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Título: Proceedings Conference of Congresso de Energias Renováveis – ConER 2021


FÁBIO MINORU YAMAJI e FRANCIANE ANDRADE DE PÁDUA

Endereço: Parque Tecnológico de Sorocaba


Avenida Itavuvu, 11.777, Sorocaba - SP, Brasil
Sorocaba, 23 a 25 de março de 2021.

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SOBRE O EVENTO

A segunda edição do Congresso de Energias Renováveis ocorreu em formato totalmente


virtual e reuniu referências em energias para apresentar e discutir perspectivas, soluções,
tecnologias e seus impactos no Brasil e no mundo. O objetivo do congresso foi promover o
encontro de profissionais, pesquisadores, centros de pesquisa, empresas e universidades para
debater o uso de energias renováveis, alternativas e sua importância na sociedade, incentivando
a pesquisa e o desenvolvimento científico por meio de palestras e apresentações de trabalhos.

*O conteúdo dos trabalhos apresentados neste documento é total responsabilidade dos autores.

Prof. Dr. Fábio Minoru Yamaji


Presidente
25 de março de 2021

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Presidente - Prof. Dr. Fabio Minoru Yamaji - UFSCar


Vice-presidente - Profa. Dra. Franciane Andrade de Pádua - UFSCar
Secretária Geral - Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima – UFSCar
Coordenador Financeiro – M.Sc. João Otávio Poletto Tomeleri - UFSCar
Coordenadora Científica - M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires – UFSCar

Comitê Editorial
Prof. M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires – UFSCar
M.Sc. João Otávio Poletto Tomeleri - UFSCar

Comitê de Desenvolvimento e Design


Profa. M.Sc. Gabriela Bertoni Belini – UFSCar
Prof. M.Sc. Elias Ricardo Durango Padilla – UNESP
Mariane Bertoli Belini
Engº. Thiago Fernandes Oliveira de Lima - UNESP

Comitê de Inscrição
Prof. M.Sc. Elias Ricardo Durango Padilla – UNESP
Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima – UFSCar

Comitê Organizador de Sessão Virtual


Alan Vitor Galmacci da Silva - UFSCar
Profa. Dra. Ana Larissa Santiago Hansted – UNESP
M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires - UFSCar
M.Sc. Diego Aleixo da Silva - UFSCar
Prof. M.Sc. Felipe Augusto Santiago Hansted - UNESP
Profa. M.Sc. Gabriela Bertoni Belini - UFSCar
Engª. Giovana Ladislau Garuti - UFSCar
M.Sc. João Otávio Poletto Tomeleri - UFSCar
Prof. M.Sc. Lucas Clarindo Pereira – IFSP / UFSCar
M.Sc. Moisés Edvaldo Pereira - UFSCar
Engª. Natália Rodrigues de Carvalho - UFSCar
Prof. Dr. Thiago Aguiar Cacuro – UFSCar

Comitê Moderador de Sessão Virtual


Profa. Dra. Andrea Cressoni de Conti - UNESP
Prof. Dr. Carlos Roberto Sette Júnior - UFG
Prof. Dr. Fábio Minoru Yamaji - UFSCar
Profa. Dra. Franciane Andrade de Pádua - UFSCar
Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima - UFSCar
Prof. Dr. João Lúcio de Barros - IFSP
Prof. Dr. José Cláudio Caraschi - UNESP
Profa. Dra. Juliana Tófano de Campos Leite Toneli - UFABC

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Prof. M.Sc. Robmilson Simões Gundim – UFSCar / SENAI
Prof. Dr. Thiago Aguiar Cacuro – UFSCar
Prof. Dr. Walter Ruggeri Waldman - UFSCar

Comitê de Comunicação e Marketing


M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires – UFSCar
M.Sc. Diego Aleixo da Silva – UFSCar
Prof. M.Sc. Elias Ricardo Durango Padilla – UNESP
Profa. M.Sc. Gabriela Bertoni Belini - UFSCar
Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima - UFSCar
M.Sc. Luísa Carvalho Pereira Araújo – UFSCar

Comitê de Infraestrutura e Apoio Logístico


Alan Vitor Galmacci da Silva - UFSCar
Profa. Dra. Ana Larissa Santiago Hansted - UNESP
M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires - UFSCar
M.Sc. Diego Aleixo da Silva - UFSCar
Prof. M.Sc. Felipe Augusto Santiago Hansted - UNESP
Profa. M.Sc. Gabriela Bertoni Belini – UFSCar
Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima – UFSCar
Prof. Dr. João Lúcio de Barros - IFSP
M.Sc. João Otávio Poletto Tomeleri - UFSCar
Prof. M.Sc. Lucas Clarindo Pereira – IFSP / UFSCar
Engª. Natália Rodrigues de Carvalho - UFSCar
Prof. Dr. Thiago Aguiar Cacuro – UFSCar

Comitê de Avaliação e Revisão de Trabalhos


M.Sc. Adriana Areias – UFSCar
Dra. Alessandra Luiza Da Róz – IFSP Itapetininga
Aliane do Carmo Oliveira Pereira – UFSCar
Dra. Amanda Alves Domingos Maia - UFSCar
M.Sc. Amanda de Sousa Martinez de Freitas – UNIFESP
Dra. Ana Larissa Santiago Hansted – UNESP Botucatu
M.Sc. Ana Paula de Souza Silva – IEE/USP, IPT
Prof. Dr. André Luís Martins – IFSP Sorocaba
Profa. Dra. Andrea Cressoni de Conti – UNESP Rosana
M.Sc. Aparecida Juliana Martins Correa – UFSCar
M.Sc. Ariane Aparecida Felix Pires - UFSCar
M.Sc. Barbara Rani Borges – UNESP Sorocaba
M.Sc. Bruna Henrique Sacramento - UNESP Sorocaba
M.Sc. Bruna Vilas Boas - IFSP Sorocaba
M.Sc. Camila Porfirio Albuquerque Ferraz - UNESP Sorocaba
Prof. Dr. Carlos Roberto Sette Júnior – UFG
Dra. Carolina Monteiro Santos – UFMG
Profa. M.Sc. Cécile Chaves Hernandez – FATEC Sorocaba / UFSCar

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Prof. Dr. Cláudio de Conti - UNESP Rosana
Prof. Dr. Cláudio Domienikan – Universidade Cruzeiro do Sul
Profa. M.Sc. Cristhiane Eliza dos Santos - Universidade Cruzeiro do Sul
Profa. Dra. Cristiane Inácio de Campos – UNESP Itapeva
M.Sc. Daniela Bainy da Silva – UFSCar
M.Sc. Diego Aleixo da Silva – UFSCar
Dr. Diego Faria Cola – UNESP Sorocaba
Prof. Edson Nunes da Silva - Universidade Cruzeiro do Sul
Prof. M.Sc. Elias Ricardo Durango Padilla - UNESP
Prof. Dr. Fábio Domingues de Jesus – UFLA
Prof. Dr. Fábio Minoru Yamaji
Prof. M.Sc. Felipe Augusto Santiago Hansted – UNESP
Dr. Felipe José de Moraes Pedrazzi
Prof. M.Sc. Felipe Leite Paes – IFSP Sorocaba
Prof. M.Sc. Felipe Sanches Stark – Faculdade Anhanguera de Sorocaba / UNESP
Profa. Dra. Franciane Andrade de Pádua - UFSCar
Profa. M.Sc. Gabriela Bertoni Belini – UFSCar
Dra. Gabriela dos Reis – UNICAMP
M.Sc. Gabriela Fiori da Silva - UFSCar
Profa. Dra. Gabriela Tami Nakashima – UFSCar
Profa. Dra. Graziella Colato Antonio - UFABC
M.Sc. Gustavo Laranjeira de Melo Santos – UNESP Sorocaba
Profa. Dra. Iolanda Cristina Silveira Duarte – UFSCar
M.Sc. Isis Cristina de Souza Adhmann Pires - UFSCar
Prof. M.Sc. Jeferson Alberto de Lima – UNIR / UFSCar
M.Sc. Jéssica de Souza Rodrigues – UFSCar
M.Sc. João Otávio Poletto Tomeleri - UFSCar
M.Sc. Jocy Ana Paixão de Sousa - UNESP Sorocaba
M.Sc. Joelen Osmari da Silva – UFSCar
Prof. Dr. José Cláudio Caraschi – UNESP Itapeva
Dr. José Ignacio Zarate Montero – UNESP Sorocaba
Profa. Dra. Juliana Tófano de Campos Leite Toneli - UFABC
Dra. Karen de Souza do Prador – UFSCar
M.Sc. Karina Palmizani do Carmo – UFOP
Prof. Dr. Leandro Cardoso de Moraes - UNESP Sorocaba
Prof. M.Sc. Lucas Clarindo Pereira – IFSP / UFSCar
Dr. Luciano Donizeti Varanda – Instituto SENAI de Inovação em Biomassa/MS
Dr. Luis Ricardo Oliveira Santos – UFSCar
M.Sc. Luísa Carvalho Pereira Araújo - UFSCar
Prof. Dr. Marcelo Patrício de Santana – IFSP Sorocaba
M.Sc. Marcos de Jesus Fonseca de Apresentação - UFSCar
M.Sc. Maria dos Remédios Araújo Vieira Neta – UFSCar
M.Sc. Meire Noriko Hosokawa - UFSCar
M.Sc. Miqueias Lima Duarte - UNESP Sorocaba
M.Sc. Moisés Edevaldo Pereira – UFSCar

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Dra. Natália Reigota César - UFSCar
Engª. Natália Rodrigues de Carvalho - UFSCar
M.Sc. Patrícia dos Santos Araújo – UFSCar
M.Sc. Rafael dos Santos Lima - UNESP Sorocaba
M.Sc. Renan Angrizani de Oliveira - UNESP Sorocaba
Prof. M.Sc. Robert Dias Ximenes – IFSP / UFSCar
Dra. Roberta Ranielle Matos de Freitas – UFOP
Prof. M.Sc. Robmilson Simões Gundim – UFSCar / SENAI
M.Sc. Romulo Maziero – UFMG
Profa. Dra. Sayonara Andrade Eliziario – UEPB
Prof. M.Sc. Seluivy Gonçalves Silva – Faculdade Anhanguera
Prof. Dr. Sergio Shimura – IFSP Sorocaba
M.Sc. Thaís Fabiane Gomes Martins - UNESP Sorocaba
Prof. Dr. Thiago Aguiar Cacuro – UFSCar
Dr. Tiago Palladino Delforno – UFSCar
M.Sc. Vitor Hugo de Lima - UFSCar
Dr. Yemall Alexander Maigual Enriquez – Universidad de Nariño

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PROGRAMAÇÃO

PALESTRAS PALESTRANTE - INSTITUIÇÃO

Challenges of the Japanese energy matrix Prof. Dr. Hiroyuki Yamamoto


without nuclear energy Nagoya University
Avaliação de ciclo de vida em políticas Dra. Marília Folegatti
públicas: o caso do RenovaBio Embrapa
Perspectivas para a matriz energética Rosana Rodrigues dos Santos
brasileira Enel
Avaliação do ciclo de vida (ACV) de
Prof. Dr. Diogo Lopes Silva
biomassa e bioenergia – contexto atual e
Universidade Federal de São Carlos
tendências para pesquisas futuras
Dr. Pablo René Díaz Herrera
Technology options for reducing CO2
Universidad Nacional Autónoma de
emissions in natural gas combined cycles
México
Prof. Dra. Isabel T. Salamoni
Sistema solar fotovoltaico
Universidade Federal de Pelotas
Prof. Dr. José B. S. O. de Andrade
Sustentabilidade e antropoceno Guerra
Universidade do Sul de Santa Catarina
Prof. Dr. Osvaldo Ronald Saavedra
Energias oceânicas
Universidade Federal do Maranhão

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MINICURSOS
MINICURSO PALESTRANTES - INSTITUIÇÃO
Dimensionamento do sistema fotovoltaico Prof. Dr. Teófilo Miguel de Souza
para geração de energia elétrica Universidade Estadual Paulista
Ms. Henrique Rafael da Silva Romão
Empreendedorismo em energias renováveis
SEBRAE
Ms. Vanessa Sontag
Ilustração científica
Illus Scientia
Formação de pesquisadores e escrita Prof. Dr. Valtencir Zucolotto
científica de alto nível IFSC-USP

SPEAKERS
TÍTULO PALESTRANTE - INSTITUIÇÃO
Resíduos sólidos urbanos como fonte de
Dra. Karen de Souza Prado
energia renovável no Brasil: panorama atual
Universidade Federal de São Carlos
e perspectivas futuras
The potential environmental repercussions
of hydroelectricity: A contribution based on Ms. David Alejandro Lazo Vasquez
life cycle assessment of Ecuadorian Universidade de São Paulo
hydropower plants
Ms. Fábio Gregory de Andrade
To-syn-fuel: termo-catalytic reforming of Moreira
wastes for biofuels and hydrogen production Universidade Estadual Paulista/
Fraunhofer Institut
A importância da geração de energia a partir Esp. Carlos Silvestre
de resíduos para as mudanças climáticas Grupo Salmeron
Alternativas tecnológicas para o aumento da Eng. Alex de Pretto Mansano
eficiência energética das turbinas eólicas Universidade de São Paulo
Aplicação de Lógica Fuzzy na redução do Anderson Rodrigo Klassen Duck
consumo de energia na digestão de bauxita Companhia Brasileira de Alumínio
Eletrificação e tecnologia híbrida no setor Esp. Thiago Sugahara
automotivo Toyota
Dr. Maurício Onoda
Utilizando IA/Machine Learning na área de
Instituto SENAI de Inovação em Sistemas
energias renováveis
Virtuais de Produção

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TRABALHOS PREMIADOS

Primeiro Lugar (Oral)

CUMULATIVE ENERGY DEMAND OF SOLID BIOFUELS: A REVIEW


FOR THE LATIN AMERICAN REGION – UFSCar
Thiago Teixeira Matheus, Remo Augusto Padovezi Filleti, Ricardo Musule
Lagunes, Diogo Aparecido Lopes Silva

Segundo Lugar (Oral)

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE CARBOIDRATOS REMANENTES NA


BIOMASSA DA MICROALGA Chlorella Vulgaris – UNIVERSIDAD DEL
CAUCA (Colômbia)
Jorge Luis Sanchez Ortega, Jorge Enrique Lopez Galan

Terceiro Lugar (Oral)

METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DE VIBRAÇÕES DE CAIXA DE


ENGRENAGENS DE TURBINAS EÓLICAS PARA ESTUDO DE
PREVENÇÃO DE FALHAS – USP
Alex de Pretto Mansano, Demetrio Cornilios Zachariadis

Primeiro Lugar (Pôster)

BRIQUETES DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE Dipteryx odorata


(CUMARU) E Handroanthus sp. (IPÊ) - UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS
Júlia Chaveiro Santos, Ana Carolina A. Serafim, Ana Cristina A. Reis, Brunna V.
Buntrock, Nathalia B. Melo, Carlos Roberto Sette Júnior

Segundo Lugar (Pôster)

CAVITAÇÃO HIDRODINÂMICA COM TUBO DE VENTURI PARA


PRÉ-TRATAMENTO DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR - UNESP
Thiago Averaldo Bimestre, Celso Eduardo Tuna, Eliana Vieira Canettieri,
Gabriela de Cássia César Bonifácio

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Terceiro Lugar (Pôster)

ESTUDO COMPARATIVO DE TÉCNICAS DE RASTREAMENTO DO


PONTO DE MÁXIMA POTÊNCIA EM ARRANJOS FOTOVOLTAICOS –
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Davi Carvalho Moreira, Alexandre de Souza Brasil, Marcus Vinicius Alves Nunes

Quarto Lugar (Pôster)

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DE BIOPLÁSTICO COMERCIAL


POLI (Β-HIDROXIBUTIRATO) (PHB) ATRAVÉS DE BIODIGESTÃO
ANAERÓBIA EM DIFERENTES RAZÕES INÓCULO/SUBSTRATO -
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Luiz Antonio Marafon Bacca, Joel Gustavo Teleken

Quinto Lugar (Pôster)

ELECTROMAGNETIC SOLAR RADIATION CONVERSION USING


RECTIFYING ANTENNAS RECTENNA: A CRITERION FOR
TYPOLOGY OPTIMIZATION OF BOW-TIE, DIPOLE, SPIRAL, LOG-
PERIODIC AND MEANDER – UNICAMP
Nelmo Cyriaco da Silva, L. C. Kretly

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SUMÁRIO
RESUMOS ................................................................................................................ 21
BIOCOMBUSTÍVEIS .............................................................................................. 22
ASPECTOS TECNOLÓGICOS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DO
SEBO BOVINO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................... 23
AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DE SÓLIDOS ATRAVÉS DA CODIGESTÃO
ANAERÓBIA DE BIOPOLÍMERO DE AMIDO DE MILHO EM ÁGUA RESIDUAL
DE SUINOCULTURA ............................................................................................ 24
BIODIESEL A PARTIR DE SEBO BOVINO: UM MAPA TECNOLÓGICO DE
PATENTES............................................................................................................. 25
BLENDAS DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS
PARA PRODUÇÃO DE BRIQUETES ................................................................... 26
BRIQUETES DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE Dipteryx odorata (CUMARU) E
Handroanthus sp. (IPÊ) ........................................................................................... 27
CAVITAÇÃO HIDRODINÂMICA COM TUBO DE VENTURI PARA PRÉ-
TRATAMENTO DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR .................................... 28
CUMULATIVE ENERGY DEMAND OF SOLID BIOFUELS: A REVIEW FOR
THE LATIN AMERICAN REGION ....................................................................... 29
INFLUÊNCIA DO NÍQUEL NA PRODUÇÃO DE BUTANOL POR Clostridium
beijerinckii UTILIZANDO O HIDROLISADO DA CASCA DO COCO VERDE... 30
MODELO ECONÔMICO COMO FERRAMENTA DE TOMADA DE DECISÕES
PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE MICROALGAS (*) .......... 31
REMOÇÃO DE SULFETO DE HIDROGÊNIO PARA A PURIFICAÇÃO DO
BIOGÁS EM UNIDADE EXPERIMENTAL MULTIPROPÓSITO........................ 32
RESÍDUO DO DESDOBRO DA MADEIRA DE ANGELIM PEDRA PARA
PRODUÇÃO DE BRIQUETES (*) .......................................................................... 33
BIOMASSA ............................................................................................................... 34
ANÁLISE DA BIOMASSA DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS ................... 35
APLICAÇÃO DE PROCESSO OXIDATIVO AVANÇADO COMO PRÉ-
TRATAMENTO DA VINHAÇA PARA POSTERIOR BIODIGESTÃO EM
REATOR UASB ..................................................................................................... 36
ATRIBUTOS QUÍMICOS E MINERAIS DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS
DE ORIGEM URBANA PARA APROVEITAMENTO ENERGÉTICO................. 37
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA TORTA DE MAMONA PARA
A PRODUÇÃO DE BRIQUETES ........................................................................... 38
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS (*) ......................................................................................... 39

12
BIOMASSA FLORESTAL COMO COMPONENTE DE UMA ECONOMIA DE
BAIXO CARBONO NA CULTURA DO TABACO (*) ........................................... 40
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS CINZAS DE CALDEIRA DE BIOMASSA
VEGETAL .............................................................................................................. 41
CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA DO CAROÇO DE PEQUI PARA USO COMO
ENERGIA TÉRMICA............................................................................................. 42
CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LENHA DO EXTRATIVISMO
VEGETAL EM PERNAMBUCO ............................................................................ 43
ENERGY CHARACTERIZATION OF CORN AGROINDUSTRY WASTE IN A
MULTI-ZONE GASIFICATION PROTOTYPE (*) ................................................. 44
HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE CARBOIDRATOS REMANENTES NA
BIOMASSA DA MICROALGA Chlorella Vulgaris (*) ........................................... 45
INSIGHTS SOBRE O USO DA BIOMASSA PARA A COCÇÃO DE ALIMENTOS
E OS EFEITOS SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS .................................... 46
INVESTIGANDO OS RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS DE ORIGEM URBANA
PARA GERAÇÃO DE ENERGIA .......................................................................... 47
POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE ESTERCO DE
DIFERENTES ANIMAIS DE INTERESSE ZOOTÉCNICO .................................. 48
POTENCIAL ENERGÉTICO DA BIOMASSA RESIDUAL DO PROCESSO DE
EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE MELALEUCA (Melaleuca alternifolia Cheel) (*) ...... 49
PROJETO E AVALIAÇÃO TECNOECONÔMICA DE UMA CENTRAL TÉRMICA
BASEADA EM GASEIFICAÇÃO DE 1MWE DE COMBUSTÍVEL DERIVADO DE
RESÍDUOS (RDF) UTILIZANDO DADOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS DE UMA
CENTRAL À ESCALA PILOTO ............................................................................ 50
RENDIMENTO EM CARVÃO VEGETAL DA CASCA DA SEMENTE DE
Araucaria Angustifolia (BERT.)O.KTZE ................................................................ 51
TEMPERATURA DE PIRÓLISE E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO DE
BIOCHAR DE CASCA DE Eucalyptus sp. ............................................................. 52
TORREFAÇÃO DO RESÍDUO DA MANDIOCA PARA FINS ENERGÉTICOS (*)
................................................................................................................................ 53
USO SUSTENTÁVEL DA MADEIRA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA E DE
TERMOELETRICIDADE....................................................................................... 54
VIABILIDADE ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA COLHEITA
FLORESTAL DE EUCALIPTO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ... 55
EÓLICA .................................................................................................................... 56
A DESCREDIBILIZAÇÃO DAS PEQUENAS TURBINAS EÓLICAS DE EIXO
VERTICAL ............................................................................................................. 57
A IMPORTÂNCIA DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE POR MEIO DE
PARQUES EÓLICOS NA MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA DE 2013 A 2020. 58
13
ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS PARA O AUMENTO DA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DAS TURBINAS EÓLICAS .......................................................... 59
CONSTRUÇÃO DE MINI TÚNEL DE VENTO PARA TESTES DE TURBINAS 60
INFLUÊNCIA DO ÂNGULO DE TORÇÃO DA PÁ DE UMA TURBINA EÓLICA
DE EIXO HORIZONTAL NA GERAÇÃO DE ENERGIA ..................................... 61
PLANEJAMENTO ECONÔMICO DE USINAS EÓLICAS A PARTIR DE UM
MODELO DE OTIMIZAÇÃO MULTIOBJETIVO ................................................ 62
FONTES ALTERNATIVAS .................................................................................... 63
ANÁLISE DA COMPLEMENTARIDADE DAS GERAÇÕES INTERMITENTES
NO PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO ELETRO-ENERGÉTICA DA REGIÃO
NORDESTE BRASILEIRA .................................................................................... 64
APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS RESÍDUOS PARA PRODUÇÃO DE
BIOGÁS ................................................................................................................. 65
DESENVOLVIMENTO DE BIODIGESTOR DE BAIXO CUSTO PARA
PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS ............................................................... 66
ENERGIA DO HIDROGÊNIO NOS MERCADOS DO BRASIL E DA ALEMANHA:
POLÍTICAS DE INCENTIVOS, TECNOLOGIAS E OPORTUNIDADES DE
PARCERIAS ........................................................................................................... 67
EVALUATION OF THE ENERGY PERFORMANCE OF A HYBRID
ABSORPTION REFRIGERATION SYSTEM USING ENERGY PHOTOVOLTAIC
SOLAR AND SYNTHESIS GAS OF A GASIFIER MULTIZONE ........................ 68
MODELAGEM E ANÁLISE EXPERIMENTAL DE UM MOTOR STIRLING TIPO
BETA ...................................................................................................................... 69
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COMO FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL
NO BRASIL: PANORAMA ATUAL E PERSPECTIVAS FUTURAS (*) ............... 70
RÓTULOS DE PRODUÇÃO DO HIDROGÊNIO (H2), CERTIFICAÇÃO DE
ORIGEM DE ENERGIA RENOVÁVEL E NOVOS ATRIBUTOS
SOCIOAMBIENTAIS............................................................................................. 71
TECHNOLOGY OPTIONS FOR REDUCING CO2 EMISSIONS IN NATURAL GAS
COMBINED CYCLES............................................................................................ 72
VINHAÇA DE CANA-DE-AÇÚCAR: ANÁLISE DO SEU USO COMO
COMBUSTÍVEL ALTERNATIVO (*) .................................................................... 73
GERAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONTROLE ....................................................... 74
O AUMENTO DE CONSUMIDORES GERADORES E COMERCIALIZADORAS
DE ENERGIA NO MERCADO LIVRE BRASILEIRO DE ELETRICIDADE DE
2013 A 2020 ............................................................................................................ 75
UMA REVISÃO DE CONVERSORES CC-CC EM SISTEMAS COM FONTES
ALTERNATIVAS DE ENERGIA........................................................................... 76
HÍDRICA .................................................................................................................. 77
14
THE POTENTIAL ENVIRONMENTAL REPERCUSSIONS OF
HYDROELECTRICITY: A CONTRIBUTION BASED ON LIFE CYCLE
ASSESSMENT OF ECUADORIAN HYDROPOWER PLANTS (*) ....................... 78
NUCLEAR ................................................................................................................ 79
O IMPACTO DAS CIDADES NO USO DA ENERGIA NUCLEAR - UMA
ABORDAGEM ATRAVÉS DO PROJETO DE ARQUITETURA .......................... 80
POLÍTICA E SEGURANÇA ENERGÉTICA ......................................................... 81
A INFLUÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O PROGRESSO DA
GERAÇÃO SOLAR FOTOVOLTAICA E DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ
ENERGÉTICA BRASILEIRA (*) ............................................................................ 82
ANÁLISE DAS AÇÕES DE GESTÃO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DO SETOR INDUSTRIAL DA SUB-REGIÃO NORTE DA REGIÃO
METROPOLITANA DE SÃO PAULO – RMSP .................................................... 83
ANÁLISE DAS INICIATIVAS DE GESTÃO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DO SETOR PÚBLICO DA REGIÃO DE FRANCO DA ROCHA-SP
................................................................................................................................ 84
AS QUESTÕES COMPLEXAS DA ENERGIA EM UMA PERSPECTIVA DE
COMPARAÇÃO MUNDIAL.................................................................................. 85
MOTORES MAIS EFICIENTES E SUSTENTÁVEIS: ESTUDO DE CASO EM
UMA INDÚSTRIA DE CIMENTO VISANDO A SUA GESTÃO ENERGÉTICA(*)
................................................................................................................................ 86
RESÍDUOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ............................................................. 87
AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DE BIOPLÁSTICO COMERCIAL POLI (Β-
HIDROXIBUTIRATO) (PHB) ATRAVÉS DE BIODIGESTÃO ANAERÓBIA EM
DIFERENTES RAZÕES INÓCULO/SUBSTRATO (*) ........................................... 88
CONFORTO TÉRMICO EM CASAS DE MADEIRA: O USO DE EMBALAGEM
CARTONADA MULTICAMADA (*) ..................................................................... 89
GERAÇÃO DE ENERGIA TÉRMICA EM CIMENTEIRAS: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NO BRASIL COM BASE NA AVALIAÇÃO DO CICLO DE
VIDA DO PROCESSO DE COGERAÇÃO DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS
................................................................................................................................ 90
SOLAR ...................................................................................................................... 91
CONCENTRAÇÃO SOLAR: A DESSALINIZAÇÃO NO AGRONEGÓCIO DO
SEMIÁRIDO BRASILEIRO ................................................................................... 92
CRESCIMENTO DE UNIDADES CONSUMIDORAS COM GERAÇÃO
FOTOVOLTAICA CONECTADA Á REDE ELÉTRICA NA REGIÃO NORTE DE
MATO GROSSO .................................................................................................... 93
ESTUDO COMPARATIVO DE TÉCNICAS DE RASTREAMENTO DO PONTO
DE MÁXIMA POTÊNCIA EM ARRANJOS FOTOVOLTAICOS (*) ..................... 94

15
ESTUDO TEÓRICO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS SOLARES
FOTOVOLTAICOS ................................................................................................ 95
FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA PARA INSTALAÇÃO DE SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS ................................................................................................ 96
MICROGERAÇÃO DE ENERGIA DISTRIBUÍDA: ANÁLISE DE DESEMPENHO
DE MINIUSINA FOTOVOLTAICA....................................................................... 97
TÉCNICAS DE MODULAÇÃO PARA REDUÇÃO DA TENSÃO DE MODO
COMUM EM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ............ 98
(*)
USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DE GHI ........... 99
TRABALHOS COMPLETOS ................................................................................ 100
BIOCOMBUSTÍVEIS ............................................................................................ 101
AVALIAÇÃO COMPARATIVA DE METODOLOGIAS MULTICRITÉRIOS PARA
A TOMADA DE DECISÕES DURANTE A SELEÇÃO DOS TIPOS DE BIOMASSA
MAIS VIÁVEIS PARA PROJETOS DE BIOENERGIA: ESTUDO DE CASO
ESTADO DE MINAS GERAIS ............................................................................ 102
CARACTERÍSTICAS ENERGÉTICAS DO TECIDO LESIONADO POR CANCRO
NO TRONCO DE MOGNO AFRICANO ............................................................. 113
CODIGESTÃO ANAERÓBIA DE ÁGUA RESIDUAL DE SUINOCULTURA SOB
EFEITO DE ADIÇÕES DIFERENCIADAS DE BIOPOLÍMERO DE AMIDO DE
MANDIOCA......................................................................................................... 120
COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE OURICURI
(Syagrus coronata) PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL .................................... 130
CONSTRUÇÃO DE UMA USINA DE BAIXO CUSTO PARA FABRICAÇÃO DE
BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL DE FRITURA ........................... 138
OS EFEITOS DA TEMPERATURA NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS EM
BIODIGESTORES................................................................................................ 147
TO-SYN-FUEL: THERMO-CATALYTIC REFORMING OF WASTES FOR
BIOFUELS AND HYDROGEN PRODUCTION .................................................. 157
UTILIZAÇÃO DA RENOVACALC PARA AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE DE
CARBONO DO ETANOL COMBUSTÍVEL ........................................................ 165
BIOMASSA ............................................................................................................. 175
ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DO CULTIVO DA MICROALGA
Scenedesmus sp EM EFLUENTE DE ETE ............................................................ 176
CAPIM JARAGUÁ COMO LIGANTE EM BRIQUETES DE FINOS DE CARVÃO
.............................................................................................................................. 185
CARACTERIZAÇÃO DE BIOMASSAS PARA O PROCESSO DE PIRÓLISE
RÁPIDA ............................................................................................................... 193

16
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE DUAS
MICROALGAS MARINHAS CULTIVADAS EM DIFERENTES
LUMINOSIDADES .............................................................................................. 203
CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO MUNICÍPIO DE
ITAQUAQUECETUBA - SP E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TEÓRICO PARA O
APROVEITAMENTO ENERGÉTICO EM UMA UNIDADE DE GASEIFICAÇÃO
.............................................................................................................................. 211
CAVACOS DE PODA URBANA SUBMETIDO AO PROCESSO DE
TORREFAÇÃO .................................................................................................... 221
COMPARAÇÃO DAS METODOLOGIAS ASTM E ISO PARA A
CARACTERIZAÇÃO DO BAGAÇO DE AÇÚCAR AVALIANDO DOIS
MÉTODOS DE AMOSTRAGEM: QUARTEAMENTO E ALEATÓRIO ............ 231
DENDROENERGIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................. 241
ESTUDO DA EXTRAÇÃO POR SOLVENTE DE ÓLEO DE MACAÚBA ......... 246
ESTUDO DE COMPORTAMENTO TÉRMICO EM ATMOSFERA INERTE DE
DUAS MICROALGAS MARINHAS PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA .......... 253
MISTURA DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS E FLORESTAIS NA
FORMAÇÃO DE BRIQUETES ............................................................................ 260
PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE BIOMASSA DE RÚMEN DE BOVINOS
PROVENIENTES DE ABATEDOUROS ............................................................. 269
PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE BIOMASSA RUMINAL DE
DIFERENTES GRUPOS GENÉTICOS DE OVINOS ........................................... 274
EÓLICA .................................................................................................................. 282
A IMPORTANCIA DO PERFIL DE VELOCIDADES NA SELEÇÃO DE
AEROGERADORES ............................................................................................ 283
ENERGIA EÓLICA NO NORDESTE BRASILEIRO E SUA INTERAÇÃO COM
OUTRAS FONTES ............................................................................................... 293
ESTUDOS SOBRE A PRODUÇÃO ANUAL DE ENERGIA DE UM
AEROGERADOR NACIONAL DE PEQUENO PORTE...................................... 303
METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DE VIBRAÇÕES DE CAIXA DE
ENGRENAGENS DE TURBINAS EÓLICAS PARA ESTUDO DE PREVENÇÃO
DE FALHAS ......................................................................................................... 313
FONTES ALTERNATIVAS .................................................................................. 323
A ENERGIA RENOVÁVEL NO BRASIL COM A CRISE DA PANDEMIA DA
COVID-19 ............................................................................................................ 324
ESTUDO DA VIABILIDADE DE CONVERSÃO DE ENERGIA MECÂNICA
CORPORAL EM ENERGIA ELÉTRICA: NANOGERADORES ......................... 333
ESTUDO DE VIABILIDADE DE RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA: LODO DA
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES (ETE) SABESP .................... 340
17
METODOLOGIA PARA PREVISÃO DE DADOS CLIMÁTICOS E ESTIMATIVA
DE PRODUÇÃO HÍBRIDA.................................................................................. 347
GERAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONTROLE ..................................................... 357
A IMPORTÂNCIA DO DESIGN DA MALHA DE ATERRAMENTO NO
AMBIENTE DE ALTA FREQUÊNCIA ............................................................... 358
AVALIAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DA INSERÇÃO DA GERAÇÃO SOLAR
FOTOVOLTAICA DISTRIBUÍDA DENTRO DAS REDES DE DISTRIBUIÇÃO
.............................................................................................................................. 365
AVALIAÇÃO DO ESFORÇO HIDRÁULICO EM COMPORTAS BASCULANTE
POR MEIO DE CFD ............................................................................................. 375
MÉTODO HCS-OCC PARA RASTREAMENTO DO PONTO DE MÁXIMA
POTÊNCIA EM SISTEMAS DE ENERGIA EÓLICA ......................................... 385
MODELO DE PROGRAMAÇÃO ESTOCÁSTICA PARA A ALOCAÇÃO ÓTIMA
DE BATERIAS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO COM GERAÇÃO
FOTOVOLTAICA ................................................................................................ 396
PROGRAMAÇÃO CÔNICA APLICADA AO CARREGAMENTO COORDENADO
DE VEÍCULOS ELÉTRICOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO ......................... 406
QUESTÕES JURÍDICAS DAS POLÍTICAS DE GERAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO
.............................................................................................................................. 416
HÍDRICA ................................................................................................................ 426
ESTIMATIVA PRELIMINAR DO POTENCIAL ENERGÉTICO DE UMA
CENTRAL HIDRELÉTRICA A FIO D’ÁGUA .................................................... 427
OTIMIZAÇÃO ESTRUTURAL DE EQUIPAMENTO HIDROMECÂNICO
MOTIVADA PELA INTERAÇÃO COM OS EFEITOS NATURAIS ................... 436
PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA (PCH) DE CHIBARRO: POTENCIAL
TURÍSTICO, CULTURAL E ENERGÉTICO ....................................................... 449
POLÍTICAS E SEGURANÇA ENERGÉTICAS .................................................. 459
A COP-25 E OS RECURSOS FLORESTAIS BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM
BASE NAS POLÍTICAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NACIONAL E DO
ESTADO DE SÃO PAULO .................................................................................. 460
A NOVA AGENDA DA POLÍTICA NACIONAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS DO
SETOR FLORESTAL ........................................................................................... 471
A PARTICIPAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NA GESTÃO PÚBLICA PARA
SUSTENTABILIDADE NO BRASIL ................................................................... 478
RESÍDUOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................... 487
APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE MEDIUM DENSITY FIBERBOARD
(MDF) COMO BRIQUETES ................................................................................ 488

18
EFEITOS AMBIENTAIS CUMULATIVOS DECORRENTES DA IMPLANTAÇÃO
DE APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS DE PEQUENO PORTE NA BACIA
DO ALTO PARAGUAI ........................................................................................ 497
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E DESCARTE DE LÂMPADAS - INSTRUINDO
MUNÍCIPES DE ASSIS CHATEAUBRIAND–PR ............................................... 506
SMART GRID ........................................................................................................ 515
USO DE REDES NEURAIS DE HISTERESE L² P EM SOLUÇÕES DSM
(DEMAND SIDE MANAGEMENT) EM SMART GRIDS PARA FONTES
RENOVÁVEIS INTERMITENTES ...................................................................... 516
SOLAR .................................................................................................................... 525
ANÁLISE DE DADOS DE UMA USINA SOLAR DE GRANDE PORTE COM
TRACKER DE UM EIXO .................................................................................... 526
ANÁLISE DO PERFIL DE TENSÃO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO
FOTOVOLTAICO COM A REDE DE DISTRIBUIÇÃO ..................................... 535
APLICAÇÃO DA ENERGIA RENOVÁVEL PARA IMPLEMENTAÇÃO PRÁTICA
DE FOGÃO SOLAR ............................................................................................. 543
AQUISIÇÃO DE DADOS DE TEMPERATURA BASEADA EM PLACA DE
DESENVOLVIMENTO E PLATAFORMA IoT ................................................... 551
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PROCEDIMENTO DE AGREGAÇÃO DE
CORRENTES EMPREGADO EM ESTUDOS DE ACESSO DE FAZENDAS
FOTOVOLTAICAS NO BRASIL ......................................................................... 558
AVALIAÇÃO DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA PARA APLICAÇÃO DE
CÉLULAS MULTIJUNÇÃO ................................................................................ 568
CHARACTERIZATION OF THERMOPHYSICAL PROPERTIES OF
COMMERCIAL PARAFFINS FOR USES IN APPLICATIONS OF THERMAL
SOLAR ENERGY................................................................................................. 579
CONTROLADOR DE CARGAS DESBALANCEADAS EM SISTEMA DE
GERAÇÃO FOTOVOLTAICA CONECTADO À REDE TRIFÁSICA DE
DISTRIBUIÇÃO ................................................................................................... 589
DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO PARA
ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UM PRÉDIO DA UFSCar-
SOROCABA ......................................................................................................... 599
ELECTROMAGNETIC SOLAR RADIATION CONVERSION USING
RECTIFYING ANTENNAS RECTENNA: A CRITERION FOR TYPOLOGY
OPTIMIZATION OF BOW-TIE, DIPOLE, SPIRAL, LOG-PERIODIC AND
MEANDER ........................................................................................................... 609
ESTUDO DA PERFORMANCE DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO
CONECTADO À REDE ELÉTRICA .................................................................... 616
ESTUDO DE MÉTODOS DE RASTREAMENTO DE PONTO DE MÁXIMA
POTÊNCIA EM MÓDULOS FOTOVOLTAICOS ............................................... 626
19
ESTUDO DE TANQUE DE ARMAZENAMENTO TÉRMICO SOLAR ............. 636
FEASIBILITY STUDY OF IMPLEMENTING A PHOTOVOLTAIC SYSTEM ON
GRID .................................................................................................................... 645
SIMULAÇÃO NUMÉRICA COMPUTACIONAL DA EFICIÊNCIA TÉRMICA DE
COLETORES SOLARES PLANOS COM BASE NA INCLINAÇÃO ÓTIMA .... 655
SIMULAÇÃO NUMÉRICA E COMPARATIVA DA EFICIÊNCIA DOS
COLETORES SOLARES PLANO E COM TUBO EVACUADO ......................... 665
TÉCNICAS MPPT: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PRINCIPAIS
MÉTODOS E SUA INFLUÊNCIA NA EFICIÊNCIA DO SISTEMA
FOTOVOLTAICO ................................................................................................ 674

20
RESUMOS

21
BIOCOMBUSTÍVEIS

22
ASPECTOS TECNOLÓGICOS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR
DO SEBO BOVINO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Paulo Roberto da Silva1, Eliana Mossé Alhadeff1


1
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
E-mail: roberto1silva@yahoo.com.br

O sebo bovino é um dos subprodutos gerados nas indústrias de matadouros e frigoríficos


e geralmente são vinculadas as graxarias existentes nestes estabelecimentos. Com o
advento de tecnologias de produção de biocombustíveis, este tipo de gordura animal
tornou-se relevante na produção de biodiesel, alcançando nos últimos anos o posto de
segunda matéria-prima mais utilizada na produção de biodiesel no Brasil. Este trabalho
tem por objetivo realizar um monitoramento tecnológico através do levantamento de
publicações científicas, compreendidas no período de 2009 a 2019, que utilizaram sebo
bovino para produção de biodiesel, visando a identificação dos principais parâmetros
recorrentes nas publicações. Para isso, foi realizado uma abordagem metodológica
bibliométrica e de análise de conteúdo, no qual utilizou-se palavras-chave nas bases de
dados eletrônicos Web of Science, Scopus e SciELO. A triagem inicial de
aproximadamente 1081 publicações gerou um total de 26 artigos técnicos que eram
específicos ao tema proposto, sendo que 22 deles foram conduzidos por catalisadores
(homogêneos, heterogêneos ou enzimáticos) e destes ao menos 06 artigos envolveram
técnicas como micro-ondas, rádio frequência ou ultrassom assistida. Outras 04
publicações versavam sobre processos não catalíticos, como aquelas observadas nas áreas
supercrítica ou subcrítica. A pesquisa revela que num período de dez anos o processo
mais utilizado para a produção de biodiesel de sebo bovino foi a transesterificação
homogênea alcalina, e que outros métodos de produção ainda não estão completamente
difundidos. Além disso, é necessária a participação de toda comunidade científica e
agências governamentais para aumentar a viabilidade dessas tecnologias e a produção de
biodiesel de sebo bovino no futuro.
Palavras-chave: gordura animal, biocombustível, análise bibliométrica.

Agradecimentos: Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC).

23
AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DE SÓLIDOS ATRAVÉS DA CODIGESTÃO
ANAERÓBIA DE BIOPOLÍMERO DE AMIDO DE MILHO EM ÁGUA
RESIDUAL DE SUINOCULTURA

Anderson Rodrigo Heydt 1, Thompson Ricardo Weiser Meier2, Paulo André Cremonez3,
Joel Gustavo Teleken1
1
Universidade Federal do Paraná, 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
3
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
E-mail: andersonrheydt@gmail.com

O consumo excessivo de produtos industrializados, contribuiu na intensificação da


geração de embalagens, sendo maioria obtida de fontes não renováveis e quando dispostas
no meio ambiente demoram anos para se decompor. Com isso, pesquisas foram
desenvolvidas para obter polímeros de curta degradação, surgindo os biopolímeros.
Devido à alta degradabilidade, os biopolímeros não podem ser descartados juntamente a
plásticos comuns, pois contribuem na contaminação e dificuldade de separação. A
codigestão anaeróbia é uma alternativa, onde realiza a degradação da matéria orgânica
em ambiente anaeróbio através de microrganismos, gerando biofertilizante e biogás. O
presente trabalho visa realizar a degradação e avaliar a remoção de sólidos totais e voláteis
do biopolímero produzido de amido de milho através da codigestão anaeróbia com água
residual de suinocultura em fase mesofílica. Na condução do processo foram utilizados
reatores confeccionados em PVC com alimentação batelada, com volume total de 4 litros
e volume útil de 3,2 litros, respeitando 20% de volume livre. O substrato foi composto
por 20% de inóculo obtido de biodigestor modelo canadense de dejeto suíno, 80% de
água residual de suinocultura e biopolímero de amido de milho. O biopolímero foi
adicionado em concentrações de 0 (controle); 1; 3; 5 e 7 % de massa de biopolímero por
volume útil de reator, denominadas de Branco, M1, M3, M5 e M7 respectivamente.
Realizou-se triplicata em cada tratamento onde o tempo de retenção hidráulica total foi
25 dias. Avaliou-se os sólidos totais (STT) e sólidos totais voláteis (STV) pelo método
gravimétrico 2540-B e 2540-E respectivamente. Na remoção de STT o tratamento mais
eficiente foi o M7 com adição de 7% de massa de biopolímero por volume útil de reator
com valor igual a 67,76% (±8,78). A maior remoção de STV foi através do tratamento
M1 com adição de 1% de massa de biopolímero por volume útil de reator, totalizando
uma remoção de 74,54% (±5,17). Devido à alta degradabilidade do biopolímero, tem-se
a formação de ácidos, onde contribuem na acidificação dos reatores durante a codigestão
anaeróbia inibindo os microrganismos responsáveis pela degradação diminuindo a sua
eficiência de remoção de sólidos voláteis em função do aumento de sua adição.
Palavras-chave: polímeros biodegradáveis, mesofílica, sólidos totais.

Agradecimentos: Laboratório de Produção de Biocombustíveis (LPB), Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

24
BIODIESEL A PARTIR DE SEBO BOVINO: UM MAPA TECNOLÓGICO DE
PATENTES

Paulo Roberto da Silva1, Eliana Alhadef2


1
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2Universidade Federal do Rio de
Janeiro
E-mail: roberto1silva@yahoo.com.br

O sebo bovino é um subproduto do processo de abate de animais, no qual pode ser


utilizado para diferentes fins, como indústrias de alimentos, cosméticos e complemento
na alimentação animal. Com o advento das tecnologias de produção de biocombustíveis,
esse tipo de gordura animal tornou-se relevante na produção de biodiesel. Este trabalho
tem como objetivo realizar um mapeamento tecnológico das patentes que utilizaram sebo
bovino na produção de biodiesel por um período de dez anos (i.e, 2009-2019). Para isso,
a abordagem metodológica foi desenvolvida por meio de uma pesquisa bibliográfica e
análise de conteúdo, na qual foram utilizadas palavras-chave como “beef tallow” (sebo
bovino) ou “animal fat” (gordura animal) no campo de pesquisa de cada plataforma
eletrônica como European Patent Office (Espacenet) e Derwent Innovations Index (DII).
A recuperação das informações contidas nos documentos de patentes foi avaliada
individualmente para verificar se os registros encontrados tinham uma relação específica
com o tema proposto para este trabalho. Dessa forma, a triagem inicial obteve 34 registros
de patentes distribuídas em 8 famílias principais conforme os símbolos estabelecidos pela
Classificação Internacional de Patentes (IPC). A pesquisa também mostrou três tipos de
tecnologias principais abordadas: catalisadores, pré-tratamento e produção de biodiesel a
partir de sebo bovino, o último correspondendo a 58,8% (20 patentes) com a China sendo
o maior depositário destas tecnologias. Além disso, a pesquisa indicou a necessidade de
um mapeamento mais profundo de outras tecnologias para minimizar as limitações físico-
químicas do sebo bovino para gerar biodiesel de melhor pureza e qualidade.
Palavras-chave: biocombustível, gordura animal, desenvolvimento tecnológico,
levantamento bibliográfico.

Agradecimentos: Instituto do Meio Ambiente do Acre.

25
BLENDAS DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS
PARA PRODUÇÃO DE BRIQUETES

Marco Antônio Marcelino Bahia1, Lohainny Teles Viana Santos1, Julia Chaveiro
Santos1, Filipe Gonçalves Sousa1, Luriene Hoffmann Greghi Kalinke1, Carlos Roberto
Sette Júnior1
1
Universidade Federal de Goiás
E-mail: raquel.menestrino@gmail.com

A geração de resíduos é uma característica marcante na cadeia produtiva florestal,


tornando-se um passivo ambiental. Uma alternativa interessante para o aproveitamento
dos resíduos é a sua destinação para geração de energia, sendo necessária a realização de
avaliações técnicas para comprovar sua viabilidade. Nesse sentido, o objetivo deste
estudo foi caracterizar a qualidade de briquetes produzidos a partir de blendas de resíduos
da madeira de Dipterix sp. (Cumaru), Hymenolobium sp. (Angelim) e Pinus sp. Os
resíduos madeireiros das três espécies foram coletados em serraria e misturados em
proporções iguais (33% de cada resíduo) para a caracterização da biomassa, sendo
determinados perfil granulométrico, densidade a granel e o teor de umidade. Os briquetes
foram produzidos em briquetadeira labotatorial, utilizando-se 120 ºC de temperatura, 5
minutos de prensagem, pressão de 140 Kgf cm-2 e resfriamento por 5 minutos. Para a
qualidade dos briquetes foram avaliados a densidade aparente, teor de umidade e
durabilidade. Como resultados, encontrou-se para densidade à granel e teor de umidade,
170 kg m-3 e 12%, respectivamente. Para o perfil granulométrico, observa-se que a maior
parte do resíduo ficou retida na peneira de 60 mesh. O teor de materiais voláteis foi de
82,06%. Para o briquete, a perda de massa foi mínima, representando apenas 0,4% após
o teste de friabilidade. A densidade aparente foi de 1.150,00 kg m-3, o que representou
um aumento de aproximadamente dez vezes em relação à densidade do resíduo in natura.
O uso de blendas é uma alternativa para o aproveitamento dos resíduos madeireiros para
produção de energia na forma de biocombustível sólido.
Palavras-chave: biocombustível sólido, passivo ambiental, biomassa.

Agradecimentos: Ao Laboratório de Qualidade da Madeira e Bioenergia da


Universidade Federal de Goiás.

26
BRIQUETES DE RESÍDUOS MADEIREIROS DE Dipteryx odorata (CUMARU)
E Handroanthus sp. (IPÊ)

Julia C. Santos1, Ana Carolina A. Serafim1, Ana Cristina A. Reis1, Brunna V.


Buntrock1, Nathalia B. Melo1, Carlos Roberto Sette Jr1
1
Universidade Federal de Goiás
E-mail: crsettejr@hotmail.com

A briquetagem é uma alternativa para melhorar as características físico-energéticas dos


resíduos madeireiros. Esse trabalho teve como objetivo a caracterização da biomassa e a
produção e caracterização de briquetes de resíduos madeireiros de Dipteryx odorata
(Cumaru) e Handroanthus sp. (Ipê). Os resíduos foram coletados em serraria localizada
na cidade de Goiânia, Goiás, e foram gerados pelo desdobro de toras das duas espécies
estudadas. Após a coleta, foram determinados o teor de umidade, a densidade a granel e
o perfil granulométrico sendo, na sequência, produzidos briquetes em briquetadeira de
laboratório, nas condições de 120°C de temperatura, 5 minutos de pressão a 140 kgf cm -
2
e 10 minutos de resfriamento com ventilação forçada, tendo sido produzidos briquetes
com 4 cm de diâmetro e altura. Dos briquetes foram determinados a (i) densidade aparente
e (ii) durabilidade. Como resultados, os resíduos apresentaram 169 kg m-3 de densidade
a granel, com 6.93% de teor de umidade e grande parte das partículas caracterizadas com
tamanho de até 20 mesh. Para os briquetes, a densidade aparente média foi de 1.120,0 kg
m-3, com reduzida perda de massa quando submetidos ao teste de durabilidade (0,2%).
Com base nos resultados, conclui-se que é possível produzir briquetes de qualidade com
o resíduo madeireiro das espécies Cumaru e Ipê, sendo uma alternativa interessante para
a sua correta destinação.
Palavras-chave: Compactação da biomassa, características físico-energéticas, energia
renovável.

Agradecimentos: Laboratório de Qualidade da Madeira e Bioenergia - LQMBio – UFG.

27
CAVITAÇÃO HIDRODINÂMICA COM TUBO DE VENTURI PARA PRÉ-
TRATAMENTO DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Thiago Averaldo Bimestre1, Celso Eduardo Tuna1, Eliana Vieira Canettieri2, Gabriela
de Cássia César Bonifácio 3
1
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG)/UNESP, 2FEG/UNESP, 3Escola de
Engenharia de Lorena (EEL)/USP
E-mail: thiagobimestre@hotmail.com

A biomassa lignocelulósica é uma matéria-prima sustentável disponível globalmente, rica


em açúcares que podem ser convertidos em biocombustíveis e produtos especiais através
de um processamento apropriado. Abundante no Brasil, o bagaço de cana-de-açúcar
constitui-se um dos mais importantes subprodutos da indústria de açúcar e álcool, sendo
extensivamente estudado para a produção de etanol de segunda geração. No entanto,
considerando a complexidade e a recalcitrância do bagaço à conversão biológica, é
necessária uma etapa de pré-tratamento para tornar viável a sua utilização. Neste sentido,
rotas tecnológicas alternativas vêm sendo estudadas e a cavitação hidrodinâmica
desponta-se como promissora para o pré-tratamento de biomassa liberando grandes
magnitudes de energia e induzindo a transformações físicas e químicas, favorecendo o
rompimento da matriz carboidrato-lignina. Neste estudo a cavitação hidrodinâmica foi
empregada como um meio físico para potencializar o pré-tratamento alcalino do bagaço
de cana-de-açúcar. O reator de cavitação com fluxo contínuo foi equipado com tubo de
Venturi, construído com diâmetro e comprimento de garganta de 1,5 mm e 5,0 mm,
respectivamente. O sistema utilizou bomba de duplo diafragma regulada para vazão de
6,10.10-5 m3/s, com pressão de saída de 3 bar. O pré-tratamento alcalino assistido por
cavitação hidrodinâmica foi realizado para avaliar a influência da concentração de NaOH
(1-5%), razão sólido-líquido (1-5%) e tempo de reação (20-60 min) na remoção de
lignina. A análise de superfície de resposta permitiu determinar as condições ótimas do
pré-tratamento para a máxima remoção de lignina. Verificou-se que a condição ótima foi
de 4,95% de NaOH, relação sólido-líquido 1,14% durante 55,96 min, o que resultou em
uma remoção máxima de 53,30% de lignina. Através da análise morfológica, pôde-se
verificar as alterações nas fibras do bagaço de cana-de-açúcar pré-tratado com sulcos mais
porosos, indicando a efetividade e potência do pré-tratamento. A energia dissipada por
biomassa foi determinada em 4,14 MJ / kg de bagaço e a energia dissipada por volume
de líquido, na zona de recuperação de pressão foi determinada em 32,5.10 2 kW/m3.
Conclui-se que a cavitação hidrodinâmica potencializou o pré-tratamento alcalino do
bagaço de cana-de-açúcar, elevando a eficiência do processo e mostrou-se
energeticamente eficiente em termos de consumo de energia.
Palavras-chave: cavitação hidrodinâmica, bagaço de cana-de-açúcar, materiais
lignocelulósicos.

Agradecimentos: FEG/UNESP.

28
CUMULATIVE ENERGY DEMAND OF SOLID BIOFUELS: A REVIEW FOR
THE LATIN AMERICAN REGION

Thiago Teixeira Matheus1, Remo Augusto Padovezi Filleti2, Ricardo Musule Lagunes3,
Diogo Aparecido Lopes Silva1
1
Research Group on Sustainability Engineering, Department of Production Engineering
of Sorocaba, Center for Science & Technology Management, Federal University of São
Carlos, UFSCar, Sorocaba, SP, Brazil, 2Universidade Metodista de Piracicaba, Campus
Santa Bárbara d'Oeste - UNIMEP , 3Escuela Nacional de Estudios Superiores Unidad
Morelia. Universidad Nacional Autónoma de México
E-mail: thiagotmatheus@gmail.com

Biomass is one of the main sources of energy worldwide and appears as one of the main
driving forces for the Bioeconomy development. Also, the world market for solid biofuels
from renewable sources has increased in the last few years, with special attention to the
production of pellets and briquettes in Latin America. This study presents a method for a
comparison of different energy systems concerning the overall energy yield during the
life cycle of pellets and briquettes produced in Latin America. For this purpose, the
Cumulative Energy Demand (CED) based on primary energy was introduced and
determined for the following scenarios: biomass briquettes vs. biomass pellets produced
in a cradle-to-gate life cycle approach in Brazil, Chile, and Colombia. Eight scenarios
were found in the Web of Science database: two case studies for briquettes productions
in Brazil, and six case studies about pellets productions in Brazil, Chile, and Colombia.
The CED method was used based on the openLCA software tool application combined
with the inventory flows for the eight scenarios. The results for total energy demand for
each 1 MJ of pellets/briquettes ranged from -4.01E+01 to 2.38E+03 MJ-eq. Also,
approximately 90% of the CED impacts were due to the biomass sources used for the
production processes, followed by fossil fuels demanded in the production chain (diesel
and electricity consumptions). The best scenario was found for the Brazilian briquettes
production, with a CED = -4.01E+01 MJ-eq., an outcome from the adopted life cycle
system modeling approach, where the urban forest residues used as raw material was
assumed to be as free of negative environmental burdens. On the other hand, the worst-
case scenario was for the pellets production from palm fruit brunches in Colombia, as the
evaluated system was not dedicated to pellets production and many other products (i.e.,
palm oil) and coproducts (e.g., kernel) leave the system as well, requiring more resources
and generating more waste and emissions in the manufacturing processes. As a
preliminary conclusion, it was found environmental benefits in terms of CED for the
Brazilian briquettes production from forest residues compared with the remaining case
study scenarios.
Palavras-chave: Life Cycle Assessment, Bioeconomy, Pellets and Briquettes.

Agradecimentos: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP -


Brasil, 2019/16996-4) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq – Brasil, 302722/2019-0 e 33001014/2020-2).

29
INFLUÊNCIA DO NÍQUEL NA PRODUÇÃO DE BUTANOL POR Clostridium
beijerinckii UTILIZANDO O HIDROLISADO DA CASCA DO COCO VERDE

Everaldo Silvino dos Santos1, Beatriz Meneghetti Araújo 1, Otávio L Silva1, Beatriz
Azevedo1, Petrúcia Karine Santos Brito Bezerra1, Stephanie Caroline Bivar Matias1
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
E-mail: petruciakarine@hotmail.com

Este estudo avaliou a influência do níquel na conversão de açúcares (ART), presentes no


hidrolisado da casca do coco verde (HCCV), em butanol e outros produtos. Foram
realizados ensaios fermentativos a 37°C, iniciando com 19,4g/L de ART e 1g/L de
inóculo (C. beijerinckii). O HCCV foi suplementado com triptona, extrato de levedura,
acetato de amônio, minerais e tampão fosfato. Duas condições foram testadas: com e sem
adição de níquel (c/Ni e s/Ni, respectivamente). As concentrações de ART e demais
produtos foram determinadas por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). A
produção de butanol foi maior no HCCV s/Ni, alcançando uma concentração de 2,14g/L
de butanol. Portanto, a presença do níquel no hidrolisado, nas condições de processo
estudadas, não se mostrou favorável à produção de butanol.
Palavras-chave: Coco verde, resíduo, fermentação, butanol, níquel.

Agradecimentos: Os autores agradecem ao CNPq e a Capes.

30
MODELO ECONÔMICO COMO FERRAMENTA DE TOMADA DE
DECISÕES PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE
MICROALGAS (*)

Bruno Alves de Oliveira1, Claudia Aparecida de Mattos2, Flávia Talarico Saia1, Jose
Juan Barrera Alba1
1
Universidade Federal de São Paulo, Instituto do Mar - IMAR, Santos, Brasil., 2Centro
Universitário FEI, Depto. de Engenharia Mecânica, São Bernardo do Campo, Brasil.
E-mail: brunifesp@gmail.com

As microalgas são organismos unicelulares de rápido crescimento e vem sendo


amplamente estudadas para a produção de biodiesel. O cultivo de microalgas não requer
terra agricultável e pode ser feito utilizando águas residuárias. Após uma extensiva
revisão bibliográfica, observou-se que a grande parte dos estudos econômicos sobre a
produção do biodiesel de microalgas utiliza uma contabilidade tradicional determinística
e estima a produção em larga escala, geralmente com processos de biorrefinaria,
requerendo altos investimentos e tempo considerável para a operação. Este trabalho
conduziu uma análise econômica estocástica para um cenário de produção de biodiesel
em pequena escala, aplicando técnicas de simulação Monte Carlo como meio de integrar
a análise de risco ao processo de avaliação econômica. Paralelamente, foi proposto um
modelo econômico como ferramenta para a tomada de decisões, elaborado a partir da
construção detalhada do Capex e Opex, custeio de cada etapa do processo produtivo e
simulação econômica multicenário. Para reforçar a análise, foram utilizadas técnicas de
investimento VPL e TIR, e análise de sensibilidade para se identificar as variáveis que
exercem maior impacto na produção do biodiesel e consequentemente no fluxo de caixa.
Este estudo demonstra que a produção do biodiesel em pequena escala é financeiramente
inviável dadas as condições em 2019 e que o maior ofensor econômico para este tipo de
projeto é o Capex. No entanto, o trabalho amplia a discussão sobre os resultados das
simulações, abordando aspectos econômicos ainda pouco discutidos nos estudos sobre o
tema, tais como o impacto financeiro da adequação do biodiesel ao padrão brasileiro de
qualidade regido pela norma RANP 45, os créditos de carbono e as políticas de incentivos
e subsídios visando facilitar a viabilização de projetos de baixo impacto ambiental.
Palavras-chave: modelagem econômica, simulação Monte Carlo, biocombustíveis.

Agradecimentos: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

31
REMOÇÃO DE SULFETO DE HIDROGÊNIO PARA A PURIFICAÇÃO DO
BIOGÁS EM UNIDADE EXPERIMENTAL MULTIPROPÓSITO

Vinícius Carminati1, Daniel Sena Marins2, Ana Carolina de Camargo 2, Eliane Soares da
Silva2, Helton José Alves2
1
Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (LABMATER), Universidade Federal
do Paraná (UFPR – Setor Palotina), Palotina-PR, Brasil., 2Laboratório de Materiais e
Energias Renováveis (LABMATER), Universidade Federal do Paraná (UFPR – Setor
Palotina), Palotina-PR, Brasil
E-mail: viniciuscarminati@gmail.com

O biogás é um combustível alternativo oriundo de processos de biodigestão anaeróbica


da biomassa que se destaca por apresentar elevado conteúdo energético ao teor de metano
presente em sua composição (normalmente de 55 a 70%). Muitas vezes o biogás é
utilizado de forma in natura em secadores, turbinas e na queima direta em caldeiras,
porém, tendo em vista outras formas de aplicações como em motores geradores de energia
elétrica e veiculares seu uso se torna inviável uma vez que em sua composição estão
presentes componentes indesejáveis como H2S, NH3 e H2O, os quais são responsáveis
por reduzir o poder calorífico, causar corrosão e formar produtos secundários como gases
nocivos ao meio ambiente (SO2 e SO3). Dessa forma, é necessário empregar processos e
tecnologias de tratamento capazes de purificar o biogás até o mesmo atingir parâmetros
de qualidade adequados a fim de torná-lo mais vantajoso e eficiente. Neste contexto, este
trabalho tem como objetivo avaliar a capacidade de remoção do H 2S com carvão ativado
utilizando unidade experimental multipropósito de escala laboratorial com leito de
adsorção. Para o planejamento experimental foram adotadas como variáveis as seguintes
condições operacionais na adsorção: pressão interna do leito de adsorção, vazão de saída
de gás, temperatura, quantidade de material adsorvente (carvão ativado comercial) e
concentração de H2S (ppm). As amostras de carvão foram analisadas pela técnica de
fisissorção de N2 e CO2, sendo para N2 a área superficial específica determinada pelo
método de BET (Brunauer-Emmett-Teller) e BJH (Barret-Joyer-Halenda) para volume
e diâmetro de poros, para análises de CO2 utilizou-se o método de DFT (Density
Functional Theory). Nos ensaios de adsorção de H2S foi possivel remover 1000 ppm de
H2S durante uma hora e trinta minutos, sendo que o adsorvente não saturou mesmo após
quatro horas e quarenta minutos.
Palavras-chave: carvão ativado, microporos, adsorção, purificação de gases.

Agradecimentos: Ao CIBiogás/ITAIPU-Brasil (Projeto P,D&I UFPR 80-2018), ao


CNPq à Fundação Araucária-PR.

32
RESÍDUO DO DESDOBRO DA MADEIRA DE ANGELIM PEDRA PARA
PRODUÇÃO DE BRIQUETES (*)

Raquel Menestrino Ribeiro 1, Marco Antônio Marcelino Bahia2, Mateus Zampetrik


Gomes Caetano2, Pedro Henrique Camargo Vieira de Sousa2, Rafaela Laís de Oliveira
Fernandes2, Carlos Roberto Sette Júnior2
1
Univesidade Federal de Goiás, 2Universidade Federal de Goiás
E-mail: raquel.menestrino@gmail.com

A indústria de processamento da madeira brasileira apresenta um baixo aproveitamento


dos resíduos gerados, sendo necessária a busca por uma destinação correta, como para a
geração de bioenergia. O desdobro da madeira em serrarias gera uma grande quantidade
de resíduos que podem ser utilizados como insumo para a produção de briquetes, no
intuito de melhorar as características energéticas da biomassa in natura. O objetivo deste
trabalho foi avaliar as características do resíduo do desdobro da madeira de Angelim
Pedra (Hymenolobium petraeum Ducke) e o seu potencial para a produção de briquetes.
Dos resíduos, proveniente do processamento de madeira em serraria, foram determinados
o perfil granulométrico, a densidade a granel e o teor de umidade. Os briquetes foram
produzidos em briquetadeira laboratorial, utilizando-se temperatura de 120 ºC, tempo de
prensagem de 5 minutos, pressão de 140 kgf cm-2 e tempo de resfriamento de 5 minutos.
A qualidade dos briquetes foi determinada pelas variáveis físico-mecânicas: densidade
aparente, teor de umidade e durabilidade. O resíduo da madeira do Angelim Pedra
apresentou granulometria grossa, com mais da metade das partículas retidas na malha de
20 mesh, com teor de umidade de 7,62% e densidade a granel de 204 kg m-3. O resíduo
foi compactado, resultando em briquetes coesos, resistentes e de alta performance
energética, evidenciando a importância da densificação na melhoria das características
energéticas do resíduo.
Palavras-chave: biocombustíveis sólidos, características energéticas, passivo ambiental.

Agradecimentos: Ao Laboratório de Qualidade de madeira e Bioenergia (LQMBio) da


Universidade Federal de Goiás.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

33
BIOMASSA

34
ANÁLISE DA BIOMASSA DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS

Maria Fernanda Felippe Silva1, Claudinei Henrique Ferreira Rodrigues2, João Vítor
Felippe Silva2, Carlos Manuel Romero Luna1, Cristiane Inácio de Campos1, José
Claudio Caraschi1
1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Itapeva,
2
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Engenharia de
Guaratinguetá – FEG/Campus de Guaratinguetá
E-mail: mff.silva@unesp.br

Com a alta demanda por energia e procura por novos métodos que não utilizem
combustíveis fósseis, uma das alternativas para a produção de energia é a biomassa
vegetal. Para avaliar a potencialidade de um biocombustível é necessário o conhecimento
preliminar do seu poder calorífico e do teor de umidade. Um outro fator importante, é o
teor de cinzas da biomassa que afeta a manipulação e o custos de processamento da
conversão global de energia da biomassa. O presente trabalho teve como objetivo a
análise do poder calorífico superior e do teor de cinzas de diferentes biomassas oriundas
de resíduos lignocelulósicos. As biomassas analisadas foram os resíduos agroindustriais
(semente de algodão com línter, bagaço de cana-de-açúcar e bagaço de sorgo sacarino) e
os resíduos florestais do processamento da madeira (casca, cavaco e serragem de
madeiras) e resíduos industrial (cinzas de caldeira de biomassa). O poder calorífico
superior (PCS) e o teor de cinzas (TCz) foram determinados segundo as normas ASTM
E 711-87 (2004) e ASTM D 1102-84 (2013), respectivamente. Os resultados mostraram
que os resíduos agroindustriais apresentaram valores de PCS semelhantes aos resíduos
florestais, mas com variação no TCz. Os valores do PCS das amostras variaram de 18716
a 22242 kJ kg-1, sendo que os resíduos que tiveram maior destaque foram a casca de Pinus
sp. (22242 kJ kg-1) e a semente de algodão com línter (22188 kJ kg-1). Já as cinzas de
caldeira de biomassa apresentaram baixo PCS (3249 a 8816 kJ kg -1) e alto TCz (62,7 a
77,4%), em comparação com os outros resíduos lignocelulósicos que variaram de 0,13 a
4,6% o TCz, porém podem ser aproveitados por apresentarem potencial energético.
Concluiu-se que os resíduos lignocelulósicos são uma boa fonte de matéria-prima que
podem ser considerados como biocombustíveis renováveis para a geração de energia.
Palavras-chave: biomassa vegetal, poder calorífico superior, resíduos lignocelulósicos.

Agradecimentos: Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico - CNPq pelo Auxílio financeiro (Processo – 439125/2018-9).

35
APLICAÇÃO DE PROCESSO OXIDATIVO AVANÇADO COMO PRÉ-
TRATAMENTO DA VINHAÇA PARA POSTERIOR BIODIGESTÃO EM
REATOR UASB

Ana Caroline Fernandes Borges1, Marcela Prado Silva Parizi2


1
Universidade Estadual de São Paulo “Júlio de Mesquita Filho”, 2UNESP
E-mail: anacarolinefborges@gmail.com

A busca por fontes renováveis e alternativas aos derivados do petróleo tem crescido
consideravelmente no Brasil e no mundo, com isso, a produção da cana-de-açúcar para a
geração de etanol é de grande importância. Com o crescimento dessa produção, é visível
o grande volume de resíduos gerados provenientes desse processo, o resíduo a ser
estudado nesse trabalho é a vinhaça, para cada 1 litro de etanol gerado, obtém-se
aproximadamente 12 litros de vinhaça, material de alto poder poluente e corrosivo, com
grande quantidade de matéria orgânica, tal efluente pode ser utilizado como fertilizante e
na geração de biogás, quando previamente tratado e regulamentado. O objetivo do
presente trabalho foi realizar a biodigestão da vinhaça, a fim de obter biogás, devido à
grande quantidade de gás metano emitida. A biodigestão foi realizada com a vinhaça in
natura e pré-tratada. O pré-tratamento consistiu no uso do processo oxidativo avançado
(POA), TiO2 fotoirradiado por luz solar, responsável por acelerar a degradação da matéria
orgânica, aumentando a redução de DQO, demanda química de oxigênio e aumentando a
produção de metano.Para a montagem do reator fotoquímico foram utilizados um
recipiente de vidro para armazenar o efluente, cano PVC para a estrutura do reator,
tubulações de látex, uma bomba de aquário e uma placa de vidro impregnada com dióxido
de titânio (TiO2), para a impregnação do dióxido de titânio foi utilizado o método de
suspensão, a placa permaneceu em suspensão na solução de água ionizada e TiO 2 e foi
seca e calcinada na estufa e na mufla, respectivamente. O efluente permaneceu em
recirculação por duas horas no reator exposto a luz solar. Ao realizar o processo de
biodigestão na presença e na ausência do pré-tratamento, observou-se que a vinhaça in
natura teve 39,83% de DQO removida, e pré-tratada a remoção foi de 77,73%, in
natura a produção de metano teórico foi de 9,84 m3, com a vinhaça pré-tratada a produção
foi de 19,87 m3. A partir dos resultados obtidos conclui-se que o pré-tratamento da
vinhaça é eficiente, aumentando a quantidade de biogás emitida.
Palavras-chave: biodigestão, poa, dqo.

Agradecimentos: Os autores agradecem a CNPq.

36
ATRIBUTOS QUÍMICOS E MINERAIS DE RESÍDUOS
LIGNOCELULÓSICOS DE ORIGEM URBANA PARA APROVEITAMENTO
ENERGÉTICO

Gabriela Fontes Mayrinck Cupertino 1, Natália Dias de Souza1, Ananias Francisco Dias
Júnior2, Alfredo José dos Santos Junior1, Alison Moreira da Silva2, Aécio Dantas de
Sousa Júnior1, Jéssica Grama Mesquita1, Luis Filipe Cabral Cezario2
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: gabriela.mayrinck01@gmail.com

Devido ao crescimento populacional ao longo do tempo, a geração de resíduos sólidos


urbanos (RSU) em grandes cidades têm se tornado um grande problema. Os componentes
lignocelulósicos que constituem os RSU são os de maior destaque para a geração de
energia, em função do seu caráter renovável. Nesse contexto, este estudo teve por objetivo
caracterizar quimicamente os resíduos lignocelulósicos de origem urbana provenientes
do município do Rio de Janeiro para fins energéticos. O material utilizado para o
desenvolvimento da pesquisa consistia em biomassa proveniente de resíduo de
arborização urbana, madeira provinda de Resíduo de Construção Civil (RCC) e restos de
embalagens (pallets e caixotes de madeira de feira), esse material foi coletado na estação
de transferência da COMLURB, localizada no bairro do Caju, município do Rio de
Janeiro, RJ. A coleta foi realizada entre os meses de Agosto e Outubro de 2019. Para a
realização das análises, a biomassa foi processada em um picador EDGE TRM516,
passadas em um moinho de facas tipo Willey e posteriormente classificada entre as
peneiras de 60 e 40 mesh. Para a determinação da composição química, foram
quantificados os teores de extrativos, lignina e holocelulose. Na análise química imediata,
foram obtidos os valores percentuais de materiais voláteis, carbono fixo e cinzas. A
determinação de contaminantes sólidos não combustíveis em biomassa, foi realizada
através da diferença entre teor de não combustíveis totais (NCT) e teor de não
combustíveis originais (NCO). Os teores de extrativos, lignina e holocelulose encontrados
foram, respectivamente, 1,52 %, 26,67 % e 68,00 %. As quantidades percentuais obtidas
para materiais voláteis, carbono fixo e cinzas foram, na devida ordem, 76,80 %, 18,30 %
e 4,90%. O valor encontrado para materiais não combustíveis adquiridos (NCA) foi de
0,35%, o que representou uma taxa de contaminação externa (TE) de 0,09%. Diante disso,
concluiu-se que o material em estudo apresentou potencial para ser empregado na geração
de energia.
Palavras-chave: análise química imediata, composição química, teor de contaminantes.

Agradecimentos: COMLURB, Laboratório de Energia da Biomassa (UFES) e


Laboratório de Química e Bioquímica da Madeira (UFRRJ).

37
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA TORTA DE MAMONA
PARA A PRODUÇÃO DE BRIQUETES

Leonardo Montaño Simonato1, Andrea C. de Conti1, Fábio M. Yamaji2, Gabriel T.


Machado2
1
Universidade Estadual Paulista, Engenharia de Energia, Rosana, Brasil, 2Universidade
Federal de São Carlos, Depto. de Ciências Ambientais, Sorocaba, Brasil
E-mail: leonardo.m.simonato@unesp.br

A torta de mamona é um subproduto da cadeia produtiva da mamona (Ricinus communis


L.), produzida a partir da extração do óleo das sementes desta oleaginosa. O Brasil é um
dos três maiores produtores de mamona e óleo de rícino do mundo. A avaliação do
potencial energético da torta de mamona pode ser uma alternativa a fim de dar um uso
para esse resíduo. O presente trabalho consiste no aproveitamento da torta de mamona
para a confecção de briquetes e assim verificar o seu possível potencial energético através
do poder calorífico superior (PCS), análise química imediata e também do seu transporte
e armazenamento através do teste de durabilidade. Foram confeccionados 15 briquetes e
analisadas suas propriedades físico-químicas a partir do resíduo de torta de mamona.
Determinou-se o PCS (através de bomba calorimétrica marca Ika, modelo C-5000, norma
ASTM D-5865), a análise química imediata (Norma ABNT/8112) e densidade a granel
(Norma E873-82). O PCS do resíduo analisado foi de 16.432 kJ/kg. Todas as análises
foram feitas em triplicata. Na análise química imediata obteve-se os valores médios de
16,46±0,74% para o teor de cinzas, 64,18±0,28% para teor de matérias de voláteis e
19,39±0,50% para o teor de carbono fixo. Os briquetes produzidos de torta de mamona
foram realizados sem classificação granulométrica e com umidade de 13,42%.Quanto ao
teste de durabilidade obteve-se o valor médio de 81,63±02,95%. Para fins de comparação
tomamos a madeira de clones de eucalipto (Eucalyptus), que apresenta o PCS de 18.605
kJ/kg e os valores médios de 0,35% para o teor de cinzas, 83,85% para teor de matérias
de voláteis e 15,85% para o teor de carbono fixo. Dessa forma, conclui-se que a torta de
mamona apresenta razoável quantidade de cinzas e baixa quantidade de materiais de
voláteis e uma maior quantidade de carbono fixo, e um PCS de 88,32% do valor do PCS
da madeira de eucalipto. Portanto, conclui-se que a torta de mamona apresenta
características razoáveis para ser usada como material na densificação energética
tornando-se um bom resíduo a ser aproveitado energeticamente, além de apresentar uma
razoável durabilidade, porém estudos futuros devem ser feitos para melhorar a estrutura
desse briquete.
Palavras-chave: biomassa, bioenergia, densificação energética.

Agradecimentos: Os autores agradecem a FAPESP pelo apoio, processo nº 14827-8 e o


grupo de pesquisa BioJoule.

38
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS (*)

Maria Fernanda Felippe Silva1, Nicole Santos da Silva2, João Vítor Felippe Silva3, José
Cláudio Caraschi1, Carlos Manuel Romero Luna1, Cristiane Inácio de Campos1,
Ronaldo da Silva Viana4
1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus Experimental de
Itapeva, 2ETEC Dr. Demétrio Azevedo Junior, 3Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” - Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 4Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências Agrárias e
Tecnológicas – FCAT – Campus de Dracena
E-mail: mff.silva@unesp.br

A biomassa vegetal constitui um grande potencial para o aproveitamento energético,


devido a ser um material renovável e de baixo custo. Neste contexto, observa-se que o
uso de biomassa como fonte de energia vem se intensificando no Brasil, merecendo
destaque o uso dos resíduos agroindustriais. Para uma utilização mais adequada e
valorização destes resíduos é necessário o conhecimento de suas propriedades químicas
que influenciam diretamente nas propriedades energéticas dos biocombustíveis, sendo
que as principais propriedades químicas da biomassa para fins energéticos são dadas pela
análise imediata e pelo poder calorífico superior. O objetivo do presente trabalho foi
avaliar o potencial energético dos resíduos agroindustriais por meio da análise imediata e
do poder calorífico superior (PCS). Os resíduos analisados foram a casca de soja, casca
de amendoim, bagaço de cana-de-açúcar, bagaço de sorgo sacarino e resíduo do
processamento de tomate. Os ensaios de PCS e análise imediata (teor de materiais
voláteis, cinzas e carbono fixo) foram realizados conforme as normas ABNT NBR
8633/2014 e NBR 8112/1986, respectivamente. Após a análise dos resultados foi possível
analisar a relação entre a composição do resíduo e seu poder energético, no qual os
materiais com maior teor de cinzas apresentaram menor PCS. O valor para o PCS dos
resíduos variaram de 18418 a 24844 kJ.kg-1, onde o resíduo do extrato de tomate obteve
o maior valor, quanto a análise imediata, os valores determinados foram semelhantes aos
encontrados para os resíduos de madeira de pinus e de eucalipto. Dentre os resíduos
agroindustriais estudados o que obteve destaque foi o resíduo do processamento de tomate
devido a seu elevado PCS. Porém, todos os resíduos indicaram viabilidade técnica do
aproveitamento para fins energéticos.
Palavras-chave: biomassa vegetal, poder calorífico superior, análise imediata.

Agradecimentos: Unesp – Campus Experimental de Itapeva.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

39
BIOMASSA FLORESTAL COMO COMPONENTE DE UMA ECONOMIA DE
BAIXO CARBONO NA CULTURA DO TABACO (*)

Débora Luana Pasa1, Jorge Antonio de Farias1, Dionatan Hermes2


1
Universidade Federal de Santa Maria, 2Japan Tobacco International
E-mail: debora.pasa@gmail.com

A preocupação ambiental é fato e vem sendo amplamente discutida ao longo dos últimos
anos, visto que o desenvolvimento de uma economia está diretamente ligado a
necessidade de manter as atividades ambientalmente sustentáveis. Assim, na luta para
manter o equilíbrio ambiental, a economia de energia é uma medida importante para
qualquer setor, entre eles o do tabaco, visto que se trata de uma atividade chave para a
economia de pequenas propriedades rurais, tornando-se praticamente a única fonte de
renda dentro da agricultura familiar nos três estados do Sul do Brasil. Nesse contexto, o
objetivo desse trabalho foi analisar a eficiência energética e o consumo de biomassa
florestal do tipo lenha, utilizada como fonte de combustível para a secagem das folhas de
tabaco considerando duas unidades de cura tecnologicamente distintas. Isto posto, foi
possível perceber que a Unidade de cura de Ar forçado, considerada a mais tecnológica,
apresentou os melhores resultados, possuindo a maior eficiência no consumo com 3,14
kg de lenha para 1 kg de tabaco seco, valor este menor do que obtido na Unidade de cura
Convencional, de 4 kg/kg. Também apresentou maior capacidade de secagem (32,38
kg/h), e menor consumo de energia (7.272,59 kJ.kg), tornando-se dessa forma uma
alternativa de baixo carbono para a continuidade da atividade, no sentido de alcançar o
objetivo de redução das emissões de GEE e o aumento da utilização de recursos naturais
renováveis de forma mais eficiente.
Palavras-chave: eficiência energética, economia de baixo carbono, biomassa florestal,
fumicultura.

Agradecimentos: Esse trabalho foi elaborado com o auxílio da CAPES (Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da empresa JTI (Japan Tobacco
International).

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

40
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS CINZAS DE CALDEIRA DE BIOMASSA
VEGETAL

Natália Rodrigues de Carvalho 1, João Lúcio de Barros2, Gabriela Tami Nakashima1,


Diego Aleixo da Silva1, Fabio Minoru Yamaji1
1
UFSCar, 2Instituto Federal de São Paulo, campus Sorocaba SP
E-mail: n.carvalho084@gmail.com

Dependendo das propriedades químicas e da procedência do material utilizado como


biocombustível, a quantidade de cinzas gerada durante a combustão pode ser elevada,
prejudicando o aproveitamento energético. O objetivo deste trabalho foi caracterizar
quimicamente as cinzas e analisar o aproveitamento energético da biomassa proveniente
do processo de combustão em caldeiras de biomassa para geração de energia. As coletas
das cinzas foram feitas em duas empresas que utilizam caldeira de biomassa vegetal. As
análises foram compostas por: umidade, segundo ASTM E871-82; análise imediata,
conforme ASTM E872-82 e ASTM D1102-84; e caracterização morfológica em
microscópio eletrônico de varredura (MEV) e microanálise elementar (EDS). Ao todo
foram coletadas 8 tipos de cinzas de caldeira de biomassa que apresentaram composição
química e umidade diferentes, de acordo com os pontos de coleta da caldeira utilizados.
As cinzas coletadas registraram no gráfico espectral a presença de importantes nutrientes
para as espécies florestais, como cálcio (Ca), potássio (K), e fósforo (P). As cinzas da
grelha da Empresa 1, apresentou a maior umidade, chegando ao valor de 46% de umidade
na base úmida. As cinzas multigases da caldeira da Empresa 2 apresentou teor elevado de
carbono fixo de 39,19%, com desvio padrão de 2,71%, indicando combustão incompleta
de biomassa. Conclui-se que as caldeiras da Empresa 2 estão perdendo eficiência
energética devido a combustão incompleta da biomassa, observada pela presença de
unburned carbons e o elevado teor de carbono fixo em suas cinzas, ao contrário do que é
observado para as cinzas de caldeiras da Empresa 1.
Palavras-chave: unburned carbons, bioenergia, nutrientes, eficiência energética,
resíduos.

Agradecimentos: Ao CNPq e ao Grupo de Pesquisa Biomassa e Bioenergia.

41
CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA DO CAROÇO DE PEQUI PARA USO COMO
ENERGIA TÉRMICA

Bruna Ruri Kobayachi1, Renivaldo José dos Santos1, Carlos Toshiyuki Hiranobe1, Pedro
Henrique Mariano Santos1
1
UNESP - Câmpus Experimental de Rosana
E-mail: brunakobayachi@gmail.com

A cada ano o planeta vem sofrendo as consequências da extração exacerbada de recursos


naturais, causando assim uma grande intensificação na produção de resíduos sólidos,
dentro desses cerca de 40,9% não são coletados e partilham de fim impróprio. Partindo
dessa problemática, a biomassa é uma fonte alternativa de energia que utiliza resíduos
orgânicos, podendo ser uma alternativa para a redução do uso de combustíveis fósseis, o
Brasil possui grande potencial na geração de energia por biomassa, visto que é um dos
maiores líderes mundiais do mercado de produtos agrícolas, entretanto, esse potencial não
é aproveitado, já que a participação da biomassa na matriz energética nacional é de 9,1%,
dentre 81,9% de energias renováveis. O pequi (caryocar brasiliense) é um fruto
tipicamente encontrado no cerrado brasileiro que possui uma pequena parte comestível
(polpa), sendo a casca e o caroço descartados. Em 2017 foram produzidas
aproximadamente 4,5 toneladas do fruto, onde cerca de 90% do fruto é descartado e
sabendo-se que o caroço possui alto teor de lipídeos, esse foi escolhido como objeto de
estudo neste trabalho. Para a caracterização do resíduo, foram utilizadas três técnicas
sendo elas, a análise imediata, a análise do teor de umidade e análise do poder calorífico
superior (PCS). Para a análise imediata realizada em base seca, o teor de voláteis foi de
79,04%, de carbono 19,42% e cinzas 1,52%, sendo resultados considerados favoráveis
para o processo de pirólise, na determinação do teor de umidade, obteve-se uma média
de 6,47% e na análise do PCS, a média dos resultados foi 20 MJ, ao se comparar com
algumas biomassas convencionais como o bagaço de cana e a palha de milho, constatou-
se que o caroço de pequi possui potencial para ser usado como biomassa. O PCS foi
determinado nas amostras secas na estufa em temperatura de 60°C por 6 horas, os
resultados mostraram que o PCS se manteve constante indicando que a umidade não
interfere na geração de calor.
Palavras-chave: análise térmica, biomassa, pequi, pirólise.

Agradecimentos: Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de


São Paulo, Fapesp (Processo 2019/00079-2) pelo apoio financeiro.

42
CONCENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LENHA DO EXTRATIVISMO
VEGETAL EM PERNAMBUCO

Juliana Fernandes Ferreira Pádua1, Edvaldo Pereira Santos Júnior1, Anna Manuella
Melo Nunes1, Pedro Augusto Fonseca Lima1, Luiz Moreira Coelho Junior1
1
Universidade Federal da Paraíba
E-mail: julffpadua@gmail.com

A lenha é um produto bioenergético capaz de ampliar à aspiração de reduzir a emissão


dos Gases do Efeito Estufa e diversificar a matriz energética brasileira. Este artigo
analisou a concentração regional da produção de lenha do extrativismo vegetal em
Pernambuco, no período de 1990 a 2018. As informações utilizadas foram extraídas da
Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, disponíveis no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Mensurou a concentração regional (municípios, microrregiões e
mesorregiões) utilizando os indicadores: Razão de Concentração [CR(k)], Índice de
Herfindahl-Hirschman (HHI), Entropia de Theil (E), Coeficiente de Gini (G) e Índice de
Concentração Compreensiva (CCI). O CR(k) apresentou concentração moderadamente
alta para as microrregiões, e moderadamente baixa para os municípios. O HHI, bem como
E e CCI demonstraram alta competitividade para os municípios e microrregiões, enquanto
para as mesorregiões, um mercado não tão competitivo. O G apresentou desigualdade
média para municípios e microrregiões, e desigualdade forte para as mesorregiões. Por
fim, constata-se uma concentração moderadamente baixa a média para a produção de
lenha em Pernambuco, no período analisado.
Palavras-chave: Economia florestal, bioenergia, competitividade.

Agradecimentos: Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pela bolsa concedida por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC).

43
ENERGY CHARACTERIZATION OF CORN AGROINDUSTRY WASTE IN A
MULTI-ZONE GASIFICATION PROTOTYPE (*)

Jorge Mendoza1, Daniel López1, Stiven Sofán1, Arnold Martínez1


1
Universidad de Córdoba , Depto. de Ingeniería Mecánica, Montería, Colombia
Email: jorge.mendoza@correo.unicordoba.edu.co

This research work is framed in the areas of alternative energy, thermodynamics and heat
transfer. Its purpose is to develop a multizone gasifier and characterize the synthesis gas
produced by it, using waste from the corn agroindustry as feed biomass, separating the
combustion and gasification zones. It’s divided into five parts; The first part consists in
the determination of thermo-physical properties of the corn cob. In the second part, the
preliminary design of the multi-zone gasifier is developed. Starting from this preliminary
design, the third part is opened, which consists of performing five simulations in the
Fluent software, varying parameters such as mass air flow, to evaluate the temperature
profile obtained in each simulation, comparing with the temperature required for the
process of gasification in biomass occurs, and in this way numerically validate the
operation of this design. The fourth part consists of the multi-zone gasifier construction
process. Finally, the fifth part consists of four tests obtained from the variation in the
amount of mass present in the gasification zone, which are carried out to verify the correct
functioning of the equipment, as well as the thermo-energy evaluation of the synthesis
gas that occurs in each test. The highest calorific value obtained was 5184.33 kJ/kg for
test #2, which compared to a gas obtained in a Downdraft gasifier for the same biomass,
has an increase of 69.17%. Likewise, a higher mole fraction of methane in the synthesis
gas stands out compared to that produced by other gasifiers.
Palavras-chave: alternative energies, thermo-physical properties, temperature profile,
synthesis gas.

Agradecimentos: The authors thank the Universidad de Córdoba as a source of funding,


within the framework of the Internal Call for Research Projects framed in the
Sustainability of Research Groups year 2017.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

44
HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE CARBOIDRATOS REMANENTES NA
BIOMASSA DA MICROALGA Chlorella Vulgaris (*)

Jorge Luis Sanchez Ortega1, Jorge Enrique Lopez Galan2


1
universidad del cauca, 2universidad del valle
E-mail: jlsanchez@unicauca.edu.co

É importante buscar alternativas para agregar valor ao uso da biomassa de microalgas e,


assim, maximizar economicamente um cenário de transformação como uma refinaria
biológica. Nesse caso, estudar a biomassa residual resultante da separação de lipídios,
aproveitando os carboidratos restantes, hidrolisando-os . Os objetivos do trabalho foram
definir condições para separar e hidrolisar carboidratos da biomassa residual de C.
vulgaris enzimaticamente após a extração de lipídios e estimar os custos operacionais
básicos de acordo com os resultados obtidos. As microalgas foram cultivadas, os lipídios
foram extraídos da biomassa colhida. A biomassa residual foi pré-tratada com hidrólise
química ácida e básica. Considerando os resultados do pré-tratamento ácido e dos
aspectos estruturais das microalgas, foi realizada a hidrólise química e enzimática,
dosagem da enzima Pectinex (com atividade da pectinase) e mistura enzimática das
celulases-hemicelulases. Foi medido por cromatografia em glicose, xilose, arabinose nos
hidrolisados químicos e enzimáticos. Os custos para aproximação de escala foram
estimados. Os exploratórios químicos obtidos rendem até 32%, liberando glicose, xilose
e arabinose. A hidrólise ácida concentrou três vezes mais glicose e xilose do que a
hidrólise básica. Os resultados finais foram entre 86,8 e 151,8 mg de açúcares redutores
(RS) / g de biomassa residual em base seca (brs). A hidrólise química anterior foi entre
11,1 a 43,5% e a enzimática entre 34,4% a 40,2%, juntas atingiram valores globais de até
81% de sacarificação. A alta concentração de ácido e a alta relação enzima-substrato,
aumentando a dose de pectinase, proporcionaram maiores rendimentos de açúcares
liberados acima de 140 mg / g brs. A hidrólise enzimática foi potencializada com pré-
tratamento químico, sua contribuição foi em média 58% da sacarificação global. Os
resultados foram comparáveis com relatos indicando efeito positivo das pectinases na
degradação dos polissacarídeos de C. vulgaris usando pré-tratamento, com sacarificação
de até 80%.
Palavras-chave: agronegócio, biotecnologia, sacarificação.

Agradecimentos: Colciencias Colombia, Universidad del Valle, Grupo de investigación


GRUBIOC.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

45
INSIGHTS SOBRE O USO DA BIOMASSA PARA A COCÇÃO DE
ALIMENTOS E OS EFEITOS SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Álison Moreira da Silva1, Fabíola Martins Delatorre1, Luis Filipe Cabral Cezario1,
Emilly Soares Gomes da Silva1, Jaqueline Rocha de Madeiros1, Mônica Taires
Rodrigues da Silva1, Tales Junior dos Santos1, Ananias Francisco Dias Júnior1
1
Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: fabiolamdelatorre@hotmail.com

Por anos a madeira foi a principal fonte de energia para o homem, e atualmente houve
maior apreço a esta matriz energética. Cerca de um terço da população mundial, ou cerca
de 2,4 bilhões de pessoas, utiliza madeira para fornecer serviços básicos de energia, como
cozinhar, ferver água e aquecer. Entretanto, a emissão de gases pela queima desta
biomassa pode contribuir para que as mudanças climáticas sejam intensificadas. Neste
contexto, o objetivo deste documento é levantar os principais gases emitidos pela queima
da biomassa madeira para cocção de alimentos que possuem potencial para contribuir
com a intensificação das mudanças climáticas, bem como elencar possíveis formas de
mitigar tal comportamento. O estudo foi desenvolvido fundamentado em dados coletados
na literatura especializada da área relacionada. Os dados obtidos foram em seguida
organizados e analisados visando o detalhamento, aplicação e melhor entendimento para
os leitores. A combustão incompleta da madeira no fogão de cozinha tradicional libera
monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N2O), metano (CH4), hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos (HAP), partículas compostas de carbono elementar ou carbono
negro e outros compostos orgânicos. Uma das causas da emissão dessas partículas
ultrafinas, que possuem mais potencial de aquecimento global do que o CO2, são as
construções de fogões de cozinha mal planejados, cujos processos de combustão no
interior não sejam ideais, favorecendo a combustão incompleta e ineficiente.
Especialmente preocupantes são as emissões da combustão de madeira de nanopartículas.
Além de afetar a química atmosférica e induzirem as mudanças climáticas, as
nanopartículas podem eventualmente se depositar em solos e corpos de água, causando
contaminação secundária e outros efeitos ambientais. O uso de fogões aprimorados é uma
alternativa que potencialmente reduz emissões de CO2 em 0,45 - 2,45 toneladas ano-1 para
cada domicílio, em comparação com os fogões tradicionais, e em 30% a emissão de vários
outros poluentes igualmente poluidores. Portanto, o uso de fogões limpos e eficientes,
invés de fogões tradicionais, tem o potencial de mitigar os impactos das mudanças
climáticas de curto prazo e, por isso, tornam-se recursos na busca de sustentabilidade e
diminuição na emissão de gases do efeito estufa.
Palavras-chave: efeito estufa, madeira, fogão tradicional.

Agradecimentos: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES).

46
INVESTIGANDO OS RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS DE ORIGEM
URBANA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

Gabriela Fontes Mayrinck Cupertino 1, Natália Dias de Souza1, Ananias Francisco Dias
Júnior2, Alfredo José dos Santos Junior1, Alison Moreira da Silva2, Aécio Dantas Sousa
Júnior1, Jéssica Grama Mesquita1, Luis Filipe Cabral Cezario2
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: gabriela.mayrinck01@gmail.com

Observa-se que nas últimas cinco décadas houve um grande crescimento populacional no
mundo seguido de um forte processo de urbanização. Quanto aos impactos causados pelas
metrópoles, a geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é considerado um dos mais
sérios. O uso desses resíduos na produção de energia tem sido apontado como uma
alternativa para agregar valor e, ao mesmo tempo, diminuir os impactos causados, uma
vez que a utilização dos mesmos possui grandes vantagens, principalmente pelo caráter
renovável. Diante disso, o objetivo desse trabalho foi de caracterizar os resíduos
lignocelulósicos provenientes do município do Rio de Janeiro visando direcioná-lo para
geração de energia térmica. O material utilizado para o desenvolvimento da pesquisa
consistia em biomassa proveniente de resíduo de arborização urbana, madeira vinda de
Resíduo de Construção Civil (RCC) e restos de embalagens (pallets e caixotes de madeira
de feira), coletados na estação de transferência da Companhia Municipal de Limpeza
Urbana, localizada no bairro do Caju, município do Rio de Janeiro, RJ. O material ficou
48 horas exposto em um local com temperatura ambiente para regularizar a umidade. Em
seguida, uma parte foi processada no moinho de martelo e moinho de facas e outra
permaneceu no seu estado in natura. Para caracterização energética determinou-se o teor
de umidade, o poder calorífico superior, inferior e útil, a densidade a granel e densidade
energética. A umidade encontrada foi de 12%. Quanto ao poder calorifico, o resultado
encontrado foi de 4581 kcal/kg para o superior, 4264 kcal/kg para o inferior e 4258
kcal/kg para o útil. Em relação a densidade a granel e densidade energética, obteve-se
91,91 kg/m³ e 391352,78 kcal/m³, respectivamente. O material em questão possui
potencial para geração de energia, contudo, é recomendada a realização de análises de
emissões gasosas de compostos tóxicos ao ambiente e a saúde ocupacional.
Palavras-chave: sustentabilidade energética, mudanças climáticas, aproveitamento de
resíduos.

Agradecimentos: COMLURB, Laboratório de Energia da Biomassa (UFES) e


Laboratório de Química e Bioquímica da Madeira (UFRRJ).

47
POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE ESTERCO DE
DIFERENTES ANIMAIS DE INTERESSE ZOOTÉCNICO

Elves Vieira Carneiro 1, Iasmim Leite dos Santos1, Ismael dos Santos Cabral1, Dara
Maria Silva de Souza1, Isabela Araújo Melo 1, Edna Mendes Fortes1
1
Universidade Federal do Maranhão - Centro de Ciências Agrárias e Ambientais.
E-mail: ismaelcabral0206@gmail.com

O aproveitamento de resíduos das atividades agropecuárias, principalmente daqueles


provenientes da criação de animais domésticos, tem apresentado potencial para a
produção de bioenergia, em decorrência do aumento do rebanho brasileiro e
consequentemente da produção de esterco, o qual não possui um destino final adequado
podendo causar contaminação ao meio ambiente, a partir disso, objetivou avaliar a
produção de biogás a partir de estercos de diferentes espécies de animais de interesse
zootécnico. Foram utilizados 15 protótipos de biodigestores experimentais em batelada,
cada um com 25 litros (L) de capacidade total, que foram abastecidos em 60% de suas
capacidades, 15 L, com estercos de bovinos, equinos e ovinos. Foi utilizado o
delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos e cinco repetições, para
avaliar as variáveis: temperatura (°C), pH e produção de biogás (m³). Não houve efeito
significativo no Teste Tukey a 5% de significância entre os tratamentos para as variáveis
analisadas, 29,087 °C, 6,94 e 0,0015 m³, respectivos valores médios. A produção média
dos tratamentos foram: esterco bovino (0,0010 m³), ovino (0,0014 m³) e equino (0,0021
m³). Todavia os estercos de bovino, equino e ovino, apresentaram condições favoráveis
para a produção de biogás, demonstrando eficiência no processo de digestão anaeróbica.
Palavras-chave: biodigestor anaeróbico, biomassa, dejetos de animais.

Agradecimentos: Os autores agradecem ao GETSA, UFMA, CNPq.

48
POTENCIAL ENERGÉTICO DA BIOMASSA RESIDUAL DO PROCESSO DE
EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE MELALEUCA (Melaleuca alternifolia Cheel) (*)

Sophia Lourenço Vasconcelos Santos1, João Otávio Poletto Tomeleri1, Fábio


Domingues de Jesus2, Fábio Minoru Yamaji1, Franciane Andrade de Pádua1
1
UFSCar, 2UFLA
E-mail: tomelerijp@gmail.com

Temas ligados ao estudo e caracterização de materiais residuais vêm sendo


constantemente abordados, no que diz respeito a seleção de materiais disponíveis e mais
apropriados para aplicações energéticas. O objetivo deste trabalho foi a caracterização
dos resíduos do processo de extração do óleo essencial da Melaleuca alternifólia Cheel
com o intuito de uma futura aplicação em bioenergia. O material residual pós extração
composto por folhas e lenho (fustes) foi separadamente caracterizado quanto a umidade,
teor de cinzas, carbono fixo, materiais voláteis e poder calorífico superior (PCS). Além
disso, foram fabricados briquetes com cinco diferentes proporções dos resíduos (folha e
lenho) para a determinação de suas resistências mecânicas. Os resíduos de folha
apresentaram menor umidade base seca (36,8%) e maior poder calorífico (5.120 Kcal/Kg)
que o lenho residual, no entanto apresentaram maior teor de cinzas (4,11%), 61,6%
superior ao lenho residual. Os briquetes de Melaleuca alternifólia Cheel apresentaram
resistência mecânica variando de 0,323 MPa a 0,671 MPa. A resistência mecânica do
briquete produzido por 50% do lenho e 50% da folha foi superior às demais blendas.
Palavras-chave: briquetes, resíduos, Melaleuca alternifólia.

Agradecimentos: Laboratório de Biomassa e Bionergia- UFSCar e CNPq.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

49
PROJETO E AVALIAÇÃO TECNOECONÔMICA DE UMA CENTRAL
TÉRMICA BASEADA EM GASEIFICAÇÃO DE 1MWE DE COMBUSTÍVEL
DERIVADO DE RESÍDUOS (RDF) UTILIZANDO DADOS EXPERIMENTAIS
OBTIDOS DE UMA CENTRAL À ESCALA PILOTO

Michael Corredor Marsiglia1, Electo Eduardo Silva Lora1, Rubenildo Veira Andrade1,
Diego Yepes Maya1, Mateus Henrique Rocha1
1
UNIFEI
E-mail: silva.electo52@gmail.com

O Brasil produz anualmente 78,4 milhões de toneladas de resíduos, a maioria dos quais
tem como destinação os aterros sanitários e lixões. Outra alternativa, viável para
conglomerados urbanos com população superior a 1 milhão de habitantes é a incineração,
essa possibilidade está não praticada no Brasil. Para cidades de mediano porte a
gaseificação dos resíduos, uma vez removidos os recicláveis e orgânicos, fração
denominada RDF, é uma alternativa de grande potencial com o uso do gás obtido em
motores de combustão interna. O objetivo deste trabalho é a proposta e
dimensionamento/especificação preliminar de uma usina de geração de energia elétrica a
partir de combustíveis derivados de resíduos (RDF) com capacidade de 1 MWe,
utilizando como ponto de partida os dados obtidos de uma usina piloto de produção de
RDF com capacidade nominal de 500 kg/h e os resultados dos testes experimentais de
gaseificação de briquetes RDF que foram realizados no Grupo de Excelência em Energia
Térmica e Geração Distribuída - laboratórios NEST da Universidade Federal de Itajubá
utilizando o ar como agente de gaseificação. Um modelo Computational Fluid Dynamics
(CFD) foi utilizado como ferramenta para o projeto do reator de gaseificação utilizado na
planta 1MWe, analisando o processo em função da Razão de Equivalência (ER) na faixa
de 0,25 a 0,45, sua relação com a composição do gás de síntese (CO, CH4 e H2) e seu
poder calorífico inferior (LHV). Três cenários econômicos possíveis foram analisados
para determinar a sensibilidade da viabilidade econômica do projeto da usina: variação
do preço de comercialização da eletricidade (0,18 a 0,31 $R/kWh), taxas para disposição
de RSU de acordo com o tamanho do município e taxa de juros na faixa de 5% a 10%.
Concluiu-se que este projeto é viável para pequenos municípios (menos de 100 000
habitantes) porque eles têm o maior VPL (R $ 19.248.536) com um TIR de 23,67%. Isto
pelo fato que suas taxas de disposição são mais altas em comparação com outros casos
estudados.
Palavras-chave: Gaseificação, biomassa, resíduos, energia, briquetes.

Agradecimentos: UNIFEI, CAPES, COGEN.

50
RENDIMENTO EM CARVÃO VEGETAL DA CASCA DA SEMENTE DE
Araucaria Angustifolia (BERT.)O.KTZE

Danielle Affonso Sampaio 1, Alfredo José dos Santos Junior1, Gabriela Fontes Mayrinck
Cupertino1, Ana Carolina Lindolfo de Oliveira1, Ananias Francisco Dias Júnior2,
Roberto Carlos Costa Lelis1
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: danitheu@gmail.com

O tegumento do pinhão é um resíduo gerado pela utilização do pinhão na culinária


brasileira. Apresenta um teor de lignina em torno de 30%. Essa característica faz do
tegumento um material com potencial para a sua utilização como fonte de energia
renovável. Assim, este estudo teve por objetivo verificar o rendimento em carvão e
realizar a análise química imediata da casca do pinhão. As sementes de Araucaria
angustifolia foram obtidas de plantios localizados na região de Passa Quatro-MG. As
sementes foram transportadas para o Laboratório de Tecnologia da Madeira do
Departamento de Produtos Florestais (IF-UFRRJ) e descascadas de modo a separar o
tegumento das amêndoas. A casca do pinhão foi submetida ao processo de carbonização
em um forno tipo mufla marca Lavoisier modelo 4008, compondo três tratamentos, de
acordo com as temperaturas máximas alcançadas: 300º C (T1), 400º C (T2) e 500º C (T3),
para cada tratamento foram realizadas três repetições. Após o resfriamento do carvão, o
rendimento foi obtido de forma gravimétrica. Para a análise química imediata, o carvão
foi triturado com auxílio de almofariz e pistilo e posteriormente classificado entre as
peneiras de 40 e 60 mesh. Os teores de materiais voláteis, carbono fixo e cinza foram
calculados de acordo com a ASTM D1762-84. Os rendimentos gravimétricos em carvão
encontrados para T1, T2 e T3 foram, respectivamente, 57%, 38% e 32%. Os valores
percentuais obtidos na análise química imediata para T1, T2 e T3 foram, em ordem,
carbono fixo (46,29%, 63,01% e 80,73%). Os valores encontrados para o rendimento em
carvão são próximos aos relatados na literatura para madeira. Os valores de carbono fixo
apresentam uma relação diretamente proporcional com aumento da temperatura. Foi
possível determinar o rendimento em carvão e carbono fixo da casca do pinhão.
Palavras-chave: aproveitamento de resíduos, carbonização, pinhão.

Agradecimentos: (CAPES) – Código de Financiamento 001.

51
TEMPERATURA DE PIRÓLISE E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUÇÃO DE
BIOCHAR DE CASCA DE Eucalyptus sp.

Alan Vitor Galmacci da Silva1, Ariane Aparecida Felix Pires1, Fabio Minoru Yamaji1
1
Universidade Federal de São Carlos, Depto. de Ciências Ambientais, Sorocaba, Brasil
E-mail: allan.galmacci@gmail.com

Atualmente o Brasil é o maior produtor de celulose e se encontra com o setor em constante


crescimento. Contudo, uma quantia substancial de resíduos sólidos na forma de casca é
produzida, e acaba não sendo reaproveitada. O biochar, composto rico em carbono
produzido por meio da pirólise da biomassa em sistemas com ausência ou entrada limitada
de oxigênio surge como uma alternativa para o uso da casca, todavia, o seu custo de
produção acaba sendo mais elevado devido as séries de tratamentos que devem ser
tomados e a energia demandada. O objetivo desse trabalho é definir um processo de
pirólise (temperatura) para a produção de biochar, que componham um menor gasto
energético no processo e bom rendimento gravimétrico a partir da casca de Eucalyptus
sp..As temperaturas de pirólises utilizadas foram de 250ºC, 300ºC e 350ºC, sendo todas
com tempo de residência de 2 horas e em triplicata. Os biochars foram submetidos aos
testes de teor de voláteis, cinzas, carbono fixo e rendimento gravimétrico. Os resultados
obtidos passaram pelo teste ANOVA a 5% de significância. Foi possível observar que o
aumento da temperatura favoreceu o aumento de carbono fixo, sendo o teor do biochar
de 350ºC duas vezes maior que a proporção do de menor temperatura (250ºC). Por outro
lado, proporção de voláteis apresentou caminho inverso do teor de carbono fixo, o biochar
de 250ºC apresentou o dobro do percentual do de 350ºC. As quantidades relativas de
cinzas não apresentaram variação significativa. O rendimento demonstrou ser maior nos
tratamentos de 250ºC e 300ºC, atingindo 73% e 50%, respectivamente. Portanto, levando
em consideração o gasto energético para produzir biochar de temperaturas de 250ºC e
300ºC, o rendimento do material e o teor de carbono fixo, é possível inferir que a
temperatura mais adequada de pirólise para a produção de biochar é 300ºC.
Palavras-chave: biomassa, resíduo lignocelulósico, reaproveitamento.

Agradecimentos: CNPq, PIBIC, Grupo de Pesquisa Biomassa e Bioenergia.

52
TORREFAÇÃO DO RESÍDUO DA MANDIOCA PARA FINS ENERGÉTICOS(*)

Marcos Paulo Patta Granado 1, Gabriel Toledo Machado 2, Elias Ricardo Durango
Padilla3, Fábio Minouru Yamaji2, Andrea Cressoni de Conti4
1
UNESP - Universidade Estadual Paulista, 2UFSCAR - Universidade Federal de São
Carlos, Depto. de Ciências Ambientais, Sorocaba, Brasil, 3UNESP - Universidade
Estadual Paulista , 4UNESP - Universidade Estadual Paulista
E-mail: andrea.cressoni@unesp.br

Em produções agrícolas após a colheita há o descarte de partes da planta, cujo


aproveitamento energético é uma alternativa para produzir energia de maneira
sustentável. Contudo o avanço no uso de resíduos agrícolas como fonte de bioenergia
depende da utilização de tecnologias que o atribuam valor energético. Na torrefação se
realiza um tratamento térmico na biomassa por meio do seu aquecimento lento, limitado
de oxigênio, em temperaturas de 200 a 300 ºC, liberando a umidade e seus constituintes
voláteis de baixo peso molecular. Neste trabalho, o objetivo foi de realizar o processo de
torrefação na cepa de mandioca a fim de analisar seu efeito nas propriedades energéticas
do resíduo, que é gerado durante a colheita da raiz de mandioca. O resíduo coletado in
naturafoi seco, moído e torrefado em duas formas diferentes: com o material granulado
e com o material densificado na forma de briquetes; realizando o processo de torrefação
em temperaturas de 200 e 300 ºC, com tempo de torrefação de 30 e 60 min. Visto que a
torrefação consiste em mudanças químicas dos componentes orgânicos da biomassa foi
realizado análises da composição química do material. Ao analisar a cepa de mandioca
granulada torrefada notou-se que conforme maior a temperatura de torrefação: maior o
rendimento mássico, maior a concentração de carbono fixo, menor o conteúdo de voláteis,
e maior o poder calorífico; enquanto que os briquetes torrefados apresentaram pouca
variação nas suas propriedades, com exceção dos briquetes torrefados em 300 ºC por 60
min. Conforme os resultados encontrados, tem-se que a torrefação da cepa de mandioca
pode aumentar de 21 a 51% seu poder calorífico inicial de 16,3 MJ/kg, e diminuir de 81%
para até 42% seu conteúdo de voláteis, quando utilizado o material granulado, enquanto
que o material densificado tem um processo de torrefação mais lento e necessita de maior
tempo para promover as mudanças químicas dos componentes da biomassa, decorrente
de sua alta densidade. Portanto, ao realizar a torrefação da biomassa densificada, tem-se
a necessidade de utilizar maior temperatura e maior tempo de torrefação quando
comparado com a biomassa granulada.
Palavras-chave: bioenergia, biomassa, densificação.

Agradecimentos: FAPESP (2018/11837-2; 2018/14827-8).

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

53
USO SUSTENTÁVEL DA MADEIRA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA E DE
TERMOELETRICIDADE

Álison Moreira da Silva1, Fabíola Martins Delatorre1, Luis Filipe Cabral Cezario 1,
Gabriela Fontes Mayrinck Cupertino 1, Maria Paula Reggiane Silveira1, Gabriel Zuqui
Passamani1, Thayná Rebonato Oliveira1, Ananias Frascisco Dias Júnior1
1
Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: fabiolamdelatorre@hotmail.com

A produção de energia proveniente da queima de combustíveis fósseis, explorado por


tantos anos pela humanidade, culminou em uma matriz energética insegura e
extremamente prejudicial ao ambiente. Impulsionada pela preocupação com o efeito
estufa e a escassez dos combustíveis fósseis a curto-médio prazo, discussões são
levantadas acerca do desenvolvimento sustentável e do futuro do planeta. Isso permitiu
que muitos países considerassem a necessidade de mudanças, intensificando a inserção
de outras fontes energéticas, sobretudo, das renováveis, incluindo a madeira. Neste
âmbito, o objetivo dessa pesquisa é apresentar uma análise da situação atual da
viabilidade técnica e econômica do uso da madeira para a geração de energia elétrica.
Assim, aspectos da madeira são evidenciados, buscando elucidar a importância e
vantagens dentre os fatores renováveis, bem como os custos envolvidos na geração,
comparação aos demais combustíveis. Foi constatado crescente interesse pela inserção da
biomassa florestal no que tange a geração de termoeletricidade no Brasil, considerando
os incentivos de ordem ambiental e econômico, os principais responsáveis por esta
situação. Para o suprimento de 13.639 (103 tep), consumo de combustíveis pelo setor
industrial no ano de 2018, seriam necessários cerca de 110 mil metros cúbicos
equivalentes em madeira. Além de possuir valor competitivo, quando comparado a outros
combustíveis, considerando apenas metade do consumo, seria necessário o plantio de
cerca de 1,46 milhões de hectares de florestas para sustentar a oferta. No aspecto social,
haveria um potencial de geração de aproximadamente 690 mil empregos diretos e
indiretos com a implantação da atividade. No Brasil existem 566 termelétricas, a maior
parte é composta por usinas de médio porte, movidas a gás natural, biomassa, óleo diesel,
óleo combustível e carvão mineral, sendo 58 abastecidas com resíduos florestais.
Portanto, o estabelecimento de florestas destinadas exclusivamente à geração de
termoeletricidade é viável, havendo grande perspectiva de crescimento no setor florestal,
por ser uma competitiva fonte de energia, comparada a outras fontes fósseis, contribuindo
para uma matriz energética segura e ambientalmente sustentável.
Palavras-chave: fontes renováveis, biomassa, combustíveis fósseis.

Agradecimentos: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES).

54
VIABILIDADE ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA
COLHEITA FLORESTAL DE EUCALIPTO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA

Mariana Dianese Alves de Moraes1, Marcelo Dias Paes Ferreira1, Alyne Chaveiro
Santos1, Carlos Roberto Sette Junior1
1
Universidade Federal de Goiás - UFG
E-mail: maridianese@gmail.com

A demanda por energia elétrica no Brasil e no mundo tem crescido juntamente com a
necessidade da utilização de fontes renováveis no setor energético, visando o equilíbrio
econômico e ambiental. A diversificação da matriz energética tem sido priorizada pelo
governo brasileiro através do incentivo ao consumo de biocombustíveis, a geração de
bioenergia e a agregação de valor a biomassa brasileira, buscando a diminuição da
emissão de gases de efeito estufa. Entre as fontes renováveis de energia, a biomassa
florestal é considerada uma das mais promissoras para o país, não apenas no seu uso mais
convencional como lenha e carvão vegetal, mas também através da utilização dos resíduos
gerados nas diversas fases operacionais das indústrias do setor florestal. Resíduos são
gerados desde a colheita florestal até o produto final e grande parte é descartada, causando
o desperdício de um material com alto potencial energético e econômico. Apesar de
existirem vários estudos relacionados ao potencial energético da utilização de resíduos
florestais, poucos são direcionados a análise da viabilidade econômica. Sendo assim, o
presente trabalho teve como objetivo realizar a análise da viabilidade econômica da
utilização de resíduos da colheita florestal de plantios florestais de Eucalyptus sp. para
geração de energia elétrica em usina termelétrica. A análise de viabilidade econômica foi
realizada através da relação entre custos e receitas por meio do fluxo de caixa,
considerando um horizonte de 20 anos e determinou o valor presente líquido de
R$55.126.376,01, a taxa interna de retorno de 26%, o payback simples de 3,88 e a razão
benefício custo de 2,12. Concluiu-se que a utilização de resíduos da colheita florestal para
geração de energia elétrica é viável economicamente, devido especialmente ao baixo
custo de aquisição da biomassa, sendo uma opção de combustível renovável e de baixa
emissão de carbono para o abastecimento de usinas termelétricas brasileiras.
Palavras-chave: economia de baixo carbono, subprodutos florestais, retorno financeiro.

Agradecimentos: Laboratório de Qualidade da Madeira e Bioenergia - LQMBio (UFG).

55
EÓLICA

56
A DESCREDIBILIZAÇÃO DAS PEQUENAS TURBINAS EÓLICAS DE EIXO
VERTICAL

Yan Felipe de Oliveira Cavalcante1


1
Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE)
E-mail: yanfelipeoc@hotmail.com

Análise de desempenhos de pequenas turbinas eólicas de eixo horizontal (HAWT),


demonstram que aproximadamente metade das turbinas instaladas em ambiente urbano
possuem fator de carga negativo, sendo as turbinas de eixo vertical uma opção mais viável
para este ambiente. Entretanto, após os anos 80 e o esfriamento do mercado eólico, o
marketing da indústria eólica convencional levou a perda de credibilidade das VAWT’s.
Por conta do uso histórico individual das turbinas VAWT’s e a perda de credibilidade,
levaram a uma fuga de investimento em pesquisas e desenvolvimento desta tecnologia.O
marketing de turbinas convencionais realizarem comparações sobre o desempenho de
suas tecnologias sobre a VAWT com pouca transparência. Além da falta de normas e
padrões de desempenho, segurança, confiabilidade e ruído para SWT. Sendo apenas no
ano de 2009, criado o Small Wind Certification Council (SWCC), sendo um certificador
para verificar se as SWT atendem o desempenho, durabilidade e segurança dos padrões
estabelecidos.No ano de 2005 a 2014, o número de SWT instalado no Reino Unido, sendo
o terceiro maior consumidor de SWT, foram instalados 428 VAWT, representando
aproximadamente 2% das SWT. Também no ano de 2009, o Reino Unido teve seu maior
número de turbinas VAWT instaladas, 4,4% de todas as SWT. Atualmente a indústria de
turbinas de eixo vertical possuem poucos fabricantes, sendo que apenas 18% se dedicam
exclusivamente a esse modelo de turbina eólica, e 6% para ambos modelos. Sendo
considerado um nicho de mercado, a maioria dos modelos modernos VAWT
foram desenvolvidos a partir de 2010. A capacidade média nominal estimada é de 7,4
kW, valores muito abaixo dos HAWT’s. Mesmo possuindo baixo custo de composição,
instalação e manutenção, e oferece solução para geração de energia em locais remotos,
com difícil acesso a linhas de distribuição de eletricidade, assim dando preferência a
outras fontes de geração de pequena escala. Embora pesquisa a respeito de turbinas eólica
de eixo vertical tem crescido, espera-se que essa tendência permaneça no futuro com esta
quebra de paradigmas, além no aumento de investimento em pesquisa e desenvolvimento
das VAWT.
Palavras-chave: eólica, VAWT, Vertical, SWT, HAWT.

Agradecimentos: À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) pela concessão da bolsa de estudo, tornando possível a produção deste trabalho.

57
A IMPORTÂNCIA DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE POR MEIO DE
PARQUES EÓLICOS NA MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA DE 2013 A 2020

Alex Sidarta Guglielmoni1


1
UNINTER
E-mail: alex.sidarta@yahoo.com

Desde a década de 1970, o desenvolvimento sustentável tem se tornado cada vez mais
presente na agenda internacional. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar,
discutir e trazer respostas para a seguinte questão, qual a importância da geração de
energia elétrica por meio de usinas eólicas na matriz elétrica brasileira, entre 2013 e 2020?
Para responder a esta pergunta, analisamos a geração de energia renovável a partir de
parques eólicos e o consumo de eletricidade no Brasil durante o período de janeiro de
2013 a dezembro de 2020. Os objetivos específicos desta pesquisa são: analisar os dados
públicos; identificar a geração eólica total; identificar a capacidade total de geração
eólica; identificar a participação percentual da capacidade de geração e geração de energia
eólica na matriz elétrica brasileira. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi necessária
uma pesquisa bibliográfica, coleta de dados secundários, tabulação dos dados de geração
e capacidade elétrica por meio de uma análise comparativa entre a energia eólica e a
matriz elétrica brasileira. Com isso, foi possível observar a importância do Brasil para o
desenvolvimento sustentável global e o quanto esse país pode crescer com isso, tendo em
vista sua capacidade e potencial de geração de energia eólica, visto que esse percentual
tem crescido nos últimos anos de forma bastante significativa. Dados numéricos
levantados indicam que, em janeiro de 2013 a fonte de geração eólica registrou um total
de 605,186 MW médios, em junho de 2020 o registro foi de 6.768,092 MW médios,
correspondendo a um crescimento de 1.118%. A geração de energia eólica partiu de uma
representatividade de 1% sobre a matriz elétrica brasileira em janeiro de 2013, para uma
representatividade de 11,50% em junho de 2020.
Palavras-chave: Energia Eólica, Mercado Brasileiro, Matriz Elétrica, Capacidade de
Geração.

Agradecimentos: Agradeço à Deus pela vida, aos meus pais e à Dona Walda, minha
maior incentivadora. Às instituições UTP, UP, UNINTER e Electra Energy.

58
ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS PARA O AUMENTO DA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DAS TURBINAS EÓLICAS

Alex de Pretto Mansano 1, Demetrio Cornilios Zachariadis1


1
Universidade de São Paulo
E-mail: alexdepretto@usp.br

De acordo com o Global Wind Energy Capacity (GWEC), a capacidade energética global
atingiu 432 GW em 2015, devido ao aumento da demanda por turbinas eólicas ao longo
dos anos. Entretanto, é um sistema que apresenta falhas, principalmente vindo da
transmissão, cuja confiabilidade fica comprometida e abaixo do esperado. Por isso, o foco
desse trabalho é apresentar uma revisão de estudo a respeito de alternativas tecnológicas
que possam melhorar a atual transmissão turbina eólica ou até mesmo substituí-la,
visando aumentar a eficiência energética e a confiabilidade da turbina. São apresentadas
três alternativas: Turbofan PW1000, rolamentos magnéticos e a transmissão CVT, usada
em veículos automotivos. Os resultados desse estudo se mostraram surpreendentes: o
Turbofan PW1000 possui custo de quinze vezes mais caro em relação a uma turbina
eólica de 3MW, porém possui eficiência energética de mais de 90%. Os rolamentos
magnéticos apresentaram ter vantagens como permitir altas velocidades, controle de
desalinhamento dos eixos e a facilidade de não utilizar lubrificação, evitando presença de
atrito de tensões de contato. Por fim, o CVT permite acoplamento direto entre rotor e
gerador, possui inúmeras relações de transmissão, além de ser fácil de controlar: isso
garante que o sistema seja flexível e consiga atender às inúmeras variações da velocidade
do vento; todavia, o CVT é limitado no controle de torque e possui altos atritos durante a
transmissão. Conclui-se que o trabalho conseguiu apresentar possibilidades de melhorar
a eficiência das turbinas eólicas, sendo que os rolamentos magnéticos são os mais
favoráveis por terem baixo custo e alta performance na dinâmica do sistema.
Palavras-chave: turbina eólica, eficiência, tecnologia.

Agradecimentos: M. Ragheb, A. Ragheb.

59
CONSTRUÇÃO DE MINI TÚNEL DE VENTO PARA TESTES DE TURBINAS

Leandro Galvani Baffi1, Claudio Conti2


1
Universidade Estadual Paulista, 2Universidade Estadual Paulista
E-mail: leandrobaffi@gmail.com

Um túnel de vento é um equipamento de pesquisa com a finalidade de medir e controlar


o efeito do movimento do ar através de objetos sólidos. Túneis de vento são muito
utilizados em laboratórios para a determinação de parâmetros envolvendo projetos
aeroespaciais e pesquisa aerodinâmica de aviões, automóveis, cápsulas espaciais, turbinas
eólicas, antenas e estruturas de construções civis. Os túneis de vento se caracterizam
conforme: o valor da velocidade do ar no seu interior, subsônico ou supersônico; a forma
de circulação do ar no seu interior, circuito aberto ou fechado; a posição com que o ar é
acelerado no seu interior, na entrada soprador ou na saída sugador. Um túnel de vento
possui diferentes seções, sendo elas: câmara de estabilização, bocal de contração, área de
teste, difusor e seção de ventilação ou exaustão. Os túneis de vento podem realizar testes
de estruturas em tamanho real ou de protótipos, no entanto, o custo de construção e
manutenção para testes em tamanho real são relativamente altos. O objetivo deste trabalho
foi realizar o dimensionamento, a construção e a obtenção das medidas da velocidade do
escoamento do ar nas diferentes seções de um mini túnel de vento subsônico, horizontal,
do tipo soprador, de circuito aberto. O túnel foi construído com papel espuma e seu
comprimento total foi de 130 cm, a seção de teste possui um volume cúbico de 1.3311
cm³. As medidas da velocidade do ar no seu interior foram realizadas em diferentes seções
do túnel com um anemômetro digital. As velocidades de entrada foram 1,7 m/s, 2,0 m/s
e 2,2 m/s. Os valores obtidos na seção de teste e no difusor foram compatíveis com os
valores calculados com a equação da continuidade para um escoamento incompressível.
Além disso, na seção de teste a distribuição de velocidade mostrou ser uniforme. Contudo,
o túnel de vento construído aqui, embora numa escala reduzida, reproduziu o
comportamento esperado para realizar medidas de velocidade no entorno de objetos
sólidos, necessário para estudar a aerodinâmica de perfis da pá de turbinas eólicas.
Palavras-chave: túnel de vento, equação da continuidade, turbina eólica.

60
INFLUÊNCIA DO ÂNGULO DE TORÇÃO DA PÁ DE UMA TURBINA
EÓLICA DE EIXO HORIZONTAL NA GERAÇÃO DE ENERGIA

Gustavo Sandro Mendes Carvalho 1, Cláudio de Conti1, Gabriel Granado Rossi1


1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
E-mail: gugu.sandro7@gmail.com

A energia eólica é uma fonte de energia renovável em constante crescimento no Brasil.


Os dados do Balanço Energético Nacional de 2018 mostram que a participação desta fonte
de energia na oferta interna de eletricidade é de 6,8%, o que corresponde
aproximadamente a 42,3 TWh ao longo do ano. As turbinas eólicas são dispositivos
utilizados para extrair a energia do vento e convertê-las em energia elétrica. O método da
quantidade de movimento no elemento de pá é um modelo matemático utilizado para
calcular a velocidade induzida nas pás de uma turbina eólica. Este método emprega a
teoria da quantidade de movimento em cada um dos elementos da pá da turbina eólica. A
energia produzida por uma turbina eólica instalada em uma região pode ser calculada com
a velocidade induzida nas pás da turbina e a distribuição de vento na região. Neste
trabalho utilizou-se o método da quantidade de movimento no elemento de pá para
analisar como o ângulo de torção da pá modifica a energia produzida por uma turbina
eólica de eixo horizontal, com 3 pás, perfil NACA 0015, implementada na cidade de
Echapora no interior de São Paulo. Para tanto, foram analisados os ângulos de torção ao
longo da envergadura normalizada da pá para 4 situações, denominadas aqui como: torção
da literatura, torção linear, torção quadrática e torção cúbica. A torção quadrática
apresentou o melhor resultado. Com o método utilizado aqui calculou-se a energia
produzida pela turbina eólica sem considerar o descolamento do escoamento que pode
ocorrer na superfície da pá. No futuro, pretende-se incluir esse efeito no modelo
empregado neste trabalho.
Palavras-chave: potência do vento, perfil NACA, distribuição de Weibull, método BEM,
Scilab.

61
PLANEJAMENTO ECONÔMICO DE USINAS EÓLICAS A PARTIR DE UM
MODELO DE OTIMIZAÇÃO MULTIOBJETIVO

Giancarlo Aquila1, Pedro Paulo Balestrassi1, Luiz Célio Souza Rocha2, Paulo Rotella
Junior3
1 2
Universidade Federal de Itajubá, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (Campus
Almenara), 3Universidade Federal da Paraíba
E-mail: giancarlo.aquila@yahoo.com

Um dos desafios dos reguladores é orientar a tomada de decisão dos agentes, buscando a
maximização do bem-estar do setor elétrico. Entretanto, esse desafio implica em atingir
os objetivos de diversos stakeholders, como o investidor e o consumidor final de energia.
Neste estudo, tem-se como objetivo propor uma metodologia para auxiliar a configuração
de parques eólicos, compatível com a meta de maximizar do bem-estar do setor elétrico.
Para tanto, são considerados como objetivos de otimização a densidade de energia e o
Valor Presente Líquido, a partir dos inputs caracterizados pelos níveis de potência e preço
de venda de energia. As funções objetivo do problema são modeladas com auxílio da
técnica de planejamento de experimentos denominada Metodologia de Superfície de
Resposta, sendo que em seguida utiliza-se o método de programação multiobjetivo
do Normal Boundary Intersection para realizar a otimização. A metodologia é aplicada
em dois cenários, com parque eólico localizado na cidade de Macau-RN e com a
possibilidade de a linha de aerogeradores que compõe o parque eólico serem da marca A
ou marca B. Por fim, aplica-se a Análise Envoltória de Dados para verificar qual a melhor
dentre a soluções ótimas identificadas para os dois cenários. Os resultados mostram que
a metodologia é capaz de apoiar processos de licitação e programas de certificação de
parques eólicos, atendendo os objetivos de reguladores, investidores e consumidores de
energia elétrica.
Palavras-chave: planejamento energético, usinas eólicas, programação multiobjetivo.

Agradecimentos: Agradecemos o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico (Brasil): Bolsista do CNPq - Brasil (155507/2018-4).

62
FONTES
ALTERNATIVAS

63
ANÁLISE DA COMPLEMENTARIDADE DAS GERAÇÕES INTERMITENTES
NO PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO ELETRO-ENERGÉTICA DA REGIÃO
NORDESTE BRASILEIRA

Violeta Fonseca Lino1, Lorenzo Campos Coiado 1, Alberto Luiz Francato 1, Alexandre
Mattos Peron1
1
UNICAMP
E-mail: violetalino@hotmail.com

O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil – Sistema Interligado


Nacional (SIN) – é caracterizado como sendo um sistema hidrotérmico de grande porte e
com forte predominância de usinas hidroelétricas e subdividas nos subsistemas das
regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país. Estas regiões possuem
regimes hidrológicos distintos e que podem apresentar complementaridade sazonal entre
si, possibilitando a operacionalização da transferência e intercâmbio de energia elétrica
excedente entre os subsistemas bem como a otimização do armazenamento de água nos
reservatórios das usinas hidroelétricas, garantindo maior segurança e confiabilidade para
o atendimento da demanda energética brasileira. Portanto, a busca por soluções internas
de geração dentro de cada sub-sistema e a suavização da estocacidade podem ser
alternativas interessantes. Esta pesquisa visa desenvolver um estudo analítico sobre o
potencial de complementariedade entre as diversas fontes de geração de energia elétrica
na região nordeste brasileira. O estudo é feito com base em séries históricas de geração
dos diversos ativos, intercâmbios, cargas de energia, dados físicos, dados eólicos, solares
e hidrológicos, que teve como fonte de dados o Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Nacional de
Meteorologia, Centro de Referência para Energia Eólica e Solar Sérgio Brito (CRESESB)
e o Atlas de Energia Solar. A análise é realizada com base em abordagem estatística
envolvendo análise de correlações de Pearson entre os recursos e avaliação de
combinações ótimas das parcelas de geração com objetivo de minimizar o déficit
energético da região. Todos os resultados foram organizados em tabelas analíticas e saídas
gráficas para facilitar a visualização e compreensão dos resultados. Diante do
proeminente cenário nacional de expansão de fontes de geração de energia elétrica
renovável, considerando o elevado grau de intermitência e variabilidade, o modelo de
otimização indicou, por exemplo, um incentivo da exploração do recurso eólico nos
estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, e para a exploração solar nos
estados do Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte em busca da garantia
do suprimento energético sustentável.
Palavras-chave: recursos intermitentes, complementaridade, energia eólica, energia
solar, planejamento da operação.

Agradecimentos: Agradecimento a CAPES pelo patrocínio com bolsa de doutorado a


um dos autores deste trabalho.

64
APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DOS RESÍDUOS PARA PRODUÇÃO DE
BIOGÁS

Leonardo Pereira Lins1, Janine Padilha Botton1, Jessica Yuki de Lima Mito 1, Andréia
Cristina Furtado1
1
Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA
E-mail: linsleo@gmail.com

A busca por um planeta onde os indivíduos possam viver sem as preocupações sobre a
escassez dos recursos naturais é o que todos almejam. Contudo, diante do aumento
significativo da população, a demanda por alimentos e energia também são crescentes,
sendo necessárias grandes áreas para produção de alimentos e isso requer energia. Nas
etapas de produção de cada alimento ou na indústria, a geração de resíduos é inevitável.
Uma forma de usar resíduos para a geração de energia é tratando-os em biodigestores
para a produção de biogás. O biogás, é oriundo de um processo anaeróbico para o
aproveitamento energético em que a produção de energia para o consumo próprio pode
ocorrer in loco, reduzindo assim o consumo energético na produção do bem material. O
aproveitamento energético dos resíduos contribui para um mundo com uma energia mais
acessível, confiável e sustentável, além de cumprir alguns objetivos da Agenda 2030 para
o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas – ONU, sobretudo
aos objetivos: 6 (seis) que trata de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da
água e saneamento para todos; 7 (sete) que trata de assegurar o acesso confiável,
sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos; 12 (doze) que trata de
assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis e o 13 (treze) que é de tomar
medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.
Palavras-chave: digestão anaeróbica, metano, substrato, resíduos industriais.

Agradecimentos: À Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA e


ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Energias e Sustentabilidade.

65
DESENVOLVIMENTO DE BIODIGESTOR DE BAIXO CUSTO PARA
PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS

Grazielli Beno1, Kátia Cristiane Kobus Novaes1, Victor Henrique Tavares Luna2
1
Instituto Federal do Paraná - Campus Assis Chateaubriand, 2Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – Campus Toledo
E-mail: grazielli.bueno@ifpr.edu.br

Nos últimos anos, o discurso em prol da sustentabilidade tem se tornado cada vez mais
evidente, principalmente devido ao aumento da população e de indústrias que utilizam de
maneira indiscriminada os recursos naturais. O Biogás é uma fonte de energia renovável
com alto potencial de combustão que pode ser usado para gerar energia térmica e elétrica
de forma barata, descentralizada e limpa.Os biodigestores podem ser de pequeno porte,
para pequenas propriedades rurais ou até mesmo para residências, ou grande porte, para
setores pecuários de alta produção. Isso permite que praticamente todo produtor tenha
acesso a essa tecnologia e usufrua de suas vantagens ambientais e econômicas. O
desenvolvimento de um biodigestor de pequeno porte e de baixo custo, possibilitando que
pequenos produtores rurais utilizem excretas e materiais orgânicos que seriam
descartados no ambiente para produzir o biogás, que poderá substituir o gás de cozinha.
Com isso, o protótipo foi montado com bombonas de 75 litros isoladas do meio externo
com entradas para o material orgânico, saídas para rejeitos e para o gás que irá ser
produzido e armazenado. Após testes com dejetos de bovinos, observou-se a
possibilidade de substituir o gás utilizado no fogão da cozinha na residência rural apenas
pelo biogás. Por conseguinte, minimizará os impactos ambientais, permitindo a redução
das despesas fixas do orçamento doméstico.
Palavras-chave: biodigestor, biogás, pequeno produtor.

Agradecimentos: IFPR - Assis Chateaubriand

66
ENERGIA DO HIDROGÊNIO NOS MERCADOS DO BRASIL E DA
ALEMANHA: POLÍTICAS DE INCENTIVOS, TECNOLOGIAS E
OPORTUNIDADES DE PARCERIAS

Gustavo Sigal Macedo 1, Tatiana Oliveira de Carvalho 2, Camila Capobiango Martins1


1
Eletrobras, 2Universidade de Flensburg
E-mail: gsigal6@gmail.com

Este estudo busca identificar o potencial da inserção da energia do hidrogênio (H2) nos
mercados do Brasil e da Alemanha, em todas as suas possibilidades de comercialização e
integração nos sistemas existentes, visando o desenvolvimento dos mercados internos e
de exportação. Foi realizada uma análise comparativa das matrizes energéticas e diretrizes
regulatórias dos dois países, sob aspectos conjunturais recentes, como o lançamento de
planos de recuperação econômica, frente ao impacto da pandemia, e o investimento em
tecnologias ambientalmente mais adequadas, em paralelo à transição do novo modelo do
setor elétrico brasileiro, em discussão liderada pelo Ministério de Minas e Energia
(MME). As questões mercadológicas, regulatórias e de inovação influenciam o
estabelecimento global da economia do H2. Diversos laboratórios de pesquisa, como:
Sociedade Fraunhofer, Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (CEPEL) podem trabalhar em parcerias com instituições de fomento à
pesquisa, como: AHK , GIZ, DWIH e Aliança Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde,
para estudar a viabilidade dos modelos de negócios internacionais com o H2. Foi realizada
uma revisão das diretrizes regulatórias e uma análise das necessidades energéticas
nacionais. Os resultados do estudo apontam desafios e oportunidades de negócios,
incluindo a proposição de ações de curto, médio e longo prazos, de forma a aproveitar a
alta demanda energética da Alemanha, através da exportação e a formação de clusters do
H2 junto às regiões portuárias, mas também considerando o desenvolvimento interno do
Brasil no fornecimento deste insumo, em vários nichos de consumo e utilidade, tais como:
abastecimento de frota veicular, armazenamento sazonal junto às usinas de geração,
descarbonização de setores industriais e produção de fertilizantes. Tais oportunidades
demonstram ser viáveis e benéficas para ambos os países. Neste âmbito estão grandes
oportunidades de intercâmbio técnico, acadêmico, regulatório e comercial entre Brasil e
Alemanha. Como metodologia, é realizada uma revisão de documentos oficiais, como
planos, rotas e estratégias recentes, da União Europeia e da Alemanha, e de planejamentos
de longo prazo, no Brasil, para organizar as informações relevantes e necessárias à um
plano de ação eficaz para esta parceria, com possibilidades de execução futura com outros
países, de forma geral.
Palavras-chave: Transição Energética, Hidrogênio, Acordos de Cooperação.

Agradecimentos: Aos amigos que incentivam a pesquisa no tema do H2.

67
EVALUATION OF THE ENERGY PERFORMANCE OF A HYBRID
ABSORPTION REFRIGERATION SYSTEM USING ENERGY
PHOTOVOLTAIC SOLAR AND SYNTHESIS GAS OF A GASIFIER
MULTIZONE

Jorge Mario Mendoza Fandiño 1, Taylor de Jesús de La Vega Gonzalez2, Arnold Rafael
Martínez Guarín1, Jesús David Rhenals Julio 2, Juan Felipe Mestra Morgan1
1
UNIVERSIDAD DE CÓRDOBA, 2UNIVERSIDAD DE CÓRODBA
Email: tdelavegagonzalez@correo.unicordoba.edu.co

The objective of this project is to evaluate the energy performance of an absorption


refrigeration fridge fed with renewable energy sources such as solar energy and synthesis
gas, product of the transformation of corncob into a multizone gasifier, proposing
alternatives for generation of energy that can be used in industrial, residential or non-
interconnected areas (ZNI) in various regions of the country, improving their quality of
life and competitiveness in the sector by having alternatives for the conservation of
products. On the other hand, Córdoba, located in the northwest of Colombia, is privileged
to take advantage of renewable resources, mainly the solar energy present throughout the
year, it also has great potential for biomass since it is a corn-producing department, which
can be used to generate energy through thermochemical transformations. Initially,
temperatures were recorded at 6 points in the refrigerator using type K thermocouples,
and the behavior of the thermal load was also evaluated by placing 1 liter of water
internally to determine its stabilization temperature. An energy peak of 970.45W / m2
was obtained by characterizing the solar radiation. Temperatures were recorded for 24
hours, the results obtained were compared with the conventional energy sources that the
refrigerator has as liquefied petroleum gas (LPG) and electrical energy (110V).
Temperatures of 5.80 ° C in the thermal load were obtained with solar energy using a
Photovoltaic solar Kit, 8.70 ° C using synthesis gas from a multi-zone gasifier, which
were compared with Conventional LPG and 110V electric energy, the results of which
were 9.60 ° C and 6.70 ° C respectively. The stabilization time in the thermal load was
lower when electrical energy was implemented, which exceeds 800 min, followed by
solar energy with 1,100 min, LPG exceeding 1,200 min and synthesis gas with 1,300 min.
Finally, the energy performance (COP) was evaluated for each energy source (Electric,
Solar, Synthesis Gas and LPG) obtaining (2.60; 2.38; 3.28; 3.67) respectively.
Palavras-chave: Absorption refrigerator, COP, stabilization time.

Agradecimentos: The authors thank the Universidad de Córdoba as a source of funding,


within the framework of the Internal Call for Research Projects framed in the
Sustainability of Research Groups year 2017, “Acta No

68
MODELAGEM E ANÁLISE EXPERIMENTAL DE UM MOTOR STIRLING
TIPO BETA

Eduardo Marcelo Sakaguti1, Nathalia Heloisa Dullius1, Wilson de Aguiar Beninca1


1
Universidade Federal do Paraná
E-mail: esakaguti76@gmail.com

O motor Stirling é uma máquina térmica de combustão externa, portanto podendo operar
com ampla variedade de fontes de calor. Esta característica atribui um caráter renovável
a este dispositivo, pois permite a utilização de fontes renováveis de energia como a
biomassa, a solar ou a geotérmica. Seu princípio de funcionamento se baseia no trabalho
de expansão e compressão de um gás submetido a variações de temperatura. As principais
configurações, segundo a geometria desses motores, são chamadas de Alfa, Beta e Gama.
Este trabalho estudou a modelagem isotérmica, conhecida por teoria de Schmidt e a
modelagem adiabática de Finkelstein para o ciclo de potência dos motores Stirling tipo
Beta. Um protótipo foi construído no intuito de obter resultados experimentais e compará-
los aos teóricos. Entretanto, a dificuldade na construtiva do mecanismo de acionamento
do pistão deslocador inviabilizou a operação do protótipo. Dois problemas foram
identificados: perdas por atrito e estanqueidade. Após o diagnóstico da inviabilidade da
operação pelos problemas acima citados uma análise experimental foi feita para
determinar a potência consumida para o acionamento do protótipo. Os dados da análise
experimental utilizando um motor elétrico de indução para acionar o protótipo a rotação
de 180 rpm demonstraram que seriam necessários 75 W. Comparando a demanda de
potência para acionamento com os dados obtidos pelo modelo adiabático a mesma
rotação, verificou-se a impossibilidade de operação para as condições de tentativa de
operação. De forma adicional os modelos permitiram avaliar as variações da temperatura
do gás nos espaços de expansão e compressão, as massas de ar contidas em cada espaço
em função do ângulo de giro, variação da potência útil com aumento da pressão de
trabalho bem como a influência da variação do volume morto.
Palavras-chave: fontes alternativas, energia renovável, teoria de Schmidt, modelo
adiabático de Finkelstein, máquina térmica.

Agradecimentos: UFPR, Prof. Wilson de Aguiar Beninca, Nathalia Heloisa Dullius

69
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COMO FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL
NO BRASIL: PANORAMA ATUAL E PERSPECTIVAS FUTURAS (*)

Karen de Souza do Prado 1, Jane Maria Faulstich de Paiva1


1
Universidade Federal de São Carlos, Campus de Sorocaba - PPGCM-So e Depto. de
Engenharia de Produção
E-mail: karen.s.prado@gmail.com

Com o aumento da população brasileira, a geração e o descarte de resíduos sólidos têm


se tornado um problema crescente nos grandes centros urbanos. Analogamente, é
crescente a demanda por energia elétrica. Neste contexto, torna-se necessário o estímulo
ao uso de fontes de energia renováveis, que possam suprir a demanda energética do país
com o menor impacto ambiental possível. A utilização de resíduos sólidos urbanos (RSU)
para geração de energia surge como uma alternativa promissora, pois grande parte destes
resíduos possui alto poder calorífico e são descartados em aterros. No entanto, ainda
existe grande desinteresse no seu uso devido à falta de informações compiladas sobre
suas potencialidades. Por isso, este trabalho tem como objetivos apresentar o panorama
atual do reaproveitamento de RSU para a geração de energia elétrica no Brasil, bem como
discutir quais são as perspectivas futuras desta fonte de energia renovável, de forma a
estimular seu uso no país. Por meio de um levantamento bibliográfico atualizado em
órgãos oficiais e na literatura da área observou-se que, aproximadamente, 65 % dos RSU
possuem potencial para reaproveitamento energético, na forma de resíduos úmidos
incluindo biomassa (51,7 %) e de resíduos poliméricos (13,5 %). A utilização de RSU
como fonte de energia alternativa e renovável é estimulada por planos governamentais e
normativas como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, porém seu uso ainda é
limitado. A biomassa constitui a principal fonte de energia renovável dos RSU, entretanto
somente os derivados da cana-de-açúcar têm sido amplamente explorados. Embora
diversas metodologias de aproveitamento energético de biomassa estejam disponíveis, a
obtenção de biogás de aterros sanitários é, atualmente, a mais utilizada. No caso dos
resíduos poliméricos, ainda não existe no país uma usina de reciclagem energética com
capacidade suficiente para suprir a demanda das cidades, enquanto diversos outros países,
como o Japão, utilizam a reciclagem energética em larga escala. Para que as estimativas
do Plano Nacional de Energia para 2030 e o uso energético dos RSU se concretizem,
outras fontes de biomassa e novas metodologias de reaproveitamento devem ser mais
exploradas, bem como maiores investimentos precisam ser realizados em reciclagem
energética de resíduos poliméricos.
Palavras-chave: resíduos sólidos urbanos, biomassa, resíduos poliméricos.

Agradecimentos: CAPES (nº processo: 88887.464432/2019-00), Código de


Financiamento 001.
(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

70
RÓTULOS DE PRODUÇÃO DO HIDROGÊNIO (H2), CERTIFICAÇÃO DE
ORIGEM DE ENERGIA RENOVÁVEL E NOVOS ATRIBUTOS
SOCIOAMBIENTAIS

Gustavo Sigal Macedo 1, Jorge Alberto Alcala Vela1, Bruno Carneiro Leão 1
1
Eletrobras
E-mail: gsigal6@gmail.com

Este estudo busca esclarecer os rótulos emergentes para a produção da energia do


Hidrogênio (H2), de acordo com os diferentes métodos para sua obtenção e a natureza da
energia primária utilizada. Nesta direção, procura identificar o ambiente sendo
configurado, no Brasil e no Mundo, para a garantia da origem desta energia produzida.
Como metodologia, foram levantadas tendências para a valoração dos atributos,
auditorias e certificados de energia, e realizada uma análise do ciclo de vida da energia
do H2. Tais rótulos tendem a ganhar relevância devido ao maior escrutínio quanto a
adequação socioambiental da energia adquirida e consumida, por parte de diversos
setores. A energia do H2 surge no radar do setor energético, sobretudo com o seu rótulo
verde, com o lançamento de estratégias nacionais, dentro de uma visão de
descarbonização e investimentos em tecnologias ambientalmente mais adequadas. O H2
pode ganhar funções no abastecimento de veículos, no armazenamento sazonal, em
processos industriais, na mistura com outros combustíveis sintéticos e na sua reconversão
em eletricidade, por meio de células combustíveis ou turbinas a gás. Como resultado, são
destacadas algumas frentes que podem evoluir para a certificação do H 2: como o atual
ambiente internacional de rastreamento de atributos da energia: GO (Europa), REC
(EUA, Canadá) e I-REC. Tais sistemas propiciam um mecanismo de comercialização dos
certificados, que podem ser desatrelados dos contratos de energia, em lógica que guarda
semelhança com o mercado de créditos de carbono. Outra frente são os selos ecológicos,
como o EKOenergy, da Finlândia, com critérios socioambientais para eletricidade e gás
renovável. Em paralelo, surgem programas estatais ou voluntários que procuram valorizar
a energia produzida por métodos menos poluentes, como: CBIOs, para biocombustíveis,
ou Selo Energia Verde, para energia produzida por biomassa da cana de açúcar. No Brasil
nota-se ainda o surgimento da certificação GAS-REC, gerida pelo Instituto Totum, para
o biogás de rejeitos. Na Europa, o H2 já conta com mecanismos incipientes e específicos,
como o sistema CertifHy GO. Por fim, configura-se uma visão com um ecossistema de
rótulos, selos e certificados que podem cobrir diferentes escopos e utilidades neste ciclo
de aproveitamento da energia do H2.
Palavras-chave: Certificação, Energia Renovável, Atributos Socioambientais.

Agradecimentos: Aos amigos que incentivam a pesquisa no tema do H2.

71
TECHNOLOGY OPTIONS FOR REDUCING CO2 EMISSIONS IN NATURAL
GAS COMBINED CYCLES

Díaz-herrera, Pablo René1, Ascanio-gasca, Gabriel2, Gonzalez-diaz, Abigail3


1
Facultad de Ingeniería, Universidad Nacional Autónoma de México, Ciudad de
México, México., 2Instituto de Ciencias Aplicadas y Tecnología, Universidad Nacional
Autónoma de México, Ciudad de México, México., 3Instituto Nacional de Electricidad
y Energías Limpias, Cuernavaca, Morelos, México
Email: pablor.diazh@gmail.com

This work aims to compare three strategies for reducing CO 2 emissions from natural gas
combined cycles (NGCC): a) NGCC with post-combustion carbon capture (PCC) plant;
b) NGCC operating with blue hydrogen (bH2) produced via SMR plus carbon capture,
utilization and storage (CCUS) project; c) NGCC operating with a blend of green
hydrogen (gH2) and natural gas. These mitigation strategies were analysed from the point
of view of energy producers under the context of Mexico's clean energy market.
Sensitivity analysis has been carried out varying fuel and clean energy certificate (CEC)
prices. Results show that to meet the carbon emission factor mandatory by the law, fuels
with high H2 content are required. In general, the incorporation of a PCC plant offers
better economic performance than the other carbon mitigation alternatives studied.
Although gH2, at current fuel prices, utilisation in NGCC is more expensive than
installing a PCC facility, it can be competitive in a scenario of high prices of imported
natural gas ($9/MMBTU) and very low renewable electricity prices ($20/MWh).
Palavras-chave: green hydrogren, blue hydrogen, carbon capture, hydrogen powered gas
turbines.

Agradecimentos: Pablo René Díaz-Herrera would like to thank the Mexican National
Council for Science and Technology (CONACyT) for the scholarship provided.

72
VINHAÇA DE CANA-DE-AÇÚCAR: ANÁLISE DO SEU USO COMO
COMBUSTÍVEL ALTERNATIVO (*)

Rafael Pereira1, Ana Maria Pereira Neto 1, Rodolfo Sbrolini Tiburcio1


1
Universidade Federal do ABC
E-mail: rafa1504@hotmail.com

Uma alternativa à diversificação da matriz energética e alavancagem do uso de fontes


renováveis é o aproveitamento energético de resíduos. Neste sentido, a vinhaça de cana-
de-açúcar é um potencial subproduto do setor sucroenergético e estima-se uma geração
de 10 a 15 litros para cada litro de etanol produzido. O estudo desenvolvido neste trabalho
avaliou a utilização de vinhaça como combustível alternativo, objetivando a ampliação
da sustentabilidade do processo de produção de etanol. Amostras de vinhaça in natura
foram cedidas por uma usina localizada no Estado de São Paulo para a realização de
análises de sólidos totais (16.887 mg/L) e densidade (1,009 g/mL). Através de dados da
literatura, estimou-se o poder calorífico superior em base seca e o poder calorífico inferior
em base úmida. Empregando-se dados das safras de cana-de-açúcar de 1987/1988 até
2019/2020, desenvolveu-se um modelo matemático capaz de estimar a quantidade de
vinhaça produzida de 287 a 430 mil metros cúbicos para 2019/2020, sendo a sua
destinação ambientalmente adequada um importante desafio ao setor.
Palavras-chave: Resíduo, efluente, caracterização, bioenergia, setor sucroenergético.

Agradecimentos: Esta pesquisa foi desenvolvida com aporte financeiro da ANEEL e


PETROBRAS (processo PD-0553-0022/2012), FAPESP (processos 2011/51902-9 e
2012/50718-2) e CNPq (processo 470481/2012).

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

73
GERAÇÃO,
DISTRIBUIÇÃO E
CONTROLE

74
O AUMENTO DE CONSUMIDORES GERADORES E
COMERCIALIZADORAS DE ENERGIA NO MERCADO LIVRE BRASILEIRO
DE ELETRICIDADE DE 2013 A 2020

Alex Sidarta Guglielmoni1


1
UNINTER
E-mail: alex.sidarta@yahoo.com

Desde 1998, iniciou-se o processo de desregulamentação do mercado de comercialização


de energia elétrica no Brasil. Como resultado, o número de consumidores, geradores e
comercializadores de energia que migraram para o mercado desregulamentado de
eletricidade aumentou significativamente. Diante desse contexto, esta pesquisa visa
buscar respostas para a seguinte questão, qual é o número de agentes que migraram nos
últimos anos, entre 2013 e 2020? Para responder a essa questão, foi necessário analisar
dados públicos que trazem mensalmente o número desses agentes, tabular essas
informações e construir gráficos com a ideia de compartilhar informações claras e rápida
interpretação desses dados. Os objetivos específicos desta pesquisa são: analisar e
calcular o aumento de novos agentes no mercado desregulamentado da eletricidade
brasileira; identificar as regiões do Brasil e o total de agentes por cada região, para medir
o percentual crescente de consumidores, geradores, comercializadoras e energia
comercializada. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foram necessários levantamento
bibliográfico, coleta de dados secundários, tabulação dos dados de geração e número de
agentes no mercado desregulamentado, comparando os números mensal e anual, visando
comparar e criar uma análise que compartilhe uma visão geral sobre a importância do
mercado desregulamentado de energia elétrica no Brasil. Como resultado, foi possível
observar o crescimento significativo de consumidores e tradings que migraram do
mercado regulado para o mercado desregulamentado, o que mostra como a liberalização
desse mercado tem sido bem aceita por grandes empresas e indústrias no Brasil. Por
exemplo, em janeiro de 2013 havia 2.347 agentes aderidos ao mercado livre de energia
elétrica, em junho de 2020 este número aumentou para 9.677, proporcional a um
crescimento de 412%.
Palavras-chave: Mercado Brasileiro de Energia Elétrica Desregulamentado, Número de
Consumidores, Número de Geradoras, Número de Comercializadores.

75
UMA REVISÃO DE CONVERSORES CC-CC EM SISTEMAS COM FONTES
ALTERNATIVAS DE ENERGIA

Mauricio Taconelli1
1
Universidade Federal de São Carlos
E-mail: mauriciotaconelli@gmail.com

Os sistemas elétricos de potência têm sofrido, nas últimas décadas, profundas


transformações. O modelo tradicional de rede centralizada está em transição para um
modelo descentralizado onde a geração distribuída e os sistemas de armazenamento são
elementos essenciais. Entretanto, a crescente incorporação de fontes alternativas de
energia ao sistema elétrico, a despeito de suas vantagens, suscita uma ampla gama de
novos desafios, entre os quais o crescente número de conversores conectados à rede, o
que pode provocar problemas relacionados a qualidade da energia e instabilidade na rede.
O uso racional e eficiente de dispositivos de eletrônica de potência pode melhorar
efetivamente a segurança, a estabilidade e o nível de operação da rede elétrica. Assim, a
eletrônica de potência é um dos componentes críticos para o controle e gerenciamento do
fluxo de energia e eficiência do sistema, além disso, os dispositivos são utilizados para
realizar a interface de diversas fontes de energia e a rede de serviços tradicional. Nesse
contexto, o desenvolvimento de conversores CC-CC, mais eficientes e que possam ser
utilizados em aplicações de média e alta potência, é um dos desafios a serem enfrentados.
Dessa forma, o presente trabalho irá analisar, a partir de suas características e potenciais
de aplicação, as novas topologias propostas na literatura para conversores CC-CC para a
conexão de fontes de geração distribuída na rede elétrica de distribuição. As vantagens e
desvantagens desses conversores são discutidas e os principais desafios desses
conversores em aplicações de energia renovável são resumidos.
Palavras-chave: conversores CC-CC, fontes alternativas de energia, eletrônica de
potência.

Agradecimentos: Universidade Federal de São Carlos.

76
HÍDRICA

77
THE POTENTIAL ENVIRONMENTAL REPERCUSSIONS OF
HYDROELECTRICITY: A CONTRIBUTION BASED ON LIFE CYCLE
ASSESSMENT OF ECUADORIAN HYDROPOWER PLANTS (*)

David Alejandro Lazo-vásquez1, Cristian Urbina2, Beatriz Rivela3


1
University of São Paulo, 2Universidad Regional Amazónica IKIAM, 3 inViable Life
Cycle Thinking
Email: david.lazo@usp.br

The share of world energy consumption for electricity generation by source is primarily
based on coal and natural gas. Within the last few years, state and local governments have
implemented policies and programs to promote the growth of renewable energy shares.
In Ecuador, as in other countries with high hydropower potential, the contribution of
hydroelectricity is rapidly increasing without regarding long-term potential
environmental impacts of power plants. This cradle-to-grave Life-cycle Assessment
(LCA) studied the hotspots and potential environmental impacts of hydroelectricity
generation of Ecuador, throughout the analysis of two representative plants of Ecuador:
Agoyan (run-of-river type) and Paute-Molino (storage type), with 156 MW and 1075 MW
of effective capacity. The Life-cycle Inventory (LCI) identified the different stages of
hydroelectricity generation and gathered a database on resource inputs and waste outputs
related to each stage during 50 years of operation, with 1 kWh as a functional unit. The
construction stage is the leading contributor to the global impact as a result of high energy
and raw material consumption, mostly, in the dam construction, hotspot of both systems.
The Life-cycle Impact Assessment (LCIA) quantified the potential environmental impact
conforming with the CML 2000 midpoint impact categories, including Abiotic Depletion
potential (ADP_e), Global Warming potential (GWP), and Acidification Potential (AP).
Hydroelectricity generation in small plants can produce more impacts than large-scale
plants conforming to most of the CML categories; which suggests that, in countries with
similar hydropower potential, constructing fewer large-scale plants can reduce the global
environmental impact. The methodology proposed in this paper serves as a means for
predicting potential environmental impacts of renewable energy systems.
Palavras-chave: Environmental impacts, hydroelectricity, Life Cycle Assessment,
renewable energy.

Agradecimentos: The authors are thankful for the support of Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Desenvolvimento
Tecnológico da Engenharia (FDTE) and Petrobras.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

78
NUCLEAR

79
O IMPACTO DAS CIDADES NO USO DA ENERGIA NUCLEAR - UMA
ABORDAGEM ATRAVÉS DO PROJETO DE ARQUITETURA

Amaral, Wagner Isaguirre1, Delijaicov, Alexandre Carlos Penha1


1
Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Departamento de
Projeto - Laboratório de Projeto
E-mail: wagneria@usp.br

O processo histórico de urbanização atingiu um dos seus mais importantes pontos


notáveis no começo deste século, aproximadamente entre 2007 e 2008, segundo
projeções, quando o número de pessoas vivendo em cidades superou o de pessoas vivendo
fora delas em todo o planeta. No Brasil, em 2015, cerca de 85% viviam em áreas urbanas,
contribuindo para uma composição de necessidade social do uso de energia cada vez mais
difícil de ser atendida e com um impacto ambiental cada vez maior a ser estudado. Assim,
maior empenho no desenvolvimento tecnológico e na inovação em processos e projetos
tem sido necessário. Destaca-se a curva ascendente da demanda por energia, por
atividades de pesquisa e da área de saúde, que colocam a tecnologia nuclear como
importante componente, mas implicam em desafios específicos relacionados à segurança
e ciclo de vida dos materiais, áreas e instalações, inclusive quanto a resíduos e efluentes.
Neste trabalho, procurou-se explorar alguns aspectos que podem ser estudados a partir da
prática de projeto de arquitetura e urbanismo, tendo como estudo de caso a região do
entorno do sítio nuclear de Aramar e da Floresta Nacional de Ipanema, localizados em
Iperó-SP. Importantes limitações de ampliação da capacidade de produção e distribuição
de energia têm sido associadas à cada vez mais restrita viabilidade econômica de
exploração, bem como aquelas relacionadas ao gerenciamento de riscos e impactos
socioambientais. Mostra-se, assim, imprescindível a construção de soluções integradas
quanto a infraestruturas urbanas, rede de serviços públicos e habitação.
Palavras-chave: natureza, tecnologia, urbanização, infraestrutura.

Agradecimentos: Diretoria de Desenvolvimento Nuclear da Marinha (DDNM), Centro


Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), Centro Industrial Nuclear de Aramar
(CINA) e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

80
POLÍTICA E
SEGURANÇA
ENERGÉTICA

81
A INFLUÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O PROGRESSO DA
GERAÇÃO SOLAR FOTOVOLTAICA E DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ
ENERGÉTICA BRASILEIRA (*)

Fernanda Bach Gasparin1, Eduardo Lucas Konrad Burin1


1
Universidade Federal do Paraná
E-mail: fernandabbach@gmail.com

No atual cenário brasileiro é possível ver com clareza a importância de políticas públicas
para a promoção das energias renováveis. As políticas existentes ainda não são eficazes
para que a geração de energia limpa, incluindo a energia solar fotovoltaica, atinja o seu
potencial. De forma geral, o estímulo da produção de energia solar fotovoltaica possui
grandes vantagens pois existe um extenso território com elevados índices da irradiação e
alto potencial de geração de energia elétrica. Além disso, a diversificação da matriz
elétrica é essencial para uma boa gestão desse setor, garantindo a oferta de energia para
atender a demanda, segurança e eficiência energética. Como inspiração pode-se citar a
China e Alemanha, países que tiveram grandes avanços na matriz energética nos últimos
anos devido a suas políticas públicas de incentivo a geração de energia renovável.
Ademais, a energia solar fotovoltaica é a que mais gera empregos por megawatt, sendo
essencial para o desenvolvimento econômico do país. Através de uma pesquisa
bibliográfica, o presente trabalho buscou avaliar as políticas públicas existentes no Brasil,
bem como na China e Alemanha, a fim de entender os seus impactos no desenvolvimento
da energia solar fotovoltaica. Dessa forma, percebeu-se a necessidade de um melhor
planejamento governamental para que o potencial de geração solar brasileiro seja
alcançado.
Palavras-chave: políticas públicas, energia renovável, energia solar fotovoltaica.

Agradecimentos: À Universidade Federal do Paraná, juntamente com a orientação do


professor Eduardo Burin.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

82
ANÁLISE DAS AÇÕES DE GESTÃO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DO SETOR INDUSTRIAL DA SUB-REGIÃO NORTE DA
REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO – RMSP

André Luiz da Conceição 1, Luiz Fernando Liberalino de Carvalho 1


1
Faculdade de Tecnologia (FATEC) de Franco da Rocha
E-mail: conceicao.andreluiz@yahoo.com.br

O setor industrial da RMSP, mesmo num contexto de desconcentração industrial e


desindustrialização pela qual o Brasil passa desde a segunda metade da década de 1990,
ainda é um dos mais importantes do país, apresentando elevado consumo e gastos com
energia. Sendo assim, algumas estratégias para mitigar os altos gastos energéticos no setor
industrial e, consequentemente, contribuir com a preservação do meio ambiente
envolvem a adoção de uma política de gestão voltada ao uso racional das fontes de energia
e a implementação de ações de eficiência energética nas atividades de produção. Desta
forma, esse trabalho analisou as iniciativas de gestão de energia e eficiência energética
dos municípios da sub-região Norte da RMSP (Caieiras, Cajamar, Francisco Morato,
Franco da Rocha e Mairiporã). Assim, por meio da pesquisa bibliográfica, foi realizada
coleta de dados secundários de algumas empresas da região. Para isso, foi utilizada uma
plataforma online de prospecção de empresas, acompanhado por uma análise prévia onde
foram escolhidas amostras em cada um dos cinco municípios da sub-região de estudo, a
fim de verificar a possível prática por parte dessas indústrias, de ações voltadas à gestão
de energia e eficiência energética. A análise dos dados revelou que, sobretudo algumas
das grandes empresas, destacam-se por demonstrarem preocupação com o excessivo
consumo energético, visto que adotam em suas atividades produtivas medidas de controle
que visam o uso racional das fontes de energia, seja por questões econômicas ou
ambientais. Entretanto, também foi possível constatar a ausência dessas práticas por parte
de certas empresas, principalmente as pequenas e médias, que, muitas vezes, não possuem
recursos financeiros, humanos e interesse em mudar seus modelos de produção. Por fim,
espera-se que este estudo possa, de algum modo, contribuir para que o meio acadêmico,
aliado ao setor industrial integrem forças e desenvolvam cada vez mais pesquisas e
realizem ações objetivando enriquecer o conhecimento no campo da gestão de energia e
eficiência energética, contribuindo assim para uma sociedade mais sustentável.
Palavras-chave: sustentabilidade energética; desenvolvimento industrial; gestão de
recursos energéticos.

Agradecimentos: Centro Paula Souza (CPS) e Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq).

83
ANÁLISE DAS INICIATIVAS DE GESTÃO DE ENERGIA E EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DO SETOR PÚBLICO DA REGIÃO DE FRANCO DA ROCHA-
SP

André Luiz da Conceição 1, Luiz Fernando Liberalino de Carvalho 1


1
Faculdade de Tecnologia (FATEC) de Franco da Rocha
E-mail: conceicao.andreluiz@yahoo.com.br

Esse estudo teve como objetivo avaliar as medidas de Gestão de Energia e Eficiência
Energética (GEEE) desenvolvidas pela esfera pública da região de Franco da Rocha
(constituída por outros quatro municípios - Caieiras, Cajamar, Francisco Morato e
Mairiporã), seja nas atividades inerentes aos serviços prestados à população bem como
no estabelecimento de parcerias com o setor privado. Para isso, foi feito um levantamento
de dados junto a Secretaria de Energia do Estado de São Paulo, considerando o consumo
energético desses municípios no período dos últimos cinco anos. Além disso, a pesquisa
bibliográfica (outra técnica empregada) ajudou a estabelecer um perfil energético da
região e a avaliar se há ações já executadas ou não para tornar a utilização de energéticos
mais racional, seja por respeito à adoção pelo Estado brasileiro por práticas de GEEE,
seja por preocupações orçamentárias e/ou de responsabilidade fiscal. Esse trabalho
constatou ações desde a simples adequação de equipamentos de iluminação a serem
instalados em edificações públicas em construção ou em obras, bem como a parceria entre
ente público e concessionária de energia elétrica para a realização de um diagnóstico
energético com proposição de ações iniciais para reduzir o gasto com energia elétrica sem
que se reduzisse o nível de atividade em escolas e outros prédios voltados ao serviço
público. Como cada sub-região da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) conta
com um conselho para cooperação e desenvolvimento, objetiva-se futuramente, que esse
estudo ajude os gestores públicos integrantes desse conselho a tornar a busca por uso mais
eficiente dos energéticos comum aos cinco municípios.
Palavras-chave: consumo; eficiência energética; diagnóstico.

Agradecimentos: Centro Paula Souza - CPS e Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico - CNPq.

84
AS QUESTÕES COMPLEXAS DA ENERGIA EM UMA PERSPECTIVA DE
COMPARAÇÃO MUNDIAL

Dra. Doralice de Souza Luro Balan1


1
Faculdade de Tecnologia de Campinas, SP – Centro Paula Souza - Curso de
Tecnologia em Gestão de Energia e Eficiência Energética
E-mail: doralice.balan@fatec.sp.gov.br

O século XXI revela uma clara integração das sociedades globais. Assim, conduz para a
importância categórica das questões energéticas e, torna essencial neste assunto o
envolvimento da política ambiental, política externa e política de concorrência. Foi
objetivo deste trabalho investigar as multifaces da temática energética: a ambiental, a
social e econômica. Foram conduzidos estudos numa perspectiva de algumas
comparações mundiais da questão. Na economia, a concorrência e mercados de demanda
de energia, são pauta internacional de atenção. Ao fator ambiente associam-se dados da
produção de energia, eficiência energética e o desenvolvimento de novas fontes
renováveis e não poluidoras. Na Europa a política de energia ganhou importância desde
o Tratado de Lisboa, em 2007. Foi encontrado que a estrutura da energia elétrica é
altamente diferente entre os países europeus, sendo utilizadas variadas fontes. O Reino
Unido e a Suécia, foram os primeiros a reformar o setor elétrico com liberalização e
desregulação. O Eurostat 2017, indica que a eletricidade a partir de energia nuclear é 77%
na França, mas inexistente na Áustria e Portugal; na Suíça e na Noruega, as hidrelétricas
são maioritárias. A Inglaterra terá em 2019, mais energia elétrica de fontes renováveis
(solar, eólica e hídrica) do que derivada de petróleo. Nas Américas, os países também têm
padrões e graus de desenvolvimento energético bastante distintos. A participação em
2017 do petróleo na demanda de energia dos países da América Latina diminuiu de 42%
para 35%; houve incremento da participação do gás natural, de 26% para 32%; a
hidroenergia passou de 9% para 15%; os biocombustíveis, de 1% para 3%. A América
Latina e o Caribe respondem por cerca de 13% da produção mundial de petróleo, e 9%
da produção de gás-natural. No Deserto do Atacama, Chile, há as melhores condições
para a geração fotovoltaica. Em 2017, a participação de energias renováveis no Brasil
manteve-se entre as mais elevadas do planeta. Foram observadas situações comuns pelo
mundo, reconhecendo que políticas públicas eficientes de energia e ambiente não são
ameaça à economia dos países; contribuem no aumento da competitividade econômica,
no desenvolvimento dos recursos internos, gera empregos e especialmente, prepara o
futuro.
Palavras-chave: sustentabilidade energética; políticas de energia; eficiência energética.

Agradecimentos: A Fatec Campinas e Fatec Americana pela estrutura para o


desenvolvimento desta pesquisa.

85
MOTORES MAIS EFICIENTES E SUSTENTÁVEIS: ESTUDO DE CASO EM
UMA INDÚSTRIA DE CIMENTO VISANDO A SUA GESTÃO ENERGÉTICA(*)

Maria Thereza de Moraes Gomes Rosa1, Lara Caroline Ramos1, Felipe Silveira
Stopiglia1, Míriam Tvrzská de Gouvêa2, Daniela Helena Pelegrine Guimarães3
1
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Ciência e Tecnologia, 2Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Escola de Engenharia, 3Universidade de São Paulo, Escola de
Engenharia de Lorena
E-mail: gomes.mtms@gmail.com

As inovações tecnológicas vêm melhorando o desempenho dos motores elétricos, com o


aumento do rendimento e do fator de serviço, lançando linhas de equipamentos mais
eficientes e sustentáveis. No presente estudo foi realizada uma análise energética dos
motores utilizados por uma indústria de cimento. O software Mark IV Plus da PROCEL
foi utilizado para otimizar os dados com o fornecimento das perdas de energia de cada
motor empregado. Este trabalho também apresenta o período de retorno do investimento
com novos motores e a viabilidade de troca. O investimento em novos motores mostrou-
se viável e interessante para a indústria de cimento, já que através deste estudo foi
observada uma economia de energia elétrica com todas as substituições dos motores. Os
motores substitutos WEG de M-1, M-5, M-12, M-16, M-18, M-19 e M-20 apresentaram
uma economia anual com perdas energéticas de R$14.650,00 e a indústria obteria um
retorno do investimento em aproximadamente 2 anos, o que demonstra a viabilidade de
substituição. O motor da Voges M-15 apresentou a maior redução de perdas energéticas,
o que levaria a empresa a economizar R$8.600,00 anualmente. As concessionárias de
distribuição de energia, juntamente com o governo, vêm incentivando a eficiência
energética através de programas de trocas de motores, fornecendo descontos para as
indústrias que querem otimizar seus equipamentos. Conclui-se que a substituição de
motores utilizados por uma fábrica de cimento desde 2009 é viável, já que reduz
desperdícios de energia elétrica, com a diminuição das perdas de energia por meio da
utilização de motores de alto rendimento, que possuem melhorias em sua fabricação se
comparados aos motores mais antigos.
Palavras-chave: eficiência energética, motor elétrico, indústria de cimento.

Agradecimentos: À Universidade Presbiteriana Mackenzie pela bolsa PIBIC concedida


à discente Lara Caroline Ramos.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

86
RESÍDUOS E
IMPACTOS
AMBIENTAIS

87
AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DE BIOPLÁSTICO COMERCIAL POLI (Β-
HIDROXIBUTIRATO) (PHB) ATRAVÉS DE BIODIGESTÃO ANAERÓBIA EM
DIFERENTES RAZÕES INÓCULO/SUBSTRATO (*)

Luiz Antonio Marafon Bacca1, Joel Gustavo Teleken1


1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA
E-mail: luizmarafon@outlook.com

A crescente preocupação com o meio ambiente nas últimas décadas vem mobilizando
vários pesquisadores pelo mundo a buscar soluções para os problemas causados pela ação
humana. Um ponto bastante impactante é a elevada quantidade de embalagens plásticas
provenientes do petróleo que são descartados de forma irregular. A utilização de
polímeros biodegradáveis provenientes de fontes renováveis vem ganhando destaque pela
possibilidade de substituir grande parcela dos polímeros de fontes fósseis. Desta forma,
o presente trabalho visou conduzir o processo de degradação do polímero PHB através de
biodigestão anaeróbia em reatores com operação em batelada. Tal processo foi realizado
em reatores com volume total de 500 ml e volume útil de 400 ml. Foram utilizadas
diferentes razões inóculo/substrato (0,00034; 0,00056; 0,00068; 0,0009 e 0,001 em base
de sólidos voláteis) com objetivo de avaliar o comportamento de degradação do
biopolímero com aumento de sólidos no reator. As variáveis de interesse foram o
potencial hidrogeniônico (pH), sólidos totais (ST), sólidos totais voláteis (STV), acidez
volátil (AV), alcalinidade total (AT). Com os resultados obtidos pode-se chegar à
conclusão que as melhores razões para a biodegradação do PHB foram as 0,00056 e
0,00068 que atingiram remoção de ST e STV acima de 40 e 50 %.
Palavras-chave: biodigestão, biopolímero, embalagens, PHB.

Agradecimentos: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq).

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

88
CONFORTO TÉRMICO EM CASAS DE MADEIRA: O USO DE EMBALAGEM
CARTONADA MULTICAMADA (*)

Júlia Martinelli de Oliveira1, Míriam Tvrzská de Gouvêa1, Daniela Helena Pelegrine


Guimarães2, Maria Thereza Moraes Gomes Rosa1
1
Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2Universidade de São Paulo
E-mail: gomes.mtms@gmail.com

O presente estudo tem como objetivo avaliar o comportamento térmico de modelos de


casas de madeira revestidas diferentemente com embalagem cartonada multicamada. A
avaliação da melhoria do desconforto térmico foi obtida por meio da medição das
temperaturas internas e externas e determinação da taxa de transferência de calor. Foram
construídos três modelos de casa em madeira, possuindo a cobertura de telha
fibrocimento. Em um, revestiram-se as paredes internamente com as embalagens
cartonadas multicamada posicionadas com a face de papel para dentro; no outro o teto foi
revestido com as embalagens posicionadas da mesma maneira; e o terceiro não foi
revestido. As temperaturas foram medidas de hora em hora, das 12h às 16h, durante três
sábados e três domingos do mês de julho de 2019. Para os dias mais frescos, as
temperaturas internas tiveram comportamentos parecidos e valores próximos, entretanto
o fluxo de calor foi o mais alto no modelo sem revestimento. Já para os dias mais quentes,
obteve-se uma redução na temperatura interna dos modelos com revestimento, chegando
a diminuir, no dia mais quente, até 5,3°C no modelo com a cobertura revestida e 3,5°C
com as paredes revestidas, sendo que o fluxo de calor foi maior no modelo com
revestimento na cobertura.
Palavras-chave: madeira, embalagem cartonada, transferência de calor, comportamento
térmico.

Agradecimentos: Universidade Presbiteriana Mackenzie.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

89
GERAÇÃO DE ENERGIA TÉRMICA EM CIMENTEIRAS: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO NO BRASIL COM BASE NA AVALIAÇÃO DO CICLO DE
VIDA DO PROCESSO DE COGERAÇÃO DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

Nathalia Ribeiro Silva1, Diogo Aparecido Lopes Silva1


1
Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba
E-mail: nathaplok30@gmail.com

O uso de resíduos agroindustriais é necessário na indústria cimenteira para complementar


a demanda energética e os insumos necessários ao processo de produção do clínquer,
material base para a produção de cimento padrões do tipo CP II, por exemplo. Assim, o
objetivo deste trabalho foi conhecer o desempenho ambiental do processo de queima de
resíduos agroindustriais para a produção de cimento numa empresa da região nordeste do
Brasil. A empresa produz de 70-90.000 ton/ano de cimento tipo CP II. Assim, a demanda
energética em sua planta de energia é alta. Na planta, coque e resíduos agroindustriais
(resíduos de tecido, pneus inservíveis, e diversos tipos de biomassa) são utilizados como
insumos principais no processo. Dados primários para a realização da Avaliação do Ciclo
de Vida (ACV) do processo de combustão dos resíduos agroindustriais foram coletados
entre 2016-2017, para a unidade funcional da produção média de 53.681,31 Kcal/mês de
energia térmica. Para tal produção de energia, 1.116 ton de resíduos são demandados, e a
ACV revelou o efeito do uso desses resíduos sobre o desempenho ambiental do processo
de combustão. As seguintes categorias de impacto foram avaliadas: Potencial de Escassez
de Água, Potencial de Acidificação e de Oxidação, Potencial de Depleção de Recursos
Abióticos e Potencial de Toxicidade Humana. Os resultados parciais apontam que a
alteração do mix energético de resíduos é benéfica para a maioria das categorias de
impacto, principalmente sobre o Potencial de Oxidação. Todavia o cenário pode ser
melhor se a distância da coleta dos resíduos para a cimenteira fosse diminuída.
Palavras-chave: cogeração; cimenteira; acv.

Agradecimentos: PROEX UFSCar (Processo Nº 23112.106534/2019-03) e FUNDEP


(Processo Nº 24087).

90
SOLAR

91
CONCENTRAÇÃO SOLAR: A DESSALINIZAÇÃO NO AGRONEGÓCIO DO
SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Ana Carolina de Santana Moura1, Rivaldo Matheus Nunes Pereira1, Joelinton Tadeu da
Silva Filho1, Alana Kelly Xavier Santos2, Leonardo Faustino Lacerda de Souza2,
Ramon de Lima Vila Nova3
1
Universidade Federal de Alagoas, 2Universidade Federal de Campina Grande,
3
Universidade Federal de Pernambuco
E-mail: anacarolinasantana.eng@gmail.com

Este trabalho apresenta um projeto de dessalinização por uso de Calhas Parabólicas (PTC)
e aproveitamento dos sais advindos do processo de destilação voltados para o
agronegócio. Essa proposta é focada em solucionar partes das adversidades do Semiárido
Alagoano, que sofre com a escassez de recursos hídricos, trazendo problemas
econômicos. O sertão nordestino tem como característica principal dos poços artesianos,
a água salobra, ou seja, imprópria para o consumo, pois possui sabor desagradável e causa
doenças. Esse equipamento purifica a água salina transformando-a em potável através de
energia térmica gerada pelo PTC. A calha parabólica concentra os raios solares em um
tubo absorvedor, que por processo de transferência de calor, o fluido que está no interior
do tubo sofre aquecimento por condução e convecção térmica. Após esse procedimento
o fluido circula para o trocador de calor que está na parte interna da bacia do
dessalinizador, onde o resíduo e a água irão se separar por destilação. A água pode circular
por efeito termossifão ou por circulação forçada, aquecendo a água da bacia do
dessalinizador, que se condensa, escorrendo para um reservatório. Os resíduos no fundo
da bacia do dessalinizador podem ser muitos úteis se aproveitados para fins de
agropecuária. Estudos teóricos já mostram que a eficiência do mesmo pode ser superior
a dessalinizadores convencionais, por ser de fácil manutenção e baixo impacto ambiental,
o que torna esse tipo de sistema vantajoso em termos de produtividade. Para o caso do
fluxo ser de circulação forçada, pode-se instalar energia fotovoltaica para obter
eletricidade para alimentar a bomba. Em termos de praticidade, pesquisas bibliográficas
comprovam que sistemas automatizados são mais eficientes que sistemas de operação
manual, pois o rastreador ajusta a Calha à posição do sol durante o dia, ou até mesmo em
condições ambientais adversas, esse conjunto irá aumentar a eficácia de todo o processo.
Todo esse componente traz várias linhas de sustentabilidade, mas as principais são a
ambiental e a social, onde serão desenvolvidas tecnologias para o aproveitamento total
do sistema: a dessalinização, a produção animal, a nutrição animal, o cultivo de plantas e
o retorno econômico.
Palavras-chave: energia solar, transferência de calor, Nordeste.

Agradecimentos: Agradecimentos: UFAL, CECA, PIBIC.

92
CRESCIMENTO DE UNIDADES CONSUMIDORAS COM GERAÇÃO
FOTOVOLTAICA CONECTADA Á REDE ELÉTRICA NA REGIÃO NORTE
DE MATO GROSSO

Matheus Holzbach1, Adriana Souza Resende1


1
Universidade do Estado de Mato Grosso
E-mail: matheus.holzbach@hotmail.com

Na última década, a utilização de sistemas fotovoltaicos para gerar energia elétrica


cresceu de forma notável mundialmente. Em 2009, a capacidade mundial instalada de
geradores fotovoltaicos era de 22 Gigawatts (GW) e 2019 foi 580 GW, isso representa
um crescimento de 2.536,36% no período. No Brasil não poderia ser diferente, desde que
a geração distribuída foi regulamentada em 2012 o setor de geração fotovoltaica tem
crescido em média cerca de 200% a cada ano. Após o fechamento do primeiro trimestre
de 2020 o Brasil já possui mais de 265 mil unidades consumidoras que recebem créditos
de geração fotovoltaica e uma potência instalada chegando a 2,5 GW em seu território. A
região norte mato-grossense é umas das cinco regiões do estado de Mato Grosso, sua
população total estimada pelo último senso em 2018 é de 903.922 habitantes, distribuídos
em uma área total de 341.688,52 km². Esta região é destaque pelo alto desenvolvimento
no setor do agronegócio, principalmente na pecuária e produção agrícola de soja e milho.
A cidade de Sorriso é líder na exportação mato-grossense de grãos. Por outro lado, Sinop
é referência em desenvolvimento agroindustrial e polo comercial de atacado e varejo. A
alta taxa de radiação solar disponível nesta região proporciona uma maior eficiência aos
geradores fotovoltaicos atrelada ao rápido retorno do investimento (payback)
contemplaram a incrível popularização e instalação de sistemas fotovoltaicos nos últimos
anos. No estudo foi observado que somente no ano de 2019 concentram-se 83% de todas
as instalações de unidades geradoras da região, em relação ao ano de 2018 houve um salto
de crescimento de 514,35%. Em relação a classe de consumo, a maior parte das
instalações nestes últimos anos foram em residências, representando 64,28% do total,
logo atrás estão as instalações comerciais contando com 21,25% da quantia, seguidos por
instalações em zonas rurais com 8,98%, industriais 5,11% e Poder público com apenas
0,38% do total. Ao compararmos com as demais regiões do estado de Mato Grosso vemos
que a região de Sinop tem o maior número de instalações, superando até mesmo a região
de Cuiabá, a mais populosa do estado.
Palavras-chave: energia solar, sistemas on-grid, eficiência energética, estatística.

Agradecimentos: UNEMAT, PROBIC, FACET.

93
ESTUDO COMPARATIVO DE TÉCNICAS DE RASTREAMENTO DO PONTO
DE MÁXIMA POTÊNCIA EM ARRANJOS FOTOVOLTAICOS (*)

Davi Carvalho Moreira1, Alexandre de Souza Brasil1, Marcus Vinicius Alves Nunes1
1
Universidade Federal do Pará
E-mail: davicarvalhomoreira@hotmail.com.br

Este artigo apresenta uma modelagem de um arranjo fotovoltaico (PV) conectado a um


conversor CC-CC do tipo Boost para realização de uma análise comparativa entre dois
métodos de rastreamento de ponto máxima potência (MPPT). Foi escolhido um método
convencional, Perturbação e Observação (P&O), pela sua ampla utilização, e um método
de inteligência artificial, Lógica de Controle Fuzzy (LCF), pela sua robustez e
independencia ao modelo do arranjo PV. A comparação entre as técnicas levou em
consideração erro de estado estacionário, resposta dinâmica e eficiência em uma ampla
faixa de potência. Os algoritmos P&O e LCF foram utilizados para estabelecer a tensão
de referência e a razão cíclica, respectivamente, para regular a tensão terminais do arranjo
PV. As simulações foram realizadas em Matlab, com rápidas mudanças na irradiância
solar e as vantagens e desvantagens de cada técnica foi discutida. O MPPT Fuzzy mostrou
uma excelente resposta dinâmica nas variações abruptas de irradiância solar,
apresentando melhor tempo de acomodação em comparação ao MPPT P&O. O arranjo
PV usando o MPPT P&O apresentou um comportamento oscilatório significativo na
geração de potência e uma tensão de saída do conversor com um elevado nível de
chaveamento, indicando maior desgaste nas chaves semicondutoras de potência do
conversor Boost. No estado estacionário, o desempenho do MPPT Fuzzy foi inferior ao
MPPT P&O, pois apresentou maior erro, devido as curvas de pertinência terem valores
significativos de variação de potência e variação de corrente. De maneira geral, os
métodos MPPT Fuzzy e MPPT P&O realizaram o controle em malha aberta do conversor
Boost para rastreamento do ponto de máxima potência de forma eficiente e precisa.
Palavras-chave: energia fotovoltaica, MPPT, P&O, fuzzy.

Agradecimentos: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da


Universidade Federal do Pará (UFPA) pelo apoio e incentivo.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

94
ESTUDO TEÓRICO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS SOLARES
FOTOVOLTAICOS

Élida Fernanda Xavier Júlio 1, Willyane Vitória Leal Batista1


1
Universidade Federal Rural de Pernambuco
E-mail: elida.julio@ufrpe.br

Antes de realizar a instalação de um sistema fotovoltaico, analisa-se o potencial de


geração solar fotovoltaica de uma determinada região. Neste resumo, o rendimento
energético anual no Brasil e os sistemas solares fotovoltaicos são abordados. O objetivo
é apresentar os valores desse rendimento e caracterizar os tipos de sistemas fotovoltaicos.
Como metodologia: o rendimento foi medido em kWh de energia elétrica gerada por ano
para cada kWp de potência fotovoltaica instalada; e cada um dos sistemas fotovoltaicos
foram descritos sobre os modos de operação. O potencial de geração solar fotovoltaica
em termos do rendimento energético anual no Brasil varia entre 1100 a 1800
kWh/kWp.ano, considerando uma taxa de desempenho médio anual de 80% para
geradores fotovoltaicos. As regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste apresentam maior
potencial de geração solar fotovoltaica, com rendimento energético anual entre 1350 a
1800 kWh/kWp.ano. Quanto aos sistemas solares fotovoltaicos, classificam-se em três
tipos: isolados, conectados à rede elétrica e híbridos. Os sistemas isolados operam
desconectados da rede elétrica, armazenando energia elétrica na bateria. À noite, o
sistema só opera se a bateria estiver carregada. É implementado em localidades onde a
energia elétrica não chega através da rede pública de distribuição, como em comunidades
isoladas, rurais ou ribeirinhas. No caso dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede
elétrica, esses permitem que a carga seja sempre alimentada. Pois, a energia elétrica é
proveniente tanto da rede pública de energia elétrica quanto dos painéis fotovoltaicos.
Nesses sistemas, o excedente da energia gerada pelos painéis pode ser vendido às
concessionárias de energia elétrica e, quando não houver irradiação solar suficiente ou
durante a noite, pode-se utilizar a energia proveniente da rede elétrica. Uma combinação
dos dois sistemas apresentados é o sistema fotovoltaico híbrido, o qual opera conectado
à rede elétrica. Caso seja desconectado da rede, o sistema pode continuar fornecendo
energia elétrica, pois possui baterias em sua configuração. Portanto, após verificar o
potencial de geração solar fotovoltaica da região, determinar se a montagem será em área
urbana ou isolada, e definir o modo de operação do sistema; escolhe-se o tipo de sistema
fotovoltaico a ser implementado.
Palavras-chave: fotovoltaico, potencial solar, energia elétrica.

Agradecimentos: Universidade Federal Rural de Pernambuco.

95
FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA PARA INSTALAÇÃO DE SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS

Mario Luiz Ferrari Pin1


1
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
E-mail: mariopin@gmail.com

A geração distribuída de energia elétrica, onde a energia elétrica é gerada de forma


descentralizada em pequenas centrais de produção de eletricidade conectadas ao sistema
de distribuição. Tal modalidade foi inserida na matriz elétrica brasileira com a edição da
Resolução Normativa n° 482 em 2012 pela ANEEL. Desde então, a modalidade de
geração de forma distribuída mais utilizada no país foi a solar fotovoltaica, são 142.479
usinas com uma potência total instalada de mais de 1,6 GW em dezembro de 2019.
Estudos de mercado mostram que, devido ao crescimento exponencial das instalações no
país, existe uma grande demanda por profissionais técnicos especializados no projeto,
instalação e manutenção de sistemas fotovoltaicos. Levando isso em consideração a rede
federal de ensino técnico e tecnológico, junto à SETEC e a empresa alemã GIZ,
desenvolveram um itinerário formativo compreendendo cursos para instaladores,
especialistas técnicos e pós-graduação. No primeiro semestre de 2018 o campus Boituva
do IFSP abriu o curso de Instalador de Sistemas Fotovoltaicos, com uma carga horária de
160 horas com objetivo formar profissionais para instalar, operar e manter sistemas
fotovoltaicos de acordo com as normas técnicas e procedimentos técnicos, utilizando as
ferramentas, procedimentos e métodos adequados de acordo com a legislação vigente e
normas aplicáveis à qualidade, à saúde, à segurança e ao meio ambiente. Até o primeiro
semestre de 2019 três turmas foram concluídas com 29 alunos matriculados no primeiro
semestre de 2018, 27 no segundo semestre de 2018 e 39 no primeiro semestre de 2019
com uma taxa de aprovação de 16, 16 e 13 alunos respectivamente. O curso foi
primeiramente ofertado na modalidade presencial no período matutino o que pode
explicar a taxa de evasão de 42% no primeiro semestre de 2018. Para os dois semestres
seguintes o curso foi ofertado na modalidade semipresencial, com aulas teóricas na
modalidade EAD e aulas práticas presenciais aos sábados, havendo uma ligeira
diminuição da evasão no segundo semestre de 2018, 38%, porém com um aumento
significativo no primeiro semestre de 2019, 65%. O motivo desse alto índice de evasão
será objeto de novo estudo.
Palavras-chave: trabalho, energia solar fotovoltaica, educação, geração distribuída.

Agradecimentos: Agradecimentos à SETEC, GIZ e IFSP.

96
MICROGERAÇÃO DE ENERGIA DISTRIBUÍDA: ANÁLISE DE
DESEMPENHO DE MINIUSINA FOTOVOLTAICA

Robert Dias Ximenes1, Fábio Minoru Yamaji2


1
Instituto Federal de São Paulo - IFSP / Universidade Federal de São Carlos - UFSCar,
2
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar
E-mail: robert.ximenes@ifsp.edu.br

Nos últimos anos a tecnologia para geração de energia elétrica através de painéis
fotovoltaicos (FV) tem se mostrado mais eficiente e barata. Desde o início do século XXI
observamos um aumento nos preços dos combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, novos
conhecimentos na ciência dos materiais e outros avanços tecnológicos são aplicados na
produção dos painéis e das células fotovoltaicas, causando assim uma queda no preço.
No Brasil com edição da Resolução ANEEL 482/2012 atualizada pela 687/2015, passou
a permitir que o consumidor gere a sua própria energia, ainda que parcialmente e em
períodos de geração e consumo diferentes a partir de micro e minissistemas de energia
renovável. Isso aqueceu o mercado de venda, instalação e manutenção destes
equipamentos. Atraindo mais empresas para este mercado em ascensão. Para o
dimensionamento e o orçamento de sistemas fotovoltaicos são considerados a posição
geográfica, a insolação, o histórico de consumo, assim como uma taxa de desconto anual
para o cálculo do payback. No presente trabalho, os dados inicialmente estimados para
atribuir a viabilidade econômica foram confrontados com os valores fornecidos pelo
sistema de gerenciamento de uma mini usina fotovoltaica de 77,5 kWp instalada em uma
IES na região metropolitana de Sorocaba. Os dados utilizados são relativos ao estudo
preliminar com um ano de monitoramento. A proposta do fornecedor “A” estimou uma
produção média mensal de 8.252 kWh/mês e uma produção anual de 99.024 kWh/ano, já
o fornecedor “B” estimou uma produção média mensal de 8.876 kWh/mês e uma
produção anual de 106.512 kWh/ano. A geração FV foi monitorada na saída dos
inversores. Sendo que a média anual dos valores mensais monitorados ficou bem próxima
dos valores inicialmente estimados nas propostas comerciais. Como resultado, a geração
de energia a partir de FV mostra-se benéfica ao meio ambiente e uma alternativa
econômica viável.
Palavras-chave: fotovoltaica, eficiência energética, energia, energias renováveis.

Agradecimentos: Agradeço a CPFL - Companhia Paulista de Força e Luz.

97
TÉCNICAS DE MODULAÇÃO PARA REDUÇÃO DA TENSÃO DE MODO
COMUM EM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE

José Ramon Nunes Ferreira1, Alberto Soto Lock1, Ewerton Brasil da Silva Queiroz1,
Francisco Carlos Leite Brasil1
1
Universidade Federal da Paraíba
E-mail: joseramonnunes@gmail.com

A Tensão de Modo Comum (CMV – Common Mode Voltage) é considerada um problema


em sistemas elétricos por gerar harmônicos de tensão, o que por sua vez ocasiona
harmônicos de Corrente de Modo Comum (CMC - Common Mode Current) em todas as
fases da tensão, provocando a redução significativa da vida útil dos equipamentos
elétricos. Seu surgimento ocorre por Interferências Eletromagnéticas (EMI –
Electromagnetic Interference) provocadas por motores, transmissores e demais cargas
não lineares conectadas à rede elétrica. Computadores, fontes de alimentação e
dispositivos eletrônicos que operam com valores de tensão nominal são os mais afetados
pela CMC. Em sistemas conectados à rede, a CMC causa complicações no fornecimento
da tensão gerada pelo arranjo das células solares, contaminando a rede com harmônicos
de corrente. Nesse caso, a CMV é provocada por uma capacitância parasita de
realimentação entre o capacitor do barramento e a tensão de rede. A pesquisa propõe
investigar estratégias de controle PWM (Pulse Width Modulation) aplicados a
conversores CC/CA (Corrente Contínua/Corrente Alternada) trifásicos, com foco na
redução da Tensão de Modo Comum em sistemas fotovoltaicos conectados à rede. O
método aplicado no estudo é validado primeiramente pela explanação teórica e a
modelagem dos tipos de controles estudados, aplicando-as na simulação em planta
desenvolvida no software Matlab, além de simulações desenvolvidas no software
PSCAD. As técnicas de controle serão demonstradas e comparadas nas simulações, com
a aplicação dos métodos: SVPWM (Space Vector Pulse Width Modulation) e OCC (One
Cicle Control). Os controladores citados possuem características relevantes sob a
perspectiva da redução da Tensão de Modo Comum em sistemas fotovoltaicos conectados
à rede, melhorando substancialmente a qualidade da energia produzida por esses sistemas.
Com as técnicas propostas, obtém-se os resultados de sinal de saída da tensão sem
distorções de corrente, mesmo com a previsibilidade de interferências externas.
Palavras-chave: tensão de modo comum, interferências eletromagnéticas, métodos
PWM, sistemas fotovoltaicos.

Agradecimentos: Ao Professor Dr. Alberto Soto Lock pelo grande apoio, dedicação e
orientação na pesquisa em desenvolvimento.

98
USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DE GHI (*)

Naiara Rinco de Marques e Carmo 1


1
PUC-Rio
E-mail: naiararinco14@gmail.com

Redes Neurais Artificiais são modelos computacionais inspirados no funcionamento do


sistema nervoso central dos animais. São capazes de promover o aprendizado de máquina
e reconhecimento de padrões com alta qualidade. Este trabalho tem por objetivo a
previsão de um passo à frente da Irradiação Global Horizontal (GHI) diária utilizando
Redes Neurais Artificiais (RNAs) de dois tipos: Nonlinear Autoregressive Network
(NAR) e Nonlinear Autoregressive Network with Exogenous Inputs (NARX). A estrutura
da rede foi desenvolvida a partir da ferramenta NTSTOOL do Matlab 2019b®. A base de
dados utilizada foi fornecida pela rede do Sistema de Organização Nacional de Dados
Ambientais (SONDA), contemplando a estação de Brasília. Foram testados diferentes
modelos de redes neurais, contemplando inputs variados, e combinações dos mesmos.
Além disso, foram experimentados dois algoritmos de treinamento, assim como diversos
números de processadores na camada escondida, janela de entrada e percentuais para
treinamento, validação e teste da rede. Buscou-se a configuração capaz de fornecer os
erros mais baixos possíveis com boa generalização. Os resultados foram comparados com
os modelos naive e de amortecimento exponencial. Obteve-se uma estrutura que forneceu
5,75% para o erro MAPE de teste e 29.383,55 W/m² para o RMSE de teste, se
sobressaindo em relação à previsão naive (MAPE:19,28%; RMSE: 67.920,73 W/m²) e
aquela fornecida pelo modelo de amortecimento exponencial (MAPE: 9,36%; RMSE:
35.091,81 W/m²).
Palavras-chave: redes neurais artificiais, previsão de séries temporais, irradiação global
horizontal.

Agradecimentos: À PUC-Rio, pelo ensino de qualidade. O presente trabalho foi


realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

(*)
Trabalho selecionado para a Edição Especial II ConER na Revista Virtual de Química.

99
TRABALHOS
COMPLETOS

100
BIOCOMBUSTÍVEIS

101
AVALIAÇÃO COMPARATIVA DE METODOLOGIAS MULTICRITÉRIOS
PARA A TOMADA DE DECISÕES DURANTE A SELEÇÃO DOS TIPOS DE
BIOMASSA MAIS VIÁVEIS PARA PROJETOS DE BIOENERGIA: ESTUDO
DE CASO ESTADO DE MINAS GERAIS

Fernando Bruno Dovichi Filho 1, Electo Eduardo Silva Lora1, José Carlos Escobar
Palacio1, Quelbis Román Quintero Bertel2
1
UNIFEI, 2Universidad Autónoma de Colombia
E-mail: silva.electo52@gmail.com

Resumo: Ante a necessidade imediata da redução da emissão de gases de efeito estufa e


o aumento da demanda de energia, a intensificação das pesquisas e investimentos em
energia renovável se tornou uma rota importante para o mundo. Fontes de energia
alternativas, não intermitentes, econômicas e limpas, tal como a bioenergia vem sendo
consideradas. Os métodos de tomada de decisão multicritério (MCDM) estão se tornando
cada vez mais populares na solução de problemas de otimização de sistemas energéticos,
devido a necessidade de considerar uma grande quantidade de critérios, frequentemente
conflitantes. Esta pesquisa tem como objetivo definir os tipos de biomassa mais viáveis
para a geração de eletricidade, por meio de uma abordagem de tomada de decisão
multicritério (MCDM). Foi elaborado um quadro abrangente de critérios a considerar
durante a avaliação da viabilidade dos tipos de biomassa disponíveis, tais como aspectos
econômicos, ambientais, sociais e técnicos. Como resultado obteve-se uma escala dos
tipos de biomassa disponíveis atendendo a sua viabilidade. Para determinar o peso dos
critérios foi realizada uma integração com o processo de hierarquia analítica (AHP). O
método MCDM foi utilizado para classificar todas as alternativas possíveis de recursos
de biomassa disponíveis. Em conjunto com uma abordagem GIS-MCDA foram avaliadas
diferentes microrregiões considerando os respectivos recursos de biomassa,
possibilitando construir um mapa com as biomassas de maior viabilidade em cada
microrregião. Os resultados mostraram que o Eucalipto dentre as 8 disponíveis, possui a
maior disponibilidade de recursos de biomassa por microrregião, para a geração de
eletricidade. As conclusões deste estudo fornecem informações úteis aos tomadores de
decisão durante a seleção das biomassas mais viáveis dentre as disponíveis, e permitem
subsidiar a definição das tecnologias de geração e das regiões de maior potencial técnico
e econômico para a geração de eletricidade a partir da biomassa, servindo como referência
para a política energética e para efeitos da sustentabilidade da matriz de geração de
eletricidade de Minas Gerais. O método multicritério se mostrou funcional e aplicável a
processos de tomada de decisão que envolvem variáveis de caráter subjetivo quantitativo,
tal como a seleção das biomassas mais viáveis para projetos de geração de eletricidade.
Palavras-chave: biomassa, sistema de informações geográficas (GIS), bioenergia.

102
MULTICRITERIA AHP METHODOLOGY FOR DECISION MAKING
DURING SELECTION OF THE MOST
VIABLE TYPES OF BIOMASS FOR BIOENERGY PROJECTS: CASE STUDY
STATE OF MINAS GERAIS

Abstract: In view of the immediate need to reduce the emission of greenhouse gases,
sources of clean energy, such as bioenergy, have been considered. Therefore,
multicriteria decision-making methods (MCDM) are becoming popular in solving energy
system optimization problems. This research aims to define the most viable types of
biomass for electricity generation, using a multicriteria decision making approach
(MCDM). A table of criteria has been developed to be considered during the evaluation.
As a result, a scale of the types of biomass available was obtained, taking into account
their viability. To determine the weight of the criteria, an integration with the analytical
hierarchy process (AHP) was performed. In conjunction with a GIS-MCDA approach,
different micro-regions were assessed considering their respective biomass resources.
The results showed that of the 66 microregions investigated, the corn crop was the one
with the highest priority in the microregions (46), followed by the sugarcane culture (16)
and the coffee culture (4). The cultivation of soy did not appear as a priority in any micro-
region. The conclusions of this study provide useful information to decision makers,
during the selection of the most viable biomasses among those available, and allow to
subsidize the definition of the generation technologies and the regions with the greatest
technical and economic potential for the generation of electricity from biomass , serving
as a reference for energy policy and for the purposes of sustainability of the electricity
generation matrix in Minas Gerais. The multicriteria method proved to be functional and
applicable to the decision-making process for selecting biomasses for electricity
generation projects.
Keywords: Biomass, Multicriteria Decision Making (MCDM), GIS Geographic
Information System, Analytical Hierarchy Process (AHP) and Bioenergy.

1. INTRODUÇÃO
O cenário mundial apresenta uma tendência progressiva nas emissões de gases de
efeito estufa (GEE) entre 1990 a 2017 representando um aumento de 65% nas emissões
de dióxido de carbono (CO2) no mesmo período (OLIVIER, 2019). Verifica-se, neste
cenário, que o setor de energia elétrica é responsável pela maior proporção das emissões
de CO2 no mundo (IEA, 2011).
Contudo, mesmo que se tenha uma diversidade da concepção e argumentações
que permeiam à sustentabilidade energética, a base energética global ainda é bastante
dependente dos combustíveis fósseis (SEEG, 2018).
Neste contexto, percebe-se a adesão ao redor do mundo, de modo geral, por fontes
de energia renováveis, devido às preocupações correlacionadas à confiança e segurança
do abastecimento global de energia. Gera-se, portanto, uma relevância mundial na
investigação por novas tecnologias para a utilização de biomassa residual como fonte de
energia renovável (EPE, 2018). Assim sendo, como fonte de energia neutra em CO 2 e
renovável, a biomassa atrai a comunidade de pesquisa há décadas (AMIN et al, 2016).

103
Os operadores do sistema elétrico procuram manter o equilíbrio e a confiabilidade
do sistema pelo constante gerenciamento da demanda com a geração de energia de
diferentes fontes, sendo necessário considerar fontes de energia alternativas, não
intermitentes, econômicas e limpas, tais como a bioenergia (ADAMS, 2017).
A biomassa é considerada uma fonte de energia ininterrupta, portanto muito
importante para a geração de eletricidade (ALAKANGAS, 2015; ASHTER, 2018). O
Brasil dispõe de uma grande variedade de biomassas (TOLMASQUIM, 2016), no
entanto, no Estado de Minas Gerais, no escopo desta pesquisa, pode-se considerar
especificamente a biomassa residual de origem florestal e da agricultura, sendo elas: cana
de açúcar, arroz (em casca), café (em grão), milho (em grão), soja (em grão), eucalipto,
pinus, carvão vegetal, lenha, madeira em tora.
Portanto, o objetivo desta pesquisa é analisar a diversidade de resíduos de
biomassas disponíveis no estado de Minas Gerais utilizando o método de análise de
hierarquia analítica (AHP).

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho, foram feitas pesquisas em artigos científicos nacionais e
internacionais com a investigação e levantamento e verificação de dados reproduzidos
para o setor energético. O plano estratégico para a presente pesquisa foi concebido pelas
seguintes fases: 1) Estimação da produção de biomassa residual das principais culturas
de Minas Gerais mediante pesquisa da literatura técnica e científica, 2) Análise das
biomassas residuais disponíveis em Minas Gerais para bioenergia mediante a aplicação
do método multicritério Hierarquia Analítica (AHP) de análise decisória, devido à grande
disponibilidade de matéria-prima para produzir energia a partir de biomassa e à
disponibilidade de dados geográficos para alimentar o estudo.

2.1 Estimação da produção de biomassa residual


A partir da base de dados do IBGE foi possível elaborar um inventário da
produção das principais de Culturas agrícolas e da silvicultura com maior potencial para
a Bioenergia. é válido ressaltar que o Brasil dispõe de condições naturais favoráveis para
a produção de biomassa, tais como sua grande extensão territorial, seu clima tropical, sua
grande variedade de espécies com potencial elevado para a produção de biomassa
energética e seu conhecimento científico e tecnológico consistente sobre agricultura
(TOLMASQUIM, 2016). Estas culturas são encontradas no Estado de Minas Gerais e
contam com um grande potencial de geração de resíduos (IBGE, 2016).
A justificativa para as culturas a serem investigadas no Estado de Minas Gerais
está em sua relevância nacional, haja vista que o café representa 51% da produção
nacional, o açúcar 9% e a produção de milho ocupa a quinta posição nacional 1 .A área
cultiva de soja no Estado de Minas Gerais teve considerável aumento nos últimos anos.
Essa expansão ocorreu sobretudo nas áreas de pastagens e em locais onde anteriormente
eram cultivados milho e café com pouca produtividade. Diante disso, o estado é destaque

1
A produção de milho em Minas Gerai ocupa a quinta posição no ranking nacional com expressiva área
plantada da cultura com destaque para o município de Uberaba com 51.000 de hectares plantadas
correspondendo a cerca de 4% do estado[11]
104
na Região Sudeste, sendo responsável por 4,43% do cultivo de soja no Brasil, o que
corresponde a 1.472.224 ha de área plantada (ATLAS, 2017).
Para o eucalipto, no ano de 2015, o total de áreas plantadas foi de 5,6 milhões de
hectares.
Logo, nos últimos cinco anos, o crescimento da área de eucalipto no Brasil foi de
2,8% a.a (IBÁ, 2016).
Para a cana-de-açúcar, verifica-se alta disponibilidade em nível nacional, porém,
mesmo que esta cultura gera alto consumo de energia, ela concebe três resíduos sólidos
diferentes produzidos a partir de seu processamento: palha (durante a agricultura), bagaço
e torta de filtro (no processamento de etanol). Atualmente, a principal fonte de
agroeletricidade no Brasil é o bagaço de cana (capacidade operacional de 9,4 GW)
(CONAB, 2020).

2.2 Métodos de análise multicritério decisão


Os métodos (MCDM) de tomada de decisão com vários critérios ou (MCDA)
análise de decisão multicritério são conceitos amplos utilizados para classificar qualquer
decisão em que critérios múltiplos e conflitantes tenham impactos sobre a decisão
(SCOTT JÁ, 2012).
Um método multi-objetivo, portanto, pretende descobrir uma solução entre as
alternativas que mais satisfazem essas necessidades. O método multi-atributos, porém,
comprovaria a melhor alternativa em função dos atributos classificados dessas
alternativas. Essas distinções são sutis e os termos são intercambiáveis na maioria dos
cenários (KUMAR et al, 2017).
Os critérios essenciais estabelecidos neste estudo foram: 1) Técnico e Ambiental
e 2) Socioeconômico. Para o primeiro critério, têm-se o enquadramento do potencial de
bioenergia (RPj GWh/ano) e o potência (KW) instalada em usinas locais. O segundo
critério dispõe uma delimitação para o Produto Interno Bruto per capita e a demanda de
energia da população total. Com relação ao entendimento da escala de valores para cada
critério, assimila-se que quanto maior o RPj, melhor é a cultura sob os aspectos técnico
e ambiental; quanto maior a potência instalada, melhor será o aproveitamento da
agricultura no local; quanto menor o PIB per capita, mais sensíveis serão os benefícios
com o desenvolvimento da agricultura e; quanto maior a demanda de energia local, maior
será o mercado consumidor para a energia gerada. Como alternativas de culturas a serem
selecionadas, estas foram, o café, a cana-de-açúcar, milho e soja.

2.2.1 Cálculo do potencial de bioenergia


Considerando os critérios estabelecidos, o presente estudo para determinar os potenciais
viáveis em termos técnicos e ambientais e socioeconômicos, utilizou a seguinte equação
para o cálculo do potencial de bioenergia (Portugal-Pereira, 2015):

105
Onde:
RPj: potencial de resíduos agrícolas (GWh/ano);
Ai: área agrícola da cultura i (ha/ano);
Pi: produtividade da safra i (tonelada/ha);
RPRj,i: resíduo da razão j/produto i;
ESRj: taxa de remoção ambientalmente sustentável de resíduos j (%);
ARj: taxa de disponibilidade do resíduo j (%);
LHVj: Poder Calorífico Inferior do resíduo j (MJ/kg);
: eficiência energética da conversão da biomassa autônoma Rankine usina (18% LHV).

2.2.2 Analytic Hierarchy Process


O método empregado para a análise decisória foi o AHP (Analytic Hierarchy
Process), que é um método para auxiliar as pessoas na tomada de decisões complexas.
Ressalta-se, mais do que determinar qual a decisão correta, o AHP auxilia no processo de
escolher e justificar tais escolhas. Uma das razões para a utilização do AHP como
metodologia é que esse método inclui critérios quantitativos e qualitativos.
(CAMPOLINA AG et al, 2017).
Para o processo AHP, este foi seccionado em quatro etapas, sendo a primeira
referente à definição de um problema sobre o qual o modelo auxiliará no processo
decisório ; Na segunda parte foi realizada a definição das prioridades (pesos) para cada
critério que influenciará a decisão; Na terceira etapa foi feita a verificação da consistência
dos pesos, desta forma, verificou-se se os pesos foram definidos corretamente para sua
aplicação; Na quarta parte formou-se as prioridades gerais, isto é, a síntese do modelo no
software, bem como suas considerações finais.
Neste sentido, para o primeiro passo, frente ao desenvolvimento do problema a
ser decidido, o objetivo foi selecionar a melhor opção de cultura para uma determinada
microrregião de Minas Gerais. Observa-se, na Tabela 1 os resultados do modelo AHP
para a seleção de culturas em cada microrregião:

106
Tabela 1 –Resultados do modelo AHP para seleção de culturas em cada microrregião
PIB
Potência
RPj Demanda Per
Código Microrregião Cultura Instada Resultado Seleção
GWh/ano (GW) Capita
(GW)
(R$)
cana-de-
31001 Unaí açúcar 46,41 1000 236 24,56 73,41% NÃO
31001 Unaí café 0,85 1000 236 24,56 61,15% NÃO
31001 Unaí soja 121,76 1000 236 24,56 93,68% NÃO
31001 Unaí milho 145,23 1000 236 24,56 100,00% SIM
cana-de-
31002 Paracatu açúcar 100,50 211200 0 25,60 79,06% NÃO
31002 Paracatu café 1,42 211200 0 25,60 46,30% NÃO
... ... ... ... ... ... ... ... ...
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Quanto à definição dos pesos para cada critério, utilizou-se a escala fundamental
elaborado por Saaty (SAATY, 1980), conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Escala fundamental.


Intensidade de
importância
Definição Explicação
em uma escala
absoluta
As duas atividades contribuem
1 Igual importância
igualmente para o objetivo
Moderada importância Experiencia e julgamento fortemente a
3
de uma sobre a outra favor de uma atividade sobre a outra
Essencial ou grande Experiencia e julgamento fortemente a
5
importância favor de uma atividade sobre a outra
Importância muito Uma atividade é fortemente favorecida e
7
grande sua dominância é demonstrada na prática
A evidência que favorece uma atividade
9 Extrema importância em detrimento de outra é da mais alta
ordem possível de afirmação.
Valores intermediários
Quando é necessário estabelecer um
2,4,6,8 entre dois julgamentos
acordo.
adjacentes
Fonte: (SAATY, 1980)

De acordo com Costa et al (COSTA, 2008), os componentes basilares do método


AHP são: 1) Atributos e propriedades que se definem pela comparação de um conjunto

107
de alternativas em relação a um conjunto de critérios 2) Correlação binária, quando dois
componentes são comparados fundamentados em uma propriedade, logo, faz-se uma
comparação binária, na qual um componente é preferível ou indiferente ao outro 3) Escala
Fundamental: a cada componente gera-se um valor de prioridade sobre outro componente
em uma escala numérica. Após a coleta e transformação dos dados, conforme as fases do
método AHP, os produtos geram às matrizes com as comparações por números pares e
entre os critérios de avaliação, assim como sua consistência. Deste modo, foi concebida
a matriz de pesos A1, conforme Figura 1.

Figura 1: A matriz de comparação Pair-Wise com as definições dos pesos.


Fonte: Elaborado pelo autor junto com software SuperDecisions (2020).

Após a definição dos pesos, foi realizada a verificação de sua consistência, através
do cálculo do Consistency Index (CI) que apresentou o valor 0,0145 e do Consistency
Ratio (CR) que apresentou o valor 0,0162. Segundo Saaty, o cálculo do CR é realizado
através da razão entre o CI e um Random Index (RI), sendo os pesos adequados quando
o CR apresentar valor inferior a 0,1. O valor de RI é definido a partir do Tabela 3, de
acordo com a quantidade de critérios utilizados no método AHP. Conforme os critérios
de eficiência do AHP, um Índice de Consistência (IC) (1) e uma Relação de Consistência
(RC) (2) são incorporados à análise (SAATY, 1980).

𝜆𝑚𝑎𝑥 −1 𝐶𝐼
𝐶𝐼 = e 𝐶𝑅 = (1) e (2)
𝑛−1 𝑅𝐼

Tabela 3: Valores de Random Index conforme quantidade de critérios.


Atributos 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

RI 0,52 0,89 1,11 1,25 1,35 1,4 1,45 1,49 1,51 1,54 1,56 1,57 1,58
Fonte:(SAATY, 1980)

Verificado que os pesos foram os pesos foram definidos corretamente para sua
aplicação, utilizando a matriz de pesos A1, o Método AHP calcula resultados parciais do
conjunto A dentro de cada critério vi(Aj), j = 1, ..., n, denominado valor de impacto da
alternativa j em relação à alternativa i, em que esses resultados representam valores
numéricos das atribuições dadas pelo decisor a cada comparação de alternativas (COSTA,
2008).Dessa forma, determina-se uma ordenação global das alternativas por intermédio
de uma função global de valor.

108
A síntese do modelo AHP foi realizada no software QGIS. Foram utilizados os
arquivos do tipo shapefile contendo as 66 microrregiões do estado de MG. Para cada
microrregião foi associada a tabela 4 contendo os dados relativos às quatro alternativas
de cultura (Milho, Soja, Café e Cana de Açúcar).
Desta forma, utilizando a calculadora do QGIS, foi realizado o cálculo das
prioridades gerais para cada microrregião. Desta forma, o software estabeleceu, para cada
microrregião as prioridades de cada alternativa de cultura, com valores que variam de 0
a 1.
Como resultado, foi selecionada para cada microrregião, a cultura que apresentou
maior prioridade, resultando na Tabela 4 e na Figura 1, apresentados a seguir na seção de
resultados e discussão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção são apresentados os resultados obtidos da pesquisa de acordo com os


atributos/critérios e as respectivas biomassa como fontes de energia para bioenergia com
a aplicação do método de análise AHP. Os resultados gerados estão evidenciados na
Tabela 6, a seguir:

Tabela 4: Cultura que apresentou maior prioridade para cada microrregião.


MICRORRE CULTU PRIORID MICRORRE CULTU PRIORID
GIAO RA ADE GIAO RA ADE
Unaí milho 1,00 Araxá milho 1,00
cana-de-
Paracatu milho 0,85 Três Marias 1,00
açúcar
cana-de-
Alfenas milho 0,61 Ponte Nova 1,00
açúcar
... ... ... ... ... ...
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

A partir dos resultados apresentados na Tabela 3, foi gerado no software QGIS o


mapa das microrregiões de MG (Figura 2), permitindo a visualização da cultura
selecionada para cada microrregião. Logo, é possível observar que na região Sul a cultura
que apresentou maior prioridade foi o milho.
No Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba há prioridade tanto para o milho, quanto
para a cana-de-açúcar. Já na região do Alto do Paranaíba, vê-se que o cultivo do milho
tem uma presença interessante para a produção local.

109
Figura 2: Cultura selecionada para cada microrregião
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

As razões desta prioridade para o milho são reforçadas no estudo de Garcia et al


(2020) que relatam que as causas dessa prevalência estão relacionadas, tanto nas
condições agroecológicas, condições estas que são favoráveis de várias regiões mineiras,
quanto pela proximidade de mercado e pela organização comercial e gerencial das
propriedades produtores.

4. CONCLUSÃO

Das 66 microrregiões investigadas, a cultura de milho foi a que apresentou maior


prioridade nas microrregiões (46), seguida da cultura de cana-de-açúcar (16) e pela
cultura de café (4). A cultura de soja não se apresentou como prioridade em nenhuma
microrregião.
Os resultados encontrados utilizando o método de AHP evidenciam informações
indispensáveis aos tomadores de decisão para a seleção das biomassas mais viáveis, bem
como permitem subsidiar a definição das tecnologias de geração e das regiões de maior
potencial técnico e econômico para a geração de eletricidade a partir da biomassa.

REFERÊNCIAS

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Inc., 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/B978-0-08-101036-5.00008-2>.

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Ltd, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/B978-1-78242-378- 2.00003-1>.
Acessado em 8 jun. 2020

110
AMIN, A; GADALLAH, A; EL MORSI, N; EL-IBIARI, G. EL-DIWANI, H. Experimental
and empirical study of the effect of mixing diesel and biodiesel with castor oil on kinematic
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ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica - Participação das fontes na matriz de energia
elétrica do Brasil 2016-. Disponível em http://www2.aneel.gov.br/arquivos/pdf/livro_atlas.pdf.
Acessado em 8 jun. 2020.

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Polymers Derived from Biomass. [S.l.]: Elsevier, 2018. p. 75–110. Disponível em:
<https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/B9780323511155000050> Acessado em 8 jun
2020.

ATLAS DE BIOMASSA DE MINAS GERAIS. Ruibran Januário dos Reis e Luciano Sathler
dos Reis (Org.) Editora Rosa Gráfica Belo Horizonte. 2017

CAMPOLINA AG, DE SOÁREZ PC, DO AMARAL FV, ABE JM. Análise de decisão
multicritério para alocação de recursos e avaliação de tecnologias em saúde: Tão longe e tão
perto? Cad Saude Publica 2017;33:1–15. https://doi.org/10.1590/0102311X00045517.

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Boletim de Safra e de Grãos. 8º

Levantamento -Safra 2019/2020. Disponível em:


https://www.conab.gov.br/infoagro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acessado em 8 jun
2020.

COSTA, J.F.S. et al. Utilização do método de análise hierárquica (AHP) para a escolha da
interface telefônica. In: XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 2008. Rio de
Janeiro. Anais do Encontro Nacional de Engenharia de Produção - ENEGEP, 2008

EPE - Empresa de Pesquisa Energética - Balanço Energético Nacional 2018. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-adosabertos/publicacoes/balancoenergeticonacional-
2018>. Acesso em: 8 jun. 2020.

GARCIA, João Carlos; MATTOSO, Marcos Joaquim; DUARTE, Jason de Oliveira. A


importância do milho em Minas Gerais. Cultivo do Milho no Sistema de Plantio Direto.
Repository Open Access to Scientific Information from Embrapa. Disponível em :
https://core.ac.uk/reader/45506506. Acessado em 25 jul 2020.

IBÁ- Indústria Brasileira de Árvores. 2016. IBÁ Members Companies. Disponível em:

http://iba.org/images/shared/Biblioteca/IBA_RelatorioAnual2016_.pdf. Acessado em 8 jun


2020.

IBGE. Tabela 1612 - Quantidade produzida da lavoura temporária e Tabela 1613 - Quantidade
produzida da lavoura permanente. 2018, Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas>. Acesso em: 12 de Mar. 2020.

111
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edition- Paris: OECD/IEA, 2011a. 164p Disponível em:
https://www.iea.org/publications/free_new_Desc.asp?PUBS_Acesso em: 8 jun. 2020.

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decision making (MCDM) towards sustainable renewable energy development. Renew Sustain
Energy Rev 2017;69:596–609. https://doi.org/10.1016/j.rser.2016.11.191.

OLIVIER, J.G.J; PETERS, J.A.H.W. Trends In Global Co2 And Total Greenhouse Gas
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Nuclear. 1a ed. Rio de Janeiro: EPE, 2016.

112
CARACTERÍSTICAS ENERGÉTICAS DO TECIDO LESIONADO POR
CANCRO NO TRONCO DE MOGNO AFRICANO

Gustavo Strack Jager Pereira1, Rodrigo de Sousa Oliveira1, Macksuel Fernandes da


Silva1, Brenda Rodrigues de Souza1, Benito Perdomo Neto1, Mariana Pires Franco 1,
Carlos Roberto Sette Jr1
1
Universidade Federal de Goias
E-mail: crsettejr@hotmail.com

RESUMO: A constante demanda da sociedade por madeira de qualidade associado a


preocupação com a exploração de florestas nativas promovem o surgimento de espécies
alternativas como o Mogno Africano (Khaya spp.). Com a chegada das matrizes, iniciou-
se um ciclo de produção e o cultivo desta espécie se alastrou, resultando no aumento da
ocorrência de pragas e doenças, como o Cancro, associado a presença do fungo
Lasiodiplodia theobramae Pat. Griffon & Maubl, que se manifesta na forma de lesões
salientes na casca. As lesões, em sua maioria, são fendas longitudinais que exsudam
resina, destruindo as camadas superficiais do tronco, ocasionando intumescimento e
trincamento das cascas. Como parte do combate e do manejo do Cancro, são previstos
métodos como a raspagem do tecido lesionado do tronco, que gera uma grande quantidade
de material (casca+resina+fungo) e que podem ser utilizados para fins energéticos. Nesse
sentido, o trabalho objetivou o estudo das características energéticas do tecido lesionado
retirado durante a raspagem do Cancro das árvores de Mogno Africano. Amostras do
tecido foram coletadas do tronco de árvores de plantação localizada em Goiás e na
sequência trituradas e moídas. Os resultados indicaram densidade a granel de 300 kg m -
3
, teor de cinzas, carbono fixo e voláteis de 2,6; 6,6 e 90,8%, respectivamente, com poder
calorífico superior de 7.323 kcal kg-1. Como análises complementares, sugere-se a
determinação dos componentes químicos, como o teor de extrativos e lignina. Os
resultados preliminares indicam o potencial da utilização do tecido lesionado retirado do
tronco das árvores de Mogno Africano como parte do combate ao Cancro, para fins
energéticos.
Palavras-chave: resíduo florestal, bioenergia, Khaya spp.

113
ENERGY CHARACTERISTICS OF CANCER INJURED TISSUE IN AFRICAN
MAHOGANY STEM

ABSTRACT: The constant demand that the society for quality wood associated with the
concern with the exploitation of native forests promotes the emergence of alternative
species such as African Mahogany (Khaya spp.). The arrival of the dams starting a
production cycle and the cultivation of this species, resulting in an increase in the
occurrence of pests and diseases, such as cancer, associated with the presence of the
fungus Lasiodiplodia theobramae, which manifests itself in the form of prominent lesions
on the bark. Most of the lesions are longitudinal cracks that exude resin, destroying
surfaces of the trunk, causing swelling and cracking of the shells. As part of the action
and management of cancer, they are calculated methods such as scraping the injured
tissue in the trunk, generating a large amount of material (“bark + resin + fungus”) and
can be used for energy purposes. In this sense, the work aims to study the energetic
characteristics of the injured tissue during a scraping of Cancer from African Mahogany
trees. Tissue samples were collected from the trunk of plantation trees located in Goias,
Brasil, and in the crushed and ground sequence. The results indicated a bulk density of
300 kg m-3, ash content, fixed carbon and volatile matters of 2.6; 6.6 and 90.8%,
respectively, with higher heating value of 7.323 kcal kg -1. The preliminary results showed
the potential of injured tissue taken from the trunk of African mahogany trees as part of
combating cancer, for energy purposes.
Keywords: Forest waste, bioenergy, Khaya spp.

1. INTRODUÇÃO
A constante demanda da sociedade por madeira de qualidade associado a
preocupação com a exploração de florestas nativas promovem o surgimento de espécies
alternativas como o Mogno Africano (Khaya spp.).
O Mogno Africano é a principal substituta da madeira do mogno-brasileiro
(Swietenia macrophylla), madeira nobre com fins madeireiros usados principalmente na
construção moveleira. (REIS, 2019). O aumento de produção e o cultivo da espécie, traz
junto ocorrências de pragas e doenças, como o cancro, associado ao fungo Lasiodiplodia
theobramae Pat. Griffon & Maubl, que se aloja apenas na parte da casca, não atingindo o
cerne, podendo vir a atingir níveis de infestação em até 80 % da árvore de Mogno
Africano (REIS, 2019).
Segundo Reis (2019), o cancro se manifesta na forma de lesões salientes na casca,
alterando a fisiologia da planta e consequentemente seu desenvolvimento. As lesões em
sua maioria são fendas longitudinais que exsudam resina, destruindo as camadas
superficiais do tronco, ocasionando intumescimento e trincamento das cascas, com uma
composição de casca, fungo e resina.
Como parte do combate e do manejo do cancro, são previstos métodos de
raspagem, que podem vir a evitar o deslocamento da medula e os defeitos de secagem de
tábuas de Khaya spp. Desta forma, o produtor florestal, que busca rendimento para sua
cultura, investe na raspagem no tecido lesionado do tronco, visando controlar o Cancro,
gerando uma grande quantidade de material caracterizado por resíduo e que podem
possuir características energéticas interessantes.
114
A utilização de resíduos como fonte de bioenergia apresenta vantagens como
baixo custo e alta capacidade de reaproveitamento (SANTOS, 2017). Nesse sentido, o
trabalho objetivou o estudo das características energéticas do tecido lesionado retirado
durante a raspagem do cancro das árvores de Mogno Africano.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Coleta e preparo de amostras


Foram coletados resíduos do tecido lesionado de mogno-africano provenientes de
raspagem do Cancro em uma cultura situada no interior de Goiás, região próxima à cidade
de Goiânia – GO.
As amostras foram trituradas, moídas e analisadas no Laboratório de Qualidade
da Madeira e Bioenergia, LQMBio, da Universidade Federal de Goiás. Os resíduos foram
submetidos a uma separação mecânica no agitador orbital de peneiras com batidas
intermitentes, processando assim o material com malha de 60 mesh.

2.2 Avaliação das características energéticas

2.2.1 Teor de umidade

O teor de umidade foi obtido através da relação entre a sua massa úmida e a massa
seca (após 48 horas em estufa a 103°C). O teor de umidade é calculado através da equação
1 e expresso em porcentagem.

(𝑀𝑢−𝑀𝑠)
𝑈% = ∗ 100 (1)
𝑀𝑢
Onde:
U%: representa o teor de umidade;
Mu: Massa úmida em g;
Ms: Massa seca em g.

2.2.2 Análise imediata

Para a determinação da análise imediata, composta pelo teor de materiais voláteis,


cinzas e carbono fixo, foi utilizada parte da fração retida na peneira de 60 mesh e seca
(0%). Os ensaios de teor de voláteis e teor de cinzas foram realizados em três repetições,
utilizando cadinhos de porcelana previamente calcinados. Em cada cadinho e tampa de
massas conhecidas, foi colocado aproximadamente 1,0 g de material, sendo levado para
a mufla a 900°C, permanecendo em seu interior durante três minutos com a porta da mufla
aberta e nos próximos sete minutos com a porta fechada. Por fim o cadinho foi resfriado
em dessecador por 30 minutos e pesado em temperatura ambiente. O teor de voláteis foi
calculado conforme a Equação 2.

𝑀𝑖−𝑀𝑓
𝑀𝑉 = 𝑀𝑎
× 100 (2)

115
Onde:
MV: Teor de materiais voláteis da biomassa (%);
Mi: Massa inicial do cadinho + amostra (g);
Mf: Massa final do cadinho + amostra (g);
Ma: massa da amostra (g).

Assim como no teor de voláteis, aproximadamente 1,0 g de biomassa foram


adicionados em cada cadinho, sem tampa. O cadinho com a biomassa foi pré-queimado
com auxílio de bico de Bünsen até levantar chama e, logo após sua carbonização, foi
colocado na mufla em 600 °C por seis horas. Posteriormente, foi resfriado em dessecador
e pesado em temperatura ambiente, sendo o cálculo do teor de cinzas calculado pela
Equação 3.
𝑀𝑓−𝑀𝑐
𝐶𝑍 = 𝑀𝑎 × 100 (3)
Onde:
CZ: Teor de cinzas no carvão, em %;
Mf: Massa final do cadinho + amostra (g);
Mc: Massa do cadinho (g);
Ma: Amostra inicial (g).

O teor de carbono fixo é uma medida indireta, dependente dos teores de materiais
voláteis e teor de cinzas para sua determinação, obtido através da Equação 4.

𝐶𝐹 = 100 − (𝐶𝑍 + 𝑀𝑉) (4)

Onde:
CF = Teor de carbono fixo (%);
CZ = Teor de cinzas (%);
MV = Teor de materiais voláteis (%).

2.2.3 Densidade a granel

A densidade a granel foi obtida de duas formas, com o material “in natura” (da
forma como é obtido na raspagem) e a biomassa separada na malha de 60 mesh. Para a
obtenção desta variável, foi utilizada a metodologia estabelecida na norma NBR 6922
(ABNT, 1981): relação da massa do material analisado e o volume conhecido de um
recipiente (Equação 5).

𝑀𝑎
𝐷𝐺 = (5)
𝑉𝑟
Onde:
DG = Densidade à granel (kg m-3);
Ma = Massa da amostra (kg);
Vr = Volume do recipiente (m³).

116
2.2.4 Poder calorífico superior (PCS)

O poder calorífico superior foi determinado no Laboratório de Bioenergia e


Materiais Lignocelulósicos da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. A análise
foi feita por meio de uma bomba calorimétrica marca IKA WORKS, modelo C-200,
conforme a Norma ASTM D5865-13.

2.2.5 Poder calorífico inferior na base úmida (PCIu)

O PCI na base úmida foi obtido através da Equação 6. Esta variável é considerada
importante por apresentar o poder calorífico do material líquido ou útil, considerando o
teor de umidade da biomassa.

100 − TU
PCIu = [PCIs ( )] − 6 ∗ TU (6)
100
Onde:
PCIu: Poder calorífico inferior na base úmida expresso em kcal.kg -¹;
PCIs: Poder calorífico inferior na base seca expresso em kcal.kg -¹;
TU: teor de umidade expresso em porcentagem.

2.2.6 Densidade energética

A densidade energética foi calculada a partir do produto entre o valor do PCI e a


densidade a granel calculada do material “in natura” (Equação 7).

𝐷𝑒 = 𝑃𝐶𝐼 × 𝐷𝐺 (7)
Onde:
De: Densidade energética expressa em Gcal.m-3 ;
PCI: Poder calorífico inferior expresso em kcal.kg -¹;
DG: Densidade a granel expressa em kg.m-³.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da densidade a granel são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Densidade a granel da biomassa em 60 mesh e ‘’in natura’’


60 mesh "in natura"
Repetição
(kg/m³) (kg/m³)
1 466,0 322,0
2 456,0 304,0
3 462,0 276,0
Média 460,00 300,0
Fonte: Autor (2020).

117
A biomassa apresentou densidade a granel ‘’in natura’’ de 300 kg/m³ e com 460
kg/m³ de material peneirado em 60 mesh (Tabela 1). Os resultados aqui encontrados estão
maiores quando comparados aos resultados observados por OLIVEIRA et al. (2017) que
ao analisar briquetes oriundos do aproveitamento de resíduos de Pinus sp. encontrou
densidade a granel de 149,8 kg/m³.

Tabela 2 - Densidade energética da biomassa (DE), poder calorífico superior (PCS),


poder calorífico inferior na base úmida (PCIu) e teor de umidade (TU)
PCS PCIu DE TU
Repetição
(Kcal kg-1) (Kcal kg-1) (Gcal m-3) (%)
1 7636 7312 2,457 3,12
2 7624 7300 2,316 4,70
3 7630 7306 2,109 3,35
Média 7630 7306 2,294 3,72
Fonte: Autor (2020).

O poder calorifico superior e inferior foi de 7630 e 7306 Kcal.kg-¹,


respectivamente (Tabela 2). As médias encontradas para o PCS e para o PCI são altas e
normalmente acima dos valores observados para a biomassa in natura. Este
comportamento positivo pode estar associado a presença da resina produzida pela árvore
como forma de defesa contra o ataque do fungo. Assim, a composição química da resina
pode ter influenciado os valores de poder calorífico. O teor de umidade baixo, na ordem
de 3,7%, também é uma grande vantagem para a aplicação do resíduo para fins
energéticos.
Os materiais voláteis foram de 90,81 % sendo um resultado bom para a queima
direta da biomassa, apesar da redução do teor de carbono fixo (Tabela 3). Obteve-se
2,59% de cinzas no material.

Tabela 3 - Análise imediata


Cinzas Materiais voláteis Carbono fixo
Repetição
(%) (%) (%)
1 2,50 90,75 6,73
2 2,60 90,25 7,14
3 2,67 91,42 5,90
Média 2,59 90,81 6,60
Fonte: Autor (2020).

4. CONCLUSÃO
Os resultados indicam o potencial da utilização do tecido lesionado retirado do
tronco das árvores de Mogno Africano como parte do combate ao Cancro, para fins
energéticos.

118
REFERÊNCIAS

Oliveira, L. H.; Pedro V. G. B.; Pedro A. F. L.; Fábio M. Y.; Carlos R. S. J. Aproveitamento de
resíduos madeireiros de Pinus sp. com diferentes granulometrias para produção de briquetes.
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S.; Yamaji, F. M. Energy enhancement of the eucalyptus bark by briquette production.
Industrial Crops & Products, v. 122, pp. 209–213, 2018.

119
CODIGESTÃO ANAERÓBIA DE ÁGUA RESIDUAL DE SUINOCULTURA
SOB EFEITO DE ADIÇÕES DIFERENCIADAS DE BIOPOLÍMERO DE
AMIDO DE MANDIOCA

Anderson Rodrigo Heydt 1, Thompson Ricardo Weiser Meier2, Paulo André Cremonez3,
Joel Gustavo Teleken1
1
Universidade Federal do Paraná, 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná ,
3
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
E-mail: andersonrheydt@gmail.com

RESUMO: A codigestão anaeróbia é um processo de degradação da matéria orgânica


por microrganismos, obtendo-se como produto final o biogás e biofertilizante. Os
biopolímeros podem empregados como matéria prima neste processo. O presente
estudo avalia a degradação e o potencial de produção de biogás por meio da
codigestão anaeróbia de água residual de suinocultura com adições diferenciadas de
biopolímero produzido de amido de mandioca. Utilizou-se reatores de PVC com
volume útil de 3,2 litros. Os reatores foram mantidos em uma incubadora a
temperatura controlada de 35°C, em batelada com tempo total de retenção hidráulica
de 25 dias. O substrato ocupou o volume útil dos reatores, sendo 20% de inóculo,
80% de água residual de suinocultura e biopolímero de amido de mandioca. O
biopolímero de amido de mandioca foi adicionado com diferentes concentrações,
sendo estas 0 (controle); 1; 3; 5 e 7 % de massa de biopolímero por volume útil do
reator, denominadas de Branco, Ma1, Ma3, Ma5 e Ma7 respectivamente. Avaliou-se
o pH, relação ácidos graxos voláteis/alcalinidade total, sólidos totais, sólidos totais
voláteis, produção diária e acumulada de biogás e sua composição. O tratamento Ma7
com adição de 7% de massa de biopolímero de amido de mandioca obteve os
melhores resultando, removendo 62,04% de sólidos totais voláteis, com 5528,48mL
de produção acumulada de biogás e concentração de metano de 94,33%. Empregar o
biopolímero de amido de mandioca no processo da codigestão anaeróbia é uma
alternativa promissora, que além de realizar o seu descarte final contribui no aumento
da produção de biogás.
Palavras-chave: Biogás, polímeros biodegradáveis, mesofílica, degradação.

120
ANAEROBIC CODIGESTION OF SWINE WASTEWATER UNDER THE
EFFECT OF DIFFERENTIATED ADDITIONS OF CASSAVA STARCH
BIOPOLYMER

Abstract: Anaerobic codigestion is a process of degradation of matter organic by


microorganisms, obtaining as final product the biogas and biofertilizer. Biopolymers can
be used as raw material in this process. This study evaluates the degradation and
production potential of biogas by anaerobic codigestion of swine wastewater with
differentiated additions of biopolymer produced from cassava starch. PVC reactors with
a useful volume of 3,2 liters were used. The reactors were kept in an incubator at a
temperature of controlled 35°C, batched with a total hydraulic holding time of 25 days.
The substrate occupied the useful volume of the reactors, being 20% inoculum, 80%
swine wastewater and cassava starch biopolymer. The cassava starch biopolymer was
added with different concentrations, these being 0 (control); 1; 3; 5 and 7 % biopolymer
mass per useful volume of the reactor, called White, Ma1, Ma3, Ma5 and Ma7
respectively. The pH, total volatile fatty acid/alkali ratio, total solids, total volatile solids,
daily and accumulated biogas production and its composition were evaluated. The Ma7
treatment with the addition of 7% manioc starch biopolymer mass obtained the best
results, removing 62,04% of total volatile solids, with 5528,48mL of accumulated biogas
production and methane concentration of 94,33%. Employing cassava starch biopolymer
in the process of anaerobic codigestion is a promising alternative, which, in addition to
its final disposal, contributes to the increase of biogas production.
Keywords: Biogas, biodegradable polymers, mesophilic, degradation.

1. INTRODUÇÃO

O uso intensificado dos combustíveis fósseis ao longo dos anos tem contribuído
para o aumento da emissão de gases, impactando negativamente o meio ambiente, em
função disso, as fontes alternativas de geração de energia ganharam grande destaque.
Dentre estas, uma possível alternativa para mitigar os impactos ambientais, é a utilização
da biomassa, por ser uma fonte de energia renovável e primária (BORGES et al., 2017).
A biomassa pode ser encontrada em estado sólido ou líquido, podendo ser utilizada
para a produção de biogás, desde que seja biodegradável. (NANDI et al., 2017). Um
exemplo de biomassa são os polímeros biodegradáveis, produzidos a partir de diversas
fontes renováveis de carbono, como a cultura do milho, mandioca e batata. (MIRANDA
et al., 2017).
Segundo dados apresentados pela European Bioplastics (2014 e 2016) no ano de
2013 a capacidade de produção global de bioplásticos foi de 1,62 milhões e aumentou
para 4,16 milhões em 2016. Dessa forma, nota-se um aumento de mais de 150% na
produção em apenas 3 anos.
Em função do aumento da produção de biopolímeros tem-se a necessidade de
realizar o seu descarte de forma adequada após o uso. Esses produtos biodegradáveis não
podem ser descartados juntamente com os plásticos comuns pois contribuem para a
contaminação de plásticos recicláveis e dificulta a reciclagem, sendo sua utilização em
usinas de compostagem uma alternativa viável para sua destinação final. (ABIPLAST,
2018).
121
A biodigestão anaeróbia é vista como alternativa para o aproveitamento e gestão
da biomassa que visa o processo da degradação da matéria orgânica transformando em
subprodutos como o biogás e biofertilizante. (RUFINO, PAES & ALVES, 2018). O
biogás gerado no processo é composto por elevados teores de metano (50 - 70%), dióxido
de carbono (30 - 50%) e outros gases em menores quantidades como sulfeto de hidrogênio
(H2S), nitrogênio (N2), vapor de água (H2O), entre outros. (ANGELIDAKI et al., 2018).
O presente estudo teve por objetivo avaliar a produção de biogás por meio da
codigestão anaeróbia de biopolímero produzido de amido de mandioca em água residual
da suinocultura em reatores de operação em batelada em temperatura na fase mesofílica.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Substrato

O substrato foi constituído por biopolímero, inóculo e água residual de


suinocultura (ARS). O biopolímero foi produzido a partir de amido de mandioca. A água
residual de suinocultura e o inóculo foram coletados na Granja Colombari, localizada na
zona rural do município de Palotina.

2.2 Produção e caracterização do biopolímero

Com base na metodologia de Da Róz (2004), realizou-se a confecção do


biopolímero, que consiste na solubilização do amido em solvente e, após a solubilização
é depositado sobre uma superfície com molde desejado, contribuindo na evaporação do
solvente e obtendo a matriz polimérica. Na Tabela 1 é possível observar os constituintes
utilizados para a produção do biopolímero a base de amido de mandioca.

Tabela 1 – Itens e quantidades utilizadas na formulação do biopolímero.


Itens Quantidade
Amido de mandioca 40 g
Água destilada 500 mL
Glicerina 24 mL
Ácido clorídrico (HCl) 0,1 mol/L 2,4 mL
Hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 mol/L Até a neutralização
Fonte: Autores (2020).

O espectro morfológico do biopolímero foi caracterizado por meio da Microscopia


Eletrônica de Varredura (MEV) (FEI Quanta 440) e seus principais grupamentos
orgânicos por meio da Espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier
(FTIR) (Pelkin Elmer), com refletância total atenuada (ATR) na região de 4000 - 650 cm-
1
.

122
2.3 Planejamento Experimental

Realizaram-se adições diferenciadas de biopolímero de amido de mandioca sendo


estas 0 (branco); 1; 3; 5 e 7 %, obtidas por meio da relação de massa do biopolímero por
volume útil de reator, sendo denominadas de Branco, Ma1, Ma3, Ma5 e Ma7
respectivamente. Para cada nível de biopolímero foram realizadas triplicatas.

2.4 Reatores

Utilizaram-se quinze reatores verticais, com operação batelada, de PVC, com


medidas de 100 mm de diâmetro e 50 mm de comprimento (altura). Mantiveram-se os
reatores em uma incubadora com temperatura média de 35°C (±1,0°C).

2.5 Parâmetros avaliados nos reatores

O experimento teve um tempo de retenção hidráulica (TRH) de 25 dias. Para o


afluente avaliou-se o potencial hidrogeniônico (pH), sólidos totais (STT), sólidos totais
voláteis (STV) e sólidos totais fixos (STF), acidez volátil (AV), alcalinidade total (AT),
alcalinidade parcial (AP) e alcalinidade intermediaria (AI). Todas as análises realizadas
na entrada do reator também foram efetuadas em amostras coletadas na saída, tornando
possível o estudo, a comparação e a avaliação da eficiência. As técnicas empregadas nas
análises podem ser visualizadas na Tabela 2.

Tabela 2 – Parâmetros e técnicas empregadas no experimento.


Parâmetro Método N° do método Referência
pH Potenciométrico 4500 – H* APHA, 1995
Temperatura Leitura Direta - -
STT Gravimétrico 2540 - B APHA, 1995
STV, STF Gravimétrico 2540 - E APHA, 1995
AV, AT, AP e AI Volumétrico - SILVA, 1977
Metano Respirometria - AQUINO et al., 2007
Fonte: Autores (2020).

O biogás foi quantificado com o auxílio de quinze gasômetros confeccionados de


PVC imersos em uma solução de 25% (v/v) de cloreto de sódio e 3% (v/v) de ácido
sulfúrico, utilizada para evitar o escape do biogás e impedir a dissolução do dióxido de
carbono do biogás gerado. A partir do deslocamento vertical do gasômetro de PVC foi
possível determinar o volume ocupado pelo biogás. (LARSEN, 2009). A partir dos
valores de temperatura ambiente e considerando que o biogás é um gás ideal, foi
convertido esse volume para condições normais de temperatura e pressão (CNTP)
obtendo-se o valor final produzido de biogás (SOUZA et al., 2010). A quantificação de
metano e dióxido de carbono presente no biogás foi realizado por meio do AlfaKit ®, que
apresenta uma precisão de 2,5%. (ALFAKIT, 2020).

123
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização do biopolímero

3.1.1 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

Ao analisar a micrografia do biopolímero de amido de mandioca que está


apresentada na Figura 1, observa-se que a superfície do polímero é uniforme, homogênea,
não rugosa. Nota-se que não se tem a presença de grânulos de amido de mandioca,
indicando que a etapa de conversão do amido em biopolímero ocorreu completamente.

Figura 1 – Micrografia do biopolímero de amido de mandioca com aumento de 50 µm.

Ao analisar biopolímero de amido lipofílico e glicerina obtidos por meio da


extrusão termoplástica De Carvalho et al. (2010) conseguiu relatar estruturas similares as
encontradas no presente trabalho, evidenciando assim a morfologia característica de
polímeros a base de amido. Sendo assim, o biopolímero produzido no presente trabalho,
apresenta similaridade morfológica com o trabalho citado, assemelhando-se com
biopolímeros industriais.

3.1.2 Espectroscopia no infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR)

Com a utilização da espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier


foi possível interpretar o espectro do biopolímero, conforme a Figura 2.

124
Biopolímero de amido de mandioca

9000
Absorbância

6000

3000

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0


-1
Comprimento de onda (cm )

Figura 2 – Espectro na região do infravermelho do biopolímero de amido de mandioca

Na Figura 2, pode-se observar que os picos indicados são característicos de


biopolímero à base de amido. Para Arieta (2014), as principais regiões de comprimento
de onda para amido estão presentes em 1000 cm-1 que representa as vibrações de
estiramento C– O e relaciona-se com ésteres, grupos funcionais dos carboidratos, na
banda de 2900 cm-1 atribuída às vibrações assimétricas por estiramento das ligações C–
H de grupamentos metila (– CH3) e em 3200 cm-1 é a região de estiramento de O– H, que
pode ser relacionada à presença de álcoois, grupos fenólicos e água. Pushpadass, Marx
& Hanna (2008), ao estudarem os efeitos da temperatura de extrusão e plastificantes sobre
as propriedades físicas e funcionais de filmes de amido, encontraram valores de
comprimento de onda próximos a 2900 cm-1 para a deformação axial – CH, semelhante
ao presente trabalho.

3.1.3 Potencial Hidrogeniônico (pH), Alcalinidade e Acidez

Segundo Mao et al. (2015) o pH apresenta papel fundamental no processo da


biodigestão anaeróbia sendo seu valor ótimo entre 6,8 e 7,4. Ao observar a Tabela 3 é
possível verificar que os valores médios do pH do afluente e efluente são próximos a
neutralidade, contribuindo para o bom andamento da codigestão anaeróbia.

125
Tabela 3 – Dados médios do afluente e efluente de pH e relação (AV/AT).
Afluente Efluente
Tratamentos pH Relação (AV/AT) pH Relação (AV/AT)
Branco 6,92 (±0,55) 1,32(±0,70) 7,31 (±0,28) 0,40 (±0,12)
Ma1 7,00 (±0,62) 0,58 (±0,15) 7,52 (±0,05) 0,16 (±0,02)
Ma3 7,02 (±0,65) 0,53 (±0,21) 7,54 (±0,02) 0,15 (±0,03)
Ma5 7,00 (±0,65) 0,53 (±0,19) 7,53 (±0,03) 0,23 (±0,18)
Ma7 7,04 (±0,63) 0,56 (±0,08) 7,49 (±0,03) 0,19 (±0,06)
Fonte: Autores (2020).

A relação de ácidos graxos voláteis/alcalinidade total favorece o equilíbrio


dinâmico do reator, para que isso ocorra deve estar em torno de 0,5. (Leite et al., 2004).
Nota-se na Tabela 3 que os valores da relação AV/AT no afluente estão próximos a faixa
permitida, já para o efluente nota-se uma redução, indicando o bom equilíbrio dinâmico
durante o processo.

3.1.4 Produção acumulada e composição do biogás

Na Figura 3 está sendo apresentada a produção acumulada de biogás com a adição


de biopolímero de amido de mandioca em mL/dia, em diferentes porções. Nota-se que o
tratamento com maior produção de biogás foi o Ma7 com adição de 7% de biopolímero
de amido de mandioca, com produção acumulada de 5528,48 mL. Comparando este dado
com o tratamento Branco, sem a adição de biopolímero, pode-se observar que a adição
de 7% de biopolímero de amido de mandioca, contribuiu para um aumento de 18,42% na
produção de biogás.

6000

5500 Branco
5000 Ma1
Ma3
4500 Ma5
Ma7
4000
Biogás (mL)

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Tempo (dias)
Figura 3 - Produção acumulada de biogás com adição de biopolímero de amido de
mandioca.
126
O tratamento que obteve a menor produção acumulada de biogás foi o Ma1 com
um total de 2660,21 mL e média diária de 106,41 mL.
No biogás gerado, a maior composição de metano em sua composição foi obtida
no tratamento Ma7, apresentando 94,33% de metano e 5,66% de dióxido de carbono. O
tratamento Branco, foi o tratamento que apresentou menor composição de metano em sua
composição, com valor igual a 92,66% e 7,34% de dióxido de carbono.
Cho et al. (2011), ao degradar um biopolímero composto pela mistura de
Policaprolactona (PCL) e amido em condições anaeróbicas, obteve composição de
metano igual a 83% em 139 dias.

3.1.5 Remoção de sólidos

Estão dispostos na Tabela 4 os dados referentes à remoção de sólidos, sendo o


tratamento Ma7 com maior eficiência de remoção com valor de 48,82% dos sólidos totais,
21,20% de sólidos fixos e 62,05% de sólidos voláteis. Já o tratamento Ma1 apresentou os
menores valores com uma remoção de 42,54% dos sólidos totais, 19,72% de sólidos fixos
e 54,94% de sólidos voláteis.

Tabela 4 – Remoção de sólidos totais (STT), sólidos totais fixos (STF) e sólidos totais
voláteis (STV).
Tratamentos STT (%) STF (%) STV (%)
Branco 67,70 60,09 71,93
Ma1 42,54 19,72 54,94
Ma3 45,30 15,26 58,18
Ma5 48,60 20,02 61,68
Ma7 48,82 21,21 62,04
Fonte: Autores (2020).

Cremonez et al. (2019) ao avaliarem a influência da relação inóculo/substrato na


digestão anaeróbia de polímero de amido de mandioca (CSP; amido de aproximadamente
95% na composição), encontraram eficiências de remoção de STT próximos a 72% para
relações de inóculo/substrato de 0,04, em tempo de retenção hidráulica de 32 dias.

4. CONCLUSÃO

A adição de biopolímero que apresentou os melhores resultados foi o tratamento


Ma7 com valores de 5528,48 mL para produção de biogás acumulada, 94,33% de metano
e 5,66% de dióxido de carbono na composição do biogás e, remoções de 48,82%, 21,21%
e 62,04% de sólidos totais, sólidos totais fixos e sólidos totais voláteis, respectivamente.
Empregar o biopolímero de amido de mandioca no processo da codigestão
anaeróbia é uma alternativa favorável para o seu destino final, contribuindo para a não
contaminação dos plásticos comuns e favorecendo o aumento da produção de biogás.

127
REFERÊNCIAS

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129
COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE
OURICURI (Syagrus coronata) PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Thailys Campos Magalhães1, Ana Carolina de Santana Moura1, Miryam Torres dos
Santos Cunha1, Luana Laís da Silva Freire1, Tertuliano Ferreira Moreno 1, Jéssica
Malaquias da Silva1
1
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
E-mail: tertuliano.f.m@gmail.com

RESUMO: O ouricuri (Syagrus coronata) é um fruto abundante na região Nordeste do


Brasil, possui uma árvore resistente, perene e sua amêndoa apresenta elevado teor de óleo.
Deste modo, apresenta-se como uma excelente matéria-prima para produção de biodiesel,
uma alternativa renovável aos combustíveis fósseis. Este trabalho teve como objetivo a
extração de óleo vegetal do ouricuri, avaliando a quantidade de óleo extraído, assim
como, o comparativo quanto à eficiência dos métodos de extração empregados. Adotou-
se a seguinte metodologia: Os frutos foram colocados em caldeira para cozimento e
secados em estufa, a polpa do ouricuri foi separada manualmente da casca, sendo
divididas em duas amostras, a primeira foi destinada a prensagem hidráulica em batelada
e na segunda foi realizado o processo de extração por solvente, utilizando o extrator
soxhlet. Quando foi iniciado o processo de extração na prensa hidráulica, ao exercer força
constante na oleaginosa, foi possível verificar que a extração do óleo ocorreu de imediato
e a quantidade de óleo sendo extraído foi aumentando ao longo do tempo. Na extração
por solvente foi observado uma maior porcentagem de óleo extraído da mesma
oleaginosa. Portanto, pelo método da prensa hidráulica foi possível observar uma rápida
extração de óleo, após exercida força sobre a amostra e já no método da extração por
solvente, notou-se maior eficiência na extração de óleo da amostra, ele é feito de modo
controlado onde é necessário a escolha adequada do solvente para que possua afinidade
com a matéria-prima.
Palavras-chave: Teor de óleo, Renovável, Biocombustível, Extração.

130
COMPARISON BETWEEN METHODS OF EXTRACTION OF OURICURI
(Syagrus coronata) OIL FOR BIODIESEL PRODUCTION

Abstract: Ouricuri (Syagrus coronata) is an abundant fruit in the Northeast of Brazil, has
a resistant, evergreen tree and its almond has a high oil content. In this way, it presents
itself as an excellent raw material for the production of biodiesel, a renewable alternative
to fossil fuels. This work aimed to extract vegetable oil from ouricuri, evaluating the
amount of oil extracted, as well as comparing the efficiency of the extraction methods
used. The following methodology was adopted: The fruits were placed in a boiler for
cooking and dried in an oven, the pulp of the ouricuri was manually separated from the
peel, being divided into two samples, the first was destined to hydraulic pressing in batch
and in the second, it was carried out the solvent extraction process, using the Soxhlet
extractor. When the extraction process started in the hydraulic press, by exerting constant
force on the oilseed, it was possible to verify that the oil extraction occurred immediately
and the amount of oil being extracted increased over time. In solvent extraction, a higher
percentage of oil extracted from the same oilseed was observed. Therefore, using the
hydraulic press method, it was possible to observe a rapid oil extraction, after exerting
force on the sample and already in the solvent extraction method, it was noticed greater
efficiency in extracting oil from the sample, it is done in a controlled manner where it is
necessary to choose the appropriate solvent so that it has an affinity with the raw material.
Keywords: Oil content, Renewable, Biofuel, Extraction.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, com o aumento contínuo da crise energética e a procura por novas


fontes de energia, o alto custo do petróleo e as crescentes preocupações sobre as mudanças
climáticas, provocaram uma série de iniciativas de governos de todo o mundo para
aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis, reduzindo o uso de
combustíveis fósseis. Nesse contexto, novas fontes alternativas precisam ser exploradas
para atender a demanda energética ao mesmo tempo em que reduz os prejuízos ao meio
ambiente.
Uma solução viável é a exploração da biomassa para geração de biocombustíveis,
em especial o estudo de oleaginosas visando a fabricação de biodiesel. Segundo a ANP
(2012) o biodiesel é definido como um combustível utilizado para motores a combustão
interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável, derivado de qualquer
matéria orgânica que pode ser produzido a partir de gorduras animais, óleos vegetais e
resíduos oleosos. Esse combustível pode ser usado puro ou como aditivo ao diesel de
petróleo em motores do ciclo diesel, e apresenta uma série de vantagens ambientais, por
ser renovável.
Muitos frutos possuem alto teor de óleo em sua composição que pode ser utilizado
como fonte renovável de energia. Assim, o ouricuri (Syagrus coronata) ou também
conhecida por licuri, ganha destaque por ser um fruto explorável e apresentar elevado teor
de óleo. É encontrado, principalmente, na região Nordeste do Brasil, especialmente na
região semiárida, sua árvore é resistente e perene, essa palmeira pode alcançar onze
metros de altura. A amêndoa do ouricuri apresenta elevado teor de óleo, cerca de 49,2%

131
de óleo em sua composição, podendo variar por safra, espécie e região (CREPALDI et
al., 2001).
Na Figura 1 é possível observar as partes estruturais do ouricuri, que são,
epiderme, mesocarpo, endocarpo e albúmen. A superfície externa é conhecida como
epiderme; o mesocarpo é conhecido como a polpa do fruto, possui aspecto de palha e
coloração acastanhada, a casca é conhecida como o endocarpo, que tem como função
proteger o albúmen e possui aspecto duro e o albúmen é chamada como a carne do fruto
e tem a coloração branca (SANTOS, 2015).

Figura 1 – Partes estruturais da amêndoa do ouricuri.

O óleo encontra-se na forma de glóbulos nas plantas oleaginosas e a extração tem


por objetivo a quebra das membranas celulares permitindo a saída do óleo. Paraíso (2001)
divide os métodos de extração em mecânica, por solvente e mista, utilizando os dois
métodos em conjunto.
O método mecânico é o mais popular, é utilizado em sementes ou amêndoas que
possuem de 30 a 50% de óleo. Neste processo, a amêndoa é submetida a forças de
compressão, a extração pode ser realizada em prensas contínuas, chamadas de “expeller”,
ou processos descontínuos em prensas hidráulicas. É o método mais econômico,
entretanto apresenta o menor rendimento, visto que a extração não é completa e a torta
que foi obtida ainda apresenta óleo residual. (CARVALHO, 2011).
O método de extração por solvente ou extração sólido-líquido, a técnica consiste
em colocar a matéria-prima em contato com o solvente para realizar a “lavagem” das
células de óleo, realizando assim a extração. A extração ocorre na superfície, onde ocorre
a dissolução e dentro das células, onde é extraído por difusão, este ocorre de maneira
lenta. Após a extração, é necessário a etapa de recuperação do solvente, onde a solução
resultando, conhecida como miscela (mistura de óleo e solvente) é encaminhada para um
destilador. (SOAREZ, 2006).
O presente estudo tem por objetivo analisar o teor de óleo extraído do ouricuri
através dos métodos de extração por prensagem hidráulica e por solvente.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado no Laboratório de Sistemas de Separação e Otimização de


Processos (LASSOP), localizado no Centro de Tecnologia da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Os frutos do ouricuri foram coletadas no Campus de Engenharias de
Ciências Agrárias da UFAL

132
Inicialmente ocorreu a preparação matéria-prima a qual seria extraída o óleo
vegetal (Ouricuri). Para a retirada da polpa, o ouricuri foi colocado para cozimento na
autoclave a 120°C, em seguida a amostra foi levada para o despolpador para retirar a parte
que envolve a amêndoa. Após esse processo o material foi colocado em estufa para
secagem em temperatura média de 65°C durante vinte e quatro horas, para facilitar a
separação da casca. A fragmentação do endocarpo ocorreu com a ajuda do equipamento
quebra-coco, sendo responsável pela trituração do ouricuri. O albúmen foi retirado
manualmente com a ajuda de uma espátula (Figura 2), após esse processo o albúmen
retirado foi pesado.

Figura 2 – Ouricuri após processo inicial de cozimento e estufa para secagem.

Para a extração mecânica, foram pesados 68,4 g de matéria-prima e transferiu-se


a amostra para a prensa hidráulica (Figura 3), onde foi exercida sobre a massa uma
pressão constante, na sua saída foi colocado uma balança para fazer o acompanhamento
da quantidade de óleo extraído em relação ao tempo. Devido a força exercida houve uma
separação em torta, que após a extração pode ser utilizada para diversos fins, e o óleo,
este por sua vez continuará no processo de produção de biodiesel. Anotaram-se os
resultados para a aquisição da massa de óleo extraída. As amostras foram submetidas a
uma pressão manual e constantes de 12 e 15 toneladas respectivamente.

Figura 3 – Amostra sendo transferida para a prensa hidráulica.


133
Em seguida foi realizada a extração por solvente utilizando o extrator Soxhlet. Foi
feito previamente os mesmos processos iniciais da extração na prensa hidráulica. Após a
separação da polpa, as amostras foram maceradas afim de aumentar a superfície de
contato com o solvente e foram colocadas em envelopes feitos de papel filtro para serem
alocadas no extrator Soxhlet.
O mesmo processo ocorreu com a torta anteriormente prensada, onde a amostra
foi macerada e colocada no extrator (Figura 4). Foi adicionado 200 ml de álcool etílico
que foi utilizado como solvente no processo e foi então iniciado o processo de extração
por um período de 1 hora. Após a extração, os envelopes foram colocados na estufa a
65°C por um período de 24 horas e foram pesados

Figura 4 – Amostras no extrator Soxhlet.

Após a extração, os envelopes foram colocados na estufa a 65°C por um período


de 24 horas e foram pesados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quando foi iniciado o processo de extração, ao exercer força constante na


oleaginosa notou-se que a extração do óleo aconteceu de imediato, a quantidade de óleo
sendo extraída foi aumentando ao longo do tempo até parar de sair óleo da polpa do
Ouricuri, como pode ser visto na Figura 5.

134
Figura 5 – Óleo de ouricuri sendo extraído na prensa hidráulica.

No início da extração tinha 68,4g oleaginosa, após a extração foram pesados em


balança analítica o óleo e a torta, foram obtidos 39g de torta e 25g de óleo vegetal,
totalizando em 36,6% de óleo vegetal que estava no Ouricuri. Na figura 6, é possível
observar a pesagem da torta (esquerdo) e óleo (direito).

Figura 6 – Torta obtida (esquerdo) e óleo extraído da polpa (direito)

135
Pode-se ver com detalhes na Tabela 1 a quantidade de óleo extraída por segundo.

Tabela 1 – Estudo da massa de óleo em relação ao tempo e pressão.


Pesagem Pressão Tempo (s) Massa de óleo (g)
1 12 1,30 20,2
2 12 0,43 20,9
3 15 2,20 22,7
4 15 1,33 23,6
5 >15 -------- 25

Não foram contabilizados 4,4g como óleo extraído nem como polpa isso se deve
as perdas que ocorreram no processo, visto que não foi transferido o óleo que ficou na
máquina para o Becker onde estava sendo usado, assim como outras interferências no
processo.
Na extração com solvente, foram pesados os envelopes com as amostras, antes e
após a extração, para a realização do cálculo do quantitativo de óleo extraído, como
mostra a Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados da extração por solvente utilizando o etanol.


Massa inicial Massa final Massa de óleo
Amostra Teor de óleo
(g) (g) (g)

Envelope 1
5,3479 3,7355 1,6124 30,15%
(polpa seca)
Envelope 2
4,0220 3,7681 0,9643 6,31%
(torta)

Para a amostra seca (envelope 1) o teor de óleo resultante foi de 30,15%, revelando
que esse método não obteve o teor de óleo que o ouricuri possui, em média 49,2%. A
baixa eficiência do processo revela que são necessárias alterações nas variáveis de
processo, o que inclui maior tempo de residência no extrator, ou seja, maior intervalo de
tempo, variação do solvente, análise de umidade e granulometria, já que granulometrias
altas irão interferir negativamente no processo, quanto menor a granulometria maior o
rendimento, pois a interação é maior.
A amostra do envelope 2 (torta prensada), obteve 6,31% de óleo extraído,
mostrando que a prensagem mecânica não é capaz de retirar a quantidade máxima de óleo
do albúmen do ouricuri. Os processos combinados, solvente e mecânico, obtiveram
42,91% de extração de óleo, revelando ser o método mais eficiente na extração do óleo.

4. CONCLUSÃO

O estudo da extração de óleo de novas fontes de matérias-primas visando a


produção de biocombustíveis faz-se primordial para a diversificação da matriz energética
nacional. O ouricuri é adaptável a diferentes climas e possui fácil plantio e manejo, possui
136
alto teor de óleo em sua composição se comparado com outras oleaginosas comuns como
o girassol, mamona e soja. Apresentando-se como excelente alternativa para produção de
biodiesel oriundo do óleo de ouricuri.
Pelo método da prensa foi possível observar uma rápida extração após exercida
força sobre a amostra, resultou em 36,6% de óleo, teor relativamente bom, pois sua
eficiência é baixa. No método da extração por solvente, é feito de modo controlado onde
é necessário a escolha adequada do solvente que possua afinidade com a matéria, o teor
de óleo extraído foi abaixo do esperado. As variáveis do processo de extração (tipo de
solvente, tempo de residência, umidade, granulometria) devem ser alteradas afim de
realizar a otimização da extração.
Os dois processos utilizados são eficazes quanto a extração, é preciso estudar a
matéria prima e os principais interferentes para a escolha adequada do método. Quando
combinado a extração mecânica com a química (por solvente), o teor de óleo extraído
aumentou para 42,91%. O método combinado conseguiu retirar da torta o óleo residual
resultante da prensagem, aumentando a eficiência da extração.
Os resíduos gerados pelos processos, como a torta ou a casca, podem ser utilizados
para diversos fins, alimentícios, farmacêuticos, construção civil, indústrias, sendo um
processo benéfico e sustentável para a natureza.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP).


Biocombustíveis. 2012. Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/?pg=60467&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&os=&cachebust=1406767
624892>. Acessado em: 28/10/2018.

CARVALHO, C. O. Comparação entre métodos de extração do óleo de Mauritia flexuosa L.f.


(Arecaceae - buriti) para o uso sustentável na reserva de desenvolvimento tupé: rendimento e
atividade antimicrobiana. 2011. 109f. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia e Recursos
Naturais) - Escola Superior de Ciência da Saúde, Universidade do Estado do Amazonas,
Manaus – AM, 2011.

CREPALDI, I.C.; ALMEIDA-MURADIAN, L. B.; RIOS, M. D. G.; PENTEADO, M. V. C.;


SALATINO, A. Composição Nutricional do fruto de licuri (Syagrus coronata (Martins)
Beccari). Rev. Bras. Bot., São Paulo, v.24, n.2, p.155-159, jun, 2001.

PARAÍSO, P. R.. Modelagem e Análise do Processo de Obtenção do Óleo de Soja. 2001. 220f.
Tese (Doutorado em Engenharia Química) - Faculdade de Engenharia Química (FEQ),
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas – SP, 2001.

SANTOS, L. T. S. Estudo das potencialidades do fruto do ouricuri. 2015. 83f. Dissertação


(Mestrado em Engenharia Química) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Alagoas,
Maceió – AL, 2015.

SOAREZ, P.A.Z. – Produção de Biodiesel na Fazenda. Centro de Produções Técnicas – CPT.


Viçosa. Serie Agroindústria, 2006. P.220.

137
CONSTRUÇÃO DE UMA USINA DE BAIXO CUSTO PARA FABRICAÇÃO DE
BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL DE FRITURA

Alex Aguiar da Silva1, Paulo Alberto Bezerra da Silva1, Fabrício Batista dos Santos1,
Gabriel dos Santos Cansanção 1
1
Instituto Federal de Alagoas
E-mail: alex.aguiar@ifal.edu.br

RESUMO: O crescente aumento populacional atrelado ao consumo exponencial de


energia no mundo, vem trazendo consigo sérios problemas e danos ambientais severos e
intensos. Atrelado a esse dramático cenário, o descarte incorreto de resíduos líquidos
domiciliares, como óleos residuais, vem intensificando a agressão antropogênica ao meio
ambiente. Nessa perspectiva, esse trabalho tem como objetivo demonstrar a fabricação de
uma usina de baixo custo, com valor médio de R$ 3.500,00, com capacidade de produção
de 200 L por batelada de biodiesel via transesterificação com catálise básica tendo como
principal insumo a utilização de óleo residual, o que torna o projeto ainda mais atrativo.
A usina é composta basicamente por dois tanques de polipropileno com capacidade de
250 L cada; motor elétrico de 3CV; bomba de 1,5 CV; tubos de PVC de 32mm, válvulas
globo e uniões soldáveis de PVC. A mesma foi montada e testada em operação com água
a fim de verificar a estanqueidade do sistema e a capacidade do conjunto em operar
conforme o projetado, obtendo êxito em todos os testes. Por fim, pôde-se concluir que a
usina de biodiesel de baixo custo que foi projetada e construída é uma opção atraente para
produção desse biocombustível e competitiva no mercado.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Biocombustíveis, Energia.

CONSTRUCTION OF A LOW COST POWER PLANT FOR THE


MANUFACTURE OF BIODIESEL FROM RESIDUAL FRYING OIL

Abstract: The growing population increase, linked to the exponential consumption of


energy in the world, has brought with it serious problems and severe and intense
environmental damage. Linked to this dramatic scenario, the incorrect disposal of liquid
household waste, such as residual oils, has intensified anthropogenic aggression to the
environment. In this perspective, this work aims to demonstrate the manufacture of a low-
cost plant, with an average value of R$ 3,500.00, with a production capacity of 200L per
batch of biodiesel via transesterification with basic catalysis having as main input the use
of residual oil, which makes the project even more attractive. The plant is basically
composed of two polypropylene tanks with a capacity of 250 L each; 3CV electric motor;
1.5 CV pump; 32mm PVC tubes, globe valves and PVC weldable fittings. It was
assembled and tested in operation with water in order to check the tightness of the system
and the ability of the assembly to operate as designed, achieving success in all tests.
Finally, it was concluded that the low cost biodiesel plant that was designed and built is
an attractive option for the production of this biofuel and competitive in the market.
Keywords: Sustainability, Biofuels, Energy.

138
1. INTRODUÇÃO

O aumento populacional somado à crescente demanda energética tem se tornado


cada vez mais intenso de forma que os combustíveis não renováveis não vêm suprindo
tal necessidade, pois a velocidade com que vem sendo consumido é maior do que o ritmo
de sua produção (GARCIA, 2006). No entanto, o petróleo e seus derivados constituem
ainda como a maior oferta interna de energia no país (99,3 Mtep) e somado a isso, o setor
que mais consome energia é o de transportes, responsável pelo uso de 32,7% da energia
nacional (BRASIL, 2019). Sob este cenário entende-se que o modelo energético que o
país vem adotando, ainda baseado fortemente no petróleo e seus derivados, dá fortes
sinais de esgotamento e de uma necessidade urgente de reestruturação, adequando-se as
novas formas de energias sustentáveis.
No que diz respeito às questões ambientais, a emissão de Gás Carbônico (𝐶𝑂2 )
tem alta relevância no cenário mundial, por ser o gás tradicionalmente conhecido como
produto da combustão de combustíveis fósseis e um dos principais catalizadores do efeito
estufa. O relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alertou que é
preciso reduzir em 7,6% a emissão de gases de efeito estufa no período entre 2020 e 2030
para evitar uma catástrofe climática e efeitos devastadores (UNEP, 2019).
Assim sendo, combustíveis alternativos não provenientes de fontes não
renováveis constituem uma solução plausível para solução dos problemas elencados.
Dentre os vários tipos de combustíveis, o biodiesel (cujo prefixo “bio” refere-se a
natureza renovável e biológica desse combustível) vem obtendo destaque no cenário
energético nacional e um crescimento relevante nos últimos anos. De 2008 à 2018, o
consumo final de biodiesel no Brasil cresceu 461%, atingindo a marca de 5,4𝑥106 𝑚3
(BRASIL, 2019). Vale ressaltar também que o biodiesel reduz, de 78 a 100%, gases do
efeito estufa e 100% de compostos sulfurados e aromáticos (SILVA, 2008).
Um dos processos utilizados para fabricação do biodiesel é a transesterificação,
onde utiliza-se um óleo e um álcool de cadeia curta para formar o biodiesel e glicerol.
Para tal, necessita-se também de uma unidade de processamento denominada usina de
biodiesel, onde toda a reação química de transesterificação acontece. Para tornar a
produção desse biocombustível ainda mais viável, pode-se optar por utilizar o óleo de
fritura usado pois, além de dar uma finalidade útil a esse resíduo, evita que o mesmo seja
descartado em local impróprio e contamine rios e mares, de forma que, para cada 1 L de
óleo descartado incorretamente, o mesmo tem potencial para contaminar 1000 tanques de
500 L de água (FAJARDO; GUERRERO-ROMERO; SIERRA, 2011).
Como na maior parte dos processos industriais, os maquinários responsáveis pelo
processamento da matéria prima e confecção do produto final constitui um dos itens mais
dispendiosos. Assim sendo, este trabalho tem como objetivo principal a construção de
uma usina de médio porte e baixo custo de produção com capacidade de processar 200L
de biodiesel por batelada oriundo de óleo residual de cozinha para obtenção final de
biodiesel (B100) e glicerol, de forma a tornar sua comercialização ainda mais rentável
quando comparado a combustíveis fósseis.

139
2. MATERIAIS E MÉTODOS

Antes de projetar a usina para produção de biodiesel de óleo residual, necessitou-


se saber quais insumos especificamente seriam utilizados assim como seus devidos
quantitativos, definindo assim os parâmetros reacionais envolvidos no processo. Com
isso, pôde-se definir também os materiais que irão compor a usina assim como os
dispositivos mecânicos para conferir-lhe melhor desempenho. A usina ainda não foi
testada para produção de biodiesel, mas a especificação detalhada do processo é premissa
fundamental para sucesso do projeto.
Na reação de transesterificação tem-se óleo, que no caso, considerou-se o óleo
residual oriundo de fritura, e um álcool que foi o metanol tendo em vista que é o álcool
de menor cadeia, o que garante uma eficiência reacional melhor possível, menor consumo
de energia elétrica, menor volume de equipamentos e menor custo de produção, o que
justifica sua predominância nesse processo reacional (DANTAS, 2016; WANG;
PENGZHAN LIU; ZHANG, 2007). Também foi considerado a utilização do Hidróxido
de Sódio (NaOH) como catalizador e, em casos onde o óleo necessite de alguma correção
de acidez (acima de 3% expresso em mg de KOH/g de amostra), será necessário utilizar
Ácido Sulfúrico (𝐻2 𝑆𝑂4 ).
O metanol deve ser utilizado na proporção molar em relação ao óleo de fritura de
9:1; o NaOH deve ser 0,73% da massa de óleo e tudo isso submetido a uma temperatura
de 65ºC durante 45 minutos para assim conseguir uma eficiência média reacional de
92,8% (ATAPOUR; KARIMINIA; MOSLEHABADI, 2014; DOMINGOS, 2010).
Sendo o óleo residual um subproduto do processo de cocção, o mesmo pode apresentar
características não desejáveis que pode promover a diminuição da produção de biodiesel,
sendo a mais influente a acidez desse óleo. Nos casos em que este índice esteja acima de
3% deve-se pré-tratar esse óleo submetendo-o a uma reação de esterificação utilizando
0,68% em peso de 𝐻2 𝑆𝑂4 no óleo residual acrescido de uma razão metanol/óleo de 6,1:1
e aquecer essa mistura a uma temperatura de 51ºC por 60 minutos
(CHAROENCHAITRAKOOL; THIENMETHANGKOON, 2011). Após verificar
novamente o índice de acidez do óleo e constatar que o mesmo não ultrapassa os 3%,
deve-se proceder com as etapas inicialmente relatadas nesse parágrafo. O uso de 𝐻2 𝑆𝑂4
na esterificação deve-se ao fato do mesmo absorver a água gerada neste processo,
garantindo assim um maior rendimento reacional (LORA; VENTURINI, 2012).
Dadas as características reacionais, a usina foi pensada de modo a conter dois
reatores: um de pré-tratamento do óleo e o outro para realizar a reação de
transesterificação. Para promover uma melhor visualização do projeto da usina e seus
componentes, utilizou-se o software AutoCAD 2020 licenciado para docentes. A Figura
1 ilustra o projeto realizado no AutoCAD seguido da Tabela 1 que ilustra seus itens
devidamente enumerados.

140
Figura 1 – Projeto em AutoCAD da Usina para produção de biodiesel a partir de óleo
residual

Tabela 1 – Legenda da Figura 1


Item Denominação Quantidade
1 Tubulação de PVC de 32mm -
2 Bombona de 200 L 2
3 Motor elétrico de 1CV 1
4 Joelhos de PVC de 32mm 6
5 Resistências Térmicas 4
6 Bomba Centrífuga de 1,5 CV 1
7 Válvula esfera PVC de 32mm 6
8 Bombona de 20 L 1
9 Pá giratória 1
10 Peneira de aço inox 1
11 Conexão T de PVC de 32 mm 1
12 União Soldável PVC 32 mm 3
13 Acoplamento 1
14 Luva de deslizamento 32mm 1
Fonte: Autor (2020).
O Reator 1 (item 2) tem como principal função receber o óleo residual filtrado
pela peneira de aço inox ou similar (item 10) e trata-lo. Esse processo de filtragem tem
como principal função retirar particulados sólidos oriundos da cocção de alimentos. Uma
amostra do óleo deve ser retirada pela válvula V1 a fim de verificar o índice de acidez
desse óleo. Caso esteja abaixo de 3%, este óleo será aquecido gradualmente pelos
resistores térmicos (item 5) até atingir a temperatura de 65ºC. A pá giratória (item 9) tem
como objetivo garantir a homogeneidade térmica do óleo e a mesma funciona interligada
ao motor elétrico (item 3).
Em situações onde o índice de acidez desse óleo esteja acima de 3%, deve-se
corrigi-lo adicionando 𝐻2 𝑆𝑂4 e metanol nas proporções de 0,68% em peso de óleo e razão
de metanol/óleo de 6,1:1, respectivamente, e misturar com auxílio da pá giratória. Logo

141
após a acidez do óleo cair para valores abaixo de 3%, procede-se com aquecimento de
65ºC.
Com o óleo corrigido e em temperatura ideal para promover a transesterificação,
abrem-se as válvulas V6 e V2 e, logo após, liga-se a bomba centrífuga (item 6) até que o
óleo seja totalmente transportado do Reator 1 para o Reator 2. Neste novo reator, o óleo
permanece aquecido à 65ºC e a válvula V5 conectada ao tanque de metóxido (Metanol +
NaOH) abre-se, despejando essa mistura no Reator 2. Nesse momento fecha-se a válvula
V2, abre-se a válvula V3 e liga-se a bomba centrífuga para promover a mistura do
metóxido com o óleo pré-tratado através de uma recirculação, onde a mistura sai pela
parte inferior do Reator 2, passa pela bomba e retorna pela parte superior do mesmo. Esse
procedimento deve durar 45 minutos e após isso a mistura deve descansar por 4 horas
(ATAPOUR; KARIMINIA; MOSLEHABADI, 2014; DOMINGOS, 2010; LORA;
VENTURINI, 2012).
Deve-se obter ao final da reação: glicerol na parte inferior do Reator 2 e biodiesel
na parte superior. Deve-se drenar esses dois produtos através da válvula V4. Para se obter
uma maior eficiência na operacionalização do biodiesel e um melhor aproveitamento da
mão de obra do operador, quando o óleo for transportado do Reator 1 para o Reator 2,
deve-se abrir a União Soldável US3 e desengatar o acoplamento que liga o motor elétrico
à pá giratória (item 13) para retirar o Reator 1 e lavá-lo a fim de estar apropriado para
receber a próxima batelada de óleo. Já o Reator 2 é desmontado abrindo-se a união
soldável US1 e desencaixando a tubulação superior. Para o caso de necessitar efetuar
alguma manutenção na bomba centrífuga, basta desencaixar a Luva de Deslizamento
(item 14) e a União Soldável US2.
O tanque de metóxido não precisa estar necessariamente encaixado na parte
superior do Reator 2. O mesmo pode ficar guardado e, quando necessário, basta adicionar
na parte superior deste reator manualmente, mas com máscaras de proteção tendo em
vista que esse metóxido tem uma elevada toxicidade (GARCIA, 2006).
Silva (2019) avaliou economicamente uma usina para produção de biodiesel a
partir de óleo residual no município de Maceió, cujo valor comercial desta usina foi de
R$ 25.000,00. Para esta avaliação, utilizou-se dos seguintes parâmetros: Payback
Descontado, Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno e Índice de Rentabilidade
os quais retornaram os seguintes valores: 4,21 anos, R$ 17.333,33, 10,75% e 1,16
respectivamente. Sob tais condições concluiu a total aceitabilidade do projeto. Além do
mais, o autor considerou o seguinte cenário: óleo residual obtido sempre por meio de
compra nos estabelecimentos comerciais e utilização de pré-tratamento ácido, onde
necessita de mais metanol na reação. Utilizando-se da mesma memória de cálculo de
Silva (2019) e considerando os mesmos gastos mensais (manutenção, transporte,
impostos e folha de pagamento de pessoal), a usina de baixo custo apresentada neste
trabalho confere um tempo de retorno de investimento de 5 meses em uma visão
pessimista, podendo chegar a até 2 meses em um cenário mais otimista.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mediante a conclusão do projeto da usina de biodiesel, foi iniciada a fabricação


do mesmo. A Figura 2 ilustra como ficou a usina após a execução do projeto.

142
Figura 2 - Usina para fabricação de biodiesel de baixo custo

Devido a alguns testes, pequenos ajustes foram feitos, porém, nada fugiu do
essencial contido no projeto em AutoCAD (Figura 1). O motor elétrico que fica logo
abaixo do Reator 1 foi preso por um suporte metálico à estrutura que sustenta esse reator,
pois para vencer a inércia o mesmo necessitaria estar preso em algo, inclusive para evitar
vibrações desnecessárias. O tanque de metóxido assim como a válvula V5 não aparecem
na Figura 2, pois, como foi mencionado, o mesmo não necessita fazer parte do conjunto.
Isso evita que a usina fique mais cara, dispensando estruturas desnecessárias, de forma
que sua aparição no projeto em AutoCAD serve para ilustrar sua funcionalidade e
promover um melhor entendimento do processo operacional.
O Acoplamento (item 13) foi confeccionado no próprio laboratório de Mecânica
do Instituto Federal de Alagoas, campus Coruripe, de forma a cumprir sua funcionalidade
e garantir uma ejeção simplificada do Reator 1 para lavagem quando todo o volume de
óleo de fritura for pré-tratado e transferido para o Reator 2. A Figura 3 ilustra o
acoplamento, assim como a válvula V6 e a União Soldável US3.

143
Figura 3 - Acoplamento da Usina de Biodiesel que interliga o motor elétrico à pá
giratória do Reator 1

As pás giratórias (item 9) do Reator 1 foram confeccionadas em chapa de aço


carbono e um fuso de 1/2” e submetidas a um processo de soldagem. A mesma foi fixada
com auxílio de um cano e dois flanges roscados, ambos em PVC de 32mm, com dois
mancais de rolamentos, um em cada extremidade, para facilitar o efeito de rotação das
pás e minimizar o atrito. A Figura 4 ilustra o resultado final desse item. É possível
observar também na Figura 4 a saída para retirada da amostra de óleo e a outra saída que
interliga a válvula V6, levando o óleo até a bomba centrífuga (item 6).

Figura 4 - Pá giratória do Reator 1

144
Todo o conjunto foi testado com água e pôde-se constatar a total estanqueidade
do sistema assim como o pleno funcionamento dos mecanismos de transporte, como
tubulações, válvulas, bombas e juntas. Além do mais, pôde-se constatar também que uma
rotação das pás giratórias de 60 RPM é suficiente para garantir uma boa agitação do
sistema. Em reatores tradicionais, a rotação de pás giratórias variam entre 300 e 600 RPM
(LORA; VENTURINI, 2012). Testes futuros utilizando óleo residual serão feitos a fim
de levantar dados relativos à confiabilidade e mantenabilidade desse protótipo, conforme
norma técnica NBR 5462:1994.

4. CONCLUSÃO

Levando em consideração o potencial agressor ao meio ambiente que o óleo


residual oriundo de fritura possui, assim como os gases resultantes da queima de
combustíveis fósseis, o biodiesel de óleo de fritura constitui uma solução plausível para
minimizar esses transtornos e, com isso, a usina de biodiesel ganha total relevância no
cenário energético e ambiental, não só em escala local, mas no mundo.
Ao fim desse trabalho, pôde-se constatar o sucesso na obtenção de uma usina de
baixo custo para processar óleo de fritura e fabricar biodiesel e glicerol de forma eficiente
e sustentável. A planta foi testada com água para verificar a estanqueidade do sistema e a
capacidade do conjunto de operar conforme projetado, obtendo êxito em todos os testes.
Dessa forma, é totalmente viável investir maciçamente em usinas de baixo custo e elevada
produtividade, de forma que corrobora para a continuidade produtiva desse
biocombustível com competitividade econômica comparado aos combustíveis fósseis
além de ajudar a sanar a demanda crescente por biodiesel no país que vem se mostrando
ano após ano.
Em testes futuros, serão produzidas bateladas de biodiesel e glicerol a fim de
otimizar ainda mais o processo produtivo assim como o próprio projeto da usina,
deixando-a ainda mais competitiva no mercado. Ao fim da montagem desse primeiro
protótipo foram investidos aproximadamente R$ 3.500,00 sem mão de obra, e a usina tem
capacidade máxima de produzir até 200L de biodiesel por batelada, de forma que,
processando uma batelada por dia, o retorno do investimento aconteceria em menos de
um ano. As peças do projeto são totalmente intercambiáveis e substituíveis.
Assim sendo, percebe-se que este projeto soma a tantos outros que colaboram para
um desenvolvimento sustentável do país e do mundo, atentando para a diversificação
energética e conservação do meio ambiente, além de gerar novos nichos de mercado,
promovendo emprego e renda para a sociedade.

REFERÊNCIAS

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production by alkali-catalyzed transesterification of used frying oil. Process Safety and
Environmental Protection, v. 92, n. 2, p. 179–185, 2014.

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145
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2007.

146
OS EFEITOS DA TEMPERATURA NA PRODUÇÃO DE BIOGÁS EM
BIODIGESTORES

Mariana Nalesso Gonçalves1, José Roberto Camacho 1


1
Universidade Federal de Uberlândia
E-mail: nalessomariana@gmail.com

RESUMO: Os biodigestores são equipamentos que aceleram o processo de


decomposição da matéria orgânica. Sua utilização para o tratamento de resíduos por
biodigestão anaeróbica tem como vantagens a produção de biogás e fertilizantes,
facilidade de implantação e simplicidade operacional. Neste trabalho é apresentada uma
análise da influência da temperatura no parâmetro chamado taxa máxima de crescimento
dos microrganismos, e o impacto das variações de temperatura no processo de produção
de biogás. Os cálculos foram feitos com o auxílio do software Octave, e os resultados são
apresentados em uma interface gráfica, construída pela própria autora. Os cálculos são
realizados para resíduos de lodo de esgoto, de um experimento anterior, e as simulações
apresentam a mudança no comportamento do sistema à medida que a temperatura externa
ao biodigestor sofre variações ao longo do ano. Observa-se que a geração de biogás sofre
reduções significativas, podendo chegar a cessar a sua produção em regiões que possuem
invernos rigorosos. Para regiões cujos invernos não apresentam variações de temperatura
consideráveis, como no norte e nordeste do país, a produção de biogás se mantém
constante ao longo de todo o ano, sofrendo reduções apenas devido ao esgotamento de
matéria no biodigestor.
Palavras-chave: Biodigestão, Tratamento de Resíduos, Microrganismos Anaeróbicos,
Metano, Biocombustível.

147
THE EFFECTS OF TEMPERATURE ON BIOGAS PRODUCTION IN
BIODIGESTORS

Abstract: Biodigesters are equipment that accelerate the decomposition process of


organic matter. Its use for the treatment of waste by anaerobic digestion has the
advantages of producing biogas and fertilizers, ease of implantation and operational
simplicity. This paper presents an analysis of the influence of temperature on the
parameter called the maximum growth rate of microorganisms, and the impact of
temperature variations on the biogas production process. The calculations were made with
the aid of Octave software, and the results are presented in a graphical interface, built by
the author herself. The calculations are performed for sewage sludge residues, from a
previous experiment, and the simulations show a change in the system's behavior as the
temperature outside the biodigester undergoes variations throughout the year. It is
observed that the production of biogas undergoes significant reductions, and may even
cease its production in regions that have severe winters. For regions whose winters do not
show considerable temperature variations, such as in the north and northeast of the
country, the production of biogas remains constant throughout the year, suffering
reductions only due to the depletion of matter in the biodigester.
Keywords: Biodigestion, Waste Treatment, Anaerobic Microorganisms, Methane,
Biofuel.

1. INTRODUÇÃO

Os biodigestores são equipamentos que aceleram o processo de decomposição da


matéria orgânica, e possibilitam a reutilização dos produtos resultantes desse processo,
que são o biogás e os biofertilizantes (BALMANT, 2009).
Os equipamentos biodigestores têm sido amplamente utilizados como solução
para os problemas ambientais de descartes de resíduos sólidos orgânicos. As principais
matérias primas utilizadas são resíduos da lama de esgoto, dejetos de animais e resíduos
da agricultura.
A fabricação destes equipamentos é simples e diversos autores os dividem quanto
ao tipo de construção e quanto ao tipo operação. Quanto ao tipo de operação, os
biodigestores são classificados como contínuos, onde o sistema é mantido fechado
durante todo o processo, e de batelada, onde a matéria prima é inserida periodicamente
no sistema. Em relação ao seu tipo de construção, a divisão é comumente feita em indiano,
chinês e de lona, também conhecido como modelo da marinha ou canadense.
A operação dos biodigestores é baseada em um processo biológico onde diferentes
microrganismos transformam, na ausência de oxigênio, compostos orgânicos complexos
em produtos mais simples. Este processo é denominado decomposição anaeróbica
(PROSAB, 2003). O produto resultante deste processo que é objeto de maior interesse é
o gás metano.
O biogás, produto da fermentação na ausência de oxigênio, é composto
majoritariamente por metano, com cerca de 60% da composição, 35% de dióxido de
carbono e 5% de outros gases como hidrogênio, nitrogênio e amônia em proporções
menores (Wereko-Brobby & Hagen, 2000). O poder calorífico do biogás depende da
proporção de metano que há em sua composição (DEGANUTTI & PALHACI, 2008).
148
As bactérias da fase onde é produzido o metano são as mais sensíveis às condições
desfavoráveis do meio, de acordo com o relatório do projeto PROSAB (2009). Portanto,
justifica-se a atenção dada aos parâmetros que regem o processo de decomposição
anaeróbica, visando a obtenção da maior proporção de metano possível no biogás e o
melhor aproveitamento desse combustível renovável.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados utilizados para mostrar a influência da temperatura na taxa de


crescimento dos microrganismos, apresentados na Tabela 1, foram retirados da Tabela 1
do artigo de Hashimoto e Chen (1978), onde estão resumidos os resultados experimentais
de diversos pesquisadores, e as simulações consideram as temperaturas para as cidades
de Uberlândia – MG, Santa Maria – RS e Sobral - CE, no ano de 2016. As duas últimas
cidades se localizam em estados que apresentam, respectivamente, maiores e menores
variações de temperatura ao longo do ano. A tradução completa da tabela com os dados
experimentais pode ser encontrada em Gonçalves (2018).

Tabela 1 – Constantes cinéticas para a fermentação de substratos complexos.


Concentração Temperatur Bo'
Bo μm Γvmax
Resíduo e Fonte de VS Influente a (𝐿𝐶𝐻4/ K
(𝐿𝐶𝐻4/ 𝑔𝐶𝑂𝐷) (𝑑𝑖𝑎−1) (𝐿𝐶𝐻4 /𝐿/𝑑𝑖𝑎)
(g/L) (°C) 𝑔𝑆𝑉 )

Lodo de Esgoto 18,4 35 0,227 0,35 0,33 0,26 0,93


O'Rourke 18,4 25 0,247 0,375 0,13 0,34 0,39
(1968) 18,4 20 0,263 0,406 0,114 1,03 0,21
Fonte: Gonçalves (2018, apud Hashimoto e Chen, 1978)

Desta tabela, foram utilizados os dados da concentração influente; do volume de


metano produzido (Bo); da constante cinética (K), escolhida com base na temperatura
média do ano; e a taxa máxima de produção volumétrica de gás (γvmax). A taxa de
crescimento dos microrganismos está diretamente relacionada à temperatura do sistema
e interfere na produção de metano.
A equação de Hashimoto e Chen (1978) para o cálculo da taxa de crescimento
dos microrganismos é uma aproximação calculada por regressão linear, que utiliza todos
os dados reunidos em sua pesquisa. A equação abrange a faixa de temperatura de 20 a
60ºC.

𝜇𝑚 = 0,013(𝑇) − 0,129 (1)

Onde:
𝜇𝑚 = Taxa máxima de crescimento dos microrganismos;
T = Temperatura, em ºC.

149
A tentativa de Hashimoto (1981) de encontrar uma equação geral é válida, porém
o uso de resultados de experimentos utilizando matérias primas e condições de ensaio
diferentes, produz um resultado excessivamente genérico. Portanto, utilizando-se da
mesma metodologia, uma nova equação foi calculada apenas com os resultados do
experimento de O’Rourke (1968), cujas temperaturas se aproximam das condições
climáticas reais dos locais selecionados neste estudo. A equação obtida para o cálculo da
Taxa Máxima de Crescimento dos Microrganismos é:

𝜇𝑚 = 0,0152(𝑇) − 0,214 (2)

Os resultados produzidos por esta equação para temperaturas menores que 15°C
mostram uma taxa de crescimento negativa e consequentemente um tempo de retenção
tendendo ao infinito, que explicam uma parada na produção do biogás.
A figura 1 apresenta a interface gráfica do software de simulação, desenvolvido
no Octave para o propósito de realizar os cálculos das taxas de produção de metano, em
função das variações nas taxas de crescimento dos microrganismos que seguem as
mudanças de temperatura ao longo do ano. O software retorna os resultados em forma de
gráfico da produção volumétrica de gás.

Figura 1 – Interface gráfica do software de simulação desenvolvido pela autora.

Os resultados experimentais retirados do trabalho de Hashimoto e Chen (1978)


foram divididos de acordo com as temperaturas médias dos locais escolhidos.
 Para Santa Maria – RS, com uma média anual em torno de 20ºC:
o 𝐾 = 1,03
o 𝑆𝑇0 = 18,4 𝑔/𝐿
o 𝐵0′ = 0,406 𝐿𝐶𝐻4 /𝑔𝑆𝑉

150
 Para Uberlândia – MG, com uma média anual em torno de 25ºC:
o 𝐾 = 0,34
o 𝑆𝑇0 = 18,4 𝑔/𝐿
o 𝐵0′ = 0,375 𝐿𝐶𝐻4 /𝑔𝑆𝑉
 Para Sobral – CE, com uma média anual em torno de 30ºC:
o 𝐾 = 0,26
o 𝑆𝑇0 = 18,4 𝑔/𝐿
o 𝐵0′ = 0,35 𝐿𝐶𝐻4 /𝑔𝑆𝑉

Onde:
𝐾 = é a constante cinética, definida por Hashimoto e Chen (1978);
𝑆𝑇0 = é a concentração total de Sólidos Voláteis influente, em grama por litro;
𝐵0′ = é o volume de metano na CNTP, por grama de Sólidos Voláteis adicionados, com
tempo de retenção infinito.

O parâmetro K mencionado é essencial para prever a produção de gás, visto que,


de acordo com Hashimoto (1971), é um indicador de estabilidade da fermentação. O
aumento de K indica a inibição da fermentação.
O software desenvolvido para automatizar os cálculos das taxas de produção de
metano, em função das variações nas taxas de crescimento dos microrganismos,
apresentado anteriormente, calcula também a Taxa Máxima de Crescimento dos
microrganismos, que é diferente para cada dia do ano, pois é diretamente dependente da
temperatura. O resultado para temperaturas menores que 15°C, que é negativo, é
apresentado como zero, uma vez que não há produção de biogás abaixo destas condições.
Entretanto, enfatiza-se que como a reação de decomposição anaeróbica é exotérmica,
pode ser que ocorra produção de biogás mesmo com as temperaturas externas estiverem
baixas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se em Gonçalves (2018), as tabelas que retornam a Taxa de Crescimento


dos Microrganismos, assim como os resultados completos do volume de gás produzido e
a Taxa de Produção Volumétrica ao longo do ano.
A Figura 2 apresenta os resultados da simulação realizada com resultados
experimentais contidos na tabela de Hashimoto e Chen (1978) mencionada anteriormente,
para a temperatura média de 20°C, onde foram inseridas as temperaturas médias diárias
da cidade de Santa Maria – RS, que foram coletadas no ano de 2016. Pode-se observar
que entre os dias 110 e 270 a Taxa de Produção Volumétrica de Metano sofre uma forte
redução, chegando a encerrar a produção de gás, devido às quedas de temperatura que
ocorrem neste período que corresponde ao inverno.

151
Figura 2 – Captura de tela da simulação da produção de biogás para Santa Maria – RS.

A Figura 3, por sua vez, apresenta os resultados da simulação realizada para a


temperatura média de 25°C, onde foram inseridas as temperaturas médias diárias da
cidade de Uberlândia – MG, que foram coletadas no ano de 2016. A temperatura média
desta localidade é mais alta, e seu inverno não é tão rigoroso quanto no sul do país, então,
a produção de biogás apresenta uma quantidade menor de oscilações quando comparada
com a primeira simulação.

152
Figura 3 – Captura de tela da simulação da produção de biogás para Uberlândia - MG

A Figura 4 apresenta os resultados da simulação para a temperatura média de


30°C, onde foram inseridas as temperaturas médias da cidade de Sobral – CE, que foram
coletadas no ano de 2016.
Apesar da resposta oscilatória do período de acomodação do sistema apresentar
um pico positivo muito alto, e a aparência da curva de produção de metano estar muito
próxima do zero, foi observado que ao longo do ano, a cidade de Sobral apresenta o
melhor desempenho na produção de biogás. Praticamente não há variações de
temperatura ao longo do ano, pois mesmo nos meses do inverno a temperatura se mantém
alta, então a produção de gás permanece estável ao longo de todo o ano, sofrendo reduções
naturais apenas pelo esgotamento de matéria orgânica dentro do biodigestor.

153
Figura 4 – Captura de tela da simulação da produção de biogás para Sobral –
CE.

Conforme observa-se nas simulações, a taxa de produção volumétrica do biogás


está diretamente relacionada à temperatura e ao tempo de retenção do resíduo no
biodigestor.
Ao final do ano, como os sistemas foram operados em bateladas, e não há inserção
de matéria orgânica, é natural que as Taxas de Produção Volumétricas e,
consequentemente, o Volume de Gás produzido, em todos os experimentos, sofram
redução.
O tipo de matéria orgânica associado à temperatura tem forte influência no
processo de biodigestão anaeróbica. Miranda (2006) afirma que dejetos bovinos iniciam
sua degradação mais rápido e apresentam melhor desempenho que dejetos suínos.
Gunnerson & Stuckey (1986) afirmam que as bactérias que realizam a biodigestão
anaeróbica são sensíveis à temperatura, e os autores definem, em termos deste parâmetro,
duas regiões ótimas para a biodigestão: a faixa mesofílica, que varia de 20 a 40°C e a
faixa termofílica, que varia de 40 a 60°C.
Ainda de acordo com Gunnerson & Stuckey (1986), para lama de esgoto, as
regiões de temperatura onde a biodigestão é otimizada são bem definidas em 35°C na
zona mesofílica; e 55°C na zona termofílica, e para resíduos bovinos, esgoto bruto e
resíduos da agricultura, essas regiões não são tão bem definidas.
Por esse motivo, recomenda-se que não seja utilizada uma equação de cálculo
tão genérica quanto a desenvolvida no modelo de Hashimoto et.al. (1981). Diferentes
resíduos responderão de maneiras diversas para cada condição de experimento.

154
Em relação à temperatura, observando-se as simulações, a produção de metano
sofre variações em localidades cujos invernos são mais rigorosos, mas não há prejuízo
considerável para o restante do ano que possa ser motivo de contraindicação de uso desse
tipo de sistema.
Biodigestores que operam com temperaturas mais próximas da zona termofílica
apresentam melhor desempenho e maior capacidade de processamento de carga do que
outros tipos de sistema que operam com temperaturas mais baixas.

4. CONCLUSÃO
As simulações mostraram que quanto menores as oscilações de temperatura em
uma localidade, melhor será a sua resposta de produção de metano. Regiões mais quentes,
e que apresentam invernos com temperaturas amenas, tem potencial de produzir grande
quantidade de gás durante todo o ano e poderão receber uma carga maior de matéria
orgânica, sem perder sua capacidade produtiva devido ao excesso de insumo, enquanto
regiões cujos invernos apresentam temperaturas mais rigorosas perdem sua capacidade
produtiva nos dias mais frios.
Observou-se que para temperaturas abaixo da zona mesofílica, a produção de gás
sofria oscilações à medida que os valores de K cresciam, enquanto os experimentos
realizados dentro dessa faixa de temperatura, os valores de K se mantiveram baixos,
conforme já constatado por Hashimoto e Chen (1978).
Além do fator temperatura, outros parâmetros, como o tipo de matéria orgânica e
o tipo de solo ao redor do biodigestor, seu formato e profundidade podem influenciar o
processo de biodigestão anaeróbica (Bingemer & Crutzen, 1987)

REFERÊNCIAS

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Matemática da Biodigestão Anaeróbica. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
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DEGANUTTI, R.; PALHACI, M.C. J. P.; ROSSI, M.; et. al.; Biodigestores rurais: modelo
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Editora John Wiley & Sons. 2000.

156
TO-SYN-FUEL: THERMO-CATALYTIC REFORMING OF WASTES FOR
BIOFUELS AND HYDROGEN PRODUCTION

Mohamed Elmously1, Fábio Gregory de Andrade Moreira2, Johannes Neidel1, Andreas


Apfelbacher1, Robert Daschner1, Andreas Hornung1
1
Fraunhofer UMSICHT, Fraunhofer Institute for Environmental, Safety, and Energy
Technology, 2Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Faculdade de Ciências
Agronômicas - Botucatu, SP
E-mail: mohamed.elmously@umsicht.fraunhofer.de

ABSTRACT: Biomass technologies have become an important approach to meet the


current demand of energy. Pyrolysis is one of the promising technologies to convert
varied types of biogenic wastes into biofuels, which also may gradually be replacing the
crude-oil resources. The To-Syn-Fuel project has a great potential to valorization of a
high variety of biomass into biofuels including H2-rich synthesis gas, biochar and a bio-
oil that can be upgraded to green liquid fuels to be applied directly in engines. The aim
of the To-Syn-Fuel project is to demonstrate the conversion of sewage sludge to EN
conform diesel and gasoline. The main technology of the project is the TCR® process
converting the sewage sludge into thermal stable crude bio-oil and hydrogen-rich TCR®
gas. Both are the precursor for the EN diesel and gasoline. The midterm aim is to
demonstrate the applicability of the TCR® crude-oil to refineries. Thereby, the already
existing logistic infrastructure of fossil fuels could be used for processing and distributing
green fuels.The aim of this Abstract is to introduce the EU project To-Syn-Fuel and to
show its novelty in terms of the generation of green, EN conform fuels. The To-Syn-Fuel
project is an integration of three technologies, the Thermo-Catalytic Reforming TCR®,
hydrodeoxygenation (HDO) and pressure swing adsorption (PSA). TCR ® is the main
process in the system, which it is developed by Fraunhofer UMSICHT. It is a combination
of intermediate pyrolysis at mild heating rates followed by a catalytic reforming step at a
high temperature range of 500°C to 700°C. The TCR® process shows a great potential for
the To-Syn-Fuel project, whereas it produces high quality of bio-oil with low O/C ratio
and low water content, which makes it ready to be upgraded in the HDO process. In
addition to, it provides engine-ready gas with high hydrogen concentration up to 40vol.%
and it is directly suitable for hydrogen separation by the PSA process. The unique selling
point of the TCR® products is the thermal stability of the oil, which enables high
temperature upgrading processes like e.g., distillation or hydration, which is carried out
within the To-Syn-Fuel project.
Keywords: intermediate pyrolysis, synthetic fuel, hydrodeoxygenation (HDO), pressure
swing adsorption (PSA).

1. INTRODUCTION

A different approach has been applied to reduce the dependence on the fossil-fuel
resources, while pyrolysis has a great potential for bio-fuels production as 2nd generation
biofuels. The challenge for 2nd generation biofuels is to achieve the products directly

157
suitable for using in internal combustion engines, or jet turbines or in bio-refineries
industry (Neumann et al. 2016).
The pyrolysis technology has been studied in detailed, but mainly focused on fast
pyrolysis as it generates high yields of liquid bio-oil (Elmously et al. 2019b; Bridgwater
2012). Compared to other thermal biomass conversion technologies, pyrolysis provides a
better and efficient conversion rate of biomass into a wide range of products (bio-oil, gas,
and bio-char) (Hornung et al. 2011; Elmously et al. 2019b).
The pyrolysis products can be used for several applications, but it is not fully
usable in an engine application. The main obstacles are that the produced liquid (bio-oil)
is not thermally stable, therefore are not adaptable to the petrol-based industry, and in
addition, they show relatively high oxygen and water contents. Furthermore, has high
acidity, which causes corrosion in engine systems is hampering (Elmously et al. 2019b;
Alvarez et al. 2016; Bridgwater 2012; Ahmad et al. 2018).In addition, the disadvantages
of the pyrolysis gases is that there not suitable for use directly in engine as biofuel
(Elmously et al. 2019b). Thus, the pyrolysis bio-oil cannot meet the final demands of the
petroleum applications and the chemical industry, because the fast pyrolysis simply
liquefies a part of the feedstock and does not upgrade the molecule structure significantly
and chemically reactive components are still present in these liquids leading to its thermal
instability (Neumann et al. 2016).
Therefore, Fraunhofer Institute for Environmental, Safety, and Energy
Technology (Fraunhofer UMSICHT) has developed the novel Thermo-catalytic
reforming (TCR®) system. It is an integration of intermediate pyrolysis with a catalytic
reforming step, enabling the utilization of a wide range of biomass residues. The operating
conditions of this kind of technology are very different to those of fast or slow pyrolysis.
TCR leads to the production of bio-oil with a yield of around 10wt.%, with a high energy
content of around 36 MJ/kg, also generating tar free syngas in 40-60%wt yield with a
remarkable high H2 concentration. The objective of the present study is the investigation
of the conversion of sewage sludge into thermal stable crude bio-oil and hydrogen-rich
TCR® gas through the TCR® process, and to study the potential of the TCR® technology
as a valuable utilization pathway for the Horizon 2020 To-Syn-Fuel project.

2. METHOD: TO-SYN-FUEL PROJECT FEATURES

To-Syn-Fuel is a project funded by Horizon 2020 and coordinated by Fraunhofer


UMSICHT in Germany. The project is seeking to build-up, operate and demonstrate a
commercial scale system (500 kg of bio-residues throughput per hour) for the production
of synthetic biofuels and green hydrogen from waste biomass such as sewage sludge. It
started in May 2017 and will be funded for 48 months. The To-Syn-Fuel process is built
around the thermo-catalytic reforming (TCR®) technology. The current statue of the
process development is integrating the TCR® technology with pressure swing hydrogen
separation and hydrodeoxygenation (HDO), in order to upgrade the bio-oil to green fuels,
which are ready to be used directly in automotive internal combustion engines, as meeting
the European standards (EN228 and EN590) for gasoline and diesel. Moreover, the
pressure swing adsorption (PSA) system can extracted pure H2 from the TCR® syngas, as
shown in Figure 1 (TO-SYN-FUEL 2017).

158
TCR® exists in different scales. One TCR®2 unit is a lab scale plant as a batch
system with a maximum mass flow up to 2 kg/h as shown in Figure 2. It contains a
horizontal intermediate pyrolysis reactor combined with a downstream catalytic
reforming unit. The pyrolysis is carried out at a moderate heating rate of 200–300°C/min
at temperatures of 400°C. The catalytic reforming unit operates at temperature of 700°C.
While the post-reformer is the stage where the produced char acts as a catalyst at high
temperatures to improve the oil and the gas to its unique properties. While the catalytic
reforming step enhances the secondary cracking reactions, the water gas shift reaction,
leads to an increase of H2 in the syngas. (Elmously et al. 2019b; Elmously et al. 2019a;
Jäger et al. 2016).

Figure 1 – To-Syn-Fuel overall combined process comprising technologies, by- and


side- products and final products (TO-SYN-FUEL 2017).

159
Figure 2 – Schematic principle of the TCR® process (Jäger et al. 2016).

3. RESULTS AND DISCUSSION

The investigation of the conversion of sewage sludge into thermal stable crude
bio-oil and hydrogen-rich TCR® gas through the TCR® process are studied in terms of
the quality of the products and the mass and energy balance. Several tests are carried out
using sewage sludge with intermediate pyrolysis at temperature of 400 °C and catalytic
reforming temperature of range between 500°C and 700 °C in the post-reformer stage.

3.1 Products Mass Balance

The TCR® products yield is shown in Figure 3 at different reforming temperatures.


As noticed, the TCR® mass balance is different to conventional pyrolysis system
techniques, while the bio-oil fraction is lower than fast pyrolysis, and the gas yield is
relatively higher (Hornung et al. 2011). This can be explained by the secondary cracking
reactions in the post-reformer unit in the TCR®. In addition, raising the reforming
temperature from 500°C to 700°C has positive impact on the secondary cracking reactions
and the water-gas shifting reactions between the gas and the char, which leads to a
reduction in the bio-oil and char yields and increase in the gas yield.

160
100%
90%
80%
yield percentage [wt.%]

70%
60% Water
50% Bio-oil
40% Gas
Char
30%
20%
10%
0%
TCR 500°C TCR 700°C
Figure 3 – Mass balance of the TCR® products distribution at 500°C and 700°C.

3.2 TCR® Bio-Oil


The characteristics of bio-oil from sewage sludge by TCR® are presented in Table
1. The bio-oil is simply separated from the aqueous phase by gravity, due to the
differences in polarity and density. The bio-oil shows a relatively low water content of
3.2wt.% − 2.6wt.% by gravity separation in comparison to the fast pyrolysis of sewage
sludge, that has a higher water content (Alvarez et al. 2016; Elmously et al. 2019b).
The quality of the bio-oil has been improved by the catalytic reforming step and
by raising the reforming temperature, due to increasing in the secondary cracking reaction
of the produced oil. The TCR® bio-oil shows thermal stability, low water and oxygen
contents and a high heating value (HHV≈36 MJ/kg). Therefore, the bio-oil represents an
excellent precursor for the hydrotreatment for engine-ready fuel production.

Table 1 – Properties of TCR® bio-oil from sewage sludge at 500°C and 700°C.
Unit 500°C 700°C
C [wt.%] 75.57 76.67
H [wt.%] 10.48 8.62
N [wt.%] 6.75 7.84
O (diff.) [wt.%] 6.09 5.77
S [wt.%] 1.11 1.11
HHV [MJ/kg] 36.24 35.92
H2O [wt.%] 3.25 2.65
TAN [mg KOH/g] 11.51 8.06

161
3.3 TCR® Synthesis gas

The gas composition from sewage sludge through TCR® unit is presented in
Figure 4. As revealed from the results, increasing the reforming temperature from 500°C
to 700°C increases the hydrogen content in the gas fraction, which makes the TCR ®
syngas potentially convenient for hydrogen separation through Pressure Swing
Adsorption or membrane technologies (TO-SYN-FUEL 2017).
Due to the contact of the gases with the hot TCR® char in the post-reformer, the
reaction between carbon dioxide and the carbon in the hot char is stimulated, which leads
to a formation of carbon monoxide. Moreover, the high temperature enhances the water-
gas shifting reaction, while CO and water vapour can be further transformed into CO2 and
H2. In addition, the high heating value (HHV) slightly increased due to the high
temperature in reforming process, from 19.03 MJ/m3 to 19.86 MJ/m3.
100
90
80
gas composition [vol.%]

70 CxHy

60 CH4
50
CO2
40
30 CO

20 H2
10
0
TCR 500°C TCR 700°C
Figure 4 – Properties of TCR® gas from sewage sludge at 500°C and 700°C.

3.4 TCR® Char

The characteristics of the TCR®-char presented in Table 2 shows a very low H


content as well as HHV of about ≈9.8−10.53 MJ/kg, which enhances their potential for
utilization in co-firing and gasification for heat and power production, carbon
sequestration or fertilizer applications.

162
Table 4 – Characteristics of the TCR® Char from sewage sludge at 500°C and 700°C

Unit 500°C 700°C


C [wt.%] 28.14 26.62
H [wt.%] 1.59 0.46
N [wt.%] 3.29 1.94
S [wt.%] 1.91 1.33
HHV [MJ/kg] 10.33 9.87
Ash [wt.%] 67.9 73.32

4. CONCLUSION

The investigation of the conversion of sewage sludge through the TCR ® process
was studied in terms of quality of the products and the mass balance. The tests were
carried out at two different reforming temperatures (500 °C and 700 °C) in the post-
reformer stage. The results showed that there are significant additional values in the
products, which show the TCR® technology offers a valuable utilization pathway for the
To-Syn-Fuel project.
The post-reformer temperature of 700°C showed the optimum conditions for
producing high yield of hydrogen-rich gases (40vol.%) and high quality of bio-oil, in
which the bio-oil achieved HHV of 35.9 MJ/kg, it also shows lower corrosive properties
and low oxygen and water contents of 5.77wt.% and 2.6wt.% respecstively. Likewise,
the produced char has low H/C ratio, which can be utilized in various utilization such as
gasification, active carbon or in phosphorous recovery process.
In summary, the To-Syn-Fuel project will demonstrate and validate the technical
and commercial feasibility of the integration of the TCR ® system with HDO and PSA
technologies. By this approach, it will provide renewable liquid bio-fuels from waste
ready to replace fossil fuels in compliance with EU standards for gasoline and diesel
(EN228 and EN590). Furthermore, it will open the door for the application of the TCR ®
oils in fossil fuel refineries.

ACKNOWLEDGEMENTS

To-Syn-Fuel project has received funding from the European Union's Horizon
2020 research and innovation programme under grant agreement No 745749. To-Syn-
Fuel project website: http://www.tosynfuel.eu
The Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD) and the Egyptian cultural
affairs and missions sector for financial support through PhD scholarship grant (German-
Egyptian Long-Term Scholarship-GERLS- programme 2016-57222240).

163
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REFERENCES

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10.1016/j.fuproc.2017.11.020.

Alvarez, J.; Lopez, G.; Amutio, M.; Artetxe, M.; Barbarias, I.; Arregi, A. et al. (2016):
Characterization of the bio-oil obtained by fast pyrolysis of sewage sludge in a conical spouted
bed reactor. In Fuel Processing Technology 149, pp. 169–175. DOI:
10.1016/j.fuproc.2016.04.015.

Bridgwater, A. V. (2012): Review of fast pyrolysis of biomass and product upgrading. In


Biomass and Bioenergy 38, pp. 68–94. DOI: 10.1016/j.biombioe.2011.01.048.

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Elmously, Mohamed; Jäger, Nils; Neidel, Johannes; Apfelbacher, Andreas; Daschner, Robert;
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Pilot Scale. In Ind. Eng. Chem. Res. 58 (35), pp. 15853–15862. DOI: 10.1021/acs.iecr.9b00765.

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to-energy concept — biothermal valorisation of biomass BtVB process. In Journal of Scientific
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Neumann, Johannes; Jäger, Nils; Apfelbacher, Andreas; Daschner, Robert; Binder, Samir;
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TO-SYN-FUEL (2017): Turning sewage sludge into fuels and hydrogen. European Union's
Horizon 2020 (745749). Available online at http://www.tosynfuel.eu/.

164
UTILIZAÇÃO DA RENOVACALC PARA AVALIAÇÃO DA INTENSIDADE
DE CARBONO DO ETANOL COMBUSTÍVEL

Anna Leticia Montenegro Turtelli Pighinelli1, Nilza Patrícia Ramos1, Marília Ieda da
Silveira Folegatti1
1
Embrapa Meio Ambiente
E-mail: anna.pighinelli@embrapa.br

RESUMO: O objetivo desse estudo foi avaliar a intensidade de carbono do etanol


combustível, no âmbito do RenovaBio. O primeiro cenário avaliou aspectos agronômicos
de produção, estando dividido em cenário padrão e um cenário otimizado, com redução
de 20% na quantidade de ureia aplicada. No segundo cenário, avaliou-se o impacto do
recolhimento de palha de cana-de-açúcar na intensidade de carbono do biocombustível,
enquanto no terceiro cenário, avaliou-se o impacto da inclusão do milho na usina de etanol
na entressafra da cana-de-açúcar. O estudo foi realizado utilizando a RenovaCalc,
ferramenta de cálculo oficial do RenovaBio, que compreende um conjunto de planilhas
em Excel e é utilizada para contabilizar a intensidade de carbono de biocombustíveis,
resultando na Nota de Eficiência Energético-Ambiental (NEEA). A combinação da
NEEA com o volume de biocombustível elegível comercializado irá resultar nos Créditos
de Descarbonização (CBIOs), que se transformará em receita para as usinas de
biocombustíveis. Os cálculos da intensidade de carbono são feitos com base na Avaliação
do Ciclo de Vida (ACV), considerando “Mudanças Climáticas” como categoria de
impacto. O escopo “do poço à roda” foi assumido, de forma que todos os consumos de
materiais e de energia ao longo do ciclo de vida do etanol, juntamente com todas as
emissões ao meio ambiente, foram contabilizados. O cenário 3 foi o que teve a maior
emissão de CBIOs. Na usina flex foram necessários 678,40 L de etanol hidratado para
emitir um CBIO, ou seja, 2,5% menos combustível quando comparado ao cenário 1
otimizado e 1,4% menos combustível quando comparado do cenário 2.
Palavras-chave: RenovaBio, cana-de-açúcar, milho.

165
USE OF RENOVACALC TO EVALUATE THE CARBON INTENSITY OF
COMBUSTIBLE ETHANOL

Abstract: The objective of this study was to evaluate the carbon intensity of ethanol,
under RenovaBio regulation. The first scenario considered agronomic aspects of
production, being divided into a standard scenario and an optimized scenario, with a 20%
reduction in the amount of applied urea. In the second scenario, the impact of harvesting
sugarcane straw on the carbon intensity of the biofuel was evaluated, while in the third
scenario, the impact of the utilization of corn in the ethanol plant in the off-season of
sugarcane was evaluated. The study was carried out using RenovaCalc, RenovaBio's
official calculation tool, which comprises a set of Excel spreadsheets and is used to
account for the carbon intensity of biofuels, resulting in the Energy-Environmental
Efficiency Rating (NEEA). The combination of NEEA with the volume of eligible biofuel
marketed will result in Decarbonization Credits (CBIOs), which will result in revenue for
biofuel plants. The carbon intensity calculations are made based on the Life Cycle
Assessment (LCA), considering “Climate Change” as the impact category. The scope
“from well to wheel” was assumed, so that all material and energy consumption
throughout the life cycle of ethanol, together with all emissions to the environment, were
accounted for. Scenario 3 was the one that had the largest emission of CBIOs. At the flex
plant, 678.40 L of hydrous ethanol were needed to emit one CBIO, that is, 2.5% less fuel
when compared to scenario 1 and 1.4% less fuel when compared to scenario 2.
Keywords: RenovaBio, sugarcane, corn.

1. INTRODUÇÃO

O RenovaBio é a nova Política Nacional de Biocombustíveis, aprovada pela lei


13.576, de 26 de dezembro de 2017. Fomenta o aumento da produção de biocombustíveis
em padrões mais sustentáveis, prevendo um tratamento de mercado diferenciado para os
biocombustíveis com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE) em seu ciclo de
vida. Para tanto, estabeleceu um arcabouço metodológico e ferramental para a
contabilidade da intensidade de carbono dos biocombustíveis e sua comparação com os
combustíveis fósseis (MATSUURA et al., 2018a).
A RenovaCalc é a ferramenta utilizada pelo RenovaBio e visa contabilizar a
intensidade de carbono de um biocombustível (em g CO2 eq./MJ), comparando-a com o
seu combustível fóssil equivalente. Atualmente, corresponde a um conjunto de planilhas
na plataforma Excel®, contendo um banco de dados e uma estrutura de cálculo específica
para cada tipo de biocombustível. A calculadora exige o preenchimento de dados
relacionados à fase agrícola de produção da matéria-prima utilizada para sintetizar o
biocombustível, bem como os dados da fase industrial (MATSUURA et al., 2018a).
Para a fase agrícola, deve-se preencher todos os insumos que foram utilizados para
produzir uma tonelada da matéria-prima (cana, milho e soja, por exemplo). Já para a fase
industrial, os rendimentos obtidos na indústria, bem como insumos necessários para a
produção do biocombustível são inseridos (MATSUURA et al., 2018b).
O objetivo desse estudo foi avaliar a intensidade de carbono do etanol
combustível, no âmbito do RenovaBio. O primeiro cenário avaliou aspectos agronômicos
166
de produção, variando-se a quantidade de ureia utilizada. No segundo cenário, avaliou-se
o impacto do recolhimento de palha na intensidade de carbono do biocombustível,
enquanto no terceiro cenário, avaliou-se o impacto da inclusão do milho na usina de etanol
na entressafra da cana-de-açúcar.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Nesse estudo foram considerados três cenários, dois envolvendo a produção de


etanol a partir de cana-de-açúcar e um terceiro cenário considerando uma usina flex que
produz etanol a partir de cana e de milho.
Na Tabela 1 estão apresentados os insumos agrícolas que foram utilizados para as
simulações feitas para os cenários 1 e 2. O cenário 1 foi otimizado, reduzindo a quantidade
de ureia em 20%, e no cenário 2 foi inserido o recolhimento de 50% da palha de cana-de-
açúcar disponível no canavial no cenário 1 otimizado. Na operação de recolhimento foi
considerada uma quantidade de 140 kg de palha por tonelada de cana, conforme o estudo
de Hassuani et al. (2005), e o diesel utilizado nas operações agrícolas foi 2% maior de
forma a considerar o combustível utilizado para recolher a palha.

Tabela 1 – Dados agrícolas para a produção de cana-de-açúcar


Cenário 1 Cenário 1 Cenário 2
(otimizado)
Produtividade (t/ha) 90,00 90,00 90,00
Área total (ha) 28.888,89 28.888,89 28.888,89
Produção total (t) 2.600.000,00 2.600.000,00 2.600.000,00
Teor imp. vegetais (kg/t cana) 75,00 75,00 75,00
Teor umidade das imp. vegetais (%) 50 50 50
Teor imp. minerais (kg/t cana) 10,32 10,32 10,32
Palha recolhida (t, b.seca) 0,00 0,00 182.000,00
Área Queimada (ha) 2.018,93 2.018,93 2.018,93
Calcário dolomítico (kg/t cana) 7,00 7,00 7,00
Gesso (kg/t cana) 4,00 4,00 4,00
Ureia (kg N/t cana) 1,17 0,94 0,94
Superfosfato simples (SSP) 0,32 0,32 0,32
Cloreto de potássio (KCl) 0,28 0,28 0,28
Vinhaça (L/t cana) 305,10 305,10 305,10
Concentração de N (g N/L vinhaça) 0,38 0,38 0,38
Torta de Filtro (kg/t cana) 5,00 5,00 5,00
Concentração de N (g N/kg torta) 2,80 2,80 2,80
Cinzas e fuligem (kg/t cana)) 1,00 1,00 1,00
Diesel - B11 4,10 4,10 4,20
Etanol hidratado 0,10 0,10 0,10
Fonte: adaptado de ANP (2019).

167
Tabela 2 – Dados agrícolas para a produção de milho
Cenário 3
Produtividade (t/ha) 7,00
Área total (ha) 29.163,74
Produção total (t) 204.146,17
Sementes (kg/t milho) 3
Teor umidade do milho (%) 15
Ureia (kg N/t cana) 8,86
Fosfato Monoamônico (kg N/t milho) 0,50
Fosfato Monoamônico (kg P₂O₅/t milho) 2,17
Sulfato de amônio (kg N/t milho) 2,23
Cloreto de potássio (kg K₂O/t milho) 8,49
Diesel - B11 5,20
Eletricidade da rede - mix médio 2,00
Fonte: adaptado de ANP (2019).

Para o cenário 3 foram considerados 220 dias de operação da usina com cana-de-
açúcar e 115 dias de operação com milho. Os rendimentos em etanol e açúcar
considerando a cana-de-açúcar como matéria-prima foram os mesmos adotados nos
cenários 1 e 2. Para o etanol de milho, considerou-se um rendimento de 400 L de etanol
por tonelada de milho, divididos em 70% de etanol anidro e 30% hidratado. Os demais
valores utilizados como inputs da RenovaCalc foram adaptados dos relatórios das usinas
que estavam em consulta pública no site da ANP (2019).

168
Tabela 3 – Dados industriais para os cenários
Cenários Cenário 3
1e2
Cana (t) 2.600.000,00 2.600.000,00
Milho (t) - 204.146,17
Palha (t) 182.000,00 182.000,00
T. umidade milho (%) - 15
Dist. transp. milho (km) - 50
Etanol Anidro (L/ano) 109.200.000,00 166.360.928,96
Etanol Hidratado (L/ano) 46.800.000,00 71.297.540,98
Açúcar (kg/ano) 70.200.000,00 70.200.000,00
Energia elétrica comerc. 166.400.000,00 181.661.968,03
(kWh/ano)
DDG (kg/ano) - 21.316.943,58
T. umidade DDG (%) - 10
DDGS (kg/ano) - 59.341.210,11
T. umidade DDGS (%) - 40
Óleo de milho (kg/ano) - 2.415.049,25
Bagaço próprio
Quantidade (base úmida) 676.000.000,00 676.000.000,00
Umidade 50 50
Bagaço de terceiros
Quantidade (base úmida) 2.600.000,00 2.600.000,00
Umidade 50 50
Distância de transporte 50 50
Cavaco de madeira
Quantidade (base úmida) 20.800.000,00 102.907.591,53
Umidade 40 40
Distância de transporte 100 100
Etanol hidratado próprio - 16.331,69
(L/ano)
Biodiesel B11 (L/ano) - 79.617,01
Eletric. rede - mix médio 1.820.000,00 1.960.860,86
(kWh/ano)
Modal de transporte do Rodoviário Rodoviário
combustível
Fonte: adaptado de ANP (2019).

Após a RenovaCalc ter sido rodada para cada um dos cenários, teremos os valores
da Nota de Eficiência Energético-Ambiental (NEEA) para etanol anidro e hidratado.
Tendo o valor da NEEA, o formulário D – Certificado de Produção e Importação Eficiente
de Biocombustíveis foi preenchido gerando o Fator para Emissão de CBIO. O formulário
169
D é um dos documentos exigidos pela ANP para a certificação das usinas e pode ser
encontrado no site da ANP, na seção referente ao RenovaBio (ANP, 2020). Esse fator é
multiplicado pelo volume de biocombustíveis resultando na quantidade de CBIOs que
aquela usina poderá emitir e comercializar no mercado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 estão apresentados os resultados fornecidos pela RenovaCalc quando


foi feita a simulação com os dados relativos ao cenário 2. A intensidade de carbono do
biocombustível é a soma das intensidades de carbono de todas as fases do ciclo de vida
do etanol, que são as fases agrícola, industrial, transporte e uso. É importante notar que a
fase agrícola é a que mais impacta, correspondendo a 82% da intensidade de carbono
total.
Devida ao grande impacto da fase agrícola na intensidade de carbono, na Figura
2, o impacto de cada componente da fase agrícola está sendo detalhado. Os fertilizantes
sintéticos, em especial os nitrogenados, são os maiores responsáveis pelo aumento na
intensidade de carbono, ultrapassando os 37% para o cenário base. O segundo maior
responsável é o diesel das máquinas agrícolas, totalizando 34%.
Dentre os fertilizantes nitrogenados, a ureia é o mais utilizado e por essa razão, na
primeira simulação que foi feita, avaliou-se a redução em 20% desse insumo. Ainda na
Figura 2, podemos observar que a intensidade de carbono foi reduzida para 32,32 kg
CO2eq/t cana com a redução da ureia.
O cenário 2 foi construído considerando a quantidade de ureia reduzida em 20%
e incluindo o recolhimento de 50% da palha disponível no canavial. A palha que é deixada
no canavial contribui para o aumento nas emissões, contribuindo para o aumento na
intensidade de carbono da cana-de-açúcar produzida. Na Figura 3 é possível observar que
a intensidade de carbono é de 30,91 kg CO2eq/t cana, sendo 12% menor quando
comparado ao cenário base inicial.

Figura 1 – Resultados obtidos na RenovaCalc para o Cenário 2.

170
Figura 2 – Avaliação da redução da quantidade de ureia na intensidade de
carbono.

Figura 3 – Avaliação da redução da quantidade de ureia e do recolhimento de


palha na intensidade de carbono.
171
No cenário 3, como foram utilizadas duas matérias-primas, optou-se por
apresentar a intensidade de carbono da fase agrícola para cada uma delas, conforme
mostrado na Figura 4. A quantidade de CO2 eq que é emitida para produzir uma tonelada
de milho é muito maior do que a quantidade emitida para produzir uma tonelada de cana-
de-açúcar. Isso se deve a quantidade e aos tipos de insumos utilizados. O milho utiliza
mais ureia, além de utilizar outras fontes de adubos nitrogenados, quando comparado com
a cana-de-açúcar. Além disso, na produção de milho é considerada a intensidade de
carbono relacionada à produção das sementes, insumo esse que não é utilizado na
produção de cana. A intensidade de carbono referente à palhada é calculada com base na
ocupação total. Como a produtividade do milho é muito inferior a da cana-de-açúcar,
temos que a palhada corresponde a 23% da intensidade de carbono total do milho,
enquanto para a cana, a palhada corresponde a 12%.

Figura 4 – Avaliação da inclusão do milho na entressafra da cana-de-açúcar.

Na Tabela 4 estão apresentados os resultados referentes aos créditos de


descarbonização (CBIOs). A quantidade de CBIOs emitidos está diretamente relacionada
a NEEA e ao volume de biocombustível, ou seja, quanto maior forem esses dois fatores,
mais CBIOs serão emitidos. Como no cenário 3 da usina de etanol flex a quantidade de
etanol produzido foi maior, optou-se por expressar a quantidade de litros de combustível
necessária para que um CBIO fosse emitido. Na usina flex são necessários 678,40 L de
etanol hidratado para emitir um CBIO, ou seja, 2,5% menos combustível quando
comparado ao cenário 1 otimizado e 1,4% menor combustível quando comparado do
cenário 2.

172
Tabela 4 – Quantidade de CBIOs emitidos para cada cenário

Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3


Etanol anidro (L/ano) 109.200.000,00 109.200.000,00 166.360.928,96
Etanol hidratado 46.800.000,00 46.800.000,00 71.297.540,98
(L/ano)
Nota de Eficiência Energético-Ambiental – NEEA (g CO2eq/MJ)
Etanol anidro 67,74 68,45 69,42
Etanol hidratado 67,39 68,1 69,07
Fator para emissão de CBIO (t CO2eq/L) – formulário D da ANP
f anidro 1,51424E-03 1,5301E-03 1,5518E-03
f hidratado 1,43820E-03 1,4534E-03 1,4741E-03
Créditos de descarbonização emitidos - CBIOs
Etanol anidro 165.354,67 167.087,80 258.157,41
Etanol hidratado 67.307,68 68.016,81 105.096,27
Quantidade de CBIOs emitidos por litro de biocombustível
Etanol anidro 0,0015 0,0015 0,0016
Etanol hidratado 0,0014 0,0015 0,0015
Volume de biocombustível necessário para emitir 1 CBIO
Etanol anidro (L) 660,40 653,55 644,42
Etanol hidratado (L) 695,31 688,07 678,40

4. CONCLUSÃO

A inclusão do milho na entressafra da cana-de-açúcar se mostrou uma opção


interessante, reduzindo a intensidade de carbono do etanol e gerando mais CBIOs para a
usina. Dos resultados obtidos nesse artigo foi possível observar como os insumos
agrícolas podem afetar a emissão dos CBIOs, principalmente os insumos nitrogenados.
A quantidade de palha que é deixada no canavial também tem impacto negativo na
quantidade de CBIOs, já que quanto mais palha é deixada no campo, menor a quantidade
de CBIOs emitida.

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <http://www.anp.gov.br/producao-de-biocombustiveis/renovabio>.

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Consulta Pública de


Proposta de Certificação RenovaBio. 2019. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/producao-
de-biocombustiveis/renovabio/consulta-publica-certificacao-producao>.

Hassuani, S.J., Leal, M.R.L.V., Macedo, I.C. 2005. Biomass power generation: Sugarcane
bagasse and trash. Piracicaba, SP: PNUD-CTC.

173
Matsuura, M.I.S.F., Scachetti, M.T., Chagas, M.F., Seabra, J.E.A., Moreira, M.M.R., Bonomi,
A., Bayma, G., Picoli, J.F., Morandi, M.A.B., Ramos, N.P., Cavalett, O., Novaes, R.M.L.
2018a. RenovaCalcMD: Método e ferramenta para a contabilidade da Intensidade de Carbono
de Biocombustíveis no Programa RenovaBio. Disponível em:
<http://www.anp.gov.br/images/Consultas_publicas/2018/n10/CP10-2018_Nota-Tecnica-
Renova-Calc.pdf>.

Matsuura, M.I.S.F., Seabra, J.E.A., Chagas, M.F., Scachetti, M.T., Morandi, M.A.B., Moreira,
M.M.R., Novaes, R.M.L., Ramos, N.P., Cavalett, O., Bonomi, A. 2018b. RenovaCalc: a
calculadora do programa RenovaBio. In: VI Congresso brasileiro sobre gestão do ciclo de vida ,
6., Brasília-DF. Anais...Brasília: Ibict, 6 p.

174
BIOMASSA

175
ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DO CULTIVO DA MICROALGA
Scenedesmus sp EM EFLUENTE DE ETE

Fábio Araújo de Oliveira1, Brigida Miola Rocha1, Flávia Araújo Gonçalves1, Danilo
Cavalcante da Silva2
1
Universidade de Fortaleza, 2Universidade Federal do Ceará
E-mail: fabio.re@edu.unifor.br

RESUMO: A possível escassez de recursos hídricos e também de combustíveis fósseis


faz com que cada vez mais sejam desenvolvidas técnicas para produção de energia. Em
paralelo a essas duas problemáticas têm-se as microalgas, que podem tanto reciclar águas
de estação de tratamento quanto, no processo, produzir metano para geração de energia,
oxigênio e biodiesel através da biomassa microalgal. Nesse estudo foi avaliado a taxa de
crescimento da microalga Scenedesmus sp. em água de Estação de Tratamento de
Efluente-ETE e água doce. A Scenedesmus sp. apresentou uma taxa de crescimento de
191% no cultivo da água da uma lagoa da UNIFOR (Universidade de Fortaleza), e 339%
no cultivo da ETE que apresentou grande carga de ortofosfato e nitrato presente no meio.
Ao final, foi avaliado que o cultivo em ETE foi mais benéfico para o cultivo da microalga,
trazendo uma coloração mais esverdeada que o cultivo na lagoa e uma maior produção
de massa microalgal.
Palavras-chave: microalgas, biomassa, efluentes, Scenedesmus sp.

QUALI-QUANTITATIVE ANALYSIS OF THE CULTIVATION OF


MICROALGAE Scenedesmus sp. IN EFLUENTE FROM STS

Abstract: The possible scarcity of water resources and also of fuels means that techniques
are increasingly developed to produce both. Parallel to these two problems are microalgae
that can either recycle treatment plant water or, in the process, produce methane for power
generation, oxygen and biodiesel through microalgal biomass. In this study, the growth
rate of microalgae Scenedesmus sp. which presented a growth rate of 191% in the pond
effluent cultivation that had no nutrients and 339% in the WWTP cultivation which had
a large orthophosphate and nitrate load present in the medium. In the end, it was evaluated
that the cultivation in the WWTP was more beneficial for the cultivation of microalgae,
bringing a greener coloration to the cultivation in the pond and a higher mass microalgal
production.
Keywords: microalgae, biomass, effluent, Scenedesmus sp.

176
1. INTRODUÇÃO

As microalgas desempenham a função de produtores primários em várias cadeias


tróficas pela fixação de energia solar e CO₂ atmosférico em moléculas orgânicas, além de
contribuírem com aproximadamente 40-50% do oxigênio na atmosfera através do
metabolismo fotossintético (ANDERSEN E KAWACHI, 2005).
A produção de biomassa microalgal, pode ser considerada inviável
financeiramente, principalmente devido ao fato observado que, para que alguns tipos de
microalgas se desenvolvam é necessário o input de nutrientes. Dessa forma, o uso de
efluentes residuários para seu cultivo se torna uma estratégia viável, visto que é possível
aproveitar os nutrientes disponíveis nesses efluentes, minimizando os custos.
O uso de microalgas no tratamento de efluentes industriais tem despertado grande
interesse nas últimas décadas, devido à alta capacidade das microalgas em absorver
nutrientes orgânicos e inorgânicos, além de produzir uma biomassa com valioso interesse
devido à procura de fontes energéticas demandada pela sociedade aliada ao progresso
científico nesta área (ROLIM & GUTTERRES, 2015)
Segundo Lourenço (2006) o crescimento monitorado de algas nos esgotos
domésticos pode gerar oxigênio e produzir energia, como na produção do metano,
convertendo essa energia em elétrica e ao mesmo tempo reciclando água, carbono e
nitrogênio.
Charity et al. (2009) cultivaram a microalga Scenedesmus sp. em um efluente de
piscicultura e observaram uma redução de 94,44% na amônia total. Os cultivos foram
realizados em tanques externos de 150 L expostos a condições ambientais naturais e
providos de aeração constante, caracterizando a eficiência das microalgas na remoção de
compostos nitrogenados.
De acordo com Almeida et al. (2017) o cultivo de microalgas em água residual
demonstra ser uma técnica viável, pois as microalgas absorvem os nutrientes necessários
do meio como fósforo e nitrogênio, e são capazes de assimilar poluentes orgânicos e
inorgânicos do efluente e convertê-lo em componentes para a própria célula, tais como
lipídios, proteínas e carboidratos, diminuindo os poluentes e produzindo matéria prima
para biocombustíveis.
Para que o cultivo em efluente seja viável é importante conhecer o meio no qual
é feito o cultivo, além dos aspectos químicos e físicos que podem influenciar o
crescimento, assim, conhecendo-se esses fatores e utilizando-se do manejo correto pode-
se melhorar a produtividade de biomassa e lipídeos.
Dessa forma o presente estudo teve como objetivos: avaliar a taxa de crescimento
da microalga Scenedesmus sp., acompanhar o crescimento das células, quantificar a
biomassa produzida e observar o cultivo mais satisfatório à microalga.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os efluentes utilizados para o cultivo foram coletados na Estação de Tratamento


de Efluente (ETE) do campus da Universidade de Fortaleza - UNIFOR e da lagoa da
unifor que fica no campus da universidade.
Para acompanhar o crescimento das microalgas foram feitas análises de densidade
ótica, contagem de células e de peso seco ao final do cultivo.
177
Figura 1 – Efluentes da ETE e da lagoa coletados na Unifor.

Inicialmente os efluentes coletados foram filtrados com membrana de 100 micras


de porosidade. Em seguida, foram colocados em autoclave por 15 minutos à 1 atm. O
processo de autoclavagem é essencial para garantir que o meio de cultivo não possua
outros microrganismos que podem aproveitar os nutrientes, ou até mesmo aproveitar a
microalga para se proliferar.
Foram feitas análises químicas de ortofosfato, nitrito e nitrato por meio de análise
de densidade optica.
Os cultivos foram feitos em triplicata, onde cada cultivo individual foi feito em
erlenmeyer de 1L, onde a proporção de Microalga/Efluente foi de 100 mL de microalga
com 2083 abs, e 900 mL de efluente, totalizando 1 litro de cultivo total.
É importante lembrar que os efluentes apresentam turbidez inicial fazendo com
que os níveis de absorbância sejam afetados logo no início.
A cepa mãe utilizada para inocular os meios, foi cultivada no Laboratório de
Planctologia localizado no Centro de Biotecnologia em Aquicultura - CEBIAQUA do
Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará - UFC.
O meio de cultivo teve carga adicional de uréia na proporção 0,1g/L e de SPT
(Superfosfato triplo) na proporção 0,01g/L, sendo cultivado por 15 dias, tendo
apresentado ao final Absorbância de 2083.
Com esse dado, foi utilizado para o cálculo da proporção de inóculo a partir da
equação (1) a seguir:
2083 1000𝑚𝑙
= 𝑋 (1)
200

Onde:
2083 = Absorbância da cepa mãe;
1000 ml = Valor em mL do volume total da cepa mãe;
200 = Absorbância requerida para o início do cultivo;
X = Volume em mL retirado da cepa mãe para início do cultivo.

Com o cultivo feito em laboratório é necessário garantir para a microalga além


dos nutrientes já presentes nos efluentes, o fornecimento de uma fonte de luz, como
mostra a Figura 2.

178
Figura 2 - Sistema de cultivo da microalga Scenedesmus sp. com os padrões de luz e
aeração.

A fonte de luz utilizada foi uma lâmpada tubular fluorescente 40w, também
podendo ser usado luz branca, luz fria e luz do dia. Os meios de cultivo ficaram a uma
distância da fonte de luz que garanta o recebimento de 3200 lúmens, sendo confirmado
pela utilização de um medidor de iluminância.
Durante o cultivo as microalgas presentes no meio podem decantar, fazendo assim
com que umas fiquem por cima das outras e inibindo a absorção de nutrientes. Para que
isso seja evitado é recomendado o uso de um sistema de aeração, tendo sido utilizado um
compressor de ar que foi canalizado até cada erlenmeyer através de uma tubulação de
plástico (conhecida como mangueira utilizada em aquário) conectada a pequenas pipetas
conforme observado na Figura 2.
Para acompanhar o crescimento das microalgas, a primeira análise foi de
densidade óptica, no qual por meio de um aparelho de espectrofotometria (Hach DR
2700) é analisado o feixe de luz que atravessa a amostra. Assim, o valor da absorbância
se dá pela turbidez que o cultivo vai apresentar, que tem a tendência de aumentar de
acordo com o aumento da população presente no meio.
O equipamento utilizado foi o espectrofotômetro da marca hach (Figura 3), nele
pode-se realizar análise de apenas 10 mL do cultivo. As análises foram feitas utilizando-
se o comprimento de onda de 680nm.
Ressalta-se que, antes de se extrair a amostra para análise é importante garantir
que o meio esteja homogeneizado, então é recomendado que seja feita uma agitação
manualmente por 20 ou 30 segundos.
O valor de absorbância não indica exatamente a população do meio analisado, mas
ainda assim consegue indicar se o cultivo está em crescimento progressivo, observando-
se pela turbidez presente.

179
Figura 3 - Espectrofotômetro Hach DR 2700

O segundo método utilizado para acompanhar o crescimento do cultivo foi


contagem por microscopia. Nas contagens em microscópio, geralmente a densidade de
indivíduos é expressa como número de células por mililitro de cultivo (cel.𝑚𝑙 −1 )
(cel.𝑚𝐿−1 ). É a técnica mais tradicional e simples de monitorar o crescimento de
microalgas em cultivo (LOURENÇO, 2006).
Para se obter melhores contagens, o uso de hemocitômetros são indispensáveis,
um deles é a Câmara de Neubauer (Figura 4), é interessante que se tenha o auxílio de um
contador manual para diminuir o erro humano.

Figura 4 - Câmara de Neubauer e contador manual.

O uso dessa técnica foi apenas para ter uma segunda forma de acompanhar a taxa
de crescimento, vale ressaltar que ela não é a mais assertiva, porém a tendência é que a
partir do momento em que a população de microalgas se desenvolve a contagem cresça
mesmo que em um dia o resultado seja inferior ao anterior.
Decorridos 12 dias, ao final do cultivo, foi realizado o processo de centrifugação,
foi centrifugado 100 ml por tubo, em uma rotação de 300 rpm por meia hora cada, para
separar a microalga do meio. Após as amostras separadas, foram secar em estufa por 5
dias à 40ºC. Com a biomassa seca podemos pesá-la para quantificar a biomassa
produzida.

180
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram feitas análises de nitrito, nitrato e ortofosfato nos efluentes com amostras
de antes do início do cultivo, os resultados estão presentes na Tabela 1.

Tabela 1 - Análise dos efluentes


Lagoa ETE
Nutriente início do cultivo início do cultivo
Nitrito ausente ausente
Nitrato ausente 1,8mg/L
Ortofosfato ausente 6,8 mg/L
Fonte: Autores (2019)

Não foi detectado nem um traço dos nutrientes testados na amostra da Lagoa, o
mesmo ocorre para Nitrito na amostra da ETE.
O cultivo foi iniciado antes das análises, portanto não foi possível substituir o
efluente da lagoa, então os meios que utilizaram esse efluente passam a ser chamado de
grupo controle. A análise de nutrientes presente no meio serve para que se possa
quantificar a eficiência do uso de meios alternativos. Com a análise de densidade óptica
feita no espectrofotômetro foi possível elaborar os seguintes gráficos.

Gráfico 1 - Curva de crescimento por absorbância da Scenedesmus sp.

Fonte: Autores (2019)

Observando o gráfico pode-se analisar o crescimento de cada cultivo. No cultivo


da lagoa é possível notar a constância do crescimento, por ser o meio que não possuía
nutrientes o aumento de população foi expressivamente menor que o cultivo na ETE,
começando na média de 0,540 e chegando a 1,037 de absorbância.
Já no gráfico do cultivo do efluente da ETE é possível ver um crescimento mais
acentuado. No entanto, nos 2 primeiros dias praticamente não houve crescimento notável,
esse fato pode estar associado a morte de algumas microalgas que iniciaram o cultivo,
uma vez que algumas microalgas não suportaram a troca brusca de um meio de cultivo
para o outro, no caso da cepa mãe para a ETE, que possuía uma quantidade de nutrientes
muito acima do que elas poderiam absorver. O cultivo em água da ETE começou com
uma média de 0,828 de absorbância, e ao fim do cultivo ele apresentou uma média de
2,814.
181
Com os dados de absorbância é possível notar um fator de crescimento de 191%
no cultivo da lagoa e 339% no cultivo da ETE, sendo o mais viável. O fato de estar
reciclando uma água que não estaria sendo aproveitada gera um fator positivo para esse
estudo.
Na segunda análise de crescimento das microalgas, as contagens foram
realizadas através de microscópio (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Curva de crescimento da microalga Scenedesmus sp. por contagem em


câmara Neubauer

Fonte: Autores (2019)

Analisando o Gráfico 2, é possível observar a variação na contagem de células


nos dois cultivos, da Lagoa e da ETE. Para esse estudo foram contados apenas os dois
lados da Câmara de Neubauer, realizando-se a média.
Após o fim do cultivo foi possível então separar a microalga do meio de cultivo,
possibilitando assim medir a massa de biomassa produzida (Tabela 2).

Tabela 2 - Biomassa microalgal da Scenedesmus sp.


Peso nos diferentes cultivos
Referência Lagoa ETE
1 0,21 g 0,48 g
2 0,24 g 0,48 g
3 0,17 g 0,43 g
Fonte: Autores (2019)

Na ETE forma produzidas 1,3932 g de biomassa microalgal enquanto na Lagoa


0,6199 g. Apesar da pouca produção de biomassa, para um cultivo de 12 dias, deve-se
levar em consideração que cada cultivo foi utilizado apenas o volume de 1 litro.
Rotermund et al. (2015) também observou o crescimento da microalga da espécie
Scenedesmus sp. no efluente de Ribeira como meio de cultivo, apresentando boa
adaptação.
Além disso, outros produtos podem ser gerados durante o processo de cultivo da
microalga, tais como metano e oxigênio.

182
Sabe-se que, a produção de biodiesel só é possível se a microalga produzir lipídios
durante seu cultivo. Para que haja essa produção é necessário que possua nutrientes no
meio. Quando as contagens por microscopia foram feitas, foi possível observar onde
estava sendo produzido ou não lipídios, através da coloração, conforme Figura 5.

Figura 5 - A) Scenedesmus sp. cultivada em efluente da lagoa. B) Scenedesmus sp.


cultivada em efluente de ETE

Visivelmente o cultivo da ETE apresentou uma coloração bem mais esverdeada,


indicando a presença de clorofila e lipídios que possibilita a produção de biodiesel.

4. CONCLUSÃO

Após o período do experimento realizado e pelos resultados obtidos, concluiu-se


que a microalga Scenedesmus sp. obteve melhor taxa de crescimento utilizando-se como
meio de cultura os efluentes da ETE do que a água da Lagoa; apresentou o maior
crescimento numérico de células de Scenedesmus sp. no período de 12 dias de cultivo;
obteve o maior índice de biomassa quantificada no período de 12 dias de cultivo.
Para estudos futuros seria interessante comparar a taxa de crescimento de duas
cepas diferentes, bem como um estudo de implantação de um biodigestor junto ao
tratamento de efluentes com microalgas.

REFERÊNCIAS

Andersen, R, A.; Kawachi, M. (2005). Algal Culture Techniques. Elsevier Academic Press:
San Diego, 2005. 578p.

Almeida, O. L. et al. Potencial rendimento na produção de lipídio para geração de energia


a partir de microalgas cultivadas em diferentes tipos de águas residuais. Revista Biomassa
BR. 2017

Charity, E. A. R.; Alexandra, L. V. B.; Carmen, H. C. L.; Ever, D. M. A. Biomass production


of microalga Scenedesmus sp. with wastewater from fishery. Revista Tecnica de la Facultad
de Ingenieria Universidad del Zulia. maracaibo v. 32, n. 2, p. 126 - 134, Aug 2009.

Rolim, G.; Gutterres, S. M. Cultivo de microalgas Scenedesmus sp. em efluente de curtume:


utilização da biomassa para produção de biodiesel e aproveitamento como biossorvente.
Salão UFRGS 2015: SIC - XXVII Salão de Iniciação Científica da UFRGS.

183
Rotermund, S. R. Q.; Fontoura, J.; Soares, M. G. Cultivo da microalga Scenedesmus sp. em
efluente de Ribeira. Salão UFRGS 2015: SIC - XXVII Salão de Iniciação Científica da
UFRGS.

Lourenço, S. O. Cultivo de Microalgas Marinhas: Princípios e Aplicações. São Carlos:


RiMa, 2006. 606p.

184
CAPIM JARAGUÁ COMO LIGANTE EM BRIQUETES DE FINOS DE
CARVÃO

Emanoel Zinza Junior1, Andrea Cressoni de Conti2 , Gabriel Toledo Machado 3, Fábio
Minouru Yamaji3, Felipe Gomes Machado Cardoso 4
1
Universidade Estadual Paulista, 2Universidade Estadual Paulista, 3Universidade
Federal de São Carlos, Depto. de Ciências Ambientais, Sorocaba, Brasil, 4Universidade
Estadual Paulista
E-mail: emanoel.zinza@gmail.com

RESUMO: O trabalho tem por objetivo a densificação dos resíduos, a fim de verificar a
formação dos briquetes de finos de carvão utilizando o capim jaraguá (hypharrenia rufa)
como ligante e avaliar suas propriedades físicas e energéticas. Uma mistura de 75% capim
jaraguá e 25% de finos de carvão foi feita obtendo-se um poder calorifico superior de
21023J/g. Com uma prensa hidráulica efetuou-se a briquetagem das amostras há uma
pressão de 15.000 kg/cm3 e tempo de um minuto. Analisou-se a expansão volumétrica, a
análise química imediata e o teste de durabilidade dos briquetes. Através da expansão
volumétrica observou-se uma expansão de 11% para os briquetes de capim e 8% para os
briquetes produzidos a partir da blenda. Por meio da análise química imediata realizada
em triplicata, observou-se que a blenda apresentou 10,3% de teor de cinzas e desvio
padrão de 0,4% e 42,7% de teor de voláteis com desvio padrão de 13,4%, resultando em
47% de carbono fixo. No teste de durabilidade obteve-se uma durabilidade de 13% para
a blenda e para o briquete de capim jaraguá de 93% de durabilidade. Pode-se comprovar
que o capim jaraguá mostrou-se apto para utilização como ligante, pois permitiu uma
estruturação e consequentemente a formação de briquetes utilizando finos de carvão.
Palavras-chave: Bioenergia, densificação, biomassa.

JARAGUÁ GRASS AS A BINDER FOR CHARCOAL FINE PARTICLES


BRIQUETTES

Abstract: The work aims to densify the residues, in order to verify the formation of fine
coal briquettes using jaraguá grass (hypharrenia rufa) as a binder and to evaluate their
physical and energetic properties. A mixture of 75% jaraguá grass and 25% fines of coal
was made obtaining a higher calorific value of 21023J / g. The samples were briquetted
with a hydraulic press at a pressure of 15,000 kg/cm3 and time of one minute. Volumetric
expansion, immediate chemical analysis and durability test of briquettes were analyzed.
Through the volumetric expansion an expansion of 11% was observed for the briquettes
of grass and 8% for the briquettes produced from the blend. Through immediate chemical
analysis carried out in triplicate, it was observed that the blend had 10.3% ash content and
0.4% standard deviation and 42.7% volatile content with 13.4% standard deviation,
resulting in 47% of fixed carbon. In the durability test, a durability of 13% was obtained
for the blend and for the jaraguá grass briquette of 93% durability. It can be proved that
the jaraguá grass proved to be suitable for use as a binder, as it allowed for a structure and
consequently the formation of briquettes using fine coal.
Keywords: Bioenergy, densification, biomass.

185
1. INTRODUÇÃO

O Brasil é privilegiado pela diversidade energética presente em sua extensão


territorial, suas culturas sazonais proporcionam grandes volumes de biomassa, as quais
contam com um elevado potencial de inserção na geração de energia elétrica ou utilização
em processos que compartilham da energia térmica. Segundo Nones et al. (2017) define-
se biomassa, como todo resíduo animal e vegetal proveniente do meio ambiente ou de
processos industriais, agroindustriais e agrícolas. Segundo Chrisostomo (2011) e
Nakashima et al. (2017) o Brasil possui vantagens devido às condições climáticas, com a
disponibilidade de resíduos florestais e agroindustriais durante todo ano. Tais resíduos
apresentam algumas problemáticas como o alto teor de umidade, dificuldade para
transporte, armazenamento, além de possuir um baixo poder calorífico comparado com
os combustíveis fósseis.
As indústrias estão em transformações, onde o principal interesse é pela eficiência
energética da planta industrial como um todo. Segundo Tavares e Tavares (2015) a
briquetam é o processo utilizado para concentrar uma maior quantidade de resíduo em
um menor volume, reduzindo a umidade e permitindo uma uniformidade para transporte.
De acordo com Dias (2012) como o país é um dos maiores produtores agrícolas e
florestais do mundo, a quantidade de biomassa residual representa uma enorme
quantidade de energia, o aproveitamento mais eficiente de toda essa energia acontece
quando aplicado o processo de densificação.
O carvão vegetal é obtido através da pirólise da madeira, sendo um dos resíduos
mais utilizados pelas siderúrgicas. De acordo com Crestana (2009) crescem os plantios
de eucalipto para a produção deste, já que geram um produto de alta qualidade. De acordo
com Pereira (2009) e Oliveira (2013) devido à sua fragilidade, o carvão vegetal possui
capacidade de se fragmentar em pequenos pedaços durante a produção, transporte e seu
manuseio, gerando em torno de 25% de finos, os quais são descartados. De acordo com
Martins et al. (2016) diferente de países desenvolvidos, o Brasil utiliza em larga escala o
carvão no setor industrial, boa parte da totalidade voltada ao setor siderúrgico. Há uma
necessidade imediata na reutilização e recuperação desses finos, uma forma de tornar o
processo mais eficiente e reduzir o descarte impróprio deste, além de possuir elevado
potencial energético.
Conforme Freitas (2016) por se tratar de uma cultura sazonal e com plantios
voltados a pastagem animal, muitos tipos de gramíneas apresentam elevadas quantidades
de biomassa podendo resultar em um alto potencial energético. Dentre estes tipos de
gramíneas, o capim jaraguá (hypharrenia rufa) caracteriza-se por possuir hastes rígidas,
capazes de atingir 6 m de altura. De acordo com Silva et al. (2018) destaca-se o cultivo
de biomassa lignocelulósica, esse cultivo em sua maioria é utilizado na alimentação de
bovinos e outros animais, também conta com uma elevada eficiência no processo de
conversão da energia solar através da fotossíntese.
O objetivo deste trabalho é fazer a densificação do capim jaraguá e a blenda de
capim jaraguá e finos de carvão vegetal eucalipto citriodora (corymbia citriodora), a fim
de verificar a formação dos briquetes de finos de carvão utilizando capim jaraguá como
ligante, bem como a análise química imediata, poder calorífico superior e teste de
durabilidade.

186
2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia adotada no trabalho é representada pela figura (1).

Figura 1- Metodologia adotada na execução das etapas do trabalho


Fonte: Autoria própria, (2020).

2.1 Preparo do material

Foram coletados cerca de 5 kg de capim jaraguá em lavouras na região de


Auriflama-SP, assim como foram coletados cerca de 6 kg de finos de carvão eucalipto
citriodora (Corymbia citriodora), cedidos pela empresa Carvão Vegetal Vila Aurea
situada na cidade de Auriflama-SP.
Realizou-se o pré-tratamento do capim jaraguá, que compreendeu a secagem em
uma estufa à 105ºC (±0,5) até atingir um teor de umidade em torno de 10% a 12%. Em
seguida a trituração por meio de um moinho de facas, para, em seguida, ser armazenada
em sacos plásticos e encaminhada para as análises. O material utilizado para a produção
dos briquetes não teve separação de granulometrias através de peneiras, porém ao
realizar-se a análise química imediata, foi necessário realizar a separação do material na
granulometria de 60 mesh (0,250 mm), como estabelece a norma utilizada ABNT NBR
8112/86.

2.2 Caracterização do material

A análise química imediata foi realizada em triplicata. Para determinação do teor


de voláteis, utilizou-se aproximadamente 1,0 g de amostra seca. Cada amostra foi
acondicionada em um cadinho de porcelana previamente pesado e tarado, o qual foi
tampado e conduzido a uma mufla à temperatura de 900 (± 10 °C), em que permaneceu
por 3 min sobre a porta aberta, por 3 min no interior da mufla com a porta aberta e por 7
min no seu interior com a porta fechada. O teor de materiais voláteis é a fração da
biomassa que gaseifica em temperatura elevada. O cálculo do teor de matérias voláteis
pode ser dado pela equação (1).
𝑚2−𝑚3
𝑀𝑉 = 𝑥 100 (1)
𝑚

187
Onde:
MV = teor de matérias voláteis, em %;
m2 = massa inicial do cadinho + amostra, em g;
m3 = massa final do cadinho + amostra, em g;
m = massa da amostra, em g.

Em síntese, o teor de umidade é obtido através da razão entre a quantidade de água


da amostra e a massa inicial da amostra. Os teores seguintes são obtidos em base seca
(bs), ou seja, sem umidade. O calculo do teor de umidade pode ser dado pela equação (2).

𝑚0−𝑚1
𝑇𝑈 = 𝑥 100 (2)
𝑚0

Onde:
TU = teor de umidade, em %;
m0 = massa inicial da amostra, em g;
m1 = massa final da amostra, em g.

Para a análise do teor de cinzas, pesou-se aproximadamente 1,0 g de material seco


em um cadinho de porcelana. Cinzas são o que resta do material após ser submetido à alta
temperatura (700 ºC) por cerca de 5h. Após esse intervalo, o cadinho foi colocado e
mantido em dessecador até atingir a temperatura ambiente, aferindo-se a massa final. O
teor de cinzas foi determinado pelo cálculo da massa residual pós-aquecimento, em
porcentagem dado pela equação (3).
𝑚1−𝑚0
𝐶𝑍 = 𝑥 100 (3)
𝑚
Onde:
CZ = Teor de cinza, em %;
m1 = massa do cadinho + cinzas, em g;
m0 = massa do cadinho, em g;
m = massa da amostra, em g.

Por fim, o teor de carbono fixo foi calculado subtraindo-se da totalidade (100%)
a soma dos teores de voláteis e de cinzas das amostras, dado pela equação (4).

𝐶𝐹 = 100 − (𝐶𝑍 + 𝑀𝑉) (4)


Onde:
CF = teor de carbono fixo, em %;
CV = teor de cinza, em %;
MV = teor de matérias voláteis, em %.

O poder calorífico é a relação entre a quantidade de calor liberada por um material


e o volume desse material. Tal teste foi realizado em bomba calorimétrica localizado no
laboratório de biomassa e bioenergia da UFSCAR- Campus de Sorocaba, seguindo a
norma ASTM-D2015-96. Com os resultados destes testes, pode-se avaliar a qualidade do

188
material e compará-lo com outros materiais, a fim de determinar se trata de um
combustível propício para a aplicação desejada.

2.3 Processo de briquetagem

Colocou-se cerca de 20g da biomassa no molde metálico cilíndrico para, em


seguida, este através de uma prensa hidráulica ser submetido à pressão de 15 toneladas
por aproximadamente um minuto. Foram confeccionados 15 briquetes de capim jaraguá
e 15 briquetes da blenda, sendo 75% capim jaraguá e 25% finos de carvão, tal proporção
foi escolhida para que houve-se a formação dos briquetes, suas dimensões foram medidas
nos intervalos de um, três, cinco, sete, 12, 24, 48 e 72 horas após a compactação, dessa
forma pode-se conhecer a taxa de expansão volumétrica (𝑐𝑚3 ) dos briquetes através do
tempo (horas).

2.4 Teste de durabilidade

Realizou-se o teste de durabilidade de acordo com a CEN/TS 15210-2, o processo


consiste em colocar 100g de briquetes há uma rotação de 21 (± 0,1) rpm, até atingir 105
rotações. Os resultados foram obtidos através da equação (5).
𝑚𝑎
𝐷𝑈 = 𝑚𝑒 𝑥 100 (5)
Onde:
DU = Durabilidade, em %;
me = massa dos briquetes antes do teste, em g;
ma = massa dos briquetes após o teste, em g.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análise química imediata

Os dados da caracterização dos materiais encontram-se contidos na tabela 1, onde


se tem o teor de cinzas, teor de materiais voláteis, teor de carbono fixo e o poder calorífico
superior. Tais dados foram comparados com outros resíduos similares obtidos por Brand
et al. (2015), Martins et al. (2016) e Nakashima et al. (2017). Dentre os resultados é
possível notar que a blenda de capim Jaraguá e finos de carvão apresentou a melhor
relação quando comparados aos resíduos outros resíduos, seu PCS e teor e cinzas são
superiores ao resultado apresentado por Martins et al. (2016).

189
Tabela 1 – Análise química imediata e poder calorifico superior da blenda de 75%
capim jaraguá e 25% finos de carvão.
Resíduos CZ (%) MV (%) CF (%) PCS (MJ/kg)
Neste trabalho
Capim Jaraguá 6,81 ± 0,40 78,44 ± 0,52 14,75 ± 0,53 17,28
Finos de carvão 13,85 ± 1,37 25,60 ± 30,67 60,55 ± 21,66 23,86
Blenda capim 10,30 ± 0,04 42,69 ± 13,37 47,01 ± 13,61 21,02
jaraguá/ finos de
carvão
Nakashima
Capim elefante 3,80 78,98 17,22 17,20
Martins
Finos de carvão 18,33 27,50 54,17 18,29
+ amido
Brand
Carvão vegetal 1,96 32,85 65,17 64,49
Fonte: Autoria própria, (2020).

3.2 Expansão volumétrica

Os dados da expansão volumétrica encontram-se na figura 1, onde trata-se de um


gráfico de volume por tempo dos briquetes produzidos de capim jaraguá e da blenda.
Percebe-se que os briquetes produzidos a partir da blenda sofreram um desvio após 24
horas, esse fato ocorreu devido os briquetes por conta dos finos de carvão começarem a
se esfarelar com o manuseio e pela blenda absorver umidade do ambiente durante sua
expansão. Já os briquetes de capim jaraguá tem uma expansão continua ao longo do prazo
de 72 horas, não apresentando grande desvio mesmo absorvendo umidade do ambiente,
demostrando tendência de estabilizar sua expansão após 24 horas. Observou-se uma
expansão de 11% para os briquetes de capim e 8% para os briquetes produzidos a partir
da blenda.

Figura 2 - Expansão volumétrica dos briquetes produzidos a partir da blenda de 75%


capim jaraguá e 25% finos de carvão e 100% capim jaraguá. Fonte: Autoria própria,
(2020).
190
3.3 Teste de durabilidade

No teste de durabilidade dos briquetes, obteve-se uma durabilidade de 13% para


a blenda e 93% para o briquete de capim jaraguá. Segundo Garcia (2010) pellets de
madeira produzido no Brasil, através do método descrito pela norma CEN/TS 15210-2,
apresentam alta durabilidade mecânica com medida superior a 80%. A blenda fez com
que fosse possível produzir briquetes de fino de carvão, pois o capim jaraguá, conseguiu
agir como ligante e estruturar o briquete, visto que briquetes somente de finos de carvão
não conseguem ser produzidos.

4. CONCLUSÃO

Observa-se que os briquetes 100% de finos de carvão não conseguiram manter


uma estrutura adequada. Com o estudo realizado e através do teste de durabilidade, pode-
se comprovar que o capim jaraguá mostrou-se apto para utilização como ligante, pois
permitiu uma estruturação e consequentemente a formação de briquetes utilizando finos
de carvão. Em trabalhos futuros pretende-se estudar blendas com porcentagens diferentes,
a fim de verificar uma melhor composição para a produção desses briquetes.

REFERÊNCIAS

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Combustível Sólido. 2011. 56p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Materiais) – Universidade
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ASTM D2015-96. Standard test method for gross caloric value of coal and coke by the adiabatic
bomb calorimeter; 1996.

192
CARACTERIZAÇÃO DE BIOMASSAS PARA O PROCESSO DE PIRÓLISE
RÁPIDA

Adriana Garcia1, Ana Paula de Souza Silva1, Marcelo Aparecido Mendonça1, Vittor
Rodrigues Santos Alves1
1
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo - IPT
E-mail: adrianag@ipt.br

RESUMO: As questões ambientais vêm motivando o interesse em utilizar resíduos


agroindustriais no aproveitamento energético. Nesse cenário, os biocombustíveis sólidos
e líquidos constituem uma fonte importante de energia renovável no mundo. O objetivo
desse trabalho foi caracterizar cinco tipos de diferentes biomassas que serão utilizadas em
ensaios de pirólise rápida para avaliar suas características físico-químicas na geração de
energia renovável. Foi utilizado cavaco e casca de Eucalyptus sp, bagaço e palha de cana-
de-açúcar (Saccharum officinarum L.) e resíduos alimentares provenientes do restaurante
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT. As amostras foram caracterizadas in natura
de acordo com os métodos propostos pelas normas American Society for Testing and
Materials - ASTM E1757 e International Organization for Standardization - ISO 14780.
Foram realizadas as análises imediatas, elementares e de poder calorífico. Para a
determinação da umidade foram utilizadas as normas ASTM E1756-8 e ASTM E871. O
teor de cinzas foi obtido pela combustão da biomassa, conforme as normas ASTM E1755
e ASTM D1102-84. Os compostos voláteis foram determinados seguindo a norma ASTM
D1762-84 e para o cálculo do carbono fixo a ASTM D3172. Para a obtenção dos teores
de carbono, hidrogênio e nitrogênio foi utilizada a ASTM D5373 método A e do teor de
enxofre a ASTM D4239. O teor de oxigênio foi calculado conforme ASTM D3176. A
determinação do poder calorífico superior seguiu o método ASTM D5865, que consistiu
na combustão de uma pastilha de amostra. O poder calorífico inferior foi calculado
subtraindo a quantidade de energia liberada durante a condensação da água.
Palavras-chave: biomassa; potencial energético; bio-óleo, processo termoquímico.

193
CHARACTERIZATION OF BIOMASSES FOR THE RAPID PYROLYSIS
PROCESS

Abstract: Environmental issues have been motivating the interest in using agro-industrial
waste for energy use. In this scenario, solid and liquid biofuels are an important source of
renewable energy in the world. The objective of this work was to characterize five types
of different biomasses that will be used in fast pyrolysis tests to evaluate their
physicochemical characteristics in the generation of renewable energy. Chip and bark
from Eucalyptus sp, bagasse and straw from sugar cane (Saccharum officinarum L.) and
food residues from the restaurant of the Institute for Technological Research - IPT were
used. The samples were characterized in natura according to the methods proposed by the
American Society for Testing and Materials - ASTM E1757 and International
Organization for Standardization - ISO 14780. Immediate, elementary and calorific
analyzes were performed. ASTM E1756-8 and ASTM E871 were used to determine
humidity. The ash content was obtained by combustion of biomass, according to the
standards ASTM E1755 and ASTM D1102-84. The volatile compounds were determined
according to the ASTM D1762-84 standard and for the calculation of fixed carbon to
ASTM D3172. To obtain the carbon, hydrogen and nitrogen contents, ASTM D5373
method A was used and the sulfur content was ASTM D4239. The oxygen content was
calculated according to ASTM D3176. The determination of the higher calorific value
followed the ASTM D5865 method, which consisted of the combustion of a sample tablet.
The lower calorific value was calculated by subtracting the amount of energy released
during water condensation.
Keywords: biomass; energetic potential; bio-oil, thermochemical process.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a população mundial gera uma grande quantidade de resíduos, o que


merece atenção especial de estudos de gerenciamento e de novas tecnologias capazes de
produzir energia a partir desses resíduos (FERREIRA et al, 2018).
Questões ambientais têm alavancado o interesse por fontes renováveis de energia
e nesse contexto, os resíduos agroindustriais surgem como fonte importante para a
produção de energia e de novos materiais. Entretanto, a conversão de biomassa em vários
produtos com valor agregado para aproveitamento dos resíduos agroindustriais e geração
de menor impacto ambiental ainda depende do desenvolvimento e da implementação de
processos sustentáveis e viáveis economicamente (MORAES et al, 2017).
Biomassa é qualquer recurso renovável derivado de material orgânico de origem
animal ou vegetal, existente na natureza ou gerada pelo homem e/ou animais, como,
resíduos de atividades agrícolas, industriais e também resíduos urbanos que podem ser
usados como alternativa de energia. A biomassa utilizada para produção de energia tem
uma particularidade em comparação com outras fontes: o processo de conversão pode
gerar combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos, sendo considerada uma vantagem sobre
outras fontes, pois, confere certa flexibilidade de adaptação tecnológica de acordo com a
necessidade.
O uso de biomassa para geração de energia é um assunto que tem muita
importância, principalmente por ser um combustível renovável, devido às expectativas de
194
esgotamento das reservas mundiais de combustíveis fósseis e pressões da sociedade por
soluções ambientais para o problema das emissões de gases poluentes e das mudanças
climáticas (FERREIRA et al, 2018).
O consumo de energia de biomassa pode estimular o crescimento econômico,
pois, pode levar a um aumento do investimento no setor de energia, gerando empregos,
além da redução do país nas importações de combustíveis fósseis. A biomassa pode ser
neutra em carbono como as plantas que são utilizadas para gerar biocombustíveis
(incluindo dendezeiros e soja para biodiesel, cana-de-açúcar e milho para etanol) que
absorvem dióxido de carbono (CO2) à medida que crescem. Contudo, a possibilidade da
biomassa desempenhar as funções de impulsionar o crescimento econômico e reduzir as
emissões de CO2 depende, em parte, do grau de como ela poderá substituir os
combustíveis fósseis. Isso ocorre porque os combustíveis fósseis são responsáveis pela
maior parte do uso de energia em todo globo (SOLARIN; BELLO, 2019).
Atualmente, a energia da biomassa contribui com aproximadamente 10% da
energia global, sendo que dois terços dessa bioenergia são gerados em países em
desenvolvimento e o restante em países desenvolvidos. A bioenergia é uma opção de
energia atraente devido à sua flexibilidade e seu potencial de integração com todas as
etapas das estratégias de desenvolvimento, além de fornecer energia com menos emissões
de gases de efeito estufa do que os combustíveis fósseis (WELFLE; 2017). O Brasil é
altamente importante para o mercado global de biomassa devido à sua vasta produção de
plantações como a cana-de-açúcar, que é a matéria-prima predominante para a indústria
do etanol, e ainda pode aumentar a produção, pois o país possui grande área territorial
que pode ser utilizada sem risco de desmatamento.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estima um potencial de
expansão da safra em 1.190.000 km2, sendo 690.000 km2 no cerrado e 500.000 km2 na
conversão de pastagens. Ressalta-se que áreas degradadas ou em solo exposto poderiam
também ser convertidas para plantios de biomassas com fins energéticos. (WELFLE;
2017). Grandes propriedades agrícolas no Brasil também são fontes importantes de
matérias-primas no setor de bioenergia. As taxas de produção de cana-de-açúcar
obtiveram aumentos anuais de 9,7% nos últimos anos, sendo os principais fatores: a
melhoria contínua na produtividade, alta demanda nacional e internacional de açúcar e o
aumento das exportações de bioetanol. Embora o investimento na indústria brasileira de
produção tenha cada vez mais focado na produção de recursos para o mercado de
exportação, as perspectivas continuam a prever um crescimento em curto prazo.
O Brasil também possui um grande mercado de biomassa florestal utilizada para
produção de carvão vegetal, briquete e pellets de madeira. Este mercado é considerado,
por alguns, como uma das oportunidades comerciais mais promissoras com a Europa,
mas ainda é necessário desenvolvimento de pesquisas para atender aos critérios rigorosos
de sustentabilidade da comunidade europeia. Há um número crescente de empresas
brasileiras buscando informações sobre o mercado europeu e estabelecendo ligações
comerciais com o setor de pellets. Isso é amplamente considerado como sendo uma boa
oportunidade para o Brasil, mas ainda está na fase inicial.
A Associação Brasileira da Biomassa e Energia Renovável confirmou que o Brasil
possui 10 plantas produtoras de pellets de madeira, usando predominantemente, resíduos
de pinus e eucalipto, os quais têm uma capacidade de cerca de 320.000 toneladas por ano.
Outras plantas de pellets estão em desenvolvimento, o que aumentará a produção para
195
mais de três milhões de toneladas, o que colocaria o Brasil como grande produtor e
exportador de pellets (WELFLE, 2017).
Além das biomassas citadas anteriormente, o resíduo sólido urbano (RSU) passou
a ser uma importante fonte na produção de bioenergia. A preocupação com o destino do
RSU gerado pela sociedade aumenta cada vez mais, principalmente nas grandes cidades,
pois a escassez de áreas para novos aterros se tornou um problema administrativo para as
prefeituras. O descarte de resíduos gera vários problemas como: dispersão desses detritos
dificulta a coleta e transporte, trazendo riscos à saúde e degradando o meio ambiente. No
Brasil, um dos caminhos adotados para a resolução do problema do RSU foi a criação da
Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
considerada eficiente e adequada para a solução dos problemas nacionais.
Em busca de processos alternativos e complementares aos utilizados atualmente
como aterro sanitário, compostagem, biodigestão e incineração, pesquisadores também
vêm estudando e desenvolvendo tecnologias como o processo de pirólise, que pode ser
uma alternativa para produção de energia e biocombustíveis. O conhecimento das
propriedades físico-químicas das biomassas é fundamental para a definição e escolha do
processo mais adequado de conversão, constituindo uma etapa do planejamento
necessária quando se pensa em energia renovável. No caso do RSU, considerando sua
heterogeneidade e diversidade de materiais que o constitui, a obtenção de dados
representativos e a aplicação de métodos analíticos para a determinação de alguns
parâmetros podem ser críticos (GARCIA, et al, 2018).
A partir do exposto, o objetivo desse trabalho foi caracterizar cinco tipos de
diferentes biomassas que serão utilizadas em ensaios de pirólise rápida para avaliar suas
características físico-químicas na geração de energia renovável.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Esse trabalho foi realizado no Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes


(LCL), na Seção Sustentabilidade de Recursos Florestais (SSRF) e no Laboratório de
Energia Térmica (LET) do IPT. As amostras de biomassas típicas, Figura 1 (cavaco e
casca de eucalipto, bagaço e palha de cana-de-açúcar), foram pré-tratadas e cedidas pelo
LET, e a de resíduos alimentares (Figura 2) foi proveniente do restaurante do IPT.

Figura 1 - Preparação das amostras de biomassas típicas


196
As amostras foram caracterizadas in natura sendo necessária a preparação destas
conforme os métodos propostos pelas normas ASTM E1757 e ISO 14780. As amostras
foram preparadas no LCL, por meio das seguintes etapas: secagem e moagem, sendo
necessária granulometria menor que 60 mesh para atender os requisitos das normas
empregadas na caracterização físico-química. Os resíduos alimentares (Figura 2) foram
secos durante 24 horas em estufa a 105 °C e após o período de secagem foram moídos e
peneirados.

Figura 2 - Preparação da amostra de resíduo alimentar.

A análise química elementar define o teor dos elementos que formam parte da
composição química das biomassas que vão originar biocombustíveis, tais como,
carbono, hidrogênio, nitrogênio, enxofre, oxigênio (CHNSO) e outros componentes de
menor importância. A análise imediata define o teor, normalmente em percentagem, de
massa de carbono fixo, matérias voláteis, cinzas e umidade. Estes parâmetros estão
relacionados diretamente com a utilização do biocombustível e são importantes para o
cálculo do projeto da fornalha e/ou caldeiras. A energia contida nas biomassas é a
quantidade de calor liberada pela combustão de uma unidade de massa (kJ.kg-1). Para
fins energéticos ocorrem variações em função de características intrínsecas como o poder
calorífico, densidade e umidade que afetam o rendimento energético.

2.1 Determinação da Umidade (U), ASTM E1756-8 e ASTM E871-82

As amostras foram colocadas em estufa de circulação a 105 °C e após essa


secagem, foram trituradas, utilizando um moinho de facas marca Fortinox, modelo STAR
FT 80/I, com peneira interna de 60 mesh.

2.2 Determinação do teor de cinzas, ASTM E1755 e ASTM D1102-84

O teor de cinzas é o teor aproximado da quantidade dos minerais e materiais


inorgânicos em uma amostra. O resíduo carbonáceo foi reduzido a cinzas por
aquecimento em mufla elétrica, marca Fornitec com circulação de ar com capacidade para
atingir 950 ºC.

197
2.3 Determinação do teor de matérias voláteis, ASTM D1762-84

Para a determinação dos compostos voláteis foi utilizada uma mufla de marca
Forlabo. As amostras foram colocadas em cadinho de porcelana fechado durante 2
minutos a 300°C, em seguida, permaneceu a 500 °C durante 3 min e para finalizar a 950
°C por 6 minutos.

2.4 Determinação dos teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio, ASTM D5373

A combinação da elevada temperatura do forno (900 a 1050 °C) com a vazão do


oxigênio puro (99,999% de pureza) a 20 mL/min, resultaram na combustão da massa
conhecida, empregando um analisador elementar da marca Thermo, modelo Flash 2000,
com uma vazão de oxigênio. Todo o material contido na amostra passa por um processo
de oxirredução e o carbono, hidrogênio e nitrogênio contidos são liberados na forma de
dióxido de carbono (CO2), vapor de água e nitrogênio (N2), respectivamente.

2.5 Determinação do teor de enxofre total com detecção no infravermelho, ASTM


D4239

Os ensaios foram realizados no equipamento LECO, modelo S-144 DR Dual


Range Sulfur Analyzer pela combustão das biomassas a 1370 °C utilizando oxigênio
ultrapuro. Durante a combustão, o enxofre presente nas amostras é convertido em dióxido
de enxofre (SO2) e detectado pela célula de infravermelho.

2.6 Determinação do poder calorífico superior (PCS) e inferior (PCI), ASTM D5865

O PCS é a quantidade de energia liberada quando uma unidade de massa de um


combustível é queimada na bomba calorimétrica a pressão constante e condições
específicas com toda a água formada condensada no estado líquido. Foi preparada uma
pastilha de 1,0 g utilizando a biomassa com granulometria menor que 60 mesh em base
seca. A bomba calorimétrica marca Parr, modelo 6400 foi pressurizada automaticamente
com oxigênio (99,5%), iniciando a ignição e combustão das amostras. Para o PCI, é
necessário que todos os produtos gerados, incluindo a água, estejam no estado gasoso. O
PCS é computado a partir de observações de temperatura antes, durante, e depois da
combustão e seu resultado é calculado pelo software do equipamento e impresso no final
da análise.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de carbono é uma propriedade química com maior % de massa na


composição elementar das biomassas estudadas. Essa característica contribui na
combustão gerando mais energia. Para todos os tipos de biomassas típicas (bagaço e palha
de cana-de-açúcar, cavaco e casca de eucalipto), o valor médio determinado foi de 45,8%
(Tabela 1). As biomassas que têm maiores teores de carbono indicam um grande potencial
para serem utilizadas em processos térmicos (SANTOS et al., 2011). Já as concentrações
elevadas de enxofre e nitrogênio, segundo Obernberger (2005), contribuem
198
negativamente para a saúde humana e para o meio ambiente. Isto acontece devido à
formação de óxidos de nitrogênio (NOx) e dióxido de enxofre (SO2) durante a combustão
das biomassas.
A Tabela 1 apresenta os resultados dos ensaios físico-químicos das biomassas que
foram realizados em base seca. As biomassas típicas possuem composição similar quanto
à análise elementar (CHNSO), já os resíduos alimentares apresentaram resultados
maiores devido à sua composição química. Observa-se que o valor obtido de nitrogênio
para os resíduos alimentares foi maior, provavelmente, devido ao uso de fertilizantes
agrícolas (8,3%), e o valor de oxigênio (22,23%) está relacionado à composição da
amostra.
As biomassas típicas apresentaram uma menor variação dos resultados de PCI. A
diminuição média foi de 2,3 MJ/kg e esse valor está relacionado com os valores das
umidades das biomassas serem menores que o dos resíduos alimentares.
Os resíduos alimentares apresentaram valor de PCS (20,28 MJ/kg), acima dos valores
determinados para as biomassas típicas, provavelmente, pela presença de óleo vegetal
utilizado na preparação dos alimentos, o que contribui para o aumento do poder calorífico
(MENDONÇA et al., 2008).

199
Tabela 1 - Resultados dos ensaios físico-químicos das biomassas.
Casca
Bagaço de Palha de Resíduos
Cavaco de de
Designação da amostra cana de cana de alimentar
eucalipto eucalipt
açúcar açúcar es
o
3,0 9,0 0,4 4,8 5,1
Carbono -
46,4 43,0 48,5 45,1 55,63
% massa
Hidrogênio
6,13 5,82 6,72 6,16 8,46
- % massa
Nitrogênio -
0,2 0,4 0,1 0,3 8,3
% massa
Enxofre - %
<0,1 <0,1 <0,1 <0,1 0,41
massa
Oxigênio -
44,27 41,78 44,28 43,64 22,23
% massa
Carbono
fixo - % 17,6 14,4 17,0 20,1 16,8
massa
Materiais
voláteis - % 79,4 76,6 82,6 75,1 78,1
Material massa
seco Poder
calorífico
18,88 17,84 19,71 17,65 20,28
superior -
MJ/kg
Poder
calorífico
17,56 16,59 18,26 16,32 18,48
inferior -
MJ/kg
Poder
calorífico
superior 16,73 15,95 17,52 15,21 4,40
BU -
MJ/kg
Poder
calorífico
15,28 14,57 15,97 13,74 2,12
inferior BU
- MJ/kg
Material
Umidade -
como 11,4 10,6 11,1 13,8 3,6 (**)
% massa ( *)
recebido
Fonte: Garcia (2020). (*) São valores de umidade residual. (**) Umidade total (78,3%)

200
4. CONCLUSÃO

O Brasil tem um grande potencial para geração de energia renovável, devido à


diversidade de biomassas que possui. A caracterização das biomassas forneceu
informações sobre as propriedades químicas e físico-químicas determinantes, particulares
a cada aplicação e principalmente o valor energético para a escolha do processo térmico,
controle de emissões, corrosão e melhor desempenho do processo na geração de
bioenergia.
De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que os resíduos alimentares têm
potencial para serem utilizados como matéria-prima na produção de energia renovável,
visto que o valor de poder calorífico é similar aos valores típicos de biomassas já
utilizadas nas indústrias para geração de bioenergia. Ressalta-se que outros ensaios devem
ser realizados como, por exemplo, a análise quantitativa das cinzas para conhecer o seu
comportamento e, o quanto isso pode influenciar na corrosão dos equipamentos de
conversão energética.
Durante a etapa de preparação da amostra de resíduos alimentares, foi observado
que a heterogeneidade da amostra exige estudos mais detalhados nos processos de
separação e segregação da fração orgânica, retirando materiais inorgânicos que venham
contaminar e diminuir o potencial energético do resíduo orgânico.

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201
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202
CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE DUAS
MICROALGAS MARINHAS CULTIVADAS EM DIFERENTES
LUMINOSIDADES

Yemall Alexander Maigual Enriquez1,3, Camilo Lenin Guerrero Romero 2, Giovana


Katherine Bucheli Casanova2, Daniela Alexandra Diaz Jurado 2, Maria Fernanda Timana
Morales2, Danny Steven Pantoja Moreno 2, Sandra Milena Mafla Mejia2, Marco Antonio
Imues Figueroa2
1
Universidad de Nariño, Departamento de Recursos Hidrobiológicos, Professor;
2
Universidad de Nariño, Departamento de Recursos Hidrobiológicos, Estudante;
3
Universidad Cooperativa de Colombia, Facultad de Ingeniería – Grupo - ESLINGA
E-mail: alex.feisunesp@gmail.com

RESUMO: Energias renováveis definidas como aquelas que possuem uma fonte
praticamente inesgotável, tendo como referência o tempo médio de vida de um ser
humano, sendo o uso tecnicamente viável. Dentro desses tipos de energia, a biomassa
refere-se à matéria renovável de maneira biológica, entre as quais se encontram as algas,
representando um grupo de organismos autotróficos abundantes nos corpos d'água.
Possuem conteúdo significativo de ácidos graxos dos quais podem ser obtidos
biocombustíveis como o biodiesel, sendo que seu interesse está aumentando devido ao
seu potencial de produzir grandes quantidades como alternativa aos combustíveis fósseis.
Cepas de Tetraselmis sp. e Thalassiosira sp. foram cultivadas no laboratório de ficologia
do Departamento de Recursos Hidrobiológicos da Universidad de Nariño, Colômbia. O
cultivo foi realizado sob sistema estático, utilizando como fonte de nutrientes a solução
F/2, sob duas intensidades de luz LED (3200 e 5800 Lux). A identificação e quantificação
da quantidade de ácidos graxos em sua estrutura foi analisada por cromatografia gasosa.
Conforme às intensidades luminosas, foram identificados os ácidos graxos para
Tetraselmis sp., palmítico 12,2% e 11,5 %, palmitoléico 8,0% e 7,6 %, oleico 21,1% e
16,9 %, linoleico 18,4% e 16,5 % e linolênico 15,9% e 17,7 %, e para Thalassiosira sp.,
palmítico 20% e 9,1 %, palmitoléico 52,2% e 50,9 %, mirístico 14,4% e 9,1 %,
pentadecanóico 2,8% e 2,3 %. Através dos resultados obtidos neste estudo, podemos
considerar as algas usadas como biomassa de interesse como fonte de energia renovável.
Palavras-chave: Algas, ácidos graxos, biocombustíveis, renovável.

203
CHARACTERIZATION OF THE FATTY ACID PROFILE OF TWO MARINE
MICROALGAE GROWN IN DIFFERENT LUMINOSITIES

Abstract: Renewable energies defined as those that have a practically inexhaustible


source, having as reference the average life span of a human being, the use is technically
feasible. Within these types of energy, biomass refers to renewable matter in a biological
way, among which are algae, representing a group of autotrophic organisms abundant in
water bodies, with a significant content of fatty acids which can be obtained biofuels such
as biodiesel, and its interest is increasing due to its potential to produce large quantities
as an alternative to fossil fuels. Strains of Tetraselmis sp. and Thalassiosira sp. were
grown in the phycology laboratory of the Department of Hydrobiological Resources at
the Universidad de Nariño, Colombia, under a static system, using the F/2 solution as a
nutrient source, under two LED light intensities (3200 and 5800 Lux), to identify and
quantify the amount of fatty acids in its structure, analyzed by gas chromatography. For
Tetraselmis sp, palmitic 12,2% and 11,5%, palmitoleico 8,0% and 7,6 %, oleic 21,1% and
16,9 %, linoleic 18,4% and16,5 and linolenic 15,9% and 17,7 %, fatty acids were
identified. For Thalassiosira sp, palmitic 20% and 9,1 %, palmitoleic 52,2% and 50,9 %,
myristic 14,4% e 9,1 %, pentadecanoic 2,8% e 2,3 % fatty acids were identified. Through
the results obtained in this study, we can consider the algae used as a biomass of interest
as a source of renewable energy.
Keywords: Algae, fatty acids, biofuels, renewable.

1. INTRODUÇÃO

Devido à redução dos recursos de combustíveis fósseis e a problemas ambientais


causados por eles, como poluição do ar e da água, chuvas ácidas e aquecimento global,
foram feitos esforços nas últimas décadas para expandir a pesquisa e desenvolver recursos
para energia renovável de fontes não fósseis. Além de atender às necessidades de proteger
a água e as terras agrícolas para a produção de alimentos, combater o efeito estufa (AZIZI;
KESHAVARZ; ABEDINI, 2018; DEMIRBAS, 2011).
As microalgas cultivadas em água salgada e em áreas áridas oferecem uma
oportunidade considerável para a produção avançada de biocombustíveis ao mesmo
tempo; no entanto, elas também representam um desafio considerável. Diferentes estudos
mostram que os biocombustíveis de microalgas são tecnicamente viáveis. As microalgas
representam uma tecnologia, com aplicações comerciais atualmente limitadas, dedicadas
a nutracêuticos e suplementos alimentares, aquicultura, pigmentos, ácidos graxos poli-
insaturados, diagnósticos e produtos químicos finos; destes, o setor de biocombustíveis
ainda precisa expressar seu potencial real.
O principal fator que limita o desenvolvimento de mercados, especialmente os de
algas e biocombustíveis alimentares, são os custos de produção. O custo real está
relacionado à complexidade da fase de cultivo e aos processos subsequentes necessários
para extrair o potencial energético desses produtos. As algas podem ser convertidas em
vários tipos de biocombustível através de liquefação, pirólise, gaseificação, extração e
transesterificação, fermentação e digestão anaeróbica (CHIARAMONTI et al., 2015;
DEMIRBAS, 2011). O objetivo do trabalho foi realizar a caracterização do perfil de
ácidos graxos de duas microalgas marinhas cultivadas como diferentes luminosidades.
204
2. MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido nos laboratórios de Ficologia e Cromatografia da


Universidad de Nariño, Colômbia.
As cepas de microalgas marinhas Tetraselmis sp. e Thalassiosira sp. foram
cultivadas no laboratório de Ficologia, sob sistema estático. Água salgada foi preparada
a 30 ppt de salinidade para o desenvolvimento celular normal com adição de sal para
aquários Instant Ocean®. As culturas foram realizadas em frasco de vidro com
capacidade para 4 L, utilizando como fonte de nutrientes a solução F/2 Kent MARINE®,
2,0 mL/L de solução (1,0 mL/L solução A e 1,0 mL/L solução B) e para Thalassiosira sp.
foi necessário adição de 1,0 mL/L de solução de metassilicato de sódio, aeração constante
usando aerador de 750W, mangueira de aquário de 5 mm de diâmetro, controlado por
válvulas, lâmpadas LED dimerizáveis de 18W, dimmer, para regular as duas intensidades
de luz de 3200 e 5800 Lux para cada grupo de microalgas. Os cultivos de microalgas
foram feitos em triplicata. Realizou-se contagem diária em câmara Neubauer, calculando
a densidade (Equação 1).

cel ∑ quadranantes centrais


Densidade algal (mL) = ( ) x25.000 (1)
5

Para a colheita das algas foi suspendida a aeração durante duas horas. Depois
desse intervalo retirou-se o material sedimentado na garrafa e colocado em tubos de vidro
e centrifugadas a 3500 rpm por 10 minutos. O material sedimentado colocou-se em vidro
de relógio para secagem em estufa a 60°C até atingir massa constante. O material seco
armazenou-se em tubos eppendorf para seu transporte ao laboratório de Cromatografia.
Para a preparação e análise das amostras por cromatografia em fase gasosa, foi
necessário extrair os ácidos graxos por extração sólido-líquido utilizando clorofórmio
como solvente, por um período de 6 horas em agitação contínua. Posteriormente, os
extratos orgânicos foram concentrados por pressão reduzida a 40°C e redissolvidos em 2
mL de clorofórmio para iniciar o processo de derivatização. O reagente de derivação
utilizado foi o metanol: ácido clorídrico a 5% v / v. Os ésteres metílicos dos ácidos graxos
derivados foram extraídos com 4,0 mL de n-hexano grau HPLC, depois concentrados sob
pressão reduzida e redissolvidos em 1 mL de hexano, mantendo-os em frascos âmbar a
temperatura de 4°C até o momento da análise. A identificação foi realizada utilizando
uma mistura de padrões de éster metílico analisados sob as mesmas condições
operacionais. Finalmente, a quantificação foi realizada por porcentagem relativa de áreas.
As amostras foram chamadas como TE1 e TH1, para aquelas amostras que foram
submetidas a uma intensidade luminosa de 3200 Lux e TE2 e TH2 para uma intensidade
luminosa de 5800 Lux.

205
Tabela 1 – Intensidade da luz utilizada nos ensaios
Microalga Intensidade da luz Código da
Amostra
Tetraselmis sp 3200 TE1
5800 TE2
Thalassiosira sp 3200 TH1
5800 TH2
Fonte: Autoria própria

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na figura 1, observa-se que as algas cultivadas com luminosidade de 3200 Lux,


tendem a ter uma quantidade menor de células por mililitro e têm um tempo de
crescimento mais longo; TE1 2,96 x 10^6 ± 0,25 x 10^6 cel/mL no dia oito e TH1 0,95 x
10^6 ± 0,19 x 10^6 cel/mL no dia 14, em relação àqueles cultivados com luz na
intensidade de 5800 Lux, que tendem a aumentar a densidade celular por mililitro e
diminuir o tempo de colheita; TE2 3,13 x 10^6 ± 0,03 x 10^6 cel/mL no dia sete e TH2
1,58 x 10^6 6 ± 0,33 x 10^6 cel/mL no dia 10.
O exposto acima mostra que, ao fazer pequenas alterações nos sistemas de
produção, neste caso, a intensidade da luz, pode estabelecer maiores concentrações de
algas em menos tempo, esse tipo de organismo, é caracterizado por seu rápido
crescimento e alta eficiência de fixação de carbono; consequentemente, o carbono
capturado e armazenado é alcançado durante o crescimento e a colheita, o que foi exposto
acima possivelmente se reflete em um benefício econômico, diminuindo o tempo de
cultivo e a concentração de biomassa de algas disponível para produção de energia
(CHEN et al., 2015; CHIARAMONTI et al., 2015).

4,E+06
± 0,03 x 10^6
3,E+06
3,E+06
Células / mL

± 0,25 x 10^6
2,E+06 TE1
± 0,33 x 10^6
2,E+06 TE2
1,E+06 TH1
5,E+05 ± 0,19 x 10^6 TH2
0,E+00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Dias de cultivo

Figura 5- Curva de crescimento média das microalgas Tetraselmis sp. e Thalassiosira


sp. em diferentes intensidades de luz.

Devido aos abundantes lipídios (16 - 25 %), carboidratos 8 - 24 % e proteínas (40-


50 %) contidos na biomassa de microalgas, essas são uma matéria-prima promissora para
os biocombustíveis de terceira geração (CHEN et al., 2015). A percentagem relativa de
206
ácidos graxos apresentados na tabela 1 tem pequenas variações quando cultivadas em
diferentes condições de luminosidade.

Tabela – 1 Composição percentual de ácidos graxos de Tetraselmis sp. e


Thalassiosira sp. com duas intensidades de luminosidade.
Quantidade Relativa (%)
Identificação para ácidos
No. Pico TE1 TE2 TH1 TH2 graxos
3200 Lux 5800 Lux 3200 Lux 5800 Lux
1 12,2 11,5 20 9,1 Ácido Palmítico C16:0
2 8,0 7,6 52,2 50,9 Ácido Palmitoleico C16:1
3 10,1 9,1 5,1 7,9 Não identificado1
4 14,2 20,7 5,5 20,7 Não identificado2
5 21,1 16,9 - - Ácido Oleico C18:1
6 18,4 16,5 - - Ácido Linoleico C18:2
7 15,9 17,7 - - Ácido Linolénico C18:3
8 - - 14,4 9,1 Ácido Mirístico C14:0
9 - - 2,8 2,3 Ácido Pentadecanóico C15:0

Observa-se que na composição dos ácidos graxos de Tetraselmis sp. O maior


percentual foi obtido pelo ácido oleico com 21,1% em condições 3200Lux; no entanto, a
mudança na intensidade da luz em 5800 Lux esse valor foi reduzido para 16,9%.
Comportamento semelhante é expresso pela maioria dos ácidos presentes nessas algas,
com exceção do ácido não identificado 1, que apresenta um ligeiro aumento na
porcentagem (Figura 2).

207
Figura 6 - Cromatograma Tetraselmis sp. a- 3200lux e b-5800lux

Na Figura 3, o comportamento percentual de Thalassiosira sp. mostra, da mesma


forma que Tetraselmis sp. hum, um efeito inverso, pois a luminosidade é aumentada em
relação ao teor percentual dos diferentes ácidos graxos, com exceção do ácido não
identificado graxo 2, que varia de 5,5 a 20,7%. O exposto acima pode estar relacionado
como evidenciado na Figura 1, com o aumento da divisão celular e do desgaste de energia
nesse processo, o que afeta sua distribuição, crescimento, composição e metabolismo,
refletindo na diminuição do teor de ácidos graxos. Efeitos semelhantes foram obtidos
quando a cultura de algas foi realizada em diferentes temperaturas, impactando
significativamente a composição lipídica dos organismos fotossintéticos. (WEI;
HUANG; HUANG, 2014) levando em consideração que, as concentrações de cada
componente dependem da natureza do organismo, das condições ambientais e fisiológicas
(OHSE et al., 2015). Deve-se estabelecer que os parâmetros de produção das algas são de
grande importância, pois são considerados uma linha de grande interesse ao se pensar em
alternativas de energia renovável, como foi demonstrado até o momento em que a
composição lipídica dominante foi encontrada. Das extrações de Isochrysis galbana foi
ácido palmítico (C16: 0) com 22,3%. (SILITONGA et al., 2017). Nannochloropsis sp.

208
tem um grande potencial para lipídios neutros acumulados até 50% da biomassa seca,
com triglicerídeos representando o componente mais abundante, que produz um óleo que
atende aos requisitos químicos da matéria-prima de biodiesel (CHIARAMONTI et al.,
2015). Os biocombustíveis desenvolvidos são combustíveis renováveis que podem
substituir os combustíveis fósseis e reduzir o efeito estufa na atmosfera (CHEN et al.,
2015).

Figura 7 - Cromatograma Thalassiosira sp. a- 3200lux e b-5800lux

4. CONCLUSÃO

As algas cultivadas com luminosidade de 3200 Lux foram caracterizadas por


apresentar menor densidade em contraste com as produzidas em 5800 Lux que
produziram maior quantidade em menos tempo. No entanto, o aumento da luminosidade
levou à diminuição da porcentagem relativa de ácidos graxos presentes nessas algas,
devido possivelmente a um desgaste energético para compensar a divisão celular,
afetando diretamente a disponibilidade desses elementos para uso de energia. A variação

209
da luz é um fator que influencia diretamente a porcentagem de concentração de ácidos
graxos, tornando-se uma opção econômica e fácil de manipular.

REFERÊNCIAS

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biomass by using pyrolysis method. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 82, n.
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Bioresource Technology, v. 184, p. 314–327, 2015.

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Opportunities. Energy Procedia, v. 75, p. 819–826, 2015.

DEMIRBAS, M. F. Biofuels from algae for sustainable development. Applied Energy, v. 88, n.
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SILITONGA, A. S. et al. Optimization of extraction of lipid from Isochrysis galbana microalgae


species for biodiesel synthesis. Energy Sources, Part A: Recovery, Utilization and
Environmental Effects, v. 39, n. 11, p. 1167–1175, 2017.

WEI, L.; HUANG, X.; HUANG, Z. Temperature effects on lipid properties of microalgae
Tetraselmis subcordiformis and Nannochloropsis oculata as biofuel resources. Chinese Journal
of Oceanology and Limnology, v. 33, n. 1, p. 99–106, 2014.

210
CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO MUNICÍPIO
DE ITAQUAQUECETUBA - SP E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL TEÓRICO
PARA O APROVEITAMENTO ENERGÉTICO EM UMA UNIDADE DE
GASEIFICAÇÃO

Matheus Ambrósio Gonçales1, Laís Cassaro1, Katherine Benites Bonato Marana1, Kelly
C. R. Drudi2, Graziella Colato Antonio 1, Juliana Tófano de Campos Leite1
1
Universidade Federal do ABC, 2UNIP
E-mail: matheus_goncales@hotmail.com

RESUMO: Esse artigo abordou o conceito de resíduos sólidos urbanos e a problemática


acerca da destinação dos mesmos. A gaseificação, processo que consiste na conversão
dos resíduos sólidos à base de carbono em um gás com potencial energético, é considerada
uma destinação bastante interessante para os resíduos no viés sustentável, ambiental e
tecnológico. É uma tecnologia que trata os resíduos e converte os mesmos em
combustível, contribuindo na diversificação da matriz energética. O objetivo principal foi
o de avaliar, por meio de análises experimentais e cálculos teóricos, as propriedades
físicas e químicas dos resíduos gerados no município de Itaquaquecetuba e comparar seu
potencial de aproveitamento energético com os resíduos do município de Santo André,
ambos situados no Estado de São Paulo. Na sequência, foi avaliado o potencial teórico
para aproveitamento energético por meio da gaseificação. A caracterização das amostras
de Itaquaquecetuba, divididas em cinco frações, sendo elas sanitários, plásticos, têxteis,
papel/papelão e matéria orgânica, além da amostra de mistura de todas as outras citadas
anteriormente, indicou, de forma geral, baixos desvios em relação aos valores já
encontrados na literatura, seja para a análise imediata, análise elementar, poder calorífico
superior e inferior e como também, por fim, a quantidade de ar necessária para
gaseificação. As frações que possuem menores teores de umidade e de cinzas, e por
sequência maiores teores de carbono, além de possuírem maiores valores de poder
calorífico superior e inferior se destacam perante às demais na gaseificação, como é o
caso das frações de papel/papelão, plástico e de têxteis.
Palavras-chave: conversão energética, RSU, caracterização, matriz energética.

211
CHARACTERIZATION OF URBAN SOLID WASTE FROM
ITAQUAQUECETUBA - SP AND EVALUATION OF THEORETICAL
POTENTIAL FOR ENERGY USE IN A GASIFICATION UNIT

Abstract: The article addressed the concept of urban solid waste and the problems of
their disposal. The main objective was to compare by means of theoretical and
experimental analysis the characteristics of the waste generated in the municipalities of
Santo André and Itaquaquecetuba, both located in the State of São Paulo, and also
evaluate the theoretical potential for energy use through gasification. Gasification,
process of converting carbon-based solid waste into a gas with energy potential, is
considered a very interesting destination for waste in a sustainable, environmental and
technological way. The characterization of Itaquaquecetuba samples, divided into five
fractions, namely sanitary, plastics, textiles, paper and organic matter, in addition to the
mix, which is the mixture of all others previously mentioned, generally indicated low
deviations from the values already found in the literature, whether for immediate analysis,
elemental analysis, higher and lower heating value and, finally, the amount of air needed
for gasification. The fractions that have lower moisture and ash content and,
consequently, higher carbon content, besides having higher values of higher and lower
heating value, stand out from the others in gasification, such as the fractions of paper,
plastic and textiles.
Keywords: Solid waste conversion, characterization, energy matrix.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e


Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2017, no Brasil, foram geradas 214.868 toneladas de
resíduos sólidos urbanos (RSU) por dia, um aumento diário de mais de 5.000 toneladas
quando comparado a 2013 (ABRELPE, 2017). Esses números evidenciam a importância
da destinação adequada para os resíduos e da necessidade de criação de novas tecnologias
que permitam extrair, sustentavelmente, o máximo possível dos rejeitos, em forma de
energia, de modo a entregar ao ambiente o mínimo de impacto negativo.
Os tratamentos de resíduos sólidos urbanos que permitem o reaproveitamento dos
mesmos para geração de energia podem ser realizados pelas rotas termoquímica ou
bioquímica. Entre os processos termoquímicos, um dos principais é a gaseificação, que
por definição sucinta é o ato de transformação de produtos carbonados por meio da
combustão incompleta desses resíduos em gás combustível (LUZ, 2013). Esse gás
produzido, conhecido como gás de síntese, pode ser composto dos seguintes gases
combustíveis: CO, CH4, H2, CO2, N2, H2O, C2H2, C2H4, C2H6 e outros hidrocarbonetos.
Adicionalmente, são produzidos alcatrão (em baixas concentrações), além de
contaminantes como particulados, metais, cloretos, álcalis, sulfetos, etc.
A Gaseificação de RSU apresenta algumas vantagens interessantes perante outras
tecnologias: uma combustão mais limpa, tendo em vista que, pela sua construção, o gás
combustível gerado passa por ciclones e, assim, retira-se grande parte de suas impurezas;
esse gás combustível gerado também pode ter a destinação direta para geração de energia
elétrica, vantagem que permite ao empreendedor de tal tecnologia agregar valor ao
negócio e, muitas vezes, viabilizar tal empreendimento (INFIESTA, 2015).
212
Os resíduos sólidos urbanos são considerados bastante heterogêneos, tanto em
tamanho como em propriedades. Desse modo, o conhecimento da composição
gravimétrica é essencial nesse processo, pois permite definir a composição dos resíduos
em função da concentração mássica de categorias mais homogêneas, como vidro,
plástico, papel/papelão, orgânicos, têxteis e outros. O pré-tratamento, ou mesmo a coleta
seletiva, e a divisão dos RSU em diferentes frações homogêneas que os compõem é uma
maneira de minimizar os desvios ocasionados pela heterogeneidade na sua composição,
garantindo assim maiores possibilidades de destinação para os resíduos.
No que se refere ao processo termoquímico de gaseificação, o conhecimento das
características dos resíduos sólidos permite a obtenção da quantidade de ar necessária
como agente gaseificante e do poder calorífico, e auxilia também na determinação de
condições operacionais para o gaseificador (LUZ, 2013).
Frente ao cenário observado, este trabalho teve por objetivo analisar o potencial
de aproveitamento energético dos resíduos sólidos gerados no município de
Itaquaquecetuba, município da Região Metropolitana de São Paulo, a partir da
determinação experimental de propriedades físicas e químicas de amostras
estatisticamente representativas desses resíduos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste trabalho, as amostras coletadas dos resíduos do município de


Itaquaquecetuba passaram previamente por uma análise da composição gravimétrica, na
qual os resíduos foram divididos em diversas frações, seguindo a metodologia
apresentada por Drudi (2017). Neste trabalho, foram analisadas as cinco frações
combustíveis que compõem os resíduos: Orgânica (MO); Papel/Papelão (PP), Plásticos
(PL), Sanitários (S) e Têxteis (T). Adicionalmente, foi avaliada uma composição dessas
diferentes frações, representativa da massa total dos RSU, que foi denominada de Mix
(Tabela 1).

Tabela 1: Frações e seus respectivos exemplos.


Fração Exemplos
Restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas, verduras, galhos e folhas
Orgânica (MO)
de podas, entre outros
Papéis/Papelão (PP) Papel branco, jornais, papelão, Tetra Pack
Polietileno de alta densidade (PEAD), Polipropileno (PP), Policloreto de
Plásticos (PL)
Vinila (PVC), Sacos plásticos, Isopor
Sanitário (S) Papel sanitário, fraldas e absorvente
Têxteis (TE) Tecidos, couro, pano
Mix (MX) Mistura das cinco frações
Fonte: Autoria própria.

213
A amostra mix, é uma composição elaborada a partir de amostras das frações MO,
PP, PL, S e TE, em porções ponderadas em função da composição gravimétrica média.
Para composição da amostra, foi seguida a metodologia descrita por Cenedese (2019),
conforme a equação (1):

𝑀𝑖𝑥 = % 𝑀𝑂𝐺 ∗ 𝑀𝑂 + %𝑃𝐿𝐺 ∗ 𝑃𝐿 + %𝑇𝑋𝐺 ∗ 𝑇𝑋 + %𝑃𝑃𝐺 ∗ 𝑃𝑃 + %𝑆𝐺 ∗ 𝑆 (1)

Em que:
%MO = % de matéria orgânica presente na análise gravimétrica do município
%PL = % de plástico presente na análise gravimétrica do município
%TX = % de têxtil presente na análise gravimétrica do município
%PP % de papel presente na análise gravimétrica do município
%S = % de sanitário presente na análise gravimétrica do município

Essas amostras foram analisadas no Laboratório de Análise e Caracterização de


Biomassa da Universidade Federal do ABC, localizado no campus de São Bernardo do
Campo.
Tendo como premissa e embasamento nos dados e metodologias acerca das
análises gravimétricas e elementares já realizadas dos resíduos de Santo André por Drudi
(2017), Gomez (2016) e Marana (2017), as amostras do município de Itaquaquecetuba
passaram por outras etapas de caracterização como composição imediata, composição
elementar e poder calorífico.
Na análise da umidade, tanto in loco quanto de equilíbrio foi utilizada a
metodologia apresentada pela Standart Methods EPA 2540G (EPA,1997). Os sólidos
totais foram determinados por diferença, a partir da umidade.
Para determinação dos sólidos voláteis e das cinzas foram usadas as normas a
seguir, respectivamente, como referências: E 897-88 - Standard Test Method for Volatile
Matter in the Analysis Sample of Refuse-Derived Fuel; ASTM E 830-87 Standard Test
Method for Ash in the Analysis Sample of Refuse-Derived Fuel. (GOMEZ, 2016).
A análise elementar foi realizada utilizando o analisador elementar, seguindo a
Standard Methods E-870-06 para biomassa.
Os valores para PCS e PCI foram obtidos teoricamente, com o apoio de deduções
e equações que se baseiam nos resultados das análises de composição elementar e
imediata.

214
Tabela 2: Equações para obtenção do PCS e PCI.
Modelo Equação
Lloyd e PCSs [MJ/kg] = (8546*C+27126*H-2018*O+1419*N+2672*S)*0,00418
Davenport PCIw [MJ/kg] = ((1-w)*[8546*C+27126*H-2018*O+1419*N+2672*S]-[(1-w)*9*H+w]*583,2)*0,00418

PCSs [MJ/kg] = (8400*C+27766*H-2649*O+1500*N+2672*S)*0,00418


Boye
PCIw [MJ/kg] = ((1-w)*[8400*C+27766*H-2649*O+1500*N+2672*S]-[(1-w)*9*H+w]*583,2)*0,00418
VanderLoo & PCIw [MJ/kg] = PCSs*(1-w)-2,444*w-2,444*H*8,936*(1-w)
Kopejan
Fonte: Adaptado de POLI et al., 2013.
Legenda: PCSs: Poder Calorífico Superior dos RSU, em base seca (MJ/kg); PCIw: Poder Calorífico Inferior
dos RSU, na condição de umidade “w” (MJ/kg); C: % em massa e em base seca de Carbono, expressa entre
0 e 1; H: % em massa e em base seca de Hidrogênio, expressa entre 0 e 1; O: % em massa e em base seca
de Oxigênio, expressa entre 0 e 1; N: % em massa e em base seca de Nitrogênio, expressa entre 0 e 1; S: %
em massa e em base seca de Enxofre, expressa entre 0 e 1

Os valores necessários do agente gaseificante, foram realizados por meio do


equacionamento da reação, tendo como base a composição elementar da fração específica
e a composição do combustível gerado, obtendo, assim, a quantidade de ar
estequiométrica na reação. Em sequência, a reação foi novamente equacionada, para
determinação da razão de equivalência, considerando um valor fixo de carbonos não
queimados e as relações molares (volumétricas) do gás de síntese já fixadas. A quantidade
de ar necessária para gaseificação foi então obtida pela multiplicação da quantidade de ar
estequiométrica com a razão de equivalência.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 3 apresenta os valores da composição imediata para as frações


combustíveis dos resíduos sólidos de ambos os municípios.

215
Tabela 3: Composição Imediata das frações combustíveis dos resíduos sólidos dos
municípios de Itaquaquecetuba e Santo André.
ITAQUAQUECETUBA SANTO ANDRÉ (CENEDESE, 2019; GOMEZ,
2016)
Umidade
Material Carbono Material Carbono
(%) Cinzas Umidade Cinzas
Fração Volátil (%) Fixo (%) Volátil (%) Fixo (%)
(Marana, (%) b.s (%) (%) b.s
b.s b.s b.s b.s
2019) 2
47,89 90,74 5,88 3,38 52,56 77,07 6,85 16,08
S
(±9,87) (±1,85) (±0,39) (±1,52) (±13,28) (±3,40) (±2,07) (±2,93)
40,88 86,58 11,45 1,98 23,27 89,33 6,67 4,00
PL
(±7,12) (±6,69) (±0,09) (±0,14) (±9,59) (±4,41) (±3,16) (±2,10)
32,36 94,55 3,26 2,19 31,88 83,47 6,09 10,44
TE
(±13,01) (±3,48) (±0,12) (±0,51) (±12,79) (±5,70) (±5,36) (±4,27)
39,18 82,26 12,65 5,09 32,24 73,9 10,13 15,97
PA
(±9,95) (±3,25) (±0,36) (±3,48) (±9,59) (±3,21) (±2,88) (±1,49)
66,20 68,35 24,00 7,64 68,21 61,14 22,48 16,38
MO
(±7,50) (±3,67) (±4,76) (±2,61) (±4,35) (±8,71) (±11,56) (±5,64)
81,94 10,95 7,12 76,62 13,04
MX 46,26 47,66 10,34
(±0,76) (±1,46) (±2,22) (±1,47) (±1,59)
Fonte: Autoria Própria.
Legenda: b.s: base seca; S = sanitários; PL = plásticos; TE = têxteis; PA = Papel/Papelão/TetraPak; MO =
matéria orgânica; MX = Mix

Segundo os dados apresentados na tabela 3, os resultados de cinzas e dos materiais


voláteis dos resíduos gerados em Itaquaquecetuba, comparados aos de Santo André,
apresentam de modo geral pouca variação entre as análises. Para os materiais voláteis de
Itaquaquecetuba o coeficiente de variação foi, na média das cinco frações mais a mix,
igual a 3,94%, enquanto para cinzas foi igual a 7,82%. Já para Santo André, os materiais
voláteis apresentaram um coeficiente de variação igual a 6,11% e de cinzas igual a
42,94%.
A fração de orgânicos de ambos os municípios apresentou elevada umidade,
justificada pela grande parcela de contribuição de alguns componentes que fazem parte
da mesma, como alimentos, vegetais e cascas de frutas.
A umidade da fração de plásticos apresentou grande diferença, quando
comparados os municípios de Itaquaquecetuba (40,88%) e Santo André (23,27%),
simbolizando um desvio entre os mesmos resultados de 43,07%. Esta variação pode ser
justificada pela já existência da coleta seletiva na cidade andreense, o que reduz a
“contaminação” provocada pelo contato com a fração orgânica. Já as outras quatro frações
apresentaram valores similares, com desvios variando de 1,48% (têxteis) a 8,89%
(sanitários).
A umidade contida na biomassa impacta diretamente o projeto do gaseificador,
pois quanto maior o teor contido na biomassa, maior será o consumo de energia nos pré-
tratamentos e menor será o poder calorífico do gás gerado (LUZ, 2013). Neste ponto de
análise, com 32,36% de umidade, a fração de têxteis em Itaquaquecetuba se destaca

2
MARANA, K. B. B. Comunicação verbal. Dados do Projeto de Análise da Composição
Gravimétrica dos RSU do município de Itaquaquecetuba. 2019.
216
perante as demais, apresentando melhores resultados e nesse quesito garantindo maior
eficiência para o processo de gaseificação.
Quanto maior o teor de voláteis contido na matéria-prima, maior será a produção
de alcatrão e, consequentemente, mais gases impuros na gaseificação, necessitando assim
de um sistema de limpeza com maior capacidade, dependendo da utilização final do gás
combustível (ASSUMPÇÃO, 1981). A fração de matéria orgânica, em ambos os
municípios, apresenta os menores valores de materiais voláteis, seguido da fração de
papel e papelão.
O conteúdo de cinzas não tem influência direta na composição do gás gerado,
porém além de afetar a eficiência do processo, afeta a operação e o tipo do gaseificador e
intensifica o processo de corrosão de equipamentos. Matéria orgânica, papel e papelão e
plástico são as frações que apresentam elevados teores de cinzas, já sanitários e têxteis,
os menores valores.
Um menor valor de carbono fixo para o resíduo impacta negativamente e
significativamente na produção dos componentes dos gases gerados durante a
gaseificação, tendo como base as reações envolvidas no processo, apresentadas por
Assumpção (1981) e Dias (1986). Os resíduos de Santo André apresentaram valores
superiores de carbono fixo em todas as frações, quando comparados aos de
Itaquaquecetuba, dando destaque para as frações de matéria orgânica com 16,38%,
sanitários com 16,08% e papel com 15,97%.
Quanto a análise elementar, a fração de plástico aparece com a maior porcentagem
de carbono em sua composição, tanto em Itaquaquecetuba com 68,63%, quanto em Santo
André com 76,36%. Esta fração é a que possui em ambos os municípios o menor teor de
oxigênio em sua composição sendo Itaquaquecetuba 7,26% e em Santo André 4,37%. O
teor de hidrogênio para o resultado de Itaquaquecetuba foi igual a zero, o que indica
problemas no analisador elementar, tendo em vista que a fração de plásticos é composta
por hidrocarbonetos. Valores encontrados para Santo André em Cenedese (2019), igual a
12,55% e para São José dos Campos em Balcazar, Dias e Balestieri (2013), igual a 7,2%
corroboram o fato.
Já o nitrogênio (N) não interfere significativamente na composição do poder
calorífico do combustível e também é inerte ao processo de gaseificação, agindo apenas
como solvente (ARAÚJO, 2016). É na fração orgânica que está presente a maior
quantidade desse elemento, como em alimentos, podas de árvores, etc.
Comparando-se os dados fornecidos por Balcazar, Dias e Balestieri (2013), para
a fração de papel de Itaquaquecetuba, o teor de carbono variou apenas 1,1% do resultado
obtido, enquanto que o hidrogênio teve um desvio de 4,5% e o oxigênio atingindo 13,5%.
Para a fração de têxteis, os valores são novamente correspondidos, apresentando uma
variação no carbono de 1,6%, 13,6% no hidrogênio e apenas 12,0 % no valor de oxigênio.
Já para a fração orgânica, a principal diferença está na quantidade de cinzas, enquanto o
estudo apontou 5%, os resíduos de Itaquaquecetuba apresentaram 24,00% de cinzas na
composição da amostra, e os de Santo André apresentaram 22,48%. Para os plásticos, os
teores de carbono, oxigênio e cinzas apresentaram desvios menores que 15%. A grande
diferença ficou centrada no hidrogênio, o qual foi obtido para Itaquaquecetuba o valor de
0% e 12,55% em Santo André.
A fração de plásticos, apresentando teor de hidrogênio igual a 12,00%, com base
em Cenedese (2019) e Balcazar, Dias e Balestieri (2013), apresentou tanto pela equação
217
de Lloyd (37,73 MJ/kg), como de Boyle (37,44 MJ/kg), os maiores valores dentre todas
as frações para o poder calorífico superior na base seca de Itaquaquecetuba, como também
nas amostras de Santo André por meio da bomba calorimétrica (36,65 MJ/kg).
Já a fração de matéria orgânica, influenciada pelo grande teor de umidade e de
cinzas, apresentou os menores valores para o poder calorífico inferior na base úmida tanto
para os resíduos de Itaquaquecetuba quanto para os de Santo André.
A fração de têxteis apresentou para a equação de Lloyd para o poder calorífico
superior na base seca de Itaquaquecetuba 22,99 MJ/kg e para a equação de Boye 8,64
MJ/kg, o maior valor para o poder calorífico inferior na base úmida.
De forma geral a equação de Boye para as amostras de Itaquaquecetuba se mostrou
a mais próxima dos valores obtidos na bomba calorimétrica das amostras de Santo André
para o poder calorífico superior na base seca, obtendo uma diferença média para as cinco
frações de 7,07% enquanto que, para o poder calorífico inferior na base úmida, a equação
de Vander Loo & Kopejan apresentou valores mais condizentes aos encontrados na
literatura.
Em média, as frações dos resíduos gerados em Itaquaquecetuba apresentam PCI
na base úmida igual a 11,43 MJ/kg, enquanto os gerados em Santo André apresentaram
valor igual a 11,59 MJ/kg. Os resultados possuem desvios menores que 1,00%,
representando assim que ambos os municípios possuem potenciais similares de
aproveitamento energético, com base no PCI.
Por fim, analisou-se a quantidade necessária do agente gaseificante na operação
do gaseificador. Tendo em vista que a composição final do gás de síntese se manteve
igual para a análise, as quantidades necessárias de ar tanto para reações estequiométricas,
como para agente gaseificante para o processo variaram estritamente pela diferença na
composição elementar de cada fração.
A fração de plásticos de Itaquaquecetuba e de Santo André apresentam os maiores
valores, justificado pelo alto teor de carbono e de hidrogênio e o baixo teor de umidade
em sua composição.
Já com a fração de matéria orgânica a situação é oposta, alto teor de umidade e
baixos valores para carbono e hidrogênio, necessitando assim de menores quantidades de
ar.
De acordo com Infiesta (2015), uma unidade de gaseificação de RSU no Vale do
Paranapanema, utilizando uma mistura de todas as frações (orgânicas e inorgânicas),
depois de um pré-tratamento de secagem, com umidade de 12%, possui uma relação de
ar na gaseificação igual a 0,34, valor médio próximo ao encontrado nas amostras de
Itaquaquecetuba (0,29) e de Santo André (0,26).

4. CONCLUSÃO
Conclui-se ao final deste trabalho que os resíduos analisados tanto em
Itaquaquecetuba quanto em Santo André apresentaram em suas composições imediatas
semelhanças significativas, destaque principal para o baixo desvio entre os mesmos na
umidade e cinzas.
Em relação ao poder calorífico superior e inferior, as equações levantadas
permitiram o cálculo dos mesmos, garantindo valores para as amostras de
Itaquaquecetuba condizentes com a literatura encontrada, inclusive de acordo com os

218
valores encontrados para o município de Santo André, como em Gomez (2016) e
Cenedese (2019).
A umidade tem bastante influência na operação de processos termoquímicos,
principalmente, no caso da gaseificação. Neste ponto é muito importante o pré-tratamento
dos resíduos, retirando assim o maior teor possível de umidade, maximizando os
resultados e eficiência dos processos, ficando evidenciada a inferioridade nos valores
energéticos da fração de matéria orgânica.
As frações de plástico, papel/papelão e têxteis se destacam perante as outras no
processo de gaseificação, levando em consideração menores teores de umidade e de
cinzas, e maiores teores de carbono, de hidrogênio, além de possuírem maiores valores
de poder calorífico superior e inferior.
A quantidade de ar necessária para gaseificação da fração de matéria orgânica é a
mais reduzida entre todas frações pelo fato de possuir em sua composição uma elevada
quantidade de umidade e de cinzas, além de um reduzido teor de carbono na composição
elementar.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Associação Brasileira das Empresa de Limpeza Pública e Resíduos especiais.


Panorama dos resíduos sólidos no Brasil – 2017

ARAÚJO, R. M. D. S. Estudo comparativo de processos de gaseificação de resíduos sólidos no


Brasil. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2016.

ASSUMPÇÃO, R. M. V. Gaseificação de madeira e carvão vegetal. In: FUNDAÇÃO CENTRO


TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS/CETEC. Gaseificação de madeira e carvão vegetal.
Belo Horizonte, 1981. O. 53-72.

BALCAZAR, J. G. C., DIAS, R. A. e BALESTIERI, J. A. P. 2013. Analysis of hybrid waste-


to-energy for medium-sized cities. Guaratinguetá - SP: Elsevier, 2013.

CENEDESE, C. H. S. Estudo comparativo de metodologias de preparo de amostras para


determinação experimental do poder calorífico médio de Resíduos Sólidos Urbanos. Santo
André: Universidade Federal do ABC, 2019.

DIAS, G. P. Efeito da vazão de ar e dos diâmetros da setia do reator na temperatura de


combustão em um gaseificador de fluxo concorrente. 1986. 57 p. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.

DRUDI, K.C.R. Modelo de predição do poder calorifico dos resíduos sólidos urbanos a
partir de sua composição gravimétrica.. Tese (Doutorado em Energia) — Universidade
Federal do ABC, 2017.

EPA – Standard Methods EPA 2540 G, Total, Fixed, and Volatile Solids in Solid and
Semisolid Samples - Approved by SM Committee: 1997.

219
GOMEZ, A. C. G. Caracterização da fração combustível de resíduos sólidos urbanos
úmidos do município de Santo André visando seu aproveitamento energético por
processos termoquímicos. Santo André: Universidade Federal do ABC, 2016.

INFIESTA, L. R. Gaseificação de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Vale do


Paranapanema – Projeto CIVAP. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2015.

LUZ, F. C. Avaliação Técnico-Econômica de Plantas de Gaseificação do Lixo Urbano para


Geração Distribuída de Eletricidade. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2013.

MARANA, K. B. B. Caracterização da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos do


município de Santo André (SP) para avaliação do potencial de produção de biometano.
Santo André: Dissertação (Mestrado em Energia) Universidade Federal do ABC, 2017.

POLI, D. C. R, et al. Uma avaliação das metodologias para determinação do poder


calorífico dos resíduos sólidos urbanos. Santo André: Anhanguera Educacional Ltda, 2013.

220
CAVACOS DE PODA URBANA SUBMETIDO AO PROCESSO DE
TORREFAÇÃO

Newton Belmiro de Lima1, Adriana Ferla de Oliveira1, Dilcemara Cristina Zenatti1,


Eveline Trindade1, Maristela Furman1
1
Universidade federal do paraná - setor palotina
E-mail: newtonblima96@gmail.com

RESUMO: A poda de árvores no meio urbano se torna algo fundamental para o bom
desenvolvimento, e para que não ocorra disputa entre elas e as redes de eletricidade, como
também para um bom aproveitamento da parte aérea. Diante da necessidade de utilização
e valoração destes resíduos este trabalho teve como objetivo determinar as características
físico-químicas e energéticas de cavacos de resíduos de poda urbana antes e após a
pirólise suave, torrefação. As amostras foram coletadas da cidade de Palotina – PR,
situada no oeste paranaense. A torrefação e as análises físico-químicas das amostras
foram realizadas no Laboratório de Química Orgânica, na UFPR - Setor Palotina.
Determinou-se o rendimento gravimétrico, os teores de umidade, materiais voláteis,
carbono fixo e cinzas. Para a análise dos resultados obtidos, utilizou-se um planejamento
fatorial 21, em que foram consideradas variáveis independentes a temperatura (T °C) e o
tempo (t(h)) de torrefação. O material coletado apresentou um elevado teor de umidade,
68,12 %. Após o processo de torrefação verificou-se melhora nas características
energéticas dos cavacos, aumento no teor de carbono fixo para 63,13 % e redução do teor
de materiais voláteis para 32,74 %. Desta forma, sugere-se que a torrefação melhora as
características energéticas dos cavacos e agrega valor ao produto final.
Palavras-chave: resíduo de poda, análise físico-química e torrefação.

URBAN PRUNING CHIPS SUBMITTED TO THE ROASTING PROCESS

Abstract: The pruning of trees in the urban environment becomes fundamental for the
good development, and so that there is no dispute between them and the electricity
networks, as well as for a good use of the aerial part. Faced with the need of using and
valuing these residues, this work aimed to determine the physical-chemical and energetic
characteristics of urban pruning waste before and after the smooth pyrolysis, roasting.
The samples were collected from the city of Palotina - PR, located in western Paraná.
Roasting and physical-chemical analysis of the samples were performed at the Organic
Chemistry Laboratory, UFPR - Setor Palotina. The gravimetric yield, humidity levels,
volatile materials, fixed carbon and ashes were determined. For the analysis of the results
obtained, a factorial planning 21 was used, in which the temperature (T C) and the
roasting time (t(h)) were considered independent variables. The collected material
presented a high moisture content, 68.12%. After the roasting process there was an
improvement in the energetic characteristics of the chips, an increase in the fixed carbon
content to 63.13 % and a reduction in the volatile material content to 32.74 %. Thus, it is
suggested that roasting improves the energy characteristics of chips and adds value to the
final product.
Keywords: Pruning residue, physical-chemical analysis and torrefaction.

221
1. INTRODUÇÃO

Os resíduos de poda são considerados grande parte de resíduo gerado por uma
cidade. Quando as implantações dos sistemas elétricos de distribuições e de arborizações
são planejadas de forma independente, geram transtorno para os órgãos municipais, uma
vez que, as árvores e as redes de distribuição, disputam pelo mesmo espaço físico
(CORTEZ et. al, 2008).
Para o bom desenvolvimento das árvores em espaços urbanos, a poda e a remoção
são métodos essenciais, para que não ocorram problemas com usos das vias públicas e o
espaço aéreo das cidades (NOLASCO; MEIRA; GATTI, 2013). Os resíduos provenientes
da poda e a remoção podem acarretar sérios problemas para o município caso não haja
um plano de gerenciamento dos resíduos, para um descarte adequado ou até a reutilização
do mesmo. Segundo Silva e Ronofio (2016), os resíduos de poda urbana na maioria das
vezes são descartados em aterros, consumindo espaço útil dos mesmos, reduzindo sua
capacidade e ampliando seus custos operacionais, uma vez que o material ocupa grande
volume.
De acordo com Angelis et. al (2007) os resíduos provenientes da arborização de
ruas ainda têm sua utilização e reciclagem pouco implementada. Uma forma de agregar
valor ao resíduo, seria a produção de briquetes, que se torna um produto com maior valor
agregado que a lenha trazendo, assim vantagens para o consumidor. Outra maneira de
agregar valor ao material seria submetê-lo a tratamentos térmicos, de acordo com Pincelli
(2011) “o tratamento térmico é conhecido como um dos mais antigos, fácil e viável
economicamente, com melhoras no que se refere à capacidade de repelência à agua,
estabilidade e resistência biológica da madeira”
Comparando o material in natura com o material torrado, este último apresentou
resultados satisfatórios, com aumento das características do material. Segundo Rodrigues
(2009), este tratamento térmico conduz a padronização das características físico-químicas
e mecânicas do material, assim concentrando a energia disponível em um novo produto,
com perda de massa limitada.
A torrefação é um tratamento térmico da biomassa que produz um combustível
com melhores características energéticas (RODRIGUES, 2009). Vidal e Hora (2011)
relatam que “a torrefação é semelhante a pirólise, que produz o carvão vegetal, de modo
que a madeira torrificada é um produto intermediário entre madeira seca e carvão vegetal”
os mesmos autores descrevem que a torrefação muda as propriedades da biomassa
volatilizando a hemicelulose, e a massa resultando em um material hidrofóbico. Com isso
o presente trabalho buscou caracterizar e realizar o processo de torrefação no resíduo
urbano de poda da cidade de Palotina, situada no oeste paranaense.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O cavaco da poda de árvores da cidade foi coletado junto à empresa terceirizada


que realiza este serviço no município de Palotina - PR. Os procedimentos experimentais
foram realizados no Laboratório de Química Orgânica da Universidade Federal do Paraná
- Setor Palotina.

222
A umidade do cavaco foi determinada pela norma TAPPI T-264 om-88. Em
seguida o material in natura foi seco em estufa a 105 °C e moído em moinho tipo Willey
e selecionado em conjunto de peneiras 40/60 mesh para realização da análise imediata
seguindo a normativa ASTM D-3172 até D-3175 (ASTM, 1983) em duplicata, onde
determinou-se os teores de carbono fixo (CF), materiais voláteis (MV) e cinzas (CZ).
A densidade do cavaco foi realizada pela norma ASTM D2395 – 14 (ASTM,
1995). A torrefação do cavaco foi realizada em forno mufla segundo metodologia
adaptada de ARIAS et al. 2007, o delineamento experimental apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 - Fatores experimentais e variáveis codificadas do delineamento.


Fatores Variáveis codificadas
Experimentais -1 0 +1
TC 240 260 280
t(h) 1 2 3

Para a análise dos resultados obtidos a partir dos cavacos de poda urbana torrados,
utilizou-se um planejamento fatorial 22, em que foram consideradas variáveis
independentes a temperatura, (T(C)) e o tempo (t(h)) de torrefação, cujos níveis são
apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Planejamento fatorial


Ensaios T(°C) t(h)
1 -1 240 -1 1
2 1 280 -1 1
3 -1 240 1 3
4 1 280 1 3
5 0 260 0 2
6 0 260 0 2
7 0 260 0 2

O rendimento gravimétrico foi calculado segundo Protásio et al. (2012) pela


equação:

𝑚 𝑡𝑜𝑟𝑟𝑎𝑑𝑎
RG (%) = x 100 (1)
𝑚 𝑠𝑒𝑐𝑎

Onde:
RG = Rendimento gravimétrico
mtorrada = massa torrada (g)
mseca = massa seca (g)

223
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo o responsável pela empresa que realiza o corte e a poda urbana no


município de Palotina, as árvores mais frequentes são Sibipiruna, Mangueira, Grevílea,
Ipê Branco, Chapéu de Couro, entre outros. Onde, galhos finos são moídos e destinada
ao aterro para compostagem e parte referente a troncos e galhos mais grossos é
transformada em cavaco e comercializada para fiz energéticos.
A umidade do cavaco analisado neste estudo foi de 68,12 %. Mazzonetto et al.
(2012) também determinaram um elevado teor de umidade para resíduo de poda urbana:
60,3 %. Souza, Alencar e Mazonetto (2016) determinaram 36,62 % de umidade para
podas de árvore do município de Piracicaba – SP e Martins (2013) determinou 20,99 %
de umidade para o resíduo de poda no município de Maringá – PR. Verifica-se que os
teores de umidade para a poda urbana podem ser variados. Estas diferenças ocorrem
devido às diferentes espécies de árvores, épocas de coleta, armazenamento, etc. O teor de
umidade da biomassa para fins energéticos deve ser inferior a 50 % (NOGUEIRA; LORA
et al., 2003; CORTEZ; LORA; GÓMEZ, 2008).
Para a análise imediata do cavaco in natura, obteve-se para os teores de carbono
fixo, materiais voláteis e cinzas, respectivamente: 15,97 %, 82,09 % e 1,94 %, valores
que estão de acordo com os valores apresentados na literatura 11,2 %, 82,4 % e 6,5 %
(MAZZONETTO et al. 2012) e 16,4 %, 75,4 % e 8,2 % (SOUZA, ALENCAR E
MAZONETTO, 2016). Verifica-se que o teor de cinzas determinado neste estudo é
inferior aos demais, uma vez que se analisou apenas o cavaco das árvores podadas
destinadas para energia. Teores reduzidos de cinzas são desejados, uma vez que se trata
de material inerte presente na biomassa tendo relação inversa com o poder calorífico.
Brun et al (2018) estudaram três materiais genéticos de Eucalyptus sp.: GFMO-
27, clone H-13 e híbrido E. pellita x E. tereticornis destinados a energia. Os teores de
carbono fixo foram de 16,23 %, 15,61 % e 13,27 %, materiais voláteis 83,17 %, 83,81 %
86,16 % e cinzas 0,60 %, 0,58 % e 0,57 %, respectivamente para cada material genético
estudado. O cavado de poda urbana apresentou valores semelhantes aos determinados
para os materias deste estudo.
Na tabela 3 são apresentados os resultados obtidos a partir da análise imediata e
poder calorífico do material torrado (Tabela 3).

Tabela 3 - Resultados para Rendimento Gravimétrico e análise imediata do


material torrado.
Ensaio Rendimento CF (%b.s.) MV CZ
gravimétrico (%) (%b.s.) (%b.s.)
1 51 52,18 43,66 4,15
2 44 56,76 38,46 4,78
3 49 54,43 40,97 4,61
4 41 63,13 32,74 4,13
5 49 55,67 39,51 4,82
6 46 54,41 41,40 4,18
7 46 54,04 41,57 4,40

224
O rendimento gravimétrico para a biomassa que é submetida ao processo de
pirólise é decrescente como observou Siebeneichler et al (2002) ao submeter a madeira
de Eucalyptus cloeziana, a pirolise em nove temperaturas entre 300 e 700 °C, do carvão
vegetal foi decrescente, chegando a 25% a 700 °C. Protásio et al. (2012) verificou para
briquetes dos resíduos do processamento dos grãos de café torrificados a 250 °C,
rendimento gravimétrico médio de 67,56 % e para o briquete carbonizado 450 °C
rendimento gravimétrico médio de 39,26 %.
Observa-se que não ouve diferença significativa entre os tratamentos para o teor
de cinzas, poder calorífico superior, poder calorífico inferior. Para o rendimento
gravimétrico observa-se que o tratamento 1 foi mais eficaz, para carbono e voláteis houve
diferença entre os tratamentos mas não se tornando significativo.
Comparando o material in natura com o material torrado apresentou resultados
satisfatórios, com aumento das características do material. Segundo Rodrigues (2009),
este tratamento térmico conduz a padronização das características físico-químicas e
mecânicas do material, assim concentrando a energia disponível em um novo produto,
com perda de massa limitada. A estimativa dos efeitos principais e de interação das
variáveis para o planejamento é apresentada na Tabela 1, onde se observou também os
valores obtidos para o erro padrão, p-valor, os valores dos coeficientes das variáveis do
modelo, o coeficiente de determinação do modelo (R2).

Tabela 4 - Estimativa dos efeitos para o Teor de Carbono Fixo (TCF) para o
planejamento 22 com (α=0,05).
Variável Efeito Erro padrão do efeito P - valor Coeficiente
Média/intercepto 55,80206 0,322634 0,000033 55,80206
T(C) 6,63858 0,853610 0,016135 3,31929
t(h) 4,30635 0,853610 0,037118 2,15318
T(C) x t(h) 2,06515 0,853610 0,136679 1,03257

Verifica-se que foram significativos a temperatura e o tempo, ou seja,


influenciaram positivamente o aumento de CF (p-valor < 0,05). Tal afirmação é
evidenciada no gráfico de pareto (Figura 1), onde pode-se verificar também que a
interação entre as variáveis não provocou efeito significativo. Na superfície de resposta
para o teor de carbono fixo (Figura 2) observa-se a tendência de que o aumento da
temperatura e do tempo de torrefação gera resultados positivos.

225
Padrão de Efeitos
CF (%)

T (oC) 7,78

t (h) 5,04

T (oC) x t (h) 2,42

p=0,05
Efeito estimado padronizado

Figura 1 - Gráfico de Pareto dos efeitos Figura 2 – Superfície de resposta do


estimados (valor absoluto) para do Teor Teor de Carbono Fixo CF (%) em função
de Carbono Fixo CF (%). do tempo t (h) e temperatura T (°C).

Na Tabela 5 estão apresentados os efeitos da temperatura e do tempo de torrefação


para o Teor de Materiais Voláteis (TMV).

Tabela 5 - Estimativa dos efeitos para o Teor de Materiais Voláteis (TMV) para o
planejamento 22 com (α=0,05).
Variável Efeito Erro padrão do efeito P - valor Coeficiente
Média/intercepto 39,75883 0,432206 91,99036 0,000118
T(C) -6,71527 1,143511 -5,87250 0,027794
t(h) -4,21114 1,143511 -3,68264 0,066469
T(C) x t(h) -1,51625 1,143511 -1,32596 0,316021

A partir dos resultados obtidos no planejamento fatorial 22, pode-se observar na


Tabela 5 que apenas a temperatura apresentou um efeito significativo no teor de materiais
voláteis para um nível de significância de 95%. No digrama de Pareto (Figura 3), observa-
se que a influência da temperatura é negativa.
Na Figura 4 está ilustrado o comportamento do teor de materiais voláteis diante
das variações de temperatura e tempo de torrefação, pode-se observar que este
comportamento é inversamente proporcional, ou seja, o aumento da variável resposta
(MV%) se dá nos menores valores das variáveis independentes (T, t).

226
Figura 3 - Gráfico de Pareto dos efeitos Figura 4 – Superfície de resposta do
estimados (valor absoluto) para do Teor Teor Materiais Voláteis MV (%) em
Materiais Voláteis MV (%). função do tempo t (h) e temperatura T
(°C).

Na Tabela 6 observa-se que o efeito da temperatura, do tempo de torrefação e da


interação entre os dois não apresentam resultado significativo no teor de cinzas, em um
nível de significância de 95%. Isto pode ser verificado também na Figura 5 do gráfico de
Pareto.

Tabela 6 - Estimativa dos efeitos para o Teor de Cinzas (TCZ) para o planejamento 2 2
com (α=0,05).
Variável Efeito Erro padrão do efeito P - valor Coeficiente
Média/intercepto 4,439113 0,123241 0,000770 4,439113
T(C) 0,076684 0,326066 0,835955 0,038342
t(h) -0,095213 0,326066 0,797786 -0,047607
T(C) x t(h) -0,548895 0,326066 0,234333 -0,274447

Na superfície de resposta para o teor de cinzas CZ(%), apresentada na Figura 6,


pode-se observar que não há uma tendência de comportamento para as variáveis
temperatura e tempo de torrefação.

227
Figura 5 - Gráfico de Pareto dos efeitos Figura 6 – Superfície de resposta do Teor
estimados (valor absoluto) para do Teor de cinzas CZ (%) em função do tempo t (h)
de Cinzas CZ (%). e temperatura T (°C).

A partir dos resultados do delineamento fatorial 22 obteve-se as equações


matemáticas do modelo de regressão linear ajustado e seus respectivos coeficientes de
determinação R2, para o teor de carbono fixo e teor de materiais voláteis. Na Tabela 6
são mostrados os modelos de regressão obtidos para cada uma das variáveis de resposta,
que apresentaram efeitos significativos.

Tabela 6 - Modelos de regressão linear com coeficiente de determinação R2


Combinação da Temperatura (T) e Tempo de torrefação (t)
Modelo de Regressão R2
TCF(%) = 55,80 + 3,32 T + 2,15 t 83,9%
TMV(%) = 1,18x10-4 + 277,9x10-4 T 61,15%

Para o parâmetro teor de cinzas, os resultados obtidos foram estatisticamente


inconclusivos para geração de modelo matemático. Para verificar o ajuste dos modelos
gerados fez-se necessário uma análise de varância (ANOVA), avaliando-se os
coeficientes de determinação e o teste F (Fcalculado/Ftabelado).

228
Tabela 6 – ANOVA para Teor Carbono Fixo CF (%) e Teor Materiais Voláteis MV (%)
Teor Carbono Fixo CF (%)
Causas da GL SQ MQ F p-valor Fcal/Ftab
variação
Regressão 2 62,61547 31,307735 42,96676731 0,0266265 2,26
Falta de ajuste 2 10,57778 5,28889 7,25847 0,121088
Erro 2 1,4573 0,72865
Total 6 74,65055
Teor Materiais Voláteis MV (%)
Causas da GL SQ MQ F p-valor Fcal/Ftab
variação
Regressão 1 45,09483 45,09483 34,48627 0,027794 1,86
Falta de ajuste 3 26,03307 8,67769 6,63626 0,133757
Erro 2 2,61523 1,30762
Total 6 73,74313

De acordo com o teste F (Fcal/Ftab) os modelos de regressão para o Teor de carbono


fixo e Teor de materiais voláteis são significativos estatisticamente, pois apresentam
razão maior que 1, indicando validade do modelo experimental. A partir da análise de
variância para o modelo ajustado pode-se concluir que a falta de ajuste para ambos os
modelos não é significativa, pois apresentam p-valor<0,05.

4. CONCLUSÕES

Conclui-se que o tratamento térmico foi eficiente para aumentar as características


do material, mas que o mesmo não houve variações significativas entre os resultados
variando a temperatura e tempo. A torrefação apresenta-se como uma boa alternativa para
agregar valor ao resíduo da poda da cidade, e podendo ser utilizado também como fonte
de energia.

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230
COMPARAÇÃO DAS METODOLOGIAS ASTM E ISO PARA A
CARACTERIZAÇÃO DO BAGAÇO DE AÇÚCAR AVALIANDO DOIS
MÉTODOS DE AMOSTRAGEM: QUARTEAMENTO E ALEATÓRIO

Renata Moreira1, Renato Cruz Neves,2, Pâmela Coelho Tambani,3, Danilo Eiji
Hirayama3, Pia Griesheimer,4, Ademar Hakuo Ushima3, Klaus Raffelt4
1
1 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo - IPT, 2Laboratório
Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol - CTBE, Campinas, Brasil., 3Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo - IPT, 4Instituto Tecnológico de
Karlsruhe - KIT, Karlsruhe, Germany.
E-mail: renatam@ipt.br

RESUMO: A maior parte das metodologias empregadas na caracterização de


biocombustíveis sólidos baseiam-se nos procedimentos descritos para carvão, coque e
madeira, que apresentam uma estrutura física mais estável quando comparados à
biomassa. Organizações como ASTM (American Society for Testing and Materials) e
ISO (International Organization for Standardization) vêm elaborando métodos
normalizados para caracterização de biomassa a fim de estabelecer parâmetros de análises
apropriados para a diversidade desses materiais. Caracterizar as propriedades físico-
químicas da biomassa é de extrema importância para avaliar a viabilidade de seu uso para
a produção de bioenergia. Neste trabalho o bagaço de cana de açúcar foi avaliado por dois
tipos de metodologias de amostragem, aleatório e quarteamento, e após esta separação,
as amostras foram preparadas em moinho de facas e moinho criogênico. Após a moagem,
determinou-se a análise imediata (umidade, cinzas, matérias voláteis, carbono fixo) e
análise elementar (carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e inorgânicos)
pelas normas ASTM e ISO. O teste t de Student foi utilizado para a comparação dos
métodos de amostragem e as propriedades avaliadas pela ASTM. Propriedades como
matérias voláteis e cinzas apresentaram resultados significativamente distintos quando
avaliados por Análise de Variância (ANOVA) fator único, entre as metodologias ASTM
e ISO nos diferentes tipos de moagem estudados, estes foram tratados pelo método de
Tukey. A heterogeneidade das amostras foi um dos principais fatores para a diferença dos
resultados encontrados. O método de amostragem influenciou não só na obtenção de
resultados representativos, mas também na aplicação final deste biocombustível em um
processo de conversão energético.
Palavras-chave: biomassa, caracterização, amostragem.

231
COMPARISON OF ASTM AND ISO METHODOLOGIES FOR THE
CHARACTERIZATION OF SUGARCANE BAGASSE EVALUATING TWO
SAMPLING METHODS: QUARTERING AND RANDOM

ABSTRACT: Most of the methodologies used in the characterization of solid biofuels


are based on the procedures described for coal, coke and wood, which have a more stable
physical structure when compared to biomass. Organizations such as ASTM (American
Society for Testing and Materials) and ISO (International Organization for
Standardization) have been elaborating standardized methods for characterizing biomass
in order to establish appropriate analysis parameters for the diversity of these materials.
Characterizing the physical-chemical properties of biomass is extremely important to
assess the feasibility of its use for the production of bioenergy. In this work, the sugarcane
bagasse was evaluated by two types of sampling methodologies, aleatory and quarter
methods, and after this separation, the samples were prepared in a knife and cryogenic
mill. After these milling process, immediate analysis (moisture, ash, volatile matter, fixed
carbon) and elementary analysis (carbon, hydrogen, nitrogen, oxygen, sulfur and
inorganics) were determined by ASTM and ISO standards. Student's t test was used to
compare sampling methods and properties evaluated by ASTM. Properties such as
volatile matter and ash showed significantly different results when evaluated by Analysis
of Variance (ANOVA) one way, between the ASTM and ISO methodologies in the
different types of milling studied, these were treated by the Tukey method. The
heterogeneity of the samples was one of the main factors for the difference in the results
found. The sampling method influenced not only the achievement of representative
results, but also the final application of this biofuel in an energy conversion process.
Keywords: biomass, characterization, sampling.

1. INTRODUÇÃO

O uso sustentável da biomassa como combustível depende do conhecimento de


sua composição e propriedades que impactam no design e na otimização dos processos
(VASSILEV, S.V. et al, 2015). Desta forma, a caracterização físico-química da biomassa
é um fator chave para a aplicação da biomassa para fins energéticos e compreende as
análises imediata, elementar e também o poder calorífico. A análise imediata está
relacionada às determinações dos teores de umidade, matéria volátil (MV), cinzas e
carbono fixo (CF) e a análise elementar está associada principalmente às determinações
dos seguintes elementos: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O),
enxofre (S), cloro (Cl) e o poder calorífico superior (PCS) (SINGH, Y.D. et al, 2017).
No que se refere normalização, a União Europeia, pelo comitê ISO/TC 238,
destaca-se pelo seu trabalho no desenvolvimento de metodologias aplicadas à
caracterização da biomassa (ISO, ISO/TC 238, 2020). A ASTM também tem um comitê
destinado ao estudo da biomassa (ASTM, Comitê E48, 2020), porém eles ainda não
disponibilizaram normas para todas as propriedades da biomassa, sendo necessária a
adaptação de outras normas ASTM aplicadas para carvão mineral, coque e madeira.
Neste trabalho foram comparadas as metodologias ASTM e ISO utilizadas para
caracterização das propriedades físico-químicas de biocombustíveis sólidos e também
foram avaliados métodos de amostragem e preparação. Para este estudo o bagaço de cana
232
de açúcar foi selecionado por representar uma das principais biomassas brasileiras e por
apresentar uma constituição física heterogênea.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram coletadas com auxílio de uma pá, 40 quilogramas da porção visualmente


mais seca da pilha de bagaço da cana de açúcar da usina localizada no município de
Iracemápolis, estado de São Paulo. Posteriormente essa biomassa foi seca em estufa com
circulação de ar, a 105 °C por uma noite. Após a pré-secagem, a amostra foi preparada
em moinho de batedor cruzado a fim de obter um tamanho de partícula de granulometria
menor que 2 mm, denominada amostra original.

2.1 Amostragem

Foram testados dois tipos de amostragem para estas biomassas, o método aleatório
e o método de quarteamento, ambos seguindo as normas para amostragem ISO
14780:2017 (E) e ISO 18135:2017.

2.2 Preparação da amostra

A amostra de bagaço de cana de açúcar foi moída para obtenção da granulometria


recomendada pelas normas 60 mesh (< 0,25 mm) em dois equipamentos distintos, o
moinho de facas tipo Willye e o moinho criogênico. No preparo pelo moinho de facas o
bagaço foi submetido à apenas uma passagem pelo equipamento e a fração que atingiu
60 mesh foi segregada por peneiramento para utilização nas análises. No preparo no
moinho criogênico toda amostra submetida a moagem atingiu a granulometria
especificada pelas normas (60 mesh).

2.3 Caracterização da biomassa

As metodologias utilizadas para caracterização das amostras de bagaço de cana de


açúcar estão apresentadas na Tabela 1. Ressalta-se que as metodologias para
determinação dos teores de Cl e S não fazem parte do comitê ISO/TC 238 destinado a
biocombustíveis sólidos.

233
Tabela 1. Metodologias utilizadas para a caracterização do bagaço da cana de açúcar.
Características ASTM ISO
Umidade ASTM E1756-08 (2015) ISO 18134-2:2017
Cinzas ASTM E1755-01 (2015) ISO 18122:2015

Matérias
ASTM D1762-84 (2013) ISO 18123:2015
voláteis1

Carbono Fixo1 ASTM D3172 (2013) -


PCS1 ASTM D5865 / D5865M-19 ISO 18125:2017
CHN 1
ASTM D5373-16 ISO 16948:2015
1
S ASTM D4239-18e1 ISO 15178:2000
1
O ASTM D3176-15 -
Inorgânicos ASTM D 6357-19 ISO 16967:2015
1
Normas aplicadas para carvão mineral e coque adaptadas pelo Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes para análise de bioma ssa.
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

2.4 Análise estatística

O teste t de Student foi utilizado para a comparação dos métodos de amostragem


e as propriedades caracterizadas pelo método ASTM. Análise de Variância (ANOVA)
fator único foi aplicado avaliando os resultados significativamente distintos, estes foram
tratados pelo método de Tukey para verificar a posição e correlação das diferenças
encontradas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Seleção do método de amostragem

O estudo comparativo das metodologias de amostragem foi realizado pelos


métodos aleatório e quarteamento, seguido da moagem em moinho criogênico. Os ensaios
foram realizados em triplicata e a Tabela 2 apresenta as médias e desvios padrões dos
resultados, em base seca.

234
Tabela 2. Caracterização das amostras de bagaço de cana de açúcar de acordo com as
normas ISO para os métodos de amostragem.
Método de amostragem
Propriedades
Aleatório Quarteamento
Umidade residual (% massa) 2,86 ± 0,02 2,80 ± 0,04
Cinzas (% massa) 8,41 ± 0,44 6,75 ± 0,30
MV (% massa) 79,64 ± 0,12 80,32 ± 0,44
CF (% massa) 11,95 ± 0,34 12,94 ± 0,32
C (% massa) 46,05 ± 0,16 47,40 ± 0,08
H (% massa) 5,87 ± 0,02 6,14 ± 0,01
N (% massa) 0,28 ± 0,01 0,28 ± 0,01
S (% massa) < 0,1 < 0,1
Cl (% massa) 0,01 0,01
O (% massa) 47,79 ± 0,17 46,17 ± 0,09
PCS (MJ.Kg-1) 18,75 ± 0,18 18,51 ± 0,03
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

De acordo com o valor de t crítico (t4,95 % = 2,776) efeitos significativos foram


observados para os teores de cinzas (t calculado = 5,417), carbono fixo (t calculado 3,677),
carbono (tcalculado 13,326), hidrogênio (Fcalculado 25,973) e oxigênio (Fcalculado 14,466),
evidenciando a influência do método de amostragem na caracterização da biomassa. Este
impacto era esperado devido à heterogeneidade intrínseca a este tipo de biocombustível
que pode estar relacionado a fatores como: procedimento de coleta do material na planta,
quantidade coletada, natureza e aspectos físicos da amostra, preparos prévios da biomassa
(DRIEMEIER, C. et al, 2011).
A metodologia de quarteamento apresentou valores com menor desvio padrão
quando comparados com o método aleatório, exceto para umidade e matérias voláteis e
foi selecionado para a comparação das normas ASTM e ISO. Além disso, o método de
quarteamento é um dos procedimentos citados na ISO 18135:2017 que descreve
metodologias para a preparação de planos de amostragem de biocombustíveis sólidos.

3.2 Caracterização da biomassa pelos métodos ASTM e ISO e comparação dos


métodos de preparação

Os dados obtidos, em base seca, a partir da análise imediata e PCS estão


apresentados na Tabela 3 e os resultados da análise elementar, em base seca, na Tabela 4.

235
Tabela 3. Análise imediata e poder calorífico do bagaço de cana de açúcar pelas normas
ASTM e ISO preparadas em moinho de facas e criogênico.
Processo de Análise imediata - (% massa) PCS
Método
moagem Cinzas MV CF MJ Kg-1
ASTM Facas 7,70 ± 0,23 77,27 ± 0,12 15,04 ± 0,25 17,21 ± 0,07
ASTM Criogênico 6,66 ± 0,02 78,62 ± 0,4230 14,73 ± 0,31 17,59 ± 0,41
ISO Criogênico 6,67 ± 0,38 80,56 ± 0,18 - -
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

Tabela 4. Análise elementar do bagaço de cana de açúcar pelas normas ASTM e ISO
em preparadas em moinho de facas e criogênico.
Processo de Análise imediata - % massa
Método
moagem C H N S O
ASTM Facas 44,55 ± 0,90 5,57 ± 0,00 0,23 ± 0,0 < 0,1 49,65 ± 0,89
ASTM Criogênico 45,44 ± 0,32 5,98 ± 0,05 0,22 ± 0,00 < 0,1 48,36 ± 0,27
ISO Criogênico - - - < 0,1 -
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

Para garantir maior exatidão e precisão nos ensaios de caracterização, as normas


europeias recomendam que seja avaliada qual a granulometria ideal para cada tipo de
biomassa e exige que 95 % do material que será analisado atinja o tamanho de partícula
determinado para evitar a segregação de frações. Neste estudo foi possível observar
visualmente que o moinho de facas não atingiu os critérios estabelecidos pelas normas de
preparação. A comparação dos resultados obtidos quando aplicadas as normas ASTM
(tabelas 3 e 4) pelo teste t (t crítico 4,95 % = 4,303) evidenciam que existe diferença
significativa para os teores de cinzas (tcalculado = 6,277), matérias voláteis (t calculado = 4,397)
e hidrogênio (tcalculado = 12,352) em função da forma de preparação. Também foi
observado que o resultado de cinzas pelo moinho criogênico foi inferior ao apresentado
pela preparação no moinho de facas. Isto se deve ao fato da criogenia permitir a moagem
da parte fibrosa do material que é essencialmente orgânica, reduzindo o teor de cinzas.
Esta redução se reflete nos resultados de poder calorífico e teor de carbono que foram
superiores aos obtidos para o bagaço de cana preparado no moinho de facas.
Embora a criogenia permita a obtenção de resultados mais precisos esta técnica
apresenta um custo mais elevado quando comparado ao moinho de facas. Estudos
mostram que é possível utilizar o moinho de facas para o preparo do bagaço de cana e
obter resultados semelhantes aos obtidos com a criogenia realizando mais passagens do
material pelo moinho visando reduzir a segregação do material fibroso (TAMBANI, P.C.
et al, 2019).
Referente à comparação entre as normas ISO e ASTM foram observadas que
algumas características seguem os mesmos procedimentos de execução por ambas as
normas. Nas tabelas 3 e 4 foram apresentados os resultados dos ensaios realizados pela
norma ISO apenas para cinzas e voláteis que apresentam diferenças de execução.
Avaliando-se os resultados obtidos para a amostra preparada no moinho criogênico

236
observa-se que o teor de cinzas não é alterado em função da norma utilizada na execução,
diferentemente dos voláteis.
Para avaliação das diferenças entre os tratamentos, foi aplicado primeiramente
ANOVA fator único observando diferença significativa para os resultados de cinzas
(Fcalculado = 10,868) e voláteis (Fcalculado = 74,270) de acordo com Fcrítico = 9,552. Estas
diferenças foram comparadas pelo teste de Tukey (Tabela 5).

Tabela 5. Comparações pareadas de Tukey com informações de agrupamento e


confiança de 95 %, metodologia * amostra.
Agrupamento
Metodologia * Amostra
Cinzas MV
ASTM facas A A
ASTM criogênico B B
ISO criogênico B C
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

Letras distintas ao longo da coluna discriminam tratamentos significativamente


diferentes entre si (p < 0,05, teste de Tukey). O teste confirmou o impacto da preparação
no teor de cinzas e também evidenciou que o teor de matérias voláteis não apresenta
similaridade em nenhuma das condições estudadas.
Os inorgânicos foram determinados segundo as normas ASTM e ISO, porém
apenas para as amostras submetidas em moinho criogênico. Não foi possível comparar os
dados estatisticamente devido a quantidade reduzida de amostra. A tabela 6 apresenta os
resultados obtidos.

Tabela 6. Resultados obtidos para a determinação dos inorgânicos.


Inorgânicos
ASTM ISO
(% massa)
Al 0,10 ± 0,01 0,11 ± 0,04
Ca 0,04 ± 0,01 0,05 ± 0,02
Fe 0,08 ± 0,01 0,19 ± 0,09
K 0,10 ± 0,01 0,08 ± 0,02
Mg 0,05 ± 0,01 0,04 ± 0,01
Mn < 0,01 < 0,01
Si 3,00 ± 1,00 1,79 ± 0,57
Ti 0,01 ± 0,01 0,04 ± 0,01
Zn < 0,01 < 0,01
Fonte: MOREIRA, R. et al, 2020.

Considerando os desvios padrões observa-se que os resultados obtidos por ambas


as normas não apresentam diferenças significativas.

237
4. CONCLUSÕES

O método de amostragem por quarteamento para o bagaço de cana de açúcar


permitiu atingir resultados mais precisos na caracterização quando comparado ao método
aleatório. Outro fator importante corresponde ao processo de moagem devido à influência
da segregação das partes fibrosas de biomassas com constituição heterogênea nos
resultados dos ensaios. As normas ASTM, mesmo quando não direcionadas para
biomassa, podem ser adaptadas para caracterização de biocombustíveis sólidos,
apresentando resultados semelhantes aos obtidos pelas normas ISO, exceto para a
determinação de materiais voláteis.

REFERÊNCIAS

DRIEMEIER, C.; OLIVEIRA, M.M.; MENDES, F.M.; GÓMEZ, E.O. Characterization of


sugarcane bagasse powders. Powder Technology, v. 214, n. 1, pp. 111-116, 2011. DOI
10.1016/j.powtec.2011.07.043. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.powtec.2011.07.043.
Acesso em: 19 fev. 2020.

SINGH, Y.D.; MAHANTA, P.; BORA, U. Comprehensive characterization of lignocellulosic


biomass through proximate, ultimate and compositional analysis for bioenergy production.
Renewable Energy, v. 103, pp. 490-500, 2017. DOI 10.1016/j.renene.2016.11.039. Disponível
em: https://doi.org/10.1016/j.renene.2016.11.039. Acesso em:18 fev 2020.

TAMBANI, P.C.; MOREIRA, R.; BRAGA, C.B.F.; SANTOS, J.L. dos S.; HIRAYAMA, D.E.;
MENDONÇA, M.A.; USHIMA, A.H. Evaluation of interference of particle size in the
characterization of sugarcane bagasse. Biomass and Bioenery Conference, April, 2018.

VASSILEV, S.V.; VASSILEVA, C.G.; VASSILEV, V.S. Advantages and disadvantages of


composition and properties of biomass in comparison with coal: An overview. Fuel, v. 158, pp.
330–350, 2015. DOI 10.1016/j.fuel.2015.05.050. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.fuel.2015.05.050. Acesso em: 18 fev. 2020.

ASTM - American Society for Testing and Materials. Committee E48 on Bioenergy and
Industrial Chemicals from Biomass. Disponível em: <
https://www.astm.org/COMMITTEE/E48.htm>. Acesso em: 19 fev. 2020.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D1762-84(2013), Standard Test
Method for Chemical Analysis of Wood Charcoal. ASTM International, West Conshohocken,
PA, 2013.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D3176-15, Standard Practice for
Ultimate Analysis of Coal and Coke. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2015.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D3172-13, Standard Practice for
Proximate Analysis of Coal and Coke. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2013

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D4239-18e1, Standard Test
Method for Sulfur in the Analysis Sample of Coal and Coke Using High-Temperature Tube
Furnace Combustion. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2018.
238
ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D5373-16, Standard Test Methods
for Determination of Carbon, Hydrogen and Nitrogen in Analysis Samples of Coal and Carbon
in Analysis Samples of Coal and Coke. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2016.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D5865 / D5865M-19, Standard
Test Method for Gross Calorific Value of Coal and Coke. ASTM International, West
Conshohocken, PA, 2019.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM D6357-19, Standard Test Methods
for Determination of Trace Elements in Coal, Coke, and Combustion Residues from Coal
Utilization Processes by Inductively Coupled Plasma Atomic Emission Spectrometry,
Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry, and Graphite Furnace Atomic Absorption
Spectrometry. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2019.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM E1755-01(2015), Standard Test
Method for Ash in Biomass. ASTM International, West Conshohocken, PA, 2015.

ASTM - American Society for Testing and Materials. ASTM E1756-08(2015), Standard Test
Method for Determination of Total Solids in Biomass. ASTM International, West
Conshohocken, PA, 2015.

ISO - International Organization for Standardization. ISO/TC 238. Disponível em: <
https://www.iso.org/committee/554401.html>. Acesso em: 19 fev. 2020.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 14780:2017 (E). Solid biofuels – Sample
preparation. Geneva, 2017.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 15178:2000. Soil quality –


Determination of total sulfur by dry combustion. Geneva, 2000.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 16948:2015. Solid biofuels -


Determination of total content of carbon, hydrogen and nitrogen. Geneva, 2015.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 16967:2015. Solid biofuels –


Determination of major elements – Al, Ca, Fe, Mg, P, K, Si, Na and Ti. Geneva, 2015.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 18122:2015. Solid biofuels –


Determination of ash content. Geneva, 2015.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 18123:2015. Solid biofuels –


Determination of the content of volatile matter. Geneva, 2015.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 18125:2017. Solid biofuels –


Determination of calorific value. Geneva, 2017.

ISO - International Organization for Standardization. ISO 18134-2:2017. Solid biofuels –


Determination of moisture content – Oven dry method – Part 2: Total moisture – Simplified
method. Geneva, 2017.

239
ISO - International Organization for Standardization. ISO 18135:2017. Solid biofuels –
Sampling. Geneva, 2017.

240
DENDROENERGIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Luiz Antonio Marafon Bacca1, Eduardo Gelinski Junior2


1
Universidade Federal do Paraná, 2Universidade Federal do Parana
E-mail: luizmarafon@outlook.com

RESUMO: Com o aumento populacional dos últimos anos, ocorreu um aumento


considerável na demanda por energia, seja ela elétrica ou térmica. Com isso, novas formas
de se obter energia vem sendo estudadas para que sejam viáveis economicamente e
ambientalmente. A nova proposta mundial é o desenvolvimento sustentável, e muitos
países estão buscando maneiras de se tornarem autossuficientes energeticamente
explorando os recursos disponíveis. Uma destas formas é a produção de energia a partir
da queima da biomassa. A biomassa pode ser obtida de diversas formas, entre elas estão
madeira, pellets, briquetes, cavaco ou carvão vegetal. No entanto, ainda há muito a se
pesquisar e descobrir para melhorar processos produtivos, visando a eficiência. Este
trabalho realizou um estudo bibliográfico tendo como base artigos que tratam a respeito
de dendroenergia, que abrange a análise de matérias primas, processos produtivos ou de
geração de energia. Observou-se que os artigos tiveram como resultados que após o
beneficiamento do material, na forma de pellets ou carvão vegetal, ocorre um aumento da
eficiência na utilização do mesmo em processos de geração termoelétrica, devido a um
aumento do seu poder calorífico. Portanto, é algo viável e que pode ter um retorno
financeiro conforme a geração de energia. Para isso, cada dia são demandados esforços
para encontrar o modelo ideal de produção, beneficiamento e geração.
Palavras-chave: Gestão, energia, madeira.

DENDROENERGY: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW

Abstract: With the increase in population in recent years, there has been a considerable
increase in demand for energy, whether electric or thermal. With this, new ways of
obtaining energy have been studied in order to make them economically and
environmentally viable. The new global proposal is sustainable development, and many
countries are seeking ways to become energy self-sufficient by exploiting available
resources. One such way is the production of energy from the burning of biomass.
Biomass can be obtained in many ways, including wood, pellets, briquettes, chips or
charcoal. However, there is still much to be researched and discovered to improve
production processes, aiming at efficiency. This work has been carried out through a
bibliographical study based on articles dealing with dendroenergy, which covers the
analysis of raw materials, productive processes or energy generation. It was observed that
the results of the articles were that after the processing of the material, in the form of
pellets or charcoal, there is an increase in the efficiency of its use in thermoelectric
generation processes, due to an increase in its calorific power. Therefore, it is something
viable and that can have a financial return according to the energy generation. For this,
every day efforts are required to find the ideal model of production, processing and
generation.
Keywords: Management, energy, wood.

241
1. INTRODUÇÃO

Conforme houve um aumento populacional nas últimas décadas, também houve


a necessidade de gerar mais energia para abastecer a sociedade e as indústrias. Com isso
novas formas de geração foram estudadas e vem sendo implantadas em diversos locais
do planeta. Como por exemplo a energia solar fotovoltaica, eólica e da biomassa.
Esta última vem demonstrando um grande potencial devido à grande produção
de produtos agroindustriais que acabam gerando inúmeros resíduos, como a serragem,
palha de arroz, bagaço de cana, etc. Estes podem ser aproveitados para geração de energia
ao serem queimados em centrais termoelétricas. Além destes resíduos, existe a produção
de espécies voltadas à geração de energia, como por exemplo a produção de eucalipto
(FIGUEIRÓ, et al. 2018).
O eucalipto, gênero nativo da Austrália, se adaptou muito bem ao clima
brasileiro e vem sendo cultivado em quase todo o território devido a sua fácil manutenção
durante o plantio, seu alto poder calorifico e seu rápido crescimento (NONES et al. 2014).
Após a colheita e beneficiamento da madeira, ocorre a comercialização do
produto em várias formas, sendo como lenha, cavaco, pellet, briquete ou carvão natural.
Para cada um destes produtos existe um tipo de processo produtivo que vem sendo
melhorado nos últimos anos para alcançar a maior eficiência e diminuir ao máximo as
perdas (OLIVEIRA et al. 2014).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi realizar uma avaliação a respeito da
gestão de sistemas dendroenergéticos e verificar se estes estão sendo eficientes em seus
processos.
2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a construção deste trabalho utilizou-se como base 5 artigos referentes a


processos de produção que tiveram como base a dendroenergia.
O Primeiro abordado foi realizado por Oliveira et al. (2014) que simulou projetos
com fins de produção de carvão vegetal em Minas Gerais, com valores de produtividade,
custos e receitas referentes ao ano de 2013. Para a realização da análise econômica neste
artigo, foram propostos dois cenários.
Para o cenário 1, considerou-se que o produtor possui a área de plantio de
eucalipto em idade de corte (6 anos) e, após a colheita do volume de madeira necessário
à produção de carvão, foi realizado o plantio de uma nova floresta. Para a reforma da
floresta, há novamente todos os custos envolvidos na implantação: custos com muda,
preparo do solo, adubação etc.
Já no cenário 2, a situação inicial é a mesma, mas após a colheita é feita a condução
de brotação das cepas remanescentes do povoamento. Dessa forma, os custos da 2ª
rotação são menores, pois não há compra de mudas e preparo do solo, além de menor
gasto com fertilizantes e outros insumos, proporcionando menor custo da madeira.
Em seguida tratou-se sobre o estudo conduzido por Nones et al. (2014) que
realizou análises energéticas a respeito da madeira e do carvão vegetal obtidos de duas
indústrias de celulose localizadas nas cidades de Palmeira e Cerro Negro, ambas em Santa
Catarina.
242
A análise das propriedades físicas e energéticas da madeira consistiu na
determinação da massa específica básica, conforme NBR 11491 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), 2003), teor de cinzas, porcentagem
de carbono fixo e porcentagem de voláteis, por meio da análise imediata em termo balança
gravimétrica (TGA), conforme a norma ASTM 1762 (AMERICAN SOCIETY FOR
TESTING AND MATERIALS, 2007) e o poder calorífico, de acordo com a norma DIN
51900 (DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG, 2000).
Após isto, deu-se início a avaliação do trabalho publicado por Figueiró et al.
(2018) a respeito da utilização da pirolise lenta para aproveitamento de resíduos
provenientes de uma indústria madeireira.
Os teores extrativos de madeira foram determinados em duplicadas, de acordo
com o (TAPPI, 1996), utilizando o método extrativo total. Os teores de lignina foram
determinados de acordo com a norma ASTM D1106 - 96 (2013). A composição de
carboidratos foi determinada de acordo com Wallis et al. (1996).
A análise aproximada de matéria-prima e carvão foi realizada de acordo com
ASTM D3174-04 (2010) para análise de cinzas e ASTM D3175-89a (1997) para matéria
volátil. O teor de umidade de equilíbrio foi determinado de acordo com os procedimentos
estabelecidos pela DIN EN 14774-1. O alto valor de aquecimento (HHV) foi calculado
de acordo com a norma ASTM D240-02 (2002), utilizando um calorímetro adiabático
IKA300. A densidade básica foi calculada pelo método hidrostático, imerso em mercúrio.
Ademais, foi realizado o estudo a respeito do artigo feito por Brun et al. (2017) que
realizou a caracterização energética de três espécies de eucalipto. Este utilizou em seus
estudos, materiais na Estação Experimental TUME (Teste de Uso Múltiplo de Eucalipto),
pertencente à Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos.
A massa específica básica da madeira foi determinada seguindo a norma técnica
NBR 11941 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003). A
determinação do poder calorífico superior (PCS), em MJ kg -1, foi realizada no
Laboratório de Energia de Biomassa da Universidade Federal do Paraná, Campus
Curitiba, com utilização de uma bomba calorimétrica adiabática, seguindo a NBR 8633
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1984).
Por último foi abordado o estudo de Jacinto et al. (2017) a respeito da produção
de pellets para geração de energia. Suas análises seguiram as normas abordadas na Tabela
1.

243
Tabela 1 – Normas seguidas durante as análises realizadas por Jacinto et al. (2017)
Propriedade análisada Norma Repetições
Dimensões dos pellets e Densidade da unidade EN 16127 (CEN, 2012) 100g
Densidade a Granel ** 5
Durabilidade e teor de finos EN 15210-1 (CEN, 2010) 4
Teor de Umidade EN 14774 (CEN, 2009) 3
Poder Calorífico Superior DIN 51900 (DIN, 2000) 3
Composição química imediata ASTM 1762 (ASTM, 2007) 3
Fonte: JACINTO et al. (2017)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O beneficiamento da matéria prima seja ela qual for, tem como finalidade agregar
valor ao produto final e aumentar a sua eficiência, neste caso aumentar o poder calorífico
do mesmo. Conforme os artigos analisados, foi constatado que tal beneficiamento é viável
economicamente e é ambientalmente correto, pois a queima controlada gera menos
resíduos e há uma menor poluição tanto do ar, como do solo onde será destinado o resíduo
(NONES et al., 2014).
O estudo de viabilidade econômica realizado pelos autores demonstrou que o
sistema de produção de carvão em fornos-caldeira é melhor que o realizado em fornos
tipo rabo-quente, devido ao menor consumo de madeira e aumento do lucro do
proprietário. Além disso, é mais vantajoso conduzir uma brotação após o corte do que
realizar um novo plantio no mesmo local (OLIVEIRA, 2014).
Observou-se que, ao realizar o processo de produção de carvão vegetal ocorreu
um aumento no poder calorífico e um aumento no teor de voláteis, que são essenciais para
uma boa queima. Já que com o aumento do PCS ocorre um aumento da energia fornecida
pela queima do material. Portanto, se o interesse for gerar mais e gastar menos, esta é
uma opção muito promissora e com uma tecnologia difundida mundialmente (FIGUEIRÓ
et al., 2018).
Seguindo na análise das características do material, percebeu-se que existe pouca
variação de poder calorífico entre diferentes espécies. Conforme a idade, está variação se
torna mais evidente e nem sempre é viável utilizar uma floresta com idade avançada, já
que com poucos anos os resultados são melhores. Portanto deve-se analisar com cuidado
qual é seu objetivo, como por exemplo, a utilização de lenha para queima ou para
transformação em carvão vegetal e posterior consumo (BERSCH et al., 2018).
Apesar de ser algo relativamente novo, a produção de pellets vem demonstrando
um grande potencial para a substituição da lenha e do cavaco devido a sua praticidade de
transporte e maior eficiência. Este material também se mostrou viável com resultados
dentro das normas estabelecidas por lei. Ocorreu um aumento da densidade devido a
mistura e agregação de duas matérias primas, algo que é difícil de ser realizado na queima
direta da lenha (JACINTO et al., 2017).

244
4. CONCLUSÃO

As análises feitas pelos autores demonstraram que ao realizar o beneficiamento


e a condução correta da matéria-prima durante o processo de produção ocorre um
aumento da eficiência durante a queima, e com isso obter viabilidade econômica.
Observou-se ainda o cumprimento das normas legais para análise e queima destes
materiais sem um grande impacto ambiental.

REFERÊNCIAS

BERSCH, A. P., BRUN, E. J., PEREIRA, F. A., SILVA, D. A., DE BARBA, Y. R., &
JUNIOR, J. R. D. (2018). Caracterização energética da madeira de três materiais genéticos de
Eucalyptus sp. Florestav. 48, n. 1, p. 87-92, 2018.

FIGUEIRÓ, C. G., CARNEIRO, A. D. C. O., DE FREITAS FIALHO, L., DA SILVA, C. M.


S., & PERES, L. C. (2018). Energetic valorization of sawmill residues through slow pyrolisis
process. Floresta, v. 49, n. 1, p. 109-116, 2018.

JACINTO, R. C., BRAND, M. A., DA CUNHA, A. B., SOUZA, D. L., & DA SILVA, M. V.
(2017). Utilização de resíduos da cadeia produtiva do pinhão para a produção de pellets para
geração de energia. Floresta, v. 47, n. 3, p. 353-363, 2017.

NONES, D. L., BRAND, M. A., DA CUNHA, A. B., DE CARVALHO, A. F., & WEISE, S. M.
K. (2014). Determinação das propriedades energéticas da madeira e do carvão vegetal
produzido a partir de Eucalyptus benthamii. Floresta, v. 45, n. 1, p. 57-64, 2014.

OLIVEIRA, A. C., SALLES, T. T., PEREIRA, B. L. C., CARNEIRO, A. D. C. O., BRAGA, C.


S., & SANTOS, R. C. (2014). Viabilidade econômica da produção de carvão vegetal em dois
sistemas produtivos. Floresta, v. 44, n. 1, p. 143-152, 2014.

245
ESTUDO DA EXTRAÇÃO POR SOLVENTE DE ÓLEO DE MACAÚBA

Vitória Ricardo da Rocha1, Joyce Emanuelle Pinheiro Barbosa1, Amanda Santana


Peiter1
1
Universidade Federal de Alagoas
E-mail: vitoriaricardo98@gmail.com

RESUMO: O Brasil é referência quando se trata de extração de óleo para a produção de


biodiesel. O principal desafio atualmente é proporcionar a diversificação da matriz em
relação às oleaginosas com um grande potencial energético. A macaúba (Acrocomia
aculeata) além de fazer parte do grupo das oleaginosas com potencial energético
excelente, tem como vantagem a sua ótima dispersão no território brasileiro devido à sua
facilidade de adaptação ao solo e clima. O óleo das oleaginosas tem sua estruturação em
glóbulos, e com isso surge a necessidade da extração para a obtenção desse óleo em forma
líquida. As extrações podem ser feitas por prensa mecânica, por solvente ou mista. Cada
modo de extração tem suas particularidades e seus desempenhos distintos. Este trabalho
foi executado de duas formas no seu processo pré-extração, com a finalidade de alcançar
a otimização no desempenho final. Foi possível observar comportamento inesperado com
uma das execuções e consequentemente um resultado nada satisfatório na composição
química e física da macaúba. Na extração por solvente tanto da amêndoa quanto da polpa,
os solventes utilizados foram o metanol e o hexano, com tempos de 3 e 5 horas. O maior
teor de óleo foi obtido com o hexano e tempo de 5h, sendo ele de 54,38% para a amêndoa
e 57,56% para a polpa.
Palavras-chave: Extração sólido-líquido, Oleaginosa, Biocombustíveis.

STUDY OF MACAÚBA OIL SOLVENT EXTRACTION

Abstract: Brazil is a reference when it comes to oil extraction for the production of
biodiesel. The main challenge today is to provide diversification of the matrix in relation
to oilseeds with a great energy potential. Macauba (Acrocomia aculeata) besides being
part of the group of oilseeds with excellent energy potential, has the advantage of its
excellent dispersion in the Brazilian territory due to its ease of adaptation to the soil and
climate. The oil of the oilseeds has its structure in globules, and with that comes the need
for extraction to obtain this oil in liquid form. Extractions can be done by mechanical
press, solvent or mixed. Each extraction mode has its own particularities and distinct
performances. This work was performed in two ways in its pre-extraction process, in
order to achieve optimization in the final performance. It was possible to observe
unexpected behavior with one of the executions and consequently an unsatisfactory result
in the chemical and physical composition of the macaúba. In solvent extraction of both
almond and pulp, the solvents used were methanol and hexane, with times of 3 and 5
hours. The highest oil content was obtained with hexane and time of 5h, which was
54.38% for almonds and 57.56% for pulp.
Keywords: Solid-liquid extraction, Oilseed, Biofuels.

246
1. INTRODUÇÃO
A macaúba é uma palmeira oleaginosa bastante presente no território brasileiro
devido a sua facilidade na adaptação do solo e climas. De acordo com Costa e Marchi
(2008) a macaúba vegeta bem em altitudes entre 500 m a 1000 m, com índices
pluviométricos inferiores a 1500 mm e temperatura na faixa de 15 °C a 35 °C, porém, há
registro de plantio que diverge desses dados, como no sul dos estados de Minas gerais e
São Paulo que sofrem por geadas leves e Leste do estado de Alagoas com índices
pluviométricos superior a 1500 mm.
O fruto da macaúba contém as seguintes partes estruturais: epicarpo, mesocarpo,
endocarpo, endosperma. O epicarpo é a superfície externa, com características visíveis
variáveis e dependentes do seu amadurecimento; o mesocarpo, também conhecida como
a polpa do fruto, tem sua coloração amarelada e com aspecto bem semelhante a uma
manga; endocarpo, conhecido como a casca, tem aspecto duro e faz a proteção do
endosperma; endosperma tem a coloração branca e é conhecida popularmente como a
carne do fruto. O óleo se encontra em forma de glóbulos e para sua obtenção é necessário
a utilização do método de extração (RAMOS et al., 2008; MOURA, 2018; HIANE et al.,
2005).
O funcionamento da extração se dá pela quebra da membrana das células, que
permite a saída dos glóbulos. Existem três métodos para a extração do óleo: extração
mecânica, extração por solvente e extração mista. O primeiro método, o processo
mecânico, é o mais popular, econômico e antigo, porém, apresenta menor rendimento.
Sendo assim, há uma necessidade de outro método de extração para a retirada do óleo que
integra na torta. O segundo método, extração por solvente, apresenta alto rendimento com
pouco óleo residual (CARVALHO, 2011).
O trabalho teve como objetivo a extração de óleo de macaúba através da extração
por solvente, avaliando as variáveis: tipo de solvente (metanol e hexano) e tempo de
extração (3h e 5h) tanto para a polpa como para a amêndoa da macaúba.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras da oleaginosa Macaúba utilizada nesse experimento tiveram origem
da plantação do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (CECA) do município de
Rio Largo, Alagoas, Figura 1.

Figura 1 - Colheita da macaúba.


247
Em seguida a Macaúba foi levada ao Laboratório de Sistemas de Separação e
Otimização de Processos (LASSOP), localizado no Centro de Tecnologia do Campus A.
C. Simões da Universidade Federal de Alagoas com o objetivo de quebrar os glóbulos
das amostras e seguir com os processos para a obtenção do óleo, sendo eles: quebra do
epicarpo, retirada da polpa, fragmentação do endocarpo, retirada do endosperma e sua
trituração, e ajuste do equipamento de extração.

2.1 Retirada da Polpa

Para retirada da polpa, inicialmente ocorreu a quebra da casca. O pré-processo da


retirada da polpa teve dois testes, o primeiro usado o equipamento, autoclave, conhecido
popularmente como uma grande panela de pressão. Seu funcionamento se dá pelo
cozimento das amostras em alta pressão e temperatura (120 C); e o segundo teste foi
acondicionar os frutos em temperatura ambiente. Para esses dois testes o despolpamento
foi feito com um auxílio de uma faca e peneira.

2.2 Fragmentação do endocarpo

Para iniciar a separação do endocarpo da amêndoa, o fruto deve permanecer por


um tempo na estufa, Figura 2, em temperatura média de 65 °C, permitindo assim uma
facilidade da retirada. A fragmentação do endocarpo ocorre pelo uso um martelo.

Figura 2 – Estufa.

248
2.3 Retirada do endosperma

Com uma superfície de contato maior entre o endocarpo e o endosperma, retirou-


se o endosperma manualmente com uma espátula e verificou-se a quantidade de gramas
daquela amostra.

2.4 Extração por Solvente

Depois do preparo da matéria prima as amostras seguiram para a extração por


solvente. O equipamento utilizado para a extração com solvente foi o soxhlet (Figura 3).
Foi realizado um planejamento que envolveu duas variáveis, o tempo e o solvente para a
extração de óleo da polpa e da amêndoa. Para o tempo foi planejado 3 e 5 horas, e para o
solvente foi o metanol e o hexano. As amostras e/ou envelope foram medidas por uma
balança analítica.
O envelope foi confeccionado por um papel cartucho, esse envelope foi pesado
puro e logo em seguida com a amostra, o objetivo do envelope é permite apenas passagem
líquida dentro do compartimento do equipamento. Foi acrescentado no balão do
equipamento aproximadamente 200 ml do solvente, esse solvente é aquecido e o vapor
formado e encaminhado até o condensador e retorna o seu estado líquido no mesmo
compartimento da amostra. Quando a mistura óleo-solvente atingir o nível estabelecido
através do equipamento, a mistura óleo + solvente retorna para o seu balão inicial.
No final do experimento a mistura é encaminhada para o processo de separação,
no qual o solvente é recuperado, permitindo a utilização do mesmo no experimento
seguinte.

Figura 3 - Extração por solvente.

249
Após decorrido e tempo determinado para a extração por solvente, o cartucho com
a amostra foi colocado na estufa a 50º C por 24 h para retirar o excesso de solvente. O
teor de óleo foi calculado pela equação 1:

(𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝐼𝑛𝑖𝑐𝑎𝑙−𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙) 𝑥 100


𝑇𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑂𝑙𝑒𝑜 = (1)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝐼𝑛𝑖𝑐𝑎𝑙

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra o resultado da média do teor de óleo encontrada nas extrações


para a amêndoa.

Tabela 1 – Resultados do teor médio de óleo nas extrações da amêndoa.


Solvente Tempo (h) Massa Massa sistema Massa sistema % óleo
cartucho (g) inicial (g) final (g)
Metanol 3 1,236 16,171 9,751 42,99

Hexano 3 1,706 13,953 7,460 53,02


Metanol 5 1,460 16,410 9,380 47,02
Hexano 5 1,656 14,705 7,611 54,38
Fonte: Autora (2020).
A Tabela 2 mostra o resultado da média do teor de óleo encontrada nas extrações
para a polpa.

Tabela 2 – Resultados do teor médio de óleo nas extrações da polpa.


Solvente Tempo (h) Massa Massa sistema Massa sistema % óleo
cartucho (g) inicial (g) final (g)
Metanol 3 1,306 10,009 6,844 36,37

Hexano 3 1,332 9,763 6,472 39,04


Metanol 5 1,618 11,524 6,556 50,15
Hexano 5 1,520 10,971 5,531 57,56
Fonte: Autora (2020).

250
Foi possível observar que a extração por hexano teve um teor de óleo maior
quando comparado a extração por metanol tanto para a amêndoa quanto para a polpa.
Para a amêndoa a extração por hexano alcançou o teor de óleo de 54,38%; para o metanol,
47,02%. Já para a polpa, a extração por hexano obteve rendimento de 57,56% e na
extração com metanol rendimento de 50,15%.
O maior tempo conseguiu retirar um teor maior de óleo da amostra, mostrando
que maiores tempos podem ser estudados para verificar se é possível extrair um maior
teor de óleo de solvente sem agravar significativamente a energia utilizada no processo,
aumentando assim a eficiência da extração por solvente para retirar óleo da macaúba.
Comparando a polpa com a amêndoa foi possível observar que no tempo de 3h a
maior extração foi da extração amêndoa, já para o tempo de 5h maior extração foi da
polpa, tanto para o hexano quanto para o metanol. esse teor de óleo é superior ao teor da
soja por exemplo, que é em torno de 19%, mostrando que a macaúba pode ser considerada
uma matéria prima promissora para a produção de biodiesel.
Nos 2 testes já mencionados, foi possível notar um comportamento diferente da
oleaginosa, Figura 4, aspectos físicos e químicos foram alterados com o teste 1 (uso da
autoclave) e consequentemente os resultados na extração do óleo diferiu com a literatura.
Já no teste 2 (temperatura ambiente) foi obtido resultados satisfatórios. Notou-se também
que a oleaginosa tem como desvantagem o seu armazenamento.

Figura 4 - Diferença dos testes.


4. CONCLUSÃO
Foi possível observar que a extração por hexano teve um teor de óleo maior
quando comparado a extração por metanol. Enquanto por hexano o maior teor de óleo foi
de 54,38%; por metanol foi 47,02% para a amêndoa e um teor de extração de extração
por hexano de 57,56% e por metanol de 50,15% para a polpa. Pode-se observar que o
tempo que a amostra permanece no ciclo com o solvente também é significativo e notou-
se que quanto mais tempo maior é o teor de óleo.
O maior tempo conseguiu retirar um teor maior de óleo da amostra, mostrando
que maiores tempos podem ser estudados para verificar se é possível extrair um maior
teor de óleo de solvente sem agravar significativamente a energia utilizada no processo,
aumentando assim a eficiência da extração por solvente para retirar óleo da macaúba.

251
Além disso, examinou-se que a macaúba não é propícia no seu preparo para
colocar na autoclave, diferente de outras oleaginosa, então com a autoclave a retirada da
polpa foi dificultada. Além do mais, outros solventes podem ser estudados para a extração
do óleo da macaúba, estes que podem ser de origem renovável, ou seja, menos agravante
para a natureza, assim verificando a sua eficiência.

REFERÊNCIAS
Carvalho, C. O. Comparação entre métodos de extração do óleo de Mauritia flexuosa L.f.
(Arecaceae - buriti) para o uso sustentável na reserva de desenvolvimento tupé: rendimento e
atividade antimicrobiana. 2011. 109f. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia e Recursos
Naturais) - Escola Superior de Ciência da Saúde, Universidade do Estado do Amazonas,
Manaus – AM, 2011.

Costa, C. J.; Marchi, E. C. S. Germinação de Sementes de palmeiras com potencial para


produção de Agroenergia. Informativo Abrates, v. 18, 2008. Disponível em:
<https://www.grupocultivar.com.br/artigos/macauba-oportunidades-e-desafios>.Acesso em:
29/06/2020.

Hiane, P. A.; Ramos Filho, M. M.; Ramos, M. I. L.; Macedo, M. L. R. (2005). Bocaiuva,
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd., pulp and kernel oils: Characterization and fatty acid
composition. Brazilian Journal of Food Technology, 8, 256-259.

Moura, J. Macaúba: oportunidades e desafios. Revista Cultivar, 2018.

Ramos, M. I. L.; Ramos Filho, M. M.; Hiane, P. A.; Braga Neto, J. A.; Siqueira, E. M. A.
Qualidade nutricional da polpa de bocaiuva Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. Revista Ciência e
Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 28, p. 90-94, 2008.

252
ESTUDO DE COMPORTAMENTO TÉRMICO EM ATMOSFERA INERTE DE
DUAS MICROALGAS MARINHAS PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA

Yemall Alexander Maigual Enriquez1,4, Camilo Lenin Guerrero Romero 1, Patricio Rene
Tarapuez Chingal2, John Elvis Acosta Portillo 2, Ana Sofía Builes Galindo2, Diana
Carolina Naspirán Jojoa2, Ana Gabriela Fajardo Rosero 2, Leandro Cardoso de Morais3
1
Universidad de Nariño, Departamento de Recursos Hidrobiológicos, Professor; 2
Universidad de Nariño, Departamento de Recursos Hidrobiológicos, Estudante; 3
UNESP, Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba, Departamento de Engenharia
Ambiental, Professor; 4 Universidad Cooperativa de Colombia, Facultad de Ingeniería –
Grupo - ESLINGA
E-mail: alex.feisunesp@gmail.com

RESUMO: A pirólise de algas é uma rota de interesse na produção de substâncias


renováveis, como o bio-óleo. Devido a complexa estrutura das algas, é necessário
descrever sua decomposição térmica em uma ampla faixa de temperatura.
Nannochloropsis sp. (NS), com salinidade de 36 ppt, e Tetraselmis sp. (TS), com 30 ppt
de salinidade, foram cultivadas no em laboratório, sob sistema estático, utilizando como
fonte de nutrientes a solução F/2, com iluminação artificial por lâmpada tipo LED. Para
determinar o comportamento térmico das amostras secas, utilizou-se o analisador térmico
simultâneo SDTQ600 TGA-DSC. Para cada análise, foi utilizado aproximadamente 1,80
mg de amostra. Posteriormente, a amostra calcinou-se em cadinho de platina em
atmosfera inerte, fluxo de 100 mL.min-1, razão de aquecimento constante de 10°C.min -1
desde temperatura ambiente (25°C) até 600°C. O software utilizado para obtenção das
curvas TG/DTG foi o TA Instruments-Universal Analysis 2000 v.4.5A. As duas algas
apresentaram perdas de massa (TG), ligadas a umidade residual até 150°C, vista no pico
da curva derivada termogravimétrica (DTG). Depois, entre os 160°C e os 400°C, ocorreu
a maior perda de massa, com picos na temperatura de 262°C para TS e 292°C para NS,
podendo se dever à presença de carboidratos e proteínas . Entre os 400°C até os 600°C,
pôde ser observada outra perda de massa, menor que as anteriores, com pico na
temperatura aproximada de 440°C, pela presença de lipídeos. A presença destas
substâncias indicam uma biomassa com quantidades consideráveis de energia para ser
utilizadas como biocombustíveis.
Palavras-chave: Algas, análise térmica, renovável, inerte.

253
STUDY OF THERMAL BEHAVIOR IN INERT ATMOSPHERE OF TWO
MARINE MICROALGAE FOR ENERGY PRODUCTION

Abstract: Algae pyrolysis is a route of interest in the production of renewable substances,


such as bio-oil. Due to the complex structure of algae, it is necessary to describe their
thermal decomposition over a wide temperature range. Nannochloropsis sp. (NS), with
36 ppt salinity and Tetraselmis sp. (TS), with 30 ppt salinity, were grown in laboratory
under a static system, using F/2 solution as an artificial nutrient source, with artificial
lighting using an LED lamp. To determine the thermal behavior of the dry samples, the
SDTQ600 TGA-DSC simultaneous thermal analyzer was used. Approximately 1.80 mg
of sample was used for each analysis. Subsequently, the sample was calcined in a
platinum crucible in an inert atmosphere, flow of 100 mL.min -1, constant heating rate of
10 ° C min-1, from room temperature (25 °C) to 600° C. The software used to obtain TG
/ DTG curves was TA Instruments-Universal Analysis 2000 v.4.5A. Both algae showed
mass losses (TG) linked to residual moisture up to 150 ° C, seen at the peak of the
thermogravimetric derived curve (DTG). Then, between 160 °C and 400 °C, there was
the greatest loss of mass observing peaks in the temperature of 262 °C for TS, and 292
°C for NS, which may be due to the presence of carbohydrates and proteins. Between 400
°C and 600 °C, another loss of mass can be observed, lower than the previous ones, with
a peak at a temperature of approximately 440 °C, due to the presence of lipids. The
presence of these substances are indicators of biomass with considerable amounts of
energy to be used as biofuels.
Keywords: Algae, thermal analysis, renewable, inert

1. INTRODUÇÃO

Devido aos atuais problemas ambientais do planeta e a redução das fontes de


combustíveis fósseis, algumas pesquisas têm se direcionado para o aproveitamento de
energia renováveis para tal fim (AZIZI; KESHAVARZ; ABEDINI, 2018; DEMIRBAS,
2011; KOSE; ONCEL, 2017).
As microalgas são um grande grupo de microrganismos, com capacidade de
realizar processos fotossintéticos de dimensões microscópicas. O conhecimento da
composição bioquímica e do comportamento térmico das microalgas é de extrema
importância, pois pode fornecer informações sobre as possibilidades de seu uso potencial
como fonte alternativa de combustível. Celulose, hemicelulose e lignina constituem
biomassa lignocelulósica, enquanto as microalgas são compostas de proteínas, lipídios,
carboidratos e ácidos nucléicos. (ADENIYI; AZIMOV; BURLUKA, 2018; AGRAWAL;
CHAKRABORTY, 2013; SÖYLER et al., 2017; VALDÉS et al., 2013; VIJU;
GAUTAM; VINU, 2018).
Atualmente, o uso de biomassas como matérias-primas para a produção de
biocombustíveis tem sido alvo de pesquisas. As microalgas receberam atenção notável
devido à sua alta taxa fotossintética, aproximadamente 50 vezes maior, em comparação
às plantas terrestres, superior a 6,9×104 células.mL.h-1 Além disso possuem alto
rendimento por superfície, alta eficiência na captura de CO2 e conversão de energia solar
em biomassa e nenhuma competição com a agricultura de alimentos. (LÓPEZ-
GONZÁLEZ et al., 2014; SUALI; SARBATLY, 2012).
254
A vantagem dos processos de conversão termoquímica é o potencial para produzir
combustíveis. No entanto, uma das maiores desvantagens do uso de métodos de
conversão termoquímica para extrair combustíveis da biomassa são as altas temperaturas,
necessárias para decompor o sólido. Como tal, a biomassa marinha, como as microalgas,
pode representar uma matéria-prima superior para conversão termoquímica sobre a
biomassa terrestre, devido às suas temperaturas de decomposição, consideravelmente
mais baixas (AGRAWAL; CHAKRABORTY, 2013; LÓPEZ-GONZÁLEZ et al., 2014;
PANE et al., 2001).
A pirólise envolve o aquecimento da biomassa a temperaturas de 300–700 °C, na
ausência de oxigênio, onde converte toda a microalga em bio-óleo líquido, com melhores
propriedades do que a biomassa lignocelulósica e, também, devido à composição da
biomassa, utiliza temperatura de decomposição mais baixa no processo da pirólise. Além
disso, é gerado carvão e gás (LÓPEZ-GONZÁLEZ et al., 2014; VIJU; GAUTAM; VINU,
2018; ZAINAN; SRIVATSA; BHATTACHARYA, 2015).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido no laboratório de Ficologia da Universidad de Nariño,


Colômbia e laboratório de Biomassa e Bioenergia do Instituto de Ciência e Tecnologia
de Sorocaba – UNESP, Brasil.
Duas algas marinhas foram cultivadas no laboratório de Ficologia:
Nannochloropsis sp. (NS) e Tetraselmis sp. (TS) sob sistema estático, em garrafa de vidro
com capacidade para 4 L, utilizando como fonte de nutrientes a solução F/2, (Kent
MARINE®) 2,0 mL/L solução, iluminação artificial por lâmpada tipo LED 18W as 24
horas do dia e luminosidade de 5000 Lux. Foi necessário preparar água salgada com
adição de sal para aquários Instant Ocean®. Para NS, a salinidade utilizada foi 36 ppt e
TS, a salinidade de 30 ppt para seu normal desenvolvimento e aeração constante.
Para a colheita das algas foi suspendida a aeração durante duas horas. Depois
desse intervalo, o material sedimentado foi retirado da garrafa, colocado em tubos de
vidro e centrifugados a 3500 rpm, durante 10 minutos. O material sedimentado foi
colocado em vidro de relógio para secagem em estufa a 60 °C, até atingir massa constante.
O material seco foi, então, armazenado em tubos tipo eppendorf, para posterior
transporte. Para determinar o comportamento térmico das amostras secas utilizou-se o
analisador térmico simultâneo SDTQ600 TGA-DSC. Para cada análise, foi utilizado,
aproximadamente, 1,80 mg de amostra de alga seca. Posteriormente, as amostra foram
calcinadas em cadinho de platina em atmosfera inerte de nitrogênio, fluxo de 100 mL.min -
1
, razão de aquecimento constante de 10 °C.min-1 desde temperatura ambiente ( 25 °C)
até 600°C. O software utilizado para a obtenção da curva termogravimétrica (TG) e
derivada da curva termogravimétrica (DTG) foi o TA Instruments-Universal Analysis
2000 v.4.

255
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As microalgas cultivadas em laboratório são apresentadas na Figura 1.

Figura 8. Microalgas: (a) Nannochloropsis sp. e (b) Tetraselmis sp.


Na Figura 2, são apresentados os resultados do comportamento térmico das
microalgas utilizadas.

Figura 9 - Curvas TG e DTG para (a) Nannochloropsis sp. e (b) Tetraselmis sp.

256
A curva TG feita em atmosfera inerte (N2) da Figura 2, indicou que até os 170°C
a perda aproximada de massa é de 12%, verificado pelo pico na DTG, que pode ser
atribuído ao estágio principal de pirólise. Na fase de desidratação da amostra, existem
dois picos: o primeiro (40°C - 65°C) é, provavelmente, causado pela perda de umidade
aderida à superfície; e o segundo (95°C – 170°C), pela água pouco ligada às biomoléculas.
No segundo processo, a estrutura celular da microalga foi destruída progressivamente,
ocorrendo fenômenos onde há alteração das estruturas lipídicas e desdobramento térmico
das proteínas. Também, a perda de massa inicial poderia se relacionar com a existência
de compostos orgânicos, como hidrocarbonetos de baixo peso molecular, baixo ponto de
ebulição (CEYLAN; KAZAN, 2015; MOURA et al., 2007; SANCHEZ-SILVA et al.,
2013).
O perfil de degradação térmica das microalgas NS e TS obtidas no final da análise
(até os 600°C), a quantidade de resíduo de 64% e 42%, respectivamente, entre os 170°C
até os 600°C. As diferentes características de decomposição estão ligadas a
particularidade dos seus componentes químicos na sua estrutura (proteínas, lipídeos e
carboidratos não fibrosos).
Observa-se um segundo estágio, de 180°C a 470°C, caracterizado por uma grande
perda de massa, que envolveu a decomposição de proteínas e carboidratos (SANCHEZ-
SILVA et al., 2013), levando à formação de biocarvão. Nessas faixas de temperatura, são
destacados dois picos na curva DTG. Na curva DTG, para NS e TS, houveram picos entre
292°C e 264°C, respectivamente, onde são apresentadas as máximas taxas de perda de
massa.
Depois, entre os 160°C e os 400°C, houve maior perda de massa, com picos em
262 °C para TS e 292°C para NS, podendo ser pela presença de carboidratos e proteínas.
Entre 400 °C e 600 °C, pôde-se observar outra perda de massa, menor que as anteriores,
com pico em, aproximadamente 440 °C, dado pela presença de lipídeos.
Tanto a TS e NS são microalgas com alta produtividade lipídica, portanto, alto
potencial de produção de óleo. Hoje em dia, sabe-se que se pode produzir uma grande
variedade de produtos a partir da conversão de microalgas, pois os lipídios, após a
extração, podem ser convertidos em biodiesel; e os carboidratos, por fermentação, podem
ser convertidos em bioetanol. (LI et al., 2017; VIJU; GAUTAM; VINU, 2018; ZAINAN;
SRIVATSA; BHATTACHARYA, 2015).
Acima de 500°C, ocorreu outro pico de perda de massa, devido à maior
devolatilização do biocarvão, formado nestas temperaturas, à quebra das ligações do tipo
C - C e C – H, devido também à presença de ácidos graxos contidos na biomassa e à
oxidação do carvão restante formado. O comportamento da biomassa nesse estágio com
temperatura elevada se deve principalmente à decomposição de materiais carbonáceos
retidos no resíduo sólido, composto geralmente por carvão e cinzas (ANDRADE et al.,
2018).

4. CONCLUSÃO

As amostras apresentaram inicialmente perdas de massa devido a presença de


água ligada e materiais de baixos ponto de ebulição. Proteínas, carboidratos e lipídeos
estão ligados às perdas de massa até os 500°C. As presenças destas substâncias são
indicadoras de uma biomassa com quantidades consideráveis de energia a serem
257
utilizadas como biocombustíveis. Temperaturas acima dos 500°C apresentaram
substâncias como carvão, cinzas e compostos carbonáceos.

REFERÊNCIAS

ADENIYI, O. M.; AZIMOV, U.; BURLUKA, A. Algae biofuel : Current status and future
applications. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 90, n. August 2017, p. 316–335,
2018.

AGRAWAL, A.; CHAKRABORTY, S. A kinetic study of pyrolysis and combustion of


microalgae Chlorella vulgaris using thermo-gravimetric analysis. Bioresource Technology, v.
128, p. 72–80, 2013.

ANDRADE, L. A. et al. Characterization and product formation during the catalytic and non-
catalytic pyrolysis of the green microalgae Chlamydomonas reinhardtii. Renewable Energy, v.
119, n. x, p. 731–740, 2018.

AZIZI, K.; KESHAVARZ, M.; ABEDINI, H. A review on bio-fuel production from microalgal
biomass by using pyrolysis method. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 82, n.
September 2017, p. 3046–3059, 2018.

CEYLAN, S.; KAZAN, D. Pyrolysis kinetics and thermal characteristics of microalgae


Nannochloropsis oculata and Tetraselmis sp. Bioresource Technology, v. 187, p. 1–5, 2015.

DEMIRBAS, M. F. Biofuels from algae for sustainable development. Applied Energy, v. 88, n.
10, p. 3473–3480, 2011.

KOSE, A.; ONCEL, S. S. Algae as a promising resource for biofuel industry: facts and
challenges. International Journal of Energy Research, v. 41, n. 7, p. 924–951, 10 jun. 2017.

LI, F. et al. A study on growth and pyrolysis characteristics of microalgae using


Thermogravimetric Analysis-Infrared Spectroscopy and synchrotron Fourier Transform Infrared
Spectroscopy. Bioresource Technology, v. 229, p. 1–10, 2017.

LÓPEZ-GONZÁLEZ, D. et al. Kinetic analysis and thermal characterization of the microalgae


combustion process by thermal analysis coupled to mass spectrometry. Applied Energy, v. 114,
p. 227–237, 2014.

MOURA, F. E. et al. Thermogravimetric study of aerobic biodegradation of sanitary sewage


sludge and lubricating oil. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 87, n. 3, p. 679–
683, 2007.

PANE, L. et al. Applications of thermal analysis on the marine phytoplankton, Tetraselmis


suecica. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 66, n. 1, p. 145–154, 2001.

SANCHEZ-SILVA, L. et al. Pyrolysis, combustion and gasification characteristics of


Nannochloropsis gaditana microalgae. Bioresource Technology, v. 130, p. 321–331, fev. 2013.

SÖYLER, N. et al. Renewable fuels from pyrolysis of Dunaliella tertiolecta: An alternative


approach to biochemical conversions of microalgae. Energy, v. 120, p. 907–914, 2017.
258
SUALI, E.; SARBATLY, R. Conversion of microalgae to biofuel. Renewable and Sustainable
Energy Reviews, v. 16, n. 6, p. 4316–4342, 2012.

VALDÉS, F. et al. Thermogravimetry and Py-GC/MS techniques as fast qualitative methods for
comparing the biochemical composition of Nannochloropsis oculata samples obtained under
different culture conditions. Bioresource Technology, v. 131, p. 86–93, 2013.

VIJU, D.; GAUTAM, R.; VINU, R. Application of the distributed activation energy model to
the kinetic study of pyrolysis of Nannochloropsis oculata. Algal Research, v. 35, n. June, p.
168–177, 2018.

ZAINAN, N. H.; SRIVATSA, S. C.; BHATTACHARYA, S. Catalytic pyrolysis of microalgae


Tetraselmis suecica and characterization study using in situ Synchrotron-based Infrared
Microscopy. Fuel, v. 161, p. 345–354, 2015.

259
MISTURA DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS E FLORESTAIS NA
FORMAÇÃO DE BRIQUETES

Verônica Verniano Peres Cequinatto 1, Gabriel Toledo Machado 2, João Otávio Poleto
Tomeleri2, Andrea Cressoni de Conti1, Gabriel Foschiani1
1
Universidade Estadual Paulista, 2Universidade Federal de São Carlos - Sorocaba
E-mail: veronica.cequinatto@unesp.br

RESUMO: O Brasil é um país que apresenta uma produção de biomassa com enorme
potencial de aproveitamento energético. Diante disso se destaca a biomassa de bagaço e
palha proveniente da cana-de-açúcar que é produzida em grande escala através do setor
sucroalcooleiro e a utilização das espécies de eucalipto proveniente de florestas de
reflorestamento. Para uma maior densidade energética e melhorias nas características
físicas e químicas utiliza-se o processo de densificação energética através da briquetagem.
O presente trabalho teve como objetivo produzir briquetes de palha e bagaço de cana-de-
açúcar, maravalhas da madeira de Eucalyptus saligna e uma blenda das três biomassas a
fim de analisar a melhora nas propriedades químicas do material e verificar, também, se
a madeira age como ligante nessa mistura. Para isso foram realizados os testes de análise
de expansão volumétrica, durabilidade, análise química imediata, poder calorífico
superior (PCS) e análise da morfologia e composição química por microscópio eletrônico
de varredura (MEV). Obteve-se a menor expansão volumétrica de 2,49% para os
briquetes de madeira. O teor de voláteis para a palha e o bagaço foram iguais com 81,60%.
O teor de carbono fixo mais alto foi da madeira e também apresentou maior PCS. Foi
possível observar que a adição da madeira na blenda resultou no aumento do poder
calorífico, mas houve pouca mudança na durabilidade. Conclui-se que a madeira possui
as propriedades químicas, como o PCS e o teor de voláteis, melhores que nas outras
composições e também pode ser utiliza como ligante na formação dos briquetes
envolvendo resíduos agroindustriais.
Palavras-chave: Energia, Biomassa, Madeira, Ligantes.

260
MIXING OF AGRO-INDUSTRIAL AND FOREST WASTE IN THE
FORMATION OF BRIQUETTES

Abstract: Brazil is a country that presents biomass production with enormous potential
for energy use. In view of this, the biomass of bagasse and straw from sugar cane that is
produced on a large scale through the sugar and alcohol sector and the use of eucalyptus
species from reforestation forests stands out. For greater energy density and
improvements in physical and chemical characteristics, the process of energy
densification through briquetting is used. The present work aimed to produce briquettes
from straw and sugarcane bagasse, Eucalyptus Saligna wood and a blend of the three
biomasses in order to analyze the improvement in the chemical properties of the material
and also verify if the wood acts as binder in this mixture. For that, the tests of analysis of
volumetric expansion, friability, immediate chemical analysis, superior calorific power,
besides the materials were passed through the scanning electron microscope (SEM). The
smallest volumetric expansion of 2.49% was obtained for wooden briquettes. The volatile
content for straw and bagasse was equal with 81.60%. The highest fixed carbon content
was from wood and also had a higher PCS. It was possible to observe that the addition of
wood in the blend resulted in an improvement in the increase in calorific value, but there
was little change in the durability test. It is concluded that wood has chemical properties,
such as PCS and volatile content, better than in other compositions and can also be used
as a binder in the formation of briquettes involving agro-industrial waste.
Keywords: Energy, Biomass, Wood, Binders.

1. INTRODUÇÃO

Algumas estimativas futuras mostram que o crescimento da população mundial e


da atividade econômica de países, como a Índia e China, venham a contribuir a busca de
novas fontes de energia renováveis (HENRIQUE, 2017). Uma das opções existentes para
o aumento do uso e da exploração de fontes sustentáveis e consequente a redução da
dependência de combustíveis fósseis é a utilização de diferentes biomassas (HENRIQUE,
2017).
No Brasil, mostra um enorme potencial de geração de energia através da biomassa,
isso se deve pelas condições naturais e geográficas que o tornam total favorecido ao
cultivo de diversas biomassas que estão ligadas a produção agrícola, agroindustrial e
silvicultural. Por conta desses fatores o país pode ser considerado um fornecedor com
altíssimo potencial de resíduos para a produção de bioenergia (PROTÁSSIO, 2012; DE
ARAGÃO, 2018; VIEIRA, 2012).
O país tem disponibilizado enorme quantidade de matéria orgânica sob a forma
de bagaço e palha (HENRIQUE, 2017). Resíduos agrícolas e de madeira são as principais
fontes de energia para as atividades domésticas e industriais. No entanto, são muitas vezes
mal utilizados ou descartados de forma incorreta podendo até gerar danos ambientais
(ANTWI-BOASIAKO, 2016).
A utilização de alguns resíduos como o bagaço e a palha de cana-de-açúcar
diretamente tem suas desvantagens. A queima direta desses resíduos não é aconselhável
pois carregam na maior parte das vezes um alto teor de umidade, tem a queima muito
rápida e grandes volumes. A briquetagem proporciona a redução do volume desses resíduos
261
estacionados nos pátios por meio da densificação dos resíduos sendo uma forma rentável de
reutilização dos resíduos como fonte de energia além de armazenar uma grande quantidade
de energia (BORGHI 2012).
A concentração de energia disponível, ou seja, a densificação energética é uma grande
vantagem para a utilização de briquetes que além de uma maior geração por unidade de massa
do material, contribui para o seu transporte (FURTADO, 2010; BRAND, 2007).
Na briquetagem pode ser utilizada alguns tipos de aglutinantes e ligantes para uma
melhor aderência dos resíduos, principalmente no caso dos briquetes que resíduos
agrícolas pois esses apresentam baixa concentração de lignina. A lignina por conta de
suas propriedades químicas, quando submetida a uma determinada temperatura e teor de
umidade ela se plastifica e pode ser utilizada como um ligante para os briquetes (KLOCK,
2005; MESCHEDE, 2012). Na composição da madeira há uma presença maior de lignina
quando comparada aos resíduos da cana-de-açúcar e nesse trabalho tem como objetivo
analisar e comparar os resultados de briquetes confeccionados com resíduos
agroindustriais e verificar se a presença da madeira na blenda melhorou as propriedades.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

Os resíduos sulcroalcoleeiros foram obtidos da empresa ATVOS e o resíduo de


Eucalyptus saligna de uma serraria localizada na cidade de Botucatu- SP.
Os resíduos agroindustriais foram secos e moídos, e a determinação da
composição granulométrica das partículas realizadas de acordo com a norma NBR NM
248/2003. A secagem desses resíduos foi realizada através da exposição do material ao
sol. Durante o processo, verificou-se periodicamente o teor de umidade do material com
auxílio de uma balança determinadora de umidade (OHAUS, modelo MB27), seguindo
com o processo até atingir valor de umidade aproximado em 10%. O resíduo de madeira
na forma de maravalha foi seco em estufa e optou-se por utilizá-la dessa forma e não a
passando pelo moinho.
A moagem foi realizada em um moinho MARCONI-MA1680, com velocidade de
rotação regulada em 1268RPM e a separação granulométrica foi em um agitador de batida
intermitente modelo MA 750 com abertura de 2,00 mm (20 mesh), utilizando somente o
material anteriormente seco.

2.2 Produção dos briquetes

O processo de densificação do material utilizou uma prensa hidráulica LB 32,


marca LIPPEL. Foram confeccionados 15 briquetes cilíndricos para cada composição
descrita na Tabela 1, utilizando 50 g de material, pressão de compactação de 100 bar,
temperatura de 120⁰C, tempo de prensagem de 5 min e resfriamento de 12 min.

262
Tabela 1: Composição dos briquetes.
Composição Porcentagens dos resíduos
C1 100% Bagaço de cana-de-açúcar
C2 100% Palha de cana de-açúcar
C3 100% Maravalha de eucalipto
C4 45% Bagaço de cana-de-açúcar + 45% Palha de cana de-açúcar + 10%
maravalha de eucalipto
Fonte: Autoria própria.

2.3 Caracterização dos briquetes e dos materiais

A caracterização física dos briquetes aconteceu através da expansão volumétrica


e durabilidade enquanto as análises energéticas dos briquetes foram compostas pela
medida do poder calorífico superior (PCS) e da análise química imediata.
A análise química imediata determinou os teores de umidade, voláteis, cinzas e
carbono fixo, sendo realizada por meio da adaptação da norma ASTM D 3175.
A análise do poder calorífico foi realizada utilizando uma bomba colorimétrica,
seguindo como base a norma ASTM D2015-96. Os resíduos passaram pelo microscópio
eletrônico de varredura (MEV) da marca HITACHI modelo TM 3000. Estas análises
foram realizadas no Laboratório de Biomassa e Bioenergia da Universidade Federal de
São Carlos, Campus Sorocaba.
A durabilidade dos briquetes foi analisada seguindo a da norma CEN/TS15210-2:
2015, e para isso utilizou-se um tamboreador rola-rola KT3010, para isso foram contadas
105 rotações, conforme a norma exige, não sendo rotações por min e sim somente a
contagem de rotação. Foram colocados 100 g de briquetes no tamboreador o equivalente
a 2 briquetes.
O volume dos briquetes foi determinado utilizando paquímetro digital para medir
seu diâmetro e altura. Considerando o formato cilíndrico dos briquetes, determinou-se
seu volume através da Equação (1) de volume do cilindro.

𝑑 2
𝑉𝐵 = 𝜋 ∗ ℎ ( ) (1)
2

em que 𝑉𝐵 é o volume do briquete, h é a altura do briquete e d é o diâmetro do briquete.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Análise Química Imediata e Poder Calorífico

O teor de umidade (TU) deve ser mantido razoavelmente baixa, a fim de evitar
que interfira negativamente nas propriedades energéticas do material. Entretanto em
alguns materiais o TU, entre 10 a 15%, pode contribuir com a facilidade de formação dos
briquetes e melhorar as propriedades físicas, por esse fator deve verificar os valores e
conforme necessário a adequação do material (CHRISOSTOMO, 2011; SILVA, 2017;

263
CASTELLANO, 2015). Todos os materiais utilizados tinham aproximadamente 10% de
umidade.

Tabela 3: Análise química imediata das amostras.


Composição TV Cinzas CF PCS
(%) (%) (%) (MJ kg-1)
C1 81,60 6,69 11,71 17,800
C2 81,60 4,57 13,83 16,879
C3 84,06 0,44 15,78 19,361
C4 86,53 1,65 11,81 18,168
Fonte: Autoria própria.

Os resultados apresentados na Tabela 3, foram feitos em triplicatas e são


referentes à base seca. Os valores do teor de voláteis (TV) das composições 1 e 2, bagaço
e a palha de cana-de-açúcar, tiveram resultados semelhantes e inferiores as outras e
demonstram que a presença da madeira na C4 possivelmente elevou o teor de voláteis.
Como o esperado o teor de cinzas para C3 apresentou menores valores e um excelente
resultado de 0,44%. Alguns autores defendem que valores satisfatórios devem sem
inferiores a 2,6% (CHRISOSTOMO, 2011; BORGHI, 2012) e na C4, que na sua
composição tem madeira, apresentou 1,65%, enquanto as outras obtiveram valores mais
altos.
Comparando-se os valores encontrados para carbono fixo (CF) entre as
composições ensaiadas, observa-se que o teor mais elevado foi apresentado para a de
madeira. Os resíduos que possuem teores mais baixos de materiais voláteis e altos teores
de carbono fixo são mais viáveis e apresentam uma queima mais lenta oferecendo um
fornecimento térmico por um tempo maior (TRUGILHO, 2001; BRITO, 1978). Outra
característica importante é o PCS e para efeito prático de uso da biomassa para geração
de energia são consideradas executáveis aquelas que possuem alto teor de carbono fixo e
o PCS acima de 1255,2 MJ kg-1 ou J g-1 , ou seja, todas as composições estudadas são
viáveis e apresentam ótimos resultados (NONES, 2015).

3.1 Expansão volumétrica e Durabilidade

No teste de durabilidade não foi possível observar uma mudança significativa com
a presença da madeira, tal fato se deve aos resultados de todas as composições
apresentarem valores próximos, porém pode-se notar que em relação a expansão
volumétrica a blenda C4 apresentou uma menor expansão, ao ser comparada com a
expansão do bagaço e da palha de cana-de-açúcar, o que indica que a madeira age como
ligante para esses resíduos. A Tabela 4 apresenta os resultados para a durabilidade e a
expansão volumétrica.

264
Tabela 4: Resultados dos testes nos briquetes.
Composição Durabilidade Expansão Volumétrica (%)
(%)
C1 99,82 9,22
C2 99,75 13,14
C3 99,81 2,49
C4 99,80 4,08
Fonte: Autoria própria.

Foi realizada o cálculo da expansão volumétrica dos briquetes, depois de 72 h do


processo de briquetagem, de todas as composições. Os briquetes de palha apresentaram a
maior expansão com um aumento do seu volume em 13,14%, enquanto os de madeira
apresentaram a menor com apenas 2,59%. Os briquetes foram armazenados dentro de
sacos plásticos com o intuito de impedir a absorção de umidade.

265
3.2 Microscópio Eletrônico De Varredura

As amostras residuais das composições foram analisadas por um Microscópio


Eletrônico de Varredura (MEV) como mostra a figura 1.

(A) (B)

(C) (D)
Figura 1: Imagens do MEV para as amostras cruas com ampliação de 500x. (A)
Bagaço de cana-de-açúcar (B) Palha de cana-de-açúcar (C) Maravalha de eucalipto (D)
Blenda. Fonte: Autoria própria.

O MEV permite a análise da morfologia e composição química. Através do MEV,


é possível verificar a existência de impurezas nos materiais e quais seus elementos
químicos predominantes encontrados nas amostras “in natura”, como pode ser observado
na Tabela 5.

266
Tabela 5: Composição química das amostras.
Composição Elementos
C1 K> Si > Ca >Al > Mg > Fe > P > S
C2 K > Ca > Si > Mg > Al > S > Fe > P
C3 Ca > Si > Fe > C > K > Al > Mg > P > S
C4 Si > Ca > K > Al > Mg > Fe > P > S
Fonte: Autoria própria

Observa-se que a composição detectada é igual para todas as amostras.

4. CONCLUSÃO

Os briquetes de maravalha de eucalipto obtiveram os melhores resultados nas


análises realizadas. A composição C4 obteve um aumento significativo no poder
calorifico e uma baixa expansão volumétrica que pode ter sucedido pela presença da
maravalha na composição. No teste de durabilidade não houve uma diferença
significativa entre as composições. No MEV os elementos químicos analisados
mostraram a presença dos mesmos elementos nas amostras de cada composição.
Conclui-se então que, de fato, a composição C4, quando comparada as
composições C1 e C2, possui resultados melhores e mais próximo ao da maravalha de
eucalipto. Essa composição possui características importantes e viáveis para sua
utilização como combustível. Entretanto não pode ser afirmar que a madeira agiu como
ligante, pois não houve mudança na durabilidade dos briquetes necessitando, portanto, de
um estudo mais aprofundado.

REFERÊNCIAS

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sawdust-briquettes as wood-residue energy generation source from tropical hardwoods of
different densities. Biomass and Bioenergy, v. 85, p. 144-152, 2016.

BORGHI, M. M. Efeito da granulometria na avaliação dos briquetes. 2012. 47 f. Trabalho de


Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Industrial Madeireira), Universidade Federal do
Espírito Santo, Jerônimo Monteiro, ES, 2012.

BRAND, Martha Andréia. Qualidade da biomassa florestal para o uso na geração de energia
em função da estocagem. 2007, 169 f. Diss. Tese (Pós-Graduação em Ciências Florestais) -
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.

BRITO, J. O.; BARRICHELO, L. E. G. Características do eucalipto como combustível: análise


química imediata da madeira e da casca. IPEF, 1978.

CASTELLANO, J. Mꎬ et al. Study on the effects of raw materials composition and


pelletization conditions on the quality and properties of pellets obtained from different woody
and non woody biomasses. Fuel, v. 139, p. 629-636, 2015.

CHRISOSTOMO, Walbert et al. Estudo da compactação de resíduos lignocelulósicos para


utilização como combustível sólido. 2011.
267
DE ARAGÃO PEDROSO, Luiz Lúcio et al. Demandas atuais e futuras da biomassa e da
energia renovável no Brasil e no mundo/Current and future demands for biomass and renewable
energy in Brazil and worldwide. Brazilian Journal of Development, v. 4, n. 5, p. 1980-1996,
2018.

FURTADO, Thielly Schmidt et al. Variáveis do processo de briquetagem e qualidade de


briquetes de biomassa florestal. Pesquisa Florestal Brasileira, v. 30, n. 62, p. 101, 2010.

KLOCK, Umberto et al. Química da madeira. Fupef, Curitiba, 2005.

MESCHEDE, D. K. et al. Teores de lignina e celulose em plantas de cana-de-açúcar em função


da aplicação de maturadores. Planta Daninha, v. 30, n. 1, p. 121-127, 2012.

NONES, Daniela Letícia et al. Determinação das propriedades energéticas da madeira e do


carvão vegetal produzido a partir de Eucalyptus benthamii. Floresta, v. 45, n. 1, p. 57-64, 2014.

PROTÁSIO, Thiago de P. et al. Torrefação e carbonização de briquetes de resíduos do


processamento dos grãos de café. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.
16, n. 11, p. 1252-1258, 2012.

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ALVES, GEZIELE MUCIO. Biomassa como energia renovável no Brasil. Revista Uningá
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TRUGILHO, Paulo Fernando et al. Avaliação de clones de Eucalyptus para produção de carvão
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VIEIRA, A. C. Caracterização da biomassa proveniente de resíduos agrícolas. 2012.

268
PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE BIOMASSA DE RÚMEN DE
BOVINOS PROVENIENTES DE ABATEDOUROS

Renata Santos Coutinho 1, Klara Cunha de Meneses1, Ismael dos Santos Cabral1, Edna
Mendes Fortes1, Jocélio dos Santos Araújo 1
1
Universidade Federal do Maranhão - Centro de Ciências Agrárias e Ambientais.
E-mail: ismaelcabral0206@gmail.com

RESUMO: Alternativas de produção de energia através de processos anaeróbicos têm


sido incentivadas, principalmente nas regiões rurais que produzem uma grande
quantidade de dejetos oriundos da criação de ruminantes, e que apresentam potencial para
produção de biogás. Sendo assim, objetivou avaliar os efeitos de níveis de inoculação de
biomassa ruminal oriundos de matadouros na produção de biogás, com uso de
biodigestores anaeróbicos. Foram utilizados 16 biodigestores experimentais em batelada
(protótipos), confeccionados de bombonas em polietileno de alta densidade e alto peso
molecular, acoplados com válvula de gás. Foi utilizado como substrato orgânico o esterco
bovino, e os tratamentos experimentais consistiram em níveis de inoculação de biomassa
ruminal de bovinos (0; 5; 10 e 15%), sob as variáveis, produção e pressão de biogás. Foi
realizada análise de variância e os dados quantitativos foram submetidos à regressão
polinomial. O tempo de retenção hidráulica da biomassa foi de 15 dias. Maior produção
de biogás foram obtidos no tratamento sem o uso de inóculo de biomassa ruminal, e ao
analisar a pressão do biogás, observou-se que não houve efeito significativo entre os
tratamentos. A inoculação de biomassa ruminal oriundas de abatedouros não favoreceu
incremento na produção de biogás.
Palavras-chave: bactérias ruminais, biodigestão anaeróbica, reutilização de resíduos.

BIOGAS PRODUCTION FROM BOVINE RUMEN BIOMASS FROM


SLAUGHTERHOUSES

Abstract: Alternative energy production through anaerobic processes has been


encouraged, mainly in rural regions that produce a large amount of manure from the
creation of ruminants, and that have potential for biogas production. Therefore, it aimed
the objective of this study was to evaluate the effects of inoculation levels of ruminal
biomass from slaughterhouses on biogas production, using anaerobic biodigesters. We
used 16 experimental batch-type biodigesters (prototypes), made of polyethylene drums
of high density and high molecular weight, coupled with gas valve. Cattle manure was
used as organic substrate, and experimental treatments consisted of inoculation levels of
cattle rumen biomass (0, 5, 10 and 15%), under the variables, biogas production and
pressure. Analysis of variance was performed, and the quantitative data were submitted
to polynomial regression. The hydraulic retention time of the biomass was 15 days.
Greater biogas production was obtained in the treatment without the use of ruminal
biomass inoculum, and when analyzing the biogas pressure, it was observed that there
was no significant effect among the treatments. Inoculation of ruminal biomass from
slaughterhouses did not favor an increase in biogas production.
Keywords: Anaerobic biodigestion, reuse of waste, ruminal bacteria.

269
1. INTRODUÇÃO

Alternativas de produção de energia através de processos anaeróbicos tem sido


incentivado, principalmente nas regiões rurais que produzem grande quantidade de
dejetos resultantes da criação de animais, bem como os resíduos oriundos dos abates e
processamentos destes, os quais podem ser aproveitados para produção de energia e de
biofertilizantes para a lavoura, nesse contexto, surge o biogás como uma dessas
alternativas.
Segundo Teixeira (2005), o biogás é o produto da decomposição natural de
qualquer substância orgânica, como dejetos de animais, resíduos vegetais e de lixo
residencial e industrial. De acordo com Tatagiba (2019), o Brasil é o maior exportador de
carne bovina no mundo, sendo assim, a quantidade de resíduos produzidos por essa
atividade também é elevada, gerando uma série de resíduos sem que haja a preocupação
e/ou políticas públicas para o correto descarte e aproveitamento desses dejetos,
ocasionando assim, impactos socioambientais e econômicos a atividade. Há de ressaltar,
que todos os materiais diretos e/ou indiretos (gordura, água, estercos, biomassa ruminal...)
são passíveis de tratamento biológico através da compostagem e uso anaeróbico em
biodigestores.
A biomassa ruminal oriunda do abate de grandes e pequenos ruminantes, contém
diversos microrganismos, principalmente microrganismos metanogênicos, que são
capazes de degradar nutrientes, que resultarão ao final dos seus processos metabólicos na
produção de metano, que por sua vez, tem sido apontado como principal gás do efeito
estufa, todavia, também é uma excelente fonte alternativa de produção de energia,
atenuando assim seus efeitos negativos no ambiente (PRIMAVESI et al., 2004; ORRICO
JUNIOR et al., 2011).
Com base no exposto, objetivou-se avaliar os efeitos de níveis de inoculação de
biomassa ruminal oriundos de matadouros na produção de biogás com uso de
biodigestores anaeróbicos experimentais.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi realizado no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, da


Universidade Federal do Maranhão (CCAA/UFMA), em Chapadinha, Maranhão.
Foram utilizados 16 biodigestores experimentais de batelada (protótipos),
confeccionados de bombonas em polietileno de alta densidade e alto peso molecular, de
cor azul, com capacidade volumétrica de 50 litros, acoplados com válvula de gás P13 de
latão ½”, que foi produzido de forma experimental em baixa escala.
Foi utilizado esterco de bovino como substrato orgânico, previamente diluído em
água, na proporção de 1:1, sendo a mistura homogeneizada, utilizando uma caixa d’água
de polietileno, mantida a mistura em repouso por 12 horas. Após esse período, os
protótipos de biodigestores foram abastecidos em batelada, ou seja, acondicionou-se o
substrato (mistura de água e esterco de bovino) e o inoculante (biomassa ruminal),
denominado como afluente, no biodigestor, apenas no início do experimento e
preenchidos até 80% da capacidade total de armazenamento.
A biomassa ruminal que constituiu os tratamentos experimentais, foi obtida de
animal abatido, sob inspeção veterinária, onde coletou-se todo o inóculo microbiano
270
ruminal de um único animal, sendo armazenado e utilizado após transcorrido 14 horas do
abate.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, e os
tratamentos experimentais consistiram em níveis de inoculação de biomassa ruminal de
bovinos, composto de quatro tratamentos com quatro repetições, perfazendo 16 unidades
experimentais, sendo:

T1 – 0,0% de biomassa ruminal;


T2 – 5% de biomassa ruminal;
T3 – 10% de biomassa ruminal, e
T4 – 15% de biomassa ruminal.

A pressão do biogás, foi obtida através da utilização de um manômetro digital, e


a quantidade de biogás produzida por tratamento, foi obtida através do gasômetro
GLP/GNV – LAO G 0.6, sendo ambas leituras obtidas sempre no intervalo de 48 horas.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância com significância de
5% de probabilidade pelo teste de F e quando significativo para os dados quantitativos
estes foram desdobrados em parâmetros de regressão polinomial. Todos os testes
estatísticos propostos foram realizados com auxílio do software estatístico SISVAR
versão 5.6 (FERREIRA, 2011).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para as variáveis em funções dos tratamentos são


apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Valores médios da produção e pressão de biogás.


Tratamentos
Variáveis
0% 5% 10% 15% Média CV (%) Pr>F
Produção(m³) 0,0100 0,0015 0,0010 0,0014 0,0036 109,88 0,0255
Pressão(kg/cm²) 0,4625 0,1650 0,1250 0,0766 0,216 145,25 0,3660

Foi observado efeito significativo dos tratamentos para variável produção de gás,
onde as maiores médias foram obtidas no tratamento que não houve inoculação de
biomassa ruminal. Esses resultados provavelmente tenham ocorrido em decorrência do
tempo transcorrido da coleta do material ruminal do abatedouro, armazenamento e sua
inoculação no protótipo de biodigestor, transcorrendo, aproximadamente 14 horas, o que
pode ter ocasionando maior exposição da biomassa ao oxigênio, e morte do inóculo
microbiano ruminal, principalmente os microrganismos metanogênicos, responsáveis
pela produção de gás metano. Segundo Lopes et al. (2004), os primeiros dias de incubação
dos microrganismos anaeróbicos de substratos sem inoculo, apresentam uma fase lenta,
fase lag, determinada por um período necessário de adaptação e multiplicação de cargas
microbianas, posteriormente apresentam rápida decomposição e maior crescimento
microbiano.

271
Esses resultados, assemelham-se aos obtidos por Soares et al. (2018), que ao
estudarem níveis de inclusão de substratos compostos por 0; 20 e 40% de inóculo,
observaram à medida que se aumentava a proporção de inoculo, ocorreria decréscimo na
produção de biogás. Segundo os autores supracitados, o comportamento da baixa
produção do biogás apresentada ao tratamento sem inoculo pode estar relacionado ao
maior tempo que esses microrganismos necessitam para se adaptar com o meio.
Entretanto, assim que a adaptação aconteceu, houve o crescimento da produção para o
tratamento sem inoculo, apresentando resultado superior em produção final de biogás
comparado aos demais tratamentos. Alves et al. (2012), observaram que a biodigestão da
torta de mamona com adição de dejetos de animais, diminuiu a produção de biogás,
devido à falta de controle da temperatura, assim como no presente experimento, não
ocorreu monitoramento da temperatura, o que também pode ter afetado a produção de
biogás da pesquisa, ou seja, as prováveis oscilações de temperaturas podem ter
comprometido a atividade das bactérias mesofílicas, ocasionando a redução da produção
do biogás. Para Tiez et al. (2014), ao estudarem a influência da temperatura na produção
de biogás a partir de dejetos da bovinocultura de leite, reportaram que a produção do
biogás foi influenciada pela inconstância da temperatura.
De acordo com os dados obtidos constata-se que não houve efeito significativo da
inoculação da biomassa ruminal na pressão do gás, portanto qualquer um dos níveis
utilizados não alterará a pressão do gás metano, possivelmente tal resultado dá-se pela
obstrução da biomassa utilizada para a produção de gás, onde ocasionou o entupimento
das tubulações por onde passava o gás. O biogás produzido em biodigestores na maioria
das vezes é de baixa pressão em gasômetro e empregado para combustão em serviços
para a geração de calor (SILVA et al., 2005).
Atualmente, na maioria dos biodigestores em operação, o biogás é retirado apenas
com peças adaptadas a partir de equipamentos dimensionados para o uso do Gás
Liquefeito do Petróleo (GLP), podendo ocasionar entupimento dessas peças. Para
Amestoy e Ferreira (1987), essas limitações de equipamentos, trazem a necessidade de
adaptação a equipamentos de uso GLP para a retirada do biogás. Entretanto, deve-se levar
em consideração alguns fatores no dimensionamento como: menor poder calorifico do
biogás, baixa pressão de serviços dos biodigestores e baixa velocidade de combustão,
responsável pelo efeito de sopro da chama, onde se destaca a queima do biogás.

4. CONCLUSÃO
A inoculação de biomassa ruminal não favoreceu incremento na produção de
biogás.

REFERÊNCIAS

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a partir da biodigestão da torta de mamona com adição dejetos de animais. Revista engenharia
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Amestoy, E. A.; Ferreyra, R. D. Utilização del biogas. Seminário internacional de biodigestion


anaerobia, p. 63, 1987.

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Ferreira, D. F. Sisvar: um sistema de análise estatística computador. Ciência e Agrotecnologia,
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273
PRODUÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE BIOMASSA RUMINAL DE
DIFERENTES GRUPOS GENÉTICOS DE OVINOS

Francivana Pedrosa Fernandes1, Edna Mendes Fortes2, Ismael dos Santos Cabral2,
Jocélio dos Santos Araújo 2
1
Universidade Federal do Maranhão. Centro de Ciências Agrárias e Ambientais,
2
Universidade Federal do Maranhão - Centro de Ciências Agrárias e Ambientais.
E-mail: ednamendesfortes640@gmail.com

RESUMO: Diversos problemas ambientais são ocasionados pela utilização das fontes de
energias convencionais, além de resíduos sólidos gerados a partir do abate de animais.
Para mitigar esses problemas, alternativas para utilização de sistemas eficientes no
tratamento destes resíduos estão sendo estudados, pois, quando tratados tem grande
potencial de geração de energia. Nesse contexto, objetivou avaliar a produção de biogás
a partir de biomassa ruminal de diferentes grupos genéticos de ovinos. Foram utilizados
12 protótipos de biodigestores experimentais em batelada, abastecidos com biomassa
ruminal de dois grupos genéticos de ovinos (Rabo Largo e Santa Inês) que durante um
período de confinamento foram alimentados com duas dietas caracterizadas como alto e
baixo concentrado, com proporções de 70% e 30%, respectivamente. Após abate dos
animais foram coletados todo conteúdo ruminal de acordo com os grupos genéticos e
níveis de alimentação, sendo este, os materiais que constituíram a biomassa ruminal. Foi
utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e três
repetições. As variáveis analisadas foram: temperatura, pH, produção e pressão do biogás.
A temperatura encontra-se na faixa mesofílica, variando de 20°C a 40°C. o valor médio
do pH foi de 6.76. A produção de biogás obteve média de 5.89 m³ e a pressão uma média
de 0,12bar. Não houve efeito significativo entre os tratamentos para todas as variáveis
analisadas. A inoculação da biomassa ruminal dos diferentes grupos genéticos de ovinos
estudadas, apresentaram condições favoráveis para a produção de biogás, demonstrando
eficiência no processo de digestão anaeróbica.
Palavras-chave: Biodigestor, digestão anaeróbica, resíduos sólidos.

274
BIOGAS PRODUCTION FROM RUMINAL BIOMASS OF DIFFERENT
GENETIC GROUPS OF SHEEP

ABSTRACT: Several environmental problems are caused by the use of conventional


energy sources, in addition to solid waste generated from the slaughter of animals. To
mitigate these problems, alternatives for the use of efficient systems in the treatment of
these residues are being studied, therefore, when treated, it has great potential for energy
generation. In this context, it aimed to evaluate the production of biogas from ruminal
biomass of different genetic groups of sheep. 12 prototypes of experimental batch
digesters were used, supplied with ruminal biomass from two genetic groups of sheep
(Rabo Largo and Santa Inês) that during a confinement period were fed with two diets
characterized as high and low concentrate, with proportions of 70% and 30%,
respectively. After slaughtering the animals, all ruminal content was collected according
to genetic groups and food levels, which were the materials that constituted the ruminal
biomass. A completely randomized design was used, with four treatments and three
replications. The variables analyzed were: temperature, pH, production and pressure of
biogas. The temperature is in the mesophilic range, varying from 20°C to 40 °C. the
average pH value was 6.76. Biogas production averaged 5.89 m³ and pressure averaged
0.12 bar. There was no significant effect between treatments for all variables analyzed.
The inoculation of ruminal biomass of the different genetic groups of sheep studied,
presented favorable conditions for the production of biogas, demonstrating efficiency in
the anaerobic digestion process.
Keyword: Biodigestor, anaerobic digestion, solid waste.

1. INTRODUÇÃO

Por muito tempo utilizou-se de energias não renováveis (petróleo, gás e carvão
mineral) como única forma de suprir as necessidades energéticas da nação. Esses recursos
que não têm a capacidade de se regenerar naturalmente, portanto, são limitados e ainda
tem uma grande contribuição para a liberação de gases de efeito estufa (GEE’s), onde os
principais gases são o dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2) e metano (CH4)
(MOREIRA JUNIOR et al., 2017).
Além dos problemas ambientais ocasionados pela utilização das fontes de energias
convencionais, há outro fator que necessita de uma atenção especial, os resíduos gerados
a partir do abate de animais, os quais estes, muitas vezes são descartados ao meio
ambiente sem tratamento prévio. Esse descarte inadequado tem contribuído para a
intensificação dos problemas ambientais, devido à grande quantidade de dejetos
ocasionando poluição de mananciais, do ar e do solo.
Para amenizar estes problemas, surge como uma alternativa a utilização de
sistemas eficientes para o tratamento destes resíduos, que quando tratados tem grande
potencial de geração de energia por meio da digestão anaeróbica, que se trata de um
tratamento biológico de materiais orgânicos, cujo produto final gerado é o biogás e
biofertilizante, que pode ainda representar ao produtor, agregação de valor a estes
produtos (EL-MASHAD e ZHANG, 2010).
Na biomassa ruminal, sejam de ovinos, caprinos ou bovinos, contém uma
quantidade significativa de microrganismos capazes de degradar nutrientes que passarão
275
por processos metabólicos no qual resultará na produção de biogás, que por sua vez tem
um grande potencial de geração de energia.
Segundo Orrico Junior et al. (2010a), a alimentação de ruminantes pode
influenciar no potencial de produção do biogás, quando se refere a qualidade nutricional
que contém os alimentos oferecidos aos animais. São esperadas algumas diferenças
referentes aos resíduos coletados de animais que recebem alimentos concentrados
daqueles que são alimentados em pastos.
Diante do exposto, objetivou-se avaliar a produção de biogás a partir de biomassa
ruminal de diferentes grupos genéticos de ovinos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 12 protótipos de biodigestores experimentais em batelada,


confeccionados de tambores em polietileno de alta densidade e alto peso molecular
(PEAD) tampa fixa, autolacre, modelo NTF 15, acoplados com válvula de gás P13 de
latão ½” – NPT Externa x 5/8 UNC interna, conforme descrito por Araújo et al (2019).
Esterco de bovino foi utilizado como substrato orgânico, previamente diluído em
água, na proporção de 1:1, sendo a mistura homogeneizada, utilizando uma caixa d’água
de polietileno, mantida a mistura em repouso por 12 horas. Após esse período, os
protótipos de biodigestores foram abastecidos em batelada, ou seja, abasteceu o substrato
(mistura de água e esterco de bovino) e o inoculante (biomassa ruminal), denominado
como afluente, no biodigestor, apenas no início do experimento e preenchidos até 80%
da capacidade total de armazenamento. O tempo de retenção hidráulica foi de 35 dias.
Os biodigestores foram monitorados em um intervalo de dois dias (14:00 e 18:00
horas) para averiguar quanto a possíveis vazamentos e homogeneizar os substratos
orgânicos e simular os movimentos ruminais, com o objetivo de permitir as condições
mínimas necessárias para a fermentação anaeróbica e produção de gases.
Os animais constituíram de dois grupos genéticos das raças Rabo Largo e Santa
Inês, mantidos em confinamento durante 53 dias. No sistema de confinamento foram
utilizadas 40 baias individuais e, para cada dieta foram utilizados 10 ovinos, sendo a
alimentação oferecida uma vez ao dia, composta com duas dietas caracterizadas como
alto e baixo concentrado, com proporções de 70% e 30%, respectivamente. A fonte de
volumoso foi o feno Tifton 85 (Cynodon dactylon) e o concentrado formulado à base de
milho, farelo de soja, farelo de trigo e mistura mineral.
Após o período de confinamento, os animais foram abatidos sob inspeção
veterinária e em condições higiênicas e sanitárias e coletado todo conteúdo ruminal de
acordo com os grupos genéticos e níveis de alimentação, formando uma amostra
composta que foi homogeneizada, sendo este, o material constituinte da biomassa
ruminal, e consequentemente, dos tratamentos experimentais. Após composição das
amostras da biomassa ruminal, foram adicionadas 10% da mistura aos protótipos do
biodigestor que já continham os substratos orgânicos previamente preparados.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, e os tratamentos
experimentais consistiram em inoculação de biomassa ruminal de diferentes grupos
genéticos de ovinos que foram alimentados com os níveis de alimentação, compostos de
quatro tratamentos e três repetições, perfazendo um total de 12 unidades experimentais,
sendo:
276
T1 – Biomassa ruminal do grupo Rabo Lago, alimentados com 70% de
concentrado (BRL-70); T2 – Biomassa ruminal do grupo Rabo Lago, alimentados com
30% de concentrado (BRL-30); T3 – Biomassa ruminal do grupo Santa Inês, alimentados
com 70% de concentrado (BSI-70) e T4 – Biomassa ruminal do grupo Santa Inês,
alimentados com 30% de concentrado (BSI-30).
Foram obtidas no período de cada sete dias, as variáveis físico-químicas: pH e
temperatura, com o auxílio do uso do equipamento analítico e Medidor Multiparâmetro.
A pressão atmosférica (bar) do biogás, foi obtida através da utilização de um manômetro
digital, e a quantidade de biogás (m3) produzida por tratamento, foi obtida através do
gasômetro GLP/GNV – LAO G 0.6, sendo ambas leituras obtidas sempre no intervalo de
48 horas.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e quando
significativo as médias foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade. Todos
os testes estatísticos propostos foram realizados com auxílio do software estatístico
SISVAR versão 5.6 (FERREIRA, 2011).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para as variáveis em funções dos tratamentos são


apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Valores médios de temperatura e pH em função dos tratamentos


experimentais.
Tratamentos Variáveis
Temperatura (°C) pH
ns
BRL-70 28,31 6,50ns
BRL-30 28,98ns 6,94ns
BSI-70 29,73ns 6,70ns
BSI-30 28,92ns 6,88ns
Média 28,99 6,76
CV (%) 6,20 5,80
P>F 0,8149 0,5519
ns= não significativo a 5% de probabilidade.

Não houve efeito significativo dos tratamentos para a variável temperatura. A


temperatura dos protótipos dos biodigestores do presente trabalho se encontra na faixa
mesofílica, que varia de 20°C a 40°C, com isso, as médias obtidas para essa variável,
demonstram que o ambiente anaeróbico foi favorecido no processo de digestão da matéria
orgânica e crescimento de microrganismos anaeróbicos, principalmente aquelas
produtoras de metano, pois, além da ausência de oxigênio, é fundamental manter
estabilidade na temperatura, já que as arqueias metanogênicas são sensíveis as variações
da temperatura.

277
De acordo com Suryawanshi et al (2010), esta é a faixa adequada para a produção
de biogás, pois é nela que estão presentes as arqueias geradoras de metano, e o que
provavelmente favoreceu a produção de biogás, pois a temperatura se manteve no
decorrer do experimento com média de 28,9°C. Kumar et al (2013), também reportam da
importância da temperatura no desempenho da digestão anaeróbica por estar diretamente
ligado ao processo metabólico bacteriano. Entretanto, todas as bactérias são resistentes a
mudanças rápidas de temperatura de até duas horas, sendo capazes de reestabelecer a
produção de gás quando a temperatura se normaliza. Em pesquisa realizadas por
Gunnerson e Stuckey (1986), os autores relatam duas regiões ótimas da biodigestão, a
35°C na faixa mesofílica, que varia de 20 a 40°C, e 55°C na faixa termofílica, que varia
de 40 a 60°C.
De acordo com os dados obtidos, os tratamentos experimentais não influenciaram
estatisticamente na variável pH. Observa-se que o valor médio foi de 6.76, próximo da
neutralidade. Sendo assim, esses resultados demonstram que a fermentação anaeróbica
foi favorecida independente da biomassa ruminal utilizada nos tratamentos. Os valores
de pH próximo da neutralidade favorecem o crescimento microbiano, degradação da
matéria orgânica, a produção de biogás favorecendo principalmente os arqueias
produtoras de metano. O metabolismo dos microrganismos é afetado quando o pH é
ácido, bem como estiver na faixa da alcalinidade, pois os extremos diminuem a
metanogênese, inibindo a produção de metano.
Esses resultados são corroborados aos apresentados por Quadros et al (2010) e
Sanchez-Hernandez et al (2013), onde relataram que a faixa entre 6,0 e 8,0 são
consideradas faixas ideais para o desenvolvimento de microrganismos, sendo o valor 7,0
a faixa considerada ideal. Segundo Ferreira (2015) a formação do metano ocorre em um
intervalo de pH relativamente estreito, de aproximadamente 6,5 a 8,5 com uma faixa
ótima entre 7,0 e 8,0. Weiland (2010) relatou que o processo é severamente inibido se o
pH decresce para valores inferiores a 6,0 ou incrementa acima de 8,5. Todavia, quando o
pH diminui, a produção de ácidos orgânicos leva a uma futura redução do pH pelas
bactérias hidrolíticas e pode causar a interrupção do processo de fermentação
(FERREIRA, 2015).
As médias obtidas para as variáveis de pressão atmosférica e produção do biogás
são apresentados na tabela 2.
Tabela 2 – Valores médios de pressão e produção de biogás em função dos tratamentos
experimentais.
Tratamentos Variáveis
Pressão (bar) Produção (m³)
BRL-70 0,09ns 4,23ns
BRL-30 0,02ns 1,88ns
BSI-70 0,15ns 7,14ns
BSI-30 0,22ns 10,32ns
Média 0,12 5,89
CV (%) 154,75 138,87
P>F 0,5990 0,6341
ns= não significativo a 5% de probabilidade. CV = Coeficiente de Variação.

278
A inoculação da biomassa ruminal dos diferentes grupos genéticos de ovinos, não
influenciaram estatisticamente na pressão do biogás. Como no presente estudo foi
utilizado um protótipo de biodigestor, o monitoramento da pressão foi realizado para
melhorar a operacionalização e a eficiência do equipamento, além de analisar se os
diferentes inóculos utilizados influenciaram ou não nessa variável, já que a pressão do
biogás é baixa, além de não ser constante, devido aos baixos conteúdos de energia devido
à diluição com vários gases não-combustíveis (ROSS et al., 1996). Essas características
de pressão do biogás é o que possibilita sua utilidade como fonte de energia sustentável.
Quanto a variável produção de biogás, não houve efeito significativo em
decorrência dos tratamentos experimentais. Consequentemente, a biomassa ruminal dos
distintos grupos genéticos de ovinos não influenciaram na produção de biogás. Há de
ressaltar que os resultados obtidos para as variáveis temperatura e pH, da presente
pesquisa foram consideradas satisfatórias, com valores na faixa ideal dos aportados na
literatura científica, e isso, se refletiram na produção, na qual obteve média de 5.89 m³ de
biogás. Segundo Lucas Junior e Santos (2000) os dejetos de ruminantes, sofrem um pré-
tratamento no trato digestivo dos animais, que são verdadeiras câmaras naturais de
fermentação onde se desenvolvem harmonicamente os microrganismos da biodigestão
anaeróbica, portanto, ao se colocar estes resíduos em um biodigestor, em pouco tempo
haverá produção de biogás.
Otoboni et al (2016), ao analisarem a associação de dejetos e resíduos vegetais
para realizar testes de produção e quantificar o biogás, utilizando biodigestores pilotos
abastecidos com resíduos vegetais com proporção de 10% em relação aos dejetos de
equinos, ovinos e suínos, respectivamente, observaram que o volume de produção de
biogás obtido com dejeto de equino foi 50% maior com relação ao volume obtido com
dejeto de ovinos, porém não obtiveram produção de biogás com o dejeto suíno, nos quais
os valores médios de produção de biogás obtidos com dejeto de equino, ovino e suíno
foram 0,032m³, 0,016m³ e 0,0m³, respectivamente. Os valores obtidos pelos autores
demonstraram que a adição de 10% de resíduos vegetais junto ao dejeto de equino
favoreceu a produção de biogás. É importante ressaltar que os valores obtidos pelos
autores foram inferiores quando comparados com os valores obtidos na presente pesquisa.
Amorim et al. (2011), analisando o efeito da idade e diferentes níveis de
concentrados na alimentação de caprinos, observou que a produção de biogás foi
significativa quando utilizados substratos que continham fezes de cabritos com a dieta
com nível de relação volumo: concentrado 40:60 em comparação às produções nos
substratos com dieta com relação que continham relação volumoso: concentrado 60:40 e
80:20, respectivamente. Observaram ainda que a idade também afetou a produção de
biogás, obtendo maior produção com caprinos mais velhos.
Orrico et al. (2016) ao avaliarem a codigestão dos dejetos de bovinos leiteiros e
óleo de descarte, por meio das produções específicas de biogás, obtiveram melhores
médias nas doses entre 4,4 e 6,5%, com consequente aumento nas produções de biogás e
as reduções de sólidos. Em outra pesquisa realizada por Orrico Júnior et al. (2010b) ao
trabalharem com os dejetos de suínos que foram alimentados à base de sorgo, os autores,
observaram que ocorreram efeitos significativos na produção de biogás e metano.
Há de ressaltar que a produção de biogás, bem como sua composição, depende da
eficiência do processo de digestão anaeróbica, influenciado por diversos fatores como
carga orgânica, relação carbono/nitrogênio, pH, pressão e temperatura durante a
279
fermentação, além de adição de fonte de inóculo ao dejeto, que interfere na população
microbiana e no presente estudo, a inoculação de resíduo ruminal de ovinos favoreceu a
produção de biogás.

4. CONCLUSÃO

A inoculação da biomassa ruminal dos diferentes grupos genéticos de ovinos


apresentaram condições favoráveis para a produção de biogás, demonstrando eficiência
no processo de digestão anaeróbica.

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281
EÓLICA

282
A IMPORTANCIA DO PERFIL DE VELOCIDADES NA SELEÇÃO DE
AEROGERADORES

Marcelo Guedes Azevedo Viana1, Miguel Hiroo Hirata1, Charles Egberto Guedes
Vonnegut Vieira de Mello 1, João Ignácio da Silva Filho 1, Maria Regina de Oliveira
Pereira de Araújo 1
1
Horizonte Energias Renováveis LTDA
E-mail: marcelo.viana@horizonteenergia.com.br

RESUMO: O fluxo de energia através do disco do aerogerador é um importante


parâmetro para a análise das potencialidades de um sítio, assim como de um aerogerador.
Além do diâmetro do aerogerador e da altura do cubo, é necessário conhecer o perfil de
velocidades do vento para se calcular o fluxo de energia (ou a velocidade equivalente).
Usando valores da velocidade, obtidos nas torres anemométricas atuais de baixa altura
(até 120 metros), uma metodologia é apresentada para extrapolar os valores necessários
da velocidade para se estimar o fluxo de energia. Os resultados são comparados com
valores disponíveis obtidos numa torre de 120m.
Palavras-chave: Perfil vertical de velocidades, fluxo de energia, velocidade equivalente.

THE WIND PROFILE AND THE WIND TURBINE SELECTION

ABSTRACT: The energy flux through the turbine disk is an important parameter for the
analysis of the site potentialities as well as the productivity of a wind turbine itself.
Besides the turbine diameter and the hub height it is necessary to know the wind profile
in order to calculate the energy flux (or the equivalent velocity). Using the values of the
wind velocities measured with the usual low height met-tower, a methodology is
presented to extrapolate the values of the wind velocity to heights necessaries to estimate
the energy flux. The results are compared with those measured in an available tower of
120m.
Keywords: wind profile, energy flux, equivalent velocity.

1. INTRODUÇÃO

A análise das potencialidades de um sítio tem sido realizada, principalmente, com a


utilização da velocidade dos ventos a certa altura, normalmente a 100m. Os atlas eólicos
do País (AMARANTE et al, 2001) e dos estados (AMARANTE et al, 2003, 2010) fazem
a caracterização do potencial com base nestas informações. As normas para certificação
de produção eólica (EPE, 2017) exigem que se efetuem medições da velocidade em duas
alturas por um período de três anos.
Sabe-se, no entanto, que a velocidade dos ventos varia com a altura, de um sítio para outro
e, num mesmo sítio, de um instante para outro dependendo do comportamento da
atmosfera que, ao longo do dia, apresenta diferentes estados de estabilidade; veja fig.1.
Estes são influenciados pela estratificação térmica associada à radiação solar, de grande
importância, nas regiões tropicais. Torna-se claro que a análise das potencialidades de um
sítio deve levar em consideração a potência disponível – Pd – (fluxo de energia – 𝐸𝑐̇ –

283
através do disco do aerogerador; veja fig.1). Alternativamente, pode-se definir a
velocidade equivalente – Veq – que elevada ao cubo e multiplicada pela área do disco do
aerogerador fornece o fluxo de energia através deste; a Veq depende da altura do eixo –
zh – do diâmetro do aerogerador – D – além do perfil de velocidades do vento.
A prática atual utiliza torres meteorológicas com alturas de até 100m. Este
trabalho de caráter exploratório analisa uma metodologia a ser utilizada para simular os
valores da velocidade até as alturas necessárias para o cálculo da Veq e da Pd; veja fig.1.
Para aferição da metodologia foram utilizados dados medidos em uma torre
meteorológica de 120m.
Utiliza-se a metodologia com o objetivo de selecionar o diâmetro do aerogerador
e/ou a altura da torre. Como não se dispõe ainda de dados suficientes para ter amostras
estatisticamente representativas, as análises apresentadas neste trabalho são feitas com
amostras da média de 10 minutos quando o ideal seria utilizar valores médios mensais,
por exemplo, pois estas apresentam menor variabilidade.

Figura 1 – Perfil de velocidades para diferentes estados de equilíbrio da atmosfera.

1.1 Distribuição vertical da velocidade do vento

A estratificação térmica da atmosfera influi na forma do perfil de velocidade dos


ventos; este fenômeno é mais acentuado quando o local de interesse situa-se na região
tropical sujeita a intensa ação dos raios solares.
No período diurno, a radiação solar aquece a superfície da Terra dando origem a
um fluxo de calor positivo que, associado ao empuxo térmico, provoca um movimento
ascendente das partículas de ar. Como consequência observa-se uma intensificação dos
efeitos de mistura (inerentes aos escoamentos turbulentos) no interior da camada limite
atmosférica; observa-se, então, um estado de equilíbrio instável. Esta conjunção de
fatores resulta numa uniformização das propriedades do escoamento, em particular,
284
observa-se que o perfil de velocidades do vento se apresenta mais ou menos uniforme
(constante) nas grandes alturas, mas com acentuado gradiente nas partes inferiores; como
visto na fig. 1.
O perfil de velocidades do vento, quando a atmosfera termicamente estratificada
apresenta comportamento instável, pode ser aproximadamente descrito pela eq. (1),
obtido de (ARYA, 2001).

u   z   z 
V( z )  ln     (1)
   zo   L 

 
 
z  1 x2  
   ln  2 tan 1
( x ) 
L  1  x 2  2
 2  
  2   (1.A)
1
 z  4
x  1  15 
  L 
Nesta equação V(z) é a velocidade numa altura z; u a velocidade de atrito; L o
comprimento de Monin-Obukhov (L < 0 se a atmosfera é instável). A constante de von
Karman assume o valor:  = 0.41
A função (z/L) leva em consideração os efeitos térmicos. Logo (z/L) = 0
quando os efeitos térmicos deixam de atuar e o escoamento na atmosfera apresenta-se em
estado de equilíbrio neutro (|L| ). Em geral esta situação ocorre quando a velocidade
dos ventos atinge valores elevados (domínio da força inercial) e/ou quando o fluxo de
calor sofre uma inversão, geralmente observado ao final do dia. Como mostra a fig. 1 o
perfil de velocidade apresenta-se com um comportamento tipicamente logarítmico.
No período noturno, a superfície da Terra esfria-se rapidamente, resultando numa
inversão do fluxo de calor; as camadas superiores apresentam temperaturas mais elevadas
do que as inferiores. A força de empuxo térmico opera em oposição à força inercial
(inerente aos escoamentos turbulentos) trazendo a atmosfera a um estado de equilíbrio
estável (L > 0). Como mostra a fig. 1 o perfil de velocidades apresenta um comportamento
tipicamente linear com grande variação nas maiores alturas. Nestas condições o perfil de
velocidades é descrito pela eq. 1, mas a função (z/L) assume uma forma simplificada,
eq. (1.B) abaixo.

z z
   4.7 
L L (1.B)

285
1.2 Perfil de velocidades: usando 3 valores medidos da velocidade

O perfil de velocidades fica definido se os parâmetros u, zo e L forem conhecidos;


eq. (1). O objetivo atual consiste na determinação destes parâmetros com a utilização de
três (3) valores da velocidade (V1, V2, V3) medidos respectivamente a três (3) alturas
(Z1, Z2, Z3) , onde Z3>Z2>Z1, menores que 100m. Esta observação é feita tendo em
vista que se pretende aplicar a metodologia mesmo que disponha apenas de torres
meteorológicas abaixo de 100 metros de altura.
Seja definida a razão de velocidades – R – como:

𝑉3−𝑉1
𝑅= (2.A)
𝑉2−𝑉1

Utilizando a eq.(1), tem-se:

 Z3   Z3   Z1 
ln        
R    L L
Z1
(2.B)
 Z2   Z2   Z1 
ln        
 Z1   L  L

Se a atmosfera for neutra -  = 0 - a razão de velocidades R é indicada por RN e


toma a forma simplificada.

 Z3 
ln  
RN   
Z1
(3)
 Z2 
ln  
 Z1 
Com valores da velocidade medidos em três alturas, o valor de R pode ser obtido
- eq.(2A) - e, de maneira análoga, com os correspondentes valores das alturas obtém-se o
valor de RN. Pode-se mostrar (BASU, 2018) que com a atmosfera instável R<RN, com
atmosfera estável R> RN e com atmosfera neutra R ≈ RN.
Se a atmosfera apresenta COMPORTAMENTO INSTÁVEL, a análise da
expressão (2.B) mostra que apenas a grandeza L é desconhecida e pode ser obtida
utilizando um método numérico apropriado. Procedimento análogo é utilizado se a
atmosfera apresenta COMPORTAMENTO ESTÁVEL, lembrando apenas que a
expressão apropriada deve ser utilizada para o cálculo da função (z/L). Se R = RN a
atmosfera é neutra e a lei logarítmica se aplica, não havendo necessidade da determinação
de L.
A determinação da velocidade de atrito – u - é feita utilizando a expressão das
diferenças:

286
u   Z2   Z2   Z1 
V2 - V1  ln Z1    L    L  (4.A)
       

u   Z3   Z3   Z1 
V3 - V1  ln
 Z1          (4.B)
     L  L 
O valor da velocidade de atrito pode ser assumido como sendo o valor médio
obtido com as expressões acima.
Com o conhecimento de L e de u a determinação do comprimento de rugosidade
– zo – pode ser obtido com a utilização da eq.(1), lembrando sempre que se a atmosfera
for neutra tem-se que (z/L) =0 e esta função é expressa pela eq. (1.A) se for instável e
pela eq. (1.B) se estável. Finalmente, cabe observar que a literatura fornece tabelas com
valores aproximados da altura de rugosidade (TROEN e PETERSEN, 1989).

1.3 Determinação do fluxo de energia e da velocidade equivalente

Uma análise qualitativa da fig. 1 mostra que a velocidade do vento na altura do


eixo do aerogerador não representa corretamente o potencial eólico local. Uma grandeza
mais apropriada para tal fim é representada pela Pd (𝐸𝑐̇ ) ou ainda pela Veq, que considera
a distribuição vertical da velocidade ao longo do disco do aerogerador.
Para o cálculo de Pd assume-se que a velocidade do ar em qualquer ponto do disco
dependa apenas da altura do ponto e que a massa específica seja constante. A Pd é
equivalente ao fluxo de energia (𝐸𝑐̇ ), vista como a quantidade de energia cinética que
atravessa o disco por unidade de tempo, eq.(5):

 1
2 A
Ec   u 3dA (5)


1 3 
Ec   Veq A (6)
2 
Levando-se em consideração que a velocidade (u) num escoamento turbulento
pode ser representada por um valor médio ( u ) , escreve-se numa forma discretizada que:

3 𝐴
𝑉𝐸𝑄 = ∑𝑖 [ (𝑢̅𝑖 )3 ( 𝐴𝑖 )]
(7)

Ai = Área da faixa horizontal do disco na qual atua a velocidade ui

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados a seguir devem ser vistos como exploratórios uma vez
que os dados disponíveis referem-se a períodos muito curtos de tempo; apenas 60 dias de
287
uma campanha utilizando torres meteorológicas de 120m no norte de MG. Uma amostra
dos resultados obtidos é apresentada na Tabela 1; nesta tabela tem-se 9 conjuntos típicos
de valores medidos da velocidade e suas respectivas alturas assim como os parâmetros
calculados que definem a eq. 1.
As três primeiras amostras correspondem a situações em que a atmosfera
apresentou comportamento instável, as três próximas são de comportamento estável, as
quais são seguidas de 3 amostras correspondentes a uma atmosfera neutra.

Tabela 1. Parametros que definem o perfil de velocidades.


AMOSTRA Z1 Z2 Z3 V1 V2 V3 zO u L
1 (I) 10 20 40 3.9091 4.2447 4.4952 0.0087 2.2583 -0.01
2 (I) 10 20 40 5.6465 6.3449 6.8134 0.0106 4.4758 -0.01
3 (I) 10 20 40 5.221 5.5929 5.9254 0.0036 0.2716 -161.29
4 (E) 10 20 40 3.2162 3.7877 4.7459 0.0003 0.1093 32.40
5 (E) 10 20 40 3.1362 3.4000 3.7537 0.0001 0.1029 131.16
6 (E) 10 20 40 5.3947 6.4512 7.6825 0.1648 0.5215 342.02
7 (N) 10 20 40 3.9540 4.3473 4.7423 0.0099 0.2316 15619.47
8 (N) 10 20 40 3.4176 3.7775 4.1386 0.0117 0.2122 20268.54
9( N) 10 20 40 4.2647 4.7634 5.2807 0.0208 0.2840 1750.21

A utilização de um determinado conjunto das três alturas (Z1, Z2 e Z3) possui


influência nos valores calculados dos parâmetros definidores da eq.(1). Foram testadas
várias combinações e como conclusão pode-se dizer elas produziram bons resultados, isto
é, as diferenças entre os valores medidos e os valores calculados são aceitáveis - veja
TAB 2; nesta tabela, V(z) representa o valor da velocidade medida na altura z e Vs(z) o
valor da velocidade estimada com a utilização da eq.(1). A seleção do conjunto (Z1=10m,
Z2=20m e Z3=40m) foi feita levando em consideração que:

- o mesmo conjunto de valores foi utilizado em todas as análises por questão de


consistência.
- o valor z1 =10m foi escolhido porque a OMM (Organização Mundial de
Meteorologia) estabelece esta altura como a altura padrão para a realização de
medições meteorológicas (JARRAUD, 2008).
- os valores de Z2 = 20m e Z3 = 40m foram escolhidos porque a análise dos perfis de
velocidade mostra que é, aproximadamente, nesta faixa de alturas que se observam as
maiores variações do gradiente de velocidades.

288
Tabela 2 – Comparação dos valores das velocidades medidas e simuladas
AMOSTRA V(100) Vs(100) V(100) V(120) VS(120) V(120)
1(I) 4.969 4.86 0.109 4.977 4.91 0.067
2(I) 7.401 7.405 -0.003 7.543 7.504 0.039
3(I) 6.097 6.216 -0.119 6.149 6.282 -0.133
4(E) 7.263 7.251 0.012 7.865 8.073 -0.208
5(E) 4.434 4.495 -0.061 4.715 4.721 -0.005
6(E) 9.936 9.900 0.036 10.598 10.481 0.117
7(N) 5.255 5.228 0.028 5.264 5.334 -0.07
8(N) 4.766 4.695 0.07 4.772 4.792 -0.019
9(N) 6.075 6.057 0.018 6.202 6.220 -0.019

Os resultados obtidos, embora com pequena massa de dados, mostram que a


metodologia desenvolvida produz bons resultados e é suficientemente robusta para a
realização de análises do perfil de velocidades utilizando medidas da velocidade
normalmente realizadas nas campanhas preliminares à implantação de um parque eólico.
Como será apresentado no próximo item, o conhecimento do perfil de velocidades é
importante para um melhor levantamento do potencial de geração de um sítio.

3.1 Potencial de geração de um sítio e seleção do aerogerador

De posse do perfil de velocidades a Pd pode ser estimada uma vez que esta
corresponde ao fluxo de energia cinética através do disco do aerogerador. Assim sendo
a Pd, ou alternativamente a Veq serão as grandezas utilizadas para se estimar o potencial
de geração de um sítio.
Antes, porém, é conveniente analisar a fig. 2 que mostra como os valores da
velocidade medidos a diferentes alturas se distribui ao longo do dia. Observa-se que para
os dados utilizados no estudo os melhores ventos ocorrem no período noturno e que para
uma análise mais precisa torna-se necessário separar os dados diurnos dos dados
noturnos.
As tabelas 2 e 3 foram elaboradas utilizando os perfis de velocidade das 9 amostras
da Tabela 1. Na tabela 2 são apresentados valores para D=120m e na tabela 3, D = 100m.
Veq é a velocidade equivalente e Pd é a potência disponível.

289
Figura 2 – Comportamento ao longo do dia para diferentes alturas

Os valores apresentados na tabela podem ser utilizados para avaliar a variação da


produção com a altura da torre num dado sítio; para esta análise a Pd pode ser utilizada
mostrando que uma maior altura da torre é traduzida num valor significativamente maior
de Pd e que esta diferença torna-se mais significativa para o período noturno (amostras 4,
5 e 6) quando a atmosfera apresenta-se estável; esta observação torna-se mais importante
porque, segundo a fig. (2) é exatamente neste período que os ventos sopram com maior
intensidade.

Tabela 2 – Potência Disponível e Valores da Velocidade para aerogeradores de


120m de diâmetro e diferentes alturas da torre
Amostra D=120m Zh=100m D=120m Zh=90m D=120m Zh=80m
- Veq Pd Veq Pd Veq Pd
1(I) 4,843 642500 4,809 628716 4,766 612330
2(I) 7,373 2266685 7,305 2203932 7,222 2129926
3(I) 6,195 1344318 6,149 1314821 6,094 1280023
4(E) 7,451 2338800 7,048 1980093 6,644 1658743
5(E) 4,510 518793 4,393 479360 4,272 440736
6(E) 9,924 5527730 9,612 5021975 9,281 4520929
7(N) 5,206 797710 5,139 767320 5,062 733436
8(N) 4,675 577839 4,614 555531 4,544 513015
9(N) 6,035 1242755 5,937 1183268 5,827 571219

290
Tabela 3 – Potência e velocidades para aerogeradores de 100m de diâmetro e
diferentes alturas
Amostra D=100m zh=90m D=100m zh=80m
- Veq Pd Veq Pd
1(I) 4,816 438576 4,777 427964
2(I) 7,318 1539140 7,241 1490970
3(I) 6,158 917143 6,107 894490
4(E) 6,986 1338681 6,578 1117592
5(E) 4,389 331971 4,268 305359
6(E) 9,606 3481180 9,278 3136084
7(N) 5,148 535684 5,074 513015
8(N) 4,622 387863 4,555 371219
9(N) 5,946 825596 5,840 782162

A comparação dos resultados das Tabelas 2 e 3 permite a realização de análises


paramétricas para a escolha simultânea do diâmetro e da altura da torre.

4. CONCLUSÃO

Os resultados apresentados são preliminares e refletem tendências que podem ser


revistas quando uma maior massa de dados estiver disponível.
A metodologia desenvolvida apresentou bom desempenho ao simular o perfil de
velocidades de um sítio, apresentando desvio máximo igual a 0,208 m/s, tendo como
ponto de partida três valores da velocidade. Outras metodologias podem ser utilizadas
para simular o perfil de velocidades e merecem um estudo comparativo. Visto a limitação
do modelo em exigir três medidas de velocidade em diferentes alturas, a metodologia que
utiliza dois valores da temperatura para cálculo do fluxo de calor pode também ser uma
metodologia interessante.
A utilização da Pd (ou da Veq) mostrou-se apropriada para se analisar o potencial
de geração de um dado sítio. Os resultados exibidos nas tabelas, porem, resultam da
utilização de valores “instantâneos” (médias de 10 minutos) e, por esta razão foram mais
apropriados para a aferição da metodologia desenvolvida (tabela 1). Para análises com
um viés estatístico como aquelas referentes às tabelas 2 e 3 o mais apropriado seria a
utilização de valores médios de médio prazo (valores médios mensais, por exemplo).
Um aspecto que já se apresenta com uma forte tendência, no sítio considerado,
consiste na diferença marcante do regime diurno com relação ao regime noturno. Os
ventos que sopram a noite são de maiores velocidades e, em geral, em presença de uma
atmosfera estável com a velocidade aumentando quase que linearmente nas grandes
alturas, favorecendo a utilização de aerogeradores maiores instalados em torres de maior
altura.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto de P&D-09344-1703/2017


“Critérios científicos e métodos para dimensionamento de parques eólicos em regiões de
291
atmosfera tropical e modelamento dos impactos sistêmicos da inserção de fontes eólicas
na região sudeste do Brasil”, executado pela Horizonte Energias Renováveis LTDA e
FGV Energia e suportado pela Aliança Geração de Energia S.A através do programa de
P&D regulado pela ANEEL. A equipe de pesquisadores agradece a todos os envolvidos.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, Odilon A. et al. Atlas do potencial eólico brasileiro. Brasília: Cresesb, 2001. 44
p

AMARANTE, Odilon A. et al. Atlas eólico do Rio Grande do Norte. Cosern, 2003. 47 p

AMARANTE, Odilon A. et al. Atlas eólico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Cemig, 2010 84p

BASU,S. (2018) A simple recipe for estimating atmospheric stability solely based on surface-
layer wind speed profile, Wind Energy 1-5

Empresa de Pesquisa Energética. EPE-DEE-017/2009r14. Instruções para solicitação


cadastramento e habilitação técnica com vistas à participação nos leilões de energia elétrica,
Rio de Janeiro 2017.

Ib Troen and Erik Lundtang Petersen. European wind atlas. Risø National Laboratory, 1989.
657 p.
M Jarraud. Guide to meteorological instruments and methods of observation
(wmo-no. 8). World Meteorological Organization: Geneva, Switzerland, 2008.

Paul S Arya. Introduction to micrometeorology, Elsevier, 2001. vol. 79.

292
ENERGIA EÓLICA NO NORDESTE BRASILEIRO E SUA INTERAÇÃO COM
OUTRAS FONTES

Yan Felipe de Oliveira Cavalcante1


1
Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE)
E-mail: yanfelipeoc@hotmail.com

RESUMO: Nos últimos anos, a instalação de usinas eólicas, principalmente nas regiões
Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento, aumentando a importância dessa
geração para o atendimento do mercado. Segundo a Aneel, cerca de 2/3 da capacidade
instalada de geração de energia elétrica do Brasil é composta por hidrelétricas, tendo a
fontes eólicas alcançado cada vez mais importância nos últimos anos. O aumento
expressivo na geração eólica de 2013 até atualmente, o que certamente evitou que a
geração térmica ultrapassasse os 25% da demanda atendida, mesmo em situações ainda
mais críticas quando se considera a oferta hídrica nos reservatórios do Sistema Interligado
Nacional (SIN). Deste modo este trabalho apresenta uma revisão sobre a geração de
energia elétrica brasileira e sobre a fonte eólicos, com foco principal para a região
Nordeste. Também visa traçar um panorama atual da geração eólica no Nordeste e sua
interação com outras fontes e demandas energéticas do Sistema Interligado Nacional.
Além disso, este trabalho busca mostrar as perspectivas futuras de geração eólica no
Nordeste, apontando o direcionamento das estratégias de expansão da oferta. Sendo assim
a metodologia utilizada é uma avaliação da capacidade instalada e geração de fontes de
energia no Sistema Interligado Nacional Brasileiro e no subsistema nordeste, com base
nos dados fornecidos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico Brasileiro (ONS).
Palavras-chave: Eólica, Nordeste, Sistema Interligado Nacional, Energia, Operador
Nacional do Sistema.

293
WIND POWER IN THE NORTHEAST BRAZIL AND ITS INTERACTION
WITH OTHER SOURCES

Abstract: In recent years, the installation of wind farms, mainly in the Northeast and
South regions, has shown strong growth, increasing the importance of this generation for
serving the market. According to Aneel, about 2/3 of the installed capacity of electric
power generation in Brazil is composed by hydroelectric plants, and wind sources have
become increasingly important in recent years. The expressive increase in wind
generation from 2013 until today, which certainly prevented thermal generation from
exceeding 25% of the demand met, even in even more critical situations when considering
the water supply in the reservoirs of the National Interconnected System. In this way, this
work presents a review on the Brazilian electric power generation and on the wind source,
with a focus for the Northeast region. It also aims to draw a current picture of wind
generation in the Northeast and its interaction with other sources and energy demands of
the National Interconnected System. In addition, this work seeks to show the prospects
for wind generation in the Northeast, pointing out the direction of the expansion strategies
of the offer. Therefore, the methodology used is an assessment of the installed capacity
and generation of energy sources in the Brazilian National Interconnected System and in
the northeast subsystem, based on data provided by the National Operator of the Brazilian
Electric System (ONS).
Keywords: Wind, Northeast, National Interconnected System, Energy, National
Operator of the Brazilian.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, o órgão responsável pela coordenação e controle da geração e


transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) é o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), criado pela lei nº 9.648/98. O ONS é fiscalizado e
regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
O SIN consiste em sistema hidro-termo-eólico de grande porte, com
predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários, constituído por
quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte.
É a malha de transmissão que permite a interconexão dos sistemas elétricos e permite a
sinergia entre as diversidades de regimes hidrológicos do país, com o objetivo de garantir
segurança e economia no atendimento à demanda de energia elétrica do país.
A capacidade instalada de geração do Sistema Interligado Nacional (SIN) é
composta, principalmente, por usinas hidrelétricas distribuídas em dezesseis bacias
hidrográficas nas diferentes regiões do país. Nos últimos anos, a instalação de usinas
eólicas, principalmente nas regiões Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento,
aumentando a importância dessa geração para o atendimento do mercado. As usinas
térmicas desempenham papel estratégico relevante, pois contribuem para a segurança do
SIN.
Segundo os dados do Banco de Informações de Geração (BIG) da ANEEL (2018),
cerca de 2/3 da capacidade instalada de geração de energia elétrica do Brasil é composta
por hidrelétricas, tendo as fontes térmicas e eólicas alcançando cada vez mais importância
nos últimos anos.
294
A expansão do Sistema Interligado Nacional (SIN) por fontes hidráulicas nos
últimos anos tem sido dificultada uma vez que os locais mais favoráveis a este tipo de
aproveitamento já foram explorados e o potencial remanescente está sujeito a crescentes
restrições de ordem técnica, ambiental e socioeconômica (FALCETTA, 2015). Cada vez
mais a água armazenada nos reservatórios compete com múltiplas finalidades, em um
cenário de incremento significativo nos usos consuntivos, gerando conflitos evidentes em
períodos de escassez.
O que se viu nos últimos anos foi uma acelerada busca por fontes alternativas de
energia, como forma de garantir a segurança do suprimento energético, inicialmente o
que se viu foi um crescimento acelerado do parque termelétrico, posteriormente houve
um incremento na geração eólica e, mais recentemente, na geração fotovoltaica.
A figura 1 mostra um panorama histórico da geração de energia no Sistema
Interligado Nacional (SIN) nas últimas duas décadas. É evidente a predominância da
geração hidráulica, em média 85% do atendimento à demanda, tendo permanecido acima
do patamar de 90% da geração efetiva de 2000 a 2012.

80000 100

70000 90
80
60000
70
50000 60
(MW)

(%)
40000 50

30000 40
30
20000
20
10000 10
0 0
01/2000
01/2001
01/2002
01/2003
01/2004
01/2005
01/2006
01/2007
01/2008
01/2009
01/2010
01/2011
01/2012
01/2013
01/2014
01/2015
01/2016
01/2017
01/2018

Nuclear Térmica Eólica Solar Hidr. %Armaz. %Hidr.


Figura 1 – Histórico da operação do SIN. Fonte: (ONS, 2018).

A partir de meados de 2012, a combinação de fatores dentre os quais hidrologia


desfavorável, atrasos sucessivos na expansão do sistema e crescimento da demanda
(DALSENO et al, 2017) motivaram a redução da geração hidroelétrica para cerca de 80%
durante os anos de 2013 e 2014. A continuidade do nível reduzido dos reservatórios
provocou uma redução ainda maior nos meses subsequentes, tendo atingido 60% em
meados de 2017.
A Figura 1 denota ainda algumas situações relevantes no histórico da operação do
SIN que merecem destaque a redução imposta da ordem de 20% da demanda durante o
que se denominou a “crise do apagão”, de 2001, motivada pela redução do nível dos
reservatórios para cerca de 30% e pela inexistência de outras fontes que não a hidráulica
para garantir o suprimento energético.

295
Também os saltos na geração térmica ocorridos em 2008, 2010 e 2013, quando o
nível dos reservatórios tornou a ficar baixo, mas já havia capacidade térmica suficiente
para garantir a segurança do atendimento da demanda por energia elétrica. Além do
aumento expressivo na geração eólica de 2013 até atualmente, o que certamente evitou
que a geração térmica ultrapassasse os 25% da demanda atendida, mesmo em situações
ainda mais críticas quando se considera a oferta hídrica nos reservatórios do Sistema
Interligado Nacional (SIN), evidente, por exemplo, em setembro de 2018.
Deste modo este trabalho apresenta uma revisão sobre a geração de energia
elétrica brasileira e sobre a fonte eólica, com foco principal para a região Nordeste.
Também visa traçar um panorama atual da geração eólica no Nordeste e sua interação
com outras fontes e demandas energéticas do Sistema Interligado Nacional. Além disso,
este trabalho busca mostrar as perspectivas futuras de geração eólica no Nordeste,
apontando o direcionamento das estratégias de expansão da oferta.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada é uma avaliação da capacidade instalada e geração de


fontes de energia no Sistema Interligado Nacional Brasileiro e no subsistema nordeste,
com base nos dados fornecidos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico Brasileiro
(ONS) no período do ano de 2000 a 2018.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 2 mostra um recorte do histórico de atendimento à demanda elétrica


somente para o subsistema Nordeste (NE). Permite destacar uma redução significativa da
oferta de energia hidrelétrica nos últimos 4 anos, o que pode ser explicado pelo longo
período de estiagem que esta região do Brasil vem atravessando. Que ocasiona um
incremento significativo da geração térmica que, posteriormente, com o aumento da
geração eólica neste subsistema, teve seus picos atenuados.
Hidro Solar Térmica Eólica N - NE SE - NE
12.000

11.000
Demanda de Energia Elétrica no Subsistema NE (MWmed mensal)

10.000

9.000

8.000

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

-1.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Figura 2 – Histórico do atendimento à demanda do subsistema Nordeste. Fonte: (ONS,


2018).
296
Destaque também para o caráter importador do subsistema Nordeste, onde boa
parte da demanda do subsistema é atendida com energia proveniente dos demais
subsistemas do SIN. Percebe-se que o aumento da geração eólica proporciona uma
modificação neste perfil do subsistema, dado o recorde de exportação de energia para o
subsistema Sudeste ocorrido em meados de 2017.
Isso reforça a importância de investimentos em sistemas de transmissão de energia
para a região Nordeste, uma vez que com cada vez mais frequência o subsistema poderá
dispor de energia para exportar para os demais subsistemas do SIN.
Quando se considera a evolução da capacidade instalada eólica no SIN, é possível
observar que foi a partir de 2014 que esta fonte de energia passou a ter relevância
econômica, sendo evidente a predominância do subsistema Nordeste, tendo se mantido
acima de 80% da capacidade instalada total desde boa parte do histórico, como pode ser
visto na Figura 3.

Hidro Solar Térmica Eólica N - NE SE - NE


12.000

11.000
Demanda de Energia Elétrica no Subsistema NE (MWmed mensal)

10.000

9.000

8.000

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

-1.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Figura 3 – Evolução capacidade instalada eólica no SIN no subsistema Nordeste.


Fonte: (ONS, 2018).

A figura 3 mostra a evolução da capacidade instalada do SIN no subsistema


Nordeste, desagregada por fontes de energia. É possível notar o aumento significativo na
participação térmica e eólica, e início da operação das primeiras usinas fotovoltaicas em
2018.

297
Hidro Solar Térmica Eólica N - NE SE - NE
12.000

11.000
Demanda de Energia Elétrica no Subsistema NE (MWmed mensal)

10.000

9.000

8.000

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

-1.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Figura 4 – Evolução capacidade instalada do SIN por fontes de energia. Fonte: (ONS,
2018).

A Figura 5 avalia a participação relativa da capacidade instalada do SIN por fontes


de energia. Em 2018, a geração eólica compreende cerca de 10% da capacidade instalada,
em crescimento constante desde 2014. A participação das fontes térmicas tem se mantido
constante em cerca de 20% desde o início do incremento da participação da geração
eólica. No gráfico, é evidente a redução da participação relativa das hidrelétricas na
capacidade instalada do SIN.

Hidro Solar Térmica Eólica Nuclear


100%
Participação Relativa das Fontes na Capacidade

90%

80%

70%
Instalada do SIN

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Figura 5 – Evolução da participação relativa na capacidade instalada do SIN por fontes


de energia. Fonte: (ONS, 2018).

298
A figura 6 mostra um recorte das informações apresentadas anteriormente para
o SIN no subsistema Nordeste. A capacidade instalada hidráulica se manteve constante
no período analisado, mas houve incrementos significativos, primeiro na participação das
termelétricas e, posteriormente, nas fontes eólicas.
As perspectivas para o futuro são de aumento ainda maior na participação da fonte
eólica e, provavelmente, das usinas fotovoltaicas, fazendo com que a participação térmica
deixe de ser tão relevante.

Hidro Solar Térmica Eólica


35.000
Participação das Fontes na Capacidade Instalada

30.000
do Subsistema NE (em MW)

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Figura 6 – Evolução capacidade instalada do Subsistema Nordeste por fontes de


energia. Fonte: (ONS, 2018).

Este fato é importante quando se trata de controle de emissões de gases estufa na


geração de energia, mas a variabilidade e aleatoriedade da geração das fontes eólica e
solar passa a ser importante à medida que a segurança do suprimento energético do
subsistema pode ser diminuída quando da dependência deste tipo de fonte.
A figura 7 permite observar o papel importante que a geração eólica no subsistema
Nordeste tem exercido na redução da geração térmica neste subsistema, especialmente
quando se compara o comportamento da geração térmica em anos de baixas afluências
antes de 2013, quando a energia eólica começou a ser gerada em maior escala neste
subsistema, com o comportamento da geração térmica nos anos posteriores.
A geração térmica que chegou a atingir picos de mais de 4 GW em 2014, por
exemplo, passou a ser inferior a 3 GW mesmo em situações hidrológicas ainda mais
desfavoráveis que 2014.
Também é possível observar na mesma figura a complementaridade existente
entre a geração eólica e a geração hidráulica no subsistema Nordeste. Esta característica
que pode ser bem aproveitada em anos de hidrologia favorável, uma vez que o incremento
na geração eólica nos meses secos dos anos hidrológicos pode permitir que mais água
seja preservada nos reservatórios do SIN. Assim, aumentar a confiabilidade da geração
elétrica, considerando os ganhos proporcionados pela operação integrada.

299
12000 25000

10000
20000
Geração de Energia no subsistema NE (MWmed)

Energia Natural Afluente (MWmed)


8000

15000

6000

10000

4000

5000
2000

0 0
dez-06

dez-07

dez-08

dez-09

dez-10

dez-11

dez-12

dez-13

dez-14

dez-15

dez-16

dez-17
jun-06

jun-07

jun-08

jun-09

jun-10

jun-11

jun-12

jun-13

jun-14

jun-15

jun-16

jun-17

jun-18
mar-06

mar-07

mar-08

mar-09

mar-10

mar-11

mar-12

mar-13

mar-14

mar-15

mar-16

mar-17

mar-18
set-06

set-07

set-08

set-09

set-10

set-11

set-12

set-13

set-14

set-15

set-16

set-17
Ano

Térmica Eólica ENA (MWmed)

Figura 7 – Energia Natural Afluente no subsistema Nordeste, geração térmica e geração


eólica. Fonte: (ONS, 2018).

O Nordeste no mês de junho de 2018 bateu recorde de geração de energia segundo


o boletim mensal da geração eólica de junho (2018), mas esse recorde tende a ser batido,
pois historicamente o mês com maior fator de capacidade é o de setembro, que o fator de
capacidade tende a chegar a 70%. Sabendo que o fator de capacidade é a razão da média
de energia gerada dentro de uma unidade de tempo, pela capacidade instalada. Importante
ressaltar que a capacidade instalada é um parâmetro do que sucedeu, mas podendo ser
utilizado para estudos de predição de comportamento.
O fator de capacidade mundial atualmente é de 24,7%, mas esse valor tende a
aumentar em razão dos avanços tecnológicos em materiais, designe dos aerogeradores e
das instalações, o que permite melhor aproveitamento dos ventos, sendo que de 1980 a
2016, houve um aumento de 86% da capacidade instalada. A china que atualmente possui
a maior capacidade instalada tem fator de capacidade médio de 20%, em contraponto o
Brasil possui 42%, e na região nordeste brasileira esse valor cresce, sendo o Piauí com
48,4%, Pernambuco e Bahia com 46% (MME, 2017).

4. CONCLUSÃO

Com a crescente demanda de energia mundial, o impacto gerado pela inserção da


fonte eólica é substancial para a conservação do sistema elétrico em um cenário de
desenvolvimento sustentável, pelas suas características de baixo impacto ambiental,
entretanto se faz necessário investimento em tecnologias para um melhor aproveitamento
dos ventos, por consequência aumentar o fator de capacidade mundial, por se tratar de
uma fonte ilimitada.
O Brasil tradicionalmente investe em energias renováveis de baixo custo, como
por exemplo, hidroeletricidade, mas que com o potencial ainda inexplorado dessa fonte
sofrendo crescentes limitações de ordem técnica, socioeconômicas e ambientais,

300
começou a atender a demanda elétrica com a utilização cada vez maior de termoelétricas,
que aumentam o custo da energia. Com a inserção de mais eólicas no sistema visa não só
baratear a geração de energia elétrica, como também continuar com uma importante
característica da geração de energia elétrica do país que é o uso maciço de renováveis e
baixo impacto ambiental e emissões de gases estufa.
O incremento na geração eólica no subsistema Nordeste pode modificar as curvas
de armazenamento médio de água nos reservatórios do SIN, uma vez que existe a
possibilidade da geração por esta fonte justamente quando ocorre o período seco do ano
hidrológico no subsistema Sudeste.
Desta forma, o subsistema Nordeste tem potencial para se transformar em
exportador de energia nos períodos secos, desde que sejam vislumbrados para os curtos e
médios prazos incrementos substanciais nas linhas de transmissão as quais realizam a
interligação entre os subsistemas Nordeste e Sudeste, principalmente.
A geração eólica, apesar de apresentar forte sazonalidade e aleatoriedade, tem
condições de ser utilizada com todo o seu potencial em sistemas energéticos de grande
porte, como é o caso do Brasil, uma vez que a forte integração entre as fontes e demandas
existentes no SIN tem potencial para superar estas dificuldades e, até mesmo, reduzir a
pressão sobre os reservatórios, os quais devem priorizar o abastecimento público e aos
múltiplos usos do recurso hídrico.
Entretanto, a forte dependência da geração eólica no subsistema Nordeste não
reduz a vulnerabilidade do mesmo nos períodos úmidos dos anos hidrológicos, sobretudo
quando a oferta hídrica neste subsistema é afetada pelos eventos extremos de seca, uma
vez que, na média de longo termo, a geração eólica é menor nos meses úmidos do ano
hidrológico brasileiro.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela


concessão da bolsa de estudo, tornando possível a produção deste trabalho. Aos
Professores da Universidade de São Paulo por ser parte fundamental da minha formação,
em especial ao Professor Dr. Demetrio Cornilios Zachariadis sou grato pela competência
e auxílio de boa vontade.

REFERÊNCIAS

ANEEL. Fontes de Energia. Site oficial da Agência Nacional de Energia Elétrica. 2018.
Disponível em: <https://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/Combustivel.cfm>.
Acesso em 01 set. 2018.

DALSENO, T. C.; ZAMBON, R. C.; BARROS, M. T. L.; YEH, W. Evaluation of Monthly


Inflow Forecasting Models for the Planning and Management of the Brazilian Hydropower
System. In: World Environmental And Water Resources Congress, 2017, Sacramento.
Proceeding. Reston: ASCE, 2017.

FALCETTA, F. A. M. Evolução da capacidade de regularização do sistema hidrelétrico


brasileiro. 2015. Dissertação - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
doi:10.11606/D.3.2016.tde-11052016-111551. Acesso em: 01 set. 2019.
301
MME. Energia Eólica no Brasil e Mundo: Ano de referência - 2016. Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Energético. Brasília, 2017.

ONS. Site oficial do Operador Nacional do Sistema Elétrico. 2018. Disponível em:
<http://www.ons.org.br>. Acesso em 01 set. 2019.

ONS. Boletem mensal de geração Eólica – julho - 2018. ONS – Operador Nacional do Sistema
Elétrico, 2018.

302
ESTUDOS SOBRE A PRODUÇÃO ANUAL DE ENERGIA DE UM
AEROGERADOR NACIONAL DE PEQUENO PORTE

Périclles da Silva Barbosa1, Luann Marcos Gondim Lopes1, Fagner da Silva Barroso1,
Alex Maurício Araújo 1
1
Universidade Federal de Pernambuco, Depto. de Engenharia Mecânica, Laboratório de
Fluidos, Recife-PE, Brasil
E-mail: periclles.barbosa@hotmail.com

RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os resultados obtidos de estudos


por simulações da produção anual de energia elétrica, durante a vida útil, de um
aerogerador de pequeno porte (APP), de fabricação nacional, usando dados de ventos
medidos e dados estimados do último Atlas Eólico Brasileiro. Foram utilizados dados
meteorológicos coletados próximo ao porto de SUAPE (Cabo de Santo Agostinho – PE),
além de dados simulados através do Atlas Eólico Brasileiro (2013). Para a estimativa da
produção anual de energia, foi usada uma metodologia desenvolvida pelo grupo de
pesquisa da UFPE baseada no software Windographer, em modelos estatísticos
simplificados e na distribuição de Weibull. Os resultados obtidos nesse trabalho permitem
concluir que o emprego de dados do Atlas fornece previsões pessimistas em relação às
previsões obtidas com os dados medidos in loco. Portanto, para viabilizar no país a
utilização de APPs para a produção de energia elétrica é necessário investir em um Atlas
eólico de maior precisão e no desenvolvimento tecnológico de APPs aprimorados para o
potencial eólico brasileiro.
Palavras-chave: Potencial eólico, Atlas eólico brasileiro, Dados meteorológicos.

STUDIES ON THE ANNUAL ENERGY PRODUCTION OF A NATIONAL


SMALL WIND TURBINE

Abstract: The aim of this paper is to present and discuss the results obtained from
simulated studies of the annual lifetime energy production of a nationally manufactured
small wind turbine (SWT) using measured wind data and estimated wind data from last
Brazilian Wind Atlas. Meteorological data collected near the port of SUAPE (Cabo de
Santo Agostinho - PE) were used, as well as simulated data through the Brazilian Wind
Atlas (2013). To estimate annual energy production, a methodology developed by the
UFPE research group based on Windographer software, simplified statistical models and
Weibull distribution was used. The results of this work allow us to conclude that the use
of Atlas data provides pessimistic predictions compared to predictions obtained with data
measured on the spot. Therefore, in order to enable the use of SWTs for the production
of electricity in the country, it is necessary to invest in a more accurate Wind Atlas and
in the technological development of SWTs enhanced for the Brazilian wind potential.
Keywords: Wind energy potential, Brazilian wind atlas, Meteorological data.

303
1. INTRODUÇÃO

Constata-se atualmente no Brasil uma crescente adesão ao sistema de geração


elétrica distribuída, predominantemente, na forma solar fotovoltaica (ANEEL,2020a).
Em 2018, segundo o Balanço Energético Nacional – BEN 2019 – a capacidade instalada
da microgeração e da minigeração distribuída aumentou 131% em relação a 2017
(BRASIL,2019a). Além disso, a capacidade instalada quase triplicou, quando em 2017
era de 246,1 MW e em 2018 foi de 670 MW.
A geração distribuída (GD) no Brasil caracteriza-se pela instalação de sistemas de
autogeração de energia, onde a energia excedente é disponibilizada mediante a concessão
de créditos energéticos. A vantagem dessa modalidade é aumentar a eficiência ao eliminar
a distância entre os pontos de geração e consumo, reduzindo as perdas na transmissão de
energia.
Por razões de segurança energética e ambiental, os países estão diversificando
suas matrizes energéticas, sobretudo estimulando o aumento das fontes renováveis.
Dentre essas fontes, o segmento de energia eólica de grande porte consolidou-se no
mercado, no entanto, o segmento de pequeno porte ainda é embrionário no país, com
experiências pontuais (GIANNINI, DUTRA E GUEDES, 2013). Em 2018, 98,3% dos
sistemas de GD no Brasil eram de energia renovável.
Segundo a ANEEL (2020b), aerogeradores de pequeno porte (APPs) são aqueles
com potência nominal até 500 kW (Médio, entre 500 kW e 1 MW; Grande, maior que 1
MW), porém a Resolução Normativa (REN) 482/2012, atualizada pela REN 687/2015,
definiu a microgeração distribuída em até 75 kW e a minigeração distribuída entre 75 kW
e 5 MW de potência instalada. Considerando a potência nominal, todos aerogeradores
empregados na microgeração são APP, no entanto para a minigeração é possível utilizar
aerogeradores de maior porte. Dessa forma, um APP para ser aplicado na microgeração
deve ter potência de até 75 kW.
De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2029, estima-se
que os sistemas de GD serão responsáveis por 17% do consumo de eletricidade até 2029
(BRASIL,2019b). Mesmo com o crescimento vertiginoso da participação da micro e da
mini GD na matriz energética brasileira, a capacidade instalada de APPs segue estagnada,
dados os dois últimos balanços energéticos. O crescimento da GD vem sendo liderado
pelo crescimento da capacidade instalada de sistemas solares, que cresceu 217% entre
2017 e 2018.
Este estudo visa analisar a geração de um APP nacional usando como parâmetro
a soma de toda energia gerada em um ano (produção anual de energia), quando submetido
aos regimes de ventos estimados com os dados de ventos medidos no porto de SUAPE,
localizado no Cabo de Santo Agostinho – PE e com os dados tomados do Atlas Eólico
Brasileiro no mesmo ponto.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais utilizados

Além do Atlas Eólico Brasileiro (CEPEL, 2017), a Tabela 1 mostra os itens e as


alturas utilizadas na execução das medições necessárias à elaboração deste trabalho.
304
Tabela 1 – Alturas e materiais necessários para a realização das medições.
Altura de
Item Descrição
instalação
Torre metálica 10 módulos de 6 m de altura -
Três anemômetros Modelo NRG #40C 20 m, 40 m e 60 m
Dois sensores de direção Modelo NRG #200P 40 m e 60 m
Um sensor de temperatura Modelo NRG #110S
Um sensor de pressão Modelo NRG #BP20 11 m
Um registrador de dados Modelo NRG Symphonie
Fonte - KROMA ENERGIA (2009).

Também foram utilizados os softwares System Advisor Model (SAM) e


Windographer® para análise do potencial eólico e tratamento dos resultados.

2.2 Seleção do APP e do local de análise

Selecionou-se o APP GERAR 246, fabricado pela empresa ENERSUD Indústria


e Soluções Energéticas Ltda, como a máquina a ser utilizada. Utilizou-se como critério
de seleção um APP nacional de eixo horizontal capaz de se enquadrar em microgeração
distribuída, conforme a REN 687/2015 da ANEEL. Segundo o catálogo de APPs até 50
kW (MAEGAARD, 2016), a fabricante é referida como a única empresa que produz estes
equipamentos no território nacional. A Figura 1 mostra o APP GERAR 246 e algumas
das suas características técnicas.

Tipo de eixo: Horizontal de 3 pás Potência nominal: 1 kW


Gerador: Fluxo axial Cut-in e Cut-out: 3 m/s e 17 m/s
Diâmetro do Velocidade 12,5 m/s (740
2,46 m
rotor: nominal: rpm)
Preço de mercado: USD 1.875,00

Figura 1 – APP GERAR 246 e características técnicas.

Quanto à região de estudo, escolheu-se um local plano, de solo arenoso, composto


de vegetação rasteira e localizado a 2 km a nordeste do porto de SUAPE (latitude -
8.3777309° e longitude -34.9744179°), no município do Cabo de Santo Agostinho,
Pernambuco (Ponto A - Figura 2). Os dados de vento foram medidos à 60 m de altura e

305
disponibilizados pela Kroma Energia (2009), empresa de referência na área de
comercialização de energia.

Figura 2 – Localização da região de estudo (A) e da coordenada indicada pelo Atlas


(B).

2.3 Produção anual de energia

Para estimativa da produção anual de energia, foi utilizada a metodologia proposta


por Araújo et al. (2009), implantada no SAM. A produção anual de energia (𝐸𝐴 ), em kWh,
pode ser calculada pela Equação 1.

𝑁𝑚á𝑥

𝐸𝐴 = ∑ 𝐹(𝑛) . 𝑃𝑒 (𝑛) (1)


𝑛=𝑁0

Onde:

N0 = limite inferior da faixa de velocidades de vento em que o sistema produz energia;


Nmáx = limite superior da faixa de velocidades de vento em que o sistema produz energia;
F(n) = Frequência horária para cada faixa de velocidade estabelecida, em horas;
Pe(n) = Potência de saída para cada faixa de velocidade estabelecida, em W.

306
Na Figura 3 está representado o diagrama do processo de obtenção da produção
anual de energia do APP.

Figura 3 – Diagrama do processo de obtenção de produção anual de energia.

2.4 Caracterização do potencial eólico

2.4.1 Atlas Eólico Brasileiro

Os recursos eólicos são advindos de um atlas eólico e representados pela


distribuição estatística de Weibull, caracterizada, no SAM, por uma velocidade anual
média do vento, pelo fator de forma de Weibull e por uma altura de referência
(FREEMAN et al, 2014). O Atlas faz uso do modelo de mesoescala BRAMS para estimar
a velocidade e a direção do vento de inúmeros pontos em todo o território nacional, nas
alturas de 30 m, 50 m, 80 m, 100 m e 120 m, e apresenta resultados com resolução de 5
km x 5 km (CEPEL, 2017).
Para o local onde realizou-se os estudos, há apenas uma coordenada definida pelo
Atlas num raio de 5 km (resolução do documento) capaz de estabelecer a velocidade do
vento. Por esta razão, estes valores foram tomados para o local de estudo. A Figura 2
mostra a localização da coordenada indicada pelo Atlas e o ponto onde os estudos foram
conduzidos.
A altura de referência foi definida como 30 m, a menor e mais adequada altura
disponibilizada pelo Atlas para instalação dos APPs. A velocidade anual média do vento
foi de 4,5 m/s, valor obtido a partir da coordenada B (latitude -8.366605° e longitude -
34.976703°), a cerca de 2,75 km de distância do local analisado (Ponto B - Figura 2). O
fator de forma k para altura de 30 m foi de 4,237, obtido utilizando a Equação 2 (JUSTUS
E MIKHAIL, 1976) e o k fornecido pelo Atlas (k = 4,8 a 100 m).

ℎ1
1 − 0,088 ln
𝑘2 = 𝑘1 10 (2)
ℎ2
1 − 0,088 ln 10

307
Onde:
ℎ1 = altura que já se conhece o fator de forma, em m;
𝑘1 = fator de forma conhecido e adimensional;
ℎ2 = altura que se deseja conhecer o fator de forma, em m;
𝑘2 = fator de forma desconhecido e adimensional.

2.4.2 Medições meteorológicas no local

Os dados coletados foram: velocidade, temperatura, pressão e direção do vento


local durante o intervalo de um ano. Estes, foram inseridos no SAM em uma planilha já
existente.
Os dados meteorológicos foram coletados diariamente e a cada segundo através
de uma torre meteorológica instalada no local de medição. As medições foram realizadas
em alturas diferentes da escolhida, ver Tabela 1, sendo utilizado o software
Windographer® para definir os valores das variáveis na altura de referência, 30 m. Esta
estratégia também foi aplicada para o fator de forma e de escala de Weibull. Para o
coeficiente de cisalhamento do vento, escolheu-se o valor de 0,10, conforme
GROUNDSPEAK INC. (2020) e as características do terreno onde realizou-se o estudo.

2.4.3 Fator de capacidade

De acordo com Atlantic Energias Renováveis S.A. (2020), o fator de capacidade


(razão entre a energia elétrica gerada e a máxima produção de energia em um ano de
operação) aponta a eficiência dos aerogeradores e refere-se ao nível de aproveitamento
destes equipamentos para produzir energia por meio dos ventos (Equação 3).

𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 [𝑘𝑊ℎ⁄𝑎𝑛𝑜]


𝐹𝐶 = (3)
𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 [𝑘𝑊 ] 𝑥 8760 [ℎ𝑜𝑟𝑎⁄𝑎𝑛𝑜]

O fator de capacidade (𝐹𝐶) dos APPs evidencia o resultado de desempenho das


máquinas, pois quanto maior o seu valor, maior o rendimento obtido no projeto. Como
ele depende da potência nominal do APP e da energia líquida anual, sendo esse último
dependente da velocidade do vento do local, melhores resultados são obtidos quando a
velocidade média do local de instalação é próxima à velocidade nominal do APP.

2.4.4 Consumo mensal de energia elétrica para uma residência de referência em


Pernambuco

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), subordinada ao Ministério de Minas e


Energia (MME), disponibiliza anualmente o Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Este
documento fornece informações referentes ao consumo anual de energia elétrica (GWh)
e ao número de consumidores por classe (residencial, industrial, rural, etc) para cada
estado do Brasil (BRASIL, 2017). Em Pernambuco, o consumo residencial (4.841
GWh/ano) e a quantidade de consumidores residenciais (3.172.284 unidades) foram

308
utilizados para definir a média anual (1.526 kWh) e mensal (127 kWh) adotada como
referência no estado. Os dados utilizados são referentes ao ano de 2016.

2.4.5 Taxa de decaimento da produção elétrica

É esperado que a produção de energia elétrica anual apresente uma queda de


rendimento gradativo durante a vida útil da máquina, referente aos desgastes sofridos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste trabalho, as principais hipóteses simplificadoras do cálculo utilizadas


foram:
 O padrão de vento (série histórica anual medida/estimada) foi replicado
anualmente, durante o período simulado. Esta hipótese deixa de ser simplificadora à
medida que a série de dados aumenta sua extensão;
 A taxa anual de decaimento da produção de energia adotada foi de 0,5 %. Nela
estariam representados os desgastes e a disponibilidade do APP no período simulado.
A produção de energia anual simulada a partir dos dados estimados pelo Atlas
Eólico apresentam resultados consideravelmente menores em comparação com os dados
meteorológicos coletados no local. Essa discrepância entre os resultados simulados é
determinante na análise de viabilidade do projeto, podendo gerar expectativas
equivocadas quanto à produção anual de energia, conforme Figura 4.
A diferença entre os resultados obtidos para produção anual de energia é de
aproximadamente 500 kWh, constante, durante o tempo de vida do APP. Sendo a
produção anual de energia de 1300 kWh e 800 kWh para o primeiro ano e de 1200 kWh
e 700 kWh para o último ano para os dados meteorológicos e do Altas Eólico,
respectivamente. O erro relativo fica em torno de 40 % do início ao fim do tempo de vida
útil, utilizando os dados do Atlas.

Figura 4 – Simulação da produção anual de energia do APP GERAR 246 no local de


estudo.
309
A produção mensal de energia do aerogerador está diretamente ligada à
disponibilidade do recurso eólico mensal da região. Observa-se na Figura 5 que nos meses
de maior produção de energia, de julho a setembro, a geração do APP é superior aos
valores obtidos nos demais meses do ano, enquanto os meses de menor produção, de
março a maio, são inferiores.

Figura 5 – Produção mensal de energia elétrica do APP GERAR 246 e o consumo


energético mensal para uma residência de referência em Pernambuco durante o primeiro
ano de estudo.

Nos meses de maior produção de energia, os resultados obtidos com os dados


meteorológicos são expressivamente maiores (Figura 5), evidenciando uma diferença
considerável entre os resultados utilizando os dados meteorológicos e os do Atlas Eólico.
Fato esse que impacta diretamente nos resultados da produção anual e justificam a
discrepância observada na Figura 4.
Ainda na Figura 5, utilizando os dados meteorológicos, percebe-se nos meses de
maior produção que a energia gerada superou o consumo da residência de referência e
nos meses seguintes, de outubro a dezembro, a produção de energia foi aproximadamente
o valor do consumo. Porém utilizando os dados do Atlas Eólico, os resultados estão
sempre abaixo do consumo proposto.
A Figura 6 mostra o resultado do acúmulo de energia para o primeiro ano de
simulação. A partir do mês de julho, a energia produzida supera o consumo, gerando um
acumulado que aumenta nos meses seguintes, agosto e setembro. Porém, mesmo com o
excesso de energia acumulada ao fim do primeiro ano da simulação (119 kWh), a
produção anual de energia do APP ficou próximo, porém abaixo, do consumo médio
anual da residência de referência (1526 kWh).
Para que o excesso de energia gerado frente ao consumo seja aproveitado, é
necessário um modelo de geração distribuída que possibilite alguma forma de retorno,
seja na forma de compensação por créditos energéticos (Net metering) ou na forma de
remuneração pelo excedente de energia gerada (Feed-in tariff).

310
Figura 6 – Excesso de energia acumulada de cada mês para o primeiro ano de
simulação sob o regime de dados meteorológicos.

Aplicando as produções anuais de energia na Equação 3, é possível notar um fator


de capacidade mais elevado para as simulações conduzidas com os dados meteorológicos
(15%) em comparação com as simulações realizadas com o Atlas Eólico (8,8%). Esses
valores podem ser explicados quando comparamos os valores de velocidade média do
vento no local, para as diferentes fontes de dados, com o valor de velocidade nominal de
projeto do APP (12,5 m/s), ou ainda, com a sua curva de potência (Figura 1).

4. CONCLUSÕES

O uso de dados do Atlas Eólico na produção anual de energia forneceu previsões


pessimistas, 40% menor, em relação aos dados medidos in loco. Este resultado pode ser
atribuído à baixa resolução do Atlas que, apesar de ser uma ferramenta de baixo custo, se
mostrou imprecisa quando utilizada para empreendimentos a pequenas altitudes.
O APP mostrou potencial na GD, quase equiparando sua produção anual de
energia com o consumo anual de uma residência típica de Pernambuco. No entanto, o
baixo fator de capacidade indica uma inadequação com o potencial eólico local, sendo o
valor médio dos ventos distante da velocidade nominal do APP. Portanto, para viabilizar
no país a utilização de APPs para a produção de energia elétrica é necessário investir em
um Atlas Eólico de maior precisão e no desenvolvimento tecnológico de APPs
aprimorados para o potencial eólico brasileiro.

REFERÊNCIAS

ANEEL. Brasil ultrapassa marca de 1 GW em geração distribuída. 2019. Disponível em:


https://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa-exibicao/-/asset_publisher/XGPXSqdMFHrE/cont
ent/brasil-ultrapassa-marca-de-1gw-em-geracao-distribuida/656877. Acessado em: 04/01/20a.

ANEEL. Energia Eólica. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/06-


energia_eolica(3).pdf>. Acessado em: 28/01/20b.

311
ARAÚJO, A. M. et al. Simulación de la producción de energía eléctrica com aerogeneradores
de pequeño tamaño. Informacion Tecnologica, v. 20, n. 3, p. 37– 44, 2009.

ATLANTIC ENERGIAS RENOVÁVEIS S.A. Parques eólicos da Atlantic são destaques em


fator de capacidade. Disponível em: <http://atlanticenergias.com.br/parques-eolicos-da-atlantic-
sao-destaques-em-fator-de-capacidade/>. Acessado em: 16/01/20.

BRASIL. EPE. Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2017 - Ano base 2016. v. 58, n. 12, p.
232, 2017.

BRASIL. EPE. Balanço Energético Anual 2019. Brasília: MME/EPE, 2019a.

BRASIL. EPE. Plano Decenal de Expansão de Energia 2029. Brasília: MME/EPE, 2019b.

CEPEL. Atlas Eólico Brasileiro - Simulações 2013. Ed. 1. Rio de Janeiro: CEPEL, 2017.

FREEMAN, J. et al. Reference Manual for the System Advisor Model’s Wind Power
Performance Model. Springfield, 2014.

GIANNINI, M., DUTRA, R.M., GUEDES, V.G. Estudo prospectivo do mercado de energia
eólica de pequeno porte no Brasil. In: BRAZIL WINDPOWER: CONFERENCE AND
EXHIBITION, 3., 2013, Rio de Janeiro. 10p.

GROUNDSPEAK INC. Twin Groves: A Lesson in Wind. Disponível em:


<https://www.geocaching.com/geocache/GC1BF99_twin-groves-a-lesson-inwind?
guid=04d4478a-f225-4de9-9c33-680dbcdd70aa>. Acessado em: 16/01/20.

JUSTUS, C. G.; MIKHAIL, A. Height Variation of Wind Speed and Wind Distributions
Statistics. Geophisycal Reasearch Letters, v. 3, n. 5, p. 261 – 264, 1976.

KROMA ENERGIA. Relatório Técnico. n. 81, p. 1–30, 2009.

MAEGAARD, P. Catalogue of Small Wind Turbines under 50 kW. Folkecenter Print, 2016.

312
METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DE VIBRAÇÕES DE CAIXA DE
ENGRENAGENS DE TURBINAS EÓLICAS PARA ESTUDO DE PREVENÇÃO
DE FALHAS

Alex de Pretto Mansano 1, Demetrio Cornilios Zachariadis1


1
Universidade de São Paulo
E-mail: alexdepretto@usp.br

RESUMO: O uso de turbinas eólicas tem aumentado ao longo dos últimos anos devido
à demanda por energias renováveis, porém sua caixa de engrenagens é responsável por
60 % das falhas, cuja confiabilidade fica comprometida e expectativas baixas. Por isso, o
objetivo desse artigo é apresentar metodologias de modelagem da caixa de engrenagens
da turbina eólica visando analisar vibrações do sistema, detectar e mitigar falhas por
fadiga. Inicialmente, serão apresentados o modelo da transmissão da NREL 750 kW e
suas técnicas de modelagem da caixa de engrenagens, levando em conta as rigidezes de
contato, seguido pela apresentação das falhas mais comuns originadas por fadiga como
quebra dos dentes, pitting e scuffing. Por fim, será comentado um estudo de caso na
literatura da caixa de engrenagens em bancada de teste com dois modelos: um modelo
novo e um modelo com 20 anos de uso. Os resultados mostraram que no modelo usado,
comparado ao modelo novo estudado, há um aumento de relação de energia de banda
lateral de mais de 100% para os pinhões, enquanto houve um aumento de menos de 40%
para as engrenagens solar e anular. Isso prova que se aumentam as chances de a caixa de
engrenagens falhar por fadiga ao longo dos anos, a qual os pinhões são os mais favoráveis
a falhar primeiro por scuffing. Conclui-se que a modelagem da transmissão ainda é
complexa e que o ensaio experimental foi bem-sucedido ao verificar a influência das
rigidezes de contato na dinâmica do sistema.
Palavras-chave: turbina eólica, modelagem, caixa de engrenagens, vibrações, falhas.

313
METHODOLOGY FOR WIND TURBINE GEARBOX VIBRATION ANALYSIS
FOR FAILURES PREVENTION STUDY

ABSTRACT: The use of wind turbines has increased over the last years due to demand
for renewable energies, however its gearbox is responsible for 60% of failures, whose
reliability is compromised and below expectations. Therefore, the objective of this article
is to present methodologies for modeling the wind turbine gearbox in order to analyze
system vibrations, detect and mitigate fatigue failures. Initially, the NREL 750 kW
transmission model and its gearbox modeling techniques will be presented, taking into
account the contact stiffness, followed by the presentation of the most common failures
caused by fatigue such as tooth breakage, pitting and scuffing. Finally, a case study in the
literature of the gearbox on a test bench with two models will be commented: a new model
and a used model with 20 years of service life. The results showed the used model,
compared to the new model studied, had an increase of sideband energy ratio of more
than 100% for pinions, while there was an increase of less than 40% for solar and annular
gears. This proves the chances of the gearbox failing due to fatigue increase over the
years, which pinions being the most favorable to be scuffed first. It concluded the gearbox
modeling is still complex and the experimental test was successful in verifying the
influence of contact stiffness on the dynamics of the system.
Keywords: wind turbine, modelling, gearbox, vibrations, failures.

1. INTRODUÇÃO

A energia eólica é uma das perspectivas de energias renováveis mais


desenvolvidas. O setor de energia eólica do mundo se desenvolveu rapidamente nos
últimos anos e a capacidade total de energia eólica atingiu 591 GW até dezembro de 2018,
segundo dados do Global Wind Energy Capacity (GWEC) (Figura 1).
A caixa de engrenagens é um dos componentes das turbinas eólicas mais
propensas a falhar, sendo responsável por 60% do total que ocorrem na turbina eólica,
impedindo que as mesmas atinjam sua vida útil projetada de 20 anos, alcançando em
média de 8 a 10 anos (OYAGUE, 2009), cujos custos de manutenção e substituição de
caixas de engrenagens, juntamente com os custos causados por perdas de produção devido
àquelas que não funcionam, constituem uma grande parte das despesas da operação de
parques eólicos.
A figura 2 mostra a porcentagem de inatividade de cada componente da turbina
eólica.

314
Figura 1 – Aumento da capacidade energética global ao longo dos anos.
Fonte: GWEC, modificado

Figura 2 – Porcentagem de inatividade dos componentes de turbinas eólicas.


Fonte: SHENG, 2012, modificado
315
Devido à variação da velocidade dos ventos, propriedades dos materiais e
imperfeições na montagem do sistema, a caixa de engrenagens fica sujeita a vibrações
torcionais, cuja falha predominante é a fadiga, dividida em fadiga de flexão do dente e
fadiga de contato.

1.2 Modelo da caixa de engrenagens

A caixa de engrenagens utilizada para esse artigo é o modelo projetado pela NREL
(National Renewable Energy Laboratory), de potência de 750 kW e rotação de gerador
variando de 1200 a 1800 rpm. O sistema é composto basicamente de um sistema de
engrenagens planetárias (SEP), uma engrenagem solar, engrenagem anular travada no
housing, e dois pares de engrenagens pinhão-coroa, um par de baixa rotação e outro de
alta rotação (Figura 3).

Figura 3 – Representação da caixa de engrenagens do modelo NREL 750 kW.


Fonte: SHENG, 2012, modificado

Uma característica muito importante a ser considerado é o fato de que a linha de


contato, que ocorre entre os dentes das engrenagens, se desloca ao longo da superfície do
dente devido ao movimento relativo à linha de ação. Esse movimento relativo gera atrito
na superfície dos dentes que, consequentemente, causam falhas por fadiga. Além disso, o
erro de transmissão, definido pela diferença de deslocamento angular ideal e real em
movimento rotativo causada pela deformação elástica dos dentes, principalmente por
esforços de flexão e pela folga existente, contribuem para o fenômeno conhecido por
rigidez de contato das engrenagens (GIRSANG, 2014). Essa rigidez é representada por
uma mola linear entre as engrenagens (figura 4). A força tangencial está demonstrada na
equação 1.

316
Figura 4 – Representação da rigidez da malha de contato das engrenagens.
Fonte: GIRSANG, 2014, modificado

𝐅 = 𝐤 𝐂 (𝐫𝐛𝟏 𝛉𝟏 − 𝐫𝐛𝟐 𝛉𝟐 ) (1)

Onde:
F: a força tangencial (em N),
kC: rigidez de contato (em N/m),
rb: raio de base (em m) das engrenagens de entrada (r b1) e de saída (rb2)
: deslocamento angular (em rad) das engrenagens de entrada (1) e de saída (2).

2. ANÁLISE DINÂMICA AS ENGRENAGENS

Durante a revisão da literatura, verificou-se que a modelagem dinâmica da


transmissão não está consolidada, por exemplo, autores como Sheng (2012) analisaram
somente a caixa de engrenagens, enquanto outros como Girsang et al. (2014), Al-
Hamadani e Long (2017) incluíram também o rotor e o gerador; de acordo com eles, o
fato da transmissão da turbina eólica ser um sistema multicorpo, implica que o rotor e o
gerador influenciam na cinemática e na dinâmica da caixa de engrenagens, não podendo
ser analisados a parte.
Mesmo assim, ambos afirmam que na prática não compensa estudar a transmissão
pelo modelo flexível, porque é economicamente inviável e oferece resultados precisos de
simulação que impactam insignificantemente (menos de 5%). A aplicação desse modelo
é útil apenas se forem consideradas a nacele e a carcaça que engloba toda a transmissão.
Esse artigo levou em conta as seguintes hipóteses: há somente um único grau de liberdade
por engrenagem: o deslocamento angular polar (rotação em torno do eixo de centro); e
todas as engrenagens são acopladas entre si para reduzir o mínimo do erro de transmissão,
além dos eixos estarem alinhados e não serem compridos o bastante para sofrerem flexão
por vibração causados pelo spin e whirl; tudo isso evita o efeito giroscópio e o
desalinhamento das engrenagens.
Portanto, a caixa de engrenagens possui no total 6 graus de liberdade: dois
representando o SEP e quatro para dois pares pinhão-coroa, cuja topologia detalhada está
na figura 5, além de mostrar as inércias e as rigidezes do sistema.

317
Figura 5 – Topologia da transmissão NREL 750 kW.
Fonte: AL-HAMADANI, 2017, modificado

Onde kPA, kPS, kC1, kC2 são as rigidezes de contato dos pares, respectivamente,
planetária-anular, planetária-solar, pinhão-coroa da baixa rotação e pinhão-coroa da alta
rotação.
Ao aplicar na equação geral de Euler-Lagrange, as equações de movimento ficam
expressas na forma matricial (equação 2).

[𝐌]{𝐪̈ } + [𝐊]{𝐪̈ } = {𝐅̅} (2)

Onde  F é o vetor de forças generalizadas.

3. ANÁLISE DE FALHAS DAS ENGRENAGENS

Uma vez que as engrenagens estejam submetidas a vibrações, é inevitável que


sofram fadiga, principal causa de falhas dos componentes mecânicos. As falhas mais
predominantes são: quebra e fratura dos dentes (tooth breakage) devido às forças
tangenciais vindas pelo torque aplicado no eixo. Essas forças tangenciais ocorrem na
superfície do dente, criando um momento fletor em relação ao diâmetro-base do dente;
desgaste superficial como pitting e scuffing devido ao atrito presente no movimento
rotativo. Essas falhas dependem do carregamento aplicado na engrenagem e da
velocidade de passo do dente (figura 7).

318
Figura 6 – Diagrama de falhas das engrenagens com: 1) Quebra do dente, 2) Macro-
Pitting, 3) Scuffing, 4) Desgaste (Wear), 5) Micro-Pitting.
Fonte: JELASKA, 2012, modificado

O fluxo de potência representa o comportamento dele dentro da transmissão


NREL 750 kW: inicialmente aumenta o torque com baixas velocidades, depois que passa
pelo SEP, aumenta a velocidade de reduz o torque; passa pelo primeiro par pinhão-coroa
(diminui o torque e aumenta a velocidade) e depois passa pelo segundo par pinhão-coroa,
tendo torque é velocidade necessários para ativar o gerador.

4. ESTUDO DE CASO NA LITERATURA

Em 2012, o pesquisador Shawn Sheng colaborou para um estudo de detecção e


mitigação dessas falhas através de sinais de vibrações vindas das engrenagens da
transmissão NREL 750 kW pelo método da banda lateral (sideband). A bancada de teste
foi feita da seguinte maneira: para simular o torque no eixo do rotor, no lugar foi colocado
um sistema de dinamômetro composto de um motor de indução, um redutor planetário de
três estágios e um variador de frequência.
Para obter os sinais de vibração, duas transmissões foram medidas: uma saudável
(produto novo) e uma deteriorada (no vim da vida de serviço de 20 anos). Em cada uma
foram instalados 12 acelerômetros distribuídos na carcaça, na entrada do eixo principal e
no gerador (figura 12). As condições de teste foram rotações a 22 rpm para o eixo
principal 1800 rpm para o eixo do gerador com duração de 10 minutos.

319
Figura 7 – Locais dos acelerômetros para aquisição de dados.
Fonte: SHENG, 2012
O acelerômetro escolhido foi o AN7 por estar localizado no eixo do gerador. Os
sinais foram obtidos nas malhas de contato do pinhão da baixa rotação, do pinhão da alta
rotação, da engrenagem anular e da engrenagem solar, sujos gráficos dos espectros são
apresentados nas figuras 13a-d.

Figura 8 – Comparação dos resultados modais dos pinhões da alta rotação (PA), da
baixa rotação (PB), das engrenagens solar e anular para as condições saudável e
deteriorado.
Fonte: SHENG, 2012, modificado
320
Com base nos resultados dos espectros, houve um aumento de banda lateral no
AN7_Defeituoso em comparação com o AN7_Novo, demonstrando que as engrenagens
defeituosas ou muito gastas consomem mais energia do sistema. Os altos picos de
amplitude deduzem as frequências em que as engrenagens tendem a falhar por fadiga na
condição máxima de operação (1800 rpm).
Também se verifica que há um aumento nas relações de energia de banda lateral
(definidas como a energia da primeira banda lateral sobre a energia da frequência de
malha da engrenagem) das quatro engrenagens (Tabela 1).

Tabela 1 – Comparação de energia de banda lateral das duas transmissões.


Transmissão saudável Transmissão no fim da vida de serviço
valores em [mW] Energia da Energia da 1ª Relação de energia Energia da Energia da 1ª Relação de energia
malha banda lateral de banda lateral malha banda lateral de banda lateral
Pinhão da alta rotação 0,051 0,016 31,40% 0,051 0,114 223,50%
Pinhão da baixa rotação 0,017 0,005 29,40% 0,13 0,14 107,70%
Engrenagem solar 0,0002 0,0004 200% 0,008 0,019 237,50%
Engrenagem anular 0,035 0,014 40% 0,135 0,059 43,70%
Fonte: SHENG, 2012, modificado
O aumento na taxa de energia da banda lateral relacionada à engrenagem anular
não é tão significativo em relação às outras três engrenagens, demonstrando que é a
engrenagem que menos vai sofrer falhas por fadiga; em comparação, o pinhão da alta
rotação apresentou maior variação de relação de banda lateral (de 31,40% para 223,5). A
engrenagem solar apresentou as maiores relações de banda lateral devido ao fato de
pertencer ao sistema planetário de engrenagens, cuja função principal é absorver boa parte
da energia dos torques e fornecer mais rotação para o sistema dos pinhões e,
consequentemente, aumentar a rotação do gerador.
A influência das rigidezes de contato foi bem significativa, pois foram
responsáveis pelo aumento das oscilações e da energia da primeira banda lateral, bem
como o aumento da relação de energia de banda, assumindo que as rigidezes de contato
aumentam as chances de as engrenagens falhar por fadiga e reduzindo a vida útil da
transmissão. Em relação aos tipos de falhas, a engrenagem mais suscetível a falhar
primeiro por scuffing, enquanto a engrenagem solar e pinhão da baixa rotação tendem a
falhar por pitting.

5. CONCLUSÕES

A modelagem dinâmica da transmissão da turbina eólica é bastante complexa e


ainda não consolidada, sendo modelada de maneiras diversas pelos autores no que se
refere à consideração da rigidez das malhas de contato, do rotor e do gerador. Nesse
contexto, apresentou-se um modelo de vibração linear, expresso na forma matricial.
O ensaio experimental do estudo de caso foi bem-sucedido ao verificar a variação
da energia de banda lateral que a transmissão ganha ao longo dos anos de operação, bem

321
como apresentar a influência das rigidezes de contato das engrenagens que propiciam
ainda mais as chances de falhar por fadiga. O scuffing foi mais predominante nos pinhões
devido às altas rotações, enquanto o pitting se manifestou nas engrenagens solar e anular.

AGRADECIMENTOS

À NREL pelo fornecimento do modelo e das referências necessárias para esse


artigo.

REFERÊNCIAS

AL-HAMADANI, H.; LONG, H.; Effects of Model Complexity on Torsional Dynamic


Responses of NREL 750 kW Wind Turbine Drivetrain, Power Engineering, The International
Conference on Power Transmissions, p. 205-212, Out/2016, Reino Unido, disponível em
<http://www.routledge.com/9781315386812>.

GIRSANG, I.P. et al.; Gearbox and Drivetrain Models to Study Dynamic Effects of
Modern Wind Turbines; NREL, EUA, p. 1-11, Out/2013, disponível em
<https://www.researchgate.net/publication/266392784_Gearbox_and_Drivetrain_Models_to_St
udy_of_Dynamic_Effects_of_Modern_Wind_Turbines>.
st
JELASKA, D.; Gears and Gear Drives, 1 ed., Reino Unido, Wiley, 2012.

OUYAGUE, F.; Gearbox Modeling and Load Simulation of a Baseline 750-kW Wind
Turbine Using State-of-the-Art Simulation Codes, NREL, EUA, p. 1-94, Fev/2009,
disponível em <https://www.nrel.gov/docs/fy09osti/41160.pdf>.

SHENG, S.; Wind Turbine Gearbox Condition monitoring Round Robin Study: Vibration
Analysis, NREL, Jul/2012, EUA, disponível em
<http://www.nrel.gov/docs/fy12osti/54530.pdf>.

322
FONTES
ALTERNATIVAS

323
A ENERGIA RENOVÁVEL NO BRASIL COM A CRISE DA PANDEMIA DA
COVID-19

Gabriel Augusto David1, Danilo Casarin do Santos Reis1, Letícia Maria Miquelin2,
Pedro André Zago Nunes de Souza3, André Nunes de Souza4, Edilaine Martins Soler2
1
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Engenharia de
Bauru, 2Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Departamento de
Matemática, 3Centro Universitário de Bauru - ITE, Estudante de Direito , 4Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Departamento de Engenharia Elétrica
E-mail: ga.david@unesp.br

RESUMO: As fontes renováveis vêm ganhando cada vez mais destaque no cenário
mundial por serem consideradas uma fonte limpa, apresentando crescimento constante
nos últimos anos, sendo o Brasil um dos países com os maiores índices de produção.
Previsões indicavam a continuidade no aumento da participação dessas energias na matriz
energética mundial, porém, no ano de 2020, com a pandemia da Covid-19, tais previsões
não têm se concretizado, sendo observada uma desaceleração em investimentos
relacionados à expansão das energias renováveis. Este trabalho apresenta uma discussão
acerca das previsões sobre as energias renováveis antes da Covid-19 juntamente com os
impactos da pandemia no setor e suas atuais previsões, de forma a explanar o futuro da
produção de energia brasileira.
Palavras-chave: Fontes Renováveis, Impactos da Covid-19, Políticas Energéticas.

RENEWABLE ENERGY IN BRAZIL WITH THE COVID-19 PANDEMIC


CRISIS

Abstract: Renewable sources are gaining more and more prominence on the world stage
as they are considered a clean source, presenting constant growth in recent years, with
Brazil being one of the countries with the highest production rates. Forecasts indicated
the continued increase in the share of these energies in the world energy matrix, however,
in 2020, with the Covid-19 pandemic, these forecasts changed, with a slowdown in
investments related to the expansion of renewable energies. This paper presents a
discussion about the predictions about renewable energies before Covid-19 together with
the impacts of the pandemic in the sector and its current forecasts, in order to explain the
future of Brazilian energy production.
Keywords: Renewable Energy Sources, Covid-19 Impacts, Energy Policies.

1. INTRODUÇÃO

No início da Revolução Industrial, a população mundial era de cerca de 700


milhões de habitantes. Estima-se que, em 2050, esse número chegue a 9 bilhões (LEE,
2011), e o consumo de energia poderá dobrar ou triplicar em relação aos anos 2000
(GOLDEMBERG e CHU, 2010). Em relação às emissões de carbono, a transição do uso
da potência humana para a potência em cavalos resultou ao equivalente a mais de um

324
bilhão de cavalos trabalhando conjuntamente (CHU e MAJUMDAR, 2012), o que
implica num risco significativo nas mudanças climáticas.
A partir da década de 1970, com a primeira crise energética mundial, causada pelo
grande aumento de preço do barril de petróleo, e o crescimento da preocupação com o
futuro dos recursos naturais, ocasionaram uma mobilização internacional para discutir e
implementar projetos utilizando matrizes energéticas renováveis e menos poluentes. No
Brasil, avanços significativos nas políticas ambientais ocorreram com a aprovação de leis
na década de 90 e com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica (PROINFA) em 2002, que tinha como objetivo promover a
diversificação da matriz energética brasileira, buscando alternativas para aumentar a
segurança no abastecimento de energia elétrica, além de valorizar as características e
potencialidades regionais e locais (LOPES e TAQUES, 2018).
Evidências científicas mostram que as tendências atuais de energia são
insustentáveis (GOLDEMBERG e CHU, 2010). A forma com que a energia vem sendo
produzida e consumida tem resultado em grandes impactos ambientais, como
derramamentos de óleo, perda de biodiversidade e poluição urbana, sendo contrária ao
desenvolvimento sustentável.
Dentre os objetivos para o desenvolvimento sustentável do planeta propostos pela
Organização da Nações Unidas (ONU) se encontra o acesso sustentável à energia, onde,
dentre as metas para 2030, considera de grande relevância o aumento da participação de
energias renováveis na matriz energética global (ONU, 2015). Além disso, os custos de
produção de energia a partir de fontes renováveis estão em queda, tornando-a mais
competitiva que as demais (CHU e MAJUMDAR, 2012), o que favorece para que seu
uso seja mais difundido.
Segundo dados do Atlas da Eficiência Energética (AEE), o Brasil possui uma das
maiores matrizes energéticas renováveis do mundo, à frente das médias mundial e de
países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
(EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2020a). Com a utilização da energia
hidrelétrica e a incorporação das energias solar e eólica em sua matriz, o Brasil afirma-se
como uma potência sustentável (NASCIMENTO, 2019). Além disso, uma vez que as
fontes não renováveis são uma das principais responsáveis pela produção de gases do
efeito estufa, a baixa utilização dessas matrizes em comparação a outros países do mundo
justifica a posição do país.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), 2020 era para ser o
ano recorde de adição de energia renovável na matriz elétrica mundial, onde a primeira
previsão indicava um crescimento de 20% em relação a 2019 (IEA, 2020), mas a
pandemia da Covid-19 atingiu as instalações de manufatura de energia renovável, cadeias
de abastecimento e empresas, retardando a transição para a energia sustentável
(HOSSEINI, 2020). O declínio global na demanda impulsionada pela economia pode
prejudicar a tendência positiva do progresso da produção das energias renováveis.
Estimativas da Wood Mackenzie, empresa de pesquisa e consultoria em energia, sugerem
que, em todo o mundo, as instalações de armazenamento de energia solar devem reduzir
quase 20%, e as instalações eólicas devem ter uma queda na produção de 6% em 2020
em relação às projeções anteriores à pandemia (LAIKE e HUTCHINSON, 2020).
O que acontecerá após a pandemia da Covid-19 é crucial para nosso futuro
energético. Os governos têm a oportunidade de acelerar as transições de energia limpa,
325
tornando o investimento em energias renováveis uma parte fundamental dos pacotes de
estímulo para impulsionar a economia (TURK e KAMIYA, 2020). Além disso, uma
análise da Universidade de Harvard mostrou que os habitantes de cidades com ar mais
poluído têm maior probabilidade de morrer de Covid-19 (KING, 2020), indicando a
importância de investimentos em energia limpa mesmo em tempos de crise.
Deste modo, este trabalho apresenta uma discussão sobre o futuro das energias
renováveis no Brasil, explanando os avanços e as dificuldades enfrentadas, assim como
uma comparação entre as projeções antes e após o surgimento da pandemia da Covid-19.
O artigo está organizado da seguinte forma. A segunda seção apresenta as energias
renováveis, assim como sua importância nos âmbitos econômico, ambiental e social
juntamente com as previsões iniciais para o setor. Na terceira seção são discutidas as
previsões e desafios das energias renováveis no Brasil, apresentando as expectativas
atuais, considerando a pandemia da Covid-19. Finalmente, a quarta seção apresenta as
respectivas conclusões.

2. A ENERGIA RENOVÁVEL E AS PREVISÕES DO GOVERNO NO CENÁRIO


DE PANDEMIA INEXISTENTE

A ideia de energia sustentável compreende a noção de que devem ser priorizadas


fontes energéticas renováveis, ou seja, aquelas que são repostas imediatamente pela
natureza (GOLDEMBERG e LUCON, 2007). A sustentabilidade energética abrange não
apenas a preservação dos sistemas naturais essenciais, mas também a extensão dos
serviços básicos de energia às pessoas que não têm acesso às suas modernas formas, e a
redução dos riscos à segurança e potenciais conflitos geopolíticos que possam surgir
devido a competição crescente por recursos energéticos irregularmente distribuídos
(GOLDEMBERG e CHU, 2010).
Em 2019, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN 2019), as fontes
de energia renováveis representaram 83% da oferta interna brasileira (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2020c). Vários fatores devem ter sua influência considerada
no planejamento energético de longo prazo em um contexto de grandes transformações.
Estas, por sua vez, têm sido frequentemente associadas à chamada transição energética,
caracterizada pela descarbonização das matrizes energéticas em resposta à questão das
mudanças climáticas, pela descentralização dos recursos energéticos e pela modernização
na produção e uso da energia.
O Plano Nacional de Energia para 2030 (PNE 2030), lançado em 2006,
possibilitou a definição de uma direção para o setor energético, servindo como um guia
para as ações do setor no caminho de uma matriz energética diversificada com
participação expressiva de fontes renováveis (EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA, 2020d). Por sua vez, o Plano Decenal de Expansão de Energia para 2029
(PDE 2029) teve como objetivo principal a expansão da oferta de energia elétrica e o
aumento da confiabilidade no serviço até 2029, enfatizando que fatores governamentais
são relevantes para a integração e o crescimento de fontes alternativas sustentáveis no
país, e prevê um pequeno declínio na matriz renovável nacional, de 83% em 2019 para
80% em 2029, porém com o crescimento das energias solar, de 2% para 8%, e eólica, de
9% para 16% (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2019).

326
Atualmente, o Plano Nacional de Energia para 2050 (PNE 2050) considera
questões como “Um sistema elétrico 100% renovável é possível e viável economicamente
até 2050?” e “Quais impactos sobre o setor de uma maior inserção de fontes de geração
renovável variável, em termos de custo, disponibilidade etc.?” para definir estratégias
sobre a matriz energética brasileira a longo prazo (EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA, 2020d). No PNE 2050 observa-se que, no pior cenário, chamado de
estagnação, as energias renováveis permaneceriam num patamar de cerca de 75% da
matriz energética total até o ano de 2050, sendo que, no melhor cenário, estas poderiam
alcançar quase 100% do total da matriz, indicando os crescentes investimentos previstos
para o setor, que vem ganhando cada vez mais importância. Além disso, a análise do
potencial energético no horizonte do PNE 2050 mostra uma perspectiva de abundância
de recursos frente à demanda estimada, contexto distinto do passado caracterizado por
eventos de grande restrição energética. Porém, o uso de tais recursos possui um caráter
desafiador do ponto de vista tecnológico, onde cabe ao governo incentivar.
Entretanto, o PNE 2030, o PDE 2029 e o PNE 2050 têm em comum o fato de que
seus planejamentos para investimentos e projeções de crescimento das energias
renováveis não consideraram cenários extremos, como o causado pela pandemia da
Covid-19.

3. OS IMPACTOS DA COVID-19 NO SETOR ENERGÉTICO SUSTENTÁVEL


BRASILEIRO E SEUS DESDOBRAMENTOS

Ao longo dos últimos anos o Brasil vem observando um crescimento expressivo


na produção de energia através de fontes renováveis impulsionado, principalmente, pelas
regulamentações e incentivos governamentais dos setores eólicos e solares, e a finalização
de grandes projetos hidráulicos, como a Usina de Belo Monte. De acordo com o BEN
2019, a energia solar foi a que obteve o maior aumento percentual na matriz energética
brasileira em 2019, com uma produção 92,2% maior do que a do ano anterior (EMPRESA
DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2020c). Tal aumento se justifica pela localização
geográfica do país, que recebe elevados índices de incidência da radiação solar e
distribuídas uniformemente pelo território, o que permite desenvolver projetos solares
viáveis em diferentes regiões, sendo uma alternativa competitiva no fornecimento de
energia e contribuindo com os compromissos de redução de gases de efeito estufa
(EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2020d).
As projeções apresentadas no PDE 2029 e PNE 2050 indicam que, nos próximos
anos, o Brasil se manteria em um patamar alto quando se trata da produção de energia
através de fontes renováveis, com grandes aumentos previstos para o ano de 2020. Porém,
o surgimento da pandemia da Covid-19 alterou os perfis de produção e consumo da
população, afetando diretamente o setor energético, ocasionando uma queda rápida na
demanda de energia, onde espera-se que a demanda global contraia 6% em 2020, a maior
queda em mais de 70 anos (TURK e KAMIYA, 2020).
No Brasil, estudos mostram uma redução acentuada no consumo de energia
elétrica comparando os períodos anterior e posterior ao início das restrições de mobilidade
devido à Covid-19, onde o subsistema Sudeste ‐ Centro-Oeste sofreu a queda mais
acentuada, com uma diferença de 20% entre as medianas antes e depois da implementação
do decreto de distanciamento social (CARVALHO et al., 2020), ocasionado,
327
principalmente, pela redução no consumo dos setores industrial, comercial e de
transporte.
Segundo dados da IEA, 2020 será o primeiro ano com declínio mundial na
produção de energia em relação ao ano anterior, com um crescimento 13% menor em
relação ao observado em 2019 (IEA, 2020). Porém, diferente do cenário mundial, o Brasil
não sofrerá sua primeira retração em 2020, que já ocorreu entre os anos de 2007 e 2019,
sendo a maior em 2007, de cerca de 50%; entretanto, o biênio de 2019-2020 tem previsão
de maior retração histórica, de quase 70%, no crescimento das energias renováveis no
país (IEA, 2020). Se confirmadas as previsões, 2020 terá a menor adição de energia
renovável à matriz elétrica brasileira desde 2009.
Além disso, a pandemia ocasionou uma redução mundial no preço dos
combustíveis fósseis, que é preocupante nos países em desenvolvimento (HOSSEINI,
2020), caso do Brasil, onde o fornecimento de energia elétrica de baixo custo é crucial
devido à situação econômica em época de crise, incentivando o governo a adotar fontes
de energia convencionais mais baratas em vez de renováveis. Porém, a redução do preço
e a imprevisibilidade dos retornos sobre o investimento em combustíveis fósseis podem
tornar os negócios de energia renovável ainda mais fortes, já que as flutuações nos
mercados de petróleo e gás podem atenuar mais a viabilidade de tais recursos e colocar
em risco os contratos de longo prazo (HOSSEINI, 2020).
Há uma grande incerteza sobre a profundidade e a duração da crise provocada pela
Covid-19 no Brasil, e a não disponibilidade de estatísticas oficiais sobre os impactos
iniciais dificulta a elaboração de projeções econômicas (EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA, 2020b). Uma redução significativa de curto prazo no desenvolvimento
de energias renováveis é inevitável (HOSSEINI, 2020) e, portanto, políticas de energia
precisam ser reestruturadas com base nas novas circunstâncias.
Em 1 de setembro de 2020 o governo brasileiro fez novas alterações na Medida
Provisória nº 998/2020 (MP), a qual uma delas é a Conta Covid, a primeira realização de
mercado para estruturar e preservar a sustentabilidade do setor elétrico, com incentivo de
R$15,3 bilhões, buscando amenizar os impactos causados pela pandemia a curto prazo,
como a diminuição da capacidade de pagamento dos consumidores e os efeitos na
capacidade financeira das concessionárias distribuidoras e demais agentes setoriais
(BRASIL, 2020). A MP também visa destinar à Conta de Desenvolvimento Energético
recursos financeiros de pesquisa e desenvolvimento, e de eficiência energética.
Sob o ponto de vista do consumidor, a retração poderá ser sentida pela queda do
Produto Interno Bruto (PIB). Na década atual o país já sofria com fortes recessões, porém
a provocada pela pandemia da Covid-19 será a mais veloz, intensa e de característica
disruptivas para diversos setores, gerando consequências definitivas ao setor elétrico, com
previsão de consumo 22,7TWh abaixo do previsto pelo Operador Nacional do Sistema
elétrico (ONS) na rede do Sistema Interligado Nacional (SIN), em 2020 (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2020b). Essa retração está ligada a perda do poder
financeiro do consumidor, principalmente da indústria, impulsionado pela queda de
lucratividade e na demanda, e na desconfiança dos investidores sobre o futuro do
mercado. Estima-se que, o pior cenário pode gerar um atraso de até 2 anos na demanda
energética até 2024 (OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO, 2020). Caso
não ocorram os devidos subsídios, esse cenário acarretará num efeito de retração em
cadeia, tanto para o comércio, serviços, indústrias e orçamento das famílias.
328
Para o setor de energia renováveis, caso os pacotes de estímulos não sejam
efetivos, sem orientação e estratégia, poderão gerar um colapso de grandes quantidades
de estímulos que se opõem aos objetivos de sustentabilidade, desalinhamento exacerbado
com as mudanças climáticas, práticas insustentáveis e consequências agudas e
preocupantes para os grupos vulneráveis (SOVACOOL; DEL RIO; GRIFFITHS, 2020),
provocando um atraso maior na agenda de transição energética do país apresentados pelos
PDE 2029 e PNE 2050.
Os gastos com eficiência energética estão caindo drasticamente em meio à crise
da Covid-19 (TURK e KAMIYA, 2020), porém a desaceleração das transições de energia
de baixo carbono deve ser visto como uma oportunidade para incentivar esquemas de
eficiência energética (CARVALHO et al., 2020), já que os sistemas de cogeração podem
ajudar a impulsionar a competitividade econômica e fornecer energia mais acessível e
com menores impactos.
Anteriormente, o Brasil já utilizou a estratégia de desenvolvimento com baixo
nível de agregação de conhecimento humano em detrimento de investimentos visando
apenas o aumento da capacidade de geração, e o efeito não foi positivo ao país. No período
de 1960 a 2019, o país teve o seu melhor momento econômico nos primeiros 20 anos,
mas um desenvolvimento com baixo nível de agregação de conhecimento humano e
desenvolvimento tecnológico, com foco em infraestrutura e indústrias de baixo valor
agregado; ao contrário da China, que nos últimos 20 anos agregou à economia intenso
capital de conhecimento e inovação tecnológica (BRASIL, 2019). O segundo aumento do
petróleo, em 1979, viria comprometer ainda mais a agregação de valor à indústria
nacional, induzindo as ações do governo à expansão de setores intensivos em capital e
energia (BRASIL, 2019).
Em um país emergente, com grande potencial energético proveniente de fontes
renováveis, não se pode cometer os mesmos erros de investimento. Deve-se fornecer
subsídio a curto prazo ao setor elétrico a fim de evitar maiores recessões, restabelecendo
o fluxo de caixa, segurança de mercado e realimentar a cadeia proveniente deste sistema.
Porém, a médio e longo prazo, deve-se fomentar a agregação de conhecimento e
desenvolvimento tecnológico principalmente ao setor de energias renováveis, setor
estratégico para o país. Um exemplo do efeito negativo do não desenvolvimento
tecnológico é a crise de estagnação da tecnologia solar na Índia e em outros países, devido
à forte dependência da tecnologia fotovoltaica solar importada da China, onde a
fabricação diminuiu devido à pandemia, ocasionando reduções dramáticas na capacidade
solar instalada futura (SOVACOOL; DEL RIO; GRIFFITHS, 2020).
Consequentemente, as oportunidades emergentes da pandemia para sistemas de
energia e políticas climáticas podem ser garantidas ou desperdiçadas. Algumas medidas
governamentais podem ser adotadas em prol do progresso das energias renováveis, como,
por exemplo, financiar o desenvolvimento de novas tecnologias, a próxima geração de
combustíveis para transporte, armazenamento de energia, redes inteligentes e células de
combustível de hidrogênio (SOVACOOL; DEL RIO; GRIFFITHS, 2020).

4. CONCLUSÃO

Políticas inteligentes poderiam converter as ameaças da Covid-19 em grandes


oportunidades para as energias renováveis. Além disso, a maioria das renováveis oferece
329
uma abordagem de controle remoto, o que desempenha um papel primordial em cenários
de pandemia.
A curto prazo, as medidas de órgãos regulamentadores e governamentais para
crise do setor elétrico devem ter como principal objetivo buscar a manutenção do
equilíbrio econômico das concessionárias e agentes envolvidos, manter os contratos que
foram fechados, uma vez que há um grande risco de inadimplências, reajustes tarifários
a médio e longo prazo e buscar soluções para os setores envolvidos, como geração,
transmissão, distribuição e consumidor. Desse modo, a cadeia pode se manter estável para
que o setor possa retomar os investimentos de expansão o quanto antes, principalmente
nas energias renováveis, alívio deste a longo prazo.
Embora a transição para a energia limpa retraia consideravelmente durante o
período de crise, é improvável que a pandemia afete significativamente a transição
energética a longo prazo (LEACH; RIVERS; SHAFFER, 2020), indicando que o setor
energético brasileiro poderia basear decisões futuras nos dados do PNE 2050, mas sem
deixar de observar as políticas governamentais adotadas em meio à crise, pois estas irão
pautar o futuro das renováveis no país. Além disso, para manter a elevada participação de
fontes renováveis e as baixas emissões de carbono a longo prazo, o aproveitamento
hidrelétrico ainda representa um elemento importante para a ampliação de oferta de
energia elétrica nacional.
O Brasil possui patrimônio energético diversificado, vasto, crescente e
potencialmente grande no âmbito das energias renováveis, e, em 2018, deu início ao
processo de adesão à Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA),
procedimento que demonstra o engajamento do país em construir uma governança em
nível internacional, preocupado com o desenvolvimento sustentável. Tais processos
também posicionam o país para desempenhar papeis fundamentais nas transformações
energéticas globais e demonstram o grande valor da cooperação internacional.
Outro ponto importante seria a entrada do Brasil como país membro do IEA ao
longo dos próximos anos. Tal fato seria significativo, atraindo maior padronização de
programas de avaliação em níveis nacional e internacional. Também se trata de uma
posição geopolítica estratégica, onde os dados estatísticos assumem um papel relevante
como instrumento do governo, colocando o país no centro do debate mundial de questões
políticas incluindo energia renovável, eficiência energética, uso racional de combustíveis
fósseis, segurança energética e desenvolvimento sustentável.
Trabalhos futuros visam acompanhar a evolução dos impactos da pandemia da
Covid-19 no setor elétrico brasileiro, em especial a parcela relacionada as energias
renováveis, e analisar os resultados das políticas governamentais aplicadas no setor.

330
AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Capes e do Programa de Pós-


graduação em Engenharia Elétrica - UNESP - Bauru.

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332
ESTUDO DA VIABILIDADE DE CONVERSÃO DE ENERGIA MECÂNICA
CORPORAL EM ENERGIA ELÉTRICA: NANOGERADORES

Pedro da Silva Farias1, Elias Serqueira.1


1
UFTM
E-mail: pedrokafca@yahoo.com.br

RESUMO: Este projeto descreve uma abordagem do estudo da geração de energia


elétrica a partir da tecnologia TENG de transformação da energia mecânica dos
movimentos corporais humanos em elétrica. Essa tecnologia compreende a produção de
energia limpa a partir do princípio da triboeletricidade como saída elétrica para o
carregamento de dispositivos elétricos de baixa potência, desencadeado por energia
mecânica ambiental comumente disponível, como passos humanos, fornecendo saída de
potência instantânea suficiente para gerar carga externa e alimentar celulares, tablets e
outros dispositivos eletrônicos que demandem pequenas quantidades de energia. A
viabilidade da capacidade de geração de energia renovável limpa e eficiente é a proprosta
nesse trabalho, para que a praticidade de seu uso possa ser otimizada e possa ser
futuramente uma alternativa viável de energia renovável como mais uma possibilidade de
energia limpa. O aproveitamento da energia produzida pela movimentação humana pode
ser estendida para os mais diferentes ambientes como, escolas, academias, empresas entre
outros, pois ambientes coletivos possibilitam uma maior interação e uma maior produção
de energia elétrica que pode ser utilzada pelos próprios estabelecimentos aproveitando
uma energia que seria desperdiçada.
Palavras-chave: Energias alternativas. Triboeletricidade. Atividade metabólica.

FEASIBILITY STUDY OF BODY MECHANICAL ENERGY CONVERSION TO


ELECTRICAL ENERGY: NANOGENERATORS

ABSTRACT: This project describes an approach to the study of electric energy


generation from the TENG technique of transforming the mechanical energy from human
to electric body movements. This technology comprises the production of clean energy
from the principle of triboelectricity as an electrical output for the charging of low power
electrical devices, triggered by commonly available environmental mechanical energy,
such as human steps, providing sufficient instantaneous power output to generate external
load and mobile phones, tablets and other electronic devices that require small amounts
of energy. The feasibility of the clean and efficient renewable energy generation capacity
is the purpose in this work, so that the practicality of its use can be optimized and may be
in the future a viable alternative of renewable energy as another possibility of clean
energy. The utilization of energy produced by human movement can be extended to the
most different environments, such as schools, academies, companies, among others, since
collective environments allow for greater interaction and a greater production of electric
energy that can be used by the establishments themselves, that would be wasted.
Keywords: Alternative energies. Triboelectricity. Metabolic activity.

333
1. INTRODUÇÃO

No último século, houve um aumento rápido e constante da demanda mundial de


energia. Isto deveu-se a muitas razões, incluindo um aumento global da população
mundial, desenvolvimento/industrialização de países emergentes, tecnologias novas e
mais exigentes. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP, 2012) espera-se que a
demanda mundial por energia atinja 18 bilhões de equivalentes de óleo por tonelada até
2035 sob as políticas atuais. O percentual de consumo de energia elétrica passou de 9%
em 1973 para 18% em 2012 (ANNEL, 2007); em contraste, a necessidade de outras fontes
de energia, petróleo, carvão ou gás natural, permaneceu o mesmo ou mesmo diminuiu
no mesmo período de tempo. No futuro, a energia elétrica será, presumivelmente, a forma
mais consumida de energia, e sua produção deve ser tão eficiente quanto possível para
satisfazer a demanda crescente.
Energias renováveis a longo prazo são conhecidas também por energias sujas,
visto que sua utilização gera sérios impactos ao meio ambiente e para a sociedade,
podendo contribuir para o aumento do buraco na camada de ozônio, causando a destruição
de ecossistemas, contribuindo para o efeito estufa, chuva ácida, entre outros.
Desde que os nanogeradores foram relatados pela primeira vez em 2006, eles
atraíram grande interesse em todo o mundo, porque eles podem coletar diferentes energias
usando diferentes nanomateriais. Muitos tipos de nanogeradores foram projetados e
fabricados nos últimos anos (YANG et al., 2013). Em geral, eles podem ser classificados
em três tipos: nanogeradores piezoelétricos, nanogeradores piroelétricos e nanogeradores
triboelétricos. Entre eles, os nanogeradores triboelétricos (TENGs) são os mais
promissores e valiosos devido à sua universalidade, multifunções e maior eficiência de
conversão. Eles podem colher quase toda a energia mecânica do ambiente incluindo
vibração, rotação, movimento humano, e fluxo de ar. Com base no efeito dos
nanogeradores triboelétrico e indução eletrostática entre dois materiais de fricção com
cargas opostas, os TENGs convertem a energia mecânica em eletricidade, conseguindo
alimentar dispositivos eletrônicos móveis.
Segundo Wang (2014) um dos pioneiros no desenvolvimento da tecnologia de
nanogeradores triboelétricos, existe energia mecânica de baixa frequência em todo o
ambiente que pode ser usada para conduzir um TENG a pleno funcionamento. A maioria
dos TENGs anteriores segundo Wang et al. (2012) era usado para coletar energia
mecânica em uma única direção em alta freqüência, ou para trabalhar com uma fonte
específica de energia limitando, assim, suas aplicações. Para ampliar as aplicações, os
TENGs devem ser projetadas para ter multifunções, pois o pressuposto é gerar células
capazes de se recarregar ao capturar a energia mecânica proveniente de qualquer fonte
como uma caminhada, o sopro do vento, vibrações variadas e até mesmo as ondas do mar,
que são simplesmente desperdiçadas.
Para Zhu et al. (2006), o nanogerador triboelétrico tem um grande potencial no
campo de fabricação de sensores autoalimentados, pois o rápido desenvolvimento da
economia e a melhoria do padrão de vida aumentou a demanda por dispositivos
eletrônicos inteligentes capazes de ser flexíveis, miniaturizados e elásticos, como
interações homem-máquina, pele eletrônica artificial e sistema de sensores. A maioria
desses dispositivos é alimentada por baterias com as desvantagens de tamanho grande,
peso elevado e vida útil limitada, dificultando a concepção moderna de mobilidade e
334
sustentabilidade. Assim, o recurso de energia confiável e sustentável que fornece esses
dispositivos permanece como um dos problemas mais cruciais. Além disso, energias
renováveis e limpas, como eólica, energia solar e energia mecânica estão sendo
desenvolvidas com urgência devido à crescente crise de escassez de energia e à
deterioração do meio ambiente (BOFF, 2010).
Nesse sentido, este trabalho visa elucidar a aplicação desta tecnologia TENG a
ambientes coletivos em que o gasto de energia mecânica possa ser contabilizado buscando
estimar o quanto de energia elétrica pode ser obtido para, enfim, torná-los uma alternativa
sustentável.

2. MATERIAL E MÉTODO

Para elucidar a aplicação da tecnologia TENG através de uma descrição


quantitativa da energia gasta pelo movimento mecânico corporal e avaliar a sua conversão
em energia elétrica, realizou-se um trabalho de campo para a coleta da energia gasta em
ambiente coletivo por meio de movimentos corporais. O trabalho de campo ocorreu na
escola militar Tiradentes, através da coleta de dados e adequação das informações. A
confecção dos resultados foi realizada através da observação dos alunos do 2° ano da
escola militar Tiradentes sala 201, acompanhando-os em suas movimentações diárias
(caminhadas) ao banheiro, bebedouro e refeitório. Para isso foi aplicado um questionário
com perguntas básicas acerca das características de cada aluno (estatura, peso, idade,
sexo, estado nervoso, presença ou não de hipo/hipertireoidismo, temperatura corporal e
temperatura ambiente).
A partir das respostas obtidas pelo questionário, do monitoramento das
caminhadas e das adaptações equacionais (eficiência de Carnot, potência e equações de
Howley e Franks et al. 2008), chegou-se a um modelo de equação para o grupo
monitorado devidamente especificas. A etapa seguinte envolveu uma busca na literatura
para escolha de dois dispositivos que servirão de modelo na conversão de energia
mecânica em energia elétrica. Uma vez detalhados os modelos, os dados coletados serão
aplicados e os resultados obtidos segundo as propriedades de cada dispositivo. Ao final,
confrontar-se-ão os dados para discutir os achados da pesquisa em função de seu custo-
benefício e de sua relevância no atual cenário em que a demanda por fontes de energia
limpa é crescente.

2.1 Área de estudo

2.1.1 Aparelho de colheita de energia em calçados

A análise dos materiais utilizados na conversão da energia mecânica em elétrica


que irá alimentar pequenos eletrônicos para sensores de redes partindo da confecção de
um dispositivo eletrônico na palmilha de sapatos baseada nas condições mais otimizadas
do experimento para geração de energia. Desta forma cada pessoa representada pelos
grupos descritos a cima gerará uma quantidade de energia, que após passar por um
processo de quantificação, será estimado pela energia captada que tipo de fonte esse
dispositivo conseguirá alimentar e carregar considerando os modernos aparelhos de baixa

335
potência (celulares e outros aparelhos portáteis), ficando totalmente independente das
fontes de energia convencionais (petróleo, energia hidroelétrica).
Baseados em dados gerais já testados em dispositivos eletrônicos inteligentes e
sensores de monitoramento de movimento o projeto foi confeccionado na coleta de dados
em ambientes específicos já selecionados, que são escolas e academias, com pessoas de
diferentes idades e comportamentos esportivos.
A aquisição energética é essencial para sobrevivência dos seres vivos no ambiente,
a variação entre o que é adquirido com a alimentação e o que é perdido com o
funcionamento anatômico corporal é denominada gasto energético total. Esse gasto
depende segundo D. Roberto et al. de três variantes: Taxa metabólica basal (TMB) ou de
repouso (TMR), que é o gasto energético mínimo necessário para sobreviver em repouso
e manter os processos vitais.
Representa mais ou menos 60 à 75% do GET. Efeito térmico dos alimentos (ETA)
Valor da digestão, absorção, metabolismo e armazenamento dos nutrientes. Representa
mais ou menos 10% do GET.
Gasto da atividade física (GAF) Energia gasta em exercícios físicos e atividades
físicas voluntárias ou involuntárias e avaliação da atividade e do exercício físico: GET =
TMB(R) + ETA + GAF.
Tais fatores são dependentes do desenvolvimento natural do organismo, que se
adequam as funções desempenhadas por cada sistema e pela diferença de gênero, são elas:

 Tamanho corporal : ↑MIG - ↑TMB - Atletas possuem TMB 5%↑


 Idade: Criança TMB ↑ (1-2 anos de vida)
 Envelhecimento TMR ↓ 2% a 3% por década (após o início da maturidade)
 Sexo: ♀ TM↓ que o ♂ cerca de 5% a 10% (de mesmo peso e altura)
 Estado hormonal:
 Hiper/hipotireoidismo
 Estresse
 TM das ♀: flutua com o ciclo menstrual e durante a gravidez
 Outros fatores
 A febre ↓ TM em 13% p/ cada grau acima de 37 ºC
 Temperatura ambiente TMB 5% a 20% ↑.

A estimativa do gasto de energia é proposta a partir de parâmetros matemáticos


que visam relacionar o volume de oxigênio inspirado, o volume de gás carbônico expirado
e a taxa metabólica (D. Roberto et al.) relacionada ao tempo.
A tabela abaixo apresenta a relação entre os componentes, que representam essa
estimativa de gasto.

336
Tabela 1: taxa metabólica por volume de O₂ inspirado e CO₂ expirado.

Expressões. Conversões. Operações.

VO₂ (L / min) Multiplica por 5,0 kcal VO₂ × 5,0 = kcal


L/ min

kcal / min Multiplica por 1000 e ÷ kcal*1000/peso(kg) =


peso VO₂(ml/kg/min)

M Divide por 3,5 ml / Kg/ VO₂(ml)/3,5 = MET


ET VO₂ (ml/ Kg / min) min
Minutos da atividade X
60 MET * 60min = kcal /
h

kcal / Kg / h Relativo ao peso


corporal
Fonte: EEFERP – USP.

Assim:
1 L O₂ (VO₂ Absoluto) = 5 Kcal
1 Kcal = x 1000÷peso = VO₂ Relativo
VO₂ Rel = 1MET x 3,5
1 MET = tempo atividade (min) x 60
1 MET = 1,25 kcal/kg/min.

O cálculo associado a taxa metabólica basal é representada pela equação de


Harris-Benedicte, que diferencia a quantidade de energia gasta pelo gênero, como
descrito na tabela abaixo.

337
Para caminhadas cotidianas (Howley e Franks et al. 2008), elaborou-se equações que
permitem calcular a energia gasta pela movimentação convencional sem finalidade esportiva. Seus
cálculos seguem o padrão das demais equações, obter um resultado aproximado do valor energético
perdido por cada passo.

Caminhadas:
1 m . min-1 superfície horizontal = 0,1 mL.kg-1 . min-1
1 MET = 3,5 mL O₂ ou 1Kcal x peso x h
O₂ gasto = 0,1 mL . Kg-1 . min-1 (velocidade horizontal) + 3,5 mL . Kg -1 . min-1

Quantos METs e o VO₂ estimados em uma caminhada de 90 m por minuto?

O₂ gasto = 0,1 mL . Kg-1 . min-1 (90 m/min) + 3,5 mL . Kg-1 . min-1 O₂ = 12,5 mL . Kg -1 .
min-1
MET = 12,5 ÷ 3,5 mL . Kg -1 . min-1
MET = 3,6
Energia gasta com a atividade (Kcal) = MET x Peso x Tempo de atividade (min)/60
3,6 x 80kg = 288Kcal

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

Considerando a soma geral das potências produzidas pelos alunos através das
movimentações diárias (caminhadas) dentro da escola, permitiram as seguintes
comparações:
 Potência total produzida em um dia:9,405Kw.
 Potência total produzida em um mês: 206,91Kw×3h= 630,73Kwh

Tabela 2: dados numéricos por aparelhos.


Aparelhos elétricos. Potência média em watts Consumo mensal (Kwh)
Lâmpadas fluorescente 15 2,2
Lâmpada fluorescente 23 3,5
Ventilador de Teto 130 28,8

A estimativa total da energia produzida pela movimentação dos alunos da sala 201
durante o horário de aula que é desperdiçada, viabilizaria a manutenção de uma sala aula
com energia mensal para 4 lâmpadas de 15w e um ventilador 130w, podendo sua
eficiência variar com o número de alunos e as movimentações diárias.

4. CONCLUSÃO

Concluiu-se que a viabilidade tecnologia TENG na transformação de energia


mecânica em energia elétrica insere essa proposta de energia renovável como mais uma
possibilidade de produção de energia limpa. O aproveitamento da energia produzida pela
movimentação humana, através de adaptações necessárias, associando as equações

338
projetadas e trabalhadas ao decorrer deste trabalho (eficiência de Carnot, potência e
equações de Howley e Franks et al. 2008), para coleta de um determinado tipo de
atividade física (caminhada convencional sem finalidade esportiva) relacionada à
proposta da triboeletricidade pode ser estendida para os mais diferentes ambientes como,
escolas, academias, empresas entre outros, pois ambientes coletivos possibilitam uma
maior interação e uma maior produção de energia elétrica que pode ser utilizada pelos
próprios estabelecimentos aproveitando uma energia que seria desperdiçada e
contribuindo com a proposta de desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

Z. L. Wang, Sci. Am., 2008, 298, 82.; F. R. Fan, Z. Q. Tian and Z. L. Wang, Nano Energy,
2012, 1, 328.

G. Zhu, C. F. Pan, W. X. Guo, C. Y. Chen, Y. S. Zhou, R. M. Yu and Z. L. Wang, Nano Lett.,


2012, 12, 4960.

S. H. Wang, L. Lin and Z. L. Wang, Nano Lett., 2012, 12, 6339. 7 S.M. Niu, S. H. Wang, L.
Lin, Y. Liu, Y. S. Zhou, Y. F. Hu and Z. L. Wang, Energy Environ. Sci., 2013, 6, 3576.

G. Zhu, J. Chen, Y. Liu, P. Bai, Y. S. Zhou, Q. S. Jing, C. F. Pan and Z. L. Wang, Nano Lett.
2013, 13, 2282. G. Zhu, J. Chen, Y. Liu, P. Bai, Y. S. Zhou, Q. S. Jing, C. F. Pan and Z. L.
Wang, Nano Lett., 2013, 13, 2282.; Shin, S. H.; Kim, Y. H.

Lee, M. H.; Jung, J. Y.; Nah, J. Hemispherically Aggregated BaTiO3 Nanoparticle Composite
Thin Film for High-Performance Flexible Piezoelectric Nanogenerator. ACS Nano 2014, 8,
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Galembeck Fernando. Higroeletricidade Universidade de Campinas (UNICAMP) – 2010.

Ageneal. (2018). Acesso em Junho de 2018, disponível em http://www.ageneal.pt


INATOMI, T. A. H.; UDAETA, M. E. M. Análise Dos Impactos Ambientais na Produção de
Energia Dentro do Planejamento Integrado de Recursos. Seção de estudos estratégicos de
energia e de desenvolvimento sustentável do GEPEA/EPUSP, p. 14. 2011.

Giusti, M. del C. H. Conflictos Ambientales en la Gestión del Santuario Historico de


Machupicchu: El Caso de la Instalación y Manejo de la Central Hidroeléctrica Machupicchu.
2005. 189f. Tese (Master en Ciencias Sociales con Mencion en Gestion Ambiental y
Desarrollo)- Escuela Andina de Post-Grado Maestria en Gestion Ambiental y Desarrollo.
Cusco, 2005.

339
ESTUDO DE VIABILIDADE DE RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA: LODO DA
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES (ETE) SABESP

Luciano Leite de Sousa1, Reges de Lima Dias2, Marcos Aurélio Wippich3


1
UFSC, 2Ember Lion Brasil, 3Biocal Caldeiras
E-mail: luciano.engenhariabrasil@gmail.com

RESUMO: O problema da destinação final dos resíduos urbanos é latente em todo o


mundo, seja na destinação dos rejeitos de ETE ou dos resíduos sólidos. Nesse cenário
estudos de viabilidade tecnológica para tratamento destes resíduos ganham substancial
importância. Assim este trabalho tem por objetivo a análise de viabilidade técnica para
aplicação de tecnologia de recuperação energética para as características do lodo de uma
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) modelo SABESP. Para estruturação cientifica
deste, foi necessário seguir uma sequência cronologia de ações baseados em processos já
validados, que passaram por uma pesquisa bibliográfica, estudo de catálogos técnicos,
consulta a fabricantes de equipamentos e dados disponibilizados pela própria SABESP
sobre os materiais residuais de ETE’s de lodo ativado. Como conclusão temos que a
implantação de um sistema de recuperação energética com Tecnologia por Reator Leito
Fluidizado demonstrasse viável. Com este resultado esperamos fomentar tomadas de
decisão, adicionando um possível caminho de tratamento destes rejeitos de ETE’s, e como
trabalho futuros propomos a elaboração de um Estudo de viabilidade técnica/financeira
do equipamento em uma estação de tratamento especifica.
Palavras-chave: Destinação final lodo, Esgoto urbano, Reator Térmico.

ANALYSIS OF RECOVERY ENERGY FEASIBILITY:


SLUDGE FROM THE WASTEWATER TREATMENT PLANT (WWTP)
SABESP

ABSTRACT: The problem of final disposal of municipal waste is latent worldwide,


whether in the disposal of waste from Wastewater Treatment Plant (WWTP) or Municipal
Solid Waste (MSW). In this scenario, technological feasibility studies gain substantial
importance. Thus, this work aims to analyze the technical feasibility for the application
of energy recovery technology for the characteristics of SABESPs WWTP. For scientific
structuring of this it was to follow a chronological sequence of actions based on processes
already validated, which went through a bibliographic search, study of technical catalogs,
consultation with equipment manufacturers and study of characterization of the materials
of the WWTP. As a conclusion, it is feasible to implement an energy recovery system
using a bubbling fluidized bed reactor. With this result we hope to assist in decision
making and as future work we propose the elaboration of a financial feasibility study for
the implantation of the equipment in a treatment plant.
Keyword: Sludge final destination, Urban wastewater, Thermal Reactor.

340
1. INTRODUÇÃO

Com o novo marco do saneamento e as metas de abrangência e qualidade do


saneamento para as cidades brasileiras, temos um novo ritmo de investimento
impulsionado pelas ações governamentais propostas e pela abertura a empreendimentos
privados. Este impacto se torna mais evidente quanto tratamos esgoto, quase 50% da
população brasileira não possui a acesso a esta rede.
Dentre as tecnologias aplicadas nacionalmente para o tratamento de tratamento de
esgotos temos as lagoas de estabilização, disposição no solo, sistemas anaeróbicos,
reatores aeróbicos com biofilmes e lodos ativados (SPERLING, 2014).
O tratamento de esgotos na SABESP consiste na remoção de poluentes por
processos que dependem diretamente das características físicas, químicas e biológicas do
lodo. Nas grandes estações de tratamento de esgoto urbano o tratamento é realizado por
lodos ativados, onde há duas fases uma sólida e outra líquida, em que a massa biológica
do lodo ativado se avoluma na presença de oxigênio. De forma circular, a floculação é
retirada reduzindo continuamente a quantidade de matéria presente no esgoto (SABESP,
2015).
Uma unidade ETE recebe os efluentes coletados das residências urbanas, os quais
diferentes dos resíduos industriais, possuem características não homogêneos a depender
do padrão econômico da região e época do ano. Na ETE teremos como produtos
recuperáveis termicamente, os resíduos plásticos do gradeamento grosso e fino, rejeito do
lodo primário e o lodo secundário (Figura 01).

Figura 01- Fluxograma Simplificado de uma ETE (fonte: autor)

No estado de São Paulo a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado


de São Paulo) é responsável pela distribuição de água e coleta de esgoto de 375 cidades,
atendendo a uma população de cerca de 28 milhões pessoas. Os investimentos da
SABESP para saneamento (2020-2024) equivalem a 30% do total projetado para o pais.
A ETE da SABESP em Barueri é responsável pelo tratamento de cerca de 60% do
esgoto doméstico e industrial da Região Metropolitana da cidade de São Paulo (RMSP),
341
com o volume inicial de 7 m³.s-1, atualmente conta com a capacidade instalada de
tratamento de 9,5 m³.s-1 e há projeções para a sua ampliação, para uma capacidade de 16
m³.s-1. (SOUZA, 2012)
Para a recuperação térmica do rejeito de ETE é necessário além do processo de
secagem, que o mesmo tenha um PCI (Poder Calorifico Inferior) superior a 700 kcal.kg-
1
. Para Souza (2012) o processo de secagem do lodo apesar de envolver alto investimento,
se torna atrativo, quando consideramos os custos globais como a destinação. São dois os
métodos principais para a secagem. Processos de secagem mecânica se caracterizam por
utilizar equipamentos como centrifugas e ou membranas de alta eficiência, o que refletem
diretamente nos custos de implantação e manutenção. De outro lado temos o processo
leito de secagem.
Os custos médios para implantação de ETEs são na escala e 400 R$/hab. para a
tecnologia de lodos ativados (SANTOS, 2018) regiões metropolitanas com população
aproximada 250 mil habitantes temos investimentos na ordem de 100 milhões.

Tabela 1 – Custo de implantação por tecnologia


População R$/Hab.
Lagoas facultativas e lagoas anaeróbias ~60.000 145-245
Reatores UASB seguidos de uma ou duas lagoas de maturação ~140.000 300-470
Reatores UASB seguidos de três ou mais lagoas de maturação ~42.000 415-700
Reatores UASB seguidos de filtros anaeróbios ~ 200.000 230-350
Reatores UASB seguidos de filtros biológicos percoladores ~300.000 230-395
Lodos ativados ~ 1.500.000 385-475
Adaptado de Sperling (2016).

Devido à inviabilidade de se medir o volume individualizado do esgoto coletado


a SABESP como a maior parte das empresas de saneamento realizam a cobrança conjunta
com a conta de água. O valor médio cobrado pela SABESP é de 2,26 R$/m³, a proporção
da cobrança do esgoto em relação a água é de 100% (BRASIL, 2016) então considerando
a população de 250 mil. Teremos uma receita de 1,63 milhões mensais.
Os custos operacionais para uma ETE é fruto do somatório dos custos de: Água
potável; energia elétrica; serviços de vigilância; serviços de manutenção; materiais de
consumo; pessoal; ordens de manutenção; transporte e destinação de lodos. A destinação
do lodo equivale a cerca de 30% dos custos operacionais de uma ETE (SANTOS, 2018).
A tecnologia de recuperação térmica de lodo de ETE, já é comum na Europa e
Ásia, tecnologia como Leitos Fluidizados são amplamente utilizadas em suas mais
diversas variantes. Para este estudo foi utilizado o modelo RASCHKA o qual não
necessita de combustível auxiliar para manter a combustão.

342
Figura 01- Fluxograma tratamento térmico de Lodo de ETE RASCHKA (2015).

Nesse contexto o presente trabalho realizou uma análise crítica sobre a


composição dos rejeitos geradas no ETE padrão SABESP. Essa análise foi focada na
qualificação do rejeito para aplicação um sistema de recuperação energética para geração
de energia.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração deste trabalho foi adaptada da Quality Gate
System - QGS (SOUSA et al., 2011). Então, para atingir o objetivo de estudado foram
seguidos cronologicamente os seguintes passos:
 Definição da Necessidade/Demanda Inicial;
 Pesquisa informacional: coleta de dados;
 Caracterização dos resíduos e qualidade energética (PCI);
 Análise do potencial em disposição (projeção);
 Estudo de Viabilidade por meio de planilha financeira.
Para a elaboração da planilha de avaliação econômica do projeto foi necessário aplicar
ferramentas técnicas de análise financeira de projeto (BERGMAM, 2019) (PEREIRA;
ALMEIDA, 2011) considerando a duração, o tempo de retorno e as características
econômicas do projeto.

3. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS

Para o a variável chave para a caracterização é o PCI (Poder Calorifico Inferior),


para este foi utilizado o valor de 700 kcal.kg-1 (RASCHKA, 2015), a partir de tal gera-se
o valor do potencial energético presente nos resíduos de entrada, após as deduções de
eficiência do equipamento, consumo próprio e perdas definimos o rendimento. De mão
do rendimento energético e do valor de venda da energia de 350 R$/MW foi montada a
Tabela 02.
343
Tabela 02. Eficiência energética por receita energia.
Material PCI kcal/kg Proporção MW/h RECEITA
140 T/dia Mensal (R$)
Rejeitos do Gradeamento 5600 5% 0,44 110.000,00
Lodo da ETE 700 95% 0,97 244.440,00
Totais 890 - 1,41 354.440,00
*valor considerado de 350 R$/MW
Como o sistema gera benéficos de recepção e redução dos resíduos gerados
podemos considerar o impacto nos custos com relação ao valor direcionado ao transporte
para aterro. Aterros estes que, por precisarem estar isolados ambientalmente, no geral não
possuem uma localização privilegiada, no caso da cidade de São Paulo. Os aterros
próximos estão com poucos anos de vida.
Para a composição das receitas desse projeto foram desconsiderados o custo de
transporte, o custo de deposição esse entra como receita positiva, a redução a 10% do
volume inicial do lodo, restando apenas resíduo mineral inerte. Então foi considerado R$
90 como valor a ser recebido como compensação pelo custo de redução (gatefee).
Tabela 03. Receita geral de uma planta de Recuperação Energética.
Redução Mês
Descrição
90 R$/T (1.000 R$)
Preço MW/h Receitas Redução 186
350R$ Energia Elétrica 358
Total 544

Em relação a viabilidade econômica, foram considerados os principais indicadores


exigidos nos editais de licitação que são os valores referentes a Taxa Interna de Retorno
(TIR), o Valor Presente Líquido (VLP), CAPEX e Payback descontado. Temos então a
Tabela 04.
Tabela 04. Resultado do estudo de viabilidade econômica.
RESULTADOS GERAÇÃO Unidade
TIR (a.a.) 16,49% -
VLP 22.964.000,00 R$
OPEX 74.000,00 R$/Mês
CAPEX 25.400.000,00 R$
Payback. 6 Anos
Payback Des. 9 Anos
Vida Útil 25 Anos

A TIR é um parâmetro amplamente utilizado na avalição de projetos de longo


prazo já que considera a desvalorização da moeda com relação ao tempo. Para esse projeto
344
foi utilizado o tempo de 25 anos de vida útil. Uma TIR de 16,49% é muito vantajosa,
considerando que para geração de biogás de resíduos orgânicos temos 11,96 % (SPG,
2015) o que é uma margem comum para projetos de Parcerias Público Privadas (PPP).
O CAPEX (despesas com bens de aquisição) e o OPEX (despesas com serviços
de operação) são fatores que demonstram a escala do projeto, com um CAPEX estimado
de R$ 25,4 milhões, como o sistema é uma planta operacional o aporte seria distribuído
no decorrer do cronograma de implantação. O tempo estimando para implantação são de
24 meses. Distribuídos entre engenharia básica, fabricação, instalação. Então pelo período
de 2 anos antes do início da operação os valores investidos não estariam gerando receita.
Mesmo assim o Payback descontado, aquele que está sujeito a variação progressiva da
desvalorização monetária, está estimado em 9 anos, distribuídos em 2 de implantação e 5
de operação.
Além o projeto proposto contemplar ganhos ambientais, com a eliminação da
disposição de Lodos de ETE brutos no meio ambiente. O estudo também indica redução
de mais de 75% da quilometragem pelos caminhões de destinação, gerando uma redução
de mais de 20% da geração de gases do efeito estufa destes. O Sistema é capaz de gerar
cerca de 1 MWh que segundo a EPE (2017) equivale ao consumo médio de 500 famílias.

4. CONCLUSÕES

O sistema recuperação térmica apresentado demonstrou-se viável e vantajoso


economicamente para a condição definida e com um Payback estimado em 6 anos para
valor investido de 25,4 milhões de reais para a quantidade aferida e qualidade estimada
dos rejeitos.
Para implantação final de uma unidade recuperação energética há variáveis, que
devem ser revisados, que estão relacionadas a quantidade de qualidade de relativas dos
resíduos distância entre a unidade de recuperação e os aterros que são utilizados. Então
esse estudo se justifica, servindo com etapa inicial e como base para tomadas de decisão.
Para os cálculos não foram considerados os impostos e encargos, frisamos que no
Brasil há uma alta carga tributária que impacta na viabilidade de projetos como este. Com
isso esperamos políticas de incentivos fiscais que favoreçam o desenvolvimento e
implantação de tecnologias verdes, pois como o proposto neste projeto, temos o
aproveitamento de um recurso que anteriormente seria destinado a aterros tornando um
passivo ambiental de alto impacto para gerar valor econômico.

REFERÊNCIAS

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de ferramentas qualitativas e espectroscópicas, Tese de Doutorado, Centro de Energia Nuclear
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PEREIRA, W.A.; ALMEIDA, L. S.; Método manual para cálculo da Taxa Interna de Retorno
(TIR), 2011, disponível em: https://docplayer.com.br/4808401-Metodo-manual-para-calculo-da-

345
taxa-interna-de-retorno-warley-augusto-pereira-1-lindomar-da-silva-almeida-2.html Acesso em:
27 de Fev. 2020.

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SABESP (2015) Tratamento de Esgotos. Disponível


em:http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=49 Acessado em 15 de Abril de
2020.

SANTOS, A. D. Estudos das possibilidades de reciclagem dos resíduos de tratamento de


esgoto da Região Metropolitana de São Paulo, Dissertação (Mestrado) Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003.

SANTOS, F. N. B. Análise comparativa dos custos operacionais de 44 estações de tratamento


de esgoto na região sudeste do Brasil. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2018.

SOUSA, L.L. BATISTA, R.C. AMORIM JR. W.F. MARIBONDO, J.F, Conceptual Project of
a Machine to Defiber Coconut Separating the Fiber of the Substratum, Conference: 21st
Brazilian Congress of Mechanical Engineering, Natal, 2011.

SOUZA, W.G. Pós-secagem natural de lodo de estações de tratamento de água e esgoto,


dissertação, Escola politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012.

SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DA


GRANDE FLORIANÓPOLIS (SPG), Cidades Inteligentes e Sustentáveis: Propostas e Estudos
para a Região Metropolitana da Grande Florianópolis. Disponível em:
http://www.spg.sc.gov.br/visualizar-biblioteca/acoes/regiao-metropolitana/793-gestao-residuos-
solidos-efluentes-suderf/file. Acessado em 20 de abr. de 2020

VON SPERLING, M. Urban wastewater treatment in Brazil / Marcos von Sperling. P. cm.
Inter-American Development Bank – IDB Technical Note; 970). 2016.

346
METODOLOGIA PARA PREVISÃO DE DADOS CLIMÁTICOS E
ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO HÍBRIDA

Matheus Fernandes Caldas Souza1, Arthur Leite Guilherme1, Kleber Carneiro de


Oliveira1
1
Universidade Federal da Paraíba
E-mail: kleber.oliveira@cear.ufpb.br

RESUMO: Com o avanço da tecnologia tornou-se possível fazer previsões


climatológicas utilizando modelos matemáticos. Esse trabalho tem como objetivo prever
o comportamento climático em uma localidade do estado da Paraíba e estimar a produção
híbrida de um aerogerador e um painel fotovoltaico. Os dados climáticos das médias
mensais foram obtidos através do projeto Prediction of Worldwide Energy Resources
(POWER) e posteriormente tratados. Utilizou-se Regressão Linear Simples para prever o
comportamento climático, mensalmente, para dados de velocidade de vento e irradiação.
A estimativa de produção solar foi realizada integrando a irradiação ao longo do ano,
acoplada com a eficiência do painel fotovoltaico, enquanto que para a produção eólica foi
utilizada a integração entre a curva de potência do aerogerador e a distribuição de
probabilidade de Weibull, que representa fielmente a distribuição de velocidade de vento.
Os valores obtidos apresentaram uma média de 5,76 kWh/m2/dia e desvio padrão de
1,0147 na previsão de irradiação para o ano de 2009, essa média é idêntica ao valor real,
ratificando que essa variável tende a apresentar um comportamento linear, confirmando
que o modelo de regressão linear é significativo para previsão dessa variável. No entanto,
para a velocidade de vento obteve-se uma média de 1,60 m/s nos valores previstos e de
1,24 m/s nos valores medidos, no ano de 2009. Esta diferença significativa indicou que
essa variável não segue nenhuma tendência linear significativa para essa localidade.
Palavras-chave: Energia Solar, Energia eólica, Python.

347
METHODOLOGY TO PREDICT CLIMATE DATA AND ESTIMATE HYBRID
PRODUCTION

Abstract: With the development of technologies, it became possible to make


climatological predictions using mathematical models. This work aims to predict the
climatic behavior in a locality in the state of Paraíba and to estimate the hybrid production
of a wind turbine and a photovoltaic panel. The climatic data of the monthly averages
were obtained through the project Prediction of Worldwide Energy Resources (POWER)
and treated afterwards. Simple Linear Regression was used to predict the climatic
behavior, monthly, for wind speed and irradiation data. The estimate of solar production
was performed by integrating irradiation throughout the year, coupled with the efficiency
of the photovoltaic panel, while for wind production it was used the integration between
the wind turbine power curve and the Weibull probability distribution, which represents
accurately the wind speed distribution. The values obtained showed a mean of 5.76
kWh/m2/day and a standard deviation of 1.0147 on the irradiation’s prediction for 2009.
This mean is identical to the real measured value, confirming that this variable tends to
have a linear behavior, and consequently that the linear regression model is significative
for this prediction. However, results obtained for wind speeds showed a mean of 1.60 m/s
on predicted values and 1.24 m/s for measured data in 2009. This significant difference
indicated that this variable does not follow any significant linear trend for that location.
Keywords: Solar Energy, Wind Energy, Python.

1. INTRODUÇÃO

A previsão do tempo vem sendo um dos maiores desafios científicos e


tecnológicos nos dias atuais. De acordo com Yousif et al. (2019), mudanças climáticas
afetam o desenvolvimento da economia, devido a um impacto significativo na agricultura,
ecossistemas, infraestruturas e saúde humana de modo geral. Nesse contexto, o uso de
energias renováveis se tornou essencial para mitigar o aquecimento global e a poluição
atmosférica.
Algumas das principais formas de energias renováveis são a energia solar e a
energia eólica, e apesar da utilização dessas energias em sistemas de energias renováveis
serem considerados confiáveis, de maneira geral, há limitações em seu uso pela
imprevisibilidade da natureza. Em seu trabalho, Shamns et al (2016) identificaram
velocidade do vento, irradiação e temperatura ambiente como parâmetros determinantes
na performance de sistemas híbridos que consistem em módulos fotovoltaicos e turbinas
eólicas.
Segundo Silva (2015) a energia solar na matriz energética mundial aumentou em
395% entre 2003 e 2013. A produção total de energia teve um crescimento de 17% no
mesmo período, enquanto que as fontes renováveis tiveram um crescimento de 56%.
No Brasil, existe um alto potencial de energia eólica e solar, principalmente nas
regiões nordeste e centro oeste para solar, e nordeste e sul para eólica. Rosa et al (2016)
afirmam que a média diária de irradiação ao longo de um ano que incide em qualquer
parte do território brasileiro irá variar de 4,1 a 6,5 kWh/m2. Uma comparação interessante
pode ser feita com países que são lideranças na geração de energia solar, por exemplo, a

348
Alemanha que possui entre 2,5 e 3,5 kWh/m2 de média diária e a Espanha, que apresenta
entre 3,28 a 5,3 kWh/m2 de média diária.
Já para energia eólica, de acordo com a ABEEólica (ZAPAROLLI, 2019), tem-se
um potencial estimado para o Brasil de cerca de 500 GW, energia suficiente para suprir
três vezes a demanda atual de energia no país. Esse número leva em consideração apenas
a geração onshore (em terra) realizada por aerogeradores de 2 MW a 3 MW de potência,
com turbinas instaladas em torres de 150 metros de altura.
O aumento e a democratização de banco de dados vêm promovendo um grande
avanço nas análises de previsão de dados. Petre (2009) afirma que o processo de
mineração de dados usa uma variedade de ferramentas de análise para descobrir padrões
e relacionamentos nos dados que podem ser usados para fazer previsões válidas. Shamns
et al (2016) identificam a análise temporal e regressão linear como um modelo simples e
rápido para prever dados. Uma consideração fundamental para a realização dessa análise
é considerar que os padrões de dados no passado serão repetidos no futuro. Tendo em
vista que dados de vento e temperatura podem ser obtidos de maneira confiável em bases
de dados públicas, a aplicação de um modelo adequado resultaria em previsões confiáveis
para um sistema híbrido.
Esse trabalho tem o objetivo de estudar e modelar os dois parâmetros relacionados
aos sistemas, são estes a velocidade de vento e a irradiação sobre uma superfície
horizontal e suas respectivas análises temporais no município de Patos, a fim de prever
os dados climáticos no futuro e a geração prevista por tal sistema.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia seguida por este trabalho está dividida em três partes referentes a,
respectivamente: aquisição e organização dos dados climáticos, previsão da irradiação e
velocidade média do vento para os 12 meses do ano seguinte aos analisados e, por fim,
estimativa de produção híbrida solar-eólica com um painel fotovoltaico e um aerogerador
de pequeno porte conhecidos. Todos os dados obtidos foram analisados utilizando a
linguagem de programação Python 3.7.
A localidade analisada fica nas redondezas da cidade de Patos-PB, com
coordenadas -7.00559º de latitude e -37.20699º de longitude. A aquisição dos dados foi
realizada através do banco de dados criado pelo projeto Prediction Of Worldwide Energy
Resources (POWER) (STACKHOUSE et al., 2004). As variáveis obtidas foram médias
interanuais da Irradiação, da Velocidade do Vento a 10 metros de altura e da Temperatura
de Bulbo Seco, de 1990 a 2009. Nenhum tratamento dos dados foi realizado, assumindo-
os, assim, como próximos da realidade e sem pontos fora da curva. A Fig. 1 apresenta a
série temporal da Temperatura interanual média.

349
Figura 1 - Temperatura interanual média para -7.00559º de latitude e -37.20699º de longitude,
Patos-PB. Fonte: Autores, 2020.
Técnicas de regressão linear aplicadas sobre a série temporal de uma variável
climática são comumente utilizadas para estimar a disponibilidade de recursos renováveis
considerando variações climáticas (DALMAZ, 2007). A técnica utilizada neste trabalho
foi a dos Mínimos Quadrados para regressão simples, a qual busca o melhor ajuste de
uma reta sobre a série temporal de modo avaliar a tendência da variável, isto é, como
provavelmente ela estará daqui um ou mais anos. Esse ajuste acontece por meio da
minimização da soma dos quadrados das diferenças entre os dados observados e
estimados pela reta, Eq. (1).

𝑦 = 𝛽0 + 𝛽1 𝑥 (1)

Onde 𝛽0 é condição inicial e 𝛽1 o coeficiente linear da variável x. O parâmetro 𝛽1


representa, para nossa análise, a forma como nossa variável climática (y) varia com o
passar dos anos (x), ou seja, quanto o passar de um ano irá acrescentar ou diminuir a
velocidade do vento, por exemplo. Ele pode ser obtido pela seguinte equação:

∑𝑛𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ )(𝑦𝑖 − 𝑦̅) (2)


𝛽1 =
∑𝑛𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ )²

Onde 𝑥̅ e 𝑦̅ são as médias dos valores de x e y obtidos. Para nossa análise, eles
representam a média dos anos e da variável em questão, respectivamente.
O modelo foi alimentado com os dados obtidos de 1990 a 2008, para cada uma
das variáveis climáticas avaliadas, e obteve-se o parâmetro 𝛽1 para cada mês do ano. Com
esses parâmetros calcularam-se os valores mês a mês previstos para o ano de 2009, que
foram comparados com os dados reais obtidos para o ano de 2009, de modo a avaliar a
confiabilidade do modelo.
São obtidos valores de p (p-value) que dizem o quanto a previsão do nosso modelo
é ou não significativa. De acordo com Lee (2019), valores de p igual a 0 (p=0) indicam a
hipótese nula, valores maiores que 0 e menores que 0.05 (p < 0.05) indicam um forte
tendência dos valores encontrados serem confiáveis e valores de p maiores que 0.05
devem ser desprezados pois indicam uma baixa confiança no modelo matemático. A
biblioteca utilizada para realização desses cálculos foi do módulo de estatística stats da
biblioteca Scipy, desenvolvida por Jones et al (2001). Posteriormente, realizou-se um
350
método simples para estimar a produção híbrida solar-eólica usando a eficiência de um
painel fotovoltaico, a curva de potência de um aerogerador de pequeno porte e dados das
variáveis climáticas previstas para o ano de 2009. Os parágrafos a seguir descrevem a
metodologia utilizada para estimar as produções solar-eólica.
Para estimar a produção solar, os dados de Irradiação previstos foram integrados
para o ano todo, resultando em uma densidade de energia anual sobre uma superfície
horizontal. Para essa análise, foi utilizado um painel fotovoltaico genérico de 13% de
eficiência média e de 1,5 m² de área útil.
Para estimar a produção eólica, foi realizado um método um pouco mais
rebuscado. Primeiro, os dados de Velocidade de Vento foram utilizados para achar a
função de densidade de probabilidade de Weibull. Essa distribuição de probabilidade é
altamente recomendada para energia eólica, por possuir uma distribuição centrada em
torno do valor médio e permite descrever um comportamento assimétrico em torno desse
valor; além disso, ela possui apenas dois parâmetros de interpretação física imediata e,
uma vez conhecido seus parâmetros, eles podem ser facilmente extrapolados para alturas
distintas das medidas (SILVA, 2003; MACÊDO, 2018). Aplicada ao estudo do vento esta
função indica a probabilidade de haver a velocidade V, Eq. (3). Os parâmetros k e c são
os fatores de forma e escala, respectivamente. Estes fatores representam as características
da velocidade do vento quanto a sua constância e magnitude e foram obtidas utilizando o
método iterativo Maximum Likelihood, sumarizado nas Eq. (4) e Eq. (5) (ROCHA et al.,
2012), e implementado na função exponweib.fit() do módulo de estatística stats da
biblioteca Scipy.
𝑘 𝑉 𝑘−1 𝑘
𝑓 (𝑉; 𝑘, 𝑐 ) = 𝑐 ( 𝑐 ) 𝑒 −(𝑉⁄𝑐) (3)

−1
∑𝑛𝑖=1 𝑉𝑖𝑘 ln(𝑉𝑖 ) ∑𝑛𝑖=1 ln(𝑉𝑖 )
𝑘=[ − ] (4)
∑𝑛𝑖=1 𝑉𝑖𝑘 𝑛

𝑛 1/𝑘 (5)
1
𝑐 = ( ∑ 𝑣𝑖𝑘 )
𝑛
𝑖=1

Onde 𝑉𝑖 é o valor de velocidade observado e n o número de velocidades medidas,


12, nesse caso. Tendo em posse essa função, Eq. (3), e a curva de potência do aerogerador
P(V), no nosso caso o aerogerador Espada da Fortis Wind Energy (Fig. 2), é possível fazer
um acoplamento e determinar a potência média extraída através da Eq. (6), método já
encontrado na literatura (DALMAZ, 2007).
𝑉𝑐
𝑃̅ = ∫ 𝑃(𝑉 )𝑓(𝑉 )𝑑𝑉 (6)
𝑉𝑝
Onde Vp e Vc são as velocidades de partida e de corte do aerogerador,
respectivamente.

351
O acoplamento foi feito dividindo os limites de velocidade do aerogerador em
1000 intervalos, onde a velocidade média de cada intervalo representa uma probabilidade
média de acordo com a Eq. (3) e uma potência média de acordo com a curva de potência.
A integração por todas as velocidades indicam, portanto, a potência média para este
aerogerador com estas condições de vento, porém essa potência média não é significativa
para um período diferente de um ano. Essa potência multiplicada pela quantidade de horas
no ano, por sua vez, retorna a estimativa de energia extraída pelo aerogerador ao longo
do ano em Watt-hora.
O aerogerador foi considerado com o rotor a uma altura de 10m, altura de obtenção
dos dados do vento, e a intensidade turbulenta foi considerada como essa que gerou a
curva de potência do aerogerador.

(a) (b)
Figura 2 - (a) sua curva de potência e (b) Aerogerador de pequeno porte Espada 0,8 kW da
Fortis Wind Energy (WINEUR, 2007).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tab. 1 mostra os coeficientes 1 obtidos pela regressão linear das duas variáveis
analisadas para cada mês, durante o período de 1990 a 2008. E a Tab. 2 mostra os valores
obtidos p-value para Irradiação e vento utilizando o módulo de estatística stats da
biblioteca Scipy.

352
Tabela 1 – Coeficientes obtidos pela regressão linear das duas variáveis analisados por
mês
𝛽1

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

I 0,05 -0,01 -0,21 0,03 -0,24 -0,39 -0,10 -0,33 0,05 0,21 0,59 -0,33

V -0,08 -0,19 -0,41 -0,24 -0,22 -0,18 -0,16 -0,05 0,29 0,22 0,10 -0,24

Tabela 2 – Valores de p-value indicando um modelo confiável de previsão


p-value
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

I 0.84 0.95 0.38 0.89 0.31 0.09 0.66 0.16 0.83 0.38 0.007 0.16

V 0.72 0.42 0.08 0.31 0.36 0.45 0.51 0.82 0.21 0.35 0.67 0.31

As Tabelas 3 e 4 mostram os valores dos dados para 2008 e 2009 e os valores


previstos para o ano de 2009 para vento e temperatura, e seus respectivos erros. Podemos
notar que apesar dos valores de p-value não satisfazerem o modelo, não há muita
diferença nos valores obtidos de Irradiação, mostrando que essa variável tende a ter
padrões anuais mais constantes que o vento.

Tabela 3 – Valores medidos e previstos para vento em m/s nos anos de 2008 e 2009.
V (m/s) JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Med
.

2008 4,69 3,86 2,76 3,33 3,99 5,00 5,90 5,88 6,76 7,28 6,41 5,24 4,73

2009 4,60 3,66 2,35 3,09 3,77 4,81 5,74 5,82 7,06 7,51 6,52 5,00 4,99
prev.

2009 4,70 3,72 3,45 2,55 3,22 4,38 4,76 5,47 6,12 5,86 6,44 5,56 4,68
med.

erro -2,12 -1,56 -31,98 21,01 16,98 9,92 20,6 6,46 15,3 28,09 1,17 -10,16
[%]

353
Tabela 4 – Valores medidos e previstos para Irradiação (kWh/m2/dia) nos anos de 2008
e 2009.
I (kWh/m2/dia) JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OU NOV DEZ Média
T

2008 6,08 6,44 5,92 5,59 4,86 4,70 4,61 5,32 6,40 6,60 7,04 6,39 5,82

2009 previsto 6,13 6,42 5,71 5,62 4,61 4,30 4,50 4,99 6,45 6,81 7,63 6,05 5,76

2009 medido 6,38 5,76 6,30 5,46 4,52 4,56 4,87 5,32 6,45 6,71 6,64 6,16 5,76

erro [%] -3,91 11,53 -9,44 2,98 2,08 -5,61 -7,54 -6,26 0,07 1,54 14,97 -1,71

Os parâmetros obtidos a partir dos dados previstos foram k = 3,6862 e c = 5,5495.


Esses valores retornam a função de distribuição de probabilidade de Weibull da
velocidade do vento previsto para o ano de 2009, Fig. 3.

Figura 3 - Distribuição de Weibull para Velocidade de Vento prevista para 2009.

Essa distribuição acoplada à curva de potência do aerogerador, Fig. 2, por meio


da metodologia descrita retorna uma potência média de 88,8982 W, enquanto que o valor
de potência do aerogerador para a velocidade média anual, 4,9942 m/s, é de 71,1514 W
(metodologia usual no dimensionamento de sistemas eólicos). A energia gerada estimada
pela fonte eólica ao longo de todo o ano de 2009 é, portanto, de aproximadamente 811,19
kWh.
A Irradiação sobre uma superfície horizontal ao longo de todo ano de 2009, de
acordo com a Irradiação prevista pelo nosso modelo, é de 2102,56 kWh/m². Considerando
o painel fotovoltaico em questão, a energia gerada estimada pela fonte solar é de 410
kWh/m². Totalizando uma energia gerada estimada em 1221,19 kWh.

354
4. CONCLUSÃO

O objetivo do trabalho foi utilizar um método matemático para prever o


comportamento climático e poder estimar a energia produzida por um sistema híbrido
solar-eólico. A energia gerada estimada pelo sistema adotado nesse trabalho, seguindo o
modelo matemático aqui descrito, foi de 1221,19 kWh para a localidade de Patos-PB. No
entanto, o modelo de regressão linear não se mostrou significativo para o nosso método
de previsão climatológica para a variável velocidade do vento, já que para esses dados os
valores de p-value foram maiores que os valores permitidos pela literatura (p > 0.05),
resultando em uma tendência não linear. Contudo, para os valores de irradiação obteve-
se bons resultados, como pode-se observar no erro entre os valores medidos e previstos
na Tab. 4.
Quanto à estimativa de geração eólica, o método utilizado considera que não há
variações abruptas na direção do vento incidente no aerogerador, portanto ele superestima
a produção de energia. Já com relação à estimativa de geração solar fotovoltaica, deve-se
considerar que o valor encontrado está provavelmente subestimado comparado a uma
condição real, já que segundo a literatura, o posicionamento ótimo de um módulo
fotovoltaico para a cidade de Patos seria apontado para o norte com inclinação igual ao
módulo da latitude local (7.00559º).
Trabalhos posteriores serão realizados a fim de investigar outros modelos
matemáticos mais complexos na previsão de dados climatológicos. Objetiva-se também
fazer estudos de correlação entre as variáveis climáticas no estado da Paraíba, além de
fazer uma análise conjunta com dados de temperatura de módulos fotovoltaicos e
características de aerogeradores. Além disso, tem-se como objetivo futuro o
desenvolvimento de um modelo que corrija a energia eólica produzida baseada na
variabilidade dos dados de direção de vento.

REFERÊNCIAS

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fotovoltaica no Brasil. Revista Brasileira de Energia Solar, v. 7, n. 2, p. 140-147, 2016.

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MACÊDO, Marcus Vinícius Silveira. Aplicação de algoritmos de otimização heurística à


energia eólica: determinação dos parâmetros da curva de Weibull para duas regiões brasileiras.
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PETRE, Elia Georgiana. A decision tree for weather prediction. PP, v. 77, p. 82, 2009.

355
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SHAMS, Mohamed Bin et al. Time series analysis of Bahrain's first hybrid renewable energy
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ZAPAROLLI, Domingos. Ventos promissores a caminho. Revista Pesquisa Fapesp. 2019.


Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/01/10/ventos-promissores-a-caminho/.
Acesso em: 20 de dez. 2019.

356
GERAÇÃO,
DISTRIBUIÇÃO E
CONTROLE

357
A IMPORTÂNCIA DO DESIGN DA MALHA DE ATERRAMENTO NO
AMBIENTE DE ALTA FREQUÊNCIA

Jaime Ary Molchansky1


1
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp - FEEC-UNICAMP
E-mail: jaime@apexinstalacoes.com.br

RESUMO: O propósito deste trabalho é explicar o benefício da utilização de fitas chatas


de cobre soldadas em forma de grade para amortecer e dissipar os surtos de alta frequência
e intensidade através da malha de aterramento. Este design de malha foi empregado no
projeto do sistema de aterramento que é parte fundamental da infraestrutura de energia
do Laboratório de Extra Alta Tensão da Universidade Federal do Pará. Neste ambiente,
testes são gerados para ensaio em materiais para avaliações sobre o efeito das descargas
elétricas impulsivas de alta magnitude. Os conceitos envolvidos neste projeto podem ser
empregados em qualquer instalação que se deseja alta eficiência no amortecimento de
descargas atmosféricas, e este é o caso das proteções necessárias às altas estruturas dos
aerogeradores, das ilhas de produção eólicas, bem como dos painéis fotovoltaicos. A
eficiência deste sistema de proteção para dissipação de surtos à terra está baseada em três
premissas principais: a modulação apropriada (vinculada ao comprimento de onda) dos
condutores que geram a malha de aterramento; a impedância destes, representado pela
Indutância; as reflexões do surto na própria grade. A metodologia utilizada para
comprovar esta solução foi através da simulação da aplicação de uma Onda de Tensão
com Amplitude de 1,00 (MV) na Frequência 10,00 (MHz) em um condutor de cobre com
secção reta, e conforme parâmetros do modelo de Linhas de Transmissão. O resultado
mostrou uma severa atenuação na amplitude do surto no condutor que modula a grade,
com o surgimento de altíssimas correntes neste trecho, como um curto circuito controlado
em cuja extensão a diferença de potencial foi minimizada.
Palavras-chave: Aterramento, Amortecimento, Dissipação, Raios, Descargas.

358
THE IMPORTANCE OF GROUNDING GRIDE DESIGN IN HIGH
FREQUENCY ENVIRONMENT.

Abstract: The proposal of this work is to explain the technical benefit of using of cooper
flat tapes in the shape of gride to damp and dissipate the high frequency and intensity
surges trough the earth network. This topology was used in the design of the grounding
system, which is the fundamental part of the energy infrastructure of Extra High Voltage
Laboratory in Pará Federal University. In this place, tests are applied in materials to
evaluate the effect of the high magnitude and impulsive electric discharges. The concepts
involved in this project may be used in any installation where high efficiency in the
damping lightning strikes is desired, and this is the matter about the necessary protection
of high structures wind turbines, the islands of wind energy production, as well as the
energy photovoltaics collectors. The efficiency of this earth protection and dissipation
system are based on three main premises: the appropriate modulation (linked to this
wavelength) for the conductors that generate the grounding loop; The impedance of these,
represented by their inductance; the surge reflections in the gride. The methodology used
to prove this solution was through a simulation of a voltage wave of 1,00 (MV). frequency
100,00 (MHz) in a copper tape, according to the transmission line model. The result
obtained showed a severe attenuation in the amplitude of the surge in the conductor that
modulates the grid, with the appearance of very high currents in this section, as a
controlled short circuit in which the potential difference has been minimized.
Keywords: Grounding, Dumping, Dissipation, Strikes, Discharges.

1. INTRODUÇÃO

Os sistemas de proteção contra surtos e as malhas de aterramento são temas que


há muito instigam a curiosidade e a imaginação de muitos profissionais que atuam nesta
vertente tecnológica da eletricidade e ironicamente são as partes que geralmente recebem
menos atenção na fase de planejamento de muitas instalações elétricas que requerem alta
confiabilidade.
O autor deste trabalho teve a oportunidade de iniciar o seu aprimoramento
acadêmico através da elaboração do projeto da malha de aterramento do Laboratório de
Extra Alta Tensão da Universidade Federal do Pará – LEAT, sob a orientação do
Professor Doutor José Pissolato Filho.
A concepção do projeto de uma malha de aterramento com design dedicado ao
amortecimento e dissipação de surtos de alta frequência é parte fundamental na
infraestrutura que integra o sistema de energia de um laboratório de alta tensão, pois neste
ambiente de testes são geradas normalmente descargas elétricas impulsivas de altas
magnitude e intensidade.
Desta forma os conceitos que foram utilizados no projeto da malha de aterramento
do LEAT podem e devem ser empregados para qualquer ambiente ou instalação que se
deseja alta eficiência no amortecimento de surtos, a fim de não comprometer a segurança
e a saúde das pessoas que integram as suas equipes, bem como assegurar que as
interferências eletromagnéticas que possam surgir sejam eliminadas ou que se situem em

359
níveis aceitáveis em termos de compatibilidade eletromagnética que não afetem a
continuidade das atividades.
Pode-se acrescentar sem exageros que uma malha de aterramento se constitui na
“espinha dorsal” de qualquer instalação sujeita a surtos de alta frequência e que requerem
bom nível de qualidade de energia, qualquer que seja a finalidade desta instalação.
As “ilhas de produção de energia eólica são constituídas por agrupamentos de altas
torres para seus aerogeradores”, assim como as extensas superfícies metálicas formadas
pelas estruturas de suportes e painéis fotovoltaicos constituem-se como alvos
preferenciais para receberem descargas elétricas impulsivas de alta magnitude ou
indiretamente se tornam alvos frequentes das induções eletromagnéticas secundárias que
podem afetar os seus controles eletrônicos sensíveis ou mesmo sofrer danos pela má
condução das descargas diretas através das suas estruturas metálicas, comprometendo a
integridade de partes importantes para a manutenção do suprimento de energia.
Nos próximos itens são explicados alguns fundamentos que embasaram nosso
trabalho e que se revelam inovadores em relação às técnicas usualmente empregadas na
proteção destas estruturas geradoras de energia. Mostramos também o resultado gráfico
da simulação elaborada para o estudo do trafego de uma onda de tensão no condutor
proposto para a malha de aterramento, bem como os comentários e conclusões
pertinentes.

2. FUNDAMENTOS E METODOLOGIA

O design da malha de aterramento que destacamos foi desenvolvido com base na


Teoria elaborada por Hyltén-Cavallius, Giao (1969), que de forma bem resumida explica
o seguinte:
“Uma grade pode ser considerada como um plano condutor repleto de buracos
ou orifícios em si “
Outro importante pesquisador na área de compatibilidade eletromagnética que
trouxe relevantes ensinamentos para o projeto foi Henry Ott, que faz as seguintes
recomendações (OTT, 2009):
” de longe a melhor maneira de se obter uma conexão de baixa impedância
para um sinal, na ampla faixa de frequências, é ligando-o a um solido plano metálico de
terra ‘.
“A impedância do plano será de três a quatro ordens de grandeza menor do
que a de qualquer condutor individual. Isto produz um verdadeiro sistema multiponto de
aterramento. “
“A segunda melhor maneira de se obter uma conexão de baixa impedância é
usar uma grade metálica como forma da malha de aterramento. ”
“À medida que os buracos na grade são menores que o comprimento de onda
(Lcondutor<λ/20) na alta frequência de interesse, a grade tanto mais se aproximará do
comportamento de um plano metálico e será frequentemente mais fácil de ser
implementada (OTT, 2009). ”
A simulação que nos serviu de teste para a avaliação da solução adotada neste
tipo de malha é baseada nas equações gerais do modelo eletromagnético com parâmetros
distribuídos das Linhas de Transmissão com condutores de baixas perdas (CHENG, 1992)

360
e foi elaborado um programa de cálculo especifico para este design de malha de
aterramento.
Para melhor entender o comportamento dos surtos ao trafegar nos condutores é
importante considerar a abordagem e diferença de modelos elétricos.
O modelo de linhas de transmissão difere do modelo ordinário de circuitos
elétricos num aspecto essencial.
Embora as dimensões físicas das redes elétricas sejam menores que o
comprimento de onda da fonte em operação, estas redes são usualmente uma fração
considerável de um comprimento de onda e pode na sua extensão ser de muitos
comprimentos de onda.
Os elementos de circuitos elétricos ordinárias podem ser considerados agrupados
ou discretos e desta forma descritos como parâmetros concentrados. Assume-se neste
caso, que a corrente fluindo nos circuitos com elementos concentrados não varia
espacialmente sobre os elementos e que as ondas estacionarias não existem nesta situação
(KRAUS, CARVER, 1986).
Por outro lado, uma linha de transmissão é um circuito elétrico de parâmetros
distribuídos e deve ser descrita pelo modelo de circuitos distribuídos através do seu
comprimento, denominado modelo de “Linhas de Transmissão”.
Na aplicação do projeto da malha de aterramento em forma de grade, o seu
modelamento eletromagnético pode ser simplificado focando-se na situação específica de
transitórios em linhas de transmissão. Neste caso prático as fontes não são harmônicas no
tempo e tampouco existe regime estável.
Os repentinos impulsos de tensão que são produzidos pelos surtos atmosféricos
levaram a escolha de parâmetros convergir para o modelo de linhas de transmissão com
baixas perdas.

Figura 1 – Representa o modelo de Linha de Transmissão (L.T.) com


parâmetros distribuídos, condutor com baixas perdas (CHENG, 1992) para simulação
de uma Onda trafegando em um trecho de uma malha de aterramento para solicitações
de alta frequência.

361
Neste caso consideramos um comprimento diferencial Δz para a linha de
transmissão que é descrita pelos quatro seguintes parâmetros (CHENG, 1992):

 R, resistência por unidade de comprimento (em ambos os condutores), (Ω/m).


 L, indutância por unidade de comprimento (em ambos os condutores), (H/m).
 G, condutância (do meio) por unidade de comprimento, (S/m).
 C, capacitância por unidade de comprimento, (F/m).
Ressalte-se que R e L são elementos em serie e G e C são elementos em paralelo.
Para as linhas com baixas perdas (CHENG, 1992), R << ωL, G << ωC e estas condições
são em geral satisfeitas nas altas frequências.
ω – Frequência Angular do surto.
Desta forma a impedância característica, Z0 = RO + jX0 1 + 1/2jω.(R/L-G/C];
Resulta:
RO √(L/C) , também chamada Impedância de Surto Zs (DIAS, 2007).
X0 [1/2jω.(R/L-G/C] 0 .

A voltagem e a corrente se propagam ao longo da linha com velocidade up = ω/β


; Up 1/ √(LC).
Dentro destas premissas para o modelo de Linha de Transmissão com baixas
perdas, considerou-se a seguinte expressão para análise do comportamento de um surto
em alta frequência em um trecho da malha projetada para o LEAT:

Z = √(L/C) + ωL.
Z – Impedância do condutor empregado na malha de aterramento (Ω/m).
L – Indutância do condutor empregado na malha de aterramento (H/m).

362
Figura 2 – Apresenta de formas esquemáticas: o circuito com um gerador de impulso
com amplitude Vo e a fita de cobre com a sua diferença de potencial nas extremidades.
Na sequência, com o esperado amortecimento.

Figura 3 – Apresenta o resultado gráfico da Onda de corrente que trafega na extensão


limitada da fita de cobre que forma a malha de aterramento proposta para a malha de
aterramento cuja grade foi modulada corretamente.
363
3. RESULTADOS E CONCLUSÃO

Por meio da simulação da aplicação e do tráfego de uma onda de tensão com


amplitude de 1,0 (MV), frequência de 10,0 (MHz) aplicada em um condutor na forma de
uma fita chata de cobre constatou-se a forte atenuação desta, e ilustra-se com a figura
apresentada, como resultado a onda deste surto amortecida, totalmente em conformidade
com o previsto pela teoria desenvolvida por Cavallius.
No resultado apresentado de forma gráfica fica demonstrada a importância de se
considerar a Reatância Indutiva nos condutores que estão sujeitos ao surto, deste o seu
ponto de impacto até o seu amortecimento.
Esta abordagem para tratamento dos surtos de alta frequência, quer seja nas pás
dos aerogeradores, como nas suas altas estruturas ou ainda nas extensas superfícies das
usinas fotovoltaicas, se mostra muito mais adequada às suas proteções, do a ultrapassada
consideração da medida da Resistencia de Aterramento como se observa na maior parte
dos projetos de proteção contra as descargas e os surtos internos.
Importante também é o esclarecimento sobre o emprego da expressão
“Equipotencial” tão utilizada no ambiente da alta frequência, no qual esta expressão perde
totalmente a sua validade. Somente tem sentido usar esta expressão “Equipotencial” nos
fenômenos relacionados à baixa frequência.
Os projetos destinados às proteções em alta frequência que se pretendem
confiáveis e seguros exigem novas abordagens, mais consistentes conforme a linha de
trabalho aqui mostrada.

REFERÊNCIAS

Hyltén-Cavallius, Nills R. and Giao, Trinh N. (1969) Floor Net Used as Ground Return in High
– Voltage Test Areas, IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol. pas – 88, nº 7.

David K. Cheng, Field and Wave Electromagnetics, 2º Edition, 1992.

John D. Kraus, Keith R. Carver, Eletromagnetismo – 2ª edição, 1986.

Henry W. Ott, Electromagnetic Compatibility Engineering, - John Wiley & Sons, Inc., Hoboken,
New Jersey, 2009.

Aterramento elétrico impulsivo, em baixa e alta frequência com apresentação de casos, Marcos
Telló (org.), Guilherme A. D. Dias... [et al.]. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

364
AVALIAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DA INSERÇÃO DA GERAÇÃO SOLAR
FOTOVOLTAICA DISTRIBUÍDA DENTRO DAS REDES DE DISTRIBUIÇÃO

Gabriel Delian Silva Valadares1, Milthon Serna Silva1


1
Universidade Federal de Sergipe
E-mail: gabrieldelian@gmail.com

RESUMO: Um dos principais indicadores de qualidade de vida e crescimento econômico


é o consumo elétrico, uma vez que ele é de suma importância para o desenvolvimento das
sociedades atuais. Logo, a redução de perdas técnicas é necessária para resolver
adversidades de qualidade do fornecimento. Nesse contexto, é utilizada a energia solar
fotovoltaica como Geração Distribuída para estudar o impacto da sua inserção nos
sistemas de distribuição de energia existentes. Esse artigo estuda um sistema extraído da
NT 0057/2014 – SRD/ANEEL e o simula no software OpenDSS. Os resultados obtidos
através das simulações foram divididos e comparados em cenários distintos.
Posteriormente, foram observadas modificações ocorridas nos níveis de tensão nos pontos
de carga selecionados para análise e comparadas com os limites estabelecidos pela
ANEEL no Módulo 8 do PRODIST. Outrossim, uma análise concisa sobre as perdas nas
linhas e transformadores entre os segmentos escolhidos e do sistema foi realizada. A partir
dessas análises, após a inserção da energia fotovoltaica houve apenas redução nas perdas
técnicas, totalizando 2,35% de perda total ativa percentual e 5,882% reativa. Porém, a
partir das mudanças nas potências dos geradores, a redução é menor em determinados
segmentos e em outros há aumento nas perdas, resultando em 2,572% de perda total ativa
percentual e 6,5088% reativa. Em suma, o implante desse software para estudos de
impactos na rede é uma alternativa para a redução de custos, a partir da redução das perdas
técnicas e melhorias nos perfis de tensão.
Palavras-chave: OpenDSS, geração distribuída, avaliação de parâmetros elétricos.

365
EVALUATION OF THE CONSEQUENCES OF THE INSERTION OF SOLAR
PHOTOVOLTAIC GENERATION WITHIN DISTRIBUTION NETWORKS

ABSTRACT: One of the main indicators of quality of life and economic growth is
electric consumption, since it is so important for the development of today's societies.
Therefore, the reduction of technical losses is necessary to solve adversities of quality of
supply. In this context, photovoltaic solar energy is used as Distributed Generation to
study the impact of its insertion in existing energy distribution systems. This paper studies
a system extracted from NT 0057/2014 - SRD/ANEEL and simulates it in OpenDSS
software. The results obtained through the simulations were divided into different
scenarios and compared to each other. Subsequently, changes occurred in the voltage
levels at the load points selected were analyzed and compared with the limits established
by ANEEL in Module 8 of the PRODIST. Moreover, a concise analysis of the losses in
the lines and transformers between the chosen segments and of the system was performed.
Based on these analyses, after the insertion of photovoltaic energy there was only
reduction in the technical losses, totaling 2.35% of total active percentual loss and 5.882%
reactive. However, based on changes in generator power, the reduction is lower in certain
segments and in others there is an increase in losses, resulting in 2.572% of total active
percentual loss and 6.5088% reactive. In short, the implantation of this software for
studies of impacts on the network is an alternative for cost reduction, from the reduction
of technical losses and improvements in voltage profiles.
Keywords: OpenDSS, distributed generation, evaluation of electrical parameters.

1. INTRODUÇÃO

De acordo com (ZIBER, 2009), o advento da desregulamentação e da privatização


na década de 90, trouxe novas condições de operação e de competição ao mercado de
energia elétrica do Brasil. Este modelo de reestruturação teria como seu principal atributo
a ascensão da competição em segmentos potencialmente competitivos, como é o caso da
geração de energia, e mesmo de monopólios naturais, como o caso da distribuição de
eletricidade. Por conseguinte, essas alterações causaram mudanças no setor elétrico
brasileiro. Com o aumento da demanda de energia elétrica somado com a necessidade de
atender os níveis de qualidade estabelecidos pela ANEEL, surge a necessidade de
modificar a configuração atual de grandes centros de geração de energia, normalmente
distantes dos centros de consumo. E, uma maneira de modificar essa estrutura é a
modernização dos sistemas de distribuição, tornando-os adequados de conter geração de
energia elétrica, em específico, derivada de fontes renováveis. O aumento da
confiabilidade na entrega da energia aos consumidores finais, redução das perdas
técnicas, a diversificação da matriz energética, dentre outros são alguns exemplos dessa
solução.
De acordo com Dias et al. (2015), a geração distribuída é definida como o uso
integrado ou isolado de recursos modulares de pequeno porte por concessionárias,
consumidores e terceiros em aplicações que beneficiam o sistema elétrico e ou
consumidores específicos.
A partir da Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012 tornou-se possível a
geração de energia pelos consumidores interligados à rede da concessionária de energia.
366
Tal norma cria o sistema de compensação de energia elétrica, que permite ao
consumidor instalar formas de geração de energia descentralizadas como por exemplo: a
instalação de painéis fotovoltaicos em sua residência ou empresa e trocar energia com a
distribuidora local. Além disso, estabelece condições gerais aos sistemas de distribuição
de energia elétrica para o acesso de mini e microgeração.
Como ressaltado no Relatório de Perdas de Energia Elétrica na Distribuição em
(ANEEL, 2019), as perdas técnicas são inerentes à atividade de distribuição de energia
elétrica, pois parte da energia é dissipada no processo de transporte, transformação de
tensão e medição em decorrência das leis da física. Essas perdas, portanto, estão
associadas às características de carregamento e configuração das redes das
concessionárias de distribuição.
Logo, tem que existir o planejamento das distribuidoras para acompanhar o
desempenho do sistema, avaliando a necessidade de intervenções para a melhora do
mesmo. A melhoria do perfil de tensão e redução de perdas de potência real é fruto de
uma geração distribuída devidamente planejada. A avaliação dos efeitos causados pela
inserção da mesma na rede elétrica é de suma importância, uma vez que existe a
possibilidade de haver uma inversão no fluxo de potência e flutuações na tensão e
frequência, o que traz malefícios à rede conectada.
Este trabalho apresenta estudos referentes a um sistema de distribuição de energia
elétrica extraído da NT 0057/2014 – SRD/ANEEL. Ademais, são realizadas simulações
na rede de distribuição após a inserção da geração fotovoltaica e alterações na potência
de determinados geradores e, com isso, é analisado parâmetros elétricos como: níveis de
tensão, perdas nas linhas, transformadores e no sistema. Por fim, para as simulações
supracitadas utilizou-se o software OpenDSS.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O circuito elétrico extraído da NT 0057/2014 – SRD/ANEEL é um alimentador


de distribuição em 13,8 kV com dois circuitos de baixa tensão associados e dois
reguladores de tensão. Para fins do cálculo de perdas na distribuição, propõe-se que a
carga seja representada pelo modelo ZIP com 50% de potência constante e 50% de
impedância constante para a parte ativa, e 100% de impedância constante para a parte
reativa como demonstrado em (ANEEL, 2018). Na Figura 1 é ilustrada a topologia do
circuito.

367
BT2 BT3

MT12

MT2

MT1 MT4 MT8


MT9

MT10 MT11
MT3

MT5 MT7

BT1

Figura 1 – Topologia do circuito. Adaptado de (ANEEL, 2018).

São modelados os circuitos de média tensão desde o barramento de saída da


subestação de distribuição até as unidades consumidoras de média e baixa tensão,
compreendendo os seguintes equipamentos existentes na rede: cabos, transformadores de
distribuição e reguladores de tensão como abordado na (ANEEL, 2018). Utilizando-se do
software OpenDSS, que se trata de um programa executável e livre de simulação
exclusivo para sistemas de distribuição de energia elétrica.
O Energymeter, cuja função de acordo com (ANEEL, 2018) é simular o
comportamento de um medidor de energia real ligado ao terminal de um elemento do
circuito, foi utilizado na conexão dos segmentos: MT1; MT2; MT5; MT7; MT9; MT10;
MT12; BT1; BT2 e BT3 como ressaltado na Figura 1 em vermelho.
A conformidade dos níveis de tensão deve ser avaliada nos pontos de conexão à
rede de distribuição, com relação aos valores de referência, a tensão de referência (TR)
deve ser a tensão nominal ou contratada. A comparação entre a TR e a medição possui
três categorias: adequada; crítica e precária (ANEEL, 2010). A partir da Tabela 1, é
possível verificar os valores de tensão, para sistemas com tensão nominal entre 1kV e
69kV, em regime permanente.

368
Tabela 1 – Faixas aplicadas à Tensão Nominal superior a 1 kV e inferior a 69
kV.
Faixa de Variação da Tensão
Tensão de Atendimento (TA) de Leitura (TL) em Relação à
Tensão de Referência (TR)

Adequada 0,93TR  TL  1,05TR

Precária 0,90TR  TL<0,93TR

Crítica TL<0,90TR ou TL>1,05TR

Fonte: ANEEL (2010).

Pela Tabela 2, é possível verificar os valores de tensão, para sistemas com tensão
nominal igual ou inferior a 1kV, em regime permanente.

Tabela 2 – Faixas aplicadas à Tensão igual ou inferior a 1 kV.


Faixa de Variação da Tensão
Tensão de Atendimento (TA) de Leitura (TL) em Relação à
Tensão Nominal (TN)
Adequada 0,92TN  TL  1,05TN
0,87TN  TL<0,92TN
Precária ou
1,05TN<TL1,06TN
Crítica TL<0,87TN ou TL>1,06TN
Fonte: ANEEL (2010).

Vale ressaltar que a partir da referência (ANEEL, 2018) foram retirados os dados
referentes a:
 Parâmetros e os comprimentos de cada tipo de cabo que interliga as barras
com seus respectivos elementos e segmentos de rede;
 Parâmetros dos transformadores presentes no sistema, os tipos de conexão,
perdas, impedâncias e potências nominais;
 Parâmetros dos dados do controle do Regulador de Tensão;
 Parâmetros das cargas presentes no sistema.
E, com isso, através de uma modelagem matemática, os parâmetros dos circuitos
são definidos no OpenDSS.
Com o circuito modelado no software, fez-se necessário o implante de uma
geração solar fotovoltaica. São imprescindíveis as características dos geradores solares

369
para modelagem matemática no OpenDSS. As informações são apresentadas na Tabela
3.
Tabela 3 – Potência Nominal dos Geradores.
Gerador Barras Potência Nominal (kW) Fator de Potência (FP)
PVM2a 2,1 400 0,92
PVM5c 5,3 400 0,92
PVM6 6,3 400 0,92
PVM7c 2,1 40 0,92
PVM8 8 300 0,92
PVM9 9 600 0,92
PVM11a 11,1 20 0,92
PVM15a 15,1 200 0,92
PVM13 13 600 0,92
PVB12 12 5 0,92
PVB17 17,1 10 0,92
PVB18 18,2 10 0,92
Fonte: Autoria própria (2020).

Assim, os valores da potência nominal foram determinados para cada gerador e


considerou-se um fator de potência 0,92, pois, segundo a Legislação Brasileira o fator de
potência mínimo permitido é de 0,92.
É de suma importância obter os aspectos de radiação solar, uma vez que o perfil
de incidência dos raios solares é de grande influência na quantidade de potência gerada.
Logo, os dados de radiação foram obtidos através do NREL – National Renewable Energy
Laboratory referentes a cidade Golden, no estado de Colorado, nos Estados Unidos, no
dia 14 de julho de 2019. O site fornece dados em tempo real de radiação solar como pode
ser visto em (NREL, 2019).
Para obter resultados coerentes quanto a simulação do sistema na presença de
geração distribuída, foi realizado um tratamento nos dados de irradiância. Uma vez que,
existem valores negativos e picos muito discrepantes do restante. Dessa forma, esses
valores supracitados são removidos para obter um perfil de geração mais uniforme.
Com o objetivo de observar os efeitos de uma geração distribuída mal
dimensionada, fez-se necessário a alteração de alguns valores de potências dos geradores.
Dessa maneira, certos valores da potência nominal da Tabela 3 foram alteradas como
ilustradas na Tabela 4.

Tabela 4 – Novos Valores de Potência Nominal dos Geradores.


Potência Nominal Original Potência Nominal
Gerador
(kW) Modificada (kW)
PVM5c 400 20
PVM6 400 10
PVM11a 20 200
PVM13 600 20
PVB17a 10 80
Fonte: Autoria própria (2020).

370
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o objetivo de simular mais de uma situação possível utilizando os parâmetros


descritos na referência (ANEEL, 2018), cenários distintos foram modelados. O Cenário
1 diz respeito à rede de distribuição sem geração solar, o Cenário 2, à rede de distribuição
com geração solar e, o Cenário 3, à rede de distribuição com geração solar com
modificações nas potências de determinados geradores. Destarte, é feito um comparativo
entre os três Cenários supracitados.
Primeiramente, são comparados os valores das tensões das cargas M9, M2a e B12
do Cenário 1, 2 e 3. E com estes dados, é possibilitado a classificação da Conformidade
da Tensão Elétrica, a partir dos valores disponibilizados através das Tabelas 1 e 2.

Tabela 5 – Valores de tensão das cargas do Cenário 1, 2 e 3.


pu pu pu
Segmento
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
V1 0.9668 0.9722 0.9753
M9 V2 0.982 0.9848 0.9816
V3 0.9471 0.9556 0.9507
V1 0.9947 0.9958 0.999
M2a V2 - - -
V3 - - -
V1 1.003 1.01 1.008
B12 V2 1.005 1.012 1.011
V3 1.014 1.02 1.018
Fonte: Autoria própria (2020).

Na Tabela 5, é possível notar que os valores das cargas M9 e M2a comparadas


com a Tabela 1 e o valor da carga B12 comparada com a Tabela 2, possuem seus valores
de tensão dentro da classificação “Adequada”, seja o Cenário 1, 2 ou 3, ou seja os valores
das cargas selecionadas para análise estão dentro dos limites definidos pela ANEEL no
Módulo 8 do PRODIST. Além disso, nota-se que a instalação foi responsável por trazer
benefícios quanto a variação de tensão, pois, os níveis de tensões se elevaram. Vale
ressaltar que é de extrema importância realizar monitoramentos constantes, para que não
ocorra a ultrapassagem dos limites da tensão. Contudo, apesar dos níveis de tensão para
o Cenário 3 não terem saído da classificação “Adequada”, a redução de perdas técnicas
observadas nesse Cenário não foi satisfatória como será destacado a seguir.
Na Tabela 6 e na Figura 2, podem-se notar particularidades relevantes sobre as
perdas nos transformadores e nas linhas observadas nos segmentos do sistema em
questão.

371
Tabela 6 – Valores de Perdas nas Linhas e Transformadores entre os Cenários 1,
2 e 3.
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Perdas Perdas Perdas
Perdas nos Perdas nos Perdas nos
Segmento nas nas nas
Transformadores Transformadores Transformado
Linhas Linhas Linhas
(kWh) (kWh) res (kWh)
(kWh) (kWh) (kWh)
MT1 514 24 177 19 285 24
MT2 0 2 0 1 0 8
MT5 22 0 7 0 21 0
MT7 0 0 0 0 0 0
MT9 9 11 3 11 3 11
MT10 15 0 5 0 10 0
MT12 36 0 13 0 35 0
BT1 0 0 0 0 0 0
BT2 1 0 0 0 0 0
BT3 2 0 1 0 50 0
Fonte: Autoria própria (2020).
2,11651

1,90325
1,77809
0,931424

0,834111
0,776339
0,0669061
0,0580073

0,0480934
0,0456645
0,0417931

0,054291

(Cenário 1) (Cenário 2) (Cenário 3)


Potência Ativa Total (MW) 2,11651 1,77809 1,90325
Potência Reativa Total (Mvar) 0,931424 0,776339 0,834111
Perda Total Ativa (MW) 0,0580073 0,0417931 0,0480934
Perda Total Reativa (Mvar) 0,0669061 0,0456645 0,054291
Figura 2 – Relatório de Perdas.

372
É possível observar pela Tabela 6, comparando o Cenário 1 com o Cenário 2, que
todos os valores de perdas nas linhas foram reduzidos e o segmento que demonstrou
melhores resultados foi o MT1 que teve uma redução de 337 kWh. Ademais, os
percentuais de perdas nos transformadores tiveram uma redução considerável, sendo que
o maior valor da redução foi também do segmento MT1 de 5 kWh. Notando-se um
aspecto positivo com a inserção da geração distribuída na rede em questão. Uma vez que,
tais perdas técnicas representam custo para o setor elétrico e diminuí-las é de grande
interesse tanto para os consumidores e geradoras.
Já comparando o Cenário 2 com o Cenário 3, pela Tabela 6, houve um predomínio
no aumento das perdas nas linhas, e o segmento que demonstrou piores resultados foi
BT3 que teve um aumento de 49 kWh. Além disso, as perdas nos transformadores
também demonstraram resultados não satisfatórios, sendo que o maior valor acrescido foi
do segmento MT2 de 7 kWh. Tais resultados demonstram que um sistema deve ser bem
dimensionado para que seja posto em funcionamento.
Por fim, a partir da Figura 2, pode-se inferir que para o primeiro Cenário sua perda
total ativa percentual comparada com a total é de 2,741% e reativa de 7,1832%. Após a
inserção da energia fotovoltaica houve apenas redução nas perdas técnicas, totalizando
2,35% de perda total ativa percentual e 5,882% reativa. Porém, a partir das mudanças nas
potências dos geradores, a redução é menor em determinados segmentos e em outros há
aumento nas perdas, resultando em 2,572% de perda total ativa percentual e 6,5088%
reativa.

4. CONCLUSÃO

Este artigo apresenta estudos referentes a um sistema de distribuição de energia


elétrica extraído da NT 0057/2014 – SRD/ANEEL. Ademais, são realizadas simulações
na rede de distribuição após a inserção da geração fotovoltaica e alterações na potência
de determinados geradores e, com isso, são comparados os níveis de tensão com os limites
definidos pelo PRODIST (Módulo 8) e analisados as perdas nas linhas, transformadores
e sistema. Por fim, para as simulações supracitadas utilizou-se o software OpenDSS.
Dito isso, foi concluído que a inserção de geração solar fotovoltaica resultou
apenas na redução das perdas nas linhas e transformadores dos segmentos observados, o
segmento que demonstrou melhores resultados foi o MT1 que teve uma redução das
perdas de 337 kWh nas linhas e de 5 kWh nos transformadores. Pelo relatório de perdas,
foi notado redução na perda total ativa percentual, que foi de 2,741% para 2,35% e reativa,
que reduziu de 7,1832% para 5,882%. Tais resultados foram positivos, uma vez que a
tensão na barra da conexão foi elevada e houve um decaimento nas perdas técnicas,
resultando em uma maior economia e aumento na qualidade de energia. Além disso, os
níveis de tensão se mantiveram nos limites estabelecidos pelo Módulo 8 do PRODIST.
Já com as alterações das potências nominais dos geradores (Cenário 3), apesar dos
níveis continuarem dentro dos limites estabelecidos pelo Módulo 8, foi observado um
aumento nas perdas das linhas e transformadores se comparado com o Cenário 2. O
segmento que demonstrou piores resultados foi o BT3 que teve um aumento de 49 kWh
nas linhas e o segmento MT2 de 7 kWh nos transformadores. Pelo relatório de perdas, foi
notado uma elevação na perda total ativa percentual, que foi de 2,35% para 2,572% e
reativa, que aumentou de 5,882% para 6,5088%. Os resultados demostram que o Cenário
373
3 possui menores perdas do que o Cenário 1, apesar de estar mal dimensionado. Já para
o Cenário 2, bem dimensionado, é o que possui menores perdas. Logo, a modificação da
dimensão de um sistema ou a capacidade do mesmo com a introdução de geração
distribuída fotovoltaica sem antes avaliar os impactos que eles podem trazer para a rede
elétrica não é recomendável.

REFERÊNCIAS

Agência Nacional de Energia Elétrica. ANEEL - Nota Técnica n° 0057/2014-SRD/ANEEL:


Aprimoramento da metodologia de cálculo de perdas na distribuição regulamentada no Módulo
7 – Cálculo de Perdas na Distribuição do PRODIST. 2014.

Agência Nacional de Energia Elétrica. ANEEL - Módulo 8 - Qualidade Da Energia:


Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST.
2018.

Agência Nacional de Energia Elétrica. ANEEL – Relatório de Perdas de Energia Elétrica na


Distribuição. 2019.

Dias, M. V. X.; Bortoni, E. D. C.; Haddad, J. Geração distribuída no Brasil: oportunidades e


barreiras. Revista Brasileira de Energia, vol. 11, n. 2, 2005.

Kagan, N.; Oliveira, C. C. B. D.; Robba, E. J. Introdução aos sistemas de distribuição de


energia elétrica. 2º Edição. São Paulo: Edgard Blücher, 2010. 325.

NREL - National Renewable Energy Laboratory. Measurement and Instrumentation Data


Center (MIDC): NREL Solar Radiation Research Laboratory. 2019. Disponível em:
https://midcdmz.nrel.gov/apps/sitehome.pl?site=BMS. Acessado em: 05/12/2019.

Zilber, M. A. Setor elétrico do brasil impactos da desregulamentação e privatização no


atendimento do consumidor. Revista de Economia Mackenzie, v. 1, n. 1, 2009.

374
AVALIAÇÃO DO ESFORÇO HIDRÁULICO EM COMPORTAS
BASCULANTE POR MEIO DE CFD

Allan Kiyoshi Hamamoto1, Paulo Vatavuk1, Ticao Siguemoto2


1
UNICAMP, 2TS Hydro engenharia
E-mail: allan.hamamoto@yahoo.com

RESUMO: A hidroeletricidade é uma das principais fontes de energias renováveis


utilizadas no Brasil. Para operação segura e eficaz de uma usina hidroelétrica, são
necessários variados tipos de comportas. A comporta basculante é utilizada geralmente
para controlar o nível do reservatório e descarregar material flutuante. Um dos grandes
desafios se tratando de comportas, é a determinação dos esforços hidráulicos, dada a
complexidade das equações que regem o escoamento de fluídos, recorre-se a métodos
numéricos para analisar estas equações e obter soluções aproximadas através de cálculos
computacionais. O uso da fluidodinâmica computacional ou CFD (do inglês
“Computational Fluid Dynamics”) para este tipo de estudo está cada vez mais recorrente.
O presente trabalho teve como principal finalidade a obtenção dos esforços hidráulicos
em uma comporta do tipo basculante submetida a uma vazão de 24m³/s em regime
permanente. O estudo numérico foi realizado por meio do software ANSYS ® CFX
acadêmico, versão 19R1. A simulação foi realizada com o escoamento em superfície livre
utilizando uma malha tetraédrica. Para validação dos resultados, foram realizados ensaios
experimentais, através do método de modelo hidráulico reduzido, em escala de
semelhança de Froude de 1:20. Os esforços foram obtidos através de transdutores de
pressão instalados no modelo da comporta. Os resultados obtidos foram satisfatórios. No
CFD os esforços na comporta foram de da ordem de 1,2MN, enquanto os resultados
experimentais apresentaram valores da ordem de 1,5MN, uma diferença de
aproximadamente 13,3%, sendo que os resultados experimentais são mais conservativos.
Palavras-Chave: Simulação, Hidrodinâmica, Superfície-livre, Comporta.

375
EVALUATION OF HYDRAULIC EFFORT FOR FLAP GATES USING CFD

ABSTRACT: Hydroelectricity is one of the main renewable energy sources used in


Brazil. For safe and effective operation of a hydroelectric power plant, many types of
hydraulic gates are required. Flap gates are used to control reservoir level and floating
material discharge. One of the great challenges in hydraulic gates is the determination of
hydraulic forces, given the complexity of governing equations of fluid flow. Therefore,
numerical methods are used to analyze these equations and obtain approximate solutions
with computational calculations. The use of CFD “Computational Fluid Dynamics” for
this type of study is increasingly recurrent. The present work is about a study whose main
purpose was to obtain the hydraulic forces in a flap gate, in which the flow is 24m³/s at
steady state. The numerical study was developed using the academic ANSYS® CFX
software, version 19R1. The simulation was performed with free surface flow and a
tetrahedral mesh. To validate the results, experimental tests were performed using a
reduced model test method, based on Froude scaling law, with a scale factor of 1:20. To
obtain the forces at the hydraulic gate it was instrumented with pressure transducers. The
results were satisfactory, the forces in CFD presented values of the order of 1.2MN, while
the experimental results presented values of the order of 1.5MN, a difference of
approximately 13,3%, with, the experimental results being more conservative.
Keywords: Simulation, Hydrodynamic, Free-surface, Hydraulic Gates.

1. INTRODUÇÃO
A determinação dos esforços hidráulicos em comportas representa um grande
desafio, sendo em muitas vezes necessário ensaios experimentais em laboratório para sua
obtenção, o único método confiável para determinar os valores de esforço hidrodinâmico
é o teste em modelos hidráulicos reduzidos (ERBISTI, 2002). No entanto o uso da
fluidodinâmica computacional (CFD), para este tipo de aplicação, está cada vez mais
comum, devido ao desenvolvimento dos softwares e da capacidade computacional.
Comportas basculantes podem ser utilizadas para controle do nível de
reservatórios e para descarregar material flutuantes (ERBISTI, 2002), podem ainda ser
utilizadas em rios de maré, para impedir a entrada de água salina, e em vertedouros como
comporta de emergência (LEWIN, 2001). O acionamento geralmente é feito por cilindros
hidráulicos, mas podem também ser operadas automaticamente pelo acionamento de
flutuadores (ERBISTI, 2002). O escoamento neste tipo de comporta se dá pela superfície
livre, normalmente este tipo de comporta trabalha com pequenos desníveis, quando
utilizadas como principal elemento de um vertedouro, sua altura geralmente não passa de
5 metros (ERBISTI, 2002).
A distribuição de pressão neste tipo de comporta é função do nível de montante e
de jusante, no entanto há um receio de que o escoamento sobre a comporta influencie na
diferença de pressão entre montante e jusante, uma vez que nesses tipos de comporta há
uma formação de região de baixas pressões sob a superfície de transbordamento
(ERBISTI, 2002). Essa variação de pressão gera um esforço na comporta, o qual será o
objetivo de estudo deste trabalho. Nesse estudo de caso, o fluxo possui sentido invertido
ao tradicional de uma comporta basculante, mais um motivo para o estudo dos esforços
hidrodinâmicos.
376
2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada para determinação dos esforços hidráulicos, foi por


meio da técnica de CFD e foi feito uma comparação com o método experimental de
ensaios em modelos físicos reduzidos.

2.1 Estudo em CFD

O estudo em CFD teve como principal finalidade o estudo dos esforços hidráulicos
em que a comporta está na condição de regime permanente. Para realização deste estudo
foi utilizado o ANSYS CFX 19R1. O modelo numérico foi criado na escala 1:1, ou seja,
com as mesmas dimensões do protótipo, a malha do modelo está representada na Figura
1.
O modelo comtempla duas comportas consecutivas de um canal, sendo o primeiro
alvo do estudo e a comporta subsequente apenas para impor a condição de jusante. A
malha utilizada neste trabalho foi do tipo não estruturada e com 287899 elementos de
geometria tetraédrica. Os dados de entrada utilizados na simulação estão indicados nas
Tabelas 1 e 2.

Figura 1- CFD: Malha Tetraédrica

Tabela 1- Dados de entrada da simulação


Altura da comporta 15,70 m
Largura da comporta 8,00 m
Vazão 24m³/s
Abertura da Comporta 29,6º

377
Figura 2- CFD: Condições de Entrada

Tabela 2- Dados utilizado para o cálculo


Gravidade 9,81m/s²
Temperatura do Ar 25ºC
Densidade do ar 1,2 Kg/m³
Domínio de fluído Água/Ar
Pressão de referência 1atm
Modelo de Turbulência K-Epsilon
Número máximo de Iterações 1500
Coeficiente Tensão superficial água/ar 0,072N/m
Critério de Convergência Residual RMS 1E-4

2.2 Validação dos resultados com o modelo físico reduzido

Para validação dos resultados da simulação em CFD foram realizados ensaios em


modelo físico reduzido, conforme mostrado nas figuras 3 e 4. “A semelhança dinâmica
completa requer que os números de Froude e de Reynolds sejam ambos reproduzidos
entre modelo e protótipo” (FOX et al, 2014, P.386). No entanto a semelhança completa
levaria a uma escala geométrica entre modelo e protótipo inviável. Mesmo assim,
“Estudos com modelos fornecem informações úteis mesmo quando a semelhança
dinâmica completa não é obtida” (FOX et al, 2014, P.387).
Os ensaios em modelo físicos reduzidos de comportas são geralmente realizados
seguindo a escala de semelhança de Froude, devido a maior influência das forças
gravitacionais. Neste trabalho foi utilizada a escala de 1:20 conforme tabela 3. Os dados
do protótipo e do modelo estão apresentados na Tabela 4.
378
𝑉𝑚
𝐹𝑟𝑚 = = 𝐹𝑟𝑝
(𝑔𝐿𝑚)1/2 (1)
𝑉𝑝
=
(𝑔𝐿𝑝)1/2

𝑉𝑚 𝐿𝑚 1/2 (2)
=( )
𝑉𝑝 𝐿𝑝

Onde:
Frm= Número de Froude no modelo;
Lm= Altura característica da geometria do campo de escoamento no modelo em metros;
Vm= Velocidade em m/s no modelo;
g= Gravidade;
Frp= Número de Froude no protótipo;
Lp= Altura característica da geometria do campo de escoamento no protótipo em metros;
Vp= Velocidade em m/s no protótipo.

Tabela 3- Relação das grandezas pela escala de semelhança de Froude


Grandeza Semelhança de Froude Relação
Medida linear 𝐿𝑚 1:20
λ geo= 𝐿𝑝

Área λ geo2 1:400


Velocidade λ geo1/2 1:4,47
Vazão λ geo1/2 ∙ λ geo² = λ5/2 1:1788,85
Pressão λ geo 1:20

Tabela 4- Dados de entrada do Modelo Reduzido


Protótipo Modelo [escala 1:20]
Altura da Comporta 15,7m 785mm
Largura da Comporta 8,0m 400mm
Vazão 24m³/s 13,42L/s
Nível de Montante da Comporta 220,2 m Desnível de 60mm
Nível de Jusante da Comporta 219,0 m Desnível de 60mm

Abertura da Comporta 29,6º 29,6º

379
Figura 3-Modelo reduzido-Comporta basculante na escala 1:20 aberta completamente
(29,6º)

Figura 4-Modelo reduzido-Vista lateral da comporta

Com a comporta travada na posição de operação e com as condições de contorno


impostas, foi realizada a medição de pressão com transdutores na chapa de face de
montante e jusante da comporta, conforme as posições de tomada de pressão (TP) da
figura 5 abaixo:

380
Figura 5-TP-Localização dos pontos de tomadas de pressão

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultado do CFD

Figura 6-Resultados do diagrama de pressão e superfície livre

Na figura 6 é apresentado os resultados da simulação, onde pode-se observar uma


diferença de pressão entre a montante e a jusante da comporta, esta diferença de pressão
é devido a diferença de nível entre montante e jusante, o que irá resultar em uma força
constante. A distribuição de pressão se aproxima de uma distribuição hidrostática. Para
obtenção da força hidráulica atuante na comporta, foi extraído o valor de força que atua
na superfície de montante e na superfície de jusante da comporta. Os valores obtidos
foram respectivamente 2,3 MN e 1,1MN. A diferença resulta em um esforço de montante
para jusante de 1,2MN.
381
3.2 Resultado do Modelo Hidráulico Reduzido Físico

Foram realizados três ensaios, abaixo está representado o ensaio de número 1


como exemplo da aquisição de pressão nas tomadas de pressão (TP), os outros dois
ensaios foram muito próximos:

Figura 7-Medições de pressões na face de jusante da comporta

Figura 8-Medições de pressões na face de montante da comporta


382
Multiplicando a pressão de cada tomada de pressão pela respectiva área de
influência, e fazendo a diferença entre as forças que atuam nas superfícies de montante e
de jusante, obteve-se o esforço hidráulico, que foi uma força resultante da ordem de
1,51MN de montante para jusante, abaixo estão as tabelas com o cálculo.

Tabela 5-Cálculo da força atuante na face de montante da comporta ensaio 1


MODELO REDUZIDO [1:20] PROTÓTIPO [1:1]

Tomada
Pressão Pressão Altura de Largura Altura de Área
de Largura Pressão Força
Média Média influência influência
Pressão
na TP na TP
[mm.c.a] [Kpa] [m] [m] [Kpa] [m] [m] [m²] [MN]
415 4,07 0,400 0,160 81,340 8,00 3,200 25,6 2,08
TP2 406 3,98 0,400 0,220 79,576 8,00 4,400 35,2 2,80
TP3 405 3,97 0,400 0,220 79,380 8,00 4,400 35,2 2,79
403 3,700 29,6
TP4
3,95 0,400 0,185 78,988 8,00 2,34
TOTAL 126 10,02

Tabela 6-Cálculo da força atuante na face de jusante da comporta


MODELO REDUZIDO [1:20] PROTÓTIPO [1:1]
Tomada Largura
Pressão Pressão Altura de Largura Altura de Área
de do Pressão Força
Média Média influência influência
Pressão Modelo
na TP na TP
[mm.c.a] [kpa] [m] [m] [Kpa] [m] [m] [m²] [MN]
TP1 355 3,48 0,400 0,160 69,580 8,00 3,200 25,6 1,78
TP2 325 3,19 0,400 0,220 63,700 8,00 4,400 35,2 2,24
TP3 352,5 3,45 0,400 0,220 69,090 8,00 4,400 35,2 2,43
TP4 354 3,47 0,400 0,185 69,384 8,00 3,700 29,6 2,05
TOTAL 126 8,51

4. CONCLUSÃO
Analisando os resultados, é notório o desnível na linha piezométrica de montante
e jusante, gerado pela perda de carga localizada e pela aceleração do fluxo na passagem
pela comporta. Este desnível é da ordem de 1,2m e está atuando em uma área de
aproximadamente 126m². O resultado do ensaio em modelo reduzido foi de 1,5MN,
próximo do resultado obtido pela simulação numérica que foi de 1,2MN, apresentando
uma diferença de 13,3%. Portanto houve a confirmação dos resultados e a validação do
uso de CFD para este tipo de aplicação.

383
REFERÊNCIAS
ERBISTI, P.C. Comportas Hidráulicas. 2.ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2002. 351 p.

FOX, R.W.; MCDONALD, A.T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica dos Fluidos.8.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. 884p.

LEWIN, J. Hydraulic gates and valves. 2. ed. Londres: Thomas Telford, 2001. 300p.

384
MÉTODO HCS-OCC PARA RASTREAMENTO DO PONTO DE MÁXIMA
POTÊNCIA EM SISTEMAS DE ENERGIA EÓLICA

Ewerton Brasil da Silva Queiroz1, José Ramon Nunes Ferreira1, Francisco Carlos Leite
Brasil1, Alberto Soto Lock1
1
Universidade Federal da Paraiba
E-mail: ewerton.queiroz@ee.ufcg.edu.br

RESUMO: O crescente avanço tecnológico e o desenvolvimento das técnicas de


processamento da energia elétrica, têm possibilitado uma redução dos custos de muitos
equipamentos e sistemas, tornando-os acessíveis a uma quantidade maior de
consumidores. Com incentivos nos investimentos das energias renováveis, a matriz
energética do mundo e do Brasil está cada vez mais diversificada. A energia eólica é a
energia proveniente da força dos ventos, sendo usada para geração de eletricidade. Os
testes dos diversos tipos de tecnologia (equipamentos, geradores, conversores, e
dispositivos eletrônicos) tem como principal objetivo extrair a máxima potência. Assim,
o objetivo do trabalho é a formulação e aplicação da técnica de controle HCS-OCC. O
ponto de máxima potência, MPP, para um gerador síncrono de ímã permanente, PMSG,
usado em sistema de conversão de energia eólica, WECS, é um dos parâmetros usados na
metodologia de comparação com o uso da técnica proposta, e sem o uso de sensores
mecânicos. A potência do barramento (kW), a velocidade angular do gerador (rad/s), e o
fator de potência, são parâmetros que são sendo mensurados no trabalho. A técnica em
estudo não alcança apenas a potência mecânica sem utilizar sensores de velocidade, mas
alcança também a potência elétrica máxima, mantendo o fator de potência unitário, visto
do gerador durante toda a faixa de velocidade do rotor. O método proposto apresenta
vantagens de simplicidade de controle e a eliminação de sensores de velocidades. A
validação do modelo é dada através de simulações via softwares.
Palavras-chave: Energias Renováveis, Energia Eólica, Rastreamento do Ponto de
Máxima Potência, Conversores Eletrônicos.

385
HCS-OCC METHOD FOR TRACKING THE MAXIMUM POWER POINT IN
WIND ENERGY SYSTEMS

ABSTRACT: The increasing technological advances and the development of electric


energy processing techniques, have made it possible to reduce the costs of many
equipment and systems, making them accessible to a greater number of consumers. With
incentives to invest in renewable energies, the energy matrix of the world and Brazil is
increasingly diversified. Wind energy is energy derived from the force of the winds, being
used to generate electricity. The main objective of testing the various types of technology
(equipment, generators, converters, and electronic devices) is to extract maximum power.
Thus, the objective of the work is the formulation and application of the HCS-OCC
control technique. The maximum power point, MPP, for a permanent magnet
synchronous generator, PMSG, used in a wind energy conversion system, WECS, is one
of the parameters used in the comparison methodology with the use of the proposed
technique, and without the use of mechanical sensors. The power of the bus (kW), the
angular speed of the generator (rad / s), and the power factor are parameters that are being
measured at work. The technique under study not only reaches mechanical power without
using speed sensors, but also reaches maximum electrical power, maintaining the unitary
power factor, seen from the generator throughout the speed range of the rotor. The
proposed method has advantages of simplicity of control and the elimination of speed
sensors. The model is validated through simulations via software.
Keywords: Renewable Energy, Wind Energy, Maximum Power Point Tracking,
Electronic Converters.

1. INTRODUÇÃO

Quando tratamos de energia renovável, diretamente relacionamos seu uso à


necessidade humana. Nos dias atuais os esforços vêm se concentrando em torno do
desenvolvimento das tecnologias para o aproveitamento de energias renováveis, pois o
custo de “extração” delas é baixo, quando comparados com o custo de “extração” de
energias nucleares ou de petróleo. Sabe-se que o Brasil possui um enorme potencial ainda
a ser explorado (AMBIENTE BRASIL, 2020), já é perceptível que o país iniciou um
processo de transformação de sua matriz energética, tendo como vantagem o fato de que
boa parte dessa matriz energética é renovável. A promessa de um futuro auspicioso para
o setor no Brasil atrai o interesse de empresas estrangeiras, que fazem investimentos
pesados em parques solares e eólicos.
Entre as energias renováveis, a energia solar e eólica são as mais utilizadas por
conta da sua disponibilidade abundante. A Energia eólica está ganhando interesse por
causa do aprimoramento da sua tecnologia, seja pelo aumento da sua capacidade em MW
ou pela significante redução dos seus custos de produção. De acordo com dados da
Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL, através do Banco de Informações de
Geração BIN, Fevereiro de 2020, a classe de combustível eólica possui 15.415.178 kW,
que ocupa a 3ª posição dos empreendimentos em operação, como pode ser observado na
figura 1 (ANEEL, 2020).

386
Figura 1 – Potência Fiscalizada – Empreendimentos em Operação.

Dessa forma, o trabalho propõe a aplicação do método MPPT Hill Climb Search
(HCS) combinado com a técnica de controle One Cycle Control (OCC), HCS-OCC,
aplicado em retificador PFC de sistemas de conversão de energia eólica (WECS); quando
comparada com técnicas como PSF (sinal de potência realimentado) que requer o
conhecimento da curva de máxima potência que é rastreada por controles mecânicos, o
método proposto se torna mais atrativo; sendo também mais atrativo que o método HCS
original, pois durante uma rápida variação do vento, o algoritmo original é lento e pode
detectar errado a direção para encontrar o MPP, principalmente quando o passo da
perturbação é grande (KUMAR & CHATTERJEE, 2016).
Também sendo escolha quando comparado com o método DTC (controle de
torque direto) que é uma excelente técnica, mas geralmente aplicada para motores de
indução de uso geral (BUJA & KAZMIERKOWSKI, 2004). O método proposto HCS-
OCC é melhor escolha para essa aplicação do que o TSR (Relação velocidade de ponta)
que não funciona bem quando a velocidade de vento do lugar varia muito, além da
necessidade de sensor de velocidade angular (KUMAR & CHATTERJEE, 2016). Então,
o algoritmo modificado HCS faz equilíbrio adequado entre rastreamento de velocidade e
eficiência de controle e resolve o problema de direcionalidade errada do HCS durante
mudanças das condições do vento.

387
2. MATERIAIS E MÉTODOS

A técnica HCS-OCC proposta não utiliza sensor de velocidade do vento para


extrair o ponto de máxima potência para um gerador síncrono de ímã permanente, PMSG,
usado em sistema de conversão de energia eólica, WECS. A configuração de WECS sem
caixas multiplicadoras, evita vibrações e ruídos que introduzem oscilações criando
deterioração da qualidade de energia elétrica, além de exigir menos manutenção
reduzindo os custos. A técnica também atinge máxima potência elétrica, mantendo o fator
de potência unitário (UPF) visto do lado da máquina (MSC, Figura 2) durante toda a faixa
de velocidade do rotor; neste trabalho não será abordado o GSC (conversor do lado da
rede). Isto é feito usando-se um corretor de fator de potência, PFC, retificador controlado
por controle de ciclo único. O presente trabalho estuda essa possibilidade por meio de
simulações.

Figura 2 – Configuração típica WECS com PMSG de acionamento direto.

A potência mecânica que a turbina eólica extraí do vento é calculada por (QIAO
et al, 2009)
1
𝑃𝑚 = 𝜌𝐴𝑟 𝑉𝑡3 𝐶𝑝 (𝜆, 𝛽) (1)
2

Onde:
𝑃𝑚 = Potência mecânica;
𝜌 = densidade do ar em kg/m³;
𝐴𝑟 = 𝜋𝑅2 é a área varrida pelas pás do rotor em m2;
𝑅 = é o raio do rotor da turbina eólica em m;
𝑉𝑡 = velocidade do vento em m/s;
𝐶𝑝 = coeficiente de potência que é uma função da razão de velocidade de ponta 𝜆 e o
ângulo de inclinação da lâmina 𝛽.

Neste artigo, a representação matemática de 𝐶𝑝 é dada por (QIAO et al, 2009)

𝐶𝑝 = 0,5(𝜆 − 0,022𝛽 2 − 5,6)𝑒 −0,17𝜆 (2)


Onde 𝜆 é definido por t R/Vt e 𝜔𝑡 é a velocidade rotacional da turbina eólica em
rad/s.

388
Figura 3 – Coeficiente de Potência x Razão entre velocidade tangencial da ponta da pá
e velocidade do vento incidente.

A Figura 3, mostra a curva 𝐶𝑝 − 𝜆 descrita por (2) para a turbina eólica. Nos
termos da figura 2 e na definição de 𝜆, a qualquer velocidade de vento dentro da faixa de
operação, há uma velocidade de rotação do eixo da turbina eólica exclusiva para alcançar
o coeficiente de potência máxima 𝐶𝑃𝑚á𝑥 . Em termos da equação (1), quando 𝐶𝑝 é
controlado no valor máximo, a potência mecânica máxima é extraída da energia eólica.
O Retificador PFC que estará do lado do conversor, converte a tensão CA de saída
variável PMSG para a tensão CC, a fim de eliminar os harmônicos nele presentes devido
a não-linearidade. Cada braço do PFC baseado em chaveamento ativamente controlado,
mostrado na Figura 4, é conectado com a indutância de linha e age como um circuito
boost, a corrente retorna para o PMSG por uma das outras pernas, dependendo da tensão
de fase. Desde que os braços sejam conduzidos por 3 sinais independentes, as correntes
de fase podem ser controladas separadamente, permitindo a extração da potência máxima
do PMSG.

Figura 4 – Retificador PFC trifásico.

389
Para o PMSG com fluxo constante, o valor eficaz da força eletromotriz de fase E
é uma função linear da velocidade rotacional do gerador (XIA et al, 2013).
1
𝐸= Ω𝑝Φ (3)
√2
Onde:
𝑝 = número de pares de pólos;
Φ = fluxo do gerador;
Ω = velocidade rotacional do gerador.

O método MPPT HCS é uma estratégia matemática de otimização para localizar


o ponto máximo local de uma determinada função, amplamente usado nos WECS para
extrair a máxima potência. O algoritmo é baseado em perturbar uma variável de controle
em alguma etapa e observar os resultados das mudanças na função objetivo até que a
inclinação se torne zero (𝑑𝑃⁄𝑑𝑡). Quando comparada a outras técnicas, se destaca por
não exigir qualquer conhecimento prévio de turbinas eólicas, é independente, flexível,
não exigência de memória, ótimo desempenho sob variações de condições do vento
(QIAO et al, 2009).
Já o controle de ciclo único (OCC) é uma técnica de controle não-linear, que
permite o controle da tensão de um conversor com saída CC-CC ciclo a ciclo, de modo
que o sistema se torna praticamente imune a variações na alimentação e na carga (LOCK
et al, 2016). Esse controle (Figura 5) fornece resposta dinâmica rápida, excelente rejeição
de perturbação da fonte de alimentação, desempenho robusto e correção automática de
erros de comutação.

Figura 5 – Sistema de Controle OCC.

Além disso, como o retificador PFC é um retificador quase ideal, a tensão de fase
é dada por
𝑉𝑔 = 𝑅𝑖𝑛 𝑖𝑔 (4)
Onde 𝑉𝑔 = tensão de fase e 𝑖𝑔 = corrente de fase.
𝑉2
Vale o destaque para 𝑅𝑖𝑛 (equação 5) que controla o fator de potência, com 𝑔 ⁄𝑅
𝑖𝑛
definindo a potência ativa do retificador.

𝑅𝑖𝑛 = 𝐾𝑝 (𝑉𝑂∗ − 𝑉𝑂 )+𝐾𝑖 ∫(𝑉𝑂∗ − 𝑉𝑂 )𝑑𝑡 (5)

390
Onde:
𝑉𝑂 = tensão de barramento CC;
𝑉𝑂∗ = tensão de referência do barramento CC;
𝐾𝑝 , 𝐾𝑖 = constantes proporcional e integral (PI).

A equação do movimento para um gerador eólico de turbina eólica, referido ao


eixo do rotor, é dado por,
𝑑𝜔
𝑇𝑚 − 𝑇0 = 𝐽 𝑑𝑡𝑡 + 𝐵𝜔𝑡 (6)
Onde:
𝐽 = momento de inércia das pás e B = coeficiente de atrito viscoso;

Uma vez que a potência P é igual ao torque T multiplicado por 𝜔𝑡 , 𝑃 = 𝑇𝜔𝑡 .


Então,
𝑑𝜔𝑡
𝑃𝑚 − 𝑃0 = 𝜔𝑡 (𝐽 + 𝐵𝜔𝑡 ) (7)
𝑑𝑡
Onde:
𝑃𝑜 = Potência de entrada ativa (Potência Elétrica);

Logo, a equação (7) torna-se

𝐽 𝑑𝜔𝑡2
𝑃𝑚 − 𝑃0 = 2 + 𝐵𝜔𝑡2 (8)
𝑑𝑡

Sendo a potência de entrada ativa representada pela equação (9)

𝐽 𝑑𝜔𝑡2
𝑃0 = 𝑃𝑚 − 2 − 𝐵𝜔𝑡2 (9)
𝑑𝑡

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O método proposto se dá através da formulação na equação do movimento,


combinadas com as equações do OCC (4) e (5). Devido a utilização do controle de ciclo
único, o valor instantâneo coincide com o valor médio, os valores mostrados na simulação
são valores médios.
Quando a referência de tensão é a maior possível, garante-se a máxima potência
elétrica, e o FP unitário. Além do mais, sendo a impedância de entrada do sistema
representada por 𝑍𝑖𝑛 = 𝑅𝑖𝑛 + 𝑠𝐿, e 𝑅𝑖𝑛 muito maior do que 𝜔𝐿, o sistema corresponde a
FP unitário; ou seja, mesmo alterando a frequência, sempre teremos FP unitário.
A figura 6 representa a tensão obtida no gerador do sistema elétrico simulado. Essa tensão
do gerador está relacionada com a potência mecânica, que pode ser vista na figura 7.

391
Figura 6 – Tensão no gerador (V).

Figura 7 – Potência Mecânica e Potência Elétrica (W).

A potência mecânica na simulação é variável. Já a potência elétrica, que também


pode ser vista na figura 7, está relacionada com a tensão do barramento, que é controlada
pelo controle de ciclo único, que é a essência do método proposto; A tensão de barramento
da simulação chega a 1000V. Além disso, a potência mecânica e a potência elétrica são
influenciadas ao inserir bobinas adicionais em cada fase; na simulação entendeu-se que o
valor médio da potência elétrica coincide com o valor médio da potência mecânica.

Figura 8 – Velocidade angular (rad/s).

Quando a derivada da velocidade angular é zero, temos o ponto de máxima


potência elétrica, e a velocidade deveria permanecer constante, validado o método
proposto deste trabalho. Como temos o PFC-OCC, 𝑉0 foi gerenciado manipulando a sua
referência 𝑉0∗ , equação (5), esta técnica permite a seguinte simplificação: no ponto de
parada, a tensão de referência 𝑉0∗ é três vezes a tensão nominal PMSG (tensão de pico),
que é, 𝑉0∗ = 3𝑉𝑛 , sendo 𝑉𝑛 a tensão nominal. Assim, a tensão no barramento CC, figura
11, aumenta até atingir sua referência, sem atualizações periódicas no final de cada etapa.

392
Figura 9 – Derivada da velocidade angular (rad/s²).

A figura 10, mostra o intervalo da variação da velocidade do vento, que se mantem


entre 04 e 10 rad/s, com relevante permanência em 10 rad/s. Estes resultados são
consideráveis do ponto de vista teórico, porém sabe-se que na situação real vão existir
interferências e consequentemente essa velocidade será mais lenta do que o apresentado
na simulação

Figura 10 – Velocidade do vento (rad/s) Vt.

Figura 11 – Tensão de barramento (V).

Figura 12 – Coeficiente de potência.

O coeficiente de potência da simulação no regime permanente está próximo e


coerente com o gráfico da figura 2 que é definido pela literatura. A resistência interna,
figura 13, é importante pois define a potência de saída do retificador. Sabe-se que a
𝑃2
potência do gerador é representada por 𝑂⁄𝑅 .
𝑖𝑛

393
Figura 13 – Resistência interna ( ).

4. CONCLUSÃO

Percebe-se que o progresso da geração da energia eólica é um apoio para ajudar a


atender a demanda de energia elétrica no dia-a-dia. A eletrônica de potência é elemento
essencial para os sistemas de conversão de energia eólica aliada ao desenvolvimento da
aerodinâmica da turbina eólica e as configurações de geradores elétricos para garantir a
qualidade de energia. A escolha por geradores CA se dá ao fato de que os geradores CC
não são populares nos sistemas WECS devido à sua maior despesa e manutenção.
Esse método MPPT HCS com o controle de ciclo único para sistemas de
conversão de energia eólica (WECS) tem caráter inovador pois até então não foi
encontrado na literatura aplicações dessa proposta. Percebe-se que o método proposto
consegue rastrear o ponto de máxima potência, mantendo o fator de potência unitário, e
𝑑𝜔𝑡⁄
isso é confirmado quando 𝑑𝑡 é zero, representado através da figura 9. Ou seja, a
junção do método de MPPT HCS com o controle de ciclo único, OCC valida o principal
objetivo da pesquisa que é o rastreamento do ponto de máxima potência com fator de
potência unitário. Além do mais, tem como vantagens: simplicidade, não precisar das
transformadas de clark e de park, também não precisa de atualização periódica de
parâmetros e possui uma alta resposta dinâmica desde que o passo do método possa ser
pequeno e constante. Se temos potência máxima encontramos fator de potência unitário,
porém a simulação apresenta fator de potência unitário para baixas frequências e isso é
um ponto que pode ser melhorado futuramente no trabalho.

REFERÊNCIAS

AMBIENTE BRASIL. Metas Ambientais movimentam energias renováveis no Brasil.


Disponível em: <http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/09/12/146192-metas-
ambientais-movimentam-energias-renovaveis-no-brasil.html> . Acessado em: 12/01/2020.

ANEEL. Banco de Informações de Geração - BIN. Disponível em:


<https://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acessado em
18/02/2020.

BUJA, G. S.; KAZMIERKOWSKI, M.P.; Direct Torque Controlo of PWM Inverter-Fed AC


Motors – A Survey. IEEE Transactions on industrial electronics, vol. 51, NO. 5, August 2004.

KUMAR, D.; CHATTERJEE, K.; A review of conventional and advanced MPPT algorithms
for wind energy systems. Renewable and Sustainable Energy Reviews 55 (2016) 957-970.

394
LOCK, A. et al; A Hybrid Current Control For a Controlled Rectifier. Energy Conversion
Congress and Exposition (ECCE), IEEE, p. 920-926, 2010.

LOCK, A. et al; An APF-OCC Strategy for Common-Mode Current Rejection. IEEE


Transactions on Industry Applications, v. 52, p. 4935-4945, 2016.

QIAO, W.; QU, L.; HARLEY, R.; Control of IPM Synchronous Generator for Maximum
Wind Power Generation Considering Magnetic Saturation. IEEE Transactions on industry
applications, VOL. 45, NO. 3, May/June 2009.

XIA, Y.; AHMED, K.; WILLIAMS, B.; Wind Turbine Power Coefficient Analysis of a New
Maximum Power Point Tracking Technique. IEEE Transactions on industrial electronics,
VOL. 60, NO. 3, March 2013.

395
MODELO DE PROGRAMAÇÃO ESTOCÁSTICA PARA A ALOCAÇÃO
ÓTIMA DE BATERIAS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO COM GERAÇÃO
FOTOVOLTAICA

João Fábio Barboza Merlin1, Michael Douglas Lopes Pereira1, Sarah Miguele de Sá1,
John Fredy Franco Baquero1
1
Universidade Estadual Paulista
E-mail: joaofabio.merlin@gmail.com

RESUMO: O aumento da participação de geração distribuída no sistema de distribuição


de energia (SDEE) trouxe um maior número de problemas na rede. Nesse contexto,
sistemas armazenadores de energia a bateria (SAEB) podem ser utilizados a fim de manter
uma operação adequada do sistema e mitigar os problemas relacionados à intermitência
das fontes. Para aproveitar melhor o SAEB, é necessário identificar um local apropriado
para sua instalação e dimensionar adequadamente seu tamanho; deve-se considerar o
processo de carga e descarga, visando um retorno financeiro satisfatório. Neste trabalho
foi desenvolvido um modelo de Programação Estocástica para a implementação do SAEB
no SDEE considerando diferentes cenários de geração fotovoltaica. A formulação tem
como objetivo minimizar o custo de energia da subestação. O modelo adota variáveis
binárias para determinar o local ótimo da bateria e seu tamanho. O modelo matemático
foi implementado na linguagem de modelagem AMPL e resolvido usando o solver
CPLEX. Testes no sistema IEEE de 33 barras permitiram analisar os efeitos sobre a rede
e a economia proporcionada pela bateria. Foram avaliadas as mudanças na solução do
problema perante a variação dos custos das baterias e o limite de investimento. Foram
considerados três tamanhos diferentes de baterias com custos entre $200/kWh e
$400/kWh. Embora os lucros tenham sido próximos, é possível notar que os melhores
resultados foram obtidos com custos menores, sendo que para o custo de $400/kWh não
houve alocação. Conclui-se que o modelo proposto é uma ferramenta útil para identificar
a quantidade e localização de SAEB no SDEE.
Palavras-chave: Sistemas Armazenadores de Energia, Programação Estocástica,
Sistemas de Distribuição.

396
STOCHASTIC PROGRAMMING MODEL FOR THE OPTIMUM
ALLOCATION OF BATTERIES IN DISTRIBUTION NETWORKS WITH
PHOTOVOLTAIC GENERATION

ABSTRACT: The increase in distributed generation in the electric energy distribution


system (EEDS) brought a lot of problems to the grid. In this context, battery energy
storage systems (BESS) can be used in order to maintain a proper operation of the system
and mitigate problems related to the intermittency of sources. To harness the BESS it’s
necessary to identify an appropriate location for its installation and to scale its size; the
loading and unloading process must be considered aiming for a satisfactory payback. In
this paper, a Stochastic Programming model was developed for the implementation of
BESS in EEDS considering different scenarios of photovoltaic generation. The
formulation aims to minimize the energy cost. The model adopted binary variables to
determine the optimal location of the battery and its size. The mathematical model was
implemented in the AMPL modeling language and solved using the CPLEX solver. Tests
on the 33-bar IEEE system allows analyzing the effects on the network and the savings
provided by the battery. Three different battery sizes were considered to cost between $
200 / kWh and $ 400 / kWh. Although the profits were close, it is possible to notice that
the best results were obtained with lower costs. It’s concluded that the proposed model is
a useful tool to identify the quantity and location of EEDS in the BESS.
Keywords: Energy Storage Systems, Stochastic Programming, Distribution Systems

1. INTRODUÇÃO

O consumo de energia vem apresentando um aumento significativo ao longo dos


anos devido ao desenvolvimento dos países. Contudo, essas energias, em sua maioria, são
provenientes de origens fósseis que não são renováveis e apresentam grandes impactos
ambientais e elevados custos de combustíveis (GOLBEMBERG, 1998; NICK et al.,
2012). Devido a isto, tornou-se necessário a busca por fontes alternativas de energia, que
apresentam menores impactos ambientais, caráter renovável e possam diversificar a
matriz energética (AGHAMOHAMMADI; ABDOLAHINIA, 2014; NICK et al., 2012).
Somado às vantagens expostas anteriormente, as fontes alternativas constituem
uma geração distribuída (GD) renovável que podem ser alocadas próximas aos centros
consumidores, visto que não precisam, necessariamente, de grandes unidades de geração
(BABACAN et al., 2016; MEHMOOD et al., 2017). Além do mais, os desenvolvimentos
de novas tecnologias possibilitaram a redução no custo de geração, o que proporcionou o
aumento considerável da inserção de GD no SDEE. Todavia, elevados níveis de
penetração de GD podem acarretar problemas no SDEE, entre os quais se destacam
elevações de tensão, sobrecargas e aumento das perdas (NAVARRO-ESPINOSA et al.,
2016).
Em virtude dos recursos primários fornecidos pela GD renovável serem
intermitentes, como o sol para a geração fotovoltaica e o vento para a geração eólica, a
utilização de recursos auxiliares contribuem para que oscilações relacionadas a essas
intermitências sejam amenizadas, garantindo um fornecimento de energia adequado
(AGHAMOHAMMADI; ABDOLAHINIA, 2014; NICK et al., 2012). Para tal fim, uma
das alternativas viáveis é a inserção de dispositivos armazenadores de energia,
397
particularmente baterias, uma vez que possibilitam a operação adequada do sistema,
satisfazendo os limites técnicos e reduzindo o impacto da variação na geração de energia
renovável (SENJYU et al., 2008).
Devido a esses benefícios, a utilização de Sistemas de Armazenamento de Energia
a Bateria (SAEB) apresentou um aumento considerável no âmbito mundial nos últimos
anos (ZHANG et al., 2018). Esse crescimento é o resultado dos avanços tecnológicos e
da viabilidade econômica desses sistemas, no que tange ao custo de fabricação e ao
retorno financeiro, apresentando benefícios tanto para as concessionárias de energia
quanto aos consumidores. (ZHANG; DEHGHANIAN; KEZUNOVIC, 2019).
A inserção dos SAEB no SDEE contribui para que a qualidade de energia e
confiabilidade do sistema sejam preservadas, visto que o excedente de energia produzido
pela GD renovável pode ser fornecido posteriormente ao sistema. Também, as baterias
auxiliam no controle dos níveis de tensão, fornecendo potência ao sistema em momentos
de alta demanda, acarretando uma diminuição de perdas de energia nas redes de
distribuição (DUBARRY et al., 2017; KHUNTIA; RUEDA; MEIJDEN, 2016).
Para que haja uma maior eficácia no objetivo proposto, deve-se identificar um
local apropriado para o SAEB, bem como dimensioná-lo adequadamente (potência e
capacidade de energia); outro fator a ser analisado é o processo de carga e descarga da
bateria, isto é, o gerenciamento de sua operação com o propósito de realizar uma
avaliação econômica. Uma alocação ótima é crucial para que se obtenha o melhor impacto
técnico e retorno econômico. (DATTA; KALAM; SHI, 2018; ZHANG et al., 2018).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O problema de operação ótima de baterias no SDEE pode ser formulado como um


problema de Programação Estocástica em que a função objetivo (1) minimiza o custo da
compra de energia da subestação. A variável de decisão binária 𝑦𝑛,𝑏 determina os lugares
ótimos para alocação das baterias. As potências de carga e descarga dos SAEBs são 𝑃𝑏−,𝑠,𝑡
e 𝑃𝑏+,𝑠,𝑡 . O modelo utiliza a formulação Branch Flow para o fluxo de potência e aproveita
o fato de que as redes de distribuição são operadas de forma radial (FRANCO; RIDER;
ROMERO, 2015).
A função objetivo é determinada por:

min 𝛿 ∑ 𝜎 𝑦[𝑛, 𝑏] + (( ∑ ∑ ∑ (𝑃𝑏−,𝑠,𝑡 − 𝑃𝑏+,𝑠,𝑡 ) Δ𝑇 𝑐 𝑇


(1)
𝑏∈B 𝑏∈B𝑠∈S 𝑡∈T
𝑠𝑞𝑟,𝑠,𝑡
+ ∑ ∑ ∑ 𝐼𝑚𝑛 𝑅𝑚𝑛 Δ𝑇 𝑐 𝑇 ) /𝑛𝑐𝑒𝑛 ) 365
𝑚𝑛 ∈ 𝐿 𝑠 ∈ 𝑆 𝑡 ∈ 𝑇

A função objetivo representado em (1) apresenta três termos: o primeiro se refere


ao investimento anualizado da bateria; o segundo à operação de carga e descarga da
bateria (compra e venda de potência para rede); e o terceiro as perdas do sistema. Como
se trata de uma programação com caráter estocástico, são adotados diferentes cenários,
por meio do conjunto 𝑆, para representar a variação da geração fotovoltaica. Dessa forma,
os dois últimos termos da equação foram divididos pelo número de cenários, a fim de ser
398
calculado uma média entre eles. Além do mais, também foram multiplicados pelo número
de dias do ano, visto que os cálculos devem ser anualizados.
Há outros conjuntos presentes na função objetivo que contém os parâmetros e
variáveis presentes. O conjunto expresso por 𝐵 refere-se as baterias, por isso esta
presentes nos termos em que há variáveis das baterias; o conjunto 𝐿 se trata dos circuitos
do sistema, fato explicito quando o conjunto está referente ao termo relacionado as perdas
do sistema; e, por fim, o conjunto 𝑇 refere-se ao período utilizado no modelo (24 horas),
no qual está relacionado ao custo de energia variável para cada hora
Na função objetivo, 𝛿 refere-se ao custo anualizado do investimento da bateria
considerando juros de 5% e uma vida útil de 10 anos; 𝜎 corresponde ao custo total de
cada bateria – calculado a partir do custo ($/kWh) vezes a capacidade total (kWh), e
𝑦[𝑛, 𝑏] é a variável binária de decisão utilizada para determinar a alocação de cada bateria.
As restrições da formulação do problema de fluxo de potência são: balanço de
potência ativa e reativa nas barras, queda de tensão nas linhas, limite de corrente na linha
e tensão no nó, energia armazenada na bateria, limite de energia na bateria, limite de
potência injetada e absorvida da bateria e potência fornecida pelo gerador.
O modelo foi implementado na linguagem de modelagem matemática AMPL
(FOURER; GAY; KERNIGHAN, 2002) e resolvido com o solver CPLEX (IBM ILOG
CPLEX V12.1 Users’ Manual for CPLEX, 2009).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema elétrico é composto por 33 barras, um gerador localizado na barra 0,


com tensão nominal igual a 12,66 kV, e quatro geradores fotovoltaicos localizados nas
barras 10, 15, 17 e 30, como mostrado na Figura 1.

Figura 10 - Sistema IEE de 33 barras com geradores fotovoltaicos

O sistema de baterias considerados no modelo possuem a mesma eficiência (0,95)


e a mesma taxa de autodescarga (0,2% por dia), as baterias diferem-se apenas na
capacidade e na potência, dados apresentados na Tabela 1.
Para realizar a análise técnica da alocação das baterias, é necessário observar a
variação da demanda e da geração renovável ao longo de um dia. Diante disso, a Figura
2 apresenta o fator de carga e a variação do fator de geração entre os diferentes cenários.

399
Tabela 1 – Parâmetros das baterias
Tipo Capacidade (kWh) Potência (kW)
1 1300 325
2 1500 375
3 2000 500
Fonte: Autor (2020).

(a) (b)
Figura 11 – (a) demanda de energia e (b) comparação do fator de geração dos
diferentes cenários

O fator de carga influencia diretamente no preço da energia ao longo do dia. Dessa


forma, faz-se necessário o uso de baterias para reduzir o custo da compra de energia, uma
vez que ela armazena energia nos momentos em que o custo é baixo e injeta na rede nos
momentos em que o custo é elevado, como mostrado na Figura 3 para a bateria do tipo 1
alocada na barra 18.

(a) (b)
Figura 12 - (a) custo da energia e (b) operação da bateria

Analisando a Figura 3, espera-se uma alteração no perfil de fornecimento de


potência da subestação, que pode ser verificado na Figura 4 – na qual apresenta a
comparação de um caso sem bateria (caso base) com um caso onde há alocação de seis
baterias (caso 1). Essa característica promove um auxílio ao SDEE nos horários de pico
de consumo, uma vez que é parecido com o perfil do custo de energia.

400
Figura 13 – Comparação da potência gerada pela subestação

Utilizando os mesmos casos da Figura 4, analisou-se também a tensão mínima ao


longo do dia. Pode-se observar a melhora no perfil de tensão que o uso de baterias acarreta
no sistema, considerando que nos momentos nos quais a demanda de energia é maior, a
rede apresentou melhores perfis de tensão com valores próximos da tensão nominal.

Figura 14 - Comparação da tensão mínima ao longo do dia

401
Entendendo as melhorias técnicas que o uso de baterias causa no sistema, foi feito
a análise considerando as baterias apresentadas na Tabela 1 com custos variando entre
$200/kWh e $400/kWh, os valores de cada bateria encontram-se expressos na Tabela 2.
Considerou-se também uma taxa de juros de 5% ao ano, uma vida útil de 10 anos, um
limite de investimento em baterias de $3.000.000,00 limitadas a seis baterias.

Tabela 2 – Custos das baterias


Custo Bateria tipo 1 Bateria tipo 2 Bateria tipo 3
($/kWh) ($) ($) ($)
200 260.000 300.000 400.000
225 292.500 337.500 450.000
250 325.000 375.000 500.000
275 357.500 412.500 550.000
300 390.000 450.000 600.000
325 422.500 487.500 650.000
350 455.000 525.000 700.000
375 487.500 562.500 750.000
400 520.000 600.000 800.000
Fonte: Autor (2020).

A Tabela 3, apresenta os resultados obtidos com os testes de cada caso, sendo que
a variável binária que determinou qual barra deveria haver alocação e qual o tipo de
bateria. Comparou-se também qual o valor da função objetivo (F.O) em consideração
com o Caso Base.

Tabela 3 – Resultado dos testes para alocação ótima com diferentes custos
Caso Custo $/kWh Tipos de Baterias Barras alocadas F.O. ($)
Base - - - 6155,723414
1 200 3,3,3,3,3,3 0,1,2,18,19,23 -237725,5401
2 225 3,3,3,3,3,3 0,1,2,18,19,23 -198874,1676
3 250 3,3,3,3,3,3 0,1,2,18,19,23 -160022,7951
4 275 1,3,1,3,3,3 0,0,1,1,18,23 -112360,3683
5 300 3,1,3,1,3,1 0,1,1,18,24,29 -75732,77463
6 325 1,1,1,1,1,1 0,1,2,18,19,23 -43797,10445
7 350 1,1,1,1,1,1 0,1,2,18,19,23 -18543,71234
8 375 1,1,1,1,1,1 0,1,2,3,18,29 6733,744608
9 400 - - 28040,30734
Fonte: Autor (2020).

Observa-se que em quase todos os casos as barras de alocação foram as mesmas,


além do mais, em todos os casos houve seis baterias alocadas e o modelo sempre opta por
alocar a maior quantidade possível de baterias de maior capacidade, se tiver dentro do
limite de investimento. O modelo define que não é viável a alocação de baterias com
custo de $400/kWh.

402
A análise econômica é feita considerando o lucro proporcionado pelas baterias em
comparação com o investimento, ambos anualizados. Essa comparação está expressa na
Figura 6 e é possível observar a rentabilidade do sistema, de forma que o lucro apresenta
valores superiores ao investimento.
Com os testes realizados, nota-se o quão benéfico é ao sistema o uso de baterias,
além de atender os limites técnicos e melhorá-los, há também maior economia para a rede.

Figura 15 - Comparação do lucro e investimento anuais

Além da comparação entre o investimento e o lucro do sistema, é conveniente


analisar o payback do projeto, como demonstra a Figura 7. Dessa forma, é possível
verificar de forma objetiva a rentabilidade de cada caso e determinar qual o melhor
investimento a ser feito.

Figura 16 - Payback do investimento

4. CONCLUSÃO

Foi desenvolvido um modelo com objetivo de minimizar o custo de compra de


energia da subestação, bem como avaliar o lucro obtido na utilização de baterias. Para tal
fim, o modelo foi baseado em um sistema IEEE de 33 barras e satisfaz as restrições de
operação da rede.

403
Utilizou-se um sistema base denominado ‘Caso Base’, no qual não há alocação de
baterias. A partir desse sistema, foram feitas comparações de tensão mínima, potência
fornecida pela subestação e perdas, com o sistema no qual há a alocação de seis baterias.
Foi possível concluir o quanto é importante a instalação de recursos auxiliares no
sistema. Em primeira análise, observou-se o quanto as baterias instaladas podem ajudar
no controle da rede, de forma a aumentar a tensão mínima nos períodos de alta demanda
e diminuir na quantidade de potência fornecida da subestação. Esse auxílio resulta em um
lucro sobre o sistema e minimiza o custo da compra de energia da subestação.
Buscou-se qual a alocação ótima para se obter o melhor resultado, tanto
econômico quanto em relação aos limites técnicos. Foram considerados diferentes custos
e tipos de baterias, fazendo com que em cada teste o problema fornecesse a melhor
solução; todavia, para o custo de $400/kWh, e considerando o limite de investimento pré-
determinado, o sistema concluiu que a solução ótima é a não alocação de baterias.
Os resultados dos lucros foram satisfatórios, uma vez que são superiores aos
investimentos, tornando o sistema rentável. Além do mais, os paybacks dos sistemas
variam entre 1,2 anos para o custo de $200/kWh e 2,4 anos para o custo de $375/kWh.
Diante desses fatos, conclui-se que o modelo desenvolvido possibilita a análise da
viabilidade técnica e econômica da utilização de baterias ao SDEE, respeitando os limites
de operação do sistema.

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404
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405
PROGRAMAÇÃO CÔNICA APLICADA AO CARREGAMENTO
COORDENADO DE VEÍCULOS ELÉTRICOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO

Sarah Miguele de Sá1, Michael Douglas Lopes Pereira2, John Fredy Franco Baquero 2
1
Universidade Estadual Paulista, 2Universidade Estadual Paulista \
E-mail: sarah.migueleds@gmail.com

RESUMO: A pressão da comunidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa


aliada à baixa eficiência do motor de combustão e às melhorias nas tecnologias de
armazenamento de energia elétrica dos veículos elétricos (VEs), resultou no aumento da
conexão desses automóveis no sistema de distribuição nos últimos anos. O carregamento
simultâneo de um grande número de VEs pode trazer impactos significativos na rede de
distribuição de energia elétrica, que podem ser intensificados por um carregamento
descoordenado. Nesse contexto, este artigo apresenta um modelo de programação cônica
de segunda ordem inteira mista para o carregamento coordenado dos VEs em uma rede
de distribuição de energia elétrica. A formulação proposta tem como objetivo a
minimização da energia não carregada em cada VE, satisfazendo as restrições de operação
da rede. O modelo matemático de otimização usado para o carregamento de VEs foi
implementado na linguagem de modelagem matemática AMPL, testado em um sistema
de 33 barras da literatura e resolvido usando o solver comercial CPLEX. Inicialmente
foram avaliados os principais impactos que a rede sofre com o carregamento dos VEs
sem nenhum tipo de controle, como o aumento do pico de carga, subtensões e o excessivo
aumento das perdas de potência. Na sequência, são mostradas as melhorias que o controle
coordenado, definido pelo modelo matemático, proporciona à rede e aos usuários d os
VEs, minimizando a energia não fornecida e as perdas no processo. Esses resultados
confirmam a eficiência do modelo proposto na solução do problema de carregamento
coordenado de VEs, contribuindo para facilitar sua integração nas redes de distribuição.
Palavras-chave: Programação cônica, rede de distribuição, veículos elétricos.

406
CONIC PROGRAMMING APPLIED TO THE COORDINATED CHARGE OF
ELECTRIC VEHICLES IN DISTRIBUTION NETWORKS

Abstract: Community pressure to reduce greenhouse gas emissions combined with the
low efficiency of the combustion engine and improvements in electric energy storage
technologies for electric vehicles, has resulted in the growth in popularity of these
automobiles at developed countries. Thus, in certain periods, a large number of vehicles
are charged simultaneously, bringing significant impacts to the distribution networks.
These problems can be intensified by an uncoordinated loading of EVs. This work
developed a second-order conic programming model for the coordinated charging of EVs
in an electricity distribution network. The proposed formulation aims to minimize the
uncharged energy in each VE, while satisfying the network operation restrictions. The
mathematical optimization model used to solve the distribution system planning for EV
loading was implemented in the AMPL modeling language, tested in a 33-bar system in
the literature and solved using the CPLEX solver. At the first tests, the main impacts that
the network suffers from the loading of EVs without any kind of control were presented,
such as the increase in peak load, overvoltages, and the excessive increase in power
losses. Following, the improvements that the coordinated control, defined by the
mathematical model, provide to the network and to the users of the EVs are shown,
minimizing the energy not supplied and the losses in the process.
Keywords: Conic programming, distribution networks, electric vehicles.

1. INTRODUÇÃO

Veículos elétricos (VEs) foram usados desde o início do século XX, porém,
devido a fatores como a limitação das baterias na época, ficaram em desuso a partir da
década de 1920. No entanto, as indústrias automotivas enfrentam crescente pressão da
comunidade para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adotar tecnologias mais
limpas e sustentáveis, como os VEs (ELLINGSEN, 2017). Além disso, foram realizadas
melhorias nas tecnologias de armazenamento de energia elétrica dos VEs nos últimos
anos levando, fazendo com que os mesmos estejam crescendo em popularidade nos países
desenvolvidos, de forma que foi estimado que o estoque global de VEs ultrapassou 3
milhões de veículos em 2017 (SPREI, 2018).
Esses VEs devem ser recarregados nas residências ou em eletropostos, sendo que
essa energia deverá ser fornecida pela rede de distribuição de energia elétrica. Durante
alguns períodos do dia costuma acontecer o carregamento simultâneo de um número
grande de VEs, podendo levar a sobrecargas da rede ou a tensões por baixo dos limites
estabelecidos pelos reguladores (LIN, 2010; TANG et al., 2016); esses problemas podem
ser intensificados por um carregamento descoordenado dos VEs.
Para reduzir os impactos negativos dos VEs na operação do sistema de
distribuição devem ser realizados esquemas de carregamento coordenado, nos quais o
operador do sistema irá controlar o carregamento dos VEs. Para obter esse tipo de
esquemas há alguns desafios econômicos que incluem custos de infraestrutura,
manutenção e mudança da operação das redes de distribuição para um gerenciamento
ativo em vez de passivo (LOPEZ; CORDERO-MORENO, 2018)

407
Diversos trabalhos têm estudado como a conexão massiva de VEs afeta a
distribuição e qual seria o tipo de coordenação ideal para o carregamento dos automóveis.
Alguns impactos dos VEs no sistema elétrico de distribuição são analisados por Robert
C. Green et al (2011). Diferentes estratégias de carregamento foram propostas por M.
Hadi Amini et al. e por Trine Krogh Kristoffersen et al. (2017; 2011). O trabalho de
Sabillon-Antunez et al. (2017) apresenta uma nova abordagem para resolver o problema
de coordenação da carga considerando o controle volt/var, operação de serviços
avançados de energia e geração distribuída despachável.
Dessa forma, com o intuito de manter uma operação adequada da rede, se faz
necessário o desenvolvimento de esquemas que permitam carregar os VEs de forma
eficiente (LAKSHMINARAYANA et al., 2016), aproveitando as vantagens da
infraestrutura de comunicação das futuras Redes Inteligentes (WANG et al., 2014). Em
particular, é necessário estudar a aplicação de técnicas de otimização matemática que
possam garantir a solução ótima do problema e possam ser aplicadas com um esforço
computacional relativamente baixo.
Neste trabalho foi desenvolvido um modelo de programação cônica de segunda
ordem que permite definir o carregamento coordenado dos VEs em uma rede de
distribuição de energia elétrica. A formulação proposta tem como objetivo a minimização
da energia não carregada em cada VEs e do tempo de carregamento desses VEs. Além
disso, visa satisfazer as restrições de operação da rede. O modelo foi escrito na linguagem
de modelagem matemática AMPL e resolvido por meio do solver CPLEX, sendo testado
no sistema IEEE de 33 barras (BARAN; WU, 1989).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Modelo de Programação Cônica para o Carregamento Coordenado dos VEs

Neste trabalho a função objetivo deve minimizar a energia não fornecida a cada
VE conectado na rede, atendendo às restrições de operação (leis de Kirchhoff, limites de
tensão e capacidade de corrente dos circuitos). As equações da formulação Branch Flow
(BARAN; WU, 1989; FARIVAR; LOW, 2013) serão usadas para representar o estado de
operação da rede de distribuição.
Será assumido que as baterias dos VEs devem ser carregadas em um determinado
período de tempo, que é dividido em várias etapas de tempo; A energia requerida por cada
bateria é conhecida no início do período; Os VEs possuem dispositivos de comunicação
que permitem que o sistema de distribuição elétrica possa controlar o estado de
carregamento das baterias; Restrições operacionais, como limites de tensão, limites de
geração de energia e correntes máximas do circuito devem ser satisfeitas.
O modelo proposto leva em consideração a influência do carregamento dos
veículos elétricos na rede e aproveita o fato de que as redes de distribuição são operadas
de forma radial e representa as leis de Kirchhoff, assim, podem ser facilmente
introduzidas restrições associadas à magnitude da tensão e limites de magnitude da
corrente. A solução do modelo define o cronograma de carregamento ideal para os VEs.
O modelo tradicional de injeção de potência baseado em variáveis nodais (tensões,
injeções de correntes e ângulos de fase) é transformado em um equivalente que usa os
fluxos de potência e o módulo a tensão sujeito ao balanço de potências ativas e reativas
408
nas barras. Dessa forma, a coordenação do carregamento dos VEs no sistema de
distribuição de energia elétrica pode ser representada matematicamente usando (1)–(8),
sendo (1) a função objetivo. Na nomenclatura usada 𝑉𝐸 é o conjunto de veículos elétricos
𝑚𝑎𝑥
conectados no sistema, 𝑇 é o conjunto de períodos, 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 é a capacidade da bateria do
veículo 𝑣𝑒, 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 é o estado de carga do veículo 𝑣𝑒 no período 𝑡 e 𝑥𝑣𝑒,𝑡 é a variável
𝑣
contínua associada à potência de carregamentos dos VEs, Se 𝑥𝑛,𝑡 = 1, a bateria está
𝑣
carregando na sua potência máxima dependendo de sua eficiência, se 𝑥𝑛,𝑡 = 0, a bateria
não está carregando.
O primeiro termo representa a subtração entre a carga máxima que bateria dos
VEs pode suportar e o estado da carga alcançado no fim do processo de carregamento; já
o segundo termo da função objetivo (∑𝑡 ∈ 𝑇 ∑𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸 −𝑥𝑣𝑒,𝑡 2𝑇−𝑡 ) incentiva que o modelo
se esforce para carregar os VEs nos primeiros períodos, ou seja, o mais rápido possível.

𝑚𝑎𝑥
(1)
𝑚𝑖𝑛 ∑ [𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 − 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑇 ]2 + ∑ ∑ −𝑥𝑣𝑒,𝑡 2𝑇−𝑡
𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸 𝑡 ∈ 𝑇 𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸
2 𝑔 𝑣𝑒 (2)
∑ 𝑃𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 − ∑ (𝑃𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 +𝑅𝑙,𝑚,𝑛 𝐼𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ) + 𝑃𝑛,𝑡 = 𝑃𝑑𝑛𝑑 𝑃𝑣𝑒 𝑥𝑛,𝑡 ∀ 𝑛 ∈ 𝑁, 𝑡
𝑙,𝑚,𝑛 ∈ 𝐿 𝑙,𝑚,𝑛 ∈ 𝐿
∈ 𝑇, 𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸
2 𝑔
∑ 𝑄𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 − ∑ (𝑄𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 + 𝑋𝑙,𝑚,𝑛 𝐼𝑙,𝑚,𝑛𝑡 ) + 𝑄𝑛,𝑡 = 𝑄𝑑𝑛𝑑 ∀ 𝑛 ∈ 𝑁, 𝑡 ∈ 𝑇 (3)
𝑙,𝑚,𝑛 ∈ 𝐿 𝑙,𝑚,𝑛 ∈ 𝐿
2 2 2 2
𝑉𝑚,𝑡 − 𝑉𝑛,𝑡 = 2(𝑅𝑙,𝑚𝑛 𝑃𝑙,𝑚,𝑛𝑡 + 𝑋𝑙,𝑚,𝑛 𝑄𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ) + 𝑍𝑙,𝑚,𝑛 𝐼𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ∀ 𝑚, 𝑛 ∈ 𝐿, 𝑡 ∈ 𝑇 (4)
2 2 2 2
𝑉𝑛,𝑡 𝐼𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ≥ 𝑃𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 + 𝑄𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ∀ 𝑙, 𝑚, 𝑛 ∈ 𝐿, 𝑡 ∈ 𝑇 (5)
2 2 2
𝑉𝑚𝑖𝑛 ≤ 𝑉𝑛,𝑡 ≤ 𝑉𝑚𝑎𝑥 ∀ 𝑛 ∈ 𝑁, 𝑡 ∈ 𝑇 (6)
2 2
0 ≤ 𝐼𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 ≤ 𝐼𝑚𝑎𝑥 ∀ 𝑙, 𝑚, 𝑛 ∈ 𝐿, 𝑡 ∈ 𝑇 (7)

𝑣𝑒
𝑥𝑛,𝑡 ∈ {0,1} ∀𝑛 ∈ 𝑁, 𝑡 ∈ 𝑇 (8)

As equações (2) e (3) representam o balanço de potência ativa e reativa. 𝑃𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 e


𝑄𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 são os fluxos de potência ativa e reativa no circuito, 𝑅𝑙,𝑚,𝑛 e 𝑋𝑙,𝑚,𝑛 são a
𝑔 𝑔
resistência e a reatância no circuito , 𝑃𝑛,𝑡 e 𝑄𝑛,𝑡 são as potências ativa e reativa fornecida
𝑑
pela subestação no nó 𝑛, 𝑃𝑑𝑛,𝑡 e 𝑄𝑑𝑛𝑑 são as potências ativa e reativa demandadas no nó
n e 𝑃𝑣𝑒 é a potência que um veículo consome em cada período. A queda de tensão é
representada por (4). 𝑉𝑚,𝑡 representa a tensão na barra 𝑚, 𝑍𝑙,𝑚,𝑛 e representa a
impedância no circuito. O cálculo da corrente do circuito é representada por (5),
mostrando com a desigualdade ≥ que se trata de um modelo cônico. As restrições (6) e
(7) representam os limites de tensão e correntes e geração. 𝑉𝑚𝑖𝑛 e 𝑉𝑚𝑎𝑥 são as tensões
2
mínima e máxima permitida pelo sistema, 𝐼𝑙,𝑚,𝑛,𝑡 é a corrente no circuito e 𝐼𝑚𝑎𝑥 é o limite
𝑣𝑒
da corrente de cada circuito. Finalmente, (8) representa a natureza binária de 𝑥𝑛,𝑡 . 𝑁
representa o conjunto de nós, 𝑇 o conjunto de tempo e 𝐿 o conjunto de circuitos.

409
2.2 Modelo de Operação das Baterias

A energia consumida pelos VEs nos eletropostos fica armazenada em baterias


com eficiências entre 95% e 100%. As equações abaixo modelam a operação das baterias.

𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 = 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡−1 + 𝜂 𝛥𝑡𝑃𝑣𝑒 − 𝛽𝑛 𝛥𝑡𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 ∀ 𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸, 𝑛 ∈ 𝑁, 𝑡 ∈ 𝑇 ( 9)

𝑖𝑛
𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 𝑚𝑎𝑥
≤ 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 ≤ 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 ∀ 𝑡 ∈ 𝑇, 𝑣𝑒 ∈ 𝑉𝐸 (10)

A equação (9) determina que a energia armazenada na bateria conectada no nó 𝑛,


𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 , depende do estado anterior da carga, 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡−1 , da potência injetada e extraída
para o intervalo de tempo 𝛥𝑡 (duração do nível de carga) multiplicado pela eficiência da
bateria 𝜂 e a taxa de autodescarga da bateria 𝛽𝑛 . Para 𝑡 = 0, 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,0 é o estado da carga
𝑖𝑛
inicial, 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 . A expressão (10) representa a extensão do estado de carga, isto é, a energia
𝑚𝑎𝑥
máxima e mínima que deve permanecer no sistema, sendo 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 o máximo de energia
que pode ser armazenado na bateria do VE.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema IEEE de 33 barras (BARAN; WU, 1989) foi usado para realizar os
testes com ∆𝑡 = 1 ℎ, limites máximos e mínimos de tensão de 1,05 p.u e 0,9 p.u, limite
máximo da corrente de 250 A e contendo 120 veículos elétricos com capacidade de
armazenamento de 40 kWh (similar ao VE BMW i3) e carga inicial de 0 kWh as barras
1, 5, 9, 12, 15, 17, 18, 21, 22, 24, 28, 31 e 32, eficiência de 𝜂 = 100% e uma taxa de
autodescarga de 𝛽11 = 0.
O modelo de programação linear foi implementado na linguagem de programação
matemática AMPL e resolvido usando um solucionador comercial para problemas de
otimização CPLEX (versão 12.6, 64 bits usando configurações padrão).
Foi feita a análise dos efeitos na rede sob um período de 6 horas (período de pico)
e como que esses efeitos podem ser minimizados com as restrições do modelo.

Figura 1 – Sistema teste de 33 barras.


Fonte: Próprio autor.
410
A Tabela 1 abaixo ilustra o estado do carregamento para o VE número 72. Os
demais VEs tiveram comportamento similar. Embora tenha sido considerado que a carga
inicial dos VEs fosse 0 kWh, o sistema foi capaz de carregá-los completamente dentro do
intervalo de tempo. Nota-se que houve preferência para que o carregamento ocorresse o
mais rápido possível.
Tabela 1 - Carregamento do VE 72.
𝑣𝑒 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒,𝑡 (𝑘𝑊ℎ)
Período 𝑡 𝑥𝑛,𝑡
1 1 10
2 1 20
3 1 30
4 1 40
5 0 40
6 0 40
Fonte: Próprio Autor.

Sem o controle adequado, essa ação pode resultar em impactos negativos dentro
do sistema, como os apresentados em seguida. Como é possível notar na Figura 1, o
sistema sofreu problemas de subtensão, i.e., tensão abaixo do mínimo de 0,90 p.u. quando
o carregamento dos veículos não foi controlado.
A conexão de muitos VEs no sistema causa a queda do nível do sinal elétrico, ou
seja, a tensão tem um valor muito abaixo do que o esperado. Como também mostrado na
Figura 2, o controle do sistema segundo o modelo matemático faz com que esse problema
possa ser corrigido.

0,96000

0,94000
Tensão mínima (p.u)

0,92000

0,90000

Sistema com
0,88000
controle

0,86000
Sistema sem
controle
0,84000
1 2 3 4 5 6
Período

Figura 2 - Alteração da tensão mínima com o controle e sem o controle.


Fonte: Próprio Autor.

Segundo a Figura 3, a corrente ultrapassou seu limite máximo de 250 A quando o


carregamento dos veículos não foi controlado. Os aumentos significativos nos níveis de
corrente resultam em mais perdas de energia relacionadas à transformação de energia
411
elétrica em energia térmica nos condutores pelo efeito Joule, como é apresentado na
Figura 4.

300
Corrente máxima do sistema (A)

250

200

150

100

50

0
Nenhum VE conectado 120 VEs conectados sem 120 VESs conectados com
controle controle
Estado do sistema
Figura 3 - Corrente máxima do sistema.
Fonte: Próprio Autor.

Esse excessivo aumento das perdas nos primeiros períodos também leva à
degradação da qualidade da energia e faz com que a subestação de energia elétrica precise
fornecer mais potência para atender à demanda do consumo de todos os VEs conectados.
Tal esforço poderia ser dispensado com devida coordenação dos carregamentos. Assim,
esse aumento da potência ativa pode ser menor na maioria dos períodos, como mostrado
na Figura 5.

Sistema com
400 controle

350
Sistema sem
Perdas (kWh)

300 controle

250
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6

Período
Figura 4 – Perdas de energia no sistema com controle e sem controle.
Fonte: Próprio Autor.

412
6000

Potência (kW) 5000

4000

3000

2000
Sistema com
controle
1000
Sistema sem
controle
0
1 2 3 4 5 6
Período

Figura 5 - Potência gerada pela subestação no sistema com controle e sem controle.
Fonte: Próprio Autor.

Percebe-se que o modelo estudado permite resolver o problema de carregamento


de VEs na rede de distribuição, embora ainda seja necessário realizar mais testes em
sistemas maiores e com cenários mais realistas. Os VEs não devem estar em 0 kWh nesses
𝑚𝑖𝑛
testes futuros, então deverá ser considerado um SOC mínimo 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 de, por exemplo,
𝑖𝑛
20% e mais uma restrição deverá ser incluída no modelo para que o 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 esteja entre
𝑚𝑖𝑛 𝑚𝑎𝑥
o 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 e o 𝑆𝑂𝐶𝑣𝑒 .

4. CONCLUSÃO

Foi desenvolvido um modelo de programação cônica inteira de segunda ordem


para o carregamento coordenado de VEs em uma rede de distribuição de energia elétrica.
A formulação proposta tem como objetivo a minimização da energia não carregada em
cada VE e a minimização do tempo de carregamento de cada VE satisfazendo as
restrições de operação da rede. A formulação matemática foi implementada na linguagem
de modelagem AMPL e foram feitos testes em um sistema de 33 barras da literatura e
resolvido usando o solver CPLEX.
Os resultados do primeiro teste, feito sem nenhum tipo de controle, mostraram
que o carregamento não coordenado de um número considerável de VEs causa problemas
de operação da rede (subtensões nas barras, sobrecargas nos circuitos e aumento das
perdas de potência). Nesse contexto, esquemas de carregamento coordenado, nos quais o
operador do sistema de distribuição irá controlar o carregamento dos veículos, podem ser
usados para reduzir esses impactos e evitando que a qualidade da energia fornecida
diminua em grande proporção.
Com os resultados do segundo teste, feito com o controle nos níveis de tensão e
corrente, é possível notar que o modelo estudado permite minimizar a energia não
carregada em cada VE e o tempo de carregamento deles reduzindo os impactos negativos
que esse processo causa na operação do sistema de distribuição. No entanto, testes
adicionais em sistemas maiores e com altos níveis de penetração de VEs são necessários
para estudar a eficiência e aplicabilidade da formulação matemática.
413
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415
QUESTÕES JURÍDICAS DAS POLÍTICAS DE GERAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA ELÉTRICA E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
BRASILEIRO

Luís Renato Vedovato1, Daniel Francisco Nagao Menezzes2, Nathalia Hidalgo Leite1,
Paulo de Barros Correia1
1
Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, 2Universidade Presbiteriana
Mackenzie
E-mail: nathaliahidalgo@hotmail.com

RESUMO: Vários incentivos foram criados para estimular a geração de energia por meio
de recursos renováveis no Brasil, a partir do Decreto 5.163, de 2004, e da Resolução
Normativa - REN no. 482 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), que
estabeleceram maneiras para consumidores gerarem eletricidade para seu próprio
consumo usando fontes renováveis e distribuírem essa energia de volta à rede por meio
de um sistema de medição de rede. Este artigo aborda a questão do controle, geração e
distribuição de energia elétrica e fornece novas perspectivas a partir do sistema de
Geração Distribuída (GD). O principal objetivo é analisar os mecanismos de incentivo à
GD no Brasil, do ponto de vista constitucional, estabelecidos para promover o
desenvolvimento econômico na Constituição Federal de 1988. Além disso, este estudo
trata a natureza regulatória do Estado e as mudanças ao seu papel na intervenção
econômica, discutindo conceitos de desenvolvimento econômico sobre como a
regulamentação pode impactar o desenvolvimento e a promoção da GD no Brasil. Ao
analisar os princípios constitucionais que envolvem a estrutura econômica, pode-se
concluir que o sistema estruturado normativo para GD no contexto brasileiro é ditado pela
Constituição Federal, garantindo que os consumidores possam obter benefícios
decorrentes da geração elétrica descentralizada usando fontes renováveis não poluentes.
A principal vantagem, do ponto de vista econômico, é o custo reduzido de energia pago
aos principais distribuidores. Além dos benefícios mencionados, a GD promove o
desenvolvimento econômico nacional e fortalece a indústria, criando empregos nos
setores de engenharia e vendas.
Palavras-chave: Geração distribuída, desenvolvimento econômico, regulamento,
incentivos.

416
LEGAL ISSUES OF ELECTRICITY GENERATION AND DISTRIBUTION
POLICIES AND BRAZILIAN ECONOMIC DEVELOPMENT

ABSTRACT: Several incentives have been put in place to stimulate energy generation
through renewable resources in Brazil, starting with Decree 5.163 from 2004 and
Normative Resolution – REN no. 482 from ANEEL (National Electricity Regulatory
Agency), which established ways for consumers to generate electricity for their own
consumption using renewable sources, and to distribute this energy back to the grid via a
net-metering system. This article addresses the issue of electric energy control,
generation, and distribution, and gives new perspectives from within the Distributed
Generation (GD) system. The main objective is to analyze the incentive mechanisms for
GD in Brazil from a constitutional standpoint, which were set forth to promote economic
development in the Federal Constitution of 1988. Furthermore, this study discusses the
regulatory nature of the State, and changes to its role in economic intervention, discussing
economic development concepts for how regulation might impact the development and
promotion of GD in Brazil. When analyzing the constitutional principles that involve the
economic structure, it can be concluded that the normative structured system for DG in
the Brazilian context is dictated by the Federal Constitution, guaranteeing that consumers
can obtain benefits from decentralized electricity generation using non-polluting
renewable sources. The main advantage, from an economic point of view, is the reduced
cost of energy paid to the main distributors. In addition to the benefits mentioned, GD
promotes national economic development and strengthens the industry, creating jobs in
the engineering and sales sectors.
Keywords: Distributed generation, economic development, regulation, incentives.

1. INTRODUÇÃO

A energia elétrica é um bem essencial da vida indispensável para todos os


indivíduos de uma sociedade contemporânea. Como tal, desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento econômico, pois é um insumo importante para as
economias capitalistas. Além disso, a energia elétrica promove o bem-estar geral da
sociedade, devido às suas várias aplicações no uso doméstico (tais como iluminação e
climatização) e em indústrias (tais como siderúrgicas e químicas). O acesso à energia
elétrica confiável é fundamental para a indústria e para os cidadãos. Sem esse acesso, a
indústria e os cidadãos são privados dos recursos necessários para estabelecer qualidade
de vida e acesso a tecnologias básicas. Tudo requer eletricidade, iluminação,
equipamentos industriais complexos, dispositivos médicos e máquinas de preservação da
vida.
Os poderes de controle e distribuição de energia elétrica no Brasil são conferidos
ao Estado, outorgados pela Constituição Federal de 1988. A provisão de serviços de
energia se enquadra no escopo dos serviços públicos e, portanto, está sujeita aos
princípios legais da Administração, manifestando-se como política pública.
A estrutura organizacional adotada pelo Setor Elétrico Brasileiro (SEB) começou
no início do século XX, com iniciativas privadas, utilizando sistemas isolados de
transmissão e distribuição, e evoluiu com o tempo. A partir da década de 1950, os
417
sistemas de transmissão e distribuição eram cada vez mais controlados pelo Estado,
compreendiam usinas de geração de energia maiores e extensas redes de linhas de
transmissão e distribuição de energia. Este tipo de geração é conhecida como: geração
centralizada de energia.
Hoje, o modelo de distribuição de eletricidade empregado no Brasil é um modelo
híbrido reestruturado no final dos anos 90. O modelo constitui-se como parcialmente
privado, no entanto, manteve sua característica centralizada em termos de geração e
transmissão, usando grandes plantas de produção localizadas longe de locais onde a
energia é realmente consumida. Isso é observado principalmente nas usinas hidrelétricas
e termoelétricas, onde a carga está conectada a uma extensa rede de transmissão. Quando
as demandas de energia aumentam, a geração aumenta, mas quando a demanda excede o
limite de capacidade do sistema, a resposta tradicional é construir novas unidades de
geração centralizada e, consequentemente, novas redes de transporte e distribuição.
Em contrapartida, a Geração Distribuída (GD) é definida como a eletricidade
produzida próxima à fonte de carga e busca introduzir novas tecnologias que reduzam
significativamente o custo de produção de energia (Barbosa Filho; Azevedo, 2013). A
GD é estruturada de maneira descentralizada e dispersa, para que a energia seja gerada
mais próxima do consumidor. A GD é uma alternativa ao atual modelo de planejamento
de expansão do SEB e pode ser uma maneira mais eficiente de usar recursos econômicos
e ambientais para a produção de energia (EPE, 2014). No modelo de GD, um consumidor
gera sua própria energia, tornando-se gerador e consumidor de energia elétrica, passando
a ser chamado de prosumer.
A GD lida com maneiras mais eficazes de planejar expansões de suprimento
elétrico, em conjunto com a introdução de novas tecnologias no mercado que podem
reduzir significativamente o custo da eletricidade produzida. A GD pode ajudar a reduzir
as contas de energia elétrica para os consumidores finais, pois os custos de transmissão e
os encargos e impostos setoriais, que geralmente estão incluídos no preço da eletricidade
oferecido pelas concessionárias tradicionais, podem ser eliminados.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME, 2019), os sistemas de GD
podem ajudar a reduzir as perdas técnicas, dadas suas localizações descentralizadas e
reduzir os custos de transmissão. Eles também aumentam o uso de fontes de energia
alternativas, reduzem projetos tradicionais de geração centralizada, aumentam a
estabilidade energética, reduzem a dependência de sistemas de transmissão tradicionais,
aumentam a otimização e a qualidade da rede, tornam os tempos de instalação mais
rápidos, mantêm os custos de manutenção e operacionais baixos, atraem investimentos
privados, descentralizam o setor de energia, permitem produção adicional de energia nos
horários de pico, diversificam a rede de energia e criam empregos na economia. Essas
fontes alternativas de energia incluem energia eólica, solar e pequena geração hidrelétrica
(Faria Júnior, Trigoso, Cavalcanti; 2017). A diversificação tem desempenhado um papel
importante na consecução das políticas energéticas estabelecidas nos últimos anos (Silva
et al., 2019).
Assim, mudanças estruturais nos sistemas elétricos brasileiros devem ser
promovidas pelo Estado, incluindo novas tecnologias de geração na rede e projetando
novos arranjos estruturais. A intervenção do governo na economia em setores específicos
e estratégicos, como o setor de eletricidade, deve ser conduzida com a intenção de
maximizar o bem-estar público, com a intervenção ocorrendo preferencialmente quando
418
o mercado é ineficiente na alocação de recursos. Os incentivos são idealizados na
estrutura regulatória setorial para induzir os agentes econômicos a interagir de acordo
com essas regras e regulamentos legais.
Do ponto de vista teórico, uma rede de distribuição de energia deve ser totalmente
desenvolvida para superar problemas sociais como pobreza, fome, falta de acesso à saúde
e educação, que ameaçam a sustentabilidade da comunidade (Esposito, 2013). É preciso
adequar consistentemente a rede de distribuição de energia para promover o
desenvolvimento, e a GD pode desempenhar um papel importante nesse processo.
O principal objetivo deste artigo é analisar como os sistemas de incentivos da GD
funcionam dentro da estrutura constitucional brasileira, a fim de promover o
desenvolvimento econômico. Este estudo analisará os poderes reguladores do Estado e
mudanças em seu papel em termos de intervenção econômica, discutindo conceitos para
o desenvolvimento econômico e como a regulamentação da GD pode impactar a
sociedade e promover o desenvolvimento.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi realizado do ponto de vista de pesquisa exploratória que buscou
entender como a Constituição Federal brasileira se relaciona com as políticas regulatórias
da GD para promover o crescimento econômico. As Resoluções nº 482/2012 e 687/2015
da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) foram tomadas como ponto de partida
para este estudo. Além disso, a literatura atual sobre o assunto também foi consultada
utilizando-se a base de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior
(CAPES) com as palavras chaves do artigo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma vez que, o desenvolvimento é objetivo da República Federativa do Brasil, o


Estado é encarregado, juntamente com a sociedade como um todo, de procurar
instrumentos que funcionem para esse fim. Para atingir esse objetivo, a regulamentação
no setor elétrico brasileiro deve evoluir de um sistema que é marcadamente estatal e
monopolista, para um que incentive o comércio descentralizado do mercado livre,
quebrando barreiras para o desenvolvimento da GD, algo já refletido no crescente número
de novos distribuidores. Ainda existem, no entanto, alguns impedimentos críticos que
dificultam a disseminação completa dessa tecnologia.
Ao analisar a Tabela 1 e os princípios constitucionais que envolvem a estrutura
econômica, pode-se dizer que o sistema estruturado normativo para GD no contexto
brasileiro é ditado pela Constituição Federal, garantindo que os consumidores possam
obter benefícios decorrentes da geração elétrica descentralizada usando fontes renováveis
não poluentes, como energia solar, por exemplo. A principal vantagem, do ponto de vista
econômico, é o custo reduzido de energia pago aos principais distribuidores. Além dos
benefícios mencionados, a GD promove o desenvolvimento econômico nacional e
fortalece a indústria, além de criar empregos nos setores de engenharia e vendas.

419
Tabela 1. Marcos legais para políticas de GD no Brasil.

Política Ano Tema


Acordo ICMS 101 1997 Isenção de ICMS nas operações com equipamentos e componentes.

Decretonº 5.163 2004 Mostra as características da GD aos distribuidores

Institui o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de


Lei 11.484 2007
Semicondutores (PADIS).

Resolução Estabelecer as condições gerais de acesso à micro geração e mini geração aos
Normativa ANEEL 2012 sistemas de distribuição de energia elétrica e ao Sistema de compensação de
nº 482/2012 energia elétrica.

Acordo Autoriza a conceder isenção nas operações internas relacionadas à circulação


2015
ICMS 16 de energia elétrica, sujeitas a cobrança pelo Sistema de Compensação.

As taxas do PIS / Pasep e do Imposto de Contribuição Financeira da Seguridade


Lei 13.169 2015
Social - CONFINS sobre energia elétrica ativa são reduzidas a zero.

Descontos de pelo menos 50% nas taxas de uso do sistema de transmissão e


Lei 13.203 2015
distribuição e no BNDES (taxas diferenciadas) e altera a Lei 9.427 de 1996.

Resolução
Normativa ANEEL 2015 Revisar a resolução ANEEL REN nº 482 e procedimentos de distribuição.
nº 687/2015

ProGD 2015 Estimular o crescimento da DG no Brasil.

Resolução
Normativa ANEEL 2017 Alterar o artigo 1 da REN nº 482/2012.
nº 786/2017

Consulta Pública Obter subsídios para aprimorar as regras aplicáveis à micro e minigeração
2018
ANEEL nº 010/2018 distribuída, estabelecidas pela Resolução Normativa nº 482/2012.

Consulta Pública Coletar subsídios e informações adicionais para a Análise de Impacto


2019
ANEEL nº 01/2019 Regulatório (AIR) da revisão da Resolução Normativa nº 482/2012.

Obter subsídios e informações adicionais sobre as regras aplicáveis ao micro e


Consulta Pública mini GD para a elaboração do projeto de texto da Resolução Normativa nº
2019
ANEEL nº 025/2019 482/2012 e da seção 3.7 do Módulo 3 da Eletricidade.

Audiência Pública
2019 Procedimentos de Distribuição no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST).
ANEEL nº 040/2019

Projeto de Lei Altera o art. 26 da Lei 9.427, de 26 de dezembro de 1996, que remove o poder
2019
5.829/2019 de regulamentar os empreendimentos da GD da ANEEL.

A resolução ANEEL REN nº 482/2012 resultou em uma “liberação” do setor


elétrico brasileiro, permitindo que a eletricidade fosse gerada pelos consumidores.
Também estabeleceu um sistema de compensação em cooperação com distribuidores
tradicionais. Essas ações foram as principais iniciativas de estímulo econômico à
autoprodução em pequena escala no Brasil.
Vale destacar a importância da REN nº 482/2012 na eliminação de barreiras de
mercado para a GD e, mais importante, para os sistemas fotovoltaicos. O aumento da
420
geração de energia solar pode ter impactos econômicos muito positivos no país. A REN
nº 482/2012 também levou em consideração os requisitos de regulamentação econômica
subjacentes à intervenção pública. Esses impactos positivos incluem emissões reduzidas
de CO2, cargas reduzidas no sistema de rede, diversificação do setor de energia,
sustentabilidade ambiental e custos reduzidos de geração e transmissão.
Em continuidade à Audiência Pública no 1/2019, a Aneel abriu, em 07 de
novembro de 2019, uma consulta pública para receber contribuições referentes ao
aperfeiçoamento do sistema de compensação de créditos. Assim, muitas mudanças no
setor podem ocorrer durante o ano de 2021.

4. CONCLUSÃO

Incentivar a GD, especialmente a produção em pequena escala, trará impactos


positivos para o Estado brasileiro, uma vez que o fortalecimento da GD implica
desenvolvimento econômico, alinhado aos mandatos constitucionais. Portanto, qualquer
ação que busque desburocratizar o acesso à energia para os consumidores é justificada.
Além disso, os incentivos estatais via créditos para a compra de equipamentos são
mudanças muito bem-vindas, tendo em vista o grande investimento necessário para a
implementação.
A GD pode ajudar a remodelar o SEB, apresentando oportunidades e desafios.
Isso pode levar a muitas oportunidades, fornecendo alternativas de negócios e soluções
de energia auto-suficientes para consumidores residenciais. Existem muitos desafios, no
entanto, uma vez que podem surgir problemas técnicos dentro desse novo arranjo
estrutural, exigindo alterações nos modos de operação, bem como alterações nos modelos
de negócios das empresas de serviços de eletricidade (distribuidores), que ainda não estão
totalmente preparadas para a maior implementação da tecnologia GD.
É necessário identificar e destacar várias barreiras existentes à proliferação de GD
no Brasil, como a falta de incentivos diretos (a compensação depende da compatibilidade
da rede para viabilidade econômica), impostos sobre equipamentos de GD utilizados no
sistema, o longo prazo de investimento em instalações, burocracia excessiva para obter
linhas de crédito para projetos de financiamento, falta de financiamento viável e falta de
entendimento em torno dos sistemas de GD.
Para que a GD seja cada vez mais implementada na sociedade brasileira, o Estado
deve exercer seus poderes de desenvolvimento desburocratizando a geração
compartilhada de energia e abrindo oportunidades de crédito para essa tecnologia.

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normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, e o Módulo 3 dos procedimentos de distribuição –
PRODIST. Disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012517.pdf

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425
HÍDRICA

426
ESTIMATIVA PRELIMINAR DO POTENCIAL ENERGÉTICO DE UMA
CENTRAL HIDRELÉTRICA A FIO D’ÁGUA

Miryam Torres dos Santos Cunha1, Thailys Campos Magalhães1, Ana Carolina de
Santana Moura1, Luana Laís da Silva Freire1, Tertuliano Ferreira Moreno 1, Jéssica
Malaquias da Silva1
1
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
E-mail: tertuliano.f.m@gmail.com

RESUMO: As pequenas centrais hidrelétricas funcionam pela vazão fornecida ao curso


d'água, ou seja, a fio d'água, não havendo necessidade de alterações do curso d'água ou
de grandes áreas de alagamentos. O presente trabalho foi concebido com o objetivo de
apresentar os resultados obtidos por meio de uma estimativa preliminar, do potencial
energético de uma central hidrelétrica a fio d'água. Foram extraídos dados hidrológicos
de um período de 36 anos do site da Agência Nacional das Águas do posto fluviométrico
Rio do Pouso, localizado no estado de Santa Catarina. A seguinte metodologia foi
utilizada: os dados de vazão diários da estação fluviométrica foram agregados em classes
de forma que a curva de permanência tenha 20 pontos bem distribuídos. A vazão média
de longo período foi estimada adotando-se perdas por evaporação e vazamentos na
tubulação que leva à turbina. Em seguida, foi elaborado a curva chave da estação
fluviométrica. A energia que seria gerada durante um ano foi estimada a partir da potência
instalada e o tipo de turbina utilizada. O resultado obtido a partir da curva chave mostrou
graficamente que há mais medições de vazão na faixa de nível d'água e vazões baixas. O
valor obtido para a vazão média de longo período foi de 83,61m3 e a potência instalada
nessa estimativa é de 4,67 MW. Os resultados obtidos nessa estimativa preliminar do
potencial energético de uma pequena central hidrelétrica servirão de parâmetros para a
continuidade de trabalhos futuros.
Palavras-chave: Hidráulica, energia, curva de permanência.

427
PRELIMINARY ESTIMATE OF THE ENERGY POTENTIAL OF A RUN-OF-
THE-RIVER HYDROELECTRIC POWER PLANT

Abstract: The small hydroelectric power plant operate by the flow supplied to the
watercourse, that is, run-of-the-river, with no need to alter the watercourse or large areas
of flooding. The present work was conceived with the objective of presenting the results
obtained by means of a preliminary estimate, of the energetic potential of a run-of-river
hydroelectric power plant. Hydrological data from a 36-year period were extracted from
the website of the National Water Agency of the Rio do Pouso fluviometric station,
located in the state of Santa Catarina. The following methodology was used: the daily
flow data from the fluviometric station were aggregated into classes so that the
permanence curve has 20 well-distributed points. The long-term average flow was
estimated by adopting evaporative losses and leaks in the pipeline leading to the turbine.
Then, the key curve of the fluviometric station was elaborated. The energy that would be
generated over a year was estimated from the installed power and the type of turbine used.
The result obtained from the key curve showed graphically that there are more flow
measurements in the water level range and low flow rates. The value obtained for the
average long-term flow was 83.61m3 and the installed power in this estimate is 4.67 MW.
The results obtained in this preliminary estimate of the energy potential of a small
hydroelectric plant will serve as parameters for the continuation of future work.
Keywords: Hydraulics, energy, permanence curve.

1. INTRODUÇÃO

A energia é uma fonte vital para o desenvolvimento econômico de uma nação


(JEBARAJ & INIYAN, 2005). Atualmente, a produção e o abastecimento de energia
elétrica no mundo são vistos como dois dos principais desafios do homem moderno que
precisa conciliar seu desenvolvimento tecnológico ao aumento da demanda no
fornecimento de energia causado pela necessidade das novas tecnologias.
O setor energético vem causando significativo impacto ambiental no mundo em
todas as suas etapas do seu ciclo produtivo: geração, transmissão e distribuição. É
impossível gerar impacto zero ao meio ambiente, não importando qual seja o tipo de
empreendimento energético. Esses impactos podem ser minimizados a partir da
realização de estudos preliminares e ações durante e depois da sua realização.
Neste cenário, a implantação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) é uma
opção para suprir energia em municípios distantes e sem conexão ao sistema, como
também, permite um menor impacto por alagarem pequena extensão de terras, não
havendo a necessidade de alteração do curso natural da água e do regime hidrológico da
região. São consideradas PCHs, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (2003),
os empreendimentos hidrelétricos com potência superior a 1 MW e igual ou inferior a 30
MW.
Este trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos por meio de uma
estimativa preliminar, do potencial energético de uma central hidrelétrica a fio d'água.
Para tal, se fez necessário, através do site da ANA (Agência Nacional das Águas), coletar
dados de vazão e nível d’água de um período mínimo de 30 anos.

428
O posto fluviométrico onde foram coletados os dados hidrológicos foi o Rio do
Pouso. Localizado no estado de Santa Catarina, na bacia Atlântico, trecho sudeste no Rio
Tubarão. Esse rio nasce na encosta da Serra Geral, tendo como principais formadores os
rios Rocinha e Bonito. No total vivem nesta bacia cerca de 278.000 habitantes, dos quais
aproximadamente 206.000 residem nas 18 sedes urbanas existentes na sua área de
abrangência.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

As informações hidrológicas foram obtidas pelo portal HIDROWEB, uma


ferramenta integrante do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
(SNIRH) e oferece acesso ao banco de dados que contém todas as informações coletadas
pela Rede Hidrometeorólogica Nacional (RHN), a Agência Nacional de Águas (ANA) é
responsável pela coordenação da Rede Hidrometeorólogica Nacional. Com isso, foi
possível obter todos os dados requeridos para o desenvolvimento deste estudo.
Inicialmente foi realizada uma análise dos dados obtidos na estação fluviométrica
Rio do Pouso, localizada no estado de Santa Catarina, com o objetivo de identificar falhas
nas medições de vazões e cotas ao longo de todo o período de funcionamento da estação.
Para essa análise e escolha do período dos dados, foi adotado como condição, que a
estação possua no mínimo 30 anos de medições diárias ininterruptas, para vazão e nível
d’água. Desta forma, escolheu-se o período de janeiro de 1972 até junho de 2008. Sendo
assim, extraiu-se estes dados e os mesmos foram dispostos em uma planilha para serem
submetidos aos devidos tratamentos.
A curva de permanência foi elaborada a partir de dados diários de vazão, de forma
a se obter 20 pontos bem distribuídos ao longo da curva, escolheu-se por agregar os dados
em 20 classes.
A vazão média de longo período teórica é equivalente a área embaixo da curva de
permanência. A área foi dividida em diversos retângulos e calculada por Soma de
Riemann (Equação 1).
b 𝑖=1

Área= ∫ f(x)dx = ∑ (ocorrêncian - ocorrência(n+1) ).Xi (1)


a i=(n-1)

Para se obter a vazão média de longo período real foram consideradas as perdas
por evaporação e vazamentos na tubulação que leva a turbina. Nesse estudo adotou-se um
fator de perdas equivalentes a 5%, isto é, a energia suprida pela usina terá uma garantia
de 95% de atendimento. De acordo com Collischonn & Tassi (2008), a vazão que é
superada em 95% do tempo é chamada de Q95 e é utilizada para definir a Energia
Assegurada de uma usina hidrelétrica.
Antes de definir a curva para carga hidráulica foi necessário determinar o nível
d’água a montante a partir dos dados de nível a jusante (dados extraídos no posto
fluviométrico). A Equação 2 mostra como esse cálculo foi realizado, considerando um
fator de projeto de 105%, pois o nível d’água a montante deve ser maior que a jusante,
conforme estabelecido por Hydraulic Design Criteria (1988) e adotado por Eletrobrás
(2013).

429
Hmontante =105%Hmáxjusante (2)

Onde:
Hmontante = Nível d’água a montante em m;
Hmáxjusante = Nível d’água máximo a jusante em m.
Para se obter os valores de carga hidráulica, foi necessário realizar o tratamento dos dados
de nível. O tratamento foi recíproco ao empregado anteriormente para os dados de vazão,
procurou-se organizar os intervalos de classe de tal forma que a frequência de cada classe
permita uma distribuição uniforme dos 20 pontos. Através da Equação 3, foi possível
obter a carga hidráulica das 20 classes.

CH = Hmontante - Hjusante ( 3)
Onde:
CH = Carga Hidráulica em m;
Hmontante = Nível d’água a montante em m;
Hjusante = Nível d’água a jusante em m.

Para este estudo, foi adotado que a turbina a ser utilizada nesta estimativa seria de
modelo tipo Kaplan de fluxo axial. Uma das características dessa turbina é que ela foi
desenvolvida para utilizar quedas baixas. A partir da escolha, foi possível empregar os
valores especificados para a turbina Kaplan de fluxo axial citados por Mays (2011), que
sustentam o funcionamento eficiente da turbina:

I. Vazão mínima de operação foi definida a partir de 35% da vazão média de


longo período real para evitar problemas de cavitação na turbina;
II. Na determinação da carga hidráulica máxima utilizou-se a curva chave
para verificar a vazão mínima de operação;
III. A turbina também tem como especificação que a carga hidráulica mínima
corresponde a 33% da carga hidráulica máxima;
IV. A turbina opera com eficiência constante de 85%.
O cálculo da potência instalada permite classificar o rio quanto a sua capacidade
hidráulica. A Equação 4 apresenta a expressão que calcula a potência instalada.

P = Q.H.η .ɣ (4)
Onde:
P = Potência Instalada em W;
Q = Vazão média de longo período em m3.s-1 ;
H = Carga hidráulica de projeto em m;
ɳ = Eficiência da turbina;
ɣ = Peso específico da água em N.m-3.

430
A curva de permanência de potência foi definida a partir dos limites operacionais
da turbina Kaplan de eixo axial citados anteriormente e através das curvas de permanência
de vazão e carga hidráulica.
Empregou-se a fórmula da potência (Equação 4) para encontrar a potência média
de cada classe, considerando o mesmo valor da eficiência e do peso específico.
Integralizando estes valores ao longo da curva de potência útil, permitiu determinar o
valor de potência média anual.
A energia gerada em um ano foi obtida a partir da Equação 5.

E = P.t (7)
Onde:
E = Energia gerada no ano em MW.ano -1;
P = Potência útil em MW;
t = horas em um ano.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 apresenta o hidrograma de vazões diárias do local onde está instalado


a estação fluviométrica Rio do Pouso.

1400
1200
1000
Vazão (m3/s)

800
600
400
200
0

Figura 1 - Hidrograma de vazões diárias medidos na estação Rio do Pouso.

Foram constatadas as menores vazões nos dias 10 e 11 de agosto de 1978. O único


dia em que se constatou a vazão máxima foi no dia 1 de outubro de 2001. Os menores e
o maior nível ocorreram nos mesmo dias que a vazão mínima e máxima, respectivamente.
Isso prova que existe uma correlação entre a vazão e o nível d’água.
A fim de se obter 20 pontos bem distribuídos ao longo da curva de permanência,
foram feitos ajustes nos limites superiores de cada classe. A curva de permanência para a
vazão no local estudado foi obtida a partir dos dados de vazão média da classe e do
percentual de ocorrência, conforme mostra a Figura 2.

431
Curva de Permanência
1000

800
Vazão (m3.s-1)

600

400

200

0
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%
(%)

Figura 2 – Curva de permanência para a vazão.

A vazão média de longo período teórica obtida a partir da Equação 1 foi de


83,61m3.s-1. Após considerar as perdas por evaporação e vazamentos na tubulação que
leva a turbina se obtém a vazão real que é de 79,43m3.s-1.
A Figura 3 apresenta, de forma gráfica, o resultado das medições médias dos
intervalos de classe de vazão e nível d’água no período de janeiro de 1972 até junho de
2008, no rio Tubarão no posto fluviométrico Rio do Pouso. A curva é muito bem
representada por um polinômio do segundo grau.

Curva Chave
900
800
700
600
vazão (m3.s-1)

500
400
300
200
100 y = 8,1788x2 + 137,54x - 4,1807
R² = 0,998
0
-1 -100 0 1 2 3 4 5
nível d'água (m)

Figura 3 – Curva chave.

Cada ponto no gráfico corresponde a uma medição de vazão. Nota-se que há mais
medições de vazão na faixa de cotas e vazões baixas. Isto ocorre porque as vazões altas
não são muito frequentes, no caso, ocorrem apenas durante as cheias.

432
A curva de permanência para carga hidráulica (Figura 4) foi definida a partir dos
dados de percentual de carga hidráulica acumulada e da carga hidráulica obtida conforme
a Equação 3.

Curva de Permanência (Carga Hidráulica)


9,000
8,000
7,000
Carga Hidráulica

6,000
5,000
4,000
3,000
2,000
1,000
0,000
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

(%)
Figura 4 – Curva de permanência para a carga hidráulica.

A partir dos limites de operação da turbina Kaplan de eixo axial obteve-se a vazão
mínima de operação correspondente a 27,8m3.s-1. Como a vazão mínima estava entre as
classes 5 e 6 foi necessário fazer uma interpolação para obter a carga hidráulica máxima
equivalente a 7,4 m. A carga hidráulica mínima foi definida a partir de uma das condições
da turbina conforme descrito anteriormente, o valor da vazão mínima obtido foi de 2,44m.
Utilizando a curva chave, observou-se que não teve uma vazão menor do que o menor
nível d’água, logo a vazão máxima de operação foi limitada sendo igual a maior vazão
média de classe, equivalente a 799,212 m3.s-1
Para determinação da potência instalada utilizou-se a carga hidráulica de projeto,
com o auxílio da curva chave (Figura 3), observa-se que a vazão média de longo período
está entre as classes 12 e 13, então por interpolação é possível definir a carga hidráulica
de projeto que foi de 7,05m.
A eficiência da turbina foi considerada como sendo constante e igual a 85%, o
peso específico da água é equivalente a 9810 N.m-3. Considerando esses valores a
potência instalada nessa estimativa é de 4,67 MW. De acordo com a classificação, o rio
Tubarão se enquadra como potencial para inserção de uma Pequena Central Hidrelétrica
(PCH), pois a potência instalada está entre 1 MW e 30 MW.
As vazões das classes de 1 a 4 não atendem os limites operacionais da turbina
Kaplan de eixo axial. A Figura 5, apresenta a área na qual a turbina tem capacidade de
gerar energia.

433
Curva de Potência
18
16
14
12
Potência (MW)

10
8
6
4 Potência
2
Útil
0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Figura 5 – Curva de permanência de potência.

A área hachurada embaixo da curva representa a potência útil, a partir dela e do


número de horas em um ano foi possível determinar a energia gerada em um ano, de
acordo com a Equação 5. Logo, a energia gerada obtida foi de 34GWh.ano -1.

4. CONCLUSÃO

O presente trabalho foi realizado de forma sistemática, utilizando as informações


de um posto fluviométrico localizado no estado de Santa Catarina, obtidas no portal
HIDROWEB no site da ANA (Agência Nacional das Águas). Após análise dos dados
extraídos de vazão e nível d’água e tendo como condição um período mínimo de 30 anos
de dados, foram construídas relações entre curvas de permanência com a equação de
potência hidráulica, com o objetivo de realizar uma estimativa preliminar sobre o
potencial energético de uma central hidrelétrica a fio d’água.
Foi verificado graficamente que há mais medições de vazão na faixa de nível
d'água e vazões baixas. O valor obtido para a vazão média de longo período foi de
83,61m3 e a potência instalada é de 4,67 MW. A energia gerada em um ano nessa
estimativa é de 34GWh.ano -1. Os resultados obtidos nessa estimativa preliminar do
potencial energético de uma pequena central hidrelétrica servirão de parâmetros para a
continuidade de trabalhos futuros.

REFERÊNCIAS

ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica. Guia do empreendedor de pequenas centrais


hidrelétricas. Brasília. 2003.

Antunes, R.B.; Constante, V. T. Recursos Hídricos de Santa Catarina. Disponível em:


http://www.aguas.sc.gov.br/jsmallfib_top/DHRI/bacias_hidrograficas/bacias_hidrograficas_sc.p
df. Acessado em: 25/02/20202.
434
Collischonn, W.; Tassi, R. Introduzindo Hidrologia. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2008.

Damasceno, I. A. Pequenas centrais hidrelétricas (PCHs): conceitos, normas e a PCH


Malagone. 2014. p.164. (Dissertação de mestrado), Universidade Federal de Uberlândia, Minas
Gerais, 2014.

ELETROBRAS. Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003.

Guitarra, G. B. Estimativa de vazão para a implantação de micro-centrais hidrelétricas com


utilização do SIG. 2012. p.44. (Trabalho de Conclusão de Curso), Universidade de São Paulo,
São Carlos, 2012.

Hydraulic Design Criteria. Waterways Experiment Station - Corps of Engineers. Vicksburg,


Mississippi - 1988

Jebaraj, S.; Iniyan, S. A review of energy models. Renewable and Sustainable Energy Reviews,
v. 10, n. 4, p. 281-311, 2006.

Júnior, et.al. Metodologia para identificação de áreas potenciais para implantação de pequenas
centrais hidrelétricas na bacia do rio preto utilizando sistemas de informações geográficas.
Revista Brasileira de Cartografia. n.60. 2008.

Mays, L.W. Water Resources Engineering. 2ª edition, Arizona: John Wiley & Sons, 2011.

Tucci, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 4ª edição. Porto Alegre: Editora da UFRGS,


1993.

435
OTIMIZAÇÃO ESTRUTURAL DE EQUIPAMENTO HIDROMECÂNICO
MOTIVADA PELA INTERAÇÃO COM OS EFEITOS NATURAIS

Maia, Miriam Regina Sanches1


1
Universidade de Campinas, Departamento de Estruturas da Faculdade de Engenharia
Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
Brasil
E-mail: miriam.sanches.maia@gmail.com

RESUMO: A concepção de novas Usinas Hidroelétricas, buscando minimizar as


interferências com o meio ambiente aliada ao crescente interesse em construções
ecologicamente corretas, estimulam a criação de novas soluções. Uma alternativa é o
desenvolvimento de Usina de baixa queda com o Vertedouro afogado. Nestas condições
a comporta de Vertedouro, tipo Segmento fica sujeita a maior quantidade de detritos ou
sedimentos, além do efeito hidráulico do “afogamento por jusante”. Diante destes
fenômenos, observou-se a necessidade de dimensionar a estrutura das comportas com
grandes aberturas na alma das vigas. Este trabalho tem como objetivo o estudo e a
avaliação dos parâmetros que influenciam diretamente a capacidade de resistência das
vigas de comportas com alma de vigas com aberturas de diferentes tamanhos e formas.
A metodologia empregada para tal estudo baseou-se em análise com auxílio de método
numérico, por análise por Método de Elementos Finitos (FEM), inicialmente aplicando
carregamentos no próprio plano da viga e posteriormente, acoplando os carregamentos
adicionais dos efeitos perpendiculares ao plano da alma da viga. As análises produzidas
confirmam os efeitos descritos na revisão bibliográfica, assim como os resultados dos
modelos básicos iniciais, onde a presença de abertura é significante para o comportamento
da estrutura mas é possível determinar a solução com abertura com reforços ou aumento
de espessura da alma da viga.
Palavras-chave: Abertura na alma, Viga perfurada, Análise em Elementos Finitos, Viga
alveolar, mecanismo de Vierendeel.

436
STRUCTURAL OPTIMIZATION OF HYDRO-MECHANICAL EQUIPMENT
MOTIVATED BY INTERACTION WITH NATURAL EFFECTS

Abstract: The design of new hydropower plants allied with the growing interest in green
construction stimulate trends to minimize interference with the environment, and
stimulate the creation of new solutions. An alternative is the development of the Power
plant with low loss and its Spillway drowned. Under these conditions, the gate from the
spillway is subject to a greater amount of debris or sediment, in addition to the hydraulic
effect of "downstream drowning". In view of these phenomena, there is a need to definite
the structure of the gates with large openings in the web beams. This work has the
objective of studying the behavior and design of the gates structure with beams with web
openings of different sizes and shapes. The study comprises know the behavior of the
structure with perforated beam, evaluating the parameters that influence the load carry
capacity, as the location of the opening throughout the span, the height of the opening in
relation to the height of the beam profile. The methodology for this study was based on
analysis with numerical method based on the Finite Element Method (FEM), initially
applying loads in the beam plane itself and later, coupling the additional loads of the
perpendicular effects to the soul plane of the beam. The analyzes produced confirm the
effects described in the literature review, as well as the results of the initial basic models,
where the presence of opening is significant for the behavior of the structure but it is
possible to determine the solution with opening with reinforcements or increasing the
thickness of the beam web.
Keywords: Web opening, perforated beam, Finite element analysis, cellular beam,
Vierendeel mechanism.

1. INTRODUÇÃO

A presença de um reservatório como um “pulmão” garantindo a água necessária


para a geração minimiza a interferência dos períodos de estiagem causados pela variação
da atmosférica. No entanto, a contrapartida desta garantia acarreta em grandes superfícies
inundadas e a ampliação de aspectos ambientais. Um exemplo deste tipo de usina é a
Usina Hidrelétrica de Itaipu (Figura 1).
A atuação de ambientalistas e criação de legislação específica buscando a
sustentabilidade e a redução dos impactos ambientais incentivou a concepção de Usinas
Hidrelétricas sem um reservatório de acumulação servindo como um “pulmão “para as
épocas de seca. Desta forma a área alagada pela presença da barragem é mínima e toda a
água afluente é utilizada na geração. Este tipo de estrutura é denominado Usina de “fio
d’água”. Um exemplo recente de Usina Hidrelétrica tipo fio d’água é a Usina de Santo
Antônio, em Porto Velho (Figura 2).

437
Figura 17 - Vertedouro, lago e Barragem de Itaipu (Imagem Caio Coronel, 2013)

Figura 18 - Vertedouro e Barragem da Usina de Santo Antônio (Imagem acervo


Bardella)

A estrutura de um Vertedouro é apresentada na Figura 3, a ilustração do Ensaio


em Modelo Reduzido de um Vertedouro afogado é apresentada na Figura 4 e na Figura 5
um exemplo de Comporta Segmento com viga horizontal inferior afogada, a seguir.

438
Figura 3 - Croqui esquemático de Vertedouro (Acervo Bardella)

Figura 4 - Vertedouro afogado da UHE Estreito- Ensaio em Modelo Reduzido (Acervo


Bardella)

439
Figura 5 - Comporta Segmento com viga horizontal inferior afogada (Acervo
Bardella)
A presença do nível de jusante tem acoplado efeitos não antes observados, como:
o ressalto afogado introduzindo esforços adicionais, o retorno de detritos na viga
horizontal inferior e até mesmo o “aprisionamento” de peixes.
Diante destes problemas, a solução imediata do ponto de vista estrutural é dotar a
viga inferior com grandes aberturas. Este trabalho tem como objetivo o estudo e a
avaliação dos parâmetros que influenciam diretamente a capacidade de resistência das
vigas de comportas com alma de vigas com aberturas de diferentes tamanhos e formas
(circular / quadrada).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia empregada para tal estudo baseou-se em análise com auxílio de


método numérico, por análise por Método de Elementos Finitos (FEM), inicialmente
aplicando carregamentos no próprio plano da viga e posteriormente, acoplando os
carregamentos adicionais dos efeitos perpendiculares ao plano da alma da viga.
Como procedimento para se atingir o objetivo, temos:
 Avaliar, através de revisão bibliográfica o estado-da-arte de vigas perfuradas;
 Transpor a aplicação dos resultados para vigas de comporta;
 Modelar as vigas de comporta no programa computacional de simulação
numérica, através de software Abaqus.

440
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Zhao Yingjiang et al (2015), vigas com almas perfuradas reforçadas são
largamente aplicadas em estruturas de navios e aplicações offshore (Figura 6).

Figura 6 - Aberturas em uma estrutura naval composta por placas perfuradas (ZHAO et
al, 2015)

Também encontramos aplicação na área aeroespacial, onde a abertura de furos nas


asas e fuselagens de aviões permite a passagem de dutos que alimentam sistemas de água,
sistemas elétricos, sistemas óleo hidráulicos, sistemas de arrefecimentos etc.
Na construção Civil, vigas com alma perfurada têm sido bastante utilizadas
motivada pela procura de geometria de vigas para grandes vãos, facilidade de construção
e economia pelo fato de vigas perfuradas ficarem mais leves e a passagem de dutos e
sistemas através da estrutura.

Figura 7 - Produção de vigas celulares (BLODGETT,1976)

441
Figura 8 - Viga Metálica celular (catálogo ArcelorMittal Cellular Beams,2011)

A presença das aberturas em grandes proporções resultará na mudança de


distribuição de tensões, bem como na redução da capacidade resistente e condições de
estabilidade. Contudo, a introdução de reforço adicional pode assegurar que a resistência
perdida com a presença do furo seja recuperada. Segundo Chung e Lawson (2001), os
modos de falha da estrutura observados nos ensaios devem ser considerados no cálculo
de vigas alveolares, sendo eles:

 Ruptura da Alma por Cisalhamento

Figura 9 - Ruptura da solda por cisalhamento (BADKE et al 2015)

442
 Mecanismo por flexão
Diz respeito a formação de rótula plástica em uma viga que está sujeita a flexão,
que na viga perfurada apresenta uma seção transversal com vazio e a porção de alma e
aba restantes, formam uma seção em forma de “T” na mesa superior e “T” invertido a
mesa inferior.

Figura 10 - Seção transversal viga alma cheia, alveolada e "T

 Flambagem local por Compressão / Flambagem Lateral por Torção


As vigas alveolares e as vigas de alma cheia possuem comportamentos similares
quanto à flambagem lateral. A flambagem lateral com torção é caracterizada por um
deslocamento lateral e um giro da seção transversal

 Flambagem da Alma por Cisalhamento


Na flambagem do montante da alma a parte comprimida tende a se deslocar para
fora do plano longitudinal do perfil enquanto a parte tracionada tende a permanecer na
posição inicial.

Figura 11 - Flambagem do montante da alma devido à força cortante (BADKE et al,


2015)
 Deflexão adicional

443
Cada furo na alma conduz a uma deflexão adicional (flecha) no meio do vão devido
aos efeitos de cisalhamento e flexão.

 Mecanismo Vierendee
Ocorre na viga mista ao redor da abertura da alma devido à transferência dos
esforços de cisalhamento ao longo do furo, promovendo o surgimento de rótulas plásticas
nos cantos das aberturas, deformando a viga em forma de paralelogramo. A formação da
rótula consiste na plastificação da seção, ou seja todas as fibras da seção, desde as mais
distantes da linha neutra até a linha neutra apresentam a mesma tensão limite de
elasticidade (fy).

Figura 12 - Colapso por mecanismo de Vierendeel (BADKE at al, 2015)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como Estudo de Caso foi realizada a verificação estrutural, por elementos finitos,
de uma Comportas Segmento do Vertedouro, objetivando a análise da viga horizontal
inferior sem aberturas e com aberturas (circular/ quadrada). Para realizar a análise da
estrutura foi utilizado o software ABAQUS/CAE versão 6.14-1.
Características das Vigas Horizontais: a comporta apresenta duas vigas horizontais, sendo
uma viga horizontal superior e uma viga horizontal inferior. Sua seção transversal é como
um perfil tipo “I” com alma de espessura 25mm e abas 44,5mm. Material: a comporta é
fabricada em aço ASTM A572 - grau 50, com tensão de escoamento fy= 345 MPa e
ruptura σr=450 MPa. Foi utilizada a análise estática considerando não linearidades
geométricas, onde o material foi considerado como elástico. As condições de
carregamento são as seguintes:

444
Carga de pressão hidrostática referente ao nível do topo da comporta aplicada no
paramento de montante para jusante, resultando numa carga de 24,18m;
Carga de pressão hidrostática na Viga Horizontal Inferior referente ao carregamento
de jusante no valor de 3 mca. Na Figura 13 é apresentada a geometria da modelagem
numérica e os resultados de níveis de tensões estão nas Figuras 14, 15 16 e 17.

Figura 13- Vistas da Geometria do modelo: Isométrica, Planta, Elevação e Vista por
Jusante (Acervo Pessoal)

Figura 14-Perspectiva Viga Horizontal Inferior – Tensões (Acervo Pessoal)

445
Figura 15-Distribuição de tensões na alma da Viga Horizontal Inferior sem abertura
(Acervo Pessoal)

Figura 16-Distribuição de tensões na alma da Viga Horizontal Inferior-abertura ϕ800


(Acervo Pessoal)

446
Figura 17-Distribuição de tensões na alma da Viga Horizontal Inferior-abertura L=800
(Acervo Pessoal)

Da análise do resultado das tensões causadas pelas aberturas circulares versus as


aberturas quadradas, conclui-se que a abertura quadrada é mais sensível ao carregamento,
tendo menor estabilidade, causando tensões e deslocamentos maiores.
Plotando as diversas análises na forma de gráfico onde o tamanho da abertura está
no eixo vertical e o deslocamento (flecha) está plotada na horizontal temos o Gráfico 1:

Gráfico 1 - Equivalência entre aberturas Quadradas e Circulares (Acervo Victor


Stangherlin)

O Gráfico1 demonstra a relação entre os deslocamentos (flecha na viga) das


análises realizadas para abertura circular e abertura quadrada. Observa-se por exemplo
que, para um círculo de diâmetro igual a 140 cm o deslocamento vertical é 5 cm enquanto

447
para uma abertura quadrada de lado de 140cm cm o deslocamento vertical é
aproximadamente 9 cm.
A partir dos dados apresentados pode-se concluir que quanto menor o diâmetro da
abertura, mais próximos estão os valores de deslocamento para uma viga com abertura
circular versus abertura quadrada. Com o aumento da abertura, a abertura quadrada é
menos resistente e menos estável.
Observa-se que o carregamento da alma da viga horizontal inferior é inversamente
proporcional ao tamanho da abertura, ou seja, para pequenas aberturas o carregamento é
maior por ter uma área exposta à pressão hidráulica maior, enquanto para grandes
aberturas a área restante em contato com a água sendo menor ocasiona um carregamento
menor.

4. CONCLUSÃO

Em alma de vigas de comportas pode-se observar a presença de pequenas aberturas


com a função de drenos localizados onde os esforços devidos à momentos fletores e
esforços cortantes são mínimos e somente com a função de drenar a água acumulada
durante a manobra da comporta. Não é usual a aplicação de aberturas significativas nas
almas das vigas estruturais em Comportas. Diante dos efeitos da presença do nível de
jusante como os esforços adicionais, o retorno de detritos na viga horizontal inferior e até
mesmo o “aprisionamento” de peixes, a solução de se aplicar grandes aberturas na alma
da viga horizontal inferior de Comporta tipo Segmento de modo a minimizar tais efeitos
é factível.
Embora existam referências do uso de aberturas em vigas estruturais, o diferencial
deste estudo reside no fato do carregamento para a viga inferior de Comporta Segmento
afogada ocorrer simultaneamente em duas direções ortogonais, enquanto nas estruturas
das referências o carregamento é apenas na direção do eixo principal de inercia, não tendo
sido encontrada similaridade para esta situação de carga. A retirada de material para criar
a abertura gera concentradores de tensão localizados ao redor do furo. Existe um vasto
campo de possibilidades para a continuidade da análise, buscando-se alternativas de
conviver com as aberturas.
Sugere-se a análise de reforço de abertura, tipo “bolacha” ou tipo aba. Também
seria interessante a comparação destas soluções acima com o aumento de espessura da
alma da viga horizontal. Desta forma seria possível comparar o acréscimo de massa
versus o acréscimo de mão de obra para a execução.

REFERÊNCIAS

A. BADKE-NETO, A. F. G. C. . W. G. F. Estudo de metodologias para o dimensionamento de


vigas mistas de aço e concreto com perfil celular. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais,
Centro Tecnológico, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Nov./Dec. 2015. vol.8
nº6 São Paulo. Disponivel em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1983-41952015000600006>.

448
ArcelorMittal Europe. ACB Cellular Beams, 2011. Disponível em:
https://ds.arcelormittal.com/repository/brochures/ACB%20Cellular%20Beams.pdf. Acessado
em: 20/02/2020.

BLODGETT, O. W. Design of Welded Structures. 8ª ed. ed. EUA: The James F. Lincoln Arc
Weld Foundation, 1976. p. p.4.2, 1976.

CHUNG, K. F.; LAWSON, R. M., 2001: Simplified design of composite beams with large web
openings to Eurocode 4. Journal of Constructional Steel Research, Hong Kong p. 135–163,
2001. Disponivel em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0143974X00000110

K.F.CHUNG, T. C. H. L. A. C. H. K. Investigation on Vierendeel mechanism in steel beams


with circular web openings. Journal of Constructional Steel Research 57,p. 467–490, 2001.
Disponivel em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0143974X00000353>.

Stangherlin, V. Simulação Numérica de Vigas Alveolares Metálicas utilizadas em Comportas de


Barragens. 2016. 42 páginas. (Trabalho de Final de Graduação), Departamento de Estruturas da
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2016.

PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA (PCH) DE CHIBARRO: POTENCIAL


TURÍSTICO, CULTURAL E ENERGÉTICO

Denilson Bertolaia1, Oriowaldo Queda2


1
Universidade de Araraquara - UNIARA, 2Universidade de Araraquara -UNIARA
E-mail: dbertolaia@hotmail.com

RESUMO: A busca incessante por uma fonte energética renovável, sustentável e que
respeite o meio ambiente constitui o ideal de qualidade de vida. Assim, surgiram as
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), com potência de 3.000 kW a 30.000 kW. Dentre
elas, foi escolhida como objeto de trabalho a PCH Chibarro, sita no rio Chibarro, no

449
município de Araraquara –SP, construída em 1912. Considerada uma das mais antigas do
Brasil, ela, ainda, é usada como ponto de lazer. O presente trabalho teve como objetivo
geral avaliar a sustentabilidade da PCH Chibarro, e, como objetivo específico, constatar
o seu real potencial turístico, cultural e energético. O trabalho usa como metodologia as
pesquisas de campo e qualitativa, bem como o estudo de caso. Assim, responde-se às
questões sobre: o destino da energia e a potência gerada; o respeito da concessionária de
energia elétrica pela sustentabilidade sob as dimensões social, econômica, ecológica,
espacial e cultural; as vantagens e as desvantagens entre a Usina Hidrelétrica (UHE) de
grande porte e a PCH; os entraves para criação do Museu; a importância para o
desenvolvimento regional da agricultura familiar entre outros. Os resultados obtidos nas
pesquisas consistentes com o não tombamento patrimonial, a ausência de instalação do
Museu de Energia, as novas realidades em face da reforma de 2008, e o precário acesso
à PCH Chibarro, servem para subsidiar a melhoria de suas instalações e facilitar o acesso
à usina. Enfim, foram apresentadas propostas com a finalidade de otimizar recursos da
usina de modo a aumentar a exploração do seu potencial turístico, cultural e energético.
Palavras-chave: Energia Renovável, Fonte Alternativa Sustentável, Musealizar,
Tombamento.

SMALL HYDROELECTRIC CENTER (SHC) CHIBARRO: TOURISTIC,


CULTURAL AND ENERGY POTENTIAL

ABSTRACT: The relentless search for a renewable, sustainable and environmentally


friendly energy source constitutes the ideal quality of life. Thus, Small Hydroelectric
Power Plants (PCH) appeared, with a power between 3,000 kW and 30,000 Kw. The
Chibarro SHP, located on the Chibarro River, in the city of Araraquara - SP, built in 1912,
was chosen as object for this research. One of the oldest in Brazil, it is still used as a
collective entertainment center. The present work has as a general objective to evaluate
the sustainability in all dimensions of the Chibarro SHP, and specific to verify its real
touristic, cultural and energetic potential. The work used field and qualitative research as
methodology, as well as the case study. Thus, answering questions about: the fate of
energy and power generated; whether the electricity utility respects sustainability under
the social, economic, ecological, spatial and cultural dimensions; the advantages and
disadvantages between the large hydroelectric plant (HPP) and the SHP; the obstacles to
the creation of the Museum; the importance for regional development, of family farming;
etc. The results obtained in consistent researches with the non-listed heritage, the absence

450
of installation of the Energy Museum, new realities face to the 2008 reform with
demolitions and restorations, the precarious access to the Chibarro SHP, etc., served as
parameters of improvement for these structures. Finally, proposals were presented in
order to optimize the plant's resources, consequently increasing the exploitation of its
touristic, cultural and energy potential.
Keywords: Renewable Energy, Alternative Sustainable Source, Musealize, Tipping.

1. INTRODUÇÃO

No começo do século XX, entre 1907 e 1913, o Estado de São Paulo teve as
primeiras instalações de usinas de pequeno porte. Nesse período, entraram em atividade
23 usinas, dentre as quais a Chibarro, porém, quatro foram desativadas nos anos 80. As
barragens eram de altura modesta, de gravidade em alvenaria de pedra, poucas tinham
contrafortes, e alguns vertedouros eram sem controle. A maioria produzia menos de 1000
kW, no entanto algumas tiveram ampliações de potências (MELLO, 2001).
Nesse referido período, alguns empresários araraquarenses iniciaram a construção
da PCH Chibarro com a autorização da Câmara Municipal de Araraquara, mas, em pouco
tempo, paralisaram e abandonaram a obra. Entretanto, a empresa Rodrigues, Ramos &
Cia deu prosseguimento à construção e, em 1909, inaugurou a iluminação elétrica nas
ruas de Araraquara.
A empresa Chimay Empreendimentos e Participações Ltda é a concessionária
autorizada a explorar a PCH Chibarro e outras seis PCHs na região, até o ano de 2027,
conforme o Primeiro Termo Aditivo ao Contrato de Concessão para Geração de Energia
Elétrica n. 002/2011 (CPFL, 2006-2008).
Para tal, a produção e a distribuição de energia elétrica carecem de outorga de
autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a qual, de acordo com a
potência instalada, classifica as usinas em: Centrais Geradoras Hidrelétrica (CGH) até
1MW; Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) de 1,1 MW até 30 MW; e Usinas
Hidrelétricas de Energia (UHE) com mais de 30 MW.
Nessa linha, escolheu-se, como objeto de estudo de caso deste trabalho, a PCH
Chibarro, usina localizada no rio Chibarro, Fazenda Vista do Salto, no município de
Araraquara.
Essa categoria de usinas de pequeno porte é caracterizada como empreendimento
“destinado a autoprodução ou produção independente de energia elétrica, cuja potência
seja superior a 3.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, com área de reservatório até 13
km2, excluído a calha do leito regular do rio” (Artigo 2. o da Resolução Normativa n. 673,
de 04 de agosto de 2015 da ANEEL).
A reforma de Repotenciação da PCH Chibarro ocorreu entre 2006 e 2008, pela
empresa Ômega Araraquara - Consultoria e Construtora Ltda., que está inativa há três
anos (Ômega Araraquara, 2008). Figuras 1 e 2 - Usina Chibarro

451
Figura 1 – Fachada da Casa de Força. Figura 2 – Barragem.
Fonte: Ômega Araraquara (site oficial). Fonte: autor (fev/2020).

A opção de escolha entre reformar a PCH ou construir uma UHE de grande porte
deu-se em razão de as construções das grandes usinas exigirem grandes projetos, represas
e impactos ambientais, incluindo regime hidrológico, desapropriações, construção de
sistemas de transmissão de energias, quantias vultuosas, além de muito tempo de
construção.
Desse modo, a repotencialização das PCHs tem se mostrado uma opção para
aumentar a geração de energia elétrica com obras a curto prazo, pequeno investimento e
pouco impacto ambiental, sem desapropriações nem instalação de sistemas de
transmissão de energia, e, ainda, com mais facilidades da legislação.
Além disso, as PCHs podem operar, todo o tempo, com custo reduzido, devido a
aspectos como a autonomia, que permite dispensar operadores, pois a vazão da água é
controlada remotamente (BIANCHI; SOUZA, 2003). Assim, a repotencialização
representa a produção de mais energia com baixo custo.
No aspecto cultural, somente a centenária usina de Corumbataí foi tombada como
Patrimônio Cultural. Denominada Central Elétrica de Rio Claro, a usina foi inaugurada
em 1895, no município de Rio Claro e entrou em operação em 1900. Em 1982, foi
tombada como Patrimônio Histórico pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) e está inscrita no Livro do
Tombo Histórico sob n. 189, p. 45, de 21/06/1982 (Condephaat, 1982).
A segurança hídrica está, diretamente, relacionada à segurança energética,
influenciando tanto no desabastecimento de água potável à população quanto na falta de
energia elétrica.
Nesse sentido, a poluição do rio pode restringir ou frear a produção de energia por
meio de resíduos sólidos, de sedimentos advindos da erosão e de óleos lubrificantes de
veículos. Também, o desenvolvimento de espécies de plantas aquáticas invasoras,
macrófitas, que promovem alterações bioquímicas, pode corroer os equipamentos
eletromecânicos das usinas e, ainda, obstruir o caminho para tomada de água da geração
de energia (LIMNIOS; ALVES; FURLAN, 2015).
Por outro lado, as usinas que têm suas nascentes e o leito com matas nativas e bem
conservadas são mais resistentes no seu volume de água em relação àquelas que não têm
essa proteção. A PCH Itatinga, no município de Bertioga –SP, por exemplo, tem suas
nascentes e seu percurso dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, o que impede a
poluição. Dessa forma, o volume de água sofre pouca alteração no período das estiagens.

452
Nesse contexto, a PCH Chibarro, sita no rio Chibarro e pertencente à Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) 13, na Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré,
mantém, apenas, 8% de sua vegetação nativa, enquanto a PCH de Itatinga possui 63,7%
de sua vegetação nativa (LIMNIOS; ALVES; FURLAN, 2015).
Valorizando o rio e a paisagem, nas proximidades da PCH Chibarro, há uma
cachoeira com queda livre de 73m, que era frequentada por banhistas, contudo essas
visitas foram reduzindo até se findarem.
As características históricas, arquitetônicas e de geradora de energia contribuem
para que a centenária PCH Chibarro possa musealizar. Assim, esse ambiente é favorecido
pela criação da Fundação Patrimônio Histórico da Energia e Saneamento, estabelecendo
as PCHs como patrimônio arquitetônico e ambiental, Usinas-Parque, ora denominadas
Rede Museu da Energia, composta pelas unidades de Salesópolis, de Brotas, de Santa
Rita do Passa Quatro e de Rio Claro, conforme relata a fundação (CPFL, 1998).
No entanto, os processos de musealizar e de patrimonizar as usinas hidrelétricas
no Brasil não têm legislação específica, pois o setor elétrico integra o patrimônio
industrial. Assim, a questão não se inclui no âmbito cultural, que recebe amparo
normativo (CURY, YAGUI, 2015).
Por fim, no decorrer do trabalho, as pesquisas seguirão seu objetivo de avaliar a
sustentabilidade da PCH sob as dimensões: social, ser socialmente justo; ecológica,
ambientalmente equilibrada; e econômica, economicamente viável; além de constatar seu
real potencial turístico, cultural e energético.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os trabalhos foram realizados utilizando, como metodologia, a pesquisa


qualitativa, descrevendo, assim, o funcionamento da estrutura da PCH, suas interações e
a objetividade.
A técnica da pesquisa quantitativa fez o tratamento de dados com outras PCHs da
mesma região de Santa Rita do Passa Quatro, Araraquara, Brotas, Torrinha e São Carlos,
realizada e instrumentalizada por meio do Relatório Técnico 7. a Expedição nas usinas
(MAGALHÃES, 2012).
Dessa forma, por meio das análises, das comparações e das constatações da
pesquisa de campo in loco, tornou-se possível buscar respostas às questões sobre
destinação da energia gerada, potência, sustentabilidade e entraves para musealizar, entre
outras.
A observação direta, ainda, auxiliou na constatação da preservação ou não do meio
ambiente, dos objetos antiquíssimos, da arquitetura secular e das condições da estrada de
acesso.
O Museu de Imagem e Som Maestro José Testar; o Museu Histórico e Pedagógico
Voluntários da Pátria; o Arquivo Histórico da Casa da Cultura e o Setor de Pesquisa da
Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade de Araraquara e a Biblioteca da Uniara
serviram para buscas de objetos, de fotografias e de documentos históricos, na tentativa
de facilitar o caminho para musealizar a PCH Chibarro.
Logo, a repotencialização efetivada na PCH Chibarro, em 2008, foi fotografada
pela empresa executora Ômega Araraquara. Parte desse acervo fotográfico foi

453
disponibilizada no site da empresa, no entanto a empresa está desativada, o que
impossibilitou o acesso a esse acervo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As pesquisas apuraram que a PCH Chibarro não está tombada como Patrimônio
Cultural nem Industrial, tanto pela União (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN), como pelo Estado (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – Condephaat) e pelo
município de Araraquara (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico,
Arquitetônico, Paleontológico, Etnográfico, Arquivístico, Bibliográfico, Artístico,
Paisagístico, Cultural e Ambiental – COMPPPHARA).
Durante as visitas feitas à PCH Chibarro e aos museus da cidade de Araraquara,
constatou-se que não há Museu da Energia nem das Águas com equipamentos da
Chibarro. No museu Histórico e Pedagógico “Voluntários da Pátria” (Ex-Palacete São
Bento, 1898), há, apenas, alguns utensílios e ferramentas cedidos pela CPFL, proprietária
da PCH Chibarro. Figuras 3 e 4: Museu Histórico e Pedagógico “Voluntários da Pátria”.

Figura 3 – Instrumentos temporários da Figura 4: – Instrumentos temporários da


CPFL. Fonte: autor (fev/2020). CPFL.
Fonte: autor (fev/2020).

Na reforma da usina em 2008, as duas Casas das Colônias foram demolidas em


razão de estarem sem uso há tempo. Todavia, optou-se por não as restaurar, e, com isso,
a visão arquitetônica e artística das construções foi prejudicada. Na PCH Chibarro, em
seu acervo local, não há fotos dessas referidas casas antes da demolição.
As máquinas e as ferramentas centenárias substituídas foram levadas para a CPFL
de Campinas –SP, todavia a Chimay CPFL não tem projetos internos para tornar a usina
museu nem atração turística. Já a Restauração Arquitetônica da Casa de Força manteve a
preservação dessa riqueza escultural e reveladora dos valores e dos traços da época,
vindo, assim, ao encontro dos anseios de preservação e de perpetuação dessa memória.
Com relação ao acesso à usina PCH Chibarro, ocorre pela Rodovia Washington
Luiz (SP-320), km 417, onde nasce a estrada municipal. Porém, essa estrada é de terra,
com poucas caixas de retenção d’água para drenagem, assim é composta de areia na época
da seca, ou de barro na temporada de chuva. Dessa forma, o transporte rápido, público e

454
seguro fica impossibilitado por não ser uma estrada asfaltada. Figuras 5 e 6: Estrada
Municipal para PCH Chibarro.

Figura 5 – Início do acesso. Figura 6 – Bifurcação próxima à usina.


Fonte: autor (fev/2020). Fonte: autor (fev/2020).

Observou-se, também, que a PCH Chibarro está, diretamente, conectada à rede de


distribuição, permitindo que todos possam usufruir desse benefício.
Por outro lado, verificou-se, na PCH Chibarro, a desvantagem de que, por seis
meses, na época da seca, há uma redução do volume de água no rio e, consequentemente,
uma queda da produção de energia.
Já no tocante à sustentabilidade social, a PCH Chibarro pode ser avaliada por meio
dos benefícios sociais criados, diretamente, pelo fornecimento da energia elétrica e, de
forma indireta, pelos seus consumidores, que geram empregos nos diversos setores das
economias privadas, comerciais e industriais.
A dimensão ambiental advém da preservação do meio ambiente e da respectiva
sustentabilidade. Dessa forma, a usina executou serviços de restauração vegetal em 2008,
recompondo a mata ciliar na represa e no rio Chibarro até a extensão de 500 m, no entanto
o setor de sustentabilidade da usina, não tem os dados desse projeto de restauração devido
ao tempo transcorrido.
Na dimensão cultural, os costumes e as tradições dos agricultores e pecuaristas
não sofreram alteração com o início da operação em 1912, pois a usina usou somente o
leito do rio Chibarro, não invadindo as áreas agriculturáveis, nem afetando os hábitos dos
agropecuaristas. Como havia poucos funcionários na usina, a convivência próxima não
trouxe interferências de hábitos aos moradores primitivos.
A gestão administrativa de Chibarro suspendeu o acesso à cachoeira com queda
de 73m em razão de que o trânsito de turistas próximos aos geradores e os maquinários
poderiam comprometer o funcionamento da usina e promover acidentes.
No tocante à geração de energia elétrica, a capacidade da potência baseia-se num
cálculo que envolve a altura útil da queda d’água, a vazão e o comprimento da tubulação
d’água, que, na usina Chibarro, representam, respectivamente, 73m, 4,15m3/s e 250m.
As obras estruturais para repotencialização, que suspendeu a operação da usina
em 2006, executou a substituição de todos os equipamentos de geração de energia
elétrica, de controle e de supervisão, o que alterou a potência instada de 2,28MW para
2,6MW, conforme informações do setor de sustentabilidade da usina.
O pesquisador constatou, na visita in loco, que não há resíduos sólidos flutuantes
no leito nem nas margens próximas da represa do Rio Chibarro. Assim como, verificou a

455
inexistência de plantas invasoras macrófitas que poderiam comprometer a geração de
energia elétrica. Já a energia utilizada nos instrumentos e nos equipamentos da usina é
elétrica, limpa e renovável, configurando o autoconsumo para fins de funcionamento.
Também foi observado que a PCH mantém uma comporta de quase um metro de
diâmetro de vazão ecológica a fim de assegurar, após a barragem, a conservação dos
ecossistemas aquáticos naturais. Constatou-se, ainda, que o canal da tomada d’água
ligado à câmara de carga, com parede de, aproximadamente, 50cm de altura, conduz a
água até as turbinas.
Verificou-se que a água do rio Chibarro é fria, em torno de 20oC. Na 13ª campanha
da concessionária pesquisada, foram coletados 97 exemplares de peixes, pertencentes a
11 espécies, 7 famílias e 3 ordens. Após a realização de 13 campanhas, na PCH Chibarro,
foram capturados 542 exemplares pertencentes a 18 espécies, 10 famílias e 4 ordens, das
quais 7 espécies foram consideradas reofílicas e 3 migratórias. Não foram capturadas as
espécies ameaçadas de extinção, conforme informações do setor de sustentabilidade da
usina.
Assim, o rio, por ser de baixa temperatura, possui poucos peixes, o que torna
inviável a atividade de pescadores profissionais. Dessa forma, a construção da usina não
trouxe prejuízo à pesca.
A PCH Chibarro não tem Sistema de Transposição de Peixes (STP) do tipo escada
de peixes, modelo tradicional, nem de canal lateral, solução ecológica mais correta
(MARTINS, 2005)., a fim de assegurar que os peixes migratórios possam ser reproduzir
na época da piracema de outubro a março.
Enfim, a construção da barragem alagou muito pouco as margens do rio Chibarro,
tendo, em 2012, alcançado o volume de 6.000m3 no reservatório, conforme informações
do setor de sustentabilidade da usina, de modo que a construção não necessitou desviar
do rio, nem resgatar ou remover animais e pessoas, por ser do modelo de usina pequena
de fio d’água.

4. CONCLUSÃO

A centenária PCH Chibarro tem potencial turístico em razão de ter sido construída
em 1912, há mais de um século, quando arquitetura, costumes e tecnologia de trabalho
eram diferentes de hoje. Entretanto, para atrair os turistas, as políticas sociais aplicadas
pela empresa concessionária Chimay necessitam ser repensadas, tais como promover
ações para efetivar asfaltamento ou encascalhamento da estrada municipal de acesso e
abrir caminho para a cachoeira.
Já para usufruir do potencial cultural, a concessionária elétrica deve requerer o seu
tombamento, trazer os equipamentos centenários, e criar parcerias para criação do Museu
Chibarro ou das Águas.
A reforma de repotencialização de 2008 alcançou o potencial energético máximo
da capacidade produtiva da usina, considerando-se a atual vazão de água do rio Chibarro.
No entanto, esse potencial energético poderia ser aumentado por meio da recuperação da
capacidade hídrica da bacia do rio Chibarro, com reflorestamento das APPs, das matas
nativas, com proteção das nascentes, das minas d’água e dos seus córregos afluentes.

456
Enfim, as PCHs promovem pequenos impactos ao meio ambiente, pois o
represamento pouco alaga suas margens. No entanto, com as construções das UHEs,
ocorre o contrário: há grande destruição ambiental, observando-se que o alagamento da
área para formação da represa é gigante.

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ÔMEGA ARARAQUARA – CONSULTORIA E CONSTRUTORA LTDA. Obra de


repotenciação da PCH Chibarro no período de 2006 a 2008. 2008. Disponível em:
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Projeto eletromemória - Relatório Técnico 7ª Expedição:


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expedicao.html ˃. Acessado em: 13/02/2020.

458
POLÍTICAS E
SEGURANÇA
ENERGÉTICAS

459
A COP-25 E OS RECURSOS FLORESTAIS BRASILEIRO: UMA ANÁLISE
COM BASE NAS POLÍTICAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS NACIONAL E
DO ESTADO DE SÃO PAULO

Rafaela Prosdocini Parmeggiani1, Daniel Stella Castro 1, Luiz César Ribas1


1
FCA/UNESP
E-mail: rafaela.prosdocini@gmail.com

RESUMO: A partir da Política Nacional sobre Mudança do Clima, bem como a Política
Estadual de Mudanças Climáticas vigente no estado de São Paulo, propôs-se identificar,
sistematizar, correlacionar e integrar mecanismos que possam consolidar uma estratégia
ambiental nacional que envolva mais incisivamente, a partir da ótica dos recursos
florestais, tanto da sociedade quanto o empresariado em geral. O trabalho pautou-se em
pesquisa exploratória e documental e baseou-se no método dedutivo, partindo-se dos
principais aspectos gerais das políticas públicas nacional e estadual até adentrar-se, mais
especificamente, com um foco maior nos recursos florestais, na questão do envolvimento
da sociedade e do empresariado. Verificou-se que algumas propostas apresentadas na
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 (COP-25), no que
tange os recursos florestais têm amplo respaldo em diversos elementos instituídos já
desde os idos de 2009, não somente em termos da Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC), no âmbito federal, como também, na Política de Mudanças Climáticas
vigente no estado de São Paulo (PEMC). Foi possível destacar, nesse sentido, que o
Programa de Remanescentes Florestais, e dentro deste, o instrumento do Pagamento por
Serviços Ambientais tal como já na PEMC. Por fim, verificou-se que as propostas
apresentadas na COP-25 acerca do tema dos recursos florestais não são necessariamente
contemporâneas. Ainda, elas não dizem respeito tão somente ao governo ora instituído.
Ao contrário, elas já vêm sendo construídas, por intermédio da PNMC e da PEMC, desde
os idos de 2009, configurando-se, portanto, numa política de Estado.
Palavras-chave: Serviços Ambientais, Acordo de Paris, Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável.

460
COP-25 AND BRAZILIAN FOREST RESOURCES: AN ANALYSIS BASED ON
NATIONAL AND STATE OF SAO PAULO CLIMATE CHANGE POLICIES

Abstract: Based on the National Policy on Climate Change, as well as the State Climate
Change Policy in force in the state of São Paulo, it was proposed to identify, systematize,
correlate and integrate mechanisms that can consolidate a national environmental strategy
that involves more incisively, from the perspective of forest resources, both society and
business in general. The work was based on exploratory and documentary research and
was based on the deductive method, starting from the main general aspects of national
and state public policies until it entered, more specifically, with a greater focus on forest
resources, on the issue of the involvement of society and the business community. It was
found that some proposals presented at the 2019 United Nations Climate Change
Conference (COP-25), with regard to forest resources, have broad support in several
elements already instituted since the ides of 2009, not only in terms of the National Policy
on Climate Change (PNMC), at the federal level, but also in the Climate Change Policy
in force in the state of São Paulo (PEMC). It was possible to highlight, in this sense, that
the Forest Remnants Program, and within it, the instrument of Payment for Environmental
Services as already in the PEMC. Finally, it was found that the proposals presented at
COP-25 on the theme of forest resources are not necessarily contemporary. Still, they do
not concern only the government now instituted. On the contrary, they have been built,
through the PNMC and the PEMC, since the ides of 2009, thus configuring themselves
in a State policy.
Keywords: Environment Services, Paris Agreement, Sustainable Development Goals.

1. INTRODUÇÃO

O ministro do Meio Ambiente defendeu durante a Conferência das Nações Unidas


sobre Mudanças Climáticas (COP 25), em Madri, e dentro de uma lógica que considera
as “regras do mercado capitalista”, a inclusão econômica da população brasileira quando
da implementação de políticas de preservação regional. Para tanto, o ministro defendeu,
entre outros instrumentos, bem como dentro de uma leitura pautada nos recursos florestais
mais especificamente, o pagamento de serviços ambientais”, a partir do compromisso dos
países desenvolvidos de disponibilizarem 100 bilhões de dólares anualmente para a
promoção do desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento (MMA,
2019a).
O posicionamento do Governo brasileiro, por intermédio do Ministério do Meio
Ambiente, está em consonância com a cobrança das autoridades brasileiras pela
implementação do artigo 6 do Acordo de Paris, o qual se reporta aos mecanismos de
mercado para a implementação de corte na emissão de carbono na atmosfera. Além disso,
outros instrumentos de política ambiental foram ressaltados pelo Ministro do Meio
Ambiente como, por exemplo, o desenvolvimento de fontes renováveis de energia
(biocombustíveis, biomassa, energia eólica solar e hidrelétrica). Em suma, pode-se
afirmar quer o posicionamento brasileiro pautou-se, considerando-se as peculiares
características sociais, econômicas e ambientais não somente da região amazônica, mas

461
também, brasileira, em iniciativas voltadas para a mitigação e ao financiamento dos
créditos de carbono (MMA, 2019b).
Todavia, a COP 25 encerrou-se, nos dizeres de alguns participantes, sem acordo,
sendo que esse resultado final foi considerado como melhor do que um compromisso
ruim, principalmente em razão de não se ter conseguido um consenso sobre exatamente
a regulação global do mercado de créditos de carbono, conforme pretensões máximas do
governo brasileiro, em especial (ANSA, 2019)
A discussão da COP-25, e dos seus desdobramentos, reporta a presente discussão,
dentre outras facetas, ao aparato normativo que se aplica à gestão dos recursos naturais,
em especial, os florestais, no país como um todo, notadamente com respeito a dois dos
seus principais instrumentos de política ambiental, quais sejam, a Política Nacional de
Mudanças Climáticas (Lei n. 12.187/2009) e a nova lei florestal brasileira (Lei n.
12.651/2012). Isto porque, temas tais como mudanças climáticas, pagamento de serviços
ambientais e recursos florestais, por exemplo, permitem estabelecer alguns dos principais
pontos de interligação do conjunto normativo mencionado.
Considerando tais aspectos, de que forma o atual posicionamento ambiental do
Brasil, ou seja, aquele defendido na COP-25, se encontraria respaldado em seu quadro
político-legal normativo? Em outras palavras, como a Política Nacional de Mudanças
Climáticas, já promulgada, nos idos de 2009, estaria respaldando a recente estratégia
brasileira defendida na COP-25? Quais os mecanismos já existentes que poderiam ser
potencializados no sentido de reforçar a proposta central brasileira? Em outras palavras,
como a Política Nacional de Mudanças Climáticas, já promulgada, nos idos de 2009,
estaria respaldando a recente estratégia brasileira defendida na COP-25? Haveria outros
elementos na nova lei florestal, neste sentido, que também deveriam ser analisados?
Considerando, em adição, o estado de São Paulo, tomando como um caso específico aqui
estudado, como seria o rebatimento dessas questões nas políticas estaduais pertinentes?
Em função disso, o presente trabalho se propõe a analisar a Política Nacional sobre
Mudança do Clima, bem como a Política Estadual de Mudanças Climáticas de São Paulo,
com vistas a identificar, sistematizar, correlacionar e integrar mecanismos dentro de seus
programas que possam vir a consolidar uma estratégia ambiental nacional que envolve
mais incisivamente a participação da sociedade, dentro de mecanismos de mercado e com
a participação do empresariado em geral.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho pautou-se em pesquisa exploratória, documental e baseou-se no


método dedutivo. Nesse sentido, o sequenciamento metodológico circunscreveu-se à
pesquisa e leitura, bem como, à análise, identificação e sistematização via tabulação, dos
principais elementos do aparato normativo aqui estudado. O material baseou-se,
primordialmente, no âmbito federal, na Lei n. 12.187 de 29 de dezembro de 2009, que
instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, bem como no Decreto n.
9.578, de 22 de novembro de 2018 (BRASIL, 2018), que consolidou atos normativos
editados pelo Poder Executivo federal que dispõem sobre o Fundo Nacional sobre
Mudança do Clima, de que trata a Lei nº 12.114, de 9 de dezembro de 2009, e a Política
Nacional sobre Mudança do Clima, de que trata a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de

462
2009. Com respeito ao âmbito do estado de São Paulo, em adição, recorreu-se ao disposto
na Lei n. 13.798, de 09 de novembro de 2009, que instituiu a Política Estadual de
Mudanças Climáticas – PEMC, além do Decreto n. 55.947, de 24 de junho de 2010, o
qual regulamentou a Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política
Estadual de Mudanças Climáticas. Em derradeiro, procedeu-se à consulta da nova lei
florestal, uma vez que este dispositivo legal faz parte do aparato normativo central aqui
analisado.
Foram avaliados, ao final, os recursos econômicos, orçamentos e programas
relacionados às leis supracitadas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considera-se, como ponto de partida, independentemente do prisma federal ou


estadual, alguns aspectos em especial que podem ser considerados convergentes com o
compromisso voluntário do Brasil de redução da emissão de gases de efeito estufa de que
trata a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - UNFCCC- 1992
(Eco-92), na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), conforme vislumbrado
em BRASIL (2009,b).
Desta feita, considerando o objetivo central desse trabalho, a PNMC, partindo-se
do pressuposto da garantia da produção de alimentos e, em particular, do
desenvolvimento econômico sustentável, busca atingir, dentre outros objetivos, a
consecução de medidas de adaptação para reduzir os efeitos adversos da mudança do
clima e a vulnerabilidade dos sistemas ambiental, social e econômico, Inciso III, do artigo
4º, da Lei n. 12.187/2009 (BRASIL, 2009).
Ademais, a pretensão de um maior envolvimento da população (sociedade), em
estreita cooperação com o setor empresarial, conforme posição defendida pelo Brasil na
COP-25, encontra respaldo, conforme se verifica em BRASIL (2009), nos seguintes
dispositivos da PNMC:
i) implementação de medidas para promover a adaptação à mudança do clima
pelas 3 (três) esferas da Federação, com a participação e a colaboração dos agentes
econômicos e sociais interessados ou beneficiários, em particular aqueles especialmente
vulneráveis aos seus efeitos adversos;
ii) estratégias integradas de mitigação e adaptação à mudança do clima nos
âmbitos local, regional e nacional;
iii) estímulo e o apoio à participação dos governos federal, estadual, distrital e
municipal, assim como do setor produtivo, do meio acadêmico e da sociedade civil
organizada, no desenvolvimento e na execução de políticas, planos, programas e ações
relacionados à mudança do clima, e
iv) ações de âmbito nacional para o enfrentamento das alterações climáticas,
atuais, presentes e futuras, devem considerar e integrar as ações promovidas no âmbito
estadual e municipal por entidades públicas e privadas.
Ademais, dispõe a PNMC, que os princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos
das políticas públicas e programas governamentais deverão compatibilizar-se com os
princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos desta Política Nacional sobre Mudança do
Clima. Em adição, a estratégia nacional com respeito às mudanças climáticas deverá

463
contemplar os princípios da precaução, da prevenção, da participação cidadã, do
desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns, porém diferenciadas
(BRASIL, 2009).
Defende-se, neste trabalho, que este conjunto de diretrizes, notadamente dentro
do escopo da participação mais incisiva da sociedade, e de modo especial, do
empresariado, encontram respaldo técnico e, principalmente, econômico, tanto no que diz
respeito ao aparato normativo federal aqui estudado (Política Nacional sobre Mudança do
Clima e decreto regulamentador), quanto estadual (Política Estadual de Mudanças
Climáticas e decreto regulamentador).
Este respaldo se dá por diversas facetas, dentre as quais previsão de elementos que
são legalmente dotados de recursos e orçamentos (Tabela 1) e planos e programas que
respaldam os principais elementos contemplados no aparato normativo aqui estudado
(Tabela 2).

464
Tabela 1 – Recursos e Orçamentos levantados da Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC) e do Decreto que trata sobre o Fundo Nacional sobre Mudança do
Clima e da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) e do Decreto que a
regulamenta.
PNMC / Decreto n. 9.578/2018 PEMC / Decreto n. 55.947/2010
FNMC
IV - projetos de redução de Emissões de Gases I - serviços ecossistêmicos: benefícios que as
de Efeito Estufa - GEE pessoas obtêm dos ecossistemas
V - projetos de redução de emissões de II - serviços ambientais: serviços
carbono pelo desmatamento e pela degradação ecossistêmicos que têm impactos positivos
florestal, com prioridade para áreas naturais além da área onde são gerados
ameaçadas de destruição e relevantes para III - pagamento por serviços ambientais:
estratégias de conservação da biodiversidade transação voluntária por meio da qual uma
VI - desenvolvimento e difusão de tecnologia atividade desenvolvida por um provedor de
para mitigação de emissões de GEE serviços ambientais, que conserve ou recupere
VIII - pesquisa e criação de sistemas e um serviço ambiental previamente definido, é
metodologias de projeto e inventários que remunerada por um pagador de serviços
contribuam para redução das emissões ambientais, mediante a comprovação do
líquidas de gases de efeito estufa e para atendimento das disposições previamente
redução das emissões de desmatamento e contratadas nos termos deste decreto
alteração de uso do solo IV - proprietários rurais conservacionistas:
IX - desenvolvimento de produtos e serviços pessoas físicas ou jurídicas que realizam ações
que contribuam para a dinâmica de em sua propriedade rural que conservem a
conservação ambiental e de estabilização da diversidade biológica, protejam os recursos
concentração de gases de efeito estufa hídricos, protejam a paisagem natural e
X - apoio às cadeias produtivas sustentáveis mitiguem os efeitos das mudanças climáticas
XI - pagamentos por serviços ambientais às por meio de recuperação e conservação
comunidades e aos indivíduos cujas atividades florestal, manejo sustentável de sistemas de
comprovadamente contribuam para a produção agrícola, agroflorestal e
estocagem de carbono, atrelada a outros silvopastoril.
serviços ambientais
XII - sistemas agroflorestais que contribuam
para redução de desmatamento e absorção de
carbono por sumidouros e para geração de
renda; e
XIII - recuperação de áreas degradadas e
restauração florestal, entre as quais terão
prioridade as áreas de reserva legal, as áreas
de preservação permanente e as áreas
prioritárias para a geração e a garantia da
qualidade dos serviços ambientais.
Fonte: Os autores (2020).

465
Tabela 2 – Planos e Programas levantados da Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC) e do Decreto que trata sobre o Fundo Nacional sobre Mudança do
Clima e da Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) e do Decreto que a
regulamenta.
PNMC / Decreto n. 9.578/2018 PEMC
Planos de ação para prevenção e controle SEÇÃO I - Plano Estadual de Inovação
do desmatamento nos biomas e planos Tecnológica e Clima
setoriais de mitigação e de adaptação às SEÇÃO II - Programa Estadual de
mudanças climáticas: Construção Civil Sustentável
I - Plano de Ação para Prevenção e SEÇÃO III - Plano Estadual de Energia
Controle do Desmatamento na Amazônia SEÇÃO IV - Plano Estadual de Transporte
Legal - PPCDAm Sustentável
II - Plano de Ação para Prevenção e SEÇÃO V - Plano Estratégico para Ações
Controle do Desmatamento e das Emergenciais e Mapeamento das Áreas de
Queimadas no Cerrado - PPCerrado Risco
III - Plano Decenal de Expansão de SEÇÃO VI - Programa Educação
Energia - PDE Ambiental sobre Mudanças Climáticas
IV - Plano Setorial de Mitigação e de SEÇÃO VII - Programas de Incentivo
Adaptação às Mudanças Climáticas para a Econômico a Prevenção e Adaptação as
Consolidação de uma Economia de Baixa Mudanças Climáticas e de Crédito à
Emissão de Carbono na Agricultura - Economia Verde
Plano ABC; e
V - Plano Setorial de Redução de
Emissões da Siderurgia.
Seção II - Das projeções de emissão de SEÇÃO VIII - Programa de
gases e dos compromissos Remanescentes Florestais
Art. 18. A projeção das emissões Artigo 51 - Fica instituído, nos termos do
nacionais de gases do efeito estufa para o artigo 23 da Lei nº 13.798, de 9 de
ano de 2020, de que trata o parágrafo novembro de 2009, o Programa de
único do art. 12 da Lei nº 12.187, de Remanescentes Florestais, sob a
2009, será de 3.236 milhões tonCO2eq, coordenação da Secretaria do Meio
composta pelas projeções para os Ambiente, com o objetivo de fomentar a
seguintes setores: delimitação, demarcação e recuperação de
I - mudança de uso da terra - 1.404 matas ciliares e outros tipos de fragmentos
milhões de tonCO2eq; florestais, podendo prever, para
II - energia - 868 milhões de tonCO2eq; consecução de suas finalidades, o
III - agropecuária - 730 milhões de pagamento por serviços ambientais aos
tonCO2eq; e proprietários rurais conservacionistas,
IV - processos industriais e tratamento de bem como incentivos econômicos a
resíduos - 234 milhões de tonCO2eq políticas voluntárias de redução de
desmatamento e proteção ambiental.
Artigo 52 - O Programa de Remanescentes
Florestais tem como objetivos específicos:

466
I - contribuir para a mitigação das
mudanças climáticas globais, fomentando
projetos de restauração de vegetação
nativa e de reflorestamento, voltados a
promover a absorção e fixação de carbono
II - contribuir para a conservação da
biodiversidade por meio da proteção de
remanescentes de florestas e outras formas
de vegetação nativa e do apoio à formação
de corredores, especialmente por meio da
recuperação de matas ciliares
IV - identificar áreas prioritárias para a
recuperação florestal visando a orientar a
instituição de reservas legais, a
implantação de projetos florestais para
seqüestro de carbono e a adoção de
sistemas de produção que favoreçam a
conservação da biodiversidade e da água
VII - contribuir para a redução dos
processos de erosão e assoreamento dos
corpos hídricos, visando à melhoria da
qualidade e quantidade de água
Artigo 53 - O Programa de Remanescentes
Florestais será coordenado pela Secretaria
do Meio Ambiente e implementado por
suas unidades, com a participação da
Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo - CETESB, da Fundação Florestal,
do Comando de Policiamento Ambiental,
da Polícia Militar, da Secretaria da
Segurança Pública, e da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento.
Fonte: Os autores (2020)*.

Quando levantadas as informações a respeito dos recursos e orçamentos (Tabela


1) relativos tanto ao PNMC quanto ao PEMC, podemos observar que a principal
ferramenta3 citada é o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que segundo a PEMC
é a transação voluntária por meio da qual uma atividade desenvolvida por um provedor

3
Em outras palavras, um dos principais eixos, do ponto de vista dos recursos florestais,
ao redor do qual orbitam diversos outros elementos (tais como, o desenvolvimento e
difusão de tecnologia para mitigação de emissões de GEE), sobretudo dentro da ótica de
um maior envolvimento de segmentos da sociedade, e em especial, do empresariado.

467
de serviços ambientais possa vir a ser remunerada, pecuniariamente ou não, por um
pagador desses serviços (SÃO PAULO, 2009).
Dentro do estado de São Paulo, o PSA é tratado em oito resoluções da Secretaria
do Meio Ambiente (SMA-SP), que datam do período entre 2010 e 2018. As Resoluções
da SMA-SP sobre PSA guardam correlação com o Programa de Remanescentes Florestais
(SÃO PAULO, 2010). O Programa de Remanescentes Florestais no que se refere a
regulamentação da Política Estadual de Mudanças Climáticas veio para instituir o
mecanismo do PSA e para possiblitar a elaboração de parâmetros para o sequestro de
carbono (SÃO PAULO, 2010).
No âmbito federal o PSA tem se mostrado uma ferramenta importante, haja vista,
tem sido prevista como forma governamental de beneficiar produtores que conservam o
ambiente, podendo ser realizado via Cadastro Ambiental Rural (CAR) e adesão ao
Programa de Regularização Ambiental (PRA), como já previsto pela Lei 12.651 de 25 de
maio de 2012. Embora, caiba ressalvar que não há ainda regulamentação vigente, e
aguarda apreciação do Senado Federal, o Plano de Lei 312/2015 que trata da Política
Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais (PNPSA), (BRASÍLIA, 2015).
A COP-25, sobretudo dentro da ótica do posicionamento oficial das autoridades
brasileiras participantes do evento, buscou referenciar alguns aspectos primordiais para
uma estratégia ambiental mundial (lógica do mercado capitalista, inclusão econômica da
população brasileira nas ações de proteção ambiental, fomento do mercado de carbono,
primordialmente).
Tais diretrizes, principalmente se enfocadas dentro do contexto dos 17 objetivos
do desenvolvimento sustentável, reforçam justamente os papéis que devem ser
desempenhados pela sociedade e pelo empresariado de uma forma geral.
Verificou-se, nesse sentido, que as propostas apresentadas na COP-25 acerca do
tema dos recursos florestais, mercado de carbono e estratégias que consigam englobar a
sociedade na preservação ambiental de maneira lucrativa, e não somente no antigo modus
operandi de comando e controle, não são necessariamente contemporâneas.
Por fim, o conjunto de elementos aqui identificados deve ser harmonizado com os
objetivos do desenvolvimento sustentável, porque uma estratégia de pagamento por
serviços ambientais, por exemplo, tanto sob a ótica das políticas federal e estadual de
mudanças climáticas, quanto pela nova lei florestal, é plenamente compatível, via
parcerias e meios de implementação, com objetivos sustentáveis tais como a erradicação
da pobreza e a energia limpa sustentável.

4. CONCLUSÃO

Muitas das propostas (em especial a questão do pagamento por serviços


ambientais) encontram amplo respaldo em políticas públicas ambientais já instituídas
tanto no país quanto no estado de São Paulo, (Política Nacional sobre Mudança do Clima
e Política Estadual de Mudanças Climáticas), e poderiam funcionar como ponto para a
participação da sociedade, dentro de mecanismos de mercado e do empresariado em geral.

468
REFERÊNCIAS

ANSA. Melhor que acordo ruim”, diz Itália sobre fracasso na COP 25. Revista Isto É
Independente (ANSA). 16 de dezembro de 2019. Disponível em: <https://istoe.com.br/melhor-
que-acordo-ruim-diz-italia-sobre-fracasso-na-cop25/ >. Acesso: 17.12.2019.

BRASIL. Decreto n. 9.578, de 22 de novembro de 2018. Consolida atos normativos editados pelo
Poder Executivo federal que dispõem sobre o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, de que
trata a Lei nº 12.114, de 9 de dezembro de 2009, e a Política Nacional sobre Mudança do Clima,
de que trata a Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. 2018. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9578.htm>. Acesso:
17.12.2019.

BRASIL. Decreto n. 55.947, de 24 de junho de 2010. Regulamenta a Lei nº 13.798, de 9 de


novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas.

BRASIL. Lei n. 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança
do Clima – PNMC e dá outras providências. 2009. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12187.htm >. Acesso:
17.12.2019.

BRASÍLIA. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 312/2015. 2015. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=946475>.
Acesso em: 21 fev. 2020.

MMA. Na Cop 25, Ministro do Meio Ambiente defende a inclusão da população da Amazônia.
Ministério do Meio Ambiente. 02 de dezembro de 2019a. Disponível em:<
https://www.mma.gov.br/component/k2/item/15664-na-cop-25,-ministro-do-meio-ambiente-
defende-inclus%C3%A3o-econ%C3%B4mica-da-popula%C3%A7%C3%A3o-da-
amaz%C3%B4nia.html >. Acesso: 17.12.2019.

MMA. Salles cobra implementação do Acordo de Paris na Cop 25. Ministério do Meio Ambiente.
10 de dezembro de 2019b. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/component/k2/item/15668-
salles-cobra-implementa%C3%A7%C3%A3o-do-acordo-de-paris-na-cop-25.html >. Acesso:
17.12.2109.

ONUBR. 17 objetivos para transformar o mundo. Nações Unidas Brasil. Disponível em:<
https://nacoesunidas.org/pos2015/ >. Acesso: 17.12.2019a.

ONUBR. COP-25: ONU pede esforços do setor empresarial na luta contra mudanças climáticas.
Nações Unidas Brasil. Disponível em:< https://nacoesunidas.org/cop25-onu-pede-esforcos-do-
setor-empresarial-luta-contra-mudancas-climaticas/ >. Acesso: 17.12.2019b.

SÃO PAULO. Decreto n. 55.947, de 24 de junho de 2010. Regulamenta a Lei n. 13.798, de 9 de


novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas. Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo. Disponível em:<
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2010/decreto-55947-24.06.2010.html >.
Acesso: 17.12.2019.

469
SÃO PAULO. Lei n. 13.798, de 09 de novembro de 2009. Institui a Política Estadual de Mudanças
Climáticas – PEMC. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. 2009. Disponível em:<
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2009/lei-13798-09.11.2009.html >. Acesso:
17.12.2019.

470
A NOVA AGENDA DA POLÍTICA NACIONAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS DO
SETOR FLORESTAL

Daniel Stella Castro1, Rafaela Prosdocini Parmeggiani1, Luiz César Ribas1


1
FCA/UNESP
E-mail: luiz.c.ribas@unesp.br

RESUMO: Na atual discussão sobre sequestro de carbono, desmatamento, meio


ambiente e produção de energia “limpa”, o presente trabalho se propõe a analisar o Projeto
de Lei (PL) que dispõe sobre Política Nacional de Biocombustíveis Florestais e as regras
já existentes acerca de tais temas. Assim, por meio de uma revisão bibliográfica sobre o
Código Florestal, a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas, o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação, a Política Nacional do Meio Ambiente, e a partir do método
“Multiple Streams” e “Policy Window”, afirmações foram feitas sobre o PL em questão.
Sua proposição é uma tentativa de chamar atenção do governo sobre a importância do
incentivo ao setor florestal por meio de política pública. A correta apreciação dele pode
se tornar uma janela de oportunidade para a implantação de fato de uma política pública
que incentive o uso sustentável de florestas com fins energéticos. Porém, o PL apresenta
algumas divergências com o Código Florestal, e a Política Nacional do Meio Ambiente,
no que tange o licenciamento ambiental. O PL converge com o Programa Florestas do
Plano setorial ABC, mas desconsiderando a vigência dele até 2020. Ressalta-se que o
ABC Florestas foi 7% na safra 2016/2017 do montante disponibilizado e 4,47% safra
2017/2018. É salutar a adaptação do PL à conjuntura política econômica nacional e
internacional. Também se faz importante que o PL observe os preceitos das funções
ambientais da Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente para não deixar
incertezas legais acerca do plantio de florestas em áreas degradadas.
Palavras-chave: Política Nacional de Biocombustíveis Florestais, “Political Streams”,
“Policy Window”.

471
THE NEW AGENDA FOR THE NATIONAL BIOFUEL POLICY IN THE
FOREST SECTOR

ABSTRACT: In the midst of the current discussion on carbon sequestration,


deforestation, environment and production of “clean” energy, the present work proposes
to analyze some convergences and divergences between the Law Project on the institution
of a National Forest Biofuel Policy, and the existing rules related to the theme. Thus,
through a bibliographic review of the Brazilian Forest Code, the National Policy on
Climate Change, the National System of Units of Nature Conservation and the National
Environment Policy and using the theory of Multiple Streams Model and Policy Window,
some statements were made about the analysis of the Law Project. The proposition of
Law Project is an attempt to draw government attention on the importance of the
economic incentive for the activity of the planted forest for the generation of raw material
for energy sector. Its correct reception by the legislative may prove to be a window of
opportunity for the actual implementation of a public policy that encourages the
sustainable use of planting forests. However, the Law Project presents some divergences
to the Brazilian Forest Code and the National Environment Policy, considering
environmental license. The Law Project converges with the Forest Program ABC but
without considering that it will end in 2020. It is noteworthy that ABC Forest Program
was only 7% in the 2016/2017 of the amount available and 4.47% in the 2017/2018. It is
capital to adapt the Law Project to the national and international economic political
situation. It is also important that the Project Law observes the precepts of the
environmental functions of the Legal Reserve and Permanent Preservation Areas in order
avoid misleading.
Keywords: National Forest Biofuel Policy, Political Streams, Policy Window.

1. INTRODUÇÃO

O Projeto de lei (PL) 2.475 de 2019 em discussão no Congresso Nacional de


autoria do deputado federal José Mario Schreiner do Democratas de Goiás (DEM/GO)
traz a proposta de instituição de uma Política Nacional de Biocombustíveis Florestais,
com o principal objetivo de aumentar a matriz energética brasileira a partir da biomassa
vegetal oriunda de florestas plantadas com potencial energético por meio de manejo
sustentável (CÂMARA FEDERAL, 2019). Entretanto, esse projeto não é uma nova ideia,
mas sim uma reedição do PL 1.291 de 25 de abril de 2015 do então deputado federal Luiz
Fernando Faria do Partido Progressista de Minas Gerais (PP/MG). Nesse sentido é
inevitável construir a seguinte pergunta:
Por que tal projeto foi retirado da pauta no passado e reapresentado ao legislativo
em 2019?
Desde já se afirma que não é objeto do presente trabalho investigar por que o PL
anterior (1.291 de 25 de abril de 2015), que apresenta o mesmo texto do atual, teve sua
janela de oportunidades fechada no contexto da política pública. De qualquer maneira,
em uma breve análise das representações políticas de seus relatores, facilmente pode ser

472
aproximado que ambos estão localizados em correntes políticas (“Political Streams4”)
que representam os interesses de grupos ligados ao agronegócio.
Considerando a atual discussão nos cenários nacional e internacional sobre
produção de energia não pautada em recursos fósseis, sequestro de carbono, redução de
desmatamento, conservação e preservação de vegetação nativa na paisagem rural bem
como a geração de novas fontes de renda (à agricultura familiar), do ponto de vista da
eficiência técnica da proposta contida no texto do referido PL é feita uma aproximação
de que ele não representa uma solução para um problema mas sim a colocação de uma
condição de interesses de certos grupos políticos. O próprio Código Florestal (Lei n.
12.651, de 25 de maio de 2012) traz uma série de mecanismos inovadores acerca da
Reserva Legal (RL) e das Áreas de Preservação Permanente (APP) de propriedades
rurais5, bem como a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas (Lei 12.187 de 2009),
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985, de 18 de julho
de 2000) e, a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981)
e suas alterações trazem soluções para as questões de conservação e preservação
ambiental e do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 1981, 2000, 2009, 2012).
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo analisar e discutir as
convergências e divergências legais entre o Projeto de Lei (PL) 2.475 de 23 de abril de
2019, que propõe a instituição da Política Nacional de Biocombustíveis Florestais, e as
regras já existentes acerca do tema.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente fez-se necessária uma breve revisão das políticas públicas brasileiras
acerca do tema no que tange as questões da conservação e preservação da vegetação
nativa e do desenvolvimento sustentável. Assim, as principais leis revisadas foram: Lei
nº 12.651, de 25 de maio de 2012 (Código Florestal); Lei 12.187, de 29 de dezembro de
2009 (Política Nacional sobre Mudanças Climáticas), Lei 9.985 de 18 de julho de 2000
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza) e, Lei 6.938, 31 de agosto
de 1981e suas alterações (Política Nacional do Meio Ambiente).
Como segundo etapa, a partir do método “Multiple Streams Framework” (Modelo
dos fluxos múltiplos) e “Policy Window” (Janela da Política Pública) algumas afirmações
foram feitas sobre a análise do PL em questão (KINGDON, 2011).
Após as análises das etapas apresentadas acima são discutidos e apresentados
possíveis pontos positivos e negativos da redação do atual PL à luz de uma futura política
pública federal.

4
Conceito retirado de KINGDON (1995).
5
Tais como: área rural consolidada; ênfase à agricultura familiar; tipologias de áreas de
preservação permanente; pagamento por serviços ambientais (PSA); cadastro ambiental
rural (CAR); programa de recuperação ambiental (PRA) ou adequação ambiental, dentre
outros (BRASIL, 2012).

473
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Trazer à tona uma iniciativa que estimule o plantio de florestas, como exemplo o
plantio de eucalipto, para geração de matéria-prima com fins energéticos de fato é uma
ideia importante. Sendo assim, alguns pontos da redação do texto do PL serão
apresentados e analisados.
Em seu artigo 3º, parágrafo único, o texto do projeto de lei aponta que a Política
Nacional de Biocombustíveis Florestais é elemento essencial na realização do Plano
ABC. Entretanto, de partida há um grande desencontro de intenções entre a Política
proposta no PL e o Plano ABC que é um dos instrumentos desenvolvidos dentro da
Política Nacional sobre Mudanças Climáticas, Lei 12.187 de 2009, pois este plano tem
vigência entre 2010 e 2020 (BRASIL, 2009, 2012b). O referido PL foi proposto à Câmara
Federal em abril de 2019. Portanto, como algo pode ser imprescindível na realização de
uma política de baixa emissão de carbono no setor agropecuário com apenas um ano para
o término dos recursos públicos planejados para alocação em tal estratégia? Nesse
sentido, o texto do PL sob o ponto de vista da resolução de um problema se revela com
baixa eficiência.
Outro fator que ressalta aos olhos é a quantidade de investimentos alocados no
Programa Florestas, um dos sete programas do Plano ABC que teria relação direta com o
PL. Nas safras entre 2016 e 2017 foram investidos apenas R$ 113 milhões e entre 2017 e
2018 R$ 73 milhões, o que representa respectivamente 7% e 4,47% dos montantes
contratados (BRASIL, 2012b; OBSERVATÓRIO ABC, 2017, 2018).
Deve-se dar atenção ao fato de que desde o lançamento do Plano ABC nas safras
desde 2010 e 2011 até então, uma pequena parte do montante planejado (R$ 157 bilhões
no período entre 2010 a 2020) foi disponibilizada anualmente, somando R$ 27,93 bilhões
o que representa 17,8 % do total (MAPA, 2012; OBSERVATÓRIO ABC, 2017, 2018).
Portanto, se há um problema inerente ao próprio Plano ABC acerca da disponibilização
dos recursos bem como a materialização dos contratos, como aponta os relatórios anuais
desenvolvidos pelo Observatório ABC (2017, 2018 e 2019), como uma outra política
poderia ser um instrumento imprescindível na sua realização? Assim, mais uma vez se
aponta uma inconsistência no texto do PL no sentido de trazer soluções.
O texto do referido PL quando toca o tema licenciamento ambiental apresenta
divergências com as leis 12.651, 6.939 (e suas alterações) e 9.985. Por exemplo, o texto
do PL 2.475 de 2019 pede a não exigência de licenciamento ambiental para silvicultura
em áreas degradadas ou subutilizadas.
Cabe apontar que estimular o aumento da participação de combustíveis de origem
não fóssil na matriz energética brasileira é uma iniciativa convergente com o
posicionamento que o Estado Brasileiro vinha apresentando, até então, nas conferências
mundiais relacionadas às questões de mudanças climáticas. Contudo, considerando a
existência de instituições, instrumentos e políticas públicas já existentes acerca do tema,
novamente vem à tona os questionamentos: Será que a existência do novo Código
Florestal e a Política Nacional de Mudanças Climáticas e todos os desdobramentos
relacionados nas três esferas (municipal, estadual e federal) não seriam suficientes para
nortear investimentos públicos e ou privados no plantio de florestas de eucalipto, por
exemplo?

474
Os porquês, ou seja, as origens das ideias ou motivações que fizeram determinados
grupos trabalharem na convergência de tal proposta em um PL é algo extremamente
laborioso e quase impossível de se desnudar e, talvez, não seja tão relevante assim no
tocante da função desejada por tal PL. Portanto, quando colocada em uma quadratura de
agenda política do governo, uma determinada ideia é proposta para solucionar um
problema ou ela pode ser uma condição.
Sob tal lógica e cotejada junto ao Código Florestal e a Política Nacional de
Mudanças Climáticas se aproxima que o PL 2.475 de 23 de abril de 2019 é proposto muito
menos como solução para uma dada questão do que uma condição. Doravante, afirma-se
que por meio da mudança administrativa do Governo Federal e de composições no
Legislativo brasileiro em decorrência das eleições de 2018 foi aberta uma janela para
proposições de novas (ou antigas) políticas públicas (Policy Window 6).
O deputado federal José Mario Schreiner do partido Democratas pelo estado de
Goiás foi eleito em 2018 para o mandato de 2019 a 2023. Anteriormente teve participação
como representante político em 2008 atuando como Presidente do sistema FAEG/SENAR
em Goiás, e Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA,
2008. Em 2002 foi Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do
Estado de Goiás. Atua também como técnico agrícola. Na própria página do partido
Democratas (DEM) há uma notícia do dia 16 de dezembro de 2019 apresentando que o
deputado “[...] comemora a aprovação de dois projetos de lei que beneficiam a
agropecuária. ” (DEM, 2019). Nesse sentido, seja por alguns exemplos ligados à sua
formação técnica e profissional ou por projetos de sua autoria ou relatoria, fica
evidenciado que o referido deputado representa os interesses de classes ligadas à
agropecuária brasileira ou ao agronegócio. Assim, faz parte das atividades políticas de
representação de classes dentro de regimes democráticos, os parlamentares representarem
os interesses de determinados grupos políticos, muitas vezes em correntes políticas
distintas que podem convergir ou divergir em função de um dado tema, cujas ideias são
colocadas ou apresentadas em determinados ambientes e arenas (políticas),
consequentemente se materializando em projetos de lei, por exemplo, prestes a serem
apreciados no legislativo.
Não obstante, entre os projetos de autoria do relator do PL em questão há alguns
que não somente cobrem assuntos ligados às questões jurídicas e técnicas da produção
agropecuária, mas também do setor energético e da conservação e preservação ambiental.
Por exemplo, a Medida Provisória nº 867, de 26 de dezembro de 2018, que dispõe sobre
a extensão do prazo para adesão ao Programa de Regularização Ambiental. Contudo,
nota-se sempre presente a raiz da produção agropecuária nos projetos em que o deputado
federal se envolve (CÂMARA FEDERAL, 2019).
Vale destacar que um dos pontos positivos do PL é sua proposta para viabilizar
seu orçamento. Neste caso, uma parte da contribuição de intervenção incidente sobre a
importação e comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados
será utilizada para financiar os projetos com florestas plantadas no âmbito da proposta do
PL. Basicamente é uma fonte de energia não renovável para financiar uma renovável. Do

6
Conceito retirado de Kingdon (1995).

475
ponto de vista ideológico enquadrado na pauta ambiental que o Estado Brasileiro
apresentava nos governos predecessores faz muito sentido, porém o atual governo já
demonstra sinais que em sua agenda política a pauta ambiental é distinta daquelas dos
governos anteriores.

4. CONCLUSÃO

A proposição do PL 2.475 é uma tentativa de chamar atenção do governo federal


para políticas públicas que incentivem o plantio de florestas, por exemplo, de eucalipto.
Nesse sentido, sua adequada apreciação pelo legislativo pode vir a ser uma janela
de oportunidade para a implantação de fato de uma política pública que incentive o uso
sustentável do plantio de florestas com fins energéticos. Assim, é salutar a adaptação do
texto do atual PL à conjuntura política econômica nacional e internacional bem como às
já existentes leis e regulamentações que tratam sobre conservação e preservação da
vegetação nativa, entre outras leis e regulamentações acerca da conservação ambiental.
Talvez, a incerteza jurídica que o texto do atual PL apresenta em relação às leis e
regulamentações já existentes possa fazer com que a proposição de uma política pública
de incentivo ao setor florestal perca a janela de oportunidade criada a partir das eleições
de 2018. Sendo assim, é muito importante não perder de vista todo o histórico político de
construção das bases da conservação e preservação da vegetação nativa e do
desenvolvimento sustentável no mundo e no Brasil, bem como seus atores e agentes
envolvidos em tais trajetórias, assim como a opinião pública (KINGDON, 1995;
SABATIER, JENKINS-SMITH,1999).

REFERÊNCIAS
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_______. Lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do
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de Conservação da Natureza – SNUC - Ministério do Meio Ambiente. 2000.

_______. Lei 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera
as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril
de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
2012.

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adaptação às mudanças climáticas para a consolidação de uma economia de baixa emissão de
carbono na agricultura: plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) / Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, coordenação da

476
Casa Civil da Presidência da República. – Brasília: MAPA/ACS, 2012. 173 p. Disponível em:
http://observatorioabc.com.br/publicacoes/. Acessado em 11 de dezembro de 2019.

CÂMARA FEDERAL. Câmara dos deputados. Biografia. Disponível em:


https://www.camara.leg.br/deputados/204386/biografia. Acessado em: 11 de dezembro de 2019.

DEMOCARATAS. DEM. Disponível em: https://www.dem.org.br/noticias/ze-mario-


comemora-aprovacao-de-dois-projetos-de-lei-que-beneficiam-a-agropecuaria/. Acessado em: 11
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KINGDON, J. W. Agendas, Alternatives and Public Policies. New York: Longman, The
University of Michigan, 1995, p 70 – 195.

OBSERVATÓRIO ABC. Análise dos Recursos do Programa ABC Safras 2017/18 e 2018/19.
Disponível em: http://observatorioabc.com.br/2019/11/analise-dos-recursos-do-programa-abc-
safras-201718-e-201819/. Acessado em 16 de dezembro de 2019.

SABATIER. P. A.; JENKINS-SMITH, H. C. The advocacy coalition framework: an assessment.


In SABATIER, P. A. (ed) Theories of the policy process – Boulder: Westview Press, 1999. p.
118 - 166.

477
A PARTICIPAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA NA GESTÃO PÚBLICA PARA
SUSTENTABILIDADE NO BRASIL

Mário Joel Ramos Júnior1, Paulo Soares FigueiredO₂


1
Centro Universitário Senai Cimatec, 2Universidade Federal da Bahia
E-mail: ramosjuniormariojoel@gmail.com

RESUMO: O Acordo de Paris foi assinado em 2015 com o intuito de reduzir as emissões
de gases de efeito estufa. Neste acordo, o Brasil se comprometeu a aumentar a
participação das energias renováveis na matriz energética. O objetivo deste estudo é
avaliar como, na gestão do setor elétrico, a energia eólica está contribuindo para o
cumprimento das metas assumidas no acordo. Por meio de uma revisão sistemática da
literatura, foram identificados 10 estudos pertinentes e, juntamente com a análise dos
dados disponíveis no Relatório de Balanço Energético Nacional, foi possível comparar os
dados obtidos no período com as metas estabelecidas e avaliar o sucesso das políticas
para o setor no atingimento dos objetivos mencionados. A meta de alcançar uma
participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética
foi atingida em 2018. No período avaliado, o Brasil expandiu o uso de fontes renováveis
(além da energia hídrica) na matriz total de energia. Os resultados demostram que a
energia eólica é a fonte renovável que mais que mais se beneficiou dos incentivos fiscais
e, assim, contribuiu para a expansão da participação da energia renovável na matriz
energética brasileira, através do aumento da capacidade instalada, e que pode contribuir
para ganhos em eficiência energética.
Palavras-chave: Sustentabilidade; Setor Elétrico; Energia Renovável; Energia Eólica.

THE PARTICIPATION OF WIND ENERGY IN PUBLIC MANAGEMENT FOR


SUSTAINABILITY IN BRAZIL

Abstract: The Paris Agreement was signed in 2015 with the aim of reducing greenhouse
gas emissions. In this agreement, Brazil is committed to increasing the share of renewable
energies in the energy matrix. The objective of this study is to evaluate how, in the
management of the electricity sector, wind energy is contributing to the fulfillment of the
goals assumed in the agreement. Through a systematic review of the literature, 10 relevant
studies were identified and, together with the analysis of the data available in the National
Energy Balance Report, it was possible to compare the data obtained in the period with
the established goals and evaluate the success of the policies for the sector in reaching the
mentioned objectives. The goal of achieving an estimated 45% share of renewable energy
in the composition of the energy matrix was achieved in 2018. In the period evaluated,
Brazil expanded the use of renewable sources (in addition to hydraulic energy) in the total
energy matrix. The results show that wind energy is the renewable source that most
benefited from tax incentives and, thus, contributed to the expansion of the share of
renewable energy in the Brazilian energy matrix, through the increase of installed
capacity, and that can it contribute to gains in energy efficiency.
Keywords: Sustainability; Electric Sector; Renewable Energy; Wind Energy.

478
1. INTRODUÇÃO

O objetivo central do acordo de Paris é de fortalecer a resposta global à ameaça


das mudanças climáticas, assegurando que o aumento da temperatura média global fique
menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e prosseguir os esforços para limitar o
aumento da temperatura a até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (UNFCCC, 2016).
Para o alcance do objetivo final do Acordo, os governos se envolveram na
construção de seus próprios compromissos, a partir das chamadas Pretendidas
Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Por meio das
iNDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de emissões dos gases de
efeito estufa, seguindo o que cada governo considera viável a partir do cenário social e
econômico local (MMA,2016).
Após a crise de energia de 2001, o Brasil vem desenvolvendo políticas públicas
para aumentar a participação da energia elétrica renovável no Sistema Elétrico Nacional,
por exemplo: o Programa Emergencial de Energia Eólica (PROEÓLICA) e o Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA).
A capacidade eólica instalada aumentou mais de duas vezes e meia entre 2014 e
2018, saindo de 5.974 MW para 14.708 MW, o que representa uma significativa taxa
média de crescimento de 25,26% ao ano (ABEEÓLICA, 2019)
O objetivo deste trabalho é avaliar como a energia eólica está contribuindo para o Brasil
atingir os compromissos assumidos para o setor elétrico no Acordo de Paris. Para tal,
foram analisados os dados disponíveis pela Empresa de Pesquisa Energética entre o
período de 2014 e 2018 e a literatura pertinente.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado através de uma revisão sistemática da literatura e pela


análise de dados disponíveis no Relatório de Balanço Energético Nacional da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), no Boletim Anual de Geração Eólica da Associação
Brasileira de Energia Eólica (ABEEÓLICA) e no Relatório Global de Energia Eólica
publicado pela Global Wind Energy Council (GWEC). O período selecionado para
análise foi entre o ano de 2014 (antes da assinatura do Acordo de Paris) até 2018.
As bases de dados utilizadas para realização das buscas para a revisão sistemática
foram o Science Direct e o Google Scholar. Os descritores utilizados foram: “Paris
Agreement”, “Wind Energy” e “Brazil”. Os critérios de inclusão definidos para a
realização da busca das publicações foram: pertinência dos conteúdos em relação ao tema
abordado neste trabalho, avaliada pelos autores; trabalhos nos idiomas inglês e português.
Foram excluídos todos os trabalhos publicados fora do período, dos idiomas definidos,
além de teses e dissertações. A busca não foi restringida a nenhum período específico.
Após a realização da pesquisa, foi possível encontrar o total de 181 estudos
pertinentes ao tema. Foram pré-selecionados os 50 mais relevantes. Após leitura dos
títulos e resumos, 10 trabalhos foram selecionados como pertinentes para compor esta
revisão sistemática.
A identificação da participação estimada de energias renováveis na composição
da matriz energética brasileira foi feita considerando a contribuição da energia hídrica

479
gerada no Brasil e as importações líquidas, a lenha e o carvão vegetal, derivados da cana
de açúcar, energia eólica, solar e outras fontes renováveis.
O cálculo da porcentagem do uso de fontes renováveis (além da energia hídrica) foi feito
conforme o item anterior, excluindo-se a contribuição da energia hídrica nacional e
importada à matriz energética brasileira.
Em relação a expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil,
aumentando a parcela de energias renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento
de energia elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação
de eólica, biomassa e solar; foi avaliada a porcentagem da contribuição dessas fontes à
matriz elétrica brasileira.
Quanto a alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico, foram calculadas
as perdas resultantes da diferença entre a oferta interna de energia elétrica (oferta) e o
consumo final (demanda) por ano. O ganho de eficiência energética foi avaliado através
da redução das perdas elétricas no período durante a geração, transmissão e distribuição
da energia elétrica. A meta foi definida como a redução de 10% do valor das perdas
registradas no ano de 2014.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 O Acordo de Paris

O Acordo de Paris é um tratado mundial que tem como objetivo reduzir as


emissões de gases de efeito estufa no contexto do desenvolvimento sustentável. O acordo
foi negociado durante a 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP 21) em Paris
e aprovado pelos 195 países parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a
Mudança do Clima em 12 de dezembro de 2015.
No setor de energia, as metas assumidas pelo Brasil foram (Brasil, 2016):

a) Alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na


composição da matriz energética em 2030.
b) Expandir o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica, na matriz total de
energia para uma participação de 28% a 33% até 2030.
c) Expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil, aumentando a parcela
de energias renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento de energia
elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação de
eólica, biomassa e solar.
d) Alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030.
Na última década, a utilização da fonte eólica como energia renovável no setor
elétrico está crescendo em um ritmo muito mais rápido que as outras fontes disponíveis
no mundo. A energia eólica é uma das principais opções tecnológicas para implementar

480
a mudança para um suprimento de energia descarbonizada (Arantegui & Jänger-Waldau,
2018).

3.2 Matriz Energética Mundial e Brasileira

A matriz energética mundial está composta, principalmente, por fontes de energia


não renováveis. Em 2017, o petróleo representava 31,8%, o carvão 27,1% e o gás natural
22,2% (IEA, 2018). A matriz energética brasileira está formada de mais fontes renováveis
que a média mundial. Somando lenha e carvão vegetal, derivados de cana, energia
hidráulica, eólica e outras renováveis; a oferta de energias renováveis totalizaram 45,2%
da matriz energética brasileira em 2018 (EPE, 2019).

3.3 Participação de Energias Renováveis na Matriz Energética Brasileira

A Figura 1 mostra a porcentagem de fonte renovável e não renovável da matriz


energética brasileira entre 2014 e 2018.

60,6% 58,7% 56,5% 57,0% 54,8%

Não Renovável
Renovável

39,4% 41,3% 43,5% 43,0% 45,2%

2014 2015 2016 2017 2018

Figura 1 – Participação de energias renováveis e não renováveis na Matriz Energética


Brasileira. Fonte EPE (2019).

O aumento da participação de energias renováveis na matriz brasileira, entre o


período de 2014 a 2018, se deve principalmente ao aumento da oferta interna de energia
eólica que acrescentou 3.119 Ktep à matriz energética brasileira – saltando de 1,05 Mtep
em 2014 para 4,17 Mtep em 2018 (incremento de 297%) – seguido dos derivados da cana
de açúcar que acrescentaram 1.920 Ktep (aumento de 4% em relação a 2014) e da energia
hidráulica que acrescentou 1441 Ktep (aumento de 4,1% em relação a 2014). Apesar da
energia solar apresentar um aumento de 29.700% no período (de 1 Ktep para 298 Ktep),
a contribuição para a matriz energética foi de apenas 0,1% em 2018.
Desta forma, a meta de alcançar uma participação estimada de 45% de energias
renováveis na composição da matriz energética em 2030, foi atingida em 2018.

481
3.4 Participação de Fontes Renováveis na Matriz Energética Brasileira (sem
considerar a Energia Hidráulica)

Excluindo-se a energia hidráulica, a participação das fontes renováveis na matriz


energética brasileira segue uma trajetória de crescimento, saltando de 28% em 2014 para
32,6% em 2018. Os principais destaques no período foram: a energia eólica aumentou a
participação de 0,3% em 2014 para 1,4% em 2018 e os derivados de cana de açúcar que
aumentaram a participação de 15,8% para 17,4%. Por outro lado, a contribuição da lenha
e carvão vegetal se manteve praticamente constante em 8,4%, enquanto que em 2018 a
energia solar contribuiu com apenas 0,1%. Todas as outras fontes de energia renovável
juntas contribuíram com 5,3%.
No período de 2014 a 2018, o Brasil cumpriu a meta de expandir o uso de fontes
renováveis (além da energia hídrica) na matriz total de energia para uma participação de
28% a 33% até 2030.

3.5 Participação das Energias Renováveis na Matriz Elétrica Brasileira (sem


considerar a Energia Hidráulica)

Em 2014, a participação de 9,5% das energias renováveis para a matriz elétrica do


Brasil (excluindo-se a fonte hidráulica) foi composta de 7,2% da biomassa, 2% da energia
eólica e 0,3% de outras fontes renováveis. Em 2018, a participação da energia renovável
atingiu 16,7%, sendo composta de 8,2% de biomassa, 7,6% da energia eólica e 0,9 de
outras fontes renováveis.
O principal destaque no período foi a contribuição da energia eólica para a matriz
elétrica brasileira. Enquanto que em 2014 a geração de energia elétrica através da fonte
eólica foi de 12.210 GWh, em 2018 o valor foi de 48.475 GWh, ou seja, um aumento
significativo de 397%.
Em relação a expandir o uso doméstico de fontes de energia não fóssil,
aumentando a parcela de energias renováveis (além da energia hídrica) no fornecimento
de energia elétrica para ao menos 23% até 2030, inclusive pelo aumento da participação
de eólica, biomassa e solar; os resultados mostram que o país está no caminho para atingir
a meta estabelecida: para as fontes de energia citadas na contribuição nacionalmente
determinada, a energia eólica apresentou taxa média de crescimento de 41,16% ao ano, a
biomassa 3,63% e a energia solar 283,50%.

3.6 Eficiência no Setor Elétrico

No encontro do Conselho Europeu foi definido o Quando das Políticas Climáticas


e Energéticas para 2030 e, assim, atender às metas do Acordo de Paris. Foi estabelecido
um objetivo indicativo para melhorar, em pelo menos 27%, a eficiência energética em
2030 em comparação com as projeções de consumo futuro de energia, segundo o cenário
político da época (Arantegui & Jänger-Waldau, 2018).
Para o Brasil, a meta estabelecida no Acordo de Paris foi de alcançar 10% de
ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030. A crise de energia de 2001 (“O Apagão
de 2001”) foi uma crise energética nacional, que afetou o fornecimento e distribuição de
482
energia elétrica em todo o país. Ocorreu entre 1 de julho de 2001 e 19 de fevereiro de
2002, sendo causada principalmente por falta de planejamento e investimentos no setor
energético Brasileiro. Hage (2019) indica que, até a crise energética de 2001, o Brasil não
havia feito investimentos necessários para o melhoramento técnico das usinas
hidroelétricas, que continuariam estatais, e das empresas transmissoras de energia,
também pertencentes ao Estado.
A crise hídrica, associada à falta de planejamento de longo prazo, tendo em vista
a grande dependência de geração hidráulica na oferta interna de energia elétrica ampliou
a necessidade de acionar um número de usinas termelétricas expressivo (Altoé et al.,
2017). As usinas termelétricas possuem custo de operação maior que as usinas
hidrelétricas (Galvão & Bermann, 2015).
Com respeito a alcançar 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico até 2030, a
porcentagem de perdas de energia elétrica no Brasil – diferença entre a oferta interna de
energia – em nenhum dos anos subsequentes à ratificação do Acordo de Paris o país
conseguiu atingir a meta de ser mais eficiente no setor elétrico.

3.7 Políticas Públicas para a Energia Eólica no Brasil

Desde 2001, após a crise energética, o Brasil vem adotando políticas de incentivo
a fontes de energias renováveis no país. A seguir são detalhadas algumas delas.
O PROEÓLICA foi criado pela Resolução no 24, de 2001, da Câmara de Gestão
da Crise de Energia Elétrica. O programa tinha como objetivo viabilizar a implantação de
1.050 MW de geração de fonte de energia a partir de fonte eólica integrada ao sistema
elétrico integrado nacional até 2003; promover o aproveitamento da fonte eólica de
energia, como alternativa de desenvolvimento energético, econômico, social e ambiental;
promover a complementaridade sazonal com os fluxos hidrológicos nos reservatórios do
sistema interligado nacional.
O PROINFA foi criado pela Lei Federal 10.428, de 26 de abril de 2002, e
regulamentado pelo Decreto 4541 de 23 de dezembro de 2002 com o objetivo de aumentar
a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos de Produtores
Independentes Autônomos, concebido com base em fontes eólicas, pequenas centrais
hidrelétricas e biomassa, no Sistema Interligado Nacional.
O conjunto histórico de outros programas e incentivos fiscais criados pelo governo
brasileiro para incentivar a geração de energia através de fontes renováveis: no dia
15/12/2015, o Ministério de Minas e Energia lançou o Programa de Desenvolvimento da
Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD) com o objetivo de aprofundar as ações
para estimular a geração de energia pelos próprios consumidores (residencial, comercial
e industrial); o Convênio ICMS 101/97 concede isenção do ICMS nas operações com
equipamentos e componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica
(aquecedores solares, geradores fotovoltaicos e aerogeradores de energia eólica); em
novembro de 2015, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) incluiu o
financiamento de equipamentos para produção de energia solar e eólica no Programa
Mais Alimentos – ao adquirir os equipamentos por meio do programa, os produtores
familiares financiaram os materiais com condições de crédito diferenciadas do mercado
(Luna et al., 2019). O governo brasileiro vem realizando leilões específicos de energia

483
para tecnologias renováveis (solar e eólica), minimizando a concorrência com outras
fontes de energia (Lima et al., 2020).

3.8 Resultado das Políticas Públicas: o Crescimento da Energia Eólica no Brasil

Em dezembro de 2000, ano anterior à crise de energia no Brasil, a capacidade


eólica instalada era de apenas 20 MW (ANEEL, 2001).
A partir da criação do PROEÓLICA em 2001, até dezembro de 2018, as usinas
eólicas em operação totalizaram uma capacidade instalada de 14.708 MW. Em 2018, o
Brasil manteve a oitava posição no ranking mundial de capacidade eólica acumulada. No
ranking que contabiliza especificamente a nova capacidade instalada no ano, o Brasil
apareceu em quinto lugar, tendo instalado 1.940 MW de nova capacidade em 2018. Nesta
categorização, o Brasil subiu uma posição em relação a 2017 (GWEC, 2019). O Brasil
tem avançado no uso da energia eólica principalmente em função das políticas de
incentivos que estão sendo adotadas (Lozornio et al., 2017).
Na Figura 2 mostra-se como a capacidade instalada em usinas eólicas tem
evoluído no Brasil desde 2014 (ano anterior a assinatura do Acordo de Paris) até 2018.

15.000 14.708
12.769
10.742
10.000 8.728

5.974
5.000

0
2014 2015 2016 2017 2018

Figura 2 – Evolução da capacidade instalada em usinas eólicas no Brasil (MW).


Fonte ABEEÓLICA (2019).

É importante observar que a capacidade instalada aumentou mais de duas vezes e


meia entre 2014 e 2018, saindo de 5.974 MW para 14.708 MW, o que representa uma
significativa taxa média de crescimento de 25,26% ao ano. Existem mais de 7 mil
aerogeradores funcionando em 12 estados, fornecendo energia limpa que é suficiente para
abastecer, em média, cerca de 76 milhões de pessoas por mês. Ao todo, foram gerados
48,42 TWh de energia eólica ao longo de 2018. Os cinco estados com maior geração no
período de 2018 foram Rio Grande do Norte (13,64 TWh), Bahia (11 TWh), Piauí (5,59
TWh), Rio Grande do Sul (5,56 TWh) e Ceará (5,53 TWh), (ABEEÓLICA, 2019).

4. CONCLUSÃO

Com base nesse estudo, se pode concluir que as políticas públicas de incentivos
fiscais para a geração de energia eólica no Brasil, após a crise de energia elétrica de 2001,
são as responsáveis pelo aumento de investimentos em geração de energia eólica.
484
Adicionalmente, permitiram a diversificação da matriz energética por meio de uma fonte
renovável, de baixa emissão de carbono e abundante no país. Como resultado, as políticas
contribuíram na solução do problema elétrico nacional, ainda em andamento, e,
adicionalmente, estão permitindo ao país atingir os compromissos assumidos no Acordo
de Paris.
Por outro lado, a geração de energia eólica offshore – até o momento inexistente
– é uma opção que deve ser considerada no Brasil para aumentar a participação de
energias renováveis à matriz energética, diversificar as fontes, reduzir as perdas elétricas
causadas na transmissão – aumentando a eficiência energética – e explorar de forma
sustentável a Zona Econômica Exclusiva do país. Por isso, devem ser oferecidos
incentivos fiscais específicos para esse tipo de geração de energia.
Estudos futuros poderiam avaliar a efetividade das políticas públicas
implementadas em outros países para diversificar a matriz energética e, assim, atingir as
metas assumidas no Acordo de Paris.

REFERÊNCIAS

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Brasil, Brasília, Brasil, 153 p., 2002.

Altoé, L.; Costa, J. M., Filho, D. O.; Martinez, F. J. R.; Ferrarez, A. H.; Viana, L. A. Políticas
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486
RESÍDUOS E
IMPACTOS
AMBIENTAIS

487
APROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE MEDIUM DENSITY FIBERBOARD
(MDF) COMO BRIQUETES

Bruna Isabele Pinheiro da Silva1, Indiara Nunes Mesquita Ferreira1, Jovan Martins
Rios1, Lázaro Alves Pereira Júnior1, Mariana Pires Franco11, Carlos Roberto Sette
Júnior11
1
Universidade Federal de Goiás, Laboratório de Qualidade da Madeira e Bioenergia,
Goiânia, Brasil
E-mail: brunaisaps@hotmail.com

RESUMO: O processamento dos painéis de fibras de média densidade (Medium Density


Fiberboad, MDF) gera uma grande quantidade de resíduos que constituem passivo
ambiental, podendo ser utilizados para geração de energia na forma de biocombustível
sólido. Neste contexto, o trabalho tem como objetivo a avaliação das características
energéticas do resíduo de MDF e o seu aproveitamento para produção de briquetes.
Resíduos do processamento de MDF foram coletados em serraria e determinados o teor
de umidade, perfil granulométrico, densidade a granel e materiais voláteis. Na sequência,
foram produzidos briquetes em laboratório, nas condições de 120°C de temperatura, 5
minutos de pressão a 140 kgf cm-2 e 10 minutos de resfriamento com ventilação forçada,
tendo sido produzidos briquetes com aproximadamente 3 cm de diâmetro e 4 cm de altura.
Nos briquetes foram determinados o teor de umidade, densidade aparente e friabilidade.
O resíduo apresentou granulometria fina, com 67% retido nas malhas de 60 e 100 mesh;
teor de umidade de 7,12%, densidade à granel de 244 kg m-3 e materiais voláteis de 82%.
O processo de briquetagem diminuiu o teor de umidade para 6,97%, aumentou a
densidade aparente para 1.040 kg m-3, apresentando baixa friabilidade (99,6%). Os
resultados indicam a viabilidade técnica do aproveitamento de resíduos de MDF para o
uso energético na forma de briquetes, sendo uma alternativa que está em conformidade
com a premissa de sustentabilidade ambiental e que apresenta valor econômico agregado,
uma vez que o resíduo representa custo e responsabilidade ambiental, bem como se
caracteriza como biomassa lignocelulósica.
Palavras-chave: processo de densificação, bioenergia, painéis de madeira.

488
MEDIUM DENSITY FIBERBOARD (MDF) WASTE USE AS BRIQUETTES

ABSTRACT: The processing of medium density fiber boards (Medium Density


Fiberboad, MDF) generates a large amount of waste that constitutes an environmental
liability and can be used to generate energy in the form of solid biofuel. In this context,
the work aims to assess the energy characteristics of MDF waste and its use for the
production of briquettes. Residues from MDF processing were collected in sawmill and
the moisture content, granulometric profile, bulk density and volatile materials were
determined. Subsequently, briquettes were produced in the laboratory, under conditions
of 120°C of temperature, 5 minutes of pressure at 140 kgf cm-2 and 10 minutes of cooling
with forced ventilation, with briquettes of approximately 3 cm in diameter and 4 cm being
produced in height. In briquettes the moisture content, bulk density and friability were
determined. The residue presented fine granulometry, with 67% retained in the 60 and
100 mesh; moisture content of 7.12%, bulk density of 244 kg m-3 and volatile materials
of 82%. The briquetting process decreased the moisture content to 6.97%, increased the
apparent density to 1,040 kg m-3, presenting low friability (99.6%). The results indicate
the technical feasibility of using MDF waste for energy use in the form of briquettes,
being an alternative that is in line with the premise of environmental sustainability and
has added economic value, since the waste represents cost and responsibility as well as
being characterized as lignocellulosic biomass.
Keywords: densification process, bioenergy, wood panels.

1. INTRODUÇÃO

O gerenciamento de resíduos está se tornando uma tendência mundial com


políticas cada vez mais favoráveis ao meio ambiente (ROSA AZAMBUJA et al., 2018).
Nesse sentido, como a demanda por madeira tem aumentado nos mais diversos setores da
sociedade surgem debates sobre os impactos ao ecossistema em função de resíduos
provenientes das indústrias; como exemplos, a moveleira e de construção civil (WEBER
& IWAKIRI, 2015).
O Brasil é o oitavo (8º) no ranking mundial dos maiores produtores de painéis de
madeira reconstituído, com produção de 8,2 milhões de m3 em 2018, sendo 3,24 milhões
de m3 de painéis MDF. O MDF é amplamente utilizado na produção de móveis e na
construção civil. É produzido a partir de fibras de madeira aglutinadas e compactadas
com pressão e temperatura com adição de resina sintética que tem como principais
componentes a ureia-formaldeído, tanino-formaldeído ou melanina-ureia-formaldeído
(IBÁ, 2019; FARAGE et al., 2013).
A maior parte dos resíduos de MDF no Brasil são destinados para indústrias
cerâmicas, aviários e outros, onde são frequentemente queimados de forma direta para
geração de energia (FERREIRA et al., 2015), destacando-se nesse processo de
aproveitamento problemas como alta higroscopicidade, baixa densidade energética, como
também as dimensões e volumes variados desses materiais (SANTOS et al., 2013), no
caso do MDF, ainda há empecilhos para destinação devido a utilização de químicos como
ligantes.
Nesse contexto, a densificação dos resíduos através da briquetagem é uma
alternativa eficiente que aumenta a densidade energética da biomassa, além de facilitar o
489
manuseio e transporte. O briquete é uma fonte de alta concentração de material energético
que ao ser comprimido em alta temperatura e pressão se molda em uma nova forma, sendo
capaz de substituir a lenha convencional sem a necessidade de qualquer modificação nos
fornos e caldeiras (PROTÁSIO et al., 2015).
Desse modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar as características energéticas dos
resíduos de MDF, assim como dos briquetes produzidos a partir destes.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterização do resíduo

O material experimental consistiu em resíduos (serragem) de MDF produzidos a


partir do processamento de painéis de Eucalyptus spp., disponibilizados por uma empresa
de produção de móveis, localizada na cidade de Aparecida de Goiânia-GO. As análises
foram realizadas no Laboratório da Qualidade da Madeira e Bioenergia da Universidade
Federal de Goiás, LQMbio.
Com a finalidade de determinar o tamanho das partículas foi realizada a análise
do perfil granulométrico com a utilização de um agitador orbital de peneiras. O
procedimento consistiu na agitação de 40 g do material previamente moído por 5 minutos,
com 80 rotações por minuto. A classificação granulométrica do material foi determinada
pesando-se separadamente o material retido nas peneiras de 20, 40, 60 e na base.
O teor de umidade foi obtido por meio da balança determinadora de umidade,
modelo MB 25, com precisão de 0,1%. Foram feitas 3 repetições, utilizando-se para
determinação 1 grama da biomassa. O teor de materiais voláteis foi determinado a partir
da norma ABNT NBR 8112 (ABNT, 1986).
A densidade a granel do resíduo foi calculada através da razão da massa pelo
volume do material, conforme a Equação 1.

𝐷𝑔 = 𝑚𝑏/ 𝑉𝑟 (1)
Onde:
Dg= Densidade a granel em kg m-3 ;
mb= Massa da biomassa em kg;
Vr= Volume do recipiente em m3.

2.2 Produção e caracterização do briquetes

Os briquetes foram produzidos em uma briquetadeira de laboratório da marca


Lippel, onde o resíduo de MDF foi submetido a uma pressão de 140 kgf cm-², temperatura
de 120°C, tempo de compactação de 5 minutos e resfriamento de 10 minutos, com
ventilação forçada. Para avaliação foram produzidos 3 briquetes utilizando-se 40,0 g de
biomassa moída, obtendo depois disso, briquetes com dimensões de aproximadamente 4
cm de comprimento e 3 cm de diâmetro.
As condições de briquetagem utilizadas no processo produtivo, como o tempo de
prensagem e de resfriamento foram baseadas nos padrões encontrados na literatura
(SANTOS et al., 2011; PROTÁSIO et al., 2011; QUIRINO et al., 2012).

490
As análises realizadas para determinação das propriedades dos briquetes foram:
teor de umidade, densidade aparente e friabilidade. O teor de umidade de cada briquete
foi obtido de acordo com a norma ABNT NBR 14929 (ABNT, 2003) (Equação 2) e a
densidade aparente de acordo com a Equação 3.

𝑃𝑈−𝑃𝑆
𝑈% = [ ] ∗ 100 (2)
𝑃𝑈
Onde:
U%= teor de umidade em %
PU= massa inicial em g;
PS= massa final em g.

𝐷𝑎𝑝 = 𝑀𝑖/𝑉 (3)

Onde:
Dap= densidade aparente em kg m-3 ;
Mi= massa inicial em kg;
V= volume em m3 ;

Para o cálculo da friabilidade, utilizou-se o agitador orbital de peneiras, onde o


briquete permaneceu por 5 minutos a 80 rotações por minuto. Em posse dos valores de
pesagem antes e após o procedimento, os dados obtidos foram utilizados na Equação 4.

𝑀𝑖−𝑀𝑓
𝐹𝑟 = [ ] ∗ 100 (4)
𝑀𝑖
Onde:
Fr= Friabilidade, em %;
Mi= massa inicial, em g;
Mf= massa final, em g.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Avaliação das características do resíduo de MDF

A determinação do perfil granulométrico mostrou que a maior parte do material


em massa está na granulometria de 60 mesh com cerca de 39% do total. As maiores
granulometrias (20 e 40 mesh), corresponderam a 33% e as menores que ficaram retidas
nas peneiras de 60 e 100 mesh correspondem a 67% (Tabela 1).

491
Tabela 1 - Caracterização granulométrica dos resíduos de MDF.
Malhas (mesh) Abertura (mm) Massa (%)
20 0,840 5,0
40 0,420 28
60 0,250 39
base ---- 28
--- Total 100

De maneira geral, os resíduos apresentam uma grande diversidade de


granulometrias, formas, densidades e teores de umidade que influenciam de forma
significativa no processo de compactação da biomassa. Nesse sentido, a utilização de
partículas mais finas é favorável no processo de produção de briquetes, uma vez que
tendem a elevar a densidade aparente dos materiais densificados, além de melhorar as
características físico-mecânicas e energéticas (SOUZA & VALE, 2016; QUIRINO et al.,
2012). Deste modo, denota-se que o resíduo utilizado neste trabalho, por ser constituído
em sua maioria por partículas menor que 40 mesh (0,42 mm), apresentam potencial para
produção de briquetes de qualidade.
Quanto ao teor de umidade, sabe-se que desempenha papel fundamental como
característica de um material utilizado para fins energéticos. Altos teores de umidade são
indesejados, pois quanto maior a umidade da biomassa menor é o poder calorífico (DE
SOUZA et al., 2012).
A biomassa residual de MDF apresentou valor médio de 7,12% para o teor de
umidade (Tabela 2). O valor encontrado no presente estudo está próximo ao obtido por
Weber & Iwakiri (2015) e Torquato et al. (2010) com médias de 7,34% para pinus e
8,94% para painéis de MDF de eucalipto, respectivamente.

Tabela 2 - Teor de umidade, densidade a granel e materiais voláteis do resíduo de


MDF.
Parâmetros Médias
TU (%) 7,12+-0,11
Dg (kg m-3) 241,00+-10,15
MV (%) 81,97+-1,00
Em que: TU= teor de umidade; Dg= densidade à granel e MV= materiais voláteis.

Para produção de briquetes, Sette Jr. et al. (2018) recomendam teores de umidade
médios de 12%, valor acima do encontrado no presente estudo. Contudo, é válido ressaltar
que o teor ideal de umidade depende da matéria-prima e do processo de compactação
utilizado (Quirino et al., 2012). Considerando que os briquetes produzidos apresentaram
formação dentro dos padrões desejáveis, não há necessidade de ajuste de umidade,
diminuindo assim os custos de produção.
A densidade a granel do resíduo foi em média 244 kg m-3, resultado este superior
ao encontrado por Oliveira et al. (2017) ao avaliar a biomassa do processamento da
madeira de Pinus sp. com média de 149,8 kg m‑3. Resultados mais baixos de densidade a
492
granel significam que será necessário um espaço maior para o armazenamento e
transporte. Nesse caso, a densificação desses materiais é uma forma eficaz de resolver
esse problema (NAVALTA et al., 2020).
O teor de materiais voláteis para biomassa residual foi em média 81,97% (Tabela
2), média semelhante as encontradas na literatura. Cunha et al. (2018) e Gouvêa (2012)
obtiveram 82,3% e 82,8% para resíduos de MDF, respectivamente. Para Garcia et al.
(2014), quanto maiores os teores de voláteis melhor a ignição do material, além disso,
Brun et al. (2018) afirmam que quanto maior o teor de materiais voláteis da biomassa
menor o poder calorífico do material.

3.2 Avaliação das características dos briquetes

A densidade aparente representa papel importante no que diz respeito ao


armazenamento, transporte e densidade energética. O aumento da densidade aparente é
desejável, pois uma mesma quantidade de material ocupa menor espaço (COSTA et al.,
2019).
Os briquetes obtiveram média de 1040 kg m-3 para densidade aparente (Tabela 3).
Em relação a densidade a granel houve um aumento de mais de 300%, o que demostra a
importância do processo de densificação de resíduos como MDF, transformando um
material de baixa densidade em um produto compactado e com maior energia disponível
para queima.

Tabela 3 - Teor de umidade, densidade aparente e friabilidade dos briquetes.


Parâmetros Médias
Dap (g cm-3) 1040,00
TU (%) 6,69+-0,27
Fr (%) 99,65+-0,17
Em que: Dap= densidade aparente; TU= teor de umidade e Fr= friabilidade.

Resultados semelhantes foram encontrados por Boschetti et al. (2019), Cunha et


al. (2018) e Sette Jr et al. (2018), com densidade aparente de 1100 kg m-3 na proporção
de 75% de partículas de eucalipto, 1150 kg m-3 para pellets de resíduos MDF e 1300 kg
m-3 com briquetes de casca e madeira de E. urograndis, respectivamente. Lima et al.
(2019) encontraram valores inferiores para o briquete de palha de carnaúba com 720 kg
m-3. Contudo, é importante salientar que a densidade aparente dos briquetes é fortemente
influenciada pelas características da biomassa utilizada e mais significativamente pelas
condições de briquetagem como temperatura e pressão (CARONE et al., 2011).
O teor de umidade dos briquetes ficaram em média 6,69% (Tabela 3), valor
inferior ao encontrado para o resíduo antes da compactação (7,12%), isso porque a água
presente no material lignocelulósico é evaporada devido à alta temperatura durante a
briquetagem (PEREIRA et al., 2016). De acordo com Moreno et al. (2016), altos teores
de umidade influenciam negativamente na friabilidade dos briquetes. Os mesmos autores
observaram que para resíduos de móveis, os briquetes com 6% e 8% de umidade
obtiveram friabilidade acima de 90%, o que corrobora com os resultados deste trabalho.

493
Os briquetes produzidos a partir dos resíduos de MDF apresentaram friabilidade
média de 99,65%, ou seja, uma porcentagem de finos de apenas 0,35%. A friabilidade é
uma característica importante dos materiais densificados, pois está associada à
integridade do produto quando associadas ao manuseio e transporte. Os briquetes de baixa
friabilidade (acima de 90%) são preferíveis para indústria e usos domésticos (BAJWA et
al., 2018).
Moraes et al. (2019) encontraram valores médios de 98,9% para briquetes
produzidos com Pinus caribaea e ao avaliar diferentes condições de armazenamento.
Oliveira et al. (2017) encontraram média de 13,85% para briquetes produzidos com pó de
lixa da madeira de Eucalyptus spp. e bagaço de cana-de-açúcar. Deste modo, os briquetes
produzidos com a biomassa de MDF podem ser classificados como levemente friáveis
com perda de <10% (SMITH et al., 2019), apresentando potencial como material
densificado devido seu baixo teor de finos.

4. CONCLUSÃO

O resíduo e os briquetes produzidos a partir de resíduos de painéis MDF


apresentaram características favoráveis para utilização energética. A briquetagem
mostrou-se uma técnica eficaz para melhoria das características energéticas do resíduo,
promovendo aumento da densidade aparente e baixa friabilidade.

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496
EFEITOS AMBIENTAIS CUMULATIVOS DECORRENTES DA
IMPLANTAÇÃO DE APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS DE PEQUENO
PORTE NA BACIA DO ALTO PARAGUAI

Camila Souza de Andrade1, Marcelo Montaño 2


1
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo., 2Departamento de Hidráulica e
Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
E-mail: camilasouza.andrade@usp.br

RESUMO: A implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais geradoras


de energia (CGHs) tem sido estimulada, dentre outros aspectos, pela sua associação a um
modelo de produção de energia de baixo carbono e de baixo impacto ambiental, em
oposição aos grandes empreendimentos hidrelétricos. No entanto, entende-se relevante
considerar os efeitos cumulativos associados à implantação conjunta de aproveitamentos
hidrelétricos no mesmo curso de água ou na mesma bacia hidrográfica. O grande número
de aproveitamentos hidrelétricos já em operação e planejados para a Bacia do Alto
Paraguai (BAP) tem sido questionado devido ao potencial de intensificar impactos
ecológicos severos, por meio de alterações no fluxo hidrológico e no pulso de inundação
que ameaçam a provisão de serviços ecossistêmicos e afetam as estratégias de
conservação do Pantanal. Neste sentido, o presente trabalho é voltado para a discussão
das implicações ambientais decorrentes da implantação de empreendimentos hidrelétricos
na Bacia do Alto Paraguai e os impactos cumulativos associados. Atualmente a BAP
possui 07 usinas hidrelétricas, 25 pequenas centrais hidrelétricas e 21 centrais geradoras
hidrelétricas que se encontram em operação, além de outros 125 empreendimentos com
potencial para entrar em operação na bacia, incluindo-se 9 PCHs que já receberam
autorização para construção e outras 88 PCHs, 27 CGHs e 1 UHE em fase de
planejamento. Percebe-se, portanto, a necessidade da avaliação sistemática dos efeitos
cumulativos e sua integração ao processo de tomada de decisão referente à autorização
para implantação de novos aproveitamentos hidrelétricos na bacia, levando-se em
consideração a necessidade de assegurar os usos múltiplos dos recursos hídricos,
acompanhado de medidas adequadas de proteção ambiental.
Palavras-chave: Avaliação de efeitos cumulativos, bacia do Alto Paraguai, pequenas
centrais hidrelétricas.

497
CUMULATIVE ENVIRONMENTAL EFFECTS RESULTING FROM THE
IMPLEMENTATION OF SMALL HYDROELECTRIC PROJECTS IN THE
UPPER PARAGUAY BASIN

Abstract: The implantation of small hydropower plants (SHPs) and hydroelectric


generating stations (HGSs) has been encouraged, among other aspects, by its association
with a low carbon energy production model and a low environmental impact, in
opposition to large hydroelectric power plants (HEP) projects. However, it is relevant to
take into consideration the cumulative effects associated with the joint implementation of
hydroelectric projects in the same watercourse or the same hydrographic basin. A large
number of hydroelectric projects already in operation and planned for the Upper Paraguay
Basin (UPB) has been questioned due to the potential to intensify severe ecological
impacts, through changes in the hydrological flow and the flood pulse that threaten the
provision of services ecosystems and affect conservation strategies in the Pantanal. Thus,
the present article intends to discuss the environmental implications resulting from the
implementation of hydroelectric projects in the Upper Paraguay Basin and the associated
cumulative impacts. Currently, the UPB has 07 hydroelectric plants, 25 small hydropower
plants and 21 hydroelectric generating stations that are in operation, and another 125
projects potentially to be implemented, including 9 SHPs granted with construction
permissions and 88 SHPs, 27 HGSs and 1 HEP in the planning stage. Therefore, there is
a necessity for a systematic assessment of cumulative effects and their integration into
the decision-making process regarding the authorization for the implementation of new
hydroelectric projects in the basin, taking into account the need to ensure multiple uses
of water resources, accompanied by appropriate environmental protection measures.
Keywords: Cumulative effects assessment, Upper Paraguay Basin, small hydropower
plants.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil conta com uma vasta presença da hidroeletricidade em sua matriz


energética (GALLARDO et al., 2018), sendo que as pequenas centrais hidrelétricas
(PCHs) têm ganhado um lugar de destaque dentre os empreendimentos geradores de
energia no país (MONTAÑO et al., 2014). Impulsionadas por políticas e incentivos
econômicos, as PCHs são apontadas como fontes de energia renovável de baixo impacto
e de maior aceitabilidade social se comparadas com outras alternativas para produção de
energia em larga escala (ATHAYDE et al., 2019).
Entretanto, há necessidade de observar os efeitos cumulativos e sinérgicos
associados à operação conjunta de PCHs implantadas no mesmo curso d’água ou na
mesma bacia hidrográfica (FANTIN-CRUZ et al., 2016), que podem ser resultado de
impactos considerados pouco significativos quando avaliados individualmente, mas cujo
efeito combinado pode configurar um impacto muito significativo (GALLARDO et al.,
2017), intensificando os efeitos decorrentes das alterações no regime de fluxo do rio,
perda de conectividade de habitats, além de ameaças à provisão de serviços
ecossistêmicos, conservação da biodiversidade e meios de subsistência de comunidades
indígenas e ribeirinhas (COUTO; OLDEN, 2018; ATHAYDE et al., 2019).
498
No Brasil, a prática da avaliação e gestão dos efeitos cumulativos se encontra
implementada de forma precária (SANCHEZ, 2013; GALLARDO et al., 2018), o que
constitui um grande problema quando projetos de diferentes proponentes são propostos
concomitantemente para uma região. Conforme Neri, Dupin e Sánchez (2016), a
abordagem predominante de avaliação individualizada de projetos não apresenta
afinidade metodológica com a avaliação dos efeitos cumulativos, que também não
encontra respaldo no processo de planejamento e formulação de políticas públicas
(ATHAYDE et al., 2019).
A região da Bacia do Alto Paraguai (BAP) se enquadra neste contexto (ALHO;
SABINO, 2011; FILHO SOUZA, 2013), com principais conflitos associados aos
impactos causados por mudanças no uso do solo e qualidade dos recursos hídricos
(WANTZEN et al., 2008; MMA et al., 2008; ALHO; SABINO, 2011; ANA, 2018).
Dentre as principais atividades causadoras de impactos ambientais na BAP, a
expansão da produção de energia por aproveitamentos hidrelétricos constitui um aspecto
importante a ser considerado, sobretudo em relação aos efeitos cumulativos derivados da
implantação de um grande número de centrais hidrelétricas na região. Deste modo, o
presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre o panorama de impactos vinculados
ao cenário esperado de implantação de novos aproveitamentos hidrelétricos e discutir as
implicações ambientais decorrentes da implantação de novos projetos, com ênfase para
os impactos cumulativos associados.

2. O CONTEXTO DA BACIA DO ALTO PARAGUAI E OS IMPACTOS


DECORRENTES DE EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS

A bacia do Alto Paraguai (BAP) se estende por cerca de 600.000 km2,


distribuindo-se sobre o território do Brasil, Bolívia e Paraguai. No território Brasileiro
compreende uma área de 362.376 km2 4,3% do território nacional, dividida em regiões de
planalto (64%) e de planícies (36%), localizadas entre os estados do Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul (MMA et al., 2008).
A BAP possui grande importância no contexto estratégico na administração dos
recursos hídricos transfronteiriços, principalmente pelo fato de incluir o Pantanal dentro
das suas dimensões (ANA et al., 2004), que devido sua qualidade ambiental, possui
importância internacional pela Convenção de Ramsar sobre as áreas úmidas, além de ser
considerado Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Reserva da
Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) (HARRIS et al., 2006; FURQUIM et al., 2017). Desempenha um papel
significativo na diversidade biológica e manutenção do ciclo hidrológico, apontado como
um dos principais hotspots de serviços ecossistêmicos do mundo (COSTANZA et al.,
1997; SANTOS et al., 2015).
No entanto, com o passar dos anos registra-se uma crescente presença antrópica
na BAP e consequentemente no Pantanal (MMA et al., 2008), produzindo novos e amplos
distúrbios ambientais que ameaçam seu ambiente ecológico (SILVA; GIRARD, 2004),
oriundos principalmente da expansão do agronegócio e da construção de barramentos
para geração de energia.

499
Atualmente, a maior parcela de geração de energia na bacia é proveniente de
aproveitamentos hidrelétricos, contando com 07 usinas hidrelétricas (UHE), 25 pequenas
centrais hidrelétricas (PCH) e 21 centrais geradoras hidrelétricas (CGH) em operação,
além de cerca de 125 empreendimentos com potencial para entrar em operação na bacia 7,
incluindo-se 9 PCHs que já receberam autorização para construção e outras 88 PCHs, 27
CGHs e 1 UHE em fase de planejamento .
A Figura 1, a seguir, indica a localização da Bacia do Alto Paraguai e os
aproveitamentos hidrelétricos existentes e planejados.

Figura 1 - Concentração de aproveitamentos hidrelétricos na Bacia do Alto Paraguai.

7
O processo de implantação de um empreendimento hidrelétrico começa pelo estudo do
inventário e verificação de suas características a partir da área/região escolhida. O
proponente deverá apresentar o Requerimento de Intenção à Outorga de Autorização
(DRI-PCH), permitindo a elaboração do projeto básico da PCH para posterior
apresentação à ANEEL, incluindo um Sumário Executivo desse projeto. Após, é realizado
o Despacho de Registro da adequabilidade do Sumário Executivo (DRS-PCH), que
analisa a compatibilidade do sumário executivo com os estudos de inventário e do uso do
potencial hidráulico, permitindo que a ANEEL solicite a Declaração de Reserva de
Disponibilidade Hídrica, e que o proponente requeira o licenciamento ambiental ao órgão
competente (ANEEL, 2015).
500
Nota-se que a grande maioria dos empreendimentos hidrelétricos previstos para a
bacia são de pequeno porte, como PCHs ou CGHs, localizadas em sua grande maioria na
região norte da bacia devido ao maior potencial hidráulico verificado (CALHEIROS;
CASTRILON; BAMPI, 2018). Dentre seus rios formadores, os rios Jauru, Cabaçal,
Seputuba Cuiabá, Casca, São Lourenço, Correntes são os que apresentam maior
concentração de aproveitamentos hidrelétricos existentes e futuros, provenientes de PCHs
em fase de Despacho de Registro da adequabilidade do Sumário Executivo (DRS-PCH)
e CGHs com eixo inventariado. No rio Jauru, considerado por Silva et al. (2011) como
um dos mais importantes afluentes pela margem direita do rio Paraguai, existem PCHs
instaladas em cascata de montante à jusante (PCH Antônio Brennand, PCH Ombreiras,
PCH Jauru, PCH Salto, PCH Indiavaí e PCH Figueirópolis), causando dentre outros
efeitos alterações nas condições físicas e químicas da água (SILVA et al., 2019).
Estes empreendimentos, por sua vez, operam em fio d’água, o que reduz
significativamente a extensão da área alagada para formação dos reservatórios. No
entanto, quando concentradas em série podem gerar impactos cumulativos e sinérgicos
que comprometem o funcionamento adequado da bacia hidrográfica. Assim, caso haja a
implantação de todos os empreendimentos citados, mais 45 afluentes do rio Paraguai
terão suas vazões alteradas, causando impactos no sistema hidrológico e na biota aquática
(CALHEIROS et al, 2009; ALHO; SABINO, 2011; WWF, 2018).
É importante salientar que a BAP possui um sistema hídrico complexo e dinâmico,
principalmente a região que abrange o Pantanal (ALHO; SABINO, 2011). O aumento de
aproveitamentos hidrelétricos na bacia acarreta impactos ambientais que afetam o pulso
de inundação e consequentemente a disponibilidade de nutrientes, qualidade da água,
cadeias alimentares e dinâmica populacional (ALHO, 2005; HAMILTON; MCCLAIN,
2002; MATO GROSSO DO SUL, 2010; SCHULZ et al., 2019).
A planície de inundação trabalha como um bioprocessador, cujo nutrientes
inorgânicos transportados do rio para a planície são aproveitados por diferentes
comunidades durante as fases de seca e cheia para produzir matéria orgânica utilizada
pelos ecossistemas aquáticos e terrestres (JUNK, 2001). Os processos biológicos e
biogeoquímicos em sistemas rio/planície de inundação são influenciados pelos pulsos de
inundação, considerando as trocas laterais entre o rio e suas planícies de inundação, bem
como as trocas entre as fases de cheia e seca (JUNK, 2001).
A interferência no pulso de inundação não afeta somente o ecossistema local, mas
também as comunidades ribeirinhas e suas atividades (ANA, 2018). Os impactos
causados pelos barramentos afetam a biota aquática e a conectividade dos sistemas
ecológicos, influenciando na migração reprodutiva de peixes a médio e longo prazo
(WWF, 2018; CALHEIROS; CASTRILON; BAMP, 2018). No caso da BAP, os recursos
pesqueiros apresentam grande relevância ecológica e social, constituindo um fator crucial
para população local (ALHO, 2008).
Dentre os rios formadores da BAP, já há evidências da alteração do pulso de
inundação por empreendimentos hidrelétricos e grandes reservatórios, como os caso dos
rios Manso, Casca, São Lourenço, Itiquira e Correntes, sendo todos tributários de uma
das principais bacias da BAP/Pantanal, a Bacia Hidrográfica do Rio Cuiabá
(CALHEIROS; CASTRILON; BAMP, 2018).

501
Pelo exposto, nota-se que há grandes desafios para a adequada consideração dos efeitos
cumulativos que se distribuem sobre o território, corroborando o que já foi reportado em
outros contextos por Noble, Westbrook e Sitz (2011). De modo específico, verifica-se
uma grande dificuldade por parte dos estudos de impacto ambiental em apresentar uma
análise integrada dos impactos ambientais (GALLARDO; BOND, 2011).
Noble et al. (2011) destacam os principais desafios em considerar os efeitos
cumulativos em bacias hidrográficas: (i) nível de entendimento sobre a natureza e a
definição de um efeito cumulativo; (ii) escala de análise; (iii) indicadores de
monitoramento para avaliar os impactos cumulativos. Estes aspectos podem ser
observados em vários afluentes do Pantanal, nos quais a prática da avaliação dos efeitos
cumulativos está, na melhor das hipóteses, associada a projetos individuais, sem
necessariamente considerar sua integração com a bacia hidrográfica. No entanto, percebe-
se a importância de um processo específico orientado para a avaliação e gestão de efeitos
cumulativos que possa auxiliar no planejamento da BAP, tendo em vista os mais de 100
novos projetos de aproveitamentos hidrelétricos planejados (SILVA et al., 2019).

3. CONCLUSÃO

A predominância de empreendimentos de pequeno porte instalados e planejados


para a bacia evidenciam um grande potencial hídrico a ser explorado. No entanto, este
processo deve ser encarado de maneira distinta e cautelosa devido às características da
região e os efeitos que poderão ser causados pela implantação e operação destes
empreendimentos, de modo que venham a ocorrer de forma imediata bem como a médio
e longo prazo, afetando significativamente o sistema ecológico e socioambiental da bacia.
Pode-se notar que alguns tributários da planície pantaneira já vêm sofrendo com
os impactos ambientais derivados destas atividades, com o acúmulo de PCHs e CGHs
localizadas principalmente na região norte da bacia. Assim, torna-se essencial a
incorporação da análise dos efeitos cumulativos e sinérgicos decorrentes da implantação
destes empreendimentos, principalmente quando projetados para operar em série em um
mesmo curso d’agua (como já se verifica para os rios Jauru, Cuiabá, Manso e Itiquira).
Portanto, compreende-se a relevância da incorporação de uma avaliação
sistemática dos efeitos cumulativos e sinérgicos nesta região, de modo a orientar o
processo de tomada de decisão relativo à autorização para implantação de novos
aproveitamentos hidrelétricos.

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505
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E DESCARTE DE LÂMPADAS - INSTRUINDO
MUNÍCIPES DE ASSIS CHATEAUBRIAND–PR

Grazielli Bueno1, Pedro Henrique Sóccio Eller2, Amanda Meirelles Pinto33, Kátia
Cristiane Kobus Novaes24
1
Instituto Federal do Paraná - Campus Assis Chateaubriand, 2UTFPR - Campus Pato
Branco, 3UFPR - Setor Palotina, 4Instituto Federal do Paraná
E-mail: grazielli.bueno@ifpr.edu.br

RESUMO: A eficiência energética pode ser dividida em diversas áreas e uma delas é
realizada nos estudos de iluminação que tem sido tratada como um assunto relevante na
sociedade contemporânea, visto que tem consequências diretamente ligadas à questão
financeira e ambiental. Ademais, inclui o descarte de lâmpadas, que tem impacto no meio
ambiente por conta dos materiais contaminantes que compõem alguns modelos dessas.
Assim, objetiva-se com este trabalho conscientizar e educar a comunidade a respeito de
eficiência energética, bem como o descarte apropriado de lâmpadas. E, a partir disso,
promover palestras com base em dados extraídos de entrevistas realizadas por meio de
formulários no Jardim Jussara em Assis Chateaubriand - PR, que propõe melhorar o
comportamento populacional, impactando na sustentabilidade, economia residencial e
desenvolvimento local. Com base nos métodos utilizados no trabalho, percebe-se que a
conscientização é uma ferramenta muito útil, uma vez que a principal causa da
ineficiência energética e descarte inadequado é a falta de informação.
Palavras-chave: Conscientização, Descarte, Eficiência Energética.

ENERGY FICIENCY AND LAMP DISPOSAL - INSTRUCTING RESIDENTS


IN ASSIS CHATEAUBRIAND – PR

Abstract: Energy efficiency can be divided into several areas and one of them is carried
out in lighting studies that have been treated as a relevant issue in contemporary society,
since it has consequences directly linked to the financial and environmental issue. In
addition, it includes the disposal of light bulbs, which have an impact on the environment
due to the contaminating materials that make up some of these models. Thus, the aim of
this work is to raise awareness and educate the community about energy efficiency, as
well as the proper disposal of light bulbs. And, from that, promote lectures based on data
extracted from interviews conducted through forms at Jardim Jussara in Assis
Chateaubriand - PR, which proposes to improve population behavior, impacting on
sustainability, residential economy and local development. Based on the methods used at
work, it is clear that awareness is a very useful tool, since the main cause of energy
inefficiency and inadequate disposal is the lack of information.
Keywords: Awareness, Disposal, Energy Efficiency.

506
1. INTRODUÇÃO

A eletricidade é um dos pilares que sustentam o desenvolvimento da sociedade


atual, tendo em vista que a maioria dos equipamentos utilizados nas residências
dependem diretamente da mesma. Essa é utilizada em diversos setores, como o uso em
residências, indústria ou comércio, atendendo o funcionamento de máquinas,
equipamentos e automóveis, podendo ser estendido para alguns processos para a
transformação da matéria.
Sabendo da importância da eletricidade, a eficiência energética é a relação entre a
energia consumida por um aparelho, ou equipamento, e a energia fornecida ao mesmo.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia
(ABESCO) [20--], a eficiência energética é uma atividade que busca melhorar o uso das
fontes de energia, em poucas palavras, fazer mais com menos energia. Portanto, quando
falamos em aumentar a eficiência energética, dizemos que essa fonte de energia será
utilizada de forma a ser mais bem aproveitada sem que seu funcionamento seja
prejudicado.
Dessa forma, a eficiência energética pode ser alcançada de duas formas: quando
o consumo energético é diminuído enquanto o funcionamento do aparelho continua o
mesmo; e quando o consumo de energia elétrica se mantém constante, porém o seu
desempenho é melhorado.
O problema com o consumo de energia a nível mundial fez com que, cada vez
mais, estudos fossem elaborados sobre a eficiência energética, buscando soluções novas
para que se reduza o consumo de energia elétrica, estudos tais como os realizados por
Apolônio; Apolônio; Lambert (2014) e Sousa (2011) que discorrem acerca de como os
sistemas de iluminação podem ser responsáveis sobre uma fração relevante de ações que
tenham como objetivo a racionalização da energia elétrica. Segundo Mamede Filho
(2015), com o aumento do consumo de energia no mundo, a sociedade vem a cada dia se
preocupando com as medidas de uso racional das diversas formas de energia utilizadas,
notadamente a energia elétrica, [...].
No caso das lâmpadas, a eficiência é a relação entre a energia luminosa produzida
e a quantidade de energia elétrica necessária para a lâmpada atingir esse objetivo. Para a
eficiência energética, o Instituto Nacional de Eficiência Energética [20--] diz que,

A energia é usada em aparelhos simples (lâmpadas e motores elétricos) ou em


sistemas mais complexos que encerram diversos outros equipamentos
(geladeira, automóvel ou uma fábrica). Estes equipamentos e sistemas
transformam formas de energia. Uma parte dela sempre é perdida para o meio
ambiente durante esse processo. Por exemplo: uma lâmpada transforma a
eletricidade em luz e calor. Como o objetivo da lâmpada é iluminar, uma
medida da sua eficiência é obtida dividindo a energia da luz pela energia
elétrica usada pela lâmpada.

Ao desenvolver a pesquisa com lâmpadas, observa-se que o descarte inadequado


pode causar danos ao meio ambiente. Determinados modelos têm alguns materiais
contaminantes (chumbo, mercúrio, entre outros), os quais são importantes para o
funcionamento das lâmpadas, porém, quando essas não apresentam mais utilidade,
tornam-se um problema por razão de seu descarte. Nesse caso, os cidadãos podem acabar
507
por descartá-las de forma imprudente, direcionando-as para lixões ou aterros sanitários,
locais esses onde as lâmpadas não recebem o tratamento necessário, o que possibilita a
contaminação do solo, lençóis freáticos e ar. Para melhor preservação os materiais a serem
descartados deverão ser separados e acondicionados em recipientes adequados para
destinação específica.
Com isso, foram analisados os fatores que influenciam a eficiência energética,
utilizando a iluminação como objeto de estudo. Ademais, coletar dados a respeito do
descarte correto de lâmpadas e propor possíveis soluções para a ineficiência energética e
a contaminação ambiental causada pelos materiais contaminantes presentes nas lâmpadas.
Com isso, conscientizar a população do Jardim Jussara de Assis Chateaubriand – PR
sobre o consumo racional da energia elétrica, mostrando assim, a importância da
racionalização da eletricidade e o descarte correto das lâmpadas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Este projeto baseia-se na obtenção de dados a partir de pesquisa a respeito de


conceitos da eficiência energética com enfoque na iluminação, e os fatores que a
influenciam. Os dados foram coletados por meio de aplicação de formulários aos
moradores do Jardim Jussara do município de Assis Chateaubriand – PR.
O formulário utilizado apresentava perguntas relacionadas ao conhecimento
quanto à eficiência energética, os tipos de lâmpadas utilizadas nas residências e sua
eficácia, a identificação dos locais onde os moradores efetuavam o descarte e posterior
orientação para se adequarem às normas e leis vigentes.
A análise dos dados obtidos foi realizada para prever possíveis soluções aos
problemas relacionados à eficiência da iluminação nas residências, além de diagnosticar
a necessidade de mudanças para promover menor consumo de energia elétrica, gerando a
redução gastos com iluminação, além de proporcionar conhecimento quanto ao descarte
correto das lâmpadas e seus impactos ambientais.
Por conseguinte, conscientizar a população do bairro por meio de ministradas
palestras abertas aos moradores do Jardim Jussara de Assis Chateaubriand, discentes e
servidores do IFPR. Sendo divulgada através de panfletos e cartazes posicionados nos
murais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para retratar a conduta correta a respeito do descarte dos modelos de lâmpadas,


foram organizados dados das relações entre o modelo desse equipamento com o local
onde o mesmo pode ser descartado, sendo apresentado na Tabela 1.

508
Tabela 1 – Descarte correto para cada modelo de lâmpada
Modelo de lâmpada Onde descartar Onde não descartar
Incandescente Empresas revendedoras  Lixo comum
 Lixo reciclável
 Outros
Fluorescente Empresas revendedoras  Lixo comum
 Lixo reciclável
 Outros
LED  Empresas revendedoras  Lixo comum
 Lixo reciclável  Outros
Fonte: Autoria Própria (2018).

Para se obter os gastos com energia elétrica de cada modelo de lâmpada, buscou-
se realizar cálculos, adotando como referência a potência e preço médio das lâmpadas,
verificando a vida-útil e custo benefício. Como isso, pode-se relacionar o porquê de
algumas lâmpadas serem as preferíveis para os compradores mesmo sendo pouco
eficientes. Tais dados constam na Tabela 2.

Tabela 2 – Comparação de gastos entre modelos de lâmpadas


Modelo de Potência Preço Vida útil Custo
lâmpada média médio (R$) (h) benefício
(W) (R$)
Incandescente 60 1.000 3,00
3,00
Fluorescente 20 6.000 1,50
9,00
LED 17,00 50.000 0,34
07
Fonte: Autoria Própria (2018).

É importante ressaltar que as diferentes potências entre os modelos de lâmpadas


se dão devido à equivalência das mesmas em relação à sua eficiência luminosa. Isso
ocorre porque dependente do funcionamento da lâmpada, ela emite determinada
quantidade de lúmens conforme a sua potência de funcionamento. Sendo assim, os
modelos incandescente, fluorescente e LED com 60W, 25W e 7W, respectivamente,
emitem o mesmo fluxo luminoso.
Relacionando a Tabela 2 com as preferências na compra de modelos de lâmpadas
dos moradores, pôde-se observar que a população, em sua maioria, está atenta apenas ao
preço médio, pois é um custo mais fácil de ser notado, sendo que os indivíduos não têm
conhecimento das relações de vida útil e consumo desses produtos.
A partir da tarifa da concessionária local, Companhia Paranaense de Energia
(COPEL) [20--], presente na Tabela 3, foi possível calcular o gasto energético (kWh) e
econômico (R$) – com base nas equações 1 e 2 respectivamente, dos modelos de lâmpada:
incandescente, fluorescente e LED. Utilizando como base de cálculo apenas uma lâmpada
de cada modelo, considerando oito horas de uso diário e trinta dias por mês.
509
Tabela 3 – Tarifas COPEL - Vigência em 24/06/2018
Resolução ANEEL n°2.402 de 19 de junho de 2018
Tarifa em Resolução ANEEL Com impostos: ICMS e
R$/kWh PIS/COFINS
B1 – Residencial 0,50752 0,76897
Fonte: COPEL [20--].

Potência (W) x Horas de uso (h) x Dias de uso no mês (dias)


𝑘𝑊ℎ = (1)
1000

𝑘𝑊ℎ × 𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎 = 𝐺𝑎𝑠𝑡𝑜 𝑒𝑐𝑜𝑛ô𝑚𝑖𝑐𝑜 (𝑅$) (2)

Onde:
kWh = gasto energético (kWh)
Tarifa = Tarifa B1 - residencial com impostos (R$)

A partir dos cálculos, com resultados apresentados na Tabela 4, relacionando os


preços e gastos energéticos mensais e anuais, em reais (R$) e kWh.

Tabela 4 – Gastos mensais e anuais para cada modelo de lâmpada


Modelo de Gasto Gasto anual Consumo Consumo
lâmpada Mensal (R$) (R$) mensal (kWh) anual (kWh)
Incandescente 11,07 14,40 172,80
132,84
Fluorescente 4,61 6,00 72,00
55,32
LED 15,48 1,.68 20,16
1,29
Fonte: Autoria Própria (2018).

Baseado nos dados dispostos na Tabela 4, analisou-se através da comparação entre


os modelos das lâmpadas, mostrando a economia de no consumo de energia elétrica e
financeira obtida com a troca de uma lâmpada fluorescente por LED; incandescente por
fluorescente; ou incandescente por LED, apresentada na Tabela 5.

Tabela 5 – Economia na troca de modelos de lâmpada


Modelo de lâmpada Economia Economia Economia Economia
mensal (R$) anual (R$) mensal (kWh) anual (kWh)
Fluorescente → 51,84
3,32 39,84 4,32
LED
Incandescente → 100,80
6,46 77,52 8,40
fluorescente
Incandescente → 152,64
9,78 117,36 12,72
LED
Fonte: Autoria Própria (2018).
510
Conforme mostrado na Tabela 5, verificou-se que com a troca da lâmpada
fluorescente pela LED, em um ano é acumulado dinheiro suficiente para a compra de
duas lâmpadas LED; na troca da lâmpada incandescente por fluorescente, ao final do ano
é possível comprar oito lâmpadas fluorescentes ou quatro LED; por fim, na transição da
lâmpada incandescente para a LED, pode-se comprar quase sete lâmpadas LED, e com
isso tendo economia de energia elétrica.
A partir dos dados obtidos com as entrevistas realizadas no Jardim Jussara com os
moradores. A pesquisa foi efetuada em quinhentas e cinquenta e três residências, esse
total foi dividido em moradores que responderam, não quiseram participar da pesquisa,
casas vazias – sem moradores – e ausentes, conforme Gráfico 1.

Gráfico 1 – Percentual de moradores entrevistados

Fonte: Autoria Própria (2018).

Dentre esses 66% de moradores, correspondentes a 367 respostas obtidas, quase


a metade das residências faz uso das lâmpadas fluorescentes, o que agrava ainda mais a
questão do descarte adequado, já que há maior chance de contaminação por conta dos
materiais presentes. Os dados obtidos podem ser observados no Gráfico 2.
Gráfico 2 - Modelos de lâmpada usados nas residências
2% LED
12%
37% Fluorescente

Incandescente
49%
Não Sabem o
Modelo

Fonte: Autoria Própria (2018).

Quanto ao conhecimento sobre o tema de eficiência energética e formas de


melhorá-la, os dados demonstram uma situação a ser avaliada, como observado no

511
Gráfico 3, tendo em vista que o entendimento desse conceito é essencial para que atingir
a economia de energia elétrica nas casas do bairro, ao fazer a substituição das lâmpadas.
Gráfico 3 - Percentual de munícipes que conhecem sobre a eficiência energética

95% Conhecem
5%
Não Conhecem

Fonte: Autoria Própria (2018).

Na questão da destinação de lâmpadas queimadas, a maioria dos moradores


descarta esse resíduo em local inadequado. Fato é que grande parte da população ou
desconhece o destino correto das lâmpadas queimadas, ou não se sentem motivadas a
procurar onde fazer esse descarte, pois acreditam ser muito mais fácil fazer o descarte em
locais de fácil acesso. A relação entre munícipes que conhecem e não conhecem locais
que realizam o recolhimento desses materiais em Assis Chateaubriand pode ser verificada
no Gráfico 4.

Gráfico 4 - Percentual de munícipes que conhecem um local de descarte de lâmpadas


em Assis Chateaubriand

96% Conhecem
4%
Não Conhecem

Fonte: Autoria Própria (2018).

Pode-se perceber que, de acordo com os dados, os que conhecem o local de


descarte correspondem a todos que devolvem as lâmpadas queimadas nas empresas
revendedoras. Ou seja, o restante da população faz descarte em local inadequado, com
exceção da minoria (7%) que guarda esses produtos em sua casa, por saberem que o
descarte incorreto gera a contaminação do meio ambiente. Os resultados obtidos quanto
a esse assunto se encontram no Gráfico 5.
512
Gráfico 5 - Local de descarte das lâmpadas com base no Jardim Jussara

3% 19% Lixo Comum

7% Lixo Reciclável
50%
Guardam

21% Trocam ou
Levam na Loja
Outros

Fonte: Autoria Própria (2018).

A porcentagem referente a “outros” é composta por descartes realizados na fossa,


enterrados no solo, jogadas em terrenos vazios e até queimadas dentro da churrasqueira.
Por compreender 19% de todos os destinos desses resíduos, de acordo com o Gráfico 5,
a possibilidade de contaminação ambiental cresce ainda mais.
A partir dos dados alcançados e das pesquisas realizadas, foi possível ministrar
palestras, contando com a participação de moradores do bairro, servidores e discentes do
IFPR, para esclarecimento dos temas abordados nas entrevistas, bem como a exposição
dos dados obtidos. Explicando assim, os conceitos básicos relacionados aos temas de
eficiência energética e descarte de lâmpadas, assim como o porquê da aplicação dos
formulários e os impactos surtidos com a adoção das medidas de eficiência energética
baseada em estudos.
Com essas palestras, onde os participantes puderam fazer perguntas para
esclarecer suas dúvidas a respeito das informações expostas, esperou-se atingir a
conscientização dos munícipes e a elucidação de dúvidas dos mesmos.

4. CONCLUSÃO
Com o objetivo de conscientizar a comunidade do Jardim Jussara da cidade de
Assis Chateaubriand - PR, referente à eficiência energética, foram feitos estudos sobre os
modelos de lâmpadas e seu custo benefício, verificando que ao instalar a lâmpada LED
na residência, haverá diminuição do consumo de energia elétrica, e também economia nas
despesas domésticas. Também, foi analisado o conhecimento dos indivíduos sobre o
descarte responsável dessas. E, a partir disso, ser adotado o descarte apropriado das
lâmpadas.
A partir dos resultados obtidos nas entrevistas com a população, percebeu-se que
há uma considerável falta de informação entre os munícipes a respeito do uso consciente
da energia elétrica, e descarte correto de lâmpadas queimadas. Essa escassez de
conhecimento acaba por causar um consumo de energia elétrica desnecessária no âmbito
residencial, bem como a compra de modelos de lâmpada sobre a qual não entendem o seu
nível de eficiência.
O meio ambiente ainda é afetado com o descarte inadequado das lâmpadas, feito
em locais incorretos. Com isso, podendo contaminar o ambiente através do solo, ar e água,
resultando, posteriormente, na absorção de materiais contaminantes pelos seres vivos.
513
Todavia, as entrevistas mostraram que a população no geral se sente atraída e
curiosa sobre os temas de eficiência energética e descarte adequado de lâmpadas.
Considerando assim, uma vantagem para a introdução da palestra aos munícipes, que
prontamente se declararam interessados na proposta.
Com isso, pode-se assegurar que a utilização dos formulários, como entrevistas –
em ambas as aplicações – foi um método efetivo quanto à obtenção de informações e
percepção do quadro municipal em relação a diversos temas, aqui tratando de eficiência
energética e descarte de lâmpadas. Também se verificou a disponibilidade dos munícipes
quanto a participação da pesquisa e posicionamento de ideias.
Acredita-se que após os moradores participarem das palestras, eles sejam capazes
de aplicar o conhecimento adquirido em suas residências a fim de reduzir seus gastos
energéticos e financeiros.
Esse método possibilitou a conscientização e educação comportamental da
população do bairro. Assim, houve um auxílio aos cidadãos a identificar oportunidades
de melhoria econômica e eficiente em relação à iluminação, impactando, então, na
sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS DE


CONSERVAÇÃO DE ENERGIA (ABESCO). O que é eficiência energética? (EE).
[20--]. Disponível em: http://www.abesco.com.br/pt/o-que-e-eficiencia-energetica-ee/.
Acessado em: 14/06/2018.

APOLÔNIO, D; APOLÔNIO, R; LAMBERT, J.A. Iluminação com eficiência


energética. Portal O Setor Elétrico. Ed. 106. 2014. Disponível em:
https://www.osetoreletrico.com.br/iluminacao-com-eficiencia-energetica/. Acessado
em:13/12/2018.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). Tarifa Convencional –


Subgrupo B1. [20--]. Disponível em:
http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagc
opel2.nsf%2F5d546c6fdeabc9a1032571000064b22e%2Fe3a5cb971ca23bf5032574880
05939ba. Acessado em: 22/11/2018.

INSTITUTO NACIONAL DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA (INEE). O que é


eficiência energética. [20--]. Disponível em:
http://www.inee.org.br/eficiencia_o_que_eh.asp?Cat=eficiencia. Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro. Acessado em: 22/11/2018.

MAMEDE FILHO, João. Instalações elétricas industriais. 8.ed. – [Reimpr.]. Rio de


Janeiro: LTC, 2015.

SOUSA, R.M.A.de. Estudo da eficiência energética e gestão de energia em edifícios


escolares. 2011. 163f. (Dissertação de mestrado Integrado em Engenharia
Electrotécnica e de Computadores Major Energia), Universidade do Porto, Porto, 2011.
514
SMART GRID

515
USO DE REDES NEURAIS DE HISTERESE L² P EM SOLUÇÕES DSM
(DEMAND SIDE MANAGEMENT) EM SMART GRIDS PARA FONTES
RENOVÁVEIS INTERMITENTES

Daniel Freitas de Jesus1, Moises A. P. Borges∗1, Luiz A. L. de Almeida1, Omar A. C.


Vilcanqui2
1
Universidade Federal do ABC, 2UFABC
E-mail: daniel.fr.jesus@gmail.com

RESUMO: A presente pesquisa concentra-se no estudo da otimização estratégica de


cargas de fontes renováveis de energia intermitente, baseada no controle da carga do
cliente, utilizando modelos computacionais baseados em redes neurais, desenvolvidos em
linguagem Python, com o intuito de fornecer mecanismos que auxiliem no
monitoramento e controle de redes elétricas inteligentes. Para a realização do aprendizado
da rede neural, utilizou-se os algoritmos Backpropagation e Feedforwad. A rede neural
em questão, faz o uso de neurônios de histerese por meio do modelo L²P (Limiting Loop
Proximity), realizando a gestão de energia atribuída a cada perfil de usuário, e faz o
horizonte de planejamento, baseado nas curvas de previsão de radiação solar e velocidade
do vento. Para avaliar o modelo, empregou-se dados reais obtidos no Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET). A utilização das redes neurais para o aprimoramento do
sistema elétrico, tem aumentado significativamente nos últimos anos, tornando-o menos
complexo e mais eficaz. Nesse sentido, o uso dessas redes utilizando modelos
computacionais, como o L²P, são empregados a fim de melhorar o sistema elétrico
proporcionando maior confiança tanto para o fornecedor, quanto ao consumidor. O
presente artigo dedica-se ao estudo de DSM, do inglês Demand-Side Management,
também conhecido como gerenciamento pelo lado da demanda, que tem como objetivo
de alterar a carga dos consumidores a reduzir o uso de energia nos horários de pico e
alterar o tempo de uso de energia para horários fora de pico, utilizando redes neurais de
histerese L²P para aplicação em Smart Grids. O resultado obtido é classificado como
extremamente relevante, tanto na predição de recursos renováveis, quanto para a
otimização das cargas de demanda em toda a matriz energética, pois trouxe redução de
pico. Para verificar, os dados de cada cidade foram simulados em uma rede, com
demandas residenciais e industriais.
Palavras-chave: otimização, previsão, controle de redes inteligentes, modelo l²p, energia
renovável.

516
USE OF L² P HYSTERESIS NEURAL NETWORKS IN DSM SOLUTIONS
DEMAND SIDE MANAGEMENT) IN SMART GRIDS FOR INTERMITTENT
RENEWABLE SOURCES

Abstract: In this paper, we propose a novel type of neural network aimed to strategic
optimization of loads connected to intermittent sources of renewable energy. The
proposed method is based on the control of client's load, using computational models
developed in Python language, in order to provide mechanisms that help the monitoring
and control of intelligent electrical networks. The proposed neural network employs
several histeretic neurons based on the L²P model, allowing the development of an
intelligent load model, which is capable of predicting a day ahead of the electric power
load.
Keywords: Neural Networks, optimization, L²P model, forecast, DSM.

1. INTRODUÇÃO

A inserção de fontes renováveis é uma busca cada vez mais constante no âmbito
educacional da sociedade aliado a inovação e necessidade de fontes energéticas
(CORREA et al, 2018). A busca por fontes alternativas vem de diversos cenários
possíveis, como: o ambiental, no qual é importante diminuir os efeitos causados por
geração baseadas em combustíveis fossei; econômico, que tem como base a necessidade
de ser um sistema viável para a implantação e o técnico que verifica a possibilidade de
implantação dos mecanismos para uma correta funcionabilidade.
Para a realização do aprendizado da rede neural, foram utilizados os algoritmos
Backpropagation e Feedforwad. A rede neural em questão faz o uso de neurônios de
histerese por meio do modelo L²P (Limiting Loop Proximity), realizando a gestão de
energia atribuída no perfil de usuário e faz o horizonte de planejamento, baseado nas
curvas de previsão de radiação solar e velocidade do vento. Para avaliar o modelo,
empregaram-se dados reais obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Os impactos da crescente demanda por energia elétrica mundial aumentou
significativamente a preocupação por fontes de energia renováveis. A popularização de
geradores renováveis e o incentivo para a produção distribuída disponibilizam um
ambiente dinâmico, com maior flexibilidade. As redes inteligentes (Smart Grids)
contribuem no aumento da capacidade da distribuidora em atender seus consumidores em
horários de picos e na redução do custo de energia para o consumidor final, devido ao uso
de ferramentas de gerenciamento da demanda.
O Gerenciamento pelo Lado da Demanda (DSM, do inglês, Demand-Side
Management) possui diferentes ações para o gerenciamento de carga, dentre as quais se
destaca a resposta a demanda, que faz a gestão através da verificação de variáveis de
condições na geração transmissão e distribuição da energia elétrica.
O uso de DSM visa acomodar os perfis de carga e geração distribuída em toda a
matriz energética de forma a promover a qualidade e a eficiência, com base em fatores
econômicos, políticos, ambientais, sociais e técnicos. Quando a estimação da DSM é
inteligente em todos os níveis da cadeia (incentivo em tempo real), ocorre a maximização
da capacidade da infraestrutura com um controle central. Para a concessionária, é um
sistema suficiente para promover ofertas e concentrar lucros em mercados como carros
517
elétricos, mercados spots e no controle da geração distribuída em cada passo do dia,
alterando padrões de acordo com o objetivo de planejamento.
A energia solar e a energia eólica são exemplos de fontes de energia intermitentes,
que necessitam de metodologias para o controle de cargas e de infraestruturas para
maximizar seu uso em períodos de picos dentro da matriz energética, minimizando a
quantia de energia retirada da matriz principal (BORGES, VILCANQUI e ALMEIDA,
2019).
As flutuações de carga de trabalho resultam em altos investimentos em
armazenamento, alteração de plantas de usinas hidrelétricas, com necessidade de
bombeamento para compensar e desbalanceamento da unidade geradora
(LOGENTHIRAN ET AL, 2012).

1.1 TRABALHOS CORRELATOS

Em (CORTEZ et al, 2006), os autores desenvolvem um método de agendamento


utilizando algoritmos genéticos para auxiliar aos clientes finais a moldarem seus hábitos
e reduzirem seus custos pela utilização das tarifas TOU (Time Of Use).
Em (LOGENTHIRAN et al, 2012) os autores desenvolvem um algoritmo
evolutivo meta heurístico que resolve um problema de minimização para a carga futura e
no desenvolvimento da DSM. As cargas foram simuladas em clientes residenciais,
comerciais e industriais. Conforme a estratégia implementada no otimizador (a
minimização da curva, sendo esta inversamente proporcional ao custo de tarifação).
Em (GOTTWALT et al, 2011), os autores desenvolvem um algoritmo para a
simulação de carga de trabalho em residências. Os consumidores possuem
eletrodomésticos inteligentes controlando ativamente a demanda. Os perfis de cargas de
trabalho são variantes e é investigado o impacto resultante em contas de eletricidade.
Eletrodomésticos inteligentes possuem o aperfeiçoamento de sua função, com base em
medição de energia consumida, temporizadores e em gerenciamentos remotos de carga
do equipamento. O balanceamento obtido com equipamentos inteligentes em fontes
renováveis intermitentes demonstra que a DSM resulta em um modelo flexível e
controlável, no qual o cliente procura a melhor oferta com menor preço.

2. MÉTODOS UTILIZADOS

A classe residencial foi modelada com base no relatório de pesquisa de posse de


equipamentos e hábitos de uso da região sudeste, desenvolvida pela PROCEL - Programa
Nacional de Conservação de Energia Elétrica, que são dados reais de pesquisas de campo.
As curvas de carga foram tratadas por um software para a extração numérica e sua relação
tratada com a média real dos equipamentos em kWh de uso.

518
Carga de Trabalho
Simulada
50 Lavadora de

Consumo (KWh)
roupa
40
Televisão
30
Condicionam
20 ento
10 Chuveiro

0 Lampadas
1 5 8 11 14 17 20 23
Freezer
Horário

Figura 19 - Curvas de consumo (24 horas): referência e simulada.

Com base nos valores de potência média de cada aparelho na residência foi obtido
o consumo horário (em kWh) com a seguinte formulação:

C=Pxt (1)
Em que:
C - é o consumo
P - é a potência (em kW)
t - é o tempo (número de horas)

O horário de ponta definido no período do dia em que ocorre pico costuma ser
entre às 17h e às 21h, pois é o momento em que as pessoas chegam em casa e usam
eletrodomésticos e também o chuveiro.

Curva de carga Simulada


2000
Consumo (MWh)

1500
1000
500
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Horas
(a)
(b)

Figura 20 - Curvas de consumo (24 horas): referência (a) e simulada (b).

519
Curva de Carga Simulada
600

Consumo (MWh)
400

200

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Horas
(a)
(b)

Figura 21 - Curvas de consumo (24 horas): referência (a) e simulada (b).

As cargas comercial e industrial, como mostram as Figura 2 e 3, foram obtidas


por meio de dados de curva de carga típicas obtidas no site planalto.gov. Seus
equipamentos não foram classificados no simulador, mas o valor horário pode ser descrito
como a operação global e a sua redução ou movimentação no pico de carga como
atividades de geração distribuída e eficiência energética dentro da indústria ou comércio.
O modelo de histerese é baseado uma estrutura de comportamento de
aperfeiçoamento de baixos parâmetros como os apresentados em (ALMEIDA et al, 2004)
e apresentado em abordagem matemática por (BORGES, VILCANQUI e ALMEIDA,
2019) consolidando informações relevantes da estrutura do modelo e possibilitando um
levantamento de equações necessárias para inclusão em processo de gerar uma rede
neural, dadas as equações com possibilidades de comparação. O comportamento
histerético é atualmente estudado para ser utilizado em séries de comportamento caótico,
por ser não linear e possuir em sua forma mais simples memória e retenção de
aprendizado.
O início do processo matemático para a modelagem da curva de histerese é obtido
conforme mostra a Figura 4 nos parâmetros geradores da curva de histerese (os campos
coercitivos, a magnetização de saturação, o tipo de material, etc) que são as características
para o material em estudo.

Figura 22 - Curva de Histerese


520
A análise matemática é estabelecida por uma função principal, a partir de
considerações apresentadas na equação (2). Em que, δ é uma constante arbitrária, que
determina a aderência dos laços menores em relação ao laço principal, a partir de pontos
x, para gerar a dinâmica de acordo com as condições que serão apresentadas em P(x).
𝜋
1 − sin δ𝑥 , 𝑥 < 2
𝑃 (𝑥 ) = { 𝜋 (2)
0, δ𝑥 ≥ 2

Sabendo que, na característica experimental de histerese (M x H), existe uma


determinada largura que separa as curvas crescentes e decrescentes principais. Logo, a
magnetização M satura quando alcança valores elevados tanto negativos quanto positivos
de H. Desta maneira, todas as curvas de histerese ficam confinadas ao laço limite, que
por sua vez é a combinação das curvas crescentes e decrescentes principais.
Fazendo a consideração de que a histerese independe da taxa de variação temporal
do sinal de excitação, propondo assim, que sua taxa de variação seja insignificante ao
ponto de ser desprezada, de maneira que o laço principal seja considerado invariante,
qualquer que seja o campo aplicado. Desta forma, pode-se representar o laço principal
pela função $F_l(H,\delta)$ que é resultante das combinações das curvas Fl (H, δ) =
+1 e Fl (H, δ) = −1 , observando a Figura 4, através de configurações geométricas,
obtém-se a estrutura do modelo proposto por (ALMEIDA et al, 2003). O que resulta na
equação (3).

2𝑀𝑠 𝐻𝑝 +𝐻−𝛿𝐻𝑐
𝑀 (𝐻 ) = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 ( ) (3)
𝜋 ℎ0
Em que:
M - é a magnetização da histerese estática;
𝑀𝑠 - é a magnetização de saturação;
𝐻𝑐 - é o campo coercitivo;
ℎ0 - é uma constante dependente do material;
δ= sgn(H) em que sgn() representa a função sinal com valor +1 para valores positivos do
argumento e -1 para valores negativos do argumento;
𝐻𝑝 = 𝐻𝐿 − 𝐻 que é o campo de proximidade com finalidade de expressar a distância
qualquer de um ponto (H,M) na trajetória k em um laço menor ao laço principal (𝐻𝐿 , 𝑀).
O modelo L²P descrito, possibilita determinar por meio de experimentos uma
dependência funcional de 𝐻𝑝 , que obtém a equação (4).

𝐻𝑝 = 𝐻𝑝𝑟 𝑃(𝑥) (4)

Em que 𝐻𝑝𝑟 é o campo de proximidade no ponto de reversão, que é a distância entre o


ponto do laço principal e o ponto de reversão.
Dadas as definições conhecidas da estrutura de uma histerese magnética, foi
desenvolvida uma estrutura de uma rede neural, que possui sua função de ativação em
formato de histerese, com sua implementação experimental em linguagem Python com

521
as características de pesos e Bias para um vetor de saída, como pode ser observado na
Figura 5.

Figura 23 - Estrutura da rede neural L²P.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A representação de cargas dentro de uma residência, do comércio e da indústria é


fundamental para o entendimento da distribuição de circuitos e como esta pode ser
ajustada com o uso de DSM. As análises simples de distribuição são também facilitadoras
nas escolhas de sistemas solares para manutenção total ou parcial de residências e uma
tendência que pode ser observada por uma simples pesquisa relacionada a implantação
de painéis solares.
Para uma implementação correta deve ser observado o cálculo correto da demanda
necessária para o consumidor solicitante da implementação e um algoritmo baseado
regras nas quais atenda o grupo cliente.
Na presente pesquisa, um método experimental foi usado para alterar a carga do
cliente, com base em uma fonte intermitente solar. A previsão de um dia a frente do
recurso solar em cada horário (24 horas), com um treinamento de 4 dias para que a rede
neural L² P reconheça o padrão da série ventos.
A série representa a região de Sorocaba, que foi medida em quantidade horária de
radiação solar. A Figura 6 mostra o comportamento da demanda do cliente obtida com a
alteração percentual, baseada na previsão de um dia a frente. Conforme a rede neural L²
P faz a previsão de um dia a frente, a carga de trabalho recebe redução ou acréscimo
devido à produção. Posto isso, a rede neural detectou que a carga máxima ocorre
aproximadamente às 18 horas e com isso realizou a alteração do horário de maior carga
das 21 horas para às 18 horas no primeiro dia de simulação. Assim, para o caso de
consumidores residenciais pode-se chegar a uma possível organização de quanto de
captação vai haver em relação à demanda necessária.

522
Alteração da carga residencial
45
40
35 Chuveiro

Consumo(kw)
30
Geladeira
25
20 Lampada
15 s
10 Televisão
5
0 Condicion
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 amento
Lavadora
Horas de roupa

Figura 6 - Uso da rede neural L² P para a previsão solar de um dia a frente.

Outras variáveis podem ser acrescentadas, para a obtenção de um otimizador,


como as tarifas, políticas de economia, entre outras. O resultado aponta para uma variação
mais próxima da curva real de geração, o que foi o objetivo da simulação, com
modificação suave nas características de clientes, com carga gerida pela quantidade de
recurso disponível em cada horário.

4. CONCLUSÃO

A utilização das redes neurais para o aprimoramento do sistema elétrico tem


aumentado significativamente nos últimos anos, tornando-o menos complexo e mais
eficaz. Nesse sentido, o uso dessas redes utilizando modelos computacionais, como o L²
P, visa melhorar o sistema elétrico proporcionando maior confiança tanto para o
fornecedor, quanto ao consumidor.
Dadas as análises feitas por simulação até o momento, o resultado obtido é
classificado como relevante desde o ponto de vista da radiação solar, tanto na predição de
recursos renováveis, quanto para a otimização das cargas de demanda em toda a matriz
energética, pois gradualmente modifica a carga do cliente, com base nos parâmetros de
quantidade de radiação solar da fonte geradora. Para verificar, os dados foram simulados
em uma rede com demandas residenciais. A presente pesquisa utiliza uma rede
experimental desenvolvida na curva de histerese dos dados da série temporal.

REFERÊNCIAS

Almeida, L. A. L.; Deep, G. S.; Lima, A. M. N.; Khrebtov, I. A.; Malyarov, V. G.; e Neff, H.
Modeling and performance of vanadium-oxide transition edge microbolometers. Applied
Physics Letters, 85(16), 3605-3607, 2004.

Borges, M. A. P.; Vilcanqui, O. A. C.; Almeida, L. A. L. Amplificador acoplado em modelo de


histerese para análise de altas frequências. Encontro Regional de Matemática Aplicada (IV-
ERMAC), 28-33, 2019.

523
Correa, R. B; Asano, P. T. L.; Benedito, R. S.; Chung, H.; Jonathan, S. "Financial impact of
solar distributed generation's growth on distribution companies revenue," 2018 Simposio
Brasileiro de Sistemas Eletricos (SBSE), Niteroi, pp. 1-5, 2018.

Cortez, V H. N., Araujo, D. R. R. P., ARAUJO, LEANDRO R. “Gerenciamento pelo Lado da


Demanda em Redes Inteligentes Utilizando Algoritmos Genéticos”, XXI Congresso Brasileiro
de Automática – CBA 2016.

Logenthiran, T.; Srinivasan, D.; Shun, T. Z. “Demand Side Management in Smart Grid Using
Heuristic Optimization”, IEEE TRANSACTIONS ON SMART GRID, VOL. 3, NO. 3,
SEPTEMBER 2012.

Gottwalt, S.; Wolfgang, K.; Carsten, B.; John, C e Christof, W. “Demand side management—A
simulation of household behavior under variable prices”, The International Journal of the
Political, Economic, Planning, Environmental and Social Aspects of Energy, Volume 39, Issue
12, December 2011.

524
SOLAR

525
ANÁLISE DE DADOS DE UMA USINA SOLAR DE GRANDE PORTE COM
TRACKER DE UM EIXO

*Gracilene Mendes Mota1, Marcelo Medeiros2, Patricia Romeiro da Silva Jota3


1
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, 2 Consultor em Energia
Renováveis, 3 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
gracilenemota2014@gmail.com

RESUMO: A melhoria da eficiência de sistemas fotovoltaicos é uma meta constante para


a área de energia. Uma das formas possíveis de aumentar a energia gerada por um painel
fotovoltaico é a utilização do rastreamento solar, realizando a sua movimentação de modo
a seguir a trajetória do sol, buscando um menor ângulo de incidência. Existem vários tipos
de rastreadores, de um ou dois eixos. Cada tipo de rastreador possui vantagens e
desvantagens e as aplicações devem ser devidamente avaliadas. As primeiras usinas de
grande porte foram instaladas no Brasil nos últimos oito anos e a avaliação do
desempenho é objeto de estudos. Este trabalho apresenta uma análise de dados coletados
em uma destas usinas, com foco no desempenho do rastreador solar. O tracker instalado
nesta usina é de eixo horizontal com orientação N-S, e cuja inclinação ocorre na direção
L-W. Valores medidos ao longo de três meses no período do inverno da irradiação solar
no plano horizontal e no plano do tracker são comparados com valores teóricos. São
avaliados os ganhos de energia incidente do sistema de rastreamento, bem como as perdas
de energia absorvida pela atmosfera avaliada com e sem o tracker. Foi possível verificar
ganhos percentuais maiores no início da manhã diminuindo até zerar ao meio dia e depois
crescente até o final da tarde, chegando a valores em torno de 140% nos pontos extremos.
O ganho médio verificado foi de 29% nos meses avaliados. No dia com maior irradiação
solar medida no plano horizontal, 22MJ/m2, foi possível obter 28,5MJ/m2 disponível no
plano do tracker. Os resultados indicam ganhos expressivos que justificam a aplicação do
tracker para a localidade de sua instalação.
Palavras-chave: Rastreamento solar, rastreamento solar em um eixo horizontal, usinas
solares.

526
DATA ANALYSIS OF A LARGE SOLAR PLANT WITH AXIS TRACKER

ABSTRACT: Improving the efficiency of photovoltaic systems is a constant goal for the
energy area. One of the possible ways to increase the energy generated by a photovoltaic
panel is to use solar tracking, moving it to follow the path of the sun, seeking a smaller
angle of incidence. There are several types of trackers, with one or two axes. Each type
of tracker has advantages and disadvantages and the applications must be properly
evaluated. The first large plants were installed in Brazil in the last eight years and
performance evaluation is the subject of studies. This paper presents an analysis of data
collected in one of these plants, focusing on the performance of the solar tracker. The
tracker installed in this plant is of horizontal axis with N-S orientation and whose
inclination occurs in the L-W direction. Values measured over three months in the winter
period of solar irradiation in the horizontal plane and the tracker plane are compared with
theoretical values. The incident energy gains of the tracking system are assessed, as well
as the losses of energy absorbed by the atmosphere evaluated with and without the tracker.
It was possible to see larger percentage gains in the early morning decreasing to zero at
noon and then increasing until late afternoon, reaching values around 140% at the extreme
points. The average gain was 29% in the months evaluated. On the day with the highest
solar radiation measured in the horizontal plane, 22MJ/m2, it was possible to obtain
28,5MJ/m2 available in the tracker plane. The results indicate significant gains that justify
the application of the tracker to the location of its installation.
Keywords: Solar tracking, horizontal axis, Solar plants.

1. INTRODUÇÃO

No segundo semestre de 2017, o Brasil contava com 438,3 MW de potência


instalada de geração solar, correspondentes a 15,7 mil instalações (MME, 2017). Apesar
de a geração de energia solar fotovoltaica ainda ser incipiente no Brasil, existem diversos
incentivos governamentais para o aproveitamento da fonte, conforme apresentado por
Silva (2015) e Nascimento (2017). Dentre esses incentivos, têm-se os relacionados a
projetos de pesquisa e desenvolvimento. Ressalta-se que os projetos de geração de energia
solar fotovoltaica dividem-se em projetos de geração centralizada, com usinas de maior
porte, e de geração descentralizada, a chamada geração distribuída, localizada em casas,
edifícios comerciais e públicos, condomínios e áreas rurais (NASCIMENTO, 2017). O
enfoque desse trabalho está na geração centralizada. Inseridos nesses projetos em usinas
de geração centralizada, tem-se o estudo acerca da aplicação de seguidores solares, a fim
de se aumentar a energia gerada por um painel fotovoltaico.
Um seguidor solar é um dispositivo mecânico que tem por objetivo garantir que
os painéis fotovoltaicos fiquem sempre na posição mais favorável a captar o máximo de
radiação solar possível. Os seguidores solares podem ser utilizados em basicamente todas
as aplicações que utilizem energia solar. Há relativamente pouco tempo, eram usados
essencialmente na produção de energia solar térmica, mas nos últimos anos, com a
redução dos custos na tecnologia fotovoltaica, tem aumentado a sua utilização aliada a
energia fotovoltaica (CORTEZ, 2013).
Este trabalho apresenta uma avaliação de dados reais medidos em uma usina de
grande porte localizada em Minas Gerais. Esta usina utiliza tracker de eixo horizontal
527
com orientação N-S, e cuja inclinação ocorre na direção L-W. Os dados mostram os
ganhos obtidos a partir do uso do tracker nesta usina.

1.1 EQUAÇÕES SOLARES

Para a compreensão do funcionamento e da aplicação desses seguidores, torna-se


importante o conhecimento acerca de algumas de suas definições teóricas. Além disso, as
equações de radiação solar extraterrestre em um plano horizontal e da energia diária
extraterrestre nesse mesmo plano se tornam essenciais para o objetivo desse trabalho de
análise da energia gerada pelos painéis fotovoltaicos, em uma usina de grande porte.
Sabe-se que conforme a inclinação do sol e o tipo de tracker, o ângulo de incidência do
sol na superfície do módulo é modificado, afetando a potência incidente, equação 1, com
o valor do cosseno do ângulo de incidência, equação 5, em cada instante. Logo,
substituindo a Equação 2 na Equação 1, encontra-se a Equação 3 que mostra a radiação
solar extraterrestre em um plano horizontal, sendo esse o tipo do tracker de interesse desse
trabalho.
360. n
G0 = Gsc . [1 + 0,033 cos ( ) . cos (θZ )] (1)
365
θZ = 𝑐𝑜𝑠 −1 sin Φ sin 𝛿 + cos Φ cos 𝛿 cos ω
(2)
360. 𝑛
G0 = Gsc . [1 + 0,033 cos ( )] . [sin(Φ). sin(δ)
365
+ cos(Φ). cos(δ). cos(ω)] (3)
sendo, G0 a radiação solar extraterrestre no plano horizontal (W/𝑚2 ), 𝐺𝑠𝑐 a constante solar
(1367 W/𝑚2 ), 𝑛 o dia juliano, Φ a latitude local (°), ω (°) o ângulo horário (representa o
deslocamento angular do sol a leste ou oeste do meridiano local devido à rotação terrestre
– 15º por hora positivo pela manhã) e δ é a declinação solar (°).
Para o cálculo da energia diária extraterrestre em um plano horizontal, de acordo
com Duffie e Beckman (2013), integra-se a Equação 3 em relação ao ângulo horário, no
intervalo do nascer ao pôr do sol. Além disso, são realizadas as devidas conversões de
unidades. O cálculo dessa energia pode ser realizada pela Equação 4.

24.3600. 𝐺𝑠𝑐 360. 𝑛


𝐻0 = { . [1 + 0,033. cos ( )] . [𝑐𝑜𝑠(𝛷 ) . 𝑐𝑜𝑠(𝛿 ) . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑠 )
𝜋 365
2𝜋. 𝜔𝑠
+ . 𝑠𝑒𝑛(𝛷 ). 𝑠𝑒𝑛(𝛿 )]} /106 (4)
360
onde 𝐻0 é energia diária extraterrestre num plano horizontal (MJ/𝑚2 ) e ωs é o ângulo do
horário do pôr do sol, em graus (°).
Além disso, o ângulo horário do pôr do sol (𝜔𝑠 ) é dado por:

𝜔𝑠 = 𝑐𝑜𝑠 −1 (−𝑡𝑎𝑛 𝛷 tan 𝛿) (5)

O rastreamento nem sempre resulta em aumento da radiação incidente; basta


comparar a radiação de solstício de inverno na superfície de rastreamento norte-sul com
a radiação na superfície fixa. Na prática, as diferenças serão menores, devido às nuvens

528
e a condição atmosférica. Além disso, o tracker altera de forma significativa a distribuição
temporal da radiação incidente, nem sempre melhorando a radiação incidente. Dessa
forma, esse trabalho busca apresentar os efeitos de geração de energia pelos módulos
fotovoltaicos com o uso dos seguidores solares, a fim de se apresentar as vantagens
associadas ao seu uso em usinas de grande porte.

1.2 ESTUDO DE CASO

Para esse trabalho foram coletados dados ambientais de sensores de uma usina
solar, ao longo dos meses de maio a julho. Os dados analisados nesse trabalho, nesse
período de três meses, são de temperatura dos módulos, temperatura ambiente e radiação
solar no plano inclinado e no plano horizontal do painel solar fotovoltaico com tracker de
um único eixo horizontal. Vale ressaltar que o tracker possui orientação N-S, porém seu
plano de inclinação ocorre na direção L-W. Além disso, as medições foram realizadas em
intervalos de 5 em 5 minutos, para o alcance de uma maior precisão dos dados a serem
analisados.
A usina em análise, localizada no norte de Minas Gerais, possui uma potência total
instalada da ordem de centenas de MWP , sendo que cada tracker possui, geralmente, 90
Módulos (3 strings). Os painéis solares possuem um distanciamento do solo de 1,2 m.

2. METODOLOGIA

Para o levantamento das curvas presentes nesse trabalho, foi realizado um


tratamento específico dos dados ambientais recebidos. Para esse tratamento, inicialmente
pegou-se, para o mesmo intervalo de 5 minutos de cada dia dentre os 3 meses analisados,
os valores de radiação solar incidente (W/𝑚2 ) nos planos horizontal e inclinado do tracker
de orientação N-S. Posteriormente, realizou-se uma média da radiação solar tanto para o
plano horizontal quanto para o plano inclinado.
Para realizar a comparação dos valores medidos com o modelo teórico do tracker
de um único eixo horizontal, realizou-se uma conversão da distribuição temporal dos
dados da curva da média da radiação solar, de hora de relógio para hora solar, como
poderá ser observado nos Resultados e Discussão desse trabalho, Figura 6. As Equações
1, 2 e 3 foram utilizadas neste cálculo. Dessa forma, foi possível a comparação da
distribuição temporal em hora solar (h) da radiação solar (W/𝑚2 ) do modelo teórico
(radiação extraterrestre) com os valores medidos da usina solar. Também, foi gerada a
curva que mostra a distribuição temporal, em dias do ano da energia solar diária em uma
superfície horizontal, desconsiderando o efeito da atmosfera, sendo a unidade fornecida
em (MJ/𝑚2 ), realizando-se a devida conversão de (W/𝑚2 ) para (MJ/𝑚2 ).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a obtenção dos resultados, foi realizado o tratamento dos dados recebidos da
usina solar. Posteriormente, obtiveram-se as curvas da Figura 1, sendo realizada uma
média dos valores de radiação solar (W/𝑚2 ) no plano horizontal e no plano inclinado do

529
tracker de um único eixo horizontal, sendo essa média a dos três meses de inverno
analisados (de 30/04/2018 a 30/07/2018).
Observa-se na Figura 1 que a distribuição temporal considera o tempo de relógio
dos valores da média da radiação solar dos dois planos de 06h00min às 18h30min, sendo
que a amostra desses valores se inicia por volta de 06h25, estendendo-se até às 17h45,
aproximadamente.

Média da radiação solar de 30/04 a 30/07


900,00 Plano horizontal
(W/m²)
800,00 Plano inclinado (W/m²)

700,00

600,00

500,00

400,00

300,00

200,00

100,00

0,00
10:40

12:00

16:40

18:00
10:00

11:20

12:40
13:20
14:00
14:40
15:20
16:00

17:20
6:00
6:40
7:20
8:00
8:40
9:20

Figura 1 – Média da radiação solar x tempo em hora de relógio.

Analisando as curvas dos dois planos e de acordo com a Tabela 1, tem-se a


máxima radiação horizontal média dos dias e a máxima radiação inclinada média dos
dias. Dessa forma, conclui-se que no plano inclinado a máxima radiação solar média
incidente em (W/m²) é superior ao valor da máxima radiação solar média incidente no
plano horizontal.

Tabela 1 – Máxima radiação solar média no plano horizontal e no plano


inclinado.
Planos de Máxima Radiação solar Horário
radiação solar média (W/m²) de
incidente relógio
Plano Horizontal 760,32 12h05
Plano Inclinado 769,11 10h40

Na Figura 2, encontram-se três curvas de interesse; a curva da média da radiação


solar incidente no plano inclinado do tracker, a curva da média da potência gerada e a
curva da média da temperatura dos módulos (℃). Os valores da média da radiação solar
530
e média da potência gerada estão no sistema por unidade (pu), além disso, a variação da
temperatura dos módulos ocorre entre 15℃ e 43℃, aproximadamente. Os valores no
sistema por unidade foram encontrados, por meio da normalização dos valores das duas
curvas usando seus respectivos valores máximos, tanto da média da radiação solar quanto
da média da potência gerada.
No período da tarde, pode-se observar uma maior temperatura dos módulos, com
um decaimento ocorrendo a partir do instante em que a radiação solar diminui no horário
de 17h40. É possível observar que a queda de temperatura é mais suave do que a de
radiação solar. Isto ocorre devido à constante térmica dos módulos. Entretanto, observa-
se que apesar da variação de temperatura entre os períodos da manhã e da tarde, não há
efeito na geração de energia. A curva de geração segue a curva de radiação sem indicar o
efeito da temperatura. Entretanto, deve-se destacar que os meses estudados são meses
frios e as temperaturas dos módulos não atingiram valores elevados.

Média da potência gerada e radiação de Radiação plano inclinado (pu)


30/04 a 30/07 Potência gerada (pu)
Temperatura dos módulos (°C)
1,2 50,00
45,00
1
40,00
35,00
0,8
30,00
0,6 25,00
20,00
0,4
15,00
10,00
0,2
5,00
0 0,00
10:40

12:00
10:00

11:20

12:40
13:20
14:00
14:40
15:20
16:00
16:40
17:20
18:00
9:20
6:00
6:40
7:20
8:00
8:40

Figura 2 – Média da radiação solar e da potência gerada x tempo em hora de relógio.

CRESESB (2014) destaca que a maior energia diária disponível em (MJ/𝑚2 ), na


região Sudeste, no plano horizontal, é de 22 MJ/𝑚2 ou de 6,1 kWh/𝑚2 . De fato, ao se
observar a Figura 3, que possui as curvas de análise teórica limitadas ao intervalo das
curvas de medições existentes (120< 𝑛 <210), onde 𝑛 é o dia juliano, conclui-se que a
variação da energia diária medida no plano horizontal está limitada ao valor máximo de
22 MJ/𝑚2 . Observa-se que a variação de energia diária ao longo dos três meses analisados
está entre os valores de 8 MJ/𝑚2 a 22 MJ/𝑚2 . Além disso, observa-se que a radiação
disponível teórica se difere da medida devido ao efeito da atmosfera e clima. Uma grande
parcela da radiação é absorvida pela atmosfera e a existência de nuvens pode
531
comprometer ainda mais a disponibilidade de energia no plano da usina. Desse modo, a
escolha do local de instalação da usina solar torna-se um dos importantes fatores a serem
considerados para a garantia de um maior aproveitamento do grande potencial de energia
solar do Brasil.

Figura 3 – Energia diária x Dias do ano – entre os dias do ano 120<𝑛<210.

A última análise realizada comparou os valores teóricos da radiação solar


extraterrestre, ao longo da hora solar (h), para o dia 15/05/2018, com a média dos valores
medidos de radiação solar do local, onde está inserida a usina desse trabalho. Considerou-
se, também, a análise no plano horizontal.
Segundo Duffie e Beckman (2013), o tempo solar é o tempo usado em todas as
relações do ângulo do sol e não coincide com a hora do relógio local. Dessa forma, é
necessário converter o horário padrão para o horário solar aplicando devidas correções.

Figura 4 – Radiação Solar no plano horizontal x Hora Solar.

532
Ao analisar os resultados da curva de radiação solar extraterrestre teórica com a
curva de radiação solar medida, figura 4, percebe-se a similaridade em seu formato, com
os maiores valores de radiação solar (W/𝑚2 ) correspondentes aos valores de hora solar
em torno da hora solar 12 h.
Percebe-se que o valor máximo da radiação solar da curva medida ocorre na hora
solar 12h08 (curva afetada por nuvens), já na curva teórica ocorre exatamente na hora
solar 12h, como é o esperado teoricamente, uma vez que nessa hora o sol está no topo do
seu movimento para o local sob análise. Para a curva medida, a máxima radiação solar
corresponde a 773 W/𝑚2 , já para a curva teórica, a máxima radiação solar é 1084 W/𝑚2 .
Dessa forma, observa-se, conforme esperado, que a máxima radiação solar medida
é menor em relação à máxima radiação solar teórica. Essa variação da máxima radiação
solar é explicada devido à interferência atmosférica na filtragem da radiação solar, no
caso da curva medida, além da existência de nuvens que afetam as medições.

4. CONCLUSÃO

Para a análise dos valores medidos do tracker de um único eixo horizontal com
orientação N-S, foram traçados gráficos comparativos entre radiação horizontal, inclinada
e a geração solar obtida. Nessas análises não foi realizada a correção da hora solar, já que
todos os dados medidos estão na mesma base horária. Vale ressaltar que nesses gráficos,
as curvas possuem os valores medidos tanto no plano horizontal quanto no plano
inclinado do tracker.
Além disso, nas curvas de distribuição temporal da energia diária, em dias do ano,
e da radiação solar, em hora solar, houve uma comparação entre as curvas teóricas e
medidas dos dois planos. Analisando as curvas dos dois planos, foi possível concluir que,
no plano inclinado, a máxima radiação solar média incidente em (W/m²) é superior ao
valor da máxima radiação solar média incidente no plano horizontal, como era de se
esperar com o uso do seguidor solar.
Por fim, analisando as curvas de distribuição temporal teóricas com as curvas
medidas de energia diária (MJ/m²) e radiação solar (W/m²), constatou-se, que apesar de
as curvas medidas acompanharem o formato das curvas teóricas e, consequentemente,
seu comportamento, os valores medidos de energia diária e radiação são menores. Esse
fato é devido à interferência da atmosfera na filtragem da radiação solar.

REFERÊNCIAS

CORTEZ, R. J. M. Sistema de Seguimento Solar em Produção de Energia Fotovoltaica. Tese


(Mestrado em Engenharia Elétrica) - Universidade de Porto, Porto, p.94.2013.

CRESESB. Atlas Solarimétrico do Brasil. CRESESB - Centro de Referência para Energia Solar
e Eólica Sérgio Brito e CEPEL, 2000.

Duffie, J. A.; Beckman, W. A. Solar Engineering of Thermal Process. 2. ed. New York: John
Wiley and Sons, 2013.

533
MOTA, G. M. Análise de dados de uma usina solar com tracker de um eixo. Dissertação
(Dissertação em Engenharia Elétrica) – Centro de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Minas
Gerais, p.75. 2018.

MME – Ministério de Minas e Energia. Energia Solar no Brasil e no Mundo. 2017.

Nascimento, Rodrigo L. - Energia Solar no Brasil: Situação e Perspectivas, Estudo Técnico –


Março de 2017.

Silva, R. M. Energia Solar: dos incentivos aos desafios. Texto para discussão nº 166. Brasília.
Senado Federal, 2015.

534
ANÁLISE DO PERFIL DE TENSÃO DE UM SISTEMA DE GERAÇÃO
FOTOVOLTAICO COM A REDE DE DISTRIBUIÇÃO

Andrey Willian Marques Pinto 1, Fábio Domingues de Jesus1, Belisario Nina Huallpa1,
Paulo Vitor Grillo de Souza1
1
Universidade Federal de Lavras, Departamento de Automática
E-mail: fabio.jesus@ufla.br

RESUMO: O prinicpal objetivo deste trabalho é avaliar o impacto que um sistema de


geração fotovoltaico pode causar no perfil de tensão no ponto de acoplamento comum
(PAC) com o sistema de distribuição. O estudo foi realizado com obtenção de dados reais
de medições seguindo os procedimentos do PRODIST (2017) em conjunto com um
modelo analítico simplificado da rede de distribuição em regime permanente. Foi
verificado nos resultados que o perfil de tensão no PAC depende da potência injetada pela
usina geradora, potência da carga, tensão da rede elétrica e da resistência do sistema de
distribuição, considerando que os inversores de frequência estão configurados com fator
de potência igual a 1. Também, foi verificado que ocorre sobretensão no ponto de conexão
com o sistema de distribuição principalmente no horário em que o sistema fotovoltaico
esta gerando mais potência com pouca carga conectada.
Palavras-chave: Sistema de Distribuição, Sistema Fotovoltaico, Perfil de Tensão,
Qualidade de Energia.

ANALYSIS OF VOLTAGE PROFILE OF A PHOTOVOLTAIC GENERATION


SYSTEM WITH THE DISTRIBUTION NETWORK

Abstract: The main of this work is to evaluate the impact that a photovoltaic generation
system can have on the voltage profile at the common coupling point (PAC) with the
distribution system. The study was carried out with obtaining real measurement data
following the procedures of PRODIST (2017) together with a simplified analytical model
of the distribution network in a permanent regime. It was verified in the results that the
voltage profile in the PAC depends on the power injected by the generating plant, load
power, mains voltage and the resistance of the distribution system, considering that the
frequency inverters are configured with a power factor of 1 Also, it was verified that
overvoltage occurs at the connection point with the distribution system, mainly at the time
when the photovoltaic system is generating more power with little connected load.
Keywords: Distribution System, Photovoltaic System, Voltage Profile, Power Quality.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, a instalação de geração de energia fotovoltaica tem aumentado a cada


ano em residências, comércios e indústrias, principalmente por ter uma atrativa taxa de
retorno do investimento, que é possível devido ao subsídio do governo e pela queda do
custo de implementação acarretado pelo aumento da competição entre as empresas
instaladoras.

535
Contudo, a aplicação de geração de energia elétrica com placas fotovoltaicas pode
causar vários impactos quando conectado à rede elétrica de distribuição, e
consequentemente pode comprometer a qualidade da energia elétrica (QEE), que é o
conceito de uma alimentação elétrica e aterramentos adequados, de tal modo que outros
equipamentos conectados a rede elétrica funcionem corretamente (IEEE, 2009b). Dentre
os distúrbios que o sistema fotovoltaico pode causar na rede elétrica de baixa tensão está
a sobretensão, pois os sistemas fotovoltaicos se comportam como fontes de correntes e
ao interagir com a rede elétrica adicionam uma parcela de tensão ao PAC que varia de
acordo com a impendância da rede elétrica e do sistema fotovoltaico (Canova, 2009).
Também, segundo (Canova, 2009) a densidade de potência instalada kWh/m2 não
é um parâmetro suficiente para determinar o nível de influência do sistema fotovoltaico,
pois não leva em consideração a capacidade da rede elétrica. Um estudo do perfil de
tensão em residências foi realizado na Arabia Saudita no qual mostrou-se que o nível do
impacto da penetração dos sistemas fotovoltaicos pode ser controlado com mudança de
Tap do transformador (Shawala e Bleijs, 2010). Contudo, esta solução esta mais para
alimentadores radiais, o que não ocorre muito em aplicações no Brasil, a não ser em
sistemas rurais.
A verificação do impacto da geração fotovoltaico em sistemas rurais foi realizado
no trabalho de (Shakar, 2017), onde é realizado a varição da relação de reatância e
resistência do alimentador (X/R), a potência de curto-circuito do sistema de distribuição
e o Tap do transformador que determina a variação de tensão no Ponto de Acoplamento
Comum (PAC), este estudo também pode ser aplicado para avaliação em redes urbanas.
Em relação à regulamentação para geração independente no Brasil, têm-se o
Módulo 8 do Procedimento de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional (PRODIST, 2016b) que define os aspectos a serem considerados em relação a
QEE, mais especificamente em relação ao perfil de tensão em regime permanente, a
norma classifica a tensão de atendimento em três faixas distintas: Adequada, Precária e
Crítica. A norma NBR 16149 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT,2013) que regulamenta a interconexão entre o sistema fotovoltaico e a rede de
distribuição de energia, define que o fator de potência deve ser menor do que o unitário,
e que este pode ser usado para controlar a tensão do PAC indiretamente.
Como citado acima, nota-se que tanto pesquisadores quanto os reguladores de
procedimentos vem avaliando o impacto do nível de tensão na rede elétrica de distribuição
pela geração fotovoltaica, uma vez que, a variação de tensão pode prejudicar a operação
de um ponto comercial ou residencial que tem cada vez mais aparelhos sensíves
realacioados a internet que controla os seus processos e ou atividades diárias, sendo assim,
um problema que afeta a todos os usários.
Deste modo, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar uma investigação
do perfil de tensão em uma rede de distribuição com uma planta real de geração
foltovoltaica que foi projetada apenas para suprir o investimento. A investigação será
realizada com medições em conjunto com um modelo matemático simplificado da rede
de distribuição, de modo a entender a ocorrência desse impacto, visando criar uma forma
de mitigá-lo antes que ocorram problemas para o sistema elétrico e usuários.

536
1.1 MODELO SIMPLIFICADO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO

Para a avaliação do impacto da geração fotovoltaico com a rede foi utilizado um


modelo simplificado onde a rede de distribuição é representada por uma fonte de tensão
ideal (Vs) , a impendância da rede por R + jX, o transformador por uma impedância
interna (Ztr), a carga do local por potência ativa e reativa PL e QL e o sistema de geração
fotovoltaico por potência ativa e reativa P fv e Qfv. A geração fotovoltaico é conectada no
ponto de acoplamento comum (PAC) através do transformador, e é apresentado na
Figuara 1.

PAC
Fonte I Transformador

R +RjX

Vs Ztr

Pfv , Qfv

Carga

Painel Fotovoltaico PL , QL

Figura 24 – Diagrama simplificado do sistema de distribuição com geração


fotovoltaica.

O sistema de distribuição elétrico pode ser representado pela sua potência de


curto-circuito (Scc) que depende do nível de tensão no PAC e da impedância da rede
(Grunau e Fuchs, 2012).
A relação (SCR- Short Circuit Ratio ou Relação de Curto - Circuito) da potência
de curto-circuito da rede elétrica (Scc-Potência de Curto- Circuito) com a potência de
curto-circuito da geração fotovoltaica (Sfv –Potência da Geração Fotovoltaica) é dada por:

𝑆𝑐𝑐
𝑆𝐶𝑅 = (1)
𝑆𝑓𝑣
Reescrevendo (1) têm-se:
2
𝑉𝑃𝐴𝐶
𝑆𝐶𝑅 = (2)
𝑍𝑟𝑒𝑑𝑒 ∙ 𝑆𝑓𝑣
em que
𝑍𝑟𝑒𝑑𝑒 = √𝑅2 + 𝑋 2
Deste modo, reescrevendo (2) têm-se:
2
𝑉𝑃𝐴𝐶
𝑆𝐶𝑅 = (3)
𝑋 2
𝑅 ∙ [√1 + (𝑅) ] ∙ 𝑆𝑓𝑣

537
Verifica-se em (3) que a relação X/R é um parâmetro importante da linha de
distribuição, e esta relação X/R (X – impedância da rede e R – resitência da Rede) do
sistema determina a capacidade da rede ser mais influenciável ou não na tensão medida
no ponto de acoplamento (VPAC) Nos sistemas de distribuição a relação X/R é muito
menor comparado ao sistema de transmissão, e deste modo, o painel fotovoltaico tem
maior influência. (Pantziris, 2014).
No trabalho de Shakar (2017) é demonstrado que a queda de tensão no ponto de
acoplamento em regime permanente com geração fotovoltaico, é dado por:

𝑅 [(𝑃𝑓𝑣 − 𝑃𝐿 ) + (𝑄𝑓𝑣 − 𝑄𝐿 ) (𝑋 )]
∆𝑉 ≅
𝑅 (4)
𝑉𝑃𝐴𝐶

Em que Pfv e Qfv são as potências ativas e reativas geradas pelo painel fotovoltaico,
respectivamente.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste trabalho, o sistema de geração fotovoltaico investigado tem a potência


instalada de 16 kWp e nas medições foi utilizado o qualímetro PowerNet P600. Nas
Figuras 2 e 3 são apresentados, a instalação, os inversores trifásicos de 5kW/220V, o
sistema de proteção e o medidor.

Figura 25 – Sistema fotovoltaico instalado de 16 kWp.

538
Figura 26 – Sistema de proteção, inversores e medidor.

O sistema fotovoltaico foi conectado a rede de distribuição elétrica por meio de


um transformador (15kVA/220V) que está dentro da propriedade.
Por questões de custo do investimento, na primeira fase, a potência instalada de
geração fotovoltaica tem a metade da potência da carga.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A metodologia adotada neste trabalho é realizada com coleta dos dados durante
uma semana seguindo os procedimentos do PRODIST (2018) Modulo 8 com no mínimo
de 1008 amostras. O principal objetivo foi verificar o perfil de tensão nesta aplicação em
que o fator de potência é igual a 1, ou seja, injentando somente potência ativa na rede,
pois esta situação ocorre na maioria das usinas instaladas no Brasil.
Sendo assim, verifica-se que o sistema fotovoltaico gera apenas potência ativa, e
desprezando o valor de X/R por ser baixo no sistema de distribuição, em (1) a expressão
pode ser simplificada para:

𝑅[(𝑃𝑓𝑣 − 𝑃𝐿 )]
∆𝑉 ≅ (5)
𝑉𝑃𝐴𝐶

Observa-se em (5), que para este caso, a variação de tensão no ponto de conexão
depende apenas da potência da geração fotovoltaica, potência ativa da carga e da
resistência da linha, que no sistema de distribuição não pode ser desprezado. Deve-se
lembrar que a potência da carga PL varia ao longo do dia, e se estiver totalmente desligada,
pode ocorrer sobretensão no sistema, uma vez que, a variação de tensão dependerá apenas
da potência injetada e da resistência da linha de distribuição pela tensão do sistema.
A Figura 4 apresenta o perfil de tensão da instalação em dois dias de medição.
Verifica-se que a tensão atinge valores em torno de 5% acima da tensão nominal e 14%
abaixo desta. A distribuidora local permite variações de tensão de 5% para cima ou para
539
baixo da tensão nominal. Neste trabalho serão focadas as sobretensões, ou seja, o valor
da variação de 5% para cima da nominal em que o painel fotovoltaico esta gerando
potência para o sistema. A grande variação de tensão para valores abaixo do nominal
observada por volta das 20h foi devido a conexão de uma carga de 10 kW em um
momento que a usina não tem geração significante.

Figura 27 – Perfil de tensão no ponto de acoplamento.

Nota-se de forma detalhada na Figura 5 que a elevação da tensão de


aproximadamente 5% acima da nominal ocorre entre 12h e 13h, ou seja, no momento em
que a usina fotovoltaica esta gerando mais energia. Esta variação sempre foi verificada
nos mesmos horários em outros dias devido ao baixo valor de carga conectada. Esta
sobretensão é melhor compreendida verificando o valor medido e a expressão (5) em que
variação de tensão depende somente da potência injetada pelo painel fotovoltaico e da
tensão do sistema, sendo assim, considerando R=0,13 Ω têm-se um valor de ∆V≈5,4 %.
Tensão (V)

Tempo (h)

Figura 28 – Detalhe do perfil de tensão no ponto de acoplamento.

Na Figura 6 é verificado que há uma variação de tensão superior ao limite de 5%


estabelecido pela distribuidora, esta variação ocorreu em um dia de medição em que a
carga foi totalmente desligada, e o aumento de tensão foi corroborado como mostra
expressão (5). Este caso apresenta um nível crítico de sobretensão que ocorre em
540
momentos que os consumidores estão ganhando créditos de energia, ou seja, estão
gerando mais energia do que consumindo.
Tensão (V)

Tempo (h)

Figura 29 – Detalhe do perfil de tensão no ponto de acoplamento com a carga


desligada.

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho foi verificado que a geração fotovoltaica pode causar sobretensão
em um sistema de distribuição, e que esta variação depende das características do sistema
de distribuição, da quantidade de carga conectada e da configuração dos inversores que
compõe o sistema fotovoltaico.
Foi verificado que, com os inversores configurados para gerar apenas potência
ativa, ou seja, com fator de potência igual a 1, a variação da tensão depende apenas do
valor da resistência da rede de distribuição, da potência ativa injetada pelo sistema
fotovoltaico, do valor da carga e da tensão da rede. Nas análises também verificou-se que
no momento que a carga é desconectada e/ou o sistema fotovoltaico está gerando o
máximo de energia, a sobretensão ocorre com maior severidade. Em trabalhos futuros,
será analisado o impacto no perfil de tensão da rede para o caso em que os inversores
geram tanto potência ativa e reativa, ou seja, fator de potência diferente de 1.

REFERÊNCIAS

(ANEEL, 2018) AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Procedimentos


de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional - PRODIST. [S.l.]. 2018

(ABNT, 2013) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR


16149: Sistemas Fotovoltaivos (FV) - Características de interfacede conexão com a rede elétrica
de distribuição. [S.l.]. 2013.

CANOVA, A.; GIACCONE, L.; SPERTINO, F.; TARTAGLIA, M,; “ Electrical Impact of
photovoltaics plant in Distribuited Network”. IEEE Transactions on Industry Applications,
v.45,n,1, p.341-347, January 2009.

541
(IEEE ,2009). IEEE recommended pratice for monitoring electric power quality. IEEE Std 1159
-2009 (Revision of IEEE Std 1159 -1995). p.c1 – 81 . June 2009.

Shawala,R. A. and Blejs. J. A. ; “ Impact of Grid- connected PV Sytems on Voltage Regulation


of a Residential Area Network Arabia Saudita” , Proceedings of 1 st International Nuclear and
Renewable Energy Confrerence ( INREC10), Aman, March 21-24.

Shakar, T.; Dan, A. K,; Ghosh, S.; Bhattacharya, K. D.; Saha, H.; “Interfancing Solar PV with
Rural Distribuition Grid: Challenges and Possible Solutions”; International Journal of
Sustainable Energy, December 2017.

542
APLICAÇÃO DA ENERGIA RENOVÁVEL PARA IMPLEMENTAÇÃO
PRÁTICA DE FOGÃO SOLAR

Élida Fernanda Xavier Júlio 1, Emerson Torres Aguiar Gomes1, Rafael Gomes de Araújo
Melo1, Victor Kenji Hori1, Sylvio Roberto Pereira Júnior1
1
Universidade Federal Rural de Pernambuco
E-mail: elida.julio@ufrpe.br

RESUMO: O propósito, a construção e os resultados experimentais obtidos da


implementação de um fogão solar são apresentados. O Brasil é um dos países com maior
potencial de energia solar. Nesse cenário brasileiro, o Nordeste é a região que apresenta
maiores níveis de radiação solar. O objetivo desse trabalho é apresentar um projeto
sustentável e econômico, visando a viabilidade de sua aplicação em comunidades
carentes. Para a construção do fogão solar, foram usados materiais recicláveis. Dois
espelhos parabólicos, confeccionados pelo reaproveitamento de antenas e de espelhos,
foram instalados sobre uma estrutura de madeira para a montagem do fogão. Os testes
práticos do fogão solar com duplo espelho parabólico ocorreram em um dia de céu
parcialmente nublado, em cidade do interior nordestino brasileiro. Entre as análises dos
resultados desse trabalho, foi possível fritar ovo em 13 minutos, assar frango em 50
minutos e cozinhar batata doce em 60 minutos. Foi alcançada a temperatura de 227,1 °C
no foco do concentrador solar. A realização desse projeto proporcionou desenvolver um
fogão solar de baixo custo, em comparação aos custos das compras de um fogão a gás e
de botijões de gás.
Palavras-chave: fogão solar, parabólico, sustentabilidade.

RENEWABLE ENERGY APPLICATION FOR PRACTICAL


IMPLEMENTATION OF SOLAR COOKER

Abstract: The purpose, construction and experimental results obtained from the
implementation of a solar cooker are presented. Brazil is one of the countries with the
greatest potential for solar energy. In this brazilian scenario, the Northeast is the region
with the highest levels of solar radiation. The objective of this paper is to present a
sustainable and economical project, aiming at the viability of its application in needy
communities. For the construction of the solar cooker, recyclable materials were used.
Two parabolic mirrors, made by reusing antennas and mirrors, were installed on a wooden
structure to montage the stove. The practical tests of the solar cooker with double
parabolic mirror occurred on a day of partly cloudy sky, in inland city of Brazilian
northeastern. Among the analysis of the results of this work, it was possible to fry egg in
13 minutes, roast chicken in 50 minutes and cook sweet potatoes in 60 minutes. The
temperature of 227.1 °C was reached at the focus of the solar concentrator. The realization
of this project provided the development of a low-cost solar cooker, compared to the costs
buying a gas stove and gas cylinders.
Keywords: solar cooker, parabolic, sustainability.

543
1. INTRODUÇÃO

Uma das aplicações mais práticas e econômicas da energia solar é o uso de fogões
solares para cocção de alimentos (VARELA, 2013). Desse modo, essa aplicação tem sido
viável ao uso doméstico em comunidades carentes. Além disso, o uso desses fogões
favorece a sustentabilidade do meio ambiente.
Os fogões solares proporcionam menor uso de combustível, redução de emissão
de gás carbónico, não uso de lenha, entre outros. Porém, a utilização da lenha e dos
combustíveis fósseis como recursos de energia para o cozimento de alimentos, ainda
predominam nas residências (CORIOLANO et al., 2018). A substituição do fogão a lenha
por fogão solar além de contribuir para a redução da emissão de CO2 na atmosfera (LION
FILHO, 2013), proporciona a diminuição do desmatamento.
A eficácia da cozedura solar ocorre onde a irradiação solar é entre 450 W/m² a
1100 W/m² (ISLAM et al., 2014). O fluxo total de energia solar qt, em W/m², recebido
pela área unitária de uma superfície ao nível do mar, é obtido pela Eq. (1). Para esse
cálculo, são necessários os dados do fluxo da radiação solar difusa qdf, o fluxo da radiação
solar direta qD sobre um plano normal à direção do feixe de radiação solar, e o ângulo de
incidência θ. A seguir, é apresentada a ilustração dessas radiações (Fig. 1) (MOURA,
2007).

𝑞𝑡 = 𝑞𝐷 cos 𝜃 + 𝑞𝑑𝑓 (1)

Figura 1 – Radiação solar na superfície terrestre. Fonte: Moura (2007).

Existem dois tipos básicos de fogões solares: caixa e concentrador. Os fogões do


tipo caixa têm formato de caixa e podem ser constituídos de diversos materiais, porém
devem possuir vidro ou material transparente para a passagem dos raios solares para o
interior da caixa. Esses fogões geram o efeito estufa, funcionando como fornos, assando
os alimentos (RAMOS FILHO, 2011). Os fogões concentradores são constituídos por
discos parabólicos, contendo espelhos, que direcionam os raios solares para o absorvedor.
Os fogões do tipo concentrador são os que atingem maiores temperaturas comparados aos

544
fogões do tipo caixa. Por isso, além de cozinhar alimentos, são capazes de assá-los e fritá-
los. (SOUZA, 2014). O fogão concentrador foi o tipo desenvolvido neste trabalho.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Partindo do estudo sobre fogão concentrador, esse tipo de fogão recebe as


radiações solares e as concentra em uma região pontual chamada foco, localizado na face
inferior da panela (absorvedor). As reflexões dos raios solares incidentes são realizadas
por parábolas refletoras, que são espelhos posicionados sobre uma superfície de forma
côncava. (Fig. 2) (RAMOS FILHO, 2011).
O fogão concentrador solar com duplo espelho parabólico deste trabalho foi
construído visando a eficiência na cocção de alimentos. Para isso, dois espelhos
parabólicos foram utilizados, de modo que ambos os focos apontem para a panela do
fogão. O projeto da estrutura do fogão pode ser observado a seguir (Fig. 3).
Maioritariamente, usaram-se materiais recicláveis, reutilizados, para construir o
fogão com um custo mínimo. Adquiridos os materiais, confeccionadas as peças e
realizada a montagem da estrutura, obteve-se o fogão solar proposto (Fig.4).

Figura 2 – Irradiação no fogão solar. Fonte: SEMPRE SUSTENTÁVEL (2020).

545
Figura 3 – Vistas do projeto do fogão solar. Fonte: Autor (2019).

Figura 4 – Fogão concentrador solar com duplo espelho parabólico. Fonte: Autor
(2019).
546
Os espelhos parabólicos constituem os coletores solares do fogão. Para as suas
construções, foram compradas duas antenas parabólicas reaproveitadas, não novas, em
uma loja de eletrônica ao custo unitário de R$25,00, com 60 cm de diâmetro cada.
Espelhos com cortes assimétricos, ao custo de R$15,00, adquiriram-se de restos de cortes
de espelhos em uma vidraçaria. Esses cortes de espelhos foram colados sobre as
superfícies côncavas das antenas parabólicas. Os espelhos parabólicos instalaram-se na
estrutura do fogão, construída com 6 metros de madeira de pinho custando R$22,00.
Além desses materiais, foram utilizados: barras de ferro, parafusos, abraçadeira,
cola de silicone, estopa e tíner. Assim, o custo total para construção do fogão solar foi de
R$130,00.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os testes práticos do fogão solar com duplo espelho parabólico foram realizados
na cidade do Cabo de Santo Agostinho, pertencente ao interior do estado de Pernambuco,
mais especificamente, no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
O campus da universidade localiza-se a uma latitude de 8° 17' 15'' Sul e longitude
de 35° 2' 7'' Oeste. No Cabo de Santo Agostinho, a radiação solar média mensal é de 5,25
kWh/m2.dia (Tab. 1), a qual é superior às médias de radiação, por exemplo, em Porto
Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, que valem respectivamente 4,43, 4,45 e 4,73
kWh/m2.dia (CRESESB, 2019).

Tabela 1 – Radiação solar média mensal no Cabo de Santo Agostinho.


Mês Radiação solar média
mensal (kWh/m2.dia)
Janeiro 5,69
Fevereiro 5,81
Março 5,81
Abril 5,10
Maio 4,38
Junho 4,09
Julho 4,17
Agosto 4,85
Setembro 5,42
Outubro 5,73
Novembro 5,97
Dezembro 6,02
média 5,25
Fonte: Cresesb (2019).

No campus universitário, em uma área sem sombras provenientes de anteparos,


executaram-se os testes no fogão solar. Essas práticas ocorreram em um dia de céu
parcialmente nublado, no mês de novembro do ano de 2019, na faixa de horário entre 10

547
h e 14 h, hora local da cidade pernambucana. A carne de sol foi um dos alimentos em
cocção no fogão solar (Fig. 5).

Figura 5 – Cocção de carne de sol no fogão solar. Fonte: Autor (2019).

Para obtenção dos resultados experimentais, foram realizadas as medições: de


temperatura da panela; do tempo de cocção de alimentos e de aquecimento da água.
Utilizando uma panela comum, comercializada para uso doméstico, realizaram-se testes
de temperatura no interior da panela, durante a cocção de alimentos, em horários distintos
(Tab. 2). De acordo com as medições apresentadas, a maior temperatura de 82,50 ºC
ocorreu às 12:15 h.

Tabela 2 – Horários e temperaturas na panela na cocção de alimentos.


Alimento Horário de Temperatura alcançada no
medição (h) interior da panela (ºC)
frango 12:15 82,50
frango 12:35 80,20
frango 12:50 79,90
carne de sol 13:05 56,20
carne de sol 13:20 58,90
carne de sol 13:35 48,70
Fonte: Autor (2019).

Como a cidade do Cabo de Santo Agostinho está localizada à leste da referência


do fuso horário de Brasília, o meio dia solar acontece por volta das 11:20 h de Brasília
(GMT-3). Assim, no período em que ocorreram os testes, das 10 h às 14 h, houveram
medições elevadas de temperatura, atingindo-se no fundo da panela a temperatura de
227,1 °C (Fig. 6).
As medições dos tempos de preparos dos alimentos bem como do tempo de
aquecimento da água são apresentadas (Tab. 3).

548
Figura 6 – Temperatura alcançada no fundo da panela do fogão solar. Fonte: Autor
(2019).

Tabela 3 – Itens preparados, quantidade e tempos de preparo no fogão solar.


Item preparado Quantidade Tempo de preparo (min)
água para café 500 ml 8
batata doce 250 g 60
ovo 2 unidades 13
queijo coalho 300 g 15
carne de sol 100 g 60
frango 100 g 50
Fonte: Autor (2019).

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, foi possível constatar que a energia solar é um tipo de energia
renovável com grande potencial para cocção. A utilização do fogão solar com duplo
espelho parabólico proporcionou obter cocção de alimentos a temperaturas e tempos com
resultados experimentais aceitáveis. Cocções de alimentos como carne de sol, frango e
ovo foram obtidos com tempos de preparo de respectivamente 60, 50 e 13 minutos. No
período entre 10h e 14h, foi possível alcançar temperaturas acima de 200 ºC no fundo da
panela.
A construção do fogão solar com materiais recicláveis e reaproveitados teve um
custo total de R$130,00, sendo comparativamente mais barato do que comprar um fogão
a gás de uma boca somado a dois botijões de gás. Para adquirir um fogão a gás de boca
única, com acendimento manual, o investimento é de R$54,90, e um botijão de gás,
compra-se por R$70,00. Portanto, a curto prazo, o consumo de dois botijões de gás
(R$140,00) mais a compra do supracitado fogão a gás geram um custo total de R$194,90,
que é maior que o custo de R$130,00 para construção e utilização do fogão solar.
Além disso, o uso do fogão solar proporcionou a sustentabilidade do meio
ambiente. Pois, não utiliza combustíveis fósseis e lenha para seu funcionamento,
reduzindo a emissão de gás carbônico na atmosfera, o desmatamento e a desertificação.
Desse modo, o fogão solar por ser uma aplicação mais econômica e sustentável,
torna-se adequada a sua utilização por comunidades carentes, como as existentes no
interior nordestino brasileiro, no Sertão, em zonas rurais.
549
Como proposta de trabalho futuro, sugere-se utilizar um seguidor solar comercial,
a fim de que o espelho parabólico de um fogão solar tenha posições diferentes, seguindo
a radiação solar ao longo do tempo. Outra sugestão é desenvolver um controlador
inteligente, utilizando técnica de inteligência artificial, para controlar o posicionamento
desse espelho parabólico.

REFERÊNCIAS

Coriolano, D. L.; Silva, E. D. L.; Andrade, V. C. V.; Resende, I. T. F.; Araújo, M. E. A.;
Figueiredo, R. T.; Alsina, O. L. S. Projeto, desenvolvimento e teste de fogões solares. VII
Congresso Brasileiro de Energia Solar, 2018.

Cresesb. Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito: potencial
solar – sundata v 3.0. 2019. Disponível em: http://www.cresesb.cepel.br/index.php#data.
Acessado em: 04/11/19.

Islam, M. D. et al. Indirect solar cooking using a novel fresnel lens and determination of its
energy and exergy efficiencies. ASME 2014 12th Biennial Conference on Engineering Systems
Design and Analysis, American Society of Mechanical Engineers, v. V002T09A011-
V002T09A011, 2014.

Lion Filho, C. A. P. Q. Desenvolvimento e caracterização de compósito a partir da borra da


piaçava para construção da parábola de um fogão solar a concentração. 2013. 197 páginas.
Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.

Moura, J. P. Construção e avaliação térmica de um fogão solar tipo caixa. 2007. 194 páginas.
Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.

Ramos Filho, R. E. B. Análise de desempenho de um fogão solar construído a partir de sucatas


de antena de TV. 2011. 95 páginas. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2011.

Sempre Sustentável. Energia Solar: fogão solar. 2020. Disponível em:


http://www.sempresustentavel.com.br/solar.htm. Acessado em: 04/02/20.

Souza, R. F. Viabilidade de uso de um fogão solar para cocção de alimentos com parábola
refletora fabricada em compósito que utiliza fibras de carnaúba e resina ortoftálica. 2014. 77
páginas. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

Varela, P. H. A. Viabilidade térmica de um forno solar fabricado com sucatas de pneus. 2013.
88 páginas. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,
2013.

550
AQUISIÇÃO DE DADOS DE TEMPERATURA BASEADA EM PLACA DE
DESENVOLVIMENTO E PLATAFORMA IoT

Wyara Maria Carlos Souza Pontes1, Kevin de Paula Amorim2, Lígia Maria Carvalho
Sousa Cordeiro2, Ruth Pastôra Saraiva Leão 1, Caíke Damião Nascimento Silva2
1
Universidade Federal do Ceará, 2 Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira
E-mail: wyara_w2@hotmail.com

RESUMO: A eficiência das células fotovoltaicas é influenciada principalmente pela


radiação incidente e pela temperatura do módulo fotovoltaico (FV). Embora a elevação
da temperatura cause um pequeno aumento na corrente gerada, esse mesmo aumento pode
acarretar em uma significativa queda de tensão e, consequentemente, a diminuição da
potência máxima fornecida pelo sistema. Desta forma, é relevante a obtenção da
informação sobre a temperatura do módulo fotovoltaico a qual, por sua vez, é dada em
função da temperatura do ar. O uso de estações meteorológicas comerciais para este fim
pode ser considerado inviável devido ao elevado custo. Nesse contexto, o presente
trabalho trata do desenvolvimento de um sistema de aquisição de dados de baixo custo
baseado na placa de desenvolvimento IoT Esp-8266 NodeMcu, no qual o monitoramento
é baseado em ambiente web voltado para aplicações de Internet das Coisas, o Thingspeak.
Os dados a serem captados pelo sistema proposto são: temperatura ambiente e
temperatura de um dos módulos fotovoltaicos da usina de minigeração instalada na
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. O sistema se
destaca pela sua simplicidade, baixo custo e eficiência prática. Além disso, como será
apresentado, o monitoramento dos dados é realizado em um ambiente amigável, de forma
gráfica, e as análises e acessos a dados históricos podem ser feitos via planilhas .csv.
Palavras-chave: Monitoramento, internet of things, temperatura, módulos fotovoltaicos.

551
ACQUISITION OF TEMPERATURE DATA BASED ON DEVELOPMENT
PLATFORM AND IOT PLATFORM

Abstract: The efficiency of photovoltaic cells is mainly influenced by the incident


radiation and the temperature of the photovoltaic module (PV). Although the rise in
temperature causes a small increase in the current generated, this same increase can result
in a significant voltage drop and, consequently, a decrease in the maximum power
provided by the system. In this way, it is relevant to obtain information about the
temperature of the photovoltaic module which, in turn, is given as a function of the air
temperature. The use of commercial weather stations for this purpose can be considered
impracticable due to the high cost. In this context, the present work deals with the
development of a low cost data acquisition system based on the IoT Esp-8266 NodeMcu
development board, in which monitoring is based on a web environment focused on IoT
applications, Thingspeak. The data to be captured by the proposed system are: room
temperature and temperature of one of the photovoltaic modules of the mini-generation
plant installed at the University of International Integration of Afro-Brazilian Lusophony.
The system stands out for its simplicity, low cost and practical efficiency. In addition, as
will be presented, data monitoring is carried out in a friendly environment, graphically,
and the analysis and access to historical data can be done via .csv spreadsheets.
Keywords: Monitoring, internet of things, temperature, photovoltaic modules.

1. INTRODUÇÃO

O uso de sistemas baseados em conversão solar fotovoltaica para geração de


energia elétrica tem se tornado cada vez maior. Entretanto, as células fotovoltaicas ainda
possuem uma eficiência baixa quando comparadas com outras fontes de geração de
energia elétrica. Além das limitações de rendimento dessa tecnologia, o desempenho das
células fotovoltaicas é bastante suscetível às alterações climáticas a que estão expostos.
A radiação bem como a temperatura ambiente e dos módulos são fatores preponderantes
no desempenho do painel FV (BESSO, 2017; SOUZA, 2018). A elevação da temperatura
à que as células são submetidas provoca uma significativa queda na tensão gerada,
enquanto a corrente apresenta um pequeno aumento, mas que não supre a perda causada
pela redução da tensão. Logo, o aumento da temperatura causa uma diminuição da
potência máxima fornecida pelo sistema (PEROZA, 2015, RUVIARO et al, 2018).
Desta forma, é importante obter informações sobre a temperatura do módulo
fotovoltaico, a qual, por sua vez, é dada em função da temperatura do ar. A aquisição e
armazenamento das informações de temperatura pode ser feita por um sistema de coleta
de dados comercial. Entretanto estes sistemas possuem um custo relativamente elevado.
Desta forma, o desenvolvimento de sistemas de aquisição de dados baseado em
plataformas de prototipagem eletrônica como o Arduino e as placas ESP-32 e ESP-8266
podem ser representar alternativas eficientes e de baixo custo (DUPONT, 2017; ZAGO,
2018).
Nesse contexto, o presente trabalho trata do desenvolvimento de um sistema de
aquisição de dados de temperatura de baixo custo baseado em placa de desenvolvimento
IoT NodeMcu ESP-8266. O monitoramento é realizado em ambiente web gratuito voltado
para aplicações de Internet das Coisas, o Thingspeak. O Thingspeak é integrado ao
552
software Matlab, o que possibilita o tratamento e análise dos dados coletados como
remoção de dados incorretos, cálculo de novos dados e construção de modelos
(ALMEIDA NETO, 2018).
A aquisição de temperatura foi realizada em um módulo fotovoltaico da usina de
minigeração FV do Campus das Auroras da Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira. Tal usina, composta de 762 painéis de 325 Wp (totalizando
247,65kWp), é parte do Projeto Prioritário de Eficiência Energética e Minigeração de
Energia Fotovoltaica, firmado em 2019 entre Unilab e Enel Distribuição Ceará.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para confecção do hardware do sistema de aquisição de dados de baixo custo foi


utilizada a placa de desenvolvimento IoT NodeMcu, mostrada na Figura 1, a qual possui
o módulo Wifi Esp-8266 de forma integrada.
Para medir os dados de temperatura ambiente foi utilizado o sensor de temperatura
e umidade do ar DHT11, mostrado na Figura 2. O DHT11 abrange uma faixa de
temperatura de 0 a 50ºC com uma precisão de ± 2 % °C, e faixa de umidade relativa entre
20 a 80 % (Datasheet DHT11 AOSONG).

Figura 1 - NodeMcu ESP-8266

Figura 2 – Sensor de temperatura e umidade DHT11.

Para efetuar a medição da temperatura do módulo fotovoltaico foi utilizado um


termopar do tipo K autoadesivo da fabricante Omega. O sensor opera sob uma ampla
faixa de medição que varia de -270 até 1270°C e possui um adesivo capaz de suportar
altas temperaturas evitando que o sensor perca a aderência com a superfície e descole. O
termopar K fornece uma tensão resultante proporcional a temperatura medida, portanto
foi utilizado o conversor analógico digital (A/D) MAX6675, mostrado na Figura 3, para
que a placa NodeMcu realizasse as leituras adequadamente. O módulo MAX6675
553
também possui um sistema que realiza a compensação de junta fria, possibilitando uma
leitura precisa. O Termopar foi fixado na parte inferior de um módulo fotovoltaico
modelo MAXPOWER CS6U da fabricante Canadian Solar. O módulo é composto por 72
células de silício policristalino conectadas em série e apresenta uma potência máxima
nominal de 325 Watts.
Após montagem do hardware, foi criado e configurado um canal no Thingspeak
para receber e monitorar os dados de temperatura. A versão gratuita do Thingspeak
permite a configuração de até 4 canais com até 8 campos (fields) cada um.
A placa de desenvolvimento NodeMcu foi programado na IDE do Arduino para
enviar os dados obtidos pelos sensores à plataforma Thingspeak via rede wifi, através da
URL e da chave API do canal configurado.

Figura 3 –Módulo Max6675.

A estrutura de ligação do hardware do sistema é mostrada na Figura 4.

Figura 4 – Hardware montado.

554
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados dos sensores foram enviados pela placa de desenvolvimento NodeMcu


ao Thingspeak, o qual gera automaticamente os gráficos com os fields configurados.
Além disso, é importante mencionar que outros recursos de representação também podem
ser adicionados.
As Figuras 5 a 7 mostram os gráficos de temperatura do ar, umidade relativa do
ar e temperatura do módulo na nuvem do Thingspeak, respectivamente, durante um
determinado período do dia.
No gráfico da temperatura do ar, mostrado na Figura 5, é possível observar uma
acentuada elevação da temperatura do ar próximo às 14h. Esta elevação da temperatura
condiz com as características climáticas da região. Outro aspecto que pode ser observado
no gráfico é a diminuição da temperatura após às 15h.

Figura 5 – Gráfico da Temperatura ambiente no Thingspeak.

No gráfico da Figura 6, é possível observar uma variação acentuada da umidade


após às 14h30 e 15h00. À medida que a temperatura do ar diminui contrasta com o
aumento da umidade relativa do ar no mesmo intervalo de tempo.

Figura 6 – Gráfico da Umidade do ar no Thingspeak.

555
O gráfico da Figura 7 representa a variação da temperatura do módulo
fotovoltaico. Na figura observa-se uma temperatura elevada por volta de 14h30 e uma
queda acentuada da temperatura próximo de 15h00. Tal queda ocorre à medida que a
temperatura do ar também diminui e à medida que a umidade relativa do ar aumenta.

Figura 7 – Gráfico da Temperatura do módulo FV no Thingspeak.

Além dos gráficos gerados, o Thingspeak possibilita o download do histórico de


dados coletados via planilhas .csv. Além disso, possui ferramentas de análise de dados
utilizando recursos do Matlab.

4. CONCLUSÃO

Os condicionantes climáticos são aspectos que devem ser considerados na geração


de energia fotovoltaica, uma vez que a eficiência das células é afetada pelas variações de
temperatura, sombreamento e das condições de ventilação.
Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de um
sistema de aquisição de dados de temperatura do ar e temperatura de módulo FV de baixo
custo e monitoramento baseado em plataforma gratuita de Internet of things, o
Thingspeak.
O sistema desenvolvido mostrou a praticidade e viabilidade de aplicação do
módulo Esp-8266 NodeMcu. O Thingspeak se apresentou como alternativa eficaz de
monitoramento remoto, difundindo os dados obtidos e possibilitando a análise e estudo
dos mesmos.

AGRADECIMENTOS

À Enel Distribuidora e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico).

REFERÊNCIAS

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Thingspeak. VII Congresso Brasileiro de Energia Solar. 2018.

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Tecnologia da UFRJ. 110 páginas. Monografia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro. 2017.

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DUPONT, I. M. Sistema Embarcado Linux para monitoramento em nuvem aplicado a
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Ceará. Fortaleza. 2017.

PEROZA, J. Caracterização elétrica de módulos fotovoltaicos de distintas tecnologias a partir


de ensaios com simulador solar e iluminação natural. 97 páginas. Monografia. Universidade
Federal de Santa Catarina-Campus Araranguá. Araranguá, 2015.

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Análise da variação da eficiência do módulo fotovoltaico em função da temperatura. VII
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Efeito da temperatura ambiente e da velocidade do vento no desempenho de módulos solares
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TINOCO, H. L. FLORIDO, D. P. F. KRAMBECK, L. ALVES, T. A. Investigação


Experimental da Influência da Temperatura de Operação e da Irradiação Solar em um Painel
Fotovoltaico. VII Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção. 2017.

ZAGO, R. M. Sistema de baixo custo para monitoramento da geração de energia solar com
conexão para Internet das Coisas. 153 páginas. Dissertação de Mestrado. Universidade
Estadual de Campinas. Campinas, 2018.

557
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO PROCEDIMENTO DE AGREGAÇÃO DE
CORRENTES EMPREGADO EM ESTUDOS DE ACESSO DE FAZENDAS
FOTOVOLTAICAS NO BRASIL

Camila de Oliveira Dias1, Isabela França Novais1, Victor Lucas Sousa Gomes1, Ivan
Nunes Santos1
1
Universidade Federal de Uberlândia
E-mail: camiladeoliveiradias@hotmail.com

RESUMO: Diante da necessidade de novas fontes de energia renováveis vê-se, como


alternativa, a utilização de sistemas de geração fotovoltaica, de maneira especial em
fazendas solares. Nestes termos, a crescente inserção de fazendas fotovoltaicas no sistema
elétrico brasileiro pode acarretar o aumento de correntes harmônicas na rede básica,
podendo estas levarem a uma violação dos limites estabelecidos para as distorções de
tensão nestes barramentos do sistema. Assim, na realização de um estudo de acesso de
uma fazenda fotovoltaica à rede básica, vários requisitos devem ser considerados, bem
como, normas específicas devem ser seguidas. O presente artigo contém três estudos de
caso com foco na realização de uma avaliação crítica do procedimento de agregação de
correntes comumente empregado nos estudos de acesso de fotovoltaicas no Brasil.
Palavras-chave: Distorções harmônicas, estudo de acesso, lei de agregação, simulação
computacional.

CRITICAL EVALUATION OF THE CURRENT AGGREGATION


PROCEDURE USED IN STUDIES OF ACCESS OF PHOTOVOLTAIC FARMS
IN BRAZIL

Abstract: Faced with the need for new renewable energy sources, the use of photovoltaic
generation systems has been regarded as an interesting alternative, especially when
grouped in solar farms. In these terms, the increasing insertion of photovoltaic farms in
the Brazilian electrical system can lead to an increase in harmonic currents in the power
grid, including high voltage systems (higher than 230 kV). This can lead to a violation of
the limits established for voltage distortions on these system buses. Thus, when
conducting a study on the access of a photovoltaic farm to the basic grid, several
requirements must be considered, as well as specific standards must be respected. This
paper contains three case studies upon which it aims to perform a critical evaluation of
the method for aggregation of current commonly used in photovoltaic access studies in
Brazil.
Keywords: Access study, computer simulation, harmonic distortions, summation law.

1. INTRODUÇÃO

A crescente inserção das fazendas fotovoltaicas no sistema elétrico brasileiro


oferece uma perspectiva desafiadora no que se refere à compatibilidade e adequação dos
requisitos de acesso à rede básica. Dentre os principais desafios destaca-se o aumento das
correntes harmônicas injetadas à rede que, em sua maioria, são resultantes das

558
características não lineares dos conversores de tensão utilizados na geração fotovoltaica,
para compatibilizar tensões e frequências da instalação e da rede, assim como ocorre com
a geração eólica (GREGORY, AZEVEDO, SANTOS, 2020; OLIVEIRA, 2020). E pode
provocar numerosos prejuízos, sejam de ordem técnica, sejam de viés econômico. Dentre
os efeitos, podem-se destacar sobrecargas e sobreaquecimentos em equipamentos,
sobretensões harmônicas, solicitações de isolamento dos dispositivos, aumento do
consumo de energia elétrica, entre outros.
No Brasil, para conexão de novos acessos de fazendas fotovoltaicas, assim como
para parques eólicos, distribuidoras e consumidores livres, é necessária a realização de
um estudo específico de modo a estimar os possíveis harmônicos de tensão a serem
gerados por estas conexões no ponto de acoplamento desta nova instalação com o Sistema
Interligado Nacional (SIN) (OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO,
2019). Para tanto, informações dadas pelos fabricantes de conversores, complementadas
por posteriores medições na saída de alguns conversores com a rede interna da fazenda
solar, são levadas em conta. Porém, as correntes harmônicas resultantes, no PAC (Ponto
de Acoplamento Comum), devido à somatória das fontes harmônicas providas por cada
unidade conversora, de fato, serão estimadas por meio de uma lei de agregação. Esse
procedimento faz-se necessário tendo em vista que as componentes harmônicas
produzidas por uma unidade conversora são combinadas com as provenientes de outras
fontes alocadas na mesma planta. Visto que, em geral, as normas e recomendações versam
sobre os limites de distorções harmônicas individuais e total, no entanto, não abordam
mecanismos para a identificação das fontes harmônicas (SILVA et al, 2019). Desse modo,
para cada ordem harmônica, a corrente harmônica total injetada na rede é consequência
da soma vetorial das componentes de corrente daquela ordem proveniente de cada
unidade conversora (SANTOS, REIS, DINIZ, 2016).
Tais correntes harmônicas, uma vez estimadas, são respectivamente relacionadas
com valores estabelecidos para impedância harmônica do SIN, gerando assim
expectativas de distorções harmônicas de tensão, as quais são, por sua vez, comparadas
com os limites estabelecidos em normas brasileiras para as mesmas. No entanto, a
natureza estocástica da carga e a conexão de várias unidades conversoras na rede interna
da instalação geradora, faz com que uma regra geral para agregação de correntes seja
altamente questionável (MEDEIROS et al, 2010). Tendo em vista que os espectros
harmônicos resultantes de um inversor não dependem exclusivamente do seu
comportamento, mas também da impedância de acoplamento da rede (MOGHADAM,
ACKERMANN, ROGALLA, 2017).
Na literatura, há diversos estudos publicados relacionados à questão da agregação
das correntes harmônicas (LIMA, 2019). Apesar disso, nota-se uma quantidade reduzida
de estudos especificamente no que tange a aplicação destes em geração fotovoltaica.
Assim, o objetivo do trabalho ora apresentado é realizar uma análise comparativa dos
resultados observados em estudos de casos com aqueles advindos de Lei de Agregação,
com a finalidade de proceder à respectiva análise crítica do chamado índice de agregação
de correntes harmônicas empregados numa fazenda fotovoltaica.

559
2. PROCEDIMENTO DE AGREGAÇÃO DE CORRENTES IEC 61000-3-6

O procedimento de agregação de correntes harmônicas IEC parte do princípio de


que cada ordem harmônica possui um índice característico de propagação harmônica e
interação. Na prática, a estimativa da corrente agregada de ordem ℎ resulta de uma lei
empírica de agregação de correntes. A norma IEC 61000-3-6 (INTERNATIONAL
ELECTROTECHNICAL COMISSION, 2008) é comumente utilizada no Brasil por meio
da Nota Técnica 009/2016 do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Essa norma
sugere um procedimento de cálculo para estimar a magnitude da corrente harmônica 𝐼ℎ𝑠,
a partir da contribuição de cada uma das unidades conversoras conectadas no PAC, com
ordem ℎ. A estimativa é dada por (1).

𝛼 𝛼
𝐼ℎ𝑠 = √∑ 𝐼ℎ𝑖 (1)
𝑖
Onde:
Ihs = valor eficaz da corrente harmônica agregada de ordem h;
Ihi = magnitude do nível de emissão individual de corrente de ordem h a ser agregado.
α = índice que depende de alguns fatores, a saber: o valor da probabilidade para o qual o
valor real não exceda o calculado e o grau em que as correntes harmônicas individuais
variam aleatoriamente em termos de amplitude e fase.

É possível adotar um conjunto de valores pré-determinados para α quando não se


têm informações mais específicas, baseando-se apenas na ordem harmônica da corrente
a ser agregada, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 – Fator de agregação.


Ordem Harmônica α
h<5 1
5 ≤ h ≤ 10 1,4
h > 10 2
Fonte: Santos, Reis e Diniz (2016).

3. ARRANJO EMPREGADO NOS ESTUDOS DE CASO

Para a análise crítica das estimativas das correntes harmônicas sugeridas pelo
procedimento de agregação IEC 61000-3-6, comparou-se os valores obtidos por
simulações computacionais implementadas na ferramenta Simulink do software Matlab,
para um sistema fotovoltaico, com aqueles resultantes da lei de agregação. O estudo
abrangeu desde a 2ª ordem harmônica até a 25ª ordem. As simulações realizadas neste
trabalho foram implementadas a partir do modelo disponibilizado no Simulink, e tem
como características frequência de 60 Hz, tensão nominal de 120 kV e potência de curto
circuito de 500 MVA.
O arranjo implementado neste estudo é composto por 8 centros de transformação
(CTs) que contêm 2 unidades conversoras cada, correspondendo a um total de 16

560
unidades conversoras. A cada unidade conversora atribui-se uma potência nominal
equivalente a 1200 kW na incidência de 1000 W/m2 a 25°C. A topologia do agrupamento
empregado pode ser observada no diagrama unifilar da Figura 1.

Figura 1 – Diagrama unifilar do complexo fotovoltaico.

A geração é feita no nível de 250 V, sendo, em seguida, elevado para 34,5 kV por
transformadores elevadores. Os centros de transformações são agrupados e, então, sua
tensão é elevada para 120 kV para que seja realizada a conexão com o sistema interligado.
Essa configuração será utilizada para as simulações subsequentes em diferentes casos.
Para o estudo comparativo do procedimento de agregação foram estipulados três
casos distintos. O primeiro deles considera a incidência de 750 W/m2 de energia a todas
as unidades geradoras fotovoltaicas. No segundo caso foi considerada a incidência de
1000 W/m2 de energia (regime nominal de operação) a todas as unidades geradoras
fotovoltaicas. Por fim, no terceiro caso foi considerado um modelo misto que consistiu
em metade das unidades geradoras com incidência de 750 W/m2 e a outra metade com
incidência de 1000 W/m2. Nas três situações, a temperatura foi estabelecida em 50ºC. Na
Tabela 2 tem-se uma síntese de todos os casos estudados.

Tabela 2 – Síntese dos casos estudados.


Irradiância [W/m²]
CT
Caso 1 Caso 2 Caso 3
1 750 1000 1000
2 750 1000 1000
3 750 1000 1000
4 750 1000 1000
5 750 1000 750
6 750 1000 750
7 750 1000 750
8 750 1000 750
Fonte: Autoria própria (2020).

Com a implementação dos casos propostos na ferramenta Simulink, os resultados


foram obtidos para posterior avaliação. Destaca-se ainda que todos os cálculos de
agregação são realizados no nível de 34,5 kV, assim como as medições foram realizadas
no ponto de interconexão comum dos centros de transformação, o PAC.

561
4. RESULTADOS DOS ESTUDOS DE CASO

Salienta-se que foram selecionadas as ordens harmônicas que compreendem o


intervalo entre 2ª harmônica e 25ª ordem, as quais, via de regra, são mais comumente
encontradas em conversões CC/CA trifásicas.

4.1 Caso 1

Na Tabela 3 são apresentados os valores das correntes fundamentais e as distorções


harmônicas totais dos distintos centros de transformação (unidades fotovoltaicas) e do
PAC para a situação denominada Caso 1, em que foi considerada a incidência de 750
W/m² para todas as unidades geradoras.

Tabela 3 – Valores das correntes fundamentais nas saídas dos CTs e no PAC referidos
ao lado de 34,5 kV – Caso 1
CT Fundamental (A) Ângulo de fase (º) THD (%)
1 28,58 -32,4 2,43
2 28,34 -32,3 2,46
3 28,16 -32,7 2,16
4 28,07 -32,7 2,18
5 27,93 -32,7 2,19
6 28,75 -32,4 2,17
7 28,75 -32,3 2,10
8 28,63 -32,4 2,13
PAC 227,2 -32,5 1,77
Fonte: Autoria própria (2020).

Considerando os valores RMS (root mean square) da fundamental das correntes


e tensões no PAC, constata-se que tanto as magnitudes como as fases apresentam valores
em um intervalo bem definido (não aleatório). Nesta condição, as estimativas das
correntes harmônicas no PAC podem ser realizadas a partir do princípio da superposição
dos efeitos para esta ordem. Os valores das distorções harmônicas de tensão se
encontraram abaixo dos limites normalizados para redes de média tensão.
A Figura 2 expõe a magnitude das correntes nas ordens harmônicas analisadas e
suas respectivas fases para cada um dos centros de transformação, para o Caso 1. É
possível observar que as magnitudes seguem o padrão esperado para retificadores, apesar
de existir uma componente de 2ª ordem também relevante. Já os ângulos, expressos todos
entre 0º e 360º para melhor visualização, apresentam aleatoriedade, o que torna a
agregação menos precisa por parte do emprego da lei do somatório.

562
Figura 2 – Característica harmônica dos centros de transformação referida ao lado de
34,5 kV – Caso 1.

No caso das harmônicas obtidas no PAC, destacam-se a 5ª e 7ª ordens, cujas


magnitudes de corrente ficaram acima de 2 A, representando cerca de 1% da corrente
fundamental, condizente com o esperado para retificadores de 6 pulsos.

4.2 Caso 2

A Tabela 4 mostra os valores das correntes fundamentais e as distorções harmônicas


totais dos distintos centros de transformação e do PAC para a situação do Caso 2.

Tabela 4 – Valores RMS das correntes fundamentais nas saídas dos CTs e no PAC
referidos ao lado de 34,5 kV – Caso 2
CT Fundamental (A) Ângulo de fase (º) THD (%)
1 37,62 -30,2 1,57
2 37,39 -30,2 1,48
3 37,31 -30,1 1,48
4 37,51 -30,0 1,37
5 37,33 -29,8 1,76
6 37,31 -30,0 1,55
7 37,35 -29,9 1,35
8 37,35 -29,9 1,42
PAC 299,3 -30,0 1,31
Fonte: Autoria própria (2020).

No segundo caso, o qual se refere à condição de operação nominal dos painéis


fotovoltaicos, os valores RMS das correntes e tensão na ordem fundamental foram
obtidos. A partir destes resultados, verificou-se o acréscimo das correntes na fundamental,
diminuição das distorções harmônicas de corrente tanto das unidades conversoras como
do PAC e redução da distorção harmônica de segunda ordem em relação ao primeiro caso.
Além disso, nota-se decréscimo na defasagem angular entre a tensão e corrente no PAC,
evidenciando o aumento no fator de potência.
Na Figura 3 é possível observar tanto as magnitudes como os ângulos das
correntes nas ordens harmônicas para os centros de transformação, para o Caso 2.
563
Figura 3 – Característica harmônica dos centros de transformação referida ao lado de
34,5 kV – Caso 2.

As tensões e correntes obtidas no PAC seguiram comportamentos semelhantes


daqueles obtidos no primeiro caso, com acréscimo na 5ª ordem e diminuição na 7ª.

4.3 Caso 3

Por fim, a Tabela 5 traz os valores das correntes fundamentais e as distorções


harmônicas totais para o Caso 3.

Tabela 5 – Valores RMS das correntes fundamentais nas saídas dos CTs e no PAC
referidos ao lado de 34,5 kV – Caso 3
CT Fundamental (A) Ângulo de fase (º) THD (%)
1 28,59 -31,3 1,91
2 28,37 -31,4 1,64
3 28,15 -31,4 2,06
4 27,97 -31,1 2,35
5 37,58 -31,2 1,37
6 37,32 -31,3 1,52
7 37,62 -31,1 1,52
8 37,32 -31,2 1,56
PAC 262,9 -31,2 1,46
Fonte: Autoria própria (2020).

O terceiro e último caso analisado, refere-se a um evento intermediário aos casos


anteriores. Têm-se mais uma vez, na Figura 4, a magnitude das correntes nas ordens
harmônicas e suas respectivas fases para cada um dos centros de transformação, para o
Caso 3.

564
Figura 4 – Característica harmônica dos centros de transformação referida ao lado de
34,5 kV – Caso 3.

As ordens harmônicas das tensões obtidas no PAC pelo terceiro caso atingiram
valores semelhantes aos obtidos no primeiro e segundo casos. Somente ao comparar os
ângulos, uma divergência maior é observada.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ESTUDOS DE CASO

A partir dos resultados obtidos na simulação, é possível investigar o


comportamento das correntes harmônicas em cada caso estudado e ainda comparar os
valores obtidos pela lei de agregação com os resultados advindos de simulação. De
antemão, ressalta-se que, em todos os casos estudados, as tensões observadas no PAC se
mostraram inferiores aos limites estabelecidos por normas reguladoras.
Considerando agora o objetivo central do estudo, foram plotados em um mesmo
gráfico, para facilitar a avaliação, uma comparação entre os valores obtidos em simulação
com os valores estimados pela lei de agregação, para cada uma das ordens harmônicas
consideradas nos três casos. Assim, é apresentada na Figura 5 uma síntese comparativa
para os três casos estudados.

Figura 5 – Comparação entre os resultados de simulação e o resultante do


procedimento IEC 61000-3-6.

Avaliando os resultados obtidos, verifica-se que para as ordens mais baixas (até a
4ª), os valores estimados pelo procedimento de agregação foram, via de regra, para os 3
casos estudados, superiores àqueles obtidos no somatório real. No caso de maior
565
discrepância observado, tem-se o valor estimado equivalente a 14,5 vezes o valor obtido
em simulação. Isto mostra que os valores obtidos pela lei de agregação foram
conservadores ao estimar maiores valores de correntes.
Por outro lado, considerando as demais ordens, os valores de corrente estimados
pela lei de agregação foram inferiores aos valores obtidos por simulação. Neste tocante,
os resultados encontrados, para todos os casos analisados, evidenciam uma significativa
discrepância entre os valores estimados e os obtidos por simulação. Desse modo, as
estimativas por meio da lei de agregação podem provocar a subestimação dos valores de
correntes harmônicas no PAC podendo, em situações reais, a magnitude das correntes
harmônicas real ser superior àquela estimada em projeto, ultrapassando os limites
previamente normalizados e podendo ocasionar em problemas para a rede e consumidores
conectados a ela.
As fragilidades ora encontradas podem ser em parte atribuídas ao fato de que a
interação harmônica de correntes depende de inúmeras condicionantes, as quais
dificilmente poderiam ser sintetizadas por meio de fatores de agregação genéricos, tal
como preconizado pela Lei de Agregação em destaque. Diante disto, sugere-se, que
quando necessárias, que as medições das correntes e suas correspondentes análises sejam
feitas em pontos do sistema elétrico onde a agregação de correntes já se encontre
efetivada. Outra possibilidade seria a utilização de medições simultâneas de correntes não
agregadas, todavia empregando-se sistema de sincronização dos medidores via sinal de
satélite.

CONCLUSÕES

O presente trabalho apresentou uma fundamentação da geração de harmônicos por


parte de fazenda fotovoltaicas, introduzindo a Lei de Agregação de Correntes presente na
IEC 61000-3-6 e atualmente utilizada na Nota Técnica 009/2016 do ONS.
A partir da implementação computacional da modelagem de uma fazenda
fotovoltaica no Matlab compreendida com distintos alimentadores e considerando
diferentes condições de irradiância solar, três estudos de caso foram simulados e
analisados.
Diante dos resultados obtidos e análises feitas, é possível afirmar que o
procedimento de agregação de correntes harmônicas deveria ter sua aplicação repensada
no âmbito de seu empregado nos estudos de acesso das fazendas fotovoltaicas no país.
Todavia, para uma completa rejeição de tal lei de agregação, poderia ainda ser necessários
testes em campo para uma maior comprovação dos resultados simulados.

REFERÊNCIAS

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Silva, R. V. P.; Santos, I. N.; dos Santos, A. C.; Gianesini, B. M. Estudo sobre o
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Disponível em: https://www.peteletricaufu.com/static/ceel/artigos/artigo_489.pdf. Acessado em:
29/11/2019.

567
AVALIAÇÃO DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA PARA APLICAÇÃO DE
CÉLULAS MULTIJUNÇÃO

Thiago Antônio Paiva da Silva1, Patricia Romeiro da Silva Jota2


1
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG, 2CEFET-MG
E-mail: thiagopaivacefet@gmail.com

RESUMO: A transformação da energia do sol em energia elétrica é obtida através de


células fotovoltaicas usando tecnologias diversas. Dentre as tecnologias mais promissoras
estão as células do tipo multijunção (MJ). Esta tecnologia depende fortemente da
composição espectral disponível no local de sua instalação. Consequentemente, sua
aplicação exige uma análise mais criteriosa a respeito da composição do espectro solar
incidente. Entretanto, medições de espectro solar requerem equipamentos específicos de
difícil acesso. Sabe-se, porém, que a composição do espectro varia fortemente na faixa
da radiação ultravioleta. Buscando analisar as diferenças existentes no espectro solar em
vários pontos da terra sem medi-lo diretamente, o presente trabalho analisa a
disponibilidade de radiação ultravioleta usando medições do Índice de Radiação
Ultravioleta (IUV) de diversas localidades, facilmente obtido por estações
meteorológicas. Este trabalho relaciona o índice IUV com parâmetros geográficos como
latitude e altitude, a fim de avaliar o efeito da localização geográfica no desempenho de
células fotovoltaicas de multijunção. A relação direta da corrente fotogerada nas células
MJ com as faixas distintas do espectro solar no processo de geração de energia indica que
os painéis fotovoltaicos com concentrador a serem instalados em regiões de baixa latitude
(região intertropical) e alta latitude (fora dos trópicos) podem ser otimizados por meio de
uma compensação da junção intermediária, aumentando o aproveitamento da luz solar
incidente e consequentemente a eficiência da MJ. Os resultados do presente estudo
indicam que a energia que deixa de ser aproveitada em células multijunção instaladas em
países como o Panamá e o Brasil, em geral, na zona intertropical e em áreas de elevada
altitude são consideráveis (chegando a 25% superior) justificando a fabricação
diferenciada de células MJ para estas localidades.
Palavras-chave: Células multijunção, espectro solar, radiação ultravioleta.

568
ULTRAVIOLET RADIATION EVALUATION FOR MULTIJUNCTIONS
CELLS APPLICATION

Abstract: The transformation of the sun's energy into electrical energy is achieved
through photovoltaic cells using different technologies. Among the most promising
technologies are multi-function cells (MJ). This technology depends heavily on the
spectral composition available in the location. Consequently, its application requires a
more careful analysis regarding the composition of the incident solar spectrum. However,
measurements of the solar spectrum require specific equipment that is difficult to get hold
of. However, it is known that the composition of the spectrum varies greatly in the
ultraviolet radiation range. Seeking to analyze the differences in the solar spectrum at
various points on the earth without directly measuring it, the present work analyzes the
availability of ultraviolet radiation using measurements of the Ultraviolet Radiation Index
(IUV) from different locations, easily obtained by weather stations. This work relates the
IUV index to geographic parameters such as latitude and altitude, in order to evaluate the
effect of geographic location on the performance of multi-function photovoltaic cells. The
direct relationship of the photogenerated current in the MJ cells with the different bands
of the solar spectrum in the energy generation process indicates that the photovoltaic
panels with a concentrator that are yet to be installed in low latitude and high level can
be optimized.
Keywords: Multijunction cells, solar spectrum, ultraviolet radiation.

1. INTRODUÇÃO

As Células Fotovoltaicas de Multijunção (MJ) exploram melhor a luz solar e


aproveitam quase toda a faixa do espectro. A MJ representa uma evolução do painel
fotovoltaico tradicional e consiste em uma pilha de subcélulas de materiais chamados III-
V da tabela periódica. A linha corrente de arquitetura industrial é a célula de tripla junção
constituída de fosfeto de gálio índio (InGaP), arseneto de gálio índio e germânio (Ge).
Cada subcélula converte uma parte específica do espectro do sol, que define a
responsividade da MJ de junção tripla. Essa grandeza relaciona a intensidade de corrente
gerada por cada subcélula pela potência da luz incidente de um determinado comprimento
de onda (DOMINGUEZ, 2012), apresentado na Fig. 1.

569
Figura 1 – Curvas de resposta espectral das subcélulas a 25° C.
Adaptado (DOMINGUEZ, 2012)

A responsividade define a geração de tensão e corrente em cada junção. À medida


que as subcélulas estão ligadas em série, as tensões de cada subcélula são somadas e a
tensão de saída do dispositivo é o total das parcelas, enquanto a corrente de saída é
determinada pela menor das correntes produzidas (MESSMER, 2012) [16]. A Fig. 2
mostra a curva de potência da MJ de tripla junção.

Figura 2 – Curvas características de uma célula fotovoltaica tripla junção.


Adaptado (MESSMER, 2012)

570
Usando a resposta espectral, Fig. 1, o projeto da célula é otimizado buscando
ajustar para que cada subcélula gere a mesma corrente sob uma distribuição espectral
padrão. Na célula de tripla junção a corrente crítica é encontrada entre as subcâmaras
superior e intermediária, sendo a base um substrato de germânio, que possui um excesso
de corrente inerente. A relação de correspondência para as duas subcélulas é calculada
pela razão entre as densidades de corrente obtidas da camada superior e intermediária.
Esta relação é dada pelo parâmetro CM (do inglês, current-matching). A Fig. 3 apresenta
a variação das correntes geradas nas subcélulas superior e intermediaria.

Figura 3 – Corrente normalizada gerada nas camadas superiores da MJ para espectros


variantes entre o vermelho e o azul.
Adaptado de (DOMINGUEZ, 2012).

A comunidade PV (photovoltaic) concordou em adotar uma distribuição espectral


de referência para avaliar dispositivos fotovoltaicos sob as chamadas condições de teste
padrão, STC (standard test conditions). Atualmente, a distribuição espectral mais
amplamente adotada para avaliar dispositivos fotovoltaicos sob STC é a referência
ASTMG-173-03. No entanto, esse espectro raramente acontece fora do laboratório, onde
o principal valor de interesse não é a eficiência sob a STC, mas a produção elétrica em
condições de operação realistas (PHILIPPS, 2010).
O que define o espectro incidente de um local é a atmosfera que atua como um
filtro, modificando a quantidade e a distribuição espectral 𝐸𝑇𝑅 . Essa atenuação depende
da quantidade de substâncias percorridas pelos raios solares em seu curso através da
atmosfera e das propriedades ópticas dos diferentes constituintes atmosféricos (KASTEN,
1989).

571
Tabela 1 – Atenuação dos Espectros global e direto produzidos pelas variações
dos valores de massa de ar, profundidade óptica de aerossol a 550 nm e de água
precipitável.

Direta Global
AM 𝐴𝑂𝐷550 PW(cm) AM 𝐴𝑂𝐷550 PW(cm)
UV 91% 70% 0% 84% 14% 0%
UV - Visível 59% 55% 3% 60% 19% 3%
Infravermelho 30% 27% 21% 35% 10% 21%
Fonte: (Eltbaakh, 2012)

Do espectro irradiado pelo sol, a região UV corresponde a faixa de comprimento


de onda que vai de 100 a 400 nm e é dividida em três bandas: UVA (315–400 nm), UVB
(280–315 nm), UVC (100–280 nm). Os pequenos comprimentos de onda da Radiação
Ultravioleta fazem com que essa faixa do espectro seja mais sensível a massa de ar,
aerossol e água precipitável (ELTBAAKH, 2012). Devido a isso, a radiação ultravioleta
pode ser relacionada a parâmetros como a latitude e altitude, que corresponde a distância
atmosférica percorrida.
A radiação UV é indiretamente medida através do IUV, “IUV solar global”, que
foi formulado pela Comissão Internacional de Iluminação (CIE). É uma medida de
referência para a capacidade da radiação UV de induzir uma ação eritêmica na pele
humana, definido para uma superfície horizontal (ISO 17166). O Espectro de ação
eritêmica corresponde à "resposta" biológica da pele humana. O IUV é um número
adimensional, de acordo com a Eq. 1 (MADRONICH, 2007).
1
𝐼𝑈𝑉 = 25𝑚𝑊/𝑚² ∫ 𝐸 (𝜆) 𝐼 (𝜆) 𝑑 𝜆 (1)

Onde:
IUV - Índice de radiação ultravioleta, adimensional;
E (𝜆) - Função espectro de ação eritêmica, adimensional;
I (𝜆) - Função irradiância UV na superfície terrestre em mW.m-1

Estudos feitos no Brasil, com base nas medições de densidade de corrente da MJ


de junção tripla e experimentos que avaliam a camada determinante da menor corrente
confirmam a hipótese de que exista uma importante mudança no funcionamento deste
dispositivo em regiões de clima tropical, e devido a isso, a energia do espectro não seja
aproveitada em sua totalidade. Estes estudos definem para a MJ de junção tripla, a camada
intermediária como subcélula limitante da geração de corrente para espectros medidos
em Recife, PE–Brasil (SILVA, 2012) e Belo Horizonte/MG-Brasil (TIMÓ, 2015). O que
justifica a elaboração de novos projetos de células MJ a serem instaladas em locais de
clima tropical, visto que, as diferenças regionais são significativas.
O presente estudo caracteriza variações do espectro solar por parâmetros
geográficos através do Índice de Radiação Ultravioleta (IUV).

572
2. MATERIAIS E MÉTODOS

As diferenças de quantidade de radiação UV em pontos distintos do globo terrestre


podem ser mensuradas indiretamente por meio do IUV, medido por muitas estações
meteorológicas no mundo. Este estudo visa relacionar as diferenças na composição do
espectro, na faixa de luz ultravioleta por meio do índice mensurado em pontos distintos
do globo terrestre.
Para efetuar as caracterizações desejadas, se fez necessário um levantamento de
medições do IUV em locais que se diferenciassem significativamente pela latitude e
altitude, parâmetros geográficos que mais se relacionam com variações no espectro solar.
A Fig. 4 apresenta um fluxograma da metodologia adotada.

Figura 4 – Fluxograma da Metodologia adotada para análise dos dados.

A cidade de Belo Horizonte/MG - Brasil foi previamente definida pelas pesquisas


associadas a MJ efetuadas nesta cidade. A estação meteorológica instalada no prédio do
CPEI/CEFET-MG, por meio de um sensor de UV, mede não apenas o índice como
também a radiação UV.
As demais localidades foram definidas de acordo com a disponibilidade dos dados
de medição e as coordenadas geográficas. Por meio de contribuições do (WOUDC) The
World Ozone and Ultraviolet Radiation Data Centre, um dos seis Centros de dados do
mundo que fazem parte do programa Observatório Internacional da Atmosfera da
Organização Meteorológica Mundial, os dados foram acessados.
Para avaliar a variação sazonal do IUV, foi necessário utilizar um intervalo de
cinco dias no registro da medição dos máximos diários, visto que problemas diversos nas
estações podem interromper o processo de medição. Esse método acelera o tratamento
dos dados e despolui as imagens de diferenças desprezíveis. No caso da medição do
quinto dia ser inexistente, o algoritmo considera o momento mais próximo de medição
efetuada, anterior ou posterior. Se no quinto dia não houve medição, em seguida é
avaliado o dia de medição mais próximo e registrado o valor e a data, após feito isso, os
registros seguintes são realizados normalmente, com o mesmo espaçamento,
considerando a data em que deveria haver medição.
Através de medições do Índice de Radiação Ultravioleta (IUV) e dos máximos
diários registrados, pode-se estimar as diferenças de incidência UV de acordo com a
localidade.

573
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para avaliar a variação diária do IUV, escolheu-se duas cidades, Belo


Horizonte/MG-Brasil e Davos-Suíça, pelo fato de os registros das medições efetuadas
nessas cidades incluírem os valores de IUV medidos ao longo do dia. Foram avaliados
dias próximos aos solstícios em Belo Horizonte, e solstícios em Davos. A Fig. 5 apresenta
os resultados.

Figura 5 – Variação diária do IUV


(02/01/2014 em Belo Horizonte – Brasil – 21/06/2012 em Davos – Suíça – Verão)
(15/06/2014 em Belo Horizonte – Brasil – 22/12/2012 em Davos – Suíça – Inverno)

Para o extremo verão, a média calculada foi de 6,82 em Belo Horizonte e de 2,79
em Davos, ou seja, 2,44 vezes maior. Os máximos obtidos foram de 15,5 e 9,84
respectivamente, ou seja 1,57 vezes. Para o extremo inverno, o IUV máximo
belorizontino foi de 6,5 e de 1,2 em Davos, 5,41 vezes. As médias de inverno são 1,95
em BH e 0,29 em Davos, 6,61 vezes maior. Quando se compara os valores encontrados
com o IUV do espectro padrão, que é 3,1, vê-se que a célula MJ irá se comportar de forma
bastante distinta para cada localidade. Em Davos, ela vai operar no verão com a subcélula
intermediária limitando e no inverno, a subcélula do topo é que vai limitar. Observa-se
que o valor médio do IUV no verão em Davos é próximo ao do espectro padrão. Já no
Brasil, esta célula irá operar sempre com a célula intermediária limitando já que teremos
um excesso de UV durante todo o ano.
Avaliando longos períodos de medição, observa-se que a curva de máximos
diários do IUV varia ciclicamente (o que torna válidas as comparações de períodos
distintos entre as cidades). Duas cidades, com baixa latitude são avaliadas, David City e
Panamá, ambas localizadas no Panamá, fig.6. Observa-se altos valores de IUV, com
pequenas variações anuais. Estas cidades estão muito próximas a linha do equador e o
efeito da declinação solar é suave. Os máximos ocorrem nos equinócios.

574
Figura 6 – Máximos diários do IUV em (David City nos anos de 2002 a 2004)
(Cidade do Panamá nos anos de 2001 a 2005)

Deslocando-se mais para o sul, outras duas cidades são comparadas na fig.7. Os
valores observados para o IUV em Belo Horizonte estão compreendidos entre 5 e 16, já
em Buenos Aires tem-se valores mínimos bem baixo, próximos a 1, e máximos em torno
de 12. Observando os valores médios, tem-se 6,5 para Buenos Aires contra 10 em Belo
Horizonte. Quanto mais se afasta da linha do equador, maior amplitude da variação.

Figura 7 – Máximos diários do IUV em Belo Horizonte nos anos de 2013, 14, 15 e 16
Buenos Aires - 2011, 2012 e 2013.

575
Figura 8 – Máximos diários do índice de radiação ultravioleta em Davos 2009 a 2013
Comodoro Período compreendido entre 2010 e 2014
Duas cidades com mesma latitude, porém em localização opostas N e S, são
comparadas, fig.8. Comodoro Rivadavia na Argentina e Davos, na Suíça. Comodoro
apresenta médias levemente superiores às médias apresentadas por Davos. A única
diferença entre estas cidades é a altitude.
Outras duas cidades com latitudes semelhantes a Davos de diferentes altitudes
foram analisadas, fig.9. Diekirsh em Luxemburgo e Belgrade na Bélgica. Observa-se
valores muito baixos de IUV, comparados a Davos. Observa-se aqui um possível efeito
da altitude neste índice. Este efeito é relatado por Coariti, 2010, que compara frequência
de ocorrência de índices IUV crescentes com o aumento da altitude em três cidades da
Bolívia com mesma latitude (16ºS): Coroico (1500m), La Paz (3800m) e El Alto (4100m).
São verificados frequência de ocorrência de valores de IUV>8 em 39, 40 e 45% dos
valores medidos.

Figura 9 – Máximos diários do índice de radiação ultravioleta em Diekirsh 2009 a 2014


Belgrade no período compreendido entre 2009 e 2011

576
A Tab. 2 apresenta um resumo dos dados analisados. As cidades foram dispostas
em ordem decrescente em termos das médias anuais.

Tabela 2 – Dados de medições do IUV medidos em diversas cidades (SILVA, 2019).


David Belo Buenos
Localização Panamá Davos Comodoro Diekirch Belgrade
City Horizonte Aires

8°25’38’’ 8°59’36’’ 19°48’57’’ 34°36’30’’ 46°48’15’’ 45°52’00’’ 49°52’04’’ 44°49’12’’


Latitude
N N S S N S N N
Altitude 47m 17 m 767 m 25 m 1560 m 61 m 195 m 117 m
Upper adjacente 15.6 16.9 16.0 13.7 10.9 11.9 7.5 1.5
Lower adjacente 6.6 5.4 0.7 0.45 0.03 0.4 0.03 0.01
Nº pontos 206 293 683 214 287 174 342 161

01/2009 01/2001 01/2013 01/2011 01/2009 01/2011 1/2009 01/2009


Período
12/2011 12/2004 12/2016 12/2013 12/2012 12/2013 2/2013 12/2011

Mínimo 3.6 1.3 0.7 0.45 0.03 0.4 0 0.01


Máximo 15.6 18.0 16.0 13.7 10.9 11.9 7.5 7.3
Percentil 75 12.4 12.5 13.5 8.3 7.8 7.0 4.3 0.8
Percentil 50 11.1 11.1 9.7 5.0 4.35 3.6 2.2 0.5
Percentil 25 10.1 9.6 7.3 2.6 1.7 1.4 0.7 0.15
Média 11.0 11.0 10.2 5.6 4.7 4.4 2.6 1.1
Outliers 6 16 0 0 0 0 0 23

Foi possível confirmar o efeito da altitude no IUV comparando as cidades A


expressiva altitude de Davos faz com que ele apresente altos valores para o IUV em
relação a cidades de distância latitudinal semelhante, como Comodoro e Belgrade.
A observância de maior incidência UV em Dierkirsh em relação a Belgrade é
explicada pela diferença de altitude, 78 m. Deve-se ater ao fato de que esses não são os
únicos fatores que influenciam a incidência UV, como a formação de nuvens e a poluição.
Entretanto, pode-se afirmar que a Latitude e a Altitude são parâmetros relacionados aos
fatores que interferem diretamente.

4. CONCLUSÃO

Este estudo relaciona a incidência de radiação ultravioleta na superfície terrestre


por parâmetros geográficos e sua influência no desempenho de células MJ. A Latitude e
Altitude de uma localidade podem ser diretamente relacionadas à composição do espectro
solar local incidente.
A adoção do espectro padrão, ASM1.5, no projeto de células solares multijunção
limita a quantidade de energia gerada e a eficiência da MJ. Foi possível observar que o
IUV verificado no espectro padrão é superado por algumas cidades com alta latitude
durante o verão, entretanto para cidades com latitudes menores, em regiões tropicais,
verifica-se um excesso de UV, fazendo com que as células MJ operem na maior parte do
tempo com a subcélula intermediária funcionando como limitante e não a do topo como
esperado.

577
O ganho de energia dependerá de cada novo projeto. A otimização da MJ se faz
mediante ao levantamento do espectro médio das localidades em que se deseja instalar a
MJ.

REFERÊNCIAS

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standard erythema dose. Viena, 2019.

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TIMÓ, G.; MELO, A. G.; JOTA, P. R. Sun on Clean - Study of soiling effect and glass surface
modification of concentrating photovoltaic (CPV) modules: Climate influence and comparative
testing. Acordo número ID: 295303. 2015.

578
CHARACTERIZATION OF THERMOPHYSICAL PROPERTIES OF
COMMERCIAL PARAFFINS FOR USES IN APPLICATIONS OF THERMAL
SOLAR ENERGY

Arnold Rafael Martínez Guarín1, Manuel José Osorio Pérez2, Cristina Isabel Cogollo
Torres2, Mauricio Yilmer Carmona García3, Jorge Mario Mendoza Fandiño 2, Adrian
Enrique Avila Gomez2
1
Universidad de Córdoba - Universidad del Norte, 2Universidad de Córdoba,
3
Universidad del Norte
Email: arnoldrafael@correo.unicordoba.edu.co

Abstract: The characterization of phase change materials is essential to identify which


of the commercially available materials can be used in Thermal Energy Storage (TES)
applications. Additionally, the characterization methods of these materials involve high
costs due to the usage of specialized equipment and rigorous experimentation protocols
that require thermal equilibrium, which occurs at low speeds. In this investigation, low-
cost methods such as T-History and T-Melting CHF were used to define the melting point,
latent heat of fusion, thermal conductivity and specific heat capacity in solid and liquid
phases for phase change materials (PCM). The required devices were constructed for each
method of analysis and validated by comparison using as references RUBITHERM®
RT45 and RT55 paraffins, which are internationally certified by the RAL. The
assessments on these commercially available paraffins were performed and the results
where compared with the outcome from enthalpy and specific heat obtained by
Differential Scanning Calorimetry (DSC) and the standard deviation between the two
proposed methods was evaluated with respect to the results obtained in the DSC.
Additionally, the liquid and solid density was calculated for each of the samples, which
coincided with those indicated by the manufacturer. The results obtained were tabulated
to make a direct comparison between the values obtained from the thermophysical
properties through the different methods in order to determine if they can be considered
with good potential for later use in storage applications thermal energy.
Keywords: Thermal energy storage, PCM, DSC.

1. INTRODUCTION

Satisfying the global demand for energy supply has proved to be a great challenge.
At present, the development of sustainable and environmentally friendly sources of
energy is constantly growing. Solar energy is an attractive alternative, however, it have
high intermittency and high maintenance costs, so it is necessary to develop thermal
storage systems (TES) that increase the efficiency of these systems with the lowest
possible cost to reduce the mismatch between supply and demand, attaining a competitive
systems in the energy market. The two most common storage systems are sensible heat
(SHS) and latent heat (LHS); The latent heat storage system is the most attractive because
its high storage density and isothermal characteristics (MAYILVELNATHAN et al.
2019).

579
Nowadays the most used technique for the thermal characterization of these
materials is performed using differential scanning calorimetry (DSC), however, the
results may vary according to the procedure, equipment and quantities used when the tests
are performed (GSCHWANDER et al.).
DSC is one of the most efficient techniques for thermophysical analyzing a PCM.
However, it has some limitations: the instrument is somewhat complex. Only a very small
sample can be used in the test to achieve accurate results (between 1–30 mg), however,
PCMs are generally used in bulk (several g, even several kg) and the properties of the
small samples of PCM may differ from the bulk sample, especially in mixtures with
heterogeneous additives (YANG et al. 2018). These drawbacks have encouraged the
development of other methods to analyze PCM in order to characterize their
thermophysical properties.
Among the alternative methods developed is the T-History proposed by Zhang
and Jiang in 1999. this procedure can measure the latent heat of fusion, the specific heat
capacity and thermal conductivity of several bulk PCM samples simultaneously. The test
is based on monitoring the temperature curves of the PCM sample and a well-known
reference sample (usually distilled water) during its natural cooling process, the lumped
capacity method is used to analyze the process and then the corresponding thermophysical
properties (Zhang et al. 1999) can be obtained. Compared to the conventional DSC
method, the T-history simplifies the test instrument and therefore, the cost can be
considerably reduced.
Similarly, the T-Melting CHF method proposed by Xiao-Hu Yang and Jing Liu
in 2018, can determine the melting point, latent heat of fusion, thermal conductivity and
specific heat capacity both in solid phase as liquid. The method monitors the temperature
response of the PCM sample during its melting process under conditions of constant heat
flux (CHF). Heat flow conditions are achieved by applying constant heating power;
therefore, the measuring device is simpler than traditional ones. Unlike the previous
method, it is not necessary to select a standard reference sample. More importantly, all
the mentioned properties can be obtained simultaneously in a single test (YANG et al.
2018).
In this work the two previous methods were replicated, starting with the
construction of the necessary devices and their respective validation. Then the
methodology was used on phase change materials to identify their thermal conductivity,
enthalpy of fusion, specific heat, temperature of phase change, density in liquid and solid
state to study their usage in solar thermal energy harvesting applications.

2. MATERIALS AND METHODS

The phase change materials selected as reference samples for this study were the
Rubitherm® RT45 and RT55 paraffins, that have RAL certification, which is the standard
for materials used in TES applications. Additionally, two commercially available
paraffins were characterized: the light and medium paraffins produced by Ecopetrol and
another from Taiwan available in the local market. These paraffins were used under same
conditions in which they were received, i.e. they were not subjected to purification
processes.

580
These paraffins were selected because their properties are suitable for many low
temperature thermal energy storage applications.

2.1 T-History method

It is based on comparing the simultaneous evolution of the cooling / heating curves


between the material to be tested with respect to a reference substance with well-known
properties. Both materials must be contained in containers that guarantee that the number
Bi <0.1 to validate the assumption of a one-dimensional heat transfer. In this way, it is
possible to estimate the thermophysical properties, by comparison between the areas
under the curves of the process between both materials (YINPING et al. 1998).
The thermophysical properties were obtained considering the restrictions
described in the method proposed by Yinping. In Figure 1.a, a schematic diagram of the
experimental setup for this method is shown.
The samples were packed in test tubes with lateral detachment of 15 mm in
diameter by 150 mm in height and hermetically sealed with a rubber stopper. For the
calculation of the mass value a digital balance was used. The test temperature was
measured with an 8-channel digital thermometer. The temperature was monitored using
4 k-type thermocouples that were positioned vertically in the center of the tubes.

(b)

(a)
Figure 1 – (a) Proposed experimental scheme. (b) T-History experimental setup

The samples were heated in a thermostatic bath, and the cooling process was
performed in an expanded polystyrene (EPS) chamber, the test tubes were housed in 3
EPS compartments to avoid convective effects around the tubes as show in Figure 1.b.
The experiment was stopped when the samples reached room temperature.

2.2 T-Melting CHF method

This method claims to be capable of determine the main thermophysical properties


of PCM, such as melting point, latent heat, thermal conductivity, and specific heat
capacity in both the solid and liquid phases, simultaneously and in a single test (YANG
et al. 2018).

581
For the construction of the measuring device, the model proposed in the T-Melting
CHF method was replicated, which consists of a test module that is based on a 1D fusion
process under conditions of constant heat flux. Complying with the restrictions of the
model, the test module was built in ABS material, which has a thermal conductivity of
0.17 W/m-k and a maximum operating temperature of 100 °C, characteristics enough to
analyze the proposed paraffins. The module was built using 3D printing with a 100% fill,
as shown in Figure 2.

(d)
Figure 2 - Structure of the test module constructed. (a) Front view; (b) Top view of the
base, frame and cover; (c) Base, (d) Heater used in the test module.

The heat source that was used was a 50 mm diameter heater with a thickness of 2
mm, a resistance of 616 Ω and a maximum heating power of 70 W, as shown in Figure
2.d. Assuming that the module is perfectly isolated, the thermophysical properties were
determined taking into account the equations proposed in the method.

2.3 Differential Scanning Calorimetry method (DSC)

Differential scanning calorimetry is a dynamic experimental technique that allows


you detecting transitions such as melting points, vitreous transitions, phase changes and
curing. To perform the tests, the Discovery DSC 250 distributed by TA Instrument was
used and the samples were loaded in aluminum crucibles (Figure 3). The experimentation
began with the measurement of the sample mass that is going to be analyzed. Using a
digital balance, the sample and crucible were weighed separately. Upon obtaining the
value of the sample mass, the crucible was taken to a press to ensure a tight seal. Then
the parameters to perform the test were established; for the speed and temperature, we
used the criteria found in ASTM D4419-90 which recommends a heating/cooling rate of
10 °C/min±1 and a temperature of 20 °C ± 5 above the point of fusion.

Figure 3 - Experimental setup for differential scanning calorimetry test.

582
3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1 Experimental density assessment

The density in solid state of the evaluated PCM was determined considering that
the samples should be at room temperature of 20 °C, while for the density in liquid state
should be 10 °C above the melting point to make sure the samples were completely liquid.
Two replications were made for each trial and the results obtained are shown in Table 1.

Table 1 - Densities of the paraffins analyzed in the tests.


Mass (kg) δL (kg/m3) δS (kg/m3)
RT 45 0.0038427 768.54 835.37
RT 55 0.0039476 789.52 805.63
Col TW 0.0039039 780.78 830.62
Light 0.003812 762.40 811.06
Median 0.0038579 771.58 838.67

3.2 Experimental Evaluation of Paraffins by the T-History Method

The characterization of properties such as the phase change temperature, enthalpy


of fusion and calculation of the specific heats, was carried out according to the T-History
method. As a variation to the original method and to reduce the uncertainties associated
with the value of the convection coefficient around the sample, expanded polystyrene
insulation was used to achieve less resistance to the thermal conduction inside the tubes
than convection resistance through the fluid boundary layer and thus ensure that the
temperature distribution inside the sample was uniform.

Table 2 - T-History test conditions of the sample 1


Water (g) Paraffin (g) δL (kg/m3)
RT-45 15.2902 12.3313 770.00
RT-55 15.6631 12.7959 770.00
Col TW 16.7381 12.2936 780.78
Light 17.1103 12.2976 762.40
Median 17.1103 12.6584 771.58

The resulting cooling curves for both the reference and the PCM were loaded into
a script containing the equations of the method to calculate the thermophysical properties.
The temperature range for the data evaluation was defined by calculating the derivative
of the curves, in this way the inflection points that would mark the region of phase change
were established. The experimental data has high noise levels, therefore, to improve
analysis was necessary to use a filter to reduce the signal noise. Table 2 describes the
basic operation conditions of the tests.
The typical behavior of a cooling curve and the evolution of the enthalpy are
shown in Figure 4. In the cooling curve the gray color represents the first derivative of
the temperature data measured in the pcm with the aim of finding the changing points in
the curves, which represent the onset and the endset of the phase change process.
583
Figure 4 – a) Cooling curve from T-history b) Evolution of enthalpy vs. temperature

The enthalpy of fusion was calculated with two repetitions with an approximate
mass of 12 grams and was determined to be 162.05 kJ / kg for RT 45 and 168.30 kJ / kg
for RT 55. These values are very close to the value reported in the manufacturer's
technical data sheet, which indicates that the values obtained for the other paraffin’s will
have a similar behavior.
The results obtained in comparison with the manufacturer's data, show an average
error of 3.79% for the initial point of the phase change region, 18.30% at the end point,
1.14% fusion enthalpy and Cpl. 16.62%, however, the Cps presents an error of 142.93%,
this high error can be explained by the fact that it becomes difficult to accurately assess
the differences in the area when the reference, the environment and the sample have a
very close temperature. The above results demonstrate that the method used cannot be
used to determine the latter property but is applicable for the determination of the other
thermophysical properties. Likewise, the results of the commercial references have a
standard deviation of no more than 8%, so these results have little variation and good
adjustment.
From the results obtained, commercial paraffin’s show great potential. They
exhibit a high energy storage density, around 180 kJ / kg, so it could be considered a
potentials PCM. These values and the high specific heats of around 2.5 kJ / kg ° C are
good enough to justify further investigation. Also, the fact that it is a mass-produced
product by the oil industry, implies that already has an established market and the cost is
relatively low; around 1.90 dollars per kilogram for the bulk product.

3.3 Experimental evaluation of paraffin’s using the T-Melting CHF method

Considering the restrictions of the described method, it is necessary to determine


the critical heat flux at which the tests were carried out. So, for the analyzed paraffins an
ideal thermal conductivity value of 0.2 𝑊/𝑚°𝐶 will be assumed, a sample thickness of
0.005 m, an ambient temperature of 20 °C and a melting temperature of 90 °C, so the
critical heat flux will be 2800 W/m2 .

584
Table 3 - T-Melting CHF test conditions of the sample 1.
Paraffin (g) qhs (W) q” (W/m2) Ste Ra
RT-45 12.5600 2.0 1000 0.38 208.23
RT-55 14.3940 2.7 1350 0.48 281.11
Col TW 11.9028 3.5 1750 0.75 472.32
Light 14.3161 3.5 1750 0.49 171.90
Median 14.4586 2.7 1350 0.39 189.67

In Table 3 you can see the conditions to which the tests were made, in addition, it
can be seen that all tests were performed with a heat flux below the critical heat flux, also,
the Rayleigh number for each test is below the limit value 𝑅𝑎𝑐 = 2.72𝑥104 , so it is
ensured that the heat transfer in the tests was conducted by conduction, however, it can
be seen that the Stefan numbers in the tests are greater than recommended by the author
𝑆𝑡𝑒 = 0.2, to get relative errors less than 7.9 %. Since the measurements were made
with a Ste greater than 0.2 but less than 0.5, the results obtained could have errors around
16.7 %.
Figure 5 shows the characteristic behavior of the heating curve for the samples
analyzed through the CHF method. In this case, the blue curve represents the behavior of
the RT-45 paraffin with the thermocouple located between the heater and the aluminum
plate, the red one represents the heating curve for the sample with the thermocouple in
the center and the red one together with the yellow they represent the data refinement
filters.

Figure 5 - Heating curve for sample one of the RT-45 paraffin.

The results obtained from the tests were compared with those reported in the
literature, thus obtaining, at the initial melting point an average error between samples of
13.45 %, at the final melting point an error of 1 %, a 𝐶𝑝𝑠 with a 19.54 % error, a fusion

585
enthalpy with an error of 2.44 %, an error in thermal conductivity of 9.34 % and a 𝐶𝑝𝑙
with an error of 948.8 %. The test results indicate that, the method replicated here has a
good ability to evaluate the main thermophysical properties of bulk PCMs, except for the
𝐶𝑝𝑙 that exhibit a high error.

3.4 Experimental evaluation of paraffins using the DSC method.

Using a DSC at a cooling rate of 5 ° C/min, the enthalpy and melting point for the
paraffin samples RT 45 and RT 55 were determined. For the commercial paraffin samples
the heating and cooling curve were performed at a speed of 10° C/min and likewise the
enthalpy and the melting point were determined. For all cases, a single replica was
performed with an average mass of 5 mg. The calculated properties are summarized in
Table 4.

Table 4. Summary of fusion enthalpy results with literature values for comparison.
Phase change (°C)
PCM Hm Heating (kJ/kg) Hm Cooling (kJ/kg)
Heating Cooling
RT 45 -- 42.48 -- 167.24
RT 55 -- 52.52 -- 190.46
Light 55.38 51.26 206.96 202.94
Median 59.61 55.17 204.47 191.97

4. SUMMARY OF RESULTS

Now that each material has been analyzed individually and with various methods,
it is useful to compare the results obtained. These are summarized in Table 5 and Table
6, accompanied by values from the literature for comparison with those calculated in the
different types of trials. The exception is the DSC value of 𝐶𝑝𝑠 , 𝐶𝑝𝑙 and 𝐾, which could
not be calculated without additional tests. The DSC data is slightly higher than those
reported in the literature. The T-History method also reported higher values compared to
those in the literature. The T-Melting CHF method recorded values above and below the
reference values.

Table 5 - Summary of the enthalpy of fusion values obtained by the different methods.
Hm DSC Hm T-History Hm T-Melting Hm Manufacture
PCM
(kJ/kg) (kJ/kg) CHF (kJ/kg) (kJ/kg)
RT 45 167.24 162.05 157.16 160
RT 55 190.46 168.30 175.28 170
COL TW -- 189.68 187.39 -
Light 204.95 185.12 178.52 -
Median 198.22 186.05 194.07 -

586
Table 6 - Summary of the specific heat values obtained by the different methods.
T-Melting
Cps Manufacture Cpl Manufacture T-History
PCM Cps
(kJ/kg°C) (kJ/kg°C) Cpl (kJ/kg°C)
(kJ/kg°C)
RT 45 2 2 2.2264 2.1590
RT 55 2 2 2.4383 2.6226
COLTW -- -- 2.7555 2.8120
Light -- -- 2.9926 4.3031
Median -- -- 2.5384 5.4736

5. CONCLUSIONS

In this document, the main thermophysical properties of three low-cost


commercial paraffins were evaluated. In addition, in the search for unconventional
methods that could determine these properties, it was possible to demonstrate that the T-
History and T-Melting CHF methods can be used to evaluate thermal properties such as
enthalpy of fusion with an error rate of 1.14 % , melting point with an error of 3.79 %,
𝐶𝑝𝑙 with a percentage of error of 16.62 %. It was evidenced that the 𝐶𝑝𝑠 presents
difficulties at the time of its estimation because it becomes difficult to accurately assess
the differences in the area when the reference, the environment and the sample have a
very close temperature.
For the CHF it was found that the initial melting point can be determined with an
average error between samples of 13.45 %, the final melting point had an error of 1 %,
𝐶𝑝𝑠 with an error of 19.54 %, enthalpy of fusion with an error of 2.44 %, the thermal
conductivity with an error of 9.34 %, it was also shown that the 𝐶𝑝𝑙 is difficult to calculate
due to heat losses in the test module.
The main thermal properties were determined in materials available in the local
market, which constitutes a significant contribution to the state of the art in this matter,
finding that they have a high potential for thermal energy storage, comparable with other
PCMs that are marketed for this purpose.

ACKNOWLEDGEMENTS

Authors would like to acknowledge Universidad Del Norte and his PhD
Scholarship Contract Identification Number: UN-OJ-2013-22063, and the Departamento
Administrativo de Ciencia, Tecnología e Innovación COLCIENCIAS Scholarship Call
No 727 of 2015 for the financial support. The authors also wish to especially thank the
Universidad de Cordoba for the support and use of its facilities to carry out many of the
experiments of this research.

587
REFERENCES

Mayayo Javier García. Materiales de Cambio de Fase. Diseño de una instalación para la
caracterización de PCM a altas temperaturas. 2012. Escuela de Ingeniería y Arquitectura,
Universidad Zaragoza, Ingeniería Técnica Industrial - Especialidad Mecánica, 2012.

Mayilvelnathan, V.; Valan Arasu, A. Characterisation and thermophysical properties of


graphene nanoparticles dispersed erythritol PCM for medium temperature thermal energy
storage applications. Thermochimica Acta, v.676, 2019.

Gschwander, S., Lazaro, A., Cabeza, L. F., Günther E., Fois M., Chui, J. Development of a Test
Standard for PCM and TCM - Characterization Part 1: Characterization of Phase Change
Materials, (2011).

Yang, X. H.; Liu, J. A novel method for determining the melting point, fusion latent heat,
specific heat capacity and thermal conductivity of phase change materials. International Journal
of Heat and Mass Transfer, 127, 457–468, 2018.

Yinping, Z., Yi, J. A simple method, the T –history method, of determining the heat of fusion,
specific heat and thermal conductivity of phase-change materials. Meas Sci. Technol, 1999.

588
CONTROLADOR DE CARGAS DESBALANCEADAS EM SISTEMA DE
GERAÇÃO FOTOVOLTAICA CONECTADO À REDE TRIFÁSICA DE
DISTRIBUIÇÃO

Francisco Carlos Leite Brasil1, Alberto Soto Lock1, Ewerton Brasil da Silva Queiroz2,
José Ramon Nunes Ferreira2
1
Universidade Federal da Paraíba- UFPB, 2Universidade Federal da Paraíba - UFPB
E-mail: francisco.brasil@abreuelima.ifpe.edu.br

RESUMO: Com a crescente demanda de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, tem-


se a necessidade cada vez maior de implementação de técnicas de controle capazes de
minimizarem os impactos da interligação entre os dois sistemas. O desafio dos sistemas
de controle é garantir a qualidade de energia mesmo em situações de perturbações
externas ou internamente ao sistema. Com isso os inversores devem estar preparados para
operarem durante afundamentos de tensão desequilibradas. Contudo, as técnicas de
controle convencionais não levam em consideração os desequilíbrios de tensão. Este
trabalho consiste de uma estratégia de controle para cargas desbalanceadas, baseado num
sistema constituído de um PLL trifásico, um controle de potência ativa e a técnica de
Controle de Um Ciclo – OCC. Tal estratégia tem como metodologia o controle da
potência ativa instantânea, a partir da resistência de entrada e a componente de sequência
positiva da corrente de carga. Utiliza-se o PLL trifásico para segurar a estabilidade da
frequência frente a transitórios da rede, e o modulador OCC modificado. O sistema de
controle foi verificado no estado estacionário e transitório, simulando a partida do
sistema, bem como a falha de uma fase. Como resultados principais, observou-se: 1) na
partida, a tensão e corrente na carga apresentaram uma transição suave, e se mantiveram
constantes antes; 2) durante o transitório, na falta de fase, a potência ativa sofre uma
variação ondulatória e a reativa invariável; 3) continuidade da corrente de carga durante
o transitório; 4) distorção de harmônica de corrente (TDH) relativamente baixa.
Palavras-chave: inversor, controle, OCC.

589
UNBALANCED LOADS CONTROLLER IN PHOTOVOLTAIC GENERATION
SYSTEM CONNECTED TO THE THREE-PHASE DISTRIBUTION
NETWORK

ABSTRACT: With the growing demand for photovoltaic systems connected to the grid,
there is an increasing need to implement control techniques capable of minimizing the
impacts of the interconnection between the two systems. The challenge of control systems
is to guarantee the quality of energy even in situations of external disturbances or
internally to the system. Therefore, the inverters must be prepared to operate during
unbalanced voltage. However, conventional control techniques do not take into account
voltage imbalances. This work consists of a control strategy for unbalanced loads, based
on a system consisting of a three-phase PLL, an active power control and the One Cycle
Control technique - OCC. Such strategy has as methodology the control of the
instantaneous active power, from the input resistance and the positive sequence
component of the load current. Three-phase PLL is used to insure frequency stability
against network transients, and modified OCC modulator. The control system was
verified in steady and transient state, simulating the system start, as well as the failure of
a phase. As main results, it was observed: 1) at the start, the voltage and current in the
load presented a smooth transition, and remained constant before; 2) during the transient,
in the phase failure, the active power undergoes a wave variation and the invariable
reactive one; 3) continuity of the load current during the transient; 4) relatively low
current harmonic distortion (TDH).
Keywords: inverter, control, OCC.

1. INTRODUÇÃO

O setor de energia sempre teve e terá fundamental papel no processo de mudança


para uma economia mundial menos dependente de combustíveis fósseis. O subsetor de
geração de energia elétrica possui potencial significativo para contribuir para essa
mudança, tendo em vista que atualmente no mundo aproximadamente 80% da geração de
energia elétrica é oriunda da queima de combustíveis fósseis e da fissão nuclear. Em
relação ao Brasil, as hidrelétrica sempre representaram a base da sua matriz energética,
mas nessas duas últimas décadas tem enfrentado restrições para a expansão de novos
empreendimentos, seja por impacto ambiental, bem como a redução dos potenciais
hídricos.
Neste cenário, as fontes de energias renováveis, tais como: solar, eólica, biomassa,
entre outras vem se transformando em alternativas para diminuir essa dependência de
combustíveis fósseis e crises hídricas, ao mesmo tempo suprir a crescente demanda de
energia. Além disso, essas novas fontes de energia tem a vantagem de serem instaladas
próximos aos centros de consumo, a chamada geração distribuída (GD), principalmente
em relação a fonte solar.
Sendo assim, a disponibilização de energia elétrica a partir do aproveitamento da
energia solar é uma realidade em diversos países e vem crescendo e se consolidando como
uma forma sustentável de obtenção de eletricidade.
O sistema de geração solar é basicamente constituído por painéis fotovoltaicos
(PV), controlador de carga e inversor, capaz de gerar energia em corrente contínua e
590
transformar em corrente alternada. Existem dois modelos (Figura 1) de instalação do
sistema: o isolado (sistema autônomo), ou conectado à rede existente de energia das
distribuidoras também chamado de sistema híbrido (VILLALVA, 2013). Nessa última
modalidade, tem a condição da energia excedente produzida ser injetada na rede de
energia da distribuidora, e por sistema de compensação de energia, ser consumida por um
prazo de 60 (sessenta) meses, segundo a Resolução Normativa nº 687 (ANEEL, 2015).

(a) (b)
Figura 1- Sistemas Fotovoltaicos. (a) Isolado. (b) Conectado à Rede.

Do ponto de vista de operacionalização, um sistema híbrido é bastante complexo,


devido ao fato de se ter a necessidade de realizar um controle capaz de integrar a energia
gerada pelos diversos tipos de fontes, e simultaneamente alimentar diversos tipos de
cargas, com características diferentes. E o fato da maioria dos sistemas atenderem
clientes residenciais, tem o fator complicador, pois suas cargas são constituídas
eminentemente monofásicas, contribuindo facilmente para o desbalanceamento de carga
no sistema. Existem algumas estratégias de controle, como a técnica baseada no Controle
Vetorial - VC (KAZMIERKOWSKI, 1998), Controle Direto de Potência –DPC (ZHI,
2009) mas nenhuma levam em consideração o desequilíbrio de tensão. Em (SHANG,
2009), foi apresentado um controle de corrente dupla, para corrente de seqüência positiva
e corrente de seqüência negativa, para a situação de desbalando de tensão na rede,
resultando em uma boa resposta estacionária, mas uma fraca dinâmica. Em (SANTOS-
MARTIN, 2008) a técnica de Controle de Um Ciclo – OCC foi usado para a rede
monofásica.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Em um sistema conectado à rede (Fig. 2a) a conexão dos painéis fotovoltaicos é


realizada convencionalmente por meio de um inversor PWM (Fig. 2b), chaveado com a
estratégia SVPWM (Space Vector Pulse Width Modulation). Uma das principais
desvantagem dessa técnica é fornecer harmônico para a rede no processo de chaveamento
dos dispositivos semicondutores (IGBTs) (LOCK, 2019). Entretanto, existem diversos
métodos de se controlar os conversores de energia no sistema fotovoltaicos conectados à
rede a depender do objetivo principal que se pretende atingir.

591
Figura 2 - Diagramas. (a) Sistema Conectado à Rede (b) Inversor.

O método proposto nesse trabalho é baseado no Controle de Um Ciclo – OCC,


que em condições de desequilíbrio de tensão, garante uma boa resposta tanto em regime
transitório como estacionário (LOCK, 2019). A estratégia de controle proposto é
apresentado na Figura 3, que consiste em um sistema integrado formado por um PLL
(Phase-Locked Loop) trifásico e um modulador OCC modificado, constituindo uma
espécie de simbiose, que em caso de desequilíbrio de fase, seja por uma falha de uma fase
da rede ou por desbalanço de carga, ambos garantem a mesma sincronização antes e
depois do desequilíbrio, e depois a mesma potência ativa.

Figura 3 - Sistema de Controle Proposto

O PLL trifásico fornece ao sistema uma base de tempo para gerar uma tensão
trifásica para alimentar a carga local ou para sincronizar essa tensão com a rede, mesmo
em caso de queda de fase (LOCK, 2010). O PLL consiste em um extrator de sequência
positiva (ESP) e um PLL digital. O ESP é importante quando a carga é desequilibrada e
a corrente de sequência negativa está presente para extrair as componentes de sequência
positiva, considerando que a corrente trifásica da carga é a soma das correntes de
sequência positiva e negativa (LOCK, 2010), tem-se:

592
𝐼𝐿+ 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅+ ) + 𝐼𝐿− 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅− )
𝐼𝐿𝑎 2𝜋 2𝜋
+ + − −
[ 𝐼𝐿𝑏 ] = 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡 + ∅ + 3 ) + 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡 + ∅ − 3 ) (1)
𝐼𝐿𝑐 + + 2𝜋 − − 2𝜋
[ 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡 + ∅ + 3 ) − 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅ + 3 ) ]
Onde:
ILa, ILb, ILc = Correntes de fase a, b e c da carga;
IL+, IL-= amplitude da corrente de sequência positiva e negativa;
Φ+,Φ-=ângulo de fase da corrente de sequência positiva e negativa.

Aplicando a transformada de Park direta e quadratura dq na equação (1), as


correntes de carga são dadas por:

𝐼 2 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝐼𝐿+ 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅+ ) + 𝐼𝐿− 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅− )


[ 𝐿𝑎 ] = √ [ ][ ]
𝐼𝐿𝑏 3 −𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝐼𝐿+ 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅+ ) − 𝐼𝐿− 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + ∅− )
(2)
Onde:
 = é o ângulo de transformação de Park;
Considerando em (2)  = wt, e fazendo as manipulações, resulta em:

+ + − −
𝐼 2 𝐼 𝑐𝑜𝑠∅ + 𝐼𝐿 𝑐𝑜𝑠∅
[ 𝐿𝑎 ] = √3 [ 𝐿+ − ] (3)
𝐼𝐿𝑏 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛∅+ − 𝐼𝐿 𝑠𝑒𝑛∅−
Adotando  =/4 – ϕ- e adicionando as componentes de carga d e q, obtém-se o
valor de pico:

√3
𝐼𝐿𝑑 + 𝐼𝐿𝑞 = 2 3 𝐼𝐿+ 𝑠𝑒𝑛(∅+ + ∅− ) (4)
Outra função do ESP é fornecer ao PLL digital um sinal de rastreamento, que
retoma a tensão trifásica da rede, ou apenas duas das fases, quando da perda de uma das
fases. Desta forma, componentes bifásicos da corrente de carga podem ser expressas
como:

𝐼𝐿𝛼 2 −1 1 𝐼𝐿𝑎
1
𝐼
[ 𝐿𝛽 ] = [0 2√3 −2√3] [𝐼𝐿𝑏 ] (5)
3
𝐼𝐿𝛾 1 1 1 𝐼𝐿𝑐
Onde:
ILα; ILβ = são as componentes de correntes ortogonais no plano αβ;
ILγ = componente homopolar;
ILa, ILb, ILc = Correntes de fase a, b e c da carga.

Considerando que os neutros da rede e do sistema fotovoltaico não estão


conectados, logo a soma das correntes trifásicas é nula:

𝐼𝐿𝑎 + 𝐼𝐿𝑏 + 𝐼𝐿𝑐 = 0 (6)

593
e combinando (5) com (6), e considerando ILγ=0, resulta em:

𝐼𝐿𝛼 3 0 0 𝐼𝐿𝑎
1
[ 𝐼𝐿𝛽 ] = 3 [0 √3 2√3] [𝐼𝐿𝑏 ] (7)
𝐼𝐿𝛾 0 0 0 𝐼𝐿𝑐
Se isolar ILβ em (7), obtém-se:

√3
𝐼𝐿𝛽 = (𝐼𝐿𝑏 + 2𝐼𝐿𝑐 ) (8)
3

Desta forma, se houver uma falha na fase “a” não haverá nenhum efeito para o
sistema, pois independe dessa corrente. E se a falha ocorrer na fase “b” as correntes
remanescentes “a” e “c” mantem a sincronização com a rede, conforme combinação de
(6) e (8):
√3
𝐼𝐿𝛽 = (−𝐼𝐿𝑎 + 𝐼𝐿𝑐 ) (9)
3

Assim como, se a corrente da fase “c” estiver ausente, as correntes “a” e “b”
mantêm a sincronização com a rede, combinando (6) e (9), resulta em:

√3
𝐼𝐿𝛽 = − (2𝐼𝐿𝑎 + 𝐼𝐿𝑏 ) (10)
3

Portanto, ILβ sempre retornará a tensão trifásica da rede em condições de falha de


uma das fases, ou em caso de desequilíbrio de uma das fases.
A saída é uma forma de onda de dente de serra de rampa, que funciona como
referência de ângulo para um bloco de transformação inversa de Park (TIP) do modulador
OCC modificado, para gerar formas de ondas sinusoidais de fase para inseri-las no
modulador OCC.
O modulador OCC modificado consiste de um modulador OCC clássico com
injeção de corrente de terceira harmônica para aumentar a linearidade da forma de onda
do modulador; um bloco de transformação inversa de Park (TIP) e um controlador de
potência ativo.
O bloco TIP cria a configuração de corrente de carga trifásica quando a carga q
corrente deste modulador, ILq1, é nula, enquanto o componente do eixo d ILd1 é
proporcional ao produto de IL atual positiva + pela saída do controlador Rin.
Consequentemente temos:

𝐼𝐿𝑞1 = 0
{ 𝐼𝐿+ 𝑅𝑖𝑛 (11)
𝐼𝐿𝑑1 =
𝑉0

Essa configuração é útil para alcançar o fator de potência unitário, devido a


influência do controlador Rin que proporciona o aumento da potência ativa, enquanto o
outro componente dc ILq1 é nulo para obter fator de potência unitário visto na rede. Nesse
caso, a configuração trifásica é dada por:

594
𝑖𝐿𝑎1 = 𝐼𝐿𝑑1 sin 𝑤𝑡
{𝑖𝐿𝑏1 = 𝐼𝐿𝑑1 sin(𝑤𝑡 − 120𝑜 ) (12)
𝑖𝐿𝑐1 = 𝐼𝐿𝑑1 sin(𝑤𝑡 + 120𝑜 )

O controlador de potência ativo é útil em caso de queda de uma fase, para manter
a mesma potência na carga, antes e depois da falha, ou em operação normal, para lidar
com o potência de carga. Do lado CA, Fig. 1 (a), a potência instantânea pode ser definida
como:

𝑃 𝑉𝐿∝ 𝑉𝐿𝛽 𝐼𝐿𝛼


[ ]=[ ][ ] (13)
𝑄 −𝑉𝐿𝛽 𝑉𝐿𝛼 𝐼𝐿𝛽
Onde:
P = Potência ativa;
Q= Potência reativa;
VLα; VLβ = são as componentes de tensões ortogonais no plano αβ;
ILα; ILβ = são as componentes de correntes ortogonais no plano αβ;
Além disso, a potência instantânea pode ser descrita como:

𝑃 = 𝑝̅ + 𝑝
{ (14)
𝑄 = 𝑞̅ + 𝑞
Onde:
P;Q = Potência ativa e reativa instantânea;
p; q = componentes potência ativa e reativa CA;
𝑝;
̅ 𝑞̅= componentes potência ativa e reativa DC;
Logo, o controlador de potência do lado DC é representado por:

𝑅𝑖𝑛 = 𝐾𝑃1 (̅̅̅


𝑝∗ − 𝑝̅ ) + 𝐾𝐼1 ∫(̅̅̅
𝑝∗ − 𝑝̅ )𝑑𝑡 (15)
Onde:
̅̅̅
𝑝∗ = Potência ativa de referência do lado DC;
KP1; KI1= constante do controle Proporcional e Integral (PI).

Como forma de validação do sistema de controle proposto, foi utilizado um


software específico de análise de transitórios eletromagnéticos em sistemas de potência,
capaz de simular diversas condições de operacionalização incluindo em regime
permanente quanto transitório. Esse trabalho focou na implementação do método de
controle em um sistema de geração de energia fotovoltaica conectada à rede representada
por um sistema de potência de até 1,0MW de capacidade, qualificada segundo a
regulamentação (ANEEL, 2015) como microgeração e minigeração distribuída.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema de controle proposto foi implementado e testado em condições de


operacionalização em regime estacionário e transitório. Os resultados apresentados a
seguir representam uma simulação do sistema conectado à rede entrando em operação em

595
T0=50,0ms, e em seguida a ocorrência de uma falta de fase “a” no tempo T 1=140ms até
o tempo T2=250ms.
A Figura 4 mostra as tensões e correntes na carga durante a partida, onde observa-
se uma transição suave, sem sobre-picos. Além disso, pode-se observar a continuidade
da tensão e a corrente da carga antes e depois da partida, seus valores são praticamente
os mesmos.

T0
Figura 4 - Transitório de partida do sistema em T0=50ms. Sup: Tensão de carga
(100V/div). Inf: Corrente de carga (5ª/div).

Já a figura 5 mostra o efeito da injeção de terceira harmônica na saída do


compensador, contribuindo com a continuidade da corrente de carga durante a falta de
fase.

Figura 5 - Modulação OCC e injeção do 3º harmônico. Portadora triangular e


saída trifásica do compensador. Vert.:0,5pu/div. Hor.20ms/div.

Na figura 6, mostra o comportamento das potências, tensão e corrente na carga,


durante o período de falha da fase “a”, e pode-se observar que a potência ativa sofre uma
pequena variação, enquanto que a reativa é praticamente constante devido ao efeito do
controlador de potência ativa. E outro fato importante é o da continuidade da corrente de
carga durante o transitório, mesmo diante do desbalanceamento de fase com a abertura
da fase “a”.

596
T1 T2
Figura 6 - Transitório de carga. A fase a é retirada em T1=140ms e recolocada
em T2=250ms. Sup.: Potência ativa instantânea p (1kW/div). Seg.: Potência reativa
instantânea q (500Var/div). Terc.: Corrente de carga (5ª/div). Inf.: Tensão de carga
(100V/div). Hor.: 20ms/div.

Quanto ao desempenho da frequência angular 0 do bloco PLL trifásico, bem


como a frequência das tensões de carga, a Figura 7 mostra, que durante a falta de fase não
se alteram.

T0 T1 T2
Figura 7 - Comportamento da frequência angular durante o transitório de carga.
Sup: Frequência angular de referência (*) e frequência angular do VCO (0) -
(0,873rad/div). Inf. Tensões de carga (100V/div). Hor.: 50ms/div.

E por último, tem-se o comportamento dos aspectos de distorção harmônica de


corrente (THD), que resultaram em valores significativamente baixos e dentro do
aceitável (THDa=2,37%; THDb=1,94% e THDc=1,60%).

597
4. CONCLUSÃO

O sistema de controle proposto tem como base a resistência de entrada para


controlar a potência ativa instantânea e a componente de sequência positiva da corrente
de carga. O PLL trifásico fornece a garantia de estabilidade da frequência durante regimes
transitórios da rede, que provoca algum desequilíbrio de tensão, e com ajuda de injeção
de terceira harmônicas de correntes no modulador OCC, obtém-se a linearidade das
formas de onda na saída do inversor.
Pelos resultados obtidos nas simulações, o sistema proposto tem sido bastante
eficiente, principalmente em relação a resposta estacionária antes e depois da perda de
uma das fases, e também em regime transitório durante essas perturbações.
Com os resultados alcançados, tem-se uma motivação maior para a
implementação da etapa experimental, e potencializa a possibilidade de aplicação do
método também em sistema de geração eólica que operam em conexão com a rede de
distribuição de energia.

REFERÊNCIAS

Aneel, Resolução Normativa nº 687, de 24 de novembro de 2015. Disponível em:


https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf. Acessado em: 02/02/20.

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Systems, IECMS’09, pp. 1–5, 2009.

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Trans. Power Electron, 24, (5), pp. 1280–1292, 2009.

598
DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO PARA
ALIMENTAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM UM PRÉDIO DA UFSCar-
SOROCABA

Thiago Teixeira Matheus1, Denise Tallarico 1, Ana Flávia Teixeira Matheus1


1
Universidade Federal de São Carlos
E-mail: thiagotmatheus@gmail.com

RESUMO: Das diferentes fontes de energia utilizadas pelo homem, àquelas advindas de
recursos não renováveis são extensivamente exploradas em todo o planeta, exigindo ações
que combatam a potencial escassez futura destes recursos, que se não geridos
adequadamente, deverão se tornar insuficientes para atender a demanda mundial,
podendo acarretar em conflitos e privações principalmente às pessoas de classes sociais
mais baixas. Sendo assim, tecnologias e fontes de energias renováveis aparecem como
alternativas dentro do setor energético, com destaque para a fonte solar. Diante disso, este
projeto consiste no dimensionamento e estudo avaliativo acerca da viabilidade técnica e
econômica da implementação de um sistema fotovoltaico capaz de suprir a demanda
energética de um determinado prédio do campus da UFSCar-Sorocaba. Para dimensionar
o sistema foram adotados dois métodos: utilização de planilhas e simulação feita no
software PVsyst. A análise econômica se deu pelo cálculo de índices como VPL, TIR e
Payback Descontado. Os resultados obtidos propõem um sistema composto por cerca de
128 painéis com aproximadamente 42 kW de potência instalada, ocupando cerca de 248
m² de área. Isto demanda um investimento inicial de aproximadamente 115 mil reais.
Uma vez que o sistema projetado atende à demanda energética do prédio, ocupando uma
área menor do que a disponibilizada para a instalação das placas, com um VPL positivo,
TIR acima da TMA e um payback estimado de 2,9 anos, prazo considerado aceitável para
a recuperação do investimento, a instalação do sistema se mostra técnica e
economicamente viável.
Palavras-chave: Energia Renovável, Painel Solar, Viabilidade.

599
DIMENSIONING A PHOTOVOLTAIC SYSTEM FOR ELETRIC POWER
SUPPLY IN A BUILDING AT UFSCAR-SOROCABA

ABSTRACT: From different energy sources used by human being, the non-renewables
are extensively explored all over the planet, requiring actions to avoid the potential future
scarcity from those resources, which, if not properly managed, might become insufficient
to attend the world demand and may lead to new conflicts and privations, especially for
people from lower social class. Thus, technologies and some renewable energy sources
seems as alternatives on energetic sector, highlighting the solar source. Facing that, this
project consists of dimensioning and evaluating technical and economic viability from
the implementing of the photovoltaic system designed to feed the electricity demand of a
building from UFSCar-Sorocaba campus. To scale the system, two methods were
adopted: use of spreadsheets and simulation using the PVsyst software. The economic
analysis was done by calculating indexes such as NPV, IRR and Discounted Payback.
The results obtained propose a system composed of about 128 panels with approximately
42 kW of installed power, occupying about 248 m² of area. This requires an initial
investment of approximately R$115.000,00. Once the projected system meets the energy
demand of the building, occupying an area smaller than that available for the installation
of the plates, with a positive NPV, IRR above the TMA and an estimated payback of 2.9
years, a period considered acceptable for recovery of investment, the installation of the
system proves to be technically and economically viable.
Keywords: Renewable Energy, Solar Panel, Viability.

1. INTRODUÇÃO

Em função do aumento populacional e dos avanços tecnológicos e sociais, a


demanda energética mundial tem crescido com o passar do tempo, o que deve se estender
para as próximas décadas (GEI, 2014). Este fenômeno é visto pela comunidade científica
como um dos principais fatores que impulsionam as mudanças climáticas e ambientais
observadas atualmente (FERREIRA et al, 2018).
Salvo o uso da hidroeletricidade, a energia elétrica no Brasil ainda depende
diretamente da exploração de combustíveis fósseis, como o carvão e gás natural, fazendo
com que as autoridades proponham políticas que incentivem a exploração de fontes
renováveis de energia, almejando uma transição energética (BRADSHAW e JANUZZI,
2019).
Este cenário combinado com a redução dos preços dos equipamentos que
compõem um kit fotovoltaico proporciona um drástico crescimento da quantidade de
sistemas instalados. Enquanto em 2012 a energia solar no Brasil apresentava 0,4 MW de
potência instalada (ABSOLAR, 2019), em fevereiro de 2019 o valor registrado foi de
566,5MW (ANEEL, 2019).
Ainda assim, antes de investir em um sistema fotovoltaico, além da análise técnica
deve-se fazer avaliar a viabilidade econômica desse investimento. Para tanto, Assaf Neto
& Lima (2009 apud KRUGER, 2018) destacam o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa
Interna de Retorno (TIR) e o Payback como os principais métodos usados para avaliação
de investimentos, que se faz mais conclusiva ao combinar estes três índices (HOJI, 2014).
Posto isto, o estudo visa estimular a sustentabilidade no campus da Universidade,
600
analisando a viabilidade técnica e econômica acerca da implementação de um sistema
fotovoltaico capaz de atender a demanda de um dos prédios de sala de aula do campus.
Por meio deste projeto, iniciativas futuras poderão ser estudadas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto foi basicamente dividido em três macro etapas: Levantamento de dados,


dimensionamento do sistema e análise econômica.
Primeiramente foram coletadas informações referentes ao local de aplicação do
estudo, como consumo energético e a quantidade e potência dos equipamentos
eletroeletrônicos dispostos em cada sala do prédio, suas coordenadas geográficas,
orientação, área disponível e inclinação do telhado.
A conta de eletricidade da Universidade se enquadra no modelo de tarifação verde
e vem de modo agregado, não apontando o consumo individual de cada instalação. Além
disso, o custo médio da eletricidade não é especificado na conta, que apresenta as tarifas
por kWh consumido no regime de Ponta (Cp) e Fora de Ponta (Cfp).
Desta forma, a fim de fixar um valor médio pago pelo kWh consumido a ser
utilizado para calcular o ganho econômico advindo do sistema, foi calculada a
porcentagem de energia demandada em 2018 sob cada um destes regimes, multiplicando-
se esta taxa pela sua respectiva tarifa cobrada por cada kWh consumido.
O consumo energético do prédio em questão foi estimado com base no tempo de
utilização de cada sala e dos equipamentos elétricos instalados, levantados por meio do
acesso ao Sistema de Agendamento de Salas (SAS) e do esquema elétrico do prédio.
Com base nos horários em que as salas estiveram reservadas em diferentes épocas
do ano, estimou-se o tempo de uso diário de cada uma que, multiplicado pela potência
dos equipamentos nelas dispostos, resultou no consumo energético diário médio do
prédio. A Equação 1 apresenta o racional adotado:

𝐷𝑒 = ∑ 𝑇𝑢𝑛 × 𝑄𝑥𝑛 × 𝑃𝑢𝑥𝑛 (1)

Onde:
De = Demanda Energética Média do Edifício (kWh/dia);
Tun = Tempo de Uso Diário Estimado da Sala “n” (h);
Qxn = Quantidade dos Equipamentos “x” Instalados na Sala “n”;
Puxn = Potência Unitária do Equipamento “x” Instalado na Sala “n” (W).

As coordenadas geográficas do edifício foram obtidas por meio do Google Earth,


o que permitiu levantar dados a respeito da irradiação solar incidente no local por meio
da utilização do sundata, disponibilizado no site da CRESESB. Para tanto, foram
escolhidos os dados de irradiação da estação solarimétrica mais próxima ao local, situada
à 3,2 km de distância do prédio.
As informações de irradiação solar podem ser interpretadas também como Horas
de Sol Pleno (HSP), que representa o tempo médio diário (em horas) em que a irradiância
atinge o valor de 1.000 W/m², utilizado nos testes padrões conhecidos como STC
(Standard Test Conditions), em que se testa e define-se a potência e outros aspectos
técnicos de um determinado painel solar.
601
Para definir a área do telhado disponível para instalação das placas, bem como sua
inclinação e orientação (pois o acesso ao telhado foi restringido por motivos de
segurança), foram consultados documentos fornecidos pela prefeitura do campus, como
a planta baixa do edifício e fotografias do telhado deste. Com base nos dados levantados,
o sistema fotovoltaico foi dimensionado por meio do uso de planilhas, assim como pela
utilização do software PVsyst.
Para a realização do dimensionamento via planilhas, primeiramente definiu-se a
inclinação e ângulo azimutal ideal das placas. Conforme proposto por Villalva e Gazoli
(2012), as placas devem estar com sua face voltada para o norte, o que representa o ângulo
azimutal de 0°. Os autores também propõem que o ângulo ideal de inclinação das placas
na região sudeste do país é dado pela latitude local acrescida de 5 graus.
Para estimar o Fator de Perdas do sistema, multiplicou-se as taxas de eficiência
do inversor, levantada por meio de consulta realizada em diferentes datasheets, pelas
perdas térmicas e perdas devido à poluição do ar, valores adotados com base em Cari e
Lemes (2019). Considerando os custos envolvidos e visando se adequar ao espaço físico
disponibilizado, optou-se por adotar painéis com 330 Wp de potência.
A Equação 2 ilustra como foi obtida a potência fotovoltaica corrigida, ao passo
que a Equação 3 foi utilizada para dimensionar o número de módulos do sistema. Com
base nestes índices, a Equação 4 define a potência fotovoltaica nominal do sistema e a
Equação 5, a energia anual gerada pelo sistema.
𝐷𝑒
𝑃𝐹𝑐 = × 𝐹𝑝 (2)
𝐻𝑆𝑃

𝑃𝐹𝑐
𝑄𝑚 = (3)
𝑃𝑚

𝑃𝑛 = 𝑄𝑚 × 𝑃𝑚 (4)

𝐸𝑔 = 𝑃𝑛 × 𝐹𝑝 × 𝐻𝑠𝑝 × 365 (5)


Onde:
PFc = Potência Fotovoltaica Corrigida (kW) Fp = Fator de Perdas (%)
De = Demanda Energética do Edifício (kWh/dia) Pn = Potência Nominal (kWp);
Pm = Potência individual dos módulos (kWp) Eg = Energia Gerada (kWh/Ano).
HSP = Horas Sol Pleno por dia - Média 2018 Qm = Qtde. de Módulos FV

Seguindo o que se propõe em CRESESB (2014), a potência nominal do inversor


utilizado deve estar entre 75% e 105% da potência pico gerada pelos painéis. Por fim, foi
calculada a área ocupada pelo sistema por meio da Equação 6:

𝐴 = 𝐿𝑚 × 𝐶𝑚 × 𝑄𝑚 (6)

Onde:
A = Área Ocupada Pelo Sistema (m²) Cm = Comprimento Módulo Fotovoltaico (m)
Lm = Largura Módulo Fotovoltaico (m) Qm = Quantidade Módulos Fotovoltaicos

602
Devido ao seu ângulo de inclinação, o módulo acaba ocupando um espaço menor
que seu comprimento. Ainda assim, o uso da área total do módulo na Equação 6, visa
compensar outros espaços que deverão ser ocupados pelos suportes dos módulos e outros
fatores não inclusos neste cálculo.
Para a modelagem feita no software PVsyst foram utilizadas informações do local
levantadas anteriormente, bem como o resultado da Equação 4. Por não deter a licença
do software, a simulação foi feita pelo modo demo, utilizando componentes genéricos
que adotam valores padrão para algumas das características que se distinguem conforme
as marcas e modelos existentes.
Após simulação dos resultados, foi desenvolvida no próprio software uma
representação gráfica do sistema disposto no telhado do edifício. Finalmente, os
resultados obtidos pelos dois métodos de dimensionamento adotados foram comparados
a fim de se estabelecer algum nível de coesão e assertividade dos mesmos.
Por fim, a Análise Econômica foi feita utilizando planilhas em Excel. Consultando
catálogos de preços, optou-se por adotar um kit completo em vez de componentes
separados devido à economia de escala observada. Para obter o investimento inicial total,
somaram-se os custos do transporte e instalação destes estimados em 10% do valor total
dos componentes. O horizonte de tempo considerado para a análise feita contempla quatro
anos a partir da data da realização do investimento.
Os índices médios dos próximos quatro anos projetados para a Inflação e Taxa
Selic, que representa a Taxa Mínima de Atratividade do projeto, foram levantados
baseando-se nas estimativas para o período apresentadas pelo Banco Central (2019).
Com os dados preliminares levantados, foi obtido o Fluxo de Caixa Operacional
(FCO) do primeiro ano por meio da Equação 7, que será apresentada adiante. Para os anos
subsequentes, multiplicou-se o FCO do ano anterior por 0,995 em função da perda anual
de 0,5% da eficiência dos painéis, apontada por CRESESB (2014). Não foram
considerados eventuais gastos com a manutenção do sistema.
Utilizando a Equação 8 calculou-se o Valor Presente, utilizado para obtenção do
VPL conforme Equação 9, além de outros dois índices que mensuram a viabilidade
econômica do investimento em questão: TIR e Payback Descontado, que por sua vez,
foram obtidos através da aplicação de funções disponibilizadas nas planilhas.

𝐹𝐶𝑂 = 𝐸𝑔 × 𝐶𝑀𝑒 × 𝐼𝑀𝑝 (7)

𝐹𝐶𝑂𝑛
𝑉𝑃𝑛 = [(1+𝑇𝑀𝐴)𝑛] (8)

𝑉𝑃𝐿 = ∑4𝑛=1 𝑉𝑃 − 𝐼𝐼 (9)

Onde:
FCO = Fluxo de Caixa Operacional (R$) n = Ano da Projeção (Entre 1 e 4)
CMe = Custo Médio da Energia (R$/kWh) VP = Valor Presente (R$)
IMp = Inflação Média Projetada (%) VPL = Valor Presente Líquido (R$)
TMA = Taxa Média de Atratividade (%) II = Investimento Inicial Realizado (R$)

603
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Figuras 1 e 2 apresentadas a seguir ilustram o local em que se propõe a


instalação do sistema.

Figura 1: Planta baixa do edifício.

Figura 2: Fotografia do local de instalação das placas

A partir da conta de energia do campus, calculou-se que 11,8% da energia


consumida é representada pelo Consumo de Ponta enquanto os outros 88,2% são Fora de
Ponta. Multiplicando esta taxa pelo valor cobrado por um kWh consumido em cada
regime, equivalente à R$ 1,42 e R$ 0,50, respectivamente, obteve-se o custo médio do
kWh consumido, utilizado n a Equação 7 para mensurar os ganhos financeiros.
A Tabela 1 apresenta diferentes informações técnicas e geográficas do local,
obtidas por meio de bibliografias e arquivos e dados levantados, além de apresentar o
resultado da Equação 1 e o custo médio do kWh. Estas informações foram extremamente
relevantes para a realização do dimensionamento do sistema.

604
Tabela 1 – Informações referentes ao local de estudo.
Dados do Local Valor
Latitude 23° 34’ 55’’ Sul
Longitude 47° 31’ 33’’ Oeste
Ângulo ideal de inclinação das placas 28°
Área total do telhado 661,8 m²
Área útil do telhado 582 m²
HSP Média 5,03 h/dia
Demanda energética média 168,6 kWh/dia
Fator de perdas do sistema 80%
Custo médio kWh consumido R$ 0,53/kWh
Fonte: Google Earth e arquivos do campus (2019).

Aplicando-se os dados da Tabela 1 nas Equações 2, 3 e 4, foram definidas as


potências fotovoltaicas corrigida e nominal, bem como a quantidade de painéis
necessários ao sistema, o que permitiu calcular a faixa de potência aceitável para o
inversor a ser adotado. Por meio da Equação 5 foi obtida a área aproximada ocupada pelo
sistema projetado. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos pelos dois meios utilizados
para dimensionar o sistema proposto.

Tabela 2 – Resultados do sistema dimensionado pelos dois métodos distintos.


Parâmetros do Sistema Planilha PVsyst
Potência unitária dos módulos (Wp) 330 330
Quantidade de módulos 128 126
Potência fotovoltaica corrigida (kW) 41,96 40,9
Potência nominal (kWp) 42,24 41,6
Energia gerada anualmente 61 MWh 54 MWh
Potência do inversor (kW) 29,6 – 50,7 36
Área total ocupada (m²) 248 245
Fonte: Elaboração Própria e PVsyst (2019).

É notável a semelhança dos sistemas projetados pelos dois métodos distintos. O


software propõe um modelo ligeiramente mais singelo, com 2 painéis e cerca de 600W a
menos de potência nominal que o sistema calculado via planilhas, resultando em cerca de
7MWh a menos gerados em um ano. Além disso, a área total do sistema proposto pelo
PVsyst equivale a 99% da área calculada pelas planilhas, o que indica coerência e
assertividade dos resultados obtidos por ambos os métodos.
Ainda que possa haver um ligeiro superdimensionamento feito via planilhas, o
excedente produzido poderia ser reaproveitado por outras instalações do campus.
Por fim, foi feita a simulação gráfica do sistema usando o próprio software. A sua
representação é mostrada na Figura 3:

605
Figura 3: Representação gráfica do telhado do prédio com os módulos instalados.

Dimensionados os parâmetros técnicos, a análise econômica foi feita por meio de


planilhas. Primeiramente, foi definido o investimento total requerido. As fontes de custo
e os resultados são apresentados na Tabela 3:

Tabela 3 – Investimento Inicial Total Requerido.


Valor
Fontes de Custo Quantidade Valor Final
Unitário
Módulo Solar 330 Wp R$ 499,00 128 R$ 63.872,00
Inversor 40 kW Trifásico R$ 16.450,00 1 R$ 16.450,00
Conjunto Conector MC4 R$ 20,00 21 R$ 420,00
Cabo Solar 6mm Vermelho R$ 4,80 128 R$ 854,40
Cabo Solar 6mm Preto R$ 4,80 128 R$ 854,40
Estrutura de Fixação R$ 85,00 128 R$ 10.880,00
Custo total equipamentos R$ 93.330,80
Instalação + Transporte dos Materiais R$ 9.333,08
INVESTIMENTO INICIAL TOTAL REQUIRIDO R$ 102.663,88
Fonte: Elaboração Própria e Tabela de Preços Balfar Solar (2019).
As TMA e IMp médias para o período são de 5,9% e 3,6% ao ano,
respectivamente. Aplicando-se na Equação 7 as informações levantadas, foi obtido o FCO
do primeiro ano. Com isso, a partir das equações 8 e 9 foram obtidos VP e VPL. Por fim,
utilizando as funções disponibilizadas nas planilhas, calculou-se a TIR assim como o
Payback Descontado. Estes dados estão expostos na Tabela 4:

Tabela 4 – Indicadores Levantados Para Análise Econômica


Ano 0 1 2 3 4
-R$ R$ R$
FCO R$ 38.581,45 R$ 42.259,76
102.663,88 39.770,53 40.996,26
R$ R$ R$
VP - R$ 36.431,96
35.462,51 34.518,85 33.600,30
-R$ - R$ -R$ R$
Payback R$ 3.749,44
102.663,88 66.231,92 30.769,41 37.349,75
VPL = R$ 39.349,75
TIR = 20,6 %
Payback Descontado = 2 Anos e 11 Meses
Fonte: Autoria Própria (2020).

606
Uma vez que os índices de desempenho econômico tiveram todos resultados
favoráveis, com o VPL acima de zero, a TIR acima da TMA e o Payback Descontado
dentro de um prazo inferior aos 4 anos previstos, a aplicação do projeto se mostra viável
também pelo aspecto econômico. Optou-se por utilizar os parâmetros calculados via
planilha, tendo em vista o maior retorno econômico obtido em razão da quantidade
excedente de energia gerada.

4. CONCLUSÃO

A partir do dimensionamento realizado pelos dois métodos distintos, o sistema se


mostrou aplicável, sendo capaz de suprir a demanda energética do prédio analisado,
ocupando uma área inferior àquela disponível no telhado em que se propõe instalar o
sistema. Ainda que ligeiramente distintos, os resultados obtidos por ambos os métodos
convergem para um sistema com aproximadamente 42 kW de potência, indicando uma
coesão entre estes, que se enquadram nas limitações técnicas impostas pelo local.
O projeto desenvolvido também se mostra economicamente viável, uma vez que
os três índices de desempenho econômico calculados tiveram resultados satisfatórios. É
importante ressaltar que os ganhos financeiros calculados não representam valores
monetários a serem recebidos, indicando valores que não serão despendidos por meio da
instalação do sistema, devido à energia injetada na rede.

REFERÊNCIAS

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Regulação dos Serviços de Distribuição – SRD. Geração Distribuída: regulamentação atual e
processo de revisão. Brasília. 7 de fevereiro de 2019.

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sistema de distribuição de energia elétrica. Brasília, 2012.

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Brasil. 2019, Brasília – DF. ABSOLAR. Geração Distribuída Solar Fotovoltaica: Status,
Oportunidades e Desafios, 2019. 39p.

Villalva, M. G.; Gazolli J. R. Energia Solar Fotovoltaica: Conceitos e Aplicações. Sistemas


isolados e conectados à rede. 2ª Ed. São Paulo: Érica, 2012. 228p.

608
ELECTROMAGNETIC SOLAR RADIATION CONVERSION USING
RECTIFYING ANTENNAS RECTENNA: A CRITERION FOR TYPOLOGY
OPTIMIZATION OF BOW-TIE, DIPOLE, SPIRAL, LOG-PERIODIC AND
MEANDER

Nelmo Cyriaco da Silva1, L. C. Kretly1


1
School of Electrical and Computer Engineering, University of Campinas, Unicamp,
State of São Paulo , Brazil
E-mail: nelmocs@gmail.com

ABSTRACT: This paper presents the establishment of a simple criterion for the
nanoantenna design. The motivation for this research is to propose a design guideline to
planar nanoantennas that could be applied to Rectenna devices. Due to the efficiency
limits of solar cells, other solar energy converting technologies are becoming increasingly
attractive. One of this promising device is the Rectifier-Antenna or Rectenna. It consists
of a nanoantenna, it must operate in the Infra-Red spectra of solar radiation, with an
embedded rectifier and filter. In this work, four types of nanoantennas are simulated:
dipole, bowtie, spiral, log-periodic and Meander. Attempting to circumvent the lack of
criterion for planar nanoantennas for application in Rectenna systems, the criterion here
established is to maintain the total dimensions equal for all types of nanoantennas as
stated by Wheeler. The gain established by Harrington is compared to the simulated ones.
The results dictate that it is a reasonable criterion to obtain, at first order, the best
nanoantenna candidates.
Keywords: Bowtie, dipole, log-periodic, nanoantennas, rectenna, spiral, meander.

1. INTRODUCTION

The main objective of this research work is to establish criterion for comparison
purposes among different topologies of nanoantennas intended to be applied in Rectenna
a solar energy absorbing device.
According to Sabaawi; Tsimenidis; Brayan (2013), an alternative solar energy
converter concept is the Rectenna device, which has achieved very high efficiencies at
microwave frequencies, while at terahertz frequencies, it has been speculated that
efficiencies exceeding the Shockley–Queisser limit are achievable (GARRET; SACHIT,
2013). Rectenna is a receiver for wireless power transmission, is now increasingly
researched as a means of harvesting solar radiation, Figure 1. Tapping into the growing
photovoltaic market, the attraction of the Rectenna concept is the potential for devices
that, in theory, are not limited in efficiency by the Shockley–Queisser limit (33,7%).

609
Figure 30 - Schematic model of a solar Rectenna

According to Abdallah (2015) for this research the first step is to use the Wheeler
(1947) relation is often expressed as:
ka < 1 (1)
k is equal 2π/λ (radians/meter);
λ is the free space wavelength (meters);
a the radius of a sphere enclosing the maximum dimension of the antenna (meters).

The situation described by Wheeler is illustrated in Figure 2. The electrically small


antenna is in free space and may be enclosed in a sphere of radius a. ka < 1. Figure 2.
The gain proposed by Harrington (1960) and Bancroft (2002) is given by:

G = (ka)2 + 2(ka) (2)

The criteria here adopted is to establish the Criterion Gain as Gc = 2 or


equivalently to 3 dBi. Therefore, the calculated ka is equal to 0.732. The antennas were
simulated approximately at frequencies around 250 – 550 THz or equivalently to 545 -
1200 nm located in the IR-A range of the solar spectrum.
So, a is kept constant for all antennas and is given by:

a = λ/8.583 (3)

Where the λ is calculated for the central frequency of the above mentioned range.
The classical candidates for Rectenna are: dipole, bowtie, spiral and log-periodic,
Meander (GONZÁLEZ AND BOREMAN, 2005)
For comparison purposes, the antennas are simulated with maximum dimension
equal to λ/8.583. The various Rectenna formats are shown in Figure 3.

610
Figure 31 - The Wheeler’s sphere radius “a”

Figure 32 - Four antenna configuration: dipole, bowtie, spiral, log-periodic and


Meander.

2. RESULTS

The radiation pattern of the various antennas are shown in Figure 4 to 7, and the
tuning characteristics, f0, BW is depicted in Figure 8.
The antennas were previously optimized in gain for simulations but keeping the
constraint of radius equal “a”.
All the antennas have 10nm metal thickness.

611
Figure 33 - Radiation Pattern for the Dipole nanoantenna

Figure 34 - Radiation Pattern of the Log-Periodic nanoantenna

Figure 35 - Radiation Pattern of the Bowtie nanoantenna

612
Figure 36 - Radiation Pattern of the Spiral nanoantenna. Source: Bancroft (2002)

Figure 37 - Radiation Pattern of the Meander nanoantenna

The simulated parameters such as f0 , BW and Gc are summarized in the Table 1:

Table 1 - Comparison performance among different nanoantenna types


fo central
Nanoantenna BW Gain (dB) Gain criterion Gain ratio:
frequency
type (THz) simulated Gs @fo Gc dBi Gs-Gc
(THz)
Dipole 553 83.8 (15.1%) 2.1 3.0 -0.9
Bowtie 444 79.5 (17.9%) 2.0 3.0 -1.0
Spiral 520 95.1 (18.3%) 2.88 3.0 -0.12
Log- Periodic 381 47.0 (12.3%) 2.22 3.0 -0.78
Meander 423 57.0 (13.5 %) 1.96 3.0 -1.04
Criterion: Gc=(ka)2 +2ka=2.0 or 3 dBi (or ka=0.732) see text

613
Figure 38 - The simulated return loss response for the nanoantennas.

Practically all the antennas were tuned the around the near infra-red band (0.7 -
1.0um), As can be noted in fig. 4 to 8 all the simulated nanoantennas has no substrate or
ground planes.

3. DISCUSSION AND CONCLUSION

This strategy to obtain a comparison criterion among different shapes of


nanoantennas is a helpful tool for the designer, which is pursuing the best shape for
Rectenna configuration. The Table 1 above shows clearly that the basic gain defined by
equation (2) is a kind of landmark for the antenna's gain. The conclusion is that, under
this criterion, the best Gain X BW product is associated to the antenna Spiral format. This
is a trade-off between Gain and bandwidth.
Besides that, this criterion also allows to designer to identify different tuning
frequency because the “ka” is fixed and not the central frequency. Another possible
comparison criterion, which remains to further studies, could be: to maintain central
frequency fixed and the antenna dimensions are adapted to this criterion.
More work is being done to verify physical validation.

ACKNOWLEDGEMENT

This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001 to N.Cyriaco da Silva.

REFERENCES

Sabaawi, A. M.; Tsimenidis, C. C.; Brayan, S. Analysis and modeling of infrared solar
rectennas. IEEE Journal of Selected Topics in Quantum Electronics, vol. 19.3, 2013.

Garret, M.; Sachit, G. Rectenna solar cells, New York: Springer, 2013 Sep 16.

614
Wheeler, H. A. Fundamental limitations of small antennas. Proceedings of the IRE 35.12, pp.
1479-1484., 1947.

Abdallah, M. N. Electrically small antennas design challenges. IEEE International Symposium


on Antennas and Propagation & USNC/URSI National Radio Science Meeting, 2015.

Harrington, R. F. Effect of Antenna Size on Gain, Bandwidth, and efficiency. Journal of


Research of the National Bureau of Standards, vol. Vol. 64D, no. A theoretical analysis is made
of the effect of antenna size on parameters such as gain, January- February 1960.

Bancroft, R. Fundamental Dimension Limits of Antennas. Centurion Wireless Technologies, pp.


1-14, 2002.

González, F. J.; Boreman, G. D. Comparison of dipole, bowtie, spiral and log-periodic IR


antennas. Infrared Physics & Technology, vol.46. n.5, pp. 418-428, 2005.

615
ESTUDO DA PERFORMANCE DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO
CONECTADO À REDE ELÉTRICA

Thales Prini Franchi1, Thiago Prini Franchi1, Joel Rocha Pinto1, Heverton Bacca
Sanches1, Alessandro Bogila1, Denis Borg1
1
Centro Universitário Facens
E-mail: thales.prini@facens.br

RESUMO: O presente artigo visa apresentar um estudo comparativo da geração de


energia elétrica produzida pelos painéis fotovoltaicos conectados ao inversor fotovoltaico
de 12,5 kW que está instalado na microusina fotovoltaica no campus do Centro
Universitário Facens. Este estudo envolve uma descrição detalhada da análise de
desempenho do sistema e uma avaliação matemática através do cálculo de índices, como:
produtividade e rendimento global da instalação. A microusina fotovoltaica citada é
conectada à rede elétrica da concessionária local e possui a potência instalada (soma das
potências nominais dos inversores fotovoltaicos) de 64 kW distribuídos em 4 inversores
fotovoltaicos, sendo um inversor de 20 kW, um inversor de 17,5 kW, um inversor de 15
kW e por fim um inversor de 12,5 kW. A instalação fotovoltaica do Centro Universitário
Facens é dividida em dois subsistemas, sendo um subsistema fixo composto por 210
módulos fotovoltaicos de 245 Wp e o outro subsistema rastreador solar com 42 módulos
fotovoltaicos de mesma potência. Para a realização do presente estudo foi escolhido o
inversor do subsistema rastreador solar, no qual possui instalado uma string de 21
módulos fotovoltaicos conectados em série de 245 Wp (potência de cada módulo
fotovoltaico) em cada entrada do inversor (2 entradas com rastreio do ponto de máxima
potência), denominando dessa forma que a potência de pico do conjunto dos módulos
desse subsistema é de 10,29 kWp. O estudo realizado é compreendido por um período de
3 anos com início em 1 de janeiro de 2017 e término em 31 de dezembro de 2019. Através
do levantamento da localidade da instalação, de informações de radiação solar mensal e
de dados de geração de energia elétrica oriunda do inversor fotovoltaico foi possível
calcular a estimativa de geração de energia elétrica, os índices de produtividade e de
rendimento global mensal e anual para cada etapa do subsistema. Onde foi possível
verificar que o índice de produtividade média anual do sistema rastreador solar ficou
acima de 122 kWh/kWp e o rendimento global médio anual acima 87 %, demonstrando
dessa forma que o sistema está funcionando de acordo com o previsto e gerando economia
à instituição.
Palavras-chave: inversor fotovoltaico, energia solar, sistema On-Grid.

616
PERFORMANCE STUDY OF A PHOTOVOLTAIC ON-GRID SYSTEM

ABSTRACT: The present paper claims to present a comparative study of the electric
energy produced by the photovoltaic panels connected to a 12,5 kW photovoltaic inverter
which is installed at the photovoltaic micro plant at Facens University Center Campus.
This study involves a detailed description of the performance analysis of the system and
the mathematical evaluation through the performance index calculus, global performance,
and capacity factor of the installation. The micro plant cited is connected to the local
energy provider and has an installed power of 64 kW distributed on 4 photovoltaic
inverters. To realize this study, it was chosen the 12,5 kW inverter, which consists of a
tracker system, which has a peak power module group of 10.29 kW. The realized study
explores the data of a 3 years range that started on January 1st, 2017, ending on December
31th, 2019. Through the location survey of the installation, the radiation data, and the
electrical energy production data from the photovoltaic inverter it is possible to estimate
the electrical energy production, the productivity index, and the monthly and annual
global performance for each step of the subsystem. This paper verified that the index of
average annual productivity of the tracker system is over 126 kWh/kWp and the average
annual performance is over 90%, therefore exhibiting that the system is working
in accordance with the provisions and providing saving for the institution.
Keywords: Photovoltaic inverter, solar energy, on-grid system, electric network.

1. INTRODUÇÃO

As instalações de sistemas fotovoltaicos conectadas à rede elétrica da


concessionária de energia local aumentaram significativamente nos últimos anos, entre
os motivos pode-se citar: oferta de financiamento de bancos, diminuição dos preços dos
componentes fotovoltaicos e aumento do preço da energia elétrica cobrada pelo governo
(PORTAL SOLAR, 2019).
No entanto, ocorre a necessidade de verificar se as instalações fotovoltaicas estão
produzindo de forma significativa a energia estimada no projeto e alguns parâmetros
utilizados para essa análise são o índice de produtividade, o rendimento global e o fator
de capacidade do sistema fotovoltaico (REIS, 2018).
O índice de produtividade relaciona a energia produzida pelo sistema fotovoltaico
e a potência instalada, conforme (1) (NARIMATU, CRIBARI, GUIMARÃES, 2018).
𝐸𝑔
𝑌𝐹 = (1)
𝑃𝑖

Onde:
YF = Índice de produtividade (kWh/kWp);
Eg = Energia gerada pelo sistema fotovoltaico (kWh);
Pi = Potência instalada do sistema fotovoltaico (kWp).

Já o rendimento global do sistema fotovoltaico é um fator utilizado para


determinar o valor da energia elétrica gerada pela energia solar no plano do sistema
fotovoltaico, conforme pode ser visualizado em (2) (BENEDITO, 2009).
617
𝐸𝑔
𝑃𝑅 = 𝑥100 (2)
𝐸𝑒

Onde:
PR = Rendimento global (%);
Eg = Energia gerada pelo sistema fotovoltaico (kWh);
Ee = Energia Estimada (kWh).

A estimativa de geração de energia elétrica de um sistema fotovoltaico depende


da quantidade, rendimento, potência e dimensões dos módulos fotovoltaicos e também da
taxa de radiação solar do local da instalação e do número de dias referente ao mês de
análise, conforme pode ser visualizado em (3) (VILLALVA, GAZOLI, 2012).

𝐸𝑒 = 𝑅. 𝐴. 𝑁. 𝜂𝑚 . 𝜂𝑖 . 𝑛𝑑𝑖𝑎𝑠 (3)

Onde:
Ee = Energia estimada (kWh);
R = Índice de radiação solar (kWh/m².dia);
A = Área dos módulos fotovoltaicos (m²);
N = Número de módulos fotovoltaicos;
𝜂𝑚 = Eficiência dos módulos fotovoltaicos;
𝜂𝑖 = Rendimento do inversor fotovoltaico;
𝑛𝑑𝑖𝑎 = Número de dias referente ao mês em análise.

Já o fator de capacidade é um parâmetro não muito utilizado em sistemas


fotovoltaicos, pois seu cálculo leva em consideração o tempo integral de funcionamento
da usina. Este parâmetro indica o percentual de tempo que a usina operou à plena carga e
pode ser definida em (4) (GUILHERME, 2020).
𝐸𝑔
𝐹𝑐 = 𝑃 (4)
𝑖𝑛𝑠𝑡 .∆𝑡
Onde:
Fc: Fator de capacidade;
Eg: Energia gerada pela unidade geradora (kWh);
𝑃𝑖𝑛𝑠𝑡 : Potência instalada da unidade geradora (kW);
∆𝑡: Intervalo de tempo do funcionamento da usina geradora no período de análise
(h).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A micro usina fotovoltaica do Centro Universitário Facens é conectada à rede


elétrica da concessionária local e possui a potência instalada (soma das potências
nominais dos inversores fotovoltaicos) de 64 kW distribuídos em 4 inversores
fotovoltaicos, sendo um inversor de 20kW, um inversor de 17,5 kW, um inversor de 15
kW e por fim um inversor de 12,5 kW. A vista aérea da instalação da micro usina pode
618
ser visualizada pela Figura 1, onde no telhado do prédio está instalado o sistema fixo que
compreende 210 módulos fotovoltaicos de 245 Wp, no que totaliza a potência pico do
sistema de 51,45 kWp e na parte inferior da figura ilustra o sistema rastreador solar que
possui 42 módulos de mesma potência do sistema fixo, sendo assim possui potência
instalada de pico de 10,29 kWp

.
Figura 1 – Micro usina fotovoltaica do Centro Universitário Facens.

Para a realização deste trabalho elaborou-se um estudo sobre o sistema rastreador


solar que é compreendido pelo inversor fotovoltaico de 12,5 kW, onde foi possível
realizar o levantamento de dados de geração de energia elétrica e determinar parâmetros
como a estimativa de geração de energia elétrica, índice de produtividade, rendimento
global e fator de capacidade do sistema. A Figura 2 ilustra a instalação do sistema
rastreador solar.

619
Figura 2 – Sistema rastreador fotovoltaico.

Na Figura 3, verifica-se a distribuição dos módulos fotovoltaicos no inversor


fotovoltaico em estudo.

Figura 3 – Disposição dos módulos fotovoltaicos no inversor fotovoltaico.

Para calcular o índice de produtividade e o rendimento global da instalação é


necessário determinar a radiação solar do local da instalação, onde através dos dados da
posição geográfica do Centro Universitário Facens e com auxílio do site do CRESESB
encontrou-se a radiação do local, estes dados estão dispostos na Tabela 1. Como o sistema
é seguidor do Sol utilizou-se os dados de radiação solar com 0° de inclinação.
620
Tabela 1 – Índice de radiação do local da instalação.
Mês Radiação Solar (kWh/m².dia)
Jan 5,53
Fev 5,73
Mar 4,97
Abr 4,43
Mai 3,62
Jun 3,36
Jul 3,46
Ago 4,44
Set 4,63
Out 5,21
Nov 5,61
Dez 6,11

Através da radiação solar disposta na Tabela 1 e com as dimensões dos módulos


fotovoltaicos pode-se determinar a estimativa de geração de energia elétrica mensal e
anual com base em (3). A Tabela 2 ilustra a estimativa de geração de energia elétrica do
sistema fotovoltaico proposto.

Tabela 2 – Estimativa de geração de energia elétrica da instalação.


Mês Geração de Energia Elétrica (kWh)
Jan 1728,91
Fev 1618,07
Mar 1553,83
Abr 1340,33
Mai 1131,76
Jun 1016,59
Jul 1081,74
Ago 1388,13
Set 1400,84
Out 1628,87
Nov 1697,34
Dez 1910,24
Total 17496,66

Através dos dados representados na Tabela 2 e com as informações coletadas do


inversor foi possível realizar uma comparação da geração de energia elétrica referente aos
anos de 2017, 2018 e 2019, conforme pode ser visualizado pela Tabela 3.

621
Tabela 3 – Dados de comparação anual de geração de energia elétrica do
sistema fotovoltaico.
Mês 2017 2018 2019
(kWh) (kWh) (kWh) 2017 (%) 2018 (%) 2019 (%)
Jan 1301,27 1421,06 1666,77 75,27 82,19 96,41
Fev 1524,46 1386,35 1191,81 94,21 85,68 73,66
Mar 1445,69 1400,92 1079,34 93,04 90,16 69,46
Abr 1012,37 1276,56 1088,01 75,53 95,24 81,17
Mai 1039,2 1240,96 976,6 91,82 109,65 86,29
Jun 999,31 902,6 1010,72 98,30 88,79 99,42
Jul 1267,75 1218,58 1173,67 117,20 112,65 108,50
Ago 1195,23 1184,33 1309,47 86,10 85,32 94,33
Set 1646,28 1250,77 1207,86 117,52 89,29 86,22
Out 1333,63 1170,66 1611,23 81,87 71,87 98,92
Nov 1612,11 1469,03 1385,4 94,98 86,55 81,62
Dez 1478,04 1858,7 1370,42 77,37 97,30 71,74
Total 15855,34 15780,52 15071,3 90,62 90,19 86,14
Média 91,83 91,14 87,22

Com os dados coletados de energia elétrica e da potência do arranjo dos módulos


fotovoltaicos instalados no inversor fotovoltaico calculou-se através de (1) o índice de
produtividade do sistema fotovoltaico referente aos anos de 2017, 2018 e 2019, conforme
pode ser visualizado pela Tabela 4.

Tabela 4 – Geração de energia elétrica e índice de produtividade referente aos


anos de 2017, 2018 e 2019.
Mês 2017 2018 2019 YF 2017 YF 2018 YF 2019
(kWh) (kWh) (kWh) (kWh/kWp) (kWh/kWp) (kWh/kWp)
Jan 1301,27 1421,06 1666,77 126,46 138,10 161,98
Fev 1524,46 1386,35 1191,81 148,15 134,73 115,82
Mar 1445,69 1400,92 1079,34 140,49 136,14 104,89
Abr 1012,37 1276,56 1088,01 98,38 124,06 105,73
Mai 1039,2 1240,96 976,6 100,99 120,60 94,91
Jun 999,31 902,6 1010,72 97,11 87,72 98,22
Jul 1267,75 1218,58 1173,67 123,20 118,42 114,06
Ago 1195,23 1184,33 1309,47 116,15 115,10 127,26
Set 1646,28 1250,77 1207,86 159,99 121,55 117,38
Out 1333,63 1170,66 1611,23 129,60 113,77 156,58
Nov 1612,11 1469,03 1385,4 156,67 142,76 134,64
Dez 1478,04 1858,7 1370,42 143,64 180,63 133,18
Média 128,40 127,80 122,05

622
Com os dados de geração da energia elétrica do sistema fotovoltaico (Tabela 3) e
da estimativa da geração da energia (Tabela 2) determinou-se, conforme (2) o rendimento
global do sistema rastreador solar, como se pode visualizar pela Tabela 5.

Tabela 5 – Rendimento global referente aos anos de 2017, 2018 e 2019.


Mês PR 2017 (%) PR 2018 (%) PR 2019 (%)
Jan 75,27 82,19 96,41
Fev 94,21 85,68 73,66
Mar 93,04 90,16 69,46
Abr 75,53 95,24 81,17
Mai 91,82 109,65 86,29
Jun 98,30 88,79 99,42
Jul 117,20 112,65 108,50
Ago 86,10 85,32 94,33
Set 117,52 89,29 86,22
Out 81,87 71,87 98,92
Nov 94,98 86,55 81,62
Dez 77,37 97,30 71,74
Total 90,62 90,19 86,14
Média 91,94 91,22 87,31

Com os dados de geração de energia elétrica do inversor fotovoltaico juntamente


com a potência instalada pode-se utilizar a equação (4) e calcular o fator de capacidade
mensal e anual referente aos 3 anos de operação da micro usina fotovoltaica, conforme
pode ser vista na Tabela 6.

Tabela 6 – Tabela de fator de capacidade mensal e anual referente aos anos de


2017, 2018 e 2019.
Mês FC 2017 (%) FC 2018 (%) FC 2019 (%)
Jan 17,00 18,56 21,77
Fev 22,05 20,05 17,24
Mar 18,88 18,30 14,10
Abr 13,66 17,23 14,69
Mai 13,57 16,21 12,76
Jun 13,49 12,18 13,64
Jul 16,56 15,92 15,33
Ago 15,61 15,47 17,10
Set 22,22 16,88 16,30
Out 17,42 15,29 21,05
Nov 21,76 19,83 18,70
Dez 19,31 24,28 17,90
Total 17,59 17,51 16,72

623
Elaborou-se a média aritmética referente aos três anos de funcionamento do
sistema fotovoltaico rastreador solar da porcentagem de geração da energia elétrica, do
índice de produtividade, do rendimento global e do fator de capacidade da instalação
obtendo-se os dados representados pela Tabela 7.

Tabela 7 – Média do índice de produtividade, do rendimento global e do fator


de capacidade referente aos anos de 2017, 2018 e 2019.
Geração (%) YF (kWh/kWp) PR (%) FC (%)
90,07 126,9 90,16 17,29

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observando a Tabela 3 pode-se observar que o mês de julho o sistema fotovoltaico


obteve a produção de energia elétrica maior do que o estimado, isso pode ser devido ao
nível de radiação solar presente neste mês ser maior que a base de dados utilizados para
realizar o cálculo de estimativa de geração.
A Tabela 7 representa um resumo do estudo deste artigo referente aos 3 anos de
funcionamento do sistema fotovoltaico e pode-se observar que através dela que a
porcentagem de geração de energia elétrica ficou entorno de 90%, o índice de
produtividade ficou acima de 126 kWh/kWp, o rendimento global apresentou valor de
90,16% e o fator de capacidade apresentou índice entorno de 17%, ou seja, com esses
números o sistema fotovoltaico apresentou o resultado bastante satisfatório de
performance.

4. CONCLUSÃO

Através de dados de geração de energia elétrica do inversor fotovoltaico de 12,5


kW e com a determinação do índice de produtividade, do rendimento global e do fator de
capacidade do sistema fotovoltaico apresentado, pode-se observar que entre os meses de
janeiro a abril e entre novembro a dezembro o sistema fotovoltaico apresentou maior
produção de energia elétrica, no entanto no mês de julho compreende a exceção com uma
porcentagem de geração de energia elétrica acima do estimado nos três anos de análise,
onde em 2017 verificou-se 117,20%, em 2018 apresentou 112,65% e em 2019 apresentou
108,50%.
Quando se muda o foco de análise para o índice de produtividade verifica-se que
a média dos três anos apresenta o valor de 126,9 kWh/kWp, ou seja, apresenta geração
de energia elétrica 126,9 Wh para cada Wp instalado, quanto ao quesito de rendimento
global o sistema também apresenta na média dos três anos 90,16% de rendimento, em
outras palavras, teve o valor consideravelmente adequado. O fator de carga do sistema
fotovoltaico apresenta na média dos três anos o valor de 17,29%, este índice ressalta um
valor adequado devido ao tempo de operação diária do sistema. Destaca-se também neste
trabalho que o estudo dos dados do sistema fotovoltaico foi feita para 3 anos de
funcionamento e que os valores apresentados podem sofrer alterações para análise do
sistema com tempo maior de funcionamento, pois os módulos e os inversores

624
fotovoltaicos sofrem depreciações em seus rendimentos conforme preconizados pelos
seus fabricantes.
Em suma, a instalação fotovoltaica do rastreador solar do Centro Universitário
Facens está funcionando conforme o esperado.

REFERÊNCIAS

REIS, P. Os 5 indicadores de desempenho dos sistemas solares fotovoltaicos. 2018. Disponível


em: https://www.portal-energia.com/indicadores-desempenho-sistemas-solares-fotovoltaicos/.
Acessado em 25/02/2020.

Portal Solar. Cresce procura por energia solar fotovoltaica no Brasil. 2019. Disponível em:
https://www.portalsolar.com.br/blog-solar/energia-solar/cresce-procura-por-energia-solar-
fotovoltaica-no-brasil.html. Acessado em: 24/02/2020.

NARIMATU, B. R. S.; CRIBARI, F. A.; GUIMARÃES, W. T. Avaliação de desempenho de


um sistema fotovoltaico comercial de 14,56 kWp no município de Serra. VII Congresso de
Energia Solar - Gramado, 2018.

BENEDITO, R. S. Caracterização da geração distribuída de eletricidade por meio de sistemas


fotovoltaicos conectados à rede, no Brasil, sob os aspectos técnico, econômico e regulatório.
2009. 110. (Dissertação de mestrado), Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 2009.

VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica – Conceitos e Aplicações. 1.ed.


São Paulo: Érica, 2012.

GUILHERME, A. Fator de capacidade. Disponível em:


http://www.antonioguilherme.web.br.com/Arquivos/f_carga.php. Acessado em: 25/02/2020.

625
ESTUDO DE MÉTODOS DE RASTREAMENTO DE PONTO DE MÁXIMA
POTÊNCIA EM MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Kleber Carneiro de Oliveira1, Alanna Rosa Lisboa Bezerra de Araujo 2, João Marcelo
Dias Ferreira2
1
Universidade Federal da Paraíba, 2UFPB
Email: kleber.oliveira@cear.ufpb.br

RESUMO: Os painéis fotovoltaicos apresentam características tensão versus corrente


não linear, e que variam de acordo com o a irradiação e temperatura. Desse modo, torna-
se necessária técnicas de rastreamento do ponto de máxima potência para os módulos
fotovoltaicos, obtendo-se a máxima eficiência de operação para as condições em que ele
estiver sujeito. Muitos métodos de monitoramento foram desenvolvidos e
implementados, e os mesmo variam de acordo com sua complexidade, sensores
necessários, agilidade de convergência, hardware de implementação, custo, eficiência,
sendo difícil determinar qual técnica mais adequada. Esses algoritmos podem ser
classificados de duas formas, em métodos diretos e métodos indiretos. Os métodos diretos
ou métodos online, a tensão e a corrente são avaliadas continuamente nas condições de
operação em tempo real. Já os métodos indiretos ou métodos off-line, o ponto de máxima
potência é obtido a partir de uma base de dados previamente estabelecidos para o
comportamento típico da célula mediante a variação da tensão e da temperatura. Este
trabalho tem por objetivo principal estudar o comportamento de métodos de rastreamento
ponto de máxima potência em sistemas solares fotovoltaicos sob as mais diversas
condições ambientais. Dessa forma os métodos de rastreamento são discutidos
detalhadamente. Os resultados de simulações são obtidos atrás de softwares
computacionais. Foi medida a eficiência de cada método utilizando curvas nas condições
de teste padrão. Curvas com mudanças de irradiância foram utilizadas para verificar o
comportamento em regime permanente e as oscilações ao redor do ponto de máxima
potência.
Palavras-chave: Energia Solar, MPPT, Fotovoltaica.

626
STUDY OF MAXIMUM POWER POINT TRACKING METHODS IN
PHOTOVOLTAIC MODULES

ABSTRACT: Photovoltaic panels have voltage versus non-linear current characteristics,


which vary according to irradiation and temperature. Thus, it becomes necessary to track
the maximum power point for the photovoltaic modules, obtaining the maximum
operating efficiency for the conditions under which it is subject. Many monitoring
methods have been developed and implemented, and they vary according to their
complexity, sensors required, convergence agility, implementation hardware, cost,
efficiency, and it is difficult to determine which technique is most appropriate. These
algorithms can be classified in two ways, in direct and indirect methods. Direct methods
or online methods, voltage and current are continuously evaluated under real-time
operating conditions. As for indirect methods or offline methods, the maximum power
point is obtained from a database previously established for the typical behavior of the
cell by varying the voltage and temperature. This work has as main objective to study the
behavior of maximum power point tracking methods in solar photovoltaic systems under
the most diverse environmental conditions. In this way, the tracking methods are
discussed in detail. Simulation results are obtained from computer software. The
efficiency of each method was measured using curves under standard test conditions.
Curves with changes in irradiance were used to verify the steady state behavior and
oscillations around the maximum power point.
Keywords: Solar Energy, MPPT, Photovoltaic.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento da população, o aumento da demanda energética proveniente de


fontes fósseis e a preocupação da sociedade moderna com a preservação do meio
ambiente vêm impulsionando o desenvolvimento de pesquisas relacionadas a novas
fontes de energia alternativas que sejam pouco poluentes e a fontes renováveis, que
apresentem um pequeno impacto ambiental (BRITO et al., 2010). Dentre essas fontes
destaca-se a solar, que é uma fonte bastante disponível e abundante e é considerada uma
fonte primaria, já que participa de indiretamente de diversas fontes de energia, a exemplo
da hidráulica, eólica, biomassa (ANEEL, 2005).
No território brasileiro, mesmo as regiões que oferecem os menores índices de
radiação, apresentam grande potencial para geração de energia (ANEEL, 2005), mas,
mesmo com esse enorme potencial a participação do país na geração fotovoltaica ainda é
pequena, principalmente graças aos obstáculos econômicos impostos ao setor e por
barreiras técnicas (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
Os painéis fotovoltaicos apresentam características tensão versus corrente não
linear, e que variam de acordo com o a irradiação e temperatura, que são variáveis durante
o dia (VILLALVA et al, 2010) (BRITO et al., 2010). Desse modo, torna-se necessária
técnicas de rastreamento do ponto de máxima potência (MPPT, do inglês Maximum
Power Point Tracking) para os tais painéis, e assim, obter-se a máxima eficiência de
operação para as condições em que ele estiver sujeito. Muitos métodos de monitoramento
foram desenvolvidos e implementados, e os mesmo variam de acordo com sua
complexidade, sensores necessários, agilidade de convergência, hardware de
627
implementação, custo, eficiência, sendo difícil determinar qual técnica mais adequada
(ESRAM; CHAPMAN, 2007).
Esses algoritmos podem ser classificados de duas formas, em métodos diretos e
métodos indiretos. Os métodos ditos diretos, que podem também ser chamados de
métodos online, a tensão e a corrente são avaliadas continuamente durante a operação do
módulo fotovoltaico. Assim, o ponto de máxima potência (PMP) é calculado com base
nas alterações das condições de operação em tempo real. São exemplos de métodos
diretos: Perturba e Observa (P&O), Condutância Incremental (CI), Lógica Fuzzy, Rede
Neurais Artificiais, Controle de Correlação de Ripple (RCC). Já os métodos ditos
indiretos, que podem também podem ser nomeados de métodos off-line, o ponto de
máxima potência é obtido a partir de uma base de dados previamente estabelecidos para
o comportamento típico de um painel fotovoltaico mediante a variação da tensão e da
temperatura. São exemplos de métodos indiretos: Método de verificação de tabelas,
Corrente Constante, Tensão Constante, Ajuste de Curva, DC-Link Capacitor Droop
Control, Método β (LIMA, 2014) (ESRAM; CHAPMAN, 2007).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Devido a importância do rastreamento do ponto de máxima potência, diversos


métodos MPPT foram desenvolvidos e implementados, e variam de acordo com sua
complexidade, pelo uso dos sensores, velocidade de convergência, custo, entre outros
(GUPTA et al, 2005). A literatura os classifica em dois grupos distintos, os algoritmos
ditos diretos e os indiretos, que variam de acordo com o modo de cálculo do PMP.
O Método Perturba e Observa (P&O) é uma das técnicas mais utilizadas em
sistemas fotovoltaicos, por conta de sua simplicidade e desempenho. Seu funcionamento
está baseado em uma perturbação da tensão (ΔV) do modulo fotovoltaico (OLIVEIRA,
2007).
Caso os sentidos da variação da tensão e da potência sejam, ambas, positivas ou
negativas, a perturbação deve continuar no mesmo sentindo, ou seja, a tensão de
referência deve ser incrementada. Caso a variação de tensão e potência sejam opostas, a
perturbação deve seguir o sentido o oposto ao anterior, ou seja, a tensão de referência é
decrementa (BRITO et al., 2010) (ESRAM; CHAPMAN, 2007). Isso pode ser visto no
fluxograma da técnica na Fig. 1.

628
Figura 1 – Fluxograma da Técnica P&O.

Uma escolha de valores grandes de ΔV permite um ajuste rápido no PMP, porém


possuirá grandes oscilações. Se a perturbação é pequena, o MPPT terá um ajuste lento e
terá pequenas oscilações ao redor do PMP. Além disso, com rápidas mudanças de
irradiância e temperatura, o método P&O pode ter um ajuste no ponto errado.
O método de Condutância Incremental é baseado na inclinação da curva PxV do
painel fotovoltaico, já que, para o PMP a inclinação é nula (ΔP/ΔV=0), positiva à
esquerda e negativa à direita (BRITO et al., 2010). Sabe-se que quando o PMP é rastreado,
a derivada da potência em relação tensão é nula, como na Eq. 1:

𝑑𝑃/𝑑𝑉 = 0 (1)

Sabendo que P =V.I, pode-se substituir essa relação na Eq. 1, desta forma:

𝑑(𝑉𝐼)/𝑑𝑉 = 𝑉 𝑑𝐼/𝑑𝑉 + 𝐼 ≅ 𝑉 𝛥𝐼/𝛥𝑉 + 𝐼 = 0 (2)

Assim o PMP é rastreado comparando a condutância instantânea (I/V) com a


condutância incremental (ΔI/ΔV). A técnica pode ser resumida pela Tab. 1 e o seu
fluxograma pode ser visto na Fig. 2:

629
Figura 2 – Fluxograma da Técnica Condutância Incremental.

Tabela 1 – Exemplo de tabela.


Análise Localização
ΔI/ΔV = -I/V No PMP
ΔI/ΔV < -I/V À direita do PMP
ΔI/ΔV > -I/V À esquerda do PMP
Fonte: Autor

A velocidade do rastreamento é determinada pelo tamanho do incremento (ΔV)


(OLIVEIRA, 2007). Maiores valores de incremento podem acelerar o rastreamento, mas
em compensação, gera oscilações próximo ao PMP (GUPTA et al, 2005).
No Método da Corrente de Curto-Circuito, o rastreamento do ponto de máxima
potência é realizado com base em uma aproximação linear feita entre a corrente de curto
circuito (ISC) e a corrente no ponto de máxima potência (IMPP), como visto na Eq. (3).

𝐼𝑀𝑃𝑃 ≅ 𝑘1 𝐼𝑆𝐶 (3)

Essa relação de linearidade é feita a partir de uma constante k1, uma constante de
proporcionalidade que varia de 0,78 a 0,92 (ESRAM; CHAPMAN, 2007). O maior
obstáculo para a utilização dessa técnica, é a necessidade para provocar o curto-circuito
do sistema, a fim de mensurar ISC, ocasionando perdas. Outra desvantagem apresentada,
630
é a escolha de k1, a precisão do sistema para obter a melhor corrente de operação acaba
sendo ineficiente, pois o sistema está sujeito a diversas condições climáticas (KARAMI
et al, 2017).
Um método similar é o método da Tensão Constante, que faz o rastreamento do
PMP através de uma aproximação linear da tensão, através da relação da tensão de
circuito aberto (Voc) e da tensão do PMP (VMPP). Essa relação de linearidade é feita a
partir de uma constante k2 (constante que varia de 0,73 a 0,80), mostrada na Eq. (4)
(KARAMI et al, 2017).

𝑉𝑀𝑃𝑃 ≅ 𝑘2 𝑉𝑂𝐶 (4)

O método do Gradiente de Temperatura se baseia da equação característica de um


painel fotovoltaica, onde VOC varia linearmente com a temperatura da célula, essa relação
é descrita através da Eq. (5):

VOC ≅ VOC,STC + (T -TSTC)(dVOC)/dT (5)

Onde, VOC,STC é a tensão de circuito aberto sob a temperatura nas condições


padrões (STC, do inglês Standard Test Conditions) (1000 W/m² e 25ºC), T é a
temperatura real e TSTC é a temperatura em STC e dVOC/dT é o gradiente de temperatura.
Dessa forma, é medida a temperatura real T, a tensão de circuito aberto (VOC,STC)
e calcula-se a tensão de circuito aberto e o ponto de máxima potência é rastreado através
da mesma relação presente no método de Tensão Constante, através da Eq. (4).

2.1 Comparação das Técnicas de MPPT

Pode-se observar que existem alguns métodos MPPT disponíveis aos usuários de
sistemas fotovoltaicos, cada um com suas vantagens e desvantagens. Dessa forma, torna-
se difícil a escolha da técnica que melhor se adapte as necessidades de aplicação do
usuário (KARIMI et al, 2017). Os principais aspectos a serem levados em consideração
para a escolha de uma técnica MPPT são: grau de dificuldade de implementação, número
de sensores utilizados, ocorrência de ponto de máxima local, custos e aplicações
(ESRAM; CHAPMAN, 2007).
Como o rastreamento do ponto de máxima potência é parte essencial de um
sistema fotovoltaico, pois o mesmo garante que a máxima eficiência do sistema seja
alcançada, foram estudados ao longo deste trabalho os métodos on-line de Perturba e
Observa (P&O) e Condutância Incremental (CI) e dentre as métodos off-line, foram
estudadas as técnicas de Gradiente de Temperatura e Tensão Constante. Os métodos
foram implementados e simulados na plataforma MATLAB/Simulink® e foram
aplicadas variações nas condições ambientais de entrada (irradiância e temperatura), a
fim de avaliar a eficiência de cada método, uma curva com potência fixa nas condições
padrões foi simulada, bem como avaliar a resposta dinâmica com uma curva em que é
possível mudança de irradiância de forma instantânea. Neste trabalho apenas a mudança
de irradiância foi considerada uma vez que acontecem mais rapidamente quando
comparado a temperatura.

631
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fim de avaliar qual método apresenta um maior rendimento para uma aplicação
STC, calculou-se a eficiência da técnica MPPT (η), que é definida pela razão entre a
potência de saída do painel fotovoltaico (P) medida e a potência máxima do painel
fotovoltaico Pmax em STC encontrada nos dados de placa, de acordo com a Eq.(5):

𝜂 = 𝑃/𝑃𝑚𝑎𝑥 (5)

A potência P do arranjo foi medida, através de simulação, a partir do momento


que a potência do arranjo fotovoltaico atinge o regime permanente em STC. Então é
calculada a média dessa potência durante esse período. A eficiência foi calculada
dividindo-se essa potência pela potência em STC (Pmax) encontrada pelos dados de placa
do painel fotovoltaico.
Na Tab. 3 estão resumidas as potências médias encontradas para o cálculo da
eficiência, bem como o tempo de ajuste, que é o tempo que a potência leva para ir de zero
ao valor em regime permanente em STC. A Tab. 4 mostra as eficiências das técnicas
MPPT simuladas, onde Ts é o tempo de amostragem, que é o intervalo de tempo que a
técnica MPPT entra operação.

Tabela 3 - Tempo de Ajuste dos os métodos para 1000 W/m² e 25ºC.


Método MPPT Tempo de ajuste (s) Potência (W)
Perturba e Observa 0,04 792,1011
Condutância Incremental 0,04 791,3062
Tensão Constante 0,01 800,297
Gradiente de Temperatura 0,075 789,095
Fonte: Autor

Tabela 4 – Eficiência dos métodos para 1000 W/m² e 25ºC.


MPPT (Ts= 5ms) Eficiência
Perturba e Observa ΔV = 2V 98,9419
Condutância Incremental ΔV = 2V 98,8426
Tensão Constante - 79% 99,9657
Gradiente de Temperatura - 79% 98,5664
Fonte: Autor

As Figuras 3, 4, 5 e 6 mostram a resposta dinâmica da potência de saída do


arranjo fotovoltaico para os métodos alguns métodos MPPT com a irradiância variando
de 1000 W/m² para 750 W/m² e depois para 500 W/m².

632
Figura 3 – Método Tensão Constante com Ts = 5ms e 79% de VOC.

Figura 4 – Método Gradiente de temperatura com Ts = 5ms e 79% de V OC.

4. CONCLUSÃO

A Tab. 4 mostra o cálculo da eficiência considerando uma irradiância e


temperaturas constantes em 1.000W/m2 e 25ºC, apesar da técnica da Tensão Constante
ter apresentado o melhor resultado, ela não responde bem quando há mudanças de
irradiância, uma vez que há perdas no momento da medição da VOC, neste artigo foi
considerado que a técnica usa um painel piloto, onde é utilizado apenas para medição de
Voc, o que nem sempre ocorre.

633
Figura 5 – Método Perturba e Observa com Ts = 5ms e uma perturbação de 2V.

Figura 6 – Método Condutância Incremental com Ts = 5ms e uma perturbação de 2V

A técnica P&O apresentou o segundo melhor resultado com relação a eficiência.


Esta técnica MPPT é a mais utilizada e a que possui maior facilidade de implementação,
porém esse método apresenta resposta dinâmica lenta e erro em regime permanente
devido as variações ao redor do MPP como pôde ser visto na Fig. 5, o que faz com que o
parâmetro de incremento tenha influência.
Com relação ao regime permanente, apesar do método da tensão constante e o
método do Gradiente de temperatura apresentarem uma menor oscilação e rápida resposta
dinâmica (Fig. 3 e Fig. 4), as mesmas foram testadas com um painel piloto e dessa forma
não apresentaram perdas devido a medição da corrente de curto-circuito, contudo esse
painel piloto nem sempre é utilizado. Além disso o método do gradiente possui os mesmos
problemas da técnica da tensão constante, dependendo assim da escolha correta da
constante k2.

634
Embora os métodos citados apresentem bons resultados em regime permanente e
boa resposta dinâmica, o método IC e P&O apresentam bons resultados
independentemente do incremento e da taxa de amostragem escolhida. As técnicas
condutância incremental e P&O diminuem o problema da oscilação ao redor do MPP,
possuem boa resposta dinâmica, mas também têm dependência com seu tempo de
amostragem (Ts) e o tamanho da perturbação (ΔV).
Dessa forma as técnicas P&O e Condutância incremental foram escolhidas como
as melhores. A técnica P&O é a mais comumente utilizada e tem a maior facilidade de
implementação. Isto fez com que o método P&O, utilizado em sistemas fotovoltaicos,
seja escolhido dentre todos os outros métodos MPPT como melhor para as situações
estudadas.

REFERÊNCIAS

Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL. Atlas de Energia Elétrica do Brasil. 2ª Edição.
2005.

Brito, M. A., Luigi, G., Sampaio, L. P., Canesin, C. A. Avaliação das principais técnicas para
obtenção de MPPT de painéis fotovoltaicos. In: Industry Applications (INDUSCON), 2010 9th
IEEE/IAS International Conference on. IEEE, 2010. p. 1-6

Esram, Trishan; Chapman, Patrick L. Comparison of photovoltaic array maximum power point
tracking techniques. IEEE Transactions on energy conversion, v. 22, n. 2, p. 439-449, 2007.

Gupta, Ankit; Chauhan, Yogesh K.; Pachauri, Rupendra Kumar. A comparative investigation of
maximum power point tracking methods for solar PV system. Solar energy, v. 136, p. 236-253,
2016.

Karami, Nabil; Moubayed, Nazih; Outbib, Rachid. General review and classification of
different MPPT Techniques. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 68, p. 1-18, 2017.

Lima, Natasha Ficheira Wiechers. Investigação de Algoritmos de Rastreamento do Ponto de


Máxima Potência em Módulos Fotovoltaicos. 2014. 66f. Trabalho de conclusão de Curso.
Engenharia de Energia, Universidade de Brasília, Distrito Federal.

Oliveira, Kleber C. Avaliação da conversão da energia fotovoltaica em sistemas isolados. 2007.


Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2007.

Villalva, Marcelo Gradella; Gazoli, Jonas Rafael; Ruppert Filho, Ernesto. Modeling and circuit-
based simulation of photovoltaic arrays. In: Power Electronics Conference, 2009. COBEP'09.
Brazilian. IEEE, 2009. p. 1244-1254.

635
ESTUDO DE TANQUE DE ARMAZENAMENTO TÉRMICO SOLAR

Rodrigo Barreto de Melo 1, Elí W. Zavaleta-Aguilar1


1
Universidade Estadual Paulista
E-mail: rodrigo.melo@unesp.br

RESUMO: Devido à preocupação com problemas ambientais e energéticos recentes,


bem como, a busca pelo uso racional e eficiente de energia, tornam-se cada vez mais
atraentes as aplicações de energia solar. Dado que esta fonte de energia possui natureza
intermitente faz-se necessário, para aplicações que demandam energia constante, a
utilização de tanques de armazenamento térmico, que possibilite o uso de fluido aquecido,
proveniente da energia solar, em períodos de menor irradiação (dia nublado e a noite, por
exemplo). Os tanques de armazenamento térmico solar regulam a temperatura de um
sistema de aquecimento, fornecendo o fluido de trabalho a uma adequada temperatura
tanto no uso final, quanto no coletor solar. Este trabalho realiza o estudo de tanque de
armazenamento térmico de calor sensível em regime transiente. Para isso, criou-se um
ambiente de simulação computacional no software Matlab®. O programa criado permite
analisar a sensibilidade da temperatura do fluido (tempo e posição) em função de algumas
variáveis de processo como: altura do tanque, tipo de fluido, espessura do isolamento
térmico e velocidade do fluido.
Palavras-chave: Energia solar, tanque de armazenamento, temperatura.

STUDY OF SOLAR THERMAL STORAGE TANK

ABSTRACT: Due to concern about recent environmental and energy problems, as well
as, the search for rational and efficient energy use, solar energy applications become
increasingly attractive. Since this energy source is intermittent, it is necessary, for
constant energy demand applications, the use of thermal storage tanks, that allows the
heated fluid use in lower irradiation periods (cloudy day and night, for example). The
storage termal solar tanks regulate the heating system temperature, providing an adequate
working fluid temperature to both, end use and solar collector. This work carries out the
study of sensitive heat thermal storage tank in transient condition. For this, a computer
simulation environment was generated in the Matlab® software. The created program
allows to analyze the fluid temperature (time and position) sensitivity as function of some
process variables such as: tank height, fluid type, thermal insulation thickness and fluid
velocity.
Keywords: Solar energy, storage tank, temperature.

1. INTRODUÇÃO

A energia solar está disponível no mundo todo e possui capacidade de atender


toda demanda energética humana (KALOGIROU, 2016). Entretanto esta energia é de
natureza intermitente. Em aplicações onde são necessárias temperaturas elevadas, a
energia solar é absorvida por coletores solares concentradores e o fluido aquecido é
contido em sistemas de armazenamento de energia térmica possibilitando que, durante os

636
períodos de maior irradiação, o sistema armazene o calor e o libere durante os períodos
de fraca ou nenhuma irradiação (PELAY et al., 2017). Segundo Stutz et al. (2017), o
sistema de armazenamento de energia térmica é um dos sistemas de armazenamento de
energia mais baratos, podendo ser aplicado na produção de eletricidade, aplicações
industriais e aplicações residenciais.
Geralmente, entre um coletor solar e o tanque de armazenamento térmico é
colocado um trocador de calor. Segundo Li (2016) os mais comuns são: tubos ou bobinas
imersas no interior do tanque, trocador externo do tipo casco e tubo e manta trocadora de
calor ao redor do tanque. Segundo Han et al. (2009) o trocador externo possui melhores
propriedades de transferência térmica, é mais prática e provoca menos mistura no líquido.
Um fenômeno presente nos tanques de armazenamento de calor sensível, quando o
material de armazenamento é líquido, é a estratificação térmica.
De acordo com Li (2016), a estratificação térmica é responsável por separar água
quente, de menor densidade, da água fria, de maior densidade, com uma camada de
mistura intermediária, denominada de termoclina que possui um elevado gradiente de
temperatura, sendo que sua espessura deve ser a menor possível, caso contrário pode
deteriorar a estratificação (NELSON et al., 1999). Segundo Li (2016), quanto mais
estreita a espessura da termoclina obtém-se um maior volume de fluido quente. Segundo
Nelson et al. (1999), a estratificação em um tanque de armazenamento depende,
principalmente, do volume do tanque; do posicionamento e design das entradas e saídas;
e as vazões entrando e saindo do tanque.
De forma geral, segundo Li (2016), um tanque pode apresentar três níveis de
estratificação: altamente estratificado onde espessura da termoclina é mais estreita
havendo uma maior faixa de fluído quente e frio, nível de estratificação moderado onde
a espessura da termoclina é maior que no caso anterior e fluido totalmente misturado onde
não há estratificação. O presente trabalho trata da avaliação térmica no que diz respeito à
predição do comportamento da temperatura transiente que varia com a posição no tanque
e com o tempo transcorrido, bem como, avalia o calor perdido ao ambiente.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A Figura 1 apresenta um esquema dos elementos constitutivos do sistema solar


considerado neste trabalho, onde o fluido de transferência de calor (FTC) aquecido no
coletor solar fornece energia na forma de calor para o fluido do tanque de armazenamento
por meio do trocador de calor. Para que a estratificação gerada no interior do tanque de
armazenamento não seja desfeita, é necessário que o fluido aquecido que ingressa na parte
superior do tanque seja igual ou superior daquele na parte superior do tanque, para isso,
utiliza-se um aquecedor auxiliar, garantindo a temperatura desejada.

637
Figura 1 – Esquema do sistema de aquecimento solar.

O esquema do tanque de armazenamento térmico analisado neste trabalho é


apresentado na Figura 2. Nele, podem-se observar as correntes do fluido de trabalho. Do
lado esquerdo, pela parte superior do tanque, há o ingresso do fluido que teve como
origem o trocador de calor. Na parte inferior esquerda, o escoamento sai do tanque e vai
em direção deste trocador. Na parte superior direita o escoamento sai do tanque até a
aplicação e na parte inferior o escoamento volta da aplicação, depois de ter fornecido
energia térmica.

Figura 2 – Esquema de variáveis para a análise térmica do tanque de armazenamento


térmico.

638
O tanque de armazenamento térmico analisado neste trabalho possui um formato
cilíndrico vertical. Para evitar perdas excessivas de calor ao ambiente foi considerada uma
camada de isolante térmico na parte externa da parede metálica do tanque. A análise
considera regime transiente e unidimensional no sentido axial.
O balanço de energia no volume de controle diferencial genérico limitado pelos
nós n e n+1 é indicado na Equação (1), onde foram desprezadas as variações de energia
cinética e potencial entre a entrada e a saída do fluido do elemento. Além disso, foram
consideradas propriedades de transporte do fluido (condutividade térmica, massa
específica, calor específico e viscosidade) constantes avaliados a uma temperatura média
entre a temperatura de entrada e saída do tanque, não foi considerado turbulência do fluido
na entrada nem na saída do tanque, não há condução de calor pelas paredes no sentido
axial. A perda de calor ao ambiente externo considera a convecção do fluido de trabalho,
a condução de calor nas paredes metálicas e no isolamento térmico e a convecção externa.

𝜕𝐸 𝜕𝑄̇ 𝜕(𝑚̇ ℎ)
= 𝑄̇ − (𝑄̇ + 𝜕𝑥 𝑑𝑥) + 𝑚̇ℎ − (𝑚̇ℎ + 𝜕𝑥 𝑑𝑥) −
𝜕𝑡
(𝑇−𝑇∞ )
1 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑2/𝑑1 ) 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑3/𝑑2) 1 𝑑𝑥 (1)
+ + +
ℎ𝑖 𝜋𝑑1 2𝜋𝑘𝑚 𝐿 2𝜋𝑘𝑖 ℎ𝑒 𝜋𝑑3

O que resulta em:

𝜕𝑇 𝜕𝑇 𝜕2𝑇
+𝑉 =𝛼 − 𝐵(𝑇 − 𝑇∞ ) (2)
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥 2

4
𝐵= 2 1 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑2/𝑑1 ) 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑3/𝑑2) 1 (3)
𝜌𝜋𝑑1 𝐶𝑝 [ + + + ]
ℎ𝑖 𝜋𝑑1 2𝜋𝑘𝑚𝐿 2𝜋𝑘𝑖 ℎ𝑒 𝜋𝑑3

Onde, 𝑇 é a temperatura do fluido, 𝑇∞ é a temperatura ambiente, 𝑡 é o tempo, 𝑥 é


a posição da temperatura, 𝑉 é a velocidade média do escoamento, 𝛼 é a difusividade
térmica do fluído, 𝑑1 , 𝑑2 e 𝑑3 são os diâmetros do tanque descritos na Figura 2, 𝑘𝑚 e 𝑘𝑖
são as condutividades térmicas da parede metálica e da parede isolante, respectivamente,
ℎ𝑖 e ℎ𝑒 são os coeficientes de transferência de calor por convecção do fluído interno ao
tanque e do ar envolta ao isolamento térmico, respectivamente. Para a solução da Equação
(2) aplicou-se o método numérico de discretização explícita que propõe uma solução onde
a temperatura de determinado nó (𝑇(𝑛,𝑡+1) ), que deseja-se prever, depende das
temperaturas em um tempo anterior nesse mesmo nó (𝑇𝑛,𝑡 ), além dos vizinhos (𝑇(𝑛+1,𝑡) e
𝑇(𝑛−1,𝑡) ), esta solução é descrita na Equação (4):

𝑽∆𝒕 𝑽∆𝒕
𝑻(𝒏,𝒕+𝟏) = 𝑻𝒏,𝒕 (𝟏 − 𝟐𝑭𝒐 − 𝑩 − ) + 𝑻(𝒏+𝟏,𝒕) (𝑭𝒐 ) + 𝑻(𝒏−𝟏,𝒕) (𝑭𝒐 + ) + 𝑩𝑻∞ (4)
∆𝒙 ∆𝒙

639
Em que, 𝐹𝑜 é o número de Fourier, expresso como:

𝜶∙∆𝒕
𝑭𝒐 = (5)
∆𝒙𝟐

Onde, ∆𝑡 é o intervalo de tempo empregado entre as iterações, ∆𝑥 é a altura do


elemento diferencial, sendo que a altura total do tanque é 𝐻 = 𝛥𝑥(𝑁 − 1), 𝑁 − 1 é o
número de elementos diferenciais considerados (ver Figura 2). Para resolver a Equação
(4) de forma satisfatória Oppel et al. (1986) propuseram um critério de estabilidade de
análise individual dos termos de condução e convecção num tanque sem perda de calor
ao ambiente. A parcela de somente condução envolve apenas a troca de calor do fluido,
sem escoamento líquido. Já, o segundo, de somente convecção, envolve apenas
escoamento do fluido, sem mistura. Assim, o termo condutivo é expresso na Equação (6)
e sua discretização explícita na Equação (7), em que, 𝐹𝑜 deve ser menor ou igual a 0,5
(OPPEL et al., 1986), para que a solução seja estável.

𝜕𝑇 𝜕2 𝑇
= 𝛼 ∙ 𝜕𝑥 2 (6)
𝜕𝑡

𝑇(𝑛,𝑡+1) = 𝑇𝑛,𝑡 (1 − 2 ∙ 𝐹𝑜 ) + (𝑇(𝑛+1,𝑡) + 𝑇(𝑛−1,𝑡) )𝐹𝑜 (7)

Já, o termo de somente convecção é expresso na Equação (8) e sua discretização,


aplicando o método upwind considerando um fluxo desde o topo para o fundo, é expresso
na Equação (9):

𝜕𝑇 𝜕𝑇
+ 𝑉 ∙ 𝜕𝑥 = 0 (8)
𝜕𝑡

𝑇(𝑛,𝑡+1) = 𝐶𝑜 𝑇(𝑛−1,𝑡) + 𝑇𝑛,𝑡 (1 − 𝐶𝑜 ) (9)

Em que, 𝐶𝑜 é o número de Courant definido na Equação (10) e critério de


estabilidade é cumprido quando 𝐶𝑜 ≤ 1.

𝑉∆𝑡
𝐶𝑜 = (10)
∆𝑥

O calor perdido ao ambiente em cada elemento diferencial do tanque é avaliado


por:

(𝑇𝑚−𝑇∞ )∆𝑥
𝑄̇ = 1 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑2/𝑑1) 𝑙𝑛𝑙𝑛 (𝑑3 /𝑑2) 1 (11)
+ + +
ℎ𝑖 𝜋𝑑1 2𝜋𝑘𝑚𝐿 2𝜋𝑘𝑖 ℎ𝑒 𝜋𝑑3

Em que 𝑇𝑚 é a temperatura média no elemento diferencial de altura ∆𝑥, obtida


pela média das temperaturas dos dois nós que o cercam.

640
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para validação do modelo proposto, inicialmente, comparou-se com o resultado


experimental de Ghaddar et al. (1989) usando água a uma vazão volumétrica de 9 L/min
num tanque perfeitamente isolado termicamente. Foram adotadas como temperaturas
iniciais o primeiro resultado experimental (após 15 minutos do funcionamento do tanque),
e compararam-se os resultados seguintes com as previsões de cada modelo. As
propriedades de transporte da água foram obtidas em Çengel e Ghajar (2012). A Tabela
1 apresenta as variáveis de entrada utilizadas para a simulação e a Figura 3 o resultado da
comparação.

Tabela 1 – Variáveis de entrada para a comparação de Ghaddar et al. (1989).


Unidad
Variáveis de entrada Valor
e
Altura do tanque (𝐻) (m) 2,28
Diâmetro interno (𝑑1 ) (m) 0,72
0,0003
Velocidade do fluido (𝑉) (m/s)
7

Figura 3 – Comparação dos modelos com o resultado experimental de Ghaddar et al.


(1989)

641
A Figura 3 mostra o comportamento das Equações (4) e (9), que correspondem às
equações de condução e convecção juntas e de somente convecção, respectivamente,
usando como critério de estabilidade 𝑪𝒐 = 𝟏, para as duas equações. Pode-se notar que
as equações não apresentaram diferenças visíveis, isso pode ter acontecido devido à
influência desprezível da parte condutiva. A Figura 3 mostra também o resultado de
simulação usando o método de Oppel et al., (1986), em que, por causa da utilização do
buffer tank foi usado intervalos de tempo menor, empregando ciclos de somente condução
e ciclos de convecção, se aproximando mais do intervalo de tempo utilizado no
experimento.
O número de Reynolds do experimento é de 𝑹𝒆 = 𝟓𝟔𝟏 assumindo
comportamento laminar. Alguns autores (GHADDAR et al., 1989) propõem a utilização
do parâmetro de 642ddy (ε) no termo de condução (Equação (2)), que considera a
turbulência no escoamento no interior do tanque.
Para avaliar o comportamento do modelo em situações de somente condução, foi
comparado com o trabalho de He et al. (2019), onde a água do tanque está parada (𝑽 =
𝟎). Nesse trabalho não foram fornecidos alguns dados (𝒉𝒊 , 𝒉𝒆 , 𝒆𝒎 , 𝒌𝒎 , 𝒌𝒊 ), os quais
tiveram que ser assumidos. A Tabela 2 apresenta as variáveis de entrada utilizadas para a
simulação.

Tabela 2 – Variáveis de entrada para a comparação de He et al. (2019).


Variáveis de entrada Unidade Valor
Altura do tanque (𝐻) (m) 1,0
Diâmetro interno (𝑑1 ) (m) 0,9
Condutividade térmica do tanque (𝑘𝑚 ) (W/mK) 14,9
Espessura da parede do tanque (𝑒𝑚 ) (m) 0,003
Condutividade térmica do isolamento (𝑘𝑖 ) (W/mK) 0,15
Espessura do isolante térmico (𝑒𝑖 ) (m) 0,025

Coeficiente de convecção interno (ℎ𝑖 ) (W/m2 K) 30

Coeficiente de convecção externo (ℎ𝑒 ) (W/m2 K) 50

A comparação foi realizada com o experimento de He et al. (2019) que apresenta


a termoclina mais centralizada. A Figura 4 apresenta o resultado da comparação.

642
Figura 4 – Comparação com resultado experimental para fluido estático.

Neste caso, o resultado da simulação obtidos pela Equação (4) e para o método do
Oppel et al. (1986) foram os mesmos, desta maneira a Figura 4 exibe apenas o primeiro
método.

4. CONCLUSÃO

Este estudo apresentou a modelagem térmica transiente e unidimensional de um


tanque de armazenamento térmico de energia solar. Os resultados das equações
estabelecidas foram comparados com dois resultados experimentais alcançando
resultados satisfatórios, apesar das simplificações realizadas. A modelagem consegue
prever o comportamento da temperatura para diferentes fluidos no interior do tanque de
armazenamento, os tempos de carga e descarga do mesmo, a quantidade de calor perdido
e a temperatura de fornecimento à aplicação em um processo de descarregamento.

REFERÊNCIAS

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644
FEASIBILITY STUDY OF IMPLEMENTING A PHOTOVOLTAIC SYSTEM
ON GRID

Janayna Rocha Silva1, Kamal Abdel Radi Ismal1


1
Universidade Estadual de Campinas
Email: janayna.rs@hotmail.com

ABSTRACT: The ever-growing demand for electricity in modern life, the damage
caused to the environment, the imminent scarcity of the fossil fuels, urged the search for
alternatives with low greenhouse gas emission and, consequently, less environment
impacts, renewability and relatively low cost. The global scenario shows a clear tendency
and a progressive increase in investments to expand the use of renewable energy sources
in the global energy matrix. In Brazil the situation is not different, in spite of having a
large portion of the Brazilian energy matrix constituted by hydroelectric energy, there is
been a noticeable increase in investments in solar and wind energy farms, as well as, mini
and micro photovoltaic installations to provide energy for commercial and residential use.
This study addresses the feasibility of installing a photovoltaic system in a residence
located in the interior of the state of Maranhão. The project is initiated based on a study
of the characteristics of the installation site, such as solar radiation and other
environmental conditions necessary to define the inclination and orientation of the PV
panels. Subsequently, the average monthly domestic electricity consumption is analyzed
and a value of 132 kWh/month is found. Based on these data, the photovoltaic kit that
best suited the situation is selected. Finally, a study is conducted to determine the payback
period, taking into account the values of the initial investment, the amount of energy
generated annually by the photovoltaic system, considering 20% of losses, panel
degradation, tariff rate inflation and the profile of the consumer. A period of
approximately 7 years for the recovery of the initial investment is found, and at the end
of 25 years of useful life of the panels, it is possible to save up to R$ 44.269,90.
Keywords: Environmental impacts; PV system; Payback period; Renewable energy
resources; Solar energy.

1. INTRODUCTION

In recent years, there has been a worldwide increase in electricity consumption.


A large portion of this energy is obtained from non-renewable sources. These, in turn,
accelerate the process of environmental degradation and have a limited stock. Faced with
this scenario, the world has been looking for means to mitigate these problems, as for
example the use of renewable energy sources. Among these options is
distributed photovoltaic solar energy. One of the main advantages of this type of energy
is that the modules can be built near the consumer unit (on the roofs and sides of the
building, etc.) which leads to a reduction in transmission losses, the diversification of the
energy matrix, extension of the time needed to expand transmission and distribution
systems and low environmental impact (ANEEL, 2015).

645
In Brazil, only in 2012, REN nº 482 came into force, where the guidelines for
the connection of micro and mini photovoltaic systems to the electricity grid and the credit
compensation system - net metering - were established (ANEEL, 2012). This fact
encouraged and increased the number of consumers wanting to generate their own energy,
and therefore resulted in decreasing prices, making the acquisition of this technology
more accessible.
This manuscript reports the results of a study to assess the economic feasibility
of installing a micro generation system of solar photovoltaic energy in a residence located
in the city of Passagem Franca, state of Maranhão.
The interest in carrying out the study in this municipality is because it is the first
author's home region and has characteristics, such as: a high potential for generating solar
energy, however few or no studies have been carried out on the feasibility of the
implementation. Another factor to be highlighted is that investment in this sector could
generate alternative income for local families and enhancing the local economy.

2. MATERIALS AND METHODS

2.1 Dimensioning the photovoltaic system

The procedure used to assess the proposed installation is based on Pinho and
Galdino (2014), Camargo (2017) and Villalva (2018). The authors indicated that for
determining the dimensions of the photovoltaic system connected to the electrical
network, it is necessary to determine some characteristics such as, inclination and
orientation of photovoltaic panels, availability of solar energy in the region, energy
consumption to be met, the number of photovoltaic modules and energy that the system
is capable of producing and the dimension of the inverter.

2.2 Orientation and inclination

The orientation and angle of inclination of the photovoltaic panels are important
to obtain the maximum possible energy production (PASCOAL, 2016).
Panels without solar tracking devices and which are installed in regions below
the Equator should be oriented towards the geographic north in order to maximize the
incidence of solar radiation on its surface, and hence increase electricity generated. The
geographic north is found by subtracting a correction angle from the magnetic angle,
obtained by reading a compass. This correction angle, as shown in figure 1, is related to
the installation location of the system. Thus, for the state of Maranhão, the correction
angle is 21 ° (VILLALVA,2018).

646
Figure 1 - Map with correction angles to find the geographic north. Villalva (2018).

The angle of inclination should be determined based on the latitude of the region
where the photovoltaic (PV) generator will be installed. From GOOGLE MAPS, it is
found that the latitude of Passagem Franca is of 6 °. However, a value of 10 ° is admitted
to compensate for dust accumulation (PINHO and GALDINO, 2014).

2.3 Solar insolation

Insolation or solar irradiation is another important variable for the design of


photovoltaic systems. From its determination it is possible to evaluate how much solar
energy can be obtained in an area in a specific time interval. Their values are available in
tables, solar maps, computational tools, etc (VILLALVA, 2018).
From Sun Data v3.0 software (CRESESB, 2018) it is possible to determine the
solar potential quickly and safely, just by having the geographical coordinates of the
region in which the photovoltaic system will be installed.
Figure 2 shows the values of the monthly average daily solar radiation for the
horizontal plane, because the calculations are based on the generation of electricity in the
case of the worst scenario (VILLALVA, 2018). The average between the values shown
in figure 2 is equal to 5.44 kWh/m² dia.

8
6,326,546,06
5,67 5,585,13
6 4,784,97 4,9 4,945,065,36
4
2
0

Figure 2 - Monthly average daily solar radiation in the horizontal plane [kWh/m2.dia].
Adapted from CRESESB (2018).
647
2.4 Analysis of average monthly house consumption

The analysis of average monthly consumption is done based on values provided


in the electric bill of a house in the period from August 2018 to July 2019. The data are
presented in table 1, and the average obtained is approximately 132 kWh/month.
However, this value does not represent the real consumption of the residence since the
cost of availability is added to it.

Table 1 – Annual consumption history in kWh


2018 2019
Aug. Sept. Oct. Nov. Dec. Jan. Feb. Mar. Apr. May. June. Jul.
115 146 153 151 125 128 137 132 133 129 124 117
Adapted from CEMAR (2019).

The cost of availability is the minimum amount which a company of electric


energy distribution charges people simply by being providing electrical energy for them.
For a common residence, these values are determined for single-phase, two-phase and
three-phase network, being 30 kWh, 50 kWh and 100 kWh respectively (ANEEL, 2012).
Hence, the value of the real average monthly consumption is obtained by
subtracting the average value, found with the data provided in table 1, by the cost of
availability.
Therefore, a value average monthly of 102 kWh/month was obtained. Since, the
electrical network of the house is single-phase.

2.5 Module selection

The Canadian Solar (2018) Max Power CS6U-330P module was chosen due to
its recognized quality in the market. The variables of interest for use in equation 1 are:
the dimensions of the panel for calculating the area and its respective efficiency, these
values are shown in Figure 3.

Figure 3 - Technical characteristics of the selected module. Canadian Solar (2018)


648
2.6 Energy produced by each one photovoltaic module

The energy produced by the photovoltaic system is determined based on the solar
radiation data from the installation site, and on those provided by the manufacturer of the
selected modules, as in equation (1).

𝐸𝑝 = 𝐴 × 𝐸𝑠 × 𝜂𝑚𝑜𝑑 (1)
where:
Ep = Energy produced by the module daily in Wh;
A = Area of the photovoltaic panel in m²;
Es = Daily sunshine in kWh / m² day;
ηmod = Photovoltaic panel efficiency in %.

Applying the values from the analysis of the previous sections, the result is 1,8
kWh/day or 54 kWh/month.

2.7 The impact of losses about the energy generation

The actual value produced by the modules will be less than that described by
equation 1, because of possible losses. The main losses in the photovoltaic systems
according to Galdino and Pinho (2014), Miranda (2014) are due to shading, operating
temperature, inverter efficiency, undue inclination or orientation, dirt, voltage drop in the
electrical components, both on the side of the direct current and on the side of the
alternating current, etc.
In the present work, a total value for losses of 20% was adopted. This value was
considered based on what was suggested by Miranda (2014) for photovoltaic systems
installed in Brazil, when these are in a location with good ventilation and without shading
problems. Thus, the energy produced by the photovoltaic set, considering the losses, is
43.2 kWh/month.
The degradation of the panels is another issue that must be analyzed, as over
time the efficiency of photovoltaic panels decreases and hence a reduction in the capacity
of the modules to convert solar energy into electrical energy. To calculate the rate of
degradation of the panels, it is necessary to consult the manual of the selected equipment
and check the useful life of the panel, and how much its efficiency declines over this time.
The panel manual shows that upon reaching its 25 years of useful life, there will be a 20%
decrease in efficiency. Thus, the rate of degradation will be 1.25% per year.

2.8 Number of modules

The number of modules required can be obtained by dividing the energy


consumed by the residence per day and the energy produced individually by each module
daily.
𝐸
𝑁𝑚𝑜𝑑 = 𝐸𝑐 (2)
𝑝

649
where:
Nmod = Number of modules;
Ec = Average energy consumed by the house in Wh;
Ep = Energy produced by the module daily in Wh.

Replacing the values in equation 2, an amount of approximately 3 panels was


obtained.

2.9 Inverter sizing

According to Villalva (2018), for sizing the inverter, one should establish:

 The maximum voltage of the photovoltaic module set (open circuit voltage -
VOC) must not exceed the maximum voltage at the inverter input. A safety factor
of 10% is established to avoid overloading and consequent damage to the
equipment;
 The power supported by the inverter must be equal to or greater than that
generated by the photovoltaic system.

2.10 Budget

The value of the initial investment is calculated with the help of the solar
simulator, available on the website of the company Minha Casa Solar (2019). The inputs
and the obtained value are shown in figure 4.

Figure 4 - Solar Simulator: value of the initial investment based on the location and
monthly consumption of the residence. Minha Casa Solar, 2019.

650
The value shown in figure 4 is composed only of those referring to the solar
generator equipment. The other values, which correspond to the project and installation,
were obtained from an analysis with the company, which for the case presented in the
simulation of figure 4, estimated a base value of R$ 1,800.00. The company in which the
budget was requested is in the state of Minas Gerais. However, it delivers throughout
Brazil and has a network of partner companies, including in the state of Maranhão, which
are responsible for the design, installation and maintenance of the photovoltaic system,
which greatly facilitates logistics and costs.

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1 Simple payback time calculation

The time when the financial investment in a project returns to the investor is
called Payback. To calculate the payback of photovoltaic systems, knowledge about
aspects such as: value in R$ of the kWh that is sold to the concessionaire (excluding
taxes), forecast of energy inflation, amount of energy produced by the system [kWh],
depreciation of the panels over the lifetime and the total initial investment, which includes
equipment, labor and project (CAMARGO, 2017). The values used in the present study
are described in table 2.

Table 2 - Payback calculation data


Annual Generation [kWh] 1576,8
Total Initial Investment [R$] 7,799.40
Forecast Energetic Inflation [%/year] 7
Depreciation of Modules [%/year] 1.25
Initial Price kWh [R$] 0.63108
Own author (2019)

The value for the projection of the electricity tariff was adopted as 7%
(CAMARGO, 2017). While the initial price of kWh was determined by consulting the
CEMAR website (2019) and for a common residence it corresponds to the value of R$
0.63018. Table 3 shows the values obtained with the application of these variables.

651
Table 3 – Payback
ElectricTariff
Year Generation [kWh/year] Economy[R$] Cash Flow [R$]
[R$/kWh]
1 1,576.8 0.63108 995.09 -6,804.31
2 1,557.09 0.67526 1,051.43 -5,752.88
3 1,537.63 0.72252 1,110.97 -4,641.91
4 1,518.41 0.77310 1,173.88 -3,468.03
5 1,499.43 0.82722 1,240.35 -2,227.68
6 1,480.68 0.88512 1,310.59 -917.09
7 1,462.17 0.94708 1,384.80 467.71
8 1,443.90 1.01338 1,463.21 1,930.92
9 1,425.85 1.08431 1,546.07 3,476.98
10 1,408.03 1.16021 1,633.61 5,110.60
11 1,390.43 1.24143 1,726.12 6,836.71
12 1,373.04 1.32833 1,823.86 8,660.57
13 1,355.88 1.42131 1,927.13 10,587.70
14 1,338.93 1.52080 2,036.26 12,623.96
15 1,322.20 1.62726 2,151.56 14,775.52
16 1,305.67 1.74117 2,273.39 17,048.91
17 1,289.35 1.86305 2,402.12 19,451.03
18 1,273.23 1.99347 2,538.14 21,989.17
19 1,257.32 2.13301 2,681.86 24,671.04
20 1,241.60 2.28232 2,833.73 27,504.76
21 1,226.08 2.44208 2,994.19 30,498.95
22 1,210.75 2.61303 3,163.73 33,662.68
23 1,195.62 2.79594 3,342.88 37,005.56
24 1,180.67 2.99165 3,532.17 40,537.73
25 1,165.92 3.20107 3,732.18 44,26.90
Own author (2019)

The investment required to purchase and install the photovoltaic generator would
be R$ 7,799.40. This value is expected to be recovered in 7 years, and the customer will
make a profit during the other 18 years of the system's useful life. Reaching a profit of
approximately R$ 44,269.90 at the 25th year.
Something important to note about the value of the financial return is that it
should be lower than that shown in table 3, as there will be a need to carry out maintenance
and exchange of components of the photovoltaic system over the useful life period. Even
so, the return will still be satisfactory.
For the calculations performed, changes in tariff flags were not considered, due
to the high variability of their values.
652
4. CONCLUSIONS

As shown in this study, the installation of a photovoltaic system to meet the


domestic electrical demand is feasible, and has a relatively low rate of return, at 7 years.
Perhaps adequate public policies and creation of municipal tax incentives can encourage
the residential sector to install solar photovoltaic kits to generate electricity for their own
use and help in this way reduce the electricity demand peaks, reduce offensive impacts
on the environment and reduce the demand for new hydroelectric plants.

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SIMULAÇÃO NUMÉRICA COMPUTACIONAL DA EFICIÊNCIA TÉRMICA
DE COLETORES SOLARES PLANOS COM BASE NA INCLINAÇÃO ÓTIMA

Frederico Romagnoli Silveira Lima1, Arthur Silva Pereira1, Luís Felipe Carneiro e
Silva1
1
CEFET-MG
E-mail: arthursilvapereira97@gmail.com

RESUMO: Os sistemas de aquecimento de água por meio da energia solar são utilizados
no Brasil para fins domésticos, devido ao baixo custo de operação e manutenção durante
seu ciclo de vida. Todavia, o investimento inicial em equipamentos e instalações de
aquecimento de água é relativamente alto quando comparado aos sistemas convencionais.
Além disso, os parâmetros de instalação recomendados por fabricantes e pelo INMETRO
podem não ser os que garantem maior desempenho energético do coletor, por serem dados
de valores médios obtidos e baseados muito mais em dados empíricos do que em realistas
científicos. Portanto, este trabalho a partir de um estudo da influência de parâmetros como
inclinação e orientação do coletor, área de placa coletora, estações do ano, características
locais sobre a eficiência térmica de um coletor solar plano para Belo Horizonte, a fim de
se obter os parâmetros que garantem o maior desempenho energético do equipamento;
assim, utilizou-se de uma simulação numérica em longo prazo em regime transiente pelo
software TRNSYS. Por meio dos resultados obtidos foi possível verificar que, entre os
estudos de caso analisados, o sistema de aquecimento com maior custo benefício possuí
um investimento inicial médio-alto (4m² de placa coletora), devido a uma proporção mais
interessante da função energia útil produzida pelo coletor/custo total do sistema, o que
resultou num payback de 3 anos e 2 meses para o consumidor. Contudo, um investimento
menor analisado (placa coletora de 2m²) também apresentou um bom custo benefício,
com um payback de 4 anos e 5 meses.
Palavras-chave: TRNSYS, Desempenho Energético, Energia Solar;

655
STUDY OF STRATEGIES TO OBTAIN EFFICIENCYMAXIMUM THERMAL
OF FLAT SOLAR COLLECTORS IN RESIDENCES OF BELO HORIZONTE

Abstract: Water heating systems using solar energy are used in Brazil for domestic
purposes, due to the low cost of operation and maintenance during their life cycle.
However, the initial investment in water heating equipment and installations is relatively
high when compared to conventional systems. In addition, the installation parameters
recommended by manufacturers and by INMETRO may not be the ones that guarantee
the greatest energy performance of the collector, since they are data of average values
obtained and based much more on empirical data than on scientific realists. Therefore,
this work based on a study of the influence of parameters such as inclination and
orientation of the collector, collector plate area, seasons, local characteristics on the
thermal efficiency of a flat solar collector for Belo Horizonte, in order to obtain the
parameters that guarantee the highest energy performance of the equipment; thus, a long-
term numerical simulation was used in a transient regime by the TRNSYS software.
Through the results obtained it was possible to verify that, among the analyzed case
studies, the heating system with the highest cost benefit has an initial medium-high
investment (4m² of collector plate), due to a more interesting proportion of the useful
energy function produced by the collector / total cost of the system, which resulted in a
payback of 3 years and 2 months for the consumer. However, a smaller investment
analyzed (collecting plate of 2m²) also showed a good cost benefit, with a payback of 4
years and 5 months.
Keywords: TRNSYS, Energy Performance, Solar Energy;

1. INTRODUÇÃO

A energia solar é uma fonte de energia renovável muito interessante, uma vez que
tem um grande potencial de utilização no país e é também uma fonte de energia limpa,
inesgotável e renovável. No entanto, o maior obstáculo ao uso da energia solar é o
investimento inicial em equipamentos e instalações, que é relativamente alto quando
comparado aos sistemas convencionais. Contudo seu custo de operação e manutenção é
muito baixo durante todo seu ciclo de vida e, por esse motivo, os sistemas de aquecimento
de água através da energia solar são amplamente utilizados no Brasil para fins domésticos
em residências familiares.
Esses sistemas de aquecimento de água, no entanto, são geralmente
dimensionados de acordo com as tabelas fornecidas pelos fabricantes, que mostram o
número de placas necessárias com base no tamanho da família e no número de saídas de
água quente. Este dimensionamento é baseado muito mais em dados empíricos do que em
dados realistas científicos. Além disso, os parâmetros recomendados pelo INMETRO e
de fabricantes para a instalação de um coletor solar são apenas valores médios de dados
obtidos e, portanto, são uma estimativa e não o os que garantem maior eficiência térmica;
os mesmos também variam muito devido a questões meteorológicas, condições climáticas
e épocas do ano.
Por essa razão, é proposto um estudo da influência de parâmetros como a
inclinação e orientação do coletor, área de placa coletora, as estações do ano,
características locais (azimute, radiação disponível, temperaturas ambientais) e do
656
sistema (quantidade de água a ser aquecida, temperatura de armazenamento) sobre a
eficiência térmica de um coletor solar plano para a cidade de Belo Horizonte, a fim de
determinar se os parâmetros atuais recomendados à instalação de um coletor solar são os
que proporcionam uma eficiência térmica máxima através da simulação dinâmica usando
o software TRNSYS.
A relevância do estudo está ligada principalmente em comparar esses parâmetros
atuais recomendados pelo INMETRO e de fabricantes com os obtidos através do
software, a fim de evidenciar possíveis divergências destes como também melhorias que
podem ser feitas para o melhor desempenho energético do coletor.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O modelo utilizado é baseado no modelo desenvolvido por Lima (2003) onde foi
realizada a simulação de sistema de aquecimento solar utilizando o TRNSYS. Com base
nesse modelo validado são desenvolvidas análises de de estudos de caso variando-se
parâmetros base como a área da placa coletora, inclinação do coletor e volume do
reservatório térmico, a fim de descobrir disposição dos parâmetros que proporcionam o
maior desempenho energético para instalação de um coletor solar numa residência de
Belo Horizonte. Em seguida serão comparados os resultados obtidos do modelo validado
com os valores recomendados por fabricantes e pelo INMETRO e, como conclusão, uma
análise da relação custo benefício do modelo validado para determinar a economia de
energia total em comparação com modelos recomendados de fabricantes de coletores
O modelo de aquecimento de água por circulação natural, ou termossifão, e está
mostrado na Figura 1. O programa TRNSYS consiste em várias sub-rotinas escritas em
FORTRAN que modelam partes de sistemas térmicos e por isso foi necessário a
identificação das partes que formam o sistema de aquecimento. Uma vez identificados os
componentes do sistema e a descrição matemática de cada componente disponível,
construiu-se um fluxograma de informação para o sistema. Cada componente é
representado por uma caixa que requer um número de parâmetros constantes, dados de
entrada dependentes do tempo de simulação e produz dados de saída dependentes do
tempo de simulação. Um dado de saída de um componente pode ser usado como dado de
entrada para qualquer outro (ou outros) componente(s). Enfim, o diagrama de fluxo de
informação mostra como todo o sistema está interconectado.

657
Figura 1 -Types do Modelo – TRNSYS

Neste trabalho buscou-se verificar qual é a melhor combinação entre a inclinação


e a área da placa coletora para um dado volume fixo que resulta num maior custo benefício
anual para a cidade de Belo Horizonte.Primeiramente, através das simulações no
TRNSYS, são calculados os valores das energias anuais geradas pelo coletor solar para
os dois estudos de caso variando-se os valores da inclinação do coletor, a fim de obter
qual a inclinação ótima; depois são comparados esses valores com os recomendados pelo
INMETRO e feito a análise dos resultados. Também é calculado por meio do software
TRNSYS a inclinação ótima para cada mês do ano. Finalmente, são calculados os retornos
de investimento para ambos os estudos de caso. Nas Tabelas 1 e 2 estão apresentados os
estudos de caso analisados e os respectivos parâmetros considerados.

Tabela 1 - Estudo de Caso N° 1


Área da Placa Coletora [m²] 2
Volume do Reservatório Térmico [L] 100
Inclinações da Placa Coletora Consideradas [°] 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45
Tset [C°] 50
Investimento Inicial Total [R$] 7.000,00
Valor da Tarifa [kWh] 0,8511
Gasto Mensal com Energia Elétrica Médio [kWh] 330
Fonte: Elaboração própria

658
Tabela 2 - Estudo de Caso N° 2
Área da Placa Coletora [m²] 4
Volume do Reservatório Térmico [L] 200
Inclinações da Placa Coletora Consideradas [°] 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45
Tset [C°] 50
Investimento Inicial Total [R$] 10.000,00
Valor da Tarifa[kWh] 0,8511
Gasto Mensal com Energia Elétrica Médio[kWh] 330
Fonte: Elaboração própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 3 são apresentados os resultados para a energia útil anual produzida


pelo sistema de aquecimento solar para os diferentes valores de inclinação do coletor para
o estudo de Caso n°1 e Caso n°2.
Tabela 3 - Resultados Anuais para o Estudo de Caso N° 1 e Caso N° 2

Caso N° 1 Caso N° 2
Inclinação da Placa Coletora [°]
Energia Útil [kJ] Energia Útil [kJ]
15 6.731.338,20 13.201.322,39
20 (Ótima) 6.733.321,66 13.207.108,36
25 6.732.010,02 13.205.354,81
30 (INMETRO) 6.728.804,75 13.199.662,46
35 6.724.831,57 13.192.483,98
40 6.721.111,51 13.185.480,64
45 6.718.152,51 13.179.970,03
Fonte: Elaboração própria

A inclinação ótima do coletor para ganho de energia útil em ambos os estudos de


caso é de 20°, bem próximo da latitude de Belo Horizonte de 19,92°. Pode-se observar
também que a inclinação recomendada pelo INMETRO de 30° não é a que proporciona
a maior eficiência térmica do coletor durante um ano medido; o valor recomendado é
maior devido a alegação de que a horizontalidade dos raios solares durante o inverno
implica na necessidade de aumento da inclinação do coletor. No entanto, percebe-se que
horizontalidade é irrelevante quando comparada à localização geográfica do local de
instalação assim como condições meteorológicas durante o ano. Os resultados
apresentados são confirmados por muitos autores, entres eles: Duffie e Beckman (1991)
e Yakup; Malik (2001); ambos tiveram resultados para a inclinação ótima do coletor
variando de (latitude do local – 5°) < < (latitude do local + 5°).
Para maior detalhamento dessa análise foi então feita uma otimização da
inclinação do coletor para todos os meses do ano para ambos os estudos de caso, para

659
verificar se o intervalo entre as variações das inclinações ótimas durante os meses ano é
relevante me relação à eficiência do coletor, como também comparar o ganho energético
anual otimizado (ângulo de 20°) com o anual total com os meses otimizados
individualmente.
Nas Figuras 5 e 6 são apresentados os resultados para as inclinações ótimas do
coletor e a respectivas energias úteis mensais produzidas pelo sistema de aquecimento
solar para os estudos de caso n°1 e n°2.

Figura 2 - Gráfico da Variação da Inclinação Ótima do Coletor de Acordo com os


Meses do Ano para os Estudo de Caso N°1 e N°2.

Figura 3 - Gráfico da Variação da Energia Útil do Coletor de Acordo com os Meses do


Ano e Inclinação Ótima para o Estudo de Caso N°1 e N°2.

660
Analisando os resultados apresentados por meio das figuras 5 e 6, pode-se
perceber a inclinação ótima da placa coletora nos meses de inverno é menor quando
comparados aos meses de verão, assim como a eficiência energética, e, portanto, a análise
contraria a recomendação dada pelo INMETRO (de que deve-se aumentar a inclinação
nesse período). Isso acontece, pois nos períodos de inverno, como a irradiação solar é
menor, o coletor tende a absorver a maior quantidade de energia útil em torno do meio
dia, quando o sol está perpendicular logo acima do coletor; portanto, o coletor estando o
mais próximo ao plano (0°) é mais eficiente energeticamente. No entanto, como no verão
há uma maior disponibilidade solar ao longo do dia, o coletor tende a ter uma inclinação
levemente maior para poder absorver uma parte maior a irradiação solar variante no dia
como um todo. Para o cálculo e análise do retorno estimado de investimento no sistema
de aquecimento solar dos estudos de caso n°1 e n°2 serão levados em consideração os
dados das tabelas 3 e 4 como também os valores de energia útil anual do coletor com
inclinação ótima de 20°. O cálculo do retorno do investimento no sistema de aquecimento
pode ser calculado por meio da Equação 1.
Retorno de Investimento (ano) = Investimento/ Energia Gerada(ano) x Valor da Tarifa
(1)

Tabela 4 - Retorno de investimento


Retorno de Investimento - Estudos de Caso N°1 4 anos e 5 meses
Retorno de Investimento - Estudos de Caso N°2 3 anos e 2 meses
Fonte: Elaboração própria

Portanto, conclui-se que a instalação do sistema de aquecimento solar do estudo


de caso n°2 possui um maior custo benefício em relação ao estudo de caso n°1. Contudo,
ambos os casos apresentaram um retorno de investimento relativamente baixo, visto que
a vida útil de um sistema de aquecimento solar é em média 25 anos e o retorno de
investimento para sistemas de aquecimentos no mercado têm payback médio de 5 a
10anos; logo, é muito viável a utilização de um sistema aquecimento solar com os
parâmetros de instalação utilizados.

4. CONCLUSÃO

É importante perceber a parcela representativa que o aquecimento de água para


fins residenciais possui sobre o consumo de energia elétrica no Brasil. Um dos principais
equipamentos utilizados em residências para o aquecimento de água é o chuveiro elétrico
e o efeito do mesmo sobre o consumo é grande devido à concentração da demanda de
utilização durante o horário de pico. Portanto, este trabalho propôs ao estudo de sistemas
de aquecimento de água com energia solar por circulação natural como alternativa para a
substituição ao chuveiro elétrico. No trabalho buscou-se analisar a configuração típica de
sistemas de aquecimento solar para residências brasileiras. Por essa razão, o estudo se
desenvolveu em torno de um sistema de aquecimento direto da água a ser consumida no
banho e circulação natural da água através da diferença de densidades (por termossifão).
O reservatório adotado tem configuração horizontal e a fonte de energia auxiliar é elétrica
com um resistor localizado dentro do tanque de armazenamento, por ser o tipo de

661
reservatório térmico disponível no mercado brasileiro para sistemas de aquecimento com
energia solar. Com o programa computacional de otimização foi possível avaliar
variações de resultados de acordo com diversificação de especificações técnicas possíveis
para sistemas de aquecimento de água com energia solar por termossifão para fins
residenciais. Foram otimizados considerados dois estudos de caso tais que cada um
possuía um volume de reserva de água quente, inclinação do coletor variável e área da
placa coletora, para uma mesma temperatura de armazenamento no tanque. Estes casos
foram testados e otimizados para uma inclinação ótima de placa coletora e a energia
elétrica economizada, dependendo do valor da tarifa, produziu sensíveis efeitos no tempo
e taxa de retorno para o consumidor final.
Entre os dois estudos de caso otimizados, o que representou maior diminuição no
consumo de energia elétrica e custo benefício foi o estudo de caso n°2, que apesar de
possuir um investimento inicial um pouco maior (142%), a taxa de energia útil anual mais
do que dobrou (196%). É previsto que esse fenômeno não tenha os mesmos resultados
quanto maior o valor da área da placa e capacidade do sistema, visto que para sistemas de
grande porte para aplicações residenciais o investimento inicial é muito maior e não segue
a mesma proporção dos casos aqui analisados. Esta situação nos conduz a dedução que
um sistema ótimo depende dos interesses do investidor em questão e do valor da tarifa de
energia elétrica consumida também, visto que foi feita uma análise simples com o valor
da tarifa constante para um ano inteiro. Os resultados indicam como o tradicional
dimensionamento baseado nas especificações recomendadas pelos fabricantes é
demasiadamente simplista e conduz a custos elevados para o consumidor. Com os
conhecimentos atuais disponíveis para sistemas passivos e diretos de aquecimento da
água com energia solar e a capacidade dos computadores modernos é possível fazer um
dimensionamento menos empírico e mais próximo da realidade, levando em conta as
características locais (azimute, radiação disponível, temperaturas ambientais) e do
sistema (quantidade de água a ser aquecida, temperatura de armazenamento, inclinação
da placa coletora).

AGRADECIMENTOS

CEFET-MG, CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Instalações Água Quente.


São Paulo, PCC/EPUSP, 1996. (Texto Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de
Engenharia de Construção Civil, TT/PCC/09, 64 p.).

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<https://www.ecycle.com.br/component/content/article/69-energia/3510-
sistemasolarfotovoltaico-aquecimento-agua-banho-poupanca-energetica-como-funciona-
isolante-gas-eletrico-componentes-diferencas-coletores-fechados-abertos-tubulares-vacuo-
instalacao-consumo-meio-ambiente-impactos-ambientais-emissoes.html> Acesso em: 10
novembro de 2018.

662
Benefícios do Aquecedor Solar. Disponível em:<https://www.abrasol.org.br/beneficios-do-
aquecedor-solar/> Acesso em: 10 novembro de 2018.

BEZERRA, A. M. Aplicações Térmicas da Energia Solar. Editora Universitária. Terceira


Edição, 1998, João Pessoa.

BORGES, T. P. F. Síntese otimizada de sistemas de aquecimento solar de água. Campinas,


2000. 128 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de
Campinas.
Coletor Solar para Banho - PBE 2018. Disponível em:
<http://www.inmetro.gov.br/consumidor/pbe/Coletor-Solar-Banho-PBE-2018.pdf>Acesso em:
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DUFFIE, J. A.; BECKMAN, W. A. Solar Engineering of Thermal Processes. 20 ed. New York:
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<https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/15122/3/EstudoDesempenhoAquecedor.pdf>
Acesso em: 10 novembro de 2018.

HUDSON, L. G.; MARKELL, J. Solar techonology. Reston: Reston Publishing Company,


1985.

ILHA, M.S.O. Estudo de parâmetros relacionados com a utilização de água quente em edifícios
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de São Paulo.

ILHA, M.S.O.; GONÇALVES, O. M.; KAVASSAKI, Sistemas Prediais de Água Quente. São
Paulo, PCC/EPUSP, 1996. (Texto Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de
Engenharia de Construção Civil, TT/PCC/09, 64 p.).

INCROPERA, F.P.; DEWITT, D.P. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa, 4ª Ed,


LTC Editora, Rio de Janeiro, 2008.

INMETRO, Instituto Nacional de Metrologia. Normalização e Qualidade industrial. Programa


Brasileiro de Etiquetagem – Sistemas e Equipamentos para Aquecimento Solar de Água –
Coletores Solares para banho. Edição de Maio de 2008.

LIMA, J.B.A. Otimização de sistema de aquecimento solar de água em edificações residenciais


unifamiliares utilizando o programa TRNSYS. 2003. 123p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
Manual Técnico. Disponível em: <http://www.soletrol.com.br/extras/manuais/pdfs/manual-
tecnico.pdf> Acesso em: 16 novembro de 2018.

O Cobre na Energia Solar. Disponível em:


<http://www.philomenojr.com.br/downloads/Informacoes/Eluma%20S.A/O%20Cobre%20na%
20Energia%20Solar%203.pdf> Acesso em: 16 novembro de 2018.

O Cobre na Energia Solar. Disponível em:


<http://www.philomenojr.com.br/downloads/Informacoes/Eluma%20S.A/O%20Cobre%20na%
20Energia%20Solar%205.pdf> Acesso em: 16 novembro de 2018.
663
PRADO, R. T. A. Gerenciamento de demanda e consumo de energia para aquecimento de água
em habitações de interesse social. São Paulo, 1991. 261p. Dissertação (Mestrado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo.

PRADO, R. T. A.; GONÇALVES, O. M. Gerenciamento de demanda e consumo de energia


para aquecimento de água em habitações de interesse social: resumo. São Paulo, PCC/EPUSP,
1992. (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, BT/PCC/59).

SistemasSolarPBE_rev07 2018. Disponível em:


<http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtosPBE/regulamentos/SistemasSolarPBE_rev07.
pdf> Acesso em: 23 novembro de 2018

664
SIMULAÇÃO NUMÉRICA E COMPARATIVA DA EFICIÊNCIA DOS
COLETORES SOLARES PLANO E COM TUBO EVACUADO

Frederico Romagnoli Silveira Lima1, Josadaque Gadelha da Silva1, Guilherme Ribeiro


Ferreira Duarte1
1
CEFET-MG
E-mail: j.gadelha@hotmail.com

RESUMO: O uso de coletores solares para o aquecimento de água é uma excelente


alternativa para a redução do consumo de energia elétrica nas residências brasileiras. No
mercado estão disponíveis diversos modelos e marcas de coletores solares planos e
coletores solares de tubo evacuado. Nesse trabalho, apresenta-se uma simulação numérica
por meio do software TRNSYS 16 onde foi realizada uma comparação da eficiência
térmica utilizando dois coletores solares, um coletor plano e um coletor de tubo evacuado.
Os resultados mostraram que os melhores desempenhos, considerando o calor útil gerado
pelos coletores, a quantidade de energia elétrica requerida pelo sistema auxiliar e a
eficiência dos coletores, ocorreram com o aumento da área coletora. Para diferentes áreas
coletoras, a eficiência pode variar em até 6% para coletores planos e 13% para coletores
de tubo evacuado. Comparando os sistemas de mesma área coletora, coletores de tubo
evacuado, possuem em média, eficiência maior em 20% do que os coletores planos.
Palavras-chave: Sistema de aquecimento solar de água, Simulação Numérica, Eficiência
Energética.

NUMERICAL SIMULATION AND COMPARATIVE EFFICIENCY OF THE


FLAT-PLATE AND EVACUATED TUBE SOLAR COLLECTORS

ABSTRACT: The use of solar collectors for traditional domestic water heating provides
an excellent alternative to reduce electrical energy consumption in Brazil’s households.
Several models and brands of flat-plate and evacuated tube solar collectors are available
on the market. In this work, numerical simulations are presented using TRNSYS 16, a
TRansient SYstem Simulation Program, to analyze the thermal efficiency of flat-plate
solar collector compared with the evacuated tube solar collector. The results showed that
the best performance was achieved with increasing the collecting area of the solar water
heater, take into account the useful heat generated in solar thermal collectors, the amount
of auxiliary electricity and efficiency. When comparing the effective collecting area the
performance value may vary up to 6% in a flat-plate collector and 13% in an evacuated
tube collector. Compare the systems using the same effective collecting area value, we
found that evacuated tube collectors have more efficiency than flat collectors, on average,
20%.
Keywords: Solar water heating system, Numerical Simulation, Energy Efficiency.

1. INTRODUÇÃO

A energia solar é uma das mais promissoras, pois pode ser utilizada tanto para
geração de energia elétrica e mecânica, quanto para o aproveitamento da energia térmica

665
(HOFFMAN, 2012). Atualmente, o aproveitamento da energia térmica para aquecimento
da água é bastante difundido. Porém, estudos demonstram que o aquecimento da água é
feito 73,5 % das vezes a partir da energia elétrica e 99,6 % desse valor, através do chuveiro
elétrico (SILVA, 2015). A utilização da energia solar térmica para aquecimento de água
em substituição à energia elétrica seria uma boa alternativa, uma vez que é uma fonte de
energia economicamente mais viável, limpa, renovável e de grande abundância no
território brasileiro.
Os coletores solares térmicos mais utilizados no mundo são os planos e os de tubos
evacuados (MESQUITA, 2013). Assim, o objetivo deste trabalho é comparar o
desempenho energético ao longo de um ano dos sistemas de aquecimento de água
utilizando os coletores solar plano e de tubo evacuado.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O valor do fluxo de radiação solar que chega a terra através de uma superfície
normal aos raios solares, localizada a uma distância média entre o sol e a terra, é 1367
W/m² (DUFFIE e BECKMAN, 2013). Entretanto, a quantidade de energia que chega ao
nível superficial da terra varia com a latitude, as estações do ano, a hora do dia, as
condições do céu e as condições atmosféricas (LIMA, 2003).
Os sistemas de aquecimento de água são compostos de diversos componentes,
porém essencialmente, deverão possuir coletores solares, reservatório térmico, fonte
auxiliar de energia e uma rede de distribuição de água aquecida.
Os coletores solares são dispositivos que captam radiação solar e a transformam
em energia térmica e, com a menor quantidade de perdas, aquecem um fluido de trabalho.
Para esta pesquisa foram considerados os coletores planos fechados e os coletores de tubo
evacuado de transferência direta, para uso doméstico. Os coletores planos fechados são
constituídos por uma placa absorvedora, um isolamento térmico, tubulação, cobertura e
caixa externa.
Existe uma maior variedade de coletores de tubo evacuado, se comparado aos
coletores planos. Com quatro configurações existentes no mercado: os de transferência
direta, chapa com tubo em U, tubo metálico concêntrico e tubo de calor. Os de
transferência direta são os mais empregados no Brasil (ROSA, 2012), por isso, foram
estudados nesta pesquisa. Os coletores de tubo evacuados geralmente são constituídos
pelos tubos concêntricos, cabeçote e estrutura.
A circulação do fluido de trabalho dentro do coletor em um sistema de aquecimento
solar pode ser forçada ou natural, através do efeito termossifão. Nos sistemas de
circulação forçada, uma bomba é instalada para promover a movimentação do fluido de
trabalho vindo do reservatório frio para dentro do coletor e depois em direção ao
reservatório térmico.
O reservatório térmico em um sistema de aquecimento de água para uso
residencial é um acumulador de energia, já que o momento de geração de energia térmica
não é necessariamente o momento de utilização da água aquecida (LIMA, 2003).
Os sistemas de aquecimento solar de água não são projetados para atender a
demanda total de água quente (LIMA, 2003). Devido a isso, utiliza-se uma fonte de energia
auxiliar, que serve para suprir a demanda energética caso fosse necessário.

666
Deve-se definir alguns parâmetros importantes ao realizar o estudo dos coletores
solares, como a área, o calor útil e a eficiência do coletor.
A norma brasileira NBR 15747-2 [ABNT, 2009] define três áreas a serem
consideradas em um coletor solar. A área absorvedora (Aabs), a área de abertura (Aab), e a
área total (At).
O calor útil de um coletor é definido de acordo com DUFFIE e BECKMAN (2013)
como a quantidade de calor transferida para o fluido de trabalho pelo coletor (Equação
1).
𝑄𝑢 = 𝐴𝑎𝑏𝑠 [𝐹𝑅 (𝜏𝛼 )𝐺 − 𝐹𝑅 𝑈𝐿 (𝑇𝑒 ( 1)
− 𝑇𝑎 )]
Onde:
Qu = Calor útil em W;
Aabs = Área absorvedora em m2 ;
FR = Fator de remoção de calor;
𝜏 = Transmissividade da cobertura;
𝛼 = Absortância da placa absorvedora;
UL = Coeficiente global de perdas térmicas em W.m-2.K-1 ;
Te = Temperatura de entrada do fluido de trabalho em K;
Ta = Temperatura ambiente em K.

Os valores 𝐹𝑅 (𝜏𝛼 ) e FRUL são fornecidos pelos fabricantes.


A eficiência do coletor é definida por DUFFIE e BECKMAN (2013) como a razão
do calor útil recebido pelo fluido e a radiação incidente sobre uma área definida do
coletor, conforme mostrado na Equação (2).

𝑄𝑢 (2)
𝜂=
𝐺𝐴𝐶
Onde:
𝜂 =Eficiência do coletor;
Qu = Calor útil em W;
Ac = Área em m2 ;
G = Radiação incidente em W.m-2

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho visa comparar o desempenho de coletores solares do tipo plano e


evacuado, quanto a eficiência e à utilização da energia elétrica auxiliar, nos sistemas de
aquecimento solar de água com circulação forçada para consumo residencial de três perfis
de utilização, definidos conforme a norma brasileira NBR 15569. A cidade de referência
foi Belo Horizonte (MG).
Após todas essas definições, os sistemas foram simulados no software TRNSYS
que é capaz de simular todos os componentes do sistema, incluindo as informações
meteorológicas (arquivos climáticos) e demandas de consumo de água quente. Todas as
simulações foram feitas com duração de um ano (8760 horas).

667
3.1 Descrição do modelo e simulação

O modelo foi derivado de um sistema de aquecimento solar doméstico de água


presente no TRNSYS, do inglês Solar Domestic Hot Water Heating (SDHW), que simula
o processo de aquecimento de água utilizando um coletor solar plano, reservatório térmico
estratificado com resistência auxiliar interna, válvulas de controle de temperatura e
misturador de água. Utilizando como base este exemplo foi feito um modelo afim de
comparar dois sistemas de aquecimento solar de água, um utilizando coletor plano e outro,
um coletor de tubo evacuados. Os dados meteorológicos coletados para a modelagem do
sistema de aquecimento foram extraídos do software Meteonorm. Os coletores solares
utilizados representam coletores fictícios, porém possuem em seus códigos equações
matemáticas que simulam os fenômenos que realmente ocorrem nos coletores reais. Nas
simulações foram consideradas apenas uma placa coletora, variando a área de absorção e a
inclinação da placa solar.
Para os valores de 𝐹𝑅 (𝜏𝛼 ) e FRUL foram utilizados, respectivamente, 0,8 e 3,6 de
acordo com tabela do INMETRO para coletor plano. Já para o coletor de tubo evacuado,
os valores de 𝐹𝑅 (𝜏𝛼) e FRUL foram 0,8 e 1,7, respectivamente (TERMANN, 2013).
No modelo foram utilizados dois reservatórios térmicos iguais, uma para cada
sistema de aquecimento solar conforme norma brasileira NBR 15569 [ABNT, 2008]. Para
esta simulação foram utilizados reservatórios térmicos verticais com uma resistência
elétrica de 3000W. A demanda de água quente foi dimensionada apenas para o banho e
foi dividida em três tipos diferentes. Denominadas neste trabalho como Família 1, Família
2 e Família 3. Os dados definidos para cada família estão apresentados na Tabela 1.
Foi utilizada uma bomba no sistema para forçar a passagem da água nos coletores.
Ela é controlada através da temperatura de saída para consumo do reservatório, ou seja,
caso a temperatura de saída seja menor do que 50 °C, a bomba é acionada. A vazão
máxima da bomba é de 400kg.h-1 e potência máxima é 120W.
Tabela 1 – Definições dos dados de utilização de água quente das famílias.
Volume
Vazão
Quantidade Quantidade de Tempo de diário de
Famílias de água
de pessoas banhos/pessoa banho (min) consumo
(l/min)
(l)
Família 1 2 2 10 5 200
Família 2 3 1 15 10 450
Família 3 4 2 10 15 1200
Fonte:Elaborado pelo autor (2016).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dimensionamentos dos reservatórios térmicos e das áreas coletoras foram


realizados para cada família 1, 2 e 3. O primeiro passo é o cálculo do consumo diário de
água quente, que pode ser calculado pela Equação (3):

668
𝑉𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 = ∑(𝑄𝑝𝑢 × 𝑇𝑢 × 𝑓𝑟𝑒𝑞𝑢ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑢𝑠𝑜) (3)
Onde:
Vconsumo = Consumo diário de água quente em m3 ;
Qpu = Vazão da peça de utilização em m3.s-1 ;
Tu = Tempo médio de uso diário da peça de utilização em s;

O segundo passo é calcular o volume do sistema de armazenamento, o reservatório


térmico, que pode ser calculado como:

𝑉𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 × (𝑇𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 − 𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 ) (4)


𝑉𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. =
(𝑇𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. − 𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 )
Onde:
𝑉𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. = Volume de armazenamento em m3 ;
𝑇𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 = Temperatura de consumo de água quente em °C;
𝑇𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. = Temperatura de armazenamento de água quente em °C;
𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 = Temperatura ambiente em °C.

Utilizando os valores de Tconsumo = 40°C e Tarmaz. = 50°C e considerando a


temperatura ambiente média do Brasil igual a 23 °C, pode-se calcular o volume do
reservatório térmico para cada família. A norma NBR 15569 [ABNT, 2008], sugere que
𝑉𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. ≥ 75% 𝑉𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 , sendo assim, os volumes dos reservatórios escolhidos que
respeitam a proporção indicada na norma são da fabricante KOMECO. Na Tabela 2
observa-se os valores de consumo diário de água quente para cada família.

Tabela 2 - Volume necessário do sistema de armazenamento de cada família.

Famílias 𝑽𝒄𝒐𝒏𝒔𝒖𝒎𝒐 [m³] 𝑽𝒂𝒓𝒎𝒂𝒛. [m³] 𝑽𝒓𝒆𝒔𝒆𝒓𝒗𝒂𝒕ó𝒓𝒊𝒐 [m³]


Família 1 2,00E-01 1,26E-01 2,00E-01
Família 2 4,50E-01 2,83E-01 4,00E-01
Família 3 1,20E+00 7,56E-01 1,00E+00
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

O terceiro passo é calcular a demanda de energia útil e as perdas térmicas do


sistema. A energia útil e as perdas térmicas podem ser calculadas pelas Equações (5) e
(6):

𝐸𝑢𝑡𝑖𝑙 (5)
𝑉𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. × 𝜌 × 𝐶𝑝 × (𝑇𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧. − 𝑇𝑎𝑚𝑏𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 )
=
3600

𝐸𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = 0,15 × 𝐸𝑢𝑡𝑖𝑙 (6)

669
Onde:
𝐸𝑢𝑡𝑖𝑙 = Demanda de energia útil em kWh.dia -1 ;
𝐸𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = Perda térmica em kWh.dia -1 ;
𝜌 = Massa específica da água em kg.m-3 ;
𝐶𝑝 = Calor específico da água em kJ.kg-1.K-1.

De acordo com a norma brasileira NBR 15569 [ABNT, 2008], a perda térmica é
calculada como sendo 15% da demanda de energia útil. Na Tabela 3 são apresentados os
valores de energia útil e perdas térmicas para cada família.

Tabela 3 – Demanda de energia útil e perdas térmica do sistema de cada família.


Famílias 𝑽𝒓𝒆𝒔𝒆𝒓𝒗𝒂𝒕ó𝒓𝒊𝒐 [m³] 𝑬𝒖𝒕𝒊𝒍 [kWh/dia] 𝑬𝒑𝒆𝒓𝒅𝒂𝒔 [kWh/dia]
Família 1 2,00E-01 6,27 0,94
Família 2 4,00E-01 12,54 1,88
Família 3 1,00E+00 31,35 4,70
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

O passo final é o cálculo da área coletora necessária para a produção de energia


útil. Para este passo, foram feitos os cálculos para o coletor solar plano, sendo que o
sistema foi dimensionado conforme a norma NBR 15569 [ABNT, 2008]. As Equações
(7), (8) e (9) são usa para o cálculo da área coletora.

𝑃𝑀𝐷𝐸𝐸 = 4,901 × (𝐹𝑟(𝜏𝛼 ) − 0,0249 × 𝐹𝑟𝑈𝐿 ) (7)

1
𝐹𝑐𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙 = (8)
1 − [1,2 × 10−4 × (𝛽 − 𝛽ó𝑡𝑖𝑚𝑜 )2 + 3,5 × 𝛾 2 ]

(𝐸𝑢𝑡𝑖𝑙 + 𝐸𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 ) × 𝐹𝑐𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙 × 4,901


𝐴𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟𝑎 = (9)
𝑃𝑀𝐷𝐸𝐸 × 𝐼𝐺

Onde:
𝑃𝑀𝐷𝐸𝐸 = Produção média diária de energia específica do coletor solar em kWh.dia -1.m-
2
;
𝐹𝑟(𝜏𝛼 ) = Coeficiente de ganho do coletor solar;
𝐹𝑟𝑈𝐿 = Coeficiente de perdas do coletor solar;
𝐹𝑐𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙 = Fator de correção para a inclinação e orientação do coletor solar;
𝛽 = Inclinação do coletor solar em relação a horizontal em graus (°);
𝛽ó𝑡𝑖𝑚𝑜 = Inclinação ótima do coletor para o local de instalação em graus (°);
𝛾 = Ângulo de orientação dos coletores solares em relação ao norte geográfico, em graus
(°);
𝐴𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟𝑎 = Área coletora em m2;
𝐼𝐺 = Irradiação global média anual para o local da instalação, em kWh.m-2.dia-1.
670
Tendo como referência a cidade de Belo Horizonte (MG), os seguintes parâmetros
possuem os seguintes valores: Irradiação global diária anual de acordo com o Atlas
Brasileiro de Energia Solar, 𝐼𝐺 ≈ 4 kWh.m-2.dia-1, ângulos 𝛽 = 𝛽ó𝑡𝑖𝑚𝑜 = 29∘ iguais a
latitude de Belo Horizonte acrescido 10º e 𝛾 = 0∘. Assim, é possível calcular os
parâmetros para calcular a área coletora.
Os valores 𝑃𝑀𝐷𝐸𝐸, 𝐹𝑐𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙 e 𝐴𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟𝑎 para o coletor plano estão representados
na Tabela 4 para cada sistema utilizado nas famílias 1, 2 e 3.

Tabela 4 – Valores 𝑃𝑀𝐷𝐸𝐸, 𝐹𝑐𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙 e 𝐴𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟𝑎 para os sistemas de cada família.


Famílias 𝑷𝑴𝑫𝑬𝑬 [kWh/dia] 𝑭𝒄𝒊𝒏𝒔𝒕𝒂𝒍 𝑨𝒄𝒐𝒍𝒆𝒕𝒐𝒓𝒂 [m²]
Família 1 3,48 1 2,54
Família 2 3,48 1 5,08
Família 3 3,48 1 12,69
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Para a validação da simulação, utilizou-se como referência os valores calculados


de demanda de energia útil diária dos sistemas para cada família com os valores de energia
útil das simulações. Na Tabela 5 são apresentados os valores comparativos de cada
sistema para o tipo de família com seus respectivos valores calculados analiticamente.

Tabela 5 – Validação das simulações dos sistemas.


Simulação Cálculo analítico

𝑨𝒄𝒐𝒍𝒆𝒕𝒐𝒓𝒂 𝑬𝒖 𝑬𝒖
Famílias 𝑬𝒖 [kJ] 𝑬𝒖 [kWh]
[m²] [kWh/dia] [kWh/dia]
Família 1 2,5 5.307.644,56 1.474,35 4,04 6,27
Família 2 5 12.785.993,64 3.551,66 9,73 12,54
Família 3 13 36.826.320,73 10.229,53 28,03 31,35
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Após a validação dos sistemas, foram feitas análises dos principais parâmetros
que afetam o desempenho. Nesse caso, a eficiência do coletor e a quantidade de energia
elétrica auxiliar utilizada foram avaliadas. Para o calculo da eficiência, quanto maior o
valor da energia útil, melhor o desempenho, já em relação à energia elétrica, o contrário
é considerado verdadeiro. Os parâmetros cujas influências foram analisadas, conforme
recomendado em NBR 15569 [ABNT, 2008], são: o perfil de utilização de água quente e
a área do coletor, além de diferentes volumes de consumo de água, e este último é
representado pelas famílias.
Neste artigo é apresentada a análise da influência da área coletora sobre o perfil
de utilização da família 3, apresentado no Gráfico 1, considerando que todos os banhos
das pessoas dessa família são tomados consecutivamente, sem espaço de tempo entre um
e outro. Foram considerados os tempos somente entre os turnos da manhã e da noite.
671
Gráfico 1 - Perfil de utilização diária de água quente da família 3.
1000 900 900
Vazão mássica
de água (kg/h)

500

0
00:00 08:00 08:00 08:40 08:40 12:00 18:00 20:00 20:00 00:00 20:40 23:59

Horas do dia
Fonte: Elaborado pelo autor (2016).

Os valores de área coletora utilizados foram de 11, 13 e 15 m2, sendo o valor


intermediário o mais próximo do dimensionado. Os valores de irradiação no plano
inclinado (𝐺), calor útil (𝑄𝑢 ), energia elétrica auxiliar (𝐸𝑒𝑎𝑢𝑥 ) consumida e eficiência dos
coletores para os valores de área coletora da família 3 em cada sistema utilizando o coletor
plano e o de tudo evacuado são mostrados na Tabela 6.

Tabela 6 – Verificação da influência do tamanho da área coletora para sistemas


utilizando coletores planos e de tudo evacuado.
Coletor plano Coletor tubo evacuado
Área coletora 𝑮 𝑸𝒖 𝑬𝒆𝒂𝒖𝒙 𝑸𝒖 𝑬𝒆𝒂𝒖𝒙
𝜼 𝜼
(m²) [GJ/m²] [GJ] [kWh] [GJ] [kWh]
11 5,69 33,44 183,63 53,4% 47,88 26,39 77%
13 5,69 36,83 135,84 50% 51,41 11,74 70%
15 5,69 39,49 99,53 46% 54,58 5,65 64%
Fonte: Elaborado pelo autor.

É possível observar que a área coletora influencia significativamente os


parâmetros mostrados na Tabela 6. O calor útil é diretamente proporcional a área coletora,
enquanto a energia elétrica auxiliar e eficiência dos coletores possuem relação inversa.
Comparando os valores dos parâmetros entre os sistemas, observa-se que o coletor com
tubo evacuado é vantajoso, mesmo comparando os valores da menor área deste coletor
com a maior área do coletor plano.

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho foi possível utilizar o software TRNSYS para criação de um


modelo que simule o comportamento dos sistemas de aquecimento solar de água com
circulação forçada, utilizando os coletores solares planos e de tubo evacuado permitindo
uma comparação entre eles.

672
A área coletora representa um fator bastante importante na análise do calor útil
dos coletores, apresentando uma relação direta: quanto maior a área coletora, maior o
calor útil do coletor. De maneira inversa, o aumento da área coletora proporciona uma
redução na energia elétrica auxiliar necessária ao sistema. O aumento de 1m2 de área
coletora representa uma redução média de 1,85% na eficiência dos coletores planos e de
3,25% para coletores de tubo evacuado.
Todas as simulações foram fundamentais para mostrar, que para as mesmas áreas
coletoras, os sistemas de coletor solar de tubo evacuado possuem desempenho superior
que os de coletor plano, possuindo em todos os casos maior calor útil gerado, maior
eficiência e menor quantidade de energia elétrica auxiliar necessária.

AGRADECIMENTOS

CEFET-MG, CAPES, CNPq e FAPEMIG pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15569 – Sistema de aquecimento solar
de água em circuito direto – Projeto e instalação, Rio de Janeiro, 2008.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15747-1 – Sistemas Solares Térmicos
e Seus Componentes, Rio de Janeiro, 2009.

DUFFIE, John A.; BECKMAN, Willian A. Solar Engineering of Thermal Processes. 4th ed.
Hoboken: John Wiley & Sons, 2013.

HOFFMANN, Ronaldo et al. Comparação econômico-ambiental entre coletores solares do tipo


placa plana e tubo evacuado. 3º Congresso Internacional de Tecnologias Para O Meio
Ambiente, Bento Gonçalves, p.1-8, abr. 2012.

LIMA, Juliana Benoni Arruda. Otimização de sistema de aquecimento solar de água em


edificações residenciais unifamiliares utilizando o programa Trnsys. 2003. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.

SÁLES, Isolda Cíntia Ferreira de. Análise da substituição do chuveiro elétrico por aquecedor
solar: uma contribuição ao setor elétrico na conservação de energia. 2008. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Química) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió.

SILVA, Fúlvio Aron Góes. Análise numérica de um coletor solar híbrido de placa plana (PVT)
para a produção de eletricidade e água. 2015. Monografia (Conclusão do curso de Engenharia
Mecânica) - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte.

TRNSYS. What is TRNSYS? Disponível em: <http://www.trnsys.com/> . Acesso em: 14 nov.


2016.

673
TÉCNICAS MPPT: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PRINCIPAIS
MÉTODOS E SUA INFLUÊNCIA NA EFICIÊNCIA DO SISTEMA
FOTOVOLTAICO

José Ramon Nunes Ferreira1, Ewerton Brasil da Silva Queiroz1, Francisco Carlos Leite
Brasil1, Alberto Soto Lock1, Kleber Carneiro de Oliveira1
1
Universidade Federal da Paraíba
E-mail: joseramonnunes@gmail.com

RESUMO: O presente estudo aborda uma análise comparativa das principais estratégias
MPPT (Maximum Power Point Tracking) utilizadas atualmente em sistemas
fotovoltaicos, tendo como metodologia a revisão da literatura sobre o assunto e a
discussão do objeto. Procurou-se explanar o tema analisando a variação da geração da
máxima potência diária sob o efeito das alterações climáticas, principalmente das
variáveis como a irradiação solar e o sombreamento parcial de áreas livres (causados por
nuvens). Discutiu-se sobre os rastreamentos de máxima potência diretos e indiretos,
dentre eles os métodos Perturbe e Observe (P&O), Incremental (Inc), método da
Temperatura e o da Tensão Constante, são relacionando-os à praticidade de suas
aplicações, facilidade e usabilidade em sistemas de energia limpa. Observou-se que o
método P&O (Perturbe e Observe), apesar de ser uma estratégia simples, serve de base
para evolução de métodos mais sofisticados.
Palavras-chave: Método P&O, Sistemas Fotovoltaicos, Técnicas MPPT.

MPPT TECHNIQUES: A COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN THE MAIN


METHODS AND THEIR INFLUENCE ON THE EFFICIENCY OF THE
PHOTOVOLTAIC SYSTEM

ABSTRACT: The present study addresses a comparative analysis of the main MPPT
(Maximum Power Point Tracking) strategies currently used in photovoltaic systems, with
the methodology of reviewing the literature on the subject and discussing the object. We
tried to explain the theme by analyzing the variation in the generation of maximum daily
power under the effect of climate change, mainly of variables such as solar irradiation
and partial shading of free areas (caused by clouds). Direct and indirect maximum power
screenings were discussed, including the Disturb and Observe (P&O), Incremental (Inc),
Temperature and Constant Voltage methods, relating them to the practicality of their
applications, ease and usability in clean energy systems. It was observed that the P&O
method (Disturb and Observe), despite being a simple strategy, serves as a basis for the
evolution of more sophisticated methods..
Keywords: P&O Method, Photovoltaic Systems, MPPT Techniques

1. INTRODUÇÃO

O aumento do consumo em escala global contribui para o crescimento da demanda


de geração de energia. Sob a ótica de uma expansão populacional equilibrada e
sustentável, formas de energias renováveis disponíveis na atmosfera devem ser utilizadas

674
em benefício da sociedade e da estabilidade da biosfera (COELHO, 2010). É o exemplo
da energia solar, trata-se de uma energia infinita, limpa, renovável e disponível na
superfície terrestre.
As energias renováveis atingem um patamar relevante nos sistemas elétricos e são
cada vez mais necessárias para garantir a sustentabilidade nas matrizes energéticas e
elétricas atuais e futuras. Provavelmente, a Energia Fotovoltaica PV (PhotoVoltaic) é a
mais utilizada para geração de eletricidade dentre todas as fontes de energia renováveis.
Portanto, é um campo que detém uma quantidade considerável de investigação realizada
recentemente pela comunidade científica (JANA; SAHA; DAS BHATTACHARYA,
2017).
A geração de potência de um arranjo PV, na qual é transmitida para o conversor
CC/CA (Corrente Contínua/Corrente Alternada) é variável no decorrer do dia (Figura 1),
pois a irradiação não é contínua devido a fatores naturais, ocasionando geração de valores
de tensão e corrente não controlados. Isso pode ser um problema para o conversor, pois
este pode não estar configurado para receber picos de tensão e corrente dentro de sua
margem de segurança de operação. Além disso, o sistema torna-se ineficiente por não
estar aproveitando seguramente a potência máxima gerada pelo agrupamento matricial de
placas fotovoltaicas.
Este trabalho objetiva discutir sobre os principais métodos de rastreamento de
máxima potência, destacando suas principais características, funcionalidades e sua
importância num sistema de geração solar fotovoltaica.

Figura 1 - Variação da tensão durante o dia no arranjo PV

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa qualitativa que propõe comparar os mais relevantes tipos
de rastreamentos da literatura científica, explanando de forma sucinta, as principais
características dos objetos pesquisados.

675
Como existem vários algoritmos MPPT disponíveis na literatura, é necessário
compará-los e, em seguida, selecionar o MPPT mais adequado para uma aplicação
específica. A comparação dos métodos de rastreamento é apresentada na Tabela 1 para
os tipos de rastreamento direto. As técnicas mais utilizadas em produtos comerciais são
as de P&O (Barros Vieira e Mota, 2008; "Carregador de bateria solar de alta eficiência
com MPPT incorporado - SPV1040", 2017) e INC ("High Voltage Isolated Solar MPPT
Developers Kit", n.d.).

Tabela 1 – Características dos rastreadores MPPT diretos


Categoria de Velocidade de
MPPT Eficiência
rastreamento rastreio
Média
Baixa
Método Perturbe Direto (Verma et al., (Gupta et al.,
(Verma et al.,
e Observe (P&O) 2016) 2016; Verma et
2016)
al., 2016)
Boa
Método de Média
(Gupta et al.,
Condutância Direto (Verma et al., (Verma et al.,
2016; Verma et
Incremental (Inc) 2016)
al., 2016)

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Tipos de rastreamento

Os tipos de rastreamento de máxima potência do arranjo PV são classificados em


diretos e indiretos. No rastreamento direto, a tensão e a corrente geradas pelo arranjo de
placas são monitoradas continuamente durante a operação efetiva do painel fotovoltaico,
ou seja, as variáveis são lidas na planta em tempo real, devolvendo a cada instante os
valores atualizados para o sistema. No rastreamento indireto, o ponto de máxima potência
é calculado a partir de uma base empírica de dados previamente estabelecida.

3.2 Rastreamentos diretos

3.2.1 Método Perturbe e Observe (P&O)

O método de Perturbação e Observação é bastante conhecido e utilizado por ser


um algoritmo de fácil implementação, não necessitar de sensores adicionais e complexos
para seu funcionamento. Seu princípio básico está na perturbação da tensão, logo quando
ela é observada.
Neste método, a tensão de operação atinge o Ponto de Máxima Potência e opera
em torno dele devido aos incrementos positivos e negativos, de acordo com a taxa de
variação da potência em relação tensão, conforme é exibido no Gráfico 1. Este princípio
operacional revela o problema da oscilação (ÇELIK, 2017). Além disso, este algoritmo
pode falhar em especificar a direção de perturbação correta sob mudanças rápidas das
condições atmosféricas.

676
Gráfico 1 - Curva de Potência

Onde:
𝑑𝑃 Taxa de variação da Potência
𝑑𝑉 Taxa de variação da Tensão
MPP Maximum Power Point

Sendo assim, logo quando a tensão de operação do arranjo PV é perturbada numa


𝑑𝑃
direção, observa-se o valor da potência P. Se P(k)>P(k-1), ou seja, 𝑑𝑉 > 0, o algoritmo
continua a perturbar a tensão do arranjo fotovoltaico na mesma direção. Se P(k)<P(k-1),
𝑑𝑃
ou seja, 𝑑𝑉 < 0, então o método P&O faz a direção invertida da perturbação.
A Figura 2 mostra o fluxograma do algoritmo de implementação do método P&O.
Basicamente, o algoritmo está estruturado em apenas uma decisão, que está na
comparação do valor da potência medida P(k) com o último valor P(k-1) aferido.

Figura 2 - Fluxograma do algoritmo P&O


677
Onde:
𝑉(𝑘) Tensão gerada pelo arranjo PV
𝐼(𝑘) Corrente gerada pelo arranjo PV
𝑃(𝑘) Potência calculada
𝑉𝑟𝑒𝑓 Tensão referencial
∆𝑉 Variação da tensão

Em síntese, a influência do tamanho do passo de perturbação do método P&O


determina a velocidade de rastreamento e controle do Ponto de Máxima Potência, ou seja,
quanto maior o passo de perturbação mais rapidamente o sistema se aproxima do MPP.
Nesta perspectiva, para as condições em que a irradiância começa a aumentar
rapidamente, o tamanho do passo de perturbação será menor, devido a oscilações em
torno do MPP, o que provoca uma imprecisão no rastreamento, tornando este método
pouco eficiente para situações de mudança repentina das condições atmosféricas.

3.2.2 Método de Condutância Incremental (InC)

O método de Condutância Incremental, assim como o P&O atua no


monitoramento full time da tensão e corrente do arranjo PV. Essa estratégia foi
desenvolvida para suprir as deficiências existentes no algoritmo P&O. Em termos de
velocidade de rastreamento, precisão de rastreamento e eficiência global do sistema, o
método de Condutância Incremental é muito superior comparado ao método P&O. No
entanto, este método é mais complexo e mais susceptível a ruídos e erros nos valores de
controle medidos.
Este método é baseado fundamentalmente no fato de que a taxa de variação da
potência de saída do painel fotovoltaico com relação a sua tensão é nula, conforme mostra
a equação abaixo (ÇELIK, 2017):

𝑑𝑃
=0
𝑑𝑉
𝑑(𝐼𝑉) 𝑑𝐼 ∆𝐼
= 𝐼 + 𝑉 𝑑𝑉 ≅ 𝐼 + 𝑉 ∆𝑉 (1)
𝑑𝑉

Neste caso, a equação 1 pode explicar o funcionamento do sistema, conforme


expressões abaixo:

∆𝐼 𝐼
= − 𝑉 , o valor calculado está no MPP na curva de potência.
∆𝑉

∆𝐼 𝐼
> − 𝑉 , o valor calculado está à esquerda do MPP na curva de potência
∆𝑉

∆𝐼 𝐼
∆𝑉
< − 𝑉 , o valor calculado está à direita do MPP na curva de potência

678
Onde:

𝑑𝑃: Taxa de variação da Potência


𝑑𝑉: Taxa de variação da Tensão
𝑉: Tensão
𝐼: Corrente
∆𝑉: Variação da tensão
∆𝐼: Variação da corrente

Considerando que a oscilação da tensão de operação em torno do MPP seja o


principal problema do algoritmo de P&O, esta é suavizada pelo algoritmo InC. Nesta
𝑑𝑃
perspectiva, quando a tensão de operação alcança o MPP, onde 𝑑𝑉 = 0, a perturbação em
tensão de operação realizada pelo algoritmo é interrompida (NEMA, 2013; HUSSEIN,
1995).
No entanto, quando o nível de irradiância é rapidamente variado, o algoritmo InC
não acompanha o MPP como no método Perturbe e Observe, pois apesar de realizar a
busca do Ponto de Máxima Potência da mesma forma que o algoritmo de P&O, ele não
necessita calcular a potência P(k). Sendo assim, depois que o MPP é atingido, o algoritmo
é instruído para finalizar as perturbações. A Figura 3 mostra o fluxograma do algoritmo
de implementação do método InC.
Há pesquisas na literatura que apresentam experimentos do algoritmo InC
implementado com um controlador PI que objetiva aperfeiçoar o rastreamento da máxima
potência. Dessa forma, o controlador procura anular a Condutância Incremental, o que
sempre ocorre no ponto de Máxima Potência. Para a modificação deste método, foi
nomeado na literatura de Condutância Incremental baseada em PI (BRITO, 2013).

Figura 3- Fluxograma do algoritmo InC


679
Onde:

𝑡 Tempo de processamento
∆𝑡 Variação do tempo
𝑉(𝑡) Tensão monitorada em função de t
𝐼(𝑡) Corrente monitorada em função de t
∆𝑉 Variação da tensão
∆𝐼 Variação da corrente
𝑉𝑟𝑒𝑓 Tensão referencial

3.2.3 Método da Temperatura

Essa estratégia também está categorizada como sendo um método de MPPT de


baixo valor de implantação e com uma relação custo x eficiência aceitável. A Figura 4
mostra o fluxograma do algoritmo do Método da Temperatura. Percebe-se que as
variáveis monitoradas no sistema são a tensão do arranjo PV e sua temperatura.
Este método atualiza e corrige o valor da tensão do ponto de máxima potência (VMPP)
em função da temperatura da célula, usando um sensor de temperatura conectado na
superfície da placa fotovoltaica.

Figura 4- Fluxograma do algoritmo do método da Temperatura

680
Onde:

𝑡 Tempo de processamento
𝑇 Temperatura da célula PV
𝑉𝑝𝑣 (𝑡) Tensão do painel em função do tempo
𝑇(𝑡) Temperatura do painel em função do tempo
𝑉𝑚𝑝𝑝 (𝑇) Tensão do painel em função da temperatura
𝑇𝑟𝑒𝑓 Temperatura referencial

Cabe ressaltar que esta correção se torna interessante pelo fato de a tensão no MPP
variar de acordo com a mudança de temperatura do arranjo PV. Assim, este método
rastreia a tensão e a temperatura do painel PV, por meio do uso de sensor de temperatura
e sensor de tensão. Neste caso, devido à inércia térmica do sistema, o mesmo apresenta
baixa resposta dinâmica. Contudo, mantém alta rastreabilidade com pouca oscilação
entorno do ponto de máxima potência (COELHO, 2010).

3.3 Rastreamentos indiretos

Esse tipo de rastreamento é caracterizado pelo processamento dos dados por meio
de informações empíricas deduzidas a partir dos aspectos coletados no arranjo PV.

3.3.1Método de tensão Constante

O método da Tensão Constante utiliza resultados empíricos do painel PV,


indicando que a tensão no MPP (VMPP) é de 70 a 80% da tensão de circuito aberto do
arranjo PV, para ensaio em condições atmosféricas normais. Entre os diversos pontos de
MPP da curva de potência do painel PV, a tensão dos terminais do módulo PV varia muito
pouco, portanto, assegurando que a tensão do módulo permaneça constante é possível
operar próximo do MPP (RAMBO, 2014).
A Figura 5 apresenta o fluxograma básico do método de Tensão Constante. Nesse
exemplo exposto, escolheu-se aleatoriamente para o método, o valor de 75% da tensão de
circuito aberto.

Figura 5- Fluxograma do algoritmo do método de Tensão Constante


681
No que diz respeito ao algoritmo do método citado, observa-se que ele apresenta
uma programação singela e de fácil implementação, o que proporciona baixo custo.

4. CONCLUSÃO

Este artigo apresenta os principais tipos de MPPT mais discutidos no jargão


científico de energias renováveis, abordando comparações significativas entre os
métodos, sob aspecto de determinadas variáveis como a influência da mudança repentina
das condições atmosféricas, temperatura, tensão de operação, corrente, irradiação solar.
Dentre os métodos estudados, a literatura aponta evidências de que a técnica
MPPT P&O tem um combustível impulsionador que serve de base estruturante para
formação de outras técnicas mais sofisticadas e também mais eficientes. Não obstante, é
uma técnica antiga, mas bastante utilizada nos sistemas fotovoltaicos.
Apesar da característica típica de algoritmos de rastreamento indiretos atuarem no
sistema a partir de uma base empírica, percebe-se que, além de alcançar resultados
considerados bons, proporcionam baixíssimo custo por necessitar de pouco dispositivo
de sensoriamento/monitoração. Nesta perspectiva, considera-se como válido a sua
utilização em arranjos PV de pequeno/médio porte.
Algumas vantagens importantes na utilização de técnicas MPPT em sistemas
fotovoltaicos está na sua possibilidade de aperfeiçoamento do seu algoritmo, bem como
a mesclagem com outros métodos, proporcionando maior eficiência e sofisticação ao
sistema.
Contudo, foi possível perceber que as técnicas MPPT são mutáveis e adaptáveis
ao sistema, tendo uma rastreabilidade mais eficiente, e uma redução considerável de
perdas de energia elétrica.

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