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Nr

Resíduos Sólidos Urbanos - 1

Coordenadora
María Gloria Fabregat Rodríguez

Organizadores
Antonio Cezar Leal
Maria Zanin
Leonice Seolin Dias

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS


aproximação ao tema em cidades de Cuba e Brasil

1ª Edição

ANAP
Tupã/SP
2018
2

EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Cidade de Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310.
Contato: (14) 99808-5947
www.editoraanap.org.br
www.amigosdanatureza.org.br
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Editoração e Diagramação da Obra: Leonice Seolin Dias; Sandra Medina Benini


Revisão Ortográfica Textual em Português: Smirna Cavalheiro

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Geografia
Resíduos Sólidos Urbanos - 3

Coordenação e Organizadores

Coordenação

María Gloria Fabregat Rodríguez


Doutora em Ciências Geográficas pela Universidade de Havana, Cuba. Professora Titular. Experiência em pesquisa
e docência. Linhas principais: Planejamento ambiental territorial, urbano e empresarial; Ambiente e
saúde; Geografia cultural; Resíduos sólidos urbanos. Atualmente é bolsista de pós-doutorado CAPES
em Geografia, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, campus de Presidente Prudente,
São Paulo, Brasil.

Organizadores

Antonio Cezar Leal


Geógrafo, com especialização em Ensino de Geociências, Mestre em Geociências e Meio Ambiente e Doutor em
Geociências. Professor e orientador nos cursos de Geografia e Engenharia Ambiental e no Programa de Pós-
graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de
Mesquita Filho", Campus de Presidente Prudente. Coordenador do Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental e
Dinâmica Socioespacial – GADIS. Pesquisador do CNPq e responsável por projetos de pesquisa e de extensão
universitária sobre gerenciamento de recursos hídricos e gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos,
com apoio do CNPq, CAPES, FEHIDRO e FAPESP. Representante da UNESP no Conselho Estadual de Recursos
Hídricos e participante dos Comitês das Bacias Hidrográficas do Rio Paranapanema e do Pontal do Paranapanema.

Maria Zanin
Professora aposentada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), atualmente vinculada ao NUMI-Eco
Sol/UFSCar (Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária) e
ao Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar. Tem experiência nas áreas de
Engenharia de Materiais e de Economia Solidária, atuando principalmente nos seguintes temas: reciclagem de
plásticos pós-consumo, gestão de resíduos urbanos, tecnologias sociais, economia solidaria e cooperativas de
catadoras e catadores de materiais recicláveis.

Leonice Seolin Dias


Bióloga, com Doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista-UNESP, Mestrados em Ciências
Biológicas e em Ciência Animal e Especialização em Ciências Biológicas pela Universidade do Oeste Paulista-
UNOESTE, Habilitação em Biologia pelas Faculdades Adamantinenses Integradas-FAI e Graduação em Ciências
pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Tupã. Atua na área de Ecologia de insetos vetores, com ênfase
em dípteros muscoídeos (moscas). Membro participante do Grupo de Pesquisa em Biogeografia e Geografia da
Saúde (BIOGEOS) da UNESP de Presidente Prudente-SP.
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Conselho Pareceristas “ad hoc”

Profª Dra. Cláudia Megale Adametes. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Crescencio L. Calva-Alejo. Universidad Autónoma de Baja California, México
Profª Dra. Encarnita Salas Martin. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez. Universidad de Arizona, México
Prof. Dr. Marcelino Andrade Gonçalves. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Brasil
Prof. Dr. Matheus Fernandes de Castro. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP, Brasil
Prof. Dr. Mauricio Guzmán Chávez. Colegio de San Luis, A.C, México
Prof. Dr. Rodolfo Ripoll Salcines. Universidad de Cienfuegos - UCF, Cuba

Conselho Pareceristas Permanente

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg – UPC/Barcelona, Espanha
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva Profª Drª Josinês Barbosa Rabelo – UFPE
Prof. Dr. Alexandre França Tetto – UFPR Profª Drª Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia – UFPB
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM Profª Drª Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro – FEA
Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González – UNEMAT Prof. Dr. Júnior Ruiz Garcia – UFPR
Profª Drª Alina Gonçalves Santiago – UFSC – UFV Profª Drª Karin Schwabe Meneguetti – UEM
Profª Drª Aline Werneck Barbosa de Carvalho Profª Drª Leda Correia Pedro Miyazaki – UFU
Profª Drª Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – UFPA Profª Drª Lidia Maria de Almeida Plicas – IBILCE/UNESP
Profª Drª Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa – IFAC Profª Drª Lisiane Ilha Librelotto – UFS
Profª Drª Ana Paula Santos de Melo Fiori – IFAL Profª Drª Luciana Ferreira Leal – FACCAT
Prof. Dr. André de Souza Silva – UNISINOS Profª Drª Luciana Márcia Gonçalves – UFSCar
Profª Drª Andrea Holz Pfutzenreuter – UFSC Prof. Dr. Marcelo Campos – FCE/UNESP
Prof. Dr.Antonio Cezar Leal - UNESP/PP Prof. Dr. Marcelo Real Prado – UTFPR
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM Profª Drª Maria José Martinelli Silva Calixto – UFGD
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos – UPE Profª Drª Márcia Eliane Silva Carvalho – UFS
Profª Drª Arlete Maria Francisco – FCT/UNP Profª Drª Marcia Aparecida da Silva Pimentel – UFPA
Profª Drª Beatriz Ribeiro Soares – UFU Prof. Dr. Márcio José Catelan – UNESP/PP
Prof. Dr.Bernardo Arantes do N. Teixeira - UFSCar Prof. Dr.Marcio Douglas Brito Amaral – UFPA
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada – Profª Drª Margareth de Castro Afeche Pimenta – UFSC
Prof. Dr. Carlos de Castro Neves Neto –UNESP/PP Profª Drª Maria Ângela Dias – UFRJ
Profª Drª Carmem Silvia Maluf – Uniube Profª Drª Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci – IAU
Profª Drª Célia Regina Moretti Meirelles – UPM Profª Drª Maria José M. Silva Calixto – UFGD
Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti – FCT/UNESP Profª Drª Maria Augusta Justi Pisani – UPM
Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi – UFSC Profª Drª Maria Betânia M. Amador – UPE – Campus Garanhuns
Prof. Dr. Crescencio L. Calva Alejo – Pesquisador/México Profª Drª María Glória F. Rodríguez – IEA/Cienfuegos – Cuba
Profª Drª Cristiane Miranda Martins – IFTO Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
Profª Drª Daniela de Souza Onça – FAED/UESC Profª Drª Maria José Neto – UFMS
Profª Drª Denise Antonucci – UPM Profª Drª Maria Zanin - UFSCar
Profª Drª Diana da Cruz Fagundes Bueno – UNITAU Profª Drª Maristela Gonçalves Giassi – UNESC
Prof. Dr. Edson L. Ribeiro – Unieuro –Ministério das Cidades- BR Profª Drª Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira – UFMT
Profª Drª Eliana Corrêa Aguirre de Mattos – UNICAMP Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG
Profª Drª Eloisa Carvalho de Araujo – UFF Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira – UNINOVE
Profª Drª Eneida de Almeida – USJT Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar Prof. Dr. Natalino Perovano Filho – UESB
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Profª Drª Fátima Aparecida da SIlva Iocca – UNEMAT Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres – FAU/USP
Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo – Centro Universitário AGES Profª Drª Olivia de Campos Maia Pereira – EESC – USP
Profª Drª Fernanda Silva Graciani – UFGD Profª Drª Onilda Gomes Bezerra – UFPE
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UMS Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP
Profª Drª Flávia Maria de Moura Santos – UFMT Prof. Dr. Renan Antônio da Silva – UNESP – IBRC
Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo – UFRN Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior – UESPI Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara – UFSCar
Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula – UFJF Profª Drª Risete Maria Queiroz Leao Braga – UFPA
Prof. Dr. Frederico Canuto – UFMG Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai – UFSCar Prof. Dr. Rodrigo Barchi – UNISO
Profª Drª Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues – UFU Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos – UFSC
Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto – UEM Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – UNIFAL-MG
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo – UFMS Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo – UFMA
Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez – CIESAS – México Prof. Dr. Salvador Carpi Júnior – UNICAMP
Profª Drª Gianna Melo Barbirato – UFAL Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva – FEIS/UNESP
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza – UFU Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho – FEIS/UNESP
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia – FCT/UNESP Profª Drª Sílvia Carla da Silva André – UFSCar
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA Profª Drª Silvia Mikami G. Pina – Unicamp
Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR Profª Drª Simone Valaski – UFPR
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria – FAAC/UNESP Profª Drª Tânia Paula da Silva – UNEMAT
Prof. Dr. José Aparecido dos Santos – FAI Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira – FURG
Prof. Dr. José M. Mateo Rodriguez – Univ. de Havana – Cuba Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto – FCAE/UNESP
Prof. Dr. José Sobreiro Flho – UFPA Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior – UFCG
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Sumário

Prefácio 09

Apresentação 11

Capítulo 1 15
LA GESTIÓN DE LOS RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS EN LA CIUDAD DE CIENFUEGOS,
CUBA: problemática general
María Gloria Fabregat Rodríguez; Tatiana Alonso Pérez

Capítulo 2 29
LOS PRINCIPIOS JURÍDICOS PARA LA CONFORMACIÓN DEL MARCO LEGAL DE LOS
RESIDUOS SÓLIDOS COMUNES EN CUBA
Susana Bolufé Malboa; Aylí Díaz Bacallao; Yailén Monzón Bruguera

Capítulo 3 51
EXPERIÊNCIAS NA GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS (UFSCAR), SÃO PAULO, BRASIL
Ana Marta Ribeiro Machado; Liane Biehl Printes; Paula Adriana da Silva; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira; Maria Zanin

Capítulo 4 77
FÓRUNS COMUNITÁRIOS COMO ESTRATÉGIA PARA CONTROLE SOCIAL DE POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: O CASO DE SÃO CARLOS, SÃO PAULO,
BRASIL
Carolina Valente Santos; Maria Zanin; Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira

Capítulo 5 89
DESAFIOS E POTENCIALIDADES DE UMA COOPERATIVA DE CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DA
COOPERVIDA, SÃO CARLOS, SÃO PAULO, BRASIL
Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira; Carolina Valente Santos; Bernardo Arantes do Nascimento
Teixeira; Maria Zanin

Capítulo 6 109
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL: histórico de
destinação final, modelos de gestão e a contribuição do Plano Diretor Municipal
Edilene Mayumi Murashita Takenaka; Alba Regina Azevedo Arana; Antonio Cezar Leal

Capítulo 7 125
MUDANDO A CULTURA DE UMA SOCIEDADE: O PAPEL DO GRUPO DE APOIADORES NA
IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Wilson Roberto Lussari

Capítulo 8 151
REDE REGIONAL DE RECICLAGEM NO OESTE PAULISTA: proposição e subsídios para
sua organização
Maria Cristina Rizk; Fernando Sérgio Okimoto; Antonio Cezar Leal; Paulo Roberto Iacia
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Prefácio
Everaldo Santos Melazzo1

A articulação entre ensino, pesquisa e extensão, tripé constituinte das universidades


financiadas com recursos públicos, deve ter sempre, como referência máxima, os problemas sociais
colocados em cada momento histórico, sua relevância e, principalmente, o potencial transformador
dos conhecimentos nelas gerados e disseminados para seu enfrentamento. E é justamente a partir
desses princípios que o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente, procura situar em sua práxis cotidiana,
sendo este livro expressão de seus compromissos com a sociedade.
O tema central, a estratégia de abordagem, as informações compiladas e organizadas e a
sequência em que são apresentados fazem deste livro um excelente exemplo de resultado de
investigações não apenas rigorosas intelectualmente, mas também comprometidas socialmente.
Os oito capítulos que o compõem articulam as diferentes dimensões analíticas que o debate a
respeito dos resíduos sólidos urbanos deve ganhar para muito além da discussão acadêmica: a dimensão
ambiental, a econômica, a da saúde, institucional/regulatória e, sobretudo, a social. Apresenta a
perspectiva analítica de uma pesquisa que coloca frente a frente os avanços, obstáculos e desafios
existentes em Cuba e no Brasil e adiciona um elemento diferenciador ao esforço: aquele que se refere
à aprendizagem mútua a partir de contextos geográficos que se aproximam e se distanciam.
O convite para sua leitura por pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, além dos
formuladores de políticas e do público em geral, decorre da importância e da urgência da questão em si
mesma. A produção, disposição/destinação, reciclagem e o reaproveitamento dos diferentes tipos de
resíduos sólidos ultrapassam, em muito, as políticas públicas que lhe são necessárias e atinge processos
de educação, organização e empoderamento de comunidades em diferentes escalas.
Ao registrar experiências concretas no Brasil e em Cuba, permite colocar em destaque o
processo de construção, passo a passo, de marcos regulatórios, instrumentos e instâncias de gestão,
articulações horizontais e/ou verticais de diferentes agentes e mecanismos cruciais de participação
e controle sociais, além, é claro, do imenso potencial representado pelos desdobramentos
consubstanciados no campo da economia solidária, por exemplo, através do cooperativismo.

1 Economista pela Universidade Federal de Uberlândia - MG. Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP e Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista Produtividade do CNPq-2.
É professor da UNESP em Presidente Prudente- SP, junto ao Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente e docente do Programa
de Pós-Graduação em Geografia. Membro do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia.
Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Geografia acadêmico da FCT/Unesp. E-mail: melazzo@fct.unesp.br
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Por fim, digno de reconhecimento é o registro deste trabalho a partir da origem e inserção
institucional de seus organizadores, não apenas como resultado de um projeto de pós-
doutoramento, com recursos da CAPES/PNPD, mas também dos esforços continuados de um grupo
de pesquisa, o GADIS (Grupo de Pesquisa Gestão Ambiental e Dinâmica Socioespacial) e das relações
interinstitucionais entre a Universidade Estadual Paulista e a Universidade Federal de São Carlos.
Este livro, assim, cumpre diferentes papéis: aproxima o Brasil de Cuba, aproxima
pesquisadores de diferentes grupos e Universidades e, fundamentalmente, aproxima conhecimento
teórico, metodológico e empírico para uma apropriação efetivamente social e transformadora.
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Apresentação

Este livro vincula-se diretamente com o projeto de pesquisa em nível de pós-doutorado


intitulado “GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E GERAÇÃO DE
TRABALHO ASSOCIADO E RENDA NO BRASIL E EM CUBA: estudo aplicado em Presidente Prudente e
São Carlos, Brasil, e em Cienfuegos, Cuba”, com apoio da CAPES/PNPD, que desenvolve a Dra. María
Gloria Fabregat Rodríguez junto ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Faculdade de
Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus
de Presidente Prudente, estado de São Paulo, Brasil, com a supervisão do Prof. Dr. Antonio Cezar
Leal e a assessoria (colaboração) da Profª. Dra. Maria Zanin, da Universidade Federal de São Carlos.
O livro tem como objetivo principal mostrar o mais significativo e as diferenças sobre o tema
dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) nas cidades em foco. Independentemente da gestão que se
realiza em cada uma delas, existem particularidades que se expõem nos artigos selecionados, nos
quais estão envolvidos investigadores e estudantes de pós-graduação vinculados ao tema e
envolvidos com o projeto desde junho de 2015 até o momento da publicação deste livro.
As cidades objeto de estudo tem população maior que 100.000 e menor que 500.000
habitantes, são centros socioeconómicos em suas regiões e possuem condições de vida parecidas,
a partir da comparação dos IDH de seus países, publicado no Informe sobre Desenvolvimento
Humano 2016, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a partir de dados
do ano 2015, no qual Brasil e Cuba aparecem com IDH alto, Cuba em 68º lugar (0,775) e Brasil no
79º (0,754), considerando-se, ademais, que as duas cidades brasileiras estudadas se localizam no
estado de São Paulo, com IDH alto segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil,
publicado em 2013 com dados de 2010, e essas cidades, em particular, tem IDH muito alto,
Presidente Prudente (0.806) e São Carlos (0.805), ainda que Cienfuegos tenha sido posicionada em
vários estudos como a segunda cidade de Cuba quanto ao IDH, depois de Havana, com IDH 0.8389,
segundo a Investigação sobre Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Humano em Cuba, dirigida
pelo Centro de Investigações da Economia Mundial, e publicada no ano 2013.
Independentemente destas similitudes, existem contextos políticos, ideológicos e
econômicos diferentes entre Cuba e Brasil, o que, de alguma forma, pode incidir no tema dos
RSU. Neste contexto, no livro busca-se apenas a apresentação das diferenças e uma provocação
para introduzir no tema dos RSU uma visão geográfica desde a diferenciação espacial, neste
caso, nos espaços urbanos.
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Para além dos processos habituais na gestão dos RSU, o tema tem relação com a política
(modo de produção), com as políticas públicas, com a economia, com a cultura e com as pessoas.
Em Cuba, o modo de produção socialista tem facilitado que exista uma grande empresa
estatal que garante a recepção e o processamento dos materiais recicláveis, ainda que o faça de
forma ineficiente e ineficaz, perdendo ganhos econômicos que se poderiam obter em função do
desenvolvimento do pais. Entretanto, tem logrado que reciclar em Cuba não seja uma atividade
laboral para excluídos e nem para pessoas marginalizadas pela sociedade, pois qualquer pessoa em
Cuba pode separar seus resíduos em materiais recicláveis, vende-los ou trocá-los por produtos que
se ofertam nos pontos de troca existentes em todo o país, medida que resulta muito parecida ao
exposto pela economia solidária no Brasil, que, sem dúvidas, tem muito a ver com os princípios do
modo de produção socialista.
Não existe em Cuba nenhuma lei específica para o tema dos RSU, apenas três normas do ano
2002, e a política de reciclagem aprovada pelo Conselho de Ministros no ano 2012 não tem sido
implementada, tendo um caráter fortemente economicista. Em geral, as políticas públicas relativas
aos RSU são débeis, pouco conhecidas e muito pouco debatidas na sociedade cubana.
Por sua vez, o Brasil, embora ainda com grandes desafios para resolver na prática os problemas
decorrentes dos RSU, tem avançado muito nos aspectos sobre políticas públicas e legislação. No tema
dos RSU, o país tem uma Lei Federal desde 2010 (Lei nº 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos
Sólidos) que rege esta política e estabelece as responsabilidades dos geradores, do poder público, e dos
consumidores, bem como os instrumentos econômicos aplicáveis. Além de seu regramento e replicação
em cada estado, que incluem a educação ambiental e questões inovadoras, como a logística reversa
(responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto), princípios como o da prevenção e
precaução, do poluidor-pagador, da ecoeficiência, entre outros.
Em comum aos dois países entende-se que a participação das pessoas seguirá sendo muito
importante para acionar as mudanças a favor do bem estar social e ambiental, para os quais é
imprescindível a educação, o ensino, o conhecimento com qualidade para formar pessoas capazes
de promover e materializar as mudanças necessárias em cada lugar. Contribuir para que isto ocorra
é um dos propósitos deste livro.
Nos diferentes capítulos do livro expõem-se as experiências mais significativas de cada
cidade em relação à gestão dos RSU, como, por exemplo, no Capítulo 1 em que se destacam as
grandes dificuldades existentes na cidade de Cienfuegos, Cuba, onde os RSU são coletados sem
prévia segregação e com uma disposição final do tipo mais atrasado no mundo, que inclui a queima
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a céu aberto, a indisciplina na higiene comunal e a deficiente e atrasada legislação existente sobre
o tema. Entretanto, mostra a experiência de uma empresa estatal que desde 1961 se encarrega da
gestão dos materiais recicláveis, tanto estatal como privada, e que, ainda que possa ser mais
eficiente a partir de uma política coerente sobre a reciclagem, mostra uma experiência sui generis,
que salva do caos o tema dos RSU em Cuba.
Em outro sistema sócio-político estão as cidades de Presidente Prudente e São Carlos, que
mostram também particularidades na gestão dos RSU, abordadas nos demais capítulos do livro.
Se destaca a existência de um fórum comunitário que debate sobre a gestão dos resíduos
sólidos em São Carlos, como prática de controle social de políticas e de estratégia de participação e
fiscalização de suas implementações, ao qual se devem múltiplos avanços na conscientização cidadã
e no tratamento com os catadores, apesar de não ter até o momento o plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos.
Destaca-se também em São Carlos a gestão dos resíduos sólidos na Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), meritório trabalho que a diferencia entre as universidades brasileiras e
cubanas, nas quais o tema é praticamente ausente, tanto na gestão como na preparação de
estudantes que possam abordá-lo na graduação e na pós-graduação.
E ademais é notória a experiência da Coopervida – Cooperativa de Trabalho dos Catadores
de Materiais Recicláveis de São Carlos, com suas particularidades, potencialidades e dificuldades do
trabalho realizado por seus cooperados desde sua criação, em 2002.
A cidade de Presidente Prudente se destaca por ser a única das três cidades que tem o plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, desde 2012, ainda que faltem muitas questões
por solucionar para sua ótima gestão, como explicitado no capítulo 6.
O capítulo 7 está dedicado à experiência por 15 anos do grupo de apoiadores da Cooperlix –
Cooperativa de Produtos recicláveis de Presidente Prudente e à conscientização da população no
tema da reciclagem.
Por último se expõe, no capítulo 8, o modelo para estruturar a Rede Regional de Reciclagem
no Oeste Paulista, com interessantes propostas para sua organização.
Los organizadores desejam agradecer a todos os professores e estudantes de pós-graduação
que participarão nos artigos, aos pareceristas pelo abnegado trabalho de revisão dos artigos, à
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista, editora ANAP, por tão gentilmente aceitar editar e
publicar este livro, à CAPES/PNPD pelos recursos de apoio ao desenvolvimento da pesquisa de pós-
doutorado e a todas as pessoas que de alguma forma tem contribuído para esta publicação.
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Espera-se que, embora numa linguagem acadêmica, no entanto simples, este livro possa
ser referência não somente para acadêmicos e estudantes de cursos técnicos, de graduação e
pós graduação nas áreas ambiental, sanitária, de administração e de engenharia, como também
para as catadoras e catadores de materiais recicláveis e profissionais que atuam nas
organizações de empreendimentos de reciclagem de resíduos e nos órgãos públicos voltados à
gestão de resíduos sólidos urbanos.

Os Organizadores

Tupã-SP, 2018.
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Capítulo 1

LA GESTIÓN DE LOS RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS EN LA CIUDAD DE CIENFUEGOS, CUBA:


Problemática General

María Gloria Fabregat Rodríguez 2; Tatiana Alonso Pérez3

INTRODUCCIÓN

Prácticamente todas las actividades y/o procesos en la vida; naturales o sociales; generan
desechos, con la diferencia que la naturaleza le lleva ventaja a los hombres en la eliminación y
reciclaje de los suyos, como base de su sustentabilidad.
El reto social es disminuirlos a la mínima expresión, hacerlos reciclables y reducir sus efectos
negativos sobre el medio ambiente y la salud pública, a través de una gestión ambiental eficaz y
económica, que considere el nuevo paradigma que pasa de una filosofía de gestión de residuos a
gestión sostenible de recursos.
Cada vez más, se considera que los residuos son un recurso que debe explotarse
contribuyendo a potenciar la reducción de las emisiones de gases efecto invernadero (GEI) a través
de la recuperación de materiales y de energía. Hasta entonces, no se podrá hablar con certeza de
un desarrollo sostenible.
Lamentablemente, el tema queda pendiente en la mayoría de las agendas gubernamentales
y no es asumido conscientemente por la sociedad, quizás por lo que representan “los desechos”,
“los residuos”, “la basura” y la débil percepción social sobre la importancia del tema junto a la
insuficiente educación ambiental, económica, de salud y legislativa, además de la poca visión
integral del proceso.
Según la Organización de las Naciones Unidas para el Desarrollo Industrial (ONUDI), los
residuos sólidos pueden clasificarse de acuerdo a “su origen (domiciliar, industrial, comercial, de la
construcción, industriales y agrícolas); a su composición química (orgánicos e inorgánicos); o de
acuerdo a su riesgo (peligrosos, inertes y no inertes)” (ONUDI; Secretaría Estatal para Asuntos
Económicos (SECO); Laboratorio de Análisis de Residuos (LARE, 2007, p. 28).
Sus denominaciones y definiciones varían de un país a otro y dentro de los propios países.

2 Dra en Ciencias Geográficas por la Universidad de La Habana, Cuba. Profesora Titular. Actualmente bolsista posdoctoral CAPES/PNPD en
Universidade Estadual Paulista - UNESP, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil. E-mail: mgfabregat1961@yahoo.es
3 Licenciada en Geografía por la Universidad de La Habana. Master en Manejo Integrado de Cuencas y Áreas Costeras por la Universidad de

Cienfuegos. Especialista en Gestión Ambiental del Centro de Estudios Ambientales de Cienfuegos, Cuba. E-mail: tatiana@gestion.ceac.cu
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En algunas regiones se observan avances en la gestión de los residuos sólidos urbanos


(RSU), por ejemplo en Estados Unidos de América (EUA) la generación, el reciclaje, el
compostaje, la combustión con recuperación de energía y el depósito en vertederos han
evolucionado favorablemente.
Según datos de la Agencia de Protección Ambiental de los EUA (EPA, siglas en inglés), la
generación diaria de desechos sólidos por persona alcanzó su punto máximo en el año 2000. La cifra
del año 2014 fue de 4.4 libras diarias por persona, muy similar a las cifras del año 2013 y es una de
las tasas más bajas desde antes de 1990 (EPA, 2016, p. 4).
El reciclaje y la tasa de compostaje ha aumentado de menos de diez (10) por ciento de los RSU
generados en 1980 a más de 34 por ciento en 2014. La combustión con recuperación de energía
aumentó de menos del dos por ciento de la generación en 1980 al 12.8 por ciento en 2014. El vertido
de residuos disminuyó del 89 por ciento en 1980 a menos del 53 por ciento en 2014. (EPA, 2016, p.4).
En el informe Estadísticas sobre residuos, de la Unión Europea (EUROSTAT), se plantea que
en 2014 se generaron 891 millones de toneladas de residuos, excluyendo los grandes residuos
minerales, equivalente al 36 por ciento del total de los residuos generados. La media anual por
habitante de la Unión Europea (UE) fue de 1,8 toneladas de residuos. Entre 2004 y 2014, la
generación total de residuos, descendió un 5.3 por ciento, mientras que la cantidad por habitante
lo hizo en un 8,0 por ciento (EUROSTAT, 2017).
En América Latina las diferencias en la gestión de RSU es significativa, el informe de la
Evaluación Regional del Manejo de Residuos Sólidos Urbanos en América Latina y el Caribe (EVAL)
estimó que en 2010 la generación de RSU por habitante fue de 0,93 kg/ hab/día, lo que implica para
la región una generación urbana diaria aproximada de 436.000 toneladas de RSU (ASOCIACIÓN
INTERAMERICANA DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL-AIDIS, 2010).
Solo siete países de la región han avanzado en la legislación logrando promulgar una ley
nacional sobre residuos, ellos son: Argentina, Perú, Paraguay, México, Venezuela, Costa Rica y Brasil.
En Brasil, después de 21 años de discusión, el Congreso Nacional aprobó la Ley Nacional de los
Residuos Sólidos que entre otras cosas prohíbe la utilización de vertederos no controlados y obliga
al Gobierno Federal, a los Estados y a los Municipios a elaborar planes de tratamiento de RSU,
estableciendo metas y programas de reciclaje (AIDIS, 2010).
Con respecto a Cuba, aunque en la década de 1980 el crecimiento económico del país
determinó un mejoramiento en la calidad de los servicios comunales y especialmente en la gestión
de los residuos sólidos urbanos, la depresión económica y financiera ocurrida a partir de 1990 incidió
negativamente en ello, lo que provocó un deterioro de las condiciones higiénico sanitarias,
ambientales y de salud de la población, afectando su calidad de vida.
Resíduos Sólidos Urbanos - 17

El documento “Estrategia Ambiental Nacional 2011-2015” del Ministerio de Ciencia,


Tecnología y Medio Ambiente de Cuba (CITMA) reconoció que el inadecuado manejo de los
residuos sólidos y su insuficiente gestión, constituye un serio problema en muchas localidades del
país (CITMA, 2011).
En la “Estrategia Ambiental Nacional 2016-2020” se declara:

La gestión de residuos sólidos presenta grandes dificultades en las etapas de recolección,


almacenamiento, transporte, tratamiento y disposición final. Esta situación se debe a
múltiples factores que incluyen: inestabilidad y deficiencias en las operaciones de recogida y
transportación; insuficiente aplicación de prácticas destinadas a la recogida selectiva y la
segregación en la fuente de origen; limitada disponibilidad e insuficiente estado técnico del
equipamiento especializado; limitada cantidad de rellenos sanitarios con un diseño, operación
y desempeño capaz de alcanzar el manejo satisfactorio de los residuos; insuficiente
infraestructura y tecnología para el reuso/reciclaje a niveles apropiados; la indisciplina, así
como la falta de educación y de cultura ambiental por parte de directivos, técnicos, operarios
y población en general…Por otra parte, se manifiesta la carencia de un sistema para la gestión
de residuos generados en la actividad constructiva, de poda y otros residuos de gran volumen,
mientras que la recolección, transporte y disposición final de desechos sólidos de origen
industrial y hospitalario, los cuales son considerados peligrosos, se realiza en ocasiones de
conjunto con los residuos domésticos, lo que constituye un serio riesgo para la salud de la
población. Esta problemática es recurrente desde hace varios años y aún está muy lejos de
ser resuelta (CITMA, 2016, p. 15).

La República de Cuba dispone de una estructura institucional para la atención de las actividades
del sector de residuos sólidos urbanos. El Ministerio de Economía y Planificación (MEP) es el organismo
encargado de orientar y controlar la conformación de los planes de los servicios comunales, el Ministerio
de Salud Pública (MINSAP), en su carácter de órgano rector sanitario, tiene la responsabilidad legal de
dictar medidas relacionadas con el control sanitario del ambiente para proteger la salud de la población
y el Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente (CITMA) elabora y controla la ejecución de los
programas que permiten un mejor control ambiental. La interrelación que se produce entre las
instituciones está regulada por procedimientos establecidos oficialmente en disposiciones jurídicas que
especifican las atribuciones y funciones de cada una, así como las Normas Cubanas (NC) 133,134 y 135
del año 2002, que regulan todo lo relacionado con la actividad.
Como se aprecia en la tabla 1 los desechos sólidos recolectados en Cuba muestran cifras en
ascenso, no justificadas ni por el crecimiento económico; se esperaba un crecimiento del PIB de dos
por ciento para el año 2016, contra un crecimiento real de 0.5 por ciento (OFICINA NACIONAL DE
ESTADÍSTICA E INFORMACIÓN - ONEI, 2017, p.13), ni por el crecimiento de la población (tabla 2), lo
que motiva futuras investigaciones.
18

Tabla 1. Volumen de desechos sólidos recolectados.

Miles de metros cúbicos

País año 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Cuba 23 390,4 27 817,4 26 521,0 27 609,4 27 619,8 28 796,4

Fuente: ONEI, 2017.

Tabla 2. Tasa anual de crecimiento para Cuba.

Información censal tasa anual de crecimiento por 1 000 hab.

2002 6,6

2012 -0,1

Cálculos (al 31 de diciembre)


2013 3,3

2014 2,5

2015 0,1
2016 0,0

Fuente: ONEI, 2017.

El tema se complica por la insuficiente información oficial y la confusión en el empleo de los


términos. Por ejemplo, se puede encontrar en el Anuario Estadístico de 2016 (ONEI, 2017) la
definición de “Desechos” (p. 10), “Residuos generados” y “Residuos urbanos” (p. 14), sin embargo;
la información se declara como: “Volumen de desechos sólidos recolectados por provincias” y
“Tratamiento y recolección de desechos sólidos” (p.54). Además de no corresponderse dichas
definiciones con las declaradas en las normas cubanas que rigen la actividad, donde se expone
explícitamente el término de “residuos sólidos urbanos” definidos como:

conjunto de materiales sólidos de origen orgánico e inorgánico que no tienen utilidad


práctica para la actividad que lo produce, siendo procedente de las actividades domésticas,
comerciales, industriales y de todo tipo que se produzcan en una comunidad, con la sola
excepción de las excretas humanas (NC 133, 2002).

Otro problema es la ausencia de información según la clase, composición y fuente de dichos


residuos, referido en el anexo A informativo de dicha norma.
Resíduos Sólidos Urbanos - 19

Independiente de la institucionalidad existente para la gestión de RSU, opera en Cuba desde


el año 1961, la Unión de Empresas de Recuperación de Materias Primas, entidad estatal con más de
7 000 trabajadores y representación en todas las provincias y municipios del país, amparada por la
Ley 1288 y su reglamento: Decreto 3800, de enero de 1974. Se encarga de la “recuperación, el
procesamiento y la comercialización de los desechos reciclables que se generan tanto en el sector
residencial como en el estatal (en las esferas productivas, comerciales y de prestación de servicios)”
(CUBADEBATE, 2013).
Aplicando los precios del mercado internacional de los desechos reciclados, la combinación
de la sustitución de importaciones y/o la exportación de los mismos, “representan más de 200
millones de dólares de ahorro o ingreso a la economía del país” (CUBADEBATE, 2013), a lo que debe
sumarse el favorable efecto ambiental al disminuir la carga de desechos contaminantes a diferentes
cuerpos receptores (CUBADEBATE, 2013).
Entre las limitantes para un mayor aprovechamiento de las oportunidades existentes y
el óptimo desarrollo de la actividad, que debe aportar mucho más a la débil economía de la Isla,
se reconocen:

la inexistencia de una política de reciclaje y basamento legal desactualizado,


incumplimiento de la Ley 1288 por las entidades estatales, inexistencia de estadística
confiable de los desechos reciclables que se generan, lentos procesos de aprobación de
bajas técnicas de equipos en desuso, insuficiente número de casas de compras a la
población e inestabilidad en su servicio, el esquema financiero existente no garantiza
oportunamente los aseguramientos, baja disponibilidad técnica del equipamiento propio
para el reciclaje, infraestructura no apta para la clasificación en origen, de los desechos
reciclables, insuficiente logística para enfrentar la dispersión de las fuentes generadoras,
inexistencia de una política de precios acorde al mercado internacional, diversidad de
normas jurídicas para su fijación y aplicación de precios no estimulantes, no uniformidad de
precios de compra de algunos productos para la población y el sector estatal, la exportación
de productos semielaborados sustenta financieramente el reciclaje, lo que desestimula la
fabricación de productos terminados con mayor valor agregado, insuficiente reciclaje de
envases y embalajes, falta de interés y prioridad al reciclaje por entidades estatales y por la
población en general (CUBADEBATE, 2013).

El Consejo de Ministros de Cuba, aprobó en 2012 la Política de Reciclaje para la


implementación del Lineamiento 235 de la Política Económica y Social del Partido y la Revolución
que plantea:
Promover la intensificación del reciclaje y el aumento del valor agregado de los productos
recuperados, priorizando actividades de mayor impacto económico con menos recursos y
su recapitalización, según las posibilidades de la economía (PARTIDO COMUNISTA DE CUBA,
PCC, 2017, p. 30)4

4
En la actualización de los Lineamientos para el período 2016-2021 aprobados en el 7mo Congreso del Partido comunista
de Cuba, en julio de 2016, se mantiene el lineamiento, identificado aquí con el número 193 en la p. 30 del documento.
20

El proceso de implementación de la política de reciclaje aprobada se sostiene en seis


elementos fundamentales:

1ro- Concentrar la actividad Estatal de Reciclaje en las grandes fuentes generadoras de


materias primas y el procesamiento industrial. Implementar nuevos modelos de gestión,
para la recuperación a las pequeñas y medianas fuentes generadoras (Arrendamiento de
casas de compras y triciclos automotores a recuperadores de materias primas por cuenta
propia y creación de Cooperativas de Reciclaje).
2do. Aplicación de un esquema cerrado de financiamiento para la actividad de reciclaje, que
permita contar oportunamente con los recursos financieros para la compra de insumos
necesarios para desarrollar esta industria.
3ro. Establecimiento de una política de precios que los convierta estimulantes para la
compra de los desechos reciclables tanto al sector estatal como a la población y equiparar
los precios de venta de estas materias primas a los del mercado internacional.
4to. El análisis e implementación de una nueva Ley de Reciclaje que entre otros aspectos
establezca la responsabilidad tanto de las personas naturales como jurídicas ante el reciclaje
y defina penalizaciones ante incumplimientos de la misma.
5to. Introducción de la importancia del reciclaje en los programas educativos de todos los
niveles de enseñanza como vía para incrementar la cultura del reciclaje en las nuevas
generaciones, así como la utilización de los medios de difusión masiva para orientar a la
población en general sobre este tema.
6to. Definición de la estrategia de desarrollo y un programa inversionista a corto, mediano
y largo plazo, que fortalezca la industria del reciclaje (CUBADEBATE, 2013).

Lamentablemente no se declara explícitamente la vinculación del tema con la cuestión


ambiental, elemento fundamental en el proceso.
Se recicla en el país aproximadamente el 35 por ciento del total de desechos que se genera
y pueden reutilizarse. Se espera que la puesta en vigor de la nueva política y las medidas
anteriormente descritas incrementen gradualmente este indicador.
Este capítulo tiene como objetivo mostrar una panorámica general de la gestión de los residuos
sólidos urbanos (RSU) en la ciudad de Cienfuegos en Cuba, centro político administrativo y económico
de la región centro sur del país, haciendo énfasis en sus deficiencias y desafíos.

GESTIÓN DE LOS RESIDUOS SÓLIDOS URBANOS EN LA CIUDAD DE CIENFUEGOS

El municipio de Cienfuegos se ubica en el centro sur de Cuba, en los “22 grados y 7 minutos
de latitud norte y los 80 grados 25 minutos de longitud oeste” (HERNÁNDEZ-REY, 2016, p. 43 ).
Limita al norte con los municipios de Rodas y Palmira, al este con el municipio de Cumanayagua, al
sur con el Mar Caribe y al oeste con el municipio de Abreus.
Resíduos Sólidos Urbanos - 21

Tiene un área de 341,3 km2 y una población de 174 769 habitantes (OFICINA NACIONAL DE
ESTADÍSTICAS E INFORMACIÓN DE CIENFUEGOS-ONEI CIENDUEGOS, 2015).
El relieve es de llanura ondulada (0-80 m) con sectores de llanuras colinosas y colinas al este.
Se destaca la bahía de bolsa con un área de 88,0 km2 y las cuencas fluviales tributarias Damují,
Salado, Caunao y Arimao. Predominan los suelos pardos con carbonatos. La temperatura media
anual es de 24,5 grados Celsius y el promedio de precipitaciones de 1 200 mm/año.
Tiene 33 asentamientos humanos de los cuales cuatro clasifican como urbanos (anexo 1),
dos de ellos realizan el tratamiento de residuos sólidos a través de relleno sanitario manual y el
resto a cielo abierto, en ambos utilizan de forma alternativa la quema.
La ciudad de Cienfuegos, cabecera municipal y provincial, fundada el 22 de abril de 1819 por
colonos franceses ocupa un área de 48 km 2 y su población representa el 85 por ciento (DIRECCIÓN
PROVINCIAL DE PLANIFICACIÓN FÍSICA, DPPF, 2015) de la población urbana del municipio, estimada
en 148 554 habitantes, calculada a partir de los datos de población municipal (ONEI CIENFUEGOS,
2015) y el 36,5 por ciento de la población de la provincia.
Su centro histórico fue declarado por la UNESCO Patrimonio Cultural de la Humanidad en el
año 2005.
La estructura económica de la ciudad muestra el sector de los servicios es el de mayor peso,
seguido por la industria y la construcción. Constituye un centro regional de importancia económica
y socio cultural.
En la ciudad, la gestión de los RSU es coordinada por la Dirección Municipal de Servicios
Comunales, específicamente por la subdirección de Higiene Comunal que abarca 20 zonas
comunales, una en cada Consejo Popular5, con un administrador, un auxiliar de administrador y una
plantilla de trabajadores de limpieza de calles, recogida de basura, saneamiento y áreas verdes.
Todo subordinado al Consejo de la Administración Municipal 6.
El almacenamiento intradomiciliario de los residuos se realiza con medios propios sin previa
clasificación, dada la ausencia de envases destinados a estos fines, depositándose generalmente en
bolsas de nylon fuera de las viviendas, con deterioro del ornato público y generación de vectores.

5
El Consejo Popular es un órgano del Poder Popular, local, de carácter representantivo, investido de la más alta
autoridad para el desempeño de sus funciones. Comprende una demarcación territorial dada, apoya a la Asamblea
Municipal del Poder Popular en el ejercicio de sus atribuciones y facilita el mejor conocimiento y atención de las
necesidades e intereses de los pobladores de su área de acción. LEY No.91 DE LOS CONSEJOS POPULARES, CAPÍTULO I
DISPOSICIONES GENERALES, Artículo 2. Año 2000.
6
Cuerpo administrativo de las Asambleas Municipales del Poder Popular, encargado de dirigir las entidades económicas,
de producción y de servicios de subordinación local, con el propósito de satisfacer las necesidades económicas, de salud
y otras de carácter asistencial, educacionales, culturales, deportivas y recreativas de la colectividad del territorio a que
se extiende la jurisdicción de cada municipio
22

Otra forma utilizada para el almacenamiento transitorio de los residuos sólidos son los
contenedores de hormigón, conocidos como supiaderos, ubicados fundamentalmente en las zonas
de edificios multifamiliares.
La recogida de RSU tiene frecuencia diaria. Al cierre de 2014 se calculó para la ciudad una
recolección estimada en 266.0 Mm3 (ONEI CIENFUEGOS, 2014); (CENTRO DE ESTUDIOS
AMBIENTALES DE CIENFUEGOS, CEAC, 2016, p.11).
Los RSU se asumen como el total de desechos sólidos recolectados y se definen como: “el
total de basura recolectada de las viviendas, establecimientos, organismos, escuelas, etc.,
incluyendo el saneamiento” (ONEI CIENFUEGOS, 2016, p. 190).
La cifra más reciente encontrada en estadísticas oficiales sobre el “volumen de RSU
recolectados” refiere solo el dato provincial y es de “854,3 Mm 3” (ONEI CUBA, 2017, p. 54).
En general los residuos no se clasifican, la recogida se realiza con diferentes tipos de transporte,
la mayoría no específicos para esta actividad y la clasificación de los residuos en la comunidad sigue
siendo una actividad individual de personas que; sin condiciones de protección y muchas veces sin
conocimiento sobre el riesgo de exposición a diferentes contaminantes; la realizan como fuente de
ingreso al vender en las casas compradoras de materia prima7 los residuos que logran clasificar con
mínimas condiciones de trabajo, esta clasificación también la hacen de forma individual los propios
trabajadores de los Servicios Comunales que recogen la basura o barren las calles, con sus recursos y
expuestos a los mismos riesgos. Tómese en cuenta que cada día los RSU complican su composición, más
en este caso que no existe una clasificación primaria, ya que los residuos domésticos se unen con
materiales peligrosos como son las baterías u otros elementos tecnológicos, inclusive desechos
sanitarios como pueden ser gasas, jeringuillas etc.
De forma puntual, en algunas instalaciones pertenecientes al sector turístico, existe una
clasificación primaria de residuos y se recepcionan de forma separada los metales, plásticos,
cristales y el papel-cartón, sin que esto constituya una práctica sistemática en todos los lugares.
Otro ejemplo en esa línea de trabajo fue el desarrollo de un proyecto con financiamiento externo
que realizó esa misma clasificación; además de escombros y restos de podas de árboles; en un barrio
de la ciudad, entregando a las personas bolsas de nylon de diferentes colores y haciendo la recogida
en diferentes días, lamentablemente el destino final era el actual vertedero municipal.

7
La Empresa de Recuperación de Materias Primas (ERPM) de Cienfuegos, entidad estatal perteneciente al Ministerio de
Industria, recoge más de diez productos de marcada importancia, entre ellos la chatarra de acero, cobre, bronce, papel
y cartón, plásticos, frascos de medicamentos, y envases de ron y cerveza, directamente a otras empresas y cuenta con
una red de establecimientos ubicados en cada municipio, tres en la ciudad de Cienfuegos, los cuales están encargados
de la compra directa a las personas de la comunidad.
Resíduos Sólidos Urbanos - 23

El vertedero municipal; que recepciona los residuos sólidos de la ciudad de Cienfuegos; está
en funcionamiento desde 1990, diseñado como un vertedero de relleno sanitario a cielo abierto,
donde el procesamiento es el reapile de basura y en ocasiones la quema.
Según Informe del Centro de Estudios Ambientales de Cienfuegos (CEAC), esta instalación;
cuya entidad rectora es la Empresa de Servicios Comunales del municipio de Cienfuegos,

permanece sin cercado perimetral adecuado, ni puertas para impedir el acceso de personas
ajenas y animales; no cuenta con señales ni vías adecuadas de acceso; existe alto riesgo de
contaminación a las aguas subterráneas y superficiales, y a la atmósfera; se realizan vertidos
de desechos peligrosos y su enterramiento en trincheras sin medios de contención y la zona
tiene una alta degradación paisajística (CEAC, 2016, p. 13)

Hace algunos años se comenzó la construcción de otro vertedero

cuyo tratamiento de los residuos sólidos se concibió mediante relleno sanitario mecanizado.
En el mes de septiembre del año 2011 la obra fue paralizada producto de la inestabilidad
en la fuerza de trabajo así como la falta de envío de los recursos materiales fundamentales
necesarios para el drenaje de lixiviados. Hasta la fecha no se tiene previsto el comienzo de
la explotación de la instalación (CEAC, 2016, p. 16).

Existen en la ciudad de Cienfuegos “al menos ocho vertederos ilegales” (CEAC, 2016, p.30),
que presentan entre los problemas más críticos, la mezcla de residuos sólidos con desechos
peligrosos de diverso origen (hospitalarios e industriales, fundamentalmente), además de la
incineración como práctica inadecuada recurrente.
Esta situación genera impactos ambientales y a la salud de las personas negativos, entre los
cuales se destacan:

la contaminación atmosférica producto de la fetidez y quema de la basura; la afectación a


la atmósfera por el aporte de gases de efecto invernadero; el deterioro de la estética del
paisaje y la higiene comunal; el incremento de las áreas de inundación, especialmente en
los bordes costeros por la obstrucción del drenaje natural en estas zonas; el aumento del
riesgo epidemiológico en la población por la generación de vectores, además de afectación
por enfermedades respiratorias y de otros tipos; la contaminación del manto freático y las
aguas superficiales, incluyendo la bahía; la inhabilitación de áreas para el crecimiento
urbano y el desarrollo de otras actividades como la agricultura y la afectación a los
ecosistemas naturales y su biodiversidad (CEAC, 2016, p. 5).

DISCUSIÓN DE RESULTADOS Y RECOMENDACIONES

La información estadística oficial sobre la gestión de los RSU es mínima y solo a nivel de las
provincias, en ocasiones contradictoria y no sistemática, además, son escasos los estudios sobre el
tema y se centran en La Habana (LÓPEZ, 2004); (GOICOCHEA, 2012); (JICA, 2007), Santiago de Cuba
y Holguín (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, OPS, 1997).
24

La situación identificada con la insuficiente gestión de los RSU en la ciudad de Cienfuegos se


relaciona con diversos factores, no solo de tipo financiero; sino también de carácter educativo,
coercitivo, estratégico, organizativo y restrictivo; que requiere de acciones urgentes capaces de
revertir los impactos negativos generados al ambiente y a la calidad de vida de las personas.
En el proceso de gestión de los RSU en Cienfuegos se identifican importantes debilidades
que obstaculizan su adecuado desenvolvimiento, entre las que están: la falta de definición,
organización y estructura de los procesos; lo que limita el desarrollo y correcto desenvolvimiento
de la actividad desde la percepción de las personas, los trabajadores y directivos; hasta el control
administrativo y financiero, con exceso burocrático; esta importante actividad está unida a otras y
subordinada a diferentes direcciones que limitan su correcto desenvolvimiento y gestión; existe
deficiente interacción e integración entre los organismos con competencias en el sector de los
residuos sólidos; ausencia de instrumentos que dinamicen la gestión económica y de producción en
la actividad; ausencia del tema de la gestión y el control de los residuos sólidos en el plan de estudios
de pregrado y postgrado en la Universidad de Cienfuegos, al igual que en el resto del país, lo que
permitiría la formación de especialistas en esta actividad, así como el fortalecimiento de
capacidades técnicas en el sector; de igual forma se manifiesta una deficiente capacitación a los
trabajadores y control sobre los requerimientos de la salud laboral, con énfasis en la tenencia y
correcta utilización de los medios de protección; también se identifica ineficiencia en el ciclo de
gestión de los residuos sólidos urbanos desde la recogida hasta la disposición final y tratamiento;
hay además, incumplimiento y obsolescencia de las normativas y legislación vigentes relacionadas
con el ciclo de gestión de los RSU.
Se aprecia carencia de información relacionada con el tema y casi nula producción de
estudios e investigaciones que pudieran contribuir a la educación ambiental y sensibilización de los
actores sociales para promover su participación en la solución de los problemas.
En los datos actuales es preocupante la tendencia al aumento del volumen de desechos
recolectados, sin una clasificación, transportación, tratamiento y disposición final adecuada, lo que
sigue comprometiendo la mala situación higiénico sanitaria de las comunidades.
En la ciudad de Cienfuegos el cambio de sistema de tratamiento en la disposición final de los
residuos sólidos, mejoraría significativamente las condiciones higiénico-sanitarias en la gestión de
RSU. El empleo de relleno sanitario mecanizado con selección previa de los residuos, permitirá
reducir los volúmenes a depositar en el enterramiento, aprovechar en mayor medida los desechos
reciclables y garantizar un adecuado funcionamiento de los residuales lixiviados provenientes de la
descomposición a profundidad. Con la puesta en marcha del nuevo vertedero se podría asumir un
proyecto de recuperación total del vertedero actual.
Resíduos Sólidos Urbanos - 25

Se recomienda el desglose de información para la ciudad de Cienfuegos que permitiría mayor


transparencia en la visualización de datos para su correcta interpretación y propuesta de medidas.
Además, se debe insistir en la prohibición de la quema de los RSU, que en Cienfuegos y en
Cuba, se utiliza para reducir volúmenes de los desechos que van a los vertederos.
No hay estudios sobre la composición de los RSU fuera de la ciudad de La Habana, pero
podría investigarse a partir de estimaciones, por la similitud en las características de las poblaciones
y su consumo, lo que permitiría tener una mejor apreciación de la situación de la gestión de los RSU
en el resto del país.

CONSIDERACIONES FINALES

La situación crítica desde el punto de vista económico que vive Cuba, afecta objetivamente
el desarrollo de muchas actividades que pudieran mejorar la gestión de los RSU y en la actualidad,
constituye un reto para el país realizar eficientemente su manejo integral, cumpliendo
adecuadamente con todas la etapas del ciclo de gestión, sin embargo, se hace imprescindible
priorizar el abordaje de la gestión de los RSU por los diferentes actores sociales desde su
perspectiva, logrando integrar las acciones, dada su vinculación con la sostenibilidad ambiental,
social y económica que pretende el país.
El tema de la gestión de los residuos sólidos tiene carencia de datos, insuficiente
conocimiento y déficit de estudios en Cuba y especialmente en ciudades intermedias como es el
caso de Cienfuegos, que constituye en la actualidad un importante polo de desarrollo para el país.
Será necesario proyectar nuevas acciones que permitan manejar los RSU en función de su
eficiencia económica, sostenibilidad ambiental y posibilidad de empleo digno para muchas
personas, combinando formas productivas estatales y privadas, aprovechando los cambios que
acontecen en el modelo económico cubano que promueve mayor número de empleos fuera del
sector estatal, junto a la actualización de la legislación y normativas vigentes.
La Universidad de Cienfuegos y otros centros docentes del territorio tienen el importante y
prioritario reto de fortalecer las capacidades profesionales en el tema de los RSU, contribuyendo
desde el conocimiento y la innovación, al desarrollo y perfeccionamiento de esta importante
actividad, así como en la educación ambiental de la comunidad y la sociedad en general.
26

La existencia de una empresa estatal de recuperación de materias primas desde el año 1961,
puede considerarse que contribuye a que la situación de los RSU no esté en peores condiciones, no
obstante; precisa de una actualización en su gestión y legislación para lograr un mejor desempeño
que la hiciera más eficiente y así contribuir en mayor medida con el mejoramiento de la higiene
comunal, la situación socio ambiental y la economía del país. Salvando sus deficiencias, esta
particularidad de Cuba puede ser un modelo para otros países.

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ONU-HABITAT. Estado de las ciudades de América Latina y el Caribe. Rumbo a una nueva transición urbana. 2012. Disponível
em: <https://www.zaragoza.es/contenidos/medioambiente/onu//newsletter12/887_spa.pdf> Acesso em: 19 mar. 2017.

OPS-OMS. Análisis sectorial de residuos sólidos en Cuba. Serie Análisis Sectoriales No.13. Plan Regional de Inversiones
en Ambiente y Salud. 1999. Disponível em: <http://www.bvsde.paho.org/eswww/fulltext/analisis/cuba/cuba.html>.
Acesso em: 12 mar. 2017.

PARTIDO COMUNISTA DE CUBA. VII CONGRESO. Lineamientos de la Política Económica y Social del Partido y la
Revolución para el período 2016-2021. Tabloide especial, Havana, Cuba, p.23-32, 2017. Disponível em:
<http://www.granma.cu/file/pdf/gaceta/%C3%BAltimo%20PDF%2032.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2017.

UNITED CITIES AND LOCAL GOVERNMENTS (UCLG). Planificación y gestión del desarrollo urbano sostenible de las Ciudades
Intermedias. Documento Marco. 2015. Disponível em:
<https://www.uclg.org/sites/default/files/cglu_documento_marco_ci_0.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2017.
28

Anexo 1

Para los fines censales se considera ASENTAMIENTO HUMANO o POBLACIONAL URBANO:


a) Todos los asentamientos poblacionales declarados como tal en el Censo de Población y
Viviendas del año 1981.
b) Todos los asentamientos que cumplen una función político-administrativa, es decir,
que sean cabecera municipal.
c) Los asentamientos poblacionales que tengan 2000 ó más residentes permanentes siempre
que cumplieran con las siguientes nueve características que identifican las condiciones de vida urbana:
1. Trazado de calle y ordenamiento de las edificaciones en correspondencia con las
características propias del asentamiento.
2. Presencia de espacios públicos representados por parques, plazas, paseos peatonales con
posibilidades para el descanso, el esparcimiento y el intercambio social permanente.
Categoría Cantidad de habitantes
Pueblo 1er. orden 10 000 a 19 999
Pueblo 2do. orden 5 000 a 9 999
Pueblo 3er. orden 2 000 a 4 999

3. Alumbrado público representado por un sistema de luminarias que den servicio como
mínimo a las vías y espacios públicos principales del asentamiento.
4. Presencia de acueducto que sirva a las viviendas de forma interna o extradomiciliaria.
5. Sistema de tratamiento de residuales representado por la existencia de alcantarillado o
fosas que permitan la evacuación de los residuales que lo componen.
6. Servicio médico asistencial representado por hospital, policlínicos o cobertura brindada
por la institución del médico de la familia.
7. Servicio de educación a través de la presencia de los centros educacionales que se
correspondan con el dimensionamiento poblacional del asentamiento y la política del Ministerio de
Educación para la población en edad escolar.
8. Servicios gastronómicos y comerciales en correspondencia con el dimensionamiento
poblacional del asentamiento.
9. Presencia de servicios de telefonía pública, correos y telégrafos, así como señales de radio
y televisión.

Fuente: OFICINA NACIONAL DE ESTADISTICAS. Asentamientos humanos urbanos y rurales


concentrados. 2006. Disponible en:
http://www.one.cu/publicaciones/03estadisticassociales/asentamientoshumanos/asentamiento_
humanos.pdf> Consultado: 23 mar. 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 29

Capítulo 2

LOS PRINCIPIOS JURÍDICOS PARA LA CONFORMACIÓN DEL MARCO LEGAL DE LOS RESIDUOS
SÓLIDOS COMUNES EN CUBA

Susana Bolufé Malboa8; Aylí Díaz Bacallao9; Yailén Monzón Bruguera10

INTRODUCCIÓN

Uno de los problemas ambientales que afecta a la sociedad moderna lo constituye la


producción de residuos o desechos. El rápido crecimiento demográfico y la concentración de la
población en las ciudades; la generación de bienes materiales de rápido envejecimiento
fabricados con materiales inorgánicos, duraderos, no biodegradables y los nuevos hábitos de
consumo constituyen factores que generan la aparición de los residuos de difícil eliminación
(PORTUGAL, 2013). En esencia, los residuos constituyen un problema de la sociedad actual por
dos cuestiones claves: el volumen y su composición.
El tema, en sus inicios, fue netamente sanitario, pues tanto el depósito transitorio para su
recogida, como el definitivo en el vertedero generaban la aparición de roedores e insectos con el
consiguiente riesgo de transmisión de enfermedades, así como males olores que se agudizaban por
la cremación de residuos (ORTEGA, 2002). Por ello las primeras regulaciones sobre los residuos
tenían una finalidad de prevención de la salud. A esta primigenia preocupación, se suman otras dos:
el impacto ambiental y la relacionada con los recursos naturales y energía que pueden dilapidarse
si la gestión de los residuos no es la más idónea.
En la actualidad, la regulación jurídica de los residuos se configura a partir de estas tres
grandes preocupaciones. Es la protección de la salud y del medio ambiente lo que explica la
preocupación de los Estados por su regulación y gestión a través de las disposiciones jurídicas
internas. Sin embargo, a pesar de la toma de conciencia, el avance de la tecnología, el cúmulo de
conocimientos que se tiene para manejarlos de forma adecuada y la tendencia generalizada a la
minimización de los mismos, resulta difícil la respuesta ante el problema. Ello se evidencia hoy en la
medida en que los marcos legales y las políticas impulsadas por la mayoría de los Estados no
demuestran un resultado satisfactorio en cuanto al tema (AGUILAR; IZA, 2000).

8 Licenciada en Derecho. Especialista en la Empresa Provincial de Consultoría Jurídica en Cienfuegos, Cuba. E-mail: sbm90@nauta.cu
9 Máster en Ciencias. Profesora Auxiliar Universidad de Cienfuegos, Cuba. E-mail: adiaz@ucf.edu.cu
10 Doctora en Ciencias especialidad de Derecho. Profesora Titular Universidad de Cienfuegos, Cuba. E-mail: ymonzon@ucf.edu.cu
30

Cuba no escapa de la situación internacional que presentan los residuos sólidos comunes,
pues a pesar de ser identificados sus problemas en la política ambiental, no se han minimizados los
males que causan al medio ambiente. Lo anterior se agrava a partir de que el país no cuenta con
recursos financieros suficientes para realizar la gestión de los mismos (CRUZ, 2013). La ausencia
generalizada de vertederos con tratamiento de relleno sanitario que cubra las necesidades actuales
de disposición final de los residuos sólidos comunes es ejemplo de ello. Además existe carencia de
medios de transporte con las condiciones necesarias para realizar el traslado de los mismos, ya sea
para su tratamiento o para su último destino. (PROGRAMA DE NACIONES UNIDAS PARA EL MEDIO
AMBIENTE, PNUMA, 2008).
Una revisión del marco jurídico cubano en materia de residuos permite constatar que, aún y
cuando la Constitución de la República refrenda en su art. 27 la obligación del Estado de “proteger
el medio ambiente” y el deber de los ciudadanos de “contribuir a la protección del agua, la
atmósfera, la conservación del suelo, la flora, la fauna y todo el rico potencial de la naturaleza”
(ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR DE CUBA, 2003), en el marco regulatorio ambiental se
aprecian ciertas omisiones e imprecisiones. Los residuos sólidos comunes son regulados de forma
dispersa en varias disposiciones jurídicas que no tienen como objeto de regulación a los mismos y
en la mayoría de los casos no son ambientales. Solo existen dos disposiciones jurídicas relacionadas
con la recuperación de materias primas y tres normas técnicas que regulan su gestión.11 Además no
existe en las disposiciones jurídicas específicas sobre los residuos declaración de principios jurídicos
ambientales o particulares del sector.
Encarar el perfeccionamiento del régimen jurídico de los residuos en Cuba implica una
mirada al tema de principios jurídicos, pues se ha dicho con razón que “ninguna ley de orientación,
deja de mencionar los grandes principios y las ambientales no escapan de ello” (CAFFERATTA, 2004,
p. 26). Estos constituyen el soporte básico del ordenamiento jurídico ambiental e informan,
interpretan y poseen capacidad organizativa en esta materia (CAFFERATTA, 2004 p. 47).
Lo anterior justifica la necesidad de abordar los principios jurídicos para la conformación del
régimen legal de los residuos sólidos comunes en Cuba. Por ello constituye el objetivo esencial de
la investigación y del artículo: determinar los principios jurídicos para la conformación del régimen
legal de los residuos sólidos comunes en Cuba.

11
Ver Ley No. 1288/75, de 2 de enero de 1975 y su reglamento el Decreto No. 3800/75, de 4 de enero 1975 recuperación
de los residuos de materias primas, productos y materiales reutilizables que se derivan de los procesos de producción., y
las NC 133:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Almacenamiento, Recolección y Transportación. Requisitos higiénicos
sanitarios y ambientales”. NC 134:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Tratamiento. Requisitos higiénicos sanitarios y
ambientales”. NC 135:2002 “Residuos Sólidos Urbanos. Disposición Final. Requisitos higiénicos sanitarios y ambientales”.
Resíduos Sólidos Urbanos - 31

DESARROLLO CONSIDERACIONES TEÓRICAS SOBRE LA REGULACIÓN DE LOS RESIDUOS SÓLIDOS


COMUNES Y SUS PRINCIPIOS JURÍDICOS

Definición y clasificación de los residuos

El término residuo ha sido definido por varias ciencias según su ámbito de estudio.12 Para el
Derecho Ambiental una de las cuestiones más complejas y controvertidas es la del concepto jurídico
de residuos, que constituye la base para la aplicación de la normativa reguladora. Varios juristas en el
contexto internacional como Serrano Lozano (ORTEGA, 2002), Montoro Chiner (MONTORO, 2013),
Martín Mateo (MARTÍN, 1998), Alenza García (ALENZA, 1997) y Santamaría Arinas (SANTAMARÍA,
2013), han abordado el tema. Los dos últimos consideran la imposibilidad de elaborar un concepto
universal y acabado (ALENZA, 1997 p. 218). La relatividad del concepto está dada por su base
antropocéntrica que le hace depender de factores valorativos según las épocas y lugares como pueden
ser los culturales, sociales, económicos o sanitarios. En consecuencia, Alenza García enuncia los
elementos que deben ser parte de una definición de residuo, para así brindar organicidad e informar
todo intento definitorio del significado de dicho vocablo (ALENZA, 1997 p. 218).
En el contexto cubano Viamontes Guilbeaux (VIAMONTES, 2007), ha asumido la definición
ofrecida por Martin Mateo. Sin embargo, las autoras del trabajo coinciden -en parte- con los criterios
aportados por Alenza García pues se considera que los elementos que determinan la definición legal
de residuo son el elemento material, que determina la composición o estado físico del residuo y su
clasificación; el elemento subjetivo, que se refiere a la voluntad del poseedor que decide deshacerse
de la cosa, aunque se precisa que no basta con la manifestación de voluntad de desprendimiento
de su poseedor sino que es indispensable que se realice el abandono y el elemento objetivo,
configurado como el efectivo desprendimiento de la cosa por disposición legal. En consecuencia, se
asume que a una definición jurídica de residuos no debe faltarle lo siguiente: cualquier bien en
estado sólido, líquido o gaseoso, del cual su poseedor tenga la intención de deshacerse, y en efecto
lo haga, ya sea por voluntad propia o por disposición legal.
Los criterios antes aludidos evidencian la imposibilidad de catalogar de manera exhaustiva todos
los residuos. Se puede caracterizar legalmente determinados tipos para que no pueda eludirse el control

12
Por ejemplo para la Medicina es “aquel material inservible que queda después de haber realizado un trabajo u
operación” y para las Ciencias Económicas, un residuo puede considerarse “un objeto cuyo valor es nulo o negativo para
su poseedor en un momento dado”.
32

de su gestión, pero no de manera exhaustiva por lo que los intentos de catalogación acaban siempre
por reconocer su carácter abierto. Este criterio justifica la tendencia de algunas disposiciones jurídicas
de incluir en anexo las listas abiertas de las sustancias consideradas residuos utilizando dos técnicas
confluyente: la exclusión y la enumeración de supuestos específicos (JUAN CARLOS I REY DE ESPAÑA,
2011; CONGRESO GENERAL DE LOS ESTADOS UNIDOS MEXICANOS, 2012).
Autores como Ramírez Guevara (RAMÍREZ, 2010), Pérez Morán (PÉREZ, 2012), Martín Mateo
(MARTÍN, 1998) y Alenza García (ALENZA, 1997 p. 222-225), se han referido a la clasificación de los
residuos. Sin embargo, se considera que el criterio clasificatorio más acabado lo proporcionó Martín
Mateo quien elaboró una clasificación genérica, buscó en ella cualidades que permitieran su
agrupación y una clasificación específica que permitiera identificar los residuos por sí mismos.
La clasificación que Martín Mateo llamó genérica la dividió en dos grupos. En el primero -
por su origen-, subdivide a los residuos en urbanos, que son los provenientes de las ciudades, y
en industriales que provienen de fábricas e industrias. En el segundo-por sus características- los
sub clasifica en urbanos cuya composición se conforma por desechos utilizados por los humanos,
como consecuencia de la vida cotidiana; en industriales compuestos por sustancias que solo se
utilizan en procesos industriales y los agropecuarios que son los resultantes de las actividades
agrícolas, pecuarias y forestales. La clasificación que denominó específica incluye a los efluentes
gaseosos, radioactivos, mineros, aguas residuales y explosivos desclasificados (MARTÍN, 1998).
Esta clasificación es asumida, en Cuba, por Viamontes Guilbeaux (VIAMONTES, 2007).
Se coincide con Martín Mateo en cuanto a que la regulación de los residuos se basa en dos
coordenadas, la determinada por su origen -que implica a órdenes distintas de autoridades- y la que
refleja sus características que hacen que la composición e incidencia en el medio determinen la
aplicación de un régimen normativo u otro (MARTÍN, 1998). Teniendo en cuenta lo anterior y a los
efectos de la investigación, se asume la clasificación genérica de residuos por el origen o naturaleza
en: urbanos e industriales; por sus características en: urbanos (ordinarios que son los de régimen
común y los especiales o peligrosos que son los de régimen singular); industriales (ordinarios que
son los inocuos y especiales o peligrosos). En cuanto a la composición física se clasifican en:
predominantemente sólidos.

Residuos Sólidos Comunes: definición

La Ley 22 de de Residuos y Suelos Contaminados (2011) de España, define por sólido: todo
cuerpo, objeto o material de forma y volumen constante que presenta resistencia a la separación; de
consistencia firme, maciza, fuerte, asentada, estado en el que se puede encontrar cualquier sustancia
y con el vocablo urbano, se define como “propio de la ciudad o relativo a ella.
Resíduos Sólidos Urbanos - 33

El término urbano no es suficiente para clasificar a los residuos, debido a que cuando se
refiere a residuos sólidos urbanos proporciona la idea de que los mismos sólo se producen o generan
en las ciudades o se restringe a dicha localidad. En concordancia con Alenza García se debe cambiar
el impreciso término de urbano por el de común u ordinario para diferenciarlos desde la propia
denominación de los especiales, es decir, de los que tiene un tratamiento particular como los
peligrosos (ALENZA, 1997 p. 148).
Según el propio autor un residuo sólido dejará el régimen común para quedar sometido a un
régimen especial cuando por su composición -o en ocasiones la actividad que los ha generado- sea
más peligroso o simplemente requiera un tratamiento distinto al común, con independencia de que
se haya producido o no en la ciudad (ALENZA, 1997 p. 148). Los residuos sólidos urbanos se han
identificado como aquellos residuos que no son especiales. Son los residuos de derecho común
(ALENZA, 1997 p. 222). Así todo aquello que no sea considerado como residuo especial, por su
composición o su origen, se considera residuo sólido urbano.
Los términos que se deben emplear atendiendo a los argumentos anteriores y en analogía
con Alenza García son residuos sólidos comunes u ordinarios. Ello permite la distinción con los
residuos especiales, puesto que su regulación jurídica es común u ordinaria. A los efectos de la
investigación se asumen el término de residuos sólidos comunes. Estos se definen, en
correspondencia con Alenza García y Milián Martell (MILIÁN, 2012), tomando en cuenta los
elementos material, subjetivo u objetivo abordados con anterioridad. En consecuencia, los residuos
sólidos comunes son los predominantemente sólidos que no tienen las características de peligrosos,
generados tanto en zonas urbanas como rurales, de los cuales su poseedor realice el efectivo
abandono por voluntad propia o tenga la obligación de abandonarlo por disposición legal.

Los principios jurídicos para articular la regulación de los residuos sólidos comunes

Según los criterios de los autores cubanos Fernández Bulté (FERNÁNDEZ, 2005), Pérez
Gallardo y Marrero Xenes (PÉREZ, 2004), Matilla Correa (MATILLA, 2004) y Monzón Bruguera
(MONZÓN 2011), los principios son fundamentos, es decir, los pilares en los que se asientan inspiran
e informan las normas jurídicas pertenecientes a un ordenamiento determinado, a una rama
concreta del mismo hayan sido o no objeto de formulación específica.
34

Entre los autores españoles, Díez Picazo expone que “los principios generales del Derecho
constituyen normas básicas reveladoras de las creencias y convicciones de la comunidad respecto a
los problemas fundamentales de su organización y convivencia” (DÍEZ PICAZO, 2013, p. 19).
Sánchez Román (1922, p. 23) considera como “principios generales del Derecho los axiomas
o máximas jurídicas recopiladas en las antiguas compilaciones (Digesto, Decretales, Partidas)”.
Además alega que “son los dictados de la razón que se aceptan por el legislador como fundamento
inmediato de sus disposiciones y en los cuales se encuentra comprendido su capital pensamiento”
(SÁNCHEZ-ROMÁN, 1922, p. 23).
En el contexto internacional la utilidad y función de los principios jurídicos ha sido abordada
por Prado (PRADO; GARCÍA, 1985), Lorenzetti (CAFFERATTA, 2004), Emilio Betti (CAFFERATTA,
2004), Dworkin (DWORKIN, 2013), García de Enterría (CAFFERATTA, 2004) y Alexy (ALEXY, 2001)
entre otros y en el contexto cubano por Fernández Bulté (FERNÁNDEZ, 2005) y Prieto Valdés
(MATILLA, 2003). En el orden ambiental se destaca Cafferatta (2004).
Desde el punto de vista de su utilización práctica, los principios generales de Derecho
desempeñan su papel en la orientación y guía para la mejor interpretación de las normas jurídicas,
para acompañar la racionalidad de ese proceso de aplicación-interpretación. También pueden
usarse para salvar lagunas legislativas y pueden y deben ser usados, desde una amplia dimensión
axiológica, como criterios valorativos y de apoyo de los fines del Derecho, que de ese modo
permiten una orientación ética de sus normativas variables (FERNÁNDEZ, 2005). Constituyen el
fundamento o razón fundamental del sistema jurídico y son su soporte básico.

Principios del Derecho Ambiental

El Derecho Ambiental como rama del Derecho posee principios que “representan las
directivas y orientaciones generales en las que se funda. Son el resultado de necesidades prácticas
modificadas con el tiempo, que se transforman en patrones rectores de protección del medio
ambiente” (CAFFERATTA, 2013, p. 40).
En la doctrina se habla de Principios Rectores del Derecho Ambiental como “aquellos
postulados fundamentales y universales que la razón especula, generalizando por medio de
abstracción las soluciones particulares” (CAFFERATTA, 2013, p. 45). Sin embargo no existe
uniformidad para denominarlos pues se usa por varios autores los términos “principios
rectores”(CAFFERATTA, 2004, p. 49) de la materia o “principios generales del Derecho Ambiental”
(CAFFERATTA, 2004) o “principios jurídicos del nuevo derecho de la sustentabilidad” (LÓPEZ, 2000,
65) para exponer una nómina de ellos, no siempre coincidente.
Resíduos Sólidos Urbanos - 35

Los principios del Derecho Ambiental han sido abordados por Jaquenod de Zsogon
(JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991), Martin Mateo (MARTÍN, 1998), Cafferata (CAFFERATTA, 2004),
Jordano Fraga (JORDANO, 1995), Loperena Rota (LOPERENA, 1998), Pigretti (CAFFERATTA, 2004),
Alenza García (ALENZA, 1997) y Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002) entre otros, todos ellos referentes
internacionales reconocidos por la mayor parte de los teóricos. En el contexto cubano el tema ha
sido abordado por Caraballo Maqueira (VIAMONTES, 2007) y Monzón Bruguera (MONZÓN, 2011).
La sistematización en función de sus diferentes ámbitos de actuación es una de las más comunes.
Así pueden agruparse en estructurales, funcionales o generales, y específicos de la legislación ambiental
sectorial. Autores foráneos como Alenza García (1997) y Ortega Álvarez (2002) así como las autoras de
esta investigación se afilian a esta manera.
Los principios estructurales son los que amparan y cualifican el fin perseguido de la materia
ambiental. Además enmarcan las características estructurales del Derecho Ambiental. Aunque han
sido positivados en normas jurídicas, no son exclusivamente jurídicos, así como tampoco son
propiamente postulados jurídicos ambientales. Entre los principios estructurales que enuncia
Alenza García se encuentran la globalidad, horizontalidad, responsabilidad compartida y
sostenibilidad, relacionado este último con la solidaridad (ALENZA, 1997 p. 41-44). Ortega Álvarez
expresa como estructurales a los principios de horizontalidad, sostenibilidad, solidaridad y
globalidad, que incluye a la subsidiariedad (ORTEGA, 2002 p. 49-51).
Por su parte, “los principios funcionales orientan los instrumentos más idóneos para lograr
el fin ambiental” (ORTEGA, 2002 p. 49) y “son los generales que orientan la regulación jurídica del
medio ambiente” (ALENZA, 1997 p. 41). Los principios funcionales, a los cuales se refiere Alenza
García como principios generales del Derecho Ambiental, son: prevención, precaución o cautela,
corrección en la fuente o causalidad, subsidiariedad, participación y contaminador-pagador
(ALENZA, 1997 p. 45-46). Ortega Álvarez señala dentro de ellos a la prevención, la cautela, la
causalidad y la integración de los costes (ORTEGA, 2002 p. 51-53).
A los efectos de la investigación se asumen como principios estructurales del Derecho
Ambiental la globalidad, la subsidiariedad, la horizontalidad, el desarrollo sostenible, la
responsabilidad y la solidaridad y como principios funcionales o generales la prevención, la
precaución o cautela, quien contamina paga, corrección en la fuente o causalidad y participación
ciudadana. A continuación se analiza brevemente cada principio.
El primer principio a examinar es la globalidad. Alenza García expone que el postulado está
relacionado con el aforismo “pensar globalmente y actuar localmente”, que significa: lo que se haga
en un determinado lugar beneficia a toda la humanidad. Las decisiones para combatir los problemas
se deben pensar desde la globalidad debido a las interrelaciones de los diferentes ecosistemas que
conforman el medio ambiente (ALENZA, 1997 p. 41).
36

El complemento del anterior postulado es el principio de subsidiariedad que constituye el


otro extremo del aforismo. Significa que aunque las problemáticas ambientales tengan carácter
general por inmiscuir a todos y a todo el medio ambiente, se debe actuar en la localidad donde más
incide el perjuicio (ALENZA, 1997 p. 41). Se coincide con Ortega Álvarez en que el principio de
globalidad se relaciona con la subsidiariedad en el sentido que la intervención es en la escala
político-administrativa correspondiente (ORTEGA, 2002, p. 49).
El principio de horizontalidad se refiere y relaciona con la interdisciplinariedad del Derecho
Ambiental. El mismo significa que la problemática ambiental interesa a todos los sectores que de
manera horizontal deben resolver las dificultades que se presenten en dicha rama. Según Alenza
García, las estrategias ambientales no pueden adoptar un enfoque vertical, sino que deben de
ubicarse en una perspectiva general y horizontal (ALENZA, 1997 p. 42).
El principio de desarrollo sostenible no significa la conservación intacta de la naturaleza y la
parálisis del progreso, sino la “conducción del desarrollo económico por cauces que no imposibiliten
la viabilidad ambiental del futuro” (ORTEGA, 2002 p. 50). Alenza García (ALENZA, 1997 p. 42) y
Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002 p. 50) lo denominan como sostenibilidad.
El principio de responsabilidad como otro postulado del Derecho Ambiental se reconoce en
la Declaración de Estocolmo en su principio 22 donde se aborda la temática de la responsabilidad
internacional. La Declaración de Río de Janeiro en sus postulados 2, 7 y 13 enuncia la responsabilidad
del daño ambiental (ORGANIZACIÓN DE NACIONES UNIDAS, ONU, 1992). Jaquenod de Zsöngön
destaca el principio de responsabilidades compartidas, mancomunadas o solidarias, donde los
Estados deben asumir el daño ambiental y sus obligaciones posteriores de manera subsidiaria
(JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991 p. 382).
“El principio de solidaridad se evidencia en que cuando existe una situación de daño
ambiental los Estados deben comunicarse e informarse del peligro” (JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991
p. 367). Todos los principios del Derecho Ambiental no se consuman sin la aplicación de la
solidaridad y la cooperación internacional (ORTEGA, 2002, p. 51).
El principio de prevención como otro postulado general del Derecho Ambiental es
considerado como la regla de oro de dicha rama del Derecho. Alenza García alega que:

significa impedir los riesgos jurídicos ante un mal, es soslayar la responsabilidad y por tanto,
el daño ambiental. Su función primordial es prever el daño antes de que se produzca
mediante el uso de equipos o la ejecución de acciones de control de la contaminación y la
degradación (ALENZA, 1997 p. 44).
Resíduos Sólidos Urbanos - 37

El principio de precaución significa que “por encima de la duda e incluso de la polémica, que
todo saber científico lleva implícito, está la obligación de toda persona natural o jurídica de evitar el
daño” (VIAMONTES, 2007 p. 61). Cafferatta alega que “el postulado reclama medidas de inmediato,
de urgencia, aún cuando existe ausencia o insuficiencia de pruebas o elementos científicos referidos
al comportamiento de la naturaleza” (CAFFERATTA, 2004).
Lo anterior tiene el fin de “impedir la creación de un riesgo con efectos todavía desconocidos
plenamente, lo que presupone que la demora puede resultar a la larga más perjudicial que la
realización de una acción temprana intempestiva” (JAQUENOD DE ZSÖGÖN, 1991 p. 372).
El principio quien contamina paga del Derecho Ambiental no se refiere al postulado de
responsabilidad. Lo anterior se argumenta en que el primero tiene implícito la prevención del daño
ambiental, mientras que el segundo no tiene esa intención, sino que, cuando dicho perjuicio se
ejecute el responsable esté sujeto a las sanciones correspondientes. En concordancia con Alenza
García, el postulado quien contamina paga, no significa exigir una responsabilidad por la
contaminación que se causa, sino que de manera previa del perjuicio al medio ambiente, “exista un
pago alto que permita que no se contamine el mismo para que no resulte más rentable contaminar,
que pagar costes por mecanismos anticontaminantes” (ALENZA, 1997 p. 46).
El “principio de corrección en la fuente” como lo denomina Alenza García (ALENZA, 1997 p.
45) o “causalidad” como lo entiende Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002 p. 52), significa que cuando la
contaminación no ha logrado ser evitada en su totalidad, deben aplicarse los remedios lo antes
posible en el lugar más próximo a la fuente de contaminación. Asimismo, se deben tomar medidas
en el momento más inmediato en que el daño se produjo.
El principio de participación ciudadana es trascendental en la gestión ambiental, toda vez
que proclama la inserción de la población en la toma de decisiones relacionadas con el medio
ambiente. Además presupone el derecho a la información de los proyectos y temas ambientales
para el logro de la educación ambiental.

Principios jurídicos de los residuos sólidos comunes en la doctrina

Los principios estructurales y funcionales o generales del Derecho Ambiental informan


también la regulación de los residuos sólidos comunes (ALENZA, 1997 p. 47). Por ello, es necesario
examinarlos atemperados al tema y analizar también sus principios jurídicos específicos.
En relación a la tutela jurídica de los residuos, la validez de tales principios se aborda sobre
la base de los argumentos de Alenza García (ALENZA, 1997 p. 213), Montoro Chiner (MONTORO,
2013), Acuña Guillermo (ACUÑA, 2013), Ortega Álvarez (ORTEGA, 2002, p. 380) y en el contexto
internacional y a nivel nacional por Milián Martell (MILIÁN, 2012), pues son los autores que han
38

tratado el tema de los principios jurídicos de la política y la gestión de los residuos y reconocen su
conexión con los correlativos ambientales. Sin embargo, solo Alenza García y Milian Martell
integran, a los principios generales del Derecho Ambiental, otros principios particulares de este
sector, ya sean originales o derivados de los más generales.
En concordancia con Alenza García la regulación de los residuos sólidos comunes se informan
de postulados del Derecho Ambiental generales o funcionales y particulares, ya sean derivados de
los generales u originales. En este sentido, el autor alega que los primeros son: “prevención,
precaución y quien contamina paga. Entre los particulares derivados de los generales señala el
postulado de suficiencia (responsabilidad) y el principio de proximidad (corrección en la fuente). El
principio original es la jerarquización de los objetivos” (ALENZA, 1997 p. 213).
Al respecto, primero se examinan los principios generales del Derecho Ambiental
atemperados al tema de los residuos sólidos comunes.
El principio de prevención se encamina a realizar una gestión ambientalmente racional de
los residuos sólidos comunes. Su objetivo principal es que “en la realización de la gestión de los
residuos sólidos comunes se evite riesgos para el medio ambiente” (ALENZA, 1997 p. 214). El
postulado de precaución o cautela significa la evitación de daños al medio ambiente con
consecuencias todavía inéditas. Lo anterior se aplica a los residuos sólidos comunes debido a que
“están compuestos por elementos donde no existe aún certeza de su peligro, lo cual no implica un
no actuar frente al problema” (ACUÑA, 2013).
El principio quien contamina paga se dirige a los sujetos que generan o poseen los
residuos, para que corra a su cargo su gestión y el coste que implica la misma (MONTORO, 2013).
Alenza García alega que aunque no es una exigencia de responsabilidad por un daño consumado
sí implica que con anterioridad se requiera del pago de los perjuicios a los sujetos que generan
actividades contaminantes por la producción de residuos sólidos comunes. Por su parte Ortega
Álvarez expone que este principio consiste en que el consumidor pague realmente lo que cuesta
un producto, al cual se le han añadido los costes ambientales. Además considera que el principio
significa el incremento del precio del producto del coste de la recogida de los residuos sólidos
comunes que ya adquirieron dicho carácter (ORTEGA, 2002 p. 53). La finalidad del principio es
que, quien puede llegar a contaminar en un futuro sufrague por ello en el presente, pero no
como un derecho a contaminar.
Los postulados particulares derivados de los principios generales o funcionales del Derecho
Ambiental son la responsabilidad y corrección en la fuente. Alenza García denomina al primero con
el término de suficiencia para el tema de los residuos sólidos comunes. El autor expresa que “el
Resíduos Sólidos Urbanos - 39

principio consiste en la responsabilidad de cada Estado, provincia y municipio de garantizar la


eliminación de los residuos que ellos generan, situación dada al constituir las localidades las más
próximas a su lugar de producción” (ALENZA, 1997 p. 216).
El principio de corrección en la fuente se denomina por Alenza García y Ortega Álvarez como
“el postulado de proximidad”. Ambos autores alegan que es el complemento del postulado de
suficiencia, analizado con anterioridad. Opinan que el principio de proximidad “se centra en la
creación de una red de eliminación de los residuos sólidos comunes en los lugares más próximos a
su generación” (ALENZA, 1997 p. 216; ORTEGA, 2002 p. 382).
El principio particular original de los residuos sólidos comunes expuestos por Alenza García
es el postulado de jerarquización de objetivos, que significa el orden a seguir en su política y gestión
(ORTEGA, 2002 p. 380). El autor considera a dicho postulado como “un orden de actuación y que
sólo se puede pasar de nivel cuando se ha hecho todo lo posible por alcanzar el objetivo situado en
el nivel superior” (ALENZA, 1997, p. 218). De igual forma expresa que comprende el siguiente orden:
“la reducción en la generación, el aprovechamiento o tratamiento y la eliminación de los residuos
sólidos comunes” (ALENZA, 1997 p. 216).
Se concluye que los principios jurídicos de los residuos sólidos comunes se informan de
postulados generales del Derecho Ambiental. No obstante, se considera que se basan también en
principios estructurales a partir de la clasificación asumida en el sub epígrafe anterior. En
concordancia con Alenza García, se reconoce que los residuos sólidos comunes se inspiran en
postulados particulares, los cuales pueden ser derivados de los funcionales o generales y originales,
que orientan su política y gestión.

EL TRATAMIENTO JURÍDICO DE LOS RS COMUNES Y SUS PRINCIPIOS JURÍDICOS EN CUBA

Se hace necesario realizar una precisión antes de abordar los epígrafes siguientes. En Cuba
el término que se utiliza para definir a los residuos sólidos comunes es residuos sólidos urbanos
(CRUZ, 2013), lo que evidencia el impreciso uso del vocablo urbano, analizado con anterioridad. La
única definición encontrada en la bibliografía estudiada conceptualiza a los mismos como:

“el conjunto de materiales sólidos de origen orgánico e inorgánico que no tiene utilidad
práctica para la actividad que lo produce, procedente de las actividades domésticas,
comerciales, industriales y de todo tipo que se produzcan en una comunidad con sola
excepción de las excretas humanas” (OFICINA NACIONAL DE NORMALIZACIÓN, 2002).
40

El tratamiento jurídico y normativo de los RS comunes y sus principios jurídicos en Cuba


Según Acuña:

“el aspecto legal es uno de los componentes prioritarios de la política. Una vez definidos los
objetivos y estrategias para el control y la gestión ambiental adecuada de los residuos sólidos
comunes, los Estados deben establecer un marco regulador, con leyes, reglamentos y normas
que dispongan, por una parte, el comportamiento de los agentes económicos y de la
población y, por la otra, las actividades de control y fiscalizadoras de las instituciones públicas
con alguna responsabilidad en dicha materia (ACUÑA, 2013 p. 54).

Para una mejor comprensión del tratamiento jurídico y normativo de los residuos sólidos
comunes y sus principios jurídicos, en el presente epígrafe se analizan la legislación propiamente
ambiental y la sectorial de relevancia ambiental por orden cronológico, según los tipos de normas
identificados por Brañes Ballestero (BRAÑES, 2001 P. 12) y finalmente las NC 133, 134 y 135, todas
ellas del 2002, que regulan los requisitos higiénicos sanitarios y ambientales de los residuos
sólidos comunes en Cuba.

 Ley No. 1288 de 2 de enero de 1975 (en lo adelante Ley No. 1288 de 1975) es la más antigua
entre las disposiciones jurídicas vigentes en Cuba que regula a los residuos sólidos comunes.
Posee el objetivo de regular la práctica de recuperación de los residuos de materias primas,
productos y materiales reutilizables que se derivan de los procesos de producción (CONSEJO
DE MINISTROS REPÚBLICA DE CUBA, 1975). Esta dispone como obligación de los organismos
y demás dependencias del Estado cubano la recolección de los residuos que pueden ser
reutilizados y que no son aprovechados por dichas entidades (CONSEJO DE MINISTROS
REPÚBLICA DE CUBA, 1975).
 Decreto No. 3800, reglamento de la Ley No. 1288 de 4 de enero de 1975, establece la
prohibición de incinerar, destruir, enterrar o conducir a los vertederos los residuos sólidos
comunes que sirvan de materias primas 13 (CONSEJO DE MINISTROS REPÚBLICA DE CUBA, 1975).
Ambos cuerpos legales disponen, en cuanto a los residuos sólidos comunes, la promoción de
políticas de protección y conservación a seguir para la fase de tratamiento con el fin de reducir
los residuos en los vertederos a través de su reciclaje. De esta forma se evidencia el principio
de tratamiento con el método de reciclaje, el cual se expresa como una línea a seguir en los
Lineamientos de la Política Económica y Social del Partido y la Revolución.

13
Ver artículo 6 en el Decreto 3800 de 4 de enero de 1975. (Decreto No. 3800, 1975)
Resíduos Sólidos Urbanos - 41

 Decreto-Ley No. 54 de 23 de abril de 1982, Disposiciones Sanitarias Básicas (en lo adelante


Decreto-Ley No. 54 de 1982), establece los lineamientos sanitarios básicos. En su artículo 28
establece que:

Las autoridades sanitarias exigen se preste un servicio de recogida de desechos sólidos a


todas las viviendas y locales de reunión situados en zonas urbanas, suburbanas y
comunidades rurales. En las industrias que produzcan desechos sólidos de gran volumen o
de tipo tóxico han de ser transportados por las administraciones de las mismas a los lugares
autorizados. Los desechos orgánicos destinados a la alimentación de animales se recogen
diariamente (CONSEJO DE ESTADO, 1982, p. 7)

 Ley No. 41 de 13 de julio de 1983, De la Salud Pública (en lo adelante Ley No. 41 de 1983),
establece los principios básicos para la regulación de las relaciones sociales en este campo. En
cuanto a los residuos sólidos comunes dispone, en su artículo 65, que:

El Ministerio de Salud Pública dicta medidas relacionadas con el control sanitario del
ambiente referidas a la prevención y control de la atmósfera, suelos y aguas, a los residuos
sólidos, a los acueductos y al agua por ellos suministrada, a la disposición de residuos
líquidos, a la urbanización, proyectos de obras y obras en ejecución, a la tenencia,
transporte e introducción de animales de corral, domésticos y otros, a los cementerios, a la
disposición de cadáveres y restos humanos (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR,
1983, p. 11).

Se evidencia en ambos cuerpos legales la presencia del principio de prevención en relación a los
residuos. El Decreto-Ley No. 54 de 1982 reconoce al postulado de prevención cuando dispone en su
artículo 29 que “para realizar la implantación de cualquier sistema de disposición final de los residuos se
requiere la aprobación de la autoridad sanitaria, conjuntamente con el rector de la protección de la
esfera específica del medio ambiente” (CONSEJO DE ESTADO, 1982, p.7). Lo planteado anteriormente
constituye una medida de carácter preventiva por la contaminación que generan dichos depósitos.

 Ley No. 81 de 11 de julio de 1997, Del medio ambiente (en lo adelante Ley No. 81 de 1997),
la cual refrenda en su artículo 3 el principio constitucional sobre la obligación del Estado y los
ciudadanos de proteger el medio ambiente.14 El cuerpo legal con relación a la definición de
los residuos sólidos comunes es omiso. En su articulado solo conceptualiza a los residuos
peligrosos y a los radiactivos en el artículo 8 inciso f. La norma dedica el Capítulo IV artículos
153, 154 y 155 a estas clasificaciones y establece como requisito previo la autorización del
Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente para su importación (ASAMBLEA
NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997).

14
Ver artículo 27 de la Constitución de la República de Cuba (Asamblea Nacional del Poder Popular, 2003)
42

La Ley No. 81 de 1997 reconoce en los artículos 4 y 5 los principios en que se basan las
acciones ambientales, ellos son el desarrollo sostenible, participación ciudadana, prevención,
precaución, cooperación tanto a nivel internacional como nacional y la responsabilidad (ASAMBLEA
NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997). Aunque la norma no establece principios jurídicos
específicos para los residuos sólidos comunes, se considera que todos los postulados contenidos en
los artículos anteriores informan también el tratamiento jurídico de los mismos, como subsistema
del ordenamiento ambiental.
La ley en análisis regula, en el Título Segundo del Tercer Capítulo en el artículo 13, la función
de los Organismos de la Administración Central del Estado de “velar por el aprovechamiento,
movimiento, tratamiento y disposición final de los residuos sólidos comunes generados en los
procesos productivos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 9). En el artículo 108
estipula el “deber de todas las personas naturales y jurídicas de utilizar prácticas correctas en la
gestión de los residuos domésticos, industriales, agrícolas y hospitalarios para evitar la
contaminación de los suelos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 30).
El artículo 147 de la Ley No. 81 de 1997 establece la “prohibición de emitir, descargar
sustancias y producir factores físicos que puedan afectar la salud humana” (ASAMBLEA NACIONAL DEL
PODER POPULAR, 1997, p. 39). El artículo 149 dispone la “facultad del Ministerio de Salud Pública para
el desarrollo de acciones de verificación de la prestación de los servicios relativos a la recogida de
residuos sólidos y su disposición final en vertederos” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR,
1997, p. 39). Esta facultad regulada en la norma marco del medio ambiente en Cuba reafirma lo
estipulado en la Ley No. 41 de 1983 y el Decreto-Ley No. 54 de 1982 sobre la función del ministerio de
dictar medidas preventivas sobre la gestión de los residuos sólidos comunes.
La Ley No. 81 de 1997, en el Título IVX sobre la protección del medio ambiente en el
desarrollo de las actividades laborales, materializa también al principio de prevención para los
residuos sólidos comunes. Establece en su artículo 161 inciso c: “evitar la acumulación de residuos
que constituyen un riesgo para la salud, efectuando la limpieza y desinfección periódica
pertinentes” (ASAMBLEA NACIONAL DEL PODER POPULAR, 1997, p. 42).
 Decreto-Ley No. 200 de 22 de diciembre de 1999, de las Contravenciones en Materia de
Medio Ambiente (en lo adelante Decreto-Ley No. 200 de 1999), regula en el artículo 9 las
infracciones respecto a las zonas costeras. En relación a los residuos el apartado h establece
como contravención el vertimiento de residuos de cualquier naturaleza sin contar con una
autorización correspondiente. A pesar de ello, no regula contravenciones en materia de
residuos sólidos comunes, a diferencia de los peligrosos que se regulan en el artículo 14
(CONSEJO DE ESTADO, 1999).
Resíduos Sólidos Urbanos - 43

 Decreto-Ley No. 212 de 8 de agosto de 2000, Gestión de la Zona Costera (en lo adelante
Decreto-Ley No. 212 de 2000) tiene como objetivo, según el artículo 1, “establecer las
disposiciones para la delimitación, la protección y el uso sostenible de la zona costera y su
zona de protección, conforme a los principios del manejo integrado de la zona costera”
(CONSEJO DE ESTADO, 2000, p. 1). En cuanto a los residuos sólidos comunes el cuerpo legal en
el artículo 16, inciso g, prohíbe “la disposición final de los desechos sólidos y líquidos
provenientes de cualquier actividad, cuando no cumplan con las normas de vertimiento
establecidas” (CONSEJO DE ESTADO, 2000, p. 4). A pesar que el Decreto-Ley No. 212 de 2000
no tiene como objeto de regulación a los residuos sólidos comunes, en el precepto citado se
evidencia el principio de prevención. Lo anterior se basa en que la norma jurídica prohíbe
disponer finalmente a los residuos en las zonas costeras para evitar la contaminación que
causan los mismos al medio ambiente.
 Decreto No. 272 de 20 de febrero de 2001, De las Contravenciones en Materia de Ordenamiento
Territorial y Urbanismo en el artículo 18 regula las infracciones referentes a la limpieza pública. En
correspondencia con estas estipulaciones establece un conjunto de multas y obligaciones para las
personas naturales y jurídicas que las quebranten. Algunas de las trasgresiones son “la afectación
de los depósitos colectivos destinados a la recogida de los residuos domiciliarios y el
incumplimiento de las normas dictadas por la autoridad competente sobre extracción, transporte
y descarga de los mismos” (CONSEJO DE MINISTROS, 2001, p. 6). De igual forma regula, en el
artículo 18, como otra infracción, “arrojar en los depósitos destinados a la recogida de los residuos
domiciliarios, escombros, maderas y objetos inapropiados a tal servicio urbano” (CONSEJO DE
MINISTROS, 2001, p. 7).

En el país existen tres Normas Cubanas (en lo adelante NC), la 133, 134 y 135 que establecen
los requisitos higiénicos sanitarios y ambientales en cada fase de gestión de los residuos sólidos
comunes. Estas normas adoptan la gestión de los mismos con un enfoque post-consumo, es decir,
su gestión se dirige al momento en que ya los residuos sólidos comunes adquirieron ese carácter y
no a la generación de productos que luego se convierten en los mismos, por lo que no incluye dentro
de sus fases a la generación. Las etapas establecidas por las normas son el almacenamiento, la
recolección, la transportación, el tratamiento y la disposición final.
 NC 133:2002 Residuos Sólidos Urbanos. Almacenamiento, Recolección y Transportación.
Requisitos Higiénicos Sanitarios y Ambientales, dispone que “los residuos sólidos comunes
que se recolectan en carros abiertos deben ser cubiertos por una lona o papel encerado, para
evitar su derrame durante el traslado al sitio de disposición final” (OFICINA NACIONAL DE
NORMALIZACIÓN, N.D.).
44

 La NC 134:2002 Residuos Sólidos Urbanos. Tratamiento. Requisitos Higiénicos Sanitarios y


Ambientales, evidencia el principio de prevención cuando establece que “al realizar cualquier
operación dentro de dicha etapa se debe garantizar que su resultado no constituya un
problema ambiental” (OFICINA NACIONAL DE NORMALIZACIÓN, N.D.).
 La NC 135:2002 Residuos Sólidos Urbanos. Disposición Final. Requisitos Higiénicos Sanitarios
y Ambientales, reconoce el postulado cuando regula que “para la implementación de un
sistema para la disposición final de los residuos sólidos comunes se debe contar con la
aprobación de la autoridad sanitaria competente, la de planificación física y la ambiental”
(OFICINA NACIONAL DE NORMALIZACIÓN, N.D.).
Se concluye que el tratamiento jurídico y normativo de los residuos sólidos comunes y sus
principios jurídicos en Cuba se sustentan en la Ley No. 81 de 1997 como ley marco del medio
ambiente en Cuba y en un conjunto de disposiciones jurídicas que no tienen como objeto de
protección a los residuos y básicamente en tres normas técnicas. Tanto las normas jurídicas como
las normas técnicas que regulan a los residuos evidencian el postulado de prevención sin embargo
en ninguna de ellas se realiza una declaración de principios específicos para el sector. Por ello es
necesario establecer dichos postulados jurídicos.

Los principios jurídicos para la conformación del régimen legal de los RS comunes en Cuba

El estudio doctrinal y comparado y el análisis del tratamiento político, jurídico y normativo


en el contexto cubano permite determinar los principios jurídicos para la conformación del régimen
legal de los residuos sólidos comunes en Cuba. En este sentido se proponen los principios del
Derecho Ambiental estructurales y generales o funcionales, así como también los postulados
particulares ya sean derivados de los generales u originales. Todos estos principios deben ser
reconocidos en una disposición jurídica nacional que tenga como objeto de regulación a los residuos
sólidos comunes.
a) Los principios estructurales del Derecho Ambiental para la conformación del régimen legal
de los residuos sólidos comunes en Cuba.
Los principios estructurales del Derecho Ambiental para la conformación del régimen legal de
los residuos sólidos comunes en Cuba son: globalidad, subsidiariedad, horizontalidad, desarrollo
sostenible, responsabilidad y solidaridad. El principio de globalidad se enuncia en el carácter sistémico
del ambiente, de ahí que la problemática ambiental de los residuos sólidos comunes debe tratarse de
manera global, debido a que afecta además de los tres elementos abióticos del medio ambiente, a la
belleza paisajística y la salud humana de todos los seres humanos.
Resíduos Sólidos Urbanos - 45

El complemento del anterior postulado es el principio de subsidiariedad que significa que


aunque las problemáticas ambientales provocadas por los residuos sólidos comunes tengan carácter
general se debe actuar en la localidad donde más incide el perjuicio. Ello significa que su gestión
debe efectuarse en la escala político-administrativa correspondiente al daño.
El principio de horizontalidad en relación a los residuos sólidos comunes significa la
integración de varios organismos e instituciones que de manera horizontal deben orientar su
política, gestión y resolver las dificultades que se presenten en relación al tema. Son algunos de
estos organismos la Dirección de Comunales, Salud Pública, el CITMA y Planificación Física que
deben actuar de manera coordinada.
El principio de desarrollo sostenible debe informar también el régimen legal de los residuos
sólidos comunes en Cuba. Los modelos consumistas que llevan a cabo una generación cada vez
mayor de los mismos deben de alguna manera erradicarse o controlarse de forma que todos esos
productos que consumimos, en muchas ocasiones innecesariamente, no lleguen a ser la causa de
un aumento acelerado e insostenible de residuos sólidos comunes. Por tanto debe existir un
equilibrio entre el progreso del ser humano con la fabricación de productos que en un futuro se
convierten en residuos y la conservación del medio ambiente, mediante un uso racional de los
recursos naturales y energéticos.
El principio de responsabilidad significa que cuando una persona natural o jurídica ocasione un
daño al medio ambiente por un mal manejo de los residuos sólidos comunes debe responder en materia
administrativa, civil o penal, en dependencia del sistema sancionador dispuesto para dicha infracción.
De igual forma, si el daño es ocasionado por varios sujetos, la responsabilidad debe asumirse de manera
solidaria y mancomunada. En relación a ello se evidencia otro postulado que es la solidaridad, necesario
para logro de todos los demás, el cual requiere que la implementación de la política de los residuos
sólidos comunes se desarrolle mediante la cooperación nacional e internacional.
b) Los principios funcionales o generales del Derecho Ambiental para la conformación del
régimen legal de los residuos sólidos comunes en Cuba.
Los principios funcionales o generales del Derecho Ambiental para la conformación del régimen
legal de los residuos sólidos comunes en Cuba son: prevención, precaución o cautela, quien contamina
paga, corrección en la fuente y participación ciudadana. El postulado de prevención significa la creación
de un conjunto de medidas necesarias que permitan garantizar una gestión sin riesgos para el medio
ambiente y la salud humana. Ejemplo de ello es la exigencia de una autorización del CITMA de conjunto
con Planificación Física y autoridades sanitarias para la creación de plantas de tratamientos o sitios para
la disposición final (OFICINA NACIONAL DE NORMALIZACIÓN, 2002) que pueden ser en un futuro focos
de contaminación por la actividad que generan.
46

El principio de precaución tiene la misma finalidad que el anterior. Consiste en la toma de un


conjunto de medidas para la evitación de un daño al medio ambiente ante riesgos no probados
científicamente. Por ello, cuando exista incertidumbre científica en el contexto de los residuos
sólidos comunes en Cuba, ante los efectos de una acción o peligro, la misma no puede usarse como
excusa para eludir la implementación de acciones para evitarlo.
El postulado quien contamina paga significa la retribución adelantada por parte de agentes
que desarrollan una actividad con riesgos de contaminación, como por ejemplo la fabricación de
productos que en el futuro se pueden llegar a convertir en residuos sólidos comunes. Ello significa
que con anterioridad a su generación se requiera del pago a los sujetos que los producen, con el fin
de compensar el daño futuro que se puede ocasionar al medio ambiente, lo que no quiere decir que
se pague por contaminar, sino que el pago es una medida preventiva al daño.
El principio de corrección en la fuente significa que cuando los residuos sólidos comunes
ocasionen un daño al medio ambiente que no ha logrado ser evitado, deben aplicarse los remedios
lo antes posible en el lugar más próximo donde ocurrió. Además, se deben tomar medidas en el
momento más inmediato en el que se produjo.
El principio de participación ciudadana tiene gran trascendencia pues la población juega un
papel importante en la protección del medio ambiente. Ello implica la realización de la educación
ambiental sobre los residuos sólidos comunes, lo que reclama acceso y recibimiento de información,
ya sea sobre la cantidad de generación de los mismos, su composición, las afectaciones que
provocan al medio ambiente y a la salud humana, así como todo lo referente a su gestión. Además
significa el derecho de cada hombre y mujer de exigirse a sí mismo y exigirle a las instituciones
estatales la adopción de las medidas necesarias que garanticen el pleno ejercicio del derecho a
disfrutar de un medio ambiente sano.
c) Los principios jurídicos particulares derivados de los funcionales o generales para la
conformación del régimen legal de los residuos sólidos comunes en Cuba.
Los principios jurídicos particulares derivados de los funcionales o generales para la
conformación del régimen legal de los residuos sólidos comunes en Cuba son: suficiencia,
proximidad, tratamiento y minimización en la generación. El principio de suficiencia es derivado del
principio de responsabilidad. Consiste en la responsabilidad de cada provincia y municipio de
garantizar la eliminación de los residuos sólidos comunes que generan, situación dada al ser las
localidades las más próximas a su lugar de producción. El complemento del anterior es el postulado
de proximidad que proviene del principio de corrección en la fuente, que significa la creación de
plantas de tratamientos y de sitios de disposición final en lugares cercanos de donde se generan los
residuos sólidos comunes.
Resíduos Sólidos Urbanos - 47

El principio de tratamiento de los residuos sólidos comunes es consecuencia del postulado de


prevención debido a que su finalidad es reducir su volumen en los vertederos y por tanto, las
afectaciones para la salud del hombre y la contaminación del medio ambiente. El principio significa la
modificación de las características físicas, químicas y microbiológicas de los mismos, mediante la
realización de los métodos de reciclaje, compostaje, lombricultura y la incineración. Otro postulado
derivado del principio de prevención es la minimización en la generación, que consiste en disminuir en
el origen de los residuos sólidos comunes, es decir, reducir la generación de productos generadores de
residuos sólidos comunes, lo que permite su menor volumen y contaminación.
d) El principio jurídico particular original para la conformación del régimen legal de los
residuos sólidos comunes en Cuba.
El principio jurídico particular original para la conformación del régimen legal de los residuos
sólidos comunes en Cuba es la jerarquización de los objetivos. El postulado debe establecer un
orden en las distintas fases de la gestión de los residuos sólidos comunes para conseguir un mejor
resultado y organización. El orden consiste en la reducción de la generación, el tratamiento y su
disposición final. No obstante, el postulado no debe ser entendido como una obligación que para
pasar a un nivel se tiene que cumplir el anterior, debido a que todos los residuos sólidos comunes
no pueden ser tratados por sus características físicas, químicas y microbiológicas y por tanto, son
trasladados directamente a los sitios de disposición final.

CONCLUSIONES

La investigación permite corroborar la idea a defender planteada. En consecuencia, se


establecen las conclusiones en los términos que siguen:
 Los principios jurídicos del Derecho Ambiental, como rama rectora de los residuos sólidos
comunes, son los pilares fundamentales que ayudan a interpretar sus normas jurídicas,
complementan sus lagunas legislativas y proporcionan coherencia y sistematicidad.
 Los principios del Derecho Ambiental se pueden clasificar en dependencia de sus diferentes
ámbitos de actuación en estructurales como son la globalidad, horizontalidad, desarrollo
sostenible, responsabilidad y solidaridad y en funcionales o generales como son la prevención,
precaución o cautela, quien contamina paga, corrección en la fuente y participación ciudadana.
 Los residuos sólidos comunes en la doctrina se basan, además de los principios estructurales
y funcionales o generales del Derecho Ambiental, en postulados particulares derivados de los
generales como son suficiencia y proximidad y en el principio particular original de
jerarquización de los objetivos.
48

 El tratamiento político de los residuos sólidos comunes en Cuba se basa en los principios que
sustentan la política y gestión ambiental, además evidencia el postulado de minimización en
la generación.

 El tratamiento jurídico y normativo de los residuos sólidos comunes y sus principios


jurídicos en Cuba se sustenta en la Ley No. 81 de 1997. Además existen normas jurídicas y
normas técnicas que regulan a los residuos y evidencian el postulado de prevención.

 Los principios jurídicos para la conformación del régimen legal de los residuos sólidos
comunes en Cuba son los estructurales como la globalidad, subsidiariedad, horizontalidad,
desarrollo sostenible, responsabilidad y solidaridad; los funcionales o generales son la
prevención, precaución o cautela, quien contamina paga, corrección en la fuente y
participación ciudadana. Se incluyen los postulados particulares derivados de los funcionales
o generales como suficiencia, proximidad, tratamiento y minimización en la generación y el
principio particular original de jerarquización de los objetivos.

RECOMENDACIONES
En el orden académico:
PRIMERA: El empleo de la presente investigación como material de consulta en la asignatura
Derecho Ambiental de la carrera de Licenciatura en Derecho.
SEGUNDA: La utilización de la presente investigación como material bibliográfico para
posteriores investigaciones que se realicen en cuanto al tema de los residuos sólidos comunes.
TERCERA: Fomentar el desarrollo de investigaciones jurídicas en relación con el tema objeto
de investigación que conlleven a la conformación del régimen legal de los residuos sólidos
comunes en Cuba.
En el orden legislativo:
A la comisión de Asuntos jurídicos y constitucionales de la Asamblea Nacional del Poder Popular:
PRIMERA: La promulgación de una Ley que regule los principios jurídicos de los residuos sólidos
comunes a partir de los determinados en la investigación.
Resíduos Sólidos Urbanos - 49

REFERENCIAS

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Resíduos Sólidos Urbanos - 51

Capítulo 3

EXPERIÊNCIAS NA GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS -


UFSCAR, SÃO PAULO, BRASIL

Ana Marta Ribeiro Machado15; Liane Biehl Printes16; Paula Adriana da Silva17; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira 18; Maria Zanin19

INTRODUÇÃO

Instituições de ensino, como as universidades, necessitam gerir corretamente seus resíduos, de


maneira a reduzir os riscos à saúde pública e ambiental, além de servirem como exemplo para a
comunidade acadêmica e sociedade em geral. No Brasil, a preocupação com a gestão de resíduos em
instituições acadêmicas tornou-se mais efetiva a partir da década de 1990, com experiências de coleta
seletiva de materiais recicláveis e de gerenciamento dos resíduos químicos, de serviços de saúde, da
construção civil, resíduos vegetais e radioativos, entre outros (ARAUJO; TEIXEIRA, 2002, 2003).
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) teve seu primeiro campus implantado na
cidade de São Carlos, SP, Brasil, no preâmbulo da década de 1970. Até o início dos anos 1990, a
gestão dos resíduos sólidos gerados no ambiente universitário consistia basicamente na coleta pela
mesma empresa que atendia o restante da área urbana municipal, sem maiores preocupações com
relação à segregação e disposição dos diferentes materiais. O início de uma gestão mais adequada
se deu em 1991, a partir das ações da Comissão Interna de Conservação de Energia (CICE), surgida
a partir de determinação do Decreto nº 99.656/1990 da Presidência da República, que obrigou os
órgãos da Administração Federal direta ou indireta, fundações e empresas públicas que
apresentassem consumo anual de energia elétrica superior a 600.000 KWh a criarem comissões para
propor, analisar e acompanhar medidas de conservação de energia. Entendendo que conservar
energia era também reutilizar e reciclar os resíduos, a CICE passou a desenvolver atividades,

15
Doutora em Ciências (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo (USP). Química na Secretaria Geral de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade (SGAS) da UFSCar, chefe do Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR). E-mail: anamrm@ufscar.br
16 Doutora em Biologia (Ecotoxicologia Aquática) pela University of Reading, Inglaterra. Pós-doutorado no Centro de Recursos Hídricos

e Ecologia Aplicada (CRHEA) da Universidade de São Paulo. Bióloga na Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS)
da UFSCar, chefe do Departamento de Apoio à Educação Ambiental (DeAEA). E-mail: liane@ufscar.br
17 Mestre em Ciências (Enfermagem Psiquiátrica) na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) pela Universidade

de São Paulo. Técnica em química no Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR) da Secretaria Geral de Gestão Ambiental e
Sustentabilidade (SGAS) da UFSCar. E-mail: paulasilva@ufscar.br
18 Doutor em Engenharia Civil (Hidráulica e Saneamento) pela USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana

da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar. E-mail: bernardo@ufscar.br


19 Doutora em Física pela Universidade de São Paulo. Docente Sênior da UFSCar, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência,

Tecnologia e Sociedade da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar. E-mail: mariazanin55@gmail.com


52

incluindo uma bolsa de iniciação científica que resultou, em 1992, no primeiro levantamento dos
resíduos gerados na UFSCar e na proposição de um programa de coleta seletiva. Em março de 1994,
a CICE deu origem ao Programa de Conservação de Energia e Controle de Resíduos (PCE), ligado à
recém-criada Coordenadoria Especial do Meio Ambiente (CEMA/UFSCar). Em anos posteriores,
tanto o PCE quanto a CEMA evoluíram, configurando atualmente o Departamento de Gestão de
Resíduos (DeGR) e a Secretaria Geral de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS). Com intuito
de colaborar para outras experiências, este texto descreverá brevemente a trajetória de
aproximadamente 25 anos de atividades voltadas ao gerenciamento de resíduos perigosos e coleta
seletiva de materiais recicláveis na UFSCar.
O presente trabalho teve como principal objetivo descrever e comentar, em termos de
evolução temporal e de estado atual, a experiência da UFSCar na elaboração, implantação e
avaliação de ações voltadas para a gestão dos resíduos sólidos gerados no meio universitário.

MÉTODOS

O método adotado para desenvolver este trabalho foi a pesquisa documental, realizada na
própria UFSCar, a partir de trabalhos acadêmicos e relatórios administrativos abordando a temática
da gestão de resíduos sólidos. Deve-se destacar também a experiência pessoal dos autores, que
foram atuantes tanto na etapa inicial da gestão (Maria Zanin e Bernardo Teixeira), quanto em
momentos mais recentes e atualmente (Ana Marta Ribeiro Machado e Liane Printes).

RESULTADOS

Os resultados descrevendo e comentando a gestão de resíduos sólidos na UFSCar estão


apresentados em três tópicos, de maneira cronológica e isoladamente: 1) Estrutura física e
organizacional atual; 2) Gestão de resíduos perigosos; 3) Coleta seletiva. Além desses tópicos, são
também apresentados os desafios identificados na gestão de resíduos e elencadas diretrizes
orientadoras para novos projetos e ações.

ESTRUTURA FÍSICA E ORGANIZACIONAL ATUAL

A estrutura física e organizacional atual apresentada neste trabalho contempla a descrição


desde os leiautes das instalações, as normas envolvidas e até o organograma das instâncias gestoras
e executivas.
Resíduos Sólidos Urbanos - 53

Estrutura Física

Embora a UFSCar apresente uma estrutura multicampi, toda a infraestrutura referente ao


tratamento e armazenamento dos resíduos químicos concentra-se no campus São Carlos. No
campus de Araras, recentemente foram feitas adequações em instalações já existentes para tornar-
se um entreposto de armazenamento dos resíduos químicos perigosos. Os campi Sorocaba e Buri
não contam com estrutura física dedicada a este fim, os resíduos ficam provisoriamente
armazenados em laboratórios ou em locais não apropriados.
A infraestrutura localizada na UFSCar campus São Carlos foi construída no ano 2000, é
composta por instalações especiais que permitem o armazenamento, redução, tratamento e/ou
recuperação de resíduos perigosos, sendo adequada para atender a demanda dos resíduos gerados
neste campus. Situada na área norte, em um terreno de 4.000 m2 e 663 m2 de área construída. O
espaço físico é constituído por um prédio para abrigar a estrutura administrativa, dois laboratórios
destinados à manipulação dos resíduos químicos e quatro depósitos destinados a amostras de
combustíveis, resíduos químicos, produtos químicos e rejeitos radioativos. A Figura 1 indica a
disposição dos prédios na área.

Figura 1 – Infraestrutura existente localizada na UFSCar campus São Carlos.

Fonte: Escritório de Desenvolvimento Físico (EDF/ UFSCar), 2015.


54

Na área central, localiza-se o prédio que abriga a estrutura administrativa e as coordenações


do Departamento de Apoio de Educação Ambiental (DeAEA) e Departamento de Gestão de Resíduos
(DeGR), sala para reuniões, sala de estudos e para treinamento de pessoal.
Possui um galpão para armazenamento de resíduos químicos, classificados como perigosos
(Classe I), com área de 246 m2, constituído de cobertura e boa ventilação, os recipientes são
armazenados sobre base de concreto para que, em caso de derramamento, o escoamento seja
rápido prevenindo infiltrações no solo. O espaço é protegido por toldos, que permitem a circulação
de ar no local e, consequentemente, redução no acúmulo de gases. Esse galpão será submetido a
uma reforma para adequação, visando a atender à Norma Brasileira Regulamentadora – NBR 12235,
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1992).
A instalação para armazenamento de substâncias químicas foi projetada segundo a NBR
10004 (ABNT, 2004) e a NBR 12235 (ABNT, 1992), possui uma área de 34 m 2, construída em
alvenaria dentro dos padrões de segurança para armazenar substâncias perigosas. As prateleiras
possuem revestimento em tinta epóxi e o edifício não tem janelas para evitar a entrada de
luminosidade. A ventilação é mantida por elementos vazados junto ao teto e um portão composto
por duas folhas de chapas metálicas perfuradas. O piso, confeccionado em placas de concreto
vazadas que permite o escoamento dos resíduos por uma canaleta ligada a um reservatório
externo para conter os resíduos, no caso de haver um derramamento acidental, no qual o resíduo
pode ser recolhido. Nesse local há ausência de instalações elétricas, com o intuito de evitar
possíveis explosões, devido à ignição por arcos ou faíscas em contato com uma atmosfera com
elevada concentração de vapores e/ou gases inflamáveis; é possível ter no local uma instalação
elétrica blindada, à prova de explosão (para não gerar faíscas). Nesse abrigo, os reagentes são
dispostos levando em consideração suas incompatibilidades químicas (ALBERGUINI et al., 2003, p.
292). Parte dos resíduos é tratado/inertizado no laboratório do DeGR e posteriormente
encaminhada para disposição final externa, que é realizada por empresas credenciadas pelos
órgãos de fiscalização ambiental de seus Estados.
Toda área dos depósitos é cercada por alambrados e isolada do acesso de pessoas externas,
possui placas de sinalização de segurança com indicação de: “acesso restrito”, “área de risco”, “uso
obrigatório de EPIs”, “substâncias perigosas diversas”, “perigo e inflamável”. É expressamente
proibido o uso de fogo ou de qualquer instrumento que produza faísca. Todo e qualquer manejo de
resíduos nas instalações de armazenamento é executado por pessoas providas de Equipamento de
Segurança Individual (EPI) adequado.
Resíduos Sólidos Urbanos - 55

A estrutura é composta por dois laboratórios que permitem a realização de tratamentos


físicos e químicos de resíduos orgânicos e inorgânicos, com sala de instrumentação equipada com:
um cromatógrafo gasoso (CG), um analisador de carbono orgânico total (TOC), um espectrômetro
de emissão atômica de plasma de micro-ondas (MP-AES), um espectrofotômetro UV-visível. O
laboratório conta com um rotaevaporador semi-industrial, sistemas de osmose reversa, dentre
outros equipamentos, parte deles adquirida através de projeto FAPESP de auxílio à infraestrutura
de pesquisa – “Implantação do sistema de gerenciamento de resíduos químicos a partir do consórcio
entre as maiores unidades geradoras”. Possui, também, uma sala de apoio para análise e
armazenagem provisória de produtos em tratamento ou já recuperados. Toda água de lavagem,
proveniente das pias, bancadas e capelas dos laboratórios, é recolhida em dois tanques, e recebem
um tratamento prévio ao descarte na rede de esgoto.
No ano de 2009, foi construída, em uma área de 36 m2, uma planta piloto para recuperação de
solventes orgânicos (Figura 2). O projeto da planta piloto foi desenvolvido pela própria UFSCar,
apropriado às características dos resíduos aqui gerados. A coluna de destilação é multipropósito, ou
seja, pode ser operada de quatro maneiras diferentes: a) destilação contínua; b) batelada diferencial;
c) batelada com refluxo constante, e d) batelada com destilado de composição constante. A utilização
de cada um desses modos de operação depende de fatores como quantidade, composição e grau de
pureza requerido. Esse equipamento custou à Universidade R$ 190.000,00; com um aporte de
recursos dos departamentos de Química, Engenharia Química e de Engenharia de Materiais.
A proposta para a construção de uma planta piloto para recuperar e reutilizar os resíduos
químicos sempre esteve associada a aspectos econômicos e ambientais. Sua utilização permite
maior aproveitamento dos reagentes e substâncias com menor consumo de energia e evita o gasto
e o impacto ambiental com a incineração desses resíduos tóxicos. A utilização de solventes
orgânicos é muito elevada nos laboratórios de ensino e pesquisa da UFSCar – essas misturas
representam 75% do total de resíduos químicos gerados na Universidade. Estima-se que, quando a
planta piloto estiver funcionando com sua capacidade máxima de processamento,
aproximadamente 40% das misturas de solventes orgânicos poderão ser recuperadas com grau de
pureza apropriado para o reuso (UFSCAR, 2010, p. 112).
A reciclagem contribui consideravelmente na minimização dos resíduos destinados à
incineração e os gastos com a aquisição de novos solventes, além de diminuir consideravelmente o
transporte de reagentes perigosos por meio de rodovias. A planta piloto opera em escala semi-
industrial e a cada acionamento tem capacidade de processar uma quantidade média de 300 litros
de solventes orgânicos. Para dar início ao processo de destilação é necessário armazenar uma
grande quantidade de mistura de solventes; para tal, o DeGR possui tanques com capacidades de
250, 500, 600, 800, 1.000 e 1.500 litros.
56

Visando a proteger a estrutura e prevenir o processo de corrosão dos equipamentos, que


devido à exposição ao sol e às chuvas estão se deteriorando, permitindo a operação da planta piloto
em dias de chuvosos, em 2014 foi solicitada a sua cobertura. Essa demanda não foi atendida devido
à falta de recurso. Entre 2014 e 2016 a planta piloto praticamente não foi posta em funcionamento,
pelos seguintes motivos:
1. Principalmente, falta de infraestrutura, dias de sol intenso e chuvas inviabilizam a
operação no local.
2. Insuficiência de resíduos passíveis de tratamento, os resíduos chegam ao DeGR em
misturas muito complexas – com um grande número de componentes (isso se dá principalmente
pela displicência dos geradores no momento da segregação).
3. Falta de pessoal, a operação da coluna requer quatro servidores ou estagiários, treinados
e equipados com itens de segurança.
Atualmente, os solventes orgânicos são recuperados em pequenas quantidades, 20
litros/dia, no laboratório do DeGR, com o uso do equipamento evaporador rotativo –
rotaevaporador semi-industrial, adquirido com o recurso FINEP – CT-Infra – Proinfra 01/2013,
subprojeto 2: “Consolidação da estrutura para o gerenciamento de resíduos potencialmente
perigosos gerados pela UFSCar. GERES-UFSCAR”.

Figura 2 – Imagem da planta piloto para reciclagem dos solventes orgânicos.

Fonte: Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR/UFSCar), 2017.


Resíduos Sólidos Urbanos - 57

Em virtude do crescimento da universidade, com o aumento do número de cursos de


graduação e desenvolvimento de novas pesquisas de pós-graduação, houve o consequente aumento
na geração de resíduos químicos, tornando inevitável e necessária a ampliação da infraestrutura do
DeGR. Nesse sentido, em fevereiro de 2011, foi apresentada, pela UFSCar, uma proposta à Chamada
Pública FINEP – CT-Infra – Proinfra 01/2011 – sendo contemplado o Subprojeto 8 – "Adequação e
Modernização da Unidade de Gestão de Resíduos (UGR) da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar)" – UGR-UFSCar. Um recurso de R$ 1.125.800,00, está destinado a ampliar a infraestrutura
de armazenamento, bem como reestruturar, modernizar e aperfeiçoar o sistema de gerenciamento
de resíduos perigosos na UFSCar, fundamentados na legislação vigente (fundamentada na NBR 17505-
7, de 03/2015 da ABNT (ABNT, 2015), nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005), CONAMA nº 430 (CONAMA, 2011), CONAMA nº 467 (CONAMA,
2015) e atendendo à NBR 12235 da ABNT (ABNT, 1992).
Com as instalações adequadas objetiva-se agregar pesquisadores com linhas de pesquisa
voltadas à inovação tecnológica aplicada ao gerenciamento de resíduos, através de projetos de pesquisa
conjugados, com o propósito de aperfeiçoar e desenvolver tecnologias que permitam tratar, recuperar
e reaproveitar os diversos resíduos perigosos, contribuindo para a sustentabilidade. O projeto CT Infra-
FINEP do DeGR foi aprovado com o compromisso de motivar a ampliação das pesquisas, com foco no
tratamento/recuperação de resíduos, e fortalecer as existentes.

Estrutura Organizacional

A Resolução CoAd nº 052, de 24 de maio de 2013 (UFSCar, 2013), apresenta a estrutura da


SGAS que contempla instâncias gestoras e executivas que estão apresentadas na Figura 3.
As seções Araras, Sorocaba e Buri estão previstas em organograma, porém sem
disponibilidade de corpo técnico para sua implementação. A estrutura organizacional dos
departamentos conta com um setor administrativo – auxiliares administrativos, técnicos de nível
médio e superior.
58

Figura 3 – Organograma atual da SGAS.

Fonte: Relatório de Gestão SGAS 2012-2016 (PUGLIESI, 2016).

GESTÃO DE RESÍDUOS PERIGOSOS

Em 2000, foi deliberado na UFSCar a Central de Resíduos, vinculada à CEMA, tendo como
compromisso contribuir para a gestão dos resíduos ali gerados. Isso foi possível em decorrência de
um edital específico para auxílio à infraestrutura de pesquisa, lançado pela FAPESP, possibilitando
a implementação e/ou adequando as universidades e instituições de pesquisa para o tratamento e
gerenciamento dos diversos resíduos perigosos gerados em atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Nesse mesmo ano, a Central de Resíduos iniciou os trabalhos de levantamento sobre os
resíduos perigosos e a montagem do laboratório para o seu tratamento, no entanto, após o
falecimento do pesquisador responsável, os trabalhos foram interrompidos por falta de
coordenação e a Unidade ficou inativa no período de 2003 a 2004.
Resíduos Sólidos Urbanos - 59

No ano de 2005 a Central de Resíduos passou a ser nomeada Unidade de Gestão de Resíduos
(UGR), criada com o grande desafio e a difícil missão de propor e implementar um Programa de
Gerenciamento de Resíduos Perigosos (PGRP) na UFSCar, a fim de sistematizar e operacionalizar os
procedimentos para a gestão segura dos resíduos, permitindo o monitoramento e a adequação do
manejo ambiental dos materiais utilizados e redução dos resíduos gerados na UFSCar com
consequente prevenção da poluição ambiental. A maior dificuldade encontrada nesse processo não
está relacionada à grande quantidade de resíduo gerada, mas sim à sua enorme diversidade, bem
como sua periculosidade e toxicidade, que muitas vezes não é inteiramente conhecida, para o
ambiente e para a saúde das pessoas que de alguma forma sejam expostas a eles.
Frente aos avanços obtidos, com a implementação do PGRP, de maneira mais específica,
pode-se destacar ações de redução do uso de reagentes e a substituição por produtos menos
agressivos ao ambiente que permitem gerar resíduos de menor impacto.
Dentro desse contexto, a sua implementação foi iniciada com a elaboração de uma proposta
de programa permanente para gestão de materiais residuais perigosos, adequado às características
da UFSCar, estabelecendo objetivos, estratégias, diretrizes e metas para propiciar a gestão segura,
racional e ambientalmente correta na UFSCar (MACHADO et al., 2006). O resultado dessa ação é um
modelo de Gestão Ambiental que permite controlar os impactos ambientais com a destinação final
adequada dos resíduos perigosos e uma importante adequação à legislação ambiental. Para
elaborar esta proposta foi necessário um intercâmbio com outras instituições de pesquisa e ensino
superior (Universidade de São Paulo – USP, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA), que possuem um programa de gestão
de resíduos, com intuito de troca de informações e experiências. Esse intercâmbio possibilitou
estabelecer e coletar dados para referenciais relacionados à operacionalização do programa de
gestão e de boas práticas de sustentabilidade ambiental em campus universitário.
Ainda no âmbito do programa de gestão, foi proposta uma sistematização de
procedimentos, sendo elaborada uma norma técnica para orientar a comunidade quanto aos
procedimentos para a segregação, identificação, coleta e transporte de resíduos químicos sólidos e
líquidos, no caso a “NR 01/UGR – Normas de Procedimentos para Segregação, Identificação,
Acondicionamento e Coleta de Resíduos Químicos” (MACHADO; SALVADOR, 2005). A aplicação
dessa norma visa a aumentar a eficácia das etapas iniciais no sistema de gestão de resíduos
químicos. Os tópicos foram fundamentados na NBR 10004 da ABNT (ABNT, 2004) e na resolução
CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005), nos procedimentos de segurança para manipulação de resíduos
e na capacidade de tratamento destes pela UGR (MACHADO; SALVADOR, 2005).
60

A norma é uma ferramenta importante no gerenciamento dos resíduos e a sua utilização visa
a sistematizar e padronizar os procedimentos. Dessa forma, foi realizado um criterioso trabalho
durante a implementação, tendo sempre em vista que para a norma se tornar eficaz era necessária
uma mudança de atitude do gerador. Assim, algumas ações foram implementadas nas fontes
geradoras, como a minimização ou mesmo eliminação da geração de resíduos. Para tanto, alguns
procedimentos foram adotados: a substituição de compostos perigosos e/ou mudança no processo;
implantação procedimentos que possibilitassem a reutilização, recuperação e tratamento in loco, e
redução na quantidade e frequência do uso de substâncias e materiais agressivos ao meio ambiente.
A identificação e a caracterização dos resíduos são etapas muito importantes, nas quais deve
ser dada especial atenção às orientações da norma, de modo que todas as informações relevantes
sejam registradas e padronizadas para melhor execução das atividades subsequentes. Assim, foi
desenvolvido um rótulo padrão, no qual as características dos resíduos são detalhadas.
Foram necessárias algumas adequações à ampliação na infraestrutura da UGR para realizar
o tratamento de resíduos químicos. Para tal, foram adquiridos materiais e equipamentos, e
desenvolvidas rotinas de tratamento de resíduos com o propósito de atingir os seguintes objetivos:
tratar, recuperar e reciclar elementos de interesse; estabelecer rotas seguras para o descarte de
resíduos perigosos sólidos e líquidos, e obter efluentes líquidos neutralizados, removendo metais
pesados e demais espécies tóxicas presentes, permitido o descarte sem risco ambiental. Os resíduos
recuperados podem não apenas ser continuamente reutilizados no processo em que foram gerados,
como também há possibilidade de se tornar matéria-prima para novos processos (AMARAL et al.,
2001). Com esta finalidade foi criado, em 2006, um banco de reagentes que viabiliza o
reaproveitamento e possibilita o intercâmbio interno dos reagentes vencidos ou sem utilidade e dos
reagentes recuperados através do tratamento de resíduos.
A primeira ação da UGR, em 2005, foi a realização de um estudo diagnóstico dos resíduos, a
partir do inventário do ativo e passivo. Dessa intervenção emergiram informações sobre a natureza
(características físicas e químicas) e efeitos ambientais causados pelos resíduos gerados e estocados
no campus São Carlos. Em 2010, o mesmo inventário foi realizado no campus Araras, que indicou
uma grande variedade de resíduos com diversas classes de riscos, necessitando de destinação
correta, até como forma de prevenção da exposição de seus geradores ao produto residual
proveniente das pesquisas geradas (SAQUETO, 2010).
Resíduos Sólidos Urbanos - 61

O levantamento da quantidade e composição dos resíduos perigosos possibilitou caracterizar os


materiais biológicos, químicos e radioativos que haviam sido armazenados, nos vários departamentos,
ao longo dos anos. Esse material foi considerado como passivo ambiental, sendo parte tratado e/ou
armazenado na universidade e parte destinado ao armazenamento externo, incineração, calcinação,
coprocessamento, e disposição em aterro industrial Classe I. Foram encontrados resíduos armazenados
de forma incorreta, em áreas externas oferecendo riscos às pessoas e ao meio ambiente, sendo o caso
mais relevante observado no Departamento de Química (DQ), onde havia aproximadamente dez
toneladas de solventes orgânicos armazenados em tambores metálicos que já apresentavam sinais
críticos de corrosão. Diante desse quadro, a UFSCar realizou a contratação de uma empresa
especializada para a retirada de 20,8 toneladas de passivo ambiental.
Simultaneamente à eliminação do passivo ambiental, realizou-se um levantamento da
situação dos resíduos químicos perigosos ativos (de geração contínua) da universidade. O real
dimensionamento dessa corrente foi de fundamental importância para a concepção da proposta do
sistema de gerenciamento de resíduos. Os dados coletados foram subdivididos em grupos de
resíduos separados de acordo com suas características principais: biológicos, químicos, radioativos
e misturas. Uma etapa importante nesse processo foi estabelecer dentro destes grupos,
considerados como de geração contínua, as principais vertentes de resíduos. Esse mapeamento
possibilitou trabalhar a separação dos resíduos na fonte geradora e permitiu que fossem realizados
procedimentos seguros de manejo promovendo sua passivação e/ou disposição final adequada. Os
laboratórios geradores de resíduos foram hierarquizados, utilizando-se o Método ABC, sendo
classificados por ordem decrescente de quantidade mensal em peso de resíduo produzido. Essa
classificação permitiu a priorização das ações da UGR, sendo que os três primeiros laboratórios
considerados como Classe A, responsáveis por cerca de 70% dos resíduos gerados, receberam maior
atenção para fins de gerenciamento, com visitas para acompanhamento, inspeção e orientação dos
setores geradores (SALVADOR et al., 2008).
A grande quantidade e diversidade de resíduos potencialmente perigosos gerados levou a
necessidade da criação de um órgão interno responsável por analisar os aspectos éticos e de
segurança envolvidos nos procedimentos técnicos, científicos e didáticos. Esse órgão foi nomeado
de Comissão de Ética Ambiental (CEA) e foi instituída na UFSCar em agosto de 2005, composta por
membros dos diversos centros (CCBS, CCET e CCA) e da CEMA, mas acabou sendo inativada em
2013. Na ocasião em que esteve ativa, a CEA estabeleceu a inclusão nos projetos de pesquisa de
uma descrição detalhada do tratamento e destinação final a ser dada para os resíduos químicos
62

gerados. Todos os projetos que ofereciam algum tipo de risco para saúde pública e meio ambiente
deveriam ser avaliados pela CEA, sendo analisados quanto aos aspectos éticos dos procedimentos
envolvendo substâncias químicas potencialmente geradoras de resíduos perigosos, tomando como
referência alguns instrumentos legais vigentes e considerando os impactos causados pelas
atividades no meio ambiente e a saúde humana.
Foram identificados, no inventário de resíduos perigosos, os radioisótopos presentes nos
rejeitos e foram mapeados os laboratórios que manipulam materiais radioativos. Em sua maioria,
os rejeitos gerados nas pesquisas da universidade apresentam baixa atividade e curta meia-vida. Os
rejeitos com essas características são armazenados, aguardando o tempo de decaimento, e os
rejeitos radioativos com tempo de meia-vida médio e longo são encaminhados para
armazenamento no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/SP (IPEN). Também foi possível
identificar resíduos radioativos sólidos na forma de carcaças de animais, seringas contaminadas e
agulhas, vidraria e roupas de laboratório.
Na ocasião da coleta e armazenamento, em 2006, as radiações ionizantes dos materiais
foram medidas com uma Sonda Geiger-Muller. Os rejeitos radioativos ou contaminados com
radionuclídeos apresentaram 4,00 mR/h na medição pulsada (uma fonte de urânio, em quantidade
0,5 kg, indicou medição pulsada 4,00 mR/h, armazenado em caixa de chumbo, há ainda
armazenados neste depósito uma quantidade 45,0 kg de para-raios radioativos de Amerício-241,
acondicionados em tambores metálicos e plásticos, carbono 14 quantidade 186 kg, trítio, iodo 125,
fósforo 32, totalizando 358 kg, todos acondicionados em bombonas plásticas e frascos de vidro).
Uma segunda avaliação quantitativa, com o mesmo equipamento, foi realizada em 2013, as
emissões permaneciam no mesmo patamar anterior, com níveis de radiação dentro limites
aceitáveis. Apesar do reduzido universo de radioisótopos estocados e os níveis de radiação
detectados, devido ao grau de risco dessas substâncias e os limites toleráveis à exposição humana
diária, torna-se evidente a necessidade de destinação final adequada, no entanto, devido à falta de
recursos da universidade todos os rejeitos radioativos gerados, até o ano de 2006, permanecem
estocados no depósito do UGR/DeGR.
Em 2009, foi desenvolvido um sistema de controle informatizado dos reagentes químicos, por
meio do software de gestão integrado entre esses laboratórios (CARVALHO et al., 2010). O sistema foi
implantado em diversos laboratórios da UFSCar, que receberam treinamento no uso do software. Essa
ferramenta permitiu a criação de redes de doação e troca de regentes químicos através do módulo de
controle de estoque. No período que transcorreu entre 2009 e 2013 foram realizados a instalação do
Resíduos Sólidos Urbanos - 63

software e o treinamento dos usuários em 25 laboratórios da UFSCar e, paralelamente, foi implantado


um programa de palestras, visitas aos laboratórios, validação dessa ferramenta e o desenvolvimento de
um manual para os usuários do sistema. Atualmente, o software está passando por uma fase de
modernização e reestruturação. A utilização nos laboratórios assegurará o planejamento e controle da
utilização de produtos considerados tóxicos e do fluxo de matérias-primas em estoque e em
processamento com base no ciclo de vida das substâncias químicas. O controle informatizado
desempenhará um papel de fundamental importância, pois preconizará a implantação de mecanismos
que possibilitarão a redução, o reaproveitamento e a recuperação de reagentes e substâncias, além da
integração das atividades laboratoriais.
Em busca de aprimorar o sistema de gerenciamento de resíduos químicos na universidade e
objetivando atender à demanda de pesquisadores cujos projetos de pesquisa têm como última
etapa o tratamento e a destinação responsável e adequada dos resíduos gerados, o programa de
gestão foi reestruturado, no ano de 2013, dando lugar ao Departamento de Gestão de Resíduos –
DeGR, vinculado à também criada SGAS.
As atividades no âmbito do DeGR englobam o gerenciamento de resíduos perigosos e
comuns, o controle da utilização de produtos considerados tóxicos nos campi da UFSCar, além de
integrar, ampliar e fortalecer ações voltadas a instituir o programa de gestão de resíduo na UFSCar,
de modo que as atividades de ensino, pesquisa e extensão ocorram de forma ambientalmente
preventiva. Essas atividades possibilitam menor consumo de energia, maior aproveitamento dos
reagentes/substâncias e redução dos riscos às pessoas e ao meio ambiente. O DeGR é responsável
pela coleta, tratamento, recuperação e disposição final adequada de todos os resíduos
potencialmente perigosos (lâmpadas fluorescentes; pilhas não alcalinas; vidrarias contaminadas;
solventes; baterias; resíduo eletrônico; embalagens de agrotóxicos e de inseticidas; tintas;
medicamentos e reagentes químicos vencidos; resíduos químicos diversos; rejeitos radioativos) e
comuns (inertes – coleta seletiva) gerados no campus da UFSCar São Carlos, e pelo suporte às
atividades nos demais campi da UFSCar Araras, Sorocaba e Buri.
No período de 2010 a 2013, em consequência do planejamento para reduzir e destinar
adequadamente os diversos tipos de resíduos gerados, houve uma tendência de redução na
destinação à incineração. Nos últimos anos, através de políticas públicas que visam a aumentar o
acesso e a qualidade de ensino, a UFSCar ampliou o número de alunos, cursos e laboratórios,
promovendo um consequente aumento na geração de resíduos, atingindo um máximo em 2015. O
passivo ambiental acumulado nos quatro campi (Araras, São Carlos, Sorocaba e Buri), entre 2015 e
2016, ultrapassou o total produzido entre os anos de 2012 e 2014 (Figura 4).
64

Figura 4 – Quantidade total de resíduos recolhidos (2005-2016).

Fonte: Departamento de Gestão de Resíduos (DeGR/UFSCar), 2017.

A atuação do DeGR busca a gestão eficiente dos resíduos gerados na Universidade e tendo como
eixo central um trabalho pleno em conjunto com os departamentos, laboratórios e seus responsáveis,
orientando-os para a necessidade do desenvolvimento de pesquisas e rotinas de laboratórios voltados
para minimização, tratamento, recuperação e reutilização dos resíduos na fonte geradora.
Dentre as ações que possibilitam a redução do volume de resíduos aquosos contendo metais
pesados está o desenvolvimento de caixas de evaporação, construídas com baixo custo e materiais
comerciais, que utilizam a radiação solar como matriz energética, apresentadas na figura 5 – fotos
superiores. Os resíduos inorgânicos são neutralizados, filtrados e dispostos nas caixas para a
remoção da água restando, então, uma pasta inorgânica que é destina a aterros industriais
especializados. A redução do peso chega a 75% do resíduo inicial.
A aprovação do projeto “Recuperação de águas residuárias por destilação passiva”,
como componente do edital de apoio a atividades de extensão, MEC-PROEXT-2014,
possibilitou o desenvolvimento e a construção de equipamentos para destilação solar passiva
(Figura 5 – fotos inferiores).
Um sistema de destilador solar passivo, com o uso de fontes de energias renováveis, é aplicado
para purificação de águas residuais, separação de misturas químicas, redução na quantidade de
efluentes potencialmente perigosos e pré-purificação das diversas misturas residuais geradas nas
atividades da UFSCar. Esse processo alia eficiência e baixo custo e permite a reciclagem e o reuso da
água e solventes orgânicos e cria oportunidade para combinar redução de custos, o uso racional de
recursos naturais, a conservação da água e a melhoria do processo de gerenciamento.
Resíduos Sólidos Urbanos - 65

Figura 5 – Equipamentos que utilizam energia solar para purificação de solventes por evaporação (fotos superiores) e
por destilação passiva (fotos inferiores).

Fonte: Ana Marta Ribeiro Machado, 2017.

Os Resíduos de Serviço de Saúde (RSS), e com contaminação biológica, gerados nos


laboratórios, em unidades de atendimento médico e odontológico da UFSCar pertencentes
predominantemente à Classe I, são adequadamente segregados e acondicionados em embalagens
identificadas e apropriadas para resíduos infectantes. Permanecem armazenados nos locais de
origem, em ambiente separado, sendo posteriormente coletados pela empresa responsável pelos
serviços de coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos gerados nos serviços de
saúde – RSS da cidade de São Carlos. O transporte é feito em veículos apropriados para coleta dos
Grupos A (infectantes) e E (perfurocortantes), para o tratamento é aplicado o processo de
autoclavagem e a destinação é feita em aterro sanitário licenciado, seguindo os padrões
estabelecidos em legislações existentes.
Em 2015, foi incorporada, à estrutura da UFSCar, o Hospital Universitário – HU/UFSCar. Com
isso, o DeGR passou a realizar a gestão dos resíduos químicos (medicamentos vencidos, lâmpadas
fluorescentes, reveladores, glutaraldeído, chapas radiográficas, etc.) gerados nesta unidade de
saúde. Os demais resíduos com contaminação biológica são recolhidos por empresa especializada
responsável pela coleta desses resíduos na cidade de São Carlos, para fins de despejo, incineração
ou outro processo de tratamento ou disposição final.
66

COLETA SELETIVA

A UFSCar, desde março de 1994 (com a criação da Coordenadoria Especial do Meio


Ambiente) até os dias de hoje, implantou diferentes projetos de coleta seletiva para a comunidade
universitária. O primeiro projeto foi desenvolvido pela CICE por meio do Programa de Conservação
de Energia e Controle de Resíduos, conforme apresentado por Teixeira e Zanin (1995), que
constituía de sete locais de entrega voluntária distribuídos pelo campus de São Carlos. Este modelo
foi desativado e no seu lugar foi implantado um único sistema coletor que possibilitava melhor
acesso para o descarte e informações para a comunidade, conforme ilustra a Figura 6. Ainda neste
projeto, havia a coleta de papel em todas as repartições da UFSCar por meio de coletores especiais.
No ano de 2007, um grupo de estudantes, cuja maioria residia na Moradia Estudantil da
UFSCar, originou o GRACS (Grupo de Apoio à Coleta Seletiva). A motivação para o surgimento do
grupo veio da percepção sobre a necessidade de sensibilizar a comunidade universitária para o
adequado encaminhamento dos resíduos recicláveis gerados e da adequação da estrutura
disponível para a coleta seletiva, visando à ampliação desta no campus São Carlos. O grupo entrou
em contato com o coordenador do Programa de Educação Ambiental (PEAm) da extinta CEMA.
Deste modo, foi elaborada e submetida à Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) uma proposta de
atividade sob o título “Aperfeiçoamento da Coleta Seletiva de Recicláveis da Universidade Federal
de São Carlos – campus São Carlos”. Esta proposta tinha como objetivo geral criar mecanismos para
reestruturar/aperfeiçoar o sistema de coleta seletiva de resíduos recicláveis do Campus de São
Carlos da UFSCar (BANCI et al., 2008). Dentre os objetivos específicos estava a adequação da UFSCar
ao Decreto 5.940, em vigor desde o ano anterior (BRASIL, 2006).
O ano de 2007 foi também marcado pela desativação do LEV (Local de Entrega Voluntária da
UFSCar (Figura 6). Com o estabelecimento do programa municipal, em 2002, esta estrutura foi se
tornando desnecessária. Contudo, houve muita discussão em torno desta desativação, pois se tratava
de um local emblemático que simbolizava o pioneirismo e o engajamento da UFSCar quanto as questões
ambientais, em particular em relação à geração de resíduos e sua destinação. Além disso, este LEV ainda
era bastante utilizado pelos estudantes da Moradia Estudantil, por isso também a motivação dos
mesmos para se envolverem na reestruturação da Coleta Seletiva no campus São Carlos.
Nesse mesmo ano de 2007, foi lançada uma campanha interna com a afixação de faixas e
cartazes e a veiculação de textos informativos sobre a prática de coleta seletiva na UFSCar. Esses
textos eram impressos e distribuídos em filipetas, nos holerites dos servidores e também por meio
digital, através do informativo interno da instituição (Inforede).
Resíduos Sólidos Urbanos - 67

Figura 6 – Imagem do extinto Local de Entrega Voluntária (LEV) de recicláveis na UFSCar.

Fonte: Foto de Amadeu Logarezzi, 1994.

No ano seguinte, com a aprovação da atividade de extensão, teve início uma série de ações
que serviram de base para o estabelecimento do programa de coleta seletiva que hoje vigora na
Instituição. Entre as ações realizadas, podemos destacar a elaboração de novos procedimentos para
a prática de coleta seletiva na Moradia Estudantil. Para tal, houve a alocação de dois Pontos de
Entrega Voluntária (PEVs), com o objetivo de receber os recicláveis dos residentes (Figura 7).

Figura 7 – Ponto de Entrega Voluntária (PEV) implantado na Área Moradia Estudantil da UFSCar em 2008.

Fonte: Foto Arquivo de Rodolfo Antônio de Figueiredo, 2008.


68

Houve também a realização de uma ampla campanha para a sensibilização da comunidade


acadêmica, com produção de materiais educativos (Figura 3) e envolvimento em ações que estavam
sendo realizadas na cidade em um momento em que a coleta seletiva municipal estava em franca
expansão. Em relação à adequação ao Decreto nº 5.940, já citado, foi elaborada uma primeira versão
da minuta da Portaria que posteriormente criou o Programa de Coleta Seletiva Solidária da UFSCar.
O ano de 2009 foi um período de transição, marcado pela substituição da coordenação do
PEAm. Houve, infelizmente, também a dissolução do GRACS. Assim, o projeto de extensão de
reestruturação da coleta seletiva na UFSCar sofreu uma interrupção. Porém, foi elaborada uma nova
proposta sob o título "Reestruturação da gestão de resíduos recicláveis na UFSCar – Primeira fase:
campus São Carlos", novamente submetida à ProEx. Neste ano completávamos 15 anos do primeiro
programa de coleta seletiva, assim, em parceria com a Incubadora de Cooperativas (INCOOP) do
Núcleo Multidisciplinar de Economia Solidária (NuMI-EcoSol) foi elaborada uma exposição sob o
título "15 anos de Coleta Seletiva na UFSCar" (Figura 8). A atividade também objetivou a
revitalização da Coleta Seletiva na Instituição. O evento contou com mesa inicial de abertura, com
a participação dos pioneiros na implantação do programa na UFSCar; feira de artesanato produzido
com materiais recicláveis e uma exposição que contava a história da Coleta Seletiva na UFSCar, além
de apresentar objetos elaborados com materiais reutilizados. Houve também atividades voltadas
ao público infantil. O evento atingiu um público bastante amplo e contribuiu para reavivar as
reflexões e discussões sobre o tema.

Figura 8 – Logo de divulgação do Evento Comemorativo aos 15 anos da Coleta Seletiva na UFSCar.

ATIVIDADES COMEMORATIVAS:
26/11 – Anfiteatro “Bento
Fonte: Programa Prado”: Ambiental (PEAm), 2009.
de Educação
17:30 h: Mesa de Abertura seguida de confraternização.
26/11 – Teatro “Florestan Fernandes”:
19 h: Orquestra Experimental da UFSCar.
26 a 28/11 – Área externa da BCo:
9 às 17 h Feira de exposição e comercialização de produtos
Resíduos Sólidos Urbanos - 69

Em 2010, com o projeto de extensão novamente aprovado, pudemos retomar as atividades


que haviam sido iniciadas em 2008. Com a valiosa colaboração de dois bolsistas de extensão, foi
possível realizar uma pesquisa em todo o campus São Carlos, através da aplicação de questionários.
Ao mesmo tempo, foi realizado um levantamento junto à cooperativa de catadores no sentido de
compreender as principais dificuldades para a coleta no campus. O objetivo da pesquisa, que teve
como base um levantamento preliminar realizado pelo GRACS, foi o de conhecer a realidade
daquele momento da coleta seletiva no campus São Carlos, como os locais onde a coleta seletiva
funcionava bem e os problemas que eram enfrentados por cada local. Foram três tipos de
questionários aplicados, sendo um para os prédios de salas de aula e departamentos acadêmicos,
um para os prestadores de serviços (cantinas, fotocopiadoras, etc.) e um para o restaurante
universitário. Foi constatado que haviam 49 pontos de armazenamento de recicláveis na UFSCar São
Carlos. Papel era o principal componente deste resíduo. Considerando a infraestrutura de
armazenamento, em 90% dos locais os recicláveis eram dispostos de forma não apropriada, dentro
dos prédios e em recipientes improvisados. A cooperativa de catadores apontou este grande e
disperso número de pontos de coleta como uma das principais dificuldades para a realização do
trabalho de coleta. Outra dificuldade identificada foi o fato de que muitos destes locais eram pouco
visíveis e de difícil acesso. Muitas vezes precisavam vir duas vezes na semana para conseguir atender
todo o campus. Como resultado da pesquisa, foram mapeados 29 pontos que poderiam ser
utilizados como centrais de coleta, atendendo mais de um prédio e sem dificultar o depósito dos
materiais pelos usuários. Ao mesmo tempo, agilizando e facilitando o trabalho de coleta pela
cooperativa de catadores (FREITAS et al., 2010).
Para a edificação desses pontos de coleta seletiva, foi inicialmente proposta a construção de
pequenos depósitos em alvenaria. Como o custo seria elevado e também pelo fato de que uma vez
edificados os pontos perderiam a mobilidade, optou-se pela utilização de contentores com
capacidade de 1.000 L. Optamos por uma única cor para representar a coleta seletiva. O azul foi
escolhido, por ser esta a cor utilizada na representação do papel na coleta seletiva (CONAMA, 2001),
uma vez que o papel é o principal componente dos resíduos recicláveis na UFSCar. Verba
administrativa foi direcionada para a compra desses contentores (Figura 9).
70

Figura 9 – Os primeiros 25 contentores para o Programa de Coleta Seletiva Solidária na UFSCar.

Fonte: Foto de Liane Biehl Printes, 2010.

Outro avanço importante no decorrer do ano de 2010 foi a redação da versão final da Minuta
da Portaria de Instituição do Programa de Coleta Seletiva Solidária na UFSCar e abertura do processo
para o encaminhamento da mesma. Foi também realizado o primeiro encontro formativo com as
funcionárias da empresa de limpeza sobre a coleta seletiva.
Em 2011 houve a continuidade do projeto de extensão de 2010, com a especificação dos
locais onde seriam afixados os primeiros 25 contentores adquiridos. Essa atividade foi realizada
novamente com o apoio de dois bolsistas ProEx e em conjunto com a cooperativa de catadores de
forma a facilitar a rota e o acesso dos caminhões. Esse foi também o ano em que foi ratificada a
Portaria GR 113 (UFSCar, 2011), que estabeleceu o Programa Permanente de Gestão e
Gerenciamento compartilhado de Resíduos Sólidos e de Coleta Seletiva Solidária na Universidade
Federal de São Carlos (Programa). O Programa definiu a constituição de um Conselho Gestor,
vinculado ao Conselho da CEMA, com representantes dos três campi que compunham a UFSCar
naquele momento e a constituição das comissões locais. Ocorreram as primeiras reuniões do
conselho gestor e das comissões e iniciou-se o processo de implantação da coleta seletiva nos
demais campi. Na UFSCar São Carlos foram adquiridos cestos coletores de recicláveis distribuídos
em diversos locais no campus: prédios de salas de aula, departamentos, cantinas, etc. Ao longo
desse ano, realizou-se um extenso trabalho de divulgação e sensibilização sobre o Programa. Entre
as atividades estavam: oficinas, dinâmicas, afixação de banners e cartazes e divulgação via rede
informativa interna.
Resíduos Sólidos Urbanos - 71

O projeto de extensão de apoio ao Programa de Coleta Seletiva vem sendo renovado


continuamente e tem sido fundamental para a efetivação deste Programa. Entre 2012 e 2014
avançamos no sentido de estabelecer os termos de compromisso entre a UFSCar e três diferentes
cooperativas de catadores nos campi de São Carlos, Araras e Sorocaba. Em 2013, com a
reestruturação da SGAS, o Departamento de Apoio à Educação Ambiental (DeAEA) substituiu o
PEAm na estrutura organizacional do Programa. Entre 2014 e 2016, após a consolidação do
Programa com os termos de compromisso firmados, o Projeto de Extensão foi dividido em duas
frentes: uma voltada à gestão com o contínuo monitoramento e acompanhamento dos
equipamentos e do trabalho da Cooperativa de Catadores de São Carlos (COOPERVIDA) e uma frente
específica para Educação Ambiental (EA). Temos nos orientado por uma EA crítica com vistas à
(re)construção ou a transformação da realidade, indo além da abordagem em informações, mas
incorporando os valores afetivos e estéticos bem como a ação, a participação e a mobilização social
(GUIMARÃES, 2004). Nesse sentido temos realizado diversas ações como semanas de discussões,
envolvendo vários setores da sociedade (catadores, indústria de reciclagem, etc.), rodas de conversa
com grupos específicos, como na Moradia Estudantil e trabalhadores das cantinas. Têm sido
realizados encontros semestrais com a equipe de limpeza no sentido de valorizá-los no processo e
mantê-los sempre atualizados sobre os procedimentos da Coleta Seletiva, procuramos sempre
interagir de forma prazerosa, com dinâmicas, oficinas, exibição de filmes, entre outras ações.
Avançamos muito também na interação com a Coopervida, que muitas vezes tem colaborado na
divulgação do Programa como palestrantes nos eventos promovidos para este fim.
Entretanto, algumas dificuldades também têm surgido nesta caminhada. Desde março de
2012, têm sido realizadas inspeções semanais dos contentores no sentido de monitorar o
envolvimento da comunidade com o Programa de Coleta Seletiva Solidária (PRINTES et al., 2013).
Os resultados demonstram que, apesar do trabalho de sensibilização realizado ao longo dos anos,
existe bastante dificuldade, por parte da comunidade, em compreender o significado desta coleta
seletiva. Resíduos orgânicos, como restos de comida e poda, eletrônicos, lâmpadas e inclusive
resíduos de laboratório têm sido muitas vezes encontrados nos contentores. Por outro lado, esse
monitoramento contínuo nos tem permitido trabalhar questões específicas em relação ao
permanente trabalho de sensibilização. Constitui também a base para a gestão continuada do
Programa, uma vez que, através dos problemas identificados, é possível repensar a distribuição e
72

número de pontos de coleta, assim como trabalhar com a cooperativa as necessidades para a coleta
seletiva. Outras dificuldades dizem respeito às questões administrativas, como a necessidade de
maior aporte de recursos que permita manutenção e renovação das estruturas e ampliação da
equipe de trabalho. Pode ser citada também a dificuldade em relação ao entendimento por parte
dos diversos setores da Instituição sobre o papel e a importância deste Programa, que nem sempre
é totalmente compreendido.

Resíduos Eletrônicos

Dentro desta seção de coleta seletiva de resíduos, vale a pena mencionar o convênio firmado
pela UFSCar, através de Termo de Cooperação Institucional, desde setembro de 2011, renovado em
2016 por mais cinco anos, e a Instituição “Nosso Lar”. Esta Instituição, juntamente com outras entidades
de São Carlos, desenvolve o Projeto de Reciclagem Tecnológica (RECIC@TESC)20. Este projeto recebe,
readéqua e reutiliza equipamentos de informática e também doa equipamentos em bom estado de
funcionamento para outras instituições sociais da cidade, apoiando assim a Inclusão Digital. Para os
equipamentos que não têm recuperação, o projeto faz o descarte ambientalmente adequado. Pelo
convênio, são doados ao RECICL@TESC equipamentos eletrônicos e de informática de propriedade da
UFSCar e que sejam por ela considerados inservíveis. Por este projeto, a UFSCar também recebe e
encaminha resíduos eletrônicos trazidos pela comunidade. Constitui uma forma de garantir um destino
adequado para esses materiais e orientar a comunidade quanto aos riscos associados a este tipo de
resíduo. É ressaltada a questão da necessidade da redução da geração, a importância da reutilização e
da atenção quanto ao correto encaminhamento dos eletrônicos para a destinação final.

DESAFIOS PARA A GESTÃO DE RESÍDUOS

Os desafios observados nos processos de gestão de resíduos da UFSCar estão descritos


quanto a resíduos perigosos e a coleta seletiva, focalizando também as diretrizes orientadoras para
novos projetos e ações.

20
Projeto RECICL@TESC. Disponível em:
<http://www.nossolarsaocarlos.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=9>.
Acesso em: 20 fev. 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 73

Resíduos Perigosos

A sistematização adotada pela UFSCar para desenvolver e promover a implantação do Plano


de Gestão de Resíduos Perigosos (PGRP) considera que o processo envolve os quadros técnico-
administrativos, docentes e discentes e busca promover as atividades através da ação conjunta e
integrada entre esses diversos agentes, estabelecendo uma estratégia ambiental preventiva e
proativa integrada aos serviços e processos, com a finalidade de reduzir os riscos às pessoas e ao meio
ambiente. Nesse sentido, foi assumida como base a ação compartilhada com a comunidade
acadêmica para elaborar e implantar o PGRP, considerando o envolvimento e o compromisso de
todos, tendo como etapa inicial envolver os responsáveis pelo processo em diferentes níveis de
atuação e com funções e responsabilidades específicas em todos os campi. Os desafios a serem
considerados são aqueles apontados nas diretrizes que embasam o PGRP da UFSCar:
 Promover uma articulação dos diversos níveis da instituição, obtendo o comprometimento
e apoio irrestrito da administração, no sentido de garantir uma totalidade de cooperação
com a gestão de resíduos.
 Estender a gestão de resíduos perigosos para os demais campi e promover a integração
desses sistemas através de ferramentas computacionais, compartilhando informações,
tecnologias e ações. Sendo a etapa inicial sistematizar e analisar as informações qualitativas
e quantitativas dos diversos resíduos perigosos gerados em todos os campi da UFSCar e
desenvolver tecnologia para passivação, reaproveitamento e descarte final. A estrutura
física e organizacional institucional ainda é insuficiente, fato que prejudica o pleno
funcionamento nos demais campi.
 Alcançar a sustentabilidade financeira, especialmente no que se refere às pesquisas ao
tratamento e recuperação de resíduos perigosos, com a percepção da necessidade de
conexão entre o plano de ação e o orçamento, fundamentado no elevado custo da gestão e
da continuidade dos compromissos entre a universidade e as unidades geradoras.
 Propor estratégias para a superação das dificuldades evidenciadas na operação da planta
piloto – como obter mão de obra capacitada (treinamento e/ou contratação de funcionários)
e cooperação do gerador para correta segregação dos resíduos, isso fará a planta piloto
funcionar com sua capacidade máxima de processamento.
 Envolver a comunidade acadêmica em todas as etapas do processo, difundindo as diretrizes
do programa de gestão de resíduos perigosos, de forma a sensibilizar o gerador da
importância da identificação e acondicionamento corretos dos resíduos – a inadequação
nestas etapas eleva os riscos no manuseio e armazenamento.
74

 Motivar a ampliação das pesquisas com foco no tratamento/recuperação de resíduos. O


projeto CT Infra-FINEP do DeGR, foi aprovado com o compromisso de implementar novas
pesquisas e fortalecer as existentes.

Coleta Seletiva

O grande desafio é responder à questão: Como envolver mais a comunidade acadêmica?


Conforme já relatado, desde as primeiras campanhas até os dias atuais, apesar dos esforços, a falta
de compreensão por parte da comunidade da importância de um Programa de Coleta Seletiva tem
sido o principal fator de prejuízo ao melhor andamento do mesmo. Desde a participação mais
simples e direta, como a realização do descarte consciente e seletivo dos materiais até uma
participação mais efetiva por parte de outras instâncias na Instituição. Este último aspecto inclui a
percepção da necessidade de prioridade no investimento de recursos para a manutenção do
Programa, assim como de maior incentivo, por exemplo, por meio de editais, para que serviços
contratados também se adequem ao mesmo. Além da necessidade de se criar mecanismos para que
haja um maior incentivo às boas práticas, assim como desincentivo às práticas não adequadas. É
preciso manter sempre em mente a dinâmica de renovação da comunidade, que muitas vezes vem
de outras culturas e necessita se integrar a um novo contexto que seja ao mesmo tempo estimulante
e se mantenha organizado. Estamos constantemente à procura de caminhos que nos permitam
vencer este desafio.
Outro grande desafio está relacionado à compostagem de resíduos orgânicos. Com a
aquisição, em 2016, pela Prefeitura Universitária de um triturador de restos de poda, teve início o
planejamento de uma Planta de Trituração e Compostagem de resíduos de poda e capina. A
intenção é aproveitar este material como composto orgânico e condicionador de solo nas áreas
verdes e jardins os setores urbanizados do campus de São Carlos (PUGLIESI, 2016).
Atualmente, a planta encontra-se instalada na área da SGAS. As atividades de trituração
tiveram início e as atividades de compostagem estão ocorrendo em caráter experimental. Este
composto orgânico inicial será utilizado para a produção de mudas do viveiro da Instituição.
Existe também a intenção de expandir este processo de compostagem para o
aproveitamento dos resíduos orgânicos do pré-preparo de alimentos do Restaurante Universitário.
Para tal, torna-se necessária maior integração entre os setores envolvidos (Prefeitura Universitária
– Restaurante Universitário e SGAS).
Resíduos Sólidos Urbanos - 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dos anos da experiência em gestão de resíduos acumulada pela UFSCar, pode-se
dizer que houve grande crescimento tanto da estrutura física quanto na formulação de políticas e
programas específicos. Ainda há bastante que caminhar no sentido de aprimorar o sistema de
gestão, aumentando a sua abrangência e alcance, dado a complexidade de uma universidade
multicampi; além da própria complexidade dos aspectos envolvidos. Contudo, a trajetória de
comprometimento da Instituição com a questão dos resíduos e, por consequência, a cultura que
vem sendo estabelecida, apontam no sentido de que será possível vencer os contínuos e novos
desafios que se farão presentes na caminhada.

REFERÊNCIAS

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resultados da experiência pioneira em gestão e gerenciamento de resíduos químicos em um campus universitário.
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AMARAL, S.T.; MACHADO, P. F. L.; PERALBA, M. C. R. et al. Relato de uma experiência: recuperação e cadastramento de
resíduos dos laboratórios de graduação do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Química
Nova, v. 24, n. 3, p. 419-423, 2001.

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______. NBR 10004: Resíduos sólidos – classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

______. NBR17505-7: Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis – Parte 7: Proteção contra incêndio para
parques de armazenamento com tanques estacionários. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.

BANCI, A. M.; ZANETTI, B.F.; D´ALOIA, L.G. et al. Aperfeiçoamento do sistema de coleta seletiva de recicláveis da
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de efluentes, e dá outras providências. Data da legislação: 17/03/2005. Brasília: DOU, 2005.
76

______. Resolução nº 358 – Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá
outras providências. Data da legislação: 29/04/2005. Brasília: DOU, 2005.

______. Resolução nº 430 – Dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a
Resolução no 357, de 17 de março de 2005. Data da legislação: 13/05/2011. Brasília: DOU, 2011.

______. Resolução nº 467 – Dispõe sobre critérios para a autorização de uso de produtos ou de agentes de processos
físicos, químicos ou biológicos para o controle de organismos ou contaminantes em corpos hídricos superficiais e dá
outras providências. Data da legislação: 16/07/2015. Brasília: DOU, 2015.

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Resíduos Sólidos Urbanos - 77

Capítulo 4

FÓRUNS COMUNITÁRIOS COMO ESTRATÉGIA PARA CONTROLE SOCIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS


PARA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: O CASO DE SÃO CARLOS, SÃO PAULO, BRASIL

Carolina Valente Santos21; Maria Zanin22; Bernardo Arantes do Nascimento Teixeira 23

INTRODUÇÃO

O controle social é uma forma de garantir que o poder de decisão será dividido entre Estado
e sociedade, constituindo-se em um instrumento para manutenção da democracia e da cidadania,
além de fundamental ao processo de implementação de políticas públicas (PÓLIS, 2008). Esse
conceito é abordado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos24 (PNRS), definido como “[...]
conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação
nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos
resíduos sólidos” (BRASIL, 2010). A participação da sociedade nesses processos é fundamental para
que as necessidades prioritárias da população sejam de fato atendidas pelas políticas, de maneira
mais eficiente e na perspectiva de democratização da gestão pública (PÓLIS, 2008).
No Brasil, o direito à participação dos cidadãos no processo de elaboração de políticas
públicas é garantido pela Constituição de 1988, assim como por leis específicas, que garantem a
existência e manutenção de órgãos como conselhos de políticas públicas no âmbito do Poder
Executivo (federal, estadual e municipal). O controle social pode ser efetivado desde o momento de
elaboração de políticas públicas, até em todas as fases de sua implementação, incluindo fiscalização,
monitoramento e aplicação de recursos financeiros (PÓLIS, 2008).
Considerando tal demanda de acompanhamento, o contexto de gestão de resíduos sólidos
também passou a se associar à esfera de questões sociais e, portanto, a encontrar
representatividade em ações de ativismo social, em especial a partir da descentralização político-

21
Engenheira ambiental formada pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), e mestra em Ciência, Tecnologia e Sociedade
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail: vsantos.carol@gmail.com
22 Doutora em Física pela Universidade de São Paulo. Docente Sênior da UFSCar, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência,

Tecnologia e Sociedade da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar. E-mail: mariazanin55@gmail.com.


23 Doutor em Engenharia Civil (Hidráulica e Saneamento) pela USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana

da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar. E-mail: bernardo@ufscar.br


24
A PNRS é um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, e foi promulgada no dia 2 de agosto de 2010, após amplo
debate durante décadas entre governo e diversos atores sociais. A PNRS traz diversos conceitos e estratégias para se
obter avanços no contexto de gestão de resíduos sólidos.
78

administrativa favorecida pela Constituição de 1988 em diversas áreas (SANTOS, 2015). Um dos
reflexos de tais ações foi a criação, por todo o país, de fóruns relacionados aos resíduos sólidos,
surgidos a partir do Fórum Nacional Lixo e Cidadania, criado em 1998 sob a liderança do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF25). Esses fóruns buscaram consolidar estratégias para
erradicar o trabalho infantil em atividades de resíduos sólidos, erradicar e recuperar lixões e incluir
socialmente catadores de materiais recicláveis (DIAS, 2009).
Os fóruns, segundo França Filho (2007),

também são espaços de reunião de atores, mas numa dimensão mais ampla, pois supõem,
também, a participação de representantes de instituições públicas. Ao mesmo tempo em
que reivindicam sua autonomia enquanto espaço de atores da sociedade civil, os fóruns se
abrem para uma relação de interdependência em relação aos poderes públicos. (FRANÇA
FILHO, 2007, p. 169).

Entre os desafios gerais identificados nessa articulação, registram-se: a implementação de


sistema de indicadores para monitoramento socioambiental das políticas públicas de resíduos sólidos;
a ampliação dos grupos contemplados no eixo cidadania, a retomada de iniciativas de erradicação do
trabalho infantil, além de maiores investimentos na erradicação dos lixões (DIAS, 2009).
A partir dessa experiência, e considerando inúmeras limitações e deficiências no processo
de consolidação de uma gestão integrada de resíduos sólidos com inclusão social em diferentes
momentos no município de São Carlos, foram articuladas iniciativas de mobilização popular,
inicialmente inspiradas pelos fóruns Lixo e Cidadania, e consolidadas por meio do Fórum
Comunitário do Lixo (de 1999 a 2002), e do Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos (a partir de
2015). O primeiro foi articulado a partir do não cumprimento pelo poder público municipal de
diretrizes para coleta seletiva previstas em lei, enquanto o segundo, por sua vez, foi construído a
partir de dificuldades vivenciadas pela Coopervida – Cooperativa de Trabalho dos Catadores de
Materiais Recicláveis de São Carlos, em um contexto de desarticulação da coleta seletiva municipal.
Portanto, o presente artigo busca sistematizar as trajetórias desses coletivos (que possuem uma raiz
histórica comum), a partir da perspectiva de estratégias para controle social de políticas públicas.
Espera-se que o resultado deste trabalho possa contribuir para a análise de situações semelhantes
e também como diretriz em outros contextos nos quais haja necessidade de controle social e de
instrumentos para manutenção da democracia e da cidadania.

25
Do inglês “United Nations Children’s Fund”.
Resíduos Sólidos Urbanos - 79

OBJETIVOS

O objetivo deste artigo é o de sistematizar as trajetórias do Fórum Comunitário do Lixo e do


Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos, os quais foram articulados pela sociedade civil em São Carlos,
São Paulo, Brasil, buscando consolidar uma estratégia de controle social de políticas públicas para
garantir avanços na gestão municipal de resíduos sólidos, em dois períodos distintos a partir de 1999.

MÉTODO

O método adotado para elaboração deste capítulo foi a pesquisa documental, realizada em
atas de reuniões, listas de presença, regimentos internos, artigos e relatórios. Além disso, foi
realizada revisão bibliográfica na temática de controle social de políticas públicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após uma breve descrição sobre a cidade de São Carlos, os resultados serão apresentados e
discutidos em dois tópicos: a) Fórum Comunitário do Lixo, e b) Fórum Comunitário de Resíduos
Sólidos de São Carlos.
O município de São Carlos se situa na região central do Estado de São Paulo e tem população
estimada para 2017 de 246.088 habitantes (IBGE, 2017). Caracteriza-se por uma origem agrícola
baseada na economia cafeeira, que impulsionou um desenvolvimento industrial iniciado na década
de 1930. A partir de 1950, duas grandes indústrias foram instaladas no município: a fabricante de
refrigeradores Clímax, na década de 1950, e a Companhia Brasileira de Tratores (CBT) no ano de
1961, que foram durante muitos anos as maiores empregadoras da cidade. Graças ao perfil industrial
do município e às influências de políticas locais, duas universidades públicas foram inauguradas
neste período: em 1953, a Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (USP), e em 1968, a
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) (CAMBIAGUI, 2012).
Com a crise do modelo nacional desenvolvimentista na década de 1980 somada à crise do
governo federal neoliberal, eleito em dezembro de 1990, iniciou-se um processo de falência das
grandes indústrias empregadoras no Brasil de uma maneira geral. Em São Carlos, com o fechamento
da CBT em 1995 e a venda da Clímax em 1997, segundo Cambiagui (2012), houve uma redução de
cerca de 10 mil postos de trabalho na cidade, o que provocou uma grande crise de emprego no
município e, consequentemente, o avanço no dessalariamento e de formas precárias de ocupação.
80

Nesse contexto de crise no país, surgem os empreendimentos de economia solidária em


diferentes atividades produtivas (cooperativas, empresas recuperadas, bancos comunitários de
desenvolvimento, feiras de trocas, etc.), sendo a atividade de catação de resíduos sólidos uma delas.
Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) a catação como
atividade de geração de renda surgiu historicamente no Brasil neste período de crescimento do
desemprego (MNCR, 2005). Empreendimentos econômicos solidários (EES) de catadores de
materiais recicláveis, basicamente nas formas de cooperativas ou associações, foram estruturados
em diversos municípios como alternativa para o reconhecimento e a formalização do trabalho dos
catadores, os quais exercem atividades de coleta, triagem, beneficiamento e comercialização dos
materiais recicláveis.
Em 1998, a economia solidária teve impulso no município de São Carlos por meio da criação,
na UFSCar, de uma Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCPs), que foi denominada
INCOOP/UFSCar, nos moldes da que já havia sido criada na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Três anos depois, um ex-reitor da UFSCar assumiu o cargo de Prefeito Municipal pelo Partido
dos Trabalhadores (PT) e essa conjuntura foi determinante para que práticas envolvidas com a
economia solidária fossem transformadas em políticas públicas municipais (CAMBIAGUI, 2012).

Fórum Comunitário do Lixo (1999 a 2002)

Nas esferas estadual e federal, o final da década de 1990 não apresentava diretrizes legais
sólidas no âmbito dos resíduos sólidos, já que a Política Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de
São Paulo foi aprovada apenas em 2006, e a Política Nacional de Saneamento Básico e a PNRS datam
de 2007 e 2010, respectivamente. Em caráter nacional, até 2010 existiam apenas normas esparsas,
como as do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Também é necessário destacar a
ausência de legislação relativa à atividade de catação de resíduos recicláveis (BRASIL, 2012).
Nesse cenário, apenas um terço dos municípios brasileiros destinava seus resíduos para
aterros sanitários. Na Região Sudeste, onde se localiza o município de São Carlos, 18,4% dos
municípios faziam uso de lixões, e 30% declararam a presença de catadores nas unidades de destino
final dos resíduos (BRASIL, 2002).
Em São Carlos, foi aprovada em 1997 lei que previa um programa de coleta seletiva e
reciclagem de resíduos (SÃO CARLOS, 1997), mas no que tange ao papel do Poder Executivo, ainda
não haviam sido determinadas diretrizes e estratégias para seu cumprimento. Nesse contexto, foi
criado, em 5 de junho de 1999, o Fórum Comunitário do Lixo, conhecido informalmente como
Resíduos Sólidos Urbanos - 81

“Fórum do Lixo” (APASC, [2005]). Ele se constitui como espaço de discussão de atores da sociedade
civil em defesa de um projeto de gestão de resíduos sólidos que, sob responsabilidade do Poder
Executivo Municipal, contasse com ampla participação da comunidade, baseado em um diagnóstico
da situação existente para propor soluções adequadas do ponto de vista técnico e social.
Em resposta à ineficiência do poder público no que tange a essa questão, o Fórum do Lixo
encadeou ações para favorecer a redução na geração, reutilização e reciclagem dos resíduos sólidos,
com foco em processos educativos como estratégia de sensibilização. Outro aspecto considerado
relevante pelo coletivo foi a inclusão social de segmentos da sociedade que, formal ou
informalmente, já tivessem atividades associadas à área (catadores, sucateiros e outros),
considerando inadmissível que catadores se encontrassem em condições precárias junto ao aterro
de resíduos sólidos.
O Fórum contou com o apoio e a participação de diversas organizações, incluindo entidades
como: Associação para Proteção Ambiental de São Carlos (APASC), Sociedade Civil Ambiental e
Cultural (BIOKINESIS); Associação de Alunos e ex-Alunos do CRHEA (Centro de Recursos Hídricos e
Estudos Ambientais); e Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC). O Fórum teve como
procedimentos a organização do seminário “Construindo propostas de coleta seletiva em São Carlos
e região”, em 2001, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável,
Ciência e Tecnologia (SMDSCT), o que resultou na organização de uma comissão responsável por
formular as diretrizes de implantação do programa de coleta seletiva no município, bem como foi
organizado um seminário para discutir a proposta da PNRS (APASC, [2005]).
A mudança de gestão municipal em 2001, associada à reestruturação da Prefeitura Municipal de
São Carlos (PMSC) e à consequente abertura para diálogo com a sociedade civil, foi um dos motivos que
diminuiu a demanda para manutenção do Fórum, cujos integrantes se reuniram até 2002.
No mesmo ano, foi criado o Programa de Coleta Seletiva, pela SMDSCT, com o apoio do
Programa Futuro Limpo e Programa de Fomento à Economia Solidária (MARTINS; SORBILLE, 2011),
assim como a formação de três cooperativas de catadores (Coopervida, Cooletiva e Ecoativa),
sobretudo a partir de catadores então atuantes no aterro de São Carlos. Foram inicialmente
inseridos 11 catadores no programa de coleta (os quais abandonaram a coleta no aterro) e, em
2003, foram retirados outros 35 trabalhadores, por conta do caráter ilegal da atividade e das
péssimas condições de trabalho ali vigentes (RANCURA, 2005). Tal iniciativa atendeu a demandas
de grupos da sociedade civil organizada atuantes em São Carlos que buscavam um modelo mais
eficiente de gestão ambiental, combinado com a geração de trabalho e renda a partir da inclusão
de catadores. A divulgação do programa foi realizada pela APASC, Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) e Universidade de São Paulo (USP), e foram distribuídos folhetos explicativos aos
cidadãos sobre os aspectos e a importância do projeto (SÃO CARLOS, 2008).
82

Mesmo que o programa tenha sido iniciado em 2002, este foi institucionalizado apenas em
2005, quando foi firmado convênio para formalizar a parceria entre a PMSC e as três cooperativas
para execução da coleta seletiva, manuseio, triagem, prensagem, recuperação e comercialização de
materiais recicláveis (MARTINS; SORBILLE, 2011). Além da PMSC, o Ministério Público do Estado de
São Paulo (MPSP) também apoiou o processo de saída desses catadores do aterro, com o
firmamento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2003 pelo MPSP, a PMSC
e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).
A partir dessa descrição, podem-se identificar alguns aspectos que contribuíram para as
atividades do Fórum Comunitário do Lixo no período de 1999 a 2002. A existência de uma entidade
ambientalista (APASC) desde 1977, bem como da Lei municipal nº 11.338/1997, que previa um
programa de coleta seletiva e reciclagem de resíduos (SÃO CARLOS, 1997), foram dois aspectos
importantes e motivadores para a criação do Fórum. A presença de trabalhadores vivendo da catação
de resíduos no aterro municipal, sob condições insalubres, e o surgimento de cooperativas populares
no Brasil direcionaram para a proposta de coleta seletiva com inclusão social. A participação de pessoas
vinculadas às entidades ambientais ou da área das ciências ambientais das duas Universidades Públicas
foi também outro aspecto relevante para o êxito na criação e atuação deste Fórum. Por outro lado, com
a abertura para diálogo com a sociedade civil, a partir da mudança da gestão municipal em 2001, por
um governo que incorporou no seu programa grande parte das demandas do Fórum (principalmente
da coleta seletiva com inclusão de catadores em cooperativas), a frequência das reuniões do Fórum
diminuiu, de modo a finalizar suas atividades em 2002.

Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos (2015 até o presente ano de 2017)

As três cooperativas criadas em 2002, no contexto de retirada dos catadores do aterro


municipal de São Carlos, passaram por um período de fragilidade da situação legal de duas dessas
cooperativas (Cooletiva e Ecoativa), além de baixa eficiência desses empreendimentos em atender
à crescente geração de resíduos recicláveis do município (MARTINS; SORBILLE, 2011). Assim, tais
circunstâncias, associadas à nova mudança de gestão do governo municipal (embora do mesmo
partido do governo anterior), apontaram como solução a elaboração de proposta para reformulação
da coleta seletiva em São Carlos, com o objetivo de superar as fragilidades então evidenciadas.
Novas metas para a coleta foram, portanto, estabelecidas pela Prefeitura Municipal em parceria
com as cooperativas, e a unificação dos três empreendimentos surgiu como possibilidade de
superação das dificuldades. Foram estabelecidas novas metas para a coleta seletiva, como o
Resíduos Sólidos Urbanos - 83

aumento gradual da quantidade coletada no município, assim como o aumento gradual no número
de cooperados. O programa de reformulação da coleta, incluindo o processo de unificação das
cooperativas, foi mediado pelo Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES) da PMSC, em
parceria com a INCOOP-UFSCar (posteriormente transformado no Núcleo Multidisciplinar Integrado
de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária – NuMI-EcoSol), tendo ocorrido entre
julho e agosto de 2009. No final desse processo de unificação, que culminou com uma Assembleia
no dia 12 de fevereiro de 2010, a Coopervida se posicionava como a única cooperativa de catadores
do município, e firmou contrato de prestação de serviços com a PMSC. Alguns indicadores não
tardaram a caracterizar uma melhoria geral da situação da cooperativa: foi observado aumento nas
quantidades de material coletado e vendido, assim como na receita gerada e na retirada financeira
dos cooperados, já no primeiro semestre de 2010 (MARTINS; SORBILLE, 2011).
Mais de uma década após a atuação do Fórum do Lixo, e cinco anos após o processo de
unificação das cooperativas, no início de 2015, o cenário de políticas públicas para gestão de resíduos
sólidos era bastante diferente: a PNRS, sancionada em 2010, trouxe novas perspectivas para a gestão e
gerenciamento, além de conceitos como “logística reversa” e “responsabilidade compartilhada”.
Também se posicionou de maneira bastante favorável à inclusão de cooperativas e associações de
catadores na cadeia produtiva de recicláveis, assim como impôs a obrigatoriedade de os municípios
elaborarem seus Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e se
comprometerem com a disposição final ambientalmente adequada dos resíduos (BRASIL, 2010).
No entanto, nesse momento, a Coopervida se encontrava em dificuldades pela
indisponibilidade de caminhões para a realização das atividades de coleta na cidade, os quais
deveriam ser disponibilizados pela PMSC de acordo com o contrato (SÃO CARLOS, 2015a). Além
disto, havia uma dívida de R$ 128.500,00 da PMSC com a cooperativa, referente ao período de cinco
meses (outubro/2014 a fevereiro/2015) em que a Coopervida seguiu realizando suas atividades sem
renovação do contrato com a PMSC. Nesse contexto, a cooperativa solicitou o apoio do NuMI-EcoSol
para lidar com tais entraves, e a equipe convocou parceiros da cooperativa e apoiadores da coleta
seletiva municipal para uma reunião em maio do mesmo ano: o DAES, a APASC, a ONG Circus, o
GEISA (Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais), a TEIA – Casa de Criação, a Associação
Veracidade, e representante da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (órgão municipal
então responsável pela Coopervida). Membros de todos os coletivos seguiram se reunindo
periodicamente, consolidando a comissão intitulada “Parceiros da Coopervida”, a qual articulou
ações coletivas para exigir da PMSC o cumprimento das obrigações previstas no contrato e, desta
maneira, viabilizar a coleta seletiva na cidade e a manutenção das atividades da Coopervida.
84

Um dos acontecimentos que marcou esse período foi uma sessão da Tribuna Livre ocorrida em
junho de 2015 na Câmara Municipal de São Carlos, na qual a presidente da cooperativa solicitou o apoio
dos vereadores da cidade e apresentou os problemas entre a Coopervida e a PMSC, discutidos dentro
da comissão dos parceiros, e que afetaram de maneira drástica o funcionamento da cooperativa e,
consequentemente, do programa municipal de coleta seletiva. No mesmo dia deste pronunciamento,
os vereadores aprovaram o Projeto de Lei nº 176 da PMSC, autorizando a abertura de crédito adicional
suplementar para despesas com o pagamento indenizatório referente à contratação de cooperativa de
catadores para a prestação do serviço de coleta seletiva (SÃO CARLOS, 2015b).
A comissão de parceiros, que inicialmente visava a apoiar a Coopervida com questões
emergenciais, reuniu-se periodicamente até agosto de 2015, e passou a visualizar a (re)articulação
de um fórum municipal como estratégia para ampliar a discussão acerca da gestão de resíduos no
município, aproximar mais interessados e discutir possibilidades de soluções de caráter mais
definitivo para a coleta seletiva municipal. A estratégia se baseava historicamente no Fórum do Lixo
(1999 a 2002), cuja atuação foi fundamental em consolidar avanços no cenário de coleta seletiva
municipal com inclusão socioprodutiva de catadores.
Assim, uma comissão determinada no âmbito do coletivo de “Parceiros da Coopervida” reuniu-se
periodicamente de agosto a outubro de 2015, para organizar a estrutura do Fórum Comunitário de
Resíduos Sólidos de São Carlos, São Paulo, que foi lançado em 2 de outubro de 2015, em cerimônia no
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) de São Carlos. Conforme sua carta de princípios
(FCRS, 2015), a natureza do Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos é:

[...] um movimento organizado, constituído por cidadãs e cidadãos, bem como instituições
e entidades públicas ou privadas, que voluntariamente se associam para propor,
acompanhar e fiscalizar as políticas públicas e ações governamentais de gestão de resíduos
sólidos, com prioridade para o contexto municipal.

Ainda de acordo com FCRS (2015), o Fórum baseia-se em dois princípios:


1. [...] é um espaço aberto de encontro para o aprofundamento de reflexões, o debate
democrático de ideias, a formulação de propostas, a troca livre de experiências e a articulação
de entidades, movimentos da sociedade civil e de cidadãos e cidadãs para ações eficazes.
2. Constitui-se como alternativa para articular as várias iniciativas existentes; elaborar
agendas comuns; promover o intercâmbio e a sistematização de conhecimentos; e se constituir
como um espaço de interlocução perante os governos de diversas instâncias, com prioridade para
o governo municipal, na elaboração e monitoramento de políticas públicas de resíduos sólidos.
Resíduos Sólidos Urbanos - 85

Seus principais objetivos são:

 Reunir pessoas interessadas na busca de soluções para o problema dos resíduos sólidos,
prioritariamente no município de São Carlos.
 Articular os diversos agentes envolvidos na questão dos resíduos sólidos seja de qual campo
for: da pesquisa, da aplicação prática da gestão, da educação, da informação, etc.
 Propor e incentivar o surgimento de iniciativas que contribuam para minimizar os problemas
gerados pelos resíduos sólidos, a partir do levantamento e diagnóstico de tais problemas.
 Divulgar informações sobre questões relativas aos resíduos sólidos, contribuindo para o
esclarecimento de dúvidas, a troca de experiências e a difusão de estudos e iniciativas, locais
ou externas.
 Interagir com os diferentes setores da sociedade visando à implantação de iniciativas para a
solução dos problemas dos resíduos sólidos.
 Contribuir para a sensibilização dos indivíduos e das instituições com relação à questão dos
resíduos sólidos e seus impactos.

O Fórum visa a consolidar um projeto para a gestão de resíduos sólidos de longo prazo, de forma
a garantir a reorganização da coleta seletiva e o fortalecimento da cooperativa e da gestão de resíduos
sólidos como um todo, em consonância com as Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos.
Dentre as demais entidades participantes no momento de sua criação, em 2015, além das
organizações presentes na comissão “Parceiros da Coopervida”, encontram-se o USP Recicla, a ONG
Veredas, a Reenvolta (Cooperativa de Trabalho de Profissionais da Área Socioambiental), o RAiZ
(Movimento Cidadanista), a AMOR (Associação de Moradores e Amigos dos Jardins), a Secretaria de
Gestão Ambiental e Sustentabilidade da UFSCar (SGAS), além de membros de programas de pós-
graduação da USP-São Carlos e da UFSCar. Um diferencial deste Fórum em relação ao que se
manteve de 1999 a 2002 é a participação oficializada por regimento interno de um membro da
Prefeitura Municipal no Conselho Gestor do Fórum.
A estrutura do Fórum é constituída “fundamentalmente pela articulação entre quatro
segmentos: empreendimentos que trabalham com resíduos sólidos no município; entidades de
assessoria e apoio; gestores públicos; e cidadãs e cidadãos”, de acordo com a carta de princípios
do coletivo.
86

O Fórum Comunitário é composto por três comissões permanentes, sendo elas: Comissão
Gestora; Comissão de Comunicação, Articulação e Mobilização; e Comissão de Apoio à Coleta
Seletiva Solidária e à Coopervida. O Fórum também pode criar Grupos de Trabalhos para atender às
demandas acordadas em suas plenárias. Nesse sentido, foi organizado um Grupo de Estudos,
responsável por compreender as políticas e contratos referentes à gestão de resíduos, nos âmbitos
municipal, estadual e nacional.
A comunicação do coletivo é realizada internamente via e-mail, e foram elaborados um site
(http://forumppresiduos.wixsite.com/forumppresiduos) e uma página do Facebook
(https://www.facebook.com/forumcomunitarioderesiduossanca) para comunicação externa.
Dentre as principais atividades realizadas pelo Fórum até o início de 2017, está o apoio a
questões emergenciais da Coopervida, além da busca pela elaboração de um PMGIRS
representativo e participativo em São Carlos (de acordo com o Decreto nº 194/2016, um membro
do Fórum fará parte do Comitê de Coordenação de elaboração do PMGIRS (SÃO CARLOS, 2016)).
Destaca-se o papel do Fórum no campo de acompanhamento de políticas públicas municipais para
gestão de resíduos, as quais são relacionadas no Quadro 1. De modo geral, o estudo desenvolvido
pelo Fórum mapeou diversas inconsistências e inconformidades na consolidação das referidas leis.

Quadro 1 – Leis Municipais sobre resíduos sólidos em São Carlos, São Paulo.

LEI NATUREZA
Cria o Conselho Municipal do Meio Ambiente (CONDEMA) e dá outras
Lei municipal nº 10.664/1993
providências
Lei municipal nº 11.338/1997 Cria o Programa de Coleta Seletiva e Reciclagem de Lixo em São Carlos
Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo em todas as repartições públicas
Lei municipal nº 12.350/00
do Poder Executivo de São Carlos
Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo em todas as Escolas Públicas
Lei municipal nº 12.464/2000
Municipais de São Carlos
Lei municipal nº 12.465/2000 Cria Programa de Coleta Seletiva de Lixo das Indústrias de São Carlos
Dispõe sobre utilização de resíduos sólidos em ruas, estradas vicinais e como
Lei municipal nº 13.316/04
barreira de erosão de córregos e rios, e dá outras providências
Lei municipal nº 13.457/2004 Altera a redação da lei municipal nº 11.338/1997
Dispõe sobre a Política Municipal de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos
Lei municipal nº 14.480/2008
Sólidos
Dispõe sobre a destinação de resíduos sólidos através da logística reversa
Lei municipal nº 17.412/2015
do Município e dá outras providências

Fonte: Elaborado pelos autores. Informações extraídas do site da Câmara Municipal de São Carlos-SP (SÃO CARLOS, 2017).
Resíduos Sólidos Urbanos - 87

Dentre outras atividades desenvolvidas pelo Fórum durante seu período de atuação até
fevereiro de 2017, estão: a ocupação da Tribuna Livre nas reuniões semanais na Câmara Municipal
dos Vereadores em diferentes ocasiões em defesa da Coopervida, diálogo com a Prefeitura referente
a questões relacionadas à Coopervida e à elaboração do PMGIRS do município, e a organização do
evento “Compromissos para uma cidade mais sustentável, educadora, inclusiva e solidária”, em
momento precedente às eleições municipais (setembro de 2016), para socializar demandas de
coletivos do município com as quais os então candidatos à PMSC deveriam se comprometer.
Semelhantemente ao Fórum Comunitário do Lixo, a trajetória deste novo Fórum
Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos envolve organizações ligadas às questões
ambientais, no entanto, em maior número e diversidade. Novamente, a participação de pessoas
vinculadas às Universidades se faz presente. A diminuição da coleta seletiva e as dificuldades
enfrentadas pela Coopervida com a mudança em 2013 do novo governo municipal eleito que
colocava em risco a coleta seletiva com inclusão de catadores em cooperativas foram aspectos
fomentadores para a criação do Fórum. A participação da cooperativa de catadores, bem como do
NuMI-EcoSol, como também a existência dos meios para comunicação interna e externa são
aspectos relevantes que não existiam no Fórum anterior. Outro aspecto que se diferencia é a
participação oficial de um membro da Prefeitura Municipal no Conselho Gestor.

CONCLUSÃO

Ao resgatar o conceito de “controle social”, apresentado neste trabalho, considera-se que,


na PNRS, um dos princípios da lei é “o direito da sociedade à informação e ao controle social”, do
mesmo modo que um de seus instrumentos são os “órgãos colegiados municipais destinados ao
controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos” (BRASIL, 2010).
De acordo com o Ministério da Integração, órgãos colegiados são aqueles “em que há
representações diversas e as decisões são tomadas em grupo, com o aproveitamento de
experiências diferenciadas” (BRASIL, 2012); portanto, considera-se que o escopo das atividades de
ambos os Fóruns articulados em São Carlos, a partir da maneira como se organizaram internamente,
os enquadra na categoria de órgãos colegiados municipais possivelmente destinados ao controle
social de serviços de resíduos sólidos urbanos. Dessa maneira, tais instâncias podem ser
consideradas instrumento para implementação da PNRS, e é o que de fato se verifica em sua
atuação, sistematizadas no presente trabalho como estratégias fundamentais para consolidar
avanços no cenário municipal de gestão de resíduos sólidos com inclusão social a partir de
participação popular.
88

REFERÊNCIAS

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colegiados>. Acesso em: 1º fev. 2017.

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Resíduos Sólidos Urbanos - 89

Capítulo 5

DESAFIOS E POTENCIALIDADES DE UMA COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS


RECICLÁVEIS NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: O CASO DA COOPERVIDA, SÃO CARLOS,
SÃO PAULO, BRASIL

Letícia Dal Picolo Dal Secco de Oliveira 26; Carolina Valente Santos 27; Bernardo Arantes do
Nascimento Teixeira 28; Maria Zanin29

INTRODUÇÃO

O trabalho de catação no Brasil, considerando o mundo do trabalho, possui contexto e


origem similares aos da economia solidária (ES). Ambos se originaram e se desenvolveram em
épocas de reestruturação produtiva e de crises econômicas ocorridas nos anos 1980 e intensificadas
nos anos 1990, o que ocasionou a falência de diversas empresas e, consequentemente, a perda de
inúmeros postos de trabalho e a dificuldade de gerar novos, aumentando as taxas de desemprego
e alterando as relações de trabalho.
Esse contexto foi influenciado, dentre diversos fatores, por um processo de expansão de
maquinários e desenvolvimento de tecnologias, que resultou na substituição do trabalho humano
por máquinas em diversas ocupações dos setores produtivos (ANTUNES, 2005) e na exigência de
maior especialização da força de trabalho, o que intensificou as relações de trabalho informal e de
subemprego, bem como a exploração dos trabalhadores (ANTUNES; ALVES, 2004). A exclusão social
resultante relaciona-se à segregação pelas relações sociais, econômicas, políticas e culturais,
acarretando situações de discriminação e impossibilidade dos sujeitos acessarem o mundo do
trabalho formal e do consumo (MINAYO, 2015).
Nesse cenário, surgiu a catação como atividade de geração de renda (MNCR, 2005),
caracterizando-se como uma ocupação informal alternativa ao desemprego (CARNEIRO; CORREA,
2008). Este trabalho possui diversas precariedades, dentre as quais podemos mencionar as jornadas

26 Mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Doutoranda em Psicologia pela
UFSCar. Integrante do Núcleo de Estudos Trabalho, Sociedade e Comunidade (NUESTRA) do Departamento de Psicologia da UFSCar.
E-mail: le.dalpicolo@gmail.com
27 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Ciência, Tecnologia e

Sociedade pela UFSCar. Integrante do Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção em Economia Solidária
da UFSCar (NuMI-EcoSol/UFSCar/UFSCar). E-mail: vsantos.carol@gmail.com
28 Doutor em Engenharia Civil (Hidráulica e Saneamento) pela USP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana

da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar/UFSCar. E-mail: bernardo@ufscar.br.


29 Doutora em Física pela Universidade de São Paulo. Docente Sênior da UFSCar. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência,

Tecnologia e Sociedade da UFSCar e do NuMI-EcoSol/UFSCar/UFSCar. E-mail: mariazanin55@gmail.com.


90

longas e exaustivas de trabalho, independentemente das condições climáticas, a grande quantidade


de materiais carregados diariamente, bem como a possibilidade de acidentes e aquisição de doenças
em meio à coleta de recicláveis nos lixões. Após o trabalho, os catadores ainda vendem seus materiais
aos chamados atravessadores, que fazem parte da cadeia dos materiais recicláveis, possuem recursos,
bens e meios de produção para armazenagem e processamento desses materiais, e que pagam um
valor bem inferior ao preço do material, para lucrar em cima do trabalho do catador ao repassá-lo
para as grandes indústrias (PEREIRA, 2010; PEREIRA; SECCO; CARVALHO, 2014).
As iniciativas de ES constituem-se como outro modo de enfrentamento ao desemprego,
desenvolvendo-se como proposta de combater as consequências da situação de crise instaurada,
possibilitando a organização do proletário, com o apoio de diversas instituições, em cooperativas
embasadas em seus princípios, na tentativa de recuperar as empresas falidas com o estabelecimento
de novas relações de trabalho (SINGER, 2002), bem como estabelecer novas organizações de trabalho.
A ES apresenta princípios contrários aos capitalistas, como a cooperação, a autonomia, a gestão
democrática (LAVILLE; GAIGER, 2009), defender a propriedade coletiva ou associada, a liberdade
individual, a distribuição de renda de forma igualitária e a solidariedade (GAIGER, 2004).
Com o desenvolvimento da ES no Brasil e a apropriação de sua proposta por diversas
instituições, como igreja católica, ONGs e universidades, e tendo ela como formato de organização
primordial as cooperativas, desenvolveu-se um esforço para organizar os catadores sob os seus
princípios, vislumbrando melhores condições de trabalho e geração de renda e superação de suas
características precárias (PEREIRA; SECCO; CARVALHO, 2014).
Ao mesmo tempo, houve um processo político de fechamento dos lixões que acarretou aos
municípios uma questão social relacionada aos catadores que lá trabalhavam e que iriam perder
sua fonte de renda. As Prefeituras foram tensionadas a procurarem soluções, ao mesmo tempo que
diversos setores sociais se mobilizaram imbuídos com a perspectiva de uma inclusão econômica e
social desses catadores e de que esta possibilidade fosse garantida pelas Prefeituras. Essas ações se
intensificaram ao final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Esses processos desenvolvidos ao longo de diversos cenários políticos e econômicos,
destacam a necessidade de refletir sobre como as cooperativas de catadores de materiais recicláveis
econômico-solidárias vêm se desenvolvendo no âmbito municipal e se inserindo na cadeia produtiva
dos materiais recicláveis.
A Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis de São Carlos-SP
(Coopervida), é uma cooperativa que será apresentada neste trabalho como contribuição para
reflexões acerca das situações vivenciadas pelos catadores no Brasil a partir do início do século XXI. O
Resíduos Sólidos Urbanos - 91

período abordado envolve desde a saída de catadores do extinto lixão municipal, à organização desses
catadores em cooperativas, percurso caracterizado por avanços e desafios vinculados tanto às
legislações e ações estatual e federal sobre os resíduos sólidos e ES quanto ao contexto do município.
Baseado nessas considerações, este trabalho tem como objetivo identificar as principais
potencialidades e dificuldades do trabalho realizado pela Coopervida em sua trajetória no
município. Para maior compreensão do contexto vivenciado por esta cooperativa e como parâmetro
para análise dos resultados, serão abordadas a seguir as características gerais das cooperativas de
catadores no Brasil.

Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis no Brasil

O trabalho de catação possui características como baixa escolaridade dos catadores,


desestruturação de vínculos e características precárias do trabalho (BURSZTYN, 2000). Barros e
Pinto (2008) consideram que este trabalho é duplamente marginalizado, já que a sociedade não
considera o seu valor, estabelecendo-se à margem da economia e sendo realizado de forma
precária. Bortoli (2013) destaca a participação das populações de rua nas atividades de catação,
principalmente entre as décadas de 1980 e 1990 e Rodrigues e Ichikawa (2015, p. 99-100) sintetizam
bem essa relação ao analisar os trabalhos de Jacobi e Teixeira (1997) e Bortoli (2009):

Jacobi e Teixeira (1997) ponderam que, o que antes era considerado uma manifestação da
natureza do indivíduo, que rompeu laços sociais e passou a sobreviver nas ruas, tornou-se
uma forma de subsistência daqueles que atuavam na formalidade e que, atingidos pela crise
do desemprego, foram obrigados a optar por essa forma alternativa de sobrevivência. No
mesmo sentido, Bortoli (2009) argumenta que a atividade de catar alimentos e material
reciclável é comum para desempregados, moradores de rua, bem como àqueles se
tornaram não-empregáveis, deslocando-se para a informalidade. Mesmo com os avanços
institucionais quanto ao estatuto do trabalhador, a estes não são garantidas as condições
mínimas de trabalho e vida, tais como saudade, moradia e alimentação.

Ao mesmo tempo em que esta atividade se encontra na informalidade, o aumento da


atividade de catação coincide com o crescimento da indústria dos recicláveis, pela alta taxa de
geração de resíduos sólidos e seu contínuo aumento, resultante do crescimento populacional e
incentivo ao consumo que se relacionam ao modelo econômico vigente (BRASIL, 2004). Assim, o
aproveitamento dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é colocado como uma das alternativas de
superação das altas taxas de desemprego, já que sua destinação adequada possibilitaria a inclusão
social de catadores, a geração de renda e a consideração conjunta de aspectos ambientais, sociais
e econômicos (GONÇALVES, 2004).
92

Em 2007, foram contabilizadas 506 cooperativas e associações de catadores de materiais


recicláveis no Brasil. Ao mesmo tempo, acredita-se que o número de catadores em atividade no país
é em torno de 600 mil (IPEA, 2012), indicando que poucos estão organizados.
Segundo o IPEA (2013), os catadores são responsáveis por aproximadamente 90% do
material reciclado do Brasil. Porém, quando não organizados em grupos, cooperativas ou
associações, possuem uma capacidade de barganha muito pequena devido ao baixo volume de
material coletado, ficando dependentes do repasse de materiais a atravessadores que determinam
o preço que irão pagar. Esses atravessadores, que podem ser sucateiros e aparistas, possuem
infraestrutura de armazenagem e processamento dos materiais e, consequentemente, a capacidade
de agregar valor ao material que será vendido às grandes indústrias a um preço até 10 vezes maior
que o pago aos catadores (MAGERA, 2003).
Os catadores ficam, desse modo, à margem do ciclo da reciclagem, recebendo uma pequena
parcela dos valores que o seu trabalho rende aos atravessadores (DIAS, 2002), mesmo após
executarem um trabalho exaustivo com jornadas que podem superar 10 horas diárias de trabalho
(SCARPINATTI, 2008), percorrendo até 20 quilômetros e carregando até 200 quilos de material
reciclável diariamente (MAGERA, 2003), bem como ficando expostos a riscos característicos da
catação (exposição a produtos tóxicos, risco de cortes e ferimentos pelo descarte incorreto de
materiais pela população, possibilidade de adquirir doenças de pele, dentre outros) (SANTOS, 2002).
Isso caracteriza um trabalho altamente insalubre no qual em sua maioria não conta com a proteção
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) (PEREIRA; SECCO; CARVALHO, 2014).

Na década de 1980, os municípios passaram a realizar ações de saneamento público e de


organização das populações de rua e dos catadores. Na medida em que os municípios se
tornaram responsáveis pela limpeza urbana, os catadores passaram a ser considerados
como um segmento passível de atuar diretamente nesses serviços, visto que já
desenvolviam as atividades de coleta seletiva nas ruas das cidades. (BORTOLI, 2013, p. 250).

Conceição (2003, p. 132) situa que nesse contexto, o catador antes somente tirava do
seu trabalho “[...] o seu sustento e, agora, para tentar livrar-se dos sucateiros, seus
‘sanguessugas’, e da exclusão social que este modelo capitalista lhes impõe, está formando
cooperativas de recicladores de lixo”.
Essas iniciativas de organização dos catadores se vinculam a ações assistenciais da Igreja
Católica, bem como a programas de coleta seletiva municipais articulados pelo poder público e
caracterizando um conjunto de ações que levou ao surgimento das primeiras organizações de
Resíduos Sólidos Urbanos - 93

catadores entre as décadas de 1980 e 1990, nos Estados do Rio Grande do Sul (1986, Associação de
Catadores de Materiais de Porto Alegre), São Paulo (1989, Cooperativa dos Catadores Autônomos
de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis – Coopamare, São Paulo capital) e Minas Gerais (1990,
Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis – Asmare, Belo Horizonte)
(KEMP; CRIVELLARI, 2008). Ao final dos anos 1990, destaca-se a parceria também de Incubadoras
Tecnológicas de Cooperativas Populares, que foram surgindo nas diversas universidades no país.
O poder público, em relação às problemáticas dos RSU, caracteriza-se como um ator
fundamental em relação à proposição de soluções, já que historicamente não investiu no
estabelecimento de uma gestão de resíduos sólidos eficiente, comprometendo a qualidade da
saúde da população e dos recursos naturais (BRASIL, 2001). Pensando em um novo modo de pensar
social e ambientalmente, a coleta seletiva se caracteriza como uma condição essencial para que
haja mudanças, visando à diminuição dos desperdícios, à reutilização e à reciclagem dos resíduos
(LEFF, 2003), além da inclusão social pela participação de catadores e catadoras de materiais
recicláveis nesse processo (GUTIERREZ; ZANIN, 2013). Essa nova racionalidade é importante, já que
ao mesmo tempo que o trabalho dos catadores é explorado por segmentos da cadeia da reciclagem,
eles dependem da atitude da sociedade em destinar corretamente os resíduos que produzem
(BORTOLI, 2009), bem como do estabelecimento de políticas públicas.
Outra dificuldade relacionada à organização dos catadores é a intensa relação que os
municípios estabelecem entre coleta seletiva e práticas sociais e ambientais, não considerando o
trabalho dos catadores como uma prestação de serviços que deve integrar o sistema de limpeza
urbano (BESEN, 2012). Assim, observa-se uma dificuldade no estabelecimento de contratos longos
e contínuos entre as organizações de catadores e o poder público, destacando a dificuldade de
reconhecimento do trabalho de catador como uma ocupação (BRINGHENTI; GÜNTHER, 2011), vista
ainda como atividade marginalizada, mesmo já constando desde 2002 no Código Brasileiro de
Ocupações (CBO30) (IPEA, 2013), reconhecimento este que advém da luta do Movimento Nacional
dos Catadores de Materiais Recicláveis31 (MNCR).
Em relação à ocupação de Catador de Material Reciclável, registrado sob o código 5192-05
na CBO, e prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que proíbe a existência de lixões,
define-se que são catadores as pessoas que “catam, selecionam e vendem materiais recicláveis

30
A CBO tem a função de nomear as atividades encontradas no mercado de trabalho e dispor sobre suas funções
(BRASIL, 2002).
31
O MNCR é um movimento social “[...] que há cerca de 16 anos vem organizando os catadores e catadoras de materiais
recicláveis pelo Brasil afora”, lutando pela “[...] valorização de nossa categoria de catador que é um trabalhador e tem
sua importância”, com o objetivo de “[...] garantir o protagonismo popular de nossa classe, que é oprimida pelas
estruturas do sistema social” (MNCR, 2017). Ele surgiu durante o I Encontro Nacional de Catadores de Papel, que ocorreu
em 1999 e foi fundado em 2001, durante o 1º Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis, junto com
o lançamento da Carta de Brasília, “[...] documento que expressa as necessidades do povo que sobrevive da coleta de
materiais recicláveis” (MNCR, 2018).
94

como papel, papelão e vidro, bem como materiais ferrosos e não ferrosos e outros materiais
reaproveitáveis”, dentre os quais se incluem “Catador de ferro-velho, Catador de papel e papelão,
Catador de sucata, Catador de vasilhame, Enfardador de sucata (cooperativa), Separador de sucata
(cooperativa), Triador de sucata (cooperativa)” (BRASIL, 2002).
Em uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, a participação dos catadores na cadeia
de reciclagem é vista como aliada às resoluções dos problemas relacionados aos RSU, pressupondo
medidas socialmente justas e ambientalmente corretas (JACOBI, 2006). Porém, os assuntos
relacionados aos RSU envolvem a necessidade de adequação de empresas e municípios às normas
e às políticas, além dos interesses dos setores envolvidos nesse mercado, o que esbarra na
necessidade de fortalecimento das cooperativas enquanto alternativas de geração de trabalho e
renda. Ou seja, conforme o investimento em organizações de catadores por setores da cadeia da
reciclagem é imbuído de interesses econômicos (BORTOLI, 2013), os catadores podem ser
considerados descartáveis dessa cadeia, caso as empresas do setor os considerem como um
intermediário que possa diminuir os seus lucros (LAYRARGUES, 2005).
Para Bortoli (2013), pela existência de diversas perspectivas acerca da participação dos
catadores na cadeia produtiva dos materiais recicláveis, é necessário averiguar, junto às
potencialidades políticas e sociais da organização de catadores, também os interesses dos diversos
sujeitos envolvidos no processo. Ao passo que é essencial para a organização econômico-social dos
catadores, o estabelecimento de parcerias (SILVA, 2006), devido às desigualdades em termos de
posses e poder dos diversos setores da cadeia de reciclagem, pode ser caracterizado sob uma ótica
diversa do que seria uma iniciativa de promoção social. Dependendo das características das
parcerias estabelecidas, estas podem influenciar na conquista da autonomia (social, política e
econômica), na garantia dos princípios de autogestão preconizados pela ES, e dificultar o
desenvolvimento e a apropriação do trabalho pelos grupos de catadores (FRANÇA, 2012). As
parcerias são então um fator importante a ser considerado nas análises sobre o desenvolvimento
de cooperativas de catadores.
Buscando superar os entraves encontrados na cadeia de reciclagem, muitas cooperativas de
catadores se encontram alinhadas aos princípios da ES, muito embora tenham sido criadas para
humanizar e formalizar o trabalho no contexto de gestão de resíduos sólidos (GUTIERREZ; ZANIN,
2013). Para Singer (2002, p. 89), sendo a cooperativa “[...] uma oportunidade de resgate da
dignidade humana do catador e desenvolvimento da autoajuda e ajuda mútua, que permite
constituir a comunidade dos catadores”, ela possibilita inúmeras vantagens aos catadores
organizados, envolvendo não somente fatores econômicos, mas também políticos pela
potencialização que propiciam à luta dos catadores por seus direitos ao representá-los enquanto
entidade política e econômica, frente o poder público.
Resíduos Sólidos Urbanos - 95

[...] a organização das atividades de coleta não se reduz à garantia de subsistência, sustento
e reprodução da força de trabalho, pois produz um movimento social que se caracteriza
pela identificação da ocupação, pela sua organização socioeconômica e, principalmente,
política. Através desse movimento são criadas as condições para os catadores discutirem
seu lugar e papel na sociedade, assim como sua luta pela construção de novos projetos
societários. (BORTOLI, 2013, p. 255).

Essa perspectiva que caracteriza as cooperativas como prestadoras de um serviço ao


município e passíveis de serem contratadas por Prefeituras Municipais, representa um avanço em
relação às demandas do MNCR, que visualiza a contratação pelo poder público como uma estratégia
para valorização do serviço prestado, enquanto argumenta que sem essa formalização a coleta
seletiva corre riscos de não se consolidar como ação sustentável (MNCR, 2017). A própria PNRS,
sancionada em 2010, abre as portas e favorece as condições para viabilizar tais processos de
contratação (BRASIL, 2010). No entanto, os desafios neste processo de inclusão socioeconômica de
catadores na cadeia produtiva da reciclagem ainda são muitos.

A remuneração pelos serviços urbanos e ambientais, que há muito tempo vêm sendo
realizados gratuitamente pelos catadores, é uma das condições para que esta atividade se
torne mais eficiente em termos de benefícios ambientais (reciclagem, limpeza da cidade,
economia de aterros, dentre outros) e sociais (melhoria das condições de trabalho, aumento
da renda dos associados, consciência ambiental, por exemplo). (LIMA, 2013, p. 12).

A partir desse raciocínio, e considerando que a inserção de cooperativas e associações


de catadores no contexto de gestão de RSU já é prevista na PNRS, é importante definir como se
dará tal inserção.
É fundamental explicitar que o ideal seria a reafirmação do serviço de limpeza urbana como
público, pois nos casos de privatizações e parcerias público-privada, é evidente que o interesse das
empresas recai sobre a manutenção de seus lucros, que se constituem como principal objetivo, em
detrimento das questões socioambientais envolvidas (WIRTH, 2016).

[...] por meio do mercado, não é possível oferecer um serviço de qualidade, segundo
critérios de universalidade. Por isso, as bases solidárias que orientam a organização da
coleta seletiva feita pelos catadores oferecem um caminho alternativo que permite conciliar
qualidade, eficiência e economia de recursos. Para isso, o interesse público deve
predominar sobre a contabilidade econômica estrita e de curto prazo que se viabiliza por
lucros imediatos, incluindo na contabilidade ganhos socioambientais em horizontes mais
amplos, como a economia de recursos naturais para gerações futuras. (LIMA, 2013, p. 14).

Na prestação de serviços por cooperativas e associações de catadores, o foco principal não


é o econômico, mas a provisão de ações à sociedade e ao meio ambiente (MNCR, 2012). Em relação
à privatização dos serviços de limpeza urbana e o papel do catador, indica-se que:
96

[...] na gestão dos resíduos sólidos orientada pelo sentido privatista, a figura da
empresa como instituição protagonista e principal determinadora da solução
tecnológica é fortalecida, e o controle social e as soluções aportadas pelas
cooperativas de catadores como coleta seletiva e a reciclagem são prejudicadas
(WIRTH, 2016, p. 123).

A autora também afirma que nos municípios em que iniciativas privatistas são dominantes,
os catadores tendem a continuar invisibilizados, sobrevivendo em lixões ou limitados à condição
de triadores.
Portanto, no contexto de gestão pública de RSU, o princípio de remuneração pelo serviço
prestado pelos catadores aos municípios exige a precificação do serviço e um contrato de prestação
de serviços entre cooperativa e município que contemple os custos envolvidos nas atividades
relacionadas à coleta seletiva (LIMA, 2013). A contratação de cooperativas ou associações de
catadores se sustenta, portanto, no reconhecimento do trabalho desses atores como igualmente
dignos do recebimento de tal remuneração, como ocorre nas contratações de empresas privadas
para a prestação de serviços públicos (JODAS, 2013). Além disso, a existência e manutenção de
contrato administrativo entre prefeituras municipais e organizações de catadores concede garantias
a esses grupos, como maior estabilidade financeira na renda dos trabalhadores e a prevenção de
riscos oriundos das instabilidades do mercado de recicláveis (BESEN, 2012). Também se somam aos
benefícios na perspectiva de construção de um modelo complexo de gerenciamento de resíduos
sólidos, a promoção de assistência e inclusão social, maior valorização e envolvimento da população
no trabalho desenvolvido pelos catadores e maior sensibilidade na percepção ambiental da
realidade pelos catadores (JODAS, 2013).

MÉTODO

A pesquisa foi iniciada no primeiro semestre de 2016 e atualizada no primeiro trimestre de


2017, conforme ocorreram ações importantes relativas à situação da Coopervida no município.
O método adotado para desenvolver este trabalho foi a pesquisa documental, considerada
adequada para identificar padrões de desenvolvimento de fenômenos que ocorrem durante um
longo período temporal (GODOY, 1995).

A palavra “documentos”, neste caso, deve ser entendida de uma forma ampla, incluindo os
materiais escritos (como, por exemplo, jornais, revistas, diários, obras literárias, científicas
e técnicas, cartas, memorandos, relatórios), as estatísticas [...] e os elementos iconográficos
[...]. (GODOY, 1995, p. 21-22).
Resíduos Sólidos Urbanos - 97

As buscas foram realizadas presencialmente: na Coopervida (por contratos, atas de reuniões


e outros documentos); no Núcleo Multidisciplinar e Integrado de Estudos, Formação e Intervenção
em Economia Solidária da Universidade Federal de São Carlos (NuMI-EcoSol/UFSCar) (por diários de
campo, relatórios, notícias, artigos, capítulos, teses e dissertações); e na 12ª Circunscrição do
Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) (em São Carlos, por processos e termos). Buscou-
se por documentos físicos e no NuMI-EcoSol/UFSCar, recorreu-se também à pesquisa por
documentos eletrônicos off-line, considerando as palavras-chave “Coopervida” e “catadores de
materiais recicláveis”.
É importante salientar que os autores deste trabalho, por meio de projetos de pesquisa e/ou
intervenção e vinculados ao NuMI-EcoSol/UFSCar, desenvolveram ou desenvolvem estudos e/ou
assessoria à Coopervida, desde a sua formação até os dias atuais. Desse modo, alguns documentos
selecionados são resultantes de suas práticas de extensão realizadas em grupo, de suas pesquisas
ou de orientações. Esta é uma das justificativas pela escolha de realizar as buscas no NuMI-
EcoSol/UFSCar, o qual possui um banco de dados composto por diversos documentos físicos e
eletrônicos acerca dos empreendimentos apoiados. A busca complementar junto ao MPES ocorreu
por ser considerado um importante elo para a compreensão sobre o surgimento do
empreendimento no município.
Todo material relacionado à Coopervida, ao trabalho com catadores de materiais recicláveis
e aos termos de busca foi selecionado para uma leitura prévia, e aqueles que trouxeram conteúdos
relativos ao objetivo foram analisados tematicamente (MINAYO, 2015) e sistematizados para
apresentação dos resultados e das discussões acerca dos avanços e dificuldades do trabalho da
cooperativa no município ao longo do tempo.
Na pesquisa realizada na Coopervida, foram selecionados para análise três contratos de
trabalho (SÃO CARLOS 2015b, 2012, 2010), uma notícia publicada originalmente no site da
Prefeitura Municipal de São Carlos (PMSC) (SÃO CARLOS, 2008) e uma lei municipal (SÃO CARLOS,
1997). No NuMI-EcoSol/UFSCar, foram encontrados dois capítulos de livro (ZANIN et al., 2011;
MARTINS; SORBILLE, 2011), quatro dissertações (SECCO, 2014; FRANÇA, 2012; FRANCESCHINI, 2011;
RANCURA 2005), dois artigos completos publicados em anais de evento (ZANIN; TEIXEIRA, 2015;
SANTIAGO et al., 2013), um relatório elaborado pelo grupo de apoio à Coopervida (datado de
21/06/2013), uma ata da comissão Parceiros da Coopervida (datada de 25/05/2015), uma notícia
publicada originalmente no site da Câmara Municipal (SÃO CARLOS, 2015a), e uma carta de
princípios do Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos/SP (datada de 10/2015). Já no
MPSP, foi encontrado um termo de ajustamento de conduta (TAC) (SÃO PAULO, 2003).
98

Essa relação estabelecida ao longo do tempo dos autores com a Coopervida, somada à
importância da dimensão temporal na compreensão dos processos sociais e observação do
processo de desenvolvimento de grupos, dentre outros objetos (CELLARD, 2008), justifica a escolha
deste objeto de estudo e do método para atingir os objetivos propostos.

RESULTADOS

Os resultados da análise temática da busca documental serão apresentados


cronologicamente e em três tópicos: “A retirada dos catadores do lixão municipal e a organização
de cooperativas de catadores no município”; “Reestruturação da coleta seletiva e a unificação da
Coopervida”; e “Intensificação dos processos de apoio à Coopervida e as dificuldades de articulação
com o governo municipal”.

A retirada dos catadores do lixão municipal e a organização de cooperativas de catadores


no município

Enquanto nas esferas estadual e federal o final da década de 1990 não apresentava bases
legais sólidas em relação aos resíduos sólidos, o município de São Carlos-SP dispunha de lei,
sancionada em 1997, que previa um programa de coleta seletiva e reciclagem de resíduos (SÃO
CARLOS, 1997). Porém, no âmbito do Poder Executivo, ainda não haviam sido determinadas ações
para seu cumprimento.
Em 2002, com a implantação do Programa Futuro Limpo e do Programa de Fomento à
Economia Solidária no município, houve a criação do Programa de Coleta Seletiva pela Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia da PMSC, junto à formação de três cooperativas
de catadores (Coopervida, Cooletiva e Ecoativa), com predominância de catadores oriundos do
aterro de São Carlos (MARTINS; SORBILLE, 2011).
A partir da formação dessas cooperativas, algumas de suas dinâmicas internas passaram a
ser regulamentadas pelas Leis 5.764/1971 (Política Nacional de Cooperativismo) e 12.690/2012 (lei
das cooperativas de trabalho). Como exemplo, elas passaram a ter uma diretoria e conselho fiscal,
cada um deles composto por três membros da cooperativa, eleitos em assembleia, espaço soberano
em que todos os membros da cooperativa têm direito a voto e que é regulamentado pelo estatuto
e regimento interno do empreendimento (FRANCESCHINI, 2011).
Resíduos Sólidos Urbanos - 99

O programa de coleta seletiva foi iniciado com a inserção de 11 catadores que abandonaram
a catação de resíduos no aterro sanitário do município. Em meados de 2003, foi efetuada a retirada
de outros 35 catadores que ainda trabalhavam no aterro, devido ao caráter ilegal da atividade e das
péssimas condições de trabalho ali vigentes (RANCURA, 2005). Essa iniciativa atendeu a demandas
históricas de setores organizados da sociedade que defendiam um modelo mais eficiente de gestão
ambiental, combinado à geração de trabalho e renda associada à inclusão de catadores
(GONÇALVES, 2004; BESEN, 2012; JODAS, 2013).
Além da PMSC, o MPSP também foi ator fundamental em garantir a saída desses catadores
do aterro, com o firmamento de TAC em 2003 celebrado entre o MPSP, a Companhia de Tecnologia
e Saneamento Ambiental (CETESB) e a PMSC, para encerramento das atividades do aterro sanitário
“Fazenda Guaporé” (SÃO PAULO, 2003).
Ainda que o programa tenha se iniciado em 2002, sua institucionalização ocorreu apenas em
2005, com a assinatura de convênio que formalizou a parceria entre a PMSC e as três cooperativas
para execução da coleta seletiva, manuseio, triagem, prensagem, recuperação e comercialização de
resíduos recicláveis (MARTINS; SORBILLE, 2011).
A divulgação do programa ocorreu em parceria entre a Associação para Proteção Ambiental de
São Carlos (APASC), a UFSCar e a Universidade de São Paulo (USP), abrangendo distribuição de folhetos
explicativos e abordagens diretivas aos moradores sobre a importância do projeto (SÃO CARLOS, 2008).
Observamos nesse período o surgimento de uma proposta social, ambiental e econômica
articulada que contribuiu para a demanda de reconhecimento do catador enquanto prestador de
serviços ao município (LIMA, 2013; JODAS, 2013), bem como para melhorar suas condições de
trabalho pela organização em cooperativas e estabelecimento de regras de funcionamento.
Até 2009, as três cooperativas seguiram atuando no município, contanto com o apoio das
universidades e do Departamento de Apoio à Economia Solidária (DAES), vinculado à PMSC, no
estabelecimento do trabalho, na elaboração de processos educativos sobre o trabalho na
cooperativa e a economia solidária, na elaboração de projetos para editais de captação de recursos,
visando à aquisição de maquinários e equipamentos próprios e na conscientização da população
acerca da coleta seletiva.

Reestruturação da coleta seletiva e a unificação da Coopervida

Em 2009, o quadro geral do Programa de Coleta Seletiva de São Carlos apresentava diversos
desafios a serem superados, como a redução do número de domicílios participantes da coleta, da
quantidade de materiais coletados e do número de cooperados, frente a um aumento da geração de
resíduos no município. Houve também uma queda acentuada na remuneração dos trabalhadores,
100

enquanto a estrutura organizacional e produtiva das organizações se demonstrou pouco eficaz


(MARTINS; SORBILLE, 2011). Com isso, em 22 de julho de 2009, após mudança de governo municipal,
foi apresentada proposta de Reformulação da Coleta Seletiva no município pela Coordenadoria de
Meio Ambiente da PMSC, cujo objetivo era "[...] a mudança do modelo de coleta e comercialização de
materiais recicláveis desenvolvido no município de São Carlos" (MARTINS; SORBILLE, 2011, p. 174).
Assim, iniciou-se neste mesmo ano o processo de unificação das três cooperativas existentes
e a Coopervida tornou-se a única cooperativa responsável pela coleta seletiva na cidade, celebrando
um contrato de prestação de serviços com a PMSC em 2010, o qual, após o total de três
aditamentos, foi prorrogado até setembro de 2012, recebendo valores complementares para a
prestação dos serviços contratados “[...] de coleta, beneficiamento e comercialização de resíduos
sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis” (SÃO CARLOS, 2010, p. 6).
A unificação teve como objetivo intensificar a articulação entre os grupos para potencializar
as iniciativas de comercialização, coordenadas por um modelo administrativo mais eficiente que
otimizou a utilização dos recursos, que, por vezes, ficavam ociosos (MARTINS; SORBILLE, 2011). O
NuMI-EcoSol/UFSCar e o DAES foram determinantes para o processo de unificação e formalização
da prestação de serviços, antecipando o que seria definido na PNRS. Eles se organizaram em
assessorias para elaboração participativa na Coopervida do seu regimento interno, busca de outras
parcerias, planejamento e organização das suas atividades.
A unificação das cooperativas foi considerada bem-sucedida e a Coopervida ampliou suas
atividades no município, atingindo 70% de sua área. Com a contratação pela PMSC, a Coopervida
passa a ser um empreendimento econômico-solidário prestador de serviço de coleta seletiva ao
município, o que garante remuneração mensal pelo serviço prestado, recursos e infraestrutura que
não poderiam ser adquiridos sob outras condições (SÃO CARLOS, 2012).
Em uma análise de desempenho das atividades da Coopervida, dados do DAES mostraram
avanços progressivos nos resultados observados, podendo ser atribuídos à melhoria das condições
de trabalho dos cooperados com relação à infraestrutura, além da maior adesão da população à
coleta seletiva e abrangência da área de atuação da cooperativa na cidade (SANTIAGO et al., 2013).
De acordo com Zanin et al. (2011), a receita gerada pela cooperativa (composta pela comercialização
dos resíduos e pela remuneração pelos serviços de coleta) passou de R$ 39.037,00 no mês da
unificação (março/2010) para R$ 42.143,00 (junho/2010), aspecto diretamente relacionado ao
aumento da quantidade de material coletado e comercializado (de 74.822 kg em março/2010 para
100.671 kg em junho/2010). Também houve o aumento no número de cooperados, que em junho
de 2010 contava com uma média mensal de 49 trabalhadores, em contraste a 33 cooperados em
fevereiro do mesmo ano.
Resíduos Sólidos Urbanos - 101

Podemos indicar até o momento a existência de uma mudança de racionalidade acerca da


gestão de resíduos sólidos no município, na qual o poder público, na contramão das problemáticas
apontadas na literatura acerca da existência de uma negligência sua em relação à gestão de resíduos
sólidos (BRASIL, 2001), estabeleceu um programa de coleta seletiva com inclusão de catadores, por
uma perspectiva socioambiental e que contou com a aderência da população (LEFF, 2003;
GUTIERREZ; ZANIN, 2013) e o apoio também da universidade.

Intensificação dos processos de apoio à Coopervida e as dificuldades de articulação com


o governo municipal

Mesmo que o cenário de sua atuação entre 2010 e 2011 tenha sido positivo, o
empreendimento passou por dificuldades entre 2012 e 2013, momento que coincidiu com a troca
de gestão municipal.
Foram relatados problemas no repasse financeiro da PMSC para o empreendimento, o que
teve como consequência a saída de diversos membros da cooperativa por conta do atraso na sua
retirada mensal. Ocorreram também problemas com a disponibilização de caminhões para a coleta,
de modo que apenas um dos três previstos no contrato estava em condição de uso, o que afetou
diretamente a coleta porta a porta no município. Além disso, a renovação do contrato não ocorreu
pelo período de um ano, conforme o esperado: em maio de 2013, o contrato foi prorrogado por
mais três meses apenas e, após esse período, foi novamente renovado até fevereiro de 2014
(SECCO, 2014). Isso indica a fragilidade de políticas de governo na transição entre gestões, que
desestabilizam os avanços alcançados e prejudicam, no caso em questão, a continuidade de uma
coleta seletiva eficiente nos moldes propostos pela literatura e pela PNRS.
Por conta da fragilidade advinda desta situação, houve demanda para formação de um grupo
de apoio à Coopervida, constituído em 21 de junho de 2013 e estruturado inicialmente em cinco
frentes de trabalho: Questões emergenciais para a Coopervida; Infraestrutura para a coleta seletiva
e Coopervida; Processo de ampliação da coleta seletiva de São Carlos e do número de cooperados
da Coopervida; Contrato entre a PMSC e a Coopervida; e Estatuto e Regimento interno da
Coopervida, conforme relatório deste grupo datado de 21/03/2013. A articulação de ações e
mobilizações oriundas desde grupo propiciaram a continuidade do trabalho da Coopervida na coleta
seletiva do município. Destaca-se a articulação de atores em sua maioria vinculados a instituições
de ES, como DAES e NuMI-EcoSol/UFSCar.
102

Outro acontecimento importante de 2013 foi a aproximação da Coopervida com o MNCR e com
outras nove cooperativas de catadores, localizadas em municípios das regiões Central e Alta Mogiana
do Estado de São Paulo (Orlândia, Morro Agudo, Ituverava, Batatais, Araraquara, Ribeirão Preto,
Piracicaba, Rio Claro e Sertãozinho) (ZANIN; TEIXEIRA, 2015). Esta aproximação culminou na organização
da Rede Anastácia de Catadores. A Rede, articulada ao MNCR, desenvolveu importantes processos
educativos junto aos catadores da Coopervida, tanto sobre aspectos técnicos do trabalho quanto sobre
economia solidária e cooperativismo, reforçando as atividades já realizadas por parceiros como o DAES
e o NuMI-EcoSol/UFSCar em diversos momentos. Essa articulação propiciou um importante avanço na
organização interna da cooperativa e nos processos de comercialização.

A estratégia de inserção da rede de cooperativas de catadores de resíduos no mercado da


reciclagem adentra no processo de competitividade mercadológica, amparado por bases
mais sólidas, consistentes e organizadas, capazes de promover o desenvolvimento dos
empreendimentos e interferir na ordem da cadeia produtiva de exploração comercial a que
são submetidos (ZANIN; TEXEIRA, 2015, p. 3).

Novamente, entre 2014 e 2015 a Coopervida enfrentou dificuldades, considerando que não
houve renovação do contrato entre os meses de outubro de 2014 e fevereiro de 2015. Durante esse
período, a cooperativa continuou realizando suas atividades no município mesmo sem pagamento,
o que gerou uma dívida de R$ 128.500,00 da PMSC para com a cooperativa, referente a esses cinco
meses de serviços prestados, conforme ata da comissão Parceiros da Coopervida datada de
25/05/2015. Tal ocorrência coincidiu com problemas referentes à disponibilidade de caminhões, só
que dessa vez não foi disponibilizado nenhum caminhão por parte da PMSC, o que inviabilizou a
coleta porta a porta no município.
Com o objetivo de pensar coletivamente estratégias para enfrentar tais entraves, a
cooperativa solicitou o apoio de membros da sociedade civil. Diversos coletivos organizados no
município (NuMI-EcoSol/UFSCar, Grupo de Estudos e Intervenções Socioambientais (GEISA), TEIA –
Casa de criação e Associação Veracidade), além de representantes do poder público municipal,
reuniram-se periodicamente como comissão Parceiros da Coopervida, a partir de maio de 2015,
para auxiliar a cooperativa no processo de superação das crises vivenciadas. Tal mobilização
resultou, junto à Câmara de Vereadores de São Carlos, na abertura de licitação para contratação de
dois caminhões, adquiridos em julho de 2016, além da abertura de crédito adicional suplementar
para o pagamento indenizatório referente à dívida pelos meses em que se manteve a coleta seletiva
sem a contratação da Coopervida (SÃO CARLOS, 2015a). A Coopervida também teve o apoio do
Fórum Municipal de Economia Solidária e da Rede Anastácia em busca de articular a cooperativa
com o poder público.
Resíduos Sólidos Urbanos - 103

A mobilização obteve vitórias concretas enquanto se desejavam condições fundamentais


para a continuidade da Coopervida, o que fortaleceu essa articulação entre os coletivos apoiadores
e culminou na criação do Fórum Comunitário de Resíduos Sólidos de São Carlos-SP, instância aberta
à participação da sociedade civil e que visa à manutenção de condições favoráveis em longo prazo
para a permanência de um programa de coleta seletiva com inclusão social e garantia de
implementação de políticas públicas municipais para os resíduos sólidos, conforme Carta de
Princípios do Fórum (10/2015).
O Fórum é atualmente um dos principais apoiadores da Coopervida e atua como entidade
fundamental no controle social de políticas públicas relacionadas à gestão de resíduos sólidos e na
garantia de cláusulas previstas no contrato entre PMSC e Coopervida. Dentre as instituições
membro do Fórum, a Coopervida conta também com o apoio direto do NuMI-EcoSol/UFSCar, do
Departamento de Apoio à Educação Ambiental da Universidade Federal de São Carlos e da
Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).
Essas mobilizações elaboradas em parceria com os apoiadores, ao longo de todo o processo
de existência da Coopervida, indicam as potencialidades de parcerias que possuem objetivos
alinhados às necessidades da cooperativa em busca de processos de trabalho autônomos e
socialmente reconhecidos (FRANÇA, 2012).
Em relação ao contrato vigente a partir de 2016 (SÃO CARLOS, 2015b), dentre as
responsabilidades da cooperativa previstas nas cláusulas, estão a dedicação de 40 horas semanais
de trabalho de cada cooperado, o compromisso com a coleta porta a porta no município, a pesagem
do volume coletado e fornecimento destes dados à PMSC, a triagem do material coletado, a
manutenção de seis ecopontos no município com a disponibilização de pelo menos um cooperado
por ecoponto, e auxílio à PMSC na divulgação destes ecopontos e na educação ambiental da
comunidade local. Por outro lado, a PMSC se compromete a disponibilizar o espaço físico para a
instalação da Central de Triagem de Resíduos Recicláveis, arcar com as despesas de água e energia
elétrica, fornecer até cinco caminhões em boas condições de uso, bem como prensas para a
compactação dos resíduos coletados e equipamentos para o transporte desses resíduos dentro da
Central de Triagem, definir as áreas de coleta na cidade, disponibilizar dois coordenadores para
acompanhar quaisquer questões referentes à relação do poder público com a cooperativa e
disponibilizar balanças para a pesagem do volume de resíduos coletado. Além disso, o contrato
estabelece a meta de coleta de cem toneladas por mês de resíduos recicláveis pela cooperativa.
Esse contrato tem validade de um ano a partir de 19 de fevereiro de 2016, podendo ser prorrogado,
e é associado a um recurso total de R$ 359.740,80 para esse período.
104

A posse dos meios de produção, ou seja, a infraestrutura básica de funcionamento das


atividades das cooperativas de catadores (barracão, prensas, caminhões, balanças, etc.) é
essencialmente relevante para a conquista da autonomia econômica desses empreendimentos.
Pelo exposto, mesmo havendo contrato pelos serviços prestados, a infraestrutura necessária não é
garantida, pois parte de seu maquinário pertence ou está cedida pelo gestor público local. A
mudança de governo ou mesmo uma fragilidade administrativa dos gestores públicos pode
representar um risco à continuidade das atividades de coleta, como observado ao longo do percurso
de existência da Coopervida (FRANÇA, 2012).
A busca por outras estratégias para se manter e se tornar visível aos setores da sociedade,
principalmente para os gestores públicos de São Carlos, assim como o apoio que a Coopervida
buscou junto à rede, fóruns e grupos organizados da sociedade civil, parece apontar para um
aspecto favorecedor à conquista de sua autonomia econômica, social e política (FRANÇA, 2012).

CONCLUSÕES

Considerando todos os momentos conflituosos vivenciados pela cooperativa e toda a


mobilização que já ocorreu e que continua ocorrendo junto aos apoiadores, pode-se afirmar que a
sua organização avançou em alguns pontos.
Em relação à organização dos catadores como alternativa à exploração socioeconômica, a
experiência da Coopervida em São Carlos-SP mostra que muito foi conquistado entre o momento
de retirada dos catadores do aterro municipal, próximo aos anos 2000, até os dias atuais. A sanção
de leis e políticas públicas foi etapa fundamental nesse processo.
A organização dos catadores em uma cooperativa, no caso um empreendimento de ES no
qual se procura exercer a autogestão e o controle coletivo das atividades, é outro avanço em relação
às condições de trabalho e relações que vivenciavam no aterro, onde a catação individual e a disputa
entre as pessoas pelos melhores materiais eram presentes. Na cooperativa, eles contavam com um
grau de união e representatividade quer permitiu diversas articulações, avanços e conquistas na
relação com a PMSC, mesmo havendo diversas dificuldades. Evidencia-se então a importância das
cooperativas de catadores se organizarem segundo os princípios da ES, que contribui para o
estabelecimento de uma nova lógica de organização de trabalho e das relações e para a
emancipação dos trabalhadores.
Resíduos Sólidos Urbanos - 105

A contratação da cooperativa pela PMSC foi outro passo decisivo que mostra que as
cooperativas estão gradualmente ganhando espaço no cenário de gestão de resíduos sólidos.
No entanto, muitos avanços ainda precisam ser consolidados. As condições de trabalho, em
termos de espaço físico e estrutura produtiva, ainda são precárias e distantes do controle da
cooperativa. Mesmo que atualmente leis como a PNRS tragam alguma segurança em relação à
inclusão do catador na cadeia produtiva da reciclagem, na prática ainda não se percebe o
reconhecimento e a valorização desse trabalho. Exemplo disso é a instabilidade na manutenção de
contratos e acordos com o governo municipal, principalmente quando ocorre mudança de gestão
ou mesmo uma fragilidade administrativa dos gestores públicos.
As diferentes estratégias que a Coopervida tem buscado, ao longo de sua trajetória, em se
articular com diferentes setores da sociedade civil, em rede de cooperativas e com o MNCR, indicam
uma luta para se tornar visível à sociedade, principalmente aos gestores públicos.
Finalmente, mesmo frente a tantas dificuldades, a coleta seletiva com inclusão social se
sustenta tanto da perspectiva ambiental, em um momento em que não cabe mais o descaso em
relação à gestão de resíduos sólidos, como da perspectiva econômico-social, considerando o
potencial para inclusão na cadeia produtiva da reciclagem de trabalhadores que dificilmente
encontrariam outra porta de acesso para o ambiente de trabalho formal.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à


Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), à Coordenação de
aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Programa de Extensão Universitária
(ProExt/MEC) e ao NuMI-EcoSol/UFSCar pelo apoio recebido em projetos sobre a Coopervida.

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Resíduos Sólidos Urbanos - 109

Capítulo 6

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM PRESIDENTE PRUDENTE – SÃO PAULO – BRASIL


histórico de destinação final, modelos de gestão e a contribuição do Plano Diretor Municipal

Edilene Mayumi Murashita Takenaka32; Alba Regina Azevedo Arana33; Antonio Cezar Leal 34

INTRODUÇÃO

O crescimento e concentração da população brasileira nos centros urbanos trouxe um aumento


em nível elevado da demanda por mercadorias, bens e serviços e contribuiu para a exacerbação de uma
das características mais graves das atividades humanas: a geração de resíduos sólidos.
Nesse sentido, reporta-se a Ogata (1983) quando ressalta que os resíduos gerados são como
marcas que evidenciam seu ciclo de desenvolvimento e, ao tratar da organização do espaço
relacionada aos resíduos sólidos gerados pela civilização, afirma que o acúmulo de resíduos no solo,
durante sua evolução histórica, apresenta destaque na materialidade física em que ficam
registrados, no espaço, o modus vivendi de uma época.
A geração de resíduos ocorre em todas as etapas, ou seja, abrange o processo de produção
de mercadorias, transporte, acondicionamento e consumo final. Conforme afirmam Oliveira (2002)
e Eigenheer (1999), a ação intrínseca a qualquer atividade humana é a geração de resíduos no
momento de sua alimentação, de construção de seus lares, de prática de lazer ou da produção de
bens, mercadorias e serviços.
Sendo assim, o presente artigo corrobora com Takenaka (2008) ao apontar os seguintes
questionamentos: O que fazer com tais resíduos para que sua disposição final provoque o mínimo
de impactos negativos ao meio ambiente? O município de Presidente Prudente possui políticas
públicas direcionadas a um adequado gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos?
Para responder a essas indagações, é inicialmente essencial tecer considerações sobre a
magnitude do Plano Diretor como ferramenta de planejamento e política pública para, em seguida,
discutir a evolução histórica do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos na cidade e analisar a
realidade encontrada no município de Presidente Prudente, localizado no Estado de São Paulo, Brasil.

32 Economista. Doutora em Geografia. Professora do curso de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da
Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE, Presidente Prudente- SP. E-mail: edilene@unoeste.br
33 Geógrafa. Doutora em Geografia. Coordenadora do curso de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da

UNOESTE. E-mail: alba@unoeste.br


34 Geógrafo. Doutor em Geociências. Professor do Departamento de Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente-SP. Pesquisador

do CNPQ. cezar@fct.unesp.br
110

Dessa forma, a metodologia utilizada incidiu sobre o levantamento de dados apoiado na


documentação indireta em fontes primárias e secundárias. Utilizou-se também a documentação
direta por meio de pesquisa de campo e, finalmente, a técnica da observação direta intensiva. A
técnica da observação participante foi utilizada em envolvimento ocorrido durante pesquisa
desenvolvida em parceria com instituições públicas e privadas do município estudado e com o apoio
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no projeto de políticas
públicas intitulado “Educação Ambiental e Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos em
Presidente Prudente, São Paulo”, bem como em pesquisa em nível de doutorado junto ao Programa
de Pós-graduação em Geografia, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (TAKENAKA, 2008).
Tal pesquisa fomentou estudos e ações sobre a organização, a implantação de uma
cooperativa formada por ex-catadores do lixão municipal com o objetivo de recolher os materiais
recicláveis gerados e separados no município de Presidente Prudente(SP) e um aprofundado
acompanhamento acerca das políticas públicas municipais, envolvendo a necessidade de um
instrumento organizador da atuação pública e privada para fins de benefício da coletividade no que
diz respeito a um adequado gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.
O presente artigo busca mostrar o histórico de destinação final dos resíduos sólidos urbanos e
os modelos de gestão e tem como objetivo aferir a contribuição do Plano Diretor municipal para um
adequado gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em Presidente Prudente – São Paulo (Brasil).

A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL E OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

O município de Presidente Prudente localiza-se no extremo oeste do Estado de São Paulo,


possui 223.749 habitantes e é considerada uma cidade de porte médio (IBGE, 2016). Consolida-se
como o município mais populoso do oeste paulista e apresenta-se como polo regional de mais de 50
municípios em seu redor. Em comum com os demais municípios do oeste paulista, Presidente
Prudente enfrenta problemas relacionados ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos gerados.
A Secretaria Municipal de Comunicação (Secom), respaldada nos dados oferecidos pela
Companhia Prudentina de Desenvolvimento (PRUDENCO)35, afirma que a população prudentina
produz diariamente, em média, 200 toneladas de resíduos sólidos urbanos totalizando 73 mil
toneladas ao ano36.

35
PRUDENCO – empresa de economia mista encarregada da prestação de serviço de limpeza pública do município de
Presidente Prudente/SP (Brasil).
36
Produção média de lixo em PP é de 200 toneladas/dia. Disponível em:
<http://sentidohorario.com.br/portal/2016/03/producao-media-de-lixo-em-pp-e-de-200-tdia/>. Acesso em: 20 jul. 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 111

Ao cogitar que a população prudentina é de cerca de 223.749 habitantes cada habitante


produz diariamente, em média, algo em torno de 900 gramas de resíduos sólidos. Tais valores
apresentam-se superior à média brasileira que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), é de 700 gramas/habitante/dia (IBGE, 2016).
Todo os resíduos coletados pela PRUDENCO são dispostos, diariamente, em uma área
localizada próxima do primeiro distrito industrial do município e também da malha urbana, desde
1997 e que, até meados de 2010, apresentava-se sem nenhum tipo de preparo de solo, drenagem
ou impermeabilização, conhecido como lixão37, em que muitas pessoas trabalham com a catação
de materiais passíveis de reciclagem para geração de renda.
Tal fato gerou a pressão por parte do Ministério Público que, por meio da Promotoria de
Justiça do Meio Ambiente de Presidente Prudente, buscou formas de orientar o poder público
municipal a adotar métodos adequados à destinação final dos resíduos sólidos urbanos, bem como
para as pessoas que trabalhavam como catadoras no local do lixão, “garimpando” os materiais
recicláveis que pudessem ser comercializados (TAKENAKA, 2008).
No que concerne aos locais escolhidos para a disposição de resíduos sólidos, Rodrigues
(1998, p. 79) afirma que:

Estão se criando “novos territórios indesejáveis”, ou segregados, como as áreas de depósito


de lixo doméstico, de lixo radioativo, e de usinas nucleares. [...] Esses territórios
indesejáveis, também estão inseridos [...] – não apenas entre países – mas entre
determinadas regiões de um mesmo país, ou melhor, de uma mesma cidade, como é o caso
dos depósitos de lixo doméstico, que devem ser situados cada vez mais longe e que têm
servido para a “sobrevivência” dos mais pobres que coletam os restos.

Apesar dos esforços em manter os chamados catadores (homens, mulheres e até crianças)
longe do local de disposição final dos resíduos, muitas vezes, a necessidade os levam a correr riscos
e a permanecer no local, apesar dos riscos e da proibição. Para tais indivíduos, dada a escassez de
melhores condições de empregabilidade, essa adequação passa a ser primordial para sua
sobrevivência e de seus dependentes.
Dessa forma, tanto para o poder público municipal responsável pela coleta e disposição dos
resíduos sólidos urbanos quanto para os cidadãos geradores de resíduos, o lixão apresenta-se como
uma solução ao imbróglio da destinação de resíduos oriundos da atividade humana.
Dessa forma, a maioria da população acredita que, estando fora de suas vistas, os resíduos
gerados deixam de ser um problema ao meio ambiente em que vivem.

37
Lixão: local de disposição final de resíduos em valas a céu aberto.
112

Torna-se primordial a atuação da Administração Pública municipal no que se refere à


elaboração e adoção de políticas públicas passíveis de contribuição positiva para os problemas que
envolvem o processo de gerar e coletar os resíduos sólidos até a sua disposição final.
Aferradas aos resíduos sólidos urbanos, as políticas públicas dizem respeito aos pontos
que rodeiam as questões socioeconômicas e ambientais, apresentando, assim, situações de
ampla complexidade.
Bucci (2002) e Oliveira (2002), em seus estudos, afirmam que as contrariedades que rodeiam a
geração, coleta e disposição final dos resíduos sólidos urbanos dependem da elaboração de “políticas
públicas” específicas e, portanto, faz-se necessário compreender o significado dessa expressão que
exige admitir a existência de múltiplas respostas de acordo com diferentes análises e áreas de atuação.
Para Melazzo et al. (2003), a política pública pode ser compreendida como um
aglomerado de ações e também omissões que expressam uma modalidade de intervenção
estatal relacionada a uma questão que desperte seu interesse e exija a participação e
envolvimento de demais setores da sociedade.
Bucci (2006) insere que as chamadas políticas públicas podem ser consideradas como
programas de ação governamental que objetivam a coordenação dos meios disponíveis ao Estado
e as atividades privadas a fim de alcançar metas socialmente e politicamente relevantes e
determinadas. Dessa forma, as políticas públicas possuem em seu cerne quatro elementos
distintivos: os propósitos aspirados pela ação governamental, os objetivos em que se desenrolam,
os meios destinados para o alcance das metas e as formas de sua realização.

Esses elementos devem funcionar como instrumentos de aglutinação de interesses, em torno


de objetivos comuns, que passam a estruturar uma coletividade de interesses. Em outras
palavras, toda política pública é um instrumento de planejamento, racionalização e
participação popular para atingir os objetivos traçados. [...] Considera-se, então, políticas
públicas como um conjunto de ações realizadas em um processo que envolve a administração
pública, os indivíduos e a sociedade civil para, por meio de normatizações estabelecidas,
alcançar objetivos definidos como prioridades pela coletividade. (TAKENAKA, 2008, p. 36).

Dessa forma, afirma-se que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano é uma ferramenta legal
e essencial que se apresenta como uma política pública municipal que deve indicar parâmetros para o
arbitramento de áreas de destino final dos resíduos sólidos domiciliares e, ainda, garantir o bem-estar
de seus habitantes entre outras atribuições. Nesse sentido, parece lógico analisar a sua contribuição
para as questões que envolvam os resíduos sólidos e a elaboração e formalização de um plano municipal
para seu gerenciamento.
Resíduos Sólidos Urbanos - 113

RSU EM PRESIDENTE PRUDENTE: A LÓGICA DA DISPOSIÇÃO FINAL

O histórico da ocupação da malha urbana do município de Presidente Prudente explica o


processo evolutivo das práticas adotadas para a disposição final de resíduos sólidos urbanos desde
o seu surgimento como município em 1917 até os dias atuais.
Como grande parte dos municípios brasileiros, a Administração Pública municipal de
Presidente Prudente tem apresentado condições consideradas inadequadas em relação ao
problema da geração e disposição final de resíduos sólidos urbanos, ao adotar a prática de enterrar
o lixo em locais distantes dos bairros centrais.
De acordo com Takenaka (2008), o costume de dispor o lixo coletado em locais periféricos
do perímetro urbano, conhecidos como lixões, minimiza a consciência do indivíduo acerca da
questão em si, uma vez que tira o problema do campo de visão da população, ou pelo menos da
maioria, dando a falsa impressão de que tal adversidade deixou de existir.
Ao longo dos anos, com a ampliação da população urbana e o consequente crescimento da
cidade, torna-se imprescindível a utilização de novos locais para essa disposição repetindo-se o
processo e o modelo inadequado de disposição.
Ao estudar o processo de evolução e expansão da cidade de Presidente Prudente, percebe-
se que a malha urbana se divide em duas porções distintas topograficamente e o marco divisor
entre as partes são os trilhos da Estrada de Ferro Alta Sorocabana, sobre o espigão divisor das
duas principais bacias hidrográficas do município: a do rio do Peixe (zona leste) e a do rio Santo
Anastácio (zona oeste).
O município de Presidente Prudente expandiu-se acentuadamente na sua porção oeste e,
próximas ao núcleo urbano, nas vilas encontravam-se estabelecidas as pessoas com poder aquisitivo
maior, enquanto os bairros mais distantes, com terrenos mais acidentados, eram destinados à
população de menor renda.
Miyasaki e Whitacker (2005) corroboram tal fato ao estudar as condições topográficas
desfavoráveis encontradas na porção leste da ferrovia e confrontá-las ao processo de ocupação
do município.
A seleção dos locais para a disposição final do lixo recolhido obedecia a algumas condutas
específicas como o local apresentar terreno acidentado, áreas erodidas, voçorocas ou ravinas e
encontrarem-se próximas da malha urbana.
114

Mazzini (1997) afirma que a maioria das áreas destinadas ao aterro (lixão municipal) pertence
ao poder público municipal que, devido ao relevo acidentado, não eram, em um primeiro momento,
incorporadas à malha urbana, porém sendo vagarosamente ocupadas por pessoas de baixa renda,
acompanhadas pelo surgimento de moradias em condições de precariedade em grande monta.
Da mesma forma, Amorin (1993, p. 42-43) ressaltava essa situação:

[...] Vale ressaltar que a topografia da cidade em muito influencia a ocupação humana e no
tipo de uso dado ao solo. A área central da cidade localiza-se sobre a área de espigão
favorável, por outro lado, a maioria das favelas atualmente já urbanizadas encontra-se na
zona leste na parte mais acidentada da cidade, coincidentemente a presença de áreas de
lixões nesta parte da cidade também é muito comum. Existe uma lógica nisto tudo, as áreas
acidentadas de fundo de vale são ocupadas clandestinamente pela população de baixa
renda que não tive como opção outro local para morar. Quanto aos depósitos de lixo é
prática comum em Prudente aterrar esse fundo de vale com lixo, justificando a presença de
lixões nessas áreas. (AMORIM, 1993, p. 42-43).

Em algumas situações, respaldada pelos estudos de Amorim (1993), Mazzini (1997) e Mileski
(2006), a população vizinha a essas áreas aceitava e incentivava a sua utilização como “lixões”,
presumindo que, quando desativados, os mesmos seriam aterrados e reintegrados ao meio urbano
a partir de atividades paisagísticas, com o estabelecimento de áreas de lazer como praças e campos
de futebol, para usufruto da coletividade em seu entorno.
Os locais utilizados pela administração pública municipal para a disposição final dos resíduos
sólidos urbanos coletados em Presidente Prudente podem ser observados no Mapa 1 e no Quadro
1, em ordem cronológica, no período de 1923 a 2017.
Resíduos Sólidos Urbanos - 115

Mapa 1 – Localização das áreas de disposição final de RS no município de Presidente Prudente-SP (1923-2017).

ANTIGAS ÁREAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS


LOCALIZAÇÃO DA ÁREA NO
ESTADO DE SÃO PAULO
ATUAL ÁREA DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

463.800
7.558.800

HUMBERTO
SALVADOR PARQUE
WATAL
ISHIBASHI
PARQUE
ALEXANDRINA

JARDIM PRIMAVERA

JARDIM
SÃO MATHEUS VILA ANGÉLICA

JARDIM JARDIM GUANABARA


SÃO VILA OPERÁRIA
JUDAS

VILA GENI JARDIM DUQUE PARQUE FURQUIM


DE CAXIAS

VILA CHARLOTE CENTRO VILA MARCONDES


JARDIM STA FILOMENA

VILA VERINHA

VILA BRASIL

JARDIM PLANALTO

VILA
NOVA PRUDENTE

DISTRITO
INDUSTRIAL

463.850
432.000

7.547.500 7.547.500

0 500 1000 2000m

BASE CARTOGRÁFICA : PREFEITURA MUNICIPAL DE PRESIDENTE PRUDENTE


FONTE: MAZZINI (1997); MILESKI (2005) e PRUDENCO (2006)
ORGANIZAÇÃO : EDILENE M. M. TAKENAKA
EDIÇÃO GRÁFICA : MARIA S. AKINAGA BOTTI

PRESIDENTE PRUDENTE-SP
ÀREAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Fonte: Takenaka (2008, p.68).

Observação: A área de disposição de RSU permanece a mesma desde 2008.


116

Quadro 1 – Locais utilizados para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos, no município de Presidente
Prudente-SP (1923-2017).

Período Áreas Utilizadas


1923 - Centro
1940 - Centro
1955 - Vila Charlote
1969 - Vila Charlote
1970-1972 - Jardim Primavera*
1973 - Vila Verinha
1974-1990 - Jardim Santa Filomena*
1975-1980 - Jardim São Judas*
1976 - Vila Geni
1978 - Parque Alexandrina (primeira área)
1979 - Jardim Duque de Caxias
1981 - Parque Furquim (primeira área)
1982-1989 - Vila Marcondes*
1982 - Parque São Mateus
1983 - Vila Nova Prudente
1985 - Parque Furquim (segunda área)
1986 - Curtume Crepaldi
1987 - Parque Alexandrina (segunda área)
1987 - Parque Furquim (terceira área)
1988 - Parque Watal Ishibashi
1988 - Humberto Salvador
1990 - Jardim Planalto
1990 - Vila Brasil
1991 - Parque Furquim (quarta área)
1994 - Vila Operária
1996 - Jardim Guanabara
1997 - Vila Angélica
1997-2017 - Distrito Industrial
* áreas utilizadas por várias vezes em diferentes períodos.

Fonte: Mazzini (1997); Mileski (2005) e Prudenco (2006b).


Organização: Edilene M.M. Takenaka.

Verifica-se que, de 1923 a 2017, os locais escolhidos e utilizados para a disposição final dos
resíduos urbanos coletados apresentavam, como característica, condições acidentadas do terreno
e sua localização e, na época de cada escolha, encontravam-se fora dos limites da malha urbana e
na periferia com a presença de população empobrecida.
A preponderância da responsabilidade da administração municipal, em relação à coleta e
disposição final de resíduos sólidos urbanos, sempre foi uma realidade em Presidente Prudente.
Resíduos Sólidos Urbanos - 117

Entretanto, segundo Takenaka (2008, p. 90):

O município de Presidente Prudente, entre as administrações municipais das décadas de 1970 e


1980, contou por duas vezes com os serviços de coleta e disposição de lixo por meio de
contratação de empresas especializadas. A primeira empresa foi a LIPATER nos primeiros anos
do mandato do Prefeito Walter Lemes Soares (1973-1977) e a segunda foi a empresa PIONEIRA
que atuou durante o mandato do Prefeito Virgílio Tiezzi Jr. (1983-1988). Embora tais empresas
realizassem a coleta regular dos resíduos sólidos urbanos gerados no município, era de
competência da prefeitura municipal a designação das áreas para sua disposição final.

No decorrer das demais administrações, a prefeitura municipal, por meio de suas secretarias,
apresentava-se como a responsável pelo setor de coleta e destinação final dos resíduos sólidos
urbanos. Em meados de 1993, a Prudenco, a partir de contrato firmado com a Prefeitura do
município passou a ser responsável pela coleta e transporte dos resíduos sólidos até a sua disposição
final, permanecendo responsável até os dias atuais.
Como identificação das etapas de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos adotados pelo
município de Presidente Prudente, pode-se afirmar que obedeceu à seguinte sequência: coleta dos
resíduos gerados pelos munícipes (coleta porta a porta), transporte dos resíduos em caminhões,
disposição final dos resíduos nos lixões e, posteriormente, aterradas.
Em fins da década de 1990, a Cetesb realizou vistorias nos locais utilizados como lixões
atendendo a processo movido pela Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, e identificou, por meio
de laudos oficiais, que a área utilizada para depósito de lixo pela Administração Pública municipal
apresentava-se inadequada por uma série de fatores:

O local situa-se dentro do perímetro urbanos, em área densamente habitada, [...], a área
utilizada para passagem de pedestres, é desprotegida de cerca ou qualquer outro tipo de
benfeitoria [...] Constatamos também o acúmulo de águas pluviais, chorume percolado e
esgoto doméstico [...] expondo a população aos perigos de contrair doenças infecto-
contagiosas. (MINISTÉRIO PÚBLICO, Inquérito Civil, Processo 003/96, vol. 1, p. 101-104).

Assim, após tais constatações, foi elaborado um Termo de Compromisso de Ajustamento


(TAC) entre o Ministério Público, a Prefeitura Municipal de Presidente Prudente e a Prudenco, sendo
os dois últimos apontados como agentes responsáveis, em fins da década de 1990, pelos danos
ambientais ocorridos em razão do inadequado gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.
Assim, um compromisso formal foi estabelecido entre as partes interessadas, sendo que o
cumprimento de suas exigências acarretaria uma solução positiva para o problema da questão
ambiental pertinente à manipulação adequada dos resíduos sólidos do serviço de saúde,
implantação de uma usina de compostagem e reciclagem de resíduos sólidos e recuperação dos
locais utilizados como lixões no município.
118

Há cerca de uma década, a prefeitura municipal de Presidente Prudente busca implementar


melhorias na área utilizada para a disposição final dos resíduos sólidos. Tais avanços são
considerados suficientes pelo poder público municipal para considerar a atual área utilizada para a
disposição final dos resíduos como um aterro controlado.
O local em questão apresenta estruturas administrativas e de apoio aos
trabalhadores/catadores; frequência diária da disposição dos resíduos sólidos coletados; vigilância
diuturna na área; a unidade conta, ainda, com máquinas e equipamentos como trator de esteira, pá
carregadeira e caminhões basculantes. A instalação de drenos para captação e chorume e queima
de gazes e as obras de cercamento do local tiveram início em 2009 e conclusão em 2016.
Em dezembro de 2016, a Prefeitura Municipal de Presidente Prudente e a Prudenco
apresentaram as obras de encerramento do lixão municipal com a adoção diária de espalhamento
e a compactação de forma correta dos resíduos, cercamento e delimitação da área e, ainda, a
obtenção de certificação de viabilidade técnica de captação e tratamento de chorume. Tais obras
resultaram no reconhecimento oficial do local como aterro controlado.
Entretanto, apesar do anunciado encerramento, o local continuará a receber os RSU por
aproximadamente um ano, tempo considerado hábil para que o poder público municipal encontre
um novo local para disposição final dos RSU e implemente a construção de um aterro sanitário e
devidas instalações para a triagem do material coletado.

O MODELO DE GESTÃO DE RSU EM PRESIDENTE PRUDENTE: GESTÃO CONVENCIONAL,


GESTÃO COM PRIVATIZAÇÃO E GESTÃO PARTICIPATIVA

Os modelos de gestão de RSU existentes na maioria das cidades brasileiras são: Gestão
Convencional, Gestão com Privatização e Gestão Participativa.
Segundo Lima (2002), o modelo de Gestão Convencional é o mais encontrado nos municípios
brasileiros e se caracteriza pelo poder público municipal incorporar a prestação dos serviços de
coleta e disposição final dos RSU.
Em relação ao modelo de Gestão com Privatização, adiciona-se ao poder público municipal
a inserção de empresas terceirizadas no processo de gestão dos resíduos sólidos urbanos.
O modelo de Gestão Participativa reflete, por princípio, a participação da população junto
ao poder público municipal por meio de um conselho municipal formado por representantes da
sociedade civil, que se encontra envolvido no processo de decisão e elaboração de estratégias para
questões que envolvam os RSU.
Resíduos Sólidos Urbanos - 119

O município de Presidente Prudente apresenta, em seu histórico, sobre a gestão de resíduos,


momentos específicos de adoção de cada um dos modelos em diferentes estágios.
A preponderância da responsabilidade da administração pública municipal em questões que
envolvam a ação direta na coleta e disposição de resíduos sólidos urbanos sempre foi uma
característica de Presidente Prudente.
No período entre sua emancipação municipal até a década de 1970, o modelo adotado em
relação aos RSU foi o de Gestão Convencional em que o poder público municipal é o responsável
pela coleta, transporte e local de disposição final dos RSU.
Entre as décadas de 1970 e 1980, a prefeitura opta por contratar empresas e terceirizar o serviço
de coleta e disposição dos RSU ao adotar o modelo de gestão com privatização. Entretanto, a escolha
dos locais para a disposição final ainda era de responsabilidade do poder público municipal.
Na década de 1990, ainda sob a adoção da gestão com privatização, a Prefeitura assina, a
partir de processo de licitação, contrato com a atual empresa encarregada dos serviços de varrição,
coleta, transporte e disposição final dos RSU: Prudenco.
A Prefeitura, por meio da Secretaria de Obras e Serviços Públicos, acompanha e fiscaliza as
atividades realizadas, estando a empresa contratada sujeita às penalidades previstas em contrato
caso haja o descumprimento de suas funções.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente fiscaliza e acompanha as questões relacionadas à
coleta e disposição final dos resíduos sólidos urbanos realizada pela empresa responsável: a Prudenco.
Após 2011, o município passa a adotar o modelo da Gestão Participativa com a criação de
um Conselho Municipal e estímulo à participação da sociedade civil, por meio de seus
representantes em situações diversas como planejamento, administração e fiscalização das ações
desenvolvidas pelo poder público, nas áreas de interesse do Conselho, por exemplo, o adequado
gerenciamento dos resíduos sólidos gerados no município.
Para buscar garantir que haja a implantação de um adequado gerenciamento de resíduos
sólidos, o Conselho Municipal do Meio Ambiente (CMMA) encontra-se estruturado como órgão
consultivo, deliberativo e normativo no que diz respeito à sua política municipal de meio ambiente.
O CMMA tem como objetivo, dentre tantos outros, avaliar, acompanhar e auxiliar a política
ambiental municipal; conservar intercâmbio com entidades públicas e privadas de pesquisa e atuação
na proteção do verde; decidir sobre a aplicação dos recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente; e
contribuir com campanhas educativas relacionadas a problemas ambientais como saneamento básico,
poluição de águas, do ar e solo, combate a vetores e proteção da fauna e flora.
120

As competências do Conselho Municipal de Meio Ambiente devem agir em harmonia com o


Plano Diretor do município.

O PLANO DIRETOR EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP

A lei municipal que se refere ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano possui como objetivo
básico coordenar o desenvolvimento irrestrito das funções sociais da cidade e assegurar o bem-estar de
seus habitantes. Sua exigência passou a ser imperativa com a promulgação da Constituição Federal do
Brasil de 1988, a qual, em seus artigos 182 e 183, trata da política pública urbana.
Entretanto, a imposição da elaboração de um plano diretor municipal para cidades que
apresentem mais de vinte mil habitantes, exigida pela Constituição Federal de 1988, tendo seus
artigos 182 e 183 regulamentados pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001),
foi recebida sem grande alarde pelos municípios paulistas.
Segundo Braga (1995), a razão era a imposição similar datada do ano de 1967 pela Lei
Estadual nº 9.842, que determinava a exigência da concepção de um Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado (PDDI) a todos os municípios paulistas, estabelecendo penalidades
como a proibição de auxílio financeiro àqueles que não cumprissem essa determinação estadual.
Vale ressaltar que, apesar de o município de Presidente Prudente ter se adiantado a uma
imposição federal e concebido seu primeiro Plano Diretor Municipal no ano de 1969, com dezenove
anos de antecedência, o tratamento dos resíduos sólidos urbanos e a preocupação com seu manejo
adequado em termos de coleta, acondicionamento, transporte e disposição final não se
apresentavam prioritários para os administradores públicos municipais da época em questão
(TAKENAKA, 2008).
A inquietação em torno do meio ambiente e dos resíduos gerados a partir da ação humana passa
a ter contornos mais definidos no cenário político e social brasileiro com a realização, em junho de 1992,
na cidade do Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD).
A CNUMAD foi um marco da forma como o Homem passou a enxergar sua relação com o
meio ambiente que o cerca. A comunidade política internacional passou a admitir a necessidade de
harmonizar o desenvolvimento socioeconômico com o emprego dos recursos da Natureza,
incluindo a atenção com os resíduos gerados e a imprescindível preocupação com seu
reaproveitamento, reciclagem e disposição final.
Resíduos Sólidos Urbanos - 121

O município de Presidente Prudente enfatiza a preocupação ambiental relacionada a


resíduos sólidos urbanos apenas no Plano Diretor elaborado em 1996. Tal fato representa o começo
de uma modificação de comportamento em relação ao tema tratado, mas que mostrou contornos
mais palpáveis a partir de inquérito civil (Processo nº 003/96) instaurado pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo por meio da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Presidente Prudente,
solicitando esclarecimentos e providências em relação a fatos difundidos na imprensa escrita do
município sobre os lançamentos de resíduos sólidos em valas a céu aberto e sem tratamento.
Dessa forma, a Prefeitura Municipal comprometeu-se, ao assinar um Termo de Ajustamento de
Conduta, junto à Promotoria do Meio Ambiente de Presidente Prudente, a buscar soluções aos problemas
relacionados à disposição final dos resíduos coletados e a implantar a coleta seletiva no município.
A procura por um novo local que apresente a necessária adequação para a disposição final
dos resíduos sólidos permanece como um desafio desde 1997 (ano da assinatura do acordo entre a
prefeitura municipal e a Promotoria do Meio Ambiente) e, entre várias áreas analisadas e estudos
realizados, ainda não houve a aprovação do licenciamento ambiental de uma área para o aterro
sanitário do município.
Como já exposto, o Plano Diretor do município de Presidente Prudente anterior a 1996 não
apresentava ênfase com a relação ao manejo adequado dos RSU em termos de acondicionamento,
transporte e disposição final.
Entretanto, a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta entre a prefeitura municipal
e a Promotoria do Meio Ambiente aliada à nova ênfase em questões ambientais, traz uma
necessidade de ampliar a visão municipal envolvendo a preocupação com os RSU gerados e o
destino dado a eles.
Assim, no ano de 2008, o Plano Diretor de 1996 foi revisado e atualizado dando origem ao
Plano Diretor de 2008.
Ao se analisar o Plano Diretor de 2008 constatou-se que o antigo Plano Diretor (1996) tratava
na Seção XI, artigo 30, incisos X e XI da coleta seletiva e o destino, tecnicamente, adequado ao lixo
urbano como objetivos referentes à política ambiental.
Importante ressaltar que, apesar da intenção da administração pública municipal de
Presidente Prudente revisar o Plano Diretor de 2008 e apresentar sua reformulação em 2016 38, até
a presente data tal fato não se consolidou.

38
A Prefeitura Municipal de Presidente Prudente realizou durante o ano de 2015, através do uso da metodologia
participativa, uma série de reuniões agendadas em linha cronológica com convites a participação de toda a sociedade
em audiências públicas, além da abertura de um Portal para receber manifestações, via computadores e celulares, da
população acerca da revisão do Plano Diretor. Entretanto, até a presente data (2018), encontra-se em vigor o Plano
Diretor de 2008.
122

O Plano Diretor de 2008 de Presidente Prudente expõe metas semelhantes àquelas


constantes no plano anterior, porém dessa vez editados na seção XII – Da política ambiental, artigo
35, incisos X e XI, e acrescenta aos seus objetivos básicos o inciso XVI – elaborar o Plano de Gestão
em Resíduos Sólidos. Estende-se ainda no artigo 36 o inciso XV – ao contemplar diretrizes e
programas de controle e implantação do Plano de Gestão Municipal em Resíduos Sólidos.
Concomitante ao desenrolar dessa nova forma de compreender a importância de um
adequado manejo dos RSU, o poder público municipal, as instituições de ensino superior e
sociedade civil iniciaram ações para a implantação da coleta seletiva com a formação de uma
cooperativa de ex-catadores de lixo com ativa participação dos habitantes prudentinos no ato de
separação dos resíduos em seus lares.
A coleta seletiva passou a ser realizada, em Presidente Prudente-SP, por um grupo de ex-
catadores do lixão municipal que formaram uma Cooperativa de Trabalhadores em Produtos
Recicláveis39 (COOPERLIX). A Cooperlix mantém-se ativa desde 2003 com a colaboração de apoiadores
compostos por agentes públicos, representantes de instituições privadas e participação da sociedade.
Em novembro de 2012, é aprovado o Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de
Resíduos Sólidos de Presidente Prudente. Assim, o poder público lança mão da legislação do
município no que se refere ao meio ambiente e, por extensão, aos resíduos sólidos urbanos ao
elaborar, analisar e implementar as diretrizes de seu Plano Municipal de Gerenciamento Integrado
de Resíduos com base na sua Lei Orgânica e em um instrumento normativo de planejamento
municipal: o artigo 35, inciso XVI, do Plano Diretor de 2008.
Preocupados com a manutenção da coleta seletiva realizada pela Cooperlix devido às dificuldades
encontradas pelos cooperados relacionadas às oscilações de preços e contratempos na manutenção dos
equipamentos, o poder público municipal busca alternativas para a sustentação da cooperativa.
Em abril de 2015, a Prefeitura celebra um contrato com a Cooperlix em que a concede a
incumbência pelos serviços de coleta, triagem, processamento, beneficiamento e destinação
adequada dos resíduos sólidos urbanos recicláveis e reutilizáveis gerados no município. O contrato
oferece uma ajuda anual paga em 12 parcelas que garante uma renda mínima para cada cooperado
mensalmente acrescida do montante que arrecadam com a venda dos materiais recicláveis.

39
A Cooperlix iniciou suas atividades informalmente no ano de 2003, mas apenas em 2010 foi formalizada e estruturada
em barracão cedido por regime de comodato pela Prefeitura de Presidente Prudente e sua contratação para a prestação
do serviço de coleta seletiva ocorreu em 2015.
Resíduos Sólidos Urbanos - 123

O município de Presidente Prudente - SP, com sua aderência ao Programa Município Verde40,
apresenta-se na terceira etapa do mencionado programa, que é o envio de seu Plano de Ação
Municipal para a SMA. A aderência a esse programa resguarda ao município o direito de ter
precedência no recebimento de recursos estaduais para atingir suas dez diretrizes básicas, tendo
em conta o objetivo de sua demanda justificada em seu plano de ação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Plano Diretor é uma ferramenta ou um instrumento básico da política municipal de


desenvolvimento e expansão urbana e deve ser aprovado formalmente mediante lei municipal após
audiências públicas e debates, envolvendo diversos atores sociais, políticos e econômicos, constituídos
por vereadores, representantes comunitários e da sociedade civil que debatem os problemas urbanos
almejando a construção de uma cidade sustentável para as gerações presentes e futuras.
Por meio da análise dos Planos Diretores formalmente aprovados no período
compreendido entre 1969 e 2008, verificou-se que as questões envolvendo os RSU receberam a
devida importância nos anos de 1996 e 2008.
Os Planos Diretores de 1996 e 2008, tinham em comum a preocupação com a coleta seletiva
e o destino adequado ao lixo urbano (forma como se referiam aos RSU).
O Plano Diretor de 2008 tem acrescido em seus incisos: buscar a elaboração de um Plano de
Gestão em Resíduos Sólidos e contemplar diretrizes e programas de controle e implantação do
referido plano.
Pode-se afirmar que, seguindo as premissas do Plano Diretor de 2008, houve a criação de um
Conselho Municipal do Meio Ambiente e a elaboração de um Plano Municipal de Gerenciamento
Integrado de Resíduo.
Entretanto, apesar das diretrizes estabelecidas em relação ao acondicionamento, coleta e
disposição final dos RSU, as ações desenvolvidas efetivamente arrefeceram de forma branda os
problemas relacionados aos impactos ambientais.
Para confirmar tal situação, lembra-se que a Administração Pública municipal não possui
ainda um local adequado para a instalação de um aterro sanitário para atender às especificações do
Termo de Ajustamento de Conduta assinado e a coleta seletiva realizada não atinge 100% dos
bairros do município. A adversidade detectada no cumprimento de tais normatizações no

40
Lançado em 2007 pelo Governo do Estado de São Paulo, o Programa Município Verde Azul (PMVA) tem o propósito
de medir e apoiar a eficiência da gestão ambiental com a descentralização e valorização da agenda ambiental nos
municípios. Busca estimular e auxiliar as prefeituras paulistas na elaboração e execução de suas políticas públicas
estratégicas para o desenvolvimento sustentável. A participação do município no PMVA é um dos critérios de avaliação
para a liberação de recursos do Fundo Estadual de Controle da Poluição.
124

município piora as condições ambientais, sociais e econômicas relativas a essa questão e evidencia
a carência de um plano ou programa criado com bases em uma política pública municipal para um
adequado gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos.
Ao analisar as políticas públicas municipais, relativas aos resíduos sólidos urbanos, conclui-
se que muito do que foi disposto em leis e decretos municipais conservam sua forma escrita sem,
todavia, atingir sua efetividade prática, apesar das penalizações instituídas em caso de
descumprimento das mesmas. Evidenciando que, sem o compromisso e a participação da população
por meio da conscientização e mobilização da sociedade civil, a normatização proposta, por si só,
não é capaz de levar ao cumprimento das metas e objetivos estabelecidos.

REFERÊNCIAS

AMORIM, M. C. de C. T. Análise ambiental e qualidade de vida em Presidente Prudente-SP. 1993. Dissertação (Mestrado
em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 1993.

BUCCI, M. P. Direito administrativo e políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2002.

BUCCI, M. P. D. (org.) Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006.

EIGENHEER, E. M. Lixo e vanitas: considerações de um observador de resíduos. 1999. Tese (Doutorado em Educação).
Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO E GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Panorama: população no último censo. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=354140>. Acesso em: 30 maio 2017.

LIMA, J. D. Gestão dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. João Pessoa: ABES, 2002

MAZZINI, E. J. T. De lixo em lixo em Presidente Prudente (SP): Novas áreas velhos problemas. 1997. Trabalho de conclusão
de curso (Graduação em Geografia) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente, 1997.

MELAZZO et al. Políticas públicas e exclusão social: a construção do debate no interior do SIMESPP. IV FÓRUM DE CIÊNCIAS
DA FCT/UNESP, Presidente Prudente-SP, 15 a 17 de maio de 2003. Anais... Presidente Prudente: UNESP, 2003.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Presidente Prudente.
Inquérito Civil: Processo nº 003/96.

MIYAZAKI, V. K.; WHITACKER, A. M. O processo de aglomeração urbana: um estudo sobre Presidente Prudente e Álvares
Machado no Estado de São Paulo – Brasil. Revista Electrônica de Geografia y Ciencias Sociales, Barcelona, v. IX, n. 194 (110), 1
de agosto de 2005. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-194-110.htm>. Acesso em: 8 set. 2006.

MILESKI, M. M. Qualidade de vida nas proximidades das antigas e atuais áreas de disposição final de resíduos sólidos
em Presidente Prudente-SP. 2006. 195p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia) - Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2006.

OGATA, M. G. Os resíduos sólidos na organização do espaço e na qualidade do ambiente urbano: uma contribuição
geográfica ao estudo do problema na cidade de São Paulo-SP. Rio de Janeiro: IBGE, SUPREN, 1983.

OLIVEIRA, A. S. D. de. Método para viabilização da implantação de plano de gerenciamento integrado de resíduos
sólidos: o caso do município do Rio Grande-RS. 2002. 230p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Engenharia
da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002

TAKENAKA, E. M. M. Políticas públicas de gerenciamento integrado de resíduos sólidos urbanos no município de


Presidente Prudente-SP. 2008. 232f. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, 2008.
Resíduos Sólidos Urbanos - 125

Capítulo 7

MUDANDO A CULTURA DE UMA SOCIEDADE: O PAPEL DO GRUPO DE APOIADORES NA


IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP- SP41

Wilson Roberto Lussari42

INTRODUÇÃO

A natureza gregária do ser humano contribuiu para a sedentarização e surgimento das primeiras
formas de sociedades estáveis. Por sua natureza de conviver em grandes grupos, o homem acabou
necessitando de se sedentarizar, provocando as primeiras formas de sociedades estáveis.
Por sua vez, a fixação exigiu uma divisão de tarefas e organização das atividades humanas,
caracterizada pelas primeiras formas de especialização.
A partir da constituição de estruturas sociais cada vez mais complexas, cerca de dez mil anos
antes de Cristo surgiram as primeiras cidades.
Com as cidades a necessidade de se organizar a vida comum, bem como prover de sustento
a população exigiu a criação de papéis especializados tanto no âmbito produtivo como no
burocrático. A ascensão da religião e da organização burocrática de Estado foram as bases de
estabelecer a estabilidade da sociedade urbana.

O DESAFIO DE SE ARTICULAR O COLETIVO EM BUSCA DE SOLUÇÕES

Por ser gregário, o homem há muito tempo recorreu à sedentarização como regra. Seja por
sua fragilidade física, ou por dispor de necessidades complexas, acabou desenvolvendo sistemas
organizacionais complexos, para assegurar sua subsistência.
À medida que crescem em número de componentes, cresce na mesma direção a necessidade
de estabelecerem-se novos sistemas organizativos, capazes de prover de soluções os problemas
gerados pela inovação anterior.

41
Este artigo foi fundamentado na tese de doutorado do autor, em que se compilou e relevou a trajetória do Grupo
de Apoiadores como instrumento de transformação social. Para um estudo mais aprofundado, sugere-se a leitura de
Lussari (2016).
42Administrador profissional, mestre em Educação (especialista em educação de adultos em ambientes organizacionais complexos),
doutor em Geografia (especialista em educação ambiental). Atuou em dezenas de organizações de diferentes portes e atividades,
especialmente nas áreas de Saúde e Educação. Mais de vinte anos de experiência gerencial e trinta anos em docência em ensino superior.
E-mail: wlussari@yahoo.com.br
126

Por exemplo, enquanto se desenvolveu o deslocamento a pé ou cavalo e com o barco à vela,


as distâncias ainda eram regidas pela percepção de tempo do observador. Com o trem a vapor e da
ferrovia, as distâncias foram eliminadas (DRUCKER, 2002).
Entretanto, um novo problema foi criado: como a ferrovia era mais rápida, o tempo local
aparentava ser diferente do tempo do viajante. E assim, para se estabelecer uma coerência e
padronização de horário para as ferrovias, criaram-se os fusos horários na região continental dos
Estados Unidos, vigente até hoje.
Alguns séculos depois, com o advento da hiperconectividade da sociedade, as comunicações
em tempo real eliminaram o tempo. A informação na nuvem pode ser acessada de qualquer ponto
do planeta instantaneamente.
Para que isto seja possível, há a necessidade de se articular organizações cada vez mais
complexas e específicas. Tais organizações não se resumem a uma única organização, mas em uma
articulação de tal forma que seja possível incluir “todas” as pessoas e/ou organizações da sociedade
afetadas pelo problema “e” pela sua solução.
Dessa forma, ao se deparar com o processo de implantação da coleta seletiva na cidade de
Presidente Prudente-SP, tal articulação foi ativada, mas até aquele momento pouco ou nada se
sabia sobre a arquitetura organizacional dessa articulação.
Inicialmente, ninguém se dava conta deste aspecto, uma vez que que os atores do processo
estavam focados nos problemas e solução e as articulações entre pessoas e organizações surgiam
na mesma medida que os problemas iam aparecendo.
Uma articulação ad hoc que leva a instituição de uma arquitetura organizacional complexa e
difícil de ser mapeada só pode ser devidamente compreendida quando estudada em profundidade
ao longo de um determinado período de tempo. Isso se deve ao fato de que problemas complexos
demoram anos ou décadas para serem solucionados ou superados (DRUCKER, 2002).

ESTRATÉGIAS PARA SE ARTICULAR UM GRUPO DE APOIADORES

Para se articular um grupo de apoiadores alguns elementos são essenciais para obter
sucesso. Entre eles podemos citar alguns:
Cultura do grupo: por se tratar de grupo social, é inevitável que aos poucos surja uma cultura
própria do grupo, que será cuidada por todos; a cultura irá ajudar a legitimar os trabalhos tanto
dentro quanto fora do grupo.
Resíduos Sólidos Urbanos - 127

Fator tempo: não se pode subestimar o fator tempo; o tempo das transformações sociais
não é o mesmo tempo dos homens; algumas questões podem levar mais tempo que a vontade de
fazer acontecer.
Pessoas certas: em alguns casos é possível escolher as pessoas; entretanto, em diversas
situações, as pessoas irão se apresentar ao grupo para participar de forma temporária ou
permanente; todos os participantes do grupo devem acolher e adequar as inclusões.
Administrar conflitos: dependendo da abrangência do projeto, os interesses serão tão
sensíveis que em determinados momentos pode provocar a ruptura ou desintegração do grupo de
apoiadores e, até mesmo, do projeto.
Delegar e confiar nas pessoas: trabalhar com pessoas de diferentes matizes e interesses
implicam em desenvolver uma habilidade em delegar e confiar, especialmente quando os interesses
pessoais podem influenciar fortemente nas decisões e ações do grupo.
Manter a coesão e coerência do grupo: manter um grupo de apoiadores é um trabalho
extenuante, que exige permanente habilidade do líder do grupo em monitorar eventuais ou potenciais
conflitos, de forma que não se perca o foco do projeto e da existência do grupo.
Gestão democrática, participativa e inclusiva: o grupo de apoiadores deve ser exemplo junto à
comunidade, de forma a legitimá-lo socialmente, pois só assim se pode levar à legitimação de um projeto.
Trabalho colaborativo: o trabalho coletivo implica no acesso a informações, socialização de
conhecimento, aprendizagem mútua e apoio mútuo na consecução de cada atividade; mesmo que
não se consiga o ideal, é importante que se obtenha o possível.
Finitude: pode ser difícil admitir, mas haverá um momento em que o grupo de apoiadores
terá de se dissolver, pois ele subsiste por determinado ciclo; pode ocorrer que se rearticule um novo
grupo, mas aí é outro ciclo, com todos ou alguns participantes do grupo anterior.
Enfim, um grupo de apoiadores é um modelo de organização possível de se empregar em
diversas situações. Particularmente indicado para problemas sociais que demandem mobilização
coletiva de uma sociedade, mas que se tenha dificuldade de se estabelecer um projeto social executável.
Até por conta disso é que há a necessidade do engajamento imprescindível da Academia.

A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE APOIADORES EM PRESIDENTE PRUDENTE-SP

Para implementar a coleta seletiva e educação ambiental que atendesse às


necessidades socioeconômicas e ambientais do município de Presidente Prudente-SP, foi elaborado
a partir da academia, no período de 2000 a 2015, um modelo de gestão que fosse inclusivo e
democrático junto às diferentes entidades e organizações existentes na sociedade (LUSSARI, 2016).
128

Empregando inicialmente os princípios do Cooperativismo, da Autogestão e da Economia


Solidária, o modelo de gestão delineado, para sobreviver e obter sucesso em um sistema capitalista,
engendrou uma organização do trabalho de tal modo que permitisse a participação de toda e
qualquer instituição pública ou privada que, de alguma forma, pudesse contribuir e participar do
grupo de apoiadores (LUSSARI, 2016).
A legitimação do projeto, logo nos primeiros anos, ocorreu pela constituição da cooperativa,
de forma a oferecer uma organização que abrigasse os cooperados, a separação e armazenagem
dos materiais recicláveis, bem como da prática de educação ambiental pela reciclagem.
Desenvolver a coleta seletiva e a educação ambiental não era um propósito do grupo de
apoiadores, nem ele tinha tal intenção de assumir tais atividades. Como meio de conciliar diferentes
objetivos e proposições, além de auxiliar no desenvolvimento da cooperativa, o grupo de
apoiadores optou por constituir uma estrutura organizativa nos moldes da organização virtual,
proposta por Grenier e Metes (1995).
Essa estrutura organizativa permitiu a conexão da organização virtual (o grupo de
apoiadores) com a organização real (a Cooperlix), de maneira a permitir uma relação de
interdependência. Isso auxiliava a Cooperlix, pois evitava a necessidade de a cooperativa ter de
elaborar uma relação de interdependência a cada novo apoiador que ingressasse no projeto.
O modelo de organização resultante das observações das relações de interdependência
estabelecidas entre o grupo de apoiadores e a Cooperlix, confirmava a hipótese proposta na pesquisa
de Lussari (2016).
No contexto delineado era importante que o grupo de cooperados fosse assistido na
mobilização, organização e sedimentação cultural, de maneira que ele pudesse desenvolver sua própria
cultura, enriquecida com experiências, comportamentos e outros elementos da cultura organizacional,
acompanhado de sua inserção como trabalhadores, profissionais livres, autônomos e cidadãos.
Para que tais expectativas fossem possíveis de se atingir, era importante que a cultura
estabelecida no grupo de apoiadores tivesse um papel decisivo na formação e sustentação da
cultura organizacional de uma cooperativa de trabalhadores de materiais recicláveis.
Resíduos Sólidos Urbanos - 129

O GRUPO DE APOIADORES

Transformar uma ideia em algo concreto depende de pessoas e circunstâncias que permitam
que ela seja plantada, florescida e que produza frutos. Mas todo começo é uma tarefa difícil.
Os compromissos assumidos pelos relacionamentos entre pesquisador e os sujeitos de
pesquisa, os quais, consciente ou inconscientemente, criam um vínculo profissional, pessoal e afetivo,
pelas convergências de ideias de se fazer educação ambiental e, ao mesmo tempo, viabilizar uma
cooperativa de trabalhadores de materiais recicláveis, permitiram que o projeto pudesse ser
concebível e realizado (LUSSARI, 2016).
Pessoas têm a tendência de buscar apoio em suas ideias em outras pessoas que têm ideias
convergentes ou que se complementem. A proposição da cooperativa de trabalhadores de materiais
recicláveis era bem-vinda junto à Secretaria de Assistência Social do município de Presidente
Prudente-SP, pois era uma ideia bem pontual e no tempo certo para poder amadurecer a ideia e fazer
gerar resultados rápidos.
Convergência de ideais, aliada à convicção de se realizar um trabalho demandado e
necessário para a coletividade, desperta a atenção dos indivíduos. Como decorrência, contribui para
que esses passem a apoiar de forma positiva e resoluta ideias as quais acreditam benéficas.
Ao longo do tempo, este grupo inicial foi ganhando uma identidade própria e, com as
reuniões, foi ganhando corpo e maior autonomia. Assim, o grupo de apoiadores passou a se
reconhecer e se identificar como tal, e seus participantes como uma forma de pertencimento a ele.
Mesmo que o apoiador43 tivesse pouco poder de decisão individualmente, ele teria a capacidade de
se legitimar e ser ouvido nas reuniões, assim como suas ideias poderiam ser colocadas em ação.
O participante do grupo, na qualidade de apoiador, pode representar e legitimar sua pessoa,
com seu status reconhecido nos diferentes círculos sociais.
O grupo de apoiadores, inicialmente constituído de forma ad hoc e visto de forma histórica,
passou a se identificar como uma forma de organização, onde representantes de outras organizações
interessados em participar de um grande projeto social, se associavam e se identificavam.

43
Conforme Lussari (2016) aponta, o termo “apoiador” começou a ser usado com mais frequência a partir do ano 2010.
Ele significava uma pessoa que pertencia de forma temporária ou permanente ao grupo que atuava junto à Cooperlix,
como uma forma de distinguir uma pessoa não fosse dos quadros da cooperativa, mas que tinha sua legitimidade
reconhecida pelos cooperados como alguém que formalmente contribuía com ela. O grupo de apoiadores replicava a
Organização Virtual proposta por Grenier e Metes (1995).
130

ORIGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO GRUPO DE APOIADORES

Como em tudo na vida, o termo apoiador foi uma evolução ao longo do tempo. No começo,
o termo tinha um sentido diferente, pois era utilizado em conjunto com o termo “parceiro”.
Inicialmente identificando-se como grupo de “parceiros e apoiadores”, Silva (2007) apresenta a
distinção e a aplicação de ambos os termos em uso à época da fundação e infância da Cooperlix44.
Segundo Silva (2007), em uma rede social havia a distinção dos termos. Nessa rede social, o
termo “parceiro” tinha um sentido mais natural de proximidade e intimidade de comportamento e
relação entre o grupo de apoiadores e as pessoas que futuramente integrariam a cooperativa.
No começo, entre a aglutinação de pessoas no que viria a ser o grupo de apoiadores e sua
institucionalização, assim como na criação da cooperativa, era comum o uso do termo “parceiro”
para identificar a pessoa ou representante institucional (o meio acadêmico e as instituições
públicas), os quais auxiliavam na mobilização das pessoas e para dar forma às ideias. Aqui, Silva
(2007) se apoiava na tipologia de redes sociais de Parreiras et al. (2006 apud SILVA, 2007).
Por sua vez, Silva (2007) destinava o termo “apoiador” a outro tipo de ator, externo à Rede
Social: representava a figura da pessoa ou representante institucional, que contribuía financeira,
material ou tecnologicamente para a dinâmica de criação e desenvolvimento da Cooperlix. Para as
ações destes apoiadores, Silva (2007) denominava “atos assistenciais”.
Dessa forma, o apoiador era posicionado no processo do grupo como um ente periférico, de
forma pontual ou permanente, caracterizado por uma relação de distância entre ele e aos catadores
de materiais recicláveis e/ou cooperados (SILVA, 2007).
É interessante que a abordagem de Silva (2007) se aproxima à de organização de eventos
(seminário, jornada, etc.), em que há a necessária distinção entre organizadores e os parceiros e
apoiadores relacionados neles. Àquela época este modelo era compreensível, pois identificava a
organização do grupo de parceiros e apoiadores vigente.
Este modelo de grupo identificado por Silva (2007) começou a apresentar sinais de
esgotamento a partir da institucionalização da cooperativa, a qual demandava outras posturas e
papéis por parte do grupo de parceiros e apoiadores.
Quando Lussari (2016) ingressa no grupo de apoiadores por volta de 2006, outros
professores da Unoeste já estavam bem integrados ao grupo. Por esta época era visível a
necessidade de se mudar o modelo vigente de “grupo de parceiros e apoiadores” para outro modelo
de “grupo de apoiadores”.

44
Vide detalhes em Silva (2007), capítulo 8 – O Papel dos Parceiros e Apoiadores na Cooperlix Através das Redes Sociais.
Resíduos Sólidos Urbanos - 131

Mas haviam motivos para esta migração.


Um motivo era de que a rede social identificada por Silva (2007) atendia bem às necessidades
do momento histórico vivido pelo movimento dos catadores. Tendo à frente os parceiros oriundos
das universidades e poder público, a rede social servia satisfatoriamente no papel institucional que
eventualmente abrigasse os catadores.
Ao proporcionar um sentimento de pertença aos catadores, a rede social minimizava o risco
de descrédito por parte deles no projeto. Algo muito relevante, visto que os catadores tiveram no
passado experiências com outras pessoas que prometiam e, depois, os abandonavam.
Outro motivo era a necessidade inerente de o ser humano pertencer a uma ou mais
organizações. Dessa forma, tirar a cooperativa do terreno das ideias e contar com a adesão dos
catadores clamava pela criação de uma estrutura organizativa.
A estrutura não poderia ser improvisada, a fim de evitar seu colapso por risco de descrédito.
Ela precisava ser transitória, em caráter temporário, com continuidade após a conquista da
independência da cooperativa, que garantisse a eficácia de sua implantação e a legitimação por
parte de parceiros, apoiadores e catadores.
Partindo de sérias considerações, o grupo de parceiros e apoiadores delineou e ofereceu à
comunidade acadêmica e à sociedade a implementação e consolidação da proposta do Projeto de
Pesquisa “Educação Ambiental e o Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos em Presidente
Prudente-SP: Desenvolvimento de Metodologias para Coleta Seletiva, Beneficiamento do Lixo e
Organização do Trabalho” FAPESP/UNESP.
Com a constituição da cooperativa, havia o impasse entre manter os catadores/cooperados
atrelados à rede social; ou mantê-los atrelados ambos à rede social e à cooperativa; ou, ainda, tratá-
los estritamente como cooperados pertencentes à cooperativa. Em qualquer caso, o grupo de
parceiros e apoiadores precisaria de uma nova finalidade e papel (LUSSARI, 2016).
A criação de uma cooperativa de trabalhadores em materiais recicláveis constava como uma
etapa do desenvolvimento do Projeto de Pesquisa “Educação Ambiental e o Gerenciamento Integrado
dos Resíduos Sólidos em Presidente Prudente-SP: Desenvolvimento de Metodologias para Coleta
Seletiva, Beneficiamento do Lixo e Organização do Trabalho” Fapesp/Unesp (TAKENAKA, 2008).
Entre a fundação e começo de suas operações, a identidade da cooperativa não era tão
evidente por ter um papel mais simbólico, uma vez que a rede social polarizava as atenções e ações.
Aos poucos, os cooperados, lenta e gradualmente, passaram a legitimar a voz da diretoria da
cooperativa junto ao grupo de parceiros e apoiadores. Com o tempo, a diretoria da cooperativa
passou a ser a principal interlocutora com o grupo de parceiros e apoiadores (LUSSARI, 2016).
132

Com investimentos realizados e a implementação dos trabalhos de coleta seletiva e triagem


do material ocupando boa parte da atenção dos agora cooperados, seu distanciamento da rede social
foi natural. De sua parte, a direção da cooperativa, uma vez legitimada pelos cooperados, passou a
desempenhar a interlocução entre a cooperativa e os cooperados, e o grupo de apoiadores.
Apesar de que não há uma clareza de quando foi exatamente o momento, a emancipação
institucional da cooperativa teve como marco esta atuação. Entretanto, foi-se percebendo nas
seguidas reuniões do grupo de apoiadores esta identidade da diretoria como voz da cooperativa.
Ao longo das reuniões de 2006 e 2007 foram ampliados os esforços por parte dos apoiadores
em legitimar a voz da presidência da cooperativa, a fim de a mesma encarnar de fato seu real papel
(LUSSARI, 2016).
Gradualmente o grupo de apoiadores começou a transferência das responsabilidades das
decisões da cooperativa para os cooperados. Em especial a diretoria, que apresentava certa
resistência ou insegurança em aceitar. Havia um sentimento latente entre os cooperados de que,
se ganhassem a independência, havia a possibilidade de se perder o apoio e/ou os benefícios já
conquistados junto ao grupo de apoiadores (LUSSARI, 2016).
Ainda por volta de 2006, o grupo de apoiadores passa a contar com a participação de
professores da área de Administração, da Unoeste, os quais propõem por parte do grupo de
apoiadores um discurso de postura mais profissionalizada da gestão da cooperativa, algo que foi
seguido por outros membros do grupo de apoiadores.
A migração do papel de rede social para um grupo mais focado em gestão despertou a atenção
de antigos apoiadores. Entre eles, a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Fundação Banco do Brasil (FBB),
que, por força de suas responsabilidades, começaram a cobrar as respectivas prestações de contas
por parte dos gestores tanto dos projetos como da cooperativa (LUSSARI, 2016).
A prestação de contas foi importante para a cooperativa e o grupo de apoiadores sentirem
a cobrança por resultados por parte de apoiadores que se empenharam por recursos vitais para a
cooperativa. A opção ficou em buscar sempre conciliar as demandas dos apoiadores e beneficiar ao
máximo os cooperados e sua diretoria.
Resíduos Sólidos Urbanos - 133

Em razão do cumprimento dos acordos e relatórios da CEF e FBB, bem como das negociações
de compra da máquina de produção de flake45, o grupo de apoiadores precisou ajustar sua postura,
passando a cobrar dos cooperados (via diretoria) uma atitude mais profissional (LUSSARI, 2016).
Essa mudança de postura influenciaria nos anos seguintes certa ambiguidade do grupo, que ora
se comportava como grupo de parceiros, ora grupo de apoiadores. Até que em 2010 o termo grupo de
apoiadores aos poucos se sedimentou. Mas para alguns integrantes, seja por razões enraizadas
profundamente, seja por força da herança da rede social, ainda se autodenominam “parceiro”.
Deve-se salientar que o termo “apoiador” teve um significado específico ao longo deste
projeto social, relativo aos agentes representantes das diversas instituições que se relacionavam
permanente e diretamente junto à Cooperlix. Poder-se-ia recorrer a outras denominações, mesmo
dentro do vocabulário da Administração, ao se apropriar do termo stakeholders46. Entretanto, este
termo seria incorreto, visto que se aplicaria apenas parcialmente, pois os apoiadores poderiam
expressar um tipo de stakeholder, como também poderiam estar distribuídos entre vários
stakeholders, tanto da cooperativa como do próprio grupo de apoiadores.
Para se compreender a trajetória do grupo de apoiadores, Lussari (2016) estabeleceu um
levantamento de seus 15 anos de existência, a fim de oferecer uma perspectiva de sua composição
e características, bem como dos momentos que influenciaram as transformações na realidade tanto
do grupo como da Cooperlix.
Para tanto, Lussari (2016) apresentava uma cronologia ano a ano, sobre sua composição,
eventos relevantes e ações que decorreram das decisões tomadas no interior das reuniões do grupo
de apoiadores.

A ATUAÇÃO DO GRUPO DE APOIADORES

A possibilidade de se documentar em primeira mão, e de informações em segunda mão de


pesquisadores que antecederam o autor, bem como o convívio com eles, permitiu que se obtivesse
uma cronologia bastante coerente e com um mínimo de distorções. Isso favoreceu a produção de
dados pelo autor e a coleta de dados junto a quem os produziu de forma consistente.

45
Flake (ou floco): Produto condensado, que otimiza o transporte e o desempenho da transformação, obtido a partir
da trituração em partículas de 3/8 polegada (9,52 mm) de garrafas PET. Neste Estado, há uma valorização deste material
no mercado consumidor de matérias-primas.
46
Cada um dos ambientes de negócios, interno e externo, é preenchido com indivíduos e grupos de pessoas que são ou
acreditam ser ou serão afetados pelas ações de uma organização. Essas pessoas exercem pressões sobre a organização
diretamente para influenciar processos de tomada de decisão em seu favor. Essas pessoas também tentam influenciar
o governo a exercer poder sobre as organizações privadas a tomar medidas que os favoreçam. Eles são chamados de
“stakeholders”, porque eles têm ou acreditam que têm uma participação no funcionamento de uma organização em
particular (STEINER; MINER; GRAY, 1986, p. 32).
134

A fim de se proceder a uma compreensão do grupo de apoiadores, fez-se uma breve


cronologia dos eventos que delinearam sua trajetória. Assim, pode-se estabelecer a trajetória do
grupo de apoiadores em seis fases:
Fase 1 – Anos 2000-2002. Gênese do projeto e estabelecimento do embrião do grupo de
apoiadores. Nesta fase os integrantes pioneiros do grupo não têm consciência de sua formação
coletiva. O foco reside em avançar as propostas de forma a decolar o projeto.
Fase 2 – Anos 2003-2007. Início do projeto e estabilização de ação, com o comprometimento
de recursos. Nesta fase o grupo já está caracterizado de forma irreversível, vinculado ao projeto em
execução. O grupo de apoiadores já é uma realidade, mas ainda não se reconhece como tal.
Fase 3 – Anos 2008-2009. Estabilização do grupo de apoiadores. Aqui o grupo vai
despontando como agente de controle e execução do projeto, angariando apoiadores conforme a
mobilização e desenvolvimento do projeto. Também nesta fase já se tem delineada a liderança do
grupo, seja de forma explícita ou tácita.
Fase 4 – Anos 2010-2012. Apogeu do grupo de apoiadores. Quando o grupo estabelece uma
identidade e se apresenta como tal, bem como é reconhecido pela sociedade.
Fase 5 – Anos 2013-2014. Descolamento do grupo de apoiadores do objeto do projeto.
Quando o objeto do projeto apoiado pelo grupo de apoiadores entra em um processo de emancipação
deste, decorrente do natural distanciamento necessário à emancipação do objeto do projeto, no caso
a Cooperlix. É importante salientar que os motivos para se distanciar podem ser tanto positivos (por
exemplo: a iminência de celebrar um contrato com a prefeitura), como negativos (por exemplo: o
grupo de apoiadores sofrer a contaminação dos problemas do objeto do projeto).
Fase 6 – 2015. Encerramento do modelo vigente de grupo de apoiadores. Quando o projeto
alcança maturidade e autonomia, o grupo de apoiadores deixa de ser essencial. Apesar de gerar
ansiedade e desconforto por parte de seus integrantes, o modelo vigente passa a ser desnecessário
e precisa ser extinto ou reorganizado em um novo modelo de grupo de apoiadores.

Fase 1 – 2000-2002. Gênese do projeto e estabelecimento do embrião do grupo de apoiadores

Inicialmente, 2000 foi o ano dos preparativos para o desenvolvimento do futuro projeto
Fapesp, coletando informações, revisitando o que fora produzido até então e estabelecer as bases
do próprio projeto.
Resíduos Sólidos Urbanos - 135

Demarcar as origens de uma iniciativa não é tarefa simples, uma vez que há a tendência dos
eventos acontecerem em sucessão uns aos outros e que nem sempre apresentam uma relação
direta. Porém, alguns registros fornecem pistas, que podem auxiliar na compreensão desta relação.
Lussari (2016) localiza este viés nos trabalhos de Gonçalves (2000; 2006):

No caso do grupo de apoiadores, um registro interessante pode ser observado em


Gonçalves (2000; 2006), por se tratar de duas contribuições distintas que têm em comum
o mesmo autor e, parcialmente, semelhante base de pesquisa. Enquanto a primeira
aborda a territorialização do trabalho informal, estudando catadores de papel/papelão e
de camelôs na cidade de Presidente Prudente-SP, a segunda aprofunda as questões do
trabalho, e sua precarização, no lixo, investigando os catadores do lixão municipal da
mesma cidade. (LUSSARI, 2016).

A experiência de Gonçalves (2000) já apontava a identificação a existência de uma parcela de


trabalhadores em situação tão precária, em condições de vida tão críticas, que considerava esta
parcela “quase invisível”. Esta parcela se tratava dos catadores de resíduos sólidos recicláveis no lixão
(GONÇALVES, 2006).
Já no ano de 2001, um embrião do grupo de apoiadores estaria envolvido com o projeto de
resíduos sólidos, cuja tentativa de dar forma a ele seria lenta e gradual. Restrito, naquele momento,
a um grupo de docentes, os quais coordenavam o Projeto de Políticas Públicas/FAPESP, naquele
ano. Este poderia ser considerado seu marco inicial de existência (GONÇALVES, 2006).
As duas instituições a se fazerem presentes no grupo de apoiadores eram a Unesp e a
Fapesp. Os próximos a serem inseridos no grupo foram catadores do lixão, por serem os primeiros
contatados pelos observadores nas visitas ao lixão.
Posteriormente viria o poder público, de forma mais pontual. Primeiro com a Secretaria de
Assistência Social de Presidente Prudente-SP, fomentando a materialização da cooperativa. Depois
viriam outras Secretarias, como a do Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, etc.
O Projeto de Políticas Públicas/Fapesp93 47, coordenado por professores da Unesp, seria
a primeira articulação documentada do grupo de apoiadores, o qual teria vários
desdobramentos (GONÇALVES, 2006, p. 190).

47
A Fapesp lançou, em agosto de 1988, o Programa de Pesquisa em Políticas Públicas com a finalidade de financiar
atividades de pesquisa que pudessem beneficiar a formulação e implementação de políticas públicas de importância
social. Atendendo às exigências do programa, o Projeto de Políticas Públicas em “Educação Ambiental e
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos em Presidente Prudente-SP” recebeu apoio financeiro da Fapesp em
suas fases I e II (TAKENAKA, 2008, p. 151-216).
136

Leal (2004) aponta que ainda neste período outras instituições se engajaram para dar
suporte à mobilização do projeto:

O Projeto de Políticas Públicas/FAPESP intitulado “Educação Ambiental e Gerenciamento Integrado de


Resíduos Sólidos em Presidente Prudente-SP” iniciou-se em 2001 em parceria consolidada entre
FCT/UNESP, Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, PRUDENCO, Fundo Social de Solidariedade,
Serviço de Apoio à Pequena e Micro Empresas de São Paulo (SEBRAE), UNOESTE, Federação Nacional dos
Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação, Limpeza Urbana, Ambiental e Áreas Verdes (FENASCON),
Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação e Trabalhadores na Limpeza urbana de
Presidente Prudente e Região (SIEMACO), com apoio da FAPESP. Ressalta-se a COOPERLIZ como importante
parceira, fruto das ações fomentadas pelo Projeto de Políticas Públicas/FAPESP. (LEAL, 2004 apud
TAKENAKA, 2008, p. 151-216).

Takenaka (2008) pontua ainda que o projeto FAPESP estava distribuído em três fases
distintas: a primeira fase se estendia de junho de 2001 a dezembro de 2002; a segunda fase, indo
de janeiro de 2003 a dezembro de 2005; e a terceira fase de 2006 em diante.
Em 2002, o Sebrae participa com orientações “sobre os sistemas de cooperativismo,
funcionamento, produção de renda, organização do trabalho, encargos sociais, regimento interno,
entre outras informações” (TAKENAKA, 2008, p. 154).
Ainda neste ano foi organizada a primeira reunião com os catadores, em que, entre outras
ações, estabelecia as bases de uma negociação entre o grupo de catadores e o grupo de apoiadores
(GONÇALVES, 2006). Na mesma reunião seria marcado o primeiro passo no sentido organizativo dos
catadores, por meio de uma comissão deles, a fim de discutir a situação com o prefeito municipal.
Ao mesmo tempo em que se desenvolvia formação da futura cooperativa, o grupo de
apoiadores promovia a incorporação de representantes dos catadores e de representantes da
sociedade por meio de reuniões abertas à sociedade, assumindo um formato mais amplo de
composição (GONÇALVES, 2006).
Como não havia ainda naquela época uma identidade do grupo de apoiadores, Gonçalves
(2006, p. 194) referia-se a ele, neste período, como “grupo de trabalho e pesquisa e o grupo de
catadores”. Isso indicava que os próprios integrantes não tinham, ainda, uma ideia dos rumos que
a iniciativa atingiria mais de uma década depois, por se centrar prioritariamente à pesquisa e
possíveis proposições por parte da academia às políticas públicas.
A fim de buscar experiências que fundamentassem as futuras decisões do grupo de
apoiadores, foram realizadas ações como a visita à cidade de Penápolis-SP, para troca de
experiências e a inserção dos catadores no circuito econômico da reciclagem (GONÇALVES, 2006).
Resíduos Sólidos Urbanos - 137

A partir daí, os integrantes do grupo de apoiadores passaram a socializar experiências em


Fóruns e Seminários. Como resultado, os catadores identificaram que a criação de uma Cooperativa
era a melhor opção para o modelo de coleta seletiva (GONÇALVES, 2006).
No âmbito do processo de legalização da Cooperativa de Trabalhadores em Produtos Recicláveis
de Presidente Prudente, o apoio de diferentes segmentos da sociedade, em especial da Secretaria de
Assistência Social e das demais instituições que participaram nesse projeto foi determinante.
Dos 80 catadores que inicialmente apoiaram a criação da cooperativa, apenas 30
aderiram ao compromisso como futuros cooperados. Esses colaboraram na consolidação do
processo de organização e na implantação de um programa de coleta seletiva dos resíduos
recicláveis na cidade (GONÇALVES, 2006).
O apoio financeiro e material, como a aquisição de equipamentos para o funcionamento da
Cooperlix foi decisivo para a credibilidade da proposta junto aos catadores (LEAL, 2002 apud
TAKENAKA, 2008).
Na Fase 1 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2000 e 2001: Basicamente docentes e discentes pesquisadores da FCT/UNESP, nesse período
os contatos ainda eram não formais.
2002: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp, já que o projeto era conduzido pelos docentes da
FCT/Unesp); grupo de catadores (futuramente de cooperados); Prudenco; Prefeitura Municipal de
Presidente Prudente (via Secretaria no Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social);
Sebrae (ainda que parcialmente e de maneira pontual) (LUSSARI, 2016).

Fase 2 – Anos 2003-2008. Início do projeto e estabilização de ação

A fundação da Cooperlix marca o início desta fase. Com a cooperativa, os ex-catadores, agora
cooperados, contavam com a garantia de que desta vez havia respaldo nas proposições dos
idealizadores do projeto.
Criada no dia 13 de fevereiro de 2003, com a razão social de Cooperativa dos Trabalhadores
de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente, e registrada no CNPJ sob nº 05.547.541/0001-58,
a Cooperlix inicia suas atividades com vinte cooperados. Suas instalações foram cedidas em
comodato pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente e seus equipamentos foram adquiridos
através de projetos junto à Fapesp, CNPQ, Fundação Banco do Brasil (FBB) e Banco
Santander/Universidade Solidária (UNISOL) (IACIA, 2014).
138

Nesse ano inicia-se a II fase do projeto Fapesp, destinada a:


a) organizar, instrumentalizar e promover a expansão da coleta seletiva realizada pela
Cooperlix para outros bairros;
b) diagnosticar os resultados obtidos pelo desenvolvimento do Projeto de Políticas
Públicas/Fapesp; e
c) elaborar e preparar materiais para a divulgação da coleta seletiva através de
campanhas educativas (TAKENAKA, 2008; LEAL, 2004; HENARES, 2006).
Por depender das vendas de materiais recicláveis, percebeu-se que a sobrevivência do
projeto implicava em assegurar um ganho mínimo aos catadores, que nos primeiros meses situava
entre R$ 25,00 e R$ 40,00 por semana por cooperado, inferior ao auferido no lixão (LUSSARI, 2016).
Como complemento, a Secretaria de Assistência Social do município fornecia às famílias dos
cooperados cestas básicas e auxílio financeiro, por um período de seis meses, para contas de água
e luz residencial daqueles (GONÇALVES, 2006).
Curiosamente, nesse período foi a ausência dos tradicionais comerciantes de materiais
recicláveis da cidade, como bem coloca Gonçalves (2006, p. 205):

Nota-se que toda a organização e a estruturação do trabalho dos catadores nesse novo
sistema de coleta dos recicláveis não contou com apoio de nenhum dos comerciantes
intermediários. Para estes não importa a forma de organização dos catadores, desde que
permaneçam ocupando o mesmo lugar neste circuito econômico.

A articulação dos catadores em uma cooperativa oferecia vários benefícios aos cooperados,
conforme aponta Lussari (2016):
a) mudança de localização na cadeia produtiva;
b) eliminação de pequenos atravessadores;
c) coleta em lugares de acesso restrito ao público;
d) acesso direto à indústria;
e) acesso a bens e serviços sem custo aos cooperados;
f) melhoria no poder de negociação;
g) disponibilidade para acumular o volume dos materiais recicláveis e obter vantagem
na negociação;
h) receberem capacitação técnico-profissional e social em diversas áreas;
i) dispor de benefícios assistenciais da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS)
(GONÇALVES, 2006).
Resíduos Sólidos Urbanos - 139

Por sua vez, a busca de apoio ao projeto, por meio de doação de materiais e equipamentos,
exigia a necessária articulação entre os apoiadores.
Em 2004, passam a colaborar no projeto a Igreja Católica (com a compra de um caminhão),
do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação e Trabalhadores na Limpeza
Urbana de Presidente Prudente e Região (SIEMACO) e a Fenascon (GONÇALVES, 2006).
Mesmo o meio acadêmico participava mediante desenvolvimento e execução de projetos,
que adicionava um complemento de insumos ao conjunto de equipamentos e materiais necessários
para o funcionamento da cooperativa, além de materiais de consumo (como uniformes e
equipamentos de proteção individual (EPIs)), de maneira a estimular o hábito de práticas de
trabalho mais adequadas por parte dos cooperados (TAKENAKA, 2008; GONÇALVES, 2006).
A atuação do grupo de apoiadores foi imprescindível para evidenciar na sociedade a
Cooperlix e seu serviço de coleta seletiva, por meio da imprensa, visto ser um serviço de utilidade
pública, abordando as questões ambientais e de responsabilidade social relativo à reciclagem de
resíduos sólidos (GONÇALVES, 2006).
Decorrente da atuação da imprensa, bom como da proximidade de contato com os
catadores que começavam a frequentar seus lares, a população respondeu com seu engajamento.
Ainda em 2004 foi elaborado pelo grupo de apoiadores, a partir do mapa de 2002 do Projeto de
Políticas Públicas FAPESP, o mapa de áreas atendidas pela coleta seletiva de Presidente Prudente-SP.
No ano de 2005, enquanto a cooperativa executava a coleta seletiva e explorava os recursos
disponibilizados, o grupo de apoiadores elaborou e executou estratégias de educação ambiental ao
público, em especial o infantil, com a elaboração de folhetos explicativos para distribuição porta a porta
referente à coleta seletiva, vídeo educativo, criação de logomarca e cartilha educativa (IACIA, 2014).
Paralelamente à ação junto público em geral, também foram alvo de ações os segmentos
profissionais relacionados à educação ambiental, com a realização do III Seminário de Educação
Ambiental e Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos, realizado em 17 de agosto daquele
ano (IACIA, 2014).
No ano de 2006 tem início da Fase III do Projeto de Políticas Públicas/Fapesp, enfatizando o
aprimoramento da organização do trabalho na Cooperlix e do respectivo sistema de comercialização
adotado pelos cooperados. Ao mesmo tempo eram realizados em eventos municipais, regionais e
nacionais ações de educação ambiental, destacando a importância da coleta seletiva para o meio
ambiente e pelo aspecto social da cooperativa (TAKENAKA, 2008).
140

Também neste ano ocorreu a cessão de mão de obra por parte de alguns integrantes do
grupo de apoiadores, com o objetivo de colaborar na qualificação e transferência de expertise
profissional aos cooperados, em questões administrativas e técnicas de gestão (TAKENAKA, 2008).
No ano de 2006 existiam apenas duas organizações de trabalhadores em coleta de resíduos
sólidos recicláveis no Pontal do Paranapanema. Uma em forma de Associação e outra a Cooperlix,
em forma de Cooperativa (GONÇALVES, 2006).
A cooperativa seria objeto de publicação um capítulo de Rosa (2006), no livro
“Cooperativismo: uma alternativa de gestão”, de Arana (2006a). Sobre o projeto de resíduos sólidos
recicláveis se seguiram Trabalhos de Conclusão de Curso, os quais contribuíam para manter o
engajamento e a Cooperlix como temas da área de Ciências Sociais Aplicadas, sobre questões
gerenciais e interação com a realidade, buscando estabelecer uma mentalidade gerencial nos
gestores da Cooperlix.
A socialização dos trabalhos entre os docentes, alunos e cooperados respaldava os
apoiadores e contribuía para um caráter voluntarista em participar, ainda que temporariamente, do
grupo de apoiadores.
Em 2007, o grupo de apoiadores acompanhou a Cooperlix na ampliação da coleta seletiva
no município e na busca em aumentar a renda dos cooperados.
Em relação a novos apoiadores, houve a presença do Rotary Club de Presidente Prudente,
com a doação de um caminhão Ford modelo F4000 para a Cooperlix (TAKENAKA, 2008). A projeção
local e regional do projeto permitiu a inserção de apoiadores como a Caixa Econômica Federal (CEF)
e Fundação Banco do Brasil, o que viabilizou comprar equipamentos e o fornecimento de um
caminhão novo (IACIA, 2014).
Na Fase 2 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2003: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste (através dos cursos de graduação de
Administração, Ciências Contábeis, Gestão de Negócios, Odontologia, Turismo, Comunicação Social
e da Empresa Facic Jr.); Cooperlix; Prudenco; Secretaria no Meio Ambiente e Turismo e Secretaria
de Assistência Social de Presidente Prudente (TAKENAKA, 2008).
2004 a 2006: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria
Diocesana de Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon.
Resíduos Sólidos Urbanos - 141

2007: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no Meio


Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria Diocesana de
Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon; Rotary Club de Presidente
Prudente; Caixa Econômica Federal (CEF); Fundação Banco do Brasil (IACIA, 2014).

Fase 3 – Anos 2008-2009. Estabilização do grupo de apoiadores

Apesar de diversos estudos no âmbito de ensino, pesquisa e extensão realizados pelos


diferentes cursos da Unoeste e FCT/Unesp, em 2008, a atuação dos apoiadores, em suas respectivas
áreas de atuação, foi objeto de estudos pontuais na Cooperlix. Também a participação em
apresentar à sociedade as preocupações quanto à importância das transformações sociais e o
ambiente foram constantes, como o trabalho de Lussari (2008).
Nesse ano, a cooperativa tinha em seus quadros 25 cooperados, os quais recebiam em média
R$ 450,00 mensais. Concebida para auxiliar na retirada de famílias do lixão, a Cooperlix apresentava
dificuldades em absorvê-las, por apresentar uma produção que não atingia os 7.000 kg para uma carga
de caminhão. Por não poder atender às exigências das indústrias de reciclagem, era forçada a vender
seus materiais recicláveis a intermediários, acarretando perdas de receita. Isto limitava o ingresso de
novos cooperados (LUSSARI, 2016).
Outros eventos que movimentaram o grupo de apoiadores em 2008 foram: o
desenvolvimento do projeto junto ao Banco do Brasil; a construção da expansão da área coberta da
cooperativa; uma capacitação sobre cooperativismo aos cooperados; o movimento pela criação de
uma segunda cooperativa de materiais recicláveis em Presidente Prudente-SP; a reunião de
representantes da cooperativa com os do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis
(MNCR); e a visita da equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) na Cooperlix (LUSSARI, 2016).
Em 22 de agosto, a Fundação Banco do Brasil realiza a entrega oficial de um caminhão novo e
completo, mediante o projeto DRS6687 – Projeto 39/7902 – Reciclagem de Plástico, Papel e Vidro, que
tinha vigência de cinco anos. Com este projeto também foram adquiridos equipamentos e máquinas,
realização de uma nova ação de comunicação junto a população, por intermédio de uma cartilha voltada
para as crianças da pré-escola e Ensino Fundamental, e de confecção de folhetos distribuídos porta a
porta informando o calendário da realização da coleta seletiva nos bairros (IACIA, 2014).
142

Em 2009 houve uma consolidação das rotas de coleta e uma campanha de conscientização
da população atendida, focando na separação doméstica dos materiais recicláveis e sua disposição
para reciclagem.
Ao final do ano o grupo de apoiadores elaborou um “Plano de Coleta Seletiva de Presidente
Prudente”. Como o plano era para o município, foi necessário colocar a cooperativa no centro das
discussões, a qual, por sua vez, sofria simultaneamente de problemas críticos: dificuldade em
manter os então 26 cooperados; ausência de perspectiva de remuneração adequada; queda da
receita dos materiais vendidos, pela crise de 2008, que avançou em 2009 (LUSSARI, 2016).
Na Fase 3 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2008 a 2009: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria
Diocesana de Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon; Rotary Club de
Presidente Prudente; Fundação Banco do Brasil, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR) (IACIA, 2014).

Fase 4 – Anos 2010-2012. Apogeu do grupo de apoiadores

No ano de 2010 a projeção institucional do trabalho desenvolvido pelo grupo de apoiadores


e da Cooperlix veio neste ano. Entre quase mil projetos participantes no 13º Concurso do Prêmio
Santander Universidade Solidária, ganhou o primeiro lugar e com a característica única de ser o
protagonizado por duas universidades, Unesp e Unoeste (LUSSARI, 2016).
Neste ano também foi desenvolvida a Cartilha Reciclar, a fim divulgar os trabalhos
desenvolvidos pela Cooperlix junto à população (BRITO et al., 2013).
A crise econômica de 2008 contribuiu para provocar uma lenta deterioração da situação da
Cooperlix. Depois de quase uma década de esforço por parte do grupo de apoiadores, ela ainda não
conseguia se auto sustentar, resultando em problemas crônicos: resistência em adotar práticas que
viessem a melhorar o desempenho da cooperativa; evasão de cooperados; e perda de esperança na
expectativa de melhora da cooperativa por parte dos cooperados (IACIA, 2014).
Neste ínterim foi realizado um diagnóstico a fim de oferecer mudanças e um sistema de
gerenciamento da cooperativa. Ainda assim, sua aceitação e o desencanto reinante pelas mudanças,
por parte dos cooperados, prejudicava a implementação de medidas mais eficazes (IACIA, 2014).
Resíduos Sólidos Urbanos - 143

Apesar de todas as dificuldades e desafios com que se defrontavam, o esforço de uma década
do grupo de apoiadores chamou a atenção dos Ministérios Públicos Federal e Estadual (de São Paulo),
os quais dispunham de um processo de compensações ambientais junto à CESP. Convidando o grupo de
apoiadores para uma consulta, buscavam algum projeto que beneficiasse a região, cujo
desenvolvimento fosse financiado pelo acordo de compensação junto à CESP (LUSSARI, 2016).
O resultado foi desenvolvimento e implementação do projeto “Coleta Seletiva de Resíduos
Sólidos Urbanos e Rede Regional de Reciclagem Solidária no Oeste Paulista”. Apresentado por
representantes da Unesp e Unoeste ao colegiado de Procuradores e Promotores, o projeto
contemplava as cidades da região, com a cidade de Presidente Prudente a sua principal atividade,
tanto por ser a maior geradora de materiais recicláveis urbanos, como por dispor da Cooperlix,
centralizando o processo de produção de flake (LUSSARI, 2016).
Considerado à época um dos maiores projetos do gênero a ser implantado no Brasil, para o
grupo de apoiadores era o reconhecimento e legitimação de sua atuação, justamente por seu
trabalho desenvolvido junto ao município de Presidente Prudente (LUSSARI, 2016).
Em 2012 foi realizada uma pesquisa junto aos cooperados, em que se identificou uma
percepção por parte dos cooperados de que a cooperativa era uma “casa de passagem”, em que
eles ficavam na cooperativa até encontrarem alguma atividade melhor, profissional e
financeiramente falando. Também houve a alocação de alunos para auxiliar na gestão da
cooperativa (LUSSARI, 2016).
Outro episódio neste ano foi a decisão da Prudenco assumir 100% da coleta seletiva no
município, frente à irregularidade da coleta realizada pela Cooperlix. Assim, o círculo vicioso de
menor renda, menos cooperados, redução do número de ações de coletas, diminuição do tempo
de mão de obra para separar e embarcar o material reciclável por parte da cooperativa
comprometia severamente a coleta seletiva. (LUSSARI, 2016).
Na Fase 4 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2010: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no Meio
Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Siemaco/Fenascon;
Rotary Club de Presidente Prudente; Fundação Banco do Brasil, Movimento Nacional dos Catadores
de Materiais Recicláveis (MNCR); Santander Universidade Solidária (IACIA, 2014).
144

2011 a 2012: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no


Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; Cúria
Diocesana de Presidente Prudente da Igreja Católica; e da Siemaco/Fenascon; Rotary Club de
Presidente Prudente; Fundação Banco do Brasil, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR); Santander Universidade Solidária; Ministérios Públicos Federal e Estadual (de
São Paulo) (LUSSARI, 2016).

Fase 5 – Anos 2013-2014. Descolamento do grupo de apoiadores da Cooperlix

No ano de 2013 foi formalizada uma segunda cooperativa, apoiada pela Prudenco, a partir
da retirada de catadores do lixão, e legitimada pela dificuldade de a Cooperlix dar cumprimento ao
volume reciclável proposto. Após visitar a Coopprudente, o grupo de apoiadores percebeu que a
atenção da Prefeitura e da Prudenco se dividiu em três frentes: a Cooperlix, a Coopprudente e a
persistente permanência de catadores de recicláveis no lixão (LUSSARI, 2016).
Uma pesquisa realizada com 130 moradores dos bairros Ana Jacinta e Cohab, além de 17
colaboradores da Cooperlix, em 2013, apontava que 85,93% dos entrevistados faziam a separação do
material reciclável, 98,52% consideravam importante a separação dos materiais recicláveis e 94,07%
acreditavam que a reciclagem era necessária para um futuro sustentável (BRITO et al., 2013).
O trabalho de Brito et al. (2013), além de evidenciar a preocupação com o meio ambiente
por parte da população, identificava uma confusão por parte da população sobre uma comunicação
adequada entre ela e o serviço de coleta seletiva. Isto porque Cooperlix, Prudenco e Prefeitura eram
as instituições relacionadas com a coleta seletiva.
Em novembro a direção da Cooperlix informava ao grupo de apoiadores que a Prudenco não
estava fazendo a remuneração adequada da coleta e que havia retirados os caminhões, deixando a
cargo da Cooperlix a coleta dos pontos fixos, enquanto se avolumavam as reclamações quanto à
coleta nos bairros (LUSSARI, 2016).
Com apenas 24 cooperados, a Cooperlix sobrevivia em situação precária. Na mesma época
um gestor profissional voluntário se disponibilizou para a gestão da cooperativa (LUSSARI, 2016).
Em 2014, alguns estudos realizados procuraram diagnosticar os diferentes problemas de
sobrevivência da Cooperlix. Barboza, Moraes e Rodrigues (2014) apontavam para a falta de
profissionalismo da gestão da cooperativa, que impedia o desenvolvimento da cooperativa. Também
evidenciava a necessidade de se apoiar a cooperativa, respeitando a autonomia de sua diretoria.
Resíduos Sólidos Urbanos - 145

Por sua vez, o trabalho de Real et al. (2014) apresentava algumas indicações importantes
sobre a Cooperlix: a coleta seletiva assumida pela Prudenco padecia dos problemas originais e ao
não atender todos os bairros; do material coletado pela Prudenco, boa parte era descartada no
lixão; a renda reduzida dos cooperados ainda era a principal causa de rotatividade da Cooperlix, por
considerarem menor que o “salário mínimo exigido por lei” (REAL et al., 2014).
Na Fase 4 pode-se mapear a evolução dos integrantes do grupo de apoiadores:
2013 a 2014: FCT/Unesp (incluindo a Fapesp); Unoeste; Cooperlix; Prudenco; Secretaria no
Meio Ambiente e Turismo e Secretaria de Assistência Social de Presidente Prudente; da
Siemaco/Fenascon; Fundação Banco do Brasil; Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR); Santander Universidade Solidária; Ministérios Públicos federal e estadual (de
São Paulo) (LUSSARI, 2016).

Fase 6 – 2015. Encerramento do modelo vigente de grupo de apoiadores

Este ano caracterizaria um marco na existência do grupo de apoiadores.


Do difícil começo, com o permanente risco da Cooperlix fechar suas portas, as perspectivas
de sobrevida muito ruins e escassez de apoio, derivada da crise econômica nacional, o grupo de
apoiadores atingira seu limite de possibilidades (LUSSARI, 2016).
Como esforço derradeiro de alternativa para assegurar a sobrevivência da Cooperlix, bem
como da mobilização de recursos e, principalmente, de pessoas realizada ao logo de mais de uma
década em torno do projeto de coleta seletiva em Presidente Prudente, o grupo de apoiadores
passou a dedicar mais tempo e atenção ao projeto da rede regional de reciclagem, como forma de
direcionar futuramente recursos em benefício da cooperativa. (LUSSARI, 2016)
Os esforços de uma década e meia de dedicação e persistência do grupo de apoiadores
resultaram em sua maior realização até ali: o anúncio da assinatura do contrato entre prefeitura e
cooperativa, para realizar a coleta seletiva no município (LUSSARI, 2016).
No mês de abril foi celebrado o contrato, com a presença de vários apoiadores.

Nos dias que se sucederam a cooperativa já apresentava uma nova dinâmica, concentrando
cooperados dela, da Coopprudente e catadores do lixão. Ao mesmo tempo, por
aquiescência da diretoria, a gestão seria assumida por uma entidade regional de catadores.
(LUSSARI, 2016).
146

Estava aí encerrada uma fase da existência do grupo de apoiadores.

Apesar de soar angustiante, significava o término da necessidade do grupo de apoiadores


no formato em que encontrava para dar sustentação à Cooperlix. A cooperativa enfim seria
autossuficiente operacionalmente, atingindo sua maioridade e ganhando a tão almejada
autonomia. (LUSSARI, 2016).

Encerrado o ciclo de vida do modelo de articulação do grupo de apoiadores da Cooperlix,


pelo menos em sua razão central, que era de dar sustentação à criação e emancipação da
cooperativa, restava aos integrantes do grupo de apoiadores sua dissolução e reorganização em um
novo formato de grupo, tal como proposto por Grenier e Metes (1995).

OS RESULTADOS OBTIDOS DECORRENTES DA EXISTÊNCIA DO GRUPO DE APOIADORES

Ao se fazer um olhar retrospectiva, percebe-se que o grupo de apoiadores apresentou uma


trajetória bastante peculiar. Ao se compilar uma década e meia de eventos, muitos dos quais
conectados de forma sutil, sendo alguns até mesmo subjetivos, foram sendo percebidos traços que
se associavam à trajetória do grupo de apoiadores. Do início de um projeto totalmente
desconectado, mas que tinha as primeiras manifestações dos genes do grupo de apoiadores, até a
contratação da Cooperlix por parte da prefeitura em 2015, pode-se identificar a sua criação,
evolução e ação (LUSSARI, 2016).
Evidenciar que o grupo de apoiadores surgiu a partir do estabelecimento de um projeto,
originado dos resultados de pesquisas anteriores é uma indicação (LUSSARI, 2016).
Para sua consecução, o projeto partiu de estudos no meio acadêmico público, agregando
posteriormente o privado. A efervescência de uma interação acadêmica interinstitucional permitiu
que se lançasse as bases do que viria a ser um grupo de parceiros e apoiadores, cujas mediações
atraíram outros representantes, fomentando o fortalecimento da equipe núcleo que sustentou a
representação dos integrantes do grupo de apoiadores e sua interface com suas respectivas
instituições (LUSSARI, 2016).
Outra evidência relevante apresentada pelo grupo de apoiadores foi a de que “a adoção de
uma estrutura democrática de trabalho, estimulando o ingresso de representantes de todo e
qualquer segmento da sociedade, que estivesse disposto a contribuir e/ou colaborar com o projeto”
(LUSSARI, 2016, p. 185), foi determinante para se tirar do terreno das ideias e conduzir para a prática
a estratégia de impactar a sociedade sobre a educação ambiental e coleta seletiva de resíduos
sólidos recicláveis.
Resíduos Sólidos Urbanos - 147

Pela necessidade de se manter os eventos sob controle e devidamente documentados e


acompanhados, era plausível que a liderança do grupo de apoiadores fosse centrada no meio
acadêmico, apesar de ter estabelecido um espírito democrático. Isto decorria tanto pela ancoragem
do projeto de pesquisa sobre os resíduos sólidos recicláveis, como pela disponibilidade de tempo
dedicado à articulação entre os apoiadores, ou pela própria origem da iniciativa de ação. Entretanto,
todos os representantes puderam sediar nas suas instituições em um momento ou outro as reuniões
do grupo (LUSSARI, 2016).
Pode-se dizer que a obtenção do apoio financeiro da sociedade, necessário a subsidiar as
atividades da Cooperlix, está diretamente relacionado com a postura de um grupo de apoiadores
com atuação democrática e com princípios de autogestão (LUSSARI, 2016).
Dos resultados identificados ao se estudar o grupo de apoiadores, pode-se dizer que a
“implantação de uma cultura de reciclagem em escala municipal, convergindo para a cooperativa
de trabalhadores de materiais recicláveis, a qual teve sua existência legitimada pela sociedade”
(LUSSARI, 2016, p. 186) foi o central.

Apesar de as pessoas, os representantes das instituições que formalizaram o grupo de


apoiadores continuarem a se reunir, seus encontros se faziam em menor frequência. Isto
devido à a migração da Cooperlix posterior à assinatura do contrato, agregando cooperados
de outra cooperativa e catadores do lixão, para a esfera de ação de uma rede de
cooperativas de reciclagem. Assim sendo, pode-se dizer que o grupo de apoiadores, cessava
sua existência como esteio da Cooperlix. (LUSSARI, 2016, p. 186).

Um projeto social só pode ser realizável quando ocorre o engajamento de pessoas em torno de
um ideal que possa ser materializado. As pessoas que integraram o grupo de apoiadores, representando
suas respectivas instituições e as da Cooperlix, podem ser elevadas à condição expressada por Pierre
Gourou (1973 apud SANTOS, 2002, p. 33), “o homem, esse fazedor de paisagens, somente existe porque
ele é membro de um grupo que em si mesmo é um tecido de técnicas”.

A IMPORTÂNCIA DE SE ARTICULAR UM GRUPO DE APOIADORES

Como visto, projetos de envergadura social demandam uma articulação profunda e delicada.
Profunda porque é possível obter a colaboração para grandes transformações, tal como é a coleta
seletiva e a inclusão social de catadores em cooperados. Isso envolve questões políticas,
estratégicas, sociais, econômicas e, mais importante, humanas.
148

Delicada, porque exige a capacidade de articular uma rede complexa de interesses e


necessidades, pública e privada, pessoais e sociais, micro e macroeconômicas, entre tantas
variantes exigidas, cada vez que se debruça sobre um determinado problema ao longo do projeto.
Criar um grupo de apoiadores não é o problema, mas em se identificar quem estará
legitimando a liderança do grupo. Ter a responsabilidade de se conduzir um grupo de apoiadores
significa que os representantes das entidades envolvidas e/ou representadas no grupo tenham a
devida legitimidade e que se identifique um representante que tenha as competências de
representar o grupo, ao mesmo tempo em que seja um exímio negociador e articulador.
Ainda assim, olhar para trás e sentir que o esforço e sacrifício valeu a pena, que todo o
período de envolvimento foi uma obra de aprendizado, bem como que os benefícios à sociedade,
meio ambiente e às futuras gerações foram recompensadores, proporciona ao participante de um
grupo de apoiadores um salto gigantesco de cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Participar de um grupo de apoiadores é uma experiência gratificante. Acompanhar toda sua


evolução e documentar sua existência, foi uma das maiores realizações do autor.
Como modelo organizacional ele se insere no grupo das organizações complexas, como
universidades e hospitais universitários. À primeira vista pode soar estranho e até mesmo simplista.
Mas deve-se considerar sua organização ativa direta e indiretamente um conjunto de entidades
públicas e privadas, as quais podem influenciar sociedades inteiras.
Escolher um problema social e articular um grupo de apoiadores para dar sustentação para
sua solução, pode ser a melhor opção para problemas complexos, que envolvem múltiplos atores
articulados em um ciclo de grupo de apoiadores.

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Resíduos Sólidos Urbanos - 151

Capítulo 8

REDE REGIONAL DE RECICLAGEM NO OESTE PAULISTA:


proposição e subsídios para sua organização

Maria Cristina Rizk48; Fernando Sérgio Okimoto 49; Antonio Cezar Leal 50; Paulo Roberto Iacia51

INTRODUÇÃO

O sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) é complexo e deve envolver


tecnologias associadas ao controle da geração, manuseio e armazenamento, transporte, destinação
e disposição final dos RSU, sob diretrizes legais e economicamente aceitáveis, que protejam a saúde
pública e o ambiente (RODIONOV; NAKATA, 2011).
A reciclagem é amplamente reconhecida como uma estratégia sustentável para a gestão dos
resíduos sólidos urbanos (SUTTIBAK; NITIVATTANANON, 2008). Agarwal et al. (2005) relatam que a
reciclagem de RSU, além de ser importante do ponto de vista ambiental, também pode gerar
benefícios sociais e financeiros. Dessa forma, milhões de toneladas de resíduos podem ser desviadas
dos aterros e dos incineradores por meio da reciclagem, possibilitando a redução das emissões de
gases de efeito estufa, da poluição da água, do consumo de energia e da necessidade de construção
de novos aterros sanitários e incineradores.
Di Felice (2014) destaca que a geração de RSU, nos 27 países da União Europeia, vem se
mantendo estável desde o ano de 2000, com valores em torno de 1,4 kg/hab.dia; nos Estados
Unidos, a geração de RSU também se manteve aproximadamente constante no período de 1990-
2010, com valores em torno de 2 kg/hab.dia.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE), referente ao Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil em 2015, tem-se que:

48 Professora assistente, doutora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. E-mail: crisrizk@fct.unesp.br
49 Professor assistente, doutor do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. E-mail: okimotofs@fct.unesp.br
50 Professor assistente, doutor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) –

Faculdade de Ciências e Tecnologia – campus de Presidente Prudente – SP. Pesquisador PQ-CNPq. E-mail: cezar@fct.unesp.br
51 Professor da Faculdade de Tecnologia de Presidente Prudente (FATEC), do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza,

área Administração e Negócios, administrador, mestre em Geografia (Mestrado Profissional) pela FCT/UNESP. E-mail:
paulo.iacia@fatec.sp.gov.br
152

A população brasileira apresentou um crescimento de 0,8% entre 2014 e 2015 e a geração


per capita de RSU cresceu no mesmo ritmo. A geração total, por sua vez, atingiu o
equivalente a 218.874 t/dia de RSU gerado no país, um crescimento de 1,7% em relação ao
ano anterior. (ABRELPE, 2015, p. 19).

Ainda segundo a Abrelpe (2015), a geração nacional era, aproximadamente, de 1,1


kg/hab.dia.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei Federal n o 12.305, de 2 de agosto de
2010, reúne:

O conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo


Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal,
Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. (BRASIL, 2010, p. 3).

A PNRS apresenta como um de seus instrumentos “o incentivo à criação e ao


desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis” (BRASIL, 2010, p. 4).
Campos (2014) aponta que a coleta seletiva no Brasil é realizada pelos governos locais,
empresas contratadas pelos municípios, associações e cooperativas de catadores de materiais
recicláveis, e que, a partir da PNRS, as associações e cooperativas começaram a ser tratadas como
agentes prioritários na condução da coleta seletiva.
As cooperativas de catadores de resíduos, em geral, agregam pouco valor aos materiais
recicláveis, devido aos baixos investimentos em infraestrutura física e de tecnologia da informação,
bem como falta de políticas públicas que apoiem a implantação de coleta seletiva nos municípios
com a inclusão de catadores de materiais recicláveis. Essas organizações, na maioria dos casos,
recebem apenas o apoio parcial do governo municipal, como a cessão de uso de barracões, a doação
ou cessão de uso de equipamentos e a divulgação, junto à comunidade local, do trabalho realizado
pelos catadores. Várias organizações trabalham isoladamente na venda dos materiais, vendendo-os
para atravessadores, o que implica na venda de materiais a preços reduzidos, gerando pouca renda
para os catadores (TIRADO-SOTO; ZAMBERLAN, 2013).
Nesse contexto, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar uma
proposta de organização de rede regional de reciclagem no oeste paulista, discutindo os conceitos
e os efeitos da organização de redes regionais de catadores de materiais recicláveis na busca pela
ampliação da qualidade do saneamento ambiental e minoração das fragilidades sociais e
econômicas dos trabalhadores catadores. Essa discussão é fundamentada nas variáveis: organização
dos catadores e da coleta seletiva; estruturação de um empreendimento econômico solidário;
provimento de infraestrutura adequada às atividades; incentivo à formação dos trabalhadores e à
educação ambiental da comunidade.
Resíduos Sólidos Urbanos - 153

As redes regionais de reciclagem ainda são pouco comuns no contexto nacional, mas o tema
vem sendo tratado por diferentes organizações e entes da sociedade no sentido de auxiliar na
agregação de valor, renda e melhoria das condições de trabalho e sociais dos envolvidos na
atividade. Assim, é importante discutir modelos para a estruturação de redes, contribuindo técnica
e socialmente para avanços na gestão dos resíduos sólidos, sob diferentes aspectos.

A RECICLAGEM E OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que, em
2008, a estimativa de composição gravimétrica dos resíduos sólidos coletados no Brasil era de 31,9%
de material reciclável, correspondendo a 58.527,4 t/dia. O número de municípios com coleta
seletiva era de 994 (IPEA, 2012), menos de 18% do total.
Apenas 13% do total de resíduos urbanos gerados no Brasil são encaminhados para
reciclagem (IPEA (2013).
Entretanto, mesmo com o baixo percentual de reaproveitamento, o Brasil possui certo
destaque na indústria de reciclagem, como se verifica no reaproveitamento de materiais recicláveis.
Assim, dentre os produtos com índices relativos de reaproveitamento mais elevados do país estão
o alumínio e o papelão. Outros produtos com um bom percentual de reciclagem são: as latas de
aço, os papéis de escritório e embalagens longa vida (27%) (IPEA, 2013).
A coleta seletiva no Brasil é, em geral, realizada porta a porta (88%). Outra forma comum de
contribuir para a coleta seletiva é a partir dos pontos de entrega voluntária (PEVs) instalados em
edifícios públicos, parques, escolas, supermercados e centros comerciais, que acumulam os
materiais recicláveis entregues pelos geradores (CAMPOS, 2014).
O estudo do IPEA (2013) relata a existência de 692 empresas de reciclagem no Brasil, a
maioria das quais (80%) operando desde 2001, com 21.164 trabalhadores. Destas empresas de
reciclagem, 38% operam informalmente, 34% são associações e 28% são cooperativas.
Bortoli (2013) cita que a organização dos catadores de materiais recicláveis iniciou-se com a
formação de associações e cooperativas de catadores na década de 1990 e ganhou visibilidade com a
formação do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), surgido em 1999. No
ano seguinte, a ocupação profissional foi identificada pela Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) e,
na primeira década deste século, as manifestações e lutas dos catadores por condições dignas de
trabalho e de vida contribuíram para a mobilização nacional e internacional do segmento.
154

A atividade de catação apresenta considerável grau de informalidade, ainda que nos últimos
anos venham sendo desenvolvidas políticas públicas com o intuito de apoiar e fomentar a
organização de entidades de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, a fim de
viabilizar inclusão social, econômica e melhorias nas condições de trabalho, tais como o
Programa Pró-Catador do Governo Federal, com cooperação voluntária dos Estados e
municípios. A informalidade está associada à carência ou ausência de direitos e benefícios
trabalhistas, exposição a riscos ocupacionais, condições precárias de trabalho e não
remuneração pelo serviço de limpeza urbana prestado, contribuindo para a alta
vulnerabilidade social presente nesta classe [...]. (SÃO PAULO, 2014, p. 58).

A criação de cooperativas e associações, além de unir os trabalhadores para melhorar sua


condição socioeconômica e de trabalho, potencializa o poder de negociação dos produtos
comercializados e o apoio e acesso a recursos financeiros e políticas públicas (SÃO PAULO, 2014).
Além disso:

A iniciativa de formação de redes constitui uma inovação econômica no mercado de


recicláveis, sobretudo porque implica uma nova dimensão estratégica para a atividade de
catação. [...] Nesse sentido, a organização em forma de rede evidencia a importância da
logística de comercialização e a possibilidade de ganhos de escala, ganhos pela difusão de
conhecimento e práticas de gestão entre cooperativas de diferentes níveis de eficiência,
além do adensamento da cadeia produtiva de recicláveis pela integração vertical de etapas
do beneficiamento de materiais, ou mesmo a reciclagem de certos materiais,
transformando-os em novos produtos [...]. (IPEA, 2013, p. 23-24).

Ainda não existem muitas informações e estudos oficiais sobre as redes de comercialização
que atuam no Estado de São Paulo, sendo destacadas as seguintes no Plano de Resíduos Sólidos do
Estado de São Paulo:

- Rede Cata Sampa (município de São Paulo, região do Alto Tietê Cabeceiras e Litoral);
- Rede Cata Vida (região de Sorocaba);
- Rede Verde Sustentável (região oeste da RMSP);
- Rede Unir (região de Campinas);
- Rede Reciclamp (região de Campinas);
- Rede Solidária de Cooperativas de Catadores da Alta Mogiana – COOPERCAM (região de
Ribeirão Preto);
- Rede Coopcent ABC (região do ABCD);
- Rede Cata Vale (região do Vale do Paraíba);
- Rede Oeste Paulista (região de Assis);
- Rede Paulista (Região Metropolitana de São Paulo) (SÃO PAULO, 2014, p. 62).
Resíduos Sólidos Urbanos - 155

A REDE REGIONAL DE RECICLAGEM DO OESTE PAULISTA

De acordo com o Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo, a quantidade estimada
de materiais potencialmente reutilizáveis e recicláveis no Estado de São Paulo é de 12.277,57 t/dia,
sendo que apenas 245,55 toneladas são encaminhadas à reciclagem diariamente. Na Região
Administrativa de Presidente Prudente, localizada no oeste paulista, que abrange 53 municípios com
população de 746.589 habitantes, foi estimada uma geração de 583,96 t/dia de resíduos sólidos
urbanos, representando 1,52% da geração do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014).
O modelo de rede regional de reciclagem proposto neste estudo envolve 57 municípios
localizados na região oeste do Estado de São Paulo. Os municípios escolhidos fazem parte do
contexto do acordo entre o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Estado de São
Paulo (MPSP) e a Companhia Energética de São Paulo (CESP).

Em 1998, por ocasião da pretensão de se formar o reservatório e colocar em funcionamento a


Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, o Ministério Público Federal, em litisconsórcio com o
Ministério Público Estadual, ajuizaram ação civil pública ambiental e acabaram por firmar acordo
judicial com a Companhia Energética de São Paulo, objetivando o cumprimento de diversos
programas ambientais e a implantação de dois parques estaduais [...]. (GOMES, 2016, p. 1).

O acordo possibilitou a aplicação de recursos provenientes da multa na região impactada


pela formação do reservatório da hidrelétrica, tendo sido os recursos destinados para projetos de
interesse socioeconômico dos municípios impactados – 50 milhões de reais; projetos de interesse
ambiental – 49 milhões de reais; e projeto de interesse regional (Hospital Regional do Câncer de
Presidente Prudente) – 20 milhões de reais; totalizando 119 milhões de reais (GOMES, 2016).
Nos projetos de interesse ambiental, foi identificada a necessidade de se solucionar os
problemas de destinação dos resíduos sólidos urbanos e uma das diretrizes estabelecidas foi a de:

a) propiciar apoio às Prefeituras Municipais, da área abrangida pelo acordo supracitado,


para a implantação ou melhoria de programas municipais de coleta seletiva e de educação
ambiental, que tenham como foco a prestação do serviço de coleta seletiva a toda
população municipal (urbana e rural); [...]. (GOMES, 2016, p. 25).

Nesse sentido, a proposta da rede regional de reciclagem surgiu da necessidade de gerenciar


municípios, com diferentes contextos históricos e atuais nesse tema, no que se refere à aplicação
eficiente dos recursos financeiros destinados parcialmente para as questões de resíduos sólidos
urbanos, notadamente para a organização e apoio (infraestrutura e equipamentos) dos catadores
de materiais recicláveis e implantação de coleta seletiva nos municípios abrangidos pelo acordo
entre MPF/MPE/CESP.
156

Os municípios englobados no estudo estão localizados em cinco unidades de Gerenciamento


de Recursos Hídricos (UGRHIs) do Estado de São Paulo (Aguapeí, Baixo Tietê, Médio Paranapanema,
Peixe e Pontal do Paranapanema).
Dessa forma, para subsidiar ações futuras de gestão de resíduos sólidos urbanos na região
estudada, este modelo de rede regional de reciclagem foi proposto para que os municípios fossem
organizados em oito polos locais de reciclagem (Adamantina, Dracena, Osvaldo Cruz, Presidente
Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia e Teodoro Sampaio), conforme
pode ser observado nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Municípios envolvidos nos polos locais propostos para a rede regional de reciclagem do oeste paulista.

Fonte: Organização dos autores.


Resíduos Sólidos Urbanos - 157

Figura 2 – Distribuição dos municípios nos polos locais propostos para a rede regional de reciclagem do oeste paulista.

Fonte: Organização dos autores.

A proposta de organização dos municípios em oito polos locais de reciclagem se deu levando
em consideração: o tamanho dos municípios quanto ao número de habitantes e geração de
resíduos; a estrutura viária existente para o escoamento dos resíduos recicláveis; a capacidade
industrial e comercial instalada; e a disponibilidade de entidades de apoio à atividade (por ex.:
regional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e/ou Universidades ou
Instituições de Pesquisa). Além disso, o município de Presidente Prudente foi definido como polo
regional de reciclagem, que atenderia à demanda dos municípios englobados em seu polo local,
juntamente com a demanda dos outros sete polos locais.
No modelo proposto, a sede de cada polo local teria uma estrutura de um Centro de
Integração Social e Sustentabilidade Ambiental (CISSA), capaz de suprir as demandas de triagem de
recicláveis do próprio município e as demandas de administração e/ou processamento de resíduos
que os municípios integrantes dos polos locais não pudessem processar. Os CISSAs, além da
infraestrutura para processamento de resíduos sólidos urbanos, também teriam espaços para
atividades de Educação Ambiental, incluindo capacitações, cursos e visitações.
158

O município sede do polo local contaria com um CISSA completo, com todos os espaços
necessários para as atividades de recebimento, triagem, processamento e comercialização dos
resíduos, além de espaços sociais e administrativos. Os CISSAs deveriam ter um espaço para o pós-
processamento dos resíduos com um parque de equipamentos capaz de triturar papel e papelão,
triturar PET, lavar e triturar vidros, etc., e até mesmo beneficiar os materiais recicláveis, por
exemplo, produzindo cordoalhas de PET e/ou papel reciclado e/ou artesanato em geral.
No âmbito social teriam as salas de atividades educacionais, vestiários, banheiros, cozinha,
refeitório e sala administrativa.
Nos espaços destinados às atividades de educação ambiental poderiam ocorrer palestras
com temas que atrairiam os cooperados e associados da região, bem como atender às demandas
de escolas da região nas visitas programadas.
Por fim, é importantíssimo pensar que os CISSAs, pela atividade de saneamento que
promovem, devam ser construções exemplos de sustentabilidade e utilizar materiais
sustentáveis como, por exemplo, o solocimento nas vedações e telhas com fibras recicladas,
com o reuso e o reaproveitamento de águas pluviais e residuais, e eficiência energética em suas
instalações elétricas, etc.
No caso do polo regional de reciclagem de Presidente Prudente, espera-se que o CISSA
regional processe grande quantidade de resíduos do município, de municípios vizinhos (da mesma
rede local) e de outros polos locais que não puderem processá-los. Espera-se também que o CISSA
do polo regional processe e comercialize os tipos de resíduos de menor demanda pelo mercado ou
aqueles que necessitem ter sua qualidade melhorada para alcançar o mercado mais exigente que
os demais CISSAs não conseguirem atender.
Nos municípios de porte intermediário, em termos de geração de resíduos sólidos per capita,
pertencentes aos polos locais, poderão ser criados CISSAs intermediários com uma infraestrutura
menor, capaz de realizar pequenas atividades de formação e/ou processamento de resíduos.
Nos demais municípios pertencentes a cada um dos polos locais, foram previstas estruturas
menores ainda, que conteriam basicamente o armazenamento, controle e posterior transbordo ao
polo local, como os galpões de transbordo ou os pontos de entrega voluntária. Caso seja necessário
e viável, poderia haver pequenos galpões com espaços para mais atividades. Isso significa que os
CISSAs podem ter diferentes portes e estruturas, de acordo com o contexto local.
Resíduos Sólidos Urbanos - 159

Dessa forma, os vários municípios enviariam aos polos locais resíduos de difícil reciclagem,
baixo volume ou baixo valor agregado, que, após acumulados e processados nos polos locais, em
maior escala, poderiam agregar valor e melhorar a capacidade de comercialização.
Os polos locais também teriam como função realizar atividades administrativas, como a
sistematização do comportamento do mercado, a venda dos resíduos, a emissão de nota fiscal, a
obtenção de capital de giro e a melhoria da capacidade administrativa de cada unidade da rede.
O art. 8º da Lei Federal nº 12.305/2010 define como instrumentos da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, entre outros, “o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de
cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à
redução dos custos envolvidos” (BRASIL, 2010, p. 5).
Nessa perspectiva, os polos locais foram propostos, de preferência, como consórcios entre
municípios, em que haveria uma infraestrutura de CISSA na sede do polo local, infraestrutura de
CISSAs intermediários, quando necessário, e estruturas de galpões de transbordo e de entrega
voluntária nos demais municípios. Os consórcios municipais poderiam se estender desde os
consórcios de aterros sanitários até o consórcio municipal de gestão das coletas seletivas.
Aquino, Castilho Júnior e Pires (2009) destacam que as indústrias que compram materiais
recicláveis são poucas, mantendo os preços dos recicláveis baixos. As indústrias buscam comprar
materiais em grandes quantidades e com boa qualidade. Em geral, os grandes sucateiros compram
os materiais em pequenas quantidades dos catadores para, posteriormente, formarem as cargas a
serem vendidas para os grandes compradores industriais. Os catadores, por sua vez, geralmente se
encontram dispersos, sem condições de negociar diretamente com a indústria e com pouco poder
perante os sucateiros.
Nesse sentido, a proposta de agrupamento dos municípios em rede buscaria alcançar
melhores condições de qualidade e quantidade do material reciclável, aumentando os valores de
venda. Essa proposta de infraestrutura compartilhada também promove uma redução de custos,
maior eficiência no saneamento ambiental dos resíduos passíveis de reciclagem, possibilidade de
haver cooperativas atuando em todos os municípios, mesmo que com sedes apenas em alguns, já
que há municípios que não conseguem agrupar sete catadores no município para criar uma
cooperativa, como prescreve a lei (BRASIL, 2012), mas em consórcio poderiam atuar conjuntamente
os catadores de dois ou mais municípios.
160

Caso não haja viabilidade técnica ou interesse político para a realização dos consórcios,
ainda é possível trabalhar em rede por meio de contratos individuais e específicos. A organização
em rede facilitaria:

a troca de informação entre seus integrantes, o estabelecimento e a condução de processos


de interlocução e negociações políticas, a realização e o acompanhamento de políticas
públicas, a promoção de processos de formação e capacitação, a realização de campanhas
públicas de sensibilização e esclarecimento, a captação e distribuição de recursos, a
prestação de serviços e o desenvolvimento de atividades de produção e comercialização.
(AQUINO; CASTILHO JÚNIOR; PIRES, 2009, p. 21).

Dessa forma, além de atender às necessidades administrativas e as inerentes às atividades


de recebimento, triagem, processamento e comercialização, o CISSA Regional, os CISSAs locais
(polos locais) e alguns CISSAs municipais abrigariam atividades relacionadas à Educação Ambiental.
Trata-se de capacitações de catadores, formação de gestores e agentes ambientais, palestras,
cursos de curta e longa duração e até mesmo cursos e palestras não presenciais (Educação
Ambiental a distância).
Torna-se importante para a consolidação do cooperativismo solidário, a atualização dos
membros nas questões técnicas das atividades e nas questões relacionadas à formação individual,
desde a simples alfabetização até cursos de gestão administrativa e ambiental. As visitas técnicas
das comunidades locais levariam informações in loco dessas atividades de saneamento, dentre
outras correlatas. As plataformas educativas e a sala informatizada do CISSA possibilitariam as
participações, destes diversos grupos, em cursos e palestras ministradas a distância, diminuindo os
custos da informação e a própria desinformação.

APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE REDE REGIONAL DE RECICLAGEM

O esquema de funcionamento do modelo proposto para a rede regional de reciclagem do


polo local de Presidente Venceslau é apresentado na Figura 3.
Resíduos Sólidos Urbanos - 161

Figura 3 – Esquema de operação do polo local de Presidente Venceslau.

Fonte: Organização dos autores.

Tomando-se como exemplo esse polo, verifica-se que o município teria a estrutura de um
CISSA local e receberia os resíduos recicláveis do próprio município, juntamente com os dos
municípios de Marabá Paulista, Piquerobi, Ribeirão dos Índios e Santo Anastácio.
Os quatro municípios ligados ao polo local possuiriam uma estrutura para o acúmulo e
transbordo dos resíduos, que também poderia funcionar como um ponto de entrega voluntária de
resíduos recicláveis.
Na Tabela 1 apresenta-se a população estimada, em 2014, nos municípios englobados no polo
local de Presidente Venceslau, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); os
dados referentes à geração diária de resíduos sólidos urbanos no ano de 2014, apresentados no
Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos de 2014 da Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB, 2015); e a estimativa da geração per capita de RSU nos municípios do polo local.
162

Tabela 1 – Resíduos sólidos urbanos no polo local de Presidente Venceslau.

População estimada Geração de RSU


Município Geração de RSU (t/dia)
em 2014 (hab.) (kg/hab.dia)
Presidente Venceslau 39.337 30,11 0,76
Santo Anastácio 21.051 13,73 0,65
Piquerobi 3.672 1,94 0,53
Marabá Paulista 5.345 1,67 0,31
Ribeirão dos Índios 2.247 1,33 0,59

Fonte: Organização dos autores.

Observa-se que os municípios do polo local com maior número de habitantes, Presidente
Venceslau e Santo Anastácio, tiveram as maiores taxas de geração per capita de resíduos sólidos
urbanos, 0,76 e 0,65 kg/hab.dia, respectivamente. Esses valores foram inferiores aos da geração per
capita de RSU no Brasil em 2014, que foi de 1,062 kg/hab.dia (ABRELPE, 2015).
Os demais municípios do polo local com porte semelhante em termos populacionais,
Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios, tiveram uma geração per capita abaixo da média
nacional e dos outros municípios do polo local. Destaca-se o município de Marabá Paulista, que
apresentou uma geração per capita bastante reduzida de RSU de 0,31 kg/hab.dia.
Campos aponta que:

A geração per capita e a caracterização dos resíduos sólidos está relacionada com o
desenvolvimento econômico, o poder aquisitivo e o consumo de uma população. Famílias
mais abastadas, cidades maiores e países mais ricos apresentam indicadores de geração per
capita de resíduos sólidos superiores às famílias mais pobres, cidades menores e países em
desenvolvimento. Tem havido em vários países desenvolvidos uma preocupação crescente
com a redução da geração per capita dos resíduos ou a sua estabilização com metas e
instrumentos econômicos implantados. No entanto, o alcance da redução da geração per
capita de resíduos sólidos depende de uma série de fatores que poderão permitir uma
mudança mais significativa nos atuais padrões de produção e consumo e surtir os efeitos
desejados. (CAMPOS, 2012, p. 178).

Outro elemento importante no modelo proposto para a rede regional de reciclagem é


referente aos RSU recicláveis. Dessa forma, considerando-se que a coleta per capita de RSU de 0,74
kg/hab.dia para municípios pequenos (população menor que cem mil habitantes) e que a coleta
seletiva é 2,4% da coleta regular (IPEA, 2010) foi elaborada a Tabela 2.
Resíduos Sólidos Urbanos - 163

Tabela 2 – Resíduos sólidos urbanos recicláveis no polo local de Presidente Venceslau.

População estimada em Coleta regular Coleta seletiva


Município
2014 (hab.) estimada (t/ano) estimada (t/ano)
Presidente Venceslau 39.337 10.624,9 255,0
Santo Anastácio 21.051 5.685,9 136,5
Piquerobi 3.672 991,8 23,8
Marabá Paulista 5.345 1.443,7 34,6
Ribeirão dos Índios 2.247 606,9 14,6

Fonte: Organização dos autores.

A coleta seletiva estimada no país ainda é muito incipiente, com baixas quantidades de
materiais efetivamente encaminhadas para a reciclagem. No caso do polo local estudado, a situação
também se verifica. Observa-se na Tabela 2 que os municípios com maior potencial de geração de
materiais recicláveis são Presidente Venceslau e Santo Anastácio.
A Tabela 3 foi elaborada determinando-se o número de catadores necessários para as
atividades de reciclagem nos CISSAs dos municípios do polo de Presidente Venceslau. A estimativa
foi feita adotando-se os dados do IPEA (2010), que classifica a produtividade das cooperativas em
alta e média eficiência (maior eficiência = cerca de 1.800 kg por catador/mês), média e baixa
eficiência (eficiência mediana = aproximadamente 1.100 kg por catador/mês) e baixa e baixíssima
eficiência (menor eficiência = cerca de 550 kg por catador/mês). Na Tabela 3 foram considerados os
três cenários em que a produtividade baixa e baixíssima é esperada no momento de implantação
da Rede, mas prevê-se uma evolução temporal na gestão dos RSU recicláveis dos municípios,
decorrente da melhoria em infraestrutura e capacitações, permitindo a obtenção de cooperativas
de alta e média eficiência.
164

Tabela 3 – Estimativa de catadores no polo local de Presidente Venceslau.

RSU recicláveis Número de Número de


Número de
encaminha-dos catadores catadores
Município catadores (maior
para os CISSAs (eficiência (menor
eficiência)
(kg/mês) mediana) eficiência)
Presidente Venceslau 21.250 39 19 12
Santo Anastácio 11.375 21 10 6
Piquerobi 1.983,3 4 2 1
Marabá Paulista 2.883,3 5 3 2
Ribeirão dos Índios 1.216,7 2 1 1

Fonte: Organização dos Autores.

Em termos de Educação Ambiental, no CISSA municipal de Santo Anastácio poderia haver uma
pequena sala para os processos e arquivos administrativos, uma pequena sala de atividades (aulas,
cursos e outras), banheiros acessíveis e cozinha/refeitório para a potencial cooperativa. O CISSA local,
de Presidente Venceslau, abrigaria salas maiores e espaços externos para as atividades de seus
cooperados (eventualmente, receberia os cooperados de Santo Anastácio e poderia abrigar os
catadores de Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios, que não conseguissem montar suas
cooperativas nesses municípios por falta de pessoas) e receberia as crianças e adultos dos cinco
municípios que visitariam e/ou receberiam informações sobre o tema nessas dependências.
Por fim, essa estrutura de polos se repetiria oito vezes na região, reforçando-se que o polo
de Presidente Prudente, além de ser considerado polo local para os municípios satélites, foi
considerado no modelo como sendo polo regional para todo o conjunto e isso implica maior
estrutura física necessária neste polo regional e maiores responsabilidades administrativas,
principalmente no que se refere à comercialização de alguns produtos e na educação ambiental,
quando for necessária uma mobilização em maior escala.
Dentro da perspectiva da Rede Regional de Reciclagem, entende-se como procedimento
necessário a firmação de contratos entre cooperativas e administração municipal, nos quais os
direitos e deveres de cada agente estejam bem claros e que as metas, as estratégias e as ações
estejam não somente contempladas, como quantificadas com seus devidos indicadores de
qualidade para que o correto saneamento ambiental também seja alcançado.
Tais cooperativas devem ser formadas localmente nos municípios com os atuais profissionais
da atividade, porque a estruturação de uma coleta seletiva e os demais tópicos da gestão de
resíduos sólidos recicláveis deve afetar sobremaneira a atividade informal de catação. Quando não
houver número suficiente de cooperados para a formação de uma cooperativa, entende-se que os
Resíduos Sólidos Urbanos - 165

resíduos do município devam ser coletados localmente, mas processados no polo local e,
consequentemente, os catadores poderiam ser incluídos nesta cooperativa local. Por exemplo, os
catadores dos municípios de Piquerobi, Marabá Paulista e Ribeirão dos Índios poderiam aderir às
cooperativas de Presidente Venceslau ou de Santo Anastácio.
Entende-se, também, que as coletas seletivas municipais devem ter a participação e a
coordenação da cooperativa, mesmo quando o modelo de contrato imputa a responsabilidade
logística para a gestão municipal, visando, em primeiro lugar, a criar e desenvolver uma conexão
entre agentes saneadores (catadores e prefeitura) e os cidadãos, fazendo com que estes últimos
entendam melhor seus papéis na atividade e todo o viés social. Em segundo lugar, a cooperativa
necessita ter o controle da coleta para não haver distorções entre o material coletado e o material
que chega aos CISSAs.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme discutido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estimula os municípios a optarem,


cada vez mais, por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos,
identificando as possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhadas com outros
municípios, além de estimular a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda.
Nessa perspectiva, a proposição de um modelo de rede regional de reciclagem para o oeste
paulista se alinha aos preceitos estabelecidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos, podendo
colaborar com ações semelhantes em outras regiões do país.
No modelo proposto, foram criados três níveis flexíveis de CISSAs (municipal, local e regional)
para atendimento das questões administrativas, de recebimento, triagem, processamento e
comercialização dos materiais recicláveis, e de atividades relacionadas com a Educação Ambiental.
Os municípios devem apoiar a construção dos CISSAs e o desenvolvimento das atividades
nesses locais, viabilizando áreas para instalação da infraestrutura necessária, uma vez que são
responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.
O modelo proposto demanda projetos estruturais adequados para as atividades desenvolvidas,
coerentes com os melhores modelos de construção civil. Devem existir espaços de aprendizagem, para
a administração do trabalho e de interação com o mercado de trabalho local e regional.
166

As cooperativas e associações, ao atuarem de forma isolada na comercialização dos


materiais recicláveis, apresentam pouco potencial de comercialização direta. Todavia, atuando em
rede, as associações podem obter uma agregação de valor aos materiais recicláveis. Dessa forma, a
rede regional de reciclagem do oeste paulista poderá negociar melhores preços para os materiais
recicláveis, comercializar diretamente com as indústrias de reciclagem, retirando a figura dos
atravessadores, capacitar as cooperativas/associações para agregar valor aos produtos e melhorar
a qualidade dos processos. A inclusão de atividades de pós-processamento, isto é, atividades de
limpeza, trituração ou alguns beneficiamentos dos resíduos reciclados in natura, pode agregar valor
sem tanto aumento da complexidade do trabalho.
A organização de Redes Regionais, por fim, deve estruturar o trabalho de coleta e triagem e
qualificar o saneamento ambiental no âmbito dos resíduos sólidos recicláveis, ao mesmo tempo que
capacita e forma cidadãos, trabalhadores oriundos de lixões, das ruas e de outras situações de
fragilidade, conscientes e empoderados do valor de seu trabalho e de seu pertencimento à sociedade.

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