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Coordenadora
María Gloria Fabregat Rodríguez
Organizadores
Antonio Cezar Leal
Maria Zanin
Leonice Seolin Dias
1ª Edição
ANAP
Tupã/SP
2018
2
EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310.
Contato: (14) 99808-5947
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editora@amigosdanatureza.org.br
Coordenação e Organizadores
Coordenação
Organizadores
Maria Zanin
Professora aposentada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), atualmente vinculada ao NUMI-Eco
Sol/UFSCar (Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária) e
ao Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar. Tem experiência nas áreas de
Engenharia de Materiais e de Economia Solidária, atuando principalmente nos seguintes temas: reciclagem de
plásticos pós-consumo, gestão de resíduos urbanos, tecnologias sociais, economia solidaria e cooperativas de
catadoras e catadores de materiais recicláveis.
Profª Dra. Cláudia Megale Adametes. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Crescencio L. Calva-Alejo. Universidad Autónoma de Baja California, México
Profª Dra. Encarnita Salas Martin. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez. Universidad de Arizona, México
Prof. Dr. Marcelino Andrade Gonçalves. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Brasil
Prof. Dr. Matheus Fernandes de Castro. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Mauricio Guzmán Chávez. Colegio de San Luis, A.C, México
Prof. Dr. Rodolfo Ripoll Salcines. Universidad de Cienfuegos - UCF, Cuba
Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg – UPC/Barcelona, Espanha
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva Profª Drª Josinês Barbosa Rabelo – UFPE
Prof. Dr. Alexandre França Tetto – UFPR Profª Drª Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia – UFPB
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM Profª Drª Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro – FEA
Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González – UNEMAT Prof. Dr. Júnior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Alina Gonçalves Santiago – UFSC – UFV Profª Drª Karin Schwabe Meneguetti – UEM
Profª Drª Aline Werneck Barbosa de Carvalho Profª Drª Leda Correia Pedro Miyazaki – UFU
Profª Drª Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – UFPA Profª Drª Lidia Maria de Almeida Plicas – IBILCE/UNESP
Profª Drª Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa – IFAC Profª Drª Lisiane Ilha Librelotto – UFS
Profª Drª Ana Paula Santos de Melo Fiori – IFAL Profª Drª Luciana Ferreira Leal – FACCAT
Prof. Dr. André de Souza Silva – UNISINOS Profª Drª Luciana Márcia Gonçalves – UFSCar
Profª Drª Andrea Holz Pfutzenreuter – UFSC Prof. Dr. Marcelo Campos – FCE/UNESP
Prof. Dr.Antonio Cezar Leal - UNESP/PP Prof. Dr. Marcelo Real Prado – UTFPR
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM Profª Drª Maria José Martinelli Silva Calixto – UFGD
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos – UPE Profª Drª Márcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Profª Drª Arlete Maria Francisco – FCT/UNP Profª Drª Marcia Aparecida da Silva Pimentel – UFPA
Profª Drª Beatriz Ribeiro Soares – UFU Prof. Dr. Márcio José Catelan – UNESP/PP
Prof. Dr.Bernardo Arantes do N. Teixeira - UFSCar Prof. Dr.Marcio Douglas Brito Amaral – UFPA
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada – Profª Drª Margareth de Castro Afeche Pimenta – UFSC
Prof. Dr. Carlos de Castro Neves Neto –UNESP/PP Profª Drª Maria Ângela Dias – UFRJ
Profª Drª Carmem Silvia Maluf – Uniube Profª Drª Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci – IAU
Profª Drª Célia Regina Moretti Meirelles – UPM Profª Drª Maria José M. Silva Calixto – UFGD
Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti – FCT/UNESP Profª Drª Maria Augusta Justi Pisani – UPM
Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi – UFSC Profª Drª Maria Betânia M. Amador – UPE – Campus Garanhuns
Prof. Dr. Crescencio L. Calva Alejo – Pesquisador/México Profª Drª María Glória F. Rodríguez – IEA/Cienfuegos – Cuba
Profª Drª Cristiane Miranda Martins – IFTO Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Daniela de Souza Onça – FAED/UESC Profª Drª Maria José Neto – UFMS
Profª Drª Denise Antonucci – UPM Profª Drª Maria Zanin - UFSCar
Profª Drª Diana da Cruz Fagundes Bueno – UNITAU Profª Drª Maristela Gonçalves Giassi – UNESC
Prof. Dr. Edson L. Ribeiro – Unieuro –Ministério das Cidades- BR Profª Drª Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira – UFMT
Profª Drª Eliana Corrêa Aguirre de Mattos – UNICAMP Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Eloisa Carvalho de Araujo – UFF Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira – UNINOVE
Profª Drª Eneida de Almeida – USJT Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar Prof. Dr. Natalino Perovano Filho – UESB
Resíduos Sólidos Urbanos - 5
Profª Drª Fátima Aparecida da SIlva Iocca – UNEMAT Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres – FAU/USP
Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo – Centro Universitário AGES Profª Drª Olivia de Campos Maia Pereira – EESC – USP
Profª Drª Fernanda Silva Graciani – UFGD Profª Drª Onilda Gomes Bezerra – UFPE
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UMS Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP
Profª Drª Flávia Maria de Moura Santos – UFMT Prof. Dr. Renan Antônio da Silva – UNESP – IBRC
Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo – UFRN Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior – UESPI Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara – UFSCar
Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula – UFJF Profª Drª Risete Maria Queiroz Leao Braga – UFPA
Prof. Dr. Frederico Canuto – UFMG Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai – UFSCar Prof. Dr. Rodrigo Barchi – UNISO
Profª Drª Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues – UFU Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos – UFSC
Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto – UEM Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – UNIFAL-MG
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo – UFMS Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo – UFMA
Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez – CIESAS – México Prof. Dr. Salvador Carpi Júnior – UNICAMP
Profª Drª Gianna Melo Barbirato – UFAL Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva – FEIS/UNESP
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza – UFU Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho – FEIS/UNESP
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia – FCT/UNESP Profª Drª Sílvia Carla da Silva André – UFSCar
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA Profª Drª Silvia Mikami G. Pina – Unicamp
Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR Profª Drª Simone Valaski – UFPR
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria – FAAC/UNESP Profª Drª Tânia Paula da Silva – UNEMAT
Prof. Dr. José Aparecido dos Santos – FAI Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira – FURG
Prof. Dr. José M. Mateo Rodriguez – Univ. de Havana – Cuba Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto – FCAE/UNESP
Prof. Dr. José Sobreiro Flho – UFPA Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior – UFCG
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Resíduos Sólidos Urbanos - 7
Sumário
Prefácio 09
Apresentação 11
Capítulo 1 15
LA GESTIÓN DE LOS RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS EN LA CIUDAD DE CIENFUEGOS,
CUBA: problemática general
María Gloria Fabregat Rodríguez; Tatiana Alonso Pérez
Capítulo 2 29
LOS PRINCIPIOS JURÍDICOS PARA LA CONFORMACIÓN DEL MARCO LEGAL DE LOS
RESIDUOS SÓLIDOS COMUNES EN CUBA
Susana Bolufé Malboa; Aylí Díaz Bacallao; Yailén Monzón Bruguera
Capítulo 3 51
EXPERIÊNCIAS NA GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS (UFSCAR), SÃO PAULO, BRASIL
Ana Marta Ribeiro Machado; Liane Biehl Printes; Paula Adriana da Silva; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira; Maria Zanin
Capítulo 4 77
FÓRUNS COMUNITÁRIOS COMO ESTRATÉGIA PARA CONTROLE SOCIAL DE POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: O CASO DE SÃO CARLOS, SÃO PAULO,
BRASIL
Carolina Valente Santos; Maria Zanin; Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira
Capítulo 5 89
DESAFIOS E POTENCIALIDADES DE UMA COOPERATIVA DE CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DA
COOPERVIDA, SÃO CARLOS, SÃO PAULO, BRASIL
Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira; Carolina Valente Santos; Bernardo Arantes do Nascimento
Teixeira; Maria Zanin
Capítulo 6 109
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL: histórico de
destinação final, modelos de gestão e a contribuição do Plano Diretor Municipal
Edilene Mayumi Murashita Takenaka; Alba Regina Azevedo Arana; Antonio Cezar Leal
Capítulo 7 125
MUDANDO A CULTURA DE UMA SOCIEDADE: O PAPEL DO GRUPO DE APOIADORES NA
IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Wilson Roberto Lussari
Capítulo 8 151
REDE REGIONAL DE RECICLAGEM NO OESTE PAULISTA: proposição e subsídios para
sua organização
Maria Cristina Rizk; Fernando Sérgio Okimoto; Antonio Cezar Leal; Paulo Roberto Iacia
-
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Resíduos Sólidos Urbanos - 9
Prefácio
Everaldo Santos Melazzo1
1 Economista pela Universidade Federal de Uberlândia - MG. Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP e Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista Produtividade do CNPq-2.
É professor da UNESP em Presidente Prudente- SP, junto ao Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente e docente do Programa
de Pós-Graduação em Geografia. Membro do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia.
Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Geografia acadêmico da FCT/Unesp. E-mail: melazzo@fct.unesp.br
10
Por fim, digno de reconhecimento é o registro deste trabalho a partir da origem e inserção
institucional de seus organizadores, não apenas como resultado de um projeto de pós-
doutoramento, com recursos da CAPES/PNPD, mas também dos esforços continuados de um grupo
de pesquisa, o GADIS (Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental e Dinâmica Socioespacial) e das relações
interinstitucionais entre a Universidade Estadual Paulista e a Universidade Federal de São Carlos.
Este livro, assim, cumpre diferentes papéis: aproxima o Brasil de Cuba, aproxima
pesquisadores de diferentes grupos e Universidades e, fundamentalmente, aproxima conhecimento
teórico, metodológico e empírico para uma apropriação efetivamente social e transformadora.
Resíduos Sólidos Urbanos - 11
Apresentação
Para além dos processos habituais na gestão dos RSU, o tema tem relação com a política
(modo de produção), com as políticas públicas, com a economia, com a cultura e com as pessoas.
Em Cuba, o modo de produção socialista tem facilitado que exista uma grande empresa
estatal que garante a recepção e o processamento dos materiais recicláveis, ainda que o faça de
forma ineficiente e ineficaz, perdendo ganhos econômicos que se poderiam obter em função do
desenvolvimento do pais. Entretanto, tem logrado que reciclar em Cuba não seja uma atividade
laboral para excluídos e nem para pessoas marginalizadas pela sociedade, pois qualquer pessoa em
Cuba pode separar seus resíduos em materiais recicláveis, vende-los ou trocá-los por produtos que
se ofertam nos pontos de troca existentes em todo o país, medida que resulta muito parecida ao
exposto pela economia solidária no Brasil, que, sem dúvidas, tem muito a ver com os princípios do
modo de produção socialista.
Não existe em Cuba nenhuma lei específica para o tema dos RSU, apenas três normas do ano
2002, e a política de reciclagem aprovada pelo Conselho de Ministros no ano 2012 não tem sido
implementada, tendo um caráter fortemente economicista. Em geral, as políticas públicas relativas
aos RSU são débeis, pouco conhecidas e muito pouco debatidas na sociedade cubana.
Por sua vez, o Brasil, embora ainda com grandes desafios para resolver na prática os problemas
decorrentes dos RSU, tem avançado muito nos aspectos sobre políticas públicas e legislação. No tema
dos RSU, o país tem uma Lei Federal desde 2010 (Lei nº 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos
Sólidos) que rege esta política e estabelece as responsabilidades dos geradores, do poder público, e dos
consumidores, bem como os instrumentos econômicos aplicáveis. Além de seu regramento e replicação
em cada estado, que incluem a educação ambiental e questões inovadoras, como a logística reversa
(responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto), princípios como o da prevenção e
precaução, do poluidor-pagador, da ecoeficiência, entre outros.
Em comum aos dois países entende-se que a participação das pessoas seguirá sendo muito
importante para acionar as mudanças a favor do bem estar social e ambiental, para os quais é
imprescindível a educação, o ensino, o conhecimento com qualidade para formar pessoas capazes
de promover e materializar as mudanças necessárias em cada lugar. Contribuir para que isto ocorra
é um dos propósitos deste livro.
Nos diferentes capítulos do livro expõem-se as experiências mais significativas de cada
cidade em relação à gestão dos RSU, como, por exemplo, no Capítulo 1 em que se destacam as
grandes dificuldades existentes na cidade de Cienfuegos, Cuba, onde os RSU são coletados sem
prévia segregação e com uma disposição final do tipo mais atrasado no mundo, que inclui a queima
Resíduos Sólidos Urbanos - 13
a céu aberto, a indisciplina na higiene comunal e a deficiente e atrasada legislação existente sobre
o tema. Entretanto, mostra a experiência de uma empresa estatal que desde 1961 se encarrega da
gestão dos materiais recicláveis, tanto estatal como privada, e que, ainda que possa ser mais
eficiente a partir de uma política coerente sobre a reciclagem, mostra uma experiência sui generis,
que salva do caos o tema dos RSU em Cuba.
Em outro sistema sócio-político estão as cidades de Presidente Prudente e São Carlos, que
mostram também particularidades na gestão dos RSU, abordadas nos demais capítulos do livro.
Se destaca a existência de um fórum comunitário que debate sobre a gestão dos resíduos
sólidos em São Carlos, como prática de controle social de políticas e de estratégia de participação e
fiscalização de suas implementações, ao qual se devem múltiplos avanços na conscientização cidadã
e no tratamento com os catadores, apesar de não ter até o momento o plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos.
Destaca-se também em São Carlos a gestão dos resíduos sólidos na Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), meritório trabalho que a diferencia entre as universidades brasileiras e
cubanas, nas quais o tema é praticamente ausente, tanto na gestão como na preparação de
estudantes que possam abordá-lo na graduação e na pós-graduação.
E ademais é notória a experiência da Coopervida – Cooperativa de Trabalho dos Catadores
de Materiais Recicláveis de São Carlos, com suas particularidades, potencialidades e dificuldades do
trabalho realizado por seus cooperados desde sua criação, em 2002.
A cidade de Presidente Prudente se destaca por ser a única das três cidades que tem o plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, desde 2012, ainda que faltem muitas questões
por solucionar para sua ótima gestão, como explicitado no capítulo 6.
O capítulo 7 está dedicado à experiência por 15 anos do grupo de apoiadores da Cooperlix –
Cooperativa de Produtos recicláveis de Presidente Prudente e à conscientização da população no
tema da reciclagem.
Por último se expõe, no capítulo 8, o modelo para estruturar a Rede Regional de Reciclagem
no Oeste Paulista, com interessantes propostas para sua organização.
Los organizadores desejam agradecer a todos os professores e estudantes de pós-graduação
que participarão nos artigos, aos pareceristas pelo abnegado trabalho de revisão dos artigos, à
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista, editora ANAP, por tão gentilmente aceitar editar e
publicar este livro, à CAPES/PNPD pelos recursos de apoio ao desenvolvimento da pesquisa de pós-
doutorado e a todas as pessoas que de alguma forma tem contribuído para esta publicação.
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Espera-se que, embora numa linguagem acadêmica, no entanto simples, este livro possa
ser referência não somente para acadêmicos e estudantes de cursos técnicos, de graduação e
pós graduação nas áreas ambiental, sanitária, de administração e de engenharia, como também
para as catadoras e catadores de materiais recicláveis e profissionais que atuam nas
organizações de empreendimentos de reciclagem de resíduos e nos órgãos públicos voltados à
gestão de resíduos sólidos urbanos.
Os Organizadores
Tupã-SP, 2018.
Resíduos Sólidos Urbanos - 15
Capítulo 1
INTRODUCCIÓN
Prácticamente todas las actividades y/o procesos en la vida; naturales o sociales; generan
desechos, con la diferencia que la naturaleza le lleva ventaja a los hombres en la eliminación y
reciclaje de los suyos, como base de su sustentabilidad.
El reto social es disminuirlos a la mínima expresión, hacerlos reciclables y reducir sus efectos
negativos sobre el medio ambiente y la salud pública, a través de una gestión ambiental eficaz y
económica, que considere el nuevo paradigma que pasa de una filosofía de gestión de residuos a
gestión sostenible de recursos.
Cada vez más, se considera que los residuos son un recurso que debe explotarse
contribuyendo a potenciar la reducción de las emisiones de gases efecto invernadero (GEI) a través
de la recuperación de materiales y de energía. Hasta entonces, no se podrá hablar con certeza de
un desarrollo sostenible.
Lamentablemente, el tema queda pendiente en la mayoría de las agendas gubernamentales
y no es asumido conscientemente por la sociedad, quizás por lo que representan “los desechos”,
“los residuos”, “la basura” y la débil percepción social sobre la importancia del tema junto a la
insuficiente educación ambiental, económica, de salud y legislativa, además de la poca visión
integral del proceso.
Según la Organización de las Naciones Unidas para el Desarrollo Industrial (ONUDI), los
residuos sólidos pueden clasificarse de acuerdo a “su origen (domiciliar, industrial, comercial, de la
construcción, industriales y agrícolas); a su composición química (orgánicos e inorgánicos); o de
acuerdo a su riesgo (peligrosos, inertes y no inertes)” (ONUDI; Secretaría Estatal para Asuntos
Económicos (SECO); Laboratorio de Análisis de Residuos (LARE, 2007, p. 28).
Sus denominaciones y definiciones varían de un país a otro y dentro de los propios países.
2 Dra en Ciencias Geográficas por la Universidad de La Habana, Cuba. Profesora Titular. Actualmente bolsista posdoctoral CAPES/PNPD en
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. E-mail: mgfabregat1961@yahoo.es
3 Licenciada en Geografía por la Universidad de La Habana. Master en Manejo Integrado de Cuencas y Áreas Costeras por la Universidad de
Cienfuegos. Especialista en Gestión Ambiental del Centro de Estudios Ambientales de Cienfuegos, Cuba. E-mail: tatiana@gestion.ceac.cu
16
La República de Cuba dispone de una estructura institucional para la atención de las actividades
del sector de residuos sólidos urbanos. El Ministerio de Economía y Planificación (MEP) es el organismo
encargado de orientar y controlar la conformación de los planes de los servicios comunales, el Ministerio
de Salud Pública (MINSAP), en su carácter de órgano rector sanitario, tiene la responsabilidad legal de
dictar medidas relacionadas con el control sanitario del ambiente para proteger la salud de la población
y el Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente (CITMA) elabora y controla la ejecución de los
programas que permiten un mejor control ambiental. La interrelación que se produce entre las
instituciones está regulada por procedimientos establecidos oficialmente en disposiciones jurídicas que
especifican las atribuciones y funciones de cada una, así como las Normas Cubanas (NC) 133,134 y 135
del año 2002, que regulan todo lo relacionado con la actividad.
Como se aprecia en la tabla 1 los desechos sólidos recolectados en Cuba muestran cifras en
ascenso, no justificadas ni por el crecimiento económico; se esperaba un crecimiento del PIB de dos
por ciento para el año 2016, contra un crecimiento real de 0.5 por ciento (OFICINA NACIONAL DE
ESTADÍSTICA E INFORMACIÓN - ONEI, 2017, p.13), ni por el crecimiento de la población (tabla 2), lo
que motiva futuras investigaciones.
18
2002 6,6
2012 -0,1
2014 2,5
2015 0,1
2016 0,0
4
En la actualización de los Lineamientos para el período 2016-2021 aprobados en el 7mo Congreso del Partido comunista
de Cuba, en julio de 2016, se mantiene el lineamiento, identificado aquí con el número 193 en la p. 30 del documento.
20
El municipio de Cienfuegos se ubica en el centro sur de Cuba, en los “22 grados y 7 minutos
de latitud norte y los 80 grados 25 minutos de longitud oeste” (HERNÁNDEZ-REY, 2016, p. 43 ).
Limita al norte con los municipios de Rodas y Palmira, al este con el municipio de Cumanayagua, al
sur con el Mar Caribe y al oeste con el municipio de Abreus.
Resíduos Sólidos Urbanos - 21
Tiene un área de 341,3 km2 y una población de 174 769 habitantes (OFICINA NACIONAL DE
ESTADÍSTICAS E INFORMACIÓN DE CIENFUEGOS-ONEI CIENDUEGOS, 2015).
El relieve es de llanura ondulada (0-80 m) con sectores de llanuras colinosas y colinas al este.
Se destaca la bahía de bolsa con un área de 88,0 km2 y las cuencas fluviales tributarias Damují,
Salado, Caunao y Arimao. Predominan los suelos pardos con carbonatos. La temperatura media
anual es de 24,5 grados Celsius y el promedio de precipitaciones de 1 200 mm/año.
Tiene 33 asentamientos humanos de los cuales cuatro clasifican como urbanos (anexo 1),
dos de ellos realizan el tratamiento de residuos sólidos a través de relleno sanitario manual y el
resto a cielo abierto, en ambos utilizan de forma alternativa la quema.
La ciudad de Cienfuegos, cabecera municipal y provincial, fundada el 22 de abril de 1819 por
colonos franceses ocupa un área de 48 km 2 y su población representa el 85 por ciento (DIRECCIÓN
PROVINCIAL DE PLANIFICACIÓN FÍSICA, DPPF, 2015) de la población urbana del municipio, estimada
en 148 554 habitantes, calculada a partir de los datos de población municipal (ONEI CIENFUEGOS,
2015) y el 36,5 por ciento de la población de la provincia.
Su centro histórico fue declarado por la UNESCO Patrimonio Cultural de la Humanidad en el
año 2005.
La estructura económica de la ciudad muestra el sector de los servicios es el de mayor peso,
seguido por la industria y la construcción. Constituye un centro regional de importancia económica
y socio cultural.
En la ciudad, la gestión de los RSU es coordinada por la Dirección Municipal de Servicios
Comunales, específicamente por la subdirección de Higiene Comunal que abarca 20 zonas
comunales, una en cada Consejo Popular5, con un administrador, un auxiliar de administrador y una
plantilla de trabajadores de limpieza de calles, recogida de basura, saneamiento y áreas verdes.
Todo subordinado al Consejo de la Administración Municipal 6.
El almacenamiento intradomiciliario de los residuos se realiza con medios propios sin previa
clasificación, dada la ausencia de envases destinados a estos fines, depositándose generalmente en
bolsas de nylon fuera de las viviendas, con deterioro del ornato público y generación de vectores.
5
El Consejo Popular es un órgano del Poder Popular, local, de carácter representantivo, investido de la más alta
autoridad para el desempeño de sus funciones. Comprende una demarcación territorial dada, apoya a la Asamblea
Municipal del Poder Popular en el ejercicio de sus atribuciones y facilita el mejor conocimiento y atención de las
necesidades e intereses de los pobladores de su área de acción. LEY No.91 DE LOS CONSEJOS POPULARES, CAPÍTULO I
DISPOSICIONES GENERALES, Artículo 2. Año 2000.
6
Cuerpo administrativo de las Asambleas Municipales del Poder Popular, encargado de dirigir las entidades económicas,
de producción y de servicios de subordinación local, con el propósito de satisfacer las necesidades económicas, de salud
y otras de carácter asistencial, educacionales, culturales, deportivas y recreativas de la colectividad del territorio a que
se extiende la jurisdicción de cada municipio
22
Otra forma utilizada para el almacenamiento transitorio de los residuos sólidos son los
contenedores de hormigón, conocidos como supiaderos, ubicados fundamentalmente en las zonas
de edificios multifamiliares.
La recogida de RSU tiene frecuencia diaria. Al cierre de 2014 se calculó para la ciudad una
recolección estimada en 266.0 Mm3 (ONEI CIENFUEGOS, 2014); (CENTRO DE ESTUDIOS
AMBIENTALES DE CIENFUEGOS, CEAC, 2016, p.11).
Los RSU se asumen como el total de desechos sólidos recolectados y se definen como: “el
total de basura recolectada de las viviendas, establecimientos, organismos, escuelas, etc.,
incluyendo el saneamiento” (ONEI CIENFUEGOS, 2016, p. 190).
La cifra más reciente encontrada en estadísticas oficiales sobre el “volumen de RSU
recolectados” refiere solo el dato provincial y es de “854,3 Mm 3” (ONEI CUBA, 2017, p. 54).
En general los residuos no se clasifican, la recogida se realiza con diferentes tipos de transporte,
la mayoría no específicos para esta actividad y la clasificación de los residuos en la comunidad sigue
siendo una actividad individual de personas que; sin condiciones de protección y muchas veces sin
conocimiento sobre el riesgo de exposición a diferentes contaminantes; la realizan como fuente de
ingreso al vender en las casas compradoras de materia prima7 los residuos que logran clasificar con
mínimas condiciones de trabajo, esta clasificación también la hacen de forma individual los propios
trabajadores de los Servicios Comunales que recogen la basura o barren las calles, con sus recursos y
expuestos a los mismos riesgos. Tómese en cuenta que cada día los RSU complican su composición, más
en este caso que no existe una clasificación primaria, ya que los residuos domésticos se unen con
materiales peligrosos como son las baterías u otros elementos tecnológicos, inclusive desechos
sanitarios como pueden ser gasas, jeringuillas etc.
De forma puntual, en algunas instalaciones pertenecientes al sector turístico, existe una
clasificación primaria de residuos y se recepcionan de forma separada los metales, plásticos,
cristales y el papel-cartón, sin que esto constituya una práctica sistemática en todos los lugares.
Otro ejemplo en esa línea de trabajo fue el desarrollo de un proyecto con financiamiento externo
que realizó esa misma clasificación; además de escombros y restos de podas de árboles; en un barrio
de la ciudad, entregando a las personas bolsas de nylon de diferentes colores y haciendo la recogida
en diferentes días, lamentablemente el destino final era el actual vertedero municipal.
7
La Empresa de Recuperación de Materias Primas (ERPM) de Cienfuegos, entidad estatal perteneciente al Ministerio de
Industria, recoge más de diez productos de marcada importancia, entre ellos la chatarra de acero, cobre, bronce, papel
y cartón, plásticos, frascos de medicamentos, y envases de ron y cerveza, directamente a otras empresas y cuenta con
una red de establecimientos ubicados en cada municipio, tres en la ciudad de Cienfuegos, los cuales están encargados
de la compra directa a las personas de la comunidad.
Resíduos Sólidos Urbanos - 23
El vertedero municipal; que recepciona los residuos sólidos de la ciudad de Cienfuegos; está
en funcionamiento desde 1990, diseñado como un vertedero de relleno sanitario a cielo abierto,
donde el procesamiento es el reapile de basura y en ocasiones la quema.
Según Informe del Centro de Estudios Ambientales de Cienfuegos (CEAC), esta instalación;
cuya entidad rectora es la Empresa de Servicios Comunales del municipio de Cienfuegos,
permanece sin cercado perimetral adecuado, ni puertas para impedir el acceso de personas
ajenas y animales; no cuenta con señales ni vías adecuadas de acceso; existe alto riesgo de
contaminación a las aguas subterráneas y superficiales, y a la atmósfera; se realizan vertidos
de desechos peligrosos y su enterramiento en trincheras sin medios de contención y la zona
tiene una alta degradación paisajística (CEAC, 2016, p. 13)
cuyo tratamiento de los residuos sólidos se concibió mediante relleno sanitario mecanizado.
En el mes de septiembre del año 2011 la obra fue paralizada producto de la inestabilidad
en la fuerza de trabajo así como la falta de envío de los recursos materiales fundamentales
necesarios para el drenaje de lixiviados. Hasta la fecha no se tiene previsto el comienzo de
la explotación de la instalación (CEAC, 2016, p. 16).
Existen en la ciudad de Cienfuegos “al menos ocho vertederos ilegales” (CEAC, 2016, p.30),
que presentan entre los problemas más críticos, la mezcla de residuos sólidos con desechos
peligrosos de diverso origen (hospitalarios e industriales, fundamentalmente), además de la
incineración como práctica inadecuada recurrente.
Esta situación genera impactos ambientales y a la salud de las personas negativos, entre los
cuales se destacan:
La información estadística oficial sobre la gestión de los RSU es mínima y solo a nivel de las
provincias, en ocasiones contradictoria y no sistemática, además, son escasos los estudios sobre el
tema y se centran en La Habana (LÓPEZ, 2004); (GOICOCHEA, 2012); (JICA, 2007), Santiago de Cuba
y Holguín (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, OPS, 1997).
24
CONSIDERACIONES FINALES
La situación crítica desde el punto de vista económico que vive Cuba, afecta objetivamente
el desarrollo de muchas actividades que pudieran mejorar la gestión de los RSU y en la actualidad,
constituye un reto para el país realizar eficientemente su manejo integral, cumpliendo
adecuadamente con todas la etapas del ciclo de gestión, sin embargo, se hace imprescindible
priorizar el abordaje de la gestión de los RSU por los diferentes actores sociales desde su
perspectiva, logrando integrar las acciones, dada su vinculación con la sostenibilidad ambiental,
social y económica que pretende el país.
El tema de la gestión de los residuos sólidos tiene carencia de datos, insuficiente
conocimiento y déficit de estudios en Cuba y especialmente en ciudades intermedias como es el
caso de Cienfuegos, que constituye en la actualidad un importante polo de desarrollo para el país.
Será necesario proyectar nuevas acciones que permitan manejar los RSU en función de su
eficiencia económica, sostenibilidad ambiental y posibilidad de empleo digno para muchas
personas, combinando formas productivas estatales y privadas, aprovechando los cambios que
acontecen en el modelo económico cubano que promueve mayor número de empleos fuera del
sector estatal, junto a la actualización de la legislación y normativas vigentes.
La Universidad de Cienfuegos y otros centros docentes del territorio tienen el importante y
prioritario reto de fortalecer las capacidades profesionales en el tema de los RSU, contribuyendo
desde el conocimiento y la innovación, al desarrollo y perfeccionamiento de esta importante
actividad, así como en la educación ambiental de la comunidad y la sociedad en general.
26
La existencia de una empresa estatal de recuperación de materias primas desde el año 1961,
puede considerarse que contribuye a que la situación de los RSU no esté en peores condiciones, no
obstante; precisa de una actualización en su gestión y legislación para lograr un mejor desempeño
que la hiciera más eficiente y así contribuir en mayor medida con el mejoramiento de la higiene
comunal, la situación socio ambiental y la economía del país. Salvando sus deficiencias, esta
particularidad de Cuba puede ser un modelo para otros países.
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28
Anexo 1
3. Alumbrado público representado por un sistema de luminarias que den servicio como
mínimo a las vías y espacios públicos principales del asentamiento.
4. Presencia de acueducto que sirva a las viviendas de forma interna o extradomiciliaria.
5. Sistema de tratamiento de residuales representado por la existencia de alcantarillado o
fosas que permitan la evacuación de los residuales que lo componen.
6. Servicio médico asistencial representado por hospital, policlínicos o cobertura brindada
por la institución del médico de la familia.
7. Servicio de educación a través de la presencia de los centros educacionales que se
correspondan con el dimensionamiento poblacional del asentamiento y la política del Ministerio de
Educación para la población en edad escolar.
8. Servicios gastronómicos y comerciales en correspondencia con el dimensionamiento
poblacional del asentamiento.
9. Presencia de servicios de telefonía pública, correos y telégrafos, así como señales de radio
y televisión.
Capítulo 2
LOS PRINCIPIOS JURÍDICOS PARA LA CONFORMACIÓN DEL MARCO LEGAL DE LOS RESIDUOS
SÓLIDOS COMUNES EN CUBA
INTRODUCCIÓN
8 Licenciada en Derecho. Especialista en la Empresa Provincial de Consultoría Jurídica en Cienfuegos, Cuba. E-mail: sbm90@nauta.cu
9 Máster en Ciencias. Profesora Auxiliar Universidad de Cienfuegos, Cuba. E-mail: adiaz@ucf.edu.cu
10 Doctora en Ciencias especialidad de Derecho. Profesora Titular Universidad de Cienfuegos, Cuba. E-mail: ymonzon@ucf.edu.cu
30
Cuba no escapa de la situación internacional que presentan los residuos sólidos comunes,
pues a pesar de ser identificados sus problemas en la política ambiental, no se han minimizados los
males que causan al medio ambiente. Lo anterior se agrava a partir de que el país no cuenta con
recursos financieros suficientes para realizar la gestión de los mismos (CRUZ, 2013). La ausencia
generalizada de vertederos con tratamiento de relleno sanitario que cubra las necesidades actuales
de disposición final de los residuos sólidos comunes es ejemplo de ello. Además existe carencia de
medios de transporte con las condiciones necesarias para realizar el traslado de los mismos, ya sea
para su tratamiento o para su último destino. (PROGRAMA DE NACIONES UNIDAS PARA EL MEDIO
AMBIENTE, PNUMA, 2008).
Una revisión del marco jurídico cubano en materia de residuos permite constatar que, aún y
cuando la Constitución de la República refrenda en su art. 27 la obligación del Estado de “proteger
el medio ambiente” y el deber de los ciudadanos de “contribuir a la protección del agua, la
atmósfera, la conservación del suelo, la flora, la fauna y todo el rico potencial de la naturaleza”
(ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR DE CUBA, 2003), en el marco regulatorio ambiental se
aprecian ciertas omisiones e imprecisiones. Los residuos sólidos comunes son regulados de forma
dispersa en varias disposiciones jurídicas que no tienen como objeto de regulación a los mismos y
en la mayoría de los casos no son ambientales. Solo existen dos disposiciones jurídicas relacionadas
con la recuperación de materias primas y tres normas técnicas que regulan su gestión.11 Además no
existe en las disposiciones jurídicas específicas sobre los residuos declaración de principios jurídicos
ambientales o particulares del sector.
Encarar el perfeccionamiento del régimen jurídico de los residuos en Cuba implica una
mirada al tema de principios jurídicos, pues se ha dicho con razón que “ninguna ley de orientación,
deja de mencionar los grandes principios y las ambientales no escapan de ello” (CAFFERATTA, 2004,
p. 26). Estos constituyen el soporte básico del ordenamiento jurídico ambiental e informan,
interpretan y poseen capacidad organizativa en esta materia (CAFFERATTA, 2004 p. 47).
Lo anterior justifica la necesidad de abordar los principios jurídicos para la conformación del
régimen legal de los residuos sólidos comunes en Cuba. Por ello constituye el objetivo esencial de
la investigación y del artículo: determinar los principios jurídicos para la conformación del régimen
legal de los residuos sólidos comunes en Cuba.
11
Ver Ley No. 1288/75, de 2 de enero de 1975 y su reglamento el Decreto No. 3800/75, de 4 de enero 1975 recuperación
de los residuos de materias primas, productos y materiales reutilizables que se derivan de los procesos de producción., y
las NC 133:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Almacenamiento, Recolección y Transportación. Requisitos higiénicos
sanitarios y ambientales”. NC 134:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Tratamiento. Requisitos higiénicos sanitarios y
ambientales”. NC 135:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Disposición Final. Requisitos higiénicos sanitarios y ambientales”.
Resíduos Sólidos Urbanos - 31
El término residuo ha sido definido por varias ciencias según su ámbito de estudio.12 Para el
Derecho Ambiental una de las cuestiones más complejas y controvertidas es la del concepto jurídico
de residuos, que constituye la base para la aplicación de la normativa reguladora. Varios juristas en el
contexto internacional como Serrano Lozano (ORTEGA, 2002), Montoro Chiner (MONTORO, 2013),
Martín Mateo (MARTÍN, 1998), Alenza García (ALENZA, 1997) y Santamaría Arinas (SANTAMARÍA,
2013), han abordado el tema. Los dos últimos consideran la imposibilidad de elaborar un concepto
universal y acabado (ALENZA, 1997 p. 218). La relatividad del concepto está dada por su base
antropocéntrica que le hace depender de factores valorativos según las épocas y lugares como pueden
ser los culturales, sociales, económicos o sanitarios. En consecuencia, Alenza García enuncia los
elementos que deben ser parte de una definición de residuo, para así brindar organicidad e informar
todo intento definitorio del significado de dicho vocablo (ALENZA, 1997 p. 218).
En el contexto cubano Viamontes Guilbeaux (VIAMONTES, 2007), ha asumido la definición
ofrecida por Martin Mateo. Sin embargo, las autoras del trabajo coinciden -en parte- con los criterios
aportados por Alenza García pues se considera que los elementos que determinan la definición legal
de residuo son el elemento material, que determina la composición o estado físico del residuo y su
clasificación; el elemento subjetivo, que se refiere a la voluntad del poseedor que decide deshacerse
de la cosa, aunque se precisa que no basta con la manifestación de voluntad de desprendimiento
de su poseedor sino que es indispensable que se realice el abandono y el elemento objetivo,
configurado como el efectivo desprendimiento de la cosa por disposición legal. En consecuencia, se
asume que a una definición jurídica de residuos no debe faltarle lo siguiente: cualquier bien en
estado sólido, líquido o gaseoso, del cual su poseedor tenga la intención de deshacerse, y en efecto
lo haga, ya sea por voluntad propia o por disposición legal.
Los criterios antes aludidos evidencian la imposibilidad de catalogar de manera exhaustiva todos
los residuos. Se puede caracterizar legalmente determinados tipos para que no pueda eludirse el control
12
Por ejemplo para la Medicina es “aquel material inservible que queda después de haber realizado un trabajo u
operación” y para las Ciencias Económicas, un residuo puede considerarse “un objeto cuyo valor es nulo o negativo para
su poseedor en un momento dado”.
32
de su gestión, pero no de manera exhaustiva por lo que los intentos de catalogación acaban siempre
por reconocer su carácter abierto. Este criterio justifica la tendencia de algunas disposiciones jurídicas
de incluir en anexo las listas abiertas de las sustancias consideradas residuos utilizando dos técnicas
confluyente: la exclusión y la enumeración de supuestos específicos (JUAN CARLOS I REY DE ESPAÑA,
2011; CONGRESO GENERAL DE LOS ESTADOS UNIDOS MEXICANOS, 2012).
Autores como Ramírez Guevara (RAMÍREZ, 2010), Pérez Morán (PÉREZ, 2012), Martín Mateo
(MARTÍN, 1998) y Alenza García (ALENZA, 1997 p. 222-225), se han referido a la clasificación de los
residuos. Sin embargo, se considera que el criterio clasificatorio más acabado lo proporcionó Martín
Mateo quien elaboró una clasificación genérica, buscó en ella cualidades que permitieran su
agrupación y una clasificación específica que permitiera identificar los residuos por sí mismos.
La clasificación que Martín Mateo llamó genérica la dividió en dos grupos. En el primero -
por su origen-, subdivide a los residuos en urbanos, que son los provenientes de las ciudades, y
en industriales que provienen de fábricas e industrias. En el segundo-por sus características- los
sub clasifica en urbanos cuya composición se conforma por desechos utilizados por los humanos,
como consecuencia de la vida cotidiana; en industriales compuestos por sustancias que solo se
utilizan en procesos industriales y los agropecuarios que son los resultantes de las actividades
agrícolas, pecuarias y forestales. La clasificación que denominó específica incluye a los efluentes
gaseosos, radioactivos, mineros, aguas residuales y explosivos desclasificados (MARTÍN, 1998).
Esta clasificación es asumida, en Cuba, por Viamontes Guilbeaux (VIAMONTES, 2007).
Se coincide con Martín Mateo en cuanto a que la regulación de los residuos se basa en dos
coordenadas, la determinada por su origen -que implica a órdenes distintas de autoridades- y la que
refleja sus características que hacen que la composición e incidencia en el medio determinen la
aplicación de un régimen normativo u otro (MARTÍN, 1998). Teniendo en cuenta lo anterior y a los
efectos de la investigación, se asume la clasificación genérica de residuos por el origen o naturaleza
en: urbanos e industriales; por sus características en: urbanos (ordinarios que son los de régimen
común y los especiales o peligrosos que son los de régimen singular); industriales (ordinarios que
son los inocuos y especiales o peligrosos). En cuanto a la composición física se clasifican en:
predominantemente sólidos.
La Ley 22 de de Residuos y Suelos Contaminados (2011) de España, define por sólido: todo
cuerpo, objeto o material de forma y volumen constante que presenta resistencia a la separación; de
consistencia firme, maciza, fuerte, asentada, estado en el que se puede encontrar cualquier sustancia
y con el vocablo urbano, se define como “propio de la ciudad o relativo a ella.
Resíduos Sólidos Urbanos - 33
El término urbano no es suficiente para clasificar a los residuos, debido a que cuando se
refiere a residuos sólidos urbanos proporciona la idea de que los mismos sólo se producen o generan
en las ciudades o se restringe a dicha localidad. En concordancia con Alenza García se debe cambiar
el impreciso término de urbano por el de común u ordinario para diferenciarlos desde la propia
denominación de los especiales, es decir, de los que tiene un tratamiento particular como los
peligrosos (ALENZA, 1997 p. 148).
Según el propio autor un residuo sólido dejará el régimen común para quedar sometido a un
régimen especial cuando por su composición -o en ocasiones la actividad que los ha generado- sea
más peligroso o simplemente requiera un tratamiento distinto al común, con independencia de que
se haya producido o no en la ciudad (ALENZA, 1997 p. 148). Los residuos sólidos urbanos se han
identificado como aquellos residuos que no son especiales. Son los residuos de derecho común
(ALENZA, 1997 p. 222). Así todo aquello que no sea considerado como residuo especial, por su
composición o su origen, se considera residuo sólido urbano.
Los términos que se deben emplear atendiendo a los argumentos anteriores y en analogía
con Alenza García son residuos sólidos comunes u ordinarios. Ello permite la distinción con los
residuos especiales, puesto que su regulación jurídica es común u ordinaria. A los efectos de la
investigación se asumen el término de residuos sólidos comunes. Estos se definen, en
correspondencia con Alenza García y Milián Martell (MILIÁN, 2012), tomando en cuenta los
elementos material, subjetivo u objetivo abordados con anterioridad. En consecuencia, los residuos
sólidos comunes son los predominantemente sólidos que no tienen las características de peligrosos,
generados tanto en zonas urbanas como rurales, de los cuales su poseedor realice el efectivo
abandono por voluntad propia o tenga la obligación de abandonarlo por disposición legal.
Los principios jurídicos para articular la regulación de los residuos sólidos comunes
Según los criterios de los autores cubanos Fernández Bulté (FERNÁNDEZ, 2005), Pérez
Gallardo y Marrero Xenes (PÉREZ, 2004), Matilla Correa (MATILLA, 2004) y Monzón Bruguera
(MONZÓN 2011), los principios son fundamentos, es decir, los pilares en los que se asientan inspiran
e informan las normas jurídicas pertenecientes a un ordenamiento determinado, a una rama
concreta del mismo hayan sido o no objeto de formulación específica.
34
Entre los autores españoles, Díez Picazo expone que “los principios generales del Derecho
constituyen normas básicas reveladoras de las creencias y convicciones de la comunidad respecto a
los problemas fundamentales de su organización y convivencia” (DÍEZ PICAZO, 2013, p. 19).
Sánchez Román (1922, p. 23) considera como “principios generales del Derecho los axiomas
o máximas jurídicas recopiladas en las antiguas compilaciones (Digesto, Decretales, Partidas)”.
Además alega que “son los dictados de la razón que se aceptan por el legislador como fundamento
inmediato de sus disposiciones y en los cuales se encuentra comprendido su capital pensamiento”
(SÁNCHEZ-ROMÁN, 1922, p. 23).
En el contexto internacional la utilidad y función de los principios jurídicos ha sido abordada
por Prado (PRADO; GARCÍA, 1985), Lorenzetti (CAFFERATTA, 2004), Emilio Betti (CAFFERATTA,
2004), Dworkin (DWORKIN, 2013), García de Enterría (CAFFERATTA, 2004) y Alexy (ALEXY, 2001)
entre otros y en el contexto cubano por Fernández Bulté (FERNÁNDEZ, 2005) y Prieto Valdés
(MATILLA, 2003). En el orden ambiental se destaca Cafferatta (2004).
Desde el punto de vista de su utilización práctica, los principios generales de Derecho
desempeñan su papel en la orientación y guía para la mejor interpretación de las normas jurídicas,
para acompañar la racionalidad de ese proceso de aplicación-interpretación. También pueden
usarse para salvar lagunas legislativas y pueden y deben ser usados, desde una amplia dimensión
axiológica, como criterios valorativos y de apoyo de los fines del Derecho, que de ese modo
permiten una orientación ética de sus normativas variables (FERNÁNDEZ, 2005). Constituyen el
fundamento o razón fundamental del sistema jurídico y son su soporte básico.
El Derecho Ambiental como rama del Derecho posee principios que “representan las
directivas y orientaciones generales en las que se funda. Son el resultado de necesidades prácticas
modificadas con el tiempo, que se transforman en patrones rectores de protección del medio
ambiente” (CAFFERATTA, 2013, p. 40).
En la doctrina se habla de Principios Rectores del Derecho Ambiental como “aquellos
postulados fundamentales y universales que la razón especula, generalizando por medio de
abstracción las soluciones particulares” (CAFFERATTA, 2013, p. 45). Sin embargo no existe
uniformidad para denominarlos pues se usa por varios autores los términos “principios
rectores”(CAFFERATTA, 2004, p. 49) de la materia o “principios generales del Derecho Ambiental”
(CAFFERATTA, 2004) o “principios jurídicos del nuevo derecho de la sustentabilidad” (LÓPEZ, 2000,
65) para exponer una nómina de ellos, no siempre coincidente.
Resíduos Sólidos Urbanos - 35
Los principios del Derecho Ambiental han sido abordados por Jaquenod de Zsogon
(JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991), Martin Mateo (MARTÍN, 1998), Cafferata (CAFFERATTA, 2004),
Jordano Fraga (JORDANO, 1995), Loperena Rota (LOPERENA, 1998), Pigretti (CAFFERATTA, 2004),
Alenza García (ALENZA, 1997) y Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002) entre otros, todos ellos referentes
internacionales reconocidos por la mayor parte de los teóricos. En el contexto cubano el tema ha
sido abordado por Caraballo Maqueira (VIAMONTES, 2007) y Monzón Bruguera (MONZÓN, 2011).
La sistematización en función de sus diferentes ámbitos de actuación es una de las más comunes.
Así pueden agruparse en estructurales, funcionales o generales, y específicos de la legislación ambiental
sectorial. Autores foráneos como Alenza García (1997) y Ortega Álvarez (2002) así como las autoras de
esta investigación se afilian a esta manera.
Los principios estructurales son los que amparan y cualifican el fin perseguido de la materia
ambiental. Además enmarcan las características estructurales del Derecho Ambiental. Aunque han
sido positivados en normas jurídicas, no son exclusivamente jurídicos, así como tampoco son
propiamente postulados jurídicos ambientales. Entre los principios estructurales que enuncia
Alenza García se encuentran la globalidad, horizontalidad, responsabilidad compartida y
sostenibilidad, relacionado este último con la solidaridad (ALENZA, 1997 p. 41-44). Ortega Álvarez
expresa como estructurales a los principios de horizontalidad, sostenibilidad, solidaridad y
globalidad, que incluye a la subsidiariedad (ORTEGA, 2002 p. 49-51).
Por su parte, “los principios funcionales orientan los instrumentos más idóneos para lograr
el fin ambiental” (ORTEGA, 2002 p. 49) y “son los generales que orientan la regulación jurídica del
medio ambiente” (ALENZA, 1997 p. 41). Los principios funcionales, a los cuales se refiere Alenza
García como principios generales del Derecho Ambiental, son: prevención, precaución o cautela,
corrección en la fuente o causalidad, subsidiariedad, participación y contaminador-pagador
(ALENZA, 1997 p. 45-46). Ortega Álvarez señala dentro de ellos a la prevención, la cautela, la
causalidad y la integración de los costes (ORTEGA, 2002 p. 51-53).
A los efectos de la investigación se asumen como principios estructurales del Derecho
Ambiental la globalidad, la subsidiariedad, la horizontalidad, el desarrollo sostenible, la
responsabilidad y la solidaridad y como principios funcionales o generales la prevención, la
precaución o cautela, quien contamina paga, corrección en la fuente o causalidad y participación
ciudadana. A continuación se analiza brevemente cada principio.
El primer principio a examinar es la globalidad. Alenza García expone que el postulado está
relacionado con el aforismo “pensar globalmente y actuar localmente”, que significa: lo que se haga
en un determinado lugar beneficia a toda la humanidad. Las decisiones para combatir los problemas
se deben pensar desde la globalidad debido a las interrelaciones de los diferentes ecosistemas que
conforman el medio ambiente (ALENZA, 1997 p. 41).
36
significa impedir los riesgos jurídicos ante un mal, es soslayar la responsabilidad y por tanto,
el daño ambiental. Su función primordial es prever el daño antes de que se produzca
mediante el uso de equipos o la ejecución de acciones de control de la contaminación y la
degradación (ALENZA, 1997 p. 44).
Resíduos Sólidos Urbanos - 37
El principio de precaución significa que “por encima de la duda e incluso de la polémica, que
todo saber científico lleva implícito, está la obligación de toda persona natural o jurídica de evitar el
daño” (VIAMONTES, 2007 p. 61). Cafferatta alega que “el postulado reclama medidas de inmediato,
de urgencia, aún cuando existe ausencia o insuficiencia de pruebas o elementos científicos referidos
al comportamiento de la naturaleza” (CAFFERATTA, 2004).
Lo anterior tiene el fin de “impedir la creación de un riesgo con efectos todavía desconocidos
plenamente, lo que presupone que la demora puede resultar a la larga más perjudicial que la
realización de una acción temprana intempestiva” (JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991 p. 372).
El principio quien contamina paga del Derecho Ambiental no se refiere al postulado de
responsabilidad. Lo anterior se argumenta en que el primero tiene implícito la prevención del daño
ambiental, mientras que el segundo no tiene esa intención, sino que, cuando dicho perjuicio se
ejecute el responsable esté sujeto a las sanciones correspondientes. En concordancia con Alenza
García, el postulado quien contamina paga, no significa exigir una responsabilidad por la
contaminación que se causa, sino que de manera previa del perjuicio al medio ambiente, “exista un
pago alto que permita que no se contamine el mismo para que no resulte más rentable contaminar,
que pagar costes por mecanismos anticontaminantes” (ALENZA, 1997 p. 46).
El “principio de corrección en la fuente” como lo denomina Alenza García (ALENZA, 1997 p.
45) o “causalidad” como lo entiende Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002 p. 52), significa que cuando la
contaminación no ha logrado ser evitada en su totalidad, deben aplicarse los remedios lo antes
posible en el lugar más próximo a la fuente de contaminación. Asimismo, se deben tomar medidas
en el momento más inmediato en que el daño se produjo.
El principio de participación ciudadana es trascendental en la gestión ambiental, toda vez
que proclama la inserción de la población en la toma de decisiones relacionadas con el medio
ambiente. Además presupone el derecho a la información de los proyectos y temas ambientales
para el logro de la educación ambiental.
tratado el tema de los principios jurídicos de la política y la gestión de los residuos y reconocen su
conexión con los correlativos ambientales. Sin embargo, solo Alenza García y Milian Martell
integran, a los principios generales del Derecho Ambiental, otros principios particulares de este
sector, ya sean originales o derivados de los más generales.
En concordancia con Alenza García la regulación de los residuos sólidos comunes se informan
de postulados del Derecho Ambiental generales o funcionales y particulares, ya sean derivados de
los generales u originales. En este sentido, el autor alega que los primeros son: “prevención,
precaución y quien contamina paga. Entre los particulares derivados de los generales señala el
postulado de suficiencia (responsabilidad) y el principio de proximidad (corrección en la fuente). El
principio original es la jerarquización de los objetivos” (ALENZA, 1997 p. 213).
Al respecto, primero se examinan los principios generales del Derecho Ambiental
atemperados al tema de los residuos sólidos comunes.
El principio de prevención se encamina a realizar una gestión ambientalmente racional de
los residuos sólidos comunes. Su objetivo principal es que “en la realización de la gestión de los
residuos sólidos comunes se evite riesgos para el medio ambiente” (ALENZA, 1997 p. 214). El
postulado de precaución o cautela significa la evitación de daños al medio ambiente con
consecuencias todavía inéditas. Lo anterior se aplica a los residuos sólidos comunes debido a que
“están compuestos por elementos donde no existe aún certeza de su peligro, lo cual no implica un
no actuar frente al problema” (ACUÑA, 2013).
El principio quien contamina paga se dirige a los sujetos que generan o poseen los
residuos, para que corra a su cargo su gestión y el coste que implica la misma (MONTORO, 2013).
Alenza García alega que aunque no es una exigencia de responsabilidad por un daño consumado
sí implica que con anterioridad se requiera del pago de los perjuicios a los sujetos que generan
actividades contaminantes por la producción de residuos sólidos comunes. Por su parte Ortega
Álvarez expone que este principio consiste en que el consumidor pague realmente lo que cuesta
un producto, al cual se le han añadido los costes ambientales. Además considera que el principio
significa el incremento del precio del producto del coste de la recogida de los residuos sólidos
comunes que ya adquirieron dicho carácter (ORTEGA, 2002 p. 53). La finalidad del principio es
que, quien puede llegar a contaminar en un futuro sufrague por ello en el presente, pero no
como un derecho a contaminar.
Los postulados particulares derivados de los principios generales o funcionales del Derecho
Ambiental son la responsabilidad y corrección en la fuente. Alenza García denomina al primero con
el término de suficiencia para el tema de los residuos sólidos comunes. El autor expresa que “el
Resíduos Sólidos Urbanos - 39
Se hace necesario realizar una precisión antes de abordar los epígrafes siguientes. En Cuba
el término que se utiliza para definir a los residuos sólidos comunes es residuos sólidos urbanos
(CRUZ, 2013), lo que evidencia el impreciso uso del vocablo urbano, analizado con anterioridad. La
única definición encontrada en la bibliografía estudiada conceptualiza a los mismos como:
“el conjunto de materiales sólidos de origen orgánico e inorgánico que no tiene utilidad
práctica para la actividad que lo produce, procedente de las actividades domésticas,
comerciales, industriales y de todo tipo que se produzcan en una comunidad con sola
excepción de las excretas humanas” (OFICINA NACIONAL DE NORMALIZACIÓN, 2002).
40
“el aspecto legal es uno de los componentes prioritarios de la política. Una vez definidos los
objetivos y estrategias para el control y la gestión ambiental adecuada de los residuos sólidos
comunes, los Estados deben establecer un marco regulador, con leyes, reglamentos y normas
que dispongan, por una parte, el comportamiento de los agentes económicos y de la
población y, por la otra, las actividades de control y fiscalizadoras de las instituciones públicas
con alguna responsabilidad en dicha materia (ACUÑA, 2013 p. 54).
Para una mejor comprensión del tratamiento jurídico y normativo de los residuos sólidos
comunes y sus principios jurídicos, en el presente epígrafe se analizan la legislación propiamente
ambiental y la sectorial de relevancia ambiental por orden cronológico, según los tipos de normas
identificados por Brañes Ballestero (BRAÑES, 2001 P. 12) y finalmente las NC 133, 134 y 135, todas
ellas del 2002, que regulan los requisitos higiénicos sanitarios y ambientales de los residuos
sólidos comunes en Cuba.
Ley No. 1288 de 2 de enero de 1975 (en lo adelante Ley No. 1288 de 1975) es la más antigua
entre las disposiciones jurídicas vigentes en Cuba que regula a los residuos sólidos comunes.
Posee el objetivo de regular la práctica de recuperación de los residuos de materias primas,
productos y materiales reutilizables que se derivan de los procesos de producción (CONSEJO
DE MINISTROS REPÚBLICA DE CUBA, 1975). Esta dispone como obligación de los organismos
y demás dependencias del Estado cubano la recolección de los residuos que pueden ser
reutilizados y que no son aprovechados por dichas entidades (CONSEJO DE MINISTROS
REPÚBLICA DE CUBA, 1975).
Decreto No. 3800, reglamento de la Ley No. 1288 de 4 de enero de 1975, establece la
prohibición de incinerar, destruir, enterrar o conducir a los vertederos los residuos sólidos
comunes que sirvan de materias primas 13 (CONSEJO DE MINISTROS REPÚBLICA DE CUBA, 1975).
Ambos cuerpos legales disponen, en cuanto a los residuos sólidos comunes, la promoción de
políticas de protección y conservación a seguir para la fase de tratamiento con el fin de reducir
los residuos en los vertederos a través de su reciclaje. De esta forma se evidencia el principio
de tratamiento con el método de reciclaje, el cual se expresa como una línea a seguir en los
Lineamientos de la Política Económica y Social del Partido y la Revolución.
13
Ver artículo 6 en el Decreto 3800 de 4 de enero de 1975. (Decreto No. 3800, 1975)
Resíduos Sólidos Urbanos - 41
Ley No. 41 de 13 de julio de 1983, De la Salud Pública (en lo adelante Ley No. 41 de 1983),
establece los principios básicos para la regulación de las relaciones sociales en este campo. En
cuanto a los residuos sólidos comunes dispone, en su artículo 65, que:
El Ministerio de Salud Pública dicta medidas relacionadas con el control sanitario del
ambiente referidas a la prevención y control de la atmósfera, suelos y aguas, a los residuos
sólidos, a los acueductos y al agua por ellos suministrada, a la disposición de residuos
líquidos, a la urbanización, proyectos de obras y obras en ejecución, a la tenencia,
transporte e introducción de animales de corral, domésticos y otros, a los cementerios, a la
disposición de cadáveres y restos humanos (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR,
1983, p. 11).
Se evidencia en ambos cuerpos legales la presencia del principio de prevención en relación a los
residuos. El Decreto-Ley No. 54 de 1982 reconoce al postulado de prevención cuando dispone en su
artículo 29 que “para realizar la implantación de cualquier sistema de disposición final de los residuos se
requiere la aprobación de la autoridad sanitaria, conjuntamente con el rector de la protección de la
esfera específica del medio ambiente” (CONSEJO DE ESTADO, 1982, p.7). Lo planteado anteriormente
constituye una medida de carácter preventiva por la contaminación que generan dichos depósitos.
Ley No. 81 de 11 de julio de 1997, Del medio ambiente (en lo adelante Ley No. 81 de 1997),
la cual refrenda en su artículo 3 el principio constitucional sobre la obligación del Estado y los
ciudadanos de proteger el medio ambiente.14 El cuerpo legal con relación a la definición de
los residuos sólidos comunes es omiso. En su articulado solo conceptualiza a los residuos
peligrosos y a los radiactivos en el artículo 8 inciso f. La norma dedica el Capítulo IV artículos
153, 154 y 155 a estas clasificaciones y establece como requisito previo la autorización del
Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente para su importación (ASAMBLEA
NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997).
14
Ver artículo 27 de la Constitución de la República de Cuba (Asamblea Nacional del Poder Popular, 2003)
42
La Ley No. 81 de 1997 reconoce en los artículos 4 y 5 los principios en que se basan las
acciones ambientales, ellos son el desarrollo sostenible, participación ciudadana, prevención,
precaución, cooperación tanto a nivel internacional como nacional y la responsabilidad (ASAMBLEA
NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997). Aunque la norma no establece principios jurídicos
específicos para los residuos sólidos comunes, se considera que todos los postulados contenidos en
los artículos anteriores informan también el tratamiento jurídico de los mismos, como subsistema
del ordenamiento ambiental.
La ley en análisis regula, en el Título Segundo del Tercer Capítulo en el artículo 13, la función
de los Organismos de la Administración Central del Estado de “velar por el aprovechamiento,
movimiento, tratamiento y disposición final de los residuos sólidos comunes generados en los
procesos productivos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 9). En el artículo 108
estipula el “deber de todas las personas naturales y jurídicas de utilizar prácticas correctas en la
gestión de los residuos domésticos, industriales, agrícolas y hospitalarios para evitar la
contaminación de los suelos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 30).
El artículo 147 de la Ley No. 81 de 1997 establece la “prohibición de emitir, descargar
sustancias y producir factores físicos que puedan afectar la salud humana” (ASAMBLEA NACIONAL DEL
PODER POPULAR, 1997, p. 39). El artículo 149 dispone la “facultad del Ministerio de Salud Pública para
el desarrollo de acciones de verificación de la prestación de los servicios relativos a la recogida de
residuos sólidos y su disposición final en vertederos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR,
1997, p. 39). Esta facultad regulada en la norma marco del medio ambiente en Cuba reafirma lo
estipulado en la Ley No. 41 de 1983 y el Decreto-Ley No. 54 de 1982 sobre la función del ministerio de
dictar medidas preventivas sobre la gestión de los residuos sólidos comunes.
La Ley No. 81 de 1997, en el Título IVX sobre la protección del medio ambiente en el
desarrollo de las actividades laborales, materializa también al principio de prevención para los
residuos sólidos comunes. Establece en su artículo 161 inciso c: “evitar la acumulación de residuos
que constituyen un riesgo para la salud, efectuando la limpieza y desinfección periódica
pertinentes” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 42).
Decreto-Ley No. 200 de 22 de diciembre de 1999, de las Contravenciones en Materia de
Medio Ambiente (en lo adelante Decreto-Ley No. 200 de 1999), regula en el artículo 9 las
infracciones respecto a las zonas costeras. En relación a los residuos el apartado h establece
como contravención el vertimiento de residuos de cualquier naturaleza sin contar con una
autorización correspondiente. A pesar de ello, no regula contravenciones en materia de
residuos sólidos comunes, a diferencia de los peligrosos que se regulan en el artículo 14
(CONSEJO DE ESTADO, 1999).
Resíduos Sólidos Urbanos - 43
Decreto-Ley No. 212 de 8 de agosto de 2000, Gestión de la Zona Costera (en lo adelante
Decreto-Ley No. 212 de 2000) tiene como objetivo, según el artículo 1, “establecer las
disposiciones para la delimitación, la protección y el uso sostenible de la zona costera y su
zona de protección, conforme a los principios del manejo integrado de la zona costera”
(CONSEJO DE ESTADO, 2000, p. 1). En cuanto a los residuos sólidos comunes el cuerpo legal en
el artículo 16, inciso g, prohíbe “la disposición final de los desechos sólidos y líquidos
provenientes de cualquier actividad, cuando no cumplan con las normas de vertimiento
establecidas” (CONSEJO DE ESTADO, 2000, p. 4). A pesar que el Decreto-Ley No. 212 de 2000
no tiene como objeto de regulación a los residuos sólidos comunes, en el precepto citado se
evidencia el principio de prevención. Lo anterior se basa en que la norma jurídica prohíbe
disponer finalmente a los residuos en las zonas costeras para evitar la contaminación que
causan los mismos al medio ambiente.
Decreto No. 272 de 20 de febrero de 2001, De las Contravenciones en Materia de Ordenamiento
Territorial y Urbanismo en el artículo 18 regula las infracciones referentes a la limpieza pública. En
correspondencia con estas estipulaciones establece un conjunto de multas y obligaciones para las
personas naturales y jurídicas que las quebranten. Algunas de las trasgresiones son “la afectación
de los depósitos colectivos destinados a la recogida de los residuos domiciliarios y el
incumplimiento de las normas dictadas por la autoridad competente sobre extracción, transporte
y descarga de los mismos” (CONSEJO DE MINISTROS, 2001, p. 6). De igual forma regula, en el
artículo 18, como otra infracción, “arrojar en los depósitos destinados a la recogida de los residuos
domiciliarios, escombros, maderas y objetos inapropiados a tal servicio urbano” (CONSEJO DE
MINISTROS, 2001, p. 7).
En el país existen tres Normas Cubanas (en lo adelante NC), la 133, 134 y 135 que establecen
los requisitos higiénicos sanitarios y ambientales en cada fase de gestión de los residuos sólidos
comunes. Estas normas adoptan la gestión de los mismos con un enfoque post-consumo, es decir,
su gestión se dirige al momento en que ya los residuos sólidos comunes adquirieron ese carácter y
no a la generación de productos que luego se convierten en los mismos, por lo que no incluye dentro
de sus fases a la generación. Las etapas establecidas por las normas son el almacenamiento, la
recolección, la transportación, el tratamiento y la disposición final.
NC 133:2002 Residuos Sólidos Urbanos. Almacenamiento, Recolección y Transportación.
Requisitos Higiénicos Sanitarios y Ambientales, dispone que “los residuos sólidos comunes
que se recolectan en carros abiertos deben ser cubiertos por una lona o papel encerado, para
evitar su derrame durante el traslado al sitio de disposición final” (OFICINA NACIONAL DE
NORMALIZACIÓN, N.D.).
44
Los principios jurídicos para la conformación del régimen legal de los RS comunes en Cuba
CONCLUSIONES
El tratamiento político de los residuos sólidos comunes en Cuba se basa en los principios que
sustentan la política y gestión ambiental, además evidencia el postulado de minimización en
la generación.
Los principios jurídicos para la conformación del régimen legal de los residuos sólidos
comunes en Cuba son los estructurales como la globalidad, subsidiariedad, horizontalidad,
desarrollo sostenible, responsabilidad y solidaridad; los funcionales o generales son la
prevención, precaución o cautela, quien contamina paga, corrección en la fuente y
participación ciudadana. Se incluyen los postulados particulares derivados de los funcionales
o generales como suficiencia, proximidad, tratamiento y minimización en la generación y el
principio particular original de jerarquización de los objetivos.
RECOMENDACIONES
En el orden académico:
PRIMERA: El empleo de la presente investigación como material de consulta en la asignatura
Derecho Ambiental de la carrera de Licenciatura en Derecho.
SEGUNDA: La utilización de la presente investigación como material bibliográfico para
posteriores investigaciones que se realicen en cuanto al tema de los residuos sólidos comunes.
TERCERA: Fomentar el desarrollo de investigaciones jurídicas en relación con el tema objeto
de investigación que conlleven a la conformación del régimen legal de los residuos sólidos
comunes en Cuba.
En el orden legislativo:
A la comisión de Asuntos jurídicos y constitucionales de la Asamblea Nacional del Poder Popular:
PRIMERA: La promulgación de una Ley que regule los principios jurídicos de los residuos sólidos
comunes a partir de los determinados en la investigación.
Resíduos Sólidos Urbanos - 49
REFERENCIAS
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Resíduos Sólidos Urbanos - 51
Capítulo 3
Ana Marta Ribeiro Machado15; Liane Biehl Printes16; Paula Adriana da Silva17; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira 18; Maria Zanin19
INTRODUÇÃO
15
Doutora em Ciências (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (USP). Química na Secretaria Geral de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade (SGAS) da UFSCar, chefe do Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR). E-mail: anamrm@ufscar.br
16 Doutora em Biologia (Ecotoxicologia Aquática) pela University of Reading, Inglaterra. Pós-doutorado no Centro de Recursos Hídricos
e Ecologia Aplicada (CRHEA) da Universidade de São Paulo. Bióloga na Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS)
da UFSCar, chefe do Departamento de Apoio à Educação Ambiental (DeAEA). E-mail: liane@ufscar.br
17 Mestre em Ciências (Enfermagem Psiquiátrica) na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) pela Universidade
de São Paulo. Técnica em química no Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR) da Secretaria Geral de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade (SGAS) da UFSCar. E-mail: paulasilva@ufscar.br
18 Doutor em Engenharia Civil (Hidráulica e Saneamento) pela USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana
incluindo uma bolsa de iniciação científica que resultou, em 1992, no primeiro levantamento dos
resíduos gerados na UFSCar e na proposição de um programa de coleta seletiva. Em março de 1994,
a CICE deu origem ao Programa de Conservação de Energia e Controle de Resíduos (PCE), ligado à
recém-criada Coordenadoria Especial do Meio Ambiente (CEMA/UFSCar). Em anos posteriores,
tanto o PCE quanto a CEMA evoluíram, configurando atualmente o Departamento de Gestão de
Resíduos (DeGR) e a Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS). Com intuito
de colaborar para outras experiências, este texto descreverá brevemente a trajetória de
aproximadamente 25 anos de atividades voltadas ao gerenciamento de resíduos perigosos e coleta
seletiva de materiais recicláveis na UFSCar.
O presente trabalho teve como principal objetivo descrever e comentar, em termos de
evolução temporal e de estado atual, a experiência da UFSCar na elaboração, implantação e
avaliação de ações voltadas para a gestão dos resíduos sólidos gerados no meio universitário.
MÉTODOS
O método adotado para desenvolver este trabalho foi a pesquisa documental, realizada na
própria UFSCar, a partir de trabalhos acadêmicos e relatórios administrativos abordando a temática
da gestão de resíduos sólidos. Deve-se destacar também a experiência pessoal dos autores, que
foram atuantes tanto na etapa inicial da gestão (Maria Zanin e Bernardo Teixeira), quanto em
momentos mais recentes e atualmente (Ana Marta Ribeiro Machado e Liane Printes).
RESULTADOS
Estrutura Física
Estrutura Organizacional
Em 2000, foi deliberado na UFSCar a Central de Resíduos, vinculada à CEMA, tendo como
compromisso contribuir para a gestão dos resíduos ali gerados. Isso foi possível em decorrência de
um edital específico para auxílio à infraestrutura de pesquisa, lançado pela FAPESP, possibilitando
a implementação e/ou adequando as universidades e instituições de pesquisa para o tratamento e
gerenciamento dos diversos resíduos perigosos gerados em atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Nesse mesmo ano, a Central de Resíduos iniciou os trabalhos de levantamento sobre os
resíduos perigosos e a montagem do laboratório para o seu tratamento, no entanto, após o
falecimento do pesquisador responsável, os trabalhos foram interrompidos por falta de
coordenação e a Unidade ficou inativa no período de 2003 a 2004.
Resíduos Sólidos Urbanos - 59
No ano de 2005 a Central de Resíduos passou a ser nomeada Unidade de Gestão de Resíduos
(UGR), criada com o grande desafio e a difícil missão de propor e implementar um Programa de
Gerenciamento de Resíduos Perigosos (PGRP) na UFSCar, a fim de sistematizar e operacionalizar os
procedimentos para a gestão segura dos resíduos, permitindo o monitoramento e a adequação do
manejo ambiental dos materiais utilizados e redução dos resíduos gerados na UFSCar com
consequente prevenção da poluição ambiental. A maior dificuldade encontrada nesse processo não
está relacionada à grande quantidade de resíduo gerada, mas sim à sua enorme diversidade, bem
como sua periculosidade e toxicidade, que muitas vezes não é inteiramente conhecida, para o
ambiente e para a saúde das pessoas que de alguma forma sejam expostas a eles.
Frente aos avanços obtidos, com a implementação do PGRP, de maneira mais específica,
pode-se destacar ações de redução do uso de reagentes e a substituição por produtos menos
agressivos ao ambiente que permitem gerar resíduos de menor impacto.
Dentro desse contexto, a sua implementação foi iniciada com a elaboração de uma proposta
de programa permanente para gestão de materiais residuais perigosos, adequado às características
da UFSCar, estabelecendo objetivos, estratégias, diretrizes e metas para propiciar a gestão segura,
racional e ambientalmente correta na UFSCar (MACHADO et al., 2006). O resultado dessa ação é um
modelo de Gestão Ambiental que permite controlar os impactos ambientais com a destinação final
adequada dos resíduos perigosos e uma importante adequação à legislação ambiental. Para
elaborar esta proposta foi necessário um intercâmbio com outras instituições de pesquisa e ensino
superior (Universidade de São Paulo – USP, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA), que possuem um programa de gestão
de resíduos, com intuito de troca de informações e experiências. Esse intercâmbio possibilitou
estabelecer e coletar dados para referenciais relacionados à operacionalização do programa de
gestão e de boas práticas de sustentabilidade ambiental em campus universitário.
Ainda no âmbito do programa de gestão, foi proposta uma sistematização de
procedimentos, sendo elaborada uma norma técnica para orientar a comunidade quanto aos
procedimentos para a segregação, identificação, coleta e transporte de resíduos químicos sólidos e
líquidos, no caso a “NR 01/UGR – Normas de Procedimentos para Segregação, Identificação,
Acondicionamento e Coleta de Resíduos Químicos” (MACHADO; SALVADOR, 2005). A aplicação
dessa norma visa a aumentar a eficácia das etapas iniciais no sistema de gestão de resíduos
químicos. Os tópicos foram fundamentados na NBR 10004 da ABNT (ABNT, 2004) e na resolução
CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005), nos procedimentos de segurança para manipulação de resíduos
e na capacidade de tratamento destes pela UGR (MACHADO; SALVADOR, 2005).
60
A norma é uma ferramenta importante no gerenciamento dos resíduos e a sua utilização visa
a sistematizar e padronizar os procedimentos. Dessa forma, foi realizado um criterioso trabalho
durante a implementação, tendo sempre em vista que para a norma se tornar eficaz era necessária
uma mudança de atitude do gerador. Assim, algumas ações foram implementadas nas fontes
geradoras, como a minimização ou mesmo eliminação da geração de resíduos. Para tanto, alguns
procedimentos foram adotados: a substituição de compostos perigosos e/ou mudança no processo;
implantação procedimentos que possibilitassem a reutilização, recuperação e tratamento in loco, e
redução na quantidade e frequência do uso de substâncias e materiais agressivos ao meio ambiente.
A identificação e a caracterização dos resíduos são etapas muito importantes, nas quais deve
ser dada especial atenção às orientações da norma, de modo que todas as informações relevantes
sejam registradas e padronizadas para melhor execução das atividades subsequentes. Assim, foi
desenvolvido um rótulo padrão, no qual as características dos resíduos são detalhadas.
Foram necessárias algumas adequações à ampliação na infraestrutura da UGR para realizar
o tratamento de resíduos químicos. Para tal, foram adquiridos materiais e equipamentos, e
desenvolvidas rotinas de tratamento de resíduos com o propósito de atingir os seguintes objetivos:
tratar, recuperar e reciclar elementos de interesse; estabelecer rotas seguras para o descarte de
resíduos perigosos sólidos e líquidos, e obter efluentes líquidos neutralizados, removendo metais
pesados e demais espécies tóxicas presentes, permitido o descarte sem risco ambiental. Os resíduos
recuperados podem não apenas ser continuamente reutilizados no processo em que foram gerados,
como também há possibilidade de se tornar matéria-prima para novos processos (AMARAL et al.,
2001). Com esta finalidade foi criado, em 2006, um banco de reagentes que viabiliza o
reaproveitamento e possibilita o intercâmbio interno dos reagentes vencidos ou sem utilidade e dos
reagentes recuperados através do tratamento de resíduos.
A primeira ação da UGR, em 2005, foi a realização de um estudo diagnóstico dos resíduos, a
partir do inventário do ativo e passivo. Dessa intervenção emergiram informações sobre a natureza
(características físicas e químicas) e efeitos ambientais causados pelos resíduos gerados e estocados
no campus São Carlos. Em 2010, o mesmo inventário foi realizado no campus Araras, que indicou
uma grande variedade de resíduos com diversas classes de riscos, necessitando de destinação
correta, até como forma de prevenção da exposição de seus geradores ao produto residual
proveniente das pesquisas geradas (SAQUETO, 2010).
Resíduos Sólidos Urbanos - 61
gerados. Todos os projetos que ofereciam algum tipo de risco para saúde pública e meio ambiente
deveriam ser avaliados pela CEA, sendo analisados quanto aos aspectos éticos dos procedimentos
envolvendo substâncias químicas potencialmente geradoras de resíduos perigosos, tomando como
referência alguns instrumentos legais vigentes e considerando os impactos causados pelas
atividades no meio ambiente e a saúde humana.
Foram identificados, no inventário de resíduos perigosos, os radioisótopos presentes nos
rejeitos e foram mapeados os laboratórios que manipulam materiais radioativos. Em sua maioria,
os rejeitos gerados nas pesquisas da universidade apresentam baixa atividade e curta meia-vida. Os
rejeitos com essas características são armazenados, aguardando o tempo de decaimento, e os
rejeitos radioativos com tempo de meia-vida médio e longo são encaminhados para
armazenamento no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/SP (IPEN). Também foi possível
identificar resíduos radioativos sólidos na forma de carcaças de animais, seringas contaminadas e
agulhas, vidraria e roupas de laboratório.
Na ocasião da coleta e armazenamento, em 2006, as radiações ionizantes dos materiais
foram medidas com uma Sonda Geiger-Muller. Os rejeitos radioativos ou contaminados com
radionuclídeos apresentaram 4,00 mR/h na medição pulsada (uma fonte de urânio, em quantidade
0,5 kg, indicou medição pulsada 4,00 mR/h, armazenado em caixa de chumbo, há ainda
armazenados neste depósito uma quantidade 45,0 kg de para-raios radioativos de Amerício-241,
acondicionados em tambores metálicos e plásticos, carbono 14 quantidade 186 kg, trítio, iodo 125,
fósforo 32, totalizando 358 kg, todos acondicionados em bombonas plásticas e frascos de vidro).
Uma segunda avaliação quantitativa, com o mesmo equipamento, foi realizada em 2013, as
emissões permaneciam no mesmo patamar anterior, com níveis de radiação dentro limites
aceitáveis. Apesar do reduzido universo de radioisótopos estocados e os níveis de radiação
detectados, devido ao grau de risco dessas substâncias e os limites toleráveis à exposição humana
diária, torna-se evidente a necessidade de destinação final adequada, no entanto, devido à falta de
recursos da universidade todos os rejeitos radioativos gerados, até o ano de 2006, permanecem
estocados no depósito do UGR/DeGR.
Em 2009, foi desenvolvido um sistema de controle informatizado dos reagentes químicos, por
meio do software de gestão integrado entre esses laboratórios (CARVALHO et al., 2010). O sistema foi
implantado em diversos laboratórios da UFSCar, que receberam treinamento no uso do software. Essa
ferramenta permitiu a criação de redes de doação e troca de regentes químicos através do módulo de
controle de estoque. No período que transcorreu entre 2009 e 2013 foram realizados a instalação do
Resíduos Sólidos Urbanos - 63
A atuação do DeGR busca a gestão eficiente dos resíduos gerados na Universidade e tendo como
eixo central um trabalho pleno em conjunto com os departamentos, laboratórios e seus responsáveis,
orientando-os para a necessidade do desenvolvimento de pesquisas e rotinas de laboratórios voltados
para minimização, tratamento, recuperação e reutilização dos resíduos na fonte geradora.
Dentre as ações que possibilitam a redução do volume de resíduos aquosos contendo metais
pesados está o desenvolvimento de caixas de evaporação, construídas com baixo custo e materiais
comerciais, que utilizam a radiação solar como matriz energética, apresentadas na figura 5 – fotos
superiores. Os resíduos inorgânicos são neutralizados, filtrados e dispostos nas caixas para a
remoção da água restando, então, uma pasta inorgânica que é destina a aterros industriais
especializados. A redução do peso chega a 75% do resíduo inicial.
A aprovação do projeto “Recuperação de águas residuárias por destilação passiva”,
como componente do edital de apoio a atividades de extensão, MEC-PROEXT-2014,
possibilitou o desenvolvimento e a construção de equipamentos para destilação solar passiva
(Figura 5 – fotos inferiores).
Um sistema de destilador solar passivo, com o uso de fontes de energias renováveis, é aplicado
para purificação de águas residuais, separação de misturas químicas, redução na quantidade de
efluentes potencialmente perigosos e pré-purificação das diversas misturas residuais geradas nas
atividades da UFSCar. Esse processo alia eficiência e baixo custo e permite a reciclagem e o reuso da
água e solventes orgânicos e cria oportunidade para combinar redução de custos, o uso racional de
recursos naturais, a conservação da água e a melhoria do processo de gerenciamento.
Resíduos Sólidos Urbanos - 65
Figura 5 – Equipamentos que utilizam energia solar para purificação de solventes por evaporação (fotos superiores) e
por destilação passiva (fotos inferiores).
COLETA SELETIVA
No ano seguinte, com a aprovação da atividade de extensão, teve início uma série de ações
que serviram de base para o estabelecimento do programa de coleta seletiva que hoje vigora na
Instituição. Entre as ações realizadas, podemos destacar a elaboração de novos procedimentos para
a prática de coleta seletiva na Moradia Estudantil. Para tal, houve a alocação de dois Pontos de
Entrega Voluntária (PEVs), com o objetivo de receber os recicláveis dos residentes (Figura 7).
Figura 7 – Ponto de Entrega Voluntária (PEV) implantado na Área Moradia Estudantil da UFSCar em 2008.
Figura 8 – Logo de divulgação do Evento Comemorativo aos 15 anos da Coleta Seletiva na UFSCar.
ATIVIDADES COMEMORATIVAS:
26/11 – Anfiteatro “Bento
Fonte: Programa Prado”: Ambiental (PEAm), 2009.
de Educação
17:30 h: Mesa de Abertura seguida de confraternização.
26/11 – Teatro “Florestan Fernandes”:
19 h: Orquestra Experimental da UFSCar.
26 a 28/11 – Área externa da BCo:
9 às 17 h Feira de exposição e comercialização de produtos
Resíduos Sólidos Urbanos - 69
Outro avanço importante no decorrer do ano de 2010 foi a redação da versão final da Minuta
da Portaria de Instituição do Programa de Coleta Seletiva Solidária na UFSCar e abertura do processo
para o encaminhamento da mesma. Foi também realizado o primeiro encontro formativo com as
funcionárias da empresa de limpeza sobre a coleta seletiva.
Em 2011 houve a continuidade do projeto de extensão de 2010, com a especificação dos
locais onde seriam afixados os primeiros 25 contentores adquiridos. Essa atividade foi realizada
novamente com o apoio de dois bolsistas ProEx e em conjunto com a cooperativa de catadores de
forma a facilitar a rota e o acesso dos caminhões. Esse foi também o ano em que foi ratificada a
Portaria GR 113 (UFSCar, 2011), que estabeleceu o Programa Permanente de Gestão e
Gerenciamento compartilhado de Resíduos Sólidos e de Coleta Seletiva Solidária na Universidade
Federal de São Carlos (Programa). O Programa definiu a constituição de um Conselho Gestor,
vinculado ao Conselho da CEMA, com representantes dos três campi que compunham a UFSCar
naquele momento e a constituição das comissões locais. Ocorreram as primeiras reuniões do
conselho gestor e das comissões e iniciou-se o processo de implantação da coleta seletiva nos
demais campi. Na UFSCar São Carlos foram adquiridos cestos coletores de recicláveis distribuídos
em diversos locais no campus: prédios de salas de aula, departamentos, cantinas, etc. Ao longo
desse ano, realizou-se um extenso trabalho de divulgação e sensibilização sobre o Programa. Entre
as atividades estavam: oficinas, dinâmicas, afixação de banners e cartazes e divulgação via rede
informativa interna.
Resíduos Sólidos Urbanos - 71
número de pontos de coleta, assim como trabalhar com a cooperativa as necessidades para a coleta
seletiva. Outras dificuldades dizem respeito às questões administrativas, como a necessidade de
maior aporte de recursos que permita manutenção e renovação das estruturas e ampliação da
equipe de trabalho. Pode ser citada também a dificuldade em relação ao entendimento por parte
dos diversos setores da Instituição sobre o papel e a importância deste Programa, que nem sempre
é totalmente compreendido.
Resíduos Eletrônicos
Dentro desta seção de coleta seletiva de resíduos, vale a pena mencionar o convênio firmado
pela UFSCar, através de Termo de Cooperação Institucional, desde setembro de 2011, renovado em
2016 por mais cinco anos, e a Instituição “Nosso Lar”. Esta Instituição, juntamente com outras entidades
de São Carlos, desenvolve o Projeto de Reciclagem Tecnológica (RECIC@TESC)20. Este projeto recebe,
readéqua e reutiliza equipamentos de informática e também doa equipamentos em bom estado de
funcionamento para outras instituições sociais da cidade, apoiando assim a Inclusão Digital. Para os
equipamentos que não têm recuperação, o projeto faz o descarte ambientalmente adequado. Pelo
convênio, são doados ao RECICL@TESC equipamentos eletrônicos e de informática de propriedade da
UFSCar e que sejam por ela considerados inservíveis. Por este projeto, a UFSCar também recebe e
encaminha resíduos eletrônicos trazidos pela comunidade. Constitui uma forma de garantir um destino
adequado para esses materiais e orientar a comunidade quanto aos riscos associados a este tipo de
resíduo. É ressaltada a questão da necessidade da redução da geração, a importância da reutilização e
da atenção quanto ao correto encaminhamento dos eletrônicos para a destinação final.
20
Projeto RECICL@TESC. Disponível em:
<http://www.nossolarsaocarlos.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=9>.
Acesso em: 20 fev. 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 73
Resíduos Perigosos
Coleta Seletiva
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos anos da experiência em gestão de resíduos acumulada pela UFSCar, pode-se
dizer que houve grande crescimento tanto da estrutura física quanto na formulação de políticas e
programas específicos. Ainda há bastante que caminhar no sentido de aprimorar o sistema de
gestão, aumentando a sua abrangência e alcance, dado a complexidade de uma universidade
multicampi; além da própria complexidade dos aspectos envolvidos. Contudo, a trajetória de
comprometimento da Instituição com a questão dos resíduos e, por consequência, a cultura que
vem sendo estabelecida, apontam no sentido de que será possível vencer os contínuos e novos
desafios que se farão presentes na caminhada.
REFERÊNCIAS
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parques de armazenamento com tanques estacionários. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
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água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento
de efluentes, e dá outras providências. Data da legislação: 17/03/2005. Brasília: DOU, 2005.
76
______. Resolução nº 358 – Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá
outras providências. Data da legislação: 29/04/2005. Brasília: DOU, 2005.
______. Resolução nº 430 – Dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a
Resolução no 357, de 17 de março de 2005. Data da legislação: 13/05/2011. Brasília: DOU, 2011.
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físicos, químicos ou biológicos para o controle de organismos ou contaminantes em corpos hídricos superficiais e dá
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Resíduos Sólidos Urbanos - 77
Capítulo 4
INTRODUÇÃO
O controle social é uma forma de garantir que o poder de decisão será dividido entre Estado
e sociedade, constituindo-se em um instrumento para manutenção da democracia e da cidadania,
além de fundamental ao processo de implementação de políticas públicas (PÓLIS, 2008). Esse
conceito é abordado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos24 (PNRS), definido como “[...]
conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação
nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos
resíduos sólidos” (BRASIL, 2010). A participação da sociedade nesses processos é fundamental para
que as necessidades prioritárias da população sejam de fato atendidas pelas políticas, de maneira
mais eficiente e na perspectiva de democratização da gestão pública (PÓLIS, 2008).
No Brasil, o direito à participação dos cidadãos no processo de elaboração de políticas
públicas é garantido pela Constituição de 1988, assim como por leis específicas, que garantem a
existência e manutenção de órgãos como conselhos de políticas públicas no âmbito do Poder
Executivo (federal, estadual e municipal). O controle social pode ser efetivado desde o momento de
elaboração de políticas públicas, até em todas as fases de sua implementação, incluindo fiscalização,
monitoramento e aplicação de recursos financeiros (PÓLIS, 2008).
Considerando tal demanda de acompanhamento, o contexto de gestão de resíduos sólidos
também passou a se associar à esfera de questões sociais e, portanto, a encontrar
representatividade em ações de ativismo social, em especial a partir da descentralização político-
21
Engenheira ambiental formada pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), e mestra em Ciência, Tecnologia e Sociedade
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail: vsantos.carol@gmail.com
22 Doutora em Física pela Universidade de São Paulo. Docente Sênior da UFSCar, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência,
administrativa favorecida pela Constituição de 1988 em diversas áreas (SANTOS, 2015). Um dos
reflexos de tais ações foi a criação, por todo o país, de fóruns relacionados aos resíduos sólidos,
surgidos a partir do Fórum Nacional Lixo e Cidadania, criado em 1998 sob a liderança do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF25). Esses fóruns buscaram consolidar estratégias para
erradicar o trabalho infantil em atividades de resíduos sólidos, erradicar e recuperar lixões e incluir
socialmente catadores de materiais recicláveis (DIAS, 2009).
Os fóruns, segundo França Filho (2007),
também são espaços de reunião de atores, mas numa dimensão mais ampla, pois supõem,
também, a participação de representantes de instituições públicas. Ao mesmo tempo em
que reivindicam sua autonomia enquanto espaço de atores da sociedade civil, os fóruns se
abrem para uma relação de interdependência em relação aos poderes públicos. (FRANÇA
FILHO, 2007, p. 169).
25
Do inglês “United Nations Children’s Fund”.
Resíduos Sólidos Urbanos - 79
OBJETIVOS
MÉTODO
O método adotado para elaboração deste capítulo foi a pesquisa documental, realizada em
atas de reuniões, listas de presença, regimentos internos, artigos e relatórios. Além disso, foi
realizada revisão bibliográfica na temática de controle social de políticas públicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após uma breve descrição sobre a cidade de São Carlos, os resultados serão apresentados e
discutidos em dois tópicos: a) Fórum Comunitário do Lixo, e b) Fórum Comunitário de Resíduos
Sólidos de São Carlos.
O município de São Carlos se situa na região central do Estado de São Paulo e tem população
estimada para 2017 de 246.088 habitantes (IBGE, 2017). Caracteriza-se por uma origem agrícola
baseada na economia cafeeira, que impulsionou um desenvolvimento industrial iniciado na década
de 1930. A partir de 1950, duas grandes indústrias foram instaladas no município: a fabricante de
refrigeradores Clímax, na década de 1950, e a Companhia Brasileira de Tratores (CBT) no ano de
1961, que foram durante muitos anos as maiores empregadoras da cidade. Graças ao perfil industrial
do município e às influências de políticas locais, duas universidades públicas foram inauguradas
neste período: em 1953, a Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP), e em 1968, a
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) (CAMBIAGUI, 2012).
Com a crise do modelo nacional desenvolvimentista na década de 1980 somada à crise do
governo federal neoliberal, eleito em dezembro de 1990, iniciou-se um processo de falência das
grandes indústrias empregadoras no Brasil de uma maneira geral. Em São Carlos, com o fechamento
da CBT em 1995 e a venda da Clímax em 1997, segundo Cambiagui (2012), houve uma redução de
cerca de 10 mil postos de trabalho na cidade, o que provocou uma grande crise de emprego no
município e, consequentemente, o avanço no dessalariamento e de formas precárias de ocupação.
80
Nas esferas estadual e federal, o final da década de 1990 não apresentava diretrizes legais
sólidas no âmbito dos resíduos sólidos, já que a Política Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de
São Paulo foi aprovada apenas em 2006, e a Política Nacional de Saneamento Básico e a PNRS datam
de 2007 e 2010, respectivamente. Em caráter nacional, até 2010 existiam apenas normas esparsas,
como as do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Também é necessário destacar a
ausência de legislação relativa à atividade de catação de resíduos recicláveis (BRASIL, 2012).
Nesse cenário, apenas um terço dos municípios brasileiros destinava seus resíduos para
aterros sanitários. Na Região Sudeste, onde se localiza o município de São Carlos, 18,4% dos
municípios faziam uso de lixões, e 30% declararam a presença de catadores nas unidades de destino
final dos resíduos (BRASIL, 2002).
Em São Carlos, foi aprovada em 1997 lei que previa um programa de coleta seletiva e
reciclagem de resíduos (SÃO CARLOS, 1997), mas no que tange ao papel do Poder Executivo, ainda
não haviam sido determinadas diretrizes e estratégias para seu cumprimento. Nesse contexto, foi
criado, em 5 de junho de 1999, o Fórum Comunitário do Lixo, conhecido informalmente como
Resíduos Sólidos Urbanos - 81
“Fórum do Lixo” (APASC, [2005]). Ele se constitui como espaço de discussão de atores da sociedade
civil em defesa de um projeto de gestão de resíduos sólidos que, sob responsabilidade do Poder
Executivo Municipal, contasse com ampla participação da comunidade, baseado em um diagnóstico
da situação existente para propor soluções adequadas do ponto de vista técnico e social.
Em resposta à ineficiência do poder público no que tange a essa questão, o Fórum do Lixo
encadeou ações para favorecer a redução na geração, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos,
com foco em processos educativos como estratégia de sensibilização. Outro aspecto considerado
relevante pelo coletivo foi a inclusão social de segmentos da sociedade que, formal ou
informalmente, já tivessem atividades associadas à área (catadores, sucateiros e outros),
considerando inadmissível que catadores se encontrassem em condições precárias junto ao aterro
de resíduos sólidos.
O Fórum contou com o apoio e a participação de diversas organizações, incluindo entidades
como: Associação para Proteção Ambiental de São Carlos (APASC), Sociedade Civil Ambiental e
Cultural (BIOKINESIS); Associação de Alunos e ex-Alunos do CRHEA (Centro de Recursos Hídricos e
Estudos Ambientais); e Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC). O Fórum teve como
procedimentos a organização do seminário “Construindo propostas de coleta seletiva em São Carlos
e região”, em 2001, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável,
Ciência e Tecnologia (SMDSCT), o que resultou na organização de uma comissão responsável por
formular as diretrizes de implantação do programa de coleta seletiva no município, bem como foi
organizado um seminário para discutir a proposta da PNRS (APASC, [2005]).
A mudança de gestão municipal em 2001, associada à reestruturação da Prefeitura Municipal de
São Carlos (PMSC) e à consequente abertura para diálogo com a sociedade civil, foi um dos motivos que
diminuiu a demanda para manutenção do Fórum, cujos integrantes se reuniram até 2002.
No mesmo ano, foi criado o Programa de Coleta Seletiva, pela SMDSCT, com o apoio do
Programa Futuro Limpo e Programa de Fomento à Economia Solidária (MARTINS; SORBILLE, 2011),
assim como a formação de três cooperativas de catadores (Coopervida, Cooletiva e Ecoativa),
sobretudo a partir de catadores então atuantes no aterro de São Carlos. Foram inicialmente
inseridos 11 catadores no programa de coleta (os quais abandonaram a coleta no aterro) e, em
2003, foram retirados outros 35 trabalhadores, por conta do caráter ilegal da atividade e das
péssimas condições de trabalho ali vigentes (RANCURA, 2005). Tal iniciativa atendeu a demandas
de grupos da sociedade civil organizada atuantes em São Carlos que buscavam um modelo mais
eficiente de gestão ambiental, combinado com a geração de trabalho e renda a partir da inclusão
de catadores. A divulgação do programa foi realizada pela APASC, Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo (USP), e foram distribuídos folhetos explicativos aos
cidadãos sobre os aspectos e a importância do projeto (SÃO CARLOS, 2008).
82
Mesmo que o programa tenha sido iniciado em 2002, este foi institucionalizado apenas em
2005, quando foi firmado convênio para formalizar a parceria entre a PMSC e as três cooperativas
para execução da coleta seletiva, manuseio, triagem, prensagem, recuperação e comercialização de
materiais recicláveis (MARTINS; SORBILLE, 2011). Além da PMSC, o Ministério Público do Estado de
São Paulo (MPSP) também apoiou o processo de saída desses catadores do aterro, com o
firmamento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2003 pelo MPSP, a PMSC
e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).
A partir dessa descrição, podem-se identificar alguns aspectos que contribuíram para as
atividades do Fórum Comunitário do Lixo no período de 1999 a 2002. A existência de uma entidade
ambientalista (APASC) desde 1977, bem como da Lei municipal nº 11.338/1997, que previa um
programa de coleta seletiva e reciclagem de resíduos (SÃO CARLOS, 1997), foram dois aspectos
importantes e motivadores para a criação do Fórum. A presença de trabalhadores vivendo da catação
de resíduos no aterro municipal, sob condições insalubres, e o surgimento de cooperativas populares
no Brasil direcionaram para a proposta de coleta seletiva com inclusão social. A participação de pessoas
vinculadas às entidades ambientais ou da área das ciências ambientais das duas Universidades Públicas
foi também outro aspecto relevante para o êxito na criação e atuação deste Fórum. Por outro lado, com
a abertura para diálogo com a sociedade civil, a partir da mudança da gestão municipal em 2001, por
um governo que incorporou no seu programa grande parte das demandas do Fórum (principalmente
da coleta seletiva com inclusão de catadores em cooperativas), a frequência das reuniões do Fórum
diminuiu, de modo a finalizar suas atividades em 2002.
Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos (2015 até o presente ano de 2017)
aumento gradual da quantidade coletada no município, assim como o aumento gradual no número
de cooperados. O programa de reformulação da coleta, incluindo o processo de unificação das
cooperativas, foi mediado pelo Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES) da PMSC, em
parceria com a INCOOP-UFSCar (posteriormente transformado no Núcleo Multidisciplinar Integrado
de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária – NuMI-EcoSol), tendo ocorrido entre
julho e agosto de 2009. No final desse processo de unificação, que culminou com uma Assembleia
no dia 12 de fevereiro de 2010, a Coopervida se posicionava como a única cooperativa de catadores
do município, e firmou contrato de prestação de serviços com a PMSC. Alguns indicadores não
tardaram a caracterizar uma melhoria geral da situação da cooperativa: foi observado aumento nas
quantidades de material coletado e vendido, assim como na receita gerada e na retirada financeira
dos cooperados, já no primeiro semestre de 2010 (MARTINS; SORBILLE, 2011).
Mais de uma década após a atuação do Fórum do Lixo, e cinco anos após o processo de
unificação das cooperativas, no início de 2015, o cenário de políticas públicas para gestão de resíduos
sólidos era bastante diferente: a PNRS, sancionada em 2010, trouxe novas perspectivas para a gestão e
gerenciamento, além de conceitos como “logística reversa” e “responsabilidade compartilhada”.
Também se posicionou de maneira bastante favorável à inclusão de cooperativas e associações de
catadores na cadeia produtiva de recicláveis, assim como impôs a obrigatoriedade de os municípios
elaborarem seus Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e se
comprometerem com a disposição final ambientalmente adequada dos resíduos (BRASIL, 2010).
No entanto, nesse momento, a Coopervida se encontrava em dificuldades pela
indisponibilidade de caminhões para a realização das atividades de coleta na cidade, os quais
deveriam ser disponibilizados pela PMSC de acordo com o contrato (SÃO CARLOS, 2015a). Além
disto, havia uma dívida de R$ 128.500,00 da PMSC com a cooperativa, referente ao período de cinco
meses (outubro/2014 a fevereiro/2015) em que a Coopervida seguiu realizando suas atividades sem
renovação do contrato com a PMSC. Nesse contexto, a cooperativa solicitou o apoio do NuMI-EcoSol
para lidar com tais entraves, e a equipe convocou parceiros da cooperativa e apoiadores da coleta
seletiva municipal para uma reunião em maio do mesmo ano: o DAES, a APASC, a ONG Circus, o
GEISA (Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais), a TEIA – Casa de Criação, a Associação
Veracidade, e representante da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (órgão municipal
então responsável pela Coopervida). Membros de todos os coletivos seguiram se reunindo
periodicamente, consolidando a comissão intitulada “Parceiros da Coopervida”, a qual articulou
ações coletivas para exigir da PMSC o cumprimento das obrigações previstas no contrato e, desta
maneira, viabilizar a coleta seletiva na cidade e a manutenção das atividades da Coopervida.
84
Um dos acontecimentos que marcou esse período foi uma sessão da Tribuna Livre ocorrida em
junho de 2015 na Câmara Municipal de São Carlos, na qual a presidente da cooperativa solicitou o apoio
dos vereadores da cidade e apresentou os problemas entre a Coopervida e a PMSC, discutidos dentro
da comissão dos parceiros, e que afetaram de maneira drástica o funcionamento da cooperativa e,
consequentemente, do programa municipal de coleta seletiva. No mesmo dia deste pronunciamento,
os vereadores aprovaram o Projeto de Lei nº 176 da PMSC, autorizando a abertura de crédito adicional
suplementar para despesas com o pagamento indenizatório referente à contratação de cooperativa de
catadores para a prestação do serviço de coleta seletiva (SÃO CARLOS, 2015b).
A comissão de parceiros, que inicialmente visava a apoiar a Coopervida com questões
emergenciais, reuniu-se periodicamente até agosto de 2015, e passou a visualizar a (re)articulação
de um fórum municipal como estratégia para ampliar a discussão acerca da gestão de resíduos no
município, aproximar mais interessados e discutir possibilidades de soluções de caráter mais
definitivo para a coleta seletiva municipal. A estratégia se baseava historicamente no Fórum do Lixo
(1999 a 2002), cuja atuação foi fundamental em consolidar avanços no cenário de coleta seletiva
municipal com inclusão socioprodutiva de catadores.
Assim, uma comissão determinada no âmbito do coletivo de “Parceiros da Coopervida” reuniu-se
periodicamente de agosto a outubro de 2015, para organizar a estrutura do Fórum Comunitário de
Resíduos Sólidos de São Carlos, São Paulo, que foi lançado em 2 de outubro de 2015, em cerimônia no
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) de São Carlos. Conforme sua carta de princípios
(FCRS, 2015), a natureza do Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos é:
[...] um movimento organizado, constituído por cidadãs e cidadãos, bem como instituições
e entidades públicas ou privadas, que voluntariamente se associam para propor,
acompanhar e fiscalizar as políticas públicas e ações governamentais de gestão de resíduos
sólidos, com prioridade para o contexto municipal.
Reunir pessoas interessadas na busca de soluções para o problema dos resíduos sólidos,
prioritariamente no município de São Carlos.
Articular os diversos agentes envolvidos na questão dos resíduos sólidos seja de qual campo
for: da pesquisa, da aplicação prática da gestão, da educação, da informação, etc.
Propor e incentivar o surgimento de iniciativas que contribuam para minimizar os problemas
gerados pelos resíduos sólidos, a partir do levantamento e diagnóstico de tais problemas.
Divulgar informações sobre questões relativas aos resíduos sólidos, contribuindo para o
esclarecimento de dúvidas, a troca de experiências e a difusão de estudos e iniciativas, locais
ou externas.
Interagir com os diferentes setores da sociedade visando à implantação de iniciativas para a
solução dos problemas dos resíduos sólidos.
Contribuir para a sensibilização dos indivíduos e das instituições com relação à questão dos
resíduos sólidos e seus impactos.
O Fórum visa a consolidar um projeto para a gestão de resíduos sólidos de longo prazo, de forma
a garantir a reorganização da coleta seletiva e o fortalecimento da cooperativa e da gestão de resíduos
sólidos como um todo, em consonância com as Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos.
Dentre as demais entidades participantes no momento de sua criação, em 2015, além das
organizações presentes na comissão “Parceiros da Coopervida”, encontram-se o USP Recicla, a ONG
Veredas, a Reenvolta (Cooperativa de Trabalho de Profissionais da Área Socioambiental), o RAiZ
(Movimento Cidadanista), a AMOR (Associação de Moradores e Amigos dos Jardins), a Secretaria de
Gestão Ambiental e Sustentabilidade da UFSCar (SGAS), além de membros de programas de pós-
graduação da USP-São Carlos e da UFSCar. Um diferencial deste Fórum em relação ao que se
manteve de 1999 a 2002 é a participação oficializada por regimento interno de um membro da
Prefeitura Municipal no Conselho Gestor do Fórum.
A estrutura do Fórum é constituída “fundamentalmente pela articulação entre quatro
segmentos: empreendimentos que trabalham com resíduos sólidos no município; entidades de
assessoria e apoio; gestores públicos; e cidadãs e cidadãos”, de acordo com a carta de princípios
do coletivo.
86
O Fórum Comunitário é composto por três comissões permanentes, sendo elas: Comissão
Gestora; Comissão de Comunicação, Articulação e Mobilização; e Comissão de Apoio à Coleta
Seletiva Solidária e à Coopervida. O Fórum também pode criar Grupos de Trabalhos para atender às
demandas acordadas em suas plenárias. Nesse sentido, foi organizado um Grupo de Estudos,
responsável por compreender as políticas e contratos referentes à gestão de resíduos, nos âmbitos
municipal, estadual e nacional.
A comunicação do coletivo é realizada internamente via e-mail, e foram elaborados um site
(http://forumppresiduos.wixsite.com/forumppresiduos) e uma página do Facebook
(https://www.facebook.com/forumcomunitarioderesiduossanca) para comunicação externa.
Dentre as principais atividades realizadas pelo Fórum até o início de 2017, está o apoio a
questões emergenciais da Coopervida, além da busca pela elaboração de um PMGIRS
representativo e participativo em São Carlos (de acordo com o Decreto nº 194/2016, um membro
do Fórum fará parte do Comitê de Coordenação de elaboração do PMGIRS (SÃO CARLOS, 2016)).
Destaca-se o papel do Fórum no campo de acompanhamento de políticas públicas municipais para
gestão de resíduos, as quais são relacionadas no Quadro 1. De modo geral, o estudo desenvolvido
pelo Fórum mapeou diversas inconsistências e inconformidades na consolidação das referidas leis.
Quadro 1 – Leis Municipais sobre resíduos sólidos em São Carlos, São Paulo.
LEI NATUREZA
Cria o Conselho Municipal do Meio Ambiente (CONDEMA) e dá outras
Lei municipal nº 10.664/1993
providências
Lei municipal nº 11.338/1997 Cria o Programa de Coleta Seletiva e Reciclagem de Lixo em São Carlos
Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo em todas as repartições públicas
Lei municipal nº 12.350/00
do Poder Executivo de São Carlos
Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo em todas as Escolas Públicas
Lei municipal nº 12.464/2000
Municipais de São Carlos
Lei municipal nº 12.465/2000 Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo das Indústrias de São Carlos
Dispõe sobre utilização de resíduos sólidos em ruas, estradas vicinais e como
Lei municipal nº 13.316/04
barreira de erosão de córregos e rios, e dá outras providências
Lei municipal nº 13.457/2004 Altera a redação da lei municipal nº 11.338/1997
Dispõe sobre a Política Municipal de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos
Lei municipal nº 14.480/2008
Sólidos
Dispõe sobre a destinação de resíduos sólidos através da logística reversa
Lei municipal nº 17.412/2015
do Município e dá outras providências
Fonte: Elaborado pelos autores. Informações extraídas do site da Câmara Municipal de São Carlos-SP (SÃO CARLOS, 2017).
Resíduos Sólidos Urbanos - 87
Dentre outras atividades desenvolvidas pelo Fórum durante seu período de atuação até
fevereiro de 2017, estão: a ocupação da Tribuna Livre nas reuniões semanais na Câmara Municipal
dos Vereadores em diferentes ocasiões em defesa da Coopervida, diálogo com a Prefeitura referente
a questões relacionadas à Coopervida e à elaboração do PMGIRS do município, e a organização do
evento “Compromissos para uma cidade mais sustentável, educadora, inclusiva e solidária”, em
momento precedente às eleições municipais (setembro de 2016), para socializar demandas de
coletivos do município com as quais os então candidatos à PMSC deveriam se comprometer.
Semelhantemente ao Fórum Comunitário do Lixo, a trajetória deste novo Fórum
Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos envolve organizações ligadas às questões
ambientais, no entanto, em maior número e diversidade. Novamente, a participação de pessoas
vinculadas às Universidades se faz presente. A diminuição da coleta seletiva e as dificuldades
enfrentadas pela Coopervida com a mudança em 2013 do novo governo municipal eleito que
colocava em risco a coleta seletiva com inclusão de catadores em cooperativas foram aspectos
fomentadores para a criação do Fórum. A participação da cooperativa de catadores, bem como do
NuMI-EcoSol, como também a existência dos meios para comunicação interna e externa são
aspectos relevantes que não existiam no Fórum anterior. Outro aspecto que se diferencia é a
participação oficial de um membro da Prefeitura Municipal no Conselho Gestor.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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de elaboração da política pública de elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PGIRS. 2016.
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Resíduos Sólidos Urbanos - 89
Capítulo 5
Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira 26; Carolina Valente Santos 27; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira 28; Maria Zanin29
INTRODUÇÃO
26 Mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Doutoranda em Psicologia pela
UFSCar. Integrante do Núcleo de Estudos Trabalho, Sociedade e Comunidade (NUESTRA) do Departamento de Psicologia da UFSCar.
E-mail: le.dalpicolo@gmail.com
27 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Ciência, Tecnologia e
Sociedade pela UFSCar. Integrante do Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária
da UFSCar (NuMI-EcoSol/UFSCar/UFSCar). E-mail: vsantos.carol@gmail.com
28 Doutor em Engenharia Civil (Hidráulica e Saneamento) pela USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana
período abordado envolve desde a saída de catadores do extinto lixão municipal, à organização desses
catadores em cooperativas, percurso caracterizado por avanços e desafios vinculados tanto às
legislações e ações estatual e federal sobre os resíduos sólidos e ES quanto ao contexto do município.
Baseado nessas considerações, este trabalho tem como objetivo identificar as principais
potencialidades e dificuldades do trabalho realizado pela Coopervida em sua trajetória no
município. Para maior compreensão do contexto vivenciado por esta cooperativa e como parâmetro
para análise dos resultados, serão abordadas a seguir as características gerais das cooperativas de
catadores no Brasil.
Jacobi e Teixeira (1997) ponderam que, o que antes era considerado uma manifestação da
natureza do indivíduo, que rompeu laços sociais e passou a sobreviver nas ruas, tornou-se
uma forma de subsistência daqueles que atuavam na formalidade e que, atingidos pela crise
do desemprego, foram obrigados a optar por essa forma alternativa de sobrevivência. No
mesmo sentido, Bortoli (2009) argumenta que a atividade de catar alimentos e material
reciclável é comum para desempregados, moradores de rua, bem como àqueles se
tornaram não-empregáveis, deslocando-se para a informalidade. Mesmo com os avanços
institucionais quanto ao estatuto do trabalhador, a estes não são garantidas as condições
mínimas de trabalho e vida, tais como saudade, moradia e alimentação.
Conceição (2003, p. 132) situa que nesse contexto, o catador antes somente tirava do
seu trabalho “[...] o seu sustento e, agora, para tentar livrar-se dos sucateiros, seus
‘sanguessugas’, e da exclusão social que este modelo capitalista lhes impõe, está formando
cooperativas de recicladores de lixo”.
Essas iniciativas de organização dos catadores se vinculam a ações assistenciais da Igreja
Católica, bem como a programas de coleta seletiva municipais articulados pelo poder público e
caracterizando um conjunto de ações que levou ao surgimento das primeiras organizações de
Resíduos Sólidos Urbanos - 93
catadores entre as décadas de 1980 e 1990, nos Estados do Rio Grande do Sul (1986, Associação de
Catadores de Materiais de Porto Alegre), São Paulo (1989, Cooperativa dos Catadores Autônomos
de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis – Coopamare, São Paulo capital) e Minas Gerais (1990,
Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis – Asmare, Belo Horizonte)
(KEMP; CRIVELLARI, 2008). Ao final dos anos 1990, destaca-se a parceria também de Incubadoras
Tecnológicas de Cooperativas Populares, que foram surgindo nas diversas universidades no país.
O poder público, em relação às problemáticas dos RSU, caracteriza-se como um ator
fundamental em relação à proposição de soluções, já que historicamente não investiu no
estabelecimento de uma gestão de resíduos sólidos eficiente, comprometendo a qualidade da
saúde da população e dos recursos naturais (BRASIL, 2001). Pensando em um novo modo de pensar
social e ambientalmente, a coleta seletiva se caracteriza como uma condição essencial para que
haja mudanças, visando à diminuição dos desperdícios, à reutilização e à reciclagem dos resíduos
(LEFF, 2003), além da inclusão social pela participação de catadores e catadoras de materiais
recicláveis nesse processo (GUTIERREZ; ZANIN, 2013). Essa nova racionalidade é importante, já que
ao mesmo tempo que o trabalho dos catadores é explorado por segmentos da cadeia da reciclagem,
eles dependem da atitude da sociedade em destinar corretamente os resíduos que produzem
(BORTOLI, 2009), bem como do estabelecimento de políticas públicas.
Outra dificuldade relacionada à organização dos catadores é a intensa relação que os
municípios estabelecem entre coleta seletiva e práticas sociais e ambientais, não considerando o
trabalho dos catadores como uma prestação de serviços que deve integrar o sistema de limpeza
urbano (BESEN, 2012). Assim, observa-se uma dificuldade no estabelecimento de contratos longos
e contínuos entre as organizações de catadores e o poder público, destacando a dificuldade de
reconhecimento do trabalho de catador como uma ocupação (BRINGHENTI; GÜNTHER, 2011), vista
ainda como atividade marginalizada, mesmo já constando desde 2002 no Código Brasileiro de
Ocupações (CBO30) (IPEA, 2013), reconhecimento este que advém da luta do Movimento Nacional
dos Catadores de Materiais Recicláveis31 (MNCR).
Em relação à ocupação de Catador de Material Reciclável, registrado sob o código 5192-05
na CBO, e prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que proíbe a existência de lixões,
define-se que são catadores as pessoas que “catam, selecionam e vendem materiais recicláveis
30
A CBO tem a função de nomear as atividades encontradas no mercado de trabalho e dispor sobre suas funções
(BRASIL, 2002).
31
O MNCR é um movimento social “[...] que há cerca de 16 anos vem organizando os catadores e catadoras de materiais
recicláveis pelo Brasil afora”, lutando pela “[...] valorização de nossa categoria de catador que é um trabalhador e tem
sua importância”, com o objetivo de “[...] garantir o protagonismo popular de nossa classe, que é oprimida pelas
estruturas do sistema social” (MNCR, 2017). Ele surgiu durante o I Encontro Nacional de Catadores de Papel, que ocorreu
em 1999 e foi fundado em 2001, durante o 1º Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis, junto com
o lançamento da Carta de Brasília, “[...] documento que expressa as necessidades do povo que sobrevive da coleta de
materiais recicláveis” (MNCR, 2018).
94
como papel, papelão e vidro, bem como materiais ferrosos e não ferrosos e outros materiais
reaproveitáveis”, dentre os quais se incluem “Catador de ferro-velho, Catador de papel e papelão,
Catador de sucata, Catador de vasilhame, Enfardador de sucata (cooperativa), Separador de sucata
(cooperativa), Triador de sucata (cooperativa)” (BRASIL, 2002).
Em uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, a participação dos catadores na cadeia
de reciclagem é vista como aliada às resoluções dos problemas relacionados aos RSU, pressupondo
medidas socialmente justas e ambientalmente corretas (JACOBI, 2006). Porém, os assuntos
relacionados aos RSU envolvem a necessidade de adequação de empresas e municípios às normas
e às políticas, além dos interesses dos setores envolvidos nesse mercado, o que esbarra na
necessidade de fortalecimento das cooperativas enquanto alternativas de geração de trabalho e
renda. Ou seja, conforme o investimento em organizações de catadores por setores da cadeia da
reciclagem é imbuído de interesses econômicos (BORTOLI, 2013), os catadores podem ser
considerados descartáveis dessa cadeia, caso as empresas do setor os considerem como um
intermediário que possa diminuir os seus lucros (LAYRARGUES, 2005).
Para Bortoli (2013), pela existência de diversas perspectivas acerca da participação dos
catadores na cadeia produtiva dos materiais recicláveis, é necessário averiguar, junto às
potencialidades políticas e sociais da organização de catadores, também os interesses dos diversos
sujeitos envolvidos no processo. Ao passo que é essencial para a organização econômico-social dos
catadores, o estabelecimento de parcerias (SILVA, 2006), devido às desigualdades em termos de
posses e poder dos diversos setores da cadeia de reciclagem, pode ser caracterizado sob uma ótica
diversa do que seria uma iniciativa de promoção social. Dependendo das características das
parcerias estabelecidas, estas podem influenciar na conquista da autonomia (social, política e
econômica), na garantia dos princípios de autogestão preconizados pela ES, e dificultar o
desenvolvimento e a apropriação do trabalho pelos grupos de catadores (FRANÇA, 2012). As
parcerias são então um fator importante a ser considerado nas análises sobre o desenvolvimento
de cooperativas de catadores.
Buscando superar os entraves encontrados na cadeia de reciclagem, muitas cooperativas de
catadores se encontram alinhadas aos princípios da ES, muito embora tenham sido criadas para
humanizar e formalizar o trabalho no contexto de gestão de resíduos sólidos (GUTIERREZ; ZANIN,
2013). Para Singer (2002, p. 89), sendo a cooperativa “[...] uma oportunidade de resgate da
dignidade humana do catador e desenvolvimento da autoajuda e ajuda mútua, que permite
constituir a comunidade dos catadores”, ela possibilita inúmeras vantagens aos catadores
organizados, envolvendo não somente fatores econômicos, mas também políticos pela
potencialização que propiciam à luta dos catadores por seus direitos ao representá-los enquanto
entidade política e econômica, frente o poder público.
Resíduos Sólidos Urbanos - 95
[...] a organização das atividades de coleta não se reduz à garantia de subsistência, sustento
e reprodução da força de trabalho, pois produz um movimento social que se caracteriza
pela identificação da ocupação, pela sua organização socioeconômica e, principalmente,
política. Através desse movimento são criadas as condições para os catadores discutirem
seu lugar e papel na sociedade, assim como sua luta pela construção de novos projetos
societários. (BORTOLI, 2013, p. 255).
A remuneração pelos serviços urbanos e ambientais, que há muito tempo vêm sendo
realizados gratuitamente pelos catadores, é uma das condições para que esta atividade se
torne mais eficiente em termos de benefícios ambientais (reciclagem, limpeza da cidade,
economia de aterros, dentre outros) e sociais (melhoria das condições de trabalho, aumento
da renda dos associados, consciência ambiental, por exemplo). (LIMA, 2013, p. 12).
[...] por meio do mercado, não é possível oferecer um serviço de qualidade, segundo
critérios de universalidade. Por isso, as bases solidárias que orientam a organização da
coleta seletiva feita pelos catadores oferecem um caminho alternativo que permite conciliar
qualidade, eficiência e economia de recursos. Para isso, o interesse público deve
predominar sobre a contabilidade econômica estrita e de curto prazo que se viabiliza por
lucros imediatos, incluindo na contabilidade ganhos socioambientais em horizontes mais
amplos, como a economia de recursos naturais para gerações futuras. (LIMA, 2013, p. 14).
[...] na gestão dos resíduos sólidos orientada pelo sentido privatista, a figura da
empresa como instituição protagonista e principal determinadora da solução
tecnológica é fortalecida, e o controle social e as soluções aportadas pelas
cooperativas de catadores como coleta seletiva e a reciclagem são prejudicadas
(WIRTH, 2016, p. 123).
A autora também afirma que nos municípios em que iniciativas privatistas são dominantes,
os catadores tendem a continuar invisibilizados, sobrevivendo em lixões ou limitados à condição
de triadores.
Portanto, no contexto de gestão pública de RSU, o princípio de remuneração pelo serviço
prestado pelos catadores aos municípios exige a precificação do serviço e um contrato de prestação
de serviços entre cooperativa e município que contemple os custos envolvidos nas atividades
relacionadas à coleta seletiva (LIMA, 2013). A contratação de cooperativas ou associações de
catadores se sustenta, portanto, no reconhecimento do trabalho desses atores como igualmente
dignos do recebimento de tal remuneração, como ocorre nas contratações de empresas privadas
para a prestação de serviços públicos (JODAS, 2013). Além disso, a existência e manutenção de
contrato administrativo entre prefeituras municipais e organizações de catadores concede garantias
a esses grupos, como maior estabilidade financeira na renda dos trabalhadores e a prevenção de
riscos oriundos das instabilidades do mercado de recicláveis (BESEN, 2012). Também se somam aos
benefícios na perspectiva de construção de um modelo complexo de gerenciamento de resíduos
sólidos, a promoção de assistência e inclusão social, maior valorização e envolvimento da população
no trabalho desenvolvido pelos catadores e maior sensibilidade na percepção ambiental da
realidade pelos catadores (JODAS, 2013).
MÉTODO
A palavra “documentos”, neste caso, deve ser entendida de uma forma ampla, incluindo os
materiais escritos (como, por exemplo, jornais, revistas, diários, obras literárias, científicas
e técnicas, cartas, memorandos, relatórios), as estatísticas [...] e os elementos iconográficos
[...]. (GODOY, 1995, p. 21-22).
Resíduos Sólidos Urbanos - 97
Essa relação estabelecida ao longo do tempo dos autores com a Coopervida, somada à
importância da dimensão temporal na compreensão dos processos sociais e observação do
processo de desenvolvimento de grupos, dentre outros objetos (CELLARD, 2008), justifica a escolha
deste objeto de estudo e do método para atingir os objetivos propostos.
RESULTADOS
Enquanto nas esferas estadual e federal o final da década de 1990 não apresentava bases
legais sólidas em relação aos resíduos sólidos, o município de São Carlos-SP dispunha de lei,
sancionada em 1997, que previa um programa de coleta seletiva e reciclagem de resíduos (SÃO
CARLOS, 1997). Porém, no âmbito do Poder Executivo, ainda não haviam sido determinadas ações
para seu cumprimento.
Em 2002, com a implantação do Programa Futuro Limpo e do Programa de Fomento à
Economia Solidária no município, houve a criação do Programa de Coleta Seletiva pela Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia da PMSC, junto à formação de três cooperativas
de catadores (Coopervida, Cooletiva e Ecoativa), com predominância de catadores oriundos do
aterro de São Carlos (MARTINS; SORBILLE, 2011).
A partir da formação dessas cooperativas, algumas de suas dinâmicas internas passaram a
ser regulamentadas pelas Leis 5.764/1971 (Política Nacional de Cooperativismo) e 12.690/2012 (lei
das cooperativas de trabalho). Como exemplo, elas passaram a ter uma diretoria e conselho fiscal,
cada um deles composto por três membros da cooperativa, eleitos em assembleia, espaço soberano
em que todos os membros da cooperativa têm direito a voto e que é regulamentado pelo estatuto
e regimento interno do empreendimento (FRANCESCHINI, 2011).
Resíduos Sólidos Urbanos - 99
O programa de coleta seletiva foi iniciado com a inserção de 11 catadores que abandonaram
a catação de resíduos no aterro sanitário do município. Em meados de 2003, foi efetuada a retirada
de outros 35 catadores que ainda trabalhavam no aterro, devido ao caráter ilegal da atividade e das
péssimas condições de trabalho ali vigentes (RANCURA, 2005). Essa iniciativa atendeu a demandas
históricas de setores organizados da sociedade que defendiam um modelo mais eficiente de gestão
ambiental, combinado à geração de trabalho e renda associada à inclusão de catadores
(GONÇALVES, 2004; BESEN, 2012; JODAS, 2013).
Além da PMSC, o MPSP também foi ator fundamental em garantir a saída desses catadores
do aterro, com o firmamento de TAC em 2003 celebrado entre o MPSP, a Companhia de Tecnologia
e Saneamento Ambiental (CETESB) e a PMSC, para encerramento das atividades do aterro sanitário
“Fazenda Guaporé” (SÃO PAULO, 2003).
Ainda que o programa tenha se iniciado em 2002, sua institucionalização ocorreu apenas em
2005, com a assinatura de convênio que formalizou a parceria entre a PMSC e as três cooperativas
para execução da coleta seletiva, manuseio, triagem, prensagem, recuperação e comercialização de
resíduos recicláveis (MARTINS; SORBILLE, 2011).
A divulgação do programa ocorreu em parceria entre a Associação para Proteção Ambiental de
São Carlos (APASC), a UFSCar e a Universidade de São Paulo (USP), abrangendo distribuição de folhetos
explicativos e abordagens diretivas aos moradores sobre a importância do projeto (SÃO CARLOS, 2008).
Observamos nesse período o surgimento de uma proposta social, ambiental e econômica
articulada que contribuiu para a demanda de reconhecimento do catador enquanto prestador de
serviços ao município (LIMA, 2013; JODAS, 2013), bem como para melhorar suas condições de
trabalho pela organização em cooperativas e estabelecimento de regras de funcionamento.
Até 2009, as três cooperativas seguiram atuando no município, contanto com o apoio das
universidades e do Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES), vinculado à PMSC, no
estabelecimento do trabalho, na elaboração de processos educativos sobre o trabalho na
cooperativa e a economia solidária, na elaboração de projetos para editais de captação de recursos,
visando à aquisição de maquinários e equipamentos próprios e na conscientização da população
acerca da coleta seletiva.
Em 2009, o quadro geral do Programa de Coleta Seletiva de São Carlos apresentava diversos
desafios a serem superados, como a redução do número de domicílios participantes da coleta, da
quantidade de materiais coletados e do número de cooperados, frente a um aumento da geração de
resíduos no município. Houve também uma queda acentuada na remuneração dos trabalhadores,
100
Mesmo que o cenário de sua atuação entre 2010 e 2011 tenha sido positivo, o
empreendimento passou por dificuldades entre 2012 e 2013, momento que coincidiu com a troca
de gestão municipal.
Foram relatados problemas no repasse financeiro da PMSC para o empreendimento, o que
teve como consequência a saída de diversos membros da cooperativa por conta do atraso na sua
retirada mensal. Ocorreram também problemas com a disponibilização de caminhões para a coleta,
de modo que apenas um dos três previstos no contrato estava em condição de uso, o que afetou
diretamente a coleta porta a porta no município. Além disso, a renovação do contrato não ocorreu
pelo período de um ano, conforme o esperado: em maio de 2013, o contrato foi prorrogado por
mais três meses apenas e, após esse período, foi novamente renovado até fevereiro de 2014
(SECCO, 2014). Isso indica a fragilidade de políticas de governo na transição entre gestões, que
desestabilizam os avanços alcançados e prejudicam, no caso em questão, a continuidade de uma
coleta seletiva eficiente nos moldes propostos pela literatura e pela PNRS.
Por conta da fragilidade advinda desta situação, houve demanda para formação de um grupo
de apoio à Coopervida, constituído em 21 de junho de 2013 e estruturado inicialmente em cinco
frentes de trabalho: Questões emergenciais para a Coopervida; Infraestrutura para a coleta seletiva
e Coopervida; Processo de ampliação da coleta seletiva de São Carlos e do número de cooperados
da Coopervida; Contrato entre a PMSC e a Coopervida; e Estatuto e Regimento interno da
Coopervida, conforme relatório deste grupo datado de 21/03/2013. A articulação de ações e
mobilizações oriundas desde grupo propiciaram a continuidade do trabalho da Coopervida na coleta
seletiva do município. Destaca-se a articulação de atores em sua maioria vinculados a instituições
de ES, como DAES e NuMI-EcoSol/UFSCar.
102
Outro acontecimento importante de 2013 foi a aproximação da Coopervida com o MNCR e com
outras nove cooperativas de catadores, localizadas em municípios das regiões Central e Alta Mogiana
do Estado de São Paulo (Orlândia, Morro Agudo, Ituverava, Batatais, Araraquara, Ribeirão Preto,
Piracicaba, Rio Claro e Sertãozinho) (ZANIN; TEIXEIRA, 2015). Esta aproximação culminou na organização
da Rede Anastácia de Catadores. A Rede, articulada ao MNCR, desenvolveu importantes processos
educativos junto aos catadores da Coopervida, tanto sobre aspectos técnicos do trabalho quanto sobre
economia solidária e cooperativismo, reforçando as atividades já realizadas por parceiros como o DAES
e o NuMI-EcoSol/UFSCar em diversos momentos. Essa articulação propiciou um importante avanço na
organização interna da cooperativa e nos processos de comercialização.
Novamente, entre 2014 e 2015 a Coopervida enfrentou dificuldades, considerando que não
houve renovação do contrato entre os meses de outubro de 2014 e fevereiro de 2015. Durante esse
período, a cooperativa continuou realizando suas atividades no município mesmo sem pagamento,
o que gerou uma dívida de R$ 128.500,00 da PMSC para com a cooperativa, referente a esses cinco
meses de serviços prestados, conforme ata da comissão Parceiros da Coopervida datada de
25/05/2015. Tal ocorrência coincidiu com problemas referentes à disponibilidade de caminhões, só
que dessa vez não foi disponibilizado nenhum caminhão por parte da PMSC, o que inviabilizou a
coleta porta a porta no município.
Com o objetivo de pensar coletivamente estratégias para enfrentar tais entraves, a
cooperativa solicitou o apoio de membros da sociedade civil. Diversos coletivos organizados no
município (NuMI-EcoSol/UFSCar, Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais (GEISA), TEIA –
Casa de criação e Associação Veracidade), além de representantes do poder público municipal,
reuniram-se periodicamente como comissão Parceiros da Coopervida, a partir de maio de 2015,
para auxiliar a cooperativa no processo de superação das crises vivenciadas. Tal mobilização
resultou, junto à Câmara de Vereadores de São Carlos, na abertura de licitação para contratação de
dois caminhões, adquiridos em julho de 2016, além da abertura de crédito adicional suplementar
para o pagamento indenizatório referente à dívida pelos meses em que se manteve a coleta seletiva
sem a contratação da Coopervida (SÃO CARLOS, 2015a). A Coopervida também teve o apoio do
Fórum Municipal de Economia Solidária e da Rede Anastácia em busca de articular a cooperativa
com o poder público.
Resíduos Sólidos Urbanos - 103
CONCLUSÕES
A contratação da cooperativa pela PMSC foi outro passo decisivo que mostra que as
cooperativas estão gradualmente ganhando espaço no cenário de gestão de resíduos sólidos.
No entanto, muitos avanços ainda precisam ser consolidados. As condições de trabalho, em
termos de espaço físico e estrutura produtiva, ainda são precárias e distantes do controle da
cooperativa. Mesmo que atualmente leis como a PNRS tragam alguma segurança em relação à
inclusão do catador na cadeia produtiva da reciclagem, na prática ainda não se percebe o
reconhecimento e a valorização desse trabalho. Exemplo disso é a instabilidade na manutenção de
contratos e acordos com o governo municipal, principalmente quando ocorre mudança de gestão
ou mesmo uma fragilidade administrativa dos gestores públicos.
As diferentes estratégias que a Coopervida tem buscado, ao longo de sua trajetória, em se
articular com diferentes setores da sociedade civil, em rede de cooperativas e com o MNCR, indicam
uma luta para se tornar visível à sociedade, principalmente aos gestores públicos.
Finalmente, mesmo frente a tantas dificuldades, a coleta seletiva com inclusão social se
sustenta tanto da perspectiva ambiental, em um momento em que não cabe mais o descaso em
relação à gestão de resíduos sólidos, como da perspectiva econômico-social, considerando o
potencial para inclusão na cadeia produtiva da reciclagem de trabalhadores que dificilmente
encontrariam outra porta de acesso para o ambiente de trabalho formal.
AGRADECIMENTOS
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Resíduos Sólidos Urbanos - 109
Capítulo 6
Edilene Mayumi Murashita Takenaka32; Alba Regina Azevedo Arana33; Antonio Cezar Leal 34
INTRODUÇÃO
32 Economista. Doutora em Geografia. Professora do curso de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da
Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE, Presidente Prudente- SP. E-mail: edilene@unoeste.br
33 Geógrafa. Doutora em Geografia. Coordenadora do curso de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da
do CNPQ. cezar@fct.unesp.br
110
35
PRUDENCO – empresa de economia mista encarregada da prestação de serviço de limpeza pública do município de
Presidente Prudente/SP (Brasil).
36
Produção média de lixo em PP é de 200 toneladas/dia. Disponível em:
<http://sentidohorario.com.br/portal/2016/03/producao-media-de-lixo-em-pp-e-de-200-tdia/>. Acesso em: 20 jul. 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 111
Apesar dos esforços em manter os chamados catadores (homens, mulheres e até crianças)
longe do local de disposição final dos resíduos, muitas vezes, a necessidade os levam a correr riscos
e a permanecer no local, apesar dos riscos e da proibição. Para tais indivíduos, dada a escassez de
melhores condições de empregabilidade, essa adequação passa a ser primordial para sua
sobrevivência e de seus dependentes.
Dessa forma, tanto para o poder público municipal responsável pela coleta e disposição dos
resíduos sólidos urbanos quanto para os cidadãos geradores de resíduos, o lixão apresenta-se como
uma solução ao imbróglio da destinação de resíduos oriundos da atividade humana.
Dessa forma, a maioria da população acredita que, estando fora de suas vistas, os resíduos
gerados deixam de ser um problema ao meio ambiente em que vivem.
37
Lixão: local de disposição final de resíduos em valas a céu aberto.
112
Dessa forma, afirma-se que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano é uma ferramenta legal
e essencial que se apresenta como uma política pública municipal que deve indicar parâmetros para o
arbitramento de áreas de destino final dos resíduos sólidos domiciliares e, ainda, garantir o bem-estar
de seus habitantes entre outras atribuições. Nesse sentido, parece lógico analisar a sua contribuição
para as questões que envolvam os resíduos sólidos e a elaboração e formalização de um plano municipal
para seu gerenciamento.
Resíduos Sólidos Urbanos - 113
Mazzini (1997) afirma que a maioria das áreas destinadas ao aterro (lixão municipal) pertence
ao poder público municipal que, devido ao relevo acidentado, não eram, em um primeiro momento,
incorporadas à malha urbana, porém sendo vagarosamente ocupadas por pessoas de baixa renda,
acompanhadas pelo surgimento de moradias em condições de precariedade em grande monta.
Da mesma forma, Amorin (1993, p. 42-43) ressaltava essa situação:
[...] Vale ressaltar que a topografia da cidade em muito influencia a ocupação humana e no
tipo de uso dado ao solo. A área central da cidade localiza-se sobre a área de espigão
favorável, por outro lado, a maioria das favelas atualmente já urbanizadas encontra-se na
zona leste na parte mais acidentada da cidade, coincidentemente a presença de áreas de
lixões nesta parte da cidade também é muito comum. Existe uma lógica nisto tudo, as áreas
acidentadas de fundo de vale são ocupadas clandestinamente pela população de baixa
renda que não tive como opção outro local para morar. Quanto aos depósitos de lixo é
prática comum em Prudente aterrar esse fundo de vale com lixo, justificando a presença de
lixões nessas áreas. (AMORIM, 1993, p. 42-43).
Em algumas situações, respaldada pelos estudos de Amorim (1993), Mazzini (1997) e Mileski
(2006), a população vizinha a essas áreas aceitava e incentivava a sua utilização como “lixões”,
presumindo que, quando desativados, os mesmos seriam aterrados e reintegrados ao meio urbano
a partir de atividades paisagísticas, com o estabelecimento de áreas de lazer como praças e campos
de futebol, para usufruto da coletividade em seu entorno.
Os locais utilizados pela administração pública municipal para a disposição final dos resíduos
sólidos urbanos coletados em Presidente Prudente podem ser observados no Mapa 1 e no Quadro
1, em ordem cronológica, no período de 1923 a 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 115
Mapa 1 – Localização das áreas de disposição final de RS no município de Presidente Prudente-SP (1923-2017).
463.800
7.558.800
HUMBERTO
SALVADOR PARQUE
WATAL
ISHIBASHI
PARQUE
ALEXANDRINA
JARDIM PRIMAVERA
JARDIM
SÃO MATHEUS VILA ANGÉLICA
VILA VERINHA
VILA BRASIL
JARDIM PLANALTO
VILA
NOVA PRUDENTE
DISTRITO
INDUSTRIAL
463.850
432.000
7.547.500 7.547.500
PRESIDENTE PRUDENTE-SP
ÀREAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Quadro 1 – Locais utilizados para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos, no município de Presidente
Prudente-SP (1923-2017).
Verifica-se que, de 1923 a 2017, os locais escolhidos e utilizados para a disposição final dos
resíduos urbanos coletados apresentavam, como característica, condições acidentadas do terreno
e sua localização e, na época de cada escolha, encontravam-se fora dos limites da malha urbana e
na periferia com a presença de população empobrecida.
A preponderância da responsabilidade da administração municipal, em relação à coleta e
disposição final de resíduos sólidos urbanos, sempre foi uma realidade em Presidente Prudente.
Resíduos Sólidos Urbanos - 117
No decorrer das demais administrações, a prefeitura municipal, por meio de suas secretarias,
apresentava-se como a responsável pelo setor de coleta e destinação final dos resíduos sólidos
urbanos. Em meados de 1993, a Prudenco, a partir de contrato firmado com a Prefeitura do
município passou a ser responsável pela coleta e transporte dos resíduos sólidos até a sua disposição
final, permanecendo responsável até os dias atuais.
Como identificação das etapas de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos adotados pelo
município de Presidente Prudente, pode-se afirmar que obedeceu à seguinte sequência: coleta dos
resíduos gerados pelos munícipes (coleta porta a porta), transporte dos resíduos em caminhões,
disposição final dos resíduos nos lixões e, posteriormente, aterradas.
Em fins da década de 1990, a Cetesb realizou vistorias nos locais utilizados como lixões
atendendo a processo movido pela Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, e identificou, por meio
de laudos oficiais, que a área utilizada para depósito de lixo pela Administração Pública municipal
apresentava-se inadequada por uma série de fatores:
O local situa-se dentro do perímetro urbanos, em área densamente habitada, [...], a área
utilizada para passagem de pedestres, é desprotegida de cerca ou qualquer outro tipo de
benfeitoria [...] Constatamos também o acúmulo de águas pluviais, chorume percolado e
esgoto doméstico [...] expondo a população aos perigos de contrair doenças infecto-
contagiosas. (MINISTÉRIO PÚBLICO, Inquérito Civil, Processo 003/96, vol. 1, p. 101-104).
Os modelos de gestão de RSU existentes na maioria das cidades brasileiras são: Gestão
Convencional, Gestão com Privatização e Gestão Participativa.
Segundo Lima (2002), o modelo de Gestão Convencional é o mais encontrado nos municípios
brasileiros e se caracteriza pelo poder público municipal incorporar a prestação dos serviços de
coleta e disposição final dos RSU.
Em relação ao modelo de Gestão com Privatização, adiciona-se ao poder público municipal
a inserção de empresas terceirizadas no processo de gestão dos resíduos sólidos urbanos.
O modelo de Gestão Participativa reflete, por princípio, a participação da população junto
ao poder público municipal por meio de um conselho municipal formado por representantes da
sociedade civil, que se encontra envolvido no processo de decisão e elaboração de estratégias para
questões que envolvam os RSU.
Resíduos Sólidos Urbanos - 119
A lei municipal que se refere ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano possui como objetivo
básico coordenar o desenvolvimento irrestrito das funções sociais da cidade e assegurar o bem-estar de
seus habitantes. Sua exigência passou a ser imperativa com a promulgação da Constituição Federal do
Brasil de 1988, a qual, em seus artigos 182 e 183, trata da política pública urbana.
Entretanto, a imposição da elaboração de um plano diretor municipal para cidades que
apresentem mais de vinte mil habitantes, exigida pela Constituição Federal de 1988, tendo seus
artigos 182 e 183 regulamentados pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001),
foi recebida sem grande alarde pelos municípios paulistas.
Segundo Braga (1995), a razão era a imposição similar datada do ano de 1967 pela Lei
Estadual nº 9.842, que determinava a exigência da concepção de um Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado (PDDI) a todos os municípios paulistas, estabelecendo penalidades
como a proibição de auxílio financeiro àqueles que não cumprissem essa determinação estadual.
Vale ressaltar que, apesar de o município de Presidente Prudente ter se adiantado a uma
imposição federal e concebido seu primeiro Plano Diretor Municipal no ano de 1969, com dezenove
anos de antecedência, o tratamento dos resíduos sólidos urbanos e a preocupação com seu manejo
adequado em termos de coleta, acondicionamento, transporte e disposição final não se
apresentavam prioritários para os administradores públicos municipais da época em questão
(TAKENAKA, 2008).
A inquietação em torno do meio ambiente e dos resíduos gerados a partir da ação humana passa
a ter contornos mais definidos no cenário político e social brasileiro com a realização, em junho de 1992,
na cidade do Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD).
A CNUMAD foi um marco da forma como o Homem passou a enxergar sua relação com o
meio ambiente que o cerca. A comunidade política internacional passou a admitir a necessidade de
harmonizar o desenvolvimento socioeconômico com o emprego dos recursos da Natureza,
incluindo a atenção com os resíduos gerados e a imprescindível preocupação com seu
reaproveitamento, reciclagem e disposição final.
Resíduos Sólidos Urbanos - 121
38
A Prefeitura Municipal de Presidente Prudente realizou durante o ano de 2015, através do uso da metodologia
participativa, uma série de reuniões agendadas em linha cronológica com convites a participação de toda a sociedade
em audiências públicas, além da abertura de um Portal para receber manifestações, via computadores e celulares, da
população acerca da revisão do Plano Diretor. Entretanto, até a presente data (2018), encontra-se em vigor o Plano
Diretor de 2008.
122
39
A Cooperlix iniciou suas atividades informalmente no ano de 2003, mas apenas em 2010 foi formalizada e estruturada
em barracão cedido por regime de comodato pela Prefeitura de Presidente Prudente e sua contratação para a prestação
do serviço de coleta seletiva ocorreu em 2015.
Resíduos Sólidos Urbanos - 123
O município de Presidente Prudente - SP, com sua aderência ao Programa Município Verde40,
apresenta-se na terceira etapa do mencionado programa, que é o envio de seu Plano de Ação
Municipal para a SMA. A aderência a esse programa resguarda ao município o direito de ter
precedência no recebimento de recursos estaduais para atingir suas dez diretrizes básicas, tendo
em conta o objetivo de sua demanda justificada em seu plano de ação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
40
Lançado em 2007 pelo Governo do Estado de São Paulo, o Programa Município Verde Azul (PMVA) tem o propósito
de medir e apoiar a eficiência da gestão ambiental com a descentralização e valorização da agenda ambiental nos
municípios. Busca estimular e auxiliar as prefeituras paulistas na elaboração e execução de suas políticas públicas
estratégicas para o desenvolvimento sustentável. A participação do município no PMVA é um dos critérios de avaliação
para a liberação de recursos do Fundo Estadual de Controle da Poluição.
124
município piora as condições ambientais, sociais e econômicas relativas a essa questão e evidencia
a carência de um plano ou programa criado com bases em uma política pública municipal para um
adequado gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos.
Ao analisar as políticas públicas municipais, relativas aos resíduos sólidos urbanos, conclui-
se que muito do que foi disposto em leis e decretos municipais conservam sua forma escrita sem,
todavia, atingir sua efetividade prática, apesar das penalizações instituídas em caso de
descumprimento das mesmas. Evidenciando que, sem o compromisso e a participação da população
por meio da conscientização e mobilização da sociedade civil, a normatização proposta, por si só,
não é capaz de levar ao cumprimento das metas e objetivos estabelecidos.
REFERÊNCIAS
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em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 1993.
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da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002
Capítulo 7
INTRODUÇÃO
A natureza gregária do ser humano contribuiu para a sedentarização e surgimento das primeiras
formas de sociedades estáveis. Por sua natureza de conviver em grandes grupos, o homem acabou
necessitando de se sedentarizar, provocando as primeiras formas de sociedades estáveis.
Por sua vez, a fixação exigiu uma divisão de tarefas e organização das atividades humanas,
caracterizada pelas primeiras formas de especialização.
A partir da constituição de estruturas sociais cada vez mais complexas, cerca de dez mil anos
antes de Cristo surgiram as primeiras cidades.
Com as cidades a necessidade de se organizar a vida comum, bem como prover de sustento
a população exigiu a criação de papéis especializados tanto no âmbito produtivo como no
burocrático. A ascensão da religião e da organização burocrática de Estado foram as bases de
estabelecer a estabilidade da sociedade urbana.
Por ser gregário, o homem há muito tempo recorreu à sedentarização como regra. Seja por
sua fragilidade física, ou por dispor de necessidades complexas, acabou desenvolvendo sistemas
organizacionais complexos, para assegurar sua subsistência.
À medida que crescem em número de componentes, cresce na mesma direção a necessidade
de estabelecerem-se novos sistemas organizativos, capazes de prover de soluções os problemas
gerados pela inovação anterior.
41
Este artigo foi fundamentado na tese de doutorado do autor, em que se compilou e relevou a trajetória do Grupo
de Apoiadores como instrumento de transformação social. Para um estudo mais aprofundado, sugere-se a leitura de
Lussari (2016).
42Administrador profissional, mestre em Educação (especialista em educação de adultos em ambientes organizacionais complexos),
doutor em Geografia (especialista em educação ambiental). Atuou em dezenas de organizações de diferentes portes e atividades,
especialmente nas áreas de Saúde e Educação. Mais de vinte anos de experiência gerencial e trinta anos em docência em ensino superior.
E-mail: wlussari@yahoo.com.br
126
Para se articular um grupo de apoiadores alguns elementos são essenciais para obter
sucesso. Entre eles podemos citar alguns:
Cultura do grupo: por se tratar de grupo social, é inevitável que aos poucos surja uma cultura
própria do grupo, que será cuidada por todos; a cultura irá ajudar a legitimar os trabalhos tanto
dentro quanto fora do grupo.
Resíduos Sólidos Urbanos - 127
Fator tempo: não se pode subestimar o fator tempo; o tempo das transformações sociais
não é o mesmo tempo dos homens; algumas questões podem levar mais tempo que a vontade de
fazer acontecer.
Pessoas certas: em alguns casos é possível escolher as pessoas; entretanto, em diversas
situações, as pessoas irão se apresentar ao grupo para participar de forma temporária ou
permanente; todos os participantes do grupo devem acolher e adequar as inclusões.
Administrar conflitos: dependendo da abrangência do projeto, os interesses serão tão
sensíveis que em determinados momentos pode provocar a ruptura ou desintegração do grupo de
apoiadores e, até mesmo, do projeto.
Delegar e confiar nas pessoas: trabalhar com pessoas de diferentes matizes e interesses
implicam em desenvolver uma habilidade em delegar e confiar, especialmente quando os interesses
pessoais podem influenciar fortemente nas decisões e ações do grupo.
Manter a coesão e coerência do grupo: manter um grupo de apoiadores é um trabalho
extenuante, que exige permanente habilidade do líder do grupo em monitorar eventuais ou potenciais
conflitos, de forma que não se perca o foco do projeto e da existência do grupo.
Gestão democrática, participativa e inclusiva: o grupo de apoiadores deve ser exemplo junto à
comunidade, de forma a legitimá-lo socialmente, pois só assim se pode levar à legitimação de um projeto.
Trabalho colaborativo: o trabalho coletivo implica no acesso a informações, socialização de
conhecimento, aprendizagem mútua e apoio mútuo na consecução de cada atividade; mesmo que
não se consiga o ideal, é importante que se obtenha o possível.
Finitude: pode ser difícil admitir, mas haverá um momento em que o grupo de apoiadores
terá de se dissolver, pois ele subsiste por determinado ciclo; pode ocorrer que se rearticule um novo
grupo, mas aí é outro ciclo, com todos ou alguns participantes do grupo anterior.
Enfim, um grupo de apoiadores é um modelo de organização possível de se empregar em
diversas situações. Particularmente indicado para problemas sociais que demandem mobilização
coletiva de uma sociedade, mas que se tenha dificuldade de se estabelecer um projeto social executável.
Até por conta disso é que há a necessidade do engajamento imprescindível da Academia.
O GRUPO DE APOIADORES
Transformar uma ideia em algo concreto depende de pessoas e circunstâncias que permitam
que ela seja plantada, florescida e que produza frutos. Mas todo começo é uma tarefa difícil.
Os compromissos assumidos pelos relacionamentos entre pesquisador e os sujeitos de
pesquisa, os quais, consciente ou inconscientemente, criam um vínculo profissional, pessoal e afetivo,
pelas convergências de ideias de se fazer educação ambiental e, ao mesmo tempo, viabilizar uma
cooperativa de trabalhadores de materiais recicláveis, permitiram que o projeto pudesse ser
concebível e realizado (LUSSARI, 2016).
Pessoas têm a tendência de buscar apoio em suas ideias em outras pessoas que têm ideias
convergentes ou que se complementem. A proposição da cooperativa de trabalhadores de materiais
recicláveis era bem-vinda junto à Secretaria de Assistência Social do município de Presidente
Prudente-SP, pois era uma ideia bem pontual e no tempo certo para poder amadurecer a ideia e fazer
gerar resultados rápidos.
Convergência de ideais, aliada à convicção de se realizar um trabalho demandado e
necessário para a coletividade, desperta a atenção dos indivíduos. Como decorrência, contribui para
que esses passem a apoiar de forma positiva e resoluta ideias as quais acreditam benéficas.
Ao longo do tempo, este grupo inicial foi ganhando uma identidade própria e, com as
reuniões, foi ganhando corpo e maior autonomia. Assim, o grupo de apoiadores passou a se
reconhecer e se identificar como tal, e seus participantes como uma forma de pertencimento a ele.
Mesmo que o apoiador43 tivesse pouco poder de decisão individualmente, ele teria a capacidade de
se legitimar e ser ouvido nas reuniões, assim como suas ideias poderiam ser colocadas em ação.
O participante do grupo, na qualidade de apoiador, pode representar e legitimar sua pessoa,
com seu status reconhecido nos diferentes círculos sociais.
O grupo de apoiadores, inicialmente constituído de forma ad hoc e visto de forma histórica,
passou a se identificar como uma forma de organização, onde representantes de outras organizações
interessados em participar de um grande projeto social, se associavam e se identificavam.
43
Conforme Lussari (2016) aponta, o termo “apoiador” começou a ser usado com mais frequência a partir do ano 2010.
Ele significava uma pessoa que pertencia de forma temporária ou permanente ao grupo que atuava junto à Cooperlix,
como uma forma de distinguir uma pessoa não fosse dos quadros da cooperativa, mas que tinha sua legitimidade
reconhecida pelos cooperados como alguém que formalmente contribuía com ela. O grupo de apoiadores replicava a
Organização Virtual proposta por Grenier e Metes (1995).
130
Como em tudo na vida, o termo apoiador foi uma evolução ao longo do tempo. No começo,
o termo tinha um sentido diferente, pois era utilizado em conjunto com o termo “parceiro”.
Inicialmente identificando-se como grupo de “parceiros e apoiadores”, Silva (2007) apresenta a
distinção e a aplicação de ambos os termos em uso à época da fundação e infância da Cooperlix44.
Segundo Silva (2007), em uma rede social havia a distinção dos termos. Nessa rede social, o
termo “parceiro” tinha um sentido mais natural de proximidade e intimidade de comportamento e
relação entre o grupo de apoiadores e as pessoas que futuramente integrariam a cooperativa.
No começo, entre a aglutinação de pessoas no que viria a ser o grupo de apoiadores e sua
institucionalização, assim como na criação da cooperativa, era comum o uso do termo “parceiro”
para identificar a pessoa ou representante institucional (o meio acadêmico e as instituições
públicas), os quais auxiliavam na mobilização das pessoas e para dar forma às ideias. Aqui, Silva
(2007) se apoiava na tipologia de redes sociais de Parreiras et al. (2006 apud SILVA, 2007).
Por sua vez, Silva (2007) destinava o termo “apoiador” a outro tipo de ator, externo à Rede
Social: representava a figura da pessoa ou representante institucional, que contribuía financeira,
material ou tecnologicamente para a dinâmica de criação e desenvolvimento da Cooperlix. Para as
ações destes apoiadores, Silva (2007) denominava “atos assistenciais”.
Dessa forma, o apoiador era posicionado no processo do grupo como um ente periférico, de
forma pontual ou permanente, caracterizado por uma relação de distância entre ele e aos catadores
de materiais recicláveis e/ou cooperados (SILVA, 2007).
É interessante que a abordagem de Silva (2007) se aproxima à de organização de eventos
(seminário, jornada, etc.), em que há a necessária distinção entre organizadores e os parceiros e
apoiadores relacionados neles. Àquela época este modelo era compreensível, pois identificava a
organização do grupo de parceiros e apoiadores vigente.
Este modelo de grupo identificado por Silva (2007) começou a apresentar sinais de
esgotamento a partir da institucionalização da cooperativa, a qual demandava outras posturas e
papéis por parte do grupo de parceiros e apoiadores.
Quando Lussari (2016) ingressa no grupo de apoiadores por volta de 2006, outros
professores da Unoeste já estavam bem integrados ao grupo. Por esta época era visível a
necessidade de se mudar o modelo vigente de “grupo de parceiros e apoiadores” para outro modelo
de “grupo de apoiadores”.
44
Vide detalhes em Silva (2007), capítulo 8 – O Papel dos Parceiros e Apoiadores na Cooperlix Através das Redes Sociais.
Resíduos Sólidos Urbanos - 131
Em razão do cumprimento dos acordos e relatórios da CEF e FBB, bem como das negociações
de compra da máquina de produção de flake45, o grupo de apoiadores precisou ajustar sua postura,
passando a cobrar dos cooperados (via diretoria) uma atitude mais profissional (LUSSARI, 2016).
Essa mudança de postura influenciaria nos anos seguintes certa ambiguidade do grupo, que ora
se comportava como grupo de parceiros, ora grupo de apoiadores. Até que em 2010 o termo grupo de
apoiadores aos poucos se sedimentou. Mas para alguns integrantes, seja por razões enraizadas
profundamente, seja por força da herança da rede social, ainda se autodenominam “parceiro”.
Deve-se salientar que o termo “apoiador” teve um significado específico ao longo deste
projeto social, relativo aos agentes representantes das diversas instituições que se relacionavam
permanente e diretamente junto à Cooperlix. Poder-se-ia recorrer a outras denominações, mesmo
dentro do vocabulário da Administração, ao se apropriar do termo stakeholders46. Entretanto, este
termo seria incorreto, visto que se aplicaria apenas parcialmente, pois os apoiadores poderiam
expressar um tipo de stakeholder, como também poderiam estar distribuídos entre vários
stakeholders, tanto da cooperativa como do próprio grupo de apoiadores.
Para se compreender a trajetória do grupo de apoiadores, Lussari (2016) estabeleceu um
levantamento de seus 15 anos de existência, a fim de oferecer uma perspectiva de sua composição
e características, bem como dos momentos que influenciaram as transformações na realidade tanto
do grupo como da Cooperlix.
Para tanto, Lussari (2016) apresentava uma cronologia ano a ano, sobre sua composição,
eventos relevantes e ações que decorreram das decisões tomadas no interior das reuniões do grupo
de apoiadores.
45
Flake (ou floco): Produto condensado, que otimiza o transporte e o desempenho da transformação, obtido a partir
da trituração em partículas de 3/8 polegada (9,52 mm) de garrafas PET. Neste Estado, há uma valorização deste material
no mercado consumidor de matérias-primas.
46
Cada um dos ambientes de negócios, interno e externo, é preenchido com indivíduos e grupos de pessoas que são ou
acreditam ser ou serão afetados pelas ações de uma organização. Essas pessoas exercem pressões sobre a organização
diretamente para influenciar processos de tomada de decisão em seu favor. Essas pessoas também tentam influenciar
o governo a exercer poder sobre as organizações privadas a tomar medidas que os favoreçam. Eles são chamados de
“stakeholders”, porque eles têm ou acreditam que têm uma participação no funcionamento de uma organização em
particular (STEINER; MINER; GRAY, 1986, p. 32).
134
Inicialmente, 2000 foi o ano dos preparativos para o desenvolvimento do futuro projeto
Fapesp, coletando informações, revisitando o que fora produzido até então e estabelecer as bases
do próprio projeto.
Resíduos Sólidos Urbanos - 135
Demarcar as origens de uma iniciativa não é tarefa simples, uma vez que há a tendência dos
eventos acontecerem em sucessão uns aos outros e que nem sempre apresentam uma relação
direta. Porém, alguns registros fornecem pistas, que podem auxiliar na compreensão desta relação.
Lussari (2016) localiza este viés nos trabalhos de Gonçalves (2000; 2006):
47
A Fapesp lançou, em agosto de 1988, o Programa de Pesquisa em Políticas Públicas com a finalidade de financiar
atividades de pesquisa que pudessem beneficiar a formulação e implementação de políticas públicas de importância
social. Atendendo às exigências do programa, o Projeto de Políticas Públicas em “Educação Ambiental e
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos em Presidente Prudente-SP” recebeu apoio financeiro da Fapesp em
suas fases I e II (TAKENAKA, 2008, p. 151-216).
136
Leal (2004) aponta que ainda neste período outras instituições se engajaram para dar
suporte à mobilização do projeto:
Takenaka (2008) pontua ainda que o projeto FAPESP estava distribuído em três fases
distintas: a primeira fase se estendia de junho de 2001 a dezembro de 2002; a segunda fase, indo
de janeiro de 2003 a dezembro de 2005; e a terceira fase de 2006 em diante.
Em 2002, o Sebrae participa com orientações “sobre os sistemas de cooperativismo,
funcionamento, produção de renda, organização do trabalho, encargos sociais, regimento interno,
entre outras informações” (TAKENAKA, 2008, p. 154).
Ainda neste ano foi organizada a primeira reunião com os catadores, em que, entre outras
ações, estabelecia as bases de uma negociação entre o grupo de catadores e o grupo de apoiadores
(GONÇALVES, 2006). Na mesma reunião seria marcado o primeiro passo no sentido organizativo dos
catadores, por meio de uma comissão deles, a fim de discutir a situação com o prefeito municipal.
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia formação da futura cooperativa, o grupo de
apoiadores promovia a incorporação de representantes dos catadores e de representantes da
sociedade por meio de reuniões abertas à sociedade, assumindo um formato mais amplo de
composição (GONÇALVES, 2006).
Como não havia ainda naquela época uma identidade do grupo de apoiadores, Gonçalves
(2006, p. 194) referia-se a ele, neste período, como “grupo de trabalho e pesquisa e o grupo de
catadores”. Isso indicava que os próprios integrantes não tinham, ainda, uma ideia dos rumos que
a iniciativa atingiria mais de uma década depois, por se centrar prioritariamente à pesquisa e
possíveis proposições por parte da academia às políticas públicas.
A fim de buscar experiências que fundamentassem as futuras decisões do grupo de
apoiadores, foram realizadas ações como a visita à cidade de Penápolis-SP, para troca de
experiências e a inserção dos catadores no circuito econômico da reciclagem (GONÇALVES, 2006).
Resíduos Sólidos Urbanos - 137
A fundação da Cooperlix marca o início desta fase. Com a cooperativa, os ex-catadores, agora
cooperados, contavam com a garantia de que desta vez havia respaldo nas proposições dos
idealizadores do projeto.
Criada no dia 13 de fevereiro de 2003, com a razão social de Cooperativa dos Trabalhadores
de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente, e registrada no CNPJ sob nº 05.547.541/0001-58,
a Cooperlix inicia suas atividades com vinte cooperados. Suas instalações foram cedidas em
comodato pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente e seus equipamentos foram adquiridos
através de projetos junto à Fapesp, CNPQ, Fundação Banco do Brasil (FBB) e Banco
Santander/Universidade Solidária (UNISOL) (IACIA, 2014).
138
Nota-se que toda a organização e a estruturação do trabalho dos catadores nesse novo
sistema de coleta dos recicláveis não contou com apoio de nenhum dos comerciantes
intermediários. Para estes não importa a forma de organização dos catadores, desde que
permaneçam ocupando o mesmo lugar neste circuito econômico.
A articulação dos catadores em uma cooperativa oferecia vários benefícios aos cooperados,
conforme aponta Lussari (2016):
a) mudança de localização na cadeia produtiva;
b) eliminação de pequenos atravessadores;
c) coleta em lugares de acesso restrito ao público;
d) acesso direto à indústria;
e) acesso a bens e serviços sem custo aos cooperados;
f) melhoria no poder de negociação;
g) disponibilidade para acumular o volume dos materiais recicláveis e obter vantagem
na negociação;
h) receberem capacitação técnico-profissional e social em diversas áreas;
i) dispor de benefícios assistenciais da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS)
(GONÇALVES, 2006).
Resíduos Sólidos Urbanos - 139
Por sua vez, a busca de apoio ao projeto, por meio de doação de materiais e equipamentos,
exigia a necessária articulação entre os apoiadores.
Em 2004, passam a colaborar no projeto a Igreja Católica (com a compra de um caminhão),
do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação e Trabalhadores na Limpeza
Urbana de Presidente Prudente e Região (SIEMACO) e a Fenascon (GONÇALVES, 2006).
Mesmo o meio acadêmico participava mediante desenvolvimento e execução de projetos,
que adicionava um complemento de insumos ao conjunto de equipamentos e materiais necessários
para o funcionamento da cooperativa, além de materiais de consumo (como uniformes e
equipamentos de proteção individual (EPIs)), de maneira a estimular o hábito de práticas de
trabalho mais adequadas por parte dos cooperados (TAKENAKA, 2008; GONÇALVES, 2006).
A atuação do grupo de apoiadores foi imprescindível para evidenciar na sociedade a
Cooperlix e seu serviço de coleta seletiva, por meio da imprensa, visto ser um serviço de utilidade
pública, abordando as questões ambientais e de responsabilidade social relativo à reciclagem de
resíduos sólidos (GONÇALVES, 2006).
Decorrente da atuação da imprensa, bom como da proximidade de contato com os
catadores que começavam a frequentar seus lares, a população respondeu com seu engajamento.
Ainda em 2004 foi elaborado pelo grupo de apoiadores, a partir do mapa de 2002 do Projeto de
Políticas Públicas FAPESP, o mapa de áreas atendidas pela coleta seletiva de Presidente Prudente-SP.
No ano de 2005, enquanto a cooperativa executava a coleta seletiva e explorava os recursos
disponibilizados, o grupo de apoiadores elaborou e executou estratégias de educação ambiental ao
público, em especial o infantil, com a elaboração de folhetos explicativos para distribuição porta a porta
referente à coleta seletiva, vídeo educativo, criação de logomarca e cartilha educativa (IACIA, 2014).
Paralelamente à ação junto público em geral, também foram alvo de ações os segmentos
profissionais relacionados à educação ambiental, com a realização do III Seminário de Educação
Ambiental e Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, realizado em 17 de agosto daquele
ano (IACIA, 2014).
No ano de 2006 tem início da Fase III do Projeto de Políticas Públicas/Fapesp, enfatizando o
aprimoramento da organização do trabalho na Cooperlix e do respectivo sistema de comercialização
adotado pelos cooperados. Ao mesmo tempo eram realizados em eventos municipais, regionais e
nacionais ações de educação ambiental, destacando a importância da coleta seletiva para o meio
ambiente e pelo aspecto social da cooperativa (TAKENAKA, 2008).
140
Também neste ano ocorreu a cessão de mão de obra por parte de alguns integrantes do
grupo de apoiadores, com o objetivo de colaborar na qualificação e transferência de expertise
profissional aos cooperados, em questões administrativas e técnicas de gestão (TAKENAKA, 2008).
No ano de 2006 existiam apenas duas organizações de trabalhadores em coleta de resíduos
sólidos recicláveis no Pontal do Paranapanema. Uma em forma de Associação e outra a Cooperlix,
em forma de Cooperativa (GONÇALVES, 2006).
A cooperativa seria objeto de publicação um capítulo de Rosa (2006), no livro
“Cooperativismo: uma alternativa de gestão”, de Arana (2006a). Sobre o projeto de resíduos sólidos
recicláveis se seguiram Trabalhos de Conclusão de Curso, os quais contribuíam para manter o
engajamento e a Cooperlix como temas da área de Ciências Sociais Aplicadas, sobre questões
gerenciais e interação com a realidade, buscando estabelecer uma mentalidade gerencial nos
gestores da Cooperlix.
A socialização dos trabalhos entre os docentes, alunos e cooperados respaldava os
apoiadores e contribuía para um caráter voluntarista em participar, ainda que temporariamente, do
grupo de apoiadores.
Em 2007, o grupo de apoiadores acompanhou a Cooperlix na ampliação da coleta seletiva
no município e na busca em aumentar a renda dos cooperados.
Em relação a novos apoiadores, houve a presença do Rotary Club de Presidente Prudente,
com a doação de um caminhão Ford modelo F4000 para a Cooperlix (TAKENAKA, 2008). A projeção
local e regional do projeto permitiu a inserção de apoiadores como a Caixa Econômica Federal (CEF)
e Fundação Banco do Brasil, o que viabilizou comprar equipamentos e o fornecimento de um
caminhão novo (IACIA, 2014).
Na Fase 2 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2003: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste (através dos cursos de graduação de
Administração, Ciências Contábeis, Gestão de Negócios, Odontologia, Turismo, Comunicação Social
e da Empresa Facic Jr.); Cooperlix; Prudenco; Secretaria no Meio Ambiente e Turismo e Secretaria
de Assistência Social de Presidente Prudente (TAKENAKA, 2008).
2004 a 2006: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria
Diocesana de Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon.
Resíduos Sólidos Urbanos - 141
Em 2009 houve uma consolidação das rotas de coleta e uma campanha de conscientização
da população atendida, focando na separação doméstica dos materiais recicláveis e sua disposição
para reciclagem.
Ao final do ano o grupo de apoiadores elaborou um “Plano de Coleta Seletiva de Presidente
Prudente”. Como o plano era para o município, foi necessário colocar a cooperativa no centro das
discussões, a qual, por sua vez, sofria simultaneamente de problemas críticos: dificuldade em
manter os então 26 cooperados; ausência de perspectiva de remuneração adequada; queda da
receita dos materiais vendidos, pela crise de 2008, que avançou em 2009 (LUSSARI, 2016).
Na Fase 3 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2008 a 2009: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria
Diocesana de Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon; Rotary Club de
Presidente Prudente; Fundação Banco do Brasil, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR) (IACIA, 2014).
Apesar de todas as dificuldades e desafios com que se defrontavam, o esforço de uma década
do grupo de apoiadores chamou a atenção dos Ministérios Públicos Federal e Estadual (de São Paulo),
os quais dispunham de um processo de compensações ambientais junto à CESP. Convidando o grupo de
apoiadores para uma consulta, buscavam algum projeto que beneficiasse a região, cujo
desenvolvimento fosse financiado pelo acordo de compensação junto à CESP (LUSSARI, 2016).
O resultado foi desenvolvimento e implementação do projeto “Coleta Seletiva de Resíduos
Sólidos Urbanos e Rede Regional de Reciclagem Solidária no Oeste Paulista”. Apresentado por
representantes da Unesp e Unoeste ao colegiado de Procuradores e Promotores, o projeto
contemplava as cidades da região, com a cidade de Presidente Prudente a sua principal atividade,
tanto por ser a maior geradora de materiais recicláveis urbanos, como por dispor da Cooperlix,
centralizando o processo de produção de flake (LUSSARI, 2016).
Considerado à época um dos maiores projetos do gênero a ser implantado no Brasil, para o
grupo de apoiadores era o reconhecimento e legitimação de sua atuação, justamente por seu
trabalho desenvolvido junto ao município de Presidente Prudente (LUSSARI, 2016).
Em 2012 foi realizada uma pesquisa junto aos cooperados, em que se identificou uma
percepção por parte dos cooperados de que a cooperativa era uma “casa de passagem”, em que
eles ficavam na cooperativa até encontrarem alguma atividade melhor, profissional e
financeiramente falando. Também houve a alocação de alunos para auxiliar na gestão da
cooperativa (LUSSARI, 2016).
Outro episódio neste ano foi a decisão da Prudenco assumir 100% da coleta seletiva no
município, frente à irregularidade da coleta realizada pela Cooperlix. Assim, o círculo vicioso de
menor renda, menos cooperados, redução do número de ações de coletas, diminuição do tempo
de mão de obra para separar e embarcar o material reciclável por parte da cooperativa
comprometia severamente a coleta seletiva. (LUSSARI, 2016).
Na Fase 4 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2010: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no Meio
Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Siemaco/Fenascon;
Rotary Club de Presidente Prudente; Fundação Banco do Brasil, Movimento Nacional dos Catadores
de Materiais Recicláveis (MNCR); Santander Universidade Solidária (IACIA, 2014).
144
No ano de 2013 foi formalizada uma segunda cooperativa, apoiada pela Prudenco, a partir
da retirada de catadores do lixão, e legitimada pela dificuldade de a Cooperlix dar cumprimento ao
volume reciclável proposto. Após visitar a Coopprudente, o grupo de apoiadores percebeu que a
atenção da Prefeitura e da Prudenco se dividiu em três frentes: a Cooperlix, a Coopprudente e a
persistente permanência de catadores de recicláveis no lixão (LUSSARI, 2016).
Uma pesquisa realizada com 130 moradores dos bairros Ana Jacinta e Cohab, além de 17
colaboradores da Cooperlix, em 2013, apontava que 85,93% dos entrevistados faziam a separação do
material reciclável, 98,52% consideravam importante a separação dos materiais recicláveis e 94,07%
acreditavam que a reciclagem era necessária para um futuro sustentável (BRITO et al., 2013).
O trabalho de Brito et al. (2013), além de evidenciar a preocupação com o meio ambiente
por parte da população, identificava uma confusão por parte da população sobre uma comunicação
adequada entre ela e o serviço de coleta seletiva. Isto porque Cooperlix, Prudenco e Prefeitura eram
as instituições relacionadas com a coleta seletiva.
Em novembro a direção da Cooperlix informava ao grupo de apoiadores que a Prudenco não
estava fazendo a remuneração adequada da coleta e que havia retirados os caminhões, deixando a
cargo da Cooperlix a coleta dos pontos fixos, enquanto se avolumavam as reclamações quanto à
coleta nos bairros (LUSSARI, 2016).
Com apenas 24 cooperados, a Cooperlix sobrevivia em situação precária. Na mesma época
um gestor profissional voluntário se disponibilizou para a gestão da cooperativa (LUSSARI, 2016).
Em 2014, alguns estudos realizados procuraram diagnosticar os diferentes problemas de
sobrevivência da Cooperlix. Barboza, Moraes e Rodrigues (2014) apontavam para a falta de
profissionalismo da gestão da cooperativa, que impedia o desenvolvimento da cooperativa. Também
evidenciava a necessidade de se apoiar a cooperativa, respeitando a autonomia de sua diretoria.
Resíduos Sólidos Urbanos - 145
Por sua vez, o trabalho de Real et al. (2014) apresentava algumas indicações importantes
sobre a Cooperlix: a coleta seletiva assumida pela Prudenco padecia dos problemas originais e ao
não atender todos os bairros; do material coletado pela Prudenco, boa parte era descartada no
lixão; a renda reduzida dos cooperados ainda era a principal causa de rotatividade da Cooperlix, por
considerarem menor que o “salário mínimo exigido por lei” (REAL et al., 2014).
Na Fase 4 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2013 a 2014: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; da
Siemaco/Fenascon; Fundação Banco do Brasil; Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR); Santander Universidade Solidária; Ministérios Públicos federal e estadual (de
São Paulo) (LUSSARI, 2016).
Nos dias que se sucederam a cooperativa já apresentava uma nova dinâmica, concentrando
cooperados dela, da Coopprudente e catadores do lixão. Ao mesmo tempo, por
aquiescência da diretoria, a gestão seria assumida por uma entidade regional de catadores.
(LUSSARI, 2016).
146
Um projeto social só pode ser realizável quando ocorre o engajamento de pessoas em torno de
um ideal que possa ser materializado. As pessoas que integraram o grupo de apoiadores, representando
suas respectivas instituições e as da Cooperlix, podem ser elevadas à condição expressada por Pierre
Gourou (1973 apud SANTOS, 2002, p. 33), “o homem, esse fazedor de paisagens, somente existe porque
ele é membro de um grupo que em si mesmo é um tecido de técnicas”.
Como visto, projetos de envergadura social demandam uma articulação profunda e delicada.
Profunda porque é possível obter a colaboração para grandes transformações, tal como é a coleta
seletiva e a inclusão social de catadores em cooperados. Isso envolve questões políticas,
estratégicas, sociais, econômicas e, mais importante, humanas.
148
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Resíduos Sólidos Urbanos - 151
Capítulo 8
Maria Cristina Rizk48; Fernando Sérgio Okimoto 49; Antonio Cezar Leal 50; Paulo Roberto Iacia51
INTRODUÇÃO
48 Professora assistente, doutora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. E-mail: crisrizk@fct.unesp.br
49 Professor assistente, doutor do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. E-mail: okimotofs@fct.unesp.br
50 Professor assistente, doutor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) –
Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. Pesquisador PQ-CNPq. E-mail: cezar@fct.unesp.br
51 Professor da Faculdade de Tecnologia de Presidente Prudente (FATEC), do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza,
área Administração e Negócios, administrador, mestre em Geografia (Mestrado Profissional) pela FCT/UNESP. E-mail:
paulo.iacia@fatec.sp.gov.br
152
As redes regionais de reciclagem ainda são pouco comuns no contexto nacional, mas o tema
vem sendo tratado por diferentes organizações e entes da sociedade no sentido de auxiliar na
agregação de valor, renda e melhoria das condições de trabalho e sociais dos envolvidos na
atividade. Assim, é importante discutir modelos para a estruturação de redes, contribuindo técnica
e socialmente para avanços na gestão dos resíduos sólidos, sob diferentes aspectos.
Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que, em
2008, a estimativa de composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil era de 31,9%
de material reciclável, correspondendo a 58.527,4 t/dia. O número de municípios com coleta
seletiva era de 994 (IPEA, 2012), menos de 18% do total.
Apenas 13% do total de resíduos urbanos gerados no Brasil são encaminhados para
reciclagem (IPEA (2013).
Entretanto, mesmo com o baixo percentual de reaproveitamento, o Brasil possui certo
destaque na indústria de reciclagem, como se verifica no reaproveitamento de materiais recicláveis.
Assim, dentre os produtos com índices relativos de reaproveitamento mais elevados do país estão
o alumínio e o papelão. Outros produtos com um bom percentual de reciclagem são: as latas de
aço, os papéis de escritório e embalagens longa vida (27%) (IPEA, 2013).
A coleta seletiva no Brasil é, em geral, realizada porta a porta (88%). Outra forma comum de
contribuir para a coleta seletiva é a partir dos pontos de entrega voluntária (PEVs) instalados em
edifícios públicos, parques, escolas, supermercados e centros comerciais, que acumulam os
materiais recicláveis entregues pelos geradores (CAMPOS, 2014).
O estudo do IPEA (2013) relata a existência de 692 empresas de reciclagem no Brasil, a
maioria das quais (80%) operando desde 2001, com 21.164 trabalhadores. Destas empresas de
reciclagem, 38% operam informalmente, 34% são associações e 28% são cooperativas.
Bortoli (2013) cita que a organização dos catadores de materiais recicláveis iniciou-se com a
formação de associações e cooperativas de catadores na década de 1990 e ganhou visibilidade com a
formação do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), surgido em 1999. No
ano seguinte, a ocupação profissional foi identificada pela Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) e,
na primeira década deste século, as manifestações e lutas dos catadores por condições dignas de
trabalho e de vida contribuíram para a mobilização nacional e internacional do segmento.
154
A atividade de catação apresenta considerável grau de informalidade, ainda que nos últimos
anos venham sendo desenvolvidas políticas públicas com o intuito de apoiar e fomentar a
organização de entidades de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, a fim de
viabilizar inclusão social, econômica e melhorias nas condições de trabalho, tais como o
Programa Pró-Catador do Governo Federal, com cooperação voluntária dos Estados e
municípios. A informalidade está associada à carência ou ausência de direitos e benefícios
trabalhistas, exposição a riscos ocupacionais, condições precárias de trabalho e não
remuneração pelo serviço de limpeza urbana prestado, contribuindo para a alta
vulnerabilidade social presente nesta classe [...]. (SÃO PAULO, 2014, p. 58).
Ainda não existem muitas informações e estudos oficiais sobre as redes de comercialização
que atuam no Estado de São Paulo, sendo destacadas as seguintes no Plano de Resíduos Sólidos do
Estado de São Paulo:
- Rede Cata Sampa (município de São Paulo, região do Alto Tietê Cabeceiras e Litoral);
- Rede Cata Vida (região de Sorocaba);
- Rede Verde Sustentável (região oeste da RMSP);
- Rede Unir (região de Campinas);
- Rede Reciclamp (região de Campinas);
- Rede Solidária de Cooperativas de Catadores da Alta Mogiana – COOPERCAM (região de
Ribeirão Preto);
- Rede Coopcent ABC (região do ABCD);
- Rede Cata Vale (região do Vale do Paraíba);
- Rede Oeste Paulista (região de Assis);
- Rede Paulista (Região Metropolitana de São Paulo) (SÃO PAULO, 2014, p. 62).
Resíduos Sólidos Urbanos - 155
De acordo com o Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo, a quantidade estimada
de materiais potencialmente reutilizáveis e recicláveis no Estado de São Paulo é de 12.277,57 t/dia,
sendo que apenas 245,55 toneladas são encaminhadas à reciclagem diariamente. Na Região
Administrativa de Presidente Prudente, localizada no oeste paulista, que abrange 53 municípios com
população de 746.589 habitantes, foi estimada uma geração de 583,96 t/dia de resíduos sólidos
urbanos, representando 1,52% da geração do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014).
O modelo de rede regional de reciclagem proposto neste estudo envolve 57 municípios
localizados na região oeste do Estado de São Paulo. Os municípios escolhidos fazem parte do
contexto do acordo entre o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Estado de São
Paulo (MPSP) e a Companhia Energética de São Paulo (CESP).
Figura 1 – Municípios envolvidos nos polos locais propostos para a rede regional de reciclagem do oeste paulista.
Figura 2 – Distribuição dos municípios nos polos locais propostos para a rede regional de reciclagem do oeste paulista.
A proposta de organização dos municípios em oito polos locais de reciclagem se deu levando
em consideração: o tamanho dos municípios quanto ao número de habitantes e geração de
resíduos; a estrutura viária existente para o escoamento dos resíduos recicláveis; a capacidade
industrial e comercial instalada; e a disponibilidade de entidades de apoio à atividade (por ex.:
regional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e/ou Universidades ou
Instituições de Pesquisa). Além disso, o município de Presidente Prudente foi definido como polo
regional de reciclagem, que atenderia à demanda dos municípios englobados em seu polo local,
juntamente com a demanda dos outros sete polos locais.
No modelo proposto, a sede de cada polo local teria uma estrutura de um Centro de
Integração Social e Sustentabilidade Ambiental (CISSA), capaz de suprir as demandas de triagem de
recicláveis do próprio município e as demandas de administração e/ou processamento de resíduos
que os municípios integrantes dos polos locais não pudessem processar. Os CISSAs, além da
infraestrutura para processamento de resíduos sólidos urbanos, também teriam espaços para
atividades de Educação Ambiental, incluindo capacitações, cursos e visitações.
158
O município sede do polo local contaria com um CISSA completo, com todos os espaços
necessários para as atividades de recebimento, triagem, processamento e comercialização dos
resíduos, além de espaços sociais e administrativos. Os CISSAs deveriam ter um espaço para o pós-
processamento dos resíduos com um parque de equipamentos capaz de triturar papel e papelão,
triturar PET, lavar e triturar vidros, etc., e até mesmo beneficiar os materiais recicláveis, por
exemplo, produzindo cordoalhas de PET e/ou papel reciclado e/ou artesanato em geral.
No âmbito social teriam as salas de atividades educacionais, vestiários, banheiros, cozinha,
refeitório e sala administrativa.
Nos espaços destinados às atividades de educação ambiental poderiam ocorrer palestras
com temas que atrairiam os cooperados e associados da região, bem como atender às demandas
de escolas da região nas visitas programadas.
Por fim, é importantíssimo pensar que os CISSAs, pela atividade de saneamento que
promovem, devam ser construções exemplos de sustentabilidade e utilizar materiais
sustentáveis como, por exemplo, o solocimento nas vedações e telhas com fibras recicladas,
com o reuso e o reaproveitamento de águas pluviais e residuais, e eficiência energética em suas
instalações elétricas, etc.
No caso do polo regional de reciclagem de Presidente Prudente, espera-se que o CISSA
regional processe grande quantidade de resíduos do município, de municípios vizinhos (da mesma
rede local) e de outros polos locais que não puderem processá-los. Espera-se também que o CISSA
do polo regional processe e comercialize os tipos de resíduos de menor demanda pelo mercado ou
aqueles que necessitem ter sua qualidade melhorada para alcançar o mercado mais exigente que
os demais CISSAs não conseguirem atender.
Nos municípios de porte intermediário, em termos de geração de resíduos sólidos per capita,
pertencentes aos polos locais, poderão ser criados CISSAs intermediários com uma infraestrutura
menor, capaz de realizar pequenas atividades de formação e/ou processamento de resíduos.
Nos demais municípios pertencentes a cada um dos polos locais, foram previstas estruturas
menores ainda, que conteriam basicamente o armazenamento, controle e posterior transbordo ao
polo local, como os galpões de transbordo ou os pontos de entrega voluntária. Caso seja necessário
e viável, poderia haver pequenos galpões com espaços para mais atividades. Isso significa que os
CISSAs podem ter diferentes portes e estruturas, de acordo com o contexto local.
Resíduos Sólidos Urbanos - 159
Dessa forma, os vários municípios enviariam aos polos locais resíduos de difícil reciclagem,
baixo volume ou baixo valor agregado, que, após acumulados e processados nos polos locais, em
maior escala, poderiam agregar valor e melhorar a capacidade de comercialização.
Os polos locais também teriam como função realizar atividades administrativas, como a
sistematização do comportamento do mercado, a venda dos resíduos, a emissão de nota fiscal, a
obtenção de capital de giro e a melhoria da capacidade administrativa de cada unidade da rede.
O art. 8º da Lei Federal nº 12.305/2010 define como instrumentos da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, entre outros, “o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de
cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à
redução dos custos envolvidos” (BRASIL, 2010, p. 5).
Nessa perspectiva, os polos locais foram propostos, de preferência, como consórcios entre
municípios, em que haveria uma infraestrutura de CISSA na sede do polo local, infraestrutura de
CISSAs intermediários, quando necessário, e estruturas de galpões de transbordo e de entrega
voluntária nos demais municípios. Os consórcios municipais poderiam se estender desde os
consórcios de aterros sanitários até o consórcio municipal de gestão das coletas seletivas.
Aquino, Castilho Júnior e Pires (2009) destacam que as indústrias que compram materiais
recicláveis são poucas, mantendo os preços dos recicláveis baixos. As indústrias buscam comprar
materiais em grandes quantidades e com boa qualidade. Em geral, os grandes sucateiros compram
os materiais em pequenas quantidades dos catadores para, posteriormente, formarem as cargas a
serem vendidas para os grandes compradores industriais. Os catadores, por sua vez, geralmente se
encontram dispersos, sem condições de negociar diretamente com a indústria e com pouco poder
perante os sucateiros.
Nesse sentido, a proposta de agrupamento dos municípios em rede buscaria alcançar
melhores condições de qualidade e quantidade do material reciclável, aumentando os valores de
venda. Essa proposta de infraestrutura compartilhada também promove uma redução de custos,
maior eficiência no saneamento ambiental dos resíduos passíveis de reciclagem, possibilidade de
haver cooperativas atuando em todos os municípios, mesmo que com sedes apenas em alguns, já
que há municípios que não conseguem agrupar sete catadores no município para criar uma
cooperativa, como prescreve a lei (BRASIL, 2012), mas em consórcio poderiam atuar conjuntamente
os catadores de dois ou mais municípios.
160
Caso não haja viabilidade técnica ou interesse político para a realização dos consórcios,
ainda é possível trabalhar em rede por meio de contratos individuais e específicos. A organização
em rede facilitaria:
Tomando-se como exemplo esse polo, verifica-se que o município teria a estrutura de um
CISSA local e receberia os resíduos recicláveis do próprio município, juntamente com os dos
municípios de Marabá Paulista, Piquerobi, Ribeirão dos Índios e Santo Anastácio.
Os quatro municípios ligados ao polo local possuiriam uma estrutura para o acúmulo e
transbordo dos resíduos, que também poderia funcionar como um ponto de entrega voluntária de
resíduos recicláveis.
Na Tabela 1 apresenta-se a população estimada, em 2014, nos municípios englobados no polo
local de Presidente Venceslau, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); os
dados referentes à geração diária de resíduos sólidos urbanos no ano de 2014, apresentados no
Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos de 2014 da Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB, 2015); e a estimativa da geração per capita de RSU nos municípios do polo local.
162
Observa-se que os municípios do polo local com maior número de habitantes, Presidente
Venceslau e Santo Anastácio, tiveram as maiores taxas de geração per capita de resíduos sólidos
urbanos, 0,76 e 0,65 kg/hab.dia, respectivamente. Esses valores foram inferiores aos da geração per
capita de RSU no Brasil em 2014, que foi de 1,062 kg/hab.dia (ABRELPE, 2015).
Os demais municípios do polo local com porte semelhante em termos populacionais,
Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios, tiveram uma geração per capita abaixo da média
nacional e dos outros municípios do polo local. Destaca-se o município de Marabá Paulista, que
apresentou uma geração per capita bastante reduzida de RSU de 0,31 kg/hab.dia.
Campos aponta que:
A geração per capita e a caracterização dos resíduos sólidos está relacionada com o
desenvolvimento econômico, o poder aquisitivo e o consumo de uma população. Famílias
mais abastadas, cidades maiores e países mais ricos apresentam indicadores de geração per
capita de resíduos sólidos superiores às famílias mais pobres, cidades menores e países em
desenvolvimento. Tem havido em vários países desenvolvidos uma preocupação crescente
com a redução da geração per capita dos resíduos ou a sua estabilização com metas e
instrumentos econômicos implantados. No entanto, o alcance da redução da geração per
capita de resíduos sólidos depende de uma série de fatores que poderão permitir uma
mudança mais significativa nos atuais padrões de produção e consumo e surtir os efeitos
desejados. (CAMPOS, 2012, p. 178).
A coleta seletiva estimada no país ainda é muito incipiente, com baixas quantidades de
materiais efetivamente encaminhadas para a reciclagem. No caso do polo local estudado, a situação
também se verifica. Observa-se na Tabela 2 que os municípios com maior potencial de geração de
materiais recicláveis são Presidente Venceslau e Santo Anastácio.
A Tabela 3 foi elaborada determinando-se o número de catadores necessários para as
atividades de reciclagem nos CISSAs dos municípios do polo de Presidente Venceslau. A estimativa
foi feita adotando-se os dados do IPEA (2010), que classifica a produtividade das cooperativas em
alta e média eficiência (maior eficiência = cerca de 1.800 kg por catador/mês), média e baixa
eficiência (eficiência mediana = aproximadamente 1.100 kg por catador/mês) e baixa e baixíssima
eficiência (menor eficiência = cerca de 550 kg por catador/mês). Na Tabela 3 foram considerados os
três cenários em que a produtividade baixa e baixíssima é esperada no momento de implantação
da Rede, mas prevê-se uma evolução temporal na gestão dos RSU recicláveis dos municípios,
decorrente da melhoria em infraestrutura e capacitações, permitindo a obtenção de cooperativas
de alta e média eficiência.
164
Em termos de Educação Ambiental, no CISSA municipal de Santo Anastácio poderia haver uma
pequena sala para os processos e arquivos administrativos, uma pequena sala de atividades (aulas,
cursos e outras), banheiros acessíveis e cozinha/refeitório para a potencial cooperativa. O CISSA local,
de Presidente Venceslau, abrigaria salas maiores e espaços externos para as atividades de seus
cooperados (eventualmente, receberia os cooperados de Santo Anastácio e poderia abrigar os
catadores de Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios, que não conseguissem montar suas
cooperativas nesses municípios por falta de pessoas) e receberia as crianças e adultos dos cinco
municípios que visitariam e/ou receberiam informações sobre o tema nessas dependências.
Por fim, essa estrutura de polos se repetiria oito vezes na região, reforçando-se que o polo
de Presidente Prudente, além de ser considerado polo local para os municípios satélites, foi
considerado no modelo como sendo polo regional para todo o conjunto e isso implica maior
estrutura física necessária neste polo regional e maiores responsabilidades administrativas,
principalmente no que se refere à comercialização de alguns produtos e na educação ambiental,
quando for necessária uma mobilização em maior escala.
Dentro da perspectiva da Rede Regional de Reciclagem, entende-se como procedimento
necessário a firmação de contratos entre cooperativas e administração municipal, nos quais os
direitos e deveres de cada agente estejam bem claros e que as metas, as estratégias e as ações
estejam não somente contempladas, como quantificadas com seus devidos indicadores de
qualidade para que o correto saneamento ambiental também seja alcançado.
Tais cooperativas devem ser formadas localmente nos municípios com os atuais profissionais
da atividade, porque a estruturação de uma coleta seletiva e os demais tópicos da gestão de
resíduos sólidos recicláveis deve afetar sobremaneira a atividade informal de catação. Quando não
houver número suficiente de cooperados para a formação de uma cooperativa, entende-se que os
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resíduos do município devam ser coletados localmente, mas processados no polo local e,
consequentemente, os catadores poderiam ser incluídos nesta cooperativa local. Por exemplo, os
catadores dos municípios de Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios poderiam aderir às
cooperativas de Presidente Venceslau ou de Santo Anastácio.
Entende-se, também, que as coletas seletivas municipais devem ter a participação e a
coordenação da cooperativa, mesmo quando o modelo de contrato imputa a responsabilidade
logística para a gestão municipal, visando, em primeiro lugar, a criar e desenvolver uma conexão
entre agentes saneadores (catadores e prefeitura) e os cidadãos, fazendo com que estes últimos
entendam melhor seus papéis na atividade e todo o viés social. Em segundo lugar, a cooperativa
necessita ter o controle da coleta para não haver distorções entre o material coletado e o material
que chega aos CISSAs.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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