parte do
excedente diretamente para incentivo ao desenvolvimento;
• Focar no ponto de inclusão social;
• Envolver e conscientizar a população quanto a importância de um desenvolvimento que respeite os
recursos naturais. Criar responsabilidade ambiental visando uma racionalização e maior preservação
dos recursos locais.

4.6 A Economia Solidária


De acordo com Singer (2000), um dos principais pesquisadores brasileiros sobre tema, “a
economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à
pobreza e ao desemprego resultantes da difusão «desregulamentada» das máquinas-ferramenta e do motor
a vapor, no início do século XI”. As primeiras experiências ocorreram em vilas ou aldeias, no interior da
Inglaterra, em forma cooperativa voltada para o atendimento das necessidades locais.
A economia solidária pode ser definida como toda iniciativa econômica que incorpora
trabalhadores associados em torno dos seguintes objetivos: (1) caráter coletivo das experiências (não são,
portanto, formas de produção e consumo individuais, típicas da economia informal em seu sentido
estrito), (2) generalização de relações de trabalho não assalariadas, (3) exercício do controle coletivo do
empreendimento (de suas informações, fluxos, rendimentos etc.), e (4) inserção cidadã das iniciativas:
respeito ao consumidor e ao meio ambiente, participação ativa na comunidade em que está inserida,
articulação política com as outras iniciativas de economia solidária, denúncia de mecanismos antiéticos
de mercado (SILVA; SILVA, 2014, p. 3).
A economia solidária apresenta-se como desenvolvimento alternativo à economia que prima pela
concentração de capital e indiferença frente as culturas locais. Em contraposição a economia de mercado,
baseia-se na concorrência e em função de lucros. A economia solidária não nega a produção em si, mas
contesta as relações econômicas capitalistas ao optar por relações econômica mais justas, solidárias e
sustentáveis. A economia solidária prioriza a utilização de recursos naturais de modo sustentável e não
predatório, pois, para este tipo de economia, a natureza não é um mero meio de produção ou recurso
material e sim o elemento capaz de manter a vida da comunidade (SILVA; SILVA, 2008).

4.7 O Capital Social


O conceito de capital social é um conceito que ganha corpo na década de 1990 principalmente
nas ciências sociais. Bourdieu (1990) assim define este conceito: A rede de ligação é o produto de
estratégias de investimento social, consciente ou inconscientemente orientadas em direção à instituição ou
à reprodução de relações sociais diretamente utilizáveis, em curto ou longo termo, ou seja, em direção à
transformação de relações contingentes, como as relações de vizinhança, de trabalho, ou mesmo de
parentesco, em relações às vezes necessárias e eletivas, implicando em obrigações duráveis (sentimentos
de reconhecimento, de respeito, de amizade), ou institucionalmente garantidas (direitos).
Para Putnam (1993), a partir da experiência do desenvolvimento na Itália, define capital social
com base em redes sociais, através de relações de confiança, normas associadas, indicando um
engajamento cívico em associações horizontais.
Coleman (1990), considera além das associações horizontais, as associações verticais, pois estas
estabelecem relações hierárquicas e suas inter-relações em uma distribuição desigual de poder entre os
membros e não apenas pelas associações horizontais. Todavia para Olson (1982) e North (1990), este
conceito vai além do nível local e incluem as relações formais e estruturais institucionais quanto ao
capital social, como governos, regime político, sistemas judicial e civil, liberdades e políticas, ou seja,
contemplam os ambientes político e social, modeladores da estrutura social que permitem o
estabelecimento de normas que facilitam seu desenvolvimento.

5. SOLUÇÕES PROPOSTAS PARA O PBL


Neste estudo, os prefeitos da RIDE-Corruíra apresentaram, em quatro etapas sucessivas, os
problemas presentes sob o objetivo maior: promover o desenvolvimento sustentável do território nas suas
dimensões ambientais, sociais e econômicas. Além deste primeiro objetivo, também pretendem constituir-
se como uma Região Metropolitana.

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Em cada fase houve o processo de problematização, que consistiu em tomar um distanciamento


do objeto-problema apontado pelos agentes políticos, para identificar a essência do problema ou os
problemas fundamentais daquele território. Definido este passo, houve a necessidade de buscar na
bibliografia referenciada a fundamentação teórica do problema com o objetivo de encontrar elementos
indicativos e as experiências de solução. Neste sentido, em cada fase do estudo, foram apresentadas
soluções, em caráter de propostas, considerando a seguinte perspectiva temporal: curto, médio e longo
prazo.
Foi determinado que o curto prazo abrangeria o período de 4 a 8 meses, o médio prazo de 10
meses a 24 meses e o período de longo prazo remeteria a além dos 25 meses. No entanto esta
classificação não tem caráter definitivo, pois de acordo com a conjuntura e os fatores sociopolíticos e
econômicos, estes períodos temporais podem ser alterados.
As soluções apresentadas a curto prazo foram:
• Envolver a participação da comunidade, em diversos meios e modos, com o objetivo ouvir e
identificar as prioridades públicas da sociedade para a RIDE e, com isto, integrar a população e a
sociedade civil como participantes do processo de desenvolvimento;
• Promover reuniões periódicas dos Prefeitos para avaliar e planejar as ações prioritárias, constituindo,
como suporte, equipes temáticas de aprofundamento das questões centrais da RIDE;
• Criar uma Escola de Gestão Estratégica para promover a capacitação técnica e política dos servidores
das diversas esferas dos governos locais, objetivando aprimorar a gestão administrativa, a elaboração
de projetos e a captação de recursos;
• Pesquisar sobre as atividades econômicas e empresariais do território nas últimas décadas, objetivando
identificar sua “vocação produtiva”, suas forças e deficiências, possibilitando a elaboração de um
Projeto preliminar de desenvolvimento econômico sustentável do território;
• Criar um Fórum do Empreendedorismo Social visando envolver a população dos bairros mais pobres
e periféricos, com o objetivo de motivar e conhecer as experiências práticas das diversas modalidades
de economia solidária, cooperativas e associações.

As propostas de soluções para o médio prazo foram:


• Reuniões temáticas dos técnicos dos governos locais para compartilhamento de estratégias e dos
planos de ação nas atividades comum específicas;
• Curso de gestão estratégica e administrativa de Consórcios Intermunicipais Sustentáveis direcionadas
aos agentes públicos e administrativos, objetivando a formação tecnopolítica para gestão dos
consórcios da RIDE;
• Promover o Fórum de Desenvolvimento Sustentável da RIDE com a participação dos empresários e
da sociedade, objetivando a elaboração do projeto estratégico de desenvolvimento econômico;
• Disponibilizar cursos de formação e capacitação para os líderes populares, objetivando a
administração e gestão de empreendimentos sociais e comunitários.

As propostas de solução para o longo prazo foram:


• Revisão dos planos estratégicos e de cooperação entre os municípios da RIDE com objetivo de
analisar os resultados obtidos, aprimorar as ações e delinear as estratégias e os passos seguintes;
• Apresentação do plano de Consórcio Intermunicipal Sustentável à sociedade, objetivando tornar
pública as mudanças administrativas decorrentes;
• Criação de Incubadora de Empresas e do Polo Tecnológico da RIDE com o objetivo de acelerar a
criação de pequenas e médias empresas com perfil tecnológico capazes de impulsionar a cadeia
produtiva do território e promover sua competividade;
• Criação de incubadora para os empreendimentos da economia solidária e cooperativas, objetivando
garantir o fomento, o suporte logístico e a assessoria necessária ao desenvolvimento local nas
comunidades.

Os recursos financeiros, administrativos e humanos para realizações dos eventos e dos projetos
devem ser disponibilizados proporcionalmente pelos municípios integrantes da RIDE. Recursos dos
Governos Estaduais e Federais, obtidos através de projetos devem ser destinados às finalidades
específicas. Fundamentais são as parcerias com as empresas da região, comprometendo-as, por meio da
sua participação, com o projeto de desenvolvimento sustentável. A realização dos eventos e ações deve

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contar, ainda, com a participação e a assessoria das Universidades e Instituições de Ensino da RIDE, além
dos órgãos patronais e dos trabalhadores.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A forma de ensinar e aprender tem evoluído e o PBL traz os alunos para uma nova realidade,
onde devem ser mais ativos e protagonistas do seu próprio desenvolvimento. Pelos resultados
apresentados, é possível afirmar que a metodologia PBL, para o aprofundamento quanto às estratégias
públicas e privadas aplicadas nos territórios visando o desenvolvimento sustentável, obteve sucesso em
seu objetivo principal.
O estudo de caso do PBL hipotético sobre a RIDE – Corruíra, evidencia a indispensável
integração de toda a sociedade, que deve ser envolvida desde os primeiros passos, para que o
desenvolvimento sustentável realmente aconteça. Ações de pesquisa, de formação e capacitação
tecnopolítica dos atores sociais e o público, também são fundamentais para fundamentar a implementação
das ações e obras voltadas ao desenvolvimento sustentável do território. Os planos pensados e
apresentados considerando curto, médio e longo prazo, são estratégicos para que as decisões sejam
tomadas de forma consciente e dentro do cenário real do território, acompanhando o tempo de evolução
daquela sociedade.
Assim, este estudo propõe que as realizações das etapas apresentadas permitem a evolução da
RIDE, considerando o desenvolvimento sustentável, podendo alcançar o objetivo de se tornar uma Região
Metropolitana. Este trabalho pode servir como base para estudantes, professores e demais interessados, no
mesmo objetivo comum.

7. AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

8. REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 40
ÁREA TEMÁTICA: Sustentabilidade e políticas públicas

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCORPORAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE


NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO: O PLANO ABC

Samanta Bellão Peixotto1, Samuel Carvalho De Benedicto2, Luiz Henrique Vieira da


Silva3

1. Aluna de Iniciação Científica da PUC-Campinas. Bolsista FAPIC/Reitoria. E-mail:


samantapeixotto@gmail.com
2. Docente e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Centro de
Economia e Administração, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Sustentabilidade. E-mail:
samuel.benedicto@puc-campinas.edu.br
3. Mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Bolsista CAPES. E-mail:
luiz.hvs@puccampinas.edu.br

RESUMO
Partindo da análise do cenário atual, das projeções de longo prazo e da explanação do Plano ABC,
política pública federal voltada ao setor agropecuário, o estudo expõe a importância de se incorporar a
sustentabilidade às políticas públicas. Por meio de uma revisão de literatura, buscou-se demonstrar a
influência do setor de agronegócio no país, tanto na economia, quanto no impacto gerado à sociedade e ao
meio ambiente. A pesquisa tem como objetivo relacionar políticas públicas e sustentabilidade, através do
método exploratório, com levantamento documental. Para tanto, o material foi obtido através de dados
secundários, por meio de documentos emitidos por órgãos governamentais e institutos públicos de
pesquisa. Conclui-se, que o Programa ABC é inovador, com potencial de promover mudanças estruturais
nos processos produtivos rurais, tornando-os de baixa emissão de carbono. Em virtude do potencial de
ampliação da oferta agrícola, medidas de mitigação da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) são
imprescindíveis para não ocasionar maior degradação ambiental. Dessa forma, o setor agropecuário, um
dos maiores emissores de GEE no país, deve estar orientado a aumentar seu potencial de redução dessas
emissões no curto prazo, para que se possa, finalmente, combinar produtividade e sustentabilidade nas
atividades agropecuárias desenvolvidas no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Políticas Públicas, Sustentabilidade, Responsabilidade socioambiental,


Meio ambiente, Agronegócio Brasileiro.

1. INTRODUÇÃO
As últimas décadas foram marcadas pelo avanço no processo de urbanização do Brasil e pela
contribuição do desenvolvimento industrial para o surgimento e consolidação de grandes áreas agrícolas
destinadas à produção de matérias-primas industriais, de produtos hortifrutigranjeiros e de uma pecuária
leiteira desenvolvida em planaltos. No contexto mundial atual, o país é referência na exportação e
produção de uma série de derivados do agronegócio brasileiro (SILVA, 2008).
Desde a década de 1970 o país investe fortemente em conhecimento e tecnologia, com o intuito
de compreender a dinâmica do setor agrícola brasileiro e transformá-lo em potência, ou seja, os avanços
atuais podem ser vistos como resultado da busca pela excelência que já ocorre há mais de quarenta anos.
Todavia, há uma segregação dos modelos de agricultura, conhecidos como comercial e familiar, e a
confusão causada por essa divisão resulta na aplicação dos recursos escassos de forma difusa e sem
planejamento estratégico, por parte do governo (VIEIRA FILHO, 2011).
A consciência de que o desenvolvimento econômico promovido pelo agronegócio atua como um
impulsionador para o avanço de regiões com potencial para produzir commodities evidencia a
necessidade da criação de planos que ofereçam suporte ao setor, além de garantir que haja integração
social, segurança territorial, soberania e, sobre maneira, o respeito ao meio ambiente. O modelo
exportador representa grande parte do crescimento do setor, o que estimula o interesse de grupos

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estrangeiros em adquirir terras brasileiras. Essa realidade mostra que é imprescindível que ocorra a
implantação de estratégias que visem à redução dos impactos negativos causados pela perda de posse de
terras (TENÓRIO, 2011).
Dentre as estratégias viáveis, há a proposta de incentivo ao pequeno e médio produtor, a fim de
concentrá-los no abastecimento do mercado doméstico, inclusive com produtos de alto valor agregado, o
que viabilizaria a ampliação dos possíveis ganhos e, em contrapartida, o segmento empresarial se
manteria concentrado em abastecer a demanda do mercado mundial. No entanto, a efetivação dessa
estratégia, para que realmente ocorra da forma ideal, está aliada a diversos fatores, como, por exemplo, a
necessidade de investimento em educação e formação do produtor, acesso ao crédito, políticas agrícolas
de qualidade, associativismo e políticas públicas de incentivo à sustentabilidade (TENÓRIO, 2011).
Sabe-se que as consequências ambientais e sociais do desenvolvimento focado apenas no
crescimento econômico geram debates de nível mundial, que tratam a relação e a responsabilidade
socioambiental da sociedade e das organizações com a saúde do planeta, e esse fato é representado pela
disseminação e relevância com a qual o desenvolvimento sustentável tem sito tratado atualmente. Inerente
a este tema, temos as políticas públicas, as quais devem se relacionar diretamente com as necessidades
específicas do setor de agronegócio brasileiro e a responsabilidade do governo, no que se refere à
implementação de políticas de qualidade e que tenham os conceitos de sustentabilidade em sua
formulação (SILVA et al., 2014).
O Plano Agrícola e Pecuário (PAP) definido para os anos 2018 e 2019 e apresentado pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em junho de 2018, expõe que a verba
destinada ao setor atinge cerca de 200 bilhões de reais, com juros baixos, para financiar a agricultura.
Sendo que, através deste plano, médios e grandes produtores terão acesso ao crédito rural, entre 1º de
julho deste de 2018 e 30 de junho de 2019 (MAPA, 2018) Ainda, segundo a Companhia Nacional de
Abastecimento – CONAB, no que se refere à produção e à área plantada, nos últimos 26 anos o
crescimento dessas variáveis atingiu 60% e 240%, respectivamente (CONAB, 2018).
Partindo desse contexto, a afirmação de Brasil (2017) lança luz à relevância do setor de
agronegócio brasileiro: O agronegócio impacta a economia não apenas do campo, mas também a da
cidade, movimentando lavouras e a agroindústria de alimento, além de setores como de máquinas e
equipamentos, de vestuário e transporte de carga. O setor é responsável por metade das exportações e por
21% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Diante disso, ao considerarmos as projeções de longo prazo realizadas para o agronegócio
brasileiro, tendo conhecimento do enorme impacto gerado pelo setor nas dimensões econômica, social e
ambiental, e da responsabilidade do Estado no que se refere à criação de meios que assegurem os direitos
e o bem-estar da sociedade, o presente projeto visa promover a compreensão e a exposição da necessidade
de tratar a implementação e o controle de políticas públicas ambientais de qualidade, declarando a
seguinte pergunta como o problema desta pesquisa: Qual o potencial mobilizador das políticas públicas
que incorporam os conceitos de sustentabilidade no agronegócio brasileiro? Por isso, o estudo tem como
objetivo geral analisar a relevância da implementação e da avaliação de políticas públicas de incentivo à
sustentabilidade no agronegócio brasileiro e, como objetivos específicos: apresentar o cenário atual e a
representatividade do setor de agronegócio no Brasil; explorar a relação entre o agronegócio e a super
exploração do meio ambiente; evidenciar a importância da implementação e avaliação de políticas
públicas direcionadas à sustentabilidade; e, finalmente, explanar e apresentar a política pública nomeada
Plano ABC, criada pelo governo federal brasileiro.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, serão expostos alguns dos principais conceitos que permeiam as discussões
acadêmicas sobre o agronegócio e as políticas públicas envolvidas nesta prática. Inicialmente, o
agronegócio brasileiro será analisado, seguido da problemática ambiental inerente à exploração da terra.
Após isso, o papel do Estado nesse debate será evidenciado, bem como políticas públicas e iniciativas
governamentais que buscam introduzir a sustentabilidade na cadeia produtiva agrícola e pecuária, como é
o caso do Programa ABC. Cada tema descrito conta com um respectivo subtítulo, em que será
pormenorizado.

2.1 O Agronegócio Brasileiro


As últimas quatro décadas foram marcadas pelo crescimento alarmante do agronegócio
brasileiro. As políticas públicas, o empreendedorismo praticado pelos produtores e o alto investimento de
capital nas cadeias produtivas são alguns fatores que colaboraram com a evolução do setor, no entanto,

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toda essa geração de riqueza está associada a grandes impactos nos âmbitos social, econômico e
ambiental (PINTO; PINTO, 2016).
Sabe-se que o Brasil é uma potência mundial no que se refere à produção agroindustrial, tendo
como destaque a produção de café, açúcar, laranja, cana de açúcar, etanol, carne bovina, aves, soja, entre
outros. Essa posição expressiva e notável é viabilizada por condições naturais que favorecem o
agronegócio brasileiro como, por exemplo, disponibilidade de terras agricultáveis, abundância de água,
tecnologia de ponta, luminosidade, clima, solo, dentre outros aspectos. Em contrapartida, o país sofre com
a legislação tributária complexa, o uso inadequado de recursos financeiros, a concentração em grandes
empresas e o desmatamento da Amazônia e do Cerrado, responsável pela emissão catastrófica de dióxido
de carbono no meio ambiente (ASSAD et al. 2012).
Ainda assim, nos últimos 40 anos a produção agropecuária brasileira se desenvolveu de tal forma
que o Brasil se tornou um fornecedor potencial de alimentos. A agricultura está adaptada às regiões
tropicais e muitos produtores rurais já estão conscientes de suas responsabilidades com o meio ambiente
para produzir alimentos. Essas pessoas compõem o setor produtivo mais moderno do mundo e que vem
transformando a economia brasileira (CNA, 2018).
A arrojada revolução agrícola dos últimos 40 anos é certamente um dos fatos mais importantes
da história econômica recente do Brasil e continua abrindo perspectivas para o desenvolvimento do país.
No entanto, precisa estar atento aos impactos que o próprio setor gera ao meio ambiente, bem como à sua
responsabilidade socioambiental, muitas vezes ignorada, mas de crucial seriedade e relevância.
Segundo o MAPA (2017), a safra 2016/17, atingiu uma produção recorde de grãos, chegando a
232 milhões de toneladas, o que representou um aumento de 24,3%. A produção de grãos fechou o ciclo
2017/2018 em 228,3 milhões de toneladas, segunda maior colheita do país, conforme o 12º levantamento
de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nos dados estatísticos do PIB (Produto
Interno Bruto), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento
acumulado da agropecuária no ano de 2017 foi de 14,5% e resultou a soma de 70,29 bilhões de reais. No
que se refere ao crescimento do PIB da economia brasileira, a agropecuária apresentou ganhos de 9,1%.
Ainda assim, os dados de composição setorial da renda mostram que o valor acumulado da
participação da agropecuária no PIB, em 2017, foi de 5,7%. O Instituto atribui o resultado positivo aos
ganhos de produtividade na agricultura e às atividades florestais, reconhecidas como importantes no
crescimento agropecuário (MAPA, 2017).
Já em 2018, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país (PIB) fechou com
crescimento acumulado de 1,1%, em relação a 2017, na série com ajuste sazonal. É o segundo
crescimento consecutivo do PIB, que soma 6,8 trilhões de reais. Os dados fazem parte das Contas
Trimestrais (PIB) para o 4º trimestre de 2018 já com o fechamento do ano e foram divulgados em
fevereiro de 2019, pelo IBGE. O destaque foi o setor de serviços com o maior crescimento (1,3%),
seguido da indústria (0,6%) e da agropecuária (0,1%).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o PIB do agronegócio
compreende atividades como as de transformação e de distribuição, motivo pelo qual participa com uma
fatia que varia entre 23% e 24% do PIB brasileiro.
Entretanto, com toda a perspectiva de crescimento e desenvolvimento do setor, fica evidente a
necessidade de ações imediatas que reduzam os impactos que o aumento da demanda e,
consequentemente, da produção, à sociedade.
Guanzirolli (2006, p. 04) afirma: “a questão ambiental, principalmente por causa do
desmatamento que vem sendo observado em áreas de expansão da soja, cria um problema sério de
sustentabilidade que o país deve enfrentar, sob pena de estar resolvendo um problema por um lado (macro
econômico) e criando outro para as gerações futuras de dimensões mais perigosas que o que solucionou”.
O agronegócio é um setor em evolução, onde as projeções em longo prazo evidenciam a grande
probabilidade de crescimento. O apoio virá através da influência da tecnologia, do aumento da
produtividade e da expansão da área cultivada, logo, é imprescindível que os conceitos de
sustentabilidade estejam alinhados a políticas públicas ambientais com alto rigor de qualidade, que
atendam diretamente as particularidades e necessidades do setor.

2.2 A problemática ambiental


Ao analisar a problemática ambiental a partir da investigação da formulação, implementação e
gerenciamento de políticas públicas, nos deparamos com um cenário em que há maior propagação do
conhecimento a respeito da gravidade dos riscos causados à humanidade em decorrência da crise

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ambiental. No entanto, é evidente a perda de capacidade do Estado em traçar estratégias e proporcionar


políticas que mitiguem tais impactos negativos (TAVOLARO, 1999).
O país encontra-se em fase de desenvolvimento, no entanto, no que se refere à definição desse
conceito, desenvolvimento significa a realização de um potencial e, em termos econômicos, é
representado pelo aumento constante da renda real de uma economia. Há ainda, o conceito de
crescimento, que é facilmente compreendido quando visto como uma forma de expansão, subentendido
como o aumento da renda per capita. Entretanto, ainda que o Brasil se encontre em desenvolvimento, é
irrefutável que o país também esteja sobre influência do crescimento econômico (CAVALCANTI, 1997).
Partindo do princípio do contexto de políticas orientadas à sustentabilidade, é inegável que o
crescimento sempre represente alguma forma de degradação do meio ambiente, logo, é imprescindível
que as obrigações e o cumprimento da preservação da natureza estejam inseridos no processo econômico
de forma mais duradoura e saudável do que tem sido até então. A questão ambiental precisa ser analisada
a partir de uma visão distinta do processo econômico, que considere a dimensão biofísica, as leis e
princípios da natureza (CAVALCANTI, 1997).
Atualmente, o processo econômico se mantém impune com relação à violação dos direitos da
natureza. Ainda assim, as perdas derivadas desse processo são irreversíveis e repassadas para as futuras
gerações.
Cavalcanti (1997, p. 3) pondera: “a elaboração de regras para um desenvolvimento sustentável
tem que reconhecer o fato de que a ciência econômica convencional não considera a base ecológica do
sistema econômico dentro de seu arcabouço analítico, levando assim à crença no crescimento ilimitado. A
ideia de sustentabilidade, por sua vez, implica uma limitação definida nas possibilidades de crescimento.
É sobre esse fundamento que é indispensável agregar preocupações ecológicas (ou ecossociais) às
políticas públicas no Brasil”.
Ao refletir sobre a problemática ambiental e a idealização de uma sociedade sustentável, a
conclusão é que o progresso deve ser delineado a partir da qualidade de vida (saúde, longevidade,
maturidade psicológica, educação, meio ambiente, dentre outros) da população, e não apenas a partir do
ganho material. Todavia, é fato que Poder Público possui grande representatividade na obtenção desse
ideal.
De acordo com Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), primeira
iniciativa não governamental no mundo de cálculo anual de emissões em todos os setores da economia,
em sua versão lançada em outubro de 2017, pelo Observatório do Clima, “o Brasil é o sétimo maior
poluidor do mundo, considerando a União Europeia como uma ‘nação’ só”. (SEEG, 2017).
O SEEG afirma que “o agronegócio é responsável por 76% das emissões de gases do efeito
estufa no Brasil”. Supondo-se que a agropecuária nacional fosse um país, seria o oitavo maior poluidor do
planeta, à frente do Japão. As emissões totais do país cresceram 8,9% em comparação a 2015, nível mais
alto desde 2008, além de ter sido a maior elevação de um ano para outro desde 2004. 2,278 bilhões de
toneladas de gás carbônico chegaram à atmosfera, um acréscimo de 187 bilhões de toneladas de CO2.
Salienta-se, ainda, que o gás metano (CH4) é visto como maior vilão do aquecimento global
(depois do CO2) e é liberado pelo processo de digestão do gado vivo. Além dele, há o uso de fertilizantes
nitrogenados, que emitem óxido nitroso (N2O), um gás 265 vezes mais danoso que o CO2 (SEEG, 2017).

2.3 Responsabilidade Socioambiental do Agronegócio: O Papel do Estado


Sabe-se que o papel do Estado diante do cumprimento das necessidades do meio ambiente, além
de ser um dever, conta com a utilização da política como forma de garantir a preservação dos direitos da
sociedade.
O debate sobre as formas do Poder Público proporcionar, efetivamente, a educação ambiental da
população e o apoio à transformação das organizações em busca de um sistema de produção sustentável e
baseado em fontes alternativas aos combustíveis fósseis e aos recursos naturais, torna-se especialmente
importante, visto que o questionamento a respeito dos riscos eminentes que a degradação do meio
ambiente causa à humanidade tem sido cada vez mais intensificados (MATIAS, 2014).
A preocupação universal com a exploração descomedida do meio ambiente e dos recursos
naturais do planeta é um tema tratado desde o surgimento da industrialização e já provocou inúmeros
movimentos ambientais pelo mundo. Em 1972, a ONU convocou a Conferência das Nações Unidas sobre
o Ambiente Humano, na Suécia, em Estocolmo (razão pela qual também é conhecida como Conferência
de Estocolmo). Através de uma declaração final com 19 princípios, o evento foi um marco na história e

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deu início a um manifesto ambiental para nossos tempos (ORGANIZAÇÃO DAS NOÇAS UNIDAS NO
BRASIL, 2018).
O segundo parágrafo da Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente (1972),
proclama que “a proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que
afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos
povos de todo o mundo e um dever de todos os governos”. No Brasil, a Constituição Federal determina,
em seu Artigo 225, que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).
A lei que define os mecanismos e instrumentos de proteção do meio ambiente no Brasil,
chamada Política Nacional do Meio Ambiente, é anterior à Constituição de 1988, e apesar de ter sido
prevista nos incisos VI e VII do artigo 23 e no artigo 225 da Carta Magna, o texto que dispõe acerca da
Política Nacional do Meio Ambiente é a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo
Decreto 99.274/90. Ao todo, são 21 artigos, modificados por diversas leis desde a sua criação (BRASIL,
1981).
Além disso, há o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o órgão consultivo e
deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela Lei 6.938/81, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. O SISNAMA atua mediante articulação coordenada
dos Órgãos e entidades que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informações relativas
às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA
(BRASIL, 2018).
No que se refere ao setor de agronegócio e a questão ambiental, em específico, a produção em
escala é marcada pelo caráter intensivo, em que são utilizados: máquinas, fertilizantes, tecnologia de
ponta, biotecnologia, insumos, implementos, técnicas e afins. Esse modelo de atuação visa altos índices
de produtividade e qualidade e, consequentemente, costuma provocar alto impacto ambiental. Dessa
maneira, o papel do governo, através da legislação ambiental e de políticas públicas, é alinhar a
responsabilidade e atuação dos Órgãos e entidades competentes, com intuito de fiscalizar, monitorar e
estimular os produtores a considerar a preocupação com o desempenho ambiental como algo inerente à
busca por resultados financeiros (LEÃO, 2016).
A legislação ambiental é aplicada nos âmbitos federal, estadual e municipal, através do
Ministério do Meio Ambiente, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) conta com a Gerência de Sustentabilidade Ambiental
do Agronegócio. A criação dessa comissão se deu pela necessidade de dialogar com o setor produtivo e
buscar a inserção da dimensão ambiental da sustentabilidade nos processos produtivos do agronegócio,
pois o crescente aumento da demanda mundial por alimentos e a intensa participação do setor na
economia do país fazem com que os gestores foquem apenas na lucratividade, compactuando com o
desmatamento de áreas de preservação ambiental, a fim de garantir o atendimento à demanda através da
pecuária extensiva, da cana-de-açúcar e da extração intensiva de uma única espécie (BRASIL, 2018).
Por todos esses fatores, o setor de agronegócio é conhecido por ser responsável por grandes
impactos ambientais no país, logo, o momento atual apresenta pontos fundamentais para que ocorra a
implantação de processos eficientes de controle e monitoramento da expansão agrícola, no intuito de
reduzir os processos de degradação ambiental e de tornar essas atividades ambientalmente sustentáveis.
Para tanto, o MMA, com apoio da Gerência, realiza ações voltadas a “desenvolver e incorporar a
variável ambiental nos processos produtivos do agronegócio” além de propor a implementação de
“políticas públicas que visem à diminuição da abertura de novas fronteiras agrícolas, à ocupação ordenada
e racional do território e ao efetivo cumprimento da legislação ambiental” (BRASIL, 2012).
Contudo, visto que a responsabilidade pela preservação ambiental é competência dos governos,
empresas e de cada cidadão, o dever do Poder Público é manter o foco em ações que respeitem o meio
ambiente e em políticas que tenham como um dos principais objetivos a sustentabilidade, além da criação
de políticas públicas de qualidade, que estejam próximas aos cidadãos, e à concentração em garantir e
criar mecanismos para que a gestão ambiental esteja inserida na cultura do país.

2.4 Políticas Públicas: Conceito e Contextualização


Os conceitos e definições de políticas públicas são derivados de estudos considerados recentes,
especialmente no Brasil, e ainda apresentam muitas divergências em suas interpretações.

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A política pública como área de conhecimento e disciplina acadêmica teve seu surgimento nos
Estados Unidos, com o objetivo de analisar o Estado e suas instituições. Contudo, no âmbito estritamente
acadêmico, ela surgiu sem estabelecer relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, mantendo
o foco apenas nos estudos sobre a ação dos governos. Na Europa, esta área despontou como um
desdobramento de teorias sobre o Estado, buscando explicar o papel do governo, uma vez que a produção
de políticas públicas é vista, desde então, como sua responsabilidade (SOUZA, 2002).
Souza (2002, p.22) complementa que “a introdução da política pública como ferramenta das
decisões do governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecnocracia como forma de enfrentar
suas consequências”, ou seja, a aplicação de métodos científicos na resolução de problemas sociais e o
reconhecimento da necessidade da administração ser realizada por especialistas contribuíram para que os
conhecimentos em políticas públicas viessem a fazer parte da área do governo de forma propriamente
dita.
Pode-se dizer que a função do Estado sofreu algumas alterações no decorrer da história, por
influência do aprofundamento e expansão da democracia. Nos Séculos XVIII e XIX, o objetivo principal
era garantir a segurança pública e a defesa externa em caso de ataque inimigo; atualmente, é possível
afirmar que o Estado tem como função promover o bem-estar da sociedade, o que torna necessário que
ele atue de forma específica em diversas áreas, como: saúde, educação, mobilidade urbana, seguridade
social, habitação, segurança pública e meio ambiente, sendo que, para que os resultados sejam atingidos,
faz-se o uso de políticas públicas.
Partindo desse contexto, políticas públicas podem ser definidas como diretrizes que contribuem
com o direcionamento da ação do Estado, que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos
(TEIXEIRA, 2002). Representadas por programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado, o
objetivo é assegurar os diretos da sociedade, constitucionalmente.
Segundo Oliveira (2012, p. 01), compreender o ponto de vista etimológico contribui para o
entendimento do conceito:
Política pública é uma expressão que visa definir uma situação específica da política. [...]
Política é uma palavra de origem grega, politikó, que exprime a condição de participação da pessoa que é
livre nas decisões sobre os rumos da cidade, a polis. Já a palavra pública é de origem latina, publica, e
significa povo, do povo.
Entretanto, Souza (2002, p. 24) afirma que “não existe uma única, nem melhor, definição sobre o
que seja política pública”, sendo que a definição mais conhecida trata políticas públicas como decisões e
análises que buscam responder questões como: quem ganha o quê, por que e que diferença faz.

2.5 Embrapa: Programas do Governo direcionados ao Agronegócio


No início da década de 1960, percebeu-se que somente a expansão da fronteira agrícola não seria
suficiente para atender às demandas de alimentos, internas ou externas. Em 1965, foi estabelecido o
crédito rural, fundamentado no financiamento de insumos modernos e da agroindústria, e foram
ampliados, a partir daquele ano, os investimentos em extensão rural (SOUZA et al. 2013).
O país passou por um período em que almejava a autossuficiência na produção agrícola, com
geração de excedentes exportáveis. Para isso, o Ministério da Agricultura e seus analistas acreditavam
que o modelo de pesquisa vigente na época precisava ser desburocratizado, de maneira que atendesse com
urgência a necessidade de agilizar o processo de geração de tecnologias, em apoio ao processo produtivo
agrícola do Brasil.
Considerando o potencial agrícola do Brasil, a necessidade de importar alimentos era
inconcebível. Em resposta a isso, após uma intensa mobilização no Ministério da Agricultura, em 26 de
abril de 1973, foi estabelecida a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), hoje vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Em 1992, foi instituído pela Portaria nº 193 (7/8/1992) do Ministério da Agricultura, autorizado
pela Lei Agrícola (Lei nº 8.171, de 17/1/1991) o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA),
que é constituído pela Embrapa, pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), por
universidades e institutos de pesquisa de âmbito federal ou estadual, além de outras organizações públicas
e privadas, direta ou indiretamente vinculadas à atividade de pesquisa agropecuária (EMBRAPA, 2019).
Atualmente, no que se refere aos programas do governo, o órgão afirma:
A Embrapa participa ativamente na elaboração e execução de várias políticas de governo. Nós
acreditamos que o acesso à informação e a adoção de soluções tecnológicas desenvolvidas pela pesquisa
nacional é ponto fundamental para a construção de uma agropecuária ainda mais sustentável no Brasil.

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25 a 26 de setembro de 2019

As políticas públicas existentes que contam com a participação da Emprapa envolvem temas que
vão desde a promoção da inclusão rural, através do aumento da capacidade produtiva de pequenos
agricultores, aos planos de prevenção, controle do desmatamento na Amazônia Legal e iniciativas que
fomentam a equidade nas práticas de gestão de pessoas e no ambiente organizacional, focadas em
equidade de gênero, raça e diversidade (EMBRAPA, 2019).

2.6 O Programa ABC


O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de
uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) é a resposta brasileira ao
compromisso, realizado no âmbito da COP-15, em Copenhague, no ano de 2009, de reduzir as emissões
de GEE em cerca de 133,9 a 162,9 milhões de Mg de CO2 equivalente. Devido ao alto volume de
emissões de CO2 na atmosfera, a agricultura brasileira se comprometeu a atender ao compromisso com o
meio ambiente através da estruturação do Plano, taxado como uma chance definitiva de contrapor o mito
de que destrói a natureza e de demonstrar, pelo contrário, que a atividade rural, quando bem realizada,
pode estar alinhada à preservação (MAPA, 2012).
A base legal do Programa foi instituída em 2009 pela Lei nº 12.187, que busca garantir que o
desenvolvimento econômico e social contribuam para a proteção do sistema climático global. De acordo
com o Decreto nº 7.390/2010, que regulamenta a Política Nacional sobre Mudança do Clima, a linha de
base de emissões de gases de efeito estufa para 2020 foi estimada em 3,236 GtCO2-eq. Assim, a redução
absoluta correspondente ficou estabelecida entre 1,168 GtCO2-eq e 1,259 GtCO2-eq, 36,1% e 38,9% de
redução de emissões, respectivamente. Para auxiliar no alcance as metas de redução, a lei estabelece
ainda, o desenvolvimento de planos setoriais de mitigação e adaptação nos âmbitos local, regional e
nacional (MMA, 2018).
A PNMC tem os seguintes objetivos: compatibilização do desenvolvimento econômico-social
com proteção do sistema climático; redução das emissões e fortalecimento das remoções antrópicas por
sumidouros de gases de efeito estufa no território nacional; implementação de medidas para promover a
adaptação à mudança do clima; conservação dos recursos ambientais, com particular atenção aos grandes
biomas naturais tidos como Patrimônio Nacional; consolidação e expansão das áreas legalmente
protegidas, incentivo aos reflorestamentos e à recomposição da cobertura vegetal em áreas degradadas
(JURAS, 2010, p. 3).
O Plano está sob a coordenação da Casa Civil da Presidência da República, composto
inicialmente por representantes do Governo Federal: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) – Assessoria de Gestão Estratégica (AGE), Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e
Cooperativismo (SDC) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA); Ministério da Fazenda (MF); Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT) e Ministério do Meio Ambiente (MMA). Posteriormente, ocorreu a ampliação do GT,
incorporando representantes de organizações indicadas pelo Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
(FBMC): Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Central Única
dos Trabalhadores (CUT), Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Conservação Internacional e
WWF – Brasil, entre outras organizações (MAPA, 2012).
Em março de 2016, o Governo de São Paulo criou o Grupo Gestor do Plano Estadual da
Agricultura de Baixo Carbono, a internalização paulista do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às
Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na
Agricultura, abreviado como Plano ABC. Seu escopo amplo é atender o compromisso assumido pelo país
junto à comunidade internacional para mitigar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) pela agricultura.
É um plano setorial do Governo Federal, que tem por finalidade organizar e planejar a adoção das
tecnologias de produção sustentáveis pela agropecuária brasileira (MMA, 2015).
Dos sete programas do Programa ABC, seis deles têm como objetivo apoiar a adoção de
tecnologias de mitigação de GEE: Recuperação de Pastagens Degradadas, Integração Lavoura-Pecuária-
Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs), Sistema Plantio Direto (SPD), Fixação Biológica de
Nitrogênio (FBN), Florestas Plantadas e Tratamento de Dejetos Animais. Por sua vez, o sétimo programa
propõe ações de adaptação às mudanças climáticas (EMBRAPA, 2019).
A iniciativa busca a harmonia entre proteção ambiental e produção agropecuária, entre meio
ambiente e agricultura, entre geração de emprego e renda e preservação ambiental. São algumas das
tecnologias amigáveis ao meio ambiente que permitem à agricultura paulista, enquanto parte da
agricultura brasileira, demonstrar seu forte compromisso com a sustentabilidade. Os exemplos citados
mostram que é possível, com a criação e transferência de conhecimento, continuar sendo um dos

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I Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas
25 a 26 de setembro de 2019

principais produtores e exportadores de alimento do mundo e, ao mesmo tempo, proteger a atmosfera que
nos protege e o verde que cobre nosso solo.

3. METODOLOGIA
Do ponto de vista da natureza esta pesquisa é básica, pois não apresenta finalidades imediatas e
produz conhecimento a ser utilizado em outras pesquisas.
Quanto à abordagem do problema, com base em Gil (2008) define-se a pesquisa como
qualitativa e quantitativa, pois, além do levantamento teórico, avalia números e informações estatísticas
para, a partir disso, obter uma análise qualitativa.
Tratando-se de seus objetivos, esta é uma pesquisa exploratória (TRIVIÑOS, 2010) do tipo
documental (GIL, 2008). Nela, foram utilizados dados secundários, coletados nos sites de órgãos
governamentais do Brasil, e relatórios oficiais divulgados pelos órgãos competentes, a fim de caracterizar
os dados e analisar a relação entre o impacto gerado no meio ambiente pelo setor de agronegócio e as
políticas públicas existentes orientadas à sustentabilidade, bem como a sua efetividade.
Para desenvolver tal conteúdo, do ponto de vista dos procedimentos, foi realizado um
levantamento com o intuito de aferir qualitativamente e descrever quais projetos, programas e atividades,
praticados pelo governo, que contribuem com o cenário atual, e destacar uma política pública com
potencial positivo. Os dados analisados foram expostos em tabelas e gráficos, a fim de atingir o objetivo
proposto na pesquisa. Logo, a proposta de estudo não envolve contato direto com seres humanos.

4. RESULTADOS
O Observatório ABC é uma iniciativa voltada a engajar a sociedade no debate sobre a agricultura
de baixo carbono, em atividade desde 2013. Coordenado pelo Centro de Estudo de Agronegócios da
Fundação Getulio Vargas (GVAgro) e desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos em
Sustentabilidade da FGV (GVces), tem como foco a implementação do Plano Agricultura de Baixa
Emissão de Carbono (ABC). Na sequência serão apresentados alguns dados sobre a particiapção do
agronegócio e algumas práticas e estratégias ambientais encontradas no programa abc, criada pelo
governo federal brasileiro.
O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários. Além da
geração e adoção de tecnologias e da disponibilidade de condições climáticas e geográficas, essa
relevância mundial é consequência de um crescimento constante ao longo das últimas décadas, o que
permitiu ao país alcançar posições de destaque na produção e no comércio de alimentos.
Na Tabela 1, o PIB-renda reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações
de volume e de preços reais, deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional. Os dados expõem
que, devido à força do setor, nem mesmo o cenário de crise econômica, interna e internacional, recorrente
na última década e, especialmente, nos últimos anos, impediu que a agronegócio brasileiro apresentasse o
desempenho esperado, com ganhos de produtividade, aumento de produção e maior inserção no mercado
internacional.

Tabela 1 – PIB-renda do Agronegócio Brasileiro, em milhões de reais, de 2018

Fonte: CPEA/CNA (2019).

O agronegócio é reconhecido como um dos setores mais impactantes para o crescimento


econômico brasileiro devido aos trilhões de reais resultantes da soma de bens e serviços gerados
anualmente. Sua relevância econômica é facilmente justificada através do percentual médio de 20% de
participação no PIB brasileiro nos últimos oito anos, conforme exposto na Tabela 2.

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Tabela 2 – Participação do Agronegócio no PIB do Brasil (em %)

Fonte: CPEA/CNA (2019).

Os resultados do agronegócio se destacam relativamente aos demais setores e desempenham um


papel de relevância na economia, no entanto, em paralelo a tal crescimento, aumentaram as pressões
sobre os recursos naturais e as preocupações com a sustentabilidade da atividade agropecuária e da
sociedade como um todo, exigindo a busca contínua por métodos e formas de produção mais eficientes e
poupadoras de recursos. O Gráfico 1 mostra a evolução das emissões brasileiras de gás carbônico
equivalente entre os anos 2000 e 2017.
O CO2 e ou C02eq (dióxido de carbono equivalente) é uma medida internacionalmente aceita que
expressa a quantidade de gases de efeito estufa (GEEs) em termos equivalentes da quantidade de dióxido
de carbono (CO2). A medida métrica é utilizada para comparar as emissões dos vários gases de efeito
estufa baseada no potencial de aquecimento global (em inglês, Global Warming Potential – GWP) de
cada um.

Figura 1 – Estimativa de Emissões de CO2eq (t) no Brasil - 2000-2017

Fonte: SEEG (2019).

O gráfico acima deixa explícito que agropecuária exerce um grande impacto ao meio ambiente
por conta das emissões de gases de efeito estufa (GEE) provenientes diretamente da produção.
Dentre os diversos tipos de gases que contribuem com o efeito estufa, os três gases que foram
considerados na análise deste trabalho representam a maior fatia de emissões de GEE do setor: CO2 (Gás
Carbônico/ Dióxido de Carbono), CH4 (Gás Metano) e N2O (Óxido Nitroso).
Cada gás de efeito estufa é capaz de reter calor em determinada intensidade, sendo que tal
capacidade pode ser comparada à capacidade do dióxido de carbono de realizar a mesma função. Essa
relação costuma ser expressa através do potencial de aquecimento global de cada gás, ou GWP (Global
Warming Potential, em inglês), sendo esses os valores de referência apresentados nos relatórios do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change,
em inglês), uma organização científico-política reconhecida mundialmente, criada em 1988 no âmbito das
Nações Unidas pela iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização
Meteorológica Mundial.

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Os potenciais de aquecimento global comparam a forçante radiativa integrada durante um


determinado período (por exemplo, 100 anos) a partir de uma emissão de um pulso de unidade de massa.
Essa é uma maneira de comparar o potencial de mudança climática associado às emissões de diferentes
gases de efeito estufa.
Os valores estabelecidos no quinto relatório do IPCC (AR-5) em 2013 estão expostos na Figura
2.

Figura 2 – Poder de aquecimento global (GWP) utilizado

Fonte: INEA (2017).

A partir disso, dentre os muitos desafios ambientais provenientes do desenvolvimento das


economias modernas, o relacionado às mudanças climáticas do planeta mostra-se o mais preocupante e
complicado de ser entendido e combatido, principalmente devido ao fato de que as atividades que
apresentam os maiores números de emissões de gases estão em constante evolução, como é o caso das
emissões diretas e indiretas provenientes da agropecuária.
Cada atividade do setor representa um percentual de emissão diferente para cada tipo de gás,
conforme os Gráficos 2, 3 e 4.

Gráfico 2 – Emissão de C02e por atividade

Fonte: SEEG (2019).

Gráfico 3 – Emissão de CH4 por atividade

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Fonte: SEEG (2019).

Gráfico 4 – Emissão de N2O por atividade

Fonte: SEEG (2019).

A partir dos dados é possível visualizar que a pecuária de corte e de leite e o consumo de
fertilizantes são os principais responsáveis pelas emissões dos gases de efeito estufa da atividade
agropecuária.
Dessa maneira, evidencia-se que o número de animais criados para a produção de carnes, leites e
seus derivados possui relação direta com o aumento da emissão geral dos poluentes, da área necessária
para produção (solo agrícola) e da quantidade de aditivos químicos utilizados na conservação dos solos.
No ano de 2017, os dados reportados ao Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de
Gases de Efeito Estufa (SEEG) limitam-se ao período entre janeiro e o primeiro dia do mês de setembro,
o que deixou explícita a relação entre o número de animais abatidos e a emissão de GEE. O período
apresentou uma redução de, em média, 30% quando comparado aos registros de anos anteriores, em que
foram considerados os doze meses do ano.
A fim de obter uma perspectiva do setor e da probabilidade das influências futuras que serão
provocadas na atmosfera, o Gráfico 5 expõe sua expectativa de crescimento a partir do volume do recurso
disponibilizado para o ano agrícola, conforme publicado no Plano Agrícola e Pecuário (PAP), divulgado
anualmente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O valor disponibilizado considera a expectativa de crescimento do setor.

Gráfico 5 – Participação do Agronegócio no PIB do Brasil (em %)

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Fonte: CPEA/CNA (2019).

O Plano Agrícola e Pecuário é o principal instrumento direcionador das políticas públicas


destinadas ao setor agropecuário. O PAP brasileiro é anual e contém medidas relacionadas à
agropecuária, especialmente às linhas de crédito de custeio e financiamento. Em tese, o objetivo é
assegurar níveis adequados de proteção ao produtor rural, necessários à sustentabilidade do crescimento
da agropecuária.
Os programas e as linhas de investimento agropecuário, com finalidades específicas, existem
para fomentar determinadas culturas e/ou atividades estabelecidas como prioritárias pela política agrícola.
Essas linhas e programas possuem caráter contínuo e passam por ajustes sempre que necessário, a fim de
adequá-los à evolução da atividade agropecuária e suas demandas específicas.
Nesse contexto, uma das políticas públicas criadas pelo governo é o Plano Setorial de Mitigação
e de Adaptação às Mudanças Climáticas (Plano ABC). O Programa visa à Consolidação de uma
Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura e constitui a base para incentivar propostas
alternativas que propiciem a substituição e/ou a reorientação de práticas produtivas ambientalmente
sustentáveis.
Na Tabela 3, encontram-se listados os compromissos da agricultura que constituem a base do
Plano ABC, bem como suas estimativas de mitigação das emissões de GEE.

Tabela 3. Processos do Plano ABC e o potencial de mitigação por redução de emissão de GEE (milhões de Mg CO2-
eq).
Fonte: MAPA (2012).

Com base nesses compromissos referentes aos seis processos tecnológicos e ao tema “Adaptação
às Mudanças Climáticas”, o Plano ABC foi estruturado em sete Programas:
1) Recuperação de Pastagens Degradadas;
2) Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs);
3) Sistema Plantio Direto (SPD);
4) Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN);
5) Florestas Plantadas;
6) Tratamento de Dejetos Animais;
7) Adaptação às Mudanças Climáticas.

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Em cada programa é proposta a adoção de uma série de ações, como: fortalecimento da


assistência técnica, capacitação e informação, estratégias de transferência de tecnologia (TT), dias de
campo, palestras, seminários, workshops, implantação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs),
campanhas de divulgação e chamadas públicas para contratação de serviços de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Ater).
Também, estão previstas ações voltadas a oferecer incentivos econômicos e financiamento aos
produtores para implantar as atividades do Plano (MAPA, 2012).
Para o alcance dos objetivos traçados pelo Plano ABC, no período compreendido entre 2011 e
2020, estima-se que serão necessários recursos da ordem de 197 bilhões de reais, arrecadados por meio de
fontes orçamentárias ou de linhas de crédito. Desse total, estima-se que 157 bilhões de reais seriam
recursos disponibilizados via crédito rural, para financiar as atividades necessárias ao alcance das metas
físicas de cada programa.
Os recursos destinados ao financiamento são oriundos de diversas fontes, como o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou os próprios bancos, sendo que sua
aplicação resultará em despesas para a União, na forma de equalização, com valor total estimado em
torno de 33 bilhões de reais, provenientes do Orçamento Geral da União. Uma das formas de análise
utilizada pelo Sistema ABC é o número de contratos efetivados que deram direito ao crédito. Entretanto,
vale lembrar que esses números não confirmam se o crédito foi realmente utilizado para a prática
contratada e, muito menos, garantem a redução estimada na emissão de GEE.
Além disso, o Observatório ABC é uma iniciativa voltada para engajar a sociedade no debate
sobre a agricultura de baixo carbono, em atividade desde 2013. Coordenado pelo Centro de Estudo de
Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (GVAgro) e desenvolvido em parceria com o Centro de
Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces), tem como foco a implementação do Plano Agricultura de
Baixa Emissão de Carbono (ABC).
No período que compreende 2011 e 2016, há um total de mais de 54 mil contratos firmados para
o Plano ABC no Brasil, que perfazem 15,229 bilhões de reais liberados para investimentos em projetos
para a implementação e consolidação de um modelo de baixa emissão de carbono na agricultura.
O Governo Federal estabelece o montante de recursos que será disponibilizado aos produtores
rurais a partir da expectativa da demanda, com taxas de juros mais atrativas ao crédito rural, equalizadas
pelo Tesouro Nacional. Os prazos e as carências para o pagamento das operações são alinhados às
atividades financiadas, podendo chegar a quinze anos de prazo e oito anos de carência. O modelo de
operação do Programa ABC estabelece como agentes desembolsadores dos recursos o Banco do Brasil
(BB) e o BNDES, este último por meio de bancos credenciados em sistema de operações indiretas.
O Programa ABC, como uma linha de crédito específica para a implementação do Plano ABC,
sendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil seus
principais repassadores de recursos, nunca apresentou 100% de desembolso, como expõe o Gráfico 10. O
balanço da safra 2017/18 mostrou que os produtores rurais brasileiros usaram apenas 33% do volume
total de crédito disponibilizado pelo governo federal e 64% de todo o recurso no período analisado.
Logo no início do Programa, em 2011, o Banco do Brasil divulgou uma nota revelando que cerca
de 380 projetos estavam em análise, aguardando aprovação para a obtenção de recursos via Programa
ABC. Se aprovadas, somariam cerca de 100 milhões de reais. Dados como esse ainda são divulgados pela
mídia relatando que, embora alguns órgãos parceiros do programa acumulem vasta experiência no
desenvolvimento de projetos de agricultura sustentável, muitos agricultores e pecuaristas não conseguem
acessar os recursos do Programa ABC, por enfrentarem dificuldades como a falta de conhecimento da
linha e a inabilidade dos agentes financeiros em operá-la.
Há, ainda, uma diferença acentuada na comparação entre o número de contratos firmados e o de
valores monetários liberados. Essa falta de adesão foi analisada em um estudo, lançado em 2017, pelo
Observatório ABC: “Desafios e restrições dos produtores rurais na adoção de tecnologias de baixo
carbono ABC” (OBSERVATÓRIO ABC, 2017). Analisando por meio de entrevistas com os produtores
rurais do município mato-grossense de Alta Floresta, foram levantados 32 fatores de impacto ao plano
ABC, sendo os principais: a taxa de juros sem diferencial competitivo, a falta de acesso, conhecimento e
capacitação do produtor, o endividamento e a baixa lucratividade das propriedades, além do excesso de
burocracia e a falta de clareza do processo.
Quanto às estimativas de cumprimento das metas estabelecidas pelo Programa para cada
processo tecnológico que o compõe, a partir dos critérios de avaliação, o MAPA divulgou um relatório
técnico que possibilita a análise do potencial mobilizador desta política pública.

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A Coordenação Nacional do Plano ABC solicitou a apresentação de análise técnica dos dados
apresentados na Nota Técnica a fim de alinhar as informações prestadas às bases das discussões de
coordenação e execução do Plano ABC. Para redigir o documento foram utilizados, ainda, dados de
outros estudos e fontes obtidas no âmbito da Coordenação de Agropecuária Conservacionista, Florestas
Plantadas e Mudanças Climáticas (CAFMC/DEPROS) e revisados por pesquisadores da Plataforma ABC
e técnicos desta Coordenação. Ressalta-se que todas as fontes de informação foram referenciadas no
rodapé da Tabela 6.
Participaram na elaboração e revisão deste Documento pesquisadores da Embrapa, um
representante do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), ambos do Comitê
Diretor da Plataforma ABC, além de pesquisadoras da Embrapa cedidas ao MAPA e Fiscais
Agropecuários do MAPA.
Em linhas gerais, avaliando as contribuições das ações de fomento à adoção das tecnologias
ABC na mitigação dos danos causados pela emissão dos GEE, verifica-se que houve uma contribuição de
redução variando entre 100,21 a 154,38 milhões Mg CO2 eq. Esta oscilação de maior ou menor
contribuição é diretamente influenciada pelos coeficientes de mitigação utilizados para os cálculos.
Por um lado, ao se utilizar os coeficientes estabelecidos na elaboração do Plano ABC, temos uma
menor contribuição; em contrapartida, ao fazer uso de coeficientes mais recentes da literatura científica
nacional, as contribuições aumentam, oscilando entre 68% e 105% das metas compromissadas no Plano
ABC. Essas estimativas demostram que as metas estabelecidas serão cumpridas em 2020, contudo,
também indicam a necessidade de regionalização e definição de coeficientes nacionais para aumento de
transparência e redução de incertezas nas estimativas.
Sabe-se que fatores como a estrutura produtiva regional, as condições climáticas e a quantidade
de área destinada para plantio, por exemplo, não devem ser ignorados ao realizar uma comparação. Além
disso, as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul possuem uma maior predisposição com relação às
atividades ligadas ao setor agropecuário. Isso, todavia, amplia a adesão dessas regiões a planos
direcionados à agricultura, como o Plano ABC, enquanto outras regiões precisam de mais informação e
estímulos para aderir ao crédito.
Do ponto de vista territorial, as estimativas de adoção das Tecnologias ABC indicam claramente
a importância e o processo de transformação conservacionista da agropecuária brasileira. Ou seja, as áreas
que já adotam Tecnologias ABC, excetuando-se as áreas de FBN (que se sobrepõem a SPD), TDA
(medidas em m3) e RPD (cujo diagnóstico está em elaboração), somam um total de adoção de 53,76
milhões de ha, que, quando comparadas com as áreas utilizadas pelas lavouras temporárias e permanentes
estimadas pelo Censo Agropecuário de 2017 (IBGE, 2018), da ordem de 63,24 milhões de ha (IBGE,
2018), representam uma transformação de aproximadamente 85% das áreas de lavoura que já adotam
Tecnologias ABC.
O Observatório ABC sinalizou falhas relacionadas à falta de um sistema de monitoramento para
direcionar e regular o nível requerido a fim de atingir as metas climáticas e dimensionar futuros
investimentos nessa área, assim como valorizar os produtores ABC e eventualmente abrir nossos
mercados para esses produtos. Portanto, a exposição dos resultados obtidos com o Programa deve
considerar a necessidade de se apresentar estratégias de Monitoramento, Reporte e Verificação, de
maneira a assegurar a integridade das reduções e possibilitar futuras verificações.
No entanto, partindo da premissa de que o setor se mantém aquecido e com grande possibilidade
de crescimento, não obstante a preponderância do mérito do produtor pelo seu empreendedorismo, a
política agrícola, especialmente a de crédito rural, contribuiu notavelmente para o desenvolvimento e a
consolidação da agropecuária brasileira como uma das mais eficientes, se destacando por sua
competitividade e por situar o Brasil entre os principais países produtores e exportadores agrícolas
mundiais. Sendo assim, é imprescindível que haja uma estrutura que mitigue e possibilite a
implementação de novas tecnologias que reduzam os impactos do setor ao meio ambiente e à vida das
pessoas e dos animais.
O Programa ABC possui potencial para contribuir com o atingimento das metas ambientais do
Acordo de Paris (as Contribuições Nacionalmente Determinadas – NDCs). Seu papel é especialmente
relevante, já que o Brasil apresentou metas não condicionadas ao recebimento de recursos internacionais,
o que justifica ainda mais a necessidade de seu fortalecimento e alinhamento aos objetivos de mitigação
de emissões de gases do efeito estufa (GEE).
Ainda assim, o Programa ABC vem perdendo força, tanto do ponto de vista do total
disponibilizado pelo Governo Federal por meio dos PAPs, quanto sob a ótica do total efetivamente
contratado pelos produtores rurais no campo. Foi desembolsado, na safra 2017/18, um total de 710
milhões de reais, versus 2,1 bilhões de reais disponibilizados pelo Governo Federal para o período. Após

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25 a 26 de setembro de 2019

a adesão ao Acordo de Paris, o Brasil estipulou metas de redução de emissões de GEE na atmosfera que
devem ser cumpridas em prol de manter a temperatura média global abaixo dos 2°C, como recomendado
pela comunidade científica global. O setor agropecuário representa grande parcela destas metas, e o
Programa ABC é o principal instrumento para o seu financiamento.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil possui um instrumento financeiro inovador, o Programa ABC, com potencial de
promover mudanças estruturais nos processos produtivos rurais, tornando-os de baixa emissão de
carbono; entretanto, resta adequar os seus componentes operacionais para que ele atinja a escala e a
efetividade necessárias.
Para que o Programa contribua para o atingimento das metas em seu potencial máximo, é
necessário superar os desafios e as questões que tornam a sua operação burocrática e complexa.
Faz-se fundamental, também, avançar na instalação e na implementação de mecanismos de
Monitoramento, Relato e Verificação (MRV), para que os benefícios de redução de emissões de GEE
sejam adequadamente registrados.
Conclui-se, em virtude do potencial de ampliação da oferta agrícola, que medidas de mitigação
da emissão dos GEE são imprescindíveis para não ocasionar maior degradação ambiental. Dessa forma, o
setor agropecuário, um dos maiores emissores de GEE atualmente no Brasil, deverá se orientar de
maneira a aumentar seu potencial de redução dessas emissões em um curto período de tempo, a fim de
atingir as metas estabelecidas.
Portanto, estratégias calcadas no desenvolvimento sustentável, no âmbito de uma política
agrícola sustentável, devem ser implementadas e acompanhadas para que se possa, finalmente, combinar
produtividade e sustentabilidade nas atividades agropecuárias realizadas no Brasil.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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