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CORREDORES E SUBÁREAS - 1
CORREDORES E SUBÁREAS
COMO ESTUDAR A FORMA E PROJETAR A CIDADE
SEGUNDA EDIÇÃO
2021
2
EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
www.editoraanap.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br
Ficha Catalográfica
P Profa. Dra. Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR
Prof. Dr. Alessandro dos Santos Pin – UNICERRADO Prof. Dr. João Paulo Peres Bezerra – UFFS
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva – IFAC – AC Prof. Dr. Jose Mariano Caccia Gouveia – FCT/UNESP
Prof. Dr. Alexandre Gonçalves – Centro Univ. IMEPAC Profa. Dra. Josinês Barbosa Rabelo – ASCES – UNITA
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM Profa. Dra. Jovanka Baracuhy Cavalcanti – UFPB
Prof. Dr. Alfredo Z. Dominguez Gonzalez – UNEMAT Profa. Dra. Juliana de Oliveira Vicentini – USP – Piracicaba
Profa. Dra. Alzilene Ferreira da Silva – UFRN Profa. Dra. Juliana H. Pinê Américo-Pinheiro – Univ. Brasil
Profa. Dra. Ana Klaudia de A. Viana Perdigão – UFPA Profa. Dra. Karin Schwabe Meneguetti – UEM
Profa. Dra. Ana Paula Branco do Nascimento – USJT Prof. Dr. Kleso Silva Franco Junior
Profa. Dra. Ana Paula Novais Pires Koga – UFCAT Profa. Dra. Larissa Fernanda Vieira Martins
Profa. Dra. Andréa Ap. Zacharias – UNESP – Ourinhos Prof. Dr. Leandro Gaffo – UFSB
Profa. Dra. Andréa Holz Pfützenreuter – UFSC Profa. Dra. Leda Correia Pedro Miyazaki – UFU
Prof. Dr. Antonio Carlos Pries Devide – APTA/SP Profa. Dra. Leonice D. dos Santos C. Lima – Univ. Brasil
Prof. Dr. Antonio Cezar Leal – FCT/UNESP Profa. Dra. Ligiane Aparecida Florentino – UNIFENAS
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM Profa. Dra. Luciane Lobato Sobral – UEPA
Prof. Dr. Antonio Pasqualetto – PUC – GO Prof. Dr. Luiz Fernando Gouvea e Silva – UFJ – GO
Prof. Dr. Antonio Soukef Júnior – UNIVAG Prof. Dr. Marcelo Campos – FCE/UNESP/Tupã
Prof. Dr. Arlete Maria Francisco – FCT/UNESP Prof. Dr. Marcelo Real Prado – UTFPR
Profa. Dra. Bruna Angela Branchi – PUC Campinas Prof. Dr. Márcio Rogério Pontes
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada – UPM/SP Prof. Dr. Marcos de Oliveira Valin Jr – IFMT – Cuiabá
Prof. Dr. Carlos Eduardo Fortes Gonzalez – UTFPR Profa. Dra. Maria Ângela Dias – FAU/UFRJ
Profa. Dra. Cássia Maria Bonifácio – UEM Profa. Dra. Maria Augusta Justi Pisani – UPM – SP
Prof. Dr. Celso Maran de Oliveira – UFSCar Profa. Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG – PB
Prof. Dr. César Gustavo da R. Lima – UNESP – Ilha Solteira Profa. Dra. Nádia V. do Nascimento Martins – UEPA
Profa. Dra. Cibele Roberta Sugahara – PUC/Campinas Prof. Dr. Natalino Perovano Filho – UESB – BH
Prof. Dr. Claudiomir Silva Santos – IFSULDEMINAS Prof. Dr. Paulo Alves de Melo – UFPA
Prof. Dr. Daniel Richard Sant'Ana – UnB/ICC Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP
Profa. Dra. Daniela P. Traficante – FCA/UNESP/Botucatu Profa. Dra. Rachel Lopes Queiroz Chacur – UNIFESP
Profa. Dra. Danila F. Rodrigues Frias – Universidade Brasil Profa. Dra. Renata Franceschet Goettems – UFFS
Prof. Dr. Darllan C. da Cunha e Silva – UNESP – Sorocaba Profa. Dra. Renata Morandi Lóra
Profa. Dra. Dayse Marinho Martins – IEMA Profa. Dra. Renata R. de Araújo – FCT/UNESP
Profa. Dra. Edilene M. Murashita Takenaka – FATEC Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UFRGS
Prof. Dr. Edson L. Ribeiro – Ministério do Desenvolv. Regional Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara – UFSCar
Prof. Dr. Eduardo Salinas Chávez – UFMS – Três Lagoas Profa. Dra. Rita Denize de Oliveira – UFPA
Prof. Dr. Eduardo Vignoto Fernandes – UFG/GO Prof. Dr. Rodrigo Barchi – Univ. Ibirapuera – UNIB
Profa. Dra. Eleana Patta Flain – UFMS – Naviraí Prof. Dr. Ronald F. Albuquerque Vasconcelos – UFPE
Profa. Dra. Eliana Corrêa Aguirre de Mattos Profa. Dra. Roselene Maria Schneider – UFMT/Sinop
Profa. Dra. Eloisa Carvalho de Araújo – PPGAU/ EAU/UFF Profa. Dra. Rosío F. Baca Salcedo – UNESP – Bauru
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar Prof. Dr. Salvador Carpi Junior – UNICAMP
Profa. Dra. Eva F. da Fonseca de Moura Barbosa – UEMS Prof. Profa. Dra. Sandra M. Alves da Silva Neves – UNEMAT
Dr. Fernando S. Okimoto – FCT/UNESP Prof. Dr. Sérgio Luís de Carvalho – UNESP – Ilha Solteira
Profa. Dra. Flavia Rebelo Mochel – UFMA Profa. Dra. Thais Guarda Prado Avancini
Prof. Dr. Frederico Braida – UFJF Profa. Dra. Vera L. Freitas Marinho – UEMS/ C. Grande
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai – UFSCar Prof. Dr. Vitor C. de Mattos Barretto – UNESP/Dracena
Prof. Dr. Gabriel L. Bonora Vidrih Ferreira – UEMS Prof. Dr. Wagner de Souza Rezende – UFG
Prof. Dr. Gilivã Antonio Fridrich – UNC Profa. Dra. Yanayne Benetti Barbosa
Prof. Dr. Joao Adalberto Campato Jr – Universidade Brasil
Prof. Dr. João Candido André da Silva Neto – UFAM
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CORREDORES E SUBÁREAS - 5
Agradecimentos
À memória do meu pai, arquiteto, me motivou para a profissão e aprendi muito com ele!
À memória do amigo, arquiteto Joaquim Manoel Guedes Sobrinho; ele me ensinou a
repensar aquilo que se apresenta como óbvio. Foram momentos juntos, na graduação e na
pós, tempo em que na FAUUSP os alunos eram inspirados pela ‘escola paulista’.
Ao arquiteto-professor Gastão Santos Sales, pela amizade de nossas famílias! A troca de
ideias sobre planejamento e projeto urbano, parceria na busca de temas para trabalhos dos
alunos; seu auxílio para melhorar os diagramas que faço à mão e ele os enriquece aplicando
o seu talento através dos meios digitais.
À arquiteta-professora Maria Isabel Imbronito, por nossa amizade! Parceira na condução
de projetos, orientar grupos de pesquisa, nas visitas com alunos para conhecer trechos da
cidade e escrevermos juntos quando o assunto interessa aos dois.
Não dá para esquecer o amigo, arquiteto-professor Eugênio Fernandes Queiroga; ele nunca
me levou muito a sério e às vezes diz ‘você sempre aparece com alguma coisa diferente’.
Desde a PUCCAMP até hoje na FAUUSP admiro seu conhecimento e seriedade.
Foi importante compartilharmos aulas de urbanismo e me tornar amigo do arquiteto-
professor Fábio Mariz Gonçalves, grande desenhista, idealizador de espaços da cidade para
um dia se tornarem lugares.
Foi muito importante o estímulo recebido de tantos outros colegas, na Universidade de
Brasília; Universidade de São Paulo, na PUC-Campinas e Universidade São Judas Tadeu;
nesta, o carinho dos colegas do programa de pós-graduação.
Lembro da colaboração de profissionais, ainda estudantes, que apoiaram a ideia dos
corredores e subáreas; Paulo Eduardo B. Gonçalves, Adriana I. de Lima, Jéssica C. G.
Lorellay, Fernanda C. de Souza, Amanda Chyoshi e o Fábio C.N. Martins.
Agradeço o apoio da arquiteta-geógrafa e advogada Sandra Medina Benini, presidente da
ANAP que me estimulou e orientou para a produção deste livro.
SUMÁRIO
PRÓLOGO .......................................................................................................... 11
PREFÁCIO .......................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 19
CAPÍTULO 1
Espaço físico, o suporte das atividades humanas ............................................. 23
CAPÍTULO 2
Forma urbana: o conceito de corredor e subárea ............................................. 39
CAPÍTULO 3
Setores e subsetores da cidade ......................................................................... 61
CAPÍTULO 4
Quadras, lotes e edifícios .................................................................................. 87
CAPÍTULO 5
O traçado em retícula ....................................................................................... 115
CAPÍTULO 6
Os grandes conjuntos habitacionais e o declínio do Moderno ......................... 141
CAPÍTULO 7
A persistência da retícula ortogonal ................................................................. 153
CAPÍTULO 8
Brasil, São Paulo e as retículas ortogonais ........................................................ 163
CAPÍTULO 9
As quadras do Bairro Jardim em Santo André, SP ............................................. 167
CONCLUSÃO
Entenda a trama da cidade para projetar suas partes ...................................... 179
PRÓLOGO
Para formular programas e fornecer um caminho para o projeto urbano em trabalhos dos
alunos do sétimo e oitavo semestre de Arquitetura e Urbanismo na Pontifícia Universidade
Católica de Campinas ao final dos anos 1990 e na Universidade São Judas Tadeu de 2010
em diante, chegamos ao procedimento dos corredores e subáreas. Foi o resultado de um
longo período de maturação pois, no entremeio desses trinta anos - agora estamos em
2020 - assumimos uma disciplina de projeto de arquitetura das edificações na Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, que junto aos demais
compromissos como profissional arquiteto, nos desviou do foco de projeto na escala da
cidade. Antes de 1990 foi essencial para nossa formação ter passado pelo Urban Design
Program da Graduate School of Architecture, Harvard University (1975-77) onde tratamos
de reunir a prática do urban design com conhecimentos de análise morfológica aplicada ao
estudo da forma da cidade e a seu projeto. Nos anos 1980, como aluno de doutorado da
Universidade de São Paulo e a bolsa de um ano para a Bartlett School of Architecture em
Londres, se abriu uma oportunidade para estudar os projetos de implantação das novas
universidades inglesas, fundadas e construídas nos anos 1960, naquela época com cerca de
vinte anos da sua inauguração. Elas foram em maioria implantadas junto a cidades novas
ou a cidades históricas; pensadas para fomentar a atração pelos sítios históricos e
aproveitar os alojamentos de estudantes, que poderiam ser alugados para turistas se
aproveitando do esvaziamento dos dormitórios na temporada de férias. Estes campi para
novas universidades foram projetados por escritórios ingleses de renome, e conhecê-los
foi muito importante para a minha tese de doutorado.
A lembrança desses acontecimentos destaca o quanto a experiência profissional e a
acadêmica se interligam para dar suporte a conceitos e processos relacionados à forma e
ao projeto da cidade. O procedimento dos corredores e subáreas ora apresentados, se por
um lado é bom para a análise da forma urbana pelo viés teórico que pode ser ampliado, de
outro, serve como um procedimento para trabalhos profissionais em arquitetura e
urbanismo. Para tanto se somou à minha experiência a opinião experimentada e o estímulo
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PREFÁCIO
Dentre as falas recorrentes do professor Adilson Macedo, escolhemos duas que nos
auxiliam nesta apresentação: “o arquiteto precisa andar a pé na cidade” e “o arquiteto é
aquele que projeta os espaços”.
Da primeira, poderíamos nos remeter ao prazer de explorar ruas e bairros, que vem aqui
acompanhado de uma postura investigativa. Em pequenos grupos de estudo, com mapas
na mão, percorrem-se calçadas e frentes públicas, moradias, fábricas e comércios,
conjuntos urbanos, favelas e condomínios, vielas e grandes avenidas. Diferentes tecidos
urbanos, com suas características espaciais, de vitalidade e de uso, proporcionam
diferentes experiências. Mas andar a pé, para o professor Macedo, além de descobrir
lugares, implica reconhecê-los e relacioná-los a procedimentos mentais de análise e
projeto, e recolher elementos da estruturação, da vivência e do caráter dos espaços para,
em seguida, acioná-los junto a propostas urbanas.
O pensamento do professor Adilson Macedo também incluiu, nas últimas décadas, temas
ligados à qualidade do ambiente construído e ao desenho voltado a um desenvolvimento
sustentável e equilibrado, cuja agenda foi por ele organicamente incorporada aos
processos de pensar o desenho urbano e que, hoje, se tornam parte fundamental das suas
preocupações.
Na base de todo este pensamento, contudo, o professor insiste no estudo dos elementos
urbanos como fundamento analítico para a compreensão das áreas de projeto. Com uma
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visão sistemática da forma, fornecida pela Morfologia Urbana, e na busca por compreender
relações subjacentes que fundamentem o projeto, o professor Adilson Macedo ampliou o
leque dos conceitos clássicos adotados pelos autores consagrados neste campo de
conhecimento (rua, quadra, lote, edifício, malha, traçado). O que se apresenta neste livro
resulta de longa reflexão sobre como se aproximar da problemática da forma urbana e
desvendar as estruturas que relacionam os elementos e as áreas urbanas entre si. Do
aprofundamento metodológico, aperfeiçoado em sala de aula da Graduação e em
pesquisas na Pós-Graduação, destaca-se a estratégia depurada pelo professor para
entendimento da forma urbana que chamou de Corredores e Subáreas.
Este livro, há tempos, existiu como um projeto, no qual o professor Macedo pretendia
expor essa contribuição ao pensamento sobre a cidade. Ele costuma dizer que primeiro
esboçou a abordagem dos Corredores e Subáreas no projeto para Barão Geraldo, em
Campinas, desenvolvido na década de 1990 em convênio entre a PUC-Campinas, a Unicamp
e a Prefeitura de Campinas. A área foi objeto dos estúdios de urbanismo no Curso de
Graduação da PUC-Campinas, enfrentada junto aos estudantes com a colaboração de
diversos colegas docentes. Portanto, na ocasião do desenvolvimento do plano para Barão
Geraldo, já havia certo conhecimento acumulado sobre a área devido aos inúmeros
trabalhos de campo. Foi durante este projeto que uma visão acerca da forma urbana,
subdividida por partes, tomou corpo: o percurso do projeto de Barão Geraldo traçou
também o método de Corredores e Subáreas.
Em Corredores e Subáreas, o papel relativo das partes do tecido urbano não é definido por
um aspecto isolado – o uso, o traçado, o arcabouço físico. Quanto aos Corredores, pesa-
lhes, em grande medida, um trajeto-base, elemento vital no espaço urbano que pode vir a
ser ou não uma via de fluxo. Contudo, este eixo-trajeto deve ser compreendido apenas
quando associado aos atributos que o constituem. A compreensão plena do conceito de
Corredor tem nuances: i) como parte de uma rede: que pontos conecta, que acessos e
fluxos permitem, que infraestruturas/elementos naturais carrega consigo, que tipo de
ligação e de barreira proporciona; ii) enquanto meio: como se comporta, como se utiliza,
quais suas oscilações; iii) enquanto espaço: como se caracteriza, que elementos o
compõem - calhas, infraestruturas, espaços livres, lotes e edifícios lindeiros, frentes
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As regiões que se formam entre os Corredores são as Subáreas. Estas são acessadas,
alimentadas e drenadas pelos Corredores, estabelecendo com eles uma relação
indissociável. Mas sua condição de não-passagem determina outros ritmos e vocações. O
entendimento da Subárea como um ente é um interessante recurso para pensar a
qualidade de vida nestas porções do território e para sugerir propostas de projetos urbanos
que busquem sua melhoria, manutenção ou transformação.
Assim, Corredores e Subáreas são subsistemas que ocorrem nas cidades e cuja existência
convém reconhecer, pois os mesmos podem ser reforçados ou desmantelados pela ação
de planejamento. Identificar estes elementos no tecido urbano ou, conforme as palavras
do professor, compreender a cidade por partes para a ação do projeto, é a finalidade deste
método.
Universidade São Judas Tadeu, tornando-se uma prática constante nos estudos realizados
nesta disciplina. Também na Pós-Graduação e em pesquisas de Iniciação Científica foram
enfrentadas diferentes áreas com o objetivo de verificar sua validação.
Assim, com empenho no campo da pesquisa e sempre visando uma aplicação prática em
projeto, o professor Adilson Macedo publica suas considerações sobre o método dos
Corredores e Subáreas e outros ensinamentos neste livro, e nos deixa sua valiosa
contribuição para o tema do projeto urbano e da leitura da cidade.
INTRODUÇÃO
Do cotidiano de viver e observar como o espaço físico se comporta face ao modo como é
utilizado; de um procedimento sem apego a cientificidade no sentido de buscar apoio em
diversos autores; passamos a considerar como as vias que atravessam trechos grandes da
cidade delimitam setores, e, quando se somam a elas as faixas lindeiras de lotes, o sistema
como um todo constituirá um corredor. Corredores que se interceptam de uma maneira
orgânica, como células deixando um miolo, núcleo este que chamamos de subárea. Este
entendimento será ampliado e mais bem descrito no correr do texto como um processo
caracterizado por deduções sucessivas; ou, uma atitude investigativa aplicada sobre as vias,
quadras, lotes e edifícios - VQLE - que constituem os elementos primordiais do tecido
urbano.
Adotamos um setor para estudo localizado no distrito da Mooca, São Paulo; vizinho ao
Centro pelo quadrante Leste, típico das transformações que o tecido da cidade vem
sofrendo. E, para associar argumentos de reforço às nossas ideias sobre a forma urbana,
recorremos a informações bibliográficas no campo da morfologia e do projeto urbano.
Agora exposto de maneira sucinta, este será o assunto central da nossa investigação, na
procura de elucidar quais são os procedimentos para identificar um setor, caracterizar os
corredores, as subáreas e os elementos básicos que desenham a forma da cidade. Trata-se
igualmente da persistência histórica do traçado ortogonal das quadras e a sua relação com
a forma orgânica da cidade que cresce enfrentando declives e aclives, sujeita ao
parcelamento do solo e à vontade ou às possibilidades das pessoas, quanto a seus
interesses de proprietários da terra. A descoberta desse procedimento de análise da forma
nos motivou a tratar do ideário do espaço, da mobilidade e dos tipos construídos da cidade
como elementos físicos e daí vem uma aproximação com o campo da morfologia urbana.
Vivemos em um mundo onde o conhecimento tende a ser transdisciplinar, e residimos em
um país de desigualdades sociais, fato que se reflete na qualidade dos espaços urbanos.
Por justas razões se explica porque tantos colegas sensíveis a tais questões, se dedicam à
disciplina de planejamento urbano e regional, que tem a multidisciplinaridade como
característica fundamental, onde o arquiteto pode explorar sua sensibilidade e motivação
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O primeiro capítulo se inicia pelas palavras frequentes em nosso trabalho diário e utilizadas
para expressar os elementos componentes da forma urbana; por exemplo: corredor,
subárea, barreira, área protegida, além de outros familiares no campo do urbanismo. A
elucidação de algumas palavras ou expressões, por exemplo, ‘área protegida’, acontecerá
conforme o texto evoluir.
O capítulo 2 - conceito de corredor e de subárea - trata do estudo da forma da cidade pelo
referencial teórico e a experiência de observar os elementos urbanos: via-V; quadra-Q;
lote-L e edifício-E, como espaço físico. Aos elementos VQLE se acrescentam dois
componentes, o corredor - C e a subárea - S, cuja configuração física decorre dos quatro
outros.
No capítulo 3 são tratados os conceitos de setor e subsetor, como eles são considerados
neste modo proposto de estudar a cidade. Sua importância se refere à divisão que fazemos
da cidade por partes, por princípio não tendo que coincidir com os limites oficiais,
fornecidos pelo órgão de planejamento urbano municipal.
O capítulo 4 faz referência às vias locais, às quadras, aos lotes e edifícios. O conceito
adotado sobre os elementos urbanos é aplicado ao espaço do distrito da Mooca, um tecido
tradicional da cidade. A investigação se fez com apoio em três subsetores, selecionados
para explorar as características de cada elemento e nos levou a verificação que as quadras
e os lotes dos subsetores da malha tradicional são bastante flexíveis quanto a possibilidades
de rearranjo dos lotes e a substituição das edificações neles existentes por outras
contemporâneas, seja por intervenções parciais ou pela alteração de até uma quadra
inteira, no caso dos condomínios fechados.
Nos quatro capítulos iniciais se procura estabelecer os fundamentos da análise da cidade
através dos corredores e subáreas, aplicado a um setor de tecido tradicional, o distrito da
Mooca. Em paralelo se experimentou o procedimento ao selecionar temas para o trabalho
dos alunos, compatíveis com os pressupostos da pesquisa em andamento e no contexto do
programa de iniciação científica e de mestrado da Universidade São Judas Tadeu. Isto nos
deu a chance de estudar partes do tecido da cidade, junto com os alunos e colegas
parceiros, no desenvolvimento da disciplina de graduação. São oportunidades que vimos
tendo para conhecer a cidade e observar o tipo de quadra que chamamos de tradicional,
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Refletir sobre o espaço natural e o transformado, o chão onde se vive e se convive no campo
e na cidade, onde se constroem os abrigos para atividades das pessoas e se erguem
monumentos, se faz necessário para explicar o procedimento de análise através dos
corredores e subáreas. Desenvolvem-se conceitos e a verificação deles amplia o
entendimento sobre o espaço físico, gera um referencial de tipos para o projeto urbano.
Na cidade existente acontece uma adição ou substituição de tipos construídos, mas, por
princípio se considera para estudo o espaço físico encontrado hoje. Eles resultaram da
paisagem natural, rural e urbana modificadas pela ação humana no decorrer do tempo. Nas
cidades se encontram incontáveis tipos de espaços estabelecidos para atender as
necessidades das pessoas, livres ou construídos, subdivididos e organizados por agentes
controladores como o testemunho de programas urbanísticos e arquitetônicos
representativos da história de cada lugar. A questão do controle influi nas opções para
novas demandas por espaços no tempo, sendo uma noção importante, bem definida pelo
arquiteto-professor N. J. Habraken, no livro The structure of the ordinary, publicado no ano
de 1998. São suas estas palavras traduzidas do idioma inglês:
No texto do professor importa a ideia de considerar ‘as partes materiais que representam
os agentes que agem sobre elas’. O que vem de encontro ao estudo do espaço por partes
como fazemos, através do conhecimento do arcabouço físico de setores da cidade,
esperando assim contribuir para o elenco da multidisciplinaridade formada em conjunto
com os demais saberes interessados nos estudos de Urbanismo.
Nosso chão, natural ou urbanizado, o território, o espaço físico que tentamos compreender
se encontra no município de São Paulo e na sua região metropolitana. Aspecto que interage
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com a compreensão dos tecidos urbanos e a tipologia, sendo referência a linha de pesquisa
inaugurada pelo geógrafo-professor Michael R.G. Conzen, que nos anos 1930 iniciou o
estudo de parcelas selecionadas do tecido urbano da cidade de Alnwick, na Inglaterra.
Desde então se formou um grupo de profissionais ingleses e alemães precursores do que
evoluiu sob o título de morfologia urbana. Conzen é a nossa referência histórica e hoje a
multidisciplinaridade aponta para outros campos do conhecimento a que também tratam
das cidades além da geografia e a história; como a cartografia, sociologia, economia,
política, engenharia, arqueologia, estatística, biologia, ecologia e psicologia, entre outras.
Elas cumprem os seus propósitos e ampliam os estudos urbanos materializados pela
arquitetura como a arte de construir, que gera a espacialidade para os universos multi e
transdisciplinar (CONZEN, 1969).
O pensar e o fazer em arquitetura são aqui direcionados para o estudo dos tipos de
elementos urbanos encontrados em contextos diversos. Destarte, junto às outras
disciplinas a contribuição da Arquitetura da Cidade está em estudar os tipos físicos de apoio
aos demais conhecimentos que completam o painel da dinâmica social. Segundo esta ótica,
a nossa investigação se utilizou desde o início de um repertório livre para nominar os
vocábulos empregados, mas, ao redigir se observou que nos confundimos com seus
significados e a força com que a semântica das palavras varia entre as áreas de
conhecimento. Assim, veio o interesse de especular sobre qual seria um vocabulário
adequado ao estudo do espaço através de sua forma física, decorrente de projetos
desenhados no passado e aqueles do tempo presente. Foram selecionadas algumas
palavras e se procurou o melhor sentido delas, o que melhor se adequasse ao estudo do
espaço físico e outras que poderiam ser evitadas, devido a possível má compreensão
quanto ao seu significado. Desta forma são apresentadas as palavras que se tornaram
usuais em nossos textos e algumas outras que procuramos evitar, apesar de serem
sugestivas e frequentes sobre questões afeitas ao urbanismo.
Para validar o significado de palavras ou expressões aqui adotadas apresentamos as que na
linguagem corrente se identificam com a análise da configuração física da cidade. Iniciamos
pelas já citadas - parágrafos acima - e se espera que as explicações facilitem o leitor, em
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particular quanto aos conceitos de via, corredor, subárea e suporte físico, no modo que
empregamos os vocábulos.
A expressão ‘estrutura urbana’ procuramos usar pouco em nossos escritos, pois é natural
entendê-la no sentido da tensão social, política e econômica relativa à ocupação do espaço
pelas pessoas e nosso propósito se prende às características em si dos espaços.
Via: As vias estão entre os principais elementos que contribuem para a análise do espaço
físico, rural e urbano. Sempre presentes e imbricadas aos elementos da paisagem são as
faixas por onde as pessoas e as cargas circulam na cidade e no campo. Para efeito de análise
da forma da cidade através dos corredores e subáreas e para sua aplicação nos projetos
urbanos classificamos as vias em três tipos: vias que atravessam, vias que distribuem e vias
locais. As vias que atravessam são as que perfazem grandes trajetos como as rodovias e as
vias que cortam setores da cidade. Elas têm características próprias em relação a
quantidade de faixas de rolamento (largura, tráfego de veículos, pavimentação), canteiros,
iluminação, vegetação, sinalização e tipos de veículos que por elas circulam; para
construção requerem uma engenharia especializada. As vias que distribuem como o nome
sugere, fazem as ligações dentro de um setor; modo geral ligam duas vias que atravessam
e quando se tratar de um setor pequeno, nesta escala poderão interagir como se fossem
vias que atravessam, para efeito de estudo. As vias locais saem das que distribuem e levam
aos pontos de interesse da vizinhança. Todas elas têm fortes requisitos técnicos e a
interdisciplinaridade de seus traçados afeta em especial a arquitetura da cidade e a
engenharia, resultantes das etapas anteriores dos trabalhos relativos a planejamento,
plano e projeto urbano.
Quadra: No dicionário Houaiss há diversos significados para a palavra quadra: ‘estrofe que
contém quatro versos’; ‘uma quadra em jogos de cartas’, ‘distância da calçada entre duas
esquinas’, ‘quadrado’ e outros. Expressões que levam a pensar em uma forma ortogonal,
sem citar a quadra no contexto da malha urbana. Abre-se assim a liberdade para nossa
definição: ‘a quadra é uma fração do tecido urbano ladeada por vias compondo um
polígono regular ou não, com sua forma ajustada ao relevo do terreno onde esteja assente’.
O perímetro da quadra é definido pelo alinhamento dos lotes que faceiam a calçada e por
onde normalmente se dá o acesso a ele. O tamanho das quadras varia conforme o
propósito do loteador - responsável pelo primeiro traçado - quanto à dimensão dos lotes,
em atenção a propósitos de comercialização ou institucionais de interesse público ou
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privado, respeitada a legislação vigente. A quadra pode ser caracterizada por um único lote
voltado para as calçadas que fazem seu entorno, destinado a uma edificação especial
pública, privada ou ser toda ela uma praça pública.
Lote: O lote como fração de um processo de loteamento responde ao objetivo do primeiro
loteador da quadra. Define-se o pequeno lote idealizado em geral para uso residencial e os
lotes maiores para instituições, indústrias e diferentes formas de uso misto ou não. Em São
Paulo, como apoio à moradia operária próximo a plantas industriais, se costumava oferecer
lotes de até três e meio por vinte metros como modulação para casas em fileira e lotes
maiores de esquina. Também usual e mais razoável eram os lotes de dez metros de largura,
com a alternativa de serem repartidos em dois, chegando às construções no alinhamento
frontal do lote e mais tarde, por lei, haver o recuo de cinco metros de frente. Abriu-se uma
oportunidade para haver um jardim na frente das casas dos bairros residenciais, mas, isto
levou estes espaços a serem o lugar para o carro e de coberturas leves, contrárias à
qualidade ambiental do cômodo de frente, modo geral a sala de estar.
Edifício: os edifícios são construções implantadas em lotes da cidade e respondem a
programas arquitetônicos cuja demanda se originou do interesse de pessoas. Pode ser
representativo de um indivíduo, uma família, uma comunidade ou outro grupo social. Isto
vem seguindo uma longa linha de tempo representada pela história das nações. Os edifícios
representam a sociedade, os costumes destes tempos que ficaram para trás e do que
acontece hoje. No Brasil esta história é curta, quinhentos anos apenas, contados a partir
dos colonizadores portugueses - sem considerar a cultura indígena - em uma experiência
que aos poucos adquiriu um sentido local. Construíram-se edifícios e os programas para
eles se diversificaram, participam de espaços urbanos e os sítios de alguns deles, hoje em
dia são anotados como patrimônio histórico.
O processo para edificar as cidades e os edifícios passaram a ter regulamentos oficiais e
este é um belo tema da história. Importante, do qual vamos utilizar apenas o que está
presente ou muito evidente na configuração dos trechos da cidade que estudamos. São
diretrizes para recuos, gabaritos, coeficiente de aproveitamento do lote e taxa de ocupação
do terreno, tendo por referência o município de São Paulo.
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define-se como faixa de domínio a base física sobre a qual assenta uma
rodovia, constituída pelas pistas de rolamento, canteiros, obras-de-arte,
acostamentos, sinalização e faixa lateral de segurança, até o alinhamento
das cercas que separam a estrada dos imóveis marginais (DNIT, 2009, p.
11).
o privado. Na análise que fazemos do espaço físico se utilizam duas formas para se delimitar
um setor: pelo eixo das vias de contorno (sempre que existam) ou pelo alinhamento das
quadras em ambos os lados, deixando a via em separado. Considerar o sistema viário em
separado facilita o cálculo métrico da área das vias no setor e na cidade e permite aferir a
metragem efetiva das vias do setor em apreço. Facilita também para se aferir o quantitativo
de espaços públicos e privados dentro do quadro geral da distribuição de áreas por setor.
Na determinação dos setores importa se entender as vias que atravessam e as vias que
distribuem como o principal suporte da divisão da cidade em partes. Suporte no sentido
de organizar os corredores e subáreas até as menores partes. Suporte é nossa referência
para a explicação do traçado da cidade tradicional (São Paulo) por uma trama que gera os
corredores que atravessam e distribuem. As vias e mesmo os corredores a elas associados
criam um sistema de suportes. A ideia de suporte vem do professor Habraken que
recomenda aos projetistas de grandes conjuntos urbanos:
lindeira de lotes voltados para a via principal, a que define o corredor. Em seguida se
considera a faixa de lotes mais interna voltados para as vias que formam, ou têm potencial
para formar um anel de circulação interno. Ela tem a característica de ser uma via
aproximadamente paralela a via do corredor que forma um anel interno responsável pela
distribuição do fluxo motorizado para as vias locais. Entre a via do corredor e a distribuidora
interna existem as quadras que acompanham o anel, com a peculiaridade do renque de
lotes com frente para o corredor ter maior visibilidade pelos passantes, maior valorização
comercial e por isso procurados para atividades mistas em oposição ao outro voltado para
o anel interno onde o uso misto se houver, será mais rarefeito. A faixa de lotes internos em
setores centrais da cidade, pode ser atrativa tanto para comércio, serviços, residências ou
institucionais de porte menor que os do corredor e às vezes servir como entrada de serviço
para estacionamento dos estabelecimentos de grande porte instalados em um lote com
duas frentes (a do corredor e a da via traseira). Pode-se dizer que o anel de quadras
perimetrais do setor forma uma faixa de transição - buffer zone - protegendo o miolo, em
geral de predominância residencial: a ‘ilha de tranquilidade’ dita por alguns urbanistas. Este
tópico se relaciona ao potencial para desenvolvimento de lugares urbanos significativos e
será desenvolvido mais adiante.
Divisa: Disputas entre as nações, grupos sociais e indivíduos por territórios conduziram ao
estabelecimento de fronteiras separando os interesses dos agrupamentos humanos, ela
pode ser um rio ou outro elemento natural; pode ser um muro separando partes de um
país ou um país de outro e pode ser uma cerca entre dois lotes de moradia, em uma
tranquila área de vizinhança. Modo geral esta linha, a divisa. Decorre de tratados entre
nações e estados, nos municípios separa rural e urbano e nestes domínios a divisa é uma
linha que define espaços físicos com escrituras diferentes. A divisão entre propriedades é
descrita textualmente com base em levantamento planialtimétrico, e comprovada pela
escritura pública do lote que descreve as interfaces das parcelas contíguas. Para o
desdobramento dos estudos nos campos do urbanismo e da arquitetura se faz importante
o conceito de divisa como a linha que separa fisicamente dois espaços; elas demarcam
propriedades diferentes.
CORREDORES E SUBÁREAS - 31
No estudo da forma urbana a linha de divisa entre lotes, a divisa do lote com a via pública
e a divisa de fundo, são constantes que se manifestam para formar a quadra. Por outro
lado, existem linhas decorrentes de diretrizes urbanísticas devidas ao plano da cidade que
funcionam como divisas para novos projetos, como é o caso da obrigatoriedade de haver
cinco metros de recuo frontal para as construções em quase toda a cidade de São Paulo.
Ela define uma faixa de transição público-privado ou vice-versa assente em terreno privado
e influi na configuração da cidade. É o tipo mais elementar de uma divisa que não concerne
a propriedade do solo. Em São Paulo existem outras regulações como esta que não são
divisas de propriedades, mas regulam o projeto urbano.
Tipo: No estudo da cidade ao utilizar conceitos de análise da forma urbana, se mantém
como o objeto principal a configuração que o espaço adquire em cada momento da
história. Isto permite a identificação dos tipos físicos que pontuam fases possíveis de
resgatar até hoje; para o estudo dos elementos urbanos, dos setores da cidade e seus
edifícios. Assim, será possível gerar subsídios programáticos para os projetos urbanos e de
arquitetura contemporânea com respeito ao tecido tradicional. O estudo de tipos se detém
na configuração da cidade atual, mas, deve passar por aqueles elementos urbanos que
resistiram ao tempo e são referência para as proposições do urbanismo e da arquitetura
contemporânea. Segundo o arquiteto-professor Aldo Rossi, elementos urbanos pontuais
que deram origem a centralidades, hoje os chamamos de elementos primários; são os
monumentos ou pequenas partes do tecido com forte caráter de absorção do interesse da
população. Uma outra categoria são os trechos urbanizados, em geral áreas residenciais
configuradas pela repetição de tipos elementares que formam um tecido, ROSSI, 1966. Se
considerarmos a conceituação de Rossi como a visão de um intelectual europeu emitida há
cerca de cinquenta anos atrás e a compararmos com o que a arquiteta-professora Brenda
C. Scheer escreve no livro The evolution of urban form: typology for planners and architects,
podemos concluir pela atualidade de Rossi.
O espaço se modifica em tempo mais curto no caso de seu proprietário decidir renovar em
função de demandas atuais, ou se altera radicalmente por uma situação de catástrofe ou
demolição do imóvel para construir outro maior no mesmo terreno ou pela junção de vários
lotes. A pesquisa sobre a forma urbana se desenvolve com base no retrato atual das
mudanças de configuração dos espaços, atentos para as regulações urbanísticas que nele
influem e são provenientes da sociedade onde se desenvolvem.
No tópico 1 para indicar a configuração espacial como uma entidade física foram
selecionadas doze palavras ou expressões. Para o tópico 2 foram selecionadas apenas cinco
palavras de uso corrente na literatura sobre as formas de apropriação do espaço ocupado
e controlado pelas pessoas. São frequentemente utilizadas nos relatos que envolvem o uso
social do espaço, que no Brasil envolve urbanistas, planejadores urbanos e arquitetos para
citar apenas as áreas afins. Há locais que podem abrigar mais coisas que pessoas, como os
setores para indústrias e serviços da cidade ou mesmo em áreas de uso misto, onde pode
se localizar um galpão para depósito contendo uma quantidade de coisas que demanda
uma área muito maior que aquela da administração. O exemplo do galpão pode não ser o
melhor, mas, ele serve como contraponto para outro, referente ao espaço da cidade para
as pessoas, que é o mote atual dos projetos urbanos e reflete acertadamente a
preocupação de Jan Gehl com a sociabilidade e a saúde da população (GEHL, 2013).
Fizemos a primeira menção ao lugar das coisas para referenciar o planejamento urbano
como a ferramenta do urbanismo que vai estar presente na organização das cidades e
abrange todos seus segmentos. Seja nos lugares da cidade ou em um edifício há um ciclo
que retroalimenta o uso e a ocupação dos espaços devido às necessidades humanas. É um
processo infinito gerador de transformações do que as pessoas pretendem frente aos
espaços existentes e a necessidade-vontade de construir elementos novos. As
transformações decorrentes do planejado pelas pessoas induzem a substituição do
existente por algo novo, uma reforma ou uma nova construção. Compreender as
substituições dos elementos urbanos de uma cidade com o passar do tempo, implica em
considerar os construtos como entidades independentes: o programa arquitetônico e o
34
projeto elaborado na sua época, por decisão de pessoas, em contraste com a decisão atual
para substituir os espaços antigos por novos.
O estudo do espaço em si, serve a intenção de ocuparmo-nos com os tipos físicos como
foco de pesquisa, conscientes de que quando os espaços foram ocupados, passado o tempo
(às vezes pouco tempo), virão novas necessidades e alterações dos elementos urbanos:
substituições, quando se tratar alterações físicas e transformações, ditas para o espaço
ocupado socialmente. Os estudos atuais decorrentes da justa preocupação com as pessoas
e o ambiente, o campo, a cidade e o verde, e, a sustentabilidade do ecossistema, sugerem
fortemente a temática de como as pessoas vivem na cidade. Atraem a atenção de
profissionais de diversos campos, pois este estudo além da importância tem alta
visibilidade. Com certeza nos envolve também e daí optarmos pelo entendimento de como
se delineia e constrói o espaço físico como o invólucro (enclosure) dos lugares urbanos
(chão, fachadas, volumes, tipos edificados) e o entendimento de como servem para
construir a cidade. O arquiteto-professor Carlos D. Coelho, diretor do Forma Urbis Lab da
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, deixa isto bem claro quando se refere
ao tecido urbano e o entendimento da forma,
Nossa disposição maior é para reforçar o conhecimento dos tipos de elementos urbanos e
entender a cidade através do estudo localizado de seus setores, cuja identidade é reforçada
pelos corredores onde se desenvolvem os fluxos e se implantam a maioria das edificações
responsáveis pela atração das atividades básicas de apoio às pessoas. Entre as palavras
empregadas para referenciar apenas o espaço físico e podem ser incompreendidas,
comentamos as que empregamos com maior frequência, como:
Território: O chão do planeta Terra está subdividido entre áreas de preservação e áreas
socialmente ocupadas, os territórios. Habitados ou não, isolados ou em conjunto, os
territórios formam superfícies de diferentes dimensões, caracterizadas por divisas precisas
que são controladas por alguma entidade de interesse coletivo ou por um indivíduo. Da
CORREDORES E SUBÁREAS - 35
italianos Saverio Muratori e Paulo Caniggia do grupo italiano (CANIGGIA et al, 2001) e os
franceses Phillipe Panerai, Jean Castex e Jean Charles Depaule que trabalham com o
quarteto VQLE refletindo a experiência com o projeto de edificações oriunda de suas
profissões e do contexto urbano europeu (PANERAI, et al, 2013). É de interesse atual os
trabalhos dos pesquisadores da Universidade do Porto, Portugal, responsável pelo PNUM,
Portuguese Network on Urban Morphology, associado a congênere inglesa ISUF,
International Seminar on Urban Form (OLIVEIRA, 2016). Em Portugal se destaca devido à
sua contribuição maior para a morfologia urbana o grupo de pesquisa Forma Urbis Lab,
liderado pelo professor Carlos Dias Coelho da Universidade Técnica de Lisboa, cujo acervo
de experiência se difunde pela publicação de livros. Em particular o livro Os elementos
urbanos, coordenado pelo professor Coelho, cujos capítulos escritos por especialistas, tem
sido referência para os trabalhos do nosso grupo de pesquisa (COELHO, 2012).
A repercussão dos trabalhos dos autores citados e seus livros, são divulgados tanto na
universidade como no ambiente profissional do arquiteto-urbanista. Por esta razão parece
desnecessário pautar a todo instante cada trecho escrito sobre os corredores e subáreas
por justificativas procurando imbricar o resultado das investigações de campo - de onde
realmente emergem os resultados da nossa pesquisa - com citações de autores conhecidos.
Isto se faz quando a aproximação a determinado autor é indispensável para reforçar o
conceito que se procura fixar.
A cidade de São Paulo, doze milhões de habitantes em uma área metropolitana de vinte e
dois milhões evoca estudos de planejamento urbano e regional para determinar padrões
de infraestrutura e de desenvolvimento socioeconômico na escala regional. No extremo
oposto o planejamento referenciado a pequena escala leva a um urbanismo que trata de
aspectos locais, tendendo para o social e político, mas, gerador de subsídios importantes
para a análise do contexto físico local. Isto acontece através da captura das particularidades
que ocorrem em pequena escala e que podem ser agrupadas no contexto de um
determinado setor; organizados para alimentar programas de intervenção e projetos
urbanos. O conhecimento dos aspectos locais ‘andando a pé, olhando e escutando’,
fornece material para a escala local do planejamento e para as escalas maiores, sendo
indispensáveis para alimentar os programas de projeto dos setores da cidade. Pode-se
CORREDORES E SUBÁREAS - 41
Estudar o espaço como forma construída objetiva o conhecimento de tipos, serve para
fundamentar o programa, as proposições para um projeto urbano e alimentar seu processo
de implementação.
representa a condição da sua existência”, exaltando a questão de construir com arte desde
que se domine o programa de necessidades descrito para um projeto de arquitetura da
edificação ou da cidade (ARGAN, 1992).
A figura 2-1 mostra a ocupação de um território pela ilustração de três épocas. Em 2-1A, a
centralidade (cidade) que se forma no cruzamento de dois caminhos ou vias. Em 2-1B, o
início de uma rede de conexões. Em 2-1C, aparece a região metropolitana.
Figura 2-1: Cidade, município e região metropolitana.
No entanto, nem todo tecido urbano é concebido com arte e ser antigo não é garantia de
qualidade. Há exemplos, nada satisfatórios como o loteamento da área no perímetro de
Paraisópolis em São Paulo, onde foi assente um traçado reticulado ortogonal sobre terreno
acidentado, que gerou e causa problemas até hoje devido a declividade acentuada e
44
irregular das vias em relação a configuração das quadras, lotes e infraestrutura. No entanto,
cumpre lembrar que atualmente existem no munícipio de São Paulo diretrizes para a
ordenação do território mais avançadas e compreensivas.
Para dar uma ideia geral do município onde se situam os trechos pequenos do tecido que
escolhemos para o estudo da forma e mostrar como poderiam ser desenvolvidos projetos
neste amplo contexto, apresentamos um diagrama, figura 2-2.
Figura 2-2: Rodoanel, um corredor que contorna a cidade de São Paulo
São Paulo como outras cidades brasileiras expandiu-se a partir do centro por um sistema
de vias radiais aproveitando caminhos de cotas favoráveis, por cumeadas ou fundo de
vales, em retícula ortogonal ou deformada para acompanhar a declividade, sem deixar
pontos convenientes para drenagem ou vias principais se conectarem a loteamentos novos.
A superfície de cada anel foi dividida por setores demarcados pelas radiais que saem do
Centro Histórico (o menor anel) e se prolongam até o Anel Rodoviário. Na figura 2-2 a linha
CORREDORES E SUBÁREAS - 45
O cruzamento das circulações principais em São Paulo mostra-se como local adequado para
as edificações de interesse coletivo, atestando uma localização que ocorre em outras
cidades. É representado pela praça, nó de articulação de veículos, espaço de passagem, de
permanência individual ou de encontro. As vias radiais cortam os anéis concêntricos,
desenhados em diferentes tempos, na expectativa de delimitar perímetros de expansão
urbana. Em outros lugares desta cidade grande a pressa do crescimento fez com que
tecidos urbanos antigos fossem cortados por vias destinadas para a circulação pesada,
resultando um traçado do tipo patchwork mal alinhavado.
Traçado viário
A via é um elemento de morfologia urbana, faz parte do quarteto clássico via, quadra, lote,
edifício, VQLE, que caracteriza o tecido urbano de uma cidade, como definido pelo
arquiteto-professor Carlos Dias Coelho:
Coelho diz serem indissociáveis os elementos que compõem o tecido conforme o tempo, a
cultura, e a forma de ocupação, como processo evolutivo próprio de cada território. Para o
autor as limitações que possam ocorrer ao se estudar o tecido urbano desmembrando-o
para analisar é justificado apenas para facilitar a leitura e reconstituir uma interpretação.
46
Corredores
O tecido urbano pode ser identificado pelas passagens de tráfego segundo sua importância:
a via expressa, a avenida, a rua principal, a rua secundária e a local. Elas recebem uma
CORREDORES E SUBÁREAS - 47
Em conjunto coma via que define um corredor se pode somar outro elemento urbano
também linear: o canteiro central, um canal, uma linha de alta tensão, ou, uma ferrovia.
Tratando-se de um elemento relativamente estreito como o canteiro central da via, ou, o
canal estreito de um córrego, sua largura deve ficar incluída no corredor que contém as
faixas lindeiras de lotes. No caso de o elemento urbano ter sua largura avantajada, ser uma
via expressa ou um rio (com frequência aparecem lado a lado) e modo geral quando houver
a necessidade de uma ponte ou túnel para atravessá-los, se identifica a presença de uma
‘barreira’ separando dois setores da cidade, figura 2-4.
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Uma situação inusitada para a caracterização de uma barreira é quando se encontra uma
faixa de lotes industriais, ou, de origem industrial, com os fundos para uma ferrovia e a
frente para uma via da cidade. Fato inerente à situação dos lotes nesta situação precisarem
do acesso pela via que pertence a trama regular da cidade, mas, necessitam ter contato
direto com a faixa de domínio ferroviária para a carga e descarga de mercadorias através
dos ramais diretamente no lote industrial.
Figura 2-4: Barreira física entre dois setores
Na figura 2-5, da esquerda para direita aparecem as quadras, a via responsável pelo
corredor e a faixa de domínio da ferrovia; o diagrama mostra esta faixa interrompida logo
após a representação da ferrovia, pois modo geral ela é bem larga.
O sistema em binário pode utilizar mais de duas frentes de quadra e se alargar deixando
uma ou mais quadras entre as vias que formam o conjunto. Pode-se perceber que a
implantação do sistema de binário nas vias da cidade ou de um distrito possibilita o
aprimoramento de toda faixa a ser pensada como projeto urbano podendo se tirar partido
de peculiaridades do local, seja do ponto de vista da possibilidade de as calçadas serem
50
Subáreas
O processo analítico que leva a consideração de trechos cada vez menores da cidade serve
para contextualizar projetos pequenos, às vezes decorrentes de manifestação local, na
trama geral do distrito, sendo neste caso apropriado dizer ‘do bairro’. No capítulo 3
desenvolvemos os com mais detalhes o que se chamou de setores e subsetores da cidade
e no estudo do Setor 7 e Subsetores 7a, 7b e 7e vai se demonstrar como o pensar sobre
trechos pequenos da trama urbana se pode descobrir locais interessantes para se sugerir
projetos. Neste caso a vez passa a ser do arquiteto- desenhador na direção de propor ideias
fortes que emulem os interessados locais ou investidores para intervenções como projeto
urbano em escala do bairro. Por este viés se poderá ajudar a dar interpretação mais segura
para desejos de grupos pequenos ou indivíduos, com o interesse de participar em projetos
de amplitude que incorporem suas próprias aspirações. Na figura 2-7 aparecem três
maneiras de se subdividir um setor da cidade em porções menores de acordo com o critério
de se aprofundar no conhecimento da estrutura física e aproveitar o contato com os
lugares, às vezes apenas espaços onde as pessoas vivem e convivem. Em 2-7 pode-se
52
Os corredores e as subáreas
Regra geral os lotes situados nos corredores possuem imóveis ocupados por atividades de
uso misto com predominância no térreo de uso comercial e serviços, intercalados por
residências, instituições, indústrias, praças e parques. Há corredores de caráter residencial
nos bairros e total predominância do tipo misto nas áreas centrais de cidades. O corredor
CORREDORES E SUBÁREAS - 53
pode ter um caráter particular, como aquele caracterizado por um tipo predominante de
comércio: a rua dos eletrônicos, das confecções ou das noivas. Nos corredores longos a
predominância de uso acontece por trechos, como se observa nas vias de grande extensão
da cidade de São Paulo.
A quadra que acompanha a via responsável pelo corredor, tem a faixa de lotes voltados
para o lado oposto em condição diferenciada daquela do corredor. No caso de ser uma
quadra da área central de uma cidade grande, o uso do solo na via de fundo se assemelha
ao do corredor em decorrência da pujança das atividades de comércio e serviços. No bairro
em transformação de industrial para residencial, comercial e serviços, as plantas industriais
maiores cedem lugar para grandes condomínios residenciais ou mistos, mas, ficam trechos
onde os lotes são de dimensão que não chega a atrair os empreendedores imobiliários,
resultando uma complexa e interessante mistura de tipos edificados.
A figura 2-8 apresenta imagens de áreas de transição, no primeiro plano, e centralidades
de uso e ocupação do solo ao fundo, em São Paulo. Em 8A, aparece o trecho de um bairro
onde a densidade de ocupação dos lotes aumenta na medida da aproximação com a área
central e em 8B, a frente dos lotes voltados para a via-corredor tem no pavimento térreo
uso misto de predominância comercial e serviços. Ela segue até encontrar o centro do
bairro onde o volume dos edifícios é maior.
Em setores afastados da rede viária principal, pode haver vias eleitas como de distribuição
onde a predominância de uso seja residencial. Há situações em que a mudança de uso misto
do corredor para as vias internas da subárea é abrupta, destacando-se a situação da “rua
sem saída” ou vila, de acesso direto por uma via-corredor, onde uma parte das casas passa
54
a ser utilizada para atividades de serviços. Em outras situações as casas da vila passam a
ser comerciais. São Paulo mostra nos corredores de bairros significativa presença de
oficinas e pequenas indústrias misturadas ao comércio, residências, instituições públicas e
privadas. Os espaços verdes são modestos.
A figura 2-9, mostra a mudança de uso que frequentemente acontece nos corredores de
bairros. Em 9A aparece um trecho de corredor de origem industrial onde um condomínio
de grande porte se assentou no terreno onde existia uma indústria, os lotes de frente
estreita e pouca profundidade devido a existência de uma rua sem saída paralela ao
corredor, passaram a ter uso comercial e de serviços (foto, à direita). 9B mostra uma via
corredor com acentuado contraste do volume e uso dos espaços. 9C representa a via
corredor onde as casas, em lotes de frente estreita e pouca profundidade são mantidas,
com a mudança de uso, hoje constituindo exemplo de corredor que atravessa compatível
com a escala de uma vizinhança. A figura 9D representa uma vila em local de considerável
movimento, onde todas as casas se transformaram em lojas.
Figura 2-9: Mudança de uso em corredores de bairros
Através da observação sobre diversas áreas da cidade de São Paulo - trabalho de campo,
análise de tipos e projetos - organizou-se um processo para estudar os elementos urbanos,
decorrente dos conceitos de corredor e subárea. Tem o objetivo de organizar o
demonstrativo da situação presente, analisar a forma urbana, gerar subsídios para
pesquisa, planejamento e projeto urbano.
Ao longo da história as vias de São Paulo foram implantadas em função dos aspectos
naturais de relevo e hidrografia, de acordo com a superfície a parcelar, tamanhos previstos
de lotes e diversidade oferecida para possíveis programas de edificações. O loteador das
partes a cada projeto foi e é dependente do programa e finalidade do parcelamento: da
grande gleba industrial até o lote da vila operária; do bairro-jardim até as residências em
fileira dos bairros menos nobres. O elemento estruturador sempre foi o sistema de
circulação.
Com o passar do tempo aconteceram alterações do traçado original da cidade, pela
implantação das grandes avenidas, alargamento de vias, canalização de cursos de água e
um grande esforço para responder às necessidades de espaços para o transporte público e
o individual. O tempo trouxe o conhecimento das questões técnicas relativas às vias da
cidade gerando uma classificação rigorosa de tipos que foram incluídos na legislação
urbanística do município desde 1950. O automóvel – simbolizando a modernidade –
sacrificou espaços dos pedestres, parte das calçadas deram lugar a ampliação das faixas de
rolamento. Calçadas que nunca foram de largura generosa na cidade de São Paulo, ficaram
ainda mais estreitas. Muitos dos poucos parques existentes foram retalhados por força de
obras viárias ou pela sua “disponibilidade” para a urgente implantação de edifícios
públicos.
São Paulo acompanha a atual valorização internacional para se circular em espaços abertos,
representada pela “caminhabilidade” ou capacidade para caminhar que é um neologismo,
tradução de walkability e pelo incentivo da bicicleta como meio de transporte. Isto
repercutiu no Plano Diretor Estratégico - 2014 - deste município, através de diretrizes para
diminuir o uso dos automóveis com a finalidade de conquistar parte dos espaços a ele
cedidos.
56
Tornou-se necessário abrir frente para o transporte de alta capacidade e isto vem sendo
feito gradativamente, apesar da estrutura viária desta cidade não facilitar tanto. A urgência
para acompanhar o padrão internacional está centrada no criar espaços para as pessoas –
pedestres e bicicletas - ainda que não possam ser contemplados os que fazem uso de
motocicleta para trabalhar (não há espaço, é impossível agora, dizem os técnicos), apesar
de os motociclistas serem hoje os responsáveis pelo maior número de acidentes fatais em
São Paulo. Estes objetivos redundam em propósitos de projeto reprimidos quanto às
possibilidades para realmente transformar os espaços da cidade, pois demandam grandes
e dispendiosas desapropriações. Sobre este assunto existe farta literatura disponível, que
melhor se situa no campo do planejamento e implementação de políticas públicas.
A parte da cidade escolhida para testar o procedimento de análise decorrente dos conceitos
de corredor e subárea é o distrito da Mooca, na cidade de São Paulo. Distrito, para usar a
denominação utilizada pelo poder público para efeito de planejamento e administração
municipal.
O distrito da Mooca é delimitado por vias principais, ele tem a superfície de 7,7km²,
população 75.724 (PMSP, 2010) e densidade demográfica de 9.834 habitantes por
quilômetro quadrado. A superfície deste distrito corresponde a 0,5% da área do município,
que é de 1521km². O perímetro oficial definido pelo sistema viário corresponde ao
interesse desta investigação quanto a subdividir o espaço em setores, tendo apoio nas vias
que atravessam e que distribuem. Dentre os noventa e seis distritos em que se subdivide o
município de São Paulo a Mooca ocupa posição a Leste da área central, sendo classificado
entre os distritos de menor superfície. Para efeito da análise da forma será utilizada a
superfície oficial do distrito (7,7km²). Sua contextualização como parte integrante da área
central da cidade está comentada no artigo Patchwork of commercial districts around São
Paulo Core Area, apresentado no SBE/2016, Sustainable Building Environment
(IMBRONITO, M.I. et al, 2016).
Quanto à compreensão de limites, os moradores mencionam três partes, usando a palavra
bairro: Hipódromo, Alto da Mooca e Parque da Mooca. Nomenclatura que melhor
aproxima as pessoas ao seu local de moradia. Observando a identificação popular foi
CORREDORES E SUBÁREAS - 57
organizado um diagrama da divisão da Mooca em oito partes, cinco além das três já citadas,
figura 2-10.
Em 10A, o diagrama destaca a Mooca dos demais distritos de São Paulo. Em 10B, segundo
uma classificação oficial, aparecem as localizações aproximadas que dão cunho de lugar ao
espaço físico. São oito partes: 1- Ana Neri; 2- Hipódromo; 3- Cassandoca; 4- Alberto Lyon;
5- Mooca; 6- Alto da Mooca; 7- Henry Ford; 8- Parque da Mooca. Como procedimento de
trabalho se recomenda fazer um passeio demorado pela área em estudo, para sentir o lugar
das pessoas, depois entrar na técnica analítica dos corredores e subáreas, levando em
conta as informações oficiais como uma importante fonte de referência.
Em nosso trabalho sobre os elementos via quadra, lote, edifício e seus componentes
corredor e subárea, a definição de cada um deles deve ser entendida pelo propósito
específico dos procedimentos delineados para se conhecer o tecido de modo geral e dar
suporte a projetos urbanos. Para quem pretenda se aprofundar nos estudos de tipologia se
recomenda recorrer ao Laboratório Quadro do Paisagismo da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, o Lab QUAPÁ que tem produzido uma
‘cartografia temática’ sobre padrões morfológicos e espaços livres por quadra, para as
cidades da Região Metropolitana de São Paulo (QUEIROGA, 2016).
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Para o estudo da forma urbana o distrito foi subdividido em quinze setores, por vias que
atravessam ou distribuem. Os setores são de natureza física e sem preocupação de que
coincidam com as divisões oficiais, ou, com os limites imprecisos que o morador costuma
apontar para o seu ‘bairro’. Os setores foram identificados e numerados de um a quinze,
figura 2-11.
Figura 2-11: Distrito da Mooca, subdivisão em setores
Observe-se que os setores de números 1, 12,13, 14 e 15 podem ter seus limites na via de
distribuição que delimita o distrito. No entanto, dependendo do objetivo pode não
interessar a delimitação oficial do distrito, como a nossa opção de estudar a cidade por
setores. Sobre este procedimento um exemplo de fácil visualização é o setor 12, onde o
CORREDORES E SUBÁREAS - 59
limite oficial do distrito se encontra muito próximo a via que atravessa. A subdivisão em
setores deve ser produto do conhecimento da área que o pesquisador adquire ao observar
o universo urbanizado e do bom senso para fazer o setor coincidir com uma via que
atravessa ou distribui. Estes setores ficam sujeitos a subdivisões ainda de dimensões
menores.
Considerações sobre o capítulo 2
A disposição para analisar o tecido da cidade expressa por este manuscrito vem tanto pelo
viés teórico como pela prática. Nesta o resultado positivo do projeto da forma urbana
depende do bom programa de necessidades, de sua interpretação somada ao talento e
suor de uma equipe interdisciplinar. Dela participa o arquiteto-desenhador e sua equipe,
que nem sempre são o mesmo ou a mesma em todo percurso do desenvolvimento de um
projeto. O arquiteto-desenhador trabalha para buscar resultados satisfatórios quanto aos
tipos e a forma da cidade, seu perfil é de clínico geral e inventor de espaços novos ou
transformados. Sua atividade liga-se a história do ambiente físico e a morfologia urbana na
fase de análise de tipos que alimentam o programa de necessidades e as proposições
conceituais; interage com a interdisciplinaridade, sendo o responsável pelas diretrizes
físicas do projeto de Arquitetura da Cidade até sua implantação. O que ele faz, em resumo
compreende a complementação do programa de necessidades inicial em termos
dimensionais, a adequação do programa ao sítio e aos propósitos dos empreendedores.
Mesclam-se no trabalho do arquiteto-desenhador comprometimentos externos à sua
especificidade: o contexto ‘inter’ e ‘transdisciplinar’ inerentes ao desenvolvimento de um
projeto. No entanto sua responsabilidade primeira, como urban designer, é dita com
propriedade por Ray Gindroz, principal do escritório americano Urban Design Associates,
UDA: “criar ruas bonitas e agradáveis, parques e praças nos quais o caráter dos edifícios
individuais fique em harmonia com os outros edifícios, com o tratamento à nível do chão e
com a escala do espaço por inteiro”, sem excluir a participação do urban designer nos
procedimentos para implementação do projeto (GINDROZ, 2.003, p. 7).
Do contexto diversificado do qual deve resultar o projeto urbano nascem diretrizes
urbanísticas a serem implantadas, umas de médio prazo e outras para construção imediata.
Estas com a finalidade de cobrir necessidades ou para incrementar um setor pequeno da
60
cidade, para se tornar embrião de outras intervenções como “acupuntura urbana” nos
moldes do plano para a cidade de Curitiba. São estratégias de planejamento onde o espaço
é tratado como entidade física, onde interessa a geometria de suas formas, sua adequada
inserção urbana e a viabilidade financeira (LERNER, 2003).
O estudo da forma da cidade através dos corredores e subáreas além do viés acadêmico
serve para a fundamentação das decisões preliminares do que fazer e para a configuração
dos espaços nas etapas subsequentes de um projeto urbano. É ferramenta indispensável
para o arquiteto-desenhador e a equipe de projeto urbano, pois auxilia na fundamentação
das propostas para serem submetidas à sociedade, em particular, aos empreendedores
privados e aos agentes públicos.
CORREDORES E SUBÁREAS - 61
ladeado por vias que atravessam a cidade e assentes nas cotas mais baixas como mostra a
figura 3-1.
Figura 3-1: o distrito, seus setores, em destaque o setor 7
No setor 7, pelo conhecimento dos fluxos utilizando sete vias que atravessam (traço grosso)
e três que distribuem (traço estreito) foi possível definir sete subsetores (do 7a até o 7g).
Este setor é uma porção do distrito da Mooca que contribui até hoje com a história das
transformações que vem ocorrendo no todo da cidade. O conhecido processo
socioeconômico de passagem da condição de cidade industrial para uma cidade
internacional de negócios e serviços.
Os três subsetores objeto do estudo são os identificados por 7a, 7b, 7e, conforme a figura
3-2 e iremos demonstrar como é possível se antever possibilidades de projetos para eles
que poderão enriquecer as relações de acesso público e privado valorizando os espaços
disponíveis, transformando-os em lugares para um bom convívio entre as pessoas, sendo
tratados como um ambiente gentil com a paisagem circundante. Para esta maneira de
64
Para os leitores que conhecem a cidade foram nomeados os logradouros. Quem não a
conhece pode prosseguir na leitura tranquilamente pensando sobre as vias que atravessam
e que distribuem, pois, a abstração contribuirá para classificar os tipos com maior
liberdade. Em quaisquer dos casos é indispensável conhecer o sítio através de visitas a pé.
Os indicadores físicos fortes que influem no traçado e em consequência na escolha que se
faz entre as vias que atravessam ou distribuem, são a largura, o comprimento e
observações sobre a atração de comércio e serviços no térreo e a ocorrência de unidades
residenciais e escritórios em cima. Atributos que servem de suporte à classificação utilizada
neste estudo para selecionar as vias que atravessam e as que distribuem.
Para o setor 7 apresenta-se a relação dos tipos das vias que atravessam e distribuem, com
a sua largura, comprimento e a área que elas ocupam. No desenvolvimento da investigação
a área ocupada pelas vias deverá ser cotejada com a área comprometida com os corredores
e a superfície remanescente das subáreas, figura 3-3. Na verdade, o quadro a seguir é uma
forma inicial de tabulação de dados que podem ser muito mais elaborados usando técnicas
avançadas de processamento de dados.
CORREDORES E SUBÁREAS - 65
O elemento urbano via (V), já foi objeto de considerações e continuará, pois, é o elemento
articulador dos demais. Agora, ênfase maior será dada para análise dos três outros
elementos da arquitetura da cidade, a quadra, o lote e o edifício (QLE), à luz de suas
relações com os componentes corredor (C) e subárea (S).
Os tópicos do trabalho incluem sequencialmente os assuntos primordiais da análise urbana:
as vias, as quadras, os lotes e os edifícios. As interfaces com os procedimentos dos
corredores e subáreas – CS - são destacadas com a finalidade de realçar os aspectos
decorrentes do uso do espaço que induzem substituições, nas e das construções atuais.
Devido ao comprimento dos corredores existem trechos com características específicas
que merecem atenção devido ao tipo de suas edificações e ao uso do solo atual. A análise
através dos corredores e subáreas torna possível identificar questões de interesse em
setores pequenos, cujo tecido urbano seja passível de reestruturação, pelos meios do
projeto urbano.
Ênfase é dado a análise através dos corredores e subáreas de modo tornar possível
identificar questões de interesse em setores pequenos, cujo tecido urbano seja passível de
reestruturação, pelos meios do projeto urbano. Busca-se nestes espaços a possibilidade de
66
o tecido urbano vir a ser o suporte para as pessoas se apropriarem dos espaços como um
lugar. Isto se manifesta em núcleos com variada formação do tecido, com uso de comércio,
serviços, pequenas indústrias ou moradia, em locais de patrimônio histórico ou ambiental
e em diversos casos em que o tipo do tecido tenha sido previsto para a finalidade precípua
de morar. Neste caso, o projeto de loteamento traçado para implantar lotes pequenos
destinados a residências (térreas e sobrados) é típico. Existem diversos trechos nos bairros
de São Paulo que vem resistindo ao ímpeto das incorporadoras devido à dificuldade de
negociar os imóveis pequenos e a ocupação não ser mais exclusivamente residencial como
de início (IMBRONITO; MACEDO, 2016).
No procedimento de estudo das partes da cidade há um momento de conclusão parcial de
determinada investigação, conforme as peculiaridades do contexto. Resultam elementos
de especulação teórica e programática possíveis de evoluírem como diretrizes de projeto.
Chega-se muito próximo a determinantes do projeto e ideias iniciais podem surgir. Mas,
guarda-se este assunto para os comentários posteriores.
As vias que atravessam são o palco das transformações mais frequentes que acontecem na
paisagem urbana devido ao atrativo locacional para todo tipo de uso do solo, como, morar
perto do transporte público, trabalhar em atividades de comércio, serviços e industriais,
estudar ou exercer atividades de lazer e convívio. Em consequência as frentes das quadras
voltadas para o corredor passam a ser disputadas para novas construções ou para
remodelações tendo em vista o potencial dos novos usos que nele se instalam. As
transformações são maiores em relação às que acontecem nas subáreas. Nos corredores,
vale observar a superfície dos espaços disponíveis em relação ao espaço das subáreas,
questão que sugeriu elaborarmos diagramas para cada um dos subsetores em estudo para
mostrar a proporção existente entre eles.
Os subsetores 7a, 7b e 7c
As construções desde as cotas altas do espigão até a várzea, tem uma diferenciação visível
do modo como os lotes são ocupados e dos tipos das edificações. Desde as quadras
traçadas originalmente para residências de classe média-alta no espigão (lotes de 600 a
1.500 m²) até a área de várzea onde se instalaram as plantas das indústrias de grande porte
é nítida a gradação dos espaços ocupados por moradia, comércio e serviços até a industrial.
Padrão este que vem sendo alterado pela saída das indústrias grandes e médias para dar
lugar a novos usos, que acarretam transformações significativas nos espaços existentes e
fazem nascer novos tipos de edificação.
O subsetor como fração a ser estudada se assemelha ao conceito de área-estudo conforme
foi definido por Aldo Rossi:
O subsetor 7a, com área de 6,09 ha, é uma parte do setor 7. Seu perímetro foi representado
em planta na figura 3-1 por três vias que atravessam A1, A2 e A3 e uma que distribui, D1.
A via A1 corta o distrito no sentido Leste-Oeste sendo um antigo percurso desde a área das
grandes indústrias para localidades centrais da cidade; a via A2 seguindo o espigão tem o
caráter de servir as localizações a Nordeste e Sudoeste do distrito, marcada na paisagem
por ocupar a faixa de terrenos com cotas elevadas; a via A3, marca os níveis intermediários
do setor 7 e no trecho correspondente ao subsetor 7a ainda não acontece o processo de
verticalização; a via D1 de ligação entre A2 e A3 tem o aspecto de via distribuidora dos
fluxos para as vias locais e apresenta uso misto por transformação de casas térreas e
sobrados existentes, figura 3-7.
Observa-se na foto 3-7A, a via A1 - Rua da Mooca - uma via tradicional que atravessa o
distrito. Ela possui trechos com características diferentes do ponto de vista do uso e da
ocupação do solo. No trecho do subsetor 7a, entremeado com prédios baixos de térreo
comercial e superior residencial, hoje serviços, existem alguns prédios altos de até seis
pavimentos, são construções antigas.
Na foto 7B, a via A2, Avenida Paes de Barros, antigo traçado no sentido norte-sul,
transformação do residencial de padrão elevado para comércio e serviços; edifícios altos.
Na foto 7C, via D1, Rua Leocádia Cintra, seu papel é de distribuição.
Na foto 7D, via A3, Rua Canuto Saraiva / Orville Derby, via que atravessa cortando o setor
7 no sentido norte-sul.
CORREDORES E SUBÁREAS - 73
Para efeito de estudo ao se destacar um subsetor do setor, quando o seu limite for marcado
por uma via de distribuição esta assumirá o papel de via que atravessa, procedimento
válido para o subsetor específico. O subsetor 7a para estudo em separado do setor 7 passa
a ter esta interpretação, figura 3-8.
Em 3-8A, é possível observar que a via D1 passa a ter o padrão de uma via que atravessa e
a via interna deveria ser classificada como via que distribui, por unir duas vias que
atravessam e tem apenas o comprimento de uma quadra. No entanto, ela adquiriu um
forte caráter local, pois não é atrativa para o tráfego de passagem, atende vizinhança
sobremaneira residencial e assim se contextualiza como uma via local. Em 3-8B, como
vislumbre para um projeto a via local interna foi nomeada como A2a, seja como
distribuidora ou local sugere tratar os seus espaços de acesso como portais de chegada
protegendo uma área. Isto pode ser marcado como diretriz para o desenho facilitar a esta
via ter caráter único, identificado pelos acessos (via e marcos de referência) a serem
tratados como arquitetura da cidade. Tudo que um bom projeto de arquitetura poderá
explorar através da construção de custo relativamente baixo, com modificações apenas na
caixa das vias, no paisagismo, mobiliário urbano e sinalização, figura 3-8.
74
As vias que atravessam A1, A2 e A3 de longo percurso fazem ligações entre bairros e
possuem um eficiente sistema de linhas de ônibus de longa distância. Elas definem
corredores que estão em processo de transformação do uso do solo com predominância
para comércio, serviços e de instituições privadas. Os corredores nesta situação são
ponteados por edificações com uso para escritórios e habitações nos pavimentos
superiores, espaços institucionais e industriais. No processo de análise destes elementos é
interessante considerar o balanço entre a área ocupada por corredores e aquela das
subáreas. Em São Paulo as subáreas apresentam uso misto, de menor intensidade
comparado aos corredores e, a menos de áreas centrais, a predominância é para o uso
residencial, o confirma a afirmativa de que o uso misto se se espalha por toda a cidade.
Reforçamos a observação de que visualmente os diagramas mostram que o percentual de
espaços públicos e privados comprometidos com os corredores é alto. São espaços
importantes para os deslocamentos maiores das pessoas, trabalhar, usufruir do comércio
e de vários tipos de serviços. Isto é, portanto, uma condição que favorece o contato entre
as pessoas e como a cidade toda, merecem ter o projeto dos espaços com boa qualidade.
A figura 3-9 apresenta os diagramas. Em 9A, encontra-se o diagrama dos corredores que
atravessam o subsetor 7a. Em 9B, como um exemplo de diagrama, aparece apenas a porção
dos corredores relativa ao subsetor 7a, com a intenção de acentuar pela observação
CORREDORES E SUBÁREAS - 75
empírica a diferença entre a área ocupada pela subárea e as faixas de corredores que
pertence ao setor 7A.
Figura 3-9: subsetor 7a, corredores que atravessam
Na figura 3-9, o tipo de diagrama usado para a análise da forma urbana chama atenção para
o contraste entre a área ocupada pelos corredores com relação à superfície da subárea.
Procedimento este recomendado para ser utilizado nos estudos da forma urbana para
expressar com força a diferença entre os componentes CS do tecido da cidade. Vale lembrar
que o corredor é um elemento urbano que abrange os dois lados em relação ao eixo da via
entre setores contíguos e que para efeito de estimar dados quantitativos separados por
setor, se utiliza as porções internas ocupadas pelo corredor.
A dimensão pequena do subsetor 7a serviu de apoio para mostrar a relatividade da
classificação que se faz em vias que atravessam, distribuem e locais. Reporte-se a figura 6,
onde pela análise do diagrama 5B, a via A2a poderia ser classificada como via local ou de
distribuição. Por opção a preferência foi considerar esta via como local, devido às
características como largura e comprimento, edificações e arborização, além do fato de ela
ter o comprimento de apenas uma quadra. Os prédios altos nela existentes abrigam
condomínios residenciais em lotes grandes e de pouca profundidade obtidos a partir da
agregação de lotes de pouca largura acompanhando o alinhamento da rua. Condição que
sugere o potencial do logradouro para receber diretrizes que reforcem ainda mais seu
caráter de recinto residencial, figura 3-10.
76
Os corredores resultantes de vias que atravessam e das que distribuem são ambos
apresentados em diagramas conjugados, procedimento que será utilizado para os
subsetores 7b e 7e. No caso do subsetor 7a se a via interna – A2a – fosse considerada de
distribuição, estaria se prevendo o uso do solo por atividades mistas em todo o subsetor e
não de predominância residencial no miolo como foi tratado.
A área deste subsetor é 16,27 ha. Ele fica situado entre a via que atravessa de cota mais
alta (A2), a via A1, que desce no sentido da ferrovia, a via A3, em cota intermediária e a via
D1 que separa o subsetor 7b do vizinho subsetor 7a. As imagens a seguir retratam o padrão
construtivo destas vias, o tipo da ocupação dos espaços edificados e a arborização nela
existente, figura 3-11.
CORREDORES E SUBÁREAS - 77
Em 11A, aparece a via D1 (rua Leocádia Cintra) comentada na descrição do subsetor 7a, na
qual se acrescenta ter um bom potencial para requalificação, principalmente quanto à
largura e qualidade das calçadas. Em 11B, a via A2 (avenida Paes de Barros) em tempo de
verticalização. Em 11C, a via D2 (rua Curupacê), uma típica via de distribuição plena de
pontos de uso misto e transformação de casas para edifícios de meia altura, residenciais ou
mistos. Em 11D, a via A3 (rua Canuto Saraiva e continuidade para a rua Orville Derby), figura
3-11.
Considerado para estudo em separado, no âmbito de 7b as vias D1 e D2 atuam como vias
que o atravessam e no espaço interno do setor 7 funcionam como distribuidoras, vias D1a
e D2a,
Para a elaboração dos diagramas dos corredores utiliza-se procedimento semelhante ao do
subsetor 7a, figura 3-12. Em 12A, a planta do subsetor como parte do setor 7. Em 12B, o
78
setor como unidade autônoma para estudo, onde D1 e D2 fazem as vezes de vias que
atravessam.
As vias que atravessam o subsetor 7b no sentido noroeste-sudeste são parte do sistema de
ligação do setor 7 com a cidade e tem importância fundamental para a distribuição dos
transportes públicos do centro da cidade para a zona sul. As vias transversais de
distribuição, nordeste-sudeste, fecham o subsetor e servem ao tráfego de acesso local dos
transportes públicos. Deve-se observar a dimensão das subáreas com relação aos
corredores em ambos os casos e ponderar que em D1 e D2 o uso do solo comercial e de
serviços é para suprir as necessidades mais próximas dos moradores, figura 3-13.
Este setor tem uma forte vocação residencial, foi projetado em lotes pequenos, para
receber casas térreas e sobrados, verificando-se as construções em fileiras ou casas
geminadas aos pares. Na formação das quadras se utilizaram formas que reportam as
cidades jardins inglesas onde estão presentes organizações tipo cul-de-sac e loop. Este
traçado baseado em vias locais garante o caráter do setor como uma vizinhança residencial.
A área deste setor é de 14,67 ha. Fica compreendido entre as vias A1, A3 D3 e A5. Tem a
peculiaridade de ser cortado pela via que atravessa A4, que compõe um binário com a via
A5, que é uma das vias que delimita o subsetor. A via A1- Rua da Mooca – que levou o nome
do subdistrito resultou de traçado antigo e permanece como um extenso caminho de
ligação bairro - centro, sem ter havido alterações substanciais na sua largura de quinze
metros. As vias A3, A4 e A5, traçadas para a distribuição do movimento de caminhões tem
dezoito metros de largura e estão assentes na área das grandes indústrias. Na parte interna
do subsetor 7e, a via D3 foi responsável pela distribuição do tráfego para indústrias que
hoje já estão na maioria transferidas para outros locais, figura 3-14.
Figura 3-14: subsetor 7e, vista das vias que atravessam
Para se identificar um setor pequeno (área-estudo) seja para o planejamento na esfera dos
órgãos oficiais, seja como resposta a demanda de uma comunidade local, ou pelo interesse
de implantar um empreendimento privado, quanto menor for a parte estudada maior
poderá ser a acuidade no estudo dos tipos de construção relativos aos elementos urbanos;
matéria central de interesse neste manuscrito. No espaço menor, maior atenção poderá
ser dispensada às reivindicações por moradia, a qualidade de vida, gestão e aos requisitos
essenciais ao desenvolvimento de um projeto urbano baseado em um programa que
considere as características físicas do local, a disponibilidade financeira e a vontade de
empreender. Requisitos cuja resposta depende de como interpretar com realidade as
demandas e estar atento à capacidade de inventar arranjos de espaços adequados às
pessoas, na linha de uma linguagem de padrões como foi idealizada pelo matemático e
arquiteto-professor C. Alexander [5].
Tem-se o cuidado de não extrapolar o estudo da forma física - morfologia e análise urbana
para outras áreas do conhecimento, sem dúvidas importantes e com certeza urgentes do
campo do planejamento urbano; por isso nos preocupamos em ficar no campo dos
procedimentos de análise do espaço construído.
A atenção é voltada para a implantação das edificações em relação ao lote e a quadra com
a finalidade de identificar situações-tipo. Interessam em particular os casos da existência
82
Os tecidos urbanos se modificam ao longo dos anos dependendo dos espaços livres ainda
possíveis de serem ocupados, se transformam em construções e se ampliam com partes
anexas ou conjugadas, para receberem as atividades novas requeridas pela sociedade. Este
processo de crescimento acontece de modo simultâneo e o tópico seguinte, como uma
conclusão parcial desta pesquisa, ilustra o processo a partir das transformações do tecido
urbano que vem ocorrendo nos três subsetores em estudo.
como área de estar, protegido por cobertura leve, versão simplificada de edifício de
esquina. Em 18B, comércio no térreo, residência ou escritórios em cima, um tipo que se
repete por toda a cidade. Em 18C, uma versão contemporânea de imóvel com três
pavimentos, cujo proprietário é um pequeno investidor, ele batizou a lanchonete do térreo
por ‘Deu Certo’, fazendo uma clara alusão ao sucesso de seu empreendimento. Em 18D,
esquina com cinco pavimentos, elevadores, o escritório de uma única empresa em
contraste com as edificações em fileira com dois pavimentos do restante da quadra. Os
tipos descritos em 16A e 16C são exemplos escolhidos de bairros de origem industrial fora
da Mooca e atestam a universalidade deste tipo de ocupação em lotes de esquina.
Figura 3-18, tipo de edifícios de esquina
A ocupação das esquinas evolui para o processo de verticalização que se estende por toda
a quadra, testemunho da flexibilidade do parcelamento por lotes pequenos e da ação de
empreendedores de porte diferenciado. O uso misto comparece em toda a cidade de São
Paulo. Além de sua presença efetiva, nos corredores a mistura de usos aparece com
CORREDORES E SUBÁREAS - 85
frequência nas subáreas. Adapta-se nas casas térreas e sobrados, em galpões e informa
novos programas para projeto de edificações a serem construídas para tal finalidade.
Observa-se que em alguns distritos da cidade o zoneamento prescreve o uso estritamente
residencial, como é o caso dos bairros-jardim, mas, a realidade mostra a inevitabilidade de
vias que atravessam esses bairros se transformarem em corredores de uso misto,
particularmente para o segmento de serviços. Há pressão dos responsáveis por lojas e
escritórios, ocupando irregularmente residências para forçar o órgão municipal de
planejamento a propor modificações na lei de uso e ocupação do solo. Dando
prosseguimento a esta maneira de analisar o tecido urbano procede-se na pesquisa para o
trato mais pormenorizado dos tipos de edificações e seus padrões de agrupamento, tendo
como referência os seis tipos de relação de lote-edificação e sua influência na forma da
cidade.
86
CORREDORES E SUBÁREAS - 87
As quadras
esta forma se assemelha a um retângulo deformado por uma força de origem no centro de
um segmento circular. Disto resulta a forma de trapézio arqueado que possibilita
regularidade na subdivisão da quadra e o parcelamento em lotes pequenos: em aclive a
partir da via de cotas mais baixas e em declive para os lotes com acesso pela via mais alta
(THOMPSON, 1917).
A literatura sobre o desenho de quadras, em maioria, tem atenção voltada para aquelas de
ocupação residencial. Certamente porque o tipo de organização das áreas de moradia e a
superfície necessária são elementos decisivos no projeto do espaço urbano e isto não foi
diferente em São Paulo. Elas influem na escolha da implantação dos demais espaços da
cidade, particularmente quando comparado ao posicionamento das indústrias. Nesta
cidade é fácil notar no entorno do centro tradicional como os ricos foram para os lugares
mais altos e a classe laboriosa pontuou as zonas industriais de terrenos planos das várzeas
dos rios, misturadas com as glebas adequadas para a implantação das indústrias de grande
porte. Localização compreensível para o tempo em que os empreendedores não se
preocupavam com a qualidade do ambiente urbano. Na apresentação do Setor 7 (capítulo
2) este assunto foi tratado, agora faz-se lembrar que junto ou muito próximo aos setores
industriais estão trechos loteados para as residências de trabalhadores. Como hoje em dia
os bairros industriais estão sendo reutilizados para abrigar o segmento de classes de renda
média e alta, e outros serviços da cidade global acompanhados de atividades para comércio
e serviços, elas se misturam com as locações existentes das indústrias de porte médio e de
oficinas. Além dos espaços residenciais, a ocupação atual requer localizações para
escritórios, lojas, galpões para manufaturados; exigindo áreas livres e verdes que no tempo
das grandes indústrias não se considerava necessário.
A acelerada transformação do uso e ocupação dos espaços em São Paulo, acontece sobre
um tecido do tipo tradicional, onde é difícil alterar o traçado, até mesmo para a
implantação das obras indispensáveis à trama de infraestrutura. Hoje em dia, junto a rede
de transportes públicos o plano diretor municipal estimula a previsão para áreas de
empreendimentos de uso misto de grande porte. São Paulo seguindo o modelo de outras
megacidades desponta para a construção de conjuntos híbridos, integrados aos modais de
transportes, com serviços, moradia e seus complementos. A diversidade destas
90
construções é gerada através de programas para prover abrigo para as pessoas segundo
novas circunstâncias. Processo que acaba por enriquecer e dar complexidade à forma
urbana, ao reparcelamento das quadras existentes, que são flexíveis o suficiente para
suportar transformações significativas em seu interior. Em algumas situações elas ficam
vizinhas e passam a dar continuidade a construções programadas para ocupar espaços
compartilhados com o das estações de transporte, trem, metrô e ônibus, associados a
habitação, comércio, serviços e seus espaços complementares, passam a formar os ditos
edifícios híbridos (ARPA et al, 2014).
O conhecimento detalhado do sistema de quadras, não se desvincula dos lotes e dos
edifícios, QLE, pois envolve interesses privados exigindo se analisar setor por setor da
cidade e os subsetores em separado. Para isto o caminho pode ser:
. Usar como ponto de partida os corredores, definidos pela soma da faixa lindeira de lotes
mais a largura da via e da faixa de superfície exigida para a infraestrutura de superfície,
quando houver.
. Destacar os corredores significa expor como objeto de trabalho o espaço ocupado por eles
com relação à subárea: equilibrar a relação entre os espaços privados e os públicos. Para
exemplo desta condição servem os subsetores 7a, 7b e 7e, cujo diagrama de corredores e
subáreas pode ser observado na figura 4-2.
. Tomar em consideração o perímetro do subsetor definido pelo alinhamento das quadras
que acompanham as vias limítrofes. Ter em mente que o corredor na maioria dos casos é
formado pela faixa ocupada pela via e outras faixas de domínio público. O limiar entre o
público e o privado se estabelece tendo em conta a linha de divisa que separa o lote da
‘rua’.
. Insistimos nesta questão pois a mídia internacional relativa as informações técnicas sobre
os benefícios de se projetar ‘espaços para as pessoas’, caminhar e incorporar as bicicletas
no cotidiano da cidade é excelente, mas, evoca padrões de relacionamento sociocultural-
econômico que em nosso país devagar será obtido; o que não nos impede de estudar a
forma dos tecidos urbanos, fazer planos e projetos para estimular estes acontecimentos.
. Ver o diagrama apresentado na figura 4.2 e sentir o potencial para projetos latente nos
corredores e nas subáreas na medida que sejam pensadas como ‘áreas protegidas’.
CORREDORES E SUBÁREAS - 91
compreensão por partes cada vez menores. Situa o trecho indicado empiricamente para
ser o desenvolvimento de um projeto no contexto do todo urbanizado, figura 4-3.
Figura 4-3: A faixa lindeira de lotes por subsetor
O Subsetor 7a tem uma área de 5,7 ha e pode ser classificado no rol de pequena dimensão,
para o caso do desenvolvimento de um projeto urbano É cortado por uma única via, que
através de seus dois acessos, edifícios e arborização configuram um saudável ambiente
urbano entre as duas quadras de trezentos e cinco metros de comprimento que compõem
o subsetor. As ponderações relativas à quadra agora serão ampliadas para se explorar as
CORREDORES E SUBÁREAS - 93
peculiaridades do sistema VLQE. Na figura 3-7 do capítulo 3, a via que atravessa o setor 7a
aparece com a designação A2a como deveria ser do ponto de vista estritamente técnico.
No entanto, por razões da vizinhança se classificou esta via como local. Sua designação
oficial é Rua Olímpio Portugal, tem comprimento de 305 m, largura de 16 m (calçadas de 3
m e leito carroçável de 10 m), e ocupa no subsetor a área de 4.880 m². Isto corresponde a
8% da área total do subsetor, figura 4-4.
A segunda lição se refere a como enfatizar o viés da Olímpio Portugal como via local, o que
induz uma postura projetual. Ou seja, marcar os acessos nas duas extremidades numa
extensão aproximada de 20 m, reduzindo nestes trechos a caixa da via para 6 m, portanto,
com as calçadas em cada trecho de acesso passando para 5 m. Resultam áreas de calçadas
de cinco por vinte metros boas para serem tratadas, mais as faixas de rolamento de seis
metros com uma pavimentação diferenciada, vegetação, mobiliário urbano e sinalização.
O subsetor tem área de 10,70 ha, representando boa dimensão para um projeto urbano. O
seu traçado foi feito para abrigar um programa de lotes residenciais. Ele possui vias de
distribuição e locais compatíveis com este programa que resultam da aplicação de tipos de
arranjos em loop e em cul-de-sac, usuais nos projetos das cidades jardins europeias e
CORREDORES E SUBÁREAS - 95
Quanto ao loteamento tipo cidade-jardim projetado por Vieira, se observa que não existem
áreas verdes significativas para uso comum dentro dele, com certeza pelo fato de a área
ter sido programada apenas para oferecer um número previsto de lotes residenciais. Onde
há o recuo de cinco metros, este espaço que seria um jardim de transição da casa com a
rua passa a ser um piso impermeável destinado ao estacionamento do carro da família,
figura 4-8.
Jorge Vieira soube usar os princípios das cidades jardins para uma situação de área
residencial econômica e propôs acertos interessantes para ligar as casas com as vias locais,
protegendo-as do trânsito de passagem direta pelo bairro, as pessoas atravessam
tranquilamente a rua até a casa do vizinho nesta ‘área protegida’ do bairro da Mooca. Este
projeto é um exemplo de área protegida de bairro e na escala onde o uso dos espaços é
maior para o comércio e serviços temos o exemplo dos calçadões do Centro. Este conceito
pode se estender para os subcentros dos distritos e bairros da São Paulo, figura 4-8.
CORREDORES E SUBÁREAS - 97
via interna a subárea que funciona como uma via de distribuição para as quadras envolvidas
e tem ligação com as vias dos corredores em poucos pontos (realçadas em preto).
O exemplo anterior do projeto de Jorge Vieira se refere apenas a habitação como foi
planejado, evocando os núcleos residenciais das cidades jardim inglesas, e, o desenho ora
proposto e chamado de ‘área protegida’ serve para o tecido tradicional de uso misto que
congrega moradores e pessoas de fora que exercem atividades diárias no local e voltam
com um grupo de amigos para confraternizar em uma pizzaria boa daquele lugar. Cruzam
com os moradores locais na pracinha ou procuram um culto religioso, traduz um modo de
vida, figura 4-9.
Figura 4-9: diagrama para uma Área Protegida
Conclui-se deste tópico que o tecido urbano da cidade tradicional é rico em possibilidades
para se desenvolver projetos de setores pequenos com potencial para se tornarem áreas
protegidas. São oportunidades para elevar a identidade, o caráter latente expresso por um
lugar, como empreendimento participativo e de bom projeto urbano.
Figura 4-10: Exemplo de área protegida
Este subsetor tem área de 13,80 ha. Delimitado pelas vias A1, Rua da Mooca, A3, Orville
Derby, A5, Borges de Figueiredo e D3, Rua Guaratinguetá, representa uma fração do tecido,
razoavelmente conhecida pela população da cidade, conforme as indicações dos tópicos a
seguir.
. A estação ferroviária da Mooca está situada no eixo da Rua Guaratinguetá. A Rua Borges
de Figueiredo é o local de diversos imóveis tombados pelo serviço de patrimônio histórico.
. Por existir uma sequência significativa de quadras onde o tombamento de fileiras de casas
construídas para operários (térreas ou dois pavimentos) foi definido no sentido de manter
os terrenos e sua volumetria de acordo com a situação original.
. Por haver interesse de instituições privadas virem a ocupar prédios antigos pelo sistema
de retrofit e aumento da área construída.
100
O Subsetor 7e, tem ocupação alta formada por prédios de condomínio residencial, em
terrenos grandes como demonstra a figura 11. Isto aponta para uma ocupação de forma
gradativa dos lotes menores com a saída de indústrias. Os galpões de oficinas são resilientes
CORREDORES E SUBÁREAS - 101
dado a boa localização para as atividades de serviços ou depósitos e fazem uma boa mistura
de uso com as residências existentes. Na figura 4-11, paralela aos trilhos, aparece a via A5,
Rua Borges de Figueiredo que auxilia a via A4 na distribuição dos fluxos até aos terrenos da
faixa lindeira da ferrovia.
Lotes e edifícios
dos condomínios e poderá ser tratado por jardins e equipamentos para lazer. Nos lotes
menores no espaço que resta sobre o embasamento é colocado um telhado ou laje tratada
por material impermeabilizante e térmico. Em São Paulo chama-se de sobressolo a laje que
cobre o embasamento. Nos condomínios residenciais o sobressolo é utilizado como um
espaço coberto nas projeções dos blocos verticais, espaço onde a visita se dirige para os
elevadores e os salões sociais. Na parte descoberta do sobressolo ficam os jardins e espaços
de convivência para crianças e adultos.
Salienta-se a tendência de os trabalhos de tipologia destinarem maior atenção aos tipos
residenciais ou de edifícios mistos para comércio e serviços no térreo; além de praças e
monumentos. Atribuímos o fato pela razão destes estudos em maioria serem devidos a
autores-professores europeus, onde a base de estudo são áreas consolidadas das cidades
de tecido histórico. A este respeito, no contexto norte-americano indo além da tipologia
clássica, vale lembrar os estudos da arquiteta-professora da Universidade de Utah, Brenda
Case Sheer no livro The evolution of urban form, typology for planners and architects
(SCHEER, 2010).
Em São Paulo, no distrito da Mooca e em outros de origem industrial situados no entorno
do Centro tradicional, verifica-se que o tipo galpão industrial, a começar pelos pequenos
destinados às oficinas ou depósitos, se multiplicam até as plantas industriais de médio e
grande porte. Devido a saída de boa parte das indústrias observa-se que o tecido urbano,
marcado pela diferenciação dos tamanhos de lotes, apresenta construções para diversos
usos: centros comerciais, postos de serviços e hipermercados, instituições públicas e
privadas, estacionamentos, venda de automóveis e outros; alguns apresentam uma forte
articulação com o transporte público e são chamados de ‘híbridos’. Para efeito de
classificação todos recaem no diagrama dos seis tipos de projeção horizontal.
Descreve-se a seguir as características dos tipos correntes das edificações na área estudada
e que se encontram em toda a cidade de São Paulo.
Os tipos de edificações
Na integração do térreo de uma edificação com o espaço público são seis as possibilidades
de relacionamento. Em São Paulo o recuo mínimo em geral é de cinco metros e existem
diretrizes que se aplicam aos lotes de esquina, para o caso de lotes estreitos e o caso de
CORREDORES E SUBÁREAS - 103
Figura 4.12: casas em fileira em uma rua de classe média, subsetor 7e, distrito da Mooca.
Tipo 03 – Edificação implantada sem recuo frontal e com recuos laterais dos dois lados. Não
foram encontradas edificações deste tipo no subsetor 7b. Este tipo tem presença
insignificante na cidade, ocorrendo pontualmente em projetos de galpões e de serviços de
pequeno porte, em bairros antigos ou periféricos do município. Poderia haver eventual
interesse para conjuntos edificados em lotes grandes de uma parte da cidade onde não
fosse exigido o recuo frontal.
tipologia ímpar, esse tipo possui quantidade mediana de unidades, totalizando apenas
trinta e duas. Atendem às diretrizes da legislação atual, figura 4-15.
Figura 4-15: Exemplos do tipo 05
Os grandes edifícios podem ser projetados assentes sobre uma base projeção horizontal
maior, de poucos pavimentos e sujeita às exigências oficiais correntes. O bloco superior em
altura deverá respeitar as diretrizes de zoneamento do município quanto a taxa de
ocupação do lote e o índice de aproveitamento do espaço, além dos requisitos sobre
iluminação natural e insolação. No caso de vários prédios altos em condomínio sobre o
embasamento compartilhado, que usualmente funciona para circulação e jardim, ele
representa uma plataforma cobrindo os pavimentos de garagem, os acessos (principal e de
serviço) e partes para atividades de esporte coberto e sociabilidade. As torres para
habitação, escritórios ou hotéis, normalmente ficam com o pavimento intermediário
assente na laje, o chamado sobressolo, com espaços livres de acesso às áreas descobertas
para lazer e esportes, figura 4.17.
Neste capítulo 4, onde se completa o estudo do quarteto VQLE, é possível refletir sobre a
flexibilidade que a quadra tradicional oferece quanto às opções para a geração de tipos de
lotes e edifícios, sempre pensando na substituição por novos construtos, para atender as
demandas de ordem social que se sucedem. Há também uma história para ser contada
sobre as diretrizes urbanísticas que influem nos aspectos físicos, que, em tempos passados
foi consequência de preocupações com a salubridade dos imóveis, o volume das
construções, para mais tarde se chegar na questão de como fazer os veículos motorizados
circularem e acharem estacionamento. Hoje se levanta a bandeira dos pedestres em
recintos públicos, a ‘cidade para as pessoas’ mesmo em cidades onde o transporte público
ainda não está bem resolvido. Neste processo se destaca o gradativo aumento da área
ocupada pelo sistema de circulação nas cidades, das áreas públicas. Em muitas cidades do
mundo há uma reserva razoável de espaços verdes, incluindo as praças públicas que se
sustentam bem quanto a nova onda no sentido de se valorizar a vida em espaços de uso
coletivo; sem contar com a tradição da facilidade do acesso público a recintos de
propriedade privada.
Na legislação urbana de São Paulo - 2014 - foram introduzidos tópicos para estimular ainda
mais a facilidade de acesso público a locais de controle privado. O que sugere tipos de
edificações já existentes nos locais centrais da cidade, onde a concentração de pessoas é
grande estimulando a ver as vitrines voltadas para calçadas, galerias comerciais ligando
duas ou mais vias, até o centro comercial ocupando uma quadra inteira. Com certeza são
princípios que mexem com os lotes e a maneira de construir novos ou substituir os edifícios
nas quadras. No processo de transformação as vias persistem, as faixas de rolamento de
CORREDORES E SUBÁREAS - 111
veículos motorizados são reduzidas a favor das bicicletas e dos pedestres e em geral afetam
pouco as quadras, sem modificar sua forma.
Ao longo do processo de conhecer a cidade por partes, seus elementos urbanos afloram e
às vezes se delineia uma área com potencial para ser desenvolvida como um special
district. Neste caso logo devem ser reunidas informações contundentes que justifiquem o
projeto urbano para serem apresentadas a sociedade. Vamos mostrar outro exemplo, além
dos relacionados com áreas protegidas que foram apresentados no início deste capítulo.
Trata-se do ‘Corredor Cultural da Mooca- CCM’, nome inventado para este projeto.
Originado da observação prospectiva sobre o espaço determinado pelo binário composto
pelas vias sequenciais Orville Derby- Canuto Saraiva (3) e a rua João Antônio de Oliveira
(A4) até a Rua Borges de Figueiredo (A5). A figura anterior 4-1 permite contextualizar o
espaço sugerido para o projeto urbano CCM. Suas qualidades foram valorizadas no tópico
deste capítulo ‘VQLE: aprendendo com o Subsetor 7e’.
Pode-se chegar a um portfólio completo do possível corredor cultural e motivar a sociedade
para participar deste empreendimento. Desde alterar o nome do projeto para algo mais
sugestivo do que o simulado para promover a implantação desta parte da Mooca como
uma ‘área protegida’. Em seguida deve ser criada uma empresa para tratar do
desenvolvimento local, promover o projeto urbano e ir atrás de parceiros novos para sua
implementação em um prazo determinado. A propósito deixamos a indagação: quem
detonaria este processo, para ser finalizado entre doze e quinze anos, como acontece nos
países mais ricos?
Trazemos esta questão sabendo das dificuldades que existe nas municipalidades brasileiras
sobre as parcerias público-privado, como a tendência da centralização das decisões para
diretrizes de projeto nas mãos de profissionais de carreira ou eventual participantes em
determinada gestão de um prefeito do município. Dificuldades advindas devido a
prepotência de saber que emana dos profissionais do órgão público, da centralidade das
decisões e das propostas nem sempre suficientemente maturadas e as vezes não muito
honestas (envolvendo também finanças) que veem pelo lado do segmento privado.
Fora as questões relacionadas a como desenvolver um empreendimento de projeto
urbano, voltamos ao projeto do ‘Corredor Cultural da Mooca- CCM’, viável de se ajustar
112
A linha com tracejado forte representa a ferrovia. O diagrama acima é alto explicativo: as
vias que atravessam A3 e A4 ficariam responsáveis pelo tráfego maior de ônibus e demais
veículos. A via Borges de Figueiredo, A5, passaria ser a ‘via que atravessa’ no contexto do
CCM, de tráfego local, alimentada pelas transversais desde a via A4. A ideia central do
projeto é a Rua Borges de Figueiredo, A5, ser o palco dos acontecimentos significativos
ligando a diversidade de tipos de uso e formas de apropriação dos espaços já existentes e
outros que poderão ser programadas para este corredor. Oferecer seu trajeto para
transportes leves de âmbito local, se somando aos atributos de animação do corredor
cultural.
No segmento de cultura e sociabilidade a Borges tem que ir muito além de ser entendida
apenas como um local onde existem prédios históricos, uma universidade privada que se
instalou em um deles, vai ter uma nova estação ferroviária, a atual poderá ser tombada e
ser usada para eventos, tem a Rua Guaratinguetá para ser melhorada como ligação de
pedestres até a Igreja São Rafael. Portanto, tem tudo para ser valorizada como um recinto
onde há gente morando, trabalhando e passeando; paulistanos, brasileiros e turistas
estrangeiros, figura 4-19.
CORREDORES E SUBÁREAS - 113
controle do comércio e serviços, sem ter direitos políticos e, os ‘escravos’, que constituíam
a maioria da população, em um contexto socioeconômico que chegou à relação de dezoito
escravos para cada cidadão adulto. Hipodamo, projetou as vias definidoras da retícula
constituindo três conjuntos de quadras, destinados conforme a categoria da casta social a
que se destinava. Como princípio foram destinados aos ‘cidadãos’ os lotes maiores, os
‘metecos’ ficaram com os lotes médios e pela discriminação social coube aos ‘escravos’ os
lotes menores. Como os escravos circulavam a pé, coube a eles a mancha menor dos
recortes da península onde se assentou a cidade. O centro administrativo e comercial ficou
na parte mais central do conjunto urbano projetado, figura 5-1 (MOHOLY-NAGY, 1968, p
81-87).
Figura 5.2: O traçado ortogonal e a vista pelo eixo de uma via que atravessa.
Longe de pretender contar em detalhes a história dos tecidos em malha e apesar da sua
importância, tomamos a liberdade de avançar séculos adiante para pontuar outros
traçados que se tornaram icônicos.
Fundada em 1733, Savannah se localiza na margem do Rio Savannah, distante trinta e dois
quilômetros do Oceano Atlântico, onde o rio deságua. Localização estratégica na época –
inclusive por razões de segurança - porque Savannah deveria se tornar um importante
porto da costa do Atlântico sul. O mapa datado de 1815 (oitenta e dois anos após a
CORREDORES E SUBÁREAS - 119
inauguração) mostra como a cidade foi implantada junto ao rio, em direção aproximada
Norte-Sul (figura 5-3A, a seguir)
A cidade de Savannah, última capital do império britânico na América do Norte foi
projetada pelo estadista e reformista inglês James Edward Oglethorpe, intelectual imbuído
dos ideais do Iluminismo, no século XVIII e simpatizante do movimento abolicionista norte-
americano (1830). O traçado para a cidade, situada em um espaço natural de 281,5
quilômetros quadrados, se baseou na procura do equilíbrio entre as atividades rurais e
como viver bem na cidade; sua população atual é de 145.862 (2018).
O traçado de Savannah foi pensado para haver um módulo, o ward (subdivisão, tendo
representatividade na cidade) com superfície de dois e meio hectares, uma porção de
espaço (‘superquadra’) que se repete como um padrão de ocupação territorial. O ward é
subdividido em quatro partes para residências (tythings) e cada parte possui uma viela
(lane) para acesso de serviços, separando duas carreiras de lotes. Um ‘tything’, do inglês
antigo, ou tithing, corresponde a uma pequena divisão administrativa, preservada até hoje
na Inglaterra e antigamente constituída por dez homens e suas famílias. Chamamos
atenção pelo modo como o desenho urbano resulta do programa de organização social.
Cada lote tem cerca de doze e meio metros de frente e dezoito de fundo. As alas ou grupos
de residenciais são nomeadas pela localização a Noroeste, Nordeste, Sudoeste e Sudeste
(Northwest, Northeast, Southwest e por Southeast Tything). Existem quatro quadras para
atividades institucionais (públicas ou privadas), separadas duas a duas e pela praça central
do ward, nomeadas por Northwest, Northeast, Southwest e por Southeast Trust Lot. Dois
a dois os yards são contornados por vias públicas, que contam com generosas calçadas e a
praça central com seus principais acessos de configuração axial, figura 5.3-B. Em 3A se
reproduz uma planta de 1815 (oitenta e dois anos desde a inauguração da cidade) e, em 3B
aparece o diagrama conceitual do ward conforme idealizado pela equipe de Oglethorpe.
A área central de Savannah faz parte de um plano regional (the Oglethorpe Plan) que previa
nos arredores da área central das cidades; parques, fazendas e vilas. Segundo se demonstra
pela história, a área urbanizada cresceu muito e transformou o equilíbrio urbano-rural
preconizado por James E. Oglethorpe, assunto tratado pelo historiador-professor Thomas
120
Na área da ocupação tradicional pelos wards destaca-se as vias que atravessam e as que
distribuem a circulação de veículos, o que reforça o conceito do traçado em retícula. Sobre
CORREDORES E SUBÁREAS - 121
a foto aérea observar as linhas finas e as grossas. Cumpre lembrar que naquele tempo não
existiam automóveis e o espaço das vias era para pedestres e veículos à tração animal. Por
reconhecimento em foto do Google (11.07.2020) se pode observar que para vinte e um
wards (84 ha) foi ocupada uma superfície de cento e cinquenta hectares. A diferença
ficando para as vias que atravessam, distribuem e demais áreas públicas, figura 5-4.
Na análise do plano geral deve ser considerado que os wards tem a dimensão de 2,5ha
(quadrado de 150 m de lado). A implantação da cidade a partir de 1830 começou com seis
wards, em seguida mais dois e as etapas prosseguiram em módulos de dois conjuntos de
quatro wards. Cada praça possui um marco de referência no centro, ponto focal para
enfatizar a composição paisagística clássica. De uma à outra praça o marco visual, pode ser
uma grande escultura ou um chafariz, que marca a centralidade reforçada pela clareira que
se forma ao redor e serve para orientar o caminho dos pedestres, entre um exuberante
entorno arborizado, figura 5-5.
Nas quadras destinadas para as residências (tythings) observa-se que os lotes podem ser
subdivididos e na faixa de recuo, existente como diretriz para o alinhamento dos imóveis é
permitido serem instaladas escadas de acesso a residências no primeiro piso, ficando o
térreo como um porão visitável, o basement da edificação principal. Este tipo de arranjo
está representado pelas fotos. Para exemplificar, mostra-se um prédio de esquina
destinado a pessoas de renda mais alta que o citado antes, que em verdade são dois
imóveis: um com janelas marrom e o outro na cor preto. Nestes imóveis, o pavimento
CORREDORES E SUBÁREAS - 123
térreo funciona ou pode funcionar para locação em separado, figura 5.6. Em 6A, casas em
fileira e em 6B residências assobradadas e geminadas.
No distrito histórico de Savannah é grande variedade de tipos de edifícios, estilos e
dimensões dos imóveis, dado a liberdade que houve para construir residenciais e edifícios
institucionais. No Massie Heritage Center, um local destinado a história do urbanismo e
arquitetura de Savannah, existe uma sequência de painéis com uma classificação de tipos,
pelos estilos da arquitetura, desde os primórdios do município que supera a quantidade de
duas dezenas. Caso fosse possível cruzar esta informação sobre os estilos com o projeto
dos espaços físicos; como tipos de arranjos espaciais, o número de casos seria muito maior.
Manhattan, um dos cinco burgos (distritos) do município de New York, como fruto do
desenvolvimento e da expectativa da população de ali se erguer uma grande cidade - em
particular de pessoas com visão comercial - com recursos privados foi desenvolvido em
1807 um plano diretor físico para toda a ilha (59,10 km²). O chamado The Commissioners’
Plan, foi objeto de grande polêmica na cidade onde as pessoas diziam que construir ruas
com dinheiro público para favorecer grupos comerciais que já estavam prontos para
investir em grandes edifícios não era justo, além de que o plano apresentado era uma
retícula ortogonal monótona. Resultou que sua oficialização pelo município foi acontecer
pouco mais de três anos depois, com a designação de The Commissioners’ Plan of 1811. As
quadras de Manhattan foram definidas em função de uma dimensão julgada adequada na
época, um retângulo de 50 a 70 m, por 150 a 200 m traçadas com a lateral maior no sentido
transversal da ilha. Isto levaria a configuração de um feixe de vias longitudinais paralelas
espaçadas de no máximo 200 m, largura boa para a distribuição das linhas de transporte
coletivo por vias principais, e, a largura das quadras máxima de 70 m, que ofereceria opções
favoráveis ao deslocamento transversal dos pedestres. Este padrão de quadras foi
considerado bom também para o parcelamento em lotes, quanto à comercialização e para
a construção de edifícios altos. Quando houvesse interesse o acesso poderia se fazer pelas
duas ruas distanciadas por oitenta metros. Também se admitia a junção de quadras para
formar uma superquadra onde as passagens internas seriam ajustadas pelo projeto e
responsabilidade do empreendedor; na atualidade um bom exemplo é o empreendimento
corporativo Rockefeller Center. Sobre as características do tecido da ilha deve se considerar
CORREDORES E SUBÁREAS - 125
Figura 5-7: The Commissioners Plan 1807/ 1811 e, quadras no Sudoeste de Manhattan
A implantação dos edifícios na maior parte da ilha é variada quanto à altura, ao volume das
construções e à diversidade dos tipos construtivos. Percebe-se isto pela análise da foto
seguinte, que realça as diferenças de altura e da forma dos prédios. Para quem caminha
pelas calçadas largas, acompanhado pelo vai e vem dos veículos de um lado e de outro
pelas variadas fachadas, há um enquadramento dos visuais que oferece variedade para o
olhar de cada trecho que se percorre. Na foto, onde mostramos a parte Sul do Central Park
pode se observar esta característica, que é ainda mais forte nas avenidas retratadas em
portfólios para os turistas, figura 5-8.
Como locais que amenizam o efeito da malha regular existem as praças públicas e os
pocket-parks da iniciativa privada, que constituem pontos atrativos entre os prédios.
Manhattan, personifica o dizer ‘The big apple’ (grande vigor) devido a força da sua
centralidade de interesse internacional e, para o que nos interessa - tecidos urbanos em
malha - utilizarmos a referência norte-americana para enfatizar a ideia de flexibilidade que
possuem as configurações deste tipo. As quadras relativamente pequenas e o tamanho de
lotes variado, são tipos que permitem diversidade no volume das construções, como
apontamos ao estudar o setor 7 do distrito da Mooca e se repete em São Paulo de modo
geral.
CORREDORES E SUBÁREAS - 127
O ‘ensanche’ de Barcelona
O projeto para a expansão da área urbana de Barcelona, objeto de concurso público nos
anos 1850 teve como resultado a proposta da equipe de responsabilidade do engenheiro
urbanista (e político) Ildefonso Cerdá. Foi um plano forte como ideia, abrangendo uma
área de expansão maior que cinco vezes o sítio da cidade existente, o ‘Ensanche’ chamado
pelos catalães. Baseava-se no lançamento de extensa malha constituída por vias com
largura de 20, 40 e 60 m e quadras de formato regular com 113 m de lado e com chanfros
a quarenta e cinco graus nas esquinas (aproximadamente 12.000 m²). Um sistema em
retícula interceptado por dois eixos transversais à maneira da Paris do Barão Haussmann,
articulados por uma praça central, a Plaça dels Paisos Catalans. A novidade do plano foi a
configuração das quadras, que eram associadas a tipos, conforme alternativas para a
implantação das edificações, bem apresentadas por diagramas e acompanhadas de
quantitativos desde a largura das vias, critérios para a definição da volumetria (em planta
e elevação), densidade demográfica e indicações para a engenharia de infraestrutura,
figura 5- 9.
As cinco quadras voltadas para a avenida beira-mar são parte do perímetro destinado a Vila
Olímpica e foram projetadas com inspiração nos diagramas do plano de 1850. Uma
reverência, só possível porque a entidade paraestatal empreendedora dos jogos era a
gerenciadora de todo o sítio destinado ao centro olímpico e, não houve interesses
comerciais que exigissem o parcelamento das quadras em lotes ou impedissem o projeto
das ‘superunidades’ (como os urbanistas as designaram) com baixa taxa de ocupação do
solo. É interessante observar a força do significado do conceito de pátio interior proposto
por Cerdá como influiu na equipe de Bohigas ao desenhar as quadras defronte ao mar, na
130
medida que se preferiu replicar o esquema, a explorar a maior interação com o jardim
linear defronte e as vistas para a paisagem costeira, figura 5-11.
Pela observação das figuras 10 e 11 se demonstra que a ideia de inserir pátios verdes de
acesso público no interior da quadra, em maioria, não aconteceu com a largueza
preconizada pelo plano. Fato decorrente do seu processo de implementação que deveria
atender as diretrizes relativas ao desenho da rua, da quadra, do lote e dos edifícios, mas, a
realidade mostrou a necessidade de existir lotes de tamanho viável para os pequenos
empreendimentos, o que afetou a ideia do grande pátio verde em diversos locais da cidade
– com certeza os menos nobres. O emblemático projeto para Barcelona se desenvolveu
em um tempo - metade do século XIX - quando ainda não se pensava nas benesses dos
veículos motorizados.
Dando outro salto na história, chegaram os automóveis, os ônibus, os ônibus cada vez
maiores e os monotrilhos. Eles foram tomando os espaços das ruas, até a revolta contra
eles pela bandeira das cidades caminháveis, saudáveis e sustentáveis. Nesta evolução o
mundo passa pelos conceitos das cidades jardim, do urbanismo moderno, do novo
urbanismo e dos contemporâneos (top-down e bottom-up). O fato é que a circulação, ou
CORREDORES E SUBÁREAS - 131
mobilidade de veículos, motorizados, sem motor e de pedestres nas cidades passou a ser
de fundamental importância no planejamento, planos e projetos urbanos.
Brasília e as superquadras
permitir que nos tecidos tradicionais se criem aglomerados que, mesmo tendo seus
equipamentos de conveniência misturados, possam ter um ambiente enriquecedor de
convívio humano. Neste sentido lembramos que os wards projetados em 1733 para a
cidade de Savannah caracterizam um tipo de tecido urbano orientado por retícula
ortogonal, onde o ward (200x200 = 4 ha) pode ser considerado uma superquadra (equivale
a quatro quadras tradicionais de 100x100 m) com a característica de ser um espaço de uso
misto. Ainda a respeito de Savannah, chamamos atenção para que no traçado em retícula
ortogonal foram previstas vias de maior largura em função dos trajetos maiores, servindo
como organizadores do espaçamento entre grupos de wards; sua função era valorizar
visualmente as vias principais e não dar uma resposta ao volume de tráfego como fator
determinante, como hoje em dia se faz. Em Manhattan, de acordo com o plano de 1811, as
vias traçadas no sentido longitudinal da ilha foram projetadas mais largas devido aos
percursos serem mais longos e, em função da demanda por transporte coletivo já prevista
naquela época. No plano de Brasília a circulação entre as áreas setorizadas das atividades
urbanas; residencial, à administrativa do país e a do governo local, tomaram a forma de
avião: o eixo gregário residencial arqueada perpendicular ao eixo monumental.
Figura 5-13: o padrão para uma área de vizinhança
Fonte: Diagrama do Urban Planning Office, M. K. Destaque em preto do autor. Commons Wikimedia.
principais e áreas de vizinhança quase na mesma época foi usada no plano para Brasília,
onde o sistema reticular foi proposto por um tipo de traçado não tanto uniforme.
Figura 5-15: O bairro Oldbrook em Milton Keynes
Nosso estudo é sobre a forma dos tecidos e o projeto urbano, restrito ao contexto brasileiro
e a algum conhecimento estendido para a Europa e América do Norte. Nisto importa
considerar que desde o final dos anos 1950 a crítica ao Movimento Moderno começou a se
fazer forte, apontando para a sua falência. O descontentamento dos moradores de grandes
conjuntos habitacionais e os consequentes problemas sociais, levou a demolições de
grande porte. Algumas delas se referem a projetos elaborados por escritórios que são
referência internacional de Arquitetura e isto nos interessa quanto as decisões à nível
programático de realizá-los. No pós-guerra mundial enquanto se desenvolviam processos
de pré-fabricação, políticos e planejadores urbanos decidiam onde e como construir
habitações para todos. Chegou-se em muitos países a decisão de construir conjuntos
habitacionais de grande porte e foi a oportunidade para muitos bons arquitetos
trabalharem sob a égide modernista que vinha se aperfeiçoando desde os anos 1930,
através de diversos congressos internacionais.
Com as melhores intenções, apoiados na engenharia, na arquitetura e nos urbanistas,
diferentes países decidiram resolver o déficit habitacional através do conceito de construir
unidades residenciais com área útil pequena, mas, contrabalançadas por espaços
generosos ao ar livre generosos. Foi a influência do cânone modernista, explicado por
teorias contundentes. Construídos, bem divulgados pelos meios de comunicação, modelo
para estudantes e arquitetos, os grandes conjuntos habitacionais não se mostraram ser
bons lugares para a vida das pessoas e alguns foram demolidos. Chegou-se desta maneira
ao final Urbanismo Moderno (JENCKS 1985).
Referimo-nos aos grandes conjuntos para salientar que a maior razão deles terem vindo ao
chão, o terreno voltar a ficar vazio, caracteriza um processo de substituir construções cujo
programa de necessidades estava inadequado com a natureza do local. Nos dois casos
tomados como exemplo faltou a integração com o local no sentido de abrigar diferentes
tipos de uso do solo e abrir para a cidade tipos diversificados de áreas livres e verdes.
Selecionamos dois casos icônicos com o intuito de mostrar que, os terrenos grandes devem
ter suas construções programadas para serem parte de um ambiente urbano, ou seja, um
142
O projeto dos Smithsons data do final dos anos 1960, foi inaugurado em 1972 e a demolição
do primeiro bloco aconteceu entre 2012 e 2017. O novo projeto para a quadra trapezoidal
está previsto ser implantado até 2021.
É importante assinalar que a renovação desta quadra, foi planejada desde os anos 1990,
como parte integrante de um projeto urbano chamado Blackwall Reach Development que
144
se estende para um trecho de doze hectares, como está indicado na figura 6-2. O estudo
de caso foi escolhido para ilustrar o que vimos argumentando no sentido do projeto urbano
ser parte da cidade, se integrarem ao tecido local e oferecerem variados tipos de habitação.
A área de doze hectares comparada a outros projetos permite dizer que facilita a interação
entre os participantes, facilita a implementação do projeto urbano, segundo o princípio de
se reduzir o aporte de dinheiro público.
Nos Estados Unidos da América a partir dos anos 1960 cresceu o descontentamento com
as obras viárias que comprometiam a integridade de bairros e de comunidades locais.
Situação estudada por vários autores de onde destacamos os movimentos do tipo advocacy
planning, característico das cidades maiores. Sobre esta matéria uma boa referência são os
escritos do arquiteto-professor Robert Goodman, MIT, Massachusetts Institute of
Technology e ativo participante de movimentos sociais urbanos nos Estados Unidos da
América (GOODMAN, 1972).
O que se destaca sobre a população ficar descontente com as decisões governamentais
sobre o sistema viário ou com a habitação social se relaciona com o exercício do
planejamento urbano centralizado, na ânsia para atingir números estabelecidos como
meta, como ocorre também no Brasil. Procedimento em que fica de lado o sentido
humanitário no trato com as pessoas. Esta fase expressa as sérias consequências do
movimento moderno de urbanismo e arquitetura na vida das famílias de baixa renda. Hoje
se analisa o impacto dos grandes conjuntos habitacionais à luz do que foi o entusiasmo para
este tipo de empreendimento e o insucesso devido a rejeição apresentada pelos moradores
em muitos locais. Nos EUA a resposta oficial foi rápida e logo passaram a ser demolidos
conjuntos mono funcionais projetados em altura, projetados por reconhecidos escritórios
de acordo com os princípios da Arquitetura e do Urbanismo Moderno. Como o nosso
trabalho tem foco na substituição dos espaços que resultam das necessidades das pessoas
ao caminhar do tempo, destacamos Pruitt-Igoe, nos EUA, temporalmente anterior ao
conjunto Robin Hood Garden, sendo os dois exemplos radicais da substituição de tipos de
espaços em consequência da falência do planejamento voltado para empreendimentos que
deveriam suprir necessidades prementes da sociedade.
Trataremos da demolição de um conjunto habitacional na cidade de Saint-Louis, localizada
no estado de Missouri (população 320.000 em 2019), ocorrida no período de 1972 a 1975,
ação referenciada por diversos autores como o fim do Urbanismo Moderno. Julgamos isto
ser uma atitude panfletária dos intelectuais, mas, foi o jeito encontrado para tratar a
matéria tão candente para o mundo inteiro. O projeto data de 1955, foi elaborado pelo
escritório do arquiteto Minoru Yamasaki (Yamasaki & Associates) e agraciado com um
146
prêmio do American Institute of Architects, AIA, pouco depois de sua inauguração ao final
dos anos cinquenta.
O nome Pruitt-Igoe vem da junção do nome de dois conjuntos habitacionais vizinhos, um
chamado Wendell Olliver Pruitt Homens e o outro William Leo Igoe Apartments, ocupando
uma parcela com a área aproximada de trinta e sete hectares. Pela imagem de 1968 é
possível observar a posição relativa dos conjuntos, alguns edifícios comunitários e o espaço
livre de reserva para equipamentos sociais e jardins.
Os prédios foram demolidos entre 1972 e 1976 e a literatura aponta para os trinta e três
prédios de onze pavimentos e dois mil oitocentos e setenta unidades residenciais, para
abrigar cerca de nove mil e quinhentos residentes, em uma área de trinta e sete hectares.
(257 hab/ha). A escolha da boa orientação solar, Leste- Oeste, também adequada quanto
aos ventos, levou ao projeto de prédios paralelos na parte maior do conjunto. Na porção
de área menor onde os apartamentos eram maiores, destinados para famílias em uma faixa
de renda mais alta, foi utilizado o esquema em Y que leva a diferentes direções para as
fachadas. Duas alternativas para implantação dos prédios, usuais por escritórios europeus
representativas do Urbanismo Moderno, que não conduzem a espaços de uso coletivo de
boa qualidade.
Após a demolição (1972-1976) o destino de Pruitt Igoe foi permanecer como um espaço
desocupado. As fotografias aéreas mostram que os setores Norte e Noroeste da cidade tem
um tipo de tecido caracterizado por quadras pequenas e de baixa ocupação. Neste contexto
a implantação dos prédios de onze pavimentos com população de nove mil e quinhentos
habitantes, em apartamentos pequenos formando uma ilha isolada foi um dos fatores
fortes que levou a ação de destruí-los. Há outras razões citadas como a indisponibilidade
financeira para a implantação de serviços de apoio e o agenciamento mal resolvido dos
espaços abertos, que se somam ao tipo de inserção urbana deste conjunto habitacional
(TRANCIK, R. 1986), figura 6-3.
CORREDORES E SUBÁREAS - 147
A foto abaixo, não datada (provável ser por volta de 1980) foi tirada na direção Noroeste –
Sudeste e permite se considerar correta esta orientação, pela posição em que se encontra
o Gateway Arch construído em 1965 e localizado no Gateway Arch National Park, a menos
de três mil metros de distância de Pruitt-Igoe. O arco cujo projeto datado de 1947 é de
autoria do arquiteto finlandês Eero Saarinen, se distingue por seus cento e noventa e dois
metros de altura. Ele simboliza um portal de entrada para o Oeste norte americano e se
passaram dezoito anos até o início da sua construção (1965). Chamamos atenção para a
demora com que ocorre a disponibilidade financeira do município de Saint Louis para
grandes empreendimentos urbanos, e por pressuposto Pruitt Igoe foi uma exceção,
148
Como uma paródia hoje se poderia dizer que o arco simboliza à vontade para desenvolver
as porções Norte e Sul da cidade, onde a ocupação é rarefeita e de pouco interesse
imobiliário para curto prazo. Hoje (2020) se percebe a vontade do poder público de Saint
Louis para desenvolver a área onde se encontra Pruitt Igoe, não é mais através da decisão
pontual para resolver um déficit habitacional, e sim por um plano urbanístico abrangendo
o setor Norte da cidade. O urbanismo passa a ser feito percorrendo suas etapas
operacionais de planejamento urbano, plano e projeto.
Recentemente em Saint Louis o grupo oficial de planejamento e o Land Clearance for
Redevelopment Authority (Autoridade de Desobstrução de Terras para Reurbanização),
entidade criada para eliminar e prevenir a praga durante a reforma da comunidade, decidiu
negociar a área de Pruitt-Igoe com um grupo imobiliário privado. A empresa de origem no
próprio estado do Missouri, The Mckee Group especializada em estratégias para a
CORREDORES E SUBÁREAS - 149
O empreendedor Paul McKee garantiu por três anos a opção para comprar
por U$ 1 milhão a antiga gleba de Pruitt-Igoe, na cidade de St. Louis. Essa
garantia está para expirar no final deste mês. Mas, a Autoridade de
Liberação de Terras para Reestruturação da Cidade, estendeu a opção de
McKee pela segunda vez em três anos, durante uma reunião fechada
(ALTMAN, 2016).
As partes Norte e Sul da cidade são separadas por uma faixa de pujante desenvolvimento
urbano com a largura média de mil e seiscentos metros e que canaliza o movimento
veicular principal na direção leste-oeste, até à margem do rio Missouri. Esta faixa de
ocupação intensiva é marcada pela Market Street, uma designação recorrente nas cidades
americanas da via de comércio central. Em Saint Louis ela é do tipo boulevard e permite
visuais focadas no Gateway Arch. Esta área está destacada na cor lilás no diagrama, figura
6-5
Na parte Norte envolvendo as quadras onde os lotes são pequenos, ao redor da parcela
vazia do antigo conjunto habitacional Pruitt Igoe, despontam construções com um ou dois
pavimentos e a empresa The Mckee Group tem comprado lotes de maneira esparsa na
área. Assinalamos na foto da parte Norte da cidade os setores do entorno da área livre
deixada pela demolição e o espaço abrangido por setores vizinhos, conforme o
procedimento dos corredores e subáreas; em auxílio para a análise de tecidos urbanos por
partes. Um exercício para demonstrar o critério da subdivisão da cidade pelas vias que
atravessam, com base na foto do Google Earth e alguns percursos de verificação passeando
pelo Street View. Foram identificados seis setores e o de número 5 é a parcela Pruitt Igoe.
Apenas por pesquisas na Internet verificamos que o Grupo Mckee tem adquirido imóveis
esparsos na região e se interessam em adquirir o setor Pruitt Igoe ou estabelecer parceria
com a prefeitura de Saint Louis. Isto sinaliza a necessidade de haver um plano da área toda
(seis setores) e a identificação de partes como special districts que seriam pilotos para o
desenvolvimento estruturado do conjunto e a integração com a faixa central de Saint Louis,
e mais ao Sul com a parte já desenvolvida.
150
já estruturado. Nos EUA, nove mil e quinhentas pessoas distribuídas segundo um critério
de neighbourhood caberiam nos trinta e sete hectares, se houvesse abertura para o
desenvolvimento dos setores vizinhos, todos entendidos como parte de uma cidade. A
gleba remanescente da demolição com a visão do urbanismo sustentável, certamente
passará ser considerada como um projeto urbano formado por núcleos menores integrados
como um subsetor, a setores da cidade como um todo. Em nosso exemplo são seis setores
que deverão gerar subsetores criteriosamente associados a vias que distribuem (NEWMAN;
JENNINGS, 2008).
A experiência de estudar o caso de Pruitt Igoe faz lembrar a implantação dos grandes
conjuntos habitacionais mono funcionais em bairros afastados da zona Leste da cidade de
São Paulo nos anos sessenta, onde eles permaneceram por terem densidade de ocupação
relativamente baixa e pela pouca exigência dos moradores. Ainda m São Paulo temos o
caso do Edifício São Vito, uma proposta de verticalização para habitação subsidiada no
Centro de São Paulo que como os casos da Inglaterra e dos EUA mostrados neste capítulo,
progrediu para o insucesso e a demolição. Atualmente em São Paulo, dito em nova base de
organização condominial, voltou-se a projetar e construir habitação em prédios altos
152
CORREDORES E SUBÁREAS - 153
Prosseguindo com nossa atenção para o traçado de cidades, onde a preocupação com o
desenho da quadra sempre toma lugar, vamos para um estágio de revisão do Moderno e
pautada nos tipos do Novo Urbanismo. Este movimento se propagou nos EUA e se
assemelha discretamente ao que vem sendo desenvolvido na Europa, por muitos
arquitetos, com vista aos parâmetros de sustentabilidade. De forma discreta, na medida
que as preocupações do Novo Urbanismo são oportunas, mas, se atêm a itens de
externalidade da sustentabilidade como o uso de carros elétricos, andar de bicicleta,
economia de água ou a aproximação com aspectos da paisagem natural. Esta seria a prática
convencional já ampliada pelos europeus. O arquiteto-professor Douglas Farr fornece um
alerta:
A versão original do livro data de 2008 e isto importa para localizar o pensamento de
Douglas Farr no tempo. A questão da sustentabilidade é muito importante, mesmo que
levemente ela passe a influir nos novos projetos, é um fator que tem repercussão na
configuração do tecido urbano e, portanto, nos estudos de morfologia, objeto de nosso
trabalho.
O Novo Urbanismo eclodiu nos anos 1980 e após diversos congressos, seus propósitos
ficaram expressos pela Carta do Novo Urbanismo de 1996, cujo conteúdo envolve itens
desde a região até o quarteirão e de sustentabilidade associada ao contexto urbano e
regional (MACEDO, 2006).
154
Na Europa, certamente pelo rigor das guerras que os países passaram desde o início do
século XX, se reflete na arquitetura e no urbanismo um apego à economia, à racionalidade
dos sistemas de infraestrutura urbana e das construções. Isto é um dos fatores que
permitiu aos europeus a passagem com tranquilidade para a situação de maior atenção
como hoje se dá para as questões relativas à sustentabilidade. Uma importante iniciativa
foi o Conselho dos Arquitetos Europeu - Council of European Architects, CEA - promover a
elaboração de um manual para sustentabilidade em diferentes idiomas, The Green
Vitruvius, mantido o nome universal na versão portuguesa (CEA, 1999).
No plano internacional há bairros ou setores da cidade, neighborhoods, que foram
projetados como ambientes sustentáveis. São diversos projetos que assim poderiam ser
classificados, não apenas na Europa. Destacamos como país pioneiro a Suécia, onde, em
Estocolmo são de nosso interesse os bairros Hammarby Sjöstad e Järla Sjö, devido à
natureza de seus tecidos urbanos e o caminho que eles fornecem para valorizar a malha
ortogonal, o que reforça sua persistência em projetos para atender a objetivos
diferenciados, nas mais variadas culturas.
No plano diretor para Hammarby (1996) coordenado pela municipalidade de Estocolmo e
desenvolvido por um grupo multidisciplinar de urban design, foi previsto o traçado em
retícula ortogonal, direcionada por setores, assentadas na leve inclinação do sítio e
recortadas acompanhando a forma ditada pela margem irregular do lago, figura 7-4.
158
As quadras são pequenas (2.500 m²), médias (7.500 m²) e grandes (12.500 m²) e as
edificações nas quadras seguem os alinhamentos das vias deixando pátios chegando
próximo e abertos à vista para o lago. No conjunto do traçado interessa observar a
acomodação que é feita com o terreno, deixando sempre vias locais de topo com a margem
do lago para facilitar a drenagem. Estas são diretrizes (guidelines) que se percebe por uma
análise rápida do traçado deste projeto, figura 7-5.
As vias locais, em duas mãos de direção, chegam próximo ao lago e observa-se que a
vegetação está plantada em pontos marcados no leito da via, deixando espaço para dois
automóveis estacionarem entre elas. Desta forma as calçadas ficam com sua faixa
pavimentada livre para os pedestres. As edificações alinhadas com as calçadas seguem o
gabarito de altura do tipo térreo mais três pavimentos e uso misto. O bairro tem vocação
para atividades industriais, além da residencial, de comércio e serviços, com localizações
distribuídas, mas, implantadas de preferência em um setor de centralidade localizado ao
Sul de Hammarby, com ligação por uma via que atravessa o bairro e chega até a rodovia.
CORREDORES E SUBÁREAS - 159
Järla Sjö
Na escala local Järla Sjö possui uma escola para ensino elementar e médio, creches, lojas,
restaurantes, facilidades para esportes e serviços. De amplitude regional se destaca o
centro de comércio e serviços, resultante do aproveitamento de galpões industriais com a
adição em sua continuidade de novos espaços comerciais e um deck de madeira na borda
do lago fazendo a ligação entre as duas partes do bairro, figura 7-7.
CORREDORES E SUBÁREAS - 161
A planta industrial remanescente é datada de 1860, uma fábrica de turbinas desativada nos
anos sessenta do século XX. Passou por cuidadoso trabalho de restauro para fazer parte do
centro comercial que se instalava e hoje o conjunto vem a ser um marco de referência para
Estocolmo.
A polêmica movida em torno do plano desde 1970, teve como fundamento a discussão não
favorável para o enfoque Moderno e o passar do tempo fez com que se consolidasse a
escolha do plano de parcelamento do solo em quadras retangulares ou irregulares se
acomodando a topografia local. As desavenças que privilegiaram a proposta respeitosa com
a cultura do lugar e pautada em critérios de sustentabilidade prevaleceu e, como na época
se procurava determinar um local para o primeiro encontro sobre o Novo Urbanismo
Europeu, por estes motivos a escolha foi pelo bairro Järla Sjö, situado a 8 km do centro de
Estocolmo (MACEDO, 2009).
Järla Sjö, projetada como uma cidade-jardim, tem quadras pequenas retangulares, a menor
50x70 m, e diversas quadras irregulares abertas, sem muita padronização. Entre as
162
Nos exemplos deste texto pode-se ressaltar como a versátil quadra de Mileto (1 ha) é
reinterpretada em Savannah para se adaptar a um módulo de repetição maior (2,5 ha), com
vias locais internas ao perímetro desenhando pequenas quadras; em Brasília o módulo de
repetição passa para 8 ha e em Milton Keynes a malha ordenadora do projeto passa a 100
ha, devido a precedência ser dada ao sistema viário que atravessa a cidade. Estas
transformações do tipo original concebido por Hipodamo de Mileto, ao longo do tempo
são comentadas com propriedade por Joan Busquets, arquiteto-professor visitante de
Harvard que deixou, em relatório de pesquisa sobre cidades em malha, o depoimento a
seguir:
Quando a aluna e hoje arquiteta Amanda Chyoshi, cidadã de Santo André, foi bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, atendendo a um programa de
quatro semestres oferecido pelo Conselho Nacional de Pesquisas, na Universidade São
Judas Tadeu, ela contribuiu com a nossa investigação sobre as quadras de formato
ortogonal, ou, base do nomeamos por tecido do tipo tradicional. Como procedimento de
trabalho se aplicou o princípio de análise da forma urbana através dos setores, vias,
corredores e subáreas. Foi selecionado como área-estudo um setor, situado em um distrito
do município de Santo André, chamado Bairro Jardim. Definido o setor por vias que
atravessam a pesquisa se centrou na flexibilidade que o traçado em retícula possibilita para
a ocupação dos espaços da cidade e em áreas a urbanizar. No caso do Bairro Jardim a
atenção foi dispensada para as maneiras de parcelar uma quadra em lotes e suas
transformações com o tempo. Para embasar esta opção se fez vista sobre o projeto de
cidades de tecido tradicional e outras contemporâneas que apresentassem variações deste
critério. Material colhido a mais tempo e utilizado nos capítulos precedentes, resultante de
referências bibliográficas, de viagens e por vezes assuntos anteriores, por nós apresentados
através de artigos. A constatação de fundo está centrada no princípio que a demanda para
usos novos ao passar do tempo induz as transformações das quadras, enriquece a
configuração do tecido e oferece opções para o redesenho, em particular, do limiar entre
os espaços privados representados pelos lotes e o espaço das vias públicas. Como se
poderia dizer: esse é o mote do desenho urbano contemporâneo! (SPECK, 2012).
O Bairro Jardim foi inicialmente desenvolvido por força da implantação de um parque
industrial no município de Santo André, condição facilitada pela existência da linha férrea
que beira o Rio Tamanduateí e as terras planas de várzea. Hoje, em decorrência da
desativação das plantas industriais de grande porte, o transporte pela ferrovia se destina
ao fluxo de pessoas e não é mais preferencial para as cargas. O tecido urbano cuja
transformação é lenta, se mantém com os trechos de quadras grandes consolidadas onde
estavam as indústrias e quadras regulares destinadas a outras atividades. Pairavam
indústrias de grande porte e hoje espaços vazios, alguns ainda com galpões, aproveitados
168
A fileira de quadras lindeiras com a ferrovia, mais uma onde foi implantado o parque,
tiveram seu desenvolvimento retardado devido a saída das grandes indústrias o que vem
ocorrendo como um processo gradual. Pelas fotos aéreas pode-se observar que a
densidade maior de edifícios em altura ocorreu e isto ainda acontece na terceira faixa de
quadras paralelas a ferrovia. Esta formação dos espaços deve-se a continuidade das vias
que apoiam o sistema de retículas do Bairro Jardim com o restante da cidade até chegar a
sua área central. Fato que acelerou a caracterização de um centro de bairro, oferecendo
espaços para habitação, comércio, instituições e áreas livres (modestas) que evoluem
harmonicamente para o centro da cidade. Neste sentido, se admite o Bairro Jardim como
um bom exemplo da flexibilidade do emprego das retículas em um contexto em que a
ocupação do solo é mais recente quando comparada com o de cidades mais antigas.
Citamos antes o caso da Ilha de Manhattan, em Nova Iorque, de Fortaleza e das quadras
do distrito do Tatuapé em São Paulo e se pode constatar a diversidade de formas de uso e
ocupação do solo que o tecido em retículas possibilita, figuras 9-1A e 9-1B.
Sobre a planta do bairro foi realçado o perímetro de cada um dos setores, selecionados por
vias que atravessam e resultou uma subdivisão em oito subsetores, figura 9-2.
Modo geral o Bairro Jardim passou a se caracterizar pela construção de edifícios em altura
que utilizam uma parte significativa da superfície do lote para a garagem, cuja laje de
cobertura é para ser entendida como um ‘sobressolo’ ajardinado e distribuidor do
movimento das pessoas para o acesso a diferentes blocos do condomínio. Existem as
edificações de baixo gabarito com grande projeção horizontal como os supermercados,
revendedoras de veículos e ginásios de esporte, escolas e hospitais, que aparecem no figure
ground ocupando uma projeção horizontal expressiva. Nas fotos a seguir se pode observar
algumas características das relações público-privado comuns no Bairro Jardim e repetitivas
na região de São Paulo, figura 9-7. Em figura 7A, observar o muro do condomínio, a parede
CORREDORES E SUBÁREAS - 175
da garagem em segundo plano e em seguida o prédio. Em 7B, uma via de distribuição com
casas recuadas e grades.
Quanto ao tamanho dos lotes a predominância é daqueles entre 250 m² e 1.000 m², no
total de setenta lotes (total aferido 41.242 m²); os lotes entre 1.001 e 2.500 m² vêm em
seguida sendo dezesseis no total (23.279 m²), seguidos por um lote maior de 2.501 m² e
quatro lotes no total de 68.783 m².
Os terrenos vazios são em maioria utilizados para estacionamento, visto que a área
apresenta grande atividade comercial e de serviços, figura 9-8. Em 8A, lote de área grande
na espera por empreendimento privado. Em 8B, estacionamento sempre que houver lotes
disponíveis. Classificamos as quadras três dimensões, as ‘pequenas’ medindo de 0 a 7.500
m² destacadas na figura em cor clara, as quadras ‘médias’ de 7.500 m² à 12.500 m² em tom
intermediário e as quadras ‘grandes’ maiores que 12.500 m², na tonalidade escura, figura
9-9.
Figura 9-8: Lotes vazios ou ocupados para estacionamento.
Quadra de estudo
Com dimensão de 130 por 110 m (área 14.300 m²) a quadra retangular foi inicialmente
desenhada para lotes residenciais, as construções seguiram os recuos frontais de acordo
com as diretrizes oficiais e o gabarito ficou entre um e dois pavimentos. Há lotes de 300 m²
(10x30 m), o que chama atenção para que o público-alvo do loteador era da classe média
(talvez, o pessoal administrativo de empresas). A quadra foi subdividida inicialmente em
módulos de 10 m no sentido da lateral de 130 m e nos outros lados foram desenhados lotes
maiores. Nas laterais de 100 m lotes os tem profundidade de 65 m (talvez para galpões), e,
pela foto atual se percebe as subdivisões que restaram no miolo da quadra. Voltado para a
Rua das Caneleiras há um edifício residencial de torre única com vinte e um pavimentos
mais o térreo, isolado no lote com recuo frontal de cinco metros e significativo recuo em
uma das laterais. Vizinho ao prédio há um lote (2.162 m²) - dois lotes agregados por um
único proprietário - que possui acesso por duas ruas e hoje utilizado para estacionamento,
com certeza, na espera de um grande empreendimento. Os lotes voltados para a avenida
Dom Pedro II sofreram as mudanças de uso esperadas para um ambiente de passagem de
178
Em 11A aparece a Rua das Caneleiras com o edifício de 21 pavimentos, em 38B a Rua das
Aroeiras ao fundo a Rua das Caneleiras, em uma vista que hoje é possível por haver apenas
um edifício na quadra, que foi uma das razões da seleção desta quadra para o estudo.
CORREDORES E SUBÁREAS - 179
Os pequenos pátios no miolo das quadras, ou, de quatro quadras como especulou o
professor Nelson, foi fruto de uma época em que nas escolas de arquitetura e urbanismo
se aplicava aos alunos o exercício de como ocupar os fundos de lotes de nossas quadras
ortogonais típicas, sem considerar as questões (dificuldades) relativas à implementação de
um projeto urbano. Desta época resultaram desenhos interessantes, sem muita
preocupação com a propriedade da terra, de manutenção das áreas, de políticas públicas
abertas para viabilizar o projeto urbano. Neste sentido Cerdá em Barcelona teve melhor
resultado trabalhando com maior abertura da quadra, sugeriu diretrizes urbanísticas
simples, apesar das questões que levantamos sobre a rigidez do desenho que induziu
alterações, devido à necessidade haver de lotes estreitos e eliminar o pátio central onde a
renda das famílias fosse pequena.
Trabalhamos o princípio de que a quadra tradicional possibilita diversas configurações e
alterações do seu parcelamento, razão da permanência e da obtenção de maior
complexidade nos espaços quando acompanhada por diretrizes edilícias nascidas de um
bom conceito para o projeto urbano. As possibilidades decorrem do parcelamento da
quadra em lotes, com frente pequena nas implantações mais antigas, quase sempre
pensados no formato residencial, fato que hoje em dia facilita os agrupamentos requeridos
para empreendimentos de maior porte.
Acreditamos que o planejamento urbano resulta do entendimento da região e vai
chegando até o bairro, mas, o oposto é válido e muito instrutivo, pois segmentos de bairro
e comunidades localizadas podem oferecer informações sobre os lotes e arranjos de
espaços para o projeto urbano. São a fonte geradora para ideias originais de planejamento
e projeto urbano.
Nas cidades apontadas como sustentáveis, por exemplo, Portland - EUA, que se notabilizou
pelo constante cuidado com fatores de sustentabilidade, o traçado dos seus setores foi
projetado em malha ortogonal numa época em que tal atributo era pensado pelo seu lado
prático. Característica que facilitou a implantação pioneira do sistema Transit Oriented
Development, T.O.D, hoje difundido mundialmente. Outro exemplo é Milton Keynes,
cidade apresentada por ser um caso em que se espelha o entendido como uma situação
ideal para organizar os espaços urbanos através da mobilidade. As vias que atravessam
CORREDORES E SUBÁREAS - 181
formam uma malha que favorece o estabelecimento de áreas de vizinhança segundo o ideal
da neighborhood bem equilibrada e um centro de cidade fácil de acessar, de uso
diversificado incluindo habitações. Trazendo o conceito para a trama tradicional de São
Paulo, poderia se dizer que a ideia de vizinhança projetada para Milton Keynes tem sua
contrapartida nas áreas protegidas, conforme conceituamos, pois elas apresentam:
circulação local, uso misto e áreas livres bem distribuídas. Ou seja, em alguns distritos de
São Paulo se pode selecionar trechos do tecido urbano, como o dos exemplos citados, com
potencial para serem redesenhados como áreas protegidas.
O Novo Urbanismo trouxe o interesse para a retomada do tecido urbano tradicional em
projetos novos. Nos EUA, para localizações de subúrbio ou em vazios urbanos, mostrou a
vantagem da maior densidade de ocupação do solo e o consequente adensamento
populacional. O projeto do bairro Seaside espelha este padrão, com suas quadras
retangulares e os cortes em diagonal típico do urbanismo tradicional. Representa a procura
necessária e indispensável para agregar no projeto os aspectos ambientais e da ecologia,
como questões de base para o Urbanismo desde suas etapas de planejamento, elaboração
de planos e projetos.
Na cidade tradicional se encontra a ordenação do traçado ditada pela história, pela lógica
(às vezes falta dela) de crescer por pequenos incrementos, pelas fissuras impostas por
obras viárias de grande porte ou pela implantação dos condomínios fechados, sejam
residenciais, institucionais ou industriais. Chega-se assim a São Paulo, palco de nossos
estudos sobre a forma dos tecidos urbanos onde a realidade atual é a matéria prima, se
dispõe da história da cidade e dos tantos projetos que deram sentido à sua arquitetura.
Pelo estudo desta cidade consolidamos o procedimento para entender os traçados urbanos
com base nas vias que atravessam, nas vias que distribuem e nos movimentos em direção
às vias locais. Os conceitos de setor, corredor e de subárea foram derivados da observação
de como as pessoas se apropriam do solo acessível segundo as três categorias de vias. São
Paulo apresenta um conjunto de tecidos urbanos influenciados pela lógica socioeconômica
e política; não seguindo completamente as regras impostas por planos diretores
elaborados e reelaborados em períodos relativamente grandes, sob a responsabilidade de
182
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